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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

• AGOSTO de 2018 • ANO LXVI • No 08

ENFJ 2018


MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL

“Clara de Assis: Santificação em cada pequeno gesto de amor”............................... 499

FORMAÇÃO PERMANENTE

“A urgência da consolidação do binômio comunidade-carismas/ ministérios para a emergência de sujeitos eclesiais”, de Frei João Reinert.......... 502

FORMAÇÃO E ESTUDOS

ITF: Grupo de Formação Litúrgica ...................................................................................................... 505 Frei José Raimundo de Souza será ordenado presbítero em Bauru ....................... 506 ITF: Conheça os teólogos da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda .............. 509 Rondinha: Falece mãe de Frei Bruno ............................................................................................... 509

FRATERNIDADES

Festa de São Pedro Apostolo, Padroeiro de Pato Pranco ................................................. 510 Seminário em Xaxim sobre nova Lei de Migração ............................................................... 514 “Esses homens que chamamos de pais”, artigo de Frei Almir Guimarães........... 516 “Frei Constantino Koser: Meditar, escrevendo”, texto de Frei Luiz Iakovacz....... 518 D. Paulo é homenageado com exposição em São Paulo ............................................... 520 Série Nossos Frades: Frei Abel Schneider...................................................................................... 524 A grande festa de São Pedro Apóstolo em Gaspar .............................................................. 526 Petrópolis: Aventura no Morro do Açu .......................................................................................... 532 Regional: “Arquibancada franciscana“.............................................................................................. 534 Reunião fraterna do Regional do Vale do Itajaí ....................................................................... 535 Paróquia São Paulo Apóstolo comemora 120 anos com festa ................................... 536

EVANGELIZAÇÃO

Pastoral da Comunicação reúne 500 pessoas em 6º encontro em Aparecida ............................................................................................................ 537 Evangelização: Missa com crianças .................................................................................................. 538 ESPECIAL CPO: Voltar ao “primeiro amor”...................................................................................... 540 Frei Alvaci visita missão no Sudão do Sul ..................................................................................... 546 Sefras inaugura nova espaço de acolhimento para imigrantes ................................ 548 Fundação Frei Rogério homenageada em Curitibanos ................................................... 550 Folhinha celebra 80 anos em 2019 ................................................................................................... 552

CFMB

ENFJ: Jovem evangeliza jovem ............................................................................................................ 554

OFS

Entrevista: “O desafio hoje é não desistir de disputar o futuro”, diz Moema Miranda ............................................................................................................... 565

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Encontro lembra 10 anos da morte de Frei Harada ............................................................ 569 Quatro lançamentos imperdíveis ...................................................................................................... 573

AGENDA ....................................................................................................................................................... 576 Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | São Paulo - SP | www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br


Mensagem

CLARA DE ASSIS

SANTIFICAÇÃO EM CADA PEQUENO GESTO DE AMOR Caríssimos irmãos e irmãs, que o Senhor vos dê a Paz e todo o Bem!

A

carta mensal desta edição das Comunicações se dirige aos confrades e a todas as pessoas que conosco comungam do carisma de São Francisco e Santa Clara de Assis. E muito particularmente a dedico às nossas Irmãs Clarissas que, no próximo dia 11 de agosto, celebram jubilosamente a

“admirável clareza da bem-aventurada Clara”, a mulher “dotada de tantos modos pelos títulos da claridade” e aquela que foi “clarificada no alto pela plenitude da luz divina” (BC 3). O Papa Alexandre IV, ao expedir a Bula de Canonização (BC) de Santa Clara, além dos vários títulos que a ela atribui, sublinha que esta Dama Pobre é para a Igreja e para o mundo “um claro espelho de exemplo”, representado nestes quatro símbolos com raízes bíblicas: luz que se irradia, planta que estende sua ramagem no campo

da Igreja, veio límpido do Vale de Espoleto e candelabro de santidade em cuja luz muitos desejam acender suas lâmpadas (cf. BC 1-9). Assim, a “admirável clareza da bem-aventurada Clara, que quanto mais diligentemente é buscada em pontos particulares, mais esplendidamente é encontrada em tudo” (BC 3). Quando lemos ou estudamos as Fontes Clarianas, nos deparamos com uma mulher que, no seu contexto medieval, encontrou na “generosidade do Pai de toda a Misericórdia” um novo Comunicações Agosto de 2018

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Mensagem caminho vocacional e uma nova proposta de santidade pessoal. Clara, desde a sua tenra idade, alimentou algo novo, diferente daquilo que estava predeterminado às mulheres nobres do seu tempo. Ela, sem medo, caminhou na contramão das propostas matrimoniais da época e não permitiu ser instrumentalizada pelos interesses e sonhos de riqueza do seu tio Monaldo. Por isso, em seu Testamento, Clara afirma que percorreu esse novo caminho com reconhecimento e gratidão, ciente de que se tratava de uma inspiração divina, testemunhada pela “escola” de Francisco de Assis e seus primeiros Companheiros. Clara tem consciência da importância de Francisco no seu discernimento vocacional. Ele foi decisivo para que ela pudesse abrir seu coração e maturasse no seu íntimo a nova forma de vida segundo o Santo Evangelho. E assim ela, decidida e corajosa, acolheu seu caminho de santidade, cujo princípio está no enamoramento do Filho de Deus, o “esposo da mais nobre estirpe” (1CtIn 7), até culminar na celebração dos esponsais místicos. Ela atesta: “O Filho de Deus fez-se para nós o Caminho, que o nosso bem-aventurado pai Francisco, que o amou e seguiu de verdade, nos mostrou e ensinou por palavra e exemplo” (Test.5). Caminho este que deve ser percorrido “sem desfalecer” e com “tamanho desejo do coração e tanto amor” (cf. 4CtIn 29- 32), permitindo que o Esposo a “envolva com gemas primaveris e coriscantes e dê uma coroa de ouro marcada com o sinal de santidade” (1CtIn 11). No Testamento que deixa às Damas Pobres do Mosteiro de São Damião, Clara exorta suas co-Irmãs a observarem tudo o que foi mandado por Deus e por Francisco, ciente da missão contemplativa que elas desempenham na Igreja e no mundo, sendo acima de tudo “modelo, exemplo e espelho” a todas as pessoas a fim de conquistar “o prêmio da bem-aventurança eterna” (cf. TestC 18-13). O itinerário de santificação no seguimento de Cristo, que qualifica o ser “modelo, exemplo e espelho para os outros”, se dá na contemplação da face de Jesus: “Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente, vestida e cingida de variedades, ornada também com as flores e roupas das virtudes todas, ó filha e esposa caríssima do sumo Rei” (4CtIn 15-18). Este ritual diário do enamoramento, típico da alma feminina, perpassa toda a vida contemplativa enquanto direcionamento ao mistério mais profundo do amor de Deus. Para isso, Clara se serve da oração e da contemplação, da escuta e leitura da Palavra de Deus, da intensa vida sacramental (Eucaristia e Penitência), da importância do silêncio, da partilha fraterna e do amor recíproco. A vida de santidade, animada e vivida por Clara de Assis e companheiras, nos recordam as atuais

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Comunicações Agosto de 2018


Mensagem palavras do Papa Francisco expressas na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate: “Santidade é feita de abertura habitual à transcendência” (GE 147). Mas também, na mesma Exortação Apostólica, o Papa afirma que a “santificação é um caminho comunitário” (nº 141), com um claro projeto fraterno capaz de transformar a comunidade num “espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado” (nº 142). Uma vida comunitária atenta aos valores “de tantos pequenos detalhes diários” (nº 143), da forma “como Jesus ensinava os discípulos a prestarem atenção aos detalhes” (nº144). Dar atenção aos pequenos detalhes do cotidiano não significa dispersão na busca do essencial, antes, detalhes são sacramentais que ajudam a “não perder de vista o ponto de partida” e fortalecem os cristãos a percorrer “com cuidado pelo caminho da bem-aventurança” (cf. 2CtIn 11-4). Clara de Assis, particularmente diante da “globalização da indiferença” do nosso tempo, provoca a humanidade a uma revisão de vida para criar uma nova sensibilidade a partir do coração. Com ternura e firmeza ela se volta para cada pessoa e diz: Preste atenção... Olhe dentro... Não perca de vista... Veja como por você... Olhe para o céu... Ame com todo o coração... Ore e vigie... Contemple apaixonadamente... Espelhe nele o seu rosto... Fale a língua do espírito, etc. A sensibilidade dessa nobre mulher se faz atenta aos pequenos detalhes da vida comunitária. Ela sabe que o itinerário de santificação da comunidade se dá no cultivo do valor de cada pequeno gesto de amor. Com toda razão, a Bula de Canonização de Santa Clara valoriza a santidade a partir dos detalhes do cotidiano na clausura de São Damião. Por isso, o claro exemplo daquela que se espelhou nas virtudes da Pobreza, Humildade e Caridade de Cristo, fez

com que o brilho do espelho se irradiasse para além da clausura. Assim, Clara é luz que brilha, é planta que estende seus ramos, é fonte que corre e é candelabro que ilumina e acende outras lâmpadas. A grandeza dos “pequenos detalhes” na vida de Santa Clara, tão fundamentais no caminho da santidade, recebem destaque no testemunho das Irmãs convocadas a depor no seu Processo de Canonização. As irmãs e outras pessoas que a conheceram, valorizaram o significado desses “pequenos detalhes”. A partir de uma rápida leitura do Processo de Canonização, faço questão de destacar algumas poucas e significativas expressões do cotidiano do “espaço teologal” de São Damião:

Amava muito os pobres; foi tão amante da pobreza; Passava tantas noites em oração; fazia abstinências; sóbria no alimentar-se; Exortava e confortava as irmãs; tinha compaixão pelas aflitas; Gostava muito de ouvir a Palavra de Deus; a Palavra de Deus estava sempre em sua boca; Ao sair da oração as Irmãs se alegravam; suas palavras exalavam uma doçura inenarrável; fez o sinal da cruz sobre as irmãs; Quando pedia algo, fazia-o com muito respeito e humildade; Trabalhava e confeccionava com as próprias mãos; acendia as lâmpadas da igreja; Lavava e beijava os pés das Irmãs; derramava água em suas mãos; Lavava com suas mãos as cadeiras sanitárias das Irmãs enfermas; Era muito misericordiosa para com as Irmãs; amava as Irmãs como a si mesma; Era humilde, benigna e amável para com as Irmãs; tinha compaixão pelas doentes; Confessava-se muitas vezes e com devoção recebia o santo sacramento do Corpo do Senhor; Quando estava doente, não deixou suas orações costumeiras; jamais queria estar ociosa, mesmo na doença; Partilha e multiplica o pão; traça o sinal da cruz sobre o pão e os doentes; Esforçava-se em formar as Irmãs no amor de Deus; diante de dificuldades todas as Irmãs recorriam sempre ao auxílio da oração; “Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo” (GE 33). E a santidade de Clara continua fecunda e nos estimula nos nossos dias. Ela, que “trazia do fogo do altar do Senhor palavras ardentes que acendiam também os corações das Irmãs” (LSC 20), reacenda em nossos corações a chama da nossa vocação à santidade, uma vez que “a santidade é o rosto mais belo da Igreja” (GE 9). “O Senhor esteja sempre com vocês e oxalá estejam vocês sempre com ele. Amém”. Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM Ministro Provincial Comunicações Agosto de 2018

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Formação Permanente

A urgência da consolidação do binômio comunidade-carismas/ministérios para a emergência de sujeitos eclesiais

A

Igreja nascente estava estruturada, sociológica e teologicamente a partir daquilo que Yves Congar, seguido por Bruno Forte, irá mais tarde classificar com o binômio comunidade-carismas/ ministérios. Ainda nos primeiros séculos do cristianismo essa estrutura eclesiológica deu lugar, progressivamente, a outra, distanciando-se, assim, do espírito que

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Comunicações Agosto de 2018

animava as comunidades primitivas. Trata-se do binômio, também elaborado por Congar, clero-leigo. O Concílio Vaticano II se coloca no caminho da volta às fontes da vida cristã. Nesta perspectiva, muito significativo é o esquema da constituição dogmática Lumen Gentium, em que o capítulo sobre o Povo de Deus antecede o dos leigos e o da hierarquia, evidenciando, dessa forma, que antes de quais-

quer vocações, ministérios, serviços, consagrações, todos somos Povo de Deus, sujeitos e protagonistas eclesiais. Não obstante tamanha inovação do último Concílio, consolidar o paradigma comunidades-carismas/ministérios é missão ainda não concluída, que requer um longo caminho de conversão eclesiológica, estrutural e, sobretudo, mental. A primeira observação a ser fei-


Formação Permanente ta em relação aos dois paradigmas em questão é que não está em discussão o uso ou não uso dessas terminologias, embora a linguagem nunca seja neutra. Não se trata de abolir os termos clero e leigo, o que seria combater as consequências e não as causas das desigualdades eclesiais. O problema é, antes, de pressuposto e não de vocabulário, de mentalidade e não de linguagem. Os dois paradigmas apontam para duas eclesiologias distintas, com perspectivas opostas, com olhares diferentes, em muitos aspectos inconciliáveis entre si. Os enfoques são distintos, o lugar a partir de onde se vê a Igreja, de onde se vê o padre, o religioso, o leigo e onde esses se veem, também são distintos nesses dois paradigmas. O Concílio Vaticano II foi feliz ao pensar os fiéis não a partir da oposição ou daquilo que distingue, mas a partir do que é comum à totalidade do povo de Deus, ou seja, o batismo, o sacerdócio comum, situação bastante diferente daquela desenhada a partir do século III em que as duas classes, clero e leigo, até então inexistentes, foram entendidas a partir da negação e subordinação, ou seja, o leigo é o não clero. Enquanto que o binômio clero-leigo, síntese da eclesiologia de toda a cristandade, parte do que distingue o binômio comunidade-carismas/ ministérios tem como ponto de partida o que é comum a todos, portanto, a igual dignidade de cada fiel, de onde emerge a valorização das diferenças. Importante é perceber as consequências eclesiológicas e pastorais desses dois paradigmas que acompanham a organização eclesial, o ser e o fazer da Igreja ao longo de sua história. Discutir esses dois modelos de ser Igreja é premente. Apontar os obstáculos de um e as

potencialidade de outro é fundamental para uma Igreja toda ela edificada por sujeitos/protagonistas eclesiais. São duas eclesiologias, dois modos de ser Igreja, presentes nas opções pastorais, nos relacionamentos eclesiais, no exercício da autoridade, no administrar, no coordenar, na compreensão de obediência eclesial, no jeito de ser frade, no modo de viver a vocação cristã e franciscana. Enfim, estão presentes, ou um ou outro paradigma, no pensar e no agir da evangelização. O paradigma clero-leigo concebe as relações eclesiais a partir da distinção, e não da igualdade, conforme anteriormente já mencionado, e nessa distinção sobressai o sujeito-clero. Em última instância, é ele que age ‘in persona Christi’, é visto como ‘alter Christus’, tem o poder sacramental. Ordenado pela imposição das mãos para o serviço, não poucos se servem dessa prerrogativa para sustentar o poder, e o que é pior, o poder arbitrário, fortalecendo um perfil de Igreja imperial. Trata-se, portanto, de um paradigma, de um jeito de conceber a Igreja, que reforça a passividade do leigo, que não raro se entende como mero receptor da ação sacramental do clero. Esse modo de compreender o leigo e o padre, e de se autocompreenderem, influenciou a qualidade das comunidades cristãs desde tempos remotos, gerando relações de desiguais. Nessa estrutura mental, os leigos são incapazes de ensinar, de gerir, de discernir, de conduzir os assuntos eclesiais. O paradigma pré-conciliar é dualista, pois à medida que distingue por demais clero-leigo, dificultando uma visão comunitária orgânica, se dá margem ao dualismo sagrado-profano, céu-terra, temporal-espiritual. Clero são os ministros sagrados, vida religiosa é

o estado de perfeição evangélica. E os leigos, qual seria sua real identidade teologal? Não seriam cristãos de segunda categoria, nessa supervalorização da vida monacal, religiosa e sacerdotal? Conceber o laicato a partir da eclesiologia clero-leigo significa entrar pelos caminhos da delegação, e não da co-responsabilidade, da permissão, não da complementaridade, da suplência, não de parceria, da deliberação, não da colegialidade. O processo de construção de sujeitos/protagonistas eclesiais tem passagem obrigatória no avanço das instâncias de planejamento, participação, comunhão e decisão da vida e missão da Igreja. Antes de ser uma estratégia em vista da eficácia pastoral ou administrativa, as instâncias participativas são expressões de uma igreja sinodal, que caminha junto, evangeliza junto, reflete junto e, por que não, que decide junto? Tornam-se cada vez mais insustentáveis diante da atual cultura sedenta de democracia e participação, as decisões da paróquia ou da diocese dependerem de uma só ou de poucas pessoas, que pretensiosamente julgam possuir todas as habilidades ou informações necessárias para tomar as decisões. Não se pode subestimar o fato de outras pessoas verem com mais clareza certos desafios e ‘soluções’ por estarem mais próximas dos problemas reais. Enquanto a eclesiologia clero-leigo gera comunidade de desiguais, comunidade hierarcológica, isto é, valorização incisiva na hierarquia (Congar), o paradigma comunidade-carismas/ministérios é o espaço teologal que cria as condições para o protagonismo de todos, para o surgimento de novos carismas, novos ministérios, novas espiritualidades, novos atores e suComunicações Agosto de 2018

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Formação Permanente jeitos. Subjaz, portanto, no paradigma das origens da fé cristã outra compreensão de ministros e ministérios, sejam ordenados ou não. Do ministério ordenado emerge uma visão mais comunional, chamado a ser ‘ministério de síntese e não síntese dos ministérios’. O centro não é a hierarquia ou os ministros, mas a comunidade toda ministerial. Comunidade é o sujeito eclesial coletivo; é comunidade de dons, carismas, ministérios e serviços. Quando se consegue pensar o sacerdócio ministerial a partir da pluriministerialidade não haverá maiores dificuldades para o laicato sentir-se igualmente protagonista da missão. Por outro lado, enquanto se pensarem os ministérios laicais a partir do clero, não se superará a submissão eclesial ainda reinante. Como exemplo dessa problemática, citemos os assim chamados ministérios de suplência (extraordinários): não há dúvida de que eles são estruturados a partir da estrutura paradigmática clero-leigo. Trata-se de uma relação eclesiológica mais de substituição do que de co-responsabilidade. Na cabeça de muitos cristãos, os diversos serviços da Igreja situam-se no horizonte da ajuda ao padre que humanamente é incapaz de fazer tudo. A fundamentação da ministerialidade não pode ser a ausência/escassez do clero, mas o Espírito Santo que suscita pessoas e dons a serviço do Reino. Outro perigo de conceber os ministérios, dons, carismas e serviços a partir da expressão sacerdotal-sacramentalista é a clericalização desses mesmos ministérios e carismas. Somente a consolidação do paradigma comunidade-ministérioscarismas será capaz de acolher e promover novas concretizações ministeriais, de acordo com a rea-

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Comunicações Agosto de 2018

lidade cultural e como resposta às necessidades locais e contemporâneas. Esse paradigma remete à coragem de pensar em novas formas de atuação dos batizados, sem medo de distinguir o que é cultural e o que é teológico, como, por exemplo, a questão do celibato, a presença da mulher nas decisões da igreja, o diaconato feminino. Esses exemplos mostram que a Igreja do primeiro milênio não teve dificuldades de se organizar de acordo com as necessidades do tempo, quando ainda não estava presa ao paradigma clero-leigo. O clericalismo, portanto, se converte em pecado eclesial estrutural à medida que, não somente centraliza a ação eclesial nas mãos de uma casta, sobretudo porque impede as manifestações do Espírito que sopra onde e como quer. Enquanto que na eclesiologia clero-leigo sobressai a hierarquia, gerando no grande corpo eclesial passividade e expectadores, na eclesiologia comunidade-carismas/ ministérios sobressai aquilo que de melhor cada um tem a serviço da comunidade e do Reino. A história do cristianismo testemunha o prejuízo comunitário diante da clericalização em que a Igreja entrou, sobretudo a partir do segundo milênio. Com a clericalização veio a perda da centralidade da comunidade. Importa perceber que esse binômio não está introjetado apenas na mente de um considerável grupo de padres e bispos. Faz-se presente na vida religiosa, nas novas comunidades, nos vocacionados, nos leigos. São muitas e fortes as expressões do neoclericalismo. Na vida religiosa, a qualidade da vida fraterna está em estreita relação com desclericalização. Aí está também a fidelidade ao carisma franciscano. Não é difícil per-

ceber que a eclesiologia e a vida franciscana fundamentam-se no paradigma comunidade-carismas/ ministérios, ou então fraternidade-irmãos/menores. Fraternidade é, para Francisco, uma das marcas essenciais dos irmãos. Que os irmãos vivam em fraternidade é seu desejo. A palavra irmão aparece 242 vezes em seus escritos. Ele não quis fundar uma Ordem, mas uma fraternidade de irmãos menores. O paradigma comunidade-carisma/ ministérios da igreja primitiva, e resgatada pelo Vaticano II, e o paradigma de Francisco fraternidade -irmaos/menores são dois lados de uma mesma eclesiologia, de uma mesma forma de vida cristã, o que significa que os franciscanos de todos os tempos e lugares têm muito a oferecer para a superação da eclesiologia clero-leigo. Enfim, repensar o paradigma clero-leigo não significa mudar a nomeclatura, mas superar alguns obstáculos para a construção de novos canais de relacionamentos eclesiais, centrados na pluriministerialidade e na colegialidade, sem as quais não haverá uma Igreja de sujeitos/protagonistas. A partir desse processo de ressignificação das relações, dos enfoques e dos pressupostos eclesiológicos os termos leigo e clero terão outra entonação e renovada identidade. O leigo não será o não padre, mas homens e mulheres de fé, cientes de sua missão e de seu protagonismo na Igreja e na sociedade. Frei João Reinert

É mestre e doutor em Teologia pela PUC-Rio. Natural de Gaspar (SC), é pároco na paróquia Santa Clara de Assis, em Duque de Caxias (RJ); faz parte do corpo docente do Instituto Teológico Franciscano (Petrópolis) e é autor de “Pode hoje a paróquia ser uma comunidade eclesial? Repensando a paróquia em diálogo com a religiosidade pós-moderna” (Vozes) e “Paróquia e iniciação cristã” e “Inspiração catecumenal e conversão pastoral” (Paulus).


Formação e Estudos ITF

Grupo de formação litúrgica

N

o último sábado do mês de junho, dia 30, das 15 às 18 horas, ocorreu o primeiro Encontro de Formação Litúrgica, iniciativa da Paróquia Santa Clara em parceria com o ITF, coordenado por Frei Ademir José Peixer e equipe. Esteve presente um total de 41 participantes oriundos das Paróquias Santa Clara, Nossa Senhora Aparecida e Santo Antônio. O Encontro teve início pontualmente às 15h com as palavras de acolhimento do Pároco, Frei Elói Dionísio Piva. Em seguida, com a oração do laicato, proposta pela CNBB, e um refrão meditativo cantado, Frei Ademir convidou os participantes a invocarem de Deus as bênçãos para o bom êxito do encontro. Frei José Ariovaldo, dando continuidade, apresentou o tema: “Liturgia, o que é?”. Partindo do sentido original da palavra liturgia, que na língua grega tem a ver com “prestação de serviço”, serviço geralmente comunitário, Frei Ariovaldo apresentou Jesus Cristo, que no Pai e no Espírito Santo

é o grande “liturgo” da humanidade, através da sua Obra de Redenção. Portanto, a pedido d’Ele continuamos na história, através da celebração litúrgica, sua grande “Obra Litúrgica”. O canto, disse Frei Ariovaldo, não é um enfeite, ou algo para preencher um espaço vazio na celebração. A música é também liturgia no mistério da grande Liturgia do Senhor. Ao final de sua palestra, Frei Ariovaldo convidou

os presentes a lerem seu texto intitulado: “Liturgia nos escritos do Apóstolo Paulo”.

Agenda para os próximos encontros: 25 de agosto de 2018 29 de setembro de 2018 27 de outubro de 2018 24 de novembro de 2018 22 de dezembro de 2018

CURSO DE MÚSICA SACRA A partir de 1º de agosto deste ano, o ITF lança diversos cursos de extensão e entre eles estão os de Música Sacra. Este núcleo de disciplinas litúrgico-musicais tem como objetivo: oferecer formação interdisciplinar através de um perfil prático, teórico e histórico, promovendo o conhecimento e a difusão do patrimônio tradicional da música sacra e favorecendo expressões artísticas adequadas às culturas atuais. Espera-se capacitar líderes e animadores de modo que a Música possa exercer seu papel primordial na Liturgia, que é a “glória de Deus e a santificação dos fiéis” (SC 112).

Disciplinas oferecidas: Teoria Musical I, Solfejo I e II, Prática de Canto Gregoriano I e II, Flauta-doce Soprano I, Flauta-doce Contralto I, Piano, Harmonia, Contraponto e Coro “Escola de Cantores”.

Inscrição e requisitos

Período das inscrições: de 23 de julho a 6 de agosto de 2018. Requisitos acadêmicos: a partir do Ensino Médio. Requisitos musicais: não são necessários requisitos musicais para ingressar como iniciante em qualquer disciplina

do curso. Porém, o/a estudante que quiser cursar uma disciplina de nível II, deverá ter cursado a de nível I. Disciplinas individuais: devem ser combinadas previamente com o professor para se verificar o nível musical do/a estudante e estabelecer o nível e o caminho formativo adequado dentro da disciplina desejada. Coro “Escola de Cantores”: o/a estudante que deseja participar do coro deve ter cursado a disciplina de Canto Gregoriano I, ou estar matriculado na mesma, além de superar um teste de admissão a Comunicações Agosto de 2018 combinar com o professor. 505


Formação e Estudos ORDENAÇÃO PRESBITERAL

FREI JOSÉ RAIMUNDO DE SOUZA

“Deus nos convoca ao serviço transformador do mundo”

F

rei José Raimundo de Souza será ordenado presbítero por Dom Caetano Ferrari, bispo emérito da Diocese de Bauru, no dia 25 de agosto, às 19 horas, na Paróquia Santo Antônio, no Jardim Bela Vista, em Bauru. No dia seguinte, domingo, às 9h30, celebra a sua Primeira Missa na Paróquia Santa Clara de Assis, na Vila Industrial II. A sua família hoje reside em Bauru, mas Frei José nasceu em Mariluz (PR), no dia 21 de junho de 1973. É o segundo filho dos quatro de Francisca Maria de Souza e Raimundo Francisco de Souza. Aos cinco anos de idade mudou-se com seus familiares para Bauru (SP), onde conheceu os Frades Franciscanos desta Província. Frei José foi seminarista no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP) em 1985. Esteve por um período no Aspirantado em Imbariê, Duque de Caxias (RJ), em 2002. Por fim, ingressou no Aspirantado de Ituporanga (SC) em 2007, e no Postulantado de Guaratinguetá (SP) em 2008. Ingressou no Noviciado de Rodeio (SC) no ano seguinte, onde fez sua primeira profissão aos 3 de janeiro de 2010. De 2010 a 2012 cursou Filosofia em Curitiba, morando em Rondinha, Campo Largo (PR). Chegou à Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), em 2013 para o tempo da Teologia, onde residiu até 2014. Foi transferido para Imbariê, morando nesta casa nos anos de 2015 e 2016. Ao final de 2016 concluiu o curso de Teologia e foi transferido

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Comunicações Agosto de 2018

para Colatina (ES), onde reside atualmente. Frei José fez a Profissão Solene aos 24 de setembro de 2017 e foi ordenado diácono no dia 3 de fevereiro deste ano. Conheça nesta entrevista um pouco mais o futuro presbítero. Comunicações - Como se deu o seu discernimento vocacional?

