Jornal Marco - Ed. 267

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Crianças se interessam por concursos que testam seus conhecimentos nas mais diversas áreas do saber, como matemática e astronomia. Página 6

MAIARA MONTEIRO

MAIARA MONTEIRO

RAFAELA GOLTARA

Moradores do Bairro Ouro Minas reivindicam a varrição e capina das ruas que dão acesso às escolas e comércios da região. Página 4

Famílias, que ocuparam um terreno no Bairro Céu Azul, reivindicam a legalização de sua posse junto à Prefeitura de Belo Horizonte. Página 8

marco jornal

Ano 37 • Edição 267

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Junho • 2009

UMA VIDA NA VILA 31 DE MARÇO MAIARA MONTEIRO

A Vila 31 de Março, localizada na Região Noroeste da capital mineira, consegue mesclar tranquilidade e bem-estar, típicos de uma cidade do interior, com o constante barulho de buzinas provenientes da proximidade com o Anel Rodoviário. Com 45 anos de existência, a vila atualmente abriga 1949 moradores e faz parte da história de três gerações da família D’Ávila, que acompanhou as várias mudanças desde que o local tinha apenas uma caixa d’água comunitária para todos os moradores. Darmaris, que faz parte daquela família, diz não trocar a vila por nenhum outro lugar e que, quando se viu obrigada a morar em outro bairro, sentiu falta de aspectos práticos e da calmaria. Página 16 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição

Fotógrafo guarda memórias de uma extinta emissora da TV brasileira PÂMELLA RIBEIRO

Os dilemas da relação entre aluno e professor A professora e psicóloga Margarete Miranda, baseada em suas experiências profissionais na vida acadêmica, sentiu a necessidade de estudar com maior profundidade o relacionamento em sala de aula que muitas vezes é

considerado problemático. Autora da tese “A criança problema e o mal estar dos professores”, ela passou a ouvir os relatos dos professores que, reunidos em pequenos grupos, expunham as situações vividas e trocavam saberes.

A especialista afirma que, nessas conversas, os professores passam a enxergar sua contribuição para situações de incômodo, desmistificando a ideia de que o problema estava nas ações dos alunos. Página 13

MAIARA MONTEIRO

Vizinhança solidária aumenta segurança nas ruas da capital

Aos 15 anos, Carlos Fabiano teve seu primeiro emprego na televisão, veículo de comunicação que acabava de chegar ao Brasil. Auxiliar de portaria, servente de pedreiro, auxiliar de carpinteiro e iluminação, foram algumas de suas ocupações na TV Itacolomi. Apaixonado por fotografia desde os nove anos, quando ganhou sua primeira máquina fotográfica, foi na emissora que ele desenvolveu a arte de retratar imagens. Pelas lentes do equipamento de Fabiano foram registrados em torno de sete mil negativos, dando origem a um acervo histórico da campeã de audiência televisiva em Minas Gerais nas décadas de 60 e 70. Atualmente, ele é membro do Grupo de Gestores do Programa do Governo Federal “Luz Para Todos” e atua na área do cooperativismo, participando de congressos ao redor do mundo. Página 15

Bairros de Belo Horizonte têm buscado soluções para diminuir a violência. O projeto Rede de Vizinhos Protegidos, em parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais, visa inibir ações criminosas com a colaboração dos vizinhos. Por meio de apitos e senhas, e contato direto com o policiamento local, moradores se comunicam e alertam para movimentos estranhos. Márcia Baião (foto) não esconde seu entusiasmo. Página 9 PÂMELLA RIBEIRO

Taxistas transportam histórias e enfrentam desconforto em BH A rotina dos motoritas de táxi de Belo Horizonte não é fácil. Problemas com trânsito, alimentação e higiene são comuns no dia a dia dessas pessoas. Um projeto de lei de autoria do vereador Fred Costa foi aprovado pela Câmara Municipal e propõe beneficiar cerca de 11 mil condutores, como Edson Fialho (foto) com instalação, em pontos de táxis, de rede elétrica, água e esgoto. Isso proporcionaria mais qualidade de vida e condições de trabalho aos profissionais. Página 7


2 Comunidade

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Junho • 2009

EDITORIAL

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Jornal laboratório é compromisso com a liberdade de expressão

EVENTO MOVIMENTA A PRAÇA DA COMUNIDADE Moradores da Região do Dom Cabral tiveram acesso a serviços de saúde e participaram de várias atividades recreativas DIANA FRICHE

n CAMILA LAM, DIANA FRICHE, 5º E 4º PERÍODO

n ALINE SCARPONI, 3º PERÍODO

Principalmente no atual contexto histórico, no qual a formação jornalística é discutida e desvalorizada, por meio do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, é válido pensarmos a respeito do valor da informação, sua repercussão na sociedade e a qualidade da formação daqueles que a produzem. Como jornal laboratório, o MARCO tem reflexo direto na formação de seus repórteres. Conceitualmente, jornal laboratório é todo aquele produzido por estudantes do curso de jornalismo e que tem como objetivo possibilitar ao acadêmico a prática das teorias aprendidas em sala de aula, contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades de apuração e escrita. Na prática, esse conceito não se restringe ao puro aprendizado e aperfeiçoamento da técnica de entrevista e redação. Ele transcende o sentido da fôrma e passa a forma. Como isso é possível? Por meio da rica oportunidade que o jornal laboratório confere ao repórter de transitar pelas diversas realidades urbanas, e apurar seu olhar para extrair de cada uma delas a sua essência, a sua notícia. Mais que se propor ao constante exercício de confecção do texto, vivenciar um jornal laboratório é se dispor a absorver e aprimorar seu próprio conteúdo humano. Neta edição, nossos repórteres permearam diversos cenários, procurando em cada um deles a sua singularidade. Gabriel Duarte, repórter da matéria "Rotina e histórias vão de táxi”, conta ter ficado emocionado ao ouvir o depoimento de um taxista. "Ele me disse que por ter sido assaltado teve que adiar a compra do colchão para a cama da filha", lembra Gabriel. Na matéria "Famílias ocupam terreno em BH”, a repórter Rafaela Goltara teve contato com a realidade daqueles que ainda resistem e esperam um local de moradia. Já percorrendo os campos da ciência, Fernando Rocha aborda, em sua matéria, o trabalho de uma ginecologista que convida as mulheres a se cuidarem. Ele revela que sua expectativa inicial de dificuldade na condução da entrevista com a médica foi contrariada devido à linguagem informal utilizada por ela. Além disso, embora o assunto em destaque fosse voltado ao público feminino, Fernando diz ter aprendido muitas "receitas" que contribuem para a melhoria da qualidade de vida, preocupação universal. Por isso, a existência de um jornal laboratório como possibilidade de enriquecimento do curso de jornalismo, é fundamental para garantir a associação da prática das técnicas de entrevista, apuração e redação, que dificultam sim a veiculação de notícias inverídicas, com o desenvolvimento de qualidades mais abrangentes. Ao vivenciar um jornal laboratório, o repórter exercita a paciência ao ouvir a construção das narrativas, o bom senso na seleção do que será escrito e o respeito com a fonte por meio da fidelidade na reprodução do que foi dito. Observa também, a sutileza que se faz necessária quando se adentra um ambiente em que não se foi convidado e, sobretudo, aprende a aliar o conceito de responsabilidade e compromisso com o que é de utili-

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Aline Scarponi, Camila Lam, Diana Friche, Isabella Lacerda e Bianca Araújo (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Maiara Monteiro e Pâmella Ribeiro Monitor de Diagramação: Marcelo Coelho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

Pedro Francisco dos Santos, de sete anos, foi à Praça da Comunidade com sua prima Jessiane Campos Santos, de cinco, na manhã ensolarada do dia 30 de maio. A praça localizada no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, abrigou o evento cujo objetivo era a mobilização dos usuários e entidades de assistência social para maior participação na Comissão Local de Assistência Social (Clas IV). Pedro aprovou o escovódromo e foi duas vezes escovar seus dentes. "Gostei de lá, o espelho é legal e a gente ganha escova de dentes", conta. A barraquinha contava com diversas pias e espelhos com formato de sorriso, para que a escovação fosse feita de forma descontraída. Cristiane Ferreira Michele, assistente social da Sociedade Mineira de Cultura e representante da PUC Minas na Clas IV, diz que 50 pessoas compareceram à palestra "Participação popular no controle social do Sistema Único de Assistência Social (Suas)" e por volta de 150 pessoas prestigiaram o evento. O vice-presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, Maurício Antônio de Sales, avalia como razoável a presença dos moradores. "Muitas crianças compareceram à palestra, mas o ideal era que os pais delas estivessem aqui. Na verdade, o dever dos adultos é de passar informações as crianças e não o contrário", explica. Maurício acrescenta que é visível a popularidade das barraquinhas e a falta de participação dos moradores nos assuntos que são de interesse da comunidade. Apesar da presença dos moradores não ter correspondido às expectativas, Luciene Leão, responsável pelo Projeto Rondon afirma que o processo de mobilização é gradativo. "Para o primeiro momento foi bom", sintetiza. "A semente já foi semeada e agora está começando a germinar", observa o gerente regional de Políticas Sociais da Região Noroeste, Marco Cavalcante. O evento contou com estandes de saúde do Serviço Social de Comércio (Sesc), que ofereciam aos moradores serviços gratuitos, como medição de pressão, avaliação de peso e medida, controle de diabetes, grupo sanguíneo e o escovódromo. Além da presença do Sesc, a Pastoral da Criança, as associações dos bairros Coração Eucarístico e Vila 31 de Março, o projeto Vivendo Feliz e o grupo Fé e Política estavam entre os expositores, que tiveram as barracas cedidas pela Paróquia Bom Pastor. Um dos estandes mais visitados pelos moradores era o escovódromo, que mostrava a importância da higiene bucal. Regina Bitencourt, dentista e coordenadora do local, diz que foi bastante comum aparecerem as mesmas crianças diversas vezes

Crianças da Região Noroeste da capital estiveram na Praça da Comunidade e participaram de atividades recreativas na barraquinha. Ela contava com a ajuda de voluntários que ensinavam às crianças a forma correta de limpeza dos dentes. Regina, que é especialista em Saúde Coletiva, conta que iniciativas como esta fazem com que as crianças aprendam que o hábito de escovar os dentes pode ser bastante agradável. “Trabalho com uma linha pedagógica de auto cuidado, pois a boca e os dentes também fazem parte do corpo", esclarece a dentista. A estudante de enfermagem da PUC Minas Luciana Gonçalves trabalhou como voluntária pela primeira vez no escovódromo e conta que viu muitas crianças que, após escovarem

meio de um panfleto que recebeu no posto de saúde e chamou sua família para comparecer ao local. Ela levou seus pais e sua filha, Luiza Aleixo Pacheco, de apenas dois anos. Seu pai, José Maria Bontempo, é morador do Bairro Dom Cabral há 25 anos e aprovou a presença das barraquinhas do Sesc. Ele aproveitou para medir sua pressão, cuidado que toma regularmente e ficou interessado ao ver a barraquinha do grupo sanguíneo. "Ainda não sei qual o meu tipo sanguíneo, agora vou lá para descobrir", assume. No estande de medição da pressão estava a voluntária Natália Melgaço de Souza. Ela afirma que a comunidade

DIANA FRICHE

As gêmeas Agatha Gabriela e Agnes Rafaela fizeram controle de peso no local seus dentes, ficavam com a gengiva sangrando, sinal que não cuidavam de sua saúde bucal. Segundo ela, o evento é importante tanto para a comunidade como para sua formação profissional. "Acho que o pessoal da região precisa de eventos como esse, é muito importante para eles. Para mim também é muito importante, porque é uma forma de ver com quem eu vou lidar quando formar", resume a estudante. A promotora de eventos Lílian Aleixo Xavier Pacheco ficou sabendo do evento por

recebeu muito bem o evento. "As pessoas gostam tanto que fazem uma maratona pelas barraquinhas", brinca. "Sou o primeiro homem a ser coordenador da pastoral", brinca Carlos Humberto Pena. Ele é o coordenador de Comunidade, da Pastoral da Criança e responsável por pesar as crianças na barraca. "O controle de peso da criança é muito importante, ele informa o peso ideal pela idade”, explica. A moradora da Vila Savassinha, Graziela Silva Chaves estava na barraca para que Carlos pesasse as

gêmeas Agatha Gabriela e Agnes Rafaela, de dois anos e um mês. "Eu queria ter ficado mais lá nas outras barraquinhas, mas as meninas ficaram correndo uma atrás da outra", conta. Ela afirma que sempre participa de eventos da comunidade e gosta do controle de peso, porque os responsáveis conversam sobre assuntos de seu interesse.

MÚSICA A dona de casa Carla Cristina de Rezende estava à procura de roupas na barraca da Creche Bom Pastor, em que todas as peças eram vendidas a R$ 1. "Sempre tem alguma coisa, bom que é baratinho e ainda ajuda a creche", revela. Ivete Parreiras coordena a creche e explica que recebe doações durante o ano todo. "As roupas que recebemos são boas. O bom é que com as doações, podemos socializar com a comunidade o que ganhamos", esclarece. A música esteve presente durante o tempo em que acontecia o evento e a animação das pessoas era visível. Quando o estudante de Magistério do Odilon Behrens Magno Henrique Alves de Araújo deu início à sua apresentação de hip-hop, as crianças que estavam na praça se entusiasmaram. Após a apresentação, ele começou a ensinar passos para as crianças e até mesmo adultos se arriscaram a seguir a aula. Como voluntário, era a segunda vez que ele participava de um evento como esse. "Achei maravilhoso, quanto mais gente gostar de dançar, melhor", garante. Responsáveis pela barraquinha da Vila 31 de Março as irmãs Thaís Camisassa e Walkyria e Maria Teresinha Almeida Santos aproveitaram o evento. "Maior delícia, músicas muito alegres, estou adorando!", revela Thaís. Em sua barraca estavam expostos toalhas, aventais, joguinhos, sabão, sapatinhos, bijuterias, terços, cuja renda das vendas seriam destinadas para a Paróquia Bom Pastor.


Comunidade Junho • 2009

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MORADORES REIVINDICAM PASSARELA Por causa da dificuldade em atravessar a Avenida Tereza Cristina, que corta vários bairros de Belo Horizonte, população local pede a instalação de ponte para travessia de pedestres RICARDO MALLACO

n GABRIEL DUARTE, CLARRISSE SOUZA, 3° PERÍODO

Aos 80 anos, com dificuldades para andar, mas ao mesmo tempo responsável pela maioria das tarefas domiciliares, R a i m u n d o Fe r n a n d e s dos Santos precisa caminhar por mais de 20 minutos para chegar à Avenida Tereza Cristina, onde se localiza o ponto de ônibus mais próximo de sua casa em direção ao centro de Belo Horizonte. M o r a d o r h á q u a t ro anos da Rua Prados, no B a i r ro C a r l o s Pr a t e s , Região Noroeste de Belo Horizonte, o aposentado percor re este trajeto várias vezes por semana. Para chegar ao outro lado da via, o m o r a d o r, q u e u t i l i z a uma bengala para se l o c o m o v e r, t e m d u a s opções: atravessar o Viaduto Ângelo Pedersoli, correspondente a 1,5 quilômetros de caminhada, ou seguir pelo caminho mais arriscado, que é o de cruzar a avenida passando por dois semáforos interca-

Raimundo Fernandes precisa andar 20 minutos até chegar ao ponto de ônibus lados por uma mureta de proteção, que demanda mais de meio quilômetro. Outra forma de atravessar para o outro lado, muito comum entre os moradores da região, é passar pelas vigas de concreto do Ribeirão A r r u d a s . A c o s t u re i r a

Ana Maria Veríssimo, 53 anos, é uma das pessoas que utiliza este meio alternativo para chegar ao seu local de trabalho, n o B a i r ro Pr a d o. E l a , que mora há 30 anos no Bair ro Carlos Prates, conta que prefere passar e m m e i o a o s c a r ro s a dar a volta pelo viaduto.

"Tem que ter uma solução para a gente ter mais acesso ao ponto de ônibus", reclama. Apesar de ser mais perigoso, Ana justifica sua escolha pelo fato de o trajeto, por meio do viaduto, ser muito longo. Ela afirma que prefere passar pelas vigas, pois não tem paciência para dar a volta pelo c a m i n h o m a i s s e g u ro. Mesmo assim, relata que fica “quase uns vinte minutos esperando os car ros passarem para atravessar”. A costureira afir ma que vários moradores já caíram dentro do Ribeirão Arrudas ao tentar fazer a travessia como ela e se queixa ainda sobre a falta de uma passarela na região para facilitar o acesso ao outro lado da Avenida Tereza Cristina. A maior reivindicação feita pelos moradores para solucionar o problema é a construção de uma passarela entre as ruas Prados e Espinosa. O ex-presidente da Associação Pró-Carlos Prates (Aprocap), Wladimir Henrique Scheid, explica que já foram apresen-

tadas solicitações à Prefeitura, porém não houv e r e t o r n o. “ H á t r ê s anos e meio pedimos isto. Já briguei, já discuti, mas eles prometem, prometem e não tomam nenhuma providência”, reclama. Segundo Scheid, como não há neste momento um representante oficial da associação, a mobilização dos moradores está enfraquecida. Por este motivo, o ex-presidente afirma que é necessária primeiramente uma reestruturação da entidade, para assim apresentar reclamações mais concisas. “Nós estamos tentando reorgan i z a r, p a r a p a r t i c i p a r destas reivindicações”, explica. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), por meio de sua assessoria de imprensa, afirma q u e j á h á u m p ro j e t o específico para a área, porém ele não prevê a construção de uma passarela, e sim a melhora da travessia por intermédio da implantação de novos semáforos. O órgão ainda es-

clarece que o local faz parte da obra Boulevard Arrudas, que consiste na cobertura do Ribeirão Arrudas visando à melhoria do fluxo de veículos que passam pelo local. De acordo com a assessoria, tudo está sendo feito da melhor maneira possível para atender a população. A S u d e c a p , n o e n t a n t o, informa que não há previsão para a execução da obra no Carlos Prates.

