Elmir P. Santos
1a. Edição JUIZFORANA JUIZ DE FORA - MG 2013
@ 2013 Elmir P. Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Santos, Elmir P. Parábola da riqueza / Elmir P. Santos - Juiz de Fora, MG: Juizforana Gráfica e Editora, 2013 1. O incomparável Senhor da parábola e a distribuição de riquezas. 2. Jesus distribui riquezas e responsabilidades. 3. Jesus busca discípulos empreendedores. 4. A forma segura de lidar com o dinheiro.
Índice para Catálogo Sistemático: I - Cristianismo
Projeto Gráfico e diagramação (capa e miolo): Voilà! Estúdio Criativo Impressão: Juizforana Gráfica e Editora IMPRESSO NO BRASIL / Printed in Brazil
ÍNDICE Índice de Abreviaturas.......................................................................................... 04 Introdução.................................................................................................... 05 CAP. I - O INCOMPARÁVEL SENHOR DA PARÁBOLA E A DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS....................................................................... 07 O incomparável Senhor da parábola...................................................................08 Jesus e o dinheiro..................................................................................................16 Jesus e a parábola do dinheiro.............................................................................20 Por que e como Jesus distribui riquezas..............................................................25 CAP. II - JESUS DISTRIBUI RIQUEZAS E RESPONSABILIDADES.................29 Construindo o reino de Cristo.............................................................................30 Grandes bênçãos implicam grandes responsabilidades......................................34 CAP. III - JESUS BUSCA DISCÍPULOS EMPREENDEDORES.................... 39 Jesus, o grande empreendedor..............................................................................40 Jesus e a multiplicação para o Seu reino.............................................................44 CAP. IV - A FORMA SEGURA DE LIDAR COM O DINHEIRO.................... 49 A verdadeira mordomia dos talentos..................................................................50 A forma segura para adquirir riquezas...............................................................53 Conclusão....................................................................................................... 61
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Índice de abreviaturas AA – Atos dos Apóstolos BS – Beneficência Social CBV – A Ciência do bom Viver CI – Conselhos para os Idosos CM – Conselhos sobre Mordomia CS – Conselhos sobre Saúde DTN – O Desejado de todas as Nações MCH – Minha Consagração Hoje OC – Orientação da Criança PJ – Parábolas de Jesus RH – The Review and Herald TI – Testemunhos para a Igreja TS – Testemunhos Seletos YI – The Youth’s Instructor
Nota: Todos os textos bíblicos foram utilizados na Nova Versão Internacional (NVI).
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INTRODUÇÃO Lemos a parábola dos talentos em Mateus 25:14-30 muitas vezes, mas poucas vezes damos a ela a sua devida interpretação. Não está errado aplicarmos o termo “talento” para os dons espirituais ou para nossas aptidões intelectuais ou manuais, mas assim ainda não conseguimos entender a parábola contada por Jesus da forma como Ele realmente queria que Seus discípulos entendessem. Jesus estava assentado com Seus discípulos falando sobre acontecimentos que antecederiam a Sua segunda vinda. Além dos sinais que marcariam essa data, Ele também ensinava sobre como estaria a condição espiritual dos seus servos. Foi então Ele introduziu essa parábola. Neste livro, vamos considerar alguns pontos da parábola dos talentos. O que seria o “talento” que o senhor confiou aos seus servos? Quem é o senhor? Quem são os servos? Como os servos administraram os talentos do senhor? Como o senhor viu a administração dos servos? O que Jesus quis ensinar aos discípulos, e a nós também, com essa parábola? Neste material, apresento a você considerações que podem mudar a forma como você viu essa parábola até hoje. Vamos estudar juntos cada seção dessa parábola para entendermos lições importantes que Cristo deixou nela. É meu desejo que, ao você entender o real significado da parábola dos talentos, entenda também o que Cristo espera de você. Afinal, Cristo também iniciou um “negócio” grandioso. Cristo também nos deu responsabilidades. Cristo também se ausentou. Cristo também disse que voltaria, mesmo sem deixar avisado quando isso vai ocorrer. Cristo também confia Seus “negócios” nas mãos dos Seus servos. E Cristo também espera fidelidade e boa administração com os Seus recursos. Faça uma boa leitura! Elmir P. Santos 5
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CAPÍTULO I
O incomparável Senhor da parábola e a distribuição de riquezas “E também será como um homem que, ao sair de viagem, chamou seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um; a cada um de acordo com a sua capacidade. Em seguida partiu de viagem” (Mt 25:14 e 15). “O homem que partiu para longe representa Cristo, que, ao proferir esta parábola, estava prestes a partir da Terra para o Céu. Os ‘servos’, ou escravos, da parábola, representam os seguidores de Cristo” (PJ, pg. 325). “Na parábola dos talentos temos duas classes. Uma classe representada pelo servo diligente, e a outra pelo mau e infiel servo. Ambos receberam dinheiro em confiança de seu senhor” (MCH, pg. 107).
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O incomparável Senhor da parábola Jesus é o personagem central da parábola dos talentos. Ele é o Senhor que distribuiu Seus bens entre os servos. Os servos da parábola somos todos nós que aceitamos o senhorio de Cristo. Mas quem era esse Cristo que proferiu a parábola? Gosto muito de um poema intitulado “Jesus Cristo, o Incomparável”, de autoria desconhecida, que exemplifica de forma direta e simples quem era esse Cristo, e vou compartilhar com você: Jesus Cristo, o Incomparável “Há mais de dois mil anos atrás havia um homem nascido de forma contraria às leis da vida. Este homem viveu na pobreza e foi criado na obscuridade. Ele não viajou extensivamente. Somente uma vez Ele atravessou a fronteira do país em que vivia; foi durante Seu exílio na infância. Ele não possuía fortuna nem influência. Seus parentes eram insignificantes e não tiveram treinamento nem educação formal. Na infância, Ele assustou um rei; na adolescência, confundiu doutores; na idade adulta, Ele comandou o curso da natureza, andou sobre as ondas como se fossem ruas pavimentadas e fez o mar se aquietar. Ele curou multidões sem remédios e não cobrou nada por Seu serviço. Ele nunca escreveu um livro, mas nem toas as bibliotecas do mundo poderiam conter os livros que foram escritos sobre Ele. Ele nunca escreveu uma canção, e ainda assim, originou mais canções que todos os compositores juntos. Ele nunca fundou uma faculdade, mas nem todas as escolas juntas poderiam se gabar de ter tantos alunos. Ele nunca comandou um exército, nem convocou um soldado, nem 8
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disparou uma arma; e, mesmo assim, nenhum líder jamais teve tantos voluntários que, sob Suas ordens, fizessem rebeldes baixarem as armas e se renderem sem um único disparo. Ele nunca praticou medicina, e, mesmo assim, curou mais corações partidos do que todos os doutores de todos os lugares e tempos. Todo sétimo dia as rodas do comércio param de rodar, e multidões se dirigem à assembleias de culto para Lhe prestar culto e respeitá-Lo. Os nomes do passado, orgulhosos estadistas da Grécia e de Roma, vieram e se foram. Os nomes dos cientistas, filósofos e teólogos de outrora vieram e se foram, mas o nome desse Homem cada vez se faz mais presente. Mesmo havendo se passado [mais de dois mil] anos entre as pessoas desta geração e a cena de Sua crucifixão, Ele ainda vive. Herodes não pode destruí-Lo, e o sepulcro não pode contê-Lo. Ele se destaca na mais alta posição de glória celestial, proclamado por Deus, reconhecido pelos anjos, adorado pelos santos e temido pelos demônios como a pessoa vivente de Cristo, nosso Senhor e Salvador.” A vida de Cristo contraria as leis da vida. Sua missão e propósito atestam que Ele veio ao nosso mundo para trazer a esperança de uma vida futura. A vinda de Cristo, o Messias, foi anunciada em mais de sessenta profecias bíblicas e há, ainda, mais de 270 referências que se cumpriram nEle. Jesus não realizou nenhuma obra inconscientemente ou por acidente, mas seguiu cada passo conforme já havia sido designado por Deus e anunciado pelos profetas. Precisão é o que vemos em toda a Sua vida, desde Sua concepção no ventre da jovem Maria até o momento do Seu último suspiro. A primeira profecia que aponta para Cristo foi dada a Adão e a Eva, o primeiro casal do mundo, criado pelas próprias mãos da divindade. Logo após Adão e Eva transgredirem a lei divina, darem ouvidos a Satanás, que se personificara em uma serpente, Deus disse ao casal desobediente 9
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que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:15). Em Gálatas 3:16, vemos que essa promessa foi cumprida em Cristo. O patriarca Jacó também profetizou que da linhagem de seu filho Judá viria Siló, o Príncipe da Paz (Gn 49:10). Esta profecia também se cumpriu em Cristo, que nos disse: “Deixo-vos a paz” (Jo 14:27). Isaías, que viveu séculos antes de Cristo, profetizou sobre o nascimento virginal do Messias (Is 7:14; Mt 1:22 e 23) e que aquele menininho seria o próprio Deus, Emanuel, Deus conosco! O profeta Miquéias apontou o local onde Cristo nasceria (Mq 5:2), e Jeremias profetizou a crueldade que seria cometida contra os bebês (Jr 31:15), que se cumpriu pelas mãos de rei Herodes, conforme vemos nos relatos de Mateus (Mt 2:16-18). O profeta Isaías declarou ainda qual seria o conteúdo principal do ministério de Cristo: pregar boas novas aos quebrantados, curar os enfermos, oferecer liberdade aos cativos do inimigo, consolar os aflitos, oferecer alegria e paz aos que estariam tristes e inconsoláveis. Cristo, cumprindo esta profecia que lemos em Isaías 61:1-3, era o Único que podia dizer: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e Eu lhes darei descanso” (Mt 11:28). No capítulo 53 do livro de Isaías, encontramos referências sobre a morte de Cristo. No salmo 22, Davi também apresenta uma profecia que fala dos sofrimentos do Messias. Davi, que viveu cerca de mil anos antes de Cristo, pode profetizar o que aconteceria com um de seus descendentes, que, além de ser conhecido como o Filho de Davi (Mt 22:42), seria o próprio Filho de Deus (Mt 16:16). Nesse salmo, encontramos profecias surpreendentes. Por este salmo, sabemos, por exemplo, que os sofrimentos do Messias seriam extremos (v. 14); sabemos que os pés e mãos de Cristo seriam traspassados (v. 16); sabemos que Ele seria despido, que Suas vestes seriam rasgadas e que Sua túnica seria sorteada (vs. 17 e 18). Também sabemos que a multidão zombaria dEle (v. 7), sabemos que Sua angústia seria culminada por uma sede terrível (v. 15) e até vemos que o brado que Ele deu na cruz, dizendo: “Deus Meu, por que Me desamparastes?” já 10
