REVISTA
Brasília, Nov. | Dez. 2016
Ano III Ed.20
Em busca de um mundo mais sustentável
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EXPEDIENTE Jornalistas: Andressa Nunes, Bianca Bruneto, Bianca Ramos, Camila Oliveira, Clarissa Jurumenha, Deborah Rosa, Hemerson Brandão, Júlia Dalóia, Juliana Andrade, Juliana Mendes e Thalyne Carneiro. Fotógrafos: Camila Oliveira, Clarissa Jurumenha, Ítalo Amorim e Júlia Dalóia. Projeto Gráfico e Diagramação: Gueldon Brito e Thaíssa Nobre. Diretoria Executiva: Júlia Dalóia e Priscilla Teles.
A ESCOLHA DA PROFISSÃO AINDA GERA INDECISÃO BRASÍLIA NA MALA: UM PROJETO QUE LEVA O “QUADRADINHO” DENTRO DA BAGAGEM
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UM SUSPIRO E O ALÍVIO
QUANTO TEMPO DEMORA PARA NOSSO LIXO SE DECOMPOR?
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PALAVRAS AO VENTO: PREFIRO SER MAR
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CAPA: EM BUSCA DE UM MUNDO MAIS SUSTENTÁVEL
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BRASÍLIA, A CAPITAL DOS SALTOS ORNAMENTAIS
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A YOGA DE ONTEM E DE HOJE A ARTE DE DECIDIR O QUE EU QUERO DA VIDA
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BRASÍLIA PRA QUEM É DE MÚSICA PALAVRAS AO VENTO: A DITADURA DA VIDA PERFEITA
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SUMÁRIO
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BEM-ESTAR
A escolha da profissão ainda gera indecisão Por Juliana Andrade
O que você quer ser quando crescer?” Muitas crianças têm a resposta na ponta da língua: “professora, jogador de futebol, astronauta...”. Conforme elas vão crescendo a pergunta é substituída por “que profissão quer seguir? Vai fazer faculdade?”. Porém, a resposta agora é coisa séria. Envolve dinheiro, dedicação, vocação e, principalmente, o futuro! Com a estudante do terceiro ano do ensino médio Beatriz Silva, 17 anos, não é diferente. Quando criança, influenciada pelos pais, a resposta vinha de imediato: “médica ou veterinária”. Hoje, pensar em uma profissão assusta. “Eu passei meu ensino médio todo fazendo teste vocacional. Eu gosto de muitas coisas ao mesmo tempo, muitos cursos, muitas profissões, mas não consigo escolher uma”, afirma. Beatriz é mais uma entre muitos jovens que ainda não sabem o que querem
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É preciso levar em consideração os desejos, as preferências e ter dedicação fazer no futuro. A estudante já pensou em vários cursos, mas sempre algo a faz voltar atrás. “No primeiro ano eu queria fazer relações internacionais porque poderia viajar trabalhando, mas eu não tinha pesquisado, depois descobri que era um curso muito cansativo e eu acabei desistindo”, lembra. A escolha da profissão também não foi fácil para a estudante Mikaely do Vale, 18 anos. A jovem ainda sonha em cursar medicina, mas a concorrência, nota de corte e os altos valores do curso a fizeram mudar de ideia. Escolheu um ainda na área da saúde, enfermagem. A professora e mestre em educação da Universidade de Brasília, Simone Alves, alerta que se questões financeiras ou concorrência levarem alguém a desistir de um curso é preciso pensar se essa escolha profissional é sonho ou vocação. “Às vezes, temos aquele sonho romântico em relação à uma profissão. Esquecemos que todas envolvem muita dedicação, muitas horas de estudo
e muito trabalho para sermos bem sucedidos profissionalmente”, ressalta. Mikaely conta que os cursinhos para vestibulares dominaram sua rotina, mas sabia que a vaga no curso de medicina poderia demorar a ser conquistada. “Você tem que ter um foco, uma grade de estudos totalmente voltada para isso”, diz a estudante. A jovem pretende fazer todo o curso de enfermagem, mas ainda não descartou a possibilidade de cursar medicina no futuro. Simone afirma que é preciso observar seus reais desejos ao escolher uma profissão. Se a pessoa se vê exercendo aquela função durante anos, observar se gosta de trabalhar sozinho ou em grupo, se prefere trabalhar com pessoas ou máquinas e lembra que os testes vocacionais também podem ajudar. A professora ainda aconselha que é preciso ter calma e não se desesperar, que poucas pessoas sabem o que querem e que nem essas têm a garantia que seguirão a profissão escolhida.
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TRIBOS
Foto: Clarissa Jurumenha
Brasília na Mala Um projeto que leva o “quadradinho” dentro da bagagem Por Clarissa Jurumenha
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e você caminhar durante o dia pelo Conic, vai esbarrar em algumas lojas de camisetas que já ganharam fama e tradição na cidade. Se passear pela Feira da Torre aos finais de semana, também vai conhecer artistas de todo
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o Distrito Federal vendendo obras únicas que remetem à cidade de alguma forma. Isso acontece por que a brasilidade virou tema entre os brasilienses nascidos aqui e os que carregam o título somente no coração.
