Evento com a presença da cantora Maria Bethânea, na UFMG, promove encontro entre música e literatura.
MAIARA MONTEIRO
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Projeto Conviver reúne mulheres que necessitam aumentar a renda das familias. Os trabalhos manuais são vendidos em bazares. Página 4
Cidades do interior de Minas ainda sentem os efeitos provocados pelas chuvas, que provocaram destruição e famílias desabrigadas. Página 10
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marco jornal
Ano 37 • Edição 265 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas
Abril •2009
ÁRVORES EM SITUAÇÃO DE RISCO MAIARA MONTEIRO
A situação das árvores em Belo Horizonte e em algumas cidades históricas mineiras é delicada. Em São João del Rei, cinco das 11 palmeiras imperiais que enfeitavam o Largo de de São Francisco de Assis foram cortadas por estarem doentes. Na capital, um mapeamento das espécies vegetais plantadas em vias públicas possibilitará a redução dos prejuízos causados por quedas de árvores, tanto ao patrimônio municipal quanto à população. “Só no ano passado, foram 1.870 quedas de energia causadas por árvores”, contabiliza Carlos Alberto de Souza, da Companhia Energética de Minas Gerais. Páginas 8 e 9 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
Movido pelo amor à música e não só atraído pelo dinheiro MAIARA MONTEIRO
Técnica da falcoaria é aplicada em aeroporto Desde o início de 2008, o Aeroporto da Pampulha, localizado na capital mineira, utiliza o método da falcoaria na prevenção das frequentes colisões entre pássaros e avióes. Só no ano pas-
sado, foram registrados 550 acidentes desse tipo em todo o país, o que gerou a necessidade de inplementar essa técnica nos aeroportos do Brasil. Depois de um ano, as atividades foram
momentaneamente paralisadas, em função da renegociação do contrato entre a Infraero e a Biocev, empresa encarregada pelo serviço, que deve ser retomado ainda em maio. Página 7
MAIARA MONTEIRO
Anel rodoviário faz parte da rotina de belo-horizontinos Com um fluxo diário intenso de veículos e pedestres, o anel rodoviário ainda possui muitos problemas, tanto em sua infra-estrutura quanto em sua segurança. Moradores e comerciantes que vivem e trabalham próximo a ele têm opiniões diferentes em relação às melhorias necessárias a essa via, mas destacam sua importância por integrar diversas regiões da capital mineira, facilitando o acesso a bairros que, sem o anel, ficariam mais distantes. Página 11 Lançando seu quinto CD, o cantor Affonsinho, que iniciou sua carreira como guitarrista da banda HanóiHanói, na década de 80, reafirma seu novo estilo musical, que tem “um pouco de bossa nova, com um pouco de pop e uma pegada de blues”. O cantor revela, em entrevista ao MARCO, que hoje prefere tocar para públicos menores, com o qual é possível estabelecer uma interação mais íntima, sem precisar ficar gritando. Além disso, o músico cita diversos nomes já consagrados da música brasileira, que lhe serviram de influência, e indica revelações da música mineira. Declarando a paixão por seu trabalho, o também compositor diz que não se imagina em outra profissão. “O que me move para a música não é o dinheiro, mas o amor”, assume. Página 16 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
Associações pedem maior participação MAIARA MONTEIRO
Associações de Moradores de bairros da Região Noroeste de Belo Horizonte enfrentam um problema comum, que as enfraquecem e até ameaçam a continuidade de suas atividades: a pequena participação da comunidade. No Bairro Dom Cabral, por exemplo, a recente eleição da diretoria da entidade foi marcada pelo baixo ïndice de eleitores. Além disso, a Amabadoc tem passado por problemas quanto a sua organização e falta de verbas. Já no Coração Eucarístico, o presidente da Associação local, Iracy Firmino da Silva, pensa em arrumar um substituto para o cargo que ocupa. Como solução para o problema, associações se uniram e formaram o Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep), que envolve desde bairros próximos à Avenida Raja Gabaglia, até o campus da PUC Minas, no Coreu, para buscar melhorias e pensar soluções para a cidade. Página 3
2 Comunidade
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Abril • 2008
EDITORIAL
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Melhorias na capital dependem também de seus habitantes
TRÂNSITO NO COREU AINDA É PROBLEMÁTICO Com o intuito de melhorar a vida de motoristas e pedestres, a BHTrans tem buscado implementar novos projetos no bairro
n DIANA FRICHE,
MAIARA MONTEIRO
4° PERÍODO
Melhorar a nossa cidade é uma missão não só para os governantes, mas também para a população. Para que uma cidade tenha alto nível de desenvolvimento é necessário que pessoas envolvidas direta ou indiretamente nos fatos dêem a sua contribuição. Como sempre, o MARCO pretende contribuir exercendo seu papel jornalístico por meio da divulgação de histórias que estão presentes no cotidiano dos belohorizontinos e que dificilmente são retratadas na mídia, por estarem às margens da sociedade. Mostrando o pioneirismo de Belo Horizonte no controle do tráfego aéreo, apresentamos aos leitores a técnica da falcoaria, implantada no Aeroporto da Pampulha desde o ano passado e que tem como promessa diminuir a incidência de acidentes. A colisão entre pássaros e aviões é comum e a implantação desse método pretende minimizar os riscos desse tipo de incidente nos pousos. O sucesso da técnica na capital mineira serviu de inspiração para outros aeroportos, que já negociam sua aplicação como forma de prevenção. O anel rodoviário, via com grande fluxo diário de veículos, é abordado nesta edição do MARCO sob novo ângulo. A rotina de pessoas que moram ou trabalham nas margens do anel é retratada, mostrando os prós e contras do local. Alguns reclamam da existência de poucas passarelas no lugar e no consequente excesso de atropelamento. Outros comemoram a possibilidade de ter comércio às margens da via, onde o fluxo de veículos é intenso e o lucro é constante. Porém, todos concordam que o anel possui diversos problemas. Em entrevista ao MARCO, o prefeito Marcio Lacerda revelou alguns de seus projetos, em convênio com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, de total revitalização da via, como por exemplo, por meio da criação de pistas laterais. Sem a participação ativa da comunidade fica mais difícil que ocorram melhorias onde vivemos. Mantendo seu caráter comunitário, o MARCO aborda em uma de suas matérias as principais queixas dos presidentes das associações de bairros da Região Noroeste. Eles contam que a pequena participação dos moradores nas decisões da administração é visível e que a cobrança por melhorias é muito grande. Aumentar a qualidade de vida de gestantes soropositivas é o objetivo do trabalho que vem sendo realizado no Hospital das Clínicas. Mulheres fragilizadas física e psicologicamente pela doença tem a chance de receber tratamento especial durante a gravidez. Nesta edição, o leitor conhecerá práticas e informações que ajudarão a destigmatizar o vírus da Aids. Mais do que retratar os erros e acertos de Belo Horizonte, o MARCO abre espaço ao leitor para uma reflexão acerca dos problemas levantados por nossas matérias. Situações que refletem a vida da cidade mas que, muitas vezes, ficam marginalizadas e passam despercebidas pelos grandes veículos de comunicação. Mas não por nós.
EXPEDIENTE
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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Aline Scarponi, Camila Lam, Diana Friche,Isabella Lacerda, Bianca Araújo de Souza (São Gabriel) Monitora de Fotografia: Maiara Monteiro e Pâmela Ribeiro Monitor de Diagramação: Marcelo Coelho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
Movimento de carros na Rua Dom Joaquim Silvério, no Coração Eucarístico, é alvo de preocupação da comunidade n GLÁUBER FRAGA, 6° PERÍODO
O Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste da capital, demonstra inúmeros fatores que preocupam motoristas e pedestres. Buscando fazer com que o fluxo de veículos possa escoar com maior facilidade, a BHTrans fez modificações há cerca de seis meses em várias ruas do bairro e disse, por meio de sua assessoria de comunicação, que ocorrerá no segundo semestre de 2009 uma segunda etapa de
intervenções no bairro. Essas alterações vão desde a implantação de redutores de velocidade em avenidas, até a transformação de algumas vias em mão-única. De acordo com a assessoria da BHTrans, o objetivo dessa nova fase é investir em segurança para o pedestre. Serão colocados novos semáforos, faixas de retenção e placas de sinalização, entretanto, essa nova ação da BHTrans na região não possui data específica para ser iniciada. Contudo, serão realizadas experiências na região até a implementação efetiva do projeto.
Depois de cinco meses destas alterações os problemas foram amenizados. Morador do bairro há 15 anos, Nicola Menta aprovou as intervenções feitas pela BHTrans, porém diz que a região e principalmente o bairro, não comportam o fluxo de automóveis. "A PUC cresceu muito e com isso o número de alunos também cresceu, o bairro não foi projetado para suportar todo esse crescimento", afirmou. O taxista Humberto Carlos Godinho, compartilha da idéia de que o trânsito está melhor, porém não
está totalmente satisfeito com a situação e também com a BHTrans. "A grosso modo o trânsito melhorou, mas somente fora do horário de pico. No horário de pico continua tudo a mesma coisa. No meu entendimento, o trânsito no Coração Eucarístico precisa de uma reestruturação drástica". Godinho reclama do órgão que gerencia o trânsito na capital. “A fiscalização também é falha. A BHTrans passa aqui e tem vans estacionadas em local proibido e não resolve o problema", questionou o taxista. José Carlos compartilha da idéia do companheiro de profissão e diz que na rua Dom João Antonio dos Santos, antigamente mãodupla, continua com os mesmos problemas de antes. Segundo ele, a via afunila próxima a Via Expressa e se torna mãodupla novamente. Na região Noroeste de Belo Horizonte não é só o alto fluxo de veículos que prejudica o trânsito e tráfego de pedestres e automóveis. A má conduta dos motoristas fica evidente nas ruas do bairro. São veículos estacionados dos dois lados das vias, próximos a esquinas, parados em faixas de pedestres e, em alguns pontos, nota-se excesso de velocidade.
Centro Dia do Idoso promove bazar para arrecadar recursos MAIARA MONTEIRO
n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 4º PERÍODO
Algumas pessoas vão chegando e conferindo os produtos oferecidos, que variam de roupas, panos de pratos, acessórios femininos, dentre outros. Com as portas abertas à comunidade, o bazar de roupas tem o objetivo de angariar recursos para a manutenção do Centro Dia do Idoso, que funciona em um prédio funcional, construído com recursos do Orçamento Participativo (OP). "Acho legal, oportunidade para a pessoa que não tem muitas condições comprar uma boa roupa", opina Cláudio Luiz, 33 anos, vigia. A aposentada Zulma Espírito Santo, 74 anos, explica que a visita ao bazar representa a sua colaboração ao centro. "Venho aqui para não ficar à toa em casa", completa. "Espero que dê dinheiro ao grupo, estou só ajudando", diz Arlete Singolani, 54 anos, dona de casa. No entanto, nem todos os presentes têm a finalidade de
comprar, apenas passear, como Maura Maria da Glória, 92 anos, aposentada, que tem filhos nos Estados Unidos e os mesmos enviam roupas para ela. ATUAÇÃO Funcionando há 13 anos, à rua Santa Matilde, 324, Bairro Dom Cabral, o Grupo Esperança e Vida reúne 173 pessoas da 3ª idade, em encontros semanais de convivência e atividades lúdicas, “sendo um grupo politizado, muito atuante na comunidade", enfatiza Vaneide Caricati, 60, a presidente. Vaneide elenca os demais serviços oferecidos, como o "Santa Folia", um tipo de pré-carnaval, ou carnaval temporão, que teve a estréia no final do ano passado, com promessa de repetir esse ano, passeios, excursões, palestras e "Ciclo da Saúde", em parceria com Pró-Reitoria e Extensão da PUC Minas. No primeiro domingo de abril deste ano, dia 5, aconteceu a primeira edição do bazar de roupas usadas, com a proposta de realização trimestral. "Esse
O bazar oferece roupas usadas em boas condições e promove a integração bazar tem dois objetivos, sendo o primeiro, oferecer artigos usados, porém com qualidade, com preços acessíveis aos que procuram, e segundo, integrar a comunidade e o 'Grupo Esperança e Vida'”, destaca a presidente. As atividades são abertas a todos, oferecidas gratuitamente, exceto as aulas de dança de salão, única atividade paga, porém um preço simbólico, conforme explica Vaneide. Tendo já uma vasta
experiência profissional com o negócio, Neide Giarola Lopes, coordenadora do bazar, se coloca à serviço da causa social, colaborando de forma desprendida com esse segmento que participa. "Faço tudo para o Bom Pastor, procuro ajudar onde precisem de mim, estou às ordens", explica a Coordenadora, numa alusão ao padroeiro da Igreja Católica no Bairro Dom Cabral.
Comunidade Abril • 2009
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ASSOCIAÇÃO TEM NOVOS GESTORES Eleição para a nova gestão da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral é marcada pela falta de participação da comunidade, o que tem gerado reclamação por parte da diretoria MAIARA MONTEIRO
n DIANA FRICHE, ISABELLA LACERDA, LAURA SANDERS, 4º, 3º E 5º PERIODOS
A nova diretoria da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, assumiu no dia 18 de abril a gestão para o biênio 2009/2011, por meio de uma eleição no dia 29 de março, quando somente uma chapa concorreu ao cargo. Entretanto, a votação foi marcada pela falta de participação dos moradores. Maurício Antônio de Sales, ex-presidente e atual vicepresidente da Amabadoc (Associação de moradores do Bairro Dom Cabral) conta que 77 pessoas compareceram ao local de votação, porém apenas 47 delas eram associadas e puderam votar. "30 pessoas não puderam votar porque seus nomes estavam cortados da lista", afirma Maurício. A participação na eleição poderia ser feita de duas formas: formar uma chapa para o biênio 2009/2011 ou votar em uma das chapas. Para tanto, era necessário que o morador fosse associado, isto é, constasse no número de registro da associação. Maurício afirma que estavam inscritos no livro 954 pessoas, entretanto, antes mesmo da votação já era esperada uma pequena participação. "Algumas pessoas não moram mais no bairro e outras já morreram e, por isso, o livro está sem atualização", conta.
"Na hora de cobrar, todo mundo cobra, mas na hora de resolver alguma coisa do bairro, ninguém participa", reclama o atual vice-presidente. A costureira Sueli Aparecida Silva é moradora do bairro há nove meses. Ela acha importante a existência da associação, pois traz melhorias para o bairro e integra a comunidade. Mas, mesmo assim, não tem interesse em participar das decisões. "Antes de me mudar para o Dom Cabral, morava no Bairro Saudade (Região Leste da capital), que também tem associação. Mas também não era associada lá", revela. Eduardo Alessandro de Macedo, pintor e morador do bairro há três anos, também não se interessava pelas decisões da associação, devido às gestões anteriores. "As pessoas vinham na associação, mas o pessoal não fazia nada", lembra. Ele conta que agora teve o interesse de participar da nova gestão, uma vez que é amigo da nova diretoria. "Queremos ver se agora conseguiremos participar para trazer melhorias", revela. Eduardo não pode participar da última votação, porque é preciso ter pelo menos 30 dias de associado, o que não era seu caso. Maurício diz que a pouca participação não pode ser atribuída à falta de divulgação. Ele conta que, quando ocorre uma reunião excepcional ou novas eleições, são afixados cartazes e faixas pelo bairro e na porta da associação, além de anúncios na Paróquia Bom
Pastor, que fica na região, o que de fato podia ser observado na associação. Além disso, durante o período em que as pessoas podiam formar chapas e se associar, Maurício conta que deixou o local aberto das 8 às 17 horas e que ninguém sequer entrou para perguntar nada a respeito. Para se tornar um associado, o morador deve apresentar na associação seu título de eleitor, que tem que ser de Belo Horizonte, além de seus dados pessoais, como nome, endereço e data de nascimento. NOVA GESTÃO A associação tem passado por grandes dificuldades. A primeira é que o terreno em que atualmente funciona não possui alvará de funcionamento nem espaço suficiente para atender a demanda da comunidade. Alguns impostos estaduais e municipais da entidade, que somavam mais de R$ 2.000, também estavam atrasados, o que fez com que ficassem sem alguns documentos necessários. Além disso, a demanda pelo uso de computadores é maior do que a quantidade disponível e as máquinas estão velhas. Por fim, a entidade não tem fins lucrativos, não possui verba para contratar um funcionário que possa cuidar de seu espaço durante o dia e possui um único voluntário, Eduardo Maldonado. Como solução para alguns desses problemas, a nova diretoria, liderada pelo presidente João Carlos de Souza e
Falta de interesse também é comum aos moradores do Bairro Coração Eucarístico MAIARA MONTEIRO
A falta de interesse da comunidade pelas atividades da associação não é específica do Bairro Dom Cabral. No Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte, a pequena participação dos moradores também tem sido um problema. Presidente há seis anos da Associação de Moradores do Coração Eucarístico (Amacor), Iracy Firmino da Silva, conhecido como Capitão Firmino, afirma que os moradores do bairro só aparecem quando têm algum problema que os atingem diretamente. "A associação marca uma reunião que tem 200 pessoas envolvidas com o problema, e no dia a maioria não comparece", lamenta. De acordo com Capitão Firmino, antigamente a associação fazia reuniões semanalmente, entretanto, devido a essa falta de interesse, as reuniões passaram a ocorrer somente quando têm assuntos importantes. Ele conta que a última reunião foi no início de 2008, a respeito dos problemas com trânsito no
Capitão Firmino, do Coreu, reclama quanto a falta de interesse da comunidade bairro. "Cerca de 200 pessoas foram convidadas, mas somente 18 compareceram", lembra. Capitão Firmino acredita que se essas reuniões surtissem um efeito mais imediato, a descrença seria menor e mais pessoas se interessariam em ajudar. "Não vejo nenhuma solução, pois as pessoas estão descrentes com o poder público", opina. Apesar da falta de inte-
resse de algumas pessoas e dos problemas, o presidente da Amacor acredita que as associações não acabam, pois sempre têm pessoas que querem representar o bairro, assim como em seu caso. Por já estar há três eleições no cargo de presidente, ele diz pretender no meio do ano promover uma nova eleição. "Tenho impressão que vão ter outros interessados ao cargo", observa.
O Presidente da Associação do Bairro Dom Cabral, Maurício Antônio de Sales, mostra o livro com a lista dos associados pelo vice Maurício Antônio de Sales, destaca como prioridade a legalização das áreas doadas pela então MinasCaixa ao bairro e sua devida ocupação para as atividades socioculturais, recreativas e desportivas de que o bairro necessita. "A associação ganhou o terreno do MinasCaixa, mas nele, hoje em dia, tem um posto e uma lavanderia. O terreno que ocupamos atualmente é um antigo posto policial que foi desativado. Há 14 anos ele é 'nosso', mas não temos o registro", assume Maurício. Ele acrescenta dizendo que a associação pode brigar pelo registro do terreno, mas que não é isso o que querem, preferem que a
prefeitura ceda o espaço. Outra prioridade é a construção da sede da associação que, segundo João Carlos, é um grande problema, uma vez que a sala de reunião é em conjunto com a sala de computadores. "Queremos verbas para aumentar a sala, fazendo uma sala de reunião separada do resto da sede", planeja. João Carlos diz que também está nos planos da associação buscar melhorias para o bairro, como na rede pluvial, na conservação das ruas, reformas do complexo esportivo, além de oferecer maior segurança aos moradores. Para que tudo isso possa ser feito, João Carlos ressalta
que é necessário a arrecadação de verbas. Ele diz que esse dinheiro pode vir por meio de eventos na comunidade, como festas e barraquinhas, onde conseguiriam angariar fundos para pagar um funcionário, comprar novos aparelhos eletrônicos e fazer a reforma na sede. "A associação não tem fins lucrativos, então precisamos de ajuda", diz o novo presidente. Ele afirma que a participação da comunidade é fundamental, já que com o apoio dela é mais fácil conseguir vantagens para o bairro. "Queremos que as pessoas vejam que a associação é para ajudar", ressalta.
