R$ 8,90 Ed. 29 ISSN 2177-7993
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Editorial
Caminho Espiritual é uma publicação da Editora Minuano
Por todas as nossas relações Por Victor Rebelo
Caminho Espiritual site: www.rcespiritismo.com.br - Ano 05 - nº 29
Anúncios e artigos: Fone (11) 2645-4017
Rua Falchi Gianini, 515 - Vila Prudente São Paulo - SP - Fone (11) 2645-4017 CEP 03136-040. Editor-chefe e Diretor de Arte: Victor Rebelo Administração: Ivonete Pietro Jornalista: Érika Silveira OBSERVAÇÃO IMPORTANTE A Editora Vivência que criou, produziu e realizou este projeto tem inteira responsabilidade sobre a originalidade e autenticidade de seu conteúdo.
Esta é a primeira vez em que uma edição da revista Caminho Espiritual é totalmente dedicada ao tema Xamanismo. Nossa intenção é retomarmos o assunto futuramente, pois o tema é muito amplo, e uma edição apenas é insuficiente para adentrar profundamente neste universo riquíssimo formado pelo conjunto de crenças religiosas e práticas primitivas da humanidade. Quando digo primitivas, quero dizer que sua origem está nos primórdios da nossa cultura, numa época que escapa aos nossos registros históricos. Entendo o Xamanismo como sendo a sabedoria e os rituais dos povos nativos que, honrando a Mãe-Terra, buscam a reconexão da alma com o Grande Mistério. Claro que o Xamanismo é mais que isso, mas já é um ponto de partida. Cabe a cada um de nós trilhar o próprio caminho, numa jornada que nos levará, cada vez mais, para a autodescoberta e para uma vivência mais harmônica com tudo e com todos. Praticamente todos os povos tiveram, em sua origem, o que podemos chamar de práticas xamânicas. Mesmo com suas diferenças, as práticas sempre tiveram o mesmo objetivo: curar e transcender. Hoje, essa sabedoria que nos remete às nossas origens está sendo resgatada pelos chamados “xamãs urbanos”. São curadores e pesquisadores espiritualistas, com profunda afinidade com as culturas e espiritualidade nativas, que procuram trazer os benefícios dessa sabedoria para os dias tumultuados de hoje. Diante de tanta tecnologia e avanço científico, é incrível o fato de que todo esse nosso progresso não dispensa a necessidade primordial de uma relação simples e saudável com a Natureza. A modernidade, apesar de todas as suas conquistas, não é capaz de nos manter saudáveis e lúcidos se perdermos aquilo que nos é mais essencial: nossa alma. E o Xamanismo – seja ele oriundo dos índios do Brasil, da América do Norte, dos povos andinos, celtas, do Himalaia, africanos, esquimós... – nos ensina que nossa alma não está separada da alma do mundo. Parece que os cientistas estão começando a entender isso, o que tem dado força a um modo de vida autossustentável e ecológico. Portanto, penso que este é o momento propício para revalorizarmos a sabedoria dos povos primitivos, que foi bastante desprezada nos últimos séculos. Claro que não foi possível convidar todos os grandes xamãs que realizam, com responsabilidade e conhecimento, seus trabalhos pelo Brasil e no mundo. Convidei alguns e pretendo convidar outros, para uma nova edição. Meu objetivo é um só: instigar você, leitor, a conhecer e adentrar neste caminho, cuja proposta é desenvolver, no ser humano, uma relação mais consciente com a vida. Mitakue Oasin! (Por todas as nossas relações) Ouça o programa
Música & Mensagem Apresentação: Victor Rebelo Músicas espíritas e espiritualistas, entrevistas, estudo das religiões e de temas espiritualistas
Aos sábados, às 16h Rádio Mundial 95,7 FM (SP) 660 AM (SP) ou pelo site www.rcespiritismo.com.br
Índice Xamanismo. Em busca de uma definição........................................06 As direções sagradas e os animais de poder..................................12 Visões sagradas.....................................................................................14 As doenças e a cura no Xamanismo..................................................22 Viagem astral no Xamanismo............................................................26 A perda e o resgaste de alma.............................................................30 Xamanismo matriarcal........................................................................34 O novo Xamanismo...............................................................................40 Espiritualidade indígena nativa.......................................................48 Rituais sagrados....................................................................................54 Música e espiritualidade: o encanto da coruja..............................58 Ponderações espiritualistas ..............................................................62 No caminho do amor ...........................................................................66
Internet
Centros de Xamanismo O site Xamanismo oferece uma lista com o nome e contato de vários xamãs do Brasil. De acordo com o responsável pelo site, o xamã Léo Artesi, essa lista não tem e nunca teve a pretensão de ser um guia de xamanismo e de todos os que, de alguma forma, conduzem práticas xamânicas, e sim uma lista de indicados que compartilham de um mesmo movimento. Um grupo de amigos que respeitam os trabalhos uns dos outros e que há anos peregrinam por este Caminho da Beleza. Ela foi elaborada em março de 2005, durante o Primeiro Encontro Brasileiro de Xamanismo, em São Paulo, que congregou 64 condutores de práticas xamânicas dos vários pontos do país. Os condutores, ou indicados, poderão enviar a atualização ou pedido de inclusão.
Contato: falecom@xamanismo.com.br Os e-mails de inclusão ficam até o final do mês, para referendo, numa lista composta por mais de 40 irmãos condutores de práticas xamânicas: http://br.groups.yahoo.com/group/ xamanismo-condutores Centros de Xamanismo: Acesse www.xamanismo.com.br/Aldeia/e, no menu, clique na opção desejada.
Vitrine
Quais são as práticas xamânicas especiais utilizadas no processo de cura? O que representa a figura xamã no contexto histórico e na atualidade? Como as práticas bioxamânicas podem ajudar o ser humano nos dias de hoje? Estes são alguns dos temas abordados.
“Autoproteção energética, interferência real da magia em nossas vidas, emoções tóxicas e obsessão, estresse e bolsões energéticos, abertura de caminhos, melhoria interior e corpo fechado... Esses são alguns dos temas abordados no livro.
Práticas Bioxamânicas Por Samuel Souza de Paula Editora Alfabeto. www.editoraalfabeto.com.br À venda nas livrarias
Fala, Preto Velho Por Wanderley Oliveira / Pai João de Angola Editora Dufaux Loja virtual: www.rcespiritismo.com.br Fone: (11) 2645-4017
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Xamanismo
Em busca de uma definição Na essência, o Xamanismo é um conjunto de práticas religiosas e se insere de acordo com a crença espiritual/religiosa local; é um fenômeno religioso POR LÉO ARTESE
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tualmente, quando a maioria das pessoas ouve a palavra Xamanismo pensa em culturas indígenas americanas. Outras reclamam: “Por que não pajelança, se estamos no Brasil!” Considerado isso como um “programa de índio”... O Xamanismo não se refere apenas à espiritualidade indígena. É certo que os indígenas foram os grandes responsáveis por manterem acesas as chamas da Medicina da Terra, mas as práticas se originaram no homem primitivo, no paleolítico. A palavra xamã tem origem siberiana, e não americana, e é usada hoje como uma forma única para descrever as práticas no mundo todo. Ou seja, as práticas são universais, é um legado do mundo espiritual para a humanidade. Não pode haver fronteiras. A palavra Xamanismo foi criada por antropólogos para definir um conjunto de crenças ancestrais. Para mim, é um caminho de conhecimento. Nós podemos perceber traços do Xamanismo em várias religiões. As raízes do Xamanismo são arcaicas e alguns antropólogos chegam a pensar que elas recuam até quase tão longe quanto a própria consciência humana. As origens do Xamanismo datam de 40.000 a 50.000 anos, na Idade
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da Pedra. Antropólogos têm estudado Xamanismo nas Américas do Norte, Central e Sul; na África, assim como entre os povos aborígines da Austrália, entre os esquimós, na Indonésia, na Malásia, Senegal, Patagonia, Sibéria, Bali, Velha Inglaterra, ao redor da Europa e no Tibete, onde o Xamanismo Bon segue a linha do Budismo Tibetano; ou seja, em todos os lugares ao redor do mundo. Seus traços estão presentes nas grandes religiões.
Religião da Idade da Pedra Piers Viebsky, em O xamã, cita que em 1991 foi encontrado o corpo mumificado de um homem, preservado sob as neves dos Alpes Austríacos. Foi apanhado por um temporal ao cruzar um desfiladeiro da montanha, há cerca de 5 mil anos. Poderia ser um pastor de ovelhas, mas as tatuagens na pele, um disco de pedra numa correia e alguns musgos secos medicinais encontrados em sua posse permitem a suposição de que era um xamã numa viagem ritual. Muito antes de ter sido descoberto esse “homem do gelo”, no princípio do Séc. XX, foram encontradas pinturas rupestres pré-históricas, no sul da França, de figuras semihumanas, semianimais... entre animais comuns, que foram consideradas como representando xamãs, o que conduziu a suposição de que o Xamanismo foi a religião humana original e primordial. Numa das gravuras, (ao lado) um homem com o falo ereto está deitado ao lado de um bisonte, com uma cabeça de pássaro ao seu lado; o próprio homem parece ter a cabeça de pássaro e presume-se que a gravura represente um xamã em transe. Essa interpretação foi popularizada na década de 60 por Lommel, num livro profusamente ilustrado, Shamanism: The Beginnings Of The Art. A figura da gruta de Les Trois Frères, nos Pirineus franceses, que foi chamada de Feiticeiro Dançador, é considerada por alguns estudiosos como representando um xamã. Uma
criatura masculina vista de perfil olha de frente para quem a contempla com os seus olhos muito redondos. Todas as partes da sua anatomia parecem pertencer a um determinado animal: orelhas de lobo, chifres de veado, rabo de cavalo e patas de urso. No entanto, o efeito geral é notoriamente humano. Outra interpretação possível é a de que represente um espírito Senhor dos Animais, personificando simultaneamente a essência de todas as espécies. O primeiro tratado vem da Sibéria (altaicos, iacutes, buriatas, tungues, vogul, samoiedos, etc.). Uma fonte acredita que os homens/xamãs teriam emigrado durante as grandes glaciações, seguindo rebanhos de renas. Eles passaram pelo estreito de Bering ou por uma ponte terrestre que ligava os dois continentes e se espalharam pelo mundo. Encontram-se fenômenos xamânicos similares entre os esquimós, índios das Américas do Norte, Central e Sul; Oceania, Austrália, no sudeste asiático, na Índia, no Tibete e na China. Trata-se de um conjunto de práticas evidentemente adaptadas a cada cultura, a cada crença, mas que em toda parte apresenta o mesmo conteúdo mágico, religioso e simbólico. Faz pensar que todos vieram de uma mesma fonte de conhecimento. Sintetizando, o Xamanismo é a “Jornada da Consciência”, um legado da humanidade além das fronteiras dos países, credos, raças, filosofias.
O termo Xamanismo Universal não significa uma classificação nova no Xamanismo, pois o Xamanismo é universal. A premissa básica é o reconhecimento de que todos fazemos parte da família universal e tudo está interligado. O praticante compreende o Espírito Essencial que está dentro dele mesmo, na natureza e em todos os seres. O praticante sabe quem ele é e como se relaciona com o universo. No sentido do “religare”, pode ser considerada uma religião, mas o Xamanismo não é como um conjunto de ritos específicos que seguem seus mestres máximos, como o Cristianismo (Cristo), o Budismo (Buda), o Islamismo (Maomé), o Taoísmo (Lao-Tsé), etc., cujas práticas são determinadas e iguais e que possuem seus Livros Sagrados de conduta em todos os lugares do mundo. Na essência, o Xamanismo é um conjunto de práticas religiosas, e se insere de acordo com a crença espiritual/religiosa local; é um fenômeno religioso. Pode-se dizer que as religiões representam um Xamanismo adaptado e afetaram as tradições xamânicas continuadas ou marginalizadas nas culturas que dominaram. As práticas, os mitos, as entidades... tudo depende da tribo, linha, geografia e crenças. O xamã é sempre uma figura dominante e não um santo, avatar ou profeta. Ele é um intermediário entre o mundo espiritual, a natureza e a comunidade.
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XAMANISMO. EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
POR LÉO ARTESE
O Xamanismo aparece como um reflexo de um Grande Espírito, que pode ter vários nomes. É honrado o Criador e todas as suas criaturas, sejam pedras, animais, aves, plantas
A Medicina da Terra é derivada de conhecimentos medicinais passados pelos ancestrais, que são honrados por aqueles que recebem a iniciação. O clichê mais ultrapassado é aquele em que o iniciado tenta matar, simbolicamente, seu iniciador em vez de honrá-lo. Isso é enfraquecer a raiz pela qual ele foi formado, uma autossabotagem espiritual. O entendimento disso faz com que o discipulado crie conscientemente um movimento de afinidade que traz harmonia no resultado. O “conhecimento” é para todos, mas “sabedoria” é para alguns. Por isso, acho importante a divulgação do conhecimento e a aplicação prática dele, pois existe ainda uma minoria que se transforma. É como um garimpo! Entre esses buscadores do conhecimento sempre sai uma pepita de ouro que vai fazer o mundo mais brilhante. Por essas pepitas vale a pena! O coração do verdadeiro iniciado tem que se confortar com isso, pois sempre é a minoria. Por outro lado, existe um outro fenômeno: algumas pessoas lançam-se a determinadas práticas sem o devido conhecimento e sem as “bênçãos espirituais”, ou seja, ação sem conhecimento. O que pode ser problemático. Muitos iniciam a caminhada, mas poucos atingem as maiores alturas.
Este conhecimento não está limitado aos iluminados, mas está disponível para todos nós, dependendo da sinceridade e humildade com que buscamos. Sabedoria xamânica é sabedoria da Mãe Terra e a cada filho dela é dado um presente, algum talento especial.
Honrando a vida e a Mãe Terra O xamã compreende o Círculo Sagrado da vida e recomenda, ajuda na cura, ensina o que é necessário para o bem da comunidade. Isto significa frequentemente colocar a comunidade em primeiro plano. O caminho xamânico conduz a um relacionamento de amor com a Mãe Terra. Não é possível praticar o verdadeiro Xamanismo sem incluir os cuidados com a preservação da vida de todos os reinos (animal, mineral, vegetal, espiritual) em nosso planeta. O Xamanismo aparece como um reflexo de um Grande Espírito, que pode ter vários nomes. É honrado o Criador e todas as suas criaturas, sejam pedras, animais, aves, plantas, peixes, insetos, águas, ventos e outras manifestações da natureza que compartilhamos a existência nesta vida. Essa consciência, esse alinhamento com as forças da natureza, transforma-se em poder de cura e expande habilidades psíquicas através da reconexão com a vida, com o Sagrado, com o mistério da Criação.
Ciclos da natureza O foco das práticas do Xamanismo centra-se nos ritmos cíclicos da natureza: nascimento, morte e renascimento, a complementaridade masculino e feminino, o contato pessoal individual com ambiente imediato da terra, com as forças da terra do sol, da lua e das estrelas. Um verdadeiro xamã enfrentou suas sombras e venceu seus medos da insanidade, solidão, orgulho, vaidade, vícios, doença... ao passar por mor-
... uma vida pautada na sabedoria encontrada nas folhas, nos movimentos dos ventos, no poder transformador do fogo, nos espíritos ancestrais, na jornada da alma e na missão 8
tes em vida. Depois disso, escolhe tornar-se curador curado, auxiliador, visionário à serviço das pessoas. O Xamanismo, como a mais antiga prática espiritual da humanidade, tem como base em suas práticas o respeito pela ecologia, reconhecimento do Sagrado, necessidade de expandir a consciência e obter resposta em mundos paralelos, prática do amor incondicional. Suas práticas estabelecem contato com outros planos de consciência a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio e saúde. Propicia tranquilidade, paz, profunda concentração, estimula o bem-estar físico, psicológico e espiritual.
Interação com os elementos A interação harmônica dos elementos equilibra a Jornada da Nossa Alma, faz girar a Roda da Vida em harmonia. No Xamanismo praticado na atualidade estudamos os talentos elementais: A Terra é relacionada com o corpo físico e com as sensações. A Água é relacionada com a alma, com as emoções e sentimentos. O Ar é relacionado com a mente, pensamentos e ideias. O Fogo é relacionado com o espírito e associado à consciência, à claridade e à inspirarão. O reconhecimento do caminho da verdade vem da expansão da consciência e da compreensão de que o verdadeiro poder está dentro de cada praticante, e provém do desenvolvimento de seus próprios dons. Inspirados na sabedoria dos povos ancestrais, temos o desafio de resgatar o conhecimento acumulado nas práticas xamânicas das diversas tradições do planeta para os dias atuais. Assim, pretendemos contribuir para a saúde, autoconhecimento e o bem-estar geral do nosso povo e resgatar valores para uma vida mais harmônica e ecologicamente correta. Os ancestrais xamânicos viviam em harmonia e equilíbrio com todos os seres, pedras, plantas, animais, pássaros, peixes e até insetos. Para garantir sua sobrevivência em am-
biente hostil, os homens primitivos interpretavam os sinais e as mudanças da natureza a seu redor. Viviam de acordo com os ciclos do Sol e da Lua, das mudanças das estações, manifestações da natureza, vento, chuva, etc.
Expansão da consciência Os caminhos do Xamanismo são espirituais. A prática xamânica compreende a capacidade de entrar e sair de estados de consciência, de realidades não-ordinárias. Os estados alterados de consciência não envolvem apenas o transe, mas, sim, a capacidade de viajar na realidade incomum com o objetivo de encontrar espíritos animais, plantas, mentores, obter insights, promover curas, oráculos... Os estados alterados de consciência incluem vários graus. Stanley Kryppner chega a classificar 20 estados diferentes de consciência. Elíade fala do êxtase; Castañeda fala do nagual. Nirvana, samadhi, alfa, transe, satori, consciência cósmica, supraconsciência, etc. também são nomes para a mesma manifestação. É através desses estados que conseguimos conexão com nossos mitos e símbolos, nossa verdade interior. Conseguimos expandir a percepção para mistérios que estão guardados em nós mesmos. Aprendemos a sentir, ver e ouvir a
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XAMANISMO. EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
POR LÉO ARTESE
É através desses estados que conseguimos conexão com nossos mitos e símbolos, nossa verdade interior. Conseguimos expandir a percepção para mistérios que estão guardados em nós mesmos
energia. Nos religamos com o Sagrado e com a fonte criativa de tudo o que nos acontece. Através da consciência ordinária não conseguimos alcançar níveis profundos do nosso ser. Existem diversas técnicas ou rituais para se chegar a estados mais profundos de consciência, dentre elas: tambores, danças, jejuns, plantas de poder (enteógenos), respirações, posturas corporais e outros. Através desses estados especiais alcança-se uma experiência divina e acessa-se uma fonte de sabedoria superior. Podemos curar nosso corpo, nos conhecermos melhor através das visões, expandirmos a nossa consciência... Aprendemos sobre as influências e forças da Terra e como as energias naturais afetam a vida. Tudo na natureza cresce e muda. É um ciclo. Os povos antigos consideravam a viagem circular da Terra ao redor do Sol como uma roda, representando o eterno ciclo de nascimento e desabrochar, crescimento e florescimento, maturidade e frutificação, envelhecimento e decadência, morte e decomposição e novamente renascimento, refletido na vida humana e na natureza. Os nativos reconhecem o círculo como o principal símbolo para o entendimento dos mistérios da vida. Observaram que ele estava impresso em toda a natureza. O homem olha o mundo através dos olhos, que é um círculo.