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estava predito no primeiro versículo desse salmo. A profecia de Davi também indicava que a morte não poderia aprisionar Cristo. Ele disse: “Porque Tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitiras que o Teu Santo sofra decomposição” (Sl 16:10). A ressurreição de Jesus comprova a veracidade das Escrituras Sagradas. No livro de João, nos versículos 17 e 18 do capitulo 10, vemos que Jesus tem tanto poder para dar Sua vida quanto para reassumi-la. De fato, as profecias do Antigo Testamento oferecem detalhes minuciosos sobre a concepção de Maria e sobre o nascimento, vida, morte e ressureição de Jesus. Essas profecias atestam a divindade do Messias e também dão prova do poder que Cristo tinha para operar grandes sinais e milagres. Por meio dessas profecias, sabemos de toda a sina que Cristo seguiu para Se oferecer como sacrifício pela humanidade: conhecemos a forma como foi traído, crucificado e morto. E também sabemos que ressuscitaria. Todas estas antecipações sendo comprovadas dão prova de que, verdadeiramente, Cristo, o Messias pregado na cruz, era o Filho de Deus (Mt 27:54). Quando, na cruz, Cristo bradou: “Está consumado!” (Jo 19:30), Ele reivindicava para Si a vida de todos aqueles que viessem a crer nEle. Sua missão nesta Terra estava concluída. A obra da Redenção estava consumada. A partir dali, tínhamos o direito de recorrer a Ele como nosso Senhor, Intercessor e Salvador. “Antes que os fundamentos da Terra fossem lançados, o Pai e o Filho Se haviam unido num concerto para redimir o homem, se Ele fosse vencido por Satanás. Haviam-Se dado as mãos, num solene compromisso de que Cristo Se tornaria o fiador da raça humana. Esse compromisso cumprira Cristo. Quando, sobre a cruz, soltara o brado: ‘Está consumado’ (Jo 19:30), dirigira-se ao Pai. O pacto fora plenamente satisfeito. Agora, Ele declara: ‘Pai, está consumado. Fiz, ó Meu Deus, a Tua vontade. Concluí a obra da redenção. Se a Tua justiça está satisfeita, ‘quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo’ (Jo 17:24)” (DTN, pg. 834). 11
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Muitos críticos supõem que Jesus fosse um impostor. Mas, será que era? Será que tantos morreriam por Ele se Ele fosse um mentiroso? Será que alguém daria a vida para defender Sua causa e a veracidade de Seus ensinos caso Ele fosse um impostor? Será que todos os apóstolos foram enganados por Ele? Será que esses mesmos discípulos sairiam enganando tantos outros? Se procurarmos, encontraremos uma pessoa que morra por uma causa mentirosa sabendo da não veracidade do que crê. Mas é improvável que tantas pessoas morram por uma causa que não seja válida. É impossível que tantos homens tenham sido mártires por causa de uma mentira! Julie Cameron estava muito doente, quando recebeu o diagnóstico de que estava com câncer. Em seu leito de dor e sofrimento, ela teve Jesus como seu salvador. Dela são as palavras: “Jesus é meu consolador; protetor; escudo nos meus medos; o conhecimento que me faz distingue o certo do errado; o grande músico na orquestra da minha vida. Jesus é o verdadeiro arquiteto; a luz que brilha em mim; a rocha na qual eu me ergo; o constante companheiro o único mestre; a fé dentro de mim; a benção e minha vida eterna. Ele morreu; assim eu poderei viver. Ele é a minha firme segurança. Força quando me sinto fraca. O poder dentro do meu coração, do qual eu sinto os batimentos. Ele é a sombra que me acompanha. Ele é o grande autor, pois escreveu o livro de minha vida”. Na vida de Julie, a obra de Cristo se fez perfeita, pois não adiantaria Ele ter nascido mil vezes em Belém se não pudesse nascer na vida dela. Vou compartilhar com você uma outra história que gosto muito. Essa história foi escrita por Philip Yancey e pode ser lida nas páginas 118 e 119 de sua obra “Deus, por que sofremos?”. Yancey conta: “Você já ouviu falar em Joni Eareckson? Ela era uma jovem cheia de vida e atleta. Certo dia, ao mergulhar em um lago, ela acertou uma pedra. Como resultado desse choque, ela ficou tetraplégica. Depois passou a pintar quadros com um pincel em sua boca. Seu testemunho ficou conhecido mundialmente através de seus livros e do filme de sua vida. Mas essa mudança não foi 12
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fácil. Joni se deu conta de como estava incapacitada em uma noite de desespero quando pediu para que uma amiga lhe desse um remédio para que ela pudesse morrer. Quando sua amiga se recusou, ela pensou, ‘Nem me matar eu consigo!’ A princípio, para Joni, sua vida era um inferno. Dor, revolta, dor emocional e amargura mexeram com ela. Mesmo não sentido dor física, ela sentia uma agulhada que percorria todo seu corpo. Isso aconteceu por três anos. Então, em uma noite, uma drástica mudança se iniciou em Joni, que a tornou uma radiante cristã. Sua melhor amiga, Cindy, estava ao lado da cama de Joni, tentando, desesperadamente, achar uma maneira de encorajá-la. Deve ter sido o poder do Espírito Santo, pois Cindy ‘soltou’ a seguinte frase: ‘Joni, Jesus sabe como você se sente. Você não é a única pessoa que ficou paralisada. Ele também ficou paralisado’. Joni olhou espantada para a amiga e disse, ‘Cindy, do que você está falando?’. ‘É verdade. É verdade, Joni. Lembre-se: Ele foi pregado em uma cruz. Suas costas estavam bem machucadas, resultado das chicotadas que havia levado, assim como as suas costas ficam machucadas. Ah, como Ele deve ter tido vontade de se mover! Mudar de posição, redistribuir seu peso de alguma maneira, mas Ele não podia se mover. Ele sabe o que você está sentindo’. Esse foi o começo, quando as palavras de Cindy tocaram Joni. Ela nunca tinha pensado desse jeito. O filho de Deus tinha sentido a mesma agulhada que passava por seu corpo. O filho de Deus conhecia a incapacidade que ela sofria. Tempos depois, Joni disse, ‘Deus passou a estar muito mais próximo de mim. Percebi a diferença que fazia o amor de amigos e família. Passei a perceber que Deus também me amava’”. Um homem que nasceu de uma maneira milagrosa. Um homem que viveu de uma maneira diferente e intrigante. Um inocente que teve uma morte cruel. E o que tornou Sua vida tão singular? A resposta é essa: Ele ressuscitou! Hoje, Seu túmulo está vazio. Diferentemente de tantos outros ícones da história, Cristo vive! Na Bíblia, a Palavra de Deus, encontramos 12 relatos sobre aparições de Cristo após Sua ressurreição, começando com Maria Madalena, que 13
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O encontrou ao lado de Seu túmulo aberto (Jo 20:11-18), até Saulo, o perseguidor dos primeiros cristãos e que depois tornou-se o fiel e destemido apóstolo Paulo (At 9:1-19). As aparições de Cristo foram tangíveis. João, por exemplo, relata que Tomé, um dos discípulos que duvidava das aparições de Cristo, pode tocar as feridas de seu Mestre, a fim de que cresse na ressurreição (Jo 20:24-29). Você já soube de algum caso de alucinações em grupo? Eu nunca soube. Sabemos que uma pessoa aqui e outra ali podem alucinar, imaginar situações e até mesmo se relacionar com um amigo imaginário, mas nunca vi, nem soube de nenhum caso de alucinações em grupos. É evidente que Cristo havia ressuscitado conforme tinha predito. Maria Madalena O viu e conversou com Ele. Os discípulos, que estavam com medo e trancados numa casa, viram-No também e comeram com Ele (Jo 20:19-23; Lc 24:36-43). Os dois discípulos que passavam pelo caminho de Emaús também O viram e tiveram uma longa conversa com Ele (Lc 24:13-35). Muitos também O viram ascendendo para o Céu (Jo 24:50-52). De fato, se considerarmos as várias aparições de Cristo, as várias situações em que elas ocorreram e o número de pessoas envolvidas em cada história, não temos como duvidar de que Ele vive. Jesus Cristo é o Senhor do Universo, o Criador de todas as coisas, o Filho de Deus encarnado. Em nosso mundo, Ele viveu de maneira discreta e simples, mas, ao mesmo tempo, foi revolucionário e sem comparação. A vida dEle foi o preço pela vida de todos nós. Pela Criação e pela Redenção, somos dEle. Por que Ele se ofereceu em sacrifício para pagar o preço que o pecado exige, nós fomos isentados da culpa. E por que Ele ressuscitou, temos a esperança de viver com Ele eternamente (Jo 3:16). Diferentemente de tantos líderes, governantes, comandantes, presidentes, políticos, poetas, filósofos, artistas, teólogos e tantas outras celebridades que fizeram a História, Cristo vive, e vive eternamente. Muitos deixaram relatos. Muitos deixaram realizações. Muitos até deixaram seguidores. Mas somente Cristo, Aquele que, como homem, tinha tudo para passar 14
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pela História desapercebido, deixou a esperança de dias melhores, de um futuro perfeito. Cristo não apenas nos deixou um amontoado de contos e bons exemplos – Ele deixou a Sua vida, como pagamento pela nossa, que estava condenada a perdição. E porque Ele Se doou, podemos ter todas as coisas nEle, pois Deus, “Aquele que não poupou a Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com Ele, e de graça, todas as coisas?” (Rm 8:32). Jesus teve uma vida diferente. Ele percorreu um caminho que foge a lógica humana. Como se isso não bastasse, Ele também nos convida a viver como Ele viveu, a experimentar o que Ele experimentou. Para nós, sobram apenas duas alternativas: aceitar seguir Seus caminhos ou recusar Seu chamado. Joni Eareckson aceitou o sacrifício que Cristo fez por ela. Jony entendeu que Jesus é o Senhor da vida dela. E quantos de nós, como Jony, entendemos que Cristo é o Senhor da nossa vida? Pela Criação e pela Redenção, nossa vida pertence a Cristo. Somente Ele é o nosso Senhor. Somente Ele é o Senhor de todas as coisas. Quando Jesus contou a parábola dos talentos, estava ensinando a Seus discípulos que Ele é o Senhor de todas as coisas. Ele é o Senhor da parábola dos talentos. Ele é a razão que temos para possuir qualquer bem. Quando reconhecemos o senhorio de Cristo em nossa vida, damos a Ele tudo o que temos, e tudo o que somos.
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Jesus e o dinheiro Em todo Seu ministério, Jesus falou muito sobre dinheiro. Jesus não era materialista, mas discorria sobre esse assunto porque pretendia que as pessoas colocassem seu amor pelos bens materiais no devido lugar. Ao contrário do que alguns dizem, a Bíblia não condena a posse de riquezas. Analisando todos os seus relatos, vemos muitos homens e mulheres fiéis a Deus que também eram muito ricos. Abraão e Jó são dois exemplos bem conhecidos no Velho Testamento. No Novo Testamento, conhecemos José de Arimateia, que cedeu seu túmulo novo para que Jesus fosse sepultado. E há muitos outros relatos de pessoas que conciliavam suas riquezas e sua fé. Para entendermos o que a Bíblia diz a respeito das riquezas, temos que entender, primeiramente, que é possível uma pessoa ter muitas riquezas materiais, contudo não ter nenhuma riqueza espiritual; como também é possível que alguém tenha muitas riquezas espirituais, sem ter nenhuma riqueza material. Todos nós sabemos o que são riquezas materiais: dinheiro na carteira, uma conta bem cheia no banco, carros e outros tipos de veículos, imóveis, mobílias, roupas, sapatos, acessórios, enfim... tudo o que se pode comprar com o dinheiro deve ser contado como bens materiais. Mas o que são as riquezas espirituais? Bem, podemos considerar como riqueza espiritual os frutos do Espírito, que são o amor, a alegria, a paz, a paciência, a amabilidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio (Gl 5:22 e 23). Os frutos do Espírito nada mais são que as virtudes, as qualidades, que desenvolvemos quando mantemos um relacionamento íntimo com Deus. É Deus quem nos concede, através do Espírito Santo, dons que vão constituir nosso bom caráter. Com Deus, mesmo não tendo nenhuma posse material, possuímos tudo (2Co 6:10). Ainda temos que considerar que há pessoas ricas nos dois aspectos (material e espiritual), bem como há pessoas pobres nos dois aspectos (material e espiritual).