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TRIBOS
Dingbats por Grande Circular
O amor por Brasília vem se tornando com espaço físico, foram 32 marcas. tema em diversas áreas. Aos poucos, Novos designers e novos produtores o contemporâneo conquista espaço apostando tudo o que têm para a e deixamos de ser a cidade da buro- realização de uma identidade culcracia e ganhamos também uma forte tural muitas vezes desvalorizada e imagem cultural. Mas quanto disso deixada de lado quando comparada se aplica à moda? E por moda, deve- com marcas de outros estados ou, até mos entender aquela feita aqui, no mesmo, países. quadradinho. O Distrito Federal conta com cerca de 2,8 milhões de habitan- Tentando mudar esta realidade, criei tes em seus pouco mais de 5 mil km². o projeto “Brasília na Mala”. A ideia O nosso PIB por habinasceu quase ao acaso tante é de R$ 46 mil um desafio pesJornalista e cheia em e – pasme você – a nossoal. Em uma viagem sa economia cresceu de ideias, projeto para o Rio me desafiei em 2012 3% – últimos a usar somente roucriado procura dados coletados. Nopas e acessórios feivamente, quanto disso no DF. De repente, valorizar a moda tos foi para a moda? me vi com o apoio de 12 marcas e consegui feita dentro do O consumo cresceu, e realmente passar cinDistrito Federal a cultura brasiliense co dias vestindo Brasítambém. Os produtolia dos pés à cabeça. res independentes vêm ganhando voz e espaço. Showroom, ateliers, galerias O projeto caminha para se tornar de arte, lojas colaborativas e marcas negócio, recebendo apoio de vários que vendem exclusivamente online produtores locais. Uma das marse unem quase que em uma corrente cas apoiadoras é a Bossa Brand, no invisível que afirma que a concorrên- mercado há 5 anos, da publicitária cia não necessariamente precisa ser Fernanda Viana, 26 anos. Para ela, algo negativo. o mercado têxtil da cidade deixa a desejar – e muito – mas o desafio Com este pensamento, eu investi- permanece e, ainda assim, é possível guei marcas que nasceram e tentam tocar um novo conceito local. “Acho se firmar cada dia mais dentro do que é um cenário em crescimento. DF. O resultado foi impactante: só Embora tenha tomado muita força de
Foto: Clarissa Jurumenha
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uns anos para cá, percebo que eventos como Limonada Project e Picnik ajudaram bastante a mostrar para o brasiliense o que é feito aqui”, explica. Mas a desvalorização também é setorizada. A Bossa, por exemplo, é de Taguatinga. “Mas eu encontrei meu público dentro do Plano Piloto. Precisamos abrir os olhos e crescer a admiração pelas Regiões Administrativas”, reflete Fernanda.
famoso “vamos comprar do vizinho”. Acredito que dessa forma podemos criar uma identidade própria e nova, sem tabus, só um espaço único em que qualquer pessoa pode se expressar da forma que se sentir confortável. Dentro do perfil do projeto nas redes sociais, reuni várias opções de roupas, sapatos e acessórios que exploram as diversas opções oferecidas pelas novas ou clássicas lojas.
Suzana Maria, 24 anos, é a designer por trás dos chamativos brincos Pala e concorda com a desvalorização do que está ao redor do “avião”. “Acho o cenário fashion local muito complexo. A gente tem uma cultura de moda que existe há muito tempo, mas é feita em ciclos”, conta. “O Centro parece ofuscar as RAs vez ou outra. Quando você sai do Plano Piloto, você encara uma gama de estilos mais complexos, mais informação, sabe? Não é tudo tão básico. Não devíamos nos cegar para isto”, completa.
E nem só de moda é feita uma cidade. Aqui existem ainda galerias e artistas não explorados. Aí vai uma lista de nomes que você precisa conhecer: Satan Kiddo, Wolf, Nós Mercadito Criativo, Virgínia Barros Shoes, Galeria Ponto, ÊTA Estampa Porreta, Viviane Kulczynski, Dane-se, Helmet Clothing, By Moh, Sto. Samba, Hoy Ahoy!, MUG, Bossa Brand, Mayara Milfont, Miti Shoes, Laletá, So Cute, Bolado Urban Clothing, Balboa Gating, Born, Maria Grá, DOBE, Lucila Pena, Baroque Atelier, Amanda Guerra, Pala.
O projeto Brasília na Mala veio a calhar no momento em que se discutem mais sobre a moda autoral. Não é só sobre se vestir, é também sobre a valorização da cultura local. Aquele
De vestido de noiva à bonés estilizados, é possível encontrar tudo dentro dessa cidade. A gente só precisa aprender a valorizar o que está ao lado.
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DI ROLÊ PELOMUNDO
Um suspiro e o alívio! Matéria e fotos por Júlia Dalóia
DI ROLÊ PELO MUNDO
Trilha entre as montanhas
DI ROLÊ PELOMUNDO
Fazer a trilha até o Acampamento Base do Evereste pode ser o próximo desafio da sua vida Trilha entre alameda de árvores típicas da região
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hegar no Nepal foi, sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes do mochilão pela Ásia. O aeroporto simples e empoeirado me recebeu com sorrisos amigos e sinceros. Após um local bus e uma caminhadinha básica de 20 minutos carregada de bagagem nas costas, finalmente pisei em Thamel, o famoso bairro e principal centro turístico de Kathmandu, a capital do país. Andando pelas ruas estreitas, onde se dividem pessoas, carros, motos, ambulantes, vacas
Voando no teco teco de Kathmandu para Lukla
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e cachorros, é comum deparar-se com diversos turistas ávidos por uma aventura. Mas é claro, na lista das 15 melhores trilhas do mundo, segundo a ‘National Geographic’, está a do Acampamento Base do Evereste (Everest Base Camp ou EBC), no Nepal. A aventura está apenas começando Para dar o start ao maior desafio da vida foi preciso pegar um vôo de teco teco, que levou 30 minutos, partindo de Kathmandu até Lukla - pequena cidade entre as montanhas, a 2.860 m de altitude. Pedi aos céus uma dose a mais de coragem neste momento, já que pousaria no 3º aeroporto mais perigoso do mundo. Para se ter uma ideia, a pista de pouso tem apenas 460 m e só acomoda aviões pequenos e helicópteros. Uma nos padrões normais tem, pelo menos, 2 km. Imagine! Todo trekking reserva grandes emoções e gera aquela empolgação, acompanhada de uma adrenalina especial.
