RE V IS TA
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL MARÇO DE 2021 | ANO LXIX | Nº 03
SUMÁRIO
VIAGEM DO PAPA AO IRAQUE
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MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL
111 “Ide a São José”, de Frei César Külkamp FORMAÇÃO PERMANENTE
Valmir Ramos, “Tema e lema do Capítulo Geral 113 Freicompreendidos na ótica pascal” do Ministro Geral: um ano após a declaração 116 CdaartaCovid-19 como pandemia “Os motivos da morte de Jesus”, 118 Artigo: artigo de Luiz Iakovacz
FRATERNIDADES
assume Santuário Frei Galvão 120 Pnorovíncia dia 11 de abril sobre a Campanha da Fraternidade 125 Formação Ecumênica em Imbariê James Girardi celebra 25 anos 126 FdereiOrdenação Presbiteral rades do Santuário Divino Espírito Santo fazem 128 FRetiro Quaresmal Clarêncio e Frei Claudius 129 Fsãorei vacinados rades do Espírito Santo fazem o primeiro Encontro 130 FRegional
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL Rua Borges Lagoa, 1209 CEP 04038-033 | São Paulo - SP www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br
Nicolau Leurs, fundador de uma congregação 131 Freireligiosa franciscana (livro) São Luiz Gonzaga encerra as comemorações 132 Paróquia a Frei Bruno igário Provincial encerra a Novena Virtual a Frei 133 VBruno otícias de Curitiba: Alimentos saudáveis e sem 134 Nveneno são vendidos na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Perdões e Gruta faz 100 anos de graças Nossos Frades entrevista: 136 SFreiérieSandro Roberto da Costa onversão é tema de Retiro Quaresmal dos Frades 145 CProfessos Temporários de Angola Comemorativa pelo Dia Internacional da Mulher 146 LnaiveParóquia Santa Clara de Imbariê Provincial da Juventude faz primeira reunião 147 Conselho do ano
EVANGELIZAÇÃO
148 Editora Vozes: 120 anos de fundação Vozes celebra 120 anos no Jubileu de 125 anos 150 Ededitora presença franciscana em Petrópolis 152 Frades da Frente da Educação fazem encontro on-line 154 A histórica viagem do Papa Francisco ao Iraque CRB
RB lança o livro “Plenamente humano, simplesmente 158 Cirmão” sobre o vida do religioso irmão
CAPÍTULO PROVINCIAL
rimeira Reunião da Comissão Preparatória para o 159 PCapítulo Provincial
NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES oleta Pró-Terra Santa: o apelo do cardeal Sandri para 160 Cajudar os cristãos do Oriente Médio lança série de podcasts sobre a Campanha 162 Pdarovíncia Fraternidade 2021 163 AGENDA CAPA: Fra Angelico - A Ressurreição de Cristo e as mulheres no túmulo”, afresco entre 1440 e 1442.
MINISTRO PROVINCIAL
Caros confrades, irmãs e irmãos, leitores de Comunicações, Paz e Bem! O mês de março é dedicado a São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus e, no dia 19, celebramos solenemente a sua festa, tão cara a todo o povo de Deus e também aos consagrados e consagradas. Neste ano, a celebração tem relevância maior pois estamos no Ano de São José, convocado pelo Papa Francisco, no dia 8 de dezembro de 2020, através da Carta Apostólica Patris Corde – com Coração de Pai – para celebrar os 150 anos da Declaração de São José como Padroeiro da Igreja Católica. O título desta mensagem faz referência a outro José, o do Egito, lembrado na Carta Apostólica do Papa em alusão a Gn 41,55, em que se relata que a fome assolava toda a terra do Egito. E ao povo que clamava ao faraó pedindo pão, ele respondia: “ide a José, e fazei o que ele vos disser”. Esta expressão bíblica logo foi associada à devoção ao patrocínio de São José e mostra a confiança do povo neste santo, buscado nos momentos mais difíceis de suas vidas. A Carta Apostólica relaciona os fatos da vida de São José, descritos pelos textos do Evangelho, com as manifestações de devoção a este que se tornou um dos santos mais populares da Igreja. O Santo Padre destaca a sua condição bem humana e MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 111
MENSAGEM
sua ação discreta, mas que se torna forte modelo de vida cristã por sua disponibilidade generosa, que faz dele o guardião “dos primórdios da história da redenção”. A partir de seu exemplo, o Papa nos recorda e lista tantas pessoas comuns e que servem à sociedade de forma despercebida, mas seu trabalho é essencial. Suas presenças são mais percebidas quando, por alguma razão, precisam ser ausência ou, então, nas circunstâncias de um tempo como este de prolongamento da crise sanitária que estamos vivendo. Assim como nosso povo se identifica com a presença discreta, mas fundamental de São José no plano salvífico de Deus, criemos proximidade com as pessoas que compartilham nossa vida e nossa missão. Sejam colaboradores, fiéis, alunos, assistidos, os pobres, os confrades, todos eles ocupam precioso espaço no coração terno e amoroso de Deus, do qual José é expressão, e que nos leva a abraçar a máxima destacada pelo Papa de que “ninguém se salva sozinho”. Ao destacar as virtudes de São José, especialmente sua prontidão em “cumprir a vontade de Deus” e de como fez de Maria e de Jesus o tesouro mais precioso de seu cuidado, esta Carta Apostólica acaba nos oferecendo um modelo de como fazer de nossa vida e ação o cumprimento de nossa vocação franciscana evangelizadora. As páginas de mais esta edição de Comunicações nos trazem alguns destes testemunhos de iniciativas e de vidas gastas como instrumentos da Palavra e da ação salvadora de Deus. Destaco os 125 anos de presença franciscana em Petrópolis, lugar que se tornou desde os primórdios e até os nossos dias, irradiação do Evangelho através do atendimento às comunidades paroquiais, da acolhida sacramental e social, do ensino e da pesquisa teológica, da formação franciscana para os frades e para toda a família franciscana, da educação escolar, da cultura musical e de tantas outras formas. Uma das atividades que lançou seus raios mais distantes, certamente é da pequena tipografia, criada há 120 anos, para imprimir catecismos e cartilhas e que se tornou a Editora Vozes, de reconhecimento nacional e internacional. Em quantos lares se tem feito presente a Bíblia Vozes e a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus! Petrópolis é um lugar de referência para toda a Província e, por isso, todos estamos em festa. Em nossa missão evangelizadora nos alegramos também com a conclusão do processo para assumirmos os cuidados pastorais do Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá. Depois de muitas idas e vindas, conversas e acertos, foi na manhã do dia 5 de março que o Arcebispo de Aparecida confirmou que o Santuário estará aos nossos cuidados, ao menos pelos próximos 30 anos. Frei Diego Atalino de Melo e Frei Roberto Ishara já estão servindo no Santuário desde
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outubro de 2020 e, desde fins de fevereiro, assumiram a condução de suas atividades. E, no próximo dia 11 de abril, teremos a celebração onde vamos assinar um convênio com a Arquidiocese para os cuidados pastorais, administrativos e de construção do novo Santuário, já em projeto. É um passo importante e de resposta aos anseios de nosso último Capítulo Provincial que pedia que o processo de redimensionamento significasse também abertura para novos campos de missão. E esta missão no Santuário Frei Galvão, com o desejo de que seja um centro irradiador do carisma franciscano, foi assumida com convicção pelos confrades capitulares. E já estamos em meio ao processo de mais um Capítulo Provincial. Motivados pelo tema “Fraternidade contemplativa em missão: nossa regra é o Evangelho, nosso claustro é o mundo” e pelo lema “Juntos se constroem os sonhos” (FT 8), a Comissão Preparatória já se encontrou uma primeira vez e definiu algumas tarefas para cada frade e para cada fraternidade. Que tenhamos participação ativa neste processo já iniciado e que deseja ser revigoramento de nossa identidade e de nossa missão. Quanto à Visita Canônica, há dificuldades em se estabelecer um programa de visitas devido ao agravamento da atual pandemia e necessidade de seguir as orientações de restrição nos deslocamentos. Por enquanto, a visita vai acontecendo em algumas Fraternidades mais próximas, conforme as possibilidades e acertos prévios. Neste momento em que nos aproximamos da Semana que celebra os mistérios centrais da nossa fé, parece que mais uma vez teremos que nos reinventar. Que o cuidado e a proximidade, feitos solidariedade e criatividade, sejam a tônica de nossas celebrações pascais. Rezemos pelas vítimas desta pandemia! Peçamos pela superação desta crise e pelo dom da saúde! Vamos a São José, nosso intercessor, amparo e guia, nestes momentos de sofrimento e dificuldade! Alimentemos, sobretudo, a esperança em nós mesmos, em nossas Fraternidades e naqueles que celebram conosco, de perto ou de longe. Que o mistério da redenção, passando pela cruz e ressurreição de Nosso Senhor, confirme a nossa fé de que a vida e o amor sempre prevalecem! A vida vence a morte!
Feliz e abençoada Páscoa a cada irmão e irmã! Frei César Külkamp, OFM MINISTRO PROVINCIAL
FORMAÇÃO PERMANENTE
RENOVEMOS NOSSA VISÃO. ABRACEMOS NOSSO FUTURO.
Tema e lema compreendidos na ótica pascal
O
Capítulo Geral de nossa Ordem dos Frades Menores está se aproximando, apesar da pandemia, e nos impele a rezar suplicando que Jesus ressuscitado ilumine todos os frades da Ordem para viverem autenticamente a consagração e o carisma em nossos dias e no futuro. Proponho em seguida uma pequena reflexão que pode ajudar-nos a entrar no processo de preparação desta celebração, vislumbrando o futuro de nossa Fraternidade e de nossa missão.
Visão Quando analisamos planejamentos estratégicos do mundo empresarial, encontramos a visão como um dos pilares do planejamento, junto com a missão, os valores, as estratégias, as metas e os objetivos. A visão no mundo dos negócios é definida como o grande objetivo da empresa ou organização. Por isso, é tida como uma ideia ou plano que a organização quer realizar nos anos futuros. A visão precisa ser revista e avaliada periodica-
mente, pois os tempos mudam, as situações mudam e as pessoas também. Uma empresa pode definir sua visão de acordo com a necessidade do momento e a sua percepção de futuro. Por isso mesmo, a visão aponta para o futuro, tentando manter claro para todos aonde quer chegar, vislumbrar oportunidades futuras e alcançar suas metas. A celebração do Capítulo Geral será uma oportunidade para todos nós, Frades Menores, revisarmos nossa visão de Igreja, de Vida Religiosa, de Ordem, de mundo, pois o futuro que nos espera será bem diverso do passado que vivemos. A Igreja precisa continuar o seu processo de “aggiornamento” (São João XXIII) com confiança e audácia, os religiosos e nossa Ordem serem reconhecidos pelo que somos e não pelo que fazemos. Certamente somos impelidos a ler o mais corretamente possível os sinais dos tempos, a enxergar o mundo como massa a ser fermentada e a viver nossa Regra e Vida e as Constituições Gerais profundamente ricas de espiritualidade para todos os tempos.
(Ef 5,14)
OFM hoje Atualmente nossa Ordem, com mais de 12 mil frades, está presente em 119 países, na maioria deles com liberdade religiosa e boas oportunidades para viver bem o carisma e a missão que Deus nos confia. Contudo vemos mudanças significativas em curso, como o envelhecimento e a diminuição numérica muito rápida no Hemisfério Norte e na América do Sul. Desta mudança resulta a dificuldade sempre maior em cuidar dos serviços assumidos, especialmente relativos
A IGREJA PRECISA CONTINUAR O SEU PROCESSO DE “AGGIORNAMENTO” (SÃO JOÃO XXIII) COM CONFIANÇA E AUDÁCIA MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 113
FORMAÇÃO PERMANENTE
NENHUM RELIGIOSO PODE PERMANECER INDIFERENTE DIANTE DAS MAIS VARIADAS FORMAS DE SOFRIMENTO ALHEIO E FECHAR OS OLHOS DIANTE DAS MUDANÇAS EM ATO às paróquias e santuários que ocupa a maioria dos frades. Daí que nas últimas décadas vemos muitas Províncias em processo de redimensionamento. Esta realidade deve animar a todos para qualificar sempre mais nossa vida religiosa franciscana num esforço sempre maior para esclarecer e aprofundar a identidade carismática da nossa vocação franciscana, cultivando profundo espírito de oração, como pede o CPO 2018 (Quem tem ouvidos escute o que o Espírito diz... aos Frades Menores hoje – Conselho Plenário da Ordem, Nairóbi, 2018). O mesmo CPO 2018, constatou mais uma vez que Deus nos chama como Frades Menores, para vivermos e agirmos no mundo de hoje profeticamente em fraternidade. Isto nos leva a uma existência que seja testemunho do amor, da misericórdia e da bondade de Deus e sinal de uma Igreja que é mãe de todos e tem particularmente no coração os pobres, as pessoas mais frágeis e sofredoras e aqueles que são migrantes e refugiados. Também
O FUTURO DA ORDEM DEPENDE DA NOSSA VIVÊNCIA HOJE E DAS NOSSAS OPÇÕES EM RELAÇÃO AO QUE QUEREMOS PARA O FUTURO
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nos faz empregar todas as forças e as capacidades que o Senhor nos deu para construir o Reino de Deus enfrentando abertamente as forças que ameaçam a vida. Como Frades Menores, somos e estamos na Igreja, e em nosso tempo o Papa Francisco nos interpela apontando que a Igreja de Cristo é uma “Igreja em saída” como nos mostra em sua Encíclica Evangelii Gaudium (cf. EG 20-49). É uma Igreja atuante, viva, que vai ao encontro das pessoas mais vulneráveis e presta muita atenção para não ser envolvida na rede de sistemas injustos e opressivos. Eu diria que é aquele modelo de Igreja vivido por São Francisco que foi convertido pelo leproso e anunciou o Evangelho com a vida pelas ruas, estradas, campos, praças e igrejas. É uma Igreja aberta, despojada, servidora e solidária.
Mudanças As rápidas mudanças no mundo, na Igreja e na Ordem nos fazem perceber a necessidade de renovar nossa visão. Certamente, não aquela empresarial, mas aquela do ser Frade Menor hoje e servir como instrumento de construção do Reino onde estivermos neste mundo. São Francisco nos inspira neste processo e nos aponta o caminho: ele abraçou o Cristo pobre e crucificado e fundamentou sua vida no Evangelho; dialogava em oração constantemente com Deus; viveu como irmão universal; compadeceu-se dos mais frágeis e envergonhava-se ao encontrar um irmão mais pobre do que ele; com Santa Clara discerniu que deveria viver no meio do povo de Deus (“inter gentes”). Sem dúvida, hoje a presença dos Frades Menores deve ser significativa, difundindo a alegria do Evangelho e fazendo a diferença na vida das pessoas e da Igreja. Nenhum religioso pode permanecer indiferente diante das mais variadas formas de sofrimento alheio e fechar os olhos diante das mudanças em ato. A pandemia que surgiu no final de 2019 trouxe sofrimento a milhões de pessoas em todo o mundo e escancarou ainda mais a vergonhosa situação de desigualdades
existentes em todos os lugares do planeta, mas especialmente nos países mais pobres. Milhões de irmãos e irmãs abandonados à própria sorte ou atingidos direta e indiretamente pela pandemia: doença, fome, solidão, morte. É uma realidade que interpela os Frades Menores hoje e continuará interpelando no futuro. O Papa Francisco escreveu em sua Encíclica Fratelli Tutti que é preciso “repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e sobretudo o sentido da nossa existência” (FT 33) e anunciou que precisamos sair da pandemia melhores que antes (Audiência do dia 26.08.2020). Estamos assistindo a cada dia a banalização da vida. A história mostra que sempre aconteceram conflitos, guerras, destruição da vida... Foi esta situação triste de desrespeito pela vida que fez surgir o texto da Sagrada Escritura narrando a história de Abel e Caim: luta fratricida! Hoje encontramos homens e mulheres iludidos por falsas seguranças e defendendo medidas pouco inteligentes para combater a violência. São Francisco viveu a paz e tornou-se irmão de todas as criaturas. “Todos os franciscanos são sucessores de São Francisco”, afirma Frei Michael Anthony Perry, OFM, Ministro Geral. Como tais deveriam enxergar as pessoas com a dignidade de filhas do Deus e, por isso mesmo, respeitá-las e buscar o diálogo. Por outro lado, empenhar-se em construir a paz através das mais variadas formas de prevenção à violência, à injustiça, à marginalização e abandono de crianças e adolescentes.
Experiência pascal O “mistério pascal” envolve os passos da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Os discípulos e discípulas chegam a Jerusalém com o Mestre por ocasião a celebração da festa da Páscoa judaica. O mistério inicia quando Jesus com os Doze celebra a última ceia e não demora para ser traído e preso como malfeitor. Começa a ser processado durante a noite e é condenado à morte pela manhã. Sem fugir
FORMAÇÃO PERMANENTE
do sofrimento, abraça a cruz e a própria morte, “escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos” (1Cor 1,23). O mistério se revela com Jesus ressuscitado aparecendo às discípulas e discípulos. De fato, quando as discípulas de Jesus o viram ressuscitado, uma luz brilhou para elas. Os evangelistas narram a experiência delas no dia da Ressurreição com pequenas, mas significativas nuances. São Marcos diz que elas foram ao túmulo de Jesus “ao nascer do sol” (Mc 16,2); São Mateus diz “ao raiar do primeiro dia da semana” (Mt 28,1); e São João diz “quando ainda estava escuro” (Jo 20,1). Jesus, luz do mundo, ressuscitando, venceu as trevas da morte e iluminou a vida das discípulas e dos discípulos. O Ressuscitado iluminou também as mentes deles para compreenderem a revelação de Deus nas Escrituras.
Jesus, luz do mundo O tema da luz perpassa toda a Sagrada Escritura opondo-se às trevas. De fato, vemos já no primeiro ato da criação Deus separando a luz das trevas (cf. Gn 1,3s) e, no final da narração da história da salvação, Deus mesmo é a luz da nova criação e a sua “lâmpada é o Cordeiro” (cf. Ap 21,5.23). São Lucas vê a realização das promessas anunciadas nos profetas Isaías e Malaquias e atribui a Jesus a imagem do “Astro das alturas” que veio para “iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1,78-19; cf. Is 9,1; 42,7; Ml 3,20). Jesus é a “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32; cf. Is 42,6; 49,6) que São Paulo anunciará aos pagãos para que “se convertam das trevas à luz” (cf. At 13,47; 26,18). Os discípulos mesmos deverão ser luz para as nações e atrair os irmãos e irmãs para o Cristo com o próprio testemunho (cf. Mt 5,14). São João fermenta todo o Evangelho com a consciência de que Jesus é a “luz que brilha nas trevas” como foi inserido no prólogo do seu Evangelho (Jo 1,5). No milagre do cego de nascença, Jesus se revela como “luz do mundo” (Jo 9,5) e, ensinando em Jerusalém, diz “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará
nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). A certeza de que é Ele quem ilumina o caminho dos discípulos está na sua afirmação: “Eu, a Luz, vim ao mundo para que aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12,46). Com a Ressurreição na Páscoa, as discípulas e discípulos saem das sombras da morte. O medo, a tristeza e as lágrimas são substituídos pela alegria, pela felicidade, pela vida plena no Reino messiânico. O Ressuscitado, aparecendo aos discípulos, envia-os em missão: “como o Pai me enviou eu também vos envio” (Jo 20,21). A missão deles será dar testemunho da luz diante da humanidade que vive nas trevas. De fato, lemos, por exemplo, na primeira Carta de Pedro que Deus “nos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1Pd 2,9) e na Carta aos Colossenses que “Ele nos arrancou do poder das trevas” (Cl 1,13). Segundo a compreensão dos primórdios da Igreja, pelo Batismo é que somos agraciados com a Luz de Cristo. O lema escolhido para o Capítulo Geral, “Desperta… e Cristo te iluminará” (Ef 5,14) está no contexto da exposição do que acontece com o batizado: “agora és luz no Senhor” (Ef 5,8) que, transformado, precisa comportar-se como “nova criatura”, o “homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade” (Ef 4,24). O apelo da carta é para que os batizados vivam “filhos da luz” (Ef 5,8; 1Ts 5,5), produzam os “frutos da luz... bondade, justiça e verdade” (Ef 5,9) e procurem “conhecer a vontade do Senhor” (Ef 5,17). Desta maneira, o batizado realiza a missão de irradiar a luz divina da qual tornou-se depositário no Batismo (cf. Mt 5,16; Fl 2,15).
Futuro O futuro da Ordem depende da nossa vivência hoje e das nossas opções em relação ao que queremos para o futuro. Isto implica avaliar nosso estilo de vida, o local de nossas presenças, os trabalhos assumidos, os projetos e estruturas que ocupam o tempo e as habilidades dos Frades pelo mundo afora. Talvez seja impossível chegar a um consenso universal, sabendo que cada região tem as
HOJE, A PRESENÇA DOS FRADES MENORES DEVE SER SIGNIFICATIVA, DIFUNDINDO A ALEGRIA DO EVANGELHO E FAZENDO A DIFERENÇA NA VIDA DAS PESSOAS E DA IGREJA
suas particularidades e as suas exigências. Contudo, o Evangelho é o mesmo e as pessoas são seres humanos em todos os lugares do planeta. O que compromete às vezes são esforços inúteis para manter estruturas caducas e distantes do carisma franciscano; são “atitudes mundanas” (Papa Francisco, Tóquio, 25.11.2019) que distanciam o religioso do Evangelho e da essência da Vida Religiosa; o clericalismo, que vem sendo combatido pelo Papa Francisco em diversas ocasiões; um certo saudosismo medieval que tende a olhar só para trás; e a também grave atitude de entrincheiramento diante das incertezas e ameaças do mundo atual. Como religiosos chamados, consagrados e enviados pelo Senhor da vida, todos nós Frades Menores temos a oportunidade de entrar em processo de discernimento fraterno, dialogando, pessoal e comunitariamente, com o Cristo ressuscitado, luz para o mundo, escutando o que o Espírito está soprando aos ouvidos da Ordem e assumindo responsavelmente nossa missão no mundo que nos interpela. Este processo deve levar-nos a avaliar nosso estilo de vida, se condiz com o Evangelho, com o carisma e com o chamado à proximidade com os mais pobres e vulneráveis de nossas sociedades. Frei Valmir Ramos, OFM, DEFINIDOR GERAL E ANIMADOR GERAL PARA A EVANGELIZAÇÃO
MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 115
FORMAÇÃO PERMANENTE
11 DE MARÇO DE 2021
Um ano após a declaração da Covid-19 como uma pandemia global Meus queridos irmãos, Que o Senhor lhes dê paz.
