Jornal Marco - Ed. 266

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Na Vila Acaba Mundo, o Projeto Itai, que faz parte da Associação Querubins, complementa a renda familiar da comunidade. Página 15

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PÂMELLA RIBEIRO

JOYCE SOUZA

MAIARA MONTEIRO

Coração Eucarístico terá agência do Banco do Brasil, o que facilitará a realização de transações bancárias dos moradores.

Em comemoração ao Ano Internacional da Astronomia, atividades informativas serão oferecidas ao público da capital. Página 7

marco jornal

Ano 37 • Edição 266

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Maio • 2009

HOMEOPATIA CONTRA A DENGUE MAIARA MONTEIRO

A homeopatia é uma nova aliada no tratamento dos sintomas da dengue, doença que pode provocar óbitos. O objetivo da iniciativa, implantada pelo Distrito Sanitário Norte de Belo Horizonte, é amenizar os sintomas do mal, por meio do tratamento homeopático. Outras doenças também causam preocupação, como a meningite, hepatite A e o câncer de colo uterino. Nesses casos, há o recurso da vacinação. O problema é que essas vacinas não são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e têm alto custo, o que deixa a população de baixa renda menos protegida. Páginas 8 e 9

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Criatividade e ousadia que mudaram a noite da capital mineira

PÂMELLA RIBEIRO

Dedicação e amor ajudam na inclusão social de deficientes

PÂMELLA RIBEIRO

Com o objetivo de conferir mobilidade, independência e autonomia às crianças portadores de deficiências, a ONG Noisinho da Silva projeta mobiliários que aumentam suas qualidades de vida. A idéia surgiu a partir da observação feita pela arquiteta Érika Foureaux de que sua filha apresentava dificuldades de se acomodar nas carteiras da escola em que estudava. Os mobiliários, que são produzidos por uma equipe de diversos profissionais, também são vistos pelas crianças como brinquedos. Página 10

Telefone é aliado de passageiros de ônibus Usuários do transporte coletivo da capital podem recorrer ao Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) das empresas para registrar reclamações e encaminhar surgestões. Por meio das ligações, as empresas se

informam de problemas nos serviços prestados e podem atuar para tornar as viagens de ônibus mais agradáveis para os usuários. Também como forma de assegurar uma boa viagem, as cooperativas de táxi dispõem do

serviço de achados e perdidos. Os motoristas de táxi são orientados a avisar a Central de Operações das cooperativas em caso de perda de objetos. Caso tenham donos desconhecidos, são encaminhados à BHTrans. Página 14

MAIARA MONTEIRO

Burocracia atrasa construção de centro de saúde da região Aprovado pelo Orçamento Participativo de 2006 em Belo Horizonte, a obra do novo Centro de Saúde do Bairro Dom Cabral, na Região Noroeste da capital, só deverá ser iniciada no próximo semestre. A causa desse atraso é a falta de licitação da construção e finalização de seu projeto executivo. Enquanto isso, a população sofre com filas enormes e condições precárias de atendimento médico. A expectativa é que o novo centro ofereça melhor infraestrutura e conforto à comunidade. Página 3

Produtora cultural há mais de duas décadas, em Belo Horizonte, Anésia Cambraia destaca-se por suas ideias audaciosas e inovadoras, que movimentaram a noite da capital. Criadora do Bar Nacional, do Circuito Bar, da casa de shows Music Hall, dentre outros projetos, ela foi pioneira na união de música e bar em um mesmo ambiente. Frequentados por famosos, seus bares eram constr uídos em grandes galpões e atraíam um público diversificado. Página 12 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição


2 Comunidade

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Maio • 2009

EDITORIAL

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Sugestões de leitores se transformam em matérias do MARCO

AUTOESCOLA É ALVO DE PROCESSO NO DETRAN Devido a falta de alvará de funciomento, o centro de formação de condutores têm passado por problemas com seus clientes

n ISABELLA LACERDA,

MAIARA MONTEIRO

3º PERÍODO

A sugestão de assuntos que se transformam em matérias nas páginas do Jornal MARCO é um dos pontos fundamentais para manter vivo o processo de interação entre jornal e comunidade. Ressaltando esse caráter, essa edição, assim como as anteriores, apresenta reportagens que foram sugeridas por nossos leitores. Independente de como foram feitas as sugestões, por meio de telefonemas, cartas do leitor e, até mesmo, através de email, o jornal busca atender a essa demanda por acreditar que essas matérias pretendem apresentar o que vem acontecendo na comunidade, ajudar a região a conquistar melhorias e têm o propósito de auxiliar o próximo, mostrando as iniciativas dos moradores do bairro e da cidade como um todo. Edições passadas em que foram apresentadas matérias sobre o trânsito na Região do Coração Eucarístico surgiram a partir de sugestões de leitores, assim como nessa edição, quando retratamos em uma de nossas matérias problemas que os moradores e comerciantes do bairro enfrentam com a falta de agências bancárias. Essas pessoas se vêem obrigadas a enfrentar longas filas em casas lotéricas e caixas eletrônicos devido à carência de agências da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Como uma possível solução para esse problema, o Jornal MARCO apurou que uma filial do Banco do Brasil está sendo construída na região para suprir a necessidade de seus clientes. Outra reportagem sugerida por leitores é sobre o Centro de Formação de Condutores Cinco Estrelas. A autoescola, localizada no Coração Eucarítico, passou por problemas em função da falta de alvará de funcionamento, o que gerou problemas para os alunos. Eles ficaram sem aulas de legislação e sem a devida marcação de exames de direção. Além disso, como sempre é retratado, essa edição do MARCO vem mostrar o que tem acontecido pela cidade de Belo Horizonte. Esse é o caso do bagageiro implantado em alguns ônibus da capital para gerar maior conforto aos usuários, além da implantação de anúncios por meio do celular em alguns bairros da capital como forma de incrementar o comércio local e facilitar a vida desses moradores. É a tecnologia ajudando no cotidiano das pessoas. Projetos simples, mas que ajudam a mudar vidas, também recebem atenção do jornal. É o caso do Projeto Itai, na Associação Querubins, e o projeto de inclusão social para deficientes, que representa uma opção para integração de minorias ao cotidiano da cidade. Por esse motivo, o envio de sugestões, críticas e as trocas de experiências são fundamentais para que o MARCO tenha sempre matérias de interesse da comunidade, e que descubra personagens, lugares e situações que merecem ser registradas. Afinal, dar voz e vez aos cidadãos é um objetivo sempre perseguido pelo jornal, desde a sua criação, há 37 anos.

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Aline Scarponi, Camila Lam, Isabella Lacerda, Diana Friche e Bianca Araújo (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Maira Monteiro e Pâmela Ribeiro Monitor de Diagramação: Marcelo Coelho da Fonseca Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

n ISABELLA LACERDA, LORENA KAROLINE MARTINS, 3º E 4º PERÍODOS

A aluna Fabiana Avelar, do Centro de Formação de Condutores Cinco Estrelas, localizado à Avenida Dom José Gaspar, 725, no Bairro Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte, tem enfrentado problemas para conseguir sua carteira de motorista. Fabiana, que integrava as turmas de legislação, diz estar desde o dia 12 de fevereiro deste ano sem poder ter aulas, uma vez que a autoescola se encontrava sem alvará de funcionamento. "Não estavam dando aula. Falaram que tínhamos que pegar o valor pago pelas aulas de legislação de volta ou esperar a autoescola regularizar sua documentação esperando um tempo indeterminado", conta Fabiana. O problema maior, segundo ela, é que como a Cinco Estrelas não estava adaptada ainda às novas normas impostas pelo Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (DetranMG) às autoescolas, como a Biometria – confirmação da presença do aluno nas aulas por meio da impressão digital – ela não poderia se

A autoescola mantém suas portas fechadas, preocupando alunos com curto prazo para concluírem seus exames transferir para outro centro de formação para continuar seu curso de legislação. "É como se eu não tivesse feito as aulas. Fui até outras autoescolas para saber se poderia continuar meu curso, mas não aceitaram", explica. De acordo com o DetranMG, órgão encarregado pela supervisão desses centros de condutores, foi aberto um processo administrativo contra o Centro de Condutores

Reclamações geram ações na justiça O instrutor Adeílson Leite dos Santos deixou de trabalhar há pouco mais de um mês no Centro de Formação de Condutores Cinco Estrelas. Ele diz ter tomado a decisão de trocar de autoescola, pois muitos alunos estavam reclamando da falta de marcação de exames. "Os alunos de direção pediam para marcar o exame e demorava um mês para conseguir. A gente levava a fama de enrolado e era xingado por uma coisa que não era culpa nossa. A gente perguntava para a dona e ela falava que o problema era com o alvará, que tinha um documento faltando", diz. Ele completa explicando que o atraso no pagamento dos funcionários foi outro motivo. "O FGTS (Fundo de Garantia do Tempo Servido) estava atrasado. Trabalhei três anos lá e ela só pagou 12 parcelas dele. E nisso ela foi se complicando. Recebia o dinheiro dos alunos, marcava alguns exames, devolvia o dinheiro de alguns, foi aumentando a dívida", conta o instrutor de autoescola. Por culpa desse atraso, Adeílson resolveu entrar com um processo na Justiça. "Entrei com um processo no dia 6 de maio e agora estou pagando um advogado particular. Agora é esperar o juiz marcar a audiência. Só de impostos são quase R$ 2.000, sem contar com as férias e décimo terceiro salário", calcula. A dona do Centro de

Formação de Condutores, quando questionada sobre esse atraso de pagamento, preferiu não comentar sobre o assunto alegando que essa é uma questão pessoal. Uma aluna da autoescola, que não quis se identificar, também está com um processo no juizado de pequenas causas desde o dia 14 de abril e agora está esperando a audiência, que está marcada para agosto. Ela conta que pagou o exame psicotécnico e as aulas de legislação, mas que acabou não utilizando nenhum serviço. A aluna afirma que estava na autoescola no dia em que houve a notificação por parte do Detran-MG. "Passei na autoescola no dia 8, e estava fechada. Só o Diego, filho da dona, estava lá. Conversei com a inspetora Magali e ela recomendou que eu fosse ao Detran na segunda-feira. Fui até lá e relatei o que tinha acontecido. Me falaram que assim que tivessem um posicionamento me avisariam, mas não tive nenhum retorno", comenta. Ela complementa dizendo que o Detran passou para ela um telefone para avisar caso visse um carro dessa autoescola circulando na rua. De acordo com a aluna, mais de cinco pessoas já entraram em contato com ela relatando o que estava acontecendo, com o intuito de achar uma solução para essa questão.

Cinco Estrelas, uma vez que já havia mais de 20 queixas contra o estabelecimento. A inspetora do Detran, Magali Paixão, explica que esse centro de condutores não tinha autorização para funcionar, pois não possuía alvará de funcionamento. Segundo ela, faltava o pagamento de impostos para que esse alvará fosse expedido. "Fomos até o local na quintafeira passada (7 de maio) notificar que o estabelecimento não poderia funcionar. Encontrei um rapaz que disse ser o filho da dona e que nos avisou que ela não estava lá. O avisei que precisávamos conversar com a mãe dele. Ligamos para a casa dela, quando o irmão dela atendeu, e falamos que ela teria que comparecer ao cartório do Detran-MG", conta. Magali relembra que estava atendendo mais de seis alunas dessa autoescola por dia. Todas iam para fazer reclamações e preencher uma solicitação de providência, onde os prejudicados relatam o que estava ocorrendo. Segundo ela, a parte física do local estava apta a funcionar, entretanto faltavam uma série de documentações. Ela ressalta que no dia seguinte à inspeção, a dona da Cinco Estrelas compareceu ao local que constava na notificação para explicar o que estava acontecendo. O inspetor Celso Vinícius de Castro, responsável pelo caso no Detran-MG, relata que a dona do centro de formação de condutores disse no cartório não estar a par do que estava acontecendo e que estava atrás de documentos. "Ela se propôs a vender um carro para ressarcir quem teve prejuízo", explica. Entretanto, o inspetor reforçou que não é função do Detran-MG ressarcir os danos dos clientes. "Cabe a pessoa entrar no Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor

(Procon-MG) ou no Juizado de Pequenas Causas da capital caso não recebam o pagamento", explica. Segundo Celso, o que pode acontecer com a dona, caso seja provado no processo esses danos aos alunos, é o descredenciamento da pessoa de sua função e a proibição da abertura de um novo Centro de Formação de Condutores. O inspetor ainda afirma que, de fato, não é possível a transferência desses alunos que não tem a comprovação de que fizeram aula de legislação para outro centro de formação de condutores. "Tem que fazer tudo de novo. O livro de assinaturas de presença é uma desculpa. Não existe mais esse modo de comprovação no Detran. Não adianta nem ter um certificado de que fez as aulas. Agora a autoescola precisa ter a Biometria, que já cai diretamente no sistema informatizado do Detran a presença do aluno", revela Celso. Procurada pela equipe do Jornal MARCO, a dona do Centro de Formação de Condutores Cinco Estrelas, Janete, que não quis informar seu sobrenome, explicou que a autoescola está passando por uma transferência de diretores. "Os diretores antigos fizeram várias devoluções e todo mundo que procurou a diretoria antiga teve dinheiro devolvido", afirma. Ela confirma ter ido ao Detran-MG e ter explicado o que estava acontecendo. A proprietária conta que já recebeu inúmeros telefonemas, inclusive na casa de sua mãe, que tem 80 anos, em que as pessoas faziam ameaças. "Fizeram ameaças falando que iam prender minha mãe, que iam levar a polícia, a chamaram de caloteira. Minha mãe tem 80 anos, tivemos que levá-la até ao hospital", diz.

ERRAMOS Na matéria “Maria Bethânia, um encontro das artes”, publicada à página 13 da edição 265, os nomes corretos das repórteres são: Sarah Dutra, Bruna Fonseca, Cínthia Ramalho e Clarissa Godinho.


Comunidade Maio • 2009

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BUROCRACIA ATRASA OBRA DO O.P. As obras do novo Centro de Saúde do Dom Cabral vão melhorar a estrutura do posto para atender melhor à comunidade. A demora é atribuída ao projeto executivo que não foi concluído PÂMELLA RIBEIRO

n ROGER DIAS, GABRIEL VASCONCELOS, 5º PERÍODO

Três anos depois de sua aprovação pelo Orçamento Participativo, a construção do novo Centro de Saúde do Bairro Dom Cabral somente deverá ser iniciada em julho ou agosto. Uma das mais importantes obras que beneficiará a comunidade ainda depende da conclusão do projeto executivo, no qual é preparada a licitação da construção. Após a finalização do projeto executivo, será definida a empresa responsável pela obra. O novo posto de saúde foi aprovado pelo Orçamento Participativo em 2006. Segundo Sebastião Ambrósio, mais conhecido como Nhém, gerente do Orçamento Participativo da Região Noroeste, nesse tempo, foram elaborados o anti-projeto e o projeto básico e repassados à comunidade para aprovação. A verba de R$ 1.345.357, repassada anteriormente pela Prefeitura Municipal no período do projeto, sofrerá um reajuste para repor as perdas inflacionárias. Segundo ele, a demora da realização da obra é devida ao próprio processo burocrático da Prefeitura Municipal. "No ano passado (2008) seria o ano para execução da obra. Só que foi período eleitoral e só poderia dar ordem de serviço até maio. Além disso, o projeto executivo não ficou pronto nesse tempo", explica. "A prefeitura normalmente não dá ordem nos três primeiros meses do ano, por que é período de chuvas e o cronograma ficaria prejudicado. Por isso, a ordem de serviço

Usuários esperam que o novo posto atenda às necessidades do bairro

Enquanto espera a construção do novo centro de saúde, comunidade é atendida em condições precárias deve sair no início do segundo semestre", acrescenta Nhém. ESTRUTURA O novo posto de saúde terá toda a área física modificada e contará com mais quatro consultórios, possibilitando um número maior de atendimentos. Além disso, o projeto prevê a criação de uma sala de espera para os usuários com capacidade para cinquenta pessoas. Os equipamentos médicos do posto também serão renovados. Ambrósio afirma que o atual centro está em condições precárias. Entre os problemas que tem a estrutura, ele cita a drenagem ruim que provoca alagamentos e o próprio equipamento físico que não atende a comunidade. O gerente afirma que as obras de porte semelhante

ao novo centro de saúde gastem cerca de 280 dias para serem concluídas. Ainda não foi definido o local onde funcionará o posto provisório, enquanto o novo estiver em obras. De acordo com Maria Auxiliadora Melo, conhecida como Dora, presidente da Comissão Local de Saúde, a escolha do lugar será feita pela própria comunidade do Dom Cabral. "Estamos tentando um imóvel aqui no bairro, mas ele tem de ser baixo, não pode ter escadas e de tamanho razoável", explica. Ela admite que um imóvel localizado à Alameda Guaraponga é uma das alternativas, mas depende de uma autorização da prefeitura. Dora espera que a mudança de administração da Prefeitura Municipal e a recessão econômica não atra-

palhem o início das obras. "Eu acredito que a verba já está depositada e a prefeitura não tem como interromper essa obra, por que nós a aguardamos muito", ressalta. MÉDICOS Apesar da construção da nova estrutura, o centro de saúde vai permanecer com o mesmo número de médicos. A gerente do posto de saúde, Silvana Ferreira, explica que a Prefeitura Municipal não prevê a contratação de profissionais para ocuparem o espaço do posto. "Dentro do que está previsto para o Programa de Saúde da Família, o centro de saúde está com o número de funcionários adequados. Neste momento não está em pauta a implementação de recursos humanos", afirma.

Os usuários do Centro de Saúde do Bairro Dom Cabral esperam com grande satisfação a reforma do atual prédio para acabar com as principais complicações, como a demora das consultas e a fila de espera dos atendimentos. O aposentado Deusdete da Silva Delgado, de 59 anos, morador do Bairro João Pinheiro, utiliza os serviços do posto há 16 anos. Ele não vê motivos para reclamar dos serviços, uma vez que os funcionários o tratam bem. Mas critica a demora dos atendimentos e a falta de médicos. "Eu acho que deveria ter mais médicos no posto. Aqui tem horário até para medir pressão. É um grande problema", conta. A mãe dele, Mercês da Silva Delgado, de 80 anos, faz consultas rotineiras no posto e espera que o novo prédio atenda às condições dos usuários. Já o pedreiro Durval Alves de Oliveira, de 71 anos, morador do Bairro Dom Cabral, fez apenas uma consulta no posto. Porém, o utiliza para tomar vacinas e buscar medicamentos para dia-

betes. Ele acredita que a nova estrutura consiga melhorar a demanda dos pacientes. "Tomara que, com as obras, o posto fique melhor", diz. A aposentada Edwirges de Jesus, de 62 anos, busca medicamentos no posto para diabetes e dores gerais e sempre os encontra. Mas ela fica insatisfeita com a demora dos atendimentos. "É muito devagar. As filas são grandes e o pessoal gasta muito tempo para atender a gente", reclama. A aposentada sugere mudanças para o novo posto. "Eles poderiam colocar mais funcionários para atender melhor as pessoas". A gerente do centro de saúde, Silvana Ferreira, ressalta que o posto vai resolver a maioria das necessidades de saúde, mas depende, muitas vezes, da mudança de hábitos da população. "Muitos pais, por exemplo, deixam suas crianças asmáticas conviverem com fumantes. Então muitos problemas de saúde passam por questões de atitude", alerta.

