Hype 71

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Herkenhoff, um juiz humanista e progressista

O cinema, sob a ótica da diretora

00071 9 772237 558005

ISSN 2237-5589

R$ 10,00 ano 12 no 71

Hannah Chequer

Kiko Mascarenhas tem saudade de “Tavares”

O verão vem aí



diamondiraws

@diamondiraws


Editorial hype

Porque acreditar é preciso Fui criada em um ambiente musical e de muita harmonia. Meus pais, pessoas simples, cultivavam valores que incorporamos e cultivamos, meus irmãos e eu, como autênticas preciosidades. Palavras como honestidade, respeito e credibilidade faziam parte do nosso “cardápio” diário. Isso eu trouxe para a minha profissão e para a família que construí. E por conta da crença nestes valores, sempre admirei profissionais que trilhavam os caminhos da justiça e do respeito à pessoa humana. Uma destas pessoas,inquestionavelmente, é o juiz João Batista Herkenhoff, entrevistado especial desta edição. Convidei para a nobre missão uma jornalista que já o havia entrevistado anteriormente e que, também, é reconhecida por sua ética e credibilidade: Claudia Feliz. Vale a pena conferir o resultado deste encontro. Esta edição reflete não apenas nossa crença nestes valores, mas o respeito por você que nos lê. Ela resume minha esperança e minha confiança em que – apesar do cenário profundamente nebuloso e incerto em que estamos mergulhados – dias melhores virão. Espero que você curta nossas dicas e tire proveito das matérias aqui contidas, que fazem de Hype uma publicação diferenciada. Fazer a diferença no mundo, contribuindo para que ele se torne cada dia melhor, aliás, é nosso sonho, nosso combustível. Esperamos que também seja o seu. Boa leitura! Betty Feliz

Editora Betty Feliz

Colaboradores Ana Laura Nahas Antônio Carlos Félix Cláudia Feliz Eduarda Santos Luis Taylor Marcelo Netto Mariana Reis Sylvia Lis

Redação

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Gráfica Espírito Santo 27 3212.7800

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Nossa capa

Herkenhoff, um juiz humanista e progressista

O cinema, sob a ótica da diretora

00071 9 772237 558005

ISSN 2237-5589

R$ 10,00 ano 12 no 71

Hannah Chequer

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Kiko Mascarenhas tem saudade de “Tavares”

O verão vem aí

A modelo Natiele Alves (Joy) desfila o verão da Plural no Minas Trend 2016. Acessórios: Carlos Pena. Makeup: Ricardo dos Anjos. Foto: Agência Fotosite.

A Revista Hype é uma publicação bimestral da Preview Editora Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos ou ilustrações, por qualquer meio, sem prévia autorização do editor. Todos os direitos reservados.


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hypeonline.com.br o Inverno urban nosso ensaio de o Ribeiro assina sintonia O fotógrafo Fael ças mais leves, em pe az tr e qu o, invern m toque ical reinante. Co com o clima trop inspiração no, ele é fonte de moderno e urba is, que não peças atempora e rt cu em qu ra pa pa. Confira m no guarda-rou ne e o ls bo no e Valença pesam odução de Janiel pr m co , as a ost as prop . As modelos Anay ues iq nr He r to Vi e beleza de All Models ina Nogueira , da ar M e t rd ba ck Ha da Dotz, m), vestem looks co t. gm sm el od Capri (allm Nobre e calçados al et M os ri só es com ac

A voz do leitor Por e-mail

Sou uma admiradora da revista e, desde que a conheci, acompanho suas edições. Minha seção favorita é moda,mas gosto muito, também, de ler as dicas de decoração e de livros, além de colecionar as receitas publicadas no hypeonline.

Joana Angélica Freitas Gostaria de saber como fazer para ter uma resenha publicada na revista. Sou escritor e leitor de Hype. Para mim, seria uma honra ver um livro meu citado em suas páginas.

Gabriel Fernandez

NR- Gabriel, envie as informações e a capa de seu livro para redacao@hypeonline. com.br que teremos prazer em apreciá-lo.

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Acho a seção “Papo Surreal” divertidíssima e gostaria de sugerir um personagem para a próxima entrevista: Gael Garcia Bernal. Sou fã dele.

Otávio Ribeiro

NR- Seu desejo é uma ordem, Otávio. Hype também é fã de Gael. Adoramos o Vitória Moda e achamos que a revista deveria fazer uma matéria bem legal, nesta edição de 2016, para mostrar que moda não é apenas São Paulo e Rio de Janeiro.

Suzana e Lívia de Freitas

NR- Concordamos plenamente com vocês, Suzana e Lívia. Acompanhem a cobertura do Vitória Moda pelo hypeonline.

Fique por dentro do que acontece nas redes sociais de Hype!

revistahype @revistahype revistahype

Amei a foto da capa da última edição!

Joana Angélica Gomes Parabéns pela bela capa! Hype sempre arrasa.

Elisângela Monteiro


Sumário hype

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Viajando

» A jornalista Anny Giacomin prefere, ao contrário de uma nova bolsa , “comprar experiências”, o que desfruta em suas viagens. Mas que ninguém se iluda: Anny não é uma turista qualquer...

Papo Surreal

Entrevista

» Uma das seções preferidas

» Lembra-se do Tavares, de

dos leitores traz um ator que, além da língua afiada, é mestre na arte de fazer humor. Chris Rock foi eleito o quinto melhor humorista de todos os tempos.

“Entre tapas e beijos”? Kiko Mascarenhas, ator,diretor e produtor teatral que viveu o hilário personagem na extinta série, confessa ter saudades do pilantra.

Narciso

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Casa »A

arquiteta Eduarda Santos estreia na coluna, falando sobre o cobre, material e acabamento versátil que aparece,cada vez mais, e de forma chique, em várias versões e ambientes.

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Personagem

Zoom

» Com quase 80 anos, o

» O Oscar já vai longe, mas o

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» Fã dos clássicos do cinema,

juiz João Batista Herkenhoff defende a descriminilização das drogas e, prestes a lançar seu 50º livro, vê o futuro com esperança , porque não perdeu a fé no Brasil.

makeup de Lady Gaga ainda é lembrado pelas amantes da beleza.Conheça os produtos que a estrela usou e confira as outras novidades da estação.

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a diretora capixaba Hannah Chequer sonha com o sucesso e admite que só se dará por satisfeita quando puder criar uma história envolvente em um longa.

49 50

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Fe liz Be tt y Do is Po nt os Po nt o Fi na l H yp eE nd

38 42 Li vr os

So m

34

Co m er

Be m

26 30

24 25

Ci ne m a M in as Tr en V d itó ri a M od a Co ns um o

Di vã

V id a

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E mais

hypeonline.com.br

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Entrevista hype

KIKO MASCARENHAS

Estudioso, inquieto e perfeccionista Ator, diretor e produtor teatral, Mascarenhas passou por Vitória durante a apresentação da peça O Camareiro, ao lado de Tarcísio Meira. Um pouco antes de a peça estrear aqui, ele conversou com Hype

E

Por Betty Feliz/ Fotos: Divulgação

le admite que Tavares – personagem divertido que viveu na extinta e saudosa série global “Entre tapas e beijos” – foi um presente do autor Claudio Paiva e do diretor Mauricio Farias, “uma oportunidade única para um ator, já que o personagem era uma espécie de coringa dentro da trama”. Mas o que dá mais prazer a Kiko Mascarenhas é estar no palco de um teatro: “Minha paixão pelo palco, pelos que fazem o teatro acontecer, pelo público que se faz presente a cada noite, são motivos suficientes para meu coração bater mais rápido”, admite.

Embora sua participação como o psicólogo Danilo, no filme Meu Nome Não é Johnny, tenha lhe aberto muitas portas, como você mesmo já admitiu em entrevistas, foi o personagem Tavares, da extinta e saudosa série global Entre tapas e beijos, que o tornou mais conhecido entre o

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público. Se tivesse que voltar a viver um destes personagens, qual deles elegeria?

» A participação em “Meu Nome Não é Johnny” foi um convite inusitado do Mauro Lima (diretor do filme). Era um personagem com um lado sombrio, um dependente químico disposto a qualquer coisa para obter a droga e que tinha uma função importante na trama: era o sujeito que entregaria Johnny (interpretado pelo Selton Mello) à polícia. O fato de ter sido escolhido para interpretar um personagem que fugia do viés cômico, me interessou muito. Foi uma ótima experiência. Logo depois fui convidado para interpretar no cinema outro personagem que gostei muito, no filme do Sérgio Rezende, “Salve Geral”, também fugindo do registro do humor, pelo qual sou mais conhecido. Mas foi o Tavares...

» ... o Tavares foi um presente do Claudio

Paiva (autor) e do Mauricio Farias (diretor), uma oportunidade única para um ator, já que o personagem era uma espécie de coringa


brasileira, Tarcísio Meira. Em que nível você e ele se assemelham - e se diferenciam – no estilo de interpretação ?

Se me pedem uma ‘selfie’, por que não? O autógrafo foi substituído pela foto no celular.

dentro da trama. Tavares era um advogado atrapalhado e mau caráter que causava sempre muita confusão e tinha características muito divertidas: era um picareta sem escrúpulos, mas, ao mesmo tempo, um sujeito carente. Essa combinação era muito engraçada e o público adorava. Mas, se tivesse ou pudesse escolher reviver um dos dois, certamente seria o Tavares. Foram muitos anos convivendo com suas confusões e armações e tenho muito saudade também do seriado e dos meus colegas de cena. Criamos laços afetivos muito grandes ali, durante os cinco anos em que a série foi exibida.

