COSPLAY: Muito mais que uma fantasia

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO CURSO DE RÁDIO, TV E INTERNET

ANA PAULA VICENTINI ANDRÉ BRAVIM BRENO DOS SANTOS GABRIELA NAZÁRIO GUILHERME TAVARES JULIA BUENO LOPES LUCAS PELON MICHEL GENTIL ALCÂNTARA

COSPLAY Muito mais que uma fantasia.

SÃO BERNARDO DO CAMPO 2013


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ANA PAULA VICENTINI ANDRÉ BRAVIM BRENO DOS SANTOS GABRIELA NAZÁRIO GUILHERME TAVARES JULIA BUENO LOPES LUCAS PELON MICHEL GENTIL ALCÂNTARA

COSPLAY Muito mais que uma fantasia Projeto Integrado no curso de graduação à Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Comunicação, curso de Rádio, TV e Internet, 1º semestre/2013. Área de concentração: Orientação: Profº Diego Franco

SÃO BERNARDO DO CAMPO 2013


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Dedicamos esse trabalho aos nossos amigos e colegas que contribuíram para a execução deste trabalho. Bem como às amizades feitas com diversos cosplayers ao longo do projeto.


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AGRADECIMENTOS

À união dos amigos e colegas de classe.

Ao comprometimento e dedicação de todos do grupo.

Ao nosso orientador Diego Franco.

Aos professores que nos auxiliaram e possibilitaram a execução do trabalho.


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“Resgatem o seu lado lúdico! O seu lado lúdico é responsável pela sua criatividade, pela sua felicidade, pelo seu momento de emoção e neste universo [cosplayer] você encontra pessoas com este lado extremamente aflorado, mesmo.” ~ Pietro Progetti


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RESUMO

Este trabalho de conclusão de semestre tem como objetivos verificar o modo de vida da subcultura conhecida como Cosplay. Os participantes deste grupo, composto por pessoas de diversas faixas etárias, assumem a personalidade de um personagem, real ou fictício. Toda a pesquisa foi baseada nos conceitos aprendidos em sala de aula e por meio da prática da etnografia.

Palavras-chaves: cosplay, cosmaker, customing, mangá, anime, antropologia, estudo etnográfico.


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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO............................................................................................................. 9 2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 6 2.1. OBJETIVOS GERAIS .......................................................................................................... 6 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................... 10 3. METODOLOGIA............................................................................................................ 11 4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 6 5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................................... 6 5.1. ANTROPOLOGIA E ETNOGRAFIA ..................................................................................... 6 5.2. FILOSOFIA........................................................................................................................ 6 5.3. SUBCULTURA NA MÍDIA.................................................................................................. 6 6. PERFIL DA SUBCULTURA ................................................................................................ 6 6.1. SÍMBOLOS E CARACTERÍSTICAS VISUAIS......................................................................... 6 6.2. REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS .......................................................................................... 6 6.2.1.Fotografia ................................................................................................................ 6 6.2.2.Filmes e TV .............................................................................................................. 6 7. RELATÓRIO DE PESQUISA DE CAMPO ............................................................................. 6 7.1. OBSERVAÇÕES ................................................................................................................ 6 7.1.1.Anime Party............................................................................................................. 6 7.1.2.Parque da Juventude .............................................................................................. 6 7.2. PERFIL DOS ENTREVISTADOS .......................................................................................... 6 7.2.1.Lendro Bueno .......................................................................................................... 6 7.2.2.Everton Rezende Berestran .................................................................................... 6 7.2.3. Paulo Segalla Pinto ................................................................................................. 6 7.2.4.Pietro Progetti ......................................................................................................... 6 7.3. ENTREVISTAS................................................................................................................... 6 7.3.1. Leandro Bueno ....................................................................................................... 6 7.3.2.Everton Rezende Berestran .................................................................................... 6 7.3.3.Paulo Segalla Pinto .................................................................................................. 6 7.3.4.Pietro Progetti ......................................................................................................... 6 8. AUTORIZAÇÃO DO USO DA IMAGEM.............................................................................. 6 9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 12


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1 APRESENTAÇÃO Escolhemos esse tema, pelo fato de ser um tema recente e pouco explorado, além do mesmo nos ter interessado. O termo “Cosplay” diz respeito à caracterização feita pelos integrantes da tribo, no qual fazem isso por vontade própria, sem vínculo com um modo de vida específico. Na maior parte das vezes, os integrantes da tribo interpretam algum personagem fictício, no qual possui certa ligação com um filme ou desenho, este último de maioria japonesa. A grande parte deles possui uma cultura elevada em relação à mídia em geral, visto que são bons entendedores de música, bem como de livros. O grupo não sustenta algum tipo de preconceito, contudo, há pequenas rixas; todavia, isto é apenas uma pequena rivalidade relacionada à disputa por melhor caracterização e fidelidade ao personagem representado. Em geral, eles são um dos grupos sociais mais receptivos na atualidade, bem como possuem hábitos incomuns às outras pessoas, pelo fato de adquirirem os costumes e gírias presentes em seus filmes e desenhos favoritos. Porém, aos que desconhecem a tribo, acham interessante a diversidade de costumes e culturas estrangeiras deles.


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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivos Gerais. Observar e estudar a subcultura urbana denominada cosplayers, focando compreender os costumes e funcionamento da mesma. 2.2 Objetivos Específicos.  Registrar, fazendo uso dos conceitos aprendidos nas aulas de fotografia, de forma fiel a que os fatos se apresentarem, imagens que representem a sub cultura; desde suas vestimentas características, até seus locais de encontro.  Expor, por meio de uma fundamentação teórica, todos os conceitos de Antropologia, Etnografia, Filosofia, e como a sociedade é vista na mídia, aprendidos ao longo do semestre.  Obter registros que relatem o perfil da subcultura estudada, como seu histórico, seus símbolos materiais e imateriais e suas referencias de mídia, onde podem ser encontrados filmes, documentários, programas de TV, fotografias etc.  Observar o subgrupo em questão, por meio de observação participante e entrevistar os integrantes do grupo, para podermos melhor retratar como funciona esta subcultura.


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3 METODOLOGIA O nosso grupo realizou um estudo sobre a subcultura urbana Cosplay. Mais precisamente sobre os praticantes dessa subcultura, nos quais são denominados cosplayers. Para que pudéssemos realizar o nosso trabalho, contamos com alguns itens essenciais para chegar ao objetivo final da nossa pesquisa. Sendo eles: 

Dividimos o nosso grupo, segundo os itens da pasta de produção, para que cada integrante ficasse encarregado de uma tarefa;

Realizamos pesquisas em sites, revistas, documentários e entrevistas;

Visitamos o evento de cosplayers “Anime Party 2013”, onde fizemos observações iconográficas a respeito da subcultura;

Analisamos o comportamento dos cosplayers em pontos de encontro do grupo;

Fizemos entrevistas com praticantes dessa subcultura urbana;

Contamos com a orientação dos professores de cada modulo.


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4 JUSTIFICATIVA Um profissional da área da comunicação precisa, acima de tudo, conhecer o público com quem estará em contato durante cada projeto, pois somente assim é possível criar, para cada grupo social, produtos e serviços que atendam seus interesses e necessidades culturais. Visando formar grandes comunicadores, o curso de Rádio, TV e Internet, da Universidade Metodista de São Paulo, propõe-nos o contato direto com o público com a aplicação do Projeto Integrado (P.I), fazendo-nos colocar em prática os conteúdos aprendidos durante as aulas de cada módulo. Como tema deste primeiro semestre, o P.I pede para contarmos a história de uma subcultura urbana, expondo nela traços comuns nas personalidades de seus membros. Para atender às normas do projeto, escolhemos como objeto de estudo a subcultura do Cosplay, que vêm ganhando bastante popularidade no Brasil desde a década passada. Conhecer esta subcultura, ainda em formação, é de grande auxílio à nossa compreensão sobre as diferentes manifestações culturais presentes no interior de uma mesma sociedade. Em relação ao Cosplay, ainda temos a chance de ver a influência da mídia no modo de vida destas pessoas, percebendo o quão é importante e poderosa nossa área de comunicação. Sendo esta subcultura a prática de “transformar-se” em seus personagens preferidos, ela é apontada como a fuga dos problemas encontrada por seus praticantes. Este trabalho acadêmico, porém, busca instruir o leitor de como surgiu e como funciona hoje a subcultura do Cosplay, sem pretensão de criar, no leitor, ideias a favor ou contra a prática; buscando apenas diminuir preconceitos. Esperamos, com este projeto, dar uma pequena base aos futuros pesquisadores deste tema, para que possam com isso, desenvolver trabalhos que enriqueçam de qualidade, a lista de materiais educativos sobre este grupo. Ainda assim, nosso maior objetivo na realização deste trabalho, é aproveitar dele cada pequena experiência que tivemos em seu desenvolvimento. Desde a aplicação dos métodos etnográficos em pesquisa de campo, até a representação do tema, através de recursos visuais, nos quais foram extraídos de sala de aula, para desenvolver no trabalho


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a melhor história que se pode ser contada, desta nossa experiência com o Cosplay, assim como sempre teremos que fazer, porquanto quisermos ser comunicadores. A realização do P.I é ainda uma das maiores avaliações que o corpo docente de RTVI tem sobre o aproveitamento, desempenho e produtividade de nós alunos durante este primeiro semestre; sendo a nota deste trabalho responsável por grande parte em nossas menções finais. Portanto, a realização com êxito neste trabalho, será convertida em nossa promoção para um patamar mais elevado do mundo profissional da comunicação.


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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. Nesta parte do trabalho se encontra a fundamentação teórica, que expõem todos os conceitos aprendidos em aula durante o semestre. A fundamentação teórica esta dividida em três partes: Antropologia e Etnografia, onde se encontram os conceitos básicos para o estudo de um grupo; Filosofia, onde é expostas as concepções de ideologia, suas ferramentas e sua relação com o subgrupo estudado; Subcultura na mídia, onde mostramos alguns conceitos de visibilidade e também como o subgrupo é visto pela mídia da sociedade em que se encontra.

5.1 ANTROPOLOGIA E ETNOGRAFIA. A Antropologia surgiu em meados do século XIX, na Europa, e tinha como objetivo estudar povos de origem não ocidental ou como denominado por eles “povos primitivos” ou “selvagens”, e por serem denominadas como tal, sempre eram encarados como inferiores ao padrão do Eurocentrismo, mas com o avanço do capitalismo estes povos foram desaparecendo, acabando com o objeto de estudo desta ciência recém formada, que por sua vez não teve escolha à não ser se adaptar, mudando seu objeto de estudo para o homem inteiro em todas as sociedades, o que levou a integração de novas áreas de estudo, entre elas a antropologia biológica, antropologia pré-histórica, antropologia linguística, antropologia psicológica e a antropologia social e cultural também conhecida como etnografia que estuda tudo o que forma uma sociedade e busca compreender todos os elementos que constituem esta sociedade, e entre estes elementos se encontram os grupos sociais ou subculturas, que são um objeto valido de estudo Antropológico e Etnográfico (PRAUN,2013; LAPLANTINE, 1988, pg.7 a 11 ). Para realizar este projeto integrado fizemos uso da metodologia funcionalista, apresentado por Bronislaw Malinowski, onde se vê um grupo como um todo, no qual cada parte exerce uma função vital para o funcionamento do mesmo, portanto é importante que cada parte deste grupo seja encarada de forma que possa se encaixar em um coletivo de outras partes totalizando-o, outro fator importante do funcionalismo é que o pesquisador nunca deve ir a campo com uma opinião pré-formada, seja esta opinião boa ou ruim, para que seu julgamento não atrapalhe o estudo, que deve ser transparente, somente retratando os todos os elementos que consistem o grupo. Outro


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fator importante é que os etnólogos se consideram aluno do seu objeto de estudo, afinal, após seu convívio com eles, você acaba por aprender muito sobre eles e sobre si mesmo. (LAPLANTINE, 1988, Pg.149 a 151.) Também foi utilizada a observação participante que consiste em estudar um grupo ou cultura, que diferente dos primeiros modelos de antropologia, que mandavam viajantes coletarem informações para que os estudiosos pudessem fazer relatos, é feita por meio de uma observação minuciosa por parte do próprio pesquisador, dando importância para todos os detalhes (vestimentas, gestos, costumes, o meio em que vivem) por menor que pareçam, são importantes para o entendimento do grupo. Parafraseando Laplantine, de fato não se é possível estudar um homem o examinando como uma planta em um jardim botânico, a única maneia de se fazer isso, é comunicando se com eles, o que supõe que compartilhe de sua existência, e não somente coletar informações de uma forma intuitiva, mas “impregnar-se dos temas obsessionais de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias.” (LAPLANTINE, 1988, Pg.149).

Imagem retirada de http://oscar.library.yale.edu/omeka/items/show/7 .


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Para se obter bons resultados o pesquisador, como visto na imagem acima, que mostra Malinoski em uma de suas viagens exploratórias para a escrita de seu livro argonautas do pacífico ocidental, deve alem de observar, participar da rotina do grupo estudado ao vestir-se, alimentar-se, comunicar-se como eles, só assim podendo efetivamente ser uma parte deles pode se entender como vivem, e em alguns casos desta forma também é possível conquistar a confiança dos membros mais céticos, que podem conter informações importantes para o entendimento do grupo, já que cada pequeno detalhe é de grande importância para o estudo etnográfico (PRAUN, 2013, LAPLANTINE, 1988, p.150). Os conceitos acima podem ser confirmados pela seguinte frase de Laplantine:

“O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda. Se, por exemplo, a sociedade tem preocupações religiosas, ele próprio deve rezar com seus hospedes.” (LAPLANTINE, 1988, p. 150)

Segundo Malinowski, o pesquisador deve sair de sua zona de conforto, aderindo e questionando os costumes e hábitos do grupo estudado, deixando de lado nossos conhecimentos de convívio social, correndo o risco de voltar com seus valores alterados, pois ao se personificar como parte do grupo ele passa a enxergar o mundo do ponto de vista deles, mas é um risco que o pesquisador deve estar disposto a correr (LAPLANTINE, 1988, p. 150). As subculturas podem ser consideradas “anormais” pela sociedade, por possuírem costumes e hábitos diferentes, mas para seu estudo, temos que deixar de lado estes julgamentos sociais, pois se trata apenas de uma cultura diferente que também deve nos ver como tal (LAPLANTINE, 1988, P. 12 e 13). Como dito por Laplantine:

“A experiência da alteridade leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos notamos que o menor de nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de ‘natural’. ”(LAPLANTINE, 1988, P. 12-13).


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O conceito de alteridade deve ser levado em conta, ao se olhar para qualquer subcultura, pois como dito antes o pesquisador não deve deixar suas opiniões pessoais e os preconceitos da sociedade influenciarem em seu estudo, devemos considerá-los apenas como pessoas com cultura diferente, anotando os fatos de forma fiel a que se apresentarem. Etnógrafos atuais dizem que em relação a teoria funcionalista de Malinowski , as instituições formadas pelo grupo tem como função satisfazer as necessidades biológicas de seus membros, e onde os membros se organizam de forma a melhor atender estas necessidades. Estes conceitos eram usados para o estudo de povos antigos, onde realmente era necessário se satisfazer necessidades biológicas, mas em uma subcultura urbana, os grupos se focam em satisfazer necessidades psicológicas de seus membros, como a necessidade de se relacionar, de estar em um círculo de amigos, de apoiar um membro quando ele se depara com algum problema. Seguindo este conceito, nos procuramos entender dentro do grupo subcultural, quais são as necessidades que eles possuem o que também pode nos dizer o motivo de eles estarem se reunindo, e se o grupo tem esta organização necessária para ajudar seus membros e apoiá-los quando necessário. (MARANHÃO, 2012) Enfim podemos, podemos dizer que um bom etnólogo se coloca de corpo e alma em seu estudo, e se for extremamente atencioso a detalhes e não tiver medo de se entregar completamente ao estudo, poderá fazer uma boa pesquisa.

