Revista ARC DESIGN Edição 44

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R$ 15.00

DESIGN BRASIL 2000+5 DESIGN BRAZIL 2000+5

TENDENCE, FRANKFURT TENDENCE, FRANKFURT

Nツコ 44 QUADRIFOGLIO EDITORA

ARC DESIGN

Nツコ 44

2005

2005

REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

GALERIA MELISSA GALERIA MELISSA

CADERNO ESPECIAL BIENAL DE ARQUITETURA SPECIAL SUPPLEMENT ARCHITECTURE BIENNIAL EXHIBITION

ALOISIO MAGALHテウS ALOISIO MAGALHテウS


Luiz Pe draz zi for mou-se em ar qui te tu ra em 1990 pela Pon ti fí cia Uni ver si da de Ca tó li ca de Cam pi nas (FAU/PUC-Cam pi nas). Em 1994 mu dou-se para a Ho lan da, onde se es pe ci a li zou em de sign de mo bi li á rio e de ob je tos. En tre 1994 e 1996 ex pôs na Galeria Grimm, em Amsterdã, e na Galeria Karin Delcourt van Krinpen, em Roterdã. De volta ao Brasil, elegeu o acrílico como seu material de pesquisa e participou de diversas mostras, entre as quais “Quatro Designers Contemporâneos”, na Zona D (1996), e “Design no Brasil no Século XX”, na Casa Objeto (1998), ambas em São Paulo. Recebeu, em 1997, a Menção Honrosa do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira. Em 2005, mudou-se para o Rio de Janeiro e atualmente desenvolve produtos para diversas empresas em seu estúdio Pedrazzi Design. Na luminária Lego “partiu-se da idéia de montar uma linha de luminárias e outros produtos a partir da repetição de uma mesma peça tipo lego em três tamanhos”, explica o designer. A Lego é o resultado da montagem de pequenas peças com o formato do Lego tra di ci o nal, mas pro du zi das em po li pro pi le no in je ta do, trans pa ren te, em di versas cores. Foram necessários diversos protótipos para o desenvolvimento desses componentes até chegar ao resultado desejado. Produzida com os componentes em plástico, encaixados, e alumínio parafusado, o conceito básico da luminária permite uma grande diversidade formal. Garante também uma interação com o usuário, que pode mudar a configuração do objeto de acordo com sua vontade. Algumas luminárias vêm com componentes avulsos, para que o usuário “brinque” de designer.

À esquerda, no alto, foto da capa: detalhe ampliado de uma luminária Lego; na sequência, a luminária acesa deixa perceber seu caráter inusitado, lúdico e sensual. É também exemplo da possibilidade de deslocamento no uso de materiais e de objetos para outras funções


ARC DE SIGN com ple tou oito anos. Sin to ni za da com a vida con tem po râ nea, “da co lher à ci da de”... e ao pla ne ta. Por quê? Para quem? Fei to com quê? Pro du zi do como? Com qual uti li da de ou ino va ção? Es sas são ques tõ es re cor ren tes que nos de sa fi am. ARC DE SIGN sur giu di fe ren te, sem acre di tar que ape nas a eco no mia seja a mola do mun do. Há mu i to mais que nos in ci ta e es ti mu la a bus car a raiz dos fa tos, a des ve lar o ain da não pen sa do. Nesta edição, abordamos a arquitetura no Brasil. É o caderno dedicado à Bienal de Arquitetura trazendo, entre outros artigos, entrevista com o arquiteto Borsoi. No design brasileiro, falamos – com muita alegria – da “safra 2005”. O design gráfico traz Aloisio Magalhães, figura fundamental. Há também uma exposição no Victoria & Albert Museum, Londres, e uma feira em Frankfurt. E mu i to mais. ARC DE SIGN gos ta ria de men ci o nar to dos os de sig ners, ar qui te tos, em pre sá ri os, co la bo ra do res, leitores e con sul to res, do Bra sil e do ex te ri or, que nos es ti mu la ram, cri ti ca ram, guia ram na criação desse rico repertório, ilustrado aqui por todas as nossa capas, desde a primeira edição. A to dos agra de ce mos. Ma ria He le na Es tra da e equipe ARC DESIGN


O design brasileiro está em alta. Invade lojas, multiplica-se em feiras, alcança qualidade. Conheça a “nova safra” e perceba o que ainda falta para sermos ótimos

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As raízes culturais brasileiras desper tam interesse dos europeus em diversas mostras do Ano do Brasil na França. Adélia Borges foi curadora desta que publicamos, sobre bancos indígenas que ainda são feitos por muitas tribos da Amazônia

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Galeria Melissa, um sopro de ar fresco na Rua Oscar Freire, projeto de Muti Randolph, é um espaço de vanguarda que explora o uso do plástico, em sintonia com os produtos expostos. Mu tá vel, a loja/ga leria pode ser reorganizada com facilidade a cada lançamento de coleção

HEAR/WEAR: MUITO ALÉM DA AUDIÇÃO

DECLINAÇÕES DO PLÁSTICO

Winnie Bastian

RADIOGRAFIA DE UM PROJETO

Rita Monte

DESIGN PRIMORDIAL

Maria Helena Estrada

DESIGN BRASIL 2000+5

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Redigido a par tir de tex to de Henrietta Thompson, publicado na revista Blueprint, Inglaterra, este ar tigo nos faz desper tar para uma nova possibilidade: não apenas ouvir melhor, como anular os sons indesejáveis. No Victoria & Albert Museum, Londres, a exposição HearWear propõe aparelhos auditivos com tecnologia emergente, que são também objetos de desejo

NEWS

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REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

SALÃO DESIGN MOVELSUL NEWS

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nº 44, setembro/outubro 2005

PUBLI TOK STOK

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Confira os destaques da feira Tendence Lifestyle 2005, em Frankfurt, na qual jovens designers europeus dividiram espaço com grandes empresas de ar tigos para o habitat

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60

6ª BIENAL DE ARQUITETURA DE S. PAULO Apresentação / Programação SÃO PAULO URGENTE (Raquel Lucat) Quatro perspectivas, muitos problemas, poucas soluções... raras realizações. Jorge Wilheim, Hector Vigliecca, Nabil Bonduki e Jacob Pinheiro Goldberg enfocam os problemas de uma cidade que pede socorro

PUBLI FORMA

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QUATRO ANOS DE IDÉIAS

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ENDEREÇOS

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Idéias e ideais do arquiteto Borsoi, que escolhe realizar – quando consegue – a arquitetura para a sobrevivência, propondo soluções para núcleos e moradias populares. Um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira, realiza também grandes obras públicas. Borsoi receberá durante a Bienal de Arquitetura o Colar de Ouro do IAB

*

ENGLISH VERSION

João de Souza Leite

UMA AVENTURA PARADOXAL NO DESIGN BRASILEIRO

Winnie Bastian, com a colaboração de Rita Monte

CONSTRUTOR DE IDEAIS

ACÁCIO GIL BORSOI

ESPECIAL 6ª BIA

Winnie Bastian

VALORIZAR AS DIFERENÇAS

44

74

O projeto e o contex to em Aloisio Maga lhães, pintor, desig ner e agente polí tico mo der nizador no trato da cultura. Pouco estudado pela nova geração, foi o criador do Centro Nacional de Referência Cultural (de cur ta existência) e é figura fundamental no design gráfico brasileiro

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Forma 6-7

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Paulo de Oliveira Villela, diretor financeiro de uma construtora cliente da CAIXA desde 1996.

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e fe li


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07/10/2005

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O Paulo sabe como uma boa estrutura é importante para a construção civil. Por isso ele escolheu a CAIXA.

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MEMÓRIA BRASILEIRA Elementos ligados à cultura brasileira: esse é o tema da coleção “Brasil Paca”, premiada na 7ª Bienal de Design Gráfico, de 2004. A linha é composta por objetos bem-humorados, inspirados em ditados populares, usos e costumes brasileiros. Renovada, traz na edição deste ano, dentre outros produtos, a garrafa “Água que passarinho bebe” – um trocadilho com o dito popular sobre a cachaça – e as camisetas idiomáticas “Pé na jaca”, “Tirar água do joelho” e outras, criadas por Marcelo Zocchio e Everton Ballardin, com ilustrações fotográficas quase literais. Há ainda a moringa Iara, nova versão da tradicional

PORTUGAL À VISTA

moringa de barro, que não por

A arquitetura e o design da região norte de Portugal serão te-

acaso recebeu esse nome – no fol-

mas de dois eventos consecutivos em São Paulo.

clore brasileiro, Iara é a rainha da

O primeiro deles, o multimídia “Prata@Pt”, acontece de 28 de

água doce. Mais informações no site

setembro a 7 de outubro e mostra a renovação da produção

www.imaginarium.com.br

de objetos em prata no Norte do país, onde se concentram diversas gerações de ourives. Integram o evento a mostra fotográfica “A Arte e a Indústria”, o “Espaço Prata com Vida”, que contará com a presença de um artesão em prataria, e a exposição “O Percurso da Prata no Norte de Portugal – Séculos XX

MER CADO FLORESTA

e XXI”. (No alto, caixa criada pela designer Ana Fernandes)

“Estamos salvando a floresta comprando madeira”. À primeira vista,

O segundo acontecimento é a exposição “Des-Continuidade”,

esta frase pode soar contraditória. Uma segunda leitura, mais atenta,

que tem enfoque na arquitetura contemporânea portuguesa.

desfaz o estranhamento: slogan do grupo nacional de Compradores

Croquis originais, desenhos, maquetes, fotografias e mostra

de Produtos Florestais Certificados, a lógica da frase insere-se perfei-

de vídeos sobre a obra de três gerações de arquitetos portu-

tamente no ideal do desenvolvimento sustentável e vem a propósito

gueses serão apresentados na exposição, que receberá, ain-

da primeira feira de produtos florestais no Brasil – a Mercado Floresta.

da, a visita de alguns desses profissionais para debater a

Iniciativa da Organização Não-Governamental Amigos da Terra, a feira

arquitetura contemporânea com colegas brasileiros, como

tem como objetivo estimular a produção e o consumo conscientes,

Paulo Mendes da Rocha, João Filgueiras Lima, Miguel Pereira,

especialmente de madeira. Estão envolvidos, entre outros, os setores

Décio Tozzi, Paulo Bruna e Sylvio Sawaya. A exposição, que

farmacêutico, alimentício, moveleiro, têxtil, da construção civil, do

acontece entre 8 e 13 de novembro, vem ao Brasil com

turismo e do artesanato. Aberto ao público em geral, o evento dispo-

apoio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, em conjunto com

rá de monitores responsáveis por esclarecer eventuais dúvidas, bem

a Associação Empresarial de Portugal.

como de intérpretes para atender o visitante estrangeiro e de inter-

Ambos os eventos acontecem no Centro Fecomercio de Even-

mediários comerciais para negociar com clientes. Todos os exposito-

tos: Rua Dr. Plínio Barreto, 285, São Paulo. Mais informações

res de produtos em madeira possuem cer tificação pelo Forests

nos sites www.pratapt.com e www.descontinuidade.com

Stewardship Council (FSC). O Mercado acontecerá entre 5 e 8 de novembro, na Oca, Parque do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares Cabral, s/n., São Paulo. Mais informações: www.mercadofloresta.org.br


101168_21x28 03/10/2005 11:26 Page 1 Pe_01 server:CARILLO-101168:Arquivos:Lito:

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REVISTA

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QUE MOSTRA BACANA! Curadoria de Renato Imbroisi e cenografia de Janete Costa. Só isso já seria su ficiente como ga rantia, mas a mostra “Que Chita Bacana” é muito mais. É uma fatia de Brasil, da raiz às flores. Danilo Santos de Miranda (diretor do SESC Belenzinho), Renato, Janete, Liana Bloise (assistente), Fernando Augusto Gonçalves (mamulengos), Cecília Modesto (adereços da serpente), Anita Garyballdi (bonecos) e muitos outros ar tesãos e ar tistas tornaram possível esse espetáculo de pura beleza – e muita cultura. São 4.500 metros quadrados com uma Serpente de 46 metros, o Cavalo Marinho, o Boi-Bumbá, o Galpão da Praça (onde foi montada a exposição), e o Cine Chitá. Representações, peças – históricas e atuais –, criações em torno da chita, desde as Grandes Navegações, passando pela roupa do Chacrinha, até o ar tesanato contemporâneo. Não perca! Venha, onde quer que você esteja. E não se esqueça de Sesc Belenzinho: Rua Álvaro Ramos, 915, São Paulo. Tel.: (11) 6602-3700 www.sescsp.com.br

Fotos Gal Oppido

trazer as crianças. Até 18 de dezembro.


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O que faz o CBCA ? Incentiva e promove a construção em aço no país

Como atua o CBCA ? Oferece à cadeia produtiva um centro de estudos e tecnologia; Difunde competências técnicas e empresarial específicas; Promove intercâmbio com entidades congêneres do Brasil e do exterior; Destaca as qualidades do aço como material econômico e estético na construção.

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REVESTIMENTO ARTESANAL Material bastante procurado pelas suas características de brilho, tex tura e versatilidade para compor mosaicos coloridos, a pastilha em vidro ganhou mais uma opção. Lançamento da Gyotoku, o Gyoglass é um produto artesanal inteiramente em vidro, ideal para revestimentos internos e externos. A pastilha – nãocortante – recebe uma pintura especial que proporciona maior sensação de profundidade. Disponível em 27 opções de cores lisas no formato padrão (3 x 3 centímetros e espessura de 5 milímetros), e seis mesclas no formato 32,5 x 32,5 centímetros. A Gyotoku criou também uma argamassa específica para assentar e rejuntar as pastilhas. Mais informações pelo SAC (11) 4746-5010 ou pelo site www.gyotoku.com.br

BANCO DE PRAÇA CONCORRIDO O banco criado por Alberto Meda venceu o concurso de júri popular “Have a Sit with Uli, a Bench for Milan”, que computou mais de 50 mil votos, registrados pelo website da Urban Land Institute (ULI), da Itália, e pelo ser viço SMS, promovido pela TIM. O banco, fabricado pela empresa italiana Alias em alumínio e madeira Iroko, conseguiu estender a leveza dos materiais domésticos para o espaço público. Com a novidade, a criação de Meda entrou para o catálogo de móveis urbanos do Conselho da Cidade de Milão. Os protótipos foram apresen-

ARQUITETURA ITINERANTE Reunir projetos e obras de arquitetura e urbanismo de cidades

tados na Trienal de Milão durante o Salão do Móvel, em abril de 2005. www.uli.org

mineiras, brasilienses, gaúchas e paulistas. Essa é a proposta de “Diálogos”, mostra itinerante que teve início em Belo Horizonte, em abril, com o trabalho de oito escritórios, e passou, em setembro, por Brasília, onde agregou mais seis. A idéia

ORNAMENTO E MODERNISMO

central é gerar o envolvimento dos arquitetos de cada cidade

Entender a transformação do significa-

por onde a exposição passar. Palestras e debates temáticos,

do estético do ornamento é o objetivo do

com a presença dos arquitetos representados, pretendem tra-

li vro “Orna mento e Mo dernis mo – A

zer à tona aspectos relevantes das linhas de trabalho que

Construção de Imagens na Arquitetura”,

compõem a variedade do material exposto. Entre as obras

lançamento da Editora Rocco. Nele, o ar-

apresentadas estão o Centro Cultural do IAB-MG, em Belo Hori-

quiteto Marcos Moraes de Sá propõe

zonte, e o Complexo Porto Cidade, em Santos, SP, expostas por

uma reflexão sobre o papel do ornamen-

meio de maquetes, plantas, desenhos e painéis fotográficos.

to nos principais períodos da história da

A mostra seguirá para Porto Alegre em dezembro e chegará a

arquitetura. O livro conta com glossário técnico, far ta iconografia e

São Paulo no primeiro semestre de 2006. Mais informações

perfis de 16 arquitetos-chave da história da arquitetura, além de in-

com Fernando Maculan (f.maculan@terra.com.br), um dos

dicar bibliografia para consulta.

arquitetos organizadores da mostra.

Editora Rocco: (21) 2507-2000; www.rocco.com.br



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PUBLI EDITORIAL

SALÃO DESIGN MOVELSUL NEWS

MOVELSUL BRASIL 2006 - 10ª edição Bento Gonçalves, RS - www.movelsul.com.br

Acima, o cen tro de ex po si çõ es onde acon te ce a Mo vel sul e o Sa lão De sign. Com mais de 50 mil m 2 de área cons tru í da, é con si de ra do o se gun do mai or par que ex po si ti vo do Bra sil

São muitas as razões para a grande expectativa em torno do Prêmio Salão Design Movelsul, que se realizará de 13 a 17 de março de 2006, em Bento Gonçalves, RS: seu caráter internacional, o aumento do valor da premiação, a publicidade em torno do mesmo, a qualidade crescente dos projetos apresentados. Um diferencial em relação às edições anteriores é a unificação dos prêmios principais. Se nos outros anos havia um vencedor nacional e outro para os demais países, em 2006 o grande prêmio reúne toda a participação do Brasil, da América Latina e do Caribe. Em 2004, foram julgados 1.142 trabalhos, sendo que 754 eram do Brasil e 388, do exterior. Agora, todos em iguais condições irão concorrer ao Grande Prêmio Salão Design e ao Prêmio Salão Design. Uma grande atração: o valor dos prêmios – o maior já conferido no Brasil! São 60 mil reais distribuídos entre as diversas categorias. O incentivo e patrocínio das empresas Masisa, do Paraná, e Cinex, do Rio Grande do Sul, tornaram possível não apenas a valorização do prêmio, como da própria mostra. César Cini,

diretor-presidente da Cinex, declara que sua empresa já nas ceu com vocação para o design e, por meio de eventos como o Salão Design Movelsul, procura incentivar e valorizar os profissionais da área. “Visamos, com isso, introduzir mudanças e adaptações para atender e desenvolver o mercado nacional, tendo o design como fator central da humanização inovadora das tecnologias e um fator crucial de intercâmbio cultural e econômico para o Brasil.” A Masisa, parceira desde 2002, “sempre acreditou e investiu no design como elemento capaz de agregar valor à indústria moveleira. Seu apoio ao Salão de Design Movelsul vem ao encontro desta idéia”, afirma Andrés Armstrong, diretor de marketing da empresa no Brasil. São muitas as novidades criadas para que este concurso se mantenha como o mais importante do setor. O Salão Design tem como objetivo incentivar a criatividade e a inovação tecnológica por meio do design, contribuindo para o desenvolvimento do setor moveleiro. O concurso é aberto para indústrias de móveis, profissionais e estudan-

tes. Apenas os prêmios IBA MA e Indústria são exclusivos dos participantes nacionais. Este último conta com um investimento especial e prazo diferenciado, pois a Movelsul Brasil deseja aumentar o número de empresas participantes. O prazo final para a inscrição dos produtos é o dia 27 de janeiro de 2006 e o julgamento será realizado durante a segunda reunião do júri. Segundo o diretor do Salão Design, Gustavo Bertolini, e o vice-diretor, Cássio Brandelli, “o ponto alto da edição de 2006 será também a Mostra Vanguarda, na qual 20 designers de renome nacional serão convidados a participar. Queremos abrir a discussão sobre a identidade brasileira no design de mobiliário”. Entre os 20 participantes, 5 serão escolhidos por meio da apresentação de projetos. A exigência fundamental dos organizadores do Salão Design é que os projetos estabeleçam uma relação entre artesanato e indústria, o moderno e o tradicional, e mostrar novos conceitos no design, suas origens e sua identidade cultural. Ou seja, materiais regionais, visão global. 17 ARC DESIGN


DESIGN BRASIL 2000+5

A geração atual de profissionais ganha a moda e a mídia. E encontra seu espaço comercial. Em que direção apontam? Diversificação formal, produção e acabamentos de qualidade, inclusão de novos materiais, consciência ecológica, são características que já podem ser observadas. A surpresa desta primavera, entre feiras e lojas, é a quantidade e a diversidade de bons produtos


Maria Helena Estrada

Beleza, inteligência, surpresa, humor, poesia, utilidade, necessidade são os parâmetros do design internacional, sem esquecer a pesquisa de novos materiais e a tecnologia que reduz custos de produção. Dentre esses parâmetros, destaca-se a necessidade. É importante não esquecê-la. A tradicional dupla forma & função é hoje um tripé, que deve incluir a necessidade real de mais um objeto nesse universo contemporâneo já tão saturado de produtos idênticos. Produto necessário, por definição, é inovador. Na pá gi na ao lado, e aci ma, gran des pra tos de Sil via Me coz zi. Co e ren te com seus tra ba lhos an te ri o res – uti li tá ri os em ma dei ra pin ta da –, es tas pe ças ino vam na cor, um ver me lho vi bran te. À ven da na Mar ce na ria Tran co so. Abai xo, vaso de Sven ja Kal teich, per fu ra do à mão, ca paz de abri gar ou tros re ci pi en tes – para flo res, por exem plo –, de qual quer for ma to; a ce râ mi ca bran ca, sem pre fos ca, é o ma te ri al es co lhi do por essa de sig ner, no qual exer ci ta um gra fis mo de li ca do, com tex tu ras pe cu li a res. À venda na Be ne dixt