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A riqueza material é um presente de Deus tanto quanto a riqueza espiritual. A Bíblia não diz que a virtude é inerente à pobreza, tampouco que pecado é inerente à riqueza. Mas a Bíblia diz, sim, que a verdadeira riqueza é a espiritual, não a material; bem como deixa claro que o amor pelas riquezas pode ser o deus de uma pessoa, fazendo-a se esquecer que há um lugar futuro onde deve por seu coração. É verdade que Cristo advertiu muito as pessoas quanto ao amor pela riqueza. Com a parábola do rico insensato (Lc 12), Jesus mostrou quão tolo pode ser uma pessoa muito rica que se esquece que o acúmulo da riqueza não é fim de todas as coisas, que se esquece que Deus vai pedir conta de tudo o que nos confiou. Cristo condenou a atitude das pessoas que se relacionam com a riqueza como se esta fosse um deus. Ele advertiu: “Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16:13). Como percebemos, o problema não está na riqueza, mas em dar a ela o lugar que é devido a Deus, em colocá-la acima de Deus. Deus deve estar acima de todas as coisas. Devemos dar a Ele o primeiro lugar, então as demais coisas vão se ajeitando e sendo acrescentadas (Lc 12:31). Quando deixamos que o amor ao dinheiro norteie nossa vida, afastamo-nos de Cristo e facilmente caímos em tentação. Jesus disse que o amor pela riqueza pode minar uma semente boa que frutificaria em nosso coração (Mt 13:22). Ele também disse que é difícil uma pessoa rica apreciar as verdades do Reino de Deus (Mt 19:23). Na Bíblia ainda vemos que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1Tm 6:10). De certa forma, aparentemente, os pobres estão em vantagem sobre os ricos principalmente porque não tem como confiar nos recursos financeiros porque não dispõem deles. Há, em nosso meio, alguns cristãos que acreditam que devem ser pobres porque Cristo também era pobre. Em alguns casos, há pessoas que usam essa ideia para justificar sua falta de interesse em ter algo melhor, ou o 17
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medo de um emprego que exija um pouco mais de si, ou o desânimo para estudar em um curso que tome seu tempo e esforços, enfim... dessa forma, pretendendo ter somente o suficiente para sobreviver, essas pessoas acabam se tornando um peso para familiares, amigos, para a igreja ou para outros, uma vez que ninguém está isento de dificuldades financeiras por conta de algo inesperado ou de uma tragédia. Com José, por exemplo (sua trajetória está relatada no livro de Genesis), vemos quão importante é ter provisões para o futuro a fim de termos como subsistir num tempo de dificuldades. Não há pecado nenhum em possuir bens aqui neste mundo. As vestes de Cristo não eram velhas e esfarrapadas, mas, sim, de bom gosto e qualidade, tanto que na ocasião de Sua crucifixão, os soldados lançaram sorte para ver quem ficaria com elas, pois eram confeccionadas em tecido fino (Mc 15:24). Por mais que Sua vida tenha sido assinalada pela humildade, Ele possuía o necessário para cumprir Sua missão. Cristo contou com a participação de um grupo sincero para levar a mensagem de salvação para outras pessoas. Cristo não rejeitava os recursos desses fiéis que sempre estavam dispostos a ajudar, pois, dessa forma, eles estariam envolvidos e comprometidos com o reino do Céu. Lucas relata como Cristo era auxiliado por Seus amigos: “Depois disso, Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino de Deus. Os doze estavam com Ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens” (8:1-4). Embora Cristo tenha dito que não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8:20), Ele sempre tinha uma casa para descansar, como a casa de Seus amigos Lázaro, Maria e Marta (Lc 10:38). Quando Jesus precisou de um meio de transporte, Ele teve (Jo 12:14). Quando precisou de alimento para oferecer à multidão, Ele teve (Mt 14:19). Quando Ele precisou de um lugar para realizar a Santa Ceia, Ele teve (Lc 22:7-13). Quando precisou de dinheiro para pagar impostos, Ele 18
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arrumou (Mt 17:27). E, todos os dias, Cristo disponibilizava alimentos para Si e Seus discípulos (Jo 4:8). Até mesmo na ocasião da Sua morte, Ele teve o sepulcro de um príncipe (Jo. 19:38-41). A escritora cristã Ellen White também comentou sobre essa atitude desses amigos de Jesus: “Seus discípulos trabalhavam nas cidades e vilas; e aqueles que estavam na verdade por mais tempo do que os novos conversos serviam-No com seus recursos” (RH, 3 de Fevereiro de 1891). Veja como isso é interessante: pessoas que conheciam a Cristo e tornavam Seus discípulos passavam a servi-Lo! Essas pessoas entregavam a Cristo sua vida e, posteriormente, seus recursos também, que serviram grandemente na obra de seu Mestre. Dessa maneira, podemos entender que não há erro nenhum em ter dinheiro, desde que Cristo continue ocupando o primeiro lugar em nossa vida, o que resulta em abnegação pela causa dEle. Não há pecado em se possuir recursos financeiros, desde que estes estejam a disposição do serviço de Deus.
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Jesus e a parábola do dinheiro Sempre que pensamos na parábola dos talentos, pensamos nas habilidades que uma pessoa tem para cantar, pregar, orar, fazer visitas, enfim... Poucas vezes, se não raras vezes, interpretamos os talentos dessa parábola como os bens materiais, as riquezas mesmo. Quando contou essa parábola, Jesus tinha o interesse de ensinar aos discípulos a essência do empreendedorismo cristão. Ellen White afirma que essa parábola “foi dada aos discípulos para benefício dos cristãos que viveriam nos últimos dias” e que ela “aplica-se aos recursos temporais que Deus confiou a Seu povo” (TI, vl. 1, pg. 197). Agora, vamos entender por que essa parábola refere-se não somente aos dons do Espírito, mas também ao dinheiro que Deus confia a nós. Em primeiro lugar, vamos entender o que significa o termo “talento”. Esse termo vem do latim (talentum). No grego antigo era τάλαντον (talanton). Talento é o nome de um peso e de uma moeda usada antigamente na Grécia e Roma. Significava “escala”, “balança”, e era uma unidade da antiga Mesopotâmia para grandes quantidades de massa. “O talento usado nos tempos do Novo Testamento pesava 58,9 kg (130 lb). Os hebreus chamavam o talento de kikkar. As civilizações mesopotâmicas (babilônios, sumérios e acadianos), hebreus e egípcios, dividiam o talento em 60 minas, e cada mina subdividia-se em 60 siclos. Um talento tinha então 3600 siclos”1. Por ser uma unidade de massa, o talento confundia o significado com moedas porque era usado para designar grandes quantidades de ouro e prata. Hoje, algumas pessoas estimam que se um empregado ganhasse R$ 10,00 por dia, um talento valeria cerca de R$ 60.000,00. Podemos concluir, primariamente, que essa parábola se refere a dinheiro. Para entender o contexto dessa parábola leia a parábola inteira em Mateus 25:14-30. Perceba alguns termos interessantes nessa parábola: bens (v. 14), talento (v. 15), negociar (v. 16), dinheiro (v. 18), ajustar contas (v. 19), 1
Disponível em << http://pt.wikipedia.org/wiki/Talento_(moeda)>>. Acesso em 2 de julho de 2013.l
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banqueiros e juros (v. 27). Todos esses termos e expressões indicam que Cristo referia-Se à riqueza quando proferiu essa parábola. Como já disse, podemos aplicar essa parábola aos dons espirituais, sim, mas vamos nos deter na literalidade dela: os talentos referem-se ao dinheiro. Pense na mensagem que Cristo queria passar aos discípulos quando contou essa parábola: Jesus estava advertindo Seus amigos sobre o perigo de se estar desatento enquanto o Senhor está fora. Cristo queria mostrar a eles que, um dia, o Senhor volta, e, nesse dia, pede satisfação aos Seus empregados, e estes têm que prestar contas de tudo o que fizeram. “Todo homem é um mordomo de Deus. A cada um confiou o Mestre Seus meios; mas os homens pretendem que esses meios são propriedade sua. Diz Cristo: ‘Negociai até que Eu venha’. (Lc 19:13). Vem o tempo em que Cristo exigirá o Seu com os juros. Dirá a cada um de Seus mordomos: ‘Dá contas da tua mordomia’ (Lc 16:2). Os que esconderam o dinheiro de seu Senhor em um lenço na terra, em vez de dá-lo aos banqueiros, e os que esbanjaram o dinheiro de seu Senhor gastando-o em coisas desnecessárias, em vez de pô-lo a render empregando-o em Sua causa, não receberão a aprovação do Mestre, mas decisiva condenação” (TS, vl. 1, pg. 364). Jesus estava falando aos discípulos sobre os acontecimentos dos últimos dias, que antecederiam Seu retorno a Terra, então Ele introduziu a parábola dos talentos. Jesus conta essa parábola quando é interrogado pelos discípulos quanto a Sua segunda vinda. Veja o que acontece antes de Jesus contar essa parábola: Ele e Seus amigos começaram a discutir sobre a destruição do templo de Jerusalém, então Jesus aproveita o momento e introduz o assunto da Sua segunda vinda. Ele fala da grande tribulação pela qual Seu povo passaria, fala de grandes sinais que marcariam a brevidade desse evento, depois conta as parábolas da figueira, a do servo bom e do servo mau, a parábola das dez virgens e, por fim, a parábola dos talentos. Mas por que Ele usou o dinheiro como o “protagonista” da estória? Pense um pouco e responda em seu pensamento: a vinda de Cristo está próxima? 21
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Sim? Todas as pessoas, no mundo todo, sabem disso? Não? As pessoas, então, estão desatentas? Sim? E por que? Você já viu alguém, em algum lugar, preocupado somente em trabalhar, adquirir posses, acumular riquezas? Já viu? Já viu gente que tem que fazer jornadas duplas e triplas de trabalho para conseguir realizar o sonho de ter algum bem? Não há pecado nenhum em ter uma casa, um veículo para transportar a família, mobília confortável, roupas duráveis e alimentos bons no prato. Não há pecado nisso, de forma alguma. Mas há risco em deixar que a necessidade de se ter essas coisas desviem a nossa atenção das coisas eternas. Muita gente, a fim de ter sempre mais e melhor, sacrifica o corpo com jornadas de trabalho longas e estressantes, alimentam-se de forma indevida, não repousam tempo suficiente para o corpo refazer as energias, não param nenhum dia na semana, não têm tempo para manter relacionamentos saudáveis nem com o cônjuge, filhos ou pais. E quantos há que não têm tempo, nem forças, para manter comunhão com Deus! Não têm tempo para participar dos cultos de adoração e oração, não têm tempo nenhum, e nem disposição nenhuma por causa da exaustão, para falar do amor de Deus para outras pessoas. Você já viu isso? Se você já viu algo assim, então não fica difícil entender porque Jesus falou sobre dinheiro enquanto falava sobre os acontecimentos que antecederiam Sua vinda. A ideia de mordomia devia ter influência prática sobre todo o povo de Deus. A parábola dos talentos, devidamente compreendida, excluirá a cobiça e a idolatria pelo dinheiro. “Jesus deixou as cortes reais, e fezSe pobre, para que por Sua pobreza nos pudéssemos enriquecer. Todos quantos participam desta salvação, comprada para eles com tão infinito sacrifício pelo Filho de Deus, seguirão o exemplo do Modelo Verdadeiro. Cristo foi a principal pedra de esquina, e cumpre-nos edificar sobre esse fundamento. Todos devem ter espírito de abnegação e sacrifício. A vida de Cristo na Terra foi de renúncia; assinalou-se pela humilhação e o sacrifício. E hão de os homens, participantes da grande salvação que Jesus veio do Céu trazer-lhes, recusarem-se a seguir a seu Senhor, partilhando de Sua abnegação e sacrifício? Diz Cristo: ‘Eu sou a videira, vós as varas’ 22
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(Jo 15:5). ‘Toda vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto’ (Jo 15:2). O próprio princípio vital, a seiva que corre através da videira, nutre os ramos, a fim de florescerem e darem fruto. É o servo maior que seu Senhor? Há de o Redentor do mundo exercer a renúncia e o sacrifício em nosso favor, e os membros do corpo de Cristo entregarem-se à complacência consigo mesmos? A abnegação é condição essencial do discipulado” (TS, vl. 1, pg. 366). A beneficência prática dará vida espiritual a milhares de professos cristãos que estão mergulhados na cobiça e no egoísmo, transformando-os em zelosos e fiéis colaboradores de Cristo para salvação de outras pessoas. Em nós, deve haver o espírito que havia em Cristo, que disse: “O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos e restauração da vista aos cegos, a por em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4:18 e 19). A obra que Cristo veio fazer na Terra ainda não foi concluída, mas Ele nos confiou essa obra para que nós a terminemos. Temos uma mensagem para espalhar por todo o mundo, a cada nação, tribo, língua e povo. Todavia, para terminar essa obra, são necessários recursos. Deus podia fazer cair dinheiro do Céu, mas Ele trabalha de outra forma: Ele põe os recursos nos nossos bolsos, nas nossas carteiras, nas nossas contas bancárias! Ellen White também dá essa interpretação literal para a parábola dos talentos. Veja o que ela diz: “Foi-me mostrado que a parábola dos talentos não tem sido plenamente compreendida. Esta importante lição foi dada aos discípulos para benefício dos cristãos que viveriam nos últimos dias. E estes talentos não representam meramente a capacidade de pregar e instruir pela Palavra de Deus. A parábola aplica-se aos recursos temporais que Deus confiou a Seu povo. Aqueles a quem foram dados os cinco e os dois talentos negociaram e duplicaram aquilo que lhes fora dado em depósito. Deus exige que os que possuem bens aqui ponham seu dinheiro em giro para Ele — ponham-no na causa para espalhar a verdade. E se a verdade 23
habita no coração do recebedor, ele também, com seus recursos, ajudará a enviá-la a outros; e por meio de seus esforços, sua influência e seus meios, outras almas abraçarão a verdade, e começarão, por sua vez, a trabalhar para Deus” (TS, vl. 1, pg. 68). “Na parábola dos talentos temos duas classes. Uma classe representada pelo servo diligente, e a outra pelo mau e infiel servo. Ambos receberam dinheiro em confiança de seu senhor. Um sai a ganhar com dedicação, buscando oportunidades de usar seu confiado dom e de tal maneira atua que outros são abençoados e beneficiados. Não vive simplesmente para agradar a si mesmo, para conseguir benefícios próprios, para se deleitar em prazeres e divertimentos, buscando satisfazer os deleites carnais, com o pensamento de que seja este o objetivo da vida; mas pensa sobriamente e lembra-se que sua vida religiosa é curta” (MCH, pg. 107).