COMO REIVINDICAR Para fazer uma solicitação ou reclamação perante à Prefeitura algumas ações devem ser tomadas pela população. É n e c e s s á r i o, e m p r i m e i r o l u g a r, que o cidadão se dirija à sua regional e apresente a reivindicação de maneira formal, por meio de um documento por escrito. A partir disso, a Regional vai analisar por intermédio de seus conselhos a reivindicação, para depois encaminhála ao órgão responsável. Analisado o caso, o órgão decidirá se o pedido é viável ou não.

Asfaltamento da Beira-Linha está em fase final n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 4º PERÍODO

Percorrendo uma via do Bairro São Gabriel percebese que a Rua Padre Argemiro Moreira, popularmente conhecida como Beira-Linha, é nova, o asfalto é novo, o nome oficial é pouco conhecido e a obra não está totalmente concluída. Os moradores reivindicam a continuidade das melhorias, como limpeza e retirada de entulhos e até o deslocamento de uma pedra exageradamente grande. Não serão todas as melhorias solicitadas pelos moradores, que poderão ser atendidas em um primeiro momento, pelo fato de a área não ser regularizada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). A Rua Beira-Linha, como é mais conhecida, surgiu do nada, onde havia apenas um pequeno trilho e hoje facilita a interligação entre os Bairros Ouro Minas e São Gabriel, começando exatamente onde foi inaugurada uma outra obra, também do Orçamento Participativo da Prefeitura de Belo Horizonte, a ponte sobre o Ribeirão do Onça, entregue recentemente à população que permitiu o trânsito entre o São Gabriel, Ouro Minas e bairros adjacentes, como a Região Norte. Mas não foi uma obra conquistada com facilidade. Conforme matéria publicada na edição 256 do MARCO, em março de 2008, a obra mais votada do Orçamento Participativo

Digital àquela época foi a construção da ponte sobre o Ribeirão do Onça. Os moradores entendiam que a obra deveria ser completa, incluindo o asfaltamento da Rua Padre Argemiro Moreira, a Beira-Linha. Houve mobilização, as associações comunitárias se uniram, envolveram seis vereadores que participaram da audiência pública. Ao final do processo, o então prefeito Fernando Pimentel foi favorável à obra completa. É unanimidade entre os moradores, o asfalto ficou muito bom, no entanto isso trouxe um problema: o excesso de velocidade de alguns veículos que por ali trafegam. Na entrada, ao lado da ponte, há uma placa sinalizando que a velocidade máxima é 40 quilômetros por hora, que, no entanto, é desrespeitada por muitos. "A rua ficou muito boa, mas está perigosa por causa da alta velocidade dos carros", diz a dona de casa Danila Mendes da Silva, 28 anos. Ela ainda aponta para uma enor me pedra em frente à sua casa, que precisa ser retirada dali, como também a quantidade de entulhos jogados, em um bota-fora irregular ao longo da via. As vizinhas Eliane Cardoso da Silva, 33 anos, dona de casa e a auxiliar de ser viços gerais Denise Aparecida de Paula, 36 anos, fazem coro com Danila. "O asfalto ficou ótimo, mas faltam os postes de iluminação na rua e rede de água e esgoto", conta Wanderson Mateus de Paula, que diz não pagar Imposto

Predial e Territorial Urbano (IPTU), por falta dessas melhorias. Essas reivindicações também foram apontadas por várias outras pessoas. "Ficou melhor que antes, quando tinha muita poeira e chegávamos com os pés sujos na escola", compara a estudante da 6ª série do curso Fundamental, Daisyelem Helena Mapa, de 13 anos.

DIVISÃO Contrapondo com o progresso dessa obra, houve a divisão da comunidade de ciganos que vivia no local há mais de duas décadas. "Decidi ficar aqui, pois tenho um filho de 35 anos que tem problemas mentais, necessitando cuidados médicos. Ele faz tratamento no posto de saúde do Bairro São Gabriel. E tenho outro filho que trabalha com comércio de 'topa-tudo', ajudando no sustento da família", explica a cigana Maria Amaral, de 60 anos, mãe de dois filhos. "Luto com muita dificuldade e decidi continuar aqui mesmo. Antes da obra eram 30 barracas e hoje ficaram apenas três, pois eles estavam acampados justamente no local que passou a nova via pública", explica. De acordo com Arizio Alves, presidente da Associação Comunitária do Bairro Ouro Minas, a obra ainda não foi finalizada. “Pelo projeto que foi apresentado

em abril de 2008 às associações comunitárias da região ainda faltam a iluminação, arborização e aumento da largura dos passeios laterais de forma a totalizar 15m", diz. A respeito da linha de ônibus para cobrir a nova via, foi protocolada junto a BHTrans, em 1º de abril de 2009, ofício solicitando a extensão até o Bairro Ouro Minas da linha 3502 - São Gabriel/Ouro Preto. "Essa mudança, de interesse da empresa prestadora de serviços, foi manifestada à nossa associação", completa Arizio.

RESPOSTAS OFICIAIS Sobre as reivindicações dos moradores, os três órgãos

responsáveis fazem seus respectivos posicionamentos. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), por meio de sua assessoria de comunicação, revela que a Rua Padre Argemiro Moreira ainda não é atendida com serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos, por força de determinação de Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público. O TAC impede que a empresa implante suas redes em áreas não regularizadas pela Prefeitura. "Quanto ao entulho, será feita uma vistoria, vamos recolher sim. Será enviada uma equipe na via citada, com máquinas para a

limpeza", informa o assessor de comunicação da Regional Nordeste da Prefeitura de Belo Horizonte, Júlio César Soares. A BHTrans, por sua vez, confirma o pedido para que a linha 3502 fosse até o Bairro Ouro Minas, passando pela nova rua. “Esse pedido foi indeferido pela Comissão Regional Transporte e Trânsito (CRTT), revelou o assessor de comunicação da empresa, Gilvan Marçal. Segundo ele, a negativa ocorreu por causa da regra de encaminhamento e espaço do pedestre, que prevê uma distância de 500 metros que tem que ser observada entre um ponto de um itinerário e outro. “A linha 3503 passa próximo", explica Marçal.

ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA

Moradores da Região Nordeste da capital reivindicam o asfaltamento da Rua Padre Argemiro Moreira, a Beira-Linha


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Junho • 2009

MAIARA MONTEIRO

LIXO INCOMODA MORADORES DO OURO MINAS O bairro, que tem sofrido com o acúmulo de entulho, tenta buscar soluções na prefeitura n RAFAELA GOLTARA, 1° PERÍODO

Abandonados em meio à sujeira. É assim que os moradores do Bairro Ouro Minas, situado na Região Nordeste de Belo Horizonte, estão se sentindo. Por intermédio da Associação Comunitária do Bairro Ouro Minas (Ascom), eles reivindicam a varrição quinzenal e a capina das principais ruas de acesso ao comércio e à escola do lugar. O informativo da associação circula comunicando aos moradores as ações e ofícios encaminhados à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte solicitando ajuda. O vice-presidente da entidade, Gilmar Barbosa dos Santos, informou que a principal rua do bairro, Santa Leopoldina, é a mais afetada pelo problema devido ao comércio e à escola. "Nós já encaminhamos um ofício para a Regional Nordeste informando a situação. Eles responderam que o Bairro Ouro Minas nem está cadastrado na prefeitura, é reconhecido como Bairro Jardim Belmonte", revela. A moradora Sandra de

Matos Caetano acredita que a varrição ajudaria a melhorar o problema do lixo. "Sempre que chove os bueiros entopem, a água se mistura ao esgoto e escorre pela rua por vários dias", afirma.

RISCOS Para Maria de Lourdes Brito Silva, que trabalha no Centro de Saúde Olavo Albino como agente comunitário de saúde, a água empossada nas ruas é um grande problema. "As crianças estão sempre adoecendo porque brincam na água empossada, ficando, assim, expostas a várias doenças. Eu atendo crianças doentes frequentemente", conta. Morador do Bairro Ouro Minas há 15 anos, Luiz Antunes da Silva, reclama que o lote vago ao lado de sua casa virou depósito de lixo e de doenças. "Aparecem ratos, baratas e outros insetos como o mosquito da dengue. Eu e minha esposa já tivemos dengue", revela. Outro problema do bairro é o entulho jogado à beira do Córrego do Onça. O vice-presidente da Ascom contou que os carroceiros, que são cadastrados na Prefeitura

para recolher entulho, despejam tudo dentro e nas margens do córrego. "A Rua Santa Úrsula fica às margens do córrego. Os carroceiros jogam tudo lá e quando chove o nível da água sobe e invade as casas, levando o lixo junto", afirma. O carroceiro José Eustáquio contou que existe uma Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV) no Bairro São Gabriel, que é o local correto para depositar o entulho. “Nós temos que subir até o topo da rua para chegar à caçamba. A mula não consegue subir puxando a carroça e o entulho. Deveria ter uma caçamba aqui em baixo", sugere. Segundo Wadson Vieira Dias, engenheiro de Programas Especiais da Superintendência de Limpeza Urbana, as URPVs precisam ser instaladas em áreas públicas e sem causar danos aos moradores da região. Para isso, é feito um estudo específico da área de forma a atender às necessidades da população. "Os carroceiros podem transportar até dois metros cúbicos de entulho para as URPVs. Eles precisam se conscientizar e não

Rua Santa Úrsula, às margens do Córrego do Onça, sofre com a grande quantidade de sujeira despejada no local assumir demanda maior que o per mitido. Para ajudar nessa fiscalização, o município deve pedir ao carroceiro o comprovante de despejo na URPV, que é fornecido a cada descarga", informa. Wadson ainda salientou que a SLU recebeu de algumas associações de bairros pedidos de implantação de novas URPVs. “Estamos estudando os pedidos e fazendo um planejamento para melhor atender às demandas das regiões”, conclui.

VARRIÇÃO O diretor de Planejamento e Gestão d a S LU , L u c a s Pa u l o Gariglio, explicou que já existe um planejamento pronto para ampliar a prestação do serviço de varrição. "Estamos concluindo alguns ajustes das ruas novas que foram abertas no bairro. Depois disso, a Prefeitura terá que aprovar para

então liberar o recurso d o p ro j e t o. A p e s a r d e não ter varrição de rotin a , a re g i o n a l p re s t a manutenção aos bairros através de uma equipe de Multitarefa." Lucas também informou que a Regional Nordeste já tem 70% da área atendida, 395 quilômetros de vias capinadas rotineiramente, 6.500 bocas de lobo limpas men-

salmente, 600 lixeiras instaladas e previsão de instalação de mais uma URPV no Bairro Goiânia. O diretor ressalta que é muito importante que os moradores participem da limpeza do bairro. “As pessoas precisam fazer sua parte, jogando o lixo nos locais certos. É como o lema da SLU 'Cidade limpa não é a que mais se varre e sim a que menos se suja'," conclui.

Serviços da SLU A SLU disponibiliza alguns serviços para melhorar a qualidade de vida da população. Os moradores do Bairro Ouro Minas podem solicitar e utilizar a qualquer momento. LEV (Local de Entrega Voluntária) para lixo reciclável: papel, plástico, metal e vidro: Rua Zumbi, esquina com Avenida Esplanada, 72, São Gabriel. URPV (Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes): Avenida Esplanada, 72, São Gabriel. Recolhimento de animais mortos ou outros serviços relacionados com a varrição: Gerência Regional Nordeste: 3277-6092 /3277-6093.

Curso promove inclusão digital no São Gabriel JOSÉ MENDES JUNIOR

n JORGE MARQUES, 2º PERÍODO

É para ajudar a população carente a obter conhecimentos na área de informática que a Pastoral na Universidade, em parceria com a PUC Minas está promovendo o curso sobre o tema para alunos, funcionários e moradores na região do Bair ro São Gabriel. O curso faz parte do projeto Beira-Linha que atende a comunidade com diversos cursos de aperfeiçoamento e capacitação profissional, além de oficinas educativas. Foi por intermédio de amigos que Valdilene Neves Oliveira, 31 anos, soube do curso e fez sua inscrição. "Estou desatualizada. Não saber informática é como ser analfabeta. Esse curso significa muito para mim", explica. Buscando um emprego com carteira assinada, Valdilene, que é autônoma e que não tem computador, comenta que o início do curso foi difícil

Valdilene Neves Oliveira se interessou pelo projeto pois está em busca de qualificação para arrumar um emprego

diz que nunca tinha usado um computador e por isso tinha dificuldades em digitar os textos. "Cheguei a pensar em desistir do curso por não ter computador, agora já sei ligar o computador, salvar arquivo e formatar", comenta Neuza, feliz com o resultado. O apoio da família e o interesse em aprender informática foram fundamentais para a dona de casa continuar nas aulas. "A gente tem mais conhecimento. A pessoa que mexe com computador é muito mais informada e tem acesso a várias formas de comunicação", conclui.

MAIS CURSOS De acormas atualmente a situação é diferente. "Hoje melhorou bastante. O professor é muito paciente e os colegas são bacanas. Já até indiquei a três pessoas", revela. Empolgada com a oportunidade, Valdilene pretende ter uma base para saber usar o computador.

Futuramente ela pretende fazer o curso de telemarketing também pela Pastoral. Ministrado por alunos do curso de sistema de informação, o curso de informática tem duração de três meses com aulas de Windows, Word, Excel, Power Point e internet no período da

manhã, tarde e noite. As turmas têm em média dez alunos que utilizam o telecentro e o laboratório na PUC Minas para estudar. Para fazer as aulas não é necessário digitação, o grande problema de Neuza Maria Gomes dos Santos, de 60 anos. Ela

do com o frei Mário Taurinho, coordenador regional da Pastoral, a idéia do curso de informática é promover a inclusão digital e a geração de renda para os alunos. Ele informa que é grande a procura. No semestre passado foram atendidas 280 pessoas e o histórico é de poucas desistências desde

sua criação em 2004. Por isso, há planos de aumentarem o número de vagas e o espaço físico para novas turmas. Há também o projeto de criar novos cursos como digitação e manutenção de micros. Segundo o frei, a Pastoral conta com parcerias com os cursos de administração que dá o curso de vendas, telemarketing e auxiliar administrativo além do curso de contábeis que ensina economia doméstica e o curso de direito que participa com oficinas educativas. Para se inscrever no curso de informática é necessário ter no mínimo 14 anos e não precisa saber digitação ou sequer algo de informática. O aluno paga uma taxa simbólica de R$ 20, a ser usado no custeio de apostilas usadas durante o curso. Ao final de cada curso, o aluno que obtiver mínimo de 60% de aproveitamento e menos de 15 faltas ganha um certificado de conclusão.


Comunidade Junho• 2009

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MAIARA MONTEIRO

PROJETO MÃOS DE OURO É EXEMPLO DE CIDADANIA A cooperativa de artesanato reúne 20 donas de casa, cansadas da rotina do lar, em reuniãos no salão da comunidade Nossa Senhora da Aparecida, no Bairro São Gabriel n RÚBIO CÉSAR FIRMINO 7º PERÍODO

Situada no Bairro São Gabriel, na Região Nordeste de Belo Horizonte, a cooperativa de artesanato “Mãos de Ouro” faz parte do projeto social “Cidadania” que, desde 2004, atua na área com o objetivo de integrar cidadania, aprendizado e fonte de renda. A cada três meses são formadas turmas com 20 pessoas que se reúnem toda sexta-feira para aprenderem técnicas de artesanato. As reuniões acontecem no Salão da Comunidade Nossa Senhora Aparecida cedido pela Paróquia Nossa Senhora da Anunciação. A cada turma aberta é elaborado um programa de aulas e atividades diferentes. A turma atual, por exemplo, está desenvolvendo trabalhos como produção de colares, bijuterias, pinturas em tecidos, crochês e bordados. A cooperativa tem

como objetivo integrar a sociedade e gerar renda para seus cooperados que têm direito a 75% do que produzem, sendo que os outros 25% ficam para a cooperativa que reverte a renda na compra de matéria-prima para novas produções. Outra forma de obtenção de renda é por meio da contribuição mensal de R$ 10 que os cooperados matriculados fazem. O grupo é constituído por donas de casa que muitas vezes cansadas da rotina do lar buscam uma atividade para preencher o tempo e transformar sua disponibilidade em algo útil para a comunidade. Buscando preencher o tempo vago em algo rentável a artesã Sônia Arlete já se inscreveu para a próxima turma que funcionará a partir de agosto. Ela explica que procurou a cooperativa, para interagir com as pessoas e ter um trabalho fora de casa. “Porque ficar só dentro de

casa causa problemas como depressão, doenças, então quero sair para juntar com a tur minha, e também ganhar algum dinheiro”, revela. As aulas da turma atual são ministradas pela instrutora Mariza Siqueira que ressalta a importância social do projeto. “O que eu sei eu ensino a elas, para que elas passem o conhecimento para frente e transformem seu trabalho em uma fonte de renda”, comenta. A vendedora Francisca Balbina dos Santos destaca o valor da amizade adquirida durante as aulas. “É uma reunião com as amigas, a gente troca ideias, valorizamos mais o tempo em que estamos juntas, aprendemos umas com as outras, fazemos muitas amizades e descobrimos muitos talentos por aqui”, observa. Os trabalhos desenvolvidos são expostos em um bazar que acontece no mesmo local das aulas,

A aluna Maria Rosária da Silva se dedica ao artesanato em uma das reuniões organizadas pela cooperativa o último foi realizado em um domingo, dia 17 de maio. Os bazares funcionam como uma forma de expor e comercializar os trabalhos produzidos pelas artesãs do projeto e visa a ar recadação de renda, que é revertida para os cooperados e para a cooperativa. No mesmo local funciona também a Biblioteca Paulo Freire, situada no local há quase dois anos e que se mantém por intermédio de doações de livros. A biblioteca é aberta a toda população de Belo Horizonte para empréstimos e doações de livros. O coordenador do projeto social “Cidadania”, responsável pela cooperativa e vice-presidente da Associação do Bairro Ouro Minas, Gilmar Barbosa dos Santos, enaltece a

importância do trabalho desenvolvido. “Elas vêm para cá para encontrar pessoas com quem possam conversar, compartilhar dificuldades, alegrias, e, ao mesmo tempo, aprendem um ofício, uma atividade que pode gerar renda também”, revela. Ele completa dizendo que existe um laço de amizade muito grande entre as frequentadoras, porque quem está na cooperativa hoje são pessoas que passaram por vários cursos e que querem encontrar algo além do artesanato. “Querem encontrar um gr upo de pessoas para partilhar a vida”, acrescenta. Segundo ele, as tarefas são feitas na cooperativa e cada uma tem o direito a participação de 75% de tudo que é produzido.