Por que insistir nessa idéia de inovação, ou renovação? Porque é com ela que se satisfazem novas necessidades, novas exigências de vida e a melhoria dessa vida; é nela que se encontram respostas urgentes para a saúde do planeta: evitando o acúmulo de descartes pela repetição de tipologias já existentes e satisfatórias, projetando com economia de materiais, escolhendo esses materiais com o pensamento na redução dos poluentes. É, tudo isso é res pon sa bi li da de do de sig ner. Será que eles já per ce be ram – em es ca la mun di al – a im por tân cia do pró prio tra ba lho de cri a ção? O repertório material de determinada época permanece no tempo e define suas características culturais. O que será que nosso tempo irá traduzir? Com certeza um acúmulo exorbitante de utensílios absolutamente

Fotos acervo ARC DESIGN

iguais: na forma, na função, nos acabamentos, na utilização. Vamos tentar não apenas multiplicar, mas diversificar, agregando novas qualidades? Nesta resenha da safra 2005 damos 19 ARC DESIGN


Pe s s o

a

Ac er vo AR C DE SI GN

L u ís a

Nas duas páginas, produtos apresentados no Circuito Craft Design. Acima, à esquerda, Kimi Nii com o pra to Er vi lha, que se une à fa mí lia dos be los uti li tá ri os da ce ra mis ta. Na sequência, ban de ja em ce râ mi ca, da em pre sa RKR Ce râ mi ca, se ins pi ra no gra fis mo in dí ge na

lor agregado em termos físicos e estéticos. Mostramos

nascimento do laminado curvado – tradição brasileira

novos materiais – naturais e artificiais –, exemplos de

dos anos 1950 –, matéria-prima essencial de povos

produção industrial, alguma tecnologia.

conscientes como os escandinavos. Quando se descar-

Circuito Craft, Abup, Gift e lojas que se dedicam total ou

ta o uso da madeira maciça, nossos pulmões, como já

parcialmente ao design brasileiro ilustram esta reporta-

escrevemos, agradecem.

gem, que será completada nas próximas edições de

Enfatizamos o design alternativo, ou design possível,

ARC DESIGN com as jóias, principalmente aquelas não

que tem sempre sua raiz na cultura nacional – como

tão “preciosas” – mas muito brasileiras.

forma de valorização dessa própria cultura e como

Na inauguração do Circuito Craft o clima era de euforia.

exercício de criatividade. Procuramos também, por ra-

Os artesãos, com trabalhos de ótima qualidade de exe-

zões óbvias, o design do reciclo, mas com um forte va-

cução e acabamento, aproximam-se cada vez mais do

Acervo ARC DESIGN

alguns exemplos “politicamente corretos”, como o re-

Car

Me los

nde

s

Aci ma, bol sa da Flor do Cer ra do, de Bra sí lia, a par tir de uma idéia de Re na to Im broi si que subs ti tui as tra di ci o nais flor zi nhas se cas tin gi das, pela de li ca de za das fo lhas de si dra ta das. À esquerda, cou ro e tra mas in dí ge nas, presen tes na ban de ja “Wai-Wai” da desig ner Fer nan da Vil las Boas, na qual so bressai a fi de li da de ao dese nho in dí ge na que, no en tan to, se dis tan cia de sua pró pria lin gua gem, na “ele gân cia” do aca ba men to pes pon ta do


Fotos acervo ARC DESIGN

Adria na Adam e sua em presa, Resin Flo or, re ves tem pi sos com resi na de po li u re ta no, li sos ou com dese nhos. Aci ma e à esquerda, o ca rá ter lú di co e prá ti co do ma te rial, na cria ção de jo gos ame ri ca nos, su por tes e ta pe tes sol tos. Abai xo, lu mi ná ria de Luiz Pe draz zi, que inova na for ma cons tru ti va, com “le gos” trans pa ren tes de di ver sas co res. À ven da na Be ne dixt e na Tok & Stok

21 ARC DESIGN


Andrés Otero

Ac erv o AR C DE SIG N

Edu Mende s

Nas duas pá gi nas, pro du tos ex postos na Abup. Nesta página, acima, sa la dei ra e pegador em aço inox com detalhes em jun co, pro du zida pela empresa gaúcha Riva. Ao lado, ta ças de cristal, design Jac que li ne Ter pins, à ven da em seu es tú dio. Abaixo, va sos em cristal es pe lha do, pro du ção Zona Zero, à ven da na Zona D

22 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

de média escala, e empresas voltadas ao design, como

na roça e surgem produtos que, sem a necessidade do

a Riva, de Caxias do Sul, RS (com produtos em prata e

“adjetivo” design, abrem caminho para um novo reper-

em aço), e a Zona Zero, paulistana, além da designer

tório brasileiro. Do fio de linha, da flor e da semente, ao

Jacqueline Terpins, que utiliza o vidro como forma

barro e à madeira (fazer o quê?), das resinas e acrílicos

sempre renovada de expressão.

de variado colorido à recuperação dos tramados e de-

A maior das feiras, a Gift (embora relatem ser grande

senhos indígenas, a escolha era rica.

seu sucesso comercial), peca pela ausência de foco, se-

É nesse espaço, durante a semana da Gift, que designers

leção e segmentação. Nela, destacamos a Coza, empre-

e artesãos com nome já reconhecido pelo mercado se

sa de Caxias do Sul, pioneira na produção industrial de

encontram com lojistas antenados de todo o Brasil.

bons produtos em materiais plásticos... assinados por

A Abup é a mais chique das três feiras bianuais dedi-

designers brasileiros.

cadas aos objetos. Lá en-

Passear na “Gabriel” não é mais sinônimo de assistir a

contramos os produtos de

um desfile do design italiano –

fabricação semi-industrial e

algumas empresas, com seus

Acima, lançamento da empresa gaúcha Coza, conjunto inteligente, design Cris ti na Zat ti, em polipropileno. Ao lado, vaso de Eli za beth e Edu ar do Pra do, em vi dro, com “fun do fal so”

Ed ua rd o Pr ad o

vocabulário contemporâneo. Desaparece o ar de festa

23 ARC DESIGN


C é li a S a it o

Célia Saito

No alto da página, pro du tos da loja Teto: à esquerda, mesa bai xa em la mi na do cur va do, design da equi pe Teto. Na sequência, mesa alta em com pen sa do naval, design Ma ri e ta Fer ber. Acima, apa ra dor Bra sí lia, em com pen sa do e MDF re ves ti do com lâ mi na de ma dei ra e laca, design Pe dro Men des, co le ção Brentwo od

Acima, ca dei ra Ca ri aí em la mi na do cur va do, de sign Ser gio Fah rer na co le ção Brentwo od. À direita, uni da de de tra ba lho, de sign Dari Beck, pro du ção Fle xiv, à ven da na Tok & Stok


A ce rv o A R C D ES IG

N

Carlos Guerriero

No alto, à esquerda e no de ta lhe, ta pe tes de piso e pa re de, design Car la Ten nen baum, em so bras de EVA, um pro je to que desen vol ve des de 2001, in cor po ran do novos gra fis mos e for ma tos. À esquerda, fru tei ra em la mi na do cur va do, des montá vel, design Reno Bonzon e Lí gia Miguez, à ven da na Zona D. Abai xo, lan ça mentos da Fir ma Casa: à esquerda, poltrona Gari, bem bra si lei ra, em ro li nhos de pa pel de re vista, da desig ner Flavia Al ves de Sou za, que mora em Mi lão; na sequência, ca dei ra Van da, em poliestireno, design Su perli mão Studio

C D ES IG Ac er vo AR

N


ARC DESIGN

Nelson Kon

Nelson Kon

26

produtos importados, ainda estão presentes, mas a balan-

Fora do “eixo design”, três empresas dão espaço e pres-

ça pende cada vez mais para o produto brasileiro. O que

tígio ao design brasileiro: a Tok & Stok, uma pioneira,

não era possível até agora, por absoluta falta de oferta.

a Benedixt, e agora a Teto.

Dpot (ver ARC DESIGN 41) e Firma Casa, iniciando

É ou não para nos alegrarmos e – por uma vez – não

com os irmãos Campana, foram as primeiras a apos-

criticar, mas elogiar toda essa geração de designers?

tar na assinatura brasileira em seus produtos. Nessa

Mas um “pequeno detalhe” para reflexão: observamos

vertente temos ainda a La Lampe, a Lumini e a Ilumi-

que a fidelidade dos designers, ao longo dos anos, a

nar, a Arredamento e agora a Brentwood. Todas na

seu material de eleição é também uma tônica dessa “sa-

Al. Gabriel Monteiro da Silva, São Paulo.

fra 2005”. Uma realidade positiva ou negativa? ❉

Cícero Mafra

Cícero Mafra


Calazans

Aci ma, à es quer da, lu mi ná ria de pa re de, design Ri car do He der, um pro du to Reka, tam bém à ven da na Teto. Na sequência, lu mi ná ria Cric ket, de sign An dré Wag ner, à ven da na La Lam pe. Abai xo, va sos Mir ra e pra to Lua, de sign Cacá Al va rez em acrí li co, têm tex tu ri za ção in ter na, en cap su la da, o que dá o efei to gelo da base. À ven da na Be ne dixt Na página ao lado, no alto, re fle tor Geo, design Fer nan do Pra do, um pro du to da Lu mi ni. Embaixo, lu mi ná rias Zech, design Freu sa Zech meister (a fi gu ri nis ta do gru po de dan ça Cor po), um lan ça mento da Ilu mi nar

Carlos Guerriero

27 ARC DESIGN


Nes ta pá gi na: à es quer da, ban co em for ma de bar co, dos wai-wais, do Pará; abai xo, em ma dei ra cla ra e leve, dos tu ka nos, do Ama zo nas; no pé da pá gi na,ban co em for ma de ar raia, dos ya wa la pi tis, do Par que In dí ge na do Xin gu (PIX), em Mato Gros so. Na pá gi na ao lado, de cima para bai xo: a ex po si ção “Ku mu rõ - Ban cos In dí ge nas da Ama zô nia", em Pa ris; ban co em for ma de ta man duá, todo pre to e em for ma de tatu, am bos dos me hi ná kus, po pu la ção ha bi tan te do PIX

DESIGN PRIMORDIAL Bancos em madeira de diversas aldeias da Amazônia Brasileira mostram à França – e aos brasileiros – uma tradição de formas e grafismos que sobrevive à devastação das terras indígenas

Rita Monte / Fotos Domingues O Brasil, em um intrigante recorte. Três mil e novecen-

com curadoria de Adélia Borges.

tos metros quadrados de terras, percorridos por flores-

A maior parte da coleção exposta – 90 bancos em ma-

tas, savana e cerrado. Dezessete etnias de índios, dis-

deira – provém de populações que habitam o Parque In-

tribuídos em focos nos Estados de Mato Grosso, To-

dígena do Xingu, na região nordeste do Estado de Mato

cantins, Pará e Amazonas. A ampla biodiversidade des-

Grosso, porção sul da Amazônia brasileira. É aí tam-

ta extensão abriga uma variedade cultural tão vasta

bém que se encontram os tukanos, grupo que se des-

quanto o território que a compreende. Quais as pos-

taca na produção dos bancos, e para quem esses mó-

si bilidades de união entre esses povos, de caracterís-

veis possuem função ritual. Na língua tukano, “kumu”

ticas culturais singulares?

significa o xamã, um sábio das forças da natureza, res-

A resposta apresenta-se em outro continente e nos

ponsável por acompanhar os ritos de passagem e os

chega com sotaque francês. Asurini, bakairi, kayabi,

grandes rituais, além de atuar na cura de doenças. O

kalapalo, kamayurá, karajá, kuicuro, matipu, mehi-

kumurõ, título da exposição que leva o artesanato em

náku, suyá, tapirapé, tukano, wai-wai, waurá, waya-

mobiliário indígena ao Ano do Brasil na França, é o

na-apalaí, yawalapiti e yudjá: diferentes sociedades indígenas apresentam uma possível confluência em “Kumurõ – Ban-

28 ARC DESIGN

lugar do xamã. A fabricação artesanal dos bancos implica um demorado processo de escultura diretamente na madeira maciça,

cos Indígenas da Amazônia”, expo-

sem encaixes nem emendas. A tradição

sição inaugural do Espaço Brasil,

oral, aliada à cultura do artesanato, garan-

no Carreau du Temple em Paris,

te a transmissão dos padrões nos grafis-


mos e na própria estrutura do objeto, muitas

de construção adotada por algumas etnias),

vezes zoomorfo. Antas, jacarés, jabutis, tatus

ao lado da rede e de objetos como a panela

aparecem ao lado de bancos de formato mais

de barro, o abanador de fogo e as cestas de

elementar, cujas linhas retas e simples lembram as li-

fibras vegetais usadas para transportar e guardar ali-

ções do design moderno. A coleção revela desenhos

mentos. Mas é no aspecto econômico que o artesanato

imemoriais, carregados de um simbolismo que man-

representa maior força: o mercado especializado de ar-

tém seu significado nas aldeias contemporâneas, em

tesanato indígena vem crescendo e os grupos autócto-

que a natureza é eixo fundamental em torno do qual se

nes acompanham essa evolução, articulando-se para ti-

faz a vida.

rar melhor proveito das relações comerciais. Um bom

A beleza nos artefatos indígenas é onipresente. Em seu

exemplo é a parceria entre artesãos da etnia tukano, a

universo utilitário não se verifica o peso da separação

Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro

entre uso e arte como costuma aparecer nas sociedades

(FOIRN), a mais importante instituição de representa-

ocidentais. “Costuma aparecer” porque esta é uma rea-

ção dos povos indígenas

lidade que está mudando: além da lição da utilização de

da região, e o Instituto

recursos naturais de maneira consciente – como a ma-

Socioam bi ental (ISA),

deira –, outro ensinamento que se tem encarnado na

uma organização de fins

cultura “dos brancos” é a valorização da utilidade pela

não-eco nô mi cos, que, des de

beleza, concepção-chave do design contemporâneo.

2002, é referência para o forne-

Em sua função doméstica, os bancos são praticamente

cimento de bancos de madeira

os únicos móveis na oca (ou na maloca, forma peculiar

ao mercado. ❉


RADIOGRAFIA DE UM PROJETO

DECLINAÇÕES DO PLÁSTICO “Um ambiente ‘seco’ permeado por ‘vidas de plástico’”. Assim o designer Muti Randolph descreve a Galeria Melissa, inaugurada em agosto, em São Paulo. A grife gaúcha investiu um milhão de dólares na criação do espaço, com 450 metros quadrados Winnie Bastian

Idealizada para reunir arquitetura, arte, design e moda em um único lugar, a Galeria Melissa foi inaugurada em agosto, em endereçochave da cena fashion nacional: a Rua Oscar Freire, em São Paulo. O projeto ficou a cargo do designer, cenógrafo e artista multimídia carioca Muti Randolph, conhecido pelo projeto inovador do clube paulistano D-Edge, no qual criou um sistema que integra luz e áudio, resultando em uma ambientação interativa: os LEDs e néons instalados no piso e nas paredes respondem ao ritmo da música. Melissa é sinônimo de vanguarda e de plástico. A grife gaúcha, criada em 1979, foi a pioneira na introdução de calçados de plástico no país. Hoje, 160 milhões de pares de Melissa são produzidos por ano, muitos deles desenhados por nomes consagrados da moda e do design nacional e internacional. Assim, nada mais natural do que essas duas palavras – “vanguarda” e “plástico” – nortearem o projeto criado por Randolph. A originalidade da proposta começa na implantação: contrastando com o denso entorno da Oscar Freire, Muti Randolph cria uma espécie de praça frontal ao edifício. Ao mesmo tempo que pro-

abrigar eventos ao ar livre. “A idéia era criar um novo elemento na Oscar Freire, um ponto de referência”, esclarece o designer. O interior da Galeria Melissa é seco, sem ornamentos: “os 30 ARC DESIGN

Rômulo Fialdini

porciona um “respiro” no corredor edificado, a praça surge para


No alto da pá gi na ao lado, sa pa ti lha to tal mente fle xí vel, design Fer nan do e Hum ber to Cam pa na para a nova co le ção. Abai xo, fa cha da da loja e a “pra ça na cal ça da”, pro je to vi sual men te inova dor, lú di co e co lo ri do do desig ner e ce nó gra fo Muti Ran dolph


Rômulo Fialdini

Acima, uma lufada de ar fresco no interior da Galeria Me lissa, com a intro du ção, em seus di versos de ta lhes, de ma te riais e for mas inu si ta das. À di rei ta, as go tas, vi tri nes aé re as no in te ri or da loja, em fi bra de vi dro e acrí li co, com es tru tu ra me tá li ca e LEDs. No pé da página ao lado, à esquerda, dis plays de pa re de e as ca mi se tas da co le ção; na sequência, jar dim mi ni ma lis ta com es tru tu ras em fi bra de vi dro fi xa das ao chão (os cactus aceitam a fi xa ção de flores de plástico). Nas duas páginas, san dá lia e sapato criados por Karim Ras hid para a Melissa

32 ARC DESIGN


Marina Malheiros

produtos devem se sobressair ao projeto”, afirma Randolph. O espaço, contudo, é humanizado por 12 grandes expositores biomorfos suspensos, batizados, pelo designer, de “vidas de plástico”. As referências ao plástico permeiam a loja: seu brilho e textura estão presentes em todo o espaço, remetendo aos aspectos tátil e visual da matéria plástica, mesmo que o material utilizado seja outro. É o caso dos expositores biomorfos – executados em fibra de vidro com estrutura metálica, acrílico e com iluminação por LEDs – e dos “mentex” – elementos em fibra de vidro localizados abaixo dos expositores para exibir livros ou outras informações relacionadas à coleção exibida. Outra característica do projeto é a adaptabilidade. Com exceção dos expositores, dos “mentex” e do balcão, todos os demais elementos do espaço são móveis, para possibilitar alterações na composição do ambiente. Alem disso, o projeto prevê a mudança periódica da “paisagem”: os grafismos aplicados nas paredes internas e da praça frontal (hoje também criados por Randolph) serão trocados a cada estação. Nos fundos da galeria, um “jardim de plástico”, com cactos e flores intercambiáveis em fibra de vidro, receberá obras de arte sazonalmente. A complexa tarefa confiada a Muti Randolph foi cumprida com sucesso: o designer conseguiu dar personalidade à Galeria Melissa, um espaço marcante, mas que não compete com as “obras” expostas, além de expressar a atitude “fun” proposta pela marca. ❉

Marina Malheiros

Rômulo Fialdini


PUBLI EDITORIAL

TOK & STOK TOK & STOK Av. Tucunaré, 500 Barueri, SP Tel: (11) 4196-8462 www.tokstok.com.br

MODA E DESIGN: A UNIÃO PERFEITA É minucioso e atento às tendências o trabalho de planejamento de cada nova coleção na Tok & Stok. Satisfazer a um vasto mercado, a várias faixas de poder aquisitivo, em todo o Brasil, exige mais do que pesquisa. É preciso “faro”, é preciso estar antenado ao que se passa no mundo

A Tok & Stok assume a vanguarda de uma forte tendência contemporânea ao convidar o estilista Alexandre Herchcovitch para criar produtos utilitários de uso cotidiano. Famoso por seu “logo” – uma caveira – e por seus desenhos inusitados que decoram camisetas, como a pombagira e a estrela de David, Herchcovitch agora transpõe esse grafismo para copos, canecas, pratos, tigelas. “Sempre quisemos associar a moda ao design, é um caminho que há muito procuramos traçar, estamos sempre olhando para a moda”, comenta Ademir Bueno, responsável pelo desenvolvimento de produtos da Tok & Stok. “Essa parceria com Herchcovitch nasceu de um movimento em duplo sentido, pois ele também desejava penetrar no mundo dos objetos.”


