Jornal Marco - Ed. 261

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Eventos na madrugada divertem algumas pessoas mas incomodam outras, obrigadas a conviver com o movimento e barulho causado por eles. Pág. 8

YONANDA DOS SANTOS

LUIZA FERRAZ

RAQUEL RAMOS DE CASTRO

Moradores de áreas de risco estão temerosos com a chegada das chuvas que podem ocasionar deslizamentos de terra e inundações. Pág. 6

O blog “Como chega até aqui” presta um serviço de orientação para a locomoção na cidade por meio de interação entre as pessoas. Pág. 7

marco jornal

Ano 36 • Edição 261 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas Outubro • 2008

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Machado de Assis visto como escritor e leitor da atualidade GUSTAVO ANDRADE

MORADORES DÃO ADEUS AO “VIETNÔ E REINICIAM A VIDA GUSTAVO ANDRADE

De casa nova, moradores da extinta Vila São Miguel, também conhecida como Vietnã, em razão dos índices de violência do lugar passam pelo processo de adptação. Cerca de 200 famílias deixaram o local, entre dezembro de 2005 e março de 2007, por causa da desapropriação para a constr ução da Linha Verde. Os moradores buscaram destinos diferentes e, apesar do maior conforto, lamentam a perda da convivência que existia na comunidade. Página 9

Objeto de análise e referência para diversos estudiosos, no ano em que se completou o centenário de sua morte, Machado de Assis é retratado pela escritora e professora de literatura Ruth Junqueira Silviano Brandão como um escritor que “ultrapassou o seu tempo”. Em “Machado de Assis Leitor. Uma viagem a roda de livros’, a autora mostra que, antes de tudo, Machado de Assis era um leitor atento e com uma vasta biblioteca. Escritor, romancista, contista, poeta, teatrólogo e jornalista, Machado de Assis contabiliza o que pode ser considerado o maior de seus títulos: o fato de sua literatura ter se tornado referência em escolas e universidades de todo mundo, pela atualidade de seus temas. Página 16

Hospital investe na humanização de seus serviços GUSTAVO ANDRADE

Carros lotam ruas e afetam os moradores Mesmo com a oferta de 1900 vagas no seu estacionamento e com o sistema de rodízio adotado pela PUC Minas muitos alunos da instituição estacionam seus veículos em ruas próximas ao Campus Coração Eucarístico. Essa situação gera um incômodo aos moradores do bairro e também para os motoristas que trafegam pela região. Eles alegam que o excessivo número de carros parados nas vias públicas, alguns em situação ir regular, causam transtor nos ao trânsito local. A BHTrans informa que agentes de trânsito fazem um monitoramento periódico. Página 4

Copa de Natação ajuda a revelar futuros campeões GUSTAVO ANDRADE

Torcedores desafiam até a distância Em busca de uma maior aproximação entre os funcionários e as pessoas que utilizam o serviço dentro dos hospitais, o Odilon Behrens investiu no chamado processo de humanização. Com brincadeiras, espaço para reflexão e aulas de artesanato a instituição de saúde vem conseguindo resultados positivos diminuindo a distância entre os públicos externo e interno, além de ajudar no tratamento dos pacientes. As iniciativas contribuem para aliviar o sofrimento de quem é obrigado a passar boa parte do seu tempo dentro de um hospital. Página11 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição

Não são apenas os torcedores de Atlético-MG e Cruzeiro que se reúnem em bares da capital mineira para assistirem ao vivo, pela televisão, aos jogos de seus times. Integrantes de torcidas de clubes tradicionais de outros estados, como Flamengo, Vasco, São Paulo, Corinthians e Palmeiras, entre outros, mantêm esse costume e elegeram pontos de encontro em Belo Horizonte, onde predomina o respeito. Violência não tem espaço nesses locais, freqüentados muitas vezes por famílias inteiras. Página 13

A etapa brasileira da Copa do Mundo de Natação, sediada no Minas Tênis Clube, entre os dias 10 e 12 de outubro, reuniu em Belo Horizonte grandes nomes dessa modalidade esportiva, como César Cielo, medalhista de ouro nas olimpídas de Pequim, e Thiago Pereira, entre outros, que são referência na natação. O sucesso do evento, no entanto, não se deve exclusivamente aos atletas renomados. Jovens nadadores, que representam o futuro do esporte, também conseguiram resultados expressivos. Conheça alguns desses nadadores, por meio da cobertura do evento feita pelo MARCO. Em outra matéria, são mostrados os anônimos, que trabalharam para garantir o êxito da competição internacional, além de familiares dos atletas, que os acompanham e incentivam, inclusive financeiramente. Páginas 14 e 15


2 Saúde • Comunidade

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Outubro• 2008

EDITORIAL

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Histórias para contar, emocionar e servir de exemplo

SHOPPING É MOTIVO DE INCÔMODO NO COREU Bares existentes em centro comercial são acusados de gerar vários transtornos aos comerciantes e moradores da Região

n RAQUEL RAMOS DE CASTRO

YONANDA DOS SANTOS

n GUYANNE ARAÚJO,

4º PERÍODO

6º PERÍODO

Valorizar pessoas importantes e famosas em relação às outras mais simples e anônimas é uma característica presente em grande parte da mídia. Podemos dizer que, lentamente, alguns veículos de comunicação têm procurado uma mudança de rumo, relacionada à abertura de maior espaço para reportagem. E o MARCO tem procurado fazer a sua parte, já há bastante tempo, ao contar em suas páginas histórias de cidadãos comuns, cujo exemplo, quase sempre, têm muito a acrescentar aos nossos leitores. É o caso da matéria que conta a história de moradores da extinta Vila São Miguel, que era mais conhecida como Vietnã, em função dos elevados índices de violência do lugar. Por causa das obras de implementação da Linha Verde, as famílias que ali moravam precisaram deixar suas casas, buscando outros locais para viverem. O Vietnã acabou de virar memória em março de 2007 e o MARCO se interessou em contar como algumas dessas pessoas estão vivendo. Na mesma linha, fomos atrás de pessoas que vivem em áreas de risco nas Regiões Noroeste e Nordeste de Belo Horizonte e convivem com o medo que chega junto com a época das chuvas. São pessoas humildes, que vivem em lugares simples e sofrem com a falta de estrutura de suas residências e com a possibilidade de inundações e deslizamentos de terra. E como os bons exemplos devem ser valorizados, o MARCO mostra também, nesta edição, as mudanças que aconteceram no atendimento do Hospital Odilon Behrens, viabilizadas por um projeto de humanização criado pelo Ministério da Saúde. Houve investimento em arte, com oferta de aulas de dança, coral, entre outras, para funcionários e para quem acompanha pacientes. Como o esporte também sempre fornece boas histórias, o MARCO fez uma cobertura especial da Copa do Mundo de Natação, realizada entre 10 e 12 de outubro no Parque Aquático do Minas Tênis Clube. Ali buscamos não apenas as estrelas da competição, mas os futuros astros, os familiares que os apóiam e as pessoas que trabalharam nos bastidores, sem aparecer, mas que foram indispensáveis ao êxito do evento. Queremos mostrar que, independente de idade, classe social ou atributo físico, qualquer pessoa pode ter uma boa história para contar.

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Camila Lam, Cíntia Rezende, Diana Friche, Guyanne Araújo, Laura Sanders, Lorena Karoline Martins, Patrícia Scofield, Raquel Ramos, Renard Vasconcelos, Alba Valéria Gonçalves (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Gustavo Andrade e Yonanda dos Santos Monitor de Diagramação: Marcelo Coelho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

ERRAMOS

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Na entrevista com o cientista político Malco Braga (página 16, da edição 260) faltou colocar o nome completo de uma das entrevistadoras: Ana Luisa Amore.

Lojistas do Condomínio Centro Comercial Top Shopping, mais conhecido como Shopping Rosa, estão insatisfeitos com o movimento causado por alunos da PUC Minas, que bebem nos bares do local, principalmente às quintas e sextas-feiras. Segundo a síndica do condomínio, Eunice Gonçalves, os alunos ocupam o espaço da entrada dificultando a passagem dos clientes e a situação se complica em dias de calouradas a cada início de semestre. De acordo com ela, os clientes reclamam dizendo que é o shopping da bagunça. “O condomínio não comporta tanta gente. Ninguém suporta tanto barulho”, afirma. Para a lojista Ana Paula Malta Araújo, os banheiros do prédio ficam sujos e as lojas viram “cabines telefônicas” para as pessoas conseguirem ligar de seus celulares por causa do barulho que há do lado de fora. “Nas férias o shopping fica limpo e cheiroso”, diz. O porteiro João Batista Delfino comenta que em dia de movimento é muito difícil. “Tenho que olhar se os alunos não vão subir com os copos de cerveja para o banheiro”, afirma. “É um caos, às vezes querem fazer xixi nas plantas. Tá na cara que não pode”, completa. Oderige Borba, morador do Bairro Dom Cabral, afirma que sexta-feira é difícil até para os veículos passarem na rua, porque as pessoas ficam na frente do carro e não dão passagem. “Para o ônibus passar ali é maior dificuldade. Morro de

Clientes do Centro Comercial Shopping Rosa têm feito reclamações sobre a bagunça e o barulho nos bares do local medo de um ser atropelado”, diz. De acordo com a síndica, além de alterar o movimento do comércio, o shopping ficou desvalorizado. “Ninguém loca as lojas lá de cima e quando locam ficam reclamando”, assegura. O proprietário de uma sala no condomínio, Ataualpa do Rosário Pacheco disse ter mudado seu escritório do centro para o shopping para trabalhar perto de casa. “Quinta e sexta não dava para trabalhar mais. Agora trabalho em casa e não consigo alugar lá”, lamenta. Ele afirma não ser contra o bar, mas na sua opinião deveria haver um respeito dos limites do espaço. “Lá no Mercado Central não pode ser atendido fora da corrente”, exemplifica. Por outro lado, o proprietário do Bar Einstein, Carlos Henrique Diniz afirma que o fluxo das pessoas é positivo para o comércio. “Não preju-

dica o comércio. É através dos bares que eles conhecem outras lojas”, ressalta. Lisando Lisboa, proprietário do Bar Bandeco afirma que os alunos não incomodam. “O restante do ano é tranqüilo, só uma vez no semestre, no primeiro dia de aula que é atípico”, pontua. Para ele, o que tem que ser questionado é a freqüência. Carlos Henrique comenta que os alunos não impedem a entrada dos clientes ao shopping e afirma que pede para os freqüentadores que ao acabarem de utilizar os copos e garrafas para não os jogarem na rua. Além disso, ainda tem um funcionário para recolher os copos. “Tento fazer um ambiente familiar”, comenta. Ele revela que pede aos clientes para que não liguem som nos carros e, se for preciso, chama a polícia, já que o dono do bar que é multado, nessa situação. “Calourada foi proibida de ter, realmente

isso incomoda o pessoal, prefiro perder venda do que ter problema aqui”, salienta. Segundo o secretário de Comunicação da PUC Minas, Mozahir Salomão Bruck, a instituição vê com preocupação o volume de alunos que vai até o shopping. “Lamentamos o transtorno causado pelo volume enorme que vai para lá, pois o comércio não pode sofrer prejuízo por conta disso”, alega. Mozahir destaca que não cabe à Universidade pedir aos alunos para não irem até o shopping. “Não fechamos os olhos para esse problema, mas não temos muito o que fazer”, diz. Uma alternativa para minimizar os efeitos causados pelas calouradas feito pela PUC Minas é sensibilizar o DCE a estimular as práticas de solidariedade e não o trote que causa incômodo à comunidade.

Posto de saúde oferece academia própria n CAMILA LAM, CÍNTIA REZENDE, 4 º E 7º PERÍODOS

O Posto de Saúde Mariano de Abreu, localizado no Conjunto de mesmo nome, na Região Leste de Belo Horizonte, apostou no processo de humanização do seu atendimento, ao criar, há dois anos, uma academia de ginástica voltada aos funcionários, pacientes e comunidade. Freqüentando o local há mais de um ano, Diva Ramos se exercita em uma turma especial voltada para pessoas com problema de memória devido à idade, ou que sofreram algum tipo de problema médico, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com 73 anos, ela se exercita com as demais alunas da turma em

um jogo da velha como forma de trabalhar a memória. “Me faz muito bem. Além disso eu aproveito melhor meu tempo”, acredita. “Emagreci demais, e também estou mais disposta”, avalia a aposentada Joé Pereira da Silva, 67, que há dois anos freqüenta o local. Ela conta que passou a fazer as atividades graças à indicação do médico, devido a um problema de pressão. Se exercitando todas as segundas, quartas e sextas-feiras, pela manhã, ela afirma que os reflexos podem ser vistos também nos seus hábitos com os remédios. “Passei a tomar menos remédio”, relata. Professora da academia, Daniella Aparecida Alves, que trabalha no local há um ano e meio, explica que as atividades são voltadas às pessoas

que têm alguma patologia, como diabetes e hipertensão. “O objetivo não é emagrecer e sim melhorar a saúde”, adverte. Atendendo a 300 pessoas, em diferentes atividades, ela conta que os exercícios são iniciados a partir de uma avaliação física feita pelos próprios professores de educação física. A estrutura da academia é pequena, mas conta com professores de educação física e estagiários. Entre eles, existe um rodízio, em que cada um possui uma função, desde programar aulas a fazer a avaliação física de alunos. Poucos homens freqüentam a academia. Segundo Daniela Alves, são 29 que possuem cadastro. O aposentado Otacílio Faccio é um dos poucos homens. Desde o ano passado, ele freqüenta a

Academia da Cidade. Otacílio tem problema no calcanhar e fez uma cirurgia de varizes, e sua mulher recomendou-lhe para que ele começasse a fazer mais exercícios. Três vezes durante a semana o aposentado participa das aulas aeróbicas e faz a caminhada. “Melhora muito o humor”, diz Otacílio. Sob recomendação da nutricionista do posto de saúde, para emagrecer e melhorar a saúde, tem dois anos que a dona de casa Gilcenéia Maria da Silva Aparecida separa suas manhãs para comparecer às aulas na academia. Ela ressalta que possui mais disposição, desde que incluiu exercícios físicos na sua rotina. “Tenho mais ânimo para tudo, é muito bom”, resume Gilcenéia Silva.


Comunidade Outubro • 2008

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PRAÇA NECESSITA DE REFORMAS Moradores do Bairro Dom Cabral queixam-se do estado de conservação da Praça da Comunidade, exigem reformas e conscientização por parte das pessoas que freqüentam o local YOANANDA DOS SANTOS

n DIANA FRICHE, 3º PERÍODO

A Praça da Comunidade, situada no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, é um local bastante freqüentado por moradores e diariamente recebe atividades esportivas, como ginástica para idosos e o projeto Segundo Tempo. Além disso, o lugar é sede de encontros de amigos, brincadeiras de crianças e caminhadas. Muitas pessoas que freqüentam a praça estão descontentes com o estado de conservação do local. “Todo mundo reclama da praça, principalmente quando tem chuva. O coreto podia estar com telha, para abrigar as pessoas nesse período”, diz a dona-de-casa Cláudia Gomes de Oliveira, 48 anos. Essa é uma das muitas queixas dos moradores. Os freqüentadores da Praça da Comunidade reclamam também do piso esburacado, árvores maltratadas, pichações, quatro quadras de esportes inadequadas, além de problemas de segurança. Moradora do bairro e assistente da Ação Social da Paróquia Bom Pastor, localizada em frente à praça, Licidir Garcia da Silva Costa, 73 anos, afirma que a necessidade de uma reforma no local é unanimi-

dade entre as pessoas que o utilizam. “Todo mundo reclama muito da praça. Já entramos em contato várias vezes com os responsáveis e eles sempre prometeram que arrumariam a praça e a quadra”, conta Licidir. Em frente à Praça da Comunidade se encontram a Escola Estadual Assis das Chagas e a Creche Bom Pastor, o que gera uma circulação constante de crianças no local. Após as aulas, muitas delas encontram seus colegas na praça para se divertirem. É o caso de Lorraine Gabriela de Souza Lima Alencar, 10 anos, que sempre brinca, nas tardes de terça e quintafeira, com as amigas Elisandra Cristina da Silva Ubaldo, 10 anos e Luísa Morais da Silva, 11. Lorraine sabe que os cuidados com a praça podem ajudar muito em sua conservação. “O que eu gostaria que mudasse é o comportamento das pessoas. Elas vêm e picham, destroem, não conservam. Jogam lixos, coisas quebradas. Quem não sabe conservar, não devia vir”, ensina a garota. As amigas também reivindicam lugares apropriados para brincarem já que, atualmente, a diversão das crianças é subir nas árvores da praça. “Eu acho que aqui devia ter mais lugares pra gente brincar, porque aqui na praça ou a

gente brinca dessas brincadeiras de correr ou a gente brinca de subir na árvore. Mas eu acho que subir na árvore é muito perigoso”, diz Luísa. As quatro quadras, sendo duas de futebol de salão, uma de vôlei e uma de peteca, são também motivos de grande parte das reclamações dos moradores. São nelas que ocorrem diariamente as atividades do programa Segundo Tempo, idealizado pelo Ministério do Esporte, que tem como principal objetivo democratizar o acesso à prática esportiva em espaços físicos das escolas ou comunitários. A coordenadora do programa, Patrícia Fajardo Xavier, 24 anos, acredita que a prática esportiva na praça muitas vezes pode causar acidentes. Ela reclama por condições melhores de trabalho no local. “A primeira coisa que eu acho que precisa mudar é ter um lugar decente, até mesmo de trabalho para a gente. A proposta do Segundo Tempo é ampliar, mas é difícil, já que não há quadras adequadas. Ganhamos uma bola de handebol mas tivemos que fazer o jogo em uma quadra que não tem pintura e não tem trave”, relata. Segundo Armando Sandinha, presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, a solicitação de reforma da praça foi

Motivo de reclamações entre os moradores do Bairro Dom Cabral, a Praça da Comunidade necessita de reformas feita desde 2007 e, no final do mês de julho deste ano, foram realizadas medições da praça por profissionais contratados pela prefeitura. Mas as obras ainda devem demorar a começar. Ele observa que o período eleitoral atrasou o processo. “Acredito que as obras só poderão ser feitas após a posse do novo prefeito, a partir de janeiro de 2009”, diz. Armando Sandinha conta que, em 2000, a Prefeitura de Belo Horizonte fez uma reforma geral na praça que a deixou fechada durante quatro meses. Na época, 300 mudas de árvores foram plantadas e todo o local pintado. Ele acredita que, antes de cobrar por nova reforma,

os freqüentadores da praça precisam preservar mais o lugar. “Os moradores reclamam que a praça está mal conservada e destruída, mas as próprias pessoas do bairro não cuidam dela. Já até roubaram as chaves elétricas daqui. Alguns moradores levam seus cachorros para passear e deixam a sujeira que eles fazem, têm mulheres que trocam fraudas de seus filhos lá e deixam a frauda usada jogada, pessoas vão à praça beber e quebram garrafas”, relata. O presidente conta ainda que, algumas vezes, os próprios moradores se encarregam da limpeza do lugar por conta própria. A Regional Nordeste, por meio de sua Assessoria de

Comunicação, informa que não há previsão de data para a realização de reformas na Praça da Comunidade. O órgão revela ainda que o local não possui um adotante, dentro de um programa da prefeitura. Dessa forma, a manutenção é feita apenas pela administração municipal. A cada 35 dias são realizadas podas nas árvores, varreção e capina. Já a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), por intermédio de sua Assessoria de Comunicação, informa que realiza a limpeza em torno da praça a cada três dias, mas ressalva que não é a responsável pela área interna.