A
data de 11 de março de 2021 marcará um ano desde que a Organização Mundial da Saúde declarou a Sars2-Covid-19 como uma pandemia global. Naquela data, havia 118.000 infectados verificados, 4.291 mortes verificadas de Covid-19 e 114 países relataram a presença do vírus. Até 26 de fevereiro de 2021, houve cerca de 112 milhões de infectados confirmados e quase 2.500.000 mortes de Covid-19, com 192 países diretamente afetados pela pandemia. O que também está claro é o impacto desproporcional que a Covid-19 tem sobre nossos irmãos e irmãs pobres e sobre as nações mais pobres do mundo. Não creio que seja exagerado dizer que todos nós na Ordem conhecemos alguém que foi infectado, e talvez alguém que morreu. É difícil verificar com exatidão quantos de nossos queridos frades morreram em consequência das complicações da Covid-19, mas os números são significativos. As fraternidades foram colocadas em quarentena, alguns irmãos foram isolados no hospital ou nas enfermarias da Província ou da Custódia ou em outros centros de acolhimento; os familiares se infectaram e, lamentavelmente, alguns morreram. Um número significativo de “sobreviventes” da Covid-19
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está calculando os efeitos a longo prazo, como exaustão, dificuldades respiratórias, anomalias cardíacas e outras dificuldades para as quais agora estão sob cuidados médicos. Não se pode nem imaginar o impacto psicossocial da pandemia devido ao medo do contágio, do isolamento social e do desencadeamento de outras condições de saúde mental de longa duração. Não só afetam os desconhecidos, mas também a nós. A pandemia da Covid-19 está reescrevendo a história do mundo e, mais importante, a história de cada uma de nossas vidas, da vida da Ordem e da Igreja. Não conhecemos o peso total dos “danos” colaterais que podem advir da pandemia, mas já percebemos o aumento dos desafios que afetam todos os aspectos de nossas vidas, nossas instituições e nossa presença evangelizadora no mundo atual. Rogo para que cada um de vocês tenha tido tempo para refletir sobre o impacto da pandemia em sua vida, na dos outros irmãos da fraternidade, em seu trabalho pastoral e missionário, e na vida daqueles a quem fomos chamados para servir. No dia 11 de março de 2021, o primeiro ano desde a declaração oficial da pandemia de Sars2-Covid-19, convido a todos vocês, meus queridos irmãos, a unirmos à Fraternidade universal da Ordem para um tempo de oração, jejum e esmola. Esses três “caminhos” encontram o seu precedente nas Sagradas Escrituras e oferecem a opor-
FORMAÇÃO PERMANENTE
tunidade, a quem os abraça, de entrar num espírito de conversão da mente, do coração e da ação (cf. Joel 1,14 ss). Em anexo a esta carta estão duas orações que foram compostas em resposta à pandemia. São orações em que se pede a Deus que ouça o clamor do povo de Deus e venha em nosso auxílio. No espírito de jejum proposto pelos Profetas (cf. Is 58,6-7) e por Jesus (cf. Mt 6,16-18), o foco está centrado claramente em uma mudança radical de coração e mente, e se vincula também a atos que contribuem para a libertação do povo de Deus, unindo nossos esforços em um grande ato de solidariedade, algo tão necessário em nosso mundo, antes e como consequência da pandemia da Covid. Este é o foco da mensagem do Papa Francisco na “Fratelli Tutti” ao falar da necessidade de que o mundo inteiro se converta radicalmente (Fratelli Tutti 32, 55). Por fim, peço-lhes que reservem algum tempo para conversar uns com os outros e expressar como a pandemia da Covid afetou sua vida pessoal, seu envolvimento com a fraternidade, seus compromissos missionários e outros desafios que enfrentam. Seria muito conveniente que as fraternidades locais celebrem juntos a Eucaristia neste dia de oração. O momento de diálogo poderia ter lugar em um capítulo especial da fraternidade ou durante o tempo da homilia da Eucaristia. Espero de coração que nos unamos como uma única fraterni-
dade universal nesta ocasião, o primeiro ano desde que a Covid foi declarada uma pandemia. Invocamos Maria, Mãe da Ordem Seráfica, e a todos os santos da Ordem para que intercedam diante de Deus em nosso nome e por toda a humanidade. Que o dom da nossa fraternidade seja uma fonte de apoio e encorajamento constantes, enquanto enfrentamos juntos um futuro incerto. Que possamos refletir o amor e a misericórdia de Deus, que está sempre presente conosco, especialmente nos momentos mais difíceis, convidando-nos a nos levantar e a erguer a cabeça, para ver que não estamos sozinhos (cf. Lc. 21,28). Oremos por todos os que continuam sofrendo as consequências físicas diretas da Covid-19. Oremos também por todos aqueles que são afetados social, espiritual e economicamente. E recordemos de todos os nossos irmãos e irmãs que já passaram desta vida e agora desfrutam da plenitude da vida na eternidade. Roma, 1º de março de 2021 Fraternalmente em Cristo e São Francisco, Frei Michael A. Perry, OFM MINISTRO GERAL E SERVO
ORAÇÃO PARA 11 DE MARÇO DE 2021 Oração - I Deus eterno e onipotente, nosso refúgio em todos os perigos, olhai benigno para as nossas aflições e angústias. Como filhos, com fé vos pedimos: concedei o eterno descanso aos que morreram, conforto aos que choram, cura aos doentes, paz aos moribundos, força aos que trabalham na saúde, sabedoria aos nossos governantes e coragem para chegarmos amorosamente a todos, glorificando juntos o vosso Santo Nome. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Senhor, fortalecei os laços de nossa fraternidade espiritual, para que possamos dar testemunho da vossa presença e do vosso amor curador, pelo modo com que cuidamos uns dos outros, e pela forma com que estendemos as mãos aos nossos irmãos e irmãs mais necessitados, especialmente os mais afetados pela pandemia. Invocamos a intercessão de Maria, mãe de nossa Ordem Seráfica, de São Francisco, de Santa Clara e de todos os Santos franciscanos.
Que eles intercedam por nós junto do Pai das Misericórdias. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina para sempre, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Oração - II Senhor Jesus, que prometestes permanecer sempre conosco, neste momento em que as notícias tristes nos dominam e o medo toma conta de nós, voltai a repetir vossa reconfortante palavra: A paz esteja convosco! Ainda que não possamos estar fisicamente perto de outras pessoas, dai-nos a força e a coragem de amar tanto quanto pudermos, porque “o amor perfeito afasta todo o medo”. Olhai com bondade os médicos e as enfermeiras, os pesquisadores e os responsáveis pela segurança. Fortalecei os enfermos e os mais vulneráveis. Consolai os aflitos. E quando a pandemia passar, quando esta terrível crise for superada, ensinai-nos a vos conhecer com mais certeza, como nosso amigo querido e nossa única esperança. Vós que viveis e reinais com o Pai na unidade do Espírito Santo. Amém. (ofereça um Pai Nosso, uma Ave Maria e Glória ...) Maria Imaculada, Padroeira da Ordem Franciscana, rogai por nós!
A Crucifixação, c.1320 - c.1325 - Giotto di Bondone.
D
esde o início da pregação de Jesus, os “fariseus consultaram os herodianos para encontrarem algum motivo e matá-lo” (Mc 3,6). Este plano perpassa todo seu ministério, culminando em Jerusalém. Ali, os “príncipes dos sacerdotes e anciãos decidem prendê-lo, com astúcia, sem levantar tumulto entre o povo” (Mt 26,4-5). Consumada a prisão, Jesus é levado ao julgamento. Uns “procuravam falsos testemunhos, mas não encontravam”, enquanto
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outros “depunham, mas seus testemunhos não concordavam entre si” (Mc 14,55-56). Sua morte foi decretada quando declarou: “Eu sou o Messias”. Rasgando as vestes, o Sumo Sacerdote disse: “Blasfemou! Que necessidade temos de ouvir testemunhas? Que vos parece? Todos gritaram é réu de morte” (Mt 26,63-66). Manietaram-no e O levaram a Pilatos (Mt 27,2). Diante do governador, os motivos são outros: “Encontramos esse homem sublevando nossa nação, proibindo dar imposto a César e se declarando Rei” (Lc 23,2).
Nos dois momentos em que esteve a sós com Pilatos, no primeiro, ficou calado, fato que o deixou “muito admirado” (Mt 27,14). No outro, declara-se Rei dos Judeus e que seu Reino é o da Verdade (Jo 18,36-37). Após os interrogatórios, Pilatos afirma que nem ele nem Herodes Antipas, governador da Galileia, encontraram motivos para condená-lo (Lc 23,6-15). Convencido que Jesus era inocente e que foi entregue por inveja (Mt 27,18), Pilatos tenta libertá-lo, por três vezes.
FORMAÇÃO PERMANENTE “O beijo de Judas”, Giotto
A primeira, que o Sinédrio O execute segundo as leis de Israel. Eles respondem: “Não nos é permitido matar ninguém” (Jo 18,31). Depois, pensa em “castigá-lo e soltá-lo” (Lc 23,16). Por fim, lança mão do costume pascal de soltar um prisioneiro, convicto de que a liberdade seria dada a Jesus e não ao homicida Barrabás (Mt 27,15-23). Vendo que não conseguia demover os acusadores, “lavou as mãos”, dizendo-se “inocente do sangue deste justo” e que “a vós pertence toda a responsabilidade”, ao que responderam: “Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos” (Mt 27, 24-25). O ponto crucial ao qual Pilatos “ficou com mais medo” (Jo 19,8) foi quando lhe disseram “se soltares esse homem não és amigo de César porque todo aquele que se declara rei é contra César. (...) Então, entregou Jesus para que fosse crucificado” (Jo 19,12-16). (Na história humana, a política de não perder o cargo e a amizade dos ‘césares da vida’ está tão enraizado que persiste até hoje. O ‘Pilatos histórico’ continua pressente em todas as classes sociais e religiosas, e em cada um de nós).
A postura de Jesus do Getsêmani ao Calvário No Getsêmani, os Evangelhos retratam um Jesus tão humano que pede aos apóstolos para ficar com ele “porque minha alma está numa tristeza mortal” (Mt 26,38), “começou a sentir pavor e angústia” (Mc 14,33) e o “suor tornou-se gotas de sangue” (Lc 22,44). Se este é seu estado físico e psíquico – como entender o abandono e a fuga dos apóstolos (Mt 26,56)? Como entender que um deles O traiu com um beijo e Ele o chamou de ‘amigo’ (Mt 26,50)? Como entender que Ele mesmo se apresenta para ser preso, que “deixem os outros irem em paz” e que não se faça uso de armas para defender-se (Jo 18,4-11)? Desde o Getsêmani até o Calvário, a postura de Jesus é marcada por um extraordinário equilíbrio emocional que surpreende a todos. Diante da violência física feita, ora pelos acusadores ora por soldados – não reclama de dores, não
revida e nem promete vingança. Não se alterou com o desprezo de Herodes que o vestiu com um manto de carmesim, nem de receber uma cana como cetro e espinhos como coroa (Mt 27,28-29). Nem mesmo quando foi cuspido e, de rosto vedado, era provocado: “adivinha quem te bateu” (Mt 26,67). Como entender que as piedosas mulheres foram consolá-lo e é Ele quem as consola (Lc 23,27-28)? Que confia sua mãe e o discípulo amado aos cuidados mútuos: “eis tua mãe, eis teu filho” (Jo 19,26-27)? Na agonia da cruz “os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas O desafiaram, dizendo “se és o Rei de Israel, desça, agora, da cruz e creremos em ti” (Mt 27,41-42). Ele, porém, não desceu, ao contrário, perdoou e desculpou: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23,34). Ao dar o último suspiro, entrega-se Àquele a quem tanto amou: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Como entender tudo isso? O centurião romano, encarregado de acompanhar os soldados desde a prisão até a morte – provavelmente, fez o mesmo com outros sentenciados e, neles, quem sabe, observou revolta, xingamentos, pragas – mas, em Jesus, percebeu uma outra postura. De-
verá ter pensado: ‘Isso não é próprio do ser humano, aqui está algo divino’, pois “vendo-o expirar desse modo, exclamou: verdadeiramente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39). Este é o testemunho de um pagão no Calvário. No Getsêmani, Jesus busca força na oração: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice. Não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua” (Mc 14,36). Desde esse momento, ‘tristeza mortal, angústia e pavor, solidão e sofrimentos físicos’, paulatinamente cria-se espaço para “deixar-se possuir, totalmente, por Deus”. Essa ‘kenosis/ esvaziamento de si’ não nos vem num passe de mágica, nem de um único momento de oração, mas é uma virtude conquistada no transcurso de uma vida inteira. Nesse discipulado, Deus sustenta a caminhada para que cada um chegue ao seu Calvário/Ressurreição. Para Deus, tirar a cruz é fácil, pois Ele é poderoso e só depende Dele. Porém, em sua sabedoria, prefere contar com a colaboração humana. Quando esta se une ao “faça-se a tua vontade”, então, “tudo é possível”. Frei Luiz Iakovacz
FRATERNIDADES
Província assume o Santuário Frei Galvão no dia 11 de abril
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Província Franciscana da Imaculada Conceição escreverá, no dia 11 de abril de 2021, mais um capítulo na sua história de 345 anos. Os frades franciscanos estarão assumindo o Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá, a terra do santo frade franciscano. Esse momento histórico marcará a posse dos frades com a assinatura do convênio, com duração de 30 anos, pelo Ministro Provincial Frei César Külkamp e pelo Arcebispo Dom Orlando Brandes, representando a Arquidiocese de Aparecida. Esta Santa Missa, às 18 horas (com
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transmissão pela TV Aparecida), marcará a posse de Frei Diego Melo e Frei Roberto Ishara, frades que praticamente há seis meses estão ajudando diariamente nas confissões, aconselhamento, acolhimento do povo e celebrações, sempre em consonância e sob as orientações do então reitor, Padre José Carlos de Melo, que se despediu do povo no último dia 28 de fevereiro. Para o Ministro Provincial, é um momento histórico e de revigoramento da evangelização franciscana da Província. “Sabemos que este Santuário já é um espaço querido e buscado pelo povo por sua devoção ao
Santo Frei Galvão. Com isso, vemos que ele oferece condições para ser um centro de irradiação do carisma franciscano. Frei Galvão, como homem da paz e da caridade, nos oferece a oportunidade de cultivo das dimensões da nossa missão e de nossas frentes de evangelização”, acredita Frei César. Ele espera que daí se concretize o sonho de uma rede com as nossas presenças franciscanas e também com toda a Família Franciscana. “Frei Galvão dedicou-se bastante à Vida Religiosa feminina. Com isso nos inspira a buscarmos esta conexão hoje com as Irmãs, mas também com a OFS, a Ju-
FRATERNIDADES
fra, as Juventudes e as outras Obediências. O Santuário é Arquidiocesano, então também nos provoca à comunhão eclesial, o que já foi sendo conquistado com a Igreja Local de Aparecida. Outra dimensão importante é a evangelização compartilhada com os leigos e leigas. O Santuário já possui um batalhão de voluntários, amigos e benfeitores. Em tudo isso, queremos um Santuário da acolhida e da irradiação”, celebra Frei César. Segundo o Ministro Provincial, no último dia 5 de março foi oficializada a proposta de assunção do Santuário de Frei Galvão pela Província pelos próximos 30 anos. Frei Diego e Frei Roberto também se reuniram com as lideranças e voluntários do Santuário Frei Galvão para falar deste projeto de evangelização, que vinha sendo estudado desde o último Capítulo Provincial em 2018. Para Frei Diego, o processo feito de transição foi uma decisão acertada. “Esse tempo nos proporcionou uma transição gradual, sem choques ou dificuldades para ambas as partes. Pudemos conhecer melhor o clero diocesano, a rotina do Santuário, as equipes de pastorais e ministérios, além de adentrarmos na questão administrativa. Além disso, estando há quase meio ano na cidade e junto ao Santuário, pudemos perceber o grande carinho do povo em relação aos Frades. A associação feita entre Frei Galvão e os Franciscanos é imediata. Parece ser algo desejado há bastante tempo e que agora, finalmente, está se consolidando”, explicou Frei Diego. O “Santuário de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão”, ou “Santuário Frei Galvão”, como é mais conhecido em Guaratinguetá e pelos devotos pelo Brasil afora, foi criado no dia 8 de dezembro de 2010. “Bem antes disso, o Seminário Frei Galvão já recebia muitos romeiros, como também a Casa de Frei Galvão e a Igreja Santo Antônio, ambos em Guaratinguetá, e, mais ainda, o Mosteiro da Luz, em São Paulo, local construído por Frei Galvão e onde está o seu túmulo”, lembrou Frei César. A ligação com estes lugares será muito importante. Segundo o Ministro Provincial, um Santuário tem uma dinâmica menos sacramental e mais devocional, de piedade popular. “É casa de oração e de encontro com Deus. Para isso, deve oferecer sobretudo o acolhimento, além da calma e do silêncio. O sacramento mais buscado ali é o da reconciliação”, esclareceu. Para Frei César, um Santuário não possui as rotinas paroquiais de catequese, batizados, casamentos e tantos outros processos, mas pode ter liturgias, pastorais, obras sociais, comunicação, cultura e tantos outros. “Não há tanto o fator comunidade, pois o santuário é buscado por fiéis de várias comunidades, pessoas sedentas do sagrado, mas também por aqueles que não têm pertença eclesial nem vínculo religioso, carregando situações humanas e espirituais complexas. A todos estes, o Santuário oferece Jesus Cristo, com o testemunho concreto dos seus santos e santas”, acrescentou o Ministro Provincial. Frei Diego revela sua expectativa e alegria: “Sabemos que esse Santuário pode se tornar uma fonte de MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 121
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irradiação do Carisma Franciscano e é por isso que aqui estamos. Também temos consciência do quanto o modo franciscano de acolher e evangelizar pode contribuir para com a igreja do Brasil. Por tudo isso, só temos que agradecer a Deus e pedir a intercessão de São Frei Galvão para que sejamos não somente devotos de Frei Galvão, mas principalmente imitadores das suas virtudes e apaixonados por Cristo e pelos pobres, especialmente os enfermos, assim como ele foi”.
ENTENDA COMO FOI O PROCESSO O Ministro Provincial, Frei César Külkamp, explica os passos dados neste processo: Desde 2016, a Arquidiocese de Aparecida, através de seu Arcebispo, Dom Orlando Brandes já vinha sugerindo que os frades deveriam assumir os cuidados pastorais deste Santuário Arquidiocesano, entendendo que a presença dos frades da mesma Ordem e Província a que pertenceu Frei Galvão seria o mais adequado para este lugar de fé e devoção. O convite foi oficializado em meados de 2018. O então Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanbömmel, considerou que esta deveria ser uma decisão de toda a Província, dentro do processo de redimensionamento que estava em curso. E assim foi. O Capítulo Provincial de 2018 trabalhou o tema do redimensionamento indicando lugares que deveríamos deixar e, entre as novas opções, figurou o Santuário Frei Galvão como consenso entre os capitulares. Frei Galvão é um frade da nossa Província, o primeiro santo nascido no Brasil e que merece ter melhor propagação da sua devoção, como verdadeiro instrumento da paz e da caridade. No dia 13 de dezembro, o novo Ministro Provincial, Frei César Külkamp, enviou um ofício a Dom Orlando apresentando a nossa disposição em assumir os cuida-
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dos pastorais deste Santuário. Desde princípios de 2019, foram trocadas algumas correspondências e realizadas algumas reuniões. Num desses encontros, em julho de 2019, Dom Orlando disse que gostaria que assumíssemos não apenas os cuidados pastorais do Santuário, mas também sua administração e a construção do novo Santuário, ainda em projeto e em terreno anexo ao atual. Mas, seria importante que a decisão também fosse assumida por todas as instâncias da Arquidiocese, bem como pela Comissão do Projeto do Novo Santuário, presidida pelo Arcebispo emérito, o
Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis. Frei João Francisco da Silva, guardião da fraternidade do Postulantado Frei Galvão, em Guaratinguetá, e Definidor Provincial, ficou encarregado de ser este interlocutor entre a Arquidiocese e a Província. Correspondências também foram trocadas com o Cardeal Dom Raymundo e este manifestou contentamento com a chegada dos frades para este trabalho. Por vezes, pareceu que este projeto estava se tornando mais distante de se realizar. Mas, no dia 25 de outubro de 2019, dia da festa de Frei Galvão, a Comissão Arquidiocesana do Santuário deu parecer favorável a que a Província o assumisse como um todo (pastoral, administração e construção), a partir de janeiro de 2021. Antes deveria fazer uma proposta de contrato a ser analisada pela comissão e pelo Conselho Presbiteral. O Definitório de novembro de 2019 constituiu uma comissão para a elaboração desta proposta que ficou assim: Frei César, Frei João Francisco, Frei Gustavo W. Medella e a Dra. Luana Giosa. Em fevereiro de 2020, Dom Orlando sugeriu que os frades começassem a marcar presença no Santuário, principalmente no atendimento de confissões, sempre em grande número. O reitor de então
FRATERNIDADES
era também pároco em outra paróquia, o que dificultava um trabalho de mais presença. O Definitório começou a pensar em nomes para este trabalho. Desde o início foi levantada a indicação de Frei Diego Atalino de Melo como primeiro reitor e, de sua parte, logo houve boa aceitação. O Definitório de abril de 2020 oficializou sua transferência para Guaratinguetá, morando na Fraternidade do Postulantado, mas a serviço do Santuário, para contato e conhecimento da realidade. No entanto, desde março, todos passamos a lidar com a grave pandemia da Covid-19. As igrejas ficaram fechadas, o que não foi diferente no Santuário. As tradicionais romarias foram interrompidas.