Conselho reune associações de bairros para conseguir melhorias Com o objetivo de conseguir melhoras mais eficazes para o Bairro Nova Suíça e Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, Ernani Ferreira Leandro, em parceria com outras associações comunitárias de diferentes regiões da capital, criou em 21 de abril de 2002 o Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep). A entidade envolve bairros que margeiam toda a Avenida Raja Gabaglia até o campus da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc-Minas), no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste. De acordo com Ernani, que também preside a Associação de Moradores dos Bairros Gameleira e Nova Suíça, o Consep atende aos interesses de bairros de classe média alta e aglomerados, onde vivem famílias de baixa renda. Os principais focos do grupo são o controle do sistema legislativo e executivo. Para tanto, criaram o Grupo de Acompanhamento Legislativo
(GAL) e estão criando o Grupo de Acompanhamento do Executivo (GAE), que serão testemunhas das principais decisões tomadas por esses poderes. O presidente afirma que, nos últimos tempos, as principais discussões da associação foram relacionadas à transferência da rodoviária, que, segundo ele, causaria severos transtornos aos moradores da região. "Fizemos uma reunião com o prefeito Marcio Lacerda, em março, quando conversamos a respeito da rodoviária. Além disso, pedimos para que todas as ações que envolvessem o poder executivo e legislativo fossem acompanhadas pelos presidentes das associações comunitárias da capital. Fomos muito bem atendidos pelo prefeito", conta. Segundo Ernani, essas iniciativas demonstram que parte da comunidade está engajada na melhoria de vida da população, entretanto, ele afirma que ainda é alto o índice de alienação. As principais
questões tratadas atualmente pela associação referem-se a segurança pública, saúde e obras. Em relação a saúde, Ernani comemora o fato de, através da mobilização popular, o bairro ter conseguido a construção de um novo centro de saúde, mas ele diz que ainda pode melhorar. "A saúde vai regular", diz. Como solução para os problemas das associações, ele propõe que o governo municipal repasse verbas para essas instituições com o intuito de ajudar nas obras. "Estamos tentando integrar essas iniciativas da comunidade para estarem em uma gestão municipal", sugere. "A participação ainda é muito melhor do que antes. A Região Oeste, entretanto, não é a que tem mais engajamento popular. Por exemplo, não conseguimos até hoje fazer a 'coordenação de quarteirão', que já foi implantada no Padre Eustáquio, Caiçara, dentre outros bairros", afirma Ernani.
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Abril• 2009
LINHAS, AGULHAS E MAIS RENDA Projeto Conviver, que agrega diversos bairros de Belo Horizonte, promove troca de experiências e complemento financeiro às donas de casa, que podem comercializar seus produtos MAIARA MONTEIRO
n ISABELLA LACERDA, 3º PERÍODO
Lãs, linhas, agulhas e garrafas pet em meio a um grupo de, em média, 25 mulheres de diversos bairros de Belo Horizonte e da Região Metropolitana da capital em um galpão localizado à Rua Dom Joaquim Silvério 111, no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste da capital. Esse é o Projeto Conviver, que acontece nas tardes de segundas e quintas-feiras, das 14 às 17 horas, onde donasde-casa dedicam-se à costura. O projeto, idealizado e coordenado por Maria de Fátima Baião, existe há três anos e surgiu a partir de uma idéia para o trabalho de conclusão do seu curso de administração. “Já era um sonho meu de criança ter um projeto social, cresci vendo o exemplo da minha avó em projetos voluntários. Fui para a faculdade de administração, onde me formei em 2005, e meu trabalho de conclusão de curso foi montar um projeto social, e foi isso o que eu fiz”, conta Maria de Fátima, que também é servidora
pública. Ela explica que depois de pronto, resolveu procurar a ajuda de algumas pessoas para concretizar o projeto. A partir daí procurou o padre Éder Amantea, da Paróquia Coração Eucarístico de Jesus, também no Bairro Coração Eucarístico, e conseguiu a ajuda da igreja que cedeu o espaço para as reuniões. “Depois disso reuni um grupo de amigas e passamos a divulgar a idéia na paróquia e na igreja”, lembra. Padre Éder afirma que resolveu abraçar essa idéia por perceber que era um projeto importante, que visava a promoção humana. “O espaço é disponibilizado pela igreja, assim como as despesas com água e luz”, ressalta. De acordo com a criadora, a idéia do projeto é possibilitar um espaço de convivência e geração de renda para mulheres que necessitam aumentar a receita financeira dentro de casa. Ela ressalta, entretanto, que os laços de amizade que são criados e o ensinamento da solidariedade também são muito importantes. Maria de Fátima explica que todo o material usado na confecção
dos produtos vem ou de doação ou é comprado com parte da venda dos produtos comercializados, normalmente, em bazares na própria região, principalmente na igreja. “Fazemos os bazares e tiramos parte do dinheiro para as produtoras e outra parte para comprar mais materiais”, explica. Segundo ela, as mulheres que normalmente necessitam de aumentar a renda dentro de casa são quem vendem os produtos nos bazares e conseguem um certo lucro, mas observa que muitas são voluntárias, ou seja, acabam não recebendo sua parte nas vendas para ajudar a manter o projeto, deixando o dinheiro para a compra de novos materiais. “Nosso objetivo é que cada uma caminhe com as próprias pernas depois de aprenderem. É como uma ‘roda viva’. As que já estão há mais tempo e já aprenderam vão partilhando os conhecimentos com as que estão chegando agora”, comenta a coordenadora. Dessa forma, as pessoas ficam aptas a produzir por conta própria e a vender seus produtos fora do projeto.
A coordenadora e idealizadora Maria de Fátima Baião exibe um dos produtos feitos pelas mulheres do projeto BAZARES E PRODUTOS A maneira encontrada inicialmente pelo grupo de vender suas peças e arrecadar dinheiro foi por meio dos bazares. A integrante do projeto e moradora do Bairro Coração Eucarístico, Marlene Rodrigues Coutinho, de 64 anos, revela que já vendeu suas peças e que, assim, conseguiu tirar algum dinheiro. “Uma vez estava fazendo as contas e vi que já ganhei R$1200 só com a venda de almofadas”, comemora. De acordo com a coor-
denadora Maria de Fátima, esses bazares ocorrem em algumas épocas do ano e vendem diversos produtos. “Fazemos bazar no Dia das Mães e no Natal e em locais em que somos convidadas, para vender o que produzimos. Fazemos cachecol, camisetas, almofadas e diversos tipos de bordados”, explica. Ela ainda diz que, preocupadas com a sustentabilidade, o grupo resolveu fazer bolsas com restos de garrafas pet. “Fazemos essas bolsas
para levar para feiras, padarias e supermercados. Também fazemos sabão que são produzidos mensalmente para doar para grupos carentes aqui da comunidade, a partir do óleo de cozinha que a comunidade nos doa”, conta. Segundo padre Éder, os bazares ocorrem com a ajuda das integrantes do projeto. “Pessoas da região procuram e fazem compras. Vendemos razoavelmente. Não esgotamos tudo, pois é restrito a essa região”, explica o pároco.
Os motivos que reunem as integrantes do Conviver MAIARA MONTEIRO
Diferentes motivos levaram essas mulheres a integrar o Projeto Conviver. Problemas de saúde e com a distância de casa não são empecilhos para elas. Maria Lúcia Godinho, que faz parte do grupo há um ano, conta que sempre fazia bordados para creches e pessoas carentes e que, quando ficou sabendo do projeto através de sua irmã Heloísa Godinho, se interessou em ajudar. Maria Lúcia, que vai voluntariamente ao local todos os dias em que há reunião, conta que aos 20 anos, após a morte do pai, desenvolveu artrite doença crônica que tem como principal característica a inflamação articular persistente, que acaba causando problemas de rigidez na articulação nas mãos e nos pés. Mas, segundo ela, mesmo assim continuou fazendo trabalhos manuais. “Toda doença se a gente entregar ela vence a gente”, comenta. Assim como Maria Lúcia, a professora aposentada Alaíde Coelho Guimarães, 61 anos, está no projeto há um ano. Ela conta que se interes-
Integrantes do Projeto Conviver na Região do Coreu auxiliam umas as outras na produção de trabalhos manuais sou em participar porque estava tendo dificuldades para pagar o apartamento dos filhos, que estudam em Belo Horizonte, e que por isso precisava ter alguma atividade extra para ajudar na renda em casa. “Procurei a secretária da igreja para pedir alguma indicação de trabalho e foi quando ela me indicou aqui”, lembra. Alaíde diz que mesmo
morando em Sete Lagoas se esforça para comparecer a todas as reuniões do grupo. “Vim para cá para aprender coisas para vender, mas acabei fazendo amigos e aprendendo ainda mais coisas. Tento vir todos os dias, pois aprendo coisas novas. Elas trazem gente de fora para nos ensinar. É muito aprendizado”, ressalta. Segundo ela, o gosto pela costura vem desde a
infância. “Estudei em um colégio interno chamado Dom Joaquim Silvério de Souza, em Conselheiro Mata, no Vale do Jequitinhonha, que ensinava a fazer crochês e a mexer com costuras. Lá tomei gosto por isso. Depois da escola parei de mexer com isso, virei professora, tive um comércio, mas agora estou voltando com minha paixão”, afirma Alaíde, que atual-
mente faz peças com desfiados, bolsas feitas de garrafas pet e crochês. O projeto também conta com professoras voluntárias. Este é o caso de Rosilda Carvalho Faria, de 47 anos, e de Alda Espineli Batista, de 56. Elas, que ensinam as outras integrantes a fazer aplicações em camisetas desde maio de 2008, contam que entraram no grupo a convite de amigos do bairro. “Moramos no Coração Eucarístico e sempre fizemos bordados em casa. Aqui mais ensinamos do que aprendemos, mas é bom participar de um grupo e conhecer gente nova”, observa Rosilda. NOVOS OBJETIVOS De acordo com a coordenadora do projeto, Maria de Fátima Baião, já existem ideias de aperfeiçoamento do projeto. “Nosso desafio agora é reconstruir o que perdemos com a enchente, no dia 31 de dezembro. Estamos procurando parceiros para doação de tintas e pessoas que possam nos ajudar a limpar o local, para o espaço voltar a ser como era
antes”, explica. O objetivo principal, entretanto, segundo ela, é conseguir fazer parcerias com lojas na cidade para vender os produtos. “Nossos produtos já tem grande padrão de qualidade e já podem ser vendidos em qualquer loja. Por isso queremos fazer esses acordos, o que aumentaria a renda do projeto e das integrantes”, ressalta Maria de Fátima. Além disso, ela comenta que agora quer atrair as pessoas para o local onde o projeto acontece para conhecerem melhor sua história, além de possibilitar a compra dos produtos ali mesmo. A coordenadora ainda acrescenta que o grupo está aberto a convites para participar de bazares e expor suas peças. O próximo que, segundo ela, ocorrerá será na PUC Minas. “Fomos convidadas pela PUC para participar de um congresso em junho realizado pela Pastoral da Família da Regional Leste, onde vamos vender nossos produtos”, conta.
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MAIARA MONTEIRO
VOZES INFANTIS QUE JÁ CUMPREM PAPEL SOCIAL Rádio Morrinho, no Morro do Cascalho, passa a possuir jornal próprio, escrito por crianças que integram o projeto n ANTÔNIO ELISEU DE OLIVEIRA, 4ºPERÍODO
Iniciado há quatro anos como iniciativa de extensão da PUC Minas, o Projeto Morro do Cascalho está passando, desde 2008, por uma fase de expansão. A partir de uma ideia de algumas mães de participantes da Rádio Morrinho, passou a existir também um jornal produzido pelas próprias crianças. Neste mês de abril foi publicada a terceira edição do jornal “O Morrinho”, que a exemplo das duas anteriores, veiculadas em junho e novembro do ano passado, tem tiragem de mil exemplares, distribuídos nos principais pontos do Morro do Cascalho e também na PUC Minas, no Campus São Gabriel. A iniciativa ganhou nova denominação e passou a ser chamada de Projeto Morrinho: Rádio e Jornal. “Gosto de tirar fotos e
entregar o jornal”, diz Larissa Júnia Ferreira de Castro, 11 anos, aluna da 5ª série da Escola Estadual Nossa Senhora do Belo Ramo. Como todas as demais atividades inseridas no Projeto Morrinho, o jornal tem o objetivo de promover a cidadania. São oferecidas diferentes oficinas no Morro do Cascalho, uma das vilas existentes no Aglomerado Morro das Pedras, situado na Região Oeste de Belo Horizonte e outras nos laboratórios da PUC Minas, no São Gabriel. Nessas atividades há a possibilidade de exercerem o direito à comunicação a partir de suas próprias referências e escolhas, numa interação com a comunidade. “Foram muito boas as visitas na PUC, pois aprendi muitas coisas, por exemplo, vi as coisas daqui como eram e como estão agora, muitas coisas melhoraram”, relembra Larissa
Lúcia Borges, 13 anos, aluna da 6ª série.
SATISFAÇÃO Todos os integrantes do projeto são estudantes da Escola Estadual Nossa Senhora do Belo Ramo e o gosto pelas diversas atividades é unânime. A judoca Ana Cristina Gonçalves, 15 anos, da 1ª série do Ensino Médio, participa desde o início e se considera muito satisfeita. “Gosto muito de participar”, afirma. Júnior Flores da Silva, 13, da 5ª série, também está desde o começo e aprovou as tres visitas que fez à PUC Minas no São Gabriel. “As professoras são boas, não xingam, mexo no computador, aprendo muito”, comenta Júnior, referindo-se às monitoras. “Projeto muito bom, sempre inovando com as crianças”, observa Rosilene Custódia, 34 anos, mãe da Ana Cristina. Participante da rádionovela produzida dentro do
projeto, Jerônimo Luiz de Almeida, 12 anos, da 6ª série, que interpreta o feiticeiro, acredita que a participação nas atividades “melhora a educação das pessoas”. “Participei de algumas coisas para passar o tempo, aprendi muitas coisas legais nas quatro vezes que visitei a PUC, fiz computação, gravação da rádionovela”, enumera.
FOCO Conforme Gustavo
Crianças participam do Projeto Morrinho: rádio e jornal, no Morro do Cascalho
Reis, monitor do projeto, o foco este ano será a comunicação, o jornalismo e o trabalho social que formam uma união perfeita, permitindo às crianças produzirem essa comunicação com maior valor. “Fico muito feliz de fazer parte desse projeto. Já estou criando um laço de carinho enorme com as crianças e acho que posso, e quero ajudá-las muito, não só eu, mais todos envolvidos, dando voz ao morro e acabando com essa imagem
negativa que muitas pessoas têm”, relata Gustavo. Não só as crianças, mas os pais delas e membros da Paróquia Santíssima Trindade, do vizinho Bairro Gutierrez, estavam presentes na manhã do Domingo de Ramos. O Padre Arnaldo, após presidir a cerimônia, sugeriu a integração dos monitores com a paróquia, que também desenvolve atividades semelhantes no local.
Jornalista responsável pelo Jornal Morrinho, o professor Mário Viggiano observa que tem todo o cuidado durante as revisões dos textos para manter a espontaneidade do discurso, sem perder de vista as regras da língua portuguesa. Segundo ele, dessa forma é possível que as pessoas se manifestem do jeito delas, adequado àquela situação da comunidade, sem mudar o discurso.
“O Morrinho”: aprendizado, desafio e expectativas Na distribuição da terceira edição do jornal “O Morrinho”, em 5 de abril último, a tarefa se transformou numa verdadeira festa de confraternização entre professora, estudantes universitários, crianças e integrantes da comunidade do Morro do Cascalho. "Trabalhei no projeto Rádio Morrinho nos dois últimos anos. Foi uma experiência que me acrescentou muito”, observa Júlia Duarte Moreira, aluna
do 7º período de jornalismo. Ela diz que passou a ver a comunicação como uma via de mão dupla e também a conhecer meios alternativos de comunicação. “Pessoalmente o projeto me fez crescer como pessoa; destruiu preconceitos, acredito eu, que formados pelo modo como a mídia trata as comunidades como a do Morro do Cascalho; me permitiu conhecer uma realidade muito distante da minha e respeitar essas pessoas
acima de tudo, dar valor a elas e às dificuldades que elas passam e, principalmente, a amar a comunidade do Cascalho como uma grande família que me acolheu nesses dois anos”, comenta. ENTUSIASMO Uma das novas monitoras, Ana Elisa, do 4º período de Comunicação Social Integrada, se diz entusiasmada com a nova experiência. “O Projeto Morrinho, a princípio,
está sendo um sonho pra mim, pois ele une as duas coisas de que mais gosto: trabalho social e jornalismo”, revela. “Tenho muitos sonhos, planos e idéias para essa monitoria. Sei que a equipe, junto com as crianças, pode sim produzir uma comunicação de qualidade, dando voz ao morro e acabando com a visão estereotipada de que no morro só há coisa ruim”, acrescenta. Para a coordenadora,
Elisa Rezende, inserir o projeto na mídia convencional é um desafio, já que ainda não houve êxito nos contatos realizados com as emissoras de rádio da capital mineira. Segundo ela, as pessoas gostam, o elogiam, mas não abrem espaço ao projeto na grade de programação. De acordo com a professora, outro desafio é fazer uma comunicação com a realidade local e “traduzir” para o estilo convencional, sem perder a originalidade
“Hoje, a Rádio Morrinho tem uma programação pouco palatável para o ouvinte, é preciso despertar interesse, sem perder a espontaneidade”, afirma a coordenadora. Foram produzidos oito programas até o momento, com entrevistas, declamações de poesias, apresentação de rádionovela, dentre tantas outras brincadeiras com veiculação garantida na Rádio On line: www.fca.pucminas.br/radio.
MAIARA MONTEIRO
Moradores do Ouro Minas comemoram a nova UMEI n PRISCILA DE ASSIS, 8º PERÍODO
A inauguração da Unidade Municipal de Ensino Infantil (UMEI) no Bairro Ouro Minas, Região Nordeste de Belo Horizonte, no início de abril, realizou um antigo sonho da comunidade. A obra, iniciada em fevereiro de 2008, teve investimento aproximado de R$ 2.048.000,00 (dois milhoes e quarenta e oito mil reais). Segundo Glaucon Rodrigues, engenheiro responsável pelas obras, as chuvas intensas no fim do ano de 2008 atrapalharam a fase de acabamento e, com isto, foi necessário o adiamento da entrega que estava prevista para o início de março.
A escola está preparada para receber 400 alunos de até cinco anos, sendo horário integral para crianças de até dois anos e horário parcial para crianças entre três e cinco anos. ESTRUTURA O prédio é composto por oito salas de aula, parte administrativa com diretoria, secretaria e sala dos professores, área de lazer externa com brinquedos e uma novidade que é o anfiteatro, um pequeno palco com arquibancadas para apresentações. “Além disso, ainda conta com um recreio coberto, refeitório e cozinha industrial”, acrescenta Glaucon Rodrigues. A escola também está preparada para receber alunos com necessidades especiais, as instalações do
prédio contam com banheiros para deficientes físicos e elevadores de acesso para os três andares. De acordo com informações da vice-diretora designada para a UMEI Ouro Minas, a escola é uma extensão da Escola Municipal Consuelita Cândida, situada no Bairro Belmonte e os profissionais da educação já foram contratados.
