Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
agosto de 2019 • ANO LXVII • N o 06
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Profetas do diálogo e do respeito
SUMÁRIO Mensagem do Governo Provincial .......................................................... 503 FORMAÇÃO PERMANENTE
“Globalização da indiferença”, Papa Francisco......................................................................... 505 Artigo “Disposição psicológica para o diálogo: algumas reflexões”, de Mirna Koda................................................................................................. 506 OFM: Capítulo Under Ten..................................................................................................................... 510 Palestra do Ministro Geral Frei Michael Perry........................................................................... 512
FORMAÇÃO E ESTUDOS
Frei José Morais Cambolo é ordenado diácono em Petrópolis.................................... 518 Frei João Bunga participa de curso de formação no Quênia......................................... 522 Angola: Frades participam do 1º Encontro de Juniores do ano.................................. 523
SAV
Ituporanga acolhe 28 jovens em encontro vocacional..................................................... 524 Vocação, juventude e missão no Encontro de Petrópolis................................................ 525
evangelização
ESPECIAL - Missões Franciscanas da Juventude................................................................. 526
FRATERNIDADES
A grande festa do Padroeiro de Gaspar....................................................................................... 553 SÉRIE NOSSOS FRADES: Frei Odorico Decker.................................................................... 556 Sagrado celebra seu Padroeiro......................................................................................................... 560 Frei Abel: 98 anos; Frei Policarpo: 95 anos.................................................................................. 562 Encontro do Regional de Agudos................................................................................................... 563 São João de Meriti: Frei Medella pede cuidado integral pela vida............................. 564 Festa da Penha: feriado estadual..................................................................................................... 564 Seminário Frei Galvão promove 7ª Festa Caipira................................................................... 565
DEFINITÓRIO PROVINCIAL
Notícias da Reunião de 02 a 04 de julho.................................................................................... 566
CFMB
Ministro Geral fica um mês no Brasil............................................................................................. 575 Frei César: novo presidente da CFMB........................................................................................... 576
CFFB
Fórum Franciscano para o Sínodo Pan-Amazônico............................................................. 578
FALECIMENTO
Falece Frei Anselmo München.......................................................................................................... 580
NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES
Ir. Maria Inês é reeleita presidente da CRB................................................................................. 582 Barco-Hospital Papa Francisco: “Um milagre”, afirma D. Bernardo.............................. 582
AGENDA .................................................................................................................................................. 584
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | São Paulo - SP www.franciscanos.org.br | ofmimac@franciscanos.org.br
mensagem
“Um pouco mais de claridade à Igreja e à sociedade de hoje” Caros confrades e demais irmãs e irmãos, O Senhor vos dê a Paz!
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Evangelização é a razão de ser de nossa Ordem, e consiste em deixar-se impregnar pelos valores do Evangelho, ao mesmo tempo, procurando comunicá-lo com nossa vida e nossa boca. O Evangelho é o precioso tesouro que a Igreja herdou do Mestre. E não foram poucos os homens e as mulheres que se empenharam no cumprimento fiel da missão. Dentre estes se destacam Francisco e Clara de Assis. Em seu ideal apaixonado e apaixonante nos provocam a tomarmos, também nós, um lugar nesta grande história de seguimento radical dos passos do Cristo. Em 1253, no dia 11 de Agosto, Clara deixou este mundo como um dom precioso a todo o Povo de Deus. Seu carisma marcou a vida de uma multidão de fiéis, não só entre suas irmãs ou dentro da Ordem Franciscana, mas desde papas e reis até os mais simples e pequeninos que conseguiram ver nela, como num espelho, o reflexo de Jesus Cristo, pobre e crucificado. A vida de Clara talvez seja pouco conhecida porque não foi vivida com fatos grandiosos ou grandes realizações. O impressionante nela é a qualidade do amor vivido diariamente numa relação direta com Deus: tempo, espaço, trabalho, repouso, silêncio, palavra. E a escuta atenta da Palavra leva-a a uma vivência muito concreta de seus valores. Como Francisco, apaixona-se pela pobreza e faz dela o itinerário de sua vida. Luta para alcançar o “Privilégio da Pobreza”, ou seja, o direito de não ter propriedades. Não queria que seus mosteiros tivessem formas seguras de manutenção. Viver na precariedade, sentir falta até das coisas necessárias, faz parte desta aventura evangélica. Clara tornou-se mestra da nossa rica espiritualidade franciscana com seus poucos escritos, mas muito mais com seu exemplo vigoroso. Ela é uma expressão da vivência raagosto de 2019 – comunicações
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MENSAGEM
Frades da Conferência do Brasil no Capítulo das Esteiras Under Ten em Taizé
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dical do Evangelho: vivê-lo e nada mais. Mas, não faz isso com dureza. Coloca os valores essenciais do cristianismo no modo cotidiano, simples e fraterno de viver. Sua vida é uma proposta evidente para nós de que um mundo diferente é possível. Somente seremos cristãos e franciscanos autênticos se pautarmos nossa vida por esta alternativa, se vivermos na alegria de quem vive com o Senhor. Desta forma, quem sabe, não estaremos abrindo as nossas fraternidades, as nossas famílias à ação de Deus e, quem sabe não estaremos permitindo que esta grande Santa traga um pouco mais de claridade à Igreja e à sociedade de hoje. Queremos estar em comunhão com cada mosteiro das nossas irmãs, as damas pobres, as filhas de Clara e, a partir de nossas queridas Clarissas, chegar aos milhares de seguidores do ideal franciscano, a grande Família Franciscana, presente em todos os nossos campos de missão e não só lá. Vai muito além de nossas fronteiras. Todos eles e elas também filhos de Clara de Assis. Nesta sintonia universal nos alegramos com mais uma edição das “Missões Franciscanas da Juventude”, desta vez na cidade do Rio de Janeiro e arredores. Nos enche de esperança e alegria ver esta animada juventude abraçando com entusiasmo o nosso carisma e a nossa missão, de forma muito lúcida e atenta aos sinais que Deus nos aponta no mundo de hoje.
Assim também os frades ainda jovens de toda a Ordem, chamados under ten, foram à França, no espírito de Capítulo das Esteiras, nas fontes da mística de Taizé. Nossa Província foi muito bem representada por três irmãos que, agora, vão transmitir a nós a riqueza desta experiência num Capítulo Provincial Under Ten. Os frades menores do Brasil, representando os vários serviços da formação e da evangelização, além dos ministros, reuniram-se em dias bem gelados em Daltro Filho, RS, mas foram abrasados pelo calor fraterno. Refletimos sobre um grande desafio para toda a Ordem, que é a Interprovincialidade. Somos provocados, por nossas necessidades e por nosso espírito, a abrir-nos e buscarmos, na formação e na missão, caminhos de integração e colaboração. Sigamos em frente com os olhos fixos no nosso ponto de partida, ou seja, as nossas origens, sempre tão atuais porque fundadas no Evangelho, conhecendo e reconhecendo a nossa vocação, de tornar presente hoje a paixão clareana de conformar-se ao Cristo. Acompanhe-nos, também, a bênção dos Seráficos Pais, Francisco e Clara! O Senhor esteja sempre convosco e vós estejais com ele sempre e em todo o lugar! Amém.
Frei César Külkamp
Frei Gustavo Medella
Ministro Provincial
Vigário Provincial
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Tristeza do Papa pela morte de pai e filha salvadorenhos
A foto acima foi feia por uma jornalista na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Mostra os corpos de um pai e sua filha que procuravam abrigo nos Estados Unidos e, em vez disso, morreram no Rio Grande. Ali, nas margens do rio, em 2016, o Papa Francisco gritou: “Nunca mais morte e exploração!”
GLOBALIZAÇÃO DA INDIFERENÇA As sociedades economicamente mais avançadas tendem, no seu seio, para um acentuado individualismo que, associado à mentalidade utilitarista e multiplicado pela rede mediática, gera a «globalização da indiferença». Neste cenário, os migrantes, os refugiados, os desalojados e as vítimas do tráfico de seres humanos aparecem como os sujeitos emblemáticos da exclusão, porque, além dos incômodos inerentes à sua condição, acabam muitas vezes alvo de juízos negativos que os consideram como causa dos males sociais. A atitude para com eles constitui a campainha de alarme que avisa do declínio moral em que se incorre, se se continua a dar espaço à cultura do descarte. Com efeito, por este caminho, cada indivíduo que não se enquadra nos cânones do bem-estar físico, psíquico e social fica em risco de marginalização e exclusão. Por isso, a presença dos migrantes e refugiados – como a das pessoas vulneráveis em geral – constitui, hoje, um convite a recuperar algumas dimensões essenciais da nossa existência cristã e da nossa humanidade, que correm o risco de entorpecimento num teor de vida rico de comodidades. Aqui está a razão por que «não se trata apenas de migrantes», ou seja, quando nos interessamos por eles, interessamo-nos também por nós, por todos; cuidando deles, todos crescemos; escutando-os, damos voz também àquela parte de nós mesmos que talvez mantenhamos escondida por não ser bem vista hoje. PAPA FRANCISCO Da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2019 agosto de 2019 – comunicações
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Formação permanente
O encontro de Francisco com o sultão
Mirna Yamazato Koda
Disposição psicológica para o diálogo: algumas reflexões
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alar sobre diálogo num contexto atual caracterizado pela polarização de posições e de disputa pela verdade, me parece uma tarefa necessária para encontramos caminhos alternativos num cotidiano marcado pela violência, em maior ou menor grau pelos insultos, desrespeito e intolerância. Quando recebi o convite para refletir sobre o tema: “Disposição psicológica para o diálogo”, pensei na indagação que ele coloca: haveria tendências psicológicas nos sujeitos que facilitariam o exercício do diálogo? Em meu percurso como psicóloga social, pen-
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sar características psicológicas do ser humano sempre passa por pensar seu grupo e seu contexto social mais amplo. Assim, para se falar sobre uma disposição psicológica ao diálogo, é necessário considerarmos os processos de subjetivação na atualidade e que formas de subjetividade estão sendo privilegiadas. Tal discussão visa refletir sobre as problemáticas que temos com relação ao diálogo (que em última instância geram processos de exercício da violência), buscando pensar caminhos para a superação dessas dificuldades, possíveis pontes de solidariedade entre os seres humanos.
Formação permanente
Em minhas aulas, ao trabalhar alguns conteúdos, gosto de buscar imagens na internet a partir de uma palavra chave, tanto para ilustrar o material didático como para ter uma ideia das representações sociais acerca de tal questão. Ao jogar a palavra “diálogo” na página de busca de imagens, surgem vários desenhos de duas ou mais pessoas falando. Pois é, apenas falando... Mesmo considerando as limitações de um desenho ao representar uma ideia, acho que essas imagens são ilustrativas daquilo que me proponho a refletir aqui. Observamos, no dia a dia de nossas relações, pessoas muito mais falando do que escutando, conversas que se tornam um conjunto de monólogos, pessoas que, mais do que dialogar e refletir, buscam impor sua verdade no afã de terem razão e vencerem a discussão sobre o outro. Gosto daquele conhecido texto de Rubem Alves (2011) sobre Escutatória: Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. (...) Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.” Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. (...) Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos... Quando era adolescente, me lembro de ir assistir a alguns monólogos nos teatros de São Paulo. Tinha virado moda atores mais famo-
sos fazerem monólogos. Hoje em dia vemos isso a todo momento nos shows de stand up. Pessoas falam sozinhas com personagem “criados” pelo protagonista. Uma boa ilustração dos relacionamentos atuais, numa sociedade em que o que vale é a imagem e o reconhecimento que obtemos, o outro vira plateia ou escada para um triunfo pessoal. Acabamos por falar e nos relacionar com projeções de nós mesmos, mas não com o outro real. A capacidade de diálogo está muito além da aptidão intelectual de fala e de argumentação dos sujeitos. Ela implica nessa arte que Alberto Caeiro coloca de fazer silêncio dentro da alma, na capacidade de escuta e de silenciar por instantes nossos desejos e nosso ego. Assim, podemos construir encontros mais efetivos, compreender o outro e suas questões. Em uma ocasião, oferecemos um curso de capacitação em Saúde Mental para trabalhadores da Rede de Saúde de diversos municípios do interior paulista. Uma situação que afligia vários profissionais eram as angústias dos pacientes que se traduziam em choro e uma necessidade de falar sobre seus próprios sofrimentos. Os profissionais se sentiam impotentes por não terem um procedimento imediato que desse uma resposta às dificuldades dessas pessoas. Sugerimos que eles escutassem aquilo que esses pacientes tinham a falar. Esses profissionais retornaram nas próximas semanas do curso surpresos com a percepção de que a escuta atenta e sem julgamentos ocasionava um alívio para esses sujeitos em sofrimento. A partir disso, era possível entender melhor a situação vivida e daí delinear ações a serem efetuadas. A fala daqueles era: “Eu só escutei e ele(a) se sentiu melhor, mais aliviado!”. O
escutar parece ser desqualificado como algo passivo e secundário perante o lugar da fala. Porém, onde essas questões se ancoram e encontram sua base de constituição? A capacidade de pensamento (consciência) e comunicação (linguagem) são aspectos muito próprios do ser humano e o diferenciam de outros animais. O ser humano se constitui a partir de sua rede de relações inserida em um contexto social específico. É a partir de suas relações iniciais e da linguagem que a criança vai introjetando aspectos do mundo externo e constituindo assim seu mundo interno. Isso tem continuidade ao longo de toda vida da pessoa. O psicanalista Renè Kaës (2012) afirma que todo sujeito é sujeito do grupo, no sentido de que o grupo (e consequentemente as instituições e a sociedade) serve como apoio psíquico para a constituição do sujeito. No que diz respeito à conjuntura macrossocial, vivemos atualmente sob a égide do discurso neoliberal e da globalização da economia. Nesse cenário, a questão econômica suplanta fronteiras nacionais e coloca o “deus mercado” acima de questões nacionais e sociais. O contexto cultural é pautado por dois grandes imperativos: a competitividade e o consumo. Desse modo, impulsionados por esses dogmas, vivemos um tempo em que nada é duradouro, tudo é efêmero (Santos, 2002). O sujeito é lançado constantemente no campo do incerto e da falta: incertezas com relação a seu futuro, a seu emprego, suas relações afetivas, a sua segurança. Se tudo pode se tornar objeto de consumo, também pode se tornar descartável após seu uso. As pessoas vivem sempre o risco iminente da desqualificação e da segregação, elas podem se tornar agosto de 2019 – comunicações
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obsoletas instantaneamente. Desse modo, o sentimento de desamparo sempre está à espreita. O paradigma da competitividade e consumo está na base de um ethos que se impõe às relações sociais e interpessoais influenciando a produção de subjetividade contemporânea. A competitividade é fonte de novas formas de totalitarismos e segregações. O que vale é vencer. Levada às suas últimas consequências, ela provoca um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência (Santos, 2002). Assim, a responsabilidade perante o outro e a humanidade se esvai. Esse cenário favorece o individualismo, enfraquecendo a ideia de solidariedade. Esse fenômeno se multiplica na internet e na mídia em geral. A expressão de uma posição prescinde do respeito pelo outro, dando lugar para toda forma de ofensas. Numa sociedade que valoriza o espetacular, o sujeito se reduz a máscara, a imagem. Não só o indivíduo se reduz a uma persona, como também o outro que, limitado a um estereótipo, um rótulo, torna-se mais facilmente alvo dos mais diversos tipos de preconceitos e intolerâncias. Presenciamos um momento histórico onde a subjetividade assume uma configuração marcadamente estetizante, em que o olhar do outro no campo social e midiático ocupa uma posição importante em sua economia psíquica. Desse modo, os laços sociais se pautam pelo espetáculo e o culto ao eu ganha uma importância sem precedentes (Birman, 2016). Observamos aí como consequência um empobrecimento da capacidade de pensamento, do campo simbólico e da linguagem. O campo de discussão fica minado por opiniões pessoais ou de grupos que muitas
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vezes negam o conhecimento científico coletivamente construído ao longo de séculos. Nesse contexto, o que vale mais é quem grita mais alto e faz mais ofensas (quem “lacra” a discussão). Nesse processo, produzimos sujeitos solitários, cada vez mais voltados para dentro de si, capturados por suas imagens nos espelhos fornecidos pelo mundo do consumo. Vivemos o paradoxo de estarmos solitários no meio da multidão. Indivíduos alienados da história, do tempo, da memória (Neves 1997). Presenciamos aí um grave processo de infantilização do ser humano. Nos encontramos como seres autocentrados e alienados, presos em nossas necessidades mais básicas de amor e reconhecimento, aos imperativos da busca da satisfação e do prazer imediatos. Nesse cenário, o exercício da solidariedade e da alteridade tornam-se vazios de sentido. O sujeito perde em interioridade, densidade e profundidade. Todo esse cenário afeta a disponibilidade para o diálogo das pessoas que querem a qualquer custo vencer o debate. Os indivíduos muitas vezes se mostram intolerantes à frustração e a assumir os próprios erros e equívocos, por macular uma imagem de pseudoperfeição que eles fantasiosamente construíram para si. Isso os mantêm em uma posição regredida, evitando situações que fazem parte da vida e que são necessárias para qualquer processo de crescimento. Observamos na contemporaneidade a dificuldade com relação ao diálogo nos mais diferentes níveis, do micro ao macrossocial, das relações cotidianas entre as pessoas ao campo das políticas nacionais e internacionais. Dentro dessa lógica vamos construindo grandes e pe-
quenos muros, seguindo a lógica de que se não está comigo está contra mim. Quanto mais desamparado, mais o indivíduo se apega a verdades e a certezas. Mais aterrorizador vai parecer o rival a ser combatido. Portador das projeções do mal que não pode ser reconhecido em si, sempre haverá mais à frente um novo inimigo a ser combatido. Voltando à questão inicial: haveria tendências psicológicas nos sujeitos que facilitam o exercício do diálogo? A abertura a um efetivo diálogo implica em qualidades um pouco empoeiradas nas prateleiras do “mercado subjetivo” como empatia, capacidade de escuta, humildade. No entanto, elas devem estar ligadas a uma transformação mais profunda e paradigmática no sujeito. O exercício da alteridade não é algo fácil, exige crescimento pessoal e consciência de si. Observamos alguns métodos que têm buscado melhorar a capacidade de diálogo, como a comunicação não violenta e a mediação de conflitos. Ações de efeitos interessantes num mundo com tantas tensões. Porém, o que propomos aqui é que, além das técnicas, é necessário repensarmos nossas lógicas. Não apenas incorporar novas práticas a paradigmas antigos. Como diz Neves (1997): A transformação do existente só se torna possível através da ruptura com o modo de subjetivação hegemônico, ou seja, tal transformação se dá com um operar revoluções permanentes. Rupturas locais, provisórias, potencialmente instituintes de outras formas de relação com o mundo, de outros modos de representação: outro olhar, outra escuta, outros afetos. Efetivamente, dialogar pode ser uma ação muito perigosa ao colocar
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em cheque nossas certezas sobre o mundo e sobre nós mesmos. Por isso, é mais fácil monologar. Poder dialogar implica em se voltar ao outro, em sair de um autocentramento e de um narcisismo que acomete nossa cultura. Nesse sentido, relembro uma colocação de Freud (1921/1996) que afirma que o amor por si só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor pelo objeto. O amor atua como fator civilizador, de modo a ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. Ensinamento básico que está presente em diferentes vertentes re-
ligiosas e que existe há milênios. O amor ao próximo talvez seja aquilo que pode nos salvar de nós mesmos. Precisamos reconhecer e superar nossos egoísmos em benefício de modos de viver mais altruístas, mais solidários e empáticos. Tarefa desafiadora pois nos leva a encararmos e dialogarmos inicialmente com nossas fraquezas, com aquilo que não queremos ver em nós. Assim, o exercício do diálogo coloca questões desafiadoras para nós mesmos e em nossas relações cotidianas. Não se trata mais de vencer o debate, de impor sua verdade por melhor que ela seja, mas sim de en-
Bibliografia:
Kaës, R. (2012). O grupo e o sujeito do grupo: elementos para uma teoria psicanalítica do grupo. São Paulo: Pearson/Casa do Psicólogo. Neves, C.E.A.B. (1997). Sociedade de Controle, o neoliberalismo e os efeitos de subjetivação. In. Silva. A.E. et al. Subjetividade: questões contemporâneas. São Paulo, Hucitec. Santos, M. (2002). Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro, Record.
Alves, R. (2011). O amor que acende a lua. São Paulo: Papirus. Birman, J. (2016). Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira. Freud, S. (1921/1996). Psicologia de grupo e análise do ego. In. S. Freud. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud edição standart brasileira. Rio de Janeiro: Imago.
contrar caminhos para a construção de um possível bem comum para todos (humanos e não humanos). Se nosso modo de ser é construído, podemos desconstruí-los e transformá-los. A capacidade do ser humano de mudar é imensa, isso é e será sempre um potencial em nós. Por fim, acredito que efetuar uma ruptura com os modos de subjetivação hegemônicos passa por viver e experimentar as dificuldades inerentes dos encontros e desencontros com o outro. Tornar nossa própria vida um pequeno laboratório de transformações do cotidiano. E quem sabe, sairmos daqui um pouco melhor do que entramos.
Mirna Yamazato Koda Psicóloga, professora do curso de Psicologia e do curso de especialização em Saúde Mental da Universidade São Francisco. Especialista em Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina da USP, doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP.
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CAPÍTULO UNDER TEN
Retransmissores da importante mensagem do diálogo
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urante os dias 7 a 14 de julho, entre 01 a 03 frades de cada entidade da Ordem dos Frades Menores teve a oportunidade de participar de um Capítulo das Esteiras na comunidade ecumênica de Taizé, no interior da França. O Capítulo era voltado à reunião de frades que tinham entre 01 a 10 anos de profissão dos votos religiosos na Ordem - ou seja, o grupo de frades que recém-terminaram sua Formação Inicial e já estão atuando nas frentes evangelizadoras de sua Província, Custódia ou Fundação. Da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil foram enviados Frei Alisson Luiz Zanetti,
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Frei Douglas Paulo Machado e Frei Rodrigo da Silva Santos. A primeira impressão sobre a comunidade de Taizé, famosa por seus refrãos meditativos (mantras), é rapidamente de ruptura com a expectativa de silêncio e contemplação. Era uma verdadeira multidão de jovens e adultos participando de diversas atividades voltadas a cada grupo e os frades menores se somando à massa. Os alojamentos e espaços para as refeições eram marcados pela simplicidade e austeridade, seja pelo modo possível de acolher tantas pessoas, seja por uma opção consciente de desapego e ruptura com as comodidades às quais estamos acostumados.
Silêncio e contemplação, entretanto, não eram ausentes nas comunidades. Os momentos de oração na Igreja central ou nas imediações onde fazíamos a reflexão bíblica se faziam presentes. O acento da espiritualidade na comunidade de Taizé, além da oportunidade de diálogo e encontro com diversas culturas e modos de profissão de fé, provoca a todos à união de vozes e coração para a oração. Estas eram longas, feitas com calma, com os já referidos mantras que eram entoados por todos nos diversos idiomas, permeados por momentos de meditação e curtos textos bíblicos que não exigiam explicação, apenas escuta e acolhida. Em uma semana pude-
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mos participar das três orações diárias da comunidade, a celebração de adoração da cruz e das luzes. Além destas, a Missa diária, celebrada pelos frades do Capítulo acolhia os jovens e adultos que queriam dela também fazer parte. As atividades do Capítulo Under Ten se dividiam entre a possível participação nas atividades da comunidade de Taizé e as palestras e reflexões feitas pelos assessores do Capítulo. O Secretário Geral da Formação e Estudos, Frei Cesare Vaiani; o Prior de Taizé, Irmão Alois Löser; e o Ministro Geral OFM, Frei Michael Perry tomaram a palavra para falar sobre o diálogo nas Fontes Franciscanas e nos escritos de São Francisco, da espiritualidade do diálogo como anseio da modernidade e proposta na comunidade de Taizé e do diálogo na Ordem, nas fraternidades, e a crise vivida por parte dos frades que não se sentem capazes de confiar nos confrades e
se sentem isolados e sozinhos para enfrentar suas dificuldades pessoais e de fé. Houve tempo para partilhas, perguntas e busca de respostas para enfrentar os obstáculos que surgem e impedem que a cultura do diálogo se instaure em nossa vida fraterna e evangelizadora. Ressaltou-se a importância da escuta, do cuidado de uns para com os outros, da atenção total e não intermediada e/ou dividida com as redes sociais e outras distrações midiáticas, do reforço de instâncias consagradas de nossa vida religiosa como o Capítulo Local, como espaço de partilha e celebração da vida fraterna e não somente como lugar de ajustes e combinações de agenda. Cada um dos frades participantes levou consigo a responsabilidade de, em suas respectivas entidades, promover em união com o Moderador da Formação Permanente, o Pós-Capítulo Under Ten. A ideia é
de transmitir a experiência vivida e as reflexões lá realizadas aos demais confrades pertencentes a este grupo dos jovens frades; de apresentar as propostas que lá surgiram para aprimorar a virtude do diálogo em nossas fraternidades e de promover o estreitamento dos laços entre os irmãos. Na nossa Província, o PósCapítulo já está agendado para os dias 23 a 26 de setembro, na Fraternidade São Boaventura, em Campo Largo. Que a Virgem Imaculada abençoe a todos os frades capitulares e os conduza em sua missão de retransmissores da importante mensagem do diálogo aos seus confrades por todo o mundo onde a Ordem se encontra presente. Que ela interceda por nossa Ordem junto a Jesus Cristo, seu filho. Que ele abençoe a todos nós na fidelidade e perseverança de nossa vocação!
Frei Rodrigo da Silva Santos agosto de 2019 – comunicações
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Palestra do Ministro Geral
A vocação para a Fraternidade: o diálogo na vida de um frade menor “A existência humana se baseia em três relações fundamentais intimamente ligadas: a relação com Deus, com o próximo e com a terra”. (Papa Francisco, Laudato Si’ nº 66)
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ueridos irmãos, é maravilhoso estarmos aqui reunidos em fraternidade, em um lugar onde jovens e velhos, cristãos, seguidores de outras tradições religiosas e não crentes, reúnem-se para experimentar a fraternidade e a solidariedade humanas, e para escutar o grande relato do inesgotável amor de Deus por toda humanidade e por toda a criação. Os que vêm a Taizé não são simplesmente consumidores passivos de uma espiritualidade de hospitalidade e de aceitação da diferença. Quem vem a Taizé, como cada um de nós, faze-o para compartilhar seu próprio caminho de vida, fé, decepções, perdão, esperança e transformação. Vem em busca de algo, ainda quando este “algo” não é suficientemente claro no momento da chegada, e provavelmente não seja claro no momento da partida. Vir a Taizé significa empreender uma viagem que pode fazer toda a diferença, que pode dar o valor de sair de si mesmo, da zona de conforto, e entrar num espaço sobre o qual teremos pouco poder de controle. Isso não quer dizer que Taizé seja um lugar para um encontro que se torne incontrolável. Digo isso com todo o respeito que merece o irmão Alois, prior, e os irmãos da Comu-
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nidade. De qualquer forma, o que a Comunidade Taizé oferece a todos os que vêm, e particularmente a este grupo de frades que compõem a peregrinação Under Ten OFM, e alguns de nós com mais de dez anos de vida religiosa, é uma oportunidade para experimentar o abundante e ilimitado amor misericordioso de Deus. Por esta razão, desejo expressar publicamente minha gratidão ao irmão Alois e a todos os irmãos da Comunidade pela hospitalidade fraterna que nos oferecem nestes dias. Nossos caminhos, da Comunidade Taizé e da Ordem dos Frades Menores, providencialmente coincidiram em mais de uma ocasião, talvez porque cada um de nós está buscando seguir o chamado de estar aberto ao Espírito de Deus que se comunica convosco de diversos modos, através de diferentes vozes, convidando-nos a compartilhar o sonho de Deus por um mundo que pode ser novo. Talvez isso seja o que viemos fazer aqui,
meus queridos frades Under Ten, e os que temos pouco mais de dez anos: permitir que a visão de Deus de um mundo novo se revele através de um sonho. Entretanto, como acontece com todos os sonhos, eles se constroem através do diálogo contínuo com Deus, e entre aqueles que estão dispostos a abrir suas mentes e corações à obra prodigiosa de Deus, que não pode ser contida e restrita em caixas bem organizadas, em nível doutrinal, litúrgico, ou em outras formas. Este encontro de frades Under Ten nos oferece uma nova oportunidade para nos encontrarmos com Deus como Ele desejaria, ou seja, no mistério do encontro com Ele, com os que estão estes dias em Taizé, com os irmãos que fazem parte desta Comunidade e, naturalmente, com os próprios frades da Ordem, que são um presente de Deus para nós. Quero retomar as palavras do Papa Francisco em sua primeira encíclica, Laudato Sí’: “A existência
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humana se baseia em três relações fundamentais intimamente ligadas: a relação com Deus, com o próximo e com a terra” (66). O ponto de partida, o método e o objetivo em todos os processos de diálogo é o cultivo de um conjunto de relações interconectadas que, segundo nossa Teologia católica sobre a Trindade, conduzemnos ao reconhecimento de que somos parte de um vasto tecido de intersecções e fios entrelaçados. Cada fio tem sua particularidade que o faz único; cada um existe separado do outro. E, entretanto, cada um foi criado precisamente para interconectar-se com o outro. Cada um depende do outro, compartilhando uma interdependência comum que, se é tecida com cuidado, permite que cada um retenha sua singularidade, uma singularidade que só pode ser revelada e compreendida completamente quando se conecta com os outros fios. Esta interdependência não anula nem nega a beleza e a individualidade específicas de cada fibra do fio, mas permite que cada um se relacione com o outro de modo que nem o indivíduo nem o todo possam existir sem um e sem o outro. Então, algo que se aproxime à verdade, à harmonia, à solidariedade (nós, franciscanos, falamos de fraternidade), e à comunhão pode chegar a ser percebido, recebido e compartilhado somente através desta interação dinâmica. Duns Scotus chama de
hecceidade, ou o que eu chamaria de “singularidade racional”. Deus criou as pessoas livres por amor, desejando receber seu amor em troca. Deus também colocou dentro de cada pessoa a possibilidade ou, melhor ainda, o desejo de reciprocidade, a liberdade de entrar em relação com Deus e os demais. O desejo de Deus é que cada criatura humana ame a Deus o mais completamente possível, e este processo não se detém com a Encarnação. Continuando com o pensamento de Duns Scotus, Deus quis que todos fôssemos co-amados (condilecti) e co -amantes (condiligentes) com Cristo. Aqui podemos falar do diálogo como um processo de conversão; este tipo de conversão está relacionada com a transformação e não deve ser igualada ao proselitismo, de converter o outro à minha posição. Ao contrário, é uma conversão à convergência, ao autodescobrimento mútuo e à abertura de si mesmo.