Maquete do novo Santuário
Os frades estiveram mais atentos às necessidades urgentes resultantes da pandemia. Frei Diego, assim, não foi logo para Guaratinguetá e dedicou-se antes à “Tenda Franciscana”, serviço emergencial para a alimentação da população mais carente da cidade de São Paulo e, depois também, da do Rio de Janeiro. Mesmo em meio à Pandemia, o Definitório se reuniu na forma virtual no mês de junho e transferiu também o Frei Roberto Ishara, da Fraternidade da Rocinha para a do Postulantado, mas a serviço no Santuário. Ele conseguiu ir logo, mas sem poder ainda marcar presença no Santuário. Depois de conhecer outras experiências de trabalho em santuário, principalmente dos Missionários Redentoristas em Aparecida, e de passar por vários especialistas, a proposta de convênio foi entregue a Dom Orlando. Frei Diego conseguiu chegar a Guaratinguetá em fins de setembro. Ele e Frei Roberto começaram a ter presença diária no Santuário, atendendo o povo local, os romeiros que começavam a chegar aos poucos e uma intensa grade de programas de televisão, rádio e pela internet. Começaram a se empenhar sobretudo na preparação da novena e festa do Santo Frei Galvão. Um bom destaque foi a boa acolhida do reitor,
Pe. José Carlos de Melo, e a liberdade que deu ao trabalho dos frades. No dia da festa, 25 de outubro, muitos frades de Guaratinguetá e de São Paulo estiveram presentes, bem como os postulantes, um grande número das Irmãs Franciscanas da Terceira Ordem Seráfica e das Irmãs Clarissas, além de jovens franciscanos e voluntários dos projetos sociais. Essa presença franciscana impressionou a todos e certamente acelerou um pouco mais o processo. Assim seguiu o trabalho até meados de fevereiro deste ano, quando o reitor, Pe. José Carlos, foi escolhido como pároco da Paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, em Aparecida. Com isso, no dia 18 de fevereiro, Dom Orlando pediu que enviássemos um ofício com a indicação de um frade para assumir, em caráter provisório, como reitor do Santuário, o que foi feito no mesmo dia, tanto do reitor, Frei Diego, como do colaborador, Frei Roberto. O jurídico da Arquidiocese, o Conselho Presbiteral e o Arcebispo chegaram a um consenso sobre a minuta de nosso convênio, com indicações de alterações. No dia 26 de fevereiro, fizemos um estudo destas alterações na comissão e chegamos a algumas contrapropostas, mas em geral sem mudanças substanciais. A proposta foi levada a Dom Orlando no dia 5 de março por Frei César, Frei João Francisco e Frei Diego. Os detalhes foram acertados e aceitos por Dom Orlando e por nós. Assim, na manhã do dia de 5 de março foi oficializada a proposta de assunção do Santuário de Frei Galvão pela Província pelos próximos 30 anos. No dia 11 de abril, Dom Orlando presidirá a missa de posse do reitor e do colaborador com a assinatura, dele e do Ministro Provincial, do Convênio entre a Arquidiocese e a Província em favor do Santuário de Frei Galvão. São Frei Galvão, São Francisco e Santa Clara intercedam para que possamos viver e servir com alegria e dedicação neste novo projeto de evangelização sonhado e assumido por toda a Província! MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 123
FRATERNIDADES
COMO SERÁ A CELEBRAÇÃO DE POSSE Para marcar esta data, o novo reitor do Santuário, Frei Diego, conta que a celebração de posse começará mais cedo, às 8h30, com a bênção de envio pela Fraternidade do Seminário Frei Galvão, onde Frei Diego e Frei Roberto residem. Dali, frades e alguns fiéis devotos, respeitando as normas sanitárias, farão uma peregrinação até o Santuário Frei Galvão. “Vamos recordar um gesto tão parecido com o que Frei Galvão fazia nas suas longas caminhadas”, explica Frei Diego. “Nesta caminhada faremos umas paradas significativas: uma delas é na Casa Frei Galvão. Assim como Frei Galvão, quando jovem pediu a bênção de sua família para iniciar a caminhada vocacional, nós faremos uma primeira parada na sua casa, atual museu, pedindo aos seus familiares a bênção e demonstrando essa comunhão que queremos ter com essa família que nos deu este irmão para a Província, para a Ordem para a Igreja. Este irmão que é santo”, acrescentou o frade. Na sequência, a peregrinação fará outra parada na Igreja Santo Antônio, a Igreja Matriz de Guaratinguetá onde Frei Galvão foi batizado e rezou a sua primeira Missa, demonstrando essa comunhão a partir do batismo com a Igreja local. “Lá estarão alguns padres diocesanos que também darão a bênção de envio, evidenciando essa eclesialidade, essa comunhão que queremos ter com a Igreja local, até porque este é um Santuário Diocesano”, recorda Frei Diego. Seguindo a caminhada, haverá um encontro com o prefeito e o secretário de turismo, uma vez que Guaratinguetá é uma instância religiosa e turística. “Nós sabemos que a chegada dos franciscanos ao Santuário Frei Galvão era algo desejado e esperado por muita gente dessa cidade. Também temos consciência da
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Ruan, eu e mais dois postulantes vamos distribuir quentinhas para a população em situação de rua. Queremos mostrar que um santuário franciscano precisa ter esse olhar para os mais pobres. Ali, pediremos a bênção daqueles que são nossos mestres, daqueles pelos quais Frei Galvão também teve um carinho especial e que hoje são representados por esses irmãos e irmãs que estão em situação de rua”, adiantou o frade. A peregrinação chega, então, ao Santuário, onde o Ministro Provincial Frei César dará a bênção à nova residência dos frades, à nova Fraternidade da Província. No final do dia, às 18h, celebração a missa de posse, presidida por D. Orlando Brandes, concelebrada pelos demais confrades e na qual nos será dada a posse oficial do Santuário Frei Galvão, confiando os cuidados pastorais e administrativos à nossa Província”, explica Frei Diego. importância dessa devoção para todo o munícipio. Assim, queremos demonstrar nosso apreço e amizade a todo o povo de Guaratinguetá representado pelo seu prefeito Marcus Soliva”, situou o novo reitor. Nesse trajeto, segundo Frei Diego, não se poderia esquecer dos mais pobres. “Faremos uma parada no calçadão de Guaratinguetá, onde todas as sextas-feiras, nós como fraternidade franciscana, ajudamos a Pastoral do Povo em Situação de Rua da Paróquia da Glória, uma antiga Paróquia franciscana. Toda sexta-feira Frei
Trajeto da Caminhada: 7,8 km 08h30 Bênção de Envio no Seminário 08h45 Início da Caminhada até a Casa de Frei Galvão 09h30 Acolhida na Casa de Frei Galvão 10h00 Bênção dos Padres Diocesanos na Igreja Matriz de Santo Antônio 10h30 Encontro com os moradores em situação de rua no calçadão 11h00 Encontro com o Prefeito de Guaratinguetá e o Secretário de Turismo (em frente ao Fórum) 12h00 Chegada ao Santuário Frei Galvão e bênção da nova fraternidade 13h00 Almoço no Seminário Frei Galvão 18h00 Missa de Posse Moacir Beggo
FRATERNIDADES
Formação sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica em Imbariê
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Paróquia Santa Clara de Imbariê, em Duque de Caxias (RJ), promoveu formações sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 (CFE), que foram transmitidas pelo Facebook. Os encontros (10 e 18/2) tiveram uma dinâmica leve, sendo que, no primeiro dia, salientou-se o aspecto informativo sobre a CFE e, no segundo dia, realizou-se uma celebração para marcar o início deste evento na Paróquia. Os assessores dos encontros foram os frades da Fraternidade e a paroquiana Cristiane Aparecida, da Comunidade Santa Terezinha. No primeiro dia foram apresentados
os elementos básicos que compõem a CFE, como o seu tema, lema, seus objetivos e as suas motivações ecumênicas. Salientando o embasamento bíblico, os assessores apresentaram o contexto da Carta de São Paulo aos Efésios, apresentando a situação de divisão da comunidade e a solução dada pelo Apóstolo: perceber em Cristo a cabeça do corpo que é a Igreja. Tal motivação pode provocar a Igreja hoje para um maior diálogo ecumênico. Também foram explicados, durante a formação, os elementos constituintes do Cartaz da CFE, bem como o hino. Ao final do primeiro dia, foi oportuno também lembrar as denúncias de violências
e situações que precisam de um olhar atento, explanadas no texto-base, destacando a importância de criar uma cultura de paz a partir das propostas concretas da CFE e de gestos da Paróquia. No segundo dia, o clima celebrativo marcou o encontro. Entre cânticos, preces e dinâmicas, os paroquianos puderam refletir sobre as grandes situações de violência e tristeza que a pandemia da Covid-19 intensificou no Brasil, especialmente no contexto da Baixada Fluminense. Essas foram escritas em tijolos dispostos em um muro, que durante a celebração foi desmanchado, revelando, no outro lado de cada tijolo, uma ação concreta da Paróquia para vencer os problemas causados pelo egoísmo humano, que foram crescendo na pandemia. Lembramos algumas iniciativas paroquiais: a campanha do Quilo, levando dignidade aos mais necessitados através da partilha; a celebração do Espírito de Assis, como gesto concreto de diálogo inter-religioso; o esforço das pastorais, dos movimentos; os voluntariados exercidos na Paróquia; parcerias com outras entidades. Frei João Reinert, o pároco, conduziu também uma bela reflexão sobre o texto dos discípulos de Emaús, dizendo que: “O Senhor Jesus, da mesma forma que quis andar junto aos discípulos, e com eles dialogar sobre tudo, assim também quer conversar conosco. Ele nos ensina que dialogar é mais que passar informação. É entrar na vida do outro”. A celebração também contou com um momento de ofertório, onde cada família que estava assistindo foi convidada a apanhar em sua dispensa um quilo de alimento a ser levado para a Campanha do Quilo. Frei Gabriel Dellandrea MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 125
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Frei James Girardi celebra 25 anos de Ordenação Sacerdotal
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o primeiro Domingo da Quaresma (21/2), abrindo um tempo de escuta da Palavra e de reconciliação com Deus e com os irmãos, Frei James Luiz Girardi presidiu a Celebração Eucarística do seu Jubileu de 25 anos de Ordenação Sacerdotal. Devido ao distanciamento social e proporcionando a participação de mais pessoas, foram preparadas três celebrações, durante o dia, uma em cada área pastoral da Paróquia São Francisco de Assis, em Duque de Caxias. Além dos irmãos de fraternidade, contou-se com a presença de Frei Toni Michels, grande amigo de Frei James. Em sua homilia, Frei James ressaltou que “a fé nos ajuda a sermos melhores e a
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responder às questões que o tempo atual nos apresenta. Interpela-nos e provoca mudanças, transformando-nos em pessoas melhores. Renova a esperança, a fé e o compromisso. E se torna uma oportunidade de ser feliz. No meio do turbilhão, que é o nosso dia a dia, devemos superar as tentações que hoje são muitas”, disse o celebrante. “Buscar o equilíbrio, perdoar e praticar a oração, a esmola e o jejum. O que é jejuar hoje? Quando se vive numa sociedade de consumo exagerado, com um descarte de tantas coisas, o que significa jejuar diante dessa verdade? O que significa viver a esmola, a caridade a dimensão solidária, fraterna, afetuosa que todo cristão deve ter? O que significa viver a esmola em um mundo que
mata, que destrói, que descarta o ser humano? O Papa Francisco fala muito que vivemos cheios de muros, que separam, distanciam, excluem, faz com que não possamos nos encontrar. Ele diz que devemos construir pontes. Isso é viver a caridade e a solidariedade, é se empenhar para que a vida seja mais forte que a morte. O que é viver a dimensão contemplativa da oração em um tempo em que ninguém tem tempo, vive correndo, vive agitado?... Deixemo-nos interpelar pelo Espírito Santo de Deus para que nos tornemos pessoas mais felizes, mais renovadas, cheias de esperança, mais comprometidas...”, observou. Na sequência, foi lida a história da vida de Frei James e, logo após, o aniversariante renovou o seu compromisso como sacerdote diante de toda comunidade. Foi lembrado, pela equipe litúrgica, durante a celebração que “há 25 anos Frei James escolheu como tema para a sua ordenação o versículo do Evangelho de Mateus (5,6), que afirma: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Esse versículo revela a realidade imposta pela sociedade desumana, que gera pessoas injustiçadas, empobrecidas e escravizadas. Frei James busca vivenciar, em sua vida e sacerdócio, a inversão dessas atitudes: elas devem ser libertadoras, acolhedoras e abençoadas pelo Deus da vida mediante a prática comunitária da misericórdia, da jus-
FRATERNIDADES
tiça e da solidariedade. Ele também procura viver, em seu dia a dia, a mística e ações de São Francisco. O mesmo Francisco ressalta que o sacerdote é aquele que traz a presença do Senhor ao altar. Que aproxima Deus do ser humano. As mãos do sacerdote tocam a Palavra da vida e o Pão que sacia a fome de esperança e neles enxergamos o Filho de Deus. E é assim que se revela Frei James, aquele que é presença de Cristo, que pensa, fala e age como Cristo. E essa experiência de Deus faz com que sua própria vida seja um anúncio para aqueles que estão sedentos do Salvador, sedentos de esperança e de justiça social e se transforma em amor concreto ao irmão, tornando-se um homem de Deus para os outros”. Frei James recebeu de cada área pastoral um presente: Uma sandália franciscana, uma estola e uma túnica que simboliza o ministério sacerdotal. Nos momentos de homenagens, Frei Toni ressaltou que o amigo é uma pessoa profundamente humana, tem o dom do diálogo e que tem um olhar carinhoso com o irmão mais pobre. Foram apresentados alguns vídeos de felicitações de amigos da Fraternidade e familiares. D. Evaristo, bispo de Marajó, em vídeo, destacou que o amigo é uma pessoa muito solidária, bem-humorada, de bem com a vida... Frei Atílio, em vídeo, lembra do entusiasmo e contribuição do amigo de Fraternidade no início do seu ministério. E muitos outros testemunhos foram apresentados que muito emocionaram Frei James. As funcionárias
dos Centros de Convivência Infantil também presentearam o celebrante com um lindo quadro com fotos da sua vida sacerdotal. Frei James, ao final da celebração, agradeceu a Paróquia pelas belíssimas celebrações e a todos que contribuíram com o seu ministério. Frisou que foi um dia de alegria e gratidão a Deus pelo seu chamado à vocação sacerdotal e por ser força e sustento em sua missão. Frei James Luiz Girardi, OFM, nasceu no dia 13 de agosto de 1967, na cidade de Rodeio, Santa Catarina, filho do casal Arcângelo e Eleonora Girardi. É o mais novo de seis irmãos. Seu pai exercia o ofício de estofador e sua família morava aos pés da colina onde se localiza a Igreja Matriz de São Francisco e o Noviciado Franciscano. Desde criança, a proximidade física com os frades também foi se tornando proximidade afetiva. O fato de ter sido coroinha na igreja matriz também motivou sua vocação. Ingressou, com 13 anos, em 1980, no Seminário São
Francisco de Assis, em Ituporanga, SC, onde concluiu, em 1983, o Ensino Fundamental. De 1984 a 1986, morou no Seminário Santo Antônio, em Agudos, SP, onde concluiu o Ensino Médio e também fez o Postulantado. De 1987 a julho de 1988, fez o Noviciado em Rodeio, sua terra natal, fazendo a Profissão Simples no dia 2 de julho de 1988. Entre os anos de 1989 e 1991, viveu na Fraternidade Franciscana São Boaventura, em Campo Largo, Paraná, onde cursou Filosofia. A Teologia fez em Petrópolis, RJ, no Instituto Teológico Franciscano, entre 1992 e 1995. Sua Profissão Solene se deu no dia 5 de novembro de 1994, em Duque de Caxias, onde também foi ordenado diácono, a 19 de agosto de 1995, pelo Bispo Dom Mauro Morelli. Ordenou-se sacerdote em 17 de fevereiro de 1996, em Rodeio, sua terra Natal, pelo Bispo de Rio do Sul, SC, Dom Tito Buss. Desde o tempo de estudante, conheceu e aprendeu a amar a Baixada Fluminense e o Rio de Janeiro, especialmente o povo que vive nesta região. Dos seus 25 anos de padre, 22 deles esteve morando em terras fluminenses. Passou por Venda das Pedras, em Itaboraí, Imbariê, Convento Santo Antônio do Largo da Carioca, Rocinha, Petrópolis, na Fraternidade São Francisco de Assis, em Campos Elíseos. Ele também atua como professor do Instituto Teológico Franciscano, em Petrópolis, lecionando Eclesiologia. Pascom da Paróquia São Francisco – Campos Elíseos MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 127
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Frades do Santuário de Vila Velha fazem seu retiro quaresmal
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Fraternidade do Divino Espírito Santo, em Vila Velha, fez um dia e meio de retiro quaresmal antes da celebração do primeiro Capítulo local do ano. Os confrades receberam três textos para a reflexão ao longo da quinta-feira, dia 25 de fevereiro, além de fazerem uma hora de Adoração ao Santíssimo com o povo e concelebrarem a Eucaristia vespertina. No dia 26, sexta, durante uma hora e meia, partilharam as reflexões feitas. O primeiro texto era uma página escrita por Frei Constantino Koser, então Ministro Geral, para o Capítulo de 1973 e tratava da fé como fundamento de todo o projeto franciscano: “Único fundamento sólido em que se pode construir uma vida de oração, de celibato, de fraternidade, de pobreza e de serviço”. Todos estiveram de acordo que a fé tem tudo a ver com a perseverança ou a desistência, tema estudado pela Ordem toda no ano passado e neste. Se é verdade que a fé é graça de Deus, seu cultivo e sua frutificação é responsabilidade intransferível de cada um de nós. O segundo tema tratou da Palavra de Deus na vida de São Francisco e na nossa vida franciscana. Um texto do Ministro Geral José R. Carballo, em carta a toda a Ordem na festa de Pentecostes de 2008. Nossa reflexão viu que este texto está muito ligado ao primeiro. Há um elo umbilical entre nossa fé e nossa vivência da Palavra de Deus. O texto nos ensinou que nós, franciscanos, não nos alimentamos só do Pão eucarístico, mas, na mesma proporção, nos alimentamos daquilo que São Francisco chamou de “Palavra perfumada e embriagante”. E percebemos que não basta a tendência que temos de fazer
exegese. O conhecimento da Escritura, para Francisco, “não era especulativo, mas sapiencial. Para ele, a Palavra não era um texto de ontem, mas de hoje e para o hoje de Francisco, como aparece quando diz o ‘Senhor me disse no Evangelho’ e não ‘naquele tempo disse Jesus’, como é normal citar os ditos de Jesus. Francisco não estudou, mas viveu a Palavra”. O terceiro texto foi tirado do discurso improvisado do Papa Francisco no término do Sínodo sobre a Família em outubro de 2014. O Papa lembra várias tentações que sofrem tanto os pastores quanto as ovelhas nos dias de hoje: o mau tradicionalismo, o ingênuo intelectualismo, o irresponsável liberalismo (que a moral chama de laxismo), a falsa segurança em “verdades” transformadas
em dogmas, as abobrinhas na pregação do catecismo e a tentação de melifluir a cruz do Calvário. A Fraternidade reconheceu que os ataques que o Papa e algumas instâncias da Igreja vêm sofrendo nas redes sociais nascem, sim, daquelas tentações que, enquanto tentações ainda são positivas, porque podem ser purificadoras, mas, quando não digeridas, se tornam destruidoras da fé, da Palavra de Deus e da comunidade. Outra hora do Capítulo, na manhã de sexta, foi dedicada à programação pastoral da Quaresma, Semana Santa e Páscoa, neste ano ainda excepcional de pandemia. Daremos especial atenção às celebrações penitenciais com absolvição; na quinta e na sexta-feira santas celebraremos duas vezes, com a mesma solenidade, para evitar a aglomeração. Temos o privilégio de uma igreja grande, onde quinhentas pessoas podem se reunir sem se aglomerar. Resolvemos também neste Ano de São José, celebrar sua festa com mais Missas e um tríduo de reflexão sobre o grande patriarca, Padroeiro da Igreja. Frei Clarêncio Neotti
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FRATERNIDADES
Frei Clarêncio e Frei Claudius também recebem a primeira dose da vacina contra a Covid-19
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os poucos, os grupos prioritários estão sendo imunizados contra a Covid-19. Os frades mais idosos de Vila Velha, Freis Claudius Guski e Clarêncio Neotti, foram vacinados na manhã do dia 24 de fevereiro. O processo foi realizado cumprindo todos os protocolos e orientações de imunização do Mi-
nistério da Saúde. Frei Djalmo Fuck, pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Vila Velha (ES), fez o cadastro on-line de todos os frades. Todo o procedimento foi fácil, prático e seguido rigorosamente pela equipe de enfermagem da Prefeitura e pelos frades. O pároco explica ainda que as profis-
sionais de saúde mostraram os frascos, as seringas tanto antes quanto depois da aplicação, e ainda deram algumas orientações para pós-vacina. “A Prefeitura se organizou muito bem. As profissionais nos mostraram as seringas e, com muita competência, aplicaram os imunizantes”. Frei Claudius tem 87 anos, é alemão, nascido em Allenstein em 10 de novembro de 1933. Ele já residiu no Convento da Penha por quase 8 anos. Já Frei Clarêncio é catarinense, da cidade de Salete. Nasceu em 29 de dezembro de 1934 e tem, portanto, 86 anos. Atualmente, ele é Vigário Paroquial. Ambos receberam a primeira dose da Coronavac em um posto de atendimento instalado no Ginásio do Tartarugão, bairro Cocal, Vila Velha. Frei Djalmo ressaltou a importância da vacina e das pessoas buscarem a imunização. “Imunizados, eles motivam, estimulam as demais pessoas a quererem a vacina. Vamos todos receber a vacina. Eu estou ansioso para chegar minha vez”, enfatizou Frei Dalmo. Pascom da Paróquia do Rosário
Iphan realiza visita para acompanhar ações de conservação do Convento O Convento da Penha recebeu, no dia 4 de março, a visita da representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Espírito Santo, a superintendente Elisa Taveira. Frei Pedro de Oliveira Rodrigues acolheu Elisa na Capela de Nossa Senhora da Penha. O objetivo de visita de rotina foi para acompanhar de perto as ações e o estado de conservação do bem tombado, assim como os preparativos para a Festa da Penha. A menos de 30 dias para o início dos festejos em honra à Padroeira do Espírito Santo, estão sendo realizadas algumas melho-
rias como a pintura externa do monumento. Elisa Taveira afirmou que “o monumento encontra-se bem conservado e recebendo todos os cuidados necessários de um bem tombado”. Ainda segundo ela, os cuidados adotados estão de acordo com as orientações do Instituto.
Para Frei Pedro, cuidar da vida é uma missão de todos nós e cuidar do Convento, “patrimônio dos capixabas e de todo o Brasil”, mais que dever, é um trabalho gratificante para os franciscanos. “É nossa tarefa principal, enquanto responsáveis por esse Santuário tão importante, cuidar, zelar, conservar e rezar para que as pessoas possam voltar logo a visitá-lo”, comentou o frade. O Convento da Penha foi tomado pelo Iphan em 1943. Asssessoria de Imprensa do Convento da Penha
FRATERNIDADES
Frades do Espírito Santo realizam encontro regional em Vila Velha
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s frades das três Fraternidades do Espírito Santo, sendo elas, do Convento da Penha, do Santuário do Divino Espírito Santo e da Paróquia Frei Galvão de Colatina, reuniram-se na segunda-feira, dia 8 de março, para o Encontro do Regional da Província. Ao todo, treze freis participaram deste momento no Santuário Divino Espírito Santo, centro de Vila Velha. Por orientação do último Definitório, os frades abordaram temas de subsídios da Província, em seguida, após refletirem fraternalmente cada realidade, partiram para a segunda parte do encontro: a partilha da vida e missão das fraternidades. Frei Adriano Dias do Nascimento destacou que a Paróquia do Rosário tem feito trabalho pastoral de visitar e conversar com lideranças das dez comunidades que compõem a Paróquia. Segundo ele, “mesmo que estejamos no tempo da pandemia,
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as pessoas têm respondido e se engajado nas necessidades de evangelização, e isso é muito bom, porque assim conhecemos as realidades que estão diante de nós”. O coordenador do Regional e Pároco da Paróquia do Rosário, Frei Djalmo Fuck, lembrou que o Regional também tem a intenção de ajudar a preparar o Capítulo Provincial, que será realizado de 3 a 11 de novembro em Agudos, São Paulo. “Hoje, nós estamos apresentando alguns assuntos pertinentes para levarmos ao Capítulo Provincial em novembro, porque é a partir daqui que sugerimos e contribuímos com as discussões fraternas. É um espaço privilegiado para participarmos de forma democrática do Capítulo Provincial, haja vista, que ele é feito escutando as fraternidades e regionais”. O Encontro Regional, de acordo com Frei Djalmo, tem como objetivo principal, “incentivar a Formação Permanente dos Frades, ao
mesmo tempo rezar juntos e celebrar a vida fraterna”. Os frades de Colatina apresentaram aos confrades como está a evangelização e a administração da Paróquia, além de darem um panorama da situação diocesana após a transferência de Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias para a Diocese de Lorena-SP. A Festa da Penha 2021 também foi tema apresentado no Regional. A menos de 27 dias (de 4 a 12 de abril) para o início da maior festa religiosa do Espírito Santo, os preparativos andam a todo vapor. A fraternidade franciscana do Estado já se comprometeu com a ajuda fraterna para as celebrações e para os eventos que estão previstos. Refletindo rapidamente sobre o tema, os freis da Penha falaram da importância do “olhar”, principalmente neste tempo pandêmico, em que fomos instados a “olhar” com mais qualidade, sorrir e dizer com os olhos, uma vez que utilizamos máscaras.