MARCO Segundo Arizio Neves, presidente da Associação Comunitária do Bairro Ouro Minas (Ascom), a entidade vem lutando há anos para a construção de uma escola de Ensino Fundamental ou Ensino Médio no local, mas a Prefeitura de Belo Horizonte não aprovou a obra, já que o terreno de
2000 m² era relativamente pequeno para construção de uma escola deste porte, que necessita no mínimo 4000 m². “Por isso, só foi possível a construção de uma escola de ensino infantil, o que já é um marco na educação no nosso bairro, que tem aproximadamente 6000 habitantes”, desabafa Arizio.
ABRANGÊNCIA As inscrições foram divulgadas no mês de janeiro deste ano através da associação do bairro, com faixas espalhadas na comunidade, pelo site www.bairroourominas.hpg.com.br, por e-mails e pela igreja católica local. As inscrições não se restringiam apenas para moradores do Bairro Ouro Minas, se estendendo também para bairros vizinhos, como
Com a nova escola, 400 criancas do Bairro Ouro Minas serao beneficiadas Dom Silvério, Belmonte e São Gabriel. Segundo Arizio, o sorteio de vagas foi realizado no dia 26 de fevereiro e as matrículas foram realizadas. O líder comunitário destaca a importância da escola para o conforto de crianças e de pais beneficiados. “Muitos
pais se deslocam para bairros vizinhos com seus filhos para levá-los à escola, gastando tempo e dinheiro com transporte; por isso, a construção dessa escola é a concretização de um sonho para nós, moradores do bairro Ouro Minas”, conclui o presidente da ASCOM.
6 Cidade
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Abril • 2009
TRANQUILIDADE NA MORADA DO RIO Conjunto Morada do Rio, localizado no município de Santa Luzia, possui 451 imóveis e apresenta baixo índice de violência em comparação com outras regiões de Belo Horizonte MAIARA MONTEIRO
n ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 4° PERÍODO
O Conjunto Morada do Rio, situado na chamada “parte baixa” de Santa Luzia, um dos 34 municípios que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte, é um local onde se vive com certa tranqüilidade, embora apresente alguns problemas comuns aos de bairros de outras cidades. “O conjunto é um lugar bom de viver, com boa vizinhança. Temos bons relacionamentos e pouco índice de violência”, aprova o comerciante José Luiz Costa, 40 anos, que é dono do Sacola Cheia, situado à Rua Reni de Souza Lima. O sacolão é um dos pequenos estabelecimentos comerciais que foram sendo instalados com o passar do tempo no Conjunto Morada do Rio, que, inicialmente era formado por imóveis exclusivamente residenciais. O diversificado comércio local é formado não apenas pelo que garante a oferta de produtos básicos – padaria, sacolão, mercearia, farmácia –, mas também por clínicas médica, odontológicas, de fonoaudiologia e segurança do trabalho, agência de recursos humanos, e oficinas para veículos, além de muitos bares. “Desde quando comecei a frequentar o conjunto, pois tenho uma parenta que mora lá, percebo que é um lugar tranquilo, não se ouve falar sobre violência. É
O Conjunto Morada do Rio, em Santa Luzia, oferece tranquilidade e segurança para os moradores da região um lugar bonito, plano, as construções das casas organizadas”, comenta a caixa de padaria Aline Albertina Santos, 19 anos. O Morada do Rio abriga 451 imóveis, construídos pela Santa Bárbara Engenharia, por meio do Instituto Nacional de Cooperativas (InocoopMG), com financiamento pelo extinto Banco Econômico. Os contratos foram negociados, posteriormente, com a Caixa Econômica Federal (CEF). A inauguração aconteceu em 15 de setembro de 1981. Atualmente muitas dessas casas já tiveram seus contratos encerrados, proporcionando à maioria dos moradores a efetiva rea-
lização do sonho da casa própria. Da história do conjunto, é parte integrante a Associação Comunitária Morada do Rio (ACMOR), que, nos primeiros tempos, promovia eventos que permitiam a confraternização dos moradores. Aos poucos, no entanto, essas festividades foram diminuindo e, atualmente, pouco tem a oferecer. Uma das exceções acontece durante o Carnaval, quando há sete anos surgiu o bloco carnavalesco “Margaridas desfolhadas, concentra mas não sai”, que, segundo o presidente da entidade, Milton José dos Santos, 50 anos, além de fazer a festa dos
foliões, arrecada alimentos que são doados às entidades beneficentes. Miltão, como é conhecido, tem mandato até 2010. Ele mora no Conjunto desde 1982. “Sempre me envolvi com a associação, já participei de várias diretorias, atualmente sou o presidente”, comenta o líder comunitário. Com certo grau de saudosismo, há quem tenha outra visão hoje em dia das atividades em geral no Morada do Rio. “Antigamente tinha mais participação das pessoas, tinha mais união, divertiase melhor. Antes existiam interesses coletivos”, recorda a auxiliar contábil
Tamara Stefânia Nogueira, 28 anos. Da Associação Comunitária Morada do Rio, entidade sem fins lucrativos, devidamente registrada em todas as estâncias que exige a lei, surgiu Associação Esportiva Morada do Rio (Aemor), também constituída juridicamente, administra as áreas físicas para a prática do esporte. Outra agremiação atuante também na área esportiva, é o Grêmio Recreativo Morada do Rio (Gremor). O aposentado Ângelo Agostinho de Paula, 71 anos, mais conhecido por Sônem, considera-se o primeiro morador do lugar. Ele se lembra que em 1981 esteve no escritório do Inocoop, no Bairro Floresta, em Belo Horizonte, quando foi realizado o sorteio das casas, para entrega aos então novos mutuários.
MAIOR SEGURANÇA A instalação de um posto da Polícia Militar de Minas Gerais, em março de 2005, melhorou a segurança no local, reduzindo o índice de assaltos e roubos a comerciantes, de acordo com o tenente Eduardo, lotado na 58ª Companhia no Bairro Asteca, distrito de São Benedito, cuja rota se estende por todo o município de Santa Luzia. “Nas estatísticas, especificamente o Conjunto Morada do Rio tem poucas ocorrências”, confirma o tenente Medeiros, da 150ª Companhia, subordinada ao 35º Batalhão
Polícia Militar, instalado no Bairro Carreira Comprida. “É um lugar tranquilo para morar, onde os filhos podem ficar até mais tarde na rua, tem segurança”, comenta o professor da Rede Estadual de Ensino Denílson Carvalho, ex-diretor da Escola Estadual Altair de Almeida Viana. Nem todos os moradores, no entanto, estão satisfeitos com as condições do conjunto. “Todo mundo que veio para esse conjunto, queria arrumar um canto para sossegar, não ter compromisso com nada. A sistemática: come carne de terceira, mas arrota caviar. Falta espírito comunitário, solidariedade”, observa o advogado Romeu Campos, 79 anos, professor aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Segundo ele, existem problemas com linhas de ônibus, além de o posto de saúde ter sido retirado do local onde funcionava, sendo substituído pelo posto policial. “Ninguém falou nada, a comunidade não foi consultada, pois é passiva, tolerante e preguiçosa”, desabafa Romeu Campos. A esposa dele, Maria de Lourdes Kfouri Campos, 65 anos, que foi presidente da Acmor no biênio 90-91, também lamenta a falta de união. “Aqui funciona o bloco do eu sozinho”, ressalta.
ANTÔNIO ELIZEU
Associação Esportiva do conjunto ajuda na formação de crianças No campo esportivo, a união e ânimo são constantes, tanto na Associação Esportiva do Conjunto Morada do Rio (Aemor), quanto no Grêmio Recreativo do Conjunto Morada do Rio (Gremor). A primeira dá suporte ao Projeto Atleta do Amanhã, mantido pela Secretaria de Esportes. “Há mais de seis anos esse projeto, que visa trabalhar o aluno, em parceria com as escolas, tem contribuído para a formação dos jovens e adolescentes. De três em três meses avaliamos o desempenho deles”, afirma o monitor Geraldo Martins de Paula, 54 anos.
Desde 2003, quando se mudou para o conjunto, o funcionário público Glauber Fabiano de Souza, 37 anos, conhecido por todos como Bó, é sócio do grupo. “Entrei e vi a força que o grupo tem é a amizade gremista”, afirma o atual presidente do Gremor, que reúne hoje 45 pessoas, na maioria veteranos, para as “peladas” de final de semana. “Há união do pessoal, amizade, todos os domingos, a partir das 6 horas, encontro aqui pessoas de várias idades, jogador ou não, estamos ai, já tem dez anos”, acrescenta o técnico de Operação
de Comando, Marcelo Bruno de Carvalho, 26 anos, estudante graduando de Engenharia Elétrica. Incansável na luta comunitária, a socióloga Terezinha Daria Soares não mede esforços para ampliar a participação nos movimentos sociais. “Buscamos obter os resultados esperados, continuamos lutando, para ver se sensibiliza mais as autoridades, para ver se consegue uma travessia digna em um conjunto dividido por uma linha de trem, promessa feita na construção do Conjunto”, enfatiza a socióloga.
Atividades que visam melhorar a saude fisica e a qualidade de vida sao oferecidas pelo Projeto Atleta do Amanhã
ATLETA DO AMANHÃ Criado em 10 de julho de 2002, pela diretoria de Esportes da Prefeitura Municipal de Santa Luzia, o projeto atendia 280 alunos do bairro Maria Antonieta (Conjunto Palmital). Atende atualmente cerca de 4 mil crianças e adoles-
centes da cidade, com o intuito de melhorar o desenvolvimento social, a saúde física e a qualidade de vida através de práticas esportivas de futebol de campo, vôlei, basquete, futsal e handebol, distribuídas em 27 núcleos, atendendo também crianças da Apae. O Projeto Atleta do
Amanhã, ferramenta de transformação e inclusão social, tem a colaboração de pessoas, empresas e instituição que acreditam no esporte como solução para a exclusão social e para a formação do cidadão, além de ser um meio de valorizar a cidadania.
Cidade Abril • 2009
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XÔ PASSARINHO, TEM AVIÃO NO AR! Técnica utilizada para evitar acidentes aéreos provocados por pássaros, a falcoaria ajuda no trabalho de prevenção, que é necessária para garantir maior segurança nos vôos MAIARA MONTEIRO
metros (2000 pés). “A técnica é reduzir a potência – a velocidade – do avião e subir o mais rápido possível a 900 metros de altura. Às vezes nem tem como fazer isto, o jeito então é reduzir ao máximo o impacto”, afirma. Com a implantação do sistema de prevenção a acidentes envolvendo aves, Nunes afirma que está mais tranquilo voar no espaço aéreo da capital mineira.” Está tendo um controle melhor aqui na Pampulha. Tem um bom tempo que eu não ouço relatos de colisões com pássaros no aeroporto”, conta.
n GABRIEL DUARTE, LILA GAUDÊNCIO, 3º PERÍODO
Há mais de três milênios, aves de rapina eram usadas na Ásia como meio de obter alimento. Desde abril de 2008, no Aeroporto da Pampulha, a falcoaria, como é chamada a técnica, é utilizada como método preventivo de colisões entre aeronaves e pássaros. O sistema é pioneiro no Brasil e vem trazendo resultados positivos à segurança de voo. Após a implantação do sistema no aeroporto, houve uma queda de 27% no número de incidentes envolvendo pássaros, segundo a Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero). Conforme Gláucia Silveira Freire, fiscal do contrato do Plano de Manejo da Avifauna do Aeroporto da Pampulha, isso se deve ao fato do aumento do perímetro urbano e do crescimento ao entorno do aeroporto, que gera desequilíbrio ambiental. “O aeroporto fica perfeito para as aves procriarem”, observa Gláucia Freire. No ano passado, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), 550 colisões foram registradas entre aeronaves e pássaros no país. Apesar disso, a fiscal do plano de manejo enfatiza que o sistema não foi implantado no Aeroporto da Pampulha devido a altas taxas de incidentes, mas como um método preventivo. “A execução do sis-
Pista de pouso do Aeroporto da Pampulha utiliza falcoaria para previnir colisões entre aeronaves e pássaros tema é feita tentando minimizar os riscos dos acidentes, utilizando as técnicas necessárias”, afirma. Ainda segundo Gláucia Freire, o processo de prevenção precisa ser contínuo, já que as aves se adaptam às técnicas de captura. Além disso, apenas a falcoaria não resolve o problema. “Cada espécie funciona com uma técnica diferente, que varia de captura com armadilha aos fogos de artifício”, diz. “Em todos os aeroportos há problemas como esse. Quem está usando mais de um sistema está sendo bem sucedido”, acrescenta. De acordo com dados da Biocev, empresa encarregada pelo treinamento das aves no Aeroporto da Pampulha, em um ano de
introdução do sistema, 407 pássaros foram capturados na pista. De acordo com o consultor ambiental e especialista em falcoaria Gustavo Diniz, um dos responsáveis pelo treinamento das aves de rapina no aeroporto, os pássaros que causam mais problemas são carcarás, corujas e queroqueros. Segundo Gustavo Diniz, as aves têm costume de ficar na pista na parte da manhã. “A presença dos falcões – predadores – tende a afastá-las do local, é a questão da cadeia alimentar”, explica. A “equipe”, segundo Diniz, é composta por três falcões, cinco gaviões e um cão. Os equipamentos utilizados no chamado Lure Fly (técnica de voo) são um
capuz de falcoaria – usado apenas no transporte da ave até a pista – e um rádio telemetry, um aparelho localizador colocado na ave antes do voo. REDUÇÃO DO IMPACTO Josafá Alves Nunes, piloto há sete anos no Aeroporto da Pampulha, revela que já teve problemas com aves. “Eu sofri um incidente no (Aeroporto) Carlos Prates, em que um carcará voou em direção ao meu avião”, relata. O piloto executivo explica, ainda, que os relatórios de voo indicam que, caso haja perigo iminente de colisão com pássaros, a aeronave deve atingir uma altura de 914 metros (3000 pés), já que as aves costumam voar a uma altura de 610
“CINCO TONELADAS” O mecânico de aeronaves, Rildo Lins dos Santos, que já trabalhou em aeroportos do país que não utilizam o método preventivo, constata que as estruturas mais prejudicadas da aeronave nas colisões – o chamado bird strike – são a asa, a fuselagem, o motor e o para-brisa. Santos ainda enfatiza os estragos causados pelo impacto. “Se um avião estiver a 800 km/h e colidir com um urubu de três quilos, o impacto vai ser de cinco toneladas”, calcula. Além disso, o prejuízo econômico da empresa aérea, com esse tipo de incidente, segundo o mecânico de aeronaves, pode chegar a US$
50 milhões. “Há estragos no motor também. A empresa pode ter um custo caro, já que um motor de um avião de grande porte custa em torno de US$ 50 milhões”, avalia. INTERRUPÇÃO Apesar do método da falcoaria ser eficaz na Pampulha, as atividades foram paralisadas no meio de maio, devido ao fim de contrato entre a Biocev e a Infraero. Este procedimento é feito a cada seis meses, por exigência da instituição aeroportuária. Segundo Gustavo Diniz, o interrompimento dos serviços não é problema e o que o deve ser acertado no contrato são apenas termos de prestação de serviço, porém, segundo ele, nada será modificado em relação aos métodos utilizados. “São termos burocráticos que deverão ser acertados a qualquer momento”, afirma. O contrato, segundo Diniz, deve ser acertado ainda em maio. Ele informa também que outros aeroportos do país, cientes do sucesso do método em Belo Horizonte, já estão projetando a implantação da falcoaria. “Já estamos acertando com o aeroporto de Congonhas (São Paulo) e o de Confins deve ter a falcoaria ainda este ano”, comenta o consultor ambiental.
A origem da falcoaria não é certa, mas há indícios de que a prática surgiu no ano de 1700 A.C, na Mesopotâmia,região atualmente identificada como Oriente Médio. Até o século XVII, as aves de rapina eram utilizadas como ferramentas de caça. Com o surgimento da pólvora no mesmo século, a falcoaria perdeu sua principal função, tornando-se uma forma de lazer – caça esportiva – em todo mundo.
Animais de estimação sofrem com excesso de peso JULIA LERY
n JULIA LERY, 1º PERÍODO
A cadela Pitucha tem seis anos e pesa 40 quilos, o que é considerado muito para sua raça, Labrador Retriever. Para resolver o problema, ela está fazendo um tratamento com esteira aquática com a fisioterapeuta da clínica veterinária Professor Israel, Andressa de Marco. A intenção de Andressa é que Pitucha perca de seis a sete quilos, o que fará com que seu problema de nascença nas articulações traga menos desconforto. Para isso, a cadela seguirá um regime a base de ração light e frutas, e se exercitará na esteira aquática com a freqüência determinada pela veterinária. “Em torno de 60% dos cães e gatos que atendo estão acima do peso”, afirma o veterinário Luís Fernando Lucas Ferreira, que dá aulas no curso de veterinária da PUC Minas em Betim, e atende, na clínica Professor Israel, no Bairro São Pedro. Ele afirma que hoje, com o fenômeno da verticalização, os animais ficam mais confinados nos apartamentos e não têm espaço para gastar energia.
“As pessoas também têm cada vez mais atividades e deixam seus cães de lado, pois não têm tempo para levá-los para se exercitar. Essa deficiência de exercício físico é um fator predisponente para a obesidade, no cão, principalmente. No gato, a principal causa do excesso de peso é a castração, pois os gatos tendem a comer mais com a ausência de hormônios sexuais”, explica Luís Fernando. Na prevenção da obesidade, o professor recomenda exercícios físicos regulares aliados a uma dieta adequada. As rações light são indicadas para animais com sobrepeso, mas para evitar que engordem é interessante seguir a dieta por faixa etária. A maioria das marcas possui rações específicas para cada idade ou para cães com necessidades especiais. As rações para controle de peso têm baixo valor calórico com a mesma quantidade de nutrientes, mas são mais caras. Um saco de 15 quilos de ração da Pedigree Adulto ou Júnior por exemplo, custa, na loja virtual ciashop (www.ciashop.com.br), R$ 111,13, enquanto a opção Weight Control, da mesma marca porém com menos calorias, custa R$ 144,89.
mas que ao verificar as medidas do cão, pode-se perceber que ele perdeu gordura e ganhou massa muscular. A cadela Labrador, que não pode fazer outro tipo de exercício além de caminhar na água, parece gostar do tratamento. Mesmo demonstrando cansaço, Pitucha abana a cauda e joga água para os lados durante a sessão.
A cadela da raça Labrador, Pitucha, faz exercícios físicos para diminuir o peso e sanar seus problemas na articulação Segundo Luís Fernando, o investimento é válido para evitar várias doenças que os animais obesos tendem a desenvolver. O veterinário alerta que gatos muito gordos costumam sofrer de doenças cardiovasculares, pois o coração tem dificuldade para bombear sangue para o tecido em excesso. Cães, além dos problemas cardiovascu-
lares, podem ter lesões nas articulações devido ao sobrepeso. ESTEIRA AQUÁTICA A esteira aquática para cães surgiu como um tratamento alternativo para a obesidade e problemas articulares. O veterinário Luís Fernando explica que, na água, além do efeito do exercício ser inten-
sificado, não há sobrecarga nas articulações. Cada sessão de esteira aquática custa R$ 60,00, o que inclui secar o cão no pet shop da clínica. A cadela será medida e pesada a cada 15 dias, para que se possa acompanhar seu emagrecimento. Andressa ressalta que não se deve esperar muita perda de peso nas primeiras sessões,
DOENÇA Segundo o site do canil Golden Legacy, de criação de cães da raça Golden Retriever, a displasia coxofemoral é uma doença que acomete, em especial, cães de médio e grande porte. Pode ser genética, mas é intensificada, ou em alguns casos causada pela obesidade dos animais. A doença é, na verdade, um encaixe incorreto entre os ossos do fêmur e da bacia. Existe em diferentes intensidades e pode causar muita dor e comprometer a movimentação das patas traseiras do animal em seus estágios mais graves. Não há cura para a displasia coxofemoral, e o tratamento consiste no alívio da dor e retardo das artroses com medicamentos, ou, em alguns casos, cirurgias que minimizam a lesão.
