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| AGOSTO - 2017 | ANO LXIV • No 8 | Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

SANTA CLARA DE ASSIS “Bendito sejais Vós, Senhor, que me criastes”

SÃO BOAVENTURA DE BAGNOREGIO Ordem Franciscana celebra 800 anos do seu nascimento


xxx Sumário

Mensagem do ministro provincial

“Bendito sejais Vós, Senhor, que me criastes!”............................................................................... 479

FORMAÇÃO PERMANENTE

“O cuidado na Espiritualidade de Santa Clara”, artigo de Madre Maria Pacífica................................................................................................................. 482 Frades Menores no Mundo e na Igreja com São Boaventura.......................................... 486

FORMAÇÃO E ESTUDOS

Novinter reflete sobre a vida consagrada........................................................................................ 490 ITF: Por mais Sábados Franciscanos...................................................................................................... 491 O novo rosto angolano do ITF.................................................................................................................. 492 Moema Miranda: “Ecocida, genocida e suicida”, ........................................................................ 493

SAV

Em Guaratinguetá, o último encontro vocacional do semestre.................................... 494 Missões Franciscanas na Bahia................................................................................................................. 496

FRATERNIDADES

Igreja Matriz de Angelina em reforma................................................................................................ 500 Vandalismo na Matriz de Curitibanos................................................................................................. 501 Regional Leste-Catarinense se encontra em Forquilhinha................................................ 502 Encontro do Regional do Vale do Itajaí.............................................................................................. 502 Retiro dos Formadores no Eremitério................................................................................................. 503 Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí.......................................................... 503 ESPECIAL: 167ª Festa de São Pedro de Gaspar.......................................................................... 504

EVANGELIZAÇÃO

Conselho de Evangelização se reúne em São Paulo............................................................... 510 USF cria o “Cantinho do Patrono”............................................................................................................ 512 FIMDA: Franciscanos seculares se encontram em Viana...................................................... 512 FIMDA: Missa em homenagem a Frei Márcio Terra.................................................................. 513

CFMB

SIFEM prepara Encontro Nacional de Juventudes.................................................................... 516

CFFB

Dom Beto apresenta seu primeiro livro............................................................................................ 517 Capítulo das Esteiras: Aparecida acolhe os Franciscanos.................................................... 518 Entrevista com Madre Maria José, presidente da Federação dos Mosteiros das Clarissas do Brasil....................................................................... 520 Artigo: “Santa Beatriz da Silva”, de Frei Walter Hugo Artigo: O centenário de Fátima e a canonização de crianças”, de Frei Luiz Iakovacz......................................................................................................................................... 525

OFM

A Missão no Marrocos..................................................................................................................................... 526

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Boff lança quatro livros em São Paulo................................................................................................ 528

Falecimento

Frei José Zanchet................................................................................................................................................ 530 Frei Antônio Nader............................................................................................................................................. 533 Oração Vocacional.............................................................................................................................................. 535

Agenda .......................................................................................................................................................... 536 Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | São Paulo - SP | www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br


Mensagem

“Bendito sejais Vós, Senhor, que me criastes!” Caríssimos irmãos e irmãs, Que o Senhor vos dê a paz e todo o bem!

P

or ocasião da Festa de Santa Clara de Assis, saúdo a Fraternidade Provincial e, em nome de todos os Irmãos, expresso nossos votos de boas festas e nossa comunhão fraterna com todas as nossas Irmãs Clarissas. Que Santa Clara de Assis nos inspire a viver na gratuidade o dom da vida e nos oriente na missão de bem “cuidar de tudo o que existe” na criação (LS 11)! A Legenda de Santa Clara, quando relata o trânsito final da “Plantinha do Seráfico Pai Francisco” (TestC 37), com refinada delicadeza, apresenta um diálogo entre Clara, a “sua alma bendita”, e “o Rei da glória”, que ela “está vendo”. As Irmãs, que naquele momento estavam presentes e dela cuidavam na fragilidade física, assim testemunharam no Processo de Canonização quando ouviram um murmúrio místico no qual ela dizia a si mesma: “Vai segura, que você tem uma boa escolta para o caminho. Vai, diz, porque aquele que a criou também a santificou; e, guardando-a sempre como uma mãe guarda o filho, amou-a com terno amor. Bendito sejais Vós, Senhor, que me criastes!” (cf. LSC n 46; PC 3,20; PC 11,3). Em primeiro lugar, quero unir esta belíssima ação de graças, “Bendito sejais vós, Senhor, que me criastes”, às palavras iniciais do Testamento de Santa Clara: “Entre outros benefícios que temos recebido e ainda recebemos diariamente da generosidade do Pai de toda a misericórdia e pelos quais mais temos que agradecer ao glorioso Pai de Cristo, está a nossa vocação...” (TestC 2-3).

GRATIDÃO

Sem dúvida, entre esses “outros benefícios”, encontra-se a dádiva que Clara, dois dias antes da sua morte, sussurra à sua alma em forma de louvor e ação de graças: a gratidão ao Criador “que a criou”, ou seja, a ação de graças pelo seu chamado à vida. Diariamente, ela louva o Doador de todas as graças, da forma como se expressou na segunda Carta a Inês de Praga: “Agradeço ao Doador da graça, do qual cremos que procedem toda dádiva e todo dom perfeito” (2In 3), ciente de Agosto / 2017 [Comunicações]

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Mensagem que ela e suas irmãs se fizeram “filhas e servas do Altíssimo Sumo Rei Pai celeste” (RSC VI,3). Portanto, se filhas do Altíssimo, também foram criadas à imagem e semelhança do Criador que se reflete no Espelho Jesus Cristo que, por sua vez, irradia a “bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade” a ser contemplada “com a graça de Deus” (cf. 4In 18). Esta forma de vida necessita ser criada e renovada todos os dias: “Olhe para dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto...” (4In 15), num caminho penitencial de transformação total para se chegar, pela contemplação, “à imagem da divindade” (3In 13). Portanto, o murmúrio consolador de Clara à sua alma adquire um sentido profundo nesta ‘hora’ existencial quando se prepara para acolher a irmã morte corporal. Assim, a vida não termina na morte porque ela já contempla o “Rei da glória” que assim a “criou e também a santificou”. Em segundo lugar, desejo unir este santo colóquio de Clara com sua alma e o Rei da glória, “Bendito sejais vós, Senhor, que me criastes”, com o Cântico do Irmão Sol ou Louvores das Criaturas. Sabemos que este Cântico foi composto por São Francisco num momento existencial de crise e de sofrimento. O Pai Seráfico encontrava-se “numa pequena cela de esteiras em São Damião” (CA 83), bem próximo de Irmã Clara e Companheiras. Com o apoio de Frei Elias, ali Francisco se recolheu por cinquenta dias, pois estava muito “atormentado pela enfermidade dos olhos” e outras enfermidades. Certa noite, depois de passar por profundas tribulações, uma voz lhe disse: “Alegra-te e rejubila no meio de teus sofrimentos e tribulações: de hoje em diante vive em paz, como se já participasses do meu reino” (CA 83). No alvorecer do outro dia, dentro desse contexto, Francisco “compõe o

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Louvor do Senhor pelas criaturas de que nos servimos a cada dia, sem as quais não podemos viver e nas quais o gênero humano ofende o Criador...” (CA 83).

CLARA E O CÂNTICO DAS CRIATURAS

Francisco, no cantar a sacralidade da criação, harmonizando os elementos masculinos e femininos, canta o irmão sol e a irmã lua e as estrelas que “no céu formastes claras e preciosas e belas”; canta o irmão vento e a irmã água “que é mui útil e humilde e preciosa e casta”; canta o irmão fogo e a irmã “mãe terra que nos sustenta e governa e produz frutos com coloridas flores e ervas”. Assim, tão próximo às Irmãs de São Damião, onde viu “erguer-se a nobre estrutura de preciosíssima pérola” (1Cl 19), consciente ou não, Francisco integra no seu louvor às criaturas algumas virtudes que se refletiam na vida das damas pobres de São Damião. Entre essas, destaco a clara lua e estrelas, a virtude da humildade, a preciosidade da castidade e a fecundidade geradora de vida da Mãe-terra, não diferente da fecundidade espiritual que também gera vida na vida dessas mulheres consagradas no amor. A aproximação do Cântico das Criaturas à vida de Santa Clara torna-se ainda mais evidente nas palavras de exortação de São Francisco, no texto intitulado “Audite Poverelle” (Ouvi Pobrezinhas). A Compilação de Assis nos recorda: “Depois que o bem-aventurado Francisco compôs os Louvores do Senhor pelas criaturas, compôs também algumas santas palavras com canto para maior consolação das damas pobres do Mosteiro de São Damião, mormente porque ele sabia que elas estavam muito atribuladas por sua enfermidade” (CA 84). E, assim, o Arauto do grande Rei cantou para Clara e suas Irmãs, da pequena

cela, próxima a São Damião: “Ouvi, pobrezinhas, pelo Senhor chamadas, que de muitas partes e províncias sois congregadas: vivei sempre em verdade, para que em obediência morrais. Não olheis a vida exterior, pois aquela do espírito é melhor. Eu vos peço, com grande amor, que tenhais discrição a respeito das esmolas que vos dá o Senhor. Aquelas que estão atormentadas por enfermidades e outras que por elas sobrem fadigas, todas vós, suportai-as em paz, pois vendereis muito caro esta fadiga, visto que cada uma será rainha no céu, coroada com a Virgem Maria”. Aquela que tinha dificuldade de suportar a claridade da luz e, quem sabe, de enxergar com os olhos do corpo a beleza da criação, depois de uma síntese interior purificada no sofrimento, convida as Irmãs do Mosteiro a contemplar e louvar o Criador com o ocular do espírito, diferente e melhor do que olhar da exterioridade de quem se apropria indevidamente dos bens do Criador.

SIMPLICIDADE

Em terceiro lugar, uno o louvor de Santa Clara, “Bendito sejais vós, Senhor, que me criastes”, à realidade da simplicidade da vida das pobres damas de São Damião. O recolhimento e o silêncio da clausura não as isolam da realidade da vida e da criação. Poderíamos indicar vários fatos e recolher muitos elementos da vida dessas servas de Cristo e analisar o quanto elas se integram na ótica franciscana acerca do cuidado da casa comum (Carta Encíclica Laudato Si’). Se Clara agradece a Deus pelo dom da sua criação, da mesma forma a vida de cada irmã é um dom de Deus. Por isso, ela entende que todas são chamadas a ser, por vocação, “modelo, exemplo e espelho” para restituir o “talento multiplicado” (cf. TestC 15-23). Irmã Angelúcia, no Processo de


Mensagem Canonização, afirmou: “Quando a santíssima mãe enviava as Irmãs servidoras fora do mosteiro, exortava-as a que, vendo as árvores bonitas, floridas e frondosas, louvassem a Deus; e semelhantemente, quando vissem os homens e as outras criaturas, sempre louvassem a Deus por todas e em todas as coisas” (PC 14,9). Clara mergulha de cheio na concepção que Francisco tinha da vida e da criação, tão bem formulada no início da Encíclica Laudato Si’: A recordação de “que a nossa casa comum pode ser comparada ora a uma irmã, com quem compartilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe em seus braços” (LS 1). Na Regra, ao orientar as Irmãs para uma forma de vida centrada na pobreza, Clara adverte a “não aceitar nem ter posse ou propriedade nem por si, nem por pessoa intermediária, e nem coisa alguma que possa com razão ser chamada de propriedade, exceto aquele tanto de terra requerido pela necessidade para o bem e o afastamento do mosteiro. E essa terra não será trabalhada a não ser para a horta e a necessidade delas” (RSC 6, 12-14). Esta concepção de pobreza contrasta com toda a tentação latifundiária de apropriação. E isso Clara repete outras vezes como podemos constatar no Testamento (Cf. TestCl 53),

Frágil encanto de Clara num pobre leito de dor, configurada a Jesus o Amado Redentor.

na carta a Inês de Praga quando fala da efemeridade dos “bens terrenos e transitórios” (2In 23) e, principalmente, quando pede à Igreja o Privilégio da Pobreza.

SINAIS SACRAMENTAIS

Também chamo atenção a três ‘sinais sacramentais’ do cotidiano da vida de São Damião (o pão, a água e o azeite) e que, a meu ver, são provocativos se pensarmos no consumismo destruidor do mundo de hoje. Quando Clara fala do exercício ascético do jejum, ela santifica os alimentos como um dom precioso da vida, manifestando-se misericordiosa e justa para com todas as necessidades das coirmãs (TestC 63-66). O pão mendigado (cf PC 3,13), o pão fatiado (PC 6, 16), o pão abençoado “como verdadeira filha da obediência” (Fior 33) é também o pão dos “pobres que ela muito amava” (PC 1,3) e sinal de penitência (RSC 9,2). A irmã água humilde, preciosa e casta, é sacramentalmente usada por Clara para lavar os pés e as mãos das enfermas (PC 1,12). E segundo o relato das Irmãs no Processo de Canonização, com frequência a Mãe Clara repetia o gesto do lava-pés como presença feminina de serviço (Cf. PC 2,3; 3,9; 10,6). No lavar os pés, ela se santifica e, no deixar-se lavar os pés, a sua santidade santificou a água

Trânsito

Espera que Ele venha para o Eterno Esponsal, perdida com sua alma sonhava o canto imortal. Com quem falas, Mãe querida? Pergunta-lhe uma filha: - Converso com minh’alma enquanto a Luz não brilha!

“Vai segura, minh’alma pois tu tens o melhor guia Aquele que te criou Te levará com alegria com o Amor terno da divina Mãe que a seu filhinho envolvia”. Ir. Maria Clara do Santíssimo Sacramento Mosteiro Mater Christi - Guaratinguetá

(PC 10,11). A água, enfim, remete Clara à Cruz redentora e ao mistério pascal para recordar diariamente “a água bendita que saiu do lado direito de nosso Senhor Jesus Cristo pendente na cruz” (PC 14,8). Também o azeite faz parte do cotidiano da vida das Irmãs de São Damião. Quando este faltava, a providência divina não as deixava no desamparo (LSC 16). Enfim, a sobriedade e a austeridade da vida no Mosteiro de São Damião, tanto no comer, como no vestir e no uso do dinheiro, é provocação e chamada de atenção ao nosso modo de viver, muitas vezes inflado pelo supérfluo, ostentado pelo luxo, negligenciado pelo desperdício, empedernido pelo capital e pelo uso do dinheiro. Essas condutas humanas, tão distantes de Santa Clara e de São Francisco de Assis, não deixam de ser um atentado ao Senhor da vida presente na vida dos pobres e uma agressão à “nossa terra oprimida e devastada, que está gemendo como que em dores de parto” (LS 2). Que a bênção de Santa Clara chegue a todos nós: “O Senhor esteja sempre com vocês e oxalá estejam vocês também sempre com Ele! Amém”. Fraternalmente, Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM Ministro Provincial


O cuidado na ESPIRITUALIDADE DE Santa Clara


Formação Permanente

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om jubilosa ação de graças, pela celebração do mês clariano, nos dispomos a desenvolver o presente tema, em atenção à solicitação de Frei Gustavo Medella. Preparando o 90º aniversário da Fundação desta nossa Porciúncula da Gávea – Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos, no Rio de Janeiro, faz-se mister um mergulho nas Fontes de nossa espiritualidade clariana, para sempre mais nos afervorar e revigorar na vivência de tão magnífico carisma. A Mãe Santa Clara tem particular cuidado pela vocação, quando escreve, no primeiro parágrafo, de seu Testamento: “Entre os benefícios que temos recebido e ainda diariamente recebemos da generosidade do Pai de toda misericórdia e, que devemos agradecer a Ele, o Glorioso, o maior é a nossa vocação. E, justamente porque ela é tão perfeita e tão grande, somos mais ainda obrigadas a dedicar-nos totalmente a ela. Por isso é que diz o Apóstolo: “Reconhece a tua vocação”. Escreve, ainda, no 2º Capítulo de sua Regra: “Se alguém, por inspiração divina, vier ter conosco, querendo abraçar esta forma de vida...”(1). Havia recebido do seráfico Pai essa terminologia que lhe é tão cara, e a transcreve no Capítulo central da Regra: “Desde que, por inspiração divina, vos fizestes filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celestial, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo uma vida conforme a perfeição do santo Evangelho... (2) . Como lâmpada para o caminho, o seráfico Pai entregou a Mãe Santa Clara a Forma de Vida. Está inspirada naquele instante – o Evangelho da Anunciação – em que o fogo eterno do Espírito desceu sobre o feminino, tocou-o e eternizou-o, como lugar de manifestação numa virgem. Com esta luz na alma, a capacidade

receptiva dilata-se como um espelho da ternura de Deus(3). Clara, por sua vez, narra seu biógrafo, Tomás de Celano, “como mestra de jovens a serem formadas e qual preceptora encarregada, no palácio do grande Rei, do cuidado das adolescentes, as educava com tal pedagogia e as fazia progredir com tão delicado amor, que não há palavras para exprimir toda a sua dedicação. Primeiramente, ensinava-lhes a afastar o ruído do coração para que pudessem perseverar firmes e unicamente na intimidade com Deus. Depois lhes ensinava a não se deixarem levar pelo amor aos parentes carnais e a esquecer a casa paterna se quisessem agradar a Cristo”(4). Assim, se temos inspiração, podemos realizar grandes obras de arte. A Madre Santa Clara decidiu fazer de sua vida a mais bela obra de arte, tendo como modelo o próprio filho do Altíssimo que Se fez nosso Caminho(5). Seus Escritos, o Testamento, a Regra e as cartas estão repletos de referências ao tema. O cuidado pela vocação está muito relacionado com o cuidado pelas irmãs, conforme a orientação apresentada pela seráfica Fundadora sobre o acolhimento à candidata: “Se alguém, por inspiração divina, vier ter conosco, querendo aceitar esta forma de vida...(6). Ao considerar que cada pessoa se apresenta para abraçar a forma de vida, sob inspiração divina, Clara recorda à comunidade a responsabilidade do bom exemplo, já que teremos de dar contas ao divino doador (cf TSC 22). Assim adverte: “O Senhor nos deu um exemplo, um modelo e um espelho, não apenas para os outros, mas também para as nossas Irmãs. Pois elas foram chamadas por Ele à mesma vida à qual Ele nos chamou, a fim de que também elas fossem um espelho e um modelo para os homens do mundo(7). Uma de suas características mais

notáveis no cuidado pelas irmãs é a forma de governo: as decisões não vêm do alto, mas são tomadas de comum acordo, em Capítulo, com a participação de todas. A abadessa “consulte todas as Irmãs a respeito de tudo o que é bom e útil para o convento; pois muitas vezes o Senhor revela ao menor o que é melhor(8). Isso denota como a Fundadora valoriza a opinião de todas, ao mesmo tempo que torna cada Irmã participante e consciente da construção da comunidade. Com sabedoria, profundamente conhecedora da psicologia feminina, sabe que é possível surgirem problemas e delega a cada uma a responsabilidade de ajudar a resolvê-los. A santa Madre Clara multiplica palavras de ternura quando roga à Abadessa que a suceder particular atenção e cuidado para com suas irmãs. Chega a usar a expressão de que seja como a “serva para com sua senhora”(9). Aliás, a própria expressão “irmãs” é algo totalmente novo na terminologia monástica medieval. O próprio seráfico Pai tratava-as como “senhoras”. A expressão corrente de então era “Dona”. Clara usará 66 vezes em sua Regra a denominação “irmãs”, firmada na experiência pessoal do amor que nutria por suas irmãs de sangue, que depois a seguiram na vocação religiosa. Seguindo os ensinamentos do Divino Mestre, lavava os pés das irmãs externas, quando voltavam do trabalho fora. Nas noites frias, cobria-as com as próprias mãos, enquanto dormiam e, se alguma, como acontece, estivesse triste, ou perturbada, chamava-a à parte e a consolava(10). Lavava ela própria os vasos sanitários das enfermas, recomendando àquela que, depois dela, tivesse o cuidado das Irmãs particular solicitude para com as Irmãs enfermas. Seu Processo de Canonização é rico em testemunhos de todos Agosto / 2017 [Comunicações]

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Formação Permanente os que experimentaram a ternura e o socorro da Santa Mãe em todas as suas tribulações. Também os Irmãos da I Ordem puderam experimentar seu cuidado materno. Fato conhecido é o do Frei Estêvão que, atacado pela loucura, foi, pelo seráfico Pai, encaminhado à Santa. Após confortá-lo com palavras de doçura, Clara deixou-o repousar no local onde ela própria repousava. Ao despertar estava totalmente curado(11). Imagine-se, hoje, permitir a um Frade dormir na cela de uma

vilégio, isto é, certas isenções e favores em face a senhores feudais ou às imposições eclesiais. Clara também pensou em obter um privilégio para que, após sua morte, suas filhas não fossem obrigadas a abandonar o ideal abraçado. Solicitou um inteiramente singular “Privilégio da Altíssima Pobreza”. Muitos são os testemunhos, tanto no Processo, quanto na Legenda, da firmeza da Santa perante Gregório IX. Desejando este absolvê-la do voto de altíssima pobreza, a Planti-

As Irmãs Clarissas do Mosteiro da Gávea com Dom Orani Tempesta

Irmã, ou na enfermaria do Mosteiro! O fato demonstra a firmeza e a liberdade de espírito da seráfica Fundadora. Tanto seu biógrafo, quanto as testemunhas do processo confirmam, como que querendo salientar a grandeza de alma dessa jovem Abadessa, tão comprometida em aliviar o sofrimento de seus irmãos. Tal cuidado reflete-se particularmente na fidelidade à santa pobreza, colocando todo empenho possível para ensinar suas Irmãs a afastar qualquer impedimento à total consagração ao sumo Bem amável! “Ama totalmente aquele que totalmente se entregou por teu amor!(12) Era comum então, que os Mosteiros obtivessem suas cartas de pri-