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A Terra, a Lua, o Sol, os planetas... são todos circulares. O nascer e o pôr do Sol acompanham um movimento circular. As estações formam um círculo. Os pássaros constroem ninhos em círculos; animais marcam seus territórios em círculos. As cabanas, ocas, tipis são circulares. O Xamanismo resgata a relação sagrada do homem com o planeta. O resgate dos festivais sazonais (solstícios e equinócios), por exemplo, não marcam apenas a jornada do Sol, mas também os pontos críticos das estações, o ciclo agrícola, nossas emoções, hábitos. Essas forças são acessadas desde o princípio da história espiritual da Terra. São resgatadas através dos séculos e podemos senti-las atuando em todos os momentos das cerimônias. Podemos sentir a ligação profunda que a natureza tem com a vida e nos tornarmos parte de uma comunidade global. Propomos o Voo da Consciência em busca de novos horizontes, de novas conquistas, de um novo ser, de uma nova vida. O início de uma vida pautada na sabedoria encontrada nas folhas, nos movimentos dos ventos, no poder transformador do fogo, nos espíritos ancestrais, na jornada da alma e na missão. As religiões do mundo moderno não têm tempo para a ecologia espiritual, assim como a cultura e o modelo de pensamento consumista atuante. As grandes religiões inspiram e apontam para uma vida eterna fora deste planeta e pouco se preocupam em honrar as realidades do espaço sagrado em que vivemos. Atualmente, muitos vivem com uma sensação de separação, isolamento, um sentimento de que deva existir um sentido maior na vida. Os rituais xamânicos podem trazer a consciência de que somos apenas um “microcosmo”, que somos parte de “algo maior”, que somos filhos da Terra, parte de uma Terra Viva. Harmonia - Amor - Paz e Luz! Léo Artese é estudioso de Xamanismo com iniciações nos EUA, Peru e Brasil, conduzindo cerimônias, ritos, grupos de estudo e oficinas de Xamanismo desde 1990, em todo o território nacional e Europa. Terapeuta holístico e acupunturista. Fundador e Diretor do Centro de Estudos de Xamanismo Voo da Águia. Fundador e Presidente do Centro Eclético da Fluente Luz Universal Céu da Lua Cheia. Escritor dos livros: O Voo da Águia e O Espírito Animal Editora Roca. Proprietário do portal www.xamanismo.com.br
Índice Dicas de livros................................................. 05 O sono e os sonhos......................................... 06 A estrutura do perispírito ........................... 10 Os chakras........................................................ 16 Descrições sobre o cordão de prata.......... 20 Introdução à projeção astral....................... 24 Um mundo desconhecido............................ 28 A visão médica da projeção astral............. 32 Experiência de quase-morte....................... 36 Apometria Tratamento com projeção astral................ 40 Técnicas projetivas ....................................... 46
A projeção e as formas-pensamentos....... 48 . Conversando com um projetor................... 50 A importância das práticas bioenergéticas................................ 56 Aspectos históricos da projeção................. 60
As direções sagradas e os
animais de poder
Exemplos de quatro animais que, de acordo com meu aprendizado junto aos nativos, estão correlacionados às quatro direções sagradas, mas que também podem ser nossos animais de poder POR VITOR HUGO FRANÇA
O
animal de poder é um arquétipo ou simbolismo das manifestações de forças interiores que atuam como guias ou mentores. Uma energia ou uma forma que representa nossa personalidade ou comportamento (Espírito Animal /Totem). Cada um deles tem um significado específico e a manifestação do animal de poder acontece para chancelar o que você está vivendo no momento, o proteger ou alertar sobre as mudanças necessárias que devemos promover em nossa vida. Para sabermos se eles estão nos alertando, nos protegendo ou concordando com nosso caminhar, basta você sentir de forma verdadeira como está a sua vida, quais os resultados que você está alcançando em sua jornada e como esta dádiva, este presente que lhe foi dado está sendo conduzido. Isso somente você pode avaliar. No momento em que o animal se manifesta, o intuito é sempre para o bem, para ampliar nosso crescimento, nossa evolução, nossa qualidade de vida. Vale lembrar que o nosso livre-arbítrio sempre será respeitado. Amplie as formas de se comunicar com a essência da
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Criação, com o universo xamânico, o qual a conexão com os animais de poder faz parte. Estude, vivencie e amplie seu poder pessoal. Através de vivências específicas, ao som do tambor, o processo é facilitado para este grande encontro evolutivo. Dentro do universo xamânico, a energia dos animais de poder é uma grande ferramenta que proporciona um fortalecimento amplo para todos nós, trazendo resultados positivos, realizadores e profundos. Quero deixar aos queridos amigos os exemplos dos quatro animais que, de acordo com meu aprendizado junto aos nativos, estão correlacionados às quatro direções sagradas, mas que também podem ser nossos animais de poder. São eles: Búfalo – Direção norte – Espírito do ar Os xamãs e índios norte-americanos chamam-no de Totanka. Considerado como guardião dos segredos, de sabedoria ancestral, tolerante, procura a paz e defende sua prole. Muitos animais são sagrados, mas, para a maioria das tribos indígenas norte-americanas, o búfalo é o mais sagrado entre eles. Sempre foi reverenciado como símbolo da abundância plena, o que nos lembra das preces de agradecimento ao Pai-Céu (Grande Mistério) por tudo o
que temos nesta vida. O sinal que o búfalo nos dá é de que nada se consegue aqui sem a conexão com o Criador de todas as coisas (O Grande Espírito). Sabedoria ancestral, espiritualidade, preces, paz. Representa a ancestralidade e a conexão espiritual. Águia – Direção Leste – Espírito do Fogo A clareza mental, a iluminação, a visão ampla, invocada para poderes xamânicos, coragem, elevação do espírito à grandes alturas. A águia nos ajuda a ver a vida num contexto mais amplo, permitindo-nos tomar decisões e definir metas com clareza e objetividade. Um dos símbolos mais bonitos dessa poderosa ave é fornecido pelos índios pueblos. “Eles
acreditam que a águia veio dos céus, com habilidade para passar por uma espiral através de um buraco no firmamento, ela veio de seu lar, o Sol. Ela nos mostra que devemos estar acima dos acontecimentos mundanos, vendo tudo de cima, de forma ampla. Isso nos auxilia a abandonar os aspectos superficiais e ver realmente o tamanho que as coisas possuem”. Para os xamãs, a águia é sempre um aviso de iniciação, limpeza mental, a luz que vem com o nascer do Sol. As penas da águia são consideradas o mais sagrado instrumento de cura e é sempre respeitada nas cerimônias. Elas têm sido usadas durante séculos, por xamãs, para purificar a aura das pessoas que vêm a eles buscando uma forma de cura. Representa a visão ampla e clareza mental. Lobo – Direção Sul – Espírito da Água Para os povos nativos, o lobo é o mais fiel dos guias animais, o símbolo do professor da tribo, encorajando-nos a enfrentar novas ideias e projetos. O lobo é um explorador de rotas, precursor de novas ideias, que volta para tribo para ensinar e compartilhar a medicina. O senso do lobo é muito aguçado e a Lua é sua aliada de força. A medicina do lobo permite o professor dentro de nós todos aparecer e ajudar os filhos da Terra a compreender o Grande Mistério da vida. Relacionamentos saudáveis, fidelidade, generosidade, união, a criança interior. Representa o professor, a criança interior, a união. Urso – Direção Oeste – Espírito da Terra O urso entra numa caverna e hiberna, digerindo as experiências que vivenciou. Ele se reconecta com a Mãe-Terra, numa introspecção intensa, para depois ressurgir na primavera da alma, num renascimento, quando tudo está brotando novamente. Nesse período, nada do que está lá fora importa; apenas o refazimento, o ato de pensar sobre as atitudes tomadas, acreditando que as respostas estão dentro de nós mesmos. Introspecção, intuição, cura física, consciência, ensinamentos, curiosidade. Representa o seu curador interior, a introspecção e cura física. Lembre-se sempre das sábias palavras nativas: “Se você falar com os animais, eles te ouvirão” “Quando nascemos, fomos adotados por um animal” Conecte-se, agora! Sinta!
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Visões sagradas Entrevista com o xamã e escritor Wagner Frota, que ressalta a importância de uma relação responsável com a Mãe-Terra e com todos POR SAMUEL SOUSA DE PAULA Do livro Práticas Bioxamânicas
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agner Frota é um profundo estudioso do Xamanismo, membro fundador do Clã Lobos do Cerrado. Representa no Brasil a Tradícion Iniciatica Nativa Andina, escritor, shamanic healing e sociólogo brasiliense. Viajou ao interior do Brasil e ao exterior para conhecer e vivenciar diversas tradições xamânicas. Criador do site Clã Lobos do Cerrado - xamanismo.com -, vive entre as Montanhas Andinas, a Terra Vermelha do Planalto Central Brasileiro, o Altiplano Alagoano e a Serra da Mantiqueira, onde realiza trabalhos xamânicos e dirige grupos procurando ensinar com maestria a trilharmos o caminho da luz, da liberdade e da beleza dentro do Sagrado Caminho do Xamanismo. Com o propósito de resgatar a essência da força e da beleza de cada indivíduo, sua jornada o tem levado ao descobrimento dos conhecimentos iniciáticos dos nossos ancestrais nativos, onde a virtude do poder se manifesta na doçura e suavidade da vida. O que é Xamanismo para você? Wagner Frota – Um caminho que segue um princípio natural, de ligação direta com a Terra, os elementos, os minerais, vegetais e animais. Enfim, a “xamaria”, como eu gosto de chamar, é um caminho mágico-numinoso, árduo e cheio de desprendimento, pois vivemos em função da cura de nós próprios e da comunidade em que vivemos, incluindo a nossa querida Pachamama, a Mãe-Terra.
Como as práticas xamânicas podem ajudar os seres humanos nos dias de hoje? Auxiliando-os a viverem em total harmonia com a na-
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tureza. Se estiverem equilibrados, poderão se tornar seres completos e seguirem sua jornada pela Mãe-Terra em toda sua totalidade, tornando-se um ser pleno ou, como costumo dizer, um homo luminus. Como as práticas xamânicas chegaram à sua vida? Quando criança, comecei a conversar com uma árvore perto da minha casa e sentir uma alegria dentro do meu ser. Essa felicidade se devia ao meu contato com a natureza, pois, por meio da “árvore amiga”, eu falava com a Mãe-Terra e por ela era nutrido. Eu me sentia único com a natureza. Lentamente, fui chamado a trilhar o caminho do Xamanismo, a achar meu lugar neste mundo e descobrir quem sou verdadeiramente.
O que é doença para você? Tanto a doença quanto a cura são questões espirituais. A cura dentro do Xamanismo visa nutrir, preservar e proteger a alma de vagar eternamente. Para mim, a doença é uma grande mestra. Ela nos dá sinal quando algo não funciona bem em nossa vida. Um homem pleno é um homem são. Quando sua energia, emoções, mente, etc. não estão bem, vem a desordem no corpo e, consequentemente, a enfermidade. Existe uma lei que rege todo esse equilíbrio na natureza e em todo o cosmo, que se baseia no equilíbrio da ordem com o caos.
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VISÕES SAGRADAS
COM WAGNER FROTA
Todavia, milhares de pessoas procuram resgatar esse elo perdido com a Mãe-Terra, restabelecendo seu próprio equilíbrio Existe relação entre as práticas xamânicas e a terapia? Sim! Ambas visam buscar a cura do indivíduo em diversos níveis. Qual a sua opinião sobre o assunto? Tenho observado que a cada dia surgem novos terapeutas com práticas xamânicas, druídicas, entre outras mais. Basta abrirmos qualquer jornal ou revista de terapia alternativa para encontrarmos um número maior de terapeutas que estão surgindo. Acredito que haja espaço para todos, mas gostaria que todos passassem a identificar, entre eles, aqueles que realmente são terapeutas e não “picaretas”. Desculpeme a palavra, mas não encontro outra mais adequada para definir as pessoas que usam a ingenuidade de pacientes, que, na sua maioria, são leigos e não conhecem o terreno que estão entrando e pedindo ajuda. Muitos caem nas mãos de pessoas sérias que passaram anos estudando as técnicas que utilizam para curar e auxiliar quem lhes pede socorro. Mas a cada dia, grupos de pessoas “caem” em mãos erradas que só querem enganar os seus pacientes, arrancando-lhes dinheiro com sessões semanais, quando não diárias. Nós, que trabalhamos como terapeutas holísticos ou alternativos, constantemente estamos expostos a opiniões e julgamentos de outras correntes, que nos dão os adjetivos de loucos, falsos profetas, picaretas, entre tantos outros. E essas pessoas que não estudaram devidamente o caminho terapêutico e que estão exercendo não ajudam em nada a eliminarmos esses adjetivos com os quais somos rotulados. Gostaria de lembrar a todos que não é porque alguém fez um workshop de Xamanismo que passou a ser um xamã. Não existe um curso “Torne-se um xamã”. Se alguém fez algum curso desses, eu lamento dizer, mas essa pessoa foi enganada e provavelmente jogou dinheiro fora. O Xamanismo é um caminho, que para ser bem compreendido tem de ser trilhado durante anos. Existe uma grande diferença entre estudar o caminho, conhecer o caminho e trilhar
o caminho. No caminho que percorro, costumo sempre procurar ver, sentir os sinais e ouvir os animais, as árvores e as pedras, antes de começar a trabalhar com uma pessoa no caminho sagrado, afinal, esse é um caminho árduo e cheio de desprendimento, pois vivemos em função da cura de nós próprios e da comunidade em que vivemos, e só aqueles que têm o coração puro e uma grande força de vontade podem realmente trilhar esse caminho. Como vocês podem observar, o caminho da “xamaria” não é para qualquer um. Peço a vocês que agora leem este texto, que fiquem de olhos abertos para os falsos mensageiros que se aproveitam do estado de espírito de pessoas que, na maioria das vezes, se encontram em estado de aflição, à procura de palavras amigas e de um tratamento sério de purificação, alinhamento dos chakras, de um resgate de alma ou de seu animal de poder. Por outro lado, não cabe a nós julgarmos ninguém; seria bom se, primeiramente, nos olhássemos no espelho antes de qualquer julgamento. Lembrem que por meio de nossos atos podemos ensinar muito a outras pessoas. Vale a pena lembrar aos xamãs e bruxos, que transmitem os ensinamentos e conhecimentos que aprenderam por meio de muito estudo, durante anos, que partilhem desses conhecimentos somente com aquelas pessoas que se apresentarem com impecáveis intenções e pureza de objetivos. Quando falo em partilhar eu também quero dizer que não devemos “iniciar” todos os que nos procuram, pois a iniciação se dá no momento certo. Eu sempre tenho o costume de dizer que o próprio “aprendiz” se autoinicia, pois esta é uma jornada interior. Devemos observar esses aprendizes, e só depois de termos certeza de seus propósitos é que devemos fazer a cerimônia de iniciação, auxiliando-os a despertarem para uma visão que possibilite a eles descobrirem o Divino que há em nós, restabelecendo nossa conexão com a natureza e com o mistério do cosmo, adquirindo capacidade e sabedoria para utilizá-los. Geralmente, pelo que eu pude observar nesses anos de estudo no Caminho Sagrado, poucos conseguem ir além da jornada de iniciação. Líderes espirituais verdadeiros são
A “xamaria”, como eu gosto de chamar, é um caminho mágico-numinoso, árduo e cheio de desprendimento, pois vivemos em função da cura de nós próprios... 16
raros. E raros também são as pessoas de conhecimentos. Eu, particularmente, conto “nos dedos das duas mãos” esse número de pessoas. Não quero dizer que não existam mais do que cinco líderes espirituais, mas nesses anos de estrada só conheço aproximadamente cinco. Muitos dos que trilharam essa estrada pararam no meio do caminho e ficaram satisfeitos em se tornar curadores. Converteram-se em mestres do seu próprio caminho. E há aqueles que são seduzidos pelo poder. Começam a cair sob o fascínio de seu próprio poder, seduzido por sua própria pessoa. Perdem-se durante o trajeto. E a jornada pode durar pelo resto de suas vidas.
Quais as ferramentas xamânicas tem utilizado no processo de cura? Basicamente utilizo a extração de energia intrusa, irradiação xamânica e resgate de fragmentos da alma.
Que conselho daria às pessoas que estão começando seus estudos e práticas xamânicas? O principal conselho é que devemos lembrar que o xamã é um curador que conhece os efeitos de uma dor,
Em sua opinião, o que motivou a grande procura por práticas consideradas ancestrais, tão presentes nas grandes cidades? Com o advento da Revolução Industrial e, um pouco
daí ele necessitar experienciar algumas dores. Ele precisa compreender as vicissitudes da vida. Compreender a importância de se amar, de se cuidar, de se respeitar, de se curar. Por meio do conhecimento do poder da dor em seu coração, pode auxiliar o outro na cura de sua própria dor. E ao sentir essa dor ele também demonstra humildade, mostrando que ninguém é perfeito.
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VISÕES SAGRADAS
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antes, no século XVI, com a fundação das igrejas, das empresas e do expansionismo branco, quando culturas nativas foram massacradas, a Humanidade distanciou-se da natureza, criando um mundo de poluição, violência e desequilíbrios. Considerando a terra apenas como fonte de rendimento e os minerais, vegetais e animais como meios para servir aos seus interesses, o homem cortou os laços que o ligavam à MãeTerra, tornando-se solitário, desvitalizado, desencantado e desequilibrado. É, provavelmente, devido à perda desse sentido arcaico de ligação estreita com o universo primitivo interno que o homem contemporâneo desrespeita a natureza, levando à catástrofe ecológica tanto externa quanto interna. Todavia, milhares de pessoas procuram resgatar esse elo perdido com a Mãe-Terra, restabelecendo seu próprio equilíbrio. Estas práticas xamânicas estão retornando hoje como autêntica força viva, em meios sofisticados como o das terapias alternativas contemporâneas. Tal penetração deve-se também ao interesse que o assunto despertou em estudiosos de outras áreas, como é caso da antropologia, da etnologia, da história das religiões. As ações do xamã, à primeira vista, parecem incompatíveis com a visão do mundo geralmente aceita pela sociedade como um todo. O pensamento xamânico está em conflito com os modelos “racionais” e mecanicistas de causa e efeito que operam na corrente principal da ciência. Todavia, certas ciências parecem perfeitamente abertas a ideias não convencionais em suas fronteiras e, particularmente, muitas pessoas desejam acreditar em espíritos. O Xamanismo oferece uma visão do mundo em que os homens usam o meio ambiente por um compromisso precário e ganho com custo, ao preço de atenção e respeito constantes e não através do seu poder. Em um mundo em que a maior parte dos indivíduos se despersonaliza cada vez mais, um relance pela sociedade xamânica apresenta uma visão de relações baseadas na
intimidade de comunidades de pequena escala, em via de desaparecimento rápido. O movimento neoxamânico, nas grandes cidades, terá de trabalhar contra este pano de fundo, e resta saber se as ideias xamânicas serão capazes de servir às necessidades dos homens de hoje, em uma sociedade cada vez mais fragmentária e sem raízes. O que você entende por “alma”, “espírito” e “energia”? Todas as três são “coisas” abstratas e difíceis de serem definidas, mas tentarei definí-las conforme aprendi com os mestres xamãs andinos. Espírito é a essência inteligente, invisível e não-criada, que anima todas as formas de vida. Relacionando com a física poderíamos dizer que são elétrons que não têm forma, são pura luz. Eles nascem do Q’osqo, plexo solar, do Gran Spíritu (Pachacamaq ou Wiracocha). Sua principal função, no Xamanismo andino, é fazer com que tudo que se tornou denso retorne à luz pura. A alma é uma energia sutil divina que existe nos humanos, e que chamamos nos Andes de ánimu. Quando uma criança nasce, esta energia sutil cósmica entra no topo da cabeça e aquece o sangue da criança dando-lhe a vida. Quando morremos, o ánimu sai pelo topo da nossa cabeça e une-se à tecelagem cósmica, que está unida a tudo no Universo. Em outras palavras: ela é o veículo denso mais próximo que tem o espírito. Seu corpo é formado pelo que
O Xamanismo é um caminho que, para ser bem compreendido, tem de ser trilhado durante anos. Existe uma grande diferença entre estudar o caminho, conhecer o caminho e trilhar o caminho! 18
Harmonizando os chakras Procure um lugar tranquilo, onde não seja incomodado durante a prática. Ao encontrar o local sente-se em uma posição confortável. Respire profundamente por sete vezes e sinta o ar entrar e sair de seu corpo físico. Coloque suas mãos juntas, palma com palma, no centro do peito. Inspire profundamente, enquanto eleva suas mãos acima da cabeça. Com as palmas das mãos voltadas uma para a outra, visualize uma luz branca radiante. Traga-a através do 7º chakra, no topo da cabeça. Desça com as mãos unidas pela frente dos chakras até o 1º, tocando-o por alguns segundos. A luz branca irá limpar, clarear e ativar o 1º chakra, mantendo-o em conexão com os outros. Em seguida eleve as mãos unidas, subindo em frente aos chakras até o alto da cabeça. Repita a mentalização do 1º chakra para os seis restantes. Termine trazendo as mãos unidas pelo coronário até o chakra do coração. Desta forma, após a limpeza e ativação, alinhamos e unificamos todos os centros espirituais em um só. Permanecemos assim por alguns minutos, para sentir o esplendor da energia que emana deste chakra, visualizando a luz dourada e dentro dela uma chama de três cores, formada pela luz rosa (do amor), a dourada (do conhecimento) e a azul (do poder) se expandindo por todo seu ser.
conhecemos pelo nome de chakras ou chumpis, como é chamado nos Andes, e que permite ao Espírito se conectar com a matéria. Os xamãs andinos – os paq’os – acreditam que quando a pessoa morre, uma parte de sua alma (a mudança) retorna à Terra, para ser reabsorvida na natureza e se tornar uma com toda a vida. Outra parte (o seu poder e sabedoria) retorna para as montanhas sagradas, e uma terceira parte (o imutável) retorna ao Céu. Os paq’os consideram a energia como hoocha (densa) ou sami (refinada), e os xamãs têm como tarefa primária aprender a transmutar as energias pesadas e refiná-las para ter total controle do q’osqo. Quando os paq’os executam o miqhuy, que significa “comer a energia intrusa”, eles limpam o corpo de energia do paciente e doam a energia pesada para Pachamama, que a digere. Reciprocamente, os paq’os usam o q’osqo para tirar a energia refinada da natureza ou do Hanan Pacha (Mundo Superior); eles são treinados para manter a ecologia do ambiente, dirigindo a energia sami onde é necessária.
acreditam na existência de uma estrutura vibratória do universo e de mundos paralelos, como tão bem relatou o físico norte-americano Fred Wolf, em seu livro The Eagle’s Quest. O que é um totem? Qual a importância dos animais de poder? Pode compartilhar uma experiência pessoal trabalhada com esta força aliada? Aqui entramos em um terreno muito fértil para a mente humana. Geralmente, todos os que começam a trilhar o caminho do Xamanismo têm a certeza de que deve, em primeiro lugar, encontrar o seu Animal de Poder para começar a “xamanizar”. Aprendi logo em meus primeiros passos que, antes de “encontrar” o meu animal, eu deveria inicialmente achar a minha kuya (Pedra de Poder), para que com ela eu encontrasse o meu ponto de equilíbrio. Depois, antes de “encontrar” meu Animal de Poder, eu teria de conhecer a minha planta mestra, que me ensinaria a ter raízes, me religando
Você vê relação entre as práticas xamânicas e a física quântica? Sim! Pois tanto os xamãs quanto os físicos quânticos
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VISÕES SAGRADAS
COM WAGNER FROTA
Entre nós, assim também entre outros seres de outros reinos, têm sempre de haver uma troca
à Mãe-Terra, e receber dela o aprendizado necessário, para somente aí ficar frente a frente com o meu Animal de Poder, que viria a mim sem que eu o procurasse. Entre nós, assim também entre outros seres de outros reinos, têm sempre de haver uma troca... E o mesmo acontece quando conhecemos nosso Animal de Poder. Há, aqui, uma simbiose, em que ele se manifesta em nosso reino e nós no dele. Devo lembrar que com todo poder existe também um grau de responsabilidade e comprometimento com estes seres. Voltando à pergunta, para mim, o Animal de Poder é uma bateria de força para o xamã e vice-versa. Fale sobre os ritos de passagem Na tradição Andina, cada iniciação dura semanas e até meses, em que caminhamos pelas altas montanhas e vamos a locais sagrados. Em cada nível participamos de rituais para que nos conectemos com Pachamama e com os espíritos dos Apus, Montanhas Sagradas. No início, temos de passar as noites nas montanhas, tendo somente o céu sobre nós e meditando com o cosmo. Temos de tomar banho em lagoas muito frias nos Apus para nos purificar. Assim, as salas de aula dos paq’os são as montanhas, as lagoas e toda a natureza. Esse é o templo onde as pessoas conhecem as suas vocações. Há muitos testes duríssimos e cheios de sofrimento. Estes são testes de fogo. Estes testes são determinantes de aptidões físicas, de preparação dos seus corações, suas habilidades em ser compassivos, em amar e venerar o conhecimento. O caminho é árduo. Às vezes, a pessoa se sente caminhando sobre a lâmina de uma espada. Deixe sua mensagem aos leitores desta revista O Xamanismo é uma responsabilidade espiritual e esté-
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tica de todos nós. O mundo foi desenvolvido com abuso e exagero. O mundo tecnológico alcançou um nível incrível, bonito, mas produziu exageradamente um desequilíbrio na Mãe-Terra, devido à ganância do homem. O grande corpo da natureza constantemente demonstra a reciprocidade dos idiomas do Universo e dos espíritos. Esta reciprocidade, especialmente no campo de energia, cria uma harmonia que pode equilibrar a energia coletiva do planeta dentro de uma matriz antiga da ordem universal. Os idiomas formal e cultural criam limites. A essência principal da vida é a natureza e o idioma é o amor. Gostaria de lembrar a todos uma pequena frase, mas profundamente verdadeira dentro dos caminhos da magia: “A semeadura não é obrigatória, mas certamente iremos realizar a colheita”. Então, irmãos e irmãs, tenhamos muito cuidado, pois da mesma maneira que recebemos o poder, ele pode nos ser tirado. Como vocês podem ver, existem muitas trilhas pelo caminho, cabe a nós escolhermos qual devemos seguir. Nós, que trabalhamos com as Rodas da Medicina dos povos nativos, aprendemos a nos desprender de nosso passado, a enfrentar nossos medos, a ter autocontrole, a nos harmonizar interiormente, a aceitar a dádiva da visão e a tarefa de exercitá-la, a fim de criar um mundo ecologicamente melhor e, individualmente, sonhar com as possibilidades futuras de nossa cura e da Mãe-Terra.
Wagner Frota é um profundo estudioso do Xamanismo, membro fundador do Clã Lobos do Cerrado, representa no Brasil a Tradícion Iniciatica Nativa Andina, escritor, shamanic healing, e sociólogo brasiliense. Viajou ao interior do Brasil e ao exterior para conhecer e vivenciar diversas tradições xamânicas. Criador do site Clã Lobos do Cerrado - xamanismo.com
As doenças e a cura no
Xamanismo “A perda da alma pode ser causada por qualquer evento que o indivíduo considere traumático, mesmo que outro indivíduo não o considere como tal. A alma pode fugir assustada, perder-se ou ser roubada” POR SAMUEL SOUZA DE PAULA
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as práticas bioxamânicas nós vemos que “todas as doenças – emocionais, mentais, físicas e espirituais – são tratadas da mesma forma. Qualquer forma que ela assuma, doença é doença e mostra desarmonia na vida da pessoa”. Michael Harner indica três razões pelas quais a pessoa fica doente: 1. Perda ou enfraquecimento do seu Animal de Poder (poder pessoal). 2. Intrusões Espirituais (energias intrusas). 3. Perda da Alma (um assunto que não é falado nos círculos da medicina convencional, mas que é de suma importância na medicina nativa).
Perda da Alma Constantemente ouvimos alguém dizer: “Nossa! Esta pessoa fala com alma!” Ou o contrário, “Aquela pessoa é desalmada!”, e até “Fulano de tal vendeu sua alma ao Diabo”.
É comum quando admiramos algum artista nós dizermos: “Aquele dançarino exerce sua arte com alma... canta com alma... escreve com alma!” A alma é um termo que deriva do latim anima; este se refere ao princípio que dá movimento ao que é vivo, ao que é animado ou o que faz mover. Mas o que é alma no contexto xamânico? É a constituição integral da personalidade-pessoa, é a nossa essência, a parte de nossa vitalidade que nos mantém vivos. Para mim, assim também para os antigos, toda criação é permeada pelo espírito. “Os seres humanos, os animais, as plantas e os minerais, todos eles têm sua própria essência espiritual com a qual podemos nos comunicar e interagir”. Sandra Ingerman nos ensina que “Quando qualquer criatura viva está totalmente integrada à sua força espiritual ou alma, ela irradiará energia e vitalidade. Qualquer criatura cujo espírito está totalmente presente em seu corpo sentirá uma profunda ressonância com o mesmo espírito nas outras coisas vivas. Por outro lado, quando uma criatura perde uma parte de sua essência espiritual, ocorre um profundo enfraquecimento e alienação do resto da criação.”
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Vícios, também, são sinais de perda de alma, pois buscamos fontes externas para preencher os espaços vazios dentro de nós, seja com substâncias, comida, relacionamentos, trabalho ou comprando coisas materiais
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Internet
“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.” – Fernando Pessoa. Podemos nos perguntar: o que provoca a perda dessa essência vital? A perda da alma pode ser causada por qualquer evento que o indivíduo considere traumático, mesmo que outro indivíduo não o considere como tal. A alma pode fugir assustada, perder-se ou ser roubada. As pessoas que perderam partes de sua alma descrevem que se sentem dissociadas, não se sentem inteiras, se sentem enfraquecidas, sem objetivos claros, e apresentam falta de engajamento, sensação de vazio e falta de foco na vida. A perda da alma hoje resulta dos traumas da vida moderna: incesto, abuso físico, estupro, perda de entes queridos, acidentes, neurose de qualquer tipo de guerra, doenças graves e cirurgia, etc. são investidas que podem fragmentar a alma. A esse respeito, a psicóloga Jeanne Achterberg escreveu: “A perda da alma é considerada o mais grave diagnóstico
da nomenclatura xamânica, sendo a causa das enfermidades e da morte. Mas nunca é mencionada nos modernos livros médicos ocidentais. Entretanto, torna-se cada vez mais claro que o que o xamã chama de perda da alma – ou seja, um dano provocado no núcleo inviolável que é o ser essencial do indivíduo – efetivamente se manifesta como desespero, danos imunológicos, câncer e uma série de outras disfunções muito graves. Isso parece decorrer do insucesso de um relacionamento com entes queridos, da carreira ou outras ocorrências significativas.” Observamos, também, que é muito fácil verificar, no cotidiano em que estamos inseridos, no corre-corre diário e no frenético automatismo, que deixamos o tempo todo pedaços de alma em várias das interações. Você já percebeu uma sensação de vazio após contato com uma determinada pessoa (familiar, chefe, amigo, etc.), como se estivesse faltando alguma coisa? Pois é, pode ser que após esta interação tenha perdido uma parte de você, tornando-se sem poder,
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DOENÇAS E A CURA NO XAMANISMO
POR SAMUEL SOUZA DE PAULA
O Resgate de Alma é uma antiga e poderosa prática da terapêutica xamânica para trazer de volta pedaços da alma que ficam perdidas através dos traumas, acidentes ou algum tipo de doença desarmonizado ou mesmo desanimado. Vícios também são sinais de perda de alma, pois buscamos fontes externas para preencher os espaços vazios dentro de nós, seja com substâncias, comida, relacionamentos, trabalho ou comprando coisas materiais. Técnicas tradicionais podem falhar em devolver a capacidade de amar, pois não fecham esses “buracos”. O que adiantaria falar com alguém que não esteja presente? Todos perdem fragmentos das almas, em uma escala maior ou menor. “Um dos acidentes mentais mais comuns entre os povos primitivos”, cita Jung em seu livro O Homem e Seus Símbolos, “é o que eles chamam de ‘a perda da alma’ – que significa como bem indica o nome, uma ruptura ou, mais tecnicamente, uma dissociação da consciência. Isso significa que a psique do indivíduo pode fragmentar-se facilmente diante de emoções incontidas.” Dois exemplos de perda ou roubo de alma nas interações do cotidiano, também relacionados com o ato de dar poder ao outro: “Robson gostava de cumprimentar todos os seus amigos com um abraço, conversar, rir juntos. Então, ele conhece uma pessoa, Ruth, e começa a namorar. Só que Ruth não gosta desta atitude de Robson, então ela se sente enciumada. Com o tempo, e ‘por amor’ à sua namorada, Robson deixa de encontrar os amigos, de abraçar, principalmente as mulheres, para não causar ciúmes e brigas. Podemos encontrar, meses depois, Robson apático, não mais alegre quanto antes e sentindo certo vazio. Ele perdeu um ‘pedaço da sua alma’, que é gostar de estar com as pessoas. Seu relacionamento com Ruth não está indo bem, ele não sente vontade de abraçá-la e não sorriem como antes”.
“Vera, uma secretária eficiente e extrovertida, recentemente contratada em um escritório conceituado de advocacia, procura um terapeuta bioxamânico com a seguinte queixa: ‘Sempre fui alegre, cheia de energia. Não sei o que acontece comigo, parece que não estou mais viva’. Depois de uma sessão de Regaste de Alma, o terapeuta relata algumas experiências relacionadas ao seu emprego atual, fatos que realmente aconteceram, que pela intensidade das atividades que desenvolvia e não notava, e que eram contra seus princípios, havia gerado perda de pedaços da alma. Sem o contato com a sua verdade, com a sua alma, ficava difícil estar presente e se relacionar com seus familiares, colegas de trabalho, consigo mesma e com a vida. Após a sessão, sentiu como se uma força tivesse voltado e está mais atenta, alegre e eficiente. Vera hoje realiza suas cerimônias individuais de preservação da energia, e atua em um ambiente de trabalho mais compatível com seus propósitos”. Pois de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? - Marcos: 8,36
Resgate de Alma O Resgate de Alma é uma antiga e poderosa prática da terapêutica xamânica para trazer de volta pedaços da alma que ficam perdidas através dos traumas, acidentes ou algum tipo de doença. Para realizar esta viagem xamânica, o xamã entra em estado alterado de consciência, auxiliado pelo tambor, evoca o seu poder pessoal, seus espíritos auxiliares, animais de poder, mestres espirituais e as suas muitas experiências na realidade incomum. Cada cerimônia de reintegração da alma tem suas peculiaridades, mas existem quatro passos básicos neste processo. O primeiro é direcionado para o aumento da energia do consulente, quando o xamã entra em contato com a Fonte de poder pessoal, auxiliado pelos espíritos guardiões, por meio de cantos e movimentos bioxâmanicos, proporcionando uma circulação vibracional potente no campo energético da pessoa. O segundo consiste em diagnosticar onde se localizam as energias intrusas, que deixaram o consulente doente. O terceiro é a extração da energia intrusa e o quarto é o resgate de alma, propriamente dito. Pode-se realizar o resgate de alma, esta viagem xamânica ao mundo inferior, tanto individualmente, xamã-consulente, quanto em grupo – neste caso utiliza-se a técnica da canoa dos espíritos
O xamã quase sempre faz algumas recomendações de rituais simbólicos de preservação das energias e geralmente, após o resgate de alma, a pessoa sentese com maior vitalidade 24
e os participantes tornam-se remadores na jornada (todos acabam se beneficiando da experiência e, da sua maneira, tornam-se mais conscientes das perdas e roubos de alma). Após o resgate, é explicado ao cliente o que aconteceu na jornada e o que fez com que ele perdesse parte de sua alma. O xamã quase sempre faz algumas recomendações de rituais simbólicos de preservação das energias e, geralmente, após o resgate de alma, a pessoa sente-se com maior vitalidade, cheia de energia, inteira, com seu poder de volta e consciente dos comportamentos, pensamentos, intentos que precisa mudar. Torna-se mais atenta aos sinais da vida, aos sonhos, ao cotidiano, às metáforas curadoras que auxiliam na harmonia da sua mitologia pessoal e evolutiva. Como se costuma dizer, nada é por acaso. Sempre temos algo a aprender.
Chamando a alma de volta Respire profundamente. Mantenha a intenção firme na integração de todos os pedaços de alma que por ventura estejam perdidos “por aí”, pois nesta cerimônia voltarão para você. Conecte-se com os seres espirituais que admira. Chame a força de todos os espíritos dos elementos e, se possível, faça a saudação às Sete Direções Sagradas... Neste momento, passe as mãos no seu corpo dos pés à cabeça, como se preenchesse seu corpo de magnetismo. Sim, seu corpo está magnético... Visualize vindo de todas as direções os pedaços de alma que estavam perdidos, ou que foram roubados, vindo em sua direção. A cada pedaço de alma que voltar dê um abraço de energia e leve sua mão para a região
Respire profundamente. Mantenha a intenção firme na integração de todos os pedaços de alma que por ventura estejam perdidos por aí, pois nesta cerimônia voltarão para você que imagina seja a morada daquela sua energia, daquele seu pedaço de alma. Magnetize cada pedaço de alma, e anote as mensagens que elas trazem para você... Repita o processo para cada fragmento de alma até se sentir completo... Em seguida, magnetize novamente seu corpo. Dê um presente a si mesmo, faça algo que realmente goste, por inteiro. “As oportunidades para procurar forças mais profundas em nós mesmos vêm quando a vida parece mais desafiadora.” – Joseph Campbell. Concluo, desejando reintegração, amor e sucesso em sua vida. Fique com as palavras visionárias e inspiradoras de Sandra Ingerman: “Por favor, lembre-se: as técnicas não curam. É apenas o amor que cura. Conforme criamos espaços sagrados e plenos de amor para curar, viver e trabalhar, o espírito que vive em todas as coisas é honrado, criando amor, luz, beleza, paz e harmonia no mundo novamente”. Conheça o livro Práticas Bioxamânicas organizado por Samuel Souza de Paula. Editora Alfabeto. www.editoraalfabeto.com.br À venda nas livrarias
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A viagem astral no
Xamanismo As técnicas disponíveis, n o xamanismo são muitas e todas honradas e sagradas, sempre se conectando de forma elevada com as outras dimensões POR VITOR HUGO FRANÇA
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Viagem Astral é um potencial natural do Ser Humano, conhecido também como Vôo Xamânico, Projeção da Consciência, entre outros. É uma grande ferramenta utilizada pelos Xamãs no seu aprendizado evolutivo e também nos processos de cura, ampliando sua sabedoria em um contexto geral os indígenas utilizam muito essa valiosa técnica, que possibilita uma ampliação consciente do nosso ser e um reconhecimento sensível da nossa essência, facilitando significativamente o nosso crescimento existencial. Considero o Xamanismo o berço da Projeção Astral, pois à milhares de anos a viagem astral vem sendo aplicada pelos curadores de várias etnias. Sendo assim, é muito importante aprimorarmos cada vez mais esse conhecimento Sagrado e Ancestral e colhendo como resultado uma maior lucidez, dentro ou fora do corpo. Expandindo nossa visão do todo. A Viagem Xamânica, como também é conhecida, sempre foi uma grande força para os nossos irmãos nativos e muito utilizada para vários propósitos nobres como por exemplo auxiliar na sobrevivência da comunidade Indígena, através dos conhecimentos adquiridos nos treinamentos espirituais fora do corpo. Existiu uma época que muitos rituais e vivências Xamânicas eram proibidos e discriminados, com isso, os indígenas desenvolveram várias técnicas para manter a conexão com o Sagrado e com a própria tribo, de forma energética e espiritual, pois fora do corpo, projetado tudo é possível, permitido naturalmente pela Criação. Entre essas técnicas, posso citar a “Busca da Visão”, onde o nativo vai para um ponto isolado, no alto de uma montanha e lá se mantém em jejum total de alimento e água, por alguns dias, com seriedade, com honra, trabalhando seu
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ego, aumentando sua sensibilidade energética. Quando esse buscador adormece acontece a soltura do corpo espiritual para realizar uma Viagem Astral consciente e assim, localizar plantas medicinais, alimentos, água, campos de caça para saciar a necessidade de sobrevivência da tribo. Nesta viagem, o índio localiza o caminho, o ponto desejado e traz a informação para os irmãos da aldeia. Uma técnica muito antiga, também utilizada e bem conhecida por estudiosos, chama-se “A referência”. Uma pessoa fica sem beber água por uma noite e coloca um copo ou uma jarra com água em cima de uma mesa. Ao se deitar
para dormir, programa-se para sair do corpo (Projetado) e beber a água armazenada no recipiente.