5.2 FILOSOFIA. A Filosofia, como apresentado por historiadores, teve inicio entre o final do século VII A.C. e o começo do século VI A.C., nas colônias gregas da Ásia menor, mais especificamente na cidade de Mileto. Teve como seu primeiro objeto de estudo a cosmologia, nada mais é que o estudo do mundo, e com o tempo ampliou seu campo de estudo, e passou a ter como objetivo explicar a origem e causa do mundo, das ações humanas e até de seus pensamentos. (CHAUI, 2000, Pg. 28) A palavra filosofia foi somente atribuída a esta ciência em V antes de Cristo pelo filosofo Pitágoras de Samos. Como mencionado em textos de Marilena Chauí, Pitágoras


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Afirmava que: “[...] a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.” (CHAUI, 2000, Pg. 19). Etimologicamente a definição de filosofia é amar a sabedoria, e segundo Pitágoras, um filosofo não possuí conhecimento real, só deve apreciá-lo. Também dizia que qualquer mudança no mundo, por qualquer razão que fosse, deveria ser apreciadas, julgadas e avaliadas. (CHAUI, 2000, Pg. 19). Os filósofos também têm como objeto de estudo as ideias, o que torna a Ideologia, por também usar ideias como seu principal conceito, um objeto válido ao meio filosófico. A primeira concepção de ideologia foi dada pelo francês Destutt de Tracy em 1801, quando pretendia formar uma ciência que estudasse nossa forma de pensamento e a forma como nossas ideias se formavam, portanto a encarava como uma ciência que estudava as ideias. Destutt inicialmente apoiava o líder político e militar Napoleão Bonaparte, pois o considerava como um revolucionário liberalista, até sendo nomeado como um senador por Bonaparte, enquanto o mesmo se encontrava no poder, que posteriormente se mostrou simpatizante do antigo regime, o que ia contra os ideais de Destutt, que se opôs as leis estabelecidas por Napoleão, sendo expulso de seu cargo. O sentido da palavra ideologia foi mudado por conta de um discurso feito por Napoleão no qual descrevia os ideólogos como “tenebrosos metafísicos” (CHAUI, 1980, Pg.11), ou seja, como manipuladores de ideias e fatos. Após o discurso feito por Napoleão deuse a entender que ideologia é um conjunto de ideias com poder persuasivo capaz de controlar grandes massas, também podendo ser entendido como uma maneira de distorção da realidade. Contudo, este não passou a ser um significado oficial para a palavra ideologia, pois a mesma não tem um significado fixo, e também podia ser encarada como uma “visão de mundo”, e entre varias outras concepções, que dependem do ponto de vista do ideólogo ou estudioso. (CHAUI, 1980, Pg.10,11). Ao se falar de ideologia no sentido de manipulação, não podemos deixar de citar Karl Marx, que entendia a ideologia, mais especificamente a ideologia alemã a qual ele critica, como uma falsa consciência, usada pelo estado ou por que possuísse poder, como ferramenta de controle social, um exemplo que pode ser dado, é o de que as classes dominantes, que já são chamadas como tal por causa de uma falsa consciência, impõem seus pensamentos e ideais as classes “dominadas”, fazendo com que continuem sendo encaradas como dominantes, e ainda mais, fazendo com que tudo o que seja


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produzido pelas classes dominadas, sejam mais valiosos que seus próprios produtores, e de propriedade de quem possui o poder. Os fatos apresentados pelos ideólogos também são apresentados de forma não integral, seja com uma concepção distorcida ou usando somente um ponto de vista (o que melhor convir a que estiver no controle), criando não um fato em si, mas uma versão de fato que é apresentada ao publico como realidade. (CHAUI, 1980, Pg.14,15). A ideologia marxista também pode impor regras, normas ou leis que se julgue necessário, de forma que os que estejam sobre regime das mesmas, não percebam que elas estejam sendo implementadas e ainda sintam que as tais normas, são justas e estão lá somente para ajudar em um melhor convívio social. (CHAUI, 2000, Pg.220 a 222). Outra ferramenta importante de uso da ideologia é a inversão de causa e consequência, onde manipulamos os fatos, seja por meio da omissão de parte dele, ou por sua distorção, onde perdemos a causa que originou a tal consequência, transformando a mesma em uma causa. (CHAUI, 2000, Pg.220 a 222). Estas ferramentas ideológicas funcionam com ajuda de um conceito Hegeliano adotado por Marx, o conceito da alienação, e diz que a ideologia só pode funcionar em uma sociedade onde o povo esteja alienado, ou seja, uma sociedade onde o povo não procura se informar e aceita tudo o que lhes é dito sem questionar, seja por falta de informações ou por falta de interesse, uma sociedade alienada é mais fácil de controlar. Em sua teoria de alienação Marx utilizou conceitos apresentados pelo filosofo Feuerbach, que encarava a religião como a mais poderosa ferramenta de alienação humana, onde se tinha a figura de um deus, figura criada pelo próprio homem, como um ser supremo capaz de controlar por meio do medo - também uma ferramenta de controle muito poderosa – os atos de uma sociedade, o que também tornou a igreja, por ser a representante de deus, um poder inquestionável por vários séculos, a alienação aqui presente se dava por aceitação dos povos da época ao que era apresentado a eles como fato. Apesar de Marx utilizar estes conceitos em sua tese, discordava de Feuerbach, achava que a forma mais poderosa de alienação era a alienação do trabalho, onde como já dito acima, o trabalhador não se reconhecia como produtor do produto produzido por ele. Isso se dava pois o trabalhador se via em uma empresa privada, comandada por um proprietário, que por ser dono da matéria prima e contratante do serviço de um trabalhador, dizia ser o verdadeiro produtor do produto final. (CHAUI, 1980, Pg.22)


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Após rever todos estes conceitos e observar de perto as relações existentes no subgrupo estudado, podemos identificar que alguns dos elementos da ideologia estão fortemente presentes no dia-a-dia dos integrantes deste grupo e no grupo em si. Em relação a manipulação e distorção de informações como forma de controle social, não se encontram muitos exemplos dentro do subgrupo, a não ser boatos de que competições realizadas em reuniões deles tem seus resultados manipulados para favorecer algum candidato em particular, ainda quanto a manipulação, nós pudemos identificar vestígios mais fortes dela, não dentro do subgrupo, mas na maneira como ele é encarado, de forma preconceituosa, por não se enquadrarem dentro do padrão da sociedade atual, e por muitas vezes serem difamados por entidades religiosas que julgam seus costumes e seus gostos como errado. Dentro do subgrupo, não se encontra uma relação de dominância entre seus integrantes, pois não há nenhum tipo de patente entre eles, a não ser pelos chamados organizadores dos eventos que podem ditar regras a de comportamento a serem seguidas pelos integrantes, para melhor organização dos eventos. Por normalmente serem pessoas com ao menos um melhor acervo cultural, mesmo que não seja de cultura nacional, estão sempre atentos aos fatos que ocorrem a seu redor, os fazendo alvos difíceis à alienação, seja ela vinda de dentro ou de fora do grupo.

5.3 SUBCULTURA NA MÍDIA. Nos dias de hoje, tudo o que fazemos é de alguma maneira exibido na mídia, incluindo as ações de grupos subculturais, mas antes de poder dizer como o grupo que esta sendo estudado por nós é retratado na mídia de hoje, é necessário entendermos alguns conceitos básicos de visibilidade. Visibilidade nada mais é que o ato de ser visto. Obviamente, o que é visível pode ser visto, e o invisível não, e o conceito de visibilidade em seu primórdio está relacionado a isto. A capacidade de ver tudo o que esta em nossa visão, levando em conta o alcance em que enxergamos as condições de iluminação de um local, e até questões temporais - por exemplo, só está em nossa visão algo que está no presente –


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definem se algo esta visível, e caso esteja, é uma visibilidade recíproca, na qual uma pessoa pode ver e ser vista. (THOMPSON, 2008, pg.20) Este tipo de visibilidade era algo importante aos imperadores e reis da antiguidade, pois era a única maneira de serem vistos por seus súditos, mesmo que não de forma recíproca, em grandes discursos, coroações e outros eventos públicos. Porem raramente podiam ser vistos por grandes multidões, sendo mais comum conferencias particulares, se tornando visível apenas aos presentes em tais conferencias. (THOMPSON, 2008, pg.21 e 22) Com a criação de novas formas de mídia, um novo tipo de visibilidade surgiu, a chamada visibilidade mediada, ou seja, com um meio transmissor entre seus receptores, desconsiderando vários dos princípios apresentados pela teoria da visibilidade original. Agora a visibilidade diz que algo não necessita mais estar dentro de seu campo de visão para se estar visível, pois poderia muito bem ser visto a grandes distancia por meio de uma foto ou emissão televisiva, nem mesmo necessita ser um ocorrido no presente, pois por meio das mesmas ferramentas, se torna visível, portanto, não estamos mais presos a uma noção de espaço e tempo para ver. (THOMPSON, 2008, pg.20 e 21) Com novos conceitos de visibilidade, também vieram novas utilidades para a mesma, já que com o uso dos meios de comunicação foi possibilitado atingir grandes massas da população. Políticos fizeram uso da mesma para que seus discursos, agora emitidos pela televisão, atingissem milhares e ainda de forma mais pessoal que discursos feitos a grandes multidões, dando ao telespectador mais afinidade ao político em questão. As indústrias também fazem uso da visibilidade desde a revolução industrial, pois para que seus produtos atinjam maior percentual de venda, o que melhor que o promover ao publico? Nada. Fazendo o uso primeiramente de panfletos impressos, e mais tarde com o avanço da tecnologia anúncios nas mídias de radio e televisivas, foi possível grande aumento em suas vendas. (THOMPSON, 2008, pg.22, 24 e 25) Como pudemos ver, a visibilidade esta diretamente ligada com a imagem que um indivíduo tem dentro da sociedade, seja esta imagem produzida por ele próprio ou por outra pessoa,


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O subgrupo estudado por nos, os cosplayers, não tem muita visibilidade nos meios de TV e radio, mesmo que estejam ganhando um pouco de espaço nestes meios, ainda não são muito visíveis. Em um programa da rede Record, chamado Programa da Tarde, no dia 3 de março de 2013 foi feita uma matéria de cerca de vinte minutos, envolvendo as cosplayers gêmeas Thamara e Tarcila Ramos, e outra cosplayer chamada Alessandra Fernandes, onde o termo Cosplay foi mencionado brevemente, não sendo nem o assunto principal da matéria. Isto foi usado somente como um exemplo da falta de visibilidade que os cosplayers têm dentro da televisão e do radio. (RAMOS, 2013.) A informação acima foi tirada de um blog criado por uma das gêmeas, Thamara Ramos. Por não haver muito espaço nas mídias televisivas para os cosplayers, muitos deles possuem blogs ou paginas na Internet como um meio para se tornarem visíveis. Para inserirmos estes blogs ou páginas no meio da visibilidade, é necessário mais uma breve explicação sobre a mesma. Com o surgimento de uma nova mídia de transmissão, a Internet, criaram-se ainda mais meios de se tornar visível dentro da sociedade, porem, por ser um meio de transmissão livre do controle político que os outros meios sofrem, muitas vezes é usado para passar uma imagem de alguém à sociedade, sem o consentimento da mesma, podendo ser alguma informação que não traga nenhum beneficio ou até danos a imagem da pessoa. Mas ainda há um lado positivo nesta nova mídia, pois por ser uma mídia livre, todos podem por si próprios se tornar visíveis de alguma forma. (THOMPSON, 2008, pg.22, 24 e 25) Dito isto, podemos considerar que grande parte da visibilidade dos cosplayers vem de blogs e páginas de sua própria autoria, onde pode ser encontrados fatos sobre suas próprias vidas, sobre seus futuros planos de Cosplay, e até fotos de Cosplay feitos por eles no passado. Além de paginas próprias dos cosplayers, ainda existem páginas dedicadas a expor fotos de eventos, realizados por eles, assim como datas de futuros eventos, a reuniões feitas pelo grupo, resultados de competições entre várias outras funções, sendo publicado periodicamente por alguém que se encarregou de criar um espaço que tornasse o grupo mais visível. A foto a seguir foi retirada do site cosplaybr, como forma de ilustrar o falado acima:


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Fonte da imagem: http://www.cosplaybr.com.br/site/index.php/Fotos-Nova-Galeria/Anima-Recife-Dia20-02-Domingo-/Anima-Recife-2011-27910.html

Como pudemos observar, ao expor sua imagem, uma pessoa está se colocando a julgamento do público, e isto define como serão vistos pela sociedade, mas é claro que isto depende do ponto de vista de cada pessoa, por exemplo, pessoas mais conservadoras podem julgar esta subcultura como completamente perturbada ou ao menos fora dos padrões, o que já causa muito preconceito em relação a este grupo em especifico, já pessoas mais abertas a novas experiências podem aceitar eles como sendo pessoas com costumes diferentes, como dito antes, isto depende somente do ponto de vista de cada um.

6 PERFIL DA SUBCULTURA

Embora o termo Cosplay tenha realmente sido inventado no Japão, sua prática é uma adaptação direta (para não dizer que é a mesma coisa), das Masquerades americanas. Para entender o desenvolvimento do Cosplay até os dias atuais, precisamos estabelecer a relação entre a cultura nipônica e norte americana na criação deste movimento, traçando sua linha do tempo desde o inicio do século XX, quando começaram a se manifestar.


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Marcado no mundo pela Grande Depressão e pelos conflitos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, os anos 30 foram também tempos de muita expressão para a Ficção Científica nos Estados Unidos. Foi nesta década que as publicações de Hugo Gernsback começaram a dar seus frutos, contudo, não do jeito que o escritor esperava. A revista Amazing Stories1, publicada por Gernsback em 1926, reunia textos de grandes autores da Ficção Científica, como H. G. Wells, Edgar Rice Burroughs e Jules Verne. O objetivo era usar as “histórias fantásticas2” para atrair jovens rapazes ao estudo da engenharia. Entretanto, a maior parte de seus leitores não sentia vontade em se tornar engenheiro, mas sim escritores de ficção, como os da revista que liam. (B.SMITH, 1999). Com o sucesso de Gernsback em criar um público, mesmo que pequeno, para a Ficção Científica, o gênero conquistou seu lugar entre as grandes produções do maior meio de comunicação de massa da época, o rádio. Baseado em uma história de H. G. Wells, o radialista Orson Wells transmitiu um dos melhores programas de rádio da história, “A Guerra dos Mundos”; que é, até hoje, conhecida por ser uma das obras mais impactantes da comunicação. Enquanto os exércitos Axis realizavam invasões em três continentes, os Estados Unidos estava sendo invadido por seres tecnologicamente avançados de Marte, desembarcando em Nova Jersey, cortesia de H. J. Wells, Orson Welles, e daquele ultimo modo de comunicação, a rede nacional de transmissão de rádio. (FRANKLIN,1982, p. 38, tradução nossa) Mesmo com maior veiculação na mídia, a Ficção Científica não foi bem aceita pela cultura americana, que a considerava um tanto esquisita. De fato, as novas produções atraíram um leque de fãs, além de inspirarem ainda mais os antigos adeptos do estilo. Contudo, eles apenas formavam um pequeno grupo com os gostos diferentes do resto da população. Por isso, muitos fãs de ficção científica se sentiam deslocados na vida cotidiana e social. (B.Smith, 1999) Dividindo a concepção que pertenciam a um grupo isolado, Damon Knight, Donald Wollheim, Fred Pohl e Virginia Kidd, assumiram o pequeno salário de escritores, editores e produtores de revistas de Ficção Científica. Uma vez profissionais da área, dividiram com seus fãs o dever de manter a “literatura estranha”, que tanto 1

Amazing Stories foi a primeira revista americana a abordar o tema da Ficção Científica. Literatura Fantástica, ou Literatura Esquisita (Fantastic Literature ou Weird Literature), é como chamavam os textos de ficção científica e outros gêneros, antes de terem uma denominação própria, segundo Camille Bacon-Smith. 2


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adoravam, tornando-a mais que um gênero literário, sua própria cultura, onde eles criariam seu próprio conteúdo. Com isso, foram criados pequenos clubes de Ficção Científica, onde muitos fãs começaram a produzir suas próprias fanzines3. Entre si, trocavam histórias originais e opiniões sobre o que haviam lido, ou descoberto sobre seu universo.