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nha adquire gigantesca robustez para enfrentar o Pontífice e dele obter a confirmação do Privilégio já obtido do Cardeal Protetor. Esse documento terá excepcional significado para a Ordem. Gregório IX parece tê-lo escrito como sendo ditado pela Santa, impressionado e motivado por suas veementes súplicas. A partir desse encanto pela pobreza, à imitação do Pobre de Nazaré, a Mãe Santa Clara compreende o trabalho como uma graça. Retoma, em sua Regra, a expressão do Pai São Francisco: “As irmãs às quais o Senhor deu a graça de trabalhar, trabalhem, a partir da Hora Tércia...”. “Com o oferecimento de seu

trabalho a Deus, os homens se associam à mesma obra redentora de Jesus Cristo que, trabalhando com suas próprias mãos em Nazaré, deu ao trabalho uma dignidade supereminente”(13). Tal ensinamento do Concílio Vaticano II, muitos séculos depois, vem complementar, na Vida Religiosa, o que foi intuição, vivência e ensinamento dos nossos seráficos Fundadores. Ao aconselhar que o trabalho seja subordinado ao espírito de oração e santa devoção, a grande Mestra idealiza o que vem a ser o dia-a-dia de uma alma franciscana, no cuidado pela vida de oração e contemplação. Assim, escreve: “Considero-te colaboradora do próprio Deus e sustentáculo dos membros frágeis e abatidos do seu inefável corpo que é a Igreja”(14). A vida contemplativa tem o domínio da ação e do tempo. Outrossim, contemplar à maneira cristã não é um ‘exercício’ ou uma etapa de itinerário espiritual, mas uma consciência do Presença do Amado no templo da intimidade, da fraternidade e do universo. E quantas vezes resplandece assim na alma a ordem do universo, atraindo à contemplação, em meio à maior atividade produtiva! Sabemos, por experiência, em nosso dia a dia, da necessidade do silêncio contemplativo e orante para executarmos o trabalho em espírito de devoção, em atitude amorosa que unifica o ser! Daí se mergulha na mais pura contemplação, donde emergem as mais belas obras. Haja visto a delicadeza dos trabalhos manuais das Irmãs! Como já dizia o saudoso Car-


Formação Permanente deal Dom Jaime de Barros Câmara, referindo-se às Clarissas Pobres da Gávea: “É admirável, como as mesmas mãos que cavam com a enxada, semeiam e plantam, depois bordam, com perfeição, os mais belos traços, confeccionando alfaias para o culto divino com indizível delicadeza! E ainda: “Há as que esfregam o chão e os mesmos dedos escrevem belas páginas de espiritualidade!” Clara, em sua Regra, indica o primado de Deus! Nas cartas, derrama a caridade do Espírito. Ela é a mestra de vida que convida a olhar o “espelho da eternidade”! Seu conselho “olha, considera, contempla” traduz o mesmo ensinamento da Mãe Santíssima: “Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2,11). “Olha” - é o exercício da fé que vê além! “Considera” - é o esforço de aplicar os sentidos nas manifestações do Senhor – em tudo – mas sobretudo na meditação da Palavra de Deus, a qual fazemos voto de observar. Essa é a Regra! “Contempla” – é saborear no interior o que os sentidos receberam e guardaram. Clara recomendava às Irmãs Externas, quando as enviava para servir fora do Mosteiro, que louvassem a Deus ao verem as árvores bonitas, frondosas e belas; e, de maneira semelhante, quando vissem homens e as outras criaturas, sempre louvassem a Deus por todas e em todas as coisas(15). Sendo o fruto da contemplação o louvor e a perfeita sintonia com a criação, Clara viveu esta plena harmonia. Narram as Testemunhas do Processo de canonização que, estando a Santa Madre muito enferma, de modo a não poder levantar-se, necessitou de uma toalha e, não havendo ninguém para levar-lhe, uma gatinha que havia no Mosteiro come-

çou a puxar e arrastá-la, como podia. Então a senhora disse: “Bobinha, não sabe carregar; por que está arrastando no chão?” Então a gatinha, como se entendesse, pôs-se a enrolar a toalha para que não encostasse no chão. Segundo a Testemunha do Processo, tal fato foi-lhe narrado pela própria Santa!(16). Seu derradeiro hino de louvor, veio no momento de sua passagem deste mundo, conforme relatam diversas Irmãs em seu Processo de Canonização. Na mais jubilosa contemplação do Rei da Glória, “a virgem, entrando em si, fala silenciosamente à sua alma: ‘Vai segura, porque tens um bom companheiro de viagem. Vai, porque Aquele que te criou, tam-

bém te santificou e, cuidando de ti como uma mãe vela por seu filhinho, te amou com terno amor. Senhor, sede bendito porque me criastes!”(17). Enfim, a vida de Clara de Assis, em perfeita sintonia com a criação, acolhe também a irmã morte com solene “Laudato si’! Madre Maria Pacífica

Bibliografia e citações

1. RSC 1 / 2. RSC 6,1-3 / 3. Vitória Triviño “ Esp. de S. Clara, pg 53 / 4. LSC,36 / 5. TSC 2; cf Jo 14,6 / 6. TSC 2 / 7. TSC, 6 / 7. TSC, 6 / 8. RSC, 4 / 9. 3CSC / 10. Proc. / 11. Proc. 2,15 / 12 3CSC, 8 / 13. Gaudium et Spes, 67 – Iriarte: Letra e Espírito, 79 / 14. 3CSC / 15. Proc, 14 / 16 Proc. 9, 8 / 17. LSC, 46

MADRE MARIA PACÍFICA DO JESUS CRUCIFICADO

é a abadessa do Mosteiro da Gávea. No último dia 13 de maio, completou 62 anos de vida religiosa. Nasceu há 82 anos na cidade de Andradas, no Sul de Minas Gerais, onde foi batizada como Gláucia Garcia de Almeida. Ingressou na Ordem de Santa Clara em 1955, aos 20 anos.


Formação Permanente

FRADES MENORES NO MUNDO E NA IGREJA

Com São Boaventura de Bagnoregio

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elebra-se neste ano o oitavo centenário do nascimento de São Boaventura, respeitável protagonista da Família Franciscana. Ele nasceu por volta de 1217 em Civita di Bagnoregio, na Toscana romana, nas proximidades de Orvieto (Itália). Em 1245, já laureado nas artes, entra na Ordem, arrebatado pelas reflexões de Alexandre de Hales que, por sua vez, passou da cátedra ao claustro, atraído pela espiritualidade franciscana; em 1255, é mestre de teologia em Paris; em 1257, foi eleito ministro geral; em 1272, é nomeado cardeal da Igreja e bispo de Albano com a tarefa de preparar o Concílio de Lion, durante a qual ele morre, aos 15 de julho de 1274. As suas obras, contidas nos 9 volumes das Opera Omnia de Quaracchi, foram publicadas entre 1882 e 1902. Para Boaventura, o homem é o ser dos desejos, dos grandes desejos, dos que envolvem a inteligência e o afeto e que querem descobrir e saborear a beleza das coisas, a harmonia delas que reenvia a outro fora de si mesmo(1). Ao mesmo tempo, o homem bonaventuriano dos desejos é o ser que aceita a fadiga do caminho, movido por aquela saudade que o faz intuir a presença de uma resposta de sentido em tudo aquilo que tem diante de si. Ele sabe que dentro de seu mundo, na pluriformidade do seu manifestar-se, emerge e aparece uma única e constante presença, da qual tudo provém e à qual tudo retorna. Em tudo isto, Jesus Cristo representa, para Boaventura, o centro da possível unidade de todas as coisas (cristocentrismo), porque nele tudo teve a sua origem e a sua completude, e, ao mesmo tempo, a partir dele o desejo do homem encontra a direção

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Formação Permanente para encaminhar-se à resposta buscada e esperada. O desejo de descobrir e viver esta unidade entre Deus e o mundo concretizou-se, em Boaventura, em três grandes âmbitos da sua existência cristã: na experiência ascética e mística da busca do rosto de Deus descoberto na humanidade de Cristo (1º), no diálogo cultural com os homens do seu tempo para unir fé e razão (2º) e, finalmente, no seu empenho a favor da Ordem minorítica, para mantê-la um instrumento fiel a Francisco e a serviço da Igreja (3º)1. 1. Boaventura foi antes de tudo um “homem de Deus” que se tornou “guia espiritual” para os homens. Atestam-no os numerosos escritos espirituais tanto de caráter ascético(2), quanto devocional(3). Com os primeiros, ele tenta organizar os processos ordenados e graduais, feitos também de dinâmicas espaço-temporais, através das quais é possível aproximar-se progressivamente de Deus. Depois, com os escritos de caráter devocional, ele busca o objetivo de estimular-nos ao amor de Deus, orientando o olhar do afeto sobre a vida de Cristo, contemplando particularmente a humanidade dele. Aqui, como em todos os escritos, o Doutor seráfico se mostra profundamente enraizado na Palavra de Deus, da qual ele próprio se nutria na leitura assídua e na meditação. Entre os muitos aspectos dignos de nota, um emerge com mais força: na vida espiritual, o amor de Deus não pode ser pura emocionalidade e instintividade afetiva, mas precisa de formas e de itinerários conscientes que disponham a alma à maravilha. Sem um processo ordenado de caráter ascético, o espírito humano dificilmente poderá criar aquela quietude e tranquilidade que lhe permita

escutar, ver, saborear, adorar e tocar o mistério de Deus. Não se trata, para Boaventura, de “conquistar” a Deus, mas de “deixar-se encontrar”, dispondo-se à surpresa imponderável do encontro com Ele. Além disso, Boaventura recorda à nossa vida de “religiosos” um segundo elemento: o mundo, tanto ontem como hoje, tem necessidade de “mestres do espírito”, homens e mulheres capazes de ajudar os outros com o seu testemunho de vida, no processo da experiência de Deus. Esta proposta de “formação espiritual”, porém, deve ser o fruto de uma verdadeira e profunda experiência pessoal, para dar àqueles itinerantes espirituais um sabor nitidamente franciscano. Sim, o mundo tem necessidade de contemplativos que sejam capazes de anunciar a alegria do Evangelho e a beleza de viver o carisma franciscano em fraternidade. A nossa tradição espiritual, feita de lugares e de grandes figuras de santidade e de doutrina, tem uma riqueza à qual o mundo de hoje atribui uma autêntica eficácia devido a um itinerário de efetivo crescimento espiritual. 2. Boaventura foi também um mestre universitário. O desejo de Deus, como fonte de estupor e de afeto espiritual, encontrou nele um prolongamento direto no diálogo apaixonado com a cultura de seu tempo(4). A sua aula magistral é animada por uma dupla verdade: o homem é feito para chegar à sabedoria de Deus, isto é, ao gosto saboroso d’Ele; mas este ponto de chegada somente é possível através do instrumento da inteligência, caminho para a verdade sapiencial. No contexto do mundo universitário da metade do século XIII, impunha-se, de fato, a difícil questão de como conciliar filosofia e teologia, razão e fé, inteligência e afeto, conhecimento e amor(5). O pe-

rigo era o de considerar paralelos os dois momentos cognocitivos, com o grave risco de alcançar uma dupla verdade, a filosófica e a teológica, uma estranha à outra ou uma em conflito com a outra. A solução bonaventuriana passa através de dois grandes núcleos de pensamento: o homem é um itinerante que se encaminha progressivamente em direção ao Uno, ao Verdadeiro e ao Bem – é o mistério trinitário que resplandece em todas as coisas – e é também acompanhado pela própria verdade de Cristo, doutor interior que ilumina a cada homem que vem ao mundo. Então, Boaventura não condena as novidades filosóficas legadas por Aristóteles, mas tenta integrá-las no interior de um único e progressivo caminho que a mente, movida pelo desejo do coração e sustentada pela inteligência, empreende para Deus. Um princípio fundamental, que Boaventura recorda aos seus contemporâneos, é o seguinte: a inteligência é caminho para a sabedoria, mas, se se fecha em si mesma, cai infalivelmente no erro. A nós, franciscanos do século XXI, imersos em um mundo dominado por um saber técnico-científico tão amplo e poderoso quanto aparentemente indiferente a um Além e a um Outro, o santo de Bagnoregio propõe duas estratégias fundamentais. Pede-nos, antes de tudo, para assumirmos uma atitude de verdadeiro e apaixonado diálogo, com um olhar positivo e de grande estima em relação às capacidades humanas, reconhecendo nelas manifestações seguras da beleza que Deus imprimiu na criação e no homem. Cada atitude de contraposição e de anatematização do mundo e das suas capacidades científicas e técnicas, com as suas exigências de conhecimento e de desenvolvimento, não pertence à visão de BoavenAgosto / 2017 [Comunicações]

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Formação Permanente tura: em toda a realidade aparece o mistério de Deus uno e trino, porque em cada coisa há uma pegada da sua presença, e o homem tem a capacidade de descobrir o sentido e de dizer a beleza dela. Ao mesmo tempo, no entanto, ele convida a desenvolver, em relação a este mundo, um serviço de abertura ao transcendente, recordando aos homens de hoje duas importantes e encorajantes verdades. Antes de tudo, em cada processo cognitivo da realidade, o homem é constantemente encaminhado a uma verdade mais profunda, àquela verdade que recompõe numa unidade os fragmentos, espalhados aqui e ali, e reenvia a uma plenitude e completude que supera o intelecto e pede o afeto. Um fechamento a tal horizonte infinito condenaria o homem a uma ciência e técnica sem alma e sem esperança. Além disso, em cada esforço em direção à unidade, à verdade e ao bem é vivo e operante o mistério trinitário do amor divino. Com a certeza da fé, é preciso anunciar que em cada processo a favor de um mundo melhor e mais humano está agindo o mistério redentor de Cristo, que se doou sem reservas a cada homem em todos os tempos(6). 3. Boaventura, finalmente, assumiu a responsabilidade da Ordem – foi eleito em 1257 o ministro geral para ficar no cargo até à morte (1274). Isto revela a grande estima que os irmãos tinham para com ele, considerado dom irrenunciável para a vida da Ordem em um período de rápida e prodigiosa difusão(7). Ele quis, antes de tudo, ajudar os irmãos a reencontrarem a sua ligação ideal com Francisco para poderem viver com mais fidelidade a sua escolha religiosa. Tratava-se de reproduzir aqueles ideais deixados em herança pelo Santo de Assis,

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para que fossem motivo de crescimento espiritual e de comunhão, não de conflito e de desordem. A pobreza, a humildade, a fidelidade aos compromissos cotidianos, a vida de oração e fraterna, além de um estilo simples e modesto de vida, constituíam as exigências oferecidas a uma Ordem que estava correndo o risco de perder-se por causa do prestígio e do poder cobrados pelos irmãos no interior da Igreja e da sociedade. Neste sentido, importantíssima foi a nova redação da vida de Francisco feita por Boaventura: sem este modelo de beleza, no qual resplandece o amor místico de Deus e o empenho generoso pelo mundo na comunhão com Cristo pobre, os frades teriam levado com muita dificuldade uma autêntica vida minorítica. Além de cuidar da qualidade da vida interna da família franciscana, ele se preocupou em dispor os frades a colocar-se a serviço das necessidades culturais e pastorais da cristandade, organizando e sustentando rigorosos percursos de estudo. Tratava-se de continuar aquela escolha assumida por Francisco também em resposta às exigências de reforma proclamadas em 1215 pelo Concílio de Latrão IV. Boaventura sentia a urgência de convocar os frades a estarem a serviço da Igreja universal, colocando à disposição preparação cultural e pastoral, sem fazer disto motivo de vanglória ou de concorrência com as igrejas locais. Livres de mecanismos de rivalidade e do desejo de poder, os frades deviam tornar-se uma palavra boa e luminosa, caracterizada pela humildade e pela competência, em linha com as expectativas e as exigências do Evangelho. Boaventura, portanto, convida-nos a realizar duas grandes escolhas. Antes de tudo, exorta-nos a despertarmo-

-nos e a defendermos a ligação com um ideal de vida evangélica que tem em Francisco um modelo único. Isto nos permite sermos frades abertos às exigências deste mundo, capazes de levar uma palavra caracterizada pela simplicidade, pela alegria e pela minoridade, pela fraternidade e pela profecia. Além disso, a nossa presença dentro da Igreja deve ser animada pela inteligência teológica, preparação pastoral e empenho apostólico. Em suma, ele nos recorda que, para sermos sal e luz da terra, com um sabor propriamente “franciscano”, é necessário sermos anunciadores não somente credíveis pelo estilo de vida, mas também “competentes” no modo de propor a Palavra que salva(8). Se queremos ser ainda os frades do povo, homens que levam pelas estradas do mundo uma boa notícia, Boaventura nos recorda que três são os elementos irrenunciáveis da nossa vida franciscana: uma relação constante e credível com o mistério do amor de Deus; uma vida fraterna na qual resplandeça uma humanidade reconciliada e marcada pela paz; finalmente, uma preparação cultural séria que nos permita dialogar, com competência e eficácia, com o nosso mundo. E em tudo isto não se trata de refazer uma grande Ordem, mas talvez de aceitar com humildade a nossa atual pobreza de números e de presenças e, assim, ajudados por um renovado olhar sobre Francisco, voltarmos a ser simples e verdadeiramente “frades menores”. É daqui que é preciso partir de novo para recolocar-nos a caminho com paixão, inteligência e generosidade, no desejo de fazer ressoar aquela boa palavra evangélica realizada por Francisco e reproposta por Boaventura, uma palavra capaz, através de nossas obras e de nossos discursos, de tocar a mente e o coração do mundo con-


Formação Permanente temporâneo, sedento de esperança e desejoso de olhar Além para encontrar o Outro.

CONCLUSÃO

Uma figura metafórica muito presente nos textos de Boaventura é a do círculo, utilizada para indicar a índole do movimento que existe entre Deus e o homem. A relação entre esses, mais do que vertical, é de caráter circular, onde tanto Deus como o homem são animados por uma convergente busca de um em direção ao outro: dois peregrinos ligados pelo mesmo desejo de comunhão. Ao homem que se coloca a caminho res1 “De fato, a alma não é contemplativa sem um desejo vivo. Portanto, o desejo dispõe a alma a acolher a iluminação” (Collationes in Hexaëmeron 22, 29). 2 Recordamos aqui entre os principais textos: A tríplice via, O Solilóquio, A perfeição da vida escrita para as irmãs, O Governo da alma, Tratado de preparação para a missa. 3 A árvore da vida; As cinco Festas do Menino Jesus; O Ofício da Paixão e a Videira mística. 4 Além do monumental Comentário às Sentenças, recordamos somente alguns opúsculos teológicos: A Redução das artes à Teologia; O Itinerário da mente para Deus; Os

ponde a solicitude dAquele que se fez peregrino para encontrá-lo lá onde ele está. O último ato da itinerância intelectiva e afetiva não será “compreender” para dominar, mas ser compreendido, abraçado por Aquele que, só por amor, está entre nós, deixando-se encontrar em cada esforço nosso a favor da unidade, da verdade e da bondade. Esta é a mensagem urgente e incisiva que Boaventura nos convida a assimilar e a transmitir, sinal da nossa presença nesta difícil época de rápidas mudanças. Que São Boaventura nos ajude a “desdobrar as asas” da esperança que nos impulsiona a sermos, como ele, insete dons do Espírito Santo; Collationes in Hexaëmeron. 5 “Portanto, exorto o leitor, antes de tudo, ao gemido da oração a Cristo crucificado, e isto para que não creia que lhe baste a leitura sem a unção, a especulação sem a devoção, a pesquisa sem a admiração, a consideração sem a exultação, a atividade sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteligência sem a humildade, o estudo sem a graça divina, o espelho sem a sabedoria divinamente inspirada” (Itinerarium mentis in Deum, prol. 4). 6 “O santo franciscano [Boaventura] ensina-nos que cada criatura traz em si uma es-

cessantes buscadores de Deus, cantores das belezas da criação e testemunhas daquele amor e daquela beleza que “tudo move”.

OS TRÊS MINISTROS GERAIS DA PRIMEIRA ORDEM E DA TOR Fr. Michael Anthony Perry, OFM Fr. Marco Tasca, OFMConv Fr. Mauro Jöhri, OFMCap Fr. Nicholas Polichnowski, TOR Roma, 14 de julho de 2017 Vigília da Festa de São Boaventura www.ofm.org | www.ofmconv.net | www.ofmcap.org | www.francescanitor.org

trutura propriamente trinitária, tão real que poderia ser espontaneamente contemplada, se o olhar do ser humano não fosse limitado, obscuro e frágil. Deste modo, ele nos indica o desafio de tentar ler a realidade em chave trinitária” (Laudato si’ 239). 7 Constituições de Narbona, Legenda Maior e Legenda Menor de Francisco, Apologia dos pobres. 8 “Nisto consiste o estudo do sábio: que o nosso estudo se dirija unicamente a Deus, que é o totalmente desejável” (Collationes in Hexaëmeron 19, 27).

IDEAL DO REINO Clara atravessa até hoje a nossa história, Forte Mulher de Assis medieval; Por que tamanho apreço - Penhor de Glória, Esse modelo fazê-la universal?... Dizer-lhe posso esse fenômeno agora, É que Clara é Mulher feita do Evangelho Viu o Pobrezinho – Sua Paixão – de outrora, Passava, à frente, à porta do seu castelo. Largou nobreza, tudo, o sonhar de moça, Apaixonou-se pra o viver de Francisco, Era o Ideal do Reino, graça e mais força!... E assim, destemida, com Francisco um dia, Assumiu a Ordem das Clarissas pra o mundo, Iluminando os séculos com alegria.

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Frei Walter Hugo de Almeida Agosto / 2017 [Comunicações]


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rodeio

segundo NOVINTER REFLETE SOBRE A VIDA CONSAGRADA

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segundo encontro Novinter deste ano foi realizado em Rodeio, no Convento São Francisco e Noviciado São José desta Província, nos dias de 26 a 30 de junho e contou com a participação dos noviços da Ordem dos Frades Menores, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos e as noviças da Congregação das Irmãs da Divina Providência, além de seus formadores. Desta vez, a assessora do encontro foi a Ir. Terezinha Sotopietra, da Congregação das Irmãs Franciscanas Catequistas. Vários momentos preencheram este encontro durante os cinco dias, como a oração, o convívio, o esporte e a festa junina. Durante os dias de formação, refletiu-se sobre a vida consagrada como também a vida religiosa no Brasil e os três votos que os consagrados professam. A pergunta “O

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que é a vida consagrada?” norteou a reflexão. O chamado, a vocação, a missão, a fidelidade e o seguimento são elementos que Deus nos aponta para esta caminhada; por isso nunca se deve esquecer o seu ponto de partida. Foi também pertinente clarear que, hoje, as congregações devem cada vez mais assumir sua identidade e serem testemunhas no meio do povo como nos pede o Papa Francisco, sendo uma Igreja em saída. Para isso é necessário que os religiosos e as religiosas se alimentem da Palavra de Deus e estejam atentos às novas dinâmicas da vida social. Fazendo menção à Ir. Delir Brunelli, Ir. Terezinha disse que a VR no Brasil, por um longo período, acreditou ser “imutável”, uma proposta acabada. Segundo Ir. Delir, há a necessidade de contemplar a realidade social, política e de Igreja em que a Vida Religiosa Con-

sagrada se situa hoje, com sabedoria e escuta. Segundo a Ir. Terezinha, a escuta atenta foi a grande mestra de Jesus. Falando sobre os votos, a assessora frisou que na comunidade cristã estes são compromissos de libertação de si e toda a vida humana e são, no entanto, um compromisso que assumimos numa realidade concreta e histórica. Segundo a Irmã, falar sobre os votos no seu conjunto é falar de fé e amor. Por fim, o encontro culminou, na sexta-feira de manhã, com uma caminhada até a casa das Irmãs Catequistas, onde houve um momento de deserto que durante duas horas. Depois os participantes puderam partilhar as experiências vividas durante a semana e o encontro terminou com um almoço de confraternização no Noviciado São José. Frei Alberto C. M. Sambei


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itf

POR MAIS SÁBADOS FRANCISCANOS

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o dia 1º de julho ocorreu no ITF o III Encontro dos Sábados Franciscanos, ministrado por Frei Fábio Cesar Gomes, abordando a temática “Ecologia, ética sócio-econômica e diálogo interreligioso”. A formação teve início com o tema educação e espiritualidade ecológicas abordadas na carta encíclica Laudato Si’ (LS), do Papa Francisco, enfatizando-se a expressão “conversão ecológica” que, por sua vez, “comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que nos rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus” (LS 217). Para Francisco de Assis, a espiritualidade não tem a ver com algo que diz respeito somente à alma humana, mas, com todo o ser da pessoa. Nas entrelinhas da LS, a espiritualidade ecológica que o Papa apresenta é, de certa forma, a valorização e a apresentação da espiritualidade franciscana como proposta de conversão cristológica que se manifesta também como conversão ecológica. A propósito da ética sócio-econô-

mica, foi ressaltada a valorização do dom de cada pessoa que consiste em valorizar o que cada uma possui para contribuir nas relações humano-cósmicas, o que Francisco de Assis chamará de “o bom frade menor”: aquele que possui em si o melhor de cada frade. Em outras palavras, a “fraternidade perfeita” é aquela que valoriza o melhor de cada frade, que acolhe e valoriza o dom de cada pessoa.

