Priscilaguerra

Page 1

!

TELEALTERIMAGEM Priscila Duarte Guerra


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Priscila Duarte Guerra

Departamento de Artes Plásticas

TELEALTERIMAGEM

Priscila Duarte Guerra TELEALTERIMAGEM

Trabalho(Final(apresentado(( à( disciplina( Projeto( Experimental( II( como( parte( obrigatória( para( a( obtenção( da( Graduação( em( Artes( Visuais.( Orientadora:(Profa.(Dra.(Sylvia( Helena(Furegatti( (

Campinas 2013

Campinas, 2013


BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Sylvia Helena Furegatti Prof. Dr. Hermes Renato Hildebrand Profa. Dra. Cristina Meneguello Suplente: Prof. Dr. Paulo César Teles

DEDICATÓRIA Dedico este ensaio aos meus familiares, Gustavo Duarte Guerra, Leorides Severo Duarte Guerra e Nestor José Guerra pelo apoio incondicional e pela confiança.

Campinas, 06 de novembro de 2013 (

2(


APRESENTAÇÃO Podemos entender a idéia de autoconhecimento como campo formado a partir da relação entre o eu e o AGRADECIMENTOS Agradeço especialmente à minha orientadora por toda dedicação e ajuda de sempre durante todo meu percurso.

Agradeço aos meus familiares e amigos que mesmo de longe me auxiliaram em momentos difíceis.

outro. Nesse sentido, a sombra adquire, sob o viés psicanalítico, o caráter de portadora de aspectos negativos da personalidade que evitamos reconhecer, impedindo nosso auto conhecimento. O projeto TELEARTEIMAGEM, trabalho de conclusão de curso elaborado de modo prático e textual trata de liberar o público de suas “cavernas platônicas” interiores de modo que a experiência artística proposta

possibilite

o

deixar-se

julgar

de

forma

desconhecida pelo olhar do outro. Outro este que pode encontrar-se à distância, em qualquer parte do mundo e nos observar em tempo real, através da espacialidade de uma imagem holográfica desmaterializada.

INTRODUÇÃO

(

3(


A tecnologia se faz cada vez mais presente em nosso cotidiano. Nós a observamos através de dispositivos como,

homem vai encontrar outras territorialidades a serem exploradas. O corpo torna-se objeto da atuação humana.2

por exemplo, celulares, computadores, televisores, etc.

O corpo passa a ser monitorado, vigiado por todos

Entretanto, podemos considerar tecnologia o simples fato

em qualquer parte do planeta, num fenômeno nomeado

de se criar um novo instrumento que auxilie o homem em

“Voyeurismo Mundial” por Paul Virilio. A intimidade é quase

algum tipo de tarefa. Em seu significado etimológico, a

inexistente, estamos expostos aos olhares de todos.

palavra tecnologia vem do grego “tekhne” que significa

O papel do artista dentro deste âmbito é justamente

técnica, incorporado ao sufixo “logia”, que significa estudo.1

desvendar e criar novas relações sensoriais para o público,

Desta forma, a tecnologia nasce com o homem em sua

explorando

necessidade de sobrevivência e conquista do mundo.

fronteiras”.

os

diversos

aspectos

do

mundo

“sem

Segundo Paul Virilio (1999), o uso da técnica passou a

Assim sendo, como artista visual inserida neste

ter outros objetivos à partir do século XX, com a vontade do

contexto histórico social, as questões que embasam minha

homem moderno em buscar novos territórios unindo

pesquisa estão ligadas à aspectos voltados ao campo da

diversas localidades, na chamada globalização. Quando não

Arte

havia mais possibilidade de se explorar lugares novos, exaurida no exemplo célebre da conquista do espaço, com Neil Armstrong sendo o primeiro homem a pisar na Lua, o (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 1(SIGNIFICADOS. O que é tecnologia. Disponível em : http://www.significados.com.br/tecnologia-2/. Acesso nov. 2013.

(

e

Tecnologia,

cada

vez

mais

discutida

na

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 2(VIRILIO, P. A bomba informática. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 1999. “Portanto era apenas uma questão de tempo para que se efetuasse a transferência das pulsões expansionistas do Ocidente, da geografia exaurida do corpo terrestre ao corpo do homem-este último recanto do planeta ainda inexplorado e relativamente protegido pelos últimos interditos culturais, sociais, morais...” p 57.

4(


contemporaneidade, tendo mostrado seu apogeu na

consciência do lado obscuro de nossa personalidade, por

década de 1960, com artistas como Júlio Plaza, Regina

meio de um processo que requer esforço, mas possibilita

Silveira, entre outros, que dentre várias experimentações

estar em contato real com o mundo.

inserem o vídeo e a arte-comunicação no panorama artístico nacional.

A concepção e o desenvolvimento do projeto TELEALTERIMAGEM são abordados à partir das idéias

As aparências que utilizamos para estabelecer nossas

mencionadas anteriormente, de modo a traçar sua trajetória

relações com os outros e com o mundo, cada vez mais

artística

perpetuadas pelo “voyeurismo mundial”, no qual a criação

utilização da sombra como temática, até um interesse pela

de diversas máscaras é incentivada para gerar um mundo

criação de trabalhos envolvidos no campo da arte e

ilusório, virtual, é o ponto que pretendo discutir no trabalho,

tecnologia.

trazendo como temática unida à tecnologia o elemento da

presentes na instalação artística criada que dá título ao

sombra.

projeto, emprego análises e exemplos de trabalhos de

A

sombra

é

abordada

plasticamente

e

desde

simbolicamente no trabalho. Em seu sentido simbólico trago

artistas

conceitos e definições postuladas pelo psiquiatra Carl

semelhantes.