Devidamente preparada com roupas e botas adequadas, além de alguns suprimentos e água em uma mochila com 10 kg, ali começava uma jornada de 13 dias caminhando pelas montanhas dos Himalaias. Alguns aventureiros optam por ter um guia os acompanhando, enquanto outros preferem contratar apenas um porter (pessoa que carrega mochilas e outras bagagens). No meu caso, decidi seguir por conta própria, já que todo o trajeto era sinalizado e bem movimentado. O primeiro destino era Namche Bazaar, uma cidadezinha de tibetanos estabelecida em um vale cercado de natureza e água para todos os lados. O ritmo estava bom e o físico dando conta do recado, até chegar à primeira subida íngreme, onde tive que caminhar na ponta dos pés, para não perder a cadência. Os pulmões já sentiam a altitude, enquanto no rosto batia um vento frio e seco. Então pensei comigo: agora é pra valer! As paisagens eram estonteantes, com flora e fauna
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DI ROLÊ PELO MUNDO
peculiares agraciando o caminho, enquanto subia por um percurso entre montanhas frias e misteriosas. Após quatro dias de caminhada, sorrisos animadores daqueles que já estavam descendo de volta e muitas fotos, cheguei em Namche Bazaar, onde pude me deleitar um pouquinho com a cultura tibetana. A recomendação era de que ali eu fizesse uma aclimatação para prosseguir o trekking, já que a cidade está a 3.200 m de altitude. Então lá fui eu subir mais 600 m, até uma cidadezinha chamada Khumjung, vestida com pelo menos 1kg de roupas, uma por cima da outra, devido ao frio de arrepiar a espinha.
Namche Bazaar
Foram duas horas para subir e mais algumas para descer. O sol se pôs e já era hora de fazer a última refeição do dia, momento especial para se aquecer com um chá de limão, mel e gengibre e comer alguma massa para retomar as energias para o dia seguinte. Então, às 20h já estava pronta pra fazer uma leitura e dormir, já que acordaria às 6h para mais um dia emocionante de trekking. Cada chegada em algum dos muitos vilarejos ao longo do caminho, uma paradinha para descansar as pernas, tomar um chai (chá com especiarias, popular no Nepal e Índia) e respirar fundo era fundamental. À medida que o nível de dificuldade da caminhada se elevava, minha meditação interior se intensificava, como uma maneira de manter em harmonia caminhada e respiração. O cheiro de trabalho era intenso por todo o caminho e, cada vez que passava por um porter, levantava a cabeça e pensava o quanto minha mochila estava leve perto do que eles carregavam, prosseguindo conformada em minha jornada. No meio do caminho de uma das trilhas percorridas, alcançando o 7º dia, me deparo com uma subida radical entre pedras e gramas esbranquiçadas pela
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Essas pontes estreitas são marca registrada deste trekking
Momento emocionante ao se deparar com tantas lápides
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DI ROLÊ PELOMUNDO geada. O ar, àquela altura, já faltava, mesmo andando a passos de formiga, como deve ser feito em trilhas de altitudes elevadas. No topo da subida radical, várias bandeirinhas coloridas coroavam a chegada. Andando um pouco mais adiante, me pego com os olhos cheios de lágrimas, ao perceber que aquele era um memorial dos que perderam a vida em busca de um sonho. As lápides com mensagens e os nomes dos bravos aventureiros demonstravam Momento de contemplação e fotos ao longo da trilha
sentimentos verdadeiros de saudade entre familiares e amigos que ficaram. Hora de prosseguir com determinação e foco, mesmo tendo o coração sensibilizado após o que tinha acabado de ver naquele local. Aquela realidade, que até então só tinha visto em filmes, é verdadeiramente forte. Estava quase lá, precisava engolir o choro e prosseguir confiante. Então, após Flor exótica típica dos Himalaias
essa avalanche de sentimentos surgiu - em mais um momento de contemplação - um cenário espetacular, com montanhas enormes de pico nevado e uma trilha desafiadora. O som da natureza tomou conta do momento, me alegrando profundamente, revigorando meu ser por completo. A cada novo começo tinham árvores embelezando a paisagem e cercando as bordas de um penhasco. Tinha também o canto dos pássaros para acalmar a Acampamento Base do Evereste (5.354 m de altitude)
tensão, ar fresco para aliviar o esforço físico, palavras de motivação de outros trilheiros que cruzavam meu caminho, e muita água fresca de belas cachoeiras ao longo do percurso, para saciar a sede. Finalmente, após dias de exaustão física e um psicológico resistente, cheguei à cidade onde percorreria a última etapa até o Acampamento Base, cerca de três horas dali. Estava realizando não só mais um desafio, mas Acampamento Base do Evereste (5.364 m de altitude)
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DI ROLÊ PELOMUNDO um sonho de vida. Nesta última etapa, uma vegetação ainda mais exuberante chamou a atenção com suas flores exóticas, de cores vibrantes, nascendo entre pedras acinzentadas. Naquele estágio do trekking inalava apenas 50% de oxigênio. Não estava fácil. Ao lado, talvez alguns quilômetros distante, um barulho estrondoso me fez parar assustada. Um bloco de gelo se desprendeu da montanha, provocando uma avalanche. Me senti como um grão de areia naquele momento, minúscula e frágil. A 5.364 m de altitude, ainda de longe, consegui ver o tão esperado Acampamento Base. Quanta emoção! A princípio, pareceu estar perto, mas não passou de uma impressão. Enfim, um suspiro e o alívio! Levei mais de uma hora para abrir o maior sorriso da jornada, olhar para o céu, e agradecer aquele
momento tão especial. Não podia deixar de fincar as famosas bandeirinhas coloridas no local, concretizando assim, todas as boas vibrações vividas naquele momento, e eternizando desejos positivos para toda uma vida. Cada um que chegava ao local celebrava calorosamente a vitória. Vi abraços emocionados e sorrisos dilatados de jovens, idosos, homens e mulheres, em um local inóspito, frio, cheio de pedras, neve e montanhas ao redor. Um desafio que, certamente quando superado, torna-se uma realização pessoal inestimável e eterna. Após tantos dias caminhando, sem banhos, regalias ou qualquer tipo de conforto, percorrer trechos inesquecíveis entre a natureza selvagem foi revigorante para a alma e uma vitória pessoal, resultado de equilíbrio e paciência. Este pode ser, sem dúvida, o maior desafio da sua vida.
Sensação de dever cumprido, voltando do EBC
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ECO
Quanto tempo demora p nosso lixo se decompor Por Hemerson BrandĂŁo
1 a 2 anos
14 anos
ponta de cigarro
3 meses
folha de papel
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madeira pintada
5 anos
30 a
chiclete
nylo
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ECO
para r?