Terceiro encontro

Como parte da ética-socioeconômica também foi dado ênfase ao dom do trabalho ou à graça de trabalhar como é apresentada no capítulo 5 da Regra Bulada da Ordem dos Frades Menores. O dom de trabalhar como possibilidade de participar da obra criadora de Deus, sem apropriar-se de nada (Regra Bulada, 6) e restituindo os bens ao Senhor a quem tudo pertence (Regra não Bulada, 17), valorizando em primeiro lugar a pessoa e não o dinheiro. Sobre o diálogo interreligioso, foi apresentado o contexto de guerras e

disputas em que se encontrava Francisco de Assis: em âmbito local eram disputas de classe entre os Maiores e os Minores; em âmbito regional, era a guerra entre Assis e Perúgia e, mundialmente, a guerra entre cristãos e muçulmanos. Imerso nesse contexto, Francisco de Assis aponta para uma outra direção e inaugura a possibilidade de diálogo entre as religião cristã e a islâmica, tornado-se presença pacífica e testemunhal entre os muçulmanos, causando grande admiração no Sultão. Concluídos os três encontros que constituíram os Sábados Franciscanos, houve a solicitação para que estes estudos sejam continuados no segundo semestre, e assim se possa ampliar e aprofundar os estudos das Fontes Franciscanas e Clarianas. Dessa forma, o ITF agradece a todas as pessoas que participaram das formações, as que ajudaram na logística e organização dos encontros e a Frei Fábio Cesar Gomes, pela disponibilidade e explanação das temáticas. Agosto / 2017 [Comunicações]

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O novo ROSTO ANGOLANO DO ITF

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este ano, o ITF recebeu quatro novos frades estudantes oriundos de Angola: Frei Canga Manuel Mazoa, Frei Alfredo Epalanga Prego, Frei Mário Sampaio Pelu e Frei Santana Sebastião Cafunda. Desde sua criação, no início da década de 1990, a Missão da Imaculada Conceição em Angola, onde estão presentes os Frades Menores da Província homônima do Brasil, tem frutificado em muitas vocações religiosas. Numa manhã muito fria, a Equipe de Comunicação do ITF conversou com os referidos estudantes, que falaram um pouco de sua trajetória de vida pessoal e religiosa, bem como de suas expectativas em relação ao curso de Teologia. Frei Canga Manuel, de 24 anos, é natural da cidade de Ndalatando, estado de Kwanza Norte. Ele e Frei Santana Cafunda são da região dos Akwakimbundu, “uma das variantes dos povos Bantu. Bantu é o conjunto de povos que têm a mesma ou semelhante raiz cultural, etnolinguística. Primitivamente viviam na região cen-

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tral do continente africano. Por vários motivos, como invasões e nomadismo, se espalharam por toda a região da África Central e Sul, dando origem a mais povos, entre os quais, os akwakimbundu”, dos quais eles fazem parte, explicou Canga. Frei Alfredo Epalanga Prego e Frei Mário Sampaio Pelu são provenientes da província angolana de Benguela, e cresceram no litoral. Sua origem etnolinguística é Bantu – Ovimbundu. Os dois eram amigos antes de ingressarem na Vida Religiosa e, em suas conversas, trocavam ideias a esse respeito. Para ambos, os estudos possuem uma grande importância. O desejo de Frei Alfredo é “aprender mais para melhor viver e comunicar a fé que foi aprendida. Quer conhecer o modo de fazer Teologia no Brasil”. Frei Mário, por sua vez, comentou que “estudar Teologia é importante para o amadurecimento da fé e para a formação da vida dos frades”. No decorrer da conversa, Frei Alfredo nos explicou um fato curioso a respeito de seu sobrenome. Epalanga

significa “secretário” ou “vice-rei”, indicando, pois, pertença a uma linhagem nobre daquela etnia. Frei Santana Sebastião Cafunda veio de Malange, cidade-capital da província de Malanje (“com J!”). Seu sobrenome também apresenta um significado especial: Cafunda quer dizer “aquele que não aceita ‘partes’”, isto é, “aquele que prefere o ‘todo’”. Para nós, brasileiros, seria algo como “quem não se contenta com pouco”. Para ele, “é importante saber filtrar o que foi aprendido, para aplicar, da melhor forma, os conhecimentos. O estudo da Teologia é importante para o crescimento pessoal”. Ele ressaltou também a relevância de “fazer fraternidade”, ou seja, da vivência com os demais irmãos, seja na fraternidade franciscana, seja no convívio com as demais pessoas, em qualquer lugar para onde se é enviado. “Os frades que estão em Angola sempre fizeram questão de oferecer boa formação aos angolanos, escolhendo os melhores centros de estudo, quer no país quer fora dele. Desde o momento que ingressei no seminário


Formação e Estudos até hoje, como frade, com frequência, soa motivado a estudar seriamente, pois não apenas eu preciso disso, mas também o país e a Ordem que está começando em Angola precisam. Penso que o que acontece comigo, naturalmente, acontece com os demais confrades angolanos”, ressalta Frei Canga. Para Frei Canga, a vida religiosa “é um modo de ser feliz seguindo Cristo de uma forma especial, vivendo em comunidade, partilhando a vida com os irmãos, na obediência e castidade”. E a importância dela para sua comunidade de origem implica em “testemunhar Cristo com a vida, estando à disposição de todos” … “Os frades sempre foram solícitos, amáveis para

com a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. Mesmo no sofrimento, momentos de guerra civil que assolou o país, os frades estiveram lá, firmes com o povo e como povo”, acrescenta. Atualmente, os quatro frades estudantes acima referidos residem no Convento do Sagrado Coração de Jesus e cursam o primeiro ano da graduação em Teologia, no ITF. Além deles, estudam no ITF Frei Ermelindo Bambi, Frei João Alberto Bunga e Frei João Batista Canjenjenga, todos no 4º ano de Teologia. Da esquerda para a direita: Frei

Alfredo Epalanga Prego (Benguela), Frei Santana Sebastião Cafunda (Malange), Frei Canga Manuel Mazoa (Ndalatando, estado de Kwanza Norte), Frei Mário Sampaio Pelu (Benguela). Textos e fotos da Equipe de Comunicação do ITF

“ECOCIDA, GENOCIDA E SUICIDA”

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professora Moema Miranda deu assessoria ao Master em Evangelização, de 03 a 07 de julho, sobre alguns temas fundamentais envolvendo a questão ecológica e a preservação do meio ambiente – imprescindível para a sobrevivência em nosso planeta. Partindo de uma experiência recente, em Brasília, quando encarou um racionamento de água, Moema frisou que fatos como esse, em cidades como Brasília e São Paulo, são um sinal de alerta: “Algo está muito errado”. Ela afirmou que o planeta Terra possuía um equilíbrio muito delicado que foi drasticamente quebrado pelo ser humano nos últimos quatrocentos anos. “O período mais recente da história do planeta, a partir da II Guerra Mundial e do pós-guerra, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima e no funcionamento dos ecossistemas, é chamado de antropoceno, quando presenciamos um grande processo de desequilíbrio das condições de vida no planeta. Atualmente estamos vivendo um período de grande aceleração –

um processo intensivo de produção industrial que é ecocida, genocida e suicida”. E esclareceu: “Esse processo é ecocida porque causa a destruição intencional em um ecossistema ou comunidade; genocida porque aniquila grupos (humanos e de outras espécies); é suicida porque causará a nossa própria aniquilação… Como afirmou o Papa Francisco na Laudato Si’, ‘um sistema que mata’, e não somente os seres humanos, pois tudo está inter-

ligado. Essa é a grande mensagem da Encíclica”. Moema abordou as características do comportamento humano e mostrou a necessidade de conhecermos melhor a situação atual do planeta: “As espécies co-evoluem, evoluem em conjunto e concomitantemente. O ser humano é a única espécie que se adaptou ao planeta e adaptou o planeta a ele, causando um desequilíbrio gritante que afeta principalmente os mais vulneráveis”. Miranda também falou da urgência de uma conversão ecológica. Segundo ela, “devemos reconectar o cosmos, a humanidade e Deus. Deus sempre interage com a humanidade”. Lembrou que vários salmos falam isso, atestando a realidade da presença divina em nosso meio. E recordou que “somos criados à imagem e semelhança de um Deus que é Trino. A Trindade é uma relação amorosa entre as três pessoas divinas, sem dominação ou exploração”. Falar da criação, do universo e de nossa casa comum é falar de Deus. Neste sentido, podemos compreender a intrínseca relação entre evangelização e ecologia.


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último ENCONTRO VOCACIONAL “A Missão do Franciscano é sair do comodismo”

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ezoito jovens deixaram o Postulantado Frei Galvão em Guaratinguetá com uma provocação: a missão do Franciscano é sair do comodismo, levantar-se da cadeira para dar o lugar a quem precisa e se colocar no serviço do lava-pés. Com essa mensagem, os coordenadores do Serviço de Animação Vocacional (SAV) da Província da Imaculada, Freis Diego Melo e Gabriel Dellandrea, concluíram os três encontros vocacionais nos Regionais da Província, reunindo 49 vocacionados, que puderam conhecer um pouco mais do carisma franciscano e discernir melhor sobre sua vocação.

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De 23 a 25/6, foi a vez dos candidatos dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro se encontrarem na terra de Frei Galvão, sendo que os dois primeiros encontros foram no Seminário de Ituporanga e, em seguida, na Fraternidade do Sagrado, em Petrópolis. Este encontro se iniciou na sexta-feira, quando os jovens vocacionados foram acolhidos pela Fraternidade do Seminário Frei Galvão e por Freis Diego e Frei Gabriel. Durante o sábado, além dos momentos de partilha, formação, reflexão e oração, os jovens também tiveram a possibilidade de conhecer concretamente como se dá a vivência franciscana, através da vi-

sita à Casa Sol Nascente, um serviço de acolhida de portadores de HIV das Irmãs Franciscanas de Siessen. Outro momento forte foi o encontro com as Irmãs Clarissas, do Mosteiro Mater Christi, quando os jovens puderam conhecer um pouco mais do aspecto contemplativo de nosso carisma. Retornando ao Postulantado, os vocacionados conviveram intensamente com a Fraternidade local e os postulantes, participando dos momentos de oração, missas, devoção mariana, refeições e convívio fraterno. Na Missa de domingo, celebrada com a comunidade local, Frei Diego Melo, presidente da celebração, des-


SAV tacou que a liturgia apresentava Jesus nos encorajando a aprofundar a nossa existência, prometendo a segurança que só a sua presença nos dá. “Ter fé não é sinônimo de uma vida sem dificuldades ou um refúgio para aqueles que não têm coragem de enfrentar as vicissitudes da vida. Ter fé é assumir o seu compromisso com a Missão e levá-lo até as suas últimas consequências, indo contra a corrente da lógica atual. Ao final da celebração, Frei Gabriel Dellandrea colocou uma cadeira à frente do altar e disse que a missão do Franciscano é sair do seu comodismo, levantar-se da cadeira e dar lugar a quem mais precisa, assumindo o lavar-pés. “O Franciscano precisa lavar os pés, na forma de ouvir a história de pessoas enfermas e excluídas, assim como os vocacionados puderam fazer ontem no Centro de Recuperação Sol Nascente. Indo ao encontro do outro, eles puderam sair de si, cantaram, se alegraram e partilharam a sua vida com as pessoas”, concluiu Frei Gabriel.

Para o jovem vocacionado Gustavo Toratti, de São José do Rio Preto, foi muito bom conhecer a realidade, porque pôde ver um pouco melhor como é a vida franciscana. “Foi ótimo sentir como a fraternidade é importante na vida das pessoas e como faz falta onde não existe”. O encontro foi finalizado durante a refeição do almoço, onde todos

SEDUZISTE-ME, SENHOR Feriste-me, Senhor, com teu perdão, E me inundei de bênçãos pela estrada… Trago em mim acordes de uma canção, A anunciar teu Reino na jornada. Agora, Senhor, que me seduziste, Não posso mais fugir do teu amor A vida para mim agora existe Somente ao rumo alegre – Teu louvor. O teu chamado virou a minha história, De um horizonte triste para a glória, E me jogou na busca da alegria!… Por isso, canto agora assim feliz Como cantava Francisco de Assis, Quem me inspirou seguir-te nesta vida. Frei Walter Hugo de Almeida

rezaram pela alma de Frei José Zanchet que falecera naquela manhã. Frei Walter Hugo de Almeida, inspirado pelo Encontro Vocacional, recitou três de seus poemas e brindou a nossa refeição com suas belas palavras. Confira abaixo um dos poemas: Franklin Matheus e Marcelo Tadeu postulantes


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Missões Franciscanas na Bahia

FONTE ABUNDANTE DE ÁGUA VIVA

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semiárido baiano tornou-se para 15 jovens missionários da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil uma fonte abundante de água viva que brota da presença de Jesus no meio do seu povo. Esta foi a conclusão depois de uma semana de missão na Pró-paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Cocal, povoado do munícipio de Brotas de Macaúbas

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(BA), pertencente à Diocese de Barra, cujo pastor é o bispo franciscano Dom Luiz Flavio Cappio. Jovens missionários de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro não se intimidaram com as distâncias e longas horas de viagem, nem tampouco pelo clima frio e nebuloso de alguns dias da semana, desfazendo a ideia de que somente no Sul é que faz frio. No entanto, se a temperatura

insistia em se manter baixa, o calor da acolhida e do carinho do povo baiano aqueceu o coração de todos que encerraram as missões com lágrimas de despedidas e a promessa de retornarem assim que possível. Divididos em cinco equipes, os jovens viveram uma experiência de fraternidade e missão. Acolhidos nas casas das famílias, puderam partilhar o pão e a ação, a vida e a fé, os sonhos e os desafios desse povo


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que insiste em testemunhar a beleza de um Deus que se faz simples e pequeno. No dia a dia com as comunidades se experimentava a certeza de que ‘quanto menor a casinha, mais sincero é o bom dia’. O amor e o cuidado de Jesus se manifestou de diferentes formas: pelas mãos que preparavam com carinho o cuscuz matinal; pelo olhar sincero e atento das crianças que foram as fiéis companheiras durante as visitas; pela perseverança do irmão embriagado que não deixava de participar de nenhuma celebração, acreditando ali encontrar forças para se libertar do vício; pelo serviço incansável das lideranças que preparavam tudo com tamanha dedicação; pelo trabalho dos jovens na arte de plantar não somente flores em sua comunidade, mas em cultivar sonhos para sua juventude; no balão reaproveitado pelas crianças, que no encher e esvaziar desse tão simples objeto nos davam uma verdadeira lição de um novo mundo possível; pela ousadia dos jovens missionários Agosto / 2017 [Comunicações]

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que investiram não somente seu dinheiro para uma tão longa viagem, mas partilharam suas vidas e seus dons para fazer o Reino de Deus acontecer. Enfim, tudo falava de Deus e expressava o rosto Daquele que se fez para nós o caminho. Visitas às famílias, reuniões formativas, orações do terço e momentos celebrativos reforçaram ainda mais a fé e a devoção do povo. O cuidado com a Casa Comum também foi trabalhado com todos os jovens das escolas, que participaram da Semana do Meio Ambiente, realizando estudos e atividades de conscientização sobre o tema. Tal semana foi concluída com um mutirão de limpeza na comunidade do Cocal, dando direito à premiação dos alunos que mais se destacaram em todo o projeto. Além disso, a juventude da região teve oportunidade de conhecer um pouco mais a espiritualidade franciscana durante uma animada tarde de encontro, que foi concluída ao pé da fogueira com cantos, danças e apresentações, demonstrando a alegria de serem jovens e que os sonhos que os animam são os mesmos em qualquer canto do país. Coroando essa Semana Missionária, toda a comunidade paroquial reuniu-se para uma manhã de retiro e aprofundamento das 7 dores de Maria, que foram dramatizadas pelos jovens e que se tornaram mais próximas da vida do povo. Por fim, gratidão é a palavra que define

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essa grande experiência: aos jovens, pela coragem e dedicação; a Frei Moiséis Beserra de Lima, pároco local, pela organização e acolhida; às fraternidades e Paróquias da Província, pelo apoio e incentivo; e ao povo de Cocal, pela partilha alegre e sincera, que fez do semiárido baiano um local de chuva abundante capaz de irrigar os corações de todos nós. “A experiência da missão para mim foi singular, pois me senti em casa em todos os lugares que passei. O povo de Cocal é desapegado e generoso, de modo que sempre oferece tudo o que tem, sem medo de ‘perder’ o pouco que tem. Comumente se ouvia: ‘A casa é sua. Fique à vontade’. Para o povo que visitei, pode até faltar muitas coisas, mas para o missionário que vem para o meio desse povo, não falta nada!”, avaliou Frei Marcos Schwengber. “A missão para mim é uma das maneiras mais lindas de demonstrar o amor ao próximo, pois poder sair de nossas casas e levar um sorriso, um abraço e palavras de fé e oração para as famílias muitas vezes esquecidas pela sociedade e sermos acolhidos tão bem é muito gratificante, principalmente pelo afeto e amizade que nós criamos com os moradores de Cocal”, completou o jovem Paulo Vidal, de Santo Amaro da Imperatriz (SC). Frei Diego Atalino de Melo Frei Gabriel Dellandrea Agosto / 2017 [Comunicações]

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Fraternidades

IGREJA MATRIZ DE ANGELINA EM REFORMA

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Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Angelina (SC) passa por reformas. Segundo o estudante de Filosofia, fazendo estágio em Angelina, Frei Jonas Ribeiro da Silva, a Igreja Matriz “está recebendo uma nova pintura e o acesso à gruta de 450 metros ganhou um corrimão de eucalipto tratado, além da remodelação das lojinhas do Santuário”, contou o frade. A Paróquia foi instituída no dia 8 de abril de 1921, por Dom Joaquim Domingues de Oliveira, Bispo da Diocese de Florianópolis. Naquela época, Angelina era um distrito do município de São José (SC), e até então fazia parte da Paróquia Santo Amaro. Na provisão consta o seguinte: “Houvemos por bem separar e desmembrar da Paróquia de Santo Amaro o território que em seguida vai ser indicado e nele pelo presente Decreto erigimos e canonicamente instituímos uma nova Paróquia que se denominará da Imaculada Conceição de Angelina, cuja linha de divisão é a seguinte: Partindo do lugar Barro Branco segue pelo espigão da serra de Congonhas e pelo Morro do Descanso até a confluência do rio Perdidas e do rio de Garcia; de lá pelo espigão da serra do Pinheiral e pelas vertentes dos rios Norte, São João, Bonito, Capivara e Mundeo até o ponto da partida”. Segundo Frei Jonas, essas mudanças podem ser acompanhadas no site: www.santuarioangelina.com.br, que passa por uma renovação, e também pela página do Facebook. A missão evangelizadora dos frades é feita também pelo programa “Voz do Santuário”, na rádio comunitária www.portaldovale.com. br. A Santa Missa é transmitida aos domingos, às 10 horas, pela mesma rádio. A Igreja de Angelina tem duas torres de 35 metros de altura, vitrais belíssimos e pintura simples, que realçam as linhas da arquitetura.