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Abril • 2009
TRISTE PERDA DAS PALMEIRAS IMPERIAIS Em São João del Rei, corte de cinco árvores que compunham a praça em frente à Igreja São Francisco de Assis, foi recebido de forma diversa por moradores e foi jusitificada por autoridades TATIANA LAGÔA
n TATIANA LAGÔA,
Moradores lamentam corte das árvores que faziam parte da história
7º PERÍODO
A paisagem da praça que fica em frente à Igreja São Francisco de Assis, um dos cartões-postais da cidade história de São João del Rei, está modificada, porque cinco das 11 palmeiras imperiais que enfeitavam o local foram cortadas. Há mais de cem anos, essas árvores foram projetadas de modo a fazer o contorno das cordas de uma lira. Como a forma da praça lembra esse instrumento musical, às 9h30 a sombra das árvores se harmonizavam com o desenho do lugar. Essa beleza centenária está ameaçada já que nem as autoridades locais que autorizaram o corte sabem ao certo qual a doença que atingiu as árvores e o que será feito com as que ainda estão lá. O ministro da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, instituição que administra o complexo da igreja, Carmello Geraldo Viegas, explica que só retiraram as palmeiras que estavam mortas e que perderam suas copas. "Muitas pessoas ficam em dúvida se assistem a sucessiva morte de cada uma delas ou se permite que sejam cortadas. Cortamos as que vimos que não tinha mais jeito, mas ainda têm outras que demonstram ser portadoras da doença e já percebemos que vão cair", revela. Mas o engenheiro da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Arcelino Couto, um dos responsáveis pelo laudo encomendado pela Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis para detectar a doença nas árvores, não concorda totalmente com o posicionamento da instituição. Ele conta que o laudo elaborado não foi conclusivo e que para chegar a um resultado preciso seria necessário mais tempo, recursos e pesquisadores. "No relatório previ a queda da palmeira que chegou a atingir um casarão. Essa palmeira precisava mesmo ser cortada. As outras estavam aparentemente sadias. Eu não cortaria as palmeiras. Se começassem a murchar aí sim eu cortaria", diz.
A moradora de São João Del Rey, Raquel Teixeira, lamenta o corte das árvores, mas acredita que foi necessário O secretário municipal de Política Urbana e Meio Ambiente local, Fuat Carlos Kaluf, conta que registros mostram que essas palmeiras datam de 1853 e que existem mais árvores dessa espécie em outros pontos da cidade também correndo o risco de cair. Uma está na Avenida Presidente Tancredo Neves, principal via do centro histórico, outra plantada no Serviço Social do Comércio (Sesc) e uma na Praça Salatiel. O futuro dessas e das árvores que ainda restam no Largo São Francisco de Assis ainda será decidido pelas autoridades locais. Segundo ele, está sendo feito um estudo para descobrir se realmente é necessário cortar todas as palmeiras e se outras podem ser plantadas, sem com isso, serem contaminadas pela mesma doença. "Ainda está sendo estudado o caso, mas talvez seja a melhor opção cortar todas e comprar outras espécies de porte grande para substituí-las", analisa Kaluf. O secretário lembra que uma das palmeiras imperiais que ficou em frente à Igreja São Francisco de Assis está altamente comprometida, mas também não sabe o que fazer com ela. Uma das alternativas
estudadas é a de ligá-la a outras por meio de cabos de aço para dar maior sustentação. Quanto a arquitetura do local que possibilita que a sombra das árvores projetem as cordas de uma lira, quando o sol bate às 9h30, Kaluf não garante que será mantida. "Estamos pensando nisso também. Não sei, talvez mais para frente, quando soubermos o que fazer com as palmeiras que ainda estão lá, possamos fazer um concurso para premiar melhores ideias de desenho para o lugar. Seria uma forma de envolver a comunidade local. Mas isso, é só depois. A prioridade agora é acabar com o risco que elas trazem", explica. Já Carmello garante que a forma da praça será mantida intacta. "Vamos sim conservar a arquitetura do local. Temos um levantamento topográfico que nos demonstra onde elas foram plantadas", revela. Quanto a atitude de cortá-las, ele defende ter sido a melhor saída. "As palmeiras estão muito próximas à igreja. Não cortá-las poderia significar um risco muito grande ao patrimônio histórico que seria um dano muito maior", afirma.
HISTÓRICO Já em 2002, um relatório de pesquisadores da Ufla apontava a presença de uma doença nas palmeiras imperiais de São João del Rei. Na época, mesmo com o laudo em mãos, as autoridades locais nada fizeram para tentar solucionar o problema. Em outubro de 2008, a Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis, que administra o complexo da igreja, encomendou um laudo para a mesma instituição de ensino, que mesmo não sendo conclusivo foi utilizado como justificativa para o corte das cinco palmeiras imperiais. No carnaval deste ano, o ministro da Ordem Terceiro, Carmello Geraldo Viegas, pediu ao prefeito da cidade para que a praça fosse interditada para que os foliões não fossem surpreendidos caso alguma delas chegasse a cair. Com o objetivo de evitar transtornos, as autoridades decidiram então cortar as árvores uma semana antes do evento. "Foi uma loucura, o tanto de problemas que tivemos que enfrentar para que essas árvores pudessem ser cortadas em um prazo tão curto", afirma Kaluf.
A moradora da cidade Raquel Teixeira, de 42 anos, lamenta o corte das árvores pelo que representam na história da vida dela. "Essas árvores fazem parte da minha vida desde que nasci. É uma tristeza muito grande perder algo tão importante para a cidade, tão bonito. Eu não esqueço meus tempos de criança, quando eu vinha brincar na praça e ficava sentada debaixo delas", conta. Mesmo com o sentimento de perda, Raquel acredita que o corte foi a coisa mais certa a ser feita pelo risco que a queda delas poderia representar para a população local. Aliás, esse é o sentimento de grande parte dos moradores: uma mistura de nostalgia pela perda, com alívio pela eliminação de um risco. Edson Borges Gonçalves, de 54 anos, é uma das pessoas que compartilha dessa visão. Natural da cidade, morador de uma rua muito próxima à Igreja de São Francisco de Assis, ele faz questão de mostrar o quanto de ligação possui com o lugar. Em suas palavras: "Sou nascido e criado aqui nas redondezas. Freqüentei torres durante muito tempo da minha vida porque fui sineiro. Conheço bem cada pedaço dessa igreja". Agora, Edson não sobe mais na torre da igreja para tocar seu sino e anunciar algo para a população local, mas para encontrá-lo a tarde é fácil: basta ir aos bancos que ficam naquela praça, que lá está ele "proseando" com alguns conterrâneos. Quando o assunto são as palmeiras imperiais ele faz a sua análise: "O que fica é um sentimento muito profundo, muita tristeza perder nossas palmeiras centenárias. Mas, cortar foi um mal necessário: por motivo de doença e pelo dano que pode ser causado". O ex-sineiro lembra que em meados de novembro, uma das pal-
meiras chegou a cair em um dia de forte chuva, atingindo um casarão tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o prédio da Receita Federal. Enquanto aguardava o ônibus que para em frente à praça, Zileide Melo de 76 anos, ao olhar para os pedaços que restaram das palmeiras que foram cortadas, comentou em voz baixa: "Gente, eles têm que parar de cortar essas árvores. Olha como já está isso aí". Indagada sobre sua opinião a respeito, ela limitou-se a dizer: "Satisfeita eu não estou né, mas fazer o que, elas estão caindo". Outro morador que estava próximo a igreja, o motorista de 47 anos, Paulo Roberto Pereira, diz que quando olha para a igreja acha que ficou “esquisito”. Isso aqui era o nosso cartão-postal e agora acabou", afirma Para ele, o plantio de outras árvores, já anunciado pelas autoridades locais, não vai resolver o problema. "Ixe, isso aí a gente nem vai ver”, lamenta. Há 20 anos trabalhando como guia turístico na região, Pedro das Mercês França, já perdeu as contas de quantas vezes contou a história da Igreja São Francisco de Assis e das palmeiras imperiais que a cercam. Mas, desde a semana anterior ao início do carnaval quando as palmeiras foram cortadas, o texto de apresentação do local teve que ser alterado. "Todos os turistas que eu atendo estão achando uma perda muito grande e ficam querendo saber o porque do corte", afirma. Pela primeira vez na cidade de São João del Rei, a turista Andréa Alves Nascimento, lamenta não ter conhecido o jardim intacto. Ela acredita que deveria ter sido procurada outra alternativa ao corte. “Achei um absurdo”, ressalta.
Queda de árvores é problema também em Tiradentes ISABELLA LACERDA
n ISABELLA LACERDA, 3º PERÍODO
A histórica cidade de Tiradentes, que se localiza a 202 quilômetros de Belo Horizonte, tem passado por problemas de queda de suas imponentes e tradicionais árvores. O mais recente incidentes do gênero ocorreu na segunda quinzena de janeiro último, véspera do início da 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Antes disso, houve outro em julho de 2005. De acordo com a administração da cidade, as quedas dessas árvores ocorrem devido a necessidade de poda das mesmas. “Quando identificados esses problemas, avisamos o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e ele
julga a necessidade ou não de manutenção dessas árvores”, explica o secretário de Meio Ambiente e engenheiro florestal de Tiradentes, Gustavo Adolfo da Rocha. Ele ressalta que a prefeitura verifica, avisa ao Iphan e é o instituto quem dá a palavra final. Porém, Gustavo afirma que essas quedas não são frequentes, o que não torna esse fato um risco para os turistas que visitam, durante todo o ano, a cidade. Nos dois episódios de quedas de árvores no Largo das Forras não houve vítimas. O Iphan de Tiradentes, quando consultado, entretanto, disse que a prefeitura é quem avalia, através de um laudo técnico feito por outros órgãos ambientais e por um responsável técnico da própria administração, a necessidade de haver cortes
de árvores ou até mesmo a poda, e que, após esse laudo, é pedida a autorização do instituto. “É necessário uma avaliação do Iphan, pois é um órgão que cuida do Patrimônio Histórico e Natural da cidade, e o corte de árvores modifica essa estrutura. A Prefeitura de Tiradentes tem mania de dar autorização e cortar todas as árvores sem uma análise correta”, diz Maria Aparecida Nascimento, da administração do Iphan em Tiradentes, que no momento, está sem um responsável técnico de meio ambiente. Segundo Maria Aparecida, tem ocorrido bastante corte de árvores na cidade. Ela diz que eles ocorrem por diversos motivos. “Normalmente é dada a autorização. No centro histórico da cidade é me-
lhor para acompanharmos esse corte de árvores, mas em locais mais distantes é mais difícil”, revela. Ela acrescenta que é simples fazer o pedido de manutenção de árvores ao Iphan. “Fazer o pedido ao Iphan é fácil, basta preencher um requerimento, e esses requerimentos normalmente são aprovados.” Maria Aparecida ressalta que a queda e o corte indevido de árvores são prejudiciais e perigosos para qualquer um. “Estar em uma área de perigo, onde não se tem uma avaliação correta, é perigoso para todos, não somente para os turistas”, diz. Ela ainda afirma que esse procedimento é prejudicial para a cidade, uma vez que degrada a paisagem e altera suas características. “A paisagem da cidade fica muito prejudicada”, opina.
No Largo das Forras em Tiradentes já ocorreu a queda de duas árvores
Cidade Abril • 2009
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ALINE SCARPONI
ÁRVORES DE RUA SERÃO MAPEADAS NA CAPITAL Projeto permitirá conhecer a real situação das árvores da capital, favorecendo manejos adquados e evitando novos acidentes. n ALINE SCARPONI, 3º PERÍODO
As 230 mil árvores de rua de Belo Horizonte deixarão em breve de ter situação desconhecida para a prefeitura da capital. O projeto chamado Inventário, que propõe a contagem e a análise das árvores da cidade, terá seu inicio este ano. “O Inventário, visa georeferenciar as árvores, além de diagnosticá-las”, explica Ednilson dos Santos, engenheiro agrônomo florestal da Secretaria Municipal Adjunta do Meio Ambiente (SMAMA). A execução do Inventário só será possível porque tomará como base o Programa Especial de Manejo Integrado de Árvore e Rede (Premiar) da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Segundo a empresa, esse programa buscará melhorar o convívio entre a rede elétrica e a arborização urbana e contribuirá para o Inventário, na medida em que a prefeitura, por meio dele, efetuará a substituição das árvores que estiverem em situação crítica e o plantio de espécies compatíveis com o local e com a rede elétrica que atende os consumidores da capital mineira. “Embora o projeto da Cemig se relacione com árvores de rede, será um ponto de partida para a realização do mapeamento das árvores de BH”, acrescenta o engenheiro florestal Além disso, essa ação conjunta beneficiará a população também no sentido de minimizar problemas relacionados à falta de energia. De acordo com o coordenador do Premiar, Carlos Alberto de Sousa, da Cemig, atualmente um dos principais motivos de falta de energia é a queda de árvores. “Só no ano passado, foram 1.870 quedas de energia causadas por quedas de árvores e galhos
na rede, prejudicando um total de 740 mil consumidores no município”, contabiliza. Para Agnus Rocha Bittencourt, também engenheiro florestal da SMAMA, o “Inventário das árvores de Belo Horizonte é um desejo antigo da prefeitura”, já que a capital ainda não dispõe de um mapeamento de suas árvores. Até então, cada uma das nove regionais da prefeitura possui uma Gerência de Jardins e Áreas Verdes responsável por atender as chamadas de moradores e analisar a viabilidade dos pedidos de plantio, poda ou extração de árvores de rua. “Depois que a primeira vistoria é feita, geralmente por um agrônomo ou engenheiro florestal, o pedido poderá ser encaminhado para a execução. Isso funciona as mil maravilhas? Não. Faltam recursos. Estamos aquém da demanda”, avalia Ednilson. FATOR VENTO A grande quantidade de árvores que caíram na cidade, nos últimos temporais, causaram prejuízos a moradores que tiveram portões de casas amassados e carros quebrados. “O portão eletrônico da garagem da minha casa entortou devido a queda de um grande galho”, relata Marília da Rocha Yoshizane, moradora da Pampulha. A Região da Pampulha, Zona Norte da capital, é apontada pela prefeitura como a que mais sofreu quedas de árvores. “A concentração maior de ocorrências com árvores, incluindo queda de árvores e quebra de galhos, no inicio do ano aconteceu na Região da Pampulha. Também neste ano, houve uma outra ocorrência de ventos com queda de árvores na Região Leste e Centro-Sul”, afirma Agnus Rocha Bittencourt, também enge-
nheiro florestal da Secretaria Municipal Adjunta de Meio Ambiente. Ele aponta como motivo principal para as quedas dessas árvores a ocorrência de fortes correntes de ar, que assolaram a cidade. “A causa mais comum são ventos fortes, na verdade excepcionais, associados às chuvas, quando a copa das árvores recebe uma acréscimo de peso imposto pela água e a força do vento. Na Região da Pampulha, isso ocorreu por causa de uma forte ventania associada a chuva, inclusive de granizo”, afirma. Ao estacionar seu carro em frente a um restaurante à Rua Leopoldina, no Bairro Santo Antônio, na Região Sul da capital, o advogado Guilherme Gomes Ferreira, que havia comprado seu veículo há dois meses, teve danificado o teto e a porta esquerda do seu Renault Clio, ano 2009. “Ainda preciso avaliar se houve mais danos”, comenta o advogado. A namorada de Guilherme, Maria Fernanda Penido, também presente ao local, disse que a sensação no momento em que ouviram o “grande estalo” e viram os estragos no patrimônio que haviam acabado de adquirir foi “péssima”. O proprietário do veículo disse que pretende entrar com uma ação contra a prefeitura, uma vez que acredita que é responsabilidade da administração do município, cuidar das árvores de rua, evitando que elas causem acidentes e danos à população. “Na hora, não estava chovendo muito e nem ventando. A prefeitura tem que olhar a situações das árvores, realizar podas. Não pode ser omissa nesse aspecto”, alega. Embora variados, o número de casos de quedas de árvores não foram contabilizados pela prefeitura. Para o engenheiro florestal Ednilson dos Santos, con-
MAIARA MONTEIRO
Praça Hugo Werneck, na Região Hospitalar, causa preocupações devido à grande quantidade de sombras dos Oitis
tabilizar o número de árvores que caíram e levantar as possíveis causas é difícil, por causa da inexistência de um órgão ou setor que centralize esses dados. “Há dificuldade em se calcular o número e se levantar possíveis causas das quedas, porque muitas árvores quando caem são removidas por bombeiros ou pela Defesa Civil, logo os dados se perdem”, diz. OLHAR ATENTO Quem já não caminhou pela cidade em dia de chuva e teve seu guarda-chuvas agarrado em algum galho? Ou que precisou abaixar a cabeça ao passar próximo a uma árvore plantada no passeio? Essas situações são apontadas pelo coordenador da Divisão das Áreas Verdes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Luiz de Oliveira Motta, como evidências simples de que a prefeitura necessita cuidar melhor das áreas verdes da cidade. “BH é muito mal cuidada em termos de árvores. Não é destinado muitos recursos. Os galhos de árvores, por exemplo, têm que estar acima de 2,5 metros”, afirma. O coordenador ainda observa que muitas árvores na cidade ainda morrem
Carro estacionado no Bairro Santo Antônio também é atingido por galhos por plantio sem irrigação ou realizado em momento incorreto e poda inadequada. “Há a poda de formação. Ela seve para orientar a formação da copa. As árvores da avenida Antônio Carlos, por exemplo, já passaram da hora de poda. Observo isso porque passo lá todos os dias”, alerta. Outro problema apontado por Geraldo Motta é o não obedecimento a um espaçamento adequado entre uma árvore e outra e, que terá seu tamanho variando de acordo com a espécie de planta escolhida. “O que vem sendo utilizado é o espaçamento de 8 a 10 metros entre as árvores. O problema é que existe uma pressão muito grande para se obter áreas sombreadas de forma rápida, por elas gerarem um conforto maior. Assim, muitas vezes, ocorre plantio utilizando menor distância entre uma árvore e outra”, diz.
Como exemplos de áreas do município em que a inadequada proximidade das árvores podem ser nitidamente observadas, Geraldo Motta assinala a Avenida Bernardo Monteiro, local no qual a árvore predominante é o Ficus e a Rua Antônio Aleixo entre a Assembléia Legislativa e a Praça da Liberdade. Além disso, ele comenta sobre a região hospitalar da capital. “É necessário ter consciência porque as árvores ficarão enormes. A praça próxima ao Hospital das Clínicas (Praça Hugo Werneck) tem Oitis enormes e muito próximos. Sombreamento excessivo não é salutar”, explica. Segundo o especialista, a capital necessita não apenas de ter suas áreas verdes melhor cuidadas, como também de ter mais espaços arborizados. “BH tem um quadro de áreas verdes pequeno”, opina.
São muitos os fatores que resultam em abalo e queda Desde um mal planejamento espacial a uma intempérie da natureza. Muitas podem ser as causas de queda de árvores. Entretanto, segundo o coordenador da Divisão das Áreas Verdes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Luiz de Oliveira Motta, “deve-se evitar o que se pode prever”. O principal motivo causador de queda de árvores no meio urbano, segundo ele, é a chamada compactação dos solos. “Nesse caso, o solo não apresenta porosidade para a raiz da planta crescer, o que faz com que ela não consiga sustentar seu peso. Basta um vento um pouco mais forte para que ela caia”, explica Geraldo. Outro causador seria a poda inadequada das árvores. “Podas feitas de formas incorretas podem enfraquecer a árvore, porque favorece a entrada de fungos e bactérias
no caule, o que pode apodrecê-lo”, comenta o coordenador. Não menos importante é o chamado estiolamento, que consiste no crescimento acelerado da planta em busca de luz. Isso ocorre muitas vezes por causa da proximidade com que são plantadas. Essas plantas passam a concorrer entre si. “A planta não vai ter uma estrutura tão sólida”, afirma Geraldo Motta. Além desses fatores, geradores em potencial de queda de árvores, o especialista ainda cita o vandalismo praticado por moradores, que muitas vezes acabam por realizar o corte de raízes de árvores ou cimentam todo o seu entorno. “Pessoas têm mania de cortar raízes ou cimentar o colarinho das árvores. Isso faz com que elas não respirem e não peguem água das chuvas e acaba por fragilizá-las”, salienta.