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onsiderado o maior aterro a céu aberto da América Latina, o lixão do Jóquei (ou da Estrutural), no Distrito Federal, recebe diariamente nada menos que 200 toneladas de lixo. Muito além de um problema ambiental, o lixo também virou uma questão de saúde pública. Um problema que não é exclusivo de Brasília, mas de todas as grandes cidades do planeta. Como dar um fim para o lixo gerado por uma população consumista que não para de crescer?
200 a 500 anos
600 anos
alumínio
anos
fralda descartável
450 anos
on
plástico
4000 anos vidro
Para muitos, quando o caminhão de coleta leva o lixo embora ele desaparece. Sim, um dia definitivamente ele irá desaparecer, mas para isso acontecer pode demorar uma eternidade. A matéria orgânica se decompõe rapidamente, mas o problema são os produtos artificiais que os seres humanos produzem. Provavelmente quando seus tataranetos nascerem o seu lixo ainda estará por aqui! Pense nisso.
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PALAVRAS AO VENTO
Prefiro ser mar Por Bianca Bruneto
Prefiro ser mar infinito olhos a dentro – mistério – Que rio tanto [mártanto] salgando doce brisa – leve – Apenas o sotaque [uai] e o amor – vai – Coração – Deixo – levo outros vívidos e continuo – vivendo – Um dia após o outro.
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CAPA
Em busca de um mundo mais sustentável Por Juliana Mendes
A cada dia o mundo nos m o s t r a s u a f a ce v i o l e n ta, intolerante e desigual. Perguntamo-nos constantemente o que serão dos nossos filhos, netos e gerações futuras. Que tipo de sociedade encontrarão e que mundo habitarão. Essa é uma preocupação mundial, independente se o país é desenvolvido ou está em desenvolvimento. E pode parecer clichê, mas deixar um planeta melhor para as pró-
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ximas gerações, em que haja respeito mútuo, igualdade social e harmonia entre o ser humano e a natureza é responsabilidade de todos. Em janeiro deste ano a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou os 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um guia de metas a serem alcançadas para conquistar esse mundo melhor. O documento que sucede os Objetivos de Desen-
volvimento do Milênio (ODM) inclui erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais; educação de qualidade; igualdade de gênero; água potável, saneamento e energia para todos; trabalho decente; produção e consumo sustentáveis; combate às mudanças climáticas e preservação do meio ambiente; promoção de sociedades pacíficas e inclusivas e o fortalecimento de meios de implementação através da parceria
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CAPA global para o desenvolvimento sustentável, e englobam as 169 metas a ser alcançadas até 2030 pelos 193 países signatários, levando em conta a realidade de cada um. Governos, instituições e sociedade civil há muito preocupados com os rumos que o mundo está tomando, promovem ações visando o alcance dessas metas. Um bom exemplo é a Educação Gaia, curso criado pela Global Ecovillage Educators for Sustainable Earth (GEESE) - educadores de Ecovilas para um planeta sustentável - que visa preparar a sociedade em quatro eixos: social, ecológico, econômico e de visão de mundo, para viverem nessa tão sonhada sociedade. O curso começou a ser moldado em 1998 e sete anos depois recebeu o endosso do Instituto para Treinamento e Pesquisa das Nações Unidas (UNITAR), sendo lançado na Escócia. Atuando em comunidades carentes e grandes centros urbanos, o Curso Gaia já está presente em mais de 40 países nos cinco continentes, e é uma contribuição para a Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. Realizado em diversos formatos, já formou mais de 3 mil alunos por meio de mais de 100 programas inspirados nas ecovilas, que são reconhecidas no mundo todo como o melhor projeto comunitário para o alcance de um mundo mais sustentável.
Curso forma design em sustentabilidade ensinando ao ser humano como viver em comunidade, respeitando as diferenças e a natureza e contribuindo para a felicidade coletiva sidade Federal do Rio Grande do Sul, Jardim Botânico, Universidade Católica de Brasília, Instituto Caminho do Meio, Instituto Teosófico de Brasília e diversas ecovilas. Em Brasília, o Curso Gaia foi fundado em 2012 e já formou 150 alunos ao longo desse tempo, oferecendo ao final o certificado internacional emitido pelo Programa Gaia Education. Com duração de dez meses, sendo seis com aulas teóricas e convivência e quatro dedicados à elaboração de projetos sustentáveis, o curso está em sua 4ª edição e conta com uma turma de 26 alunos que, desde julho deste ano, se reúnem quinzenalmente para compartilhar valores e habilidades que os tornem seres humanos melhores, que saibam espalhar o amor e o respeito mútuo no dia a dia. Segundo Marilene de Sousa, integrante da equipe do Curso Gaia Brasília, a ideia principal é oferecer uma nova visão de mundo que proporcione bem-estar, utilizando meios
Implantado no Brasil em 2006, o Curso Gaia se fixou em São Paulo e oferece turmas nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Viamão (RS), Salvador, Brasília, Curitiba, Liberdade (MG) e na Brasilândia (SP). E conta com o apoio de importantes instituições como Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura da Paz (Umapaz) da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, UniverFoto: Prem Magan
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CAPA
Foto: Prem Magan
sustentáveis de se viver como a bioconstrução, a alimentação natural, agrofloresta, ciência holística, entre outros. “Como eu faço esse movimento de não tornar o mundo ainda mais pobre com a minha presença, mas de enriquecê-lo na medida em que nele eu aporto todas as contribuições que eu posso oferecer? Não que você precise fazer design de sustentabilidade para ser gaiano, porque ser gaiano é um estado de espírito, é uma vontade de estar no planeta promovendo essa mudança significativa. O Gaia se propõe a redesenhar a presença humana na terra”, explica.
Ela garante que o método é prazeroso e aconselha quem busca viver de forma mais consciente. “A gente não pode ficar parado. O mundo está em transformação, a gente precisa estar mais aberto para receber essas novas propostas de educação. Que as pessoas busquem saber o que é, e sejam
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Foto: Ítalo Amorim Foto: Prem Magan
Experiência renovadora - Amanda Duarte Machado, aluna dessa quarta turma do curso Gaia Brasília, garante que vale a pena se lançar nesse novo conceito de educação. Recém-formada em Ciências Sociais, esbarrou na indecisão do que fazer pós faculdade. Em busca de métodos educacionais alternativos, conheceu a Educação Gaia. “O que mais me encantou num primeiro momento foi essa parte da educação e uma reestruturação da forma como a gente pensa, enxerga o mundo e atua nele. A experiência está sendo fantástica. Minha vida mudou, as portas se abriram. Aprendi a olhar as coisas com mais positividade”, conta.