Toda existência está relacionada (relacionalidade)
Um dos capítulos mais esclarecedores da Encíclica Laudato Si’ é o quarto, que nos traça um caminho para ajudar aos seres humanos a redescobrir a interconexão de todos os seres vivos, de toda a criação. Baseando-se na sabedoria da fé apresentada no Catecismo da Igreja Católica, o Papa Francisco nos recorda:
“A interdependência das criaturas é querida por Deus. O sol e a lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal: o espetáculo das suas incontáveis diversidades e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta a si mesma. Elas só existem na dependência umas das outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras.” (Catecismo da Igreja Católica 340; Laudato Si’ 86). “As criaturas só existem na dependência umas das outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras”. Irmãos, minha intenção é falar da interconexão, que creio fazer parte do DNA da existência humana. Está presente no DNA de todos os seres vivos em qualquer forma que existam. Não é dar asas à minha imaginação. O que pretendo é viajar com vocês até o centro, o lugar onde tudo está conectado em íntima relação. Creio que isto é o que o Papa Francisco está falando para nós na Laudato Si’, uma mensagem que não difere do que São Francisco de Assis recebeu de Deus e transmitiu a seus irmãos e ao mundo através do Cântico das Criaturas. Ao chamar de irmão e irmã o sol e a lua, São Francisco reconhece a dignidade de cada criatura, um reflexo de amor e da beleza que Deus coloca em todos os seres vivos; todos são chamados a compartilhar a fraternidade que Deus propõe. Dirijamos agora nossa atenção a
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uma breve análise sobre a compreensão do diálogo entre São João Paulo II e o Papa Francisco, seu papel na construção de pontes entre povos e com o universo criado, e a centralidade do diálogo como seres humanos, como discípulos de Cristo e como frades menores. Vivemos numa época de fluxo constante de informação, que conecta nossas realidades pessoais e locais à rede global, através do Facebook, Google, Amazon, WhatsApp, WeChat, Instagram e uma ampla gama de instrumentos presentes no mundo virtual. Todas estas ferramentas promovem possibilidades aparentemente ilimitadas para unir as pessoas e proporcionar oásis virtuais ou eletrônicos para o diálogo. Algumas pessoas estão convencidas de que estes avanços tecnológicos estão ajudando a melhorar a comunicação entre as pessoas, abrindo-nos a novas vias para o diálogo, ultrapassando qualquer forma de fronteiras internacionais, interculturais, subculturais, inter-religiosas e outros limites que nem sequer conhecemos. Alguns, inclusive, sugerem que estas ferramentas tecnológicas, se bem entendidas e empregadas adequadamente, poderiam ajudar a criar uma progressiva
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interdependência e a possibilidade de que os seres humanos tenham uma visão compartilhada do “bem comum” e a “solidariedade” como um modo de propor uma ideia expandida da identidade humana e social. Esta ideia de um bem comum e um compromisso com uma nova solidariedade entre os povos e as nações tem raízes profundas na Doutrina Social da Igreja (DSI). O bem comum também implica necessariamente uma convicção compartilhada em nossa origem e destino comuns; tal convicção nos proporciona um instrumento para superar as desigualdades sociais e estabelecer as condições para um tipo de diálogo que ajude a gerar as condições necessárias para o desenvolvimento humano autêntico e de paz duradoura. São João Paulo II acreditava que, na medida em que recuperemos nossa verdadeira identidade como seres sociais conectados por uma vasta rede de interdependência, sustentada e aprofundada através da prática da justiça e da caridade, baseada na solidariedade, a humanidade poderá combater o egoísmo e o pecado, que desviaram e orientaram os sistemas sociais, econômicos e políticos da sociedade, da economia, da política e a cultura até o escandaloso
aumento da exclusão e desigualdade. (Sollicitudo Rei Socialis, 30 de dezembro de 1987). O diálogo exerce um papel essencial na promoção de uma espiritualidade de interconexão e solidariedade. Mas o diálogo é mais do que um simples intercâmbio de ideias e preocupações, mais que a expressão de preocupação e simpatia pelo outro. Em seu discurso dirigido ao Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso em 1995, São João Paulo II convidava-nos a exercitar um “diálogo de espiritualidade”, uma “vocação universal” que conduza à santidade, que seja um componente vital para ajudar a comunidade de nações a enfrentar cara a cara os desafios mais árduos de nosso tempo. O futuro da vida humana e do planeta está em jogo! A promoção da interdependência e da solidariedade possui a capacidade de promover a transformação social (e espiritual). Interdependência, solidariedade, transformação social: estes são os objetivos do diálogo e para onde todo esforço de diálogo deve dirigir-se (cf. Sollicitudo rei socialis, 1986, 17- 38). Talvez tenha sido com este espírito, e em busca da paz para toda a humanidade, que São João Paulo II convidou doze líderes religiosos a reunirem-se em Assis em 27 de outubro de 1986, com a esperança de que estes mesmos líderes religiosos pudessem converter-se em valentes promotores da paz mundial. O diálogo também foi visto por João Paulo II como um instrumento para a proclamação do Evangelho. Quando o Papa Francisco fala de interdependência, solidariedade e transformação social, une-os sob a bandeira da “fraternidade”, um tema central em seus ensinamentos. Francisco chega ao extremo de falar sobre a “vocação da fraternidade” humana e cristã. Por nossa própria natureza, somos seres sociais que desenvolvem
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nossas identidades e capacidades não de maneira isolada, mas através da interação, que inclui o transcendental/ espiritual e interpessoal/ relacional. Mas o diálogo não é só sobre o crescimento interior da pessoa; o diálogo implica necessariamente colocar-se a serviço da humanidade e do entorno natural, nossa Casa comum. O diálogo cria condições potenciais para experimentar a fraternidade. A fraternidade cria condições para a promoção da paz, o cuidado dos pobres e excluídos e o cuidado com o meio ambiente. Deste modo, o objetivo do diálogo é a promoção de uma fraternidade baseada em uma ecologia integral e integradora. Em sua mensagem durante a Jornada Mundial da Paz de 2014, o Papa Francisco chama a atenção sobre o “número cada vez maior de interconexões e comunicações no mundo de hoje”. Isto poderia parecer muito óbvio: a crescente proximidade de todos os lugares do mundo e a crescente interdependência entre povos e nações. Esta crescente interdependência oferece aos seres humanos a possibilidade de descobrir e promover uma visão de bem comum, uma sensação de que todos somos responsáveis por todos os demais. Claramente, isto está no coração dos escritos do Papa Francisco, mas também está no coração de suas viagens e reuniões com líderes de outras comunidades eclesiais cristãs, com judeus, muçulmanos, com outros líderes religiosos e também com os não-crentes. Diante do que o Papa Francisco chama de “globalização da indiferença”, propõe uma alternativa poderosa: a “vocação à fraternidade”. O Papa Francisco, baseando-se nas ideias teológicas de nosso próprio São Boaventura, nos recorda que Deus vive na “comunhão trinitária” e comunica esta comunhão em todas as criaturas viventes, especialmente nos seres humanos. Isto significa
que somos criados à “imagem” desta comunhão. Nossas vidas estão orientadas para a participação no dinamismo trinitário da “relacionalidade”, que se define pela fraternidade e comunhão. Chegamos a ser completamente humanos, completamente vivos, somente quando saímos de nós mesmos para viver em comunhão com Deus, com os demais e com as criaturas. Mas não é isto o que nós, os franciscanos, acreditamos, cremos e compartilhamos com uma mente e coração abertos? Se o Papa Francisco não faz re-
as pessoas onde possam encontrar o outro, escutar e compartilhar, com muito esforço e graça de Deus, permitir que suas vidas se transformem. O diálogo não é uma questão somente de se reunir e falar. Seu objetivo ou intenção final é a transformação espiritual e humana. Esta transformação toma a forma do que o Papa Francisco chama de “conversão ecológica” (cf. Laudato Si’). O caminho e o instrumento para esta conversão ecológica é feito através de um diálogo baseado na humildade, na mansidão e em “converter-se em tudo para
ferência explícita ao Evangelho de João como fonte de inspiração para esta “vocação à fraternidade”, baseada numa relação trinitária, não posso deixar de pensar no “discurso de despedida” do evangelho de João (13, 17), onde Jesus está em constante diálogo com o Pai sobre a natureza de sua vocação, o significado da encarnação, a visão de um final cruel em sua vida e sua missão, e o convite aos discípulos a formar parte deste diálogo, desta dinâmica. Relação que dá fruto, o dom da paz e da salvação do mundo. Nossa “vocação à fraternidade” requer que aprofundemos nossa capacidade e compromisso em dialogar em todas suas formas possíveis. Para o Papa Francisco, o diálogo é a chave para a conversão moral e espiritual. O diálogo é a chave para reorientar a intenção e a ação humana, e assim unir
todos” (cf. Evangelii gaudium). Estas palavras fazem eco na prática do diálogo na vida de São Francisco, algo que Frei Cesare Vaiani nos explicou em sua apresentação. O diálogo também tem lugar fundamental na compreensão da evangelização de Francisco (cf. homilia, 8 de maio de 2014). Na Exortação Evangelii gaudium, o Papa Francisco afirma que nossa vocação é a fraternidade e assegura que esta qualidade fundamental nos ajuda a lutar contra o individualismo egoísta que atualmente domina grande parte da interação social. Abraçar nossa vocação à fraternidade é abraçar a convicção de que cada pessoa, cada criatura, tem uma dignidade e um valor inerentes, que estamos interconectados e somos interdependentes; e que cada pessoa, cada ser vivo, tem agosto de 2019 – comunicações
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algo que dizer, compartilhar, contribuir. O diálogo é o lugar onde se celebra a dignidade e a diversidade e onde se aprofunda nossa própria identidade através do respeito pela dignidade e pela diversidade do “outro”. Entrar em um diálogo com um muçulmano, um judeu, um budista, um hindu, inclusive um não-crente é, em si, um esforço nobre, porque neste caso nos é apresentada a oportunidade de perceber e compartilhar o mundo do outro. Ao mesmo tempo, o encontro nos brinda com a
tecnocrático atual continuará sem cessar, conduzindo à aniquilação da criação e da sociedade humana. Um mundo assim, um mundo dominado pela tecnologia, onde toda referência ao transcendental, a Deus, e a interação e interdependência humanas, tornam-se completamente irrelevantes, onde todos se reduzem a algoritmos, convido-os a desfrutar as noites de insônia lendo o livro “Homo Deus”, de Yuval Harari (2016). Isto, claramente, não é o que o Papa Francisco prevê na Laudato Si’. Ele segue sendo otimista
oportunidade de abrirmo-nos a um aprofundamento de nossa própria compreensão da vida, da fé e de nosso lugar no universo criado. É nossa experiência de fé que nos leva a perceber a presença de Deus em todas as coisas, uma presença que provoca o compromisso, intercâmbio, ação. Além das oportunidades que o diálogo nos oferece para obter uma visão do mundo do outro e de nosso próprio mundo, o Papa Francisco sustenta que há outra razão convincente para comprometemo-nos com uma vocação não somente em vista da fraternidade, mas também do diálogo. A menos que saiamos de nós mesmos ao encontro do outro, o paradigma
no sentido de que a humanidade encontrará seu caminho de volta à sua própria vocação de fraternidade; mas isso não virá facilmente, nem sem resistência e sofrimento. Outra dimensão do diálogo que aparece repetidamente nos escritos do Papa Francisco é a de uma compreensão e apreciação saudável da diversidade. Nenhuma visão única do mundo (religiosa, política, econômica, cultural, etc) oferece todas as respostas a todas as perguntas específicas, concretas e emergentes. O encontro, o diálogo, o discernimento, o debate honesto e a capacidade de aprender uns com os outros são condições prévias para empreender o ca-
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minho do diálogo. Foi isso, talvez, que aconteceu na vida de São Francisco em seu encontro com o leproso que, aparentemente, ajudou-o a chegar a um entendimento mais amplo de Deus, da dignidade da pessoa humana e da vocação? Da fraternidade? Ou quando São Francisco se encontrou com a amabilidade, a hospitalidade e o reconhecimento de um ser humano na pessoa do Sultão em Damieta? Ou na vida cotidiana da fraternidade de São Francisco e seus primeiros companheiros, aprendendo uns com os outros, desafiando-se, abraçando a diferença, perdoando-se mutuamente? O Papa Francisco insiste que, respeitando estas vozes alternativas, às vezes contraditórias, inclusive dentro da Igreja e da Ordem, na realidade estamos construindo as bases para cumprir nossa vocação de fraternidade. Mas para cumprir esta grande vocação, serão exigidas de nós demonstrações de paciência, autodisciplina e generosidade (cf. Laudato Si’). Mas como poderíamos cumprir tal atitude proposta pelo Papa Francisco, mais que atitude, uma espiritualidade de diálogo, fraternidade, compromisso com a busca de condições para o bem-estar de cada pessoa humana e para toda a criação, bemcomum? Voltando ao exemplo de São Francisco de Assis, o Papa Francisco percebe que o caminho para a autêntica fraternidade somente pode acontecer se estivermos dispostos a converter-nos em místicos. O tipo de mística proposta pelo Papa Francisco não é a promoção de algum tipo de fuga mundi ou a fuga para algum mundo espiritualizado sem humanidade nem criação. Existem muitas vozes na Igreja e no mundo – e poderia agregar na Ordem – que buscam promover este tipo de espiritualidade, negando-se a olhar profundamente o abismo da exclusão e da destruição que aflige a humanidade e o planeta.
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A vocação ao diálogo e à fraternidade, segundo o Papa Francisco, somente pode ser verdadeiramente aceita através da adoção de uma atitude contemplativa para com a realidade humana e todo o universo criado. “Falamos aqui duma atitude do coração, que vive tudo com serena atenção, que sabe manter-se plenamente presente diante duma pessoa sem estar a pensar no que virá depois, que se entrega a cada momento como um dom divino que se deve viver em plenitude. Jesus ensinou-nos esta atitude, quando nos convidava a olhar os lírios do campo e as aves do céu, ou quando, na presença dum homem inquieto, ‘fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele’. (cf. Laudato Si’, 226). No entanto, para adotar o itinerário do místico, a pessoa deve estar disposta a abraçar a todos os que Deus abraça, especialmente os pobres, excluídos, aqueles a quem são negados os direitos, aqueles que buscam um lugar onde possam viver em paz, livres do medo, da violência, um lugar onde possam dar sua contribuição para o desenvolvimento de suas próprias vidas e a vida dos demais, um lugar onde possam encontrar-se frente a frente com o autor da vida, Deus. A mística entendida a partir desta perspectiva abre caminhos para uma fraternidade autêntica, libertadora e geradora da vida. Meus queridos confrades, o Papa Francisco nos convida a abrirmos os olhos de nossos corações e mentes para a grande vocação do diálogo e da fraternidade. Esta vocação não se limita aos cristãos, está aberta à humanidade. Ao mesmo tempo, os crentes têm a responsabilidade especial de abraçar esta vocação. Isto se torna mais evidente no documento histórico de 4 de fevereiro de 2019, “Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Convivência Comum”, assinado conjuntamente pelo Papa Francisco e
o imã Ahmed el Tayeb, em Abu Dhabi. “O diálogo entre crentes consiste em se encontrar no vasto espaço dos valores espirituais, humanos e sociais comuns, e investir isto na propagação das mais altas virtudes morais que as religiões solicitam”. Recordemos mutualmente que o diálogo não se trata de convencer ou estrategicamente “ganhar” alguém com minhas ideias, inclusive sob minha perspectiva religiosa. O diálogo não exclui a possibilidade de compartilhar as convicções sobre a fé. O
razão, o diálogo é vital para a missão evangelizadora da Igreja. Recordo a todos que Frei Cesare Vaiani compartilhou conosco no início desta semana a natureza e a forma de diálogo que surgem da vida e dos escritos de São Francisco de Assis. Deus fala, molda para nós a natureza da identidade social humana e o caminho até o pleno crescimento como seres humanos e espirituais, criados e destinados a participar na “fraternidade de Deus”, a Trindade. Este diálogo é de amor, um amor que se origina em Deus, na Trin-
diálogo pode incluir a proclamação, mas só de acordo com nossa Regra, se reflete uma profunda humildade e um profundo respeito pelas crenças religiosas e as perspectivas dos demais. O diálogo consiste em descobrir a verdade mais profunda de quem somos, individual e coletivamente, aprendendo de quem viemos e para onde vamos: tudo está conectado com o Criador, com Deus que é uma relação (Trindade). O diálogo consiste em chegar a esta consciência da verdade de que todas as coisas estão interconectadas, todas estão relacionadas, todas estão destinadas a colaborar com o plano de Deus para a paz e a harmonia universal. Por esta
dade, e se manifesta também em toda criação. Deus põe o mundo em movimento, Deus inicia o diálogo com os seres humanos e com o universo criado, um ato de amor puro. Este diálogo continua através do envio de seu Filho Amado, Jesus, através da Encarnação. E continua também agora, através da ação do Espírito Santo, algo que se reflete na prática da vida, na pregação e nos escritos de São Francisco de Assis, e na prática da vida, na pregação e nos escritos do Papa Francisco. Irmãos, comecemos… Capítulo das Esteiras Under Ten Taizé, França, 14 de julho de 2019. Frei Michael A. Perry, OFM agosto de 2019 – comunicações
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ORDENAÇÃO DIACONAL DE FREI JOSÉ MORAIS CAMBOLO
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No mesmo espírito de Pedro e Paulo
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o dia em que a Igreja celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (30/6), Frei José Morais Cambolo recebeu das mãos do bispo auxiliar de Brasília, Dom Leonardo Ulrich Steiner, o primeiro grau do sacramento da Ordem, o Diaconato. A celebração, que durou aproximadamente duas horas, mesclou emoção e alegria. O Coral das Meninas dos Canarinhos deu o tom solene da Celebração Eucarística das 10 horas, na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis (RJ). Frei José Morais é o sexto frade angolano da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) a ser ordenado diácono. Numa manhã com belo céu azul, a Igreja do Sagrado ficou lotada para ver esse momento histórico na vida de Frei Cambolo. O lema escolhido pelo ordenando foi extraído do Evangelho de João 13,15: “Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós”. O Ministro Provincial, Frei César Külkamp, representou a Província Franciscana da Imaculada Conceição. Além dos seus confrades que residem em Petrópolis, estavam presentes o Definidor Frei João Francisco da Silva; o Coordenador da Frente de Evangelização das Missões, Frei Robson Scudela; e também frades, amigos e paroquianos de todo o Regional da Baixada
e Serra Fluminense, especialmente da Paróquia Santa Clara de Assis de Imbariê – Duque de Caxias (RJ).
AQUI ESTOU
Após a Liturgia da Palavra, deu-se início ao rito de Ordenação Diaconal. O Ministro Provincial pediu a Dom Leonardo que ordenasse diácono o jovem confrade e atestou a idoneidade do candidato: “Na Vida Religiosa Franciscana sua decisão é fruto da maturidade de quem sabe equilibrar todas as dimensões da nossa vida, é piedoso, um homem de oração e muito participativo nas atividades pastorais. Na avaliação do próprio povo de Deus destacou-se o modo como se comunica e a profundidade de suas reflexões. Frei José é muito próximo das pessoas, especialmente dos mais simples. Gosta de estar no meio de povo e adapta-se com facilidade nas diferentes realidades sociais e eclesiais. Por tudo isso, ouvindo o povo de Deus, o corpo de formadores e professores desta etapa, hoje tenho a alegria de dizer que este nosso irmão e confrade foi considerado digno para este nosso serviço à Igreja”, declarou.
PEDRO E PAULO: GRANDES COLUNAS DA IGREJA
Em seguida, Dom Leonardo, fazendo referência ao Evangelho do dia, iniciou sua homilia com a pergunta:
“E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mt 16, 15). Segundo ele, Jesus foi para uma região de confronto de culturas, governos e de opressão, onde antes de seu tempo se cultuavam muitos deuses, e por isso fez a pergunta. Pedro se antecipa: ‘Tu és o Filho de Deus’. “Esse é o Pedro: pronto, seguidor, disposto, o que fala rápido, mas um Pedro também frágil, fraco, traidor, mas arrependido. Pedro se parece com cada um de nós nas nossas pequenas fragilidades, nas nossas tentativas de seguimento de Jesus, na nossa busca de sermos coerentes com o Evangelho, de darmos a vida, de cuidarmos da comunidade. Somos como Pedro, de certo modo maduros na fé, mas ainda trôpegos na fé. Pedro, extraordinária figura de Pedro!”, exclamou. O bispo franciscano também falou da figura de Paulo. “Paulo, o inteligente Paulo, o leitor da história, Paulo aquele que consegue, a partir de Jesus, ler todo o passado de um povo. Paulo o criativo, o inovador, Paulo aquele que compreende os novos caminhos do cristianismo. Paulo, o instrutor e fundador de comunidades. Paulo, aquele que às vezes é irascível, duro, mas afetuoso, paterno e por que não dizer materno. Paulo, o extraordinário. Temos também um pouco de Paulo, temos, sim! Temos o desejo de sermos seguidores e fiéis a Jesus. Ele devia ser um pouco difícil na convi-
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vência, mas coerente na fé”, explicou. Dom Leonardo afirmou que Pedro e Paulo são duas grandes figuras e colunas da Igreja. Segundo ele, todos os cristãos podem seguir a Jesus como Pedro e Paulo. Historicamente, ambos estão enterrados em Roma e por isso neste dia a Igreja também reza pelo Papa Francisco.
O DIÁCONO NÃO GIRA APENAS EM TORNO DO ALTAR
“É também neste dia que queremos ordenar nosso irmão Frei José. Ordenar para a comunidade, para ser diácono da Igreja. Queremos ordenar este nosso irmão no mesmo espírito de Pedro e Paulo”, frisou. Segundo o Bispo, o diácono serve o altar, mas serve também a mesa dos pobres, dos pequenos e dos desvalidos. “O verdadeiro diácono não gira apenas em torno do altar, ele gira em torno da mesa dos necessitados. O diácono é ordenado para buscar e proclamar a Palavra, não apenas no ambão, mas também nas periferias geográficas e existenciais. Ele é ordenado para proclamar nessas realidades que o Senhor Jesus veio e nos transformou e nos indicou o Reino de Deus. O diácono é ordenado para o altar, para a mesa, para proclamar a Palavra”, ensinou. Dom Leonardo continuou dizendo que estar a serviço da Palavra é fazer-se corpo, fundar e constituir comunidades para suscitar no povo de Deus o desejo de seguir Jesus. “Você vai ser o distribuidor dos sacramentos. Vai introduzir alguém na vida de Jesus. Vai também assistir aqueles e aquelas que na celebração ousam dar-se em amor um ao outro”, enfatizou.
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Para o bispo ordenante, ser ordenado diácono antes de ser presbítero tem suma importância. Para ele, é preciso se exercitar no serviço, na escuta, na Palavra proclamada, vivida e testemunhada. É importante, pois é necessário estar a serviço da comunidade, da Igreja. “Que você possa ser um homem a serviço da comunidade, dos pobres. A nossa tentação hoje é estarmos a serviço de nós mesmos, mas o Evangelho nos convida a estarmos a serviço dos outros e nisto está a nossa realização”, concluiu.
PROPÓSITO DO ELEITO
Terminada a homilia, Frei José colocou-se diante do bispo que o interrogou sobre seus propósitos publicamente. Seguindo o rito, Frei Cambolo prometeu desempenhar com humildade e amor o ministério dos diáconos, respeitar e prestar obediência aos sucessores dos Apóstolos, viver o celibato, realizar fielmente a Liturgia das Horas e imitar sempre na sua vida o exemplo de Cristo. Em seguida, o eleito aproximou-se do bispo, e, de joelhos, colocou suas mãos entre as do Bispo que o interrogou novamente. Frei José confirmou diante da Igreja e de seu pastor o seu firme propósito de cumprir fielmente o ministério diaconal. Depois, Dom Leonardo convidou o povo de Deus a cantar a Ladainha, rogando ao Senhor que derrame sua bênção sobre o ordenando, seu servo. Momento forte, único e rico em simbolismo e graça, onde prostra-
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do sobre a terra, Frei José se entrega e confia Naquele que antes já lhe havia chamado à Vida Religiosa Franciscana. Em seguida, Frei Cambolo colocou-se novamente de joelhos diante de Dom Leonardo, que solenemente impôs as mãos sobre sua cabeça e proferiu a Prece da Ordenação. O Pároco Frei Jorge Paulo Schiavini e o Ministro Provincial revestiram Frei José com a veste e a estola diaconal. Depois, ele recebeu das mãos do bispo o Evangeliário: “Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”, disse o bispo franciscano. E, por fim, com muita emoção, o Bispo o acolheu e desejou a paz ao neodiácono com um caloroso e fraternal abraço. Seus confrades ali presentes fizeram o mesmo. Terminado o rito, prosseguiu-se com a Celebração Eucarística, onde Frei José passou a servir o altar pela primeira vez como diácono. No Ofertório, o Coral e os frades angolanos emocionaram com a música: “Ngana wa ngixana”, canto popular em Angola.
AGRADECIMENTOS
Frei José, que é uma das primeiras vocações da Missão da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, agradeceu a Dom Leonardo Steiner (Frei Ulrich), ao Ministro Provincial, Frei César Külkamp, e aos seus confrades como também a todos os presentes. Agradeceu ainda as Paróquias do Sagrado e de Santa Clara de Assis, em Imbariê, pela acolhida e partilha de vida durante os dois anos que pode residir em cada local. “Irmãos e irmãs, rezai por mim, para que este ministério assumido na e para a Igreja seja realizado para o bem de todos, sobretudo os mais pobres”, pediu o neodiácono sendo ovacionado pela assembleia. Frei César fez também os seus agradecimentos e animou o novo diácono: “Você é o nosso mais novo diácono e nós sabemos que este desafio é grande e exigente, mas quero dizer que você não está sozinho, você conta com centenas de irmãos desta Província aqui do Brasil e de Angola, e também de todos os nossos irmãos que compartilham conosco da nossa missão nas mais diferentes frentes. Que você possa se sentir abraçado por todos nós e conte sempre conosco”. Dom Leonardo deu a bênção do envio a Frei José e brincou: “Certamente, se está Missa tivesse sido em Angola, com toda a certeza teria sido mais movimentada”. E desejou: “Bata na porta da Palavra, um dia ela se revela e revelará coisas extraordinárias. Ela é estupenda, por isso, deixe-se fecundar pela Palavra, leve a Palavra”.
