REVISTA
Ano III Ed.18
A arte do fogo pela Capital Artista de Brasília leva a pirografia além das fronteiras do país Pág. 14
Ricardo Albertini
Brasília, Jul. | Ago. 2016
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EXPEDIENTE Jornalistas: Bernardo Torelly, Bianca Brunetto, Diana Melo, Jéssica Moura, Juliana Mendes, Priscilla Teles e Thalyne Carneiro. Fotografia: Diana Melo, Jéssica Moura e Renan Aires. Projeto Gráfico e Diagramação: Gueldon Brito e Thaíssa Nobre. Diretoria Executiva: Júlia Dalóia e Priscilla Teles.
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ARTE PARA CURAR A DOR
QUADRILHA JUNINA, PAIXÃO E TRADIÇÃO
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PALAVRAS AO VENTO: BRIO
A ARTE DO FOGO PELA CAPITAL
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TORRE CULTURAL
CACHEIA EU, CACHEIA VOCÊ
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SUMÁRIO
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ORQUESTRA SINFÔNICA DA CAPITAL PALAVRAS AO VENTO: QUANTO DO OUTRO PERMANECE EM NÓS
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Arte para curar a dor Tatuadoras do DF oferecem sessões de graça para cobrir cicatrizes de mulheres vítimas de violência doméstica Por Jéssica Moura n s u l to s , g r i to s , a b u s o s , agressões. A violência contra as mulheres deixa marcas não só psicológicas, mas também físicas. E, ao encarar o espelho, as lembranças dolorosas das agressões voltam a atormentar as vítimas. Inconformadas com essa situação, duas tatuadoras brasilienses decidiram transformar essas cicatrizes da violência em arte. Dayanne Araújo, uma das idealizadoras do projeto de cobertura de cicatrizes, explica que o trabalho é um desafio, “É difícil não só pela complexidade das cicatrizes, mas também pelo lado emocional e a responsabilidade de fazer algo perfeito para uma pessoa que você nunca viu na vida. Faço os desenhos à mão livre, com canetinha. Primeiro escuto as histórias delas para entrar nesse espaço tão íntimo e saber o que elas gostam. No final, ver o brilho que antes não estava no olhar delas, não tem preço”.
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Em geral, as mulheres que são encaminhadas ao estúdio Lounge Tattoo chegam receosas, sem saber o que esperar da sessão. Além da conversa para tranquilizá-las, o ambiente de paredes claras e decorado com desenhos de autoria das tatuadoras também proporciona um clima receptivo às vítimas, que são atendidas de graça no local. “Eu queria muito fazer, mas não tinha condições, então veio na melhor hora. A cicatriz me incomodava, mas eu estava com muito medo por ser um local doloroso. Mas elas foram conversando comigo, me acalmando e valeu a pena depois olhar e ver no lugar da cicatriz as flores, que significam que devo florir para sempre”, conta Nadja Aquino, 43 anos, uma das clientes de Dayanne.
por ela mesma em um momento de desespero enquanto enfrentava um processo de depressão. Já cansada dos mais de quatro anos de agressões cometidas pelo ex-marido que, bêbado, a violentou inúmeras vezes, tentou tirar a própria vida. “Apesar de tudo, tinha medo de denunciá-lo, por causa dos meus filhos. Depois de sofrer violência sempre ficava preocupada de vestir alguma roupa que mostrasse a barriga, não tinha vontade de olhar, me trazia lembranças ruins. Mas hoje, onde antes era só cicatriz já olho e vejo a arte”, lembra. Contudo, este foi mais um dos casos chocantes de mu-
Uma cirurgia para retirar uma bala no estômago de Nadja deixou uma cicatriz de 20 centímetros que se estendia por todo o abdômen. O tiro à queima-roupa foi disparado
Jéssica Moura
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Jéssica Moura
CIDADANIA lheres que procuraram a ajuda das tatuadoras. Dayanne Araújo conta que outra vítima relatou que foi esfaqueada na perna e na barriga quando tentava impedir que o marido da tia a atacasse com uma faca. Durante a briga, ele segurava no colo o bebê do casal. Sensibilizadas com o trauma dessas vítimas é que as tatuadoras atendem apenas mulheres pelo projeto. Além disso, ela diz que a maioria dos casos que chegam ao estúdio, os próprios companheiros são os algozes. A inspiração para Araújo e a colega Lina Rufino foi o projeto da tatuadora Flávia Carvalho, de Santa Catarina, que também oferece sessões gratuitas a mulheres que, como ela, também foram alvo de violência causada pelos próprios companheiros. No caso das voluntárias do Lounge Tattoo, o engajamento com as causas de gênero serviram de motivação para ajudar as vítimas. “A mulher é muito desvalorizada apenas por ser mulher, a cultura faz delas objeto. Muitas vezes o homem bate na mulher e ainda dizem que