Segundo Agnus Rocha Bittencourt, engenheiro florestal da Secretaria Municipal Adjunta de Meio Ambiente, na capital o principal motivo de quedas de árvores é a combinação chuva e ventos fortes, mas há ainda outros motivos significativos. “Podemos citar outros motivos como o ataque de cupins à raízes e a colisão de veículos. Freqüentemente, vários motivos podem estar associados”, comenta. Ele diz que a idade das árvores nem sempre tem influência em sua queda. “É importante que fique claro que o fato de uma árvore possuir 80 anos não quer dizer que ela esteja em mal estado ou que deve ser retirada. Uma árvore em estado natural, dependendo da espécie, pode chegar aos 200 ou 800 anos. Idade elevada não é um demérito para as árvores”, explica.
10 Cidade
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Abril • 2009
CHUVAS ARRASAM INTERIOR DE MINAS Prefeituras do interior do estado prestam socorro às vítimas da tempestade do início do ano. A Defesa Civil contabiliza desabrigados e busca soluções, mas a preocupação da população permanece JÉSSICA ALVES
n RENATA LOPES, JÉSSICA ALVES, CÍNTIA RAMALHO, BRUNA CARMONA, ISABELLA LACERDA,
Desalojados se somam ao longo dos anos
1° E 3° PERÍODOS
Rosângela Vasconcelos, secretária da Escola Professor Juvenal de Freitas Ribeiro, na cidade histórica de Congonhas, a 70 Km de Belo Horizonte, viveu os dois lados das enchentes que atingiram diversas cidades no interior de Minas Gerais no final de 2008 e início deste ano. Enquanto ajudava as famílias abrigadas em seu local de trabalho, contava com a ajuda de parentes e vizinhos para recuperar-se dos estragos da chuva. Alem de Rosângela, várias outras famílias também foram atingidas pelas chuvas. De acordo com o balanço parcial (desde 15 de setembro de 2008) das chuvas em Minas Gerais, publicado pela Defesa Civil do estado, 256 municípios foram afetados pelas chuvas. Dentre eles estavam incluídos Congonhas, Perdões, Brumadinho, Ponte Nova, Manhuaçu e Espera Feliz. Ainda segundo a Defesa Civil, desde 2008 o numero de desabrigados no estado já chegou a 10.730, com cinco desaparecidos, 444 feridos e 35 óbitos. Quanto aos danos materiais, foram 29.276 casas danificadas, 986 casas destruídas, 550 pontes danificadas e 382 pontes destruídas. Rosângela conta que sua casa, localizada na região central de Congonhas, foi tomada pela água que estragou vários móveis e destruiu um guarda-roupa. Hoje, já restabelecida, ela diz que não pensa em se mudar, apenas lamenta o acontecido. “É uma questão da natureza que não temos como controlar. A vida continua e nós não podemos parar no primeiro obstáculo”, explica. Mesmo com a ajuda de
Chuva que durou menos de dez minutos causou estragos no Bairro Bela Vista, na cidade de Perdoes no mes de janeiro voluntários, conhecidos e das prefeituras locais, muitas pessoas continuam desabrigadas e sem condições de se restabelecer plenamente. Esse é o caso da dona de casa Gorete, moradora das proximidades do Bairro Jardim Profeta, também em Congonhas. A casa onde morava com o marido e os cinco filhos foi invadida pela água, que destruiu móveis, eletrodomésticos, roupas e alimentos. Após as enchentes, a família, ciente de que habitava uma área considerada de risco pela prefeitura, foi removida para uma escola da cidade junto com várias outras vítimas da chuva. RECUPERAÇÃO A Prefeitura de Congonhas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a cidade já conseguiu se recuperar das enchentes e que, para isso, contou com a ajuda de recursos estaduais na realização das obras de maior urgência e com programas de assistência como o “Bolsa Aluguel”, que consiste no aluguel de casas pelo governo para hospedar as famílias vítimas das chuvas
e que não podem voltar para suas casas. DRAMA Já em Perdões, a 220Km, ao sul da capital mineira, uma tromba d’água em janeiro que durou menos de dez minutos provocou grandes estragos. A doméstica Maria de Fátima Esteves, perdeu quase tudo com as inundações. Ela conta que só conseguiu salvar uma televisão 22 polegadas. Ela, que mora em uma casa alugada, diz que seu muro ficou destruído. Maria de Fátima revela, entretanto, que não tem condições financeiras de se mudar e ainda arcar com os prejuízos causados pela chuva. A doméstica explica ainda que depois da tragédia só pôde contar com amigos, vizinhos e voluntários, já que a prefeitura não ofereceu ajuda com cestas básicas e remédios. Procurada pela reportagem, a prefeitura de Perdões não prestou esclarecimentos. APOIO Brumadinho, a 50 quilômetros de Belo Horizonte, outra cidade atingida,
optou por uma ajuda mais direta às vítimas da enchente. “A prefeitura está dando toda a infra-estrutura, como aluguel, alimentação, atendimento de saúde“, afirma o prefeito da cidade, Avimar de Melo Barcelos. Segundo ele, o município foi muito atingido e que hoje, alem das 200 famílias que já tiveram suas casas reformadas e que já puderam retornar as suas residências, há 28 famílias desabrigadas. “Precisamos encontrar uma solução rápida para esse problema porque a prefeitura não tem condições de sustentar essas famílias”, alerta o prefeito quanto aos altos gastos que isso tem gerado para a prefeitura da cidade. Avimar Barcelos garante que não irá retornar com essas famílias para essas áreas atingidas, uma vez que significa uma área de risco, alem das próprias famílias não quererem retornar. Por isso, construirão novas casas em outras localidades. “Vamos continuar sustentando essas pessoas até as casas ficarem prontas. Esperamos estar com isso pronto em, no máximo,
Na cidade de Ponte Nova, a 170 quilômetros da capital, que teve oito quilômetros de sua população ribeirinha atingida contabilizando 4.500 pessoas desalojadas, a prefeitura também esta dando apoio aos moradores que sofreram com as chuvas e ainda não puderam voltar para suas casas. Para isto, buscou outras alternativas para diminuir os gastos com essas famílias. “Em dezembro foram 22 famílias atingidas. Em alguns casos então em casa de parentes e em outros, em casas alugadas pela prefeitura. Dessas 22 famílias, quatro estão em casas de parentes“, explica o assessor especial do prefeito, Marcos Dias. Marcos explica que a prefeitura não tem condições de dar maior apoio as famílias, uma vez que ainda custeia o aluguel de 115 famílias atingidas pelas enchentes de 2003. De acordo com Marcos, essa e a única ajuda que a prefeitura esta dando, exceto para as famílias mais necessitadas que recebem cestas básicas.
sete meses“, calcula. Segundo o prefeito de Brumadinho, já houve um pedido de ajuda formal ao Governo Federal, alem de já ter sido apresentado um projeto para a construção de outros serviços nas localidades atingidas. “Pensamos em construir praças ou aproveitar esses locais de outra forma, sem colocar pessoas para morar ali”, informa. Avimar afirma que o
“Também vamos buscar apoio do governo para alguns projetos de reconstrução da cidade“, salienta. Outra cidade que ainda tem desabrigados é Espera Feliz, distante 378 quilômetros de Belo Horizonte, na Zona da Mata. Jorge Frigoleto, secretario de administração de fazenda local, conta que todos essas famílias estão em casas de parentes. “A prefeitura não deu abrigo para elas. Temos ajudado as pessoas com colchonetes e primeiro socorros“, explica. Segundo ele, a prefeitura já está tendo gastos demais pois desde janeiro esta fazendo obras para reconstruir a cidade. Ele ainda acrescenta que houve um óbito na cidade, que foi atingida como um todo: houve queda de casas, pontes caíram e estradas ficaram danificadas. A cidade tem recebido ajuda do governo, mas somente ajuda material. “No momento estamos recebendo cestas básicas, colchonetes e cobertores“, revela Jorge.
Governo Federal prometeu uma ajuda de R$ 3 milhões e 800 mil para a reconstrução da cidade, como as pontes, que ficaram destruídas. Entretanto a prefeitura recebeu somente parte desses recursos, que foram R$ 800 mil reais. “Vamos usar esse dinheiro que recebemos, por enquanto, para essas reformas, mas ainda estamos esperando mais ajuda do governo”, conta.
MAIARA MONTEIRO
Horta Comunitária em Nova Lima auxilia famílias carentes n CAMILA BASTOS RAMOS, 1º PERIODO
Depois de uma temporada de abandono, beneficiados do Centro de Convivência Sócio-Ambiental se unem para revitalizar o projeto Horta Comunitária, através de um "mutirão", no qual a cada semana um lote é sorteado e nas segundas, quartas e sextas feiras todos focalizam em restaurá-lo. O projeto foi criado há aproximadamente seis anos, em Nova Lima, a partir de uma monografia do psicólogo Caio Azevedo, e patrocinado pela secretaria de Ação Social. O programa visava dar auxílio social a famílias carentes. Depois de algumas mudanças administrativas, o programa teve vários coordenadores, passou a chamar Centro de Convivência Sócio-Ambiental e a ser pa-
trocinado pela Secretária de Meio Ambiente, o que fez com que o foco mudasse para a educação ambiental. Hoje, está novamente sob a coordenação de Caio Azevedo. Essas mudanças prejudicaram bastante os beneficiados pelo projeto Horta Comunitária, como Marinalva Ferreira, uma das participantes mais antigas, que se queixam da falta de recursos, principalmente adubo e água. A principal ação do programa é aimplantação da Horta Comunitária. Segundo o coordenador, cada família recebe da Prefeitura um lote equivalente a 360m² (que se localiza no Centro de Convivência Sócio-Ambiental) adubo, sementes, ferramentas e assistência técnica para que possa cultivar e colher os vegetais. A cada três meses um carro da prefeitura recolhe as
verduras e as leva para a feira realizada na praça da cidade, onde são vendidos e todo o lucro é destinado às famílias. Como os alimentos são produzidos sem o auxílio de agrotóxicos e em pequena escala, acabam tendo um custo muito mais alto do que os produzidos industrialmente, o que torna a concorrência muito alta e faz com que algumas famílias prefiram utilizar as hortaliças para consumo próprio. O Centro discute, de maneira sutil, temas como violência doméstica e alcoolismo, tentando aumentar a auto-estima das famílias por meio de principios de Ecologia Integral, que abrange a paz consigo mesmo, com o outro e com a natureza. Algumas Associações de Bairro aceitaram fazer parcerias com o Centro e realizam atividades similares em terrenos que são disponibiliza-
dos por elas. Nessas associações a família beneficiada não vende as hortaliças, mas as leva para casa. PROJETOS Existem também várias outras parcerias, tais como o Projeto Lótus e o Projeto Preservar. O Projeto Lótus é uma união com a Secretaria de Educação e que leva para a horta alunos hiperativos, com o objetivo de que eles possam extravasar a energia acumulada. Há a pretensão de que, no futuro, alunos com dificuldade de aprendizagem possam aprender as matérias convencionais, como português e matemática, na horta usando a memória cinestésica (pelo movimento). Já o Projeto Preservar procura instaurar no local uma "Farmácia Viva", cultivando ervas medicinais e resgatando o conhecimento
Moradores de Nova Lima trabalham na recuperação dos lotes medicinal popular. Inicialmente era oferecido um curso de jardinagem, realizado em seis meses, com aulas práticas e teóricas e com oficinas de curso, uma forma lúdica de aumentar a autoconfiança do jovem participante. Devido à necessidade de formações mais imediatas, o curso foi dividido em módulos semanais. Segundo Caio Azevedo,
a preservação do Meio Ambiente é muito valorizada no Centro, que realiza oficinas de alfabetização ecológica com filmes, debates e dinâmicas em grupo. O Centro de Convivência Sócio-Ambiental se localiza, na Chácara dos Cristais, Rua Professor Aldo Zanine, nº30501 e está aberto a visitações na parte da manhã.
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MAIARA MONTEIRO
O ANEL NA VIDA DA POPULAÇÃO Comerciantes e moradores das proximidades relatam como é a rotina nessa rodovia n PATRÍCIA SCOFIELD, 7º PERÍODO
O comerciante Richard Pereira Lopes, proprietário de um restaurante no Bairro Dom Cabral localizado a um quarteirão do Anel Rodoviário, vê com otimismo a proximidade do estabelecimento dele com essa via expressa. “O anel traz um movimento razoável de clientes, já que os caminhoneiros que passam por lá vêm aqui almoçar”, relaciona. Richard comenta que há vários motoristas de caminhão na redondeza, segundo ele, também pelo fato de ter um grande número de oficinas e tornearias mecânicas na região. Apesar dessa clientela fixa, ele pondera que não tem muito contato com seus clientes caminhoneiros, porque eles fazem uma hora rápida de almoço e depois vão logo embora. Com o ruído do trânsito do anel, Richard diz já ter se acostumado, mas o classifica como “irritante”. De acordo com ele, o filho evita estar lá ajudando no estabelecimento porque costuma ficar com o ouvido doendo. Outro ponto que o comerciante destaca é o grande fluxo de veículos nesta via expressa. “Da Pracinha São Vicente (Bairro Progresso) até a segunda passarela tem engarrafamento todo dia às 17h. O grande problema é que hoje cada um tem um carro”, conta. Richard nota que duas vezes por semana acontece um acidente no trecho próximo ao restaurante dele. Ainda sim, Richard utiliza a rodovia diariamente desde o Bairro Alípio de Melo, por considerar a via como de rápido acesso. “Gasto sete, oito minutos para chegar aqui. Dou mais volta – uns 2 km a mais – mas economizo outros sete ou oito minutos no caminho”, relata. Quanto à segurança no trânsito, o comerciante aparenta tranqüilidade ao dizer que ele “dirige consciente”. Na visão do morador do Bairro Dom Cabral desde 1965, Jorge Luiz de Lima
Ferreira, é seguro morar a dois quarteirões do Anel Rodoviário. Jorge costuma passar pela rodovia para ir até a Pampulha e o som do trânsito no local não o incomoda. “Só ouço sirenes, mas o barulho é bem de longe”, afirma. PLANOS O Anel Rodoviário, construído nos anos 50, desafogava grande parte do tráfego de carga que passava pelo Centro de Belo Horizonte. Porém o fluxo de carros de passeio, motoqueiros, pedestres e caminhoneiros está levando a gestão do prefeito Marcio Lacerda a planejar uma alternativa para facilitar a passagem de caminhões. Ele revelou que essa fase de articulação da idéia do Rodoanel, anterior ao projeto da obra, está sendo feita atualmente pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e pelo Departamento Nacional de InfraEstrutura de Transportes (DNIT). Sobre a total revitalização do anel, o prefeito adiantou: “Vão fazer pistas laterais em toda a extensão, vão retirar as famílias que invadiram, melhorar todos os cruzamentos e todos os acessos. Esse projeto está em andamento, é um projeto de engenharia, que nós não temos recursos ainda alocados. Vamos discutir com o governo federal”. A assessoria de planejamento da Fiemg informou que não possui autorização da diretoria para detalhar a concepção do projeto, que ainda está em negociação. O DNIT informou, por meio de nota divulgada por sua assessoria de comunicação, que firmou convênio com a Prefeitura Municipal de BH, no qual delega à administração municipal competência para fazer projetos no Anel Rodoviário, para alargamento de pontes e viadutos, construção de passagens inferiores, ruas laterais, etc”. A assessoria do órgão divulgou ainda que “o convênio também prevê que a PBH tem competência para providenciar, quando for o caso, os
devidos licenciamentos ambientais junto aos órgãos do meio ambiente do estado”. Para o torneiro mecânico Roberto Rosa, que trabalha há 27 anos em uma tornearia à beira da rodovia no Bairro Dom Cabral, uma solução poderia ser “o alargamento das pistas”, apesar do grande número de carros rodando. Roberto diz que no serviço dele todos reclamam da via, mas o torneiro mecânico acredita que o anel está melhor sinalizado e diz perceber menor frequência de acidentes. “Dez anos atrás era um terror em termos de acidentes como atropelamento. Está mais seguro. Os motoristas precisam é de ter paciência e se conscientizarem”, complementa. De acordo com o major Daniel Castelo Branco Avelar, comandante do Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual – que há três anos tornou-se a responsável pelo anel, anteriormente monitorado pela Polícia Rodoviária Federal – o “grande problema” dos atropelamentos de pedestres nessa via é o fato de eles atravessarem, em alguns pontos, debaixo das passarelas. Outros acidentes comuns, ainda segundo o major Daniel Avelar, são colisões com veículos em alta velocidade e choques com veículos parados em muretas e em postes. O comandante aponta o viaduto da Avenida Amazonas e a Praça São Vicente como os locais onde mais acontecem acidentes, com frequência dos casos “em que o condutor do caminhão não conhece o segmento, e descendo a via se depara com a retenção do trânsito, provocando colisões ou choques”. O anel recebe um fluxo estimado de 100 mil veículos por dia. A respeito de engarrafamentos, o major Daniel Avelar destaca o trecho do km 5, do Viaduto Betânia até a Avenida Amazonas, sentido Rio de Janeiro-Vitória, nos horários de 17h30 às 19h e de 19h30 às 20h30, diariamente. Ele ressalta o declive de 7 km no final do Viaduto Betânia como ponto
MAIARA MONTEIRO
Ana Carolina Souza Menezes é moradora de um barracão construído em frente a Açotubos à beira do Anel Rodoviário
Anel rodoviário, que liga diversas regiões da capital, é ponto de passagem dos motoristas e por isso tem trânsito intenso crítico quanto a acidentes. Nas proximidades da Praça São Vicente, km 13 do anel, acontecem engarrafamentos no horário de 19h30 às 20h30, nos dois sentidos da via. Outro ponto é o da Avenida Antônio Carlos com o anel, na altura do km 19, apenas no sentido para o Rio de Janeiro. O comandante detalha que os engarrafamentos chegam a 1 km de extensão, e o trânsito fica lento devido ao estreitamento de pista nesses pontos. Luan Kenneth, orientador de estacionamento da PUC Coração Eucarístico, passa pelo anel todos os dias para voltar para casa, na Vila Califórnia. Ele acredita que as pessoas preferem atravessar a via por debaixo das passarelas pois acontecem muitos assaltos durante a travessia de pedestres nas mesmas. “Eu já conheço a região e passo numa boa, mas é perigoso”, garante. A dona de banca de jornal no Bairro Dom Cabral
Terezinha Alves da Silva, que também usua a rodovia para chegar até o trabalho, acha muito perigoso passar por lá e conta que em dezembro passado um veículo rodopiou na pista e bateu no carro dela. “Se eu pudesse, faria outro caminho. Confio só porque quem dirige é meu marido”, diz. O motorista da empresa Útil, Ari de Almeida, conta que o anel rodoviário facilita seu deslocamento de Betim até a banca de jornal da esposa, Terezinha Alves da Silva. “É bem rápido, e se não houvesse o anel, seria difícil para eu vir trabalhar”, diz. Ari elogia a qualidade da pista, mas chama a atenção para a sinalização, que ele classifica como “péssima”. O motorista conta que vê, da banca de jornal, inúmeros acidentes na bifurcação entre o anel e a Avenida 31 de Março. “Podia fechar o trânsito ali e abrir mais na frente, porque acontece muito acidente principalmente com o
pessoal que vem para a PUC”, sugere. Para o morador de Contagem, Antônio César Cardoso Gontijo, a qualidade da pista melhorou “bastante”, fato que ele acredita contribuir para que os carros de passeio trafeguem em velocidades acima de 80 km/h. “Não é seguro, tem muito excesso de velocidade e poucos radares, no Bairro Betânia apenas”, resume. Essa opinião é compartilhada pelo caminhoneiro Hélio Antunes da Silva, que reclama da falta de acostamentos ao longo do Anel Rodoviário. “Do trevo do Betânia em diante tem muito declive, e o motorista que vem cutucando o freio pesado mata quem estiver na frente”, diz. Por achar perigoso o trânsito no anel, Hélio prefere passar pela Via Expressa. “Meus conhecidos caminhoneiros do Pará, Mato Grosso e Maranhão detestam vir aqui. Eles têm medo de passar pelo anel”, completa.