FRATERNIDADES
Frei Nicolau Leurs, fundador de uma congregação religiosa franciscana
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rei Nicolau Leurs nasceu na Alemanha, em 1867, e lá ingressou na Ordem. Em 1894, ainda com votos temporários, veio para o Brasil, somando-se aos primeiros missionários que restauravam a presença franciscana no país. Em 1925, quando exercia o serviço de “presidente” do Convento São Francisco, em São Paulo, o Arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938), o nomeou como confessor de um convento de irmãs na Vila da Mooca, que estavam submetidas à autoridade arquidiocesana. A comunidade era originária de uma fundação italiana, da qual, por vários motivos, estavam desligadas desde o início do século. Careciam de uma direção espiritual e de uma orientação quanto ao carisma. Frei Nicolau atendia confissões e dava breves palestras às irmãs. No livro reproduzimos três destas breves preleções. Em 1930 o frade foi nomeado Visitador da fraternidade. Ao longo do processo de acompanhamento, ele foi indicando às irmãs o caminho do Carisma Franciscano. Deu a elas um hábito com símbolos franciscanos, ensinou-as a confeccionarem os nós do cordão, instruiu-as no seguimento da Regra da Terceira Ordem Regular Franciscana. No Relatório final da Visita, direcionado ao Arcebispo, Frei Nicolau chama as irmãs, pela primeira vez, de Franciscanas: “As Irmãs da Divina Providência de São Fran-
cisco de Assis são animadas pela firme e louvável vontade de serem boas religiosas”. Frei Nicolau também providenciou a agregação das irmãs à Ordem dos Frades Menores, em Roma. O Decreto traz a data de 27 de novembro de 1930, e foi confirmado pelo Ministro Geral John Vaughn em 23 de novembro de 1985. Três irmãs se destacaram na condução deste processo de vinculação ao carisma Franciscano, por isso são consideradas, de direito e de fato, cofundadoras. Várias questões jurídicas e humanas fizeram com que o reconhecimento canônico da fundação fosse concluído apenas em 1946. Frei Nicolau falecera em 12 de maio de 1942, em Blumenau. Atualmente a fundação denomina-se Instituto das Irmãs Franciscanas Filhas da Divina Providência. Baseada na análise de fontes e pesquisa de material de vários arquivos, a obra trata do trabalhoso processo de fundação, através da clarificação do papel de fundador e cofundadoras da instituição, além do processo de reconhecimento oficial pela Igreja. Depois de muitas idas e vindas, onde não faltaram as vicissitudes humanas, as sementes lançadas pelo zeloso franciscano tornavam-se árvore frondosa, produzindo muitos frutos em favor do Reino de Deus. Frei Sandro Roberto da Costa MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 131
FRATERNIDADES
Paróquia São Luiz Gonzaga encerra as comemorações a Frei Bruno
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o domingo, dia 7 de março, a Paróquia São Luiz Gonzaga encerrou as comemorações a Frei Bruno Linden. Com transmissão pelas redes sociais da Paróquia, os fiéis puderam acompanhar 11 dias dedicados ao frade em processo de beatificação. A abertura das festividades aconteceu no dia 25 de fevereiro, data em que se completou 61 anos de morte de Frei Bruno. Às 19h teve início a Missa em homenagem ao frade franciscano, que esteve em Xaxim por 10 anos, de 1945 a 1955. Seu histórico foi relembrado com carinho por Frei Gilson Kammer, o presidente da celebração. Na sexta-feira (26/02), a novena pedindo a beatificação de Frei Bruno teve início. A cada dia, uma virtude foi apresentada junto com os símbolos representando cada tema em frente ao altar. A novena teve como base o livro de Frei Clarêncio Neotti. Na programação, as comunidades estariam presentes todos os dias da novena para bem celebrar, no entanto, com as restrições devido ao aumento de casos da Covid-19, as celebrações ficaram restritas a um número pequeno de pessoas e a igreja com as portas fechadas. A Santa Missa foi concelebrada por Frei Jacir
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Antônio Zolet e Frei Vanderlei da Silva Neves. A celebração teve início com o hino de Frei Bruno Linden e a saudação franciscana de “Paz e Bem”. Em frente ao altar, objetos de Frei Bruno, como: busto em sua homenagem, bengala, guarda-chuva, terço, as vestes usadas por ele na época. Junto ao pé do altar de Nossa Senhora da Saúde, a Sagrada Família e o Tau Franciscano, símbolos que representam Frei Bruno na sua caminhada e lembram as virtudes da fé, esperança, caridade, prudência, fortaleza, temperança, pobreza, obediência e da castidade. Em sua homilia, o pároco Frei Gilson saudou a todos que acompanhavam pelas redes sociais e aos que estavam presentes e destacou na sua fala as leituras do terceiro domingo da Quaresma: “A misericórdia de Deus é muito maior conosco, por isso, Ele nos apresenta os 10 mandamentos para que tenhamos cuidado com o próximo e com a nossa vida. Nossa missão é anunciar o Cristo ressuscitado e crucificado”. Segundo o frade, hoje o dinheiro pauta a vida das pessoas e falta gratuidade. Lembrando do dia comemorativo, Frei Gilson citou a novena. “Acompanhamos durante a novena, nos depoimentos de quem conviveu com Frei Bruno, como ele tinha fé e a demonstrava para
quem estava ao seu redor. No depoimento da Irmã Tereza Lunelli, que postamos nas redes sociais da Paróquia, ela conta que conviveu com Frei Bruno quando era criança. Ela sempre encontrava Frei Bruno com o terço em oração constante. Essa é a gratuidade que Cristo pediu no Evangelho e que hoje pedimos pela intercessão de Frei Bruno para que nós consigamos também fazer a gratuidade em nossos dias”. Para o sacerdote, durante a novena pôde-se perceber as virtudes no Servo de Deus Frei Bruno, sobretudo na maneira como ele conseguiu viver os conselhos evangélicos na pobreza, obediência e na castidade. “Frei Bruno se fez obediente à palavra de Deus. A simplicidade e a pobreza são as formas mais lembradas nos depoimentos do processo de beatificação. Ele sempre estava presente nas famílias, na comunidade, mas também entre os frades. Assim, a simplicidade é a base e o fundamento de toda nossa vida cristã”, destacou o pároco. No final da celebração, Frei Gilson convidou a todos para rezarem a Oração pela Beatificação de Frei Bruno, pedindo a intercessão a Deus pelas famílias que perderam seus entes queridos e que passam por esse momento difícil da pandemia. O pároco também agradeceu as comunidades que não estavam presentes, mas que aceitaram bem celebrar esses momentos de fé e devoção. E a todos os que ajudaram na parte litúrgica, de cantos, transmissão nas redes sociais. “Nossa festa foi adiada para os dias 19 e 20 de junho, junto com a Festa do Nosso Padroeiro São Luiz Gonzaga. Agradeço a todos que nos ajudaram e que preparam os momentos celebrativos durante esses 11 dias. Não pudemos nos encontrar presencialmente, mas celebramos juntos pelas redes sociais”, disse o Frei. Camila Mendo PELA PASCOM DA PARÓQUIA
FRATERNIDADES
Vigário Provincial encerra a Novena Virtual Frei Bruno
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frade franciscano Frei Bruno Linden, que todo ano é lembrado durante a Caminhada Penitencial em Joaçaba (SC), neste ano teve sua memória celebrada pela Província durante Novena Virtual na TVFranciscanos, envolvendo as Fraternidades de Norte a Sul da Província. A novena teve como tema principal: “Juntos com Frei Bruno, evangelizando sempre”. O Vigário Provincial Frei Gustavo Medella encerrou a Novena no sábado, 27 de fevereiro, falando do legado que Frei Bruno deixou para nós hoje. “Frei Bruno é exemplo de quem se fez tudo para todos. Ter em nossa história o dom da vida deste confrade é imensa responsabilidade para todos nós franciscanos. A entrega generosa deste homem que atravessou o oceano e venceu toda sorte de dificuldades serve de modelo e provocação à nossa Missão Evangelizadora”, disse. “Com muita justiça, Frei Bruno é candidato aos altares da santidade reconhecida pela Igreja. Tal elevação, ele adquiriu na humildade e no espírito de serviço, buscando cada dia se conformar ao Cristo do lava-pés, ao Cristo da entrega, ao Cristo da Cruz. Ousadia e desprendimento jamais lhe faltaram, bem como a disposição obediente de ir aonde fosse enviado, sem medo ou amarras”, acrescentou. Segundo o frade, unidos pela mesma fé
que impulsionou Frei Bruno Linden a ser verdadeiro discípulo e missionário do Amor de Deus, concluiu a novena agradecendo de coração a todas as pessoas que acompanharam este momento.
Caminhada virtual também é cancelada A Diocese de Joaçaba, que realizaria a Caminhada Penitencial de forma virtual, cancelou o evento dois dias antes de sua realizacão em virtude do Decreto Estadual 1.127 de 26 de Fevereiro de 2021.”Em nome da Diocese de Joaçaba, informamos que houve o cancelamento da Romaria on-line em vista do decreto do Governo do Estado e do agra-
vamento da pandemia do novo coronavírus. Continuamos na fé e na esperança para que possamos enfrentar esse momento, peço que Deus nos abençoe”, disse Dom Frei Mário Marquez, torcendo para que seja possível marcar a Caminhada em uma nova data. No sábado, o vice-postulador da Causa de Frei Bruno, Frei Alex Sandro Ciarnoscki, presidiu a Celebração Eucarística que encerrou a Novena a Frei Bruno da Catedral Santa Teresinha do Menino Jesus de Joaçaba (SC). Na sua homilia, tomando o Evangelho da Transfiguração do Senhor, lembrou que Frei Bruno fez essa experiência de intimidade com Deus. “A santidade é um processo, uma caminhada, que vai acontecendo durante a vida. Frei Bruno não nasce santo de um dia para a noite. Mas constantemente caminhou rumo ao Senhor. Constantemente foi se deixando transformar pela luz do Senhor”, disse Frei Alex. Segundo o celebrante, Frei Bruno reservou tempo durante a sua vida para escutar a Deus e nos ensina que devemos fazer essa escuta. “Que a celebração da vida de Frei Bruno também desperte os nossos corações e nos fortaleça, a fim de que possamos enfrentar os desafios que a vida nos oferece”, disse.
O processo está na fase romana Neste momento, o processo está com a Congregação para as Causas dos Santos, presidida atualmente por Dom Giovanni Angelo Becciu, que já deu parecer positivo à causa de Frei Brunoo. Esse parecer está sendo submetido a votações de uma Comissão Teológica e, depois, passará por uma comissão dos bispos e cardeais membros da Congregação. Se eles decidirem pela continuidade da causa, enviarão ao Papa o pedido para um decreto de reconhecimento das virtudes heroicas. Se o Papa aceitar a solicitação, o candidato passará a ser chamado “Venerável”.
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FRATERNIDADES
NOTÍCIAS DE CURITIBA
Alimentos saudáveis e sem veneno são vendidos na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Perdões
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projeto “Alimentação Saudável, Saúde na Mesa” é uma iniciativa dos grupos de cultivadores de alimentos agroecológicos e orgânicos da cidade paranaense de Mandirituba, que integram a cooperativa Coopervida, e são oferecidos na feira agroecológica no pátio da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba (PR). A iniciativa tem apoio da ABAI (Associação Brasileira de Amparo a Infância) e dos frades da Paróquia. Na feira serão comercializadas frutas e hortaliças orgânicas produzidas pelo projeto e pães feitos no convento franciscano. A venda dos alimentos será realizada semanalmente, às terças-feiras pela manhã, das 9h às 14h, na igreja, localizada na Praça Rui Barbosa. Para os visitantes, é recomendado o uso de sacolas reutilizáveis para ajudar na preservação do meio ambiente através da redução do uso do plástico. “Este é um espaço onde podemos oferecer,
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junto com o pão de Santo Antônio, produtos de qualidade e com certificado, para que possamos fazer chegar na mesa do povo uma alimentação de qualidade”, explica o pároco Frei Alexandre Magno, OFM. Uma das motivações para a realização deste evento é o apelo do Papa Francisco para respeitarmos e cuidarmos da natureza através da encíclica Laudato Si. “O Santo Padre nos anima. Tudo está interligado. Quando Deus nos deu a Criação para ser fonte de nosso sustento, foi para produzirmos comida com qualidade e sem veneno. Lembro de São Francisco de Assis, que pediu para os frades deixarem um espaço para as ervas daninhas, porque ao seu modo elas também louvam ao Senhor. Isso faz com que o bichinho, em vez de comer a alface, tenha a opção de comer as outras plantas, preservando as hortaliças”, ensina Frei Alexandre. “O objetivo é fortalecer agricultores camponeses, criar uma rede de orgânicos e produção
agroecológica e cuidar do planeta vivendo a espiritualidade franciscana na defesa da vida, da natureza e dos pobres”, conclui Ines Polidoro, que faz parte da organização. A ideia de o evento ser realizado nas terças-feiras se dá para coincidir com a tradição da distribuição do Pão de Santo Antônio. A bênção dos pães é um tradição nas igrejas e conventos franciscanos. A agroecologia trata da integração do homem com a natureza de forma que técnicos e agricultores produzam de forma ecológica, sem uso de agrotóxicos ou transgênicos. O conceito propõe o respeito à forma tradicional de camponeses e comunidades rurais, que acumulam conhecimento na prática de plantar sem agredir o meio ambiente. Joka Madruga PELA PASCOM DA PARÓQUIA BOM JESUS DOS PERDÕES DE CURITIBA (PR)
FRATERNIDADES
GRUTA: 100 ANOS DE GRAÇAS No dia 21 de fevereiro (domingo), a missa das 16h foi celebrada por Frei Evaldo Ludwig e Frei Cássio Vieira de Lima na Gruta em frente à Igreja, que neste ano celebra seu centenário de existência e de muitas graças alcançadas. Segundo a Paróquia, para celebrar esta data, uma série de celebrações serão feitas ao ar livre, em contato com a natureza. Diz o livro de Crônicas da Paróquia Senhor Bom Jesus que a Gruta de Lourdes, existente no pátio da Igreja Bom Jesus, foi construída pela Ordem Franciscana Secular em comemoração de seu sétimo centenário. No dia 18 de setembro de 1921, a Ordem Franciscana Secular, Frei Engelke, diretor e pároco do Bom Jesus, após a recepção de 24 noviços, e o Apostolado da Oração, dirigiram-se em procissão à Catedral, a fim de buscar as imagens de Nossa Senhora de Lourdes e de Bernardete, que na véspera tinham chegado da Alemanha. Foram as imagens bentas na Catedral. O bispo diocesano Dom João Fr. Braga e o bispo de Ribeirão Preto, Dom Alberto Gonçalves, e grande multidão de fiéis acompanharam a procissão até a Gruta de Lourdes, onde as imagens foram colocadas em seus devidos lugares. Foi, então, celebrada a Missa na Capelinha da Gruta e dada a bênção do Santíssimo. Diz o cronista em 1921, que “grande é o número de fiéis que diariamente saúdam na Gruta a Virgem Imaculada, trazendo-lhe flores depositando-lhe aos péis os seus pesares, para obter da Mãe de Deus consolo e coragem para a luta da vida”.
FREI CÁSSIO RECEBE SEGUNDA DOSE Frei Cássio Vieira de Lima, OFM, que completará 100 anos de idade em agosto próximo, recebeu a segunda dose da vacina contra a Covid-19 na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba (PR). O frei recebeu sua primeira dose em fevereiro. Após a vacinação, Frei Ladí, OFM fez um agradecimento em nome da fraternidade e
presenteou cada uma das enfermeiras com uma vela artesanal e abençoada, produzida no Convento São Boaventura, de Campo Largo. Frei Ladí agradeceu ao prefeito Rafael Greca, a administradora do regional/Matriz Rafaela Lupion e sua equipe. Pela Fraternidade de Curitiba, receberam a segunda dose Frei Gamaliel Devigi-
li, Frei Benjamim Berticelli, Frei Henrique Dell Olivo, Frei Heitor Cela e Frei Ladi Antoniazzi.
ERRATA Na edição anterior, afirmamos que Frei Cássio era o frade mais idoso da Província. Frei Cássio é o segundo frade mais idoso consagrado de todos os 395 religiosos da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. O mais idoso é Frei Abel Schneider. Os dois completarão 100 anos neste ano: Frei Abel em julho e Frei Cássio em agosto.
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FRATERNIDADES
SÉRIE NOSSOS FRADES
Frei Sandro Roberto da Costa
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m dia, o ajustador mecânico de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, percebeu que não estava feliz trabalhando numa metalúrgica que fabricava armas. Vidas importavam mais e foi em busca desse sonho no Seminário dos Redentoristas. Ali se sentia bem, mas o contato com os Frades Menores em Guaratinguetá sedimentou sua busca. O jovem paulista Sandro Roberto da Costa vestiu o hábito franciscano no dia 18 de janeiro de 1985 e fez a profissão solene da Ordem dos Frades Menores no dia 2 de agosto de 1990. Depois de ordenado presbítero, em 19 de dezembro de 1992, encarou a missão de “formar homens”: “Percebi que não pretendia ser apenas um sacerdote, mas alguém que pudesse servir de um modo mais ‘alternativo’ às pessoas”, conta. Doutorado em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Itália (2000), foi diretor do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis por dois mandatos (2007-2009/2010-2012). Atualmente é professor no Instituto Teológico Franciscano – Petrópolis, RJ, onde leciona as disciplinas História da Igreja Antiga e História da Igreja na idade Média. Nesta entrevista, que de antemão registramos nosso agradecimento pela generosidade e boa vontade de Frei Sandro, procuramos ‘explorar’ todo o seu conhecimento em temas
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FRATERNIDADES
como clericalismo, grupos tradicionalistas na Igreja, abusos, Pontificado de Francisco, sinodalidade, Concílio Vaticano II, mulheres na Igreja, crise de vocações, sinais dos tempos, educação no Brasil, além de falar um pouco de sua vida, sua família e vocação. Frei Sandro é membro do Conselho Editorial da Revista Eclesiástica Brasileira e redator da “Revista Grande Sinal”. Atua em cursos sobre história da Igreja e da Ordem Franciscana em geral, história dos franciscanos na América Latina e no Brasil. É autor de inúmeros artigos na área de História da Igreja, História do Franciscanismo e História da Vida Religiosa. Organizou o livro “Imaculada: Maria do povo, Maria de Deus”, além de outras publicações. Presta assessoria e consultoria a instituições religiosas e de ensino. Boa leitura a todos! Moacir Beggo
Comunicações - Fale um pouco de sua vida e sua família? Frei Sandro - Tive a sorte de nascer numa família relativamente numerosa: somos três homens e três mulheres (uma quarta irmã faleceu no parto). Sou o filho mais velho. Minha mãe faleceu há pouco mais de 4 anos. Meu pai está com 83 anos. Viveram juntos por 55 anos. São pessoas simples, que lutaram muito para dar uma vida digna aos filhos, com uma grande sabedoria de vida e uma profunda religiosidade. Meu pai é Congregado Mariano desde os 14 anos. Desde muito pequeno eu o acompanhava para a reza do terço numa capelinha do bairro, participava das reuniões da Congregação. Minha família é muito unida, gosta de fazer festa e de falar muito. Quando nos reunimos, brincamos que temos que “pegar uma senha” para esperar a vez de falar.
Comunicações - Como se deu seu discernimento vocacional? Por que a escolha pela Ordem Seráfica? Frei Sandro - Desde muito criança, com
meus 7 ou 8 anos eu já queria “ser padre”. Lembro-me que esta vontade se manifestou uma primeira vez quando da instalação da Paróquia onde morávamos, Paróquia São Sebastião, em São José dos Campos, SP. Guardo boas lembranças do primeiro pároco, padre Padoan, um verdadeiro pastoralista, muito próximo do povo simples. Em março deste ano, a paróquia completa 50 anos de existência. Segui a trajetória paroquial, como coroinha, cruzada eucarística, crisma, etc. Fiz alguns encontros vocacionais, até visitei o Seminário Diocesano de Taubaté, que era a casa de formação da Diocese. Poderia ter entrado com 12-13 anos. Mas não me animei muito a me tornar padre diocesano.
Guaratinguetá tinha uma casa de formação. Acabei meio que “deixando de lado” a ideia de “ser padre”, e segui minha formação humana. Fiz um curso profissionalizante no Senai (sou Ajustador Mecânico). Trabalhei numa metalúrgica que fabricava armas, e que vendeu muitos armamentos durante as guerras no Oriente, e também para Angola (Guerra Civil entre 1975 e 2002). Continuei participando da vida paroquial, com grupo de jovens, e seguia uma vida normal, de trabalho e estudos. Mas a vontade de experimentar uma outra possibilidade de vida persistia, e algumas coisas aos poucos ficavam mais claras. Percebi que não pretendia ser apenas um sacerdote,
ESSES GRUPOS TRADICIONALISTAS, SIMPATIZANTES DOS MOVIMENTOS POLÍTICOS DE EXTREMA-DIREITA, SÃO FAUTORES DE UM CRISTIANISMO SEM ALMA, SEM CARIDADE, SEM MISERICÓRDIA. FALAM MAIS DO DEMÔNIO E DO INFERNO DO QUE DE JESUS, FALAM MAIS DO PECADO DO QUE DA MISERICÓRDIA, CONHECEM MAIS AS NORMAS DO QUE O EVANGELHO. Na adolescência adquiri um livro intitulado Francisco, Cantor da Paz e da Alegria (Deodato Ferreira leite, Paulinas), que foi fundamental no meu processo de discernimento. Fiquei empolgado com o estilo de vida de São Francisco, com sua simplicidade de vida, com sua proposta de vida evangélica em fraternidade. Me marcou muito seu amor às criaturas. Certamente, esses elementos foram se “purificando” ao longo do tempo, mas esse primeiro impacto foi fundamental para as decisões que viriam depois. Naquele momento, nem imaginava que poderia um dia me tornar franciscano. Nem imaginava que existia uma Ordem Franciscana. Não conhecia nenhum frade, não sabia que em
mas alguém que pudesse servir de um modo mais “alternativo” às pessoas. Simpatizei com o estilo dos padres de Aparecida, onde íamos todos os anos em romaria. Acabei ingressando no Seminário, seguindo o conselho de um amigo que também ingressara lá, Padre Milton Faria (hoje padre diocesano). Passei dois anos muito bons no Seminário Santo Afonso, entre 1982 e 1983. Tenho gratas lembranças da equipe de formação, dos colegas de turma, e, principalmente, da formação recebida. A equipe de formação era muito antenada com os acontecimentos naqueles inícios dos anos 80, muito críticos da ditadura militar, ligados à Teologia da Libertação. Nos fins de semana, MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 137
FRATERNIDADES
além das pastorais, ajudávamos na Basílica de Aparecida. Como Ministro da Eucaristia, ajudava na distribuição das comunhões. Foi em Aparecida que tive meu primeiro encontro com os franciscanos de Guaratinguetá, no Convento das Graças. Foi no Trânsito de São Francisco. Embora me sentisse muito bem entre os Redentoristas, já no primeiro contato percebi que ali era o meu lugar. O processo de transferência foi relativamente simples: de comum acordo com meu formador redentorista (Padre Carlos Artur, que faleceu em Aparecida em novembro, vítima de Covid), participei de um encontro vocacional no Postulantado. Os formadores eram Frei Ulrich Steiner, Frei Régis Daher e Frei Alcides Cella. Fui aprovado e ingressei em 1984. Como já tinha dois anos de seminário, durante o ano sugeriram que eu poderia ir para o noviciado no ano seguinte. Ingressei no noviciado em 1985.
Comunicações - Como Frei Sandro se autodefine? Frei Sandro - A coisa mais difícil é falar sobre você mesmo. De qualquer modo, defino-me como uma pessoa simples, sem maiores pretensões do que aquilo que Deus me permite viver. Apesar dos percalços e desafios comuns à vida de todas as pessoas, posso dizer que sou uma pessoa realizada, feliz com o que faço. Por isso também sou imensamente agradecido a Deus por tudo: pela minha família, pela Província que me acolheu, pelos formadores, pela formação recebida. Não tive um processo fulminante de conversão, e nem tive uma inspiração franciscana desde a mais tenra infância. Mas percebo hoje, olhando para trás, que Deus foi me conduzindo pela mão desde muito cedo. Gosto de estar com as pessoas, me realizo no trabalho de evangelização, principalmente entre as pessoas simples de nossas comunidades. Apesar de todas as limitações, procuro ser fiel à vocação franciscana à qual fui chamado. Acredito no carisma franciscano como uma possibilidade de vida pessoal e eclesial, de acordo com os princípios pregados por Jesus, de simplicidade, desapego, fraternidade. Sin-
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to-me bem no contato com a natureza, lidando com a terra, com trabalhos manuais. Sempre gostei muito de ler. A vida acadêmica me realiza. Dou muito valor à vida fraterna. Lembro com carinho das palavras de meu mestre de noviciado, Frei Carlos Pierezan, que sempre recordava que, nos momentos mais difíceis, foi a vida fraterna que o manteve firme na vocação franciscana.
Comunicações - Como professor Sandro avalia a educação no Brasil de um modo geral? Frei Sandro - Da educação depende o futuro de um país. No Brasil de um modo geral, como nos países com grande desigualdade social, a educação não é valorizada. Temos o orgulho de dizer que o criador de um dos mais importantes métodos de educação do mundo é brasileiro, Paulo Freire. Mas a questão é que uma educação pública de qualidade é fruto de planejamento, de políticas públicas. No sistema liberal, onde cada um tem que “se arranjar” por conta própria, onde se fala tanto de empreendedorismo, de meritocracia, a educação, que é direito básico da pessoa, é transformada em produto. Só quem tem dinheiro consegue garantir estudo de qualidade para seus filhos. De um modo geral a educação pública no Brasil é simplesmente uma tragédia. Algumas conquistas dos últimos anos, como o Enem, estão sendo desmontadas e desacreditadas cada vez mais. E a pandemia escancarou ainda mais a realidade dessa imensa desigualdade e injustiça. Não existe futuro para um país sem educação. No Brasil, este futuro está garantido apenas para quem pode pagar, e muito bem. E isso só perpetua a desigualdade.