Dayanne Araújo fazendo o trabalho de cobertura
ela é a culpada. Achamos isso um absurdo e essa (a tatuagem) é uma forma de a gente tentar combater isso”, afirmou Dayanne. A ideia é que o projeto seja permanente. Por mês, devem ser feitos pelo menos três atendimentos para cobrir as cicatrizes. O ideal é que as cicatrizes tenham se formado a pelo menos dois anos, para evitar problemas na pele. Agora a tatuadora pretende se aperfeiçoar nesse tipo de cobertura com um curso de micropigmentação paramédica. Segundo dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres,
no ano passado foram registradas 32 mil ligações ao disquedenúncia, o equivalente a 179 ligações por dia. Metade dos relatos denunciaram casos de agressão física. Dessas, 75% afirmaram que os abusos eram recorrentes: ocorriam pelo menos semanalmente. “Diante de dados tão alarmantes é preciso nos posicionarmos para contribuir para o fim da violência doméstica e familiar. (. . .) Disponibilizamos tatuagens que possam suavizar, cobrir e ressignificar as cicatrizes deixadas pela violência doméstica e familiar”, escreveram as artistas em sua página no facebook.
Lounge Tattoo 910 Sul - Ed Mix Park - Bloco D - Loja 219 – Asa Sul Agendamento por WhatsApp : 98243 4172 / 98190 0351 www.facebook.com/estudioloungetattoo
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Quadrilha Junina, paixão e tradição Grupos do Distrito Federal e Entorno mostram que a cultura brasileira vai muito além do carnaval, e que a paixão de ser quadrilheiro é tão grande quanto a paixão pelo futebol Por Juliana Mendes
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pesar de ser conhecido como país do carnaval, o Brasil tem se destacado também por outra manifestação cultural: a quadrilha junina, que já ganhou adeptos pelos quatro cantos do país. Há grupos que se preparam durante todo o ano para competições e apresentações Brasil afora.Alguns, inclusive, já levaram um pouco dessa cultura para o exterior por meio do Projeto Goal To Brasil, do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), como a
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Quadrilha Cafundó do Brejo, de Tocantins, que se apresentou em Bogotá, Colômbia, em 2013. “Foi muito gratificante, pois conhecemos uma cultura diferente e acima de tudo mostramos a tradição da festa junina do Brasil”, relembra a presidente do grupo, Delacir Bezerra. Originada da contredanse française, a quadrilha surgiu na França no século XVIII e
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Téo Pini
CULTURE-SE
CULTURE-SE chegou ao Brasil durante a Regência, no século XIX. Começou fazendo sucesso entre a família real e a alta sociedade do Rio de Janeiro, até descer a escadaria do palácio e se disseminar entre a plebe que ao longo do tempo vem modificando suas características básicas. De início se fixou no interior, sendo uma tradição do Brasil caipira, mas com o tempo ganhou os grandes centros urbanos. Aquela quadrilha que costumávamos ver nas apresentações das festas juninas das escolas quando éramos crianças foi repaginada. A ela foram incorporados outros ritmos e figurinos, cenas teatrais com narração de uma história criada a partir de um tema que se expandiu, e hoje vai além do sertanejo lá do nordeste. Podemos ver a imaginação voar alto em uma apresentação que pode contar desde a velha história do caipira a história do cangaço brasileiro. Muito conhecida no nordeste, essa tradição chegou com tudo no Distrito Federal e entorno, onde existe hoje
cerca de 80 grupos profissionais cadastrados nas entidades representativas do DF, que, além de fazerem apresentações nas diversas festas juninas que aconte-
zação dos campeonatos. No DF a representatividade fica por conta da União Junina Brasiliense (UJB) e Liga Independente de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal
cem entre junho e agosto na Capital, representam suas cidades nos campeonatos regionais e nacionais.
e Entorno (Linq-DFE). Já em nível nacional são ligadas à Confederação Nacional de Quadrilhas Juninas e Grupos Folclóricos (Conaqj) e Confederação Brasileira de Entidades de Quadrilhas Juninas (Confebraq), respectivamente.