Na peça O Camareiro , que passou por Vitória, você atua ao lado de uma lenda da TV

» Tarcísio sabe tudo e entende muito sobre a arte de interpretar. Independentemente do veículo – tv, cinema ou teatro – Tarcísio, assim como seu personagem na peça, o Sir, dedicou sua vida a isso. Tarcísio tem um domínio e uma compreensão surpreendentes sobre a construção de um personagem, entende perfeitamente todas as curvas e nuances que a peça de Ronald Harwood exige e tenho aprendido muito com ele, com nossa convivência ao longo de todo o processo de ensaios e durante a temporada da peça. Ouço suas observações e sugestões e tento experimentar em cena. Eu e ele nos assemelhamos no que diz respeito à dedicação ao trabalho. Ambos somos estudiosos e perfeccionistas, inquietos. Não nos damos por satisfeitos nunca. Estamos constantemente buscando lapidar mais e mais nossos personagens, as cenas, a peça. Mas Tarcísio, nesse trabalho, fez com que o personagem se aproximasse dele, enquanto eu tive que me lançar na direção do meu. São caminhos diferentes de construção. Explico: enquanto Tarcísio empresta sua própria experiência, sua figura, sua grandeza para o Sir, eu busco ir até Norman, o camareiro, porque ele me parece distante de mim em muitos aspectos. É nesse ponto, talvez que nos diferenciamos, nesse processo específico. Param você na rua para que imite Tavares?

» Não. Normalmente me param para per-

guntar ‘se’ ou ‘quando’ o “Entre tapas e beijos” volta ao ar. Era uma série com muita audiência e muito querida do público.

Como você reage ao assédio de fãs?

» Muito naturalmente. É natural ser abordado pelas pessoas quando se está na TV – é hypeonline.com.br

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Entrevista hype uma forma de as pessoas manifestarem sua admiração pelo seu trabalho. Se me pedem uma ‘selfie’, por que não? O autógrafo foi substituído pela foto no celular. Acho simpático e nunca me recuso. Penso que é o preço de ter meu trabalho reconhecido. Se não quero ser assediado, se estou de mau humor, por exemplo, melhor ficar em casa.

Vamos imaginar que você tivesse que escolher entre viver um personagem dramático na TV e um bem divertido no teatro. Por qual seu coração bateria mais rápido?

» O teatro sempre me soa como um cha-

mado. Minha paixão pelo palco, pelos que fazem o teatro acontecer, pelo público que se faz presente a cada noite já são motivos suficientes para meu coração bater mais rápido. Mas, atualmente gostaria de experimentar um trabalho que não tivesse o humor como característica. Se houvesse essa oportunidade na TV, eu aceitaria sem vacilar.

» É compreensível que o mercado de trabalho crie rótulos. Se você faz bem determinado tipo de personagem ou domina bem um gênero, é normal que seja escalado para

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Além de atuar, você também dirige e produz peças teatrais. Em qual destas posições se sente mais confortável?

» Como ator tenho mais de 30 anos de

experiência e, claro, me sinto melhor aparelhado para essa função. Como diretor, minha experiência como ator colabora muito para que eu possa assumir a posição de maestro e ajudar os atores que estou dirigindo a encontrarem os caminhos de seus personagens. Tenho muito prazer de ver o processo de criação de meus colegas atores.

Fotos: Galido

Alguns atores ficam estigmatizados em consequência de determinados papeis ou atuações. Claudia Gimenez admitiu, recentemente, que nunca pensam nela para papéis dramáticos , porque é vista como “comediante”. Essa possibilidade de ficar marcado por um “estilo interpretativo” já o assombrou alguma vez?

executar aquilo que você, reconhecidamente, faz bem. Já me vi preso a determinados tipos, em alguns momentos da carreira e foi difícil me livrar. Nem sempre temos as oportunidades que gostaríamos, que desejamos. Mas sempre tive a sorte de ser convidado para personagens que exigiam mais de mim, como intérprete. É sempre um desafio porque, mesmo que se faça apenas um único gênero , no caso da comédia, por exemplo, os personagens podem ser muito diferentes. O desafio é se reinventar a cada novo trabalho e procuro sempre fazer isso: criar algo novo para cada oportunidade que se apresente.


Como produtor, ainda tenho muito o que aprender. “O Camareiro” é minha segunda experiência como produtor e tive sorte de me associar a outras duas produtoras que já estão no mercado há anos e que dividem comigo os méritos dessa encenação, a Ricca Produções e a RB Produtora. Minha primeira experiência como produtor foi com a montagem de “Tistu – o menino do dedo verde”, em 2004, quando assinei adaptação direção, além de produzir ao lado de Paulo César Medeiros, meu querido parceiro nessa aventura. São funções muito distintas, mas todas exigem muito empenho, organização e dedicação. Não importa qual a função que lhe caiba: a arte, o teatro, sempre exige de você uma entrega absoluta.

Você já disse que, se não fosse ator, seria artista plástico, ilustrador ou desenhista. Já experimentou alguma destas áreas?

» Não. Sou um amante das artes plásticas,

gosto muito de desenho, pintura, escultura, mas, como artista, foi no teatro que descobri a forma completa de me expressar. O desenho é, para mim, uma forma de lazer, antes de tudo. Quando tenho tempo, coisa rara hoje em dia, esqueço do mundo quando estou fazendo meus rabiscos. É uma forma de terapia.

E seu desempenho na cozinha? Que nota daria para sua performance como gourmet?

» Gosto de cozinhar, gosto do sabor da comida que preparo. Mas o tempo, sempre a falta de tempo, não permite que eu me aprimore muito, então eu me daria nota 7 no quesito culinária. Você já trabalhou com muitos diretores consagrados, como são os casos de Monique Gardemberg, Ulysses Cruz, Augusto Boal, Miguel Falabella, entre outros. Qual deles lhe deixou saudosa memória?

» Como todos aprendi muito. Todos me

deixaram ensinamentos que me guiam até hoje. Agradeço a todos e sinto saudade de cada um.

Que papel gostaria de viver antes de morrer?

O público quer boas histórias. Acho que ele quer algo realista, mas também fantasia, romance e comédia

» Acho que não tenho esse ‘fetiche’ por

nenhum personagem específico. Estou bem satisfeito com os personagens que tenho interpretado ao longo de todos esses anos. Mas eu gostaria de poder ser um Dom Quixote, algum dia. Acho um belo personagem.

Você já sentiu inveja de um colega que se destacou por um personagem que gostaria de interpretar?

» Não. Vejo muitos colegas se desta-

cando por seus trabalhos no teatro, na TV, no cinema, mas não me lembro de ter desejado estar no lugar de nenhum deles. Sempre acho que o que é para mim, virá para mim.

O que você faz quando não está atuando ou ensaiando?

» Estou sempre fazendo alguma coisa. Já me defini como um ser inquieto e a cada dia tenho mais clareza sobre isso. Quando não estou trabalhando, o que é coisa rara de uns tempos para cá, sempre invento alguma coisa para fazer. Pode ser algo simples como arrumar a casa, mudar os móveis de lugar, brincar com minhas gatas...tenho duas lindas, ou assistir TV. Mas quando tenho um período grande de pausa nas gravações ou no teatro, gosto de viajar. Política, amor, sucesso, sexo, drogas, e rock´n rool. Coloque em ordem de preferência.

» Amor, porque sem amor tudo fica mais difícil, pra não dizer impossível. Sucesso, porque é bom ser bem sucedido, sexo, porque é bom e ponto, rock’n rol, pra trilha sonora da vida ser bem animada, política, porque é inevitável ser político, e drogas, sem nenhuma apologia.

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Narciso hype

Aposte na força do makeup Lembra-se de Lady Gaga na última edição do Oscar? Claro que, por trás do seu elogiado beauty look estava uma profissional na arte da beleza, a americana Sarah Tanno, que elegeu (e acertou nos) tons monocromáticos para combinar com o vestido branco da pop star, assinado por Brandon Maxwell. Seja vibrante, monocromática ou ousada, você também pode arrasar: basta eleger seu tom e escolher os produtos certos

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» O incrível beauty look monocromático escolhido

por Lady Gaga para o Oscar 2016 foi feito todo com produtos Sisley Paris . Hype elegeu o blush, o pó compacto e o batom usados pela diva.

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» O

BB Cream Perfect Cover, da marca coreana Missha, possui elementos 100% botânicos e é multifuncional: em cinco tons de nudel, além de excelente cobertura, hidrata, diminui as manchas, clareia a pele, tem ação anti-age e proteção solar fator 42.