Para

os

primeiros

fatores

complementar

contemporâneos

que

e

motivadores

reforçar

indagam

da

conceitos

questões

Gustav Jung para quem, a sombra é definida como uma parte de nós que porta aspectos negativos socialmente

DESENVOLVIMENTO

estipulados, como, por exemplo, o egoísmo e a inveja. Assim, o autoconhecimento pode aflorar quando tomamos

(

5(


O desenvolvimento da pesquisa prática elaborada durante o curso de Artes Visuais teve início com um trabalho realizado para a disciplina Escultura II, na qual a proposta era a de criar uma obra ligada ao conceito de Apropriação artística. Desta forma, realizei um projeto intitulado “Caixa de Pandora”, no qual proponho um formato e materialidade que possibilite ao público, ao abrir as caixas que constituem o trabalho, observar a sombra apropriada pelo artista através da fotografia. Com este trabalho pretendo que esses observadores passem a assimilar de forma simbólica, os lados obscuros da sombra, por meio dessa experiência

( Figura'1.'Caixa'de'Pandora,'2010.

estética. A elaboração de “Caixa de Pandora” contou com referências de trabalhos da artista Regina Silveira. A admiração e a pesquisa sobre seu trabalho levantaram questões sobre quais seriam as relações de suas sombras com o espaço público e o espaço de museus e galerias. Essas indagações tornaram-se uma pesquisa de iniciação

(

6(


científica PIBIC/CNPq intitulada REGINA SILVEIRA: a

O primeiro semestre de pesquisas para o Trabalho de

contestação do espaço realizada no período de agosto de

Conclusão de Curso foi realizado entorno da sombra

2011 a julho de 2012.

enquanto fisicalidade e estudo de sua manifestação em

Nesta pesquisa um dos objetivos principais era

diversos períodos do dia, em diferentes localidades. Desta

estudar a relação de sua obra com a tecnologia. Foi possível

forma, em um primeiro momento, procurei registrar a

concluir que Regina Silveira utiliza-se dela como forma de

sombra em duas localidades que faziam parte de meu

agilizar seu processo de trabalho, sem exageros para que

trajeto rotineiro no ano de 2012. Registrei sombras em

não haja perda poética e expressiva na obra. Silveira, assim

Santo André, minha cidade natal e em Campinas. As

como outros artistas que vêm depois dela, respondem a

sombras registradas são de transeuntes que cruzam meu

uma demanda globalizada da conhecida relação homem-

caminho. Elas adquiriram um caráter antropológico ligado à

máquina, problematizando as transformações que estão por

memória das pessoas que transitam por um determinado

ocorrer no ambiente institucional da arte, os espaços

espaço, que marcam seu território em determinado local e

habitacionais e o da cidade.

determinado tempo, com formas que não permitem a

A abordagem da tecnologia que pude verificar em seu trabalho também serviu como influência em meu trabalho prático.

identificação do seu portador, mas apenas a visualização de formas enigmáticas. O trajeto dessas sombras e a memória deixada pelo indivíduo que passa, foram as questões levantadas durante

1. TCC 1

(

o TCC I. Nesse trabalho, a combinação entre o caminhar

7(


pela cidade e o registro de diversas sombras em

Fronteiras.

determinados percursos pode ser definida como bem

Technologies Numériques I (Master Artes e Tecnologias

sugere Michel de Certeau por “atos de falas de pedestres”,

Digitais I) na cidade de Rennes. O curso contava com alunos

no caso, atos de falas das sombras.

de diversas áreas como música, artes cênicas e artes visuais,

Este

primeiro

período

de

experimentações

Neste

período

cursei

o

Master

Arts

et

foi

formatado por caráter multidisciplinar bastante forte. O foco

registrado em diversos meios e suportes, como fotografia,

do curso é dado pela parte teórica do campo da arte e

vídeo, animação, desenho e projeto de instalação.

tecnologia,

Os

o

diversos meios me permitiram explorar de diversas formas

conhecimentos

os conceitos de tempo, local e identidade.

graduação.

Para melhor compreensão do comportamento físico e

que

me

adquiridos

deu

base

neste

para

último

aplicar

os

semestre

da

A forma de avaliação de uma das disciplinas deste

constitutivo da sombra, foi feito contato com o especialista

curso

da Unicamp em Física Óptica, Prof. Dr. José Joaquín

technologies numériques I (Práticas artísticas e tecnologias

Lunazzi. Deste contato surgiu um interesse pela holografia e

digitais I) se daria através da redação de um artigo que

na exploração da produção desse tipo de imagem.

tratasse de um recorte temático que unisse arte e

em

Rennes

intitulada

Pratiques

plastiques

et

tecnologia. Para tanto, criei o artigo intitulado O holograma 2. FRANÇA

e a identidade em relação às obras de Margaret Benyon,

Em Junho de 2012, parti para a França para realizar

Ana Maria Nicholson e Ikuo Nakamura (L’hologramme et

um intercâmbio de um ano pelo programa Ciência sem

l’Identité par rapport aux oeuvres de Margaret Benyon, Ana

(

8(


Maria Nicholson et Ikuo Nakamura). Neste artigo minha

imagem holográfica, encontrada no fundo da sala, contida

curiosidade já iniciada no TCC I com relação ao holograma,

em um suporte de vidro. Este espaço deve ser escuro para

foi mais bem desenvolvida. Nele abordo a teorização da

poder captar a sombra dos indivíduos e assim formar a

holografia e sua utilização como meio técnico no domínio

imagem holográfica.

da arte e da tecnologia baseado sobre a análise de obras de

O conceito que embasa o trabalho Double invasive é

artistas que possuem como ponto comum o trabalho com o

semelhante àquele que elaboro mais tarde para construir o

corpo e o retrato do homem, estabelecendo relações entre

projeto

indivíduo e identidade, imagem holográfica e a sociedade.