Editores e

escritores de revistas profissionais, também abriram linha de comunicação com os fãs, através de cartas, onde transmitiam suas opiniões sobre as fanzines e recebiam comentários sobre suas próprias publicações. Este universo de aproximação estabelecido entre fãs e produtores, levou à ideia de criar convenções de Ficção Científica, onde o público e produtores poderiam ter contato direto para debater suas ideias, além de se distrair em diversas salas temáticas. Foi assim que, em 1939, nasceu a primeira World Science Fiction Convention (Worldcon), que dentre outras coisas, foi marcada pela presença de Forrest J. Ackerman e Myrtle R. Douglas. Os jovens amigos decidiram participar da convenção, fantasiados como personagens futurísticos, Forrest com o traje de piloto espacial que apelidou de “Futuricostume” e, Myrtle, com um vestido que inspirou no figurino do filme “Things to Come”, baseado em um livro de H. G. Wells. Sendo os únicos caracterizados num público de 185 pessoas, os dois causaram tanta empolgação que no ano seguinte, diversas pessoas apareceram na Worldcon caracterizadas de algum personagem, dando origem assim, à tradição chamada Costuming. (FRANÇA, 2008) O Costuming, embora pouco conhecido fora das convenções de Ficção Científica, ficou tão popular dentro delas, que virou uma competição que elegia a melhor fantasia do evento. Em 1941, na Worldcon de Denver, o escritor Robert A. Heinlein competiu fantasiado de Adam Stink, “o robô mais realista do mundo”, fazendo uma paródia de Adam Link4. (LOTECKI, 2012) Ao longo do tempo, o Costuming ainda originou a Masquerade, competição que não só premiava a melhor fantasia, mas também a melhor apresentação criada pelo participante, o que deixou as convenções ainda mais interessantes; mas, não fez a prática mais conhecida fora das convenções. (França, 2008) Em 1984, quando o fundador e escritor japonês da Studio Hard, Nobuyuki Takahashi, visitou a Worldcon de Los Angeles, ficou tão impressionado com a 3

Adotamos neste trabalho o termo FANZINE, como histórias de ficção, ou pequenas revistas desenvolvidas e publicadas por fãs. 4 Personagem robô que possuía características humanas. Protagonizava uma série de pequenas histórias criadas por Eando Binder, publicadas na Amazing Stories a partir de 1939. (ADAM, s.d)


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apresentação de Masquerade, que, chegando ao Japão, descreveu tudo o que vira, em suas revistas, onde atribuiu à prática ao termo Cosplay. (LOTECKI, 2012) Naquele ano, os fãs que estavam na Worldcon vestiam os trajes de seus personagens favoritos (LOTECKI, 2012), com isso, Takahashi acabou definindo a prática como a caracterização e interpretação de um personagem. A ideia era poder tornar-se o próprio personagem, adotando além de suas vestes, seu jeito de falar, bordões, modo de andar e expressões em geral. Se o Costuming não teve campo para se popularizar nos Estados Unidos, o Cosplay não enfrentou barreiras para se tornar febre no Japão, devido à grande influência dos mangás e animes na cultura do país. Representando uma das maiores indústrias japonesas, os mangás são histórias em quadrinhos de origem nipônica que abordam diversos temas e assuntos, sendo popular em todos os gêneros e idades. Já os animes, são animações também japonesas, em maior parte baseadas, ou adaptadas dos Mangás e, assim como os quadrinhos, fazem enorme sucesso no Japão, desde a sua criação. Os personagens dessas histórias (mangás e animes) foram os reais responsáveis pela popularização do Cosplay, pois, diferente das HQ’s e cartoons ocidentais, os protagonistas japoneses possuem vida particular, onde enfrentam problemas comuns ao cotidiano, que nem sempre são superados. Somados à cronologia presentes nestas narrativas, este traço dá aos personagens grande aproximação à realidade, fazendo com que o público identifique características do personagem, em suas próprias vidas. (Coelho Junior; Silva, 2006) A identificação do público japonês com os personagens dos mangás/animes e a ideia de que eles poderiam se “tornar” esses personagens por alguns momentos, fez do Cosplay muito popular no Japão. Em pouco tempo, feiras de mangás, como a Comiket, em Tókio, começaram a contar com a presença de diversos cosplayers. O crescimento da popularidade desta prática propiciou no país a criação de uma indústria voltada para a área. Em pouco tempo, o Japão já estava repleto de lojas, revistas e eventos desenvolvidos para o universo Cosplay. Durante a década de 90, quando o anime começou a fazer grande sucesso em diversas partes do mundo, o Cosplay, que pegou carona em sua fama, causou impacto tão grande entre os fãs dos animes que, mesmo nos Estados Unidos, muitos acharam que a ideia de toda esta prática havia nascido no Japão, sem sequer saberem da existência das Masquerades. Devido a esta confusão, mais tarde os Estados Unidos


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começaram a chamar de Cosplay apenas as caracterizações de personagens japoneses, voltando a atribuir o nome Costuming aos outros personagens. Como no Brasil, a chegada do Cosplay se deve pela popularização dos animes, podemos afirmar que a grande responsável por trazê-lo foi a extinta Rede Manchete, primeira emissora a transmitir animes na TV aberta de nosso país. Com a reprodução de Os Cavaleiros do Zodíaco em 1994, a Manchete alcançou seus maiores picos de audiência, o que levou ela e outras emissoras, a também apostar no gênero, trazendo animes como Pokémon, Samurai Warriors, Sailor Moon, Yu Yu Hakusho e Dragon Ball. Outra peça importante para o Cosplay no Brasil foi a editora ABRADEMI, que lançou a revista AnimeClub, onde incentivava seu público a praticar o Cosplay. Em 1996, a editora promoveu em São Paulo, o primeiro evento de animes da América do Sul, onde contou com a participação, já esperada, de diversos cosplayers; realizando, então, o primeiro concurso Cosplay do país. Mostrando-se sempre promissores, a ABRADEMI continuou realizando este tipo de evento, onde além de mangás, revistas e Cosplayers, começou a reunir também, dubladores e cantores de aberturas de animes. Contudo, a criação do Anime Friends em 2003, que se iniciou o “boom” do Cosplay no Brasil. A convenção que veio a se tornar o maior evento multitemático da América Latina, sempre contou em seu repertório com atrações internacionais que trazem em seu repertório, diversas músicas de animes, ou da cultura pop japonesa. Além disso, o evento apresenta grandes atrações da música nacional, diversas salas temáticas, competição de games, estandes de lojas, além é claro, do concurso Cosplay. Em 2007, a Yamato Cosplay Cup, promoveu no Anime Friends, o maior concurso nacional de Cosplay, contando com participantes de todo o Brasil. Em 2008, a competição ganhou cunho internacional, com participantes de cinco Países da América Latina. Hoje, a Yamato Cup representa uma das mais importantes competições do circuito internacional e, seus finalistas, concorrem ao torneio mundial que ocorre no Japão. Desde a década de 1990, até hoje, o Cosplay atingiu os mais variados tipos de público, sendo que seus participantes são de todas as faixas etárias, e inspiram-se nos mais diversos tipos de personagens, sejam eles do mundo dos quadrinhos, das produções do Hollywood, ou até mesmo um artista. Estamos a 30 anos da criação do


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termo Cosplay e, pelo visto, ainda veremos esta cultura por mais 30 anos; onde, com certeza, ela se tornará ainda mais popular.

6.1 SÍMBOLOS E CARACTERÍSTICAS VISUAIS

Neste grupo as pessoas se caracterizam normalmente com fantasias bem trabalhadas de algum personagem que se identificam de algum modo. Usualmente as fantasias usam cores vivas e quentes, como o vermelho, amarelo, laranja etc. Dentre os itens que compõe a fantasia estão acessórios como: lente de contato, perucas, máscaras, colares e etc. Para completar a caracterização, eles abusam do uso de maquiagem, possibilitando, assim, a fidelidade e similaridade ao seu personagem. Durante os encontros há o Mupy, que é a bebida preferida dos praticantes de Cosplay. E também é muito comum ter plaquinhas para designar uma caravana, um encontro ou até mesmo enquetes, como nas fotos abaixo:

(acima: Libriana Voadora,2010) | (abaixo: Nick Clons,2011)

É importante lembrar que esses símbolos não fazem parte do dia-a-dia dos praticantes de Cosplay, essas fantasias e acessórios são utilizadas eventualmente em reuniões, eventos, concursos e qualquer outra ocasião desta prática.


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Alguns acessórios, como bottons e chaveiros de animes são usados muito em mochilas. Muitos cosplayers têm o costume de guardar os ingressos e flyers dos eventos mais importantes.

6.2 REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS

6.2.1 Fotografia O Cosplay é um público muito explorado no ramo da fotografia, mas pouco encontrado, pois, a fotografia Cosplay se baseia não só em expressar um sentimento, emoção ou ambiente, e sim em mostrar o personagem, seus trajes, e seus poderes e/ou habilidades. Um dos fotógrafos mais importantes com este foco, é Omi Gibson que explora a dramatização e a fotografia com uma boa composição, de acordo com Dady (2013): Suas fotos são bem dramáticas e de vários planos de fundo interessantes, trabalhando tanto em estúdio como ao ar livre, suas composições são bem interessantes e faz a foto ficar espetacular. Essa é a principal diferença pra um verdadeiro fotógrafo Cosplay, ele tem a técnica de fotógrafo e aplica para a “realidade” do personagem.

(DADY, 2013) Existem outros profissionais no ramo, e ainda há sites para fotógrafos com ênfase em Cosplay. O site tem o nome de Cosplay Photographers’ (cosplayphotographers.com) e segundo os criadores, o site possui um objetivo: criar um lugar para os fotógrafos de todas as habilidades para compartilhar, ensinar, inspirar e ser inspirado e aprender mais da


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fotografia cosplay”. O site possui galerias de fotos, tópicos de noticias e dicas para novos fotógrafos. Os fotografados também colaboram muito com o trabalho, eles entram no personagem e fazem poses, caras e bocas, ajudando o trabalho do fotografo parecer mais real.

6.2.2 Filmes e TV Neste tópico, tivemos um pouco de dificuldade para encontrar filmes que retratassem a cultura Cosplay, porém encontramos entrevistas e séries que abordam o assunto. Há uma série de anime chamada Kosupure Complex ("Cosplay Complex"), que conta a história de garotas do colegial que praticam o Cosplay e tem o sonho de ir a um campeonato de cosplayers, fazendo de tudo para realizarem este sonho. Esta série retrata na ficção, o que os verdadeiros praticantes de Cosplay vivem, porém, em forma de anime. Vimos também, entrevistas com praticantes dessa subcultura em programas de televisão como “A Liga”, da rede bandeirantes, onde eles acompanharam de perto a caracterização de um Cosplay , e a realidade em que vivem . (KIMURA, Shinichiro, 2002, Cosplay Complex DVD)

7. RELATÓRIO DE PESQUISA DE CAMPO Baseado no método etnográfico de pesquisa de campo, neste item serão expostas as etapas de “Observação”, “Perfil dos entrevistados” e “Entrevista” da pesquisa sobre Cosplayers. O relatório está dividido em três subitens: “Observação”, que expõe as visões e impressões do grupo sobre o cotidiano dos entrevistados, na qual buscamos observar a maneira como as características culturais da subcultura Cosplayer se manifestam nos


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símbolos materiais e imateriais dos entrevistados; “Perfil dos entrevistados”, no qual se expõe detalhes sobre a individualidade de cada entrevistado, além de conter um perfil e entrevista com um especialista em Cosplayer; e por fim, “Entrevistas”, a íntegra transcrita das entrevistas com os personagens e o especialista.

7.1 OBSERVAÇÕES 7.1.1 Anime5 Party. Evento realizado no dia seis de abril de 2013, em São Paulo Iniciamos nossa pesquisa de campo visitando um evento de Cosplays chamado de “Anime Party” que foi realizado durante todo o dia 06/04/2013, no Colégio Santa Amália, Avenida Jabaquara nº 1.673, próximo à estação Saúde do metrô. Do grupo, participaram da atividade os alunos André e Michel. Chegamos ao evento por volta das onze horas da manhã. No percurso entre a estação e o colégio notamos a euforia de alguns jovens que saiam da estação em direção ao evento, alguns já com a fantasia de Cosplays e outros com grandes sacolas plásticas carregando as fantasias que iriam usar mais tarde. Na entrada do colégio existiam duas filas que davam a volta ao redor dos muros do colégio. De um lado eram as pessoas que já tinham ingresso e do outro quem iria comprar. Nas duas filas, a entrada era preferencial para quem estava fantasiado. Dentro do colégio a maioria do público era jovem, formado por pessoas com fantasia de Cosplay e simpatizantes da cultura. As dependências do local foram usadas de forma bem criativa, com destaques para os seguintes espaços. 

Quadra esportiva aberta, usada para o que eles denominam ‘Batalha

campal’, onde duas pessoas lutavam usando como armas espadas de borrachas. 

Quadra esportiva coberta, toda ocupada com pequenos estandes que

vendiam produtos relacionados ao mundo Cosplay que ia de camisas a mangás6. 

Salas de aula, cada uma com uma temática diferente, que variavam de

Harry Potter a The Walking Dead. Uma das salas ficou reservada para a troca de fantasia dos Cosplayers;  5 6

Auditório, usado para competições.

Qualquer desenho animado produzido no Japão. Histórias em quadrinhos japonesas.


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Na área das lanchonetes o dinheiro era trocado pelo dinheiro oficial do

evento, nos quais eram notas de um, cinco e dez de cores diferentes, impressas com personagens de animes. O som ambiente variava entre rock internacional, J-pop e J-rock (os dois últimos gêneros musicais japoneses), com exceção das salas temáticas que tocavam um som relacionado ao tema retratado. As fantasias de Cosplays eram bem variadas, indo das mais produzidas e cheias de detalhes às mais simples, que eram vendidas no evento e consistiam de uma máscara em espiral cor-de-abóbora e uma capa preta com nuvens vermelhas da “Akatsuki”, do personagem Tobi do anime Naruto7. Conversando com alguns cosplayers percebemos que eles se dividem em três grupos. O primeiro tem o Cosplay como profissão e está ali só pela competição - que distribui prêmios em dinheiro. O segundo está ali pelo prazer de exibir a fantasia – e tem o Cosplays como uma cultura. Já o terceiro grupo é uma mistura dos dois já citados. Independentes de quais grupos os presentes façam parte, todos eles pareciam gostar de atender ao público e tirar fotos. Decidimos pegar o contato do segundo e terceiro grupo para possibilidade de futura entrevista. A quantidade de Cosplay feminino superava o masculino. A maioria das meninas era menor de idade e tinha vergonha de conversar. O único contato que conseguimos foi de uma moça que veio do interior de São Paulo especialmente para o evento. Os cosplayers geralmente baseiam suas fantasias levando em consideração certa semelhança com o personagem caracterizado, pois quanto maior os detalhes das roupas e a semelhança entre o personagem e a pessoa que se fantasia, maior a identificação e a empatia do público e dos jurados das competições para com o fantasiado. O preço das fantasias, tanto para quem confecciona, quanto para quem compra em lojas especializadas, gira entre duzentos a mil reais em média. A maioria das fantasias de Cosplay é inspirada em animes japoneses. Vimos uma que destoava das outras por se tratar do Jason, da cultuada série de filmes de terror norte-americana, Sexta-feira 13.

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Desenho japonês, baseado no mangá de mesmo nome.