Na Região Nordeste de BH a situação não é diferente No Bairro São Gabriel, Região Nordeste de Belo Horizonte, a manicure Maria Janete Xavier mora à beira do Anel Rodoviário há 28 anos. De positivo, ela não percebe nenhum aspecto em morar ali, na altura do km 461 da via. Maria Janete conta que há cinco anos presenciou o atropelamento do vizinho à essa altura do anel, onde hoje está instalado um radar eletrônico. Outro incidente que ela presenciou durante todos esses anos foi mais um atropelamento, dessa vez de uma pessoa que pretendia atravessar a via sem utilizar a passarela instalada próximo à unidade da PUC São Gabriel. A própria manicure admite atravessar o anel bem diante da porta da casa dela, sem usar a passarela para pedestres. “A passarela dá muita volta para eu chegar no ponto do Bairro São Paulo onde tenho que ir”, afirma. Ela diz preferir aguardar até trinta minutos para que haja uma chance, mesmo
que arriscada, de atravessar apenas um dos dois sentidos do anel. A localização de sua moradia preocupa Maria Janete. “Outro dia entrou um caminhão na casa da minha vizinha”, conta. Além disso, o casal de filhos da manicure, de seis e dez anos, não pode sair para ficar nem brincar na rua, devido ao tráfego intenso. Esses veículos que transitam pelo anel em alta velocidade provocavam tremor na parte interna da casa de Janete, segundo a moradora. O fato foi solucionado com a construção de um muro na fachada da moradia, resolução que possibilitou que a família pudesse ter um sono tranquilo durante a noite, já que o som não chega com tanta intensidade na casa de Maria Janete, situada nos fundos do lote. A menina Ana Carolina Souza Menezes, de 14 anos, também lamenta não poder sair de casa para brincar e andar de bicicleta. Moradora do barracão construído tam-
bém no km 461, Ana Carolina não tem a companhia do irmão mais velho para passar o tempo e reclama do número reduzido de vizinhos, o que a impossibilita de fazer mais amigos. Há três anos, desde que mudou-se para esse trecho do anel, Ana Carolina conta que fica preocupada nos dias de chuvas, quando a entrada da casa dela fica alagada, além de os ônibus jogarem mais água para dentro do barracão quando passam em alta velocidade. E até se acostumar com o barulho dos veículos que passam à porta, ela passou a adquirir o hábito de ligar o rádio. “Não vejo nada de bom em morar aqui”, comenta. O pai de Ana Carolina, Valdinei de Souza Menezes, discorda da filha. “Acho bom morar no anel porque posso ir em vários lugares com a minha bicicleta, tem distribuidoras e supermercados nas margens e consigo dormir tranquilo, que já me acostumei com o barulho”, esclarece.
12 Meio Ambiente
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Abril • 2009
BH SUBSTITUI SACOLAS PLÁSTICAS Buscando minimizar os danos causados ao meio ambiente, nova lei determina que estabelecimentos privados e órgãos públicos da capital devem passar a usar sacolas ecológicas MAIARA MONTEIRO
n FABIANA SAMARA, FERNANDA MACHADO, NAYARA FÁTIMA,
Movimento das donas de casa da capital promove campanha
5º E 3º PERÍODO
Belo Horizonte é a primeira capital do Brasil a determinar, por lei, a substituição das sacolas plásticas por alternativas mais ecológicas. De autoria do vereador Arnaldo Godoy, a lei n° 9.529, de 2008, determina que os estabelecimentos privados e os órgãos e entidades do Poder Público sediados no Município de Belo Horizonte deverão substituir o uso de saco plástico de lixo e de sacola plástica pelo uso de saco de lixo ecológico e de sacola ecológica. O decreto que a regulamenta prevê três anos para sua vigência, portanto, entra em vigor em 27 de fevereiro de 2011. O prazo é dado para que o comércio e as repartições públicas de Belo Horizonte se adequem à nova realidade. As multas previstas pelo não cumprimento da lei variam desde notificação até à cassação do Alvará de Localização e Funcionamento de Atividades. Segundo o vereador Arnaldo Godoy, a lei é uma contribuição para minimizar os danos diários causados ao meio ambiente. “As ‘inocentes’ sacolas plásticas, fartamente distribuídas pelo comércio, impedem a decomposição do lixo orgânico nos aterros sanitários e entopem as redes pluviais e de esgotos, causando enchentes nas cidades”, declara o vereador. A lei entende como saco ou sacola ecológica aqueles confeccionados em material biodegradável - material que apresenta degradação por processos biológicos naturais de ação de microrganismos, sob condições adequadas de iluminação, aeração e umidade – reciclado, ou retornável, no caso das sacolas. Antes mesmo da aprovação da lei, a rede de supermercados Verdemar já adotava as novas sacolas. Elas já estão em uso desde junho de 2007. Segundo o
Apesar da nova lei, muitos supermercados em Belo Horizonte continuam oferecendo aos seus clientes sacolas plásticas Departamento de Marketing, a decisão de trocar 100% das sacolas de plástico comuns pelas oxibiodegradáveis surgiu na diretoria da empresa ao se perceber que esta já estava se tornando uma das simples atitudes que acabam fazendo uma grande diferença para clientes e a sociedade em geral. A analista de marketing do supermercado, Maria Fernanda Fonseca, afirma que mensalmente são ultilizadas mais de 2 milhões de sacolas para as três lojas de Belo Horizonte e o preço, que para o Verdemar é visto como investimento, é somente 10% mais caro que as sacolinhas comuns. “Apesar de termos adotado as sacolas oxibiodegradáveis, incentivamos sempre, através de promoções e em breves lançamentos, que o consumidor traga sua sacola de casa. Aquela mais forte, resistente, de feira mesmo”, afirma Maria Fernanda. Os outros projetos do supermercado, neste sentido vão desde a caixa-ecológica (que ficam nos caixas e servem para que os clientes deixem embalagens desnessárias que levariam pra casa - como caixas de pastas de dente, embalagens de Pague 2 leve 3, etc.) até a
Campanha de Reciclagem, montada em todas as lojas e que recebe além dos resíduos secos como papeis, plásticos, latas e vidros também os resíduos nocivos como pilhas e óleo de cozinha. DESINFORMAÇÃO O subgerente, Alex Aurélia, do supermercado Epa, localizado no Bairro Sagrada Família, na Região Leste de Belo Horizonte, está ciente da nova lei somente por meio da mídia e de comentários ouvidos em palestras organizadas para funcionários do supermercado. Segundo o subgerente, não houve nenhum comunicado formal do poder público para normas e procedimentos da lei. Alex ouviu dizer que o uso da sacola ecológica serviria apenas para embalar produtos que não fossem do gênero alimentício, como os produtos de limpeza por exemplo, já que o uso da sacola poderia contaminar alguns alimentos. “Assim, a lei não seria eficaz, pois o consumidor seria forçado a comprar sacolas de pano, por exemplo, para embalar os alimentos e para os outros produtos o supermercado forneceria sacolas ecológicas” afirma Alex. No entanto, a lei determina o
uso de sacolas ecológicas para todos os tipos de produtos, inclusive os do gênero alimentício. Para o subgerente do Epa, a lei tem que atender a necessidade do cliente como um todo, sem falhas. “Eu acho correto o uso de sacolas ecológicas, pois sacolas de plástico agridem o meio ambiente, mas não só os estabelecimentos que devem adotar a medida, e sim todos nós”, ressalta ele. Alex Aurélia ainda informa que o supermercado Epa, que gasta em média 30 mil sacolas plásticas mensalmente, implantará a “nova sacola” assim que a lei começar a vigorar. A produção poderá ficar um pouco mais cara, mas não afetará no bolso do consumidor. “Se a lei existe, temos que nos adaptar a ela”, comenta ele. A dona de casa Ocelita Teixeira da Silva, de 42 anos, conheceu a lei também através da mídia e acha muito válida, já que será para o bem do meio ambiente. “As sacolas plásticas prejudicam muito. Já estava passando da hora de ser criada uma lei para isso. O melhor a se fazer é conscientizar as pessoas ”, ressalta Ocelita.
O Movimento das Donas de Casa (MDC), de Belo Horizonte, promove campanha contra o uso abusivo do saco plástico. A idéia é confeccionar, a baixo custo, sacolas artesanais retornáveis. A Campanha Vai-e-Vem, como é chamada, é realizada através de oficinas na sede do MDC na rua Guajajaras, 40, 24º andar, no Centro, e atenta para a diminuição do uso das sacolinhas descartáveis. A campanha conta, atualmente, com dez donas de casa que prestam trabalhos voluntários na produção das sacolas. Para a presidente do Conselho Diretor do MDC, Lúcia Pacífico, a medida vai de encontro a uma tendência mundial de redução à produção do plástico. “Eu sou a primeira a ir contra o
Na sua rotina de dona de casa, sempre que possível, leva com ela uma sacola de pano para fazer compras. Em casa, Ocelita confessa que usa sacola de plástico na lixeira, mas que não gostaria. “Não tem por aí sacola ecológica igual tem a de plástico, por isso eu uso. Fazer o que?” Para incentivar às entidades públicas ou privadas que apóiem as medidas de preservação ambiental e de desenvolvimento sustentável o decreto nº 13.446
uso abusivo de sacolas plásticas”, ressalta Lúcia. Retalhos de panos são usados para a confecção do material. As oficinas acontecem desde julho de 2008. As donas de casa se reunem todas as quartas-feiras, das 14h às 17h. A iniciativa também serve para exercitar a criatividade das donas de casa, com cada uma dando seu toque especial na confecção das sacolas. Na primeira etapa das oficinas, 45 sacolas foram vendidas a preços que variaram de R$ 5 a R$ 15, no Supermercado Extra Santa Efigênia, em dezembro de 2008. O material produzido, desde então, já está sendo organizado para compor uma segunda etapa de vendas, mas, ainda, não se tem uma previsão de data para que isso ocorra.
prevê ainda a criação de um Selo de Atitude Ambiental e o Selo Atitude Socioambiental. O uso dos Selos será gratuito e se destinará como modalidade de reconhecimento a ser conferida aos estabelecimentos que preencherem as condições previstas deste Decreto, em que a substituição tiver caráter facultativo, ou seja, entre fevereiro de 2008 à fevereiro de 2011, quando, então, a lei passa a ser obrigatória.
MAIARA MONTEIRO
Mudança deve garantir maior sustentabilidade ambiental O Coordenador do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas, Miguel Ângelo de Andrade, reflete sobre alguns impactos da substituição de sacolas plásticas por sacolas ecológicas ao meio ambiente. Para ele, o primeiro impacto será no resíduo gerado pelo uso das sacolas plásticas, no que diz respeito ao volume e à capacidade de degradação no meio ambiente. O segundo é a questão da educação da comunidade em relação ao uso e a destinação desse tipo de resíduo, além do entendimen-
to da necessidade de se ver o ciclo dos produtos e não só o produto em si. “Precisamos saber de onde vem, como é consumido e para onde vão esses materiais”, ressalta Miguel. “Tudo isso é um impacto bastante positivo”, completa. Segundo ele, os grandes responsáveis pela quantidade de resíduos descartados no meio ambiente são os donos dos estabelecimentos. “Aqueles que fornecem sacolas plásticas devem ser punidos, porque são eles que disponibilizam, inconscientemente, grandes
quantidades de sacolas à população, então eles têm de ser os responsáveis por contribuir na gestão do resíduo”, argumenta. Voltado, então, para a conscientização da sociedade, Miguel aposta em duas maneiras: na mídia massiva e na mudança de hábito da população. “Da mesma forma que aconteceu com o cinto de segurança, à medida que eu tive que usar o cinto, no começo me incomodou muito pela falta de hábito e pela pouca educação no trânsito, mas isso se incorporou de uma forma natural
com o tempo”, enfatizou o coordenador. EVOLUÇÃO O advogado Alexandre Leal atua na àrea de direitos do consumidor, e para ele a conscientização deve ser a mais ampla possível demonstrando as vantagens de se viver com uma maior qualidade de vida. “Acredito que foi uma grande evolução, tendo em vista o tempo que os materiais plásticos demoram a se decomporem no meio ambiente, juntamente pela enorme quantidade que são consumidas diariamente”,
Miguel Ângelo, professor da PUC Minas, avalia positivamente a mudança afirma. Segundo Alexandre Leal, é necessário fiscalização para que a lei não caia no esquecimento e que o poder público cumpra com
sua função fiscalizando e impondo multas para que as pessoas invistam e possam preservar a vida da presente e futura gerações.
Abril • 2009
Cultura • Perfil
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MAIARA MONTEIRO
MARIA BETHÂNIA, UM ENCONTRO DAS ARTES UFMG promove integração entre meio acadêmico e comunidade, em um evento que reune diversas manifestações artísticas n SARA DUTRA, CLARISSE GODINHO, BRUNA FONSECA, CÍNTIA RAMALHO, 1º PERÍODO
Não é de hoje que Maria Bethânia se envolve com o universo literário. A estreia nos palcos como cantora, ocorreu em um espetáculo teatral, o show “Rosa dos Ventos”, em 1971, que marcou seu encontro com a palavra. A partir daí, a intérprete baiana passou a utilizar em sua performance nos palcos a leitura de textos e poemas mesclados às músicas de seu repertório. Nada mais natural, portanto, que Bethânia fosse a convidada para a primeira apresentação do ano do projeto Sentimentos do Mundo, promoção da Universidade Federal de Minas Gerais, que levou um grande número de pessoas ao auditório da reitoria da instituição, no Campus da Pampulha, no dia 17 de março último. O evento, realizado desde 2007, tem como objetivo tirar a universidade de sua rotina e promover a integração entre meio acadêmico e comunidade, uma vez que é aberto ao público. Desde às 8h, uma fila com cerca de 50 pessoas já podia ser vista em frente ao prédio da reitoria. A partir da iniciativa dos próprios espectadores, foram distribuídas senhas que garantiram a entrada no auditório. A UFMG sempre convida a participar do projeto um professor da própria instituição e artistas popu-
lares, cientistas ou escritores, como Mia Couto, autor moçambicano de “O último vôo dos flamingos”, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, a crítica literária argentina Beatriz Sarlo e o especialista em bioética Gregory Pence. No ano passado, o evento contou com as participações da ativista ambiental e exprimeira dama francesa Danielle Mitterrand e do cineasta norte americano David Lynch. Para abrir a versão 2009 do projeto “Sentimentos do Mundo”, foram escolhidas a professora do curso de Letras, Lúcia Castello Branco e a cantora Maria Bethânia, que já trabalham juntas desde 2006. Elas atuaram em conjunto na produção de um documentário, “Mar interior”, ainda sem previsão de lançamento, que mostra a relação da artista com o universo literário. Elas se conheceram durante a produção do DVD “Língua de Brincar”, feito pela professora sobre o poeta Manoel de Barros, no qual Maria Bethânia recitou “Ruína”. Após esse primeiro contato, houve um estreitamento na relação, quando a troca de poemas entre as duas se tornou constante. Foi então que Lúcia apresentou o trabalho da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol à cantora, que o utilizou em seus shows. Apesar de o projeto ser estruturado em debates entre seus participantes, Maria Bethânia inovou ao se apresentar sozinha, recitan-
do. Lúcia Castello Branco iniciou a apresentação com a leitura de um texto de sua autoria, “três lugares para encontrar MB”, uma homenagem à cantora. Maria Bethânia entrou no palco vestida com um terno e sem sapatos, cantando à capela. Seu repertório variou desde Guimarães Rosa, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Padre Antônio Vieira, até textos de autoria desconhecida, alternando a leitura com canções populares como “Romaria”, acompanhadas pela platéia. “Acho os textos que ela escolheu muito pertinentes e muito lindos, a voz dela é maravilhosa, ela é muito carismática. Adorei, até chorei”, conta a uruguaia Viviana Ferrer, 33 anos, estudante de doutorado em matemática da UFMG, a qual não conhecia o trabalho de Maria Bethânia nem o projeto “Sentimentos do Mundo”. Com aproximadamente uma hora de espetáculo, Maria Bethânia surpreendeu. “A intenção era mostrar o que significa o transporte de você ficar ali sentado, ouvindo poesia com alguém que sabe ler e tem essa paixão, mas não imaginei que a Bethânia fosse fazer um show, porque ela fez um show”, comenta Lúcia Castello Branco. Com capacidade para 200 pessoas, o auditório teve todos os seus lugares ocupados. Cerca de 500 pessoas, que não conseguiram entrar, assistiram ao evento por meio de telões, o que não impediu a interação do
público, cujos aplausos puderam ser ouvidos de dentro do auditório. “É um evento bom pela abertura e pelo acesso. Essas coisas culturais têm que ser cada vez mais abertas a todos”, aprovou Everton Vinícius, 25 anos, estudante de história da PUC Minas. O espetáculo contou com um público variado, formado desde crianças a idosos, com maior presença de universitários. “Acho uma iniciativa formidável, fiquei feliz de ver o número de participantes jovens”, observa a pedagoga aposentada Marília Bombina. Ao fim do evento, Maria Bethânia recebeu das mãos do reitor Ronaldo Tadeu Pena, uma placa de agradecimento com versos do ex-aluno e ex-professor da UFMG, Emílio Moura. O vereador Arnaldo Godoy e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que é professor da UFMG, também prestigiaram o acontecimento. “Foi uma visita da poesia e acho que Bethânia é muito inspirada, escolheu muito bem os textos e ela tem uma presença muito forte”, disse Pimentel, que completou: “eu podia, vim e gostei, espero voltar nas próximas apresentações”. No dia 2 de abril, aconteceu uma outra edição do projeto “Sentimentos do Mundo”, dedicada ao tema “Desafios e implicações da nanotecnologia”. No dia 20 de agosto, haverá a terceira edição do ano que tratará de “Tecnologia, desigualdade e Justiça”.
Maria Bethania fez leitura de textos e poemas no projeto Sentimentos do Mundo
“Eu sou o Brasil, eu sou misturada” Maria Bethânia afirma ter escolhido os textos para sua apresentação no projeto “Sentimentos do Mundo”, com base na sua identificação com a obra dos autores. ”Eu escolhi para ler hoje textos com os quais tenho alguma intimidade”, explicou a cantora. Dentre os textos lidos, causaram surpresa os de autoria de Caetano Veloso e Titãs. Quando questionada sobre o convite para participar do projeto “Sentimentos do mundo”, Maria Bethânia não se fez de rogada. “Creio que me fizeram o convite porque ouso em cena. Além de cantar, me expresso também com a palavra falada”, disse E ainda explicou sua paixão pela literatura e interpretação: “Não sou atriz, mas gosto de emprestar minha vida, minha voz aos personagens, às histórias que os autores nos revelam, isso desde muito, muito cedo”.