Rede de esgoto causa problemas no Ouro Minas MAIARA MONTEIRO

n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, VIVIANE NUNES,

problema", acredita Arizio Alves das Neves, 47 anos, presidente da associação comunitária.

4º E 5º PERÍODOS

Esgoto causa transtornos no Bairro Ouro Minas, na Região Nordeste de Belo Horizonte, principalmente nas ruas Santa Leopoldina, por onde é feita a captação de águas pluviais, e Santa Maria Madalena, que ficam, algumas vezes, intransitáveis. Há transtorno também no local conhecido como Vila Fazendinha, à margem do Ribeirão do Onça, que sofre com o transbordamento da rede de esgoto nos períodos chuvosos. De acordo com os moradores, há mais de dez anos que esses problemas existem, e apareceram logo que foi asfaltada a via. Conforme relatos de moradores, toda vez que chove ocorrem os mesmos problemas, com o esgoto se misturando à água pluvial. Felipe Augusto Souza, 24 anos, proprietário da Padaria Renascer, diz que "quando chove, até em dias normais, os bueiros entopem e o esgoto transborda". Ele acredita que o problema seja causado pelo mal planejamento. Segundo Ronaldo Geraldo Lopes, 36 anos, proprietário do Bar Ouro Minas, a rede de

A rede de esgoto do Bairro Ouro Minas não comporta o volume de água das chuvas e gera transtorno para os moradores esgoto existe, mas não funciona. "É horrível. É só chover que estoura tudo. Na Fazendinha entra esgoto na casa do pessoal, causando mau cheiro", afirma Ronaldo. "O esgoto é ligado à rede pluvial. Quando chove entope tudo. Já houve acidente, tivemos que chamar até reportagem da televisão e no dia seguinte a

Copasa estava fazendo a manutenção", comenta o autônomo Jandir Luiz Ceverino, 45 anos, residente numa casa que é atingida, inclusive pelo aparecimento de ratos e demais bichos provenientes do esgoto. "Os moradores ligam para telefone 115. A empreiteira conserta, mas basta chover novamente

para repetir o problema. Os moradores querem algo definitivo”, completa. Cláudio Vilela, atual secretário da Regional Nordeste, já pediu providências à Copasa, pois a água é tanta que arrebenta o asfalto, feito há dez anos. “A prefeitura recompõe o asfalto, a Copasa que tem que resolver esse

TENTATIVAS Já foram feitas mais de 50 notificações e encaminhados quatro ofícios, desde de 2006, sendo que não houve respostas oficiais, apenas retorno por duas vezes através de ligação telefônica. Segundo o presidente da associação comunitária, a prefeitura informou que toda a rede será revisada pela empresa de saneamento, alegando também que ao furar buracos para somente desentupir as redes, está danificando o asfalto. "O problema é sério. Desce água do Bairro São Gabriel e do próprio Ouro Minas e quando chega à Rua Santa Leopoldina e região da Fazendinha, estoura tudo, pois o volume de água é muito grande", relata Arizio. Ele considera que os marcadores contribuem para o problema ao direcionar as águas de chuvas para a rede de esgoto o que ,além de ilegal, ainda há o fato da rede ser de pequeno diâmetro. O gerente do Posto de Saúde, Laércio Guimarães Lisboa, 57 anos, informa que os moradores chegam com infecções na garganta e problemas digestivos, mas que não

pode estabelecer uma relação direta com o problema do esgoto. "Acolhemos pessoas doentes. Se não tivesse problemas de esgoto, eles também estariam aqui. Não podemos afirmar que a causa seja problemas de esgoto na Vila Fazendinha", observa. Sobre os ofícios encaminhados pela Associação Comunitária, a Regional Noroeste não tem conhecimento, pois os mesmos foram repassados diretamente para a Assessoria de Imprensa do prefeito. "Sendo o saneamento básico de responsabilidade da Copasa, a Prefeitura não faz a canalização de esgoto. O Governo do Estado irá canalizar o Córrego do Onça e essa obra custará em torno de 200 milhões de reais, mas ainda não tem data prevista. O trânsito será interrompido e a Prefeitura dará apenas um apoio técnico", ressalta Júlio César Soares, assessor de comunicação da Regional Noroeste da Prefeitura de BH. A Divisão de Imprensa da Copasa esclarece que foi feita uma obra, iniciada no dia 29 de abril, na rua Santa Leopoldina para resolver o problema com a sua rede coletora. Ela informa que foram trocados 24 metros de rede de esgoto na região.


4 Comunidade • Campus

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Maio • 2009

NOVA AGÊNCIA BANCÁRIA NO COREU MAIARA MONTEIRO

Filial do Banco do Brasil está em construção e beneficiará a comunidade do bairro n ALINE SCARPONI, CAMILA LAM, 3º E 5º PERÍODOS

Moradores e comerciantes do Bairro Coração Eucarístico, que antes tinham que enfrentar fila em casas lotéricas durante seus horários de almoço, terão outra alternativa para efetuarem pagamentos. A região receberá sua primeira agência do Banco do Brasil, que será localizada à Avenida Dom José Gaspar, número 791. "O Banco do Brasil já havia sinalizado para a necessidade de implantar uma agência nessa região, mas se deparou com o problema de falta de espaço para a localização da mesma. Problema que já foi solucionado", explica Miriam Sarsur, assessora de imprensa do Banco do Brasil. Segundo ela, o prazo para finalização da obra ainda não foi definido, já que a construção depende de vários fatores. Para a assessora, a agência será

de grande importância porque atenderá não só os clientes do Banco do Brasil, mas também os de outras agências. Para Cristiano Fernando dos Santos, caixa da Loteria Trevo de Ouro, situada à Avenida Dom José Gaspar, 701, há cinco anos, a implantação de agências bancárias não irão interferir no fluxo de pessoas que utilizam a lotérica. O caixa acredita que parte do movimento é basicamente formado por pessoas que efetuam dois tipos de serviços: retirada de dinheiro e pagamentos. Junio Silva Santos, que trabalha na região, é um dos clientes da lotérica que confirma a suposição de Cristiano Fernando, pois diz que só vai até lá para pagar contas e receber o salário. A implantação de nova agência bancária não só beneficiará moradores do Coração Eucarístico, como também a comunidade acadêmica e comerciantes da região. Amanda Ramos,

estudante do curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), diz aproveitar o horário de almoço para efetuar pagamentos na lotérica, mas reconhece que existem serviços que só são oferecidos por agências bancárias. Para a universitária, seria mais prático utilizar o caixa eletrônico. Além disso, ela acrescenta que o pagamento de contas muito altas, às vezes não é aceito por algumas lotéricas.

CAIXA ECONÔMICA Uma

outra necessidade sinalizada pela comunidade do Coreu é a implantação de uma agência da Caixa Econômica Federal no local. A funcionária do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC Minas, Célia Queiroz, afirma que aproveita a proximidade da universidade com a lotérica para efetuar pagamentos, mas que há 13 anos, tempo em que trabalha no DCE, observa

Uma nova agência bancária do Banco do Brasil está em construção e beneficiará a comunidade da região a ausência de outras alternativas. "Lamento a falta da Caixa Econômica, principalmente", comenta. A Caixa Econômica Federal, por meio de sua assessoria de comunicação informa o recebimento de pedidos para que se implante uma agência da instituição no Bairro Coração Eucarístico, desde janeiro deste ano.

Encaminhados para a superintendência da empresa, esses pedidos estão sendo avaliados por meio de pesquisas que visam definir qual a demanda real de clientes e se há um setor empresarial suficientemente forte na região. De acordo com sua assessoria de comunicação, a Caixa constatou inicialmente que o local em

questão não está desprovido de recursos para que a comunidade realize suas atividades. O fato de existirem muitas lotéricas na região, segundo a assessoria da Caixa, faz com que uma agência desse banco não seja tão necessária, já que o custo da manutenção de uma agência é alto.

PÂMELLA RIBEIRO

Equipe Uai-Sô-Fly deixa os céus do Brasil em busca de conquistar os ares do mundo n AURIANA COUTO, MARIANA DE FREITAS, NATÁLIA BARROS, 2º PERÍODO

No Centro de Estudos da Aeronáutica (CEA), localizado no galpão da engenharia mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há uma sala em que as paredes são decoradas com asas de protótipos de aviões. É nessa sala que a equipe Uai-Sô-Fly desenvolve seus projetos a cada competição e dela eles saem para ganhar os ares do Brasil e do mundo, como lembram as medalhas e certificados fixados no mural. No ano de seu décimo aniversário, a equipe Uai-SôFly conquistou o segundo lugar geral, além de menção honrosa de melhor projeto e apresentação na competição AeroDesign da SAE (Society of Automotive Engineers) Internacional nos Estados Unidos em abril último, den-

tre 65 equipes inscritas. Agora eles se preparam para a competição nacional que acontecerá em outubro, cujo resultado determinará quais equipes irão à próxima competição internacional. A equipe existe desde 1999, quando a primeira competição AeroDesign foi promovida pela SAE Brasil em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, em São Paulo. Desde então, eles exibem uma coleção de vitórias. A maior delas, de acordo com Júlio César Santana Fernandes, 20 anos, atual membro da equipe e estudante do 7º período de engenharia mecânica da UFMG, foi ser campeão brasileiro em 2008. "Em 2006, a equipe era nova, houve muitas substituições e não sabíamos por onde começar. Já em 2008, foi uma grande vitória conseguir o primeiro lugar geral depois disso", diz. Atualmente, a Uai-Sô-Fly é

formada por 13 estudantes de engenharia mecânica com ênfase em aeronáutica da UFMG, fora o piloto aeromodelista, sob a coordenação do professor Carlos Alberto Cimini Junior. Ele é responsável apenas por solucionar dúvidas e resolver detalhes burocráticos, já que todo o trabalho é desenvolvido exclusivamente pelos estudantes. Qualquer graduando do curso de engenharia ou engenharia aeroespacial pode entrar na equipe, sem que haja seleção preliminar ou limite de vagas. Tanto sucesso, é resultado do esforço e dedicação da equipe em construir o protótipo de melhor desempenho dentro dos limites do regulamento, que varia todos os anos. "O avião que vence a competição AeroDesign é aquele que a atinge o maior resultado na soma da nota de vôo, de apresentação e do relatório descritivo", explica Júlio César. Já os critérios de

PÂMELLA RIBEIRO

No Centro de Estudos da Aeronáutica (CEA) a equipe Uai-Sô-Fly posa com um protótipo de asa de uma aeronave

Protótipo de um avião produzido pela equipe Uai-Sô-Fly é exposto no galpão de engenharia mecânica da UFMG avaliação são: estabilidade e controle, estrutura, desempenho, aerodinâmica e anteprojeto. "Para cada aeronave, espera-se um desempenho diferente. Por exemplo, quanto maior o avião, maior o peso que ele carrega", revela Ramon Fraga Resende, 20 anos, aluno do 7º período. COMPANHEIRISMO É no primeiro semestre do ano que eles se dedicam à elaboração do relatório, projeto e testes do protótipo que começa a ser construído a partir de julho. Para poder participar da competição internacional, cuja premiação foi recém-conquistada, a equipe tem que obter o 1º ou 2º lugar na disputa brasileira, realizada em São José dos Campos, onde se localiza a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). A Uai-Sô-Fly é prestigiada e reconhecida, além de seus inúmeros prêmios, por ter uma das apresentações de projeto mais assistidas por outras equipes na competição brasileira. Porém, de acordo com os seus membros, a rivalidade da equipe da UFMG

com outras universidades do estado, não existe. Na competição brasileira, que tem duração de três dias – um para apresentação do projeto e dois para voo – os mineiros se reúnem e, juntos, passam grande parte do tempo. Este ano, a maior rival foi a Escola Politécnica da USP-SP, que conquistou o 1º lugar. A cumplicidade do grupo é notada na invenção de seus apelidos: Morto, Lojinha, Noturno e Beleuza, são apenas alguns exemplos. De acordo com os seus integrantes, a amizade não se restringe apenas ao projeto. Trabalhando nos intervalos das aulas, fins de semana e feriados, eles contam que ainda arranjam um tempinho para uma pizza ao fim do dia. Fora as histórias que ocorrem durante as viagens. "Um de nós estava com tanta sede que acabou bebendo o combustível do avião (metanol), que estava numa garrafinha de água mineral", conta Sílvia Pedrosa Alves, 20 anos, aluna do 3º período. Os materiais usados na construção do avião que vai para a competição são caros,

desde madeiras especiais para aeromodelismo até tubos de carbono. Por isso, patrocinadores são fundamentais para a compra de materiais e gastos com as viagens para as competições. "No início, os membros tinham que arcar com as despesas do seu próprio bolso", afirma Júlio César. A premiação para o primeiro lugar é de R$ 8 mil reais para o brasileiro e U$$ 1 mil dólares para o primeiro lugar na competição internacional, prêmios que ajudam na elaboração dos novos projetos. O companheirismo com exintegrantes da equipe também é de grande valia. Muitos deles trabalham atualmente na Embraer e hospedam a equipe durante a competição brasileira. A disputa é uma ótima oportunidade para colocar em prática a teoria aprendida nas várias áreas dos cursos de engenharia. "O maior aprendizado é a administração do nosso tempo e o trabalho em equipe", completa Felipe Miranda Terra, 23 anos, aluno do 10º período.


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PÂMELA RIBEIRO

O QUE MUDOU APÓS A NOVA LEI DO ESTÁGIO Pessoas já observam na prática as vantagens e desvantagens com a aprovação da nova lei n LAURA ZSCHABER GUIMARÃES, 1º PERÍODO

Em vigor desde setembro de 2008, a nova lei do estágio, de autoria do senador Osmar Dias (PDT - PR), propôs como pontos principais a redução da jornada de trabalho máxima do estagiário de nível superior de oito para seis horas diárias, o oferecimento de férias remuneradas e a redução do tempo de trabalho durante as provas. A nova lei beneficia também portadores de deficiências, já que a reserva de 10% das vagas para deficientes é obrigatória. Mesmo já tendo passados sete meses desde que foi implantada, ainda é difícil saber se a lei realmente atende aos interesses dos estagiários ou se dificulta ainda mais a busca pela oportunidade de adquirir experiência. Na empresa de Maria de Lourdes Palhares, o quadro de funcionários é composto por professores formados em educação física, profissionais das áreas de serviços gerais e recepção e estagiários de diversos cursos que também ocupam as vagas das mesmas áreas. A empresária conta que com a nova lei os custos na contratação de estagiários

serão maiores, mas mesmo assim ainda será mais vantajoso. "Apesar de terem diminuído, ainda existem grandes vantagens, pois não temos despesas trabalhistas como recolhimento de INSS, pagamento de décimo terceiro salário e de aviso prévio e multas em caso de demissão", afirma ela. Como Maria de Lourdes não pretende renovar os contratos por mais de um ano, a rotatividade será o único transtorno. "Com a nova lei, não deixaremos de contratar estagiários, mas o tempo de permanência na empresa será menor", declara a empresária da Escola de Natação Planeta Água.

DURAÇÃO Outra novidade da lei é a duração do estágio que agora só pode ser de até dois anos. Para o empresário Rogério Araújo, essa alteração não fará diferença. "Promovemos rodízios de seis meses pra dar oportunidade para outras pessoas", afirma ele. A empresa que presta serviços na área de consultoria ambiental é muito procurada para estágios, já que dá a chance ao aluno de arquitetura a pôr em prática sua experiência

em uma empresa de renome e tradição no mercado do setor. O empresário da PRAXIS ainda acrescenta: "O estágio traz vantagens tanto para o estagiário que adquire conhecimento, quanto para nós que conseguimos uma mão-deobra qualificada e mais barata".

DIVERGÊNCIAS As estudantes de psicologia da Puc Minas, Rosiane Carla de Figueiredo e Oriana Isabelle Sacramento, que estão cursando o 7º período, têm opiniões diferentes. Rosiane, que faz estágio há pouco mais de um mês no projeto Rondon, por meio do núcleo comunitário da Pró-Reitoria de Extensão da Puc (Proex), diz ser a favor da nova lei já que há diminuição da carga horária de quarenta pra trinta horas semanais. "Essa mudança foi muito positiva, pois assim temos mais tempo para estudar", afirma a estudante. Ela acredita que as mudanças serão boas a longo prazo, mas que no início causarão impacto e acrescenta: "Acredito que a lei veio também para proteger o estagiário de possível exploração". Já Oriana acredita que está encon-

As estudantes de psicologia Rosiane de Figueiredo e Oriana Sacramento têm opiniões distintas a respeito da nova lei trando dificuldades para conseguir estágio devido à mudança que a lei trouxe. "A qualificação exigida está aumentando, e como os estágios só podem ter duração de dois anos, as empresas preferem pessoas com experiência para depois efetivarem". Ela acha injusto por parte das empresas, já que é difícil para os estudantes que ainda estão cursando terem experiências. "As oportunidades deveriam ser iguais pra estagiários e outros trabalhadores", diz Oriana.

REPERCUSSÃO

De acordo com Fábio Croso Soares, diretor da Central Profissional de Estágio (CPE), com a nova lei houve uma queda de 40% nas ofertas de estágio pelas empresas em geral. "Antes da criação da lei, tínhamos uma média de 450 ofertas de estágio, 15 dias após sua implantação, as ofertas diminuíram para 250, e hoje elas

são apenas 200", afirma. Ele acredita que as ofertas diminuíram não só pelo custo que se tornou maior para as empresas, mas também pelo difícil momento econômico que o país se encontra. "Acredito que no segundo semestre o país já terá superado a crise e assim será melhor tanto para as empresas quanto para quem procura estágio", diz ele. Segundo Fábio, a definição da carga horária de trabalho e a delimitação dos direitos foram mudanças positivas e importantes para a proteção do esta-

giário, mas que também trouxeram benefícios para empresa. Um ponto que ele considera como negativo é a limitação de vagas para estudantes do ensino médio, o que acarretou na diminuição de ofertas para esse tipo de estágio e no aumento de vagas para os estudantes de cursos técnicos. À favor ou contra, é importante lembrar que a nova lei do estágio é um avanço porque substitui uma lei antiga e traz grandes benefícios ao estagiário.