Aci ma, ob je tos da li nha flo ral: des ta que para a pin tu ra ex ter na, pou co usual em pra tos e pi res. No alto da pá gi na ao lado, ca ne cas com sím bo los tí pi cos do es ti lis ta – como a fa mo sa cavei ra –, dis po ní veis nas co res bran ca e pre ta. A cavei ra tam bém es tam pa o jogo de co pos – abai xo, nes ta pá gi na. No pé da pá gi na ao lado, à es quer da, uma das pe ças mais de li ca das da co le ção: en quan to a pin tu ra do pi res é fei ta no lado ex ter no, a da xí ca ra mos tra a asa da bor bo le ta in va din do a par te in ter na da peça

A nova coleção, assinada, reflete os ícones já criados pelo

“Luxúria como um contraponto

fashion designer para suas roupas. É divertida, colorida

sarcástico.” A afirmação é do

(o preto também dá seu toque de cor) e fascinante. Além

designer alemão Hansjerg Maier-

das imagens emblemáticas há uma coleção floral e, com

Aichen, fundador da empresa

ela, Herchcovitch vai além, ultrapassa os limites conven-

Authentics, que acrescenta: “o

cionais, estampando também o verso dos pratos e tigelas.

decorativismo é uma tendência

Além da reprodução dos desenhos já conhecidos, aque-

fortíssima, tanto que a Authentics, até

les usados nas camisetas, e da coleção floral, há uma

hoje fiel ao plástico e às linhas essenciais, este ano lan-

variante com flores e borboletas e uma com arabescos.

çou sua primeira coleção de porcelana decorada, com

A coleção completa-se com um sofá de linhas mínimas.

motivos criados por Tord Boontje”.

Neste – como é a tônica no design contemporâneo – o

Apelo emocional? Necessidade de se “reconhecer” no

importante não é a forma, mas o tecido que o reveste,

objeto? A verdade é que a decoração, uma tradição

também criado por Alexandre Herchcovitch.

muito francesa, é hoje um dos meios mais utilizados

Depois do neominimalismo, o caminho natural – por

pelos designers como forma de despertar a atenção

antagonismo – é neobarroco.

para a “pele” ou superfície dos objetos.


HEAR/WEAR MUITO ALÉM DA AUDIÇÃO

A

revista

inglesa

Blueprint propôs a diversos designers o desa fio

de

reinventar

aparelhos para audição, e a resposta foi mais do que brilhante e inspiradora. O projeto HearWear transformou esse produto vital em um produto de estilo, ou de tecnologia avançada, permitindo novas prestações – e merecedor de uma exposição no Victoria & Albert Museum, em Londres, de 26 de julho de 2005 a 6 de março de 2006. Os designers entenderam que não é necessário apenas amplificar os sons, mas também – importante – cancelá-los em determinadas situações, para evitar que acabemos todos surdos. O texto, que transcrevemos da publicação inglesa Blueprint, é de Henrietta Thompson, editora da revista


O briefing dado aos designers era o de desenhar um conceito para aparelhos de audição do futuro, um produto que as pessoas desejassem usar. A forma do aparelho poderia se distanciar dos atuais, tanto quanto o designer o quisesse. Poderiam também incorporar novas tecnologias, permitindo interagir com o computador, com a arquitetura ou com o celular. A pergunta inicial parecia desnecessária. Por que os aparelhos para audição – tanto quanto os óculos – não podem ser desejáveis e prazerosos, em vez de equipamentos médicos usados para reparar uma deficiência? Vimos que essa pergunta poderia ser a chave de questões muito mais profundas quando a Blueprint, no início de 2004, uniu forças com a RNDI (a maior associação de caridade, representando 9 milhões de deficientes auditivos, na Inglaterra), e juntos convidamos alguns dos mais importantes e prolíficos designers de produto ingleses. A resposta foi incrível! Dezoito designers aderiram à proposta, dedicando tempo e energia nos meses seguintes. Ao mesmo tempo, a escola londrina Central St. Martins College of Art and Design escolheu o tema para mestrado de seus estudantes e, pouco depois, Wolff Olins – renomada empresa de consultoria que já se interessava pela

À pri mei ra vis ta di rí a mos que é um co lar. Mas Sva ra (à esquerda e na página ao lado), design do es tú dio The Bre wery, dese nha do para mu lhe res, é mu i to mais. Am pli fi ca dor em ouro, pra ta ou pla ti na, que pode ser contro la do por meio de movi mentos su tis, como ajeitar o ca be lo atrás das ore lhas ou des li zar o “pen dant” na cor rente. As par tes usa das no ou vido des li zam para a nuca quan do fora de uso. No alto, Uni ver sal Hear-ring, design Pe ar son Lloyd. Um equi pa men to bá si co, com quais quer es pe ci fi ca çõ es dese ja das, pode ser cus to mi za do com “anéis” ex te ri o res. Com pra dos se pa ra da men te, os “anéis” po dem ser tro ca dos de acor do com nosso hu mor, oca si ão, etc. Abai xo, um “chavei ro” in te li gen te, De ci bel, do es tú dio Pri es tman Go o de, foi ins pi ra do em es tu dos ci en tí fi cos que com prova ram os da nos cau sa dos ao ou vi do na presen ça de sons mu i to al tos, e as re co men da çõ es para que os apa re lhos pu dessem não ape nas am pli fi cá-los quan do ne cessá rio, mas ser vir de pro te ção para cer tas situa çõ es, como em trans por tes pú bli cos, re du zin do o ní vel do ru í do am bi en tal. Com um simples giro no controle, regulam-se as operações. No ou vido, se coloca apenas o pequeno dispositi vo que vem encaixado no “chaveiro”. Decibel é conectável a celulares, laptops ou MP3

questão – tornou-se o terceiro parceiro na empreitada. Talvez o mais surpreendente tenha sido o interesse provocado pela pergunta, e que as respostas tenham mostrado a importância da questão. 37 ARC DESIGN


Como fi cou de ta lha do no su ple men to à re vis ta – Blueprint Broadsides, com o título de Supersonic Future (in Blueprint 232, julho de 2005) –, apenas na Inglaterra há 9 milhões de pessoas com problemas de audição, o que significa uma em cada sete pessoas, e apenas 2 milhões usam aparelhos auditivos, sendo que só um milhão e 400 mil o fazem de forma regular. O assunto torna-se premente com o aumento dos níveis de poluição auditiva nas cidades e da longevidade das pessoas, entre outros fatores. A situação é patética. Ainda mais quando se pensa que, na Europa, a indústria do setor faz girar 2,9 bilhões de dólares por ano e nos faz pensar em quanto se deixa de investir em incentivos financeiros. Parte da razão dessa baixa utilização de aparelhos auditivos – e há muitas outras relatadas no Broadsides – é o fato de este ser pouco aceito socialmente. Uma deficiência auditiva ainda não é comparável a uma deficiência de visão – ninguém vai usar um aparelho para surdez, a menos que realmente precise dele. Os óculos, no entanto, são aceitáveis e, mesmo, objetos de desejo para pessoas sem problemas de visão. Mas estigmas não são problemas fáceis de serem resolvidos com design. Percebendo essa realidade, vimos que o importante não seria propor um exercício de “restyling”, mas de redirecionamento da questão por


À direita, Hear The re, do estú dio Design Works, per mite ou vir o que se deseja, sem ne cessida de de fios ou equi pa mentos, pelo uso de nossa pró pria pele, que é um con du tor na tu ral ca paz de trans mitir o som a um par de “fo nes de ou vido”. Um trans missor preso à pele, em qual quer lo cal, pode tam bém re ce ber in puts de uma va ri e da de de fontes, como apa re lhos de som ou ce lu la res. No alto da página ao lado, à esquerda, Corona, design estúdio Tangerine. Uti li zan do re cursos tec no ló gi cos so fisti ca dos, per mi te es co lher seu cam po de au di ção – res trin gir área a ser al can ça da em um lo cal ba ru lhen to – ou dar um “zoom” para uma área mais ampla, quando se quer ou vir algum som distante. Na se quên cia, Mute, design es tú dio Hu man Be ans, além de am pli fi ca dor de sons, é ideal para neu ró ti cos au diti vos: per mite se le ci o nar que som se deseja ou vir. Basta ori entar o contro le na di re ção de um som in dese já vel, como um la ti do de ca chor ro, ou o ru í do de má qui nas, para que os si len cie. Mais ca mu fla do im possí vel. Sur round /sound Eye we ar (no pé da página), design do es tú dio In dus trial Fa ci lity, que foi pen sa do para ser in vi sí vel e dis cre to, uti li za ócu los tra di ci o nais. Um con tro le nas has tes bi fur ca das per mite, além do mais, ou vir um som su per di re ci o nal, pro pri e da de de ape nas al guns ani mais, como o coi o te

parte dos designers, ou seja, o que aparelhos de audição

pertinentes ao contexto cultural do usuário.

poderiam fazer e como eles poderiam se integrar com

Reconhecendo que nenhum projeto poderia responder a

novas tecnologias, sem esquecer os aspectos for-

todos os desafios apresentados, foram convidados diver-

mais. O desafio era mostrar do que a mudança na

sos designers, com abordagens diferentes – desde aque-

abordagem do design seria capaz: transformar um

les já reconhecidos pelo consumidor até outros mais dire-

dispositivo para a resolução de problemas em um

cionados para os aspectos artísticos, de médicos provoca-

objeto de desejo.

dores aos designers de produtos mais intransigentes.

O projeto, que inicialmente se chamava EarWear, teve

Esperávamos, assim mesmo, encontrar algumas repeti-

sua denominação mudada para HearWear, pela suges-

ções nos conceitos, mas, por incrível que pareça, isso

tão de um designer que julgava o primeiro título limita-

não aconteceu. Não apenas cada designer escolheu um

tivo, por fazer referência apenas às regiões próximas

conjunto de problemas, como cada um o afrontou de

ao ouvido.

maneira a produzir resultados completamente diversos.

O briefing do HearWear era o de desenhar um concei-

Um tema comum – mas de maneira alguma universal –

to para os aparelhos auditivos do futuro, um produto

foi a analogia com os óculos. O estúdio Industrial Facility,

que as pessoas realmente gostariam de usar. O desenho

por exemplo, pegou a idéia ao pé da letra, colocando mi-

poderia ser tão distante dos atuais quanto o designer o

crofones na moldura de um par de óculos da Muji, para

desejasse. Por exemplo, o aparelho poderia incorporar

dar ao usuário uma amplificação focada, qualquer que

qualquer tecnologia emergente, permitindo que o mes-

seja o objeto ou a direção em que esteja olhando.

mo interagisse com um computador, com a arquitetura

“Surround Sound Eyewear (equipamento ocular para

ou um celular. Dessa forma, os designers identificariam

som ambiental) é uma resposta à preocupação com o

e dirigiriam sua atenção para o potencial desse equipa-

som invisível”, afirma Sam Hecht, da Industrial Facility.

mento. Ouvindo problemas e sugestões por parte de

“Apropriando-se da linguagem formal dos óculos, a

usuários de aparelhos, eles poderiam criar propostas

necessidade de usar um aparelho auditivo transforma-

para produtos que fossem, além de úteis, também

se em escolha estética, que faz referência a uma retórica

atraentes, e não apenas do ponto de vista social como

familiar e estabelecida.” 39 ARC DESIGN


40 ARC DESIGN

Acima, Enhance, design Kinneir Dufort. Abolindo o pro cesso de diag nósti co e ajuste ne cessá ri os aos normais aparelhos de audição, este equipamen to pode ser ven di do em qual quer bal cão, em lojas de beira de calçada. Disponíveis em vários níveis de amplificação, são práticos e baratos – os equi valentes aos “óculos de farmácia”

Aci ma e ao lado, The Beauty of In ner Spa ce, design Ross Love grove, foi cria do para cancelar a poluição au di ti va di á ria e para am pli fi car os sons que dese ja mos ou vir. O equi pa mento per mite contro le to tal so bre o am bi ente so no ro in di vidual. Ele gante e leve, uti li za um com pó sito de car bo no, ouro e si li co ne, e ex plo ra tam bém as possi bi li da des do uso da tec no lo gia como or na men to do cor po

Do ponto de vista tecnológico, o produto segue a noção

colocá-lo por trás da orelha.

experimental de “superdirectivity beamforming”, do

Outro conceito baseado na joalheria é o de Ross Love-

professor Marinus Boone, da Universidade de Delft,

grove, em titânio, que pode servir a altos executivos,

Holanda, visto como a base para um aparelho de audi-

homens ou mulheres.

ção altamente direcionado. A colocação de um conjunto

Tangerine, Seymourpowell, Human Beans and Priest-

de quatro microfones, de cada lado da face, aumenta

man Goode, por exemplo, elegeram a tecnologia como

muito mais a capacidade de audição e a de compreensão,

ponto de partida. Eles se perguntaram por que uma

do que um normal aparelho de audição. “O resultado é

pessoa usaria um desses aparelhos, mesmo sem ter

uma espécie de audição tridimensional, super-humana,

baixo nível de audição e, nesse caso, como deveria ser

similar à existente em certos animais, como o coiote”,

o aparelho. Surgiram produtos que podem abrir no-

explica Hetch.

vos mercados, permitindo às pessoas controlar e inte-

O estúdio Brewery, ao contrário, inspirou-se no modo

ragir com o mundo virtual: conexões sem fio entre

pelo qual as pessoas utilizam seus óculos para outras

aparelhos de som e telefones, além da possibilidade

funções que não aquelas de ver através. “Observamos

de controlar o volume do som circundante, até filtros

como muitas vezes as pessoas usam os óculos como se

pessoais para selecionar o que se quer ouvir, além de

fossem uma extensão deles mesmos”, explica Peter

funções de replay.

Philips, sócio do The Brewery. “Elas podem olhar por

Outros designers concentraram-se mais nas embala-

sobre os óculos para estabelecer uma ligação mais

gens e no modo como os aparelhos são oferecidos ao

profunda com o interlocutor, ou podem tirá-los, mas

público. Alloy está requerendo a patente por sua ex-

continuar segurando-os, com um gestual específico. O

traordinária inovação quanto ao modo de ajustar a

conceito do Brewery, projetado especialmente para o

peça ao ouvido.

mercado feminino, no entanto, é semelhante ao de uma

O Sharewear, de Daniel Shamy, preocupa-se não ape-

jóia, que pode ser controlada com um gesto casual,

nas com quem deve ouvir, mas também com a fala do

descuidado, como o de passar a mão no cabelo para

interlocutor, ou seja, daqueles que querem ser ouvidos


Montagem executada a partir de fotos de Cédric Aellen e Stefanie L.

Nas fotos acima e à direita, Ta ble Talk, design es tú dio IDEO, é uma li nha de mo bi li á rio para ba res que per mi te con ver sa çõ es au dí veis e agra dá veis mes mo quan do o som am bi en te é mu i to alto. Um sistema de micro fones é ligado a uma faixa conduti va, colocada nas la te rais da mesa, a qual se ser ve da mes ma tec no lo gia T-Loop já uti li za da há anos em equi pa mentos para de fi ci entes au di ti vos, em ban cos e te a tros. O con su mi dor com pra fo nes de ou vi do ba ra tos em um bar e os co nec ta ao sis te ma

com clareza por pessoas que usam aparelhos de audição. Com o avanço da tecnologia digital, é possível diminuir o som circundante para que se possa distinguir apenas a voz do interlocutor. IDEO desenhou um sistema que vai além do simples aparelho auditivo. Seu Table Talk permite que um grupo de pessoas, em um bar muito barulhento, por exemplo, se conecte ao sistema, que pode ser colocado sobre a própria mesa, anulando o ruído circundante e permitindo a audição apenas dos sons mais próximos. Assim, mesmo aqueles que não têm problemas de audição, mas a quem o excesso de ruído perturba, podem passar horas conversando tranquilamente. HearWear é um projeto destinado a investigar como um sério aporte de design e inovação pode “despertar” a indústria de equipamentos auditivos – e como pode tornar-se um novo mercado capaz de envolver um maior número de fabricantes de produtos eletrônicos. Os projetos apresentados, embora talvez nem cheguem ao mercado, podem, em sua maioria, serem produzidos com tecnologia já disponível, ou prestes a ser disponibilizada. No momento, o propósito desse projeto é o de mostrar o que é possível e, esperamos, seja um catalisador para mudanças. ❉

Abai xo, Sounds pa ce, do es tú dio The Al loy. Co lo ca do den tro do ou vi do, pos sui um me ca nis mo es pe ci al que dis pen sa a mol da gem para adap tá-lo, tor nan do os apa re lhos mais aces sí veis. A es té ti ca as se me lha-se a um pi er cing, e a pro pos ta re pen sa os pro du tos para au di ção “in tra-au ri cu lar”. In cor po ra am pli a ção de som di gi tal e pos si bi li da des de co ne xão


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Messe Frankfurt GmbH / Helmut Stettin

Acervo ARC DESIGN

VALORIZAR AS DIFERENÇAS

Winnie Bastian

Diversidade. Eis a palavra

Várias mostras e eventos paralelos, dentro e – pela pri-

capaz de sintetizar o espí-

meira vez – fora do centro expositivo, movimentaram essa edição da Tendence Lifestyle. A começar pela ex-

rito da Tendence Lifestyle 2005,

posição “Talents”, que desta vez trouxe o trabalho de 40

realizada na cidade de Frankfurt, de 26 a 30

jovens designers – o dobro do ano anterior. Outros des-

de agosto. Ao reunir grandes fabricantes e

taques foram as instalações Tasteful (na qual Kuniko Maeda combinava design e comida) e Rest and Play (ide-

abrir espaço para os jovens designers, a feira

alizada por Hill Jephson Robb, era composta por várias

alemã ultrapassa o status de evento comercial

“conchas” que poderiam ser utilizadas para sentar, deitar, ou mesmo para brincar).

e se firma como um acontecimento significativo na cena do design internacional

No espaço urbano, o conjunto de instalações Fresch levou o design ao cotidiano dos habitantes de Frankfurt,


Michael Hilgers

À esquerda, chai se-lon gue con ver sa dei ra Dia loun ge, design Mi chael Hilgers: duas peças idênticas em po li e ti le no ro to mol da do são unidas por en cai xe, e cada uma das par tes confere firmeza e estabilidade à outra

Na pá gi na ao lado, no alto, vista par cial do centro ex po siti vo da Messe Frank furt. No centro, insta la ção Rest & Play, cria da por Hill Jeph son Robb: os “bowls” fo ram pro je ta dos para per mitir tanto o des can so quanto a brin ca dei ra (o fun do ar re don da do trans for ma cada ele mento em um “tram po lim”, como cha ma o desig ner)

que puderam ter contato com as 30 propostas dos cerca de 50 designers, espalhadas pelo parque Anlagen-

ge s Eu Foto

nia

ring. Além disso, os organizadores da feira patrocinaram a exposição do grupo de jovens designers britânicos Designersblock, hospedada no centro da cidade, em lugar privilegiado (próximo à estação central de trem e metrô), e com entrada aberta ao público. E os produtos vistos na feira? “Art Nouveau industrial.” A expressão, cunhada pelo designer alemão Hansjerg Maier-Aichen, refere-se a produtos que combinam a mentalidade “arts and

Nesta página, as bol sas em fel tro in dus trial cria das pela jovem desig ner Pa tri cia Yas mi ne Graf ga nham for ma ape nas pelo en tre la ça men to das par tes: o te ci do não re ce be cola ou cos tu ra. Na mos tra Ta lents

crafts” a técnicas de produção em massa. Assim, o 45 ARC DESIGN

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Acervo ARC DESIGN

Aci ma, dois exem plos de ob je tos “co muns” rein ven ta dos com bai xa tec no lo gia. À es quer da, Net to, sa co la plás ti ca para lap tops apresen ta da na mos tra “Ta lents”. A desig ner To nia Wel ter cri ou esse pro du to ba se a da na ob ser va ção de pro pri e tá ri os de lap top que trans por tam seu equi pa men to em sa co las plás ti cas sim ples para criar um as pec to “trash” e des pis tar la drõ es. Ao ser in fla da, a sa co la pro te ge o lap top con tra im pac tos. Ou tra boa idéia é o chavei ro Stretchs (na se quên cia), design Jo sef Zi es ler: três ele men tos sim ples (um fio cir cu lar de bor ra cha, um tubo de plás ti co e uma bo li nha me tá li ca) en cai xam-se e criam uma ver são não-con ven ci o nal e lú di ca des te an ti go ob je to: para en cai xar a bo li nha e es ta bi li zar o con jun to, o usu á rio deve es ti car o fio de bor ra cha, re du zin do seu di â me tro

aspecto “feito para mim” aparece em peças produzidas industrialmente. Um exemplo é o recente lançamento, pela Autenthics, de uma linha de louças e toalhas com estampas decorativas assinadas por Tord Boontje. Fundada por MaierAichen na década de 1980, a Authentics construiu sua imagem a partir de produtos despojados, com uso mínimo de material e desenho básico. Esta é a primeira vez que a empresa alemã lança um produto com características diversas daquelas da coleção inicial, o que chama atenção para a força da vertente decorativista, baseada

