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Caminhos do Peabiru

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Pesca

Pesca

Caminho do Peabiru Antes de os espanhóis e portugueses chegarem aqui, havia uma grande população indígena que ocupava as terras da América do Sul. Seus vários grupos mantinham contato através de trilhas que formavam uma teia imensurável. Esses caminhos ligavam pontos extremos do continente e, em sua totalidade, eram denominados por Caminho do Peabiru. Composto de um emaranhado de percursos, o Caminho de Peabiru tornou-se conhecido do homem branco nos tempos da caça insana promovida por espanhóis e portugueses ao tesouro de Potosí, na região do lendário Rei Branco, em terras da atual Bolívia. Esse caminho ligava Cananéia (SP) a Guaratuba (PR), Florianópolis (SC), Guaíra (PR), Potosí (Bolívia), Assunção (Paraguai) e Cuzco (Peru), o que permitia o contato das tribos da nação guarani com as do Norte e do Sul do Estado do Paraná, entre elas, as que habitavam os Campos de Piratininga (SP), os Campos Gerais (PR), o Chaco (MS) e os Pampas (RS), através de rotas denominadas Tupiniquim, Tupinambá, Tamoio, Guaná, Carijó e Guarani. Aqui mencionaremos um dos troncos principais, partindo de Cananeia, cruzando São Paulo, Paraná e Paraguai, chegando à Bolívia e ao Peru. Muitos traçados de rodovias modernas seguem as picadas feitas por essas tribos indígenas, pois foram demarcadas sabiamente em terreno pouco acidentado, contornando os obstáculos naturais. Peabiru, em tupi, significa “pe”, caminho, e “abiru”, gramado amassado. Através das vias tortuosas o comércio entre índios e incas era intenso, fato comprovado após um machado andino ter sido encontrado em Cananéia. Alguns trechos preservados têm o piso recoberto da grama puxa-tripa; outros têm piso de pedra, onde aparecem inscrições rupestres e mapas. Atualmente, pessoas de espírito desbravador estão tentando tornar o Caminho do Peabiru acessível, como forma de incentivo à cultura e de valorização da história dos nossos antepassados. Nada mais justo, pois o Peabiru é a prova concreta de que os índios que aqui habitavam antes da chegada dos “colonizadores” não eram tão grotescos e selvagens como os homens brancos os descreveram no início do século XVI.

Mas a participação do Bacharel de Cananeia na história da colonização não parou por aí. Com a morte de Pero Lobo na tentativa de chegar a Potosi, Pero de Góis, também da esquadra de Martim Afonso de Souza, mandou o Bacharel de Cananeia se entregar e este prestasse obediência à Coroa Portuguesa. Porém, Cosme não se entregou e ainda não reconheceu a região como sendo domínio português. Ameaçado de pena de morte, Cosme não teve dúvida, reuniu duzentos homens, armamentos de um navio francês que aportara em Cananeia e, protegido por uma trincheira e homens escondidos nos manguezais na barra do Icapara (atual cidade de Iguape), esperaram a chegada dos portugueses que vieram pelo mar e foram emboscados. Foi uma luta sangrenta, onde Pero de Góis saiu ferido e muitos morreram. O evento ficou conhecido como Entrincheiramento de Iguape. Felizes, Cosme e seus soldados partiram no dia seguinte, embarcados no navio francês, para atacar a Vila de São Vicente, onde apenas um terço dos habitantes sobreviveu. Foi a chamada de Guerra de Iguape. O fim do misterioso Bacharel de Cananeia também é incerto. Sabe-se que ele, depois de massacrar a Vila de São Vicente, voltou para Cananeia e expandiu seu domínio ainda mais na região. Mesmo com o desinteresse de grandes expedições pelos mares mais ao sul, Cananeia manteve sua vocação natural de porto e posto de abastecimento. Já no final do século XVI, a Igreja de São João Batista foi construí

da de forma peculiar, como um sistema defensivo de invasões, ou seja, muros altos e ausência de janelas, uma espécie de fortaleza. Em 1600, a Vila de São João Batista de Cananeia foi elevada a Conselho e começou a desenvolver a construção naval. No século seguinte, possuía cerce de quinze estaleiros. Com a queda na construção de embarcações, Cananeia entrou no século XX com sua economia voltada à pesca e ao turismo. Com a chegada da eletricidade, por meio da Usina de Força Municipal, a economia recebeu um impulso com o beneficiamento de arroz, engenhos de aguardente, fabricação de gelo, entre outros setores.