Principais Mudanças da Lei Férias remuneradas de 30 dias ou proporcionais Limite de 4 ou 6 horas diárias Duração do estágio de até 2 anos Cotas de 10% das vagas para deficientes Estágio não-obrigatório tem de ser remunerado Redução do tempo de trabalho durante as provas

Para estudantes, não há melhor lugar que BH MAIARA MONTEIRO

n JORGE SANTOS, 2° PERÍODO

A cada semestre letivo BH ganha novos habitantes. São os calouros que vieram de várias partes da região metropolitana e do interior em busca de formação superior e uma vaga no mercado de trabalho. É o caso de Marcelo Fernandes Nunes, de 22 anos, natural de Caeté e que mora em Belo Horizonte há quatro anos e meio. Cursando o 8º período de engenharia mecatrônica na PUC Minas no Bairro Coração Eucarístico, sua dedicação aos estudos é em tempo integral. "Minha rotina é acordar pela manhã, ir para a PUC, volto à tarde para casa, descanso um pouco, estudo e às vezes tenho aulas a noite também", explica. Por não ter faculdade em Caeté e a procura de um ensino melhor, Marcelo se mudou para a

capital, deixando a família e amigos na sua cidade em busca do sonhado diploma universitário e de um futuro emprego. “No início, até uns seis meses, eu tive dificuldade de adaptação porque a rotina daqui é diferente; a cidade e as pessoas são agitadas, e lá eu morava no sítio, era mais calmo" diz. Para visitar os pais com frequência, ele utiliza a BR 262 e mesmo ciente dos riscos da rodovia afirma não ter medo da estrada. "Acho perigoso porque quanto mais vezes você passa por ela, mais chances tem se de acidentar mas, também adquire experiência, eu tenho receio é pelas pessoas", comenta. Prestes a se formar Marcelo tem pela frente uma difícil escolha: voltar para a terra natal e tratar de assuntos da família ou, então, trabalhar na sua área e, se for o caso, mudar de cidade novamente. Já para Nathália Ama-

A estudante Nathália Amaral, que há nove meses mora em Belo Horizonte, vê vantagens em morar na capital ral, de 18 anos, aluna do 2º período de engenharia da computação da PUC Minas no Bairro São Gabriel, a experiência de sair de sua casa, em Nova Serrana, para estudar, vale a pena. Morando em uma

república há nove meses ela gasta menos de dez minutos para chegar ao campus e vê vantagens em morar na capital. "Fico perto de lojas e serviços e de oportunidades de emprego", afirma.

Com o dia ocupado entre estudos e o trabalho de monitoria do seu curso, quando pode, Nathália não dispensa um cinema e o shopping. " Por falta de tempo no meio da semana, esse é o meu lazer, mas,

todo final de semana vou para minha casa em Nova Serrana" explica. A universitária conta que seus pais ficam preocupados com ela devido à violência e por isso ligam todos os dias. Quanto a adaptação na nova cidade, Nathália confirma que teve dificuldade pelo ritmo da capital ser mais frenético do que no interior. Questionada sobre uma possível volta para sua terra natal após a conclusão da graduação ela responde de forma categórica: "Não. Não pretendo, só para visitar a família mesmo, todo final de semana, se possível Meu projeto é ir para Santa Rita do Sapucaí MG que é um grande pólo brasileiro de eletrônicos, do contrário gostaria de trabalhar por aqui mesmo em BH ou São Paulo, ou na Alemanha". E ainda comenta: “Acho que no futuro todo meu esforço será recompensado."


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Maio • 2009

BH GANHA BAGAGEIRO EM ÔNIBUS Aluno do curso de engenharia mecânica da UFMG cria projeto que está em fase de teste na linha 4034 e torce para que a BHTrans aprove a implementação em outras linhas da capital PÂMELLA RIBEIRO

n RODRIGO ANDRADE, 6º PERÍODO

O transporte coletivo de Belo Horizonte pode receber uma inovação nos próximos meses. Está sendo testado um modelo de bagageiro interno para ônibus urbano desde o dia 30 de março, visando maior conforto dos passageiros. O projeto foi desenvolvido pelo estudante Igor Batista, 19 anos, do 4º período de engenharia mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, a ideia surgiu por causa do incômodo causado pelas bagagens

Bagageiro visa aumentar qualidade das viagens e conforto dos passageiros

das pessoas que viajam em pé. O bagageiro é feito de aço e aproveita as estruturas já utilizadas na fabricação dos veículos. Ele fica a uma altura de 1,75 metros do assoalho. Igor enfatiza que, para evitar roubos e esquecimentos, o equipamento é vazado e a corda utilizada para ativar o sinal da parada é colocada estrategicamente próxima aos objetos guardados. A Viação Euclásio disponibilizou um ônibus da linha 4034 (Dom Bosco / Savassi) para realizar o teste. O gerente geral Arnaldo Caldeira informou que a empresa já é conhecida por trazer ino-

vações e benefícios, já que foi a primeira a utilizar biodiesel em toda sua frota. “A Viação Euclásio aprovaria o projeto, somos favoráveis. Mas depende da BHTrans”, afirma Arnaldo. De acordo com a BHTrans, o bagageiro criado pelo estudante ficará em testes por tempo indefinido. O fator que determinará a implantação definitiva do projeto será a viabilidade econômica e operacional. Não existe previsão de aumento das passagens consequentes ao bagageiro. O valor do protótipo foi de R$ 500, que pode ser reduzido se

a instalação do equipamento for realizada na fábrica dos veículos. A BHTrans está monitorando a aceitação da população através de sua central de atendimento telefônico e via e-mail. Ainda não foram processados resultados. Na percepção de Igor, as pessoas estão gostando do recurso. Ele fez algumas viagens no ônibus escolhido para a experiência e ouviu sugestões e críticas dos passageiros. Segundo a usuária da linha 4034, Tatiane Reis Rosa, 24 anos, o projeto é “interessante” e pode dar certo.

MAIARA MONTEIRO

Novo espaço de aprendizado para alunos de comunicação n ANDERSON FABIANO SOUZA, 2º PERÍODO

Para tentar propiciar uma oportunidade diferenciada de experiência e aprendizado, e atendendo ao modelo diferenciado da graduação em Comunicação Integrada, começou a funcionar em 17 de março deste ano, no campus São Gabriel da PUC Minas, a Agência de Comunicação Integrada (ACI). Este projeto tem como objetivo ser um espaço de aprendizado para os alunos de comunicação social do próprio campus, dando-lhes a possibilidade de pôr em prática aquilo que aprendem em sala. Atualmente, a Agência está executando mais de 30 projetos que atendem à própria faculdade e a seus parceiros de extensão. Os alunos já realizaram spots para serem veiculados pela Rádio Globo, textos para

serem afixados nos murais e no totem do campus, projetos junto ao Jornal Super, dentre outros. A ACI é coordenada pela professora Alessandra Girard, com o apoio dos professores Carmem Borges, Mário Viggiano, Eduardo Braga e Carolina Marinho, que orientam 16 monitores escolhidos entre os alunos que participaram de um processo seletivo no início do período letivo deste semestre para entrarem na agência. Há monitores remunerados e voluntários com um contrato semestral que pode ser renovado ou não ao fim do semestre. Os monitores são divididos em seis grupos de trabalho (GT’s) específicos de atuação: produção editorial, criação e comunicação visual, criação e produção web, planejamento, gestão de eventos, e audiovisual. Os monitores estão livres para o aprendizado

integrado, ou seja, todos podem conhecer e trabalhar em qualquer um dos GT’s. A divisão dos alunos nos GT’s é feita por indicação dos professores membros da agência, levando em consideração as habilidades e características pessoais de cada monitor, observadas no processo de seleção e ao longo da realização do projeto. Essa divisão visa valorizar as habilidades pessoais de cada monitor e também treiná-los para os ramos profissionais em que pretendem atuar. Para a orientação dos monitores, o projeto recebe o apoio de professores que já atuavam na faculdade na área da comunicação em projetos de pesquisa nos núcleos de jornalismo, publicidade, comunicação mercadológica, dentre outros. Segundo a coordenadora Alessandra Girard, a agência age sem fins lucra-

tivos e sem a intenção de competir com empresas do ramo que já atuam no mercado, haja visto que caso a agência o fizesse, seus custos para os clientes seriam muito mais baixos que o de outras empresas do ramo, o que acarretaria em prejuízos para essas empresas e, consequentemente, dificultaria a entrada dos alunos nessa profissão após terem se formado. Assim, a agência realiza apenas trabalhos gratuitos para a própria faculdade, projetos de extensão e empresas do terceiro setor, visando o aprendizado dos monitores e não o lucro. “Ainda é muito cedo para dizer que a agência é um sucesso, mas tudo indica que a agência será um sucesso”, diz a professora apontando para as boas perspectivas do projeto.

ORIGEM A ACI surgiu de um projeto já existente

Professores orientam os alunos na Agência de Comunicação do São Gabriel que ainda não tinha sido posto em prática, moldado através do próprio desenho do curso que se diferencia da formação individual nas habilitações oferecidas por ele, publicidade e propaganda, relações públicas e jornalismo, e que cria um elo entre os diferentes modos de comunicação. Esse projeto dá aos alunos a possibilidade de vivenciarem o contexto da comunicação integrada,

que é o foco do curso, ao invés de atuarem apenas de forma separada nas diferentes habilitações oferecidas, como já vem sendo feito. “Está sendo uma oportunidade bacana de trabalhar e adquirir conhecimento na área”, aponta Eron Rodrigues dos Santos Ribeiro, estudante do 5º período de comunicação social do campus São Gabriel, um dos monitores da agência.

Globo Esportivo vira atração na Puc São Gabriel DÉBORA OLIVEIRA

n FERNANDO ROCHA, 3º PERÍODO

No dia 28 de abril, aconteceu na PUC Unidade São Gabriel a transmissão ao vivo do programa "Globo Esportivo", da Rádio Globo. Apresentado por Osvaldo Reis, também conhecido por Pequitito, o programa tem como tema o cenário esportivo de Minas Gerais e vai ao ar de segunda a sexta-feira das 18h às 19h. Originalmente, o programa é gravado em estúdio, porém mensalmente vai até uma universidade da capital, propiciando a participação dos universitários. A produtora do programa, Cláudia Giúza conta

que o projeto "Globo Esportivo na Universidade" começou em Belo Horizonte há um ano e veio com a proposta de interagir com as faculdades e de levar o mercado de trabalho até os futuros profissionais. "A gente tem tido resultados muito positivos e uma abertura muito bacana por parte das faculdades, dos professores e dos alunos", relatou a produtora. A participação dos alunos do curso de comunicação aconteceu não só durante o evento, mas também na divulgação. Spots e peças publicitárias feitos por monitores da agência de comunicação integrada do campus São Gabriel foram veiculados na Rádio Globo e

Transmissão do programa na PUC atraiu a atenção dos universitários no jornal Super Notícia, respectivamente. "Houve uma participação expressiva dos alunos" , comemorou Cláudia ao comentar sobre o

envolvimento dos alunos. "Foi a oportunidade que a gente teve de ver profissionais da área e acompanhar os bastidores. Isso nos

incentiva bastante", conta Antônio Elizeu, aluno do 4° período de comunicação social. Michele Fraga, estudante do 5° período de comunicação e apresentadora do "Batom Esporte Clube", programa veiculado na Rádio Online, compartilha da mesma ideia. "É uma oportunidade grande para os alunos que gostam de rádio, em especial o futebol, porque a gente pode ver como é o trabalho deles, aprender um pouco da técnica, como é falar ao vivo", disse. Osvaldo Reis diz que se pudesse, toda semana estaria em uma universidade e que aprende bastante com os estudantes.

"Acontece uma troca e há uma interação muito bacana com os alunos", completa. O evento contou ainda com a participação do comentarista esportivo Mário Marra. Para ele, estar diante do público é uma forma de ter uma resposta imediata, o que não acontece no estúdio. "Aqui, a gente fala, e se agrada ou desagrada, a resposta está no sorriso ou na cara de raiva", constata. Esta foi uma das edições mais bem sucedidas e superou as expectativas de público, de acordo com Cláudia. "A gente espera voltar em breve", diz.


Educação Maio • 2009

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PÂMELLA RIBEIRO

ANO DA ASTRONOMIA É COMEMORADO EM BH Em 2009 comemora-se por todo o mundo o AIA. O evento resgata esta importante ciência, originada na antiguidade, através da realização de projetos na capital que darão a chance das pessoas conhecerem o céu através da observação n CLARISSE SOUZA, RENATA BRANDÃO, VANESSA ZÍLIO, 3° PERÍODO

Pai e filho aproveitam a comemoração para observar os astros no Ceamig

O que se sabe sobre astronomia A Astronomia é a mais antiga das ciências naturais. Surgiu na antiguidade, tendo as suas origens enlaçadas com as práticas religiosas, mitológicas e astrológicas das civilizações antigas. Com o passar dos tempos, ela se desvencilhou destas correntes e começou a se firmar como uma ciência ao se aliar à biologia, a química e, principalmente, a física, inaugurando um período de grandes e significativas descobertas. O seu objeto de estudo é muito abrangente, por isso defini-lo não é uma tarefa simples. Segundo a União Internacional dos Astrônomos (IAU), a astronomia se dedica a análise de todos os objetos celestes. Ela examina virtualmente todas as propriedades do Universo, desde as estrelas, planetas e cometas até as maiores estruturas e fenômenos cosmológicos. É o estudo de tudo aquilo que foi, que é e que será no Cosmos desde os menores átomos até a aparência do

Universo nas suas maiores escalas. "Esta ciência é subdividida em vários ramos" lembra Peter Leroy, coordenador do Gaia. Astrofísica (teorias físicas aplicadas na astronomia), Cosmologia (estudos da origem dos astros), Arqueoastronomia (estudo de registros de fenômenos astronômicos em sítios arqueológicos), entre outras, são exemplos destas ramificações. As pesquisas realizadas através destas subdivisões trouxeram avanços científicos altamente benéficos à humanidade, afetando diretamente a vida de milhões de pessoas. Alguns resultados astronômicos, ou derivados de estudos nesta área, estão presentes no nosso cotidiano materializados na criação do GPS (Sistema de Posicionamento Global), em lançamentos de satélites e a sua manutenção em orbita, no conhecimento das marés induzidas pelo Sol e pela Lua, além de outros inúmeros ganhos.

Olhar para o céu à noite é um ato mágico que encanta pessoas desde a infância. As estrelas vistas a olho nu despertam a curiosidade do observador e aguçam a imaginação para o que há além da atmosfera terrestre. Entretanto, o conhecimento difundido nas escolas acerca dos astros é limitado e superficial, distanciando a astronomia da maior parte da população. Com o intuito de popularizar os conhecimentos astronômicos e sanar esta deficiência no ensino, o Ano Internacional da Astronomia (AIA) promove em 2009 diversas atividades direcionadas principalmente ao público estudantil, proporcionando a chance de se conhecer o céu de maneira mais profunda através da observação. Belo Horizonte é uma das cidades que têm organizado um grande número de eventos abertos ao público gratuitamente, mas apesar dos esforços das organizações em divulgar a ciência, o público atingido ainda é muito pequeno. Para Marcelo Moura, coordenador do site especializado em astronomia "Observatório Phoenix", a presença pouco significativa da população em eventos como os que estão sendo realizados em 2009 se deve, dentre outros fatores, ao pouco espaço que a astronomia recebe nas grades curriculares das escolas. Além disso, a falta de capacitação de profes-

sores para o ensino da disciplina vem contribuindo para a ignorância da sociedade acerca do tema ao longo dos anos. "Infelizmente os nossos professores não têm conhecimento para poder explicar isso para as crianças", lamenta Moura.

ENSINO A reclamação é recorrente entre profissionais e amadores desta ciência, que vêem a necessidade urgente de alfabetização científica nas escolas de nível fundamental e médio. Para Peter Leroy, mestre em Astrofísica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e criador do Grupo de Astronomia e Astrofísica (Gaia), da PUC Minas, "há um grande interesse em relação ao tema no mundo todo, mas uma carência de informação". Ele afirma haver uma falta de cultura científica. "Isso só vai mudar com investimento intelectual", acredita. Leroy lembra ainda que os professores responsáveis por lecionar esta matéria nas escolas muitas vezes são formados em biologia ou mesmo em engenharia, não tendo um conhecimento mais aprofundado acerca do assunto. "O ensino de astronomia nas escolas, portanto, deixa muito a desejar", observa Leroy. A professora de física Maria Lúcia dos Santos Quaresma Pedra explica que a astronomia ensinada nas escolas é muito resumida devido ao fato de a carga horária ser cada vez mais reduzida e a astronomia não estar

incluída na grade curricular de forma relevante, pois esta não é cobrada em provas de vestibular. Além disso, a professora reclama a falta de material específico disponível nos livros de física que supram as necessidades de ensino da astronomia. Segundo estudo realizado em 2006 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa a 52ª posição de 57 países listados de acordo com o nível de educação científica. Segundo Peter Leroy, coordenador regional do AIA, uma pesquisa realizada por seu grupo de estudo em 32 escolas públicas e privadas de Belo Horizonte apontou que, em 70% delas, os professores não ensinam astronomia, pois não têm conhecimentos aprofundados nessa área. A professora Maria Lúcia destaca que o AIA ajudará na divulgação desta ciência para que as pessoas conheçam outras alternativas em BH, além do observatório que se encontra na Serra da Piedade.

DESCOBERTA Foi justamente através de uma aula de geografia sobre o AIA que o estudante Thiago Enrique Lara Veas, de 13 anos, foi pela primeira vez ao Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (Ceamig). Fascinado pelas constelações, o estudante se interessou pelo assunto e decidiu acompanhar a avó Hilda Iturriaga Jimenez, que pretende construir um telescópio com a

ajuda do neto. Apesar de admitir pretender ser veterinário futuramente, Thiago não descarta a possibilidade de se aprofundar mais nesta ciência, apenas como hobby. Segundo Marcelo Moura, todos os sábados são abertos ao público no Ceamig, com sede na Escola Santo Agostinho, observações do céu e palestras sobre temas diversos ligados à astronomia. Além disso, serão distribuídos 400 kits para escola públicas contendo material para o ensino correto do funcionamento do sistema solar. O GAIA também possui uma programação especial, com projetos que consistem em promoção de eventos como observações do céu, palestras, estruturação do centro astronômico na PUC, com a criação de um observatório e um planetário, e a promoção de material didático. "Estamos escrevendo livros que irão constituir uma série chamada Ciência para Crianças, desenvolvida em parceria com a editora da PUC Minas", informa Leroy. Outro ponto ressaltado pelos coordenadores foi a importância da intervenção da mídia para a divulgação da astronomia. São escassas as publicações e artigos especializados na área, e uma maior difusão do Ano Internacional seria essencial para chamar a atenção da população para o principal objetivo do evento, que é a aproximação entre ciência, astronomia e sociedade.