Frei José Raimundo - Entendo, a partir da minha história, que discernir a vontade de Deus não é algo simples. Tenho na memória que, quando ainda criança, já falava sobre o desejo de ser padre. Acontece que minha história vocacional é marcada, a partir dos 12 anos de idade, por entradas e saídas do seminário.


Formação e Estudos Apesar disso, poder ser considerado, inconstância ou insegurança proveniente de incertezas e medos, sempre vivi numa inquietação, às vezes mais e em outros períodos menos intensa, sentindo-me atraído para a vida religiosa. Hoje tenho convicção de que o fato de nunca ter desistido definitivamente, de manter esse desejo em mim, tratava-se de um chamado divino. Portanto, o discernimento vocacional foi acontecendo com o passar dos anos, nessas idas e vindas, de modo que as coisas foram, aos poucos, ficando claras. Comunicações - Quando resolveu ser frade franciscano? Frei José Raimundo - Quando entrei pela primeira vez no seminário de Agudos (SP), aos 12 anos, não tinha clareza do ser frade, pois meu desejo era ser padre. Entretanto, o período no seminário e, sobretudo, a convivência com os frades das paróquias Santo Antônio e Santa Clara, em Bauru, possibilitou-me a aproximação da história de Francisco de Assis e do ideal franciscano. Sem desmerecer o valor da presença de outros confrades na minha história vocacional, quero lembrar com gratidão o Frei Ladí, que me encaminhou, pela primeira vez, para o seminário. Lembro, também, o Frei Dito, um amigo que, pacientemente, acompanhou por longos anos meu processo, minhas angústias, muitas vezes dizendo absolutamente nada sobre vocação, mas, ao mesmo tempo, dizendo tudo sobre ser frade franciscano com sua presença simples e fraterna. Desse modo, pude conhecer melhor a radicalidade evangélica de Francisco e a espiritualidade franciscana, o que me encantou. Se no princípio ir para o seminário franciscano foi circunstancial, isto é, por morar e pertencer a uma paróquia franciscana, depois tornou-se uma convicção.

Comunicações - Depois de tantos anos de estudos, você está prestes a ser ordenado presbítero. Fale-nos como está essa expectativa. Frei José Raimundo - A sensação que tenho é que vivemos sempre esperando por algo. Vivemos em estado de expectação. Assim foi todo o itinerário formativo, esperando e buscando a próxima etapa, a primeira profissão e a profissão solene. Depois, esperando a finalização dos estudos acadêmicos, e em razão da opção clerical, a espera pela ordenação. Não há como negar que chegar a esse momento iminente da ordenação presbiteral é, como a profissão solene, uma grande realização, a conquista do desejo pessoal que, sendo, quem sabe, resposta a uma eleição divina e do povo de Deus, seja, também, a conquista do desejo de Deus. Entretanto, vale uma consideração no sentido de não tornar esse momento um fim último da realização pessoal, pois se assim o fosse, o depois se tornaria vazio. A vida é marcada por grandes momentos, sendo a profissão solene e a ordenação presbiteral dois desses momentos, os quais me colocam num estado de vida. Em outras palavras, a ordenação é importante, marcante, mas exige que a vida após esse acontecimento seja um prolongamento daquilo que fora celebrado. As ótimas expectativas que tenho para ser ordenado estão acompanhadas das expectativas por exercer o ministério servindo ao povo de Deus, serviço esse caracterizado pelo jeito de ser de Francisco e de Clara de Assis. Serviço alegre, generoso, desprendido e, ao mesmo tempo, exigente, mas que com a graça de Deus será possível, apesar das fragilidades das quais não estou livre. Comunicações - O que é o presbítero para você? Frei José Raimundo - Em pou-

cas palavras poderia dizer que o presbítero, por obra do Espírito que o unge, é um ministro configurado a Cristo. Também aqui me recordo de São Francisco estigmatizado, semelhante a Cristo até no sofrimento, bem como aquilo que se diz a seu respeito de ser um outro Cristo. Francisco, Clara, os frades e todos os cristãos são chamados a configurar-se a Cristo. Entretanto, o presbítero, no exercício de seu ministério, configurado a Cristo, procede como Jesus, agindo com misericórdia, com o olhar compassivo, prolongando no tempo os mesmos gestos e sentimentos do Mestre e Senhor, zeloso no trato com as pessoas. Estou certo de que Deus mesmo confia ao presbítero pessoas e, qual pastor, ele deve interessar-se por elas, guiando-as e ajudando-as a superarem os obstáculos, os dramas que as afligem. No presbítero, através do presbítero, é Jesus mesmo quem age na vida das pessoas, nas famílias, nas comunidades de fé e na sociedade. Comunicações - Que desafios você espera como presbítero? Frei José Raimundo - Certamente surgirão muitos desafios, alguns previsíveis, outros inesperados. Tenho bem presente dois que, talvez, sejam os maiores. O primeiro é manter a lucidez, a fidelidade e a radicalidade evangélicas, imerso neste mundo hodierno tão plural e, muitas vezes, sedutor. É imprescindível a auto-observação, a fim de perceber-me equivocado ou na iminência de equivocar-me. Outro grande desafio é manter o olhar atento na direção do outro que, possivelmente, me será confiado no exercício do ministério ordenado. Tendo em grande consideração a pessoa, com sua humanidade, preocupo-me em ter a dizer a coisa certa para quem Comunicações Agosto de 2018

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Formação e Estudos vier em busca de ajuda, considerando que, para muitas pessoas, aquele momento pode ser decisivo. É uma responsabilidade muito grande! Há muita gente empobrecida, cuja humanidade precisa ser resgatada. Nesse sentido, mantenho presente os lemas de profissão e ordenação que escolhi. A referência primeira é Jesus, conforme me inspiram as palavras de Francisco escolhidas para a profissão solene: “Guardemos, portanto, as palavras, a vida, a doutrina, e o Santo Evangelho daquele que se dignou rogar a Deus por nós ao Pai” (RnB XXII,41). Tendo Jesus como forma de vida, não se pode agir de modo diferente, a não ser como “Servo de todos” (1Cor 9,19), lema da ordenação diaconal. Por fim, o serviço concreto realizado em favor dos necessitados, daqueles que têm fome, pessoas a quem foi negado ou tirado algo que lhes é imprescindível. Por isso, como presbítero-discípulo de Jesus, permaneço com boa disposição e de ouvidos atentos ao que Ele diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13).

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Comunicações - Você será presbítero no Pontificado do Papa Francisco. Como vê esse momento e o da Igreja? Frei José Raimundo - Em muitos ambientes ouve-se falar muito bem da pessoa do Papa. Algumas atitudes dele que vêm a público e o que ele diz e escreve encantam muita gente. Mas o que há de encantador e atraente no Papa? O que há de extraordinário no que ele diz? Em minha modesta opinião, o que atrai e o extraordinário que vem da parte dele são justamente suas atitudes e as palavras evangélicas, originadas em Jesus, o homem do encontro, da acolhida, que percorreu os caminhos se empoeirando, se enlameando, encontrando pessoas e levantando-as de situações desumanas. Jesus é o amoroso misericordioso. Novamente aqui recordo-me de Francisco de Assis quando, na regra, escreve sobre observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é a forma de vida dos frades, mas não só, é a forma de vida de todo cristão. Tudo

o que fizermos nesse sentido está na dinâmica do seguimento fiel de Jesus. Em nosso tempo há desafios, velhos e novos, e é nesse contexto que a Igreja deve atuar evangelicamente, fazendo, de forma misericordiosa, “o óbvio”, no exercício da missão que lhe foi confiada pelo próprio Jesus. Comunicações - Deixe uma mensagem vocacional para terminar. Frei José Raimundo - A todos e de modo especial aos jovens, lembro que aí está nossa vocação. Deus nos convoca ao serviço transformador do mundo, à construção do Reino, e, por consequência, à santidade. Várias são as formas de vida em que é possível responder a esse chamado. Quem sabe você, jovem, encantado pelo Evangelho, não possa responder ao chamado de Deus como frade franciscano. Encantado pelo Evangelho, encante-se pelo genuíno e evangélico carisma franciscano. Entrevista a Moacir Beggo


Formação e Estudos

itf: OS TEÓLOGOS DA DIOCESE DE BARRA DO PIRAÍ-VOLTA REDONDA

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Instituto Teológico Franciscano acolheu estudantes provenientes da Diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda. Neste ano, são quatro estudantes: no primeiro ano, Daniel, natural de Barra do Piraí (RJ); Iago, natural de Resende (RJ) e Weslem, natural de Porto Real (RJ); e no segundo ano, Mayron José, também natural de Resende (RJ). “Sentimonos muito bem acolhidos no ITF. A presença da espiritualidade franciscana se nota muito em todos os ambientes, desde a harmonia do espaço, no cuidado com a natureza, na acolhida fraterna, enfim…”, dizem. Nos finais de semana, cada um acompanha uma das paróquias da Diocese, mudando de paróquia a cada dois anos, a fim de conhecer todas as realidades. Nesse chamado “estágio pastoral”, além de acompanharem os padres nas celebrações e encontros, procuram dar sua contribuição nas diversas pastorais e movimentos, de acordo com a realidade de cada paróquia.

Além disso, alguns ainda acompanham pastorais em nível diocesano, como a Pastoral Vocacional e a Comissão Missionária Diocesana.

rondinha

FALECE MÃE DE FREI BRUNO Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé (2Tm. 4, 7-8).

Vaneide de Araújo Santos (08/ 08/1963), mãe de Frei Bruno Araújo dos Santos, estudante de Filosofia em Rondinha, PR, faleceu no dia 17 de junho, em consequência de um câncer de pulmão. Dona Vaneide, esposa de Deneval Possidônio, mãe de 8 filhos, mulher guerreira e trabalhadora, foi fiel e orante até o último suspiro. Deixa, certamente, um legado de amor e carinho a todos aqueles a quem cativou. Segue um breve histórico do processo e luta contra o câncer, narrado por Cícera de Araújo, filha de Vaneide e irmã de Frei Bruno: “No dia 22 de novembro de 2017, minha mãe foi diagnosticada com câncer avançado de pulmão. Batalhamos dia e noite incansavelmente, fizemos

de tudo, usamos a medicina, os meios naturais, bem como a fé por meio da oração que sempre fez parte de nossa família. Aguardávamos, esperançosos, a cura dela, porque sabemos que Deus, certamente, concede aos seus a graça de uma boa recuperação para quem pede com fé, e não foram poucos os pedidos. Enfim, começamos o tratamento com os procedimentos de quimioterapia. Mas não foi o suficiente. Não obteve-se o resultado esperado. O câncer estava muito avançado e espalhou-se pelo o corpo (metástase). Sempre incentivamos seu tratamento e demos força para continuar vivendo, para permanecer firme, mesmo com as recaídas. Sabíamos de seus sofrimentos e nos sentíamos incapazes, nos sentíamos como que fracos sem saber o que fazer diante da enfermidade. Lutamos do início ao fim com muito amor e carinho. Fizemos tudo para ela se sentir

confortável. Nunca reclamava de nada, só dizia estar bem mesmo sentindo dores e desconforto. E com muito pesar partilho que no dia 17 de junho minha mãe descansou, dormiu feito anjo. Sem, contudo, nunca perder a fé nos pedia para rezar por ela e com ela. Dessa forma pedimos orações por sua alma para que seja recebida nos braços de Deus.” Meus agradecimentos a todos aqueles que rezaram por ela, aos que firmemente se fizeram presentes nesta fase tão difícil por meio de suas preces e orações”. Comunicações Agosto de 2018

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Fraternidades

SÃO PEDRO APÓSTOLO - 29 DE JUNHo

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Fraternidades

“Ninguém fica deitado na barca; ela é símbolo do serviço”

BRANCO

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dia de sol garantiu um cenário belíssimo para a Festa da Solenidade de São Pedro Apóstolo em Pato Branco (PR), na sexta-feira (29/06). A solene Celebração Eucarística das 9h30 envolveu todas as comunidades e pastorais. Todos juntos louvaram e agradeceram a Deus pelos 70 anos da Paróquia e pelo bom êxito da 88ª Festa do Padroeiro. A presidência da celebração ficou a cargo do pároco Frei Olivo Marrafon. Frades que atendem a região de Mangueirinha e Chopinzinho também marcaram presença, bem como o Pe. Mário Algacir Venturin da Paróquia Cristo Rei, além de todos os frades da Fraternidade anfitriã do evento. A Santa Missa foi transmitida pela Rádio Celinauta e TV Sudoeste, ambas da Rede Celinauta de Comunicação. Representantes das comunidades, movimentos, pastorais e serviços trouxeram na procissão de entrada um barco representando cada setor da Paróquia. No altar, ao lado do presbitério montado especialmente para a celebração, os barquinhos foram colocados e formaram um bonito cenário. No Ato Penitencial, Frei Olivo convidou a comunidade a contemplar o belo painel da Igreja, que fica atrás do altar, obra do artista Lorenz Johannes Heilmair, e nele perceber que a figura de Pedro é representada como um homem humilde e disposto. “Olhando para este painel nós queremos com Pedro reconhecer nossas fraquezas e

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Fraternidades

pedir o perdão que se mostra pelo serviço do lava-pés, ilustrado no centro, que purifica e redime nossas fraquezas”, convidou o celebrante no início da celebração.

NÃO SEJAMOS CRISTÃOS MORNOS

Coube a Frei Neuri Reinisch fazer a homilia. O frade enfatizou que Pedro foi um homem extraordinário. Quando interpelado por Jesus sobre o seu amor, foi pronto e disponível em afirmar que o Senhor sabia de tudo, inclusive que ele O amava. Segundo o frade, nas leituras do dia, Pedro aparece fazendo milagres e exaltando a graça de um Deus que opera milagres nas pessoas. Por isso, acontece a manifestação da fé, do Reino de Deus. No Evangelho, Jesus pede uma prova de fé e amor a Pedro. Se ele O negou três vezes, outras três vezes também ele manifestou o quanto O ama. “Em Pedro nós temos uma das fi-

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guras mais emblemáticas da história bíblica. De um lado vemos um homem pescador, que ao ser chamado por Jesus largou tudo para O seguir. Não pensa duas vezes, vai de imediato. Ele não vai sozinho; seu irmão foi com ele. Quanto foi perguntado sobre o que diziam os homens ser o Filho do Homem, Pedro rapidamente respondeu que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo. Ele é rápido para responder. Quando Jesus fala do tempo da provação que o Filho do Homem iria sofrer e ser crucificado, Pedro pede para que Deus não permita que isso aconteça, e Jesus diz: ‘Afastese daqui satanás’. Na mesma prova ele é capaz de tirar um zero e um dez ao mesmo tempo”, explicou o frade. Frei Neuri fez um paralelo com o número três, presente na vida de São Pedro. Pedro negou por três vezes que conheceu Jesus. Por outro lado, por três vezes admitiu que ama Jesus. “Isso tudo para dizer que ele também sentiu dúvidas, mesmo sendo uma pessoa de fé, sentiu dúvidas”, refletiu o frade.

Para Frei Neuri, o ser humano se parece muito com a figura de São Pedro. “Nós nos parecemos muito com esse homem tão emblemático, controvertido. Ora ele é capaz das maiores manifestações de amor, ora das maiores manifestações de ira, de raiva”, explicou o frade, para quem com as pessoas de fé não é diferente. “Ora pessoas com fé, outro momento pessoas incrédulas, ou que diante das dificuldades fogem. Ora somos fiéis, ora infiéis. Mas o que podemos aprender com tudo isso? Primeiramente, todos nós temos certeza que somos chamados por Deus. Se estamos aqui é porque Deus tem uma missão para nós. Somos queridos, somos amados por Deus. Que nossa resposta também seja imediata em dizer sim a Deus! Quando somos chamados, que saibamos responder sim à vida, à comunidade, à Igreja. Olhemos para a nossa realidade,. Quantas pessoas deixaram literalmente suas casas para dedicar-se ao serviço do Reino?! E não


Fraternidades Que a Igreja é a barca e Simão Pedro, o seu primeiro chefe, onde se encontra Jesus, aquele que devemos seguir”. Em seguida, um grupo de crianças, portando uma Bíblia em suas mãos e uma rede, entraram pelo corredor central, e apresentaram uma bonita encenação. Em cima de um barco, já na frente do altar, um menino apareceu com uma enorme chave, representando São Pedro como chave da Igreja. “Quem anda na barca não pode ficar indiferente. Quem está na barca precisa colaborar também. Ninguém fica deitado na barca; ela é símbolo do serviço”, destacou o pároco Frei Olivo.

AGRADECIMENTOS

é apenas por tradição, não! É por amor, gosto, vontade! Só consegue fazer isso quem tem fé e acredita neste projeto”, emendou. Frei Neuri acredita que São Pedro ensina as pessoa que se dizem cristãs a não serem mornas ou ficarem em cima do muro. Enfatizou que todos correm o risco de errar, mas que tentar acertar vale a pena. “O que não podemos é ficarmos mornos e deixarmo-nos levar pelas marés da vida. Como cristãos que somos, sal da terra e luz do mundo, é preciso sermos decididos! Podemos errar, sim, como vamos errar, mas quem nunca tentou já começou errado”, observou o frade. No final fez uma pergunta para a assembleia: Qual é a diferença de São Pedro e São Judas? Segundo ele, quando Pedro nega Jesus por três vezes e depois é capaz de dizer que ama Jesus por três vezes, é porque ele acreditou no perdão de Deus. Por outro lado, Judas pelo seu orgulho, desesperou-se e não acreditou no perdão de Deus. “Está é a

diferença: acreditar na misericórdia de um Deus que é bom”, revelou. “Portanto, enquanto cristãos, sejamos decididos na vida, nos nossos trabalhos. Precisamos carregar em nossa vida a cruz da vitória pelo nosso testemunho. É preciso saber cuidar das coisas que são do mestre, do Reino, da Igreja que é de Cristo. Que Deus nos ajude a conduzir a comunidade à instância do além!”, finalizou.

AQUELE QUE DEVEMOS SEGUIR

Nos agradecimentos, a catequizanda Maria Fernanda, em nome de toda a pastoral da catequese, leu a seguinte mensagem: “Existe uma história na Bíblia muito interessante. Está em Marcos capítulo 4. Nesta história, o mar representa a vida de um modo geral, o barco, a nossa vida pessoal; os discípulos somos nós e Jesus é o convidado especial. Por outro lado, como na evangelização eclesial, a barca é colocada simbolicamente representando a Igreja. Podemos complementar dizendo:

No final da celebração, Frei Olivo também agradeceu às comunidades que participaram e animaram os dias da Novena em preparação à festa. “Já com saudades destes dias em que convivemos, recebam nosso abraço fraterno”, leu o comentarista. “Rendemos graças ao Pai por todos os que assumiram com amor, alegria e responsabilidade a missão de ser discípulos missionários e, assim como Pedro, assumiram a palavra que gera a vida ao longo destes 70 anos de existência da Paróquia São Pedro”, agradeceu o pároco e rezou um Pai-nosso por todos que se encontravam trabalhando no Salão Paroquial. O dia da Festa de São Pedro continuou com os festejos no salão. Os participantes puderam aproveitar uma deliciosa “churrascada”, além de doces e quitutes em geral. À tarde, os jogos do bingo animaram o evento.

Mais de 35 mil massas de pastéis neste ano

Desde o início da festa, uma grande equipe de voluntários não mede esforços e se dedica totalmente aos serviços em prol da festa do Padroeiro. A pastoral da catequese é responsável pelo setor da confecção e venda dos doces. A Comunicações Agosto de 2018

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Fraternidades coordenadora Moire B. Silva conta que os catequizandos ajudam nos trabalhos de arrecadação das doações para a fabricação dos bolos. Segundo ela, são as catequistas que assumem a responsabilidade de fazer os doces e os bolos para a comercialização. Há 20 anos este trabalho é realizado pela pastoral da catequese. “Começamos num grupo bem pequeno. Primeiramente, nós apenas vendíamos o produto nos dias da festa, pois uma senhora fazia em casa. Alguns anos depois, assumimos também o trabalho de fazer os doces. Nós produzimos bolo recheado, morango no espeto, cocada de maracujá e de coco, pé de moleque, amendoim ‘cri, cri’, doce de abóbora, canjica, arroz doce, cuscuz de tapioca, sagu com creme e puro, chocolate quente, enfim, tudo é produzido por nós, catequistas”, enfatizou a coordenadora, destacando que este ano apresentaram também a novidade do famoso “bolo no pote”, o culpado pelo grande sucesso do setor de doces. Moire acredita que um dos desafios hoje é encontrar pessoas que sejam comprometidas para assumir os trabalhos. “Muitas vezes nos sobrecarregamos para dar conta dos trabalhos, pois não encontramos pessoas para nos ajudar”, confessou. Para ela, as expectativas para o dia do Padroeiro são as melhores possíveis. “É o dia que a gente mais espera”, disse ela, alegre e empolgada. Segundo o pároco Frei Olivo Marrafon, o carro-chefe da Festa de São Pedro são os pastéis. São produzidos mais de 30 mil unidades e é um dos setores que conta com um grande número de voluntários, pois a ‘fila do pastel’, como dizem os patobranquenses, nunca tem fim. A coordenadora do setor, Carmem Bortolon, menciona que a preparação das massas é feita com um mês de antecedência. “Este ano confeccionamos 35 mil massas de pastéis que exigiu de nós uma preparação grande.

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Contamos com os sabores de carne, pizza, queijo, banana, prestígio e chocolate, todos eles têm uma saída muito boa”, ressaltou. Carmem acredita que o maior desafio do setor é fazer um trabalho que venha carregado de amor e carinho. “A expectativa para o dia do Padroeiro é muito grande, todos nós acreditamos que vamos vender todos os pastéis que produzimos”, aposta a coordenadora, convidando: “Venham saborear os nossos pastéis!”.

O casal Paulo e Olanda trabalha voluntariamente há mais de 27 anos no setor da cozinha. A organização depende sempre do calendário que o Conselho Paroquial realiza. Assim, de acordo com a necessidade de cada ano, com a ajuda de uma grande equipe de voluntários, o casal coordena e distribui os trabalhos. “Sem os voluntários, a festa não aconteceria”, destacam eles. Acreditam também que nestes últimos anos a venda e a comercialização dos produtos têm tido um grande aumento. Outra novidade é a produção do quentão sem álcool, uma norma que a Diocese de Francisco Beltrão instaurou em todo o território da Diocese. Paulo e Olanda acrescentam que para o dia do Padroeiro as expectativas são as melhores. “Estamos cansados, mas mesmo assim já bate uma saudade de fazer tudo de novo. É gratificante, graças a Deus!”, enfatizam eles. Todo dia a festa tem “churrascada”, jogo do bingo e festejos em geral. Frei Augusto Luiz Gabriel


Fraternidades

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Seminário em Xaxim sobre nova Lei de Migração

inda imbuídos do espírito da 33ª Semana do Migrante, a Pastoral do Migrante da Paróquia São Luiz Gonzaga de Xaxim-SC realizou, na noite de 4 de julho, no salão paroquial da Igreja Matriz, um Seminário sobre a nova Lei Nacional de Migração, evento esse que reuniu 350 pessoas de Xaxim, Chapecó, Xanxerê e Concórdia. O evento contou com a presença da Profª. Dra. Deisemara Turatti

Langoski, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA); Dr. Alcione Virgil, da Sede da Polícia Federal de Chapecó; Dr. Diego Barbiero, Promotor de Justiça da Comarca de Xaxim, além de Frei Alex Sandro Ciarnoski – pároco da Paróquia São Luiz Gonzaga. Posso afirmar que o evento foi um sucesso, não apenas pelo número de pessoas participantes, mas acima de tudo por demonstrar que, diante da realidade migratória atual, é fundamental estreitar pontes de diálogo,

no intuito de desenvolver políticas públicas e ações que possam gerar “acolhimento - proteção - integração e promoção” do ser humano presente em cada migrante no mundo de hoje. Do íntimo do meu coração pulsam palavras de gratidão, ternura e agradecimento a cada um/a dos presentes, de modo singular aos palestrantes da noite. Valnei Brunetto Pastoral do Migrante

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Fraternidades

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ESSES HOMENS QUE CHAMAMOS DE

PAIS

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eus pais foram envelhecendo, foram se fragilizando, foram precisando mais de mim. E como não precisava tanto deles, ocupado com meu trabalho e minhas relações, tornei-me ausente. Um ausente egoísta que empurrava os problemas para os irmãos e não pretendia se incomodar com a velhice e a saúde de meus guardiões (Cuide dos pais antes que seja tarde, Carpinejar, Bertrand Brasil, p.7) Quando chega o mês de agosto há um convite a que reflitamos sobre a figura do pai, esse homem ao qual nossa mãe nos apresentou logo após nosso nascimento. Viemos do seio dela, mas ela e ele “maquinaram” nossa chegada. E por detrás de tudo e antes de tudo o Pai que cria os

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espaços, colore as pétalas das flores e ensina os ares a fabricar a neve colocou viço e vida no amor da mãe e do pai. Viemos do Pai belo dos céus. No amor do pai e da mãe lá estávamos nós... Quem dera que sempre assim fosse. Duas vocações: ser pai e ser mãe, duas trilhas que caminham inseparavelmente juntas. Sim, não se pode falar de pai e paternidade, de mãe e maternidade separadamente. Paternidade e maternidade constituem tesouros da humanidade, que vão se transmitindo de geração em geração não somente porque cada um nasce de um pai e de uma mãe, mas porque devido aos laços que se criam são comunicadas maneiras de viver, de ser, atitudes e virtudes. Paternidade e maternidade constituem vocações.

ma palavra esclarecedora: “A U mãe que ampara o filho com sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma autoestima que favorece a capacidade de intimidade e empatia. Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e a lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que por sua vez combine com a esposa, com o carinho e o acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos. Há funções e tarefas flexíveis que se adaptam às circunstâncias concretas de