desavisadamente, os visitantes entram no espaço onde seus

pelo

TELEALTERIMAGEM,

pois

aqui

também,

Inspirada pelas idéias contidas neste artigo e também

próprios corpos acionam um dispositivo que captura sua

conhecimento

imagem, sua sombra e a transforma em holografia.

adquirido

em

outras

disciplinas

paralelas, criei um projeto intitulado Double invasive que

Por motivos de dificuldade na execução, além de

surgiu como base para a proposta de TELEALTERIMAGEM.

problemas com orçamento, esta idéia foi postergada e o

O projeto toma a forma de uma instalação que consiste em:

contexto geral dirigido para o projeto TELEALTERIMAGEM.

os visitantes entram no espaço expositivo, esta ação aciona

Este projeto é sustentado pela tecnologia em seus

um sensor de movimentos, como o Kinect, que captura os

conceitos e temática, semelhante ao uso que Regina Silveira

sinais de presença e lança um laser, para criar o efeito de

aplica em seus trabalhos.

monitoramento e vigilância. Em seguida, o mecanismo traduz as informações captadas e as emite em forma de uma

(

3. TELEALTERIMAGEM

9(


Figura'2.'Double'invasive,'2013.'Projeto'produzido'durante'intercâmbio'na'França.


'''''''''''''Figura'3.'Double'invasive,'2013.'Projeto'produzido'durante'intercâmbio'na'França.


O trabalho que me propus a realizar para a disciplina

captadas pelo computador do primeiro ambiente serão

Projeto Experimental II como projeto de conclusão de curso

transmitidas simultaneamente para o notebook do segundo

consiste em criar dois ambientes que se comunicam pela

ambiente. Essas imagens, portanto emitidas pelo projetor,

ideia da presença. Em uma primeira sala, um computador

serão as mesmas que observamos no primeiro ambiente da

está

instalação, elas serão refletidas pelo espelho e projetadas

apoiado

em

uma

mesa,

com

o

programa

Skype/Facetime ligado. A câmera do computador aponta

no vidro, criando um efeito de ilusão de ótica.

para a porta da sala onde ele se localiza. Esta sala é escura e

O conceito central do trabalho é criar na primeira sala

vazia, a única luminosidade é adquirida através do visitante

uma referência ao mito da Caverna de Platão. Esta metáfora

que entra neste local. Como a luz ilumina o indivíduo por

filosófica

suas costas, cria-se um negativo de sua forma além de sua

acorrentados em uma caverna observando as sombras do

sombra projetada no chão.

que ocorria externamente à ela. Essas sombras eram

No segundo ambiente, encontra-se sob uma mesa

descreve

homens

que

passaram

a

vida

tomadas como realidade por aqueles que as viam.3

um espelho de 75cm x95cm, com 3mm de espessura. Em

O que está implicado neste primeiro momento da

um ângulo de 45° deste espelho deitado, há uma placa de

instalação artística proposta neste trabalho é justamente o

vidro transparente, com as mesmas medidas respectivas do

estopim para o que ocorrerá em seguida (na segunda sala),

espelho. Saindo do teto, perpendicular à este, um projetor

sobre

é conectado à outro computador e emite imagens. Ambos

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 3 (Idéias contidas em : PLATÃO. A República. Edição: Victor Cívita.

os computadores estarão conectados ao Skype, as imagens

(

a

libertação

de

nossas

“cavernas

platônicas

Tradução: Enrico Corvisieri. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1997, p. 225228.(

10(


interiores” e como reelaboramos o que tomamos por

Quando se observa a imagem de uma pessoa

realidade quando deixamos o olhar do outro interferir sobre

retratada, o que nos é fornecido são somente momentos

a concepção do self.

fugazes e passageiros fixados por um dispositivo óptico.

No segundo ambiente o que ocorre é justamente

Desta forma, nota-se somente o registro de um breve

essa transformação de si-mesmo através da visão do outro.

momento das diversas manifestações do que cerca o

A criação do título do projeto também vem desta relação de

observado. A idéia de identidade não nos é revelada, mas

alteridade com a palavra ALTER, o eu que existe somente

sim construída, conceito que se pretende elucidar em breve. A imagem projetada na primeira sala se tornará

quando em contato com o outro. Os visitantes da segunda sala observarão a sombra

presente para quem a observa no segundo ambiente, onde

do indivíduo que se encontra no primeiro ambiente. Desta

se encontra a imagem projetada no vidro. Esse jogo de

forma, há um encontro entre ambos, onde o sujeito da

presenças e ausências nos leva à questão de que a ausência

imagem projetada está susceptível a julgamentos dos

é

espectadores que não vê. Sempre há um desconforto em

contemporaneidade quando nos baseamos no autor Hélio

ser observado, há um medo da idéia que o outro pode

Fervenza (2011), o que está ausente torna-se presente com

formar sobre nós. Porém esta relação observador-observado

o mundo virtual. Esta característica também está presente

é muito mais profunda que o mero receio do contato e

nos trabalhos da artista Regina Silveira, as sombras

pode servir como um meio de autorreflexão para ambos.

projetadas mostram objetos que inexistem no espaço.

(

admitida

como

um

dos

grandes

motores

da

11(


Figura'4.'Croqui'do'projeto'TELEALTERIMAGEM.


Em TELEALTERIMAGEM, a sombra do visitante da primeira sala adquire uma materialidade, torna-se visível e

no qual estaria inserida, desta forma criamos uma identidade .5

faz atentar para toda sua potencialidade enquanto imagem

O indivíduo fisicamente ausente é apresentado

física (deficiência da incidência da luz sobre uma superfície)

através de sua sombra. Ela simboliza, conforme mencionado

presente em nosso cotidiano.4

anteriormente, os aspectos negativos da personalidade do

Ao observarmos uma imagem tendemos a criar uma

indivíduo, porém, o reconhecimento destes aspectos gera

presença virtual e começamos a pensar sobre quem seria a

um autoconhecimento, possibilitado pela percepção do

pessoa retratada, qual seria sua história, o contexto social

outro sobre o si.