Comunicações - Frei, a Igreja Católica sabe ler os sinais dos tempos? Frei Sandro - Aqui é bom lembrar que a Igreja é constituída de todos os batizados. Não apenas o papa, os bispos, a Cúria (hierarquia), os religiosos, etc. Da parte do povo de Deus, há sim pessoas na Igreja que conseguem ler os sinais dos tempos. Mas para interpretá-los é preciso paciência, tempo, amadurecimen-
to, para que os sinais sejam perceptíveis por um grupo cada vez maior de pessoas. Alguns membros da Igreja, iluminados pelo Espírito, atentos ao Evangelho e aos sinais que Deus nos envia cotidianamente, conseguem ver além de seu tempo. Geralmente são aqueles que estão diretamente envolvidos na luta do povo, na pastoral, na linha de frente dos desafios sociais, geralmente desligados ou distantes das estruturas, necessárias, mas muitas vezes alienantes e acomodatícias. Certamente, a teologia, a reflexão aprofundada e séria, também é um meio para se perceber os sinais dos tempos. Mas tem que ser uma teologia que esteja conectada à realidade, com a pastoral, com o pé no chão. Me lembro bem de uma máxima, que era repetida pelo meu professor Frei Clodovis Boff: “A cabeça pensa a partir de onde pisam os pés”. Precisamos de reflexão, de maturidade e senso crítico para interpretar e entender os sinais dos tempos. Aqueles que conseguem percebê-los nem sempre são compreendidos. São considerados visionários, loucos ou hereges. Foi o caso de São Francisco. Sua Ordem teve sucesso porque respondeu aos sinais dos tempos em seu tempo. Ele também foi incompreendido, chamado de louco, herege, alternativo... Muitas das “novidades” trazidas por Francisco não foram assimiladas, outras foram esquecidas, até hoje.
Comunicações - Explique, por favor, o que é clericalismo? Frei Sandro - O clericalismo é um dos grandes males da Igreja. Historicamente, o padre sempre ocupou um lugar de destaque na sociedade. Falando especificamente do Brasil, desde os inícios, ao mesmo tempo em que a Igreja funcionava alicerçada no catolicismo leigo, de “muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre”, a figura do sacerdote era respeitada, por ser ele o mediador do sagrado. Mas este ministro era alguém muito próximo do cotidiano das pessoas, muitas vezes tendo que trabalhar duro, ao lado do povo, para se sustentar. Com a romanização, a partir da metade do século XIX, foi sendo tirado o pro-
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tagonismo do leigo nas comunidades, e o papel do clero foi sendo colocado cada vez mais em evidência, fortalecendo a ideia de um ser destacado do comum das pessoas, com uma aura de sacralidade. A formação nos seminários, dirigidos por religiosos de congregações trazidas especialmente da Europa, ajudou a completar esse quadro. O celibato, o clergimam, a batina, o distanciamento do povo, da família, no período de formação, o monopólio dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia, serviram para consolidar essa imagem. O padre ficou “trancado na sacristia”, ocupando-se apenas das coisas espirituais. As questões sociais, as injustiças, a política, não lhe diziam respeito. A formação na vida religiosa também seguiu esta orientação. Até meados do século XX essa foi, no geral, a mentalidade que vigorou. Não queremos aqui negar a santidade, o testemunho e a seriedade de muitos padres formados neste estilo de Igreja. Mas, em meados do século XX estava claro que este modelo estava ultrapassado. O advento do Vaticano II e as reuniões do Episcopado Latino Americano (Celam) trouxeram a esperança do surgimento de um novo modelo de Igreja e um novo tipo de ministro, menos centralizador, mais próximo das pessoas e de suas labutas cotidianas. E isso gerou muita crise. Avançou-se em alguns aspectos, mas em outros nem tanto. A grande questão é, sobretudo, a formação para os ministérios ordenados, seculares ou religiosos. O candidato ainda é formado dentro de determinados parâmetros que o colocam quase como um “semideus”. Recebem na ordenação um poder para o qual muitos não estão preparados para lidar. Esquecem que este poder só será eficaz se for vivido a partir da autoridade que brota do amor, autoridade que vem da misericórdia, do testemunho do serviço desinteressado. Sem essa verdadeira autoridade, o poder clerical desbanca para o clericalismo. Ao invés de servirem ao Reino através do serviço aos irmãos, servem a si mesmos. Ao invés de colocarem Jesus no centro de sua missão, colocam-se a si mesmos, o próprio eu. Ao invés da corresponsabilidade na missão, cedem à tentação da
autossuficiência, do triunfalismo. Inflexíveis, respaldados pelo Direito Canônico (interpretado segundo a conveniência), sem misericórdia, abusam do poder que têm. Alguns, despreparados até intelectualmente, confrontam-se com leigos e leigas muito melhor preparados do que eles na paróquia e na pastoral em geral. Isso gera medo, insegurança, desconforto. E aí, muitas vezes, o jovem padre se assegura através da ordenação recebida, se esconde atrás do microfone, do púlpito e do altar, do poder que lhe foi confiado pela Igreja. Outra questão a destacar é que o clericalismo não é só do padre: também os leigos são clericais, quando alimentam este tipo de comportamento. Não ajudam
um prêmio, pela bondade, pela santidade, pelo esforço pessoal. Sem contar que, em alguns casos, é uma busca de meio de vida. Acho que não existe um antídoto ao clericalismo, mas alguns elementos podem ajudar a combater esse “vírus”: uma formação atenta e personalizada, estudo sério, crítico e sempre atualizado da teologia, da exegese, leitura atenta aos sinais dos tempos, o serviço dedicado e amoroso aos pobres, uma vida ancorada na simplicidade, na vivência profunda do Evangelho e na oração. E, principalmente, ouvir o Papa Francisco, que nos convida a sermos uma Igreja em saída, indo às periferias, sociais e existenciais, e que coloquemos em prática a sinodalidade.
AS MÍDIAS SOCIAIS SÃO O GRANDE MEIO DE DIFUSÃO DESTAS IDEIAS CONSERVADORAS. UM DOS MOTIVOS DO CRESCIMENTO DESTES GRUPOS (TRADICIONALISTAS) É QUE ELES DÃO RESPOSTAS PRONTAS E DEFINITIVAS A QUESTÕES QUE, NESTA SOCIEDADE “LÍQUIDA”, NEM SEMPRE TÊM RESPOSTAS PRONTAS E IMEDIATAS. o padre a crescer, a amadurecer. Ao contrário, bajulam, colocam-no num pedestal. O clericalismo do leigo cria uma dependência infantil, uma obediência escrupulosa ao sacerdote, (além de alimentar a infantilidade do ministro). Tal comportamento pode ser consequência da formação recebida no seminário, mas também da formação familiar, religiosa, cultural, além do caráter e da incapacidade de refletir, de ter um pensamento crítico. É também fruto de muita ignorância. Infelizmente muitos seminários e casas de formação religiosa alimentam e perpetuam este tipo de comportamento, colocando a ordenação como se fosse um mérito (a meritocracia está na moda hoje), como
O papa chegou a afirmar que o clericalismo é uma perversão. Esse comportamento, como já acenei, está presente também entre os religiosos e entre os franciscanos. E o clericalismo na vida religiosa franciscana, dos irmãos vocacionados a serem “menores”, não tenho nenhum receio de afirmar, é uma traição aos ideais de São Francisco. Sobre isso poderíamos escrever um livro inteiro. Como afirma São Francisco, na Admoestação 19: “Bem-aventurado o servo que não se considera melhor quando é engrandecido e exaltado pelos homens do que quando é considerado insignificante, simples e desprezado, porque, quanto é o homem diante de Deus, tanto é e não mais”. MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 139
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Comunicações - Por que esse apego de certos grupos a ritos tradicionais, insistindo num catolicismo sem grande incidência na vida pessoal e social? Frei Sandro - O apego aos ritos tradicionais se dá como consequência da compreensão que estes grupos têm de Cristo e da Igreja. Sua visão de Igreja, de liturgia, de teologia, é anacrônica, de séculos atrás, em alguns casos até anterior a Trento. Uma Igreja triunfante, imaterial, típica do regime de cristandade, desvinculada da história, alheia às grandes questões que tocam a todos os homens e mulheres. Isso decorre da imagem que cultivam de Cristo, desencarnado da realidade, indiferente ao destino do mundo. Sob a capa de piedade e devoção, revela-se um cristianismo amorfo, irrelevante, intimista, sem nenhuma relação com as sérias e urgentes demandas da humanidade. Acabam caindo na heresia docetista e nas várias heresias dualistas, que subestimavam a realidade histórica de Jesus, chegando alguns até a negá-la. A base de fundo destes movimentos é a rejeição em bloco do Vaticano II e as declarações das Conferências da América Latina. Ignoram a caminhada da Igreja, a história dos dogmas. São capazes de repetir todos os cânones do Direito Canônico, repetem de memória certas máximas da Suma Teológica, de Santo Agostinho (de preferência em latim), mas não passam disso. São fundamentalistas inflexíveis. Não aceitam o ecumenismo, muito menos o diálogo inter-religioso, que consideram uma relativização das verdades da fé. Extremamente fechados à discussão em relação a questões morais e de comportamento, não consideram os avanços das ciências humanas, da psicologia, da sociologia, da antropologia. Simpatizantes dos movimentos políticos de extrema-direita, são fautores de um cristianismo sem alma, sem caridade, sem misericórdia. Falam mais do demônio e do inferno do que de Jesus, falam mais do pecado do que da misericórdia, conhecem mais as normas do que o Evangelho. Ignoram totalmente a fala do Papa Francisco, que quer uma Igreja como um hospital de campanha, que cuida dos feridos,
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dos enfermos, dos doentes, ao invés de lhes apontar o dedo para as feridas, os pecados e fragilidades. Muitos destes membros de grupos tradicionalistas falam sem saber, criticam documentos, pronunciamentos do magistério, sem nunca os terem lido. São formados no que chamamos de “magistério paralelo”, seguindo líderes carismáticos, youtubers de batina, que só confirmam suas ideias e crenças. Forma-se assim um gueto na Igreja, de pessoas formadas (ou des-informadas ou de-formadas), a partir de um pensamento só. As mídias sociais são o grande meio de difusão destas ideias conservadoras. Um dos motivos do crescimento destes grupos é que eles dão respostas prontas e definitivas a questões que, nesta sociedade “líquida”, nem sempre têm respostas prontas e imediatas. As questões colocadas à Igreja hoje, nos mais variados campos da moral, dos costumes, da teologia, das relações humanas em geral, são questões e situações extremamente complexas, que precisam ser analisadas sob os mais diversos aspectos, exigem reflexão, análise acurada e amadurecida, dentro do contexto geral do século XXI, mas também do contexto pessoal de homens e mulheres concretos, na sua individualidade. E isso dá trabalho, leva tempo. Em momentos de crise, é melhor agarrar-se ao passado, àquilo que “sempre funcionou e deu certo”. Na verdade, trata-se de uma busca de segurança imediata, num mundo extremamente inseguro. Infelizmente, apoiados por bispos que pensam como eles, sentem-se autorizados a criticar os demais bispos, a CNBB, até o Papa Francisco. Para alguns grupos, Bento XVI ainda é o “papa legítimo” (o próprio Bento XVI desautorizou publicamente isso num recente pronunciamento). Fala-se muito dos problemas dos “católicos progressistas”, mas quem dá mais dor de cabeça aos bispos e ao papa são os católicos tradicionalistas. Um outro elemento neste rol de características que identificam estes movimentos é o ritualismo estético, marcado por vestes litúrgicas pomposas e extravagantes, insistência em gestos rituais acessórios, como a comunhão na boca, de joelhos, o uso
do véu para as mulheres, típicos de uma Igreja dos tempos de cristandade. Muitos dos candidatos à vida religiosa ou ao clero secular vêm deste ambiente: coroinhas, que conhecem todos os detalhes do missal e do lecionário, dominam todos os gestos e as mínimas rubricas litúrgicas; ou de “comunidades de vida”, onde em geral o tradicionalismo impera, e que, em alguns casos, é um refúgio para pessoas desequilibradas, que precisam de ajuda psiquiátrica. É o ambiente eclesial que forma muitos de nossos jovens hoje. E os que vem a nós, temos que reconhecer, vem com espírito sincero. São piedosos, devotos. A ascensão do tradicionalismo, principalmente entre os jovens, também é consequência do fato de que a Igreja não soube e não sabe lidar com os jovens. A catequese em nossas paróquias é extremamente falha, nossas igrejas são frequentadas, em sua imensa maioria (salvo exceções), por idosos e pessoas de meia idade e mulheres. Não conseguimos atrair a juventude com nosso discurso, com nossa práxis. Nesse sentido, precisamos fazer uma séria autocrítica e interpretar os “sinais” que os tempos estão nos transmitindo.
Comunicações - Como o sr. avalia essa onda de revelações de abusos clericais? Quando começam aparecer casos na história da Igreja? Frei Sandro - Os abusos vieram à tona de modo explícito nas últimas décadas. Embora já há algum tempo se falasse e se comentasse muito discretamente. João XXIII tratou do assunto com alguns bispos. Nas últimas décadas, especialmente durante o pontificado de João Paulo II, começaram a surgir cada vez mais denúncias, que a princípio foram vistas com suspeita pela Igreja, e foram colocadas “sob o tapete”. Embora o tema não seja circunscrito ao ambiente clerical, mas esteja presente em todos os ambientes humanos, as denúncias na Igreja estouravam por todo lado, sendo muito fortemente exploradas pela mídia. Bento XVI herdou um imenso problema, e embora tenha tomado algumas medidas, estas não foram fortes o suficiente para responder
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principalmente às vítimas, mas também aos cristãos e à opinião pública. Há a suspeita de que a renúncia do papa tenha muito a ver com a constatação de sua inabilidade para lidar com o assunto. Papa Francisco enfrentou o problema de frente, não sem críticas e sérios dissabores e contragolpes. E a luta continua. Os casos vieram à tona favorecidos por alguns fatores, como a maior facilidade de acesso aos meios de comunicação, uma maior consciência dos direitos e da dignidade da pessoa, a secularização e a “dessacralização” da pessoa do sacerdote, que deixou de ser visto como uma pessoa acima da lei. Certamente houve e há muita calúnia, injustiça e aproveitadores, e é um assunto extremamente delicado: um falso testemunho destrói para sempre a vida de uma pessoa. Por isso, o Papa Francisco empenhou-se pessoalmente em dar balizas claras e coerentes para enfrentar o problema de frente, ao invés de usar medidas paliativas, como transferir o suspeito, e com ele o problema. A Igreja saiu com a imagem arranhada no mundo inteiro, mas principalmente nos países onde os casos mais graves vieram a público. Nos Estados Unidos, as Dioceses tiveram que pagar indenizações milionárias às vítimas. É uma oportunidade para a Igreja fazer um mea culpa, e se perguntar: o que deu errado? Porque tantos casos de pedofilia e abusos de crianças, da parte daqueles que deveriam ser os primeiros a protegê-las, a ser testemunho e exemplo de vida ética, de moral e de respeito? O tema coloca à Igreja questões muito sérias sobre sua presença e atuação no mundo. Alguns de imediato alardeiam o fim do celibato, outros sugerem uma mudança na seleção e formação dos candidatos aos ministérios. De qualquer modo é uma oportunidade de purificação da Igreja, que deve, em alguns lugares, deixar de lado o triunfalismo, o clericalismo, a aliança com os poderes espúrios, e se engajar de fato no anúncio do Reino. O mal causado às vítimas é irreparável. Além de ser um pecado, é crime, e é uma tragédia para a Igreja. Dessa tragédia pode sair uma Igreja mais pura, mais simples, mais pobre e mais Evangélica.
Comunicações - Percebe-se na história eclesial resistências às mudanças e isso fica claro no Pontificado de Francisco. Por que essa transformação eclesial é, muitas vezes, mais lenta que o processo social e cultural? Frei Sandro - Resistências a mudanças sempre existiram na Igreja. Por ser uma instituição de dois mil anos, com uma estrutura pesada, envolvendo bilhões de pessoas do mundo inteiro, provenientes das mais diversas culturas, qualquer mudança gera uma insegurança, um receio muito grande. Isso é natural nas grandes instituições, e quanto mais antigas mais difíceis de digerir as mudanças. Mas, como diz Elis Regina, “o novo sempre vem” (na
as pessoas não fazem mais. Com o advento de Francisco percebeu-se que a reforma pode ser um caminho compartilhado, um processo fruto da já citada sinodalidade. Alguma coisa já se fez. Mas ainda muito falta a fazer. Por outro lado, as reformas geralmente não acontecem de cima para baixo. Elas são suscitadas a partir da base, que insiste e urge a necessidade de mudança. Nesse sentido é também um caminho a ser percorrido por todo o Povo de Deus.
Comunicações - Como o sr. vê os pontificados depois do Concílio Vaticano II até o Papa Francisco? Frei Sandro - Quando fazemos um balanço
FRANCISCO ESTÁ COMBATENDO ESTE BOM COMBATE, OPONDO-SE AO CARREIRISMO, AOS ESCÂNDALOS, AO MUNDANISMO E AO CLERICALISMO. PROPONDO UMA IGREJA MISERICORDIOSA, DIALOGAL, POBRE, SINODAL, SAMARITANA. O CAMINHO É LONGO, AS RESISTÊNCIAS SÃO ENORMES, MAS ELE NÃO ESTÁ SOZINHO. canção Como nossos pais). No século passado, nos últimos 50 anos, aconteceram mais mudanças na sociedade, em todos os níveis, do que nos 500 anos anteriores. E essas transformações incidiram profundamente sobre o humano. Fala-se hoje de pós-modernidade, globalização, mundo líquido, modernidade líquida, etc. Seja qual for a denominação, estamos numa profunda “mudança de época”. Isso tem que ser levado em consideração quando se trata do eclesial. As rápidas mudanças geram incertezas, insegurança. É natural uma reserva e um agarrar-se na segurança do que “sempre deu certo”. O problema é que não está mais dando certo. Temos respostas a perguntas que
dos pontificados a partir da segunda metade do século XX, o Vaticano II sempre é a referência. O Concílio foi uma grata surpresa para a Igreja, “a flor de uma inesperada primavera” (João XXIII), que realizou-se graças ao espírito aberto e lúcido do “Papa Bom”. Este espírito continuou com força e coragem com Paulo VI, com o engajamento do episcopado Latino Americano num esforço em colocar em prática as diretrizes do Concílio. Mas já no fim da Assembleia começaram a surgir dissidências que prenunciavam tempestades futuras. A grande questão é que a Cúria Romana, envelhecida, tradicionalista, com uma organização que vinha de séculos atrás, não foi reformada. MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 141
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Acabado o Concílio, Paulo VI ficou sozinho, com uma Cúria disposta a tudo para impedir as reformas. Por isso muitas propostas inovadoras não avançaram (ainda hoje). A eleição de João Paulo I foi um sopro de esperança. Com o advento de João Paulo II, parecia que algo novo iria acontecer. O primeiro papa não italiano em séculos, que havia conhecido o terror nazista e a ditadura comunista, revelou-se um papa midiático, carismático, que suscitou esperanças e um novo ânimo na Igreja. Mas era mais um pastoralista do que um teólogo. Seu “golpe de mestre” foi nomear o Cardeal alemão Joseph Ratzinger como Prefeito da Congregação de Doutrina da Fé. As propostas reformadoras do Vaticano II foram sendo deixadas de lado. Na sua primeira viagem internacional, ao México, em 1979, o papa fez uma dura intervenção, em sentido conservador, nos resultados finais da Conferência de Puebla. Também interveio muito fortemente nas Igrejas locais, principalmente no Brasil, nomeando bispos de tendência conservadora. Agiu do mesmo modo na Cúria, preparando seu sucessor. Assombrado pelo fantasma do comunismo, perseguiu duramente os teólogos latino americanos da Teologia da Libertação. Seu fechamento ao diálogo, a oposição, aberta ou velada, em alguns casos, aos avanços propostos pelo Vaticano II, fizeram com que se cunhasse a expressão “volta à grande disciplina”, para se referir ao seu pontificado. Embora tenha sido o papa das multidões, das viagens que reuniram milhões de católicos mundo afora, dos gestos marcantes, sua teologia tradicional não tocava a fundo nos problemas do mundo moderno, já às vésperas do século XXI. Quase poderíamos afirmar que o Papa que ficou “santo súbito”, teve muitos admiradores, mas não tantos seguidores. Joseph Ratzinger foi eleito para dar continuidade ao programa conservador de João Paulo II. Sem o carisma e a espontaneidade de seu antecessor, teve que enfrentar inúmeros escândalos, desde o vazamento de documentos da Cúria (caso Vatileaks), ou o escândalo com o fundador dos Legionários de Cristo, e, principalmente, os abusos de menores. Bento era considerado
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por alguns o melhor teólogo da Cúria. Porém, tímido, reservado, com pouca habilidade diplomática, vivendo ainda num espírito de cristandade, foi incapaz de perceber os reais desafios contemporâneos, as reais urgências da Igreja e dos cristãos de todo o mundo. Sabemos hoje que ele se opôs abertamente a João Paulo II quando da realização do encontro interreligioso de Assis. Sua renúncia, além de inusitada, foi um gesto de grandeza. A eleição do “Papa do fim do mundo” foi uma surpresa para o mundo inteiro, mas representou também uma mensagem: a Cúria estava percebendo a necessidade de mudança. O Papa Argentino sabe o significado de sua eleição. E está se esforçando por corresponder às expectativas. A criação da Comissão de Cardeais dos cinco continentes para ajudá-lo num plano de reforma suscitaram esperanças. Concretamente parece que pouca coisa foi feita até agora. No entanto, através de seus gestos eloquentes, desde o nome assumido e o local que escolheu para morar, através de seus documentos, e do seu esforço por propor uma Igreja aberta e atenta às grandes feridas que atingem a humanidade inteira, independente de credo, Francisco indica o caminho e incentiva os que acreditam numa Igreja mais evangélica. O Papa sabe que uma reforma das estruturas e das instituições, embora seja importante, só será eficiente se houver uma conversão que vá à raiz dos problemas, se houver uma verdadeira metanóia. E é isso que ele espera de seus colaboradores mais próximos, como deixou claro em vários pronunciamentos. Francisco está combatendo este bom combate, opondo-se ao carreirismo, aos escândalos, ao mundanismo e ao clericalismo. Propondo uma Igreja misericordiosa, dialogal, pobre, sinodal, samaritana. O caminho é longo, as resistências são enormes, mas ele não está sozinho. A grande esperança que seu pontificado está suscitando certamente dará frutos. Talvez isso demore, mas é um caminho sem volta. Seu sucessor terá muito trabalho para fazer jus ao seu legado, mas as portas estão abertas, e dificilmente serão fechadas de novo.
Comunicações - Os grandes pensadores franciscanos procuraram trazer à luz os valores afetivos em geral: o valor do amor, do sentimento, do desejo, da diversidade, da intuição, da arte e da poesia. Essa linha franciscana é bem visível no Pontificado do Papa Francisco, não? Frei Sandro - Francisco de Assis não era um teólogo. Era um artista, um poeta, mas era, sobretudo, um apaixonado por Deus. Em tudo ele via a presença de Deus misericordioso, amoroso, cordial e cortês. Celano afirma que Francisco “Reconhece nas coisas belas aquele que é o mais belo” (2Cel 165, 5). E isso ele expressava não através de reflexões escritas, mas de gestos, símbolos, sinais, que tocavam (e continuam tocando) profundamente o ser humano. Francisco, embora tenha deixado alguns escritos, não exercia uma razão analítica ou especulativa, mas uma razão intuitiva, mística, através da qual conseguia expressar toda a gratuidade e beleza de Deus. Estamos falando aqui de sentimentos, afetos, sensibilidade. Nos Louvores ao Deus Altíssimo Francisco dirige-se ao Pai duas vezes como beleza: “Vós sois a Beleza...”. Os grandes mestres franciscanos, cada um a seu modo, continuaram fieis às inspirações do “Poverello”. As ciências humanas, especialmente a antropologia, a psicologia, cada vez mais evidenciam que o ser humano não é só matéria, corporeidade, razão. Mas o corpo é um meio de expressão de algo muito mais profundo, divino. Isso foi negligenciado na Igreja: “Logos” e Pathos” sempre seguiram por vias separadas. “Salva a tua alma” não incluía a afetividade, a corporeidade, os sentimentos. Na Igreja, o corpo sempre foi visto com suspeita. Sentimentos e afetos tinham que ser “sublinhados”, disciplinados. Quem entrava para a Vida Consagrada entrava para fazer penitência, para se mortificar. O belo e o estético também eram vistos com suspeita. Mas é através do corpo e dos sentidos que a beleza encontra sua expressão. Papa Francisco, ao evidenciar em vários pronunciamentos de seu pontificado a importância da via afetiva, sensível, perceptiva, está reafirmando esta verdade, meio
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esquecida na Igreja, de que Deus se revela através da experiência estética, da beleza, dos afetos, da arte. Vivemos no mundo da percepção, da imagem, do visual. Isso não pode ser ignorado pela teologia. Esse é, sem dúvida, um dos sinais dos tempos. Isso tem a ver não só com a arte, especificamente com a arte sacra, mas é uma forma de impostar o pensamento teológico, é uma forma de evangelizar, que considere não apenas a argumentação lógica, iluminista, cartesiana, mas também a afetiva.