Fraternidades cada família, mas a presença clara e bem definida das duas figuras, feminina e masculina, cria o âmbito mais adequado para o amadurecimento das crianças” (Papa Francisco, A alegria do amor, § 175). Pai, homem companheiro da esposa: A palavra companheiro é bela. Duas pessoas que comem junto o pão de todos os dias cum panis... Mulher e homem se encontram, se estudam, percorrem parte do caminho um ao lado do outro e entre os dois brota a certeza de que podem se dar as mãos, fazer um pacto de bem querer, fazendo a experiência de êxodo e se unindo para viver a ventura do amor conjugal. Tudo está sempre para ser feito. Mas juntos. Amantes e amigos. Os pais são bons quando são amigos das mães. Uma das maiores e mais fundas alegria dos filhos é sentirem ternura, carinho entre o pai e a mãe e um respeito amoroso nos momentos normais de divergência. O sucesso de ser pai e de ser mãe depende em boa parte do sucesso conjugal de um homem e de uma mulher. O filho é sempre um superávit de amor e não um acidente de percurso. O pai, além de provedor, é presença: Os tempos mudaram. O pai não é apenas um provedor, mas uma presença forte e indispensável no seio da família e junto aos filhos. Não adianta somente colocar dinheiro na “firma” que é a casa. Precisa manifestar alegria de ser marido, de ser pai, de ser pessoa feliz. Presença na vida escolar dos filhos, nos eventos familiares mais amplos, no sucesso e nos desafios que a mulher e os filhos vivem. Aliás, hoje muitas mulheres é que sustentam finan-

ceiramente a casa... Pai presente na vida do filho mesmo quando houve a separação. Pai que não pode se ausentar da vida do filho que veio dele e uma mulher que escolheu para mãe de seus filhos. Pai amigo e confidente: Pais que se colocam perto dos filhos, próximos deles. Pais que conversam com os filhos e filhas meio à maneira de colegas e confidentes. Entendamo-nos bem: não um “coleguinha” dos filhos, sempre pai, sempre uma autoridade, mas uma autoridade que sabe ser terna e firme. Pai, sombra carinhosa se faz presente de modo particular quando os filhos descobrem a bela virulência de sua sexualidade. Pais que podem ser, na medida do possível e no respeito ao mistério de cada um, amigos dos filhos. Pais que auscultam as ânsias mais profundas do filhos: Pai e mãe saberão entrar para uma “Escola de Pais”, aprender a arte de educar. A escola e a universidade podem ajudar os filhos a se situarem diante do mundo. Pais e mães, no entanto, não passam para outros suas intransferíveis responsabilidades de educadores. A história de cada filho pode ser uma obra de arte. Depende, em parte, da qualidade humana de um pai e de uma mãe. O pai não quer que os filhos sejam carbonos ou copias suas. Na volta do trabalho e em todos os momentos e sempre auscultando as ânsias verdadeiramente profundas dos filhos. Sobretudo não deixá-los crescer numa banalidade e superficialidade de vida. Pais vigilantes: Pais vigilantes, mas também esposos vigilantes. Que seu casamento não seja uma monótona rotina. Que ele sinta que sua mulher continua

crescendo como mulher. Vigiar para que o amor conjugal não fique estagnado na mesmice das planuras. Vigiar para que na família e entre os filhos vigorem valores: ajuda de todos, atenção para com os mais frágeis, cuidado dos avós velhos e doentes, bondade que seja dom de vida e não apenas um “gestinho bonitinho”. Os pais terão sempre as antenas ligadas... Pais de seus filhos e dos filhos que a mulher trouxe: Os homens são pais de seus filhos biológicos e dos filhos de uma companheira que veio de outro casamento. Os tempos mudaram. Homens de valor e de garra são pais dos filhos que outros homens geraram e colocaram no mundo. Pai cuja vida seja janela para descobrir a Deus: Nada de imposição. O pai mostra aos filhos que anda buscando a Deus, que tem sede do Absoluto, pai que não seja intransigente homem dogmático, mero cumpridor de ritos religiosos. Os filhos sentirão nos pais criaturas normais com falhas, mas se curvam diante de um sacrário e escutam com avidez a Palavra. Pai e mãe saberão criar em casa um clima de verdade, de vivência das bem -aventuranças. Os filhos haverão de ficar orgulhosos do pai que é reto, simples no falar, não se vestindo do ouro do dinheiro e do prestígio. Ainda um texto de Carpinejar: “Há filhos que abortam seus pais dentro do coração, e os enterram precocemente, antes mesmo do velório. Abandonam os pais no asilo. Largam os pais para a temeridade violenta da solidão” (Cuide dos pais... Carpinejar, op. cit. 7). Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM Comunicações Agosto de 2018

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Fraternidades

Frei Constantino Koser

Meditar, Escrevendo

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o centenário do nascimento de Frei Constantino Koser (09/05/1918 – 09/05/2018), as Comunicações o homenagearam com 14 páginas (365 - 379). Os cinco articulistas, com muita propriedade, mostraram a grandeza deste confrade, tanto pelas suas capacidades como pelo testemunho de vida. Destas, extraí três destaques, seguindose três considerações pessoais. No início, é destacado o senso pastoral que ele tinha. Bem antes do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), “uma senhora idosa pediu-lhe se poderia participar das aulas de Teologia junto com os frades”. Para o status quo da época, isso era impensável. Mas gravou-lhe as aulas. Talvez essa experiência o tenha animado a criar as Semanas Teológicas e o Curso de Iniciação Teológica (CIT), com o objetivo de os leigos e, principalmente, as Congregações femininas, estudarem Teologia. A semente plantada produziu bons frutos que, depois do Concílio, “proliferaram em todo o Brasil” (p. 370). Poderíamos dizer que Frei Koser foi um desbravador pastoralístico. Outro destaque é a sua paixão pelos estudos. Com apenas 25 anos, lecionava Dogmática, Sagrada Escritura, Homilética e Catequese no Instituto Teológico de Petrópolis. Os confrades o enaltecerem como “professor e amigo”. (p. 367). Durante os estudos de doutorado na Universidade Teológica de Friburgo (Alemanha), era solicitado para “fazer preleções em outras instituições e sua tese recebeu summa cum laude” (p. 368). Acompanhava a política e a economia global, e discorria sobre “química, astronomia, física como se estivesse falando de Teologia, matéria de sua predileção” (p. 373). Frei Koser, “uma verdadeira biblioteca ambulante” (p. 367). O terceiro destaque é a sua “fidelidade ao carisma franciscano e à Igreja”. Nos 16 anos que trabalhou na Cúria Geral, nunca os perdeu de vista. Reformou a Cúria Geral, introduziu nova metodologia aos Capítulos Gerais, renovou as Constituições, reavivou as visitas às Províncias e casas

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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

JUNHO de 2018 • ANO LXVI • No 06

100 anos

Frei Constantino Koser femininas (cf. p. 376). “Nos anos movimentados do pós-concílio, na `volta às fontes e ao aggiornamento´, conduziu a Ordem com prudência, firmeza e caridade” (p. 372). Porém, seu maior testemunho de frade menor aconteceu nos anos que se sucederam após o retorno ao Brasil. O Ministro Geral Giacomo Bini, assim o testemunhou: “... foi um exemplo de frade menor! Não há como não admirar seu exemplo quando, terminados os dois mandatos de Ministro Geral, retornou a Petrópolis para viver em um quarto simples, sem água, sem banheiro interno, sem secretário, sem privilégio nenhum a não ser o da simplicidade na pobreza” (p. 378). Frei Clarêncio acrescenta “serviu-se do banheiro comum, no corredor, distante 30 metros” (p. 369). Nele, diz Frei Ludovico, “conversava com as pessoas que encontrava. Procurava acompanhar a fraternidade em tudo, sem exigências especiais em questão de comida”


Fraternidades (p. 370). “Na enfermidade, não se queixava” (p. 371). Não seria exagero dar-lhe ´summa cum laude´! As considerações pessoais, certamente, são incompletas e imperfeitas. Mesmo assim, as transcrevo. Em cada uma das 14 páginas, está a foto de um jovem simpático, com sorriso simples e natural; o olhar é sereno, visando o futuro. A segunda está na página 368, quando o “Capítulo Geral de 1963 o elegeu Definidor para a América Latina, estando ausente”. Isto também aconteceu com o monge Papa Celestino V (1215 – 1296). Foi eleito (1294), estando em sua gruta. Depois de cinco meses, renunciou por motivos de intrigas palacianas, e voltou ao eremitério. Clemente VI o canonizou em 1313. Frei Koser também poderia fazer o mesmo, mas mostrou-se firme na condução da Ordem. São “as coisas de Deus”! Por fim, o “meditar, escrevendo”! Permito-me citar textualmente três colunistas. Frei Clarêncio: “Infalível era o metralhar da máquina de escrever, entre as seis e seis e meia da tarde, na hora de meditação da fraternidade. Depois de passar por uma crise na vida de oração, devido a dificuldade com os métodos de meditação, descobriu que fazer as meditações por escrito, sentado à máquina, trazia ótimo resultado para a espiritualidade e a reflexão teológica. Por 30 anos manteve este costume e chegou a acumular 15.090 páginas formato oficial, espaço simples” (p. 368).

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Frei Ludovico: “Todas as manhãs, eu era despertado pelo pipocar de uma máquina de escrever: era Frei Constantino fazendo sua meditação por escrito (...) reproduzida em mais de 16.000 laudas de papel ofício, espaço 1/5, preenchidas de alto a baixo. A última dessas meditações é datada dois meses antes de seu falecimento” (p. 170). Frei Gilberto: “Sempre iniciava suas meditações diárias dizendo com o Poverello de Assis “meu Deus e meu Tudo”, chegando a escrever aproximadamente 16.216 vezes essa expressão em sua obra” (p. 377). À primeira vista, parece difícil harmonizar meditação com pipocar e metralhar da máquina, números de anos e páginas escritas, crise, metodologia; porém, isso faz sentido! O senso comum confirma que quem é fiel em escrever seu “diário”, adquire uma força interior que o renova, constante e paulatinamente. Os Evangelhos escritos são fruto das meditações que Jesus, segundo seu costume, fazia de noite, sozinho, na montanha (cf. Lc 22,39). A mulher, pega em adultério, foi levada até Jesus para que se posicionasse pelo seu apedrejamento ou não. Por duas vezes, escrevia no chão, enquanto os acusadores O pressionavam. Se Ele escreveu ou se só falou a frase “quem não tiver pecado que lhe atire a primeira pedra”, não é essencial. O fato é que isso mexeu com os interlocutores que, um a um, se retiraram (cf. Jo 8,1-11). Onde bus-

cou esta força da verdade, senão no colóquio com o Pai?! Santo Agostinho (354 – 430) escreveu sua autobiografia Confissões em constantes lutas interiores e exteriores, até que chegou ao “Tarde de amei, Verdade antiga e nova! Buscava-Te fora de mim e Tu estavas em mim, no íntimo do meu íntimo”. A autobiografia de Santa Terezinha – História de uma alma – mostra uma vida atribulada de sacrifícios, dores, penitências, provações – todas elas sustentadas pelo “Oh meu Jesus, eu te amo”! Assim diz o livro dos Provérbios: “Observe os meus mandamentos e vivereis. Prende-os aos teus dedos e registre-os no livro de teu coração” (7,2-3). Frei Gilberto Silva está elaborando sua tese de doutorado sobre as meditações de Frei Koser e, na página 375, diz: “Na meditação diária que escreveu por 44 anos, Frei Constantino relata o receio de não conseguir conduzir a Ordem nesse processo, temendo que ela tomasse, mais uma vez, o caminho da divisão”. Nos primórdios do Franciscanismo, o Ministro Geral São Boaventura (1218 -1274) não deixou que isso acontecesse. Hoje, apesar das limitações que acompanham o ser humano, Frei Koser é tido como um “novo Boaventura”. A ambos, “summa cum laude”! Frei Luiz Iakovacz

Notícias de Malanje (Angola)

o mês de julho, estiveram em Malanje 10 frades filósofos, vindos de Luanda. Cinco ficaram na fraternidade do Seminário e os outros, na Paróquia. Conviveram conosco, trazendo vida

e movimentação nas casas, e nos ajudaram nos trabalhos. A eles, nossa gratidão e um frutuoso retorno aos estudos. No mês de agosto, os quatro confrades brasileiros que estão no seu

ano missionário também estarão em Malanje, mais concretamente em Cangandala, onde farão a “Missão nas Aldeias”. Que a convivência conosco e o trabalho missionário os fortaleça na vocação.

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D. Paulo presente! Não há motivo para perder a esperança

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os gritos de “D. Paulo presente! Agora e sempre!” foi aberta, no sábado (21/7) a Exposição “Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos”, em homenagem ao Cardeal de São Paulo que morreu em dezembro de 2016. O ex-ministro da Justiça e membro da Comissão de Justiça e Paz (CJP), José Gregori, abriu a exposição exatamente dentro de uma cela, representando uma prisão da ditadura militar. Um show de hip-hop ao lado do Centro Cultural dos Correios, no Vale do Anhangabaú, região central da capital paulista, prejudicou a abertura do evento e fez com que os organizado-

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res mudassem para este espaço mais silencioso. Devido ao barulho, o Coro Luther King só conseguiu apresentar uma música diante do grande painel da Catedral da Sé na entrada do prédio. “Para mim, estar aqui dentro dessas grades tem um significado muito grande. A gente relembra que D. Paulo foi a voz do protesto e da redenção do Brasil e não há cerimônia mais representativa do que estar entre as grades da cadeia onde estavam os jovens frades dominicanos”, disse o ex-ministro Gregori, ressaltando o privilégio de ter vivido num país tão diverso, tão incerto, ao lado um profeta, um após-

tolo, que acreditou naquilo que vinha do coração, da fé e da oração. “Ele traduziu isso não em palavras, não em exortações, mas em coisas práticas. Foi por isso que, em várias vezes, sem ser condenado, esteve atrás das grades para dar esperança a quem precisava, para mostrar que a justiça na terra se faz, que não há motivo para desesperanças, não há motivo para desânimo, que o bem sempre acaba prevalecendo”, observou, contando que teve o privilégio de ser integrante da Comissão de Justiça e Paz criada por D. Paulo. “Às vezes, eu chegava cedo às reuniões e a sua secretária me dizia que ele estava na capela. Nunca vi um


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Representação das ossadas encontradas no Cemitério Dom Bosco, em Perus

sacerdote orar com tanto fervor, com tanta comunhão. De lá, ele tirava o ânimo, a fortaleza”, recordou. “Ele fez justiça com justiça, fez a paz com paz, fez a conciliação com conciliação, fez a democracia com democracia. Por causa da fé, ele se tornou o vitorioso e hoje está sendo homenageado, está sendo objeto da dedicação extraordinária desse grupo que organizou a exposição. Mesmo em meio às dificuldades, este grupo conseguiu fazer essa belíssima exposição. Nós estamos todos gratificados”, elogiou. No final do mês, quando os organizadores lançaram o projeto na Assembleia Legislativa, um grupo de

pessoas, defensoras de uma “intervenção militar”, ameaçou paralisar a exposição. A curadoria é das jornalistas Evanize Sydow e Marilda Ferri – autoras de biografia sobre Dom Paulo –, além de Maria Angela Borsoi, secretária do Cardeal durante décadas, e Paulo Pedrini, da Pastoral Operária. Evanize falou em nome do grupo e lembrou que a equipe reuniu mais de 60 pessoas, trabalhando dia e noite para que o evento desse a oportunidade de apresentar, especialmente para jovens, de forma lúdica e interativa, conceitos importantes para uma sociedade mais justa, com respeito à democracia e aos

direitos humanos, que foi a luta de Dom Paulo. A curadora fez os agradecimentos às entidades que ajudaram o projeto, entre eles a Missionszentrale dos Franciscanos e esta Província da Imaculada Conceição. O guardião do Convento São Francisco, Frei Mário Tagliari, representou a Província da Imaculada e o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, no evento. “É uma exposição ampla que dá destaque ao serviço da Igreja Povo de Deus, na defesa dos direitos humanos, na defesa da liberdade, na construção de uma sociedade mais justa, fraterna, solidária, mais igualitária. No tempo da Comunicações Agosto de 2018

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Fraternidades ditadura, sem dúvida, D. Paulo foi um grande profeta, denunciando as injustiças com vigor e coragem, sem deixar de anunciar um mundo melhor possível”, disse o confrade de D. Paulo. “No seu ministério, como bispo, mas também desde frade, ele fez a opção para acolher todo mundo, de modo especial os empobrecidos. Não os pobres, mas os empobrecidos, pois isso significa que existem responsabilidades pelos que vivem empobrecidos, aqueles sem voz e sem vez”, ressaltou Frei Mário. O guardião da segunda casa de D. Paulo ficou impressionado com o espaço que retrata a tortura da ditadura militar. “Eu nunca tinha me deparado com instrumentos de tortura. E é uma coisa tão rústica, tão chocante de se ver e tão cruel imaginar o ser humano aí, amarrado naquelas correias e sendo torturado”, lamentou Frei Mário. Em uma das salas se pode conferir a atuação do cardeal durante a ditadura. Nesse mesmo espaço se encontra uma versão gigante do livro “Brasil: Nunca Mais”, lançado em 1985, com denúncias e documentação sobre torturas de presos políticos, um marco do movimento por justiça e verdade. Em outra área se pode ver toda a crueldade na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, onde, em 1990, foram descobertas mais de mil ossadas, parte delas de desaparecidos durante o regime autoritário. “Eu penso que é muito importante hoje, depois de ter passado esse tempo, que as pessoas e jovens possam ver isso e não caiam na onda dessa ideologia de direita que quer apagar isso da memória brasileira, dizendo que isso não aconteceu. Então, esse é um resgate fantástico e oportuno. Eu vivi esse período e mesmo assim fiquei chocado. Imagine para os jovens que não viveram essa fase! Isso deverá ser uma coisa muito intrigante e se espera que ajude a questionar: será que é esse

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Brasil que a gente quer? Um Brasil de violência, que dissemina ódio, que coloca as pessoas umas contra as outras, que passa por cima de todos os valores e direitos fundamentais do ser humano? E D. Paulo, sem dúvida, foi o profeta no seu tempo e é hoje também”, frisou o frade. Fernando Altemeyer Junior, assistente doutor da PUC-SP, trabalhou durante dez anos com D. Paulo na Comunicação da Arquidiocese. Para ele, ver os instrumentos de tortura nas salas escuras, “ofende-me pro-

fundamente”. “Meus avós e parentes viveram os horrores da 2ª Guerra Mundial e quando entro nesse local não gosto. Me faz mal. Depois tem as ossadas de Perus, uma representação de esqueletos. Então, você fala: ‘Nossa! Que feio! Gente machucou gente sentada nessa cadeira. Como é possível o ser humano fazer isso? Depois você atravessa um pequeno corredor e passa por um espaço de representação do povo de rua, que é o solidéu do Papa Francisco, e entra na ala que é da esperança. Ali tem o Corinthians,


Fraternidades vídeo, os 30 artigos do texto são lidos por 30 pessoas, incluindo refugiados, moradores de rua e artistas, como Criolo, Martinho da Vila e Paulinho da Viola. No final do amplo salão, as citações ao Corinthians, time de coração do religioso franciscano, com fotos e depoimentos de ex-atletas como Basílio e Casagrande. O grande destaque, que chama a atenção do visitante logo na entrada do prédio, é uma reprodução de aproximadamente 400 metros quadrados da Praça e da Catedral da Sé, com representação de alguns momentos históricos ocorridos naquela região central. Entre esses fatos, estão as missas por Alexandre Vannuchi, Vladimir Herzog, Santo Dias e Manoel Fiel Filho, todos assassinados pela ditadura. A mostra lembra ainda as missas de 1º de Maio. A exposição inclui depoimentos e imagens inéditas, em vários ambientes. A Mostra poderá ser visitada até 23 de setembro, de terça a domingo, das 11h às 17 horas. A entrada é franca. Também nesses dias, às 14h30 e 15h30, será encenada a peça “Lembrar é Resistir”, que sofreu algumas adaptações desde que foi apresentada pela primeira vez no final dos anos 90, na antiga sede do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS), o braço oficial da política de terror do Estado, que serviu de centro de tortura. José Gregori, ex-ministro da Justiça do Governo Fernando Henrique e fundador da Secretaria Nacional de Direitos Humanos

time de D. Paulo. Então, a história do Brasil traz isso: dor, tristeza e esperança, a palavra-chave de D. Paulo. Uma bela exposição, singela – não é rebuscada -, mas eu fico com a parte final, a parte da esperança. Sem negar o que existiu, porque povo sem memória vira uma bobagem. Passar de

uma dor para a esperança, é possível isso? D. Paulo mostrou que é possível. Hoje, precisamos de outras pessoas que façam como D. Paulo”, pediu. Nesta exposição há uma linha do tempo com temas sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que está completando 70 anos. Em um

Moacir Beggo

Serviço

Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos Data: de 21 de julho a 23 de setembro de 2018 Horário e dias: visitação das 11h às 17h, de terça a domingo Entrada franca Local: Av. São João, s/n, Vale do Anhangabaú – Centro, São Paulo/SP Comunicações Agosto de 2018

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FREI ABEL SCHNEIDER

o último dia 19 de julho, Frei Abel completou 97 anos e garante: está pronto para chegar aos 100 anos. Desde 2001, Frei Abel reside no Noviciado São José de Rodeio (SC). Atualmente apresenta algumas dificuldades de locomoção e, por isso, os noviços se revezam e oferecem ao sênior da casa um cuidado especial. Segundo ele, a fórmula para ser um bom frade menor é ser fiel ao ideal de vida. “Eu quero ser isso, então persisto. Esta é a fórmula”, ensina. Frei Abel Schneider é natural de Selbach (RS), onde nasceu no dia 19 de julho de 1921. Ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 14 de dezembro de 1946. Fez a profissão solene no dia 18 de dezembro de 1950 e foi ordenado sacerdote no dia 1° de julho de 1954. Acompanhe a entrevista! Comunicações- Como e quando se deu seu discernimento vocacional? Frei Abel - Desde criança tive a ideia e apresentei ao meu pai. Para a minha surpresa, ele gostou muito e me encaminhou para os franciscanos. A paróquia onde morávamos era dos frades; hoje não é mais. Em Selbach, no Rio Grande do Sul, havia muitos seminaristas, companheiros que eu conhecia e outros que não conhecia, mas quase todos diocesanos da Diocese de Santa Maria. Então, pensei: vou lá para Santa Maria! Pensei que era a mesma coisa. Mas o pai me fez mudar de ideia e disse: não, você vai para os Franciscanos! Eu aceitei. No seminário, a gente aprendeu o que era ser franciscano e como ser frade

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menor. Neste tempo, tinha 13 anos e ingressei na etapa do fundamental. Mas aprendi pouca coisa, pois em casa só falávamos alemão. Fui para o seminário sem saber o português. Comunicações - Qual a fórmula para ser um bom frade menor? Frei Abel - A fidelidade ao ideal. Ser firme e convicto: eu quero ser isso, então persisto! Essa é a fórmula. Não se pode ficar na indecisão do ‘vou não vou, não vou, vou, não vou...’. Decida e seja firme! É claro que vai esbarrar em dificuldades, obstáculos, mas isso se encontra em qualquer situação de vida. Por isso é importante ter bem claro à nossa frente o que queremos. Comunicações - Como é viver em fraternidade? Frei Abel - Aceitar a si mesmo e corrigir os erros, buscar a perfeição sempre, fazer penitência, saber que a renúncia faz parte da vida consagrada para não perder o objetivo maior que é seguir Jesus e, com isso, ser fiel ao chamado, ao plano de Deus, à vocação que ele nos deu. Comunicações - Frei, em quantas fraternidades o sr. já morou? Frei Abel - Ah, muitas! Acho que fui um dos mais transferidos da Província. E, aqui, em Rodeio, já são 17 anos. Passei também um ano fora, morando em Balneário Comburiu (SC)!

Comunicações - Qual o segredo para a longevidade? Frei Abel - Não há segredo nenhum. A vida é um dom que Deus dá a cada criatura. Para uns, Deus deu a brevidade, para outros, a longevidade. Então, que cada um viva e respeite a vontade do Criador. Comunicações - O que o sr. faria de novo e o que não faria nesta caminhada? Frei Abel - Não faria nada de novo! É melhor continuar caminhando do que repetir, voltar para trás não permitirá com que cheguemos ao fim. Então, o que estava errado vou corrigir para o futuro ser melhor. Comunicações - Como o sr. acha que o mundo está hoje? Frei Abel - Muito ruim! Porque depende do comportamento


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das pessoas e dos seus governos. O governo deveria orientar e dirigir a sociedade toda, mas segue os seus próprios interesses. Enquanto faltar a religião, a coisa não muda para melhor. Aí que está a nossa missão: anunciar o Evangelho perante isso tudo! Comunicações - O que o sr. diria para um jovem que quer entrar na Ordem Franciscana? Frei Abel - Questione-se bastante. O que quero e por que quero entrar na Ordem? Aliás, isso é para toda e qualquer forma de vida. Comunicações - Como deve ser a vida de oração de um frade? Frei Abel - Devota e piedosa. Ter a sua devoção e reverência para com Nosso Senhor Jesus Cristo e dialogar sempre com o Cristo no sacrário.

Comunicações - São Francisco tem lugar no mundo de hoje? Frei Abel - Tem e muito! Vejo que a vida e o pensamento dele têm muita aceitação! Comunicações - Quantos Papas o sr. conheceu em sua vida? Frei Abel - Sete! Eu os reverencio todos. Mas gostei muito dos Pontificados de Pio XXII e João Paulo II. Comunicações - O que achou do Concílio Vaticano II? Frei Abel - O Concílio Vaticano trouxe muita euforia entre o clero, isso me lembro bem! Depois, quando as reformas começaram a ser implementadas, muitos largaram a batina precipitadamente. As reformas foram feitas lentamente e deram muito certo.