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Frei João Bunga participa de curso de formação no Quênia
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m Nairóbi (Quênia), durante duas semanas, quase setenta formadores, incluindo animadores e coordenadores (15 Conventuais, 29 OFM, 28 Capuchinhos e 2 TOR) em toda a África, participaram da segunda parte da Escola Franciscana de Formação para Formadores na África (FSFFA), que aconteceu de segunda-feira, 24 de junho a sábado, 6 de julho de 2019, no Centro de Espiritualidade São José, da Congregação das Pequenas Filhas de São José, no bairro de Karen, em Nairóbi. Pela Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) participou o secretário da Fundação e mestre dos professos temporários, Frei João Alberto Bunga. Segundo Frei Bunga, esta escola de formação foi dividida em três anos, tendo cada ano duas semanas. “Diferentemente do primeiro ano, que teve as duas primeiras semanas de formação em Lusaka, capital da Zâmbia, neste tivemos a presença de todos os secretários de formação das três obediências, como os da Ordem dos Frades Menores, Frei Cesare Vaiani, e o ViceSecretário para Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic”, explicou o frade angolano. Esta segunda etapa do curso, denominada “Ano de Aprofundamento”, explorou em profundidade várias dimensões da formação franciscana, como lembrou Frei João. “Tivemos duas semanas intensivas de formação, reflexão, retiro e trocas de experiências. O método usado foi muito bom. Começávamos com a Missa e, na sequência, tínhamos uma manhã formativa com um palestrante. A tarde era
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reservada para os estudos em grupos. Fomos divididos em sete grupos, onde partilhamos as reflexões das questões que os pregadores colocavam de manhã”, disse. O curso foi dado em francês e inglês. “São as línguas mais faladas nas Conferências Africanas da Ordem Franciscana. Abordamos temas como a ‘dimensão bíblica da formação’, ‘a dimensão teológica da formação’ e ‘a dimensão franciscana da formação, que foi apresentada pelo nosso secretário Geral, Frei Cesare Vaiani. Ele falou sobre o tema a partir das biografias de São Francisco”, lembrou Frei João, informando que o vice-secretário Geral, Frei Sinisa abordou a dimensão antropológica da formação, isso já no quinto dia da primeira semana. Segundo o frade, momento comovente foi a experiência com os empobrecidos no bairro Deep Sea – Westlands, uma espécie de favela em Nairóbi. “Foi uma experiência que comoveu os participantes, que almo-
çaram com eles, e puderam conhecer um pouco de sua cultura. Vimos uma gente feliz, alegre, mesmo vivendo em situações de empobrecimento”, partilhou Frei João. A segunda semana seguiu a mesma metodologia, tratando de temas como as crises no tempo da formação, a dimensão psicológica, abordando a questão de como a neurociência pode ajudar os formandos. “Falou-se das qualidades de uma formador para acompanhar os seus formandos, dos aspectos individuais da formação. Podemos dizer que foi um tempo muito frutífero. Com toda a certeza vai ajudar a entender melhor a nossa capacidade formativa, tentando juntar aquilo que aprendemos no Brasil e aquilo que estamos aprendendo para melhor acompanharmos nossos formandos”, acredita Frei João. No final do curso, os participantes se cumprimentaram, aguardando a terceira e última parte do curso, em 2020.
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Frades participam do 1º Encontro de Juniores do ano No sábado, 29 de junho, dia em que a Igreja celebra a Solenidade de São Pedro e São Paulo, o Santuário do Sagrado Coração de Jesus, das Irmãs Clarissas, no bairro de Palanca, em Luanda, reuniu 24 grupos de religiosas e religiosos de Ordens, Congregações e Institutos, provenientes da Arquidiocese de Luanda, da Diocese de Viana e da Diocese de Caxito, entre eles os frades da Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus. Nesses encontros formativos, promovidos pela Conferência Superior Maior dos Institutos Religiosos de Angola (CSMIRA), são abordados temas da vida cristã e da vida religiosa consagrada. Neste encontro, a reflexão teve como base a Exortação Pós Sinodal “Christus Vivit”, do Papa Francisco. A Celebração Eucarística, presidida pelo Pe. Aniceto e concelebrada pelo Pe. Santiago, SDB, abriu o encontro. Durante a homilia, o presidente questionou os presentes: “Qual o lugar que Cristo ocupa na minha vida?”. Segundo ele, fazer os votos, rezar todos os dias e participar da missa não é garantia de que Cristo é o centro da nossa vida. “Diante do voto de pobreza, Cristo deve ser a nossa riqueza; na castidade, Cristo deve ser o nosso amor máximo; e, na obediência, devemos nos fazer servos”, disse. “Pedro negou a Jesus e nós, na nossa vida, temos as nossas quedas. Quando caímos, não quer dizer que não temos vocação. Devemos olhar para Pedro e ver quantas vezes caiu e como se levantou das quedas”, ensinou o celebrante.
Terminada a celebração, teve início a reflexão do tema propriamente. Divididos em grupos com nomes de países africanos, seus participantes pintaram os rostos de acordo as cores das bandeiras dos respectivos países, procurando responder algumas questões sugeridas pelo palestrante.
O período da tarde foi reservado para o almoço, recreação e a última plenária, momento em que os grupos partilharam as conclusões, representadas em forma de desenho.
Frei Abel N. S. Nganjie Frei Evaristo S. Joaquim
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Ituporanga acolhe 28 jovens em encontro vocacional
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os dias 28 a 30 de junho, reuniram-se em Ituporanga-SC, 28 jovens vocacionados à Vida Religiosa Franciscana. Provenientes das mais diversas localidades do Sul da Província, desde Maringá-PR até São Joaquim-SC, estes jovens experimentaram a rotina de um seminário franciscano, participando da vida de oração, estudos, trabalhos e convivência fraterna com os frades e com os seminaristas do Seminário São Francisco. Os primeiros vocacionados chegaram já na manhã da sexta-feira, 28, e logo foram se ambientando na casa, conhecendo os espaços, enquanto os seminaristas ainda tinham aula no colégio Galileu. Foram todos bem acolhidos pelos promotores vocacionais e pelo guardião da casa, Frei Valdir Laurentino, que, com grande diligência deu as devidas orientações práticas sobre a casa. Também ele, Frei Valdir, presidiu a Missa da Sole-
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nidade do Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira, mostrando que por mais que não tenhamos palavras para mensurar o amor de Deus, devemos falar dele. Na noite da sexta, quando já estavam os 28 vocacionados reunidos no seminário, os 16 seminaristas se uniram ao grande grupo e se apresentaram falando de suas origens e do tempo que já estão na caminhada. Uma característica deste grupo de vocacionados é a amplitude de idade entre eles, que variou entre 13 e 31 anos; majoritariamente candidatos ao Seminário Menor. O dia do sábado foi direcionado para uma imersão mais intensa na rotina do seminário. Todos participaram, pela manhã, da Celebração Eucarística em memória do Sagrado Coração de Maria, presidida por Frei Diego Atalino de Melo, tendo na sequência a formação sobre a Vocação Franciscana e a História
das Vocações nas Sagradas Escrituras. Frei Diego e Frei Vítor da Silva Amâncio exortaram os seminaristas a se empenharem de todo o coração à vida religiosa apresentando as belezas de uma vida dedicada a Deus e também seus desafios. Durante a tarde, os seminaristas e vocacionados se dedicaram à limpeza da casa e ao esporte como forma de interação e colaboração mútua. Enquanto isso, Frei Diego esteve na Paróquia Santo Estêvão para uma tarde de encontro com os casais vocacionais, famílias que colaboram junto às comunidades de Ituporanga na promoção de uma cultura vocacional na cidade. Fruto desta cultura, foi a participação de cinco jovens da cidade neste encontro vocacional. A noite do sábado foi reservada para uma sessão de filme com pipoca. O filme exibido: ‘Francesco’, de Lilliana Cavani, pelo qual os vocacionados puderam conhecer melhor a história do Santo Pai Seráfico. Grande foi a integração ao longo do dia entre os vocacionados que estavam atentos às necessidades da casa, dando grande exemplo de vigor vocacional. No domingo em que celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo, os vocacionados participaram da Missa com a comunidade que frequenta o seminário. Frei Diego presidiu a Missa e exortou os fiéis ao justo equilíbrio entre tradição e inovação. Ao final da celebração, Frei Vítor chamou os vocacionados ao presbitério e os apresentou ao povo. Após um momento de oração pelas vocações, Frei Vítor e Frei Diego entregaram o Tau franciscano aos vocacionados. O encontro encerrou-se com o almoço no seminário e os vocacionados voltaram para suas casas.
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Vocação, juventude e missão no Encontro de Petrópolis
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ntre os dias 21 e 23 de junho, reuniram-se em Petrópolis oito jovens da capital do Rio, Baixada Fluminense e região Serrana para o Encontro Vocacional, promovido pelo Serviço de Animação Vocacional da Província, a quem é incumbida a missão de bem acolher os jovens candidatos à vida religiosa, e também zelar pelas diversas juventudes que estão presentes em todo o território da Província. Esta dupla missão esteve presente durante todo o encontro vocacional,
pois os jovens puderam, além de fazer parte dos momentos próprios do encontro vocacional, acompanhar os últimos preparativos para a VI Missões Franciscanas da Juventude. Na noite da sexta-feira, 21, os vocacionados puderam conhecer a Paróquia Santa Clara, que recebeu a equipe do SAV para uma reunião de apresentação das missões para as lideranças das comunidades, entre as quais, muitas delas, serão as famílias acolhedoras dos jovens missionários. Deste modo, os vo-
cacionados puderam conhecer melhor mais um trabalho desenvolvido pelos frades nas periferias da cidade de Petrópolis. No dia seguinte, o encontro prosseguiu com a apresentação dos participantes e uma breve partilha pessoal do próprio despertar vocacional. A fim de se aprofundarem na espiritualidade acerca do dom da vocação, foi dado aos candidatos à vida franciscana um texto contendo três trechos da “Legenda dos Três Companheiros”, nos quais foi apresentada a origem da vocação de São Francisco em três encontros pessoais: consigo mesmo, com o leproso e com o Crucifixo de São Damião. Este período de reflexão teve a contribuição de Frei Roger Brunório, animador vocacional do convento Santo Antônio do Rio, e Frei Felipe Carretta, animador vocacional da Fraternidade da Rocinha. Ao final desta manhã de reflexão, Frei Gabriel Dellandrea, animador vocacional de Petrópolis, que também esteve presente, fez o convite a todos os vocacionados para a sua Profissão Solene, que ocorrerá no dia 8 de setembro deste ano. Durante a tarde, os animadores vocacionais presentes e os vocacionados puderam conhecer o Projeto Gente Viva, que faz parte do Serviço Franciscano de Solidariedade. A noite foi reservada para uma sessão do filme “Francesco”, de Lilliana Cavani. No dia seguinte, os vocacionados se uniram à Comissão Central das Missões Franciscanas da Juventude, que se encontravam em Petrópolis para o retiro preparado aos membros que estão à frente dos trabalhos deste grande evento. Deixamos o nosso sentimento de gratidão à Fraternidade do Sagrado, que, gentilmente, nos acolheu nesses dias de encontro vocacional e de retiro da comissão das Missões.
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Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
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ão existe adjetivo para usar neste título que melhor defina a 6ª edição das Missões Franciscanas da Juventude, no Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa viu uma juventude maravilhosa deixar a sua marca franciscana no domingo, 21 de julho, na Missa de Ação de Graças no altar montado na praia de São Conrado, em meio ao belíssimo cenário natural. Para completar ainda, Deus deu de presente um dia lindo, que ficou mais belo com as cores das camisetas confeccionadas para o evento, a alegria estampada nos rostos juvenis e a certeza de que esses jovens, como disse o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, “levam no coração um grande tesouro”. A Celebração Eucarística, prevista para ter início às 8 horas, começou às 8h30 e só terminou às 11 horas. Não faltaram emoções. Frei Medella deu o tom quando iniciou com o sinal trinitário a Missa. “Voltem-se para trás. Olhem esta pedra da Gávea. Olhem que beleza, de ternura e de vigor. Esta pedra é Deus, sobre qual queremos edificar a nossa vida. Agora, vou con-
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tar até três, esquerda volver: Olhem esse marzão de Deus, Oceano Atlântico, praia de São Conrado. O mar é Deus e o barco sou eu e somos nós. Naveguemos sem medo neste oceano. E agora conto até três, esquerda volver: O Altar do Senhor, onde Ele se entrega para nós em Palavra e Pão”. Durante a oração pelos falecidos, Frei Gustavo Medella surpreendeu os jovens ao pedir que estes deitassem na areia para simbolizar um protesto contra a violência que ceifa vidas no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro. E não parou aí. Emoção para Frei Diego e Frei Vítor Alves, que trabalharam incansavelmente pela animação da juventude, para equipe organizadora e demais equipes das Missões. A emoção final ficou por conta dos jovens que vieram do Oeste Catarinense, quando Frei Diego anunciou a cidade de Xaxim como a sede das próximas Missões Franciscanas, de 29 de janeiro a 2 de fevereiro de 2020. Junto com as Missões, Xaxim vai sediar um evento internacional da Ordem dos Frades Menores, que é a
Serata Laudato Si’, que terá a terceira edição. A primeira foi em Roma e a Segunda no Panamá. Este evento é do Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação. Frei Diego já adiantou e pediu para os jovens que comecem a ler a Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, pois será a base das reflexões e ações destas Missões e da Serata Internacional. Toda essa festa na praia, com direito a um flash mob franciscano, terminou na Comunidade da Rocinha. Os jovens não esquecerem as lições que aprenderam nos cinco dias que passaram em diferentes realidades nas 9 paróquias franciscanas no Rio de Janeiro. Com bandeiras brancas, subiram em passeata até a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, de onde partiram para suas casas depois de um almoço fraterno. Antes de fazer sua reflexão, Frei Medella transmitiu um recado muito especial do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, para os jovens: “A todos, o meu abraço apertado. Estou unido em oração, em vibração e entusiasmo com vocês. Também quero
aprender com vocês a ser um profeta do diálogo e do respeito”. Frei Medella disse que não conseguiria abraçar a todos e pediu que cada um abraçasse apertadamente quem estava do lado. Na sua homilia, deixou para os jovens três lições que tirou da Palavra de Deus deste domingo:
1ª) O seguimento de Jesus é uma escola de diálogo
Frei Medella disse que a casa de Betânia, onde Jesus estava com Marta e Maria, é uma escola de diálogo. “O verdadeiro discípulo, o verdadeiro missionário, o verdadeiro profeta tem que aprender a dialogar”, disse o Vigário Provincial, explicando que para haver o diálogo são importantes duas posturas: A primeira, a humildade. “O Papa Francisco diz: ‘Para dialogar, não preciso abrir mão das verdades em que eu acredito, mas preciso ter a humildade de pensar que não sou o único dono da verdade e que essas verdades são absolutas e inflexíveis’. Humildade para perceber que o outro tem as suas verdades e nós podemos nos encontrar num ponto comum.
A segunda é a disposição para ouvir. Ouvir de coração, ouvir atentamente, percebendo que o outro pode e tem algo a me ensinar. Não dá para ser discípulo missionário e profeta sem saber dialogar. E tenho certeza que nas experiências que viveram esses dias, muitos diálogos ocorreram e diversos deles sem palavras. Eu tenho certeza que muita gente, sem dizer uma palavra, ensinou demais a você nesses dias de missão”, explicou.
2ª) Dialogar é abrir o coração para o outro
“Quem foi bem acolhido pelas famílias nesses dias? Não foi bom?”, perguntou o celebrante, acrescentando que essa família abriu o coração, abriu as portas, até as portas da geladeira. “Eu ouvi dizer que teve gente que deu até prejuízo (risos) ao esvaziar a geladeira”, brincou. “Se fomos bem acolhidos, por que não podemos acolher o outro no nosso coração? Deixar o outro ali morar, recebê-lo como hóspede ilustre como Abraão, que recebeu aqueles três homens que eram a presença de Deus na vida dele
e de Sara e trouxe para eles a fecundidade do filho Isaac. O outro, quem quer que seja, é meu irmão”, disse. O frade partilhou com os jovens uma iniciativa na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Clementino (SP), que é de classe média alta, onde um grupo, semanalmente, visita a Cracolândia para levar sanduíches e chocolate quente. “Não resolve o problema daqueles que lá estão, mas é um gesto de carinho e de diálogo. Eu ouvi de um senhor o seguinte: ‘Depois que comecei a fazer esse trabalho, nunca mais olhei da mesma forma aqueles que vêm limpar o vidro do meu carro no semáforo’. Quem vê no outro um irmão, nunca vai fazer violência, nunca vai dar um tiro, nunca vai dar um tapa, nunca vai dirigir um insulto. E quem quer que seja. O pobre é meu irmão, o migrante é meu irmão. Por que o estrangeiro tem que ser considerado um adversário, um invasor? Por que os Estados Unidos estão com essa política que segrega, que trata mal quem chega, que separa os pais dos filhos, e deixa crianças morrerem naquelas instalações? A Igreja mfj 2019
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foi protestar e mais de 70 religiosos, inclusive franciscanos, foram presos porque disseram: ‘O migrante é meu irmão. O diferente é meu irmão. Todos somos irmãos’. Então, que nós tenhamos essa disponibilidade, essa disposição de escancarar a porta do nosso coração para acolher o outro. E quanto mais escancaradas estão as portas do nosso coração, mais Deus tem ali espaço para habitar, mais Jesus vem morar conosco e dar sentido à nossa vida.
3ª) Em nosso dia a dia somos Jesus, Marta e Maria
“Nós somos os três. Juntos e misturados. Cada hora um, às ve-
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zes ao mesmo tempo mais de um. Quando somos Maria ou nos colocamos como ouvintes atentos e interessados da Palavra? Quais foram os momentos de Maria que vivemos nesta missão? Em cada celebração, cada vigília, cada formação em que tivemos ouvidos atentos para aprender, para crescer, para compreender mais a profundidade do mistério de Deus. Para estarmos atentos aos diferentes modos pelos quais Deus nos fala. Vida de oração e intimidade com Deus. É o exercício que Maria fez aos pés de Deus ouvindo a sua Palavra. É o combustível para a nossa vida espiritual e para a nossa ação amorosa da caridade. Todos
nós temos e precisamos ter os nossos momentos de Maria”, ensinou Frei Medella. “E quando nós somos Marta?”, perguntou. “Quando o amor se encarna em gestos. Você foi Marta cada vez que ofereceu seu abraço sincero ao seu irmão que veio ao seu encontro. Quando deu um sorriso largo, botou a mão na massa. Aí eu me lembro daquele que trabalhou com pintura, aquele que trabalhou com foice e enxada, que pegou criança no colo - é um bom exercício de ternura e vigor, pois quando pega com ternura não ‘amassa’ a criança; e com vigor para não deixar cair -, cantou e dançou com idosos, em família, jogou futebol, fez comida, visitou presos, doentes, ajudou seu irmão”, detalhou, lembrando ainda das Martas nas equipes de coordenação, nas equipes de liderança que planejaram a missão, das famílias acolhedoras, dos trabalhadores que montaram a estrutura. Frei Medella pediu uma salva de palmas para as Martas das nossas Missões Franciscanas. “Nós dizemos que no nosso dia a dia somos Jesus, Marta e Maria. E quando somos Jesus? Quando cada gesto que você realizou aproximou a pessoa que recebeu esse gesto de Deus. É um gesto de salvação. É o sorriso que muda a vida de uma pessoa,
é a oportunidade, às vezes uma das únicas, que ele tem de se sentir amado. Cada palavra, cada gesto, cada momento, você foi Jesus na vida do outro. Isso é espetacular, isso é maravilhoso. É retomar a promessa que a serpente fez a Adão e Eva no Antigo Testamento, mas de um modo novo. No Gênesis, a serpente diz: ‘Vocês serão como deuses e terão orgulho, prepotência e o poder de pisar sobre os outros’. Agora, com Jesus, ser como Deus, significa colocar o avental, lavar a louça, limpar o banheiro, limpar o doente, colocar-se a serviço de quem precisa no momento em que ele precisa. Aí estamos sendo deuses uns para os outros. Presença real e viva de Jesus na vida dos outros. Essa vontade, esse entusiasmo, esse desejo de sermos presença de Deus uns para outros é o maior presente que vocês recebem nessa missão. Levem-no no coração como tesouro de grande valor, agregado a esta beleza natural e à beleza deste povo abençoado do Rio de Janeiro, que tão bem recebeu vocês em suas casas. Não tiveram distinção quando vocês entraram na casa deles. Era tudo de todos. Era nosso. Uma salva de palmas para o povo do Rio de Janeiro, sofrido mas valente; sofrido, mas alegre; sofrido, mas de braços abertos para acolher quem chega como o Cristo Redentor”, completou Frei Gustavo. A Santa Missa foi concelebrada por frades de todas as Paróquias Franciscanas onde os 600 jovens franciscanos foram acolhidos em dois dias de Missões: Porciúncula de Sant’Ana, em Niterói; Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha; São João Batista, em São João de Meriti; Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis; São Francisco e Santa Clara, em Duque de Caxias; Sagrado Coração de Jesus e Santa Clara, em Petrópolis; e Nossa Senhora da Conceição, em Nilópolis, que era paróquia franciscana até recentemente e hoje é diocesana. Estavam presentes os frades estudantes de Teologia e Filosofia, seminaristas e povo de Deus, principalmente muitas famílias que acolheram os missionários.
O escultor João Vítor, de Campos do Jordão
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Pipoca ou Piruá?
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rei Diego Melo emocionou-se várias vezes no encerramento das Missões na praia de São Conrado. Com a sensação do dever cumprido, com a certeza de ter feito o melhor evento com os jovens da Província da Imaculada, mesmo enfrentando resistência por parte de algumas pessoas que não viam o Rio de Janeiro com a segurança suficiente para um evento deste porte, Frei Diego manteve o desafio de trazer os jovens para conhecerem um povo “sofrido mas valente; sofrido, mas alegre; sofrido, mas de braços abertos para acolher quem chega como o Cristo Redentor”, como disse Frei Gustavo Medella, e experimentarem novas realidades em suas vidas. “Vocês conheceram várias realidades aqui no Rio de Janeiro: Estiveram na Serra, na Baixada, aqui no Rio e em Niterói. Enfim, em todas as nove paróquias que acolheram vocês. Agora, a partir desse momento que pisaram, conheceram, experimentaram, partilharam e ouviram as histórias é importante que a cabeça comece a refletir a partir desta realidade. E por que estou dizendo isso? Para que a gente não reproduza discursos que, às vezes, maculam, mancham, a imagem desse povo tão querido, que, sem dúvida, fica triste de ser reduzido, quem sabe, a um
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‘Estado de violência, de marginalidade e de tráfico’”, disse. Frei Diego pediu: “Repliquem e reproduzam nas redes sociais onde vocês estiveram e falem para suas famílias e amigos: ‘Eu conheci o Rio de Janeiro! O Rio de Janeiro é maravilhoso! O Rio de Janeiro é um lugar bom para se viver. O Rio de Janeiro está cheio de gente querida e acolhedora. Então, é importante que a gente dê um outro passo agora. Um passo de consciência mais crítica. Nós vivemos num tempo em que falar de paz e amor está fora de moda. Estão falando de arma, de ódio e de violência. E se você apoia esse tipo de discurso, esse tipo de posicionamento, lembre-se: você está apoiando o extermínio desse povo que você conheceu e o colocou dentro da casa dele”, provocou. O frade conclamou os jovens a aderirem “à causa do amor, da paz, do diálogo, do respeito, sejam quais forem as diferenças. Então, essa tem que ser uma mensagem para ser espalhada. Nós acreditamos no valor dessas pequenas iniciativas e que podem transformar o todo”, insistiu. Frei Diego lembrou uma crônica de Rubem Alves, que fala da pipoca. Segundo o autor de “Pipoca”, o milho deve ser aquilo que acontece depois do estouro. “Imaginem, vocês são todos como milhos de pipoca.
E vocês, jovens, têm um valor, um potencial muito grande. Quando você é colocado no fogo, quando é colocado à prova, quando é desafiado a dar um pouquinho mais, a gente tem uma escolha: ou ser como aquele milho de pipoca que estoura e de repente descobre que pode passar de um milho duro para uma pipoca macia e gostosa que alimenta ou pode ser aquele ‘milhozinho’ (piruá) fechado lá no fundo da panela. Vocês, jovens, são como esse milho. Tem um potencial, uma criatividade muito grande. Foram vocês que fizeram essa missão”, elogiou. “Ontem, uma senhora me disse: ‘Frei, diga para aqueles jovens o quanto eles têm capacidade de transmitir Deus, o quanto eles nos evangelizaram’. Vocês têm esse dom. Portanto, não fiquem fechados no medo, na incerteza, no egoísmo, no preconceito. Se abram e se tornem pipocas e alimentem as pessoas que têm fome de Deus, de solidariedade, fome de abraço, fome de paz e bem. Portanto, juventudes, não percam o valor e grandiosidade que vocês têm!”, exortou. Nos agradecimentos, a lista foi longa. “Tudo isso aconteceu por obra de Deus. Todo esforço não só da equipe, mas de vocês, que conseguiram dinheiro e se esforçaram para estar aqui. Olhem para o céu. E Deus foi tão generoso que deu esse céu tão lindo para nós!”, comemorou Frei Diego. Depois, agradeceu às equipes que trabalharam incansavelmente, às Paróquias e ao Convento Santo
Antônio, que “nos ajudaram muito”. “O nosso muito obrigado à Catedral e ao pároco Cláudio Santos, assim como à Arquidiocese, que nos acolheram aqui. Agradeço à nossa Província da Imaculada, que investe e acredita em vocês, na pessoa do Vigário Provincial Frei Gustavo Medella. Queremos agradecer à Família Franciscana, a todos indistintamente. Obrigado aos jovens que vieram da Bahia. Queremos agradecer aos jovens de Minas Gerais, aos jovens da Província de São Francisco (RS) e aos da Custódia do Sagrado Coração de Jesus (SP)”, detalhou, citando os apoios da Editora Vozes e da Associação Bom Jesus, assim como outras empresas e cooperativas que deram suporte. Por último, os protagonistas deste evento: os jovens. No final pediu para Frei Gustavo dar a bênção final, mas foi surpreendido com uma homenagem justa. “Antes de dar a bênção, eu vou propor que todos possamos dar a bênção a uma figura que sintetiza toda beleza, todo empenho dessas nossas Missões. Frei Diego, eu vou pedir que você se coloque de joelhos diante desses a quem você serve com tanto empenho diante de nossa Fraternidade. Eu convido a todos, confrades, juventudes, irmãos e irmãs das Paróquias que estendamos nossas mãos sobre ele. No silêncio, cada um coloque a sua prece. Pelo Frei Diego, pela evangelização dos jovens, pela construção da paz”, pediu, dando em seguida a a bênção de São Francisco. mfj 2019
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DEPOIMENTOS
Durante a Celebração Eucarística do domingo (21/7), Frei Diego pediu que três jovens fizessem depoimentos para representar a todos. Mas pediu que os jovens enviassem depoimentos para o acervo das Missões. O jovem Ari, de Vila Velha, falou
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da experiência marcante que foi na Casa da Solidariedade com os moradores em situação de rua. Falou da força que pode significar um abraço para uma pessoa que perdeu tudo. Já João, da cidade de Agudos, e Lucas, da cidade de Duque de Caxias, encarnaram a parábola do bom samaritano nas vie-
las da Rocinha, quando ajudaram um homem que não conseguia sequer se levantar, tal o estado em que se encontrava depois de muitas doses de álcool. João se emocionou muito ao falar do estado deste homem e lamentou que a sociedade se acomode diante desses casos. Esse senhor agradeceu aos jovens pela boa ação, dizendo: “Vocês são meus filhos! Eu amo vocês!” Por último, Rafaela fez uma poesia para a Rocinha, que neste trecho diz: “Encontramos paz em barracos e pelas ruas espalhamos o bem, Mas o que a Rocinha fez por 65 jovens, não será esquecido por ninguém. É do luto para luta, da semente para a fruta, do choro para alegria, e de todos que se tornaram família. E de um gesto simples que jamais vamos nos esquecer: Precisamos viver simplesmente para que simplesmente todos possam viver”.