Acima, o desenho sanfonado e o material (borracha) permitem “encolher” a peneira antes de guardá-la. Lançamento da empresa dinamarquesa Normann, o produto é “irmão” do funil lançado em 2004, ambos criados pelo designer Boje Estermann. Ao lado e no pé da pá gi na, des can so para pra tos quentes Per le, lan ça men to da em presa ale mã Kons tan tin Sla wins ki: um “co lar” de es fe ras de por ce la na, pode ser ar ran ja do de for mas di ver sas para apoiar di fe ren tes ta ma nhos de pra to

46 ARC DESIGN


Acima, à esquerda, saladeira e pegadores de Alexander Or tlieb, feitos a par tir de um bloco de madeira esculpido no tor no: unidos, os pegadores ser vem como colher. Na sequência, estante de Milos Sous: a “alma” do produto são as conexões, desenvol vidas com base em um grampo para instalação de forros de telhado. As prateleiras são instaladas nas barras de aço com grampos que funcionam por pressão: quanto maior o peso na prateleira, mais resistente fica a conexão. Abaixo, lançamento da Bodum: em vidro soprado, os copos são térmicos graças à parede dupla. No pé da página, vasos da série A Rush of Plush, da designer Hanna Tonek Bonnett, que se baseou nas estampas e tex turas dos papéis de parede – uma opção claramente decorati vista. O ex terior das peças traz estampas em relevo e o interior recebe a aplicação de “flocking”: a idéia é provocar o usuário pelo contraste tátil e visual entre a dureza da cerâmica e a maciez do flocado

principalmente no “design de superfícies”. Assim, móveis e objetos com design extremamente simples chamam a atenção graças aos desenhos e às texturas que incorporam. O decorativismo agora é uma realidade consolidada: o ornamento não é mais um crime, ao contrário do que pregava Adolph Loos. O foco, agora, além da função, está na valorização dos gostos pessoais do consumidor. “O bom design enfatiza a diferença”, afirma o jovem designer Kilian Schindler, um dos expositores da mostra “Talents”. Nesse contexto em que os aspectos subjetivos são

47 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

mais valorizados, a alta tecnologia perde, ainda que temporariamente, seu papel definidor no processo criativo. O que vimos na feira de Frankfurt foi o predomínio das boas idéias, executadas com técnicas não sofisticadas – às vezes até singelas. Um alento para os designers brasileiros, que podem ver, em diversos produtos expostos na feira – e que ARC DESIGN destaca nesta edição –, peças que poderiam ter sido executadas em qualquer país do mundo. ❉ ARC DESIGN visitou a Tendence Lifestyle a convite da Messe Frankfurt. A pró xi ma edição da feira acon te ce rá de 25 a 29 de agos to de 2006

48 ARC DESIGN

Aci ma, à es quer da, lan ça men to da em presa Hey-Sign: ta pe te Stri pe, com pos to por di ver sos fi le tes de fel tro cos tu ra dos. Pro du zi do in dus trial men te, mas con ser van do a apa rên cia ar tesa nal, é um pro du to tí pi co do “art nou ve au in dustrial”. Na se quên cia, vela cria da por Christof van Böm mel, ex pos ta na mos tra Ta lents: a es pessu ra re du zi da da pa ra fi na tor na possí vel a vi sua li za ção do pavio que com põe a “estru tu ra” da vela e per mi te que o fogo se alas tre por di ver sos ca mi nhos, a par tir de um úni co pon to ini cial. Ao lado e abaixo, Lümmel, criação do estúdio alemão Defacto Design: o desenho sutil e inteligente gerou uma pol tro na re cli ná vel sem me ca nis mo – o ângu lo do en costo (de até 30 graus) é de fi ni do pela pos tu ra do usu á rio. Com po ní vel e de di men sõ es re du zi das, pode ser uti li za da em di ver sas po si çõ es


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masisa 69

29/09/2005

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6ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA

CADERNO ESPECIAL VIVER NA CIDADE: ARQUITETURA - REALIDADE - UTOPIA Apresentação / Programação

Foto Nelson Kon

SÃO PAULO URGENTE Repleta de diagnósticos, a cidade pede soluções ACÁCIO GIL BORSOI Homenageado na 6ª Bienal de Arquitetura


Viver na Cidade: Arquitetura – Realidade – Utopia

6ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA DE SÃO PAULO Com curadoria dos arquitetos Gilberto Belleza e Pedro Cury, a 6ª Bienal Internacional de Arquitetura enfocará a vida nas cidades. Para os curadores, a arquitetura tem como papel a proposta de soluções para organizar os espaços urbanos, harmonizando o caos e as contradições das cidades. “Para isso, é preciso conciliar a realidade, decorrente do crescimento desordenado, e a utopia, que é o pensar idealizado e uma alavanca para o progresso da humanidade”, justifica Pedro Cury. Na última edição, em 2003, 60% do público era formado por não-arquitetos e, segundo Gilberto Belleza, neste ano o evento dará continuidade ao diálogo com essas pessoas. “Esta bienal privilegiará um caráter mais didático do que de vanguarda. As obras foram escolhidas pelo seu valor arquitetônico e por serem mais próximas da nossa realidade”, comenta Belleza. Para facilitar a compreensão e a visualização dos projetos, esta edição da mostra deverá reunir um número recorde de maquetes: mais de 250. O res pon sá vel pelo pro je to da ins ta la ção, a quem foi con fi a da a ta re fa de or ga ni zar os per cur sos de modo a fa ci li tar a com pre en são do uni ver so ex pos to, é no va men te o ar qui te to Pe dro Men des da Ro cha. “A edição deste ano da bienal é uma oportunidade para aprofundar a reflexão sobre a participação e a colaboração dos arquitetos no processo de qualificação da vida urbana das cidades brasileiras e da inclusão social da população”, afirma Paulo Sophia, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo (IAB/SP). Os organizadores esperam que a 6ª BIA receba mais de 200 mil visitantes, número obtido na edição de 2003.

Realizada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e pela Fundação Bienal de São Paulo, a 6ª Bienal Internacional de Arquitetura acontece de 22/10 a 11/12, no Parque do Ibirapuera (Avenida Pedro Álvares Cabral s/n° – portão 3), em São Paulo. Horários: de 3ª a 5ª, das 12 às 22 horas; de 6ª a domingo, das 10 às 22 horas


PROGRAMAÇÃO Representações nacionais Treze países convidados irão mostrar suas produções arquitetônicas atuais mais representativas, dentro do tema “Viver na Cidade”: Argentina, Alemanha, África do Sul, Áustria, China, Cingapura, EUA, França, Holanda, Israel, México, Portugal e Suécia.

Arquitetos convidados brasileiros Acácio Gil Borsoi (PE), Benno Perelmutter e Marciel Peinado (SP), Carlos Bratke (SP), Décio Tozzi (SP), Eduardo de Almeida (SP), Héctor Vigliecca (SP), Joan Villá (SP), João Carlos Cauduro (SP), Joel Campolina (MG), Luiz Eduardo Índio da Costa (RJ), Luis Forte Netto (PR), Mário Aluísio (AL), Nelson & Campelo (CE), Paulo Zimbres (DF), Rosa Kliass (SP), Siegbert Zanettini (SP) e Vital Pessoa de Melo (PE).

Arquitetos convidados estrangeiros Alberto Campos Baeza (Espanha), Eduardo Souto de Moura (Portugal), Gonçalo Byrne (Portugal), Hans Hollein (Áustria), Henri Ciriani (França), José Cruz Ovalle (Chile), Rafael Viñoly (EUA), Ricardo Legorreta (México), Richard Meier (EUA), Thomas Herzog (Alemanha) e Vittorio Gregotti (Itália).

Mostras especiais Área internacional

- Alvar Aalto (1898-1976): arquiteto finlandês conhecido pelo uso extensivo da madeira e de formas orgânicas. - Le Corbusier (1887-1965): o arquiteto franco-suíço é um dos principais expoentes da arquitetura moderna. - Clemens Holzmeister (1886-1983): arquiteto austríaco, foi reitor da Academia de Belas Artes de Viena e teve carreira internacional, chegando a realizar projetos para o Brasil. - Swiscity-futurevisions: investigação visual criada em fusão digital sobre o futuro da Suíça. Produzida em parceria entre os escritórios Jessen+Vollenweider, de Basel, e Ottoni Arquitetos Associados, de São Paulo.

- Barroco: mostra de arquitetura barroca. - Bienal Iberoamericana de Arquitetura: um resumo da mostra realizada no final do ano passado, no Peru. - Mostra Especial de Arquitetura da Iluminação: realizada pela Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação (AsBAI). - “New Territories”: exposição organizada pela UNESP-Bauru. - Habitação Popular: “O Direito à Arquitetura”. - Identidade Cultural de Heliópolis: mostra da revitalização do bairro de Heliópolis, em São Paulo, a partir da remodelação das fachadas de suas casas. Projeto do arquiteto Ruy Ohtake. - “Fazendo a Cidade”: mostra realizada pela Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA). - Desenhos de arquitetura (FAU/USP). - Premiação do IAB-SP. - “Urbanização Dispersa de Novas Formas de Tecido Urbano no Estado de São Paulo”: trabalho de Nestor Goulart Reis Filho. - 40 Anos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IP PUC). - Homenagem ao arquiteto paulista Oswaldo Correa Gonçalves, ex-presidente do IAB e um dos incentivadores da criação das Bienais de Arte e de Arquitetura. - Exposição do IAB-SP - Núcleo de Ribeirão Preto, SP. - Exposição especial do SESC e da arquitetura de seus centros como grande ferramenta de transformação social.

Exposição geral de arquitetos 200 projetos de arquitetos do Brasil e do exterior previamente selecionados por um júri especializado. Todos os trabalhos estão acompanhados de maquetes.

Mostras institucionais Reunirá mostras apresentadas por órgãos públicos e instituições que tenham produzido trabalhos relacionados à arquitetura, ao urbanismo, ao design, ao transporte, às novas tecnologias e aos demais itens relacionados ao viver nas cidades.

Área nacional

- Carlos Milan: arquiteto brasileiro e professor da FAU-USP. - Ícaro de Castro Melo: arquiteto paulista conhecido principalmente por seus projetos em instalações esportivas. Foi também presidente do IAB. - Eduardo Kneese de Melo: arquiteto paulista, um dos fundadores do IAB-SP. - Cristiano Mascaro: fotógrafo brasileiro que tem a arquitetura como um de seus temas de trabalho mais recorrentes. - Odiléa Setti Toscano: artista plástica.

Fórum de debates De 24 a 28 de outubro, profissionais brasileiros e estrangeiros participarão dos debates que pretendem contribuir para uma reflexão do atual momento da arquitetura.

Concurso internacional de escolas de arquitetura Trabalhos de 56 escolas de arquitetura do Brasil e dos seguintes países: Canadá, Finlândia, Itália, México, Nova Zelândia e Portugal. 53 ARC DESIGN


Acervo ARC DESIGN

SÃO PAULO URGENTE REPLETA DE DIAGNÓSTICOS, A CIDADE PEDE SOLUÇÕES 54 ARC DESIGN


Raquel Lucat

Inspirados no tema da 6ª BIA, “Viver na Cidade”, quatro profissionais, profundos conhecedores da maior metrópole brasileira, apontam prioridades para um dos mais dinâmicos municípios do planeta. Os entrevistados possuem perfis bastante diversos: um uruguaio de 65 anos, em São Paulo há 35 (Héctor Vigliecca, arquiteto e urbanista, um dos homenageados nesta bienal), um paulista (Nabil Bonduki, 50 anos, foi vereador, é arquiteto e urbanista), um mineiro que vive na cidade há algumas décadas (Jacob Goldberg, psicólogo, lançou recentemente o livro “Cultura da Agressividade”, no qual analisa as causas da violência urbana), e um italiano que cresceu na capital paulista (Jorge Wilheim, 77 anos, ocupou diversos cargos públicos à frente do planejamento urbano, comemorou na última Bienal 50 anos dedicados à arquitetura).

Duas vis tas da ci da de de São Pau lo: à es quer da, o Vale do Anhan ga baú; abai xo, destaque para o contraste entre o verde do Jardim Europa e a densa massa edificada e que compõe a região da Av. Brig. Faria Lima


Nelson Kon

TUDO POR FA ZER, SEM EX CLU IR Héctor Vigliecca Inquirido por um estudante se São Paulo é feia ou boni-

desvantagens de uma metrópole. São situações impro-

ta, comparada a outras metrópoles do mundo, Héctor

visadas que a sociedade não pode mais se dar o luxo de

Vigliecca respondeu: “como poucas, nos instiga a agir e

manter. Essas pessoas não querem esmolas, precisam

criar, pois deixa evidente que está tudo por fazer, e essa

recuperar sua dignidade. Para isso o Poder Público tem

é sua incomparável beleza”.

que assumir sua responsabilidade, pois só ele tem con-

Para ele, as favelas – um dos lamentáveis cartões-pos-

dições de reverter esse drama”, afirma.

tais da cidade – e, de modo geral, os bolsões de pobre-

Segundo Vigliecca, não basta orçamento, mas é preciso

za, vêm assumindo proporções alarmantes em relação

bom senso e cuidado ético: “é aí que o projeto arquitetôni-

à precariedade da infra-estrutura. “Quase metade da ci-

co contribui, garantindo o respeito ao cidadão que vai

dade está instalada em regiões de risco. Essa população

ocupar um imóvel para qualquer fim; nos pequenos deta-

vive excluída das vantagens, em contato com todas as

lhes, eleva sua auto-estima, estraçalhada pela exclusão”.

No alto das duas pá gi nas, vis tas da fave la Pa rai só po lis, si tu a da na Zona Sul de São Pau lo. Com cer ca de 70 mil ha bi tan tes, Pa rai só po lis é a se gun da mai or fave la de São Pau lo e foi er gui da so bre uma área pre vis ta para ser lo te a men to par ti cu lar, apro va do em 1923, mas que nun ca foi im plan ta do. No úl ti mo dia 14 de Se tem bro, a Câ ma ra Mu ni ci pal apro vou o Pro je to de Lei re fe ren te à re gu la ri za ção de pos se do ter re no de Pa rai só po lis – pas so im por tan te para a pro me ti da reur ba ni za ção da fave la

56 ARC DESIGN


Nelson Kon

PLA NE JA MEN TO E FIS CA LI ZA ÇÃO Nabil Bonduki A dualidade entre a cidade real e a legal é apontada, por

plano diretor, legislação urbanística se, na prática,

Nabil Bonduki, como um dos problemas da complexa São

são ignorados”.

Paulo. Para ele, as normas urbanísticas vigentes são boas

Além da atuação do Poder Público, Bonduki destaca o

e seriam eficazes se fossem aplicadas. “Boa parte da cida-

engajamento da sociedade nas questões urbanas, prin-

de está em desacordo com a legislação e isso reforça a má

cipalmente no papel de “fiscal do fiscal”: “é a maneira

qualidade das metrópoles brasileiras, do ponto de vista

de se prevenir contra a corrupção”.

ambiental, no comprometimento dos espaços públicos e

Na sua opinião, o planejamento urbano de médio e lon-

nas más condições urbanas em geral”, declara.

go prazos é urgente. “Além das questões político-parti-

Nesse aspecto, Bonduki faz coro com Vigliecca: “A cida-

dárias, que podem determinar ações pontuais a cada

de informal é produzida pela falta de alternativas para a

mandato de quatro anos, a cidade deve ser pensada glo-

população de baixa renda, daí a ocupação de áreas de

balmente. A mentalidade de curto prazo torna o plane-

proteção ambiental e de alta declividade, fundos de va-

jamento inócuo”, acredita.

les, serras, espaços públicos, que se transformam em

“A parte planejada da cidade sempre apresenta qualida-

habitações precárias”.

de de vida superior ao restante da cidade, os Jardins

Para ele, a fiscalização é vital: “Não adianta haver

são um bom exemplo disso”, conclui. 57 ARC DESIGN


URGENTE É REALIZAR Jorge Wilheim Entre os problemas urbanísticos de São Paulo, Jorge

feito e muitos estudos que devem ser considerados”.

Wilheim separa o urgente do importante: “urgente é

Para Wilheim, o plano diretor oferece um “cardápio de

atender às demandas que já emergiram e têm solu-

obras”, cuja importância já foi debatida: “Resultado de

ção na administração vigente; o importante exige

muita reflexão, elaboração e discussões sobre São Paulo”.

ações imediatas, porém com resultados em duas ou

“No capítulo das coisas importantes”, continua, “com

mais administrações”.

um horizonte de dez anos, eu colocaria o financiamen-

“Há o mau hábito na política de não se construir sobre

to do metrô, que envolve os três níveis de poder.”

a gestão precedente; isso é ineficaz, não interessa à ci-

Concordando com os demais arquitetos, Wilheim enfati-

dade”, reclama o arquiteto.

za a ação do Poder Público: “a sociedade pode e deve par-

Segundo ele, para os três próximos anos, a atual admi-

ticipar, mas para ser mobilizada tem que haver projetos,

nistração deveria providenciar com urgência: “Um

o que depende indiscutivelmente de vontade política”.

projeto para o bairro da Luz; implantar o Bairro Novo na Barra Funda, cujo projeto está pronto; aprovar as Operações Urbanas, que organizam parcerias e orientam os agentes econômicos em três regiões, afetando

Abaixo, vegetação e massa edificada se fundem no panorama da cidade. No pé da página ao lado, duas das etnias que compõem a população São Paulo: boli vianos e coreanos. No alto, projeto do escritório Vigliecca & Asso cia dos para reurbanização da Rua Os car Frei re, em São Pau lo

Butantã e Vila Sônia, a região do Ceagesp, Jaguaré, Vilas Hamburguesa e Leopoldina, e ainda a Vila Maria até o Campo de Marte (projetos prontos, implantá-los Acervo ARC DESIGN

é fácil e urgente); prosseguir na construção da Avenida Roberto Marinho e Água Espraiada, para desafogar a Bandeirantes, uma área crítica de congestionamentos); terminar a reconstrução do pavimento das avenidas marginais, duas vias estruturais (e o financiamento já foi obtido com o governo federal); realizar o projeto da Rua Oscar Freire, uma parceria importante, com pouco investimento da prefeitura e forte impacto no crescente mercado da moda; a reurbanização de Paraisópolis e de outras favelas, pois já há muito trabalho 58 ARC DESIGN


Vigliecca & Associados

PAZ CULTU RAL Ja cob Pi nhei ro Gold berg Ao analisar a formação das grandes cidades tendo

dade econômica. Estima-se, por exemplo, que a comu-

em vista a transitividade, Jacob Pinheiro Goldberg

nidade boliviana em São Paulo tenha quase a mesma

destaca a “guerra cultural” como um dos problemas

população de La Paz; apesar disso, não se fala em his-

das sociedades metropolitanas. “São Paulo cresce

pano-brasileiro como se fala em hispano-americano”.

‘uma Campinas’ por ano e isso acontece com a vinda

Com os coreanos não é diferente. “São entre 150 e 200

de integrantes de populações com forte identidade

mil pessoas. Tensão social com essas características é

cultural, como os hispânicos, especialmente bolivia-

comum nas metrópoles, mas aqui atinge proporções

nos, os asiáticos, como coreanos, e os nordestinos.

exorbitantes, por isso precisa urgentemente ser alivia-

Ao chegarem aqui em busca de trabalho e qualidade

da, diminuindo-se os contrastes de natureza cultural,

de vida, encontram uma cidade hostil à sua cultura e

religiosa, étnica”, esclarece.

alheia às suas necessidades.”

Diferentemente dos três arquitetos, o psicólogo acredi-

Para ele, esse choque cultural gera uma adaptação difí-

ta que não só políticas públicas poderão melhorar essa

cil e traumática: “O indivíduo defende-se da rejeição

situação: “uma verdadeira revolução urbana passa pela

formando guetos periféricos, verdadeiros reservatórios

revisão individual do conceito cosmopolita, sem isso a

de ódio social, envenenados ainda mais pela desigual-

cidade será um palco de constantes enfrentamentos”.