Comunicações - Sobre a Ordem o que diria? Frei Abel - A Ordem é o nosso ideal para seguir a Palavra de Cristo. Sede santos como o nosso Pai é santo. Como ser santo? É uma boa pergunta! Então temos à nossa frente meios e caminhos para a santidade, que é a Ordem que São Francisco nos deixou. Nós o conhecemos e procuramos segui-lo. Tropeçamos muitas vezes, mas seguimos firmes, não olhando para trás. Comunicações – Para terminar, deixe uma mensagem aos seus confrades. Frei Abel - Que sejam fiéis ao seu ideal e procurem viver a fidelidade. Viver com alegria, com esperança, para chegar à casa do Pai tendo muitos irmãos. Frei Augusto Luiz Gabriel Comunicações Agosto de 2018

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A GRANDE FESTA DE SÃO PEDRO APÓSTOLO EM GASPAR

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Solene dia de São Pedro Apóstolo de Gaspar (SC) foi celebrado no domingo (1º de julho) com a missa festiva às 9h30 na Igreja Matriz. A Missa foi presidida pelo arcebispo metropolitano de Porto Alegre (RS), Dom Jaime Spengler, natural da cidade de Gaspar e franciscano. Às 7h da manhã a imagem de São Pedro saiu em procissão fluvial pelas águas do Rio Itajaí, uma tradição do povo gasparense no dia de seu Padroeiro. Marinheiros, paroquianos e frades acompanharam nas embarcações o cortejo que seguia pelas águas do rio. Muitos cantos e orações animavam o fiéis sobre as águas nas embarcações e chamavam o povo que mora perto das margens e que vinham saudar os devotos de São Pedro que rumavam à Igreja Matriz, no centro da cidade. Alguns festeiros esperavam a chegada da imagem de São Pedro, que foi levada até a Igreja pelos condutores das embarcações. Nas escadarias da Igreja, o povo acolhia com palmas e rojões a imagem de seu Padroeiro trazida em um andor em forma de barca. Na procissão de entrada, a imagem foi acompanhada por oficiais da marinha do Brasil. Frei Paulijacson acolheu a todos os presentes, de modo especial, Dom Jaime, que foi muito aplaudido pelo povo e pelos confrades da fraternidade local, o guardião Frei Carlos Ignácia e o vigário paroquial, Frei Lindolfo Jaspers. Acolheu também o Vigário Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, Frei César Külkamp, que no ano passado pregou o tríduo da festa e este ano retornou para celebrar novamente com o povo gasparense o seu Padroeiro. Dom Jaime externou que estava muito feliz de estar presidindo a festa do Padroeiro de sua terra e seu povo. Disse que é bom rever tantos rostos conhecidos e estar entre amigos e familiares. Em sua homilia, Dom Jaime iniciou fazendo um agradecimento a todos os festeiros, disse que a festa é parte da vida humana e que mesmo que a festa não desse lucro nenhum, se ainda assim estivéssemos reunidos entre amigos e familiares celebrando a vida, a festa teria valido a pena. “Num mundo corrido e estressado é preciso ter tempo para sentarmos e fesComunicações Agosto de 2018

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Fraternidades tejarmos tudo aquilo que recebemos do Senhor”, disse. Referindo-se à figura de São Pedro, Dom Jaime disse que o Apóstolo não compreendeu facilmente o caminho de Jesus e sua missão. “Pedro precisou de tempo e mais, precisou errar e negar o Senhor, para então compreender qual o verdadeiro caminho que Jesus estava lhe ensinando”. Dirigindo-se aos dias atuais, o bispo ressaltou que também nós precisamos de discernimento para compreender aonde nos leva o caminho do discipulado que nos aponta o Mestre. “Não somos os donos do caminho, nem da verdade e nem da vida. Tudo pertence ao Senhor. Façamos como Pedro, entreguemos o leme de todo o nosso ser Àquele que nos guiará ao porto seguro do Pai”. Por fim, Dom Jaime disse aos presentes que a transformação de nossa sociedade só será possível se resgatarmos os valores do Evangelho que Pedro anunciou com sua vida até o martírio. Terminou sua mensagem dizendo: “Evangelho na mão e joelho no chão”! No final da celebração, Frei Paulijacson agradeceu a todos que trabalharam para o grande sucesso desta 168ª edição da Festa, a Dom Jaime pela pregação do tríduo, a Frei César pela presença neste dia e, representando toda a comunidade, homenageou algumas lideranças da Paróquia que com empenho mostram a força e o protagonismo dos leigos na missão eclesial. Terminada a missa, o povo, juntamente com a Banda São Pedro, desceu as escadarias da Igreja e levou a imagem de São Pedro até o Centro de Eventos Cristo-Rei, onde ocorrem os festejos populares.

120 anos do Coral Santa Cecília

Abrilhantou a celebração da festa de São Pedro o Coral Santa Cecília da cidade de Gaspar que nesse ano de 2018 completa 120 anos ininterruptos

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de história com a cultura e a arte no Vale do Itajaí. O coral foi fundado por iniciativa dos franciscanos em 1898 quando estes ainda residiam apenas em Blumenau (SC). Em 1900, quando os frades fixaram residência em Gaspar, Frei Pedro Sinzig, compositor e músico, veio morar na primeira fraternidade dos frades em terras gasparenses. Frei Pedro tomou com ardor a direção do coral e o incentivou para sempre atuar nos eventos e solenidades da cidade e da Igreja. O

Coral Santa Cecília de Gaspar é um dos corais mais longevos em atividade ininterrupta em todo o Brasil. O coral sempre busca valorizar cantos clássicos a várias vozes, mas também interpreta cantos litúrgicos mais conhecidos do povo. Nesta Solenidade de São Pedro, o coral cantou na entrada da imagem de São Pedro “Tu es Petrus”. No final da celebração, em homenagem ao dia do Papa, cantaram o Hino Pontifício, “Ó Roma Eterna”.


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DOM JAIME É O PREGADOR DO TRÍDUO

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Paróquia São Pedro Apóstolo de Gaspar (SC) iniciou na quinta-feira (28/6), o Tríduo em louvor ao seu Padroeiro. Esta é a 168ª edição da Festa que se confunde com a história da própria cidade edificada às margens do Rio Itajaí Açu. Com o Tema “Com São Pedro, cristãos em saída, a serviço do Reino” e lema “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13-14), a Paróquia quis, nesse Ano Nacional do Laicato, ressaltar o protagonismo dos fiéis leigos na evangelização e na missão. Cada dia do Tríduo lembrou uma virtude de São Pedro em função de uma Igreja verdadeiramente em saída, que possa iluminar e ser sabor nesse mundo. O pregador do Tríduo neste ano foi o arcebispo de Porto Alegre (RS), Dom Frei Jaime Spengler, franciscano e filho desta terra de Gaspar. Dom Jaime ficou muito honrado com o convite de ser o pregador na Festa, que é a festa do seu povo: “Sinto-me honrado de estar com meus conterrâneos e familiares nesta Festa da qual, por muitos anos, não pude participar”! Nascido em 1960, Dom Jaime ingressou na Ordem dos Frades Menores em 1982 e foi ordenado sacerdote em 1990. Fez doutorado em Filosofia, em Roma, e trabalhou sobretudo no ensino e na formação aa Província Franciscana da Imaculada Conceição. Em 2010 foi nomeado, pelo Papa Bento XVI, bispo auxiliar de Porto Alegre. Em 2013, o Papa Francisco o nomeou arcebispo metropolitano de Porto Alegre, cargo que exerce até o presente momento. Comunicações Agosto de 2018

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Fraternidades Dom Jaime foi ordenado presbítero e bispo na Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo, em Gaspar. Em cada dia do Tríduo várias comunidades, pastorais e movimentos participam da Celebração Eucarística. As comunidades vêm em carreata até a Igreja Matriz trazendo São Pedro na barca, juntamente com as imagens de seus Padroeiros. Antes de iniciar a celebração o pároco, Frei Paulijacson de Moura, acolheu os fiéis e externou profunda gratidão por Dom Jaime ter aceitado o convite de ser o pregador. No primeiro dia, Dom Jaime abordou o tema: “Pedro, trabalhador e chefe de família”. Em sua homilia, o bispo ressaltou que Pedro era um homem comum como todos nós, um trabalhador que precisava lutar pela sua vida, mas que num determinado momento foi atingido por quem era o sentido de toda a vida: “Pedro foi atingido, tocado e transformado pelo

modo de ser de Nosso Senhor. Cada um de nós é hoje chamado a ser atingido e transformado por este modo de ser, sempre novo, que faz a vida ser mais vida”! No segundo dia, o arcebispo de Porto Alegre disse aos fiéis que os medos, dúvidas e falhas que Pedro teve em sua vida são os mesmos que também nós enfrentamos em nossa jornada. “Jesus nos chama pelo nome, nos confere identidade e nos faz dignos da missão. Nossa dignidade não se atesta em nós mesmos, mas é o Senhor que nos capacita na força do amor e do serviço”, disse. Já no terceiro dia, na Missa da Catequese, Dom Jaime dirigiu-se, primeiramente, aos pais e familiares ali presentes: “Maternidade e paternidade não podem ser um acidente ou um imprevisto. Ser pai e mãe deve ser um desejo e um sonho de participar da obra de criação do Criador, ser par-

ticipante de uma profunda responsabilidade”. O bispo ressaltou o quanto é triste ver pais que não se importam com seus filhos e os deixam ao léu. Os filhos, disse ele, são o bem mais precioso que podemos ter, eles são o sustentáculo da esperança de um bom futuro. “Quem não cuida do seu bem, um dia chorará por vê-lo se perder”. Dom Jaime insistiu para que os pais sejam verdadeira presença amiga na vida de seus filhos. No final da celebração, Frei Paulijacson agradeceu Dom Jaime pela presença fraterna e acolhedora em mais este dia de preparação à Solenidade de São Pedro e São Paulo. Agradeceu também a toda a Equipe da Catequese da Paróquia pela belíssima celebração. O coral da catequese foi à frente novamente e cantou com toda a comunidade o hino do padroeiro São Pedro. Logo depois, Dom Jaime encerrou a celebração com a bênção final.

As delícias desta festa centenária!

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entre as grandes atrações da Festa de São Pedro, em Gaspar, destacam-se duas “delícias” que remontam há décadas e são queridinhas do povo: o sonho e o pastel. As filas enormes durante todo os dias atestam a força desta tradição que permanece e é sempre um grande sucesso. Dona Lídia Nagel, que há mais de cinquenta anos trabalha nessa festa, diz que desde moça lembra com feliz memória do pastel da Festa. No início, relatou ela, o pastel era frito numa panelinha, hoje várias fritadeiras ainda parecem insuficientes para a grande demanda. A receita é passada entre gerações, segundo Dona Lídia. É o modo caseiro da massa que a faz tão saborosa. No espaço da padaria onde é vendido o “sonho” não é diferente, o to-

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que caseiro e a boa receita da “nona” dão aquele gosto todo especial. Mais de 80 voluntários trabalham no pastel e na padaria para atendar a demanda. A previsão é produzir 20 mil pastéis e 10 mil sonhos. A grande saída faz com


Fraternidades que os produtos estejam sempre frescos e quentinhos, mas o verdadeiro ingrediente secreto, segundo Dona Lídia, é o desejo do povo de colaborar com a comunidade paroquial. É certamente isso, diz ela, que dá o mais sublime sabor a cada produto da festa que a cada ano só cresce.

Ofertar nosso melhor!

O tradicional leilão da Festa de São Pedro Apóstolo é um dos grandes destaques de toda a festa. Prova concreta da generosidade do povo de Gaspar que oferece parte de seu gado e rebanho como forma de agradecer a Deus pelas bênçãos no campo. Nas semanas que antecedem a festa, Frei Lindolfo Jasper, ao lado do Sr. Beto Tonholi, andaram por toda Gaspar arrecadando doações dos agricultores, empresas e benfeitores. Porcos, ovelhas, galinhas, cavalos e mais de 30 cabeças de gado foram doados para o leilão. Devido ao grande número de prendas, o leilão, neste ano, não ocorreu apenas no domingo (01/07), como é o costume, mas também já no sábado. Assim, como Deus se alegrou com a boa oferta de Abel, também hoje, o Senhor se alegra com a generosa oferta do povo de Gaspar! Que este seja mais um ano abençoado a todos os nossos agricultores e que nos anos vindouros possamos sempre contar com a generosa oferta de quem oferece o seu melhor ao próprio Deus! A Festa é uma das mais tradicionais e famosas do Vale do Itajaí. Segundo o Pároco, Frei Paulijacson, mais de 40 mil pessoas estiveram presentes nos cinco dias do evento. “Não é uma festa apenas da Paróquia, mas uma festa que congrega todo o povo de Gaspar e das cidades vizinhas”, disse Frei Paulijacson. Aos pés do monte onde fica a imponente igreja Matriz encontra-se o Complexo de Eventos Cristo-Rei, onde são realizados os festejos populares com várias atrações. Mais de 400 voluntários trabalharam neste evento. Frei João Manoel Zechinatto Comunicações Agosto de 2018

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AVENTURA NO MORRO DO AÇU

ma imagem da década de 1920 já denuncia: os frades franciscanos que moraram em Petrópolis nessa época gostavam de montanhismo. Vestidos com o hábito, eles foram fotografados no alto do Morro do Acu, com uma trilha de pouco mais de mil metros de subida, totalizando 2230 metros de altura em relação ao nível do mar. Entretanto, somente esta imagem não revela esse amor pelas alturas: vários frades já narraram suas experiências de trilhas e montanhas. A cidade propicia estas aventuras e os passeios em fraternidade normalmente ocorriam com essa modalidade. E como bons aventureiros, nos reunimos em um grupo de frades e tivemos o mesmo desejo de alcançar algumas alturas petropolitanas. Alguns já tinham feito algumas subidas e embrenharam-se na mata em busca dos visuais de tirar o fôlego. No meio deste primeiro semestre fizemos o nosso “batizado” no montanhismo de

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Petrópolis: subimos até o Pico do Alcobaça. Mais de 800 metros de subida pesada, em alguns momentos até escalando entre as pedras e plantas para chegar ao topo. Todavia, a liberdade e o horizonte que o lugar oferece não se traduzem nas fotografias tiradas. Só

quem se propõe a subir sente na pele esta emoção. Depois desta atividade alguns resolveram moderar suas aventuras. Não perderam o espírito desejoso de superar limites mas perceberam que é necessário uma maior preparação. Toda-


Fraternidades via, outros sentiram-se ainda mais motivados a continuar e conhecer desafios maiores. Por isso, nos dias 27 e 28 de junho fizemos em oito frades a subida do Morro do Açu, que pertence ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. A trilha até o local exige uma subida de pouco mais de 1000 metros em oito quilômetros. No início da subida lembrei o pedido feito ao profeta Elias diante do monte Horeb: “Sai e põe-te de pé no monte, diante do Senhor! Eis que ele vai passar” (1Rs, 19, 11). No caminho fomos surpreendidos por visuais de tirar o fôlego. A natureza parecia muito feliz em estarmos ali. O sol raiava e algumas nuvens nem ousaram fechar o visual. Durante o caminho fizemos as paradas e tínhamos a certeza de que se parássemos por ali mesmo, já era um grande ganho. Porém, o que estava por vir era ainda muito melhor! Chegamos ao abrigo no final do dia muito cansados, mas felizes pelos novos horizontes vislumbrados. As cadeias de montanhas nos abraçavam e outras já nos convidavam a ir mais. Descansar era a segunda opção diante das possibilidades que ali estavam. O cansaço de quase seis horas de subida foram colocadas no bolso e por isso o pôr do sol foi a delicadeza de Deus para nós. O Criador pintou o céu com cores vibrantes e algumas nuvens fizeram o seu charme em meio ao laranja do crepúsculo. Do outro lado a lua nascia, cheia, imponente, lembrando que é ela quem manda na noite. No abrigo fizemos o nosso jantar ao estilo “convento”: panelão, sopa, macarrão e muita conversa. Novas amizades foram firmadas com os aventureiros que lá estavam e depois o descanso merecido, mesmo com alguns roncos justos!

O dia nem raiou e nós já estávamos todos reunidos numa montanha para ver o Irmão Sol sorrir com seus primeiros raios. O frio era muito forte, porém mais uma vez fomos presenteados com um visual que despertou em todos alguns bons momentos de silêncio. Diante daquele que se apresentava com sua luz não nos cabiam palavras. Era apenas contemplar e ser iluminado. Os picos de pedra aos poucos foram novamente aparecendo e tínhamos a certeza: valeu a pena cada passo! Não são palavras que vão traduzir esta beleza. Fica ela eternizada em nossa memória aventureira. Antes de descer fomos ao cruzeiro, o ponto mais alto, vimos mais uma vez tudo de cima. A ideia que perpassou nossa mente foi: como somos pequenos diante da criação. Tudo é tão belo, grande e admirável que só pode ter sido criado por aquele que é Belo, Grande e Admirável em tudo o que faz. Descemos a trilha e chegamos novamente à portaria do Parque com a satisfação de quem venceu mais uma vez seus limites. Graças a Deus muitos temores foram enfrentados: não passamos frio nem fome, pois conseguimos nos preparar bem. Porém numa próxima queremos mais tempo para contemplar a vista do alto. Aliás, uma próxima já está sendo gestada pois nós não subimos a montanha, foi ela quem nos deixou subir. E nesta subida não caminhamos somente em busca de uma paisagem, mas vislumbramos novos horizontes dentro de nós. Nós voltamos mudados de nossa viagem, porque com tamanha beleza não é possível que não nos sintamos ainda mais amados por Aquele que É! Frei Gabriel Dellandrea Comunicações Agosto de 2018

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Fraternidades

“ARQUIBANCADA FRANCISCANA”

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m clima de Copa do Mundo, o Regional Leste-Catarinense realizou o seu segundo encontro do ano, nos dias 2 e 3 de julho, na Fraternidade de Santo Amaro da Imperatriz. Dias antes do encontro, informava-se no grupo de whatsapp do Regional: “Tendo em vista que, na segundafeira, 2 de julho, será o dia do jogo do Brasil contra a seleção mexicana pelas oitavas de final da Copa do Mundo, o encontro do Regional terá seu início às 11 horas para juntos torcermos pela nossa seleção”. E assim se cumpriu. A Fraternidade de Santo Amaro armou um telão para a transmissão do jogo, aprontou os aperitivos e acolheu a cada frade que chegava para lotar a “arquibancada franciscana”. Valeu a pena! Além do momento de convívio, nossa seleção venceu a partida das oitavas por dois a zero. Além dos frades do Regional, o encontro contou com a presença dos frades estudantes do tempo da Filosofia, Frei Danilo Santos Oliveira e Frei

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Thiago da Silva Soares, que realizam o estágio de férias junto à Fraternidade de Angelina. Também participaram de alguns momentos os aspirantes Filipe Antônio Nascimento da Silva e Gabriel Paz de Oliveira Silva, que fazem a experiência das FAVs na Fraternidade de Santo Amaro. O texto de formação para conduzir a reflexão e a partilha foi o Capítulo V: Luta, Vigilância e Discernimento, da Exortação Apostólica: Gaudete et Exsultate, do Papa Francisco. Chamou-nos a atenção que o Papa Francisco nos encoraja na luta e na vigilância contra a ação do demônio. Segundo o texto: “O demônio não precisa nos possuir. Envenena-nos

com o ódio, a tristeza, a inveja e os vícios”. Parecem coisas sutis, mas que contribuem muito para atentar contra a boa convivência de uma fraternidade. Por outro lado, o Papa Francisco nos aponta o caminho do discernimento através das coisas simples e diárias: a fé que se expressa na oração, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração eucarística, a reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária e o compromisso missionário. Quando a fraternidade assume esta dinâmica, leva-nos ao discernimento, de “uma verdadeira saída de nós mesmos para o mistério de Deus, que nos ajuda a viver a missão para a qual nos chamou a bem dos irmãos”. Momento especial do Regional foi a oração junto ao mausoléu da Fraternidade de Santo Amaro. No local foi sepultado neste ano (dia 14 de janeiro) Frei Faustino Tomelin e também estão guardados os restos mortais de 24 frades que ofereceram suas vidas pelo ideal franciscano. Rezar junto ao jazigo foi um gesto de gratidão a Deus por tantos irmãos que o Senhor nos concedeu. E compreender que, mesmo na visita da irmã morte, é nos proporcionada a esperança de viver uma experiência eterna de fraternidade. O próximo encontro do Regional Leste-Catarinense ficou agendado para os dias 3 e 4 de setembro, na Fraternidade Santo Antônio, de Florianópolis. Frei Daniel Dellandrea


Fraternidades

Reunião Fraterna do Regional do Vale do Itajaí

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a Fraternidade de Balneário Camboriú, em 25 de junho, o ritual foi o tradicional: chegada ao local, acolhida, café da manhã, início da reunião, presenças e ausências, leitura da ata, estudo do tema “não à espiritualidade do espelho” sugerido por uma das catequeses do Papa Francisco (2016). As Fraternidades partilharam da sua espiritualidade e da sua vida fraterno-pastoral. Depois de aperitivos, conversas, apreciação de futebol da copa, Frei Ladi Antoniazzi e Frei Sebastião Kremer nos proporcionaram momentos únicos de etiqueta e partilha fraternas. Que nada atiçasse a pressa do comum dos dias. Que os olhos, a mente, o olfato, as papilas salivares pudessem se ativar ao contemplar o desfile dos pratos pelas mãos franciscanas dos anfitriões Ladi e Sebastião. Foi um Regional animado de excelente convivência, partilha e “fradejamento” quanto às consultas eletivas para o Capítulo.

Homenagem ao guardião Jamais desista da Central de toda a Graça, Onde reside seu segredo pra vencer, Assim verá que o mal que lhe vem, depois passa, O que trará grande alegria em seu viver. Faça a gerência das coisas de sua estrada, Reforce o Dom da Fé que lhe veio do Lar, Administre tudo, à luz da mais sagrada, Nunca falida Instituição Familiar. Caminhe, alegre, e pise o chão com segurança, Iluminando tudo que ao seu redor vem, Seja o que o Evangelho nos diz: - Uma criança, Cantando sempre louvor ao Bom Deus, amém. Ouse ganhar - jamais perder em sua Missão; Deus a tarefa lhe deu de ser um gerente, Avante, nesse labor, que é sua vocação... Sendo assim, será sinal de um homem contente. Ilustre seu viver sempre no dia a dia, Lembrando a lição que lhe vem lá do seu berço, Viva sob a proteção de sua Mãe Maria, Aquela que lhe pede pra rezar o Terço!... João, Paz e Bem! No dia de seu aniversário, desejamos a você, saúde de corpo e espírito! Santidade de vida, e sabedoria do céu! Todas as bênçãos celestes! Todas as bênçãos da estrada! Frei Walter Hugo de Almeida Em nome dos seus Confrades da Casa Comunicações do Seminário FranciscanoAgosto Freide Galvão 2018

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Fraternidades

Paróquia São Paulo Apóstolo comemora 120 anos com festa

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Paróquia São Paulo Apóstolo de Agudos celebrou 120 anos. As festividades começaram com a Solenidade do Padroeiro e terminaram nos dias 7 e 8 de julho. Comemoração, realizada no domingo (01/07), contou com a presença do bispo diocesano de Bauru, Dom Rubens Sevilha. A Paróquia foi criada a 13 de junho de 1898 e instalada a 3 de julho do mesmo ano. Foi desmembrada da Paróquia de Lençóis Paulista. Naquela ocasião, Agudos pertencia à Arquidiocese de São Paulo, passando à Diocese de Botucatu, quando esta foi criada em 1908 e à Diocese de Bauru, que foi criada em 1964. A Paróquia de São Paulo Apóstolo foi dirigida pelo clero diocesano até 1970. Após essa data, os franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil que chegaram a Agudos em 1945 para construir o Seminário Santo Antônio, assumiram os trabalhos pastorais da Paróquia. Tanto a Paróquia como a cidade de Agudos celebram 120 anos neste mês de julho. A Paróquia no dia 3 e a cidade no dia 27. A cidade nasceu “à

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sombra” da primeira capela. Faustino Ribeiro da Silva – um desbravador de sertões, fundador de cidades e político -, nascido a 15 de fevereiro de 1822, em Campanha, Minas Gerais, por volta de 1853, adentrou numa extensa região genericamente conhecida por “Sertões de Bauru”, pertencente a Itapetininga, posteriormente a Botucatu e, depois, a Lençóis. Essas terras englobavam a vastidão da serra dos Agudos ou do Turvo, e serviam de base e área de ação de índios bravios que ali habitavam. Foram Faustino (filho de Bernardino Rubens da Silva Paes e Ana Barbosa de Viveiros) e sua mulher Marcelina de Jesus (falecida em Agudos a 14 de agosto de 1901), os doares da gleba de terras que constituem o patrimônio da Paróquia, conforme escritura lavrada

no Cartório de Fortaleza do Espírito Santo Piatã, a cuja freguesia pertencia o lugarejo. A primeira capela deve ter sido construída entre 1862 e 1868 para atender a alguns habitantes que se concentravam na área. Não há uma data exata, mas presume-se que tenha sido construída ou inaugurada no dia 25 de janeiro (Conversão de São Paulo) ou 29 de junho (sacrifício de São Paulo). A capela velha era de tijolos, coberta de telhas comuns, duas águas, com a frente voltada para a avenida Fernando Machado e os fundos para a atual Matriz. Tinha três portas, uma na frente, e uma de cada lado. A capela não tinha torres. Apenas no ano de 1899 o então largo da capela, situado entre as ruas 13 de Maio e 15 de novembro, e as avenidas Fernando Machado e dos Lavradores (depois Benedito Otoni), recebeu a denominação de largo de São Paulo. Atualmente, a Paróquia tem como pároco Frei Sílvio Trindade Werlingue e Frei Carlos Pierezan, vigário paroquial. Informações do livro “O centenário da Paróquia São Paulo Apóstolo de Agudos”, de 1998.


Evangelização

Pastoral da Comunicação reúne 500 pessoas NO 6º Encontro Nacional

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erca de 500 pessoas, entre bispos, padres, religiosos, religiosas e agentes de pastoral, estiveram reunidas em Aparecida (SP) para o 6° Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom), que aconteceu de 19 a 22 de julho no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida. Na ocasião, também aconteceu a entrega dos Prêmios de Comunicação da CNBB. A Província Franciscana foi uma das três finalistas na categoria Iniciativa em redes sociais, com a WebTV Franciscanos. O vencedor foi o programa Agito Cultural, da Arquidiocese do Rio de Janeiro. O canal do YouTube do Padre Reginaldo Manzotti foi o vencedor na menção honrosa através do voto popular nas redes sociais. O tema escolhido para esta edição foi Comunicação e Igreja. Durante os quatro dias de encontro, os participantes refletiram sobre os diferentes aspectos da comunicação no âmbito eclesial. Apesar de não ser o tema do encontro, a situação política nacional foi assunto recorrente em todas as falas. Em sua fala de abertura, Dom Darci José Nicioli, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB e arcebispo da Diocese de Diamantina (MG), pediu dos comunicadores empenho em conhecer os novos modos de expressão e o compromisso no anúncio da verdade que liberta: Jesus Cristo. Dom Darci salientou a importância dos agentes na realidade política e social do Brasil. “O Brasil está gritando, pedindo aos comunicadores que não se distanciem das conquistas democráticas e da responsabilidade social. A realidade pede um maior engajamento, como comunicadores cristãos que somos e instiga nossa criatividade profética. Não podemos nos distanciar da realidade que

vivemos, senão comunicaremos o quê?”, questionou. Ricardo Alvarenga, doutorando e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, falou sobre a vivência comunicacional na Igreja na América Latina. Sobre o trabalho da Pascom, Alvarenga salientou que a função dos agentes de pastoral não pode se reduzir a uma assessoria de imprensa da paróquia. “O papel da Pascom não é simplesmente fotografar as missas, escrever o texto sobre a celebração ou fazer o cartaz do festejo, mas fomentar nas bases uma formação crítica e uma reflexão especializada sobre a recepção dos produtos dos meios de comunicação. Cada um de nós, comunicadores, somos responsáveis por promover em nossas realidades locais uma formação especializada e reflexão crítica dos nossos colegas de comunidade. Mais do que nunca é necessário fomentar a formação e a leitura crítica da mídia”, afirmou.