A mais recente aventura da cantora no mundo literário aconteceu na produção de seus dois últimos álbuns solo, lançados simultaneamente em 2006, “Mar de Sophia” e “Pirata”, nos quais utiliza textos da escritora portuguesa, Sophia de Mello Breyner. “Gosto de ser intérprete e de misturar poetas portugueses com a literatura brasileira. Porque eu sou isso, eu sou o Brasil, eu sou misturada”, diz. Dessa forma Maria Bethânia se firma, cada vez mais, como “cantora de leitura”, saindo da condição de apenas intérprete para a posição de escritora, já que corta e edita os textos que utiliza em seus trabalhos. “Adorei dizer o que penso usando os autores que eu admiro e orientam minha vida, determinam muitas coisas. Deu trabalho, mas gostei”, afirma. Quanto a ser uma “cantora de leitura”, brinca: “ Ah, isso é coisa de poeta (risos)”.
Marcelo Blade é referência na alfaiataria em BH JOSÉ CARLOS MENDES
n JOSÉ CARLOS MENDES, 4º PERÍODO
Marcelo Blade é um conceituado alfaiate mineiro que desenvolveu o gosto pelas linhas e agulhas ao frequentar, desde os cinco anos, o ateliê do pai, transformando-o em cenário para suas brincadeiras. Dessa forma, ele herdou o gosto pela alfaiataria e deu sequência ao trabalho paterno. Com 17 anos de atividade, Blade faz nomes para importantes personalidades de Minas, a exemplo de seu pai, que tinha como clientes políticos e empresários mineiro. Hoje, Blade trabalha em casa, onde tem o seu próprio ateliê, além de atender também a domicílio. As roupas feitas por ele são conhecidas pelo caimento impecável, diferencial que conquistou clientes como o prefeito Márcio Lacerda, o ex-prefeito Ronaldo Vasconcellos, o advogado Marcelo Leonardo, que já foi presidente da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OABMG), e o meia-atacante Wagner, um dos destaques do time do Cruzeiro.
Há 17 anos, Marcelo Blade inova em suas criações como alfaiate da capital Blade observa que a maioria de seus clientes segue uma tradição familiar. “Meus clientes são pessoas muito bem sucedidas, minha roupa é para diretores”, ressalta o alfaiate, que não vê com otimismo o futuro da profissão. Ele percebe pouco interesse dos alunos de moda pela alfaiataria, além das mudanças do mercado que hoje trabalha
com roupas “mais fast” e a preços muito mais acessíveis. “A mudança é terrível para todas as áreas, mas estou tentando incentivar algumas pessoas para aprenderem, mas não está fácil”, observa. Blade afirma que no que depender dele a profissão de alfaiataria nunca acabará. O alfaiate revela que tem investido cada vez mais em peças artesanais e
com um diferencial, mas concorda que cada vez mais pessoas procuram menos este tipo de profissional devido à correria do dia a dia, sem contar que o mercado está repleto de estilistas que criam duas vezes ao ano uma nova coleção, as pessoas também consomem cada vez mais. Sem uma formação em moda, Marcelo Blade já foi professor em uma universidade, que abandonou por não conseguir conciliar a vida acadêmica com a do ateliê. Blade conta que aprendeu tudo o que sabe na vivência no ateliê do pai e que a cada dia aprende algo novo trabalhando como costureiro. Ele passava os domingos brincando no ateliê do pai, riscando as paredes com o giz de alfaiate, inventava brinquedos com os carretéis, linha e agulhas, e em seguida passando a ajudar o pai com as encomendas e, mais tarde, como assistente financeiro do ateliê do pai. Quando já era profissional, Marcelo criou a Blade Runaw, fabrica na qual começa a reproduzir as suas próprias roupas, sempre com uma pegada de alfaiataria, vanguarda e referência européia, com peças com
acabamento de primeira qualidade. “Introduzi uma moda européia que foi um sucesso danado, que veio a ocupar um nicho que estava carente naquele momento”, comenta. Para se manter atualizado, Marcelo Blade revela que já acompanhou várias edições de semanas de moda em diferentes capitais brasileiras, mas diz que deixou de fazer isso. “Tenho uma preguiça das semanas de moda, pois em todos os desfiles que fui eles atrasam, e aquele atraso ali me faz perder a graça de todo o evento”, justifica. Por esse motivo, Marcelo Blade diz acompanhar esse tipo de evento mais pela televisão. Ele diz gostar muito do trabalho de estilistas internacionais como Domenico Dulce e Stefano Gabbanna da grife Dulce Gabbana, e Miuccia Prada, a estilista da grife Prada. Para Maristela, uma dos dez funcionárias do ateliê de Blade, o ritmo de trabalho ali é muito intenso e corrido, mas com muita diversão. “Gosto muito do trabalho do Marcelo, e de trabalhar com ele. Além dele ser uma pessoa sensacional, é muito profissional”,
afirma Maristela, que trabalha há um ano com o alfaiate. Atualmente, além da confecção de roupas Marcelo Blade também divide seu tempo com outras atividades como mestre de cerimônias do Festival da Loucura de Barbacena, onde juntamente com os seus assistentes, brinca com o publico. Atua também como showman em lançamentos de galerias de arte e bares da cidade, e até animador de festa. Ele organiza também um bloco de carnaval na cidade histórica de Tiradentes. Ele conta que naquele momento se transforma no “personagem Blade”, quando veste cartola e saia, saindo pelas ruas fazendo intervenções e “muita festas”. O alfaiate e artista deixa transparecer seu jeito irreverente e divertido, em suas brincadeiras e obras, espalhadas por Belo Horizonte, conhecidas como iconografias urbanas. Elas são peças interativas, feitas a partir de sucata encontrado por onde passa e que ele transforma em arte. “Hoje em dia me considero muito mais artista do que estilista”, comenta Marcelo Blade.
14Cidadania
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Abril • 2009
FAMÍLIAS SOLIDÁRIAS DOAM AMOR O Serviço Famílias Acolhedoras é um programa que envolve crianças em situações de risco e famílias que se oferecem a cuidá-las. É a opção indicada para que elas não fiquem em abrigos MAIARA MONTEIRO
n LÍVIA ALEN, 3º PERÍODO
Projeto que visa encaminhar crianças de até seis anos, consideradas em situação de risco, para lares onde serão cuidadas por tempo determinado, o Serviço Famílias Acolhedoras realiza o primeiro acolhimento em Belo Horizonte. O objetivo do novo programa social é dar tempo e condições para que a família de origem da criança consiga se reestruturar, permitindo sua volta à casa, sem correr nenhum tipo de risco. O serviço está sendo implantado em outros lugares do país. Em Belo Horizonte é uma iniciativa da Prefeitura Municipal executada pelo Instituto Felix Guatarri, em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais e com o Colégio Loyola. A sede foi inaugurada em julho de 2008 e teve como primeiras missões a montagem de um banco de dados e a capacitação de possíveis famílias acolhedoras. Atualmente há uma família acolhendo uma criança, três outras preparadas e uma família cadastrada, mas ainda sem concluir a capacitação. As crianças são encaminhadas para o programa pelo Juizado da Infância e Juventude quando se considera que estão em risco, como situações de negligência, violência doméstica e sexual. A família de origem perde a guarda do menor, mas entende-se que há condições de ela se recuperar. O juiz concede a guarda provisória, de três a 18 meses, à família substi-
A difícil adaptação das crianças nas famílias
As famílias participantes devem estar dentro de alguns critérios, mas ter carinho e amor é o mais importante tuta indicada pelo programa. A coordenadora do serviço, em Belo Horizonte, psicóloga Lindalva Martins de Abreu, explica que, dessa forma, evita-se a “institucionalização das crianças”, que seriam encaminhadas a abrigos, além de garantir o cumprimento do artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ela diz que “toda criança ou adolescente tem direito a ser criada e educada no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”. Lindalva Martins revela que apesar de existirem abrigos bem estruturados, eles têm limites por serem instituições e cuidarem de
várias crianças. Ao mesmo tempo se tenta ajudar à família de origem para que esta consiga ter condições de cuidar dos filhos novamente, como auxílio para tratamento contra uso de drogas ou profissionalização. Todos os envolvidos – crianças, famílias biológicas e substitutas – contam com apoio psicossocial de uma psicóloga e duas técnicas sociais. Enquanto a criança está acolhida acontecem encontros entre as famílias e a criança na sede do serviço, com o objetivo de manter e fortalecer os laços familiares biológicos. Dessa forma, Lindalva Martins explica que quem se disponibiliza a acolher não vai apenas cuidar de uma criança, mas participar da reestruturação de sua família. Quem se cadastra não
pode escolher nenhuma característica da criança ou da família de origem, pois, segundo a coordenadora, isso seria preconceito e mais uma forma de exclusão sofrida pela criança. “Ela não pode ter preconceito em relação à criança e à família dela”, ressalta a psicóloga. As características da família substituta, entretanto, são consideradas pela equipe do serviço. A psicóloga explica ainda que a equipe vai trabalhar para que a criança entenda e valorize os laços com sua família de origem. Assim, pretende-se que as possíveis mudanças socioeconômicas sejam amenizadas. Ela ressalta que cada caso deve ser analisado isoladamente. “A gente ainda não tem pronto como essas relações se estabelecem”, diz.
“Em termos gerais a família seria mais interessante do que o abrigo”, diz o psicólogo judicial do Tribunal de Justiça, mestre em psicologia social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorando em psicologia clínica pela Universidade de São Paulo (USP), Hélio Cardoso de Mirando Júnior. Ele coloca que o fato de uma criança passar de uma família para outra não causa necessariamente um problema psicológico. O especialista explica que algumas vezes a família substituta, no entanto, pode não ser tão interessante se o ambiente for muito distinto, mas acredita que supostamente os núcleos familiares se preparam para receber a criança, o que facilitaria a adaptação. Outro fator é que se a criança foi retirada de uma situação de risco ela tenderá a se adaptar independente do lugar devido ao alívio e conforto proporcionados. O psicólogo diz que pode acontecer de o juiz entender uma situação como de risco, mas a criança não perceber assim. Dessa forma ela sentirá que está sendo retirada de sua família. Ele explica que normalmente as crianças desejam retornar para seus lares. E ressalta que cada caso deve ser
percebido mente.
individual-
CONFIANÇA A economista Carmem Almeida Naves, de 47 anos, mora sozinha e quer acolher uma criança. Ela já passou pelas etapas de avaliação e para se tornar acolhedora falta apenas a capacitação. “Eu acredito muito no projeto”, diz Carmem, que ainda completa dizendo que a coordenação do projeto está muito interessada em fazer com que o mesmo dê certo. Carmem, que antes mesmo de encontrar esse projeto já estava em busca de um trabalho social, diz que não tem interesse em adotar, seu interesse é acolher com amor e carinho, além de trabalhar junto com a família biológica e com a equipe do serviço. Ela explica que é como um triângulo baseado nas famílias e no serviço. “O mais bacana disso é conseguir reintegrar a família como um todo”, conclui ela. A economista, que teve acesso ao projeto por email, acredita que se a criança não conseguir ser reintegrada a família, será uma “quebra do processo”, e ela avalia isso como um grande prejuízo, uma vez que o que está faltando hoje à sociedade é o laço familiar, como o que ela teve em sua família.
MAIARA MONTEIRO
Centro Cultural do Bairro Padre Eustáquio recebe índios Pataxós n MARCELO COELHO DA FONSECA, 5º PERÍODO
Nós vamos ver os índios mesmo? Será que é alguém fantasiado? Eles andam pelados? Eles são muito bravos? Essas foram algumas das perguntas feitas pelos alunos da 1º e 2º série da Escola Estadual Sarah Kubitschek antes de visitar o Centro Cultural do Padre Eustáquio, que recebeu índios da tribo Pataxós nos dias 22, 23 e 24 de abril. A atividade fez parte dos Ciclos de Debate e Reflexão sobre a cidadania indígena, que também apresentou exposições de arte, artesanato e pintura corporal indígena. É importante que os meninos tenham conhecimento da diversidade cultural brasileira. Muitas crianças não conhecem sobre o índio, sua história e os problemas atuais deles”, conta Fátima Yoshida, professora da E.E. Sarah Kubitschek. Além de assistirem às apresentações de dança, os
alunos também participaram do ritual seguindo os índios, que cantaram e falaram sobre seus costumes nas aldeias. REAÇÕES Pedro Henrique Aguiar de Oliveira, aluno da E. E. Sarah Kubitstchek, participou das atividades e ficou impressionado com as demonstrações. “O que mais gosto nos índios é a dança deles, e também das pinturas que eles fazem no corpo para ir para as lutas”, conta Pedro. Fernanda Aguiar, mãe de Pedro, que acompanhou a excursão, defende uma maior presença do tema índio nas escolas brasileiras. “Os índios estão perdendo muito de suas antigas características, já não são mais os mesmos de anos atrás. Por isso é ainda mais importante que as crianças conheçam sua cultura, para que jamais caia no esquecimento”, conta. Já Emanuelle Amanda Moreira Silva, aluna da primeira série, se impressionou mesmo pelo vestuário indígena, que pôde ver de
perto pela primeira vez. “A roupa deles é o mais legal, muito diferente mesmo. A não ser na televisão, eu nunca tinha visto um índio de verdade não”, conta Emanuelle. A índia Wanaty, que no idioma português significa Rosa, explica que a sociedade fica muito mal informada sobre a verdadeira realidade de seu povo em muitos casos, e defende uma atitude mais correta por parte da mídia nacional sobre os problemas indígenas dos dias de hoje. “Tem muita gente que só vê coisa ruim sobre nosso povo, o que não é verdade de forma alguma. Às vezes passam nossa imagem como bagunceiros, que só fazem baderna, mas isso é uma mentira. A televisão e os jornais nem sempre explicam nossas reivindicações e lutas, que são em busca dos nossos próprios direitos”, afirma Wanaty. Sua tribo Pataxó, veio para Minas há 32 anos, depois de perder as terras para fazendeiros baianos.
A professora da educação infantil da Escola Municipal Padre Guilherme Peters, Giorgina Maria da Silva Alves, acrescenta que o contato com o índio é essencial para os alunos, e os elementos da cultura indígena devem ser muito explorados pelos educadores, como forma de conscientização da importância de preservar diferentes culturas. “Estávamos estudando sobre os índios em sala de aula, mas o contato pessoal de cada criança com eles é outra coisa. Eles ficaram extasiados ao ver os índios de perto. Essa cultura deve ser sempre resgatada, principalmente nas escolas”, aponta Giorgina. Se para as crianças a presença dos índios foi uma ótima experiência, para a comunidade a visita dos Pataxós também foi muito bem recebida. Foram apresentadas danças e amostras da arte indígena, além de debates aberto à participação popular sobre a cidadania indígena.
Alunos observam curiosamente a apresentação dos Índios Pataxós Paulo Souza Carvalho, morador do Padre Eustáquio há mais de 40 anos, esteve e assistiu as apresentações e contou sobre a visão do índio na sua época de criança. “Quando eu era menino sempre ouvia falar deles, eram quase que lendas que ouvíamos falar. Apesar de que no interior em que morava, a gente era muito parecido com os índios. Tínhamos muitas coisas em comum, eramos desligados de tudo que é meio de comunicação”, brinca Paulo.
Gildete Mafra, diretora do centro e responsável pela organização do evento, explica a necessidade de passar para a sociedade que o índio também é um cidadão do nosso país. “Trabalhamos dentro de um ciclo de debates que levasse à reflexão em busca do conceito de cidadania. Através da Constituição Brasileira o indígena, como qualquer outro cidadão brasileiro, tem os direitos defendidos pela lei, e isto deve sempre ser respeitado”, destaca Gildete.
Saúde Abril • 2009
15
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PRÉ-NATAL ESPECIAL À MÃES ESPECIAIS Assistência diferenciada à gestantes soropositivas garante crianças sadias e mamães felizes. No Ambulatório Carlos Chagas, médicos e estudantes investem na conquista de adesão ao tratamento. MAIRA MONTEIRO
n ALINE SCARPONI, JOYCE SOUZA, VANESSA ZILIO,
bém é professor associado da Faculdade de Medicina da UFMG, explica que muitas mulheres se descobrem portadoras do vírus HIV, quando realizam o pré-natal, uma vez que não existe um rastreamento para a AIDS. Para ele, essa descoberta, pode ser um forte agravante no quadro psicológico da gestante. “Elas descobrem que estão grávidas e que contraíram o HIV de seus parceiros. A partir deste momento nasce o medo da morte, já que a doença é estigmatizada pela sociedade, e as incertezas quanto a saúde do filho”.
3º PERÍODO
A gravidez corresponde a um período de oscilações na vida de uma mulher, mas para algumas delas, esses desníveis ainda podem ser maximizados. É o caso das gestantes portadoras do vírus da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Para essas mulheres, o acompanhamento médico durante os nove meses de gestação, o pré-natal, é essencial e permite que medidas específicas sejam tomadas para reduzir o risco de contágio da criança. O exame de sangue constitui um dos primeiros procedimentos realizados e através dele são identificados anticorpos contra o vírus HIV, o anti-HIV, caso a mulher esteja infectada. Detectado o problema, as soropositivas podem ser encaminhadas para um tratamento diferenciado que atenderá às suas necessidades. Muitas mulheres só descobrem que estão contaminadas após a realização dos exames de rotina do pré-natal, o que comprova a importância dessa avaliação. O diagnóstico precoce do contágio possibilita o início do tratamento e dificulta a transmissão vertical, quando o vírus passa da mãe para o filho durante a gestação, o parto ou através da amamentação. As pacientes são medicadas com anti-retrovirais (AZT) e acompanhadas pelo obstetra e pelo infectologista. Para reduzir o risco de transmissão, as soropositivas
Mulheres HIV positivas recebem acompanhamento diferenciado durante os nove meses de gestação são sempre orientadas a realizarem cesárias e a não amamentarem. O Centro de Tratamento Especializado no Ambulatório Carlos Chagas, pertencente ao complexo do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), recebe, aproximadamente, 23 mulheres HIV positivas todas às quartas-feiras para o acompanhamento do pré – natal. A avaliação contínua tem como principal objetivo verificar a evolução da doença e dos riscos da transmissão vertical. As portadoras do vírus recebem medicações diárias, para controlar a carga viral e fazem exames de sangue, entre os intervalos das consultas, para que os médicos interpretem as reações provocadas pelos remédios, assim como para que possam descobrir se os
medicamentos foram administrados de forma adequada. Para Marcelo Mendes, estudante de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, que trabalha nesta ala do ambulatório há três meses, a maior dificuldade é a negação ao tratamento. “Muitas pacientes são relutantes em tomar os remédios. Os comprimidos são grandes, desconfortáveis, e devem ser ingeridos algumas vezes ao dia”, enfatiza. O acadêmico do décimo período de medicina da UFMG, que trabalha no ambulatório, Lucas Rocha da Costa Filho, explica que o pré-natal realizado é especial, uma vez que é pedido à gestante que realize exames em períodos menos espaçados. Além disso, a partir da décima quarta semana de gestação, a “futura mamãe”, mesmo
que não tenha apresentado, devido á doença, um quadro imunológico propiciador de início de intervenção medicamentosa, começa a tomar remédios de forma profilática. “Chamamos isso de terapia antiretro viral profilática. Ela usa essa mediação para prevenir a infecção do feto. Se ela mantiver esse quadro de baixa carga viral, após o parto, o uso da medicação é interrompido”, explica. O perfil das gestantes é definido pelo ginecologista responsável por esta ala do Ambulatório Carlos Chagas, chamada PNAR (PréNatal de Alto Risco),Vítor Hugo de Melo, como “mulheres geralmente jovens, abaixo dos 30 anos, pobres, heterossexuais e, ao contrário do que se pensa, com relações estáveis.”. Victor, que tam-
POLÍTICAS PÚBLICAS Segundo dados apresentados durante o Congresso Brasileiro de Prevenção às DST/AIDS, realizado em Belo Horizonte, no segundo semestre de 2006, há aproximadamente 240 mil mulheres em idade reprodutiva portadoras do vírus HIV, mas a maioria não sabe que está infectada. Dessas, apenas 62% tem acesso ao teste do HIV durante a gestação. Entretanto, Victor acredita que as políticas públicas brasileiras estão “bem eficientes” e possibilitam ampla assistência as gestantes soro positivas. De acordo com ele, hoje se tem um serviço de referência, que se for bem utilizado, e tiver o tratamento seguido corretamente, possibilita às gestantes uma “gravidez tranquila, normal”. O estudante de medicina, Lucas Rocha afirma que há uma taxa de falha no tratamento mundial de prénatal das gestantes de alto risco, de 3%, sendo que aqui se incluí as pacientes
que não seguem a terapia corretamente. Entretanto, ele explica que “no nosso ambulatório (Ambulatório Carlos Chagas), não há nenhum caso de paciente que seguindo corretamente a terapia tenha uma criança soro positiva. Então, aqui, a taxa de transmissão vertical é zero”, contabiliza. HUMANIZAÇÃO Para os universitários que trabalham na ala de pré-natal de alto risco do Ambulatório Carlos Chagas, o conhecimento adquirido transcende o aprendizado técnico-científico. Devido às necessidades especiais da gestante soropositivas, os estudantes são convidados a refletirem aspectos como preconceito e necessidade de acompanhamento psicológico. “É um contato enriquecedor por vários motivos. Essas pacientes têm necessidades emocionais e psicológicas que em outros pré-natais não ocorre. Além disso, o fato de ser uma doença relacionada ao ato sexual, faz com que a sociedade ainda continue a estigmatizando”, comenta Lucas Rocha da Costa Filho. O estudante ainda comenta que essas pacientes geralmente “falam pouco e têm muita dificuldade no começo do tratamento, principalmente, de tocarem no assunto da infecção”, e esse é um dos primeiros desafios enfrentados pelos médicos. “Nós precisamos aprender a dosar o quanto podemos oferecer ao paciente sem sermos impositivos ou autoritários. Temos que conquistar a paciente para termos sua adesão. Essa é a parte mais difícil”, desabafa.
