Revista Comunicações - Dezembro 2018

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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

dezEMBRO de 2018 ANO LXVI • N o 12

Santo Natal e abençoado 2019!


Mensagem de Natal

“E o Verbo se fez Carne em nós”............................................................................................................ 807

Ordenação presbiteral de Frei João Bunga, Frei Ermelindo Bambi e Frei João Canjenjenga.............................................................................................................................. 810 XIX Semana Teológico Pastoral no ITF............................................................................................. 814 Noviciado: 2ª Experiência de Eremitério........................................................................................ 816 Rondinha: Retiro dos Frades Estudantes....................................................................................... 817

FORMAÇÃO E ESTUDOS

fRATERNIDADES

Forquilhinha: “E agora?”, texto de Frei Fidêncio Vanboemmel..................................... 818 Frei Galvão é celebrado no Convento São Francisco.......................................................... 820 Festa para o Padroeiro do Postulantado Frei Galvão............................................................ 822 Crônica: “Nossa Senhora da Paz de Ipanema”, de Frei Almir Guimarães................ 824 Blumenau: Cresce a devoção à Mãe Aparecida....................................................................... 826 Pato Branco: Um ano do falecimento de Frei Nelson Rabelo....................................... 827 Campanha do Pró-Vocações em Santa Catarina.................................................................... 828 Curso de Verão: Por uma cidade acolhedora - Somos todos Migrantes.............. 829 “O Evangelho de Lucas”, texto de Frei Luiz Iakovacz............................................................. 830 Encontro de Formação Alverne em Balneário Camboriú................................................ 832 NOSSOS FRADES: Frei André Luiz da Rocha Henriques............................................... 840 Paróquia do Sagrado faz campanha para restauro do órgão....................................... 844

SAV

Estágios Vocacionais: 40 jovens se apresentam....................................................................... 845

EVANGELIZAÇÃO

III Congresso Franciscano Missionário da América Latina e do Caribe.................. 846 Festa de São Lucas no Kimbo São Francisco.............................................................................. 858 Encerramento do Sínodo dos Jovens.............................................................................................. 860 Encontro de Gerentes e Gestores do Grupo Educacional Bom Jesus................... 862 Bom Jesus promove “Tempo Franciscano 2018”..................................................................... 864 Petrópolis: Diocese assume o Terra Santa..................................................................................... 865 FAE: Novas faces da evangelização.................................................................................................... 866 USF realiza o 4º Retiro Universitário................................................................................................... 868 Celebração pela paz na USF.................................................................................................................... 869 Sefras: Ato Inter-religioso pela da Paz na Semana da Paz................................................. 870

Custódia do Sagrado Coração de Jesus elege novo governo...................................... 872 Província do Santíssimo Nome tem novo governo.............................................................. 874 Tor: Novo Conselho Provincial............................................................................................................ 874 UCLAF celebra 50 anos............................................................................................................................... 875

CFMB

Notícias e informações

Novo livro de Frei Clarêncio: Resgate da história para tempos sombrios............ 876 Mosé, aposta da Vozes, lança “Nietzsche hoje”.......................................................................... 877 Província lança novo portal...................................................................................................................... 878

Agenda ....................................................................................................................................................... 880 Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | São Paulo - SP | www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br


Mensagem

E O VERBO SE FAZ CARNE EM NÓS! Estimados confrades, paz e bem! “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). A afirmação bíblica de São João é, ao mesmo tempo, relato e atualização do mesmo e único Mistério. O Verbo se fez carne, é verdade! Mas também é verdadeiro que o Verbo se faz carne, no presente. Atualizar oComunicações Mistério do Natal significa, então, emprestar nossa vida aoDezembro Senhor para que de 2018 807


Mensagem Ele possa continuar nascendo no seio de uma humanidade tão necessitada de Sua presença. Embora instáveis e limitados, o Menino espera poder contar conosco, assim como pôde, à época, contar com aquela jovem família pobre e peregrina. Num contexto de carência e improviso, o Imenso-Infinito veio tocar-nos no espaço e no tempo. Em Jesus, o mesmo Deus que nos toca e nos visita, envia-nos para sermos sua presença entre as pessoas, especialmente aquelas que sofrem a dor do abandono, da exclusão, da violência, da pobreza, do desrespeito. Onde estes estão, devemos estar. Ainda sob o impacto do Capítulo Provincial, que nos reconvocou à Minoridade, queremos buscar forças para encarnar este ideal diante de um Menino frágil, discreto, humilde e menor. Daquele berço montado às pressas com um punhado de palha sobre um cocho de estrebaria, Ele toca de cheio o nosso coração e nos chama a colocar nossa atenção sobre o que de fato é importante na Vocação que abraçamos. Como Irmãos Menores, nossa missão é levar a todos aquilo que temos de mais precioso: a esperança da criança que nasce, a alegria de uma nova vida que surge, a certeza de que o mundo pode ser melhor se colocarmos

em prática as lições que Deus nos dá ao assumir o cúmulo da pequenez. Este é o testemunho dócil e discreto que o mundo espera de nós. A Manjedoura de Belém é ponto de encontro de quem deseja cultivar um coração de frade menor. Diante do presépio, devem ser depostas as ambições, os medos, as rivalidades e as desconfianças mútuas. Ali não há espaço para outra atitude que não seja a da acolhida em suas expressões mais variadas: acolhida de nossas próprias misérias, daqueles que são diferentes, dos irmãos que o Senhor nos dá, da missão que o Senhor nos confia: tudo isso é comunhão. Com Francisco, queremos mais uma vez contemplar no Presépio a origem de nossa vocação de Irmãos Menores. No início de mais um triênio, o Menino-Deus novamente nos estende os braços para ser aconchegado no calor de nosso coração. E, diante da cena que comoveu nosso Seráfico Pai no episódio de Greccio, também nós queremos nos mover a partir de dentro, deixando de lado todas as amarras que nos tiram a mobilidade e a força para caminharmos como irmãos menores em direção ao Menino de Belém.

Desejamos a todos um Santo Natal, com as mais generosas bênçãos de Deus, e abençoado 2019!

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Frei César Külkamp, OFM

Frei Gustavo Wayand Medella, OFM

Ministro Provincial

Vigário Provincial

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EMPRESTA-ME, MENINO JESUS MENINO JESUS, Empresta-me teu lindo sorriso A fim de que encontre a alegria de viver O rumo certo ao paraíso MENINO JESUS, Empresta-me tua admirável ternura A fim de que seja eu mais amável Minha alma em candura MENINO JESUS, Empresta-me tuas pequenas mãos A fim de que eu vá ao encontro do próximo Com a caridade do coração MENINO JESUS, Empresta-me teu divino olhar A fim de que eu veja a cada irmão Como linda criação a contemplar MENINO JESUS, Empresta-me tua santa simplicidade, A fim de que sinta um pouco da pobreza Que viveste em santa humildade MENINO JESUS, Empresta-me tua Luz luminosa A fim de que ela brilhe sempre Nesta data de Natal maravilhosa Frei Carlos Nunes Corrêa


FIMDA

ANGOLA GANHA TRÊS PRESBÍTEROS Frei Ermelindo Francisco Bambi, Frei João Batista Canjenjenga e Frei João Alberto Bunga foram ordenados presbíteros na Solenidade de Cristo Rei.

A

Solenidade de Cristo Rei do Universo no domingo, 25 de novembro, em Luanda, ficou marcada com ordenações presbiterais de três frades no Kimbo São Francisco: Ermelindo Francisco Bambi, João Batista Canjenjenga e João Alberto Bunga. Foi um dia de festa e alegria para a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, que está em Angola há 28 anos, e a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. A Missa de ordenações foi presidida por Dom Filomeno Vieira Dias, Arcebispo Metropolitano de

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Luanda, capital de Angola. Concelebrada por Frei José Antônio dos Santos, presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus, por Frei Afonos Nteka, Ministro Provincial dos Capuchinhos em Angola, demais sacerdotes franciscanos, salesianos e diocesanos, e testemunhada por religiosos e religiosas, seminaristas e um considerável número de fiéis de Luanda, e outros que vieram de Malanje, Huambo, Kuanza Sul, Portugal e do Brasil. Frei Alisson Zanetti, que foi o cerimoniário, antes da Missa leu a biografia de cada um. Na ocasião,

disse que é grande a nossa alegria mediante os ministérios sacerdotais dos três jovens. A Missa, que também foi transmitida pela TV de Angola (TPA) e pela Rádio Ecclesia, foi animada pelo Coro Central da Paróquia São Lucas e contou com o apoio dos Bombeiros, da Polícia Nacional e dos serviços da Pastoral da Saúde de São Lucas. Ao longo da pregação, o Arcebispo saudou Frei José Antônio e também os ordenandos pela atitude de confiança e coragem em Jesus. O bispo, Presidente da Conferencia


Formação e Estudos

Episcopal de Angola e São Tomé e Princípe (CEAST), dirigiu também uma palavra aos demais frades e às Irmãs Clarissas - que do outro lado do Kimbo acompanharam toda a celebração - pelo serviço que prestam na Igreja de Angola. Dom Filomeno lembrou que dois dos três ordenados são de Luanda. “Espero que muitos outros jovens se deixem entusiasmar por Cristo e pelo seu Evangelho”, pediu, dizendo que os três vão entrar na Ordem dos Presbíteros. Explicou que todo o santo povo de Deus participa do sacerdócio real pelo batismo. “Mas também é verdade que Jesus escolheu alguns discípulos para desempenharem na Igreja este ministério dado pelo Pai em favor dos homens” esclareceu. Dom Filomeno disse ainda: “Queridos filhos, exercereis o múComunicações Dezembro de 2018

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Formação e Estudos nus de Cristo. Procurai crer no que ensinardes. Exercei o múnus de santificar. Tomai consciência do que fazeis, esforçai-vos e empenhai-vos na vida nova”, disse, acrescentando ainda: “Imitai Jesus, que manifestou a sua glória seguindo as pegadas de Francisco de Assis”. Por fim, pediu que rezassem pela Igreja em Angola. Terminado o sermão, seguiu-se o rito de ordenação. Os candidatos foram chamados pelo pároco Frei Antônio Zovo Baza, confirmados e entregues por Frei José Antônio ao bispo ordenante. Acompanhados pelas mães, cantaram: “Eu ouvi a voz do Senhor que me envia”. Depois da imposição das mãos, Dom Filomeno fez a prece de ordenação presbiteral. Os três receberam a Ordem do Presbiterato. Frei Ermelindo foi vestido por Frei Jeferson Broca; Frei Bunga pelo seu tio Frei Teca, superior dos Capuchinhos em Angola;

UMA SEMANA DE MISSÕES

Em preparação às ordenações sacerdotais de Frei João, Frei Ermelindo e Frei Canjenjenga, a FIMDA promoveu semana de Missões Fran-

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ciscanas, de 19 a 25 de novembro, nas comunidades da Paróquia São Lucas, Luanda. A Frente de Animação Vocacio-

nal (FAV) da FIMDA, coordenada por Frei Ivair de Carvalho, contou com a participação dos frades, postulantes e leigos das comunidades locais. Os frades visitaram os doentes, rezaram com as famílias, abençoaram as casas. As atividades começavam cedo e terminavam tarde, com a Celebração Eucarística. No último dia, os três diáconos professaram a fé e juraram publicamente sua fidelidade à Igreja Católica, na Comunidade São Lucas. O rito de profissão de fé e de juramento dos frades aconteceu na Missa vocacional e de Ação de Graças que encerrou a semana de missão em preparação às ordenações.


Formação e Estudos

e Frei Canjenjenga por Frei Alisson Zanetti. E deram a primeira bênção enquanto sacerdotes às suas mães. No final da Missa, Frei Ivair Bueno de Carvalho, vice-presidente da Fundação, leu a ata de ordenação. Em seguida, os ordenados, na voz do Frei Bunga, expressaram sua gratidão. Frei José Antônio dos Santos tomou a palavra e, em nome da Ordem dos Frades Menores, da Província da Imaculada Conceição e dos Frades da Fundação, agradeceu Dom Filomeno pela generosidade em aceitar ordenar os frades em uma data tão importante. Expressou também seu contentamento aos familiares dos três. Recordou que conheceu os três ordenados há cerca de dez anos no Seminário em Malanje. Tiveram uma longa caminhada, “porque descobrir a vocação é fácil, difícil é perseverar”, concluiu. Frei Crisóstomo Pinto Ñgala Comunicações Dezembro de 2018

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Formação e Estudos itf

XIX Semana Teológico-pastoral

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o dia 23 de outubro, no Instituto Teológico Franciscano, teve início a XIX Semana Teológico-pastoral. Em 2018, a Semana foi dedicada aos 50 anos da Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, realizada em Medellín, Colômbia. O dia iniciou na igreja, com um momento de oração organizado pelos estudantes do ITF, seguido pelo café da manhã. No salão acadêmico, a mesa foi composta por Frei Antônio Everaldo Palubiack Marinho (diretor do ITF), Pe. Luís Fernando Ribeiro, do departamento de Teologia – PUC-Rio) e Frei Elói Dionísio Piva (ITF). “Medellín é um marco referencial para avaliarmos a caminhada da Igreja na América Latina. A presente Semana, se propõe reavivar a memória e traçar perspectivas sobre o tema”, salientou Frei Everaldo na abertura do evento. A palestra de abertura, ministrada pelo professor João Décio Passos

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(PUC-SP), teve como tema “Medellín: 50 anos de um carisma”. O palestrante ressaltou que “no período de preparação para Medellín, já havia uma grande preocupação com o futuro da América Latina... a Conferência foi uma tomada de consciência da realidade da situação dos povos latino-americanos”. De acordo com João Passos, “Medellín foi a recepção mais fiel e emblemática do Concílio Vaticano II”. Sua apresentação enfocou os dois movimentos realizados pela Conferência: 1) o ponto de chegada e 2) o ponto de partida. Respondeu também às seguintes perguntas: Após

50 anos, o que restou de Medellín?; e qual é o seu ensinamento? Depois de meio século, já não temos mais o vigor original. No entanto, é uma inspiração atual, pois ela despertou a sensibilidade para com os pobres. “Medellín não se petrificou, é como o sal dissolvido”, salientou o conferencista. Após um breve intervalo, a segunda parte da manhã foi dedicada às perguntas ao expositor. Na segunda parte do dia, após o almoço, foram constituídos dois grupos de trabalho. O primeiro grupo foi orientado pelos professores José Ariovaldo da Silva (ITF), Natasha Ribeiro (PUC-RJ) e Elói Dionísio Piva (ITF). O segundo grupo de trabalho foi coordenado pelos professores Lúcia Pedrosa de Pádua (PUC-RJ) e Pe. Luís Corrêa Lima (PUC-RJ).

2º dia

Após a oração de abertura, teve início o segundo dia da Semana Teológico-pastoral. A palestrante, professora Maria Clara Lucchetti Bingemer (PUC-RJ), discorreu sobre “A recepção do Vaticano II em Medellín”. Em sua fala, a professora Maria Clara afirmou que a Conferência de Medellín foi o “nascer de uma Igreja que não queria mais ser um reflexo da Igreja da Europa... foi como uma lufada de ar puro, novo e profético na Igreja”. Segundo ela, a


Formação e Estudos

Conferência demonstrou uma consciência clara e explícita de ser a Igreja de um continente; e destacou que “os ventos de Medellín sopram na Igreja do Papa Francisco”. A explanação foi interrompida por um breve intervalo para o café e retomada com as perguntas dos participantes do evento. Após o almoço, novamente, foram constituídos dois grupos de trabalho, abordando temáticas diversas: - Medellín e a Igreja dos pobres (Paulo Fernando Carneiro – PUC-RJ); - A Bíblia em e pós Medellín (Waldecir Gonzaga – PUC-RJ); - Medellín: a Igreja dos pobres e a reforma agrária no Brasil (Nilmar de Sousa Carvalho UFJF); - Alceu Amoroso Lima e sua proposta para o Brasil (Alessandro Garcia da Silva (UFRJ-IFF); - Eclesialidade das comunidades Ondjango na África a partir do Vaticano II (José Cambolo – ITF); - O papel da

REB (1958-1968) na recepção do Vaticano II (Walder Lancieri Marchini – PUC-SP/Vozes).

Encerramento

O último dia da Semana teológico-pastoral iniciou com uma missa realizada na igreja do Instituto Teológico Franciscano em honra a Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, celebrado no dia 25 de outubro. Após o café de boas-vindas, os participantes se dirigiram para o Salão Acadêmico, onde o terceiro conferencista da Semana tomou a palavra. Em sua enriquecedora conferência sobre os “Leigos e Medellín”, o professor Cesar Kuzma (PUC-RJ) instigou os presentes com dois questionamentos provocativos: “50 anos depois, como compreender a vocação e a missão do laicato a partir de Medellín?” e “Para onde caminham os leigos?” Em sua

apresentação, Cesar Kuzma ressaltou que “o corpo laical é chamado a um novo dinamismo” e que embora esse corpo seja numeroso “os leigos ainda não têm a compreensão de sua missão e vocação na Igreja”. De acordo com ele, “no pontificado de Francisco, as grandes questões relacionadas à fé são perguntas que a sociedade faz..., questões éticas que implicam no modo de agir do cristão”. E lembrou que após 50 anos da importante Conferência, temos um papa que é latino-americano. A manhã foi encerrada com uma apresentação do Coral dos Canarinhos de Petrópolis, sob a regência de Marco Aurélio Lischt. O reduzido grupo, composto por doze cantores, apresentou peças do repertório sacro e folclórico. Após o almoço, a tarde de trabalho prosseguiu com as quatro últimas apresentações voltadas à questão ambiental: - Luiz Felipe Guanaes Rego (NIMA/PUC -RJ) – Questão socioambiental desde Medellín e perspectivas; - Márcia Varricchio (FMPFASE/ITF) – A construção do sujeito quântico ecológico: rumo à ecoteologia; - Breno Herrera (PARNASO/ITF) – Francisco, franciscos: convergências ecoteológicas entre Assis, Acre e Roma; - Ludovico Garmus (ITF) – O que se entende por ecoteologia. Essa edição da Semana Teológico-pastoral foi encerrada com um café de confraternização. A Semana Teológico-pastoral aconteceu de 23-25 de outubro, no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis. É um evento realizado em parceria entre a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC -RJ) e o ITF e conta com o apoio da Universidade São Francisco (USF) e da Editora Vozes. A próxima será realizada na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em outubro de 2019. Equipe de Comunicação do ITF Comunicações Dezembro de 2018

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Formação e Estudos NOVICIADO

SEGUNDA EXPERIÊNCIA DE EREMITÉRIO

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o mês de outubro, quando se celebram os festejos de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora Aparecida, os noviços do Noviciado Franciscano São José subiram a montanha para terem um encontro pessoal e contemplativo com Deus. A experiência ocorreu entre os dias 15 e 20 e 22 e 29 de outubro, com duas turmas de dez noviços, e o guardião da fraternidade e vice-mestre, Frei José Antonio Cruz Duarte, que orientou os noviços no estudo do documento da Ordem “Escutais e Vivereis”, e sobre a contemplação das Sagradas Escrituras, ao modo de São Francisco de Assis. Durante essa 2ª Experiência de Eremitério, os noviços tiveram a oportunidade de meditar sobre o que Deus lhes queria falar, principalmente, a respeito de minoridade, pobreza, serviço e confiança, por meio da leitura atenta da Sagrada Escritura e da mais pura contemplação e serviço aos irmãos. “Essa Experiência de Eremitério foi uma oportunidade muito boa de oração e meditação, a partir dos textos propostos, na busca da vivência da minoridade”, avaliou Frei Guilherme Plotegher Neto. Rezemos para que o bom Deus inspire ainda mais o desejo do serviço fiel à vocação de seguir o Evangelho de Nosso Senhor, nas pegadas de São Francisco de Assis. Frei Marcelo Tadeu

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Saudação à Imaculada Conceição Salve Maria, Doce Lírio de São José, teu castíssimo e amado Esposo. Quem mais pura e cheia de doçura senão tu, ó dileta Mãe de Deus? Quem, se não tu, Foste digna de ser cuidada, amada e regada de proteção por tão zeloso Protetor e Esposo, o teu querido José? Que fiel jardineiro tiveste, ó Lírio da Pureza de Deus, ó Flor sem mancha, ó doce Mãe do meu Senhor! Tu, Maria, Mereceste ser amada e eternamente admirada! Tu, Flor da natureza,

mereceste a honra de ter tão fiel Esposo! Tu, Senhora, mereceste trazer em teu puríssimo seio o Altíssimo Senhor! Rogai, pois a Deus, junto a São José, para que, conservando a pureza do corpo e da alma, pelos teus fiéis exemplos, possamos chegar enfim, à Glória celeste, onde esperamos, com todos os Anjos e Santos, contemplar a bondosa face de Deus. Amém! (Oração feita por Frei Josiélio da Silva Oliveira, no dia 3 de novembro de 2018, durante o retiro no Eremitério)


Formação e Estudos

RONDINHA

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RETIRO DOS FRADES ESTUDANTES

ntre os dias 2 e 4 de novembro, os frades estudantes da etapa da Filosofia, residentes no Convento São Boaventura em Rondinha, realizaram seu retiro anual, tendo como pregador Frei Miguel da Cruz, vigário paroquial e animador vocacional da Paróquia de São Francisco Solano de Curitibanos-SC. O retiro intercalou momentos de deserto, partilhas e reflexões sobre escritos franciscanos, entre outros sugeridos pelo pregador como o texto-base do Conselho Plenário da Ordem dos Frades Menores, ocorrido este ano em Nairóbi, Quênia. Ao introduzir a temática e ao longo

de todo o retiro, Frei Miguel fez um convite para que cada frade examinasse sua caminhada pessoal, desde o despertar vocacional, passando pela integração da própria história, das experiências e dos projetos de vida individuais, convergindo para o modo de ser frade menor em fraternidade. Neste sentido, pôde-se avaliar quais passos estão sendo dados e quais podem ser dados na direção de uma melhor vivência da minoridade franciscana enquanto lugar de encontro e comunhão, como sugere o tema do Capítulo Provincial. O exercício constante da misericórdia e do perdão, diante de nossas misérias e fragilidades; o exercício da diaconia, pre-

sente na dedicação gratuita e generosa aos confrades e à comunidade; a opção pelos mais pobres; o testemunho; o profetismo; a radicalidade evangélica; o cuidado com a casa comum; o desapego; a gratidão; e tantos outros modos de ser menor “em relação”. Durante estes dias, Frei Miguel também presidiu as celebrações de Finados na sexta-feira (2/11) e de Todos os Santos no Domingo (04/11), dia em que também comemoramos seu aniversário natalício num animado recreio, juntamente com os frades estudantes e a Fraternidade permanente. Frei Rodrigo Silva

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Forquilhinha

E AGORA?

