Os anos dourados do NEXUS

Grupo de Pesquisa em Inovação, Design e Sustentabilidade

Grupo
Grupo de Pesquisa em Inovação, Design e Sustentabilidade
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Para o NEXUS, nosso grupo de pesquisa em Inovação, Design e Sustentabilidade, o setênio que iniciava em 2013 representou um período de muita atividade. Isso permitiu consolidar nossas propostas de ensino, pesquisa e extensão com uma intensidade que não tínhamos vivenciado em anos anteriores. Nossas atividades de pesquisa tinham como foco investigar novas metodologias, ferramentas e processos de inovação na área de design que pudessem ser aplicados na concepção e desenvolvimento de novos produtos e/ ou serviços tendo como foco o equilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade.
Café da Sustentabilidade.
Recife, 2013.
Todo aquele trabalho teve início com o Café da Sustentabilidade, uma série de seminários informais que organizávamos para debater, com alunos e professores, diversos temas contemporâneos enquanto degustávamos deliciosas xícaras de chocolate quente preparadas por Mabel Guimarães, agora minha orientanda de mestrado.
Dentre as temáticas propostas nos seminários estavam a Indústria 4.0, a biomimética, a prototipagem rápida e impressão 3D, a fabricação digital, o design paramétrico e a inovação guiada pelo design (Design Driven Innovation).
Tempo depois, algumas dessas temáticas deram origem a vários projetos de pesquisa e de extensão mediante a captação de re-
cursos humanos e financeiros que nos permitiram conduzir várias dessas iniciativas de acordo com os quatro níveis de atuação que nos propusemos a trabalhar: Redesign de produtos existentes; Design de Novos Produtos; Design de Sistemas de Produtos-Serviços, ou PSS; e Desenvolvimento de Cenários para inovação social.
Os resultados desses projetos permitiu também a formação de uma rede de laboratórios de pesquisa na região Norte-Nordeste do Brasil, onde temáticas semelhantes começaram a ser estudadas. Por exemplo na UFC, na UFRN e na UFPB existem desdobramentos das pesquisas dentro do campo do design paramétrico e a prototipagem rápida para o desenvolvimento de
soluções para moradia e conforto ambiental regional.
Da mesma forma os resultados do trabalho foram amplamente discutidos nos diversos artigos, livros dissertações e teses produzidas pelos membros do NEXUS ao longo desses anos e nos permitiram consolidar o alinhamento entre as temáticas propostas com o DNA do nosso grupo de pesquisa, isto é com a inovação, o design e a sustentabilidade.
A continuação, apresento de forma breve alguns desses projetos desenvolvidos ao longo do meu sexto setênio e que, do meu ponto de vista, fornecem uma visão abrangente para o registro deste memorial.
Esta proposta, submetida ao Edital Universal do CNPq, dava continuidade aos estudos sobre biomimética aplicada ao design, realizados pelo nosso grupo de pesquisa, trazendo contribuições de aplicação desse conhecimento para o desenvolvimento de de novos produtos e serviços sustentáveis na área de moradia.
O projeto SAHARA, Sistema de Artefatos Habitacionais de Apoio, Resgate e Abrigo, buscava o desenvolvimento de uma proposta que atendesse as necessidades de acomodação de pessoas dentro de novos contextos contemporâneos.
O projeto visava o design de soluções temporárias de moradia de fácil construção e transporte, que permitissem abrigar um grande volume de pessoas em situação de calamidade como, catástrofes ambientais, campos de refugiados, realocação de comunidades, ou em cenários de acomodação turística complementar para frequentadores de mega eventos como olimpíadas, copa do mundo, carnaval, etc.
Ao longo das diversas etapas de desenvolvimento do projeto foi possível observar os hábitos, a percepção e o comportamento dos usuários junto a novas propostas de moradia, levando em consideração a experiência do usuário, a qualidade percebida do artefato, o conforto e segurança da proposta e seu impacto ambiental.
Ao mesmo tempo, foi possível testar por meio da construção de diversos protótipos, a performance de materiais e tecnologias
\ \ 61 \ Logomarca do Projeto SAHARA. Recife, 2013.
Estudos volumétricos para definição da forma do artefato habitacional do Projeto SAHARA.
Recife, 2013-2015.