Nova médica do PSF quer ajudar na prevenção GUSTAVO ANDRADE

n PATRÍCIA SCOFIELD, 6º PERÍODO

Vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Programa Saúde da Família (PSF) tem como pilar a manutenção da estabilidade clínica dos pacientes, por meio de consultas agendadas, em que os casos não são de urgência, além de ênfase na prevenção de doenças. É com essa proposta que a médica generalista Marília Silva assumiu suas funções dentro do PSF do Centro de Saúde Dom Cabral. Depois de trabalhar como contratada no Centro de Saúde Venda Nova, Marília Silva veio para o Dom Cabral, como efetiva, já que foi aprovada no concurso realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte no final do ano passado para médicos do PSF. Ela admite ser frustrante não ter como deslocar os equipamentos médicos para a casa de um paciente debilitado, caso de exceção em que a equipe do programa vai até o domicílio. "Não tem como levar uma cadeira ginecológica, por exemplo, para o domicílio de uma paciente acamada ou com problema psíquico ou físico", lamenta. O PSF tem como propósito dar noção do que é saúde e doença, e de como a pessoa pode se

Marília, nova médica do PSF Dom Cabral, acredita que o maior desafio da saúde é a concientização dos pacientes cuidar "para não ficar na dependência do médico", segundo Marília. Para a médica do PSF, saúde é mais que apenas a assistência médica, incluindo alimentação, atividade física e bom relacionamento do paciente com a família. "O médico do Programa Saúde da Família entra onde ninguém entrou até hoje. Educar é o trabalho mais árduo", afirma Marília, referindo-se à sua função de conscientizar os pacientes sobre os cuidados com o corpo, por meio de orientações individuais e palestras. O perfil das pessoas que são atendidas pela "doutora" é formado por idosos com pneumonia, distúrbios

de memória, hipertensos, diabéticos e fumantes. "Tem que ter atendimento diferenciado. Muitos têm dificuldade de tomar a medicação porque não se lembram, não lêem a bula e misturam um remédio com outro", explica. As gestantes não são muitas, e no caso de alguma grávida comparecer, o ginecologista de apoio desse centro de saúde é quem faz o atendimento. O acompanhamento típico de Marília a um paciente consiste na realização de exames de rotina: medir ou aferir a pressão arterial, orientar como a pessoa deve proceder e renovar a receita dos medicamentos. Outro exame realizado no Centro de

Saúde Dom Cabral é o Papanicolau (exame do colo do útero). De acordo com Marília, o Centro de Saúde do Dom Cabral é bem equipado, apesar de a estrutura física "deixar a desejar". Ela salienta que o prédio é antigo e com muitas janelas, o que expõe o momento da consulta médica, mas diz que vai ser demolido no futuro que ela não sabe precisar, para dar lugar à nova construção. A médica compara a população do Bairro Dom Cabral com a de Venda Nova, onde trabalhou anteriormente. Ela avalia que no Dom Cabral a população é "relativamente bemorientada", pois na outra

região havia muita gente analfabeta. "O PSF aqui está num caminho bom, mas falta melhorar ao que se presta o centro de saúde. Falta apoio de um assistente social e está precisando avançar na educação", avalia. A moradora Maria da Penha Ferreira Barros não aprovou a nova médica do PSF do Posto do Dom Cabral. A paciente conta que foi ao centro de saúde buscar atendimento para a irmã que, segundo Maria da Penha, "não estava normal", por causa da coloração amarelada da pele, talvez por conta de uma "epidemia de hepatite A". Ela diz que a doutora Marília lhe recomendou um exame de ultra-som e que ela fosse para casa. Dali Maria iria levar a irmã a um hospital. "Tenho que passar no centro de saúde para depois ser encaminhada para o hospital, fazer tudo fora", reclama Maria da Penha. Por outro lado, Giselle Juliana de Sales Santos, também moradora da região, conta que não costuma freqüentar o centro de saúde, mas avalia como "ótimo" o Programa Saúde da Família. Ela foi em busca de consulta de pediatria para a bebê Júlia, de dois meses. "Tem o trabalho com a família, as visitas em casa. Fui bem atendida pela médica e ela esclareceu

todas as minhas dúvidas", observa. Giselle já conhecia o PSF porque trabalhou em um Centro de Saúde da Pampulha. Quanto à aprovação do trabalho, Marília observa que "agradar a todos é complicado". "Estou como médica, não tenho o intuito de ser amiga. O PSF está na linha de frente com o povo e falo 'não' quando é preciso", completa. Ela ressalta estar gostando bastante do trabalho com a comunidade. "A maioria da população é bem tranqüila", ressalta. Sobre a ausência de uma médica do PSF nesse centro no período de março até dia 25 de maio deste ano, a paciente Camila da Silva ressalta que fez falta em função do grande número de pessoas para serem consultadas. A médica que trabalhava no local antes de Marília ficou quase um ano e depois pediu para sair de lá, segundo informou a nova profissional. "Tem grande rotatividade no PSF. O médico fica o tempo que ele quer, e são oito horas diárias", esclarece. "Muitas vezes ele não se adapta à comunidade ou à estrutura do centro de saúde", completa Marília. Marília é capacitada para atender nas áreas de pediatria, medicina de adultos e ginecologia-obstetrícia.


4 Comunidade

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Outubro • 2008

ALUNOS LOTAM RUAS FORA DA PUC Excesso de veículos nos arredores do campus PUC Minas Coração Eucarístico, incomoda moradores e gera discussão quanto a eficiência do sistema de rodízio imposto pela universidade YONANDA DOS SANTOS

n BÁRBARA CAROLINA CAMPOS, BÁRBARA CAROLINE MARTINS, 2° PERÍODO

Apesar da oferta de aproximadamente 1900 vagas de estacionamento pela PUC Minas, esse número não é suficiente para atender a todos os alunos da instituição. A solução adotada pela Universidade, há nove anos, foi a implantação do rodízio, em que os estudantes podem parar seus veículos em dias alternados, de acordo com seu número de matrícula. Por isso, muitos alunos optam por estacionar os automóveis nas proximidades do Campus Coração Eucarístico, provocando revolta em moradores e motoristas que trafegam pela região e que alegam prejuízos ao trânsito local. Para Atenísio Claudino Souza, morador há 15 anos do Coração Eucarístico, esse problema sempre existiu e já foi até pior. “O alargamento da Avenida Dom José Gaspar, a principal do bairro, amenizou um pouco a situação, mas ainda sofremos diariamente com a enorme quantidade de automóveis”, comenta. Atenísio diz sempre ouvir reclamações de outros moradores, mas considera que o pior mesmo é a falta de consciência de alguns alunos. “Eles ignoram as sinalizações e param, sem cerimônia, nas portas de garagem. Certa vez estava com um familiar doente, precisando sair de casa, mas

havia um carro de uma aluna estacionado na minha porta. Lembro que o Siena teve que ser rebocado para que eu pudesse sair”, desabafa Atenísio. O contador acredita que a PUC Minas deveria ampliar o estacionamento ou liberar as vagas não ocupadas. A diarista Maria Helena Salgado Cardoso trabalha no Coração Eucarístico há três anos e, como pedestre, se diz prejudicada pelo grande volume de veículos. “Esses carros ficam parados nas ruas o dia inteiro. Atrapalham o trânsito e a travessia dos pedestres, além de ser perigoso principalmente para idosos e crianças que moram na região”, comenta. Maria Helena revela que aos sábados o bairro muda e parece outro, tamanha a tranqüilidade. Idelbrando Vilela de Oliveira, motorista da Viação Anchieta há cinco anos, diz que a situação já melhorou um pouco: “As calçadas eram largas e as ruas ainda mais estreitas. Mas é preciso que haja mais sinalização para nós motoristas de ônibus, pois alguns estudantes param os carros nas esquinas e impedem nossa passagem. Assim, o trânsito fica lento e isso atrasa as viagens, causando indignação aos passageiros”, reclama. Luidsney Silva, despachante da Viação Anchieta, afirma que as ruas se tornam realmente muito estreitas. Ele diz que o fato de os alunos estacionarem dos dois lados da rua, obriga

os motoristas de ônibus a fazerem desvios que não são permitidos pela BHTrans, gerando multas com freqüência: “A BHTrans deveria fiscalizar mais e a PUC liberar as vagas que sobram no estacionamento”, destaca o despachante. O motorista de transporte universitário, José Ângelo dos Santos, afirma que o intenso fluxo de carros prejudica a região. Para ele, os veículos estacionados sobretudo em fila dupla, além de complicar o trânsito, prejudicam o embarque e desembarque dos alunos que utilizam transporte universitário. José Ângelo reivindica que a PUC Minas permita o acesso de vans, que passariam a ter uma área reservada. “Isso sem dúvida aliviaria um pouco mais o fluxo de carros nas ruas”. José Ângelo, que transporta alunos durante todos os turnos, garante que à noite é mais complicado: “Estacionar por aqui à noite é quase impossível. É uma confusão que ninguém imagina. Os alunos param em fila dupla, em portas de garagem, ninguém respeita as sinalizações”, ressalta o motorista. DEMOCRÁTICO Luiz Eustáquio Campos, responsável pela Divisão de Operações da PUC Minas, conta que o Sistema de Rodízio foi implantado no segundo semestre de 1999 numa parceria da Universidade com o DCE. Segundo ele, esse sistema foi o mais adequado às necessidades da instituição, por ser de-

Por causa da falta de espaço, carros estacionados nas ruas próximo a PUC atrapalham fluxo do trânsito na região mocrático. “O rodízio incentiva a carona entre os estudantes”, ressalta. Luiz Eustáquio afirma desconhecer as reclamações dos moradores da Região próxima à PUC. “Concordo que das 18h45 as 19h15 o fluxo de carro aumenta consideravelmente na região. Isso pode ser explicado pela entrada de alunos para o turno da noite e pelos próprios moradores que estão chegando em casa após o dia de trabalho. Mas o tráfego é dissipado rapidamente”, observa. Indagado sobre a possibilidade de ampliação dos estacionamentos, ele garante que a Pró-Reitoria de Logística e Infra-estrutura trabalha na busca de soluções eficientes e que possam beneficiar, sobretudo, os alunos. Segundo ele, entre os dias

22 e 27 de setembro a empresa Estacione, que presta serviços no setor de controle de acesso de pessoas e veículos na área de estacionamento, realizou na Universidade um levantamento de dados referentes à utilização do espaço físico. Já BHTrans, por meio de sua assessoria de comunicação, informa que agentes de trânsito monitoram o local através de rondas, percorrendo periodicamente, os pontos mais críticos da região. A empresa informou também que o projeto de alargamento da Avenida Dom José Gaspar, executado há dois anos, em parceria com a PUC Minas, beneficiou moradores e alunos por permitir maior controle sobre o tráfego na região. A estudante de Enfermagem Mariana Ma-

lheiros Braga acredita que os estacionamentos têm capacidade para comportar o volume de veículos. Ela conta que o do prédio 25, reservado para professores, fica vazio e sugere que a universidade o libere para os estudantes. Mariana teme a falta de segurança para quem estaciona o veículo na rua. “Meu carro nunca foi arrombado, mas tenho colegas que ficaram no prejuízo por deixarem seus carros nas ruas”, conta. Bárbara Lorena Batista, funcionária da Universidade, apesar de ter sua vaga garantida diariamente, sugere que uma modificação no critério para uso do estaciomento por carros. “O critério para motos deveria valer também para automóveis. As vagas são preenchidas por ordem de chegada”, revela.

BHTrans vai alterar o sentido de vias do Coreu YONANDA DOS SANTOS

n CÍNTIA REZENDE, LAURA SANDERS, 4º E 7º PERÍODOS

Com o objetivo de resolver os problemas de trânsito no Bairro Coração Eucarístico e do fluxo na Região Noroeste, a BHTrans vai colocar em vigor, ainda neste mês, um projeto de alteração nos sentido de algumas vias no bairro e também a implantação de redutores de velocidade. Segundo o analista de transporte da BHTrans, Sérgio Manini, as obras acontecerão em duas etapas para que o movimento local não seja prejudicado. "É uma área de bairro grande, e geralmente, por questões estratégicas e econômicas optamos por fazer em duas etapas", explica. As alterações entraram na lista de prioridades da BHTrans, graças à mobilização da comunidade, que por meio de solicitações feitas à empresa à chamada Gerência de Atendimento ao Usuário da empresa, e também devido aos projetos feitos por vereadores ao longo dos anos. Na primeira etapa, a BHTrans divulgou que algumas ruas, cujo fluxo de carros é intenso no chamado horário de pico, serão atendidas. Nesta parte, que abrange 1,38 Km de vias, as ruas Dom João Antônio dos Santos, entre a Dom José Gaspar e a Dom Prudêncio

Sérgio Manini, da BHTrans, fala sobre as mudanças no trânsito no Coreu Gomes; a Avenida dos Esportes entre a Dom João Antônio dos Santos e a Avenida Ressaca; e a Dom Prudêncio Gomes entre a Dom João Antônio dos Santos e Dom José Pedro de Lara, todas mão-dupla, passarão a ter sentido único. De acordo com a empresa, a segunda etapa ainda está em fase de elaboração. Segundo Sérgio Manini, as mudanças visam beneficiar a comunidade, reduzindo conflitos em algumas interseções e garantindo a segurança do pedestre. Quanto à questão da implantação de semáforos nos cruzamentos, demanda freqüente dos moradores, o analista de transporte afirma não se tratar de uma solução viável. A alternativa da BHTrans, nessa primeira

etapa, foi a implantação de redutores de velocidade ao longo das ruas. "Reduzindo a velocidade você consegue garantir a segurança do pedestre, principalmente nos horários de pico", justifica. Moradora do Coração Eucarístico há 15 anos, a aposentada Lívia Persilva conta que tem duas visões sobre o problema de trânsito do bairro. Se por um lado, como motorista, ela enfrenta a lentidão no deslocamento e a falta de sinalização ao longo da Avenida Ressaca, por outro, ela conhece bem as dificuldades de se andar a pé no bairro. Lívia mora na Rua Engenheiro Paulo Fernandes, próximo à Avenida Ressaca, e diz que já presenciou vários acidentes. Ela aponta como principais necessidades, a sinalização

da avenida e a maior consciência dos motoristas. "As pessoas voltam cansadas do trabalho e passam correndo pela Ressaca, e aí está o problema", conta. Lívia foi uma das 53 pessoas que no dia 3 de setembro participaram da última reunião entre a BHTrans e os moradores do bairro, quando a empresa apresentou possíveis mudanças para as vias do Coração Eucarístico. Com problemas de trânsito que a aposentada diz conviver há anos, ela acredita que as alterações devem ser drásticas para que o número de acidentes seja reduzido. "Há algumas semanas eu quase bati em um carro, próximo a Ressaca, onde uma motorista me fechou", relata. Ela também se diz desanimada, já que há pouco mais de dois meses participou de uma reunião com BHTrans referente às mudanças no trânsito em toda Região Noroeste, e diz que, desde então, nenhuma providência foi tomada para melhoria do trânsito local. Outro morador que está preocupado com as mudanças que acontecerão no bairro é o professor de engenharia de controle e automação e engenharia eletrônica da PUC Minas Eudes Weber Porto. Apesar de ter achado a reunião positiva, ele acredita que algumas propostas, como a criação de canteiros ao longo da Avenida Ressaca, deveriam

ser melhor planejadas. Segundo ele, a possibilidade de serem colocados redutores de velocidade, além da criação de uma área de segurança para os pedestres atravessarem seria a melhor opção para se reduzir o numero de acidentes. "O trânsito aqui tem problemas em horários de pico", diz. Há menos de cinco meses com um comércio na Rua Dom João Antônio dos Santos, Terezinha de Lurdes Faria Bruno conta que apesar de não ter comparecido à reunião entre os moradores e a BHTrans, aprovou a iniciativa de tornar a rua mão única. Ela conta que já presenciou vários acidentes entre eles a batida entre uma moto e um carro. "Vai ser muito melhor, aqui é muito perigoso", acrescenta. Outro que acredita que as mudanças trarão mais segurança é o também comerciante Leonardo Amaral. Ele conta que também já presenciou vários acidentes, e que recentemente foi vítima de um perto da Avenida dos Esportes. Apesar de concordar com a possibilidade de melhoria no trânsito, Leonardo teme que o número de carros que passe em frente a sua loja também diminua. “Acho que o movimento de carros deve cair", prevê. IMPACTO Há 47 anos morando na rua Dom João Antônio dos Santos, Mozarth de

Barros Andrade, vê como maior problema da região, o grande fluxo de carros em razão da PUC Minas . Para Sérgio Manini a universidade é um impacto no trânsito da região. Para melhorar a circulação em horário de saída e entrada dos alunos, a alternativa foi a implantação das mãos-únicas, que aumentarão a capacidade de fluxo de veículos. Mozart avalia que a reunião foi muito importante para a comunidade, e que a futura gestão da prefeitura, juntamente com a BH Trans, terá um grande desafio no decorrer da realização das obras. "O novo prefeito e a BHTrans devem estar abertos às sugestões da comunidade", acredita. Uma alternativa também sugerida pelo morador é que a empresa de transporte invista em educação no trânsito como forma de complementar as mudanças. Com as modificações previstas para o trânsito do Bairro Coração Eucarístico, também serão realizadas pequenas alterações quanto ao deslocamento dos ônibus. Segundo o analista da BHTrans, Sérgio Manini, as poucas alterações quanto à circulação das linhas de ônibus que atendem a região não afetarão os pontos de embarque e desembarque. As linhas 9410 e 4110 terão seus itinerários modificados.


Comunidade • Campus Outubro • 2008

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NOVAS ATIVIDADES PARA OS IDOSOS O Centro Dia do Idoso, no Bairro Dom Cabral, disponibiliza novas oficinas para a Terceira Idade, como a de memória, fonoaudiologia, patchwork, dança sênior e cuidados com os idosos YONANDA DOS SANTOS

n LORENA KAROLINE MARTINS,

Pessoas da comunidade aproveitam a oportunidade para participarem de oficinas e atividades no Centro Dia do Idoso

é coordenado por Maria Virgínia Fonseca. "Trabalhamos com o público que não está incluído no mercado formal e que hoje tem como alternativa de renda familiar o artesanato", conta. Um grande exemplo de aproveitamento do Centro Dia do Idoso é a aluna Meire Silva Mendonça, 56 anos, moradora do Bairro há 30. Ela conta que sempre teve vontade de fazer oficinas, porém, devido ao trabalho, nunca teve tempo. "Desde que me aposentei vi que era preciso fazer as oficinas, retornar às coisas que eu gosto de fazer", conta Meire, que faz as oficinas de memória, cuidados com os idosos e dança de salão.

Idade". É o caso da oficina de memória, coordenada pela psicóloga Geisa Moreira, 43 anos, junto com a estagiária do 6° período de psicologia da PUC Minas, Débora Cristina Barros, 22. Com 15 alunos, a Oficina de Memória "trabalha as reminiscências, fazendo com que os idosos tenham um espaço de apropriação nas suas

"ESPERANÇA E VIDA" Os idosos do Bair ro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, encontraram alter nativas dinâmicas e criativas para ocuparem seus dias e suas mentes. O Centro Dia do Idoso, idealizado pelo grupo "Esperança e Vida", mais do que uma ampla estrutura física de

3° PERÍODO

Desde o início de setembro, o Centro dia do Idoso disponibilizou novas oficinas destinadas aos idosos da comunidade. Além do curso de dança de salão, já ofertado antes, o Centro oferece a oficina de patchwork, de memória, dança sênior, fonoaudiologia e cuidados com a pessoa idosa. “O idoso que já saiu do mercado de trabalho, é motivado por essas oficinas que o encaminham para um processo de maturidade, crescimento pessoal e qualidade de vida”, explica a coordenadora do projeto "Cidadania e Rede", Beatriz Oliveira. As oficinas oferecidas são gratuitas, exceto as de memória e a de cuidados com a pessoa idosa que custam R$35 e R$20, respectivamente, para cobrir despesas com manutenção. Algumas dessas novas oficinas possuem parceria também com o programa de extensão da PUC Minas, denominado "PUC Mais

próprias lembranças, na sua própria vida", explica Geisa. "Trabalhar com memória tem sido muito interessante, porque traz à tona questões das vidas dos idosos e possibilita uma reelaboração da vida passada de cada um", completa a aluna de psicologia Débora Cristina Barros. Além da Oficina de Memória, o programa "PUC

Mais Idade" propõe atendimento individual psicológico e domiciliar. O Centro Dia do Idoso faz parte do projeto "Cidadania e Rede", mantido pela Associação Franciscana (Asfran), que financia o material da oficina de Patchwork. Esse curso é oferecido às segundas e quartasfeiras, conta com 25 alunos e

900 metros quadrados é um local destinado às atividades e oficinas, servindo como uma referência para os idosos da comunidade. O local, inaugurado em outubro de 2007, foi doado pela Prefeitura de Belo Horizonte, que cobre as despesas referentes à manutenção, como limpeza, água e luz, além do pagamento do salário do porteiro. A coordenadora do Centro, Waneide Silva, 59 anos, conta que seu trabalho, assim como de todo o grupo "Esperança e Vida", é voluntário e que a renda é adquirida por meio de promoções, bingos e bailes. "Ao mesmo tempo em que você contribui com a sua experiência e as suas idéias, a gente aprende muito. Essa troca que faz as coisas valerem à pena", completa. Waneide informou que ainda há uma certa dificuldade de informação sobre as atividades do Centro, mas mesmo assim, as vagas estão sendo preenchidas, atraindo cada vez mais idosos.