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Vida hype Mariana Reis Educadora física, personal e posing fitness coach

Do direito de ser feliz T

em coisas que só os amigos fazem por você. Por serem amigos, nos inspiram, nos alimentam, nos estimulam e nos apoiam. Na semana passada um amigo querido me enviou um vídeo que mudaria pra sempre o meu modo de entender o verdadeiro sentido do "transpor barreiras”. Sim, a felicidade está muito além das conquistas. Esse vídeo circulou na internet e encantou o mundo inteiro (eu mesma o revi uma dezena de vezes). Nele um bebezinho de menos de dois meses de idade (sete semanas para ser exata), surdo de nascença, recebe um aparelho auditivo. Em um primeiro momento ele chora quando o aparelho está sendo introduzido em seu ouvido para, em seguida, ouvindo as vozes dos parentes ansiosos a seu lado, demonstrar uma emoção imensa, um brilho forte no olhar, e um sorriso manso e intenso, desses que vêm de dentro, da alma... Foi apresentado aos sons da vida e os primeiros que ouviu foram os sons do amor, da querença, do pertencimento. Até então os sons não faziam parte de seu mundo e nem tinha ideia que existissem, já que nessa idade a socialização é mínima, não dá para intuir pelo comportamento dos outros. E é exatamente por isso que a sua reação é emblemática, mostra que a superação de uma barreira independe até que a gente tenha consciência dela, e o resultado disso cala fundo nos que a superam, pois faz descobrir possibilidades infinitas de se ser feliz. Imagine então para os que têm consciência de suas limitações. Há toda uma tendência de a gente vincular a questão da superação de barreiras para as pessoas com deficiência a aspectos instrumentais, arquitetônicos, cidadania e

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coisas assim. Não deixa de ser verdade, e devemos insistir com isso. Mas o que esse vídeo nos mostra é que existe um direito maior, que é o direito de ser feliz, o que só pode ocorrer se vivermos na plenitude dos nossos potenciais. Aquele aparelhinho, desagradável de se usar, no ouvido do bebê, era a diferença entre ser e quase ser feliz. Mas é só um instrumento, não podemos perder isto de vista. O que se quer em verdade é que as pessoas sejam felizes, e para isso deve-se disponibilizar os meios para superar eventuais deficiências, e isso, como no caso da amada criancinha, só é possível com respeito ao ser humano e amor, muito amor entre nós. Senão, é como na musica do genial Luiz Gonzaga, ”Assum Preto”. Mesmo cego, e na gaiola, ele canta..., mas canta de dor.


publieditorial

Mineira de Belo Horizonte e radicada no Espírito Santo há 15 anos, Raphaella Navarro foi modelo dos 14 aos 19 anos, chegou a fotografar para o estilista Ronaldo Fraga, mas demorou para realizar seu grande sonho: comandar a própria marca.

I

sso aconteceu há seis meses. A Navajo, hoje conhecida por seus maxi brincos em acrílico, já trilhou surpreendente carreira meteórica, tendo conquistado, entre outros clientes, famosas como a cantora Maria Rita, a apresentadora Sabrina Sato, a DJ Ju de Paula, a diretora criativa da marca Oh, Boy!, Renata Americano, a cantora Liah Soares, a blogueira carioca Lu’Dangelo, e o festejado estilista Walério Araujo . Rapha, como é mais conhecida, já atuou na área de Publicidade e Propaganda e é uma apaixonada por design. “Sempre sonhei com minha própria marca, algo que tivesse a minha essência”,

Fotos dos brincos: Cloves Louzada

Brincos Navajo: objetos de desejo

admite. Sua atual coleção, inspirada na África, tornou-se, como a própria designer diz, “um divisor de águas da marca”. É que, enquanto procurava referências para criar as peças, ela conheceu a cultura de tribos africanas da Costa do Marfim e os símbolos Adinkra, elementos que aparecem nas bjjoux e transformaram as peças em objetos de desejo. Os brincos podem ser encontrados na Cipó Cravo (Praia do Canto e Jardim Camburi), na Marca Explícita (Centro da Praia) e na Évora (Colatina). No Rio de Janeirol, a Navajo tem pontos de venda na Barra da Tijuca e no Leblon e, em breve, estará no Jardim Botânico. Agora, Rapha realiza outro projeto: ver a Navajo na passarela do Vitória Moda, nos desfiles da Açúcar Moreno e Verônica Santoline. Mas, embalada pela máxima“não coloque limites em seus sonhos, ponha fé”, a designer ainda quer voar muito mais alto. Raphaella: brincos caíram no gosto de celebridades

Tel.: 27 99888.2582 @navajo_navajo

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Papo surreal hype

Chris Rock

Uma língua afiada

em cena Grande conhecido do público por ser um dos idealizadores e servir de inspiração para a série “Todo Mundo odeia o Chris”, aos 51 anos, o ator e humorista norteamericano Chris Rock foi um dos assuntos mais comentados na última festa do Oscar

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O

ator deveria abrir a cerimônia com seu já costumeiro show de humor, mas, ao invés disso, ele foi porta-voz de um verdadeiro e sarcástico monólogo sobre racismo e desvalorização dos negros em Hollywood. Fã do astro, Hype não poderia perder a chance de bater um papo imaginário com ele, na tentativa de compreender melhor a veia politizada de um homem famoso por seu oportuno e afiado senso de humor.


O que o levou a fazer aquela crítica em plena cerimônia? Foi um insight ou você planejou tudo antes?

»Com certeza que foi tudo planejado! Quando

fui convidado para ser o apresentador do Oscar, sabia que deveria fazer algo pelos irmãos. Nós ainda temos um longo caminho para percorrer, para atingir o mesmo nível de reconhecimento de nossos colegas brancos. Decidi não boicotar a festa, como fizeram Will (Smith) e Spike (Lee), mas não poderia deixar de dar uma boa alfinetada...

Você já foi vítima de racismo?

» Sempre tentei fazer piadas com os pro-

blemas que enfrentei, e se você assistiu “Todo Mundo odeia o Chris”, pode ter uma boa noção do que era ser o único negro em meio a vários brancos (risos). É claro que, em algum momento da minha vida, as coisas melhoraram, mas acho que ainda não atingimos o ponto certo para que isso deixe de existir com outras pessoas.

Falando em “Todo mundo odeia o Chris”, a série foi um enorme sucesso aqui no Brasil. A que você atribui esse êxito?

»

Os brasileiros são todos uns sádicos! (risos). Bom, na verdade, acho que a série apresentava algo de familiar e as pessoas puderam se identificar com isso em várias partes do mundo. Abordamos o racismo e o preconceito, mas também, a comédia pela comédia. O azar. E todo mundo já teve um dia ruim, certo?

Você teve muito sucesso trabalhando no Saturday Night Live. Existe alguma chance de voltar a participar do programa no futuro?

» Sinceramente, acho que não. Talvez algum pequeno quadro ou participação especial, mas sem um retorno definitivo. Foi algo especial em minha vida e aconteceu nos saudosos anos 1990. Não quero reabrir um ciclo do qual tenho ótimas memórias.

Mais sobre Chris Rock Comediante, ator, roteirista e cineasta, vencedor de quatro prêmios Emmy do Primetime, ele é mais conhecido por ser criador e narrar sua própria história no seriado Everybody Hates Chris (Todo Mundo Odeia o Chris). Foi eleito o quinto melhor humorista de todos os tempos pela Comedy Central e, na Inglaterra, também ocupou o nono lugar melhor humorista do Channel 4 . Chris Rock frequentou escolas em regiões com população predominante branca, onde enfrentou o racismo dos outros estudantes. À medida que foi crescendo, os abusos foram ficando piores e seus pais o tiraram da James Madison High School. Foi quando ele decidiu interromper os estudos. Está casado com Malaak ComptonRock desde novembro de 1996. Malaak é fundadora e diretora da StyleWorks , um salão de beleza que atende mulheres carentes. O casal tem duas filhas: Lola Simone (nascida em 2002) e Zahra Savannah (nascida em 2003).

Voltando ao tópico racismo, você se preocupa com o fato de suas filhas passarem por situações semelhantes no futuro?

» Claro! É impossível não se preocupar com isso quando se é pai. Mas vou te dizer: minhas meninas puxaram a mãe. São fortes. E claro, sempre que as coisas ficarem difíceis, podem contar comigo. Afinal, existem vantagens em ter um pai com idade mental de 12 anos, certo?

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Ensaio hype

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Ficha técnica » Fotógrafo: Faelo Ribeiro (faeloribeiro. com.br) » Produção: Janiele Valença » Beleza: Victor Henriques » Modelos: Anaya Hackbardt e Marina Nogueira - All Models (allmodelsmgmt. com) » Assistente de fotografia: Will Ribeiro » Acessórios: Metal Nobre » Calçados: Capri » Roupas: Dotz

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Personagem hype

João Batista Herkenhoff

Um juiz a favor da

descriminalização das drogas Por Claudia Feliz | Fotos: Danilo Martins

Às vésperas de comemorar 80 anos de vida, o juiz João Batista Herkenhoff mantém o vigor e a visão progressista de um homem que sempre revelou-se à frente do seu tempo

O

vigor pode ser observado na sua ativa produção escrita, que o leva agora dar os toques finais no seu 50º livro, uma obra que se propõe a revelar a relação direta entre a fé e os direitos humanos, prestes a ser lançada. Fé que faz com que esse respeitável magistrado aposentado, nascido em 1936, em Cachoeiro de Itapemirim, em meio à crise econômica e ética que assola o país, acredite firmemente em um futuro melhor para o Brasil.

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Nesta entrevista, concedida antes do afastamento da presidente Dilma Roussef, ele fala sobre impunidade, seu novo livro e da descriminalização das drogas, que defende, certo de que a solução para o problema não está na prisão.

Há um velho ditado que diz: “A justiça tarda, mas não falha”. Analisando o cenário nacional, o senhor concorda com ele?

» Discordo desse ditado. Muitas vezes a

Justiça falha, não só hoje, mas no decorrer da História, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Muitos erros judiciários aconteceram e são bastante conhecidos. Alguns deles decorreram da falibilidade humana: provas mal coligidas, depoimentos falsos, involuntariamente falsos, ou falsos por maldade, fruto de mau caráter. Alguns erros judiciários famosos foram explorados pela literatura de ficção e até pelo cinema. Seria desejável que a Justiça não tardasse e também que não ocorressem erros judiciários. É possível alcançar uma justiça mais rápida, que ficasse livre do anátema de Monteiro Lobato: “Move-se a traquitana da Justiça.” É também possível conseguir uma Justiça que falhe menos.

Por que a impunidade, muitas vezes, parece ser um mal sem cura no Brasil?

»

A impunidade não existe somente no Brasil. No mundo inteiro, algumas pessoas consideram-se acima da lei. A sabedoria popular resume em uma frase esta verdade: “Para os fracos, os rigores da lei. Para os poderosos, os favores da lei”.

Em face do que está acontecendo no país (ex-presidente Lula sendo alvo de investigação; Governo Federal pressionado por denúncias de corrupção; empresários presos sob a acusação de práticas corruptas), algo poderá mudar no país?