Primeiros protótipos do sistema de artefatos habitacionais do projeto SAHARA. Recife, 2013-2015.
Renderings para visualização da distribuição e detalhamento do espaço interno do sistema de artefatos habitacionais do projeto SAHARA.
Acima: Vista interna do artefato.
Centro: Vista interna da cozinha.
Abaixo: Vista do cômodo superior.
Recife, 2013-2015.
Maquete de apresentação do Projeto SAHARA Escala 1:5.
Recife, 2014
construtivas diversas que permitissem o desenvolvimento de um sistema leve e de montagem rápida. No desenvolvimento do projeto foram incorporados também os conceitos de design paramétrico, prototipagem rápida e fabricação digital. Tais
conceitos permitiram executar ciclos mais rápidos de iteração e tomada de decisão ao longo do processo de inovação.
Como resultado, o artefato habitacional proposto promove uma evolução dos sistemas de habitação oferecidos para curto e médio prazo, introduzindo duas inovações importantes. A primeira inovação tem como foco um artefato que modifica os atributos do conceito tradicional de “casa”, a forma como ela é percebida e utilizada pelos usuários.
Para isso, foram testadas novas soluções formais introduzindo o uso de módulos de montagem rápida e simples, elaborados com materiais leves, sistemas de geração energia off-grid e peças desmontáveis e reutilizáveis após o período de utilização. proposta gerou o registro de patente no sob o título “Sistema Habitacional Cenários Contemporâneos de Mora(número BR1020120315530).
segunda inovação tem a ver com o mode negócios proposto. O SAHARA pautado na oferta de um Sistema de Produto-Serviço, PSS (Product-Service System) Nesse modelo não é oferecida a POSSE do artefato, somente seu USO. Por exemplo, uma família pode alugar o artefato por um determinado período de tempo. A empresa se responsabiliza pela montagem e manutenção do mesmo ao longo do tempo de duração do contrato. Após o término desse período, o sistema é desmontado e encaminhado para manuten-
ção, ficando pronto para um próximo aluguel. Assim, dentro da lógica de PSS, busca-se promover o uso compartilhado de um mesmo artefato por diferentes usuários de segmentos e necessidade distintos (desastres naturais, grandes eventos, segunda habitação, etc., reduzindo consideravelmente o impacto ambiental gerado pelo descarte de materiais característico de outras soluções de moradia temporária disponíveis no mercado.
Dessa forma, acreditamos que a proposta ajuda a repensar a maneira como são definidas as políticas públicas para situações de desastre no Brasil, propondo uma forma preventiva mais eficaz de gerenciamento desse tipo de situações por parte de governos e prefeituras, onde por exemplo, uma rede de prefeituras poderiam gerenciar o estoque de um conjunto de artefatos e se preparar para uma eventual emergência, encurtando dessa forma, o tempo de realocação de famílias caso se apresente alguma calamidade. Em um curto espaço de tempo os artefatos estariam montados e disponíveis para o uso por parte das famílias afetadas.
Nossa participação neste projeto se deu a partir de uma parceria com o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Sustentabilidade, GIPES na elaboração de uma proposta para o Edital CNPq de Ciências Sociais
Aplicadas. Nosso interesse na temática da Inovação Social abria uma nova frente de trabalho, tomando como ponto de partida várias das problemáticas debatidas sob a ótica do desenvolvimento sustentável que até então não encontraram uma resposta satisfatória dentro dos diversos grupos da sociedade.
Nesta pesquisa, tentamos compreender melhor como empresas, comunidades e sociedades se organizam para atender as demandas ambientais, sociais e de mercado. Esse tipo de estudos organizacionais é conhecido na academia como pesquisa em Inovação Social. Essa abordagem considera todos os aspectos relacionados com a dimensão econômica da sustentabilidade, considerada aqui como inovação tecnológica, de processo ou de produto, assim como da dimensão social e ambiental, considerando como princípio a indissociabilidade das dimensões.
Considera-se que o conceito de inovação, dentro de uma abordagem dominante, é entendido como um modelo descritivo do capitalismo avançado, na qual prevalece o crescimento econômico sob a ótica do capital. Bava (2004) afirma que metodologias que buscam esse modelo de crescimento submetem as sociedades a uma combinação perversa da aceleração do processo de capital com o aumento do desemprego, da pobreza, da desigualdade, da exclusão social, com a exploração sem limites dos recursos naturais.