GUSTAVO ANDRADE

Falta de iluminação prejudica moradores de rua no Dom Cabral n DIANA FRICHE, LORENA KAROLINE MARTINS, RENARD VASCONCELOS, 3º PERÍODO

A pouca iluminação da Rua Osvaldo Gattoni, no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, tem causado revolta em seus moradores. A rua possui apenas um poste de luz, o que faz com que, durante a noite, se torne muito escura. Desta forma, muito assaltos e arrombamentos de carros estão acontecendo no local. Adriane Cerqueira Melo, 42 anos, que mora há um ano e meio na rua e no bairro há 20, conta que em nenhum outro lugar que morou, viveu situação semelhante a que se encontra na Osvaldo

Gattoni. Alguns moradores instalaram luzes nas varandas de suas casas com o objetivo de amenizar a escuridão da rua. É o caso de Adriane, que afirma que sem a luz das casas, a rua fica muito escura, quase impossível de enxergar. "A minha conta de luz, desde que mudei para cá, está ficando em torno de R$ 250, R$ 280, já que colocamos luz na varanda para iluminar a rua. Uma vizinha minha também colocou luz, na tentativa de clarear um pouco mais", conta. Muitos moradores da Osvaldo Gattoni já foram assaltados. É o caso de Synara Pires Nogueira, 40. Moradora há 11 anos da rua, ela conta que sua casa foi

invadida quatro vezes devido à escuridão. Assim como os outros vizinhos, Synara instalou lâmpadas para iluminar um pouco mais a rua. "Além de pagar a taxa de iluminação pública que eu não usufruo, eu gasto com lâmpadas e aumenta a minha conta de luz", desabafa. A moradora, assim como outros vizinhos, já entrou em contato com a Companhia Enérgica de Minas Gerais(Cemig), que informou que a rua não tem espaço para a colocação de novos postes. A rua é um local onde muitos moradores e estudantes da PUC Minas estacionam os carros à noite. Devido à escuridão, algumas pessoas já tiveram seus veícu-

los arrombados. Tentando solucionar este problema, Mateus Lino de Souza, 50 anos, aposentado e morador da região, passou a vigiar os carros todos os dias úteis, de 18h às 23h. Ele conta que trabalha na Osvaldo Gattoni há cinco anos e que, neste período, nenhum poste de luz foi instalado. Mateus afirma que não faz a vigia por dinheiro e que gosta muito de ajudar as pessoas. "Depois que aposentei, fico só em casa e não gosto de ficar parado. Ficando na rua eu consigo me distrair, ajudo os alunos para não saírem no escuro, olho as casas e vigio os carros contra os roubos", conta Mateus, que completa dizendo que as pessoas sempre ficam muito

A moradora Adriane de Melo está insatisfeita com a falta de iluminação gratas a ele. Os moradores já fizeram um abaixo-assinado pedindo maior iluminação na rua, mas não obtiveram resposta. Eles afirmam também que inúmeras ligações já foram feitas à Cemig solicitando a colocação de novos postes. A Assessoria de Comunicação da Cemig informou que no quarteirão da rua Osvaldo Gattoni não há rede elétrica e que a extensão da mesma só pode ser feita

mediante solicitação da Prefeitura de Belo Horizonte. O cliente também pode fazer essa solicitação mas, no caso, o mesmo teria que arcar com o ônus. A Regional Noroeste, por meio de sua assessoria de comunicação, afirmou que o morador deverá entrar em contato para que seja encaminhada uma solicitação à Diretoria de Iluminação Pública, que avalia a necessidade e a urgência da instalação.

D.As inovam ao criar bibliotecas independentes LUIZA FERRAZ

n RENARD VASCONCELOS, 3º PERÍODO

O Diretório Acadêmico(D.A) do curso de Relações Internacionais, no campus PUC Minas Coração Eucarístico, planeja inaugurar uma biblioteca própria no mês de outubro. Bárbara Moreira Batista, coordenadora da área de desenvolvimento e extensão do D.A, conta que a professora de relações comerciais do curso de R.I, Taiane Las Casas, fez uma doação de cerca de 50 livros para o diretório. Esse acervo inclui, além dos livros da bibliografia básica do curso, outros que servem de complemento para os estudos. “A doação já ocorreu há alguns meses, mas agora a nova chapa que foi eleita para

gerenciar o D.A resolveu catalogar e disponibilizar os livros para os alunos”, diz Bárbara. A coordenadora conta ainda que serão feitas estantes novas para os livros e o sistema de empréstimo será aberto a todos os alunos do curso de Relações Internacionais, inclusive os que não pagam mensalmente o diretório acadêmico. Outros D.As do campus Coração Eucarístico também já oferecem, além de acesso à internet e impressão, acervo com os principais livros utilizados nas aulas. É o caso do D.A de Direito, que disponibiliza cerca de 100 exemplares para todos os alunos que contribuem mensalmente com a taxa do diretório. A funcionária do D.A e responsável pelos

empréstimos, Eliene Paulista, diz que existe muita procura pelos livros. “Muitas vezes o aluno chega e o livro que ele deseja está emprestado, por isso existe lista de espera para alguns títulos”, explica. Eliene conta que os principais livros utilizados pelos estudantes de Direito são o “Código Civil” e o “Vade Mecum”, ambos livros que fazem parte da bibliografia básica do curso e que foram adquiridos com dinheiro do D.A para serem emprestados para os alunos. Carlos Alexandre Freitas, do 3º Período de Direito, que estava alugando um livro no D.A, contou que estava pegando um exemplar do “Vade Mecum” para fazer uma consulta na sala. “Uso sempre esse serviço pois é muito mais fácil pegar um

livro emprestado no D.A do que andar até a biblioteca central”, justifica o estudante. O Diretório Acadêmico do curso de Letras tem projeto semelhante: o aluno, que também deve ser contribuinte do D.A, deixa sua carteirinha e leva um livro de sua escolha. Andreza Lúcia Nunes, que trabalha no Diretório há um ano e meio, revela que não existe muita procura pelos livros que são em sua maior parte gramáticas e dicionários da língua portuguesa. Outro Diretório Acadêmico que também planeja montar biblioteca própria é o de Psicologia. Juliana Marques, integrante do gr upo que gerencia o D.A , diz que a b i b l i o t e ca já existiu, mas que

Carlos Alexandre prefere pegar livros no D.A. do que na biblioteca da PUC devido a inúmeros furtos foi desativada. Agora um novo projeto f o i e l a b o r a d o, c o n t e m plando a compra de novos livros e um con-

t r o l e m a i o r sobre esses exemplares mas, devido a falta de um espaço adequado, o projeto ainda aguarda uma reforma na sede do D.A .


6 Cidade

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Outubro • 2008

CHUVAS AMEAÇAM ÁREAS DE RISCO Com a chegada do período chuvoso, moradores das Regiões Noroeste e Nordeste preocupam-se com a possibilidade de incidentes, como deslizamentos e inundações ameaçando suas casas n RAQUEL RAMOS DE CASTRO, 4º PERÍODO

Com o início da temporada de chuvas, pessoas que moram em áreas de risco sentem-se ameaçadas com a possibilidade de inundações, deslizamentos de terra e de casas. A Vila São José, localizada na Região Noroeste da capital, é um desses lugares onde há moradores vivendo sob risco geológico. Cícera Vicente Fernandes, cortadeira de uniformes, mora no Beco São Bento há dez anos, com duas filhas e um filho. Ela conta que no último ano o estado de sua casa piorou muito com o surgimento de trincas e rachaduras no chão e nas paredes. Em épocas chuvosas a situação se agrava com o aumento do nível do córrego e pelo fato do fluxo da água da chuva descer em direção à sua casa. “Não tem nenhum cômodo seguro aqui dentro. Nós não sentimos segurança de ficar dentro de casa”, lamenta Cícera, preocupada. No dia 6 de maio do ano passado, a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) fez uma vistoria na casa de Cícera. Nessa visita foram colocados adesivos em toda a extensão das rachaduras para que ela mesma fizesse o monitoramento se elas estão alargando ou não. “Quando começou a aparecer rachadura aqui elas só tinham meio centímetro e agora tem algumas que já estão com quatro centímetros”, observa. No dia 30 de setembro último, Cícera recebeu uma notificação de técnicos da Urbel

para que ela fizesse a solicitação de uma vistoria mais detalhada de sua casa, calculando o risco de deslizamento e para, caso seja necessário, seja providenciada sua remoção. Próximo à casa de Cícera mora Inês Cordeiro dos Santos. Para chegar em sua residência é preciso passar por corredores estreitos, que parecem formar um labirinto. Na última semana de setembro, a engenheira civil Arlinda Corcini, técnica da Urbel, foi ao local onde Inês mora e explicou a ela que sua casa não tem mais conserto porque está praticamente dentro do córrego. Inês foi orientada a dormir na casa de algum parente nas

noites em que tiverem previsão de chuva. “O dia que choveu encheu tudo. Eu pedi a Deus para me socorrer”, relembra Inês, referindo-se à chuva de granizo que ocorreu no dia 17 de setembro deste ano. Assim como Cícera, Inês deverá solicitar uma vistoria em sua casa e, detectando-se o grau do risco, será removida de sua residência. Maria Neuza Barbosa, 50 anos, mora na Vila Grotinha, localizada na Regional Nordeste de Belo Horizonte, junto com oito filhos e alguns netos de quem toma conta durante o dia. Uma das paredes de sua cozinha é a encosta do barranco. Quando chove, entra água pelo buraco que

há entre a telha que cobre a cozinha e a encosta. Além disso, os próprios moradores da região construíram uma escadaria que fica bem ao lado de sua casa. Como a escada está trincada, Maria Neuza teme que no período de chuva ela tombe em cima de seu telhado, colocando em risco a segurança de sua família. Viúva há um ano, Neuza lamenta não ter dinheiro e nem condições de reformar a sua casa. Alguns de seus vizinhos que estavam em áreas de maior risco já foram removidos. Ela ainda aguarda ansiosamente por sua vez. “Se tirasse a gente daqui ia ser uma bênção”, diz, esperançosa, a viúva.

RAQUEL RAMOS DE CASTRO

Maria Neuza teme pela segurança da família durante as chuvas. O barranco é uma das paredes de sua cozinha

Plantações inadequadas de bananeiras em áreas de encostas consistem em outro fator de risco pelo fato de acumularem muita água provocando o deslizamento do terreno. A casa de Joelem Rose Antônia, 20 anos, fica em uma encosta. Na parte inferior do terreno há plantações de bananeiras. Funcionários da Urbel explicaram a ela sobre o risco da água se acumular em volta da plantação e, conseqüentemente, puxar sua casa morro a baixo. Além disso, Joelem já notou o aparecimento de trincas, algumas ainda pequenas, nas paredes de sua casa. “Vou avisar meu

pai que as bananeiras precisam ser cortadas”, garante. Há 27 anos, Maria de Fátima Antônio Fernandes mora na Vila Grotinha. Apesar de sua casa não estar em risco, ela se preocupa com a segurança de sua irmã. “Quando chove tem uma enxurrada muito grande e o buraco por onde a água passa está entupido. A água chega até aqui”, diz Fátima, apontando para o nível que a água chega na janela da casa da irmã. Maria Neuza foi orientada a fazer uma solicitação de vistoria para que façam uma avaliação melhor do problema.

Prevenção ajuda na redução de acidentes A operação Pente-Fino é um trabalho preventivo realizado pela Urbel que consiste em percorrer locais mais críticos de vilas e favelas de Belo Horizonte, distribuindo cartilhas educativas que explicam como os próprios moradores podem identificar indícios de risco e como devem agir em situações de emergência. Algumas famílias, cujas residências estejam em situações de risco muito alto, recebem uma notificação e passam a receber monitoramento. O programa começou no dia 15 de setembro e vai até 22 de outubro. Para a solicitação de vistorias mais detalhadas, os moradores de áreas onde há risco geológico podem ligar para o Disque Vistoria Urbel, de segunda a sexta-feira, das

8h às 18h, pelo telefone 3277-6409. Durante a noite, aos finais de semana e feriados, podem ligar para a Defesa Civil (199) ou para o Corpo de Bombeiros (193). Para informações sobre a coleta de lixo ou locais onde devem ser levados o entulho, deve-se telefonar para o Disque-Limpeza do Sistema de Limpeza Urbana (SLU), pelo número 3277-9388. De acordo com a Assessoria de Comunicação da Urbel, o diagnóstico da situação das áreas de risco de Belo Horizonte, atualizado em 2004, apontou que existem cerca de 10.650 moradias em risco alto e muito alto. Entretanto, o trabalho preventivo e as obras tem contribuído na diminuição de famílias vivendo nessas situações de risco alto e muito alto.

Auxílio para recuperar dependentes do álcool n ALESSANDRA MALAQUIAS, ANTONIO ELIZEU, 3º PERÍODO

“Provei a bebida alcoólica pela primeira vez aos 16 anos, casei aos 20 e já não conseguia viver sem um gole. Me sentia inferior aos outros quando estava sóbrio, por isso a bebida me acompanhava em todos os momentos. Sofri muita humilhação, até o dia que fiquei doente por causa da bebida e o doutor disse, ‘você tem que parar de beber e procurar uma ajuda, ou você morre'”, relata um homem de 52 anos, que há 14 participa do Grupo Luar de Alcóolicos Anônimos (AA), explicando que foi nesse momento que começou a ver a vida de forma diferente, melhor. “Comecei a acompanhar a família, mas freqüentando sempre as reuniões”, acrescenta.

O grupo funciona desde 1983, à Rua Amaraji, 182, Bairro São Gabriel, às quintas-feiras e sábados, nas instalações cedidas pela Escola Estadual Professor Antônio Ribeiro, o Grupo Luar de AA. Existe apenas uma regra para participar da irmandade: reconhecer que precisa de ajuda. O “AA” não toma a iniciativa de procurar o dependente, tem que ser o inverso, porém pode aceitar um convite de um padrinho (ou madrinha), termo usado para pessoas há mais tempo engajadas. “Em alguns casos uma pessoa viciada pode receber convites de integrantes, que tentam aproximar e identificar com o AA. Na busca da eliminação da raiva, da mágoa e do ressentimento que, sem saber, geralmente carregam em seus corações”, relata outro membro, que participa há 17 anos do grupo Luar. Como toda e qualquer

irmandade, foram definidas bases para um entendimento entre todos os grupos do mundo, resumidos nos “12 Passos, 12 Tradições e 12 Conceitos”, cuja tradição nº 7ª diz que o Grupo Luar “AA” devem ser auto-suficientes, rejeitando qualquer doação de fora. “Portanto, nem mesmo visitantes podem contribuir, já que o projeto só pode contar com as verbas dos participantes, verbas bastante modestas, mas que não impedem de ter sempre um café ao meio da reunião, tornando o local muito familiar, até aqueles companheiros que não contribuírem, ficam á vontade para o café, sem nenhuma restrição”, enfatiza um outro membro, 41 anos, casado, pai de um filho, tendo ao seu lado a esposa que freqüenta para apoiá-lo. “As reuniões são importantes para equilibrar os 4 pilares que são: o emocional, físico, mental e espiritual,

pois sem isso fica difícil encontrar a recuperação”, enfatiza outro coordenador, membro há 14 anos. As reuniões acontecem às terças, quintas e sábados, às 20h. “As famílias por sentirem vergonha, preferem passar a mão na cabeça do parente dependente de bebida alcoólica, não deixando ele reconhecer a necessidade de ajuda”, ressalta um membro de 41 anos, que ingressou em 1998. “Para tornar um alcoólatra não é da noite para o dia, o individuo começa com um gole hoje, dois amanhã, depois mistura e assim vai”, acrescenta. “Fico feliz em trabalhar hoje sem ingerir bebida alcoólica, pois eu acordava e passava no boteco para tomar uma, se o boteco não estivesse aberto ficava ali parado o resto do dia, porque eu não tinha forças para trabalhar sem ela. Agradeço muito pelas reuniões, onde posso me equilibrar e não

interromper minhas perspectivas”, diz um membro de 41 anos, participante desde os 20. ORIGEM Tudo começou em 1935, na cidade de Eicron, nos Estados Unidos, com uma conversa entre dois ricos senhores, o médico Robert Hoollbrook, conhecido como Bob e o outro mais conhecido como Bill (Willian Graffth Wilson), um corretor da bolsa de valores de Nova Iorque, que precisavam de ajuda na luta contra o vício da bebida. Em seus diálogos, relatavam suas experiências, a fim de sanar seus problemas em comum e, quando deram conta, perceberam que já haviam se passado cinco horas de conversa sem tomarem uma dose de bebida alcoólica. Foi então que surgiu a idéia de formar a irmandade de homens e mulheres que compartilhariam suas experiências,

com o propósito de abandonar o vício. E assim começaram a ligar para seus amigos que se encontravam na mesma situação, surgindo os AA (Alcoólicos Anônimos). Tradicionalmente, os membros do AA sempre cuidaram de manter seu anonimato em nível público: na imprensa, no rádio, na televisão, no cinema e, mais recentemente, na internet, Por isso, os membros sentiram a necessidade de eleger os Custódios, assim chamados dentro do AA. Eles são os porta-vozes da Instituição, designados para falar sobre os programas e as unidades de serviço de recuperação. Os Custód014ios são participantes não dependentes do álcool, por isso podem se manifestar publicamente pela causa, ao contrário dos membros que estão ali para recuperarem, que têm resguardadas as suas identidades.


Cidade Outubro • 2008

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NOVAS FORMAS PARA SE LOCALIZAR “Como chega até aqui” é o nome do blog que criou uma nova ferramenta para localização urbana, ajudando e interangindo pessoas que desejam se guiar pela cidade de Belo Horizonte YONANDA DOS SANTOS

n LAURA MILAN, FLORA PINHEIRO, 3º PERÍODO

Criatividade e localização urbana se encontram em uma nova ferramenta de orientação. O blog "Como chega até aqui" (www.comochegaateaqui. blogspot.com) faz parte da proposta do curso de pós-graduação "Processos Criativos em Palavra e Imagem", oferecido pelo Instituto de Educação Continuada (IEC) da PUC Minas, idealizado pelas estudantes Amanda Coimbra, Flávia Aragão, Letícia Souki e Lorena Mourão. A idéia de fazer um serviço colaborativo de orientação na cidade, se baseou na necessidade das pessoas se localizarem no espaço de uma forma

Adesivo do projeto colado por colaborador do blog, no Bairro Funcionários diferente da habitual. O símbolo do blog é um adesivo com a pergunta "Como você chega até aqui?". Ele pode ser impresso por qualquer pessoa e colado em algum lugar que ela goste ou ache

interessante. Após fixar o adesivo, a pessoa conta como chegou até ali, seja por meio de fotos, palavras, vídeo ou som. Qualquer pessoa pode colaborar: basta entrar no blog, dizer onde encon-

trou ou colou o adesivo e narrar o trajeto percorrido. Foi isso que aconteceu com o colaborador Thiago Bernardo, 18 anos, que colou o adesivo em lugares que freqüenta. "Eu colei o sticker na Praça da Savassi, no Café com Letras e no Rei do Pastel. São lugares que eu acho interessantes", conta. Ele disse ainda que todos deviam colaborar porque é um projeto novo, diferente e que ajuda as pessoas a se localizarem de forma prática. "No blog tem um mapa super prático, ajuda as pessoas a encontrarem novos lugares para sairem, gente legal e interessante", completa. I N T E R AT I V I DA D E " D e veríamos montar um dispositivo que fizesse as pessoas trabalharem em rede

por meio de símbolos e iconografias, dentro do espaço urbano. Logo pensamos em alguma ferramenta de orientação, mas que não fosse estática e quadrada como mapas", explica a estudante Amanda Coimbra, 24 anos, uma das idealizadoras do projeto. Amanda conta que a idéia do blog "Como chega até aqui" foi fundamentada na percepção individual de cada pessoa. "Queremos fazer essa pergunta para as pessoas. Elas chegam de ônibus? A pé? Chegam apressadas? Cansadas? A pergunta faz com que elas reflitam sobre o caminho percorrido, por que escolheram aquele caminho? Escolheriam outro se fosse preciso?", esclarece Amanda.

Todo material enviado por um colaborador é postado no blog, sem um critério de seleção. Assim, todos podem participar de forma dinâmica. Além do blog, os lugares que receberam os adesivos podem ser encontrados em um mapa virtual, disponível na rede. Amanda conta que, com as colaborações, os usuários se localizam de maneira usual, como em um mapa. "O como chega até aqui” não se trata de negar as outras formas de localização e locomoção, mas faz com que todas se co-relacionem para ajudar as pessoas a valorizar o espaço em que vivem", acrescenta.