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agora?” Foi esta a pergunta que a comunidade de Forquilhinha se fez quando, no dia 18 de dezembro de 1936, veio a falecer o Pe. Felix Mrugalla. A resposta não tardou, pois, no ano seguinte, em 1937, a Providência de Deus enviou a Forquilhinha o primeiro sacerdote franciscano, Frei Dionísio Mebus. Este, devido à sua doença e

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fragilidade física, pouco tempo depois foi substituído por Frei Fidelis Kamp. Depois de três anos da presença individual de frades, no dia 16 de janeiro de 1941, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil assumiu oficialmente a recém-criada Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Forquilhinha, erigindo ali a primeira fraternidade franciscana

com Frei Marcelo Baumeister, Frei Júlio Jansen e Frei Elias Steinruecken. Assim, por 81 anos a Província manteve a presença dos Frades Menores em Forquilhinha. Neste final de ano, diante da necessidade do nosso redimensionamento, particularmente pela diminuição de vocações e a urgência de fortalecer nossas frentes missionárias, não sem dor no coração, estamos devolvendo a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus aos cuidados da Diocese de Criciúma. “E agora?” Agora nossas palavras são de gratidão. Sei que elas são pequenas e pobres para expressar nossa infinita gratidão a Deus e ao povo de Forquilhinha por todos os benefícios que ali recebemos do Pai de toda a Misericórdia. Tenho certeza que foi no pulsar do Sagrado Coração de Jesus que os nossos confrades ali viveram a sua vocação franciscana e realizaram com fidelidade a missão evangelizadora. Portanto, o que um dia na gratuidade recebemos, com a mesma gratuidade devolvemos à Igreja, pois, como


Fraternidades

Frades Menores, de Francisco de Assis aprendemos que somos “peregrinos e forasteiros neste mundo”. “E agora?” Agora uma palavra de reconhecimento à Igreja Local. Foi pelas súplicas de Dom Joaquim Domingues de Oliveira que fomos enviados a Forquilhinha para servir àquela porção da Igreja de Deus. Hoje, atendendo às nossas súplicas e carências, o nosso querido pai e pastor, Dom Jacinto Inácio Flach, compreendeu nossas reais necessidades. Somos muito agradecidos à pessoa de Dom Jacinto que representa toda a Igreja Local da Diocese de Criciúma, em especial a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Forquilhinha que aprendemos a amar. “E agora?” Agora, citando as palavras de São Francisco de Assis quando chegaram os primeiros irmãos, também reconheço que esta porção da Igreja de Deus nos deu irmãos, “homens de tanto valor, companheiros necessários e amigos fiéis”. Irmãos de saudosa memória como Frei Jerônimo Back, Frei Mateus Hoepers, Frei Ático Eing, Dom Paulo Evaristo Arns, Frei Wilson Steiner, Frei Alberto Beckhäuser e Frei Nilton Steckert, e irmãos que hoje continuam na lida evangelizadora: Dom Leonardo Ulrich Steiner, Frei Paulo Back, Frei Antônio Michels, Frei Volney Berckenbrock e Frei Carlos Ignácia. “E agora?” Agora a palavra mágica

que também se faz necessária: Perdão! Também nós, Frades Menores, como rezamos na V Oração Eucarística, fazemos parte do “povo santo e pecador”. Pelas nossas fragilidades, pelas nossas omissões, pelas nossas limitações humanas e eventuais feridas, queremos suplicar o perdão de Deus e da Igreja, recordando nosso Pai São Francisco: “O que não conseguimos perdoar totalmente, fazei Vós, Senhor, que perdoemos plenamente”. Deposito esta súplica de perdão no misericordioso e Sagrado Coração de Jesus. “E agora?”. Agora a palavra de gratidão aos confrades Frei Ivo Müller, Frei João Lopes da Silva, Frei Osvaldo Lino Luiz e Frei Ricardo Backes que, com serenidade e diálogo, conduziram o trabalho de confiar a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Forquilhinha aos cuidados da Diocese de Criciúma. Sabemos que o carisma de São Francisco continua presente na vida e no coração das pessoas, particularmente pela presença das Irmãs Franciscanas e da Ordem Franciscana Secular. Que o Senhor abençoe a todos! E, com as preces de São Francisco, concluo minha singela mensagem: “Altíssi-

mo, Onipotente e bom Senhor, teus são o louvor, a glória, a honra, e toda benção... Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças, e servi-o com grande humildade”. São Paulo, 25 de outubro de 2018, na festa de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão. Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM

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Fraternidades

Frei Galvão: um franciscano que viveu pelo povo e pela vida

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a sua mensagem em vídeo para o Dia de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel, lembrou de seu confrade pedindo a sua intercessão. “Invocamos Santo Antônio de Sant’Ana Galvão para que interceda por nós nesses dias obscuros. Que reine a verdadeira paz e a caridade. Paz que não se constrói pelo poder e pelas armas, mas que nasce dos corações dos verdadeiros filhos de Deus. Que são pacíficos, puros e desarmados de todas as formas de violência. E a caridade, também, Frei Antônio de Sant’Ana Galvão. Caridade que é o cuidado para com os nossos semelhantes, particularmente os aflitos dos nossos tempos, os doentes, os

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escravos da modernidade, os pobres, os estrangeiros”, pediu Frei Fidêncio. Já no Santuário e Convento São Francisco, no centro de São Paulo, frades e fiéis celebraram a festa do santo brasileiro lembrando a proximidade com o santo, que viveu mais de me-

tade de sua vida no local – 60 de seus 83 anos. Foi dali que ele conduziu as obras do Mosteiro da Luz, sua obra prima, conforme recordou Frei Alva-

ci Mendes da Luz, reitor e pároco do Santuário, que presidiu a celebração do meio-dia. Nesta semana, os devotos celebraram o tríduo dedicado ao religioso. No dia de hoje, festa de Frei Galvão, foram celebradas 4 missas, com distribuição das pílulas, bênção e venda do bolo. A missa do meio-dia contou com a presença da Pastoral “Filhas de Frei Galvão”, grupo local que ajuda a manter viva a devoção ao santo paulista. São elas que, semanalmente, produzem as pílulas de Frei Galvão e animam as missas celebradas no dia 25 de cada mês, em honra do santo franciscano. Em sua homilia, Frei Alvaci recordou que Frei Galvão era “o homem da paz e da caridade”, título dado pelo Papa São João Paulo II na beatificação


Fraternidades

do religioso. O reitor lembrou que, em sua vida, Frei Galvão enfrentou muitas intrigas, sobretudo com o poder. Por duas vezes, o religioso foi expulso de São Paulo pelo governador, pois Frei Galvão defendia o povo contra as injustiças. E foi este mesmo povo que pressionou as autoridades para que o frade permanecesse em São Paulo. “Como bom franciscano, ele foi um homem que viveu pelo povo e pela vida”, afirmou Frei Alvaci. Frei Antônio de Sant’Ana Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá (SP). Aos 13 anos, foi enviado para estudar com os jesuítas. Aos 21 anos, decidiu ingressar na Ordem Franciscana. Recebeu o hábito franciscano no Noviciado de Macacu (RJ), pertencente à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Em 24 de julho de 1762, foi transferido para o Convento São Francisco, em São Paulo, para continuar os estudos de Filosofia e Teologia. Em 1768, foi nomeado confessor, pregador e porteiro do Convento. Em fevereiro de 1774,

fundou, com ajuda de Irmã Helena Maria do Espírito Santo, o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. Em 1802, conclui as obras do Mosteiro da Luz, que foi sua última residência. Morreu em 23 de dezembro de 1822, já com fama de santidade. Seus restos mor-

tais estão neste mesmo mosteiro, que fundou e construiu. Em 25 de outubro de 1998 foi beatificado pelo Papa São João Paulo II. Em 11 de maio de 2007, durante sua viagem ao Brasil, o Papa Bento XVI canonizou Frei Galvão, tornando-se assim o primeiro santo nascido em solo brasileiro. Na homilia, Frei Alvaci ponderou

que a atual situação do Brasil causa preocupação, sobretudo pela divisão e pelo ódio nas relações por causa de divergências políticas. “Divisão nas famílias, na Igreja. Vemos brasileiros contra brasileiros, sul contra o norte”, lamentou Frei Alvaci. “Precisamos muito da intercessão deste homem, brasileiro, como nós, que está junto de Deus, que foi o homem da paz e da caridade no seu tempo, que foi um reconciliador, para que ele olhe por nosso país”, concluiu o frade, pedindo a intercessão de Frei Galvão nesta semana de eleições. Em seguida, Frei Alvaci abençoou as fitas, que foram distribuídas para as Filhas de Frei Galvão como sinal de agradecimento e um símbolo forte para marcar este dia festivo. No final da missa, os presentes receberam as pílulas de Frei Galvão, um sacramental, como recordou o reitor, que deve ser tomado com muita fé. Érika Augusto Comunicações Dezembro de 2018

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Fraternidades FREI GALVÃO

FESTA PARA O PADROEIRO Missa Solene, reabertura da exposição de presépios e lançamento de livro dos 75 anos do seminário.

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a manhã do dia 25 de outubro, frades, postulantes e comunidade celebraram a memória deste homem nascido em Guaratinguetá, lembrado até hoje pelo povo por sua disponibilidade, promoção da paz e caridade; Santo Antônio de Santana Galvão, conhecido mais popularmente como Frei Galvão. A missa com a comunidade iniciou as celebrações. Frei Claudino em sua homilia disse que Frei Galvão era, a exemplo do Evangelho, um homem manso e humilde que levava a paz consigo onde quer que fosse. Lembrou também que em 25 de outubro de 1998, por ocasião da beatificação do santo, o Santo João Paulo II cunhou a expressão que caracteriza sua vida a serviço do Evangelho: “Homem da Paz e da Caridade – a doçura de Deus” e sugeriu que todos os presentes se pusessem a ser frutos de caridade e promotores da verdadeira paz.

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Comunicações Dezembro de 2018


Fraternidades Após a missa, houve a abertura e bênção da Exposição Franciscana de Presépios. Todos os anos são trazidos presépios novos para a ocasião do dia de Frei Galvão. Os presépios, vindos de diversos países, e o espaço da exposição foram organizados por Frei Róger Brunorio, do convento Santo Antônio do Rio de Janeiro. Esse ano a exposição recebeu o tema: “Ontem nasceu na gruta de Belém, hoje na gruta de seu coração”. Segundo o idealizador da exposição, Frei Róger, todos os cenários procuraram expressar alguma interpelação em formato de Gruta. Chamou a atenção das pessoas que visitaram a exposição a montagem do presépio com miniaturas de diversos países em gavetas de dimensões variadas. A ideia de revirar as gavetas, abrir e fechá-las faz pensar naquilo que está posto, por vezes esquecido, outras vezes tão importante e por isso, guardado numa gaveta especial. É assim com o menino Jesus que deve ficar sempre bem guardado. Esta exposição ficará aberta para visitação até outubro de 2019. Também houve o lançamento do livro “Sementeira de Deus”, escrito por Frei Walter Hugo de Almeida, que relata a história do seminário franciscano Frei Galvão em comemoração dos seus 75 anos de fundação, comemorado ainda ano de 2017. Frei Walter declamou um discurso poético homenageando Frei Galvão, o seminário, frades, a comunidade, benfeitores e todos aqueles que passaram pela formação no seminário. As pessoas presentes puderam adquirir exemplares do livro e receber o autógrafo do autor. O momento celebrativo foi encerrado através de uma fraterna confraternização com a comunidade partilhando um bolo. Postulante Rodolpho Andreazza e Frei Jeâ Paulo Andrade Comunicações Dezembro de 2018

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Fraternidades crônica

NOSSA SENHORA DA PAZ DE IPANEMA

Igreja Nossa Senhora da Paz em painel de azulejos da nova estação do metrô

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os poucos, a cidade do Rio de Janeiro foi aumentando as linhas e estações de seu sistema metroviário. Há um bom tempo tinha eu conhecimento de que se podia ir à Praça Nossa Senhora da Paz de metrô. Não se me apresentava uma ocasião. Num dia de sol, estando hospedado no Convento de Santo Antônio, tomei o metrô no Largo da Carioca e resolvi rever Ipanema, de modo especial a Igreja da Paz e o lugar onde, no passado, existiu o que chamamos de Casa Nossa Senhora da Paz e onde muitos frades desta Província viveram. Não tenho a mínima intenção de fazer história. Simplesmente transcrevo algumas das impressões de uma visita que

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fiz numa manhã de sol, em 2 de outubro de 2018. As novas estações do metrô são bonitas, amplas. Arquitetos e decoradores tiveram até mesmo preocupações artísticas. Quando cheguei à estação Nossa Senhora da Paz, procurei a saída, caminhando em amplos, claros e limpos corredores. Parei para observar paredes revestidas de azu-

lejos com paisagens do bairro antigo, sobretudo da igreja da Paz, azulejos com a imagem da Senhora da Paz que teria vindo da França... Toda a imensa parede muito bem feita. Ao sair do “buraco” do metrô fui levando comigo as mensagens dos painéis: Maria, a paz, Ipanema, a república independente de Ipanema. Deixei que a escada rolante me levasse à superfície e de repente estava diante da fachada da Matriz da Paz. Entrei, saudei o Santíssimo, sentei-me e olhei..… tudo bem cuidado, limpo, um vigia à porta, e lá no centro a imagem da Senhora da Paz. Maria, o Menino da paz, o ramo de oliveira. Paz na violenta cidade do Rio de Janeiro. Um dia tudo aquilo era espaço da presença dos franciscanos. Vi o luxo dos prédios, as calçadas bem cuidadas, as lojas de grife, as pessoas bonitas circulando. Bermudas, vestes sumárias, óculos escuros, homens engravatados, executivos. Abstraindo de tudo isso, voltei meu pensamentos para os anos sessenta. Lá estava o prédio da Casa da Paz, um prédio cinzento com 7 andares, se não me engano. A igreja e o prédio. Vi novamente o Cine Pax. Lá em cima, no alto, a residência dos frades à qual se acessava por meio de um pequeno elevador só dos frades. Os quartos, a sala de estar, a capela interna, o refeitório... e mesmo um cobertura onde Frei Erasmo gostava de plantar alface e outras hortaliças. Tudo isso não existe mais... não existe mais a patinação no gelo, nem os andares de casa de retiro e de atendimento aos


Fraternidades

carentes. Saindo da boca do metrô, vi parecendo, os jovens e menos jovens os novos prédios e as novidades imo- que lotavam o templo para as missas biliárias que já conhecia, mas aquela de Frei Clemente Kesselmeier já morcasa cinzenta não saía de mim. Havia reram ou então são septuagenários ou uma escola modesta, mas franciscana. octogenários. Conheci pessoas que foram marcadas Os painéis do metrô nada falam pelo ambiente daquela escola. Pessoas dos franciscanos. Talvez seja bom que se lembravam dos frades com ca- que assim seja. Servos inúteis. Mas rinho. Calil me falava sempre de Frei foi pena. Não julgamos ninguém. As Apolônio, diretor da escola... Lourdes Barros estimava demais Frei Osmar Dirks. Espero que as crônicas e os cronistas tenham enaltecido a presença dos frades nessa região. Nos tempos de nossa instalação nada existia, de grandioso. Era um fim de linha. Lá estivemos e de lá saímos. Os padres diocesanos assuIgreja Nossa Senhora da Paz - Ipanema, foto de 1917 miram tudo. Souberam se organizar bem e se implantaram no bairro. circunstâncias que nos levaram a sair Os “ipanemenses” que conhece- de Ipanema eram delicadas e envolram os frades que estiveram ali até viam situações irregulares e incômomaio de 1992 aos poucos vão desa- das que não podiam ser resolvidas. parecendo. Os que frequentaram as Saímos. Mas foi pena. Foi pena que sessões do Cine Paz, as senhoras da o espírito de Francisco de Assis não Corte de Nossa Senhora a Paz, os ir- pudesse continuar a ser lembrado e mãos da Ordem Terceira foram desa- cultivado naquelas plagas. Pena que a

cortesia de São Francisco não pudesse continuar caminhando com a graça e o balanço da Garota de Ipanema de Tom Jobim. Procurei falar com uma pessoa responsável pela parte administrativa da paróquia, uma leiga. Ela me levou até o 6º andar do predinho novo onde nós, frades, passamos a viver, e as dependências paroquiais. Fui ao refeitório. Não entrei nos quartos. Nos últimos tempos que lá vivi, tive como colega Frei Otávio Schneider, aquele homem sem prosa, simples, pobre que visitava o Hospital de Ipanema e que vivia mais no céu do que na terra. Depois da visita à igreja e ao sexto andar, quis ainda ver o mar. O sol estava quente, não demais. Percorri a Joana Angélica, troquei meia dúzia de palavras com o português dono da antiga padaria. Esqueci seu nome, hoje com quase oitenta anos. Passei pela entrada da Universidade Cândido Mendes, erguida também no terreno da Paz. Sentei-me num banco da praia. Deixei que o sol me penetrasse. Procurei deixar as imagens do passado descansando dentro de mim. Espiei na direção da rua Vinicius de Morais, na esperança de que pudesse ver, sei lá, a garota de Ipanema. Foi em vão. Voltei para a Praça da Paz e não tive condições de sufocar tantas e tantas outras lembranças. Quase ia me esquecendo de dizer que foi no Teatro Cândido Mendes, na pequena e aconchegante sala de teatro, que vi o monólogo de Beatriz Segall sobre a poetisa norte -americana Emily Dickson. Beatriz morreu faz pouco tempo... mas minhas lembranças também fui deixando nas brumas do passado. Frei Almir Ribeiro Guimarães Comunicações Dezembro de 2018

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Fraternidades BLUMENAU

CRESCE A DEVOÇÃO À MÃE APARECIDA

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os dias 11 e 12 (quinta e sexta-feira) de outubro, ocorreu a tradicional festa de Nossa Senhora Aparecida, em Blumenau-SC. No dia 12, a festa contou com a presença do bispo diocesano, Dom Rafael Biernaski e do Padre João Bachmann. Às 8h, saíram da Catedral

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São Paulo Apóstolo, em carreata com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, no caminhão do Corpo de Bombeiros, acompanhados de anjinhos que encantavam a todos. Ao chegarem ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, o reitor e pároco Frei Nelson José Hillesheim recebeu das mãos do Bispo diocesano a imagem. O povo acolheu nossa Mãezinha, com palmas, fogos, sinos, sinetas, e muita alegria e emoção. Celebrada pelo bispo, às 09h aconteceu a primeira Missa do dia, que foi concelebrada pelos inúmeros Freis e Padres presentes. Destacamos a presença de quatro noviços de Rodeio que auxiliaram na benção aos devotos que visitaram o santuário durante todo o dia. Após a celebração, o tradicional voo de helicóptero com a imagem de Nossa Senhora Aparecida levada pelo Bispo diocesano Dom Rafael, o padre João Bachmann e o pároco Frei Nelson, para abençoar do céu todos os devotos. Do helicóptero foram jogados mantos de Nossa Senhora, terços e pétalas de rosas, momento de muita emoção e fé.