Comunicadores em tempo de “fake news”

O jornalista Elson Faxina, professor da Universidade Federal do Paraná, falou sobre a leitura crítica da mídia em tempos de “fake news”. Ele usou a mensagem do Papa Francisco para o 52° Dia Mundial das Comunicações Sociais como

base para sua reflexão. Para Elson Faxina, denunciar as notícias falsas é um dos desafios da Pascom hoje. Além disso, ele destacou a importância de noticiar mais o que é permanente e menos o que é eventual. “Precisamos vasculhar nossas comunidades em busca de fatos. Temos muitas notícias boas acontecendo e não sabemos identificar”, assinalou.

Adeptos ou discípulos de Jesus?

“Estamos formando adeptos ou discípulos? Seguidores de Jesus ou fãs que O curtem, mas não O seguem?”, questionou Dom Leomar Brustolin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre (RS) em sua palestra. Para ele, é necessário comunicar-se com as pessoas de fora de Igreja e não somente com as de dentro. Para isso, é necessário atenção com a linguagem utilizada, que pode fazer muito sentido para quem pertence à Igreja, mas comunica pouco para quem é de fora. “Pescar no aquário significa não ir ao encontro dos que estão fora e nós não queremos isso”, explicou. Ele afirmou que é preciso abandonar a pastoral de manutenção e assumir uma pastoral missionária. “Quem crê, anuncia. Quem não crê, só informa”, provocou. Érika Augusto Comunicações Agosto de 2018

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No último encontro dos frades da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento, houve um bonito espaço de partilha de experiências pastorais tendo como pano de evangelizadora, optou-se em dar a este espaço fundo as três prioridades do Plano de o nome EvangelizAÇÃO. Evangelização (qualidade de vida pesO convite fica aberto também às demais soal e fraterna, Província em saída e a Frentes. Quem quiser partilhar alguma inianimação vocacional) e os desafios da ciativa pastoral, pode enviar um texto breve Evangelização em fraternidade e com o e acompanhado por fotos para freicesar@ protagonismo dos leigos. Atendendo à sufranciscanos.org.br . gestão dos participantes do encontro, algumas experiências mais significativas serão Como primeira partilha, segue o relato partilhadas a cada mês em nossas Comunidas celebrações especialmente prepacações. Para marcar o aspecto prático desradas para crianças na Paróquia Santa tas experiências que expressam nossa missão Inês, em Balneário Camboriú, SC.

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Evangelização

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MISSA COM CRIANÇAS

pesar da rigidez da liturgia, com coragem e respeito, dá para fazer algumas adaptações e tornar a celebração eucarística mais fácil para as crianças, despertando maior interesse nos adultos também. Quando motivadas e o linguajar está ao seu alcance, elas comparecem e se interessam. “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança”. (1 Cor13,11). No despertar da Fé, é importante ater-se a alguns pontos que podem ajudar no crescimento e no entendimento: O Evangelho encenado ajuda a prender a atenção e favorece o entendimento; a homilia partilhada, desperta mais vibração e confiança em manifestar opiniões; a música, quanto mais as crianças se sentirem participantes, mais elas ficarão atentas. Para tanto é importante escolher cantos breves, de preferência apoiados por um grupo infantil e que as crianças conheçam de cor. Outras oportunidades para par-

ticiparem: coleta, acolhida, leituras, dízimo infantil, coroinhas... tudo isso desperta na criança a vontade de participar e de se fazer presente sem ter que “marcar ponto.” Outro ponto importante é a consciência de que a Missa também é para elas. Diria mais, elas são a grande motivação da celebração. Bem entendido, quando se dedica um horário especial para isso. A partilha do pãozinho tem ajudado para despertar o interesse e perceber que ela é parte integrante da celebração. A Missa com crianças precisa ter uma dinâmica própria, mas também

deverá passar a ideia de que Missa não é obrigação, mas necessidade do cristão e da cristã. Participar da Missa torna-se algo agradável. O próprio adulto se interessa mais, vibra e entende mais a importância que a celebração eucarística tem na vida da pessoa. Com respeito, obediência e coragem dá para fazer da Missa o grande momento do domingo na vida da criança. A Missa se torna o prolongamento da vida e confere maior sentido para viver cristãmente a semana. Frei Ladí Antoniazzi

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Evangelização

Conselho Plenário da Ordem

VOLTAR AO “PRIMEIRO AMOR”

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e 12 e 28 de junho, 63 frades de diversas partes do mundo estiveram reunidos para o Conselho Plenário da Ordem dos Frades Menores (CPO), na cidade de Nairóbi, no Quênia. “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz… aos Frades Menores hoje” (cf. Ap 2,7) foi o tema escolhido para este Plenário. Representando a Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB), participaram Frei Alvaci Mendes da Luz, da Província da Imaculada Conceição, e Frei Wellington Jean, da Província Santo Antônio. Frei Fabiano Satler, da Província Santa Cruz, participou como convidado do Governo Geral. O último CPO aconteceu em 2013, na Polônia, e reuniu 43 frades. Deste encontro, surgiu o documento “Vinhos novos em odres novos”, publicado em 2014.

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Sobre a preparação, Frei Alvaci conta que foram enviadas perguntas às Conferências e, a partir das respostas, tem-se uma visão geral da Ordem em nível mundial. “A ideia é fazer um panorama da Ordem de um modo geral, quais as realidades, como a Ordem vive hoje, a realidade eclesial nas Conferências e a realidade de presença dos frades. Foi pedido que cada um dos frades delegados elaborassem um ver-julgar-agir de todas as Conferências no mundo”, explica. Em sua fala de abertura, Frei Michael Perry afirmou que o versículo escolhido como tema do encontro, “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz” (cf. Ap 2,7), norteou toda a preparação do CPO. “Permitimos que o texto bíblico moldasse nosso pensamento, nossa oração e nosso planejamento. Esperamos que estas palavras também sirvam de inspiração

para cada um de vocês, os membros do Conselho Plenário, promovendo um espírito de escuta mútua, discernimento e vontade de realizar novos sonhos, para que assim possam os inspirar uns aos outros e a todos os membros da Ordem”, sinalizou. Ele contextualizou a passagem bíblica, afirmando que os seguidores de Jesus passavam por um período difícil, de confusão e sofrimento humano e espiritual. “O autor reconhecia que todo o peso da perseguição romana, a fatiga espiritual e psicológica, a distração, o atrativo de estilos de vida alternativos e diferentes concepções religiosas estavam distraindo os discípulos de sua alegria e desejo de seguir incondicionalmente seu compromisso batismal”, explicou o Ministro Geral. Ele contou que alguns frades sentem o mesmo que os discípulos


Evangelização da passagem do livro do Apocalipse, sem a energia, paixão e alegria do seu primeiro amor, que consiste, segundo o Ministro Geral, em três temas centrais: amor por Jesus Cristo, pelos irmãos de Fraternidade e pela Igreja. Para concluir, ele afirmou que o CPO deve provocar uma “crise” necessária, para abrir os corações e as mentes de todos os Frades Menores à ação do Espírito Santo, “nosso verdadeiro Ministro Geral”, afirmou, recordando as palavras de São Francisco.

Apresentações, World Café e retorno do Definitório Geral

O encontro foi dividido em três etapas: na primeira semana, as Conferências apresentaram um pouco de suas realidades e desafios eclesiais e das fraternidades. Na segunda semana, os participantes partilharam seu ponto de vista sobre alguns temas através da metodologia “World Café”. Na terceira semana, o Definitório Geral falou aos presentes, dando um retorno do tra-

balho realizado desde o último CPO e Capítulo Geral. Entre os temas levantados pelas Conferências, destacam-se o fenômeno da migração, necessidade de dar respostas à juventude, mudança

climática global, a violência, a relação com os meios de comunicação social, entre outros. Também apareceu a questão do clericalismo, individualismo, autorreferencialidade da Igreja local, consumismo e materialismo. No dia 16/06, foi a vez da Conferência do Brasil se apresentar. “Nossa Conferência chamou a atenção dos frades para a realidade política, ecológica, econômica e das juventu-

des no nosso país”, afirmou Frei Alvaci. Ele contou que a apresentação despertou o interesse dos frades do mundo todo, que fizeram várias perguntas, sobretudo sobre o trabalho com os mais empobrecidos, com as comunidades eclesiais de base e sobre a atuação dos franciscanos no país. Sobre a apresentação da CMFB, o site da Ordem afirmou que a “vasta região da Amazônia se converteu em um cenário de cooperação e missão interprovincial. O trabalho dos frades na Amazônia demonstra a opção preferencial pelos pobres, através da vivência do ministério entre população rural, indígenas, usuários de drogas e pessoas abandonadas. Os representantes do Brasil abordaram uma ampla gama de questões, incluindo o papel dos frades leigos na Ordem e o aumento do neo-clericalismo, a tentativa dos frades de permanecerem junto aos pobres, mesmo quando o compromisso é julgado negativamente como socialista, os movimentos

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Evangelização pentecostais e a busca de novas formas de viver o ministério nas grandes cidades”.

Partilhas através do método “World Café”

Na segunda semana, os frades partilharam em pequenos grupos através do método “World Café”, que consiste em mesas dispostas num mesmo local, onde os participantes se revezam por um período de tempo e têm a possibilidade de conversar com pessoas diferentes a cada rodada. Em cada mesa existe um frade referencial, um anfitrião, que fica responsável pela introdução do tema, pelo bom andamento das partilhas e pelo resumo do que foi falado. Cada partilha dura 20 minutos e é conduzida de maneira informal e inclusiva. Frei Alvaci Mendes da Luz foi um dos frades referenciais e conta que após o encontro, os referenciais se reúnem e fazem um resumo de tudo o que foi partilhado, apontando as ideias que se repetiram em cada mesa. “O frade referencial precisa escutar com atenção para perceber os argumentos comuns nos pensamentos apresentados pelos participantes”, afirma o site da Ordem. “Foi muito interessante! Todos os frades puderam comunicar livremente o que pensam sobre os diversos temas. Todos compartilharam suas ideias e conheceram a ideia dos demais. Ainda que a comunicação nos diferentes idiomas tenha sido, em alguns momentos, um desafio, a experiência foi excelente”, manifestou Frei Giovanni Rinaldi, Secretário Geral da Ordem. No primeiro dia de partilha, os temas abordados foram migração, juventude e missão. No segundo dia, eles falaram sobre a evangelização no espírito da Encíclica Laudato Si’; as exigências de um mundo em transformação e vida religiosa a partir da ótica do Papa Francisco. Após as partilhas no “World Café”, os frades referenciais fizeram um grande resumo sobre o que foi falado e levaram ao grupo para aprovação.

Palavra do Definitório Geral

A terceira e última parte do encontro foi dedicada a rever e avaliar a caminhada da Ordem desde o Capítulo Geral de 2015. O Vigário Geral, Frei Julio Bunader, falou aos 63 frades participantes sobre as iniciativas do Definitório Geral nos últimos 3 anos. Em seu discurso, ele mencionou os avanços realizados nas seguintes áreas: diretrizes sobre a vida franciscana; missão; formação; JPIC e a dimensão contemplativa da vida dos frades; como viver o voto de pobreza de forma mais autêntica por meio de um empenho na administração financeira e a prestação de contas mais precisa, fomentando uma relação mais próxima entre as diferentes entidades da Ordem.

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Evangelização O Vigário acrescentou que as “decisões do Capítulo de 2015 continuam sendo relevantes hoje e devem ser implementadas plenamente na vida diária e no serviço das Províncias, Fraternidades e de cada frade de maneira individual”. Frei John Puodziunas, ecônomo geral, falou aos membros do Conselho a respeito de uma economia saudável e o compromisso com os pobres. Ele explicou que viver sem nada de próprio não significa ser indigente, mas ser consciente de que as pessoas possuem as coisas, sem deixar-se possuir por elas. Para isso, o coração deve estar entre as atitudes que definem as relações pessoais: com Deus, com os irmãos e consigo mesmo. “Para Francisco, dar aos pobres significa restituir (Adm 6, 7, 21). O mais importante não é ter algo para dar. A solidariedade se expressa principalmente em estar com o outro, estar com os pobres”, disse Frei John. O frade descreveu 8 princípios válidos não apenas para os frades, mas para todos aqueles a quem Deus deu recursos para partilhar: - A lógica da retribuição: uma vida enraizada na correta gestão dos bens, reconhecendo que todo o que temos e somos é um presente de Deus e somos simplesmente administradores, usuários temporais. - A transparência: o compromisso de ser francamente aberto e honesto sobre quem somos, o que e quanto temos. - A responsabilidade: a necessidade de informar com precisão e veracidade sobre como utilizamos os recursos que nos foram confiados como administradores. - A justiça: um valor impulsionado pela transparência e pela responsabilidade. A justiça não se refere à igualdade, onde todos são iguais, mas a justiça consiste em dar e receber segundo os próprios dons e as necessidades individuais. - A simplicidade: a capacidade de viver de acordo com nossas necessidades, saber o que é suficiente, evitar a tendência humana de acumular, sejam coisas, edifícios, propriedades, dinheiro, fundos. - As relações: o núcleo do que somos e, por isso, algo fundamental em todos estes valores. A consciência de que não estamos sozinhos, de que estamos neste projeto de vida juntos. - O trabalho: trabalhemos sem evitar o trabalho manual, trabalhamos com nossas mãos. - O sacrifício: estar disposto a renunciar a tudo o que temos e tudo o que somos para o bem do próximo.

Voltar ao primeiro amor, o pedido do Conselho da Ordem

Na conclusão do CPO, Frei Michael Perry fez algumas considerações a respeito dos temas trabalhados e dos próComunicações Agosto de 2018

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ximos passos que serão dados até a elaboração do documento final. “Teríamos que olhar a questão da migração humana, que é um fenômeno/problema comum em todas as Conferências e na Terra Santa. Os desafios emergentes das novas formas de migração humana nos convocam a inventar novas respostas que derivem do nosso compromisso fundamental de Frades Menores, com a finalidade de demonstrar nossa vontade de acolher e acompanhar nossos irmãos e irmãs de modo que reflita o melhor que somos como seres humanos, discípulos do Senhor Jesus ressuscitado, seguidores de São Francisco e membros do corpo de Cristo, a Igreja”, afirmou o frade em sua mensagem final. Ele destacou também a metodologia de trabalho usada durante o CPO e o que os participantes puderam sentir na experiência. “O que ficou claro é que, apesar de algumas diferenças muito particulares ou contextuais, muitas coisas nos unem, tanto em termos de identidade fundamental como em termos de restrições específicas e desafios particulares que enfrentamos em maior ou menor medida em todas as nossas entidades”, acrescentou. Na carta, traduzida em italiano, inglês e espanhol, o Ministro Geral destacou que desde o Concílio Vaticano II, a Ordem dos Frades Menores se dedica a definir uma identidade clara, fixa e definida do que significa ser

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frade menor em meio a um mundo e cosmos que mudam em ritmo cada vez maior. “Estas mudanças aceleradas às vezes deixam uma crescente sensação de perda, desenraizamento espiritual e psicológico e impotência. Um mundo em constante mudança também precisa do desafio que vem de nossa identidade humana, cristã e franciscana”. “Não é de estranhar que os Frades Menores, como a maior parte da humanidade, está buscando o que vários missiólogos descreveram como um processo de identificação e recuperação de “constantes”. Creio que possamos dizer que estas “constantes” são os elementos que consideramos verdadeiros, inalteráveis, permanentes, não sujeitos à pressão das mudanças que se produzem nos ambientes científicos, sociais ou naturais: 1. Relação profunda e permanente com Deus; 2. Compromisso com a fraternidade evangélica; 3. Compromisso de viver e trabalhar com irmãos e irmãs pobres, excluídos e marginalizados; 4. Busca de uma espiritualidade de itinerância a serviço da missão evangelizadora da Igreja; 5. Desejo de abrir-se à Formação permanente e à conversão de mente e coração. (Cinco prioridades da Ordem) Na mensagem, o Ministro Geral cha-

ma a atenção para a necessidade de voltar ao primeiro amor, um tema recorrente no CPO. “É necessário um novo modo de viver melhor os valores centrais que desperte novamente em nosso interior nosso primeiro amor, mas também requer que reinventemos formas específicas pelas quais devemos viver e compartilhar estes valores. Não podemos simplesmente seguir fazendo o que sempre temos feito, como se os “odres velhos” pudessem receber e suportar o “vinho novo”, assinalou. Sobre os novos desafios vividos no mundo, como a questão da migração, ele afirma que os Frades Menores são chamados a responder com coragem e vigor. “Não podemos fugir ou nos escondermos destes desafios que estão nos atropelando – na realidade estão gritando dentro de nós, de nossas fraternidades e da Ordem. Ainda somos chamados pelo Senhor Jesus, por São Francisco de Assis, pelo Papa Francisco e por toda Igreja a abraçar estes desafios e reconhecer dentro deles as oportunidades para reafirmar nosso carisma e para expressar a plenitude de nossa fé e confiança em Deus e nossa crença na presença e imagem de Deus em cada ser vivo (Laudato Si’). É graças a esta crença e confiança profunda na presença de Deus no mundo que mais uma vez expressamos nossa profunda disponibilidade de arriscar tudo para o Reino


Evangelização de Deus, um Reino de verdade, justiça, amor, liberdade e perdão, que são os “cinco pilares” da paz (Papa Paulo VI, São João Paulo II). “Uma compreensão franciscana do acontecimento da encarnação nos conduz a abraçar simultaneamente tanto a Cristo como a pessoa humana, a Cristo crucificado e glorificado em São Damião e a colônia de leprosos, indo além das fronteiras humanas de Assis”, acrescenta Frei Michael. Ele afirmou que o Definitório Geral começará a trabalhar o documento final assim que voltarem do CPO e levarão em consideração todos os temas levantados pelos conselheiros. “Vamos assegurar que não deixemos nenhuma ideia ou perspicácia nova ou útil que possa permitir ao Definitório Geral melhorar nossa maneira de governar e inspirar todos os frades da Ordem a aspirar um sentido mais alto e profundo da vida evangélica”, explicou. Na conclusão, Frei Michael retomou o texto bíblico que serviu como tema central na preparação e execução do CPO: “Conheço a conduta de você, seu esforço e sua perseverança. Sei que você não suporta os maus. Apareceram alguns dizendo que eram apóstolos. Você os provou e descobriu que não eram. Eram mentirosos. Você é perseverante. Sofreu por causa do meu nome, e não desanimou. Mas há uma coisa que eu reprovo: você abandonou seu primeiro amor. Preste atenção: repare onde você caiu, converta-se e retome o caminho de antes. Caso contrário, se não se converter, eu chego e arranco da posição em que está o candelabro que você tem. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2, 3-5.7a). E fez as seguintes ponderações: – Este texto nos chama à escuta apaixonada da voz de Deus em nossas vidas, na Igreja, na Ordem e no

mundo. Estas são palavras que costumamos reunir, mas isto é, de fato, o chamado desta Escritura. Somos chamados a voltar à nossa paixão original e a escutar o Espírito com esta paixão. – Este texto não foi selecionado para criticar aos membros do Conselho, mas como um marco, para entender o desafio que enfrentamos coletivamente na animação de nossa fraternidade global. Como Frades Menores, nos aferramos profundamente ao Evangelho e no exemplo de Jesus. Sabemos, no entanto, que há

Menores, devemos também aprender de novo como escutar os sonhos e também as decepções que cada um de nós suporta. Não somente devemos permitir que Deus nos guie até um amor renovado da Trindade, de Deus em nossas vidas, também permitimos que Deus nos guie até um renovado amor de nossos irmãos da Ordem. Devemos aprender novas formas de apoiá-los enquanto passam por estas noites escuras. E devemos celebrar a bondade de nossa vida em fraternidade e o dom da vocação de cada um.

irmãos que se desalentam, que têm perguntas e dúvidas sobre o futuro de nossa Ordem e, talvez sentindo-se abatidos, porque eles, ou nós, caímos “das alturas”. Esta passagem do Apocalipse nos chama ao arrependimento de nos havermos separado do nosso primeiro amor. Isto não significa que devemos promover um regresso nostálgico ao passado. Não estamos sendo chamados a um novo tipo de enamoramento, que promova uma resposta infantil que pouco fará para ajudar a cada um de nós a aprofundar a fé, a esperança e a capacidade de amar e sonhar. Convida-nos a aproveitar a paixão que Deus tem por cada um de nós e levar esta paixão em nosso compromisso com nossos irmãos, a Igreja e o mundo. – Para que este tipo de compromisso seja autêntico, para sermos fiéis ao nosso chamado de sermos Frades

– Nossa escuta, no entanto, não pode deixar de escutar a Deus e nossos irmãos da Ordem. Devemos continuar desenvolvendo novas ferramentas e promovendo dentro da Ordem um novo espírito de escuta à voz de Deus falando no mundo, o grito de Deus que se levanta no interior do povo de Deus e dentro do universo criado por Deus. Nós compartilhamos e escutamos juntos, de modo contemplativo, o que o Espírito está dizendo em contextos dramaticamente diversos. Continuemos esta prática da escuta apaixonada, escutando o Espírito com corações apaixonados. Sejamos embaixadores não somente de uma mensagem, mas também de um método que promove a escuta mútua, o discernimento e a ação coletiva. Erika Augusto, com informações de Frei Alvaci M. da Luz Comunicações Agosto de 2018

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Frei Alvaci visita missão no Sudão do Sul

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ntes de viajar para o Quênia, onde participou do Conselho Plenário da Ordem (CPO), Frei Alvaci Mendes da Luz, que é reitor do Santuário São Francisco, em São Paulo (SP), aproveitou sua primeira visita ao continente africano para visitar a missão dos Frades Menores no Sudão do Sul, país que tornou-se independente do Sudão em 2011 e desde 2013 vive uma guerra civil, num conflito interno entre duas etnias: dinka e nuer. Os frades que vivem no país administram a Paróquia Santíssima Trindade, na capital, Juba. A paróquia possui 6 comunidades, algumas a 4 horas de distância da capital. Na fraternidade vivem 5 frades, o guardião, Frei Frederico Gandolfi, da Itália, 2 frades da Polônia, 1 frade de Irlanda e o brasileiro Frei Leonardo Pinto dos Santos, de 35 anos, que pertence à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Junto ao Ministro Geral, Frei Michael Perry e outros dois frades, Frei

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Alvaci conheceu um pouco da realidade do país, que definiu como “pesada demais”, por conta do conflito, da fome e da guerra. Ele relata que sequer na capital há luz elétrica, asfalto, água encanada ou tratamento de esgoto. “Pela capital dá pra ter ideia de como vive o país. A capital tem o básico, algum comércio, mas pouca coisa. Não existe perspectiva de futuro. Se vive

para o hoje, se vive para conseguir a comida para aquele dia. No entanto, a população segue sua vida com o mínimo necessário. Há orfanatos, pessoas pedindo o mínimo, muita miséria, miséria absoluta”, descreve o frade. Frei Alvaci relata que, desde a 2ª Guerra Mundial, o Sudão vive um clima de instabilidade, por diversos fatores. Em 2011, um referendo foi feito e 99% da população aprovou a divisão do país em relação ao Sudão. É um país de maioria cristã, que se divide entre anglicanos e católicos. A maioria da população é anglicana, seguida dos muçulmanos. Os católicos ocupam o terceiro lugar. Por causa da guerra civil, mais de 1 milhão e 700 mil pessoas estão refugiadas. Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), o Sudão do Sul protagoniza a maior crise de refugiados do continente africano e a terceira maior do mundo, perdendo apenas para a Síria e o Afeganistão. Em Juba está localizado um dos maiores campos de refugiados do mundo, que acolhe 900 mil refugiados do próprio país. A etnia dinka, que está no poder e corresponde a 15% da população, persegue a etnia nuer, que corresponde a 10%, e que acaba fugindo do país ou se refugiando. Centenas de crimes contra os Direitos Humanos foram relatados no Sudão do Sul, por parte das duas etnias. Mulheres mortas e estupradas, castrações, mortes violentas e assassinatos de crianças. Apesar da situação, Frei Alvaci conta que a paróquia mantida pelos frades tem uma vida pastoral muito intensa, com 2 corais, grupo de coroinhas, catequese, Conselho Pastoral, além de reforço escolar, oficina de agricultura, entre outros. “Não tem como fazer esta experiência de


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vir à África e de estar em um país em guerra sem ficar comovido, sem ficar sensibilizado. Pra mim é a primeira experiência na África. Eu sei que há muitos países neste continente com situações extremamente contrastantes, como por exemplo, a África do Sul, mas outros tantos, principalmente nesta região, Somália, Etiópia, Quênia, vivem uma série de conflitos, são países muito pobres”, relata. O frade afirma que, vendo a realidade do Sudão do Sul, é possível ter um olhar diferente do que se vive no Brasil, por exemplo. Apesar da falta da esperança, da desigualdade social, da pobreza e do clima de instabilidade política, os brasileiros têm recursos materiais e naturais e um Governo a quem recorrer. “Aqui não há a quem reclamar”, compara. “A realidade do Sudão me impressionou muito. Pra quem vem à África pela primeira vez e passa por esta experiência, é chocante”, relata.

de ataques às crianças que vivem pelas ruas de Juba. É importante saber que aqui as crianças podem ser abandonadas quando a mãe é escolhida por outro homem, que dependendo da situação financeira, pode ter duas ou mais mulheres. Mulheres e crianças não “valem nada”, não somam, não contam. A sensação ao entrar num lugar desses é de impotência, pequenez, fragilidade… Confesso que me deu vontade de chorar várias vezes. O mundo esquece da África, deste

povo, destas dores. Sei que em nosso país temos muitas dificuldades tão grandes quanto estas. Não cabe a mim comparar sofrimentos porque eles são únicos e pessoais. Mas o que se vê aqui é fome, esquecimento, miséria. No meio da visita, nos trazem uma garrafinha de água mineral, o máximo a se oferecer aos visitantes. Deu vontade de oferecer para aquelas crianças, mas seria uma desfeita de minha parte. No canto da sala, uma TV espera o dia em que a casa tenha energia elétrica para que eles possam assistir ao jogo de futebol ou jogar vídeogame, me diz o pequeno Angelo, que fala um inglês perfeito e que no meio da conversa me conta toda a história de São José, terceiro nome que ele carrega! As palavras não traduzem a realidade. Ficam as perguntas: Por que tamanha desigualdade e tanto sofrimento? O que fazer para mudar? Como ser semente na terra, como ser sal que dá sabor? Érika Augusto

Experiência compartilhada nas redes sociais

Em seu perfil no Facebook, Frei Alvaci compartilhou uma das experiências em Juba: Fomos convidados a visitar o orfanato Santa Clara, mantido pelos frades há dois anos, depois de uma série Comunicações Agosto de 2018

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sefras – CRAI IMIGRANTES

RESPOSTA AOS SINAIS DE DESUMANIDADE E GLOBALIZAÇÃO DA INDIFERENÇA

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Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, abençoou, no dia 22 de junho, a nova sede do Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI), um serviço do Sefras em São Paulo. “Venho participar com muita alegria deste momento tão importante onde queremos invocar as bênçãos divinas sobre a nova sede do Centro de Referência e Atendimento para os Imigrantes”, disse o Provincial, em nome dos frades da Província, que, em suas diferentes frentes de missão, acreditam na importância da “solidariedade para com os Empobrecidos”. “Este espaço abençoado é, sem dúvida alguma, uma resposta que a Igreja, em parceria com a sociedade paulistana, deseja oferecer a este momento histórico, ferido por profundos sinais de ‘desumanidade’ e da ‘globalização da indiferença’”, disse Frei Fidêncio. O trabalho com imigrantes no Sefras

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teve início em 2014, com a chegada dos haitianos em São Paulo, quando foram acolhidos na casa da Rua Japurá. Com o aumento das demandas, foi escolhido este novo espaço na Rua Major Diogo, no mesmo bairro da Bela Vista, região central de São Paulo. Frei Fidêncio citou duas frases bíblicas ao comentar a missão deste Centro: A primeira, extraída do livro do Levítico, diz: “Se um estrangeiro vier morar convosco no país, não o maltrateis. O Estrangeiro que mora convosco será para vós o natural do país. Ama-o como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros no Egito” (Lev 19,23); e a segunda, colocada na boca de Jesus Cristo, pelo evangelista Mateus: “Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram” (Mt 25,.35-36). “O cuidado pela

pessoa do outro, especialmente pelos mais sofridos, acompanha a história da humanidade”, enfatizou, lembrando que hoje o Papa Francisco muito tem se preocupado com a grande onda de migrações, de milhares de pessoas que precisam deixar suas terras por motivos de guerra, perseguição política, perseguição religiosa, e até mesmo porque no país de origem não mais existem perspectivas para uma qualidade de vida decente. Frei Fidêncio citou quatro verbos que o Papa Francisco usa e que para ele são fundamentais quando se contempla a sofrida realidade dos imigrantes: 1. ACOLHER: “Cada forasteiro que bate à nossa porta é uma ocasião para o encontro com Jesus Cristo, que se identifica com o forasteiro ou refugiado de qualquer época”. “Acolher significa, antes de tudo, oferecer a imigrantes e refugiados possibilidades mais amplas de en-


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trada segura e legal nos países de destino. Neste sentido, é desejável um empenho concreto para se incrementar e simplificar a concessão de vistos humanitários e para a reunificação familiar”. Acolher é superar a indiferença, e para isto é necessário “um espaço adequado e decoroso” e “permitir uma melhor qualidade de serviços e oferecer maiores garantias de sucesso”. 2. PROTEGER: Proteger “é um imperativo moral a ser traduzido adotando instrumentos jurídicos, realizando políticas justas, aplicando

programas contra os traficantes de carne humana”. 3. PROMOVER: “Promover o desenvolvimento humano integral dos migrantes. 4. INTEGRAR: “Não é fácil entrar na cultura que nos é alheia, pôr-nos no lugar de pessoas tão diferentes de nós, compreender seus pensamentos e suas experiências”. Integrar significa “conhecer e respeitar as leis, a cultura e as tradições dos países que os acolheram”. “A bênção de Deus não vem a nós e sobre nós de forma mágica. A bênção sempre estará presente neste espaço do

CRAI quando nós, de forma solidária e franciscana, soubermos conjugar os verbos ACOLHER, PROTEGER, PROMOVER E INTEGRAR, tendo como denominador comum o verbo AMAR”, ensinou o Ministro Provincial. A comemoração também contou com a participação do Sarau das Américas, um grupo auto-gestionado e sem fins lucrativos, que é constituído por brasileiros e imigrantes. Ele ajudou a colorir e dar vida ao espaço. “Todos os murais foram pensados em uma temática relacionada com a imigração”, explicou a coordenadora do serviço, Sávia Cordeiro.