LORENA KAROLINE MARTINS

Pesquisa de acervos musicais resgata a memória de Minas n PEDRO CASTRO, 3º PERÍODO

A Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) há três anos vem tentando preservar e resgatar a história da música brasileira e, especialmente, da música mineira. Nos fundos do prédio da Escola de Música da instituição, que fica no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte, está o acervo musical da universidade. Em uma das duas salas conjugadas está todo o material: o acervo do Maestro Francisco Aniceto e 30 mil vinis da Rádio Inconfidência, que mantêm um convênio com a instituição de ensino. O acervo musical pertencente à Rádio Inconfidência está aos cuidados da Escola de Música da UEMG e reúne em seus discos um repertório de música popular. Desde de 2003,

foi feito um processo de restauração dos vinis para divulgação digital e científica. Atualmente, a pesquisa do acervo da Rádio Inconfidência cedeu lugar ao núcleo de pesquisa musical da UEMG, que está trabalhando com o Acervo do Maestro Francisco Aniceto (1890-1972), nascido na cidade de Piranga, na Região do Campo das Vertentes. Francisco Aniceto desenvolveu uma intensa atividade musical em sua Região e também foi o primeiro professor de música do compositor Ary Barroso. Este acervo é uma das principais fontes de estudo da música feitas no Brasil, principalmente de Minas Gerais no período colonial e do século XIX. A coleção foi doada pela própria família do Maestro. “As partituras chegaram em um estado deplorável. A maioria com muito mofo e algumas que-

bradas e com traças. Por isso passaram por um processo de higienização, utilizando apenas o pincel”, comenta a estudante Ludmila Ribeiro da Costa, 27 anos, que cursa o 4º período de Licenciatura em Música e é estagiária do projeto. Segundo o músico, professor e coordenador do projeto, Domingos Sávio Lins Brandão, 50 anos, o objetivo é a descrição e a discussão de metodologias tendo em vista tornar esse material mais acessível pela sua extrema importância. Acredita-se que sua divulgação poderá vir a preencher algumas lacunas ainda presentes na história do passado musical brasileiro e mineiro. No início, o professor Domingos, e os estudantes Yan Vasconcellos, 24 anos e Ludmila, perceberam que as obras do Acervo deveriam ser totalmente reorganizadas para facilitar o

O coordenador Domingos Sávio e os estagiários Yan e Ludmila, no processo de catalogação dos acervos musicais processo de consulta, de digitalização e de uma futura editoração. Por isso, os critérios levados em consideração para a organização das partituras foram de acordo com as especificidade do acervo, levando em conta as condições do local, de armazenamento e de classificação, sendo então criado um banco de dados, seguindo exemplos de outros acervos pelo país. “As 1200 partituras do acervo são divididas em

duas partes: sacras e não sacras (religiosas e não religiosas). As sacras, são tocadas em missas e igrejas e as não sacras, são músicas como valsas, cânticos, marchas, hinos”, explica Yan, que é estudante do 6º período em Licenciatura em Música. “As partituras nem sempre vêm com o compositor e a data, assim vamos fazendo uma associação pelo tipo de papel e a caligrafia. Quando não é possível reconhecer, colo-

camos como compositor desconhecido”, acrescenta. Depois de finalizada a parte de classificação e digitalização, outros estudantes da UEMG terão a chance de dar continuidade ao processo. “Ano que vem, um outro grupo vai tentar editorar”, conta Yan. Com o objetivo final de lançar um livro com todas as partituras do Acervo Chico Aniceto, o estudante comenta que a principal valor do projeto é o musical e não apenas o estético.

Clientes ganham refrigerantes na troca de pneus n LUCAS LEÃO, 4° PERÍODO

Troca dos pneus usados por brindes como refrigerantes, descontos nos serviços ou na compra de novos pneus, tem atraído cada vez mais o consumidor mineiro. Iniciativas de empresas privadas tem chamado a atenção do consumidor, uma delas é a da troca dos pneus usados por refrigerantes de 2 litros, praticada por empresas, como por exemplo, a Pneusola, tradicional no ramo de venda e substituição de pneus no estado.

Segundo o vendedor Éber Azevedo de Araújo, os pneus são repassados à Reciclanip, empresa situada na cidade de Contagem,na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O destino dos pneus é a remoldagem ou a reciclagem. Neste segundo caso, de acordo com o engenheiro civil Gustavo Leão Soares, o destino é a indústria da construção que utiliza o produto como matériaprima na produção de asfalto reciclado ou formatação de blocos de construção. Ainda de acordo com Gustavo, que já participou desta iniciativa, todos saem ganhando. Segundo ele, ganha o meio ambiente que

não mais recebe de forma desordenada os pneus, ganha a construção civil que aproveita matéria-prima de qualidade e ganha o cidadão comum, como ele, que ao trocar os pneus do seu carro, optou pela participação na campanha, recebendo de brinde os refrigerantes de dois litros. Outras empresas da capital, também trabalham a consciência da população em relação ao descarte dos pneus velhos, porém, a modalidade mais utilizada de “bônus” ao consumidor é o desconto na aquisição de um novo pneu ou nos serviços executados na troca destes. De acordo com Tatiana

Palhares, jornalista da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Belo Horizonte, os aterros da capital também recebem uma grande quantidade de pneus, descartados de forma incorreta e coletados pela SLU ou, levados por cidadãos que desejam um descarte correto do material. Estes pneus são separados e encaminhados aos fabricantes que os repassam a empresas especializadas na reciclagem ou remoldagem. Os pneus descartados de forma incorreta podem acarretar uma série de danos à população tais como o acúmulo de água parada, que gera expansão

epidêmica da dengue, acúmulo de entulhos em ruas, becos, aterros e outros locais da cidade, atraindo

animais peçonhentos como os escorpiões, que se utilizam do material para proteção e procriação.

GUSTAVO ANDRADE

Éber Azevedo é funcionário de uma das empresas que realiza as trocas


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Outubro • 2008

DIVERSÃO E INCÔMODO NAS NOITES Vizinhos de casas noturnas da capital mineira muitas vezes são prejudicados pelo som alto durante às madrugadas, além da constante sujeira das calçadas após a realização de eventos LUÍZA FERRAZ

CAMILA BESSA, ISABELLA LACERDA, LOLA CAMAROTA, 2ºPERÍODO

Os bares e boates em Belo Horizonte conquistam cada vez mais espaço na noite movimentada da capital com festas e shows que começam nos mais variados horários e terminam quando o dia já está amanhecendo. A grande diversão para os freqüentadores da madrugada, no entanto, torna-se um incômodo para grande parte das pessoas que não participam desses locais, mas são obrigados a conviver com o movimento dessas casas de shows. O estudante Guilherme Matos, 18 anos, é uma dessas pessoas que se incomodam com o barulho da boate Mary in Hell, localizada ao lado de sua casa, na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, mesmo freqüentando-a nos finais de semana. “Freqüento a Mary In Hell geralmente às sextas e sábados. Não me importo muito com o barulho, o único problema é na quintafeira, pois na sexta preciso acordar cedo para o cursinho, quando tenho prova, e a música é um pouco alta”, diz. Guilherme ainda afirma que, além dele, muitas pessoas mais velhas que moram próximo à Mary in Hell também reclamam do barulho. “Nunca houve a necessidade de chamar a polícia, a boate respeita isso, e quando há muito barulho às vezes eles até pedem desculpas no dia seguinte”, comenta. O estudante ainda revela um outro problema: o lixo encontrado na rua no dia seguinte às festas. “Já aconteceu da rua ficar cheia de lixo por causa da boate e a prefeitura culpar os moradores que moram próximos a ela”, acrescenta. João Batista de Almeida Freitas, porteiro de um dos prédios residenciais localizados próximos à boate, ressalta que os moradores do prédio onde trabalha reclamam muito do barulho, que não ocorre somente dentro da casa de shows. “As pessoas bebem dentro da boate e saem fazendo barulho. Sujeira eles não fazem muito não, mas os carros são um problema. Saem buzinando, cantando pneu, o que incomoda muito os moradores dos prédios próximos”, reclama. Um dos donos da boate

Mary in Hell, Lucas Almeida, afirma que o local possui proteção acústica. “A casa possui portas com isolamento acústico, e por se tratar de uma construção antiga, as paredes são grossas e maciças, fato que por si só já completa o isolamento acústico exigido pela prefeitura”, diz. Lucas ainda defende o estabelecimento, que funciona até às seis da manhã todas às quintas, sextas e sábados, dizendo que são raros os conflitos com os vizinhos e que não há problemas com o lixo. “Já sofremos com os vizinhos uma vez, não por causa do som dentro da casa, e sim por causa do barulho que as pessoas que estavam na fila para entrar estavam fazendo. Quanto à sujeira na rua, o nosso lixo resultante de todas as festas é devidamente recolhido ao final pela equipe de limpeza, e colocado nos postos de recolhimento da SLU”, ressalta Lucas. Daniel Augusto, produtor artístico de outra casa de shows localizada na mesma região da capital, o Jack Rock Bar, explica que há três anos a casa teve que tomar algumas providências para evitar o desconforto com os vizinhos. “Há muito tempo atrás tínhamos reclamações quanto ao barulho, mas instalamos uma estrutura acústica há três anos, o que evitou as reclamações”, afirma. Hoje, segundo Daniel, a boate, que possui capacidade para 450 pessoas e funciona até às cinco da manhã, não recebe nenhum tipo de reclamação em relação ao barulho. O produtor artístico da casa explica que o Jack Rock Bar recebe pessoas de todos os gostos e estilos, desde amantes de Cazuza aos que curtem o rock pesado do Metallica. “A maior parte das pessoas que freqüentam o bar são moradores da região”, ressalta. Ainda de acordo com Daniel, os problemas que ocorrem no Jack hoje são em sua maioria por causa do pagamento da conta no final da noite e roubo de carros nas ruas próximas. “Somente nesses casos que a polícia já foi acionada, mas em relação ao barulho não tivemos mais reclamações”, explica. AVENIDA O vizinho do Jack Rock Bar Maurício Donnart,

confirma que o barulho não é mais um problema. “O barulho não incomoda. A única vez que tive que fazer uma reclamação não foi por conta do barulho, mas porque um freguês havia estacionado o carro dele na minha garagem. Assim, eu tive que ir chamálo na boate”, conta Maurício. Entretanto, não é consenso que os bares e boates localizados na Avenida do Contorno não causam incômodos aos vizinhos. O porteiro de um dos prédios residenciais localizados em frente ao Jack Rock Bar, Vander de Paula, afirma escutar muitas reclamações por parte dos moradores do local onde trabalha. “Algumas das pessoas que reclamam estão tendo que arrumar proteção para as janelas. O problema é que elas reclamam entre si, é raro irem até os bares reclamar”, comenta Vander. A moradora de um desses prédios residências na Avenida do Contorno, Mary Luza Braga, relata que muitas vezes chega a ser insuportável o barulho causado pelo movimento nesses locais. “As pessoas ficam falando palavrão, gritando”, conta. Entretanto, ela acredita que o problema é causado por pessoas que abusam da bebida. “O problema maior não são as festas em si, mas os retardatários que ficam sem controle. Só a polícia para salvá-los”, opina. Mary Luza diz que o problema com o barulho é diário, porém ela não costuma ligar sempre para a polícia. “Qualquer problema vou até os seguranças dos bares, não fico chamando a polícia”, explica. Ela comenta, entretanto, que já teve que acionar a polícia. “Cabe a gente viver de forma pacífica. Porém eu já chamei a polícia diretamente duas vezes. Uma dessas vezes foi porque as pessoas estavam gritando demais, e a comemoração extravasou. Chamei a polícia e tudo rapidamente se resolveu”, lembra. Mary ressalta que não é contra as pessoas se divertirem, mas acha que tudo tem um limite. “O problema é que nem os donos têm controle sobre isso. Sinto que o pessoal do Jack tem um nível de polimento maior, por isso até se preocuparam em fazer a proteção acústica do bar”, comenta a moradora.

A boate Mary in Hell, na Savassi, se esforça para minimizar o incômodo causado aos moradores da vizinhança

Vizinhança sem problemas Diferente de muitos bares e boates de Belo Horizonte a boate Cheio de Graça, localizada na Avenida do Contorno, Região CentroSul de Belo Horizonte, não tem problemas com as festas na madrugada. Segundo o empresário da boate, que se identificou apenas como Luiz Cláudio. Ele revela que a casa noturna tem proteção acústica e um alvará da prefeitura que dá a permissão para funcionar. O empresário conta que já houve problemas, mas somente por questões externas. “A polícia já foi chamada, mas por brigas do lado de fora, nunca por problemas com vizinhos”, ressalta. O empresário afirma também que a questão do lixo e dos carros também não causa transtornos para ninguém. “Não incomodamos os vizinhos nem por problemas com lixo na porta, pois fazemos faxinas no lado externo, nem com problemas com estacionamento, pois essa é uma região com muitas vagas”, explica Luiz Cláudio. Assim como o Cheio de Graça, O Bar Ziriguidun, casa de forró e samba situado no Bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte, nunca teve problemas com seus vizinhos devido ao

barulho excessivo. Anna Göbel e Du Azevedo, donos do local que funciona há quatro anos todas as quintas, sextas e sábados, dizem se preocupar com a questão do incômodo do barulho e do movimento e, por isso, resolveram instalar o bar em uma área comercial, a Avenida Presidente Carlos Luz. “Aqui é um lugar bastante tranqüilo. Não temos problemas com polícia e nem com as pessoas que o freqüentam. A avenida que ele fica é muito movimentada, tem comércios próximos como posto de gasolina e lanchonetes. Há local para estacionar o carro. Não deixamos entrar pessoas bêbadas. A pessoa não entra se estiver em um clima diferente do nosso”, diz Anna. O bar, tradicionalmente conhecido pelos shows de Forró e Black Music, iniciou um projeto chamado Samba na Madrugada, que tem início às 2 horas da madrugada e termina às 6 da manhã, todos os sábados. Anna Göbel afirma que ela e seu marido acreditaram que essa nova atração seria chamativa para os jovens que gostam de uma balada até mais tarde. Entretanto, o Samba na Madrugada acabou cha-

mando a atenção de pessoas das mais diversas idades. “O público mais velho se interessa pelo nosso bar uma vez que recebemos todos os tipos de artistas de samba. Essas pessoas mais velhas, da Velha Guarda, vêm para o bar e acabam dando canjas. É um público bem eclético, que vai até os 70 anos”, conta. A dona do Bar, que é responsável junto com seu marido Du Azevedo pela decoração do local, afirma que a sua casa de shows acabou se tornando um ponto de encontro das turmas de amigos. “Funciona também como ponto de encontro das pessoas, por isso, muitas vezes, as pessoas nem chegam a entrar no bar. Acabam encontrando com seus amigos na porta e curtindo do lado de fora”, comenta Anna. “As pessoas vêm sozinhas para dançar, as mulheres vêm até sem marido. Não tem problema nenhum. As pessoas vêm para dançar, conversar e se divertir”, garante a proprietária. Segundo ela, o bar é um lugar onde as pessoas se sentem à vontade. “Por isso até o chamamos de Ziriguidun: lugar da gente”, acrescenta Anna Göbel.

YONANDA DOS SANTOS

Roubo de cones, mania que traz problemas para a cidade n TÁBATA BARBOSA, MARIANA LOPES, 4º E 5º PERÍODO

Divertido para alguns e um problema para a BHTrans, o roubo de cones de sinalização de trânsito é algo mais comum do que se imagina. Segundo dados da empresa responsável pelo transporte e trânsito na capital mineira, entre janeiro e junho deste ano foram roubados 145 cones, 23 a mais que no mesmo período do ano passado.

Pedro Jorge, 24 anos, técnico de vídeo, admite já ter recolhido cones de vias públicas da capital. "A maioria das pessoas roubam os cones por pura diversão. Eu mesmo já fiz isso só para aparecer com meus amigos", admite. De acordo com a BHTrans, o roubo de cones prejudica o trânsito. A ausência de cones na sinalização de obras pode ocasionar diversos acidentes. Para a agente de trânsito Ieda Milton, seria necessário uma maior responsabilidade

por parte das pessoas em não cometerem este tipo de delito. Ela ainda afirma que não existe uma forma de controlar os furtos nem de punir de forma efetiva aqueles que o comentem. "As pessoas devem gostar mesmo de cones, ou eles são realmente divertidos, mas as pessoas poderiam arrumar outra forma de consegui-los" sugere Ieda. As pessoas que quiserem usar cones em decoração ou para simples diversão, podem comprá-los em lojas especializados em

segurança do trabalho e sinalização. Os preços variam entre R$8 a R$79, dependendo de características de cor, reflexibilidade e tamanho. A universitária Aline Souza, 23 anos, diz que já testemunhou o roubo de cones. "Eu estava no ponto de ônibus em frente a uma obra, quando um carro com alguns rapazes parou e eles desceram sorrindo e brincando pegaram os cones e colocaram em suas cabeças, dançaram para as pessoas

Cones não devem ser retirados do local para evitar problemas no trânsito que estavam no ponto de ônibus onde eu estava, pegaram os cones e levaram embora. Confesso que achei muito divertido, mas fiquei sem saber qual seria a utilidade de um cone", conta a jovem. Alessandro, 25 anos, que não informou seu

sobrenome, revela que usou os cones que pegou em uma avenida da capital como objeto de decoração do seu quintal. "Sempre quis colocar um cone no meu jardim, achei que combinaria bastante, então um dia tomei coragem e peguei logo dois", relata.


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UMA NOVA VIDA DEPOIS DO VIETNÃ Moradores da extinta Vila São Miguel, conhecida como Vietnâ, contam com saudades dos tempos em que viveram lá. Para eles, foram momentos felizes apesar da violência na região GUSTAVO ANDRADE

n CAMILA LAM, DIANA FRICHE,

Período de adaptação é difícil para os moradores

4º E 3° PERIODOS

Mais conhecida como Vietnã, em referência direta à violência do local, a Vila São Miguel deixou de existir há pouco mais de um ano e meio, mas ainda desperta saudades em muitos de seus antigos moradores. “Tirando as enchentes, tudo era bom”, afirma Lucinéia Gonçalves Souza, ex-moradora do Vietnã que se mudou com seus filhos Pedro, de 7 anos, e Jamilly, de 4 anos, para o Bairro Primeiro de Maio, na mesma região da vila. O Vietnã, em Belo Horizonte, fazia parte da Regional Pampulha, localizando-se no cruzamento da Avenida Cristiano Machado com o Anel Rodoviário, na Zona Norte da cidade. Segundo a assistente social da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), Flávia Mota, entre dezembro de 2005 e março de 2007, 231 famílias foram retiradas do local para a execução das obras da Linha Verde. O Padre Pier Luigi Bernareggi, mais conhecido como Padre Piggi, fazia um trabalho social no Vietnã. Segundo ele, com o fim da vila a violência diminuiu, já que os ex-moradores passaram a conviver com outras pessoas de seu novo bairro. “Lá eram só eles. Aqui está muito misturado no meio de outra gente, areja a cabeça”, explica. A opinião do padre contrasta com a de Sulimar Marques Barbosa Ogando, 53 anos, que mora no Bairro Palmares. Ela, que já morou no bairro Primeiro de Maio, acredita que a violência na região não diminuiu com o fim da vila, já que os traficantes apenas foram deslocados. “Mudei para o Palmares, mas não me sinto mais segu-

Após muito tempo de procura, Maria Eny de Souza está satisfeita com sua nova casa, no Bairro Primeiro de Maio ra. Tenho que pagar por segurança particular que vigiam a vizinhança”, explica Sulimar. Mary Martins Fonseca, de 60 anos, também mora no Palmares, em uma região do bairro vizinha ao local onde era o Vietnã e que recebia antigamente o nome de Vila Maria Virgínia. “Quando tinha o Vietnã, o meu bairro era uma paz. Com o fim da vila, muitos bandidos foram procurar outros lugares para morar e passaram a ser meus vizinhos”, afirma Mary. O Padre Piggi possui uma forte relação com a vila. Ele ajudou a montar uma casa de reintegração para jovens que viviam do tráfico no Vietnã. A casa foi um local que eles se reuniam. “Com dança, música, hip hop, aquelas coisas todas que eles gostam”, enumera Padre Piggi. “Para aqueles que queriam estudar, tinha aula de reforço também. Tinha orientação sexual, sobretudo para as moças, que engravidam muito cedo. Era uma casa acolhedora, isenta, portanto eles se sentiam à vontade”, declara. Com o fim da

vila, o local foi transferido para o Bairro Primeiro de Maio. Wanderson Alexandre Adriano, mais conhecido como Novato, é responsável pelo Centro de Reintegração Sócio-Cultural Nova Vida, no Primeiro de Maio, com atividades semelhantes à casa do Vietnã. Ele discorda da fama de seu antigo lar. “A comunidade do entorno que acha que está em melhores condições, começa a classificar lugares que são o escape. O Vietnã era o escape do Primeiro de Maio, Dona Clara, Palmares. É fácil ter um lugar para jogar as coisas ruins”, observa Wanderson. Ele acredita que a área era difamada devido às pessoas envolvidas com o tráfico, mas que a maioria dos moradores não tinham nenhum envolvimento com as drogas. A Irmã Maria Teresa Molina Estrella é equatoriana, mas mora no Brasil desde 1992. Ela faz parte da Congregação Irmãs Marianitas e, junto com quatro irmãs, trabalhava na Vila Vietnã auxiliando as famílias.