Comemoração ocorrerá por todo o mundo visando engajar os jovens

MAIARA MONTEIRO

Peter Leoroy conta que existe uma carência de informações sobre o assunto, apesar do grande interesse das pessoas

Em 1609 Galileu Galilei, físico e astrônomo, fez a primeira observação através de um telescópio. 400 anos depois deste acontecimento, a Itália, pátria do estudioso, tem sua reinvidicação aceita quanto a criação do Ano Internacional da Astronomia (AIA). Foi durante a 62° Assembléia das Organizações Unidas que 2009 ganhou este título, simbolo de uma conquista ímpar na história desta ciência. O AIA é uma iniciativa da União Internacional dos Astrônomos e da

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o intuito de envolver a população mundial, provocar um engajamento dos jovens em relação às ciências e enfatizar a importância da educação. Para Renato Las Casas, coordenador do Grupo de Astronomia da UFMG, a criação do AIA vem de encontro com a necessidade sentida nos quatro cantos do mundo de tornar a população do nosso planeta mais culta cientificamente.

O interesse crescente, mas ainda tímido do público sobre o espaço cósmico se choca com a falta de publicações nos meios de comunicação sobre o tema. Devido a isso, este ano comemorativo se propõe a satisfazer a demanda por informações astronômicas e incentivar uma propagação do conhecimento nos anos subseqüentes."A nossa expectativa é que sejam criados grupos que se mantenham mesmo após o final deste ano para continuarmos este trabalho", enfatiza Las Casas.


8 Saúde

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Maio • 2009

POUPAR PARA VACINAR E PREVENIR A imunização contra doenças de alta gravidade ainda não entraram para o calendário de vacinação no Brasil. O custo de algumas doses podem chegar a R$ 380,00 , dificultando sua aquisição. MAIARA

n ALINE SCARPONI, 3°PERÍODO

Independente da idade que se tenha é possível que uma pessoa seja alertada para a imunização contra alguma doença, através da vacinação. Entretanto, muitas vezes, a vacina recomendada pelo médico não é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), obrigando assim, a sua compra no setor privado. Pais de crianças, devido ao maior número de vacinas exigidas na infância, são os que mais queixam do valor das vacinas. "Hoje em dia, quando a gente vai engravidar, a gente tem que fazer a poupança da vacina, pra conseguir vacinar a criança depois", afirma Patrícia Ramalho, que diz ter gastado R$ 500 reais em vacinas, só nos primeiros meses de vida de seu filho. Vacinas como as que previnem contra catapora, meningite, hepatite A e pneumococo (pneumonia), por exemplo, não podem ser obtidas gratuitamente, e segundo a pediatra do Hospital Infantil Dom Pedro II, Helena Valadares, a não incorporação dessas vacinas no cartão de vacinação é causa de grande número de óbitos tanto em crianças como em adultos. O preço das vacinas varia de acordo com suas indicações e dosagens. Vacinas que previnem doenças como meningite, por exemplo, que causa a inflamação das membranas que envolvem o encéfalo e a medula espinhal e que pode ser fatal, custa aproximadamente R$ 120 reais a dose no setor privado e exige que sejam ministradas três doses na criança, para devida imunização. "Pais de crianças com até 15 meses, pagam cerca de R$ 1.332 só com as vacinas que previnem meningite C e pneumonia", calcula a

enfermeira Maria Antônia Oliveira, que trabalha na clínica de vacinação Protege. Para aumentar o acesso da população às vacinas e não perderem vendas, muitas clínicas de imunização têm facilitado o pagamento e feito pacotes de vacinas especiais para recém nascidos. "As pessoas sempre pedem descontos. Aqui na clínica fazemos pacotes e dividimos o pagamento em até oito vezes", conta a técnica de enfermagem Cléria Lima Guimarães, que trabalha há dez anos na clínica de vacinação Imunobh, localizada no Bairro Funcionários. Segundo a pediatra Helena Valadares, quando se pensa no risco da não imunização, vale o esforço de pagar esses valores, porém ela acrescenta que o problema é que grande parte da população não tem como fazer esse esforço, porque não tem de onde retirar esse dinheiro. "O custo é absurdo, a população de baixa renda não dá conta de pagar e a de classe média tem que se esforçar muito", lamenta. IMPORTÂNCIA Diversas doenças já foram erradicadas no Brasil, devido à promoção de campanhas de vacinação. A poliomielite, doença que causa paralisia infantil, citada pela pediatra, pneumologista e doutora em saúde pública pela Universidade Federal de Minas Gerais, Sônia Lansky, como exemplo, deixou de ser um problema no país através da administração de uma vacina chamada Sabin. "A imunização no Brasil tem cobertura universal. Ela é tão efetiva, que lutamos para que haja a ampliação das vacinas oferecidas", avalia Sônia, que também comemora a incorporação da vacina contra o rota-vírus que causa diarréia, pela rede pública, no

MONTEIRO

Mesmo representando importante método de prevenção contra doenças, algumas vacinas necessitam ser compradas ano de 2007. Na opinião da doutora, a primeira vacina que deveria ser incluída no calendário de vacinação e passar a ser oferecida gratuitamente é a que previne contra o pneumococos (pneumonia), devido ao grande número de óbitos que causa todos os anos. "A necessidade dessa vacina é pouco comentada pela mídia, porque não mata criança rica, como mata criança pobre. A vacina contra a pneumonia é a primeira que deveria entrar pra rede pública", acredita. Seguindo a ordem de prioridade da doutora, as vacinas contra a varicela (catapora) e meningite, deveriam ser implementadas na rede pública de saúde tão logo fosse acrescentada a vacina contra pneumonia. Quanto as políticas públicas de incentivo à vacinação, José Geral Leite Ribeiro, professor de medicina preventiva da Faculdade Ciências médicas de Minas Gerais, afir-

Vacina que contribui para saúde da mulher tem preço abusivo Nova no mercado, a vacina que previne o câncer do colo do útero causado pelo vírus HPV, doença sexualmente transmissível, chega a custar R$ 380 reais a dose, sobressaindo como uma das vacinas mais caras atualmente. Para a efetiva imunização são necessárias três doses, o que dificulta ainda mais o acesso da população. "Eu até pensei em tomar, mas quando vi o preço resolvi deixar para uma próxima oportunidade, não cabia no meu orçamento", comenta a publicitária Janaina Ranulfo. A vacina é indicada tanto para mulheres de 9 a 26 anos de idade que ainda não começaram a vida sexual, quanto para as que já a iniciaram, sendo a eficiência da imunização maior

no primeiro caso. Essa imunização protege de apenas quatro dos mais de 100 tipos de HPV existentes, (HPV tipo 6,11,16 e 18) o que segundo o ginecologista obstetra e mastologista da Clínica Vivace, localizada no Bairro Santa Efigênia, Henrique Bartels, não diminui sua importância, pois os tipos 16 e 18 são os mais frequentes, e estão presentes em mais de 70% das mulheres com câncer de colo uterino. Entretanto, o médico comenta que o preço atual da vacina "ainda é alto", e que o valor tende a diminuir caso ela seja incorporada ao calendário de vacinação. Além disso, Henrique alerta quanto a necessidade da comunidade acadêmica de sem-

pre avaliar com critério os dados relativos à eficácia da vacinas, apresentados pelas indústrias farmacêuticas, uma vez que há interesses econômicos envolvidos e conflitos de interesse entre estudos científicos publicados sobre o assunto. Outra preocupação do ginecologista é que a vacinação contra HPV poderia acabar contribuindo indiretamente para o aumento da incidência de outras doenças sexualmente transmissíveis, caso as mulheres não sejam bem orientadas. "Essa vacina não protege contra apenas quatro tipos de HPV, mas não protege contra outras doenças sexualmente transmissíveis e não dispensa o uso de preservativo, nem dispensa o exame ginecológico preventivo”, alerta.

ma que o Progrema Nacional de Imunização (PNI) brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. Isso se deve ao fato do Brasil comprar, distribuir e aplicar as vacinas universalmente. Entretanto, exatamente pela forma com que foi conseguido, o PNI não tem facilidade em incorporar rapidamente as vacinas que vão surgindo. "Nossos representantes políticos, principalmente deputados federais e senadores deveriam, em minha opinião, trabalharem por melhor orça-

mento para o Programa", declara. SEGURANÇA As vacinas são substâncias produzidas com bactérias ou vírus mortos ou enfraquecidos, que preparam o sistema de defesa do organismo para reagir com força e rapidamente contra infecções. Elas acompanham toda a vida do indivíduo e podem exigir doses de reforço. "As vacinas garantem qualidade de vida para a população", alega a doutora em saúde pública Sônia Lansky. O ginecologista obstetra e mastologista, Henrique Bartels, afirma que a segu-

rança das vacinas é grande e que não há diferença na tecnologia empregada na produção das vacinas da rede pública e da particular. "As vacinas são, na maioria das vezes, as mesmas, até porque os fornecedores são poucos", esclarece. Entretanto, a técnica de enfermagem Cléria Lima, afirma que muitas pessoas optam por não tomar as vacinas que são indicadas pelos médicos. "Muitas empresas compram um pacote de vacinas para seus funcionários, na clínica em que eu trabalho. E mesmo não custando nada aos funcionários, muitos deles não vão tomar nenhuma dose da vacina", revela. A imunização conferida pela vacinação não é só individual, mas abrange toda a população. Assim, a decisão de não se vacinar expõe toda a população ao risco. A doutora em saúde pública da UFMG esclarece que as vacinas são "uma tecnologia segura e eficaz", e que "promover a vacina é promover uma cultura solidária e ética". A população mais pobre, de acordo com Sônia, é a que mais pode ser prejudicada com a escolha de não adesão à vacinação, uma vez que é uma classe que tem maior dificuldade em conseguir atendimento médico, caso seja alvo de alguma infecção. Vacinar, dessa forma, "é proteger a vida das outras pessoas, principalmente do pobre", alerta.

Fatores que determinam a adesão das vacinas ao calendário anual PÂMELLA RIBEIRO

Para que uma vacina seja incorporada ao calendário de vacinação é necessária a sua aprovação pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), vinculado ao Ministério da Saúde. "O PIN avalia uma série de condições e pondera muitos fatores antes de autorizar a entrada de uma vacina para o calendário", adianta Evandro Nunes, coordenador de imunização da Secretaria Municipal de Saúde. Após se constatar a incidência epidemiológica em uma região, são analisadas questões como a eficácia de uma vacina, seu custo benefício e a capacidade de produção em grande escala dessa vacina pelos laboratórios. Além disso, é ponderada a possibilidade de a doença ter seu público suscetível alterado. "É possível que uma doença que incide em determinada faixa etária de desloque para outra, com a imunização. Isso ocorreu com o sarampo, que passou a ser comum em adultos depois que se passou a vacinar as crianças", explica Evandro Nunes. O coordenador ainda acrescenta que vacinas contra a hepatite A, o pneumococos (pneumo-

Patrícia Ramalho gastou cerca de R$ 500 com vacinas para seu filho nia), a meningite, a varicela e o HPV (câncer do colo do útero) já deveriam ser oferecidas gratuitamente pelo SUS há cerca de três anos atrás, devido a aprovação dessa vacinas em todos os quesitos relacionados. "O motivo da não incorporação é de âmbito financeiro. Faltam recursos", expõe o Evandro que acredita ser "extremamente penoso para uma mãe de baixa renda, ouvir a recomendação de um médico quanto a necessi-

dade de vacinar seu filho e não ter recursos para fazer nada nesse sentido". Em casos especiais como o de pessoas que fizeram transplantes, que são cardiopatas ou imunodeprimidas, há a possibilidade de aquisição gratuita das vacinas que não são oferecidas pelo SUS. Nessas circustâncias, as pessoas podem recorrem ao Centro de Referência de Imuno Biológicas Especiais localizado no Hospital Santa Casa.


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MAIARA MONTEIRO

HOMEOPATIA É NOVO ALIADO CONTRA DENGUE Distrito Sanitário Norte de Belo Horizonte adota sistema em prol do tratamento da doença n ISABELLA LACERDA, 3º PERÍODO

O Distrito Sanitário Norte de Belo Horizonte iniciou, no começo deste ano, um tratamento homeopático para atenuar os sintomas causados pela dengue. Claúdia Prass Santos, homeopata e integrante da coordenação do Programa de Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica (PRHOAMA), explica que o princípio usado pela homeopatia é o de deixar o organismo sob efeito do medicamento, não deixando a doença invadir o corpo. Assim, quando se sabe que em determinado momento do ano há maior incidência da doença sob a população, no caso da dengue no início do ano, intensifica-se o tratamento nesse período. O principal objetivo do uso desses medicamentos homeopáticos é atenuar os sintomas da dengue, utilizando-o como recurso adicional, sem prejuízo das iniciativas tradicionais que visam evitar a proliferação do Aedes aegypti. "O objetivo é encurtar o período de doença, suavizar os sintomas, prevenir esses sintomas e possíveis complicações, reduzir a morbidade. As pessoas que contraem a dengue, usando a homeopatia, em muitos casos faltam menos ao tra-

balho, ao estudo, volta a vida normal mais rapidamente", diz Cláudia. Valéria Maria Fonseca, homeopata que foi deslocada nesse período de tratamento do Centro de Saúde Heliópolis para o Aarão Reis e São Thomas, todos na Região Norte de Belo Horizonte, afirma que é importante que as pessoas não abandonem as práticas de prevenção a dengue. "É imprescindível que não se deixe água parada. Precisamos acabar com os mosquitos da dengue. A homeopatia é para diminuir os sintomas da doença", ressalta. Cláudia Prass lembra que muitos homeopatas estão trabalhando há muito tempo com essa questão. “Em 1998 já teve a primeira epidemia de dengue e desde essa época já houve a intenção de fazer esse tratamento homeopático", afirma Cláudia Prasss. Ela acrescenta que este ano a equipe se manteve em busca de ajuda para a implantação desse projeto nos centros de saúde da capital. Segundo Cláudia Prass, o PRHOAMA, a partir de sua equipe de 18 médicos homeopatas, propôs à Secretaria de Saúde de Belo Horizonte um trabalho em que seria feito o uso de gotinhas de remédio para fazer a profilaxia e atenuar os sintomas da dengue nos

locais da capital onde havia grande incidência da doença, o chamado "corredor da dengue". Entretanto, não foi possível a liberação de recursos. "Não conseguimos a liberação de recursos pelo município a tempo, essa liberação seria só em maio. Então não foi feita a profilaxia nos distritos do corredor da dengue. O programa então teve que andar para trás", explica a homeopata Valéria. Ela relata que os profissionais do Distrito Sanitário Norte se interessaram por esse tipo de tratamento e conseguiram viabilizar a implantação do projeto naquela área da capital. "Os profissionais foram deslocados para alguns centros de saúde da região", comenta Valéria, que trabalhou desde o dia 17 de março nos Centro de Saúde Aarão Reis e São Thomas. Segundo Valéria, os recursos para iniciar esse tratamento se deram a partir do Distrito Sanitário Norte e da doação de remédios homeopáticos pela Farmácia Homeopática Bezerra de Menezes, que se localiza no Bairro Floresta, Região Leste da capital. Cláudia Prass completa dizendo que essas equipes contaram com a ajuda do PRHOAMA e da Gerência de Assistência da Prefeitura, com um médico em cada local para o atendi-

A homeopata do Centro de Saúde Heliópolis, Valéria Maria Fonseca, passa o medicamento para um paciente mento público. Ela acrescenta dizendo que há uma proposta para a ampliação desse tratamento. "Existe a proposta para prevenção em larga escala, e já houve uma determinação para que isso seja feito assim que tivermos os medicamentos e estivermos na época de maior incidência", esclarece. A homeopata Valéria explica que ainda não foi feito uma análise ampla com epidemiologistas para saber se foi alcançado o objetivo da campanha. "Não sabemos se cumprimos com o esperado porque foi tudo muito em cima da hora, tudo muito corrido. Mas, pelo menos, serviu como um treinamento para o ano que vem", conta. O pesquisador especializado em entomologia médica do Centro de Pesquisa René Rachou/Fiocruz, Breno de Melo Silva, comenta que existem muitos trabalhos de homeopatia que alcançam bons resultados. "No caso da dengue não se tem nada aprovado em relação a vacinas e drogas. Mas a medicina é muito cética quanto a

Recurso adicional é recebido de forma positiva na capital MAIARA MONTEIRO

A aposentada de 90 anos, Jenisa Caldeira Barbosa conta que tomou as gotinhas e achou essa atitude muito importante, pois sabe que está havendo um surto de dengue em toda a cidade. Ela explica que foi até o centro de saúde mais próximo do local onde mora, no Bairro Sagrada Família, Região Leste de Belo Horizonte, pois ficou sabendo que lá estavam distribuindo esse remédio. "Fui até o posto e fui muito bem atendida. Acho importante tomar essa gotinha, até porque uma moça que mora em frente a minha casa acabou pegando a dengue e ficando doente", comenta. A integrante da coordenação do PRHOAMA, Cláudia Prass, que trabalhou no Centro de Saúde do Bairro 1º de Maio conta que as pessoas iam até o posto, tomavam o medicamento e levavam para o uso de seus familiares. "Muitas pessoas tomaram conhecimento do

tratamento e procuraram a gente, levando para serem aplicados em outras pessoas", revela. Ela completa dizendo que a procura foi grande. "Muitas pessoas não estavam doentes, mas procuravam para saber como era", complementa. Nos centros de saúde Aarão Reis e São Thomas, a orientação dada é que cada pessoa da família deveria tomar uma colher do remédio, em dose única. "Foi bem aceito pelas famílias. Uma ou duas pessoas não aceitavam, outras que não estavam na rua iam ao posto tomar. Houve uma aceitação boa e percebemos que muitas pessoas ficaram mais preocupadas e começaram a ter mais consciência de limpar mais as áreas e não deixar focos para o mosquito", diz a homeopata Valéria Maria Fonseca. A explicação para essa maior preocupação, segundo ela, é que as pessoas acabam pensando que se a prefeitura está dando remédio é porque o

Jenisa Caldeira aderiu a homeopatia como forma de prevenção à dengue problema é sério. Ela diz que os profissionais foram muito receptivos ao programa. "Foi um grande incentivo para os homeopatas da rede para as tomadas de atitude para o ano que vem. A prefeitura se abriu para a proposta dos homeopatas para diminuir a incidência de dengue",

declara. Valéria ainda pontua que as equipes dos dois postos de saúde em que trabalhou também foram muito receptivas à ação e que procuraram facilitar a ação dos homeopatas. "O programa andou a ponto do trabalho ser integrado a equipe dos centros que trabalham com a prevenção da dengue", salienta.

esses tratamentos alternativos. Só vou acreditar quando esses remédios tiverem uma composição determinada, falando qual é o remédio realmente que está ali", opina. Breno afirma que é preciso saber ao certo como foram conduzidos esses estudos, como foram feitas essas análises, se passaram pelas várias etapas de avaliação que são necessárias. "A pessoa que fez uso da homeopatia pode falar em uma entrevista que melhorou, porque está se sentindo otimista, acha bacana o procedimento. Mas, na minha opinião, acho muito difícil já ter uma droga para isso. Precisa de mais estudo", diz.