A festa foi um sucesso, com muitos entretenimentos, pescaria, roda da fortuna, sacola surpresa, bazar, venda de bolos, e muitas comidas para saborear durante todo o dia, cachorro quente, pastel, galeto, churrasco. Às 15h, missa celebrada por Frei Rozântimo, com a presença de nossas amadas crianças e o envio dos acólitos, uma celebração de muitas emoções, dedicada à nossa Padroeira Nossa Senhora Aparecida. Nesta missa, a liturgia e cantos contou com a presença da OFS. Para encerrar as celebrações em agradecimento à Mãe de Deus e nossa, Frei Pascoal presidiu a missa às 19h, com chave de ouro. Passaram pela festa mais de 10 mil pessoas. Na Igreja, filas se formaram o tempo todo para agradecer e pedir graças a Deus por intercessão de Nossa Senhora Aparecida. No Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Blumenau, percebe-se, a cada ano, a crescente devoção a Nossa Senhora, neste lugar referencial de fé e de graças. Pascom do Santuário


Fraternidades aniversário de morte de Frei Nelson Rabelo

Voz e vida de credibilidade

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o último dia 17 de outubro, como de costume, a comunidade pato -branquense reuniu-se, à noite, na Igreja matriz São Pedro Apóstolo, para a missa das 19h30. Desta feita, o encontro eucarístico foi motivado pela celebração do primeiro aniversário de morte de Frei Nelson Rabelo. Frei Neuri Francisco Reinisch presidiu a Santa Missa, participada pela maioria dos amigos do saudoso franciscano. Na homilia, foi ressaltada a relevante passagem de Frei

Nelson por nossa comunidade e pelas obras aqui deixadas, hoje em andamento, por motivação voluntária. Ao final da Santa Missa, a senhora Lori Busatto, uma das pessoas comprometidas com esta obra social, proferiu palavras emocionadas sobre o importante trabalho de acolhida aos mais necessitados, conduzido durante vários anos por Frei Nelson, no SOS Vida e Missão Vida Nova. Para falar em nome dos colaboradores do grupo franciscano de Comunicação, de Pato Branco, foi convidado o radialista Moraes Rodrigues que acabara de editar um livro contendo 222 mensagens de sua autoria, interpretadas todos os dias, na Rádio Celinauta, pela voz marcante de Frei Nelson. O livro apresentado ao público leva o mesmo nome do programa: “Palavra Amiga”. Essas palavras de orientação foram ao ar durante dez anos e, como diz o seu autor, “são simples mensagens, que ganharam credibilidade pela voz e, sobretudo, pela vida do carismático franciscano”.

Lembrou o autor que a iniciativa do programa “Palavra Amiga” foi de Frei João Bosco Barbosa de Souza, em 2006, antes de ser ordenado bispo de União da Vitória. De 2007 em diante, a locução foi assumida por Frei Nelson, até poucos dias antes de nos deixar, aceitando o convite para estar na companhia de Deus. O programa “Palavra Amiga”, agora transformado em livro, pretende ser parte da memória de Frei Nelson Rabelo, em nosso meio. Todo o lucro da venda dos livros está sendo revertido para as obras sociais: SOS Vida e Missão Vida Nova, braços do Sefras em Pato Branco e na região Sudoeste do Paraná. Sebastião Maria Moraes Rodrigues Comunicações Dezembro de 2018

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Fraternidades

Campanha do Pró-Vocações em Santa Catarina

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ntre os dias 16 e 29 de outubro, o Pró-Vocações e Missões Franciscanas marcou presença em três cidades do estado de Santa Catarina: Curitibanos, Concórdia e Ituporanga. Em Curitibanos, fomos acolhidos benignamente pelos confrades da Fraternidade Imaculada Conceição e pelo querido povo que reside nesta bela cidade do planalto catarinense. Foram dias de intenso contato com os benfeitores, com ouvintes das emissoras de rádio da Fundação Frei Rogério e com os fiéis que frequentam as missas diárias naquela cidade. Muitos foram os que aceitaram o

convite para ajudar no custeio das casas de formação da Província. Nosso agradecimento especial a todos os corações generosos, que agora são parte da família dos benfeitores franciscanos. No dia 22 de outubro fomos para a cidade de Concórdia, no Oeste Catarinense, onde fomos acolhidos generosamente pelos confrades e pelo querido povo fiel da Paróquia Nossa Senhora do Rosário. Nas missas, fazíamos o convite para que os paroquianos se dispusessem a nos ajudar na formação de nossos seminaristas e confrades que estão em nossas casas de formação e a nossa mis-

são franciscana em Angola. Como sempre, muitos corações se abriam para acolher o pedido: ajude a formar um frei franciscano! Já no final do mês, fomos à cidade de Ituporanga, em Santa Catarina. Lá fui acolhido por meus pais e familiares. Tive a oportunidade de celebrar a Palavra de Deus e, como gesto concreto, o valor arrecadado com as intenções da celebração foi destinado para a compra de alimentos não perecíveis a serem doados para o Seminário São Francisco de Assis. Quero externar meu agradecimento a todas as Fraternidades que nos acolheram neste ano de 2018. Graças a esta acolhida, pudemos desenvolver um bom trabalho, convidar o povo de Deus a rezar pelas vocações e a ter corresponsabilidade na formação franciscana dos futuros frades, que estarão em nossas Frentes de Missão e Evangelização. Frei Alexandre Rohling

pró-vocações

Cadastramento de CPF São Paulo, 19 de outubro de 2018. Caros confrades, Fizemos uma atualização nos dados cadastrais de nossos benfeitores do Pró-Vocações e constatamos que muitos ainda não nos passaram seu numero de CPF. Sem o CPF, entraram no grupo de “inativos”, ou seja, sem nenhuma doação nos últimos dois anos, quase 4 mil benfeitores. Isso significa que se não atualizarmos os dados, poderemos perder em pouco tempo esses benfeitores e nosso número cairia de 12 mil para 8 mil. Isso causaria uma rombo que jamais conseguiríamos repor. Por isso, pedimos às paróquias que

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ainda não fizeram as ligações aos benfeitores de seu território (conforme combinamos no início do ano na reunião de guardiães em Agudos) que nos ajudem nesta missão. Caso contrário, teremos que fazer uma força tarefa aqui na sede do Pró-Vocações para telefonar para quase 4 mil pessoas. Quem não possui ou não recebeu a lista dos benfeitores de sua Paróquia, Convento ou Santuário, pode nos solicitar que enviaremos via e-mail ou correio. Gratos pela atenção, Frei Alvaci Mendes da Luz, OFM Frei Alexandre Rohling, OFM

FALECIMENTO DE FREI MARCOS KONESKI A Fraternidade Franciscana de São João de Meriti louva a Deus pela presença de Frei Marcos neste curto tempo em que ele conviveu conosco. Somos gratos a Deus, que nos deu este Irmão alegre, extrovertido, irreverente, bom e explosivo, mas, acima de tudo, um irmão franciscano e de uma fé em Deus convicta e testemunhal. Ele repousa na paz sempre eterna do Bom Deus!


A fuga de Jesus para o Egito Quando Jesus passava pelas campinas, a perdiz avisava: Quem quer ver nosso Rei? Quem quer ver nosso Rei? O bem-te-vi logo diz: bem te vi, bem te vi.

O pinhé, gavião carrapateiro pia: espia o Rei passar, espia o Rei passar. O leão, rei da floresta uivou: há...há...há... o rei sou eu, há...há...há... o rei sou eu. O gato do mato não gostou e miou: mau... mau... mau... mau... mau... mau... A saracura para ver Jesus passar, correu pelo banhado e quebrou os potes que tinha feito e até hoje continua a gritar: quebrei três potes... potes.... potes... quebrei três potes... potes... potes... Frei Valdemar Schweitzer

Ituporanga, 25 de dezembro de 2018

Por uma cidade acolhedora: Somos todos Migrantes ASSESSORIA

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Curso de Verão começa no dia 9 de janeiro e vai até o dia 17 no TUCA, na PUC-SP, com a acolhida e o momento de mística. Em seguida, os/as assessores/as trazem sua contribuição teórica sobre o tema do dia e do curso. Depois da assessoria, todos vão para as salas da PUC, agrupados por tendas. Neste espaço ocorre a partilha de saberes e de experiências, a vivência da mística e da arte, com a experiência de um espaço de criação.

Para cada tenda são reservadas 20 vagas.

Pagamento

As inscrições pagas somente até 15/12/2018 terão o valor de R$ 210. A partir do dia 16/12/2018 até o início do Curso o valor será de R$ 240. A cada quatro inscrições pagas, o grupo, comunidade, pessoa, família, ONG, organização, movimento social, etc... tem direito a uma bolsa. Faça a inscrição no endereço: https://www.cursodeverao.com/inscricao

Alfredo Gonçalves - Padre Carlista, professor e assessor das pastorais sociais Américo Sampaio - Sociólogo, gestor de projetos do Instituto Nossa São Paulo e membro da direção da Escola de Governo Rosita Milesi - Diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos - e assessora da Pastoral dos refugiados da CNBB Odja Barros - Pastora da Igreja Batista do Pinheiro em Maceió - AL. Assessora do CEBI

LOCAL

R. Monte Alegre, 984 / 1024 - Perdizes, São Paulo - SP, CEP: 05014-901 E mail: ceseep@ceseep.org.br Tel: (11) 3105-1680 Comunicações Dezembro de 2018

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Fraternidades

O Evangelho de Lucas

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cada primeiro Domingo do Advento, inicia-se um novo Ano Litúrgico. Nas leituras dominicais, é proclamado um dos três evangelistas sinóticos (Mt, Mc e Lc), enquanto que o de João ocupa um espaço maior nos ciclos do Natal e da Páscoa. No Ano C, é o Evangelho de Lucas. Quem é ele? Não é judeu, não conheceu Jesus e nem sequer ouviu suas pregações. Como pôde escrever duas obras, Evan-

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gelho e Atos dos Apóstolos? Merecem crédito?! Segundo os críticos bíblicos do século II, Lucas é um antioqueno que se converteu ao cristianismo através dos vários missionários que passaram por aquela cidade siríaca: Barnabé, Paulo, Pedro, Marcos, Silas e outros. Nesta comunidade havia “profetas e doutores” (At 13,1), instruídos por Barnabé e Paulo (11,27), Tiago e Silas (15,32). É provável que Lucas fizesse parte desse grupo.

A Bíblia fala pouca coisa dele. Diz que era médico (Cl 4,14) e companheiro das viagens missionárias de Paulo. Isso se depreende porque o autor se inclui ao descrever algumas atividades, como “íamos à oração”, “embarcamos para Filipos” “encontramo-nos em Trôade”, “encontramos um navio e fizemo-nos ao mar” (cf. At 16,10-12; 20,5-8; 21,1-18; 27,1-27). Foi colaborador de Paulo (Fm 24) e esteve em Jerusalém com ele (At 21,1535). Numa de suas prisões, queixa-se


Fraternidades que todos o abandonaram, “somente Lucas está comigo” (2Tm 4,11). Por estes textos, podemos concluir que Lucas cultivou sua fé e participava de uma comunidade onde havia “profetas e doutores”. Mesmo assim, não é o suficiente para dar-lhe crédito total. A crítica bíblica atesta que, ao escrever o Evangelho, Lucas tinha em mãos o de Marcos e a Fonte Quelle. Comparando um ao outro, percebemos que o Evangelho de Lucas tem 1.149 versículos, dos quais somente 424 são comuns. Os outros 548 são próprios de Lucas. Onde foi buscá-los?! O prólogo (Lc 1,1-4) traz várias e substanciosas informações. Diz, textualmente, que muitos escreveram sobre a doutrina de Jesus. Não bastaria isso? Por que escrever mais? Isto não excita a curiosidade? Diz, também, que quer apresentar uma obra de “maneira ordenada”. Para isso, “investigou tudo, cuidadosamente”, consultando, inclusive, “testemunhas oculares” e que se tornaram “servidores da Palavra”. Dedicou seu trabalho a Teófilo para que “conheça melhor a solidez da doutrina em que foste instruído”. Estamos, portanto, diante de um pesquisador sério. Não só! É, também, um teólogo-pastoralista. Escreve para as comunidades recém-fundadas, composta de recém-convertidos gentios. Seu Evangelho apresenta Jesus fazendo uma grande viagem da sua ci-

dade (Nazaré) até a capital Jerusalém, onde vive os últimos dias. Durante o peregrinar, evangeliza nas sinagogas e praças, nas famílias e nas perguntas que lhe fazem. Os Atos dos Apóstolos mostram discípulos e comunidades evangelizando a partir de Jerusalém, passando pela “Judeia, Samaria, até os confins do mundo” (At 1,8). As duas obras estão bem concatenadas entre si e com um invejável fio-condutor. Jesus age com a “força do Espírito Santo” (Lc 4, 1.14), faz o bem e cura a todos. Os Atos mostram as comunidades testemunhando Jesus com a mesma força do Espírito Santo (At 4,8), curando doentes (3, 1-10) e sofrendo martírio (7, 54-60). O Espírito Santo é o grande protagonista. É citado 36 vezes, praticamente, o dobro dos outros Evangelhos e, nos Atos, 70 vezes. O curioso é que nenhum outro texto bíblico mostra, tão claramente, o caminho de Jesus e o das comunidades. Cristo é o Salvador de todos, judeus e não judeus. O objetivo de Lucas, porém, é “solidificar a fé” das comunidades convertidas. Tem um carinho especial aos grupos marginalizados: mulheres, estrangeiros, pobres, doentes e pecadores. As perícopes que lhe são próprias encaixam-se, perfeitamente, com os destinatários: missão dos 72 discípulos, o bom samaritano, o filho pródigo, Zaqueu, o rico opulão e o pobre Lázaro, a viúva de Naim, o bom ladrão, os discípulos de Emaús.

É também o protagonista das mulheres. Algumas delas, “cheias do Espírito Santo”, profetizam e bendizem a Deus, como Maria (1,35. 46-56), Isabel (1,41-45) e Ana (2,36-38). Outras (Maria Madalena, Joana, Susana) são suas discípulas e O sustentam com seus bens (8,1-3). São elas que vão ao encontro de Jesus no caminho do Calvário (23,27-28) e estão ao pé da cruz (23,49). É curioso este fato: os Livros Apócrifos pululavam em todos os recantos e, para serem bem acolhidos, davam-lhes nomes de um dos apóstolos, de profetas ou patriarcas e, até, de mulheres. Por que será que ao autor de uma obra tão bem estruturada e fundamentada nenhum apócrifo lhe é atribuído? Por fim, a curiosidade da dedicatória, “caríssimo Teófilo”, que pode ser o mecenas que custeou a obra, bem como um personagem romano para que favorecesse a expansão do cristianismo. Ou – como é o consenso mais provável – seja a própria etimologia da palavra, “amigo de Deus”. Incluo-me entre aqueles que, durante este Ano C, procurarão ser um “mecenas” gratuito do Evangelho, um “personagem” líder que cria estruturas para que a “solidez da doutrina” prospere e, acima de tudo, um apaixonado “amigo de Deus” que faça “arder os corações quando explicar o sentido das Escrituras” (Lc 24,32). Frei Luiz Iakovacz

Notícias de Malanje Dois anos atrás, a Paróquia entregou para cada comunidade um Missal Dominical, em português. Até então, usava-se, somente, o de Kimbundu. Agora, são os dois e o povo, paulatinamente, vai rezando em português. Neste mês de novembro, através da Mitra polonesa, a paróquia entregou a cada catequista – 50 ao todo – uma bicicleta. Na maioria das aldeias não

há carro ou moto. A alegria foi geral. O Seminário Santo Antônio encerrará as atividades escolares no dia 8 de dezembro, com a formatura de 17 alunos. Estes e mais os 16 jovens que estão em Viana serão os postulantes/2019. O Seminário iniciou com 62 seminaristas e conclui o ano com 48. No dia 25 de novembro, a FIMDA teve um dia memorável com a Ordena-

ção Presbiteral dos confrades Ermelindo Bambi, João Bunga e João Chilinda. No dia 9 de dezembro, Frei Ermelindo – que é o orientador dos seminaristas – celebrará suas Primícias na paróquia da Katepa. Que a alegria do Evangelho nos contagie hoje e sempre. Dia 31 de dezembro, os três filósofos estagiários, juntamente com Freis Comunicações DezembroàdeProvíncia. 2018 831 Roberto e Luiz retornarão


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Mais de 100 jovens participaram da segunda Inês, em Balneário Camboriú, com a


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edição do evento, desta vez na Paróquia Santa assessoria de Frei Vitorio Mazzuco.


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m pleno feriadão (2/11), os jovens franciscanos que participam das atividades promovidas pelo SAV desta Província realizaram a segunda edição do encontro de formação “Alverne”, na Paróquia Santa Inês, em Balneário Camboriú (SC). Com mais de 100 participantes, o encontro contou com a assessoria de Frei Vitorio Mazzuco, mestre em Teologia Espiritual. Com o tema “Virtudes Franciscanas” e o lema “É isso que eu quero!”, o 2º Alverne teve como objetivo formar os jovens para uma reflexão com base nas virtudes franciscanas cavalheirescas de Francisco de Assis. Era característico no Santo de Assis chamá-las de irmãs. Ele entendeu uma perfeita ligação entre elas quando afir-

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PRIMEIRO DIA mou: “Onde há caridade e sabedoria, aí não há nem temor nem ignorância. Onde há paciência e humildade, aí não há ira nem perturbação. Onde há pobreza com alegria, aí não há nem ganância nem avareza. Onde há quietude e meditação, aí não há preocupação nem divagação. Onde há temor do Senhor para guardar seus átrios, aí o inimigo não tem lugar para entrar.

Onde há misericórdia e discernimento, aí não há nem superfluidade nem rigidez”. Frei Vitório Mazzuco conduziu os momentos de meditação e formação e levou os jovens a refletirem sobre as virtudes franciscanas e sua relação com os dons do Espírito Santo e seus frutos, e o que se pode fazer para criar uma mudança concreta na humanidade. E fez um questionamento: “A maior resposta para as interrogações é talvez o desejo de fazer algo que seja transformador e acolhedor. O momento em que vivemos, na realidade em que estamos inseridos, nos questiona: como podemos ser cristãos que façam a diferença?”. “As virtudes motivam-nos a sermos


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diferentes, a mostrar que o ser franciscano na simplicidade, no cuidado, na justiça, na minoridade, no acolhimento também nos realiza e nos faz feliz. Acredito que cada participante vai também acolher todos estes ensinamentos para continuar na busca de uma espiritualidade integradora que nos une cada vez mais no mesmo objetivo, Jesus Cristo. Isso é Alverne, o encontro que deixa marcas, assim como foi com Francisco de Assis”, afirmou o frade. O nome “Alverne” sugere o monte

onde Francisco de Assis fez uma das suas mais profundas experiências de oração. Lá ele foi estigmatizado recebendo em si as marcas Daquele que tanto amou! O encontro não só é

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uma formação para jovens, mas um momento de aprofundamento da fé, realizando a saudável união entre conhecimento e oração, teoria e vivência, palavra e prática.