»

Só acredito em mudanças reais pela via constitucional. Um eventual golpe seria um desastre, um retrocesso histórico. Todas as denúncias, contra quem quer que seja, devem ser apuradas, com estrita observância da Constituição e das leis, especialmente assegurando-se aos acusados o direito de ampla defesa.

O senhor foi às ruas protestar? Iria?

»

Não fui às ruas, mas elogio quem foi, quer para protestar contra o Governo, quer para apoiar o Governo. As manifestações são democráticas. Em razão da idade (às vésperas dos 80 anos) e de restrições de saúde, isto de participar de passeatas fica difícil. Tenho atuado por outros meios: escrevendo, dando entrevistas, fazendo palestras. Nunca me omiti, não só hoje, como no decorrer de toda a vida. Quando era magistrado da ativa, respondi a processo perante o Tribunal de Justiça do Espírito Santo pelo fato de integrar, como presidente, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória. Essa comissão, cuja sigla era CJP, denunciava abusos de toda ordem, não poupando nem mesmo o Poder Judiciário. Telefonei para o bispo e indaguei como deveria me preparar para o interrogatório a que seria submetido. Dom Luís Gonzaga Fernandes pediu que eu lesse este texto do Evangelho: “Quando fordes chamados a tribunal, por causa do meu nome, não vos preocupeis com o que haveis de dizer. O Espírito vos soprará”.

Sua prática na magistratura revela que o senhor foi um homem à frente do seu tempo. Na década de 1960, por exemplo, já agia no sentido de garantir a presença das crianças na escola. Conte um pouco da sua experiência como juiz, com aquela sua maneira bem própria e moderna de ver o mundo.

» Agradeço o elogio contido em sua pergunta. A propósito de garantir a presença hypeonline.com.br 21


Personagem hype das crianças na escola, baixei portaria determinando, em minha comarca, a matrícula compulsória das crianças, ou seja, a Justiça ordenava a matrícula das crianças. Principal consequência da medida: o Poder Público teve de garantir vaga para as crianças matriculadas, por ordem do juiz. Na época, os juízes detinham uma margem de poder legislativo. A portaria, a que me refiro, teve força de lei, e aumentou o percentual de crianças na escola. O êxito não foi igual em todas as comarcas, porém o resultado foi sempre positivo.

Em 1978 o senhor libertou da prisão uma mulher de nome Edna, grávida de oito meses, e que respondia, presa, pelo crime de tráfico de drogas. O texto de sua sentença (ver quadro na página ao lado) fugia ao convencional, falando sobre marginalização, exclusão social e machismo. Como o senhor era visto pelos seus pares, naquela época?

» Essa pobre mulher, tocada pela sentença, disse perante o juiz e todos que estavam no fórum: poderia passar fome, porém prostituta nunca mais seria. Ela cumpriu a promessa e voltou ao fórum meses depois, com a criança no colo, para dizer ao juiz, ao promotor e aos serventuários que havia mudado de vida. Alguns dos meus pares partilhavam de ideias semelhantes às minhas. Outros discordavam. O apoio me alegrava, a discordância não me afastava do caminho que me parecia correto.

O senhor é a favor da descriminalização das drogas?

» Sim. A punição, o processo, o cárcere não tem tido êxito. Pelo contrário, têm agravado o problema. A solução não se localiza no Direito Penal. Reclama medidas educacionais, sociais, psicológicas, médicas.

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O senhor foi advogado e promotor de Justiça, antes de ser juiz. O que buscava ao optar pela carreira da magistratura? Em algum momento, ela o frustrou?

» A magistratura era minha vocação. A advocacia e o Ministério Público foram estágios preparatórios. A opção pela toga não me frustrou. Se fosse possível viver outra vez, novamente escolheria a toga como o caminho a ser trilhado nesta vida.

Claro que o Brasil tem remédio. Vejo com muita esperança o futuro do nosso país.

Juízes que cometem atos irregulares muitas vezes acabam punidos com aposentadoria precoce. Para muitas pessoas, esse tipo de punição soa como premiação. Como o senhor a avalia?

» Não me parece possível uma respos-

ta abrangente de todas as situações. Para um juiz a aposentadoria compulsória é punição sim, uma punição que machuca e humilha.

O país está mergulhado numa profunda crise, não só econômica, mas também ética. O Brasil tem remédio?

»

Claro que o Brasil tem remédio. Vejo com muita esperança o futuro do nosso país.

Fale-me da sua rotina de escritor, e de seus projetos. Planeja lançar uma nova obra?

» Estou ultimando meu quinquagésimo

livro. Espero lançá-lo ainda neste ano, ao completar 80 anos. Já escolhi o título da obra: “A fé e os direitos humanos”. Nele, defendo a tese de que os direitos humanos têm radicação na fé. Não apenas na fé cristã, mas em outras árvores religiosas.

Como é o João Batista Herkenhoff marido, pai,


publieditorial avô? O que gosta de fazer quando não está lendo e escrevendo muito?

» A melhor coisa que existe no mundo é ser avô. Com absoluta neutralidade, posso assegurar que tenho uma netinha linda, simpática, inteligente, questionadora, que faz perguntas que eu não sei responder.

Tem algum sonho que planeja realizar?

» Um sonho bastante difícil para minha

idade: dar uma volta ao mundo com minha mulher.

Se pudesse voltar no tempo, mudaria algo que tenha feito?

» Na essência, não. Na forma de fazer, sim. Sempre é possível

A sentença do juiz no caso Edna “A acusada é multiplicadamente marginalizada: por ser mulher, numa sociedade machista; por ser pobre, cujo latifúndio são os sete palmos de terra dos versos imortais do poeta; por ser prostituta, desconsiderada pelos homens, mas amada por um Nazareno que certa vez passou por este mundo; por não ter saúde; por estar grávida, santificada pelo feto que tem dentro de si, mulher diante da qual este juiz deveria se ajoelhar, numa homenagem à maternidade, porém que, na nossa estrutura social, em vez de estar recebendo cuidados pré-natais, espera pelo filho na cadeia. É uma dupla liberdade a que concedo neste despacho: liberdade para Edna e liberdade para o filho de Edna que, se do ventre da mãe puder ouvir o som da palavra humana, sinta o calor e o amor da palavra que lhe dirijo, para que venha a este mundo tão injusto com forças para lutar, sofrer e sobreviver. Quando tanta gente foge da maternidade; quando milhares de brasileiras, mesmo jovens

e sem discernimento, são esterilizadas; quando se deve afirmar ao mundo que os seres têm direito à vida, que é preciso distribuir melhor os bens da terra e não reduzir os comensais; quando, por motivo de conforto ou até mesmo por motivos fúteis, mulheres se privam de gerar, Edna engrandece hoje este Fórum, com o feto que traz dentro de si. Este juiz renegaria todo o seu credo, rasgaria todos os seus princípios, trairia a memória de sua mãe, se permitisse sair Edna deste fórum sob prisão. Saia livre, saia abençoada por Deus, saia com seu filho, traga seu filho à luz, que cada choro de uma criança que nasce é a esperança de um mundo novo, mais fraterno, mais puro, algum dia cristão. Expeça-se, incontinenti, o alvará de soltura.” (Decisão proferida em 9 de agosto de 1978, na 1ª Vara Criminal de Vila Velha, Espírito Santo).

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Divã hype Antônio Carlos Félix das Neves Psicólogo, psicanalista e professor antonic@terra.com.br

Quando salvamos o pai: a ressaca moral

P

odemos admitir que quase todo ser humano, de acordo com sua condição social, econômica e cultural, experimentou, um dia, uma ressaca moral. Como resultado de suas ações inconsequentes e de situações constrangedoras, a pessoa é tomada por um sentimento de culpa pelo que ela fez ou pensou em fazer. Quando a culpa recai sobre o sujeito de forma implacável, a ressaca moral muda até de nome: rebordose. Mas o que pensarmos da ressaca moral proveniente de termos vivido boas emoções, de termos passado um dia, uma noite muito feliz? Pode parecer estranho, mas também existem pessoas que, após momentos de felicidade plena, culpam-se por estarem proporcionando, a elas mesmas, situações prazerosas. Em seguida, relatam que não se acham merecedoras dessa felicidade, de que existe gente em condições de vida muito precárias e que, por isso, não podem aceitar tamanho contentamento. Quando indagamos quem seriam essas pessoas supostamente prejudicadas, dizem não saber. Há um Outro indeterminado em nome de quem renunciam seus prazeres. Punem-se por estarem contentes, desejantes de coisas satisfatórias. Penitenciam-se, como estivessem pedindo desculpas a uma autoridade, por quererem a mais, por ultrapassar certo limite com alegria. Na ressaca moral, essas pessoas sacrificam seus desejos a um pai idealizado em troca do seu amor, mantendo o pai numa posição mitificada, totêmica, de quem esperam preceitos de como se comportarem na vida. Seguindo os ditames do pai, encontram-se

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seguros, uma vez que, se as ordens são do pai, cabe a ele a responsabilidade de qualquer fracasso. Preservando, então, o pai como aquele que sabe o que é bom e o que é ruim, dedicamos a ele o nosso destino. Ir além do ordenamento paterno, numa certa heresia, se servindo de suas referências, é um ato de aventura, de coragem, um voto de vida e de morte. Teremos, assim, que criar nossas próprias certezas, sem ter quem diga se estamos certos ou errados naquilo que escolhemos e desejamos por nós mesmos.