RETIRO COM OS TRABALHADORES

QUATRO ANOS NO JARDIM PERI

O Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) reuniu seus colaboradores, de 6 a 9 de julho, em Tanguá (RJ), em mais uma edição do Retiro Anual, sob o tema “Francisco de Assis: vida, espiritualidade e fraternidade”. Participaram 35 pessoas dos diversos serviços. A assessoria do retiro ficou por conta do Frei Sandro Roberto da Costa, que é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha, e do Frei José Francisco, coordenador do Sefras. O Sefras promove ao longo do ano três retiros. O objetivo destes encontros é oferecer espaços de resistência e fortalecimento dos trabalhadores, de encontro fraterno entre as equipes de trabalho, de lazer, de estudo, de reflexão e de momentos celebrativos. Neste ano será realizado outro retiro em novembro e terá como motivação a não-violência.

Para celebrar os quatro anos do serviço, o Sefras Criança do Jardim Peri realizou uma animada Festa Junina para os participantes e moradores da região no dia 14 de julho. A comemoração contou com a apresentação dos grupos de escaleta e percussão das crianças e adolescentes do serviço. “Essa comemoração marca nosso quarto ano de presença na região onde já enfrentamos diversos desafios e realizações. Uma história de sucesso e que tem tudo para continuar trilhando por esse caminho. Convidamos toda a comunidade para celebrar com a gente essa data tão importante e que é mais um marco em nossa trajetória”, destacou a coordenadora do serviço, Ângela Assis. Comunicações Agosto de 2018

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FUNDAÇÃO FREI ROGÉRIO É HOMENAGEADA

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m solenidade realizada na noite de quinta-feira, 21 de junho, na Câmara de Vereadores de Curitibanos, os parlamentares entregaram a comenda do Mérito Curitibanense à Fundação Frei Rogério. A entidade mantenedora das Rádios Coroado FM e Movimento FM, foi homenageada pelos relevantes serviços prestados à comunidade curitibanense. A Sessão Solene foi presidida pelo vereador Ivan França Moreira, que destacou a importância de homenagear pessoas e entidades que contribuem para o crescimento do município. Frei Roberto Carlos Nunes, vice -presidente e gestor da Fundação Frei Rogério foi quem representou a entidade. Em seu discurso destacou que a homenagem é um reconhecimento do trabalho realizado há mais de 60

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anos junto à comunidade de Curitibanos e região. A Fundação Frei Rogério, com suas duas emissoras, atinge 90 municípios do Planalto, Serra Catarinense, bem como o Norte Gaúcho, até o Sul do Paraná, somando uma população de 868 mil habitantes. As ondas das Emissoras levam

informação, entretenimento, músicas, conteúdos de Evangelização, destacam valores ético-morais e também promoção da vida. Ainda promovemos êxito na venda de produtos, divulgação de promoções sociais e culturais. Claiton Bohnenberger


Evangelização

ENCONTRO DA FRENTE DAS PARÓQUIAS, SANTUÁRIOS E CENTROS DE ACOLHIMENTO

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Papa Francisco tem orientado e insistido que a paróquia seja um lugar especial de escuta da palavra de Deus, da vivência cristã e do exercício da caridade entre todos os membros da comunidade paroquial e os que, por alguma razão, estão fora dela. Os documentos da Igreja e da Ordem ressaltam a paróquia como casa que acolhe, ama, reza, fortifica e fortalece os irmãos na fé, pratica a caridade e a solidariedade, entre tantas outras realidades e possibilidades. “A Paróquia é como uma fonte de água cristalina no meio da praça e do povo, onde as pessoas vão buscar água” (cardeal Luis Martinez Sistach, arcebispo de Barcelona). O encontro ampliado da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento com frades e leigos será nos dias 27 e 28 de agosto. Por sugestão dos próprios frades será em dois lugares para evitar longos deslocamentos. Com isso, escolheu-se o Convento São Francisco, no centro de São Paulo, para o encontro das Paró-

quias do Norte (SP, RJ e ES) da Província, e Rondinha, em Campo Largo, para o encontro das Paróquias do Sul (PR e SC). O tema de estudo deste encontro será “Enviados a Evangelizar em Fraternidade e Minoridade na Paróquia”. Os assessores do evento serão, em São Paulo, Frei Toni Michels e Frei João Reinert; e, em Rondinha, Frei José Idair e Frei Alex Ciarnoscki. Para que possamos organizar bem estes eventos, pedimos que se respeitem os prazos de inscrições, de 1º a 15 de agosto. O link para o formulário foi enviado por Boletim On line.

HOSPEDAGEM E ALIMENTAÇÃO:

• Pedimos uma colaboração no valor de R$ 85,00 (oitenta e cinco reais) por pessoa (valor total). Informamos que o encerramento será com o almoço do dia 28. • Para a hospedagem, informe os nomes das pessoas. Quem tiver dificuldade em se inscrever,

por favor, entre em contato comigo: (11) 3459-1434 ou (11) 97739-0152 Fraternalmente, Frei Germano Guesser, OFM Coordenador da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento.

PROGRAMAÇÃO

Dia 27 – SEGUNDA-FEIRA 14h00 - Acolhida Tema de estudo: Enviados a Evangelizar em Fraternidade e Minoridade na Paróquia (documento da Ordem) 15h30 - Intervalo 16h00 - Continuação do estudo 17h30 - Intervalo 18h00 - Oração e janta 20h00 - Continuação do estudo DIA 28 DE AGOSTO – TERÇA-FEIRA 07h15 - Oração/Eucaristia 08h00 - Café 09h00 - Continuidade – Questões para Grupos 10h00 - Intervalo 10h30 - Plenário e palavra livre 12h00 - Almoço e término do encontro

Não deixe de participar!

Caros irmãos, Paz e Bem! Conforme já anunciado nas notícias do Definitório Provincial de fevereiro, realizaremos neste ano o Encontro dos Irmãos Leigos da Província. Em consonância com o Capítulo Provincial foi escolhido como tema a “Minoridade franciscana: sinal de comunhão”. O encontro será realizado em Rondinha e terá

como assessor Frei Éderson Queiroz, OFMCap, presidente da Conferência da Família Franciscana do Brasil. Contamos com sua presença neste encontro de partilha, formação e confraternização. Agendem-se: Data: 7 a 9 de setembro de 2018 (chegada 06/09 para janta e término em 09/09 com o almoço, às 12h); Local: Fraternidade Franciscana São Boaventura, Rondinha, Campo Largo – PR

A inscrição deve ser realizada através do e-mail do Frei Róger Brunorio (frroger@franciscanos.org.br). Para cobrir as despesas de hospedagem e alimentação será cobrada uma taxa de R$ 255,00. Qualquer dúvida, entre em contato com os responsáveis pela preparação do Encontro: Frei Róger Brunorio (frroger@franciscanos.org.br), Frei Roger Strapazzon (strapazzon@gmail.com) e Frei Thiago da Silva Soares (thiagodass@gmail.com). Contentes com sua participação, aguardamos sua inscrição. Um abraço fraterno, Comissão Organizadora Comunicações Agosto de 2018

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FOLHINHA CELEBRA

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80 ANOS EM 2019

edição do próximo ano da tradicional Folhinha do Sagrado Coração, que já pode ser adquirida pelos milhares de leitores espalhados pelo país e fora dele, é especial. Esta publicação da Editora Vozes celebra 80 anos, já que o primeiro número começou a ser feito e foi apresentado ao público em 1939. Em 1940, a primeira edição chegava aos lares brasileiros para conquistar de vez o coração dos leitores católicos. “A Editora Vozes, ao longo dos seus 117 anos história, publicou centenas e mais centenas de livros e revistas, muitos dos quais fizeram história para a Igreja no Brasil. Dentro desse universo editorial e gráfico, uma das ideias mais geniais foi a criação e o lançamento da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus. Mais do que um sucesso editorial com 80 anos de história, a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, mesmo se usado o diminutivo “folhinha”, foi grandiosa na sua missão de comunicação, informação e sobretudo de evangelização em milhares de lares brasileiros”, avalia o Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel. “Portanto, mais do que um simples calendário, a Folhinha tinha um sentido sacramental de bênção dentro do lar. Daí a frase ‘Sagrado Coração de Jesus, abençoai este lar’. Cada pessoa, ao destacar diariamente a página da Folhinha, além de ler seu conteúdo, experimenta a graça de contemplar e permitir ser contemplada pelo Coração amoroso e misericordioso de Jesus”, lembra Frei Fidêncio.

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Evangelização até os dias de hoje: retornou ao nome original: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus. Em 1996, a Folhinha começou a apresentar-se também na versão (modelo) para mesa.

ALMANAQUE DE SANTO ANTÔNIO

A Folhinha é composta de uma estampa com imagem do Sagrado Coração de Jesus e de um bloco com o calendário anual, que é encaixado na parte inferior da estampa. Possui conteúdo diversificado de religião até culinária, mensagens e cuidados para com a saúde. Traz indicação litúrgica diária, calendário agrícola e de pesca, fases da lua, pensamentos bíblicos e de autores diversos, datas comemorativas civis e de santos, comentário do Evangelho dominical, concurso bíblico, reflexões, curiosidades e humor. Ela é também editada na versão para mesa, sendo ideal para o ambiente de trabalho. “A Editora Vozes celebra 80 anos de um importante meio de evangelização cristão, popular e muito querido pelos leitores, e até os dias de hoje presente nos lares brasileiros. Ao mesmo tempo que resgata a história da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, continua a oferecer valores para seu público, sendo-lhe uma companhia diária como fonte de espiritualidade, informação e entretenimento”, celebra o editor Frei Edrian Josué Pasini. “Desde 1940, temos a Folhinha presente em mais de 600 mil lares brasileiros, levando-lhes a cada dia uma mensagem otimista e cativando toda a família”, diz o frade.

A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus é a mais antiga publicação desse formato no Brasil. Jorge Conrado Deister, funcionário da editora na época, foi o primeiro redator da Folhinha. Uma das primeiras propagandas da Folhinha saiu no periódico publicado pela própria editora, “A Voz de Santo Antônio”, de abril de 1939. Num dos trechos dizia-se que se “tomou por programa de atuação a difusão do culto do Sagrado Coração de Jesus tão tradicional no Brasil católico desde os tempos do Pe. José de Anchieta”. Provavelmente, o nome da Folhinha teve origem nessa devoção. Em 1959, a Editora Vozes adquiriu a impressora rotativa Pavema, de fabricação alemã, para imprimir especialmente a Folhinha. Em 1940, sua tiragem era de 31 mil exemplares. Em novembro de 1963, a impressão da edição do ano posterior, ultrapassou 1 milhão de exemplares. Em 1982 chegou a exatos 1.260.705 exemplares. Hoje, sua tiragem aproxima-se a 600 mil exemplares. Nesse tempo em que foi publicada, sofreu mudanças em seu nome: de 1940 a 1959: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus; de 1960 a 1975: Almanaque do Sagrado Coração de Jesus; de 1976 a 1978: Informativo Popular Coração de Jesus; de 1979

Como é tradição, durante as festividades em honra de Santo Antônio, o editor Frei Edrian Pasini lança religiosamente o Almanaque de Santo Antônio, uma publicação que vem de uma tradição milenar de egípcios, gregos, romanos e hindus. Frei Edrian destacou que, historicamente, as pessoas já tiveram contato com outros almanaques, tais como de farmácia, conhecimento geral e também almanaques mais específicos (científicos) ou de outras áreas. “O nosso Almanaque apresenta o calendário civil, litúrgico, agrícola e também o de astronomia. Além disso, ele traz muitos temas tais como: contos, culinária, curiosidades, dicas diversas, temas de ecologia e educação, folclore, e outro destaque são também os passatempos e o cuidado com a saúde”, frisou o editor.

PRODUTOS SAZONAIS

A Editora Vozes já colocou à venda todos os seus produtos sazonais de 2019. Além da Folhinha do Sagrado e do Almanaque Santo Antônio, podem ser adquiridos os seguintes produtos do próximo ano: - Agenda do Sagrado Coração de Jesus; Calendário de mesa do Sagrado Coração de Jesus; Encontro Diário com Deus; Guia Litúrgico – Ano C; Agendinha Simples; Diário Vozes Luxo; e Meditações para o dia a dia. Todos esses produtos, incluindo a Folhinha, podem ser adquirida pelos telefones (24) 2233-9029 / (24) 2233-9042 ou pelo e-mail vendas@vozes.com.br. Comunicações Agosto de 2018

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om o dever cumprido de liderar mais um encontro de jovens, desta vez nacional, Frei Diego Melo, animador provincial do Serviço de Animação Vocacional da Província (SAV), destaca três pontos importantes deste 3º Encontro Nacional Franciscano de Juventudes (ENFJ), promovido pela Conferência dos Frades Menores do Brasil, de 19 a 22 de julho, sob a proteção da Virgem da Penha. O primeiro é o protagonismo juvenil, que para ele fez a diferença neste encontro. “Desde a composição da equipe de Coordenação Nacional até a condução dos pequenos grupos, pensamos que esse deveria ser um encontro preparado pelos próprios jovens. E assim o foi, pois a juventude de Vila Velha – ES, que somou um batalhão de quase 300 voluntários, deu um verdadeiro exemplo de empenho, protagonismo, liderança, dedicação e serviço. Foram eles que pensaram, criaram e executaram muita coisa desse grande encontro, pois jovem evangeliza jovem”, avaliou.

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Segundo o frade, a experiência de trabalho com as juventudes de nossa Província serviu para fazer algumas mudanças. “Procuramos dar um caráter mais dinâmico ao encontro, procurando fugir do modelo palestratrabalho em grupos-plenário. Além do necessário aprofundamento teórico, trouxemos testemunhos concretos de missão, exemplos reais daquilo que nossos frades e jovens estão realizando por esse Brasil afora, bem como realizamos uma plenária mais interativa e jovial. Também possibilitamos um momento de missão dentro do próprio ENFJ, fazendo um grande mutirão de visitas às casas, instituições e realidades de desafios sociais. Tudo isso proporcionou um apro-

fundamento das reflexões, bem como o contato direto com a realidade das famílias capixabas”, explicou. Por último, o envolvimento da Província, abraçando essa causa, garantiu o sucesso à missão que foi confiada pela CFMB há três anos. O frade revelou que, diferentemente das outras edições, nesse ano não houve nenhum projeto financeiro vindo de fora, de forma que praticamente todos os custos foram absorvidos pela anfitriã do evento. “Os kits do Encontro foram todos financiados pelas nossas próprias instituições: USF de Bragança Paulista, Bom Jesus - FAE e Editora Vozes. Além disso, o Convento da Penha entrou como grande parceiro quando nos possibilitou a venda de camisetas durante a Festa da Penha e ainda doou parte da renda arrecadada com a venda dos livrinhos do Oitavário. Por fim, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, sede do Encontro, não mediu esforços para envolver a todos os seus paroquianos na preparação e na execução do ENFJ, além de ter vendido a rifa de uma moto que aju-


cfmb dou a amortizar nossos gastos. Ainda estamos fechando as contas, mas já posso adiantar que tudo indica que não precisaremos ratear nenhum valor com a CFMB, pois acredito que, graças à ajuda de tantas pessoas e instituições, conseguiremos sanar todas as nossas dívidas”, espera o frade. Frei Diego também destacou o envolvimento das Paróquias e Fraternidades em enviar os seus quase 100 jovens delegados. “A presença massiva dos frades estudantes de Filosofia, bem como dos demais frades da Província também foi algo marcante”, agradeceu Frei Diego, falando em nome da Equipe de Coordenação Nacional. “Meu sincero agradecimento a toda a Província que abraçou e se dedicou para que esse 3° Encontro Nacional Franciscano de Juventudes acontecesse da melhor forma possível. Tenho certeza de que os laços reafirmados entre nós e com os jovens,

enquanto Conferência dos Frades Menores do Brasil, trarão um novo vigor às nossas entidades, bem como frutificarão em nossas paróquias e fraternidades. Que em 2021 possamos novamente reunir nossos jovens em

Santarém – PA, com o coração ainda mais ardoroso de amor pelo Cristo que tanto encantou a São Francisco”, desejou. O primeiro ENFJ aconteceu em Canindé (CE/2011) e o segundo em Anápolis (GO/2015).

1º DIA

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ALEGRIA DO ENCONTRO

o desânimo se converteu em ardor: Permanece conosco, Senhor” (Lc 24,29). O lema do 3º Encontro Nacional Franciscano de Juventudes deu a tônica deste primeiro dia, marcado pela chegada e acolhida das delegações provenientes de todas as regiões do Brasil. Mesmo com o cansaço da viagem, com as horas de voo, estradas, desafios, encontros e desencontros do caminho, todos os participantes se deixaram contagiar pela atmosfera de alegria e entusiasmo que encontraram em Vila Velha, ES. Com uma organização ágil e eficiente, todos os participantes receberam

o kit do encontro e as primeiras instruções. Na celebração de abertura, realizada às 19h30 no Santuário do Divino Espírito Santo, participaram de uma oração inspirada na experiência de Taizé, comunidade fundada na França, marcada pelo espírito da contemplação e do ecumenismo. Com a luz

suave das velas, puderam contemplar o Mistério do Amor de Deus a partir de mantras e da leitura de trechos da Sagrada Escritura. Num dos refrões orantes entoados durante a oração, cantaram juntos: “Que arda como brasa, tua Palavra nos renove. Esta chama que a boca proclama”. Enquanto os jovens rezavam dentro da igreja, ao lado de fora, com expectativa e alegria, as famílias acolhedoras participavam de um momento orante improvisado conduzido por Frei Diego Melo, coordenador geral do encontro. Concluído o momento de oração, as luzes do Santuário se acenderam Comunicações Agosto de 2018

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para apresentação das delegações. Os estandartes das entidades da Conferência da Ordem dos Frades Menores do Brasil (CFMB) foram entronizados ao fundo do presbitério, sob um grande crucifixo artesanal de madeira. Em seguida, Frei Leandro Costa e a jovem Mariana Daleprani, apresentadores oficiais do evento, deram as boas vindas e apresentaram as equipes de coordenação e organização. Momento de festa e animação, marcado pela energia da juventude. Também emocionante foi o encontro dos jovens com as famílias acolhedoras, que entraram em procissão e, em seguida foram apresentados aos “filhos e filhas” que ganharam para este final de semana. Depois de um dia cheio de alegrias e novidades, era hora de descansar e, certamente, meditar no coração todas as emoções vividas no primeiro dia de ENFJ. Na sexta-feira, 20/07, depois de um momento de oração junto às famílias acolhedoras, os jovens se encon-

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tram no auditório do Centro Pastoral do Santuário, onde participam de uma mesa redonda sobre a realidade juvenil na atualidade. Também houve atividades em grupos, onde a juventude pôde expressar suas impressões, sentimentos e opiniões e, ao final do dia, a Noite Cultural. Promovido pela Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB), o 3º Encontro Nacional Franciscano de Juventudes (ENFJ) reuniu jovens de todo o país para uma experiência de convivência fraterna, oração e vivência da espiritualidade e dos valores franciscanos.

JOVENS QUE REZAM, REFLETEM, PROPÕEM E AGEM

Depois de um dia marcado pela acolhida e pela alegria do encontro, os participantes do 3º ENFJ começaram, na sexta-feira (20/7), o exercício de se debruçarem sobre os desafios da realidade para iluminá-los a partir da luz da fé. Iniciaram o dia rezando junto às família acolhedoras. Tiveram a oportunidade de refletir sobre a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,13-16), na qual Jesus define seus discípulos como “sal da terra e luz do mundo”. Impulsionados por esta palavra e pelo saboroso café que partilharam junto às famílias, os jovens vieram para o Santuário do Divino Espírito Santo onde, num auditório superlotado, fizeram o compromisso de, ao modo de São Francisco, deixarem-se conduzir pelo Senhor. Como marca deste propósito, cada um deles recebeu o Tau Franciscano para trazê-lo pendurado no pescoço, junto ao coração.


cfmb Com a mediação de Frei Toni Michels, pároco em Campos Elíseos, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, três expositores compuseram a mesa redonda sobre o fenômeno das juventudes e os desafios da atualidade. A primeira apresentação foi a da Professora Hildete Emanuele Nogueira de Souza. Natural de Salvador, BA, é especialista na temática da Juventude pela PUC de Goiás e também tem sua trajetória marcada pelo engajamento na Pastoral da Juventude. Ao se referir ao título que possui, Hildete frisou: “No meu currículo consta que sou especialista em Juventude. De fato, fiz o curso e cumpri todas as etapas de exigência. No entanto, mais do que atender a uma exigência acadêmica, ser especialista em juventude significa partilhar a vida dos jovens, comer com eles o mesmo pão, caminhar em sua companhia”. Em sua apresentação, Hildete destacou os muitos aspectos envolvidos na definição do conceito de juventude e comentou que, por se tratar de uma realidade complexa e diversa, a abordagem do tema deve ser feita a partir de uma dimensão multidisciplinar, levando-se em conta fatores biológicos, demográficos, etários, culturais, psicológicos, comportamentais, entre outros. “Precisamos considerar o conceito ‘juventudes’, no plural, levando-se em conta a diversidade e as diferenças que marcam esta etapa da vida”. Ao finalizar sua participação, Hildete convidou os participantes do encontro a abraçarem a proposta do Papa Francisco de realizarem juntos, a “revolução da ternura”. Frei Pedro Junior, o segundo expositor, também baiano, de Campo Formoso e atualmente pároco em Campina Grande, PB, propôs uma abordagem do fenômeno juvenil a partir da iluminação da fé. Inspirado no episódio dos discípulos de Emaús, propôs um percurso para a juventude

em companhia de Jesus, marcado pelo empenho de “caminhar juntos”, de “fazer memória” e de “partir o pão”. “Jesus é a melhor companhia que temos para caminhar conosco. O percurso que ele fez com os discípulos de Emaús, continua hoje a fazer conosco, guiando-nos pelos caminhos da vida”, enfatizou. O terceiro palestrante, Carlos Fernandes Veras Neto, formado em Comunicação e formando da Ordem Franciscana Secular, baseou-se no encontro entre São Francisco e o leproso para descrever algumas possibilidades práticas de transformação da realidade a partir do Carisma de São Francisco. “Como jovens franciscanos, precisamos a aprender ocupar os espaços de desfio para atualizarmos o gesto de Francisco de ir ao encontro dos excluídos de nosso tempo”, provocou Carlos, citando como exemplo

o trabalho que ele e outros companheiros da Pastoral da Juventude realizaram junto às crianças em situação de vulnerabilidade no Bairro Parque Real, comunidade carente da cidade de Bauru, no interior de São Paulo. A partir das provocações apresentadas na mesa redonda, o trabalho dos jovens foi o de refletir em grupo e manifestar suas opiniões em torno da temática proposta. Na parte da tarde, continuou a discussão em grupos, seguida pela apresentação dos resultados em plenária.