SEGUNDO DIA

segundo dia começou cedo na praia. Os participantes tiveram a graça de começar o dia rezando diante dos privilégios naturais de Balneário Camboriú (SC),

cidade anfitriã do evento. Aos louvores do “Cântico das Criaturas”, os jovens oportunizaram instantes de meditação, espiritualidade e preces nas areias praianas da cidade litorânea. Sem dúvida, um momento rico de mística franciscana, capaz de emocionar os participantes e todos os moradores que por ali passavam. Seguindo o som e a batida da banda local “Paz e Bem”, composta por jovens de Balneário, os participantes, já no salão da Paróquia Santa Inês, deram continuidade aos momentos de animação, partilha e alegria, recebendo novamente o formador e palestrante convidado, Frei Vitório Mazzuco. No período da manhã, as reflexões Comunicações Dezembro de 2018

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foram acerca das virtudes tipicamente franciscanas, a saber: discipulado, generosidade, gratuidade, minoridade, humildade, simplicidade, esperança e temperança. Após o almoço, preparado pelos membros da Ordem Franciscana Secular (OFS) da Paróquia, Frei Vitorio apresentou as virtudes cortês-cavalheirescas, próprias da realidade cultural da época de São Francisco de Assis, que tanto atraía e fascinava os jovens medievais. Segundo o frade, a influência de tais virtudes na vida missionária de Francisco e no seu jeito todo próprio de evangelizar, fizeram toda a diferença. “Para buscar compreender e viver a inspiração franciscana é preciso ter bem claro a época medieval. Ao viver intensamente o seu momento, Francisco o transforma de história em história espiritual. Este pobre de Assis, porque viveu bem o particular de sua época, tornou-se universal”, ensinou Frei Vitorio.

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o domingo (04/11), dia em que a Igreja no Brasil celebra a Solenidade de Todos os Santos, chegou ao fim a 2ª edição do Alverne na Paróquia Santa Inês, de Balneário Camboriú. O evento contou com a participação de mais de 100 jovens franciscanos e teve a assessoria do mestre em Teologia Espiritual, Frei Vitorio Mazzuco. Antes do encerramento, ainda à noite, os jovens se reuniram na praia para jogar vôlei e futebol de areia, ouvindo músicas cristãs e se divertindo de forma animada e sadia, enquanto no calçadão de Balneário outros jovens aproveitavam a noite. Contrastes que, certamente,

ENCERRAMENTO ilustram que é possível evangelizar através do testemunho e de atitudes. Na manhã do domingo, partindo de uma reflexão de São Bernardo de Claraval, um homem atento às atitudes do Santo de Assis, Frei Vitorio falou sobre a vivência dos três beijos que Deus deu na humanidade: o primeiro beijo é a beleza da criação; o segundo é a Eucaristia; e o terceiro beijo é a respiração, o Espírito, o sopro de vida. O Encontro terminou, então, com a Celebração Eucarística. Todos sentados no chão, ‘ao redor do centro Daquele que é o próprio Centro’, meditaram o Evangelho das Bem-Aventuranças, próprio da liturgia do dia.

Segundo Mariana Rogoski, este foi um momento único e especial para todos os jovens que voltam para casa com o coração repleto da presença de Deus. “Se em nossas vidas e em nossas realidades vivermos as virtudes franciscanas e continuarmos a missão de Francisco, de reconstruir a Igreja do Senhor, estaremos em marcha e de prontidão para sempre repartirmos o Pão da Vida”, observou. Alguns participantes do evento, que costumeiramente também já participam das atividades promovidas pelo (SAV), e outros que participaram pela primeira vez, falaram sobre a experiência:

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Fraternidades “Foi a primeira vez que participei do Alverne. Estava com as expectativas altas e todas elas foram cumpridas. Frei Vitorio é um homem espetacular e iluminado. O momento que mais me tocou foi o da investidura, onde firmamos um compromisso perante Deus e todos os presentes de levarmos adiante a virtude escolhida no nosso núcleo, melhorando assim nossa comunidade. Recomendo que todos os jovens se inscrevam para o próximo Alverne, pois é um ótimo momento de fortalecimento da fé e do conhecimento, com palavras divinas inspiradoras”, afirmou Arthur Boesing Bilibio, que é de Joaçaba (SC) e frequenta a Paróquia São João Batista, de Luzerna (SC). Juliana Bauler, da Paróquia Santa Inês, de Balneário Camboriú, participou e disse que foi uma experiência de aprendizagem, comprometimento e desafio. “Foi o primeiro Alverne que participei de muitos que irei participar, pois não quero perder mais nenhum! Superou todas as minhas expectativas. O momento que mais me tocou foi a cerimônia da escolha das virtudes. Foi muito especial! Pretendo levar muitos jovens para participar dos próximos encontros”, enfatizou. Segundo a jovem Laís Costa, que é da cidade de Águas Mornas, da Paróquia de Santo Amaro (SC), organizar um evento pensando na experiência que outras pes-

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soas terão é sempre desafiador. “É preciso se colocar no lugar delas e imaginar o que gostariam de viver. Pegar o tema e juntar dinâmicas, espiritualidade e as palestras. Encaixar tudo no papel e ter um cronograma. E na hora do evento fazer ajustes, tirar isso e encaixar aquilo. No final, ver que tudo aconteceu conforme Deus queria, como precisava ser para cada um, levando assim um pouquinho do Alverne consigo. Como um todo, o evento foi o que esperávamos que fosse, talvez até um pouco além. Mas, acredito que nunca podemos nos dar por satisfeitos totalmente. Acho que sempre podemos melhorar alguma coisa, mesmo que seja algo mínimo. Dentre tudo que aconteceu, três momentos me chamaram

muita a atenção: a oração da manhã de sábado, que fizemos na praia, com os pés descalços no chão, sentindo cada grão de areia, a brisa do mar e o som da água; o momento da investidura cavalheiresca, onde cada um, após confeccionar seus trajes, recebeu a virtude escolhida e se colocou a serviço de Deus; e a Missa de encerramento, que celebramos sentados no chão, tal como na época do próprio Cristo”, disse Laís, adiantando que ainda não tem data e local o próximo encontro, mas juntamente com Frei Vitorio já está pensando em possíveis temas a serem trabalhados. “Para aqueles que nunca participaram e têm curiosidade sobre a vida de São Francisco, resta-nos dizer que estamos de braços abertos esperando todos”, garantiu a jovem, que é também uma das responsáveis pelo encontro. “Alverne foi uma das experiências mais incríveis que tive desde que sou franciscana. Quando falamos das virtudes e dos dons, não se imagina o quão profundos possam ser. Neste Alverne pude perceber que estes estão em tudo o que escolhemos e fazemos e, como Frei Vitorio falou no encontro, basta apenas escolhermos um e outro e todos se complementarão! Todos os momentos foram cheios de franciscanismo e ficarão gravados eternamente em meu


Fraternidades coração. A partir do momento que se escolhe o carisma franciscano, literalmente é um caminho sem volta, porque a cada dia você descobre o quão gratificante é tentar se tornar semelhante a Francisco de Assis. Como foi dito anteriormente, todos os momentos foram incríveis, mas quando fizemos nossa ‘armadura’, Frei Vitório nos falou que não se tratava daquela estrutura de ferro que os cavaleiros usavam, e sim da coragem, determinação, prudência e assim por diante. E que, a partir daquele momento, esta deveria ser a nossa armadura do dia a dia. Durante a Celebração Eucarística, tive a certeza que viver na simplicidade pode ser mais gratificante do que se pensa, pois ali sentada no chão e próxima dos outros, percebi que o simples é belo e que é assim que quero viver minha vida: levando o Evangelho a todos aqueles que estão sedentos. Que Francisco possa me moldar para que assim eu possa ser semelhante a ele!”, ressaltou Marina Gallo, de Chopinzinho (PR).

Segundo Reginaldo Taborda, de Campo Largo (PR), o encontro superou todas as expectativas. Ressaltou que Frei Vitorio é um frade muito sábio e que soube muito bem ensinar e formar durante todo o evento. Afirmou com convicção que nunca aprendeu tanto em tão pouco tempo, destacando uma das frases de Frei Vitorio que mais lhe tocou: “A autenticidade do amor se dá no toque, no abraço, no beijo”, disse. “Estava planejando fazer uma faculdade, depois deste evento acredito que mais valem alguns finais de semana com Frei Vitório”, elogiou o jovem campolarguense. João Paulo Dacol, de Curitibanos (SC), esteve presente pela primeira vez no Alverne e destacou que adquiriu novas experiências e ensinamentos do carisma franciscano, especialmente do modelo de amor cortês-cavalheiresco. “Quando você encontra e vive a virtude, ela aparece em todos os escritos, em todos os exemplos, em todos os ensinamentos e em todas as pessoas que marcam sua história. Passamos

a refletir e questionar atitudes corriqueiras de nosso dia a dia que poderíamos intensificar para transmitir a caridade e o bem ao próximo. Acredito que nós, jovens, devemos aprofundar ainda mais o inesgotável conhecimento que Francisco tem a nos oferecer, e mergulharmos em ações de bondade para assim encontrarmos a Perfeita Alegria. E que venha o próximo!”, pediu. Ao final, os participantes agradeceram a Frei Vitorio que tão bem conduziu o encontro, como também o apoio da pastoral da Universidade São Francisco (USF), do pároco Frei Ladí Antoniazzi e da Ordem Franciscana Secular (OFS). Não poderíamos deixar de fora a equipe de organização, e em especial o Serviço de Animação Vocacional (SAV) da Província, que apoiou e apoia a realização de projetos como este, idealizados, pensados e executados de jovens para jovens. Equipe de Comunicação do evento, com Frei Augusto Luiz Gabriel (redação)

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Fraternidades

série Entrevista: FREI ANDRÉ LUIZ DA ROCHA HENRIQUES

“O FERVOR MISSIONÁRIO É FERMENTO VOCACIONAL”

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e férias no Brasil, o paulista de Ilha Solteira (SP), Frei André Luiz da Rocha Henriques, falou de sua experiência como missionário na Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, onde está residindo desde 2016. Frei André nasceu no dia 5 de março de 1984 e ingressou na Ordem Franciscana no dia 8 de janeiro de 2005. Foi ordenado presbítero no dia 27 de abril de 2013, na Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis (RJ), pelo bispo Dom Luciano Bergamin, CRL, bispo de Nova Iguaçu (RJ). Filho de Luiz Firmino e Conceição Aparecida da Rocha Henriques, Frei André tem como irmãos Flávia Marcela da Rocha e Clóvis Assis da Rocha e uma tia

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materna, Luiza Aparecida, que é deficiente mental e tem sua mãe como tutora. O jeito calmo e tranquilo de Frei André tem origem nos pais e avós do interior de Minas Gerais. “Em vista de um crescimento profissional, meu pai foi trabalhar em uma barragem hidrelétrica em Ilha Solteira (SP), onde nascemos meus irmãos e eu. O nome da barragem acabou sendo bem significativo, pois somos de fato ‘Três Irmãos’, sendo eu o do meio. Devido ao trabalho do meu pai, mudamos de cidade constantemente, permanecendo em algumas cinco anos; em outras, um ano e meio; e até mesmo um único semestre em Assis (SP)”, conta Frei André, lembrando que sua história vocacional se desenrola quase exclusivamente em Cân-


Fraternidades dido Mota (SP), cidade vizinha de Assis, última cidade onde morou com os familiares e onde eles resolveram fixar residência. “Minha paróquia de origem é capuchinha, assim como o era também na minha cidade natal. Meus irmãos foram batizados por um frade capuchinho, enquanto eu fui batizado em Minas Gerais por um padre diocesano. Foi justamente esta convivência próxima com os frades capuchinhos a minha primeira experiência relacionada à vida religiosa. Quando eu tinha por volta dos meus quinze anos, comecei a frequentar com maior assiduidade as missas semanais e outros encontros de oração e pastoral. Falando sobre vocação com um frade capuchinho, ele me aconselhou a terminar os estudos na casa dos meus pais. Passado este tempo de amadurecimento, junto com alguns amigos, comecei a frequentar os encontros vocacionais na diocese e a visitar algumas congregações e ordens religiosas. Por indicação de um aspirante capuchinho, acabamos conhecendo a Ordem dos Frades Menores e a Província da Imaculada. Meus amigos e eu fizemos o acompanhamento vocacional no Seminário de Agudos e, em 2003, entrei para o Aspirantado, em Ituporanga (SC)”, recorda.

Frei André é um dos poucos frades que só tira o hábito franciscano para dormir. “Mesmo sem conhecê-lo, São Francisco sempre esteve muito próximo de mim. Lembro que no meu quarto sempre esteve um quadro da Terra Santa, onde figurava São Francisco, com o hábito da Ordem dos Frades Menores. Além disso, seja na minha cidade natal, seja em Cândido Mota, minha família sempre teve certa proximidade com os frades capuchinhos. Inclusive, meu irmão recebeu o mesmo nome de um frade, Frei Clóvis. Contudo, foi a leitura das Fontes Franciscanas na internet que me moveu definitivamente a buscar este carisma”, observou. Ele mesmo se descreve como um “frade tímido, às vezes indeciso, e paradoxalmente muito teimoso”. Acrescento, humilde pelo testemunho que tem dado. “Tenho grande desejo de consagrar-me inteiramente à vontade de Deus, mas facilmente durmo na oração; sou um tanto dedicado à leitura e aos estudos, sem, contudo, poder ser considerado um intelectual; esforçado nos trabalhos pastorais e fraternos, ainda que nem sempre consiga dar conta do recado. Sou um religioso em formação… Queira Deus que eu chegue lá um dia!”, dizia na entrevista que deu por ocasião de sua ordenação presbiteral.

ACOMPANHE A ENTREVISTA! Comunicações - Como está sendo sua experiência missionária em Angola? Frei André - Cheguei a Angola no dia 26 de abril de 2016 e, desde então, tenho residido na Fraternidade São Francisco de Assis no Bairro Palanca, em Luanda, capital de Angola. Não viajei muito pelas outras cidades; estive apenas uma semana em Quibala, onde temos o nosso Postulantado. Confesso que não tinha planos de me tornar missionário e que a missão surgiu como uma resposta a um apelo do visitador geral por missionários para a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), missão prioritária da nossa Província da Imaculada Conceição do Brasil. Porém, a missão tem me conquistado e gosto

muito de estar lá. Há muitos desafios, mas com certeza vale a pena todo o trabalho de adaptação e de doação à missão. O angolano é um povo muito religioso, alegre e generoso. A convivência com os confrades brasileiros e angolanos, com as Clarissas e tantos religiosos e religiosas missionários de todas as partes do mundo é formidável e profundamente enriquecedora. A missão é uma experiência ímpar!

Comunicações - Qual é o seu tra-

balho missionário? Como é sua rotina, se é possível falar assim? Frei André - Sou assistente do Mosteiro Sagrado Coração de Jesus, da Ordem de Santa Clara; atendente do Kimbo São Francisco, um centro de acolhimento e oração que

congrega milhares de fiéis todas as quintas-feiras e também em outros dias da semana; e vigário paroquial da Paróquia São Lucas, que possui seis comunidades, contando com a matriz, que atualmente está em construção. Nossas atividades pastorais giram em torno das missas diárias no mosteiro, Kimbo ou paróquia; formações com as Clarissas da comunidade permanente e inicial; formação, retiros e direção espiritual com formandos de algumas comunidades religiosas próximas; formação litúrgica e acompanhamento das pastorais e movimentos da paróquia; catequese, oração e escuta com os fiéis que frequentam o Kimbo; atendimento dos paroquianos na secretaria paroquial. Comunicações Dezembro de 2018

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Comunicações - Como é a religio-

sidade do povo angolano? Frei André - O angolano dá grande importância à peregrinação aos santuários, e a procura pelo atendimento de escuta é bastante grande. Existe necessidade de poder contar os seus problemas, pedir um conselho, uma oração. Os grupos e movimentos apostólicos são numerosos, particularmente entre os jovens. Quando se trata de oração, o tempo parece não contar. É comum ver grupos reunidos em oração por manhãs ou tardes inteiras; sem contar o grande gosto pelas vigílias. Missa dominical de uma hora? Nem pensar! O angolano gosta de cantar, dançar e o que não faltam são grupos corais. Sãos inúmeros coristas, monitores, leitores, acólitos e peditoras. Parecem incansáveis quan-

Projeto da nova igreja em Luanda

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do se trata de animar uma missa. O único que se preocupa com o relógio acaba sendo o padre, que muitas vezes tem outra missa em seguida. Mas é impossível não se admirar com o empenho em ensaios e formações.

Comunicações - Como veem a pre-

sença franciscana em Angola? Frei André - A presença franciscana é bastante antiga, marcada principalmente pelos capuchinhos, muito numerosos no país, que completaram este ano 70 anos da segunda presença missionária, sendo proclamada como Província em agosto de 2016. Existe uma grande devoção do povo ao Frei Benjamim Maiato, capuchinho angolano, que faleceu no ano passado aos 94 anos com fama de santidade, a quem tive a honra de conhecer. As

Clarissas possuem três mosteiros: em Malange, Lubango e Luanda, sendo este último o mais numeroso. A Ordem Franciscana Secular (OFS) e a Juventude Franciscana (Jufra) estão espalhadas por quase todo o país; e são muitas as congregações franciscanas presentes em Angola. A nossa presença, por sua vez, vai crescendo, e o povo nos vê com muita estima. Nosso confrade, também falecido no ano passado, Frei Márcio Terra, sempre é recordado pelos fiéis do Kimbo e da paróquia. O povo tem muita devoção aos nossos santos e muito respeito pelo carisma franciscano.

Comunicações - Como você vê o “celeiro vocacional” em Angola? Frei André - São muitos os fatores que favorecem a animação voca-


Fraternidades cional em Angola, como a taxa de natalidade, a religiosidade popular, os numerosos grupos juvenis etc. É admirável o número de vocacionados que, todos os anos, batem às nossas portas. Porém, isto exige de nós um maior número de formadores, bem preparados, que possam ajudar a discernir prudentemente e acompanhar eficazmente a caminhada vocacional de tantos jovens. Com o crescimento das seitas, é preocupante também o acompanhamento pastoral dos jovens, que acabam sendo alvo do proselitismo e das promessas ilusórias de prosperidade. A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. É preciso rezar para que o Dono da messe mande mais trabalhadores para a Sua colheita.

Após o seu primeiro ano no poder, o Presidente João Lourenço goza de grande aprovação interna e externa.

Comunicações - Quais

desafios para a Fundação hoje? Frei André - O desafio da Província de continuar a enviar missionários, apesar do nosso declínio numérico e das tantas casas que precisamos fechar aqui no Brasil por falta de frades, apostando assim na dimensão missionária de nosso carisma. O desafio da Fundação de formar bem os seus frades e de consolidar suas frentes de evangelização, quer nas paróquias e centros de acolhimento, quer na Na reportagem do jornal Folha de S. Paulo, Frei André educação, comunicação e estava com 26 anos, era estudante de Filosofia, quando projetos sociais. O desafio ficou entre os 48 alunos mais bem colocados em cada um dos cursos avaliados pelo Enade em 2007 e 2008. da Fundação de desenvolver meios de subsistência própria, alcançando assim Comunicações - Em sua opinião, a Fundação está pronta Comunicações - Como está Ango- a necessária autonomia econômica. para se tornar Custódia? la hoje, politicamente e economicaFrei André - Em muitos aspectos, mente falando? Comunicações - O que você diria a nossa missão já é mais do que uma Frei André - Angola vive um mo- para os frades e leigos que querem simples Fundação. Temos atualmen- mento novo após a eleição presiden- se tornar missionários em Angola? Frei André - Sejam bem-vinte cinco Fraternidades constituídas, cial do ano passado. A alternância no dois padres angolanos, três diáconos poder após 38 anos de governo do an- dos! A missão precisa de vocês. e muitos confrades no noviciado, Fi- tigo presidente trouxe novos ares para Mas também, de certo modo, nós losofia e Teologia. Atendemos três o país, ainda que não tenha aconteci- precisamos da missão. Uma Igreja paróquias e uma quase-missão, di- do nenhuma mudança quanto ao par- fechada à missão perde seu vigor, versos projetos sociais e outras frentes tido no poder (MPLA). Existe maior sua vitalidade evangélica. A nossa de evangelização. A nossa presença já liberdade de expressão, combate à Ordem é fundamentalmente miscompleta este ano 28 anos e a Fun- corrupção e busca pela diversificação sionária. A missão faz parte da dação, seus 20 anos. É verdade que a da economia, ainda muito atrelada nossa identidade, de nossas raízes missão carece de missionários e que ao mercado petrolífero. Angola é um carismáticas. O fervor missionário ainda é muito dependente economi- país rico, mas com uma desigualdade é fermento vocacional. Nossos jocamente da Província, por conta das social assustadora. Está em andamen- vens querem ser desafiados. A miscasas de formação, mas isso não a im- to o projeto de constituição das autar- são nos desafia. pediria de ser uma Custódia Depen- quias (eleição direta de governadores e prefeitos), que tem apoio da Igreja. Por Moacir Beggo dente. Comunicações Dezembro de 2018

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Paróquia do Sagrado faz campanha para restauro do órgão cupins, sobretudo na área da consola, onde ficam as teclas do instrumento. Durante diagnósticos estabelecidos por Frei Lauro Both, observou-se que muitas das flautas também se encontram danificadas.