Foto: Prem Magan
O curso propõe aos interessados repensar sua presença no mundo, buscando conscientizá-los de que não precisa seguir a sociedade capitalista para viver feliz. E Marilene garante que isso acontece de uma forma divertida, pois, segundo ela, não é possível sustentar um novo estilo de vida se não for prazeroso. “Se não é divertido não é sustentável. A grande dor da atualidade é o consumo. Você não tem acesso a tudo que deseja consumir e vem o sofrimento, e é desse peso que a gente se livra no Gaia”, afirma.
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CAPA mais positivas em relação a isso. Se envolver e tentar melhorar nosso mundo para as próximas gerações, tornar o mundo mais justo, solidário e ecologicamente correto. E se tiver oportunidade entrar no Gaia para aprimorar”, diz. Marilene também garante que a experiência de viver com mais sustentabilidade é compensadora. “Saí do serviço público há quase dois anos e até hoje não tive nem trinta segundos de arrependimento. Na hora que perdi o que era concreto, eu me concretizei. Por isso que eu recomendo o Gaia. É ali que a gente encontra uma forma de estar no mundo de uma maneira diferente”, diz. Inspirados em Gaia – Projetos já estão sendo pensados para o próximo ano visando alcançar a juventude que está sempre com pressa, com o curso compacto e o Gaia Conection para os internautas
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de plantão; e as crianças que são o futuro do planeta, com o Gainha. Segundo Marilene, o curso tem custos e hoje, apesar da flexibilidade, cobra mensalidade. Mas o sonho da equipe de gestão é torná-lo autossustentável com vistas a alcançar mais interessados, por isso estão abertos a possíveis patrocinadores. Outro projeto que está sendo estudado é o Materializa, que visa a construção da Casa Gaia por meio da bioconstrução para acolher a sede do curso que hoje, sem espaço próprio, realiza as atividades em ambientes cedidos por instituições parceiras. A bioconstrução está presente em outro
belíssimo trabalho que é a construção de casas sustentáveis em comunidades carentes do DF. A ideia, que terá o pontapé inicial na Estrutural, tem como objetivo mostrar para a população que é possível utilizar o que costuma ir para o lixo para construir a casa própria de uma forma sustentável, com baixo custo e preservando o meio ambiente. Outras ideias já estão em desenvolvimento pela atual turma, como o documentário que mostrará os benefícios de ser gaiano e o projeto de agrofloresta com composteira coletiva a ser instalado em uma das quadras do Plano Piloto. Este aguarda autorização do Governo do Distrito Federal. Para os interessados em fugir do individualismo e do consumismo exagerado e em aprender uma nova maneira de viver a vida acesse www.gaiabrasilia.org.br e saiba mais.
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Foto: Ítalo Amorim
ESPORTE
Brasília a capital
dos saltos ornamentais O Centro de Excelência na UnB abriga campeões olímpicos e novos atletas Por Thalyne Carneiro
Depois de revelar grandes atletas olímpicos como Hugo Parisi e Cesar Castro, a capital do país tem mais motivos para encontrar novos talentos: o Centro de Excelência em Saltos Ornamentais de Brasília. Localizado no Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB), o local de treinamento é o melhor do país na modalidade, segundo a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Além de ser a “casa” das seleções brasileiras adulta e juvenil de saltos, foi também moradia das seleções
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venezuelana, canadense, australiana, polonesa e húngara antes dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Inaugurado em março de 2014, o Centro de Excelência também busca novos talentos para compor a base da seleção. Todo ano, são realizadas duas seletivas para novos alunos. A última, realizada em agosto, reuniu 180 crianças entre 6 e 11 anos, sendo um recorde. “Nós vamos principalmente a escolas públicas para divulgar o pro-
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jeto”, explica Gabriel Serra, treinador da Seleção Brasileira Juvenil e coordenador do Centro, “crianças de escola particular geralmente possuem mais incentivo para participar de esportes. O que nós queremos é divulgar o esporte e dar espaço para mais crianças se tornarem atletas”. Segundo Gabriel, a iniciativa tem dado certo e trazido resultados expressivos não só para os atletas olímpicos que utilizam o CT, como Hugo Parisi, Jakson Rondinelle e Luana Lira, como também para os atletas da base. “Aqui, a nossa seleção juvenil e as crianças que estão começando treinam com os mesmos equipamentos de ponta usados pelos atletas olímpicos. Em outros lugares não é feito dessa forma. A base acaba ficando com os equipamentos usados da seleção principal ou de menor qualidade, o que influência no treinamento”, pontua. Um ótimo exemplo é Luís Felipe de Moura, 14 anos, atleta da seleção juvenil, classificado para o mundial na Rússia que acontece no dia 16 de novembro. No nacional, realizado aqui no DF, Luís ganhou medalhas em todas as categorias em que competiu. “Espero conseguir o mesmo resultado da última competição”, diz Luís e acrescenta “quero pelo menos ficar em quarto, ou entre os dez primeiros”. O atleta, que tem como inspiração Hugo Parisi, tem a oportunidade de acompanhar o treinamento do ídolo de perto, o que, segundo ele, é bom para o seu próprio desempenho. “De vez em quando, quando a gente vem treinar, ele está aqui também. Ele sempre dá alguns conselhos ou algumas dicas para a gente melhorar”, ressalta.