Ele ainda comenta que o problema da dengue está em todo o mundo. "No mundo todo a dengue está fazendo um estrago danado. Se fosse tão fácil tratar esses sintomas, não estaria todo mundo sofrendo. Estamos longe de conseguir uma solução", opina Breno. O pesquisador salienta a importância de se ter cuidado ao divulgar essas informações para as pessoas. "Essa homeopatia tem que ser adotada com muito cuidado, pois muitas pessoas podem procurar esse tratamento, que é mais barato e simples, mas acabar descuidando da prevenção a dengue que é tão divulgada nas campanhas", pontua.

Prevenir é melhor que remediar É necessário acabar com os "criadouros". Não deixe a água, mesmo limpa, ficar parada em qualquer tipo de recipiente Pneus velhos são um dos lugares preferidos do mosquito Não deixe acumular água em pratos de vasos. Substitua a água dos vasos por areia grossa umedecida Esvazie as garrafas e coloque-as de cabeça para baixo Mantenha as caixas d´água, poços, latões e filtros bem fechados

Pioneirismo do Brasil é exemplo para Cuba "Tem dez anos que todo ano se entra com um pedido na Secretaria de Saúde para adotar essa prática homeopática de prevenção da dengue em Belo Horizonte, mas sempre nos questionavam, pois não havia trabalhos científicos, dados científicos para comprovar a eficácia desse tratamento", afirma a homeopata Valéria Maria Fonseca. A homeopata do PRHOAMA, Cláudia Prass, explica que foi a partir da dissertação de mestrado do homeopata e professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto, Renan Marino, que se trouxe o embasamento que era pedido para a defesa desse projeto. "A partir dessa dissertação já se conseguiu a aprovação para produção industrial desse remédio homeopático para a dengue", conta. De acordo com Cláudia, a tese de Renan foi usada para a implantação desse

tratamento em outras cidades do Brasil onde a incidência da doença era alta e também em outros países. "Cuba controlou sua epidemia de dengue a partir de um tratamento homeopático. A tese de Renan Marino foi apresentada no Primeiro Seminário Internacional de Práticas Integrativas e Complementares, quando representantes desse país assistiram a essa apresentação e a tiraram como base para as experiências em Cuba", exemplifica. Já em Macaé, de acordo com Valéria, o medicamento foi distribuído de casa em casa, quando 40% da população da cidade teve acesso ao medicamento. "Desse percentual, houve uma baixa de 66,6 % nos casos. E essa abordagem foi tirada como parâmetro para Belo Horizonte. Acabamos focalizando em microáreas de cobertura para o nosso tratamento", comenta.


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Maio • 2009

PEQUENOS GANHAM AUTONOMIA Facilitando a mobilidade de crianças portadoras de deficiência física, a ONG Noisinho da Silva projeta e fabrica mobiliários desevolvidos por equipe composta por profissionais de diversas áreas PÂMELLA RIBEIRO

n FERNANDO ROCHA, 3° PERÍODO

De acordo com dados da OMS, existem no Brasil 800.000 crianças em idade escolar que são portadoras de algum tipo de deficiência. Muitas destas crianças são privadas de lazer e tem dificuldade para se assentar nos mobiliários das escolas tradicionais. Percebendo esta necessidade, Érika Foureaux, arquiteta e mãe de uma menina deficiente, fundou em 2003 a ONG "Noisinho da Silva" para que todos com o mesmo problema pudessem ser atendidos. Com o objetivo de dar mobilidade, independência e autonomia em diferentes ambientes para crianças portadoras de deficiência, a "Noisinho da Silva" projeta mobiliários, objetos e equipamentos para estas crianças. Ganhadora de prêmios como o Top Social, a organização não-governamental desenvolve mobiliários para todas as crianças, e já atendeu mais de 500. Maria Gezica Valadares, diretora da organização não-governamental, ressalta que o objetivo é "fazer produtos que atendam a todos", sem exclusão. A principio, a intenção era apenas desenvolver o designer destas cadeiras, porém foi percebida a necessidade de fabricá-las. Então surgiu o projeto "Oficina da Ciranda", em que as crianças portadoras

Patrocínios ajudam a realizar projetos

Kelly, que acabou perdendo parte dos movimentos, mostra que a cadeirinha ajuda muito em seu dia-a-dia de criança de necessidades especiais, seus pais e familiares participam da confecção das cadeirinhas, de atividades recreativas e inclusivas. Ao final das oficinas, eles levam para casa o produto confeccionado, nomeado por "Ciranda: uma cadeirinha para o chão". Cerca de 300 crianças já participaram das oficinas. Nivalda Mendonça, 59 anos, mãe de uma portadora de deficiência, conta que a filha Kelly, 6 anos, está sendo muito beneficiada pelo projeto. A menina, prematura de sete meses, nasceu com hidrocefalia, e por isso perdeu a parte motora do lado direito do corpo, mas a parte cognitiva da criança é normal. "Ela teria mais dificuldade de andar sem a cadeirinha", explica Nival-

da, que nota grande melhora da filha após o uso da cadeirinha. Segundo a mãe de Kelly, a menina hoje tem capacidade de brincar de igual para igual com outras crianças. Gezica diz que o momento de entrega e confecção das cadeiras é "a parte mais emocionante do projeto". Ela conta que as mães, em sua maioria, e os pais, chegam um pouco inseguros e saem muito contentes, pois se mostram capazes, encontram pessoas com problemas e soluções semelhantes e acabam fazendo amigos. "Não tem como não se emocionar", completa. "É muito mais bacana poder participar da confecção da cadeira do que comprar na loja, é muito gra-

tificante. Além disso, ainda podemos ter contato com outras pessoas que passam pelas mesmas situações", diz Nivalda.

EQUIPE Para que se possa desenvolver mobiliários que se adaptem às necessidades de deficientes físicos e de acordo com um design universal, a equipe da entidade é composta por profissionais de diversas áreas, como fisioterapeutas, arquitetos, terapeutas ocupacionais, pedagogos, engenheiros, cientistas sociais e designers. Túlio Máximo, 26 anos, designer da organização, diz que é muito importante o trabalho multidisciplinar para o

Além da "Oficina Ciranda", a ONG "Noisinho da Silva" desenvolve outros projetos, como o "Carteira Escolar Inclusiva" que irá entregar as 150 primeiras carteiras para escolas de Belo Horizonte e Vale do Jequitinhonha, o "Paçoca: brinquedo para a área de convivência" e "Pequenos objetos notáveis", que visa criar objetos de uso cotidiano, como bengalas e mochilas, entre outros. Maria Gezica adianta que já está em gestação outro projeto, que tem proposta semelhante ao Ciranda, que é o "Andador". A assessora da instituição, Pollyanna Palhares, 26 anos, explica que a "Noisinho da Silva" conta com o investimento de capital público e privado. Empresas como Furnas e Petrobrás, além do Governo Federal, são alguns dos parceiros da

sucesso dos projetos, uma vez que há uma grande preocupação em criar cadeiras que deem acessibilidade para as crianças e ao mesmo tempo tenha

organização. Conseguir patrocínio é um desafio. Maria Gezica explica que à medida que as empresas e a comunidade vão conhecendo o trabalho da ONG e vão se conscientizando da necessidade de inclusão destas crianças, fica mais fácil a captação de recursos. Ela salienta que "o empresariado ainda é muito tímido no que ele pode ajudar". Porém, para Túlio "a maior dificuldade é a inclusão mesmo. Você conseguir colocar todas as necessidades que um produto para um portador de deficiência precisa, e dar a ele um aspecto lúdico". Apesar das dificuldades de manter uma ONG, a diretora destaca que a grande conquista da "Noisinho da Silva" foi ter sobrevivido todos estes anos, ajudando todas estas crianças.

um aspecto belo, criativo, de simples manutenção. "É uma cadeira que firma e dá total autonomia para a minha filha", afirma Nivalda.

MAIARA MONTEIRO

Anúncios publicitários por meio de mensagens de celular n VANESSA ZILIO, CLARISSE SOUZA, 3º PERÍODO

Comerciantes dos bairros Alto Vera Cruz e Taquaril, Região Leste de Belo Horizonte, contarão, a partir de junho deste ano, com um aliado. Será implantado nestas comunidades o projetopiloto "Vendo ou Troco", uma iniciativa da ONG Favela é Isso Aí, com o intuito de promover o comércio formal e informal da região. Como resultado, os organizadores do projeto esperam colaborar para o crescimento econômico local, visando geração de renda e novos postos de trabalho para os moradores. O projeto consiste na divulgação dos estabelecimentos comerciais e trabalhadores autônomos - como costureiras, salgadeiras, pedreiros, entre outros prestadores de serviços - dos bairros, fortalecendo assim a imagem do comércio local que, como explica Clarice de Assis Libânio, coordenadora geral da ONG Favela é Isso Aí, muitas vezes é trocado pelos moradores por lojas da

região central de Belo Horizonte. "Há um desconhecimento em relação às lojas dos bairros", pontua Clarice. A partir desta observação percebeu-se a necessidade de um projeto de comunicação que viabilizasse aos moradores o conhecimento de ofertas e promoções destes estabelecimentos, gerando maior interesse por parte da população local em conhecer as lojas. "Acredito muito no projeto", afirma Amauri Lopes, comerciante do bairro há três meses. "O mais interessante é fazer com que a comunidade consuma dentro da própria comunidade", acrescenta. Amauri diz que há um mês coordenadores do “Vendo ou Troco” passaram em seu estabelecimento explicando sobre o projeto e questionando se havia interesse por parte do comerciante de participar do projeto. "Eu aceitei na hora", relembra Amauri. Para Levi Andrade, comerciante há 25 anos no local, as pretensões do projeto não estão muito claras. "Eu tenho muitas dúvidas se vai dar certo. Ainda está

tudo muito vago para mim", pondera Levi. COMUNICAÇÃO A parceria entre o projeto-piloto "Vendo ou Troco" e o projeto "Alô Cidadão", do Instituto Hartmann Regueira, tem o objetivo de utilizar a informação como estratégia para manter a população destes bairros mais integrada dentro de sua própria comunidade. O projeto viabilizará aos moradores cadastrados através de mensagens curtas (SMS), via celular, informações acerca das atividades comerciais dos dois bairros. Além disso, o "Alô Cidadão" disponibilizará ainda pequenas notícias de interesse público. "O conteúdo das mensagens incluirá: vagas de emprego, eventos culturais e dicas de saúde, entre outros serviços de cunho sociocultural", ressalta Daniel de Araújo, coordenador do Alô Cidadão. Para que este mecanismo de comunicação entre comerciantes e moradores se tornasse possível, todos os estabelecimentos formais e informais dos bairros foram catalogados, dando início ao processo de cadastramento

O Bairro Alto Vera Cruz e Taquaril contarão com o projeto-piloto “Vendo ou Troco”, que ajudará o comércio da região minucioso dos interessados em participar do projeto. "Eles passaram aqui e me perguntaram se eu queria participar. Eu topei na hora", enfatiza o comerciante Amauri Lopes. O próximo passo será cadastrar os números de celular dos moradores interessados em receber as notícias. Diego William de Oliveira Santos, 18 anos, morador do bairro, afirma que participará do projeto. "É só esperar eles passarem

por aqui que eu me cadastro", enfatiza. Assim como Diego, Maria Helena Costa, 47 anos, moradora do bairro há 13, acredita nos benefícios do projeto e se declara a favor desse novo meio de comunicação dentro da comunidade. "A gente trabalha o dia todo em um ambiente fechado e não tem acesso ao que está acontecendo na rua. Nem sei quais são as lojas que ficam perto da minha casa ou o que elas vendem",

destaca Maria Helena. Segundo Clarice, a expectativa é que os celulares cadastrados comecem a receber as informações até o mês de junho. Ela esclarece ainda que o "Vendo ou Troco" é um projeto experimental, sendo que após um ano de sua implantação será feita uma avaliação para analisar os efeitos gerados pela metodologia utilizada e a aceitação do veículo de difusão das informações.


Comportamento Maio • 2009

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INSULFIM CONQUISTA NOVOS CLIENTES As películas de controle solar economizam energia e contribuem com a preservação de móveis. Assim, a procura por esse produto tem aumentado e seu público está cada vez mais diversificado PÂMELLA RIBEIRO

n ALINE SCARPONI, 3° PERÍODO

Depois de conquistar a adesão dos motoristas e passar a ser incluído no pacote de opcionais das concessionárias, o insulfilm ganha espaço em residências, escritórios, guaritas e hotéis, permitindo as mais variadas utilizações. "Coloquei o insulfilm no meu laboratório porque acredito que assim meu gasto com ar condicionado cairá", justifica Alexandre Vilela, proprietário do laboratório de exames de imunologia para transplantes de órgãos. Ele explica que a película, ao reduzir a luminosidade e o calor, contribui para a diminuição da necessidade do uso do ar condicionado e comenta já ter percebido grande diferença na temperatura do interior de seu laboratório. As películas de controle solar, também conhecidas como insulfilm, além de trazerem uma economia grande de energia, contribuem para a preservação de móveis e utensílios do imóvel. Por esses motivos, segundo a empresa Residence Films, que comercializa esse produto, a procura pelo insulfilm vem aumentando e cada vez mais tem seu uso desvinculado dos automóveis. A diferença entre o insulfilm utilizado nos automóveis para o das

Película também é usada na decoração

A decoradora Cyntia Pires utiliza insulfilms de várias cores para incrementar a decoração dos ambientes que produz residências se relaciona com a composição e durabilidade da película. O film residencial é feito em película arquitetônica e possui poliéster, ao contrário do empregado no carro, que é tintado e não possui poliéster em sua composição. "Devido à diferença em suas composições, o insulfilm residencial dura, em média, dez anos e sofre menos desgaste e ressecamento que o insulfilm aplicado em automóveis, que só dura cerca de três anos", compara André Gomes, proprietário da Residence Films. Ele atribui o aumento da adesão registrado por parte da população por esse tipo de produto, prin-

cipalmente ao aquecimento global. O film, que possui diversas camadas, tem a capacidade de bloquear em até 99% a passagem de raios nocivos do sol, como os raios ultra-violetas, reduzir a poluição sonora em até 30% e bloquear em até 80% o calor. A Residence Films, entretanto, alerta que cada película possui suas taxas específicas de capacidade de absorção. Foi pensando na diminuição da entrada de luminosidade que a proprietária da loja Leroy Merlin, localizada no Bairro Belvedere, Áurea Souza, optou pela implementação do film no escritório da loja. "Meu escritório fica do lado de

fora da loja e a claridade incomodava", pontua. Além disso, de acordo com o proprietário da empresa que comercializa insulfilms, os benefícios não param por aí. A película de controle solar também oferece privacidade e segurança ao usuário, uma vez que dificulta a visualização do interior do ambiente que a utiliza. Outra vantagem apontada por ele é o fato de algumas películas impedirem que o vidro estilhace em casos de acidentes. "A película específica para segurança tem a grossura de um cartão telefônico. Se bem instalada aumenta a resistência do vidro", esclarece.

Uma nova opção de decoração de interiores, o insulfilm também pode ser usado em idéias ousadas e elegantes. "O uso de insulfilms na parte externa já está sendo grande, o que as pessoas ainda não sabem é que é possível utilizá-lo na parte interna de um ambiente, como decoração", salienta a decoradora Cyntia Pires, proprietária da loja Tendências e Decorações. Como exemplificações de uso das películas, a decoradora sugere como opções, portas de armários em vidro, divisórias de ambientes e até mesmo box de banheiro. Outra dica é explorar a variedade de cores de películas disponíveis. "Temos films de diversas tonalidade: prata, azuis, verdes. Colocar um insulfilm pink na porta de vidro de um armário, por exemplo, pode deixar o quarto de uma criança original e criativo", sugere. Outra alternativa seria a substituição das cortinas, na casa

de pessoas muito alérgicas, pelo uso de insulfilm na cor grafite nas janelas. Ela comenta ainda que muitas lojas utilizam o insulfilm incolor em suas vitrines para preservar suas mercadorias do sol. "As lojas estão optando pelo incolor, que evita o ressecamento e a danificação de suas mercadorias, sem prejudicar a visibilidade de seus clientes", acrescenta Cyntia. Uma alternativa que também pode minimizar gastos com a decoração, a película colorida pode substituir detalhes que encareceriam uma peça de decoração ou um móvel sem deixá-lo menos sofisticado. "O preço de uma película varia entre R$ 38,00 e R$ 90,00 o metro quadrado já instalado. Colocar um insulfilme cor bronze no vidro de uma mesa, sai mais em conta que comprar uma mesa já com um vidro na cor bronze", pondera a decoradora.

PÂMELLA RIBEIRO

Faltam aparelhos para medir o nível da película em veículos n STEFÂNIA AKEL 3° PERÍODO

A fiscalização do uso da película de proteção solar, popularmente conhecida como insulfilm, está temporariamente suspensa em Minas. Segundo o sargento Geraldo Rosa de Carvalho, auxiliar de planejamento de operações da 1ª Companhia de Polícia de Trânsito Independente de Belo Horizonte, os fiscais de trânsito da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) aguardam a chegada de um equipamento que será utilizado para medir o índice de luminosidade nos vidros, o luxímetro. "O aparelho já foi solicitado ao Estado, mas é um processo demorado. Ele deve ser autorizado pelo Inmetro e homologado junto ao Contran", explica. A Resolução 254 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), publicada em 2007, estipula

que a verificação do uso da película deve deixar de ser efetuada por meio da chancela, uma espécie de carimbo que registra no vidro o percentual de visibilidade, e começar a ser feita através de equipamento especializado. "Fiscalizar sem o aparelho é como acusar excesso de velocidade sem o radar. Sabemos que acontece, mas não há como provar", compara Carvalho. Ele ressalta, no entanto, que motoristas de veículos sem chancela ou com películas espelhadas são penalizados. "Quando paramos um carro sem chancela ou com vidros espelhados em uma blitz, o motorista é imediatamente multado", pontua. A PM não tem previsão da chegada do luxímetro. O sargento Carvalho se coloca favorável à nova lei. "Muitas empresas falsificam a chancela, e sem o aparelho não há como provar a falsificação", justifica.