“Parem de nos matar!”,
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pedem os jovens franciscanos
primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude no Rio de Janeiro não será esquecido tão cedo pelos 600 jovens que se encontraram na Catedral São Sebastião na quarta-feira, 17 de julho. O grupo de jovens da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Nilópolis conduziu a mística do dia, denunciando a violência que hoje ceifa vidas no país e, principalmente, no Rio de Janeiro. “Parem de nos matar!”, pediram os jovens durante a dinâmica da tarde. Esse pedido ganhou força e, mais à noite, levou os jovens à comoção com a representação teatral das mortes de jovens nos últimos anos, especialmente a de Marcus Vinícius, de apenas 14 anos, que foi assassinado a caminho da escola, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Sua mãe, a empregada doméstica Bruna Silva, de 36 anos, emocionou os 600 jovens ao mostrar a camisa ainda ensanguentada do seu filho.
Depois de ouvirem o depoimento da mãe de Vinicius, os jovens acenderam velas e deixaram o salão de Eventos para continuarem a mística no altar da Catedral. Um quadro de dois metros trouxe um Cristo negro crucificado, representando todos os tipos de preconceito e violência que são cometidos. Essa cruz foi carregada em procissão da Catedral até o Convento Santo Antônio. Durante todo o trajeto, os jovens continuaram denunciando todas as formas de exclusão, desigualdades e as causas profundas que levam o povo a viver em condições de vida precárias. Antes de entrarem na capela do Convento, os jovens pintaram as mãos com uma tinta vermelha para imprimirem a marca na cruz. Na frente do Convento, os frades esperaram os jovens com bacias de água para lavarem as mãos. Já era mais de 22 horas quando teve início a Adoração do Santíssimo.
Segundo Frei Diego Melo foi um dia intenso, marcado pelo reencontro e pela saudação de Paz e Bem. “Um dia marcado pela oração inicial, que já nos colocou dentro da dinâmica e do tom do lema dessas Missões: ‘Profetas do diálogo e do respeito: ternura que acolhe a paz, com o vigor que supera a violência’. Frei Diego se referia à oração inicial das 15 horas, que começou no interior do Catedral e terminou no Salão de Eventos. O grupo de jovens de Nilópolis acolheu os participantes destas Missões com um abraço. Eles, contudo, estavam caracterizados de migrantes, LGBTs, índios, negros, mulheres, favelados. Cada jovem explicou a sua representação, terminando com o grito de todos: “Parem de nos matar”. Na entrada do salão, os jovens franciscanos receberam uma frase escrita para meditar e um grãozinho de incenso para queimar diante do Crucifixo de São Damião. mfj 2019
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O garoto Vítor Hugo se emocionou muito na encenação da morte de Marcus Vinicius
ENCENAÇÃO E ENCONTRO COM MÃE DE MARCOS VINICIUS COMOVEM JOVENS A encenação da morte de Marcus Vinicius foi feita pelo jovem Vítor Hugo, que se emocionou muito e levou os jovens às lágrimas. “Eu achei que seria só um evento aqui. Não. É um evento que a gente fala de Jesus, de Deus, de amor”, disse Bruna. “Gente, está difícil para criar um filho no mundo de hoje, onde o ódio prevalece. Eu acredito que o meu filho, quando ele foi tombado, levantou muitos
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outros filhos. Hoje, a minha luta é pelo meu filho, é pela minha filha, pelas filhas de todo mundo, é por vocês que estão aqui. A gente tem que se unir”, disse Bruna, que cria uma filha de 13 anos. “Sempre falava para o Marcus se esconder quando visse uma operação policial. Ele me dizia: ‘Não mãe, eles não atiram em estudante, não!’ Meu filho foi morto com a roupa e o ma-
terial de escola. Não dá para a gente cruzar os braços. Não dá para deixar que morram mais Marcus Vinicius a caminho da escola. Não podemos aceitar mais Marias Eduardas mortas dentro da escola. A gente não pode aceitar o genocídio de nossos filhos. A gente cria os nossos filhos com toda a dificuldade, aí eles denigrem a nossa imagem para justificar o injustificável”, criticou.
Bruna Silva: “Essa blusa me dá força”
“A gente sabe que o Estado entra lá na favela para trabalhar. Mas a gente quer que o Estado trabalhe a favor da gente. Eles estão ali para nos proteger, para guardar a nossa vida, mas são eles que estão nos matando”, lamentou, mostrando a camisa de Marcus Vinicius quando foi assassinado. “Essa é a blusa verdadeira dele. Não é de uma peça de teatro. É original. Essa blusa me dá força. A gente não pode aceitar blusas como essas. Ela é uma vergonha para o Estado e para o Brasil. A gente quer nossos filhos vivos para o bem desse país, para o bem nosso. Se não for eles, vamos ser somente idosos”, disse. “A gente vai combater esse ódio. Nós somos mães e vocês são nossos filhos. A gente não quer que mais Marcus Vinicius sejam tombados pelo estado. A gente quer que sejam o futuro. O meu luto é a luta”, ressaltou Bruna. mfj 2019
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“ A gente quer uma vitória de amor e não vamos desistir” Segundo Frei Diego, Bruna está representada na cruz que tem o nome de Marcus, o nome de José, o nome de Antônio, os nomes de tantos jovens, de tantas pessoas que estão sendo crucificadas. “Só que para nós a cruz, que era símbolo de derrota, tor-
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nou-se símbolo de vitória. Para você também, Bruna. A dor do teu luto está se transformando em luta e nessa luta você não vai ficar sozinha. Nós, como jovens, nos comprometemos a partir de hoje a dizer sim à vida, a dizer não às armas. A não apoiar
aqueles que pregam o extermínio dos pobres, dos negros, dos favelados. Bruna, não posso me comprometer sozinho e queria que esses jovens, a partir de hoje, fossem solidários à tua dor, fazendo-se instrumentos da paz e renunciando a todo tipo de violência,
de guerra e divisão. Se vocês, jovens, estão de acordo com essa proposta, sinalizem levantando as velas”, pediu Frei Diego. As velas se levantaram todas. “Marcus Vinicius está vivo nessas luzes que agora se levantam. Que essas luzes te ajudem, Bruna, a passar pela dor, pela escuridão, e a se transformarem em ressurreição”, desejou Frei Diego. “Vamos pregar o amor. Façam
sempre o bem. Deixo o meu amor para vocês. Com certeza, vou casa mais fortalecida hoje. Do luto para luta. A gente quer uma vitória de amor e não vamos desistir, não”, despediu-se Bruna. Frei Diego estava feliz com o interesse dos jovens pelas Missões. “Aqui nós somamos mais de 600 jovens. E por que essa juventude está aqui reunida? Para fazer uma experiência de
missão, de doação, de encontro, de compaixão, de solidariedade, encontro com Deus e com os irmãos. Tudo foi preparado com carinho por uma equipe enorme, que tem por objetivo proporcionar cinco dias de uma experiência missionária. Tudo o que vocês estão vendo aqui, foi pensando e sonhado há muito tempo. Então, o que queremos dizer é: Sejam muito bem-vindos!”, desejou o coordenador das Missões.
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Um trabalho profético! Do projeto ao esboço. Do esboço para a arte final. Deus nos inspirou e fez dessa arte um enorme chamado para missão! O Cristo preto chagado, cravejado de balas, favelado e ressuscitado! Junto a Ele está uma janela aberta: era sua mãe, carioca, moradora da Maré. Mãe do menino Marcus Vinícius tombado, mas vivo, presente! Do outro lado, o discípulo amado, outro menino, vivo e apto a colocar pipas e sonhos no alto! “Deus, eu não podia adivinhar. Por que você se fez assim? Por que se fez preto, preto como o engraxate, aquele que expulsei da frente de casa? Deus, pregaram você na cruz e você me pregou uma peça. Eu me esforcei à beça em tantas coisas, e cheguei até a pensar em amor, Mas nunca, nunca pensei em adivinhar sua cor...” (Neimar de Barros) Arte: Jonathan Lima, Amanda Andrade e Simone Cavalcanti Do Amaral
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Procissão da Catedral ao Convento Santo Antônio
Os jovens, carregando a Cruz do Cristo Negro Crucificado, saíram da Catedral e seguiram para o Convento Santo Antônio. Fizeram duas reflexões: uma na frente do majestoso prédio do Petrobrás e a outra em frente do Convento, terminando com a Adoração do Santíssimo no interior da capela. mfj 2019
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Pe. Renato e D. Beth: a esperança na desesperança
segundo dia das Missões Franciscanas da Juventude, na quinta-feira, 18 de julho, foi dedicado à formação dos 600 jovens presentes no Rio de Janeiro. Dois testemunhos de vida prenderam a atenção dos jovens. Primeiro D. Beth, que era uma moradora de rua, tornou-se a fundadora do Lar Dona Beth para acolher pessoas em vulnerabilidade social; depois, Pe. Renato Chiera veio como missionário da Itália para a Diocese de Nova Iguaçu, mas logo se deparou com realidade de violência na Baixada: “Não vim da Itália para ser coveiro”. Essa inquietação o levou a fundar a Casa do Menor, um lar que já acolheu milhares de crianças e adolescentes. Testemunhos de vida e de esperança.
O TESTEMUNHO DE D. BETH
A alegria e simplicidade de D. Beth conquistaram os jovens e serviu como grande aprendizado para suas vidas. Ela tem uma história de superação na vida. Dona Beth já foi moradora de rua e quando estava nessa situação “prometeu a Deus que se ela melhorasse as condições de vida ajudaria a toda e qualquer pessoa que precisasse”. Quando estava casada, um dia saiu cedo para comprar açúcar, pois naquela época andava em falta, e viu uma mulher jogando seu filho no mar. Ela impediu que essa mãe o matasse, criou este menino e fundou o Lar Dona Beth. Os filhos de Dona Beth, de diferentes idades e tamanhos que circulam pela casa, são a prova de que ela cumpriu com rigor a promessa feita anos atrás. Dona Beth conta que já teve dois infartos e um AVC e continua firme e forte. Como a maioria das instituições, ela passa dificuldades para manter o seu projeto na Rua Padre Pedro Martinotti, nº 2, Largo da Batalha, Pendotiba (Facebook.com/lar de Beth).
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A CASA DO MENOR
Em 1978, Padre Renato Chiera deixou a Itália para ser missionário na Baixada Fluminense, na circunscrição da Diocese de Nova Iguaçu. Aos 76 anos de vida, 52 anos de sacerdócio e 42 anos de Baixada Fluminense, ele é o fundador da Casa do Menor, uma instituição que já atendeu milhares de crianças e adolescentes em Miguel Couto. Surpreso, pois segundo ele esperava encontrar um “grupinho de jovens”, Pe. Renato confessou que estava assustado por falar para tantos jovens e nem tinha preparado nada. Seu testemunho, contudo, foi um grande aprendizado nesta manhã. “Estou contente por ver jovens apaixonados por Deus e atraídos por Francisco de Assis. Ele foi um jovem que se despiu
de tudo aquilo que não era dele. Ele cantava a alegria, a liberdade, a felicidade. Para alguns, era chamado de louco. “Eu queria fazer essa loucura como Francisco, mas tinha medo. Até que um dia sofri um acidente e cheguei à conclusão de que Deus poderia fazer o que quisesse com a minha vida, pois era dele. E Deus me trouxe para o Brasil”, contou. “A Baixada é o lugar mais bendito do mundo, porque lá Jesus está crucificado e grita abandono e precisa de amor”, falou aos jovens. A Casa do Menor, fundada em 12 de outubro de 1986, tem como objetivo reescrever as suas histórias com novos valores humanos inspirados no Evangelho. Para ele, contudo, não é preciso muita pregação. Basta a Pedagogia da Presença, tema de um de seus livros.
Contra armas, profetas do diálogo e do respeito
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egundo o coordenador das Missões Franciscanas da Juventude, Frei Diego Melo, não há outro caminho para o cristão, católico e franciscano senão o do diálogo e do respeito. “Os dias de hoje nos pedem uma profecia muito grande. E qual é a nossa profecia? A profecia do diálogo e do respeito”, disse o frade durante a Missa do Envio na quinta-feira, às 17 horas, concluindo a primeira parte das Missões Franciscanas da Juventude no Rio de Janeiro. Para o frade, os dias de hoje nos pedem uma profecia muito grande, que é a profecia do diálogo e do respeito. “Nós já ouvimos e presenciamos inúmeros testemunhos que falavam desta paz e aí está a nossa contribuição para a evangelização enquanto franciscanos: sermos promotores da paz. E nós queremos promover esta paz de que forma? Através do diálogo, do respeito, da ternura - mas não confundir ternura com passividade, acomodação -, entendendo sempre a ternura que acolhe essa paz com vigor. Por isso, o grito de vocês tem que ser forte. Por isso nossas orações foram fortes. Porque é com vigor que queremos enfrentar a violência”, insistiu. Frei Diego disse que o Evangelho de hoje ajuda nesse entendimento ao falar do verdadeiro amor ao próximo. “Eu não sei se vocês, mas eu tenho sentido medo de falar em ‘amor ao próximo’, respeito, diálogo, quando parece que o momento presente nos aponta para outro lado: para o desrespeito, para o ódio, para a separação, para o preconceito. Inclusive aqueles que se dizem seguidores de Jesus, não querem ouvir o Evangelho de hoje. Ao invés do sinal de paz, ao invés do sinal da cruz, que é o sinal de resposta ao ódio, à violência e à morte, que é um sinal de amor, de perdão e de paz, parece que estão preferindo o sinal das armas. Cristão, católico, franciscano que faz o sinal de arma com as mãos, não serão profetas do diálogo e do respeito. Não podem dizer que são seguidores de Jesus”, ressaltou. mfj 2019
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Catedral São Sebastião, a “mãe” que acolhe os jovens
O D. ORANI VISITA OS JOVENS
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Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, visitou os jovens franciscanos na Catedral. “É com alegria que cumprimento as Missões Franciscanas da Juventude, que acontecem na sua sexta edição aqui no Rio de Janeiro, num mês todo especial, pois faz seis anos que celebramos a JMJ no Rio de Janeiro. Neste tempo frio e chuvoso do Rio de Janeiro, os jovens que são ligados aos franciscanos ou à juventude franciscana, vindo de todo o Brasil, especialmente do Sul do Brasil, são portadores da ‘Paz e do Bem’ ao passarem justamente diante das pessoas, ao entrarem nas casas, ao estarem com os mais excluídos, anunciando a vida, anunciado Jesus Cristo, e mostrando que é possível construir um mundo diferente através dessa realidade de estar juntos ou próximo das pessoas”, disse o Cardeal, que pediu para o Pe. Rafael falar sobre os trabalhos sociais realizados na Catedral. “E tenho certeza que, levando consigo também a experiência da missão, que deve ser permanente como nos pede o Papa Francisco nessa ‘Igreja em Saída’, para que permanentemente anunciemos o Cristo em toda a nossa vida, junto aos amigos, junto aos familiares, junto às pessoas ao nosso redor. Desejo que essa experiência missionária seja de enriquecimento para toda juventude e que, cada vez mais, cresça a fraternidade e a paz. Deus abençoe!”, desejou D. Orani. Frei Diego agradeceu muito a D. Orani pela ajuda que a Arquidiocese está dando ao oferecer toda a estrutura da Catedral para a realização das Missões.
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s dois primeiros dias das Missões Franciscanas da Juventude tiveram o apoio incondicional da Catedral São Sebastião do Rio de Janeiro e do Convento Santo Antônio. Foi graças à generosidade do pároco Pe. Cláudio Santos que o evento se tornou realidade, segundo Frei Diego Atalino de Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional e das Missões, tendo em vista o grande espaço da Catedral para acolher 600 jovens. Com compromisso assumido anteriormente, Pe. Cláudio deixou Frei Diego à vontade, como se estivesse em sua casa. Para Pe. Cláudio, a Catedral “é mãe” e “a hospitalidade é algo que deve ser a marca da vida de um cristão”. Aos 48 anos de idade, Pe. Cláudio completou no ano passado 20 anos de ordenação presbiteral e foi nomeado pároco pelo Cardeal D. Orani Tempesta em janeiro de 2017. “A Catedral é a “Igreja-mãe e, como mãe, deve acolher a todos. Eu fiquei sabendo da iniciativa das Missões Franciscanas pelo nosso Regional Leste 1 e achei por bem, então, que pudéssemos fazer parte desse momento de evangelização. Por isso, abrimos as portas da Catedral São Sebastião. E realizar esse acolhimento é cumprir a vontade de Deus e esse também é o desejo de nosso Cardeal Dom Orani. Ele tem como lema episcopal: ‘Para que todos sejam um’. Então, nós devemos lutar para que, cada vez mais, esse sentido da unidade, nessa obra de evangelização, aconteça no meio de nós”, explicou Pe. Cláudio, confessando que no início do seu processo vocacional pensou em ser franciscano. “Mas o Senhor me encaminhou para a vida diocesana e nem por isso nós devemos e podemos deixar de olhar e ver o Cristo que sofre na pessoa do pobre”, completou, explicando que a Catedral tem um trabalho social muito grande, especialmente com moradores em situação de rua.
D. Gilson da Silva, bispo de Nova Iguaçu
Experiência missionária nas Paróquias
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erminou no sábado à noite, 20 de julho, a experiência missionária que levou, durante dois dias, os 600 jovens franciscanos para as oito Paróquias da Província da Imaculada Conceição e uma Paróquia diocesana. Foram dias intensos, onde os jovens puderam conhecer outra realidade daquela onde vivem. Aprenderam o real significado de palavras como fraternidade, partilha, respeito e diálogo. Viveram cinco dias de emoções e reflexões.
Antes de saírem da Catedral, Frei Diego Melo, coordenador das Missões, já alertava que o desafio nesses dias seria bem maior. Uma coisa era transitar no grupo de 600 jovens e outra era fazer parte de um grupo pequeno, onde o protagonismo seria dos jovens. Mas pelos depoimentos abaixo, eles se lançaram com o coração e fé nesta experiência para marcar suas vidas. “A MFJ foi a experiência mais extraordinária que já vivi na vida! Pude conhecer uma
parte do Rio de Janeiro bem diferente daquela que vemos nas novelas. A vida real é mais bonita, cheia de alegria e solidariedade, apesar de tantos problemas e dificuldades. São pessoas que não têm muito, mas ajudam aos demais. Ao adentrar a casa delas para levar a palavra de Deus e o alento às pessoas doentes, saímos tomados pelo Espírito Santo e de todo o amor que poderíamos receber”, disse Daniely Niero, de Vila Velha (ES), 35 anos.
D. Gregório Paixão, bispo de Petrópolis
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“A missão tornou-me mais humana, sensível e realista diante do mundo e suas feridas. Permitir a nós, missionários, sermos protagonistas e não enfatizar a missão somente no fim dos dias, ou seja, não termos apenas vivências e formação, como também a oportunidade da experiência, é único e inspirador. Não deixei de ser o Túlio Tavares, do Rio de Janeiro, identificado e sobrevivente da comunidade LGBTQI+, mas passei a ser um novo Túlio com maior fome e sede da luta
contra as desigualdades sociais e a busca infinita da liberdade e amor constante do Criador”, disse Túlio José da Silva Tavares, da Pastoral da Diversidade do Rio de Janeiro. A Universidade São Francisco (USF), através da Pastoral Universitária, também esteve presente nas Missões Franciscanas da Juventude. Veja os depoimentos: “Não tenho palavras para descrever a sensação que é participar de momentos como esses, talvez simples, mas que
Túlio Tavares
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fizeram total diferença em minha vida. Foram dias de muita diversão, paz, conversas, muita oração, aprendizados e de muita união. Conheci culturas diferentes, Cristo no necessitado e aprendi a amar na dor e no pouco também. Tive a oportunidade de entender o carisma franciscano e de provar da mesma graça que eles!”, Aline Caroline Niza Tilhaqui, aluna do 4º semestre de Engenharia Mecânica. “Foi minha primeira vez nas Missões Franciscanas da Juventude e me encantei em poder conhecer a realidade de um povo tão carente. As mídias sujam a imagem do Rio de Janeiro dizendo ser lugar de tráfico, violência… Mas não! É um lugar que precisa de mais amor e Jesus para que haja Paz e Bem. As missões não acabaram, ou melhor, apenas começaram. Quero muito estar presente na próxima Missão em Xaxim-SC; foi extremamente incrível e sou missionária com muito orgulho!”, disse Luana da Silva Sousa, aluna do 2° semestre de Biomedicina.
Daniely Niero
O apelo de Leonardo Boff aos jovens:
Resgatar a permanente atualidade de São Francisco
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ranciscanismo é, talvez, a melhor tradução do cristianismo porque São Francisco é o último grande cristão depois do primeiro, que foi o próprio Jesus Cristo. E sua mensagem, que é a sua pessoa, é de extrema atualidade. Especialmente hoje que vivemos em sociedades que se desgarram, que não vivem em fraternidade, que se guerreiam, que têm ódio. São Francisco é o homem criador de pontes. É o homem da fraternidade, não só fraternidade entre humanos, mas com todas as criaturas. Chamava a todas com o doce nome de irmãos e irmãs. Por isso, a significação de São Francisco tem um valor especial face à crise que o sistema terra e o sistema vida estão passando, porque a cultura do capital, que só conhece a acumulação dos bens materiais, sem nenhuma solidariedade, está devastando os bens de serviço da terra, que são bens de serviços comuns para toda a humanidade. O que eles privatizam em nome e na mão de poucas pessoas. São Francisco é aquele que se ir-
manou com todos os seres e não se distanciava da natureza como quem está em cima dominando, mas como quem está ao pé dela, sentindo-se irmão e irmã de todas as coisas. Então, essa atitude de São Francisco é que precisamos resgatar se queremos garantir um futuro para a nossa Mãe Terra, para o Planeta Terra. E para a nossa civilização, porque elas efetivamente estão ameaçadas, dada a profunda agressividade do ser humano. O espírito de São Francisco é de se reconciliar com todos os seres, venerar os seres como sacramentos de Deus. E, ao mesmo tempo, é aquele que se abriu ao coração do mundo. Ele é, talvez, aquele que mais criou pontes, com os muçulmanos chamando-os de irmãos, pedindo ao Papa para que não fizesse guerra contra eles e hoje, mais do que nunca, ele é uma referência mundial de paz. Quando as religiões se encontram, não rezam o Pai Nosso, rezam a Oração da Paz de São Francisco, porque nela tudo é verdadeiro e todos podem dizer amém. Então, o apelo que faço é que nós resgatemos a per-
manente atualidade de São Francisco, vivendo seu espírito de simplicidade, de amor à natureza, de respeito a cada ser, porque cada um merece viver, merece existir. E nós somos os guardadores, os cuidadores. Como diz o Papa Francisco na sua Encíclica “O Cuidado da Casa Comum”. São Francisco tinha cuidado por todos. Cada ser, como a minhoca no caminho, o galho quebrado. Cuidado do irmão doente para que fosse cuidado. Então, junto com a pobreza, que é um despojamento para estar próximo dos outros, ele colava o cuidado de uns para com os outros, hoje o cuidado da Mãe Terra, e por todos os seres. Então, a nova mensagem é do puro Evangelho, traduzida para os dias de hoje, uma figura que é um arquétipo. Ele não tem inimigo. Ele é venerado no Japão, na China, em todos os lugares como referência de humanidade. Nós podemos nos orgulhar como humanos de ter produzido uma pessoa como São Francisco. Ele é dos franciscanos, é da Igreja, mas principalmente de toda a humanidade. Paz e bem! mfj 2019
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A despedida de Irmã Isabel
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dia de formação nas Missões Franciscanas da Juventude começou com a palestra de Ir. Maria Isabel, da Congregação das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, sobre o tema “Profetas do diálogo e do respeito, ternura que acolhe a paz, com o vigor que supera a violência”. O momento mais importante, contudo, deste encontro com Irmã Isabel, que vem acompanhando Frei Diego nos eventos vocacionais há mais de sete anos, foi o anúncio de sua despedida do Brasil, já que ela vai ser missionária em Angola. Ir. Isabel lembrou que nesse ano as Missões também têm como inspiração a celebração dos 800 anos do encontro de Francisco de Assis com o Sultão Al-Malik Al-Kamil. Por isso, o tema deste ano bebe nesta fonte e confirma que é possível uma convivência pacífica e desarmada. “Ser franciscano não é dizer só ‘Paz e Bem’. É muito mais do que isso. Esse encontro precisa ser reinventado a cada dia. Ele precisa estar em nossos corações todos os dias. Por isso estamos aqui”, disse Ir. Isabel. Segundo Ir. Isabel, Francisco foi um homem que, na sua simplicidade, no seu vigor, no seu jeito de ser, não teve armas, não teve espada, nada o impediu de ir até o sultão. “Vamos dar um grande grito que a sociedade precisa ouvir. Um grito de ‘Paz e Bem’. Mas que não seja um ‘Paz e Bem’ dito a partir do queixo e do nariz e sim que ele parta do coração e das atitudes. Que ele parta daquilo que fazemos. Não só aqui na Missão, mas que a gente seja esse profeta lá onde estamos todos os dias. Este é o grande objetivo dessas missões!”, completou Ir. Isabel. Para Frei Diego, já estamos com
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saudades de Ir. Isabel. Para homenageá-la, foi exibido um vídeo reprisando os principais momentos nesses trabalhos com as juventudes. “Desde 2013, meu primeiro ano sozinho no SAV Provincial, quando a responsabilidade desse trabalho começou a me causar insônia, um pouco por medo diante do desconhecido e pela responsabilidade de ter tantas vocações e tantos jovens, nós começamos a caminhar juntos. Foi naquela primeira viagem para São Lourenço que você foi se aproximando de nós. A princípio fiquei só de olho, observando e tentando entender qual era a daquela freira... Como ela trabalhava, qual a profundidade da sua espiritualidade, como ela se relacionava com as pessoas... Mal sabia eu que aquela Missão de ordenação do Frei Rodrigo seria a primeira de tantas missões que vivenciaríamos juntos. Mal sabia eu que Deus estava colocando ao meu lado uma verdadeira fortaleza que iria me amparar nos momentos difíceis, como naquela missão em Registro, realizada apenas duas semanas após a morte do meu pai, e que você com o seu silêncio orante me ajudou a suportar, a guardar no bolso a minha própria dor e a doar-me inteiramente por aquele povo que lá nos esperava
como portadores da Boa Nova de Jesus”, revelou Frei Diego, emocionando-se neste momento. “Irmã Isabel, foram muitas coisas vividas juntos. Muito aprendi contigo e muito de mim, de nós, herdamos de você. Todo esse sonho é tão concreto, Irmã Isabel, como o coração palpitante dessa juventude que hoje aqui se reúne com sede de Deus, com sede do sagrado, com desejo de ajudar o próximo. Obrigado, Irmã Isabel, por tudo o que você é e representa para a nossa juventude. Nosso coração tem um misto se sentimentos: de certa forma nos sentimos órfãos com a sua partida, mas também nos alegramos porque sabemos que chegou a hora de você também florescer em outras terras, lá onde Deus te quer, pois a sua presença sonhadora e encantadora é chamada a encantar outros corações. Sua vida é chamada a florescer em outro país e em outro continente. E como você muito bem nos ensinou que não podemos parar os sonhos de Deus, hoje, ainda que com o coração partido, nós deixamos você partir”, homenageou, terminando: Obrigado por você ter feito da sua vida uma missão permanente. Que esse mesmo Jesus te abençoe e te ilumine nessa nova missão que você está abraçando!