COMO SERÁ FEITO O RESTAURO?

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m 1924, na cidade alemã de Bonn, a empresa Klais construiu o órgão que se faz presente até os dias de hoje na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, situada em Petrópolis (RJ). Mais precisamente em abril de 1925, o referido órgão foi devidamente montado pelos próprios freis. Em novembro de 2014, um dos bisnetos do fundador veio a Petrópolis visitar o instrumento que hoje, quase um século depois, clama por cuidados. Atualmente existem apenas outros dois órgãos semelhantes no Brasil, localizados nas cidades de Rodeio (SC) e Amparo (SP).

A NECESSIDADE DE REFORMA NO ÓRGÃO

Infelizmente, com o passar do tempo, o órgão da Igreja do Sagrado Coração de Jesus tem sido ferrenhamente acometido pela infestação de

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A fim de oferecer maior estrutura de trabalho para Frei Lauro Both, haverá a necessidade de contratação de profissional de carpintaria e um jovem aprendiz (trabalho temporário) para auxiliar o frade na reforma das peças de madeira do instrumento. Para que o trabalho seja realizado da melhor maneira possível, foi montada uma carpintaria na sede do Instituto Teológico Franciscano (ITF), situado na Rua Coronel Veiga, para onde todo o órgão será transportado por empresas especializadas no deslocamento do instrumento. A estimativa para a conclusão do restauro está compreendida entre 18 e 24 meses, a contar a partir de outubro de 2018, quando se iniciará o desmonte do órgão. O gasto está orçado em aproximadamente R$ 95 mil reais (orçamento atualizado em setembro/2018). Para ajudar, a Paróquia fez uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) através da plataforma Kickante. O valor mínimo para doação é R$ 10,00. Para contribuir, acesse: http://bit.ly/2PqOdN4 O conjunto arquitetônico do Sagrado Coração de Jesus é um patri-

mônio tombado em nível municipal e estadual, sendo assim de grande relevância. Sua conservação e manutenção requerem grande esforço e responsabilidade por parte desta instituição.

nova missão

Depois de se dedicar ao restauro do órgão da Igreja Bom Jesus de Curitiba, Frei Lauro tem esta nova missão. A história deste frade como organeiro começa em 1987. Ele explica que não era um instrumentista de nível avançado mas que, ao órgão, acompanhava canções em celebrações religiosas. Algumas vezes surgiam problemas com o instrumento e não era fácil achar alguém que pudesse fazer o conserto. Então sugeriu ao seu superior que o mandasse para a Alemanha, onde estão localizadas as principais firmas de construção e restauração destes objetos. A ideia de estadia de um ano se transformou em três anos e meio entre estudo na escola em Ludwigsburg e aprendizado na firma Gebrüder Stockmann Orgelbau, na cidade de Werl, que durante a sua passagem completaria 100 anos. O frei figura na foto comemorativa junto aos trabalhadores e outros aprendizes. O professor explica que o curso é composto por duas fases. Cada semestre inicia-se com um período intensivo de seis semanas de aulas, onde se aprende a parte técnica e teórica sobre o instrumento. Em seguida, os estudantes passam a atuar como aprendizes na firma de construção e manutenção de órgãos. Em 1992, o religioso, que também é físico, recebeu oficialmente o título de organeiro após concluir seus estudos.


SAV

ESTÁGIOS VOCACIONAIS: 40 JOVENS SE APRESENTAM

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m total de 40 jovens vocacionados tiveram oportunidade de fazer os estágios vocacionais no final deste semestre, tendo em vista que completaram o tempo de acompanhamento vocacional e apresentam condições para ingressar no Seminário. O primeiro evento foi realizado de 26 a 28 de outubro, no Seminário São Francisco de Assis, em Ituporanga (SC), com a presença de 14 jovens. O segundo foi realizado de 1º a 4 de novembro, no Postulantado Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP), com a presença de 26 jovens.

Os jovens que participaram do estágio de Ituporanga são provenientes do Paraná e de Santa Catarina, e os que estiveram em Guaratinguetá vieram dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. “Foi um momento muito oportuno e valioso para nós, frades, escutarmos o relato vocacional de cada um e perceber que o Senhor continua a inquietar o mundo com os apelos da vida fraterna, ecoando o seu chamado por todos os cantos e realidades. Não é um chamado específico para uns, mas sim um chamado e uma adesão

de vida aberta a todos”, explicou Frei Marx Rodrigues dos Reis, que, junto com Frei Diego Melo, faz a animação do SAV . Nestes encontros, os jovens foram também levados a conhecer um pouco mais a história da Ordem dos Frades Menores, perpassando a vida e os tempos de Francisco de Assis, o seu grande amor e zelo pelo Evangelho e também a história da Província, as suas Frentes de Evangelização e as etapas de formação. Também puderam experimentar, de forma ativa, como será futuramente a rotina no seminário, participando, com os seminaristas e aspirantes que já estão na formação, dos trabalhos fraternos, da prática de esportes e das apresentações da noite cultural. Além dessa convivência diária com os seminaristas, os candidatos também foram apresentados às comunidades locais durante as Celebrações Eucarísticas, quando receberam o incentivo para perseverarem em suas vocações. Comunicações Dezembro de 2018

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IIIEvangelização Congresso Franciscano Missionário da América Latina e do Caribe

CIDADE DA GUATEMALA

MODELO DE MISSÃO: IR ENTRE OS POVOS

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III Congresso Franciscano Missionário da América Latina e do Caribe ocorreu na Cidade da Guatemala, sede da Província Franciscana da América Central e do Caribe. O I Congresso ocorrera em 2008, em Córdoba, na Argentina; e o II Congresso, em Canindé, no Brasil, em 2013. O tema deste ano foi “Novos cenários, novos desafios: Cuidado da Criação, Mobilidade Humana, Cultura da Paz”. Na sua mensagem aos congressistas, o Ministro Geral, Frei Michael Perry, pediu a Deus que este Terceiro Congresso Missionário Continental seja um momento de graça especial e um momento de encontro profundo: com Deus; com os irmãos e a rica diversidade presente entre eles, presente na Igreja, e certamente presente no mundo. “Que o Espírito de Cristo, rico em misericórdia e paz, encha seus corações até o transbordamento. Que vocês se tornem os santos de Deus, enviados de paz, reconciliação, alegria, esperança para o mundo. Rezemos por todos os irmãos da Ordem e por todos os

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irmãos e irmãs do movimento franciscano, para que juntos possamos renovar nossa confiança em Deus, abrirmos nossos olhos para as necessidades do povo de Deus e do planeta, e que a mensagem do amor de Deus trabalhe em nós para transformar nossas vidas e, através de nós, transformamos a face da terra”, acrescentou Frei Michael. “Meus irmãos, o mistério da encarnação nos oferece um modelo para o compromisso missionário que foi descoberto e posto em prática progressivamente por São Francisco de Assis. Enquanto a Igreja fala corretamente sobre as várias formas de evangelização missionária, distinguindo entre ‘ad gentes’, ‘inter gentes’ e, mais recentemente, ‘intra gentes’, para São Francisco e o movimento franciscano, o principal modelo da missão é o “inter gentes”, indo entre. Lembre-se que foi o Espírito que levou Francisco a ‘ir entre’ os leprosos nas colinas circundantes de Assis, sua primeira incursão em ‘missão’”, exortou o Ministro Geral. Acompanhe o dia a dia na cobertura de Frei Gustavo Medella.


Evangelização 1º dia

RESPOSTAS RÁPIDAS PARA DESAFIOS URGENTES

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esperança de que o III Congresso Franciscano Missionário da América Latina e do Caribe apresente propostas concretas e que possam ser executadas a curto prazo foi a marca principal da abertura deste encontro internacional. Os 140 congressistas, entre frades e leigos, chegaram à Cidade da Guatemala a partir do dia 20 de

temala, a uma família simples. Definimos a quantidade e combinamos o preço. Quando soube que seriam distribuídas a participantes de um congresso franciscano de evangelização e missão, quiseram também ajudar e cobraram apenas a metade do preço”, contou. A partir deste exemplo concreto, Frei Edwin convocou os frades e leigos a trabalha-

duras caminham em direção aos Estados Unidos por conta da falta de condições de vida em seu país. A questão migratória não é uma teoria. É de verdade!”, alertou.

outubro e, nesta segunda, dia 22, todos estavam a postos para iniciar o encontro. Nas palavras de boas vindas, o Ministro Provincial da Província Nossa Senhora de Guadalupe (América Central e Panamá), Frei Edwin Alvarado Segura, destacou a generosidade das pessoas simples ao partilhar a experiência da confecção das bolsas que foram entregues aos missionários: “Encomendamos estas sacolas, um artigo típico da Gua-

rem juntos por uma evangelização comprometida com a realidade. “Os leigos nunca devem dizer que trabalham para os frades. Trabalham com os frades”, frisou. Em relação às expectativas em torno do Congresso, o Provincial disse que espera o surgimento de sugestões concretas para curto prazo: “As questões que temos aqui são urgentes e precisam de respostas rápidas. Desde a última semana, por exemplo, cinco mil irmãos de Hon-

e Missão, Frei Luís Gallardo, elencou a série de desafios que tocam diretamente a missão evangelizadora da Ordem. Diante destas provocações, Frei Luís enfatizou o lema do III Congresso: “Peregrinos descalços como irmãos de todos”. “Peregrinos porque somos caminhantes e temos a certeza de que Deus caminha conosco. Descalços porque desejamos estar ao lado dos pequenos, dos mais pobres, numa atitude de despojamento”, explicou.

DIVERSOS CENÁRIOS E MUITOS DESAFIOS

Em sua fala introdutória, o Secretário Geral para a Evangelização

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Evangelização

Ao abordar os desafios e as possíveis respostas, o Secretário para a Evangelização enumerou seis cenários: 1) Religioso – Diante de uma religiosidade marcada pelo individualismo e pela busca de satisfação pessoal, também do drama do fanatismo religioso e de uma religião de comércio, somos chamados a uma pastoral atenta à realidade, comprometida com a profecia, com os jovens, em postura de diálogo e serviço. 2) Franciscano - A debilitação dos projetos missionários, o provincialismo, a carência de irmãos dispostos em abraçar as iniciativas missionárias devem ter como resposta a retomada da Alegria do Evangelho, a superação do clericalismo, a missão compartilhada com os leigos, a evangelização em fraternidade.

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3) Político, Social e Econômico – Diante da corrupção, do aumento da pobreza e da injustiça social, a busca do cultivo de uma consciência política e de um engajamento social maduro que supere a ingenuidade. 4) Migratório – O desafio do grande número de refugiados por causa da miséria, das guerras internas, dos desastres climáticos, dos governos autoritários deve ter como resposta um olhar com-

prometido das fraternidades para com os irmãos e irmãs que vivem esta situação. 5) Ambiental - Frei Luís recordou que a Terra, nossa “Pacha Mamma está ferida e sangra rapidamente”. Este desafio demanda como resposta a promoção de um estilo de vida sóbrio e sustentável, a partir de nossas fraternidades. 6) Tecnológico – Dentre os principais desafios em relação ao rápido avanço da tecnologia, estão o risco da substituição da mão de obra humana pela máquina e também os novos tipos de relação inaugurados pela internet e pelos novos aparelhos. Testemunhar o Evangelho neste novo ambiente é uma urgência para os frades e fraternidades. Frei Luís apontou ainda o pontificado do Papa Francisco como fonte de inspiração para a Missão Evangelizadora da Ordem. Entre as


Evangelização tarefas urgentes, o Secretário Geral elencou: recuperar a mística e a espiritualidade de Francisco, partir sempre do Evangelho, cultivar uma profecia que desperte a consciência crítica diante da realidade e apostar numa ampla postura de diálogo com governos, movimentos, tradições religiosas e culturas.

DEFINIDORES TRAZEM SAUDAÇÃO DO MINISTRO GERAL

Os Definidores Gerais para a América Latina, o brasileiro Frei Valmir Ramos e o mexicano Frei Ignácio Cejo, também fizeram uso da palavra. Frei Valmir trouxe as ressonâncias do Conselho Plenário da Ordem, realizado em Nairóbi, no Quênia, no primeiro semestre deste ano. Reforçou um aspecto que foi bastante frisado no CPO, de que a Ordem Franciscana é uma fraternidade contemplativa em missão. “Devemos sempre ter presente a centralidade de Deus em nossa vida e missão. E a vida de oração é que mantém nossa proximidade com Deus”, reforçou. Apontou ainda três indicações do Conselho que devem orientar a vida das fraternidades em toda a Ordem: O aprofundamento da identidade carismática; a proximidade com os jovens e o cuidado com a Casa Comum. Frei Ignácio Cejo trouxe a saudação do Ministro Geral, Frei Michael Perry: “Frei Michael está no Canadá, participando de um Capítulo extraordinário que trata sobre a unificação de duas províncias naquele país. Ele envia saudações”, explicou. Frei Ignácio ressaltou a missão evangelizadora como razão de existir da Ordem e fez um apelo para que as reflexões e encaminhamentos nascidos neste congresso cheguem aos frades e às fraternidades.

A IGREJA DIANTE DOS DESAFIOS ATUAIS

À tarde, os participantes do III Congresso Franciscano Missionário tiveram a oportunidade de voltar os olhos para a caminhada da Igreja no mundo e na América Latina em relação às questões propostas pelo congresso: Cuidado da Criação, Mobilidade Humana e Cultura de Paz. Houve também a partilha de duas experiências de evangelização: os mártires de El Salvador e um trabalho com moradores de rua do Centro de Bogotá, capital da Colômbia.

UMA IGREJA QUE NASCEU PEREGRINA

Padre Mauro Verzeletti, brasileiro, pertencente à congregação dos Scalabrinianos, apresentou um breve panorama da relação entre missão e migração desde os primórdios da humanidade. Citou como exemplo a história de Abraão e Sara que, segundo o padre, foram “migrantes na construção de uma missão sem fronteiras”. Dentre os pontos de destaque apresentados pelo conferencista,

estão o de que migrar é um direito universal e inalienável das pessoas; o compromisso que a Igreja deve ter com estes que deixam sua terra de origem por conta de diversos motivos. Mencionou ainda diversos pronunciamentos de Papas e Documentos do Magistério da Igreja sobre a migração e a acolhida dos migrantes. Para concluir, deixou algumas questões que poderiam iluminar as reflexões do Congresso: 1) Somente construiremos um mundo justo e fraterno com o máximo respeito às diferenças. 2) A tolerância não é suficiente. Fazem-se necessários e urgentes o relacionamento intercultural e o diálogo interreligioso. 3) Nada poderá roubar ou aprisionar a fé, o sonho, a liberdade e a esperança de alguém. 4) Para o migrante, a pátria é a terra que lhe dá pão, acolhida e trabalho (Scalabrini). 5) Trabalho é um direito universal de todos, portanto, o migrante não “rouba” trabalho de ninguém. Comunicações Dezembro de 2018

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Evangelização 6) A política é a melhor forma de fazer caridade, porque trabalha pelo bem comum (Papa Francisco). 7) Quando os Migrantes se movem, movem a História.

A VISÃO DA REALIDADE NAS CONFERÊNCIAS LATINO-AMERICANAS

Frei Alberto Nahuelanca, frade chileno com especialidade no tema da Missão, apresentou alguns pontos relativos às Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín a Aparecida. Primeiramente deixou clara a importância destas conferências na caminhada da Igreja no Continente e recordou que elas trazem em si fortes traços da influência do Concílio Ecumê-

nico Vaticano II. O ponto comum em todas elas foi a preocupação em perceber a força dos sinais dos tempos para promover uma evangelização em sintonia com a realidade. A questão da justiça social, a opção preferencial pelos pobres, o fomento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a compreensão de evangelização enquanto promoção integral do ser humano, a conversão pastoral, o cultivo de uma Igreja discípula-missionária estão entre os temas que compõem a contribuição destas conferências na História da Igreja Latino-Americana.

EXPERIÊNCIAS EVANGELIZADORAS

Na partilha das primeiras experiências, Frei Tomás O’Nuanain,

missionário há muitos anos em El Salvador, apresentou o drama de muitos mártires que derramaram seu sangue diante da perseguição à Igreja naquele país nos anos 70: Frei Gabriel Gutierrez, da Colômbia, partilhou o trabalho que realiza junto aos moradores de rua do centro de Bogotá, na Colômbia. A iniciativa deu origem ao projeto “Callejeros de la Misericordia”, que promove ações para aliviar o sofrimento daqueles que vivem nas ruas, abandonados à própria sorte. Na Celebração Eucarística, presidida pelo Definidor Geral, Frei Ignácio Cejo, a assembleia fez memória de São João Paulo II. Para encerrar o dia, um momento de descontração com a apresentação de danças típicas da Guatemala.

Santo Oscar Romero e os mártires de Quiriguá O Congresso Franciscano aconteceu num momento particular da Igreja na América Central e Caribe, com a canonização no último dia 14 de outubro de Santo Oscar Romero e, no sábado, dia 27, quando foram

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Comunicações Dezembro de 2018

beatificados os mártires Pe. Tullio Maruzzo, sacerdote franciscano, e o leigo Luis Obdulio Arroyo Navarro, assassinados por ódio à fé em 1º de julho de 1981, na Guatemala. Os participantes do Congresso estiveram presentes na celebração. Pe. Maruzzo chegou à Guatemala em janeiro de 1960, procedente da Itália. Serviu em diferentes paróquias até que foi enviado a San José, que contava com 50 aldeias. O sacerdote as visitava pelo menos três vezes por ano. Simpático, passava muitas horas ouvindo os camponeses e os conhecia pelo seu nome. Diante do “roubo” das terras dos camponeses na região de Izabal, Pe. Maruzzo começou a ajudá-los, a fim de que legalizassem as terras que cultivavam. Mas isso não passou despercebido pelos militares e comissários que queriam ficar com as terras que já tinham sido cultivadas; por isso, começaram a ameaçá-lo. Logo depois, caluniaram e acusaram Pe. Tulio de colaborar com a guerrilha. Os seus superiores, temendo pela sua vida, transferiram-no para a Paróquia do Sagrado Coração de Quiriguá. Pe. Tulio não estava de acordo em abandonar seu rebanho; mas obedeceu, em 14 de maio de 1980. As calúnias e ameaças continuaram nesse lugar. Em 1º de julho de 1981, às 22h30, depois de acompanhar alguns dos fiéis até a sua casa na Aldeia Pueblos Nuevos, Pe. Tulio Maruzzo e o leigo Luis Obdulio Arroyo Navarro, que dirigia o carro, caíram em uma emboscada e foram assassinados.