4. INTERATIVIDADE (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( (FERVENZA, H. C. Formas da apresentação: espaço, imagem,

4

invisibilidades. Visualidades: Revista do Programa de Mestrado em Cultura Visual. Goiânia-GO: Faculdade de Artes Visuais, UFG, V. 9, n.2., p 129-139, 2011. ”Ora, trata-se a partir de agora, não somente de tornar visível o invisível, como desejava Klee, de materializar e encarnar sob uma forma palpável os dados imateriais, mas de integrar realmente a percepção do invisível, do impalpável e do imaterial no interior da obra plástica. Não é mais somente questão de transferência de uma ordem para outra, mas da pura apreensão de um imaterial. O novo então é a intrusão do não-visível, do não-tátil ou do não-perceptível no seio mesmo disso que possui nome de arte” (DE MÈREDIEU, 1994, p.372)” p 136.

(

Após a primeira metade do século XX, as relações entre público e obras foram transformadas. O público, ao invés de observar passivamente o trabalho de arte, passou a partilhar do momento da obra e a participar ativamente de (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 5(BASTOS, M.T.F. ; ROTHIER, M. Uma investigação na intimidade do

portrait fotográfico. Rio de Janeiro: PUC, 2007. “Saímos, então, do mundo da identidade real para a virtual, em que a imagem corresponde à falta do objeto, já que ela vale como signo/representação do que está ausente. O portrait existe ali, enquanto imagem, e é nossa necessidade de que ele identifique uma pessoa real/viva que o retira do seu universo artístico” p 36.

12(


sua construção. Desta forma, a obra de arte adquiriu um

Este mesmo tipo de questão está presente em

caráter processual. O corpo passou a ativar os trabalhos de

TELEALTERIMAGEM, o corpo do visitante da primeira sala

arte.

cria as condições para que o trabalho possa ocorrer. Os Os trabalhos artísticos realizados por meio de

visitantes

do

segundo

ambiente

também

trazem

a

máquinas que se utilizam de uma linguagem, a binária,

interpretação como um importante fator para o trabalho. A

traduzem qualquer tipo de gênero artístico em imagem

relação de interdependência dos dois tipos de público é

digital.

também notável. Pois não há construção do eu sem o outro

Uma forma de arte considerada interativa sempre

e vice-versa.

envolve programação, e o seu acionamento ocorre por

Um exemplo de artista contemporâneo que aborda

parte do público e a forma como este irá criar sua

as mesmas questões é Paul Sermon com sua obra intitulada

experiência com a obra.

Telematic Dream, 1992.

Segundo Diana Domingues (1997), este novo tipo de arte interativa que se vale da comunicação acaba com vínculos sagrados de museus e galerias. Os múltiplos pontos de vista derivam de uma vertente computadorizada da arte, pois o que está envolvido é o corpo do público, propiciado por novos mecanismos de manipulação da imagem.

(

13(


5. TELEPRESENÇA O trabalho de Paul Sermon possui outra característica também encontrada em TELEALTERIMAGEM. Seu trabalho aborda a questão da telepresença, termo criado por Paul Virilio e que passa a definir um tipo de criação inscrito na combinação arte e tecnologia. A telepresença é o efeito de estar aqui e lá. Em outros termos, estar presente (

virtualmente em um local geograficamente diferente. Em TELEALTERIMAGEM, o radical TELE é utilizado

Figura'5.'Paul'Sermon,'Telematic)Dream,'1992.'

( A idéia de Sermon foi a de criar um trabalho em que as pessoas pudessem partilhar uma cama com outros desconhecidos. O objetivo é o de aproximar duas pessoas que se encontram em lugares fisicamente distintos, por meio de uma projeção do corpo do outro. Em Telematic Dream, também encontra-se presente a idéia da interatividade, há uma colaboração do público para tornar a obra possível.

para dar pistas do que se encontrará no projeto, radical este de origem grega que significa “distância”.6 A sombra dos visitantes está presente em dois locais físicos, ela se encontra na primeira sala fisicamente, mas também na segunda sala, de forma virtual e em tempo real. Assim criam-se duas temporalidades. (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 6(EDUCACIONAL. Radicais Greco-Latinos. Disponível em: http://www.yumpu.com/pt/document/view/7036001/radicais-grecolatinos-educacional. Acesso nov. 2013.

( (

14(


A noção de espaço e tempo é desatualizada, deturpada com a interface, a superfície do vídeo. A ubiquidade (esta possibilidade de estar em diversos locais ao mesmo tempo), cria oportunidades para que haja uma comunicação entre as pessoas e a criação de um trabalho em conjunto. O conceito de telepresença é abordado também na obra A hole in space, 1980 de Sherrie Rabinovitz & Kit (

Galloway. Figura'6.'Sherrie'Rabinovitz'&'Kit'Galloway,'A)hole)in)space,'1980.'