O esplendor de Stefany nas Missões
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o primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude, dificilmente alguém dormiu antes da meia-noite. Foi uma jornada intensa. Às 7 horas, no dia seguinte, meio sonolentos, os jovens já estavam no Salão de Eventos e foram acordados pelos animadores de palco. Entre eles estava uma bela morena como seu próprio nome define. Sorridente, magra e alta, pulava e dançava sem parar. Ela já havia chamado a atenção no dia anterior, quando entrou no salão lacrando com o esplendor azul. Stefany de Oliveira Belo, natural de Nilópolis, na Baixada Fluminense, não mede esforços para fazer o que gosta e ainda mais por uma boa causa. “Quando a gente faz um trabalho com propósito muito bonito, quando a gente acredita que isso pode mudar as pessoas e que a gente, de certa forma, está sendo um exemplo para os mais jovens, vale a pena. A gente faz o que tem que fazer. Se tiver que botar um esplendor e fingir que é passista, a gente faz. Se é para pular, a gente pula; se tiver que rezar, a gente reza; se tiver que varrer, a gente varre. Tudo pela honra e glória de Deus e da me-
lhor forma para que os jovens sintam isso”, acredita esta jovem, que fora do palco parece ter mais que sua idade de 19 anos, pela maturidade que demonstra. E ela apenas está começando este processo de formação, já que se concentra nos estudos para passar no Enem e cursar História. Stefany cresceu na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, assistida pelos frades da Província da Imaculada Conceição. “Eu literalmente cresci ali. Desde pequena, participei de tudo, a começar pela catequese, onde tinha como catequista a Aline, que está na Bahia e participa destas Missões. Ela também era coordenadora da catequese nesta comunidade. Foi ela que nos mostrou um pouco de como ser franciscano, de como ser cristão, de não estar somente dentro da igreja, mas estar dentro de uma “Igreja em saída”, como quer hoje o nosso Papa. A gente sempre teve esse exemplo”, recorda Stefany, que depois começou a fazer parte da Pastoral da Juventude, onde está até hoje. “O meu grupo jovem faz 19 anos neste ano. Então, tem a minha idade. Eu cresci com eles. Via a atuação deles na co-
munidade e queria ser igual”, observa. Não é só na Igreja que Stefany encontra apoio e referência. A família está na base de tudo. “Meus pais são católicos. Por parte de pai, todos são católicos. Pelo lado da minha mãe, é misturado. Minha mãe, minha tia e meu pai são muito presentes na Igreja. É o exemplo que tenho dentro de casa”, diz Stefany. Sua irmã Iasmin participou pela primeira vez destas Missões. Sua história com as atividades das juventudes franciscanas começa com uma foto. “A primeira vez que tive vontade de participar de um evento franciscano foi porque vi no Facebook quatro amigos que foram para uma caminhada franciscana e estavam radiantes na foto. Deu vontade de ter um sorriso igual. Aí eu falei assim: ‘Tia Aline, eu não sei para onde vocês foram, só sei que na próxima quero estar junto’. Desde então, comecei a fazer o itinerário franciscano”, explica Stefany, que já participou das Missões de Curitiba, Bauru e Agudos, da Caminhada de Campos do Jordão, e representou a Província num Curso de Verão em São Paulo. “Tenho gratidão pelos frades que nos dão formação e aos jovens que pude acompanhar”. Para ela, o depoimento de Bruna, a mãe do garoto Marcus Vinicius, assassinado a caminho da escola, marcou estas Missões. “Eu chorei muito. Já perdi alguns amigos para o tráfico. Uma vez, um tio que era motorista de kombi, foi morto (Stefany se emociona). Quando a gente ouve um testemunho desses é muito fácil entender e reviver tudo o que acontece ao nosso redor. Para ela, o quadro representando Jesus negro e crucificado retratou toda a realidade do Rio de Janeiro e de outros estados do Brasil. “Muitos Jesus são mortos todos os dias, pessoas que teriam um futuro brilhante e que, infelizmente, têm suas vidas interrompidas por uma bala perdida, que, na verdade, é uma ‘bala achada’”, lamenta. Para ela, uma apaixonada por História, o Brasil regride no tempo: “Já vimos isso mais de uma vez”. Mesmo assim, ela não perde a esperança: “É preciso dar as mãos - ninguém solta a mão de ninguém - e com certeza vamos mudar essa situação. Não é preciso nem perguntar qual escola de samba é sua preferida, não é mesmo? mfj 2019
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Missões: A grande expressão de solidariedade
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eunir 600 jovens de cinco estados no Rio de Janeiro foi uma grande expressão de solidariedade. Esta é a primeira conclusão que Frei Diego Melo tira de todo esse trabalho que começou em agosto do ano passado. Uma ajuda daqui, uma mão ali, um apoio de lá, uma rifa, uma partilha, enfim, estava feita a corrente de solidariedade. Ela garantiu a realização das Missões Franciscanas da Juventude. Esse apoio começou quando Frei Diego, o animador vocacional da Província Franciscana da Imaculada Conceição e coordenador das Missões, fez a proposta destas Missões para os dois Regionais dos Frades da Província (Serra/Baixada Fluminense e Rio de Janeiro). Com a aprovação das oito paróquias franciscanas do Rio de Janeiro, Frei Diego criou a comissão organizadora, que é composta de dois ou três representantes de cada paróquia. “Uma vez por mês, dois ou três vinham aqui para o Convento Santo Antônio participar de uma reunião. Eles fizeram a ponte com as paróquias e prepararam os eventos locais. Nós, como comissão central, pensamos os grandes momentos”, explicou Frei Diego. Isso porque as Missões tiveram como base, nos dois primeiros dias, a Catedral São
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Sebastião, que cedeu toda a estrutura para as celebrações, palestras, oficinas, hospedagem, refeições e higiene. O Convento Santo Antônio acolheu, no primeiro dia, outra parte dos jovens na celebração da noite e na hospedagem. Na sexta-feira e no sábado, os jovens foram distribuídos em grupos nas oito paróquias e ficaram hospedados em casas de famílias. O retorno para o grande evento das Missões acontecerá domingo com a Missa de encerramento, às 7 horas, na Praia de São Conrado, e a Caminhada pela Paz até a Rocinha, às 11 horas. “Acho que a missão acontece quando a gente consegue sentar junto, diferentes paróquias e diferentes realidades eclesiais e sociais, para pensar e caminhar em direção a um objetivo comum. Então, essa Fraternidade que a gente já gerou, esse intercâmbio, essa troca de experiências da comissão central foi a pré-missão com sucesso”, acredita Frei Diego, agradecendo muito o apoio dos párocos franciscanos e do pároco da Catedral, Pe. Cláudio Santos. Segundo Frei Diego, os custos para realizar as Missões giram em torno de R$ 75 mil. Todo o dinheiro veio das inscrições (R$ 50,00 para cada jovem), da venda de camisetas nas paróquias e da rifa de uma TV 42 polegadas. “As inscrições não seriam suficientes para pagar tudo e, como não queríamos aumentar o preço, pensamos em alternativas. Uma delas foi a rifa do aparelho de TV, doado pela Fraternidade da Porciúncula, de Niterói, e a outra a venda das camisetas franciscanas. Cada paróquia da Província recebeu um número x de camisetas para vender e o lucro foi revertido para as Missões. Então, esse montante deu condições para custear todas as despe-
sas”, detalha Frei Diego. Segundo o frade, os maiores gastos são com a alimentação e com os banheiros alugados. Para as refeições, foi contratada uma Cooperativa de Mulheres da Comunidade da Maré, que se chama “Maré de Sabores”. “Essas mulheres se uniram numa cooperativa e oferecem refeições naturais, orgânicas e não usam nada industrializado. Desse trabalho, tiram a sua subsistência. Contratamos por essa questão ecológica e social. No total, serviram 570 refeições na janta desta quarta e 570 refeições no almoço de quinta”, adiantou Frei Diego. Outra despesa ficou por conta da contratação de chuveiros e banheiros. “Contratamos dois contêineres com 12 chuveiros cada um e banheiros químicos. Também não estamos usando nenhum tipo de descartável. Mandamos fazer uma caneca, que será usada nos cafés e refeições. Inclusive os chapéus, que vieram de Cocal, na Bahia”, destacou o frade. Os chapéus foram especialmente preparados por mulheres do semiárido brasileiro que fazem parte da Cooperativa Artesãs Filhas do Vento. Trata-se de uma iniciativa nascida no município de Brotas de Macaúbas (BA), cujo objetivo é fazer da palha do Licuri, palmeira nativa da região, uma fonte de renda e de resistência para as famílias locais. Frei Diego também elogiou e agradeceu à Associação de Ensino Bom Jesus, que doou todas as camisetas do encontro, e à Editora Vozes, que doou a impressão de todos os livretos para essas Missões. “Indiretamente, o Serviço de Animação Vocacional entrou com 10 mil reais, dinheiro que veio da venda das camisetas”, disse o frade.
Lançado o Itinerário Franciscano das Juventudes
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riado recentemente, o Conselho Provincial de Juventudes, da Província Franciscana da Imaculada Conceição, já se reuniu e fez nestas Missões Franciscanas o lançamento oficial do Itinerário Franciscano das Juventudes. “Esse Conselho é uma reivindicação de vocês”, lembrou Frei Diego Melo, coordenador das Missões e animador vocacional da Província. Segundo o frade, esse movimento que começou pequeno há mais ou menos oito anos, cresceu e hoje precisava de organização. “Para isso foi criado o Conselho. Nada melhor do que jovem pensando como jovem, preparando as atividades para os jovens”, explicou, acrescentando que poderia chamar outras lideranças que não fazem parte deste Conselho e que, felizmente, há muitas neste trabalho. “Mas um conselho, pela própria expressão, precisa ter um grupo mais reduzido. Então, a gente tentou buscar expressões distintas de diferentes realidades de Igreja, diferentes Estados, diferentes missões”, justificou. Segundo Frei Diego, quem não foi chamado agora para este Conselho, será chamado em outra ocasião, pois ele será renovado. O primeiro trabalho deste Conselho foi organizar todas as atividades com as juventudes e, com isso, nasceu o Itinerário. Para um jovem participar das atividades dos franciscanos, ele tem que seguir os seguintes passos: 1. Para conhecer a vida franciscana, foi criada a Caminhada Franciscana da Juventude (CFJ), que é uma peregrinação na experiência de itinerância de São Francisco. Segundo Frei Diego Melo, é a “porta de entrada” para participar dos eventos franciscanos da Província.
2. Para compartilhar o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar, existem as Missões Franciscanas da Juventude (MFJ), que é a possibilidade de viver dias de encontro, reflexão, formação, oração e espiritualidade, baseados no carisma franciscano, bem como uma experiência concreta de missão e solidariedade para com as mais diferentes realidades das periferias existenciais e geográficas. 3. Para aprofundar-se no carisma franciscano, os jovens têm o “Alverne Encontro de Formação para Jovens”. Trata-se de um encontro de formação realizado por regiões da Província, que atualmente conta com a assessoria do mestre em espiritualidade Frei Vitorio Mazzuco. 4. Para aprofundar-se no carisma franciscano existe o Retiro de Lideranças Frei Egídio e Acampamento Franciscano. Essa experiência é feita em três dias de silêncio, oração e contemplação e é reservada para novas lideranças. Realiza-se no Eremitério Frei Egídio de Rodeio (SC). Já o Acampamento Franciscano é
uma experiência radical do carisma franciscano através de atividades desenvolvidas secretamente durante o acampamento. 5. Para aprofundar-se no carisma franciscano, existe o Acompanhamento Vocacional. Esses encontros vocacionais regionais visam o discernimento e a orientação vocacional aos candidatos à vida religiosa franciscana. 6. Para construir um projeto de vida, o itinerário acontece através do Voluntariado da Solidariedade e Experiência Missionária na Bahia - Oportunidade de exercer uma atividade voluntária nos diversos trabalhos da Frente de Solidariedade com os Empobrecidos, no Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), em São Paulo. Já a experiência missionária na Bahia é uma inserção cultural, eclesial e social no sertão da Bahia. São dias de Missão e convivência com as famílias da Diocese da Barra. Frei Diego apresentou os missionários baianos Adrilson Souza de Oliveira (Dadá) e Leiliane Moreira Silva, que vieram participar deste evento. mfj 2019
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A grande festa do Padroeiro de Gaspar
ão Pedro abençoou seu povo querido com uma bela manhã ensolarada no domingo, 30 de julho. Ao raiar do dia, a comitiva que navegaria com a imagem do Santo Padroeiro pelas águas do Rio Itajaí-Açu já se encontrava preparada para dar início ao fulgurante cortejo naval. Ao chegar ao centro da cidade, na Igreja Matriz, uma grande multidão já aguardava ansiosa pela chegada da tradicional “Jabiraca” que vinha carregando não só uma imagem de gesso, mas a expressão da fé do povo gasparense, que coloca suas vidas nas mãos de São Pedro. A Celebração Solene da Festa de São Pedro Apóstolo teve início com a procissão dos festeiros, das comunidades, da imagem e da entrada do presidente da celebração, Dom Rafael Biernaski, juntamente com os concelebrantes: o pároco Frei Paulijacson P. de Moura, o guardião da fraternidade Franciscana São José e Vigário Paroquial, Frei Carlos Ignácia, o Vigário Paroquial, Frei Aldolino Bankhardt, o diácono Pedro Schmidt, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário – de Gaspar – e toda a equipe de celebração. Dom Rafael começou a homilia saudando a todos os presentes, especialmente os frades que compõem a Fraternidade de Gaspar. “Celebramos solenemente hoje a festa de São Pedro e São Paulo. São Pedro, nosso padroeiro, está cuidando de mim, da minha vida, da minha história, da minha família e da minha comunidade”. Refletindo sobre as leituras, o presidente da celebração disse: “Na terceira leitura de hoje, do Evangelho de Mateus, capítulo 16, Jesus pergunta aos discípulos: ‘Quem dizem os homens, ser o Filho do homem?’. Eles alegaram ser Elias, João Batista ou algum dos profetas. Mas Jesus insistiu perguntando: ‘Quem dizem os homens que Eu sou?’” Voltando-se para a assembleia, Dom Rafael prosseguiu: “Quem é Deus para mim? Quem é Jesus? Os discípuagosto de 2019 – comunicações
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los pensaram que o Filho do Homem fosse algum dos profetas, pois eles é quem mais os aproximavam de Deus. Em nossa vida, esses profetas podem ser os nossos pais, os nossos catequistas, aqueles que nos revelam Deus. Mas eles dizem aquilo que eles compreendem de Deus, aquilo que aprendem na Missa, aquilo que a Igreja diz. Pedro foi mais direto. Não olhou para o passado. Ele disse: ‘Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!’. São Pedro dá uma resposta bonita, mas ainda não está entendendo quem é Jesus. Ele pensa Jesus do seu modo. Quando vocês ou quando nós fazemos uma pergunta a alguém, nós levamos a pessoa a nos responder o que queremos. Jesus, porém, vai fazendo com que Pedro entenda aquilo que Ele é. Jesus vai construindo Pedro. Pedro vai sendo a resposta de Deus. Pedro vai dizendo quem é Jesus, vai se revelando a partir de Jesus”, explicou o bispo. Debruçando-se es-
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pecialmente sobre a missão confiada a Pedro, o Santo celebrado hoje, nesta cidade, o presidente da celebração prosseguiu: “Quando Pedro compreende que Deus não deixa que ele se perca, ele se sente preparado para seguir o que Jesus diz: ‘Pedro apascenta as minhas ovelhas!’ e se torna a Pedra sobre a qual Deus edificou a sua Igreja”. Essa tarefa de Pedro é uma tarefa de responsabilidade. Deus não dá um poder a Simão Pedro, para ele ser maior que os outros, mas usa Pedro de exemplo: “Eu te digo, tudo que ligares na terra, eu ligarei no céu. Pedro, você
tem autoridade, autoridade para dizer isto não está certo, mas se pecares, se desligares algo na terra, eu também desligo no céu”, explanou o bispo. Dom Rafael colocou-se como exemplo desse labor: “O que eu não for capaz de ligar na minha diocese, não será ligado no Céu. Por isso, tenho uma tarefa: manifestar a glória de Deus. Hoje é o dia de São Pedro, é o dia do Papa Francisco, que continua a sucessão de Pedro, e o Papa me manda aqui para dizer: cuida das minhas ovelhas Dom Rafael, como fez Pedro e como faço!”, exemplificou. Encerrando a sua homilia, o bispo, segurando as chaves de São Pedro nas mãos, se voltou para a imagem do Padroeiro e prosseguiu: “São Pedro, nós temos que te agradecer. Jesus pediu que tu cuides de nós como as ovelhas do Senhor. Pedro, muito obrigado pelas ovelhas cuidadas, que somos nós! Tu foste capaz de compreender a fidelidade por Deus e nos transmitiste esta fidelidade. Deus te pague! Obrigado pelo teu poder, pelo teu amor e por tua luz. Viva São Pedro!”, completou. Após a comunhão, Frei Paulijacson deu início aos agradecimentos: “Primeiro, queremos agradecer a Deus, agradecer a São Pedro, nosso Padroeiro, a São Paulo, Padroeiro da nossa diocese, ao nosso Pai Seráfico São Francisco e a Santa Clara, por este clima perfeito da festa. É impressionante a graça e a bênção de Deus favorecendo a boa participação de todo o povo nas celebrações religiosas e nos festejos populares. Somos muito gratos a Deus. Queremos agradecer também a Dom Rafael, que aceitou o nosso convite nesses três dias como pregador
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do tríduo e nos encantou com suas palavras inspiradoras”. Agradecendo ainda aos confrades, aos festeiros e a todas as pessoas envolvidas na organização da 169ª Festa de São Pedro Apóstolo, Frei Paulijacson encerrou: “Que Deus nos abençoe a todos, aos conselhos das nossas comunidades e às pastorais, aos movimentos e aos grupos da nossa paróquia. Sem vocês esta festa não seria possível!”. Tendo o magnífico coral, que abrilhantou a solenidade, entoado o Hino Pontifício, Dom Rafael fez sua última exortação: “São Pedro tem consciência de que as ovelhas são de Deus. Por isso a tarefa: “Apascenta, Pedro, as minhas ovelhas!’. Prossigamos no caminhar de nossa existência, com este espírito e acolhendo esse amor de Deus. Obrigado a todos. Que recebamos, agora, a bênção de Deus”, completou. Terminada a celebração, o bispo e os frades da Paróquia desceram ao Salão Cristo
Rei e ao Passeio São Pedro, para fazer a tradicional bênção dos setores da festa.
Dom Rafael prega Tríduo e preside Missa da Catequese
A festa litúrgica, guiada pelo: “A exemplo de São Pedro, arautos da Paz e do Bem”, teve como pregador do Tríduo Dom Rafael. Ele também presidiu a Missa da Catequese, um dos momentos litúrgicos mais belos da festa. Crianças, adolescentes, catequistas e a comunidade celebraram juntos o Padroeiro. A música na voz do povo com a proposta: “Quem é
que vai nesta barca de Jesus? Quem é que vai?”, deu uma ideia da beleza da celebração. Dirigindo-se aos pais, o Dom Rafael transmitiu palavras de gratidão por educarem seus filhos na fé: “Muito obrigado por transmitirem isso a seus filhos”. Depois, dirigindo-se aos jovens e adolescentes, disse: “Deus o trouxe aqui hoje porque você é importante para Ele. Jesus está entrando na sua vida para dizer que você é importante. Que você, querido jovem e adolescente, tenha confiança em você, porque Deus o ama assim como você é. Obrigado pela existência de vocês”. Voltando-se para a imagem de São Pedro, encerrou: “São Pedro, muito obrigado porque me auxilias a amar a Deus!”. Despedindo-se, Dom Rafael se voltou aos pais: “Obrigado pai, obrigado mãe! A maior herança que podemos passar é ligar os nossos filhos a Deus!”
Frei Diego Martendal e Frei Francisco Dalilson P. Cabral agosto de 2019 – comunicações
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FREI odorico decker
“A música é minha missão”
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os 90 anos, Frei Odorico Decker é conhecido por estar sempre acompanhado de sua gaita. No Convento São Francisco, em São Paulo, ele participa das celebrações no meio da assembleia. Quando solicitado, toca para o povo alguma melodia. Para ele, esta é sua missão de vida. “Recebi o dom de Deus de tocar este instrumento”, afirma. Além da música, Frei Odorico tem outros dons, como a fotografia. Foi através desta arte que o frade registrou sua passagem missionária em Angola, onde viveu nove anos, durante o período da guerra. Acompanhe a entrevista concedida a Érika Augusto para as Comunicações. Comunicações – Fale um pouco de sua vida Frei Odorico - Chamo-me Pedro Decker, de nascimento. Nasci em Antônio Carlos (SC), mas fui registrado no município de Biguaçu. Somos 15 irmãos, 7 mulheres e 8 homens. Sou o 12º. Hoje, somos quatro irmãos vivos. Um com 99 anos, minha irmã com 92, eu com 90 e outro com 88. Entre eles, tive duas irmãs que se tornaram religiosas, na Congregação da Divina Providência, ambas já falecidas. Quando era criança, com um ou dois anos, fiquei muito doente, com pneumonia. Com muito custo, sobrevivi! Algo que marcou minha infância foi receber a Primeira Eucaristia, aos nove anos. Rezo até hoje, quando comungo: “Primeiro e sempre eterno amor”. Gostava muito de admirar o presépio. O Natal era a festa máxima para mim! A partir dos oito anos fui estudar na escola alemã. Aprendi a ler e escrever em alemão. Hoje não sei mais.
Comunicações – E quando surgiu sua vocação? Frei Odorico - Minha vocação surgiu na infância. Era bastante piedoso. Imaginava como devia ser bonita a vida do padre dentro da batina. Fiquei meditando aquilo. Aos 15 anos, comecei a perceber este desejo e dizia que seria religioso. As pessoas também percebiam
fiz o terno. Foi com ele que ingressei na vida religiosa franciscana. Em 1950, em Rodeio (SC) durante a vestição, quando recebi o hábito, tiraram meu paletó e jogaram longe. Colocaram o hábito, depois me puseram o cíngulo. Na mesma hora, falei: “É para sempre!”. E foi assim! Hoje, estou com 69 anos de vida religiosa!
Comunicações – E como foi o início de sua vida religiosa franciscana? Frei Odorico - Em Rodeio, minha felicidade era ser sacristão. Sentia que estava no céu por trabalhar dentro da igreja, enfeitando os altares, plantando as flores para o altar. Fiquei muito feliz por ser sacristão. Depois fomos para Rio Negro (PR). Lá era enfermeiro dos irmãos, mesmo sem ter formação na área. Em 1954, voltei para Rodeio, para fazer o noviciado. Lá fiz os instrumentos para a roça de toda a paróquia, num aparelho manual de ferro, no carvão. Depois da Primeira Profissão, fui transferido para Guaratinguetá como cozinheiro. Foi minha primeira viagem de avião. Lá havia 80 seminaristas fazendo o primário. De Guará fui para Agudos, em “Sempre fui muito tímido, então de 1957, como cozinheiro também. Lá propósito comecei a fotografar para havia 400 seminaristas. Eu e outros me aproximar das pessoas”. frades cuidávamos da cozinha. Na época, não gostei do ambiente e rezei pedindo para sair de lá. Em um e falavam isso para mim. Aos 18 anos, mês, o guardião me chamou e disse que em 1948, fui servir o Exército no Rio precisavam de alguém em Curitiba (PR) de Janeiro (RJ). Durante este ano, perdi para cuidar de um frade. Cuidei dele dumeu pai. Ele faleceu no dia 25 de agosto, rante um ano. Depois fui transferido para Dia do Soldado. Nunca mais pude vê-lo. Canoinhas (SC), em 1958, onde fiquei Depois de um ano, quando voltei, fiquei quatro anos. Lá era sacristão e cuidava da mais um ano e meio em casa. Por oca- casa. Depois, voltei para Rio Negro, para sião da festa de Bom Jesus, a mais impor- trabalhar na cozinha. Em 1969, fui transtante na região, fui comprar meu primei- ferido para o Convento São Francisco, em ro terno. Ele era marrom. Fui à capital São Paulo (SP), para fazer trabalhos cosozinho, comprei a fazenda marrom e muns e ser cozinheiro. agosto de 2019 – comunicações
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Comunicações – E quando surgiu o desejo de ser missionário? Frei Odorico – Quando era jovem, meu pai me disse que tinha o desejo de adotar uma criança negra, mas nunca conseguiu realizar. Guardei aquilo no coração, como Nossa Senhora. Um dia, no refeitório do Convento São Francisco, diante do Ministro Provincial, que era o Frei Estêvão Ottenbreit, e dos Definidores, disse: “Quero ir para Angola”. E eles me enviaram em missão. Fui em 1991 e fiquei nove anos. Fiquei em Malange e depois em Quibala, por dois anos. Fiz parte da segunda turma que foi para lá. Em Angola era cozinheiro, fotógrafo, cuidava da casa, da igreja. Voltei no ano 2000 para me tratar, pois estava muito doente.
Eles têm muito cuidado com o corpo. As mulheres - mesmo quando tomavam banho na fonte - sempre estavam cobertas. Como havia a guerra, não havia outras religiões. Nos domingos e dias de festa faltava lugar na igreja. Todos com muita alegria, vigor e respeito. Chorei muito com eles, por causa da beleza e da pureza da manifestação de fé do povo angolano. As mulheres com crianças nas costas, dançando, levando alimentos para o ofertório. Era muito bonito! E eu estava sempre no meio do povo.
Comunicações – E como foi este período na Missão? Frei Odorico – Em todos os anos que fiquei, havia a guerra. Era muito penoso. Estávamos sempre vivendo o sentimento de estar entre a vida e a morte. Tínhamos que nos esconder quando ouvíamos as bombas caindo na vizinhança. Um dia, uma bomba caiu perto da igreja dos frades e destruiu uma parte “Outra coisa importante para mim da construção. Em outra ocasião, é o silêncio. Quando um frade erra, caiu dentro de nossa casa. Ela temos que guardar o silêncio” quebrou as janelas e os destroços caíram no refeitório. Arrumei o telhado, com as telhas que ganhamos do bispo. Não havia luz elétrica e Comunicações – E quais eram suas taretínhamos que buscar a água na fonte. fas em Angola? Trazia em baldes com 20 litros em cada Frei Odorico – Além da cozinha, mão. Depois, subia na escada para colo- cuidava da roça, da horta, fazia as cecar dentro da caixa d’água. Na fonte que lebrações na ausência do padre, acompegávamos a água, as mulheres toma- panhava a Legião de Maria, visitava os vam banho. Como eu era religioso e co- doentes. Não sabia fazer o funji, prato nhecido na região, elas permitiam que típico de lá, feito de farinha de mandioeu fosse lá para pegar água. Enquanto ca. Na fraternidade, fazia a comida coelas enchiam os baldes, eu cantava a mum. Com os angolanos sinto-me em música “Carinhoso”, de Pixinguinha. casa, tenho um sentimento de pertença.
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Quando estava em Malange, vieram os 14 primeiros aspirantes. Eles moravam conosco, isso foi muito bom. As pessoas duvidavam que fôssemos conseguir. Havia muitas pessoas deficientes, eu gostava de carregá-los, ir nas aldeias, fazer a Celebração da Palavra, levar Eucaristia aos enfermos, tocar gaita para o povo. Comunicações – E quando surgiu o gosto pela fotografia? Frei Odorico – Comecei a fotografar em 1958. Tinha uma inclinação para a fotografia. Era meu hobby, algo que me fazia muito bem. Sempre fui muito tímido, então, de propósito, comecei a fotografar para me aproximar das pessoas. Fui aprendendo aos poucos, fazendo cursos, procurando as melhores máquinas fotográficas. Era tudo manual. Não sei usar máquina digital nem celular. Tinha as melhores máquinas, quase todas importadas. Tinha uma de origem alemã que pesava 1 kg. Quanto mais pesada a câmera, mais nítida era a imagem, pois o peso fazia estabilizar a cena. Em Angola, registrava, sobretudo, coisas ligadas às artes, cultura e costumes. Comunicações – E quando a música entrou em sua vida? Frei Odorico – Eu “nasci musicando”. Eu mesmo fazia meus instrumentos. Pegava um bambu e fazia um violão; com folhas de abóbora e bambus criava flautas. Furava os buracos de acordo com as notas musicais e tocava com elas, só para fazer barulho. Meu irmão tinha uma gaita de boca e me emprestava para tocar na escola. Aos oito anos, toquei pela primeira vez numa apresentação da escola. Quando estava com 12 anos, minha irmã pediu para capinar a horta da casa dela e que me disse que se eu fizesse, o Menino Jesus me traria uma gaita. Eu fiz e ganhei uma gaitinha. Eu tinha bom ouvido, cap-
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tava bem a melodia das músicas. Aprendi sozinho, sem ninguém me ensinar. Em 1970, quando estava em São Paulo, chegou um candidato à vida religiosa franciscana. Era o Frei Hans Stapel, da Fazenda da Esperança. Tratava-o muito bem, acolhi bem toda sua família. Um dia eles estavam com vontade de comer abacaxi e servi até eles ficarem saciados. Em agradecimento, ele falou que poderia pedir o que quisesse que a mãe dele traria da Alemanha. Pedi, então, uma gaita cromada da marca Hohner, que é a que uso até hoje. Não sabia tocar esta gaita e procurei um professor. Fiz oito meses de aula e aprendi o manejo da gaita. Fui tocando, meio errado e meio certo. Nunca parei. Mesmo errado, tocava até o fim a música. Quando voltei de Angola, fiz um ano e meio de aula. Mesmo assim, ainda não sei tudo. A gente aprende a trabalhar, trabalhando; aprende a cantar, cantando; aprende a tocar, tocando. Quem não toca não aprende. Hoje sou muito bom na gaita. O fôlego muda e, às vezes, fica difícil. Mas nunca desisti. Quanto mais público, melhor eu toco. Quando tem mais gente, sinto mais o peso da responsabilidade e a seriedade do que estou fazendo. Em Angola, toquei para 7 mil pessoas no Congresso Eucarístico. Escolhi o “Toque do Silêncio”. Comunicações – O sr. escreve também? Frei Odorico – Escrevi dois livros: “Raízes vividas”, uma autobiografia; “África, meu amor”, sobre o período em Angola. Musicalmente, fiz uma melodia com a letra de um padre português sobre Santa Clara. No Brasil, essa partitura foi reconhecida como um dos cânticos clarianos. Mas antes de ser sobre Santa Clara, esta música tinha uma letra popular, baseada no linguajar dos angolanos durante a guerra. A pedido das Irmãs Clarissas, fizemos a mudança da letra. Para mim, as melodias são um dom de Deus. Comunicações – E por que escolheu a vida religiosa franciscana?