Comunicações - Como o sr. vê o fato de o Papa Francisco indicar que a sinodalidade deve ser implementada em todos os níveis da vida da Igreja? Frei Sandro - A Igreja foi, desde as suas origens, uma Igreja Sinodal. A reunião dos apóstolos, no ano 49, em Jerusalém, para discutir sobre a “crise judeu-cristã”, inaugurou este costume, seguido, ao longo dos séculos pelas Igrejas que se expandiam por todo o império romano. Ao longo da história este modo de ser Igreja foi sendo deixado de lado, por várias razões. Uma delas, evidentemente, foi o surgimento do modelo de cristandade, instaurando o modelo hierárquico-monárquico, que vigorou até bem pouco tempo (mas que ainda está presente em muitas mentalidades católicas). Quando de sua eleição, Papa Francisco afirmou que a sinodalidade deveria ser vivida em vários níveis na Igreja. Na verdade, Francisco está apenas retomando e atualizando um mecanismo importante de comunhão e administração eclesial, o Sínodo dos Bispos, que foi “reinstaurado” por Paulo VI, no fim do Vaticano II, e que foi incentivado pelas Conferências Episcopais da América Latina. Em março de 2015, por ocasião dos 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos, o Papa afirmava: “Aquilo que o Senhor nos pede, de certo modo está já tudo contido na palavra ‘Sínodo’. Caminhar juntos – leigos, pastores, Bispo de Roma – é um conceito fácil de exprimir em palavras, mas não é assim fácil pô-lo em prática”. A novidade de Francisco é o modo como esta sinodalidade está sendo colocada em prática. Não se trata de belas e bem
elaboradas afirmações formais nos documentos pontifícios, destinadas a serem logo esquecidas, como estamos acostumados a ver em alguns momentos da história. Francisco está agindo dentro de uma “práxis” sinodal. Haja vista os vários sínodos realizados até agora, que envolveram um bom número de cristãos que foram chamados a dar seu parecer, a participar ativamente, e cujos documentos finais foram fruto de muita discussão e debate, como o Sínodo para Juventude, o Sínodo para a Família, e, principalmente, o Sínodo para a Amazônia. O modelo sinodal de Igreja colocado em prática por Francisco dá muito mais influência às Igrejas locais, descentralizando o go-
nodalidade supõe um processo participativo, de colaboração, corresponsabilidade. Não se pretende acabar com a hierarquia. Mas também não é possível continuar agindo na Igreja como se fosse uma monarquia. Deve ser colocado em prática em nível de paróquias, de dioceses, de conferências. Porém, será preciso superar a mentalidade clericalista, que supervaloriza a figura do padre. Em algumas paróquias não existe nem o Conselho Paroquial. O pároco tem a primeira e a última palavra. Os leigos não participam de nada. O mínimo ainda não se fez. Há muito que caminharmos para começarmos a discutir a verdadeira sinodalidade na Igreja. Mas, sem dúvida, é um caminho sem volta. O Papa
A “CRISE DE VOCAÇÕES” PODE NOS AJUDAR A AVALIAR TODA NOSSA FORMA DE EVANGELIZAR, MAS TAMBÉM A NOS QUESTIONARMOS SOBRE AQUILO QUE DE FATO NOS IDENTIFICA COMO SEGUIDORES DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS: “SOMOS IRMÃOS MENORES”. verno da Igreja, dá voz aos “católicos comuns”, aos bispos locais e conferências episcopais. O próprio Papa referiu-se à essa descentralização na Evangelii Gaudium: “Não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar ‘descentralização’ (EG, 16)”. Isso não é visto com bons olhos pela Cúria (que precisa ser reformada). A práxis sinodal afirma-se na certeza de que todos somos Igreja. O que nos une é o batismo. Todos somos assistidos pelo Espírito Santo. Uma Igreja sinodal é uma Igreja onde todos os batizados têm vez e voz. A si-
Francisco já anunciou que o tema do próximo sínodo, a realizar-se em outubro de 2022, será a sinodalidade, com o tema: “Para uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”.
Comunicações - Há espaços para uma incorporação muito maior de mulheres na governança da Igreja? Frei Sandro - Certamente temos ainda muito em que avançar na Igreja em relação ao protagonismo das mulheres. Papa Francisco também está dando passos importantes nesta direção, com a nomeação de mulheres para órgãos importantes na Cúria, convocando-as a participarem ativamente de Sínodos, e tamMARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 143
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bém incentivando o debate sobre o diaconato feminino. Em outubro de 2020, Mês das Missões, o papa colocou, como intenção, rezar por uma maior integração dos fiéis leigos, especialmente as mulheres, nos órgãos de governo da Igreja: “Devemos promover a integração das mulheres em lugares onde são tomadas decisões importantes”. Mas ainda há um longo e árduo caminho a ser percorrido. Nas últimas décadas as mulheres alcançaram uma grande emancipação na sociedade civil, em relação à igualdade de sexos, direitos em geral, acesso à formação intelectual, a áreas de atuação profissional. Na Igreja, ao contrário, o estatuto da mulher não avançou muito. Se por um lado é positivo o fato de uma inclusão cada vez maior em órgãos de governo na Cúria, por outro lado, na “outra ponta da corda”, muita coisa ainda precisa avançar. Nas dioceses e nas paróquias, onde as mulheres são a imensa maioria entre fiéis e colaboradoras, estas ocupam muito pouco espaço de decisão e liderança. O Papa não pode interferir diretamente nestas instâncias, e aqui esbarramos, de novo, na “praga” do clericalismo. Esta é uma luta que está apenas começando, mas as indicações do Papa são claras, também para as paróquias. É um caminho de conversão, que deverá ser percorrido em conjunto, por homens e mulheres: “As reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente” (EG 104).
Comunicações - Há uma crise de vocações na Igreja? Frei Sandro - Quando falamos de “crise de vocações” temos que começar distinguindo entre vocação para o clero secular e para o clero regular (religiosos). Na Europa, as vocações estão diminuindo há muito tempo. No Brasil, embora em algumas dioceses haja um grande número de seminaristas, é grande a falta de clero em lugares mais pobres, mais distantes, como ficou evidente no Sínodo para a Amazônia, onde muitos cristãos são privados
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da Eucaristia. Essa diminuição deve-se a vários fatores: as rápidas mudanças na sociedade, nas estruturas familiares, com poucos filhos, a secularização, a diminuição do número de católicos, a dificuldade da transmissão da fé às novas gerações, entre outros. Certamente, um elemento de não pouca importância é a dificuldade das novas gerações em assumir compromissos estáveis para toda a vida. Acredito que a situação não vai mudar. Os tempos são outros. Por mais que demos testemunho de vida, que rezemos pelas vocações sacerdotais e religiosas, o fato é que o mundo segue seu ritmo e o problema da falta de clero só vai se agravar. Desde o Vaticano II tentou-se colocar a questão sobre a mesa, discutindo-se sobre o celibato sacerdotal, sobre a ordenação dos viri probati, sem nenhum resultado prático. Papa Francisco incentivou a discussão, suscitou esperanças durante o Sínodo para a Amazônia, mas pouco se avançou. A diminuição de vocações ao sacerdócio e, consequentemente, a diminuição de padres, vai obrigar a Igreja a rever muitos aspectos de sua teologia, de sua disciplina eclesiástica, de sua pastoral e evangelização. As vocações à vida consagrada, masculina e, principalmente feminina, também estão diminuindo. Os motivos são os mesmos antes elencados. Some-se a esses o surgimento das muitas Comunidades de Vida, com seus vários estilos, muito mais atraentes aos jovens. De qualquer modo, nesta “mudança de época”, a diminuição numérica nos leva a fazer uma autocrítica, não apenas em relação aos religiosos ordenados, mas à vida consagrada como tal. Para nós, franciscanos, a diminuição de candidatos aos ministérios ordenados pode ser um momento privilegiado para nos ajudar a refletir sobre nossa própria identidade. Se tivermos candidatos à vida laical, mas não tivermos mais “padres” franciscanos, a Ordem deixará de existir? Francisco não foi padre. E não há certeza de que tenha sido diácono. Mas, no momento, praticamente toda nossa evangelização franciscana está orientada a partir dos ministérios ordenados. A “crise de vocações” pode nos ajudar a avaliar toda nossa forma de evangelizar, mas também a nos questionarmos
sobre aquilo que de fato nos identifica como seguidores de São Francisco de Assis: “Somos irmãos menores”.
Comunicações - Por último, comente uma frase que muito tem a ver com sua missão de ensinar: “O futuro está nas mãos daqueles que souberem transmitir para as gerações de amanhã razões de viver e de esperar” (Gaudium et Spes , 31). Frei Sandro - Ensinar não é apenas transmitir conhecimento, do mesmo modo como não são apenas os professores “formais” que ensinam. Todo aquele que, de alguma forma, conduz alguém, sejam os mestres, os pais, as pessoas sábias que a vida coloca em nosso caminho, são educadores. Quando se educa por vocação, com gosto e prazer, transmite-se também valores, educa-se para a vida, para a autonomia e a liberdade, permite-se à pessoa tornar-se sujeito de sua própria história. Educar para a esperança é indicar caminho, é acender “luzes”, despertar para o interesse e a curiosidade pela busca do conhecimento. É oferecer razões de viver num mundo que muitas vezes se revela hostil, adverso. Mas ao mesmo tempo é instruir para uma esperança baseada em possibilidades concretas de realização. É ser otimistas e realistas. O sonho e a esperança se realizam a partir do engajamento, da luta, do empenho concreto por mudanças. Francisco de Assis era um homem cheio de esperança, mas não foi ingênuo nem um sonhador. Seu projeto de vida atraiu pessoas que buscavam uma resposta e um sentido para a existência. E era uma proposta extremamente desafiadora. Francisco despertou arquétipos adormecidos no mais profundo de cada ser humano, em todas as épocas da história: o desejo de fraternidade, de diálogo, de respeito, de cortesia, de comunhão entre todos os seres criados, de paz e de ternura. No rico patrimônio franciscano encontramos uma verdadeira pedagogia, um verdadeiro método, que colocado em prática pode conduzir à construção de uma nova humanidade. Como diz o Papa Francisco na Fratelli Tutti, “Juntos se constroem os sonhos”.
FRATERNIDADES
Conversão é tema do Retiro Quaresmal dos Frades de profissão temporária de Angola
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urante três dias, os frades de profissão temporária do tempo de Filosofia e Teologia da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola estiveram em Retiro Quaresmal na Fraternidade São Francisco de Assis. Este Retiro teve a orientação de Frei Firmino Caculo, OFMCap, e participaram, além dos 49 professos temporários (um grupo de 21 está aguardando os vistos para estudar Filosofia no Brasil e outro grupo para continuar o curso de Teologia, que já teve início via on-line), Frei Valdemiro Wastchuk e Frei João Alberto Bunga. O retiro teve o seu início na manhã da Quarta-feira de Cinzas (16/2) e terminou na sexta-feira à noite (19/2), com a Missa de Ação de Graças. O tema refletido durante o retiro foi a conversão. Segundo Frei
Firmino, a mesma consiste em mudança de vida no sentido positivo, já que a pessoa deixa de fazer aquilo que não estava em sintonia com a vontade do Pai. “O cristão não deve ser aquele que tem inimigo a combater, mas um irmão a converter”, orientou o pregador. Os encontros tiveram como base o livro do Evangelho de São Lucas, o evangelista da misericórdia, onde no primeiro dia refletiu-se sobre o personagem de Zaqueu (Lc 19, 1-10); no segundo, o Filho Pródigo (Lc 15, 1132); e, no terceiro e último dia, Os Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35). Durante esses dias, a manhã foi reservada para prédicas, onde o pregador expunha as reflexões dos referidos textos; posteriormente, era feito o momento de deserto e, à tarde, seguia-se a plenária,
onde os participantes podiam efetuar as suas contribuições bem como apresentar determinadas questões ao orientador. O dia terminava com a Santa Missa. As sessões começavam sempre com a Oração de São Francisco diante do Crucifixo. Segundo o pregador, o carisma franciscano deve ser vivido à luz dos tempos, por isso indicava essa oração a fim de inspirar os encontros neste mesmo espírito: “Ó glorioso Deus altíssimo, iluminai as trevas do meu coração, concedei-me uma fé verdadeira, uma esperança firme e um amor perfeito. Dai-me, Senhor, o reto sentir e conhecer, a fim de que possa cumprir o sagrado encargo que na verdade acabais de dar-me”. Frei Abel Ndala Sahuma Nganji e Frei Eduardo Camunha
FRATERNIDADES
Live Comemorativa pelo Dia Internacional da Mulher na Paróquia Santa Clara de Imbariê
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o Dia Internacional da Mulher (08/03), a Paróquia Santa Clara de Imbariê gostaria muito de fazer um encontro presencial, como realizou pela primeira vez no ano passado. Porém, com a pandemia e as medidas de segurança não foi possível. Mas, sem deixar de refletir sobre o tema, a comunidade promoveu em sua página do Facebook uma live comemorativa neste importante dia. Este momento contou com a assessoria de Raquel da Silva Narciso. Ela é formada em Serviço Social pela UFRJ(2019). Iniciou o processo de engajamento no Movimento de Mulheres em 2006. Além disso, atua como coordenadora do CDVida, instituição pioneira no enfrentamento e prevenção da violência contra a mulher na Baixada Fluminense, criado em 1998. Também atua no Fórum e Conselhos Municipais dos Direitos da Mulher de Duque de Caxias. A live mediada por Frei Gabriel Dellandrea e Frei Jorge Maoski comemorou o dia com informação e conscientização a partir das informações trazidas pela Raquel. De acordo com o que denuncia o texto da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, levantou-se a questão dos casos de violência doméstica e de feminicídio. Esses problemas, que se agravaram durante a pandemia, muitas vezes ainda são tratados como um tabu. A assessora alertou que não se pode fechar os olhos para essa questão, uma vez que os dados são preocupantes. Além disso, as pessoas da paróquia e de outros lugares que acompanharam a live puderam participar através de comentários. Diante deles, Raquel elencou diversos dados sobre o feminicídio, além de tratar sobre as diversas formas de violência contra a mulher e suas causas, oferecendo esclarecimentos e orientações de como denunciar essas vio-
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lências (telefones: 190 para emergências e 180 para denúncias anônimas). Ainda foi ressaltado um grave problema que as mulheres enfrentam: a falta de políticas públicas para a prevenção da violência. Não existem ações qualificadas para amparar com grande força uma mulher agredida que resolve sair de uma situação de violência. Por isso faltam incentivos como o acesso a empregos, medidas protetivas qualificadas, agilidade dos serviços públicos na execução da denúncia. Também foi comentada a importância dos homens se conscientizarem, buscando combater a mas-
culinidade tóxica. Afinal, essa luta é de todos nós, de todo cristão e todo ser humano. A paróquia agradece a Raquel pela disponibilidade e lembra da importância deste trabalho, especialmente na instituição CDVida, que ampara muitas mulheres na Diocese de Duque de Caxias. Com informação, denúncia e reflexão qualificada, vamos cada vez mais cumprir o verdadeiro intento da comemoração do Dia Internacional da Mulher: garantir a todas as mulheres a dignidade de vida! Frei Gabriel Dellandrea
FRATERNIDADES
Conselho Provincial da Juventude faz primeira reunião do ano
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Conselho Provincial da Juventude, realizado na Paróquia Santo Antônio do Pari, em São Paulo (SP), no último final de semana de fevereiro de 2020, reuniu seus integrantes pela primeira vez na forma presencial e on-line. Frei Diego Atalino Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional da Província da Imaculada, presidiu a reunião, que contou com a presença do Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella; Frei Leandro Costa, a serviço do SAV; Frei Marx Rodrigues, da Frente de Evangelização pela Solidariedade, e os representantes das juventudes na Província. Frei Gustavo Medella acolheu e agradeceu aos membros do Conselho por fazer esse caminho com a Província. O Vigário Provincial citou a Fratelli Tutti (Todos somos irmãos) e, especificamente no capítulo 2, que tem como título “um estranho no caminho”, onde o Papa convida a passar da indiferença à ‘cultura do diferente’. Todos são chamados a superar inimizades e cuidar uns dos outros. Tendo como base o subtítulo “recomeçar” (77 a 79) da encíclica, animou: “É uma provocação para avaliarmos o presente, nos transformarmos e termos esperança do futuro”. Durante a reunião, os integrantes do Conselho partilharam as diferentes realidades das juventudes em 2020, destacando as ações realizadas, como a Tenda Franciscana de Solidariedade, no Largo São Francisco (SP) e no Largo da Carioca (RJ).
Abordou-se também o voluntariado da solidariedade na Tenda Franciscana, conforme estabelece o Itinerário Franciscano das Juventudes, como uma boa experiência para os jovens. Os conselheiros também lembraram as ações de solidariedade feitas durante a pandemia em outros estados, principalmente com a população em situação de rua, como distribuição de marmitas, cestas básicas, roupas e brinquedos. Entre outras atividades compartilhadas, a Frente de Solidariedade marcou também pelas lives no Facebook, ganhando uma significativa adesão. Na Frente de Evangelização da Educação, a Pastoral Universitária organizou as Celebrações Eucarísticas on-line e atendeu aos alunos à distância.
Encaminhamentos Frei Diego Melo partilhou o planejamento do SAV para este ano. Mesmo na nova missão como novo reitor do Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP), o frade continuará acompanhando as juventudes. Já Frei Leandro Costa, a serviço do SAV, acompanhará os vocacionados e visitará as Fraternidades da Província. O Coordenador do SAV relembrou o Itinerário Franciscano das Juventudes, fruto da última reunião presencial do Conselho, em março de 2019. Também apresentou os subsídios para a Caminhada Franciscana da Juventudes (CFJ), as Missões Franciscanas da Juventude (MFJ), o Al-
verne – Encontro de Formação para Jovens e o Acampamento Franciscano. Lembrou ao Conselho que foi definido um plano de ação para cada etapa e que estão sendo preparados subsídios para as demais etapas. Também foi abordada a renovação do Conselho Provincial das Juventudes com a saída de alguns integrantes. Para isso foram apresentados alguns critérios que serão estudados por uma comissão própria e apresentados oportunamente ao Conselho.
Ações para 2021 Como frutos dos encaminhamentos, o Conselho apontou algumas ações para 2021 que serão articuladas ao decorrer do ano, como: Itinerário da Juventude: reestruturar a 6ª etapa- voluntariado da solidariedade; elaborar subsídios para as etapas que não possuem; sistematizar registros e arquivos; pensar numa forma de passaporte franciscano; mapeamento das juventudes no território da Província. Assistentes espirituais: criar um grupo de assistentes espirituais (leigos e frades) onde cada jovem pode escolher; Solidariedade: juventude como parceira no serviço da Frente de Solidariedade (Brasil sem fome), missões de solidariedade anuais; Animação da Juventude: resgate da espiritualidade, lives, oficinas.
Conclusão No domingo, 28 de fevereiro, os jovens participaram da Celebração Eucarística presidida pelo Pe. Júlio Lancelotti na Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo (SP). A reunião foi encerrada com a renovação da força na caminhada, animados pelas ações do Padre com as pessoas em situação de rua. O Conselho agradece à Província pelo espaço, voz e vez das Juventudes e também à Fraternidade do Pari que acolheu a reunião com carinho e dedicação. Lucas A. Santos MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 147
EVANGELIZAÇÃO
Editora Vozes completa 120 anos de história
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om um catálogo diversificado e fincado em sólidos pilares que a acompanham desde sua fundação, a Editora Vozes completou, no dia 5 de março, 120 anos de história. Fundada em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, por Frei Inácio Hinte, a Vozes já passou por diversos períodos históricos e desafios que o mercado apontou ao longo dos anos. A força da empresa centenária vem de fomentar valores fundamentais para a evolução e crescimento do negócio, sempre em parceria com o leitor. “Não há mercado literário sem aquele que consome os livros. E esse foi, e continuará sendo, o resultado mais importante para a consolidação da Editora: a relação de respeito, transparência, responsabilidade, atendimento e entrega de valor e conteúdo ao leitor e aos nossos parceiros”, explica o gerente de vendas Teobaldo Heidemann. A pluralidade do catálogo também é um dos pontos expressivos para a longevidade da Editora petropolitana. Suas publicações vão desde produtos sazonais, como a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, que é publicada há mais de 80 anos, até os clássicos da Filosofia, Antropologia, Teologia e Espiritualidade. Ao longo dos anos, a história e a trajetória foram atualizadas, de acordo com as necessidades dos leitores e do mercado editorial. O desenvolvimento das redes sociais, e-commerce, produção de conteúdo, cursos, eventos e as mais atuais e renovadas lives trouxeram renovação e desafios para a Editora – desafios esses que foram encarados com sentimentos de coragem e responsabilidade em honrar os muitos anos de trabalho e conquistas, sempre com o objetivo de entregar valor e conteúdos diferenciados aos leitores.
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Para colaborar com a missão que a Editora tem, as livrarias Vozes, presentes no ambiente virtual (www.livrariavozes.com. br) e em 16 cidades do país, entregam o atendimento, exposição e distribuição das obras publicadas pela Vozes com a mesma
mento e o diálogo. “Fomentar a pluralidade de publicações e facilitar o acesso do leitor ao livro é uma das nossas principais propostas que trabalhamos nos últimos 120 anos. Celebramos nesta data especial e prospectamos para os próximos muitos aniversários que desejamos comemorar”, encerra.