Cananeia recebeu o epíteto de Capital do Turismo Educativo por sua capacidade de reunir em um só lugar áreas preservadas de Mata Atlântica e mangue, arquitetura colonial e a cultura de comunidades tradicionais.

A força do Mar

QUEM AVISTA UM NAVIO, LÁ NO HORIZONTE, flutuando placidamente a espera de atracar no cais, na maioria das vezes, não imagina os perigos que os marinheiros ou pescadores já tiveram que enfrentar. O mar é lindo, com o sol refletido na superfície, a dança dos grandes cardumes, a companhia dos golfinhos, e com sorte, baleias exibidas, formam um espetáculo para poucos. Porém, esses poucos, sabem muito bem dos perigos da força do mar. Só esses poucos entendem o medo de um vagalhão, de uma corrente inesperada, do encontro das águas das chuvas com as águas do mar. O frio e a solidão em meio ao nada em um turbilhão de tantas variáveis. Das pontas dos promontórios e da baixa vi sibilidade. Muitas vezes, as luzes dos faróis apontam o caminho, o porto seguro, mas seguir o curso e ser desviado pelos caprichos das terras de Netuno, eleva o nível do desespero. O mar engole mercadorias e destinos. Muda a trajetória de famílias. Contudo, é preciso ganhar o pão de cada dia. E, quando avistamos um na vio, lá no horizonte, sabemos que os que estão embarcados, possuem toda a sorte do mundo e os que não estão certamente deixaram um oceano de saudade. E assim, no fundo do mar, é que mergulhadores e arqueólogos subaquáticos, resgatam essas histórias repletas de aventura e terror e trazem à luz seus destinos e sua humanidade.

Guasca O cargueiro a vapor brasileiro, Guasca, naufragou nas imediações de Cananeia em 1907 por colidir com o navio “San Lorenzo”. Foi construído no estaleiro John Elder & Co., em Glasgow, Escócia. Com destino a Santos, quando o Guasca saiu de Paranaguá, no dia 4 de dezembro de 1907, levava a bordo setenta

pessoas. No dia seguinte, às duas da manhã o vapor colidiu de forma violenta com o San Lorenzo, no Largo de Cananeia, devido a má visibilidade. No naufrágio morreram 29 pessoas.

Laguna No dia 13 de dezembro de 1963, o cargueiro “Laguna” naufragou a 10 milhas da Ilha do Bom Abrigo. As condições do mar eram boas, como também a visibilidade. O motivo mais provável do ocorrido foi o excesso de carga. Foram embarcadas cerca de 725 toneladas de farinha de mandioca, em Imbituba, SC. Segundo relatos de jornais da época, o “Laguna;’ só poderia levar 399 toneladas. Seu destino era o porto Rio de Janeiro. A Armadora era de propriedade da Empresa de Comércio e Navegação Peonea – Moinhos Itajaí S/A. Seu último contato foi no porto de Paranaguá. O navio foi fabricado na Itália no ano de 1948. Misteriosamente, quando a FAB encontrou o “Laguna”, este estava meio submerso, porém nenhum dos 16 tripulantes foram encontrados.

Conde D`Aquila Entre os anos de 2000 e 2003, o Conde D’Áquila, naufragado em 1858, no antigo porto de Cananeia, as serviço do Império do Brasil, foi pesquisado e muito foi desvendado, pois, com o assombro do ocorrido, uma lenda se criou. Segundo a população que testemunhou o naufrágio, os tripulantes do Conde D’Ávila, quando passava por Cananeia, falaram que “se não tivessem carvão para as caldeiras, eles queimariam as pernas da imagem de São João Batista”. O Santo castigou os tripulantes e incendiou o navio que ali mesmo afundou. A hipótese da origem da lenda está no tipo da embarcação que era movida à vela e a vapor, uma novidade na época, e fugia do normal, do tradicional. Não podemos esquecer que Cananeia era tradicionalmente um local de construção naval, com 17 estaleiros. Os navios eram todos à vela e aquele navio, movido também a vapor, possuía uma tecnologia inovadora, o Conde D’Áquila era uma prova de “uma nova concepção tecnológica e que aquele tipo de navio só poderia ser reparado em grandes estaleiros”. Ou seja, Cananeia iria perder um grande mercado a partir do momento em que as embarcações a vapor substituíssem as movidas por vela, segundo Gilson Rambelli, pesquisador e arqueólogo subaquático.

Outros naufrágios em Cananeia Ociania II - pesqueiro brasileiro naufragado em 1962. Elisa Sims - barca norte americana naufragada em 1891. Uma galera inglesa - naufragada em 1891, na Ilha do Cardoso. Perseverante - naufragado em 1931.

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