Stewart Rand

Martin van Rensburg


ACÁCIO GIL BORSOI

CONSTRUTOR DE IDEAIS Com quase 60 anos de carreira e em plena atividade, o arquiteto será homenageado na VI Bienal In ter na ci o nal de Ar qui te tu ra de São Pau lo com uma re tros pec ti va de sua obra e re ce be rá o Co lar de Ouro do IAB, co men da ou tor ga da aos gran des no mes da ar qui te tu ra na ci o nal

Winnie Bastian, com a colaboração de Rita Monte Acácio Gil Borsoi nasceu em 1924, no Rio de Janeiro. Filho de arquiteto-desenhista e decorador, desde jovem trabalhou com seu pai, a conselho de quem ingressou no curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes da Universidade do Brasil em 1945. Formou-se em 1949 na primeira turma de Arquitetura, já separada das Belas Artes. Mas foi no Recife que o arquiteto construiu sua carreira. Borsoi transferiu-se para a capital pernambucana em 1951, por indicação do antigo professor Lucas Mayhofer, que o havia recomendado para lecionar a disciplina de “Pequenas e Grandes Composições de Arquitetura” na recém-criada Universidade Federal de Pernambuco. E lá lecionou por 28 anos. Em 1963, foi convidado pelo arquiteto Gildo Guerra para assumir a diretoria de engenharia da Liga Social Contra o Mocambo. Nesse período, desenvolveu um projeto pioneiro de autoconstrução para a comunidade de Cajueiro Seco, nos arredores do Recife. Em 1968, fundou o escritório Borsoi Arquitetos Associados, onde desenvolve, até hoje, projetos residenciais, comerciais e administrativos. Sua obra, que combina os preceitos da arquitetura moderna às características culturais e climáticas da região, influenciou toda uma geração de arquitetos pernambucanos. Dentre seus projetos mais conhecidos, estão o Museu de Arte Moderna do Recife (1955), o Fórum de Teresina (1972), a Assembléia Legislativa do Piauí (1984) e o Centro Administrativo de Uberlândia (1990), além de sua casa no Rio de Janeiro, projetada em 1986. Destacamse, também, os projetos de restauro realizados para o Teatro 4 de Setembro, em Teresina, e para o Teatro Artur de Azevedo e o Palácio dos Leões, ambos em São Luís do Maranhão. 60 ARC DESIGN


Nes ta pá gi na, con jun to ha bi ta ci o nal Be ne di to Ben tes, em Ma ceió, pro je to exe cu ta do pela Co hab de Ala goas em 1981. “O pla no ur ba nís ti co tor na-se con se quên cia da pro pos ta ha bi ta ci o nal. É im por tan te que se ofe re ça aos mo ra do res uma con di ção de as pi ra ção so cial, re presenta da fi si ca mente por uma casa mo du la da, passí vel de ser cons tru í da em eta pas, in se ri da no lote con for me a ren da, mas em con di çõ es de trans for ma ção, uti li zan do a for ça de tra ba lho da fa mí lia. A plan ta mo du la da per mi te ao mo ra dor uma vi são do cres ci men to da pró pria casa e fa ci li ta o di men si o na men to eco nô mi co de sua am plia ção”, ex pli ca o ar qui te to

61 ARC DESIGN


Aci ma, ca sas cons tru í das em tai pa (bar ro ar ma do), a mais an ti ga téc ni ca cons tru ti va po pu lar do Bra sil, na qual Acá cio Gil Bor soi se ba se ou para a pro pos ta, em 1962, de um sis te ma cons tru ti vo ra ci o na li za do no pro je to de Ca ju ei ro Seco. “A tai pa per mi te o uso de mão-de-obra de toda a fa mí lia: o ho mem arma a casa, a mu lher e as cri an ças te cem e ve dam com bar ro as pa re des”, ava lia o ar qui te to

62 ARC DESIGN

“É impressionante como as coisas se transformam

turma e o apoio de um aluno mais adiantado, o arquite-

quando há liberdade. A rigidez (...) destrói toda a criati-

to Eduardo Corona, montamos um questionário para

vidade, as pessoas se tornam máquinas.” A frase, dita

compreender a vida das camadas mais pobres nas fa-

por Acácio Gil Borsoi durante entrevista concedida à

velas, que começavam a surgir no Rio de Janeiro. Após

ARC DESIGN, pontua a tônica usada pelo arquiteto

o término da pesquisa, chegamos à conclusão de que o

para falar de seus projetos e obras. Com atuação mar-

problema não estava na casa, mas na renda da pessoa”,

cante em diversas áreas da arquitetura (edifícios resi-

explica o arquiteto. Vinte anos depois, já em Pernambu-

denciais, comerciais e obras públicas), Borsoi também

co, Borsoi mostra que o que havia nascido como “preo-

se destaca pelas propostas de habitação popular, que

cupação”, durante a faculdade, se tornava um caminho

desenvolve desde o início de sua carreira – e é neste

claro de atuação profissional. Em 1963, no governo de

tema que deixa transparecer idéias de autogestão dos

Miguel Arraes, o arquiteto Gildo Guerra foi escolhido

indivíduos e das comunidades onde se inserem como

para presidir a Liga Social Contra o Mocambo (LSCM,

proposta de arquitetura.

então órgão do governo pernambucano especializado

“Minha preocupação com a parte social começou na es-

em favelas) e convidou Borsoi para ser diretor de enge-

cola: no segundo ano da Faculdade de Arquitetura, por

nharia. No mesmo ano, 800 famílias invadiram uma

volta de 1943, eu tinha um professor, o arquiteto Paulo

área pertencente ao governo federal e ao exército. Em-

Pires, que propunha, como primeiro trabalho, o projeto

bora o ocorrido não fosse questão sobre a qual o gover-

de uma casa mínima. Assim, com quatro colegas de

no estadual (e portanto a LSCM) tivesse poder, Borsoi e


Aci ma, os pai néis mo du la dos da “tai pa in dus tri a li za da”: des ta que para a sim pli ci da de de mon ta gem da ar ma ção da casa. A mo du la ção tam bém per mi te o pla ne ja men to da casa pela fa mí lia: “por meio de uma fo lha de pa pel qua dri cu la do no mó du lo dos pai néis (65 cm), qual quer ci da dão po de ria es tu dar sua casa (plan tas e ele va çõ es)”, afir ma Bor soi

Guerra conseguiram uma área próxima ao terreno in-

Geralmente, o sem-teto tem uma grande aspiração, não

vadido e se propuseram a desenvolver um projeto para

suporta a pobreza e quer vencer. É um migrante que,

um núcleo de auto-ajuda e geração de renda. Segundo

quando está em uma situação dessas, vai para um lu-

Borsoi, esta era a oportunidade de colocar em prática

gar mais rico buscar uma vida melhor. Tomado pelo de-

uma nova concepção de sistema habitacional, apoiada,

sejo de vencer, chega a trabalhar 12, 16 horas por dia.

essencialmente, nos princípios da autogestão, da orga-

Isso ninguém repara. E é tão importante, porque isso é

nização das comunidades para a gestão individual da

o que constrói uma nação”.

renda familiar e do deslocamento do grupo populacio-

O núcleo de Cajueiro Seco foi autoconstruído como

nal para uma área onde existissem meios de sustenta-

protótipo de habitação básica, com pré-moldados de tai-

ção e desenvolvimento.

pa. Era uma comunidade autogerida que contava com

Seguindo essa concepção de sistema habitacional, Bor-

uma cooperativa de venda de materiais de construção –

soi desenvolve, entre 1962 e 1963, o núcleo do Cajuei-

os blocos de taipa – a preços menores. Além do lotea-

ro Seco. Implantado com base na transferência por au-

mento, o núcleo possuía uma área comum de trabalho,

togestão, Cajueiro Seco foi uma iniciativa pioneira, orien-

um posto com banheiro público e lavanderia. Com o

tada para a geração de renda, que procurava “reunir os

golpe militar de 1964, todo o trabalho foi destruído. Em

esforços comuns com um mínimo de assistencialismo”,

protesto, Borsoi pede demissão do quadro de professo-

já que, conforme o arquiteto, “o que há de mais impor-

res titulares da Universidade Federal de Pernambuco.

tante em uma pessoa é a aspiração, o desejo de fazer.

Após esse episódio, o arquiteto desenvolveu diversos

Borsoi propôs racionalizar a fabricação da estrutura para as casas de taipa: ao subdi vidir a madeira utilizada, era possível duplicar a área vedada utilizando a mesma quantidade de material. Além disso, produção seriada de poucos tipos de painéis permitia a construção facilitada de diversas tipologias, conforme as condições econômicas e o interesse de cada família. À esquerda, desenhos ilustram a construção dos painéis: “as madeiras são ‘desfiadas’ em dimensões cer tas, montadas em mesas gabaritadas, fi xa das entre si por meio de gram pe a do res e afi nal tra ta das e imuni zadas”, explica Borsoi. Para a cober tura (à direita) utili za-se “uma esteira de pa lha, sapé ou ca pim, tam bém tra ta da em pe que na fá bri ca, onde se riam confeccionados os feixes, costurados com fio de náilon, imuni zados e tratados com um repelente d’água, e for necidos em rolos”

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Nas duas pá gi nas, re si dên cia cons tru í da no ano 2000 na Praia de To qui nho, em Ipo ju ca, a 57 km da ca pi tal per nam bu ca na. A casa lo ca li za-se de fren te para a praia, com a pis ci na co lo ca da em po si ção es tra té gi ca para atu ar como pro lon ga men to do mar. “Bor soi pla ne jou a al tu ra da casa e a po si ção da pis ci na para que a li nha do mar coin ci da com a da pis ci na”, ex pli ca a ar qui te ta Te re za Si mis, res pon sá vel pelo acom pa nha men to da obra

conjuntos habitacionais no Nordeste para o BNH – o escritório de Borsoi chegou a fazer 32 mil habitações. “Com o advento da democracia, voltou a existir o clima de ‘arrumar’ o País para o povo que acredita em um futuro melhor”, relata. O norte da autogestão dos conjuntos habitacionais é recorrente na obra de Borsoi. No Mocambinho (AL), por exemplo, as casas projetadas têm origem no “bloco d’água” (cozinha e banheiro) com os demais cômodos construídos ao redor dos inaugurais na proporção da capacidade financeira de cada proprietário. A casa podia ter até garagem e varanda, conforme as possibilidades de cada família. “Se o sujeito ganha pouco, faz um quarto. Mas depois, se ganha mais algum dinheiro, ele pode completar essa casa. Ele vai querer trabalhar para terminar de construir 64 ARC DESIGN


Cla ri da de e trans pa rên cia eram duas me tas de Bor soi no mo men to da con cep ção do pro je to. Trans pa rên cia para que a casa pu desse in te ra gir com a pai sa gem pri vi le gia da da Praia do To qui nho, e cla ri da de para va lo ri zar as obras de arte que os mo ra do res possuí am. Assim, para conseguir ob ter gran des vãos, o ar qui te to op tou pela es tru tu ra de con cre to mol da da “in loco”; os aca ba men tos me tá li cos fo ram exe cu ta dos em aço inox es cova do, para resis tir à cor ro são provo ca da pela ma resia

a casa, e essa é a idéia. Chamo esse sistema de Unidade de Vizinhança de Desenvolvimento e Renda (UVDR). Não é nem bairro nem cidade, é uma nova forma de vida, uma nova estrutura”, esclarece. Em 1992, Cesar Maia, então prefeito do Rio de Janeiro, lança o projeto Favela Bairro, com uma concorrência entre os arquitetos do IAB/RJ. Borsoi participou com o arquiteto Sérgio Gueron, que pertenceu aos quadros do extinto BNH. Sua proposta, para a favela Caminho de Jó, foi selecionada, “mas o desenvolvimento esbarrou na Secretaria de Habitação, contrária a qualquer plano que não fosse a água-morta do assistencialismo. Isso nos estimulou a enviar o trabalho para um Congresso da União Internacional dos Arquitetos, a UIA, em Bucareste, onde recebeu uma premiação importante”. O projeto foi o único premiado da América do Sul. ❉ 65 ARC DESIGN


Aci ma, vis ta do Fó rum de Te resi na, no Piauí, cons tru í do em 1972, uma das obras mais mar can tes na car rei ra de Bor soi. Aten to às con di ci o nan tes na tu rais, o ar qui te to pro põe uma gran de “va ran da” com am plos bri ses ver ti cais, oti mi zan do a ven ti la ção do edi fí cio sem com pro me ter a lu mi no si da de na tu ral. Abai xo, Cen tro Ad mi nis tra ti vo de Uber lân dia, em Mi nas Ge rais. Con clu í do em 1993, foi con ce bi do para va lo ri zar, jun to à po pu la ção, o ca rá ter ins ti tu ci o nal e sim bó li co do con jun to de edi fí ci os, to tal men te cons tru í dos com pré-fa bri ca dos de con cre to

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Hunter Douglas ® Produtos Arquitetônicos

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Ministério Público - Tocantins, Brise Celoscreen No estado de Tocantins foi inaugurado o novo edifício do Ministério Público. ®

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NOVAS COLEÇÕES NA FORMA 2006 A Forma, no momento em que celebra seu

Conforto, customização e autenticidade são as palavras de

cinqüentenário, apresenta a Coleção 2006

ordem no cenário do design mundial. O conceito de “landscape interiors” ganha força em um momento no qual o indi-

com os novos clássicos do design interna-

víduo encontra na sua casa a expressão máxima de indivi-

cional e os últimos “hits” em tendência de

dualidade e proteção. Foi com esse pensamento e essa diretriz

mobiliário. Uma coleção exclusiva e o lan-

que a Forma escolheu os produtos que renovam sua coleção.

çamento de três novas marcas

Pela primeira vez no país, e com exclusividade, chegam à Forma os produtos das empresas Emeco, Hay e Rolf Benz. Fundada em 1944, em Hanover, EUA, a Emeco tem uma história curiosa. A empresa cresceu fornecendo a cadeira 1006 – Navy Chair – para a marinha norte-americana. Em 1978, passou a vender banquetas giratórias para o McDonald’s e, em 1998, quando o empresário Gregg Buchbinder assume a empresa, reedita a Navy Chair. No ano seguinte, contrata o designer Philippe Starck, que dá novo rumo à marca, quase sempre com releituras de suas própri as ca dei ras an te ri or men te pro du zi das em plás ti co.

Nesta página, Prince Chair, uma das vedetes deste ano do Salão do Móvel de Milão: uma chapa metálica, cor tada a laser, é recober ta por uma lâ mi na de bor ra cha. Design Lou i se Camp bell para a Hay. No pé da pá gi na ao lado, à es quer da, buf fet e apa ra dor Lud wig, design Lu dovi co Acer bis: sis te ma ex clu si vo de aber tu ra fron tal, ilu mi na ção in ter na, com la te rais e base em aço inox e aca ba men to em ma dei ra na tu ral ou laca alto bri lho. Pro du zi do pela For ma sob li cen ça da Acer bis. Na se quên cia, pol tro na 6900, na co le ção da em presa ale mã Rolf Benz. Par tin do do con cei to do “co co on”, é re ves ti da em cou ro nas fa ces ex ter nas e em al go dão nas in ter nas. Prê mio Red Dot Design 2005


À ex trema esquerda, Navy Chair, clássico produto norteamericano, criada e produ zida pela Emeco em 1944: sua função era a de suprir a necessidade de um produto leve e durável para a marinha dos EUA. Na sequência, Kong, cadeira de Philippe Starck para a Emeco, em alumínio polido, fosco ou pintado. Releitura do modelo Louis Ghost, do mesmo autor, produ zido em plástico pela Kar tell. Abai xo, Airy Chair, design Pi ergiorgio Caz za ni ga para a Acer bis. Uma cha pa do bra da em alu mí nio per fu ra do a la ser: a be le za do tra ço ele men tar

Na Eme co, o alu mí nio é a prin ci pal ma té ria-pri ma. A empresa dinamarquesa Hay é o nome que desponta com força no design internacional. Em apenas dois anos, seu diretor, Rolf Hay, colocou-a como referência da vanguarda global, editando peças com design inesperado e surpreendente, como a cadeira criada pela designer Louise Campbell. A terceira nova marca importada pela Forma para a Coleção 2006 é a alemã Rolf Benz, líder no mercado de alta estofaria. Precursora ao introduzir o conceito de “landscape interiors”, em 1964, com uma linha de estofados componíveis, os produtos da Rolf Benz destacam-se pela qualidade. Design contemporâneo e sofisticado, o conforto é a marca registrada da empresa, e seus produtos, novos clássicos do mobiliário. Ainda na Coleção 2006 estão as últimas novidades das empresas italianas Arflex e Acerbis, marcas produzidas no Brasil desde a década de 1970, com exclusividade, para a Forma. Uma bela renovação!

Com 8 lojas exclusivas e 111 pontos-devenda no país, a Forma completa 50 anos como expoente do design no Brasil. A Co le ção 2006 es ta rá dis po ní vel a par tir de ou tu bro de 2005


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UMA AVENTURA PARADOXAL Aloisio Magalhães foi pintor, designer e político modernizador no trato da cultura. Foi voz forte no debate sobre design no Brasil e na discussão sobre o papel do Estado na questão cultural. Nascido no Recife em 1927, onde cursou a Faculdade de Direito, dali saiu para conhecer o mundo. Entre 1951 e 1953 morou em Paris e, na volta, fez sua primeira exposição de pinturas no Recife e pelo Brasil afora. Bolsista novamente em 1956, chegou aos Estados Unidos. Foi então que travou contato com a concepção anglo-saxã de design, parametrizada pelo modernismo europeu. Já no Rio de Janeiro, em 1960, em crise com a função do artista no mundo contemporâneo, decidiu-se pelo design, por seu caráter coletivo. Iniciava-se um percurso profissional que se transformou em referência para o design brasileiro – pelo porte e qualidade, pela extensão dos seus projetos e por seu reflexo na sociedade. Literalmente, o design desenvolvido por Aloisio Magalhães ganhou as ruas brasileiras. Mas inquieto que era, estava em Brasília quando ouviu: “Por que o produto brasileiro não tem uma fisionomia própria?” Em meio à situação do país, ainda sob o jugo militar, Aloisio enxergou novas possibilidades. Daquela conversa surgiu o Centro Nacional de Referência Cultural, de onde se lançou para lidar com a cultura brasileira a partir de outros patamares de decisão. Um derrame fatal, porém, interrompeu-lhe o trajeto em junho de 1982, em Veneza. João de Souza Leite No es cri tó rio do Leme, em 1966, em meio à sua re cen te pro du ção: os sím bo los da Fun da ção Bi e nal; da ge ra do ra de ener gia elé tri ca Light; do IV Cen te ná rio do Rio de Ja nei ro e da Do ce nave, com pa nhia de nave ga ção da Vale do Rio Doce. Nes se ano, Aloi sio deu iní cio ao de se nho das cé du las do Cru zei ro Novo. Pou cas ve zes se viu, no Bra sil, um es cri tó rio en vol vi do si mul ta ne a men te com pro je tos de ta ma nha gran de za

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NO DESIGN BRASILEIRO


Acima, imagens ob tidas pelo deslocamento de um filme transparente sobre um car tão impresso, ambos com o mesmo desenho de fios circulares. Seu resultado – o “moiré”, fruto da soma de retículas – fundamentou o conceito central do projeto de Aloisio para as cédulas do cru zeiro novo, em 1966. Abaixo, em sala de aula na Esdi em 1964, Aloi sio se vale da aná li se da sua pro du ção como prá ti ca pe da gó gi ca.