(

Trata-se de uma interação pública entre transeuntes

de Nova York e Los Angeles na década de 80. Televisores foram instalados nas duas cidades e as pessoas podiam se comunicar em tempo real através deles. O encontro entre as duas localidades foi viabilizado pela interação tecnológica, movido pela proposição estética. Com este trabalho, os indivíduos que observavam a tela, os transeuntes, não eram mais transeuntes, eles

(

15(


tornaram-se parte da interação e deram sentido à esta

vidas

forma de buraco no espaço.

conhecidas. Desta forma, perdemos nossa intimidade.7

A

comunicação

e

o

sentido

de

com

pessoas

que

não

são

necessariamente

coletividade

O papel de TELEALTERIMAGEM assim como de A

produzidos por estes trabalhos interativos, estabelecem a

hole in space é focar no aspecto da comunicação e do

relação de alteridade, mencionada anteriormente.

intercâmbio de culturas, mostrando as possibilidades

Segundo afirma Priscila Arantes em Arte e mídia: perspectivas da estética digital (2005):

Les dormeurs, 1979 da artista francesa Sophie Calle,

“Seja( por( meio( de( trabalhos( artísticos( que( empregam( avatares(e(que(potencializam(uma(espécie(de(duplicação(do(sujeito,( seja( por( criações( compartilhadas( em( rede,( ‘o( sujeito( traspassado( pela( interface’,( ou( o( sujeito( “interfacetado”,( tal( como( nomeia( Couchot,( é( um( sujeito( intimado( a( redefinir_se( continuamente(:( um( sujeito( em( trânsito,( para( quem( a( relação( entre( o( eu( e( o( nos( é( colocada(à(prova(o(tempo(todo(“.

Este

“estar

por

toda

parte”

permitido

pela

tecnologia, fez com que tudo e todos pudessem ser observados a qualquer momento. Qualquer tipo de espaço e qualquer corpo pode ser monitorado e visualizado. Cria-se uma “televigilância”, termo utilizado por Paul Virilio para designar uma nova visão de mundo onde tudo se apresenta telepresente 24h por dia. Partilhamos uma parte de nossas (

benéficas do uso da tecnologia nas mãos do artista.

consiste em 173 fotografias de pessoas que permitiram a artista de observá-los enquanto dormiam. Calle fotografouas enquanto dormiam um período de oito horas em sua cama, durante uma semana. Este trabalho possui características de violação da privacidade e intimidade das pessoas, que se tornam (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 7(VIRILIO, P. A bomba informática. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 1999. “Como cada uma dessas live cams deve transmitir visões num site da WEB, os visitantes que entram nesse site se tornam assim ‘vigias de espectros’- ghost watchers. Com esse voyeurismo, a televigilância adquire um novo sentido : não se trata mais de se prevenir contra uma intrusão criminosa, mas de partilhar suas angustias, seus fantasmas, com toda uma rede, graças à superexposição de um lugar de vida” p 61.(

16(


vigiadas em seus momentos de maior fragilidade, o sono. Momento frágil pois a ação de dormir releva uma perda de consciência (o inconsciente age) e portanto, o sono torna-se o estado mais puro onde o homem se revela em si mesmo. Calle busca encontrar respostas sobre o estado psicológico

do

indivíduo

observado,

os

mistérios

escondidos na individualidade de cada um. Apesar de caracterizar uma invasão desse momento de inconsciência dos convidados, trata-se de uma invasão concedida, pois as pessoas se disponibilizam a participar da interação. Desta forma, o caráter comunicativo encontra-se presente, e é construído em parte pela relação que Sophie Calle estabelece em suas obras, baseadas em uma interação com as pessoas, comumente de forma invasiva, assim como por parte do público, que concede a invasão e permite ser

( ''''''''''''''Figura'7.'Sophie'Calle,'Les)dormeurs,'1979.

exposto. 6. HOLOGRAMA

(

17(


O holograma é uma escultura de luz. As imagens e o

Para

criar

esculturas

holográficas,

os

artistas

ambiente produzidos são impalpáveis, trata-se de um tipo

analogamente aos cientistas, utilizam o “DNA” para

de telepresença, pois encontramos somente a presença da

elaborar novos seres virtuais que podem ser observados em

luz

3 dimensões. A experiência de se observar um indivíduo

“corporificando”

um

objeto

ausente.

Consequentemente, as relações que estabelecemos com os

desconhecido,

corpos que nos são apresentados em forma de escultura de

presença na memória e no corpo do espectador, além de

luz, são ilusórias, pertencentes ao mundo virtual. O

construir uma duplicação do sujeito retratado, um clone da

envolvimento do corpo do público ao apreciar este tipo de

individualidade apresentada.

trabalho artístico se dá com o movimento entorno da obra. Somente

desta

forma,

cria-se

a

sensação

de

holograma

pode

ser

formado

elaborado,

perpetua

esta

É preciso 20 nano segundos para capturar a imagem de um objeto ou de uma pessoa na holografia. Trata-se de um momento, uma fração de segundo no qual a imagem do

tridimensionalidade da imagem produzida. O

virtualmente

através

de

fragmentos do objeto. Assim como ocorre no corpo

indivíduo e seu estado de espírito naquele mesmo momento são imortalizados pela imagem virtual.

humano, as células possuem toda a informação genética e

Em TELEALTERIMAGEM, a projeção do visitante da

essencial do sujeito. O mesmo ocorre na holografia, um

primeira sala, será transformada em um tipo de holografia,

fragmento do objeto pode criar sua imagem completa. A

ou mais apropriadamente ilusão de ótica. Sua presença

parte contém o todo.

também se dará em forma de luz, ou melhor dizendo, de

(

18(


! !