O Vôo Xamânico As técnicas disponíveis neste belo caminho vermelho, que é o xamanismo são muitas e todas honradas e sagradas, sempre se conectando de forma elevada com as outras dimensões. E, seguindo neste compartilhar, descrevo uma outra forma que é muito praticada pelos nossos irmãos nativos:
Os Xamãs costumam guardar penas que são colhidas ao longo do tempo e quando sentem que é o momento, escolhem uma pena e dormem com ela. Fazem a evocação da energia do animal, colocam o intento de se projetar junto com ele, para que o animal possa mostrar neste Vôo Xamânico um determinado o caminho necessário e desejado naquele instante. Outra linda maneira é dançar em volta da fogueira, conectado ao Espírito do Fogo, com muito afinco, cansando o corpo físico, diminuindo a ação da mente, e assim, para quando formos descansar, adormecer para que possa acon-
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A VIAGEM ASTRAL NO XAMANISMO
POR VITOR HUGO FRANÇA
“Para o Xamanismo não existe separação entre o mundo espiritual e o mundo material, tudo está conectado na teia da criação.”
Significados Xamã: Homem ou mulher da tribo que é o elemento de contato com o mundo espiritual; Homem ou mulher de magia; Mago(a) da natureza. A palavra “xamã” vem do tungue “saman” (que significa “homem inspirado pelos espíritos”. O termo “saman”, de origem siberiana, foi adaptado para “shaman” em inglês e xamã na língua portuguesa. “O termo “xamanismo” é de origem siberiana, baseado no conceito de “saman”, que identifica “aquele que não perdeu a integração”, que compreende os espíritos, os homens, as dimensões, as plantas, as pedras, os animais, os elementos e as direções. A Natureza conspira a seu favor, pois é integrado. A totalidade, a verdade faz parte de sua realidade, uma vez que enxerga e compreende de forma ampla.
tecer uma Viagem Xamânica lúcida. Como podemos ver o Vôo Xamânico nos auxilia a buscar informações extrafísicas, conselhos com os anciões, com os mentores espirituais, contatos com os ancestrais, enfim, no contexto xamânico as Experiências Fora do Corpo são profundas e realizadoras. Citando um outro exemplo, as assistências espirituais que ocorrem em parceria com os sábios nativos espirituais, assistências necessárias, marcantes e enriquecedoras. A participação de vivências no plano espiritual, rodas de cura que são realizadas junto com amigos também projetados e amigos extrafísicos formando uma magnífica “Tribo Estelar”, onde profundas purificações acontecem. Muitos ensinamentos valiosos são passados pelo plano espiritual e podemos aplicá-los em nossa jornada, ampliando nossa qualidade de vida aqui no plano material. O propósito deve ser sempre utilizar essas técnicas para saborearmos uma experiência bela, que é a Viagem Xamânica ou o Vôo Xamânico e, colhermos um passo a mais para nosso crescimento como um todo, fortalecendo nosso poder pessoal, nosso poder espiritual, onde fica claro cada vez mais a marca da eternidade em nosso ser. É sempre importante mantermos o equilíbrio, voando como Águia bem alto, buscando o Pai Primeiro, o Pai Céu e tendo uma raiz forte, mantendo também um alicerce for-
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Embora o primeiro uso registrado do termo shaman na língua inglesa data de 1698, e do termo shamanism (xamanismo) de 1780, o xamanismo existe há milhares de anos.
talecido com a Mãe Terra. Assim é o verdadeiro equilíbrio consciente. No dia a dia mantenha seu Curumim interior saudável, sua criança feliz, alegre, independente da sua idade ou posição social. Mantenha seu Guerreiro interior fortalecido, saudável. Mantenha seu Ancião interior sereno, coerente, sábio, conectado. Aproveite cada momento da sua vida, observe mais, sinta mais a sua jornada divina, cresça, amplie seu autoconhecimento, amplie seu amor próprio, agradeça e permita-se sentir! Lembre-se: “O Xamã é guiado pelo povo invisível, suas canções sagradas, são as mesmas deles, para o Xamanismo não existe separação entre o mundo espiritual e o mundo material, tudo está conectado na teia da criação.” Seja feliz, agora e sempre!!! Ahow!!! Vitor Hugo França é facilitador xamânico. Ministra cursos, palestras e conduz Rodas de Cura Xamânica. site: www.vozdoselementos.com.br contato@vozdoselementos.com.br
A perda e o
RESGATE DE ALMA O dano da perda geralmente resulta em uma fragmentação da essência; as partes de nossa alma podem se separar e muitas vezes se dissociam POR WAGNER FROTA
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redescoberta do Xamanismo surgiu como um impulso importante no atual renascimento espiritual que varre o mundo ocidental. Em meu trabalho diário como etnoterapeuta, utilizo técnicas xamânicas para acessar os reinos sagrados e me conectar com as minhas fontes internas de poder e sabedoria, para facilitar a cura e a resolução de problemas dos meus pacientes. Xamãs verdadeiros são os homens e mulheres que podem atingir os estados expandidos de consciência em que se pode perceber e comunicar-se em outras dimensões que não são possíveis em nosso estado ordinário de consciência desperta. Através de uma formação, os xamãs geralmente aprendem a induzir estes estados em que expandem suas consciências separadas de seus corpos físicos e viajam para os mundos interiores atemporais, quando se depararam com entidades ou personalidades que os povos nativos chamam
de espíritos. Com a ajuda destes espíritos, os xamãs são, então, capazes de realizar várias coisas, inicialmente em nome de si mesmos, e então cada vez mais em nome dos outros. Nas culturas nativas, os xamãs podem trabalhar com indivíduos, com famílias ou mesmo com comunidades inteiras. Eles viajam normalmente para os mundos interiores para acessar as informações dos espíritos através de adivinhação, para restaurar o poder para aqueles que perderam, e para participar de trabalhos de cura em vários níveis. Dirigido por forte motivação altruísta e auxiliado pelo seu espírito guardião, o xamã é um ativista espiritual que é capaz de restaurar o equilíbrio e a harmonia nas pessoas que estão sofrendo. Como praticante da medicina do espírito, seu objetivo é promover e preservar a alma do indivíduo, facilitando a passagem de desarmonia e doença a um estado de cura.
Lidando com as causas físicas Povos nativos tradicionais fazem uma clara distinção entre a medicina física e a do espírito. Se um homem vem cambaleando pelo caminho com uma flecha no traseiro, não é o momento de pegar o chocalho e entrar em transe. É o momento de começar arrancar a flecha da ferida, estancar o sangramento, prevenir a infecção e promover a cicatrização. Essa é a hora da medicina física e todos os povos nativos sabem um pouco sobre isso. Ao lidar com a doença, o xamã está ciente de que existe uma relação entre causa e efeito. Entende que, como passamos a vida no plano físico, as coisas acontecem naturalmente. Tornamo-nos doentes com gripes, viroses, nos acidentes, entre tantas outras coisas. No processo, temos
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ossos quebrados, hematomas, cortes, entorses, etc. Às vezes, nós adquirimos lesões graves ou doenças de natureza interna – o cancro ou a esclerose múltipla, hepatite ou doença de coração e, eventualmente, passamos por enfermidade relativa à velhice. Por fim, a morte do corpo físico. Estas são todas de se esperar – fazem parte do que significa ser uma forma de vida manifestada orgânica, mas os exemplos dados são todos os efeitos. O que interessa ao xamã é a causa. Para a verdadeira cura ocorrer não basta simplesmente tratar os efeitos e suprimi-los com a medicação. A causa deve ser abordada. Existem três causas clássicas da doença do ponto de vista do xamã e, curiosamente, elas não são bactérias, micróbios e vírus, mas, sim, estados internos.
As causas espirituais A primeira delas é a desarmonia. Isto é o que ocorre quando os indivíduos perdem uma ligação importante na vida ou quando são privados do seu sentimento de pertencer a algo. Desarmonia é o que acontece quando vemos um casal de idosos que viveram juntos por quase toda uma vida e, de repente, um deles morre. Há casos em que, dentro de seis meses ou um ano, o cônjuge que sobreviveu fica deprimido e contrai um câncer. A desarmonia provoca uma diminuição do nosso poder pessoal que, por sua vez, torna-nos vulneráveis à doença. A segunda causa é o medo. O medo diminui a capacidade de funcionamento de qualquer sistema imunológico.
Esta não é, naturalmente, nenhuma grande notícia para os médicos modernos, que sabem muito bem que o medo e a desarmonia podem se manifestar como doenças reconhecidas pela ciência. A terceira causa clássica da doença é o fenômeno conhecido como a perda da alma. E aqui encontramos algo curioso. A perda da alma é considerada como o diagnóstico mais grave e a maior causa de doença e de morte prematura pelos povos nativos tradicionais, e não é sequer mencionado em nossos livros de medicina ocidental. A perda da alma implica sérios danos ao Ser Interior de uma pessoa. O dano geralmente resulta em uma fragmentação desta essência; as partes de nossa alma podem se separar e, muitas vezes, se dissociam, em consequência de acidentes, choque, doenças, traumas e violências, e não retornam a quem os perdeu. Em uma sociedade tradicional, a perda da alma ou dano ocorre, geralmente, através da prática de feitiçaria ou bruxaria negativa, em que os indivíduos tentam eliminar seus inimigos atacando-os através do canal psíquico. Em nossa cultura, a perda da alma é mais frequentemente associada a um trauma. A parte fragmentada da alma se refugia no mundo astral, onde pode estar cristalizada ou perdida, ocasionando, assim, um rompimento na psique ou um vazio na alma que continua no corpo. A perda da alma ocorre em resposta aos abusos, como no caso quando uma pessoa é estuprada ou agredida. Também pode acontecer como resultado de uma traição grave, um amargo divórcio, o aborto traumático, um terrível acidente de carro, ou até
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A PERDA E O RESGATE DA ALMA
POR WAGNER FROTA
Ao fazer o Resgate de Alma, o xamã, como os espíritos que os assistem, vão trabalhar em conjunto, procurando as partes perdida da alma
mesmo cirurgia. Muitos dos homens e mulheres que participaram de guerras voltaram doentes por terem sofrido com a perda da alma. Infelizmente, a nossa medicina moderna ocidental tem pouco a oferecer-lhes em termos de cura verdadeira, e muitos deles ainda estão traumatizados com o que aconteceu com eles. Segundo uma das minhas “Maestras”, Mirella Faur: “Este afastamento acontece como medida de segurança, permitindo ao corpo físico que sobreviva ao acidente, choque ou trauma. Mas a consequência desta dissociação é uma perda de poder físico, psicológico ou espiritual – impedindo a pessoa de levar adiante uma vida sadia, criativa, plena e feliz.” A perda de partes do self, muitas vezes se manifesta como melancolia e desespero, que traz o sintoma clássico da perda da alma – depressão. Continua Mirella Faur: “Na prática, esta perda de fragmentos da alma manifestase por meio de comportamentos autodestrutivos (compulsão, obsessões, dependências), relacionamentos perniciosos ou obsessivos, depressão crônica, insatisfação e vazio existencial, dificuldade em criar ou realizar, ocorrência de padrões comportamentais repetitivos e falta de vitalidade. A queixa mais comum é um sentimento de não sentir-se inteiro, de que algo foi rompido ou perdido após um trauma ou acontecimento, além do esquecimento de certos períodos em sua vida. Todos perdem fragmentos das almas, em uma escala maior ou menor. As perdas menores resolvem-se pela própria capacidade autorreguladora e organizadora do Eu Divino. Mas, em casos mais graves - como acidentes, traumas, estupro, perda de entes queridos, catástrofes naturais ou sociais - o xamã fará
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uma jornada xamânica para descobrir e localizar as partes perdidas da alma do paciente, buscando também os meios de resgatá-las e dando as orientações espirituais para o resgate, durante e depois.” A doença, na perspectiva nativa tradicional, é vista como uma intrusão – como algo que entra no corpo e que não pertence a ele. Isto é verdade se estamos lidando com um vírus, uma flecha ou um pensamento negativo. Mas o problema principal não é a intrusão. O principal problema é a perda de poder ou a perda de uma parte da alma que permitiu a doença entrar e se manifestar, em primeiro lugar. Esse é o problema e este é o campo onde o xamã faz seu melhor trabalho. Neste caso, o xamã terá que realizar o Resgate de Alma, que é uma técnica xamânica para a integração da personalidade. A primeira etapa envolve o que poderíamos chamar de aumento de energia, um processo no qual o xamã capacita seus pacientes por aumentar sua fonte de poder pessoal com a assistência de seu espírito guardião. Isto é muito fácil de fazer se você sabe fazê-lo. A segunda etapa envolve o diagnóstico do problema, “adivinhando” a causa e percebendo o efeito dentro do corpo da pessoa. Muitas vezes, isso envolve o acesso ao estado expandido de consciência xamânica, em que o xamã pode perceber a intrusão da doença. A terceira etapa envolve a extração da energia intrusa do corpo do paciente. A quarta e última etapa é a crítica. Esta é a prática misteriosa conhecida como Resgate de Alma. Ao fazer o Resgate de Alma, o xamã, como os espíritos que os assistem, vai trabalhar procurando as partes perdidas da alma, encontrando-as e trazendo-as de volta para a pessoa que perdeu. Só desta forma a alma pode ser restaurada ao seu estado original sem danos, e só dessa forma o paciente pode ter certeza de que a doença não volte a acontecer. Nas sociedades nativas tradicionais, especialistas em Resgate de Alma são considerados como sendo de uma estirpe única e são conhecidos como coletores de alma. Quando o xamã utiliza seu próprio corpo, como a ponte entre as esferas do sagrado e do mundo cotidiano, os milagres acontecem! Wagner Frota é um profundo estudioso do Xamanismo, membro fundador do Clã Lobos do Cerrado, representa no Brasil a Tradícion Iniciatica Nativa Andina, escritor, shamanic healing, e sociólogo brasiliense. Viajou ao interior do Brasil e ao exterior para conhecer e vivenciar diversas tradições xamânicas. Criador do site Clã Lobos do Cerrado - xamanismo.com
Livros espiritualistas para quem busca harmonia O Chamado da Luz O autor esclarece algumas questões, como: o que acontece com sua alma quando o corpo dorme; Como são as escolas espirituais e como elas podem transformar sua vida; A jornada do aprendiz e o reencarne e desenarne, etc. Por Bruno J. Gimenes Luz da Serra Editora
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Ativações Espirituais O autor, com os orientadores espirituais, relata o trabalho da luz e das sombras no ambiente extrafísico da Terra. Explica sobre os implantes extrafísicos que são colocados pelos espíritos obsessores em suas vítimas e como evitá-los. Por Bruno J. Gimenes Luz da Serra Editora
Fitoenergética A Fitoenergética é um sistema de cura natural que oferece ao leitor a sabedoria que estava escondida e deixada de lado em função de novos tempos. Revela, de forma simples, a verdadeira origem das doenças mais comuns da humanidade. Por Bruno J. Gimenes Luz da Serra Editora
Mediunidade de Terreiro Este guia de estudos é para todos os que praticam a mediunidade de terreiro e não encontram respostas satisfatórias que expliquem o que se passa em seu mundo íntimo. Composto por uma série de artigos inspirados por Ramatís, os textos nele contidos esclarecem a dinâmica umbandista da mediunidade. Mediunidade de terreiro Por Norberto Peixoto
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Xamanismo Matricial Durante o período do matriarcado, cerca de 200 mil anos antes dos tempos conhecidos, a Mãe-Terra era honrada como a grande doadora e reinava absoluta através do poder feminino POR SAMUEL SOUZA DE PAULA
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arminha Levy é introdutora do Neoxamanismo no Brasil, conhecida como a “avó do Xamanismo”. Possui formação em Pedagogia, é psicóloga clínica, com especialização em Jung; terapeuta transpessoal, psicodramatista, terapeuta corporal e arteterapeuta. Carminha Levy, iniciada no Xamanismo em 1981, por Michael Harner, fundou, posteriormente, a sua própria escola de Xamanismo – Paz Geia Instituto de Pesquisas Xamânicas (www.pazgeia. org.br) – cuja estrutura pedagógica básica é a integração en-
tre Psicologia, Antropologia e a sagrada sabedoria do xamã. Membro honorário da The Fundation of Shamanic Studies. Escritora, autora dos livros A Sabedoria dos Animais, Xamanismo Matricial – As Cartas Sagradas da Madona Negra & Divino Espírito Santo e A Mãe Possível. A seguir, transcrevo a entrevista que realizei com Carminha, em meu programa de TV Consciência Próspera (www.conscienciaprospera.com.br). A vida é cheia de mistérios e descobertas, cada pessoa tem o seu jeito de ser e aprender. Algumas pessoas passam por crises profundas, outras são tão amadas que querem transmitir tal sentimento; algumas pessoas sabem qual é o seu caminho, outras estão em busca de um caminho. Mas, de uma forma ou de outra, a vida é direcionada por aquilo que a pessoa se permite interessar; suas escolhas são permeadas de intenções. Carminha, como surgiu seu interesse pelas práticas xamânicas? Carminha Levy – Eu nasci xamã, levei nove dias para nascer! Onde nasci não havia médico, meu nascimento foi algo “milagroso”, que na visão xamânica era um sinal de que nasceria um “curador ferido”. Um xamã é um curador ferido. Em criança eu via os seres da natureza. Depois de adulta fui estudar Psicologia, sempre mantendo minha sintonia com o mundo natural. Fui para Esalen, na Califórnia, e tive minha iniciação com Michael Harner, antropólogo que codificou o Xamanismo dentro das faculdades, ou seja, dentro do contexto acadêmico. Gosto muito do trabalho de Michael Harner, pioneiro, na década de 60, e autor do livro O Caminho do Xamã, que extraiu e reformulou os conhecimentos e práticas realizadas Ao lado: Samuel Souza de Paula e Carminha Levy
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pelos nativos em diversas tribos com as quais interagiu, para serem utilizadas em nosso cotidiano. Muitas destas práticas faziam sentido em relação às experiências de vida na época. Como era o seu momento de vida quando conheceu Harner? Eu tinha formação em Arteterapia. Havia realizado muitos cursos e senti que queria mais conteúdo e aprendizado, que na época era um pouco limitado aqui no Brasil. Sempre tive encantos pelo Xamanismo e fui para os EUA para procurar por Michael Harner e realizar a jornada de iniciações. Você me perguntou qual era meu momento
de vida: era um momento de busca por ampliação de conhecimentos. Depois das muitas experiências e completar a jornada de iniciações, na The Fundation os Shamanic Studies, voltei ao Brasil. Quando cheguei aqui, sofri um acidente vascular cerebral, um aneurisma. Rompeu uma veia no meu cérebro, o sangue veio parar nos olhos e eu fiquei cega. No hospital ninguém descobria onde estava localizado o aneurisma, pois a veia estava em uma região extremamente escondida – no local onde, hoje sabemos, facilita a ativação da glândula pineal, no bulbo. Com o aneurisma, eu fiquei cega por três meses. Os médicos deram 10% de possibilidade de sobreviver e 1%
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XAMANISMO MATRIARCAL
COM CARMINHA LEVY