Frei Odorico – Escolhi a vida religiosa franciscana para me salvar. Desde a infância sonhava com São Francisco. Aos 9 anos estava doente, deitado na cama sozinho e, ao lado, a imagem de São Francisco abraçando Jesus na cruz. Eu não tirava o olho daquela imagem, desde criança. Depois, quando voltei do Rio de Janeiro após servir o Exército, fui levar meu irmão para se apresentar ao Serviço Militar. Ele entrou e fiquei do lado de fora. Enquanto esperava por ele, subi num morro que tinha lá perto e entrei como que em êxtase vendo São Francisco de Assis. Não sentia meus pés no chão. Quando já era frade, em Guaratinguetá, fui à Basílica Velha em Aparecida e lá aconteceu novamente este episódio intenso de oração. E, outra vez, no Rio de Janeiro, no Cristo Redentor. Para mim, estes episódios foram sinais da minha vocação. Comunicações – Quais são as suas devoções? Frei Odorico – Minha primeira devoção é o Menino Jesus do Presépio. Depois, a Eucaristia e Santa Teresinha do Menino Jesus, pelo fato dela ser a Padroeira dos Missionários. Comunicações – No Convento São Francisco passam muitos jovens que de-
sejam ser franciscanos. O que o sr. diz para eles? Frei Odorico – Estou no meio deles sendo aquilo que eu sou. Quero ser aquilo que eu sou, só isso. Com toda minha experiência, tudo o que transparece de mim - o bom e o ruim - eles veem. A vocação é deles, eles que escolhem. A vocação é assim: você que direciona, tem que querer vencer. Não vamos achar ninguém santo e perfeito no início. Todos os frades procuram dar exemplo. Cada um tem que dar o máximo de exemplo possível, e cada um se esforça para isso. Sempre participo da Missa estando no meio do povo, para ser uma presença na assembleia. O povo gosta muito, sempre me cumprimenta. O importante é perseverar no bem. Para mim, é uma missão estar na Igreja, no meio do povo e tocando minha peça musical para eles. Outra coisa importante para mim é o silêncio. Quando um frade erra, temos que guardar o silêncio. Jesus e Nossa Senhora nos deixaram este exemplo. O que corrige é o silêncio! Sobre a fé, temos que perseverar. Ter fé não quer dizer que você sente tudo. Não ter fé não quer dizer que você não sente nada. Fé é você fazer. Dar exemplo através do trabalho, oração, obediência, caridade. Jesus diz que o mínimo que fizermos aos nossos irmãos, é a Ele que estamos fazendo. Para mim, isso é a salvação!
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Sagrado celebra seu Padroeiro
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Fraternidade e a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis (RJ) fizeram uma grande Festa em homenagem ao seu Padroeiro. Uma tradição na Cidade Imperial que já dura mais de 123 anos de presença franciscana. Frei Jorge Paulo Schiavini, 18º pároco da centenária Paróquia do Sagrado, presidiu pela 1ª vez como pároco a Missa Solene das 18 horas da sexta-feira (26/06). Na acolhida falou da alegria de celebrar como Paróquia e Fraternidade Franciscana a grande Festa do Sagrado. O grande dia da Solenidade do Sagrado Coração, contudo, começou antes com as celebrações do Tríduo nas Missas das 18 horas. As orações matutinas e vespertinas, realizadas por toda a Fraternidade e pelo povo, também merecem destaque pela par-
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ticipação e fidelidade. Neste dia, às 7 horas, Frei Marcos Antônio de Andrade presidiu a primeira Celebração Eucarística do dia. Depois, o tradicional bolo do Sagrado Coração de Jesus começou a ser vendido. Além dos fiéis e devotos do Sagrado, a presença de um grande grupo do Apostolado da Oração, que veio da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem da Rocinha (RJ), lotou a Igreja para a Santa Missa das 15 horas, presidida por Frei Jean Carlos Ajluni Oliveira. Eles vieram acompanhados de Frei Felipe Medeiros Carretta, que faz seu Ano Missionário junto ‘aquela porção do povo de Deus na Rocinha’. Uniram-se a eles a Pastoral do Apostolado da Paróquia do Sagrado. As fitas vermelhas usadas pelos membros do Apostolado deram a tonalidade e a espiritualidade da celebração que
brota do próprio Sagrado Coração de Jesus e que simboliza o amor de Cristo. Na procissão de entrada, além do celebrante, dos ministros e frades, algumas rosas vermelhas trazidas pelos zeladores do Apostolado do Sagrado foram ofertadas e depositadas aos pés da imagem do Padroeiro. Na acolhida, Frei Jean disse que o Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis abre as portas e também o coração para abraçar e acolher a todos. No Ato Penitencial, o celebrante conduziu a recitação da Ladainha do Sagrado Coração. Frei Jean começou sua homilia contando que desde quando era criança a imagem que mais lhe chamava a atenção era a do Sagrado Coração de Jesus. Disse que quando tinha apenas 11 anos passou a fazer
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parte dos zeladores e que frequentava os encontros com assiduidade e fidelidade. Segundo ele, foi uma experiência marcante e especial. “Até hoje tenho a fita do Apostolado”, revelou. Segundo o frade, celebrar o Coração de Jesus é celebrar o amor de Deus. “Este amor de Deus deve encher o nosso coração para que, ardendo de amor, possamos estabelecer o Reino de Deus em nosso meio”, ensinou. No final, Frei Jean convidou os zeladores das duas comunidades para que se aproximassem da imagem do Sagrado que fica no presbitério da Igreja. Ali fez um momento devocional e abençoou as rosas que foram entregues ao Apostolado da Oração da Rocinha, como sinal de gratuidade pela fraterna visita e participação.
DEUS É O BOM PASTOR
A Santa Missa das 18 horas foi solene e contou, mais uma vez, com a Igreja lotada, o que não é raro de se ver no Sagrado. O liturgista Frei José Ariovaldo da Silva concelebrou e Frei Jorge presidiu a Celebração Eucarística. Os frades estudantes serviram como turiferário, naveteiro, crucife-
rário e acólitos, além da entoação dos cantos de toda liturgia própria do dia. No comentário inicial, Frei Jorge Henrique Lisot destacou a Solenidade do Sagrado como a celebração do amor que Ele mesmo quis manifestar a todos nós. “Hoje, celebramos o nosso Padroeiro. Imagem do amor de Deus por nós. Deus quis nos amar com um coração humano, com um coração de homem, com um coração que transborda de amor e de misericórdia para com todos nós”, introduziu o frade estudante do segundo ano de Teologia. Na homilia, Frei Jorge, que se inspirou em reflexões dos padres Dehonianos, frisou que a liturgia do dia utiliza a figura do Pastor para dizer que Deus é o Pastor que, com amor, cuida do seu rebanho. Para o frade, dizer que Deus é o Bom Pastor implica falar de um Deus com o coração cheio de amor, que em todos os instantes está presente nos caminhos da história humana e aponta horizontes de esperança àqueles que andam perdidos, cuida de todos aqueles que a vida magoou e feriu, oferece a todos a vida e a salvação.
“Neste dia do Sagrado Coração de Jesus, somos convidados a contemplar o amor e a ternura do Pastor que se derrama sobre todos os homens e, de forma especial, sobre os pobres, os oprimidos, os excluídos. Há também um convite implícito a todos aqueles que têm responsabilidades na sociedade, na Igreja, na comunidade: que o serviço da autoridade seja exercido com amor, não para servirmos a nós próprios, mas para servirmos os irmãos que Deus nos confiou”, questionou. “Que nos abramos ao amor de Deus que mais uma vez se renova na celebração de hoje e busquemos entrar na dinâmica do amor do Coração de Jesus. Que nossas palavras e atos sejam um reflexo desse amor, de modo especial para com os mais necessitados!”, concluiu. Em seguida, teve início o rito da comunhão. No final, uma grande salva de palmas com vivas ao “Sagrado” encerrou a noite solene do Sagrado Coração de Jesus na Fraternidade e na Paróquia.
Frei Augusto Luiz Gabriel agosto de 2019 – comunicações
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Frei Abel celebra 98 anos
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o dia 19 de julho, Frei Abel Schneider completou 98 anos. Desde 2001, ele reside no Noviciado São José, em Rodeio (SC). Frei Abel Schneider é natural de Selbach (RS), onde nasceu no dia 19 de julho de 1921. Ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 14 de dezembro de 1946. Fez a profissão solene no dia 18 de dezembro de 1950 e foi ordenado sacerdote no dia 1° de julho de 1954. Em entrevista concedida no ano passado, Frei Abel afirmou: “Temos à nossa frente meios e caminhos para a santidade, que é a Ordem que São Francisco nos deixou. Nós o conhecemos e procuramos segui -lo. Tropeçamos muitas vezes, mas seguimos firmes, não olhando para trás”.
Frei Policarpo Berri celebra 95 anos
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o sábado (13/07), a Fraternidade Franciscana São Pedro Apóstolo de Pato Branco (PR), esteve em clima de festa. Frei Policarpo Berri, religioso franciscano que há mais de 60 anos atua no Sudoeste do Paraná, dedicando-se diariamente à comunidade do município e região, que tem um imenso carinho pelo religioso, comemora seus 95 anos de idade. Frei Policarpo é natural de Rodeio, Santa Catarina. Nasceu no dia 13 de julho de 1924. Iniciou seus estudos no Seminário de Rio Negro, no Paraná, aos 11 anos. Inácio, seu nome de batismo, tornou-se noviço aos 19 anos, em sua cidade natal, ingressando na Ordem dos Frades Menores no dia 20 de dezembro de 1943. Em seguida, estudou Filosofia em Curitiba (PR) e Teologia em Petrópolis (RJ). Fez a Profissão Solene no dia 21 de dezembro de 1947 e foi ordenado sacerdote no dia 25 de julho de 1950.
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Encontro do Regional de Agudos
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omo de costume neste Regional, no dia 8 de julho, os frades das Fraternidades de Agudos, Bauru e Sorocaba se encontraram na Fraternidade do Seminário de Agudos para seu segundo Encontro Regional do ano. Já há algum tempo nossos encontros são de dois dias, este, porém, por necessidades e compromissos de alguns confrades, foi alterado para um dia apenas. Iniciamos com a oração das Laudes, sem a presença do coordenador Frei Florival Mariano de Toledo e de Frei Rozântino Antunes Costa que tiveram problemas com o carro e, por consequência, atrasaram-se na chegada. Frei Ademir Sanquetti, por outros motivos, também não estava presente no início do encontro. Seguimos com o estudo e reflexão do texto proposto pelo Definidor Regional, Frei Mário Tagliari, “Fraternidade Contemplativa em Missão”. Após um rápido intervalo para
o café, retomamos nossos trabalhos, desta vez com a presença de todos os confrades que compõem o Regional. Após o já tradicional “Giro pelas Fraternidades”, nos debruçamos sobre vários temas, mas principalmente sobre dois, a pedido da Moderação da Formação Permanente e do Encontro dos Coordenadores Regionais com o Definitório, a saber, o Retiro Anual e o Redimensionamento dos Regionais. Quanto ao Retiro Anual a pergunta era se o Regional vai promover um retiro próprio ou se participaríamos de outros retiros já programados pela Província e outros Regionais. Após amplo debate, a decisão da maioria foi de que faremos um Retiro Próprio no Regional: começando no dia 16 de Setembro às 10h e terminando no dia 18 de setembro no final da tarde. Com relação ao Redimensionamento dos Regionais, a posição do Regional de Agudos foi favorável à proposta apresentada na reunião dos Coordenadores Regionais com o Definitório e o
Moderador da Formação Permanente. A única ressalva foi com relação ao Regional de Curitiba, que não deveria ficar sozinho, mas unir-se a outro. Mesmo tendo sido um Encontro Regional de algumas horas, o sentimento é que vale a pena os deslocamentos, seja para a formação pessoal, seja principalmente para o convívio e o encontro fraterno. Mesmo com um pouco de frio, não deixamos de aproveitar o dia ensolarado e limpo para também repor as energias. E foi assim, com as baterias recarregadas que, por volta das 15h30, após as colocações do Definidor Regional, Frei Mário Tagliari, encerramos nosso encontro e retornamos para nossas Fraternidades, sendo confirmado o próximo para os dias 16 e 17 de setembro de 2019, novamente no Seminário de Agudos, lembrando que o Encontro nesta data será substituído pelo Retiro Regional.
Frei James Gomes Neto agosto de 2019 – comunicações
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São João de Meriti: Frei Medella pede cuidado integral pela vida
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Paróquia São João Batista, em São João de Meriti (RJ), celebrou com muita alegria a festividade de seu Padroeiro na segunda-feira (24/06). Durante todo o dia foram celebradas quatro Missas, além da Adoração ao Santíssimo, Terço da Misericórdia e Procissão pelas ruas do bairro. Para encerrar o dia solene, foi celebrada uma Missa campal, presidida pelo Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, e concelebrada pela Fraternidade local: Frei Vanderley Grassi, guardião e pároco; Frei Cid Tadeu Passos e Frei Adriano Freixo
Pinto, vigários paroquiais; Frei Gaudêncio Sens, atendente conventual e Frei Airton da Rosa Oliveira, do Serviço de Animação Vocacional local. Em sua homilia, Frei Gustavo apresentou quatro olhares sobre a figura de São João Batista e pediu com voz forte por terra, teto e trabalho, fazendo um apelo pelo fim da violência e do discurso armamentista. Falou ainda do desrespeito às religiões de matriz africana e da importância da valorização da vida em todas as suas fases. Em primeiro lugar, o frade apresentou o Padroeiro como o elo entre o Antigo e o Novo Testamento e o santo da promoção da vida integral. “São João Batista nos chama a atenção para o cuidado com a vida de uma maneira integral, buscando que todos sejam atendidos em suas necessidades mais diversas”, indicou o Vigário. Recordando as palavras do Papa Francisco, Frei Gustavo chamou a atenção para a importância do cuidado com os extremos da existência: a infância e a velhice. No final da celebração, Frei Vanderley Grassi dirigiu uma palavra de agradecimento ao povo de São João de Meriti, para onde foi transferido neste ano, e pediu um olhar atento e cuidadoso com a cidade. “Eu amo esta terra tanto quanto vocês. Juntos, vamos buscar construir uma cidade mais bonita, mais limpa, mais cuidada. A mudança só acontece a partir do nosso íntimo”, disse.
Dia de Nossa Senhora da Penha agora é feriado estadual
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Governador do Estado, Renato Casagrande, sancionou, no 3 de julho, a lei que estabelece feriado estadual o dia da Festa de Nossa Senhora da Penha. A proposta de Lei foi iniciativa dos deputados Carlos Von, Rafael Favato e Torino Marques e apresentada pela Comissão de Turismo e Desporto da Assembleia Legislativa. A Festa de Nossa Senhora da Penha, que hoje é o principal evento religioso do Espírito Santo e um dos maiores do Brasil, foi instituída por Frei Pedro Palácios, um franciscano espanhol, que veio na comitiva do português Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo. A devoção à Virgem da Penha começou depois de ter encomenda-
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do um painel de Nossa Senhora (o mesmo que ainda existe no convento da Penha) e exposto em uma pequena ermida para ajudar os fiéis nas preces e meditações. Nossa Senhora da Penha foi proclamada padroeira capixaba pelo papa Urbano VIII em 23 de março de 1630. Conta a história que a bula papal foi confirmada apenas em 26 de janeiro de 1908 com o resultado de um plebiscito realizado em todas as paróquias do Estado. E a aprovação do Vaticano veio apenas em 27 de novembro de 1912. Em 2020, a Festa da Penha será celebrada pela 450ª vez em 20 de abril, com expectativa de recorde de público, tendo em vista o feriado prolongado.
fRATERNIDADES
Seminário Frei Galvão promove 7ª Festa Caipira Vem aí a tradicional Festa Caipira promovida pelos frades franciscanos em Guaratinguetá/SP. O evento beneficente acontecerá nos dias 16, 17 e 18 de agosto, das 17h30 às 22h, no Seminário Franciscano Frei Galvão, localizado na Avenida Integração, 151 – São Bento, Guaratinguetá/SP. Num ambiente familiar, a 7ª Festa Caipira oferecerá uma grande variedade de comes e bebes típicos (canjiquinha, caldos de mandioca e feijão, bolinho caipira, bolos e doces, torresmo, pastel, pão com calabresa, vinho quente, quentão etc.), missas com cantos de tradição sertaneja, jogos recreativos para crianças e adultos, música ao vivo e muito mais. Vendido antecipadamente no Seminário, o ingresso custa R$ 3,00 e vale para os 3 dias de festa. Quem não comprar antecipadamente, poderá adquirir na portaria durante a festa (R$ 3,00). No entanto, será válido apenas para 1 dia. Crianças menores de 7 anos não pagam. O evento tem dois objetivos: proporcionar a confraternização entre a comunidade e os frades, bem como arrecadar recursos para a manutenção da casa de formação dos futuros franciscanos e do serviço de acolhimento aos devotos de Frei Galvão. As barracas da Praça de alimentação são mantidas por voluntários que se dedicam às atividades do Seminário e por benfeitores que contribuem para a realização desse evento beneficente que vem crescendo a cada ano, fruto da organização e dedicação de todos os envolvidos. O Seminário é uma entidade sem fins lucrativos que pertence ao mesmo grupo de franciscanos do qual Frei Galvão fez parte. A Entidade é filial da Província Franciscana da Ima-
culada Conceição do Brasil, atuando diretamente em inúmeros trabalhos sociais distribuídos nos estados do ES, RJ, SP, PR e SC, acolhendo pessoas em situação de rua, catadores de material reciclável, idosos, crianças carentes, portadores de HIV/AIDS, dentre outras ações sociais.
Horário da Santa Missa 17/08 (17h): Família Franciscana e CRB 18/08 (17h): Cantos de Tradição Ser-
taneja e Presença das Equipes de Nossa Senhora
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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil NOTÍCIAS DA REUNIÃO DO DEFINITÓRIO PROVINCIAL São Paulo, 02 a 04 de julho de 2019
A
reunião do Definitório Provincial iniciou-se às 9 horas do dia 2 de julho, na Sede Provincial, em São Paulo, com celebração em torno do tema franciscano da “oração e devoção”, dirigida pelo vigário provincial Frei Gustavo, que, naquele dia, comemorava 8 anos como presbítero da Igreja. Repetiu-se várias vezes o clamor: “Iluminai, Senhor, nossos caminhos”. Após as boas-vindas, Frei César, ministro provincial, pediu a Frei Paulo que fosse, dessa vez, o moderador das sessões do Definitório. Grande parte dos assuntos nelas tratados segue abaixo.
1) Reunião dos Definidores com os Coordenadores dos Regionais
O dia 2 de julho foi reservado para o encontro dos Definidores com os Coordenadores dos Regionais. Às 9h00, no Convento São Francisco, no centro de São Paulo, Frei Fidêncio Vanboemmel, moderador da Formação Permanente, acolheu os participantes e dirigiu a oração inicial. Com exceção de Frei Alex Ciarnoscki, que teve problemas com o voo para São Paulo, os atuais 12 Regionais se fizeram representar: Frei Adriano Freixo Pinto,
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Frei Robson Luiz Scudela (substituindo a Frei Gilberto Garcia), Frei Ivo Müller, Frei José Raimundo de Souza, Frei Djalmo Fuck, Frei Germano Guesser, Frei Rafael Spricigo, Frei Ladí Antoniazzi, Frei Florival M. de Toledo, Frei Paulijacson P. de Moura e Frei Moacir Longo. Frei César Külkamp, ministro provincial, abriu o momento de reflexão trazendo aos participantes alguns pontos da carta do ministro geral endereçada aos confrades da Província no pós-Capítulo Provincial, destacando que: 1. Há necessidade de renovarmos nosso empenho em qualificar nossa vida fraterna. 2. Precisamos comunicar nosso carisma através de uma intensa vida de oração e de uma autêntica vida pessoal e comunitária. 3. É importante que, em nossas presenças, tenhamos ao menos algum tipo de ação e interação com os jovens, com boa acolhida, abertura e proximidade, procurando entender sua vida e cultura, sem preconceitos. Isso também em vista do anúncio vocacional. 4. Faz parte de nossos desafios ter um cuidado claro e
Definitório Provincial
radical para com a nossa “casa comum”, na linha do que vem indicado na Laudato Si’. Ou seja, termos uma atenção especial para com a ecologia ambiental e humana, abrindo-nos a colaborar com outros grupos que já se dedicam a isso. Trata-se inclusive de uma conversão de nosso estilo de vida e uso dos bens. 5. Importa fazermos um trabalho vocacional urgente, levando em conta a acentuada diminuição numérica dos frades e vocacionados da Província. Abrindo-se lacunas de gerações, fica muito difícil reverter a situação. Nesse sentido, o Ministro Geral pede também um estudo sobre o fenômeno referente aos muitos frades que abandonaram a Província nos últimos anos. 6. Quanto à FIMDA e seu florescimento vocacional, é preciso estarmos atentos para que a formação dos jovens vocacionados e frades seja bem acompanhada e de forma personalizada.
Num segundo momento, Frei Fidêncio mencionou os artigos dos Estatutos Particulares da Província que tratam dos Regionais e do que compete aos coordenadores. Em seguida, Frei César informou sobre como andam as tratativas, sobretudo com os bispos, no que se refere às “entregas” (Há notícia abaixo sobre isso). Frisou que há necessidade de um equilíbrio maior quanto ao número de frades envolvidos nas 5 Frentes de Evangelização. E lembrou, mais uma vez, que todos os lugares onde os confrades se encontram são bons, mas a Província não tem mais condições de estar em todos esses lugares bons. Citou que não só as paróquias estão no processo de redimensionamento, mas o próprio Sefras e as casas de Formação.
Redimensionamento dos Regionais
Para ponderações por parte dos definidores e coordenadores, Frei Fidêncio entregou-lhes por escrito três
propostas para um possível redimensionamento dos Regionais. Antes, porém, foi comentado o contexto em que eles surgiram nos anos 70 e os atuais pressupostos para uma reorganização. Várias considerações foram feitas. Enumeramos algumas: 1. Importa privilegiar o encontro em si, os momentos celebrativos, a celebração dos aniversários, a confraternização. E deixar os estudos mais para os capítulos locais. 2. Por outro lado, o encontro regional é instrumento de Formação Permanente. É uma âncora que nos possibilita seja o convívio fraterno seja a Formação, que é um dos nossos grandes desafios. 3 No passado, em relação aos Regionais, havia maior desejo de participação. As bases eram importantes. Hoje há um certo desprezo em relação a isso. Falta um envolvimento criativo de participação nas coisas da Província, naquilo que é nosso. 4. Os Regionais não se resumem na realização dos encontros. Eles devem favorecer o intercâmbio e a alegria do estar juntos, que extrapola a dimensão estrutural do Regional. Isto já acontece no âmbito da evangelização. Após discussão entre os participantes, ficou alinhavada a seguinte proposta a ser considerada pelos confrades da Província no próximo encontro de cada Regional: 1. O número de Regionais se reduziria a 6, num primeiro momento. 2. Os encontros regionais seriam dois ao ano: um no primeiro e outro no segundo semestre. Com duração de três dias, com tempo suficiente para formação, convívio fraterno, lazer. Ou seja, com participação mais criativa e qualificada por parte dos confrades. 3. Cada Regional teria uma casa de referência para os encontros. 4. O ministro provincial e/ou vigário provincial poderiam priorizar a participação nos encontros. 5. A proposta, caso seja aceita, deveria ser efetivada no próximo ano. 6. Alterações nos Estatutos da Província referentes aos Regionais ocorreriam no Capítulo Provincial de 2021, após experiência de dois anos. 7. Os atuais coordenadores regionais formariam uma comissão para, juntamente com Frei Fidêncio, preparar os encontros de 2020. Proposta de reconfiguração dos Regionais da Província 1 – Regional do Espírito Santo Casa de referência: Casa Santa Clara (Ponta da Fruta) Vila Velha - Santuário Vila Velha - Penha Colatina AGOSTO de 2019 – comunicações
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Definitório Provincial 2 – Regional do Rio de Janeiro Casa de referência: Convento S. Antônio e Sagrado Campos Elíseos Imbariê Nilópolis Niterói Petrópolis - São Francisco Petrópolis - Sagrado Rio de Janeiro – Santo Antônio Rio de Janeiro - Rocinha São João de Meriti 3 – Regional de São Paulo Casa de referência: Agudos e São Paulo (S. Francisco) Agudos Amparo Bauru Bragança Paulista Guaratinguetá Santos São Paulo – Sede Provincial São Paulo - Pari São Paulo – São Francisco Sorocaba 4 – Regional de Curitiba Casa de referência: Rondinha (São Boaventura) Curitiba Rondinha - Aldeia Rondinha – São Boaventura 5 – Regional do Leste Catarinense Casa de referência: Vila Itoupava Angelina Balneário Camboriú Blumenau
RETIROS PROGRAMADOS
Regionais Alto Vale e Planalto Catarinense Formadores Regional Espírito Santo Regionais Vale do Itajaí e Contestado Regional São Paulo Frades Under Ten Convento São Francisco – São Paulo Frades Formandos de Rondinha Encontro ampliado da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento Frei Gustavo apresentou a sugestão de que o próximo encontro ampliado da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento (com a participação de leigos/as) seja realizado agrupando as paróquias próximas
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Florianópolis Gaspar Ituporanga - Seminário Ituporanga - Paróquia Rodeio Santo Amaro da Imperatriz 6 – Regional do Sudoeste do PR e Oeste Catarinense Casas de referência: Piratuba - Curitibanos Chopinzinho Mangueirinha Pato Branco Concórdia Coronel Freitas Luzerna Xaxim Curitibanos Lages No período da tarde, os Definidores e Coordenadores trataram de outros assuntos ligados à Formação Permanente, entre eles, a confecção do Projeto Fraterno de Vida e Missão (com prazo até 31 de agosto); a importância de cada confrade fazer o seu Projeto Pessoal, em consonância com o Projeto Fraterno (Frei Fidêncio está preparando subsídio para ajudar nisso); a continuidade de abordagem do tema proposto pelo Definitório Geral para este ano: “Frades e Menores rumo ao diálogo”; o estudo do tema da juventude a partir do documento final do CPO de Nairóbi, p. 37 a 39 e 51 a 52 (também na perspectiva da animação vocacional); a celebração provincial dos Jubileus, marcada para 4 a 6 de dezembro, em Petrópolis, com o apelo para a participação mais ampla dos confrades, e não apenas dos jubilandos. Quantos aos Retiros Anuais, até o momento, estão agendados os seguintes:
LOCAL
Lages Eremitério Santa Isabel, ES Vila Itoupava São Paulo Rondinha São Paulo Rondinha
DATA
22-24 de julho 22-26 de julho 19-23 de agosto 16-18 de setembro 17-19 de setembro 23-26 de setembro 28-31 de outubro 04-07 de dezembro
a partir dos Regionais. Para tanto, será muito importante o trabalho conjunto e colaborativo dos coordenadores para que os encontros aconteçam de forma efetiva e articulada. Regionais Espírito Santo - data e local a serem definidos
Definitório Provincial Rio de Janeiro, Baixada e Serra Fluminense - 24/08 – em São João de Meriti São Paulo, Vale do Paraíba e Agudos - data e local a serem definidos Pato Branco e Contestado - data a definir, em Pato Branco Vale do Itajaí, Alto Vale e Planalto Catarinense, e Curitiba - 23 e 24/09, Vila Itoupava, em Blumenau Por fim, na última parte do encontro, que se encerrou às 16h00, Frei César, lembrando que os coordenadores também têm corresponsabilidade pelo todo da Província, passou a pontuar ações empreendidas pelo Definitório neste primeiro semestre do triênio, seguindo as “políticas” apontadas pelo próprio Capítulo. Entre as ações: o processo de redimensionamento; as visitas às fraternidades; a lida com situações pessoais delicadas; acompanhamento mais próximo das entidades da Província. Já na sala do Definitório, na Sede Provincial, os Definidores avaliaram positivamente o encontro com os Coordenadores dos Regionais, de quem reconheceram a disposição em colaborar.
