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Formação
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“O VERBO ETERNO, SENDO DEUS, SE FEZ HOMEM” O sentido do Natal
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Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R.
Juiz de Fora | MG Santo Afonso, assim como São Francisco de Assis, é considerado um santo do Natal. O mistério dessa celebração o atrai e fascina. Para ele, o Natal é estupenda revelação do amor de Deus à humanidade. O santo, ao refletir sobre esse grande mistério, para exaltar o amor de Deus, evidencia os contrastes entre Deus e o ser humano. Afirma, antes de tudo, que o Verbo Eterno, sendo Deus, se fez homem, ou seja, o próprio Deus veio ao encontro do ser humano na pessoa do Filho. O amor de Deus é tal que parece que ele não pode ser feliz sem os seres humanos. O Filho, Jesus, veio resgatá-los, atraí-los à comunhão consigo.
O Verbo Eterno, sendo grande, se fez pequeno. O contraste aqui é entre a grandeza de Deus e a pequenez do ser humano. O Filho de Deus se fez pequeno, porque a criança não inspira temor, mas ternura, cuidado, amor. Deus depõe sua majestade divina porque deseja ser visto como um menino cheio de doçura e bondade. O Verbo Eterno, sendo Senhor, se fez Servo. Deus é Senhor de todas as coisas, ele é o próprio criador que sustenta a criação e o que nela existe. Tudo foi feito no Filho e para o Filho (cf. Ef 1,1-10), mas o Filho se fez humano para servir e não para ser servido (cf. Mc 10,45). O Verbo Eterno, sendo inocente, se fez réu. O Filho de Deus assumiu a condição humana pecadora, sem ter ele mesmo pecado, e se ofereceu ao Pai para que os pecadores fossem perdoados.
O Verbo Eterno, sendo forte, se fez fraco. O Filho de Deus se fez fraco para nos ajudar em nossa fraqueza. E ele se deixa encontrar na oração, na qual nos abrimos à sua graça e nos fortalecemos com sua força. Sobretudo o encontramos nos sacramentos, mormente na Eucaristia, onde ele mesmo se faz presente com sua graça medicinal, revestindo-nos de sua força. O Verbo Eterno, sendo seu, se fez nosso. Aqui Santo Afonso aprofunda sua reflexão, afirmando que Deus não precisava do ser humano, porque é absolutamente livre e nele não há necessidade e obrigação. Ele é eterna relação amorosa que se completa em si mesma. No entanto, ele quis dar-se a nós, pertencer a nós, ser nosso Deus. Não se contentou em criar tudo para o ser humano, quis pertencer a ele, comunicando-lhe sua vida. Por isso São Paulo pode dizer: “O Filho de Deus me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20); “Cristo vive em mim” (Cl 3,3). Jesus se entregou por nós na Cruz.
O Pai, no poder do Espírito Santo, resgatou-o da morte e nos deu a possibilidade de participar da vida vivificada do Filho, à qual nos habilita o Espírito. O Verbo Eterno, sendo feliz, se fez atribulado. Deus, enquanto eterna relação amorosa, também goza de felicidade infinita. Mas o Verbo feito carne assumiu a condição humana em todos os seus sofrimentos e dramas. Conheceu a rejeição, a tristeza, o fracasso, a desilusão, a injustiça, a dor, as lágrimas. Mas assumiu nossos sofrimentos, trazendonos verdadeira libertação. “Por suas feridas fostes curados” (1Pd 2,24). O Verbo Eterno, sendo rico, se fez pobre. Tudo o que existe na terra e no céu pertence a Deus. A riqueza de Deus é, além “O Filho de disso, infinita. Uma riqueza que não depende
Deus me de outros, pois a possuiu em si mesmo enquanto amou e se bem infinito. Mas o Rei dos reis, o Senhor dos seentregou por nhores, por causa de nós, quis ser pobre, nascer mim” numa manjedoura, em meio aos animais. Viveu (Gl 2,20) e morreu como pobre. Mas ele se fez pobre para que, empobrecidos pelo pecado, nos tornássemos ricos por sua graça. A presença de Cristo em nós, pelo Espírito, é nossa verdadeira riqueza. O Verbo Eterno, sendo sublime, se fez humilde. Afonso se pergunta: “Um Deus numa estrebaria, sobre a palha, como é possível? Aquele Deus que se assenta num trono de majestade, o mais sublime no céu, vê-lo colocado onde? Numa manjedoura, desconhecido e abandonado, ao lado apenas de dois animais e poucos pobres pastores”. E responde: o sublime se fez humilde, se fez pobre criança para nos libertar do vício da soberba, do orgulho, da prepotência e nos ensinar o caminho da humildade, do desapego, da fraternidade, da justiça e da paz.