“Para o projeto estabelecemos que ficam 25% do valor arrecadado, que vão para o caixa da própria cooperativa para a compra de mais materiais para as novas turmas que vierem. Também tem a contribuição mensal de cada uma delas de R$ 10 e a realização de bazares onde são vendidas nossas produções”, explica. Gilmar Barbosa observa ainda que o apoio de organizações e de pessoas é fundamental para a continuidade e o aperfeiçoamento do projeto. Os interessados em ajudar ou participar da cooperativa de artesanato “Mãos de Ouro” podem entrar em contato pelos telefones 3493-8719 ou 8334-8625 ou ir até à Rua Padre Argemiro Moreira (antiga Beira Linha), número 35, no Bairro São Gabriel.

Moradores fazem reclamações sobre ONG do bairro MAIARA MONTEIRO

n HELLEN TRINDADE, 6º PERÍODO

Alvo de insatisfação da comunidade local, a ONG Pauline Reichster, localizada atualmente no Bairro Dom Cabral deixará sua atual sede na primeira quinzena de julho. "A mudança não é algo para ser feita da noite para o dia, é preciso providenciar a a c o m o d a ç ã o n o o u t ro imóvel, e deixar o local em que estamos atualmente do jeito que havíamos locado", explic a a c o o rd e n a d o r a d a ONG, Magda Ziviane, que afirma que a dificuldade de encontrar outro imóvel para instalação da instituição, foi o motivo de ainda permanecer no bairro. Magda prefere não divulgar o local de dest i n o, p o r q u e s t õ e s d e adequação ao novo imóvel. "É necessário p r i m e i r a m e n t e p ro v i denciar reunião com a a s s o c i a ç ã o d e b a i r r o, articular a questão da resistência dos moradores quanto aos meninos, e também depender da demanda de profissionais para fazer

A ONG Pauline Reichster abriga menores infratores e tem sido vista de forma negativa por moradores do bairro o serviço", frisou. A ONG foi alvo de insatisfação por parte da comunidade do Dom Cabral. Desde sua instalação na sede que está sendo deixada, em 2008, moradores reclamam do comportamento dos meninos e da falta de estrutura para acolhê-los. A instituição realiza um trabalho de recuperação de adolescentes que cometeram

atos infracionais, em parceria com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), por meio do programa Semiliberdade, desde 2006. Uma matéria, publicada pelo Jornal MARCO, em novembro de 2008, "ONG do Semiliberdade sairá do Dom Cabral", relatou que a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, depois de ouvir os

moradores da comunidade, havia considerado que a Instituição Pauline Reichster, não estava adequada para abrigar os jovens. De acordo com o depoimento do ex-presidente da comissão, o deputado João Leite, a ONG já estava procurando outro lugar para se instalar e assim atender aos intere s s e s d a c o m u n i d a d e local.

A Secretaria de Estado de Defesa Social, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que a casa que desenvolve o programa Semiliberdade em questão, não atende às exigências do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), o que de forma, determinou a transferência da Instituição Pauline Reichster p a r a o u t ro l o c a l a d e q u a d o. E m m a i o d e 2009, a Subsecretaria Sócio Educativa determinou novamente à ONG a transferência para outro imóvel, o que ainda não aconteceu, por causa do atraso de obras no novo local. O Programa Semiliberdade é uma medida socioeducativa aplic a d a à m a i o re s d e 1 2 anos que cometem atos infracionais. To d a medida socioeducativa, busca orientar e apoiar o adolescente em conflito com a lei, com o objetivo de reintegrá-lo à vida familiar e comunitária. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), artigo 120, o adolescente deve pernoitar

ou seguir determinada rotina em instituições especializadas; podem realizar atividades externas, como estudos e c u r s o s p ro f i s s i o n a l izantes. A Seds por meio da Subsecretaria Sócio Educativa, executa tal medida em parceria com entidades não gover namentais, como as ONGs. Pa r a c h e g a r a e s s a medida socioeducativa, o adolescente em conflito com a lei, primeiramente passa pela delegacia especializada em infância ou juventude. Em seguida a promotoria recebe o caso e decide por abrir ou não o processo com base nos indícios da prática de ato infracional. Po s t e r i o r m e n t e , o juizado da infância e juventude recebe o processo e dá encaminhamento, podendo absolver ou sentenciar o acusado. A p ó s t o d o p ro c e s s o, constatada a culpa, o adolescente deve ser encaminhado para medida socioeducativa, que pode ser oferecida pelo estado ou por organização não-governamental.


6 Comportamento

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Junho • 2009

CRIANÇAS TESTAM SABER EM DISPUTA Estimulando a aprendizagem de alunos do ensino fundamental e médio, as olimpíadas do conhecimento reuniram 18 milhões de participantes interessados em diversas áreas da ciência MAIARA MONTEIRO

n LAURA ZSCHABER GUIMARÃES, 1° PERÍODO

Com o objetivo de criar uma forma mais estimulante para o estudo da matemática entre alunos e professores da rede pública de ensino, foi criada em 2004 a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Em sua última edição, em 2008, as 18 milhões de inscrições mostraram que a matemática, matéria tradicionalmente temida pelos estudantes, já não é mais um bicho de sete cabeças. Lucas Fontes, que estuda em uma escola pública da capital, está entre os inscritos pela segunda vez. "Os professores me incentivaram a participar da olimpíada no nono ano. Descobri-me como bom aluno quando fiz as provas. Sempre fui apaixonado por biologia, mas ao longo da olimpíada, mudei meu pensamento", afirma. A OBMEP, que já se tornou a maior olimpíada de matemática do mundo, tem uma estrutura organizada desde a preparação já que os professores fazem cursos de capacitação e as escolas em que trabalham recebem computadores e livros da matéria. As provas são feitas em três níveis para a quinta e a sexta séries; para a sétima e a oitava e para o Ensino Médio -, e passam por duas etapas: a de múltipla escolha, para todos e a discursiva, para os 5%

Possibilidade de um futuro promissor

A estudante Aline Bastos participou da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) em maio deste ano melhores.

INTERESSE

A estudante Aline Bastos conta que ficou sabendo da Olimpíada Brasileira de Astron o m i a e A s t ro n á u t i c a ( O B A ) s ó e s t e a n o. "Nunca tinha ouvido falar dessa olimpíada antes, mas se tivesse com certeza teria participado. Sempre gostei muito de ciências, de estudar o sistema solar, de ouvir as teorias sobre o surgimento do universo e sempre quis ir a um observatório ver Satur no e os outros astros fora da tela do computador e da televisão", diz. A olimpíada que é organizada pela Sociedade Astronômica Brasi-

leira (SAB), em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e com a empresa Furnas Centrais Elétricas, teve sua primeira etapa realizada no dia 15 de maio em todo o país e contou com questões que envolviam os modelos astronômicos, conhecim e n t o s s o b re G a l i l e u Galilei, cálculos, energia, reciclagem, gravidade e foguetes espaciais. O prêmio para os classificados nesta etapa será uma viagem a São Paulo onde terão aulas sobre astronomia e astronáutica e visitarão o obser vatório da cidade. Os que passarem também na segunda fase ganharão um curso sobre

astronomia e astronáutica e para a equipe finalista da terceira etapa, que será internacional, o prêmio será uma visita à Nasa, agência espacial norte-americana. "Para mim foi muito importante participar porque eu vi as premiações como uma chance de descobrir o que eu quero fazer da vida, já que eu não sei ainda que profissão quero seguir e até o momento o que mais me fascina é física e astronomia”, observa a aluna da nona série do Instituto Sagrada Família. “Eu gosto de ter alguma coisa me inspirando a estudar e a olimpíada foi uma ótima oportunidade pra tudo isso", complementa.

Promovida há mais de 20 anos no Brasil e organizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), a Olimpíada do Conhecimento é a maior competição de educação profissional das Américas. A olimpíada, que conta com 45 modalidades profissionais, possui três etapas que avaliam através de provas práticas dentro da profissão correspondente, o conhecimento e a experiência adquiridos pelo aluno durante o curso. A primeira etapa é uma seleção dos melhores alunos das unidades de cada estado e acontece dentro das próprias escolas. A segunda, a nível estadual, seleciona os alunos que ganharam medalha de ouro e classifica-os para a terceira fase onde os vencedores representarão o Brasil no Torneio Internacional de Formação Profissional. Para Araken Namorato, coordenador regional da Olimpíada do Conhecimento, a atividade é uma grande oportunidade. "Ao aluno são apresentadas as melhores tecnologias referentes à sua modalidade o que propicia a vivência prática altamente especializada e faz com que ele tenha um diferencial competitivo no mercado de trabalho, tornando-o assim,

um profissional desejado", diz. Segundo Araken, a olimpíada tem grande importância para o Senai já que é uma forma da escola se desenvolver juntamente com o aluno, aumentando assim o seu nível e dá a oportunidade de Benchmarking, isto é, a busca das melhores práticas para conduzir a um desempenho superior. "A competição ocorre a cada dois anos e tem como principal objetivo avaliar habilidades técnicas e práticas dos alunos participantes, considerando aspectos essenciais para um perfil profissional competente como a criatividade, a capacidade de liderança e de tomar decisões, a resolução de problemas, o autodesenvolvimento e as habilidades de comunicação e raciocínio crítico", afirma o coordenador. Os participantes, alunos do Senai de várias ocupações profissionais e de todas as unidades da federação, são julgados por aproximadamente cinco avaliadores: um avaliador líder e quatro sorteados que normalmente são especialistas do próprio sistema na modalidade concorrente. A prática de convidar especialistas de outras empresas para a banca examinadora é também usual.

Coral contribui com a aprendizagem de alunos MAIARA MONTEIRO

n BIANCA SOUZA, GLÁUBER FRAGA, 4º E 6º PERÍODO

Atividades escolares que trabalham o intelectual e o sensorial não são comuns na rede escolar brasileira. Na escola particular Madre Paula, situada no Bairro Providência, a situação é diferente. Os alunos do Ensino Fundamental têm a oportunidade de participar de atividades musicais no coral Canarinhos Escolápios. A maestrina Marilene Fer nandes, for mada em música sacra pelo Instituto de Recife, e em artes-cênicas pela Uni-BH, criou o projeto em 1998. O coral, que completará 11 anos em 2009, conta hoje com 230 estudantes, que ensaiam duas vezes por semana e realiza duas grandes apresentações por ano. O Canarinhos Escolápios também atua de acordo com a demanda de eventos da escola. Os alunos participantes trabalham músicas de estilos folclóricos e MPB. As atividades cênicas

são desenvolvidas nas coreografias. Segundo Marilene, a atividade estimula a concentração dos alunos e possibilita o maior aproveitamento escolar. "Essa foi à preocupação da escola desde o início. A instituição preocupa com a formação integral do aluno. Nós sabemos que a música é fundamental nesta for mação. Contribuímos na socialização dos alunos, na formação intelectual. Temos uma preocupação em escolher músicas adequadas com letras adequadas para a faixa etária. A música é transformadora. A música é fundamental para a formação integral das crianças", afirma a maestrina. O projeto não é só a oportunidade que os alunos têm de aprender a cantar e desenvolver uma atividade que possibilita um melhor aproveitamento escolar, mas também permite fazer novos amigos. "Eu acho legal que com o coral nós podemos conhecer novas pessoas. Conhecemos outros corais e compartilhamos as emoções e as histórias

que as músicas contam", diz a aluna Natália Andrade, de 13 anos. Pablo Henrique Teodoro, 14 anos, participante do Canarinhos Escolápios diz que cresce a cada apresentação. "Nos quatro anos e meio que participo, para mim foi e continua sendo muito bom. Aqui nós não só cantamos. Aqui conversamos, brincamos e é uma grande experiência a cada apresentação. Não é só uma oportunidade de cantar. O coral ajuda-nos a crescer e progredir", explica. Ele ainda ressalta a emoção que sente ao ouvir os aplausos ao término de cada apresentação. "O coração dispara e nós sentimos aquele frio na barriga", afirma. O aluno que deseja fazer parte do coral Canarinhos Escolápios precisa passar por um teste vocal. Segundo a maestrina, o projeto tem como meta incluir e não excluir os alunos da escola. Um terço dos alunos da Escola Madre Paula participa do coral. Canarinhos Escolápios faz parte do grande coral Família Escolápia, que incluem

Alunos do ensino fundamental, integrantes do coral Canarinhos Escolápios, ensaiam na Escola Madre Paula corais da Escola São José e da Creche Tia Lita. ANIVERSÁRIO A E s c o l a Madre Paula completou no dia seis de abril de 2009 quatro décadas de existência. A diretora Rita de Cássia Mota destaca a atuação da instituição em parceria com a família. "São 40

anos de muita educação. Nossa escola trabalha em p a rc e r i a c o m a f a m í l i a . Não transmitimos somente c o n h e c i m e n t o. Tr a b a l hamos a formação h u m a n a . Pa r t i m o s d o s princípios de São José de Calazans, que educar é cooperar com a verdade e de Santa Paula Montal que

é salvar as famílias", diz. A instituição que tem 684 alunos possui um trabalho de inclusão social. Grande parte dos estudantes não pagam as mensalidades, eles contribuem de acordo com a condição familiar. A escola realiza durante o ano atividades que celebram a data.


Comportamento Junho • 2009

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ROTINA E HISTORIAS VÃO DE TÁXI A rotina dos motoristas de táxis da capital é repleta de histórias, vivenciadas diariamente nas ruas, mas eles passam também por dificuldades com alimentação e higiene PÂMELLA RIBEIRO

n GABRIEL DUARTE, 3° PERÍODO

"Uma vez uma mulher deu sinal com uma porção de sacolas. Parei o táxi e fui ajudar. Fomos colocando as sacolas no carro. E fui levála no Parque Recreio, em Contagem. Chegamos lá e então fui ajudar a descarregar as sacolas. Ela disse: ‘Essas sacolas aqui não são minhas'. Fui abrir então, e vi que era tudo saco de lixo". Esta é uma das muitas histórias vividas por Alcir Silva, durante mais de duas décadas como taxista. Silva trabalha há nove anos no mesmo ponto de táxi, na Avenida Ressaca, Região Noroeste de Belo Horizonte. Ele conta que trabalha 12 horas por dia para sustentar a família, mas que não consegue ter o mesmo ritmo de quando iniciou. "Eu não aguento muito mais não”, afirma. Quem trabalha junto a Alcir Silva, no mesmo ponto, é Édson Fialho, que está há 36 anos atuando na mesma profissão. O taxista revela que o exercício da profissão não é fácil, porém, segundo ele, melhorou muito após seu casamento. "Eu comia na rua e a comida fazia muito mal. Depois que eu casei, passei a almoçar em casa", diz. Em algumas situações, o taxista é mais do que um motorista. "Eu peguei uma mulher grávida para um bairro em Ibirité. Eu era novo e vim 'enfiando' o pé. Eu ia bater em um carro, mas freei bruscamente, então a mulher caiu de joelhos e o menino saiu", salienta. Segundo ele, saiu correndo ao hospital mais próximo e conseguiu ajudar sua passageira. Edson Fialho também já passou por situações inesperadas na rotina de trabalho. "Uma vez eu estava com dor de barriga, estava levando um homem em Venda Nova

Projeto de lei auxilia a vida dos motoristas

Há 36 anos Édson Fialho trabalha como taxista e conta já ter passado por situação curiosas no trânsito da capital e disse a ele: olha, nossa corrida vai parar por aqui. Ele perguntou o porquê de parar antes. Então eu disse: Você quer que eu faça aqui no carro?", conta. Enquanto não rodam pela cidade, os taxistas praticam diversas ações, como conversar com companheiros de profissão sobre futebol e política, ou, até mesmo, ler jornais e livros durante o intervalo. É uma forma utilizada por eles para esperar a chamada de novos clientes. Uma situação que divide os taxistas é a forma de trabalho na profissão. Alguns preferem estar associados a cooperativas de táxi, como é o caso de Pedro Sérgio Oliveira. Ele afirma que esta forma é mais segura e que, com esse tipo de associação, não precisa ficar rodando o tempo todo à procura de passageiros. "Por onde eu vou, eu paro e espero uma nova chamada", relata. Já outros taxistas preferem trabalhar por conta própria, como José Carlos Baião. O taxista afirma que dessa forma é melhor, pois

assim não tem compromisso com outros taxistas, além de possibilitar um horário mais flexível. Baião, porém, ressalta que assim ele está sujeito a maior violência.