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Fraternidades

VANDALISMO na matriz em curitibanos

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o dia 13 de julho, por volta das 18 horas, a Igreja Matriz Imaculada Conceição de Curitibanos (SC) foi vítima de vandalismo. Uma pessoa entrou na igreja e quebrou a estátua de Santo Antônio que ficava no oratório próximo à porta de entrada principal da igreja. Testemunhas se assustaram com o barulho e viram o (a) criminoso (a) sair andando normalmente após o fato. A intolerância religiosa é um mal que atinge não só o Brasil mas todo o mundo. Ela acontece quando alguém tem atitudes e ideologias que caracterizam a falta de respeito pelas religiões que possuem crenças e hábitos diferentes das suas. Muitas vezes essa falta de compreensão e respeito transforma-se em perseguição. E isso acaba sendo definido como um crime de ódio que fere a liberdade e dignidade humana, pois a liberdade de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal. O artigo 5º, inciso 6º, da Constituição Federal diz que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

AUMENTO DA INTOLERÂNCIA NO BRASIL

Nos últimos cinco anos, o número de denúncias de intolerância religiosa aumentou 3.706%, segundo relatório da Secretaria de Direitos Humanos, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Além da Matriz de Curitibanos, recentemente, a Igreja de São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, MG, voltou a ser alvo de vandalismo. Na madrugada desta quinta-feira, 16 de março de 2017, uma das paredes laterais da Igreja foi pichada com duas palavras iguais: “Perfeitaísmo”. Foi a segunda vez que vândalos picharam a igreja em menos de um ano. Em março de 2016, um dos painéis assinados pelo renomado artista brasileiro Cândido Portinari, que fica na parte de trás do templo, também foi pichado. Na época, a limpeza e a restauração custaram R$ 8 mil. A Igreja Matriz Católica de Humaitá também foi alvo de vandalismo no dia 11 de janeiro deste ano. Foram quebradas uma imagem de Jesus Cristo crucificado, uma de Nossa Senhora Aparecida, além de danificados

os adereços do sacrário e um dos bancos. Houve tentativa de violação do sacrário, porém sem sucesso. A cadeira ocupada pelo padre e o crucifixo que fica ao lado do altar também foram derrubados. Em janeiro último, em menos de 48 horas, duas igrejas católicas foram alvos de ações criminosas na Região Metropolitana do Rio. No dia 17, a sede da Paróquia de São José, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, foi arrombada por vândalos. Um pouco antes, um homem foi preso preso após invadir a igreja de São João Batista, no Centro de Niterói, onde quebrou imagens de santos. O acusado, que foi autuado por vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso, disse ter agido por intolerância religiosa. Ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado. Outros casos de vandalismo foram vistos no Rio Grande do Sul, em Passo Fundo, Minas Gerais, em Montes Claros, no interior da Paraíba. Segundo o psicólogo Rafael Oliveira Soares, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e diretor-executivo da Koinonia, além dos vandalismos em igrejas católicas, as religiões de matriz africana são as que mais sofrem perseguição e intolerância. Portal Coroado, repórter Bruna May

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Fraternidades

REGIONAL LESTE-CATARINENSE SE ENCONTRA EM FORQUILHINHA

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Regional do Leste-Catarinense esteve reunido nos dias 26 e 27 de junho na Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus, em Forquilhinha. A alegria do encontro, a convivência, a partilha de vida, os momentos de reflexão e de oração são próprios de nossa vocação franciscana. Somos herdeiros desta comunhão que favorece a edificação da Fraternidade como uma família unida em Cristo. Neste Regional contamos também com a presença dos nossos aspirantes Davi Gabriel Lutzke e Rodolpho Andreazza Marinho que estão fazendo a experiência das FAVs na Fraternidade de Forquilhinha. Com a chegada dos frades pela manhã, a Fraternidade de Forquilhinha proporcionou um delicioso churrasco para o almoço. Foi perceptível a dedicação da fraternidade na preparação do ambiente, como também, o desejo de melhor servir os irmãos não deixando nada faltar. A sensação de estarmos em casa favoreceu para que pudéssemos vivenciar os diversos momentos previstos para a realização do encontro. No período da tarde, nos reunimos

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para o estudo do texto do Papa Francisco: “Não amemos com palavras, mas com obras”, pela instituição do Dia Mundial dos Pobres. Constatamos em nosso Regional que as nossas cidades não sofrem tanto pela pobreza social, mas, devido à busca de um “status social”, apresenta-se então uma pobreza espiritual, da falta de comprometimento com a fé, de relacionamentos frágeis, de frustrações, que levam muitas pessoas a perderem o entusiasmo pela vida. O que poderemos fazer como frades menores? Celebrar este Dia Mundial dos Pobres em nossas Fraternidades procurando ações concretas; estudar o texto do Papa Francis-

co com a OFS e com as lideranças de nossas Paróquias; sermos responsáveis pela conscientização dos valores que promovam a vida e a igualdade social, e testemunhar a alegria de viver a simplicidade do Evangelho como proposta de vida nos tempos atuais. Como de costume, em nossos regionais, partilhamos um pouco sobre a realidade de nossas Fraternidades. A Fraternidade de Forquilhinha também apresentou o seu Projeto Fraterno de Vida e Missão. E, por fim, confirmamos a realização do Retiro de nosso Regional que acontecerá nos dias 16 a 19 de outubro na casa de encontros das Irmãs Franciscanas de São José, em Angelina. No encerramento do encontro tivemos a oportunidade de conhecer os membros da OFS de Forquilhinha. Rezamos juntos e nos confraternizamos durante o almoço. Despedimos com o propósito de nos reencontrar no próximo encontro do Regional, que será nos dias 4 e 5 de setembro na Fraternidade de Santo Antônio, em Florianópolis. Obrigado à Fraternidade de Forquilhinha pela bondade de nos acolher e servir. Frei Daniel Dellandrea

REGIONAL DO VALE DO ITAJAÍ No dia 10 de julho, as fraternidades franciscanas do Vale do Itajaí realizaram seu encontro fraterno regional, o segundo do ano, em Balneário Camboriú. Frei Evandro Balestrin, Definidor Provincial, marcou sua presença. Seis (6) jovens estudantes de Filosofia, de Rondinha, que realizam seu estágio fraterno-pastoral, em Rodeio, Blumenau e Gaspar, também participaram do

Encontro. Por total esquecimento, não houve quem registrasse o encontro numa foto. A fraternidade de Balneário Camboriú esmerou-se na preparação do café, da oração inicial, dos aperitivos, do almoço e do café da tarde. “O Grito da terra e o grito dos pobres” nos levou a uma rica reflexão e troca de ideias que, esperamos, não tenham ficado em Balneário.


Fraternidades

REGIONAL DO PLANALTO CATARINENSE E ALTO VALE DO ITAJAI

RETIRO DOS FORMADORES NO EREMITÉRIO

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eguindo a sugestão da Formação Permanente de fazermos retiros menores, em sua maioria por Regionais, no último Conselho da Formação Inicial surgiu a ideia dos formadores também tirarem um tempo, em meio às suas atividades formativas, para fazerem um retiro juntos. Assim, entre os dias 11 a 13 de julho, os confrades, Frei Alberto Eckel Junior, Frei Elias Dalla Rosa, Frei Marcos Prado dos Santos, Frei Jeâ Paulo de Andrade, Frei Samuel Ferreira, Frei Rodrigo da Silva Santos e Frei Marcos Antônio de Andrade subiram a montanha para rezar e meditar, bem como para partilhar suas experiências na formação no belo Eremitério Frei Egídio. Foram dias ricos de convivência e oração, iluminados pelo documento da Ordem “Escutai e vivereis” que trata da vida de oração e da opção de experiência eremítica franciscana. Como havia representantes de cada uma das etapas formativas, como não podia deixar de ser, a reflexão sempre se voltava para a realidade vivida nas casas de formação e na Província, nesta dimensão do cultivo do espírito do Senhor e a busca de seu santo modo de operar. Graças a Deus, descemos todos a montanha para voltar aos nossos lares e encontrar também ali os grandes pilares da vida eremítica: cuidado do outro e oração. Paz e bem!

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o dia 5 de junho, as fraternidades São Francisco Solano (Curitibanos), Patrocínio de São José e Nossa Senhora Aparecida (Lages), Santo Estêvão (Ituporanga) reuniram-se em Curitibanos para o segundo Encontro Regional neste ano. Iniciamos o encontro com poucos frades por causa das fortes chuvas no Estado. O coordenador Frei Miguel da Cruz acolheu a todos e Frei Camilo Martins iniciou a oração. Em vista de o Regional não estar completo, decidiu-se fazer um Regional extraordinário antes do retiro. Entre alguns temas, destaque para as atividades do Dia do Meio Ambiente. Frei Miguel esteve na Universidade Federal de Santa Catarina, no campus de Curitibanos, e convidou os universitários a fazerem uma Caminhada Ecológica. Também foi informado que os jovens da Paróquia Imaculada e a Fundação Frei Rogério, ainda neste ano, farão acontecer uma Caminhada Ecológica, a partir do tema da Campanha da Fraternidade de 2017. Frei Vilmar ainda contou que em Lages um casal faz um trabalho de conscientização para o cuidado com o Meio Ambiente. Um dos projetos da ONG é sobre o uso consciente da plantação de pinos e eucalipto. Também se falou do encontro vocacional que aconteceu nos dias 09 a 11 de junho, para todos os jovens que manifestam o interesse de conhecer um pouco da vida de São Francisco, dentro da proposta “Despertar para Francisco”. Frei Evandro falou do Seminário de Ituporanga e lembrou que ali o jovem interessado pode participar das atividades junto com os seminaristas. Neste encontro também se tratou da programação do Retiro Regional, de 24 a 27 de julho. Ficou estabelecido que o próximo Encontro do Regional será nos dias 28 e 29 de agosto, em Lages, na Fraternidade Patrocínio de São José. Antes de encerrarmos esta tarde de Regional, Frei Miguel convidou a todos para um jantar preparado pela Ordem Franciscana Secular. Agosto / 2017 [Comunicações]

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GASPAR

167ª Festa de São Pedro

SOLENE E GRANDIOSA

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escolhido de Jesus para conduzir a sua Igreja não poderia ser lembrado e festejado de outra forma na cidade de Gaspar, em Santa Catarina, onde é o Padroeiro há 167 anos. Mais uma vez, o religioso povo gasparense deu mostra de que, em matéria de festividade, não tem pra ninguém. Tanto liturgicamente como nos festejos populares tudo é solene e grandioso. Liturgia impecável e comida de fazer inveja a qualquer chef renomado. A preparação, que começa bem cedo no ano, envolve a cidade toda. As equipes são formadas para todos os trabalhos, de tal forma que a festa transcorre com leveza, fé e muita ale-

gria. Liturgicamente, o Tríduo Preparatório sempre tem um pregador convidado e, neste ano, o Vigário Provincial, Frei César Külkamp, refletiu sobre o tema “Com São Pedro, celebrar o Ano Mariano e a Mãe Aparecida”, e o lema: “Eis aí a tua mãe” (Jo 19,27). O dia solene (2 de julho) começou cedo com a procissão de 25 embarcações, trazendo o Padroeiro e Nossa Senhora Aparecida pelo Rio Itajaí-Açu até a Matriz, onde teve início, às 9 horas, a Missa Solene de São Pedro e São Paulo Apóstolos, que, no Brasil, é celebrada no domingo. O presidente da Celebração foi o bispo de Blumenau, Dom Rafael Biernaski, e concelebram o Vigário Provincial Frei César

Külkamp, o pároco Frei Paulijacson Moura, o guardião Frei Carlos Ignacia e Frei Lindolfo Jasper. A bela Matriz ficou lotada e os festeiros, com velas acesas, foram apresentados na procissão de entrada, sob as vozes do coral Santa Cecília e sons do Grupo Musical São Pedro, orgulhos da comunidade paroquial. Aliás, cada Comunidade da Paróquia, das 18 existentes, esteve representada com a imagem de seu Padroeiro, trazida em um pequeno barquinho. Para Dom Rafael, Maria é exemplo de serviço e dedicação ao próximo. O bispo lembrou que, no princípio, Pedro e os apóstolos tinham a expectativa de que o Messias seria um líder político, porém, o poder de Jesus

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Especial

se revelou no serviço a todos. “E esse encontro com Jesus servidor transformou a vida daquele pescador”, disse. “Quem é Jesus para mim?”, perguntou. Dom Rafael se dirigiu aos jovens: “Vocês estão aqui porque querem um sentido para a vida. O cristão jovem não aceita mais doutrinas, mas quer autenticidade. Que a vida seja serviço e ministério!”. Por fim recordou que nesta solenidade se comemora o Dia do Papa, mencionando a autenticidade do Papa Francisco, a profundidade de Bento XVI e a fortaleza de João Paulo II, pedindo orações pelo sucessor de Pedro e por toda a Igreja. A celebração prosseguiu com toda

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beleza de uma solenidade. Após a comunhão, Frei Paulijacson dirigiu algumas palavras de agradecimento ao Bispo, a Frei César Külkamp que pregou nos três dias do Tríduo, às autoridades religiosas e civis presentes na celebração, aos festeiros e colaboradores da festa, e um particular agradecimento à Dona Lídia Nagel que há muitos anos se dedica intensamente à Festa de São Pedro. Outra vez foi lembrado o Dia do Papa por um casal, que trouxe ao altar, ao som da Marcha Pontifícia, o retrato do Papa Francisco e a bandeira do

Estado do Vaticano. Também foram homenageados os 300 anos da aparição de Nossa Senhora de Aparecida por uma jovem que trouxe ao altar a imagem da nossa Padroeira, ao som da Ave Maria de Gounod, cantada por um solista do coral Santa Cecília. Dom Rafael concluiu a solenidade com a bênção episcopal e saiu em


Especial

procissão junto com os coroinhas, ministros, festeiros, o povo e a banda Musical São Pedro até o pátio para os festejos populares. Neste dia, o leilão de gado é um dos momentos mais esperados. Antes da festa, Frei Lindolfo Jasper e uma equipe de voluntários arrecadou doações das famílias, empresas e benfeitores da cidade e região visando ao leilão de gado. Seus esforços renderam cerca de 30 cabeças de gado, além de ovelhas, porcos, perus etc. Para comemorar os trabalhos da “equipe do Leilão”, foi realizado na chácara de Erlindo da Silva um almoço, onde o pároco abençoou as prendas. Também estava presente o atual prefeito de Gaspar, Kleber Wan-Dall. Na última celebração do dia, o guardião da Fraternidade de Gaspar, Frei Carlos Ignacia, foi o presidente e destacou a importância da solenidade, uma vez que ela nos recorda que a fundação da Igreja é de origem divina e sua composição é humana, por isso ela é santa e pecadora. Depois mostrou que a figura de Pedro é reflexo desta Igreja desejada por Cristo. “Pedro é esse ser humano com vontade de conhecer Deus, de se aproximar, mas é ao mesmo tempo o ser humano capaz de cair, pecar. Ele representa muito bem cada um de nós: ele tem um grande amor, uma grande esperança, uma grande confiança, mas é frágil à tentação, sincero no arrepen-

dimento, na conversão”, enfatizou o frade.

AGRADECIMENTOS

Os festeiros e voluntários puderam agradecer ao Padroeiro e a Deus pelos resultados conseguidos em mais uma edição da festa, durante a Celebração de Ação de Graças na segunda-feira, dia 3 de julho. Os frades, Frei Paulijacson e Frei Carlos, representaram a Fraternidade no encontro com cerca de 400 voluntários. “Que bonito ver todas as celebrações com a igreja cheia. As pessoas participaram com fé, louvor e devoção. Nossa festa foi completa!”, comemorou Frei Paulo. “Esta é a Igreja de Jesus Cristo: discípula, missionária, misericordiosa, inclusiva, em saída e com ‘cheiro das ovelhas’, que caminha com fé e devoção, servindo a Deus e aos irmãos em fraternidade. Resumindo numa palavra: Gratidão a Deus e a todos. Muito obrigado! Que Deus abençoe cada um de vocês e suas famílias!”, completou. No final da celebração, o coordenador do CPC da Paróquia, Nivaldo Schmitt, reforçou com mais agradecimentos e apresentou um casal do Maranhão que prestigiou e se encantou com a festa. Ele emocionou a todos ao mostrar seu Terço, com o qual rezou pelos voluntários da festa. E, desta vez, os voluntários foram os protagonistas no Salão Cristo Rei. Agosto / 2017 [Comunicações]

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Especial

FREI CÉSAR PREGA O TRÍDUO

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Vigário Provincial Frei César Külkamp foi o escolhido para ser o pregador do Tríduo Preparatório da 167ª Festa de São Pedro. A cada dia, ele refletiu sobre um tema, tendo sempre presente o Padroeiro e Maria Santíssima, neste Ano Mariano. Assim, no primeiro dia, o tema foi tirado de João 2,5: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). A cada dia do Tríduo, a celebração esteve a cargo das comunidades. Neste dia marcaram presença as Comunidades de São Brás, Nossa Senhora Aparecida, São Judas, São Sebastião e Santa Isabel. Frei César ressaltou no início de sua pregação que estava impressionado com o testemunho das comunidades e pastorais ali presentes: “Aqui vemos os mais diferentes rostos e expressões, e é esta a Igreja onde cada um encontra seu lugar e sua missão,

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para melhor servir a Deus e aos irmãos”, disse. O pregador, ao contemplar o testemunho da Virgem Maria e de São Pedro, lembrou que, cada um, a seu modo, disse o seu sim aos planos de Deus. A passagem do Evangelho trazia as duas construções da casa, ou sobre a firmeza da rocha ou sobre a instabilidade da areia. Maria e Pedro tiveram como fundamento a rocha do próprio Cristo. O que Deus sentido às suas vidas foi a centralidade ocupada por Ele. Maria, a discípula mais fiel, animadora da Igreja nascente, continua hoje animando a Igreja, conduzindo-a a seu Filho. Em Aparecida, ela vem ao encontro dos pobres e é buscada até hoje pelos rostos famintos de paz e de esperança. A fé e o amor professados por Pedro tornam-se pedra também de fundamento para toda a Igreja. É este o terreno firme que o cristão é chamado a pisar!

Como programação da 167ª Festa de São Pedro Apóstolo, também foi celebrada na Igreja Matriz nesta quinta-feira, 29, a Missa dos Enfermos, da Cura e da Saúde, presidida pelo pároco da Catedral São Paulo Apóstolo de Blumenau, Padre João Bachmann. A missa se iniciou por volta das 16h e o calor da tarde não desanimou os gasparenses, que encheram a Igreja. No segundo dia do Tríduo, Frei César refletiu sobre o tema: “Na família cristã, aprender o Sim a Deus e a gerar Cristo para o mundo”, tendo presentes as Comunidades de Santo Antônio, Virgem de Nazaré, Nossa Senhora de Fátima, Santa Paulina, São Cristóvão e São João Batista. O pregador, citando o Papa Francisco, disse que “não existe família perfeita”, mas é nela, como em nenhum outro lugar, que somos conhecidos do jeito que somos e, mesmo assim, somos amados. Podemos chegar


Especial

à pior situação da condição humana e, quando todos nos abandonarem, encontraremos ainda o rosto acolhedor de uma mãe, de um pai, de um irmão. Nem sempre reconhecemos tamanho amor preferindo investir em ilusões! Em sua reflexão nos desafiou a viver na família o nosso primeiro campo de missão. Amemos com toda intensidade a família que Deus nos deu de presente! A partir desta escola de amor-comunhão levemos uma nova esperança para o mundo de hoje!”. “Maria, ao dizer sim ao enviado por Deus, gera Cristo para o mundo! Pedro, ao dizer sim ao chamado do Mestre, torna-se também o apóstolo que dá testemunho – gera – o Cristo para o mundo! Nós somos os herdeiros deste testemunho! Precisamos também dizer sim àquele que nos pode tornar fecundos de seu amor!” No terceiro dia, o pregador abordou o tema “Com Maria e São Pedro, ser Igreja discípula e missionária”, tendo presentes as Comunidades de Santa Clara, Bom Jesus, Santa Terezinha e Santa Rita. Nesta celebração estiveram presentes também Frei Pedro da Silva, pároco de Rodeio, Frei Samuel Soares e Frei Lucas Moura, estudantes de Filosofia do Convento São Boaventura, em Campo Largo (PR). A partir do Evangelho, já da Solenidade, onde Pedro proclama sua fé

no Cristo – ‘Tu és o Messias, o filho do Deus vivo’ (Mt 16, 17), Frei César convidou o povo presente em grande número a proclamar também sua fé e seu amor a Cristo e à sua Igreja. Como Maria e Pedro, aos pés do Cristo é que aprendemos as mais valiosas lições. Precisamos contemplar sua palavra e seus gestos! E, dali, também somos enviados ao mundo de hoje, começando em nossa casa, em nossa comunidade, nos espaços sociais e onde quer que estejamos. Não precisamos de muitas palavras, mas de sempre medir nossas atitudes pelas palavras e gestos do próprio Cristo. No terceiro dia, Frei César também presidiu a Missa da Catequese, um dos momentos mais belos da festa. Depois da celebração foi feita a procissão no entorno da Matriz. Frei César interagiu com as crianças e, durante a homilia, sentou-se com algumas delas abaixo do presbitério, conversando sobre suas vidas e interesses. As crianças participaram com espontaneidade e animação. Tudo isso para mostrar que, da mesma forma, o nosso Deus não é um ser distante, que fala de cima e de longe, mas, em Jesus Cristo, vem ao nosso encontro, fala conosco, é um como nós. Ele conhece nossa vida, nossos problemas e nossas feridas. Ele é amor e cuidado. Quer curar o nosso cora-

ção por vezes duro e fechado a Ele e ao irmão. Não quis nascer rico, poderoso ou como um guerreiro. Escolheu um lugar e uma família pobres, deixando-nos uma lição. Cabe a nós responder a Ele com a nossa vida e as nossas atitudes. Segundo o celebrante, celebrar o Apóstolo Pedro não é simplesmente exaltar suas glórias, mas entender que hoje somos os apóstolos que Jesus convida para uma nova pescaria milagrosa. “Ele quer precisar de nós como os apóstolos de hoje, onde quer que estejamos!”, enfatizou às crianças e aos jovens, que lotaram a Matriz. Depois da procissão, foi dada a bênção final fora da Igreja, enquanto foi soltas uma quantidade de balões que coloriu o céu de Gaspar. A programação da Festa foi aberta no domingo, dia 25 de junho, com a Procissão Luminosa durante a Missa das 19 horas. Grupos de Jovens da Paróquia convidaram o povo a participar da Festa. Em seguida, como já são tradicionais, vieram os festejos populares e a macarronada. Equipe de Comunicação: Frei Vítor Amâncio, Frei David Belineli e João Guilherme

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Evangelização

CONSELHO DE EVANGELIZAÇÃO

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opção provincial por organizar sua missão evangelizadora em cinco frentes vai, aos poucos, ganhando forma também em sua organização. O Conselho de Evangelização da Província se reuniu, pela segunda vez este ano, no dia 04 de julho, na Sede Provincial. Todos os membros estiveram presentes: os coordenadores das Frentes, o animador do JPIC, o secretário para a Formação e os Estudos, o secretário e o vice deste secretariado e o Ministro Provincial.

Dia Mundial dos Pobres

Como nas outras vezes, o encontro começou com um tempo para oração e reflexão. Desta vez, nossa formação conjunta partiu do texto “Não amemos com palavras, mas com obras” (1Jo 3,18), do Papa Francisco ao proclamar o Dia Mundial dos Pobres, este ano no dia 19 de novembro (XXXIII Domingo do Tempo Comum). O texto foi publicado justamente no dia de Santo Antônio e nele o testemunho de vida de São Francisco de Assis é

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citado por duas vezes, pois teve uma atitude de conversão a partir dos pobres. “Não se contentou com abraçar e dar esmola aos leprosos, mas decidiu [...] estar junto com eles. Ele mesmo identificou neste encontro a viragem da sua conversão: ‘Quando estava nos meus pecados, parecia-me deveras insuportável ver os leprosos. E o próprio Senhor levou-me para o meio deles e usei de misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles, aquilo que antes me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo’ (Test 1-3; FF 110).” Noutra parte, o Papa pede a toda a Igreja que assuma “o exemplo de São Francisco, testemunha da pobreza genuína. Ele precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube reconhecê-Lo e servi-Lo nos pobres.” Assim, em diferentes passagens, o Santo Padre nos convoca “a um verdadeiro encontro com os pobres e a dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida. Na verdade, a oração, o caminho do discipulado e a conversão encontram, na caridade que se torna partilha, a pro-

va da sua autenticidade evangélica. E deste modo de viver derivam alegria e serenidade de espírito, porque se toca palpavelmente a carne de Cristo. Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na Eucaristia.” Desta forma, os pobres não são um ‘problema’ a se resolver, mas “são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho.” O texto já era conhecido da maioria dos presentes, pois fôra também matéria de formação do encontro com os coordenadores dos Regionais. Mas, foi lido em sintonia com a 2ª prioridade da Província para este sexênio, presente no Plano de Evangelização: “Reforçar ações em direção a uma Província ‘em saída’ e articulada em suas cinco Frentes de Evangelização”. Nas estratégias votadas pelo Capítulo Provincial estão alguns compromissos muito concretos que podem orientar uma verdadeira celebração deste dia em nossas fraternidades e nos servi-


Evangelização ços que desempenhamos. Ali se pede “identificar lugares de fratura social, dando-lhes prioridade na ação evangelizadora, atentos às periferias geográficas e existenciais” e “viver mais sobriamente para investir o superávit no social, partilhando a vida com os mais pobres em espírito de acolhida e misericórdia”, entre tantos outros. O Conselho ainda indicou que se faça um boletim provincial com um texto motivacional para as fraternidades e serviços, relembrando as estratégias desta 2ª prioridade. Pediu que o texto do Papa seja passado aos nossos colaboradores e ao povo que servimos nas diferentes Frentes para que, juntamente com eles, demos espaço à criatividade e à disposição para a proximidade com os pobres.