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Por que e como Jesus distribui riquezas Muitas pessoas são levadas a pensar que só porque aceitam a Cristo como seu Salvador, passam, automaticamente, a merecer bens materiais. Em muitas igrejas, há lideres que pregam que é necessário dar dízimos e ofertas para que se possa ter o direito de receber bênçãos materiais vindas de Deus. Esse sistema funciona como uma troca: a pessoa deposita o dinheiro nas salvas da igreja e, em recompensa, pode esperar receber o que quiser! Seria bom se fosse assim, não é? Mas não é dessa forma que acontece na realidade. Se essas promessas fossem verdadeiras, não haveria tantos cristãos tão sinceros e tão pobres! Sendo assim, nos perguntamos: então como Deus distribui as riquezas? Por que umas pessoas têm mais recursos financeiros que outras? Vivemos em um planeta onde acontece um conflito cósmico, um conflito entre o bem e o mal. De um lado está Deus, o Rei do Universo e Criador de todas as coisas. Do outro lado está Satanás, um anjo que se rebelou contra Deus e é o causador de todo mal. A verdade é que tanto Deus quanto Satanás podem conferir riquezas as pessoas – contudo, Aquele dá para que sejam usadas em benefício das pessoas, para que tenham acesso a vida eterna; este dá para desviar a atenção das pessoas, para que estas não se preocupem em ter uma vida além dessa. Quando Deus nos dá riquezas, Ele espera que utilizemos essa riqueza em Seu serviço, para a proclamação de Sua mensagem. Nosso dinheiro pode ser usado para aliviar o sofrimento de alguém, para construir templos onde pessoas possam aprender do amor de Deus, para que literaturas com uma mensagem de esperança sejam espalhadas... enfim, podemos contribuir de inúmeras formas para que a vinda de Jesus seja abreviada. Ellen White diz que “o dinheiro, em si, é o dom de Deus aos homens, para ser usado com fidelidade em Seu serviço” (CM, pg.139). Agora, quero considerar alguns pontos de uma outra parábola, a do 25
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semeador. Cristo conta que parte das sementes que um semeador jogou no chão caiu em boa terra, e as sementes brotaram, cresceram e deram muitos frutos. Cristo disse que a semente que caiu em boa terra é o que “ouve e compreende a Palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta” (Mt 13:23). Todo aquele que recebe a Palavra como sendo a Palavra de Deus e não de homens (1 Te 2:13) é um verdadeiro discípulo. Esse abre sua inteligência e seu coração para a Palavra de Deus. Esse treme por causa da Palavra de Deus. Esse vive a Palavra de Deus. Mas, perceba que nem todos produzem de igual forma! Quando uma pessoa recebe e aceita a Palavra de Deus, começa a produzir frutos, começa a manifestar o amor de Deus na vida dela através de boas obras. O resultado dessa aproximação de Cristo é visto na vida e caráter da pessoa, que se tornam parecidos com vida e caráter de Jesus. Se amamos a Cristo, fazemos a vontade de Deus assim como Cristo fazia. Ele mesmo disse: “Pois não procuro agradar a mim mesmo, mas àquele que me enviou” (Jo 5:30). Quanto a nós, essa deve ser a nossa oração todos os dias: “Tenho grande alegria em fazer a Tua vontade, ó meu Deus; a Tua lei está no fundo do meu coração” (Sl 40:8). Devemos sempre obedecer a Deus, pois “aquele que afirma que permanece nEle [Cristo], deve andar como Ele andou” (1Jo 2:6). É claro que nenhum discípulo está isento de dificuldades. Muitas vezes, as circunstâncias não são favoráveis e parece impossível continuar caminhando ao lado do nosso Mestre. Mas é nesses momentos que precisamos olhar além, mesmo que não consigamos entender qual o propósito de todas as coisas. Satanás sempre vai tentar sufocar a semente que caiu em nosso coração, mas cabe a nós, pela graça de Cristo, fazê-la frutificar. Pela graça de Cristo, na insegurança nasce a quietude, o ânimo e a segurança. “Muitas vezes Deus nos atende as orações, quando Lhe pedimos as graças do Espírito, levando-nos a circunstâncias que desenvolvem estes frutos; mas não compreendemos Seu propósito, assombramo-nos e 26
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desanimamos. Mas ninguém pode desenvolver estas graças, a não ser pelo processo de crescimento e frutificação. Nossa parte é receber a Palavra de Deus e conservá-la, rendendo-nos inteiramente à sua direção, e será realizado em nós seu propósito” (PJ, pg. 61). Quando falamos de bens materiais, não podemos esquecer que a Deus pertence todo o ouro e a prata. É Deus quem administra os bens que vai dar a Seus filhos, e Ele faz isso conhecendo a nossa forma de administrar os recursos que confia em nossas mãos. Ele sabe se o que Ele nos dá será uma benção ou maldição em nossa vida. Na parábola dos talentos, cada servo recebe recursos de acordo com sua capacidade de administrá-los. Deus dá dons para cada pessoa e exige delas o desempenho máximo com esses dons. A uns, Ele dá dons de profecia, a outros dá dons de oratória, a outros dá dons para evangelização, a outros dá dons para conduzir a igreja, a outros dá dons para ensinar. Deus também concede dons a médicos, enfermeiros, músicos, jornalistas, mecânicos, fazendeiros, babás, faxineiras, empresários, arquitetos, engenheiros, professores... Todos recebem dons diversos, assim como alguns recebem dons de posses, riquezas, e devem empregar esses dons, também, para o avanço da causa de Cristo. Nosso Senhor, que distribuiu os talentos entre nós, vai exigir que se multiplique e faça um bom emprego dos talentos, sem exceção.
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CAPÍTULO II
Jesus distribui riquezas e responsabilidades “O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente, aplicou-os, e ganhou mais cinco. Também o que tinha dois talentos ganhou mais dois. Mas o que tinha recebido um talento saiu, cavou um buraco no chão e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo o senhor daqueles servos voltou e acertou contas com eles” (Mt 25:16-19). “Deus deu a cada um ‘segundo a sua capacidade’ (Mt 25:15). Os talentos não são distribuídos a esmo. Quem tem capacidade para usar cinco talentos recebe cinco. Quem só pode utilizar dois, recebe dois. Quem só pode usar sabiamente um, recebe um”. O dinheiro não nos foi dado para honrarmos e glorificarmos a nós mesmos. Como mordomos fiéis, devemos usá-lo para a honra e glória de Deus. Alguns pensam que apenas parte de seus meios é do Senhor. Ao porem de parte uma cota para fins religiosos e caritativos, consideram o restante como sua propriedade, que podem usar como julgam conveniente. Erram nisso, porém. Tudo quanto possuímos é do Senhor, e Lhe somos responsáveis pelo uso que fazemos. No uso de cada centavo deve ser visto se amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos” (PJ, pgs. 328; 329 e 330; 351). 29
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Construindo o reino de Cristo Na parábola da semente, Deus espalha a semente da Sua palavra. As sementes caem em diferentes tipos de solo, frutificando ou não. Como também vimos nessa parábola, as sementes que frutificam produzem quantidades diferentes: um produz “cem, outro, sessenta, e outro, trinta” (Mt 13:23). Relacionando essa parábola com a parábola dos talentos e considerando que os talentos são, também, as riquezas, o dinheiro, podemos entender porque alguns cristãos, fiéis servos de Deus, recebem menos bênçãos financeiras. Olhe as duas parábolas, perceba alguns pontos e considere cada um deles: 1) todos recebem talentos (frutificam); 2) alguns produzem mais “frutos” que outros (recebem mais talentos que outros); 3) o que recebe mais e usa mais também ganha mais; o que recebe talentos e não os usa, acaba ficando sem nenhum talento no final; 4) os talentos que o Senhor distribui entre os servos também representam o dinheiro que nosso Senhor distribui entre nós, Seus servos. Considerando esses pontos, podemos concluir que Deus distribui recursos financeiros entre todos os Seus servos, dando mais para uns e menos para outros, de acordo com a capacidade administrativa de cada um. Se, por algum motivo, alguém não administrar e multiplicar os recursos da forma como Ele espera, então essa pessoa pode acabar ficando sem nada. Todos os que têm a semente do amor de Deus germinando e crescendo em seu coração são feitos mordomos de Deus e recebem o legado de fazer parte da administração da Sua causa. Se estamos felizes porque um dia alguém chegou até nós com a mensagem da esperança em Jesus, não deveríamos nós, de igual forma, sermos um conduto de bênção para levar essa mesma mensagem a outras pessoas que estão procurando um rumo para a vida? Deus nos deu uma grande responsabilidade: ir por todo o mundo anunciando o amor de Cristo, Sua morte, ressurreição e Seu breve retorno. Juntamente com essa responsabilidade, Ele nos deu recursos. E onde estão? Nos nossos bolsos, carteiras e contas no banco. “Estivesse o amor 30
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de Cristo ardendo no coração dos que professam ser Seu povo, e veríamos hoje, a manifestação do mesmo espírito. Se tão-somente reconhecessem quão perto está o fim de todo o trabalho em prol da salvação de almas, sacrificariam suas posses com a mesma prontidão com que o fizeram os membros da igreja primitiva. Trabalhariam para o avanço da causa de Deus com o mesmo fervor com que os mundanos trabalham para adquirir riquezas. Exercer-se-iam tato e habilidade, bem como se faria trabalho ativo e altruísta para adquirir meios, não para acumular, mas para verter no tesouro do Senhor. Que tal, se alguém ficar pobre por empregar seus meios na obra? Cristo, por amor de vós Se fez pobre; mas vós estais segurando para vós mesmos riquezas eternas, um tesouro no Céu que não falha. Vossos bens estão muito mais seguros do que se tivessem sido depositados no banco, ou investidos em casas e terrenos. Estão guardados em sacos que não envelhecem. Nenhum ladrão, deles se pode aproximar, fogo algum os pode consumir” (CM, pgs. 40 e 41). É nosso dever mostrar o caráter de Cristo a outras pessoas que estão perecendo por falta de amor. Se amamos a Cristo, se O servimos, se O adoramos, se mantemos comunhão com Ele, então ficamos parecidos com Ele! Assim, seremos humildes, mansos, amorosos, abnegados... “Deus pesa as ações, e todos os que têm sido infiéis em sua mordomia, que têm deixado de remediar os males que estavam em seu poder remediar, serão de nenhuma estima nas cortes do Céu. Os que são indiferentes às necessidades dos desvalidos serão considerados mordomos infiéis, sendo registrados como inimigos de Deus e do homem. Os que se servem mal dos meios que Deus lhes confiou para que ajudassem aqueles mesmos que necessitam de ajuda, mostram com isto não ter nenhuma relação com Cristo, pois deixam de manifestar a simpatia de Cristo por aqueles que são menos afortunados que eles” (BS, pg. 19). Deus sempre está disposto a formar em nós o caráter de Cristo. “Peçam, e lhes será dado”, Jesus disse, “busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que 31