Ilustração: Fernando Augusto


Cinema hype

Por Guilherme Lage

Girl Power » Lembrem-se desta data: 15 de julho. A reputação de uma das mais queridas franquias dos anos 1980 está em jogo e é você o juiz que dará a última palavra. A franquia em questão é Caça-Fantasmas (Ghostbusters), que teve seu primeiro título em 1984. O primeiro trailer de um reboot do clássico, que dessa vez traz quatro garotas no cast principal, entre elas Melissa Macarthy, de Mike & Molly, deixou o público dividido em relação ao conteúdo da obra. Algumas críticas referiam-se ao fato de que as meninas não conseguiram replicar a química de Bill Murray e companhia nos filmes originais.

A novidade, no entanto, não desagradou a todos os espectadores. Alguns sites especializados em cultura pop abraçaram a nova proposta e aguardam, ansiosamente, pela estreia do longa. Reboots são sempre um terreno movediço. Por muitas vezes, a inovação do cinema tem sido refém de um xiitismo dos fãs mais ardorosos. Em época de empoderamento da mulher, a ressurreição de um adorado quarteto dos anos 80, agora em uma perspectiva feminina, pode ser um grande avanço. É necessário ficar atento apenas em relação ao roteiro, que pode, sim, ser insatisfatório. Mas não há nada errado com a premissa.

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Minas Trend

Viva a leveza E

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Fabiana Milazzo

Fabiana Milazzo

Fabiana Milazzo

m meio a tantas referências, a 18 a edição do Minas Trend Preview, no Expominas, em Belo Horizonte, exibiu até mesmo inspirações literárias, para mostrar que a moda não é apenas vestuário. A Faven, por exemplo, inspirou-se em Madame Bovary, um romance clássico de Gustave Flaubert, e não economizou nas estampas geométricas, ora em tons pastel, ora quentes. Não faltaram babados, basques, rendas pregueadas e detalhes barrocos, referências fortes do século 18. Já Fabiana Milazzo mergulhou no universo grunge e misturou rebeldia com romantismo, investindo em tons pastel, bordados,rendas e pérolas,enquanto Sonia Pinto, em seu desfile denso e carregado de referências e recriações, exibiu um inverno chique e autoral , em preto e branco. Mas o que Hype adorou mesmo foi o desfile da Plural (confira nossa capa). A marca, apostou na leveza, na modelagem fluida, no mix de texturas - leia-se linho, jersey, georgette plissado e renda (lindos!)- além das estampas e do abstracionismo. As escolhas de Hype, os tons solares – afinal, é com eles que se faz o autêntico verão–, a leveza e a fluidez estão aqui.


Faven

Lino Villaventura

Faven

Lino Villaventura

Faven

do verĂŁo!

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Lucas MagalhĂŁes

Viva por Vivaz

Lucas MagalhĂŁes

Viva por Vivaz

Minas Trend


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Plural

Plural

Plural

Plural


Vitória Moda hype

Na passarela,

arte, cultura e identidade

Iniciativa do Sistema Findes, em parceria com o Sesi / Senai e correalização do Sebrae, o Vitória Moda alcançou a sua nona edição com maturidade e uma proposta de resgate da auto estima: a valorização do Espírito Santo, suas raízes étnicas, sua arte e sua cultura

S

ob o tema “Natural, original, tropical – mergulhando em nossas raízes”, e tendo como palco o Centro de Convenções de Vitória, que abriga o evento desde que ele foi lançado, em 2007, o Vitória Moda, afinal, na visão do presidente do Sistema Finde, Marcos Guerra, “joga luz no potencial de nossa indústria, viabiliza novas parcerias, amplia

negócios e estimula o fortalecimento do setor no Estado e no país”. Para Guerra, é necessário continuar consolidando as marcas capixabas em nível nacional, “mostrando que os produtos capixabas estão entre os melhores do país”. Ninguém ousa duvidar disso. Tanto que o presidente da Câmara do Vestuário da Findes e coordenador do Vitória Moda, José Carlos Bergamin, é o primeiro a assegurar: o evento é uma importante vitrine da moda capixaba. “Queremos que a indústria e os designers capixabas expressem, cada vez mais, o que os motiva intimamente. Afinal, ao valorizar sua própria cultura, a moda apropria-se do que ela tem de mais precioso: sua identidade”, enfatiza Bergamin. O superintendente do Sebrae ES, José Eugênio Vieira, ressalta a importância Foto: Singular Fotografia

» O presidente Marcos Guerra fala durante o lançamento do Vitória Moda na Findes

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» O brunch de lançamento reuniu, além

de autoridades, empresários, imprensa e designers envolvidos no evento

Fotos: Singular Fotografia

do evento para os empresários, principalmente de pequenos negócios. “O Vitória Moda é uma ótima oportunidade para divulgar as marcas e fazer networking”, diz ele. Além de valorizar a natureza exuberante e a etnia diversa, nesta edição o Vitória Moda veio com a proposta de destacar o artesanato e a economia transversal e criativa do Espírito Santo. Por isso, instalou o Salão Criativo, um espaço de 700 metros quadrados reunindo a arte e a cultura de empreendedores capixabas. Leia-se fotografia, moda, design, cinema, gastronomia, arquitetura, marcenaria e artesanato, entre outras atrações. Somou-se a isso tudo uma linda exposição temática, projetos e empreendimentos com conteúdo de inovação e conceito por meio de produtos e serviços, sob a curadoria e os olhares atentos de Jacqueline e Vivian Chiabay. Além das palestras com Chiara Gadaleta e Fernanda Yamamoto e das oficinas, esta edição será lembrada, no futuro, pelos desfiles de Açúcar Moreno, Bebel Gama, Buphallos, Chris Trajano, Eliane Kill, Studio Etá, Dua’s, Dupla Meninna, Florest, Hagaef, Isla Vix, Konyk, Look Belle, Zan.Bo, Maria Gueixa, Sol de Verão, PK Premium, Riviera, Saia de Chita, Surreal, Verônica Santolini e Zinsk, além das apresentações do Senai e dos alunos de Moda das faculdades UVV, Faesa e Unesc. O otimismo é tanto que o desejo é de que a próxima edição – quando o Vitória Moda completará 10 anos de vida – possa ser comemorada à altura do evento.(Veja a cobertura completa do VM em www.hypeonline.com.br)


publieditorial

Reserva Natural também aposta no jeans Sempre primando pela sustentabilidade, a marca acaba de lançar a Eco Resort e a coleção Reserva Natural - O Jeans do Brasil, que estará à venda a partir de agosto.

D

esenvolvida para pessoas sensíveis a todas as manifestações que envolvam moda e meio ambiente, a coleção Eco Resort, da Reserva Natural, fala com mulheres que buscam conforto e modernidade, aliados à consciência ecológica. Não por acaso, a fonte de inspiração para suas estampas e sua cartela de cores vem dos resorts, spas, costas litorâneas paradisíacas e cachoeiras límpidas. Nem poderia ser diferente. Afinal, a Reserva Natural prima pela sustentabilidade. Por isso mesmo, o cenário eleito para seu primeiro desfile, o Pier Aleixo, no canal de Camburi, mostrou-se perfeito: embalada pelo visual bucólico, tropical e romântico que se vislumbra no local, a marca encantou aos convidados com uma mostra de seu verdadeiro DNA. Quem foi conferir pôde conhecer, também, a coleção Reserva Natural O Jeans do Brasil, que, em caráter permanente, a partir de agosto, trará peças em jeans, tratados em modernas lavanderias,com estonagens e tinturaria especiais.

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publieditorial A charmosa coleção Eco Resort, da Reserva Natural, fala com mulheres que buscam conforto e modernidade, aliados à consciência ecológica

No Espírito Santo, há 10 anos, a Reserva Natural é representada pela RGVIX, que oferece consultoria de moda às melhores multimarcas do Estado.

Endereço Rua Antonio Dias Machado, 445 Distrito Industrial II Cep: 37.903-805 – Passos-MG Tel.: (35) 3529-2100 | Fax: (35) 3529-2101 faleconosco@reservanatural.com.br A identidade olfativa da Reserva Natural é um dos destaques da marca. Sua linha bem estar aguça os sentidos por meio de deliciosos e aromáticos sais de banho espumantes, sabonetes líquidos, aromatizantes e velas perfumadas, que relaxam e revigoram.

www.reservanatural.com.br Facebook: Reservanatural Instagram: reservanaturaloficial

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Consumo hype

Desejo de renovação no ar Nova estação, novos ares, novas formas, novos desejos... Hype garimpou alguns acessórios capazes de revirar os olhinhos de cobiça das fashionistas de plantão. Resista se for capaz!

2 34

1

»D e Camila Klein, este

bracelete com original mistura de materiais revela o traço da designer em sua nova coleção. O anel da marca exibe fortes tons metalizados e um rico trabalho artesanal

3

»O s óculos Emilio Pucci

revelam não apenas a personalidade marcante da grife, mas, também, design e modernidade

»D a Morana, a maxi

4

pulseira dourada, porque, como diria o poeta, gente foi feita para brilhar

»D e Jorge Bischoff, estas charmosas

sandálias são o passaporte para entrar na estação pisando alto e elegante


5

7

6

» Clutche com detalhes

em prata e maxi cristal e o modelo com estampa de cobra, da Ozorno, para brilhar em ocasiões especiais

» Delicada, a pulseira Estrela do Mar contrasta com o vibrante brinco coral da Essere Joias

» Inspirada na pop

9

star Madonna, Nádia Gimenes criou uma coleção onde se destacam o anel cruz montana, em ouro vintage, e o bracelete raios, em resina preta e ouro

»A pulseira e o colar

Balonê atendem a dois tipos de mulher: uma, cheia de personalidade e poder; a outra, delicada e feminina. Qual delas é você?

8 10

» O estilo retrô tomou conta da nova

coleção da Capodarte. O resultado? Sapatos com pegada saudosista e perfume dos anos 1960/70.