NOITE CULTURAL

Um verdadeiro festival de expressões culturais marcou a noite do segundo dia do 3º Encontro Nacional Franciscano de Juventudes (ENFJ). Ritmos e danças variadas embalaram os participantes em apresentações di-

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versas que trouxeram para Vila Velha um pouco da cultura de cada pedaço deste imenso Brasil: houve frevo, forró, carimbó, vanerão, sertanejo, samba e outros ritmos, além de trajes com cores e modelos variados. Teve rima e prosa, causo e poesia para expressar a riqueza da diversidade dos muitos lugares onde os frades franciscanos marcam presença no Brasil. Muitos grupos fizeram números de integra-

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ção com toda a plateia, convidando todos os presentes a caírem na dança. A gastronomia, outro show à parte, quitutes típicos trouxeram de volta ao paladar o gosto da infância, com pipoca, algodão doce, cachorro quente, pé-de-moleque, paçoca e por aí vai… A festa, que tinha previsão de terminar às 22h, passou das 23h. No final, uma surpresa que arrancou aplausos e expressões de

admiração e afeto. A Imagem de Nossa Senhora da Penha, Padroeira do Estado do Espírito Santo, entrou solenemente e foi entronizada ao som do tradicional hino “Virgem da Penha”, executado em ritmo de samba enredo pela Bateria da Escola de Samba capixaba Mocidade Unida da Glória. Samba e devoção fecharam com chave de ouro o segundo dia do ENFJ.


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2º DIA

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LOUVOR AO CRIADOR

anhã ensolarada na Praia da Costa, em Vila Velha, ES. Céu azulzinho de encher os olhos e o coração. Este foi o cartão postal que deu as boas-vindas aos participantes do 3º ENFJ na manhã deste sábado, dia 21 de julho. Com cantos de acolhida e louvor, foram chegando aos poucos, trazidos pelas famílias acolhedoras. Viram um ambiente preparado carinhosamente por Deus, que providenciou a beleza dos bens da Criação e foram se aconchegando ao redor do Crucifixo de São Damião posicionado na areia da praia. Frei Leandro Costa, que dirigiu o momento, convidou os participantes a se deixarem tocar pelos sentidos, percebendo o calor do sol, a textura da areia, o som das águas do mar e a suavidade do vento. Embalados por esta atmosfera, alguns jovens começaram a declamar o “Cântico das Criaturas”, célebre composição de São Francisco, louvando o Altíssimo pelos bens criados. Na sequência, acompanharam a leitura do trecho do Evangelho de São João (Jo 21,1-14), no qual Jesus orien-

ta São Pedro e seus discípulos a lançarem as redes à direita do barco e eles têm uma pesca abundante. Aquecidos pelo sol, pelo encontro com os irmãos e irmãs e pela Palavra de Deus, a juventude, depois de um breve ensaio, colocou-se em movimento numa integradora dança circular, mais uma vez embalada pelo Cântico das Criaturas, desta vez entoado em italiano. À distância, um senhor humilde, aparentemente em situação de rua, acompanhava com devoção aqueles momentos orantes. Jesus estava presente. De mãos dadas, os jovens entregaram mais este dia de encontro aos cuidados do Pai, com o oração do Pai-Nosso, e também se confiaram ao olhar materno e amoroso da Mãe do Céu, rezando a Ave-Maria. Após este revigorante momento de espiritualidade, seguiram a pé para o Santuário do Espírito Santo, onde participam de um momento de partilha de experiências missionárias e evangelizadoras. Em seguida, partiram em missão, pelas comunidades da Paróquia do Rosário.

JOVENS EM MISSÃO

“Vocês já perceberam que um dos pontos fortes deste nosso encontro é o espírito de missão?”. Com esta pergunta, o coordenador geral do 3º Encontro Nacional Franciscano de Juventudes (ENFJ), Frei Diego Melo, deu início aos trabalhos do sábado, dia 21 de julho, quando, depois de participarem da oração da manhã na praia, a juventude franciscana se reuniu no auditório do Santuário do Divino Espírito Santo para uma partilha de três diferentes experiências de missão. A primeira foi apresentada pelo Secretário Fraterno Nacional da Juventude Franciscana (Jufra), Washington Lima dos Santos. Ele começou lembrando que missão é muito mais do que percorrer um caminho físico, percorrer estradas e caminhos de terra, de pedra ou de asfalto. Ela perpassa os aspectos bem mais amplos da vida e da existência. “A missão começa com as pessoas mais próximas, dentro de nossa casa mesmo”, enfatizou. Para falar de sua experiência missionária, o Comunicações Agosto de 2018

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secretário fraterno expôs dados e fatos de sua história pessoal e de sua cidade de nascimento, Penedo, em Alagoas. Ele revelou como foi o seu contato com os frades da cidade e como foi se introduzindo no carisma franciscano. Relatou ainda que dificuldades e barreiras fazem parte da opção missionária e que não devem ser motivo para desanimar. Partilhou ainda sua experiência como animador fraterno da Jufra, viajando pelos diversos Estados do Brasil no serviço de animar as fraternidades. Mariana Rogoski, que veio de Curitiba, relatou sua experiência missionária junto aos frades da Província da Imaculada. Destacou o crescimento das iniciativas junto aos jovens, como a Caminhada Franciscana da Juventude (CFJ), iniciada em 2012, com 37 participantes, contando, em sua última edição, em 2018, com 800 jovens, e as Missões Franciscanas da Juventude, realizadas desde o ano de 2014. Maria emocionou-se ao recordar os frutos

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destas iniciativas, citando exemplo de jovens que tiveram uma mudança significativa depois de participar destas experiências. “São histórias de transformação muito profundas, quando os jovens mudam o rumo de suas vidas. Eu também vivi esta experiência e percebi que minha Igreja é na rua, no mundo, junto àqueles que mais precisam”, relatou. A terceira experiência foi partilhada por Frei João Messias, frade da Custódia de São Benedito, da Amazônia. Frei Messias é missionário junto aos índios Munduruku e, através de vídeos e de seu relato pessoal, apresentou um pouco do dia a dia da missão e dos grandes desafios que fazem parte da luta em defesa dos direitos dos índios no contexto da Amazônia. Ainda sob o impacto das experiências missionárias que ouviram, os jovens se reuniram, às 11h30, no Santuário, para a celebração de envio da Missão. A missa foi presidida pelo Coordenador do Serviço Interfranciscano de Evangelização e Missão (SI-

FEM), Frei César Külkamp. Em sua homilia, Frei César destacou o amor de Deus por seu povo e de como o Senhor resgata aqueles a quem ama chamando-os à missão. E encorajou os jovens a levarem adiante este amor, anunciando a bondade de Deus que oferece gratuitamente a salvação a todos. “Francisco entendeu esta mensagem do Senhor e enviou seus companheiros pelo mundo, como mensageiros da salvação. A verdadeira alegria, nós a encontramos quando partimos em missão”, afirmou. Frei César aproveitou também para destacar três realidades atuais que têm norteado a ação missionária da Ordem dos Frades Menores: a Cultura de Paz, a Mobilidade Humana (questão dos imigrantes e refugiados) e o Cuidado com a Criação. Logo após a homilia, os jovens se colocaram diante do altar e receberam a bênção do envio. À tarde, partiram em missão, para colocar em prática tudo que ouviram e aprenderam nos dois primeiros dias do encontro.


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ENCERRAMENTO E MENSAGEM FINAL

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epois de uma animada procissão, subindo a ladeira do Convento da Penha, os participantes do 3º ENFJ celebraram o encerramento do encontro, em Missa presidida pelo Ministro Provincial da entidade anfitriã, Frei Fidêncio Vanboemmel. Em sua homilia, baseado no

“E o desânimo se converteu em ardor: permanece conosco, Senhor”.

(Lc 24,29)

Somos jovens de muitas juventudes, de várias idades. Viemos de todas as regiões do Brasil. Nossos sotaques, costumes, origens e mentalidades são muito diferentes e variados. Mas temos algo em comum e que nos une: o amor a Jesus Cristo inspirado por Francisco e Clara de Assis.

lema do encontro e nas leituras do dia, Frei Fidêncio dirigiu à juventude uma palavra de ânimo e coragem. Ponto de destaque da celebração também foi o anúncio da entidade anfitriã do próximo ENFJ, a se realizar no ano de 2021. Depois de grande expectativa, foi anunciada a Custódia Fran-

ciscana de São Benedito da Amazônia como anfitriã, na cidade de Santarém, PA. Ao final da celebração, foi apresentada a carta-compromisso escrita a partir das reflexões e dos anseios da juventude que veio a Vila Velha. Segue o texto na íntegra: Somos jovens de Vila Velha, pois estivemos, entre os dias 19 e 22 de julho, reunidos neste paraíso situado em terras capixabas, acolhidos pelas famílias como filhos e filhas, sob as bênçãos de Nossa Senhora da Penha, a Virgem das Alegrias, Padroeira do Estado do Espírito Santo. Somos jovens de Emaús e, nestes dias de Encontro Nacional, tivemos a chance de recordar que não caminhamos a sós, mas sempre na companhia do Cristo Ressuscitado. Somos jovens que mais uma vez assumem o compromisso de Comunicações Agosto de 2018

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manter o coração abrasado e a mente iluminada pela sabedoria do Evangelho. Somos jovens com desejo de caminhar. Somos jovens do compromisso, pois sabemos que caminhada se faz com os pés no chão. E é o chão da realidade onde pisamos que queremos transformar com a força de nossa juventude. Somos jovens conectados e queremos ser testemunhas vivas do Ressuscitado no mundo da tecnologia e das redes. Somos jovens do Brasil e queremos renovar o nosso compromisso em denunciar todas as mazelas que vêm maltratando principalmente o povo simples de nosso país: a corrupção, a ganância de poucos, o descompromisso dos poderes públicos, as injustas decisões em prejuízo dos

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mais pobres, a entrega irresponsável das riquezas de nosso país, a violência de gênero, a intolerância religiosa, o extermínio de jovens negros e pobres, a destruição da natureza e dos bens da criação. Queremos ser jovens revolucionários, atendendo com coragem ao convite do Papa Francisco que nos chama a promover a “Revolução da Ternura”. Queremos ser jovens do discipulado e da missão, com o compromisso de sermos expressão viva e atuante de uma Igreja em saída. Queremos ser jovens da multiplicação, partilhando em nossas realidades as experiências e aprendizados que tivemos nestes dias em Vila Velha. Queremos ser jovens da perseverança, não deixando morrer as sementes aqui plantadas em nosso coração. Queremos ser jovens da comunhão, caminhando em sintonia com todos os ramos e expressões da Família Franciscana, bebendo do carisma que esta família pode nos oferecer. Queremos ser jovens da abertura e do diálogo, dispostos a ouvir e desejosos de sermos mais ouvidos. Queremos uma formação sólida e permanente para nosso crescimento enquanto expressão juvenil do Carisma de Francisco e Clara. Queremos ser jovens do protagonismo e espera-

mos contar com a confiança e apoio de nossas entidades na concretização de nossos sonhos e projetos. Queremos ser jovens da solidariedade e do abraço e, ao modo de Francisco, cultivar a coragem de abraçar os leprosos de nosso tempo, sem medo de ir ao encontro deles, assumindo suas lutas e misérias. Queremos ser jovens do aprendizado e da penitência, pois sabemos que temos limites e pecados e que estes só são superados quando procuramos manter com fidelidade os nossos olhos fixos no Senhor, sem abandonar o compromisso com a realidade. Somos jovens da fé e da alegria. Desejamos transmitir a força do Ressuscitado em nossos gestos e palavras, em nossos momentos de oração e de descontração, quando nos divertimos e também quando falamos sério, quando louvamos e quando nos engajamos nas causas sociais. Queremos ser jovens do serviço e desejamos, com Cristo e como Francisco, aprender e ensinar a lição do lava-pés. Somos muitos, somos diversos, desejamos estar unidos na construção do mundo sonhado por Deus em Jesus Cristo. Muito prazer, somos Jovens Franciscanos! Paz e bem! Equipe de Comunicação do 3º Enfj


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“O desafio hoje é não desistir de disputar o futuro”, diz Moema

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rês anos depois do lançamento da ‘Laudato Si’, a primeira Encíclica da história da Igreja Católica que trata da ecologia e do cuidado com a criação, como este documento está sendo assumido pela comunidade religiosa católica e como está sendo recebido pela sociedade, especialmente os governantes e ambientalistas? A antropóloga Moema Miranda, ministra da Fraternidade Santo Antônio da Ordem Franciscana Secular, lembra que o alerta do Papa Francisco dado com sua encíclica, totalmente inspirada no pensamento franciscano, está mais forte ainda neste mundo em mutação. Segundo ela, o Papa deixou claro que o meio ambiente precisa ser protegido para proteger a própria vida. Não há outro caminho. Mesmo assim, há resistências por parte das elites mundiais em aceitar que o nosso Planeta está em perigo. De um lado, o Papa lembra que o “clima é um bem comum, que pertence a todos e destina-se a todos”, e de outro lado o presidente Donald Trump responde descartando as mudanças climáticas e seus significativos impactos para a vida. O fechamento de fronteiras, as barreiras econômicas usadas como argumento de proteção, que só alimentam um estilo de vida consumista, não levam em conta a grande maioria da população que depende de um ambiente saudável para sua própria sobrevivência. Não há uma crise ambiental e outra social. Ou seja, se a terra sofre, os pobres são impactados, e vice-versa. “O Papa vincula intrinsicamente crise ambiental à crise social. A gente tem por tradição achar que

as pessoas que se preocupam com os pobres, que cuidam dos pobres, que trabalham com a justiça social estão de um lado; e os ambientalistas, muitas vezes, de outro. O Papa diz: ‘Olha, a mesma crise que afeta a Terra de maneira tão dramática, afeta também os seres humanos na sua totalidade de uma forma dramática’”, destaca Moema, que deu esta entrevista ao site “Franciscanos” no dia da festa de Santo Antônio, no Convento Santo Antônio (RJ). Mesmo nesse cenário de desesperança e imprevisibilidade, Moema é firme: não é hora de entregar os pontos. “A questão da imprevisibilidade é imensa. E qual é o nosso maior desafio hoje? É não desistir de disputar o futuro e lutar contra a lógica do ‘acabou a história, não tem mais jeito, vocês estão derrotados, o projeto de mundo vai ser esse mesmo; vai ser um mundo

para poucos!’. Não, não acabou! Temos que disputar, por isso que a gente tem dito que esperança hoje não é só um substantivo; esperança hoje é um compromisso, uma escolha: eu escolho ‘esperançar’”, ensina. “A Encíclica é um documento que todos nós, cristãos e cristãs, e particularmente nós, franciscanos, devemos assumir como nossa causa”, pede a antropóloga. Moema Miranda fez mestrado e pós-graduação em Antropologia Social pelo Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ministra da Fraternidade Santo Antônio (RJ) da Ordem Franciscana Secular, integra a secretaria da Rede “Igrejas e Mineração” da CNBB; faz parte da coordenação nacional do Sinfrajupe (Serviço Interfranciscano de Justiça Paz e Ecologia), assessora a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REComunicações Agosto de 2018

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OFS PAM) e participa do grupo de estudos Ecoteologia do Instituto Teológico Franciscano (ITF). Trabalhou até agosto do ano passado no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Acompanhe! Comunicações – A Encíclica Laudato Si’ foi publicada há três anos em meio a grande interesse das comunidades religiosas, ambientais e científicas internacionais. Como você vê o alcance desse documento? Moema – Esse documento marca a história da Igreja, não só porque é o primeiro em que um Papa fala sobre a questão ambiental, mas porque ele faz uma leitura de mundo muito inovadora. Quando diz “a terra clama contra o mal que lhe fizemos”, ele está dizendo: “Olha, o planeta em que nós vivemos é um sujeito, está falando, está dando para nós uma mensagem”. Isso é muito inovador porque a gente tende a achar que a Terra é inerte e que nós, seres humanos, é que a dominamos. Então, primeiro ele está reconhecendo esse sujeito. E isso vai ao encontro, hoje, do que as ciências da Terra têm dito: a Terra é um ser, um superorganismo vivo. Ela tem uma vida e uma história; ela age e reage, não só se move, mas é movida pela ação dos seres humanos. Ela se comove por isso. É uma terra toda vida, cheia de vida que gera vida. Então, isso é muito inovador e muito próximo do que a ciência contemporânea tem dito. Por outro lado, o Papa vincula intrinsicamente crise ambiental à crise social. A gente tem por tradição achar que as pessoas que se preocupam com os pobres, que cuidam dos pobres, que trabalham com a justiça social estão de um lado; e os ambientalistas, muitas vezes, de outro. O Papa diz: “Olha, a mesma crise que afeta a Terra de uma maneira tão dramática, afeta também os seres humanos na sua totalidade de uma forma dramática”.

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Comunicações – Trata-se de um documento para uma crise complexa. Moema – Sim. Os cientistas têm dito que estamos entrando no antropoceno, como se fosse uma era geológica na qual os seres humanos já afetam toda a estrutura do Planeta. Então, estamos causando extinção em massa de várias espécies. O aquecimento global continua crescendo. O Papa escreve a Encíclica neste momento como um sinal de alerta. Que haja resistência a ela é normal porque se posiciona numa disputa muito grave. É bom lembrar que ela foi escrita um pouco antes da COP21 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015), para dar uma força na assinatura do Acordo de Paris. Logo em seguida vem o Donald Trump eleito e diz: “Olha, não vou cumprir o acordo”. A gente sente da parte das elites mundiais uma resistência. Então, a Encíclica é um documento que todos nós, cristãos e cristãs, e particularmente nós, franciscanos, devemos assumir como nossa causa. Não só como um documento em si, mas com o cuidado de não romantizar e de não fazer uma leitura simplificadora do texto, porque ele não é nenhum pouco simples. É um documento muito sério, com uma leitura de mundo muito inovadora e com um terceiro aspecto que acho essencial: trata-se do documento de um Papa que escuta, que se coloca em diálogo com toda a herança cristã, reconhecendo a nossa contribuição, mas fazendo uma autocrítica a esta situação a que chegamos hoje. É um Papa que se coloca numa roda de diálogo com cientistas, ambientalistas, comunidades e com quem quiser conversar. Então, de fato, é um documento muito inovador, muito importante e com todas as limitações que, às vezes, a gente sente e que são resultados dessa disputa. Mas

em relação à Laudato Si’ existe um trabalho de base sendo feito, como por exemplo a convocação para o Sínodo da Amazônia pelo Papa. A Laudato Si’ está totalmente em sintonia com o Sínodo, que se faz a partir dos povos indígenas, a partir dos povos excluídos da Amazônia. A Igreja diz: quero escutar os povos da Amazônia porque reconheço que eles estão defendendo a Terra, defendendo a sua própria vida e têm uma mensagem a dar. Então, tudo isso está, de certa forma, no grande guarda-chuva da Laudato Si’, a nova posição da Igreja, que é uma posição eclesial, teológica, mas também é uma posição social e política no sentido maior da política, como diz o Papa Francisco na Laudato Si’: a política é o lugar principal da forma mais elevada de amor. Do amor civil, do amor pelo bem comum, do amor pelos outros. E, de fato, é uma Encíclica que só pode ser vista a partir da política, de um envolvimento nosso para fora da Igreja. A Encíclica Laudato Si’ é a síntese do coração da mensagem do Papa. Então, por isso a resistência a ela, por isso o nosso empenho para que ela seja apropriada, elaborada, compreendida, transformada em ação para a Igreja. Comunicações – Como analisa o Pontificado do Papa Francisco? A “Igreja em saída” que tanto pede está a caminho ou continua a passos lentos? Moema – Olha, como a gente tem dito, é um caminho contraditório. Não é um caminho idealizado, romântico. Não é mais o tempo das previsões óbvias. O mundo hoje está muito conturbado, as instituições estão sendo colocadas em questão em todos os níveis. Das Nações Unidas aos governos, à escola, tudo está sendo colocado em questão. Então, não tem um caminho óbvio. O pontificado do Papa Francisco é um presente


OFS de Deus. É uma graça, é uma bênção. É uma chuva de bênçãos. Porque é a possibilidade de a gente ter dentro da Igreja um abrigo seguro para ir para fora. Agora, é tranquilo, calmo, harmônico, idealizado, romântico? Não. É contraditório, com disputa, com divergência, mas pelo menos tem esse ar para a gente respirar. Pelo menos tem essa expressão forte. Nessa mudança toda, há uma mudança de perspectiva. A gente se acostumou a pensar um caminho de progresso e desenvolvimento como se fosse uma coisa linear. Uma coisa do tipo do “super-homem”, avante para cima! Não é assim. A vida é muito mais complexa; sempre foi! O mundo é muito mais complexo; sempre foi! O cotidiano é muito mais complexo; sempre foi! Olha a vida dos santos. Não são vidas lineares. São vidas cheias de angústias, de incertezas e só depois se tornam santos. Mas o que é o santo? O Papa Francisco, nesse último documento maravilhoso “Gaudete et Exsultate” escreve sobre a santidade e nos chama a sermos santos. Nesse mundo, os santos estão aqui, como Santo Antônio esteve. É como se fosse um canal de luz que se abre entre o céu e a terra e diz: é possível gente! “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra”. Então, temos que mudar também a nossa percepção e a expectativa: ‘ah, então vai ser tudo certinho, vai dar tudo certo’. Não! Vai ser nesta vida contraditória, nas escolhas feitas no aqui e agora. Por isso, a comunhão e a comunidade são tão importantes. É

descalços caminhando nesse chão”. Tão franciscano, não é?

certo que as comunidades virtuais são importantes, mas elas não substituem as comunidades reais. Então, tem que haver uma combinação, mas com esse cuidado de não se deixar substituir ou supor que se pode substituir. Acho que o pontificado do Papa Francisco é realmente esse sopro de esperança num tempo em que falta utopia. Comunicações – Graças a Deus que temos ele? Moema – Graças a Deus, eu dou todos os dias de manhã, de tarde, de noite, graças a Deus por ter ele. Ele é um presente de Deus. Eu fico achando isso sabe, que Deus disse: ‘Olha, vou enviar o Paráclito e ele vai fazer maravilhas onde vocês não esperam’. Quem de nós poderia esperar um ‘papa do fim do mundo’ com essa mensagem? Ele surpreende e pessoas surpreendentes se apaixonam por ele, pessoas para além da Igreja, porque ele tem essa coisa que eu acho que é linda e muito diferente do que acontece no mundo virtual e de tudo o que é fake: ele tem autenticidade. Ele não fica fingindo o que não é, como se dissesse: “Sou isso. Mas isso sou de todo coração, com a inteireza dos meus pés

Comunicações – Como você chegou à OFS? Moema – Sempre fui uma ativista social. Trabalhei organizando a Rio+20 (13 a 22 de junho de 2012), que deu uma grande movimentação no Rio de Janeiro (*), e conheci os franciscanos, porque o Sinfrajupe (Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia) estava participando. Gostaram do que falei em uma palestra e me convidaram para participar do Fórum Social Mundial naquele ano (janeiro de 2012), em preparação para a Rio+20. E eu me apaixonei totalmente. Comunicações – Você conhecia a mística franciscana? Moema - Eu tinha essa visão popular. Cursei dois anos de Teologia na PUC e conhecia os exercícios espirituais de Santo Inácio. Então, quando conheci os franciscanos lá, abriu-se um caminho à minha frente. Me disseram: ‘Procure o Frei Vitorio no Convento Santo Antônio porque ele pode te orientar’. Ele foi superacolhedor. Ele falou sobre a Ordem Franciscana Secular, pois era o assistente da Fraternidade do Convento, e aí eu comecei a fazer esse caminho. Fiz todo o percurso de formação e professei. Tudo em São Francisco fazia sentido com a minha trajetória: a questão ambiental, a fraternidade universal… Eu me apaixonei pela espiritualidade franciscana. Fiz muitos cursos de verão sobre franciscanismo e temos um grupo de estudos de Ecoteologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF) de Petrópolis. Encontrei um pai, uma Comunicações Agosto de 2018

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Moema trabalha na barraca da OFS na Festa de Santo Antônio deste ano

luz, um caminho, uma conexão com os temas que já estava vivenciando. Tem uma coisa que é essencial na mística franciscana, que é essa ideia da cortesia, da delicadeza. Nós estamos vivendo num mundo tão sofrido, tão dolorido, cheio de feridas. São Francisco tem essa suavidade, diferente de uma coisa talvez mais afirmativa, mais guerreira, mais ‘da cruzada’. Esse santo que vai descalço conversar com o sultão; esse santo que escuta as flores; esse santo que pergunta para Clara: “Estou fazendo certo, estou fazendo certo?”; esse santo que se coloca junto com o leproso para encontrar seu próprio buraco mas também o preenchimento desse buraco; esse santo que pede a Deus que “ilumine as trevas do meu coração e me dê uma fé verdadeira”. Então, esse caminho da delicadeza, da cordialidade, da diplomacia, hoje, é muito essencial. Essa forma de ser de São Francisco me inspira muito. Comunicações – Como é ser ministra de uma Fraternidade da OFS? Moema – Ser ministra talvez seja

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a coisa mais desafiante que tenho nessa trajetória franciscana, porque a fraternidade é o núcleo central. Agora, ela é diversa, múltipla, e muito próxima dos corações das pessoas. Então, está sendo um lugar de aprendizado impressionante. Tenho encontrado na Fraternidade um espaço de acolhimento, de conforto, um espaço maravilhoso para compartilhar. Realmente acho que tenho aprendido muito. Minhas irmãs têm uma generosidade imensa com minhas falhas. Comunicações – Há espaço para Francisco de Assis neste mundo? Moema – São Francisco tinha espaço há 800 anos quando nasceu? Tinha espaço quando, em 1209, pediu permissão ao Papa para evangelizar.? Ele não tinha. Ele montou o espaço dele, que não estava pronto. “Ah está aqui sua cadeira, vem e senta!” Não foi assim. Ele saiu de um espaço sufocante em todos os sentidos. Ele rompeu os muros de Assis. Imagine o que é sair do conforto nesse lugar de conforto que nos conforta?! Ele teve a

coragem de sair desse espaço. Ele foi para um mundo desconhecido porque o lado de fora das cidades fortificadas da Idade Média era um mundo desconhecido para as pessoas da categoria dele, um comerciante e jovem rico, numa cidade florescente como Assis, e onde ele descobriu a existência de um espaço novo. E aí ele se fez. Ali ele se fez santo! Na sua época, existiam os mosteiros e os padres diocesanos, e não tinha um espaço para as Ordens Mendicantes. Então, como ele construiu isso? Ouvindo a mensagem, pedindo luz e tendo coragem de se expor ao erro, com delicadeza, com cortesia. Sem condenar, sem julgar, sem dizer ‘não quero que seja assim, assado’. Acho que essa é a inspiração para esse mundo de hoje, esse mundo em mutação. O nosso espaço vai ser criado pelo nosso convencimento de que temos uma mensagem, que é maior do que nós; que somos portadores de um chamado, que é maior do que nós. Não estamos aqui para realizar o nosso ego narcísico, mas queremos nos colocar a serviço de um projeto que é maior do que nós, em comunidade, em fraternidade e a partir daí, com muita determinação, construir espaços de encontro, harmonia e paz. Não a paz de cemitérios. A paz que se constrói, a paz que se reza, a paz que se chora, a paz que se ama. Essa paz que hoje a gente tem que construir; esse é o nosso chamado. Ser franciscano hoje é criar espaço para a Paz e para o Bem! Entrevista a Moacir Beggo

(*) A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 foi realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 foi assim conhecida porque marcou os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.