Curso Internacional de JPIC

Na sequência, tivemos um espaço para que Frei James Girardi, animador do JPIC, partilhasse a experiência vivida no curso internacional deste serviço que, neste ano, teve como tema “As escravidões do século XXI: novas ameaças à dignidade humana”. O curso procurou refletir sobre a migração como efeito global e sobre a exploração do trabalho escravo. Frei James destacou, entre os testemunhos apresentados, o da chamada “Casa 72”, trabalho assumido por uma província mexicana para os migrantes da violência do tráfico de drogas, envolvendo acolhida, denúncia no campo político e defesa dos direitos humanos. Esta é a realidade do nosso tempo que salta aos nossos olhos e não podemos fechar os olhos. São, ao menos, 16 milhões de migrantes e refugiados pelo mundo. A cada três segundos, uma pessoa é forçada a deixar sua casa. O escritório do JPIC da Ordem enviou também uma carta à Província pedindo que o serviço, por sua transversalidade, esteja presente na

agenda da vida provincial e de cada fraternidade, em seus campos de Evangelização e na Formação, conforme as realidades próprias. Dá como desafio específico a mudança no impacto de nosso estilo de vida sobre a criação. Para isso, é importante que cada fraternidade elabore um programa ecológico também em seu Projeto Fraterno. Outro desafio é o da opção pelos pobres, que deve começar com a cultura de atitudes de igualdade e de paz em nossa própria vida pessoal e fraterna.

Serviço de Animação Vocacional

Frei Diego A. de Melo novamente foi convidado para falar ao Conselho sobre a realidade vocacional e o trabalho com a juventude. Já há um bom empenho na preparação das Missões Franciscanas da Juventude, em Agudos e Bauru, de 18 a 21 de janeiro de 2018, e do Encontro Nacional da Juventude, em Vila Velha, de 12 a 15 de julho de 2018. Os membros do Conselho também foram chamados a provocar seus lugares de presença e suas instituições para a 3ª prioridade da Província: “Revigorar a Animação Vocacional”. Uma constatação que pode nos indicar que precisamos ter mais atenção e esforço nesta área é a de que a maioria dos nossos candidatos vêm de outras realidades. Este é um sinal para fortalecermos em nossas fraternidades e, em tudo o que fazemos, o testemunho de vida franciscana (RFF 160).

Atividades de cada Frente de Evangelização

As Frentes elaboraram, como pedem os Estatutos Peculiares, um pequeno regimento, indicando sua composição, modalidade e periodicidade de encontros com frades e leigos engajados neste campo, e um Plano Operacional a partir das indicações

do Plano de Evangelização. Este trabalho já foi refletido e amadurecido nas reuniões ordinárias. Precisamos, em algumas delas, crescer no senso de participação e no entendimento desta nova realidade. No primeiro semestre tivemos encontros que, em sua maioria, foram mais entre os frades para partilha e estudo. No segundo semestre, temos alguns grandes encontros em vista, também com os leigos, especialmente para formação daquilo que deve ser específico em nossa missão. É importante que os frades estejam atentos a estas datas no calendário da Província.

Formação e Estudos

Frei João Francisco partilhou uma iniciativa do Seminário Frei Galvão que está elaborando panfletos, apresentando as cinco Frentes de Evangelização, a serem distribuídos aos romeiros. Também pediu aos coordenadores das Frentes que montem estágios para os frades estudantes de Filosofia e de Teologia para os períodos de férias acadêmicas. Isto favorecerá o conhecimento, a participação e o gosto por áreas específicas. É importante que se faça um programa de convivência e atividades. Relatos específicos de cada Frente e de diversas instituições, como outros assuntos envolvendo o redimensionamento e a promoção de estudos, não estão diferentes do publicado da reunião do Definitório, presentes nas Comunicações do mês de julho. Importante foi a busca de uma temática conjunta para a vida provincial em 2018. Da parte do Conselho deste Secretariado, achamos importante valorizar, num mundo marcado por divisões políticas, religiosas, sociais e culturais, justamente a promoção da Paz e a cultura da não-violência. Frei Daniel Dellandrea Frei César Külkamp Agosto / 2017 [Comunicações]

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Evangelização

Universidade cria o “Cantinho do Patrono”

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Curso de Engenharia de Produção da Universidade São Francisco (USF) – Campus Bragança Paulista, visando ao tripé “ensino-pesquisa-extensão”, iniciou em fevereiro do ano passado os Projetos Integradores com a finalidade de incorporar as disciplinas de

cada semestre nas quais os alunos estejam matriculados. Além delas, levam-se em conta as dez grandes áreas de atuação do engenheiro de produção, incentivando com isso os alunos a desenvolverem projetos onde coloquem a teoria na prática. Mas, como todo profissional, além de ter conhecimentos técnicos, é necessário ter formação humana, ser um indivíduo que cultive a solidariedade, a humildade e, principalmente, busque ser uma pessoa cada vez melhor. Levando-se em conta a missão da Universidade - Produzir e difundir o conhecimento, libertar o ser humano pelo diálogo entre a ciência e a fé e promover fraternidade e solidariedade, mediante a prática do bem e consequentemente construção da paz - surgiu a ideia, em conversa com

a Pastoral Universitária, de fazer um projeto no qual a instituição pudesse ter um ícone. Como sugestão foi apresentado aos alunos criar um espaço com imagens de São Francisco de Assis, o Patrono da Universidade. O projeto foi inserido na área de Engenharia de Sustentabilidade, tendo como proposta somente utilizar materiais recicláveis, além de levar os alunos à pesquisa sobre a vida de São Francisco de Assis, para que pudessem melhor entender como deveria ser esse espaço. A Universidade ganhou neste semestre o Cantinho do Patrono e já pode ser visitado em Bragança Paulista. Suzana A.G. Pádua Lima

coordenadora do Curso de Engenharia de Produção

fimda

Franciscanos seculares se encontram em Viana

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o último dia 25 de junho, na Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos, em Viana, Angola, foi realizado o encontro dos franciscanos da Ordem Franciscana Secular (OFS) e da Juventude Franciscana (Jufra). O ponto alto foi a Celebração Eucarística, presidida

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[Comunicações] Agosto / 2017

por Frei José Antônio dos Santos, presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus. O mesmo encontro foi testemunhado pelos Frades Menores daquela Fratenidade, pelos religiosos que ajudam nas atividades pastorais e pelas Irmãs Catequistas Franciscanas. A confraternização reuniu vinte fraternidades da Jufra e sete fraternidades da OFS para celebrar a fé e o carisma franciscano. Na sua homilia, Frei José Antônio esclareceu que as leituras do dia (Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não

podem matar a alma!) não só falavam do medo, mas da coragem, principalmente para anunciar a Boa Nova. “E nós, Franciscanos, temos uma maneira específica de anunciar com nossa vida, nosso jeito de ser”, disse. Frei José pediu à Jufra para ser mais forte e estar mais ativa nas Paróquias franciscanas e em outras paróquias. E para tal manifestou sua disposição em ajudar e também pediu o apoio da OFS. No final da Missa foi feita uma apresentação das fraternidades e a nova divisão dos Regionais. Também apresentou a fraternidade emergente criada na Catedral de Viana. Depois da Missa, seguiu-se o almoço de confraternização e uma tarde recreativa. Frei Crisóstomo Pinto Ñgala


Evangelização

MISSA EM HOMENAGEM A FREI MÁRCIO

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Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola celebrou, no dia 29 de junho, no Santuário Kimbo São Francisco, a “Missa de um mês” do falecimento de Frei Márcio de Araújo Terra e lembrou ainda a morte do também missionário Frei José Zanchet no dia 25 de junho. A celebração foi presidida por Frei José Antônio dos Santos, presidente da FIMDA, e testemunhada por vários frades, pelos fiéis do Kimbo, amigos, simpatizantes e singulares que conheceram Frei Márcio e Frei José. Desde o dia 29 de maio, quando chegou a triste notícia, a Fundação rezou, louvou e elevou preces a Deus em suas fraternidades e junto do povo em reconhecimento à contribuição que Frei Márcio deu em terras angolanas. E durante esses dias, inúmeras pessoas contactaram os frades, dando suas condolências e testemunhos, pois, os dezoito anos que o confrade viveu em Angola dedicou-os aos mais marginalizados, aos pequeninos, aos excluídos dos musseques (bairros pobres e sujos) e foi um sinal de esperança a muitas famílias que passavam extremas necessidades.

Um dia depois de sua morte, a Fraternidade São Francisco (Palanca) além das orações, realizou um recreio, como de costume na tradição franciscana, para celebrar a morte e ressurreição do Frade. Porque a irmã morte não é vista como causadora de danos irreparáveis e dores, mas ela abre as portas para a participação no banquete da vida eterna. Ao longo da celebração fez-se memória também do passamento físico de Frei José Zanchet, falecido no dia 25 de junho. Lembrou-se que Frei José Zanchet foi um dos primeiros frades a chegar em Angola. Durante a Missa, Frei José Antônio relacionou a importância dos dois grandes apóstolos comemorados no dia, Pedro (pela unidade da Igreja) e Paulo (missionário), com a contribuição dada por Frei Márcio e por Frei José. Assim, apelou para a necessidade de uma cultura de paz, de serviço e de simplicidade que busca, na Igreja, continuar o serviço da caridade, sobretudo, aos mais simples do meio do povo. Ao lembrar os dois missionários, Frei Márcio e Frei José Zanchet, Frei José Antônio fez saber que depois de tantos trabalhos, dores e alegrias dos

frades a serviço da Missão, “hoje há muitos frutos. Prova disso são tantos jovens que nos procuram com o desejo de serem frades e, também, o testemunho do povo de Deus”. Disse ainda, que, com certeza, já gozam das alegrias, fruto de uma vida inteira de doação, junto ao coração de Deus. No final da homenagem, os frades cantaram para os presentes, no Kimbo, a oração de São Francisco “Fazei-me, Senhor, instrumento de vossa paz”, causando um momento de comoção, choro, aplausos e assobios. E antes da bênção final, o presidente da missa agradeceu a todos, com particular destaque aos membros ativos do Kimbo São Francisco pela generosidade em ajudar, de maneira particular neste mês vocacional em Angola (junho), as casas de formação com bens materiais e orações. Frei Crisóstomo Pinto Ñgala Agosto / 2017 [Comunicações]

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Evangelização

Fundação Frei Rogério realiza migração da Rádio Coroado

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Fundação Frei Rogério de Curitibanos realizou um grande marco em sua história no dia 4 de junho de 2017: a Migração da Rádio Coroado AM para Rádio Coroado FM 106,1. A solenidade de Migração contou com a presença de autoridades locais, regionais e estaduais. Após a solenidade oficial, um show com “Os Montanari”, fez a alegria da comunidade presente. Evandro Balestrin foi o frade que representou a Província Franciscana no evento, e em seu discurso parabenizou a direção e colaboradores da Fundação Frei Rogério pela concretização da migração e ressaltou a importância da Comunicação para os trabalhos da Província. Os Freis Mário Knapik e Roberto Carlos Nunes também se fizeram presentes no evento de Migração. Ambos integram a direção da Fundação Frei Rogério. De acordo com o diretor da Fundação Frei Rogério Frei Neuri Francisco Reinisch, a Migração da Coroado para FM segue tendências de desenvolvimento tecnológico e procura atender às expectativas de ouvintes cada vez mais exigentes, tanto nas questões que se referem a conteúdo, quanto a qualidade de som, além de vir ao encontro da necessidade de disponibilizar a programação da Coroado em aplicativo de telefonia móvel. Na solenidade de Migração, o diretor Neuri anunciou que a Movimento FM aumentará sua potência. “Agora estamos com a Coroado operando em FM. Tenho a honra de anunciar que já temos a autorização para aumento de potência da Movimento FM. É o que buscamos para nossas emissoras, evoluir sempre, alcançar ainda mais cidades e com isso mais ouvintes. Nossa Movimento será uma das mais potentes rádios do Sul do país”, comemorou Frei Neuri.

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[Comunicações] Agosto / 2017


Evangelização SEFRAS

CRAI ESTÁ COM NOVA SEDE

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Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI) está de endereço novo! O espaço fica a poucos metros do antigo endereço e está situada na Rua Japurá, 212, no bairro da Bela Vista, Centro – São Paulo. O Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI) iniciou suas atividades em novembro de 2014 dentro de um contexto de construção de políticas públicas voltadas para a população imigrante da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, que convidou o Sefras para administrar o serviço em parceria com a Prefeitura de São Paulo. O CRAI realiza atendimentos institucionais e itinerantes, além de atividades que o serviço desenvolve com o público atendido. Presente junto às comunidades migrantes e atuando próximo dessa enorme diversidade que reside nas distintas comunidades, o CRAI

atua na promoção dos direitos dos migrantes no Brasil através de uma perspectiva de direitos humanos, sempre objetivando a integração social, produtiva, política e cultural dos atendidos. Neste sentido, o serviço oferece orientações gerais e atendimento de portas abertas, bem como atendimento jurídico especializado a partir de uma parceria com a Defensoria Pública da União. Também organiza um curso de português, rodas de conversa, oficinas, entre outras atividades. Uma questão que se destaca na atuação do CRAI é a construção – junto às comunidades, sociedade civil em geral e ao poder público – de políticas públicas de proteção ao migrante. A nova sede atende de segunda a sexta, das 8h às 17h. Os atendimentos são realizados em sete idiomas: português, inglês, espanhol, francês, quéchua, lingala e árabe. Se você deseja conhecer o traba-

lho do CRAI e visitar nosso novo espaço, encaminhe e-mail para crai@ sefras.org.br. Já o Centro de Acolhida ao Imigrante permanece no mesmo espaço de antes, na Rua Japurá, 234.

OFICINA DE BALLET EM DUQUE DE CAXIAS As crianças de Duque de Caxias estão participando de uma nova oficina de ballet. A atividade tem como objetivo trabalhar através da dança e da consciência corporal, a identidade, confiança e sociabilidade dos participantes do Jardim Ana Clara. O projeto é aberto para todas as meninas da comunidade. Segundo a assistente social, Elaine Sant’ana, o projeto conta com duas turmas, uma formada pela comunidade e outra com crianças participantes do serviço. “É a primeira vez que fazemos essa oficina de ballet no serviço e a procura da comunidade foi muito grande. É uma novidade no bairro e a participação

esta sendo frequente”, ressaltou. Assim que concluídos os ensaios, as crianças farão apresentação na comunidade e no teatro municipal Raul Cortês. “As atividades estão sendo realizadas semanalmente e as crianças foram divididas por faixa etária. Na primeira parte da aula acontecem jogos corporais de integração e, na segunda, acontece um trabalho de iniciação da técnica da dança. Todos estão muito empolgados para aprender e apresentar a oficina

para seus familiares”, destacou Elaine. A oficina conta com o apoio do Projeto Luar de Dança, parceiro do Sefras Criança em Duque de Caxias e que atua na comunidade de Santa Clara. Agosto / 2017 [Comunicações] 515


CFMB

SIFEM PREPARA ENCONTRO NACIONAL DE JUVENTUDES

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scolhida para sediar o III Encontro Nacional Franciscano de Juventudes, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Vila Velha - ES já está se preparando para acolher os quase 500 jovens que participarão desse evento, que acontecerá de 19 a 22 de julho de 2018. Promovido pelo SIFEM – Serviço Interprovincial Franciscano de Evangelização e Missão, da Conferência dos Frades Menores do Brasil, o encontro tem os seguintes objetivos: fortalecer a presença da OFM entre os jovens; sensibilizar a juventude para a mística franciscana; promover o discipulado missionário da juventude; possibilitar o intercâmbio entre as juventudes em âmbito de Brasil. Assim, a equipe de coordenação geral do encontro esteve reunida nos dias 1 e 2 de julho, em Vila Velha - ES, para mais uma reunião de planeja-

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[Comunicações] Agosto / 2017

mento, partilha, discussão e encaminhamentos. Foi um final de semana muito intenso e produtivo, pois a coordenação paroquial da Juventude e a equipe que cuidará das finanças do encontro também fizeram parte de alguns momentos da reunião e deram passos significativos nos encaminhamentos a serem dados. Um dos diferenciais dessa edição do Encontro Nacional será a realização de uma missão nas comunidades da paróquia Nossa Senhora do Rosário, que estará sediando o encontro. Atendendo à proposta do Papa Francisco de uma Igreja em saída, que vá às periferias existenciais e geográficas, os jovens também poderão partilhar concretamente todo o seu entusiasmo e alegria, tornando-se, assim, protagonistas da Evangelização. Antes de chegarem a Vila Velha, os participantes deverão realizar encontros provinciais ou custodiais,

de modo que já venham mais amadurecidos e conscientes do que será celebrado e vivido durante o encontro nacional. Para essa etapa do pré-encontro, estão sendo preparados subsídios que serão enviados a todas as Províncias e Custódias do Brasil. Em breve também será disponibilizado um aplicativo com todas as informações e material de apoio para esse grande evento nacional que promete motivar ainda mais os tantos grupos Juvenis franciscanos de nosso imenso Brasil. Da parte da Coordenação do Encontro, fica registrada a nossa gratidão às fraternidades do Convento da Penha e do Santuário do Divino Espírito Santo pela acolhida fraterna e por todo o suporte logístico e estrutural para que essa reunião se realizasse. Frei Diego Atalino de Melo


CFFB

Dom Beto apresenta “os enamorados do Deus humanado”

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mestre em Teologia com especialização em Espiritualidade pela Pontifícia Universidade Antonianum, de Roma, Dom Beto Breis, OFM, lançou na sexta feira (14/07) em São Paulo (SP) o livro: “Francisco de Assis e Charles de Foucauld – enamorados do Deus humanado”, pela editora Paulus. Segundo o bispo da Diocese de Juazeiro (BA), a relação existente entre Francisco e Charles de Foucauld é que ambos “buscaram conformar-se com Jesus, tentando atualizá-lo e encarná-lo”. Em Francisco se desdobra a apostolicidade e em Charles a vida oculta de Jesus de Nazaré. Várias congregações religiosas e o público em geral fizeram-se presentes na Livraria Paulus da Praça da Sé (SP), para a sessão de bate-papo e autógrafos com o frade franciscano, que, de maneira muito fraterna, recepcionou todos os presentes. O livro divide-se em três grandes momentos. Primeiro, o confronto e diálogo entre as duas espiritualidades e a compreensão que Charles de Foucauld tinha de São Francisco de Assis, abordando elementos específicos de cada um. Segundo, a “mística” da encarnação em Charles de Foucauld e, por último, a “mística” da encarnação em Francisco de Assis. Dom Beto

Breis afirma que “com muita nitidez, a contemplação do mistério que encerra a encarnação do Filho de Deus, muito mais que uma recordação pia e cheia de afeto, o que profundamente chama-nos a atenção em seus escritos desde o início, torna-se, também, um programa de vida, um itinerário a ser seguido com todo o empenho e ardor possível. Descer, despojar-se e esvaziar-se indicam a bela e estupenda realidade da Kénosis”. Segundo Frei Beto, este foi o seu primeiro livro publicado, fruto do trabalho da conclusão do Curso de Mestrado em Espiritualidade pela Pontifícia Universidade Antonianum de Roma. “Conheci mais de perto a figura de Charles de Foucauld por ocasião da beatificação dele, pouco antes li a sua primeira biografia, escrita por René Bazin, biógrafo, e fiquei impressionado, inclusive pelas semelhanças com Francisco”, sublinhou o frade.

como por exemplo o grande Jubileu da Misericórdia no ano passado, dentro dos 800 anos do Perdão de Assis. Então, vemos que existe, de fato, muito do nosso Francisco de Assis no nosso Francisco de Roma”, observou o bispo franciscano. Dom Beto Breis falou sobre o trabalho missionário que se tem realizado na diocese de Juazeiro (BA) com leigos, religiosos e padres: “Viver como missionário tem trazido muitos frutos, acredito que é uma forma de viver o nosso carisma franciscano, a nossa vocação de frades menores”, ensinou. Frei Carlos Alberto Breis Pereira é natural de São Francisco do Sul (SC). Fez sua primeira profissão na Ordem dos Frades Menores em 1987. No ano seguinte, partiu por opção para o Nordeste, onde concluiu os estudos teológicos na capital pernambucana. Ordenado presbítero em 1994, atuou em paróquias da Arquidiocese de Fortaleza (CE) e do estado de Pernambuco. Exerceu diversos serviços no âmbito da sua Ordem, como formador, Vigário e Ministro Provincial, entre outros. Foi nomeado bispo pelo Papa Francisco em fevereiro de 2016. É mestre em Teologia com especialização em Espiritualidade pela Pontifícia Universidade Antonianum, de Roma. Frei Augusto Luiz Gabriel, Frei Douglas da Silva e Frei Jhones Lucas Martins

Francisco, um “enamorado do Deus humanado”

Dom Beto foi nomeado bispo pelo Papa Francisco em fevereiro de 2016. “O Papa é de uma sensibilidade muito grande. Ele é direto e claro para apresentar a experiência de um pastor. Todas as grandes iniciativas do seu Pontificado têm a ver com o santo de Assis, Agosto / 2017 [Comunicações]

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APARECIDA ACOLHE OS FRANCISCANOS

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SIGNIFICADO DA LOGOMARCA Mão de Deus

A mão que está no topo do desenho faz referência à mão do próprio Deus Pai. É a mão que sustenta o carisma, que levanta e conduz, franciscanos e franciscanas, na construção do Reino dos Céus. A mão é a força de Deus que está com os seguidores de Cristo, a exemplo de Francisco e Clara.

Francisco e Clara

Como o Capítulo Nacional das Esteiras reunirá a Família Franciscana de todo o Brasil, no centro do desenho estão as imagens de Francisco e Clara. Os dois representam o carisma franciscano nas suas duas forças, feminina e masculina. São os irmãos e irmãs que seguem o Cristo pobre.