“Era uma vila em que as pessoas eram muito solidárias”, afirma a Irmã Maria Teresa, com um leve sotaque. Para ela, a população da cidade enxergava a área com “olhos violentos”, e se surpreendeu com a comunidade. “As pessoas da vila eram muito humanas e acolhedoras, não precisamos em nenhum momento entrar com proteção. Essas pessoas eram desconhecidas para o público”, resume. AS ENCHENTES O rap do MC JR, José Reinaldo, exmorador da Vila Vietnã, retrata como as enchentes traziam sofrimento às famílias da vila: “Eu fui desabrigado, a chuva caiu maltratando a gente. A madrugada fria, eu vi os meus sonhos ‘correr’ pela enchente...”. A proximidade com o córrego Cachoeirinha acarretava inundações na época de chuvas. O problema com as enchentes também era a única preocupação que Maria Eny de Souza tinha antes de se mudar para o Primeiro de

O Plano de Remoção e Reassentamento (PRR) foi feito antes do processo, com a finalidade de minimizar os impactos do fim da vila. “As reuniões com os moradores e a Urbel eram feitas de 15 em 15 dias e, desde o princípio, uma comissão de moradores da vila acompanhou todas as etapas”, explica Flávia Mota, assistente social da Urbel. Ela completa que mesmo com o planejamento não foi possível agradar a todos da comunidade. “Em um processo de reassentamento não tem 100% de satisfação por parte dos moradores”, informa. “Procurar casa era muito difícil. A gente andava a semana inteirinha e não conseguia casa. Fiquei muito nervosa e até fui internada”, conta

Maio. Ela mora no andar de cima de Lucinéia. As duas eram vizinhas de casa no Vietnã e resolveram juntar o dinheiro do reassentamento para comprarem a casa que moram atualmente. “Sinto muita saudade, muita saudade mesmo. A violência não afetava, porque não éramos do meio. Apesar da enchente. Não gosto nem de falar”, emociona-se dona Eny. “As famílias eram todas unidas, uma beleza”, recorda Eny. “Quando a água vinha, ia até o teto. Era ruim demais, as paredes ficavam mofadas. Para quem tinha

Maria Eny. Por isso, ela propôs a Lucinéia a compra da casa juntas. “Todo mundo falava que não daria certo a casa de dois”, conta. Porém, elas conseguem conviver em harmonia. “Para algumas pessoas, sair de um lugar onde se tem tantos recursos para ir para uma comunidade diferente, onde se tem que recomeçar tudo de novo, é muito trágico”, constata Novato. Lucinéia explica que o começo é muito difícil. “A gente não conversava com ninguém. Lá embaixo a gente conversava com todo mundo, conhecia todo mundo”. Maria Eny compartilha essa opinião e ressalta: “Sinto muita saudade. A gente nunca é feliz fora do habitat da gente”.

menino pequeno era um problema”, lembra Lucinéia. Ela sente falta da liberdade, da facilidade que tinha e acesso aos lugares. Mas aqui a casa é ótima, tudo aqui é melhor que lá. Aqui pelo menos a rua é certinha, tem esgoto, tudo direitinho”,conta. Segundo Flávia Mota, houve visitas às novas casas para ver o padrão de vida dos moradores. “Fizemos uma amostragem com 30% dos antigos moradores e a grande maioria teve grande melhoria de suas habitações em relação ao Vietnã”, diz.

GUSTAVO ANDRADE

Lourenço Poff, experiência de vida e muitas histórias aos 106 anos de idade n GUYANNE ARAÚJO, 6º PERÍODO

Aos 106 anos e com muitas histórias para contar, Lourenço Marcenaro Poff é um típico mineiro que teve sua vida marcada por muito trabalho e simplicidade. Já trabalhou com horta quando criança e com venda de madeiras, mas foi como pedreiro que participou de importantes obras em Belo Horizonte e até mesmo em Brasília. Apesar da idade, Poff se apresenta disposto e feliz com a vida que tem. "O importante é a luta diária que o homem faz. Não posso falar de vitória, mas felicidade", comenta. Quando Poff participou da construção da Igreja de Lourdes, localizada à Rua da Bahia, na Região Centro Sul, ele tinha 21 anos. "A igreja de Lourdes é uma obra religiosa bem bonita", afirma. Mas ele não se considera uma pessoa importante e sim uma pessoa simples. Entre outras obras, participou de construções como

estradas e pontes. Entre 1923 e 1926, Poff trabalhou em obras de estradas para a Serra do Cipó. Após essa data, também trabalhou no estado, nas obras da Gameleira e três meses em Brasília. Atento aos acontecimentos do mundo e as transformações que marcam as mudanças nas cidades, Poff faz comentários sobre acontecimentos atuais e sobre lembranças do passado. Para ele, as pessoas estão mais pacíficas. "Nessa campanha política não tem morte, na minha época, tinha muitas mortes, até entre famílias", pondera. Sobre as olimpíadas ocorridas esse ano na China, ele demonstrou ter visto e ainda comentou que seria uma evolução do mundo. Poff analisa que foi a partir dos anos 30 e 40 que foram surgindo mais escolas. "Hoje, fala-se constantemente da melhoria do ensino. Ultimamente é que o povo adquiriu mais educação", afirma. Ele ainda

comenta que hoje existem várias universidades que ninguém sabe quantas são, e que o povo melhorou muito e está conhecendo mais. Para ele, outro fato que mudou foi a questão do transporte e a possibilidade de ir de um país a outro de ônibus. Ele considera que o homem está muito evoluído e que o Brasil está melhorando muito, pois acredita que o país era desorganizado. "O homem precisa de todos; não podemos dispensar um povo, uma classe", argumenta. Poff tem uma vida aparentemente tranqüila. Segundo sua filha, Lívia Viana Poff, ele dorme muito, não tem problemas com alimentação e os médicos o atendem em casa. Cercado de muita atenção e carinho por parte de sua família, ele conta com alguns cuidados como atendimento de profissionais:fisioterapeuta, fonoaudióloga, geriatra e três cuidadoras que lhe prestam assistência durante todo o dia e aos finais de semana, revezando em

função do horário. "Essa médica que atende em casa é muito boa. Na minha época não tinha isso não", diz Poff. Para o conforto, quando há necessidade de ir até o hospital ele utiliza ambulância. Mas sua vida social abrange outras atividades: ele sempre vai a passeios e festas familiares. São 11 filhos, 34 netos e 25 bisnetos, além dos irmãos. Sua filha conta que, curiosamente, na festa de aniversário de 95 anos do irmão de Poff, ele disse que o irmão estava ficando velho. BOA MEMÓRIA A neta de Poff, Isabella Moura Bossi, de 26 anos, já morou com o avô durante nove anos quando era criança. Ela lembra que era muito criança e Poff já era idoso, com 89 anos. "Hoje em dia a gente tem uma relação muito mais próxima do que quando meu avô morava lá em casa, porque eu era criança", comenta. Isabella fala que depois dos 100 anos, Poff mudou muito e ficou mais aberto. "Na época que mora-

Lourenço Poff participou da construção da Igreja de Lourdes na capital va com a gente ele era muito ligado à bolsa de valores e quando eu era criança queria brincar. Nossa relação era mais de respeito", lembra. Isabella conta que Poff fazia caminhada todos os dias na Lagoa da Pampulha pela manhã quando acordava com a cadela da casa. "Meu pai saía depois para caminhar e via meu avô rolando na grama da lagoa com minha cachorra", recorda a neta. Atualmente Isabella mora na Itália, mas sempre que vem ao Brasil faz questão de visitar o avô. O pai de Poff veio da Itália e por isso ele tem uma ligação forte com o país. Segundo sua neta, quando ela e os primos tiraram cidadania italiana,

Poff ficou muito feliz. Poff mora junto com seu neto e a filha Lívia Viana Poff desde o falecimento da esposa e uma das filhas. Lívia recorda das histórias que Poff conta à família e diz que o pai tem uma boa memória, principalmente de geografia. Poff é católico mas conta que teve uma época que não era tão praticante. Um dos motivos foi o fato de o primeiro casamento não ter deixado filhos , pois a primeira esposa faleceu ainda jovem devido a problemas de saúde. "A coisa mais certa para todos é Deus", afirma Poff.


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Outubro• 2008

GRUPO COLMÉIA CELEBRA 25 ANOS Mulheres, que se reúnem há duas décadas e meia em Nova Lima para ajudar a comunidade, comemoram o feito e se unem para manter vivo o espírito solidário das “abelhinhas” n LAURA SANDERS, CÍNTIA REZENDE, 4º E 7º PERÍODOS

Após cada reunião, as mulheres do grupo Colméia, em Nova Lima, fazem uma oração para agradecer o encontro. Neste dia, a prece tem um pedido especial.“Vamos rezar para que as nossas abelhinhas sempre estejam presentes nos encontros, e que mais abelhinhas venham para a Colméia”, afirma Fabíola Maria Simões Felix, presidente do Conselho Deliberativo da Colméia. Há 25 anos, mulheres que se intitulam “abelhinhas”, por causa do trabalho realizado, se reúnem todas as terçasfeiras para confeccionar artesanato como forma de ajudar a comunidade local. Maria Alice Franco Pinheiro, desde que se mudou para Nova Lima, há 24 anos, freqüenta regularmente os encontros. Ela diz que só se afastou do grupo na época em que suas filhas se casaram. Maria Alice relata que no começo eram apenas enxovais para mulheres carentes, mas agora o grupo tem mais produtos. “Crochê, bordado, pano de prato, é diversificado”, conta. Apesar de ter aumentado o número de artigos produzidos, Maria Alice afirma que a partici-

pação das integrantes do grupo diminuiu muito ao longo do tempo. Quem também percebeu as mudanças foi Ivonete Rossi Ferreira, na Colméia há cinco anos. “Tem reunião que só vem quatro, cinco pessoas. Quando vem poucas pessoas, bate aquela tristeza”, desabafa. Ela conta que nos encontros as mulheres se reúnem para fazer enxovais de flanelas e também outras peças de artesanato, tudo destinado às famílias carentes da cidade. “Eu só não venho mais porque eu ainda trabalho”, relata Magaly Augusta Rosa, que apesar de ser aposentada continua trabalhando como professora. Mesmo estando ocupada durante a semana, ela conta que faz questão de se dedicar à Colméia, onde desempenha a função de costureira. Além dos enxovais, o grupo ajuda aos moradores de Nova Lima de acordo com a necessidade de cada um. “Nosso plano é ajudar qualquer pessoa que esteja em dificuldade”, explica Fabiola. Isso inclui compra de medicamento, prótese ortopédica, cinta para coluna, aparelho auditivo, conserto de casa. “O que passa a gente faz”, afirma. Para arrecadar fundos, o grupo realiza uma feira

todo final de ano onde vendem seus produtos. Há ainda dois chás beneficentes. O primeiro em maio, em homenagem às mães, e outro de primavera, em setembro, que este ano foi especial pelo aniversário de 25 anos. Nos chás que a comunidade participa tem lanche e “chá preto com leite, bem na tradição dos ingleses”, explica Maria Alice, já que eles influenciaram os hábitos de Nova Lima. As reuniões do grupo acontecem às terças-feiras, de 13h às 18h, e o convite para participar, segundo Ivonete, é feito no “bocaboca” mesmo, já que toda cidade sabe do trabalho. Ela acredita que a freqüência vêm diminuindo por diversos motivos, como problemas de saúde, familiar ou pessoal e também a falta de tempo. A coordenação do grupo também não é disputada já que requer dedicação maior. Fabíola acredita que o espaço das abelhinhas é importante não só para a população mas também para as mulheres que freqüentam o local. “O momento para nós é um espaço sagrado”, garante. Ivonete gosta do batepapo, do convívio. “Eu acalmei meu coração aqui”, conta. Maria Alice diz que é um espaço de rir,

de ajudar uma a outra, como uma família.“Isso aqui para a gente é uma terapia”, observa.

HISTÓRIA Fundada pelas mulheres da cidade com o objetivo de criar uma ocupação para as esposas dos trabalhadores da antiga mineradora Morro Velho, muitas delas vindas de outros lugares do país e que ainda não tinham uma identidade com a cidade. Inicialmente chamada de “Doce Colméia”, nome sugerido por Maria Perilla Rocha Siqueira, professora de ciências, conta que ao ver um trabalho dos seus

alunos sobre a organização das abelhas sentiu nos insetos uma inspiração para a trajetória do grupo. “Eu era professora de ciências, aí os alunos fizeram um trabalho sobre as abelhas, eu relacionei com o 'burburinho' das mulheres”, relata. Além da falta de identidade, outro problema enfrentado pelos moradores da cidade era o alto número de jovens grávidas antes do casamento. Para isso, as abelhinhas desenvolveram um trabalho de conscientização, mesmo que indireta das jovens e também

o auxílio às mães carentes por meio da doação dos enxovais para os bebês. “Faltava um trabalho, ocupação para as mulheres da cidade. E também havia muita gravidez de jovens na cidade”, lembra Fabíola. Hoje, 25 anos depois da criação do grupo, Fabíola conta que a Colméia ajuda aos moradores da cidade e também auxilia a prefeitura quanto aos pedidos de enxovais, suprindo a ausência na cidade de um programa social voltado às mulheres carentes.

CÍNTIA REZENDE

Mesmo ocupada durante a semana, a professora Magaly Rosa dedica-se à Colméia, onde atua como costureira

Recuperação que vem por meio da arte e cultura n GLEISA EVANGELISTA DE PAULA, 4º PERÍODO

Jovenato Pereira Luas, 38 anos, morador do Bairro Santa Tereza e novo paciente do Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), recebe apoio no local para se desintoxicar das bebidas alcoólicas. O tratamento teve início há 20 dias, por meio de reuniões em que ele recebe apoio psicológico. "As reuniões estão me dando sentido para a vida", desabafa Jovenato. O CMT é um serviço especializado no atendimento de usuários de álcool e drogas. É uma unidade da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), sendo vinculado técnica e operacionalmente à Subsecretaria Estadual Antidrogas da Secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes. É um serviço oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o primeiro do Brasil que atende gratuitamente. Os participantes podem permanecer nas dependências da unidade de atendimento de segunda à sexta-feira de 8h às 17h, no chamado modo intensivo. Ninguém é

obrigado, no entanto, a ficar no local. A diretora do centro, Raquel Martins Pinheiro, informa que durante o período de tratamento, a pessoa recebe orientação psicológica, terapêutica e médica com o objetivo de YONANDA

DOS

proporcionar ao indivíduo inserção e re-inserção social. Além disso, existem no local oficinas de terapia e esportes que colaboram para a auto-estima dos integrantes. "Essa forma de tratamento é determinada pelo Ministério da

Saúde. Todo centro de atenção psico-social, Capes, e em Belo Horizonte, Cersam, oferece esse tipo de tratamento, de não internação, com atendimento médico e oferta de oficinas terapêuticas", explica Raquel

SANTOS

Raquel Martins Pinheiro, diretora do centro , conta que as atividades oferecidas tem como objetivo a inserção social

Martins. As oficinas oferecem uma importante colaboração para o processo de desintoxicação, pois permitem aos participantes a chance de ocuparem o tempo de maneira criativa e demonstrar suas habilidades. A idéia é que as pessoas busquem aquilo que possa servir de apoio a fim de que elas sintam-se seguras. A biblioteca conta com um grande acervo e as oficinas têm a orientação de um artista plástico. Diferente de outros centros que oferecem cerca de nove meses para a recuperação da pessoa, o CMT não estipula tempo. De acordo com a diretora, todos podem ficar o período necessário para se sentir seguros e prontos para voltar ao meio social. Segundo ela, os trabalhos produzidos pelos participantes são expostos em feiras em datas significativas. Neste ano, por exemplo, houve uma exposição em 26 de junho, o dia internacional do combate ao abuso de drogas. E está prevista outra feira aberta ao público no final do ano. Os adolescentes são

atendidos em gr upos d e n t ro d o c e n t ro e não ficam juntos com os adultos. Essa resolução atende à orientação do setor jurídico da Fhemig, que acredita que o adolescente se sente melhor em gr upos específicos, realizando atividades mais voltadas para sua faixa etária. Segundo Raquel Martins, os mais jovens p re f e re m o s j o g o s e exercícios mais rápidos à atividades mais organizadas tais como pintura ou escultura. A irmã de Jovenato, Maria Pereira Luas Oliveira relata que o irmão melhorou muito depois que passou a se tratar no centro. "Gostei porque ele estava muito fraco, e estou achando que ele está recuperando bem", comenta. Segundo Maria Pereira, a mãe dele está se sentindo mais tranqüila porque o filho tomou a decisão de se tratar. Ela conta que o ir mão não comia. "Ele ficava querendo dinheiro para beber e incomodava a família", lembra.


Cidadania Outubro • 2008

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HUMANIZAÇÃO NO ODILON BEHRENS Pensando no bem estar dos funcionários e pacientes, hospitais e centros de saúde da capital investem no processo de humanização, cuja prioridade é fazer um sistema de saúde melhor GUSTAVO ANDRADE

n CAMILA LAM, CÍNTIA REZENDE, 4º E 7º PERÍODOS

Quem observa o tímido segurança do Hospital Odilon Behrens, Nilson Apolo dos Santos, nem imagina que ele é uma das mais cotadas atrações do projeto Saúde com Arte, iniciativa do processo de humanização criado pelo Ministério da Saúde. A colega de trabalho e coordenadora da iniciativa, Swraide Salgado Pino, que não poupa elogios ao cantor e compositor de bossa nova e blues, conta que na primeira vez em que o segurança se apresentou no hospital, a reação dos funcionários foi de espanto. “Ele se revelou um grande talento, e todo mundo ficou espantado com o fato de ele cantar”, relata Swraide. Apolo conta que sua primeira apresentação aconteceu há pouco mais de um ano, fato que para ele, “juntou a fome com a vontade de comer”. Para o segurança, um hospital também pode ser um lugar de alegria e de arte. “A música é uma ponte, e aqui é um lugar onde as pessoas estão com a alma ferida e desesperançada, e acho que isso trás uma recompensa para eles”, afirma. Swraide conta que o processo de humanização do hospital começou em 2001, mas em 2006, o Saúde com Arte foi ampliado e também diversificou o número de ações no local. A enfermeira relata que as atividades são todas promovidas pelos diferentes setores do hospital e que, excetuando a aula de dança e do coral, que custam mensalmente R$10, as demais são gratuitas. “A gente também faz gincanas onde cada setor pode decorar seu setor e no final o vencedor ganha brindes que podem ser DVDs, aparelho

de TV, e MP3”, relata. Além das aulas, o projeto de humanização também conta com apresentações feitas pelos artistas e funcionários do hospital. Atividades que revelaram talentos como Apolo e o sanfoneiro José Araújo que, graças ao projeto pôde divulgar seu grupo de forró e mostrar sua habilidade com o instrumento. “Foi gostoso demais”, define. Na capela, seis pessoas conversam sobre os motivos da sua estadia no local e também a experiência de passar boa parte do dia dentro do hospital, no chamado grupo de reflexão, coordenado por Sávio Ricardo, que pergunta a uma das participantes qual a parte do corpo que ela mais sente tensão. “Os ombros”, ela responde. A partir daí, Sávio orienta as pessoas a fazerem uma massagem na acompanhante para “trazer conforto”. De acordo com Sávio Ricardo, este espaço é de grande importância, principalmente para os acompanhantes que hoje, são os maiores freqüentadores do grupo. ”Eles precisam é de ouvir o outro. Só de um falar com o outro já alivia a tensão, e eu acho que eles se sentem bem demais após a reunião. Eu encontro depois com eles nos corredores e vejo que eles estão melhores e rindo”, acredita.

APRESENTAÇÃO O casal Roberto Ferreira e Aparecida Oliveira da Silva pensou em todos os detalhes para a apresentação de fantoches, no Hospital Odilon Behrens. Como o público principal seria crianças, Roberto decidiu fazer a apresentação com bonecos moles e não com marionetes. “Com o fantoche, posso brincar tanto com uma criança deitada

quanto com uma criança que tenha condições de estar de pé”, explica. O boneco, com traços de palhaço, também possui uma justificativa. “O palhaço é diretamente associado ao imaginário da criança, e encanta tanto um menino quanto uma menina”, afirma. A partir do momento que o casal sai pelos corredores do hospital, há uma imediata interação com adultos e crianças, pacientes ou funcionários. Os sorrisos que aparecem nos rostos surgem pouco a pouco, como o da mãe de Amanda Beatriz. “Chique demais, muito boa a iniciativa”, afirma Nilce Alves de Souza, que sorri mais que a filha ao ver os bonecos brincarem pelo corredor em que aguardava a consulta. Há uma semana internado no hospital, Guilherme Santos de Oliveira, 3 anos, não conseguiu parar de olhar para os palhaços, mesmo deitado em sua cama. Para o pai, Felizberto Bessa de Oliveira, a brincadeira é muito bem-vinda, pois as crianças precisam de uma distração. Guilherme falou para o pai que queria brincar de fantoches também e contar “dos bonecos”, para a mãe, que iria visitá-lo mais tarde. Para o pediatra Ralph Melo, a apresentação de fantoches pelos corredores, deveria ser uma atividade freqüente. “Distrai os meninos enquanto esperam o atendimento e isso me lembra os Doutores da Alegria. Bom de ter e isso não afeta somente às crianças”, observa. Exemplo disso é a aposentada Maria Rosa dos Santos Silva, que faz terapia ocupacional. “Quebra um pouco o clima do lugar e ajuda no tratamento”, conta rindo após a entrada dos fantoches na sala em que estava com Maria dos Santos Maia, também paciente.