O arquétipo do xamã sempre surge nos momentos de grande crise. Por isso é crescente a busca pelas práticas xamânicas em nosso cotidiano de sair ilesa. Minha vida esteve por um fio. Durante este período eu me sentia como um recémnascido. Não havia limites entre meu corpo e o meio ambiente. Eu fazia parte de tudo, de objetos às pessoas que me cercavam... até o universo fazia parte de mim. Percebo, nesta sua experiência, algo recorrente nas histórias de “curadores feridos” que é a fase arquetípica de “morte e renascimento do xamã”. Lembrando aos leitores que a ideia da morte, no contexto xamânico, representa o início de um ciclo de vida, pois tudo aquilo que termina é sinal de início de alguma coisa nova. Como foi para você? Realmente foi um renascimento, uma experiência muito profunda que modificou totalmente a minha vida. Sim, em todas as tradições xamânicas o mito da iniciação se repete. Em uma caverna iniciática, o xamã mítico tem sua cabeça cortada, seus olhos arrancados e lavados para que aprenda a ver o mundo com os olhos do curador ferido. Sob muitas do-
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res, seu corpo é desmembrado e suas partes são jogadas nas quatro direções sagradas, para que os “demônios” da doença possam comê-los. Isto vai outorgar-lhe o dom de conhecer “na própria pele” todas as doenças da humanidade. Após esse desmembramento, o xamã mítico começa a ser remontado, surgem aliados e seu novo corpo. A partir daquele momento, onde minha caverna de iniciação foi o centro cirúrgico, eu passei a sentir o que as pessoas que estavam ao meu redor sentiam. Percebia as emanações das pessoas... Isso aumentou minha sensibilidade e claro que foi necessário reduzi-la, com o tempo. Foi um treino para abrir esta sensibilidade somente nos contatos terapêuticos xamânicos, de coração para coração. Hoje já faz mais de 30 anos que trabalho como xamã. Conta uma lenda siberiana que, no início da vida no planeta, dois povos celestiais habitavam a Terra. O povo que vivia no Ocidente era bom e o povo que vivia no Oriente era mau. Os deuses criaram os homens e tudo vivia em paz e harmonia, mas o povo mau enviou aos homens doenças e morte. Para aliviar o sofrimento das pessoas, os deuses enviaram uma águia para transmitir poderes medicinais. A águia foi até os homens, mas estes não entendiam a sua linguagem e, assim, ela não conseguiu transmitir-lhes a ciência e o dom da medicina. Voando e com a firme decisão de cumprir a sua missão, viu das alturas uma bela mulher, dormindo nua, nas sombras de uma árvore. A águia pousou, fez amor com a mulher e como fruto deste ato nasceu o primeiro xamã da Terra. Carminha, na sua opinião, quando aparece o arquétipo do xamã e quais os motivos do crescimento das práticas xamânicas em nosso cotidiano? Na visão das terapias xamânicas matriciais, o arquétipo do xamã apareceu em uma época que os seres humanos viviam numa espécie de Éden, não tinham consciência. Alguns homens predestinados que tocavam tambores, troncos de árvores, ocos, batiam no ritmo das batidas do coração. Aquela sonoridade, vibrações, fizeram com que fossem levados à percepção do 5º Nível da Grande Corrente dos Seres, onde repousam os arquétipos. Estes primeiros acessaram este nível e foram tomados pelo arquétipo do Divino. Quando voltaram do transe, trazendo este divino, começaram a acordar os outros seres com o sopro divino, que seria a Consciência. Neste momento na história nasce todo um movimento, a partir do arquétipo do Divino e se solidifica o arquétipo do xamã. Os arquétipos podem ser definidos, resumidamente, como ideias universais preexistentes no ser humano,
que correspondem a padrões de comportamentos psíquicos do homem. Um exemplo bem simples: todos nós temos um instinto maternal, mas tanto a mulher quanto o homem têm este instinto despertado quando o bebê nasce. O que está acontecendo, no momento atual, é um reflexo desta história. Nós estamos vivendo uma época onde, semelhante àqueles seres, estamos em uma crise existencial tremenda. O arquétipo do xamã sempre surge nos momentos de grande crise. Por isso é crescente a busca pelas práticas xamânicas em nosso cotidiano. O que é o Xamanismo Matricial? O Xamanismo Matricial surgiu de uma pesquisa realizada por mais de 20 anos. Na realidade, começou depois que aprendi, com Michael Harner, o Xamanismo do Caçador, ou Xamanismo tradicional. Passei por algumas experiências espirituais que me levaram a pesquisar as Madonas Negras, as grandes deusas. O Xamanismo Matricial é uma vertente do Xamanismo tradicional, filosofia que provém dos primórdios da natureza. Durante o período do matriarcado, cerca de 200 mil anos antes dos tempos conhecidos, a Mãe-Terra era honrada como a grande doadora e reinava absoluta através do poder feminino. Existe uma grande escritora, chamada Riane Eisler, que escreveu o livro O Cálice e a Espada; ela é minha inspiradora intelectual. Reuni as vivências com meus clientes e alunos, além de diversas pesquisas, e criei um corpo teórico sobre o assunto. Historicamente, o matriarcado trazia em sua estrutura um estado de quase inconsciência prazerosa, por meio da qual a evolução humana era bloqueada pela falta de interditos tais como: noção de tempo, limites pessoais e coletivos. A humanidade necessitou do patriarcado para sair do seio inconsciente e prazeroso da Grande Mãe. Estas duas energias necessitavam se reencontrar e fundir seus opostos num outro nível de consciência. Realizar este casamento tornou-se minha “profissão de fé”. O intuito do Xamanismo Matricial é promover uma grande aliança, entre o matriarcado e o patriacado, em busca de harmonização dos opostos. Existe semelhança entre o arquétipo do xamã e o arquétipo do Cristo? Para mim, Cristo (Jesus) é um xamã, um avatar, um ser iluminado; é a maior representação de tudo o que um xamã pode alcançar. Mas nós não podemos esquecer que temos o cristo dentro de nós. Assim como cada um de nós tem um xamã interior, também temos um cristo interior. Todo ser humano, guiado pela força do amor, pode ser um xamã,
ser um cristo. Saiba que o amor une todos os arquétipos; o que une tudo é o amor. O que é a doença nas práticas xamânicas? A doença, para mim, é o caminho da cura. Uma doença ou qualquer golpe grave, como uma falência, a perda de um ente querido, não só traz a oportunidade da pessoa realmente rever sua vida como também gera a oportunidade de crescimento para todos aqueles que estão ao seu redor. Infelizmente, o que é mais comum nestas situações é a percepção de que determinada situação é uma verdadeira tragédia, não uma oportunidade para defrontar nossa arrogância, vaidade... pois aquele que está doente tem que ficar entregue ao outro. E esta cura só pode ser realizada, possibilitada, pela própria pessoa.
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XAMANISMO MATRIARCAL
COM CARMINHA LEVY
O interesse atual pelo Xamanismo parece ligado a uma tomada de consciência da necessidade de ampliar a visão do mundo ocidental Nós, xamãs, terapeutas, podemos ser aquele que ajuda, ser a parteira do nascimento, mas nós não curamos. Isto é uma questão de despertar arquétipos no outro para a autocura. As doenças são sempre uma possibilidade de ampliação da consciência. Como lidar com a Sombra? Nas práticas xamânicas não há necessidade de matar o ego. O foco principal é se conhecer, fortificar o seu ego, seu poder pessoal e encontrar sua divindade, acessar o 5º nível da grande corrente dos seres. Para isto é importante conhecer nosso calcanhar de Aquiles, a Sombra. Através dos sonhos entramos em contato com a nossa Sombra. Uma das técnicas é trabalhar anotando e analisando os sonhos. Nenhum terapeuta, principalmente um xamã, que é o detentor de um grande poder, pode terapeutizar o outro se não conhecer sua própria Sombra, porque ele pode ser tomado pelas forças da sombra e tentar moldar a outra pessoa à sua imagem e semelhança. O que eu noto, com terapeutas em geral, e obviamente com os xamãs, é que eles se conhecem muito pouco. Conhecem pouco sobre as suas sombras, e ninguém pode querer se curar se ele não sabe o que ele é e o que existe no seu lado oculto. Uma grande ferramenta que pode ajudar, assim como as práticas xamânicas, é a Psicologia, que trabalha esta questão de forma lenta e amorosa, e faz com que as pessoas conheçam seus aspectos de luz e sombra. Com isto, ele poderá liberar um potencial criativo imenso e, ao mesmo tempo, desenvolver uma profunda humildade. Quais os instrumentos de poder utilizados nas terapias xamânicas? O tambor é muito importante, pois o primeiro som que o bebê ouve, quando no útero, são as batidas do coração da mãe. Quando tocamos o tambor, estamos acessando também o coração da Mãe Terra. Michael Harner tem um estudo muito importante, no qual ele mostra que o toque do tambor aciona uma região do cérebro, no cerebelo, que leva a um estado xamânico de consciência, que é o estado alterado de consciência do qual viviam os primeiros seres humanos. O xamã circula nos ambientes do inconsciente coletivo, se utiliza de arquétipos e é um arquétipo. Com maestria, o xamã passa entre os três mundos: o mundo profundo, o mundo médio e o mundo superior, em busca de medicinas, conhecimento, presença e poder. Qualquer pessoa pode se
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tornar um xamã, desde que ela queira. Algumas pessoas já nascem com suas capacidades xamânicas afloradas, outras vão despertando com as práticas e experiências de vida. Existe alguma prática simples para ajudar na propagação das energias xamânicas? Aconselho as pessoas fazerem uma prática simples, por exemplo: entregar o dia que está começando nas mãos da Mãe Cósmica. Respirar profundamente algumas vezes, entrar em contato com seus melhores sentimentos e entregar o dia nas mãos da Grande Mãe. Pode-se dizer, enquanto realiza as respirações aprofundadas, por alguns minutos: “Eu permito ser ajudado!”
Existe alguma dica xamânica para manter relacionamentos duradouros na época atual? Vou falar por mim, que tenho mais de 55 anos de casada. Ultrapassada a fase da paixão, a grande dica é você recasar no amor. E o amor é construído diariamente, e isto não quer dizer que não haverá os percalços e até as brigas, mas quando o amor está presente podemos alcançar as soluções. É importante ser autêntico com os seus sentimentos, não cultivar mágoas. Quando estiver naqueles momentos difíceis, faça a Prática do Perdão, do “só por hoje perdoar”. Quando estiver naqueles momentos alegres, faça a Prática do Celebrar, pois a vida é motivo de festa. Podemos criar nosso destino com as práticas xamânicas? Como podemos criar uma vida de prosperidade? A verdadeira riqueza é a Mãe-Terra. Uma das posturas nativas mais presente em diversas culturas é a gratidão por tudo o que a Grande Mãe nos dá. Boa parte das vezes esta atitude de gratidão é instintiva, natural e em algumas situações são expressas por cantos, danças ou alguma representação deste sentimento. Em nossos dias atuais, primeiro é preciso saber que a prosperidade está disponível para todos. A prosperidade é um dom, como uma fruta na árvore do seu jardim pessoal: basta você ir até lá, estender a mão e pegar. Às vezes o que impede a pessoa de colher estes frutos são alguns arquétipos que precisam ser afastados. Afastar toda e qualquer ligação que a pessoa tenha com o arquétipo do perdedor e com o arquétipo mendigo, pois estes arquétipos interferem muito na vida da pessoa que quer prosperar. Resumindo: entre em contato com seu arquétipo divino e saiba que é preciso ter fé, confiança e praticar a entrega. Desta forma sua vida será uma expressão natural das suas capacidades interiores mais elevadas. Lembre-se que nós nunca devemos desistir dos nossos sonhos; deve-se sempre pedir licença, sem nunca deixar de entrar. Toque a campainha na vida de vocês, botem o pé e não deixem a porta fechar.
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Wagner D’Eloi Borges – nascido no Rio de Janeiro em setembro de 1961 – é pesquisador espiritualista, projetor extrafísico, conferencista, colaborador de várias outras revistas como: Revista Cristã de Espiritismo, Caminho Espiritual, Samadhi, entre outras. É escritor - autor de onze livros dentro da temática projetiva e espiritual, dentre eles a série “Viagem Espiritual”, sobre as experiências fora do corpo. É colunista de vários sites na Internet: SomosTodosUm www.somostodosum.com.br, IPPB: www.ippb.org.br, dentre outros. É radialista – apresentador do programa “Viagem Espiritual”, desde agosto de 1999, na Rádio Mundial de São Paulo – 95.7 FM. (www.radiomundial.com.br).
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O novo Xamanismo Será que nosso terreno cultural permite-nos reimplantarmos as raízes da espiritualidade xamânica com alguma chance de vê-las se desenvolverem e produzirem frutos? POR WAGNER FROTA
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té meados dos anos 60, o Xamanismo interessava fundamentalmente aos especialistas da Psicologia Transpessoal, uma disciplina de vanguarda que procurava estudar os estados de consciência mística veiculados pelo conjunto das tradições da humanidade. Para os antropólogos, etnólogos e historiadores das religiões, o Xamanismo era uma forma primitiva de religião, suplantada e superada pelas culturas hierarquizadas modernas.Há pouco mais do que 25 anos, os livros de Carlos Castaneda e Michael Harner abriram a consciência de indivíduos em busca de desenvolvimento pessoal e espiritual para as ideias, crenças, inspirações e experiências diretas dos xamãs. Não podemos deixar de também homenagear os trabalhos pioneiros de Claude Lévi-Strauss, Mircea Eliade e Joseph Campbell. Desejosas de reatar com a tradição xamânica e ajudá-la a voltar a ser uma autêntica via de transformação, cada vez mais pessoas exploram seus estados de consciência para alcançar o conhecimento e a sabedoria “entremundos”, o mundo oculto atrás do véu do mundo. Desde o final dos anos 80, esse “neo xamanismo” ancora-se na sociedade ocidental, especialmente na América do Norte, onde muitos buscam suas raízes tradicionais. O recurso dos cantos sagrados acompanhados de instrumentos de percussão, maracás e tambores, ou dos “animais aliados”, descobertos por viagens em níveis de consciência diferente, voltaram a se tornar práticas correntes. Todas as culturas provavelmente tiveram, num momento ou outro da história, uma abordagem xamânica da existência, e algumas ainda a têm. Diversas publicações atuais ajudam-nos a restaurar as tradições de sabedoria do mundo inteiro. Os ensinamentos revelados por essa iniciativa são a herança comum daqueles que aprendem a via xamânica
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como um caminho para a sabedoria interior e a harmonia entre povos e nações. No mundo ocidental moderno, as raízes xamânicas tradicionais desapareceram. Nosso terreno cultural permitenos ainda reimplantá-las com alguma chance de vê-las se desenvolverem e produzirem frutos? Hoje, um número cada vez maior de indivíduos conscientes das realidades ecológicas, sociológicas, religiosas e espirituais percebe que o Xamanismo foi a primeira chave que permitiu o ser humano compreender o seu meio ambiente e o ensinou a viver em harmonia com ele. Até o fim dos anos 60, partidários obstinados da velha escola continuaram a afirmar que o Xamanismo seria uma
doença mental. Desde os anos 70, porém, um novo discurso apresenta o xamã não apenas como um criador de ordem, mas também como um especialista de “ofícios” tão variados como a medicina, a farmacologia, a botânica, a sociologia, a advocacia, a astrologia e a liderança religiosa.
Uma nova visão sobre o xamã Quando a antropologia estrutural alcançou o estatuto de ciência, os antropólogos esforçaram-se por encontrar a ordem na desordem, e o xamã tornou-se um criador de ordem. Em 1951, na época em que Claude Lévi-Strauss transformava o xamã louco em psicanalista criador de
ordem, e Mircea Eliade, uma das principais autoridades em matéria de história das religiões, publicou o clássico O Xamanismo - Técnicas Arcaicas do Êxtase. Essa obra continua sendo a única tentativa de síntese mundial sobre o tema. Eliade reuniu semelhanças extraordinárias nas práticas e nos pensamentos dos xamãs do mundo inteiro, assim como Joseph Campbell, o famoso mitólogo falecido no final dos anos 80. Os técnicos do êxtase especializam-se, de fato, num transe durante o qual seus sentidos e sua alma deixam supostamente o corpo para fazer incursões celestes ou “infernais”. Todos evocam uma escada, um cipó, uma corda, uma escada em espiral, uma escada de corda que liga o céu e
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VISÕES SAGRADAS
POR‑ WAGNER FROTA
Para o xamã, o mundo é inteiramente vivo, pessoa, sensível, destinado a ser conhecido e utilizado a terra utilizada por eles para atingir o mundo dos espíritos. Todos consideram que tais espíritos vieram do céu e criaram a vida sobre a terra.
Canal direto com a espiritualidade Por que assistimos, atualmente, a uma retomada de interesse pela mais antiga via de descoberta espiritual da humanidade, que é o Xamanismo? Creio ter condições de adiantar que essa responsabilidade pode ser creditada às religiões, que se hierarquizaram, esquecidas de que haviam, todas, começado como uma experiência espiritual. O Xamanismo, tanto em sua forma mais primitiva quanto na mais moderna, recupera o aspecto democrático da vida espiritual: as forças sutis da natureza manifestam-se em níveis de experiências espirituais. Cada dimensão da realidade está disponível àquele que realiza o esforço de aprender a prática da “viagem” e os diferentes meios de consegui-la. Assim, a via xamânica permite ao indivíduo viver uma experiência direta, sem a intermediação das estruturas impostas por uma Igreja ou uma doutrina.
As diferentes imagens relativas a este eixo central formam um tema comum, que Eliade chamou de axis mundo ou eixo do mundo. Segundo ele, este eixo permite alcançar o Além e o saber xamânico, porque existe uma passagem reservada normalmente aos mortos, pela qual os xamãs, no entanto, conseguem passar ainda vivos. Este acesso é não raro guardado por uma serpente, um dragão ou um animal mítico. Para Eliade, o Xamanismo é o conjunto das técnicas que permite negociar tal passagem, atingir o eixo, adquirir o conhecimento que lhe está associado e trazê-lo consigo para praticar profecias e curas. Que viagem! Para o xamã, o mundo é inteiramente vivo, pessoa, sensível, destinado a ser conhecido e utilizado. Ele bebe nessa via de exploração os principais potenciais que o ajudarão a curar e a reanimar ou trazer ao mundo profano os poderes transformadores do tempo e do espaço sagrado. Além disso, sua faculdade de gerar seus estados de consciência permite-lhe servir de ponte entre a realidade ordinária e os planos transpessoais. No entanto, é preciso distinguir esses estados alterados de consciência dos estados alterados de consciência estudados em psicologia. Com efeito, a via xamânica exige tanto engajar-se na dissolução do ser quanto penetrar no caos de maneira consciente. Durante a viagem xamânica, psique e cosmos se juntam; o xamã torna-se então a via de acesso para as forças da Criação ou para as forças intrapsíquicas. O talento e a disciplina requeridos para assumir relações tão especiais devem ser imensos – o que explica o respeito em que permaneceu o xamã durante milênios. Assim, desafiando o tempo e as fronteiras culturais, a verdadeira tradição xamânica continua viva hoje e preserva tanto seu método quanto sua imagem.