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bate, a porta será aberta. Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7:11). Todos os dias, Deus nos dá oportunidades para desenvolvermos os dons do Espírito Santo. Você precisa de humildade? Deus está dando a chance para você adquiri-la. Como? Bem, se você não usar como se fosse seu o dinheiro que Ele lhe deu para administrar, você já está reconhecendo a soberania dEle e sendo humilde. Você pediu para Deus o dom do amor e da abnegação? Então fique atento, porque Ele pode colocar pessoas em seu caminho para que você possa ajudá-las e, assim, desenvolver os dons dos quais tanto precisa. “Na providência de Deus, os acontecimentos têm sido ordenados de maneira que sempre tenhamos os pobres conosco, a fim de que sejam no coração humano um constante exercício dos atributos do amor e da misericórdia. O homem deve cultivar a bondade e compaixão de Cristo; não deve distanciar-se dos tristes, dos aflitos, dos necessitados e angustiados. Ao passo que o mundo necessita de simpatia, orações e assistência do povo de Deus, ao passo que precisa ver a Cristo na vida de Seus seguidores, o povo de Deus se acha em igual necessidade de ocasiões de exercer simpatia, de dar eficácia a suas orações e desenvolver neles um caráter segundo o modelo divino. É para proporcionar essas oportunidades que Deus colocou entre nós os pobres, os desafortunados, os doentes e sofredores. São o legado de Cristo a Sua igreja, e devem ser cuidados como Ele o faria. Assim tira Deus a escória e purifica o ouro, dando-nos aquela cultura de coração e de caráter que nos é necessária” (BS, pgs. 17 e 18). Estaremos em segurança somente se usarmos os recursos que Deus nos dá em Seu serviço. Veja esse alerta de Ellen White: “Os que têm recursos são duplamente responsáveis; pois esses meios lhes foram confiados por Deus, e devem sentir sua responsabilidade quanto a fazer a obra de Deus avançar em seus vários ramos. O fato de a verdade, com os seus áureos elos, unir as almas ao trono de Deus, deveria inspirar os homens a trabalharem com 32
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toda a energia que Deus lhes deu, para negociarem com os bens do Senhor em regiões distantes, difundindo o conhecimento de Cristo bem longe, entre os gentios. Muitos daqueles a quem Deus confiou meios com os quais poderiam ser uma bênção para a humanidade têm permitido que estes se demonstrem uma cilada para eles, em vez de deixar que se demonstrem uma bênção para eles e para os outros. Dar-se-á o caso de se permitir que a propriedade que Deus vos deu se torne uma pedra de tropeço? Deixareis que os bens que Ele vos confiou, que vos foram dados para que com eles negociásseis, vos afastem da obra de Deus? Consentireis em que a confiança que em vós Deus tem depositado, como Seus mordomos fiéis, sirva para vos diminuir a influência e a utilidade, impedindo de serdes co-obreiros de Deus? Permitir-vos-eis ficar seguros em casa, a fim de conservar os meios que Deus vos confiou para pô-los no banco dos Céus? Não podeis alegar que nada há a fazer; pois tudo está por fazer. Contentar-vos-eis com desfrutar os confortos de vosso lar, sem experimentar dizer às almas que perecem como poderão alcançar as mansões que Cristo foi preparar para os que O amam? Não quereis vós sacrificar as vossas posses, a fim de que outros possam alcançar uma herança imortal?” (CM, pgs. 56 e 57). “O Senhor prova os homens dando-lhes abundância de bens, tal como provou o rico da parábola. Se nos mostramos infiéis na justiça de Mamom, quem nos confiará as verdadeiras riquezas? Somente os que resistiram à prova na Terra, os que foram encontrados fiéis, os que obedeceram as palavras do Senhor na prática da misericórdia, na utilização dos seus recursos para o divulgação do reino de Deus – somente esses ouvirão dos lábios do Mestre: ‘Bem está, servo bom e fiel’ (Mt 25:21)” (BS, pgs. 16 e 17). Chegou o momento em que nosso exemplo falará mais alto que nossas palavras. Esse é o momento em que nossas obras vão dar testemunho da nossa fé. “Os que creem nesta solene verdade devem possuir tal espírito de sacrifício que repila a ambição mundana dos adoradores do dinheiro” (CM, pg. 41). Suas obras dizem que seu coração está guardado em que lugar: no mundo ou no Céu
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Grandes bênçãos implicam grandes responsabilidades O senhor da parábola dos talentos confiou a cada um dos seus servos uma quantia de talentos a fim de que fossem administrados enquanto ele estivesse ausente. Um servo recebeu cinco talentos, outro servo recebeu dois talentos, outro servo recebeu um talento, mas todos os servos receberam talentos. E você, quantos talentos recebeu? O ponto principal dessas parábola não é a quantia de talentos que um ou o outro recebe, mas como cada um administra o que recebe. Se o Senhor da parábola chegasse para você hoje para uma prestação de contas, o que você diria? Iria feliz encontrar o Senhor mostrando os talentos multiplicados, ou esperaria a sua vez quietinho, num canto e, com voz trêmula, diria: “Eu sabia que o Senhor é bem zeloso, então, com medo de perder tudo, escondi o que o Senhor me deu e não fiz nada”? Seja sincero na resposta. Como você tem administrado os talentos que Deus tem lhe confiado, sejam eles muitos ou poucos? Tem gastado com os seus interesses ou com os interesses do seu Senhor? Você tem sido responsável na tarefa que Deus lhe designou? Responsabilidade. Gosto de uma definição que o dicionário Michaelis dá para este termo: “O dever de dar conta de alguma coisa que se fez ou mandou fazer, por ordem pública ou particular”. Dar conta de alguma coisa que se fez ou mandou fazer! Que tarefa difícil, não é? Que responsabilidade! Em teoria, aprendemos a ser responsáveis desde muito cedo. Em casa, por exemplo, uma mãe espera que seu filho pequeno de dois anos de idade já guarde os brinquedos depois que a brincadeira acabar. De uma criança de quatro anos já se espera que ela ajude a guardar outros objetos da casa, espera-se que ela guarde seus próprios sapatinhos, ajude a retirar o pó de um móvel e fazer outras coisinhas mais compatíveis com a idade que tem. O tempo vai passando, a gente vai crescendo e tendo novas responsabilidades. Passamos a ser responsáveis 34
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por retirar o lixo da casa, por limpar o quintal; depois por limpar um setor da casa, por fazer as tarefas da escola sozinho, por ir e voltar no horário adequado, enfim. Na vida adulta, então, as responsabilidades aumentam grandemente. Pense em quanta responsabilidade tem um pai e uma mãe – são inúmeras, infindas, e eles têm que dar conta de tudo porque o bom andamento da casa, o sustento da família e o futuro das crianças dependem do seu empenho e responsabilidade. Mas, e se alguém deixa de fazer o que se espera que ele faça? Se isso ocorre, quebrase o ciclo de confiança, então alguém vai deixar de dar responsabilidades grandes (as vezes até pequenas) para o “irresponsável” – e o “culpado” na história geralmente vai receber algum tipo de censura e sofrer, de alguma maneira, uma consequência. Na vida cristã não ocorre nada de diferente. A medida que vamos “crescendo”, Deus vai nos confiando cada vez mais responsabilidades. Se fizemos o que nos foi confiado, recebemos um crédito com um título de “responsável”. Assim vamos ganhando a confiança de Deus a medida que executamos o que Ele espera que façamos. Mas, e quando falhamos e somos irresponsáveis? Bem, então vem a censura e algum tipo de disciplina que, muitas vezes, acaba sendo uma forma de “isolamento” (uma vez que quebramos a confiança de alguém e “não estamos mais confiáveis” para receber uma nova tarefa, uma nova responsabilidade). A notícia boa nessa história é que Deus sempre está disposto a nos perdoar e nos dar novas chances. O Senhor nos confiou talentos e nos deixou responsáveis para administrálos. Um dia o Senhor volta, e vai nos pedir conta da tarefa que nos confiou. “Deus confia aos homens meios. Dá-lhes a capacidade de ganhar riquezas. O dinheiro não nos foi dado para honrarmos e glorificarmos a nós mesmos. Como mordomos fiéis devemos usá-lo para a honra e glória de Deus. Alguns pensam que apenas parte de seus meios é do Senhor. Ao porem de parte uma cota para fins religiosos e caritativos, consideram o restante como sua propriedade, que podem usar como julgam 35
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conveniente. Erram nisso, porém. Tudo quanto possuímos é do Senhor, e Lhe somos responsáveis pelo uso que fazemos. No uso de cada centavo deve ser visto se amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O dinheiro é de grande valor, porque pode realizar grande bem. Nas mãos dos filhos de Deus é alimento para o faminto, água para o sedento, vestido para o nu. É proteção para o opresso, e meio para socorrer o enfermo. Mas o dinheiro não é de mais valor que a areia, a não ser que o empreguemos para prover às necessidades da vida, para bênção de outros, e para o desenvolvimento da obra de Cristo” (PJ, pg. 351). O que temos feito com os talentos que o Senhor, o dono de todo ouro (Ag 2:8), nos deu para administrar? Muitos estão despreocupados quanto a brevidade da vinda do seu Senhor. Deixam para depois, para outro dia, e vão postergando cada vez mais, até que chega o momento em que são apanhados “de surpresa”. Obras que podiam ter feito, deixaram de fazer. Bênçãos que podiam ser distribuídas, foram retidas. Quanto a procrastinação, a mania de deixar tudo para depois, somos advertidos: “Se desejarem fazer o bem com seus recursos, façam-no logo, antes que Satanás meta suas mãos e retarde a obra de Deus. Muitas vezes, quando o Senhor abre o caminho para os irmãos usarem seus meios no avanço da Sua causa, agentes de Satanás lhes apresentam algum empreendimento que, sendo positivo, poderia duplicar seus bens. Engolindo a isca, investem seu dinheiro, e a causa, e frequentemente eles mesmos, nunca recebem uma moeda sequer” (CI, pg. 89). Muitas pessoas ficam apegadas aos talentos como se eles fossem algo de sua propriedade. Muitas até o multiplicam, mas empregam seu uso somente em benefício próprio. Não devemos agir dessa forma. Os talentos que vêm aos nossos cuidados devem ser aplicados na causa do Senhor – e somente assim estarão seguros. Nada, nem ninguém, nenhuma causa, deve receber os benefícios desses talentos egoisticamente. “O amor do dinheiro é a raiz de quase todos os crimes cometidos no mundo. Os pais que egoisticamente retêm seus recursos para enriquecer os filhos, e que não veem as necessidades da causa de Deus e não as aliviam, cometem 36
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terrível erro. Os filhos a quem pensam abençoar com seus recursos são com isso amaldiçoados” (CM, pg. 197). “Quer tornar segura a sua propriedade? Coloque-a na mão que traz os sinais de cravos da crucifixão. Retenha-a em seu poder, e ela servirá para sua perda eterna. Entregue-a a Deus, e desse momento em diante ela terá Sua inscrição. Está selada com a Sua imutabilidade. Quer desfrutar seus bens? Use-os, então, de modo que sejam uma bênção para o sofredor” (CI, pg. 83). Logo chegará o dia em que os obreiros do Senhor Jesus deverão prestar contas pela forma como executaram as tarefas que foi a eles confiadas. Eles foram responsáveis? Se sim, Cristo dirá: “Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da [Minha] alegria!” (Mt 25:23). Todavia, para o servo infiel, será dada a sentença: “Servo mau e negligente!”. “Tirem o talento dele e entreguemno ao que tem dez”. “E lancem fora o servo inútil, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25:26, 28 e 30). Se quisermos ser chamados de responsáveis, nos resta somente empregar bem os talentos que o Senhor nos confiou, sem demora, multiplicando-os para o uso em Sua causa. “O que se dá à causa de Deus não é perdido. Tudo o que é dado para a salvação de pessoas e para a glória de Deus é investido no empreendimento de maior êxito desta vida e da vida futura. Seus talentos de ouro e prata, se dados aos banqueiros [celestes] estão aumentando o valor, o que será registrado em sua conta no reino dos Céus. Vocês devem ser os recipientes da riqueza eterna que aumentaram na mão dos banqueiros [celestes]. Ao dar à obra de Deus, estão ajuntando para vocês tesouros no Céu. Tudo o que ajuntam lá em cima está livre de desastre e perda, e aumenta, tornando-se bens eternos e duradouros” (RH, 24 de Janeiro de 1888).