Figura'8.'Esquema'de'criação'de'holograma.' Disponível'em:'http://www.tecmundo.com.br/area@42/30540@area@42@aprenda@a@criar@um@holograma@em@casa@ video@.htm.'Acesso'Agosto'2013.'


sua ausência. Toda a informação deste corpo será

plásticas, há ainda uma grande possibilidade experimental

construída de forma imaterial e etérea8.

no campo das artes visuais a ser desenvolvido na

Assim como em uma imagem holográfica, o visitante

contemporaneidade.9

será duplicado temporalmente. Haverá, como mencionado

Ikuo Nakamura realiza a obra Neuro Hologram em

acima, uma invasão do olhar do outro neste momento

1994, uma instalação interativa em que a atividade cerebral

revelador de um instante fugaz da personalidade do

dos visitantes influi sobre as imagens holográficas criadas. A

retratado.

instalação revela nosso corpo e seu funcionamento a outros,

Neste projeto, a holografia se constrói de forma algo

por vezes desconhecidos, que avaliam e analisam os

improvisada, de modo experimental e simplificado, ao

hologramas formados. As imagens são modificadas de

exemplo do artista Moysés Baumstein, que constrói na

acordo com o funcionamento de cada um, são diferentes

década de 1980 seu próprio laboratório holográfico de

umas das outras, revelando uma outra linguagem de si

forma experimental.

mesmo.

Esta é uma das justificativas do interesse e da utilização da holografia em meus projetos, pois apesar de crer-se comumente no esgotamento de suas possibilidades (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 8(VIRILIO, P. A bomba informática. São Paulo, SP: Estação Liberdade,

1999. “Percepção deslocada, a exemplo do volume holográfico, que aumenta toda realidade perceptível, mas acelerando-a à velocidade limite da radiação das ondas eletromagnéticas que veiculam os diversos sinais de informação.” p 117.

(

7. EFEMERIDADE (((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( 9(PECCININI, D.V.M. (coord.). Arte Novos Meios: Multimeios: Brasil 70/80. 2. ed. São Paulo, SP: FAAP, 2010. (“- a holografia traz um

contundente questionamento das formas convencionais de percepção visual, e, ao introduzir um método de registro tridimensional, abre possibilidades totalmente novas nos campos da expressão artística e do conhecimento científico.” p 121.

19(


Na holografia, o retratado e o tempo são eternizados, tornam-se memória registrada em forma de luz.

Este trabalho traz o público para a realidade por meio do virtual, nos deixa em suspensão e cria possiblidades para refletir sobre o presente.10 A experiência com a obra de arte deixa marcas no corpo

do

espectador.

Através

desta

experiência

estabelecemos nossa existência em determinada dimensão– tempo. Com a mudança do tempo, a experiência corporal de uma determinada circunstância temporal-espacial será transformada em memória, pois nossa velocidade mental permite-nos transportar e lembrar do passado, conforme idéias encontradas em A Máquina do Tempo de George ( Figura'9.'Ikuo'Nakamura,'Neuro)Hologram,'1994.'

(

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((( (COSTA, Cláudio da (org.). Dispositivos de registro na arte

10

Em TELEALTERIMAGEM, a questão da memória é abordada de maneira diversa da encontrada na holografia, pois trabalha-se com a efemeridade. Esta obra é concebida para ser realizada em tempo real, em um momento dado.

(

Wells (1981).

contemporânea. Coautoria de André Parente. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa, 2009. “Dito de outro modo, o tempo real da experiência da obra se tornou uma das estratégias mais firmes das praticas artísticas. As questões em jogo se afastaram de uma representação ilusionista, para examinar as próprias condições da existência, isto é, a produção de modos diferenciados de vida que tornem mais potente a existência real de ações e se constituam em rupturas no presente vivido. p 19.

20(


Esses trabalhos que acontecem em tempo real, como

Esta tradução inovadora e original da experiência

em TELEALTERIMAGEM, devem contar, contudo, com

efêmera é nomeada tradução intersemiótica por Giuliano

novas soluções estéticas para que possam ser apreciados

Tosin.11

por um tipo de público que não pôde estar presente na

Desta forma, foram criadas maquete, vídeo, desenhos

apresentação ao vivo e não conhece a obra, ou mesmo

e um livro pop-up como obras de arte vinculadas à

pretende revê-la. Estes tipos de obras contam com os

instalação ao vivo.

fragmentos deixados pelas participações ao vivo, que são registradas através de vídeos, fotografias, desenhos, entre outros, e tornam-se obras-registro.

No dia 22 de novembro de 2013, foi realizado um

Entretanto, a intenção destes registros não deve ser a de uma tradução fiel do que pôde-se experimentar, mas sim novas formas de produção de trabalhos de arte que constituem

uma

continuidade

ENSAIO DO PROJETO

do

projeto

ensaio do projeto, tendo em vista colocar em prática as idéias elaboradas teoricamente. A montagem contou com a participação de meus

original,

familiares e amigos. Para sediar a instalação do segundo

relacionando-se com o passado e atualizando-o de acordo

ambiente foi escolhida a sala AP04, devido a fatores como

com a época, com os pensamentos e o contexto social,

condições de luminosidade e facilidade na execução da

renovando-se indefinidamente, evidenciando o caráter processual, também discutido anteriormente, de trabalhos que são criados no ramo da arte e tecnologia.

(

((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((

11 (TOSIN,

G. Poésie, technologie et traduction intersémiotique au Brésil : perspectives et études de cas. E-poetry 2007, Paris, Université Paris 8, 2007. “Ainsi, traduire consiste à mettre une époque, ses pensées et sa technique en contraste avec une nouvelle ambiance.“ p 9.

21(


! Figura'10.'Maquete'do'projeto'TELEALTERIMAGEM.'


!

AP#08# !

Furo!no!teto!para!colocar! ganchos!

Reserva!de! projetor!