2) Carta pós-capitular do Ministro Geral – reflexão
Em 23 de maio, Frei Michael A. Perry enviou aos confrades da Província carta pós-capitular, pontuando questões a serem trabalhadas em nível fraterno e mesmo pessoal. A carta deverá ser matéria de reflexão no capítulo local das fraternidades e em outras instâncias formativas provinciais.
3) Frei Éverton J. G. Broilo – aprovado para 1ª profissão e transferência
Lido o parecer do coetus formatorum de Rodeio, o Definitório aprovou que faça os primeiros votos na Ordem o noviço Frei Éverton, que, por motivos pessoais, havia pedido, no final do ano passado, para que fosse prorrogado seu tempo de Noviciado. A profissão será no dia 2 de agosto. Ele foi transferido da Fraternidade São Francisco, Noviciado São José, de Rodeio, para a Fraternidade do Seminário São Francisco de Assis, de Ituporanga, para estágio. Frei Valdir Laurentino foi nomeado seu mestre.
4) Ano Missionário – aprovações e transferência
1. Devido às providências para o visto de permanência em Angola, o Definitório já aprovou que Frei Lucas de Moura Justino Souza e Frei João Manoel Zechinatto, frades estudantes de Rondinha, façam o Ano Missionário junto à FIMDA em 2020. 2. Continuando a experiência do Ano Missionário, Frei Matheus José Borsoi foi transferido da Fraternidade Divino Espírito Santo, de Vila Velha, para a Fraterni-
dade Nossa Senhora da Boa Viagem, da Rocinha, no Rio de Janeiro.
5) Frei Jean C. A. Oliveira – Teologia Bíblica em Jerusalém
Após uma série de considerações, e inclusive tendo apreciado a avaliação feita por Frei Ludovico Garmus quanto ao estágio de Frei Jean como professor assistente no ITF neste ano, os Definidores decidiram pelo Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém como escola onde Frei Jean estudará Teologia Bíblica.
6) Transferências
1. Frei João Pereira da Silva – da Fraternidade Nossa Senhora do Amparo, de São Sebastião, para a Fraternidade Santo Antônio, de Bauru, como vigário paroquial; 2. Frei Virgílio Pereira de Souza – da Fraternidade Nossa Senhora do Amparo, de São Sebastião, para a Fraternidade São José, Postulantado Frei Galvão, de Guaratinguetá, para serviços fraternos e a serviço da evangelização; 3. Frei José Martins Coelho – da Fraternidade Nossa Senhora do Amparo, de São Sebastião, para a Fraternidade São Francisco, no Largo São Francisco, em São Paulo, como atendente conventual.
7) Nomeações
1. Frei Ricardo Backes – assistente espiritual da Fraternidade OFS Cristo Rei, de Bauru. 2. Frei Camilo Donizeti E. Martins – assistente espiritual da Fraternidade OFS Santa Maria dos Anjos, de Curitibanos. 3. Frei Carlos Alberto Branco Araújo – assistente espiritual da Fraternidade OFS Santo Antônio, do Largo da Carioca, no Rio de Janeiro. 4. Frei Fidêncio Vanboemmel – vigário da casa na Fraternidade São Francisco, no Largo São Francisco, em São Paulo. 5. Frei Mário Luiz Tagliari - pároco da Paróquia São Francisco, do Largo São Francisco, em São Paulo, e reitor do santuário. 6. Frei Olivo Marafon - ecônomo da Fraternidade São Francisco, de Chopinzinho. 7. O Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos, OFM, convidou o Frei Pedro de Oliveira Rodrigues para ser seu representante no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – ES. O Definitório autorizou a representação. 8. O Definitório também autorizou que Frei Gilberto M. S. Piscitelli atenda ao pedido do arcebispo de Sorocaba e seja o ecônomo da Arquidiocese por dois anos. AGOSTO de 2019 – comunicações
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Definitório Provincial 8) Ecônomo Provincial – eleição de Frei Robson
Seguindo o que havia sido combinado no Congresso Capitular, em vista de uma transição, os Definidores, na manhã do dia 4 de julho, elegeram a Frei Robson Luiz Scudela ecônomo provincial, substituindo a Frei Mário Luiz Tagliari, que desempenhava esse importante serviço à Província desde 2007, pelo que os Definidores expressaram gratidão. Frei Robson também foi nomeado coordenador do Pró-Vocações.
9) Visita do Ministro Geral à Província – equipe de preparação
De 2 a 11 de fevereiro do ano que vem, Frei Michael A. Perry visitará os confrades da Província. O Definitório nomeou uma equipe para ajudar na preparação da visita: Frei Gustavo W. Medella, Frei Diego Atalino de Melo e Frei Walter de Carvalho Júnior.
10) Redimensionamento – tratativas
A parte do redimensionamento que envolve “entrega” de algumas presenças e trabalhos, e o assumir de outras, continua avançando. 1. As tratativas com alguns bispos estão na fase de se determinar o prazo de entrega: Amparo (final deste ano), Santos (até a festa de Santo Antônio do ano que vem), Angelina (até a Páscoa de 2020), Lages (até o final de 2020), Mangueirinha (até o final de 2020). 2. Em São Sebastião, o bispo precipitou-se no processo, nomeando pároco e vigário paroquial, de tal modo que já em 10 de agosto próximo, os frades deixarão a paróquia. Já a paróquia Santo Antônio, de Agudos, terá pároco do clero secular a partir de 6 de agosto. 3. Quanto ao Eremitério, a comissão encarregada de ajudar na reflexão, motivação e busca de encaminhamentos, está ultimando um subsídio. Em agosto, ele será enviado aos confrades. Pensa-se num encontro, em nível de Província, de frades que venham a se interessar pela proposta de experiência no eremitério. 4. Já a possibilidade de a Província assumir o Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá, ainda não é tão certa. Em carta de 14 de maio, o bispo Dom Orlando Brandes afirma que a comissão pró construção do Santuário Frei Galvão reuniu-se e que, por enquanto, será preciso haver um diálogo mais concreto, para esclarecimentos. Os Definidores têm sentido o peso de levar adiante o processo de “entrega” de algumas paróquias. É doloroso. Apesar de nossas fragilidades, percebe-se, em geral, o carinho do povo para com os confrades. Na contramão disso, porém, há também cobrança por uma maior qua-
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lificação dos frades no trabalho evangelizador. O processo de redimensionamento das paróquias traz um “que” de encolhimento, um mal-estar, mas, por outro lado, é chance de fortalecimento das outras Frentes de Evangelização.
11) FIMDA – Capítulo e outros
1. Visita canônica, retiro e capítulo Frei César relatou aos Definidores que os dias vividos em Angola no mês de maio foram bem intensos: muitas conversas, muitas reuniões, muitos encontros. Elogiou o entusiasmo pela evangelização dos confrades da Missão e também o trabalho vocacional. Há valorização do carisma e senso de pertença. Encontrou novas comunidades eclesiais, muito vivas e dinâmicas. Disse que em geral é bom o clima nas fraternidades. Que o retiro foi bem vivido e o Capítulo, bem celebrado. Pontuou, porém, que há confrades sobrecarregados, assumindo muitas funções. E vê a necessidade de mais confrades do Brasil se disporem a ajudar na Missão, sobretudo para o campo da formação, considerando o grande número de vocacionados e frades jovens em Angola. 2. Ratificação da eleição do governo da FIMDA O Definitório confirmou a eleição do governo da Fundação, ocorrida no dia 31 de maio: Presidente: Frei António Boaventura Zovo Baza 1º Conselheiro: Frei André Luiz da Rocha Henriques 2º Conselheiro: Frei João Baptista C. Canjenjenga 3º Conselheiro: Frei Ivair Bueno de Carvalho 3. Outras eleições e serviços confirmados - Secretário da FIMDA: Frei João Alberto Bunga - Procurador: Frei João Alberto Bunga - Ecônomo: Frei João Baptista C. Canjenjenga - Secretário de Formação e Estudos: Frei Marco Antônio dos Santos - Vice-secretário de Formação e Estudos: Frei André Luiz da Rocha Henriques - Secretário de Evangelização: Frei Laerte de Farias dos Santos - Vice-secretário de Evangelização: Frei José M. Cambolo - Animadores do SAV: Frei Ermelindo F. Bambi e Frei José M. Cambolo - Animador JPIC: Frei André Gurzynski - Moderador da Formação Permanente: Frei André Luiz da Rocha Henriques - Guardião da Fraternidade São Francisco de Assis, de Luanda: Frei João Baptista C. Canjenjenga - Vigário da casa da Fraternidade São Francisco de Assis, de Luanda: Frei João Alberto Bunga - Responsável pelo Kimbo São Francisco: Frei João Alberto Bunga
Definitório Provincial - Equipe para os Projetos Sociais (Nossos Miúdos e Bola da Paz): Frei João Baptista C. Canjenjenga, Frei João Alberto Bunga e Frei José M. Cambolo - Assistente das Irmãs Clarissas de Luanda: Frei João Baptista C. Canjenjenga - Mestre dos Professos Temporários: Frei João Alberto Bunga - Orientador dos Aspirantes em Viana: Frei José M. Cambolo - OFS Viana: assistente Frei José M. Cambolo 4. Ano Missionário – mestres Frei António B. Zovo Baza foi nomeado mestre de Frei Jonas Ribeiro da Silva; e Frei Laerte de Farias dos Santos, de Frei Vítor Vinícios da Silva (pertencente à Província Santa Cruz). Frei Jonas e Frei Vítor fazem a experiência do Ano Missionário em Angola. 5. Profissão solene dos confrades angolanos Por questões vocacionais, em torno do carisma franciscano, a profissão solene dos confrades da FIMDA deverá acontecer em Angola, durante as férias escolares da Teologia, que é feita em Petrópolis. 6. Frades angolanos sem opção clerical – estudo de Filosofia no Brasil Abre-se a possibilidade para que frades angolanos que não optarem pelo presbiterato estudem Filosofia em Rondinha. Embora a recomendação geral é que todos os frades façam tanto a Filosofia como a Teologia completas, tendo em vista outras possíveis qualificações para os irmãos leigos, haveria a possibilidade de um curso de Filosofia de 2 anos, com as exigências acadêmicas normais, mas que favorecesse a Formação Franciscana. 7. Ano Missionário dos frades angolanos Foi aprovado que o Ano missionário dos frades angolanos seja feito nos períodos de férias, durante o Tempo de Teologia, considerando-se que o curso de Filosofia em Angola tem duração de 4 anos. Será elaborado um programa com caráter missionário e que favoreça a experiência. 8. Frei José Antônio dos Santos – estudo de Espiritualidade Franciscana Os Definidores aprovaram que Frei José Antônio estude Espiritualidade Franciscana junto ao Antonianum, em Roma. 9. 30 anos da atual presença franciscana em Angola – visita do Ministro Geral No ano que vem, comemoram-se os 30 anos da atual presença dos frades menores (OFM) em Angola, por iniciativa de nossa Província. O Ministro Geral Frei Michael A. Perry pretende visitar a FIMDA na ocasião. Em Angola, pensa-se num Capítulo das Esteiras. Frei Rob-
son Scudela, coordenador da Frente das Missões, e Frei Gustavo ficaram encarregados de promover a celebração aqui no Brasil também. 10. Autossustento Uma das grandes preocupações atuais da FIMDA é com o autossustento. Mesmo em vista de se passar a custódia dependente. Há equipe que irá a Angola de 31 de agosto a 7 de setembro para estudar in loco a questão: Frei João Mannes, Frei Gilberto G. Garcia, Jorge Siarcos (Grupo Educacional Bom Jesus), Prof. Geraldo e Prof. Santareno, este último professor angolano da FAE. Haverá campanha de arrecadação de recursos junto aos pais dos alunos das unidades Bom Jesus. Serão confeccionadas sacolas. Frei Robson Scudela e Jorge Siarcos poderão estender a campanha a fraternidades da Província. Também será confeccionado proximamente o folder para a Campanha Missionária de outubro. Em vista de fundos para a FIMDA (na busca de meios que, em Angola, favoreçam o autossustento da entidade), o patrimônio da Vila Itoupava, em Blumenau, foi comprado pela Associação Bom Jesus. Agora, portanto, questões de agenda e de uso das dependências da Vila Itoupava deverão ser combinadas com Frei João Mannes. 11. Custódia Dependente Nos próximos dias, será enviada à Cúria Geral a documentação referente ao pedido para que a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola obtenha o status de custódia dependente.
12) Frente da Comunicação – relato do encontro
Frei Gustavo relatou como ocorreu no dia 24 de maio, na Fraternidade São Boaventura, de Rondinha, o Encontro dos Frades da Frente da Comunicação. Abaixo, a síntese dos assuntos tratados e dos encaminhamentos. 1. Frades participantes Frei Gustavo Wayand Medella (secretário para a Evangelização), Frei Neuri Reinisch (coordenador da Frente da Comunicação e presidente da Fundação Cultural Celinauta), Frei Roberto Carlos Nunes (presidente da Fundação Frei Rogério), Frei Volney Berkenbrock (Editora Vozes), Frei Marcos Vinícius Brugger (Fundação Frei Rogério), Frei Gabriel Vargas Dias Alves (Fundação Cultural Celinauta) e Frei Walter Ferreira Junior (Rádio Mirandela). 2. A caminhada da Frente de Evangelização da Comunicação Desde o Capítulo Provincial de 2012, o percurso tem sido de discernimento em torno do que significa nossa AGOSTO de 2019 – comunicações
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Definitório Provincial presença evangelizadora no mundo da Comunicação. O caminho tem sido em busca de crescente articulação em vista do diálogo, da comunhão e do trabalho em conjunto. Passos importantes já foram dados (encontros provinciais, incentivo à participação e à cooperação dos leigos, implantação do Programa de Formação Permanente à distância). Existe também a clareza de que o trabalho da Frente não se esgota na administração das mídias que estão sob os cuidados da Província, mas demanda uma articulação que vá além deste universo, buscando avançar na reflexão em torno da temática da Comunicação no processo evangelizador. 3. Editora Vozes Frei Volney Berkenbrock apresentou um breve relato sobre o processo de reestruturação da Editora, desde a recomposição da diretoria à redistribuição das cotas da empresa, encaminhamentos necessários após a morte repentina de Frei Antônio Moser. Recordou também a elaboração do Plano Estratégico 2018-2022, montado com assessoria da FAE-Business School, de Curitiba. Partilhou ainda sobre o impacto financeiro decorrente da entrada em processo de recuperação judicial de duas grandes empresas do ramo editorial que estão entre as maiores clientes da Editora Vozes, o que gerou uma quebra de R$5,4 milhões no caixa da empresa. No que diz respeito à missão Evangelizadora, destacou o cuidado da editora em atender ao convite do Papa Francisco para a conversão eclesial na direção de ser uma “Igreja em Saída”, investindo, desta forma, na edição de coleções teológicas, na formação para a catequese, no resgate das Conferências Latino-Americanas e na divulgação de conteúdos ligados ao magistério do Papa Francisco. No plano comercial, um grande esforço tem sido empreendido em promover a aproximação entre as lojas de varejo (livrarias) e o mundo eclesial (paróquias, conventos, comunidades religiosas etc.), investindo também na comercialização de artigos litúrgicos e religiosos. 4. Rádio Mirandela FM Sediada em Nilópolis, RJ, a Rádio Mirandela FM (98,7MHz) é uma emissora comunitária e tem seu estúdio junto às dependências da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis. A programação é eclética e existe, além do funcionário responsável, um grupo de leigos bastante empenhado em produzir programas de qualidade. 5. Comunicação na Sede Provincial Houve a reformulação do portal Franciscanos, que assumiu novo visual desde o fim do ano passado. Também ocorreu o incremento da programação da WebTV Franciscanos, a realização de séries temáticas em ocasiões es-
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peciais (Campanha da Fraternidade, Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Santo Antônio e demais Festas Franciscanas etc.). Além de estar a serviço do Governo Provincial, o setor de Comunicação da Sede é importante elemento articulador dos trabalhos e parcerias que envolvem a Frente de Evangelização da Comunicação. 6. Fundação Frei Rogério Havia expectativa em relação à recente migração da Rádio Coroado da faixa AM para FM. Segundo Frei Roberto, depois de um período inicial de certa queda no faturamento, a emissora retomou o patamar de arrecadação e também a audiência de quando estava na faixa anterior. Ambas emissoras ocupam lugar de importância no cenário da região e, além de informação e entretenimento, exercem um importante papel de prestação de serviço junto à comunidade. Atualmente a fundação conta com 19 colaboradores que se dividem nos trabalhos nas duas emissoras. 7. Fundação Cultural Celinauta No momento, a direção tem a atenção voltada no que diz respeito à produção de conteúdo evangelizador com identidade franciscana. A ideia é lançar a semente da possível criação de uma Rede Franciscana de Comunicação em parceria com as outras Províncias presentes no Brasil. Na parte de produção, o jornalismo regional continua sendo destaque, especialmente na Rádio Celinauta e na TV. A migração da Celinauta da faixa AM para FM ainda está em processo de negociação, dado o elevado número de emissoras em Pato Branco e a dificuldade em alocá-las na atual faixa FM disponível nos aparelhos receptores de rádio. Certamente, para que todas “caibam” na faixa atual, deverá haver uma significativa diminuição de potência de transmissão. Na questão técnica, está em estudo a contratação do serviço de satélite para enviar o sinal digital da TV Sudoeste pela região de abrangência. É uma alternativa ao investimento em fibra ótica que teria a mesma finalidade. 8. Rede Franciscana de Comunicação Trata-se de uma proposta ainda embrionária. A ideia é dar início a esta articulação no âmbito da Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB), buscando interlocução, em primeiro lugar, com as Províncias e entidades que mantenham emissoras de rádio. Num primeiro momento, pensa-se na busca de caminhos para a mútua colaboração e partilha na produção de conteúdos para rádio. 9. Aquisição de novas rádios O grupo se debruçou sobre duas possibilidades de aquisição de novas emissoras com finalidade de expansão da área de abrangência das emissoras que já compõem a Frente da Comunicação. Ambos os casos foram anali-
Definitório Provincial sados a partir de levantamentos prévios. Em uma delas, há uma questão de inventário que dificultaria muito a transação num primeiro momento. Na outra emissora, a intenção é sondar a pretensão de valor dos proprietários para, depois de um estudo próprio, pensar-se numa possível proposta de aquisição. 10. Encontro Provincial da Frente da Comunicação Ficou marcado para os dias 17 e 18 de outubro, a princípio no Convento São Boaventura, em Rondinha. O tema abordado será o do diálogo a partir do encontro entre São Francisco e o Sultão, em Damietta, no Egito, que completa neste ano 800 anos. Para planejar e promover o encontro, será composta uma equipe de leigos convidados junto aos nossos veículos de comunicação. Frei Neuri Reinisch fará esta articulação.
13) Frentes de Evangelização – encontros ampliados 1. Conforme indicação do encontro dos frades da
Educação, no primeiro semestre, o encontro ampliado da Frente está sendo preparado em parceria com os leigos indicados pelas entidades, com o suporte de videoconferências. Será em Petrópolis, nos dias 19 e 20 de setembro de 2019. 2. O encontro ampliado da Frente da Comunicação será realizado nos dias 17 e 18 de outubro, em Rondinha, com o tema do diálogo.
14) Encontro da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento
Frei Gustavo também relatou que em Rondinha, entre os dias 22 e 23 de maio, aconteceu o Encontro das Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento. Cerca de 90% das Paróquias e Santuários se fizeram representar. Contou com a assessoria do bispo auxiliar de Curitiba, Dom Amilton Manoel da Silva, ex-provincial dos Passionistas, que abordou o tema “Vida Religiosa e Evangelização nas Igrejas Particulares”. Ao apresentar o lugar na VR na Evangelização em paróquias e santuários, Dom Amilton ressaltou três elementos que vão fazer a diferença e tornar fecundo o ministério do Religioso na vida paroquial: experiência de Deus, vida fraterna e missão. Como apelo aos frades, pediu especial atenção a três realidades que desafiam a Igreja hoje: o drama dos moradores de rua, a questão do suicídio e também da dependência química. Foi muito bem avaliada a apresentação do bispo. A íntegra da reportagem está nas Comunicações de julho. Os encaminhamentos práticos foram: 1. Designar mais dois frades que possam compor a equipe de animação da Frente das Paróquias, junto com o coordenador, Frei Antônio Michels (pároco
da Paróquia Imaculada Conceição, em Mangueirinha) e o Secretário de Evangelização, Frei Gustavo Medella. A partir de uma sondagem e com aprovação dos participantes, foram indicados Frei Nelson Hillesheim (pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Blumenau), e Frei André Becker (vigário paroquial das Paróquias Santo Antônio e Santa Clara, em Bauru). 2. Quanto aos encontros que envolvem frades e leigos, abraçar, a princípio, a seguinte modalidade, nos próximos três anos: 2019 – Encontro por paróquias agrupadas a partir dos Regionais da Província, com liberdade para articulação entre os Regionais que estão próximos; 2020 – Encontros ampliados por região: um com as paróquias do PR e SC; outro com abrangência de SP, RJ e ES; 2021 – Grande encontro provincial para frades e leigos de todas as paróquias, com ênfase na partilha de trabalhos e atividades realizadas na missão. A proposta de temática, metodologia e realização destes encontros deve partir da equipe de animação da Frente. 3. Construir uma página da Frente das Paróquias no site da Província, para veiculação de notícias, artigos, reflexões e subsídios que possam servir para a Evangelização paroquial. Também foi encaminhado que a Frente se organize a fim de mensalmente ocupar um espaço regular nas Comunicações da Província, esta segunda iniciativa a ser organizada a partir dos Regionais. A implementação desta iniciativa será encaminhada junto ao setor de Comunicação.
15) Frades da Casa N. Sra. da Paz – USF – encontro com os Definidores
Na tarde do dia 2, às 17h00, Frei Thiago A. Hayakawa, Frei Gilberto G. Garcia, Frei Vitorio Mazzuco Filho e Jorge Siarcos fizeram-se presentes na reunião do Definitório para falar sobre a Universidade São Francisco e sua mantenedora, a Casa Nossa Senhora da Paz. (Neste triênio, a cada reunião, os Definidores têm conversado com frades que trabalham nas várias entidades da Província). Entre os assuntos abordados: o crescimento do alunado nos últimos anos (e hoje com a Educação a Distância – EAD); o desafio no campus de Campinas, muito promissor, mas sem espaço para expansão no momento; a taxa de evasão escolar mais baixa do que a média nacional das instituições de ensino do mesmo gênero; os resultados financeiros dos últimos exercícios; as porcentagens de concessão de bolsas de estudo; processos judiciais em andamento; atendimentos oferecidos às comunidades nas áreas: odontológica, psicológica, jurídica e de fisioterapia; AGOSTO de 2019 – comunicações
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Definitório Provincial etc. Foi comentada também a incorporação do ITF à Casa N. Sra. da Paz, que vem sendo realizada neste ano. Frei Vitorio apresentou como se dá o trabalho evangelizador na Universidade, envolvendo celebrações, momentos oracionais, diálogo inter-religioso, direção espiritual e confissões. Fugindo do proselitismo, o foco é sempre a transformação do humano pela fé. Ressaltou o gosto da comunidade acadêmica pelo simbolismo franciscano, especialmente o tau. Vale lembrar que os alunos calouros da USF recebem o volume dos Escritos de São Francisco. Ao final do encontro, Frei César agradeceu aos confrades pela presença no Definitório e, sobretudo, pelo trabalho desenvolvido na Universidade.
16) Revista Vida Franciscana - reorganização
Nos últimos anos, as Comunicações da Província, com a ajuda do setor de Comunicação da Sede Provincial, se ampliaram bastante no que se refere ao volume de notícias e artigos publicados. Várias matérias, informações e artigos que seriam recolhidos pela Vida Franciscana no final de cada ano, acabam sendo postos nas mãos dos confrades já bem antes, no decorrer dos meses, de tal modo que, hoje, as Comunicações se configuram praticamente como uma crônica da vida provincial, incluindo os documentos principais emanados pela Província e mesmo pela Cúria Geral. Por isso, em vista de se repensar a Vida Franciscana, encontrar-se-ão em Vila Velha, no dia 9 de agosto, Frei Clarêncio Neotti (redator prestimoso da revista há muitos anos), Frei Gustavo W. Medella e Frei Walter de Carvalho Júnior.
17) Romaria penitencial Frei Bruno – 30 anos em 2020
Segundo Frei Gustavo, na última reunião do Conselho de Evangelização, foi pedido ao Secretariado que articulasse uma participação mais efetiva dos frades e comunidades na 30ª romaria penitencial Frei Bruno, do ano que vem, promovendo, inclusive, um processo preparatório em nossas fraternidades e comunidades, especialmente em Santa Catarina e também no Paraná. Porém, o envolvimento poderia ser mais amplo, considerando a história da contribuição franciscana na evangelização das igrejas locais do sul do país. Pensa-se na confecção de um banner ou quadro de Frei Bruno a percorrer as comunidades.
18) Festa de Penha 2020 – 450 anos
Em 2020 a festa da Penha completa 450 anos, desde a primeira edição. Os confrades da Província sempre prestigiam bem a festa. Pensa-se em presença missionária de
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frades estudantes para o próximo ano. Serão convidados também os frades que já viveram no convento e também os guardiães que lá exerceram seu ministério. Assim, os preparativos para a festa dos 450 anos já se iniciam.
19) Capelania São Roque – Piraquara
Irmã Ada Morelli encontrou-se com Frei César no dia 10 de junho, em Rondinha. Comunicou que as irmãs estão dando continuidade aos trabalhos sociais e religiosos da capelania São Roque, em Piraquara. Agradeceu pela assistência que o Frei Antônio Joaquim Pinto tem dado. Disse ainda que estão preparando uma publicação dos escritos de Frei Rui Depiné.
20) Egressos – postulantado e noviciado
1. Deixou o Noviciado no dia 21 de junho Davi Gabriel Lutzke, de Marechal Floriano - ES; 2. Deixaram o Postulantado: Vinicius José da Silva, de Piquete – SP, e Felipe Nascimento da Silva, de Ibiúna – SP, ambos no dia 15 de junho.
21) Rafael Teixeira do Nascimento – indulto
Em decreto de 7 de junho de 2019, Rafael Teixeira do Nascimento recebeu, por parte da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e para as Sociedades de Vida Apostólica, o indulto para deixar a Ordem e a consequente dispensa dos votos e demais obrigações derivadas da profissão religiosa.
22 ) Agenda 2019 – acréscimos e alterações
Confira na última página destas Comunicações.
23) Autorizações de viagem
Por motivos diversos, receberam autorização para viajar ao Exterior: Frei Ivo Müller, Frei Thiago A. Hayakawa, Frei Nilo Agostini e Frei Gustavo W. Medella.
Encerramento
Às 12h00 do dia 4, Frei César agradeceu aos Definidores pelo trabalho empenhado nas várias sessões do Definitório, mas também por todo o suporte que lhe estão dando no decorrer deste primeiro ano do triênio. Reconheceu que questões difíceis foram tratadas. Agradeceu, mais uma vez, ao Frei Mário por como desempenhou o serviço de ecônomo provincial, e pelas conquistas alcançadas nos últimos triênios em termos de co-responsabilidade econômica e financeira por parte das fraternidades. Por fim, invocou as bênçãos de Deus sobre os presentes.