As crianças que passaram pela seletiva em agosto já começaram os treinamentos. “No começo, as crianças treinam duas vezes por semana, duas horas por dia. Conforme vão crescendo e melhorando, aumentamos a frequência do treinamento e intensidade, até chegar a seis vezes por semana e quatro horas por dia, no nível profissional”, explica o treinador. Os treinamentos são divididos entre o ginásio, onde são feitos exercícios de força, equilíbrio e postura, e a piscina. “Por isso começamos os treinamentos
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com as crianças, é mais fácil de adaptar o corpo ao que precisa para os saltos mais complexos quando treinam desde cedo”, esclarece Gabriel. Iracema Villasboas é mãe de uma das novas crianças do CT. O filho, de 11 anos, sai de Taguatinga para participar dos treinos duas vezes por semana. “Ele já fazia natação. Depois das olímpiadas viu que ia ter a seletiva e quis tentar”, conta Iracema. Segundo ela, o esporte tem ajudado inclusive fora da piscina, “Ele ficou mais responsável, até mesmo para ir para escola, antes era uma di-
ficuldade. Até as tarefas ele faz sem ninguém mandar”. Iracema espera o filho terminar o treino todos os dias para levá-lo para casa, “Eu acredito que é um sonho, não só para ele, mas para os outros. É a chance de um dia ser um atleta olímpico, para isso vale o esforço”, finaliza.. Foto: Ítalo Amorim
Novos Talentos
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Que tal deixar de ser apenas um admirador daqueles que praticam eco e promover uma vida mais sustentĂĄvel? Aprenda com a Black Sheep Escola do Sol - como trabalhar com energia solar e entre para o mercado que cresce 300% ao ano. http://blacksheep.eco.br/
Alunos da Escola do Sol contam com o auxĂlio de um aplicativo exclusivo.
LITERATURA
Na categoria Romance, a jornalista e escritora Beatriz Leal concorre ao maior prêmio da literatura brasileira
Foto: Alexandre Fortes
Com “Mulheres que Mordem” brasiliense é finalista do prêmio Jabuti
Por Andressa Nunes Beatriz Leal, finalista do prêmio Jabuti.
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livro Mulheres que Mordem, da jornalista e escritora Beatriz Leal, foi indicado ao 58º prêmio Jabuti. A paulista apaixonada por literatura, 30 anos, veio para Brasília ainda aos 18 anos, onde se formou em Jornalismo e começou a dar seus primeiros passos na profissão. Além de produzir o Romance Mulheres que Mordem, Beatriz participou da produção dos documentários ‘’1958’’ sobre a construção de Brasília, ‘’Arena das Paixões Humanas”, sobre futebol e arte, e ‘’Dê-me Abrigo”, sobre o último show da banda Legião Urbana em Brasília. Beatriz fez também participação na exposição ‘’A cara de Brasília’’. O Romance de ficção, Mulheres Que Mordem, é o primeiro livro escrito por Beatriz e foi publicado em 2015, pela editora Imã Editorial. O mesmo conta as histórias de Laura, Elena, Rosa e Clara: mulheres que viveram a ditadura da Argentina de diferentes formas, dos anos 1970 a 2006. Filhas, mães, esposas, avós: de cada lado da história, todas são guerreiras até os dentes e, em Mulheres Que Mordem, têm suas vidas contadas por diferentes vozes.
‘’Ainda não consigo acreditar, de maneira nenhuma. Quando abri o link da notícia, achei que era tipo meus amigos forjando uma notícia falsa. Inscrevi-me para fazer o livro chegar às mãos dos grandes curadores de literatura brasileira, jamais imaginei que pudesse chegar onde chegou. Já me sinto premiada, independentemente do resultado’’, diz Beatriz Leal, sobre a surpresa de ser finalista do prêmio Jabuti. A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá em São Paulo, no dia 24 de novembro. Os primeiros colocados receberão o troféu Jabuti e R$ 3,5 mil; os vencedores dos segundos e terceiros lugares ganharão troféus. Ao todo, são 27 categorias de premiação, que somaram mais de 2,4 mil inscritos. Na categoria Romance, Beatriz concorre com outros nove indicados, entre eles estão Marcelo Paiva, Marcelo Maluf e também Julián Funks.
A obra Mulheres Que Mordem está disponível para venda em: Amazon
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BEM-ESTAR
A Yoga de ontem e de hoje Professora explica porquê essa velha conhecida, mas pouco entendida técnica milenar ainda faz tanto sucesso Por Deborah Rosa
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eja por questão de saúde ou estética, grande parte das pessoas sempre está em busca de uma atividade física e que ela traga prazer além dos objetivos almejados. Tudo isso faz com que, a cada ano,
surjam novas formas de se praticar exercícios. Treinamento funcional, crossfit, Pilates, ballet fitness... As modalidades não param de aparecer. Mas quando o assunto é principais tendências, uma não sai da lista: Yoga. Isso mesmo. A prática milenar originária da Índia nunca perde seu espaço e adeptos nos studios e academias do país. Mas qual seria o motivo? Segundo a professora de yoga Deborah Rosa, isso acontece pela capacidade do método se inovar. “O yoga tem mais de cinco mil anos de história. Mas ele conseguiu se manter vivo até hoje por ser uma prática que se adapta às necessidades da sociedade. A forma como surgiu era o ideal para os yoguis indianos da época,
com muito foco na meditação e a execução de algumas posturas. Quando chegou ao ocidente, passou por mudanças para se adequar ao nosso modo de vida, e elas continuam até hoje, mas os ensinamentos, princípios e estrutura básica, esses não mudam”, explica. Considerada uma atividade que trabalha o corpo como um todo, o yoga ganha força justamente nos benefícios que proporciona aos praticantes, que vão desde o ganho de flexibilidade até a melhora do funcionamento do metabolismo e aumento da capacidade respiratória, praticamente não havendo contraindicação, tanto que foi uma das práticas incluídas
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BEM-ESTAR no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2011, como terapia complementar. “O yoga é uma das atividades mais democráticas que existem. Dentro de um grupo de posturas, temos as variações mais simples, indicada para iniciantes, da terceira idade e pessoas com alguma limitação (seja ela de saúde ou de condicionamento); as intermediárias, para quem faz do yoga uma rotina e vai evoluindo ou já tem consciência corporal; e as mais avançadas, para os que já praticam há mais tempo ou têm outras modalidades na rotina. Assim, todos conseguem aproveitar seus inúmeros benefícios”, revela Deborah. Falando em posturas, embora muitos achem que yoga é apenas tocar os dedos das mãos nos pés ou virar de cabeça para baixo, a professora faz questão de esclarecer que os asanas (posturas) são apenas uma pequena parte do grande universo dessa técnica. “Uma
das grandes ‘perdas’ que podemos ter é simplificar yoga como um exercício físico. As posturas são a parte mais visível que temos, mas, junto a elas, estão também as várias técnicas de respiração, o tempo dedicado à meditação e o autoconhecimento que vem com a observância das nossas práticas morais e relações sociais”.