Existem duas entidades representativas em nível regional e duas confederações em nível nacional, responsáveis pela organi-
Como exemplo de sucesso, em 2015 o Distrito Federal teve dois grupos entre os melhores colocados no Campeonato Brasileiro de Quadrilhas Juninas, organ i z a d o p e l a Co n a q j a q u i em Brasília. O grupo Êta Lasquêra que ficou em 7º lugar e o grupo Pau Melado, vice-campeão, ambos representantes de Samambaia e cadastrados na UJB. Esse ano os grupos partici-
Téo Pini
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CULTURE-SE pam do II Festival Gonzagão de Quadrilhas Juninas do DF e Entorno na busca pela classificação para o brasileiro 2016, que será
realizado em um Estado nordestino. Como forma de incentivo, o governo federal instituiu,
por meio da Lei nº. 12.390 de 03 de março de 2011, o Dia Nacional do Quadrilheiro Junino comemorado no dia 27 de junho.
Paixão no DF e Entorno
se concretizaram, mas que é uma meta a ser alcançada segundo o puxador, Hamilton Teixeira dos Santos.
tante líquido por conta desse último atrativo. Além, é claro, de colocar os estudos em primeiro lugar.
Integrantes de diversos grupos destacam as vantagens de ser quadrilheiro como o reconhecimento por disseminar a cultura brasileira, a possibilidade de fazer novas amizades, o cunho social por afastar adolescentes das armadilhas das ruas e o grande atrativo, o gasto calórico que conquista quem busca a boa forma. A dançarina Maria José Alves de Oliveira, que há 14 anos dança no grupo Caipirada, destaca, porém, a necessidade de ter uma boa alimentação e ingerir bas-
O Instituto Sociocultural Caipirada Lapidar é outro grupo que desde 2003 encanta o público por onde passa. Representante de Planaltina Goiás, cidade do entorno do DF, é formado por 67 componentes que há dois anos leva ao público a história do cangaço brasileiro contada de uma forma divertida com o tema “O bando de lampião xaxando no sertão”. O grupo, que hoje é cadastrado na União Junina, já foi ligado à Linq-DFE e conquisTéo Pini
O Grupo Cultural Parafolclórico Quadrilha Junina Pau Melado foi criado em 1999 e já conquistou várias premiações, entre elas o 1º lugar no campeonato brasileiro de 2013, além de ser tetra campeão no Concurso Regional e cinco vezes campeão no Arraiá Brasil, ambos realização da parceria SESI/Rede Globo. O grupo conta atualmente com 80 integrantes entre dançarinos e apoio e já se apresentou nos Estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Ceará, Acre e Rio de Janeiro, sem contar os convites para apresentação no exterior que ainda não
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CULTURE-SE
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tou vários campeonatos organizados por essa entidade, e também viveu a experiência de se apresentar em outro Estado onde, segundo o presidente Márcio Eduardo Moraes Duarte, foram aplaudidos de pé. Com apoio apenas da Prefeitura e da Câmara Municipal da cidade que bancam transporte para participação nas competições, são os componentes que se viram com pedágios nas vias da cidade, venda de rifas e bombons para bancar figurino, alimentação e a taxa anual paga à UJB. Um dos momentos marcantes do grupo, vivido em um dos campeonatos, mostra as dificuldades que por diversas vezes os fizeram repensar se o espetáculo deveria continuar. “Saímos juntando dinheiro para pagar o ônibus para ir lá dançar. Um deixou cortar a luz, outro pegou dinheiro emprestado com a mãe. Quase não conseguimos ir. Mas chegamos lá e fizemos valer a pena. Ganhamos como melhor casal de noivos, melhor marcador e a quadrilha ficou em primeiro lugar”, relembra Maria José, a noiva e integrante da diretoria do grupo. A preparação para as competições que geralmente tem início entre maio e junho co-
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meça cedo. Entre setembro e outubro, logo que terminam os festejos e concursos do ano, os grupos começam a rotina de ensaios que geralmente acontecem nos finais de semana. Mas não há nenhuma dificuldade nisso, pois todos compartilham de uma paixão pela dança junina e os encontros parecem reuniões de família. “O mais importante é a amizade que a gente constrói. Aqui no Caipirada somos uma família. Tem os momentos de discórdia, mas quando a gente entra num arraiá e a gente vê o quanto dançamos bem, quando saímos é só choro. Muito emocionante”, conta Márcio Eduardo. Os grupos geralmente estão de por tas abertas para novos integrantes e patrocinadores. Procure o de sua preferência para mais informações e venha para esse arraiá você também. Acesse: https://www.facebook.com/uniaojuninabrasiliense https://www.facebook.com/linq.dfe?fref=ts.