Forças de mudança envolvidas no roadmap de conectividade.
Recife, 2013.
Diante disso, a inovação social surge como uma tentativa contra hegemônicas, de superação da sociedade, a partir de movimentos preocupados com as problemáticas sociais, criando-se um novo paradigma embasado em iniciativas que geram novas formas de organização social e oferecem novos instrumentos para o desenho de uma nova sociedade (FARFUS; ROCHA, 2007; BAVA, 2004). Deste modo, torna-se um desafio ao mesmo tempo em que desponta a relevância em se definir indicadores de inovação social para o contexto do desenvolvimento sustentável, portanto, propõese o seguinte problema de pesquisa: Como mensurar a inovação social?.
Desde finais da década de 90 já tínhamos uma compreensão de como as tecnologias da informação e comunicação, as TICs, transformariam nossas vidas para sempre e mudariam radicalmente a forma de fazermos design. Porém, por aquelas coisas que aparentemente só acontecem na periferia, foi só em 2013 que uma grande montadora de veículos nos convidou para pensar diversas formas de levar a conectividade até o carro. A princípio parecia um desafio simples. No entanto, um olhar mais aguçado revelou o quanto a empresa precisaria fazer para se atualizar nas questões de conectividade.
Fui convidado a fazer parte de uma equipe de pesquisadores liderada por Eduardo Peixoto, Presidente do Centro de Estudos Avançado do Recife, CESAR para encarar o desafio, dando início a uma jornada homérica de pouco mais de seis meses por diferentes cidades do Brasil. Nessa jornada buscávamos entender os diversos pontos de vista sobre conectividade no carro.
Começamos nossa aproximação ao problema entrevistando motoristas em cinco capitais do país. Conduzimos uma maratona de grupos focais com funcionários da empresa e realizamos vários workshops de criação com diversos grupos de especialistas no tema, para delinear a estratégia a ser adotada pela montadora.
Como resultado foram criados possíveis usos dessas tecnologias dentro de vários cenários futuros, os quais foram construídos utilizando forecasting, uma técnica de design utilizada na prospecção de cenários futuros. Junto com esses cenários foi construído um roadmap com todas as instruções e requerimentos para a implementação de tecnologias de informação e comunicação dentro do carro, que permitiriam que os usuários pudessem usufruir das tecnologias de conectividade durante uma viagem, seja escutando sua playlist favorita, pedindo ao assistente de voz o caminho mais rápido para chegar ao destino, ou recebendo uma noti fi cação sobre um agendamento da próxima revisão e troca de óleo na oficina mais próxima.
Todas essas tecnologias estão disponíveis hoje na palma da mão. Porém naquela época eram um sonho de consumo dos motoristas que desejavam viagens mais confortáveis e seguras, com o suporte da tecnologia.
Entrevista com motorista. Projeto Roadmap da Conectividade, Porto Alegre, 2013.
Possíveis cenários para definição do roadmap de conectividade.
Recife, 2013.
Posse do Carro
Cidade Inteligente
Cidade Piora antes de Melhorar
Roadmap de conectividade
Durante meu estágio pós-doutoral na Holanda, conheci o trabalho sobre Design Driven Innovation de Roberto Verganti, diretor do laboratório de LEAdership, Design, and Innovation da escola de negócios do Politécnico de Milano.
Naquele momento, as ideias propostas por Verganti caíram como uma luva para nossa pesquisa sobre inovação que recém começáramos a desenvolver junto com minha orientanda de mestrado, Gabriela Martins, sobre desenvolvimento de territórios inovativos.
A proposta de Verganti ajudou a consolidar nosso entendimento sobre processos de inovação em Design. Tais conceitos foram aplicados no projeto de pesquisa intitulado Design Driven Innovation para Economia Criativa, que fora submetido ao Edital CNPq/SEC/MinC com o objetivo de identificar a existência, ou não, de processos de inovação de significado nas práticas das empresas incubadas no recém formado Cluster de Economia Criativa do Recife.
O Portomídia, iniciativa promovida pelo Porto Digital visava o fomento das indústrias criativas (design, jogos, cinema, vídeo, animação, multimídia, fotografia e música) da cidade do Recife que pudessem contribuir com a melhoria da qualidade dos produtos e serviços de empresas que fazem uso intensivo das Tecnologias da Informa-
ção e Comunicação desse ecossistema de inovação.
