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Luiz Arthur Meimberg

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José Neuton

José Neuton

LUIZ Arthur

POR CELSO MACHADO E CARLOS GUIMARAES

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Ele nasceu na capital paulistana, no início de 1941. Neto de alemão, o avô de Luiz Arthur Meimberg quis que, para não correr o risco de sua mãe falecer no parto, o que acontecia com frequência naquela época, ele nascesse na Santa Casa de São Paulo. Depois de nove dias, retornou ao interior do mesmo estado, para Barretos, onde morava e viveu até os 17 anos, quando se transferiu para São Carlos, onde se preparou para o vestibular e entrou para o curso de Engenharia, no qual se graduou em 1965.

Logo após formado, seu professor, Hermam Shultz, o indicou para a vaga de Engenheiro na primeira fábrica do Distrito Industrial de Uberlândia, a Imabra, que produzia estruturas metálicas. Ele veio conhecer a cidade, gostou e acabou aceitando a proposta.

Instalara-se em uma ainda pequena empresa dentro de um embrionário distrito industrial – a Pepsi Cola seria a segunda indústria a se instalar ali, após a Imabra. Estava começando na cidade o curso de Engenharia e precisavam de um professor de cálculo numérico, experiência que ele havia adquirido em São Carlos. E assim ele foi lecionar no curso de Engenharia Mecânica, permanecendo também na Imabra.

Luiz Arthur acabou fazendo relacionamentos com as pessoas da cidade, como José Espíndola e Renato de Freitas. Este, na sua primeira gestão como prefeito, o convidou para participar da implantação de melhorias para o abastecimento de água na cidade. José Espindola responderia pela parte hidráulica e Luiz Arthur pela parte estrutural. Eram os primórdios da Estação Sucupira. Para calcular a necessidade deste abastecimento, foi feito, por eles mesmos, um recenseamento local, que resultou em cerca de 80.000 habitantes, com a previsão de abastecimento para 200.000, o que acabou sendo alcançado bem mais rápido do que se esperava. Recorda com carinho: “E aí, fui pegando amizade e passei a trabalhar com o Renato na Sucupira para colocar água em Uberlândia. No segundo mandato do Renato, ele falou para mim: ‘nós precisamos fazer uma nova Rodoviária porque essa atual não representa Uberlândia. Eu vou te dar um mês para você andar na cidade e descobrir aonde nós vamos fazer a Rodoviária. Escolhe quatro pontos que aí eu vejo qual vamos preferir’. Fiquei um mês, eu e o Sebastião tentando descobrir uma área. Ele em princípio queria onde é hoje o Center Shopping. Mas era um brejo danado e falei para ele que uma obra ali ia custar caro demais.

Desci para o lado próximo do bairro Roosevelt onde tinha uma chácara do Raninha. Levei o Renato lá e falei que não havia um lugar melhor do que aquele. E que se ele conseguisse comprar essa chácara para nós fazermos a Rodoviária, lá era o lugar ideal. Lembro que mencionei que o solo lá era firme, uma maravilha e junto à rodovia. Aí ele virou para mim, nunca mais esqueci isso: ‘é... você quer me complicar politicamente’. ‘Uai, por quê?’, perguntei. ‘Porque do lado de lá tudo é nosso, vou colocar a Rodoviária aqui só para valorizar nossas áreas’. Respondi: ‘você não, quem está pondo aí sou eu, pode abrir o jogo, vou na Câmara falar por você, quem quer a Rodoviária aqui sou eu, não é você por causa do bairro, para valorizar seu bairro lá não’. Ele ficou pensativo e respondeu: ‘pensando assim e tal, eu concordo com você’.

Aí ele aceitou fazer o projeto. Primeiro comprar do Raninha, conseguiu. Aí pensei ‘agora vamos fazer a Rodoviária’. Comecei a pesquisar quem seria o arquiteto ideal. O primeiro cara que veio aqui foi o que projetou a Rodoviária de Curitiba. Não gostei do projeto dele não.

Aí veio o que fez a Rodoviária de Belo Horizonte, o Fernando Graça. Quando chegou aqui ,conversando com ele, falei para o Renato: ‘esse cara é o ideal, ele vai nos ajudar demais da conta. Vamos combinar com ele’. Ele fez um pré-projeto, eu mudei umas coisas e tal. Chegamos ao projeto final e posso bater no peito e falar que pode ter muita rodoviária boa por esse Brasil afora, mas igual a daqui não tem. Eu não conheço. Vou ser sincero, quando eu fui presidente do Praia, eu andei nesse Brasil inteiro aqui. Não conheço nenhuma Rodoviária igual. Por quê? Por causa da concepção. Você sabe que essa Rodoviária nossa, ela vai até Uberlândia com 2 milhões de habitantes! Pelo jeito que ela foi projetada. Ela tem a forma de cogumelos. Tanto você cresce para a esquerda como você cresce para a direita. Ali você pode ir até o fim daquela das duas avenidas laterais. Então você triplica a capacidade dela. E a outra coisa que me deixou apaixonado pelo Fernando Graça, não sei se você já observou: o passageiro que chega para pegar mala nunca sobe escada. Ele só desce. Ele desce para pegar o ônibus, quando ele chega de viagem que já é a parte de lá, ele só anda no plano. Ninguém sobe a escada carregando mala, só desce ou então anda no plano. Quando ele me mostrou aquilo, falei ‘é isso!’. Fernando Grassi terminou o projeto e nós fizemos a Rodoviária.” Paralelamente, como a Imabra não tinha o foco prioritário em estruturas metálicas cuja implantação foi muito difícil na cidade por ser novidade, seu amigo e colega de trabalho Agripino o convidou para montarem juntos a própria indústria. Criaram então a Emmig. Mesmo com toda dificuldade, foram conseguindo espaço. O primeiro cliente foi uma indústria alimentícia de Itumbiara, seguido por várias cerealistas de região e de Goiás e pela empresa CTBC, em projetos de expansão por várias cidades, construindo cerca de 30 torres para a empresa, e a Intermáquinas, de Walter Garcia.