Medicina e Xamanismo As tradições xamânicas não foram realmente levadas a sério pelas nações ocidentais industrializadas, ainda que os xamãs tenham desenvolvido, há séculos, modelos sofisticados de comportamento humano. Além disso, muitos demonstraram certa aptidão para adaptar-se à tecnologia e medicina ocidentais, enquanto estas nunca incorporaram a menor prática xamânica. Mas a situação está evoluindo. No Brasil, centros de tratamento alternativo propõem uma mistura de práticas médicas ocidentais e xamânicas tradicionais. Não é menos verdade que o desconhecimento das tradições e os preconceitos para com as populações tribais privaram a maioria dos universitários e dos centros médicos e científicos ocidentais das riquezas xamânicas. Já não nos recordamos que esses homens e mulheres foram os primeiros médicos do mundo, os primeiros a fazer diagnósticos, os primeiros psicoterapeutas, os primeiros religiosos, os primeiros mágicos, os primeiros artistas e os
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As tradições xamânicas não foram realmente levadas a sério pelas nações ocidentais industrializadas, ainda que os xamãs tenham desenvolvido, há séculos, modelos sofisticados de comportamento humano primeiros contadores de histórias. Ora, eles constituem uma comunidade de profissionais mágico-religiosos que alteram deliberadamente a consciência para obter informações do “mundo dos espíritos”. E utilizam esse conhecimento e poder para ajudar ou curar os membros de sua comunidade e até mesmo a própria comunidade em seu conjunto. Os xamãs viviam outrora nos seios de tribos caçadoras, de colônias de pescadores, de comunidades agrícolas, e hoje os encontramos nos centros urbanos.
Como surge um xamã Os universitários, antropólogos e etnólogos que mostraram interesse por esses seres particulares constataram que eles começam sua atividade de modo variado, de acordo com as tradições de cada tribo. Alguns herdam sua autoridade e competência dentro da própria tradição familiar; outros as ganham ou compram. Alguns trazem sinais de nascença que determinam seu papel social. Outros são convocados por espíritos ou animais de poder por meio de sonhos ou devaneios. Existem aqueles que sobrevivem a uma doença grave e veem em sua própria cura um aviso para se dedicarem aos outros.
Não é incomum que vários desses fatores se combinem para trazer o futuro iniciado ao caminho. Entre os esquimós, é preciso sonhar com os espíritos para ser convocado ao Xamanismo. Quando um deles se manifesta em sonho, o sonhador cospe sangue, cai doente e foge do convívio do grupo. Uma vez sozinho, encontra um tunerak, que se parece com um ser humano, mas na verdade é um espírito. O tunerak logo toma posse do indivíduo e pede-lhe, por exemplo, que ande nu. Pouco a pouco, entretanto, o xamã eleito começa a ganhar controle sobre o espírito; a partir de então, fabrica um tambor e começa a assumir o papel que lhe cabe. Em certas sociedades, não há período de aprendizagem específico, enquanto em outras o processo dura vários anos. Os “mestres” podem ser xamãs mais velhos e até mesmo espíritos guias (animais de poder, espíritos desencarnados e espíritos da natureza). Estes ensinam especialmente o contato com os espíritos, a arte do diagnóstico, o tratamento das doenças, a interpretação dos sonhos, a prática da psicoterapia, os métodos para rechaçar os inimigos do clã ou da
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VISÕES SAGRADAS
POR WAGNER FROTA
tribo, o domínio das técnicas de alteração da consciência, a arte de profetizar, a supervisão dos rituais xamânicos e o domínio do clima. Nem todas as tribos conferem o conjunto dessas funções ao xamã, mas existem semelhanças notáveis entre as diferentes sociedades xamânicas.
Entre o sagrado e o secular O papel principal do xamã é servir de mediador, de intercessor entre o sagrado e o profano, entre o plano físico e o dos espíritos. Neste período de ressurgência do Xamanismo, observamos que os técnicos do êxtase não pertencem unicamente ao passado; eles sobreviveram em diversas tradições mais ou menos preservadas. Claro, atualmente são poucos os xamãs tribais, da mesma forma que praticamente desapareceram aquelas sociedades nômades que viviam apenas da caça. O sonho de uma idade de ouro atrai muitas pessoas para o Xamanismo, principalmente entre os ocidentais. Os mitos xamânicos falam de um tempo em que o homem e a natureza viviam em harmonia perfeita. As condições de vida atuais explicariam essa necessidade de um retorno às fontes esquecidas das antigas tradições da humanidade. Mircea Eliade, evocando as manifestações do sagrado,
O interesse atual pelo Xamanismo parece ligado a uma tomada de consciência da necessidade de ampliar a visão do mundo ocidental 44
falava de uma realidade que não pertence a nosso mundo, mas que se manifesta em objetos que fazem parte integrante de nosso mundo natural profano. Foi preciso esperar a segunda metade do século XIX para que o Xamanismo se tornasse um assunto de estudo acadêmico. Antes, nosso conhecimento limitava-se a relatos parciais e tendenciosos de viajantes e missionários, que acabavam nos oferecendo seu próprio sistema de pensamento. Sofríamos, sobretudo, no entanto, de uma carência de estudos experimentais. Nestes últimos anos, porém, os xamãs começam a falar de suas tradições e rituais e da maneira como veem o mundo. Para dizer a verdade, a cooperação entre estudiosos e xamãs mostrou que o serviço destes são necessários quando a relação entre o homem e o universo encontra-se enfraquecida e até mesmo rompida. Esses seres investidos, mais próximos da fonte, são novamente chamados para servir como mediadores entre o sagrado e o secular. Procuremos ter uma abertura maior de espírito e evitemos projetar ideias preconcebidas sobre tudo o que diz respeito ao Xamanismo. Se quisermos compreender esse caminho e enriquecer o conhecimento de nós mesmos e do mundo, deveremos encarar novas ideias e atividades por iniciativa própria. O interesse atual pelo Xamanismo parece ligado a uma tomada de consciência da necessidade de ampliar a visão do mundo ocidental, cujas limitações são particularmente sensíveis no campo da medicina e da psicoterapia. Em física, o princípio incerteza de Heisenberg demonstrou que, sendo possível medir a característica de um objeto em movimento, é impossível medir simultaneamente suas outras características. Veem-se, desde então, revistas acadêmicas dedicarem um número maior de artigos e abordagens pluridisciplinares e multidimensionais.
O resgate do sagrado em nossa cultura O sagrado é um elemento inerente à estrutura da consciência – não é um estado de consciência nem uma parte do conteúdo da consciência humana. Um desafio maior da época atual consiste em descobrir novos caminhos para reativar este elemento em nossa cultura, que amplamente ocultou tudo o que concerne ao espírito, ao sagrado e ao místico. A principal dificuldade reside na obrigação implícita feita ao xamã de falar nossa “língua”. Ora, é-lhe quase impossível traduzir o sagrado em termos compreensíveis para o profano. Os iakutes, da Sibéria, utilizam uma linguagem poética de, pelo menos, 12 mil palavras, enquanto o ocidental médio possui um vocabulário de aproximadamente 3 mil palavras. Além disso, muitos profetas foram incompreendidos por seus contemporâneos e, às vezes, são necessários vários séculos para decifrar uma mensagem
sagrada, como é o caso, por sinal, do calendário maia e das tabuinhas Rongo-rongo, da ilha de Páscoa, que ainda não foram decodificados. Os xamãs, em compensação, devem resolver problemas pragmáticos correntes e, portanto, encontrar o meio de fazer-se compreender por seus pacientes contemporâneos.
Diferentes paradigmas De nossa parte, devemos encontrar novos exemplos para reestruturar nossas vidas. O avanço de uma interpretação mitológica da realidade para uma concepção racional é considerado como a principal virtude da herança intelectual grega. Desde o século V a.C., filósofos jônios estabeleceram uma distinção entre conhecimento e crença. “Nenhum homem teve ou terá jamais um conhecimento seguro dos deuses; ainda que tenha a chance de atingir a verdade exata, não saberá que a atingiu.” O filósofo Parmênides sugeria que os homens não deviam confiar em seus sentidos, mas submeter tudo à razão. A ciência e a razão repousam sobre a objetividade, quando, para o místico, a realidade é a unidade – uma unidade da qual o ser humano faz parte. A abordagem mística é por natureza subjetiva e, por isso mesmo, representa um desafio à objetividade. Assim, é difícil compreender que cada indivíduo é, ao mesmo tempo, único e intimamente conectado a cada um de seus semelhantes. Cientistas e teólogos tentam resolver esse dilema desde que se consumou o divórcio entre ciência e
religião. Aliás, o Cristianismo afirma que Deus está separado do homem e que assim ficará para sempre. Ensinaram-nos que podíamos considerar Deus uma fonte de salvação, mas de modo algum teríamos condições de ser Deus. A mecânica quântica aparece num momento em que o Logos, o Verbo, começou a desacreditar o conhecimento conceitual. Os xamãs nunca perderam a confiança em seu elo com o sagrado; sempre conseguiram sobreviver num mundo incrivelmente cético. O problema maior é que os “espíritos objetivos” nunca sentiram, e ainda menos expressaram, as limitações inerentes às conclusões espirituais. O enriquecimento do saber mascarou as grandes zonas de vazio que ele, no entanto, revelava dentro do indivíduo. Não estamos conscientes de que as pequenas chamas que brilham em nós podem mostrar-nos a imensidão do universo. Se as terapias transpessoais e o recurso aos estados de expansão da consciência tiveram tal sucesso, isso se deve ao fato de buscarem abordagens espirituais similares às utilizadas pelos xamã. Abraham Maslow, um dos pais da psicologia transpessoal, já dizia há várias décadas que o equilíbrio entre espontaneidade e controle varia em função do estado de saúde da psique e do mundo. A espontaneidade pura é difícil, porque vivemos num mundo regido por suas próprias leis materiais; é impossível conservar o controle puro porque pode provocar a morte da psique. A educação deve, portanto, visar tanto ao controle quanto à espontaneidade e à expressão. Em nossa cultura, e no atual estágio da história, é preciso repor o equilíbrio em favor da espontaneidade, da expressividade, da aceitação, do
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VISÕES SAGRADAS
POR WAGNER FROTA
Totalidade indivisa O modelo holográfico proposto pelo físico inglês David Boom sugere que todos os elementos estão intimamente ligados no universo. Isso implica uma pluridimensionalidade. Nossos sistemas culturais afirmam que existe uma diferença fundamental entre o espírito e a matéria. A ordem explícita é o domínio material e ordinário, e a maioria das pessoas que operam neste nível não está consciente da existência de uma ordem implícita ou de um universo interior. Quando nossos pensamentos saltam para este último, para a ordem implícita, não observamos mais a menor separação. Desde que comecemos a perceber o quanto estamos prisioneiros de padrões científicos, podemos permitir que nossa capacidade criativa seja estimulada bem além das limitações que impomos ao nosso ser. Boom dizia, nos últimos anos de sua vida, que o holo-movimento representa uma nova ordem que começa não nos campos de energia ou nas partículas elementares, mas antes numa totalidade indivisa da realidade.
desprendimento, da confiança, ou seja, em outros processos além da vontade, do controle e da criação premeditada. A passagem do conceito de uma consciência sadia a uma irracionalidade igualmente sadia leva à realização dos limites do pensamento puramente abstrato, verbal e analítico. Se quisermos, um dia, ser bem-sucedidos em descrever o mundo em seu conjunto, devemos prever um lugar para os processos primários arquetípicos, metafóricos, inefáveis, e para a expressão intuitiva; isso vale também para a pesquisa científica.
Energia universal No ano 2000, Mama Julia, uma maestra andina com quem estudei, sustentava que os andinos estabelecem, há séculos, a distinção entre a realidade observável e o mundo invisível. Se nos deixarmos seduzir pelo mundo de imagens múltiplas, passaremos ao largo do objetivo essencial da vida. Podemos pedir aos xamãs que nos ensinem estilos de vida alternativos ou, pelo menos, que facilitem liberações emocionais e físicas por meio de rituais apropriados. Convém todavia reparar numa diferença fundamental entre os místicos tradicionais e os xamãs. Os primeiros
contemplam há séculos a globalidade de todas as coisas; os xamãs deram um passo suplementar ao modificar a dinâmica dos processos de vida e projetar essa modificação no mundo exterior, ou seja, na ordem explícita. Vivemos numa zona crepuscular de realidade não desenvolvida, mas “facilitada” pelos xamãs de maneira criativa. Os xamãs conhecem a abundância contínua de todas as coisas da natureza e acreditam na existência de uma tela invisível de poder de potência infinita. Do mundo dos espíritos, todas as formas físicas são ajudadas e infusas por essa energia universal, que passa de uma vertente da realidade a outra. O homem e a mulher comuns sabem mais sobre os novos modelos de pensamento que os acadêmicos e políticos. Sua intuição os leva a defenderem valores e sentidos: agir numa escala mais humana, comunicar-se com a natureza em vez de querer dominá-la. Assistimos atualmente à emergência de um grande conhecimento que sempre esteve presente em estado latente; acredito que a chave do porvir reside na experiência direta. As experiências xamânicas são doravantes comparáveis às experiência científicas. Assim, são realmente as experiências que permitirão aos seres humanos comunicarem-se para além das culturas e dos sistemas religiosos. Não existe mundo objetivo “lá fora”, mas simplesmente um processo de conhecimento. Criamos o mundo por meio da linguagem e da consciência – termo que poderia significar “conhecer juntos”, tratando-se, portanto, de um esforço coletivo. Se modificarmos nossa visão de mundo, criaremos uma realidade diferente. Nesta ordem de ideias, o Xamanismo seria uma concentração de conceitos e de técnicas psíquicas que, ao longo das idades, foram desenvolvidos por um grupo particular, por povos de caçadores que se espalharam em cada continente. Numa época em que o ser humano se sentia inevitavelmente inferior ao meio ambiente, ele tentou entrar em harmonia com este, aprendendo a escutar as mensagens do povo mineral, animal e vegetal, com isso enriquecendo sua força psíquica. Todavia essa aptidão acabou por perder-se ou, mais exatamente, por refugiar-se entre indivíduos particulares: os xamãs. Bibliografia: Claude Levi-Strauss - Antropologia Estrutural; David Bohm - A Consciência do Universo; Mario Mercier - Xamanismo e xamãs; Mircea Eliade - O Xamanismo; Roger Walsh - O Espírito do Xamanismo. Wagner Frota é um profundo estudioso do Xamanismo, membro fundador do Clã Lobos do Cerrado, que representa no Brasil a Tradícion Iniciatica Nativa Andina, escritor, shamanic healing, e sociólogo brasiliense. Realizo atendimentos individuais que visam a integração do ser (físico, mental, emcional e espiritual) através de um conjunto de técnicas xamânicas. Ministra um curso anual, a distância, de Formação Xamânica. Fone: (61) 8167-2012. Site Clã Lobos do Cerrado: xamanismo.com.
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Novo livro de Ubirajara Tederiche
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Espiritualidade
indigena nativa
Considerada o elemento chave para a manifestação da vida, é a ponte entre o mundo físico, o mundo dos símbolos/elementos e o mundo espiritual POR EMERSON PANTALEO Produtor cultural do ABAÇAI CULTURA E ARTE
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Rikbaktsa-Agência Brasil-Valter Campanato
rasil. Terra descoberta há pouco tempo, mas, povoada pela Ancestralidade que a história não consegue nem datar. Terra sagrada, fértil, guerreira. Terra indígena. Historiadores calculam que existiam de 3 a 4 milhões de indígenas no país antes de 1500. Hoje, já não é bem assim. Segundo dados do IBGE, atualmente vivem cerca de 900 mil indígenas de 239 etnias, falantes de mais de 150 línguas diferentes (fonte: Instituto Sócio Ambiental – ISA). Cultura de uma riqueza incalculável, não é fácil de calcular também a dificuldade em mantê-la. Muito conhecimento foi, durante séculos, “levado pelo vento” e não voltou mais. Muitas histórias calaram-se no conto oral, que deixou de existir e de ser passado de geração em geração; muitos rituais foram enterrados junto do sangue dos confrontos com o homem branco, na luta pelas terras, pelo alimento, pela vida. Como parte do DNA indígena, o “ser guerreiro” é quase lei para os sobreviventes que ainda tentam preservar a cultura indígena nativa, cultura essa que passa pelo modo de vida, costumes, alimentação, medicina tradicional, rituais, ervas, objetos sagrados, enfim, uma série de elementos que compõem o universo diversificado da história ancestral.
Espiritualidade A espiritualidade é um caso à parte. Para os nativos, é o elemento chave para a manifestação da vida. É a ponte
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entre o mundo físico, o mundo dos símbolos/elementos e o mundo espiritual. E tudo em perfeita harmonia, como deve ser. Na pluralidade de povos espalhados pelo Brasil inteiro, as manifestações ritualísticas e espirituais são as mais diversas. No nordeste, por exemplo, a tradição é a do Toré, um ritual sagrado que envolve dança acompanhada por cantos (que é fundamental para entrar em contato com as entidades espirituais) ao som de maracás, apitos e uma série de instrumentos feitos artesanalmente. Cada povo possui um toré próprio e característico, apresentando variações entre eles. O ritual do Toré é considerado o símbolo maior de resistência e união entre os indígenas do nordeste brasileiro. O Toré se faz presente entre os povos atikum, fulni-ô, geripancó, jenipapo-kanindé, jenipankó, kaimbé, kambiwá, kantaruré, kariri-xocó, kapinawá, kiriri, pankararé, pankararu, pipipã, potiguara, pataxó, tapeba, tremembé, truká, tuxás, tumbalalá, tupinambá, xakriabá, xocó, xukuru,
Índios do Nordeste - Agência Brasil-Valter Campanato
Como parte do DNA indígena, o “ser guerreiro” é quase lei para os sobreviventes que ainda tentam preservar profunda e cultura indígena nativa
xucuru-kariri, wassu cocal, entre outros. Na migração dos povos para outros estados brasileiros, encontramos muitas etnias do nordeste morando no estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O Toré é mantido com muito custo pelas tradições que ainda realizam o ritual, mesmo em áreas urbanas, devido ao contato com outras civilizações e religiões, como o catolicismo e protestantismo. Muito elementos da cultura europeia foram incorporados em alguns povos nativos, mas é interessante perceber que muitos destes conseguem fazer harmoniosamente o trânsito de seguir uma doutrina, mas sem perder sua identidade própria. Ocorre uma integração entre frequentar uma igreja e até mesmo ser pastor, sem deixar de fazer seus rituais e conexões com as forças da mata, dos caboclos, dos seres de outros planos, de agradecer ao Sol, à Lua e aos elementos da natureza. Tudo isso conforme a frase popular da sabedoria indígena nativa: “Eu posso ser quem você é, sem deixar de ser quem eu sou”.
Na pajelança, o pajé usa a maracá para espantar os maus elementos, renovar as energias, promover a cura no seu povo e equilibrar o ambiente interno e externo 49
CULTURA INDÍGENA NATIVA
POR EMERSON PANTALEO
A pajelança, como é popularmente conhecida, é um ritual de cura feito pelo pajé (líder espiritual) da aldeia. É encontrada por todo o país nas mais diversas etnias e povos. A pajelança que é feita pelos kaingang (povo considerado o mais pacífico pelos portugueses quando no povoamento da região entre o noroeste de São Paulo e o estado do Mato Grosso do Sul) é diferente da pajelança feita pelos indígenas do Xingu, no norte do país. Assim como têm diferenças entre os indígenas krenak (estado de Minas Gerais) e os atikuns (localizado em Pernambuco). Na pajelança, há todo um ritual antes, durante e depois da manifestação. A preparação vai desde o ambiente, as pessoas que irão receber a cura, o cuidado no equilíbrio e harmonia com as formas de vida da natureza (animal, vegetal, mineral, aquática), os elementos (ar, terra, fogo e água) e entre os planos (físico, elemental/arquétipos e astral). O pajé, intuitivamente, pode seguir por uma maneira de conduzir, mas, acima disso, ele entra em estado de transe mediúnico que possibilita o contato com as entidades manifestantes de outros planos e com os seres elementais da natureza, que guiam o pajé para proporcionar o equilíbrio e a cura nas pessoas, de acordo com a necessidade de cada um para o momento. O ritual da pajelança é algo extremamente sagrado e, de acordo com a intenção do que quer ser realizado, pode resultar numa incrível transformação benéfica a todos. Por isso, uma atitude interna de respeito, entrega, humildade, vontade de servir, sintonia e amor são os passos principais no processo de cura, bênçãos e realizações dentro de cada coração e consciência.