Na apresentação de bonecos na ala da pediatria, as crianças internadas podem se divertir com os fantoches

Informação na dose certa O projeto Posso Ajudar, completa seis anos e cumpre bem com o seu papel de auxiliar no pronto-atendimento do Hospital Odilon Behrens. Os estagiários e monitores que participam dele possuem como objetivo, mediar a relação entre familiares dos pacientes com a equipe de saúde, acolher e orientar os usuários e melhorar a imagem do atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Acompanhando sua tia para aguardar uma consulta, Natália Cristina Alves Gonçalves explica como o projeto ajuda quando precisa obter uma informação. “Na maioria das vezes, as enfermeiras estão muito ocupadas e não dá para correr atrás delas quando tenho alguma dúvida”, diz. O monitor Pedro Adalberto Aguiar Castro, estudante do 6º período de enfermagem, possuía outra visão quando começou a estagiar. “Não entendia como o projeto podia ajudar as pes-

soas. Hoje, enxergo que vai muito além do que só receber e instruir”, diz. Ele é responsável pelo monitoramento dos estagiários do turno da tarde e explica que, na maioria das vezes, as dúvidas dos acompanhantes ou usuários não podem ser esclarecidas por ele, já que não possui conhecimento médico. O simples olhar, a atenção que é dada pelos que trabalham para o projeto, já ajuda. “Existem pessoas muito carentes, e esse clima pesado do hospital influencia as pessoas. Por isso, quando atendo uma pessoa, tento dar atenção para ela, olhar nos olhos mesmo”, diz Pedro. “Todos os hospitais deveriam ter esse tipo de atendimento. Além da facilidade, sou muito bem atendida pelo pessoal do Posso Ajudar”, ressalta Carla Aparecida dos Passos. “Estou aguardando um atendimento com a minha sobrinha, e perguntar para eles evita atrapalhar a fila no guichê”, diz. Anilton Nunes

dos Santos apóia o projeto, porque consegue informações de forma rápida e sem incomodar os funcionários, que estão ocupados. “Sou muito bem atendido e esclareço minhas dúvidas”, conta. Aluna do 3º período de enfermagem, Valéria de Souza Ribeiro, que faz parte do projeto há apenas um mês, considera o estágio uma oportunidade única de aprendizado. “Esse acolhimento diferencial, de forma humanizada, é muito gratificante”, relata. Bárbara Morato Chamon Machado possui três meses de estágio e destaca a importância de seu trabalho. “Os usuários e acompanhantes valorizam esse atendimento, tem horas que eles só querem conversar um pouco, ficam perdidos e não sabem o que fazer. Uma simples conversa pode auxiliar muito mais do que informações técnicas”, observa.

Grafite leva arte e vida aos muros do Hospital GUSTAVO ANDRADE

n MARCELO MOREIRA, 1ºPERÍODO

Os muros do Hospital Odilon Behrens estão com mais vida. Uma parceria entre a Assessoria de Comunicação do estabelecimento, a Associação Municipal de Assistência Social (Amas) e o Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira impulsiona desde o início deste ano, a arte do grafite ao redor das dependências do hospital. O projeto visa conscientizar a comunidade sobre temas importantes sobre saúde e meio ambiente, tais como direitos da criança e do adolescente, doação de sangue, preservação ambiental, respeito aos idosos, solidariedade e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis. Eles foram escolhidos por funcionários e pacientes do Odilon Behrens e já representam uma melhoria de qualidade de atendimento e relacionamento entre a comunidade usual e funcional do hospital. Os grandes destaques do projeto são os estudantes

Éder Luiz e Bryan Luiz de Oliveira, moradores da comunidade local, pintam o muro com temas sociais e ambientais que grafitam e dão cor aos muros, cada um com sua história em particular, são exemplos de como a arte constrói e acrescenta na vida dos jovens. Com exceção do professor Éder Luiz dos Santos Quirino, 26 anos, orientador do grupo, todos os

grafiteiros não estiveram envolvidos com pichações de rua. Bryan Luiz de Oliveira, 18 anos, Lucas Bonifácio Martins, 17, e Helder Vinícius Oliveira, 18, sempre estiveram comprometidos com projetos sociais que desenvolveram suas habi-

lidades. Segundo o próprio grupo o mais habilidoso dos alunos é Bryan, o único integrante que não é morador da Pedreira Prado Lopes, vizinha ao hospital. Desde criança, ele já demonstrava aptidão para desenho. Os

pais dele perceberam o talento e em 2004 o colocaram no projeto "Fica Vivo". "Ainda não me considero um grafiteiro de mão cheia, tenho muito a melhorar e aprender", reconhece Bryan. Ele participa também de projetos musicais, atuando em mais de uma banda e diz estar sempre viajando. "Estou me formando no ensino médio, e quando possível prestarei vestibular, seja para belas artes ou algo do gênero", acrescenta. O professor e orientador Éder Luiz dos Santos Quirino é mais um personagem de destaque. Mais velho do grupo, ele é o que está desenvolvendo arte há mais tempo, desde 2000, por intermédio do projeto Guernica. Éder impressiona por seu vasto conhecimento artístico e cultural. "Hoje, depois de anos de estudos da arte já conheço obras e estilos de vários artistas, tanto do cenário atual do grafite como os clássicos, como Monet, Michelangelo", comenta. Todos os participantes das pinturas se orgulham. "É um trabalho de maior reconheci-

mento na sociedade, rende elogios e orgulho. É muito melhor do que trabalhar como servente de pedreiro", exemplifica Éder. "Servente de pedreiro é puxado, trabalhar com o que gosta, a arte, é muito mais interessante", complementa. Os artistas ainda não terminaram todo o projeto e continuarão com o trabalho de levar arte aos muros do Odilon Behrens, até que todo o contorno do estabelecimento seja revitalizado e decorado. O Hospital Odilon Behrens reconhece a importância da iniciativa. "É um trabalho importante para a comunidade, os temas de conscientização, demonstram que preocupamos com a educaçao da sociedade, além de abrir espaço para os artistas e para as artes. É responsabilidade social", explica Nathalie Rajão Ferreira Silveira, integrante da Assessoria de Comunicação do Hospital. “As pessoas já comentam, reconhecem e elogiam o trabalho feito nos muros", acrescenta.


12 Comportamento

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Outubro • 2008

REI DO ROCK AINDA DESPERTA PAIXÕES Muito tempo após sua morte, o cantor norte-americano Elvis Presley ainda inspira a trilha sonora de casais apaixonados e mantém viva a sua imagem por meio de fãs, como o Clube Elvis YONANDA DOS SANTOS

n ALINE SCARPONI, ANA LUÍSA AMORE, ISABELLA LACERDA, STEFÂNIA AKEL, 2º PERÍODO

No início, a paixão de Thaís era direcionada somente àquele que viria a ser seu marido. Com a intenção de conquistá-lo, ela precisava, primeiramente, atrair sua atenção. Para isso, nada melhor que conversar sobre a maior paixão dele: Elvis Presley. Ela também acabou se apaixonando pelo cantor. Esse ano, Thaís e Rodrigo Botinha completam cinco anos de casamento e atribuem ao cantor de rock da década de 50 a responsabilidade pela união. "Comecei a me interessar pelo Elvis porque estava interessada no Rodrigo. Para poder conversar com ele, eu tinha que saber alguma coisa a respeito do cantor preferido dele. Comecei então a pesquisar. Virou uma paixão muito grande pelo Elvis. Ele teve uma participação enorme nesse casamento", revela Thaís. Rodrigo é um dos integrantes do Clube Elvis, um fã-clube do cantor norte-americano em Belo Horizonte, que completou, em 2008, 11 anos de existência. O grupo busca manter viva a imagem do cantor, não apenas nas homenagens e exposições que realizam, mas nas campanhas de caridade em que se envolvem. Antônio Roque, fundador do grupo, esclarece que as doações destinadas às instituições de caridade

são arrecadadas em encontros promovidos para homenagear o cantor em sua data de nascimento e morte. Nesses encontros, os participantes, vestindo acessórios que remetem ao cantor, interpretam em um karaokê uma música gravada por Elvis e fazem doações que são repassadas para a instituição escolhida. "A gente faz um karaokê, só para ver a galera lá gritando, tentando imitar o Elvis, e premia quem canta melhor. Depois, procuramos direcionar doações para uma instituição que realmente não tem apoio governamental, que precisa mesmo", explica Roque. Esse ano, a instituição escolhida pelo grupo foi o Asilo Lar Tarefa Amor, localizada no Bairro Saudade, Região Leste de Belo Horizonte. A idéia de formar o fãclube surgiu quando Roque retornou de uma viagem aos Estados Unidos, na qual foi visitar a casa de Elvis Presley. Retornando ao Brasil e se estabelecendo no Rio de Janeiro, Roque teve contato com movimentos nacionais que prestavam homenagem ao cantor. Ao se mudar posteriormente para Belo Horizonte, teve a idéia de fundar um fãclube na capital mineira. "Eu achei legal fazer esse movimento aqui em Belo Horizonte, porque eu morava no Rio antigamente e lá eu já participava. Chamei uma galera que eu conhecia e que gostava do cantor. Fundamos o fã-clube em 97. Aos poucos foi

Rodrigo Botinha, um dos membros do Clube do Elvis, mostra as fotos e a réplica em tamanho real que tem do ídolo chegando mais gente", explica. O acervo do grupo é composto de bustos, cartões, fotografias, CDs e álbuns. Inclui também itens bastante curiosos como bolsas, placas de carro e um pôster de tamanho natural do cantor. Antônio Roque possui, sozinho, 1500 fotos de Elvis Presley, além de 660 cartões ilustrativos das várias fases da carreira do artista e 200 CDs. "A próxima compra que vou fazer agora é de roupa íntima com fotos do Elvis. Uma vez eu vi uma reportagem que comentava a respeito do desvio psicológico do colecionador. Nós realmente temos um desvio. Fã não é totalmente pirado, é só um pouco desequilibrado", afirma Antônio Roque, entre sorrisos, enquanto planeja encontrar com um

colecionador que mora no Rio de Janeiro e que possui 12 mil CDs do cantor. Robson Roberto Resende, integrante do Clube Elvis há dez anos e que exibe uma cópia do penteado do cantor, também comenta a relação ídolo-fã. "Quem é colecionador quer ter tudo dele. Enrustidamente todo mundo quer imitar", admite. A convivência com outros estilos musicais, contudo, não é excluída pelo grupo. Artistas como Chico Buarque e Tom Jobim são, também, admirados por eles. Entretanto, há restrições. Estilos como o funk e os atuais modismos musicais não são valorizados pelos integrantes enquanto possuidores de teor artístico. "Eu gosto de música com letra inteligente. Minha menina de 15 anos vai em

bailes funk. Lá o que toca é o Créu. Eu falo o seguinte, tem uma música antiga chamada 'Samba de uma nota só'. Eu digo a ela que essa música que ela ouve é música de uma palavra só", diz o criador do fã clube. Mesmo reunidos devido à comum admiração por Elvis Presley, o grupo afirma existir outras afinidades que os une. "Além da paixão pelo Elvis, a gente tem outras afinidades. Gostamos de bater papo, de falar de futebol, a nossa própria simplicidade é uma afinidade", comenta Roque. DIFICULDADES O fundador do Clube Elvis, entretanto, pontua algumas dificuldades geralmente enfrentadas por grupos nacionais que visam homenagear artis-

tas. A diferente assimilação cultural da sociedade brasileira acerca desses fã-clubes e o pequeno incentivo fornecido a eles pelas gravadoras em geral são algumas delas. "Aqui em Belo Horizonte não tem muito essa tradição. A gente não tem cultura e incentivo para perpetuar um artista. As gravadoras, hoje em dia, não têm interesse em manter fã-clubes, mesmo quando se monta um fã-clube de um cantor vivo. Elas não mandam um pacote promocional, fotos exclusivas, mensagem gravada especialmente para o fã-clube. Não há busto, placa, pôster", desabafa Roque. Além disso, para ele, a dificuldade encontrada para se homenagear artistas nacionais é muito maior que para homenagear os internacionais. "Para mim o maior artista musical nacional é Chico Buarque. Suas letras acompanham o cotidiano brasileiro. Mas aqui quase não existe incentivo por via de gravadora", reclama. De acordo com Robson Resende, os fã-clubes também precisam saber conviver com a modernidade. O acesso universal a músicas e fotografias de qualquer artista, disponibilizadas pela internet, democratiza o produto artístico, mas, por outro lado, o desvaloriza. "Temos que realçar que esse material todo vem do exterior. E a internet ajuda muito. Mas hoje com a mídia eletrônica está se acabando essa coisa de disco. Você copia, você baixa. Você troca com outras pessoas", constata.

Casas noturnas atraem fãs do bom e velho rock GUSTAVO ANDRADE

n DANILO GIRUNDI, DIOGO MAIA, 2º PERÍODO

Há mais ou menos dez anos o rock clássico vem ganhando espaço na noite belo-horizontina, graças ao aumento do número de casas que oferecem apresentações de grupos covers. Esse estilo musical contagia a juventude e faz com que pais e avós voltem a "agitar" em pubs da capital. Quando perguntado sobre o sucesso de bandas como o Sgt. Pepper's – cover dos Beatles –, Advaldo de Oliveira, sócioproprietário do Pau e Pedrapub localizado à Avenida Getúlio Vargas, na Região da Savassi, comenta que a principal causa é a influência exercida pelos pais. Ouvir Pink Floyd ou Rolling Stones em casa gera uma preferência musical e acostuma novas gerações a procurar lugares inusitados para se divertir. Entre somente ouvir um playback da música e assistir uma banda cover, a escolha pelo show é

arrasadora, relata ainda Advaldo. "Sempre que pedia para meu pai para ir a um show ele deixava e às vezes até ia comigo, mas se era em uma boate ele costumava 'embaçar'", conta Daniel Alves, pré-vestibulando de 23 anos e fã de rock. É possível notar certa anuência dos pais quando o pedido é pelo espetáculo. “Assim eles podem ir junto e se divertir com a gente", diz Marco Túlio Modesto, 21 anos, estudante de mecatrônica da PUC Minas. A funcionária pública Ana Maria Monteiro, 43 anos, mãe de Marco Túlio, gosta de clássicos como a banda de Mick Jagger e conta que já assistiu apresentação de um cover na extinta casa noturna de BH, a Três Lobos. "Se meus filhos quiserem iria com o maior prazer a um show com eles", menciona Ana. Segundo os cinco integrantes do Hocus Pocus – Jô Andrade, bateria; Walter Andrade, baixo e vocal; Sylvio Campos teclado e voz; Vlad Magalhães, guitarra, voz e violão; Beto

Arreguy, guitarra e voz; a procura por covers é maior porque se consegue cativar mais facilmente o público do que com música própria. Porque segundo o baterista, é demorado conseguir fãs com som próprio. Questionados sobre o porquê de se montar uma banda cover Jô Andrade, responde que pelo simples prazer em tocar e pela dificuldade em criar sons elaborados, ressaltam ainda que o "espírito" da banda é muito mais importante que a técnica e que o diferencial de uma boa banda cover é a capacidade de reproduzir no palco a energia da banda homenageada. Diversas são as idades e os meios de escutar música. O engenheiro civil Marcos Menicucci, de 35 anos, adora sentar no escuro com um copo de uísque para escutar The Doors. "É muito bom ficar 'viajando' na letra e na melodia para esquecer os perrengues de uma vida corrida", diz. Já para Eudes Carlos Matos, estudante de direito da faculdade Milton Campos, a

O público tem preferência pelos shows de bandas covers de rock clássico em vez de escutar as músicas em playback atração pela música está no carisma e nas boas vibrações que a envolvem. O estudante ainda reitera que sempre vai a shows covers de bandas que fazem apresentações gratuitas ou que não cobram muito caro e diz que o preço absurdo cobrado em alguns lugares é devido ao baixo incentivo que se tem em Belo Horizonte comparado com cidades

como São Paulo. AVENTURAS O estudante Eudes esteve presente no show histórico dos Rolling Stones realizado em fevereiro de 2006 na praia de Copacabana no Rio de Janeiro, para ele o melhor show de sua vida. A aventura lhe rendeu boas histórias como a da carteira, em que o rapaz entrou no mar de manhã com a carteira no

bolso e quando percebeu já era tarde demais. "Meu dinheiro foi para a conta de Yemanjá", brinca o estudante. Ele contou também que ao final do espetáculo a polícia usou métodos pouco convencionais para acelerar a saída da multidão da praia. “Com gás lacrimogêneo foi uma correria só, na confusão eu e meus amigos fomos pisoteados", relata.


Esporte Outubro • 2008

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TORCIDA EM BH, SOTAQUE DE FORA Torcedores de equipes de outros Estados que moram na capital mineira reúnem-se em bares para prestigiarem jogos de futebol de clubes como Flamengo, Vasco, Palmeiras e São Paulo DAVID LUIZ PRADO

n CRISTIANO SILVA MARTINS, DAVID LUIZ PRADO, EMERSON CAMPOS, 8° PERÍODO

São aproximadamente 15h de uma tarde de sábado. Em um bar, no Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, torcedores animados tremulam bandeiras e vestem camisas do seu time do coração, ansiosos pelo jogo que está prestes a começar. Não muito longe dali, em outro bar, no Bairro Cidade Jardim, adeptos de uma equipe rival também se concentram para torcer. O fato curioso é que não se tratam de torcedores de Atlético e Cruzeiro, mas sim dos cariocas Flamengo e Botafogo. Nos dois locais, ambas as torcidas têm a garantia de transmissão dos jogos de seus times durante toda a temporada, incluindo campeonato regional e o Brasileirão. Essa comodidade não é exclusiva para botafoguenses e flamenguistas. Torcedores de Vasco, Palmeiras, São Paulo, Santos e Corinthians, entre outros times, também têm pontos estabelecidos na capital mineira para se encontrar e acompanhar as partidas. “Pode estar passando um jogo do Flamengo contra um time pequeno, no

campeonato carioca, que eu deixo de passar um clássico entre Cruzeiro e Atlético, por exemplo”, afirma o comerciante Frederico Sá, de 36 anos, dono do bar em que a torcida se reúne há cerca de três anos. Apesar da impossibilidade de torcer nos estádios, devido à distância, os torcedores têm um objetivo, nos bares, parecido com o que teriam nas arquibancadas: incentivar seu time com toda a empolgação. É o que explica Charles Hemerly, 24 anos, um dos fundadores da torcida Vasco BH. “As reuniões são para quem gosta da emoção de ir ao jogo, mas não tem como ir ao estádio. É para quem gosta mesmo de torcer. Tem até pessoas que têm TV a cabo e o pacote pay-perview em casa, mas prefere ver aqui, por causa desse clima”, argumenta o estudante. O palmeirense Luccas Riedo, de 18 anos, natural de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, mudou-se há quatro anos para a capital mineira. Não satisfeito em assistir sozinho aos jogos em sua casa, o estudante decidiu procurar outros torcedores do Palmeiras na cidade, e descobriu, por meio da internet, o local onde se encontravam. “Não conhecia ninguém, mas decidi comparecer a um jogo mesmo

assim, porque percebi pela comunidade que era um grupo formado exatamente pra reunir a galera, fazer amizade. E todos foram realmente bem receptivos”, conta o estudante, que há pouco menos de dois anos é freqüentador do grupo. A busca por um ambiente familiar é proposta em comum a todas essas torcidas. O objetivo é criar um clima de amizade e respeito, para que idosos, crianças, casais e famílias inteiras possam, juntos, acompanhar e incentivar o time do coração. Quem afirma são dois organizadores de torcidas historicamente rivais: o flamenguista João Procópio e o vascaíno Thiago Gava, ambos de 24 anos. João, presidente da torcida Fla BH, ressalta a importância desse ambiente nas reuniões. “Tem casos de pessoas que começaram a namorar aqui, e crianças e mulheres também freqüentam. É importante esse clima, é gostoso, não só para ver o jogo, mas principalmente para estar reunido com esse pessoal que tem um interesse e uma paixão em comum”, comenta Thiago, um dos fundadores da Vasco BH. Ele lembra que até mesmo a escolha do local para assistir aos jogos foi pensada nesse sentido. “Buscamos um ambiente para a família, um lugar mais fechado. Isso ajuda muito a entrosar. Hoje, essa