»M arc Jacobs apostou na

transparência, que dominou as passarelas internacionais nas últimas temporadas. (Hype ama o relógio preto..., e o dourado também!)

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Turismo hype

Viajando.com

Anny Giacomin

Fotos: arquivo pessoal

“Tem gente que é feliz comprando uma bolsa nova, uma roupa. Eu prefiro comprar experiências – e viajar é a melhor delas.” Esta frase resume bem o estilo de nossa “guia”

A

paixonada por viagens, a jornalista capixaba Anny Giacomin diz que, desde que se entende “por gente”, durante vários anos, no dia 25 de dezembro, pela manhã, via a família arrumar as malas e partir para a praia. “Só voltávamos para casa em meados de janeiro” Esta rotina, segundo ele, acabou gerando a Anny, cidadã do mundo. “Hoje, de vez em quando ouço meus pais reclamando que eu deveria juntar dinheiro e não viajar muito, mas fazer o que se foram eles que me ensinaram isso desde pequena?” Para Anny, viajar é descobrir um mundo novo em cada destino. “É sentir o quão importante pequenos momentos vividos são para cada pessoa, entre chegadas e partidas. É uma forma de me descobrir, de me construir e tornar-me uma pessoa melhor. É o momento maior de partilha da felicidade – mesmo quando há perrengues e parece que nada vai dar certo”, resume.

para conhecer! Neste momento, é Bolívia e Peru, programados para abril.

A primeira viagem a gente nunca esquece...

quinha e chata, que quer só fazer aquilo que quer. Mas, isso, acho que vale pra vida, não só pra viagens... (risos)

» Foi para a Argentina, em 2007. Tinha

saído do estágio, estava no fim da faculdade e tinha terminado um namoro. Não esperava nada. Só queria ares diferentes. Então, resolvi arriscar. Chamei uma amiga e decidimos tudo meio em cima da hora. Foi meu presente de formatura. E posso dizer que não poderia ter escolhido presente melhor.

Cartão postal inesquecível

» O Canadá, onde fiz intercâmbio por três

meses. O Cliffs-of-Moher, na Irlanda, tem uma imponência fenomenal. A Glaciar Perito Moreno, em El Calafate, na Argentina, é totalmente inimaginável. Aqui no Espírito Santo meu lugar preferido é a janelinha do Convento da Penha, um lugar com uma energia incrível!

Melhor companhia de viagem

» Você mesmo! Não tem viagem boa se

você não estiver feliz consigo e disposto a aproveitar aquilo que o lugar te proporciona! Depois disso, a melhor companhia é aquela pessoa que tem sintonia com você, que não tem frescura e que topa conhecer coisas novas sempre com um sorriso no rosto.

Pior...

» Gente ranzinza, mes-

Um roteiro de sonhos.

» Transiberiana, na Rússia; montanhas

rochosas, no Canadá; Grécia, Croácia, Nova Zelândia... ainda tenho um mundo de lugares

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» A jornalista na Irlanda


Um mico em trânsito

» Quem nunca pediu uma comida

que não tinha nada a ver com aquilo que imaginava...?

Tropeçou na língua...

» Parafraseando uma grande amiga,

“para quem sabe a linguagem universal da mímica, nunca haverá tropeço na língua”. Na dúvida, faça mímica, ou leve papel e caneta para desenhar, literalmente. Mas, lógico, que uma vez ou outra a gente se esquece disso...e as risadas são garantidas!

País que ainda não conhece

» São tantos...mas ainda tenho planos de dominar o mundo (risos).

Voltaria mil vezes a ...

» ...Suíça, Irlanda e Canadá. Saber o

quanto as pessoas desses países são educadas, solícitas, simpáticas só me fazem querer voltar o mais breve possível em cada um deles. Além disso, as paisagens são incríveis, parece que você vive em um filme todos os dias.

Um prato de comer de joelhos

cheia de alegria e de disposição. A cada viagem que eu faço minha malamochila diminui. Isso é um ótimo sinal! Além de estar me desapegando dos meios materiais, ainda posso trazer mais momentos lindos vividos na volta pra casa.

» S uíça

Um souvenir irresistível

» Não me ligo tanto nas compras quando viajo, porque sempre viajo com dinheiro mais do que contado (risos). Mas coleciono lápis e, também, copos de drinques, aqueles pequeninos, que não ocupam muito lugar.

» T ailândia

Uma descoberta

» A maior descoberta de todas

é que eu sou tão feliz viajando que, cada vez mais, fica difícil voltar. Pelo menos, me dá ainda mais certeza de que o meu dinheiro está sendo muito bem empregado toda vez que viajo...

Dicas de viagem

» Bife de chorizo uruguaio e argentino; » No meu instagram (@namochiceviche peruano e chileno; pastel de choclo, no Chile; pato no tucupi, em Belém do Pará. Aliás, Belém merece um capítulo à parte, tudo é muito bom lá... O poutine de Montreal, no Canadá, e a moqueca capixaba, claro!

Uma comida que detestou

» A maioria dos lugares em que comi

comida tailandesa na Tailândia. A comida é meio gosmenta, ensopada e tem um cheiro horrível, de embrulhar o estômago. É bem diferente da comida tailandesa no Brasil e em outros lugares do mundo onde já comi.

A mala perfeita

» Aquela livre de frustrações, leve,

» D isney

ladaanny) costumo colocar fotos dos lugares por onde passo e dar dicas. Geralmente, defino meu roteiro pelas promoções que surgem. Infelizmente, nem todo mundo pode aproveitá-las, mas já consegui ir para a Europa por R$ 680, por exemplo. Aos Estados Unidos fui duas vezes por menos de R$ 600. Busco opções baratas- e isso não quer dizer que sejam ruins. Gosto de andar a pé e faço sempre um seguro viagem, porque, em caso de emergência, ele salva mesmo. No mais, o ideal é encarar cada viagem como uma aventura e uma possibilidade de autoconhecimento mesmo.

» B uenos Aires

» D eserto do Atacama, Chile

» A hypeonline.com.br rgentina


Comer bem hype

Sylvia Lis | Chef sylvialisc@gmail.com

A cozinha

em tempos difíceis P

arece um contrassenso falar de fartura neste momento, mas se verificarmos o que não utilizamos dos vegetais, carnes, peixes e etc. ao longo de nossas vidas, veremos que o que dispensamos pode transformar-se em um grande banquete cotidiano. A considerar alguns dos famosos pratos da gastronomia de todo o mundo, foi justamente a escassez que criou alguns desses ícones como, na França, a Bouillabaisse e, na Itália, o famoso molho “Putanesca”. Então, para que irmos tão longe se em nosso país temos a feijoada e, mesmo na nossa cidade, a famosa e deliciosa torta capixaba? Todos esses pratos e muitos mais resultam de “restos de feira”, por assim dizer. Então, se podemos criar delícias como estas, que rompem fronteiras e ganham o mundo, por que em nossas casas não podemos aproveitar o que temos “ até a última gota” ou “até o talo”? Por exemplo: os talos de vegetais como espinafre, couve são não apenas ricos em vitaminas e outros nutrientes, mas, sobretudo, em sabor. Jamais desprezo o talo da salsinha, porque também conferem alguma crocância. Os talos do coentro guardam seu maior frescor e, por isso, ficam maravilhosos em vinagretes e, mesmo, na nossa moqueca capixaba. A questão é que nós,brasileiros, vivemos em uma cultura de falsa fartura. Na verdade, vivemos desperdiçando tudo. Somos orgulhosos. Meus avós costumavam valer – se de um dito popular na época: “Economia é sinal de porcaria”! o que, como diria Drumond de Andrade, “seria uma rima, não uma solução”.

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Sem falar que os pratos que vinham à mesa,naquela época, eram maiores do que as bocas que iriam comê-los. Os tempos mudaram – agora de verdade! E essa velha e pobre rima já não faz sentido em nossas vidas. Se queremos sobreviver no mundo moderno e recessivo, temos que economizar. Economizar para deliciar-se! Seria esse nosso novo “ditado”. Assim, nossas mesas continuam fartas e nossos pratos deliciosos. Num país como o Brasil, em que “se plantando, tudo dá”, há que se plantar! Plantar novas idéias, novos conceitos, novos gostos. E, sobretudo, plantar uma nova ordem em nossa sociedade, em nossa vida e em nossas políticas sejam elas econômicas ou gastronômicas.

Confira no site www. hypeonline. com.br a receita do Arroz com talos de couve e bacalhau, da chef Sylvia Lis


@metalnobreacessorios

Metal Nobre Acessรณrios


Casa hype Eduarda Santos é advogada, arquiteta e está à frente do site Casa Casada www.casacasada.com.br

O cobre

em alta Material que aquece, traz aconchego e, de quebra, parece a um só tempo moderninho e descolado, ele se adapta a várias propostas

O

cobre se destaca no décor e, sem muito esforço, vira a estrela do ambiente por sua tonalidade única e pelo visual inusitado que confere por onde passa. Versátil, alia-se ao vidro ou à madeira para composições mais sofisticadas com a mesma facilidade que se junta ao tijolinho, à palhinha ou à cerâmica, em versões rústicas. Material e acabamento que aparecem, mais chiques do que nunca, nas versões opaca e brilhosa, nas mais variadas matizes e formas, como lustres, adornos, móveis, metais cozinha/banheiro e até revestimentos, assim é o cobre. Aposte nessa tendência para dar aquele up na decoração! Confira nossa seleção.

1 40

»M esinha de apoio,

com detalhe em cobre na versão brilhosa, à venda na Solarium Móveis.


2 3 »M ancebo inspirado nos cactos do sertão nordestino, com acabamento em cobre. Tem prateleira maciça, local para deixar chaves, carteiras e celulares. Por Edu Bortolai, à venda na Stampa.