PONTOS Para a implantação de pontos de táxi na capital, segundo a BHTrans, são levados em consideração alguns aspectos, como interesse público e a viabilidade técnica. Além disso, a solicitação da instalação desses pontos pode ser feita por meio da internet, carta ou pessoalmente, por meio do Registro de Solicitação (RS) por qualquer pessoa. Anualmente, todo permissionário de táxi da capital deve pagar uma taxa à BHTrans, referente ao Custo de Gerenciamento Operacional (CGO). Esta taxa está sujeita a reajustes anuais. Este ano, o valor cobrado foi de R$ 197,42. DIFICULDADES A rotina dos motoristas de táxi é estressante, segundo os profissionais entrevistados. Além de terem que estar

preocupados com o trânsito e seus passageiros, precisam conseguir locais para fazer suas necessidades fisiológicas. Outro problema que os profissionais enfrentam são os assaltos. Pedro Sérgio Oliveira conta que já foi assaltado três vezes durante os 20 anos como taxista. "Três vezes à mão armada, mas não me agrediram. Me levaram R$ 150, R$ 90 e R$ 200 nos três assaltos", relata o taxista. Segundo ele, os taxistas para fazerem suas necessidades fisiológicas tem que “se virar em posto de gasolina, ou “qualquer outro lugar que conseguir". O taxista Daniel Souza enfrenta também o mesmo problema no ponto em que trabalha. "Nós bebemos água e fazemos as necessidades fisiológicas no 'buteco' aqui ao lado", afirma. Souza, que trabalha há apenas um ano no ramo, aponta outra dificuldade no dia a dia: a violência. Ele conta que evita pegar passageiros para certos lugares, como as periferias da capital, pois assim, segundo ele, o

As dificuldades enfrentadas pelos taxistas nos pontos de táxi podem estar com os dias contados. É que um projeto de lei, nº17 de 2009 de autoria do vereador Fred Costa (PHS), foi aprovado no último dia 15 de maio pela Câmara Municipal. O projeto de lei, que deve beneficiar 11 mil taxistas, autoriza a instalação, em pontos de táxi, de rede elétrica, água e esgoto. O projeto acrescenta um artigo à lei nº 8616, de 2003, que dispõe sobre o Código de Postura do Município. Agora, o projeto de lei, que já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, será levado ao prefeito Márcio Lacerda, para que seja sancionado. Fred Costa relata que a proposta veio a partir de reclamações feitas pelos taxistas sobre este problema. "A ideia veio da observação e a partir dos inúmeros depoimentos dos taxistas que chegam a trabalhar mais de dez horas por dia e ainda têm que depender de terceiros", constata. Além disso, o vereador ressalta que o projeto não

risco de ser assaltado diminui. "Têm alguns lugares que você não vai não. Tem gente que arrisca, eu não arrisco", argumenta. Para Paulo Roberto Dias, que trabalha no mesmo ponto que Daniel Souza, o trânsito da capital também vem oca-

criará nenhum ônus ao Poder Executivo, pois o custeio da instalação será feito pelos próprios taxistas. O objetivo desse projeto, segundo Fred Costa, é "garantir dignidade aos trabalhadores". Ele lembra que esses profissionais há algum tempo reivindicam esse direito. "Possibilitando a eles ter uma infra-estrutura básica, que é ter acesso a esses serviços", diz. Para o taxista Édson Fialho, o projeto de lei trará benefícios não só aos taxistas, mas também às pessoas que passam pelos pontos de táxi. "Ótima a lei, porque a cabine aqui serve para qualquer pessoa que passa por aqui", constata. Após virar lei, os taxistas que quiserem instalar os serviços nos pontos de táxi devem dirigir-se à Secretaria de Regulação Urbana e fazer um requerimento. A partir disso, a secretaria analisará o caso e se julgar procedente autoriza a instalação. A cabine, segundo o vereador Fred Costa, deverá ocupar um espaço de dois metros quadrados, como estabelece o Código de Posturas da Capital.

sionando problemas aos motoristas de táxi. Porém, o taxista considera que não há muito o que fazer, e o melhor é ter muita calma quando se está dirigindo. "Você tem que se controlar, não pode se irritar no trânsito", aconselha.

MAIARA MONTEIRO

Histórias de quem teve coleção e a abandonou com o fim da paixão n ALEXANDRE AUGUSTO, JOSÉ CÂNDIDO, RAPHAEL VIEIRA PIRES, 2° PERÍODO

Colecionar é um hábito que se faz presente na vida de muitas pessoas, os objetos colecionados variam de latinhas a revistas em quadrinhos e os colecionadores demonstram verdadeira atenção com sua coleção. Existem também casos de colecionadores que por algum motivo se desfizeram, perderam, ou venderam suas coleções, histórias parecidas com essas aconteceram com Fábio, Gleidson e Tiago, três colecionadores que conservam desde a infância o gosto por colecionar. O estudante de geografia, Fábio Jorge Souza, de 26 anos, diz ser um colecionador compulsivo. Aos 14 anos, ele se dispôs a colecionar tampinhas de garrafa e, segundo

o próprio, a coleção de tampinhas foi a favorita dentre todas as outras que viriam depois. Porém, ele a abandonou depois de uma decepção amorosa, aos 19 anos de idade. “Foram cinco anos colecionando tampinhas, eu tinha uma grande variedade de marcas e modelos, até mesmo importados. Essa foi a coleção em que me empenhei mais, porém, me desfiz dessa coleção depois que terminei um relacionamento. Ela achava que colecionar tampinhas era um ato imaturo, até hoje me arrependo de ter desfeito da minha coleção”, conta. Já aos 20 anos de idade, Fábio começou a andar de skate e montou outra coleção, dessa vez de tênis skaters. Agora ele contém 23 pares de tênis, sendo eles edições limitadas ou autografados por skatistas famosos, dentre estes aparece Sandro Dias, o Mineirinho.

Fábio usa os tênis diariamente e diz que é uma tarefa árdua deixá-los em bom estado de conservação. "Tenho o maior cuidado do mundo com meus tênis, afinal, gastei bastante dinheiro neles, alguns mesmo foram comprados na internet porque não eram vendidos no Brasil. Eu também não empresto pra ninguém meus tênis, pois dá muito trabalho mantê-los conservados", diz. Outro caso curioso de colecionadores é o do vendedor Gleidson Barbosa dos Santos de 27 anos. Ele conta que começou a colecionar várias coisas durante sua infância. Os cartões, selos, latinhas e revistas em quadrinhos eram sua paixão de colecionador, mas depois de um tempo vendeu os selos e os cartões passando a dar maior ênfase para as latinhas e as revistas. Durante uma mudança de casa, em 2006, Gleidson perdeu toda sua

coleção de latinhas, ele conta que deixou as latas na antiga casa, e quando foi buscá-las não havia mais nada. "Eu suspeito que foi alguém da minha família que permaneceu na casa acho que alguém deve ter amassado e vendido, mas nunca ninguém me disse a verdade sobre isso. Até hoje história me entristece muito, pois eu adorava a coleção, já havia conseguido juntar latinhas do exterior". Depois disso, Gleidson diz que passou a valorizar mais sua coleção de revistas, pois junto com a coleção veio a paixão pelo desenho. "São mais de 20 anos desenhando, o grande ponto de partida realmente foram os quadrinhos", afirma. Ao contrário de Fábio e Gleidson, o gerente Tiago Drummond, 22 anos, conseguiu manter sua coleção desde o início. Ele mesmo se considera um colecionador aficionado por bonecos, um

Gleidson Barbosa tomou gosto pelo desenho a partir de sua coleção de revistas hábito que também começou na infância. Seu gosto por bonecos surgiu através dos desenhos animados e filmes de ficção que tanto o impressionam. Na prateleira do quarto de Tiago pode se ver bonecos famosos tais como, Os Cavaleiros do Zodíaco, o Homem-Aranha, o Wolverine e os Transformers. "Coleciono bonecos desde a infância, agora nem mexo muito neles, são apenas objetos de decoração. Mas quando era pequeno eu tinha muito

cuidado, hoje eles estão perfeitos na minha prateleira", revela. Com a chegada de novos filmes de super-heróis no ci nema, a procura por bonecos está sendo muito maior e os fãs de miniaturas estão aproveitando a nova fase, como afirma Tiago. "Colecionar bonecos hoje em dia está muito mais fácil, as empresas estão fabricando os bonecos em grande escala e ainda temos o auxílio da internet”, explica.


8 Comportamento

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Junho • 2009

FAMÍLIAS OCUPAM TERRENO EM BH MAIARA MONTEIRO

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) busca a posse de um lote de 40 mil metros quadrados, localizado no Bairro Céu Azul, que está abandonado há 40 anos n RAFAELA GOLTARA, 1ºPERÍODO

Esperança, resistência, ousadia e luta. São esses os principais sentimentos norteadores que impulsionam as mais de mil famílias que, organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Ter ra (MST), pelas Brigadas Populares e pelo Fór um de Moradia do Barreiro, mantêm ocupado desde o último dia 9 de abril um terreno de 40 mil metros quadrados, no Bair ro Céu Azul, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo a militante do MST, Renata Costa, há cerca de um ano são feitas pesquisas sobre lotes que não cumprem sua função social e que seriam ideais para começar um acampamento. “A proposta do acampamento urbano é dar às famílias um local de moradia e de trabalho", diz. O MST também informa que o terreno está abandonado há quase 40 anos além de acumular dívidas de impostos que chegam a R$ 18 milhões. O acampamento, que foi batizado de Ocupação Dandara numa homenagem à companheira de Zumbi dos Palmares, já conta com aproximadamente 3.300 pessoas entre crianças, jovens, adultos e idosos. “O pessoal é dividido em grupos a cada 100 famílias. Cada grupo tem um casal de coordenadores que ajuda

na organização e na divisão das tarefas", revela Renata Costa. Joaquim Martins Toledo, representante do MST, explica que o grupo tem um corpo de engenheiros e arquitetos que ajudarão na construção dos lotes caso consigam a posse do ter reno. “De imediato, iremos construir r uas para evitar a favela. Cada família terá o seu lote e no centro do terreno teremos hortas coletivas, onde serão produzidos legumes, verduras e criaremos pequenos animais para consumo da comunidade", afirma. Ele também informou que os grupos se empenham para conseguir doação de materiais de construção para as obras. “Pretendemos construir com nossos próprios punhos. Queremos moradias dignas para pessoas que se apoiam, se respeitam e se compreendem", completa. Joaquim Toledo revela que cada integrante da Ocupação Dandara faz parte de um cadastro, onde são coletadas informações pessoais para que o MST faça as devidas pesquisas de comprovação da real necessidade de moradia. "Tem muito oportunista querendo espaço. Mas aqui é um lugar de construção para gente pobre, necessitada. Se soubermos de algum oportunista, com certeza, pediremos para que ele se retire da ocupação", afirma o representante do MST.

Para Joaquim Toledo, a ajuda da igreja católica e das congregações religiosas tem sido fundamental. “As irmãs contribuem com a saúde do povo. Fazem reuniões, verificam a medida e peso das crianças para ver se há grau de desnutrição e encaminham para postos de saúde quando há necessidade. Elas também ajudam na educação de jovens e adultos, pois todos precisam estudar", conta. A Construtora Modelo afirma ser proprietária do terreno ocupado e entrou com uma ação de reintegração de posse junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais. A defesa dos ocupantes liderados pelo MST, composta por advogados do próprio movimento, da PUC Minas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Faculdade de Direito Dom Hélder Câmara fizeram um pedido de contestação e tentam obter na justiça a desapropriação do terreno da construtora. O professor de Práticas e advogado do Núcleo de Assessoria Jurídica da PUC Minas, Cristiano de Melo Bastos, está ajudando no caso e informou que o processo está em andamento. "A liminar de justiça que previa a reintegração de posse à construtora foi negada por um Agravo de Instrumento, pelo qual a defesa apresentou vários pontos a favor dos ocupantes. Agora estamos aguardando o recurso da constru-

Desde o dia 9 de abril famílias do MST ocupam o terreno por acharem que o mesmo não cumpre seu papel social

Função social da propriedade A Reforma Agrária é um sistema de divisão de terras onde as propriedades privadas improdutivas são compradas pelo governo, loteadas e distribuídas para famílias que não possuem terras para plantar. As famílias recebem os lotes e apoio do governo como financiamentos, infraestrutura, assistência social e consultoria para que possam cultivar o terreno. Em seu artigo 184, a Constituição Brasileira estabelece a responsabilidade do Estado. "Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com

cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até 20 anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei", diz. A Constituição também explica que a função social é cumprida quando a propriedade atende os seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado, utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, observância das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores. O MST informa que é um movimento social que organiza os pobres do campo, conscientizando-os

de seus direitos e mobilizando-os para que lutem por mudanças. Sua luta, além da Reforma Agrária, é por um projeto popular para o Brasil baseado na justiça social e na dignidade humana. Por isso também não usam o termo "invasão de propriedade" e sim "ocupação da propriedade improdutiva". O Atlas da Questão Agrária Brasileira explica que "o processo de ocupação é caracterizado pelo estabelecimento efetivo de população e de atividades produtivas a partir da intensa transformação do meio natural, proporcionando a incorporação de porções do território ao sistema produtivo nacional".

Obras no Arrudas para evitar novas enchentes n VANESSA ZÍLIO, 3º PERÍODO

Fruto de uma parceria entre a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Prefeitura de Belo Ho-

rizonte (PBH), as obras que estão sendo realizadas no Arrudas, à altura da Avenida Tereza Cristina, entre as ruas Uberaba, no Barro Preto, e Vila Rica, no Bairro Coração Eucarístico, têm como objetivo proteger

os interceptores às margens do Ribeirão e acabar com os alagamentos ocasionados pelo mesmo nesta região durante o período de chuva. Iniciadas no primeiro semestre deste ano, e com a

MAIARA MONTEIRO

Copasa e a PBH estão trabalhando em conjunto para concluir as obras no Ribeirão Arrudas, na Avenida Teresa Cristina

previsão de entrega até novembro, as obras vêm de encontro as necessidades sentidas por moradores e comerciantes destes bairros que apresentam um grande histórico de prejuízos ocasionados pela falta de escoamento correto da água das chuvas. O último alagamento que castigou a região ocorreu no dia 31 de dezembro do ano passado e foi o ponto mais crítico de toda a cidade. Neste dia, o Ribeirão Arrudas transbordou deixando carros, casas e estabelecimentos comerciais debaixo d´água. Dentre os muitos que sofreram as consequências geradas pelo fato, estão às lojas Hall 9000 e Ora Bolas, ambas localizadas à Rua Dom João Antônio dos Santos, no Bairro Coração Eucarístico. “Não pudemos nem entrar na loja no dia seguinte. A água não deixava", revela Lucinéia Fe r re i r a d o s S a n t o s ,

vendedora da loja Ora Bolas. “Ela (a água) chegou até a segunda prateleira de baixo para c i m a e o p re j u í z o f o i grande", completa. Na loja Hall 9000 a história foi menos trágica devido ao acionamento dos sensores de alarme. “Quando a chuva começou a entrar o alarme disparou e eu ainda tive tempo de salvar alguns equipamentos", conta a proprietária que não quis se identificar. Na mesma rua outros estabelecimentos comerciais também foram afetados levando ao fechamento até mesmo uma loja de car ros a poucos metros do ribeirão. Depois desta calamidade alguns com e rc i a n t e s n ã o e s p e raram muito para tomar iniciativas. Instalaram comportas e reforçaram, com silicone, os vidros de suas vitrines, como foi o caso das lojas Ora

Bolas. Quanto às esperanças depositadas nas obras pelos inúmeros afetados por transtornos causados pelo escoamento falho das águas pluviais não se pode dizer muito. “Estamos tão cansados de esperar uma solução que quando ela vem, nós duvidamos um pouquinho", desabafa a m o r a d o r a d a re g i ã o, Rosangela Fonseca Moreira. Segundo a assessoria de imprensa da Copasa, numa extensão de 3.120 metros, os serviços compreendem o rebaixamento do leito natural do ribeirão em dois a três m e t ro s e , p o s t e r i o r mente, o seu revestimento em concreto. A exec u ç ã o d e s t e p ro j e t o abrange investimentos de R$ 56 milhões, benef i c i a n d o d i re t a m e n t e cerca 870 mil pessoas que residem na Reg ião Oeste de Belo Horizonte.


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UNIÃO E APITOS GERAM SEGURANÇA Apesar da falta de interesse de organizações que representam bairros da capital, o GAAM-BH tem ajudado a implantar em muitas ruas da cidade o projeto Rede de Vizinhos Protegidos PÂMELLA RIBEIRO

n ALINE SCARPONI, ISABELLA LACERDA, 3° PERÍODO

"Vizinho é o parente mais próximo que a gente tem", afirma Márcia Baião, síndica do prédio onde mora no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte, e responsável pela implantação da Rede de Vizinhos Protegidos na Rua Matias Barbosa. A implantação desse projeto no Bairro Floresta só foi possível devido à criação do Grupo Assistencial Amigos de Belo Horizonte (GAAM-BH). O grupo surgiu no Bairro Renacença, Região Nordeste da capital, mediante a ausência de uma organização que representasse o bairro, fator indispensável para a legalização do programa Rede de Vizinhos Protegidos. "Para fazer parte do programa é necessário o intermédio de uma organização que represente o bairro. Entretanto, essa tem sido uma dificuldade, uma vez que nem sempre as associações de bairro representam a comunidade", explica o sargento Eduardo Felício do 20° Batalhão da Polícia Militar (PM). O sucesso do GAAM-BH contribuiu para sua ampliação e hoje já auxilia outros bairros da capital. "Começamos no Renascença, pois é onde moramos. Estamos nos estruturando, buscando apoio. Mas já conseguimos ajudar outros bairros, como o Floresta", esclarece Geraldo Magela Marques da Costa, presidente da organização, que ressalta o caráter apolítico do grupo. A Rede de Vizinhos Protegidos é uma iniciativa da PM e se baseia na idéia de que a população também tem participação na segurança pública. "No caso de alguma ocorrência, antes mesmo da Polí-

Solidariedade vai além da rede de segurança

Marcus Vinicus é um dos responsáveis pela GAAM-BH e pelo sucesso da Rede de Vizinhos Protegidos em seu bairro cia Militar chegar, o vizinho já pode ajudar", diz o sargento Felício. Reforçando o argumento, o tenente Wanderson Junior, do mesmo Batalhão, salienta a importância da implantação da rede mesmo em locais onde não há alto índice de criminalidade. "A rede tem caráter preventivo. Não se pretende somente apagar o fogo, mas evitar o incêndio", esclarece.

morador coloca em sua casa, dizendo que fazem parte da Rede de Vizinhos Protegidos, e com o apito, usado para a comunicação entre as pessoas. Ele acrescenta que as pessoas recebem os números de telefones de todos os vizinhos inseridos na rede e um outro número que dá acesso direto à companhia da polícia, tornando desnecessário a chamada para o 190.

IMPLANTAÇÃO Após a manifestação do interesse em participar do projeto, os moradores se reúnem com a Polícia Militar, geralmente em algum lugar público do bairro, e são orientados, por meio de apostilas, com dicas de segurança e sobre o funcionamento da rede. "A PM só faz a reunião inicial e leva as primeiras idéias sobre a rede. O resto é com os moradores, são eles quem combinam os sinais, que variam de rua para rua", afirma o sargento. Além disso, Felício comenta que o único custo das pessoas é com as placas que cada

BENEFÍCIOS Devido ao

Devido a baixa adesão, Coração Eucarístico busca nova alternativa No Bair ro Coração Eucarístico, Região Noroeste de Belo Horizonte, há cerca de quatro anos a associação de moradores tenta implantar a Rede de Vizinhos Protegidos. Entretanto, por receio de sofrerem represálias, a adesão ainda é baixa. "Está um fracasso. As pessoas que aderem ao programa têm que colocar placas em frente a suas casas e isso, aqui, gera medo", observa o presidente da associação de moradores do Coreu, Iraci Firmino da Silva, conhecido por Capitão Firmino. Ele diz que devido a baixa adesão ao projeto, está havendo uma demora em sua implantação, o que tem deixado as pessoas desanimadas. "O povo está descrente", afirma.