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PALAVRAS AO VENTO
Brio Por Bianca Brunetto Autodescobrimento descobrir-se despida de aparências fúteis Desvendo-me enxergo preto no branco [criando] – paradigmas – Inúteis Descendo a rua [paranóias] desfaço-me descobrindo-me nua – mais uma vez – Coragem.
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Mariana Melo
CAPA
A Arte do fogo pela capital Artista de Brasília leva a pirografia além das fronteiras do país Por Priscilla Teles 14
CAPA
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beleza da obra final. Após esse primeiro contato, Flávio se sentiu compelido a aprimorar seus traços e trazer à tona mensagens inspiradas que hoje decoram diversos ambientes pelo Brasil e pelo mundo. “A minha inspiração vem de coisas que já vi, inclusive em sonhos. Eu gosto de realmente passar uma mensagem, não quero fazer um desenho que apenas seja bonito. O que ele quer dizer? Por que ele deve estar em um ambiente seu? Ele preArquivo pesoal
O percurso por essa ar te começou em 2011 por meio de um amigo que o convidou a transformar um shape de skate, que acabou não sendo utilizado tamanha a
cisa expressar alguma coisa”, comenta Araújo.
Flávio e Boris Vallejo
A escolha da madeira é que normalmente dita a técnica a ser usada. O artista explica que em madeiras mais duras, rígidas e irregulares – como o Pinus – é mais fácil utilizar o pontilhismo. Técnica que melhor expressou seu cunho espiritual, pela leveza, “Todas as minhas peças tem uma pegada mais espiritual, exceto algumas encomendas que foram desenhos bem específicos. Mas no geral as pessoas querem uma extensão do meu trabalho, do meu estilo mesmo”. Para uma peça de 2 metros gasta-se em média duas semanas de trabalho. “Como meu trabalho são peças únicas, às vezes não consigo atender todas as solicitações Arquivo pesoal
pirografia – do grego: escrita + fogo – é a arte feita em madeira, metal, couro e outros materiais com uma “caneta de ponta quente”, conhecida como pirógrafo. Acredita-se que o estilo nasceu com a descoberta do fogo, o que a torna ancestral. Mas apenas ganhou força na Idade Média, quando foram desenvolvidos os primeiros instrumentos para prática – que consiste em criar desenhos em superfícies com a ferramenta quente, que resulta em traços e pontos feitos por “fogo”. Em Brasília, Flávio Araújo, 34 anos, destaca-se por trazer a técnica do pontilhismo para o estilo da pirografia.