Evangelização 2º DIA

CONVERSÃO MISSIONÁRIA PARA A JUSTIÇA E A PAZ

O

nde começa a conversão, no coração ou na mente?” Esta foi uma das diversas provocações que Dom Alvaro Ramazzini, Bispo da Diocese de Huehuetano, na Guatemala, trouxe aos participantes do III Congresso na manhã do dia 23. Dom Ramazzini, que participou das Conferências Episcopais de Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), abordou a temática da “Igreja em Saída” a partir da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco. O conferencista tomou como base o I Capítulo da Exortação, que tem como título “A transformação missionária da Igreja”. “O que entendemos por transformação?”, perguntou o bispo para, em seguida, explicar que esta mudança passa por uma conversão gerada pelo encontro pessoal com Jesus. Baseado no nº. 28 do documento de Aparecida, Dom Ramazzini traçou um itinerário da conversão que gera verdadeiros discípulos-missionários: “Conhecer, seguir e transmitir”. “Conhecer é um dom; seguir, uma graça; e transmitir, uma tarefa de quem se encontra com Jesus e torna-se capaz de dar à própria vida uma orientação decisiva”, explicou. Para o conferencista, a conversão pessoal e eclesial dá origem a uma Igreja em estado permanente de missão, onde as estruturas, os métodos, as prioridades se voltam muito mais para a Evangelização e bem menos

A RELAÇÃO INSEPARÁVEL ENTRE JUSTIÇA E PAZ

para a automanutenção. Em profunda consonância com os apelos do Papa Francisco, Dom Ramazzini lançou luzes sobre a responsabilidade irrenunciável que a Igreja deve assumir em relação aos pobres e excluídos. “Devemos tocar a carne de Cristo que sofre nos pobres”, exortou, utilizando as mesmas palavras do Santo Padre. Como exemplo prático e concreto do drama da exclusão, Dom Ramazzini chamou a atenção de todos para o fato de que 59% das crianças indígenas entre 01 e 05 anos sofrem de desnutrição na Guatemala.

Outra conferência da manhã foi a de Frei Juan Carlos Tremino, da Nicarágua. Ele trouxe a iluminação bíblica para o tema da Cultura da Paz, um dos eixos principais do congresso. Primeiramente, recordou a origem do termo “Cultura de Paz”, que data do fim da década de 1980 e início de 1990, quando o mundo viveu o fim de importantes e longos conflitos. “O termo ‘cultura’ vem do verbo ‘cultivar’, que significa zelar, cuidar com atenção dos valores que levam à paz verdadeira”, disse. “A paz se constrói na verdade e na justiça, enquanto a violência se baseia na exploração, na manipulação, na falta de respeito pela vida, no egoísmo”, recordou Frei Tremino. “A violência faz mais barulho do que a paz, mas nem por isso devemos desanimar ou desistir”, exortou. Ao apontar alguns elementos da

Delegação Brasileira Comunicações Dezembro de 2018

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Evangelização iluminação bíblica, o frade destacou que, no Antigo Testamento, a Paz aparece designada pelo termo “shalom”, que sempre aponta para a justiça, a harmonia e para o respeito aos direitos humanos. Na visão do Novo Testamento, aparece o termo grego “irene”, e Cristo é apresentado como a esperada Paz Messiânica. Segundo Frei Tremino, tanto nas epístolas quanto nos Evangelhos, a paz aparece como tarefa fundamental a ser assumida

pelos discípulos. Relembrando o evento pós-pascal do envio que o Ressuscitado faz de seus seguidores, narrado em Jo 20,19-21, o conferen-

cista destacou: “A partir do encontro com o Ressuscitado, a paz começa a se tornar viva no seio da comunidade cristã”.

SURPRESA DURANTE A ORAÇÃO DA MANHÃ

Na primeira atividade do dia, os congressistas tiveram a alegria de receber a visita de algumas crianças e adultos atendidas pela Obra Social Santo Irmão Pedro. O trabalho, que já tem 37 anos, é dirigido pelos frades da Província Nossa Senhora de Guadalupe e realiza todos os anos milhares de atendimentos de saúde à população mais pobre da Guatemala, além de cuidar integralmente de mais de 250 pessoas em estado de total dependência e manter um centro de recuperação para dependentes químicos.

SANTO IRMÃO PEDRO

O Irmão Pedro de São José BetancurtComunicações foi canonizado por São João Pau852lo IIDezembro no dia de302018 de julho, na cidade da

Guatemala, na sua 3ª visita apostólica à Guatemala. João Paulo II reconheceu, no Irmão Pedro Betancurt, que “o exemplo da sua vida e a eloquência da sua mensagem são um valioso contributo na construção da sociedade do terceiro milênio”. O Papa destacou ainda o “grande espírito missionário” de um homem “que se entregou ao serviço dos pobres e dos necessitados”. Pedro de São José Betancurt nascido em Tenerife, Ilhas Canárias, a 18 de setembro de 1626, atravessou o Atlântico com 24 anos, para na Guatemala viver como missionário leigo. Ao ali chegar terá dito: “Aqui quero viver e morrer”. Membro da Ordem Terceira de

São Francisco, teve uma grave doença. Tempos passados, a sua saúde se recuperou inesperadamente e foi então que iniciou o seu apostolado junto dos índios nativos, dos que estivessem submetidos a trabalhos forçados, dos imigrantes, dos órfãos e dos abandonados. Criou o primeiro hospital, de que há memória, para doentes convalescentes, deu especial atenção à educação de crianças e escreveu o regulamento a seguir nesse trabalho em que, entretanto, era ajudado por algumas mulheres. Deram assim os primeiros passos para formar as Ordens masculina e feminina dos Bethlemitas. O Irmão Pedro de São José Betancurt faleceu com 41 anos de idade, a 25 de abril de 1667.


Evangelização 3º DIA

O COMPROMISSO NA DEFESA DOS “NINGUÉNS”

O

s temas da imigração e do cuidado com a Casa Comum deram a tônica das conferências da quarta-feira, dia 24 de outubro, no III Congresso Missionário Franciscano. Frei Tomás Gonzalez, frade mexicano que dirige um trabalho com imigrantes na fronteira entre o México e os Estados Unidos, fez uma provocação aos participantes do Congresso. “O tema que vou trabalhar é a mobilidade humana e seu impacto na cultura de nossos povos. No entanto, o mais importante é saber o seu impacto em nosso ‘ser franciscano’”, frisou. Frei Tomás também lembrou que o Povo de Deus, conforme narra a Sagrada Escritura, fundou-se numa situação de mobilidade humana. Ele

recordou a passagem do livro do Êxodo que diz: “Não explore o imigrante nem o oprima, porque vocês foram imigrantes no Egito” (Ex 22,20). Assinalou também que o nascimento de Jesus, o Natal, ocorreu num contexto de perseguição, de exílio e de genocídio. “Precisamos reconhecer os sinais dos tempos. Temos de perceber que, nas situações de mobilidade, especialmente de mobilidade forçada, Deus está presente de forma imanente”, advertiu. O frade mexicano também aproveitou para apresentar alguns requisitos necessários para se colocar a serviço dos migrantes. O primeiro passo é conhecer a realidade e buscar um contato próximo com as pessoas que vivem esta situação.

Em segundo lugar, todo aquele que se voluntaria a trabalhar diante desta realidade precisa agir de maneira afetiva e comprometida com o drama que estes irmãos vivem. Frei Tomás também ressaltou que é fundamental que a Ordem, a partir do Governo Geral e em suas entidades, se empenhe ao máximo na defesa dos irmãos que vivem esta situação.

OS NINGUÉNS

Na abertura de sua conferência, Frei Tomás atraiu a atenção de todos ao recitar, em tom emocionado, um trecho da poesia “Os ninguéns”, de Eduardo Galeano. Segue uma tradução livre: Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada. Os ninguéns: os nenhuns, corComunicações Dezembro de 2018

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Evangelização Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, têm folclore. Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

POR UMA LEITURA LATINOAMERICANA DA ENCÍCLICA LAUDATO SI’

rendo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam superstições. Que não fazem arte, fazem artesanato.

Frei Rodrigo Peret, frade brasileiro envolvido em questões sociais e ambientais no Brasil e no mundo, trouxe para os congressistas uma reflexão sobre a questão do extrativismo e da exploração que sofrem diversos países de América Latina. Frei Rodrigo explicou que este tema não diz respeito apenas à extração de minerais e de petróleo, mas toca muitos tipos de exploração de bens naturais com finalidade de lucro. “Aquilo que o capitalismo chama de ‘recursos naturais’ deve ser denominado de ‘bens naturais’. Chegamos

à situação absurda de colocar preço até nos fluxos da vida, como ocorre no caso da compra dos créditos de carbono”, protestou. Frei Rodrigo também chamou a atenção para o fato de que, com frequência, o Estado se coloca a serviço do mercado nas situações de extrativismo, colocando em segundo plano a soberania nacional. Além de elencar estes e outros desafios, o frade também apresentou algumas “luzes no caminho”, iniciativas que podem fazer frente aos efeitos nocivos da exploração dos bens naturais. Dentre estas luzes, destacou: – Maior oposição organizada, apesar dos riscos. – Defesa do direito à consulta, à participação cidadã e ao consentimento. – Reconhecimento do direito de defender os direitos. – Articulação em diferentes níveis. – Caminhar ao lado dos pobres. Para concluir, o frade recordou a importância do comprometimento da Ordem e da Igreja na reação contra uma economia que mata.

Presos na ponte Exaustos e famintos, alguns estavam ali depois de caminharem centenas de quilômetros na chuva e no calor, comendo e dormindo como podiam. A maioria só leva o que pode

carregar: algumas mudas de roupa e um pouco de água. Muitos dizem ter sido bem tratados na Guatemala, onde chegaram a receber abrigo e comida.

“México, tenha humanidade, deixe-nos passar, não nos trate como os Estados Unidos fazem com os mexicanos!”, gritava, com um tom de voz que oscilava entre a raiva e o desespero, um homem trepado sobre as grades. O México, contudo, está sob pressão do presidente americano, Donald Trump, que pediu, em um comentário no Twitter, que o país freasse a caravana. No Twitter, Trump ameaçou fechar a fronteira americana caso o pedido não fosse atendido. Ele também afirmou que interromperia a ajuda econômica a Honduras, El Salvador e Guatemala, “que parecem não ter praticamente nenhum controle sobre suas populações”.


Bispos hondurenhos: Caravana é uma tragédia humana Em meio ao Congresso Missionário, a Caravana de Migrantes seguia em direção aos EUA. Segundo o comunicado da Igreja hondurenha, a “Caravana de Migrantes” é uma realidade abominável, causada pela atual situação de crise de Honduras, obrigando as pessoas a abandonarem o pouco que possuem, para se aventurarem sem nenhuma certeza na rota migratória para os Estados Unidos. Com o desejo de chegar à terra prometida, e do “sonho americano”, tentam resolver seus problemas econômicos e melhorar suas condições de vida e de seus familiares e, em muitos casos, garantir a tão sonhada segurança física. A Igreja em Honduras, afirmam os bispos, reconhece o direito humano de cada pessoa a procurar uma vida digna e realização pessoal, familiar e comunitária. É dever do Estado hondurenho dar aos seus cidadãos o melhor para sustentar suas necessidades básicas que são: trabalho digno, estável e bem remunerado, saúde, educação e moradia. Enquanto estas condições não forem satisfeitas, as pessoas são obrigadas a viver na fata-

lidade e muitos delas tomam um caminho na esperança de que as possa levar a uma vida melhor, com a dolorosa e vergonhosa necessidade de abandonar suas famílias, suas amizades, sua comunidade, sua cultura, seu ambiente e a terra que as viu nascer. Esta crise humanitária em Honduras não é nova, dizem os bispos. Há anos que o povo sofre com isso. Muitos hondurenhos partiram para o México e os Estados Unidos! “Fomos surdos diante dos gritos de abuso e de violação de seus di-

reitos nas caminhadas e fomos cegos em não ver esta realidade. Preferimos nos alegrar com a chegada de remessas de dinheiro, como uma solução aos problemas internos”. A novidade desta caravana, dizem os bispos, é a quantidade de pessoas, milhares, na maioria jovens, que vão com a esperança de obter melhores condições de vida. Não é hora de culpar as pessoas ou os partidos políticos, nem o Governo atual. Isso seria olhar o problema de maneira superficial. A responsabilidade é de todos!

4º DIA

BÊNÇÃO DO BRASIL PARA A AMÉRICA LATINA

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este dia 25 de outubro, em que a Igreja celebra Santo Antônio de Santana Galvão, a Conferência Brasileira da Ordem dos Frades Menores ficou encarregado de conduzir os momentos celebrativos do Congresso. Na celebração da Missa, presidida pelo Definidor Geral, Frei Valmir Ramos, foram recordadas as virtudes de Frei Galvão, descrito por São João Paulo II como o “homem da paz e da caridade”. Ao fim da celebração, re-

cordando a devoção do santo à Imaculada Conceição de Maria, todos os congressistas foram convidados a pedir a bênção de Deus por intercessão de Nossa Senhora Aparecida.

CONFERÊNCIA ABORDA PROPOSTA DE ESTILO DE VIDA A PARTIR DOS VALORES FRANCISCANOS

Frei Juan Rendón, da Província de São Paulo, da Colômbia, apresentou alguns aspectos que devem

pautar o estilo de vida marcado pela espiritualidade franciscana. Em primeiro lugar, acenou para a importância de que se estabeleçam na missão evangelizadora relações de igualdade entre pastores, leigos e religiosos. A promoção de um diálogo amplo em diversos níveis também foi apontada como postura fundamental. Convidando os participantes a uma profunda revisão de vida, Frei Juan Rendón disse: “Precisamos fazer uma reavaliação de nossa Comunicações Dezembro de 2018

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Evangelização

própria compreensão do que hoje significa ser cristão e franciscano”. Também listou como atitudes fundamentais o cultivo da proximidade com as pessoas, a valorização do testemunho que confirma a palavra e a transformação das estruturas. Ao abordar a temática do cuidado com a Criação, o frade recordou que o cuidado faz parte do núcleo de franciscanismo. Segundo ele, a manifestação do cuidado passa por uma relação amorosa, pela inquietude e a preocupação com o outro, pelo relacionamento próximo entre necessidade, vontade e predisposição e por uma atitude de prevenção cuidadosa. Sobre a mobilidade humana, Frei Juan destacou que os franciscanos são itinerantes por vocação. “O caminho é lugar de encontro com o Senhor. Temos o compromisso de, conforme nos recordou o Papa Francisco, recuperar a ‘mundanidade’ de nossos conventos”, disse, fazendo referência ao trecho do texto Sacrum Commercium, no qual Francisco declara que seu claustro é o mundo. No que diz respeito à cultura de paz, explicou que, sob a aparente normalidade do cotidiano, subja-

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Comunicações Dezembro de 2018

zem tensões, conflitos e contradições. Diante deste quadro, o compromisso franciscano deve sempre passar pela busca de conciliação, que não se confunde com uma postura passiva, mas de profundo envolvimento com a transformação da realidade.

JPIC E O ESPÍRITO DE COLABORAÇÃO

Frei Jaime Campos, do Chile, animador de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) da Ordem, chamou a atenção para que a Ordem se abra ao espírito de colaboração e proximidade com aqueles que trabalham pela transformação da realidade. “Não podemos nos fechar apenas em nossa reação frente aos problemas, mas devemos estar juntos, ao lado, com aqueles que os enfrentam”. Frei Jaime apresentou ainda uma série de desafios que acompanham as diversas crises que estão instaladas na sociedade. Partilhou também uma série de iniciativas em que os frades estão envolvidos ao redor do mundo.

A CORAGEM DE LAS PADRONAS

Na parte da tarde de quarta-feira, houve a partilha de mais duas

experiências evangelizadoras. O projeto Las Patronas, do México, que reúne mulheres no trabalho em defesa dos migrantes que passam no trem de carga na região de Vera Cruz, em direção ao México. O trabalho foi fundado por Norma Romero Vásquez, habitante da região que se comoveu com o drama daquelas pessoas que se expunham a um sério risco de vida em busca de uma vida melhor. O trem cargueiro, conhecido como La Bestia, passa na região repleto de migrantes pendurados. O trabalho destas mulheres é entregar comida e água aos migrantes com o trem em alta velocidade, colocando-se em risco.

SEFRAS GANHA DESTAQUE NO CONGRESSO

A segunda experiência partilhada foi a do Serviço Franciscano de Solidariedade, Sefras, da Província da Imaculada, do Brasil. Frei José Francisco e a coordenadora do Serviço, Rosângela Pezoti fizeram a apresentação do trabalho que tem o reconhecimento da Ordem como uma experiência evangelizadora organizada, eficiente e inovadora.


Evangelização encerramento

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ENCAMINHAMENTOS FINAIS

epois de uma semana intensa de palestras, reflexões, orações, partilhas e trabalho, o III Congresso Missionário Franciscano da América Latina e do Caribe chegou ao seu encerramento. No dia 26, o colombiano Miguel Angel Jaimes Ruiz, consultor de projetos participativos, membro engajado na caminhada da Igreja, tratou da elaboração de planejamentos pastorais. O primeiro ponto para um bom projeto eclesial, segundo o especialista, é o cultivo de uma Mística transformadora que pode ser alcançada a partir de um encontro pessoal entre o fiel e Jesus Cristo. “Facilitar um encontro vital e profundo com Jesus é a principal tarefa pastoral”, assinalou. Para Angel, o contato com a Boa Nova desenvolve a consciência humana para contemplar novos horizontes e suscitar novas esperanças. Baseando-se na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, o conferencista elencou quatro princípios para um projeto comum, que são: o

tempo é superior ao espaço; a unidade prevalece sobre o conflito; a realidade é mais importante do que a ideia; o todo é superior à parte. A segunda preocupação diz respeito ao método, pautado na formulação VER-JULGAR-AGIR… AVALIAR-CELEBRAR. Com bom humor, Jaimes comparou o processo participativo para a elaboração de um projeto a um plano de voo: tem uma definição; é ordenado, mas flexível; está sujeito a turbulências; às vezes se faz necessário retomar o rumo e há um destino comum. Como terceiro aspecto, Jaimes apresentou 5 características de uma liderança ético-comunitária, a que chamou de 5 c’s: consciência, competência, compaixão, criatividade e cooperação.

RESULTADO DO TRABALHO DAS OFICINAS TEMÁTICAS

Outra atividade foi a partilha das propostas que nasceram dos trabalhos nas oficinas temáticas. Frei Luis Gallardo, frade equatoriano e Secretário Geral para a Evangelização da

Ordem, convocou para a mesa central os Secretários das Conferências que compõem a União das Conferências Latino-Americanas dos Frades Menores, a UCLAF. Todo o material apresentado pelas Oficinas também irá ser considerado na elaboração do Documento Final do III Congresso Missionário Franciscano da América Latina e do Caribe. Na parte da tarde, Frei Atílio Battistuz colocou em debate a questão da presença missionária da Ordem na Amazônia. Ao final da tarde, a partir das 18h30, houve a Missa de encerramento, com a participação dos congressistas e das famílias que os acolheram nestes dias de atividade. Em seguida, todos participaram de um jantar festivo, num clima marcado pela alegria, gratidão e espírito de fraternidade. No sábado, os participantes do Congresso saíram em carvana, ainda de madrugada em direção a Morales, Izabal, onde participaram da Beatificação de Frei Tulio Maruzzo e Obdulio Arroyo.

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Festa de São Lucas no Kimbo São Francisco

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o dia 21 de outubro, no Kimbo São Francisco, na cidade de Luanda, os fiéis da Paróquia São Lucas celebraram a festa do padroeiro. A celebração foi presidida por

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Frei José Antônio do Santos, presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola e concelebrada por Frei Antônio Baza, pároco; Padre José, primeiro padre daquela Paróquia; Padre Murua, da Diocese de Ndalatando e servida por Frei João

Bunga, diácono e filho da Paróquia. Estavam presentes também os frades e salesianos que atuam pastoralmente na Paróquia e autoridades locais. A celebração foi precedida por uma peregrinação da imagem de São Lucas, que passou por todas as comunidades: São José, Santa Teresa, São Marcos, Santa Mãe, Santa Catarina e São Francisco de Assis. Esta é a maior Paróquia atendida pelos frades em Angola. Na missa, Frei José enalteceu a figura de São Lucas e apresentou -o como modelo e inspiração. Ao longo do sermão, feito pelo diácono Frei João Bunga, foi ressaltada a figura do servo sofredor. O frade lembrou que “vivemos num mundo enlouquecido pela grandeza e privilégio de poucos”. E, citando o ditado popular que diz “quem pode mais, chora menos”, repudiou o espírito de competitividade estressante que paira também entre cristãos.


Evangelização

O frade condenou todo tipo de opressão e tirania dos mais fortes. E fez saber que o imperialismo no tempo de Jesus também era forte e estava arraigado no inconsciente coletivo de muitos, a ponto de tornar quase impossível pensar em algo diferente. “Até mesmo os discípulos caíram na armadilha de não entender a missão do ser servo sofredor, menor e da ressurreição”, explicou Frei João Bunga.