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Foto tirada no evento Anime Party (Leandro Bueno com o seu Cosplay de Jason, posando para foto.) Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

No caso da fantasia não ser baseada em nenhum personagem famoso ou existente o que conta é a criatividade para chamar a atenção dos presentes no evento. Uma das fantasias que nos chamou a atenção foi a do Paulo, que se fantasiou com um uniforme preto, correntes como pulseiras e uma espada em forma de facão que carregava nas costas e ultrapassava seu tamanho. Quando perguntado em qual personagem tinha se inspirado, ele relatou que não copiava nenhum personagem e usava sua imaginação para criar a fantasia. Pegamos o seu contato e ele nos indicou um encontro de Cosplayers que aconteceria no Parque da Juventude, na estação Carandiru do metrô, numa data próxima. Outra Cosplay que nos chamou a atenção foi Maria, que observamos pela primeira vez nas catracas da estação indo para o evento, não só por acharmos sua fantasia muito bem feita e portar uma foice preta bem maior do que ela, mas pelo jeito despojado e boca-suja que chegou, gritando com os amigos que a estavam esperando na estação. No evento seu comportamento continuava o mesmo, o que nos pareceu que ela já participa de eventos como este há muito tempo. Conversamos com ela no decorrer do evento e tiramos fotos dela de Cosplay. Pegamos o seu contato para uma futura entrevista e a mesma também nos indicou o parque da juventude, como próximo local de encontro de alguns deles no dia vinte e um de abril. Durante o evento, os Cosplayers dificilmente saem do personagem e todos tentam “incorporar” a fantasia que estão representando, seja através da voz ou através


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dos movimentos. A lista de personagens que os Cosplayers se baseiam é ampla e diversificada, os mais famosos entre o público jovem que vimos foram: os animes Naruto e Cavaleiro do Zodíaco e a série de games e filmes Resident Evil8. A bebida mais vendida e que se esgotou antes do final do evento é o Mupy, um tipo de suco de diversos sabores que vem em um saquinho plástico, acompanhado com um canudinho. Outro símbolo dos Cosplayers, que também é vendida no evento por dez reais e nos chamou a atenção, foi uma plaquinha branca que vem com uma caneta piloto azul, nesta placa a pessoa escreve uma pesquisa, geralmente entre dois animes ou dois personagens famosos e passa o evento exibindo a placa. Os presentes que quiserem votar nos seus animes preferidos anotam sua preferência na placa. A caneta piloto vem com um pequeno apagador embutido, então o dono da placa pode fazer diversas pesquisas, animando o evento. Outras utilidades que vimos para a plaquinha foi a de um rapaz tímido que a usou para flertar com as garotas e a de um engraçadinho pedindo dinheiro para comprar um ticket de metrô. Não conseguimos reservar uma câmera profissional na universidade a tempo do evento, por isto tiramos algumas fotos usando nossas câmeras, o que resultou em fotos de menor qualidade. Como primeiro contato, achamos que foi bem produtivo e até mesmo lúdico imergir neste universo de fantasia que os Cosplayers tentam transpor para a realidade.

7.1.2 Parque da Juventude Encontro realizado no dia 21 de abril de 2013, em São Paulo. Seguimos para o Parque da Juventude para participarem de Cosplayers. Do grupo foram: André, Breno e Michel. Dentro do vagão do metrô linha azul sentido a estação Tucuruvi, encontramos, que já tínhamos vistos anteriormente no Anime Party. Ele estava fantasiado de Cosplay e estava indo para o encontro de Cosplay no parque da juventude, mas não poderia ficar muito tempo, pois iria encontrar com um grupo de Cosplayers lá, para irem todos juntos num evento de Cosplay na cidade de Guarulhos. Na estação Carandiru do metrô, que fica ao lado do parque, encontramos Alan, um Cosplayer que estava vestindo uma capa preta e maquiava o rosto para fazer 8

Jogo de terror, onde o objetivo é atirar contra zumbis.


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Cosplay do personagem Tobi, do seriado Naruto. Ele nos contou que aquela era a primeira vez que fazia Cosplay e não conseguia esconder a emoção. Logo que ele colocou a máscara, característica do personagem e ficou com o Cosplay completo, as pessoas ao redor e as que saiam do metrô o olhavam com estranheza. Algumas crianças o encaravam sorrindo e assustadas, reconhecendo o personagem. Alan, por sua vez, encarnou o personagem, imitando seus gestos e poses. Enquanto conversamos com Alan, Maria e seus amigos saíram do metrô e nos cumprimentaram. Todos eles estavam de Cosplay, Maria com um Cosplay mais simples do que o usado no Anime Party. Fomos até o local do encontro, numa área mais reservada do parque. Por ser um domingo o parque estava cheio, mas mesmo assim o grupo de Cosplay se destacava pelas fantasias. Estes encontros são combinados pela rede social facebook e neste dia durou até às seis horas da tarde. No momento mais movimentado do encontro calculamos umas cinquenta pessoas, a maioria de Cosplay. O Parque da Juventude foi construído no local onde antes havia o presídio Carandiru e a mistura de área verde com estruturas grandes e incompletas de concreto abandonadas e pontes de ferro propiciam um ar de fantasia ideal para um encontro Cosplay. O ambiente do encontro nos pareceu um pouco mais informal que o evento que fomos anteriormente, porém o comportamento dos Cosplayers de “entrar” no personagem continua tão forte como antes. Além disto, não havia tantas pessoas querendo tirar foto: apenas nós, um casal que tem um site voltado para o universo Cosplay e algumas pessoas que passeavam pelo parque. Um fato importante que não havíamos notado no evento anterior foi que eles se tratam pelos nomes dos personagens que a pessoa está usando no dia, ou pelo nome do personagem mais marcante que a pessoa já fez. Um símbolo forte neste dia foi o jogo “movie magic”, um RPG (role-playing game, ou Jogo de Interpretação), onde os jogadores disputam cartas com poderes, durante todo o encontro havia um grupo de pessoas jogando. No decorrer do evento encontramos Leandro, que faz Cosplay do personagem de filmes de terror Jason. Ele estava um pouco afastado do local do encontro, onde havia umas colunas altas de concreto e fazia posse para a câmera de um casal de estrangeiro. Já tínhamos visto ele no Anime Party, mas desta vez puxamos uma conversa e, durante


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a mesma, chegamos à conclusão que ele seria uma pessoa interessante para entrevistar. Pegamos o seu contato e tiramos algumas fotos dele. Novamente Cosplay dos personagens do anime Naruto e do jogo Resident Evil se destacavam ante os demais. Quase no final do encontro houve uma pequena competição entre os Cosplayers, onde eles imitavam uma cena ou um jargão famoso do seu personagem enquanto os que estavam ao redor aplaudiam e gravavam a cena usando celulares com câmeras. No final, um pequeno júri elege a melhor performance. Esta competição tenta imitar, de uma forma informal, as competições profissionais que ocorrem nos eventos de Cosplay. Nossa impressão deste encontro foi a de que ele serve como uma reunião entre amigos, onde eles conversam, brincam e trocam informações sobre o que há de novo no universo Cosplay para futuras fantasias e também, um local para criar novos laços e aumentar laços antigos e no meio deste processo fortificar a cultura Cosplay.

Encontro Cosplay no Parque da Juventude. Foto: Breno dos Santos (aluno do 1º semestre de Rádio e TV)


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7.2 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

7.2.1 Leandro Bueno

Leandro, 30, encontrou-nos na estação Conceição do metrô no horário combinado, estava todo de preto, usando uma camisa do seu personagem preferido, Jason, da série de filmes de terror, sexta-feira 13. Ele nos convidou a ir até a sua casa, que fica a poucos minutos da estação. Impressiona quem vê pela primeira vez o seu quarto, pequeno, com espaço suficiente para uma cama e um armário estreito e alto. Este pequeno espaço reflete a importância que Leandro dá ao universo de fantasia. Com dois modelos em tamanho natural dos personagens, Espantalho e o Ghostface da Jill Roberts. Uma assassina mascarada do filme de terror Pânico 4 - para deixar claro que era um personagem feminino, Leandro colocou seios postiços na fantasia, tal qual a personagem do filme. Dois outros fatos saltam a vista: Os pôsteres de filmes de terror contrastam com as de modelos seminuas de revista masculinas e à quantidade de bonecos de action figures9 que cobrem as prateleiras na parte superior das paredes. Os action figures são variados, a maioria de filmes de terror. Notamos algumas bonecas da Barbie transfiguradas, que transformou em monstros, colocando chifres, quatro braços de látex e costelas soltas pintadas com tinta vermelha, remetendo a sangue. Ele não possui idéia da quantidade exata de action figures que tem e de quantos já gastou com eles, nos disse apenas que o boneco que mais gosta é um action figure de uma edição limitada do Jason, pelo qual pagou quatrocentos reais. Leandro mora com os pais e está desempregado, foi demitido do seu último serviço de auxiliar de estoque. Ele reveza os dias de semana entre entregar currículos, trabalhar - eventualmente - em eventos usando suas fantasias e confeccionar suas fantasias. Está trabalhando em duas fantasias no momento. Um uniforme de policia para o personagem Mathias, do filme Tropa de Elite e um molde do rosto do ator Arnold Schwarzenegger, para sua fantasia do Exterminador, do primeiro filme da série Exterminador do Futuro.

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Action figures ou figuras de ação: bonecos de plásticos, que simulam personagens de filmes, videogames, seriados, entre outros.


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7.2.2 Everton Rezende Berestran

Encontramos com Everton na entrada da Galeria do Rock, ele estava com duas amigas. Vestia uma jaqueta preta e uma lente azul no olho, na nossa ingenuidade perguntamos para ele qual era o Cosplay que ele usava: “Nenhum, hoje estou sem Cosplay.” Desfeito o engano seguimos para o último andar da Galeria do Rock, onde a entrevista foi realizada. Everton tem 19 anos, mora com os pais e uma irmã mais nova e é estudante do curso de Sistema de Informação. Ele trabalha como vendedor e faz Cosplay porque se sente feliz fazendo.

Foto: André Bravim (Aluno do 1˚ periodo de RTV) Fonte do desenho: http://inuxbokuss.wikia.com/wiki/Soushi_Miketsukami

7.2.3 Paulo Segalla Pinto

É difícil a figura de Paulo Segalla, 18, passar despercebida. Alto 1.85, cabelo castanho escuro comprido, vestindo: coturno, calça e camisa na cor preta e assessórios como braceletes em couro com elementos pontiagudos na cor prata. Este personagem chama a atenção de quem passa. Ele parece não se importar muito com isto, gosta de “quebrar o comum”, como nos relatou na entrevista realizada no shopping da estação Santa Cruz do metrô. Atualmente com 18 anos, cursa engenharia aeronáutica e trabalha com o seu pai na marcenaria da família que fica próximo da estação, onde também reside. Nos intervalos do trabalho imagina suas próximas fantasias e ao contrario da maioria dos Cosplayers não copia os personagens de nenhum anime ou jogo, prefere criar seus próprios personagens partindo do zero.


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O ofício o ajuda na confecção das armas de compesado (laminas de MDF) e destas maquinas da marcenaria saem modelos de armas e espadas de todos os tipos e formatos que ele incorpora aos seus personagens e também comercializa para outros Cosplayers. Encontramos Paulo Segalla duas vezes antes da entrevista. A primeira no evento “Anime Party” realizado no Colégio Santa Amália. A segunda dentro de um vagão do metrô linha azul. Neste dia íamos para um encontro de Cosplayers que seria realizado no Parque da Juventude, estação Carandiru do metrô– seguindo uma dica do próprio Paulo – esta coincidência de encontrá-lo com capa preta e uma adaga negra, com quase o dobro do seu tamanho e a reação de espanto das pessoas dentro do vagão do metrô, só reforçou nosso desejo de fazer a entrevista.

Foto: Breno dos Santos (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

7.2.4 Pietro Progetti

Pietro, 26, nos encontrou numa praça, próxima a estação Liberdade do metrô. Ele está desempregado e no momento está no 4º ano do curso de Direito. Entusiasta e conhecedor do universo Cosplay, ele já se fantasiou, mas hoje em dia dá dicas para quem quer ser Cosplay e é coordenador de um evento Cosplay que ocorre na Região do


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ABC. Um pouco agitado e gesticulando muito com as mãos durante a entrevista ele se esforçou para evitar uma conversa muito técnica e ao mesmo tempo ressaltar a importância do Cosplay para a sociedade.

Conversa com Pietro. Foto: André Bravim (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

7.3 ENTREVISTAS

7.3.1 Leandro Bueno Entrevista realizada no dia 24 de Maio de 2013, no período da manhã.

Pode nos dizer seu nome e idade? Meu nome é Leandro Bueno tenho 30 anos de idade.

Pode nos contar um pouco como foi a sua adolescência? Minha adolescência?... Ah, minha adolescência foi altos e baixos, coisas boas e coisas ruins. Cresci assistindo animes, partes boas assim da escola. Parte chata era a parte de briga, sempre tinha na escola, bullying principalmente que eu era gordo. Era o segundo mais gordo da escola, dai o pessoal tinha um certo preconceito com isto e por


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causa do óculos também, porque me chamava de quatro olhos, mas tirando isto minha infância foi ótima.

Como sua família ajudou você nesta questão do bullying? Ah, não eu não contava para eles.

Não contava? Não contava por medo, quem acabou descobrindo depois foi outra pessoa que já faleceu, o professor Mário. Ele viu tudo acontecendo, isto foi logo na quarta série. Ele já deu um basta em tudo.

Você terminou seus estudos? Terminei, só faculdade que por enquanto eu não estou pensando em qual área atual ainda.

Esta experiência do bullying te afeta de alguma forma hoje em dia? Acredito que sim porque deixam aquelas lembranças ruins sim. Eu vejo acontecendo com outras pessoas, principalmente na TV vem aquela lembrança. Eu não sou do tipo de pessoa vingativa, mas estas pessoas que fizeram isto comigo no passado eu nem tenho amizade mais. Eu vejo eles na rua até hoje, muitos estão casados. Para mim é como uma pessoa que eu não conheço.

Você mora com quem? Com os meus pais. Com o meu pai e minha mãe.

Você trabalha ou estuda? Então, até o mês passado estava trabalhando de auxiliar de estoque, dai fui mandando embora e no momento estou desempregado.

Você saiu do serviço por quê? Na verdade me mandaram embora. Acharam que eu não servia mais para a firma porque eu estava sem disponibilidade de horário para fazer hora extra.

Que tipo de trabalho você acha que seria ideal?


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Qualquer profissão que eu esteja lidando com o público sabe e que não seja vendas. Eu não gosto muito de vendas porque tem este negócio de atingir meta, às vezes um acaba tendo rivalidade com outro, não tem aquela harmonia no serviço. Agora estando trabalhando com o público. O melhor trampo na minha vida foi numa banca de jornal, por incrível que pareça. Trabalhava na rua conversando com todo mundo, acabava de chegar quando via já era hora de fechar a banca. Era um serviço que eu trabalhava com prazer sabe. Agora neste último serviço eu trabalhava num lugar fechado, não vi nada nem ninguém, ruim demais. Leandro no portão da sua casa. Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Com relação a arrumar serviço, existe alguma cobrança por parte dos seus pais? Para você arrumar um serviço? Ah, por enquanto não né, porque eu estou conseguindo o seguro desemprego, também estou ajudando em casa.

Como é o seu relacionamento com os seus pais? Harmonia total, não tem briga nem nada.

Leandro, como você gasta o seu dinheiro?


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Eu gasto com algumas besteirinhas e com algumas coisas mais responsável, tipo ajudar em casa. Com o Cosplay eu confesso que gasto bastante, com material, confecção, action figures também.

Action figures? São os bonecos da minha coleção [aponta para os bonecos que cobrem a prateleira da parede].

Leandro e sua coleção de Action Figures. Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Você tem ideia de mais ou menos, quantos bonecos você tem? Nunca parei para contar, mas se for para jogar no “chutometrô” deve ter uns duzentos e pouco.

E o que os bonecos representam para você? Muitos deles representam minha infância. São personagens antigos que eu cresci assistindo na TV. Jason, Predador, Jaspion. Épico assim sabe. É uma coisa que eu compro para poder guardar para sempre.


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Tem algum projeto de vida que você ainda não realizou Leandro? Projeto de vida assim eu não costumo sonhar alto, mas o que eu gostaria de ter é uma casa própria sabe, para sair do aluguel... Uma independência financeira para mim poder sustentar a casa, sabe assim.

Tem algum ídolo ou alguém que admire? Ah, ídolo assim para falar a verdade não.

Que meios de comunicação utiliza para se para se manter informado? O Facebook.

Mais algum? Facebook e a TV também, só.

Se pudesse mudar algo no Brasil ou no mundo o que seria? Nossa tanta coisa que tem para mudar viu. Tem uma lista enorme, principalmente o desemprego, nesta parte daí está terrível. Pessoal não da oportunidade para quem não tem experiência na carteira tal. Eu vejo muita gente competente que não tem experiência na carteira e que não consegue serviço e muitas pessoas entre aspas “incompetentes”, não querendo xingar, que não sabem fazer nada, mas tipo comprou a carteira, comprou o registro. Chega lá na onde trabalha e não consegue fazer.

O que você faria para mudar esta questão do desemprego? Dar mais oportunidade né. Tipo cursos gratuitos para as pessoas se profissionalizarem seria uma boa. Nem todo mundo tem capacidade de pagar um curso.

Leandro você tem alguma religião ou dogma? Eu sou católico... Praticante, vou para missa todos os domingos. Quem vê eu assim com as coisas aqui no quarto de terror não imagina... Última coisa que eles vão imaginar é que eu tenha religião.

Mas acha que tem algum preconceito por você usar fantasia e ser católico?