20 livros para celebrar 120 anos de história
excelência que esta busca em suas publicações e produtos produzidos. Com excelência e simplicidade, através de um catálogo recheado de nomes importantes do universo da leitura, a Editora celebra mais um ano promovendo o conheci-
Em todos esses anos, o catálogo de publicações da Editora Vozes foi cada vez mais encorpado com grandes obras. Destas, foram selecionados 20 títulos que marcaram a trajetória da Editora até aqui e que ainda estão em catálogo, com três destaques especiais: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, Coleção Crescer em Comunhão e a Obra completa de C.G. Jung. A intenção é que, cada vez mais, a marca Vozes seja fixada na memória dos leitores, além de comemorar mais um ano de trabalho e de sucesso de publicações que promovem o conhecimento e a pluralidade de ideias, valores seguidos e fomentados pela Editora. São elas: Minutos de sabedoria, Em busca de sentido, O Corpo Fala, Imitação de Cristo, Vigiar e punir, Ser e tempo, O ser e o nada, Sermões, O Livro Vermelho – Liber Novus, Brasil: nunca mais, Compêndio do Vaticano II, A Pedagogia, O céu começa em você, Jesus – Aproximação histórica, Jesus Cristo libertador, Qual é a tua obra?, A vida que vale a pena ser vivida, Sociedade do cansaço, Mitologia grega e A águia e a galinha. Todas as obras foram minuciosamente selecionadas para contemplar as diversas áreas do catálogo de publicações da Editora. O livro Minutos de sabedoria, por exemplo, conquista diariamente seu lugar
EVANGELIZAÇÃO
no mercado literário, figurando com suas mensagens de autoajuda nas listas de mais vendidos por muitos anos, tornando-se tradição para muitos leitores. A águia e a galinha, de Leonardo Boff, quando publicada em 1997, deu início ao movimento proposto pelo selo de publicações Nobilis: grandes conteúdos e autores apresentados ao grande público com linguagem acessível. Desta alavancada viriam os best-sellers Qual é a tua obra?, de Mario Sergio Cortella e A vida que vale a pena ser vivida, de Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci, entre outros grandes nomes que se destacam no cenário da filosofia contemporânea. Entre eles, o sul-coreano Byung-Chul Han, que já tem mais de dez obras no catálogo e vem firmando-se como um dos maiores filósofos da atualidade. Representando a filosofia clássica, Martin Heidegger e Jean-Paul
Sartre, com Ser e tempo e O ser e o nada, respectivamente. Em Teologia, um dos carros-chefes da Editora, três representantes: Imitação de Cristo, Jesus Cristo libertador, Jesus – Aproximação histórica, Sermões e Compêndio do Vaticano II. Essa tríade é composta por obras que marcaram época e o cenário teológico no Brasil e no mundo, de acordo com o contexto de cada conteúdo. Na lista, o livro A Pedagogia tem a responsabilidade de jogar luz no catálogo de Educação e Pedagogia, que conta com autores como Miguel Arroyo e Celso Antunes, para a formação de diversos profissionais através de suas obras. Por sua característica técnica, O Livro Vermelho – Liber Novus, de Carl Gustav Jung, foi um marco para a Psicologia Analítica no Brasil. Depois do Livro Vermelho, a Obra
Completa ganhou uma nova edição, acompanhada de uma luxuosa caixa. O céu começa em você traz a importância da espiritualidade no catálogo Vozes. Sem pretensões de julgar ou definir o que é certo ou errado, diversas publicações que seguiram a pioneira obra de Anselm Grün, vêm durante os anos apresentando-se como conteúdos de extrema relevância para se espiritualizar e promover momentos de reflexão. Publicar Brasil: nunca mais – e trazê-lo para a lista comemorativa de 120 anos da Editora – pode ser considerado, antes de tudo, um ato de coragem. A obra, representativa por si e pelas demais publicações semelhantes do catálogo, reforça a história da Vozes pela luta contra o regime autoritário e pelos direitos humanos. Encerrando a lista, os livros Em busca de sentido, O corpo fala, Vigiar e punir e Mitologia Grega (box) representam, claro, suas áreas no catálogo, Psicologia, Sociologia e História, respectivamente, porém, são três títulos que conquistam leitores além de suas formações acadêmicas. Autodidatas, interessados em ciências sociais, no ser humano e suas peculiaridades, e o público que aprecia um texto culto e encorpado estão na lista dos leitores dessas obras. Para mais informações e acompanhar as celebrações dos 120 anos da Editora Vozes siga as redes sociais: Instagram: @editoravozes Facebook: /editoravozes Twitter: @Editora_Vozes YouTube: youtube.com/editoravozes www.vozes.com.br
EVANGELIZAÇÃO
Editora Vozes celebra 120 anos no Jubileu de 125 anos de presença franciscana em Petrópolis
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a 1ª Sexta-feira do mês (5/03) não faltaram motivos para celebrar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Em homenagem ao Jubileu de Diamante de 75 anos da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e dos 125 anos da chegada dos frades franciscanos, vindos das Alemanha para a Cidade Imperial, as Celebrações Eucarísticas das 15h e 18h fizeram memória ao início do Apostolado da Oração e também à fundação da Editora Vozes, que completou 120 anos neste 5 de março. Presidida por Frei Volney José Berkenbrock, que há muitos anos colabora diretamente com a Editora Vozes, a Celebração Eucarística das 18 horas foi concelebrada pelo pároco Frei Jorge Paulo Schiavini e também pelo vigário paroquial Frei Ivo Müller. Obedecendo as restrições sanitárias, por razões já conhecidas, a Santa Missa foi transmitida ao vivo pelo Facebook da Paróquia do Sagrado
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e pela Rádio Imperial de Petrópolis e contou também com a presença de fiéis, paroquianos, lideranças de movimentos e pastorais que vieram louvar e agradecer por todos os frades franciscanos que, com amor, zelo e desprendimento, deram início à história do Convento e da Paróquia do Sagrado! Na sua reflexão, Frei Volney pontuou que Deus se fez história e que o cristianismo tem um forte caráter histórico. E assim convidou a comunidade a recordar e agradecer a Deus pela história da presença franciscana em Petrópolis neste ano jubilar. “Em todas as primeiras sextas-feiras do mês, um aspecto da caminhada franciscana nesse chão será lembrada”, destacou. “Por coincidência, hoje se comemoram também os 120 anos da Editora Vozes, uma página importante destes 125 anos dos franciscanos nesta cidade”, afirmou. Frei Volney recordou os princípios da
Editora que começou com uma tipografia para atender as necessidades da escola gratuita São José. Relembrou ainda que “Vozes de Petrópolis”, a revista cultural fundada pelos frades, cedeu nome para a Editora. “Essa revista começou a ficar muito conhecida e, aos poucos, este título acabou se tornando o nome da Editora”, explicou. O celebrante ressaltou ainda a importância da Editora na publicação de materiais literários e sua expansão por diversas partes do Brasil. E surpreendeu ao revelar uma curiosidade. “A devoção ao Sagrado Coração de Jesus presente nesta Paróquia influenciou a criação da famosa e conhecida Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, que atualmente atinge mais de 1 milhão de pessoas”, contou. No final de sua homilia, Frei Volney falou sobre a capacidade que todos possuem de ecoar o Evangelho. “Quem faz acontecer
EVANGELIZAÇÃO
é Deus e cada um de nós deve fazer a sua parte”, frisou. “Que a história da Vozes, da Folhinha, nos anime a percebermos e agirmos como instrumentos de Deus na história”, finalizou. Após a homilia, a celebração teve continuidade com as preces seguidamente da liturgia eucarística. No final, Frei Jorge parabenizou, na pessoa do Frei Volney, toda Editora Vozes e seus colaboradores e agradeceu a presença de todos. A Celebração Eucarística das 15 horas foi presidida pelo vigário paroquial, Frei Fernando de Araújo Lima. Antes, às 14h30, a comunidade paroquial esteve reunida para a Adoração ao Santíssimo Sacramento. O ano jubilar vai se estender até 9 de fevereiro de 2022.
UM POUCO DE HISTÓRIA O ano de 2021 marca os 125 anos da chegada dos franciscanos a Petrópolis. Cinco anos depois, em 5 de março de 1901, foi fundada a Editora Vozes sob o nome de Typographia da Escola Gratuita São José. Iniciou sua trajetória imprimindo livros didáticos para atender às necessidades da Escola Gratuita São José, uma escola que os franciscanos fundaram e que por muitos anos funcionou mais ou menos no espaço onde hoje é a sacristia da Igreja do Sagrado. O trabalho era feito em uma impressora Alauzet, que foi recuperada graças ao empreendedorismo de Frei Inácio Hinte, fundador da
promisso com a cultura e a evangelização. Atualmente, a Editora Vozes é um empreendimento que conta com uma gráfica em Petrópolis, livrarias e distribuidoras espalhadas em todo o Brasil e um catálogo como editora que abrange cerca de 3 mil títulos, sobretudo de Ciências Humanas, Teologia, Espiritualidade, Devocionais, Catequese e Sazonais. No dia 5 de março, a Editora Vozes festeja seus 120 anos de história e missão.
APOSTOLADO DA ORAÇÃO empresa. Frei Inácio tinha sido tipógrafo na Alemanha e quando viu a necessidade que a escola tinha de material didático - à época quase não havia material didático impresso-, recuperou esta impressora e a colocou para funcionar onde hoje é o porão da Igreja, onde se fazem as cestas básicas. Em 1907, os franciscanos fundaram uma revista, inspirando-se numa revista cultural alemã. Lá a revista se chamava “Vozes do Tempo”. Aqui, os frades chamaram a revista de “Vozes de Petrópolis”. Esta revista tornou-se muito conhecida e muitos começaram a falar na “tipografia da Vozes”. E isto fez com que se tenha trocado de nome para “Vozes”, e mais tarde para Editora Vozes. O nome Vozes começou a ser usado oficialmente a partir do ano de 1911. Tendo como lema “Uma vida pelo bom livro”, a Editora Vozes, tem se posicionado de forma empreendedora, mantendo seu com-
O Apostolado da Oração, segundo o relato do Padre Theodoro Esch, registrado no livro do Jubileu Áureo da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, relata que o Apostolado da Oração foi fundado em 1898, com 600 membros. Seguindo mais adiante, no ano de 1965, encontra-se a informação do então diretor do Apostolado da Oração e também vigário paroquial, Frei Aniceto Kroker, sobre as atividades desenvolvidas pelos seus membros, dando ênfase aos momentos de oração e devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, o Apostolado da Oração, também conhecido como a Rede Mundial de Oração do Santo Padre o Papa, continua sua caminhada de até os dias atuais, intercedendo através de orações e ações para o sustento da missão da Igreja. Frei Augusto Luiz Gabriel
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Frades da Frente da Educação fazem encontro on-line
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om a orientação e o apoio de Frei César Külkamp (Ministro Provincial) e de Frei Gustavo W. Medella (Vice-Ministro Provincial e Secretário para a Evangelização), ocorreu em 19 de fevereiro, das 14h às 15h40, o Encontro on-line dos Frades da Frente da Educação com a seguinte programação: 14h acolhida e memória das atividades da Frente da Educação no biênio 2019-2020 Mensagens do Provincial, Frei César Külkamp e do Vice Provincial/Secretário para a Evangelização, Frei Gustavo W. Medella. Propostas e Planejamento da Frente da Educação em 2021: agendamento dos encontros, consulta de possíveis temáticas a serem contempladas, entre outros. 15h30 Encerramento e Agradecimentos. Para o referido Encontro foram convidados os seguintes Confrades: Frei Cesar Külkamp, Frei Gustavo W. Medella, Frei Ademir J. Peixer, Frei Alvaci M. da Luz, Frei Antônio Everaldo P. Marinho, Frei Antônio J. Pinto e Frei David R. Santos, Frei Elói D. Piva, Frei Fabio C. Gomes, Frei Fernando de A. Lima, Frei Francisco Morás, Frei Gilberto G. Garcia, Frei Ivo Muller, Frei James L. Girardi, Frei João F. Reinert, Frei João Mannes, Frei Jose Antônio C. Duarte, Frei Jose H. Rosa, Frei Ludovico Garmus, Frei Marcos A. de Andrade, Frei Mario J. Knapik, Frei Robson L. Scudela, Frei Ronaldo F. Lima, Frei Sandro R. da Costa, Frei Thiago A. Hayakawa, Frei Vagner Sassi, Frei
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Vitorio Mazzuco Filho, Frei Volney J. Berkenbrock e Frei Claudino Gilz. Os participantes puderam constatar sete aspectos convergentes nas atividades da Frente da Educação que vieram sendo privilegiados durante o biênio 20192020: faz-se necessário sempre de novo lembrar que educar é um modo de conhecer, acolher, amar, sentir, servir e promover o desenvolvimento do ser humano em todas as duas dimensões; e, por se atrever a formar pessoas para a vida em plenitude, a educação é, na sua essência, evangelizadora. torna-se imprescindível que, mesmo já com uma caminhada em curso enquanto Frente da Educação, cada Frade deve mostrar-se aberto a pensar tanto sobre o modo como se almeja estar a serviço
da educação nas instituições de ensino da Província. avançar, em termos de protagonismo dos leigos, na busca de conceder mais espaço para os educadores leigos, não os compreendendo como coadjuvantes na missão evangelizadora, mas irmãos na promoção de uma formação integral e transformadora de cada aluno e aluna, independente de credo, levando-os a encarnar em suas vidas o amor ao próximo, o respeito à diversidade cultural-religiosa e a solidariedade com menos favorecidos. avançar na integração entre Frades e Leigos na missão que a Província nos confia, convictos do insubstituível pressuposto: evangelizar/educar em e como Fraternidade. considerar devidamente que, segun
EVANGELIZAÇÃO
do Frei César, o quanto que “o Papa Francisco tem feito do carisma e da espiritualidade franciscana um projeto de Igreja, ao qual leigos e frades de nossas instituições de ensino também estão inseridos como evangelizadores em meio a um conjunto de atividades formativas, acadêmicas, pastorais, culturais, administrativas e sociais nelas desenvolvidas”. disseminar que “o laicato franciscano instaura a irmandade faterna e a fraternidade de irmãos e irmãs, a comunidade dos que amam o belo, o bom, o justo, a paz e o bem. Tem um modo de interferir para que o mundo, a história, a eclesiologia e a sociedade melhorem.” (Frei Vitorio Mazzuco Filho). convergir para a compreensão de que, segundo Irmã Irani Rupolo, “numa instituição de ensino franciscana, o acolhimento, o cuidado e o respeito tanto aos alunos como aos menos favorecidos não sejam um mero diferencial, mas antes um dever.”. Com alegria, Frei César saudou a todos os confrades participantes do referido Encontro on-line da Frente da Educação. Realçou a importância de “crescermos enquanto Frente, assumindo este trabalho a partir do pressuposto da Fraternidade, dando um qualificado testemunho evangélico e de vida fraterna aos nossos leigos colaboradores na missão nos seus mais diversos âmbitos”. Na perspectiva já do próximo Capítulo Provincial, previsto para o início de novembro deste ano, o nosso Ministro Provincial nos lembrou a tarefa de rever ao longo de 2021 o modo como estamos nessa Frente enquanto evangelizadores franciscanos integrados aos leigos na educação. Frei Gustavo também saudou a todos, manifestando também sua alegria em rever os confrades participantes do Encontro on-line da Frente da Educação. Lembrou-nos que o tema do diálogo tem se feito presente na caminhada da Frente em cada um dos
encontros já realizados durante o biênio 2019-2020. Diálogo compreendido, segundo ele, como uma provocação e uma meta a ser buscada por todos nós que compomos essa equipe de frades que, em nome da Província, foram enviados para o serviço da educação. Convidou-nos a considerar, baseando-se no Texto-Base da Campanha da Fraternidade de 2021, “o modelo de educação dialogal inspirada na passagem (caminhada) dos discípulos de Emaús. Em tal passagem e caminhada, há um modelo por excelência de educação dialógica, trabalhada pedagogicamente em uma caminhada, onde educador e educando vão descobrindo aquilo que já trazem dentro de si, além da experiência de Jesus Cristo como o mediador da busca que os leva a se deixarem iluminar pela chama da fé e da esperança”. Citando o segundo capítulo da Carta Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco, aproveitou para compartilhar um segundo modelo de educação dialógica a partir da Parábola do Bom Samaritano. Educação dialógica “permeada pela escuta ativa do Bom Samaritano. Escuta do silêncio que o leva a oferecer auxílio, amor e cuidado ao homem caído à beira da estrada. Que ao menos esses dois modelos nos iluminem nos processos de diálogo que temos de ora em diante enquanto Frente da Educação.”. Em seguida, foi apresentado e recebeu o devido aval dos confrades participantes a proposição da criação de uma equipe de leigos/frades que atuam em diferentes setores na AFESBJ e na CNSP (Gerência/Gestão, Projetos Sociais, Pastoral, Ensino-Pedagógico, Pesquisa, Extensão, Biblioteca, Instituto Meninos Cantores...) com os seguintes objetivos: ajudar a Coordenação da Frente da Educação na animação da caminhada, auxiliando sob os mais diversos aspectos (escolha de temáticas a serem discutidas, preparação dos Encontros de Leigos e Frades etc.); contribuir para a vivência e a disseminação do carisma franciscano de modo contextualizado em âmbito local com base em publicações sobre evangeliza-
ção e educação feitas pela Igreja, pela Ordem e pela Província; fomentar o protagonismo dos leigos na evangelização franciscana na educação; dar continuidade à caminhada da Frente em busca de uma integração entre frades e leigos na missão que a Província nos confia na educação, tendo como pressuposto uma presença e atuação evangelizadora em e como Fraternidade; alimentar o espírito de rede entre as instituições de ensino da Província (ITF, IMCP, USF, FAE e Bom Jesus). auxiliar os alunos e suas famílias tanto a conhecerem o modo de vida inaugurado por São Francisco de Assis como a ‘respirarem’ sempre mais o carisma franciscano em nossas instituições de ensino, em profundo diálogo com as culturas e demais Religiões. Em termos de Proposta à caminhada da Frente da Educação em 2021, foi aprovada pelos Confrades participantes a seguinte programação: 05/05 Encontro Ampliado on-line de Leigos e Frades da Frente da Educação. 30/07 Encontro on-line dos Frades da Frente da Educação. 01/09 Encontro Ampliado on-line de Leigos e Frades da Frente da Educação. Com a oração da Campanha da Fraternidade de 2021 encerrou-se o Encontro on-line dos Frades da Frente da Educação por volta das 15h40. Agradeço a todos pela participação e o apoio ao propósito que nos une e nos responsabiliza: evangelizar/educar em e como Fraternidade, integrados com os colaboradores leigos na missão que o Altíssimo e Bom Senhor nos confiou à serviço da educação e da instauração de uma nova humanidade. Fraternalmente, Frei Claudino Gilz COORDENADOR DA FRENTE DA EDUCAÇÃO
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EVANGELIZAÇÃO
A HISTÓRICA VISITA DO PAPA AO IRAQUE
O
s cristãos iraquianos esperavam pelo Papa há 22 anos. Era 1999, quando São João Paulo II planejou uma breve, mas significativa peregrinação a Ur dos Caldeus, a primeira etapa do percurso jubilar aos lugares de salvação. Ele queria partir de Abraão, do pai comum reconhecido pelos judeus, cristãos e muçulmanos. Muitos não aconselharam o ancião pontífice polonês, pedindo-lhe de não fazer uma viagem que poderia correr o risco de fortalecer Saddam Hussein no poder, após a primeira Guerra do Golfo. O Papa Wojtyla seguiu em frente, apesar das tentativas de dissuadi-lo, feitas em particular pelos Estados Unidos. Mas, no final, essa viagem relâmpago de natureza primorosamente religiosa não foi feita por causa da oposição do presidente iraquiano. Em 1999, o país já estava de joelhos por causa da guerra sangrenta contra o Irã (1980-1988) e por causa das sanções internacionais seguidas pela invasão do Kuwait e primeira Guerra do Golfo. O número de cristãos no Iraque era, então, três
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vezes maior do que é hoje. A viagem não realizada por João Paulo II permaneceu uma ferida aberta. Por essa razão, apesar dos riscos ligados à pandemia e à segurança, apesar dos recentes atentados, Francisco manteve esse compromisso na sua agenda, determinado a não decepcionar todos os iraquianos que o esperavam. O coração da primeira viagem internacional, após quinze meses de bloqueio forçado devido às consequências da Covid-19, foi o compromisso em Ur, na cidade de onde partiu o patriarca Abraão. Judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras religiões se reuniram para rezar e regressar aos primórdios da obra de Deus junto à humanidade. A cidade, de fato, é citada na Bíblia e é indicada como o local de nascimento de Abraão e onde o Patriarca das religiões monoteístas falou pela primeira vez com o Criador. Depois de ouvir cantos, e o testemunho de homens e mulheres, o Pontífice pronunciou um discurso que mais parece uma poesia, que remete ao diálogo narrado no Livro do Gênesis, quando Deus pediu a Abraão que
levantasse os olhos para o céu e contasse as estrelas. A nossa função primeira é esta, disse o Papa: ajudar os nossos irmãos e irmãs a elevarem o olhar e a oração para o Céu. “Erguemos os olhos ao Céu para nos elevarmos das torpezas da vaidade; servimos a Deus, para sair da escravidão do próprio eu, porque Deus nos impele a amar. Esta é a verdadeira religiosidade: adorar a Deus e amar o próximo.”
O grande encontro O segundo dia do Papa Francisco em terras iraquianas começou com o histórico encontro com o Grande Aiatolá Sayyid Ali Al-Husayni Al- Sistani, em sua residência em Najaf. “Durante a visita de cortesia, que durou cerca de quarenta e cinco minutos – afirmou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni - o Santo Padre sublinhou a importância da colaboração e da amizade entre as comunidades religiosas para que, cultivando o respeito mútuo e o diálogo, se possa contribuir para o bem do Iraque, da região, de toda a humanidade”.
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“O encontro – acrescentou Bruni - foi uma ocasião para o Papa agradecer ao Grande Aiatolá Al-Sistani porque, junto com a comunidade xiita, diante da violência e das grandes dificuldades dos últimos anos, levantou sua voz em defesa dos mais fracos e perseguidos, afirmando a sacralidade da vida humana e a importância da unidade do povo iraquiano”. Ao despedir-se do Grande Aiatolá, o Santo Padre reiterou a sua oração a Deus, Criador de todos, por um futuro de paz e fraternidade para a amada terra iraquiana, para o Médio Oriente e para todo o mundo. É a primeira vez que o Papa Francisco se encontra de forma privada com um expoente do Islã xiita, visto já ter estreitado laços com uma das mais altas autoridades do Islã sunita, o Grão Imame de Al-Azhar, Ahmed al-Tayyeb, com quem compartilhou em Abu Dhabi a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz e da Convivência Comum. O Papa Francisco assim, dá mais um passo no trabalho de construção desse espírito de fraternidade e respeito entre as religiões e todos os seres humanos, não obstante as diferenças culturais e de pontos de vista
existentes. Não só a comunidade iraquiana como um todo poderá se beneficiar deste encontro, mas principalmente as comunidades cristãs e outras minorias.
O Papa em Mosul Na manhã do domingo (07/03), o Papa chegou à cidade de Mosul e dirigiu-se a Hosh al-Bieaa, a praça das 4 igrejas: sírio-católica, armeno-ortodoxa, sírio-ortodoxa e caldeia, destruídas pelos ataques terroristas entre 2014 e 2017. Depois de ouvir os comovedores testemunhos de um sunita e do pároco local que falaram das perdas e dos deslocamentos forçados, o Papa fez uma breve saudação e rezou uma oração pelas vítimas e pelo povo iraquiano. Francisco afirmou que “A trágica redução dos discípulos de Cristo, aqui e em todo o Médio Oriente, é um dano incalculável não só para as pessoas e comunidades envolvidas, mas também para a própria sociedade que eles deixaram para trás. Com efeito, um tecido cultural e religioso assim rico de diversidade é enfraquecido pela perda de qualquer um dos seus membros, por menor
que seja, como, num dos vossos artísticos tapetes, um pequeno fio rebentado pode danificar o conjunto”. O Papa também destacou: “Como é cruel que este país, berço de civilizações, tenha sido atingido por uma tormenta tão desumana, com antigos lugares de culto destruídos e milhares e milhares de pessoas – muçulmanas, cristãs, yazidis e outras – deslocadas à força ou mortas!”. E concluiu sua saudação afirmando: “Hoje, apesar de tudo, reafirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte que o fratricídio, que a esperança é mais forte que a morte, que a paz é mais forte que a guerra”
Oração pelas vítimas da guerra Francisco fez uma breve premissa: “Antes de rezar por todas as vítimas da guerra nesta cidade de Mosul no Iraque e em todo o Oriente Médio, gostaria de partilhar convosco estes pensamentos: Se Deus é o Deus da vida – e é-o –, a nós não é lícito matar os irmãos no seu nome. Se Deus é o Deus da paz – e é-o –, a nós não é lícito fazer a guerra no seu nome.
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Se Deus é o Deus do amor – e é-o –, a nós não é lícito odiar os irmãos. Agora rezemos juntos por todas as vítimas da guerra, para que Deus Onipotente lhes conceda vida eterna e paz sem fim, acolhendo-as no seu abraço amoroso. E rezemos também por todos nós para podermos, independentemente das respetivas filiações religiosas, viver em harmonia e paz, conscientes de que, aos olhos de Deus, todos somos irmãos e irmãs”.