5

4

» C om design de Alberth Diego, o arrojado pendente é feito em cobre e alumínio cobreado, para www. ibacana.com.

» B anco Paraná, em peroba rosa

de demolição e cobre, design de Fabrício Roncca. Pode ser encontrado na Solarium Móveis.

»G arrafas podem

ocupar os nichos do carrinho bar Barolo, criação de Amélia Tarozzo, à venda na Stampa.

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6

»M esas laterais com acabamentos diferenciados. As bases aparecem em couro, cimento e madeira, assinadas pelo designer Fabricio Roncca

» P ara banheiros

modernos e sofisticados, misturador linha Dot Red Gold, Deca.

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Som hype

Luis Taylor taylor@superig.com.br

Menos fúria, ainda estranho, mas muito bom Parquet Courts – Human Performances

Se existe uma banda sobre a qual é difícil construir expectativas, ela é o Parquet Courts. Um primeiro álbum, quase punk rock, deu lugar a um som alternativo, remetendo ao Pavement, grupo ícone desse estilo, meio estranho e muito bom. No terceiro, mudaram até a grafia do nome da banda, gerando uma sensação estranha, como um desconforto meio que premeditado, algo comum à banda. Talvez essa seja a melhor tradução para se tentar entendê-los. O quarteto é algo estranho, uma peça que não se encaixa bem no quebra-cabeças de influências. Pois em seu último disco, Human Performances, a peça solta uniu-se a uma engrenagem tinindo e criou um verdadeiro motor turbo. Desde os primeiros singles – Berlin Got Blurry e Dust – tivemos uma pequena amostra do que poderíamos esperar nesse lançamento. As guitarras

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continuavam envenenadas e as melodias nem tão quebradas. A fúria foi domada e colocada para trabalhar em prol da banda. Entre os destaques do álbum, Captive of the Sun e os dois já citados singles. Melódico sem ser açucarado, o Parquet Courts mostra que, mesmo quem é (ou soa) estranho, pode acabar combinando, e muito, com você.


Livros hype

Fique longe de Ernesto

» Ernesto, que dá título a este livro, vive uma terrível pro-

vação pessoal: a solidão. Pelas mãos da autora Blandina Franco, o personagem principal enfrenta o sofrimento do não pertencer. No que pode ser tachado de auto-ajuda disfarçado por um anedotário literário, conhecer Ernesto pode ser uma jornada autocrítica das próprias ações: alguém merece mesmo ser tão sozinho por ser diferente?

Pesadelos compartilhados »

Consagrado como um dos maiores escritores do século XX, Stephen King é aclamado por gerações como um dos maiores expoentes do terror e ficção de todos os tempos. Em 2016, o autor de “O Iluminado” e “It”, traz ao público sua narrativa claustrofóbica na forma de um quase-manual (se é que é possível) para autores iniciantes. Em Bazaar of Bad Dreams, King faz um apanhado de 20 contos (já publicados e inéditos) em que aparecem introduções do escritor sobre a criação da história, suas influências e como escreveu o material. Ele não só despeja luz sobre seu processo criativo, mas também, ainda que sutilmente, estende a mão aos que pretendem aventurar-se no mundo da literatura.

Poesia visceral

» Francisco Settineri autor de Diáspora,

leva o leitor a desbravar os limites da poesia. Usando, muitas vezes, um lirismo ágil, suas produções focam principalmente na própria contemplação de vida. Na obra, o autor brinca com jogos de linguagem, reflexões de vida e irreverência, transmitindo toda a fragilidade visceral da poesia contemporânea.

Raspando sujeira com as unhas » A trajetória de uma das bandas mais importantes dos anos 1990 é destrinchada em uma nova biografia. Ainda que não autorizada pela banda, Alice in Chains: the Untold Story traz depoimentos de familiares, amigos e músicos ligados ao grupo e que acompanharam

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a catarse que tomou lugar durante o período de efervescência, o espiral de sucesso e o entorpecimento que levou à implosão do grupo, em 2002, e seu retorno em 2006. Além disso, a obra faz um apanhado particular da vida de cada um dos membros.


ZoOm hype

Hannah Chequer

Uma cineasta de olho no mundo Por Betty Feliz | Fotos: Divulgação

Ela não esconde: tanto profissional quanto pessoalmente, sonha com o sucesso, que, para a jovem diretora capixaba Hannah Chequer, é sinônimo de liberdade

F

ormada em cinema em Paris e vivendo, atualmente, em Los Angeles, nos Estados Unidos - de onde concedeu esta entrevista – Hannah, 24 anos, atua como freelance nas áreas de produção e direção de atores, e avalia trabalhos mais regulares em estúdios, tanto para TV quanto para cinema, ainda em processo de seleção. Depois de participar, como assistente de direção, da  produção Emma Approved, adaptação do romance clássico Emma, de Jane Austen, gravada em Los Angeles em 2014, em 2015 Hannah viu seu trabalho ser coroado com um Emmy de Melhor Conteúdo Interativo, competindo com Blank Space interactive experience, de Taylor Swift. “Foi meu primeiro trabalho de verdade, em estúdio, no set, com profissionais vencedores de Emmys e que criavam conteúdo comercial. E foi o que me impulsionou a criar meu próprio conteúdo. O engraçado de trabalhar em um set de menor escala, como o da Pemberley Digital, é ver que o processo é de fato simples, algo que eu sabia fazer, e ver que é possível ter conteúdo de qualidade sem grandes budgets ou super efeito. Foi muito encorajador”, diz Hannah, ainda saboreando o gostinho da vitória e lembrando-se de como tudo aconteceu.

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Apesar de não ater-se a formatos – longa, curta, série ou websérie – ela sonha em dirigir um grande filme. “Ainda considero os longas como a mais fina arte dentre as outras mídias. Só me darei por satisfeita como diretora quando puder criar uma estória envolvente, em um período de duas horas. Sou muito fã dos clássicos do cinema”, diz Hannah. E ela vai além: “Qualquer um pode criar uma websérie ou um curta, todo mundo faz isso nas escolas por aqui. Mas, um longa de qualidade? Isso é a diferença entre ser o maestro ou parte da percussão. Quando a temas e roteiros, mantenho em segredo”, resume. Logo após a festa do Oscar, a cineasta encontrou-se com os nomeados ao prêmio de Melhor Maquiagem, com quem conversou. “Qualquer um que me conhece sabe que eu não entendo muito de maquiagem, apesar de gostar e achar lindo. Levei ao evento duas maquiadoras com as quais trabalho muito em set por aqui, e elas tiveram a chance de conversar com algumas pessoas que admiram muito”. Para Hannah, o mais interessante desta experiência foi ouvir as histórias dos bastidores. “Como diretora e roteirista, é interessante ouvir como os roteiros foram detalhados para criar o visual final, ou como os maquiadores adicionaram elementos e detalhes ao filme, dando maior significado e realismo a tudo na tela. Esse tipo de colaboração entre diretor e equipe é o que faz o sucesso de um filme”.

Mais de perto Diretores preferidos Paolo Sorrentino ( Youth) e George Miller( Mad Max:Fury Road)

Atriz/ ator

Brie Larson (Room) e Ethan Hawke.

Filmes inspiradores

Before, Deadpool, Persona , Uma Linda Mulher, Contos de Tóquio e Gênio Indomável.

Pratos brasileiros Se você quiser encontrar a jovem cineasta, procure-a no Instagram e no Facebook.”O uso das redes sociais começou mais por necessidade de me manter em contato com todas as pessoas que conheci ao longo dos anos ao redor do mundo. Atualizando a minha rede, posso incluir meus amigos e familiares na trajetória sem me sentir muito culpada por estar trabalhando demais” (risos) . Com o instagram, Hannah diz ter ampliado sua “audiência” . Mesmo assim, avisa: não tem a menor vontade de virar blogueira ou “uma Kardashian”. Até porque, confessa, não usa Snapchat, Pinterest, Vine... “Sou da geração anterior. E, diferentemente do Faceboook, o instagram é aberto, meus posts são bem menos pessoais e minhas fotos uma reflexão do que eu vejo no mundo, versus como o mundo me vê”.

Moqueca capixaba e brigadeiro.

Hobby

Redecorar espaços.

Livros de cabeceira

Brooklyn, A Parisiense, Como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo, e Quad.

Sonho de consumo

Janelas enormes com sofá embutido (“bay window”) e “Barisieur”.um despertador conceitual que faz café.

Look do dia

Roupas básicas, com uma boa bolsa e um bom par de sapatos

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y t t e B z i l Fe 8 questões para

Luciana Almeida

Ela se diz “otimista e uma entusiasmada admiradora do ser humano”. E quem conhece Luciana Almeida sabe que ela não fala por falar: “ Acredito na transformação das pessoas e aprendi cedo, em casa, o valor da gentileza, da empatia e da generosidade. Aprendi e ainda aprendo”, diz, com sincera humildade Self coach, consultora em comportamento e etiqueta empresarial e social, palestrante, comentarista na Rádio CBN Vitória e colunista da Revista AG, Luciana diz comprovar, a cada dia, por meio do seu trabalho, que profissionais competentes em sua área podem transformar a realidade do mundo pessoal e corporativo. E mais: que criar ambientes e situações favoráveis ao desenvolvimento das pessoas a realizam, alegram, incentivam e encantam. “Este é o meu propósito”, resume a consultora.

Plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho...O que ainda falta fazer?

» Vivo, intensamente, o momento presente, mas me falta escrever um livro.

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Hypidinhas » Xuxu e Flávia Neffa come-

É melhor reagir e ficar vermelha e ou calar e amarelar?

» Minha mãe já dizia: “É melhor ficar vermelho por cinco minutos, que amarelo por toda a vida”. Aprendi.