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O preconceito tem em relação a eu fazer personagem de terror. Pessoal acha que eu faço algum tipo de apologia a violência, falam que o Brasil já está tão ruim por causa da violência, acha que por eu fazer isto vai piorar, muito pelo contrário, tipo a violência cinematográfica não tem nada a ver. A violência real é muito pior que o que acontece no cinema, mil vezes pior.

Você prefere a cultura de qual país? Eu gosto da cultura japonesa, oriental em geral. Admiro muito o Japão.

E em questões de filmes, desenhos, estas coisas? Filmes os americanos são os melhores, eles imperam. Agora desenho os animes são os japoneses em primeiro lugar.

Qual o seu filme preferido? Filme preferido não vou ter... Para falar a verdade meu favorito de todos que me marcou mesmo foi Exterminador do futuro 2, com o [Arnold] Schwarzenegger. Este é um filme que eu assisto até hoje, é que nem Chaves eu não consigo enjoar. Às vezes eu estou no guarda-roupa mexendo nos meus DVDs vejo ele lá e falo: “vou colocar para ver.” Ai começo a ver de novo.

Como surgiu o interesse pelo Cosplay? Então, para falar a verdade eu não conhecia este mundo do Cosplay. Comecei fazendo Jason para diversão mesmo, para serviço tal, daí eu conheci o Roberto, Roberto Alves Costa. Ele fazia Cosplay do Hidana10 naquela época e teve a Virada Cultural de 2010. Ele marcou um encontro Cosplay lá no Parque da Juventude, eu fui e vi um monte de gente tudo fantasiado, Cosplay né, diferente. De lá se arrumamos e fomos para a Virada, ai tinha um fotógrafo junto, Alexandre, ele registrou tudo. A partir daí eu comecei a participar dos eventos junto com ele e não parei mais, peguei gosto pela coisa.

Qual a importância desta cultura hoje para você?

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Personagem do anime Naruto.


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Para mim eu encaro como um meio de diversão. Eu não tenho outra diversão para falar a verdade. Esporte que eu pratico só musculação. O pessoal se reúne para poder jogar futebol, eu não curto futebol.

Por que você não gosta de futebol? Nunca gostei. Nunca chegou a me atrair este esporte. Acho um esporte muito bruto, muito violento. Apesar de eu curtir assistir MMA (Mixed Martial Arts, ou Artes Marciais Mistas), mas no futebol eu vejo muita briga acontecendo. Principalmente por parte dos torcedores, uns matando os outros por causa de time. Este é um dos motivos de eu não gostar de futebol. Só Copa do Mundo mesmo.

O fato de você entrar para este grupo afetou o seu dia a dia de que forma? Posso dizer que afetou positivamente. Aumentou muito mais meu círculo de amigos porque aqui onde eu moro não conheço ninguém. Todo mundo trabalhando, todo mundo mais velho do que eu. Daí eu conheci muitas pessoas na minha idade, inclusive a gente marca role no final de semana, todo final de semana praticamente. São vizinhos, tipo um mora no Jabaquara o outro mora na Vila Mariana, mas vizinho que mora na mesma rua não tem ninguém.

Seus pais gostam das suas fantasias? No início eles se irritavam, mas depois eles começaram a gostar. Eles achavam que era coisa de doido, coisa de maluco, mas depois que eles viram que não era bem isto começaram a gostar.

Tanto no evento que nós fomos quanto no encontro do grupo a maioria das pessoas presentes é de uma faixa etária bem mais jovem. Você sente algum tipo de preconceito em relação a isto? Eu acredito que não porque além de mim tem outras pessoas mais velhas que também fazem Cosplay, ás vezes tem uma piadinha entre um e outro, mas é piadinha de brincadeira. Mas tem muitos deles que são mais novos do que eu, mas estão a mais tempo do que eu. Começaram bem antes de mim. Eu comecei em 2009, tem gente que começou muito antes, tem mais experiência do que eu para falar a verdade.

Que tipo de piada?


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Tipo tiozinho, vovozinho. É tudo na brincadeira.

Com que idade você usou sua primeira fantasia? Eu usei em 2009, dia 14 de julho de 2009. Foi a primeira vez.

Você tinha quantos anos? Vamos calcular [contando com os dedos] Vinte e cinco.

E qual foi a sensação? Então, no início foi um espanto. Eu saia de casa já montado com o Cosplay, daí eu só tirei a máscara, peguei o metrô. Todo mundo tirando foto de mim na estação, vindo para colocar a máscara. Ai cheguei na Paulista, veio aquela multidão de fotógrafos. Para mim isto foi satisfatório, gratificante. O pessoal gostou do meu trabalho, acho que a melhor parte do Cosplay é esta, a gratificação pelo trabalho, tanto é que eu participo dos desfiles não pensando na premiação. Eu vejo o público gritando, vibrando para mim isto é o melhor prêmio de qualquer Cosplay.

Qual foi o seu primeiro Cosplay? O Jason.

E esta primeira sensação que você teve, mudou alguma coisa de lá para cá? Mudou que eu era um cara mais tímido. Hoje eu estou mais solto sabe? Antigamente eu não conseguia conversa direito com as pessoas, ficava meio envergonhado. Hoje mudou totalmente, porque Cosplay tem um pouco de atuação.

Você fez algum curso de teatro? Algum curso de interpretação? Não.

De onde vêm as inspirações nas escolhas de um personagem para se fantasiar? Eu escolho mais personagens de filmes, para mim eles são bem inspiradores. Cosplayer de filme são poucos que tem, eu já preferi mais atuar nesta parte mesmo, principalmente de terror.


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Quantas fantasias você tem? Comprei o Predador agora, cinco, com o Mathias seis. Seis personagens.

Qual a sua preferida? Continua sendo o Jason mesmo. Apesar de eu nunca ter usado o Predador ainda, para mim continua sendo o Jason ainda. Ele ta passando por constantes mudanças, umas evoluções ai.

Que tipo de mudança? Mais detalhes, para ficar o mais real possível. Porque antigamente a roupa era simples, agora tem ossos, carne passando pelo corpo inteiro, roupas rasgadas, cabelo. Inclusive o último detalhe que falta agora é a lente de contato para poder fazer aquele olhar bem malvado mesmo que ele faz. E máscaras novas também, eu sempre faço máscaras novas.

Por que a maioria dos seus personagens usam máscaras? Então, a máscara me ajuda a solta mais ainda o lado do personagem, não deixa ficar tão tímido, se bem que o meu próximo Cosplay, que é o Mathias do Bope do Tropa de Elite, eu vou estar sem máscara. Espero que eu não fique muito envergonhado no dia, mas eu acredito que não, que eu vou estar entre amigos lá, tudo conhecidos.

Já passou por algum constrangimento usando a fantasia? Constrangimento assim... Constrangimento que você fala é tipo?

Alguma situação diferente, engraçada, ou triste? Situação engraçada foi aquela que aconteceu no Anime Dreams11, que eu fui apresentar no palco. Tinha três saídas, era para sair por uma, mas eu fiquei meio perdido. Eu fiz a apresentação e na hora de sair o rapaz do microfone falou: “Para esquerda” Eu fui para a esquerda e ele: “Não, a outra esquerda”, e eu tipo desorientado. Todo mundo começou a rir na hora, mas foi engraçado né. Agora umas piadinhas maldosas também acontecem do personagem, algumas pessoas que não conhecem começam a fazer piadas bem chatas. No próprio Parque da Juventude, estava

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Evento de Cosplay.


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de Jason. Terceira vez que escuto esta piada: “Ah, que nada a ver! Jason não usa um ‘corta pizza gigante’, Jason usa facão.” Para mim entrou por um ouvido e saiu pelo outro, mas quando é no evento eu respondo. “Corta pizza gigante” é o quê? Por causa da roçadeira. Esta roçadeira aqui [Leandro se vira e aponta para uma cópia de uma roçadeira em tamanho real] eu fiz baseado no sétimo filme que foi lançado em 89. O pessoal não conhece o personagem e começa a fazer umas piadinhas bobas. No facebook mesmo, nossa tem muita piadinha assim, mas não é aquelas piadinhas de brincadeira é piada maldosa mesmo. Começa a falar que eu não faço direito, nada a ver o Jason não usa cortador de pizza gigante, outros falam motosserra, não é nem motosserra é roçadeira. Inclusive eu fiz questão de ripar12 uma parte do filme e jogar no youtube para o pessoal vê, para usar como referência para o pessoal conhecer mais um pouco.

Estas opiniões te chateiam? Eu acho legal aquela crítica construtiva, se tem alguma parte do meu Cosplay que eu possa melhorar, a pessoa chega: “Ah, faz isto aqui, para poder ficar melhor.” Eu acho legal, agora aquelas piadinhas infame eu não gosto não, acho muita infantilidade sabe. Aquelas pessoas que não encaram o Cosplay como diversão, encara como uma coisa, sei lá, rivalidade um com outro.

Qual a importância de ser fotografado nos eventos? Para mim é uma satisfação muito grande, ter uma divulgação do meu trabalho. Para mim esta é a melhor parte, segunda melhor parte. A primeira parte é estar com os amigos, segunda melhor parte. Fotografia mesmo, principalmente os ensaios.

Você tem muitos amigos fora do universo Cosplay? Tenho dos meus serviços anteriores principalmente.

E o que eles acham de você usar fantasia?

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Extrair faixas de música e vídeo para outros tipos de mídias.


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Alguns se afastaram porque não conhecem bem o que é, cortou a amizade, mas outros já encaram numa boa.

Por que você acha que eles se afastaram? Por preconceito mesmo, acham que é coisa de doido, coisa de retardado. Eles falam abertamente mesmo: “Coisa de louco, não sei o que”. Já chegaram até a falar isto num chat, me xingando, me ofendendo no chat. Inclusive eu tinha um amigo de infância que cresceu junto comigo, não vou citar nome porque eu acho mancada fazer isto, mas eu achei ele no facebook, adicionei ele, daí tipo ele mandou uma mensagem que não ia me aceitar por causa deste negócio que eu faço, acha que eu não cresci o suficiente.

Já deixou de fazer algo importante por causa do personagem? Não. Eu sempre deixei o meu trabalho em primeiro lugar. Tanto é que os eventos eram sempre no dia de folga que caia.

Como você acha que a mídia e a sociedade, classificam pessoas que usam fantasias? Então, no início eles falavam muitas coisas negativas. Teve uma revista japonesa que eu vi uma vez, não sei que revista que era. Saiu uma foto de um evento de Cosplay, antes de eu fazer isto daí, na época da Manchete, todo mundo com o seu personagem, tinha um personagem do Darkstalke’s13, lembro até hoje, do Street Fighter14. Depois colocaram a foto assim: “Vejam só que coisa mais bizarra.” Eu nem sabia o que era aquilo, todo o pessoal fantasiado eu pensei assim: “Deve ser alguma propaganda de alguma coisa”. Postaram esta foto na revista, estava lá assim. Eu não lembro qual revista que era, mas eu me lembro até hoje, inclusive eu devo ter ela aqui, eu vou ter que procurar para poder achar esta revista. Com o passar do tempo a televisão começou a mostrar uma coisa positiva perante a isto, tanto é que a Globo estava no Anime Party, fez uma matéria legal, a Record estava no Anime Dreams também. Eles estão fazendo uma cobertura dos eventos para divulgar mais para o mundo, para o Brasil, para o pessoal saber que não é uma coisa estranha. Virou uma cultura para falar a verdade.

Existe alguma relação de amizade ou rixa com outros grupos? 13 14

Jogo de luta produzido pela Capcon. Jogo de luta.


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Ah, rixa tem muito! Muita, muita mesmo. Principalmente quando a pessoa faz o mesmo personagem que o seu, que nem eu vi uma rivalidade com o próprio Predador mesmo, aconteceu uma rixa com o pessoal do grupo ai, também não vou citar nomes, por causa dos meus personagens, tanto é que o meu eu vou usar uma vez só, mas não é por causa de rixa nem nada, mas pela satisfação do personagem mesmo. Agora quanto a mim não tenho rivalidade nenhuma, tanto é que eu encontrei o Ricardo, que faz o Jason na versão Freddy vs Jason, na minha opinião o melhor Jason do Brasil. Na hora que eu vi ele lá já chamei ele na hora para poder para poder fazer foto comigo no estúdio da Cosplay Brasil. Deu vontade de reunir todos os Jasons dos eventos para poder fazer um exército de Jasons no Zumbi Walking.

Qual a sua fantasia mais cara? A do Predador.

Quanto você pagou? 900 reais.

Você só compra as fantasias ou monta também? É que para falar a verdade o Predador foi o meu primeiro Cosplay comprado, eu comprei do Everton Nogueira. Ele faturou cinco prêmios com este Cosplay, só que ele vai fazer outro Predador e resolveu me vender ele. Os outros foi eu mesmo que fiz, montei tudo. Desde as máscaras até as roupas.

Dá muito trabalho? Dá principalmente as máscaras, o látex dá muito trabalho. Tem que fazer o molde em massa Clay15, aliás, o modelo em massa Clay, depois tirar o molde com gesso. Isto demora semanas.

Existe algum símbolo que define vocês? Símbolo? Eu acho que não.

Pode nos descrever como é o ambiente em um evento Cosplay?

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Massa de modelagem e escultura.


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Depende do evento, da localidade, das pessoas que estão. Pessoas que criam o ambiente em si, tanto é que o pior evento que eu fui, foi o Cosplay Rock Fest, tinham muitos Cosplayers de nariz empinado, rival, um querendo ser melhor do que o outro. Achei muito ruim, por ser um evento pequeno não foi muita gente. Eu era a única pessoa de fora, teve casos que eu fui cumprimentar e estendi a mão e a pessoa me ignorou.

Por que você acha que ela teve esta atitude? Quer ser melhor: “Ah, você é pior do que eu, é lixo! Não quero falar com você.” Tem muito pessoal que tem preconceito, existe aquela categoria que chamam de “Cospobre”, tanto é que o Anime ABC está fazendo um desfile, alias todo evento do Anime ABC tem este desfile, desfile do Cospobre, Cosplay, ano passado teve do terceiro que era de zumbis. O primeiro foi a categoria Cospobre, pessoal faz o Cosplay lá normal. Tem muita gente que tem preconceito com isto, eu não tenho preconceito eu vejo o pessoal lá, tiro foto com todo mundo, não tiro sarro, muito pelo contrário.

Onde você se vê daqui a dez anos? Onde eu me vejo eu não sei dizer, mas eu prefiro imaginar uma vida melhor, minha casa própria, sustentar minha casa também, uma independência financeira.

E ainda com as fantasias? Acredito que sim, gostaria de ganhar um dinheiro com isto. Hoje em dia eu consigo faturar um dinheirinho com o Cosplay. Alguns eventos fechados: bifes, bienal do livro, pessoal me chama para fazer algum trampo.

Qual a melhor coisa em fazer parte deste grupo? A melhor coisa é a amizade mesmo. É muita gente que eu nunca tinha visto na vida e a gente consegue uma amizade para ficar para sempre, até hoje. Sai junto, tiram às fotos na rua, zueira total, acho legal esta parte de amizade, o ciclo de amizade que a gente consegue. Tanto é que eu tenho Orkut até hoje, dai eu resolvi fazer o face mais por conta do Cosplay, eu sou novo no facebook, tem um ano que eu fiz o meu e só tem Cosplayers no meu facebook. A maioria dos meus amigos, acho que 90%, 98% dos amigos são todos desta área de Cosplay.


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Leandro com o molde de gesso. Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV) Fonte da Figura: http://cinezencultural.com.br/site/2009/06/07/exterminador-do-futuro-o/

7.3.2 Everton Rezende Berestran Entrevista realizada no dia 24 de Maio de 2013 no período da tarde Everton na Galeria do Rock. Foto: Michel Gentil (Aluno do 1˚ periodo de RTV)

Lembra de algum fato marcante da sua infância? Ah sim, com certeza! Ainda mais com relação aos animes. Eu tinha muito brinquedo do Digimon, Pokémon; naquela época era febre. Hoje eu tenho 19 anos, então há 10 anos atrás, até 15 anos atrás era uma febre. Todo mundo conhece a Beyblaid16, todo mundo já teve aquele peãozinho que giravam. Então foi importante, todo mundo brincava com isto. A gente assistia demais, era muito legal.

Com quem mora? Eu moro com a minha mãe, com meu pai e com a minha irmã.