Animal de poder Entre os nativos brasileiros também há relação e simbologia com os animais de poder. Uma figura sagrada para os tupi e guaranis, por exemplo, é o símbolo do beija-flor. Representa o Divino que se manifesta no plano material; é a ponte, o emissário, o mensageiro de Deus. Doce, tenro, suave, belo, puro e sábio. Estes são alguns dos atributos do pássaro que representa a “ponte com o Criador”. Outro pássaro símbolo da cultura indígena, principalmente na Amazônia, é o uirapuru. Seu canto e biótipo são raros, assim como seu aparecimento. Por isso, um dos símbolos é justamente mostrar que em meio a tudo que se passa na vida, pode até parecer que não, mas sempre existe
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Indígena da Aldeia Guarani Mbya (litoral sul de São Paulo)
uma força que dá apoio, suporte e está sempre com a gente, ainda que pouco percebamos. Também a onça pintada e a jiboia são animais sagrados para os ancestrais nativos, principalmente do norte do país. Alguns símbolos como a força, coragem, vontade, equilíbrio, potência, desenvolvimento e união fazem parte das representatividades destes seres.
Objetos sagrados Alguns artefatos fazem parte da identidade indígena, como é o caso da maracá – chocalho geralmente feito com uma cabaça seca, sem miolo, na qual se colocam pedras ou sementes. Há muitos símbolos por trás deste sagrado objeto, que representa a conexão estabelecida com o Plano Maior; ao ser chacoalhado, as sementes que estão dentro da maracá fazem um som original, que permite estabelecer um transe, uma ponte entre os mundos. As sementes representam, também, que tudo está interligado, pois sempre há um tipo Foto: Reinaldo Meneguim. Cedida pelo ABAÇAI
Rituais
foto: Reinaldo Meneguim. Cedida pelo ABAÇAI
O ritual da Pajelança é algo extremamente Sagrado e, de acordo com a intenção do que quer ser realizado, pode resultar numa incrível transformação benéfica a todos
Maracá feita por indígenas Guarani Mbya (litoral sul de São Paulo)
de manifestação que representa a vida, que pode trocar de forma, mas jamais deixará de existir. Na pajelança, o pajé usa a maracá para espantar os maus elementos, renovar as energias, promover a cura no seu povo e equilibrar o ambiente interno e externo. Outro instrumento fundamental para a cultura indígena brasileira é o cachimbo, ou petynguá (em tupi-guarani). Algumas tradições consideram que o cabo do cachimbo representa o lado masculino e a boca, por onde sai a fumaça, representa o feminino. Segundo o cacique Lídio Benites, da Aldeia Guarani Mbya Urui-ty, de Miracatu/SP e indígenas de diversas aldeias guaranis do Vale do Ribeira, os povos guarani do litoral sul do estado de São Paulo dizem que o petynguá é completo, pois tem todos os elementos da natureza – terra (erva para ser queimada), água (saliva que é gerada ao pitar), fogo (queimar a mistura que é colocada) e o ar (fumaça). A mistura disso tudo simboliza a ligação entre masculino e feminino, o casamento entre os elementos, entre os planos de existência. A hora de defumar é sagrada. A fumaça reequilibra, harmoniza e é benéfica para todo o processo de cura e realização. Para o povo Fulni-ô, o chanduka (como é chamado o cachimbo na língua deles) é imprescindível para estabelecer uma relação, fazer contato com a sutileza dos elementos da natureza. É uma forma simples e potente de se reconectar com as raízes e a essência de cada um, de cada partícula existente e de aprofundar uma integração com as infinitas formas de vida.
O cocar tem muitos significados e varia de tamanho, cor, forma e simbolismos, de acordo com cada tradição indígena. Feito de penas, um dos símbolos dele é a hierarquia da aldeia, o significado da vida, a importância do respeito entre as famílias. Sua forma em arco gira entre o passado e o presente e aponta para o futuro. É quase que unânime entre os indígenas destinar ao cocar a sabedoria de que sempre há algo acima de nós; ou seja, o cocar, dentre outras representações, demonstra o contato com o Alto, com o Sol, com o Céu, com as estrelas, com Deus. É a humildade e respeito de reconhecer que há uma Força que rege tudo e que é sempre maior do que qualquer coisa.
Ronóó (Reunidos) Autor: Auá Dju Pitotó (Elias Samuel dos Santos) Nhaderu upé roporandu (A Deus iremos pedir) Pamé ou gwatsupy ronóó, ronóó, ronóó (Todos na casa sagrada estamos reunidos, reunidos, reunidos)
A hora de defumar é sagrada. A fumaça reequilibra, harmoniza e é benéfica para todo o processo de cura e realização
Oy gwatsupy nhamãe (Na casa sagrada nós chegamos)
Foto: Rafael de Almeida Leitão. Cedida pelo ABAÇAI Indígenas da etnia Wassu Cocal defumando
É quase que unânime entre os indígenas destinar ao cocar a sabedoria de que sempre há algo acima de nós; demonstra o contato com o Alto, com o Sol, com o Céu... com Deus
Mboapy gwe nhanhimbo djeré (Três vezes fazer o círculo sagrado) Awa kwé, kunhã gwé, mitangwé (Homens, mulheres e crianças) Pyntum omãe maramó (Quando chega a noite) Rodjeroky rotsapukai (Dançamos e entoamos o grito sagrado) Nhaderu upé Nhanderu upé (Para Deus, para Deus)
Faixa 4 do CD Kangwaá Cantando para Nhanderu. Indígenas Tupi-Guarani de Peruíbe/SP
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POR EMERSON PANTALEO
Foto: Reinaldo Meneguim. Cedida pelo ABAÇAI
CULTURA INDÍGENA NATIVA
Foto: Rafael de Almeida Leitão. Cedida pelo ABAÇAI
Pintura feita pelas guaranis mbya (litoral sul de São Paulo)
Indígena pataxó (Aldeia Coroa Vermelha)
Dentro da cultura caiapó (etnia indígena da Amazônia) a disposição e as cores das penas do cocar têm todo um sentido. Ela indica a posição do líder dentro da aldeia e, da forma como é padronizada, a manutenção e modo de vida do povo.
As cores na aldeia A aldeia é disposta em forma de arco, como o cocar. Nela, cada um tem seu lugar e sua função determinados; todos têm sua importância e podem contribuir para a sobrevivência e manutenção de seu povo. Assim como no cocar, as cores também possuem um significado: o verde representa as matas e florestas que protegem as aldeias, fornecem o alimento e, ao mesmo tempo, são a morada dos mortos e dos seres sobrenaturais. A cor mais forte, o vermelho, simboliza a casa dos homens, que fica bem no centro da aldeia. O local é frequentado apenas por pessoas do sexo masculino. Lá, eles se reúnem diariamente como em um conselho para ver a melhor forma de caçar, fazer os rituais, produzir o artesanato e guerrear, caso seja necessário. O amarelo representa as casas e as roças, áreas dominadas por mulheres. Nos locais, as indígenas plantam, colhem, preparam os alimentos e pintam os corpos de seus parentes.
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Em diversos povos, como no caso dos xavantes, a pintura modifica conforme as fases da Lua ou o rito de passagem do momento Já na etnia pataxó, do sudoeste baiano, a cor das penas do cocar tem seus significados: o vermelho representa a força do guerreiro, enquanto o verde demonstra o poder curador do ser que a utiliza. A forma como as penas estão posicionadas fazem menção às aldeias do povo pataxó – a pena central e maior representa a Aldeia Barra Velha, enquanto as outras duas simbolizam a Aldeia Coroa Vermelha e a Aldeia Imbiriba. A riqueza por detrás de cada representante do povo ancestral passa por inúmeros elementos, como os já mostrados acima. Um outro símbolo importante é o da pintura – arte que transmite ensinamentos, ética e valores dentro da cultura. Pode ser utilizada com finalidade estética, numa diversidade de cores, promovendo beleza natural à mostra; mas as pinturas querem dizer muito mais do que isso: representam cada tipo de manifestação presente no dia a dia da comunidade. São uma forma de comunicação complexa, em códigos, utilizadas de acordo com a ocasião – se é para caçar, orar, dançar, guerrear... – dependendo da situação e da etnia, é feito um tipo de pintura especial. Por exemplo, em diversos povos, como no caso dos xavantes, a pintura modifica conforme as fases da Lua ou o rito de passagem do momento. Na pintura, dentre outros elementos, geralmente são usados como tinta o jenipapo, que dá uma coloração escura, o urucu, que produz a cor vermelha, o pó de carvão, que é utilizado no corpo sobre uma camada de suco de pau-deleite, e o calcário, do qual se extrai a cor branca. Citamos aqui resumidamente alguns fragmentos do que é essa sabedoria nativa ancestral e sagrada indígena. Esse compilado pode ser aprofundado de tal forma que não há como não se sentir atraído por essa rica cultura. É bem verdade que, com o tempo, muitas coisas foram se perdendo, mas, como os próprios nativos da mata gostam de falar: “Podemos perder quase tudo na vida, mas nosso espírito será eternamente das florestas, eternamente do Criador”. As matas, florestas, também foram sendo devastadas, tomadas, as terras desrespeitadas, entretanto, prefiro ficar com uma frase do povo Wassu, de acordo com o indígena Diva Máximo: “Enquanto houver um índio vivo, haverá natureza; e vice-versa”. Tupã-Nhanderu, Nitxi Awêry!* * Tupã-Nhanderu, em tupi-guarani, quer dizer “Deus”. Enquanto que, Nitxi Awêry quer dizer “Muito Obrigado” na língua Patchoran (etnia Pataxó)
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Rituais
sagrados Culto da Jurema, ritual dos praiá e do pôr do Sol. Conheça alguns dos rituais religiosos mais praticados entre os indígenas do Brasil POR EMERSON PANTALEO Produtor cultural do ABAÇAI CULTURA E ARTE
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ajé. Do tupi “pa’ye”, bruxo, feiticeiro. O pajé é igual ao xamã; é o ser encarregado de realizar os rituais, curas, é o líder espiritual. É um sacerdote, profeta e curandeiro. Certa vez, ouvi alguém dizer que é muito difícil extrair alguma palavra de um indígena, principalmente se for um pajé. Achava que isso era mito, mas, pelos poucos contatos com esses homens, pude comprovar tal fato. Realmente, para eles, quando um juruá (homem branco em tupi) começa um diálogo, só interessa uma coisa: se realmente a intenção é a de conhecer, aprender e respeitar seu povo e sua tradição. Se for para adquirir conhecimento e se beneficiar de algum modo, para ganhar dinheiro, ou mesmo para banalizar e deturpar a cultura indígena, certamente não abrirão a boca! A sabedoria indígena permite que cada índio sinta internamente o que o homem branco quer, de fato, quando há o contato. Mas, se a busca é sincera e verdadeira, se você é humilde, você entra em sintonia. Há uma relação de honra, de fato. Podemos ficar uma semana dentro de uma aldeia e não recebermos nenhuma informação ou explicação do que está se passando e, de repente, no momento certo, alguém da tribo ou mesmo o pajé diz algo que você perceberá que é um aprendizado, que será útil por toda a vida. Tive a honra e a gratidão de um pajé, que não quis ser identificado, certa vez me dizer: “A sabedoria ancestral nativa (indígena) é muito mais profunda do que imaginamos, mas ela só pode ser acessada se a busca for real, se o coração for puro e se o espírito for nobre.”
Ritual do pôr do Sol Na tradição guarani, existem alguns rituais que são parte da identidade de sua cultura. Dentre eles, o Ritual do pôr do Sol. Nhamandu (O deus Sol, em tupi) é, desde os tempos mais remotos, cultuado por vários povos. Com o guarani
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Foto de Rafael de Almeida Leitão, cedida pelo ABAÇAI
Na etnia Pankararu temos cerimônias religiosas e tradicionais, como o caso dos “Praiá”. Este ritual foi realizado no bairro Real Parque, no local onde os indígenas fazem seus rituais e práticas.
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RITUAIS SAGRADOS
POR EMERSON PANTALEO
não é diferente. A figura de Nhamandu significa que há um centro visível para nós, que simboliza o “Comando que cuida de tudo”, que é invisível. A figura do Sol ancora uma Presença que está além de nossa compreensão. A erva-mate (planta sagrada) simboliza a filha de Nhamandu e a festa se inicia assim que Nhamandu se recolhe. O ritual é guiado pelo pajé e o sentir, o se conectar, o silenciar e o agradecer são o mais importante. Após a defumação do petynguá (cachimbo), que harmoniza e reequilibra o ambiente e as pessoas, se faz uma oferenda à erva. Todos têm um pouco em suas mãos, todos a sentem, física e invisivelmente. O rito acontece no local sagrado – a casa de rezas, ou opy, na língua nativa. Nhamandu abre passagem para a vinda de Jaci (O Sol abre passagem para a Lua). Para os guaranis, os pontos cardeais têm seu aspecto, simbologia e importância. Resumidamente, o norte é Jakaira, deus que representa o trazer dos ventos e bons fluidos. O leste é Karai, deus do fogo e das forças de atrito e purificação. No sul, Nhamandu, deus do Sol, representa a origem do tempo-espaço primordial. No oeste, Tupã é deus do trovão, mas também é relacionado às águas do mar e das chuvas.
Este ritual é uma festa cerimonial em homenagem a algo ocorrido na comunidade, como uma cura, por exemplo Ritual dos praiá
Ritual dos praiá Viajando para Pernambuco, nordeste brasileiro, vamos encontrar, na etnia pankararu, suas cerimônias religiosas e tradicionais, como o caso dos “praiá”, que é uma veste constituída de algumas peças: tunã (máscara que cobre todo o rosto e o corpo, feita da fibra de kroá), um saiote feito do mesmo material, uma coroa, um penacho feito das plumas das penas do peru e uma cinta (representada por um tecido). Além disso, a pessoa que participa como praiá usa uma maracá e uma flauta. Este ritual é uma festa cerimonial em homenagem a algo ocorrido na comunidade, como uma cura, por exemplo. Se reverencia e agradece sempre, aos Encantados (entidades sagradas que protegem a comunidade e permitem as curas). A forma material dos Encantados se manifestarem é justamente representada nos “praiás”. Estes seres, denominados de Encantados, são entidades sagradas que habitam na natureza. Não vivem mais entre os homens e sim nas matas, cachoeiras e em toda manifestação de vida na natureza, sendo considerados ancestrais do povo pankararu. Se tornaram Encantados após a passagem de plano existencial. Recorre-se a eles, pois auxiliam na cura das pessoas, orientação espiritual, prosperidade da comunidade, entre outras finalidades pessoais, familiares e/ou comunitárias. O ritual acontece num mesmo local para que se firme uma constância de algo sagrado num espaço sagrado, que propicie cada vez mais a manifestação e relação direta e completa da intenção da cerimônia. (1)
Culto da Jurema Da tradição religiosa indígena nordestina, além do Toré, outro ritual muito antigo e conhecido é a Jurema Sagrada – chamada também de Catimbó (remanescente do litoral da Paraíba, Rio Grande do Norte e no Sertão de Pernambuco). Vamos citar aqui a maneira tradicional deste ritual, conforme o conhecimento indígena das invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. A palavra jurema vem do tupi “yu-r-ema” (planta com espinhos). É uma planta sagrada, repleta de poder, simbolismos e tradições de encantamento para os indígenas. Suas cascas, raízes e sementes são utilizadas em bebidas, banhos, remédios e defumadores para a cura de todos os males, tanto físicos como espirituais. A bebida ou o vinho da jurema (a chamada garrafada nordestina), feita com a casca do tronco da árvore, é bastante utilizada nos rituais religiosos. Os pajés e caboclos acreditam no poder mágico da árvore e da planta juremeira.
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Agência Brasil-Lúcia Coelho
Da tradição religiosa indígena nordestina, além do Toré, outro ritual muito antigo e conhecido é a Jurema Sagrada – chamada também de Catimbó A preparação começa antes do ritual e a sintonia com os seres da natureza faz com que se tenha sucesso em todo processo de cura. Na ingestão da bebida, ocorre o contato com os Mestres – entidades de outros planos, que se manifestam como espíritos ancestrais, muitas vezes de pajés, curandeiros e chefes de comunidade. Estas entidades se acoplam e proporcionam ao pajé a possibilidade de ser um intermediário para a cura de doenças (físicas, emocionais e espirituais), auxílio na tomada de decisões, reequilíbrio das pessoas e do ambiente, entre outros benefícios. Além da ingestão da bebida, o Culto da Jurema se caracteriza também pela utilização do fumo, usado para o processo de defumação, que é obtida com a fumaça dos cachimbos. A fumaça espanta as más energias, traz os ventos benéficos da harmonia e inspira à reflexão. No contato com a bebida sagrada, ocorre a entrada
num estado alterado de consciência, onde são possíveis contatos com o mundo dos símbolos, o lado Sombra da alma, as forças da natureza e a troca de energia com todo esse ambiente favorável à interiorização e à cura (2). Não podemos esquecer de alguns ingredientes fundamentais no Culto à Jurema: O respeito, a entrega, a vontade de crescer espiritualmente e a honra nas relações com todas as formas de vida.
Comentários/Referências Bibliográficas:
1 – Alguns destes ensinamentos foram compartilhados pelos indígenas Pankararu que vieram para São Paulo há aproximadamente 20 anos. Com a migração de alguns indígenas da etnia, se instalaram na zona oeste da cidade, na comunidade no bairro Real Parque. Lá continuam mantendo sua cultura e tradições, como o ritual dos praiás. 2 - BRANDÃO, Maria do Carmo Tinoco; NASCIMENTO, Luis Felipe Rios do. O catimbó-jurema. Clio, Série Arqueológica, Recife, v.1, n.13, p.71-94, 1998. - ANDRADE, José Maria Tavares de. Jurema: da festa à guerra, de ontem e de hoje. Disponível em: <http://www. ufrn.br/sites/evi/metapesquisa/velhos/jurema.html>.
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COM AURIO CORRÁ E VITOR HUGO FRANÇA
Música e espiritualidade
O encanto da coruja O xamã Vitor Hugo França e o músico Aurio Corrá falam sobre o CD que produziram, em parceria, cuja proposta é auxiliar no despertar da nossa sabedoria interior
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omo aconteceu o processo de composição, criação das músicas do CD O Encanto da Coruja? Aurio Corrá e Vitor Hugo França – Permitimos que as canções chegassem até nós. A composição pode ser um processo elaborado mentalmente ou não. Nós preferimos os canais da intuição, principalmente a que brota de dentro do coração. Acreditamos que temos em nosso interior um centro, onde nenhum condicionamento externo jamais chega, um ponto cristalino e puro. Entramos em contato com este núcleo, com essa essência ao silenciar a mente. É preciso aquietar toda atividade cerebral que consome a nossa energia, deixando o acesso livre e desobstruído. Somente assim percebemos este centro que está permanentemente disparando intuições em nosso ser. Você permitir que aflore este estado criativo na sua vida é viver com inteligência. Seu dia a dia deixa de ser uma rotina, deixa de ser uma reação constante e passa a ser uma vida de ação. No momento em que cessa o barulho da mente, ela se torna livre, liberando um poderoso espaço, como um grande saguão, e só nesta liberdade sem o peso, sem travas, é que pode haver inteligência espiritual e criação. E é neste processo que acontecem, na maioria das vezes, as composições. Com os recursos da tecnologia, a música está cada vez mais se tornando cerebral, feita por encomenda. Existe hoje uma nova expressão na música tecnológica que define bem esta categoria: o “music designer”. Nada contra estes compositores, mas no momento de escrever música, a preferência pela meditação e deixar a intuição fluir seguindo o caminho interior é ainda o melhor recurso, ou seja, o natural. No CD O Encanto da Coruja vocês trabalharam com a influência musical das tradições indígenas. Como foi esta experiência?