Flávio e Julie Bell
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CAPA de tatuagem que par ticipou. “Lá fora a aceitação foi muito boa, é uma forma de arte bem diferente do que eles estão acostumados. E u l eve i a l g u m a s p eç a s menores com a intenção de fazer troca com outros artistas, vindo a calhar pessoas comprarem algumas dessas peças”, conta Araújo. “A pirografia acaba sendo uma terapia. Um momento meu com esses vários pensamentos. Minhas peças refletem isso. Não tem como forçar a inspiração e nem se deve fazer isso, se torna mecânico, sem amor”, finaliza o artista. Arquivo Pessoal
de encomendas. Além do tempo de criação da peça ainda tenho que conciliar com o meu trabalho com tatuagem, que acaba demandando mais tempo”, ressalta e ainda completa: “a minha arte não é aquela feita em larga escala que você vai encontrar em lojas de decoração. São peças diferenciadas que passam sentimentos diferentes. Algumas pessoas até acham que o trabalho é feito a laser, pela minuciosidade da técnica”. Em 2016 o artista, que também é muito reconhecido por seu trabalho com tatuagens, viajou para a Europa e apresentou seus trabalhos para personalidades do meio artístico, como os pintores Julie Bell e Boris Vallejo. Em sua passagem por Veneza e Roma, o pirógrafo demonstrou sua técnica e trocou experiência com diversos artistas nas duas convenções
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Conheça mais sobre o artista: Facebook: Flávio Araújo Pirografia em Madeira
Arquivo Pessoal
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9ª
EDI
ÇÃO
Let it go BAZAR
A L T E R N A T I V O
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ERNESTO CAFÉS ESPECIAIS 115 SUL BLOCO C
DAS 14H ÀS 20H
AGOSTO ADAS S E US A V O E SN & ART ROUPA ÚSICA M ORINA ÓRIOS VEJA C R E ACESS C A E MUIT CAFÉS
GIRO CAPITAL
Torre cultural Tradicional ponto da capital conta com programação semanal diversa para alegrar as noites dos brasilienses Por Bernardo Torelly
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naugurada em 1967, a Torre de TV é um símbolo da capital. Projetada por Lúcio Costa, a estrutura de 244 metros tem
visão privilegiada do centro de Brasília. A Feira da Torre de TV, totalmente reformada em 2014 e tradicional pelo comércio e artesanato, recentemente assumiu um lado diferente: o de ser palco de eventos culturais e musicais de várias origens e públicos, tornando o já conhecido ponto da capital um espaço para demonstrar a diversidade do povo brasiliense. Os apaixonados por motocicletas encontraram na feira desde o ano passado, todas as terças-feiras, um lugar ideal para exibir suas máquinas, prestigiar bandas de rock and roll da cidade e comprar roupas e acessórios, além
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de aproveitar a estrutura da praça de alimentação. O Torre Sobre Rodas, iniciativa da Associação da Feira da Torre de TV, conta com o apoio de diversos motoclubes e chamou a atenção até dos que não possuem moto. Atualmente entrou para o calendário de eventos semanais da cidade. A edição do evento realizada no dia 13 de julho atraiu grande público e serviu de aquecimento para o Brasília Capital Moto Week, um dos maiores eventos do país direcionados à motociclistas. O encontro contou com uma loja de roupas e acessórios temáticos, além de um stand para os interessados em adquirir uma nova motocicleta. Seis bandas de rock se apresentaram, tocando sucessos de artistas como Legião Urbana, Raul Seixas, Capital Inicial e Plebe Rude. Além do incentivo à cena cultural, o comércio local fica fortalecido com eventos como o Torre
Sobre Rodas e outros que ocorrem na feira em outros dias da semana. O motociclista Gabriel Simões ainda diz “Além de ser um evento que é um ponto de encontro e que dá oportunidade a bandas de tributo e autorais da cidade, está atraindo pessoas que nem mesmo possuem moto. Os comerciantes também estão comemorando, pois o movimento de pessoas é garantido com estes eventos semanais”. Para o baterista da banda Baú Revirado, Fernando Souza,
GIRO CAPITAL iniciativas como esta na Torre de TV devem se multiplicar para dar mais oportunidades para as bandas da cidade mostrarem o seu trabalho e conseguirem incentivos para a produção musical. Segundo ele, o sucesso dessa edição do evento se deveu principalmente à proximidade com o Brasília Capital Moto Week,
que contará com a presença de diversos artistas. Na variedade da Feira da Torre, há espaço também para quem curte um forró. O ritmo nordestino tem presença garantida toda quinta no evento Sertão da Torre. As comidas típicas oferecidas pelos fei-
rantes dão a sustança para dançar a noite inteira. O trio Aratiri, cria da capital, anima a festa toda semana, sempre com um convidado especial. Um dos grupos que já acompanhou o evento foi o Trio Saculejo. Para um dos seus integrantes, Alberto Freitas, Brasília é uma cidade multicultural e multilinguística, que agrega todas as culturas e povos. “Para nós que defendemos a tradição nordestina, é uma satisfação enorme levar um pouco de cultura e mostrar nosso trabalho. A recepção do público foi muito boa. As pessoas se divertiram junto com a gente, entendendo a dimensão cultural do que é o nosso país e a música do Nordeste. Devem ter mais oportunidades como essa para facilitar o acesso a essas coisas”, destacou. Como parte do folclore do Nordeste, o que não poderia faltar nesta festa é a literatura de cordel. “Além de um ponto de encontro, o forró da Torre de TV se
torna um local para manifestação cultural nordestina. Trabalho com uma produção independente de folhetos de cordel sobre as nossas origens e a influência desta tradição no que é ser candango. É gratificante ter a oportunidade de o tra-
balho ser apreciado e receber o reconhecimento das pessoas. A Torre de TV consegue captar toda a diversidade de Brasília, com diversas matrizes e cores de todo o país”, afirmou o cordelista Sabiá do Cordel.