Lugar cativo para torcer Para os donos dos estabelecimentos, garantir a transmissão de todos os jogos dá aos torcedores mais tranqüilidade e assegura uma clientela fiel, o que resulta em maiores lucros a cada rodada. No caso de Frederico Sá, dono do bar em que se reúne a torcida do Flamengo, o evento, além de proporcionar um bom faturamento, também é conveniente para o comerciante, pois ele também é flamenguista. Ele já recebeu propostas de torcidas de outras equipes, como as do Internacional e do São Paulo, e até mesmo de times mineiros, mas em nenhum momento pensou em mudar. Segundo Sá, compensa financeiramente receber os torcedores de outros estados, pois, caso contrário, seu ganho seria muito menor por causa da má localização de seu estabelecimento. “Para mim é melhor assim, já que o ponto do meu bar é escondido e com os torcedores eu garanto mais movimento e visibilidade”, esclarece. Da mesma forma, Luiz Flávio Silva, de 30 anos, avalia que a fidelidade da torcida é muito positiva para o negócio e não afasta os clientes com perfis diferenciados. “Tudo é questão de divulgação, se eu passar a transmitir jogos do Cruzeiro ou Atlético, terei mais problemas, porque tem concorrência e também mais chances de haver brigas, sendo do Vasco, é exclusivo”, explica. Luiz Silva também conta que seu restaurante se reestruturou para receber o novo público. Antes, o esta-

belecimento funcionava apenas durante o dia, e, após a proposta da Vasco BH, ele começou a abrir também à noite e instalou diversos pontos de TV a cabo com transmissão de jogos do campeonato carioca. “O bar se adaptou para eles em termos de estrutura e horário, pois percebemos que, além de funcionar durante o dia servindo almoço e lanches, também tínhamos potencial para atender esse tipo de cliente. O pay-per-view também foi assinado apenas para atendê-los. No churrasco de comemoração de um ano da torcida eu fechei o bar só para eles”, destaca. O universitário Charles Hemerly, de 24 anos, um dos organizadores da Vasco BH, lembra que é preciso seriedade de ambas as partes no acordo para que a relação seja vantajosa. A torcida vascaína já passou por três bares em menos de um ano. Segundo ele, o local em que o grupo conseguiu se firmar, há pouco mais de três meses, reúne as características necessárias, como um ambiente reservado. que contribui para evitar brigas, e agradável para assistir aos jogos, bom atendimento por parte dos garçons e também respeito com os torcedores que comparecem ao local. “A vantagem maior de organizar assim é que você tem a garantia de que vai ver o jogo sempre que quiser. Por isso procuramos diferentes bares até conseguir fechar um acordo, porque se, a cada rodada, dependêssemos de convencer um bar novo a transmitir os

jogos, provavelmente não assistiríamos nunca”, afirma. Ao contrário dos vascaínos, que procuraram um lugar mais fechado para acompanhar o campeonato, os flamenguistas tiveram de providenciar um espaço aberto, e esse foi um dos motivos que levaram à escolha do bar de Frederico Sá. A razão é o fato de a torcida flamenguista ser a terceira maior em Minas Gerais, de acordo com pesquisa do Datafolha, divulgada em 2006. A média de pessoas que acompanham os jogos na FlaBH é de aproximadamente 300 pessoas, enquanto, nas outras torcidas, gira em torno de 50 integrantes. Segundo essa pesquisa, o Flamengo possui a terceira maior torcida do estado, com 9%, perdendo apenas para Atlético e Cruzeiro. O Corinthians vem a seguir, com 6%. Vasco, Palmeiras e São Paulo estão empatadas com 3% cada. Ao contrário das torcidas de Vasco e Flamengo, que possuem apenas uma combinação verbal com os donos do estabelecimento, a Fogohorizonte formalizou um contrato de concessão exclusiva dos jogos do Botafogo, por um ano com um restaurante no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul. Para tentar prorrogar esse prazo e manter os clientes, o estabelecimento investiu em infra-estrutura, proporcionando comodidades para o torcedor, como instalação de um telão e dois aparelhos de TV, estacionamento gratuito para botafoguenses nos horários dos jogos, e confecção de mesa personalizada para os criadores da torcida.

O ambiente tranqüilo do bar permite que as três gerações da família Carvalho se reúnam para apoiar o Flamengo amizade já vai além, o pessoal convida os membros da torcida até para casamentos, formaturas e aniversários”, diz. Foi justamente esse clima que levou Maria Izabel Carvalho, de 39 anos, a levar seus dois filhos, Lucca,

de 10 anos, e Enzo, de cinco, ao bar da torcida flamenguista. “É a terceira vez que eu venho com eles. O pai já vinha antes e sempre dizia que o ambiente era próprio para a família, sem palavrões e com respeito entre os torcedores. Foi jus-

tamente por isso que resolvi trazê-los”, conta a empresária, que é palmeirense, mas incentiva e acompanha os filhos. “Hoje, inclusive, até o avô deles está aí. Três gerações de rubro-negros na família”, brinca.

Internet facilita aproximação O palmeirense Luccas Riedo ficou sabendo da torcida do seu clube por meio de um site de relacionamentos. Foi essa também a ferramenta usada pelo estudante Daniel Alves da Silva, 21 anos, para localizar outros torcedores do Santos na capital. “Na internet, é fácil reunir pessoas pelo gosto em comum em relação a estilos musicais, cinema, moda e juntar esse pessoal. Com o futebol, não é diferente”, afirma Daniel. Para Charles Hemerly, da Vasco BH, a internet tem sido o principal canal de informação e interação entre os membros da torcida. Ele explica que, a partir do momento em que ocorreu a divulgação dos encontros na rede, o número de torcedores aumentou de forma significativa nos dias de jogo. “Logo que a gente fechou com o bar, criamos a comunidade, e já no segundo jogo, reunimos mais 30 pessoas”, comemora. Além de divulgar os horários dos encontros, a comunidade serve ainda para que sejam enviadas mensagens e convites para outros eventos, como churrascos e viagens.

Charles alerta, porém, que é preciso tomar cuidado com as comunidades abertas na internet, para que elas não virem ambiente de provocações e brigas com torcidas adversárias. “Hoje, temos cadastradas cerca de 100 pessoas que já vieram ao jogo, com nome, telefone e e-mail, para que possamos mandar os avisos em uma lista fechada. Isso evita confusões e interferências externas”, explica. As reuniões da Fla BH também começaram a partir do encontro dos torcedores na rede. A comunidade flamenguista no site Orkut é a maior dentre as dedicadas a clubes de outros estados em Belo Horizonte, com cerca de três mil membros associados. Os contatos pela internet, não são, no entanto, a única forma de reunir torcedores. No caso da torcida do Botafogo, o caminho foi contrário. Os fundadores da FogoHorizonte se conheceram durante o lançamento do livro “Botafogo entre o Céu e o Inferno”, em Belo Horizonte, há quatro anos. Somente depois de se reunirem algumas vezes

para acompanhar os jogos, eles decidiram criar um site oficial da torcida, no qual disponibilizam notícias, fórum de discussão e galeria de fotos e vídeos, além de venderem produtos personalizados da torcida. OUTROS EVENTOS Além de promover as reuniões para ver os jogos pela TV, os organizadores têm tentado ampliar as formas de integração entre os participantes. No caso da torcida vascaína, a fórmula encontrada foi a realização de uma roda de samba após os jogos nos fins de semana. Além disso, já foram realizadas duas viagens para ver os jogos em São Januário, no Rio. João Procópio, presidente da Fla BH, conta que, apesar de não serem muito freqüentes, já foram realizadas algumas “peladas” entre os membros. Além disso, eles também planejam aumentar a quantidade de excursões. “No jogo contra o Ipatinga, por exemplo, que foi mais próximo, a gente organizou uma viagem. No segundo turno do campeonato, pretendemos repetir a excursão”, afirma.

CRISTIANO MARTINS

Bar que recebe botafoguenses investiu em serviços diferenciados para conquistar a fidelidade dos torcedores


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Outubro• 2008

n A COBERTURA DA COPA DO MUNDO DE NATAÇÃO FOI FEITA PELOS ALUNOS: DANILO GIRUNDI, ISABELLA LACERDA, STEFÂNIA AKEL, GABRIEL COSTA E RAPHAELA CANABRAVA 2º PERÍODO

O FUTURO DA NATAÇÃO BRASILEIRA A Copa do Mundo de Natação, realizada entre os dias 10 e 12 de outubro no Parque Aquático do Minas Tênis Clube reuniu, além de atletas consagrados, novos talentos do esporte GUSTAVO ANDRADE

A natação brasileira está freqüentemente revelando novos talentos. Campeonatos nacionais como o Troféu Chico Piscina e o Troféu José Finkel de Natação, e internacionais, como a etapa da Copa do Mundo de Natação, realizada entre os dias 10 e 12 deste mês, são uma oportunidade de revelar novas promessas do esporte. Essa competição, realizada no Parque Aquático Minas Tênis Clube, reuniu novos nomes como Daniel Orzechowski, Artur Rocha, Fábio Santi, Candido Silva Júnior e a revelação Henrique Rodrigues, e atletas consagrados, como César Cielo, Thiago Pereira, Rodrigo Castro, Joanna Maranhão e Fabíola Molina. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes Filho, ressaltou a importância dessas competições. "É uma semente que a gente planta para o futuro brasileiro, importante para revelar novos talentos para a natação", afirmou. Reforçando a importância do evento para o Minas Tênis Clube, seu presidente, Sérgio

Joanna Maranhão, recordista sul-americana, foi um dos destaques do Mundial Bruno Zech Coelho, explicou que uma competição como essa agrega muitos valores ao clube e atrai a atenção de patrocinadores. "A natação é o esporte que mais atrai a atenção do Minas. Esse Mundial é fundamental para atrair parceiros para o Minas", observou.

Maior revelação da natação em 2007, segundo o site Best Swim, Fábio Santi não se considerou preparado para nadar na Copa do Mundo. O nadador, de 19 anos, disputou a final dos 50 e dos 200 metros nado costas, e terminou na sétima colocação em ambas. "Não

me achei preparado, mas vou me preparar melhor para dezembro", explicou Santi, referindo-se ao IV Torneio Open de Natação, que será realizado em Florianópolis, entre os dias 10 e 14 de dezembro. Fábio Santi começou a nadar aos 11 anos. Segundo ele, foi campeão do nado medley até os 15 anos, quando se revelou no nado peito. O jovem explica que abriu mão de muitas coisas para se dedicar ao esporte. "A gente não pode sair tanto, então saio menos e não bebo. Mas eu também sou mais caseiro, prefiro um cineminha, um restaurante", comentou. Assim como Santi, o também nadador Candido Silva Júnior, 20 anos, vem se destacando no esporte. Na Copa do Mundo, Candido disputou a final dos 50 e 100 metros nado borboleta, ficando em quarto e quinto lugar, respectivamente. O atleta, que nasceu em Cacilândia (MS), mudou-se para Belo Horizonte com 15 anos e hoje treina no Minas Tênis Clube. Ele comenta que a estrutura que tinha quando começou a nadar é bastante diferente da que tem hoje. "Lá

era muito diferente, aqui tem uma grande estrutura. Você está com um monte de gente te apoiando", contou. O nadador Henrique Rodrigues, com apenas 17 anos, mesmo sendo mais novo que Santi e Candido, já faz parte da equipe oficial do Minas Tênis Clube. Ele ganhou medalhas na Copa do Mundo disputando com grandes nomes da natação, como Thiago Pereira e o tunisiano medalhista de ouro em Pequim Oussama Mellouli. Henrique nadou as finais dos 100, 200 e 400 metros medley, ficando na segunda colocação em todas, atrás somente de Mellouli. "A diferença da vitória foi muito pequena, na batida de mão. Mas estou muito satisfeito com o resultado. Foi muito bom competir com atletas olímpicos", comemorou. NATAÇÃO FEMININA A Copa do Mundo de Natação também foi importante para a natação feminina. Coaracy Nunes Filho acredita ser fundamental fazer com que as mulheres alcancem o mesmo sucesso que os homens. "Temos ótimas atletas,

como a Joanna Maranhão e a Fabíola Molina. A Fabíola me dá a impressão de que quanto mais velha, melhor ela fica", ressaltou. Fabíola comprovou a afirmação de Coaracy através dos seus resultados na competição. Com 33 anos, a nadadora levou três medalhas de ouro para casa, conquistadas nos 50 e 100 metros costas e nos 100 metros medley. Nessa última prova, Fabíola ainda bateu o recorde sul-americano. Ela acredita estar em uma fase muito boa e tenta não repetir os mesmo erros. "Estou sempre aprendendo na natação. A experiência faz crescer", considerou. Outra atleta brasileira que representou a natação feminina na Copa foi a já experiente Joanna Maranhão. A atleta, que participou dos últimos jogos olímpicos, não ganhou medalhas de ouro na competição no Minas, entretanto, levou a prata nos 200 e 400 metros medley e também nos 200 metros costas. "Estou bem, mas poderia estar entre as melhores do mundo. Quero disputar as provas mais competitivas e com as melhores do mundo", revelou.

Apoio campeão serve como incentivo aos atletas Os nadadores paraolímpicos brasileiros Daniel Dias e André Brasil estiveram em Belo Horizonte para prestigiar a etapa brasileira da Copa do Mundo de Natação 2008. Os campeões nas Paraolimíadas de Pequim aproveitaram a oportunidade para divulgar o esporte paraolímpico. O Brasil terminou as Paraolimpíadas de Pequim 2008 com 47 medalhas (16 ouros, 14 pratas e 17 bronzes) e com o nono lugar no quadro geral de medalhas. Daniel Dias foi o atleta paraolímpico que subiu mais vezes ao pódio, ele conquistou quatro ouros, quatro

pratas e um bronze. André Brasil ganhou ao todo cinco medalhas, sendo quatro de ouro e uma de prata. A equipe paraolímpica brasileira teve melhor desempenho do que a equipe olímpica, que saiu de Pequim com 15 medalhas (três ouros, quatro pratas e oito bronzes) e com a 23° posição no quadro geral de medalhas. A Copa do Mundo de Natação não possui disputas para portadores de deficiências físicas. "Eu sou um eterno sonhador e acredito que vamos melhorar", conta André. Com o resultado de Pequim, o nadador espera um maior reconhecimento por

parte de empresas para que o esporte ganhe maior destaque no cenário nacional, assim a carência de competições talvez termine. Daniel ainda ressalta a importância de se investir no esporte. “Para que não tenha apenas o Daniel ou apenas o André, mas sim vários diferentes campeões", afirma. Os atletas paraolímpicos possuem um menor número de patrocínios e incentivos da mídia do que os atletas olímpicos, devido à baixa credibilidade que pessoas e empresas dão ao seu potencial. Mas, segundo André, aos poucos a situação está mudando. "Hoje, com o

patrocínio oficial da Caixa, nós conseguimos montar um calendário definido de competições e programar nossos treinamentos", revela. Em 2004 após se interessar pelo esporte Daniel começou a praticar natação. Para ele, a resposta para sua rápida evolução no esporte é "treino, força de vontade e determinação". O atleta que mais se destacou nas paraolimpíadas acredita que as suas conquistas estão sendo importantes para ajudar na divulgação do esporte para deficientes. "Com a estrutura de hoje é muito difícil para quem está começando, mas em relação ao passa-

do já melhorou muito", diz. André Brasil e Daniel Dias ficaram em Belo Horizonte até o término da competição no dia 12 de outubro. Ambos declaram que não estavam torcendo por alguém em especial, mas sim pelo bom desempenho da equipe brasileira. André e Daniel ainda comentaram que não esperavam grandes resultados devido à etapa brasileira ser subseqüente ao fim das férias dos atletas após o último ciclo olímpico. "É difícil grandes resultados aparecerem porque todos, inclusive eu estávamos de férias", diz Daniel. No momento do encontro, com direito a foto, com

o campeão olímpico dos 50m livre, César Cielo Filho, houve descontração por parte de Cielo, que comentou: "não é justo me colocar aqui junto dos dois porque eles têm 14 medalhas olímpicas e eu só tenho duas". Quando perguntados sobre o que mudou em suas vidas após as conquistas nas olimpíadas, Daniel disse que: "o assédio aumentou bastante, principalmente de repórteres procurando uma entrevista". Já Cielo brinca dizendo o que mudou de Pequim para cá foi "que eu cortei o cabelo umas duas vezes".

GUSTAVO ANDRADE

Ajuda que vem de fora das piscinas faz toda diferença Não são só grandes astros que fazem um grande evento, como é o caso da etapa brasileira da Copa do Mundo de Natação, disputada em piscina curta, no Parque Aquático do Minas Tênis Clube. Pessoas que trabalham nos bastidores também exercem funções que possibilitam o bom encaminhamento da competição. O auxiliar de serviços gerais Vanderlei Pereira de Souza, 29 anos, é uma das pessoas que ficaram trabalhando para que os espaços onde atletas, jornalistas e público transitavam pelo parque aquático ficasse

aconchegante. Ele limpou o local e recolheu objetos espalhados na arquibancada. Segundo ele, o salário recebido nesse tipo de evento ajuda muito na manutenção da economia familiar e no sustento dos filhos. Vanderlei ainda comenta que de vez em quando observava as provas que estavam sendo realizadas. Ele afirmou que o trabalho não é muito cansativo, embora considere que o calor atrapalha um pouco no desenvolvimento do serviço. "O sol que é meio ruim, mas dá para levar", constata. Nadadores de categorias juvenis do Minas Tênis Clube também tiveram a oportu-

nidade de ajudar no evento. Eles tinham a função de levar as cestas para os competidores guardarem seus objetos e auxiliá-los na ida ao pódio. Reinaldo Belli, 14, que já treina há seis anos, afirma que trabalhou com muita alegria e que se tiver outra oportunidade, irá ajudar. Além disso, ele afirma que observando os competidores já tirou algumas lições que pretende implantar em seus treinamentos. "O melhor proveito que a gente tira é a técnica. Eu já vi que eu tenho que melhorar na ondulação", constata. Para o jovem, o grande modelo de superação é o campeão olímpico César Cielo. "O Cielo é um exemplo. O Brasil inteiro não sabia dele,

e olha o que ele fez", observa. Para o técnico de áudio do evento, Selmo Paim, que chegava ao local às 7h para organizar o som, trabalhar nesses eventos é muito interessante, pois ao mesmo tempo, que você trabalha você se diverte. Porém, ele afirma que para aprender a manejar o sistema de som demora muito, pois está com 29 anos afirmou ter começado a aprender com 12 anos de idade com o apoio do tio. "Olha, para montar não é difícil não, para operar é muito difícil", diz. “Tem que ficar bem atento com as coisas”, complementa. Na portaria do parque aquático, muitas pessoas trabalhavam vendendo guloseimas e

Apesar do trabalho, assistentes tiveram oportunidade de ver o evento sanduíches, muitos deles sobrevivem e sustentam a casa com esse tipo de trabalho. Como Conceição Paiva, 57 anos, que trabalha há 23 anos vendendo cachorro quente na feira da Avenida Afonso Pena e em porta de universidades. Ela conta que criou seus filhos

com esse serviço e que hoje eles seguem o mesmo caminho. Conceição afirma que retira R$ 1 mil por mês, entretanto diz que o trabalho é bem cansativo. “É bem desgastante o serviço, porém é bom porque lida com o público", afirma a vendedora.


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FÃS PRESTIGIAM TORNEIO MUNDIAL Apesar do público menor que nos anos anteriores, atletas que disputaram a primeira etapa da Copa do Mundo de Natação contaram com apoio de uma torcida fiel no Minas Tênis Clube GUSTAVO ANDRADE

"Vale até fugir do trabalho para assistir às provas da natação", revelou Inésio Juliano, de 34 anos, funcionário da lanchonete Tudo de Bom, no Minas Tênis Clube, que sediou, entre os dias 10 e 12 de outubro, a primeira etapa da Copa do Mundo de Natação 2008, disputada em piscina curta. Inésio conta que precisou fugir do chefe para dar uma espiadinha na competição. Ele comentou que nunca tinha assistido a uma competição como essa, com tanta gente famosa. "É muito interessante ver ao vivo, é totalmente diferente do que a gente vê na TV. Dá até vontade de nadar", brincou. Assim como Inésio, muitas pessoas se interessaram pela Copa do Mundo. Entretanto, o público que era esperado para o torneio não compareceu em peso como nos outros anos. Mesmo assim, os ingressos, que para as finais de sábado e domingo tinham que ser trocados por um quilo de alimento não perecível, estavam esgotados. Percebendo que a arquibancada não estava cheia em ambos os dias das

petição e a organização do evento. "Gostei da Copa, gostei dos resultados, muito bem organizado. Não enfrentei fila nem para trocar meus ingressos", ressaltou o homeopata Antônio Américo, de 46 anos, que foi à competição junto de seu filho, João Francisco, de 13 anos, que adora esporte.