Uma empresa especializada em insulfilm, localizada na Região Noroeste da capital, executa esse tipo de procedimento para atender ao desejo de seus clientes, que pedem vidros mais escuros do que o permitido. O dono da empresa, R.G., afirma não haver perigo nessa prática. "Não há fiscalização eficiente, e também não há perigo em rodar com vidros escuros", acredita. Ele diz que a maior parte de seus clientes coloca o insulfilm por questões de segurança, privacidade e proteção do sol. "O insulfilm, na verdade, é uma película de proteção solar. A exposição ao sol danifica o interior do veículo", esclarece. O comerciante também acredita que a película traz segurança. "A pessoa pensa duas vezes antes de assaltar um carro com vidros escuros, pois não sabe quem está do outro lado", acrescenta.

PENALIZAÇÕES O nível de visibilidade permitido por lei para o vidro traseiro é de 28%. Antes da Resolução de 2007, esse índice era de 50%. A transmissão luminosa no pára-brisa deve ser de 75%, e nos vidros laterais dianteiros de 70%. O uso da película em desacordo com as normas é considerado infração grave, o que resulta em multa de R$ 127,69, cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e retenção do veículo até que o mesmo seja regularizado. UTILIDADES O estudante de Biologia da PUC Minas, César Reis, acredita que o insulfilm é uma necessidade, uma vez que proporciona ao motorista segurança e privacidade. "O carro é um local em que nos sentimos protegidos, e onde costumamos deixar objetos pessoais. Sem o insulfilm eu me sentiria invadido e desconfortáv-

Carros com insufilm acima do permitido por lei são comuns na cidade el", comenta. César admite que colocou nos vidros do seu carro películas mais escuras do que o permitido por lei. "Só não coloquei no pára-brisa, porque acho perigoso. Atrapalha a visibilidade", justifica. O estudante chama a atenção para o fato de que quase não se vê carros sem vidros escuros nas ruas, e questiona a lei. "Ela foi feita para regular, mas se está sendo tão desrespeitada, temos que perceber que há alguma coisa errada. A população está se sentindo insegura", observa.

Esse não é, entretanto, o caso da aposentada Teresa Salles. "Não coloquei insulfilm justamente por uma questão de segurança. Se houver um assaltante apontando uma arma para mim dentro do carro, com o insulfilm ninguém vê", ressalta. Teresa explica que anda com o vidro aberto e que gosta de ter contato com as pessoas no trânsito. "Não tenho medo de ser assaltada. Minha política é a seguinte: se chegar alguém perto do carro, costumo sorrir e falar bom dia. Isso desarma a pessoa", afirma.


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Maio • 2009

A DAMA DA NOITE BELORIZONTINA Anésia Cambraia, produtora da noite da capital há mais de duas décadas, destacou-se pelas idéias ousadas e vanguardistas que misturam música e performances em um ambiente de bar n ALINE SCARPONI, 3º PERÍODO

Entrada com susto ou sem susto? Essa era a primeira escolha a ser feita por aqueles que optassem por se divertir no bar chamado Circuito, criado em 1994. Além disso, engolidores de fogo e trapezistas dividiam espaço com um carrossel de elefantinhos cor de rosa. "Na entrada tinha uma bruxa e um palhaço. No palhaço era a entrada sem susto, e na bruxa a entrada com susto. O Circuito ainda tinha espaço para boate, um parquinho de diversão, e um circo, porque eu amo circo", lembra Anésia Cambraia, idealizadora do bar e produtora da noite da capital há mais de duas décadas. Dominus, Bar Nacional, Pagã, Circuito, Blangadesh, Planeta Marte, Flapper, Estação 767, são alguns dos bares criados pela produtora. Pioneira na exploração de imensos galpões da Avenida do Contorno, Anésia sempre se destacou por suas inovadoras casas noturnas e ousadas idéias. "As idéias saem da minha cabeça. Baixa o Santo!", comenta sorrindo. Marcando não só época como músicas, as criações da produtora e muitas vezes a própria Anésia serviram de inspiração para artistas. O saxofonista Chico Amaral, da banda Skank, por exemplo, não esconde ter sido o Bar Nacional o local onde surgiu à idéia para a música "Garota Nacional", sucesso do grupo em 1996. Já o músico Maurício Tizumba relata em um verso de música ter ficado "mudo e no ar, se sentindo um herói nacional" após ter ganhado de Anésia um "beijo na boca". Filha única de uma

tradicional família mineira, Anésia Cambraia começou a trabalhar com a produção da noite de Belo Horizonte em 1990, pelo simples fato de "ser muito festeira". A partir daí, ela largou o emprego no Banco do Brasil e se uniu a outros dois amigos. "A gente resolveu montar o Dominus, sem experiência nenhuma, igual a três doidos, e deu muito certo", recorda. AUDÁCIA Dominus foi a primeira criação da produtora e nem por isso a menos audaciosa. O espaço era dividido em três andares. No primeiro tinha jazz, no segundo rock e no terceiro, teatro e performances. Segundo Anésia, o que fazia o local ainda mais interessante era o fato de diversos músicos se reunirem no ambiente para cantar, sem precisarem ser convidados. "O Chiquinho Amaral me ligava e perguntava: Anésia, o que vai ter lá hoje? Posso dar canja? Olha a simplicidade! Frejat (vocalista do Barão Ver-

melho) também deu canja lá. Era muito biruta isso", brinca. Vanguardista, a Pagã foi outro empreendimento de sucesso. A boate gay, que propunha o vencimento de preconceitos e a reunião de públicos hétero e homosexuais, contou com a presença de Elke Maravilha. Nessa época, Anésia lembra que tentou preservar de seus familiares a existência do empreendimento, mas que foi surpreendida com a notícia no jornal. "Eu escondi de todo mundo que eu era a dona. Escondi do meu pai, da minha mãe. Um dia saiu no jornal! Pensei: agora acabou!", revela rindo. O Bar Nacional, apontado pela produtora como um dos seus prediletos, foi precursor na experimentação da mistura de bar e casa de show. Nele, diversas bandas tiveram a oportunidade de demonstrar seu trabalho e alçar sucesso. O artista Toni Platão, e os grupos Skank e Jota Quest, por exemplo, regis-

traram sua passagem pelo bar. "A gente pegava bandas que estavam começando e arriscava deixar tocar. Era uma época em que se podia arriscar", observa a empreendedora que acredita que o alto custo atual das produções e o excesso de intermediação entre artista e contratante acabam por dificultar a experimentação de novos talentos. Após ter sido vetada pela Sociedade Protetora dos Animais em sua idéia de levar um elefante para a inauguração do Circuito Bar, Anésia Cambraia investiu na construção de um carrossel de elefantinhos cor de rosa e em várias performances para animar a noite de seus clientes. "Amei o Circuito porque era minha cara", define. DIFICULDADES Embora o empreendimento Dominus tenha durado três anos, sua idealizadora comenta que já inaugurou outros bares prevendo uma duração de

PÂMELLA RIBEIRO

gostam de pagar convite, ficam querendo cortesia. Eles não valorizam o evento", pontua. Para contornar os problemas vivenciados e se consolidar na noite da capital, a produtora diz não ter contado somente com a sorte. Bom marketing, atendimento e preço são apontados como caminho para o sucesso. Outra prioridade é fazer com que o cliente se sinta à vontade para se divertir. "Acho que se tem que acabar com essa coisa de que nada pode. Se você sai a noite pra curtir, você pode tudo. Pode até subir na mesa", afirma. Entretanto, não foi só na vida profissional que a produtora enfrentou desafios. Para poder investir inteiramente em seus projetos, ela também teve que fazer algumas escolhas e renúncias. "O trabalho interferiu muito em minha vida pessoal. Casei três vezes", conta. Além disso, ela relata que desistiu de ter filhos e que se alegra em cuidar dos afilhados. "Eu não podia ficar grávida, então marquei minha inseminação artificial. No dia não fui fazer. Chorei muito, mas fiz minha escolha. Filho exige muita dedicação. Ser só dindinha está ótimo", revela.

Glamour é encarado com naturalidade

Em sua casa, a produtora Anésia Cambraia coleciona fotos de seus antigos bares e de seus diferentes clientes

Sucesso e reconhecimento é compartilhado com amigos Assumindo que nunca trabalhou sozinha, a produtora divide com seus parceiros os créditos do sucesso. "Eu sempre trabalho em grupo e esse grupo a vida toda me acompanhou", confirma. A equipe de trabalho de Anésia é formada de profissionais de diversas áreas, dentre elas: artes plásticas, arquitetura, publicidade e jornalismo. Transcendendo vínculos puramente profissionais, a produtora que se tornou amiga do grupo que a apóia, é também por ele admirada. "A Anésia é uma das pessoas mais importantes do meu círcu-

um ano, apenas. De acordo com ela, a noite belorizontina é movida por modismos e os produtores devem sempre ponderar em seus gastos, para que não tenham prejuízos, caso o empreendimento não dê certo. "Eu nunca gastei milhões. A gente tem que saber a hora de parar. Tchau e beijo, senão você leva prejuízo", alerta Anésia, que prioriza a criação de cenários diferenciados como a principal forma de atrair o público. A produtora afirma que são muitas as dificuldades enfrentadas por uma casa noturna para se manter aberta na capital mineira. O fato da cidade não ser tipicamente turística, contribui para que as casas tenham que dividir o público local entre elas, e acabem tendo pequeno número de frequentadores, caso ocorra mais de um grande evento no mesmo dia. Além disso, a peculiaridade do público mineiro, que geralmente busca o ganho de convites, também é sinalizada pela produtora como sendo fator que acaba por dificultar a produção de shows e eventos culturais. "Acho dificílimo vencer na noite em Belo Horizonte. O povo daqui tem uma característica muito engraçada, eles não

lo de amizades. A aplaudo pelo que ela significou para BH nessas últimas duas décadas", declara Gegê Lara, produtor de shows, que conhece Anésia desde que ela começou a trabalhar na produção da noite de Belo Horizonte. Segundo ele, foi muito importante para o mercado da música o incentivo dado pela empreendedora ao show ao vivo. "Eu programava os shows das casas que ela criava, e ela se tornou o marco do show ao vivo na noite da cidade. Ela foi fundamental para a evolução da noite de BH", acredita.

Para a criação da casa de shows Music Hall, que já completa dois anos de existência, Anésia contou com a ajuda do músico Robertinho Brant. Ele tanto a auxiliou na negociação com o proprietário do local, que durou um ano, quanto na reforma do galpão. "Embora não esteja mais a frente do Music Hall, Anésia foi quem o criou. Ele foi uma idéia muito audaciosa, principalmente porque BH nunca teve uma casa de show desse porte. Ela fez toda a alteração da acústica da casa, e ficou ótima", avalia o artista. O jornalista e escritor

Petrônio Souza Gonçalvez diz ter conhecido Anésia no Bar Nacional, quando ela "usava um vestidinho preto indefectível que atraia todos os olhares" e ter a partir daí, trabalhado em parceria com ela na produção alguns shows. O estilo diferente e audacioso da produtora, de acordo com ele, muitas vezes o obrigou a assumir a parte mais ponderada da parceria. "Ela, como toda pessoa que tem o toque da genialidade, tem dificuldade em viver como uma pessoa comum. Eu sou a parte que a traz para a Terra", brinca.

João Bosco, Jimi Cliffi, Carlinhos Brown, Edson Noise, Adriana Esteves, Jorge Israel (Kid Abelha), Sérgio Dias (Mutantes), Ed Motta, Toni Garrido, Rogéria, Adriana Calcanhoto, Dinho (Capital Incial), Marisa Horte, Milton Nacimento, Miguel Falabella. A lista é interminável. No escritório que a produtora montou em sua casa, sobressai a imensa quantidade de fotografias que reunem famosos e anônimos em ambientes sempre muito coloridos. Entretanto, a empreendedora afirma não conseguir ver nenhum glamour em seu trabalho pela quantidade de esforço que ele exige. "Quando eu abri a Estação 767, eu não fui conhecer os Titãs. Eu não conheci Tony Bellotto, porque teve muito problema pra resolver naquela noite", lamenta. Além disso, a produtora que declara ter sido muito "namoradeira” e ter tido "casos com famosos", salienta que com o passar do tempo, ela amadureceu muito e que juntamente à isso, suas prioridades mudaram. "A minha pri-

oridade é ter paz de espírito", revela. PROJETOS Após ter deixado a sociedade da casa de shows Music Hall, Anésia diz que pretende aproveitar o momento para descansar, embora já tenha em mente o estilo e o nome do empreendimento que planeja investir daqui a um ano, aproximadamente. "A festa está no sangue. Eu já pensei em tudo. Já tem até nome. Mas não posso contar", comenta a produtora que acredita que preservar o mistério é fator importante para o sucesso. Peculiar até em sua forma de descansar, a empreendedora acaba de adquirir um terreno na cidade de Paraty, Rio de Janeiro, onde pretende construir uma pousada. A razão da escolha da cidade é o fato do local contribuir para que ela se sinta mais "calma e relaxada". "Sou muito alegre e agitada. Me liguem em 220 volts e eu não paro. Sempre fui assim. Estou até tentando fazer yoga pra ver se me acalmo", observa rindo.


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MAIARA MONTEIRO

RÁDIO E FUTEBOL, UMA PARCERIA QUE PERSISTE Pela rapidez da informação e espontaneidade, o rádio ainda atrai torcedores de diversas idades que prezam pela emoção n DANIEL HOTT, MAYKO SILVA, 1º PERÍODO

O professor Renato Ramos, 24 anos, esteve presente no jogo do Cruzeiro contra o Democrata, pelo Campeonato Mineiro, no Mineirão, e manteve a tradição de acompanhar o jogo pelo rádio. “Desde que me entendo por gente acompanho os jogos ouvindo rádio. Comecei ouvindo os jogos do Cruzeiro, meu time de coração, logo quando me interessei por futebol, dando continuação a uma tradição de meu pai", explica. O costume vem dos mais velhos, que nem sempre tiveram a televisão como alternativa para assistir às partidas de futebol, e hoje é passada de geração para geração, de forma ininterrupta. "O rádio te dá uma informação maior, que vai além do próprio jogo. Ele também passa informações de bastidores, ou seja, aquilo o que acontece e você não pode captar das arquibancadas", completa Renato. Com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em abril de 1923, a era do rádio brasileiro começou. A popularidade do rádio comercial é atribuída ao uso em importantes funções, como em

transmissões oficiais do governo e de jogos de futebol. Até hoje, apesar da grande cobertura futebolística feita pelas emissoras de televisão, que dominam a mídia em torno do esporte, o rádio tem grande participação na cobertura do esporte bretão, paixão nacional. Mesmo sem a precisão das imagens, artifício exclusivo da televisão, as ondas sonoras têm seus trunfos para manter os antigos espectadores e conquistar novos ouvintes numa velocidade incrível. Tal fato acontece porque "a informação na rádio é rápida e instantânea à divulgação do fato. Milhares de pessoas em seu local de trabalho, na rua, nos carros escutam rádio, ávidos em saber dos acontecimentos. Aplica-se este fator não somente no futebol, mas de um modo geral", como disse Alberto Rodrigues, "O Vibrante", locutor da rádio Itatiaia. EMOÇÃO Alguns aspectos são apontados por torcedores como atrativos e diferenciais do rádio em relação à TV. A emoção transmitida durante as narrações dos jogos e a possibilidade de se imaginar o que acontece são fatores decisivos. "A TV se limita a mostrar o jogo, o rádio vai

além, passa todas as informações necessárias para se compreender o espetáculo. O rádio é mais emocionante com certeza. Ele te dá uma liberdade para criar aquilo que você não vê. Vai de acordo com o seu sentimento", comenta Renato Ramos. Por outro lado há quem balanceie a disputa, como o estudante Marco Antônio Ferraz, 23 anos. "Cada um tem suas vantagens. O rádio, por exemplo, tem narradores mais amadurecidos, preparados para qualquer acontecimento no jogo, e que transmitem mais emoção, vibram mais. Por outro lado, o rádio não possui imagens, o que é um ponto negativo", ressalta. Aberto Rodrigues compartilha da opinião acima sobre as imagens televisivas e completa dizendo que "as vantagens do radialismo são os detalhes, pois a rádio tem mais tempo para informar as notícias". Mas essa emoção às vezes é contestada. Muitos ouvintes acham exagerada a participação de alguns narradores e se deixam levar pela euforia criada por suas falas, mesmo quando errôneas, mas nem por isso deixam de praticar essa tradição. "No rádio os locutores são desesperados. Às vezes a bola está no meio do campo e eles pas-

sam a impressão dela estar próxima do gol. É compreensível, pois eles têm que prender a atenção dos ouvintes, mas foge da realidade", comenta Daniel Brant, 24 anos. Para Milton Naves, outro experiente locutor da Itatiaia, o que fez com que essa parceria desse certo foi outro aspecto. "Há tempos, dez ou 15 anos, o rádio se sobressaía por um fator importante, a velocidade e instantaneidade dele. A televisão não tinha essa espontaneidade, não transmitia acidentes no momento ocorrido, por exemplo", diz por telefone. INFORMAÇÕES Outro fator que põe o rádio como importante mídia de transmissão é a pluralidade das informações passadas. "É sempre bom ouvir os comentários antes e após o jogo. A retransmissão do rádio dos gols, os comentários, lances polêmicos. Eu fico até o final", diz Marco Antônio Marques (foto), 37, ouvindo o rádio enquanto assiste ao jogo das arquibancadas do Mineirão entre AtléticoMG e Uberaba. Além disso, antes, durante e depois dos jogos, repórteres conversam com torcedores, jogadores e relatam os acontecimentos nos bastidores das partidas,

Marco Antônio Marques sempre assiste os jogos no Mineirão com o seu rádio mas nem sempre com precisão. "Muitas vezes a bola bate pelo lado de fora da rede, enganando o narrador e, consequentemente, o torcedor", diz Luis Fernando Dolabela, de 19 anos. Já Marco Antônio Ferraz é mais exato, e se lembra de um episódio curioso, quando o narrador cometeu um grande erro. "Em um jogo recente do Cruzeiro, por exemplo, o narrador Alberto Rodrigues gritou gol e a bola havia batido nas duas traves e não entrou. Foi muito estranho". Ciente disso, Rodrigo Clemente, 30, repórter fotográfico dos jornais 'O Tempo' e 'Supernotícia' alerta para tal distorção de fatos. "Ao se fazer rádio deve-se tomar cuidado com

o que se fala. Esse tipo de erro acontece a todo o momento com todas as rádios. São vários casos de informações erradas. Falam que um jogador acaba de entrar em campo, por exemplo, e às vezes não entrou. Em outros segmentos também, principalmente quando se trata de notícias de última hora", diz Rodrigo. O rádio foi o principal meio de divulgação do futebol pelo país, e há uma reciprocidade nesta relação. "Um completa e precisa do outro. Não dependem, mas completam. Isso é histórico. Existe uma parceria muito boa com o futebol nos países da America Latina, especialmente no Brasil", diz Milton Naves.