Nesse contexto, nossa proposta focava no desenvolvimento de cenários prospectivos que pudessem viabilizar a criação de produtos/serviços/sistemas inovadores. Igualmente, o projeto tinha como diretriz, o desenvolvimento de uma rede de conexões e relacionamentos multidisciplinares, entre os atores chave do ecossistema do Porto Digital, isto é, uma rede de intérpretes que pudesse dialogar de forma continua compartilhando conhecimentos capazes de quebrar paradigmas, e incentivar o surgimento de inovações radicais ou incrementais de significado.
Dito de outra forma, a proposta almejava fornecer um entendimento sobre como o Portomídia poderia desenvolver um ambiente para a incubação de ideias com significados radicais no seu conglomerado de empresas e startups. Assim, a compreensão do potencial das Indústrias de Economia Criativa poderia ser aliado ao do design como transformador, como meio para fomentar novas propostas de produtos ou serviços para o Arranjo Produtivo Local de Pernambuco.
Como resultado deste trabalho sobre Design Driven Innovation, foram produzidas três dissertações sob minha orientação. Os trabalhos de Gabriella de Oliveira Martins, “Inovação e sustentabilidade: proposta de análise para o desenvolvimento de territórios inovativos aplicado ao APL de confec-
ções do Agreste”; André Oliveira Arruda, “Design aplicado a cenários prospectivos urbanos: Recife 2037”; Tarciana Araújo Brito de Andrade, antiga bolsista PIBIC orientanda de TCC. “Estratégia de signifi cado para economia criativa: estudo de caso no Portomídia Recife”, geraram no grupo um profundo conhecimento dos processos de inovação dentro de contextos como os do Porto Mídia ou do APL de moda do Agreste Pernambuco.
MONTEIRO C. et all.
Parque Capibaribe A Reinvenção do Recife Cidade Parque.
Recife, 2019.
Em 2014, Circe Monteiro, professora do Programa de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, coordenava um audacioso projeto pensado para a melhoria da qualidade de vida da cidade do Recife. O projeto Parque Capibaribe pretendia revolucionar a forma como as pessoas vivem o Recife ao conec tá-las com as águas do rio Capibaribe, principal rio que percorre a capital pernambucana, resgatando a bacia hidrográfica como espinha dorsal da cidade através de áreas de lazer, descanso e bem estar.
O projeto previa um sistema de parques integrados ao longo de 15km em cada margem do rio Capibaribe, no Recife, de transformações nas bordas do principal curso d’água da cidade. A iniciativa,, foi desenvolvida por meio de um convênio inovador entre a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, e o
INCITI, rede de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A convite de Circe, me envolvi nas pesquisas do Parque Capibaribe para colaborar no desenvolvimento de propostas de mobiliário urbano para os diversos espaços planejados do projeto. Junto com uma equipe de jovens e talentosos designers, dentre os quais destaco Caroline Lima, André Morais e Gabriella Martins, realizamos uma série de workshops que contaram com a colaboração dos moradores da cidade na criação e prototipação de possíveis ideias de mobiliário para o parque.
Nossa inquietação era a respeito de como incorporar os conceitos design paramétrico e fabricação digital na produção de peças de mobiliário que pudessem ser construídas utilizando os conceitos de “faça você mesmo” (do it yourself)
Por exemplo, num dos workshops foi desenvolvido um protótipo de um mobiliário conceitual, aplicando princípios da ergonomia e utilizando software de design paramétrico (Grasshopper). Na ocasião foi construída uma estrutura tridimensional em acrílico que representa o conceito de um mobiliário que, segundo a preferência do
usuário, permite múltiplas formas de utilização - sentado, deitado e encostado.
Da mesma forma, num outro workshop, os participantes construíram a peça de mobiliário intitulada “rede”, que buscava inspiração no universo dos pescadores da cidade. Nesta oficina convidamos também seu "Nego", um experiente pescador, morador do bairro de Brasília Teimosa, para nos ensinar as técnicas de tramas de rede de pescar.
Dessa maneira, foram geradas diversas possibilidades de mobiliário alinhadas com as cinco premissas do projeto, percorrer,
Proposta de intervenção urbana e estudos de mobiliário para o projeto Parque Capibaribe. Recife, 2015.