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CAPÍTULO III
Jesus busca discípulos empreendedores “O que tinha recebido cinco talentos trouxe os outros cinco e disse: ‘O senhor me confiou cinco talentos; veja, eu ganhei mais cinco’. O senhor respondeu: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!’. Veio também o que tinha recebido dois talentos e disse: ‘O senhor me confiou dois talentos; veja, eu ganhei mais dois’. O senhor respondeu: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!’. Por fim veio o que tinha recebido um talento e disse: ‘Eu sabia que o senhor é um homem severo, que colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Por isso, tive medo, saí e escondi o seu talento no chão. Veja, aqui está o que lhe pertence’. O senhor respondeu: ‘Servo mau e negligente! Você sabia que eu colho onde não plantei e junto onde não semeei? Então você devia ter confiado o meu dinheiro aos banqueiros, para que, quando eu voltasse, o recebesse de volta com juros. Tirem o talento dele e entreguem-no ao que tem dez” (Mt 25:20-28). “É Deus quem dá força aos homens para adquirirem riqueza e Ele concede este dom não como um meio de satisfazermos a nós mesmos, mas para que devolvamos a Deus o que Lhe pertence.” (MCH, pg. 107). 39
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Jesus, o grande empreendedor Jesus, o Verbo que criou todas as coisas por Sua palavra (Jo 1:1-3), que mandou as plantas crescerem e dar sementes conforme a sua espécie (Gn 1:12), Aquele que criou os animais e os abençoou dizendo: “Sejam férteis e multipliquem-se” (vs. 21-26), Aquele que formou o primeiro casal com Suas próprias mãos e os mandou ser férteis, multiplicar-se e dominar toda a criação (v. 28), era um grande empreendedor. Em tudo o que fazia, Cristo dava o Seu melhor, e podia dizer: “Ficou muito bom”! Desde criança, Ele foi exemplo e trabalhou diligentemente na carpintaria. “Jesus adquiriu Sua educação no lar. Sua mãe foi-Lhe a primeira professora humana. De seus lábios e dos rolos dos profetas, Ele aprendeu as coisas celestes. Vivia numa casa de camponeses, e fiel e alegremente desempenhou Sua parte nas responsabilidades domésticas. Aquele que fora o Capitão dos Céus, era agora servo voluntário, filho amoroso e obediente. Aprendeu um ofício, e trabalhava com Suas próprias mãos na carpintaria de José” (OC, pg. 7). Mesmo sendo Deus, Cristo não esperou ser servido, mas deu exemplo de dedicação no trabalho. Depois que começou Seu ministério, Cristo mostrava esmero em tudo o que fazia. Seu trabalho era conhecido entre muitos no lugar onde cresceu e trabalhou com Seu pai (Mt 13:55). Conquanto fosse um carpinteiro, Cristo não deixou de exercer todas as Suas faculdades mentais. Aos doze anos de idade, Ele já debatia com doutores da lei sobre as Escrituras no templo (Lc 2:41-52), e crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e das pessoas. A respeito dEle, muitos diziam: “De onde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos?” (Mt 13:56). Jesus veio para ser a “luz para a revelação dos gentios” e a “glória para o povo de Israel” (Lc 2:32). Ele crescia Se “enchendo de sabedoria”, e a “graça de Deus estava sobre Ele” (v. 40). Diante de Seus atos magníficos e de Seus milagres, só restava ao povo dizer: “Nunca vimos nada assim”! (Mc 2:12). 40
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A vida de Cristo serve como exemplo para nós, e Ele mesmo nos faz um convite: “Siga-Me”! Durante Seu ministério, Cristo, o grande empreendedor, convocou para o trabalho muitos homens: perto do Mar da Galileia, Ele chamou os irmãos Simão e André. Depois chamou Tiago e João (Mc 1:16-20). Esses quatro primeiros discípulos eram pescadores. Pouco tempo depois, Ele chamou Levi Mateus, que era coletor de impostos (Mc 2:13 e 14). Mais tarde, Ele chamou Filipe, Bartolomeu, Tomé, Tiago (filho de Alfeu), Simão (o zelote), Judas (filho de Tiago) e Judas Iscariotes. Que time! Cada um tinha uma personalidade: um era impetuoso, outro era mais dócil, um O traiu... e independentemente das falhas de cada um, Cristo deixou-nos uma grande lição escolhendo trabalhar com pessoas comuns, como você e como eu, amando-as incondicionalmente e permitindo que elas participassem do Seu grande ministério, que era levar a salvação a todos. Que Chefe extraordinário! Os discípulos esperavam que Cristo se manifestasse como um rei (Mc 10:35-45). Multidões esperavam que Ele se manifestasse como um rei (Jo 6:14 e 15). Mas Cristo não veio para ocupar um trono entre Seu povo ou em qualquer outra parte do planeta. Ele mesmo disse: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 16:36). Cristo não veio para Se assentar num trono ocupado outrora por homens. Ele Se assentava ao lado de Deus, e assim faria mais uma vez (Mc 16:19; Hb 8:1) e para todo o sempre. Em breve, vamos reinar com Cristo também (Jo 14:3). Nosso lugar também não é aqui. Dessa forma, nossa herança também não é aqui (Tg 2:5). Se assim cremos, não temos que ficar pensando em ter grandes coisas agora, em juntar muito dinheiro, em ter muitas propriedades. Todas as riquezas que Deus confia em nossas mãos devem ser postas no serviço dEle, a fim de que Sua mensagem possa ser divulgada para todos. A avareza não pode manchar o nosso caráter jamais. Se pensarmos em reter cada vez mais, em aumentar nossas “poupanças”, vamos acabar tendo que ouvir as advertências de Jesus: “Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?” (Lc 12:20). “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do 41
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que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19:24). Uma das histórias que mais me impressiona na Bíblia é a história da multiplicação dos pães e dos peixes. Acho esse milagre fantástico! Imagine a cena: mais de cinco mil homens, fora as mulheres e crianças que não foram contadas, os discípulos e Jesus. A multidão estava a ouvir os ensinos de Cristo ao longo do dia. Já estava ficando tarde. Os discípulos, então, sugerem que Cristo dispense a multidão para que eles achem algo para comer e voltem para casa em segurança. Mas Cristo se compadece daquelas pessoas que estavam famintas por Sua palavra. A partir daqui começa o milagre. No meio de tanta gente, um menininho oferece seu lanche: apenas cinco pães e dois peixinhos. Que significava aquilo para tanta gente? Nada! Mas Cristo apanha o lanche, abençoa o lanche e multiplica-o. Que milagre! Então cinco pães e dois peixinhos são transformados em alimento suficiente para toda aquela multidão. Mas que milagre! Que empreendedorismo! Nas mãos de Cristo, tudo é multiplicado. Aquele que sabia limpar um machado também sabia limpar a maldade do coração humano. Aquele que sabia restaurar tábuas também podia restaurar a saúde dos dez leprosos, do homem da mão ressequida e da mulher que tinha o fluxo de sangue há doze anos. Aquele que tinha ciência suficiente para retirar cupins de um pedaço de pau também tinha autoridade para mandar os demônios saírem dos loucos gadarenos, de um mudo e da filha de uma mulher cananeia. Aquele que sabia manejar tão bem Suas ferramentas também era grandemente poderoso para operar as forças da natureza e acalmar o mar. Aquele que tinha instrução suficiente para contar o dinheiro que recebia por um trabalho entregue também sabia muito bem que mais de cinco mil pessoas, cinco pães e dois peixinhos e um coração generoso é igual a alimento para toda uma multidão, doze cestos cheios de sobras e milhares de corações agradecidos. Aquele que entalhava na madeira também estava qualificado para moldar o caráter de Zaqueu. Aquele que podia fazer um móvel surgir da matéria bruta também foi suficientemente 42
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poderoso para fazer surgir novamente a vida de Lázaro, do filho da viúva de Naim e da filha de Jairo. Aquele que sabia aproveitar pedaços inúteis de madeira também foi capaz de aproveitar homens impetuosos, ambiciosos e até ladrões e chamá-los de discípulos. Aquele que tinha o dom de olhar para um pedaço de madeira e imaginar no que ele poderia se tornar também foi gracioso o suficiente para dar a prostituta Maria Madalena a chance de testemunhar de Sua ressurreição. Aquele que sabia utilizar tão bem os pregos na marcenaria foi Quem também permitiu que pregos perfurassem Suas mãos e Seus pés, e utilizou as marcas deixadas por eles como sinal de nossa salvação. Aquele que sabia como proteger a madeira das ações do tempo também é suficientemente amoroso para nos proteger das consequências do pecado com o Seu próprio sangue. Louvado seja o nosso Cristo, o Grande Empreendedor, porque enquanto todos víamos somente a Cruz, Ele via a glória! Como já vimos, a Parábola dos Talentos é uma referência clara de Cristo, de como o Cristão deve tratar o dinheiro. A palavra multiplicar constitui a essência principal dessa parábola. Quem guardou o dinheiro, recebeu a reprovação do Senhor e, quem fez render, recebeu o galardão. Deus nos dá sabedoria para que aqui neste mundo possamos adquirir bens, e fazer planos para que estes recursos possam ser aplicados na Sua obra. Temos o ensino de Deus para aprender a lidar melhor com o dinheiro, assim aprendemos a pensar grande, crescer financeiramente, não para nosso engrandecimento, mas sim para honra e gloria de Deus.
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Jesus e a multiplicação para o Seu reino A parábola dos talentos mostra-nos que Deus nos confiou bens e nos deu uma tarefa: administrar esses bens. A parábola também mostra que Deus vai exigir uma boa administração da nossa parte, isto é, multiplicar para fazer render o que está em nossas mãos, a quem Ele der mais, Ele vai pedir mais. A quem der menos, pedirá menos. Mas a todos, Ele pedirá contas, o foco é administrar para o Reino de Cristo. Todos os recursos que Deus nos deu devem ser adminstrados em prol da causa de Deus. E por quê? Bem, porque não faz sentido Deus nos dar riquezas sem fim aqui neste mundo sendo que não é plano dEle que fiquemos para sempre aqui, não é? Simples assim! Deus quer nos dar uma vida futura, muito melhor, em Seu reino eterno. Ele também quer que outras pessoas saibam desse mundo vindouro, por isso pede que usamos os recursos que nos confia para divulgar por todos os lados a mensagem da salvação através do Cristo crucificado. Gosto muito de uma carta que Paulo enviou aos crentes de Coríntios. Nessa carta, ele menciona a generosidade de algumas pessoas que viviam na Macedônia. Veja os comentários de Paulo: “Agora, irmãos, queremos que vocês tomem conhecimento da graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade. Pois dou testemunho de que eles deram tudo quanto podiam, e até além do que podiam. Por iniciativa própria eles nos suplicaram insistentemente o privilégio de participar da assistência aos santos. E não somente fizeram o que esperávamos, mas entregaram-se primeiramente a si mesmos ao Senhor e, depois, a nós, pela vontade de Deus” (2Co 8:1-5). Os irmãos da Macedônia não eram ricos, entretanto, deram o melhor de si para a causa de Cristo. A mensagem da cruz e da ressurreição ardia no coração deles. Como poderiam ficar calados? Eles não podiam ficar em sua “zona de conforto” enquanto outros morriam sem conhecer o Cristo que pode dar a vida eterna. Por isso, eles eram generosos e davam seus recursos para a 44
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causa de Deus. Que exemplo! Enquanto muitos de nós estamos numa “zona de conforto” também, pessoas perecem sem conhecer Jesus. Quanta coisa poderia ser feita se deixássemos de lado nosso egoísmo, a avareza, e empregássemos um pouco mais dos nossos recursos pelo bem eterno dessas pessoas? Como somos mesquinhos muitas vezes! Achamos caro comprar alguns livros para dar para um amigo, mas não achamos caro satisfazer nosso apetite numa lanchonete. Achamos caro assinar uma lição da Escola Sabatina para os nossos pequenos, mas não achamos caro comprar mais um brinquedo para colocar numa estante que já está lotada de brinquedos. Achamos caro contribuir para a construção ou reforma da igreja que frequentamos todos os cultos, mas não achamos caro ostentar com nossa mobília dispendiosa! Agora eu pergunto: e depois que nossa vida passar, no momento em que deixarmos de respirar, para quem ficará tudo o que temos ajuntado? Que resultado os nossos “investimentos” vão apontar na balança? No Céu, lugar onde você e eu pretendemos morar, não vamos levar nada que possamos adquirir neste mundo, nenhum bem, nenhuma riqueza, nenhuma casa, nem um carro, nem um iate, nem um avião, nem uma roupa, nem nada. A única coisa que podemos levar para o Céu, além do nosso caráter, são pessoas. Sim! Só podemos levar pessoas para o Céu! E esse é o fim do ministério de Cristo: salvar pessoas! Por isso Ele nos confia talentos e nos chama para trabalhar para Ele. Ele tem interesse nas pessoas! Deus não quer que sejamos inativos, que fiquemos de braços cruzados. Ele poderia fazer tudo sozinho, mas, para o nosso bem, para o nosso aprendizado, para a nossa felicidade, Ele nos permite trabalhar com Ele. “Deus declara: ‘Bem-aventurados vós os que semeais sobre todas as águas’ (Is 32:20). Um contínuo repartir dos dons de Deus onde quer que a causa do Senhor ou as necessidades da humanidade requeiram nosso auxílio, não leva à pobreza. ‘Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e 45
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outros que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda’ (Pv 11:24). O semeador multiplica a semente ao utilizá-la. Assim é com os que são fiéis em distribuir os dons de Deus. Repartindo, aumentam suas bênçãos. ‘Dai, e ser-vos-á dado’, prometeu Deus; ‘boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço’ (Lc 6:38)” (AA, pg. 192). “A prosperidade espiritual está intimamente ligada à liberalidade cristã. Ansiai apenas pela exaltação de imitar a beneficência divina do Redentor. Tendes a preciosa certeza de que vosso tesouro vai adiante de vós para as cortes celestiais. Quereis tornar segura vossa propriedade? Ponde-a na mão que traz a marca dos cravos da crucifixão. Retende tudo o que possuis e isso será para a vossa perda eterna. Dai-o a Deus, e desse momento em diante trará Sua inscrição. Está selada com Sua imutabilidade. Quereis desfrutar vossos bens? Então os usai para fazer a felicidade dos que sofrem. Quereis aumentar as vossas posses? ‘Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda e se encherão os teus celeiros abundantemente, e transbordarão de mosto os teus lagares’” (CM, pg. 31). “A bênção de Deus não pode vir sobre os que se mostram ociosos em Sua vinha. Professos cristãos que nada fazem neutralizam os esforços dos verdadeiros obreiros por sua influência e exemplo. Fazem que as grandes e importantes verdades que professam crer pareçam inconsistentes, e tornam-nas de nenhum efeito. Eles representam falsamente o caráter de Cristo. Como pode Deus derramar os chuveiros de Sua graça sobre as igrejas que são em grande parte compostas desta espécie de membros? Não são de maneira nenhuma úteis na obra de Deus. Como pode o Mestre dizer a tais pessoas: “Bem está, servo bom e fiel... entra para o gozo do teu Senhor”, quando eles não têm sido nem bons e nem fiéis? Deus não pode dizer uma falsidade. O poder da graça de Deus não pode ser dado em grande medida às igrejas. Desonraria o Seu próprio glorioso caráter permitir que torrentes de graça viessem sobre o povo que não toma o jugo de Cristo, que não leva o Seu fardo, que se não negam a si mesmos, que não exaltam a cruz de Cristo. Por causa de sua indolência 46
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são um embaraço aos que sairiam para o trabalho se eles não barrassem o caminho” (BS, pg. 307). Deus pode nos dar muito mais do que pedirmos ou pensarmos, mas, acima de tudo, Ele quer nos dar tesouros em Seu reino. Jesus prometeu: “Na casa de Meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, Eu lhes teria dito. Vou preparar-vos lugar. E se Eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para Mim, para que vocês estejam onde Eu estiver” (Jo 14:2 e 3). Que promessa! Nosso lugar não é aqui. Não precisamos ajuntar tesouros aqui, não precisamos ficar correndo atrás do vento! Nosso tesouro deve estar no Céu, onde não há ladrões para roubar e nem traças ou ferrugem para destruir, pois onde estiver o nosso tesouro, também estará o nosso coração (Lc 12:33 e 34). O que você está entesourando é para quem? Onde você está pondo seu coração? Suas atitudes demonstram que você está interessado em juntar coisas para a vida terrena ou juntar pessoas para a vida eterna? Hoje, Deus está chamando você para trabalhar, isso significa usar seu potencial para adquirir e multiplicar os seus recursos, para o reino de Cristo e dar a Ele cada vez mais para salvar pessoas.