Notícias e Informações

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ENCONTRO COM frei HARADA

Convento São Boaventura de Rondinha, em Campo Largo, recebeu de 1º a 3 de julho o Encontro Celebrativo em memória de Frei Hermógenes Harada, frade franciscano e professor de Filosofia da Província, que faleceu no dia 21 de maio de 2009. Filósofo e místico, Frei Harada tinha seguidores no Brasil e no exterior. Aproximadamente 50 participantes se inscreveram para este evento, que contou com a assessoria e organização de Frei Dorvalino Fassini e do professor universitário Marcos Aurélio Fernandes.

Q

uem entendeu o que é encontro, entendeu tudo”. A frase de Frei Hermógenes Harada resume o que foi o primeiro dia (2/7). O Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, abriu as reflexões abordando o tema “O encontro com Jesus Cristo e seu seguimento”. Frei Uli, como é chamado pelos seus confrades desta Província, iniciou suas reflexões voltando no tempo. Em 1986, era mestre dos noviços em Rodeio e, mensalmente, reunia-se com Frei Hermógenes no No-

Neste evento celebraram-se os 90 anos do nascimento de Frei Harada (1928-2018) e também se abriram as celebrações, com duração de um ano, pelos 10 anos da morte de Frei Hermógenes (2009-2019). Segundo Frei Dorvalino, o evento não se limita a estes dias de encontro: “É para surgir sementes de outras iniciativas, para levar adiante o legado que Frei Hermógenes nos deixou. Todos nós sabemos que a memória é muito importante em nossa vida”, disse o frade na abertura. “A importância de não ser é maior do que a do ser” é o lema do evento.

1º DIA: O ENCONTRO viciado para estudarem e lerem os Escritos de São Francisco. Na última vez que esteve lá, leram a “Primeira Admoestação” e Dom Leonardo contou que teve uma certa dificuldade para entender “a luz inacessível” de que fala esse Escrito. Frei Harada, que viajara na madrugada no outro dia, deixou debaixo da porta do quarto do mestre de noviços um bilhete (veja a íntegra), escrito à mão, dizendo que para São Francisco a única possibilidade nossa de ver a Deus inacessível é com gratidão profunda diante desse amor Comunicações Agosto de 2018

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Notícias e Informações humilde que vem ao encontro de nós. Dom Leonardo disse que numa visita a Frei Harada, quando estava na UTI, antes de um encontro de estudo que haviam organizado, com o intuito de aprofundar a questão da história e da historicidade, ele falou convictamente: “É preciso entender o que é encontro. Quem entendeu o que é encontro, entendeu tudo”. E continuou o bispo franciscano: “Quem entendeu encontro entendeu tudo! Essa questão vem me acompanhando, questionando, animando”, revelou. Dom Leonardo propôs aos participantes um encontro de partilha e provocações. “Os textos espirituais, o Evangelho não estão falando de fatos-coisas, não é narração das histórias do passado! São histórias de encontro!”, disse. Segundo o frade, quando se fala de inacessibilidade, está se tentando representar um lugar ou uma coisa que está longe, de difícil acesso. “Inacessível eram os doces que nossa mãe fazia e escondia em cima do armário quando éramos crianças e não podíamos alcançar. Inacessível significa algo que, por estar longe de mim ou no lugar onde não consigo chegar, torna-se impossível de ser possuído ou de ser tocado por mim. Mas se eu tivesse um meio ou um modo, um caminho, eu o alcançaria, eu o tocaria”, refletiu. Para Dom Leonardo, “o encontro é puro toque, puro golpe”. “E tudo é sustentado na gratuidade do mistério do próprio toque, que se deixa tocar e se desvela numa unidade onde tudo apenas é”, filosofou. Por isso, quando se diz: “Prove que eu creio; quero ver como é isso; é impossível de compreender”, são todas atitudes de quem acha que é de sua competência poder fazer o Encontro acessível a partir de si. “O encontro só é acessível na recepção grata e humilde de amor”, ensinou. “Tu, Senhor, Palavra e eterna criança, criadora de um novo céu e uma nova terra, não mais te imploramos, nem sequer te buscamos, nem mesmo te nomeamos. Silenciosamente apenas te olhamos, te admi-

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ramos, cuidamos de ti, te reverenciamos. Pois, como a um filho te ouvimos e te carregamos com nossos olhos, em nossos braços, em nosso regaço”, completou.

FONTES FRANCISCANAS COMO NOSSA FORMAÇÃO

Frei Dorvalino Fassini, coordenador do encontro, falou sobre o estudo das Fontes Franciscanas como formação básica dos franciscanos. Segundo ele, logo após o Vaticano II – e com o princípio do franciscano Papa João XXIII -, era necessário voltar às origens, isto é, voltar a Jesus Cristo, ao Evangelho. Neste sentido, os franciscanos no Brasil sentiram-se incentivados e criaram o curso de Espiritualidade Franciscana, com duração de um ano, em Petrópolis (RJ). Aconteceu que logo no primeiro ano o diretor do curso saiu, deixando Frei Hermógenes, Frei Gamaliel e Frei Arcângelo Buzzi sozinhos. “O que é importante acentuar é que foi através deste grupo, principalmente de Frei Hermógenes, que nós, franciscanos no Brasil, começamos a ter as Fontes Franciscanas presentes na nossa formação. Ou seja, começou-se, portanto a ler, a estudar esses documentos”, lembrou o frade. Para ele, é necessário que haja distinção entre a dimensão historiográfica e a dimensão espiritual das Fontes. “Muitas

pessoas olham apenas o aspecto historiográfico, isto é, como documentos que relatam os fatos, os acontecimentos verificáveis, que podem ser provados cientificamente. Se um fato não é provado cientificamente é desconsiderado para a formação, para a espiritualidade. O importante é perceber que as Fontes não nasceram dos fatos. Os fatos é que nasceram das Fontes”, destacou. Para o mestre em espiritualidade franciscana, as Fontes são as guardiãs e o entusiasmo da graça do encontro. “Frei Hermógenes ensinou que não se deve ter apenas as Fontes em nossa vida, mas que as Fontes devem ser a nossa vida”, acrescentou. Citando a introdução da Verbum Domini, do Papa Emérito Bento XVI, Frei Dorvalino acredita que a Palavra de Deus será a fonte de toda a vida da Igreja, como a Eucaristia é a Fonte, mas não basta apenas usar a Bíblia, pois só usar ainda não é ter a Bíblia como fonte. “Por que quando usamos as Fontes, encaixamo-las dentro de nossos projetos, dentro da formação. Este, para mim, é o legado que Frei Hermógenes nos propõe: a formação deve nascer das Fontes e não apenas usando as Fontes”, concluiu. Frei Aloísio de Oliveira e as irmãs Amarilda e Claudenice falaram como acontece a formação franciscana, baseada


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no método exposto por Frei Dorvalino, em suas respectivas casas de formação. Todos afirmaram que os textos de Frei Harada fazem parte do conteúdo programático do ano em suas casas de formação.

TESTEMUNHOS DA HISTÓRIA DE UMA ALMA

Irmã Helena Maria Sinoka, das Irmãs Catequistas de Jaraguá (SP), partilhou com os presentes um verdadeiro acervo fotográfico de Frei Hermógenes, lembrando inclusive as origens do frade japonês. Momento dinâmico que fez surgir em muitas perguntas e revelações. Muitas pessoas presentes no evento nunca tinham visto imagens do frade e também não tinham conhecimento de alguns dados. Entre as fotos, uma bela coincidência: ao ser exibida a imagem da lembrança de Ordenação Presbiteral do frade, constatou-se que exatamente no dia 2 de julho, portanto há 62 anos, ele fora ordenado presbítero. A primeira missa de Frei Hermógenes foi no histórico Convento São Francisco, situado no centro de São Paulo. Em seguida, Frei Gamaliel Devigili, que conviveu com Frei Harada, abordou o tema “Curso Cefepal: Uma experiência do ressurgimento do pensamento franciscano contido nas Fontes Franciscanas”. Segundo ele, falar de fonte é a mesma coisa que falar de princípio, de origem. Para ele, os textos das Fontes não saíram da cabeça de São Francisco. “Ele parte da fonte original que é Deus Pai, Filho, Espírito Santo”, acentuou. Frei Gamaliel também recordou como funcionavam os trabalhos no Cefepal.

LANÇAMENTO DO LIVRO DE FREI HARADA

O momento conclusivo do dia foi mais que especial. Irmã Luci Fontenelle, juntamente com Frei Dorvalino, lançaram o livro “Da Fidelidade do Pensamento – Fragmentos de um Diário”, de Frei Hermógenes Harada, escritos e pensamentos do frade do ano 1975. Harada foi um pensador, um homem que nasceu, trabalhou e festejou o pensamento. Este diário é um texto que testemunha esse nascer e morrer a cada dia. O diário original foi entregue a Frei Guido Scheidt, que deverá encaminhá-lo aos arquivos da Província da Imaculada. Na introdução do livro, escreve Marco Aurélio Fernandes: “Por e para ser fiel ao Pensamento, enquanto Espírito, e a concretude de sua liberdade, Harada foi intempestivo, inoportuno. Sabia que nenhuma reforma restitui o vigor originário, frontal de ser, do que quer que seja, sem a transformação radical e revolucionária do Pensamento. Foi agudamente crítico, mas ao mesmo tempo, como um vassalo de um Grão-Senhor, firmemente súdito, na fidelidade da obediência, isto é, na ausculta da autoridade da Vida, aprendendo a abnegação de toda e qualquer preferência. Ele viveu a abnegação, porém, como a alegria da renúncia: da re-anuncia da Jovialidade do Mistério. Foi contundente como a espada de um samurai. Algo do Bushi-do (o caminho da espada, do guerreiro), estava sempre vigente em seu engajamento. Era o corte afiado da decisão que aparecia então. Seu engajamento, porém, foi pelo Ser, isto é, pelo adensamento da vida em sua gratuidade sem porquê. Por

isso, retraiu-se de todo o falatório e de toda a agitação estéril da publicidade. Sua contundência e dureza guerreira, porém, trazia consigo uma profunda ternura. Sua alma seca escondia a suavidade da ternura. Aprendera a amar assim… profundamente…”

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

A Celebração Eucarística do dia foi presidida pelo Bispo da Diocese de Umuarama (PR), Dom João Mamede Filho, frade conventual. Dom Leonardo Steiner, Frei Valdir Laurentino, da Fraternidade Franciscana São Boaventura e Frei Levi Jones Botke, da Congregação dos Frades Menores Missionários foram os concelebrantes. A Missa não teve homilia, pois as reflexões ficaram reservadas para o momento do encontro.

Marcos Aurélio Fernandes Comunicações Agosto de 2018

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2º DIA: PROMESSA DE NOVO ENCONTRO

ma oração junto ao túmulo de Frei Hermógenes Harada, no cemitério interno do Convento São Boaventura, em Rondinha, marcou o encerramento do Encontro Celebrativo. O dia começou com a Celebração Eucarística, às 7 horas, na capela interna onde residem os frades de Profissão Temporária e os formadores do tempo de Filosofia. Frei Aloísio de Oliveira, Ministro Provincial dos Frades Menores Conventuais foi o presidente da Santa Missa. Dom João Mamede Filho, da Diocese de Umuarama (PR), Frei Dorvalino Fassini, da Província São Francisco de Assis (RS) e Frei Levi Jones Botke, da Congregação dos Frades Menores Missionários, foram os concelebrantes. Neste dia, a Igreja celebrou São Tomé, apóstolo e pescador quando Jesus o encontrou e o admitiu entres seus discípulos. “A atividade reflexiva de Frei Hermógenes Harada” foi o tema que deu início às meditações conduzidas pelo professor Marcos Aurélio Fernandes. Para isso, ele usou o texto “Crise e Deserto”, de autoria de Frei Harada e de Emmanuel Carneiro Leão, publicados na Revista Filosófica São Boaventura, em 2010. Segundo ele, a palavra crise está relacionada com a crise da ética. “Nós vivemos hoje não apenas uma crise ética entre outras, mas a crise da própria ética no seu todo. Ética remete a Ethos (Morada). Não é apenas uma questão de regras, padrões, modelos, mudanças de valores, mas a questão é mais profunda. Ela é a própria subtração do ethos”, explicou Marcos. Para esse momento de partilha, o professor selecionou temas que apresentam a travessia da crise e do deserto, e não se preocupou em oferecer aos participantes respostas prontas sobre o assunto, muito menos textos de ordem cronológica. À tarde, Ênio Paulo Giachini, editor da Revista Filosófica São Boaventura e também grande admirador de Frei Harada, apresentou aos participantes o professor Gilvan Fogel, que é docente da Universi-

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dade Federal do Rio de Janeiro e também membro do conselho editorial da coleção Pensamento Humano, da Editora Vozes de Petrópolis (RJ). Atua principalmente na área de Filosofia Antiga. “Se aprendi alguma coisa em Filosofia, realmente foi com o Harada. Com ele aprendi a aprender”, revelou. Segundo ele, o mundo em que o homem habita está em crise. Quando a crise é real, quando realmente é crise, tem um lado catártico. “A vida realmente em crise é como que uma vida no instante de um terremoto, ou seja, quando nada, absolutamente nada está firme em que se possa colocar os pés”, exemplificou o professor.

“ELE ESTÁ VIVO ENTRE NÓS”

Segundo Frei Guido Moacir Scheidt, para que este Encontro Celebrativo acontecesse foi criada uma comissão. Desde então, ela organizou um programa de encontros e partilhas dos frades, religiosos e leigos que conheceram Frei Hermógenes, através de aulas e palestras. “A repercussão e aproveitamento do encontro foi muito proveitosa, causando gratidão e alegria pela oportunidade de relembrar o pensamento e a riqueza de seu legado na formação inicial e permanente dos religiosos e leigos que o conheceram. Nossa gratidão pelo evento realizado”, agradeceu Frei Guido. Para a Irmã Ananias de Oliveira, o convite para participar do Encontro Celebrativo foi um presente para ela. “Por ter conhecido e bebido na fonte da sabedoria

de Frei Harada, desde minha iniciação nas Irmãs Franciscanas de Bonlanden, foi dom de pura graça divina. A partilha neste encontro reavivou o esforço de retomar com vigor a busca do sentido da vida, o trabalho de encontrar a Deus humanado”, animou-se. Irmã Luci Fontenelle, das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, disse que os participantes deste encontro puderam celebrar a preciosa existência de Frei Harada: “Ele está vivo entre nós, através da herança inestimável que ele nos deixou. Ele falou-nos do seguimento, a exemplo de São Francisco, e nos incentivou a abraçarmos a Cruz de Jesus Cristo, inserida no tecido de nossas vidas”.

O LEGADO DE FREI HARADA

Em 2014 foi criado o site oficial de Frei Harada, a pedido de Frei Guido, presidente do Grupo Bom Jesus daquele tempo. No site está disponível um rico acervo em textos, fotos e áudios de palestras e conferências de Frei Harada. Frei Hermógenes Harada foi um inovador da filosofia no Brasil. Oriundo da tradição budista, que conhecia em profundidade e formado por Heinrich Rombach, um dos grandes mestres do pensamento filosófico-fenomenológico, Harada soube, com raro êxito, realizar o diálogo de integração e inovação entre o pensamento ocidental e oriental, entre filosofia e existência contemporânea, entre cristianismo e mundo técnico-científico, numa proposta, ao mesmo tempo, ontológica como pedagógica. No rigor do trabalho filosófico e na despretensão de um sempre principiante, inovou a atitude mais provocante e universal da filosofia: a de preparar um questionamento de tal maneira amplo, profundo e originário de tudo, que se inicia na singularidade de cada homem, e se enraíza na complexa estruturação do mundo em que somos. Acesse: http:// www.freiharada.com.br/ Frei Augusto Luiz Gabriel


Marca-página Franciscano O jeito franciscano de celebrar Guia da celebração litúrgica franciscana Frei Alberto Beckhäuser

No ano de 2010, o governo geral da Ordem dos Frades Menores instituiu uma comissão para proceder a uma revisão e atualização do calendário litúrgico da Ordem, particularmente referente ao Missal e à Liturgia das Horas. Pediu ainda a elaboração de um Ritual Seráfico, adaptando o Ritual Romano em celebrações próprias e típicas da Ordem, como jubileus, exéquias e outras. Esta comissão iniciou os trabalhos em fins de novembro de 2010. Ela achou por bem, juntamente com os livros litúrgicos da Ordem, preparar um guia da celebração litúrgica franciscana, trabalho que foi confiado ao Frei Alberto

Beckhäuser, OFM, como um serviço a toda a Ordem. O guia foi elaborado em quatro partes: I. Alguns conceitos básicos; II. O modo de celebrar de Francisco; III. O modo de celebrar do franciscano; e IV. Liturgia celebrada e Liturgia vivida. O jeito franciscano de celebrar quer expressar a índole da celebração franciscana. O subtítulo explicita os diversos aspectos da abordagem do tema, como foi proposto na comissão litúrgica da Ordem: Guia da celebração litúrgica franciscana. Frei Aberto faleceu no dia 28 de março de 2017. Ficha técnica Editora Vozes - 128 páginas - R$ 25,00

O tempo e a eternidade A escatologia da criação Frei Luiz Carlos Susin

Repensar o tempo e a eternidade, a terra e os céus, a destinação do universo e especialmente do ser humano, esta é tarefa sempre inacabada, mas irrenunciável. Por isso há grandes e antigas tradições que se renovam em busca de caminhos sempre árduos para o pensamento. O cristianismo desenvolveu uma doutrina a respeito da destinação de toda a criação, do ser humano inclusive, que denominamos escatologia. Ela está centrada em Cristo, tem marcas trinitárias, está sob o signo da relação de comunhão. No horizonte escatológico se levanta o Sol de Cristo ressuscitado, promessa de Páscoa para toda criatura. É este o assunto deste livro, que pode soar como pretensão exagerada e impossível à razão humana. Mas quando a razão se alimenta de confiança e de esperança, não é vã a ex-

periência e o apoio na tradição que a aclara, corrige e confirma. A relação entre tradição e experiência se torna método e caminho de vida sob o horizonte escatológico de Cristo e seu reinado luminoso de paz. A obra é resultado de trinta anos de pesquisa e ensinamento na área de antropologia teológica, especialmente em escatologia e destinação da criação. O contexto ecológico e científico de nosso tempo impõe novas perguntas e oferece novos recursos, mas as grandes questões que atravessam os tempos e os contextos são aqui tratadas buscando na grande tradição bíblica e cristã chaves de compreensão, de esperança e de confiança. A relação dual – entre tempo e eternidade, terra e céus, humano e divino, morte e vida – está posta sob a luz de um terceiro: Cristo. FICHA TÉCNICA Editora Vozes - 280 páginas - R$ 55,00 Comunicações Agosto de 2018

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Marca-página Franciscano

Orações do cristão católico Frei Edrian Josué Pasini

Rezar faz parte ou deveria fazer parte do dia a dia de cada pessoa cristã. A fé se alimenta da oração, seja mediante livros – na formalidade –, ou na inspiração e intimidade que dela se desencadeiam. Ao rezar, demonstramos nossa fé, alimentamos e animamos nosso ser, dialogamos com Deus, que caminha conosco, junto com seus anjos e santos. Todas as orações são válidas, desde que impulsionadas pela dedicação em manter a ligação com Deus. Ele, que do Alto tudo observa, também está presente

no coração que se abre à sua graça. Este livro de orações pode fazer surgir o sadio hábito de criar intimidade com o Senhor dos nossos corações. Neste pequeno livro de diária e constante companhia para adultos, jovens e crianças, são oferecidas as orações que estão na memória afetiva dos cristãos católicos. Da oração nascem a inspiração e a força para nos manter animados, equilibrados e íntegros em nossa vida. Ficha Técnica: Editora Vozes - 80 páginas - R$ 7,90

Inspiração catecumenal e conversão pastoral Frei João Reinert

A iniciação à vida cristã é, sem dúvida, o grande desafio pastoral da atualidade. A afirmação é do mestre e doutor em Teologia pela PUC-Rio, Frei João Fernandes Reinert, que lança seu novo livro “Inspiração catecumenal e conversão pastoral”, pela Paulus. Segundo o frade, cada vez mais se percebe que iniciação à vida cristã é tarefa de todos, de todas as atividades eclesiais. “A conversão pastoral passa por essa nova consciência iniciática”, explica Frei João, lembrando que este livro não pretende refletir o “como” da iniciação à vida cristã, mas, sobretudo o “quem”, isto é, a quem compete o compromisso de gerar novos filhos na fé. “Pensar o ‘quem’ da iniciação significa repensar a pastoralidade. À luz da inspiração catecumenal, refletiremos os fundamentos da conversão pastoral, seus pressupostos, seus enfoques, e o faremos iluminados pela inspiração catecumenal, a qual é, inquestionavelmente, uma peça decisiva no processo da nova evangelização”, observa o frade. O livro está estruturado a partir das duas dimensões, as duas colunas do catecumenato, que são o querigma e a mis-

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tagogia. O autor faz uma breve e suscinta visita à religião e à fé na atual mudança de época, cuja conclusão é a existência de uma crise de fé, que por sua vez coloca a pastoral de manutenção igualmente em crise. “Nada justifica, na atualidade, a permanência da pastoral de manutenção, por atravessarmos uma crise religiosa em que não se é permitido pressupor a fé. Antes de manter é preciso despertar, suscitar, apresentar a proposta de vida cristã. O querigma, o primeiro anúncio de Jesus Cristo, portanto, torna-se realidade obrigatoriamente central para toda proposta pastoral que queira estar no processo de revisão dos seus pressupostos”, explica Frei João. A mistagogia, continua o frade, longe de ser apenas o último tempo do percurso catecumenal, é um paradigma evangelizador. “A conversão pastoral tem muito a ver com a relação que se estabelece entre querigma e mistagogia. Muitas ações eclesiais são desprovidas tanto do querigma como da mistagogia. O legalismo, a burocracia pastoral que o digam!”, constata Frei João, que é autor também de “Pode hoje a paróquia ser uma comunidade eclesial? Repensando a paróquia em diálogo com a religiosidade pós-moderna (Vozes) e “Paróquia e iniciação cristã” (Paulus).

Segundo Frei João, nessa perspectiva, o Papa Francisco é um dos papas mais querigmáticos e mistagógicos que a Igreja já teve. “Sua clareza da centralidade da fé cristã, sua profecia e seu esforço para purificar o cristianismo de patologias eclesiais são sinais inequívocos de alguém que é mistagogo, com extrema clareza da centralidade da Pessoa de Jesus Cristo na vida cristã”, ilustra Frei João. FICHA TÉCNICA Editora Paulus - 150 páginas - R$ 37,00


O CULPADO

Frei Erick não torceu como devia e o Brasil perdeu o hexa!

COMO SANTO ANTÔNIO

Frei Josielio também fez a sua pregação aos peixes no Noviciado

SÓ NO PASSINHO!

!!! Vai precisar de uma aulinha, Frei Marx

HÁBITO PROTETOR Nem sol e cansaço tiram a devoção em Vila Velha!

HISTÓRIA DE PESCADOR Frei Beppe garante que sua pescaria sempre é assim!

SOBROU EMPOLGAÇÃO! Seleção não estava no ritmo dos torcedores do Convento São Francisco

INCULTURANDO

Frei Marco, um mestre bem ao estilo africano!

QUE FRIO!

vira Depois da “sauna” no verão, Noviciado inverno europeu para angolanos.

AI MEU REGIME!

Mesa farta de doces para o aniversariante Frei Augusto!

FRATRumGRAM é um neologismo que nasce da palavra Frades mais a rede social Instagram. A ideia é publicar fotos curiosas, informais e descontraídas dos frades e das Fraternidades! Se você fez uma foto legal, envie-nos para o email: comunicacao@franciscanos.org.br!


Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (*) As alterações e acréscimos estão destacados

AGOSTO

novembro

01 a 05 13

01 a 04

Estágio Vocacional (Guaratinguetá);

12 a 21 26

Capítulo Provincial; Encontro do Regional do Vale do Paraíba (São Sebastião); Celebração dos Jubileus;

13 14 a 16 21 e 22 25 27 a 30 28 e 29

29 a 04

Assembleia dos Frades Estudantes; Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (Rocinha); Reunião da Comissão Preparatória do Capítulo 2018; Reunião do Definitório Provincial (São Paulo); Encontro ampliado da Frente da Educação (Curitiba); Ordenação presbiteral de Frei José Raimundo de Souza (Bauru) II Congresso de Educadores Franciscanos (Anápolis, GO); Reunião da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento, com leigos(as) – São Paulo (participantes de SP, RJ e ES) e Rondinha (participantes de PR e SC); Retiro itinerante para religiosos(as) - SAV (Aparecida-SP)

SETEMBRO 03 03 e 04 06 07 a 10 10 10 11 15 17 17 e 18 17 e 18 17 a 20 24 24 a 28 25

Encontro do Regional de São Paulo (Amparo); Encontro do Regional do Leste Catarinense (Florianópolis); Reunião do Conselho de Formação e Estudos (Guaratinguetá); Encontro dos Irmãos leigos da Província (Rondinha); Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Gaspar); Encontro Regional de Pato Branco (Mangueirinha); Frente das Missões (frades e leigos) (São Paulo - Sede); Profissão Solene (Petrópolis); Encontro do Regional de Curitiba (Bom Jesus); Terceiro Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí (Lages); Encontro Regional do Contestado (Piratuba); Retiro do Regional S. Paulo (aberto a outros confrades) (Convento São Francisco); Encontro do Regional do Vale do Paraíba (local a definir); Assembleia da CFMB (Santarém); Conselho de Evangelização (São Paulo Sede);

OUTUBRO 03 a 28 09 e 10 15 e 16 16 a 18 22 a 27 26 a 28 28 a 02

Sínodo 2018 - Os jovens, a fé e o discernimento vocacional Encontro Provincial da Frente da Comunicação (Rondinha); Reunião da Comissão Preparatória do Capítulo 2018; Reunião do Definitório Provincial (São Paulo); III Congresso Franciscano para a AL (Guatemala); Estágio Vocacional (Ituporanga); Reunião da UCLAF;

30 e 01

DEZEMBRO 03 03 03 03 03 e 04 03 e 04 17 e 18

Encontro do Regional de São Paulo (Bragança Paulista); Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense – recreativo (Niterói); Encontro do Regional de Curitiba (Caiobá); Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Blumenau); Encontro Regional de Pato Branco e Contestado (local a definir); Encontro recreativo do Regional Alto Vale do Itajaí e Planalto Catarinense (Vila Itoupava); Encontro do Regional do Leste Catarinense e, no dia 17, celebração de entrega da Paróquia à Diocese (Forquilhinha)

2019 jANEIRO 11 a 13

Caminhada Franciscana da Juventude (Curitibanos).


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