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Igreja e sociedade pela dignidade das mulheres
IGREJA E SOCIEDADE PELA DIGNIDADE DAS MULHERES
Arquivo OASE
A proteção da dignidade de mulheres e homens está na base da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948): Os seres humanos nascem livres e iguais, tanto em direitos como em dignidade. À luz da fé, confessamos: Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança. Significa que todo homem e toda mulher têm a mesma dignidade, sendo a igualdade um direito fundamental ao ser humano. No entanto, é necessário reconhecer que, por causa do nosso pecado, individual e coletivo, muitas pessoas sofrem a violação dos seus direitos Pª Carmen Michel Siegle e dignidade, em especial as mulheres e meninas. Na atualidade, mais do que os homens, as mulheres são privadas dos seus direitos econômicos, políticos, sociais e culturais. No Brasil, as mulheres recebem, em média, 20% menos do que os homens para desempenhar as mesmas funções e trabalham, em média, até sete horas a mais do que os homens, se consideradas as atividades formais e informais na semana. Embora sejam elas as que mais estão presentes na comunidade, são as que menos participam de cargos representativos e dos espaços de decisões.
Segundo o Mapa da Violência 2017, o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking da violência contra a mulher. E segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a violência praticada dentro de casa é a maior causa de mortes ou deficiências para mulheres e meninas entre 16 e 50 anos. Hoje, o que para a lei é considerado crime, violência contra a mulher é reconhecida pela igreja como um pecado contra a vida. A violência abala profundamente a imagem de Deus, tanto na pessoa que sofre a violência como na pessoa que a pratica. Ninguém tem o direito de machucar, de ferir a imagem de Deus que há em nós. Imagem de Deus não combina com violência. Imagem de Deus combina com relações de paz, com diálogo, compreensão, com a valorização da vida, da dignidade, dos direitos de cada pessoa.
Com Jesus, aprendemos sobre a necessidade de romper com o silêncio e falar sobre o que fere a vida e causa dor. Pois o silêncio e o medo, tantas vezes, são cúmplices da violência, mas não o são da paz e do bem-estar. Todas as vezes que mulheres foram marginalizadas, difamadas, desvalorizadas, machucadas no corpo e na alma, Jesus manifestou oposição e denunciou as formas de opressão. Esse foi o ensino de Jesus quando reconheceu a grandeza do presente que a mulher de Betânia lhe oferecera (Marcos 14.3-9). Jesus toma partido da mulher oprimida e diz: essa situação deve mudar (João 8.7). Noutra ocasião, ele diz: Entre vocês não pode ser assim. Deus não quer que seja assim (Mateus 20.26). Por isso falar sobre violência contra a mulher na igreja é uma questão de fidelidade ao evangelho. Porque toda vez que uma mulher ou menina sofre violência, ou um homem morre por motivo fútil, o projeto de Deus está sendo corrompido. Toda vez que homens e mulheres são levados a relações desiguais e injustas, fere-se o projeto inicial de Deus de relações justas entre as pessoas (Gálatas 3.28 ) e de vida diga e abundante para todas (João 10.10). Nós buscamos inspiração e orientação para a nossa prática na prática de Jesus. Por isso sonhamos em construir relações que sejam prazerosas para mulheres e homens. Por isso estudamos a Bíblia em conjunto e pedimos a Deus que sua palavra nos impulsione, direcione, nos encoraje e nos desafie a identificarmos violências sofridas e a buscarmos um novo jeito de conviver. Sempre é possível construir algo novo quando existe um querer, quando existe uma disposição, quando existe um esperançar! Lembro aqui de uma ação desenvolvida pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e acolhida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC) – a Década Ecumênica de Solidariedade das Igrejas com a Mulher (1988-1998). Esse movimento conseguiu instigar as mulheres a se valorizarem como cidadãs nas igrejas e na sociedade. Durante dez anos se procurou saber onde e como as mulheres sofrem opressão, são feridas em sua dignidade dentro e fora das igrejas, e as formas de superá-la. A conscientização mundial da violência contra a mulher ajudou as igrejas a nominar tudo o que fere a dignidade da mulher e as maneiras como essas dimensões afetam a qualidade de vida de todas as pessoas.
Para continuar esperançando...
– Compartilhar exemplos de práticas ou iniciativas conjuntas, da comunidade religiosa e civil, em favor da vida e da dignidade da mulher. – Avaliar as possibilidades do grupo para engajar-se ou apoiar alguma dessas iniciativas.