Quer ficar de olho na programação? Sertão da Torre www.facebook.com/sertaodatorre
Torre Sobre Rodas www.facebook.com/torresobrerodas
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NA NET
Cacheia eu, cacheia você... Grupo em rede social dedicado aos cabelos crespos e cacheados reúne mais de 13 mil pessoas no DF
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magine existir um espaço virtual, totalmente colaborativo, dedicado aos cuidados do cabelo e promoção do bem-estar e autoestima de seus integrantes. É exatamente isso que se tornou o grupo do Facebook criado pela publicitária Beatriz Andrade, 29 anos, em conjunto com sua amiga, Brenda Lima. “Eu e a Brenda havíamos começado a fazer encontros de Cacheadas e Crespas no DF, uma seguidora então sugeriu que criássemos um grupo, eu adorei a ideia porque ficaria mais fácil para divulgar os encontros”, relata Beatriz. Ela e a Brenda se conheceram em outro grupo na mesma rede social, mas de abrangência nacional.
Hoje, o grupo antes formado somente para organização de encontros presenciais tem também outras funções. As mulheres que ali estão trocam dicas de penteados, cuidados, cortes e até mesmo se incentivam para que aquelas que há pouco tempo desistiram de alisar o cabelo não desanimem, apoio essencial para quem está na fase de adaptação e que durante toda a vida teve dificuldades em se aceitar com o cabelo natural. “Eu alisava meu cabelo desde os 8 anos de idade. Sempre
Por Thalyne Carneiro
usava alguma química pra abaixar o volume”, conta Néia Macedo, participante do grupo, “Comecei a namorar um amigo de faculdade e ele me perguntou porque eu não assumia o meu cabelo como ele era. Ele me deu todo apoio para não usar mais químicas no cabelo, resolvi parar de vez”. A parte da adaptação costuma ser difícil por conta da prática chamada por elas de “BC” (Big Chop ou Grande Corte, em português), que consiste em cortar toda ou quase toda parte do cabelo danifi-
O primeiro encontro de cacheadas marcado pelas duas reuniu apenas três garotas, mas foi o pontapé inicial para a criação do grupo atual chamado “Crespas e Cacheadas do DF”, que até o fechamento desta matéria conta com 13.947 membros, maioria mulheres, de todo o Distrito Federal e cidades do entorno.
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NA NET
Renan Aires
Marina Teixeira, que também é participante do grupo, acrescenta: “O apoio é muito importante, porque é com essa convivência que podemos aprender a como cuidar. Eu só comecei a alisar meu cabelo porque eu não fazia ideia de como arrumar meus cachos quando era pequena”. Segundo ela, o grupo também
Gustavo Spindola O último encontro presencial reuniu cerca de 150 pessoas.
é um estimulo para que mais garotas passem a se amar mais. “A transição de liso para cacheado é dura. Seu cabelo não fica bonito e sua autoestima não fica nas alturas. Quando você conhece outras meninas passando por isso, você não se permite desistir. Logo quando eu mudei para os cachos, ouvi de uma pessoa da família: ‘Seu cabelo tá todo alto, preferia antes, lisinho!’. Isso é muito ruim”.