Oficinas de fabricação de mobiliário urbano do projeto Parque Capibaribe.
Acima: construção de um protótipo utilizando acrílico e cortadora a laser
Abaixo, seu “Nego” ensinando técnicas as técnicas de tramas de rede de pescar
Recife, 2015.
atravessar, chegar, abraçar e ativar. Visando dar destaque a tais premissas, a equipe projetou uma série de peças tentando juntar os atributos formais e funcionais levando em consideração a história e a cultura e a biodiversidade evidenciada ao longo do percurso do rio das capivaras.
Recife, 2015.
de
Configuração das redes de economias centralizadas, descentralizadas e distribuídas definidas no projeto LeNSin.
Recife, 2017.
Em 2016 iniciamos nossa participação na rede LeNSin, The Learning Network on Sustainability International, a convite do professor Aguinaldo dos Santos da UFPR. O projeto do mesmo nome e liderado por Carlo Vezzoli, reconhecido professor de design do Politécnico de Milão, tinha como objetivo fomentar o desenvolvimento colaborativo, em plataforma aberta, de conteúdos didáticos na área de Design para a Sustentabilidade, em particular do design de Sistemas Produto+Serviço aplicados no contexto das Economias Distribuídas.
O projeto, financiado pelo Programa Erasmus+ Capacity Building in Higher Education, convocou a participação de uma rede de 15 universidades incluindo o Politécnico de Milão (Itália), Aalto University (Finlândia), TU Delft (Holanda), Brunel University (Reino Unido), Srishti University (Índia), Indian Institute of Technology (Índia), Tsinghua University (China), Cape
Península University of Technology (Africa do Sul), Universidades Autônoma de México e Universidad del Valle de México (México). No Brasil, a proposta contou com a participação da UFPR e da UFPE como instituições coordenadoras.
O projeto buscava entender como Sistemas Produto+Serviço, PSS poderiam ser aplicados no contexto das Economias Distribuídas em cinco áreas estratégicas a saber: Distributed Renewable Energy, (DRE); Distributed production of Information (DI); Distributed production of Software (DS) Distributed production of (hardware) Products (DP); e Distributed Design (DS). Cada uma dessas áreas foi acolhida por uma equipe de pesquisadores, para propor métodos e ferramentas, bem como de melhores práticas de ensino.
Dessa forma, o projeto LeNSin buscava contribuir com a formação de uma rede mundial de instituições de ensino superior para que os currículos dos cursos de design estivessem sempre atualizados e equiparados, em termos de conhecimento e conteúdo, sobre as melhores práticas e abor-
dagens em sistemas de produtos e serviços sustentáveis. Como benefícios da construção desta rede estava também a qualificação de uma nova geração de designers com vistas a treiná-los para blemáticas locais e globais sustentabilidade.
Foi nesse período que estreitei com o professor Aguinaldo brilhante pesquisador da para nossa área de design lidade que, com o passar verteu-se em grande amigo caminhada pelo mundo.
Durante as atividades programadas jeto LeNSin, tivemos a viajar a remotos locais diversas enquanto tentávamos nossos conhecimentos com ceiros da rede. São tantas juntos que talvez precisaria
Classificação e exemplos das tipologias de Economia Distribuída contempladas no projeto LeNSin.
Recife, 2016.
aparte para conta-las, mas há um episódio em particular que chama minha atenção nesses tempos de terraplanismo.
Prof. Aguinaldo dos Santos em Olinda durante a realização do 1 Curso Piloto da UFPE do Projeto LeNSin.
Olinda, 2017.
Apresentação final dos projetos do Curso Piloto da Universidade de Hunan.
Projeto LeNSin.
China, 2018.
Depois de passar duas semanas na cidade de Changsha, no interior do interior da China, ministrando um curso piloto sobre PSS na Universidade de Hunan, para o projeto LeNSin, eu e Aguinaldo comprovamos de uma forma um tanto acidental, que a terra é redonda. Na última segundafeira do mês de janeiro na China, cada um de nós voltou para casa por um caminho diferente. Aguinaldo retornaria de trem para Pequim e dali voaria para Paris onde
pegaria sua conexão para São Paulo. Eu por minha vez, após uma escala de um dia em Hong Kong, pegaria um avião para Dallas de onde retornaria em um voo direto, também para São Paulo. Curiosamente, quando cheguei em Guarulhos, após passar por aquele tedioso processo de imigração, e como se tivéssemos combinado local e hora, ali estava Aguinaldo!, na fila do embarque doméstico. Nossa grande
Almoço com os participantes do Curso Piloto da Universidade de Hunan.