! Figura'11.'Esquema'de'montagem'TELEALTERIMAGEM'


Figura'12.'Livro'pop@up.'TELEALTERIMAGEM,'2013.


obra. As janelas desta sala foram forradas com lonas pretas

do efeito de sombra da pessoa que adentrava o espaço.

para deixar o ambiente ainda mais escuro e em seguida

Assim, a sala AP 08 foi escolhida, pois propiciava a ausência

passamos à fixação do projetor de forma perpendicular à

de luminosidade necessária para o efeito desejado. Além

mesa.

deste fator, alterou-se os níveis de nitidez e contraste do Após a instalação do vidro inclinado em um ângulo

projetor para melhores resultados.

de 45 graus do espelho, percebeu-se que havia uma

Apesar de alguns ajustes durante a montagem, o

dificuldade na formação da imagem refletida. O olhar de

efeito e o resultado do trabalho foram bastante satisfatórios

outra pessoa, em um primeiro contato com a obra em sua

e semelhantes ao planejado.

etapa de montagem, ajudou a solucionar o problema. Foi

Montado o projeto, o horário de visitação do público

sugerida a remoção do espelho e a imagem se formou a

ocorreu das 14h às 16h. Os participantes eram convidados

partir de sua emissão na mesa (superfície branca) e sua

ora a se direcionarem ao primeiro ambiente, ora ao

reflexão sobre o vidro. Desta forma, o efeito de ilusão de

segundo.

ótica foi criado de acordo com a idéia imaginada nos

compreendiam de imediato a origem da imagem e somente

croquis e esboços do projeto.

com a observação atenta da instalação puderam chegar à

Quando

observavam

a

sala

AP04,

não

Em seguida a montagem da sala AP04, deu-se a

uma conclusão do funcionamento da obra. Em seguida,

instalação do primeiro ambiente. A princípio, definiu-se a

eram direcionados a sala AP08, onde percebi que muitos

sala AP12, porém percebeu-se que mesmo com as lonas

sentiam-se desconfortáveis de entrarem em um espaço

instaladas nas janelas, a luminosidade interferia na criação

escuro onde havia apenas a tela de um computador.

(

22(







Algumas pessoas não sabiam como agir diante da câmera e

ocorre, somente que algo se passa com sua presença no

algumas se sentiram envergonhadas.

espaço. Ao contrário, quando entra-se inicialmente na sala

Quando

a

experiência

foi

trocada

e

alguns

AP04, e em seguida na sala AP08, sabemos o que ocorrerá

funcionários do Instituto de Artes, que não tinham

com a imagem, e a sensação é de desconforto sobre como

conhecimento prévio do projeto, foram convidados a entrar

ela está sendo vista pelos outros.

inicialmente na primeira sala, demonstraram sensação de

No ambiente onde a sombra dos visitantes foi

desconforto. Ao serem convidados a ver o que se passava

projetada sobre o vidro, ocorreu um fator mencionado

em tempo real em outro ambiente, a reação causada foi a

anteriormente, de tentativa de criação de uma identidade

de risos nervosos e vergonha da exposição de suas

dos

imagens.

ambiente. Ao observar suas sombras, tentava-se imaginar

participantes

que

se

encontravam

no

primeiro

De forma conclusiva, foi interessante observar a

quem seriam aquelas pessoas, o que elas estariam

reação das pessoas que entravam na sala AP08, pois

pensando e sentindo ao entrar naquele espaço, além de

sempre sentiam um incômodo, o qual também pude

criar-se

perceber

descobrissem que estavam sendo observadas por outros.

ao

experimentar

a

interação

enquanto

expectativas

sobre

suas

reações

quando

espectadora. As impressões produzidas são dadas de forma

COLABORAÇÃO TÉCNICA:

diferenciada quando entra-se no primeiro ambiente e em

Daniele Akemi Magori

seguida no segundo, pois não sabe-se exatamente o que

Gustavo Duarte Guerra

(

Nestor José Guerra Leonira Silvério Duarte

23(


Thais Uzan

Leorides Severo Duarte Guerra

Assim, conclui-se que TELEALTERIMAGEM cumpre sua função quando faz refletir sobre a questão do

CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos pensar o artista como aquele que reflete e deixa gravado na memória coletiva de determinado grupo

autoconhecimento através da alteridade, e da realização de trabalhos em tempo real e efêmeros em contexto acadêmico e institucional.

social os conceitos culturais de um período histórico. No

Além deste contexto, o trabalho elaborado conta

momento em que vivemos, um dos debates mais discutidos

com a questão da comunicação como um dos motores de

trata sobre a tecnologia, seus benefícios e danos para a

TELEALTERIMAGEM. Comunicação esta que pretende

sociedade. Cabe ao artista pesar os prós e contras do

intercambiar

presente tecnológico e criar uma arte que vise alertar o

comunicacionais são modificadas no mundo cibernético e o

espectador, tirando-o da comodidade rotineira e desse

objeto artístico observa essa linha diretriz ao estabelecer

modo, criando o estado de suspensão característico do que

novas relações entre autor, obra e espectador. O público

intitulamos como arte.

torna-se coautor do trabalho artístico, passa a ativar o

culturas

e

conhecimento.

As

relações

Desta forma seu papel é sempre abrir caminhos para

projeto por meio de sua presença física, com seu corpo, e

que haja uma reflexão sobre determinados valores (sociais,

nesse sentido, interpreta e reelabora esse trabalho de forma

institucionais, políticos, poéticos, acadêmicos) de modo que

subjetiva. Desta forma, problematiza-se a questão da

sejam reinventados e renovados continuamente pela via

autoria, pois o trabalho passa a ser criado a partir deste

estética.

diálogo. Os conceitos de autoria e de espectação são

!

24!


alterados por essa nova qualidade de participação na

atualizar e renovar uma mesma obra indefinidamente, de

produção do trabalho que também se estabelece graças a

acordo com suas aspirações.

outras colaborações técnico-conceituais durante a etapa elaboração, mediante a ajuda de especialistas de outros

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

campos como por exemplo da engenharia da computação. Essa maneira de compreender a constituição do trabalho artístico avança um contexto já conhecido e bem aceito que o compreende a partir do campo da Filosofia, Física, Psicologia, entre outros. Outro aspecto também observado e derivado destas discussões é a de uma obra de arte processual. O trabalho artístico se produz de acordo com as interações do público e pode adquirir outras formas de manifestação à partir da idéia central de sua apresentação em tempo real. Ele pode se desdobrar continuamente de forma original por meio da tradução intersemiótica. Artistas experimentam constantemente, adaptam à seu favor as tecnologias existentes da época, podendo

!