»

Quem convidaria para escrever sua biografia?

»

Nelson Motta. Ele é leve, inteligente e divertido

Se sua vida rendesse um filme, quem o dirigiria?

» Sandra Werneck, diretora de “Pe-

»

O que é pior: o convidado levar um “convidado” para sua festa ou ouvir: “Poxa, você não me chamou para seu aniversário”...

» A tal da “sofrência”, essa mistura de

sofrimento e carência, me incomoda. Quanto a levar o convidado para a festa, pode chegar!

»

»

Especialista em saúde auditiva, ela recomenda: aos primeiros sinais, procure logo o otorrino. Vem aí mais uma edição do Morar Mais Vitória. Desta vez, com pegada boho chic, o evento contemplará 40 ambientes, assinados por mais de 60 profissionais. A casa fica na avenida Dante Micheline, em Jardim Camburi. De 9 de agosto a 18 de setembro. A Preview Editora assinará as próximas edições das revistas Vitória Mag (com a cobertura do Vitória Moda), Empreenda Jovem e Surreal Mag, além do catálogo do evento Morar Mais Vitória, previstos para o segundo semestre deste ano.

Fotos: Weverson Rocio

queno Dicionário Amoroso” e “Cazuza – O Tempo não Para”.

moram a abertura da loja piloto Maria Honos, especializada em alimentos caseiros congelados. Funciona no térreo do hotel Alice, no centro da cidade. Quem provou, aprovou. O advogado tributarista João Paulo Barbosa Lyra de endereço novo. O escritório, com uma elegante ambientação assinada pela decoradora Glorinha Queiroz, fica no edifício Petro Towers, na Enseada do Suá. A fonoaudióloga e diretora da Audiovix, Guilhermina Gomes, vê aumentar o número de pessoas que se queixam do zumbido (um ruído que não tem origem externa e sim interna).

Se sua casa estivesse pegando fogo, o que (ou quem) salvaria primeiro?

» Quem estivesse lá dentro.

A canoa furou: você nada ou pede socorro?

» Eu nado muito! (risos)

Eleja, por ordem de importância: sucesso, dinheiro,amor e credibilidade..

» Amor, dinheiro, credibilidade e sucesso.

» Sonia e Gabriela Iamonde hypeonline.com.br 47


Dois pontos

Assar, rezar, amar E

xiste um adágio nas artes da culinária segundo o qual “a bom cozinheiro se chega, o bom assador se nasce”. Seu autor, um juiz francês nascido em meados dos anos 1700, escreveu um apanhado de meditações sobre a comida, seus modos e o amor pelas receitas intitulado A Fisiologia do Gosto, em que teoriza, com ironia fina, a respeito de coisas que governam o bem cozinhar, o bem receber e o bem comer. Quando não estava preparando faisões recheados, filé mignon ao molho de trufas ou omeletes de atum, Jean Anthelme Brillat-Savarin, o juiz francês de ironia fina e meditações sobre cozinhar, receber e comer, passava os dias e respectivas noites organizando degustações e defendendo a capacidade de servir receitas acalentadas no forno como um talento nato surgido com o próprio cozinheiro. Qualquer um, ele dizia, pode aprender as medidas e as técnicas de qualquer prato, cru ou cozido, doce ou salgado, picante ou suave, desde que feito do lado de fora do fogão. Seu interior, ao contrário, exige um dom genuíno, de raízes profundas, tal e qual a liberdade do velho poema sobre a palavra humana que o sonho alimenta [Não há ninguém que explique nem ninguém que não entenda...] Anos depois, uma escritora de nome igualmente francês, estômago forte, coração inquieto e alma cigana ensinou que a verdadeira cozinha é feita por quem adiciona um fio de azeite enquanto sonha, acrescenta uma pitada de sal enquanto dança, pesa sem balança, marca o tempo sem relógio, vigia o assado apenas com os olhos da alma, mistura ovos, manteiga e farinha guiada exclusivamente pela inspiração. Estou com eles. Gosto de estudar o tempo certo do cozimento, a textura conveniente dos

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Ana Laura Nahas Jornalista e escritora ana.laura.nahas@gmail.com

ingredientes, a intensidade exata do fogo, a forma adequada do tabuleiro, equilíbrio no tempero, harmonia na textura, paciência na espera. Da avó paterna herdei o gosto pela culinária dos sírios e dos libaneses, o chancliche envolvido em azeite que ela servia com folhas de pão na grande mesa de madeira, berinjelas recheadas, folhas de couve e repolho ao redor do arroz com especiarias, cebolas cruas com quibe e por fim uma colherada generosa de pasta de gergelim. Da avó materna vieram o feijão espesso do qual ainda hoje sinto o cheiro, os refogados e uma exótica salada de músculo de boi com azeitonas, tomate e temperos posta na mesa com pães de sal frescos que comprávamos pouco antes do almoço. Minha mãe ensinou o resto – com exceção do arroz, que errei até os dois primeiros anos do casamento, insistindo nos blocos que denunciavam ausência de empenho e excesso de água. Os assados simplesmente surgiram, a costelinha regada a vinho encorpado e purê de maçã verde, o frango inteiro com batatas coradas e tomates desidratados, a carne dormida em temperos com os legumes que estiverem à mão, o escondidinho de batata doce, a caponata que antecede os pratos e croutons para acompanhar. Às vezes os amigos chegam, às vezes somos apenas nós, cantando e dançando diante dos pratos mais simples como se fôssemos convidados do banquete preparado por Babette, redimidos da culpa e da guerra pela boa mesa e plenamente conscientes de que o Céu também se faz nos pequenos encantos da vida.


Ponto Final

Sonho

M

inha mãe me mandava tomar cuidado com o que desejo; pois a verdade é que desisti de sentir remorso por ter desejado que Olímpio morresse. Eu o conheci na oitava série. Lembro que, naquela tarde, o professor de Química dizia de como alquimistas sonhavam em transformar chumbo em ouro. Na hora da saída, de repente, sem motivo, Olímpio simplesmente me puxou para uma briga. Apanhei feio. O pesadelo havia começado. O ritual passou a se repetir. Eu chegava em casa empoeirado, sangrando, às vezes de roupas rasgadas. Atormentado, implorava à minha mãe para que me mudasse de colégio. Em resposta, ela afagava os meus cabelos e me pedia para não ser esquisito: o que seria de mim sem meus amiguinhos? Enfurecido, decidi reclamar na coordenação. Lá, recebi o mesmo afago de cabeça: meu filho, vá brincar, não leve isso a sério; é uma época tão bonita da vida, a sua; por que desperdiçar com sentimentos negativos? E, em toda hora da saída, a mesma cena. Olímpio me puxava para a briga e me aplicava uma surra. Tentei revidar. Era fraco demais. Apelei para a fuga. Meu fôlego me abandonava nos primeiros metros. Tentei distraí-lo – cara, esqueça isso, vamos jogar um fliperama, eu pago. Olímpio preferia a satisfação de uma boa briga, com garantia de vitória. Que mais eu poderia fazer? É claro que passei a desejar que Olímpio morresse. Não podia lutar, não podia fugir, não podia ficar amigo dele. Sem escolha, pedia a Deus para que fizesse justiça e acabasse com a raça daquele sujeito. Deus, por favor, mate esse menino! Até que, naquela tarde, fui surpreendido com os portões da escola fechados. O que está acontecendo?, perguntei. Não podemos entrar, não sei por que, responderam. Fui ao diretor, perguntei o motivo disso.

Marcelo dos Santos Netto Jornalista e escritor www.msnetto.com.br msanetto@gmail.com

– Não vai haver aula hoje – explicou o diretor. – A escola está de luto. O colega Olímpio morreu num acidente de carro. Engoli seco. Como assim, morreu? Não consegui encarar o diretor. Imagino como devia estar me condenando por ter ido reclamar do meu coleguinha. Talvez ele soubesse que eu realmente quis que Olímpio morresse. Mas eu nunca levei isso a sério. Os alquimistas da aula de Química sonhavam em ver o chumbo transformado em ouro – e nem por isso conseguiram. Eu nunca teria ido tão longe assim se soubesse que meu sonho pudesse ser concretizado. Nem sequer aproveitei o fim das surras. O aviso da minha mãe soava em minha cabeça: cuidado com o que deseja. Acabei me convencendo que sim, eu fui culpado desse crime. Desejei a morte de Olímpio. Quem sabe, foi assim que a havia conseguido. Será que eu poderia compensar isso? Queria tanto voltar atrás, tentar outra solução menos definitiva. Para meu azar, o destino concedeu essa chance. Não havendo mais Olímpio, foi o Tarcísio que decidiu me puxar para a briga na saída. É claro que eu apanhava, sempre. E é claro que nem minha mãe, nem o coordenador fizeram algo quanto a isso. Lembrei mais uma vez do conselho sobre tomar cuidado com o que se deseja. Pois é melhor tomar ainda mais cuidado com o que abrimos mão de desejar: nossa doce realidade pode voltar a ser um sonho.

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Hype end

»Quatro cientistas acabam de receber, em Nova Iorque (EUA), o Sabin Conservation Prize, prêmio mundial pela conservação da natureza. Entre eles, destaca-se a brasileira Cecília Kierulff (no destaque), especialista no estudo e proteção de primatas da Mata Atlântica. Pós-graduada em Biodiversidade Tropical, pela Ufes, ela é primeira brasileira a receber o Sabin Conservation Prize. O prêmio, criado pelo empresário

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norte-americano e filantropo Andrew Sabin em 2013, reconhece cientistas em todo o mundo que se destacam na conservação de espécies que correm o risco de extinção, entre eles o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), o mico-leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) e o macaco-prego-do-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos), que devem muito à dedicação e pioneirismo desta bióloga e cientista brasileira.


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