E se engana quem pensa que uma aula de yoga é parada demais. Assim como as modalidades, aqui também existem diversos tipos. “Quando eu digo que é uma técnica democrática, é porque é mesmo. Hoje temos diversos estilos, desde o mais tranquilos, como o Hatha Yoga (o que não significa que é fácil), até o Vinyasa, uma espécie de coreografia com os asanas, e do acroyoga, feito em dupla com uma mistura das posturas e acrobacias. É só experimentar e escolher a que mais combina com cada um”, finaliza.
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BEM-ESTAR
A arte de decidir o que eu quero da vida Por Camila Oliveira
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stabilidade financeira. Esse é um dos motivos que levam a maioria das pessoas a saírem da universidade e entrarem, logo de cara, no funcionalismo público. Bons salários, benefícios, reconhecimento familiar. Tudo isso enche os olhos dos concursandos. Mas até onde estabilidade financeira é mais importante que satisfação pessoal? Até onde o salário recebido no final do mês compensa o distanciamento de um sonho? Nos dias atuais, a cultura brasiliense da obrigatoriedade de se tornar um servidor público para alcançar a tão sonhada estabilidade, tem se enfraquecido. A nova geração pensa diferente da geração de seus pais. Não se veem na obrigação de casar, constituir família, comprar uma casa, um carro, tampouco de se prender a altos salários em busca de estabilidade. Procuram viver mais livremente, querem explorar o mundo, bradar sua liberdade aos quatro cantos da terra. E quem não teve a oportunidade de se descobrir antes que a influência pesasse mais que a vontade própria? O tempo passa, então a desmotivação
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Do funcionalismo público às aulas de inglês. chega, junto dela, o estresse, paredes enormes crescem em torno das baias do escritório e então, parece que tudo pode desabar a qualquer momento. É a partir daí que muitos decidem caminhar rumo ao que traz felicidade. Foi o que fez Felipe André, servidor público dos 24 aos 29 anos, que decidiu que o que queria mesmo era lecionar.“Eu entrei no serviço público, acredito que por influência da família. Minha mãe foi servidora pública a vida inteira. Influência também da cidade de Brasília. E essa influência foi sobre um rapaz que ainda não tinha descoberto quem ele era, que ainda não sabia do que ele era capaz. Chegou uma hora que começou a ter uma incompatibilidade entre a minha personalidade e o funcionalismo público. Foi aí que começou a se desenhar a minha saída.”, Felipe completa: “Eu costumo dizer que eu não dou aulas de inglês e que eu não tenho uma escola de inglês. Eu realizo o sonho de pessoas, por meio das aulas que eu dou”. Sabemos que esta não é uma situação exclusiva do funcionalismo público. Infelizmente grande parte dos traba-
lhadores se veem enjaulados, presos à segurança que os salários fixos oferecem. E é aí, então, que temos a imagem de pessoas como Felipe para nos inspirar. É certo que a busca pela felicidade tem rompido as barreiras do comodismo. Isso ainda será visto como uma grande loucura pelas pessoas mais tradicionais, mas não se preocupe, a única vida que você tem que viver, é a sua. O que o ser humano precisa, antes de qualquer tomada de decisão, é se conhecer de verdade, passar um tempo consigo mesmo e só então escolher o rumo que deseja tomar. E quando falamos disso, não nos referimos apenas a momentos solitários de introspecção. Explore, conheça, veja, sinta, toque, mude, seja lá o que for. Toda experiência ajuda na busca pelo autoconhecimento, tudo é válido no jogo da vida. Esqueça o modelo que conhecemos e executamos apenas por sermos humanos, “nascer, estudar, trabalhar, casar, ter filhos e morrer”, lembre-se apenas que entre nascer e morrer existem ínfimas possibilidades, a maior delas é viver.
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CULTURE-SE
Brasília pra quem é de música Por Camila Oliveira
De capital do Rock à cidade da diversidade
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im da ditadura, explosão do rock’n roll. Em meados dos anos 80, Brasília começava a trilhar um novo caminho musical. Fora dos grandes centros do país, jovens cercados pelo tédio e falta de entretenimento nas ruas da capital, começam então a cantar o seu dia a dia. Influenciados pelo punk inglês, as músicas em forma de protesto começaram a invadir a capital.
“Sertanejo, por exemplo, era só pra pessoas mais velhas. Jovem não ouvia sertanejo. A gente queria rock’n roll. Também tinha muito passi-
nho. Stevie B. Minha vida foi radicalmente mudada pelo rock nacional e por essa década. Tenho orgulho de ter vivido tudo isso. Foi um tempo mágico!”, diz Iran Alves, 43 anos, nascido em Brasília e roqueiro desde sempre. “Antigamente, todo mundo queria ter uma banda, quase toda rua tinha uma que tocava nas festas. E a gente que tinha que ir atrás da música, as bandas tinham seguidores, hoje temos tudo na mão. Eu não preciso ir a uma festa Foto: Camila Oliveira
Berço de grandes bandas como Legião Urbana, Ca-
pital Inicial, Plebe Rude, Finis Africae, a diversão dos jovens eram as bandas que tocavam nas esquinas da cidade. Hoje, o cenário musical de Brasília passou por uma reviravolta. Mesmo que ainda com muitas bandas de rock, é possível encontrar de tudo um pouco por aqui.