Como uma alternativa para aumentar a segurança no bairro, está em andamento o projeto De olho na rua, que consiste na distribuição de pequenos rádios para os síndicos dos prédios da região. "Os síndicos vão se reunir com a Polícia Militar e após receberem as instruções, repassarão os rádios aos porteiros de seus prédios. Caso esses percebam algo suspeito, entraram em contato com a PM", explica Capitão Firmino. Ao contrário do projeto Rede de Vizinhos Protegidos, o De olho na rua apresenta um custo mensal que será repassado a cada prédio participante. "Cada prédio terá que pagar R$ 86 relativos ao aluguel dos radinhos", esclarece Firmino.

fato de sua filha, Flávia Cristiane, trabalhar no comércio até tarde, Maria José de Assis Gonçalves aderiu à Rede de Vizinhos Protegidos há quatro meses. Ela conta que não foi à primeira reunião de implantação do projeto em sua rua, mas, que por ter um bom relacionamento com seus vizinhos, foi orientada por eles e optou por integrar o programa. "É um conforto para mim e uma segurança para ela", ressalta. Acostumada a ser líder, a aposentada Márcia Baião, que também é moradora da rua de

Maria José, justifica a procura pelo programa pela proximidade do bairro onde mora com o centro da cidade. "Resolvi implantar aqui na rua, porque o Bairro Floresta fica muito perto da cidade, e a cidade agora tem muitas câmeras. Os marginais estão migrando para regiões vizinhas", opina. O sargento Felício confirma e diz que percebe que a criminalidade nas ruas onde existe a rede é quase zero. "Os assaltantes normalmente migram para onde não há a rede, aumentando os assaltos onde não há esse projeto", alerta. Na rua onde moram, são cerca de 20 placas e 130 apitos. "Só aqui no meu prédio tem 21 apitos", afirma a síndica Márcia. A moradora diz nunca ter sido assaltada, exatamente por ser muito prevenida. Ela tem o costume de andar com o apito preso ao chaveiro e estar sempre atenta a movimentação da rua. "Observo quem está na rua, presto atenção no movimento. Se tocar o apito todo mundo

Para o sucesso do projeto Rede de Vizinhos Protegidos, o sargento Eduardo Felício, do 20° Batalhão da PMMG, ressalta a necessidade de amplo envolvimento da população. "Noventa por cento é feito pela comunidade e somente 10% pela PM", afirma. Entretanto, nem todos estão dispostos a colaborar para a eficácia da rede. Segundo ele, muitas pessoas não aderem por antipatia aos vizinhos ou têm resistência com a aproximação da Polícia Militar. Outras acreditam que a placa atrairia mais marginais. Por outro lado existem aqueles que reconhecem os benefícios das placas, mas mesmo assim não aceitam integrar do projeto. "A placa ajuda a intimidar, mas é para funcionar. Tem uma vizinha que quer colocar a placa na casa dela, mas não quer participar. Ela quer ser ajudada, mas não quer ajudar", lamenta Márcia. Entretanto, a Rede de Vizinhos é tão solidária que cuida da segurança

tem que ir para a janela apitar", explica. Márcia, por ser a responsável do projeto em sua rua, lembra que ao distribuir o último apito em uma residência passou por uma situação inusitada. "Fui entregar o último apito aqui na rua e meu vizinho pediu para apitar para testar. Mesmo apitan-

daqueles que não colaboram. No Bairro Renascença, Região Nordeste de Belo Horizonte, uma senhora que não participava do projeto teve sua casa invadida. "Arrombaram o portão. O vizinho ao lado apitou e os ladrões foram embora assustados", lembra Marcus Vinícius Tamietti, morador do Bairro Renascença, que ressalta que o interesse da rede não é o de substituir a função da PM, mas dar uma resposta mais rápida às ocorrências. Outro fato marcante e exemplificador de solidariedade ocorreu em novembro de 2007, no mesmo bairro. Um sequestro de morador que não integrava o programa foi impedido por uma vizinha que, observando o movimento estranho, chamou a PM. "A polícia chegou antes que os assaltantes levassem a bancária que lá morava como refém. Mesmo após a ajuda, esses moradores não passaram a fazer parte da rede", comenta o sargento Felício.

do baixinho, já apareceram vizinhos na janela", relembra, ressaltando que, mesmo nunca tendo tido a necessidade de utilizar de verdade o apito, o baixo investimento na compra do apito podem garantir grande segurança. "O apito custou R$ 3,50 e aumenta muito a sua segurança", reforça.

A união faz a força e adquire melhorias para as ruas da rede O método encontrado por Márcia Baião para convencer os moradores de sua rua, no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte, a participarem da Rede de Vizinhos Protegidos foi batendo de porta em porta. "Passei a conhecer todo mundo com a rede e foi fácil conversar com as pessoas. Elas estavam dispostas", afirma. Ela explica que não conhecia nenhum vizinho e que sentia falta dessa relação mais próxima, quase de amizade. "O primeiro prédio em que tentei conversar com as pessoas foi um que eu tinha preconceito, pois achava que eles eram 'nariz em pé'. Para a minha surpresa, com eles fiz amizade mais rápido", admite Márcia. Segundo o tenente Wanderson Junior, do 20º Batalhão da Polícia Mili-

tar, essa integração é muito importante para o projeto. "Hoje em dia, com a vida corrida, as pessoas tendem a se trancarem dentro de casa. A rede propicia a interação entre vizinhos, resgata o envolvimento comunitário", salienta. De acordo com Márcia essa integração acaba ajudando em outras ações em conjunto para a rua. Ela conta que devido a rede de água e esgoto de sua rua ser muito antiga e estreita, é comum a ocorrência de alagamentos. Por isso, uma vez houve uma enchente na garagem de dois prédios de sua rua, incluindo no local onde mora. "Antes não sabia como resolver essa situação. Após a rede de vizinhos e a amizade com os moradores daqui fiz um requerimento na Prefeitura, com a assinatura desses moradores, para pedir que mudassem essa rede de

água", explica. Outro exemplo se deu no Bairro Renascença, Região Nordeste da capital. "Tínhamos um prédio abandonado da Policlínica onde ficavam cerca de 30 drogados. Fizemos um

abaixo assinado e conseguimos tirar grande parte deles de lá. A ação só se deu após a rede de vizinhos", lembra Marcus Vinícius Tamietti, morador do bairro.

MAIARA MONTEIRO

Márcia Baião anda com o apito a mão para o caso de alguma emergência


10Esporte

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TÊNIS LEVA CADEIRANTES AO ESPORTE ONG formada apenas por voluntários dá oportunidade a crianças carentes e deficientes físicos de se desenvolverem no esporte. Iniciativa gera benefícios aos participantes MARCELA FERRAZ

n MARCELA FERRAZ, REBECA LARA, RENATA DIAS, 3° PERÍODO

A ONG Tênis para Todos surgiu em 2004 com a proposta de oferecer aulas gratuitas de tênis para crianças e adolescentes de favelas e bairros humildes de Belo Horizonte. Porém, a entidade resolveu encarar o desafio de abrir espaço para que pessoas em cadeiras de rodas praticassem tênis, programa inédito na capital mineira e pouco desenvolvido no país. Tudo isso sem contar com patrocinadores fixos. "E ainda somos a melhor entidade do ramo da América do Sul. É um milagre", diz o pastor Gerson Carlos de Souza, formado em teologia e em comunicação, diretor executivo da ONG. Atualmente, os beneficiados são 128 crianças e 18 deficientes físicos. A maioria das atividades da ONG ocorre na Academia Dynamis, no Bair ro Olhos d'Água.

ORIGEM A idéia de uma entidade que proporcionasse aulas de tênis para crianças e cadeirantes surgiu no início de 2003 quando Gerson ainda trabalhava como gerente de Esportes da Regional Centro-Sul da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Ele foi procurado por uma educadora física interessada em saber se a Prefeitura tinha algum projeto social com essa modalidade. "Claro que não tinha, o tênis sempre foi um esporte voltado para as classes mais altas",

conta Gerson. Foi assim que ele soube que o Parque Municipal Américo Renné Gianetti possuía uma quadra de tênis e decidiu começar um projeto piloto. Inicialmente, os beneficiados eram 40 crianças do Instituto Municipal de Administração e Ciências Contábeis (Imaco). O projeto teve experiências também com crianças do Aglomerado da Serra. No segundo semestre de 2003, Gerson e os professores de tênis envolvidos no projeto organizaram uma reunião para discutir o aumento do número de crianças atendidas de 40 para 60. Foi quando, depois de conhecer um deficiente físico que praticava tênis em cadeira de rodas, Gerson resolveu aumentar ainda mais seu desafio. Em agosto de 2003, o projeto começou sua experiência no tênis em cadeira de rodas com quatro atletas cadeirantes. Em janeiro de 2004, percebendo que a Prefeitura de Belo Horizonte não tinha como dar sustentação ao projeto, Gérson decidiu fundar a ONG Tênis para Todos, da qual é hoje diretor executivo, e buscar outras parcerias. Todos os professores de tênis são voluntários. Milana Silva, de 30 anos, graduada em educação física, é instrutora voluntária desde 2004. Quanto conheceu o projeto, trabalhava na prefeitura como estagiária, e resolveu começar a dar aulas de tênis na entidade. "Minha formação como professora de tênis aconteceu dentro do

com pessoas de cadeira de rodas e crianças de duas escolas municipais aqui do bair ro" diz Claudius, que admite que sempre quis fazer projetos sociais do tipo e reconhece a importância dessa oportunidade para os beneficiados. "Nosso objetivo é pegar uma criança com quatro anos de idade e deixá-la formada até os 24 anos", explica.

CAMPEONATOS Ger-

Leonardo Araújo se destaca no esporte e se dedica integralmente ao tênis, o que o fez participar de vários campeonatos Tênis para Todos", afirma. Desde então, faz parte da ONG e dá aulas tanto para crianças quanto para deficientes físicos. Sua motivação para trabalhar sem remuneração é ajudar essas pessoas a se reintegrar na sociedade através do esporte. "A motivação maior é ver como essa oportunidade mexe com a vida dessas pessoas e também o carinho com que a equipe da ONG trabalha com as pessoas", salienta. Os atletas cadeirantes de maior destaque da ONG são Rafael Medeiros, 19 anos, Daniel Alves, de 22 anos e Leonardo Araújo, de 38 anos. Todos se dedicam totalmente ao tênis e já participaram de vários campeonatos pelo país. "Praticar esporte faz a

vida mais saudável e isso é bom para qualquer um. Não me acho inferior por ser cadeirante. Tem que se motivar e se impor para ser respeitado", diz Leonardo, que ficou paraplégico aos 23 anos devido a um acidente com ar ma de fogo. Todos devem as vitórias nos campeonatos à ação da ONG. "Ela fornece todas as quadras, todo o material para a gente treinar, todo o apoio" diz Rafael, que já chegou a participar de um mundial na Suíça.

PARCERIA A parceria com a Dynamis Tennis Center, que disponibiliza as quadras de tênis para a ONG, existe desde o início. A união começou quando o diretor executivo Gerson conheceu

Claudius Tenório, proprietário da academia Dynamis, que começou apenas cedendo quadras para o trabalho da Tênis para Todos com crianças d e e s c o l a s d e n t ro d o próprio Olhos d'Água. Mas a parceria cresceu, e Gerson diz que o centro é o m a i o r p a rc e i ro d a ONG. "Nunca gastamos um centavo com aluguel de quadras", afirma ele. E a Dynamis também está envolvida na realização de todos os campeonatos promovidos pela ONG. "Comecei a organizar, conversar com o Gerson sobre o esporte, sobre o fato de ser um projeto social. E começou a parceria com a ONG Tênis para Todos para desenvolver o projeto social

son conta que a iniciativa de realizar tor neios surgiu depois que dois dos atletas da ONG participaram de um deles, em Brasília, em 2004. "Pensei que seriam eliminados de cara", confessa. Mas foram surpreendidos: voltaram para BH com um campeão e um vicecampeão. A partir daí, a demanda por campeonatos semelhantes aumentou. Em 2004, a ONG realizou o primeiro torneio inter nacional, o BH Open. Além dele, a organização promove e realiza mais três torneios internacionais, o Minas Open, o Winner Brasil e o Brasil Open. No final de 2009, a entidade comemora a realização de seu décimo campeonato. Os torneios realizados na Dynamis são bem organizados e recebem elogios de grandes revistas de tênis e dos próprios atletas. “A única academia de Belo Horizonte que tem estrutura para um torneio internacional, para ser aprovada pelo comitê internacional é a Dynamis", afir ma Gerson.

RENATA DIAS

Atividade física que contribui para a superação de diversos tipos de obstáculos O esporte é uma atividade de convivência e que exige confiança. Quando alguém sofre algum preconceito ou acredita não fazer parte da sociedade, ele tende a se fechar e é aí, então, que o convívio com outras pessoas semelhantes pode fazer diferença. O tênis, assim como os outros esportes, tem um importante papel de integração social para essas pessoas. Projetos esportivos que envolvem pessoas mais vulneráveis a essa exclusão social (como crianças carentes, deficientes físicos e idosos) as reintegram à sociedade através da conscientização de que todos têm problemas e competências para resolvê-los. A atleta

brasiliense de tênis em cadeira de rodas, Rejane Cândida, 31 anos, afirma que a prática de tênis possibilitou-lhe uma visão mais otimista em relação à vida. "Saber que é capaz de enfrentar obstáculos e superar limites é essencial na vida de todos", diz. A melhoria na saúde dessas pessoas, gerada pelo exercício físico, dá a elas mais disposição para traçar e conquistar objetivos, proporciona aos atletas conhecerem muitos lugares e ainda pode ser uma fonte de renda para aqueles que se profissionalizam. Cláudio Alvim, 34 anos, diretor do departamento de saúde da ONG Tênis para Todos, fisioterapeuta especializado em fisioterapia desportiva e

mestre em Ciência da Motricidade Humana, lembra que manter a prática de uma atividade física regular faz bem a todos nós, mas, no que se refere aos cadeirantes, os benefícios ainda são maiores: “A pessoa não fica em casa parada, sentindo-se um zero à esquerda. O esporte tem esse valor, de integrar as pessoas". As deficiências físicas entre os jogadores cadeirantes são variadas, há alguns que apenas mancam, o que é suficiente para que eles não possam competir em iguais condições com os atletas andantes. Nos treinos e campeonatos, os atletas têm a chance de conhecer pessoas com diferentes limi-

tações. Acompanhar as conquistas e evoluções dos colegas de esporte motiva todos à volta, como é o caso da instrutora Milana Silva. "Eu me interessei tanto pela riqueza desse trabalho, pelo brilho no olhar daquela pessoa que estava excluída socialmente e começa a ver, no tênis, outras oportunidades de reinserção social. É incrível como o esporte transforma a vida dessas pessoas", justifica. Rodrigo Lima, 30 anos, é administrador de empresas em São Paulo e, por ter encurtamento de tendão por ter nascido prematuro, compete pelo tênis para cadeirantes. Ele acredita que a experiência que

O campeonato de cadeirantes da Dynamis é acompanhado por estudantes conquistou foi o maior benefício que teve com o esporte. "Conheci um mundo novo, pois antes eu não sabia como é a vida dos cadeirantes. E, de repente, nós que estamos sempre reclamando da vida e nos

isolamos por qualquer coisa, ao conhecermos esses atletas, que são um exemplo de superação, percebemos que não têm importância aqueles problemas que pensávamos ser grandes", conclui.


Vida Junho • 2009

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LEGISLAÇÃO AMBIENTAL DESRESPEITADA Apesar da poluição causar a morte de milhões de pessoas, a resolução criada pelo Conama que determina que veículos devem usar óleo diesel menos poluente não tem sido cumprida MARCELO COELHO

n MARCELO COELHO DA FONSECA, 5º PERÍODO

A resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que determina que os veículos automotores brasileiros devem usar óleo diesel menos poluente desde o dia primeiro de janeiro de 2009 ainda não foi cumprida. Segundo a organização mundial de saúde a poluição é responsável pela morte de mais de mais de dois milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Desde 1986 o Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) estipula parâmetros de emissões de gases para a frota brasileira a sexta fase do programa destinada aos veículos movidos a óleo diesel foi denominada P6 e entrou em vigor em janeiro desse ano, mas suas determinações ainda não foram cumpridas. É a primeira vez que uma nova fase do programa não é respeitada desde sua criação a mais de 20 anos. A resolução 315 estabelece um teor máximo de 50 partes por milhão de enxofre no óleo diesel, para chegar a este número os veículos precisam queimar um combustível menos poluente, o chamado S50. Esse combustível, cujo investimento foi de quatro milhões de dólares já foi desenvolvido pela Petrobrás, mas por enquanto só está sendo distribuído para as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, Fortaleza e Recife, em Belo Horizonte a Petrobrás prevê a produção a partir de 2010. "O diesel S50 tem uma qualidade diferenciada, portanto para trazer o produto para BH será uma forma diferente do abastecimento

Punições e mudanças para evitar futuros erros

Refinaria da Petrobrás Gabriel Passos, na Região Metropolitana, passará a produzir o Diesel S50 somente em 2010, das cidades que estão na costa. Em BH vamos produzir esse diesel em breve, já estamos produzindo em nossas refinarias", conta Paulo Bandeira, gerente geral da Refinaria Gabriel Passos. O diesel distribuído para as demais capitais brasileiras possuiu 500 partes por milhão de enxofre, dez vezes mais do que o novo diesel. Regiões Metropolitanas com grande número de habitantes como Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador devem receber o novo combustível em janeiro de 2010. As cidades do interior utilizam um diesel ainda mais poluente, que possui 1800 partes por milhão de enxofre. José Cláudio Junqueira, presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) acredita que o diesel S50 já deveria ter chegado em BH. "BH é a terceira região metropolitana, e principalmente o entorno da cidade, principalmente as áreas mais industrializadas, já deveria estar

recebendo este combustível mais limpo. Então nossa reclamação é o seguinte, porque essas ações não foram feitas mais cedo, e temos que saber onde podemos avançar mais, para que seja mais ágil essa distribuição em BH, para que os pulmões dos nossos cidadãos sejam mais preservados", afirma José Carlos. Além do diesel com menor teor de enxofre, também são necessários veículos com motores menos poluentes para atender a resolução 315. Os fabricantes ainda não adequaram seus veículos as novas especificações pois, segundo Henry Joseph, presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os novos motores dependem da utilização do diesel S50. "Para fazer o veículo conforme a 315 ocorre uma demanda que ele use um diesel com qualidade melhor do que aquele que está disponível hoje, então é

impossível fazer um veículo se ele não pode ser abastecido no mercado, esse veículo se abastecido com combustível inadequado poderia trazer problemas funcionais gravíssimos, chegando inclusive a poder parar no meio da rua", explica. OMISSÕES E PUNIÇÕES Os representantes de Petrobrás e da Anfavea responsabilizam a ANP (Agência Nacional do Petróleo) pelo atraso no cumprimento da resolução do Conama. Caberia a ANP especificar as características do novo combustível em janeiro de 2006, mas a agencia só emitiu os parâmetros em outubro de 2007. Durante um debate publico realizado em maio deste ano em Belo Horizonte, a representante da ANP, Rita de Castro Ferreira disse que houve omissão por parte de todos os envolvidos. "É errado falar que a agência é a culpada, a quebra dos prazos não foi de responsabilidade apenas da ANP", explica Rita.