Ele conta uma passagem marcante: “Quando fechamos esse grande contrato com a CBTC, que hoje é Algar Telecom, a Emmig quase quebrou. Explico por que. Esse fato é um fato. Quando eu peguei as torres para fazer, e começamos a comprar os materiais, o cara que fornecia o ferro e

“O FERNANDO GRAÇA FEZ O PROJETO E POSSO BATER NO PEITO E FALAR QUE NÃO TEM RODOVIÁRIA IGUAL A NOSSA EM TODO BRASIL”

Luiz Arthur Meimberg recebendo o troféu como “Líder Inspirador” do amigo e também homenageado em 2019, Luiz Massaro

aço lá em Vitoria falou para mim: o senhor está querendo a mosca branca, não tem isso mais não’. Eram as cantoneiras para fazer as torres. ‘Isso não existe. Você não vai achar para comprar’. E eu já tinha feito o acerto. Pensei: ‘estou quebrado. Como é que eu vou fazer? Peguei um projeto grande e não tenho matéria-prima’. Mas eu sempre fui sortudo toda vida. Eu tinha um amigo lá em Belo Horizonte que a empresa dele tinha muita sucata. Quando eu fui em Vitória para conhecer o dono do Ferro e Aço Vitória para me arrumar material, ele falou assim ‘vender cantoneira eu não te vendo, mas se você me arrumar sucata, eu te pago a sucata com cantoneira’. Aí voltei para Belo Horizonte e esse meu amigo falou que me arrumava 50 toneladas de sucata por mês. O que aconteceu? Quando eu já tinha entregue mais da metade das torres para a CTBC, eu tinha cantoneira aqui para vender para os outros, para o mercado. Eu cheguei a ter 200 toneladas de cantoneiras estocadas.

Luiz Arthur com a esposa na homenagem que recebeu da FIEMG em 2003 abaixo: sua esposa com as filhas

Era a mosca branca. Todo mundo ficava bobo. ‘Onde é que você arrumou?’, me perguntavam, e eu respondia ‘esse segredo não conto não’”. Hoje a Emmig é referência em estruturas metálicas em toda região do Brasil Central, desenvolvendo e racionalizando processos, consolidando sua credibilidade ao longo de 54 anos de existência, oferecendo produtos e serviços de qualidade e solidez.

Luiz Arthur também teve expressiva participação na diretoria de dois dos principais clubes de lazer da cidade. Foi vice-presidente e presidente do Cajubá Country Clube e também integrou a diretoria do Praia Clube, onde chegou também a exercer o cargo de presidente. A história deste segundo clube começou com um grupo de amigos que passou a ser chamado de “a turma da madruga”, pois eram os que abriam o Praia. Foi quando conheceu Cícero Naves e foi convidado a ser diretor de obras; em outra gestão, foi superintendente de obras e, por fim, presidente do clube. Entre suas ações no Praia, estão a expansão do clube para a área do Frigorífico e a instalação do complexo Cícero Naves, entre outras melhorias.

Luiz Arthur ,lembrando de sua chegada a Uberlândia, relatou que não tinha asfalto. Aproveitou para mencionar que foi ele próprio quem introduziu na cidade a primeira pavimentação asfáltica, realizada pela construtora CCO, na avenida Floriano Peixoto, pois naqueles tempos as ruas da cidade eram apenas com calçamento.No alto de seus 80 anos, Luiz Arthur diz que a característica que mais preza em um ser humano é a honestidade e afirma que aprendeu muito sobre ela com a conduta ética e responsável de Renato de Freitas. E se orgulha de ter vencido na vida. Recordou os tempos em que chegou à cidade em um fusquinha 1964 e nenhuma posse além dele. Deu aulas em Uberlândia e em Uberaba. Saía daqui na sexta-feira, às cinco horas da manhã, lecionava até às onze horas da noite. No dia seguinte, ia para a faculdade das freiras lá e ministrava aulas das sete da manhã ao meio dia, retornando em seguida a Uberlândia.

Luiz Arthur é pai de quatro filhos: um homem e três mulheres. Ficou honrado pelo reconhecimento da ACIUB à sua trajetória como a de um líder inspirador. Hoje ele se considera um uberlandense e coleciona memórias de bons tempos e histórias de bons e preciosos amigos que conquistou.

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