Aparecida

A imagem da Basílica de Aparecida faz referência ao local do Capítulo, a cidade onde está o Santuário de Nossa Senhora Aparecida (SP). Ao mesmo tempo faz referência aos 300 anos do encontro da imagem no rio Paraíba.

Basílica de Assis

Junto com a Basílica de Aparecida se encontra a Basílica de São Francisco, numa referência ao lugar geográfico do nascimento do carisma franciscano.

Porciúncula

Como a base deste projeto franciscano está a Porciúncula, berço da Ordem Franciscana, lugar predileto de Francisco de Assis. Foi nesta pequena igreja que Clara recebeu a tonsura, despojando-se das pompas do mundo para seguir Cristo. Neste lugar, os frades e as Damas Pobres foram geradas. Lugar onde Francisco encontrava novo ânimo e a paz (Espelho da Perfeição, cap. 84). Desses elementos, temos o tema: “Levar ao mundo a misericórdia de Deus”; e o lema: “É preciso voltar a Assis!” O paulista Frei Leandro Costa, que professou solenemente no dia 26 de setembro de 2015 e reside na Fraternidade do Divino Espírito Santo de Vila Velha (ES), é o autor do desenho para o Capítulo das Esteiras 2017.

a casa da Mãe de Deus, em Aparecida, a Conferência da Família Franciscana do Brasil se reúne para celebrar o seu Jubileu de Ouro e os 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Capítulo das Esteiras, um grande evento que vai reunir frades, irmãs Clarissas, a Ordem Franciscana Secular (OFS), a Juventude Franciscana (Jufra), irmãs e irmãos da Terceira Ordem Regular (TOR), e Congregações e Movimentos Francisclarianos e simpatizantes de Francisco e Clara, de 3 a 6 de agosto. “A Família Franciscana do Brasil retoma algo peculiar na espiritualidade franciscana que é o encontro, celebrando o Deus da vida e refontizando-se na experiência da fraternidade, como aconteceu com São Francisco”, explica Frei Éderson Queiroz, presidente da Conferência da Família Franciscana do Brasil – CFFB. O tema que vai conduzir este Capítulo é: “Levar ao mundo a misericórdia de Deus” e o lema convoca: “É preciso voltar a Assis!”. A partir do Concílio Vaticano II, desencadeou-se um amplo processo ou movimento de renovação na vida religiosa. Na Ordem Franciscana, este movimento gerou iniciativas em diversos países. Seguindo o exemplo da Família Franciscana de alguns países europeus, os franciscanos da América Latina procuraram meios de colocar em prática a “volta às fontes” solicitada pela Igreja. Deste modo, nasceu, em 1965, o Cefepal (Centro de Estudos Franciscanos e Pastorais para a América Latina) no Chile. Em 1966, surgia também no Brasil o Cefepal em Petrópolis (RJ) que foi pensado para ser um movimento franciscano que unisse, em espírito de fraternidade, todos os franciscanos e franciscanas do Brasil, para promover a reflexão sobre o carisma e a missão franciscanas e para dar uma resposta aos desafios da Igreja latino-americana. A Assembleia Geral de outubro de 1994


CFFB cuidou não apenas de repensar a nomenclatura, mas de tornar a estrutura mais ágil e simples. Deste modo, a FFB (Família Franciscana do Brasil) sucede ao Cefepal, significando o conjunto de todas as entidades associadas e os mais diversos serviços na linha

da

espiritualidade francisclariana. Com a mudança da Sede da FFB para Brasília, em 2008, o Centro Franciscano deixou de ter sua razão de existir uma vez que toda a programação nacional foi descentralizada para atender às necessidades dos Regionais e foi criado,

para substituí-lo, a Secretaria de Coordenação Nacional. Em 2015, a FFB, reunida em Assembleia, atualiza seu Estatuto com o objetivo de acrescentar à sua denominação a palavra Conferência, assumindo status de uma representatividade em nível nacional.

Programação Quinta-feira 03/08/2017 14h00 14h30 15h00 15h30

Acolhida e animação Oração de abertura Palavras de acolhida CONFERÊNCIA DE ABERTURA – 800 anos do Perdão de Assis 17h15 Apresentação do Capítulo 18h30 Recolhimento do dia – dinâmica mistagógica – corporal 19h00 Celebração Eucarística – (centro de eventos)

Sexta-Feira 04/08/2017

08h00 Animação/Oração da Manhã 09h15 CONFERÊNCIA: Levar ao mundo a Misericórdia de Deus – A Misericórdia na perspectiva franciscana 10h50 Celebração Eucarística (Centro de Eventos) 12h00 Almoço 13h45 Animação 14h00 Refrão Orante para retomar os trabalhos da tarde 14h15 CONFERÊNCIA: Levar ao mundo a Misericórdia de Deus – A Misericórdia na perspectiva franciscana 15h15 Testemunhos (Realidades de fronteira)

16h15 CONFERÊNCIA: Levar ao mundo a Misericórdia de Deus – A Misericórdia na perspectiva franciscana 17h15 Partilha – Ressonância em grupo 19h30 Celebração Penitencial na Basílica

Sábado 05/08/2017

09h00 Celebração Eucarística na Basílica 11h00 CONFERÊNCIA: Laudato Si’, Cuidado da casa comum, relação da Misericórdia com a criação… 14h00 Animação 14h30 CONFERÊNCIA: Laudato Si’, Cuidado da casa comum, relação da Misericórdia com a criação… 16h00 Oficinas 20h00 Confraternização/ Noite Cultural

Domingo 06/08/2017

08h30 Oração da Manhã 09h00 Retrospectiva/ Ressonâncias 10h30 Celebração Eucarística (Centro de Eventos) 11h30 Envio, Leitura e Aprovação da Carta Aberta a todas as mulheres e homens de boa vontade.

ASSESSORES

MOEMA MIRANDA

FREI RODRIGO PÉRET

FREI LUIZ CARLOS SUSIN

FREI VITÓRIO MAZZUCO

Antropóloga, professa da OFS

Ordem dos Frades Menores

Ordem dos Frades Menores Capuchinhos

Ordem dos Frades Menores

É antropóloga, com mestrado e pós-graduação em Antropologia Social pelo Museu Nacional, da UFRJ. Participou da Rio+20. É integrante do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial. Franciscana da OFS, foi nomeada pela CNBB assessora no Grupo de Trabalho para as Questões da Mineração.

Frei Rodrigo Péret nasceu em vinte e nove de setembro de 1955, em Belo Horizonte, Minas Gerais, filho de Luciano Amédée Péret e Vera de Castro Amédée Péret. Frei Rodrigo Péret também cursou as faculdades de Filosofia e Teologia na cidade italiana de Nápoles, no ano de 1989.

Frei Luiz Carlos Susin OFMCap, doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, é professor na PUC-RS e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Estef), em Porto Alegre. Participa da Direção Editorial da Revista Internacional de Teologia Concilium.

Natural de Campo Limpo Paulista, SP, nasceu no dia 28 de abril de 1953 e ingressou na OFM no dia 20/01/73. Fez a profissão solene no dia 2/8/1977 e foi ordenado sacerdote no dia 7/7/1979. Fez Mestrado em Teologia com especialização em Teologia Espiritual no Antonianum de Roma, Itália.


CFFB entrevista

Madre Maria José da Rosa Mística

TESTEMUNHO NA CONTEMPLAÇÃO Vós sois irmãs de clausura e ninguém vos vê. Porém, as pessoas reconhecem o valor do vosso testemunho de vida

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[Comunicações] Agosto / 2017

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frase do Papa Francisco foi dita durante a sua visita ao Mosteiro de Santa Maria de Vallegloria, situado nas imediações de Assis, na Itália. Esse testemunho de vida contemplativa está espalhado pelo mundo em 3.529 mosteiros com 47.626 monjas e 8.100 noviças e postulantes. A Ordem religiosa contemplativa mais numerosa é a de Santa Clara de Assis (OSC) com cerca de 12.600 irmãs, vindo em segundo lugar as Carmelitas com 12.200 e as Beneditinas com 10.800. De 2003 a 2015 foram fechados 185 mosteiros, em compensação foram abertos 154. O maior número de mosteiros abertos é na América Latina com 62, sendo 35 na Ásia, 24 na África, 23 na Europa , 9 na América do Norte e 1 na Oceania. Na Ordem de Santa Clara, os mosteiros são agrupados em federações (*). Uma destas entidades é afiliada aos Conventuais, 7 aos Capuchinhos e 35 aos Frades Menores. São nove as denominações, conforme a Regra ou as Constituições que observam: Clarissas (com a Forma de Vida de Santa Clara), as Clarissas Urbanistas, Clarissas Coletinas, Clarissas Capuchinhas, Clarissas Sacramentinas, Clarissas da Adoração Perpétua (com a Regra de Santa Clara ou com a de Urbano IV), Clarissas

Capuchinhas Sacramentinas e Clarissas da Divina Providência. No Brasil, a Federação Sagrada Família tem à frente Madre Maria José da Rosa Mística, que reside em Anápolis (GO), onde atualmente é a sede da entidade. A Federação brasileira reúne vinte Mosteiros ativos e aproximadamente 284 irmãs observando o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em castidade, obediência e sem nada de próprio. Madre Maria José está no segundo mandato à frente da Federação, já que foi eleita em 8 de outubro de 2009 e reeleita em 9 de outubro de 2015 (veja na pág. 523 o histórico da Federação). Nesta entrevista, Madre Maria José fala para as Comunicações como está a vida contemplativa franciscana no Brasil. Acompanhe!

Comunicações - O que é a Federação

dos Mosteiros das Clarissas do Brasil? Atualmente, quantos Mosteiros e quantas religiosas fazem parte da Federação? Madre Maria José - A Federação é uma estrutura que une os mosteiros entre si e que tem como objetivo promover a vida contemplativa de acordo com o espírito do Pai São Francisco e da Mãe Santa Clara, vivendo o Evangelho dentro da Igreja, no mundo de hoje, em fidelidade às Constituições e aos costumes da Ordem, respeitando as legítimas diferenças; assegurar uma colaboração eficaz entre os Mosteiros, fomentando a comunhão, procurando atender aos pedidos de ajuda, especialmente diante de desafios de


CFFB maior necessidade, como também nos casos de reorganização de Mosteiros. No Brasil existem vinte Mosteiros da Ordem de Santa Clara e aproximadamente 284 Irmãs.

Comunicações - Como os

mento personalizado com a jovem candidata, seja por e-mail, telefone, encontros vocacionais ou retiros no próprio Mosteiro.

Comunicações - Quais

as etapas para uma jovem professar solenemente na segunda Ordem? Madre Maria José - O período de formação das Irmãs Clarissas está estabelecido nas nossas CCGG, e nos Estatutos Particulares de cada Mosteiro. Um ano de postulantado, dois de noviciado, e seis anos do juniorato.

Mosteiros sobrevivem? Madre Maria José - As Irmãs Clarissas vivem da “Providência Divina”, que move muitos corações generosos para serem colaboradores e benfeitores do Mosteiro, mas também trabalhamos com as próprias mãos, a exemplo do Pai São Francisco e da Mãe SanComunicações - Tem lugar O homem tem sede de Deus, e em para vida religiosa contemta Clara. Confeccionamos velas, círios, restauramos plativa hoje no mundo? meio a tantas oportunidades que o imagens, paramentos litúrMadre Maria José - O mundo oferece nada pode preencher homem tem sede de Deus, e gicos, hóstias. Cultivamos a sua busca do infinito em meio a tantas oportunitambém horta e pomar. Sabemos que também podades que o mundo oferece nada pode preencher a sua demos contar com a ajuda dos Frades o Senhor tem sido muito generoso nas vocações. Menores. busca do infinito. A Vida Contemplativa tornou-se o espaço de paz, um oáComunicações - De acordo com os Comunicações - Como é fei- sis para as almas sedentas de Deus. A dados do último Anuário Pontifício, to o trabalho vocacional para a Vida Consagrada Contemplativa, hoje, no ano 2000, o número de religiosas vida contemplativa das Clarissas? é procurada por muitos jovens que em todo mundo era de 800 mil, e em Madre Maria José - Confiamos querem viver com mais radicalidade a 2014 passou para cerca de 683 mil. na Providência. Cremos que o Se- sua vocação. Para Dom José Rodríguez Carbalho, nhor continua chamando, como chaa questão do abandono da Vida Con- mou Francisco, Clara, Inês, Bernar- Comunicações - E como se deu o sagrada está muito relacionado à fra- do, Antônio, Vitória da Encarnação. discernimento vocacional da jovem gilidade dos compromissos que hoje Os meios de comunicação ajudam Maria José? Por que seguir o exemplo afeta a sociedade. Essa crise vocacional muito, pois os jovens são conectados, de Clara e Francisco? Madre Maria José - Surgiu em atingiu os Mosteiros brasileiros? Como mas além de nossas orações pelas voestá de vocações a Federação Brasilei- cações e os meios de comunicação, minha alma o encanto, a admiração, ainda hoje Clara e Francisco conti- ao ouvir pela primeira vez a narrativa ra? Madre Maria José - Vivemos nuam atraindo e cativando jovens da vida de Santa Clara. Fiquei pensannuma sociedade sem compromisso, de todas as classes sociais. A pastoral do comigo mesma que poderia fazer a que cultiva o descartável, e isso é ine- vocacional dos Frades Menores tam- mesma coisa que ela fez. Então comevitável. Vivenciamos um declínio em bém faz um trabalho bonito. Muitas cei a buscar o que poderia preencher todos os sentidos, tanto na vocação jovens são encaminhadas aos mos- o vazio interior e a inquietação da mimatrimonial como na vocação à Vida teiros através de nossos irmãos fran- nha alma. Para minha surpresa, quanConsagrada. A Federação sofre com as ciscanos. Após o primeiro contato do entrei em contato com o Mosteiro desistências de alguns membros, mas procuramos fazer um acompanha- de Santa Clara, em Belo Horizonte, a Agosto / 2017 [Comunicações]

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CFFB

CONSELHO DA FEDERAÇÃO SE REÚNE NA SEDE PROVINCIAL EM SÃO PAULO

Da esquerda para a direita: Madre Maria Auxiliadora; Frei Raimundo, assistente nacional; Madre Maria José, presidente; e Madre Maria Madalena.

Madre Maria Pia me respondeu que poderia ir conhecê-las. Então tomei a decisão de deixar tudo: trabalho, família, amigos etc. Quando entrei no Mosteiro, me vi diante da imagem de Santa Clara. Naquele momento senti em meu coração: “Aqui é a minha casa, minha família, o lugar que Deus preparou para mim”. Meu pai é muito devoto de São Francisco das Chagas. Acredito que recebi no seio materno a graça de ser uma filha do pai São Francisco e da mãe Santa Clara. O exemplo de Clara de Assis apaixona, é atraente e desafiador, envolve a alma que busca a Deus.

Comunicações - Fale um pouco de

sua vida, sua família? Madre Maria José - Aos 20 anos entrei no Mosteiro de Santa Clara, de Belo Horizonte MG, onde fiz minha caminhada vocacional e minha Profissão Solene. Após alguns anos de caminhada, senti necessidade de fazer uma experiência em um Mosteiro mais retirado da Cidade, fui para Guaratinguetá (SP). Foi

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uma experiência muito gratificante e desafiadora para uma Clarissa. Durante o tempo que estive lá fui formadora e Madre por nove anos. Esta experiência junto à Fazenda da Esperança deixou em mim uma marca profunda e indelével da misericórdia de Deus, que acolhe, ama e perdoa o seu povo ferido e machucado pela vida. Atualmente estou no Mosteiro de Santa Clara, Anápolis (GO), com a missão de ajudar fraternamente as irmãs, para juntas fazermos uma nova caminhada. Deus abençoou a minha família. Meu pai está vivo, tem setenta e oito anos, minha mãe faleceu quando eu era criança. Tenho oito irmãos(as) e duas irmãs adotivas. Somos uma família que soube enfrentar os desafios, as perdas, e ultrapassamos, unidos, as intempéries da vida. Hoje, quando olhamos para trás, reconhecemos o amor e a misericórdia de Deus para conosco.

Comunicações - Quais os desafios

que a sra. vê para a vida contemplativa? Madre Maria José - Os desafios da

vida contemplativa são muitos: a cultura do descartável, que gera nos jovens inconstância nos compromissos assumidos; a falta de estrutura familiar; os meios de comunicação, que leva muitos a viverem na Vida Consagrada sem fazerem uma profunda experiência de Deus; as crises constantes de falta de fé, porque não têm fundamentos sólidos e concretos. Um dos grandes desafios em nossa vida é a formação. Formar Irmãs Clarissas, jovens que vêm dessa realidade e conduzi-las nesse processo de cura, de perdão, para, através da interioridade, buscar o único necessário, DEUS, como diria o pai São Francisco: Meu Deus e meu tudo!

Comunicações - Como vê o Pontifi-

cado de Francisco? Madre Maria José - O Papa Francisco é o homem de que nosso momento presente necessita. Aquele que a Igreja estava esperando ansiosa para que se realizasse a profecia. É um Papa profético, mensageiro da paz e do amor. Arauto do Evangelho


CFFB de Jesus Cristo, outro São Pedro com o nome de Francisco. Forte quando fala, mais sua fala toca os corações, porque transmite a verdade que gostaríamos de ouvir do pastor, que cuida do rebanho de Cristo. Ele veio trazer esperança e alegria para muitos corações, abraçando, abençoando e conduzindo muitos à misericórdia de Deus. O nosso Papa Francisco é muito humano, está levando a Igreja a ter uma visão diferente do mundo, um olhar voltado para Deus, para o homem que sofre e vive sem esperança. Rezo por ele, admiro sua pessoa, e às vezes penso que Francisco de Assis voltou para nos trazer a paz.

Comunicações - Que mensagem dei-

xaria para as jovens que gostariam de seguir os passos de Clara de Assis? Madre Maria José - Santa Clara, uma jovem da nobreza, que por inspiração divina, abandona a casa paterna, para seguir o Cristo Pobre e Crucificado, encontra seu ideal de vida no pobrezinho de Assis. Cara jovem, você que sente o chamado e é tocada pela graça divina e deseja conhecer a vida de Santa Clara de Assis, entre em contato com as Irmãs Clarissas de todo Brasil. Em nosso site, clarissas.net.br estão os contatos dos vários mosteiros espalhados pelo país. Moacir Beggo (*) A Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, com a Constituição Apostólica “Sponsa Christi”, promulgada pelo Papa Pio XII, tem fomentado a união dos mosteiros através das Federações, para a partilha e solidariedade recíproca, tanto em nível material, quando necessário, como espiritual, na formação e enriquecimento mútuo. As Clarissas organizaram-se em Federações no mundo inteiro. Os mosteiros continuam a ser autônomos; uma Madre federal é eleita por um determinado tempo, e torna-se responsável por fomentar a formação das irmãs e esse espírito de colaboração e partilha entre os mosteiros.

A RENOVAÇÃO NA ORDEM

A

Família Franciscana da Primeira Ordem elaborou sua Ratio Formationis e seus Estatutos particulares, a partir da Regra e das Constituições Gerais. Sempre na linha do Concílio foram emitidos pela Ordem, na pessoa dos diversos Ministros Gerais, documentos exortativos e de formação. Os mais notórios foram escritos por Frei Constantino Koser (*1918 - †2000), pelo ex-Ministro Geral Frei Giacomo Bini e por Frei José Rodriguez Carballo. A redescoberta do carisma clariano por parte de toda a Ordem Franciscana, particularmente nas últimas décadas do século XX, conduziu à elaboração de vários escritos, estudos, cartas provinciais, etc., em vista de um maior conhecimento da pessoa de Clara no âmbito da Ordem. E foi bem a propósito, uma vez que hoje a II Ordem goza de considerável material biográfico e de pesquisa que ajudam a entender e reconhecer seu espaço dentro do carisma franciscano. No Brasil, porém, antes que esse glorioso momento acontecesse no âmbito da II Ordem, houve circunstâncias históricas que retardaram o florescimento da II Ordem em nosso território nacional. Contudo, tendo voltado a florescer em 1928 na cidade do Rio de Janeiro, através da fundação do Mosteiro Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula, pela Comunidade Clariana do Mosteiro de Düsseldorf, Alemanha, a Ordem não cessou de crescer. Finalmente, após o Concílio Vaticano II, começou a despontar também no Brasil o interesse por uma maior integração dos diversos mosteiros já fundados em terras brasileiras. Interesse que foi se avolumando devido à extensão

geográfica do País, que dificultava a comunicação entre os mesmos. Além disso impunha-se a necessidade de se proceder à atualização das Constituições Gerais e dos Estatutos Particulares. Para tanto formou-se uma Comissão composta de algumas madres e irmãos da Ordem dos Menores, destacando-se as figuras de Frei Constantino Koser, Frei Alberto Beckhauser e Frei Bernardo Hoelscher, que praticamente foram os pilares que orientaram as intensas atividades em vista desse objetivo. Aos poucos os trabalhos realizados findaram por realçar a importância de se pensar numa União entre os mosteiros, que exatamente acabaria por desembocar na formação da Federação Sagrada Família, fundada em 1989 pelo esforço e iniciativa de Frei Bernardo Hoelscher (†1993). A Federação Sagrada Família, conduzida inicialmente por Madre Maria Coleta do S. Coração de Jesus, do Mosteiro São Damião de Porto Alegre/RS (1989 a 2001) e a seguir por Madre Marlene Inácia de Jesus Hóstia, do Mosteiro Maria Imaculada de Marília/SP (2001 a 2007), busca manter uma integração entre todos os mosteiros do território brasileiro, que atualmente são de 16 de Clarissas, além dos 4 mosteiros de Clarissas Capuchinhas que mantêm um contato mais próximo com as Clarissas. O empenho da Federação tem sido justamente a promoção da formação inicial e permanente dos mosteiros, segundos as orientações da Igreja pós-conciliar para a Vida Contemplativa e o carisma específico da Família Franciscana, em pobreza, fraternidade e minorismo.

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CFFB artigo

SANTA BEATRIZ DA SILVA

B

eatriz nasceu em Celta – de Portugal, na época. Descendente real hispano-portuguesa; nobre, portanto, condessa. Venerava Nossa Senhora da África, no Monte Hacho. Quando criança, herança de seus pais, Rui Gomes da Silva e Isabel de Meneses. Devota da Imaculada Conceição, quando ainda não havia sido proclamado o dogma. Jovem ainda, seu pai a ofereceu para ser modelo a um pintor italiano que deveria retratar Maria Imaculada.