Descoberta de Carlos Chagas completa 100 anos MAIARA MONTEIRO
n FERNANDO ROCHA, 3° PERÍODO
No início do século XX, convidado por Oswaldo Cruz, o médico mineiro, recém-formado, Carlos Chagas (19781934), voltou à Minas para tratar do surto de malária que assolava o norte do estado. Ao chegar a Lassance, município de Minas Gerais, alertado por um fazendeiro da região, conhecido por Vovô Evaristo, o cientista passou a examinar o barbeiro, e descobriu que ele carregava o agente causador do Mal de Chagas. Então, em abril de 1909, o médico sanitarista anunciou ao mundo a descoberta de uma nova doença humana, identificando seu agente causador, o protozoário, Trypanossoma cruzi e seu vetor, o barbeiro, Triatoma infestans, co-
nhecido popularmente por “chupança”. Diagnosticada através de exame parasitológico a doença afeta, principalmente, o coração, o esôfago e o intestino. A transmissão se dá pela picada do barbeiro contaminado, por transfusão de sangue e via placentária. Recentemente, foi descoberto que também pode se dar pela ingestão de açaí e caldo de cana contaminado. O mal de Chagas apresenta duas fases, uma aguda – que pode não afetar em nada a pessoa, e outra crônica – que provoca uma lesão no coração, causando insuficiência cardíaca ou morte súbita, e atinge populações de toda a América Latina, sobretudo, em regiões mais pobres. O professor e pesquisador de doenças tropicais da Faculdade de Medicina da UFMG, João Amílcar Salgado, 72 anos,
conta que em suas experiências profissionais examinou, aos 53 anos, a menina Berenice, o primeiro caso da doença identificado pelo médico sanitarista, quando ela tinha apenas 2 anos de idade. Autor do livro intitulado, provisoriamente, por “O caso Berenice”, doutor Amilcar disse que Berenice, que tinha a fase aguda da doença, faleceu como qualquer outra pessoa e, portanto, não de Chagas. Segundo o estudioso, Charles Darwin também pode ter contraído a doença enquanto viajava pela Ilhas Galápagos. Para o médico, Carlos Chagas foi o maior cientista brasileiro, pois foi autor de um feito inédito na história da medicina. Descobriu a doença de Chagas de maneira dedutiva, isto é, apontou, primeiramente, sua causa, e depois a doença.
Segundo o médico, normalmente estas descobertas são feitas de maneira indutiva. Ele acredita que “para ter um cientista maior que Carlos Chagas, teria que ser feita uma descoberta deste nível. E as pessoas não enxergam isso”, diz. Apesar de não ter ganhando o prêmio Nobel de 1921, Chagas teve reconhecimento internacional e assinalou um marco na história da medicina e saúde brasileiras. “Há possibilidades de Carlos Chagas ter ganhado o prêmio Nobel, pois parece que a Academia Nacional de Medicina informou aos promotores da premiação que não houve nenhuma descoberta”, contesta o professor. “O próprio Brasil fez Chagas perder o prêmio”, completa. Após 100 anos de descoberta, a doença diagnosticada por Chagas
João Amílcar lançou um livro com seus estudos sobre a doença de Chagas ainda não foi erradicada definitivamente. Pouco mudou de lá pra cá, a forma de prevenção continua sendo o extermínio do vetor e, ainda, não tem remédios eficazes no seu tratamento. Assim como a leishmaniose, o mal de Chagas é uma outra
doença pouco estudada pela indústria farmacêutica. “As multinacionais farmacêuticas negligenciam a saúde, elas querem o lucro”, afirma Doutor João Amílcar que vê pouco interesse por parte dos cientistas em acabar com as doenças tropicais.
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Affonsinho
Entrevista
MÚSICO
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Você conheceu o sucesso no Rio de Janeiro, dentro da Hanói-Hanói, participava até de programas do Silvio Santos, e hoje você toca para um público muito específico. Para você isso foi uma evolução ou uma involução? Eu não vou dizer evolução, porque senão fica parecendo um pouco pretencioso. Mas acho que seguiu um fluxo natural. Eu comecei a tocar rock porque era adolescente e todo mundo ouvia rock no colégio. Mas eu já tinha escutado coisas quando eu era pequeno. Mas se eu tocasse o que eu ouvia quando pequeno, meus amigos não iam gostar. Eu ouvia as coisas que meu pai ouvia. Coisas que eu sou apaixonado hoje. Coisa dos musicais americanos. Depois as coisas do Brasil, Noel Rosa, Dorival Caymmi. Eu gostava e esse negócio estava guardado lá. Daí eu fui pro Rio tocar rock. Quando eu pude começar a ter mais coragem pra ser eu mesmo, eu comecei a falar: olha eu gosto também de cantar bossa nova, do João Gilberto que o meu irmão mais velho ouvia. Eu acho legal. Ai comecei a descobrir que a minha voz combinava mais com a bossa do que com o rock. E eu conversei com o Paulinho Moska sobre isso uma vez, a geração da gente pegou o Caetano, o Chico, o Gil, e ao mesmo tempo Jimy Hendrix, Beatles... a gente ouvia isso. Era uma mistura danada. Eu sempre fui muito ligado em letra de música. Desde pequenininho eu gostava. Meu pai me levou pra assistir o Help dos Beatles, quando eu era pequeno, e eu comecei a tocar por causa disso. O primeiro herói que eu tive na vida foi o John Lennon. Antes de Batmam, e de qualquer outro depois. Coitado do meu pai... me levou uma vez pra ver o filme e depois teve que me levar outras 80 (risos). Nessa época eu morava no rio. Um dia meu pai ganhou um violãozinho, um amigo deu pra ele lá em Copacabana, onde a gente morava, e ele chegou em casa, eu era pequeno, e falou assim: meu filho, eu tava andando lá na rua tal, enfrente a Colombo, que era uma confeitaria famosa no Rio, e encontrei com John Lennon e falei com ele “meu filho é seu fã”ai o John Lennon respondeu “ah é? Então leva esse violão aqui pra ele.” Eu pensei: nossa, meu pai, amigo do John Lennon... É claro que eu acreditei. Pai é pai. Nem pensei que John Lennon falava inglês (risos). Daí fiquei com aquele violãozinho lá e tentava tocar e não conseguia nada. Ai depois um primo me ensinou alguma coisa e eu comecei a aprender.
DO ROCK’N ROLL AO TÍPICO ESTILO DE AFFONSINHO
n ALINE SCARPONI, ISABELLA LACERDA, 3º PERÍODO
Ele ganhou seu primeiro violão de John Lennon aos cinco anos. “Eu pensei: nossa meu pai, amigo do John Lennon... É claro que eu acreditei. Pai é pai”. O compositor, intérprete, professor de guitarra de Samuel Rosa, além de jornalista, Affonso Heliodoro dos Santos Junior, mais conhecido como Affonsinho, conheceu a fama na banda de rock dos anos 80, Hanói-Hanói, que emplacou sucessos como “Totalmente demais” e “Rádio Blá”. Ele estudou na escola Berklee College of Music (USA) e é considerado um dos melhores guitarristas do Brasil. Foi eleito o melhor instrumentista do Fesbelô 2000 e agraciado com o Troféu PróMúsica, na categoria de melhor cantor. Atualmente, com mais de 20 anos de carreira, está em estúdio gravando seu quinto CD solo, no qual reafirmará seu novo estilo que, segundo ele, é uma mistura de bossa nova, pop e jazz. “Minha música é um pouco do que eu vivi, com um pouco do que eu observei, com um pouco que a gente fantasia”, diz. Nesse “bailado de libélula”, trecho de um de seus maiores sucessos “Vagalumes”, Affonsinho admite que a mudança ocorreu quando ele pode “começar a ter mais coragem” para ser ele mesmo. Em entrevista ao Jornal MARCO, o cantor relembra sua trajetória na música, comenta influências familiares e profissionais, analisa a situação da música mineira no país, pontua a importância do bom relacionamento do artista de hoje com a tecnologia, além de ressaltar o amor que sente pelo seu trabalho. “Eu não consigo fazer uma música se eu não amar aquela música, não consigo fazer um show, se não estiver amando estar ali”, conta. MAIARA MONTEIRO
Como você define seu som? É um pouco de bossa nova, com um pouco de pop, mas não um pop como do Skank. Tem só a pegada de pop, porque eu não gosto muito de música Pop mais não. Tem muita coisa de blues também. Eu acho legal a gente misturar, já que a gente tem essas influências todas. João Gilberto, Jimi Hendrix, é bom a gente misturar um com o estilo do outro. Tem um pouco de Jazz também. E há influências da sua formação jornalística no seu trabalho como compositor? Olha, eu sempre gostei de escrever. Fui fazer jornalismo por isso, já que a família ficava falando que música não dá dinheiro, como se jornalismo desse dinheiro!(risos). Mas o negócio é que no jornalismo você vai escrever outras coisas. Se eu fosse escrever música eu acho que ia ser um pouco complicado porque eu ia estar falando dos meus colegas de trabalho. Então é meio anti-ético eu falar de um cara que eu já toquei com ele, meu amigo, fica um negócio meio complicado. Escrever sobre outra coisa eu acho que não teria paciência para estudar e escrever. Sobre cinema e teatro, por exemplo, dentro da área de cultura, eu prefiro não me aprofundar para não ficar com uma coisa chata que eu tenho na música que é ouvido crítico. Eu vou a um show, como eu trabalho com isso há muitos anos, eu vou ouvindo e sem querer eu faço comentários. O que o público pode esperar do seu quinto CD? Na verdade é o terceiro autoral por essa gravadora, que chama Dubas. Eu fiz o primeiro em 2000 chamado “Zunzun”. Eu tinha feito dois discos ainda nessa coisa de transição do pop rock do Hanói para o que eu faço hoje. Então eu estava meio sem saber o que eu cantava, experimentando minha voz em vários tipos de música, em outra e tal, ai tentei levar esse disco para a gravadora e ninguém quis ai de pirraça eu falei que ia fazer um disco para mim, para a minha mãe, para a minha avó, para a minha tia, para as minhas exnamoradas. Aí então, eu entrei aqui no estúdio e gravei um disco chamado “Zunzun”, que é um disco acústico bem leve, fiz com dois violões, baixo acústico e percussão, só. Um disco bem levinho mesmo, todo de canção de amor, e esse
geralmente a gente faz mais do que vai entrar no CD, no “Belê” eu tinha 28 músicas e entraram 11 só. Porque a gente começa a se repetir, entendeu? Depois que você grava você vai fazer um corte, para ver o que está demais, se colocou um refrão demais, modifica a música, ai você vai remixar, que é achar todos os volumes de cada instrumento, masterizar que é como se você desse uma reequalizada nisso tudo, pegar todos os timbres do violão, então tem muito equipamento e muito recurso, então demora. Você tem blog, tem orkut, como o artista deve se relacionar com a tecnologia? Bem, muitos artistas têm uma equipe para fazer isso. Eu prefiro fazer sozinho, já que nesse meu trabalho com a música eu vou cativando o público aos poucos. Tudo que as pessoas me escrevem no orkut, eu mesmo respondo. A tecnologia favorece o artista? Eu acho que favorece. Eu gosto de eu mesmo responder, porque gosto de conversar com aquela pessoa que sai de casa, comprou o ingresso, comprou o CD, foi ver meu show, prestou atenção na letra, sabe cantar. O mínimo que você tem que fazer é ser gentil com ela, é conversar. É muito legal isso. Eu gosto de fazer coisa pequena. Se eu pudesse eu tocava toda noite para 20 pessoas, toda noite! Eu acho melhor do que fazer um show para 50 mil pessoas de uma só vez, onde você não vê o rosto de ninguém. A pessoa ficou pulando, mas não prestou atenção na letra, não riu daquela parte que você cantou. Eu fiz dois show no museu Abílio Barreto e foi muito interessante, porque lá é pequenininho e eu cantei uma música inédita. Lá eu pude ver a reação das pessoas na hora. É diferente de fazer um show onde as pessoas foram lá para dançar. Nesses locais, se você canta uma música inédita, o show vai lá em baixo, porque as pessoas querem dançar. Então, no Abílio Barreto eu cantei uma música inédita que se chama “Samba do Carinho”, e ela diz assim: “se você não trata sua moça com carinho, um dia ela vai embora e você vai ficar sozinho. Se acorda com pressa e deixa bom dia pra depois do almoço, só chega pra jantar feito um cachorro atrás do osso, vai separando a escova de dente e um pouquinho de feijão, que na panela dela você já não cabe não. Pega a cerveja, a cueca, o miojo, o pente, e um pedaço de pão, que na panela dele você não cabe mais não”. O pessoal morreu de rir! É muito legal você poder realmente experimentar a música ali. Em um local muito grande você não tem essa oportunidade, além de ter muita pressão. O que você acha da música mineira? Acho muito bacana, com muita tendência nova.
disco foi o disco que me levou para a foi feito no “Zunzun” com um pouco do gravadora que eu estou hoje, que é a “Belê”, com “Vagalumes” e as bossas que Dubas. O Ronaldo Bastos que é o dono da tem lá. Então é mais ou menos a mesma gravadora, ele é parceiro do Milton, é onda. letrista também, do Lô, do Beto Guedes, Ed Mota, o Ronaldo ouviu o disco e gostou E esse quinto CD vai e falou: quero te contratar. Adorei o disco. seguir essa linha mais suave? E eu falei: pô, mas logo o disco que eu não É claro. Nós fizemos com banda também. fiz para a gravadora, não fiz nenhuma con- Eu estou gostando de fazer música mais cessão de fazer essas coisas de múscia pop assim. Eu já passei por muita confusão, de colocar um refrão repetindo 50 vezes. com rock, banda de rock, barulhada, eu Fiz a música do jeito que eu queria fazer. O não aguento mais isso. Eu gosto de lugar Ronaldo gostou das letras. Uma música mais silencioso, tipo teatro, com som baichamada “Escândalo xinho, para você poder de Luz” que ele gostocar conversando, sem ter tou mais e ai me conque gritar aquele negócio tratou e a gente “Vamo moçada, vamos “EU AMO MÚSICA. lançou o disco pela pular...” Dubas. Quando eu ia E EU VOU GANHAR S laçar o segundo, ele Muitas das suas músicas, DINHEIRO OU NÃO teve uma idéia de eu desse CD novo, são veicupegar as músicas que VOU, NADA DISSO ladas na internet, no eu gostava mais do Youtube.... ” IMPORTA Clube da Esquina e É, porque eu fiz uma gravasse essas músiexperiência de tocar algucas do mesmo jeito mas em shows. A gente que eu fiz o “Zunzun”, bem levinho, com fica fazendo disco louco para tocar logo, e outra interpretação, só com violão, e ai a demora para você fazer um disco, porque gente fez um disco chamado “Esquinas de voce tem primeiro que compor, depois dar Minas”. Como ficaram faltando algumas uma trabalhada na música, tem que ter a músicas e esse disco vendeu legal, também idéia, que aí você pega um gravadorzinho, porque é só de músicas consagradas do um violão e ai gravo. Ai amanha você vai Milton, do Lô, do Beto Guedes, esses disouvir para ver se não estava horrível, se cos todos são lançados no Japão também você não estava só empolgado com aquele que tem um público bom para a música momento ou se da para trabalhar. Quando brasileira, ai o Ronaldo falou para eu fazer não dá para trabalhar, você pega e joga outro. Ai eu fiz o “Esquinas de Minas II” e fiquei esperando para lançar o “Belê”, que fora. Quando dá, você vai experimentar, tem “Vagalumes”. E agora que ele saiu. vai trabalhar, ter uma idéia para a letra. Então o próximo é uma continuação do Escrever letra é um negócio que demora nosso trabalho autoral. É um pouco do que muito. Depois que você definiu as músicas,
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E quanto a visibilidade? Ah, quanto a isso tem uma coisa muito complicada. Eu não sei bem o que acontece. Rio e São Paulo continuam sendo o eixo cultural. Eu não entendo porque a gente não pode ter uma novela produzida aqui, por exemplo. Aqui não tem televisão? Não tem ator? Eu tenho um medo de a gente daqui um tempo começar a puxar o “s”, porque a gente só vê Big Brother. A música mineira até que consegue furar esse negócio e tocar fora de Minas, mas não é como a música carioca e paulista. Mesmo sendo as duas bandas pops mais famosas mineiras (Skank e Jota Quest), é complicado. Quando eu fui para o Rio com a Hanói, o Lobão falava pra eu tocar “Coração de estudante’, porque lá fora só se achava que existia o Clube da Esquina aqui em Minas Gerais. Nós temos Sepultura, que é algo muito diferente. Temos Pedro Morais que é uma coisa mais MPB. Quais são, na sua opinião, os destaques da música mineira? Tanta gente. Marina Machado é uma pessoa que eu adoro. Tem uma cantora revelação que eu também adoro, que é uma cantora de samba que está ficando mais conhecida no Rio do que aqui, que é a Aline Calisto. A Regina Souza, esposa do Wander Lee, lançou um disco agora. Júlia Ribas tem um vozerão, Bianca Luar. A gente leu no seu blog que o objetivo dele era “conhecer pessoas bacanas, que gostam de músicas bacanas”. O que são músicas bacanas para você? Eu considero que são músicas que fazem a gente melhorar de alguma forma. Ou melhorar o humor, ou ter uma idéia bacana, pensar uma coisa que você não tinha pensado antes. Então proporcionar uma alegria, bem-estar, calma, paz, nada que te provoque raiva, ou irritação, ou violência. Uma música é paz e amor mesmo.
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