Apesar da assinatura do termo de ajuste de conduta, a Petrobrás e os fabricantes de veículos e a ANP não estão livres de punições. A procuradora Ana Cristina Lins do ministério publico federal promete continuar investigando o caso, para que em 2013 o desrespeito às normas ambientais não volte a acontecer. "Quando se chegou na hora do cumprimento se verificou que não havia os motores, os veículos não estavam prontos, porque não havia veículo? Foi por falta de especificação? E qual a responsabilidade dos envolvidos? Este é o objeto da minha investigação, estou investigando os responsáveis. Está previsto no acordo que se qualquer um falhar, seja a indústria automobilística ou petrolífera, haverá sanções e multas, e caso seja desobedecidas constitui-se um crime", diz Ana Cristina. Entretanto mesmo que o diesel S50 comece a ser distribuído em todo o país o problema não será totalmente resolvido. De acordo com a Petrobrás os testes realizados com o novo combustível apontam diminuição na emissão do enxofre na atmosfera apenas nos veículos fabricados após

o ano 2000, quando a fase P3 do Proconve passou a vigorar exigindo do fabricante motores menos poluentes, aproximadamente um terço da frota brasileira foi produzida antes desta data. Frederico Kremer, gerente de Soluções Comerciais de Abastecimento da Petrobrás, explica esta questão. "Veículos fabricados antes de 2000 o benefício é nulo, segundo os testes feitos lá no Rio de Janeiro, e este benefício para veículos mais novos está entre 11% a 12%", observa. Representantes de fabricantes de veículos e de órgãos ambientais chamam atenção para outros gases nocivos provenientes da queima do combustível, que representam problemas ambientes para cidades brasileiras, é o caso de Betim, que sofre com o alto teor de gás ozônio, Elisete Gomidez Dutra, gerente da gestão de qualidade do ar da FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente) está estudando o caso. "Temos observado desde 2008 um aumento expressivo na concentração de ozônio, chegando até o limite máximo. Ele reage com alguns outros gases que são muito prejudiciais para a atmosfera", conta Elisete.

PÂMELLA RIBEIRO

Livro de ginecologista convida mulher madura a se cuidar n FERNANDO ROCHA 3° PERÍODO

Há 40 anos no exercício da ginecologia e professora adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Jacy Bastos Görgens, 60 anos, sempre se preocupou com a boa nutrição e forma física de suas pacientes. Percebendo que muitas delas se encontravam com peso inadequado e deformação física, além de constatar que faltava literatura relacionada à alimentação na fase madura das mulheres, a médica decidiu escrever o livro Mulher madura, alimentação e cozinha: tudo a ver. Lançado no final do ano passado, a obra possui 18 receitas de culinária que utilizam ingredientes como cereais, car nes, fr utas, legumes, e é recomendado tanto para mulheres obesas

quanto para aquelas que se encontram no período da menopausa. "A mulher madura é a que eu mais encontro com a alimentação inadequada e deformação física", diz a ginecologista. O intuito do livro, segundo a autora, é fazer com as mulheres se cuidem, adquira um hábito saudável de alimentação, per mitindo, assim que marido e filhos também se cuidem. MENOPAUSA De acordo com ela, a mulher se torna bastante vulnerável durante a menopausa, pois em função da diminuição de funcionamento dos ovários, o metabolismo dela sofre algumas mudanças. Por isso, a importância da qualidade e da variedade dos alimentos, já que para se manter em dia com a saúde depende também de bons hábitos alimentares. "Eu achei muito bom ela

ter esta ideia, porque muitas doenças vêm da má alimentação", conta a também ginecologista. L eda Caporali de Oliveira, 72 anos, fala da importância da publicação do livro para as mulheres. "Gostei tanto que comprei vários exemplares para presentear minhas ir mãs", completa. Ela observa que a autora se preocupa em trazer receitas fáceis de serem executadas e com ingredientes baratos e fáceis de serem encontrados. "Hoje a prioridade é a rapidez", diz. Jacy tenta, através do livro, seduzir e despertar nas mulheres o interesse pela cozinha e pela qualidade dos alimentos. "As mulheres que não gostam de pilotar o fogão precisam ter alguém pela alimentação da família", observa. Ainda aconselha que consultas regulares ao médico, para que ele possa avaliar a sua alimentação, e seguir as su-

gestões do seu livro é um bom caminho para quem deseja ter uma vida longa e saudável. Apesar do público-alvo do livro ser a mulher madura, ela ressalta que "a sugestão de boa alimentação é válida para qualquer um". Entusiasmada com a repercussão do seu livro, Jacy já está escrevendo outro livro, e deverá ser publicado em outubro, porém este abordará a questão da gravidez na juventude. DICAS Mulher madura, alimentação e cozinha: tudo a ver, além de trazer receitas deliciosas e saudáveis, ainda traz dicas fundamentais para se atingir ou manter uma alimentação adequada. Dividido em 18 capítulos, o livro traz informações que vão desde como preparar um café da manhã à compra e a preservação dos alimentos. Sergipana de Itaporanga

Dra Jacy, em seu consultório, exibe ao fundo seu livro e uma de suas receitas D'ajuda, Dra. Jacy conta que seu interesse pela cozinha veio quando, aos 11 anos de idade, ganhou de seu pai um livro de culinária. Receitas como, biscoito de maisena e biscoito de fubá de milho é de sua mãe, porém outras são invenções dela, baseadas nos produtos da modernidade e na culinária

alemã, como o hambúrguer de soja e a panqueca de Quinua, um grão consumido pelos andinos, rico em proteínas, carboidratos de baixo teor calórico, etc. Trouxe descobertas e experiências vividas no exterior e adaptou à comida brasileira, que para ela é uma das mais saborosas e ricas do mundo.


12Cidadania

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Junho • 2009

ASSOCIAÇÃO TEM OFICINA DE BALÉ Bairro Guarani, Norte de Belo Horizonte, tem atraído a comunidade com aulas de bordado, capoeira e ginástica, mas a dança é quem tem conquistado a atenção das crianças da região n ANDERSON FABIANO DE SOUZA, JACQUELINE DOS ANJOS, 2º PERÍODO

A pedido de uma amiga que queria que sua filha fizesse aulas de balé, mas não tinha condições financeiras para colocá-la em uma aula particular de dança, a professora Cristiene Alcântara Valente resolveu iniciar um projeto com oficinas de balé na Associação Comunitária do Bairro Guarani (Ascobag). Iniciadas em março de 2006, as aulas tinham apenas 12 crianças. Atualmente, já contam com a presença de cerca de 180 crianças na sede da associação, duas vezes por semana, sendo as alunas divididas em turmas de diferentes horários. De acordo com Cristiane, as aulas tendem a terem ainda mais alunas e a serem um sucesso ainda maior. Segundo ela, além da oficina de balé, a Ascobag oferece aos membros da comunidade diferentes possibilidades de oficinas, tais como ginástica, capoeira, bordado e, em breve aulas de ioga. Os alunos contribuem com R$ 15 para a manutenção da sede, todavia aqueles que não podem pagar, podem fazer as aulas de graça. COMEMORAÇÃO Em maio, a Ascobag realizou um festival com apresentações de ginástica e coreografias de balé na Escola Municipal Hélio Pelegrino, situada no Bair ro Aarão Reis, em comemoração ao dia das

Aprendizado que vai além da dança

Cristiene Alcântara dá aulas para uma de suas turmas. O projeto já conta com cerca de 180 crianças participantes mães e ao aniversário de três anos da oficina de balé no bairro. Além disso, no evento foi realizado um concurso de coreografias de balé para avaliar e incentivar a criatividade das alunas. O concurso contou com a participação de 11 grupos de alunas, com coreografias e músicas diferentes, desenvolvidas e apresentadas pelas próprias alunas da oficina. O público do espetáculo era composto por pais, amigos e familiares das pessoas que iriam se apresentar, além de outros membros da comunidade, entusiastas em geral do festival e das mães das alunas mais novas do balé, que apresentaram uma homenagem às mães no início do festival. A

competição contou com os jurados Ronildo dos Santos, bailarino, integrante do grupo Fator Humano e professor de jazz moderno e afro; Elaine Saldanha, professora e bailarina; Antônio Gonzaga, professor do grupo Ginástica Livre; e Márcia Regina, educadora e professora de artes da LBV. COMPETIÇÃO Cristiene, professora do gr upo de balé, avaliou de forma positiva a apresentação de suas alunas. "Eu sou meio suspeita para falar, mas, para mim, a apresentação foi muito bonita", diz. Segundo os jurados foi uma competição de nível equilibrado entre as apresentações das competidoras e as avaliações foram

feitas de forma bem justa. As apresentações foram divididas entre quatro categorias: básico infantil, básico, preparatório infantil e preparatório infantil e adulto. Venceram essas categorias, respectivamente, os gr upos que apresentaram as coreografias para as músicas: "A Música Em Mim", "Soube Que Me Amava", "Abalou" e "Dono do Meu Coração". A classificação geral contou com a coreografia para a música "Soube Que Me Amava" em primeiro lugar, "A Música Em Mim" em segundo lugar, "Dancer Girls" em terceiro lugar e "Dono do Meu Coração" em quarto lugar. Além das apresentações em homenagem às mães e

De acordo com Cristiene, há uma preocupação no rendimento escolar das alunas, que são acompanhadas de perto visando que seu aproveitamento na escola seja sempre alto. Além disso, segundo ela, as alunas, além de evoluírem na escola e como dançarinas, evoluem muito como seres humanos. "Psicologicamente, eu acho que elas deram uma evoluída. As mães falam comigo que elas ficam mais calmas, mais sorridentes e fazem amizades aqui dentro. Elas crescem na parte da autoestima", aponta. Essa evolução das crianças pode ser observada nas opiniões de algumas mães de alunas da oficina ao falarem da apresentação de suas filhas e do projeto como um

das coreografias feitas para o concurso, o festival também contou com a apresentação das senhoras do grupo Ginástica Livre que fazem parte da Ascobag. De acordo com Ornelina das Graças (Nega) e Maria de Carvalho, as aulas tem ajudado bastante na

todo "Eu estou achando maravilhoso. A minha filha está muito empolgada, melhorou muito na escola depois que ela começou a freqüentar as aulas", diz Maria Helena Tomaz, mãe de Ana Luiza Tomaz Rodrigues, que tem sete anos e faz aulas de ballet há um ano e três meses. "Isso é importante pra criança, para o desenvolvimento da coordenação motora e para a concentração também", diz Valdeia da Luz Freitas, mãe de Maria Luiza Freitas de Oliveira, que tem 9 anos e começou a fazer ballet este ano. As alunas da oficina de ballet já vêm fazendo diversas apresentações e podem ser contactadas para informações e para novas apresentações através do telefone da Ascobag: 3433-2338.

questão de flexibilidade, melhora de dores no corpo e articulações, já que uma parte deste grupo está na melhor idade, mas o benefício principal é o círculo de amizade que é construído a partir do momento em que se freqüenta as aulas.

Encontro Marcado reúne amigos há 24 anos em BH n RODRIGO OTÁVIO DE OLIVEIRA, 6º PERÍODO

O mês de setembro é especial para uma tur ma de direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), formada em 1984. Anualmente, os ex-colegas de sala reúnem-se sempre na data da colação de grau, dia 17 de setembro, no bar do Minas Tênis Clube, independente do dia da semana. O número de pessoas do grupo chega a variar entre trinta e cinqüenta pessoas. Desde 1985, o encontro nunca falhou. O objetivo da conf r a t e r n i z a ç ã o, q u e re ú n e c o l e g a s d a tur ma, alguns familiares e antigos professores é bem simples: trocar experiências, conversar, divertir e, claro, manter contato. S e m p re c o m m u i t a música, abraços, fotos

e uma tradicional cerveja, a turma já organiza o 25º encontro. Profissiona i s d e v á r i a s á re a s d o direito, como advogados, juízes, delegados, funcionários públicos e políticos trocam experiências e alguns vêm de outras cidades do interior do estado para particip a r d a re u n i ã o. A evolução física e mudança de aparência dos participantes é sempre motivo de diversão, quando são comparados com fotos antigas.

INTERCÂMBIO Crisvone Araújo, advogado formado na turma de 1984 e um dos organizadores d o s e n c o n t ro s , c o n t a que, na época da formatura, vários pequenos grupos dos turnos da manhã e noite espalharam a notícia das primeiras reuniões e, aos poucos, as pessoas foram começando a frequentálas. O intercâmbio entre os turnos e a união dos colegas foi importante para que os encontros

d e s s e m c e r t o. S i l v i n o Machado, que também sempre esteve à frente do evento e compareceu e m t o d a s a s re u n i õ e s , destaca a figura de um líder para mobilizar os colegas, a união de todos e que os professores, presentes em muitos encontros, já eram parceiros de cer veja antes da formatura. "A turma é animadíssima, espetacular. Este encontro é inédito em Minas Gerais", destaca o também advogado. Um dos fatos mais curiosos durante os vinte e quatro anos foi protagonizado justamente por um professor: ele deu de presente o pagamento da conta da noite para os m a i s d e q u a re n t a e x alunos presentes. A integrante da turma Jane Calmon acha importante manter contato com pessoas que participaram de uma fase importante de sua vida. Mãe de uma estudante d e d i re i t o, e l a n ã o percebe a mesma união dos amigos da filha

como havia em sua época. A advogada destaca que seus colegas eram unidos e que, atualmente, as pessoas são egocêntricas e amizades verdadeiras são poucas. O segredo para o raro encontro ser

mantido está nos laços fortes de amizade entre as pessoas. "Minha filha acha muito interessante eu sair sempre dia 17 de setembro para encontrar com a turma de faculdade", conta. Para o 25º encontro,

Crisvone disse estar preparando algo especial. Antes do grande dia, outros encontros com um número menor de pessoas, em lugares alternativos, acontecerão para organizar as "bodas de prata" da festa.

MAIARA MONTEIRO

A advogada Jane Calmon guarda as fotos dos encontros e relembra as histórias e bons momentos dessas reuniões


Educação Junho • 2009

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CONVÍVIO ESCOLAR É REPENSADO Tese de doutorado sobre o tema “A criança problema e o mal estar dos professores: um sintoma social”, de Margarete Miranda, convida educadores a reverem sua conduta em sala de aula PÂMELLA RIBEIRO

n ALINE SCARPONI, 3° PERÍODO

“Minha turma é uma tur ma de capetas” ou “não aguento mais esse aluno”. Essas afirmativas, segundo Margarete Miranda, professora e psicóloga integrante do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Psicanálise e Educação (NIPSE) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, não são incomuns nos relatos de professores ao descreverem a sala de aula em que trabalham ou caracterizarem sua convivência com alunos. A especialista, que desenvolve sua tese de doutorado a respeito do tema “A criança-problema e o malestar dos professores: um sintoma social” assegura que grande parte de conflitos existentes entre alunos e professores pode ser produto de uma relação tensa, e pode ser evitado quando se encontra novas formas de entendimento entre ambas as partes. A ideia para o desenvolvimento da tese surgiu das situações vividas nas experiências profissionais anteriores de Margarete. Antes de se graduar em psicologia, ela ministrou aulas para uma turma de alunos da rede pública de ensino, considerada “especial” na escola, por se configurar a mais inquieta. “A minha

primeira experiência profissional foi dando aulas para crianças de sete a nove anos. Essa turma, de tão agitada, era segregada na escola, não participava dos eventos e nem tinha livros didáticos. Lutei pela turma”, relembra a professora. “Essa experiência me tocou, porque 30 anos depois fui fazer minha tese sobre esse assunto”, diz. Posteriormente, ao trabalhar como psicóloga em um posto de saúde, no qual atendia alunos considerados “difíceis”, que eram encaminhados pelas escolas da região, a psicóloga intensificou suas observações quanto ao relacionamento aluno-professor e decidiu aprofundar seus estudos. “Eu notava que havia muitas

que também trabalhou 15 anos na Secretaria Municipal de Educação, organizou um espaço de conversação com os professores, que reunidos em pequenos grupos, têm a oportunidade de trocarem experiências e expressarem seu mal-estar. “Não é terapia de grupo. É uma associação livre coletivizada. Eles trocam experiências, saberes, queixas e impotência. Além disso, em grupo o que uma pessoa fala toca a outra em sua subjetividade”, comenta. Segundo a especialista, com o passar do tempo, as conversações se tornam cada vez mais eficazes para que o próprio professor passe a enxergar sua contribuição para a situação de incômodo que vivencia. “O gr upo de conversação no início é só queixa e delegação de culpa. Depois que a palavra circula é que o professor passa a se incluir na situação que os cerca. O importante é o professor perceber, durante as conversas, que o aluno ‘impossível’, é possível”, observa. Ministrando aulas para uma turma especial da Escola Municipal José Diego, localizada na Pedreira Prado Lopes, Ana Vitória Furtado, professora há 20 anos, ficou sabendo do projeto de conversações na escola em que trabalha e decidiu participar. Ela, que frequentou durante um ano as reuniões, relata que a troca de experiências com outros profissionais da área

a ç n a i r c “A ema probol mal e dos estafressores” pro queixas dos alunos quanto aos professores. Daí surgiu a vontade de encontrar com os professores. Eu me perguntava até que ponto esse aluno difícil não é produzido na relação”, explica.