Muitas vezes percebido como um conhecimento moldado, como um bloco coeso de idéias muito claras – fora do qual toda a atividade projetiva é desqualificada enquanto design – este até hoje não incorporou definitivamente a noção de que seus conceitos gerais podem variar de acordo com o tempo e o espaço e, por conseguinte, de acordo com o contexto da sua ação. As idéias vinculadas ao movimento concreto que sustentaram o design construtivo moderno (por aqui estabelecido desde os anos 1950) acalentaram uma linguagem universal, desvinculada dos traços variantes da cultura. E a este design auto-referenciado e absoluto foi dado o estatuto de referência primordial, relegando à sombra outras possibilidades. Aloisio Magalhães foi uma espécie de paradoxo nesse cenário. Um dos mitos do design brasileiro, foi a um só tempo a voz mais presente na divulgação da nova profissão no período de 1960 a 1980 e o defensor de prin-

Em 1972, ao ob ser var a im pressão de no tas do di nhei ro – ima gens iguais justa postas em com po si çõ es onde a unida de se per dia –, Aloi sio ini ci ou uma sé rie de monta gens de car tõ es postais. O “car te ma”, nome con fe rido por Anto nio Houaiss, é a re to ma da lú di ca de uma idéia an cestral na histó ria da arte

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Acima, à esquerda, cé du la de CR$ 500,00, dese nha da em 1972, que prosse guiu na uti li za ção do “moi ré”. No en tan to, seu resul ta do in tro du ziu novo ele men to. Em vez de uti li zar uma fi gu ra cen tral como usual, Aloi sio op tou por re pro du zir uma ima gem que re fle tisse a for ma ção ét ni ca da so ci e da de bra si lei ra. Na sequência, cédula de CR$ 1,00, projeto vencedor de concurso em 1966

cípios que enfatizavam a relação com o contexto, con-

Gilberto Freyre mais de uma vez apontou: “no Nordes-

trariamente ao que se definia como o mainstream do

te, quem se chega ao povo está entre mestres e se tor-

design moderno, ou seja, construtivista.

na aprendiz, por mais bacharel em artes que seja ou

Aloisio defendia um diálogo com o contexto histórico e

por mais doutor em medicina”. Como pintor, não se en-

geográfico, em atendimento à qualidade da topografia

cantou pela concisão estruturada do projeto construti-

social e cultural do exato momento em que se cumpria

vo, corrente na arte brasileira dos anos 1950 e 1960: in-

a atividade de projeto. Sua argumentação se apresenta-

teressava-lhe o colorido e a vibração da paisagem de

va em oposição à tradição do modernismo que defendia

sua terra.

uma linguagem não-histórica e atemporal. Esses propó-

Inconformado com a fruição de suas obras de pintor

sitos, enunciados desde cedo – “o artista deve pertencer

encerradas entre quatro paredes, logo verificou a im-

a seu tempo, deve se associar ao seu lugar, da vivência

possibilidade de ampliação do circuito de circulação da

mais localizada é possível extrair questões universais” –

obra de arte. Foi quando se apresentou a oportunidade

pautaram a sua trajetória.

do design. Em 1957, na Filadélfia (EUA), conheceu Eu-

Ao longo do seu caminho, iniciado como artista plásti-

gene Feldman, artista gráfico e tipógrafo experimental,

co, cenógrafo, figurinista e mestre de bonecos no teatro

e na sua gráfica – The Falcon Press – e no Philadelphia

de mamulengo, Aloisio traçou um percurso que o apro-

Museum School of Art, estabeleceu a ligação entre o ofí-

ximou progressivamente das questões coletivas.

cio de tipógrafo praticado n’O Gráfico Amador, em seu

Como pernambucano, vivenciou intensamente o que

passado recente no Recife, com a necessidade de projeto

Nos anos 1960 e 1970, os instrumentos de projeto exigiam a expressão do desenho. Abaixo, desenhos em que Aloisio esboça a ocupação do campo das cédulas


imposta pelas técnicas de reprodução comprometidas

que deve ser concebido. Para isso são necessárias legi-

com as grandes tiragens.

bilidade e fácil memorização.”

De volta ao Brasil em 1960, abandonou a atividade de

Seu discurso não dá margem a interpretações, é a “ges-

pintor, estabelecendo-se como designer. Desse modo,

talt” que orienta suas decisões. Ainda assim existe algo

assumia o fundamento social do design moderno – o de

a ser observado no resultado formal de suas elabora-

oposição à arte confinada a um consumo restrito –, par-

ções. Nem sempre é a geometria regular ou a abstração

tindo em direção à sua integração ao cotidiano. E, apa-

o recurso a que recorre. Seu trânsito não persegue um

rentemente, alinhou-se com o estilo internacional tão

padrão único de construção. Aí se situa um dos seus

defendido pelo design modernista.

padrões de originalidade. É possível notar, nos cerca de

No entanto, seus sinais e símbolos revelam algo além

70 sinais de grande visibilidade que desenhou entre

da simples obediência às regras ditadas pelo modernis-

1960 e 1975, a presença de uma característica de dese-

mo europeu. Em suas próprias palavras: “Uma marca

nho que não se incorpora de maneira muita exata ao

estabelece pelo uso a noção precisa de um conceito.

repertório do design moderno, em sua grande maioria

Não deixa lugar a dúvidas. (...) A eficiência de um sím-

traçada pela geometria regular. Suas curvas são com-

bolo empresarial baseia-se na clareza e precisão com

postas de segmentos de arcos, seus sinais juntam en-

À esquerda, car tão de Natal de 1961, reproduz trecho de “Os Lusíadas”, de Camões. No pé da página ao lado, o li vro “Landseer”: tanto o li vro como seu estojo foram forrados com uma es pé cie de co le tu ra da in dústria têx til, o te cido conhecido como “car ne-seca”, utili zado para forração das mesas de impressão de tecidos onde recebe todo o excedente de tinta. Cada exemplar ganhava um colorido diferente. O li vro sustenta a experimentação tão culti vada n’O Gráfico Amador e na Falcon Press

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Em 1957, nos Es ta dos Uni dos, Aloi sio co nhe ceu o ti pó gra fo e ar tis ta grá fi co norte-ame ri ca no Eu ge ne Feld man. No de par ta men to de ti po gra fia por este di ri gi do no Phi la del phia Mu seum Scho ol, Aloi sio deu au las e co nhe ceu o ca rá ter ex pe ri men tal de um design sob a in flu ên cia do mo der nis mo eu ro peu do iní cio do sé cu lo, fru to da passa gem de Ale xey Bro dovitch por ali, nos anos 1930. Na The Falcon Press, mistura de estúdio e oficina comercial, Aloisio e Feldman desen vol ve ram uma inten sa ex pe ri menta ção grá fi ca. Um de seus resul ta dos foi o li vro “Do or way to Por tuguese” (no alto das duas páginas), que con quistou três me da lhas de ouro no Art Di rec tors Club da Fi la dél fia. Abai xo, capa do ca len dá rio pro je ta do em 1960 para a Shell, em par ce ria com os fo tó gra fos José e Hum ber to Fran ces chi

trelaçados de letras e buscam, muitas vezes, uma representação figurativa ainda que reduzida a traços básicos. Seu registro é outro. Sua teoria pode ter o mesmo fundamento, a “gestalt”, sua referência pode ser o conjunto de designers modernos do meio do século – Paul Rand, Ivan Chermayeff, Karl Gerstner, entre outros –, mas seu interesse está orientado para a repercussão coletiva do seu projeto. Em entrevista concedida ao jornalista Zuenir Ventura, dizia: “depois do dinheiro, do desenho do dinheiro, de observar aquele extremado fenômeno de comunicação, não poderia mais me satisfazer exclusivamente com o design”. E, então, sua ação avança sobre outros campos. A idéia de um desenvolvimento harmonioso, no sentido social e econômico, que incorpora o valor estético como conformador

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da vida em seu cotidiano, e que agrega o componente da cultura, passa a ser sua divisa. Em 1975, em conversa com o então ministro da Indústria e Comércio, Severo Gomes, e com seu amigo o embaixador Wladimir Murtinho, surgiu a questão: por que o produto brasileiro não possui uma cara própria? Dessas conversas originou-se uma proposta para o Estado, na verdade o enunciado de um programa de investigação sobre o que poderia constituir referência brasileira para o traçado de um desenvolvimento harmônico. Mas o que seria, no entender de Aloisio, este desenvolvimento harmônico? Em Mário de Andrade, em Gilberto Freyre, em Lúcio Costa se encontram alguns indícios: uma atitude estética, que incorpora a arte à vida, nos atributos da forma do utensílio e do artefato. No Manifesto Regionalista de 1926, Gilberto Freyre exalta as características regionais como possibilidade de harmonia entre materiais, forma e usufruto da vida. Nunca pelo viés do pitoresco, mas pela sólida argumentação e por seu valor social. É a esta linhagem do moderno brasileiro que Aloisio pertence: a que não se furta ao confronto com o contexto na equação do seu projeto. O moderno que se embrenha pelos rincões do nosso país em busca da sua originalidade. O seu Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) era um programa de pesquisas e investigações derivado de um princípio: o olhar sobre a realidade para identificar o problema em sua característica própria, nunca a partir de uma abstração. Nesse sentido, Aloisio foi pragmático, um analista do possível, sempre atento ao contexto e disposto ao projeto do futuro. Não optou pelo caminho de uma estética atemporal, desvinculada da história e dos lugares. Preferiu encorpar a senda dessa outra vertente do moderno, justamente esta que imbrica a perspectiva do futuro com a herança do passado. Assim foi o paradoxal Aloisio Magalhães. ❉ “O Outro Sentido do Moderno: Aloisio Magalhães e o Design Brasileiro” De 29/9 até 6/11/2005, de terça a domingo, das 12h às 19h (entrada franca). Centro Cultural Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20, Rio de Janeiro

À esquerda, símbolos de Aloisio Magalhães: Light, Banco Boavista, Banco Moreira Salles (hoje Unibanco) e IV Centenário. Na página ao lado, capa do port fó lio do seu es critó rio, em 1977. Por mais que a gran de mai o ria desses si nais fosse construída através de instrumentos, nota-se cer ta liberdade que ora se traduz na interpretação geométrica de um traço gestual, ora na alusão direta pela figuração, ainda que redu zida a elementos mínimos, ao assunto em questão. Por tanto, uma conduta de projeto nem sempre de acordo com a abstração e a geometria regular praticada pelo design construti vo



revista Idéia mostra que 24 edições compõem um conjunto coeso, marcando lugar no campo do design editorial brasileiro Rita Monte

Fotos acervo ARC DESIGN

QUATRO ANOS DE IDÉIAS

Em seu quarto aniversário, a

Acima, à esquerda, revista Idéia nº 1, em papel Reciclato, formato 40 x 26 cm. Na sequência, edição nº 21, que lembra uma caixa de CD, com imagens captadas a par tir de ilustrações em tela, fotografadas

Carta branca para fazer uma revista que privilegia o design gráfico – sem esquecer do texto, cativante. Não bastasse isso, incontáveis possibilidades de recursos materiais – cor, papel, gramaturas, brilho, relevos, hot stamping – tudo à disposição. E muita criatividade. Com esses elementos, a revista Idéia completa quatro anos de existência, estabelecendo-se como modelo de inovação no campo da arte editorial. A revista, cuja coordenação é da X-Press Assessoria em Comunicação, se mostra diferente a cada edição, especialmente no projeto gráfico. “Ter sempre uma idéia nova – não é nem trocadilho, é compromisso”,

Abaixo, a par tir da esquerda: edição nº 24 (22 x 22 cm), comemorati va aos quatro anos da revista – capa impressa com tinta metalizada e ver niz UV com reser va; Idéia “LongPlay”, que fez da edição nº 20 um casamento imediato entre o conteúdo tex tual e o formato da revista; e Idéia nº 14 (22 X 28 cm), toda em Re ci cla to: “esse pa pel acei ta hot stam ping e re le vo ame ri ca no. No mi o lo, só usei im pressão em qua tro co res”, ex pli ca Hel ga

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Aci ma, uma gran de cai xa de fós fo ros (28 x 16 cm) para a edi ção nº 12: em ba la gem e con teú do em car tão Su pre mo Duo Design “in cen ti vam o uso des te pa pel em em ba la gens”, diz Hel ga

Aci ma, a 5ª edi ção que usou o pó len, “um pa pel mais bege. A le tra pre ta so bre o bege cau sa me nos des con for to para o leitor”, desta ca Helga. O for ma to desta re vista é ins pi ra do no pró prio lá pis: com prido e fino

destaca a artista plástica Helga Miethke, que atua na

Hi-Bulky, 350 g/m2 , geralmente utilizado em embala-

Idéia como designer e é a responsável pela inovação

gens de medicamentos, cosméticos, fast-food e, no caso

gráfica a cada edição. Helga inicia seu processo criati-

desta Idéia, discos de vinil.

vo desde a reunião de pauta. Mas é a partir do papel

A comunicação na Idéia é explorada em todas as suas

que ela começa a desenhar o projeto da nova Idéia.

possibilidades. Publicação bimestral da Companhia Su-

Pólen, cartão, couché, reciclato ... As possibilidades de

zano de Papel e Celulose, a revista cumpre sua missão

cada tipo são exploradas pela artista, que elabora o la-

de mostrar todo o potencial dos produtos Suzano a

yout tendo em mãos os textos quase prontos, o que fa-

seus clientes, parceiros e fornecedores. A edição come-

cilita a integração entre as linguagens textual e visual.

morativa dos quatro anos foi feita em três tipos de papel:

Por vezes o design da nova revista segue em busca do

Couché Suzano Silk (semibrilho), para o miolo; Supremo

uso cotidiano que se dá ao papel escolhido – como na

Duo Design, para a capa, e TP Hi-Bulky, para a luva.

edição nº 20, cuja capa “Longplay” é em papel-cartão TH

Como será a próxima Idéia a surgir? ❉

Abaixo, capa e páginas in ternas da Idéia nº 13 (45 x 30 cm), toda em pa pel Alfa Print Su za no, “um off-set nor mal, não per mi te re cur sos a não ser cor es pe cial”, se gun do a desig ner. A ma té ria “Ne gro que re luz” ins pi rou Hel ga a fa zer ilus tra çõ es com mo ti vos afri ca nos e co res em tons de ter ra



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Uma Publicação Quadrifoglio Editora / A Quadrifoglio Editora Publication ARC DESIGN n° 44 Setembro/Outubro 2005 / September/October 2005

Apoio / Support:

Diretora Editora / Publisher – Maria Helena Estrada Diretor de Marketing / Marketing Director – Cristiano S. Barata Diretora de Arte / Art Director – Fernanda Sarmento Redação / Editorial Staff: Editora Geral / Editor – Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico / Graphic Design Editor – Fernanda Sarmento Chefe de Redação / Editor in Chief – Winnie Bastian Equipe Editorial / Editorial Staff – Rita Monte (Redatora) Jô A. Santucci (Revisora) Traduções / Translations – Paula Vieira de Almeida

Apoio Institucional / Institutional Support:

Arte / Art Department: Designer – Betina Hakim Estagiária – Ana Beatriz Avolio Participaram desta edição / Contributors in this issue: João de Souza Leite Raquel Lucat

Departamento de Marketing / Marketing Department: Lívia Sinkovits

Arc Design – endereço para correspondência / mailing address: Rua Lisboa, 493 – CEP 05413-000 São Paulo – SP Brazil

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Departamento Administrativo / Administrative Department: Silvia Regina Rosa Silva

Conselho Consultivo / Advisory Council: Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta (Fundação Padre Anchieta’s director); arquiteto (architect) Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia (designer, expert on ergonomy); Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de Arc Design para assuntos internacionais (expert on European culture and design, Arc Design consultant for international subjects)

Assinaturas / Subscriptions: assinatura@arcdesign.com.br Direção de Arte / Art Direction: arte@arcdesign.com.br

Pré-impressão / Pre-press: Cantadori Artes Gráficas Ltda. Impressão / Printing: Prol Papel / Paper: Suzano Papel capa: Supremo Duo Design 250g/m2 miolo: Couché Suzano Silk L2 150g/m2

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EDITORIAL ARC DESIGN has reached its eighth anniversary. Synchronized with contemporary life, “from the spoon to the city”... and to the planet. Why? For who? Made of what? Produced how? With which function or innovation? These are the questions that constantly challenge us. ARC DESIGN was born different, without the belief that only economy is the spring of the world. There is much more which incites and stimulates us to search for the roots of facts and reveal the unthoughtful. In this issue, we approach Brazilian architecture. It is the section devoted to the Architecture Biennial Exhibition that brings, among others, an interview with architect Acácio Gil Borsoi. In Brazilian design, we mention – with much joy – the “2005 harvest”. Graphic design presents Aloisio Magalhães, fundamental figure. There is also an exhibition at Victoria & Albert, in London, and a fair in Frankfurt. And much more. ARC DESIGN would like to mention all the designers, architects, entrepreneurs, collaborators, readers and consultants, from Brazil and abroad, who have stimulated, criticized and guided us in the creation of this rich repertoire, represented here by all our covers, since the first issue of the magazine. We thank you all. Maria Helena Estrada and ARC DESIGN’s editorial staff

DESIGN BRAZIL 2000 + 5 – page 18 The current generation of professionals gains the media and fashion, and finds its commercial spot. Towards which direction do they aim? Formal diversification, quality production and finishes, and inclusion of new materials and ecological consciousness are characteristics that can already be observed. The surprise in this spring, among exhibitions and shops, is the quantity and diversity of good products

English Version

Maria Helena Estrada

Beauty, intelligence, surprise, humor, poetry, utility and necessity are the parameters of international design, besides research into new materials and technology, which reduces production costs. Among these parameters, necessity stands out. It is important not to forget it. The traditional twosome form & function is today a tripod that should include the real need for one more object in this contemporary universe, already so full of identical products. A necessary product, by definition, is innovative. Why to insist on this idea of innovation, or renovation? Because it is with it that new necessities, new life demands and improvements are satisfied; in it, urgent answers are found for the planet’s health: avoiding the accumulation of evasions by the repetition of already-existent and satisfactory typologies, designing with economy of materials, and choosing these with a thought on pollution reduction. Indeed, all this is the responsibility of designers. Have they already realized – in worldwide scale – the importance of their creative work? The material repertoire of a certain period remains in time and defines its cultural characteristics. What is our period going to translate, we wonder? Surely an exorbitant accumulation of absolutely identical utensils: in shape, function, finishes and use. Shall we then try to not only multiply, but also diversify, aggregating new qualities? In this review of the 2005 harvest we give some “politically correct” examples, such as the rebirth of curved laminates – Brazilian tradition in the ‘50s –, essential raw-material of conscious peoples such as the Scandinavians. When the use of solid wood is disregarded, our lungs, as already mentioned, are grateful.

We emphasize alternative – or possible – design, which always finds its roots in the national culture – as a way of appreciation of this same culture and as a creativity exercise. For obvious reasons, we also search for the recycle design, though with a strong aggregate value in physical and aesthetical terms. We display new natural and artificial materials, examples of industrial production and some technology. Circuito Craft, Abup and Gift fairs, as well as stores totally or partially devoted to Brazilian design, illustrate this article, which is to be completed in the next issues of ARC DESIGN with the fortunately-not-so-precious Brazilian jewelry. At the inauguration of Circuito Craft, the mood was euphoric. The craftsmen, with works of high-quality execution and finish, approach more and more the contemporary vocabulary. The “country party” mood disappears and what arise are products that, without the need for the “adjective” design, open a path to a new Brazilian repertoire. From the sewing thread, the flower and the seed, to the clay and wood (what can we do?), from the colorful resins and acrylic, to the recovery of indigenous wefts and patterns, the choice was rich. It is in this spot, during the Gift fair week, where famous designers and craftsmen met attentive shopkeepers from all over Brazil. Abup is the most luxurious fair of the three biannual exhibitions devoted to objects. There we find the semi-industrial and medium-scale products, and companies devoted to design, such as Riva, located in Caxias do Sul, Rio Grande do Sul (with silver and steel products), and Zona Zero, situated in São Paulo (also the owner of Zona D), besides designer Jacqueline Terpins, who makes use of glass as an ever-renewed form of expression. The largest fair, Gift (although they say its commercial success is great), lacks focus, selection and segmentation. In it, we highlight Coza, a company from Caxias do Sul, pioneer in the industrial production of good items made of plastic material… designed by Brazilian professionals. To go for a stroll on the famous “Gabriel” street no longer means to watch an Italian design show – some companies, with their imported products, are still present, though there is a growing preference for Brazilian products. Which, by the way, has not been possible up to now, due to absolute lack of offer. Dpot (see ARC DESIGN 41) and Firma Casa were the first stores to bet on products signed by Brazilian professionals, starting with the Campana brothers’ design. In the same path there are also La Lampe, Lumini and Iluminar, Arredamento and now Brentwood. All of them located on Gabriel Monteiro da Silva street. Out of the “design axis”, two companies welcome and give prestige to Brazilian design: Tok & Stok, a pioneer, and now Teto. For once, shouldn’t we appraise, instead of criticize, the Campana brothers (of course!) and this entire generation of designers?