Durante as competições, as pessoas puderam ver de perto os grandes nomes da natação Thiago Pereira e César Cielo finais, a organização da Copa decidiu que seria melhor liberar a entrada para aquelas pessoas que estavam sem ingressos. "A partir das 9h30 estava liberada a entrada porque não encheu. A maioria das pessoas que pegaram convite não veio", lamentou Carlos Henrique, um dos porteiros da competição. A Analista de Sistemas,

Edna Barbosa, percebeu a ausência do público e disse que esperava mais animação por parte da torcida. "Estou achando bastante vazio. Eu acho que deveria ter mais prestígio principalmente do público mineiro quando é um tipo de competição desse nível", opinou. Ela, que teve interesse em assistir a competição por praticar natação

no Mackenzie há 17 anos, também foi à eliminatória na sexta-feira e ficou impressionada com as jovens promessas da natação brasileira. "Na classificatória eu estava vendo o empenho desse pessoal mais jovem e eu acho muito interessante isso no esporte", contou. Mesmo achando o público desanimado e pequeno, as pessoas elogiaram a com-

FÃS Fotos, gritos, autógrafos e cartazes. Muitas pessoas não foram ao Minas interessadas somente em acompanhar uma competição de alto nível. Apaixonados pelos nadadores, jovens e adultos aproveitaram a oportunidade para chegar mais perto de seus ídolos e se inspirar no esporte. Devido ao seu bom desempenho nas Olimpíadas de Pequim, o nadador César Cielo era o mais aclamado pela torcida. "Desde o Pan (Pan-americano) eu já acompanhava o Cielo. Sou muito fã dele por causa das olimpíadas", revelou a estudante Ana Beatriz Assis de Carvalho, que estava disputando espaço com as outras garotas para conseguir um

autógrafo do atleta. A árbitra de natação Anne Gabrielle, de 18 anos, que foi assistir a Copa, comentou que mesmo trabalhando próximo aos atletas, também tem seu ídolo. "Meu ídolo é o Cielo", relatou. Assim como Anne, o homeopata Antônio Américo disse que também queria ver seus ídolos no esporte. "Os ídolos são do meu filho e meus também, pois eu gosto muito de esporte. Eu vim para meu filho ver o Cielo e o Thiago, e para torcermos pelo Brasil", contou. O nadador Thiago Pereira também teve o apoio da torcida. "Torço muito pelo Thiago Pereira já que ele é 'prata da casa'. Acho que temos que prestigiá-lo", opinou Denise Lemos Martins, de 50 anos. Já Maria da Penha, de 32 anos, funcionária de uma lanchonete, demonstrou sua felicidade por ver tão de perto Thiago. "Thiago Pereira é o que mais gosto e eu já até tive a oportunidade de conversar com ele", comemorou.

Apoio financeiro dos pais viabiliza competições Além dos fãs e torcedores, muitos atletas têm ainda a companhia de familiares que os acompanham em todas as competições. Muitas vezes, além de acompanharem, os pais servem para financiar as carreiras, tudo isso, com o propósito de ver seus filhos conquistando medalhas e prêmios. Alguns pais chegam a até se mudar de cidade para acompanhar e dar amparo a seus filhos. Foi o caso do estudante universitário Cândido Silva Júnior, 20, que se mudou da sua cidade

natal Cacilândia, no Mato Grosso do Sul, para treinar em Belo Horizonte. Sua família, também se mudou para ajudar na carreira do atleta, que participou da Copa do Mundo de Natação, realizada na capital mineira este mês. Ele que participou do evento ao lado de nadadores renomados, como Thiago Pereira e César Cielo, diz que em Cacilândia haviam poucos recursos e atletas interessados no esporte. "Lá era muito diferente, aqui tenho uma grande estrutura. Você está com um monte de

gente te apoiando aqui. Toda a minha família veio para cá", afirma o nadador que revela ter como grande ídolo Ayrton Senna. "Meu grande ídolo é o Ayrton Senna, o que ele fazia era perfeito, e eu quero levar os ensinamentos que ele praticou", diz o atleta. Carlos Eduardo Cavalheiro e Gislene , empresários e pais da jovem Jéssica Cavalheiro, 17, que já atua em competições como a Copa do Mundo de Natação, dizem que a atleta desde um ano de idade já tinha contato com as piscinas. De acordo com Gislene,

sua filha na primeira competição que participou ficou em segundo lugar. "Eu fiquei toda metida e orgulhosa" conta. Ela revela que a filha não tem muito contato com pessoas da sua idade na escola, e que em geral tem amizades dentro do "mundo da natação". "É uma vida mais regrada, mas ela adora", afirma a mãe que banca toda a carreira da filha, e comentava com todos que estavam ao seu lado sobre o desempenho da nadadora, que chegou às finais dos 200 metros livre. A falta de patrocínio também é um problema

enfrentado por atletas que estão iniciando a carreira. Marco Sickert, empresário industrial e pai do nadador Thiago Sickert, é um exemplo dessa dificuldade que afeta a vida de um atleta. Ele viajou da cidade de Vitória, no Espírito Santo, para Belo Horizonte de carro, só para assistir a prova de seu filho. Segundo o empresário, Thiago compete desde os 9 anos e quando ele começou pretendia que o nadador fosse campeão olímpico. "Quando ele começou a nadar, eu falei que ele seria campeão olímpico", afirma. Marco Sickert ainda afirma que o filho não consegue

patrocinador por causa da imprensa que não o deixa usar camisas ou bonés de patrocinadores nas subidas ao pódio. "O problema não está nas empresas, está na imprensa", diz. O pai que acompanhou toda a cirurgia do filho, que rompeu a cartilagem do ombro um mês antes do Pan-americano, onde tinha o segundo melhor tempo nos 100 metros nado costas, diz que a emoção de ver o filho competir é muita boa e que o atleta tentou até a última prova o índice para o Pan-americano. "Ele tentou até o fim", argumenta.

NILCE LEMOS

Vitória que vai além das quadras em Betim n NILCE LEMOS, 2º PERÍODO

O time Sada Betim, atual campeão masculino de vôlei, encontrou uma forma solidária de integrar a comunidade ao esporte. Os jogadores fazem visitas a várias instituições, como asilos e escolas, com a intenção de trocar experiências, levar uma mensagem positiva para as crianças e jovens, visando aproximar atletas e a comunidade em geral. No caso do asilo, a equipe leva produtos que foram arrecadados e depois faz um trabalho no sentido de arrecadar mais doações. Geralmente, as próprias instituições pedem

uma visita da equipe. O retorno desse contato não dá para mensurar, mas é bem grande, pois há uma troca de experiências de importante relevância. Nas escolas são feitas clínicas de voleibol, em que os jogadores ensinam o básico dos fundamentos para os alunos. A reação das crianças é primeiramente sempre de surpresa quanto ao tamanho dos jogadores. O oposto Leandrão, por exemplo, tem 2,08m. Elas perguntam o que eles comem, como fazer para virar um jogador profissional. Os atletas são considerados exemplo pelas crianças. Além disso, o time tem também um trabalho para revelar talentos no vôlei. Os garotos das escolinhas de

voleibol de Betim, se mostrarem bom desempenho, podem integrar as categorias de base do SadaBetim. “É uma forma das crianças seguirem nosso exemplo e não entrar no crime, nas drogas. Eles devem se espelhar em nós e terem uma vida saudável”, afirma o levantador Cristóvão Miguel. “Assim, além de ensinar hábitos saudáveis, ajuda no contato entre as crianças e o esporte”, acrescenta o líbero Matheus Brito. RIVALIDADE Mas não é apenas fora das quadras que o Sada-Betim vem se destacando, com a iniciativa social. O time, que manteve o técnico Talmo Oliveira, campeão olímpico em

Nas quadras, os jogadores colocam em práticas os ensinamentos, fora delas eles dão um exemplo de solidariedade 1992, comandante da equipe na temporada passada, reforçou-se e conseguiu quebrar a hegemonia estadual do Minas Tênis Clube, vencendo-o na final do Estadual. A equipe contratou jogadores como Leandrão, o levantador Sandro e o ponteiro Piá. Além do título mineiro, o Sada Betim conquistou o bicampe-

onato da Copa Bento Gonçalves e ficou em quarto lugar em um torneio internacional na Argentina. O ponta Dante Trevisan, do Vivo Minas, que participou do Campeonato Mineiro, elogiou o atual campeão estadual. “O Sada está com um time muito bom, fez uma partida perfeita taticamente, onde dificultou

nosso passe e, conseqüentemente, nosso ataque”, observa. Ele admitiu que o adversário esteve melhor e mereceu a conquista. “Certamente, ninguém no Minas esperava a derrota por ter vencido muitos anos seguidos o Mineiro, mas sabemos que no vôlei não tem jogo fácil e acabou vencendo quem jogou melhor”, ressalta Dante.


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Ruth Silviano Brandão

Entrevista

DOUTORA EM ESTUDOS LITERÁRIOS PELA UFMG, COM PÓS-DOUTORADO NA UNIVERSIDADE DE PARIS jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

MACHADO DE ASSIS LEITOR E ESCRITOR n Quais os elementos sociais ironizados e

n JÚNIA PIMENTA, LUISA MELO, THAÍS OLIVEIRA, 1º PERÍODO RAQUEL RAMOS, 4º PERÍODO PATRÍCIA SCOFIELD, 6º PERÍODO

Em 29 de setembro deste ano comemorou-se o centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, romancista, contista, poeta, teatrólogo e jornalista brasileiro do século XIX, considerado pela doutora em Estudos Literários da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-doutora pela Universidade de Paris, Ruth Junqueira Silviano Brandão, um escritor que "ultrapassou o seu tempo". Ela acaba de concluir o livro "Machado de Assis leitor. Uma viagem à roda de livros", ainda não editado, cuja proposta é mostrar que todo escritor é, antes de tudo, leitor, e que Machado de Assis fez uso dos livros que leu em suas obras. A especialista compõe o perfil de Machado de Assis como um gago pouco expansivo, "bem no canto dele" e como um "grande leitor", em referência à biblioteca do autor. Ruth Brandão rejeita, categoricamente, o rótulo de escritor elitista dado por alguns críticos literários. "A palavra 'elitista' não é uma palavra feliz. Qualquer pessoa alfabetizada e que tenha um bom professor, ou um bom acesso à obra de Machado de Assis pode ser um leitor; não importa se é pobre", ressalta a professora aposentada da UFMG, que, entretanto, reconhece que as obras do escritor não são de leitura fácil. Ruth Brandão não prevê a popularização do escritor, por causa das comemorações do centenário de sua morte, mas acredita que esse evento chame a atenção para Machado de Assis. n Qual a importância de se comemorar os

nQuais foram as influências literárias de

100 anos da morte de Machado de Assis? Machado de Assis é comemorado sempre. Todo dia, toda hora, principalmente pelo seu leitor, pela leitura de seus textos. Mas esses eventos sempre são bons porque chamam a atenção das pessoas, porque de certa forma são um convite a voltar a ler um autor, como este ano tem Rosa ( Guimarães Rosa), tem Machado; estão sendo realizados congressos, comemorações. Então, nesse sentido é válido.

Machado de Assis? Olha, a palavra influência atualmente na crítica literária é um pouco evitada, porque a influência supõe que aquele leitor que foi influenciado seria um leitor inferior ao que ele teria seguido. Eu acabei de escrever um livro sobre Machado escritor, Machado leitor (Machado de Assis leitor: Uma viagem à roda de livros). Todo escritor é, antes de tudo, um leitor. Ele está nesse mundo do texto. E Machado foi um grande leitor. Mas não foi, jamais, um leitor passin A senhora considera que as pessoas vo, um simples repetidor. Tem um autor estão lendo mais Machado de Assis por chamado Carlos Fuentes que escreveu um causa disso? Não é que eles estejam lendo. Esses even- livro sobre Machado de Assis que se chama tos convidam, chamam a atenção. E, prin- "Machado de la Mancha". Ele mostra que cipalmente, em um país como o nosso, de Machado está na linhagem de Cervantes tão pouca leitura e tão poucos leitores, em (Miguel de Cervantes), desses autores que uma época em que as pessoas temem que o privilegiam não a história ou o documenlivro esteja meio em crise, é sempre positital, mas a ficcção, a força da ficção. E a vo chamar a atenção para esses escritores ficção tem uma eficácia, tem uma verdade que merecem ser comemorados. também. Então essa é a linhagem de Machado. A biblioteca dele era enorme. n Por qual motivo a obra de Machado de Depois que se descobriu a biblioteca de Assis permanece atual um século após a sua Machado de Assis, se pôde ler o que ele morte? Há autores que transcendem a sua época. leu. E quem descobriu, quem trabalhou Muitas vezes, críticos condenaram com esse acervo foi um francês chamado Machado por estar distante do seu tempo, Jean Michel Massat, de ele não ter uma crítique também escreveu ca política a respeito das um artigo para um livro questões da época, mas chamado "A biblioteca isso já foi ultrapassado de Machado de Assis", hoje. Machado sempre GENTE TEM QUE organizada pelo Jobim foi atento, sempre falou ESTUDAR PARA (José Luís Jobim). dos problemas do tempo dele, ficcionalmente ou APRENDER A LER n Quais os diferentes pelas suas crônicas, LITERATURA estilos literários adotados porque ele foi um jornapelo escritor? lista. E sempre esteve Estilos literários ou presente na sua época: gêneros literários. nas injustiças, nos proQuanto a gêneros, Machado escreveu blemas políticos e em tudo o mais. romance, conto, teatro, escreveu crítica literária. Agora, o estilo machadiano, a n Qual seria sua indicação para uma pesdicção machadiana é sempre a mesma. Ela soa interessada em começar a ler Machado é muito machadiana mesmo. Se você ler de Assis? Olha, eu dei aula de Machado de Assis um texto sem o nome do autor, se tem durante muitos anos na Faculdade de hábito de ser um leitor que tem um bom Letras da Universidade Federal de Minas repertório, você vai descobrir o estilo Gerais e escolhi, muitas vezes, para machadiano, a maneira como ele recorre ao leitor, que varia muito começar o curso, os contos de Machado. – ora ele trata o Principalmente esses contos instigantes, leitor muito bem, que fazem o leitor pensar ou que desconora ele zomba sertam o leitor. A Teoria do Medalhão, por um pouco do exemplo. Muitas vezes eu já tive a oportuleitor –, como nidade de conversar com alunos que que ele tem um ficaram meio perplexos: será que esse narhumor irônico rador que está falando para o seu filho; muito interesesse pai é Machado? Ele está defendendo sante. Então ele é que o sujeito faça trapaça, faça tramóia, um escritor que que ele faça esse discurso assim tão pouco tem um ético?’ A gente pode começar a pensar traço como o texto de Machado pode ser um forte. texto bastante sorrateiro e que ele obriga o leitor a pensar. Além desse conto, há outros que podem ser interessantes para começar a ler Machado. Os contos de amor dele, por exemplo, em que há sempre uma certa dúvida. A Missa do Galo, em que um jovem fica muito encantado por uma senhora de 30 anos, ou Uns Braços, que é mais ou menos a mesma história, mas contada de uma outra maneira, pode criar um interesse para o leitor mais jovem também. É muito fácil o leitor mais jovem, ao contrário de iniciar a amar Machado, procurar ler, sair correndo, evitar, porque vai achar difícil se começar por um Dom Casmurro, ou começar por Memórias Póstumas (de Brás Cubas).

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criticados por ele em suas obras? Olha, por exemplo em Esaú e Jacó, Machado de Assis ironizou muito a passagem da monarquia para a república, através dos personagens do livro, Pedro e Paulo, que são gêmeos. E um era republicano, o outro era monarquista, e no final das contas, terminado o texto, você vai perguntar se tudo é a mesma coisa no Brasil: a monarquia ou a república; as pessoas se ajustam, o que predomina é o interesse político, as vantagens econômicas. Então Esaú e Jacó é um dos exemplos.

n Alguns personagens como Capitu e Bentinho, da obra Dom Casmurro, jamais caem no esquecimento dos leitores. A que se deve essa imortalidade? Houve, durante muito tempo, o "efeito Capitu", eu chamo de "efeito Capitu" aquela pergunta sobre o que muitos escritores chamaram de "o enigma Capitu": se Capitu traiu ou não. E esse tipo de tema, não respondido, sempre atiça a curiosidade dos leitores. Hoje se sabe que isso nunca vai ser respondido, porque através do trabalho de muitos críticos, como Silviano Santiago, o que nós temos é o romance de um ciumento, o romance de um retórico, de alguém que escreve para provar a sua inocência, de uma certa maneira. Então isso é uma resposta. Acredito que isso é suficiente para falar da fama de Bentinho e Capitu. A fama de Bentinho e Capitu é a fama de Machado, pela força de sua escrita, pelo estilo, pela capacidade de criar equívocos e não dar respostas denotativas, mas para criar perguntas para o leitor. O próprio leitor sai da obra machadiana com questões, de várias ordens. n A linguagem e a forma de construir o texto caracterizam Machado de Assis como escritor elitista? Não gosto muito dessa palavra elitista. O próprio Machado não era elitista. Então, o que é elitista? É um texto que teria uma linguagem de difícil acesso? Mas literatura, não é apenas diversão, a gente tem que estudar para aprender a ler. Você tem que aprender a ler literatura. nEntão a senhora não concorda com essa classificação? Não, de forma alguma. Acho que tudo isso é uma questão de preferência do leitor. Nenhum leitor mesmo, por mais sofisticado que seja, lê qualquer livro com facilidade.

n Quais foram as marcas ou características literárias deixadas por Machado que influenciam os escritores atuais? Machado foi lido, muito lido nas escolas, pelas pessoas cultas. Tem autores que falam claramente que escrevem dentro da linha machadiana. Estou lembrando do Rubem Fonseca, não sei se ele seria exatamente machadiano, mas que ele (Machado de Assis) está presente na literatura brasileira de forma consciente ou não, não há dúvida. n Machado de Assis era moderno para o seu tempo? Eu acho que ele era mais do que moderno, Machado de Assis ultrapassou seu tempo pelas coisas que ele escreveu. Machado de Assis fala coisas na sua obra que a psicanálise foi elaborar anos mais tarde, fala coisas que foram mais claramente teorizadas pela sociologia, por outras teorias. E mesmo pela própria forma literária de Machado, que muitas vezes parece pós-moderna, principalmente na ênfase que ele dá ‘esse texto é literatura’, ‘isto é ficção’, ‘leitor, não acredite em tudo’, ‘vamos pular esse capítulo’, às vezes uma certa falta de linearidade, por exemplo, que tem na obra dele. Tem coisas que lembram o romance contemporâneo.

n Como era o Machado de Assis jornalista? Machado começou fazendo serviço de tipografia, numa tipografia da época, e nessa ocasião ele começou a conhecer muitos escritores que deram força para ele. Ele escreveu, às vezes até com pseudônimo, e ele escrevia textos sérios, ou textos mais leves; variava muito o tom das crônicas machadianas. Ele podia ser polêmico, como foi polêmico em relação à obra de Eça de Queiroz, e ele comentava os autores de que gostava. Mas também comentava os hábitos do Rio de Janeiro. n Machado de Assis sofreu discriminação social e racial ou isso é apenas um estigma que se criou a respeito de sua figura? Quem falou disso de uma forma muito interessante foi o Jean Michel Massat, quando veio a Belo Horizonte agora, e escreveu um livro chamado A Juventude de Machado de Assis. Machado, por um lado, foi muito protegido pela madrinha dele lá no Morro do Livramento, a dona Maria José de Mendonça, e eu acredito que pela inteligência dele, teve oportunidades muito cedo. Acredito também e isso se sabe de uma forma indireta, pelos romances dele: um desejo de acensão muito grande. Agora, se ele sofreu preconceito, provavelmente sim, na vida comum; um negro, mulato, como ele era no Brasil daquela época. A gente sabe que no Brasil de hoje isso existe. Suponho que ele deve ter sofrido, mas que isso não foi um empecilho para ser o grande autor que ele se tornou, e que ele foi valorizado desde que ele era jovem. Claro que ele foi conquistando, mas as portas não se fecharam pra ele não, pela inteligência dele, as portas não se fecharam, ele teve facilidades. n Qual a imagem de Machado de Assis no exterior? Machado já foi publicado para o inglês e para o francês. Quando eu morei em Paris comprei os livros dele, vários. Como diz o Jean Michel Massat, quando fizeram essa mesma pergunta para ele na França, se Machado era lido no princípio do século: "Sim, um pouco". Hoje, também um pouco, porque principalmente o francês é muito centrado na própria cultura. Ele é lido no exterior, mas como tudo e como todos os escritores, tem sempre um grupo de pessoas. Como aqui no Brasil, há um grupo de machadianos apaixonados e há pessoas que não gostam da obra de Machado. Isso existe também. n Existem muitas críticas a respeito de Machado de Assis? Eu acredito que haja muita gente, até muita gente inteligente, que não gosta do Machado, que acha o texto dele afetado. Um grande crítico na época de Machado foi o Sílvio Romero, que "meteu o pau" em Machado, mas tinha muita competição literária na época. Machado criticou um escritor pernambucano e o Sílvio Romero não gostou e escreveu um livro dizendo que Machado tinha um estilo "tartamudeante", em outras palavras, "gaguejante". Hoje, isso é discutível e também pode ser revertido a favor dele. Críticos, Machado s e m p r e teve.


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