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O objetivo do CD é despertar processos de cura e incentivar o desenvolvimento espiritual com naturalidade, sabedoria, amor e equilíbrio, através da suavidade
Aurio Corrá – Há alguns anos eu me dedico ao estudo das flautas NAF (native american flute). São instrumentos tecnicamente simples, mas de uma dimensão e poder sonoro ainda desconhecidos para os homens da sociedade urbana. Um xamã ou um pajé conhece a medida exata deste poder e sabe utilizar esta força para controlar os eventos naturais, como, por exemplo, acelerar o crescimento das plantações ou, então, como auxílio na recuperação da saúde dos membros da sua tribo, para facilitar um parto, para entrar em contato com o plano espiritual e muitas outras coisas, tanto do mundo sensorial como do metafísico. Eu não tenho estes conhecimentos, e creio que como habitante de uma
grande cidade, longe da natureza, dificilmente conseguirei desenvolver esta sensibilidade, mas tecnicamente sinto-me à vontade para tocar esta flauta nas mais variadas afinações da escala pentatônica. Neste CD utilizei elementos da música moderna introduzindo frases musicais com as flautas. Acredito que o resultado musical obtido foi de muita beleza e energia. Sinto que atingi um nível espiritual capaz de tocar o coração de quem ouve este CD. Vitor Hugo – Os sons dos tambores foram momentos extremamente inspirados, sentindo cada batida, permitindo que o tambor fosse nos levando em suas vibrações transformadoras. Procurei utilizar tambores variados de algumas etnias, maracás (chocalhos), pau de chuva e outros instrumentos nativos no intuito de enriquecer o trabalho, e o resultado foi magnífico. Aliás, na simplicidade desta linda filosofia de vida, chamada Xamanismo, é através do sentir que tudo ocorre: “mergulhando na câmara secreta do coração, fechando os olhos para enxergar melhor, vendo dentro de si mesmo e, assim, despertar o seu curador interior”.
Como está estruturada a parte musical e os textos no CD? Aurio Corrá – Ele é composto de 7 faixas. São 4 faixas com temas musicais e 3 são textos em forma poetizada, com trilhas sonoras ao fundo. Os 4 temas musicais foram desenvolvidos de forma a elevar os estados conscientes e inconscientes do ouvinte, abrindo as portas superiores de percepção. Compor as trilhas que servem de fundo musical para os textos foi um desafio. Estas trilhas deveriam ser como a
Um xamã ou um pajé conhece a medida exata deste poder e sabe utilizar esta força para controlar os eventos naturais 59
O ENCANTO DA CORUJA
COM AURIO CORRÁ E VITOR HUGO FRANÇA
base para um solo, no caso, a narração do Vitor Hugo e, ao mesmo tempo, um tema amoroso e aconchegante que deixasse o ouvinte relaxado e com pensamento acalmado. Nada disso foi planejado ou pensado, mas sim, uma série de acontecimentos que foram chegando lentamente e brotando de forma natural. As composições deste álbum foram escritas e arranjadas por mim. Foi uma “explosão quântica” vinda do Todo ao qual pertence a humanidade. Vitor Hugo – O processo de criação das poesias foi totalmente inspirativo, em momentos diferentes, onde eu pude deixar fluir as palavras de acordo com a energia que brotava no coração no exato instante. O propósito maior das poesias, das músicas, enfim, do
O xamã
Vitor Hugo França Nascido em São Caetano do Sul – SP, Vitor Hugo França é bacharel em Administração de Empresas, professor, escritor, estudioso e praticante de sistema xamânico de cura, tem formação em Master Practitioner – Programação Neurolinguística, Massagem Xamânica, Reiki Integral, Fitoenergética, Terapia Holográfica na Linha do Tempo, Espiral da Cura Dinâmica, Ativação das Fitas do DNA Sutil e Cromoterapia. Participa de Danças Sagradas Nativas pela Paz e do Grupo de Assistência Espiritual e Estudo (G.A.E) do Professor Wagner Borges, no Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas (IPPB) em São Paulo, onde também é responsável pela parte administrativa. Coprodutor do CD “O Encanto da Coruja” em parceria com o músico Aurio Corrá. Estudioso e pesquisador da Espiritualidade e Sabedoria Indígena, Medicina Tradicional Nativa e Ancestral Natural. Condutor de Tendas de Purificação no sistema xamânico, Coordenador do GESA - Grupo de Estudos Sabedoria Ancestral, Facilitador de Rodas de Cura Xamânicas e Vivências em Grupo. Ministra cursos, workshops e palestras no Brasil e exterior. Projeto Voz dos Elementos - Xamanismo e Consciência contato@vozdoselementos.com.br
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Aurio Corrá (esquerda) e Vitor Hugo França, em apresentação realizada no Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas, em São Paulo: a sutileza do New Age com a força do Xamanismo
CD, como um todo, é despertar as pessoas para que, assim, possam alcançar seus objetivos, seus sonhos mais elevados e suas realizações de felicidade. Despertar processos de cura e incentivar o desenvolvimento espiritual com naturalidade, sabedoria, amor e equilíbrio, através da suavidade e, ao mesmo tempo, da força da música, que traz em sua essência a marca da verdade, do respeito e do comprometimento com um Amor Maior. Desta forma, conectados e integrados, estaremos cocriando um mundo muito melhor para todos. Este projeto, bem como esta parceria, terá sequência? Aurio Corrá – Acredito que sim, afinal, a nossa parceria vai além de um entrosamento musical. Somos hoje grandes amigos. Não existe sobreposição de egos. Nos respeitamos e isso nos dá liberdade e disciplina. Temos vários outros projetos em mente e muita vontade de realizações. O Vitor Hugo não é só um músico; ele pode ser considerado um xamã dos tambores indígenas e isso é muito bom quando estamos tocando juntos, porque desta forma não nos questionamos, mas nos entendemos e nos respeitamos no momento da improvisação. Cada um dá o melhor de si fazendo de forma integral o que lhe cabe fazer. Há uma grande disciplina que brota do amor que temos pela mágica e energia da música xamânica. Se este equilíbrio for duradouro não há por que não realizarmos outros CDs. O CD O Encanto da Coruja está à venda nos seguintes sites: www.vozdoselementos.com.br www.oencantodacoruja.com.br
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a oas baterem ia faz as pess os im te a e ga O orgulho ce uros da vida. m s no locar o erro é ça cabe r em quem co ha ac as M o. (Errar é human ainda!) a. mais humano de consciênci utrina, é estado do é o o só nã E e o. ad do coraçã Espiritualid e ir. É dentro nd e ao qu r o , ga lu da ência an Não é um r onde a consci po be sa e qu é Supremo que ela faz. a crista e ela sente e o qu o a, ns pe corpo físico, se a el ar-se só com o lh eiras, oe aj ad a rd nt ve ia es não são (De nada ad eces arrogant Pr . ta al ua in ). do ego cont lho de cada um múrias do orgu eso! são apenas la ra coronário ac o significa chac nã ça uela be aq ca o na nã do, se Turbante ria mais ao To da ra nag ba a ia m nc tê nu orgulho (Que peni ega a cabeça do tr en ). !” to eu vo e de iv o u, inclus em que hor tudo é Se coração: “Sen deja e diz, de
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Visualize uma gr ande bola de luz dourada em frente a você. Em seguid a, interpenetre o seu rosto nela. Mergulhe na luz e fique de ntro dela por alguns minutos. Pense que está com a cara dent ro de um sol. Pense em coisas boas e eleve sua autoestima. Sinta-se bem.
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(Muitas pessoas alegam não cons eguir fazer práticas de visualizaç ão criativa. Argu mentam que não conseguem visua lizar a imagem su gerida. Dizem que sua mente é agitada e a conc entração é fraca. Porém, consegue m visualizar facilm ente o rosto de seus inimigos e ta mbém consegue m prestar muita atenção nos defe itos dos outros).
Quando há amor real, tudo vira sol. Andar com a energia limpa é um prazer Por Wagner Borges
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Muitas vezes, olhando nos olhos de alguém, vê-se claramente o olhar de um espírito obsessor refletido ali. E aí, não se sabe mais quem é que está olhando e quem está realmente no comando. E o mesmo se dá com a expressão facial, que, muitas vezes, fica endurecida, refletindo outra atmosfera, invisível, mas real. Pessoas encarnadas e espíritos desencarnados andam mais entranhados do que nunca! O elo que interliga suas existências é feito de emoções mal-resolvidas. (A integridade da pessoa é sua grande defesa contra ataques espirituais. Pensamentos positivos formam atmosferas psíquicas saudáveis em torno da aura da pessoa. Sentimentos legais fazem o coração brilhar muito. E autoestima elevada permite transformar lances ruins em experiências assimiladas e compreendidas. Diante das trevas conscienciais, que cada um aumente sua luz!)
Ponderaçõ 62
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Visualize duas esferas energéticas douradas, uma em cada mão. Ao mesmo tempo, visualize que o seu peito virou um sol cor de rosa brilhante. Então, preste atenção nos três centros luminosos: peito e mãos acesas. E, com o pensamento elevado, sinta-se grato pela existência. Pense que a luz rosa que emana do seu peito é fruto do seu amor, e que a luz das suas mãos é capaz de melhorar suas energias. Pense em alguma coisa boa e deixe rolar... Na luz! (Quando há amor real, tudo vira sol. Andar com a energia limpa é um prazer. Alegria cura. E gratidão é graça).
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O ódio envenena o coração e faz com que faixas escuras bloqueiem sua luz.
(Espíritos densos adoram se agarrar nessas faixas escuras. Coração com ódio é parque de diversões de seres trevosos!).
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Muita gente é capaz de entristecer-se por causa da derrota de seu time do coração, ou porque uma relação de amor não deu certo. Porém, quantos ficam tristes quando notam que perderam a luz espiritual em suas vidas? (Como dizia o mestre iogue Ramakrishna, “muitos choram por ouro e por amor, mas quem chora por Deus? Quem chora pela falta do Divino em seu coração?”).
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De nada adianta alguém dizer que é do raio azul ou dourado, ou evocar a chama violeta, se suas atitudes são trevosas e desprovidas de luz e bondade. Cada um atrai para si mesmo aquilo que projetou e desejou em sua própria mente. (Ditado hermético: “Quem quer mais luz, que seja luz!”).
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Só o amor reconhece o amor! (Há ligações que são de espírito para espírito. Transcendem o corpo físico. Estão além das emoções convencionais. Não podem ser mensuradas por parâmetro algum. Simplesmente existem, sem qualquer explicação do mundo. E quem ama, compreende isso, em espírito e verdade).
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Determinadas músicas podem fazer a pessoa evocar climas psíquicos elevados; podem fazer pensar no Eterno... Talvez porque o coração, inconscientemente, se lembre de outras paragens, algures, na imensidão da vida. (Música adequada cura. Inspira. Harmoniza. E os seres de luz também gostam).
ões espiritualistas 63
Toques conscienciais
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Dormir não é só dormir. Os sonhos revelam tantas coisas... E há também as viagens espirituais, onde o espírito se projeta para fora do seu corpo físico e voa por entre os planos da vida universal. Logo, a cama é local de decolagem para o infinito...
(Enquanto seus corpos dormem, algumas pessoas despertam em outros planos. Se veem livres temporariamente do corpo denso e acessam outras realidades... Voam em corpo espiritual e se relacionam com outras consciências, algumas também projetadas temporariamente para fora do corpo, e outras, desencarnadas, com as quais se identificam de alguma maneira. Se isso é bom ou não, depende da qualidade consciencial daqueles com quem se
relacionam. De toda forma, a maioria raramente lembra-se desses encontros extrafísicos. No entanto, um eco psíquico faz com que isso retorne como intuições e sensações que se apresentam espontaneamente na vigília física convencional. E algo lhes diz, dentro do coração, que há algo mais por aí... E, então, elas ficam com uma vontade danada de voar e uma saudade de algum lugar indefinido, talvez das estrelas, quem sabe?).
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Quanto maior o nível de conhecimento de alguém, maior precisa ser o seu nível de responsabilidade. É por esquecer-se disso que muitos estudantes espirituais caem bem feio. (Nunca consegui entender uma coisa: como é que alguém que estuda temas espirituais elevados pode carregar ódio e desejos de vingança em seu coração?).
usar seus em o erro de et m co is ua rit ntes espi é iluminação, Muitos estuda vida. Isso não da as is co s fugir da ém prova seu estudos para ritual que algu pi es o e an pl é no a. É por isso qu é covardia! Não isas do dia a di co s : na , do da in vi . Resum a mesmo. É na planos densos em as valor, é na Terr is co as r ão: para vive há reencarnaç e viver! nçou. Tem qu reencarnou, da mundizia, “vive no akrishna, que m Ra ar no de tr e En -m mbrei aí mesmo. (Novamente le ho que é por Ac dos – a !” nt do co un tomem ja do m isas do mundo do, mas não se co ver vi as , e ja qu se u ar sem deix de viver. O ar ix de m se mundo, mas E ores. à Terra, otivações mai da espírito veio ca e qu o iss interesses e m ra É pa , esse é o lance. mbém!). com sabedoria estou nessa ta eu E e. nt ge r se a er nd re para ap
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Não é a crença de alguém que lhe garante nada espiritualmente. Cada um é o que pensa e realiza no mundo
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A morte não tem hora para chegar. Cada ser vivo é paciente terminal, que não sabe a hora final, pois, quem nasce sabe que irá, inexoravelmente, ao encontro da morte no final de sua jornada de vida. O que entra, sai! E é nessa hora final que muita gente chora desconsolada, justamente por falta de perspectiva espiritual. (O tempo é senhor dos destinos. E, ao fim do tempo de vida carnal de cada um, quando as máscaras caem, é que se vê o quanto de verdade e lucidez transitava dentro da consciência.)
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Muita gente abandona os estudos espirituais, por motivos variados, mas todos remontando a uma única coisa: o seu próprio ego, ferido por alguma situação ou pessoa. E eu pergunto: “O que é que o plano espiritual tem a ver com as tolices humanas e dos grupos espirituais?” (Outros largam os estudos conscienciais por causa de alguma área materialista que seduziu sua atenção e prendeu seu raciocínio apenas em parâmetros fisicalistas e limitados. O resultado disso é que anestesiam a parte espiritual e até fingem que ela não existe, tornando-se agnósticos e negando aquilo que antes estudavam com afinco. E, novamente eu pergunto: “O que é que o plano espiritual tem a ver com as ilusões e com o congelamento consciencial ao qual essas pessoas se deixaram levar?”).
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Não é a crença de alguém que lhe garante nada espiritualmente. É o seu caráter e sua atitude diante das pessoas e da vida. Cada um é o que pensa e realiza no mundo.
(Mais do que gente com medo da morte, o mundo está cheio de pessoas com medo da vida!).
que pague uma presença Não há dinheiro no mundo iga estendida no meio espiritual legal, uma mão am endo espiritualmente: da luz, na hora da morte, diz O os viajar de volta para casa. “Venha! Entre nessa luz e vam o nov um ia inic se . Mas, agora, seu tempo na Terra acabou a hor É . igo com ha planos. Ven tempo para você, em outros de voltar a voar...”
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Há uma expressão do sânscrito que designa algo belo: “Manju”. Trata-se de alguma coisa com beleza espiritual, rara de se ver. É como o bondoso preto-velho de Umbanda dizendo para seus pupilos, depois de um trabalho espiritual legal: “Meus filhos, hoje o trabalho foi formoso, cheio de luz!” – Pois é essa formosura, a da luz, a do espírito, que os antigos mestres da Índia chamaram de Manju. E é a mesma que se vê brilhando nos olhos de quem ama. Essa é a luz do amor que mora no coração. Então, que haja muito Manju para quem ler essas linhas... Wagner Borges é projetor extrafísico e pesquisador espiritualista. Coordena o Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas – IPPB – em São Paulo. Informações: www.ippb.org.br Fones: (11) 2063-5381 ou (11) 2915-7351.
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No caminho do amor Através do livre-arbítrio, somos nós quem optamos por qual caminho devemos seguir POR GUARACIARA MAIA
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abemos que as energias alimentam e revigoram o ser humano, propiciando bem-estar e cura. Portanto, precisamos deixar que as energias positivas trabalhem em nós. Como? Mudando posturas, pensamentos e sentimentos. Sendo mais flexíveis, procurando não alimentar sentimentos, pensamentos e ações que nos prendem a condutas que nos fazem mal. Ao fazermos isso, passamos a ter condutas e resultados mais felizes. Facilitamos o trabalho do bem, da compaixão e do amor. Milagres e destinos não existem e a natureza não dá saltos. Através do nosso livre-arbítrio, somos nós que optamos por qual caminho devemos seguir. Tudo na vida é um reflexo da aspiração que a alma sente por sua natureza divina. Devemos aprender a ouvir a voz do coração, do nosso inconsciente, que tudo sabe. Ele é a manifestação da Realidade Suprema em nós. O mal, como essência, em verdade não existe. Todos, inclusive aqueles que parecem estar totalmente mergulhados no mal, têm lampejos de luz, lampejos de amor. Somos todos, sem distinção, anjos a caminho da luz. Todos seremos anjos um dia. Viemos da luz e para ela voltaremos. A luz da verdade ilumina nosso ser, norteia a nossa ignorância e, quando nos abrimos para ela, o nosso ser se ilumina e se amplia num sentimento profundo de compaixão, resultado do amor incondicional. A paixão é um fenômeno atrelado à gênese do egoísmo,
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enquanto o amor é a etapa das relações em que existe a renúncia do “eu”. Exercitemos o amor que existe em nós. Deixemos que ele brote e jorre infinitamente. Só ele, o amor, possibilitará uma humanidade mais fraterna. O verdadeiro amor é terapêutico, é uma construção lenta, feita dia após dia. É uma entrega integral e responsável. O homem veio à Terra para aprimorar-se espiritualmente, para atingir a luz da verdade e isso só irá acontecer quando ele aprender a amar, porque o amor é o decreto sublime do universo para o crescimento e a felicidade de todos os seres. Quando atingirmos essa iluminação e sabedoria, deixando que o amor supremo trabalhe em nós, nos tornaremos Um com o Pai. Conseguiremos reconhecer a presença divina em nós mesmos, em tudo e em todos. Nesse ponto da nossa escala evolutiva não haverá mais lugar para o egocentrismo, para a vaidade, a inveja e o orgulho. Nos sentiremos realmente como seres plenos, porque a falta de amor e compaixão mata cada um de nós silenciosamente. Precisamos ser fraternos, amar e ajudar ao próximo e devemos começar pelo “próximo mais próximo”. A plenitude só será alcançada quando não houver mais egoísmo, quando nenhuma pessoa deste mundo sentir sede e fome. Percorremos o caminho da evolução compreendendo e amando. Para os seres iluminados, amar ao próximo, a Deus e a si mesmo é a mesma coisa. Portanto, sejamos todos no Um. Tudo é amor!
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