SEATING SCULPTURES – page 28 Wooden benches from 17 Amazonian tribes show France a tradition, of shapes and graphisms, that survives against the devastation of indigenous lands Rita Monte

Brazil, in an intriguing portrait. Three thousand nine hundred square meters of lands, through forests, savannah and shrubs. Seventeen indigenous ethnic groups, distributed in units through the Brazilian States of Mato Grosso, Tocantins, Pará and Amazonas. The wide biodiversity of this extension covers a cultural variety as vast as the territory that comprises it. What are the possibilities of union among these groups with unique cultural characteristics? The answer is to be found in another continent and comes to us with a


club D-Edge, located in São Paulo, where he created a system that integrates light and audio, resulting in an interactive environment: the LEDs and neon lamps installed on the ground and walls respond to the musical rhythm. Melissa is synonymous to avant-garde and plastic. The southern Brazilian shoe brand, created in 1979, was the first one to introduce plastic shoes in the country. Nowadays, 160 million pairs of Melissa shoes are produced annually, of which many are designed by renowned professionals of national and international fashion and design. Therefore, nothing more natural than these two words “avant-garde” and “plastic” to guide the project created by Randolph. The originality of the proposal begins in the location strategy: contrasting with the dense surroundings of Oscar Freire street, Muti Randolph creates a type of plaza in front of the building. At the same time it provides a “breathing feeling” in the edified corridor, the plaza emerges to host outdoor events. “The idea was to create a new element on the Oscar Freire street, a reference point” clarifies the designer. The interior of Galeria Melissa is dry, without any ornaments: “the products must stand out in relation to the project”, states Randolph. The space, however, is humanized by 12 large suspended biomorphic display devices, named, by the designer, “plastic lives”. The references to plastic permeate the store: its glow and texture are present throughout the area, recalling the tactile and visual aspects of the plastic matter, even if the material used is different. It is the case of the biomorphic display devices – executed in fiberglass with a metallic structure, acrylic and illuminated by LEDs – besides the “mentex” – elements in fiberglass located below the display devices to exhibit books or other information related to the collection exhibited. Another characteristic of the project is adaptability. Apart from the display devices, the “mentex” and the counter, all the other elements are movable, in order to make alterations possible in the environment composition. Furthermore, the project foresees the periodical “landscape” change: the graphisms applied to the internal walls and the frontal plaza (now also created by Randolph) are to be changed each season. On the back of the gallery, a “plastic garden”, with cactuses and interchangeable flowers made of fiberglass, will receive art pieces seasonally. The complex task delegated to Muti Randolph was successfully accomplished: the designer managed to add personality to Galeria Melissa, a remarkable place, which does not compete, however, with the exhibited “pieces”, expressing the “fun attitude” proposed by the brand.

MUCH BEYOND HEARING – page 36

Winnie Bastian

English magazine Blueprint proposed to several designers the challenge of reinventing hearing devices, and the response was more than brilliant and inspiring. The HearWear project transformed these vital products into stylish, or high-tech, products, providing new functions and deserving a new exhibition at the Victoria & Albert Museum, in London, from 26 July 2005 to 6 March 2006. The designers understood that it is not necessary to only amplify sounds but, most importantly, block them in certain situations, in order to avoid that everyone ends up deaf. The magazine’s text was written by Henrietta Thompson, Blueprint’s deputy editor

Idealized to comprise architecture, art, design and fashion in one single place, Galeria Melissa was inaugurated in August, in a key-location for the national fashion scene: the Oscar Freire street, in São Paulo. The project was created by designer, scenographer and multimedia artist Muti Randolph from Rio de Janeiro, known for the innovative project of the sports

The HearWear brief was to design a concept for a hearing aid of the future, a product that people would actually want in their lives. The design could be as far removed from existing products as the designer might like. For example, it could incorporate any new or emerging technology enabling it to synch with a computer, with architecture, or with a mobile phone

A PROJECT’S X-RAY

PLASTIC DERIVATIONS – page 30 “A ‘dry’ environment permeated by ‘plastic lives’.” This is how designer Muti Randolph describes Galeria Melissa, inaugurated in August, in São Paulo. The brand from Rio Grande do Sul has invested one million dollars in the creation of the 450-square-meter area

English Version

French accent. Asurini, Bakairi, Kayabi, Kalapalo, Kamayurá, Karajá, Kuicuro, Matipu, Mehináku, Suyá, Tapirapé, Tukano, Wai-wai, Waurá, Wayana-Apalaí, Yawalapiti and Yudjá: different indigenous societies present a possible confluence in “Kamurõ – Indigenous Benches from the Amazon”, the opening exhibition of Espaço Brasil, at Carreau du Temple in Paris, curated by Adélia Borges. Most part of the exhibited collection – ninety wooden benches – comes from populations that inhabit the Indigenous Park of Xingu, in the northeast of the State of Mato Grosso, in the southern part of the Brazilian Amazon. This is where the Tukanos live, an outstanding group in the production of the benches, and to whom such furniture has a ritual function. In the Tukano language, “kumu” means xamã, a wise entity about the forces of nature, responsible for ministering the rites of passage and the great rites, besides acting in the cure of diseases. Kumurõ (title of the exhibition that presents the indigenous handcrafted furniture at Ano do Brasil, in France) – is the xamã’s seat. The handcrafting manufacture of the benches implies a slow process of solid wood sculpturing, with no use of joints or amendments. The oral tradition, allied to the handcrafting culture, assures the transmission of patterns in the graphisms and the very structure of the object, mostly zoomorphic. Tapirs, alligators, land turtles and armadillos appear next to benches with a more elementary shape, whose straight and simple lines remind the lessons of modern design. The collection reveals immemorial designs, full of a symbolism that retains its meaning in the contemporary indigenous villages, in which nature is a fundamental axis around which life is created. The beauty of the indigenous artifacts is omnipresent. In its utilitarian universe, there is no separation between use and art, unlike what usually occurs in the occidental societies – though this is a changing reality. Besides the lesson of utilizing natural resources – such as wood – in a conscious manner, another instructive example that has been incorporated in the “white” culture is the appreciation of utilities by their beauty – a keyconception in contemporary design. The benches, in their domestic function, are practically the only furniture pieces in the indigenous hut, next to a hammock and objects such as clay pans, a fire fan and vegetable fibers baskets used to carry and keep food. But it is in the economical aspect that handicraft represents greater strength: the specialized market of indigenous handicraft has been growing, and the autochthons keep up with this evolution, articulating to make the best use of commercial relations. A good example is the partnership between artisans of the Tukano tribe, the Federation of Indigenous Organizations in Rio Negro (FOIRN), the most important representative institution of indigenous folks in the region, and the Brazilian SocioEnvironmental Institute (ISA), a non-profitable organization which, since 2002, has been a reference for the supply of wooden benches to the market.


English Version

The question initially seemed fairly innocuous. Why can’t hearing aids – like spectacles – be desirable, aspirational products in their own right, rather than a medical aid required to repair a disability? The realisation that the question might be the key to something big came when Blueprint joined forces with RNID [the biggest charity association, representing nine million people who are deaf or hard of hearing, in England] in the early months of 2004 and together issued the challenge to some of Britain’s most prolific and interesting product designers. The response, somewhat unexpectedly, was phenomenal. Eighteen designers came on board and subsequently dedicated much time and resources to the project over the next few months. London’s Central St Martins College of Art and Design, meanwhile, set it as a project brief for its MA product design students, and a little later on Wolff Olins became a third partner in moving the project forward – having been conducting work in a similar area already. Perhaps the most surprising element, however, was that the question would prove so demanding to answer. Also, for that matter, that the answers would prove so important. As has been further detailed Blueprint Broadside [A Supersonic Future, July 2005], in the UK alone there are nine million people who have a hearing loss of some degree, which works out at one in seven. Of the nine million who are hard of hearing, only two million have hearing aids, despite the majority knowing they would benefit from them. Of the two million who have them, only 1.4 million actually use them regularly. [The subject becomes stressed with the increase in sound pollution in the cities, as well as with people’s longevity, among other factors.] This market penetration is so low as to justify the word ‘pathetic’. For an industry that is currently worth $2.9bn per year in Europe alone, it also makes one wonder about the financial incentive for addressing all this untapped potential. Part of the reason for this poor uptake of what’s currently available – and there are several reasons that are elaborated on in the Broadside – is the fact that there is still considerable negative social attitude surrounding hearing aids. Being hard of hearing is difficult to compare with being short sighted. No one is going to wear a hearing aid if they don’t need to – unlike glasses, which are acceptable and aspirational, even for people with no visual problems. But stigma is not an easy problem to solve with design. Realising this it became clear very quickly that this was not to be a restyling exercise. The designers needed to fundamentally readdress what a hearing aid could do and how they could integrate with other technologies just as much as how it could look. Their challenge was to demonstrate what a shift of design approach – from that of solving a problem towards an aspirational approach – could achieve. The project was christened HearWear as an evolution from the earliest name, EarWear, because one of the designers felt that it was too limiting to create hearing products that would be specifically located in, on or around the ear. The HearWear brief was to design a concept for a hearing aid of the future, a product that people will actually want in their lives. The design could be as far removed from existing products as the designer might like. For example, it could incorporate any new or emerging technology enabling it to synch with a computer, with architecture, or with a mobile phone. In doing so, we hoped the designers would identify and draw attention to the possibilities of this piece of equipment. Through pinpointing problems and situations experienced by an individual with a hearing impairment, they could create product proposals that would be an attractive proposition not only from a usability point of view, but also – crucially – from the position of the individual in a cultural context. Recognising that no one product would be able to answer all the challenges put forward by the uncharted new world of product innovation that we had opened up with this brief, we approached designers who could give as

wide a range as possible of results – from the consumer draw of the ‘big designer names’ to more artistically driven thought-provoking practitioners, to the more hardcore medical product designers. We still expected, however, to get some repetition among the concepts. Astoundingly, we didn’t. Not only did each designer tackle a different set of problems, each dealt with it in a way that offered entirely new opportunities as a result. One common (though by no means universal) theme was the analogy with glasses. Industrial Facility, for example, took the idea literally, embedding directional microphones into the frames of a white pair of Muji-esque spectacles in order to give the wearer directional amplification (of whatever they happen to be looking at or focusing on). “Surround Sound Eyewear [optical equipment for environmental sound] is a response to the preoccupation with invisible hearing,” says Sam Hecht of Industrial Facility. “By appropriating the formal language of eyewear the necessity of wearing a hearing aid is transformed into a stylistic choice that references a familiar and established rhetoric.” Technologically, the product follows prof Marinus Boone of Delf University and his experimental notion of “superdirectivity beamforming” as a basis for a highly directional hearing aid. Having a set of four microphones on both sides of the face increases hearing capability dramatically and gives much better speech intelligibility than conventional hearing aids. “The result is a type of three-dimensional superhuman hearing similar to that found in certain animals, such as coyotes,’” explains Hecht. The Brewery studio, by contrast, was inspired instead by the way people use their glasses for other functions besides looking through. “We noticed the way that people will often treat their glasses as an extension of themselves,” explains Peter Phillips, managing partner at The Brewery. “They might peer over the top of them to make a deeper connection with someone in conversation, or they might take them off altogether and wave them as an aid to making some gesture”. The Brewery’s concept, designed specifically for a female market and in particular for occasional wear, is a jewellery-like device that is controlled with sweeping gestural movements such as tucking your hair behind your ear. Meanwhile, another jewellery-inspired concept, Ross Lovegrove’s lightly sprung titanium design might suit a high-powered executive wearer, male or female. Tangerine, Seymourpowell, Human Beans and Priestman Goode, for example, all took the technology as their starting point, asking how – if a hearing product was to be useful and desirable by people even if they have good hearing – what would it do? Each designer’s answer to that question was, in turn, different, leading to a plethora of exciting new products that open up a new marketplace. These hearing devices allow people to control and experiment with the aural world: from seamless connectivity between music players, phones and the volume of the immediate environment, to personal sound filters, selective hearing, and replay functions. Other designers chose to address the ways in which hearing aids are packaged and sold. The Alloy, for example, is applying for a patent for its extraordinary innovation concerning the fit of the earpiece. Daniel Charny’s Sharewear is designed for people who want to be heard clearly by people using hearing aids, digitally reducing the distance between the talker and the listener, and overriding the interference of surrounding noises. IDEO too has designed a system that sees hearing-aid users in an advantaged position. With “Table Talk”, clear conversations are possible even amidst the frenzy of a nightclub. A set of microphones linked to a conductive strip around a table enhances the voices of those in its circle. [With such system, even the ones who do not have hearing problems, but are simply disturbed by noise excess, can spend hours chatting peacefully.] HearWear is a project to investigate how a serious injection of design and


VALUING DIFFERENCES – page 44 Diversity. This is the word capable to synthesize the mood of Tendence Lifestyle 2005, held in Frankfurt, from 20 to 30 August. By joining great manufacturers and giving opportunities to young designers, the German fair goes beyond the status of commercial exhibition and establishes itself as a meaningful event in the international design scene Winnie Bastian

Several parallel exhibitions and events, inside and – for the first time – outside the exhibiting center, comprised this edition of Tendence Lifestyle. Beginning with the exhibition “Talents”, which this time has brought the work of 40 young designers – twice as much as last year. Other highlights were the Tasteful (in which Kuniko Maeda combined design with food) and Rest and Play installations (idealized by Hill Jephson Robb, composed by several bowls which could function as seats, beds or even toys). In the urban area, the set of installations named Fresch brought design to the daily life of Frankfurters, who could get in contact with the 30 proposals of the 50 designers, spread along the Anlagenring park. Besides, the fair organizers sponsored the exhibition of Designersblock, a group of young British designers, held in the center of the city, in a privileged spot (close to the main train and subway station), and open to the public. How about the products exhibited at the fair? “Industrial Art Nouveau.” The expression, invented by German designer Hansjerg Maier-Aichen, refers to products that combine the mentality of “arts and craft” with techniques of mass production. Therefore, the customized aspect appears in pieces produced industrially. An example is the recent release, by Authentics, of a tableware collection with decorative design signed by Tord Boontje. Founded by Maier-Aichen in the 1980s, Authentics built its image with ordinary products, with basic design and minimum use of materials. This is the first time the German company has released a product with characteristics diverse from those of the initial collection, which draws attention to the strength of the decorative mainstream, based mainly on “surface design”. Therefore, furniture and objects with an extremely simple design call attention due to their design and textures. Decorativism is now a consolidated reality: the ornament is not a crime any longer, unlike what Adolph Loos said. The focus, nowadays, besides function, is on valuing consumers’ personal tastes. “Good design emphasizes the difference,” states young designer Kilian Schindler, one of the exhibitors in “Talents”. In this context where subjective aspects are more valued, high technology loses, even if temporarily, its defining role in the creative process. What we saw in the Frankfurt fair was the predominance of good ideas, executed with non-sophisticated techniques – sometimes even quite simple. An inspiration for Brazilian designers, who can verify, in several products exhibited in the fair, what ARC DESIGN highlights in this issue – pieces that could be performed in any country. ARC DESIGN visited Tendence Lifestyle on Messe Frankfurt’s invitation. The next edition of the fair will be held from 25 to 29 August 2006.

SPECIAL SECTION 6th BIA – page 51 SIXTH BIENNIAL EXHIBITION OF ARCHITECTURE IN SÃO PAULO LIVING IN THE CITY: ARCHITECTURE – REALITY – UTOPIA Curated by architects Gilberto Belleza and Pedro Cury, the sixth International Biennial Exhibition of Architecture (BIA) will focus on the city life. In their opinion, architecture has the role of proposing solutions to organize urban areas and harmonize the chaos and contradictions of cities. “In order for this to happen, it is necessary to conciliate reality, resulting from the irregular growing, and utopia, which is the idealized thought and a lever for the progress of humanity”, justifies Pedro Cury. In the last edition, in 2003, 60% of the public was composed by non-architects and, according to Gilberto Belleza, this year the event will give continuity to the dialogue with these people. This exhibition will privilege a more didactic character than avant-garde alone. The projects were chosen for their architectonical value and for being closer to our reality”, comments Belleza. In order to facilitate the comprehension and visualization of the projects, this edition will comprise a record number of models: more than 250. The responsible for the installation project, to whom was given the task of organizing the trajectories in a way to facilitate the understanding of the exhibited universe, is once again architect Pedro Mendes da Rocha. “This year’s edition is an opportunity to deepen the reflection on the participation and collaboration of the architects in the process of qualification of the urban life in Brazilian cities and of the social inclusion of population”, states Paulo Sophia, president of the Institute of Brazilian Architects – Department of São Paulo (IAB/SP). The organizers expect the sixth Biennial Exhibition to receive over 200 thousand visitors, number achieved in 2003.

PROGRAM NATIONAL REPRESENTATIONS Thirteen invited countries will showcase their most representative current architectural productions, within the theme “Living in the City”: Argentine, Germany, South Africa, Austria, China, Singapore, the USA, France, the Netherlands, Israel, Mexico, Portugal and Sweden. BRAZILIAN ARCHITECTS INVITED Acácio Gil Borsoi (Pernambuco), Benno Perelmutter and Marciel Peinado (São Paulo), Carlos Bratke (São Paulo), Décio Tozzi (São Paulo), Eduardo de Almeida (São Paulo), Hector Vigliecca (São Paulo), Joan Villá (São Paulo), João Carlos Cauduro (São Paulo), Joel Campolina (Minas Gerais), Luiz Eduardo Índio da Costa (Rio de Janeiro), Luis Forte Netto (Paraná), Mário Aluísio (Alagoas), Nelson & Campelo (Ceará), Paulo Zimbres (Federal District), Rosa Kliass (São Paulo), Siegbert Zanettini (São Paulo) and Vital Pessoa de Melo (Pernambuco). FOREIGN ARCHITECTS INVITED Alberto Campos Baeza (Spain), Eduardo Souto de Moura (Portugal), Gonçalo Byrne (Portugal), Hans Hollein (Austria), Henri Ciriani (France), José Cruz Ovalle (Chile), Rafael Viñoly (USA), Ricardo Legorreta (Mexico), Richard Meier (USA), Thomas Herzog (Germany) and Vittorio Gregotti (Italy). SPECIAL EXHIBITIONS International section: - Alvar Aalto (1898-1976): Finnish architect known for his extensive use of wood and organic forms.

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innovation might shake up the hearing aid industry – and how it might be a market in which more mainstream consumer electronics manufacturers could get involved. The products designed, while generally unlikely to reach the market, are in most cases feasible with current or soon-to-be available technology. For now their purpose is to show what is possible and, we hope, be a catalyst for change.


- Le Corbusier (1887-1965): French-Swiss Architect, one of the main exponents of modern architecture - Clemens Holzmeister (1886-1983): Austrian architect who was the chancellor of the Academy of Fine Arts in Vienna and achieved an international career, performing projects also in Brazil. - Swiscity-futurevisions: visual investigation created in a digital fusion about the future of Switzerland. Produced in partnership by the offices Jessen+ Vollenweider, from Basel, and Ottoni Arquitetos Associados, from São Paulo.

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National section: - Carlos Milan: Brazilian architect and professor at FAU School of Architecture (USP – University of São Paulo). - Ícaro de Castro Melo: architect from São Paulo known mainly for his projects in sports facilities. He was also the president of IAB (Institute of Brazilian Architects). - Eduardo Kneese de Melo: architect from São Paulo, one of the founders of IAB-SP. - Cristiano Mascaro: Brazilian photographer who has architecture as one of his most recurrent working themes. - Odiléa Setti Toscano: plastic artist. - Baroque: baroque architecture exhibition. - Iberian-American Biennial Exhibition of Architecture: a summary of the exhibition held at the end of 2004, in Peru. - Special Exhibition of Lighting Design: carried out by AsBAI – Brazilian Association of Lighting Designers. - “New Territories”: exhibition organized by UNESP (University of the State of São Paulo) – Bauru. - “The Right to Architecture”: exhibition on low-cost housing - “Cultural Identity of Heliópolis”: exhibition of the revitalization of the Heliópolis district, in São Paulo, with remodeling of the houses’ façades. A project by Ruy Ohtake. - “Making the City”, exhibition carried out by the Brazilian Association of Architecture Offices (AsBEA). - Architecture designs (FAU School of Architecture/USP) - IAB-SP Awards. - “Disperse Urbanization of New Forms of Urban Cloth in the State of São Paulo”, project by Nestor Goulart Reis Filho. - Forty Years of Institute of Urban Research and Planning of Curitiba (IPPUC). - Homage to architect Oswaldo Correa Gonçalves from São Paulo, ex-president of IAB and one of the supporters of the creation of Biennial Exhibitions of Art and Architecture. - Exhibition by the IAB-SP, Section of Ribeirão Preto, SP. - Special exhibition of SESC (Social Service of Commerce) and the architecture of its centers as a great tool of social transformation General exhibition of architecture: two hundred projects by architects from Brazil and abroad previously selected by a specialized jury. All projects comprise models. Institutional exhibitions: presented by public organizations and institutions that have produced projects related to architecture, urbanism, design, transportation, new technologies and other items related to city life. Debate Forum: from 24 to 28 October, Brazilian and foreign professionals will participate of debates that intend to contribute for a reflection on the current moment of architecture. International Competition of Architecture Schools: projects from 56 architecture schools from Brazil and the following countries: Canada, Finland, Italy, Mexico, New Zealand and Portugal.