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CAPÍTULO IV
A forma segura de lidar com o dinheiro “Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. E lancem fora o servo inútil, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25:29 e 30). “Na parábola dos talentos, o homem a quem foi confiado um talento manifestou um espírito invejoso e escondeu o dinheiro, de forma que seu senhor não pôde ser beneficiado por ele. Quando lhe foi exigido que prestasse contas de sua mordomia, o servo desculpou a negligência pondo a culpa sobre seu senhor” (TI, pg. 282). “O dinheiro é de grande valor, porque pode realizar grande bem. Nas mãos dos filhos de Deus é alimento para o faminto, água para o sedento, vestido para o nu. É proteção para o opresso, e meio para socorrer o enfermo. Mas o dinheiro não é de mais valor que a areia, a não ser que o empreguemos para prover às necessidades da vida, para bênção de outros, e para o desenvolvimento da obra de Cristo” (PJ, pg. 351).
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A verdadeira mordomia dos talentos Uma pessoa adulta que trabalha não tem muitas opções de relação de trabalho: ou é empregado, ou é o patrão. Mesmo que a pessoa seja autônoma, ela precisa atender as necessidades de um cliente e lhe apresentar um produto ou serviço conforme o solicitado. Em qualquer caso, não tem jeito: um assume a função de senhor, outro assume a função de servo! A Bíblia apresenta Deus como o Senhor de tudo e de todos. Ela diz que: 1) “Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem” (Sl 24:1); 2) Como proprietário de todas as coisas criadas, Deus já determinou que o primeiro homem, Adão, o pai de toda a humanidade, tivesse uma ocupação útil, então o colocou no Jardim do Éden confiandolhe a tarefa de cuidar do jardim (Gn 2:15). Deus também confiou a Adão a tarefa de dar nomes aos animais (v. 19); 3) Deus é o dono do nosso corpo pois Ele nos criou (Gn 1:26 e 27; 2:21 e 22; 1Co 6:19); 4) Nosso tempo e futuro estão nas mãos de Deus (Sl 31:14 e 15); 5) Também é nosso dever aproveitar as oportunidades que temos e não medirmos esforços para entender qual é a vontade de Deus para nós (Ef 5:14-17); 6) Deus declara que tanto a prata quanto o ouro Lhe pertencem (Ag 2:8); 7) Se temos alguma posse é porque Deus decidiu dá-las a nós (Ec 5:19). Definitivamente, Deus é o Senhor! O apóstolo Paulo diz que nós somos mordomos, os “empregados” de Deus (veja 1Co 4:1-3 e Gl 4:2) e que nosso “patrão” requer que sejamos fiéis. Você já se perguntou mordomos de que nós somos? Somos mordomos do dinheiro, das posses, do tempo, do mundo em que vivemos e do nosso corpo. Quanta responsabilidade, hen? Ser mordomos de Deus significa que aceitamos o seu senhorio em nossa vida, e isso implica aceitar que Deus é o nosso Senhor, que somos criaturas dEle, que tudo o que “temos” foi dado por Ele para que possamos administrar e que Ele nos pede satisfação do que fazemos com os “talentos” que nos confia, bem como também pede satisfação do nosso corpo. Mas como Deus espera que 50
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administremos as responsabilidades que nos confiou? Se Deus nos confiou muitas bênçãos, também podemos devolver a Ele muitas bênçãos. Tudo o que temos deve ser usado para o Seu serviço: nosso corpo, o tempo que temos, o dinheiro e as posses... Tudo o que temos deve ser usado para abençoar outras pessoas. Se recebemos tudo “de graça” das mãos de Deus, devemos dar tudo de graça a Ele (Mt 10:8). O verdadeiro mordomo de Cristo trabalha por amor. O amor genuíno é o que o incentiva a começar o serviço, é o que o alimenta enquanto realiza as tarefas e é o que é compartilhado ao final da sua missão. Sem o amor de Cristo, uma atividade pode até começar, pode até ser levada adiante até uma certa altura, mas nunca é completada. O fim do trabalho que Cristo nos chama para fazer é a salvação de pessoas para o Seu reino. Sem o amor de Cristo em nosso coração, é impossível chegar ao resultado esperado, pois somente o amor pode gerar amor. Como nossa mensagem pode ter eficácia mesmo quando gastamos tempo, inteligência, dinheiro e saúde se não demonstramos amor pelas pessoas? Como vamos falar para outras pessoas que o amor de Cristo pode transformar vidas se nem a nossa vida foi transformada por esse amor? Como a mensagem da esperança pode inundar a vida de outras pessoas se nem sequer encheu nossa vida? Como vamos pregar daquilo que não vivemos? Quando o amor de Cristo enche nosso coração, quando Sua graça superabunda em nossa vida, não ficamos fazendo cálculos, não ficamos pensando em poupanças, em aplicações, não ficamos pensando no tempo que poderíamos estar usando de outra forma ou nas coisas que poderíamos estar comendo ou bebendo... Quando somos perdoados por Cristo, só conseguimos extravasar Seu amor, então não medimos nada, não calculamos nada e não retemos nada. Como Paulo, consideramos “tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor, por cuja causa perdemos todas as coisas. Nós as consideramos como esterco para poder ganhar a Cristo” (Fl 3:8, adaptado). 51
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Se “Deus tanto amou o mundo que deu o Seu Filho Unigênito, pra que todo o que Nele Crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16), o que significa o que podemos dar? Para todos nós, basta-nos somente a graça de Cristo! (2Co 12:9).
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A forma segura para adquirir riquezas Reconhecemos que Deus é o Criador do nosso mundo (Gn 1:1) e que somente Ele é o dono de todas as coisas (Sl 24:1). Dessa forma, também entendemos que Deus é quem nos dá a capacidade para produzirmos riquezas (Dt 8:18). Na Bíblia, lemos as histórias de vários personagens que eram fiéis a Deus e também eram ricos. Abraão, Isaque, Jacó, Jó, Salomão e Ezequias são alguns desses personagens. A Abraão, Deus prometeu dar toda a terra de Canaã por herança, e, de fato, lhe deu essa terra. Isaque teve todas as bênçãos herdadas de seu pai. Jacó, depois de fugir de casa, adquiriu muitas riquezas na terra do sogro, Labão. Jó era um homem muito rico que perdeu tudo o que tinha, inclusive os filhos, mas teve tudo de volta em dobro porque Deus o abençoou. Salomão, depois de pedir sabedoria a Deus, teve essa resposta: “Também lhe darei o que você não pediu: riquezas e fama; de forma que não haverá rei igual a você durante toda a sua vida” (1Re 3:13). Ezequias possuía muitas riquezas e glória. Ele “construiu depósitos para guardar prata, ouro, pedras preciosas, especiarias, escudos e todo tipo de objeto de valor”. Ele também construiu muitas “cidades e adquiriu muitos rebanhos, pois Deus lhe dera muitas riquezas” (2Cr 32:27 e 29). Mas o que esses homens tinham de especial para serem tão abençoados por Deus na vida financeira? Uns eram pastores que caminhavam pelo deserto e moravam em tendas, outros eram reis, mas por que Deus os abençoou de tal maneira? Cada um tinha um temperamento, cada um mantinha uma forma de relacionamento com Deus, cada um tinha um objetivo de vida e cada um tinha uma missão. Mas uma coisa é fato: todos receberam bênçãos financeiras. Não que precisamos ser ricos para trabalhar melhor para a causa de Deus, mas é certo que com mais recursos financeiros e um coração generoso podemos fazer mais coisas, sim. É claro que uma pessoa com poucos recursos contudo com um coração generoso consegue fazer muito mais 53
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do que uma pessoa cheia de posses e avarenta. Mas como podemos canalizar as bênçãos que recebemos de Deus e fazê-las aumentar? Bem, sei que Deus aumenta nossos rendimentos conforme a nossa generosidade é aumentada, e sei também que Ele pode escolher nos dar bens materiais como pode escolher nos privar deles, conforme Sua infinita sabedoria, mas tenho aqui algumas sugestões: Deus dá posses para quem reconhece que tudo pertence a Ele: Todas as coisas pertencem a Deus. Temos que entender que nada somos e nada temos, e precisamos reconhecer que Deus é o dono de todas as coisas. Muitas pessoas põe sua confiança nas riquezas que têm e ignoram totalmente que é Deus quem lhes dá o sustento e tudo mais que possuem. Salomão, o homem mais sábio que o mundo já conheceu e um dos mais ricos também, declarou: “A bênção do Senhor traz riqueza, e não inclui dor alguma” (Pv 10:22). O sábio ainda deixou-nos o conselho: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema ao Senhor e evite o mal” (Pv 3:5 e 6). Se colocarmos Deus como nosso guia, Ele vai nos guiar pelos caminhos certos. Deus dá posses para quem vive para Ele em todos os lugares: Vivemos o cristianismo em todos os lugares por onde passamos, seja na igreja, escola, em casa ou no trabalho. Não tem como desvincular a religião nas nossas atividades rotineiras. No trabalho, por exemplo, usamos nossas capacidades intelectuais, nossas habilidades e nosso tempo para executar as tarefas que nos são propostas. No final de um período, recebemos o pagamento pelo nosso esforço. Quando devolvemos a Deus parte do que Ele nos dá, estamos dando nas salvas parte da nossa vida também, parte do nosso tempo, das nossas habilidades e capacidade intelectual. “E, quando Deus concede riquezas e bens a alguém, e o capacita a desfrutálos, a aceitar a sua sorte e a ser feliz em seu trabalho, isso é um presente de Deus” (Ec 5:19). 54
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Deus dá posses para quem é fiel em distribuir as riquezas: Observe o sistema de funcionamento de uma caixa de água. Você usa a água da torneira que desce da caixa assim que você abre o registro. Mas na mesma proporção que você usa essa água, a caixa de água se enche novamente, recuperando o volume de líquido perdido. Quanto menos água ela libera, menos água ela recebe. Quanto mais água ela libera, mais água ela recebe. Deus espera contar com a nossa liberalidade. Quanto mais dermos, mais Deus pode nos dar. De igual forma, se retermos recursos, Deus também vai retê-los de nossas mãos, visto que não estamos sendo bons mordomos. Se formos fiéis mordomos, podemos confiar na promessa de Jesus: “Deem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois a medida que usarem, também será usada para medir vocês” (Lc 6:38). Deus dá posses para quem não ama as riquezas: Deus não pretende que ponhamos todos os nossos esforços em adquirir riquezas. Ele pode, sim, fazer de nós pessoas ricas se pretende que usemos a riqueza para o avanço da Sua causa, mas isso depende muito dos Seus planos para nós e também dos motivos do nosso coração. Cristo nos aconselhou: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam” (Mt 6:19). Todo tesouro que adquirimos neste mundo vai ficar aqui mesmo. Veja algumas considerações do sábio e rico Salomão: “O homem sai nu do ventre de sua mãe, e como vem, assim vai. De todo o trabalho em que se esforçou nada levará consigo” (Ec 5:15). “As riquezas não duram para sempre, e nada garante que a coroa passe de uma geração a outra” (Pv 27:24). “As riquezas desaparecem assim que você as contempla; elas criam asas e voam como águias pelo céu” (Pv 23:5). “Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos. Isso também não faz sentido” (Ec 5:10). Salomão ainda chega a uma fórmula contra a prepotência e contra a avareza. Ele disse: “Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário” (Pv 30:8). 55