Frei Walter de Carvalho Júnior secretário
cfmb
Paróquia Santo Antônio
Província São Francisco
Custódia do Sagrado Coração
Província Santa Cruz
Ministro Geral fica um mês no Brasil
O
Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Michael Perry, visitou quatro Províncias e uma Custódia do Brasil no mês de junho. Acompanhado do Definidor Geral, Frei Valmir Ramos, o Ministro Geral desembarcou no Brasil no dia 2 de junho, quando iniciou sua visita na Província de São Francisco, no Rio Grande do Sul. Frei Michael encontrou-se com os frades na cidade de Daltro Filho (RS), onde refletiu sobre a identidade franciscana, a missão dos frades hoje e alguns desafios da Ordem diante das rápidas mudanças no mundo e na Igreja. Frei Inácio Dellazari, Ministro Provincial, e os demais frades tiveram a oportunidade de falar sobre os desafios da Província São Francisco. De 8 e 14 de junho, o destino foi a Província Santa Cruz, em Minas Gerais.
Frei Michael e Frei Valmir foram recebidos pelo Ministro Provincial Frei Hilton Faria de Souza, e pelos frades da Sede Provincial em Belo Horizonte. O grande encontro foi na manhã do dia 12, quando celebrou a Eucaristia no Santuário da Serra da Piedade, vizinho à capital mineira. Ali o Ministro Geral conversou com os guardiães da Província sobre seus desafios na assistência às fraternidades. A sua viagem continuou de 15 a 20 de junho na Custódia do Sagrado Coração de Jesus. A visita teve início em Uberlândia (MG), onde foram recebidos pelo Custódio, Frei Fernando Aparecido dos Santos. A Custódia está presente no Nordeste e Centro-Oeste do Estado de São Paulo, o Triângulo Mineiro e Alto do Paranaíba. No dia 18, depois de visitar o Educandário Santo Antônio, na cidade de Bebedouro, Frei Michael foi a Franca (SP). No dia seguinte, reuniu-se com
os jovens frades da Formação Inicial e à tarde esteve com quase todos os frades da Custódia. A Província Santo Antônio, a mais antiga do Brasil e mãe desta Província da Imaculada, foi visitada por Frei Michael e Frei Valmir a partir do dia 22 de junho. Na manhã da sexta-feira, 28, os frades reuniram-se no Santuário São Francisco das Chagas, em Canindé (CE), para celebrar a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Em sua homilia, Frei Valmir Ramos afirmou que a Solenidade celebrada naquele dia é uma reflexão sobre a bondade infinita de Deus com cada ser humano. “É o amor que impulsiona Deus para estar muito perto de nós. Por isso, entendemos que o amor brota do coração, porque nele há vida, é o coração que faz todo nosso corpo manter-se em vida”, afirmou o Definidor. A visita fraterna terminou no dia 30 de junho.
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Frei César: novo presidente da CFMB
O
Ministro Provincial Frei César Külkamp é o novo presidente da Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB). Ele foi eleito na Assembleia ampliada, de 8 a 12/7, no Convento São Boaventura, em Daltro Filho, distrito no Município de Imigrante, no RS. Como vice-presidente, foi eleito o Ministro Provincial da Província Santa Cruz, Frei Hilton Farias de Souza, e como secretário o Custódio da Custódia do Sagrado Coração de Jesus, Frei Fernando Aparecido dos Santos. Frei Luís Fernando Nunes Leite, da Custódia do Sagrado Coração de Jesus, foi eleito delegado do Secretariado Interprovincial Franciscano de Evangelização e Missão (Sifem), e Frei Gabriel José de Lima Neto, da Província de Minas, eleito delegado do Serviço para Formação e Estudos (Serfe). A eleição se deu durante a assembleia trienal da entidade, que reuniu para este encontro os Ministros das nove entidades que compõem a Conferência (06 Províncias
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e 03 Custódias), além dos frades envolvidos nos serviços da Formação, Inicial e Permanente (Serfe), e da Missão Evangelizadora (Sifem). Dentre as atribuições da Assembleia, estão a apresentação e avaliação das atividades do triênio, a elaboração de propostas para o futuro e a eleição dos responsáveis pelos diversos serviços. No âmbito da Evangelização, destacaram-se no triênio a realização do 5º Encontro Continental das Américas para o Serviço de JPIC, entre 01 e 07 de setembro de 2017, em Anápolis, GO, do Encontro Nacional da Juventude, entre 19 e 22 de julho de 2018, em Vila Velha, ES, e o 2º Congresso Nacional de Educadores Franciscanos, entre 27 e 28 de agosto de 2018, em Anápolis, GO. Deste encontro, que começou no dia 8 de julho, participaram 55 frades de seis províncias e três custódias brasileiras, sendo 9 frades da Província de São Francisco, anfitriã do evento. O tema que está sendo estudado foi a interprovincialidade na Formação Inicial. Participaram onze frades pela
Província Franciscana da Imaculada Conceição: o Ministro Provincial, Frei César Külkamp; o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella; o Moderador da Formação Permanente, Frei Fidêncio Vanboemmel; o Secretário da Formação e Estudos, Frei João Francisco da Silva; o Coordenador das Missões, Frei Robson Luiz Scudela; o Comissário da Terra Santa e diretor do ITF, Frei Ivo Müller; o animador provincial do Serviço Vocacional, Frei Diego Melo; o mestre do tempo da Teologia, Frei Marcos Andrade; o mestre dos Postulantes, Frei Jeâ Andrade; o coordenador da Frente da Comunicação, Frei Neuri Reinisch; e o missionário na Prelazia de Marajó, Frei Atílio Battistuz. Além dos encaminhamentos institucionais, a assembleia se distingue como ocasião de encontro fraterno e de cultivo de um espírito de pertença à Ordem para além dos limites das entidades. A próxima assembleia ampliada, prevista para 2022, será no território da Província de Santo Antônio, em lugar a ser definido
cfmb
“O desafio é despertar os nossos irmãos e despertar a nós mesmos” Frei César Külkamp presidiu a Santa Missa no encerramento da Assembleia ampliada. Na sua homilia, foi categórico: “Somos menos frades hoje que algum tempo atrás, mas ainda somos muitos e somos ainda provocados a ouvir o que o Espírito espera de nós nesse momento, a colaborarmos para este despertar, este sacudir o mundo. E este é o nosso desafio: despertar os nossos irmãos e despertar a nós mesmos, para que possamos, juntos, propagar, propor os valores centrais e essenciais da nossa forma de vida e nos convertermos em participantes ativos com esse espírito presente em nós, que fala em nós, como nos promete Jesus na passagem do Evangelho de hoje. E podemos retomar a narrativa bíblica da passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, da indiferença e da apatia para ações mais responsáveis, mais solidárias, mais evangélicas, sob o risco de, se não fizermos isso, perdermos a significatividade da nossa presença no mundo de hoje. Se não somos mais necessários, se não temos mais com que contribuir para esse projeto de Deus, talvez não precisemos mais existir como religiosos franciscanos”, disse, para completar: “Essa é a provocação bíblica, mas sabemos da atualidade do pensamento, da mística e da espiritualidade franciscana, abraçada e tornada presente para toda a Igreja pelo Papa Francisco”. Para Frei César, o Papa Francisco tem ajudado a Igreja e a Ordem Franciscana a estarem com os olhos mais abertos e atentos ao que está acontecendo “ao nosso redor e também dentro de nós mesmos, nas fragilidades pessoais, fraternas e institucionais”. Segundo o novo presidente da CFMB, os desafios nesse tempo para a própria humanidade e para o Planeta é o de ver o todo da obra e a presença do Espírito que, nesse contexto, também fala “em nós naquilo que o
Evangelho hoje nos provoca”. “Não estamos sozinhos e o Santo Padre nos exorta, nos diz, a despertarmos e a sacudirmos a nós mesmos, para um processo de diálogo, de conversão, que ajude a despertar e a sacudir o mundo. É o que ele pediu na União dos Superiores Gerais”, recordou. “Talvez o chamado para a Ordem hoje seja precisamente este e também para a nossa Conferência. Temos todos esses sinais positivos entre nós, aqui apresentados nos nossos relatórios. Quanta maravilha de Deus acontecendo nos vários projetos de formação permanente, de formação inicial, nos trabalhos com a juventude! Quanta maravilha de Deus acontecendo nos mais diferentes campos de missão, de evangelização, essa grande prioridade de cuidado do nosso Planeta. E aqui lembro o legado da própria Amazônia como um grande convite a também focarmos aí as nossas energias, a estarmos unidos, mesmo que não presencialmente lá. Essa talvez seja
a provocação para não nos encerrarmos em nós mesmos, nas nossas fragilidades internas”, alertou diante da diminuição do número de frades. No final, Frei César convidou os frades a se animarem. “Mesmo sabendo dessas contrariedades, desses desconfortos, das situações contrárias, de todas as dificuldades em todos os contextos, nós queremos sonhar. Por isso, fizemos propostas para cada serviço, para, juntos, como Conferência, sonharmos e caminharmos mais próximos, no espírito da interprovincialidade”. “Sejamos capazes ainda de anunciar o Evangelho para a construção do reino. Anunciar e denunciar as situações concretas de injustiça e de violência do nosso mundo atual. Essa atitude pode nos fazer produzir muito fruto como pessoas consagradas, como religiosos franciscanos, sobretudo nos protegendo da tentação que poderia tornar estéril a nossa vida consagrada, como bem disse o Papa Francisco da tentação de viver apenas em busca da sobrevivência. A preocupação apenas pela sobrevivência paralisa, nos faz medrosos e, lentamente, sem que nos demos conta, ela nos encerra em nossas casas, em nossos esquemas. Mas nós, que aqui viemos para esses dias de Assembleia, quisemos nos animar, quisemos ver a realidade do mundo que nos provoca, quisemos sonhar, trabalhar mais juntos, mais próximos. Por isso, queremos ter um coração franciscanamente contemplativo, capaz de discernir como caminha Deus, como ele está presente nos caminhos das nossas cidades, dos nossos bairros. Presente em toda a gente, presente em toda a criação e presente em cada um de nós. E, juntos, como Fraternidade, para que possamos superar todas essas tentações e permitir que Ele produza em nós os milagres que espera”, completou.
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CFFB
Fórum Franciscano para o Sínodo Pan-Amazônico
“Se a Amazônia perecer, todos nós vamos perecer”
S
“
e a Amazônia perecer, todos nós vamos perecer porque o Planeta não vai resistir”. A frase de Frei Atílio Dalla Costa Battistuz, frade franciscano missionário na Amazônia há mais de sete anos, foi um dos muitos alertas dados durante o Fórum Franciscano Para o Sínodo Pan -Amazônico, no Centro Arquidiocesano São José, em Manaus (AM), desde o dia 4 de julho. O encontro, promovido pela Conferência da Família Franciscana do Brasil (CFFB), teve a colaboração do bispo arquidiocesano de Manaus, Dom Sérgio Castriani; de Moema Miranda, da Ordem Franciscana Secular (OFS); Frei Luiz Carlos Susin (OFMCap); Frei Florêncio Vaz (OFM); e dos assessores da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Da Custódia Franciscana São Benedito da Amazônia, participam 12 frades. Frei Atílio Battistuz, missionário na Prelazia de Marajó e frade desta Província da Imaculada, também destacou que está na hora de se conhecer a Amazônia “com o coração” e não se contentar somente com o que se aprende nos livros, filmes, na TV, jornais e revistas. No mapa, mostrou todo o espaço que ocupa a Amazônia na América do
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Sul, um ecossistema fundamental para o planeta e para o clima e que está sob grave ameaça, segundo o frade. “Não somos os únicos na Amazônia, mas ela engloba os países da Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, num total de 40% da América do Sul”, explicou o frade, que depois de ser missionário no projeto da Ordem dos Frades Menores por 6 seis, aceitou o convite de Dom Evaristo Spengler para ser missionário na Prelazia de Marajó. Para Frei Atílio, este grande santuário da natureza corre o risco de acabar. “É a última grande floresta tropical que ainda existe. A Amazônia representa 34% de todas as florestas nativas que ainda existem”, explicou, lembrando grande a diversidade de povos na Amazônia. “São mais 300 povos indígenas na Amazônia, com culturas diferentes e que resistem às explorações e sofrimentos causados a eles”. Nos últimos anos, o desmatamento e a destruição da floresta continuam acontecendo de forma criminosa. Uma área correspondente a dois campos de futebol da floresta amazônica brasileira é desmatada a cada minuto. Frei Atílio também recordou que o planeta Terra está enfrentando um problema muito sério com relação ao meio ambiente, o chamado aquecimento global e estudos recentes mostram que é necessária uma mudança de postura se quisermos viver ainda. “Se a Amazônia perecer, todos nós vamos perecer porque o Planeta não vai resistir”. O frade lembrou a teoria Gaia, também
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conhecida como Hipótese de Gaia, segundo a qual o planeta Terra é um ser vivo. Segundo o criador desta hipótese, James Lovelock, a Terra estaria reagindo às ações negativas que vem sofrendo pelo homem. “Gaia é um conceito muito próximo da nossa experiência franciscana, muito próximo dos povos indígenas e de Deus”. Segundo o frade, a ciência está confirmando hoje o que Francisco de Assis intuiu há 800 anos.
SOMOS CHAMADOS A NOS CONFRONTARMOS
“Como filhos e filhas de Francisco de Assis, não podemos ficar alheios às contradições sociais da realidade contemporânea, com as quais somos chamados a nos confrontarmos, em especial quando devemos colaborar na preservação de toda a biodiversidade e no respeito aos povos originários que vivem na Amazônia”, expressou o presidente da CFFB, Frei Éderson Queiroz (OFMCap). Participaram do Fórum o Arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani; Frei Luiz Carlos Susin (OFMCap) abordou temas como mudança de hábitos, conversão pastoral, ecológica e eclesial na Amazônia; Frei Florêncio Vaz, que falou sobre a Ecologia Integral Franciscana; Frei João Messias, OFM, testemunhou sua vivência com os Munduruku, experiência missionária na Prelazia de Itaituba com mais de 58 comunidades indígenas que vivem numa relação de pertença com a Floresta e estão ameaçados pela extração de minérios e outros impactos socioambientais; e Ir. Clarice Barri, Catequista Franciscana, que abordou a mobilidade humana em Assis, área de Fronteira entre Brasil, Bolívia e Peru. “Perspectivas e desafios para a Conferência da Família Franciscana do Brasil” foi o tema central do Fórum, que promoveu debates, estudos e conferências. Fonte: Site da CFFB
CFFB
Carta Compromisso do Fórum Franciscano para o Sínodo Pan-Amazônico “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. (Laudato Si’ 1-2) Querido Papa Francisco! Queridas Irmãs e Irmãos da Família Franciscana do Brasil! Somos gratos pela convocação do Sínodo para a Pan-Amazônia e oferecemos nosso apoio fraterno e integral, afirmando como Igreja que a Família Franciscana do Brasil trabalha em comunhão e unidade no cuidado da casa comum. Após escuta das vozes da Amazônia, e querendo contribuir no aprofundamento da temática sinodal à luz da espiritualidade franciscana, a Conferência da Família Franciscana do Brasil, realizou um Fórum com a participação de 160 irmãs e irmãos das ordens, congregações franciscanas e Jufra - Juventude Franciscana. Ouvimos os gritos dos povos originários, indígenas e quilombolas e to-
dos os amazônidas, que denunciam a devastação das florestas, a poluição das águas, a desvalorização da vida e o preconceito em relação às culturas nativas. Ouvimos o anúncio de uma terra sagrada e abundante de graça e beleza, que faz brotar vida para a existência de toda humanidade, tecida e interligada por cores, cheiros, sabores e saberes ancestrais. Como Família Franciscana, alimentamos em nós o que é conatural ao nosso carisma e assim nos comprometemos a: - Apoiar o Papa Francisco em todo o processo do Sínodo Pan-Amazônico e a somar forças na defesa e cuidado da vida, em busca de novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral; - Divulgar, por meio de nossas
redes de comunicação, os processos do Sínodo e as ações franciscanas nessa região, provocando toda sociedade a amazonizar-se; - Proporcionar experiência missionária na Amazônia, que favoreça a proximidade e convivência com os povos originários e o aprofundamento da mística amazônica, a exemplo da Experiência Assis; - Intensificar o trabalho em redes, nos articulando com a REPAM Rede Eclesial Pan-Amazônica, CIMIConselho Indigenista Missionário e Entidades afinadas nesse trabalho para uma presença franciscana mais profética, sinal de esperança. Manaus/AM, 6 de julho de 2019 Conferência da Família Franciscana do Brasil (CFFB) agosto de 2019 – comunicações
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Dados pessoais, formação e atividades
FALECIMENTO
Frei Anselmo J. München 01/06/1924
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N ascimento: 01.06.1924 (95 anos de idade) N atural de Feliz, RS. V estição: 14.12.1946 – Rodeio P rimeira Profissão: 18.12.1947 (71 anos de Vida Franciscana) P rofissão Solene: 18.12.1950 rdenação Presbiteral: O 01.07.1953 (66 anos de Sacerdócio) 1 948 - 1949 – Curitiba – Estudos de Filosofia; 1 950 - 1953 – Petrópolis – Estudos de Teologia; 0 7.01.1955 – Luzerna seminário – professor e diretor do seminário; 3 0.11.1956 – Rio Negro – seminário - professor; 1 9.01.1962 – Agudos – professor e bibliotecário; 1 5.01.1965 – Osorno – Chile – professor e diretor do seminário; 1 0.03.1966 – Temuco – Chile – vigário paroquial; em 04.10.1968, guardião; 15.01.1971 – Vila Velha – santuário – coordenador da fraternidade e pároco; 2 7.01.1974 – Curitiba – guardião e pároco; 0 5.12.1979 – Balneário Camboriú – coordenador da fraternidade e pároco. Em 15.12.1982, vigário paroquial; em 09.08.1983 - pároco
F
aleceu na manhã do dia 21 de julho, às 6h30, aos 95 anos, Frei Anselmo J. München, na Fraternidade de Bragança Paulista. Conforme nos comunicava Frei Carlos Körber, guardião, no final do mês passado, Frei Anselmo vinha sofrendo de in-
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comunicações – agosto de 2019
1 0.01.1995 – Curitiba – vigário paroquial; em 29.11.1997, vigário da casa e assistente da OFS do regional do PR;
suficiência renal grave e seu coração estava muito fraco. A Missa de Exéquias de Frei Anselmo foi celebrada no mesmo dia às 15h00, na capela do Cemitério do Santíssimo Sacramento, em São Paulo. Logo em seguida, seu corpo foi sepultado no jazigo dos frades.
2 8.01.2004 – Bragança Paulista – capelão do Hospital da USF; 20.12.2006 – Balneário Camboriú – guardião e vigário paroquial e ecônomo; 2 7.03.2009 – Ituporanga – seminário – serviços fraternos; 03.03.1975 – Concórdia – vigário paroquial e vigário conventual; 2 1.10.2015 – Bragança Paulista – tratamento de saúde;
FALECIMENTO
O frade menor Frei Anselmo era o mais velho dos 9 filhos (6 homens e 3 mulheres) do casal João München e Ana Olga, que em 1936 migraram para Bom Retiro, hoje Luzerna, onde permaneceram por 50 anos até falecerem. Durante o ano de 1938, Frei Anselmo residiu na casa paroquial, frequentando o colégio das Irmãs Franciscanas e realizando pequenas tarefas na paróquia, antes de entrar no seminário de Rio Negro. Os primeiros anos após o término dos estudos, Frei Anselmo os viveu como professor em vários seminários. Sentia-se feliz por ter colaborado diretamente na formação de ao menos 23 confrades da Província. Mas 63 dos seus alunos chegaram ao noviciado. A vários confrades, Frei Anselmo motivou, orientou e lhes ajudou desde o despertar da vocação. Em fins de 1964, Frei Anselmo apresentou-se como voluntário para integrar o grupo missionário da Província, no sul do Chile. Ele estava en-
tre os cinco confrades que, a pedido do Ministro Geral, assumiram a tarefa de auxiliar na restauração da vida franciscana na Custódia Franciscana de Castro, no Chile, entre os anos 1965 e 1985. Na paróquia de Temuco, fundou logo o grupo escoteiro “Sol del Pacifico”, que se tornou um elogiado exemplo de trabalho com jovens. Frei Anselmo era especialista no assunto. “Sempre gostei de trabalhar com grupos de pessoas, associações e lideranças. Para conseguir firmeza e clareza, sempre gostei de fazer cursos de orientação. Durante anos, trabalhei com grupos escoteiros, orientando-os na mensagem franciscana da paz e do bem, no cultivo do respeito e amor à natureza e ao próximo. Sempre gostei da catequese das crianças, cuidando da devida formação das catequistas. O Cursilho de Cristandade e o Movimento dos Irmãos e outros movimentos de paróquia sempre foram minha paixão. Nos últimos anos, ajudei no aconselhamento e orientação espiritual como confessor”. Em 2004, Frei Anselmo publica
o livro “Franciscanos Brasileiros no Chile”. Possa o Senhor acolher benigno a alma de Frei Anselmo, sendo-lhe a recompensa por todo o bem realizado. R.I.P.
Frei Walter de Carvalho Júnior
“O que sempre me encantou foi a lei da natureza. A sementinha, tratada corretamente, semeada em condições corretas, brota, se cobre de folhas, flores e frutos, que encantam o ambiente. A lei da vida espiritual e os sacramentos da Igreja Católica seguem o mesmo caminho” (Entrevista ao Portal Vale do Caí, SC).
Com a família quando estava residindo em Ituporanga
Com o livro da Missão no Chile agosto de 2019 – comunicações
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nOTÍCIAS E INFORMAÇÕES
Irmã Maria Inês é reeleita presidente da CRB A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) reelegeu, no final da tarde de quinta feira (11/07), em Assembleia Geral, a religiosa da Congregação das Mensageiras do Amor Divino, Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, como presidente da CRB para o triênio 2019-2022. Convidada a responder se aceitava assumir essa missão, Ir. Maria Inês agradeceu pela confiança: “Eu tenho certeza que Deus me pediu esse serviço e preparou o caminho, na comunhão com os consagrados e consagradas. Em janeiro, fiz um retiro para fazer o discernimento, porque percebia, pela caminhada, que
Deus ia me pedir mais serviço à Vida Consagrada. E me lembro das palavras do orientador, que me disse: ‘Não faça nada para ficar, não faça nada para sair. Esteja nas mãos de Deus’. Então, Ele me preparou”. Irmã Maria Inês foi eleita, em 2013, vice-presidente da CRB. Em junho de 2014, assumiu o cargo de presidente como substituta do irmão Paulo Petry, que fora eleito conselheiro geral para a Região Latino-americana e Caribenha da Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs (Lassalistas). Agora, seguirá no mandato até 2019.
Barco-Hospital Papa Francisco: “Um milagre”, afirma D. Bernardo o hospital vai até eles. E assim nasceu essa ideia, que se tornou um sonho e que surgiu às margens do Rio Amazonas, olhando pra ele”.
Como será feito o atendimento
O atendimento básico de saúde e espiritual a cerca de 700 mil pessoas ao longo do Rio Amazonas, no Estado do Pará, ao norte do Brasil, já é uma realidade graças ao Barco-Hospital Papa Francisco que leva médicos e consagrados, de cais em cais, entre as mil comunidades ribeirinhas de 12 municípios. No final de semana, em cerimônias oficiais em diferentes paradas, a embarcação hospitalar aportou para ser inaugurada e comemorada pelos brasileiros. Quem embarcou no projeto, inspirado e solicitado pelo próprio Pontífice quando encontrou os frades da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus no Rio de Janeiro, em
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2013, foi a Diocese de Óbidos, com o apoio dos frades, do Ministério Público do Trabalho de São Paulo e do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. O franciscano Dom Bernardo Bahlmann, bispo de Óbidos e presidente da CNBB Norte 2, e Frei Francisco Belotti, fundador da Fraternidade, estiveram no Vaticano em novembro de 2018 para apresentar o projeto ao Papa. Dom Bernardo explica como nasceu esse sonho: “Muita gente, sobretudo no interior, já não vai mais para a cidade procurar um médico e fica doente em casa. E, a partir disso, pensamos que poderia haver um barco, que fosse até as comunidades. Se as pessoas não vão até o hospital,
comunicações – agosto de 2019
Além dos frades e voluntários, a comitiva que percorre o trajeto hidroviário também é composta pela tripulação da Marinha Mercante e por uma equipe de saúde que reúne religiosas das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, de São José dos Campos. Já existe inclusive uma lista de médicos interessados em ajudar no atendimento. O Barco-Hospital já está se preparando para fazer expedições de 10 dias, com base sempre em Óbidos, para realizar os atendimentos de atenção básica à saúde, além de ações e exames para prevenir e diagnosticar precocemente o câncer da população ribeirinha daquela região amazônica. Para tanto, a embarcação oferece consultórios, centro cirúrgico, laboratórios, leitos de enfermaria e salas especiais, como a de vacinação, além de equipamentos para realizar os exames. Os casos de maior complexidade serão encaminhados aos hospitais de base de Óbidos, Juruti e Alenquer.
Por Frei Yves Leite
Que mão pesada, Frei Medella!!! Conselho da Praia reunido!
Olha a cara do chefe, Frei Felipe!
Frei Augusto: pense um xaxiense feliz!
Vida de coroinha na praia!
Missão? Frei Vítor prefere admirar o mar! O José é um veterano nas Missões e não perdeu a praia. A família de Concórdia veio em peso: Viviane (mãe), Maximino (pai) e Maxwell (irmão).
Angolanos com medo do sol de inverno!
Vovô centenário!
FRATRumGRAM é um neologismo que nasce da palavra Frades mais a rede social Instagram. A ideia é publicar fotos curiosas, informais e descontraídas dos frades e das Fraternidades! Se você fez uma foto legal, envie-nos para o email: comunicacao@franciscanos.org.br!
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (*) As alterações e acréscimos estão destacados
agosto 02 04 16 a 18 20 e 21 22 a 25 26 26 e 27 30 e 31 31
Primeira Profissão de Frei Éverton J. Goschel Broilo (Rodeio); 100 anos de Frei Olavo Seifert (Bragança Paulista); Alverne - Encontro de Formação para Jovens (Lages/SC) Reunião do Conselho de Evangelização (Sede Provincial) XVIII Assembleia Geral Ordinária da CFFB (Brasília) Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense Encontro do Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí (Lages) Encontro do Regional da Baixada e Serra Fluminense (Petrópolis - ITF) Comemoração dos 800 do encontro entre Francisco e o Sultão, na Mesquita de Santo Amaro, SP;
SETEMBRO 04 e 05
Reunião do Conselho para a Formação e Estudos (Sede Provincial); 05 a 08 Encontro Nacional dos Irmãos Leigos (OFM, OFMCap, OFMConv e TOR) (Lagoa Seca, PB) 08 Profissão Solene (Petrópolis) 10 a 12 Reunião do Definitório Provincial (São Paulo); 16 Encontro do Regional de Curitiba (S. Boaventura) 16 Encontro do Regional do Espírito Santo 16 Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Gaspar) 16 Encontro do Regional do Vale do Paraíba (Fazenda da Esperança) 19 e 20 Encontro ampliado da Frente da Educação (Petrópolis); 23 a 26 Encontro dos Frades Under Ten – Província (local a ser definido) 30 Encontro do Regional São Paulo (Amparo) 30 e 01 Encontro do Regional do Contestado (Piratuba)
OutuBRO 6 a 27 07 e 08 17 e 18
Sínodo para a Amazônia (Roma) Encontro do Regional do Leste Catarinense (Angelina) Encontro ampliado da Frente de Comunicação (Rondinha);
18 a 20 31 a 03
Estágio Vocacional - Ensino Médio (Ituporanga/SC) Estágio Vocacional - Ensino Médio e Aspirantado (Guaratinguetá/SP)
NOVEMBRO 15 15 a 17 20 e 21 25 25 26 a 28
Encontro do Regional da Baixada e Serra Fluminense (Taquara) Alverne - Encontro de Formação para Jovens (Vila Velha/ES) Reunião do Conselho de Formação e Estudos (Sede Provincial); Encontro do Regional do Espírito Santo Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense Reunião do Definitório Provincial
DEZEMBRO 02 02 02 e 03 02 e 03 04 a 06 09 09 e 10 09 e 10
Encontro do Regional de Curitiba (Caiobá) Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Blumenau) Encontro do Regional do Vale do Paraíba (São Sebastião) Encontro recreativo do Regional do Contestado Celebração provincial dos Jubileus (Petrópolis); Encontro do Regional São Paulo (Bragança Paulista) Encontro do Regional do Leste Catarinense – recreativo Encontro do Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí (Blumenau)
2020 JANEIRO 06 08 20 a 30
Primeira Profissão dos noviços (Rodeio); Admissão dos noviços (Rodeio); Curso na Cúria Geral para novos Ministros Provinciais (Roma);
FEVEREIRO 02 a 11
Visita do Ministro Geral e do Definidor Geral à Província da Imaculada;