Renan Aires
cada pela prática de tratamentos químicos comuns em quem quer alisar o cabelo. As mais apegadas aos fios sofrem por perder grande parte do cabelo que fica bem mais curto. Além disso, mesmo cortado, os fios ainda não assumem o formato desejado de uma vez. “Não foi um processo fácil, foi muito demorado e bem difícil. Se adaptar com o cabelo com 2 texturas não é fácil. Tive que ter bastante paciência e calma porque além desse problema, eu ouvia muita piadinha com relação a isso. Chorava muito, mas tive paciência e apoio da minha família e alguns amigos. E foi a melhor decisão q tomei na minha vida sem sombra de dúvidas”, destaca Néia.
Marina, integrante do grupo.
Preconceito Embora a proposta do grupo seja de motivar mais mulheres, alguns membros relatam casos vividos na rua de preconceito com seu cabelo, mesmo que estas prefiram assim. Já houve casos de mulheres que foram recusadas em empregos por conta dos fios naturais ou que como Marina, ouviram comentários negativos sobre a textura e formato dos fios. Os relatos acabam tornando o grupo um lugar também de desabafo e identificação. “O preconceito ainda acontece, mas não tanto quanto antes. Os olhares acabam acontecendo, ainda mais quando estou com o cabelo armado. Quando está baixo acaba passando despercebido”, comenta Beatriz. “A sociedade ainda é muito preconceituosa, é um cabelo ainda malvisto pelas pessoas, quando na verdade é apenas diferente do padrão estipulado, mas que não deixa de ser lindo. Para que todos vejam desta forma, é necessário acontecer uma desconstrução. Claro que se leva tempo para isto, mas o importante é continuar evoluindo e não permanecer estagnado”, conclui.
Beatriz, criadora do grupo.
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CULTURE-SE
Orquestra Sinfônica da Capital No maior conjunto arquitetônico destinado à arte pelo arquiteto Oscar Niemeyer, bem pertinho do Conjunto Nacional, foi ali que nasceu a Orquestra Sinfônica da Capital Por Diana Melo
Diana Melo
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primeiro concerto na grande pirâmide branca, voltada para a Esplanada dos Ministérios, foi uma homenagem ao compositor Heitor Villa- Lobos e ocorreu numa terça-feira, 6 de maio de 1979, sob o comando do maestro Clau-
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dio Santoro. Logo após o falecimento do maestro, em 1989, a orquestra da cidade passou a se chamar Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) com colaboração do maestro Levino Ferreira de Alcântra.
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CULTURE-SE Com o passar dos anos se tornou necessária uma reforma, o que fez com que os parques e bosques de Brasília se tornassem palco para a orquestra, como as apresentações que já aconteceram no Parque da Cidade e no Santuário Dom Bosco. Em nota, a Secretaria da Cultura afirmou que a reestruturação do espaço se faz necessária para melhoria na segurança e, assim, melhorar o atendimento ao público. O diretor executivo da orquestra, Marconi Scarinci, faz uma avaliação positiva sobre as mudanças de locais onde o grupo se apresenta. “De certo modo, é interessante essa mudança. Talvez nem todo mundo tivesse a oportunidade ou condições de ir ao teatro assistir a orquestra.Essa variação de locais aproximou o público e também deu uma diversificada na plateia que costuma assistir”, diz Marconi.
Diana Melo
O atual maestro, Claúdio Cohen, comenta a relação da orquestra com a sociedade, “O nosso objetivo é contar com a presença dos mais variados públicos, nossos concertos são feitos pra eles. E eu falo com convicção que essa orquestra é do público”.
Já foram realizados diversos espetáculos, dentre eles: trilogia de grandes filmes, homenagens a grandes compositores europeus, concertos em apoio a campanha pelo autismo e homenagens póstumas ao compositor brasileiro Villa-Lobos.
Ensaios e espetáculos A orquestra mantém uma rotina semanal de ensaios e apresentações fixas nas terças-feiras, às 20 h − atualmente no Auditório Planalto do Centro de Conversões Ulysses Guimarães ou no Teatro dos Bancários, na 314/315 Sul. Quando não há um cronograma especial, os ensaios são abertos ao público. Os concertos têm entrada franca com classificação livre, porém, sujeito a lotação. Musicoterapia - Parceria perfeita
tivas, sociais e espirituais dos indivíduos de todas as idades.
“A música tem o poder de sensibilizar as pessoas, conversa da forma mais singela e calma. Tudo a ver quando falamos de tratamentos especiais”, comenta o maestro Claúdio Cohen.