Ao final da homilia, Frei Bunga parabenizou os médicos pelo seu dia, celebrado junto com São Lucas, que foi médico e é o padroeiro da profissão. O frade aconselhou -os a serem verdadeiros seguidores de Jesus, face à situação precária do saneamento básico em Angola. Convidou-os também a trabalharem com o coração, pois os serviços tendem a ser desumanos, devido ao afluxo de enfermos.

No final da missa, Frei José Antônio agradeceu aos membros de direção da Paróquia, aos fiéis e a todos que veem nos frades uma possibilidade de aproximarem-se de Jesus, de Deus e dos irmãos e irmãs. Após missa, foi servido um almoço dos missionários e missionárias com os fiéis no hall do Kimbo São Francisco. Frei Crisóstomo Pinto Ngala

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ENCERRAMENTO DO SÍNODO DOS JOVENS

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ostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos”, disse o Papa Francisco na homilia da missa na manhã do XXX Domingo do Tempo Comum, celebrada na Basílica de São Pedro, no encerramento do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. Na homilia, o Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia, que nos traz o episódio da cura do cego Bartimeu feita por Jesus, do qual, em sua reflexão, propôs algumas indicações aos padres sinodais e aos jovens para o caminho de fé da Igreja. Bartimeu é o último que segue Jesus ao longo do caminho: “de mendigo na margem da estrada para Jericó, torna-se discípulo que vai juntamente com os outros para Jerusalém. Também nós caminha-

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mos juntos, ‘fizemos sínodo’ e agora este Evangelho corrobora três passos fundamentais no caminho da fé”: escutar, fazer-se próximo e testemunhar, apontou o Santo Padre. “O primeiro passo para ajudar o caminho da fé: escutar. É o apostolado do ouvido: escutar, antes de falar”, ressaltou. Referindo-se à atitude de muitos que estavam com Jesus, que repreenderam Bartimeu para que estivesse calado, disse que estes “seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos”, e que este é um risco do qual sempre devemos nos precaver. Ao contrário, para Jesus, o grito de quem pede ajuda não é um transtorno que estorva o caminho, mas uma questão vital. Como é importante, para nós, escutar a vida! Os filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas às necessidades do próximo. Ouvir com amor, com paciência,

como Deus faz conosco, com as nossas orações muitas vezes repetitivas. Deus nunca se cansa, sempre se alegra quando o procuramos. Peçamos, também nós, a graça dum coração dócil a escutar, exortou Francisco. Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre disse com veemência: “Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda, é necessária para se avançar.” Depois da escuta, o Papa apontou um segundo passo para acompanhar o caminho da fé: fazer-se próximo. Vejamos Jesus, disse, “que não delega a ninguém da ‘grande multidão’ que o seguia, mas encontra Ele pessoalmente Bartimeu. Diz-lhe:


Evangelização

‘Que queres que Eu faça por ti?’. (…) É assim que Deus procede, envolvendo-se pessoalmente com um amor de predileção por cada um. Na sua maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem: assim a fé germina na vida”. A fé passa para a vida. “Quando a fé se concentra apenas

em formulações doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à cabeça, sem tocar o coração. E quando se concentra apenas na ação, corre o risco de tornar-se moralismo e reduzir-se ao social. Ao contrário, a fé é vida: é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência. Não podemos

ser doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar para a frente a obra de Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos intimamente a Ele, em comunhão entre nós, próximos dos irmãos. Proximidade: aqui está o segredo para transmitir, não algum aspeto secundário, mas o coração da fé.” “A fé é questão de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas o testemunho da nossa vida.” E a todos vós que participastes neste ‘caminhar juntos’, concluiu Francisco, “digo obrigado pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximos e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus”.

Carta dos Padres Sinodais aos jovens do mundo inteiro Ao término da Missa de encerramento da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos dedicada aos jovens, presidida pelo Papa Francisco na manhã deste domingo (28/10) na Basílica de São Pedro, antes da bênção final, o secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu a carta dos Padres Sinodais aos jovens, a qual publicamos a seguir na íntegra:

XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos Carta dos Padres Sinodais aos jovens A vocês, jovens do mundo, nós Padres Sinodais nos dirigimos com uma palavra de esperança, confiança e consolação. Nestes dias, nos reunimos para escutar a voz de Jesus, “o Cristo, eternamente jovem”, e reconhecer Nele as vozes dos jovens e seus gritos

de exultação, lamentos e silêncios. Sabemos de suas buscas interiores, das alegrias e das esperanças, das dores e angústias que fazem parte de sua inquietude. Agora, queremos que vocês escutem uma palavra nossa: desejamos ser colaboradores de sua alegria para que suas expectativas se transformem em ideais. Temos certeza de que com sua vontade de viver, vocês estão prontos a se empenhar para que seus sonhos tomem forma em sua existência e na história humana. Que nossas fraquezas não os desanimem, que as fragilidades e pecados não sejam um obstáculo à sua confiança. A Igreja é sua mãe, não abandona vocês, está pronta para acompanhá-los em novos caminhos, nas sendas mais altas onde o vento do Espírito sopra mais forte, varrendo as névoas da indiferença, da superficialidade, do desânimo.

Quando o mundo, que Deus tanto amou a ponto de lhe doar seu Filho Jesus, é subordinado às coisas, ao sucesso imediato e ao prazer, pisoteando os mais fracos, ajudem-no a se reerguer e a dirigir seu olhar ao amor, à beleza, à verdade e à justiça. Por um mês, nós caminhamos juntos, com alguns de vocês e muitos outros unidos a nós com a oração e o carinho. Desejamos continuar o caminho em todas as partes da terra onde o Senhor Jesus nos envia como discípulos missionários. A Igreja e o mundo precisam urgentemente de seu entusiasmo. Sejam companheiros de estrada dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida. Vocês são o presente, sejam o futuro mais luminoso. Comunicações

28 de outubroDezembro de 2018de 2018

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Evangelização

Encontro de Gerentes e Gestores do Grupo Educacional Bom Jesus

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ós sois aquele que, pelo diálogo, edifica um mundo melhor”. Esse foi o tema do segundo encontro de gestores das 36 Unidades do Grupo Educacional Bom Jesus, o qual aconteceu nos dias 24, 25 e 26 de outubro, na FAE Business School, em Curitiba. O encontro serviu para fazer um balanço dos trabalhos desenvolvidos ao longo do ano letivo e o planejamento e a definição de propostas institucionais para 2019. O presidente do Grupo, Frei João Mannes, fez a palestra de abertura do evento e destacou como mensagem central uma educação que promova a cultura do humanismo solidário na perspectiva franciscana. “A vocação à solidariedade

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convida as pessoas do século XXI a confrontarem-se com os desafios da convivência multicultural. Nas sociedades globais, convivem diariamente cidadãos de tradições, culturas, religiões e concepções de mundo diferentes”, explicou o Frei João. Em sua apresentação, Frei João expôs primeiramente o que é Humanismo, sua história na Antiguidade Clássica, no período da Renascença e na Modernidade. E ao falar sobre o Humanismo Solidário, destacou que a solidariedade é um componente existencial intrínseco à espécie humana. Contudo, o grande desafio de hoje é educar para a solidariedade e promover a cultura do diálogo, pois

essa cultura se constrói pelos princípios éticos da liberdade, da paz, do respeito, da tolerância, do amor e da igualdade. E é da natureza da educação a capacidade de construir as bases para um diálogo pacífico e de permitir o encontro entre as diversidades, com o objetivo principal de edificar um mundo melhor. Na perspectiva franciscana, também acentua-se que o ser humano é essencialmente um ser-de-relação. Por outras palavras, a dignidade e a identidade humana não depende de sua capacidade de pensar e do êxito e utilidade de suas ações, mas sobretudo de sua capacidade de doação e de construir relações amorosas com todas as criaturas (Cântico das Criaturas).


Evangelização Foi com esse espírito fraterno, diálogo aberto e franco, que a reunião de gestores e gerentes foi conduzida. Pois, mais do que o entendimento das palavras enunciadas, o diálogo é a expressão da harmonia entre os indivíduos. A virtude do diálogo resulta, segundo a inspiração de Francisco de Assis, de uma afinada coerência entre o que se fala e o que se vive. Vale destacar que esses encontros buscam garantir trocas de informações, experiências, redefinições de encaminhamentos e criação de estratégias para melhorar o ensino e a aprendizagem dos quase 25 000 mil alunos do Grupo Educacional Bom Jesus. Esses momentos também são importantes para a comunicação e o relacionamento

interpessoal entre gestores, gerentes e coordenadores do CEP (Centro de Estudos e Pesquisas), bem como entre os responsáveis pelos setores administrativos. Nessa ocasião, foram discutidas, refletidas e planejadas ações a curto, médio e longo prazo, visando à melhoria do ensino. Assim, esse encontro auxilia para uma análise individual e coletiva dos procedimentos adotados ou definidos nas Unidades do Bom Jesus. Da mesma forma, ajuda a repensar ações e a compartilhar dificuldades em busca de soluções para os problemas comuns. Todos os representantes dos mais diversos setores de trabalhos do Grupo Bom Jesus apresentaram seus trabalhos, suas reflexões e suas ideias para que os processos

de ensino-aprendizagem dos alunos aconteçam com qualidade. A formação integral dos alunos passa por essa união de atenção, de cuidados e de diálogos por parte de todos os colaboradores e educadores dessa Instituição centenária. A proposta pedagógica de excelência e os valores franciscanos têm feito do Bom Jesus uma verdadeira lição de vida para todos nós. Os gestores ainda visitaram as Unidades Remanso, Bom Jesus Internacional Aldeia e Escola Especial, em Campo Largo, além de conferirem a 4.ª edição da Feira de Iniciação Científica do Ensino Médio do Colégio Bom Jesus – FICEM, no Bom Jesus Centro, em Curitiba. Solange Dorocinski

NATAL, ONTEM E HOJE Ontem, Jesus, nasceu na Gruta de Belém, Hoje, eu lhe peço, nasça em nós, no coração! Venha nascer, fazer de nós, Jerusalém Toda gloriosa pra cantarmos a Canção... Canção do Verbo que se fez Emanuel, Que se tornou, dentre em nós, nesse nosso mundo, Que nos deixou o nobre sim, lindo papel, Ser louvor, glória, divo mistério profundo!... É o Natal que pedem seus Irmãos, Jesus; Natal que o Dom da Graça marque com sua Luz, Os corações, lares desse imenso Brasil. Jesus, lhe peço, escolha a gruta que quiser, Faça-se sua Vontade, assim, quando vier, E em nossa Fé, o acolheremos com Amor. Frei Walter Hugo de Almeida Comunicações Dezembro de 2018

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Evangelização

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Bom Jesus promove “Tempo Franciscano 2018”

ão Francisco de Assis – Minoridade, Fraternidade e Paz” foi o tema escolhido para o Tempo Franciscano, um projeto do Colégio Bom Jesus desenvolvido de 17 de setembro a 15 de outubro de 2018. Entre os seus diversos objetivos, as atividades propostas e desenvolvidas na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio durante o Tempo Franciscano visam ser momentos oportunos para se refletir sobre a importância da memória e da celebração do Dia de São Francisco de Assis (4 de outubro), referencial humano e religioso por excelência da proposta pedagógica do Grupo Educacional Bom Jesus. As ações buscam também oportunizar aos alunos e familiares distinguir “na minoridade, na fraternidade e na paz” um modo peculiar de vida inaugurado por São Francisco de Assis, especialmente na convivência com as pessoas (no âmbito familiar, escolar, profissional e social) e junto às demais criaturas. Por que minoridade, fraternidade e paz? De acordo com Frei Claudino Gilz, coordenador do Projeto Tempo Franciscano, “a virtude da minoridade se fundamenta em um dos ensinamentos de São Francisco, que assim recomendava: ‘Os que estão constituídos sobre os outros não se vangloriem dessa superioridade mais do que se estivessem encarregados de lavar-lhes os pés’”. Dessa maneira, continua Frei Claudino, “a virtude da fraternidade se evidencia à medida em que as pessoas se unem a partir de uma mesma inspiração, seja ela com base no Evangelho de Jesus Cristo, seja ela de cunho humanitário. Logo, a ideia de fraternidade – do ponto de vista franciscano – consiste em dispor do melhor de si para promover o bem-estar do próximo, preferencialmente os mais abandonados. Por sua vez, o sonho e a promoção da paz assumem exigências que vão além do propósito de não ser nem a origem e nem o motivo de certas maledicências ou até mesmo o autor de lamentáveis atos de violência ao próximo.

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A paz pressupõe uma disposição interior para o perdão incondicional e a caridade. Ensinar tais aspectos aos alunos, aos seus familiares e à sociedade de hoje foi uma das propostas do

Projeto do Tempo Franciscano 2018”. Confira, na galeria de fotos, algumas imagens das atividades desenvolvidas nas Unidades do Bom Jesus durante a abertura do Tempo Franciscano 2018.


Evangelização Petrópolis

Diocese assumE o Terra Santa

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ocê já sabia: nos últimos anos, na agenda do redimensionamento constava a disponibilização do conjunto socioeducacional do Terra Santa, em Petrópolis. Por isso, e havendo interesse por parte da Diocese local, os contatos evoluíram e a entrega efetivou-se a partir do dia primeiro de agosto de 2018. Desde então, o Terra Santa, no seu todo, passou a ser um empreendimento da Diocese de Petrópolis. O Terra Santa guarda relação com a memória da cidade de Petrópolis, uma vez que ali teve domicílio seu urbanista, o Major Júlio Frederico Koeller. Por sua vez, o nome “Terra Santa” bem como a denominação do bairro “Valparaíso” remetem à memória da ação de frades franciscanos do Comissariado da Terra Santa que ali dispunham de uma casa (“hospício”), um entreposto entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, na tarefa de arrecadar donativos para manutenção dos Lugares Santos. A igreja, dedicada à Imaculada Conceição e inaugurada em 1888, também está relacionada a eles, bem como à antiga e próxima fábrica de tecidos “São Pedro”. Ademais, nesse local, em 1918, encerrando ali os frades do Comissariado sua presença, foi fundada a Associação Protetora do Recolhimento de Desvalidos de Petrópolis (crianças e idosos), associação de notáveis que conseguiu a colaboração de irmãs da Congregação de São José de Chambery para a iniciativa. Em abril de 2018, tivemos, pois, a grata satisfação de recolher agradecimentos e louvores de inúmeras pessoas por ocasião de 100 anos de atividade! Também em 2018 concluímos, como presença provincial, 20 anos de

atividade à frente desse campo de missão. Com efeito, em 1998, nosso confrade Frei Johannes, hoje Dom Bernardo, acolheu o pedido de socorro da então Diretoria da Associação e convidou as Irmãs Franciscanas de Siessen para ajudar. Em seguida, a administração socioeducacional prosseguiu, tendo à sua frente, sucessivamente, Frei Ivo Müller, Frei Ângelo José Luís e Frei Antônio Moser, sempre contando, além das irmãs, com a colaboração de confrades estudantes ou não, de uma diversificada equipe de funcionários e de inúmeros benfeitores. O conjunto da obra consta, hoje, de um Educandário, com pouco mais de 500 alunos; uma creche, com cerca de 30 crianças; três projetos sociais: Aquarela, em contraturno do Educandário, com cerca de 90 crianças; Cultura pela Paz, para jovens e adultos, em torno de 100, com programa de atividades educacionais e de inserção profissional; Fórmula do Bem-estar, uma programação com a Terceira Idade, tendo cerca de 70 inscritos – números esses, condicionados pelas possibilidades físico-financeiras. Além disso, o con-

junto conta com dois salões de festa, auditório e outras dependências menores, e com a Comunidade de Fé, sob a invocação, acima aludida, da Imaculada Conceição. Também nos últimos 20 anos, o Terra Santa foi agraciado com a colaboração de parceiros da Administração Municipal, com a colaboração de órgãos Estaduais e Federais, com o apoio de instituições internacionais, de grupos informais de pessoas de dentro e fora do país, bem como de inúmeras manifestações pessoais de apoio. Destaque à preciosa colaboração educacional e religiosa das Irmãs Franciscanas de Siessen, que, em situação semelhante à nossa e a partir de meados de agosto, também encerraram sua presença e atividade no Terra Santa. Tivemos, pois, o privilégio de atuar numa frente de promoção humana com os mais necessitados dos necessitados. Passamos, pois, à frente uma joia. Portanto, ao passá-la, agradecemos a oportunidade que nos foi confiada e desejamos à Diocese e aos benfeitores feliz continuidade neste benemérito conjunto de iniciativas. Frei Elói Dionísio Piva Comunicações Dezembro de 2018

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Evangelização

FAE: Novas faces da evangelização

Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”

É

1 Cor 12,6

sensível o esforço do Papa Francisco em seu pontificado por uma “Igreja em saída”, promotora da paz e difusora de uma “cultura do encontro”, onde distanciamentos sociais, culturais e ideológicos dos mais variados, não raras vezes se constituem em barreiras quase intransponíveis que segregam e excluem. Por isso, a missão na Província, além de ser uma Frente de Evangelização, se constitui um modo de ser Igreja e uma transversalidade que perpassa e une as diversas frentes no mesmo caminho. Nos dias 9 a 11 de novembro, paróquias e educação se uniram na primeira missão realizada pela Pastoral Universitária da FAE em parceria com a Paróquia Imaculada Conceição

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de Curitibanos. O local foi escolhido dada a força da presença franciscana que data de meados de 1894, e um dos grupos jovens mais antigos do Brasil, com atividade ininterrupta há 46 anos, a JUCE (Jovens Unidos em Cristo Encontristas). Em sua primeira edição, a Missão Franciscana FAE contou com a presença dos frades, de leigos da Pastoral Universitária e da Paróquia, 18 universitários e mais de 40 jovens da JUCE. A iniciativa bebeu na fonte da mística franciscana e no espírito de Assis, unindo jovens cristão católicos, evangélicos de diferentes denominações, espíritas, uma budista, uma bahá’í e um jovem sem religião. Um pequeno retrato da diversidade presente no ambiente universitário unido pelo mesmo objetivo: promover a paz e o bem. Gerou certa insegurança, a princípio, reunir tanta diversidade que em sua maioria nunca tinha participado de algum tipo de atividade missionária e se realmente o povo que os acolheria conseguiria entender a

proposta da missão: franciscana mas com traços inter-religiosos. É bastante forte a onda de ódio e intolerância que tem se abatido sobre nós, principalmente nas redes sociais, mas não só. Uma onda irracional que agride os que se julgam diferentes, cada vez mais fechada ao diálogo e atrelada a discursos unilaterais, que alucinam com uma uniformidade incompatível com a vastidão da criação. O nosso grupo de missionários em si mesmo, com toda a sua heterogeneidade, é um testemunho vivo de que a humanidade é capaz de se unir pelo bem comum, sem negar ou combater as diferenças. Ha dias antes da viagem era grande a ansiedade e a preparação dos jovens para a experiência que seria vivida. Os da FAE, preparando reflexões, lembranças para as famílias que os acolheriam, assim como as oficinas que seriam ministradas em diversos locais. Os Jovens da JUCE, no acolhimento dos até então estranhos com religiões distintas, na preparação das famílias e dos momentos oracionais. O ônibus vindo de Curitiba chegou a Curitibanos com um pouco de atraso, mas nem por isso desanimado. Com os rostos pintados, os jovens desceram para serem acolhidos por uma comitiva que os esperava na Praça da Matriz com música e sorrisos. Um acolhimento incrível que gerou uma sinergia imediata. A recepção foi seguida de um cachorro-quente muito bem vindo depois de um trajeto cansativo. Os anfitriões haviam sido advertidos a respeito da timidez dos visitantes. No entanto, as diferenças religiosas e culturais rapidamente deram lugar a um espírito fraterno inesperado, que nos surpreendeu positivamente ao ver todos se esforçando para aprender a cantar as novas canções ou