Sua irmã é mais nova ou mais velha que você? É mais nova.

Brigam muito? Não, a gente é tranquilo lá.

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Mangá e anime baseado em brinquedo de mesmo nome.


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Como é o seu relacionamento com os seus pais? Olha, eu gosto muito dos meus pais. Eles nunca me proibiram de fazer nada, nem de sair. São bem flexíveis quanto a isto. Eu acho que eles têm a mente mais aberta. Eu faço os meus Cosplays e eles nunca me mandaram parar, às vezes a minha mãe até me ajuda, eu acho legal.

Está estudando no momento? Sim, eu faço faculdade. Eu faço sistema de informação.

Por que este curso? Porque eu me identifico muito com informática. Eu sempre gostei desta área, então eu achei legal fazer.

Quais seus planos assim que se formar? Então, eu pretendo me formar e talvez depois fazer logo em seguida uma Pós e pretendo já entrar na área o mais rápido possível. Meu intuito é ser um analista de sistema.

Everton você trabalha?


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Sim, atualmente eu trabalho como vendedor.

Você gosta deste trabalho? Olha, eu não tenho nada contra, não tenho nada a reclamar dele. É um trabalho que por enquanto está suprindo minhas necessidades. Eu consigo fazer as minhas coisas, não tenho nada a reclamar não.

Mas qual seria o trabalho ideal para você? Ah, o que me der mais dinheiro (risos).

E de que forma você gastaria este dinheiro? Olha, eu sempre coloquei no papel o quanto eu posso gastar e o quanto eu devo juntar. Eu sempre pensei para frente, futuramente a gente sempre vai precisar ter alguma coisa, se alguma coisa acontecer. Principalmente a gente que é novo precisa estar economizando para a gente conseguir fazer a nossa vida, que não é fácil. Eu gasto com as minhas coisas, com os meus passeios, com os meus Cosplays, com jogo, com qualquer coisa, com bala, mas eu sempre tenho intuito de economizar uma parte.

Qual a melhor coisa em morar em São Paulo? Para mim São Paulo é o melhor lugar que eu poderia morar. Eu não penso em sair de São Paulo. Eu gosto de viajar. Eu gostaria de ir para outros países, mas só para passear mesmo. Eu gosto muito de São Paulo porque aqui tem tudo, tudo que a gente precisa. Eu também gosto muito por causa dos eventos, a galera que eu já conheço os lugares que tem para a gente ir, são muitos. Então para mim esta é a melhor coisa.

Tem alguém que você admira? Meu pai. Admiro muito meu pai porque tudo que ele me ensinou referente a caráter, estas coisas ele me ensinou pelo exemplo. Então hoje eu vejo o meu pai como o meu herói. Então eu olho para o meu pai e penso assim: “No futuro eu quero ser igual ele”.

Seu pai incentiva você a usar fantasias? Não, na verdade ele não expressa nenhuma opinião nem a favor nem contra. Ele não liga.


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Você se considera uma pessoa bem informada? Bom depende do assunto. Para certo tipo de assunto eu sou meio alienado. Por exemplo, política. Se você for falar de política comigo eu não vou saber responder nada. Agora tem certos assuntos que eu sou bem informado sim.

E que meios você utiliza para se informar? Internet, às vezes a conversa aqui teti-a-teti. A gente está conversando a gente troca informação, livros, qualquer coisa que a gente lê hoje.

Se pudesse mudar algo no mundo o que seria? Olha, tem muitas coisas que eu acho que precisa mudar no mundo. Agora o que eu acho que é essencial é o respeito, respeito em relação à cultura, respeito em relação ao próximo. Porque tem muita gente que ela simplesmente não respeita, pelo fato de você ser diferente da sociedade. Hoje a gente tem um padrão que todo mundo pensa igual. Então quando as pessoas vêem algo diferente elas se assustam e muitos deles não respeitam. Eu acho que isto ai é uma coisa que se eu pudesse mudar no mundo eu mudaria.

Everton, você segue alguma religião? Não! Nenhuma.

Mas gosta de alguma? Da filosofia de alguma? Olha, eu tenho assim... Eu nem consigo explicar muito bem no que eu acredito. Porque eu acho que é tão meu que assim eu não consigo mostrar para ninguém. Eu acredito um pouquinho em energia, quando você faz alguma coisa boa você troca uma energia boa, consecutivamente você recebe outra energia boa. Muitas pessoas elas falam: “Puxa, minha vida está uma bosta!”, mas às vezes esta pessoa só pensa negativo e quando você pensa negativo você traz uma energia ruim ao seu redor. Então, com certeza, tudo que você fizer de negativo vai ter uma consequência negativa. É meio que lógico né, mas é isto ai que eu acredito.

Como o Cosplay surgiu na sua vida?


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A primeira vez eu fui num evento era 2010 e quando eu fui e olhei assim todo mundo eu falei: “Nossa!” Achei maravilhoso. Eu vi os personagens que eu gostava, tirei foto com todo mundo. Eu sempre gostei e ai eu falei: “Bom, acho que eu vou fazer também.” Fiz o primeiro não ficou tão bom, mas assim o que vale é a diversão, o espírito da coisa é este.

Você se prepara de que maneira para assumir um personagem? Quando a gente se identifica com o personagem, a gente está lá assistindo o anime e vê um personagem que você olha e fala: “Nossa, ele se parece comigo!” Talvez o jeito, a aparência, ai eu me identifico com ele, ai a gente se inspira neste personagem assistindo e tal e tenta fazer o mais próximo possível.

Everton, o que você sabe sobre esta cultura? Cultura japonesa? Eu acho muito interessante na cultura japonesa a forma que eles lidam com problemas, tirando fora os animes, falando da cultura mesmo em si. A gente viu que um tempo atrás teve um terremoto no Japão que ele causou um grande estrago, terremoto não! Desculpa tsunami. Ele causou um grande estrago lá e a forma que eles lidam com este problema é de se admirar. No Brasil, não só no Brasil, em qualquer lugar você vê as pessoas desesperadas por talvez qualquer coisa e eles passaram por um desastre natural e você viu que eles mantiam [sic] a calma. Eles procuravam se ajudar um aos outros. Eu acho que isto é um exemplo de sociedade.

Tem muitos amigos que usam fantasias? Sim, muitos amigos.

Como começou estas amizades? A maioria delas foi mesmo na interação Cosplay. A gente estava fazendo um personagem que o outro conhece e começa a conversar. Nos eventos a gente conversa com muita gente, então foi mais assim que fui conhecendo todo mundo.

Existe alguma relação de poder ou controle entre vocês? Não.

Onde se reúnem?


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A gente costuma combinar os encontros Cosplays, onde todo mundo vai para descontrair, para conversar, para se ver. A gente costuma definir lugares como parque, às vezes Ibirapuera, às vezes Parque Água Branca, Parque da Juventude. São locais que dá para tirar foto e a gente acha legal.

Existiu alguma mudança na sua vida após entrar para este grupo? Sim existiu. A partir do momento que você faz uma coisa que você se identifica, que você se sente bem, a sua própria autoestima melhora. A forma como você vê as coisas melhora. Você está sentindo bem consigo mesmo.

Seus pais ou algum amigo já recriminaram você por fazer parte deste grupo? Meus pais não, mas tem pessoas que eu conhecia antes de eu começar a fazer e que hoje elas não aceitam tanto. Elas falam: “Nossa você é louco, você se fantasia” Tem pessoas que elas não têm a mente tão aberta para estas coisas.

Qual visão que você acha que a sociedade tem de pessoas que usam fantasias? A gente chega neste ponto que divide a sociedade em dois grupos. O grupo das pessoas que elas têm a mente mais aberta e o grupo das pessoas mais conservadores. São as pessoas mais antigas geralmente, que elas acham loucura. Elas vêem e acham um absurdo. Tem gente que não, tem muita gente que já é o grupo das pessoas que eu acho que tem a mente mais aberta que acham legal. Tem pessoas que vem trocam uma idéia, tira foto, pergunta, acha interessante, acha legal.

Em sua opinião a mídia ajuda ou atrapalha esta visão da sociedade? Depende do que a mídia for falar sobre isto, porque eu já vi muitos programas que mostraram uma visão legal do Cosplay. Então levaram, fizeram uma matéria, falaram como funciona e tal para quem está interessado e existe aquelas mídias que elas são mais, elas procuram degradar a imagem que eu acho errado. Vi que uma amiga sua lhe chamou de Izaya17. É algum código?

17

Personagem do anime Durarara!!.


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A gente tem estes apelidos, meio que virou o meu nome, por exemplo, Izaya é um personagem do anime que eu faço Cosplay, só que este daí eu me identifiquei muito por que se parece muito comigo fisicamente. Sem eu estar de Cosplay. Eu sem Cosplay pareço muito com este personagem, ai pegou o apelido.

Qual a importância de ser chamado pelo nome do personagem? Acho legal porque a partir do momento que a gente se identifica com um personagem as pessoas reconhecem a gente como este personagem. Eu acho muito interessante.

Gosta de ser fotografado nos eventos, Everton? Sim eu acho que o intuito da gente fazer Cosplay é para ser fotografado mesmo. Tem gente que vai no evento e fica com vergonha, talvez de chamar o Cosplay e falar: “Posso tirar uma foto com você?” Mas não precisa nem ter vergonha. A gente faz Cosplay exatamente para o pessoal tirar foto porque se não, a gente ficava em casa. Fazia o Cosplay em casa e não saia.

Qual a sensação a primeira vez que foi fantasiado num evento? Foi muito legal porque você vê que as pessoas reconhecem o personagem e fala: “Olha ali o personagem!” Falam o nome, as pessoas vêm tirar fotos, isto para a gente é muito legal, é a melhor coisa.

Este sentimento você ainda tem hoje em dia? Com certeza, eu acho que este sentimento desde o início a gente mantém sempre né. O espírito Cosplay é este, a gente se sentir bem se caracterizando num personagem que a gente gosta e os outros reconhecerem, acharem legal. Então, ás vezes, a pessoa está num evento ela vê um personagem que ela gosta: “Viu, deixa eu tirar uma foto?” Depois ela mostra para outras pessoas, então é legal.

Acha que vai ter daqui a 20 anos ainda vai ter este sentimento? Com certeza, até penso em Cosplays que eu vou fazer quando ficar velho (risos).

7.3.3 Paulo Segalla Pinto Entrevista realizada no dia 20 de Abril de 2013 no período noturno


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Pode nos dizer seu nome e idade? Bom, meu é Paulo e eu tenho 18 anos.

Com quem você mora Paulo? Moro ainda com os meus pais e minha irmã também.

Como é o seu dia a dia? Meu dia a dia até onde eu saiba é normal. Embora eu tenha um certo tipo de vestimentas diferentes, utilize bracelete. O pessoal fica olhando meio estranho para mim. É um dia a dia normal, sem muita adrenalina.

E onde o Cosplay entra nesta sua rotina? Entraria mais na parte do lazer. Quando eu estou nas horas vagas estou sem nada o que fazer e eu começo a pensa no meu próximo Cosplay, ou no próximo evento que eu usarei ele.

Por que você começou a fazer Cosplay? Bom, porque eu comecei a ver o pessoal fazendo Cosplay. Achei interessante eles fazendo a pose para tirar foto, ou imitando os personagens de animes, de jogos também e eu achei interessante e resolvi entrar, digamos assim, de paraquedista nesta.

E o que sua família acha de você fazer Cosplay? Acham normal, acham que faz parte da idade e que faz totalmente o meu perfil, embora eu não tenha demonstrado isto para eles. Eles sempre acham que é a minha cara e de certa forma é a minha cara. Eu gosto de quebrar o comum, então veio bem a calhar.

E quando eles te vêem com a fantasia de Cosplay, o que eles falam? Eles acham interessante. Falam que gostaram e até dão alguma idéia para poder dar uma melhorada no Cosplay.

Você já usou a fantasia em público?


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Um dia eu usei no Ibirapuera quando eu estava procurando um pessoal para poder ir para um evento. Ai eu estava andando com uma lança de dois metros e meio nas costas e uma espada de dois metros.

E qual foi à reação das pessoas? Todas olhavam com um olhar esquisito para mim, pois eu estava usando uma capa preta pesada em pleno dia de sol do meio dia. Vejamos uns trinta graus e eu lá de boa andando como se nada estivesse acontecendo.

Estas fantasias você compra ou confecciona? Dá para fazer os dois modos. Como eu, por assim dizer, sou um Cosmarker, uma pessoa que fabrica coisas para o Cosplay. Então, eu costumo fazer minhas próprias fantasias, meus próprios Cosplays, mas da para comprar também não vou dizer que não. Eu até comprei um acessório ou outro, mas normalmente eu costumo fazer. Roupa eu não faço, eu posso até fazer o desenho dela, deixar tudo certinho. Posso até comprar o material se for preciso, mas eu não costumo fazer. O que eu faço mais é a arma, a arma branca, armas fora de série que não existem isto eu costumo fazer, é o que eu gosto de fazer também.

Fale-me um pouco sobre seu processo de fazer as fantasias, as armas. Quanto custa? Como é feito? Bom, a capa que eu costumo usar é de minha autoria e ela saiu 250,300 reais aproximadamente. Na verdade foi 300 reais porque eu pedi que fosse feita em uma semana, ai o preço subiu, mas se fosse feito no prazo normal sairia 250 reais. As armas elas variam muito de armas para armas, tem algumas que eu consigo fazer barato, uma adaga de sessenta centímetros, pode sair em torno de 40 reais a 100 reais, tudo depende do nível de complexidade dela, se vai muita tinta, se eu vou deixar ela com acabamento impecável, se eu vou fazer bainha, porque isto interfere muito no orçamento e o tipo de lâmina. Se eu for fazer uma lâmina comum, se eu for fazer uma lâmina curva, ou até mesmo essas espadas de videogame, tipo a do SoulCalibur18, que uma das espadas tem um olho no meio! Ai interfere demais, cada detalhe interfere muito no preço.

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Jogo de luta.


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Paulo, quais são os seus interesses além do Cosplay? Bom, eu tenho duas metas. A primeira é minha meta de vida, deixar minha marca na história, fazer com que as pessoas pelo menos quando forem mais a fundo na história me encontrem lá no meio como um marco diferente. A segunda, digamos assim, filosofia seria... Conhecer mais gente, porque sempre vem mais gente para eventos. Pessoas que nos não conhecemos ai eu gosto de conhecer este pessoal.

De que forma você acha que o Cosplay contribui na construção da sua personalidade? Bom, eu não posso dizer na construção da minha personalidade, porque a minha personalidade já está praticamente definida. Uma coisa ou outra altera sim, mas eu também gosto de me basear muito em personagens que eu gosto, os animes, personagem de jogo. Digamos assim, interpretar o personagem na vida real, utilizar às vezes até jargões do próprio personagem na vida real. Tipo um anime famoso para caramba, Lucky Star19, são cinco colegiais que elas ficam apenas numa vida cotidiana normal, mas elas ficam usando alguns termos que até nos mesmo desconhecemos. Eu e mais a metade dos Otakus gostamos de pegar estes termos e trazer para o dia a dia.

Você prefere o mundo real ou o universo Cosplay? Eu gosto dos dois, sempre precisamos ter o pé no chão o Cosplay é um mundo da imaginação. Podemos dizer que os eventos de animes são a porta para um mundo totalmente diferente onde nos criamos este mundo, então o Cosplay seria nós mesmo só que neste mundo da imaginação. Ai o que eu gosto de fazer, ao invés de fazer como a maioria das pessoas normais fariam, não colocando os Otakus, as pessoas normais que vão a festas à fantasia e que separam fantasia do mundo real eu gosto de mesclar os dois, em outras palavras, a mesma roupa que eu uso para o Cosplay algumas peças eu uso na vida real e algumas peças da vida real eu uso para o Cosplay e assim misturando para ter uma analogia comigo mesmo. Tipo a pessoa vê uma peça de roupa do meu Cosplay de longe, só que no mundo real no dia a dia: “Ah, é o Paulo! Achei ele.” só que nem está vendo o meu rosto.

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Série de mangá transformada em anime.