Daniel Augusto, 26 anos
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Foto: Camila Oliveira
CULTURE-SE
Cássio Guiot, 30 anos. Juan Sales, 46 anos
pra ouvir a banda que quero”, diz Juan Sales, 46 anos, brasiliense. Brasília ainda é uma cidade nova, mas agora, assumiu sua diversidade. Além de abraçar pessoas de todos os cantos do país, atualmente a cidade celebra todos os ritmos. Isso se reflete nos inúmeros eventos que acontecem na capital. No mesmo final de semana, você encontra rock, rap, sertanejo, house, indie, pop e muito mais. Festivais que antes eram voltados apenas para um estilo musical, têm se moldado para inserir na programação estilos que satisfaçam a todos os gostos. “Curto vários estilos musicais. Em Brasília é fácil manter essa pegada. Consigo ouvir Synthpop numa balada no Conic e ao lado, na rodoviária, curto um show de Forró de Raiz. Isso, pra mim, é riqueza cultural”, se orgulha em contar Cássio Guiot, 30 anos. Ainda com toda essa mudança no cenário musical, muitos jovens que
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nasceram a partir dos anos 90 foram influenciados pela década de ouro do rock nacional. “Rock a gente sente na alma, é uma sensação espetacular. Infelizmente, hoje em dia, opções de músicas que te façam sentir assim são mais limitadas. As vezes penso que nasci na época errada”, diz Daniel Augusto, 26 anos, colecionador de discos de vinil. A música sempre esteve em constante renovação. Isso se intensificou ainda mais com a horizontalidade de informação alcançada por meio da internet, onde temos novos ritmos e novos talentos revelados a cada segundo. Um artista tocando e cantando na rodoviária, por exemplo, pode ser filmado e, em segundos, compartilhado milhões de vezes pelo mundo. Aqui é assim, tem rock pra quem é de rock, axé pra quem é de axé, funk pra quem é de funk. Tão lindo e grande como o nosso céu, só o nosso coração. E tudo isso só nos prova uma coisa: somos o maior quadradinho do planeta.
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PALAVRAS AO VENTO
A ditadura da Ao trabalhar com moda e manter contato com os mais distintos clientes, aprendi a conviver, diariamente, com um latente exemplo de ditadura da beleza. Enquanto os acompanhava até os implacáveis juízes do nosso físico, os famigerados provadores, eu costumava dizer, a boa parte deles, que precisamos relaxar um pouco e não nos julgar tanto sob os rigorosos padrões de beleza, estipulados por sabe-se lá quem. Afirmava isso porque, a grande maioria das pessoas, ao se dirigir para aquele pequeno recinto com espelhos e iluminação, quase sempre desfavoráveis, já arrumava um jeito de se auto-julgar e justificar pelos kg a mais ou a menos, pela falta de sol, de academia, de cirurgião plástico e por aí ia. Com o tempo, aquela atitude de tantos acabou por endossar uma certeza que tenho há tempos: somos, muitas vezes, até neuróticos com a nossa aparência e acabamos sofremos por isso. E para eu fazer esta constatação – uma pessoa considerada vaidosa – é porque a situação é realmente digna de reflexão.
sociais, como também é praticamente impossível dimensionar o poder de influência delas. É admirável como quase tudo que chega até elas atinge proporções estratosféricas, e é claro, que com a imagem da vida bela e cheia de glamour, não seria diferente. E só não sabe exatamente do que estou falando quem ainda vive alheio ao uso de todos estes veículos; digamos que estas pessoas possam ser consideradas as “diferentonas da atualidade”, porque hoje em dia, chega a causar estranheza quem se declara capaz de viver sem as inovações da vida moderna, como uso da tecnologia, das redes sociais, entre outros. Pois bem, no território da terra de ninguém, ou melhor, na terra de todos, onde praticamente tudo pode ser divulgado e postado, a
Pois bem, se não bastasse vivermos escravos de padrões de beleza, tenho percebido o quanto estamos presos a um novo drama: o da “ditadura da vida perfeita”. Criei este termo para me referir a ilusão que, muitas vezes, criamos, quase que inconscientemente, de que a vida do outro é muito mais interessante e melhor que a nossa. Um dos sábios ditados populares afirma que “a grama do vizinho é sempre mais verde”, mas, em tempos de redes sociais, cada vez mais virais, nunca se viu tanto uma ideia ser difundida como esta. Além de impressionar, chega a preocupar, como as redes atuais possibilitam a pseudo ideia de que todos têm uma vida sensacional. Atualmente é difícil encontrar meios de comunicação tão democráticos quanto as redes
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PALAVRAS AO VENTO
a vida perfeita imagem da vida ideal, e até irreal, é amplamente difundida, mesmo que sem intenção direta, e é aí que a questão pode se tornar complexa. Postagens frequentes retratam em profusão tudo o que se faz ou vive, incluindo viagens, lugares frequentados, looks usados e quaisquer atividades ou fatos do cotidiano de um ser humano, demonstrando uma realidade muitas vezes fake ou até meticulosamente calculada. Até porque não existe vida perfeita e todos temos desafios ou fantasmas que nos atormentam vida afora, independe de crenças, condição financeira, idade ou status social. É uma realidade inerente à vida!
Por Bianca Ramos
Retomando o cerne da questão, creio que enquanto quem faz par te deste universo consegue assimilar o que ele transmite de positivo e não se perde entre a realidade e a própria ideia, está t u d o b e m , m a s o p r o b l e m a co m eç a quando nos deixamos levar pela falsa impressão de que a vida do outro é melhor ou ainda quando perdemos um momento real para mostrarmos algo na rede social. Chega a soar como estupidez, mas pasmem, é algo mais corriqueiro do que se possa imaginar. Sabemos que a influência, quer seja positiva ou negativa, é relativa, como tudo na vida, mas que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu excluído por não ter sido convidado para um determinado evento, por não ter curtido o carnaval ou réveillon no point do momento ou por não ter viajado nas férias? Você já? Eu sim e confesso que tive maturidade para retomar a minha sanidade em questão de minutos, mas e quem não consegue? Que tipo de influência e reflexos estas postagens e realidades pseudo perfeitas exercerão em suas vidas? Como agir e lidar em relação àqueles – especialmente crianças, adolescentes e jovens – em processo de formação, que amadurecem e crescem convivendo com esta realidade? Se você, até o momento, não parou para pensar sobre a situação, talvez seja pertinente fazê-lo... E agora, adepta assumida que sou das redes sociais, me despeço por aqui e vou ali postar a foto de uma linda árvore florida que fotografei hoje mais cedo, porque posso não ser viciada, mas a vaidade de dividir a beleza dela com meus seguidores está falando mais alto.
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