CONVERSAÇÕESPensa ndo na necessidade de ouvir a experiências dos professores, a psicóloga,

Margarete Miranda é autora da tese sobre a relação entre aluno e professor enriqueceu sua didática. “Dou aulas para turmas inseridas em um projeto novo da Prefeitura. Meus alunos são crianças que chegaram à oitava série e ainda apresentam dificuldades de leitura e escrita. As reuniões me ajudaram muito, porque reforçaram minha ideia de valorizar o diálogo com os alunos”, explica. CRIANÇA PROBLEMA Caracterizando os alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem e comportamento “difícil”, a expressão “criança problema” surgiu em 1939 no contexto de criação da escola democrática e ressurge no século XXI com grande vigor. Segundo a psicóloga Margarete Miranda, entretanto, com o passar do tempo as características da “criança problema” não mudaram muito, mas a

Relação entre professor e aluno deve evitar mal-estar Quando cursava o sétimo ano do Ensino Fundamental, Jéssica Dias passou por uma situação “desagradável e constrangedora” em sala de aula. Um professor de matemática, como forma de manter a disciplina, retirava pontos dos alunos de acordo com o que ele interpretava como desrespeitoso e inapropriado. “Quando ele estava em sala não se podia fazer nada. Por exemplo, se a pessoa bocejasse perdia dois pontos”, afirma. Segundo ela, o constrangimento vivido foi ocasionado pelo fato de ela ter defendido um colega, que foi repreendido pelo professor por estar apresentando um aluno novato para a sala. “Esse professor de forma muito grosseira e

na frente da turma inteira disse: se o novato é ele, deixa que ele se apresente. Eu achei aquilo tão injusto que falei: ‘poxa’ professor, o Marcelo só estava sendo receptivo com o novato. O professor olhou pra mim e disse: Jéssica e Marcelo, vocês perderam cinco pontos”, recorda a garota, que hoje cursa o terceiro ano do Ensino Médio na Escola Estadual Madre Carmelita. Para ela, o professor em questão poderia ser considerado um “professor problema”, mas, depois de observar e entender a realidade e rotina a que estão submetidos os educadores, ela passou a admirar sua persistência em ensinar. “Na minha escola percebo alguns professores mal-humora-

dos. Mas, se considerar o que eles passam em sala de aula, acho que eles são até muito fortes em estar ali”, analisa Jéssica, que diz gostar de matemática e pretender cursar engenharia de produção. Margarete Miranda, professora e psicóloga que desenvolve sua tese de doutorado a respeito do tema. “A criança-problema e o mal-estar dos professores: um sintoma social”, também associa a insatisfação de alguns professores com o tipo de condições de trabalho a que estão submetidos. “O excesso de atividades em sala de aula tira o foco do trabalho. Professores vendem rifas, distribuem boletos, bilhetes, resolvem problemas de família. Sua energia se esvai. Eles são alocados

na posição de objetos, não tendo espaço para falar de si e da prática pedagógica”, critica. A psicóloga, que acredita que a profissão de educador deveria ser mais valorizada, devido a responsabilidade que implica, diz que o professor deve sempre tentar manter um bom relacionamento e conduta em sala de aula, enxergando cada dificuldade como um desafio. “Existem pontos da subjetividade de cada um (aluno e professor) que são tocados em um relacionamento. O que salva o professor é seu desejo de ensinar, ligado ao desejo de saber. Nessa relação o professor tem que se lembrar que ele é o adulto. Professor não pode regredir e rivalizar com aluno”, aler-

explicação para o problema mudou. “Antigamente a repressão era muito grande, o formato de educação era muito rigoroso. Hoje, convivemos com a falta de limites em uma sociedade que não sabe lidar com a falta”, assinala. Para ela, quando o professor passa a rotular o aluno, considerando-o um problema, ele acaba por contribuir para que este se comporte da maneira designada. “Quando se nomeia a criança de ‘criança problema’, ela pode se identificar com o rótulo e ficar para sempre assim”, alerta a psicóloga. As representações, segundo Margarete, contribuem para a estagnação, comprometendo o desenvolvimento da criança e exacerbando as tensões em sala de aula. Destravar posteriormente essas identificações, se torna mais difícil, embora de

extrema importância. Para ela, não se deve dizer “aluno problema”, nem “professor problema”. Tendo também o objetivo de contribuir para que os professores revejam suas atitudes quanto a rotulação de alunos, durante as reuniões dos grupos de conversação, é pontuada por Margarete a necessidade de se buscar novas soluções para as situações vividas em sala de aula, e se desvendar conceitos assimilados pela sociedade ao longo do tempo. “Muitas pessoas falam que criança problema é igual a família problemática. Essa é uma equação que nem sempre pode ser feita. Nas conversações, as contradições aparecem. O melhor aluno de uma professora tinha pais analfabetos”, exemplifica Margarete. Outro fator que contribui para a estagnação da criança é o fato de os próprios responsáveis por seu aprendizado assumirem uma conduta descrente quanto a capacidade de desenvolvimento do aluno. “Cada aluno deve ser visto em sua singularidade. Cada aluno é único para cada professor e responde ao seu jeito e ao seu tempo”, reforça a psicóloga. Compartilhando a crença de que é preciso romper com estereótipos, a professora Ana Vitória Furtado diz que conseguiu contornar várias situações em sala de aula, ouvindo os alunos. “A gente tem mania de julgar o aluno sem conhecer sua realidade. Para mim o diálogo vem em primeiro lugar”, acredita.

A responsabilidade da família e da escola Em meio à transferência de funções entre família e escola, o que se constata é o prejuízo da criança, que permanece sem noções de limite e carentes de cuidados. A autora do livro “Adolescência na escola: soltar a corda e segurar a ponta” Margarete Miranda, conta que muitos educadores dizem que as famílias atuais estão transferindo tanto a autoridade quanto amor para a escola. De acordo com a autora, os pais atualmente têm sido orientados pela tecnologia e consumo e se mostram muito “contaminados” pelo conceito de trauma. Essas concepções provocam o recuo não só da família como do adulto, frente a sua função de transmitir o

saber e ocupar seu lugar de autoridade. “Enfrentar as crianças é frustrá-las e não tem educação sem fr ustração”, esclarece a escritora que também aponta a característica hedonista da cultura atual como outro fator que contribui para que os pais não queiram desagradar as crianças. Dessa forma, transpondo as barreiras família–escola, a psicóloga alerta que a responsabilidade perante a educação do jovem é de qualquer adulto. “Pais e professores têm que cumprir suas funções quando na presença das crianças. É responsabilidade do adulto não se eximir e fazer a mediação da cultura”, constata.


14Cultura

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Junho • 2009

TATIANA LAGÔA

O SERVENTE DE PEDREIRO QUE SE DEDICA AO RAP Com a descoberta do rap por meio de seus irmãos, Fabrício já faz shows com seu grupo D’la Rima A Revolta por toda BH n TATIANA LAGÔA, PATRÍCIA SCOFIELD, 7º PERÍODO

O servente de pedreiro Fabrício Soares integra o grupo D’la Rima A Revolta

Das batidas com uma baqueta quebrada nas panelas e no sofá de casa, o servente de pedreiro Fabrício Soares Teixeira, 19 anos, passou a fazer rap discurso rítmico com rima. Hoje se apresenta em shows nos aglomerados urbanos da capital com o grupo D'la Rima A Revolta,

Grupo de diversas influências Com o grupo D'la Rima a Revolta, formado em agosto de 2008, Fabrício canta rap com os amigos Luís Felipe Fernandes dos Santos (apelidado no grupo de Guerreiro Jhow), Francis Barbosa (ou Black Sing) e Vancarlos Rui (de apelido The Guy One). O nome do conjunto é explicado por Luís Felipe: "É da rima que expressamos a revolta". Francis completa: "Rima traz a boa ideia, a parte poética da coisa". As influências musicais do grupo são variadas: Música Popular Brasileira

(MPB), Soul, Jazz, Rap, Hip Hop e Rap Gospel. No campo do rap e hip hop brasileiro, os rapazes ouvem Racionais MC's, Reação Zona Oeste (RZO), Facção Central, entre outros. "Nossas músicas falam de religião, capitalismo, revolta. Está dando bastante certo porque o Fabrício é o que protesta, eu falo da realidade e o Francis vem com o sentimento", diz Luís Felipe. "A ideia é mostrar um ponto positivo, para que a pessoa tenha mais condição de dar valor para os outros", resume Fabrício.

As letras do grupo têm como tema fatos da História, por exemplo a escravidão e o feudalismo, além de vivências pessoais em tom de protesto político. "Não quero que o meu rap toque nas festas. Quero que a pessoa ouça e fique no sofá pensando", pondera Fabrício. Quem aprova as músicas de Fabrício é o amigo Amilton de Brito, de 17 anos. "O som dele é doido. Tenho um CD em casa com músicas dele e dos colegas", comenta.

formado por ele e mais três amigos. A influência musical do jovem servente de pedreiro foi despertada pelo irmão que ouvia raps como os do grupo Racionais MC's em casa, o que incentivou Fabrício a criar letras e a participar do Duelo de MC's, realizado semanalmente debaixo do Viaduto Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte. Sete vezes vencedor desse duelo, Fabrício, que também aprendeu sozinho a tocar violão e bateria, passou a compor o grupo D'la Rima A Revolta. "Ele é repentista. Vai te olhando e fazendo a letra toda certa. O dom desse menino é ser artista", afirma, orgulhoso o pai do cantor de rap, José Teixeira Maria. Foi ele quem comprou para o filho o violão que é dedilhado por Fabrício até hoje, como forma de incentivar o lado artístico daquele que gostava de cantar desde criança, segundo José Teixeira. "Até que enfim na família tem uma pessoa que é vencedora, que é uma flor que presta. Falta ele ser descoberto por alguém", comenta. Para encorajar o filho a aproveitar as oportunidades "no caminho do que é bom", José cita o exemplo do cantor de música ser-

taneja Eduardo Costa, que morou na vizinhança, no Bairro Palmital, em Santa Luzia, e hoje têm conseguido visibilidade na carreira de músico. Além de violão, Fabrício, aos 11 anos, também aprendeu a tocar outro instrumento, a bateria, mas com um professor bem diferente: a televisão. "Meus primos tinham uma banda de rock e um deles me deu uma baqueta quebrada, aí eu comecei a acompanhar as bandas de rock na MTV (canal de televisão) e a tocar nas panelas. Chegava um sofá no outro para tocar neles e ar regacei a bateria dos meus primos", conta, achando graça, e perguntando para o pai se ele "dava muito trabalho". Aos 13 anos, o jovem músico começou a tocar bateria em uma banda na igreja católica do Bairro São Benedito, em Santa Luzia. Já com a banda The Fly, formada por amigos, ele se apresentava em show nas praças do município, por diversão, já que era gratuitamente. Nesta idade, Fabrício começou a se envolver com drogas e, segundo ele mesmo, foi o rap dos Racionais Mc´s intitulado “A vida é um desafio" que o levou a repensar a vida. "Foi a música dos Racionais

MC's que fala que exemplo eu vou ter dado pra minha família que me tocou", conta. Para ele, a parte mais marcante da música é a que diz: "É necessário sempre acreditar que o sonho é possível, que o céu é o limite e você truta é imbatível. O tempo ruim vai passar é só uma fase. E o sofrimento alimenta mais a sua coragem. Que a sua família precisa de você". Segundo ele, com essa letra ele percebeu que estava deixando a família de lado e que deveria se unir a ela para vencer as dificuldades. "Minha mãe morou comigo até aos 11 anos de idade. Aí ela se separou do meu pai. Eu tinha muita mágoa dela por causa disso. Mas não quero deixar mágoas, ressentimentos, quando eu morrer não", comenta. Mesmo sendo tocado pelo rap, Fabrício admite não acreditar que seja ele o único responsável por mudanças nas vidas das pessoas. "As pessoas não mudam por causa do rap. Se elas não tiverem o objetivo de mudar, nada ajuda. Nem o rap, nem a igreja, nada ajuda", afirma. Atualmente, o objetivo de Fabrício é ter casa própria, já que ele mora sozinho nos fundos da casa da tia, no Barreiro.

Banda Isoldina mescla música com solidariedade MAIARA MONTEIRO

n ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA,

bares e casas de espetáculos na Zona Sul da capital mineira. "No interior (do Estado de Minas Gerais) a Isoldina é bem conhecida, diríamos que somos mais conhecidos em mais de 200 cidades, nossas músicas tocando em FM (rádios)", revela Tiago Dias. "A Isoldina já faz parte da cena. Não importa a forma que você vai ouvi-la, seja no site da banda (www.isoldina.com.br), no blog (http://isoldina.blogspot.com/), nos portais de relacionamentos, no disco ou 'ao vivo'. O importante é ouvir Isoldina e sentir a intensidade e a atitude de suas músicas", conclui Tiago Dias.

4° PERÍODO

Fundada em abril de 2007, a Banda Isoldina, com estilo pop rock, direcionada especialmente para o público jovem, todavia tendo admiradores em outras faixas etárias, almeja ocupar um "lugar ao sol" no universo musical, objetivando valorizar a pessoa através de projetos sociais tendo a música como destaque. "Mais importante do que participar dessas campanhas é mostrar que nós fazemos parte de uma sociedade que é muito carente de afeto, de atenção e informação. Nós, como representantes de uma forma alegre de se expressar - que é a música - não podemos fechar os olhos e devemos atuar de forma cada vez mais efetiva, colaborando então para a melhoria da sociedade de forma geral", enfatiza Aléxis Vidal. O grupo é formado por André Nascimento e Aléxis Vidal, vocalistas, Rafael Araújo, guitarrista, Rudigo, baterista e Xand, baixista. Completando a equipe, Bruna Clarindo, produtora artística e o gerente administrativo Tiago Dias. Tudo começou quando três amigos - André Nascimento, Alexis Vidal e outro colega de escola - decidiram fazer um trabalho escolar diferente. Criaram uma poe-

Banda Isoldina toca seu som no estúdio onde costumam se reunir para ensaiar, na Região da Pampulha sia e a musicaram. Resultado: tiraram nota máxima e ainda ficaram conhecidos em todo o colégio. Tempos depois, um deles manifestou o desejo de fazer canções e formar uma banda, que nos shows apresentam sucessos próprios e de autores conhecidos nacionalmente. O nome Isoldina surgiu através de uma história de infância de Alexis Vidal. Em um determinado período ele passou a apresentar uma leve síndrome do pânico e sua mãe, para tentar solucionar a situação contou-lhe uma

estória de infância dela. A única coisa que ela tinha medo quando criança era a sua vizinha Isoldina Papuda. Logo, Alexis não precisava ter medo de nada, somente da Isoldina Papuda. O nome foi utilizado como uma homenagem às mães e por ser um nome feminino, às mulheres também. Os projetos futuros passam pelo lançamento do cd "Cardápio Abstrato", que será gravado ao vivo até o final deste ano, pela busca de inserir trabalho da Isoldina na mídia televisiva,

rádios e tocar em festivais, promovendo o trabalho no âmbito nacional. O grupo foi selecionado em abril de 2009 e concorreu com o clipe da música "Qual o caminho" para participar do quadro Garagem do Faustão, apresentado pela Rede Globo aos domingos no Programa Domingo do Faustão. No site da emissora global, é citada como “integrante da nova geração do rock nacional". O trabalho em BH continua, tendo agendado show nos próximos meses em

PROJETOS SOCIAIS A banda subiu ao palco em maio 2008 numa casa de espetáculo na Zona Sul de BH, ao lado do cantor Vander Lee e Podé, vocalista de outro grupo mineiro do pop rock, o Tianastácia, numa apresentação da banda de percussão de jovens e crianças com Síndrome de Down, do Projeto "Ser diferente é normal", promoção da ONG Meta Social, em matéria focada aqui no MARCO na edição 260, de setembro/08. "Participar de projeto 'ser diferente é normal' foi inesquecível e gratificante para todos nós da Isoldina. Ficamos impressionados com o carinho e atenção

das crianças e organizadores do evento. Uma campanha como essa é de fundamental importância de conscientização para todos que não conhecem e nunca tiveram contato com alguém que 'não segue os padrões de normalidade'. Acreditamos que todas as pessoas deveriam conhecer o projeto e ter a oportunidade de conhecer as crianças com de Síndrome de Down", comenta Rafael, guitarrista. "Recebemos o convite da Instituição (Fundação Hemominas) para participar e realizar um show no Dia do Doador Voluntário de Sangue; enquanto a Isoldina se apresentava, o publico realizava a doação. A apresentação foi inesquecível", relembra o gerente administrativo. Segundo ele, o grupo já participou de diversos eventos pela cidade, entre eles o "Natal Solidário", que ocorreu em Contagem com a participação de mais de cinco mil pessoas; evento em homenagem à mulher e comemoração dos 40 anos da Feira Hippie; voo inaugural BHMiami e American Air Line, no Aeroporto de Confins, quando a banda foi responsável pela música tema do evento. A banda também fez parte da campanha nacional contra o abuso e exploração de crianças e adolescentes e do Dia Mundial de Luta contra Hepatites Virais.