Projeto LeNSin.
China, 2018.
a interação com outras culturas e conhe cimentos que fez desta a experiência de ensino, pesquisa e extensão que melhor elucida o exercício dessa tríade universitária de maior relevância na minha carreira.
Trabalhar pessoalmente ao lado do profes-
A intensa agenda de trabalho proposta no projeto LeNSin incluía uma série de atividades nos formatos de ensino, pesquisa e extensão que resultaram num frugal intercâmbio com integrantes das mais de quinze universidades parceiras do projeto.
Prof. Carlo Vezzoli ministrando uma aula no Curso Piloto da UAM.
Projeto LeNSin
Cidade de Mexico, 2017.
Encontro com a Profa. Brenda Garcia Parra, Alejando Ramirez e Aguinaldo dos Santos. Curso Piloto da UAM. Projeto LeNSin.
Cidade de Mexico, 2017.
Série de Livros
Design para a Sustentabilidade produzidos pela rede LeNS Brasil.
Curitiba, Editora Insight 2018-2020.
A agenda do LeNSin previa diversas atividades que seriam realizadas ao longo dos três anos previstos para o projeto, e que incluíam a realização de duas rodadas de cursos piloto em cada uma das universidades parceiras. Dessa forma, eu e Aguinaldo, coordenadores do projeto em nível Brasil, além de sermos responsáveis por organizar os cursos piloto brasileiros na cidades de Recife e Curitiba, participaríamos também dos cursos que seriam organizados por nossos parceiros na China e no México. Na próxima seção, falarei um pouco mais em detalhe sobre a experiência de realizar o primeiro curso piloto da rede aqui em Recife.
O projeto previa também a realização de dois seminários internacionais. Reunia professores, pesquisadores e representantes de empresas, para discutir como adotar
práticas de sustentabilidade nas empresas. No Brasil, no ano de 2016 organizamos, junto com Aguinaldo o 1st International Seminar on Sustainable Product Service Systems and Distributed Economies S.PSS&DE, na cidade de Curitiba. O evento contou com a participação de empresários e funcionários de empresas do ecossistema de empreendedorismo local.
Finalmente, para o encerramento do projeto foi proposta a realização da The LeNS World Distributed Conference - Designing Sustainability for All, um evento pioneiro em formato totalmente virtual, algo inimaginável para o ano de 2019, que reunia num mesmo “espaço e tempo” todos os parceiros da rede. Imagine conectar em um mesmo horário colegas da cidade do México, Recife, Milão, Changsha, Cidade do Cabo e Beijing. Enquanto os mexicanos
paravam para ir dormir.
Na ocasião, tive a honra de ser Keynote Speaker do evento, ao lado de reconhecidos pesquisadores da área como o professor Xiaobo Lu, Decano da Academy Arts & Design, Tsinghua University e do professor Walter R. Stahel, fundador do Product-Life Institute, um dos pioneiros e defensores do conceito de Circular Economy.
A experiência acumulada ao longo dos três anos de duração do projeto foi registrada em uma série de livros que foram disponibilizados gratuitamente para a comunidade acadêmica sob licença Creative Commons, e que junto com uma série de materiais pedagógicos, apresentações e estudos de caso, se encontram disponíveis para down-
publicou quatro livros. Destes fiz parte como co-autor de capítulos em dois deles: Sistema Produto-Serviço Sustentável: Fundamentos (2018) e, Desenvolvimento Sustentável: Dimensão social (2019).
Da mesma forma, a Rede LeNSin publicou em 2021 pela editora Springer International o livro Designing Sustainability for All: The Design of Sustainable Product-Service Systems Applied to Distributed Economies do qual participei como co-autor de três capítulos.
Participantes do Curso Piloto da UFPR. Projeto LeNSin.
Curitiba, 2018.
Vezzoli, Parra e Kohtala. Eds. Designing Sustainability for All: The Design of S.PSS applied to Distributed Economies.
London: Springer, 2021.