ORAÇÃO Deus Altíssimo, Senhor do tempo e da história, por amor criastes o mundo e nunca cessais de derramar as vossas bênçãos sobre as vossas criaturas. Com terno amor de Pai, acompanhais os vossos filhos e filhas, para além do oceano do sofrimento e da morte, para além das tentações da violência, da injustiça e do lucro iníquo. Mas nós, homens, ingratos pelos vossos dons e distraídos pelas nossas preocupações e ambições demasiado terrenas, muitas vezes esquecemos os vossos desígnios de paz
e harmonia. Fechamo-nos em nós mesmos e nos nossos próprios interesses e, indiferentes a Vós e aos outros, fechamos as portas à paz. Assim se repetiu aquilo que o profeta Jonas ouviu dizer de Nínive: a maldade dos homens subiu até à presença de Deus (cf. Jn 1, 2). Não levantamos para o Céu mãos puras (cf. 1 Tm 2, 8), mas da terra subiu mais uma vez o grito do sangue inocente (cf. Gn 4, 10). Os habitantes de Nínive, na narração de Jonas, ouviram a voz do vosso profeta e encontraram salvação na conversão. Também nós, Senhor, ao mesmo tempo que Vos confiamos
as inúmeras vítimas do ódio do homem contra o homem, invocamos o vosso perdão e suplicamos a graça da conversão: Kyrie eleison! Kyrie eleison! Kyrie eleison! [Senhor, tende piedade de nós! Senhor, tende piedade…] - um momento de silêncio Senhor nosso Deus, nesta cidade, dois símbolos testemunham o perene desejo da humanidade se aproximar de Vós: a mesquita Al-Nouri com o seu minarete Al Hadba e a igreja de Nossa Senhora do relógio. É um relógio que, há mais de cem anos, lembra aos transeun-
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Santa Missa no Estádio de Erbil
tes que a vida é breve, e o tempo precioso. Ensinai-nos a compreender que Vós nos confiastes o vosso desígnio de amor, paz e reconciliação, para o realizarmos no tempo, no breve arco da nossa vida terrena. Fazei-nos compreender que, só colocando-o em prática sem demora, será possível reconstruir esta cidade e este país e curar os corações dilacerados pela dor. Ajudai-nos a não gastar o tempo ao serviço dos nossos interesses egoístas, pessoais ou coletivos, mas ao serviço do vosso desígnio de amor. E quando nos transviarmos, concedei que
possamos dar ouvidos à voz dos verdadeiros homens de Deus e arrepender-nos a tempo, para não nos arruinarmos ainda mais com destruição e morte. Confiamo-Vos as pessoas, cuja vida terrena foi abreviada pela mão violenta dos seus irmãos, e imploramo-Vos também, para quantos fizeram mal aos seus irmãos e irmãs, que se arrependam, tocados pelo poder da vossa misericórdia: Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Requiescant in pace. Amen.
O último compromisso público do Papa Francisco na sua visita histórica ao Iraque foi a Celebração Eucarística do domingo (7) no Estádio Franso Hariri, em Erbil, capital da região autônoma do Curdistão iraquiano e a quarta maior cidade do país, com cerca de 2 milhões de habitantes. A missa presidida pelo Pontífice também foi o momento da viagem apostólica com o maior número de participantes. Com capacidade para cerca de 28 mil pessoas, o estádio teve lotação limitada em 10 mil por causa da pandemia. Francisco, porém, conseguiu percorrer o espaço com o papamóvel para saudar os iraquianos que conseguiram marcar presença para rezar junto com o Papa em Erbil, uma das cidades mais antigas do mundo e que acolhe meio milhão de deslocados internos, que fugiram do autoproclamado Estado Islâmico, além dos refugiados sírios. MARÇO | 2021 | COMUNICAÇÕES | 157
CRB
CRB lança o livro “Plenamente humano, simplesmente irmão” sobre a vida do religioso irmão
A
presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, que foi nomeada pelo Papa Francisco consultora da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, falou, numa mensagem a todos os religiosos, sobre o lançamento do livro “Plenamente humano, simplesmente irmão” (198p. CRB; 2021). “A vocação do Religioso Irmão, assim como todos os modos de ser da Vida Religiosa Consagrada, oferece um belo testemunho de mística, fraternidade e serviço para o mundo. Nos últimos anos, a CRB Nacional tem se comprometido na valorização da beleza dessa vocação, nem sempre reconhecida na Igreja. Por isso, no V Seminário de Religiosos Irmãos, ocorrido em Fortaleza/CE, em 2019, refletiu-se sobre como a vocação de se fazer simplesmente irmão demanda uma profunda e verdadeira integração humana. Somente quem está
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verdadeiramente integrado, poderá acolher e viver sua vocação, dom de Deus, sem precisar desprezar os demais e viver feliz. Essa reflexão, agora, está condensada e aprofundada em uma bela publicação que chega até você”, explica Ir. Maria Inês em carta a todos religiosos e religiosas. “Plenamente humano, simplesmente irmão” (198p. CRB; 2021) trata-se de um livro sobre os Religiosos Irmãos. Reflete o tema nas perspectivas bíblica, espiritual, psicológica, ética, formativa, profissional etc. Ele representa um reconhecimento pelo testemunho dado pelos Irmãos, bem como o resultado de um contínuo esforço em pensar sobre sua identidade. Sua abordagem é pertinente para a Vida Religiosa Consagrada e para a Igreja em geral. Desde os primórdios da Ordem Franciscana, Francisco de Assis orientava seus irmãos a viverem modestamente, sem nada de próprio, em castidade e obediência, como define a Regra e Vida dos Frades
Menores. Ou seja, menores como leigos ou presbíteros. Todos que desejassem fazer parte do projeto fraterno de Francisco de Assis deviam ser chamados de “irmãos” ou “frei”. Não se faz predileção dos irmãos por aquilo que eles exercem ou pelos ministérios que recebem, todos devem ser tratados igualmente. A obra foi organizada com o apoio da CRB Nacional e do GT (Grupo de Trabalho) de Religiosos Irmãos, que são: Frei Edimar Moreira, O.Carm, e Frei Vanildo Zugno, OFMCap, é composta por textos de nomes competentes em suas áreas: Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, MAD; Irmã Annette Havenne, ISM; Frei Rivaldave Torquato, O.Carm; Irmão Paulo Dullius, FSC; Irmão Epifânio Lima, SJ; Irmão Jorge de Paula, SJ; Frei Vanildo Zugno, OFMCap; Frei Oton da Silva, OFM; Irmão Edgar Nicodem, FSC; Irmão João Gutemberg, FMS; Ir. Lucas Lopes; Irmão Otalívio Sarturi, FMS; Irmão Rubens Mota, OFMCap; Frei Edimar Moreira, O.Carm; Irmão Cláudio Dierings, FSC; e Frei Alexandre Ferreira, O.Carm. Plenamente humano, simplesmente irmão” poderá ser adquirido na sede da CRB Nacional, por R$ 30,00 reais, ou pelos Correios, por R$ 35,00 reais. Quando escolhida a segunda forma, o material será enviado mediante o recebimento do endereço para onde será enviado o livro, bem como do CNPJ para emissão de recibo e do comprovante de pagamento do mesmo para os e-mails secretaria@crbnacional.org.br ou secretaria2@crbnacional.org.br. O pagamento poderá ser realizado com um depósito identificado, transferência bancária ou Pix: Banco do Brasil Ag: 0452-9 C/C: 306934-6 Conferência dos Religiosos do Brasil PIX: CNPJ: 33460940/0001-12.
CAPÍTULO PROVINCIAL
CAPÍTULO PROVINCIAL 2021
Primeira reunião da Comissão Preparatória
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os dias 25 e 26 de fevereiro, a Comissão Preparatória de nosso Capítulo Provincial 2021, após ter sido convocada pelo Ministro Provincial, Frei César Külkamp, reuniu-se pela primeira vez na Sede Provincial para continuar o processo de preparação para esta celebração da fraternidade provincial. Na verdade, os primeiros passos de preparação já haviam sido dados pelo Governo Provincial em sua última reunião de Definitório, onde chegaram à proposta do tema e lema do Capítulo, a saber: “Fraternidade contemplativa em missão: nossa regra é o Evangelho, nosso claustro é o mundo” e “Juntos se constroem os sonhos” (FT 8), respectivamente. Também já haviam sido coletados elementos das últimas reflexões propostas pela Igreja, pela Ordem e pela Província, que vêm nos animando nesta temática: o último CPO de Nairóbi, o encontro formativo conduzido pelo Frei Estêvão Ottenbreit e a carta encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco. A Comissão Preparatória também tomou conhecimento dos encaminhamentos dados pela Fraternidade Provincial no último triênio, respondendo às demandas decididas no último Capítulo Provincial (2018), entre elas a entrega de 10 presenças; o avanço do processo de assumir a responsabilidade do Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá – SP; o desenvolvimento de diretrizes para a proteção dos menores e vulneráveis como um esforço de toda a Província em manter nossas presenças como espaços seguros a todos; a formação da comissão interdisciplinar que atue junte a casos específicos de confrades, entre outros.
Também foram eleitos o presidente e secretário da Comissão Preparatória, com indicação do Definitório Provincial: Frei Antônio Michels, presidente; e Frei Rodrigo da Silva Santos, secretário. Após esta grande introdução à temática capitular, o presidente da comissão assumiu a pauta da reunião e trouxe à discussão o processo de avaliação do Plano de Evangelização 2016-2021, uma das responsabilidades deste Capítulo. Pensou-se em, além das fraternidades e secretariados refletirem sobre este documento que busca ser guia e espelho de nossa vida e missão, que cada confrade individualmente pudesse ter a oportunidade de se posicionar e, quem sabe, lançar luz sobre os próximos passos da Fraternidade Provincial. A partir desta ideia, nasceu a Carta da Comissão Preparatória que já foi enviada a todos confrades que recordou os trabalhos já solicitados às fraternidades locais, acrescentando esta proposta de consulta individual. Esperamos somar um rico material de contribuições que nos ajudem a
fazer uma reflexão à altura dos anseios de nossos irmãos. Sobre a revisão dos Estatutos Particulares e Peculiares dos Secretariados, bem como das Diretrizes da Economia, foi determinada a responsabilidade da avaliação e possíveis sugestões de alteração aos frades dos Secretariados e Economato, bem como a alguns frades peritos. A Formação Permanente que ganha espaço no Capítulo na forma de assessoria e retiro, nomes foram sugeridos e alguns contatos já foram feitos. A Comissão Preparatória tem agendado seu próximo encontro para o dia 14 de abril e conta com as preces e benevolência nas contribuições de todos os confrades para que esta fase de preparação do Capítulo Provincial siga da melhor forma possível, sob a intercessão de nosso Seráfico Pai, São Francisco de Assis, e as generosas bênçãos do Altíssimo. Frei Rodrigo da Silva Santos SECRETÁRIO DA COMISSÃO PREPARATÓRIA
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Coleta Pró-Terra Santa: o apelo do cardeal Sandri para ajudar os cristãos do Oriente Médio O convite à solidariedade a todos as Igrejas do mundo por ocasião da iminente Coleta Pró Terra Santa foi feito pelo cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais. Com as graves dificuldades econômicas vividas pelas comunidades cristãs locais por causa da pandemia, “se diminuir este pequeno gesto de solidariedade e de partilha será ainda mais difícil para tantos cristãos daquelas terras de resistir à tentação de deixar o próprio país”. Excelência Reverendíssima Cada Semana Santa, tornamo-nos idealmente peregrinos de Jerusalém e contemplamos o mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo Morto e Ressuscitado. O Apóstolo Paulo, que fez uma experiência viva e pessoal deste mistério na Carta aos Gálatas chega a dizer. «O Filho de Deus me amou e se entregou por mim» (Gal 2,20). O quanto vivenciou o Apóstolo é também fundamento de um novo modelo de fraternidade que deriva da obra de reconciliação e de pacificação operada pelo Crucificado entre as gentes, como São Paulo escreve na carta aos Efésios. No curso de 2020, o Papa Francisco quis recordar-nos as consequências deste dom de reconciliação e fê-lo através da encíclica “Todos Irmãos”. Com este texto, o Papa, a partir do testemunho profético proposto por São Francisco de Assis, nos quer ajudar a ler à luz do princípio de fraternidade todas as nossas relações e os
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âmbitos da nossa vida: religiosos, económicos, ecológicos, políticos, de comunicação. O fundamento do nosso ser todos irmãos e irmãs, é precisamente no Calvário, o lugar no qual, através da máxima doação de amor, o Senhor Jesus interrompeu a espiral de inimizade, destruiu o circulo vicioso do ódio e abriu para cada homem e cada mulher o caminho da reconciliação com o Pai, entre cada pessoa, com a própria realidade da criação. As estradas desertas em torno do Santo Sepulcro e da Jerusalém Velha tiveram eco na Praça de São Pedro deserta e banhada pela chuva, atravessada pelo Santo Padre Francisco a 27 de março de 2020, a caminho do Crucifixo: diante disto o mundo inteiro se colocou de joelhos, suplicando o fim da pandemia e fazendo sentir todos como irmanados pelo mesmo mistério de dor. Foi, portanto, um ano de prova e assim também para a Cidade Santa de Jerusa-
lém, pela Terra Santa e para a pequena comunidade cristã que habita no Médio Oriente que quer ser luz, sal e fermento do Evangelho. Em 2020 os cristãos daquelas terras sofreram um isolamento que os fez sentir ainda mais distantes, separados do contato vital com os irmãos provenientes de vários países do mundo. Sofreram a perda do trabalho, devida à ausência de peregrinos, e a consequente dificuldade de viver dignamente e prover às próprias famílias e aos próprios filhos. Em muitos países o persistir da guerra e das sanções agravaram os efeitos da pandemia. Além disso diminuiu a ajuda econômica que a colecta pro Terra Santa, garantia cada ano, por causa das dificuldades de a fazer em muitos países em 2020. O Papa Francisco ofereceu a todos os cristãos a figura do Bom Samaritano como modelo de caridade ativa, de amor empreendedor e solidário. Nos estimulou também a refletir sobre diversos comporta-
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mentos das personagens da parábola para superar a indiferença de quem vê o irmão ou a irmã em dificuldade e passa adiante: «Com quem te identificas? Esta pergunta é dura, direta e decisiva. A qual deles te assemelhas? Devemos reconhecer a tentação que nos circunda de nos desinteressarmos pelos outros, especialmente pelos mais débeis. Digamo-lo, crescemos em tantos aspectos, mas somos analfabetos no acompanhar, cuidar e apoiar os mais frágeis e débeis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a voltar o olhar, a passar ao lado, a ignorar as situações enquanto não nos tocam a nós diretamente» (Todos Irmãos, 64). A coleta pro-Terra Santa 2021 seja para todos a ocasião para não voltar o olhar, para não passar adiante, para não ignorar as situações de necessidade e de dificuldade dos nossos irmãos e das nossas irmãs, que vivem nos Lugares Santos. Se diminuir este pequeno gesto de solidariedade e de partilha (São Paulo
e São Francisco o chamariam de “restituição”) será ainda mais difícil para tantos cristãos daquelas terras de resistir à tentação de deixar o próprio país, será difícil manter as paróquias na sua missão pastoral, e continuar a obra educativa através das escolas cristãs e o empenho social a favor dos pobres e dos que sofrem. Os sofrimentos de tantos deslocados e refugiados que tiveram que deixar as suas casas por causa da guerra necessitam de uma mão estendida e amiga para deitar sobre as suas feridas o bálsamo da consolação. Não se pode, enfim, renunciar do cuidar os Lugares Santos que são o testemunho concreto do mistério da Encarnação do Filho de Deus e da oferta da sua vida feita por nosso amor e para a nossa salvação. Em tal difícil cenário, marcado pela ausência de peregrinos, sinto o dever de fazer minhas ainda uma vez mais as palavras que o Apóstolo das gentes dirigia aos Coríntios há dois mil anos, convidando-os à solidariedade que não se baseia em motivações filantrópicas, mas cristológicas: «Conheceis de fato a graça do Senhor Nosso Jesus Cristo: sendo rico se fez pobre por vós afim de vos enriquecer por meio da sua pobreza» (2, Cor.8,9). E depois de ter recordado o princípio da igualdade, da solidariedade e da troca de bens materiais
e espirituais, o Apóstolo acrescenta palavras eloquentes hoje como então, e que não necessitam de qualquer comentário: «Tende presente isto: quem semeia pouco, recolherá pouco e quem semeia com abundância, recolherá com abundância. Cada qual dê segundo o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. De resto, Deus tem o poder de cumular-vos com toda a espécie de benefícios, para que tendo sempre e em todas as coisas o necessário, possais cumprir generosamente toda a espécie de boas obras» (2. Cor. 9,6-8). A Vós, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, e aos fiéis, que se empenham para o bom êxito da Coleta, em fidelidade a uma obra que a Igreja pede a todos os seus filhos que se cumpra segundo as modalidades conhecidas, tenho a alegria de transmitir o vivo reconhecimento do Santo Padre Francisco. E invocando abundantes graças divinas sobre esta Diocese, lhe mando uma fraterna saudação no Senhor Jesus. Leonardo Card. Sandri PREFEITO
Giorgio Demetrio Gallaro ARCEBISPO SECRETARIO
JESUS, JOSÉ, MARIA O silêncio de José que a Bíblia quis, Traduz justiça à Mãe de Cristo Jesus, Calou-se o justo, Deus em sonho lhe diz: “Pode aceitar Maria; ela é a Mãe da Luz!” São José, pela Bíblia passou calado, Praças, ruas, avenidas têm seu nome, Nesse mundo inteiro, hoje: - José louvado, Devotos lhe dão velas que se consomem...
Jesus, José, Maria é um Trio Admirado, Modelo de uma Família e de um Lar Sagrado, Que a Santa Igreja prega há séculos e séculos! Março é um mês abençoado para nós, Da Igreja e do Céu ouvimos Santa Voz: Todos sigam esse Modelo de Família! Frei Walter Hugo de Almeida
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Província lança série de podcasts sobre a Campanha da Fraternidade 2021
E
m espírito de colaboração e comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), a Província, através de sua Frente de Evangelização da Comunicação, lançou uma série de seis entrevistas em podcast sobre a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 (CFE 2021), que aborda a temática do diálogo. A produção deste material em áudio é uma prática da Província desde o ano de 2013 e tem sempre como objetivo incen-
tivar a reflexão e o aprofundamento das temáticas propostas em cada Campanha. Para o Secretário de Evangelização da Província, Frei Gustavo Medella, a provocação da CF 2021 toca de cheio a missão dos franciscanos e franciscanas que, a exemplo de São Francisco de Assis, devem ser promotores e praticantes ativos do diálogo. “A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa consagrada na Igreja Católica do Brasil. Neste ano temos mais uma edição ecumênica, provocando-nos ao diálogo aberto e transparente com nossos irmãos
de outras denominações cristãs e com toda a sociedade. O testemunho evangélico passa necessariamente por esta abertura caridosa e atenta ao outro em busca de construirmos a unidade na diversidade”, recorda. Os episódios poderão ser baixados e ouvidos individualmente, em grupos e em qualquer outra modalidade, podendo também ser levados ao ar em emissoras de rádio ou outras plataformas de comunicação. Para produção foram ouvidos especialistas de diferentes setores da Igreja e da sociedade.
TEMAS E ENTREVISTADOS: EPISÓDIO 01 – A Pastoral da Comunicação como promotora do diálogo na Igreja do Brasil Marcus Tulio Oliveira Neto – Coordenador Nacional da Pascom. https://open.spotify.com/episode/7wJ2r6gJL3TozOlEUtwBq5
EPISÓDIO 04 – A Comunicação não Violenta e a construção do diálogo Lucilia Dias Furtado – Pedagoga e analista do Marista Centro-Norte. https://open.spotify.com/episode/4EyEiJm5Hu4MlZjVg1Rl2Y
EPISÓDIO 02 – A Comunicação que sente e faz sentir Moisés Sbardelotto – Jornalista, tradutor e consultor em comunicação. Tem doutorado na área e vários livros escritos sobre o tema. https://open.spotify.com/episode/5WDdv0CJHSVm6908wgDhd3
EPISÓDIO 05 – O Ecumenismo como dimensão inerente da fé cristã José Moacyr Cadenassi – Frade capuchinho, compositor e também trabalha com a temática do Ecumenismo e do Diálogo Interreligioso. https://open.spotify.com/episode/6PwMYAU0Y3kXlgZCil5cyl
EPISÓDIO 03 – Diálogo: como criar esta cultura desde os primeiros anos da infância Ester Cecília Fernandes Baptistella – Doutora em Psicologia, professora da Universidade São Francisco (USF). https://open.spotify.com/episode/3dqRkzuSOhsp0Z5FwozndH
EPISÓDIO 06 – A Coleta da Solidariedade e o Fundo Nacional de Solidariedade Franklin Ribeiro Queiroz – Responsável pelo Departamento Social da CNBB https://open.spotify.com/episode/1PR9TGlPWIEq1gPOC5vXjA
162 | COMUNICAÇÕES | MARÇO | 2021
Agenda 2021
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
AS ALTERAÇÕES E ACRÉSCIMOS ESTÃO DESTACADOS EM VERMELHO.
ABRIL
11
Celebração de Posse do Santuário Frei Galvão Guaratinguetá (SP)
MAIO
05
01
JUNHO
27-28
Reunião do Definitório Provincial
OUTUBRO
Encontro Ampliado on-line de Leigos e Frades da Frente da Educação.
26 a 29
14 a 16
27 e 28
JULHO
Reunião do Definitório Provincial Reunião dos Guardiães e Coordenadores de Fraternidades (Agudos)
03 a 18
28
30
Reunião dos Guardiães e Coordenadores de Fraternidades (Virtual)
SETEMBRO
Capítulo Geral da Ordem (Roma, Itália) Encontro on-line dos Frades da Frente da Educação.
Encontro Ampliado on-line de Leigos e Frades da Frente da Educação. Reunião do Definitório Provincial
07 a 10
Congresso de Evangelização da CMPByCS (Casa Sagrada Família – São Paulo)
NOVEMBRO
03 a 11
Capítulo Provincial em Agudos
A Arquidiocese de Aparecida e a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil convidam para a Celebração Eucarística de Posse dos Franciscanos no Santuário Arquidiocesano de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, tendo como reitor Frei Diego Atalino de Melo, OFM, e colaborador Frei Roberto Ishara, OFM.
Dia 11 de abril de 2021, às 18h, no Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá - SP Transmissão pela TV Aparecida e web TV Frei Galvão
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL
“UM DIA FEITO PARA NOS LEMBRAR QUE TODOS OS DIAS SÃO DIAS PARA AMAR”
C
ada Mulher é expressão da infusão de vida e amor que brota do originante amor do Criador. Num ventre de total receptividade para que a vida venha à luz, nossa vida se faz existência, colo, história e marcas definitivas do feminino feito mãe. Como uma lua que deixa passar a luz, a Mulher sempre desaparece para deixar transparecer a força de um grande amor. Mulher, namorada, noiva, amiga, esposa e companheira é amável em tudo o que é e faz. Cada mulher permite o amor ser amado, transforma o amor numa declaração incontestável de cuidado; não um amor de carência, mas de capacitação e complementação. É o amor que temos que ver e sentir falta
quando não podemos ter; um amor que é espelho e reflexo do que o mundo tem de mais sensível. Não existe ternura e afeto desconectado de uma Mulher. A vida das coisas é percebida pelos olhos, mãos, coração e presença da Mulher. Cada Mulher traz as marcas mais lindas do Criador com sua presença luminosa e vivificante, com seu jeito de percepção e gratidão. Nela, o Amor vem ser pessoa humana e cria em nós o jeito de ser filho e filha, amante e amados. A Mulher uniu a si toda a humanidade, por isso tudo o que toca com amor humano com jeito divino: transforma. Oferece seu útero para a mais completa hospitalidade na arte de fecundar a vida.
Cada ano estamos aqui, nesta data, no Dia Internacional da Mulher para reafirmar em nós certezas explícitas ou escondidas; para trazer a memória e para a celebração da constante recordação de que o amor nunca termina. Parabéns, Mulher! Parabéns por todo amor que nos motiva a ser o que temos que ser, e fazer o que temos que fazer. Parabéns pelo Dia da Mulher, um dia feito para nos lembrar que todos os dias são dias para amar.
Mensagem para o Dia Internacional da Mulher Frei Vitorio Mazzuco OFM PASTORAL UNIVERSITÁRIA