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Como você acha que a mídia e a sociedade, classificam pessoas que usam fantasias? Hum, tem uma palavra perfeita que eu odeio que o pessoal usa. Eles classificam de “infantis”, porque a maioria das pessoas ou pelo menos como a mídia põe acha que vestir fantasia, fazer Cosplay e tudo o mais, eles costuma achar que isto é só para criancinha que está no começo da vida e gosta de fantasiar, fazer estas coisas. Assim, imaginaria que a pessoa, um homem de verdade não consegue fazer. Na minha opinião eu acho que isto não é legal, pois cada um tem o seu jeito. Isto é um fato que não da para discutir, logo quando falamos que alguém... Tipo algumas pessoas podem até me considerar infantil, beleza, se eu sou infantil, eu e mais a metade do povo que vai lá para a liberdade, também são infantis, assim como aqueles senhores que fazem Cosplay de Darth Vader, de Luke [Skywalker], este pessoal também é infantil. Só que o cara tem 60 anos nas costas, vai me dizer que o cara é infantil? O cara tem um, como que é? Um emprego, sei lá, um emprego na NASA, por exemplo, ele é infantil? Não da para nos basear pela mídia, a mídia é totalmente furada, não vou dizer totalmente porque, às vezes, eles colocam algum fundo real, mas grande parte, às vezes, é furada. Teve uma série que eles chamam de Rebeldes, eles acabaram entrando no mundo do RPG. Eles pegaram o clássico RPG, que é o RPG Dunger um grupo de pessoas, eles sentam na casa de alguém, fazem uma reunião e começam a jogar, tem uma pessoa que conta uma história aonde eles vivem, como eles vivem, que tipo de armas eles podem usar, digamos assim “o mestre” da história e os jogadores desta novela, os rebeldes, o que eles fizeram, pegaram estas mesmas pessoas que jogam RPG só que colocaram como umas pessoas vândalas que saem pelas ruas pichando os muros, zuando as pessoas, só que não é nada disto! Isto que eles fizeram, muitas pessoas que eu vi no facebook e amigos meus eles ficaram furiosos com o que esta novela fez com o RPG, eles ficaram furiosos e mandaram um monte de denúncia. Fizeram o que na verdade devia ser feito, porque eles distorceram a realidade.

Por que você acha que a mídia tem esta visão? Na minha sincera opinião? Controlar as pessoas. Eles não querem que as pessoas abram os olhos para o que existe no mundo. Eles querem apenas, tipo: “Queremos que as pessoas façam isto!” Então vamos bombardear todas as mídias com isto, ai o povo vai fazer exatamente isto. É praticamente uma máquina manipuladora de pessoas.


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Seus Cosplays são baseados em quais animes? Normalmente eu me baseio em tudo que eu vejo, eu me baseio em Naruto de certa forma, eu me baseio no... Deixa eu ver, em animes de Mecha20, em animes futurísticos, basicamente os mais antigos que são os melhores. Hoje em dia eu acho que não estão muito legais. Um anime que eu estou assistindo agora e vou pegar uma parte os personagens, o anime se chama Zona of the Ends21, é um anime antigo, acho que é de 93, 94, mas ele é totalmente futurística, tem Mechas, com viagens até marte e por ai vai e um dos personagens é um robô de no mínimo dez metros de altura só que ele tem uma personalidade e é uma personalidade totalmente calma, zen, quase uma criança de treze anos para menos, só que quando ativa um sistema oculto este robô se transforma em uma arma de destruição em massa, utilizando canhões que destroem cometas em questão de segundos e armas com design bem interessante.

Então você não tem um personagem fixo? Você desenvolve através de uma junção de personagens? Sim, eu vou copiando aquilo que eu gosto do personagem. Aquilo que eu mais gosto é criar, sair do zero, mas é muito, muito difícil isto, para usar a criatividade para criar algo novo é muito difícil, porque fatalmente vamos nos basear em algo já existente.

Existe algum símbolo que represente o universo Cosplay? Ah, seria basicamente as pessoas fantasias, este seria o símbolo, não tem um símbolo definido. Seria assim, um grupo de pessoas reunidas, fazendo uma posse qualquer, independente se faz parte do personagem, ou não para se tirar foto. Este seria o símbolo.

Paulo acha que daqui a 10 anos ainda vai ter o mesmo interesse pela cultura Cosplay? Olha, eu não vou dizer o que eu terei exatamente o mesmo interesse, pois eu sempre vou mudar, mas eu ainda continuarei com uma forte tendência com o lado Cosplay.

20 21

Robô gigante controlado por um piloto. Vídeo game transformado em anime.


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Esqueci de perguntar, você trabalha ou estuda? Eu trabalho com o meu pai. Atualmente ele tem uma marcenaria e trabalhamos com móveis totalmente sobre medida. Até, às vezes, criamos moveis diferenciados para determinados recintos e na parte do estudo eu faço curso de engenharia aeronáutica.

Já foi na faculdade usando Cosplay? Ainda não, eu pretendo fazer isto mais para frente de Darth Vader, já que o pessoal me apelidou de Darth Vader, mas o que eu costumo fazer é usar algumas partes do meu Cosplay, como a capa, a gargantilha. Na verdade é a minha vestimenta normal e eu ponho e vou para a faculdade normalmente.

E qual a reação dos seus amigos na faculdade? Na primeira vez o pessoal achou que eu fosse um gótico (risos), ou então um roqueiro, no caso um metaleiro, mas na verdade, a partir da segunda semana de aula o pessoal foi descobrindo quem eu realmente era. Eles viram que eu não era uma pessoa carrancuda, fechada, na verdade eu gosto de dar risada, nunca gostei de sair no braço e eles viram que eu sou uma pessoa totalmente alegre, não sou fechado e gosto de quebrar o comum, no começo eles acharam esquisito, mas depois eles foram se acostumando e agora eu conheço um monte de gente, inclusive eu cumprimento pessoas que eu nem sei o nome.

Qual a melhor coisa em fazer parte deste grupo? É mais por diversão, nem por obrigação, e nem digamos assim, por uma religião pagã, é mais por diversão, para descontrair, até depois sair na rua para algum evento para algum mercado coisa assim, para comer alguma coisa, tomar. Entrar numa loja totalmente séria e quando você olha tem um Shinigame22, segurando uma foice, é mais para se divertir, nos eventos existe esta coisa de competição, é um caso a parte, ai existe um prêmio para quem é o primeiro colocado, mas fora isto tirando à parte do evento é mais por diversão para descontrair, para dar uma quebrada no gelo.

Você acha que não existe um risco de ser um personagem para o resto da vida?

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Personagem do anime Bleach.


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Bom, quando fazemos o Cosplay nos imitamos um personagem. Eu faço muita assimilação, pois um personagem, num anime, num jogo é uma pessoa normal, assim como nós, como somos normais, então eu poderia dizer que sim. Eu não só corro este risco, como está acontecendo, de eu virar este personagem para o resto da minha vida, ser este personagem afinal a minha personalidade é a personalidade deste avatar, em outras palavras, os dois... Nos dois somos os mesmo, então não importa se daqui a 20,30,40,60 anos, ou se eu viver ainda daqui a 100 anos, eu vou continuar sendo este mesmo personagem. Posso ter outros? Sim, posso ter e ainda direi mais: serei outros, mas todos estes outros serão partes de mim, será a minha pessoa em si.

Quer dizer mais alguma coisa? Mais alguma coisa?... (risos) Da para dizer muitas coisas, mas assim, o principal eu acho que já foi dito.

Ok, muito obrigado Paulo! Boa tarde pode nos dizer seu nome e sua idade? Meu nome é Pietro Progetti, eu tenho 26 anos.

7.3.4 Pietro Progetti Entrevista realizada no dia 27 de Abril de 2013, no período da tarde

Pietro, qual a sua relação com o Cosplay? Atualmente eu sou coordenador de concursos e também sou Cosplay e ajudo ai à galera dando uma consultoria de vez em quando para o pessoal.

O que é Cosplay? Ele é um termo que vem derivado do inglês que é costume play e este costume play, o play tem dois significados que é tanto diversão quanto roleplay, que seria interpretação. Então seria uma fantasia divertida, ou uma fantasia para se atuar e ele surgiu no Japão depois de eles terem adotado um sistema que ocorreu no Worldcon23nos

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Convenção de ficção científica.


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anos 80, que a galera foi de Star Trek, Star Wars e no Japão reformularam isto trazendo para os personagens de animes e mangás especificamente.

Como surgiu o Cosplay no Brasil? No Brasil ele foi surgir pouco tempo depois nos anos 90, mais para a galera que curtia HQ e Star Trek propriamente dito. Depois de uns anos veio à futura Yamato que hoje é a mais conhecida aqui no país. Ela realmente trouxe os eventos por conta de um boom que teve depois dos Cavaleiros do Zodíaco, Yu-Yu-Hakusho24, a Manchete e a Band foram as maiores responsáveis neste sentido, mas depois de 2002 é que realmente isto estourou e o Brasil hoje nos eventos de anime você tem todo o pessoal que gosta de HQ, seriados, que lá nos Estados Unidos são em eventos diferentes, aqui no Brasil ocorre com mais força nos eventos de anime, tem pequenos nichos, mas eles não chegam a fazer sucesso. Já o Cosplay não, nos eventos de animes você vê que eles trouxeram isto e isto acabou sendo adotado pelo resto do mundo.

Você acha que o Cosplay tem alguma conotação política ou é mais uma prática social mesmo? Tem mais uma conotação social, político propriamente dito. Obviamente como todo lugar tem uma política na infraestrutura mesmo, entre coordenadores, staffs, que são os que ajudam. Isto não é bem visto tanto pelos Cosplayers até por alguns organizadores, não é legal, mas o social é muito mais forte.

Quais são os símbolos principais do Cosplay, tanto material quanto imaterial? Símbolo, símbolo mesmo você não vê muito. Como o pessoal se identifica? Então são por camisetas de algum anime, são por chaveiros, isto é muito comum, você vê mochilas com “enes” chaveiros, às vezes o pessoal utilizando algum acessório de algum anime, então quem conhece este anime fala: “Meu, este cara gosta”, então acaba sendo até uma brincadeira um pouco mais secreta quando a galera usa com alguma correntinha, algum símbolo então estes seriam os símbolos, mas um logo [tipo] não existe realmente este logo [tipo] não existe.

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Série de mangá transformada em anime.


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Existe algum censo de quantos Cosplayers existam hoje no Brasil? Tem expectativas aproximadas ai de Cosplayers numa média por estado, São Paulo e o pessoal mais do Sul são mais concentrados, mas você tem ai mais de dois mil Cosplayers nesta região do sudeste e centro-oeste.

Tem uma noção da porcentagem de homens e mulheres? Se eu fosse falar eu acho que teria mais mulheres do que homens, mas um número propriamente dito não se tem. Nunca se foi levantando esta demografia dos Cosplayers.

E por que você acha que existe esta predominância feminina? Porque as mulheres na sociedade de antigamente, agora menos, mas elas tinham um lance de uma vergonha tudo. Só que elas têm um lado artístico um pouco mais aflorado do que o masculino, então como tem este lance da interação, acabou aumentando o número e como aquelas mulheres mais tímidas, tem personagens tímidas nos animes então elas fazem estes, são conhecidas como as moy ou otome, que é um termo que está surgido agora - moy é um termo japonês e é para aquela garotinha mais meiga, mais doce, mais pura que geralmente tem muita vergonha de si mesmo.

Qual a importância do Cosplay como uma cultura? Nossa! Esta eu acho que é uma pergunta difícil porque ela engloba bastante coisa, provavelmente cada pessoa vai dizer uma coisa, mas eu analisando a coisa não como um Cosplay, falando como um observador é incrível porque como a pessoa interage muito mais com as outras, mesmo quando ela tem vergonha, porque ela coloca na cabeça um pouco que ela é o personagem, então ela vai e acaba interagindo, então como cultura a gente acaba conhecendo uma outra cultura que é a japonesa. Os japoneses em alguns animes eles englobam a cultura mundial, então você vê muito da Alemanha principalmente, você vê da França em alguns momentos, mas principalmente da tríplice da Segunda Guerra. Você vê muito mais a Itália e a Alemanha presente em alguns animes, isto é muito interessante pelo ponto de vista histórico e quando você pega um anime tem muito anime que pega mitologia de “enes” grupos, então culturalmente é muito rico porque você pega desde algo místico como Hermes


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Trismegisto25, como você pega mitologia grega que é o mais comum que é Cavaleiros [do Zodíaco], então culturalmente fica difícil eu falar onde é o grande foco, mas cultura social, vamos colocar, é nesta interação e nesta junção de grupos, inclusive o pessoal mais excluído pela sociedade que hoje em dia tem um termo que é o bullying sofrem, eles acabam se encontrando neste nicho porque você não vê preconceito, você vê rixa como em qualquer sociedade, mas preconceito você não vê... Mesmo! Então culturalmente eu acho que é isto, um exemplo a ser seguido e principalmente é um pessoal que ele mantém o lado lúdico vivo até hoje, então são pessoas mais criativas, estimulam isto. Engloba muita coisa, fica difícil eu te dar uma resposta especifica, você me desculpa.

Qual a faixa etária do universo Cosplay? Cara é incrível! Eu vou falar, oito que é a pessoa mais jovem que eu já vi fazendo Cosplay, até a pessoa mais velha que tinha 52 anos.

Voltando a questão das pessoas excluídas que você citou, elas vão ao evento para tirarem fotos ou fantasiadas de Cosplay? Você vê dos dois, isto é legal. Enquanto ele está conhecendo você vê que ele vai com uma camiseta do anime, então ele vai e tira foto, ele se sente bem ao abraçar aquele personagem. Então você vê que ele vai adquirindo uma alta confiança, por menor que seja e quando ele adquire o mínimo, você já vê que ele já faz um Cosplay, mesmo que um Cosplay não tão bem feito, mas você já vê que ele se aventurou. Então ele vai receber algumas criticas e ai ele começa a fazer, mas é muito bem dividido. Novamente é difícil eu te trazer um numero exato.

Quais são os principais animes que fornecem base para os Cosplayers? Olha, os principais aqui no País é Cavaleiro do Zodíaco, o Naruto, são os animes que eu considero eterno, eles ultrapassam os 100 episódios, você vai ver tem animes de 12 episódios, tem animes de 4 temporadas, vão variar no máximo 100 episódios, isto é muito bacana também no universo, tem esta delimitação. Animes eternos que ultrapassam os 100 episódios nos temos: o Bleach26, o Naruto, One Peace27 e os 25

Deus Grego, autor de um conjunto de textos sagrados. Série de mangá transformada em anime. 27 Idem. 26


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Cavaleiros do Zodíaco, estes são os maiores nichos que você vai ver Cosplay, porque eles começaram em 2004 e estão até hoje passando. Então eu vi o começo de Naruto, a galera começando a ir de anime e isto era original e hoje é manjado e principalmente: o que faz um novo Cosplay? São as temporadas no Japão que são por estações, então a que eles apostam que vai ser o melhor da temporada a galera já começa a fazer Cosplay e atualmente das ultimas duas temporadas foi Sword Art Online28, você vê uma galera de Kiroto29, isto não é bem visto entre o universo, Cosplay repetido ou mal feito não é bem visto.

Pietro, o Cosplay funciona como você assumir uma identidade que não é sua, momentaneamente, mas você assume. Como não deixar isto influenciar na vida real? Da mesma maneira que você faz teatro, que você joga um RPG. Aquilo é bom por quê? Porque você vai se imaginar em situações que você nunca esteve e você vai dirimindo e quando você faz com o personagem você fala: “Nossa, eu consigo fazer, olha eu consigo conversar com as pessoas eu consigo interagir. Então perai, eu mudei, eu evolui.” Isto tem muito. Obviamente isto acontece são doenças psicológicas, a pessoa quer assumir um papel, mas isto não é bom, isto não é bem visto, isto no teatro não é legal, isto no RPG não é legal e no Cosplay também não é legal. No Cosplay eu nunca vi casos, RPG eu já vi casos nos Estados Unidos que a pessoa realmente ela tinha um distúrbio mental e acabou adotando isto e quem não faz nada disto se torna um psicopata e age falsamente. Então é da pessoa não é do nicho.