SÃO PAULO, URGENTLY – page 54 FULL OF DIAGNOSIS, THE CITY ASKS FOR SOLUTIONS Inspired by the theme of the sixth BIA (International Biennial Exhibition of Architecture) – “To live in the city” – four professionals, connoisseurs of the biggest Brazilian metropolis, point out priorities to one of the most dynamic cities in the planet. The interviewees have very diverse profiles: a 65-year-old Uruguayan living in São Paulo for 35 years (Héctor Vigliecca, architect and urbanist, one of the professionals to which the exhibition pays homage), an architect and urbanist from São Paulo (Nabil Bonduki, 50, former town councilor), a psychologist from Minas Gerais who has lived in the city for some decades (Jacob Goldberg, who recently released the book “Cultura da Agressividade” (“Culture of Aggression”), in which he analyses the causes of urban violence), and an Italian who grew up in the metropolis of São Paulo (Jorge Wilheim, 77, former governmental employee involved with urban planning, who celebrated, in the latest Biennial Exhibition, 50 years devoted to Architecture) Raquel Lucat

HÉCTOR VIGLIECCA – A lot to be done, without exclusions Enquired by a student if São Paulo is ugly or pretty, compared to other metropolises in the world, Héctor Vigliecca replied: “as few metropolises, it incites us to act and create, because it evidences that much is to be done, and this is its incomparable beauty”. In his opinion, the slums (one of the lamentable postcards of the city) and, in general, poverty areas have assumed alarming proportions in relation to the lack of infrastructure. “Almost half the city is located in risky regions. Such population lives excluded from advantages, in contact with all the disadvantages of a metropolis. These are improvised situations that society cannot afford any longer. These people do not want charity; they need to recover their dignity. In order for this to happen, the Public Power has to assume its responsibility, once it is the only one capable to revert this drama”, he says. According to him, a budget is not enough; it is necessary to have good sense and ethic care: “that is where the architectonic project comes in, assuring respect to the individuals who will occupy a real estate for any purpose; in the small details, it increases their self-esteem, destroyed by exclusion.”

NABIL BONDUKI – Planning and inspection The duality between the real city and the legal one is referred to by Nabil Bonduki as one of the problems of the complex capital of São Paulo. In his opinion, the present urbanistic norms are good and would be effective if applied. “A large part of the city contradicts the legislation and this reinforces the bad quality of the Brazilian metropolises, from the environmental point-of-view, in the commitment of public areas, and in the bad urban conditions in general”, he states. In this aspect, Bonduki’s opinion matches Vigliecca’s thoughts: “The informal city is produced by the lack of alternatives given to the low-income population, hence the occupation of environmental protected areas and high-declivity regions, depth of valleys, mountain ridges and public spaces, which are transformed into precarious domiciles”. To him, inspection is vital: “Urbanistic legislation and master-plans are worthless if, in practice, they are ignored”. Besides the presence of the Public Power, Bonduki highlights the engagement of the society with urban matters, especially in the role of “inspecting the inspectors”: “it is the way to prevent corruption”. In his opinion, medium- and long-term urban planning is urgent. “Besides


JACOB PINHEIRO GOLDBERG – Cultural peace When analyzing the formation of the big cities having in mind transitivity, Jacob Pinheiro Goldberg points out the “cultural war” as one of the problems of metropolitan societies. “São Paulo grows the size equivalent to the city of Campinas per year and this happens with the arrival of individuals from populations with a strong cultural identity, such as the Hispanic people, especially the Bolivians, the Asians, the Koreans and the people from the Northeast of Brazil. When they arrive here in search of a job and life quality, they find a city hostile toward their culture and necessities.” In his opinion, this cultural shock generates a difficult and traumatic adaptation: “The individual defends himself from the rejection by forming peripheral ghettos, real reservoirs of social hatred, even more poisoned by economic inequality. For instance, it is estimated that the Bolivian community in São Paulo has almost the same population than La Paz; even so, we do not use the term Hispanic-Brazilian as Hispanic-American is used.” With the Korean community this is not different. “They are about 150 and 200 thousand people. Social tension with these characteristics is common in metropolises, but in São Paulo the proportions are exorbitant, which is the reason why it needs to be relieved urgently, decreasing the contrasts of cultural, religious and ethnical nature,” he explains. Unlike the three architects, the psychologist believes that not only public politics can improve this situation: “a real urban revolution passes through the individual review of the cosmopolitan concept; without it the city will become a scenery of constant confronts.”

JORGE WILHEIM – To accomplish is urgent Among the urbanistic problems of São Paulo, Jorge Wilheim separates what is urgent from what is important: “urgent is to meet the demands that already emerged and are solved by the present administration; important is to accomplish immediate action, though with results in two or more coming administrations”. “Politicians have the bad practice of not constructing over the precedent administration; this is ineffective and does not meet the city’s interests,” complains the architect. According to him, for the next three years, the current administration should provide urgently: “a project for the district of Luz; the establishment of Bairro Novo (New District) at Barra Funda, a project which is already designed; the approval of the Urban Operations, which organize partnerships and lead the economical agents toward three directions, affecting Butantã and Vila Sônia, the region of Ceagesp (São Paulo State General Warehouse and Trading Post), Vila Hamburguesa, Vila Leopoldina, and Jaguaré, and even the region from Vila Maria to Campo de Marte (projects already finalized; it is easy and urgent to establish them); the continuation of the construction of Roberto Marinho and Água Espraiada Avenues, in order to relief the busy Bandeirantes highway, a critical area of traffic jams); the finalization of the reconstruction of the bypass pavement and of two structural roads (and the budget has already been provided by the federal government); the accomplishment of the project for the Oscar Freire Street, an important partnership, with a short investment from the prefecture and a strong impact in the growing fashion market; the reurbanization of Paraisópolis and other slums, since there is already so much work done and many study reports to be considered.” To Wilheim, the master plan offers a “menu of constructions”, of which

importance has already been debated: “Resulted from much reflection and elaboration, and many discussions about São Paulo.” “In the chapter of the important things”, he continues, “with a ten-year horizon, I would include the investment toward the subway, which comprises the three levels of power.” Agreeing with the other architects, Wilheim emphasizes the action of the Public Power: “the society can and must participate, but, in order to be mobilized, there have to be projects, which depends, undoubtedly, on political willingness.”

ACÁCIO GIL BORSOI

CONSTRUCTOR OF IDEALS – page 60 With almost 60 years of career and fully active, the architect will be paid homage at the sixth International Biennial Exhibition of Architecture in São Paulo with a retrospective show of his work and will receive the Golden Necklace of IAB, insignia granted to the great names of Brazilian architecture Winnie Bastian, in collaboration with Rita Monte

Acácio Gil Borsoi was born in 1924 in Rio de Janeiro. Son of a draftsman architect and decorator, since very young he worked with his father, who advised him to study Architecture at the University of Fine Arts in Brazil in 1945, at the age of 21. He graduated in 1949 with the first Architecture class, already separated from Fine Arts course. In the last two years of school, he established, together with three colleagues, an office where they made the final drawings for the pioneer modernist architects. But it was in Recife where the architect built his career. He moved there in 1951, following a piece of advice from his old professor Lucas Mayhofer, who had recommended him to teach the subject of “Small and Large Architecture Compositions” at the just-created Federal University of Pernambuco. He was a professor there for 28 years. In 1963, during the government of Miguel Arraes, Borsoi was invited by architect Gildo Guerra, President of Liga Social Contra o Mocambo, LSCM (Social League Against Slums), to become engineering director. In this period, he developed a pioneer project of self-construction for the community of Cajueiro Seco, around Recife. In 1968, he founded the Borsoi Arquitetos Associados office, where he still develops residential, commercial and administrative residential projects. His work, which combines the principles of modern architecture with the cultural and climatic characteristics of the region, influenced an entire generation of architects from Pernambuco. Among his most famous projects are the Museum of Modern Art in Recife (1955), the Teresina Forum (1972), the Legislative Assembly in Piauí (1984) and the Administrative Center of Uberlândia (1990), besides his house in Rio de Janeiro, designed in 1986. Other projects also stand out, such as the restoration of the 4 de Setembro Theater, in Teresina, Piauí, and of the Artur de Azevedo Theater and Palácio dos Leões (government headquarters of the State of Maranhão), both in São Luís do Maranhão. “It is amazing how things are transformed when there is freedom. Rigidity (...) destroys the entire creativity, people become machines”. The sentence, said by Acácio Gil Borsoi during an interview with ARC DESIGN, determines the tone used by the architect to talk about his projects and works. Having performed remarkably in several areas of architecture (residential, commercial and public buildings), Borsoi also stands out for his proposals of low-cost housing, which he has developed since the beginning of his career – and are the themes that slightly display ideas of self-management of individuals and communities as an architecture proposal.

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the party-political matters, which may determine accurate actions to each four-year mandate, the city must be thought out globally. The short-term mentality makes the planning innocuous”, so he believes. “The planned part of the city always presents a higher life quality than the rest of the city, Jardins is a good example”, he concludes.


English Version

“My concern with the social aspect started in university: in the second year of Architecture School, around 1943, I had a professor, architect Paulo Pires, who proposed, as a first assignment, the project of a minimum house. Therefore, along with four colleagues and supported by architect Eduardo Corona, an advanced student, we built a questionnaire to understand life in the poorest Brazilian social layers, the slums, which were starting to emerge in Rio de Janeiro. By the end of the research, we reached the conclusion that the problem was not in the houses, but in people’s income”, explains the architect. Twenty years later, in Pernambuco, Borsoi shows that what was once a “concern”, during university studies, became a clear professional direction. In 1963, in the period of governor Miguel Arraes, architect Gildo Guerra was chosen to manage Liga Social Contra o Mocambo (LSCM, former organization of the government of Pernambuco specialized in slums) and invited Borsoi to be the project’s engineering director. In the same year, eight hundred families invaded an area that belonged to the federal government and the army. Although the event was not under the power of the state government (thus also LSCM), Borsoi and Guerra found an area close to the terrain invaded and were willing to develop a project for a center of self-help and income generation. According to Borsoi, this was the opportunity to put in practice a new concept of a housing system, supported, essentially, by the principles of selfmanagement, of the organization of the communities for the individual management of family income and of the moving of the population group to an area where means of sustentation and development would exist. Following this concept of housing system, Borsoi developed, between 1962 and 1963, the Cajueiro Seco project. Established with basis on the transference through self-management, Cajueiro Seco was a pioneer initiative, directed to the generation of income, which attempted to “join common efforts with a minimum of assistance by the government”, since, according to the architect, “the most important feature in a person is aspiration, the desire to perform. Normally, homeless people have a great aspiration, do not stand poverty and wish to win. They are migrants that, when found in a situation like that, go to a richer place in search of a better life. Taken by the will of winning, they even work 12 to 16 hours daily. This is something nobody notices. And it is really important, because this is what builds a nation”. The Cajueiro Seco housing complex was self-constructed as a prototype of basic housing, with pre-molded lath-and-plaster walls. It was a self-managed community that counted with co-operative sales of construction materials – the lath-and-plaster blocks – at lower prices. Besides the lots, the center comprised a common work area, a complex with public toilets and a launderette. With the military coup of 1964, all the work was destroyed. As a form of protest, Borsoi quit the board of professors at the Federal University of Pernambuco. After this episode, the architect developed several housing complexes in the Northeast of Brazil for BNH (National Housing Bank) – Borsoi’s office constructed 32 thousand housing units. “With the arrival of democracy, the mood to ‘fix’ the country for the people who believed in a better future was renewed”, he explains. The self-management concept of the housing complexes is recurrent in Borsoi’s work. At Mocambinho (in the State of Alagoas, Brazil), for instance, the design of the houses begins with the “water block” (kitchen and bathroom) and the other rooms are built around as according to the financial conditions of each owner. The houses could even have a parking garage and a terrace, as according to the possibilities of each family. “If the person does not earn well, a room is made. But later on, if he earns a little more, he may have his house completed. He will want to work in order to finish his house construction and this is the idea. I name this system Unity of Development and Income Neighborhood (UVDR). It is not a district nor a town, but a new way

of life, a new structure”, he clarifies. In 1992, Cesar Maia, mayor of Rio de Janeiro at that time, released the project Favela Bairro (Slums Neighborhood), with a competition among the architects of IAB (Brazilian Institute of Architects), from Rio de Janeiro. Borsoi participated with architect Sérgio Gueron, who was part of former BNH (National Housing Bank). His proposal for the Caminho de Jó Slums was selected, “but the development was stopped by the Housing Secretariat, which was against any project of the type. This encouraged us to send the project to the Congress of the International Union of Architects (UIA) in Bucharest, where it received an important award”. It was the only South American project awarded.

A PARADOXICAL ADVENTURE IN BRAZILIAN DESIGN – page 74 Aloisio Magalhães was a painter, designer and progressive politician dealing with culture. For two decades he was a key debater about design and the role of cultural politics in Brazil. He was born 1927 in Recife, where he went to Law School. After graduating, he left to get to know the world. Between 1951 and 1953 he lived in Paris and, when he came back, he had his first painting exhibition in Recife and throughout Brazil. Magalhães received a scholarship in 1956, when he went to the USA. In this period the artist established contact with the Anglo-Saxon design concept, which became a parameter through European modernism. When he came to Rio de Janeiro in 1960, in crisis with the function of artists in the contemporary world, he decided to focus on the design area, for its collective character. Then a professional trajectory was initiated and transformed into a reference for Brazilian design – for its importance and quality, for the projects’ range and their reflection on society. Literally, the design developed by Aloisio Magalhães gained the Brazilian streets. It was in Brasília where he heard: “Why doesn’t the Brazilian product have its own features?” In the light of the country’s situation, still under military control, restless Aloisio saw new possibilities. From that friendly talk the project for the National Center of Cultural Reference was created, representing the start of his involvement with the Brazilian culture from other decisive levels. His trajectory was interrupted by a mortal cerebral accident in Venice, in June 1982. João de Souza Leite

Often recognized as a molded knowledge, as an associated block of very clear ideas (out of which every projective activity is disqualified as design), design itself still has not definitely incorporated the notion that its general concepts may vary according to time and space and, consequently, to the context of its action. Connected to the concrete movement, the ideas that sustained constructive modern design (established in Brazil in the 1950s) embraced a universal language, disconnected from the varying aspects of culture. Relegating other possibilities, the primordial reference statute was given to this selfreferenced and absolute design. Aloisio Magalhães was a sort of paradox in this scenery. As one of the myths of Brazilian design, he was in a single period the most present voice of the new profession between 1960 and 1980 and the defender of principles that emphasized the relation with the context, unlike what was defined as the mainstream of modern (that is, constructive) design. Magalhães defended a dialogue with the historical and geographical con-


and his friend, ambassador Wladimir Murtinho, the following question came up: “why doesn’t the Brazilian product have its own features?” From this conversation a proposal for the State was made, in fact the enunciation of an investigation program about what could constitute Brazilian reference for the design of a harmonious development. But in Aloisio’s mind, what could this harmonious development be? Some clues may be found in Mário de Andrade, Gilberto Freyre and Lúcio Costa: an aesthetical attitude which incorporates art into life, in the attributes of the shape of utensils and artifacts. In the Regionalist Manifest of 1926, Gilberto Freyre exalted regional features as a possibility of harmony between materials, shape and life enjoyment. Never through the picturesque approach, but through the solid argumentation and social values. This is the pedigree of Brazilian modernism to which Aloisio belongs: the one that does not avoid the confrontation with the context in the equation of his project; the modern lineage that penetrates into the woods in the hidden corners of Brazil in search of originality. His National Center of Cultural Reference (CNRC) was a program of research and investigation derived from one principle: the look towards reality to identify the problem in its own nature, never from an abstraction. In this meaning, Magalhães was pragmatic; an analyst of possibilities, always attentive to context and willing to design the project of the future. He did not opt for the path of timeless aesthetics, disconnected from history and places. He preferred to enlarge the narrow road of the other face of modernism, exactly the one that displays the perspective of the future with the inheritance from the past. That is how paradoxical Aloisio Magalhães lived.

FOUR YEARS OF IDEAS – page 82 On its forth anniversary, magazine Idéia shows that twenty-four issues compose a united set, building a milestone in the field of Brazilian editorial design Rita Monte

Green light to create a magazine that privileges graphic design – keeping in mind the captivating text. Notwithstanding, infinite possibilities of material resources – color, paper, grammage, gloss, relief, hot stamping – are all available. And a lot of creativity. With these elements, Idéia reaches four years of existence, as an established innovation model in the editorial art field. The magazine, coordinated by X-Press Assessoria em Comunicação, presents a different project every issue, especially in the graphic layout. Performing as a graphic designer, plastic artist Helga Miethke initiates the creative process in the editorial meetings. It is with the type of paper that the designer starts to create the layout of the new Idéia. Pollen, cardboard, couché, recycled paper… The possibilities of each type are explored by Helga, who elaborates the layout with the texts almost finalized, which facilitates the integration between the textual and visual languages. Sometimes the design of the new magazine searches for the most common use of the chosen type of paper – such as the one in the twentieth issue, of which the “longplay” cover was designed in TH Hi-Bulky 350g/m2 cardboard paper, normally utilized in medicine, cosmetics and fast-food packaging, while, in the case of this issue, longplay records. The communication in Idéia is explored in all its possibilities. Published bimonthly by Companhia Suzano de Papel e Celulose, the magazine easily accomplishes its mission of showing the entire potential of the Suzano products to its clients, partners and suppliers. The four-year-anniversary issue was printed on three types of paper: Couché Suzano Silk (semi-gloss) for the inner pages; Supremo Duo Design for the front cover, and TP HiBulky for the envelope. What will the next Idéia look like?

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text, responding to the quality of the social and cultural topography in the exact moment that the project activity was being accomplished. His argumentation was presented in opposition to the modernistic tradition that defended a non-historical and timeless language. Such purposes, enunciated from the beginning – “the artist must belong to his own period, and be associated with his place; from the most localized experience, it is possible to extract universal matters” – framed his trajectory. Through his path, initiated as a plastic and fashion artist, as well as scenographer and costume designer, Magalhães set a trajectory that approached him progressively to collective matters. As one born in the Brazilian Estate of Pernambuco, he experienced intensively what Gilberto Freyre stated more than once: “in the Brazilian Northeast region, the ones who come close to people are always among masters and become apprentices, disregardless of their education, be it BA or MD.” As a painter, he was not fond of the structured concision of constructive projects, present in Brazilian art in the 1950s and 1960s: the colors and vibrations of the land where he was born were his real interests. Not happy with his works of art exhibited between four walls, he soon realized the impossibility of expanding their circulation. At this moment the design opportunity emerged. In 1957, in Philadelphia (USA), Magalhães met Eugene Feldman, graphic artist and experimental typographer. In his publishing company – The Falcon Press – and at the Philadelphia Museum School of Art, he established the link between the profession of typographer practiced in O Gráfico Amador (The Amateur Graphic Designer), in his recent past in Recife, with the need for a project imposed by the reproduction techniques committed with high scale printing. Back to Brazil in 1960, he quit his painting activities and settled as a designer. In such way he assumed the social fundament of modern design – representing the opposition against the confined art to a limited consumption – leading to its integration in the quotidian. And, apparently, he was aligned with the international style defended by modern design. However, his signals and symbols reveal something beyond the simple obedience to the rules dictated by European modernism. According to his own words: “A brand establishes, through use, the exact notion of a concept. It does not give room to doubts. (...) The effectiveness of a company’s symbol is based on the clearness and precision with which it must be conceived. For that, legibility and easy memorization are necessary.” His speech does not give room to interpretations; “gestalt” guides his decisions. Even so, there is something to be observed in the formal result of his elaborations. His resource is not only regular geometry or abstraction. His transit does not follow a single construction pattern - which is when one of his originality patterns is established. It is possible to notice, in the 70-ish signals of great visibility that he designed between 1960 and 1975, the presence of a design characteristic that is not precisely incorporated in the modern design repertoire, mainly created by regular geometry. His curves are composed by arched segments, his signals join interlinked letters and many times seek for a figurative representation (even if reduced to basic features). His registering style is different. His theory may have the same “gestalt” fundament, his references may be the modern mid-century designers – Paul Rand, Ivan Chermayeff, Karl Gerstner, among others – but his interest is oriented towards the collective repercussion of his project. In an interview conceived to journalist Zuenir Ventura, he said: “after money, meaning currency design, after observing such extreme communication phenomenon, I could not satisfy myself exclusively with design”. And then his action progressed towards other fields. The idea of a harmonious development, in the social and economical meaning, incorporating the aesthetical value as the life conformer in his quotidian, and aggregating the cultural component, became his motto. In 1975, during a conversation with the minister of Industry and Commerce in that period, Mr. Severo Gomes,


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