ARANTES, P. Arte e mídia : perspectivas da estética digital. São Paulo, SP: SENAC, 2005. BASTOS, M.T.F. ; ROTHIER, M. Uma investigação na intimidade do portrait fotográfico. Rio de Janeiro: PUC, 2007. Disponível em : http://www.lambda.maxwell.ele.pucrio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=10678@1 . Acesso nov. 2013. BAXANDALL, M. Sombras e Luzes. São Paulo, SP: EDUSP, 1997. BERKELEY ART MUSEUM AND PACIFIC FILM ARCHIVE. Sophie Calle / MATRIX 133. Disponível em : http://www.bampfa.berkeley.edu/exhibition/133. Acesso set. 2013. COSTA, Cláudio da (org.). Dispositivos de registro na arte contemporânea. Coautoria de André Parente. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa, 2009. DOMINGUES, D. (org.). A Arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo, SP: UNESP, 1997. EDUCACIONAL. Radicais Greco-Latinos. Disponível em: http://www.yumpu.com/pt/document/view/7036001/radicai 25!


s-greco-latinos-educacional. Acesso nov. 2013. FERVENZA, H. C. Formas da apresentação: espaço, imagem, invisibilidades. Visualidades: Revista do Programa de Mestrado em Cultura Visual. Goiânia-GO: Faculdade de Artes Visuais, UFG, V. 9, n.2., p 129-139, 2011. HILDEBRAND, H.R.; AMARAL, L. N. A Arte no EspaçoTempo: Arqueologia da R.U.A - Realidade Urbana Aumentada (Geminis). REVISTA GEMInIS, v. 1, p. 14-25, 2011. HOLOLAB. Holography art by Ikuo Nakamura. Disponível em : http://www.hololab.com/holographyart.php. Acesso nov. 2013. JUNG, C.G. AION : estudos sobre o simbolismo do simesmo. Petrópolis: Vozes, 1982. KAGAN H.; GILL P.Y., Translating Solids: The Holographic Image, Catalogue d’exposition, (Ohio 28 Février- 16 Mars 2005), Ohio, The Ohio State University, p.10. Disponível em : http://www.physics.ohiostate.edu/~kagan/holo_show05/cat_holo_28Feb.pdf. Acesso nov. 2013. MEDIA ART NET. Galloway, Kit; Rabinowitz, Sherrie «Hole in Space». Disponível em : http://www.medienkunstnetz.de/works/hole-in-space/; Acesso nov. 2013. MEDIA ART NET. Paul Sermon «Telematic Dreaming». Disponível em : http://www.medienkunstnetz.de/works/telematic-

!

dreaming/images/5/. Acesso nov. 2013. MORAES, Angélica de (org.). Regina Silveira: cartografias da sombra. São Paulo: EDUSP, 1996. PECCININI, D.V.M. (coord.). Arte Novos Meios: Multimeios: Brasil 70/80. 2. ed. São Paulo, SP: FAAP, 2010. PLATÃO. A República. Edição: Victor Cívita. Tradução: Enrico Corvisieri. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1997. PLAZA, J. Arte e interatividade: autor-obra-recepção. In: REVISTA ARS, n° 2, ano 1. São Paulo: Departamento de Artes Plásticas da ECA/USP, 2003. p. 09-29. Disponível em:! http://www.cap.eca.usp.br/ars2/arteeinteratividade.pdf. Acesso dez. 2013. SIGNIFICADOS. O que é tecnologia. Disponível em : http://www.significados.com.br/tecnologia-2/. Acesso nov. 2013. TOSIN, G. Poésie, technologie et traduction intersémiotique au Brésil : perspectives et études de cas. E-poetry 2007, Paris, Université Paris 8, 2007. Disponível em : http://epoetry.paragraphe.info/french/articles/tosin.pdf. Acesso out 2013. VIRILIO, P. A bomba informática. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 1999. WELLS, H. G. A máquina do tempo. Rio de Janeiro: F. Alves, 1981. YEPEZ COLLANTES, R. Os segredos visíveis da cidade: a efemeridade da luz e da sombra na linguagem fotográfica. Visualidades: Revista do Programa de Mestrado em Cultura

26!


Visual. Goi창nia-GO: Faculdade de Artes Visuais, UFG, V. 8, n.1., p 75-103, 2010. ZWEIG, C.; ABRAMS, J. (orgs). Ao encontro da sombra: o potencial oculto do lado escuro da natureza humana. S찾o Paulo: Cultrix, 1991.

! !

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

!

27!


!

ANEXOS Escultura “Caixa de Pandora”, 2012 Caixas de madeiras, tipo mdf, tinta acrílica preta, impressão em sulfite. Dez caixas tamanho 6cmx6cm.


Fotografia

Série “Espaço/Sombra”, 2012 Dimensões: 80x60cm


Vídeos

As imagens apresentadas para os vídeos foram retiradas do site (http://priscilaguerra.tumblr.com/) criado para divulgação dos trabalhos realizados durante o Trabalho de Conclusão de Curso I. “Sombra em Movimento”, 2012 Em sua versão finalizada possui duração de 00’35’’


“Desenhos de Sombra”, 2012 (base para a realização de “Sombra em Movimento”). Caneta hidrográfica preta e lápis de cor sobre papel Canson A4.


“Movimentos em Sombra”, 2012 Duração: 2’45’’


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.