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Ela, encabulada, aceitou por obediência, mas com muita timidez, e protestou, deixando os olhos fechados. Em 1447, foi escolhida pela princesa Isabel, de Portugal, para acompanhar o cortejo até Castela, Espanha, onde haveria de acontecer o casamento do rei, Dom João II, com a princesa. Daí, compreendermos a razão de sua vivência na Corte de Espanha. Ali também vivia o seu tio; sabe-se, a rainha era, de longe, parente de Beatriz. Beatriz era formosa, linda e gentil; na corte, muitos a invejavam, e era cortejada por condes, duques, até vindos de outros países. Uma mulher de oração, meditação, de recolhimento e muito recatada. Não gostava de ser bela... Queria ser feia, por ser para ela a beleza uma dificuldade. Seu ideal era de ser consagrada de corpo e alma a seu Deus, ao reino de Jesus Cristo, e a Imaculada Conceição morava em seu coração... Muitos na corte, por inveja, caluniavam-na, dizendo que ela não era virtuosa! A Rainha desconfiava de Beatriz, dizendo que ela tinha um caso com o rei. Beatriz sofria demais na corte. Não sabia como sair dessa situação. Um dia, a Rainha raivosa, ciumenta, invejosa, violenta, ouvindo o diz que diz no palácio, arquiteta uma tortura: - Convida Beatriz a um passeio, e a leva a um porão, coloca Beatriz num baú, e ali a deixa, sem água e alimento... Todos perguntavam, na corte: Onde anda a bela Beatriz? Após dias, através de seu tio, homem do palácio, ela vai ao porão: - Abre o baú e Beatriz estava viva e com saúde; o baú existe até hoje ainda no Convento da Santa Clara de Tordesilhas.

Mais tarde, vendo que a situação era insuportável na corte, Beatriz fugiu, buscou refúgio no Mosteiro de São Domingos de Gusmão, em Toledo. Ainda não dera uma freira. Assim ela vive 30 anos (sem votos de consagrada). Sabe-se que a Rainha Isabel, a católica, foi várias vezes visitar Beatriz. Até mesmo ofereceu a ela um palácio e um mosteiro. Certo dia, a linda Beatriz reuniu 12 mulheres, que já viviam querendo segui-la, e estas passaram a conviver como monjas. Só agora, então, funda a Congregação das Irmãs Concepcionistas – Irmãs da Imaculada Conceição. A Regra da entidade, inicialmente, era a de Santa Clara de Assis, por influência de um franciscano que as assistia. Em pouco tempo, já se expandia este Carisma pela Europa e pela América. No começo, ela e as companheiras foram assistidas por Franciscanos que já assistiam as Clarissas. Daí, vem que até hoje os Franciscanos são zelosos em assisti-las. E elas pertencem à Família Franciscana. Em 1489, o Papa Inocêncio VII aprova a Bula da Fundação da Entidade. Em 1491, a Bula vai da Catedral de Toledo até o Mosteiro da Santa Fé. E nesse ano, em 17 de agosto, Beatriz morreu. E no leito de morte, recebe o hábito e faz os seus votos de consagrada, como Madre Fundadora (antes não os tinha feito ainda...). Em 1511, o Papa Júlio II, através da Bula Stratum properum, aprovou a regra da Ordem da Imaculada Conceição, fundada por Santa Beatriz da Silva – esta escrita por Beatriz, substituindo a de Santa Clara. Isso constitui uma glória para a Igreja, para Portugal e para o mundo.


CFFB Hoje são mais de 250 mosteiros espalhados pelo mundo. Na Espanha, são 74. Ao ser ungida com o óleo sagrado, segundo consta na história, apareceu em sua testa uma estrela. Daí em diante, sua imagem é representada, com uma estrela na fronte. Beatriz foi beatificada em 1926, pelo Papa Pio XI. O Papa Paulo VI a canonizou, em 1976.

Podemos tirar uma lição: Santa Beatriz não se deixou levar por honrarias, prazeres, nem pela beleza. Hoje, muitas jovens se deixam levar pela beleza, beldade, fama e fazem o culto do corpo. Daí, caem em corrupção, muitas vezes. A bela Beatriz da Silva nos lembra o recolhimento, a oração, a consagração de vida por um ideal e,sobretudo, o amor à Virgem Ima-

culada Conceição, mais que tudo! Podemos dizer, celebramos mais de 500 anos da Regra das Irmãs Concepcionistas Franciscanas, e isso traz um imenso e sério contributo para contextualizar os carismas e o sentido da Vida Contemplativa, como expressão humana, cultural e religiosa nos dias de hoje. Frei Walter Hugo de Almeida

artigo

O centenário de Fátima e a canonização de crianças

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Bíblia, seguidamente, relata diversas maneiras de Deus se revelar aos homens, mostrando-lhes qual é sua vontade. Às vezes, Ele mesmo o faz, como no episódio da “sarça ardente” (Ex 3,1-22). Em Portugal, há as aparições de Fátima, cujo início aconteceu em 13 de maio de 1917, portanto, há cem anos. Ela apareceu a três pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco. Os dois últimos são irmãos de sangue e sobrinhos de Lúcia, que morreu recentemente (2005) como Carmelita Descalça aos 97 anos. Os outros dois partiram em idade pueril, vítimas de uma epidemia broco-pneumônica: Francisco, com onze anos (1908 – 1919) e Jacinta, dez (1910 – 1920). Foram canonizados aos 13 de maio de 2017, no centenário de Fátima. Na história da Igreja é a primeira vez que se canonizam crianças não-mártires. O milagre que se lhes atribuíram foi a cura de uma criança brasileira. Na ocasião, a frase “duas crianças cuidaram de uma criança” criou um impacto emocional muito grande. Quem a escreveu foi a postuladora Ir. Ângela de Fátima, licenciada na Faculdade de Medicina do Porto. As aparições são atípicas, não só por envolverem crianças, mas também porque se sucedem durante seis meses seguidos (maio a outubro), no mesmo dia e local. Neste contexto, é normal que, em cada dia 13, muitos se aglomerassem na Cova da Iria, uns, bem intencionados,

outros, descrentes ou curiosos. Alguns pequena comunidade de Fátima (tornououviam e viam o “diálogo da Senhora -se município em 1997) “modestas e pacom os pastorinhos”, os demais, não. Foi o catas, mas modelo de participação ativa motivo para que houvesse controvérsias. na vida local, terço diário em família, O fato é que as romarias aumentaram respeito por todos e caridade para com e construiu-se um grande centro de devo- os pobres”. As três crianças “pastoreavam ção mariana que, anualmente, atrai mais durante a maior parte do dia, brincavam e de seis milhões de peregrinos, segundo rezavam o terço, após o lanche”, continua a postuladora. estatísticas de 2015. Descreve, também, o jeito de ser de O santuário foi visitado seis vezes pelos Papas: Paulo VI (1967), João Paulo II cada um. Francisco era introspectivo e (1982, 1991, 2000), Bento XVI (2010) e gostava do silêncio. Por isso, demorava-se Papa Francisco (2017) – todos no dia 13 nas visitas à Igreja, no contato com a nade maio. tureza, ficando absorto com ela e nela. Ele Há uma tradição litúrgica, 10 de ju- mesmo dizia: “Sentia que Deus estava em nho, em que se celebra a festa de “Santo mim, mas não sabia como era”. Jacinta era mais expansiva, “gostava Anjo da Guarda de Portugal”, também chamado Anjo da Paz. A partir de 2016, de partilhar sua merenda escolar e ofereesta devoção cresceu entre os fiéis por- cia seus sofrimentos pela conversão dos que ele apareceu aos três pastorinhos pecadores”. Tanto o Anjo da Paz como Nossa Serecomendando-lhes oração e penitência. Esses mesmos apelos são renovados nas nhora lhes fazem a pergunta: “Quereis aparições de Nossa Senhora, incentivan- oferecer-vos a Deus”?! Mediante resposta do a reza diária do terço e o sacrifício/pe- afirmativa, lhes diz: “Ireis sofrer muito, nitência pela conversão dos pecadores. (É mas a graça de Deus será vosso conforto”. o período final da Primeira Guerra Mun- As crianças sentem “seu coração arder” (Lc 24,32) e colocam Deus como centro dial 1914 – 1918). Parece estranho que os apelos de mais de suas vidas. Assim escreve a postuladooração e sacrifícios sejam feitos a crianças ra: “Francisco e Jacinta não são santos porque, de boa vontade, se comprometem que foram protagonistas das visões e apacom o pedido. Porém, se olharmos seu rições em Fátima. São santos pela relação ambiente familiar, percebe-se que está de amizade com Deus e pelo modo como “dentro da normalidade”. É o que lembra se comprometeram em oferecer-se a Ele”. a postuladora da canonização. As famílias dos pastorinhos moravam em Aljustel,Agosto / 2017 [Comunicações] 525Iakovacz Frei Luiz


ofm

A MISSÃO NO MARROCOS

1- Marrocos atual Mais de 90% dos cristãos que vivem no Marrocos hoje são provenientes da África Subsaariana. Existem sessenta lugares de culto cristão oficialmente registrados no país, incluindo quarenta católicos, doze protestantes e alguns ortodoxos. Os cristãos que frequentam os lugares de culto no Reino do Marrocos não passam de 20 mil (o país tem 34 milhões de muçulmanos). Os cristãos estrangeiros podem desfrutar com total liberdade sua fé e são protegidos pelas autoridades, com a condição de que não façam proselitismo, o que pode acarretar uma pena de três anos de prisão ou expulsão do país. O Marrocos é uma monarquia constitucional com um parlamento eleito. O Rei do Marrocos tem vastos poderes executivos e legislativos, especialmente sobre os militares, a

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política externa e os assuntos religiosos. O poder executivo é exercido pelo governo, enquanto o poder legislativo é investido tanto no governo como nas duas câmaras do parlamento, a Assembleia de Representantes e a Assembleia de Conselheiros. O rei pode emitir decretos chamados “dahirs”, que têm força de lei. Ele também pode dissolver o parlamento depois de consultar o primeiro-ministro e o presidente do Tribunal Constitucional. A cultura marroquina é uma mistura de árabes, berberes nativos, africano subsaariana e influências europeias. As línguas oficiais são o árabe e tamazight. O dialeto marroquino, referido como Darija, e o francês também são muito falados. O Marrocos é membro da Liga Árabe, da União

para o Mediterrâneo e da União Africana. Tem a quinta maior economia do continente africano.

2. Presença Franciscana “Se, pois, os irmãos, sob a inspiração de Deus, querem ir entre os sarracenos e outros infiéis, eles vão, com a aprovação do seu ministro e servo.” (RnB 16, 3). O início do capítulo 16 da Regra não Bulada é para nós, frades


ofm da Custódia dos Santos Mártires do Marrocos, como nossa Carta Magna. Ele nos recorda que este chamado para viver junto aos muçulmanos está além de nós e que isso só pode vir de Deus. Ele também nos mostra que este chamado, que todos nós experimentamos, está registrado numa longa tradição que começou com os protomártires de Marrakesh (1220) e Ceuta (1226), fazendo do Marrocos a 1ª missão da Ordem junto aos muçulmanos e que se prolonga através dos séculos até o período recente com os apelos urgentes dos Ministros Gerais, freis Giacomo Bini em 1999, José Carballo em 2011, e Michel Perry em 2016. Tudo isto é sinal da importância de a Ordem manter uma presença renovada nesta terra marroquina onde São Francisco, Santa Clara e Santo Antônio teriam desejado estar.

3. Os Primeiros Mártires franciscanos em Marrakesh A Igreja dos Santos Mártires, em Marrakesh, no Marrocos, foi construída em 1928 e inaugurada oficialmente em 1929, situando-se em frente da mesquita de Gueliz, dois lugares de culto que são um ponto de referência para a tolerância religiosa, exatamente num momento em que o Relatório sobre a Liberdade Religiosa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) apontou “violações significativas” da liberdade religiosa em 38 países dos 196 pesquisados. É nesta igreja que está a Fraternidade que agora reside o missionário Frei Jorge Lázaro de Souza, que chegou a Marrakesh no último dia 9 de julho.

A Igreja dos Santos Mártires remete ao tempo de São Francisco. Depois de duas tentativas malsucedidas de partir para a Síria e Marrocos, Francisco continuou a alimentar o desejo de conseguir a coroa do martírio. Uma vez que a Ordem estava organizada em Províncias (1217), procurou enviar missionários a todas as nações europeias. No famoso Capítulo Geral das Esteiras, celebrado na Porciúncula em Pentecostes de 1219, deu licença aos frades Vital, Berardo, Otão (sacerdotes), Pedro (diácono), Acúrsio e Adjuto (leigos) de pregarem o Evangelho aos sarracenos do Marrocos, enquanto ele se dirigiria com os cruzados à Palestina para visitar os Lugares Santos e converter os infiéis do lugar, mesmo ignorando sua língua. No dia 16 de janeiro de 1220 eram decapitados pelo sultão do Marrocos, Abu Yacub, conhecido como Miramolino. O povo se apoderou dos corpos e das cabeças dos mártires depois de lançados do palácio imperial. Um providencial temporal fez com que a gente fanática se dispersasse, permitindo que os cristãos recuperassem os restos dos frades e os transportassem à residência do infante Pedro de Portugal. Seus restos, depois de secos, foram colocados em urnas de prata. O infante os transportou a Portugal, à Igreja da Santa Cruz de Coimbra,

onde foram acolhidos pelo rei e pela rainha bem como pelo povo. Neste lugar ainda são venerados. O martírio dos franciscanos fez com que amadurecesse no jovem sacerdote Antônio de Lisboa, conhecido também como Santo Antônio de Pádua, a ideia de passar da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho à Ordem dos Frades Menores com a finalidade de ser missionário e conseguir o martírio. São Francisco, por sua vez, tomando conhecimento da notícia do martírio dos cinco frades exclamou: “Agora posso dizer que tenho cinco verdadeiros frades menores”.

4. Uma fraternidade internacional

A Custódia do Marrocos, dependente do Ministro Geral desde 2010, conta atualmente com 22 frades, originários de 11 países e 4 continentes. Ela está presente em 7 cidades: Rabat, Meknés, Larache, Tetouán, Tânger, Alhoucemas e Marrakesh. Sua grande especificidade se dá no fato de que não há vocação local devido à ausência de vocações cristãs marroquinas. Como resultado, a Custódia permanece totalmente dependente de outras entidades da Ordem para a sua sobrevivência. Nossa vocação de Frades Menores no Marrocos nos chama “a sermos submissos a toda criatura por causa de Deus e confessar simplesmente que somos cristãos” (Rnb 16,6). Mesmo se nenhuma conversão é possível, somos enviados para viver com o povo, para encontrá-lo em sua alteridade fundamental e a tecer com ele um caminho de fraternidade que nos fará ver o Reino em marcha. Agosto / 2017 [Comunicações]

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Notícias e Informações

LEONARDO BOFF

“O cuidado é mais que uma virtude”

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a quinta-feira, 22/06, o teólogo e filósofo Leonardo Boff esteve em São Paulo, no Teatro Tucarena, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), para lançar quatro livros e fazer um bate-papo com os leitores. Entre os participantes estava o Pe. José Oscar Beozzo, da Casa da Reconciliação, apontado por Leonardo Boff como um dos padres mais inteligentes do Brasil. O evento foi realizado pela Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC São Paulo, Hospital Premier e Oboré Projetos Especiais, que foram representados por Antonio Carlos Malheiros, Dr. Samir Salman e Sérgio Gomes, respectivamente. Os livros, lançados em 2016 e 2017, são de 4 editoras diferentes e abordam diferentes temáticas. Lançado em 2016, pela Editora Mar de Ideias Navegação Cultural, o

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[Comunicações] Agosto / 2017

livro “De onde vem” aborda a nova cosmologia e nasceu a partir de um outro livro, “O Tao da Libertação – Explorando a Ecologia da Transformação”, escrito em parceria com o cosmólogo norte-americano Mark Hathaway. Segundo Boff, este livro lançado no Brasil é uma tentativa de trazer o assunto para a população em geral. “De onde vem” é um livro mais lúdico, com ilustrações e uma linguagem mais popular, e é recomendado para crianças e adolescentes. “O livro dos Elogios”, lançado em 2017 pela Editora Paulus, tem como objetivo resgatar pequenos gestos e símbolos do cotidiano. “Onde domina o poder, não há amor e misericórdia”, afirmou o teólogo ao comentar um pedido do Papa Francisco aos cardeais por ocasião do Ano da Misericórdia. O Pontífice, na época, pediu que o medo não fosse mais usado como modo de

conversão, mas a misericórdia. “A Igreja tem que ser uma casa aberta, não um castelo com dragões. Quando a pessoa entra, sai reconciliado, mais humanizado”, ressaltou o teólogo. Também lançado em 2017, pela Editora Paulinas, o livro “A Casa comum, a Espiritualidade, o Amor”, aborda a importância do resgate da razão cordial e a relação do ser humano com a Criação. “A essência da relação é o cuidado, o amor, está no coração”, afirmou Boff. O teólogo recordou ainda o exemplo de São Francisco de Assis. “Ele sentia todas as criaturas como irmãos e irmãs, abraçava todos os seres”, ressaltou. “O Divino em nós”, lançado pela Editora Vozes, tem a coautoria do monge beneditino Anselm Grün. A obra é dividida em duas partes, a primeira, escrita por Grün, aborda o Divino no humano, e a segunda,


Notícias e Informações

escrita por Boff, aborda o Divino no Universo. “Deus é esta realidade sempre presente, podemos reconhecê-la, internalizá-la, dialogar com ela, sermos seres espirituais”, acrescentou o teólogo. Brasil: para além da indignação, coragem para dar novos passos Antes de falar sobre os livros, Leonardo Boff fez algumas considerações a respeito da situação política do Brasil. “O que ocorreu e foi desmascarado é fruto dos 500 anos de nossa história”, afirmou, criticando o governo feito por cima e de costas para o povo. “Isso gerou uma situação que é a profunda desigualdade da sociedade brasileira. Desigualdade é uma palavra neutra. Política ou eticamente significa injustiça social, teologicamente significa pecado – contra Deus, contra os filhos e filhas de Deus”, acrescentou Boff. Para ele, o momento é de retomar a esperança, não se resignar diante da situação, mas,

a partir da indignação, ter coragem para dar novos passos. “Temos todas as bases ecológicas, culturais, econômicas, para ter uma arrancada nova”, encorajou.

Donald Trump pode ameaçar a espécie humana

No início de sua fala, Leonardo Boff falou a respeito do presidente dos Estados Unidos e alertou para o perigo que o mundo corre com sua administração. Ele citou uma declaração de Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, que afirma que Trump é uma ameaça não somente os Estados Unidos, mas para o mundo todo.

Necessidade do cuidado

O teólogo falou sobre o meio ambiente e a urgência de mudanças na relação do homem com a Criação. Ele afirmou que a lógica de dominação está levando o mundo para um caminho sem retorno. “Talvez o cuidado seja a alternativa da sociedade e da nossa civilização”, apontou. “O cuidado é um gesto amoroso com a realidade, a carícia essencial, a relação não-destrutiva com a realidade”, acrescentou Boff, que comentou a Encíclica Laudato Si’ e a “Carta da Terra”, lançada em 1992. “Uma civilização onde todos cuidam da terra, do lixo, da água, um do outro, da linguagem, para que não haja um corte na comunicação. O cuidado é mais que uma virtude, é um princípio estruturante da civilização”, animou o teólogo. Após sua fala, Leonardo Boff continuou autografando os livros e conversando com os participantes. Érika Augusto Agosto / 2017 [Comunicações]

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Falecimento

FREI JOSÉ ZANCHET 27.10.1935

F

rei José Zanchet faleceu na manhã do dia 25 de junho, às 7h55, no Convento São Francisco (SP), enquanto tomava banho, ajudado pelo enfermeiro João. Ele vinha se tratando de um câncer no cérebro desde setembro de 2015. Sempre disposto e bem humorado, Frei José, embora em tratamento, ajudava muito no atendimento do Convento, sobretudo nas confissões. Fazia poucos dias, tinha terminado 10 sessões de radioterapia. Frei José foi velado no Convento São Francisco, e no dia 26, às 9h00, foi celebrada a Missa de Exéquias, seguido do sepultamento no mausoléu dos frades no Cemitério do Santíssimo Sacramento.