Como você acha que a sociedade de uma forma geral classifica o universo Cosplay? Vamos colocar, no Japão isto é muito bem visto porque é desestressante, nos Estados Unidos havia uma galera que sofria bullying até o seriado Big Bang Theory30 começar a fazer muito sucesso, então este nicho passou a ser mais bem visto do que mal visto e aqui no Brasil tem a galera que tem um preconceito, mas é aquela galera mais ignorante da sociedade, vamos colocar assim, não tem tanto acesso. De resto as pessoas tem mais curiosidade do que preconceito e quando descobre o universo acaba sendo 28

Romance em estilo mangá transformado em anime. Personagem do anime Sword Art Online. 30 Série de TV americana, sobre um grupo de nerds. 29


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muito mais bem visto. Já vi mãe vindo me agradecer, tanto pelo filho jogar RPG, quanto pelo filho começar a fazer um Cosplay. Porque ele fez uma apresentação na escola e ninguém dava um real pelo cara, porque ele era o quieto e ele apresentou super bem, falou super bem, você vê que ele já tem uma descontrariedade [sic.] muito maior do que a galerinha na escola que acha que é boa e vai ver não é tão boa assim.

De que forma você acha que o Cosplay contribui para a construção de uma personalidade? Esses exemplos que eu até citei durante a entrevista. Então a pessoa acaba se tornando mais desinibida, ela pega alguma coisa que ela gostaria de ser no personagem, às vezes mais corajosa, mais desinibida, mais bondosa, mais ativa e ela por admirar ela acaba colocando como: “Um dia eu serei assim.” e faz isto, então você vê pessoas que são mais bondosas neste universo, pessoas que ajudam por ajudar, então é muito bacana. Você pega alguns organizadores de eventos lá pela Região do ABC, o ingresso além de ter uma contribuição com valor, você contribui com um alimento não perecível e ai quando você vai atrás vai ver que não foi só uma instituição que esta galera ajudou, foi mais de uma e você pode ir lá ver, então isto é muito bacana. Acaba contribuindo para o enobrecimento da pessoa.

Você sabe se existe alguma rixa entre os Cosplayers ou entre os Cosplayers e outros grupos? Olha, existe. Principalmente aquela galera que vai num concurso só para concorrer à grana, não interage, é um pouco chato para tirar foto. Eu acredito que a missão do Cosplayer, como ele encarna o personagem, então ele é o personagem. Então quando alguém vem tirar foto não se esqueça que você não é mais o João ou a Maria, você é o fulano agora e esse fulano, não é só o seu herói, é o herói de muitas pessoas, então haja como este herói agia. Vou trazer uma experiência própria, quando eu fazia o Yusuke31, ele é desinibido, ele zoa a pessoa chegava para tirar foto eu agarrava o pescoço dela e fazia o “croc” e parava para a pessoa tirar foto, a pessoa ria: “Nossa eu tirei foto com o Yusuke, eu tomei um ‘croc’ do Yusuke.” Então vem tirar foto eu parava numa posição dele fugindo que era o que aconteceria, mas eu tiro a foto como: “Cara eu tirei foto com o Yusuke, faz o lei-gun (que era o golpe)”, eu ia lá e fazia o lei-gun

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Personagem principal do anime Yu-Yu-Hakusho.


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que era o golpe. Você para de minuto em minuto e tira a foto, é legal, as pessoas vão se sentir agradecidas tudo, entendeu? Então é muito bacana isto no universo. Você tem que encarar como isto, então eu e muitas pessoas do nicho não gostamos de pessoas que, às vezes, deixam de ser humildes, deixam de ser o personagem porque o Cosplay dela está muito legal ela não quer tirar foto: “Não, vai quebrar!”. Meu, o pessoal tem cuidado, o pessoal não é estabanado. É o que eu falei, a pessoa toma cuidado para andar num evento, para não esbarrar num acessório de alguém, numa asa que é muito comum, numa arma enorme. Então isto é mal visto e a rixa ocorre por causa disto. Outra rixa que ocorre em grupos menores é quando o Cosplay é o repetido, ai ferrou: “O meu é melhor, do outro é pior”. “Nossa eu estou assim”. Vamos supor, eu nunca vi um outro Yusuke em um evento, então quando eu ver, se o meu estiver ruim eu vou ficar mal, mas comigo mesmo. Então acaba sendo, vamos supor uma inveja positiva porque eu quero melhorar e ficar tão bom quanto o do cara, ou melhor. Então acaba tendo uma rivalidade, desta rivalidade acaba surgindo rixas, pois somos seres humanos e isto ocorre, mais não é algo proposital.

E com algum outro grupo, fora do Cosplay? Fora do Cosplay não, você não vê isto. Pelo contrário, você vê uma junção entre a galera do HQ e do mangá e do anime e que não gosta do anime, começa a assistir e gosta e o outro tem um preconceito. Então acaba tendo uma interação, rixa eu nunca vi de grupos. Ocorre bullying que é normal, a galera que não conhece isto, pode ser a pessoa sendo Cosplay, ou não, pelo fato da pessoa ser diferente. Hoje em dia na sociedade tem este termo nos Estados Unidos que bullying vem de bully, que é o “valentão” né e ai se trouxe isto e colocou como uma coisa. Eu acho que tem trabalhar a alta estima das pessoas em cima disto, conversar com esta galera que monta em cima, é muito do ser humano pisar no mais baixo, é um problema cultural ai de desde que o mundo é mundo não é de hoje.

Qual a diferença entre os Otakus e os Cosplayers? Praticamente nenhuma, porque o Otaku ele é um termo que ele vem do Japão e que aqui no Brasil se adotou como algo positivo, mas no Japão quando alguém é demais usa-se Otaku, então tem o Otaku anime, quem assiste anime demais; tem o Otaku gamer, que é o cara que só joga; então Otaku é aquele termo utilizado para a galera exagerado. Aqui no Brasil em alguns lugares, alguns estados, e nos Estados Unidos na


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Virginia adotou este sistema para quem gosta de anime, ou deste nicho. Então, todo o Cosplayer é Otaku, mas nem todo Otaku é Cosplayer, essa seria a diferença.

E o termo Cosmarker, como surgiu? O Cosmarker, por “increça que parível”, vamos colocar assim, ele surgiu aqui no Brasil. O Cosplay antigamente ele era o cara que fazia o próprio Cosplay e interpretava, de 2008 para cá isto começou a mudar, começou a ter costureiras, começou a ter um cara que faz um acessório e ai tem um cara que fala: “Eu quero fazer o fulano, mas eu não costuro, eu não faço, eu mando fazer.” Quem faz é o Cosmarker. Então o que antes era um termo só que era o Cosplayer que era quem fazia e interpretava hoje se dividiu, nos temos quem faz e quem interpreta, e temos quem faz os dois que era o antigo Cosplayer.

Qual a importância das pessoas tirarem fotos no universo Cosplay? A importância é justamente que nem você, sei lá, antigamente não tinha... Você era da minha época que as meninas ficavam loucas pelos Back Street Boys32, a gente não suportava, mas elas gostavam e elas queriam fotos com estas pessoas, eram os heróis delas. Então até com atores de novela a galera quer tirar foto, é aquela coisa: “Meu, tenho foto com o meu herói.” É que nem a criança sentar no colo do Papai Noel, nossa você é criança tem certeza que aquele velho é o Papai Noel, aquela coisa gigante é o coelhinho da páscoa e você tirou foto com ele e aquilo foi sensacional. Este sentimento- não infantil- este sentimento lúdico, ocorre constantemente no universo Cosplay. Então você está tirando foto com o seu herói fala: “Nossa, está igualzinho!” ai você vai lá e tira a foto, ou você está com Cosplay e a galera ta com outro Cosplay então pronto, é a foto do grupo, naquele momento os dois personagens existe momentaneamente. Então é uma coisa de trazer momentaneamente para o real, daquela imaginação de quando você brincava com o seu pai, que você era o superman e ele era um vilão. Então esta coisa lúdica um pouco mais reforçada por conta da fantasia do Cosplay, do costumer. Então é você vivenciar da melhor maneira. Da mesma forma que você lê um gibi e hoje você vê um filme e você fala: “Mano, que filme animal!”, ou você lê um livro e pega o filme e você vê aqueles personagens vivos, é este lado lúdico, imaginativo aflorescendo [sic] e você tem um registro disto, isto é muito sensacional:

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Grupo musical, famoso na década de 90.


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“Cara eu vi o Yusuke!”. “Viu? Esta aqui!” Olha a foto a mesma coisa: “Nossa! Eu vi um Naruto animal.”. “Sério?”. “Sério, olha aqui a foto.” Então esta é a importância, quando você é um Cosplay e muitas pessoas tiram fotos e depois tem um dia que eu vou ser bem sincero, eu quase chorei que a menina falou: “Cara, este cara é o Yusuke. Ele faz as caretas, ele brinca, ele foge. Eu conheci o Yusuke pessoalmente.” Cara não tem preço quando você lê o testemunho disto na foto da menina no álbum dela, que todas as pessoas que conhece ela vão ver e nem sabe quem é você, isto é sensacional. Então a grande importância é esta, você se sentir mesmo um herói.

Mas não conheceram o Yusuke e não você realmente? Conheceram porque adiciona no face e começam a conversar, num importa! Naquele momento eu fui o personagem e eu atuei bem, não é algo de ego, é algo que foi divertido para mim. Foi tão divertido que a menina tem certeza que eu sou o Yusuke, não importa eu Pietro. Eu Pietro tem uma vida social, tenho trabalho, tenho amigos e acabo fazendo novos amigos que conheceram o Yusuke e agora querem conhecer o Pietro.

Pietro, você organiza concursos Cosplayers, como funciona? O nicho ele é bem bacana, porque assim como tem concurso de miss, como tem concurso de melhor isto, melhor aquilo é o mesmo esquema. Então tem uma infraestrutura, você tem que tomar conta de palco, entrada e saída, iluminação, som e o principal: regras cara! Regras têm que estar muito bem redigidas todo mundo tem que entender, você não pode colocar com uma linguagem absurdamente técnica tem que colocar uma linguagem mais coloquial. Se colocar uma técnica, deixar disponível pra quem não entender vir te perguntar, porque, às vezes, você tem que deixa algo, vamos colocar assim “juridiquês” para ficar algo mais correlato, nossa! Mais sério e ai tem a galera que não entende, porque meu, vai ter um cara de 12 anos querendo fazer um Cosplay. Ele não vai entender esta linguagem, então esteja aberto para explicar as regras sabe, deixar um arquivo em separado se num entendeu ter como te mandarem um email, isto é o mais trabalhoso, porque virão às mesmas dúvidas só que o que você faz sendo inteligente, você seleciona estas maiores dúvidas e faz um FAQ [Frequently Asked Questions, ou Perguntas Mais Freqüentes] para o próximo concurso, então acho que o mais trabalhoso é isto. Outra coisa que eu acho que ocorrem, as panelinhas. Nos meus concursos não ocorrem isto, por mais que o juiz queira dar uma vazão ele não vai


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conseguir, porque tem que ser inteligente, você sabe como a galera faz a panelinha, por exemplo, se você for agora em junho no evento você vai ver como é que são as regras, vai ver como que acontece, a nota sai na hora. Então se o juiz deu uma nota baixa para quem o público achou que foi uma nota muito legal, o público vai vaiar este juiz, o juiz não quer isto. Ele vai dar uma nota o mais justo possível, ele vai aumentar um pouquinho a nota de quem ele conhece e tentar abaixar de quem ele não conhece, ele vai tentar fazer isto, mas vai ser muito menos. Então a chance de ter uma panelinha é quase ínfima, porque ele vai ser vaiado e ninguém quer isto e o juiz sendo vaiado eu como coordenador já vou ficar esperto com ele, posso anular a nota dele eu sou o coordenador e eu tenho o poder para isto. Então você vê o cara foi vaiado quatro vezes: “Pô! Não meu.” A nota deste juiz já não é mais valida e todo mundo sabe, a nota vai aparecer num telão, não é que se descobre no final do evento quem ganhou, não! A galera já tem noção de quem vai ganhar assim que o último aparecer a nota. Então é muito diferente você fazer isto, assim como é um concurso de miss, tem lá as cartas marcadas? Tem, só que ai você vê que propositalmente uma miss foi mal maquiada. Aqui não tem isto, quem se maquia são os Cosplayers! Eu não tenho isto nos meus concursos, não preciso me preocupar com isto nos meus concursos, os Cosplayers vão prontos, o juiz só tem que avaliar. É um universo semelhante, mas muito original neste sentido.

Pietro em sua opinião, qual é o futuro do Cosplay? O futuro cara fica difícil te falar isto, mas eu acho que a tendência disto é cada vez aumentar por conta desta positividade tá. Ser melhor aceito e, principalmente, eu quero que futuramente as pessoas se espelhem nesta pequena sociedade que são os Cosplayers, que o preconceito eu não vejo, rixa tem porque nos somos diferentes, mas a aceitação é muito maior. Você vê pessoas que tem rixa se cumprimentam sem falsidade, coisa que a gente vê numa empresa, você não gosta da pessoa mais tem que fazer a sala, tem que fazer o social, neste universo não tem isto, então pessoal mais sincero que, às vezes, chega: “Pietro por que você não gosta de mim?” “Poxa cara, você faz isto, isto e isto.” Então a pessoa tem a oportunidade de evoluir e ela tem abertura porque ela sabe que eu não gosto dela por algum motivo e ela quer saber este motivo e eu a mesma coisa: “Por que você não gosta de mim?” Então a gente tem a oportunidade de evoluir como ser humano dentro de uma sociedade e isto é muito difícil de a gente ver em qualquer lugar da sociedade, você ter abertura para falar com alguém, porque que a pessoa não gosta de você e esta pessoa ser sincera ao ponto de falar o porquê e você ter


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a oportunidade de evoluir. Então, no futuro eu quero que este tipo de comportamento se alastre, mesmo. Que a sociedade se enobreça, dentro do nicho são Cosplayers cada vez mais tecnológicos, hoje você vê Cosplay com luzes, com materiais dos mais inusitados possíveis porque a galera é muito criativa, principalmente no Brasil, por conta das coisas serem muito caras. Eu já fiz um estudo em cima disto, fazendo um Cosplay de médio porte aqui eu consigo fazer um de alto nível no Japão, por conta da acessibilidade de tudo, isto é incrível! Brasileiro é muito criativo neste sentido, mesmo. Japonês vai fazer um negocio hitecno, brasileiro consegue fazer um negócio com a metade do material que o japonês fez, mesmo. A gente tem a Thais que ela fez o Cosplay de Samus33, com leds e fibras de vidro e ficou sensacional e um japonês fez um igual e gastou o dobro. O futuro é isto, são inovações mesmo, que vão ser utilizados e você já vê casos sendo utilizadas em filmes.

Quer dizer mais alguma coisa Pietro? Eu agradeço a entrevista. Acho muito legal vocês estarem fazendo um trabalho deste nível que vai difundir, vai ensinar, vai aumentar culturalmente as pessoas, e eu falo para todas as pessoas que forem ouvir isto, ou testemunhar isto: Resgatem o seu lado lúdico! O seu lado lúdico é responsável pela sua criatividade, pela sua felicidade, pelo seu momento de emoção e neste universo você encontra pessoas com este lado extremamente aflorado, mesmo. Então vão conhecer, vão ver como que é. São eventos accessíveis e você acaba descobrindo muita coisa, como eu falei, eu Pietro, hoje eu dou aula de mitologia e palestras de mitologia graças aos cavaleiros do zodíaco, porque eu quis saber de onde foi inspirado aquilo lá, daquilo parte da mitologia grega para a nórdica e caramba a quatro. Hoje a cultura que eu tenho se deve a desenhos que foram inspirados em mitologias. Tenho muito a agradecer o cara que fez os cavaleiros do zodíaco, graças a ele hoje eu conheço e domino o assunto mitologia grega.

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Protagonista da série de jogos Metroid.


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REFERÊNCIAS

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Coelho Jr. L. L; Silva S. S. Cosplay como fenômeno psicossocial. 2006. 14f. - PósGraduação de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Smith, C. B. Science fiction culture. 2000, 1 – 31 p. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?hl=ptPT&lr=&id=oCvIZpCSRA0C&oi=fnd&pg=P A1&dq=science+fiction+masquerade&ots=50IpcaxxK&sig=XvJ700lb_GKDVzl_M6W UZp1QrzY#v=onepage&q=science%20fiction%20masquerade&f=false> Acesso em: 11 mai, 2013. 15 – GOSLING, Igor, 2011, Testando Massas-Clay Hard. Disponível em : http://www.igorgosling.com/2010/09/testando-massas-clay-hard.html . Acessado em: 22 maio 2013. 25 – SOUZA, Geraldo,200_?, Hermes Trimegisto. Disponível em: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=12761 . Acessado em: 21 maio 2013.


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