A menina e o lobo conto popular francês Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pão e de leite para sua avó. Quando a menina ia caminhando pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe para onde se dirigia. __Para a casa de vovó - ela respondeu. __Por que caminho você vai, o dos alfinetes ou o das agulhas? __O das agulhas. Então o lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou seu sangue numa garrafa e cortou sua carne em fatias, colocando tudo numa travessa. Depois, vestiu sua roupa de dormir e ficou deitado na cama, à espera. Pam, pam. __Entre, querida __Olá, vovó. Trouxe para a senhora um pouco de pão e de leite. __Sirva-se também de alguma coisa, minha querida. Há carne e vinho na copa. A menina comeu o que lhe era oferecido e, enquanto o fazia, um gatinho disse: “menina perdida! Comer a carne e beber o sangue de sua avó!” Então, o lobo disse: __Tire a roupa e deite-se na cama comigo. __Onde ponho meu avental? __Jogue no fogo. Você não vai mais precisar dele. __Onde ponho meu corpete? __Jogue no fogo. Você não vai mais precisar dele. __Onde ponho minha saia? __Jogue no fogo. Você não vai mais precisar dela. __Onde ponho minha anágua? __Jogue no fogo. Você não vai mais precisar dela. __Onde ponho minhas meias? __Jogue no fogo. Você não vai mais precisar delas. Quando a menina se deitou na cama, disse: __Ah, vovó! Como você é peluda! __É para me manter mais aquecida, querida. __Ah, vovó! Que ombros largos você tem! __É para carregar melhor a lenha, querida. __Ah, vovó! Como são compridas as suas unhas! __É para me coçar melhor, querida. __Ah, vovó! Que dentes grandes você tem! __É para comer melhor você, querida. E ele a devorou.
Os três dons conto popular francês Era uma vez um menino cuja mãe morreu logo depois de seu nascimento. Seu pai, que ainda era jovem, tornou a se casar imediatamente; mas a segunda mulher, em vez de tomar conta do enteado, detestava-o de todo o coração e o maltratava. Ela o mandou cuidar dos carneiros, às margens da estrada. Ele tinha de ficar fora de casa o dia inteiro, tendo apenas, para se cobrir, roupas esfarrapadas e remendadas. Para comer, ela só lhe dava uma pequena fatia de pão, com tão pouca manteiga que mal cobria a superfície, por mais que ele se esforçasse em espalhá-la. Um dia, quando ele comia essa magra refeição, sentado num banco, espiando para seu rebanho, viu uma velha esfarrapada vir pela estrada, apoiada num bordão. Parecia uma mendiga, mas na verdade, era um fada disfarçada como as que existiam naquele tempo. Aproximou-se do menino e lhe disse: __Estou com muita fome. Você me daria um pouco de seu pão? __Ai de mim! Mal tenho que baste para mim mesmo, porque minha madrasta é tão sovina que, cada dia, corta para mim uma fatia mais fina. Amanhã, ainda será mais fina. __Tenha pena de uma pobre velha, menino, e me dê um pedacinho de seu jantar. O menino, que tinha bom coração, concordou em dividir seu pão com a mendiga, que voltou no dia seguinte quando ele se preparava para comer e pediu, mais uma vez, que tivesse piedade. Embora o pedaço fosse ainda menor que no dia anterior, ele concordou em cortar uma parte para ela. No terceiro dia, o pão com manteiga mal chegava à largura de uma mão mas, mesmo assim, a velha recebeu seu pedaço. Quando acabou de comer, ela disse: __Você foi bondoso para com uma velha que pensou que estivesse mendigando pão. Na verdade, sou uma fada e tenho o poder de lhe conceder três desejos, como recompensa. Escolha as três coisas que lhe darão maior prazer. O pastorzinho tinha uma besta na mão. Desejou que todas as suas flechas, sem perder uma só, abatessem passarinhos, e que todas as melodias tocadas por ele, em sua flauta, tivessem o poder de fazer todos dançarem, querendo ou não. Teve certa dificuldade em escolher o terceiro desejo; mas pensando em todos os maus-tratos recebidos de sua madrasta, teve vontade de se vingar e desejou que, todas as vezes que espirrasse, ela não resistisse e soltasse um peido alto. __Seus desejos serão atendidos, homenzinho - disse a fada, com trapos transformados num belo vestido e com o rosto tendo um aspecto jovem e fresco. À noite, o menino conduziu o seu rebanho de volta e, ao entrar em casa, espirrou. Imediatamente, sua madrasta, que estava ocupada fazendo bolos de trigo na lareira, soltou um alto e retumbante peido. E, cada vez que ele fazia “atchim”, a velha respondia com um som tão explosivo que ficou coberta de vergonha. Aquela noite, quando os vizinhos se reuniram para conversar sobre o dia e contar histórias, o menino deu para espirara com tanta freqüência que todos repreenderam a mulher por seus maus modos. O dia seguinte era domingo. A madrasta levou o menino à missa e se sentaram bem embaixo do púlpito. Nada incomum aconteceu durante a primeira parte do serviço; mas, logo que o padre começou seu sermão, a criança começou a espirrar e sua madrasta, apesar de todos os esforços para se conter, imediatamente soltou uma série de peidos e ficou tão vermelha que todos a olharam e ela desejou estar debaixo da terra. Como o ruído impróprio continuava ininterruptamente, o padre não conseguiu continuar seu sermão e mandou o sacristão levar para fora aquela mulher que mostrava tão pouco respeito pelo lugar sagrado.
No dia seguinte, o padre foi à fazenda e repreendeu a mulher por se comportar tão mal na igreja. Ela escandalizara toda a paróquia. __Não é minha culpa.- disse ela - Todas as vezes que o filho de meu marido espirra, não posso deixar de peidar. Estou ficando louca por causa disso. Exatamente nesse momento, o menino, que se preparava para sair com seu rebanho, soltou dois ou três espirros e a mulher “respondeu” imediatamente. O padre saiu da casa com o menino e caminhou a seu lado, tentando descobrir seu segredo e repreendendo-o o tempo todo. Mas o pequeno e hábil velhaco nada confessou. Quando passaram perto de um arbusto em que estavam empoleirados vários passarinhos, disparou num deles, com seu arco, e pediu ao padre para pegá-lo. O padre concordou mas, quando chegou ao lugar onde o pássaro caíra, uma área coberta de espinheiros, o menino tocou sua flauta e o padre começou a rodopiar e dançar tão rápido, sem conseguir conter-se, que sua batina ficou presa nos espinhos; e, não demorou muito, estava toda esfarrapada. Levou o menino perante o juiz de paz e acusou-o de destruir sua batina. __Ele é um bruxo malvado. - disse o padre - Deve ser castigado. O menino pegou sua flauta, que cuidadosamente enfiara no bolso e, logo que fez soar a primeira nota, o padre, que estava em pé, começou a dançar; o funcionário começou a rodopiar em sua cadeira, o próprio juiz de paz pulava sem parar no assento e todos os presentes sacudiram as pernas, de maneira tão incontida, que a sala do tribunal parecia um salão de baile. Logo se cansaram desse exercício forçado e prometeram ao menino que o deixariam em paz, se ele parasse de tocar.
Bibliografia dos contos DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episรณdios da histรณria cultural francesa. 2.ed. Traduzido por Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal.