Animados Brinquedos Mariana Zancheta dos Santos
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Artes
Mariana Zancheta dos Santos
Animados Brinquedos Ensaio apresentado Trabalho de Conclusão de em Poéticas Visuais obtenção do título Bacharel/Licenciada em Visuais.
Orientador: Prof. Wilson Antonio Lazaretti
Campinas, dezembro de 2013.
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como Curso para de Artes
Dedico esse trabalho aos meus pais.
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“What happens between each frame is more important than what happens on each frame� (Norman McLaren, 1987)
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Agradecimentos Agradeço ao querido Wilson Lazaretti, por orientar-me nesse trabalho e ter contribuído imensamente para a arte que tanto amo, a animação, mostrando-me as possibilidades e o olhar poético que ela pode e deve ter. Ao Fernando Galrito que gentilmente aceitou participar da minha banca, contribuindo com sua vasta experiência na área. À querida Luise Weiss, minha orientadora de iniciação científica com a qual pude fazer uma deliciosa pesquisa na ilustração com xilogravuras e agora concordou em participar da minha banca de TCC. A todos os professores, técnicos e funcionários que participaram de meu percurso de Graduação no instituto de artes, que foi como uma segunda casa nesses cinco anos de percurso. Agradeço aos meus pais sempre ao meu lado, apoiando e discutindo caminhos, direções e opções; o amor, a paciência e todo o incentivo às minhas traçadas durante a vida. Ao meu pai em especial nesse projeto por carinhosamente ter aceitado contribuir para esse trabalho com o seu grande talento musical, o qual sempre admirei. Ao Lucas, pelo amor, companhia, amizade acima de tudo e pelas ajudas para o que der e vier, como longas tardes de animação no Laboratório de Imagem e Som. Aos amigos queridos Giovana, Natália, Aline, Thaysa, Filipe Miranda, Lina, pelas trocas de ideias, companherismo, compartilhamento de sonhos e projetos e gostosa amizade.
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Sumário
1 Apresentação.................................................................................................................7 2 Investigação...................................................................................................................8 3 Aprofundamento dos Conceitos....................................................................................9 3.1 Contexto Histórico....................................................................................................10 3.2 Taumatrópio ............................................................................................................11 3.3 Fenasquitiscópio.......................................................................................................13 3.4 Zoetrópio..................................................................................................................14 3.5 Mutoscópio..............................................................................................................15 4
Da
estrutura
dos
brinquedos
utilizados
e
suas
características
e
desafios...........................................................................................................................15 4.1 Tamatrópio...............................................................................................................16 4.2 Fenasquitiscópio.......................................................................................................18 4.3 Zoetrópio..................................................................................................................19 4.4 Mutoscópio...............................................................................................................20 5 A história......................................................................................................................22 5.1 Envolvimento com a narrativa..................................................................................22 6 Das técnicas plásticas utilizadas..................................................................................23 7 Estudos de animação...................................................................................................25 8 As filmagens.................................................................................................................26 9 Influências....................................................................................................................26 10 Considerações Finais..................................................................................................30 11 Referências Bibliográficas..........................................................................................32 6
1 Apresentação: A partir dos curtas e experimentos em animação que venho realizando desde 2010 (Img 1: Still do curta “Linha”, disponível em : https://vimeo.com/43361595 , participante e ganhador do Festival do Minuto Universitário de 2011.), decidi por fazer meu TCC dentro desse contexto. Sempre achei interessante os objetos que chamamos de brinquedos ópticos, que são praticamente a pré-história do cinema. Eles têm em si uma grande delicadeza, parece que são feitos de uma mágica para ser realizada diante de surpresos espectadores. Quis então lançar-me à empreitada de realizar um curta com cenas feitas somente a partir de brinquedos ópticos. O grande desafio foi pensar constantemente em cenas circulares, dado que os brinquedos óptico sempre formam um ciclo de repetição, por conta de seu funcionamento.
Img. 1 Linha, Mariana Zancheta, 2011
A princípio a ideia era fazer uma instalação com diversos brinquedos ópticos, um para cada animação desenvolvida. Eles seriam dispostos em nichos ou superfícies que pudessem sem montadas no espaço. Os espectadores camihariam pela instalação 7
manipulando os brinquedos e descobrindo a ordem criada para a narrativa. Porém, por falta de tempo ábil, optei por fazer o registro em vídeo, criando um curta-metragem, e tentei explorar as capacidades poéticas do trabalho nessa mídia também. O projeto de realização da instalação não foi abandonado, somentre prorrogado para ser bem planejado e executado no futuro.
2 Investigação Antes de iniciar minha produção, pesquisei sobre a animação em si e o Prof. Wilson Lazaretti me recomendou o autor José – Manuel Xavier, animador português participante do Monstra, a mostra internacional de cinema de animação de Lisboa. Ele faz uma distinção entre a animação prosaica e a poética, que é a excessão na produção atual, e que os artistas independentes procuram: “Existe, todavia uma outra forma de encarar a animação e o trabalho do animador. Tomá-los como uma forma de arte evocadora que, como na poesia, sugere sem obrigatoriamente contar.”1 Assim, busquei nesse trabalho uma animação suave, que sugira situações e sentimentos, sem ser totalmente narrativa. Optar pelo uso de brinquedos ópticos para se contar uma narrativa, é um novo experimento que visa o aproveitamento da poética de tal recurso na produção de animações. É algo completamente diferente das modas e clichês do circuito e que se distancia do cinema de imagem real. É, portanto a nusca de uma produção mais poética na animação. Pois, como diria o autor “Há mais de cem anos que a maioria dos autores, realizadores e animadores de filmes de animação imitam e continuam a 1
Xavier, José – Manuel. Poética do Movimento. Lisboa: Monstra, 2007, p. 24 e 25.
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imitar, de maneira absurda e estúpida, os mais triviais processos narrativos do cinema de imagem real”2
3 Aprofundamento dos Conceitos Há registros de estudos de fenômenos ópticos de desde Aristóteles e Roger Bacon, porém os brinquedos ópticos começaram a ser criados mais sistematicamente a partir do fim do século XVII. Começando pela câmara escura, que tinha um furo na parede, que projetava a imagem de fora da sala, o que encantou muito as pessoas e virou uma forma de entretenimento da época, um fenômeno muito conhecido e que contribuiu para a invenção da fotografia. Essa pré-história do cinema é cheia de pequenos inventos, diversos tipos de brinquedos ópticos que eram criados cada um aprimorando o anterior na arte da reprodução do movimento. Nessa história contada em A Grande Arte da Luz e da Sombra, de Laurent Mannonni, há muitos registros de diversas pequenas descobertas de estudiosos, por muitas vezes filósofos, cinetistas, físicos e matemáticos. Em muitos casos é até difícil atribuir a autoria, pois todos estavam investigando essa área ao mesmo tempo. Resumo aqui as invenções dos brinquedos que foram utilizados nesse trabalho a partir do citado livro. É importante ressaltar aqui, que apesar do termo “brinquedo óptico” que usamos atualmente, que surgiu pelo meio do século XIX, esses inventos eram feitos através de grandes pesquisas científicas e não tinham somente a intenção de entreter as pessoas, apesar de terem tornado-se objetos com os quais o grande público divertia-se, mas eram também investigações para entender e tentar reproduzir o movimento. 2
Xavier, José – Manuel. Poética do Movimento. Lisboa: Monstra, 2007, p. 36. 9
Uma consideração final sobre o funcionamento dos brinquedos para melhor entendimento de cada um individualmente é a questão do obturador. Para realizar a ilusão de movimento, não podemos somente contar com diversos desenhos que mudam um pouco entre um e outro para formar esse movimento no cérebro. Precisamos na verdade de cenas estáticas entrecortadas por uma pausa sem imagem para que o cérebro apreenda cada imagem de uma vez e ligue uma à outra. Fica fácil de entender se pensarmos em uma fita de filme 35mm: é uma sucessão de cenas estáticas, mas se passarmos essas cenas rapidamente na frente dos nossos olhos, só vemos um borrão. Passando-a por um projetor, no entano, podemos ver o movimento, isso porque o projetores contêm um obturador que se abre e se fecha para cada imagem, assim, vemos alternadamente uma cena do filme e um momento de escuridão, mas que acontecendo rapidamente nos dão a ilusão do movimento. Esse tipo de ideia foi usado na construção de brinquedos ópticos, a imagem é sempre entrecortada por momentos de escuridão conforme manipulamos os objetos e olhamos por seus orifícios.
3.1 Contexto histórico A maioria das investigações científica ópticas que levaram à invenção dos brinquedos ópticos ocorreu na França do século XIX. Apesar de sabermos de decobertas na área anteriores a esse período, é nele que elas se intensificam e avançam mais rapidamente culminando na invenção do cinema. Em muitos dos estudos da história do cinema os brinquedos ópticos foram deixados de lado, ou mencionados muito brevemente somente como parte do processo de evolução tecnológico. Porém, historiadores como Jonathan Crary , Tom 10
Gunning e Charles Musser oferecem uma abordagem alternativa à clássica história do cinema, tratando merecidamente dessas pequenas traquitanas.
A época na qual ocorreram essas pesquisas foi marcada por grandes mudanças que iniciaram uma tragetória de renovações políticas, econômicas e tecnológicas que só continuou aumento na medida dos anos.
A França do século XIX passou pela
revolução franceça, revolução industrial, a urbanização das cidades e desenvolveu novos paradigmas científicos. Houve também a evolução dos transportes, que alida a essas mudanças diminuiu a distância física e temporal do mundo, mudando as formas de pensar e tornando a troca cultural e científica muito mais intensa, o que contribui para o avanço das descobertas científicas, dado que os pesquisadores sabiam o que os colegas estavam pesquisando e desenvolvendo. Descobrir melhor como o próprio corpo funciona, também contribui para as pesquisas ópticas, pois agora sabia-se da importante relação entre o cérebro e o olho para a observação. Percebe-se que a imagem, o movimento, a experiência visual ocorre da interação do objeto com o aoarelhoo visual humano. O avanço do capitalismo e da dominação da fabricação industrial, fizeram com que as invenções ficassem conhecidas e fossem produzidas como pequenos brinquedos, para o divertimento da população beneficiada com a crescente universalização da educação.
3.2 Tamatrópio No começo do século XIX começou-se a perceber com mais atenção o efeito da ilusão de movimento, que ocorre graças à permanência da imagem na retina. Foi Peter Mark Rogert que atentou para essa explanação que hoje nos é muito conhecida.
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Em vários lugares da Europa foram feitas pesquisas sobre o fenômeno, Charles Babbage conta em sua biografia como seu amigo inventou o brinquedo: “Certo dia, Herschel, sentado comigo após o jantar, divertindo-se com fazer girar uma pêra sobre a mesa, súbito me perguntou se eu poderia lhe mostrar as duas faces de um shilling ao mesmo tempo. Tirei do bolso meu shilling e, mantendo-o na frente de um espelho, mostrei-lhe meu método. “Não”, disse meu amigo, “não é isso”. Então, fazendo rodopiar meu shilling sobre a mesa, ele me mostrou seu método de ver os dois lados simultaneamente. No dia seguinte, mencionei o ocorrido ao falecido Dr. Fitton, que, alguns dias depois, me trouxe uma bela ilustração do princípio. Consistia em um disco de cartão suspenso entre dois pedaços de fio de seda. Essses fios, seguros entre o polegar e o indicador de cada mão, eram então estendidos e rodopiados rapidamente, ao que o disco de cartão, claro, também rodopiava. Sobre um lado do disco estava pintado um pássaro; sobre o outro lado, uma gaiola vazia. Quando se giravam os fios rapidamente, o pássaro parecia ter entrado na gaiola. Logo fizemos diversas aplicações, como um rato de um lado e uma ratoeira do outro, etc. Isso foi mostrado ao capitão Kater, ao Dr. Wollaston e a muitos outros amigos, e, ao cabo de algum tempo, esquecido. Alguns meses mais tarde, por ocasião de um jantar no Royal Society Club, estando Sir Joseph Banks na cadeira, ouvi Mr Barrow, então secretário do Almirantado, falar em voz alta de uma maravilhosa invenção do dr. Paris, cujo objeto eu não pude compreender claramente. Chamava-se taumatrópio, e dizia-se ser 12
vendido na Royal Institution, na Albermarle Street. Suspeitando pudesse ter alguma ligação com nosso brinquedo sem nome, para lá me dirigi no dia seguinte e adquiri por 7 shillings e 6 pence, um taumatrópio, o qual, posteriormente, enviei a Slough, à falecida Lady Herschel. Era exatamente a coisa para cujo invento seu filho e dr. Fitton haviam contribuído, e que divertira seus amigos por algum tempo e depois fora esquecida”. 3 O taumatrópio fez bastante sucesso comercial, com desenhos impessos só com o contorno e posteriormente pintados à mão. Continha temas divertidos, políticos, poéticos, etc. Porém, acredito que os primeiros experimentos com objetos semelhantes ao taumatrópio sejam muito mais antigos, por tratar-se de um instrumento simples e intuitivo. O pesquisador e produtor de filme Marc Azéma da Universidade de Toulouse Le Mirail pesquisa cavernas na França que contém desenhos que parecem ser tentativas de reprodução de movimento, desenhando diversas patas de um animal sobrepostas em posições diferentes. Em uma de suas pesquisas, encontrou algo muito semelhante ao taumatrópio.
3.3 Fenasquitiscópio O fenasquitiscópio provavelmente surgiu a partir de outra invenção: a roda de Faraday. Ela era composta por dois riscos que ficavam um na frente do outro. Um fisco continha 16 entalhes feitos a intervalos regulares e o outro continha 16 aberturas em 3
Charles Babbage, Passages from the Life of a Philosopher (Londres, 1864), apud Henry Hopwood, Living Pictures (Londres: Optician and Photographic Trades Review, 1899), pp. 5-6 e Hermann Hecht, “The History of Projectinh Phantoms” em The New Magic Lantern Journal, 3 (2), Londres, dezembro de 1984, item 237D.
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internalos regulares, ambos presos por dentes a um mesmo eixo. Ao girar a manivela, um disco rodava para um lado e o outro para no sentido oposto. Porém, o efeito de movimento não era muito bem percebido, provavelmente por não se conseguir que os dois discos girassem na mesma velocidade. Plateau aprimorou a invenção criando o fenasquitiscópio, uma roda com 16 desenhos entre 16 aberturas e um eixo colado ao disco para formar uma manivela. Ao girar em frente ao espelho e olhar entre as aberturas pode-se ver o movimento, graças à permanência da imagem na retina. Plateau fez primeiro o experimento com uma imagem fixa e depois realizou a ilusão de movimento em pequenas animações: “Se, em vez de ter apenas figuras idênticas, fizermos de modo que passem de uma forma ou posição para outra, fica claro que cada um dos setores, cuja imagem no espelho ocupará sucessivamente o mesmo lugar em relação ao olho, portará uma figura que diferirá ligeiramente daquela que a precedeu; de sorte que, se a velocidade for bastante grande para que todas essas impressões sucessivas se unam às outras, mas não a ponto de se tornarem confusas, acreditamos ver cada pequena figura mudar gradualmente”.4
3.4 Zoetrópio O Zoetrópio também foi desenvolvido a partir de experimentos anteriores, principalemente do próprio fenasquitisópio. Simon Stampfer e William George Horner tiveram a mesma ideia para desenvolvimento desse aparelho. Tem a mesma 4
J. Plateau, “Sur un nouveau genre d’illusion d’optique” em Correspondance mathématique et physique, nº 6, Bruxelas, pp. 365 – 368, A página de título desse volume tem a data de 1832, mas o artigo de Plateau deve ter aparecido em fevereiro de 1833 (observação de Laurent Mannoni em A grande Arte da Luz e da Sombra. São Paulo: Unesp, Editora USP, 2003).
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funcionalidade do fenasquitiscópio, porém com estrutura diferente: um disco na horizontal, apoiado sobre uma estrutura com manivela para rodá-lo, tem uma tira colada perpendicularmente ao disco, formando uma parede por toda a circunferência. Possui também as aberturas para visualização na parte superior da parede e a animação é feita de desenhos (o número de desenhos corresponde ao de abertura) que são colocados na parte interna da parede do zootroscópio.
3.4 Mutoscópio Em 1894 William Kennedy Laurie Dickson criou o mutoscópio. Seu funcionamento, na verdade era muito semelhante e foi baseado em um outro brinquedo óptico, o folioscópio. O mutoscópio compunha-se de uma roda com várias cenas sucessivas de um movimento presas a um eixo cilíndrico central ligado a uma manivela externa. Possuía um pequeno braço que parava rápida e sutilmente os quadros para a visualização do movimento. Além disso, ele dispunha de uma lente para ampliar a imagem e luz interna. O mutoscópio utilizado nesse trabalho, no entanto, assemelha-se mais ao folioscópio, que é montado de forma mais rudimentar: sem a lente e a iluminação interna e é manipulado com o dedo, substituindo o braço.
4 Da estrutura dos brinquedos utilizados e suas características e desafios. Para realizar esse trabalho escolhi trabalhar com quatro tipos de brinquedos ópticos: o taumatrópio, o mutoscópio, o Zoetrópio e o fenasquitiscópio. Escolhi-os por serem alguns dos tipos mais simples e rudimentares, e que fazem parte das pesquisas do Professor Wilson, que trabalha com tal tecnologia. Cada um ofereceu possibilidades e desafios para a criação das cenas. 15
4.1 Taumatrópio Para a realização das cenas com taumatrópio, montei uma pequena estrutura. Para fazer o efeito que ele proporciona, há vários modos de montagem, um dos mais conhecidos é onde duas rodas de papel coladas uma de costas para a outra com um barbante no meio, ou preso às extremidades. O Professor Wilson, no entanto gosta de utilizar o modelo “pirutito” onde as costas das rodas são presas em um palito e para fazer o movimento é só esfregar o palito, como se faz em um pirocóptero. Com o tempo ele teve a ideia de colocar o palito dentro da parte externa de uma caneta esfereográfica (no lugar da tinta) e passou um barbante por ele, assim uma pessoa segura a caneta e a outra puxa ora de um lado e ora de outro para fazer o movimento, permitindo um resultado muito mais nítido. Resolvi adaptar essa ideia para um suporte que pudesse ficar fixo e que cada um pudesse manusear sozinho. Fiz três furos em uma base, coloquei a caneta no furo do meio e dois palitos nas laterais com contas de madeira nas extremidades e pelos furos das contas passei o barbate.
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Img. 2 Taumatrópio. O taumatrópio mostra somente uma fusão de imagens, não há representação de movimento. Resolvi utilizá-lo para cenas estáticas impactantes, como a tentativa de beijo, ou com essa ideia de copletar-se com os dois lado, como na primeira cena animada da garotinha atrás da porta.
Img. 3 Desenhos das cenas com taumatrópio. 17
4.2 Fenasquitiscópio Construímos esse brinquedo de maneira bem simples: um disco com 16 aberturas vazados para ver a animação, com um eixo colado em seu centro e um outro tubo exterior ao eixo para segurar o brinquedo.
Img. 4 Pintura de animação de fenasquitiscópio
O Fenasquitiscópio possui 16 quadros e seu maior desafio são os frames em forma triangular. Por isso nas duas animações que fiz com ele quis explorar duas ideias que acho que ficam bem para esse brinquedo: fazer uma animação onde, como é possível vizualizar as 16 posições em movimento, fica interessante fazer uma animação que tenha continuidade em todas essas posições. Foi o que fiz com a espiral inspirada no diafragma das câmeras reflex. O outro caso foi criar uma composição que lembrasse uma mandala, harmonizando com sua forma peculiar.
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Img. 5 Desenho de animação de fanasquitiscópio. 4.3 Zoetrópio O Zoetrópio é constituído de uma base sobre a qual coloca-se um disco tangenciado na perpendicular por um outro disco com um pegador para virar a manivela que gira o disco maior. Sobre o disco maior prende-se uma parede vazada com 18 orifícios no caso desse tamanho que montamos.
Img. 6 Um zoetrópio
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O Zoetrópio possui fácil manejo e frames de forma retangular. Minha maior dificuldade com eles foi no registro fílmico. Como suas paredes são pintadas de preto para melhorar a fluidez da animação, os registros acabaram ficando um pouco escuros, tive que recorrer a ambientes muito iluminados para tentar melhorar os resultados.
Img. 7 Desenhos de animações em zoetrópio.
4.4 Mutoscópio O mutoscópio utilizado é formado por uma caixa com um eixo de rotação no meio e ligado a uma manivela por fora. No eixo há duas molas fizadas por desbaste da madeira, onde os papéis são presos perpendicularmente. Para executá-lo é preciso deixar um dedo levemente apoiado sobre o canto do primeiro frame e aplicar uma leve pressão enquanto a manivela é rodada.
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Img. 8 Um mutoscópio.
Com o mutoscópio tive dificuldade em encaixar os frames e manusear o brinquedo. Como fiz todos com aquarela ou com base de aquarela, precisei recorrer ao papel adequado para a técnica, que para resistir à água tem uma gramatura muito maior do que, por exemplo o sulfite, assim, foi difícil encaixar na mola. E quando fui manuseá-lo, o manejo mostrou-se difícil por causa da resistência do papel. Além disso, às vezes, se introzudia os papéis até o fim da mola, ela ficava mais dilatada e assim o eixo rodava em falso.
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Img. 9 Outra vista do mutoscópio (molas onde deve-se prender os frames).
5 A História A história retratada no trabalho é bem simples: uma pequena menina descobre um baú cheio de objetos, brinca e imagina situações com eles, porém, ao brincar ela também cresce e torna-se adulta. A brincadeira continua, até que ela percebe que não quer ainda ser dos grandes, quer mesmo aproveitar a sua vida de criança. Essa narrativa é contada sutilmente pelas pequenas animações feitas em brinquedos ópticos. Por serem cenas circulares de curta duração, elas têm que ser muito bem planejadas e geralmente mostram a animação com sutileza. Acredito que a história é contada, porém de forma muito suave, deixando grande margem de interpretação ao espectador, o que acredito ser de uma beleza crucial na Arte.
5.1 Envolvimento com a narrativa Por tratar-se de um tema voltado à infância, acabei por utilizar-me de minhas próprias memórias e referências pessoais. Algumas brincadeiras foram relembradas, como a amarelinha, a curiosidade de mexer num baú de avó, as descobertas. Mas, 22
acima de tudo, a imaginação, para criar novas realidades, novos mundos, novas brincadeiras. Sou filha única e assim minha infância foi um pouco solitária, mas instintivamente comecei a criar minhas próprias brincadeiras sempre imaginando situações e histórias. Abordei, no entanto, de forma bem indireta a relação da personagem com a minha infância, com a minha memória, utilizando, principalmente cenários da minha casa, onde morei muitos anos, e parte da minha infância. Achei que esses elementos conversavam muito com a animação que estava criando e aproveitei para dar mais dinâmica às cenas gravadas dos brinquedos.
6 Das Técnicas Plásticas utilizadas Iniciei as animações com uma técninca mais simples: o lápis de cor, por achá-lo mais prático e porque foi mais intuitivo usá-lo para animar. Porém, conforme fui desenvolvendo a história e pensando nas animações, achei que seria interessante explorar outras mídias. Também achei interessante em fazê-lo por tratar-se de um TCC, onde poderia refletir sobre todo o meu trajeto no curso e não só utilizar as soluções práticas que encontrei para as minhas produções durante esse percurso; como também experimentar como novas técnicas podem ser abordadas na animação. A segunda técnica utilizada foi a aquarela, adotei-a por sua beleza e fluidez, que acreditei serem interessantes para usar nas animações onde a personagem se imagina em diversas situações. Assim, utilizei a aquarela principalemente nas cenas do mutoscópio, por serem mais longas, o que é mais adequado para mostrar essas situações imaginativas.
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Fiz uma animação com caneta esfereográfica. É uma solução plástica que aprecio muito, tem um tratamento um pouco sujo pelos tracejados sobrepostos e pode ter diversas hachuras para crias suas massas. Gosto muito do fato de não poder apagá-la, de ter de lidar com o desenho, de fazer uso dos erros, pois todos os traços vão constituir a imagem final. Por último, utilizei a aquarela como base para outras experimentações: o lápis de cor, o nakin e a costura. Com o lápis explorei a dinâmica entre a mancha e o traço, a área suavemente tingida pela aquarela e as marcas, a textura e a matéria deixadas pelo lápis de cor. Com o nankin quiz explorar o desenho monocromático a partir de um fundo fluido. Já a costura, é uma técnica que acompanha-me sempre e com a qual já realizei diversos trabalhos. Muito ligada à minha vida, onde sempre gostei do artesanato, aprendendo com a minha mãe e minha avó desde pequena. Assim, é algo que trago comigo desde a infância e com a qual criei diversos objetos, criaturas e cenários fantásticos. Achei que era então imprescindível incluí-la no meu TCC.
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Img. 10 Exemplos de três frames feitos com diferentes técnicas: o primeiro somente com aquarela, o segundo com aquarela e costura e o terceiro com aquarela e lápis de cor. 7 Estudos de animação Para a maioria das animações, não só em brinquedos ópticos, mas nos métodos tradicionais e até digitais de animação, precisamos sempre ter algum planejamento do movimento. Muitas vezes, faz-se uso dos storyboards com as cenas principais a serem trabalhadas, dentro de uma cena, pode-se especificar os quadros mais importantes (os quadros-chave, ou keyframes).
Img. 11 Página de caderno de planejamento de animações. Achei de fundamental importância planejar várias das animações desse projeto, principalmente porque tinha uma quantidade limitada de quadros para desenvolver cada cena, que acabava sendo constituída de um movimento ou acontecimento bem simples. Assim, no meu caderno de rascunhos e planejamentos do projeto, desenhei vários pequenos storyboards para guiar as criações.
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Img. 12 Img. 11 Páginas de caderno de planejamento de animações. 8 As filmagens As filmagens foram feitas com câmera reflex semi-profissional e tripé para maior qualidade de imagem. As gravações foram feitas na minha própria casa, utilizando a luz natural. Para isso gravava somente em um tempo determinado do dia: das 10h às 17h para ter bastante luminosidade e tentar manter a mesma intensidade. Além da gravação das animações nos brinquedos ópticos, capturei detalhes da casa, do jardim, da vida simples e tranquila que transmito indiretamente na minha narrativa. E por ter tornado-se uma história ligada à minha memória e infância, fiz questão de usar essa outra memória física da minha casa.
9 Influências Norman Mclaren Grande animador e referência na história do cinema, o escocês Norman Mclaren trabalhou muitos anos na National Film Board of Canada, onde produziu seus filmes mais conhecidos. É autor de belas e muito poéticas produções. Tem uma simplicidade e um pensamento plático incrível. Gostaria de ter um pouco da poética que esse grande mestre nos apresenta. 26
Img 13. “Le Merle”, Norman Mclaren, 1958.
Juan Pablo Zaramella
Img. 14: “Luminaris”, Juan Pablo Zaramella, 2011.
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Diretor independente argentino, é responsável pelo roteiro, direção e animação de seus filmes. Muito premiado pelos seus curtas no mundo todo, seu último trabalho, Luminaris já ganhou mais de 150 prêmios. Ele apresenta uma simplicidade de idéias e processos de criação encantadores. Parece sempre querer contar algo fantástico, que venha da imaginação, do sonho, de uma vontade. Sua qualidade visual é incrível e suas histórias envolventes, todas muito simples, mas cativantes, pois remetem as nossa próprias lembranças, do mesmo modo que quis trabalhar com o meu projeto.
Img.15
“Lapsus”, Juan Pablo zaramella, 2007.
Hayao Miyasaki Nascido em 1941 esse senhor diretor participou de belíssimas produções. Interessa-me a qualidade plástica de seus trabalhos, que ainda são produzidos com a maior parte em animação tradicional; e suas histórias que abordam a imaginação, lendas, mitos, culturas. Seu filme de sucesso foi Mononoke Hime (princesa mononoke) e em 2001 ganhou o Oscar de melhor filme de animação com A Viagem de Chihiro.
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Img. 16: “A viagem de Chirriro”, Hayao Miyazaki, 2001.
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10 Considerações Finais
Ao lançar-me na exploração de uma experiência de narrativa com objetos tão simples e intuitivos, que são o passado do cinema, conhecido por todos, porém com origem pouco divulgada, envolvi-me por essa arte encantadora. Não foi fácil, é claro, muitas vezes me vi obrigada a retornar à escravaninha para continuar as pinturas, e o desânimo de lembrar que tudo sempre tinha que ser repetido para cada frame, muitas vezes me abatia. Porém, ao mesmo tempo que havia a angústia, o cansaço, outros sentimentos foram surgindo. A sensação e satisfação por criar algo diferente, com uma poética peculiar, que encanta, como é a mágica do movimento. E os laços afetivos pela realação da história ao meio da minha própria, que surgiu sem intenção e aos poucos foi se instalando e crescendo no projeto em sua reta final. Gostaria de ter tido mais tempo para fazer uma pesquisa sobre a técnica e sobre essa relação com memória e infância que acabou surgindo. Porém, como essa questão só apareceu mais ao término do projeto, não tive como conciliar essa pesquisa à vasta prática que estava desenvolvendo. Fica então a vontade de dar continuidade ao trabalho, explorá-lo mais, investigar suas potencialidades e transformá-lo cada vez mais em produção artística de relevância. Observando todo o trabalho feito, é títido o caráter circular nele envolvido. O pensamento foi tatalmente voltado para essa qualidade que os brinquedos ópticos apresentam-nos. A história também traça esse movimento, passando de uma brincadeira, para o crescimento da personagem, para voltar a sua infância, ou para refletir que não quer acelerar o ritmo natural das coisas, ou então a vontade que 30
temos de poder voltar à infância, a brincadeira, o lúdico, o ingênuo. Por fim, também representa um fim de ciclo pessoal, ou seja, o término da graduação, um caminho percorrido com esforços e prazeres e que chega ao seu término com o presente trabalho.
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11 Referências bibliográficas: Livros: WELLS, Paul. Scriptwriting: developing and creating text for play, film or broadcast. Lausanne; London: AVA Academia, 2007.
XAVIER, José-Manuel. Poética do Movimento. Lisboa: Monstra, 2007.
MANNOLI, Laurant. A Grande Arte da Luz e da Sombra: arqueologia do cinema. São Paulo: SENAC: Editora da UNESP, 2003.
WILLIAMS, Richard. The Animator’s Survival Kit. London; New York, NY: Faber & Faber, c2001.
MIRANDA, Maria Cristina. Novos modos de atenção, lazer, desejo e percepção – aparelhos
ópticos
do
século
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CAp-UFRJ
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CEURSTEMONT,Sandrine. Stone-Age cinema: Cave art conceals first animations. New Scientist TV, 2013. Disponível em: < http://www.newscientist.com/blogs/nstv/2013/01/stone-agecinema-cave-art-conceals-first-animations.html > acesso em: 20 setembro de 2013.
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