Perfil

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Junho • 2009 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

TV ITACOLOMI GUARDADA EM FOTOS Carlos Fabiano teve seu primeiro emprego aos 15 anos na extinta TV Itacolomi onde aprendeu a arte da fotografia. Pelas suas lentes foram registrados aproximadamente sete mil negativos n ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 4º PERÍODO

Dinamismo, audácia e espírito desbravador. Inúmeros trabalhos concluídos, outros tantos em andamento e projetos futuros. Inúmeras viagens pelo Brasil e pelo mundo. Essa é a trajetória deste quase setuagenário mineiro natural de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, Carlos Fabiano Braga. Sempre aberto às inovações, ele arregaça as mangas e tenta, inventa e no final torna-se um "colecionador" de sucessos para uma pessoa que é múltipla em seu currículo: ator, fotógrafo, profissional da área petrolífera, escritor, palestrante, analista de sistemas e cooperativista, tudo isso sem se descuidar da família e até construindo um link na sua homepage, para apresentar seus cinco netos. No momento, o desafio é continuar o estudo da própria árvore genealógica, contar a história do cooperativismo mineiro e completar edição do acervo fotográfico da extinta TV Itacolomi. Aos 15 anos, ele teve seu primeiro emprego em um veículo de comunicação que acabava de desembarcar no Brasil: a televisão. "A Itacolomi é um caso de amor, foi meu primeiro emprego. Antes mesmo da inauguração, estava lá. Fui admitido como auxiliar de portaria em dezembro de 1955, mas comecei a trabalhar um mês antes", relembra Fabiano, que juntamente com outros recém-contratados, eram como se diz num dito popular, "pau para toda obra", pois foi servente de pedreiro, auxiliar de carpinteiro e iluminação, aprendendo também aquela que seria a maior das suas atividades profissionais, a fotografia. "Por circunstâncias, não sei por que razão, às vezes aparecia à frente das câmaras", diz ele, entrando sutilmente num outro universo que não

planejara, o de ator, mas que lhe proporcionou grandes momentos. "Como ator, os personagens me ensinaram muito, pois para interpretar procurava conhecer a fundo cada um dos que representei", revela. Após ganhar sua primeira máquina fotográfica aos noves anos, foi nesse seu primeiro emprego que teve oportunidades de aprender a arte de retratar as imagens, com os ensinamentos de quem ele se refere como mestre, Caubi José de Alencar. Pelas lentes do equipamento de Fabiano foram registrados em torno de sete mil negativos, formando assim um vasto acervo da história daquela que foi a campeã de audiência televisiva em Minas Gerais nas décadas de 1960 e 1970. Pelo 24º andar do Edifício Acaiaca, na Avenida Afonso Pena, em frente a Igreja São José, inúmeras personalidades foram clicadas por Fabiano, passando pelo próprio fundador da TV no Brasil, Assis Chateaubriand, Juscelino Kubtischek e Clóvis Salgado,

respectivamente presidente do Brasil e governador de Minas, Lamartine Babo, Marta Rocha, Célio Balona, Milton Nascimento, esses dois últimos ainda em atividade no campo musical. Após a trajetória na Itacolomi, Carlos Fabiano concursado ingressou na Petrobrás, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde outro desafio o aguardava: a construção da Refinaria Gabriel Passos. Foi lá que aprendeu técnicas de planejamento, teve cursos de especializações, tendo o cuidado de datilografar e fazer cópias em mimeógrafos do aprendizado, montando assim um tipo de manual. O encontro com o cooperativismo ocorreu em 1987, época em que se aposentou da Petrobrás. "Como acontece com a maioria, fui contaminado pelo 'virus cooperativus' e, é facilmente constatado que estou envolvido completamente", afirma o escritor, que além de participar de congressos de cooperativismo, têm publicados livros e artigos referentes ao tema. Membro do Grupo de Gestores do programa do Gov-

erno Federal, "Luz para todos" em Minas Gerais, Fabiano participa intensamente do cooperativismo, somando a participação em mais de 60 congressos, pelo país e pelo mundo, como palestrante ou ouvinte, além de ter exercido cargos em diferentes instituições do setor. Formado em análise de sistemas, Fabiano, que construiu seu próprio site (http://www.fabiano.pro.br), onde descreve com detalhes sua vida. Em 1991 publicou o primeiro de uma série de livros, intitulado "Autogestão através da educação" e hoje o ex-funcionário da TV Itacolomi contabiliza quase 80 publicações, entre coletâneas, antologias, livros técnicos e livros compartilhados com outros autores e o mais recente, em estilo de reportagem histórica. "TV Itacolomi, uma crônica, 100 fotos" outro em andamento, "História do Cooperativismo Mineiro" e projeto de escrever seu primeiro trabalho de ficção, cujo nome provisório é "Gente do Calafate".

PÂMELLA RIBEIRO

Carlos Fabiano mostra, em sua casa, fotografias digitalizadas tiradas na época em que trabalhava na TV Itacolomi

Eterna campeã da audiência mineira A TV Itacolomi é um marco nas telecomunicações brasileiras, foi a terceira emissora de televisão instalada pelos Diários Associados, uma das primeiras funcionar no Brasil. Fundada em 1955 por Assis Chateaubriand, foi inaugurada em 8 de novembro de 1955, permaneceu no ar até 18 de julho de 1980, quando o Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) cassou a concessão da emissora, lacrou os transmissores e confiscou o cristal. "Eu tenho muito a ver com a Itacolomi, uma vez que fiz parte da equipe que a instalou e que lá permaneceu durante sua infância, ou seja, seus sete primeiros anos", admite Carlos Fabiano Braga. O professor de comunicação social da PUC Minas e produtor teatral Ronaldo Boschi tem projeto de fazer documentários de oito a 20 minutos, e no momento está trabalhando a série sobre o "Teatro mineiro, a trajetória dos atores". Ele leu uma matéria em um jornal sobre Carlos Fabiano Braga e o trabalho que ele está fazendo sobre o acervo fotográfico da TV Itacolomi e se interessou. "Entrei em contato com o Fabiano, via e-mail, trocamos uma correspondência e ele me deu uma resposta objetiva", conta Ronaldo Boschi. Dentre os atores que já

foram retratados, constam vários nomes que pisaram os palcos da extinta emissora mineira, incluindo o próprio Fabiano mostrado no documentário número 14. Vendo e ouvindo o documentário, esse pioneiro da TV brasileira se emocionou. Segundo Boschi, o acervo está sendo útil para que possa enriquecer esses documentários, sempre acompanhados de um texto narrativo. Carlos Fabiano conta que tentou e não conseguiu apresentar parte do acervo fotográfico sobre a TV Itacolomi dentro das festividades do centenário de Belo Horizonte, em 1997. "Não consegui, mas não desisti", desabafa o fotógrafo, que foi ao Ministério da Cultura, usando dos benefícios da Lei Rouanet, no entanto os patrocinadores não se motivaram. Curiosamente, esse apoio que lhe foi negado e m s e u p a i s , f o i c o nseguido na Europa, em P a r i s , F r a n ç a , e x a t amente no Museu do Louvre, que está de portas abertas para abrigar todo o acervo histórico. "Tenho esperança, sempre tive, que a TV Itacolomi será um marco de referência de minha carreira como escritor e será importante para quem for estudar a evolução dessa loucura que é a televisão", afirma Carlos Fabiano.

PÂMELLA RIBEIRO

A coleção de dez mil livros de um mineiro que virou professor n BRUNA FONSECA, 1° PERÍODO

Quem entra no edifício 343 da Tupis, no centro, não imagina a quantidade de grandes nomes da literatura que habitam a sala 907. De Adélia Prado à Zélia Gattai, cerca de mil títulos (sem contar revistas e jornais) disputam espaço nas prateleiras improvisadas do escritório de Luiz Carlos Junqueira Maciel. "Esse escritório eu tenho há dez anos. Eu morava em um sítio em Sabará, que em 1997 sofreu uma enchente, quando eu perdi mais ou menos mil dos quatro mil livros que eu tinha. Aqui em BH, no meu escritório, são livros só pra consulta mesmo", conta o professor. Luiz Carlos nasceu há 57 anos em Cruzília, cidade no Sul de Minas, fundada por seu bisavô. O avô dele sempre quis que seus filhos e netos estudassem fora, mas com o intuito

de retornarem ao interior, após formados. Não foi o que aconteceu com o escritor, que veio a Belo Horizonte para cursar direito, mas acabou optando pelo curso de letras e pela capital mineira. "Na época, minha família achou meio esquisito, porque homem se formar em letras na década de 70 era raro, era considerado um curso de mulher", explica. Ele formou-se pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde fez seu mestrado, uma dissertação sobre a poesia de Dantas Mota. Luiz Carlos foi alfabetizado por sua irmã mais velha, professora como seus outros dez irmãos. Dos 13 filhos, apenas um é criador de cavalos, seguindo a tradição da família Junqueira. Além das análises de livros para vestibulares, ele é autor de quatro livros de poesia,"Sonetos dissonantes", "Felizes os convidados", "Doismaisdoido é igual ao

vento" e "Era uma vez: sonetos para netos", uma das parcerias com o cantor Zebeto Corrêa, que junto com o escritor lançou o CD de poesias musicadas "Trilhas da Literatura: ouvir para ler", que conta com a participação especial do grupo MPB-4. As parcerias envolvendo música começaram em 1972. Maciel ficou em primeiro lugar na primeira edição do festival da Canção de Cruzília e classificou sua composição "Trem noturno", na voz de Newton Ribeiro, no concurso "Viola de todos os cantos" pela filiada da rede Globo, a EPTV de Varginha. Apesar de seu primeiro livro ter sido publicado em 1980, Luiz Carlos escreve desde os dez anos. Até hoje ele faz a distinção entre “o Luiz Carlos Junqueira Maciel, professor e o Caio Maciel, fazedor de versos, quem bagunça as letras”, diz. Seu pseudônimo homenageia sua primeira sobrinha, já falecida, também

professora de literatura, que quando criança não conseguia pronunciar "Luiz Carlos", que se reduziu a "Caio". Luiz Carlos é casado com Francisca Izabel Pereira Maciel, professora de pedagogia da UFMG, de onde foi professor substituto. Hoje, dá aulas no Pré-vestibular Promove, do qual foi coordenador durante 30 anos. Sobre a relação do jovem brasileiro com a literatura, já que segundo os últimos resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, na média, o brasileiro lê apenas 4,7 livros por ano, ele afirma que grande parte da responsabilidade é do professor, que muitas vezes não sabe passar seu conhecimento de forma lúdica e prazerosa. Sobre dar aulas, Luiz afirma sentir prazer, mas que o maior desafio para o professor, hoje, é a indiferença dos jovens com a leitura. A relação com os

Luiz Carlos Junqueira em sua casa, em meio a sua coleção de livros alunos dentro de sala é descontraída, mas com limites. "Ele é um professor que entende do que fala e sabe explicar. A análise, a leitura em voz alta, tudo ajuda na compreensão das obras", comenta Marina Marques, 17 anos, aluna do prévestibular Promove. Jacyara Noronha, 18 anos, também aluna de Luiz, completa, "ele é descontraído, mas franco,

quando deve,ele puxa a orelha mesmo". Caio Maciel lança este ano um novo CD, "Recados de Minas", fruto de uma extensa pesquisa sobre a riqueza cultural do Estado. Ele acredita que inspiração vai além da magia, é principalmente fruto de muito estudo, trabalho e paixão pelo que faz. "Se você quiser me definir: paixão pela literatura”.


16Comunidade

Junho • 2009

AS DELÍCIAS DE UMA VIDA SIMPLES Vila 31 de Março diminuiu de tamanho, mas ainda exerce um fascínio sobre os moradores por ser um lugar tranquilo e com ambiente familiar mesmo com a agitação da capital mineira MAIARA MONTEIRO

n BÁRBARA CAMPOS, JOYCE SOUZA, 3º PERÍODO

Terrenos imensos, geralmente cercados por vegetação, ar puro e segurança formam um conjunto que caracteriza os condomínios horizontais fechados. Para muitos, substituir o convívio com a agitação contínua da cidade pelo sossego das áreas mais reclusas é uma opção atrativa, mas não para Salomão Moura D’Ávila, 46 anos. Ele é uma das dezenas de pessoas que não trocam a vila em que moram por nenhuma unidade habitacional de luxo. Parece contraditório, mas a qualidade de vida e a tranquilidade também podem ser encontradas em meio a buzinas e freadas de caminhões às margens do Anel Rodoviário. A Vila 31 de Março, localizada na Região Noroeste, foi ocupada em meados de 1964, e hoje

reúne 1949 moradores em 464 domicílios. As ruas estreitas e constr uções inacabadas não são vistas pelos moradores como uma variável menos atraente. Salomão mudou-se para a vila com os pais ainda criança e diz que acompanhou várias mudanças. "Aqui não tinha asfalto, rede de esgoto nem água encanada. Tínhamos apenas uma caixa d'água comunitária e o controle era rigoroso para cada família", lembra o morador, enquanto aponta para uma instalação abandonada no alto de uma casa localizada à rua em que reside com a esposa e os três filhos, Karollyne, de 13 anos, Fernanda, 17 e Taylon, 18. Os adolescentes contam que todos ali se conhecem desde pequenos. "Quando não há nenhuma programação especial para o sábado à noite, o pessoal se reúne na casa de alguém para bater papo", revela Taylon, o filho mais velho

de Salomão. São três gerações da família D'Ávila na 31 de Março. Salomão e seus irmãos herdaram a casa dos pais, que se mudaram para uma cidade do interior. Os filhos dele nasceram e foram criados na vila. O amor pelo lugar é tanto que o morador comprou um terreno na mesma rua onde mora. O motivo? Construir o que ele chama de "a casa dos sonhos". "Construir com minhas próprias mãos a residência que sempre quisemos ter, no lugar onde temos uma história de vida e que não trocaríamos por nenhum outro", conta Salomão. A afeição pelo lugar se estende a outra parte da família que divide o mesmo terreno. Damaris D'Ávila Siqueira confirma a fala do tio e diz que quando a família se mudou para outro bairro sentiu falta da proximidade do comércio, da escola, das várias opções de ônibus e da calmaria pre-

BÁRBARA CAMPOS

As crianças brincam nas calçadas e as pessoas conversam com seus vizinhos. Assim são as ruas da Vila 31 de Março

A Vila 31 de Março pertence a uma área formada por imigrantes e operários que vieram trabalhar na construção de BH dominante no local. "Meu irmão mais velho entrou até em depressão com saudade daqui", completa a jovem. CONTRASTES As ruas da 31 de Março expõem variedades e contrastes. Crianças brincam nas calçadas, mulheres conversam e fazem as unhas na porta de casa, uma senhora lê um livro na sala de casa com a porta aberta sempre atenta ao movimento de quem passa por ali. Todos usufruem do espaço e resgatam o hábito das tarefas feitas em conjunto, uma forma de trocar experiências e reforçar a vida em sociedade. Os moradores avaliam aquela região como um condomínio diferente, sem luxo e segregação. Dona Nedina dos Reis Andrade é moradora da Vila há 40 anos e tem acompanhado o progresso do lugar. Ela conta que os moradores de hoje são privilegiados por terem acesso a

certas facilidades. Na época em que chegou as r uas eram de terra batida, não tinha energia elétrica. "Não podia chover que a água invadia a casa da gente e estragava os móveis. Não tinha nem jeito de sair na rua de tanta lama", recorda. A senhora descreve com sorriso no rosto como é agradável viver entre pessoas conhecidas, sem se preocupar com invasões noturnas e confere parte do mérito da tranqüilidade à Polícia Militar que, segundo ela, está sempre fazendo ronda. "À noite fecho apenas esse portãozinho de fora. Quando está fazendo calor dur mo até com as janelas abertas. Em que outro lugar eu poderia fazer isso?", indaga Nedina. ORIGEM A Região Noroeste pode ser dividida em quatro áreas bem diferenciadas delimitadas por vias como a BR-040, Anel Rodoviário, Avenida Pedro II, Via

Expressa e Avenida Carlos Luz. Os bairros situados em cada uma dessas áreas apresentam peculiaridades que remontam o primeiro cenário que os formou. A Vila 31 de Março, inserida na porção territorial além do Anel Rodoviário, e os bairros pertencentes a essa área foram ocupados por uma população de baixa renda, formada basicamente por imigrantes e operários que vieram trabalhar na construção da capital. De um modo geral, os bairros da Região Noroeste possuem uma história de fortes ligações com a religião católica e o envolvimento com a igreja não se limitou às origens. Até hoje alguns líderes religiosos lutam junto aos moradores por melhores condições de vida e direito à posse da terra.

Associação proporciona convívio entre moradores Um ponto de encontro e lazer. É assim que "as jovens senhoras" vêem a Associação de Moradores da Vila 31 de Março. Nas tardes de segunda-feira,

elas se reúnem para ver filmes, contar histórias e arquitetar projetos, como o bazar ou o famoso "tropeiro", atividades que beneficiam a todos que

moram na região. Maria Rosa Siqueira é uma dessas tarefeiras que, sempre muito ativa, dedica grande parte de seu tempo às atividades propostas.

JOYCE SOUZA

Presidente da associação de moradores Maria Ana faz preparativos para uma missa juntamente com suas auxiliares

"Meus filhos já estão encaminhados, meu marido passa o dia na mercearia que temos, então posso ficar aqui tranquila. Dedicar-me às tarefas, encontrar minhas amigas, contar casos e rir. Rir muito. Nossos encontros são uma verdadeira terapia para qualquer um", conta empolgada Dona Rosa. Ela lembra que quando chegou à Vila 31 de Março, "não tinha nem coleta de lixo" e que ao longo do tempo, muitos foram os progressos. Dona Rosa ressalta que a associação também foi um avanço importante na história da 31 de Março. Para ela, é fundamental ter um grupo organizado, com regras e valores dentro da comunidade. Djanira Caetano é conselheira fiscal da associação. Ela lembra que desde 1974, quando foi inaugurada, a entidade

tem desempenhado um importante papel de auto conhecimento e de socialização dos moradores da vila. "Já tivemos que ir buscar muitas senhoras que sofriam de depressão em casa. Algumas passavam o dia inteiro, trancadas sozinhas em seus lares. Não tinham um estímulo para viver, uma atividade que exigisse a participação ativa e que fosse capaz de mostrar que, apesar de idosas, elas são úteis, explica Djanira. Além de local de encontro para as senhoras, a associação desenvolve outras atividades que estão diretamente ligadas com religião e o envolvimento com a igreja. "Nos fins de semana, abrimos as portas para as celebrações religiosas. Temos cultos evangélicos e missas", como explica Naida Pereira dos Santos. Ela, que mora com o marido e

os três filhos, é uma das moradoras mais recentes. Apesar disso está envolvida com os projetos comunitários e com a vizinhança como se "sempre tivesse morado na 31 de Março". Os moradores pagam mensalmente uma pequena quantia à associação com o objetivo de arcar com despesas básicas como água e luz, e de financiar as atividades desenvolvidas. Os pais que sejam fazer uma festinha de aniversário para seus filhos também podem usar o salão do local pagando uma quantia simbólica. Nedy Faúla conta que além de ser um lugar de lazer, o espaço é ambiente agradável para reunir os moradores e expor idéias, problemas e necessidades comuns e de estudar possíveis melhorias.


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