Frei José, o missionário franciscano

Aos 81 anos, Frei José é a história viva da Missão Franciscana em Angola. Componente do primeiro grupo enviado pela Província da Imaculada ao país africano, viveu em Malange e Kibala, em sua primeira passagem pela missão, que durou cinco anos

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+ 25.06.2017

(entre 1990 e 1995) e depois, em sua segunda experiência na missão (desde dezembro de 2013 até 2015), quando foi transferido da Fraternidade São Francisco Solano, de Curitibanos, SC. Com quase 60 anos de vida religiosa, Frei José tem como marcas a disposição missionária (esteve no Chile, no Sertão da Bahia, no Mato Grosso e em Angola) e aptidão para atividades práticas, ligadas à eletricidade, pequenos reparos, etc.). Gaúcho de Três Arroios, RS, animou-se em partir para terras angolanas depois que participou de um encontro realizado para os interessados em conhecer um pouco mais da proposta de presença da Província em Angola, realizado entre 22 e 24 de junho de 1990, no Convento São Francisco, em São Paulo. Na época Frei José trabalhava em uma paróquia de Dourados, MS, e relata que a partir daquele encontro em São Paulo se sentiu chamado a seguir para a África: “Eu cheguei na Paróquia em Dourados e logo me sentei para escrever uma carta ao Provincialado, dizendo que estava pronto para partir. Uns quinze dias depois, Frei Estêvão Ottenbreit (Ministro Provincial da época) me telefonou perguntando se eu estava disposto mesmo, e eu respondi: ‘Claro, mande-me’”, conta Frei José, mostrando que desde o início estava inteiramente à disposição para integrar este projeto missionário. Diante da resposta positiva de Frei José, foram realizados os encaminha-

mentos necessários. A celebração de envio ocorreu no dia 16 de setembro de 1990, no Seminário Santo Antônio, em Agudos, e o embarque dos missionários, entre eles Frei José, foi no dia 24 de setembro do mesmo ano, sendo que no dia seguinte já estavam em Luanda e, depois, Malange, lugar onde ficariam instalados. Angola estava em guerra civil e Frei José conta que as dificuldades deste conflito já puderam ser sentidas na chegada. “Quando desembarcamos em Malange, a primeira coisa que vimos do avião foram sete ou oito soldados com as metralhadoras apontadas. Descemos e tivemos que fazer novamente todos os papéis – mesmo já tendo passado por todos os trâmites em Luanda – como se estivéssemos chegando a um país estrangeiro. Como não havia nenhuma mesa para nos apoiarmos, pedi ao Frei Plínio Gande, outro missionário do primeiro grupo, para me ‘emprestar’ as costas e, assim, preenchemos os papéis um nas costas do outro”, recorda. Por conta das dificuldades de comunicação, a comunidade da Missão em Malange também não tinha informações precisas sobre a hora de chegada dos missionários, mas mesmo assim dentro das possibilidades, fomos muito bem recebidos.” “A recepção foi muito carinhosa. Mais ou menos uma hora e meia de cantos e homenagens, até que seguimos para casa, já pelas 16h do dia 25 de setembro, para almoçar e descansar um pouco da viagem. O primeiro trabalho dos frades em Malange foi a visita às comunidades da missão, que eram cerca de 135, muitas delas de acesso muito difícil. Frei José Zanchet destaca e menciona a importância da figura dos catequis-


Dados pessoais, formação e atividades ascimento: 27.10.1935 (81 anos N de idade) . Natural de Três Arroios, RS. Vestição: 21.12.1955 – Rodeio Primeira Profissão: 22.12.1956 (60 anos de Vida Franciscana) Profissão Solene: 22.12.1959 Ordenação Presbiteral: 15.12.1961 (55 anos de Sacerdócio) 1957 – 1958 – Curitiba – estudos de Filosofia; 1959 – 1962 – Petrópolis – estudos de Teologia; 1963 – Rio de Janeiro – curso de Pastoral; 06.12.1963 – Rio de Janeiro – Nossa Senhora da Paz – procurador vocacional 10.05.1967 – Chile / Carahue – missionário 14.03.1970 – São Lourenço 11.02.1972 – Chile / Carahue – missionário, vigário paroquial 03.03.1975 – São Paulo – Vila Clementino – vigário paroquial 26.12.1975 – Chile / Carahue – vigário paroquial 04.12.1979 – Luzerna – vigário paroquial em Joaçaba 12.12.1981 – Chopinzinho – vigário paroquial em Mangueirinha 25.11.1983 – Rio Brilhante, MS – vigário paroquial 21.01.1986 – Dourados, MS – vigário da casa e vigário paroquial 24.09.1990 – Angola – missionário 05.12.1995 – vigário paroquial e vigário da casa 29.11.1997 – Barra, BA – a serviço da Diocese, em Ipupiara, BA 10.11.1999 – Ituporanga – vigário paroquial 16.05.2001 – Chopinzinho – vigário paroquial 07.11.2003 – Balneário Camboriú – vigário da casa e vigário paroquial 20.12.2006 – Bauru – vigário paroquial 19.12.2007 – Blumenau – vigário paroquial 29.01.2009 – Duque de Caxias – Imbariê – vigário paroquial 17.12.2009 – Chopinzinho – vigário paroquial 12.12.2012 – Curitibanos – vigário paroquial 12.12.2013 – Viana – Angola – vigário paroquial set/2015 – São Paulo – São Francisco – tratamento de saúde

Falecimento tas para a sobrevivência em Angola. De acordo com o frade, nas aldeias, que recebiam a visita esporádica de missionários, eram estes homens que mantinham acesa entre o povo a chama da fé. Os catequistas organizavam os trabalhos pastorais e também conduziam as celebrações de domingo. Com frequência se entusiasmavam e as celebrações ficavam longas, fato do qual Frei José se recorda com certo humor. Frei José e os outros dois missionários permaneceram em Malange até o fim de agosto de 1992, quando foram transferidos para a cidade de Kibala, na Província do Kwanza Sul, a convite do então bispo da Diocese de Sumbe, Dom Zacarias. Eles ocuparam as instalações dos Padres Espiritanos, que haviam deixado a área por conta da guerra. O início da Missão em Kibala foi no dia 31 de agosto de 1992. Os trabalhos principais eram a assistência às Irmãs Clarissas, que na época moravam naquela cidade, e o acompanhamento das aldeias. As dificuldades eram muitas, principalmente por conta da guerra. Num momento de grande tensão, Frei José relata que os frades chegaram a ver a morte de perto: “O mais triste foi quando invadiram nossa casa e nos levaram presos para o Centro de Kibala. Praticamente íamos ser fuzilados. Entraram em nossa casa, perguntaram quem eu era e logo me deram um bofetão no rosto que quebrou meus óculos. Fui me defender com o cotovelo e levei outro tapa”, conta Frei José, segundo o qual, naquele dia, os frades só não foram mortos porque um dos chefes da Unita os reconheceu. Esta ofensiva contra os frades ocorreu por dois motivos: o primeiro porque naquela ocasião Kibala estava sob o domínio da Unita e alguns helicópteros do governo pousaram no terreno da missão, o que levou os

dominadores da cidade a imaginarem que os frades estivessem dando apoio às tropas rivais. E a outra motivação foi o fato de os frades abrigarem alguns meninos e jovens, pois, a partir dos 11 anos, eles eram pegos à força para trabalhar pelos combatentes. Conseguir comida também era uma verdadeira aventura. O pouco que obtínhamos de alimentos era através de Frei Plínio Gande da Silva que, a partir da troca de peças de roupa, cartelas de remédio ou outros artigos que levava até a praça (espécie de mercado informal a céu aberto), conseguia algo para se comer. Outra grande dificuldade era para se comunicar. Os frades em Kibala ficaram mais de um ano sem nenhuma comunicação com os demais confrades. A única maneira que tinham para se informar era um pequeno radinho improvisado que funcionava movido a energia gerada por uma roda de bicicleta. “Nós improvisamos um gerador com uma bicicleta que colocamos de cabeça para baixo. Enchemos o pneu com pedaços de pano velho e ali girávamos para ter energia para o radinho e assim conseguíamos ficar minimamente informados. Frei José retornou de Kibala para o Brasil em 1995. Em 1998, depois de Frei Valdir Nunes Ribeiro sofrer um atentado, os frades se retiraram de lá, retornando àquela localidade em 2008, bem depois do fim da guerra. Perguntado sobre o que o levou a querer retornar à missão às vésperas de completar 80 anos, Frei José apontou dois motivos: o carinho que ele adquiriu pela missão na primeira vez em que lá esteve e também a curiosidade sobre como estaria o país depois do fim da guerra. Frei José dizia que se sentia feliz nesta nova etapa na missão, mas retornou devido ao câncer diagnosticado na cabeça, que o levou a uma cirurgia delicada. R.I.P. Agosto / 2017 [Comunicações]

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Falecimento DEPOIMENTOS

H

á dois anos, estávamos em Luanda, preparando-nos para a grande celebração dos 25 anos da Missão. Ele estava todo faceiro, mas já dava sinais de que havia algo errado, como também fomos alertados pelas irmãs. A gente percebia que quando andava precisava se segurar na mureta. Mas tem uma cena que gostaria de partilhar. Frei José estava sentado na cadeira e ao seu lado o acompanhava um cãozinho preto, que o pessoal chamava de “cachorrinho malandro”, mas tinha o nome de Rex (foto acima). Esse cãozinho não se desgrudava de Frei José. Olhava triste para ele. Frei José ameaçava levantar, ele também levantava; Frei José dava um passo, ele também, como que pressentindo que algo estava errado com o “seu amigo”. De fato, isso foi numa quinta-feira. Os freis o levaram ao hospital e foi constatado um tumor no cérebro. No domingo, quando estávamos celebrando a grande festa dos 25 anos da presença missionária em Angola, Frei José nos mandou um bilhetinho do hospital. “Eu gostaria muito de estar presente, mas eu sei que vocês estão todos presentes comigo também”. A partir daí ele retornou a São Paulo e começou o seu longo tratamento. Essas cenas simples são características desse homem de Deus, desse homem

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inquieto. Inquieto no bom sentido. Quantas vezes ele não me disse: “Frei, já estou quase com saúde e já pode pensar num lugar para onde me mandar”, desejando e pensando em um novo desafio. Eu creio que ele não morreria feliz se não pudesse retornar a Angola depois de ter passado por anos difíceis durante a guerra civil. O grande desejo foi retornar aos lugares onde ele viveu na primeira vez. Assim era esse homem inquieto, missionário e sempre disposto. Que Deus o tenha na sua glória! Frei Fidêncio Vanboemmel

F

rei José estava muito bem preparado para este dia. Lúcido, principalmente no último mês, ele se mostrava sempre muito sereno e não deixava de brincar. Ontem, no almoço, ele estranhou que nós, frades, estávamos quietos. Assim foi até os últimos momentos. São Francisco diz que quando um frade morre, depois do enterro, a sua fraternidade pode se reunir para festejar, porque um deles já está no céu. Hoje, um irmão muito querido está lá com Deus! Frei Mário Tagliari

F

rei José foi aqui, em casa, um testemunho de oração. Não muitas vezes, chegando ou partindo das viagens, encontrava ele na capela rezando seu Terço. Outro fato que destaco de Frei José é um espírito de trabalho incansável. Mas um traba-

lho que, como pedia São Francisco, era mantido com oração e devoção. Quando eu estava aqui em casa e ajudava nas confissões, ele sempre aparecia se oferecendo para ajudar. Se deixasse, ele tomava para si todas as confissões e missas. Na enfermidade, Frei José trouxe um espírito de união maior para a nossa fraternidade. Só tenho a agradecer a esse incansável missionário que nos últimos dias, na cama, continuou nos dando um verdadeiro testemunho de doação, de alguém que não se entregou. Frei José, obrigado pelo seu testemunho e que Deus o acolha! Frei Diego Atalino de Melo

D

iz o filósofo Michel de Montaigne: “Se fosse um escritor, anotaria as mortes que mais me impressionaram e as comentaria, pois quem ensinasse os homens a morrer os ensinaria a viver” (Ensaio número XX). E eu percebo que esta ideia é um tanto ousada e verdadeira, quando a realidade da morte se apresenta para nós muito próxima, pela passagem de pessoas que amamos. Por isso, quero prestar minha homenagem ao confrade que hoje faleceu, colocando um pouquinho de como foi a minha convivência com ele. Creio que a vida dele me ensina a morrer, pois seu exemplo ensina a viver. Existem pessoas que não precisam de muito tempo para conquistar o nosso coração. Um olhar, uma palavra, um gesto e a gente percebe que daquele ser humano emana algo de grandioso e maravilhoso. Um convívio pequeno com Frei José Zanchet, mesmo entre as atividades e os trabalhos com a juventude me faziam experimentar o que é ser jovem, mesmo com os cabelos brancos. Eu encontrava a juventude nas nossas fraternidades e paróquias,


Falecimento e em casa encontrava um jovem com “setenta e tantos anos”. Um homem teimoso pelo seu desejo de servir. Um homem enfraquecido pela doença mas forte no testemunho de vida franciscana. Mesmo muito debilitado, insistia em trabalhar, confessar, acolher. As pernas para o alto no confessionário não eram um grande problema para ele. Um pedido de desculpas por estar assim por causa da doença e continuava a sua missão. Uma troca de olhares ali, um sorriso aqui. Às vezes eu puxava aquele canto “José, feliz esposo…” para provocar o seu nome e ele continuava com voz imponente e forte, não se importando com as minhas bobagens. Eu pensava nos lugares que aquela voz ecoou no anúncio do Evangelho e da vida franciscana nas suas intensas atividades como missionário. Eu sou o mais novo na fraternidade do Largo São Francisco, mas ele, sem dúvida, era um banho de juventude em mim. O calor de sua simpatia, simplicidade e teimosia em servir me queima para ser frade menor. Frei José, com sua vida e com seu testemunho, e hoje, com sua passagem, está me ensinando mais uma vez a viver. Não foi preciso muito tempo de convivência para eu me encantar por esse cara. Mas tenho certeza que seu bom exemplo será um brilho em toda a minha vida. A sua caminhada franciscana comigo nesse tempinho desde o começo do ano, por si só, foi uma excelente animação vocacional. O testemunho de vida de uns, somado com a certeza da morte, faz outros viverem mais intensamente! Que Deus conforte os familiares dele e a nossa fraternidade. Frei Gabriel Dellandrea

FREI ANTÔNIO ALEXANDRE NADER 17.11.1928

N

osso confrade Frei Antônio Alexandre Nader faleceu na manhã do dia 13 de julho, às 8h10, na Hospital São Francisco na Providência de Deus, antigo Hospital da VOT, no Rio de Janeiro.

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Como havia sido divulgado em boletim, ele tinha uma doença pulmonar grave que se complicou com uma pneumonia e evoluiu para insuficiência respiratória, cardíaca e infecção generalizada, e, por fim, falência múltipla de órgãos. O corAgosto / 2017 [Comunicações]

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Falecimento Dados pessoais, formação e atividades Nascimento: 17.11.1928 (88 anos de idade) . Natural de Vitória, ES. Vestição: 12.04.1954 - Rodeio Primeira Profissão: 13.04.1955 (62 anos de Vida Franciscana) Profissão Solene: 15.04.1958 Ordenação Presbiteral: 12.12.1959 (57 anos de Sacerdócio) 1955 – 1956 – Curitiba – estudos de Filosofia; 1957 – 1960 – Petrópolis – estudos de Teologia; 1961 – Rio de Janeiro – curso de Pastoral; 19.01.1962 – Luzerna – vigário paroquial; 30.07.1962 – Lages – professor e vicediretor do Colégio; 15.01.1965 – Lages – ecônomo do Colégio; 13.01.1968 – eleito Definidor e nomeado diretor do Colégio; 18.01.1971 – reeleito Definidor; 16.12.1973 – São Paulo – São Francisco – eleito Ministro Provincial; 04.12.1979 – São Sebastião – guardião e vigário paroquial; 14.12.1982 – Petrópolis – vice-diretor da Editora Vozes; 10.01.1995 – Rio de Janeiro – antiga VOT – diretor do imobiliário e assistente do Comissário Frei Eckart; em 20.12.2006: coordenador da Fraternidade; 09.04.2011 – Rio de Janeiro – Santo Antônio – Atendente Conventual;

po de Frei Antônio foi velado na igreja do Convento Santo Antônio, onde, às 10 horas do dia 14 de julho foi celebrada a Missa de Exéquias, depois da qual seu corpo foi sepultado no mausoléu do próprio Convento.

O Frade Menor

“Ser radical na entrega ao Senhor e tentar imitar São Francisco em tudo: na doação, na alegria, na esperança, na caridade, ser bom e humano, delicado e generoso até o esgotamento. Tentar sempre ser um homem de Deus e uma presença viva do mundo invisível que anunciamos. Em resumo, praticar em

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todos os momentos a oração de São Francisco: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz...”. Foi com esse pensamento que o jovem capixaba Antônio Nader iniciava a formação para ingressar na vida religiosa franciscana aos 24 anos. Nascido numa família muito religiosa, aos 16 anos, Antônio já era congregado mariano, frequentando a Congregação Mariana da Catedral de Vitória. Foi eleito presidente desta entidade e, aos 22 anos, presidente da Federação Mariana do Estado do Espírito Santo. Promoveu vários encontros estaduais com a orientação do Diretor Geral da entidade. Participava de todos os retiros mensais e anuais promovidos pela Congregação Mariana. Foi exatamente em um desses retiros, quando tinha 18 anos, que sentiu o convite do Senhor: “Vem e segue-me”. “Fui animado por quatro sacerdotes com os quais conversava longamente e pedia orientação. Senti o chamado porque amava muito a Cristo e as almas e via a falta de pastores dedicados, e tantas almas abandonadas, sobretudo as crianças e os jovens. Senti-me chamado e obedeci à voz do Senhor”, revelou Frei Nader. Essa vocação também, para ele, nasceu no seio de sua família, que é muita religiosa. “Vivi numa família unida, equilibrada, onde havia muito amor, ternura, carinho. Tudo era comum: refeições, orações, lazer, trabalho, pois tínhamos uma casa comercial que eu dirigia como titular (era formado em Contabilidade)”, contou Frei Nader, que era o quinto filho de Alexandre José Nader e Brigida Abdala Nader. Tinha três irmãs e quatro irmãos (o pai e três irmãos nasceram no Líbano). Com o Ensino Médio completo, Frei Antônio foi encaminhado ao Seminário de Agudos em 1953, e

vestiu o hábito franciscano em 1954. “Ingressei na vida religiosa para ser um frade menor, simples, pobre, desprendido de tudo e de todos e estar a serviço dos irmãos. Ser alegria e esperança para todos”, revelou. Prático, Frei Antônio dizia que tinha limitações intelectuais e que gostava de trabalhos administrativos. Assim ele se autodefinia: “É difícil falar de mim mesmo, mas julgo ser tranquilo, equilibrado. Controlo bem minhas emoções. Tento ser coerente e reto em minha vida, mas tenho minhas fraquezas. Tento ser organizado e disciplinado. Sou de caráter forte e exigente comigo mesmo e com os outros. Gosto de causar alegria aos irmãos e dificilmente ofendo uma pessoa conscientemente”. Desde a sua ordenação sacerdotal, teve uma vida intensa nas Paróquias e na área educacional, sendo diretor do Colégio Diocesano de Lages (SC) por 12 anos. Quando foi eleito Provincial, em 1973, procurou observar quatro pontos essenciais: vida fraterna, vida apostólica, vida de oração e promoção social em toda a Província. Para ele, sua eleição foi uma das maiores emoções que viveu na vida apostólica. “Eu, pobre e ignorante, fui escolhido provincial de uma família tão grande e importante no Brasil”. Até 1979 exerceu seu mandato e depois, entre tantos trabalhos, dedicou-se à Editora Vozes e ao Hospital da Venerável Ordem Terceira no Rio de Janeiro. “Julgo que o principal é fazer tudo bem onde fomos colocados, onde a obediência nos mandou. Pregar sempre como Francisco, com entusiasmo, com alegria e esperança, mostrando como Cristo é bom. Nunca esmorecer no trabalho apostólico e sempre renovar nossa ação”. Assim Frei Antônio pautou sua vida. R.I.P.


ORAÇÃO VOCACIONAL FRANCISCANA SENHOR, FAZEI-NOS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ! Juntos com Clara e Francisco, amigos de Deus, Queremos todos a Vós agradecer, Pai Altíssimo, Pelo dom da vocação que a nós oferecestes Fazei-nos instrumentos de verdadeira obediência Da santa e reverente obediência ao serviço do Reino, Escutando a voz do Cristo, Bom Senhor, Que a cada dia nos diz: “Vem e segue-me” Fazei-nos instrumentos de verdadeira castidade Da santa e pura castidade, sinal fecundo do amor, Contemplando cada criatura como dom divino, Dirigindo nosso ser para a pureza da vida Fazei-nos instrumentos de verdadeira pobreza Da santa e humilde pobreza do Cristo pobrezinho. Que despojados dos bens e ricos para Deus, Alcancemos dos céus a graça dos dons celestiais SENHOR, FAZEI-NOS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ! Com a bênção e proteção de Clara e Francisco de Assis, Aumentai em nós o vigor da vocação um dia recebida E que o nosso “Sim” seja pleno por toda a vida Frei Carlos Lúcio Nunes Corrêa


Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (*) As alterações e acréscimos estão destacados

AGOSTO 03 a 06 14 a 18 22 a 25 25 e 26 28 28 e 29 29 a 01

Capítulo das Esteiras da CFFB: por ocasião dos 800 anos do Perdão de Assis, 50 anos da Criação da Conferência da Família Franciscana do Brasil – CFFB; Retiro e reunião do Definitório Provincial (Guaratinguetá); CFMB: encontro de ecônomos (Caldas Novas – GO); Encontro do Regional Baixada e Serra Fluminense (ITF); Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (Rocinha); Encontro do Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí (Lages); Retiro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (S. Antônio – Rio de Janeiro);

SETEMBRO 01 01 a 09 02 e 03 03 a 10 04 04 04 e 05 06 a 08 07 a 10 10 a 12 11 a 13 18 18 18 18 e 19 18 a 22 21 22 23 24 25 25 26 e 27 30

Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação; Encontro Continental JPIC (Anápolis); Coleta anual pela evangelização na Amazônia; Congresso Continental para a Formação e os Estudos (São Paulo); Dia da Amazônia; Encontro do Regional de Pato Branco; Encontro Regional do Leste Catarinense (Florianópolis); Retiro do Regional da Baixada e Serra Fluminense (Sagrado - Petrópolis); Encontro Interobediencial do Irmãos Leigos Franciscanos (Vila Velha); Encontro Regional do Contestado; Reunião da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento (Agudos); Encontro do Regional de Curitiba (S. Boaventura); Encontro do Regional do Vale do Paraíba (Guará Fazenda); Encontro do Regional do Espírito Santo (Convento da Penha); Encontro do Regional do Contestado; CFMB: Assembleia (São Luís – MA); Reunião dos Formadores (Petrópolis); Conselho da Formação Inicial (Petrópolis); Conselho da Formação (Petrópolis); Profissão Solene (Petrópolis); Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Gaspar); Encontro do Regional São Paulo (Largo São Francisco); Assembleia da Frente da Educação (Bragança Paulista); Ordenação Presbiteral de Frei Alan Maia de França Victor (Bangu – Rio de Janeiro);

OUTUBRO 09 a 13 16 e 17 16 a 19 16 a 19

Curso de Franciscanismo (Rondinha); Retiro do Regional do Vale do Itajaí (Vila Itoupava); Retiro do Regional do Leste Catarinense (Angelina); Retiro dos Regionais do Contestado e de Pato Branco (Curitibanos);

16 a 19 17 a 19 20 a 22 23 e 24 24 e 25 24 a 26

Encontro Regional do Leste Catarinense (Retiro Anual, Angelina); Reunião do Definitório Provincial (São Paulo); Estágio Vocacional (Ituporanga) Encontro do Regional do Leste Catarinense (Florianópolis); Encontro Provincial da Frente de Comunicação (Rondinha); Semana Teológica (Petrópolis);

NOVEMBRO 02 a 04 02 a 05 06 a 09 13 15 20 20 21 e 22 28 a 30 29

Retiro do Regional de Curitiba (Rondinha); Estágio Vocacional (Guaratinguetá); Retiro dos Regionais do Estado de São Paulo (Agudos); Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (Niterói); Encontro do Regional Baixada e Serra Fluminense – recreativo; Encontro do Regional do Vale do Itajaí - recreativo (Vila Itoupava); Encontro do Regional do Vale do Paraíba recreativo (São Sebastião); Reunião do Conselho do Secretariado de Evangelização (Vila Clementino); Reunião do Definitório Provincial; Reunião do Definitório com os coordenadores dos Regionais;

DEZEMBRO 01 e 02 02 a 04 04 04 e 05 04 e 05 13 18 e 19

Celebração dos Jubileus; Encontro do Regional de Curitiba-Recreativo (Caiobá); Encontro do Regional São Paulo (Bragança Paulista); Encontro do Regional de Pato Branco; Encontro do Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí – recreativo; Encontro do Regional de Curitiba - recreativo (Caiobá); Encontro Regional do Leste Catarinense recreativo (Santo Amaro da Imperatriz);

2018 Janeiro

08 15 17 a 21

Profissão dos noviços; Vestição dos noviços; Missões Franciscanas da Juventude (Agudos e Bauru - SP);

JULHO 19 a 22

Encontro Nacional da Juventude (Vila Velha - ES);

novembro 12 a 21

Capítulo Provincial;


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