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Deus dá posses para quem obedece aos ensinos divinos: A vida de Cristo é a nossa maior motivação. Devemos viver como Cristo viveu. Podemos ser uma benção para o mundo, podemos nos misturar como o sal (Mt 5:13), podemos iluminar como a luz (Mt 5:14), sem, contudo, “ser do mundo” (Jo 15:19). Assim como um lírio, podemos crescer em um ambiente nada propício, no meio do lamaçal, sem deixar de ser um lírio, enfeitando tudo ao redor com nossa virtude e exalando o mais puro perfume. Se Cristo viveu entre nós, foi fiel até o fim e sem Se contaminar, nós também podemos ser fiéis e sermos exemplos (Jo 16:33). Deus dá posses para quem é honesto tanto com Deus quanto com os semelhantes: Deus não tem prazer na injustiça e nem age com injustiça para conosco (Sl 5:4; Rm 1:18; 9:14). Quanto aqueles que procuram tirar proveito dos semelhantes, veja o que Deus diz: “Administrem a justiça e o direito: livrem o explorado das mãos do opressor. Não oprimam nem maltratem o estrangeiro, o órfão ou a viúva; nem derramem sangue inocente neste lugar. ... Ai daquele que constrói o seu palácio por meios corruptos, seus aposentos, pela injustiça, fazendo os seus compatriotas trabalharem por nada, sem pagar-lhes o devido salário” (Jr 22:3 e 13). O sábio Salomão já diz que “o dinheiro ganho com desonestidade diminuirá, mas quem o ajunta aos poucos terá cada vez mais” (Pv 13:11). Deus dá posses para quem não cultiva o egoísmo: Deus nos confia as riquezas para que as usemos para a Sua causa. Não devemos nos apossar dos recursos que Deus nos confia e usá-los para o nosso proveito. Podemos ter uma vida confortável, mas não é plano de Deus que desfrutemos das riquezas enquanto existem pessoas querendo conhecer mais sobre o Seu amor, enquanto há pessoas na miséria, enquanto há pessoas sofrendo. Cristo quer que desenvolvamos o amor genuíno, e para tanto nos proporciona situações para que possamos exercitara nossa generosidade. Através de uma pessoa faminta, de uma sedenta, de uma aprisionada, de uma pessoa sem ter o que vestir ou dormir, Ele pode estar dando a oportunidade para mostrar amor ao próximo e para nos proteger 56
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do egoísmo e da avareza. Para quem segue Seus caminhos, Ele diz: “Digolhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a Mim o fizeram” (Mt 25:40). Deus dá posses para quem não tira vantagem da fraqueza dos outros: Deus dá bênçãos àqueles que se propõe a ser uma benção para os semelhantes. Na Bíblia, vemos várias advertências que Deus fez ao Seu povo para que este trate a todos com respeito e dignidade. Amor ao próximo é mais bem visto aos olhos de Deus que ofertas que possamos dar a Ele (1Sm 15:22). Veja esses recados que Deus mandou para o Seu povo através do profeta Isaías: “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estará na sua retaguarda. Aí sim, você clamará ao Senhor, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou. Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então a sua luz despontará nas trevas, e a sua noite será como o meio-dia. O Senhor o guiará constantemente; satisfará os seus desejos numa terra ressequida pelo sol e fortalecerá os seus ossos. Você será como um jardim bem regado, como uma fonte cujas águas nunca faltam” (Is 58:6-12). Deus dá posses para quem usa inteligência e pureza em cada transação: Toda pessoa que professa ser seguidora de Cristo deve andar como Ele andou. A Bíblia apresenta algumas considerações sobre as transações de negócio associada ao bom caráter: “Feliz é o homem que empresta com generosidade e que com honestidade conduz os seus negócios” (Sl 112:5). “O Senhor me tratou conforme a minha justiça; conforme a pureza das minhas mãos recompensou-me” (Sl 18:20). O apóstolo Paulo 57
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ainda comenta sobre o que deve ocupar a nossa mente: “Irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Fl 4:8). Se ocuparmos nossa mente com coisas boas, se contemplarmos a Cristo diariamente, teremos nosso caráter moldado por Ele, e em todos os nossos atos as virtudes de Cristo poderão ser vistas. Deus dá posses para quem faz uma boa administração: Podemos aprender muito sobre administração financeira com José, o filho de Jacó que era pastor, foi traído pelos irmãos, levado ao Egito e que tornou-se o governador de todo aquele país. Leia a história desse jovem e homem fiel em Gênesis 37, 39-50. José era um bom administrador mesmo quando tinha poucas responsabilidades. Quando era moço, seu pai determinou que ele deveria supervisionar o serviço dos irmãos (37:13 e 14). No Egito, Potifar, um alto oficial de Faraó, reconheceu os talentos de José e deu-lhe sua casa para que ele administrasse (39:1-6). E a Bíblia diz que “o Senhor abençoou a casa do egípcio por causa de José” e “a bênção do Senhor estava sobre tudo o que Potifar possuía, tanto em casa como no campo”. Na prisão, José foi bem visto pelo carcereiro-chefe, que o colocou para cuidar de todos os outros presos. E “o carcereiro não se preocupava com nada do que estava a cargo de José, porque o Senhor estava com José e lhe concedia bom êxito em tudo o que realizava”. Por fim, José teve que interpretar dois sonhos do Faraó, que havia sonhado com sete vacas gordas que eram devoradas por sete vacas magras e também sonhado com sete espigas bonitas que eram devoradas por sete espigas magras. Depois de contar ao rei que com os sonhos Deus estava avisando que haveria sete anos de muita fartura na terra, seguido por sete anos de extrema fome, José deu um conselho: “Procure agora o faraó um homem criterioso e sábio e coloque-o no comando da terra do Egito. O faraó também deve estabelecer supervisores para recolher um quinto da colheita do Egito durante os sete anos de fartura. Eles deverão recolher o que puderem nos anos bons que virão e fazer estoques de trigo que, sob o controle do faraó, 58
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serão armazenados nas cidades. Esse estoque servirá de reserva para os sete anos de fome que virão sobre o Egito, para que a terra não seja arrasada pela fome” (Gn 41:33-36). E a Bíblia diz que “o plano pareceu bom ao faraó e a todos os seus conselheiros” (v. 37). Faraó achou que não havia pessoa melhor para governar todo o Egito que aquele jovem escravo e hebreu. No posto de governador, José ajuntou 1/5 de tudo o que o Egito produziu durante todos aqueles sete anos de fartura. Quando começou o período de escassez, todos iam até José em busca de comida, tanto egípcios quanto estrangeiros, como seus irmãos que moravam em Canaã. A Bíblia diz que José ainda comprou toda a terra do Egito para Faraó (47:13-26). Com a administração de José, podemos aprender algumas coisas importantes: 1) Acredite que Deus tem sonhos grandiosos para Seus filhos (37:5-11; 42:9); 2) Seja fiel e honesto em todos os momentos, não importando o cargo que você ocupa (37:13 e 14; 39:3, 23; 41:38 e 39); 3) Reconheça que Deus é quem lhe dá sabedoria e aptidões para o trabalho (41:16); 4) Obedeça as ordens dos superiores, reconhecendo seu senhorio (37:13; 39:9 e 22; 41:40); 5) Esteja atento a novas possibilidades e apresente-as quando necessário sem parecer arrogante (41:33-36); 6) Esteja sempre inteirado do serviço que faz e conheça todas as etapas do mesmo, bem como os desafios que possam surgir (39:6; 41:46); 7) Esteja sempre disposto a desenvolver suas aptidões (39:2 e 3; 41:38 e 39); 59
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8) Não pense que só porque você ocupa um cargo importante você pode fazer o que bem entender (39:8 e 9); 9) Seja bondoso e trate com respeito e dignidade aqueles que estão sob seu comando (39:22 e 23); 10) Nunca desobedeça uma ordem divina e nunca transgrida as leis do Estado (39:9); 11) Nunca gaste mais do que você ganha (41:47 e 48); 12) Sempre mantenha uma poupança para usar em emergências (41:47 e 48); 13) Viva com o que tem e não fique pegando emprestado (41:53-57); 14) Esteja atento às necessidades do mercado (47:13-26); 15) Sempre esteja disposto a fazer qualquer serviço e também esteja disposto a “mudar de profissão” se for necessário (37:13; 39:3, 4, 22; 41:40); 16) Nunca procure a vingança, mas sempre opte pelo perdão (45:1-15); 17) Sempre, em todos os momentos, seja fiel aos seus princípios, mesmo quando a situação não for nada favorável (39:7-12); 18) Saiba aproveitar as oportunidades (40:14 e 15; 41:14); 19) Testemunhe da grandeza e do amor de Deus em todos os momentos (40:8; 41:16); 20) Saiba que a vida tem altos e baixos e que num dia podemos estar em vantagem, noutro dia, em desvantagem. Mas, se permitirmos e confiarmos nos cuidados de Deus, Ele vai nos guiar em todos os momentos (37:3, 23, 24, 27, 36; 39:1-4, 20-23; 41:42 e 43); 21) Não sacrifique a sua família (45:16-28; 46). 60
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Conclusão
Nosso Senhor nos confiou talentos também: para alguns Ele deixou mais, para outros, menos; mas todos recebemos algum talento. Nosso Senhor também se ausentou para longe, para o Céu, e apenas nos deixou a promessa: “Voltarei” (Jo 14:3). Também não sabemos nem o dia e nem a hora do retorno do nosso Senhor (Mc 13:32), por isso, devemos estar alertas e sempre vigiando (Mc 24:42). Quando o Senhor vier, também teremos que “prestar contas” da administração de tudo o que Ele nos confiou (Hb 4:13; Rm 14:12). Logo chegará o dia em que estaremos frente a frente com o Senhor, mas não mais para receber talentos para administrar, mas para prestar contas da administração que fizemos com os talentos que Ele já nos deu. O que diremos ao Senhor? Vamos receber a recompensa pela administração que fizemos? O Senhor poderá dizer: “Está tudo bem, servo bom e fiel”? A todos nós, hoje, Cristo aconselha: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens”. “A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele pensou consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita’. Então disse: ‘Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’. Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma 61
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noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?’ Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus”. “Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. A vida é mais importante do que a comida, e o corpo, mais do que as roupas. Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as aves! Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Visto que vocês não podem sequer fazer uma coisa tão pequena, por que se preocupar com o restante? Observem como crescem os lírios. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais vestirá vocês, homens de pequena fé! Não busquem ansiosamente o que hão de comer ou beber; não se preocupem com isso. Pois o mundo pagão é que corre atrás dessas coisas; mas o Pai sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas. Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino. Vendam o que têm e deem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói. Pois onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lc 12:15-35). Nosso Senhor ainda não voltou. Ainda dá tempo para “aplicar” Seus bens. Ainda dá tempo para fazer uma boa administração. Ainda faço uma última pergunta: Cadê os talentos do seu Senhor?
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Este livro foi impresso pela Juizforana Grรกfica e Editora, com capa em papel Supremo 250 g/m2 e miolo em papel Offset 90 g/m2. Texto apresentado em Minion Pro Regular. Tiragem: 17.460 unidades Juiz de Fora, setembro de 2013. 64