Rolando Boldrin, tirando o Brasil da gaveta DIVULGAÇÃO

n DIANA FRICHE, RENARD VASCONCELOS,

com os meus projetos, nem aceitaria de outra forma. Só acho que na TV Cultura temos mais afinidade com o conteúdo do programa", declara.

4º PERÍODO

"Gosto muito de tudo o que fiz na TV, no cinema e no rádio. Mas é claro que o grande projeto de minha vida foi o programa que ainda persiste, agora na TV Cultura", conta Rolando Boldrin, apresentador do programa musical Sr. Brasil, exibido nas manhãs de domingo pela TV Cultura. O também ator, compositor e "contadô de causos", Rolando Boldrin desde cedo traçou seu próprio destino. Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, já aos 12 anos de idade mostrava talento ao formar com seu irmão a dupla caipira "Boy e Formiga", sucesso nas rádios e nos cinemas (na época mudos) do interior do estado. Aos 16, o jovem Rolando desembarcou na capital paulista. Com a benção de seu pai, ele foi em busca de seu sonho: tornar-se um ator de sucesso. E não foi fácil. Em seus primeiros anos na cidade grande, trabalhou como garçom, entregador, frentista e até sapateiro.

Apresentador do programa musical, Sr. Brasil, Rolando Boldrin tem 50 anos de carreira e já trabalhou como ator Mas ele conseguiu. "Participei de 35 novelas desde a implantação da (extinta) TV Tupi", recorda. Apesar da carreira bemsucedida como ator, Rolando não pensa mais em atuar e quer se dedicar exclusivamente à divulgação da música brasileira. Ele acredita que falta espaço para músicos com pouco apelo comercial. "A

TV, de modo geral, não se preocupa muito com projetos musicais com valores de cultura popular. Prefere os grandes sucessos de apelo", constata. Boldrin começou sua carreira de apresentador na TV Globo em 1981, quando iniciou seu projeto de musicais com o intitulado Som Brasil. A partir de então passou por diversas

emissoras com os programas Empório Brasileiro, na Rede Bandeirantes, Empório Brasil, no SBT e Estação Brasil, na CNT, todos seguindo a mesma linha: mostrar ao Brasil o que ele tem de mais legítimo, a música de raiz. Em 2005 ele iniciou seu atual programa na TV Cultura, chamado Sr. Brasil. "Sempre tive a mesma liberdade

RECONHECIMENTO A qualidade do projeto de Boldrin foi reconhecida diversas vezes, independente da emissora em que fosse exibido. A Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) premiou seu trabalho em três ocasiões: em 1981 e 1989, na categoria melhor musical com os programas Som Brasil e Empório Brasileiro, e em 2005 elegendo o Sr. Brasil como o melhor programa da TV nacional. Boldrin acredita que mesmo não seguindo a linha dos outros programas do cenário musical o reconhecimento acaba acontecendo. "Por mais que a gente nade contra a correnteza da mídia televisiva, sempre haverá um reconhecimento dos grandes e importantes prêmios de música", pontua o apresentador. SERTANEJA O artista acredita que o termo música sertaneja é mal aplicado, já que o gênero deveria ser

utilizado para descrever a música e cultura nordestina. Ele defende que essa música deveria falar de coisas simples, como o amor puro, temas da terra e ser tocada em modas de viola, mas, atualmente, esse tipo de música esta esquecida. "Faz tempo que vários artistas da corrente da música dita sertaneja, usam e abusam das características do cowboy do cinema", analisa o músico. Boldrin acredita que o sucesso e a longevidade de seu programa atribui-se ao fato de ainda haver pessoas interessadas em boa música regional. "É um público misturado em termos de idade e região. Um público ávido por música brasileira, essa que traz emoção a quem ouve", assegura. Quanto à procura por novos talentos para serem apresentados no palco do Sr. Brasil, o apresentador garante que não encontra dificuldade para encontrálos. "Recebemos muito material para avaliação, do Brasil inteiro. E como tem talentos nesse país!", garante o artista, que este ano criou um novo quadro em que reforça esse objetivo, batizado de "Vamos tirar o Brasil da gaveta".


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JOSÉ MENDES JUNIOR

SAC RECEBE QUEIXAS DE PASSAGEIROS EM BH Transporte público da capital conta com telefone de atendimento aos usuários, para que sejam feitas reclamações e sugestões n JORGE SANTOS, 2º PERÍODO

O morador do Bairro Tupi, na Região Norte de Belo Horizonte, Sérgio Luiz de Matos, de 47 anos, utiliza diariamente o transporte coletivo para chegar ao trabalho, onde é encarregado de limpeza, e diz demorar cerca de 20 minutos até o destino final. Ele explica que já precisou usar o telefone de reclamação da BHTrans por três vezes. "O motivo de duas reclamações foi devido ao ônibus que não parava no ponto", conta. Ele explica que ao ligar para a BHTrans, foi informado que a empresa iria tomar providências para que esse fato não volte a acontecer. Sérgio diz estar ciente do telefone de reclamação das empresas de ônibus, mas acredita que muitas pessoas acabam não o utilizando por falta de conhecimento. "As pessoas não reclamam por

falta de conhecimento. Pode ligar que funciona", afirma. Ele ressalta que já ligou outras vezes para a BHTrans, mas para dar sugestões. Uma das vezes foi a respeito da falta da numeração completa na parte lateral dos ônibus, o que, na opinião dele, poderia prejudicar as pessoas, em especial aquelas com problemas de visão. "Entrei em contato com a BHTrans que informou que foi uma boa observação e que levaria a sugestão para a comissão. Após uns 45 dias notei a mudança nos ônibus", conta. O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) é um canal alternativo que foi criado pelas empresas de transporte público da capital para atender reclamações dos usuários dos coletivos. Segundo as empresas, as queixas mais comuns pelo telefone são de superlotação dos ônibus, atrasos, descumprimento de parada nos pontos de embarque e desem-

barque, entre outros. Na empresa Auto Onibus Floramar é o auxiliar de tráfego, Emerson Souza, de 29 anos, que recebe as ligações e ouve os passageiros. "Atendo as ligações e ouço o cliente, anoto a reclamação, faço a apuração e passo para o supervisor", explica. Trabalhando em horário comercial, ele atende 15 casos, em média, por mês, e diz que a resposta acontece com dez dias corridos quando o cliente informa um contato. De acordo com a empresa, a insatisfação está relacionada ao descumprimento de parada nos pontos e a superlotação. "Nesse caso, a BHTrans é quem determina os horários e a quantidade de ônibus, e a empresa obedece", comenta. Para o supervisor de tráfego, Nevile Caetano, 36 anos, da Viação Anchieta, a questão é diferente. "A reclamação dos usuários muitas vezes não tem fundamento; naquela hora ele se sente

indignado, mas depois, com calma, ele percebe que não é procedente, e por isso desiste da reclamação, mas nós a ouvimos da mesma forma", conta. Sobre o percentual de insatisfação da empresa, o supervisor não soube informar, mas disse que a apuração são de sete dias úteis via telefone ou email. Nevile, que conta com uma pessoa para atender aos usuários, destaca a importância do serviço para melhoria da qualidade dos trabalhos da empresa."É o único meio que temos para saber como nossos serviços são prestados. A opinião do usuário é de suma importância. Por isso nossos funcionários são treinados em exigência de qualidade três a quatro vezes ao ano", conclui. Já a Viação Sandra faz a apuração da reclamação, mas não dá retorno ao cliente. Se quiser uma resposta é necessário solicitar no momento da ligação. De acordo com Jésus dos Anjos, de 55

Jésus dos Anjos, da Viação Sandra, conta que empresa recebe reclamações anos, do setor de tráfego, a empresa recebe por mês 15 reclamações de usuários descontentes com a demora dos ônibus. "Quem reclama mais são as mulheres. Elas falam que chegam atrasadas ao serviço. Agora se for de um funcionário e dependendo da gravidade, a empresa vai ter medidas mais rígidas", garante. Gostando do que faz, Jésus explica que tenta amenizar a situação e até entende os mais exaltados, afinal, o cliente vem em primeiro lugar. Gilvan Mafal, da assessoria de imprensa da BHTrans, informa que o órgão possui o telefone

3277-6500 para reclamações e o site www.bhtrans.pbh.gov.br. Ele reitera para a importância dos direitos dos usuários de coletivos e evitar que tal medida caia em desuso. "Conscientização é tudo. O usuário tem o poder nas mãos e cabe a ele a decisão de usar", finaliza. O usuário Sérgio Luiz acredita que o transporte público está defasado e, por isso, é preciso fazer valer os direitos como usuário. Ele diz que quanto mais pessoas utilizarem o canal alternativo criado pelas empresas de ônibus, melhor.

Cooperativas de táxis devolvem objetos esquecidos n ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 4º PERÍODO

Objetos esquecidos dentro dos táxis na capital recebem tratamento especial. Luciana Auxiliadora, que é coordenadora operacional da Coopertaxi, explica que quando esses objetos são achados dentro dos carros, os associados avisam à central, que registra a perda. Na Ligue Táxi BH, os 600 taxistas cooperados, para um total de 350 veículos, são orientados para imediatamente avisar a Central de Operações da Cooperativa sobre objeto perdido. Havendo identificação do passageiro, a própria central entra em contato com o passageiro que perdeu esse objeto. Caso não seja feita a devolução para a pessoa de direito, então esse objeto é encaminhado à BHTrans. "Hoje mesmo (dia que estava sendo feita a matéria) devolvemos um GPS para passageiro. É satisfatório o retorno do serviço perdidos e achados", comenta José Ciconha, diretor administrativo da Cooperativa Ligue Táxi BH. Na BHTrans, Empresa Municipal de Gerenciamento do Transporte Coletivo e de Prestação de Serviços de Táxi de Belo Horizonte, existem

normas, estabelecendo que o condutor de táxi tem dois dias úteis para entregar o achado num dos dois postos da BhTrans, um na Estação Rodoviária, no Centro, e outro na sede, no Bairro Buritis. Tem uma portaria estabelecendo que, se passados três meses esses objetos não forem procurados, a BHTrans pode fazer a doação à Associação Municipal de Assistência Social (AMAS). "Passageiro perdeu, por exemplo, a carteira, o condutor não devolveu, então repassa à BhTrans, que cataloga, deixando disponível na sede da empresa. Outra situação, quando o passageiro não sabe qual táxi perdeu, entra em contato pelo telefone 3277-6500, a gente formaliza, identificando, fazendo em seguida um cruzamento das informações e pesquisa no banco de dados. Então é feito o contato com a pessoa", explica Gilvan Marçal, assessor de comunicação. CASOS O veterano taxista, Darci Gomes Parreiras, 55 anos, na praça desde 1972, normalmente fica estacionado no ponto no Bairro São Bento. Mesmo aposentado, Darci ainda continua na labuta diária pelas ruas da capital e coleciona histórias. "Dois fatos

MAIARA MONTEIRO

Taxista José Carlos Baião mostra um porta batom encontrado em seu táxi

acontecidos comigo já têm muito tempo. Um passageiro encontrou um par de óculos e como ele era meu segundo passageiro naquele dia, lembrei quem foi que esqueceu na corrida anterior. Como sabia a origem daquela corrida, retornei à casa do primeiro passageiro, para fazer a devolução. Fui recebido pelo passageiro e para minha surpresa, ele foi até ríspido comigo. Além de não dizer um simples ‘obrigado’, ainda me repreendeu, dizendo que era obrigação dos motoristas de táxis procurarem saber se o passageiro esqueceu algo dentro dos carros. O segundo caso foi também de esquecimento de óculos, que só encontrei ao final do dia. Desta vez um óculos bacana, escuro, óculos de madame. Não tinha nem ideia de quem perdeu e guardei em casa. Alguns dias depois, recebi comunicado para entrar em contato com a BhTrans. Então me informaram que uma passageira havia perdido os óculos no meu táxi - a senhora teve o cuidado de anotar a placa do meu veículo. Confirmei o fato, ficando de levá-lo no dia seguinte. Fui e devolvi e ainda recebi uma multa, por ter encontrado algo no táxi e não ter devolvido. Paguei a multa e não recorri, o que devia ter feito, no entanto não o fiz por puro comodismo e perdendo oportunidade de exercer a cidadania”, conclui Darci. Uma história puxa outra, e Antonio Marcos Pereira, taxista estacionado na Rodoviária, no centro de BH, também tem a sua. “Em uma corrida para um dos condomínios em Nova Lima, transportava uma senhora e até combinamos que não haveria a cobrança de retorno. Deixei-a na casa indicada e quando retornava, já estava à altura do BH Shopping, quando vi no banco traseiro um notebook. Como tinha certeza que era dela, retornei e fui

novamente à casa dela. Chegando lá, ela se mostrou feliz com a devolução, mas disparou, dizendo que 'finalmente apareceu um taxista honesto...' Eu fiquei muito chateado e aquele retorno que não iria cobrar, disse para ela que seria R$48,00. Ela me pagou com uma nota de R$50,00 e fiz questão de devolver o troco”, conta. INUSITADOS Fazendo corridas principalmente pela região central da capital e bairros circunvizinhos, outro profissional que presta serviços à população com o seu veículo, táxi GOL 4561, conta que "uma senhora embarcou num hipermercado e depois de quatro corridas, uma outra senhora me perguntou o motivo daquela vassoura atravessada em sentido diagonal na porta traseira do meu carro. Foi quando olhei e vi a tal vassoura, que ficou ali por várias corridas. Outro caso aconteceu numa corrida no Bairro Floresta. Depois de várias corridas no dia, quando uma senhora, acompanhada de uma criança estava descendo, vi uma bolsa no banco. Chamei-a e disse que estava esquecendo o objeto. Notei que ela ia dizer que não era dela, no entanto aceitou a bolsa. Até hoje fico pensando, aquela bolsa não era dela, tenho certeza", diz Elder Félix Ribeiro, 48 anos, estacionado à Av. Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Carlos Prates. Casos de passageiros que recuperaram seus pertences acontecem, como Danilo Manhaes Nuguet, Rodrigo Ribeiro da Silva de Souza e Carlos Alexandre dos Santos de Deus, moradores da cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, que estavam na Capital mineira a negócios. Usando serviço do táxi, esqueceram no veículo bolsa com documentos, cheques e R$ 3.800 em espécie. Acionada, a

Achados e Perdidos no metrô da capital Realizando cerca de 253 viagens por dia, mais de 6.600 viagens por mês, transportando anualmente mais de 40 milhões de pessoas anualmente, sendo que a média mensal de usuários passa de 3,4 milhões de pessoas e que mais de 144 mil passageiros transitam diariamente pelas 19 estações do sistema, tendo um recorde diário de passageiros transportados pelo metrô de 171.610 passageiros, ocorrido no dia 5 de setembro de 2008, inevitavelmente há perdas. Há uma média de 140/160 objetos perdidos, sendo que a devolução gira em torno de 20%. Além de documentos, os objetos mais comuns encontrados são óculos, chaveiros, roupas, no entanto já foram encontradas próteses dentárias, muletas, guardachu-

Polícia Militar e a BHTrans identificaram o veículo e o endereço do condutor, Cláudio Herbet Macedo, que foi procurado e devolveu todos os pertences. "Desse episódio, podemos tirar várias lições. A principal delas é que a honestidade pode e deve ser reafirmada nos seres humanos. Outra é que ser honesto é uma condição essencial para o exercício de qualquer profissão. Agradeço a BHTrans a ajuda e a todos pela honestidade", relata Márcio Valério de Oliveira, gerente da Buritis Veículos, empresa que recebia a visita dos fluminenses. José Carlos Baião, 45 anos,

vas, até fogão, churrasqueira e bicicleta. "Têm pessoas que fazem pressão, dizendo que tem certeza que perderam algo numa das estações/trens e querem mas que querem o documento ou objeto perdido aqui", informa Manoel Luiz Loureiro Prado, 72, Assistente de Gestão, 28 anos como funcionário, sendo 15 anos trabalhando nesse setor de perdidos e achados. "Após trinta dias e o objeto não é procurado, então é feita a doação. Os documentos permanecem guardados de 30 a 60 dias, sendo destruídos após esse prazo. No entanto, tendo alguma indicação, tendo espaço para guardar, fica mais tempo", afirma Manoel Luiz.

conta que em dois anos de trabalho como taxista da cooperativa do Coração Eucarístico já encontrou quatro objetos esquecidos em seu carro. O último deles, um porta batom, foi achado dia 15 de maio por um passageiro no chão do carro. Para evitar isso, ele costuma conferir seu carro assim que o passageiro chega ao seu destino. Nos casos em que não se têm como comunicar com o passageiro, como aconteceu quando ele encontrou um celular, ele entrega o objeto para sua cooperativa, que os encaminha para o achados e perdidos no posto da Estação Rodoviária.