A música tem uma forte relação com o autismo e outras deficiências, não só no parâmetro socioeducativo, mas também no processo de tratamento para aliviar dor, melhorar a memória, gerenciar o estresse, promover a reabilitação física, entre outros, como explica a psicóloga, Hevelyn Fernanda Costa Silva.
Musicoterapia é uma prática da área da saúde que usa música para atender necessidades físicas, emocionais, cogni-
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“O resultado deste trabalho é muito positivo no que se refere ao bem estar do paciente, pois ajuda a expressar sentimentos, contribuindo com a reabilitação e convívio social”, destaca a psicóloga. Além de contribuir para o relaxamento, outras pesquisas revelam que a musicoterapia também ajuda a melhorar o sistema imunológico dos pacientes.
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PALAVRAS AO VENTO
Quanto do outro permanece em nós Por Bianca Ramos Hora do almoço. Assim que caminho em direção à mesa, percebo que frango assado faz parte do cardápio do dia e a primeira coisa que me vem à mente é: “Nossa, que delícia! Gosto bastante de frango assado, principalmente quando está “mais corado” – como alguns costumam dizer – e bem temperado. Sento calada em meu lugar e imediatamente me lembro porque passei a gostar de frango assado de um ano para cá: por causa do meu ex-namorado. Enquanto me sirvo, penso sobre toda a herança que ele deixou para mim: voltar a ouvir Pet Shop Boys – a dupla inglesa mais sensacional de todos os tempos – comer ovos cozidos no café da manhã; aprender a me relacionar mais de perto com felinos; usar um determinado aplicativo do celular para buscar letras de músicas; gostar tanto de um protetor labial (ou balm, para os entendidos do assunto), ao ponto de achar que ele merece estar sempre no banheiro ou no criado mudo, ao lado da cama; etc. Almoço acontecendo e eu me deixei levar pelas lembranças e situações do passado, vividas ao lado deste ex, e me dei conta de como coisas ou fatos banais passam a ter relevância quando gostamos, de fato, de alguém. Prova disso é o apreço que desenvolvi pelo tal frango assado, que, convenhamos, nem é tão saboroso assim. Mas, não tenho dúvidas de que gostosos de fato, foram os momentos vividos ao lado dele, em situações nas quais comemos a modesta iguaria. E como nós costumamos fazer associações vida afora, passei a olhar para esta carne com outros olhos e reforcei a minha teoria de que a vida pode ser muito boa, mesmo com muito pouco. Interessante como o almoço deste dia rendeu e fez com que eu remexesse meu baú de memórias, para constatar quanto do outro permanece em nós.
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Tantas dores e delícias que absorvemos daqueles com quem nos relacionamos. . . E quando me refiro àqueles com quem nos relacionamos, abro o leque da abrangência para incluir aqui vários tipos de relação: familiar, profissional, de amizade, a dois, entre tantos outros. Engraçado perceber como assimilamos muito de tudo o que vem com o outro, e depois vamos passando adiante para aqueles com quem convivemos. E a regra se aplica desde a uma dica ou mania boba até uma atitude capaz de mudar o curso de uma existência. Somos capazes de assimilar tudo: forma de agir, educar, falar, pensar e por aí vai. Você já parou para pensar quanto dos seus pais você carrega contigo? Geralmente a gente costuma se dar conta disso, à medida que a maturidade chega, mas é muito engraçado e até gostoso reconhecer isso. Alguma vez refletiu sobre quanto aprendizado, ideias e afins você adquiriu graças a fulano ou sicrano? E se parar para fazer isso, perceberá que muitas vezes nem precisará manter uma relação de fato com outrem, para levar contigo algo graças a quem, coincidentemente ou não, cruzou o seu caminho. E é justamente quando paramos para fazer este tipo de reflexão que fica a inquestionável certeza de que somos, cada vez mais, um mix de todos aqueles que se fizeram presentes ou até mesmo ausentes, de alguma forma; ou seja, somos mesmo uma grande mistura de tudo o que vivemos. A propósito, o frango de hoje estava deliciosamente gostoso – ao que tudo indica, continua proporcionando boas recordações – e esta crônica foi escrita ao som do Pet Shop Boys.
JUL|AGO 2016 | REVISTA DI ROLÊ
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