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ITAI AJUDA VILA ACABA MUNDO Criado pela Associação Querubins há dois anos, Projeto Itai promove a melhoria na qualidade de vida e geração de renda dos moradores da região, por meio da produção de sabonetes JOYCE SOUZA

n BÁRBARA CAMPOS, JOYCE SOUZA, 3 º PERÍODO

Marilda Ferreira Ramalho, moradora da Vila Acaba Mundo e atual responsável pela horta, lembra dos tempos em que morava na roça e tinha um contato direto com todo tipo de planta. Com o surgimento do projeto Itai, há dois anos, ela cuida do cultivo das ervas medicinais, matéria-prima na fabricação dos sabonetes, e há dois meses também tornou-se responsável pela área destinada às "verduras que saem fresquinhas da terra para o almoço das crianças", completa. O projeto Itai, juntamente com o projeto Horta Orgânica, integra a Associação Querubins. Essa associação foi criada com o objetivo de contribuir para a formação de crianças e adolescentes através de ações educativas, e ao longo dos anos, estendeu às famílias dos pequenos assistidos. Segundo Marilda Ferreira, o Programa Pólo de Cidadania, da Faculdade de

Direito da UFMG interessou-se pela Vila Acaba Mundo e por seu histórico de exclusão e desigualdade social. A proposta era uma parceria com o objetivo de incentivar empreendimentos solidários que atuassem como alternativa para a geração de renda para os próprios moradores. A solução foi a criação do Projeto Itai com a produção de sabonetes artesanais feitos com ervas medicinais retiradas da própria horta e sob a orientação dos estagiários dos cursos de comunicação, direito, farmácia e ciências sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com Raquel Portugal Nunes do Programa Pólo de Cidadania da UFMG, o projeto "promove o diálogo e a troca de saberes entre comunidade e universidade ao reconhecer a comunidade como sujeito da pesquisa". Raquel, que iniciou suas atividades no Pólo Cidadania como estagiária e hoje coordena o projeto Itai na Vila Acaba Mundo, afirma que a meta principal do programa é sustentar empreendimentos capazes de incentivar a ge-

ração da renda solidária. Ela conta que o papel realizado pelo Pólo Cidadania da Faculdade de Direito é instruir os moradores da comunidade associando as técnicas de pesquisa à sabedoria popular, incentivar a auto-suficiência e garantir à comunidade meios de escoação para os produtos. "Os grupos são continuamente acompanhados pelos pesquisadores do projeto, os quais orientam e capacitam os integrantes em questões cooperativistas, comerciais, administrativas e jurídicas", destaca a coordenadora. Raquel conta ainda que um grupo de cinco integrantes, estimuladas pelo trabalho, voltaram a estudar e duas estão fazendo um curso de agricultura biodinâmica, no intuito de aprofundar seus conhecimentos O nome Itai foi escolhido porque na língua tupi significa matas e florestas e reflete a preocupação com o meio ambiente e com o resgate do saber popular. Magda Coutinho acredita que os grupos produtivos têm impulsionado a participação dos moradores no processo sócio-político da

Divisão por faixa etária visa facilitar aprendizagem de alunos O Programa Querubins está organizado em três eixos básicos que não funcionam de forma isolada: Aprendizes de Querubins, Querubins Oficinas de Arte e Querubins Extensão. As oficinas ministradas a esses grupos obedecem a um critério de idade com o objetivo de explorar as potencialidades específicas de cada faixa etária. Os Aprendizes de Querubins, crianças de 6 a 12 anos, são considera-

dos os alunos principiantes. Eles participam de atividades mais lúdicas e pedagógicas, iniciam-se na dança e música e recebem acompanhamento escolar. Os Querubins Oficinas de Arte, além da dança, música e percussão, possuem aulas de informática e artes visuais. Aos Querubins Extensão é destinado um trabalho diferenciado. Os alunos são conduzidos a entender melhor suas origens

através do estudo de ritmos e danças afro, afim de formá-los indivíduos que valorizem a própria cultura. O grupo ainda recebe uma ajuda de custo como forma de incentivo. De acordo com Magda Coutinho, todos os projetos e atividades desenvolvidos pela associação, são financiados por doações. A ONG conta com parcerias que ajudam através da Lei de Incentivo ou por se identificarem com a causa.

Horta Orgânica do Projeto Itai é usada para atividades educativas de crianças e adolescentes

comunidade, uma vez que, a partir do convívio, houve a coletivização dos problemas vividos e a reflexão acerca de diversos temas da comunidade. Além disso, a diretora executiva da ONG explica que "muitos resgatam sua auto-estima e têm estímulos para desenvolverem capacidades até então deixadas de lado". ORIGEM "Nunca tinha pensado em dedicar minha vida a essas crianças, que são mais que minha família, são parte de mim, meus querubins. Acho que o universo conspira a favor quando se quer fazer o bem". Foi pensando assim que a consultora hoteleira Magda Fonseca Coutinho deu vida a ONG Associação Querubins, que este ano, completa 15 anos de existência. A iniciativa partiu de uma ideia de Magda, que em 1994 se propôs a trabalhar com um grupo de crianças na recuperação da Praça Jk, localizada nas imediações da Vila Acaba Mundo, no Bairro Sion, em Belo Horizonte. Diretora executiva da ONG, Magda relembra que na época morava próximo à praça e diante do mau esta-

do de conservação daquela área de lazer, decidiu fazer algo para reverter a situação. "Comecei plantando árvores e delimitando os espaços ao redor das plantas com garrafas pet. A proposta despertou a curiosidade e o interesse de muitos meninos e meninas da Vila Acaba Mundo, que resolveram participar". Magda recorda que o número de crianças interessadas no projeto era tão grande que foi preciso transferir as atividades para um centro comunitário no bairro. Em 1995, o centro Comunitário da Vila Acaba Mundo começou oferecendo aulas de capoeira e música, além de outros trabalhos, a um público de 80 crianças. O projeto, no entanto, não se limitou ao Centro. No dia 20 de abril do mesmo ano, a ONG Associação Querubins foi oficialmente registrada, recebendo em regime de comodato da Mineradora Lagoa Seca, empresa que explora jazidas no entorno da comunidade, uma área destinada ao desenvolvimento de atividades sócioculturais e educativas. Este espaço, localizado na própria vila, atualmente ocupa

cerca de 10 mil metros quadrados divididos em diversas instalações onde são realizadas aulas de dança, oficina circense, além de laboratório de informática, salas reservadas para acompanhamento escolar, cozinha industrial e uma quadra poliesportiva. AUTOESTIMA Para Maria da Conceição Lemos, coordenadora pedagógica, é preciso oferecer oportunidades de acesso a uma educação de qualidade para crianças, promovendo ações que tenham impacto na comunidade e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de todos. A coordenadora, que trabalha há um ano e meio na associação, destaca que além do processo de aprendizagem, a principal meta dos educadores, é resgatar a autoestima, a capacidade de trabalhar em equipes respeitando as diferenças individuais e culturais. "As atividades que aqui são oferecidas têm como objetivo fundamental promover o desenvolvimento humano integral através da arte-educação", ressalta Maria.

Artes auxiliam na formação cultural dos querubins JOYCE SOUZA

Quem já teve a oportunidade de conhecer a associação sabe que uma de suas principais características é a ênfase às linguagens e expressões artísticas. As diversas modalidades de dança oferecidas aos querubins desenvolvem não só os potenciais criativos, mas a compreensão e identificação da arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas. É reforçada a capacidade do trabalho em equipe e o respeito às diferenças individuais. A utilização das diversas formas de linguagem também propicia

o uso da criatividade e do espírito crítico além de desenvolver a capacidade de expressão através da arte ampliando a interpretação artística. Entre os componentes formativos pode-se destacar as Danças Afro e Contemporânea e Capoeira de Angola e utilização de instrumentos relacionados a essas atividades como berimbau, marimba de vidro e djembê. Os educandos são convidados constantemente a mostrar seu trabalho em eventos externos, o que contribui para o resgate da auto-estima e aperfeiçoa-

Espaço destinado à atividades artísticas é capaz de abrigar cerca de 400 pessoas

mento da capacidade de se comunicar. De acordo com Maria da Conceição Lemos, ao final de cada ano é realizado um evento que reúne cerca de 400 pessoas, entre parentes e amigos das crianças, funcionários e parceiros que também são convidados. Segundo a coordenadora pedagógica, o espetáculo realizado na quadra poliesportiva da própria associação é destinado às apresentações de cada oficina. Magda conta que o projeto é sempre alterado para melhor e que

mantê-lo representa um grande desafio. Seus planos para a associação são muitos. A diretora executiva conta que pretende criar um Studio de música possibilitando a formação de profissionais locais competentes, para que no futuro seja instituída uma rádio para os moradores. Seus planos incluem a formação de uma Companhia de Dança Afro além do que chama de Pontos de Cultura na Vila, com a exibição semanal de filmes em telões distribuídos pela comunidade.


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Maio • 2009

O OUTRO LADO DA CAPITAL MINEIRA Criador do Blog “Na pior em BH”, Ranier Bragon promove roteiro por Belo Horizonte a fim de mostrar as atrações alternativas da cidade que não se encontram nos guias turísticos MAIARA MOTEIRO

n GABRIEL DUARTE, LILA GAUDÊNCIO,

Bragon não conseguiu tomar por inteiro a bebida. "Rapaz, o negócio não é fácil não", comenta enojado. Ao contrário do repórter, o mecânico Cláudio Evangelista de Paula, frequentador quinzenal do estabelecimento, sempre toma o "Caracálcio". "Me deixa mais animado e mais tranquilo", relata. O mecânico ainda acrescenta que bebe o liquidificador inteiro da vitamina, que representa cinco copos cheios com capacidade para 200ml. Para quem quiser seguir a sugestão de Bragon neste ponto, incluindo o caldo e a bebida, gasta-se R$ 11,70.

3º PERÍODO

Duas colheres de chá de canela, duas colheres de sopa de achocolatado em pó, uma paçoca, um copo de catuaba, uma garrafa de 300ml de cerveja preta e seis ovos crus de codorna com casca. Gostou? Por R$ 7,60 qualquer pessoa pode desfrutar desta iguaria, denominada "Caracálcio", no Nonô, o Rei do Caldo do Mocotó, no centro da cidade. O jornalista da Folha de S. Paulo, Ranier Bragon, está traçando um roteiro, por dois meses, pouco tradicional no centro da capital, no qual pretende incluir dez pontos que não entram nos guias turísticos da cidade. Para documentar a sua empreitada, o jornalista criou o blog "Na Pior em BH". A ideia surgiu há três anos, segundo Bragon, pela sua "estranha atração" por locais "pé-sujos" e pela vontade de mostrar um outro lado da cidade de Belo Horizonte, além de fazer uma história da capital que não está nos guias turísticos tradicionais. "O turista vem aqui e só passa pelos locais famosos", argumenta. O projeto foi apresentado em novembro de 2008 ao

Ranier passeia por BH e procura lugares que não estão nos guias turísticos jornal paulista, que aceitou a proposta e concedeu dois meses ao repórter para concretizá-la. A partir disso, determinou as características do roteiro: 12 horas à pé, partindo do Mercado Central e finalizando na Rua Guaicurus, com apenas R$ 50. "Vou ficar rodando, tenho que encontrar uns dez lugares, entre o ponto de partida e de chegada", conta. MOCOTÓ A reportagem do Marco acompanhou o jornalista durante o início da

tarde de uma segunda-feira de maio em parte de seu trajeto, saindo da Praça Sete em direção ao bar Nonô, O Rei do Caldo de Mocotó, na avenida Amazonas, 840, que há 40 anos é ponto tradicional para quem aprecia o prato e se tornou o primeiro ponto do roteiro de Bragon. O jornalista conta que muitas pessoas vão ao local periodicamente para tomarem o caldo. Além disso, há outra atração no cardápio do Nonô: o Caracálcio.

EM CANTOS Saindo do Nonô, o jornalista partiu em direção à avenida Paraná, 585l, quase esquina com a avenida Amazonas, onde há um espaço, de cerca de dois metros quadrados, em que são vendidos discos, livros e quinquilharias. O proprietário do local, o senhor Carlos, como gosta de ser conhecido, conta que "Em Cantos", como é chamado o local, recebe o material de catadores de papel, que é revendido. Podem ser encontradas de obras clássicas como "O Cortiço" de Aluísio Azevedo e "Senhora" de José Alencar até um sombrero mexicano. "Comecei com

discos, mas vi os objetos e livros e comecei a colocar os livros nas estantes", narra. Neste ponto, Bragon comprou "Os Maias", de Eça de Queiróz, por R$ 4. AMADEUS A ida ao sebo do senhor Carlos lembrou o jornalista de outro sebo da capital, famoso pela sua tradição. A livraria do seu Amadeu, nome do fundador, está há sessenta anos no mesmo local na Rua Tamoios, 748. Bragon, ao observar os preços cobrados, propõe apenas uma visita do turista ao sebo, já que os valores fogem ao orçamento da proposta. Apesar disso, a livraria tinha que ser incluída no roteiro que, segundo ele, "é um local para ser vasculhado por uma boa meia hora, no mínimo". MACELA Apesar de localizados em um dos ícones mais tradicionais da cidade, o Mercado Central, os dois pontos visitados, não são citados pelos guias. O que importa no primeiro, segundo Bragon, não é ir à uma loja específica, mas sim comprar o produto: macela, uma erva utilizada, que, de acordo com o jornalista, "acalma, alivia dores de cabeça e cura espinhela caída". Comprando macela, Bragon gastou R$ 10 por dez sacos. "Toda a Arca de Noé

engaiolada e espremida em lojinhas escuras". É assim que o repórter descreve o quinto ponto: o Mercado dos Bichos. Bragon não propõe a compra de um animal, ao contrário, a visita, conforme o jornalista, serve para conscientizar o turista para as condições precárias em que vivem os animais do Mercado. "É praticamente impossível a quem ainda não se embruteceu por completo deixar de se apiedar da sorte reservada àquelas criaturas", afirma. Até o fechamento da reportagem, o último lugar a ser visitado, para almoçar, foi o McDonald's da Praça Sete, localizado no antigo Café Pérola. A inclusão no roteiro foi pelo local ser ponto tradicional de encontro de políticos mineiros e pelo fato de um guia não indicar o almoço em lanchonetes. O sanduíche, acompanhado de batata frita e refrigerante, custa em média R$ 10. O roteiro deve ser finalizado em dois meses. Após sua realização, Bragon pretende publicar um livro, com apoio da Folha de S. Paulo, possibilitando um turismo paralelo à visita que geralmente é indicada por guias. Para acompanhar e saber dos novos pontos visitados, acesse o blog: www.napiorembh.blogspot.com.

LAURA SANDERS

Criatividade para atrair turistas à Honório Bicalho n ALINE LEITE, ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 4º PERÍODO

Sônia Maria Batista, de 58 anos, tinha necessidade de aumentar a renda familiar após a morte de seu marido. A aposentada ficou sabendo do projeto "Hospedagem Domiciliar", que está sendo desenvolvido pela Prefeitura de Nova Lima e se interessou em fazer parte dessa ideia de um novo ramo comercial no lugarejo. "Me interessei por ser moradora do distrito e ter necessidade de aumentar minha renda familiar. Estou satisfeita e esperançosa. Estou apostando muito nesse projeto", afirma. Nesse projeto, moradores de Honório Bicalho, distrito de Nova Lima, 23 quilômetros de Belo Horizonte, abrem suas casas para receber os turistas. Elaborado pelo Departamento de Turismo de Nova Lima, ele vem sendo desenvolvido desde 2007, e visa a promoção do turismo e o desenvolvimento econômico do local. Segundo Tatiana Geckler, responsável pela idealização e implementação do projeto, há dois anos foi feio um levantamento sobre o potencial turístico da região, quando se notou a importância do ecoturismo, da mineração e do artesanato para a região. "O objetivo era preservar o local como ele é e adequar a

comunidade a esse tipo de serviço em potencial. Muitas cidades possuem pousadas, mas os donos não são da comunidade local. Essas pessoas não estão preparadas para receber esse turismo. Então, nós fizemos o contrário, preparamos as pessoas para esse tipo de serviço", explica. Bairro Honório Bicalho é onde começa a história novalimense, quando surgiu juntamente com o ciclo de mineração da Mina do Morro Velho. Desativadas as minas, muitas pessoas ficaram ociosas, sem uma ocupação ou mesmo fonte de renda. Sendo o turismo gerador de trabalho, renda, impostos e taxas para os municípios, além de proporcionar a melhoria da qualidade de vida de todos que residem na cidade, há dois anos a Prefeitura Municipal de Nova Lima, através do Departamento Municipal de Turismo, promoveu mobilização para implantar o Projeto Hospedagem Domiciliar, com atividades para sensibilizar a população local sobre a exploração turística. "No início procuramos apresentar o turismo como prestação de serviços e a possibilidade de criação de um calendário de eventos, a fim de que os próprios moradores se tornassem os gestores do turismo em Bicalho, além de gerar renda para as famílias da região", declarou Tatiana

Pessoa. Desta forma, aquelas famílias que se identificaram com essa proposta estão tendo condições de obter benefícios, visto que a indústria turística gera trabalhos, aumenta a renda, gerando oportunidades para criação de pequenos negócios. Uma empresa especializada no setor foi contratada para ministrar cursos e aperfeiçoamentos, ensinando desde empreendedorismo até higiene e manipulação de alimentos. "Levamos camareiras, reformamos os imóveis, demos cursos de culinária para as famílias, levamos nutricionistas, pessoas para ensinar sobre a higiene dos alimentos, além de aulas sobre o atrativo natural da cidade", comenta Tatiana. PORTAS ABERTAS No último período carnavalesco tiveram início as atividades, envolvendo toda a comunidade para receber turistas. Sônia Maria Batista, professora aposentada, depois de promover uma ampla reforma em sua casa, abriu as portas para receber nove pessoas nessa fase inaugural do projeto. "Eu os tratei como se estivesse recebendo meus próprios familiares. Foi uma experiência ótima, serviu como um treinamento para todas as famílias participantes, além de trazer uma renda extra", declarou. Assim como Sônia, a auxi-

Andréia e Odair participam do projeto Hospedam Domiciliar, nova fonte de renda para os moradores da região liar administrativa Andréia Gonçalves, de 40 anos, se interessou em participar do projeto criado pela prefeitura quando iniciaram-se as reuniões na comunidade. "Queria aumentar a renda familiar e essa era uma boa forma, então sou auxiliar administrativa durante a semana e recebo hóspedes em casa nos finais de semana", conta. Para que o projeto pudesse ser implantado no carnaval, houve a necessidade de uma estruturação básica das casas pré-selecionadas. "É necessário que a residência tenha uma aparência boa, seja limpa, com pelo menos três quartos e um bom banheiro", conta Tatiana. Como muitas pessoas não estavam realmente preparadas, nessa primeira experiência montou-se um esquema em conjunto entre todos. "Cada família acabou

participando de uma forma. Uns com a hospedaria, outro com o almoço, outro com o café-da-manhã, outra com os passeios ecológicos", explica Luciana. Nessa primeira experiência, Andréia ficou responsável pelo almoço, enquanto sua casa não se encaixava nos padrões exigidos no projeto. Já o vizinho Carlos Afonso Ferreira ficou responsável pelo café da manhã, Délcia Fátima Mendes Lucindo ofereceu a sobremesa, Odair Gonçalves foi o condutor de atrativos naturais. HÓSPEDES José Honório da Cruz, 52 anos, motorista particular, residente no Bairro Nova Gameleira, em Belo Horizonte, participou juntamente com a esposa e conta que "foi legal a hospitalidade. Pessoal agradável, comida ótima, excelentes passeios

ecológicos. Experiência tão boa que pretendo voltar com meus filhos e netos", conta. O diferencial da hospedagem domiciliar é o clima familiar que não se encontra nos tradicionais hotéis, oferecida por um custo bem menor. Os turistas participam do dia-a-dia da família e da comunidade, vivenciando a cultura local, através do contato com a história do município. "Senti como se estivesse na minha casa, fazia tempos que não vivia momentos assim na minha vida. É algo diferente, muito bom pra relaxar e eliminar o estresse do dia-a-dia. Couve colhida na hora, suco de laranja apanhada do pé, foi muito bom, e logo pretendo voltar", diz Maria Isabel Gomes, 50 anos, recepcionista, também moradora do Bairro Nova Gameleira, que participou do projeto no carnaval.


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