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mesmo os passos contagiantes que as animavam. A atividade de animação deu lugar a um profundo momento de oração conduzido pela JUCE que sensibilizou para além das diferenças religiosas. Depois da oração, os jovens foram para as diversas famílias que os acolheriam, ainda bastante ansiosos. Na manhã seguinte, no centro comunitário, os jovens da JUCE e da FAE foram misturados e depois divididos em pequenos grupos para visitar as casas da comunidade Santo Antônio, pertencente à Paróquia. Nas casas, os jovens conversaram, partilharam histórias simples do povo, falaram sobre a unidade pela paz e o bem comum e rezaram a partir da sua diversidade. Muitas famílias, que a princípio estranharam a iniciativa, saíram emocionadas e agradecidas por experimentarem a diversidade nem sempre pacífica em suas casas. Após o almoço, os grupos foram redivididos e, aproveitando o caráter acadêmico e social da Pastoral Universitária, ministraram oficinas em quatro locais, atendendo às demandas

específicas apresentadas por cada um deles. Na Escola de Educação Básica Santa Teresinha e no Centro de Educação Santa Teresinha foram ministradas oficinas de produção e gravação de vídeo, fotografia, “contação” de histórias, maquiagem, dobradura de papel, skate e patins. Na casa de acolhimento de idosos, Associação Beneficente Frei Rogério, foram desenvolvidas diversas atividades lúdicas, como bingo, dança e muita partilha de vida entre as gerações. Na Comunidade Fonte de Misericórdia, uma comunidade de vida cujo carisma é o acolhimento de pessoas que sofrem com dependência química ou alcoolismo, foi promovida uma oficina para trabalhar a autoestima dos irmãos que lá estão. No fim da tarde, todos se reuniram novamente para partilhar as experiências vividas desde a chegada. Novamente nossos jovens se emocionaram dividindo experiências pelas quais nunca haviam passado, de modo especial durante visitas às casas com a oportunidade de ouvir tantas histórias de vida e de poder oferecer suas palavras de paz e de bem. Quando o dia poderia estar já terminando devido ao cansaço de todos, na verdade só estava na metade. Ao anoitecer, houve uma rica noite cultural com diversas apresentações de teatro, música e dança, brindando-nos com muito talento e empenho. Já pelas dez da noite, quando terminou a noite cultural, podiamos ver a unidade de pessoas que já não se apresentavam mais como estranhas, mas amigos de longa data. E o tempo nunca é demais quando se está entre amigos. Assim, por iniciativa dos jovens, a noite continuou com jogos de

futebol e vôlei, seguidos de lanches nas famílias acolhedoras madrugada a dentro. Na manhã de domingo nos reunimos com nossos anfitriões para celebrar a Eucaristia na matriz, presidida pelo pároco Frei Roberto Carlos Nunes. Na celebração, novamente foi enfatizada a mensagem que a missão FAE gostaria de deixar: “Somos capazes de olharmos uns para os outros e nos enxergarmos irmãos. Ao nos vermos irmãos as diferenças se tornam pequenas diante do objetivo comum de tornar o mundo um lugar mais fraterno e mais humano”. Como última atividade oficial, nos reunimos em frente ao monumento do sino da paz de Curitibanos. O sino foi doado pela Província de Nagasaki à comunidade nipônica da cidade, junto do qual anualmente se reza pelas vítimas das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. No monumento, rezamos juntos em ação de graças pela missão e por um mundo onde o ódio e a divisão deem lugar à paz. Diversos jovens contribuíram para esse momento de oração a partir do modo próprio de rezar da sua tradição, fazendo memória ao Espírito de Assis. Como bons franciscanos, encerramos a nossa missão com um belo almoço preparado pela comunidade e pudemos perceber em tantos olhos marejados que realmente Deus opera de formas que às vezes não imaginamos. Agradecemos a todos que se doaram para a realização desse trabalho, deixamos um pouco de nós e trouxemos um pouco desse povo acolhedor em nossos corações. Mas Curitibanos já pode ir se preparando! A Caminhada Franciscana está aí e nós iremos voltar. Frei Camilo Donizete Frei Gabriel Vargas Dias Alves Wellington Minoru Kihara Comunicações Dezembro de 2018

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Evangelização

USF realiza o 4º Retiro Universitário

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o sábado, 10 de novembro, um grupo de alunos, colaboradores e professores da USF participou do 4º Retiro Universitário com o tema bíblico: “José do Egito, é preciso acreditar na verdade dos sonhos” (Gn 37 e 50). O Retiro foi na Residência dos Frades em Bragança Paulista. O lugar, muito propício para o recolhimento, ajudou no bom clima do retiro. Às 9 horas, o momento de oração deu a tônica motivacional do retiro. Em seguida, todos receberam o texto bíblico e tiveram uma hora de

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leitura e reflexão individual. Depois, todos se dirigiram ao salão, onde foram orientados no aprofundamento dos capítulos do Gênesis pela professora Patrícia de Moraes. Ela discorreu com muita segurança sobre a localização da narrativa, mostrou José, filho de Jacó na tradição judaico-cristã, fez um resumo histórico do texto, explicou a importância dos sonhos de José e destacou a sua fidelidade ao Deus único e sua fé na providência de Deus. Em seguida, fomos para o almoço no quiosque que estava muito

bem preparado. Retornamos às 14 horas com cânticos e preces. Em seguida, foi distribuído para cada participante o livro da Paulus – “O livro do Gênesis, Origem da vida e da história” -, de Ivo Storniolo e Euclides Balacin. A parte final do livro, sobre a história de José, ocupou a reflexão pessoal e silenciosa. Às 15 horas, houve uma grande e participativa partilha enriquecedora e profunda. Às 16 horas, fizemos a celebração de encerramento. O retiro teve ainda a entrega dos certificados e de um ramo de trigo como símbolo do retiro, a foto oficial e um lanche antes da partida dos participantes. Havia nos rostos e nas falas a alegria por mais um retiro, a certeza de que valeu a pena a reflexão que iluminou muito a vida e os relacionamentos. Foi um valioso aprendizado sobre a simbologia, personagens e inspiração da Palavra de Deus. Tudo fluiu com muita harmonia e seriedade. A participação de todos foi muito expressiva e de muito interesse. Agora é preparar-se para a 5ª edição no primeiro semestre de 2019, com muita surpresa e um tema cativante! Agradecemos a todos os que participaram deste dia de graça e de bênçãos! Núcleo de Pastoral Universitária da USF


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CELEBRAÇÃO PELA PAZ NA USF

Universidade São Francisco (USF), em sintonia com a Família Franciscana e com toda Igreja, celebrou durante o mês de outubro o Espírito de Assis, um momento de encontro, oração e diálogo com líderes religiosos, pedindo pela paz. Nos dias 16 e 17/10, o evento foi realizado no Campus de Campinas e, dia 18, em Itatiba. No dia 30 de outubro, às 19h30, o encontro foi realizado no salão nobre do campus da USF em Bragança Paulista. Diversas lideranças religiosas estiveram presentes.

No dia 27 de outubro de 1986, São João Paulo II convidava responsáveis de diversas experiências religiosas, comunidades eclesiais e líderes de grandes religiões do mundo para se reunirem em Assis, na Itália, para um dia de Oração pela Paz. Este dia foi chamado Espírito de Assis. Aqui na USF, nós mantemos a tradição que existe há 32 anos, na Noite de Oração e Diálogo Inter-Religioso pela Paz no Mundo. O que de melhor as religiões podem fazer pelo mundo é instaurar a Cultura da Paz, através de experiências e práticas

espirituais autênticas. Além disso, é preciso mostrar que podemos dialogar no Espírito Comum e na unidade das diferenças. Há muita comunhão na oração, há unidade no Espírito. Agradecemos a todos que participaram, em reverente silêncio, na prece comum e na respeitosa acolhida às diversas experiências espirituais e religiosas. Agradecemos aos líderes que vieram trazer a sua fecunda mensagem pela presença sagrada, pela paz transmitida e pelos sonhos que despertaram em nós!

celebrando em cambUÍ

celebrando em itatiba

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Evangelização SEFRAS E CONVENTO SÃO FRANCISCO

Ato inter-religioso em prol da paz

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or mais um ano, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), em parceria com o Convento e Santuário São Francisco e o Serviço de Animação Vocacional (SAV), promoveu o ato inter-religioso que faz memória do encontro de São João Paulo II com os diversos líderes religiosos, em Assis, no ano de 1986. Neste encontro, reuniram-se diversos líderes religiosos que afirmaram que todas as matrizes religiosas são responsáveis por difundir e apoiar a cultura de paz e da solidariedade. Este encontro foi tão importante que gerou um movimento chamado “Espírito de Assis”, que o Sefras recorda com uma semana inteira de atividades em seus projetos sociais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na noite de quarta-feira, 31/10, às 18h30, o histórico Santuário São Francisco, localizado no centro de

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São Paulo, foi sede do coroamento das atividades da Semana da Paz, com o ato inter-religioso. Estiveram presentes a Ministra Maria do Rocio de Andrade e Silva, da Igreja Messiânica Mundial do Brasil; Pai João de Ossayn, representando as religiões de Matriz Africana; Sheik Mohamad Bukai, representante da União Islâmica do Brasil; Frei Diego Atalino de Melo, representando a Província Franciscana e os cristãos católicos; Sacerdote Mahesh, sacerdote Brahma Hinduísmo Hare Krishna e Afonso Moreira Júnior, representante do Espiritismo com Allan Kardec.

O momento de encontro pela paz se iniciou com o canto “Pra não dizer que não falei das flores”, entoado por todos os presentes. Após a acolhida, feita pelo pároco e reitor do Santuário, Frei Alvaci Mendes da Luz, o grupo de escaletas do Sefras Peri, projeto social do Sefras com crianças e adolescentes, fez uma intervenção musical emocionando a todos. Na sequência, o coordenador do Sefras, Frei José Francisco de Cássia, apresentou a pessoa de Francisco de Assis como homem da paz e refletiu sobre a importância do diálogo e da solidariedade em tempos difíceis. Cada líder religioso fez um breve discurso falando da paz em sua tradição religiosa. Frei Diego disse que a paz cristã não se conforma com a injustiça e com a indiferença. Após um momento de silêncio em memória dos que foram pela violência e pelas guerras, com rosas brancas nas mãos, cada líder religioso fez uma prece pela paz. O coral da Casa de Clara, o projeto social do Sefras com os idosos de São Paulo, encerrou o momento cantando a Oração de São Francisco. Frei Mário Tagliari, guardião da fraternidade, agradeceu a presença de todos e acolheu os presentes para uma confraternização no salão paroquial.


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SEMANA DA PAZ NO SEFRAS

om o tema “Resistir é Viver!”, o Sefras celebrou neste ano o Espírito de Assis durante a Semana da Paz, recordando o encontro de 1986, quando o Papa João Paulo II reuniu líderes políticos e religiosos de todo o mundo em Assis (Itália). Nos serviços Casa de Clara (Ido-

sos), Recifran (Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem) e Cefran (Centro Franciscano de Luta contra a Aids) foram montadas tendas para a distribuição do material impresso. Já no Centro de Acolhida para Imigrantes, Chá do Padre (Pop Rua), Gente Viva (Petrópolis), Casa Santo Antônio (Tanguá), Centros Infantis São Gabriel e Santa

Clara (Duque de Caxias) e Jardim Peri (São Paulo) foram realizadas diversas atividades culturais com os participantes, familiares e comunidade local. Dentre elas, apresentações de dança, balé, rodas de conversa e caminhadas pelas ruas da região. Equipe de Comunicação do Sefras

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CFMB

CUSTÓDIA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ELEGE NOVO GOVERNO

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eunidos em Capítulo Custodial Eletivo, de 5 a 9 de novembro, em Brodowski (SP), a Custódia do Sagrado Coração de Jesus elegeu na quarta-feira (7), o novo Governo Custodial para o triênio 2018-2020. Frei Ivo Müller, frade desta Província, presidiu a assembleia capitular como Visitador Geral desde outubro de 2017. Frei Ivo conduziu a sessão de votação conforme o regimento interno do Capítulo Custodial, que rege o modo de votar e apurar os votos. Com maioria absoluta, Frei Fernando Aparecido dos Santos foi eleito o novo Custódio. Após a tomada de posse, que foi realizada imediatamente na capela da Casa de Retiro Dom Luís, os frades capitulares retornaram para a sessão de votação para eleger o Vigário Custodial e os Conselheiros Custodiais que irão compor o Conselho da Custódia no próximo triênio. Com os escrutínios, Frei Ezimar

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CFMB Alves Pereira foi eleito Vigário Custodial. Frei Bruno Alexandre Scapolan, Frei Roberto Luiz dos Santos, Frei Israel Cardoso e Frei Valdemir Nelo Rufino (Miro) foram eleitos Conselheiros Custodiais. Assim como o Custódio, as posses foram imediatas e conjuntas dos novos eleitos, diante do Senhor e do presidente do Capítulo. Frei Fernando Aparecido dos Santos nasceu em 9 de janeiro de 1971, em Ituverava (SP). Vestiu o hábito de São Francisco na Ordem dos Frades Menores no dia 13 de janeiro de 1992. Fez a profissão temporária no dia 2 de fevereiro de 1993 e a profissão solene em 11 de dezembro de 1997. Foi ordenado presbítero em 2 de fevereiro de 2001 e atualmente reside na Fraternidade de Araguari (MG).

Histórico:

A pedido do bispo D. Antônio Augusto de Assis, a Província de São

Pedro Apóstolo de Nápoles aceitou enviar missionários para a Diocese de Jaboticabal, no interior de São Paulo. No dia 2 de abril de 1947, partiam do Porto de Nápoles, na Itália, dez frades missionários, que foram recebidos na paróquia do Bom Jesus de Guaraci (SP). A segunda foi a de São João Batista, de Olímpia e, sem seguida, a de Nossa Senhora da Abadia, de Cajobi. Os frades missionários abriram um seminário em Bastos no início dos anos 50 e, em seguida, iniciaram a construção do Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Mirassol. Deste trabalho

de formação, saiu o primeiro religioso brasileiro da Custódia: Frei Francisco de Medeiros. Atualmente, a Custódia está presente em 11 cidades e dois Estados, já que ficou enriquecida com a união dos confrades da Fundação Nossa Senhora de Fátima, cujo território abrangia o Triângulo Mineiro e o Alto do Paranaíba. Por decreto do Definitório Geral da Ordem dos Frades Menores e depois de transcorrido um processo de aproximação, houve a adesão dos franciscanos daquela Fundação a esta Custódia. Isto significa que eles passaram a integrar a Custódia Franciscana do Sagrado Coração de Jesus a partir do dia 30 de janeiro de 2015. A Custódia, por sua vez, ficou enriquecida com os irmãos e tornou-se responsável pela evangelização num amplo território que abrange o Nordeste e Centro-Oeste do Estado de São Paulo, o Triângulo Mineiro e o Alto do Paranaíba.

CAPÍTULO PROVINCIAL 2018 Em breve a edição histórica das Comunicações! 873 Comunicações Dezembro de 2018


CFFB Capítulo Provincial 2018

Província do Santíssimo Nome tem novo governo No último dia 16 de outubro, no Seminário Regina Minorum, em Anápolis (GO), os cinquenta frades que compõem a Província do Santíssimo Nome de Jesus, elegeram o novo governo durante o Capítulo Provincial, que teve início no dia 15 de outubro e terminou no dia 19. O Capítulo Provincial durou uma semana. Os capitulares realizaram uma avaliação da caminhada durante os últimos seis anos, na missão em paróquias, escola, rádios, projetos sociais e formação. A Província, que neste ano celebra 75 anos de evangelização, escolheu como tema: “75 anos evangelizando como Irmãos Menores” e como lema: “O Senhor me deu irmãos”. Frei Vicente Ronaldo, da Província de Santa Cruz/MG, presidiu o Capítulo como delegado pelo Ministro Geral Frei Michael Perry. Para o triênio (2018-2021) foi eleito o seguinte Governo: Ministro Provincial

Da esquerda para direita: Frei Carlos e Frei Benedito, Definidores; Frei Wanderley, vigário provincial; Frei Marco Aurélio, reeleito ministro provincial; Frei Ronaldo e Frei Jair, Definidores

- Frei Marco Aurélio da Cruz; Vigário Provincial - Frei Wanderley Carvalho do Couto; e Definidores - Frei Carlos Antô-

nio da Silva, Frei Jair Ferreira da Cruz, Frei Benedito Lemes Sobrinho Júnior e Frei Ronaldo Alves da Silva.

TOR: NOVO CONSELHO PROVINCIAL O VII Capítulo Eletivo da Vice-Província Nossa Senhora Aparecida do Brasil da Terceira Ordem Regular de São Fran-

Frei Agostinho Odorizzi, Frei José Maria Botelho, Frei Manoel José Farias Lopes, Frei Jair Roberto Pasquali e Frei José Faustino Fernandes

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cisco (TOR) foi realizado entre os dias 22 e 25 de outubro na Fraternidade Nossa Senhora de Fátima, em Mogi Mirim (SP). Na ocasião, foi eleito o novo Conselho Provincial, que conduzirá os trabalhos nos próximos quatro anos. Compõem o Conselho: Frei Agostinho Odorizzi – Ministro Provincial; Frei José Maria Botelho – Vigário Provincial; e Frei Jair Pasquali, Frei Manuel José Farias Lopes e Frei José Faustino Fernandes, conselheiros. Frei Agostinho Odorizzi nasceu em Ribeirão Rigo, município de Dr. Pedrinho (SC), no dia 7 de outubro de 1965. Iniciou sua formação no Seminário Menor em Mogi Mirim (SP), seguido do noviciado em Santa Maria (SC).

Graduou-se em Filosofia na PUC (SP); em Pedagogia em Mogi Mirim (SP) e em Teologia no Instituto Pio IX (SP). Foi ordenado sacerdote em 21 de janeiro de 1995, em Santa Maria (SC). Foi missionário em uma paróquia no Mato Grosso, na diocese de Cáceres. Trabalhou em seguida no Santuário Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Sumaré, em São Paulo (SP). Atualmente era pároco da Paróquia São Jorge, na Arquidiocese de Manaus (AM). A Vice-Província Nossa Senhora Aparecida do Brasil está presente em sete cidades: Manaus (AM); Nova Olinda do Norte (AM); Poconé (MT); Mogi Mirim (SP); São Paulo (SP); Benedito Novo (SC) e Albi – França.


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UCLAF CELEBRA 50 ANOS

e 28 de outubro a 2 de novembro, os frades da UCLAF (União de Conferências Latino-Americanas Franciscanas) se reuniram em Buenos Aires, Argentina, para celebrar sua XXV Assembleia com o tema: “50 anos da UCLAF: Memória e profecia”. As Conferências do Cone Sul, Bolivariana, Brasileira e Guadalupana, que compõem a UCLAF, foram representadas por 18 ministros provinciais, 3 custódios e 1 vigário provincial. A reflexão foi acompanhada pelos frades que ajudaram a fazer memória dos 50 anos de caminho e a fazer uma leitura profética do presente: Frei Francisco Javier Mac-Mahón, que participou da primeira assembleia em 1968; Frei Guido Zegarra Ponce, que apresentou um trabalho com uma breve história da UCLAF; Frei Edgar Santos, que fez uma apresentação sobre “A identidade do carisma desde a memória profética de Medellín” e Frei Jaime Campos Fonseca, que fez um apelo ao envolvimento com os temas acompanhados pelo Secretariado de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). Foram dias nos quais foi celebrada a colaboração desde a América Latina e Caribe à Ordem e à Igreja e pode-se sonhar com respostas repletas

de audácia no presente. A presença agradecida e próxima de Frei Michael Perry, Ministro Geral; Frei Julio Bunader, Vigário Geral; Frei Ignacio Ceja Jiménez, Definidor Geral e Frei Valmir Ramos, Definidor Geral; animou o trabalho e contribuiu para um horizonte a partir da Ordem. Neste marco de celebração, memória profética e abertura ao futuro foram trabalhados diversos temas, entre os quais podemos destacar o Projeto Amazonas, a formação de missionários, situações em contextos difíceis como o da Venezuela e América Central, a situação dos vicariatos apostólicos, a situação da Conferência do Cone Sul e a experiência do Conselho Plenário da Ordem, realizado neste ano. Em sua homilia, o Vigário Geral

destacou que a UCLAF nasceu num período importante da Igreja, na implementação das orientações do Concílio Vaticano II, “com o desejo de assumir a novidade do Concílio e do Evangelho de Jesus Cristo com um rosto franciscano, atentos ao contexto social, cultural e político”, ressaltou Frei Julio. “Hoje, depois de 50 anos da UCLAF, reconhecemos os erros por nossas hipocrisias, o peso que muitas vezes nos curva e produz cansaço, também agradecemos pelas inumeráveis visitas e presenças de Deus Pai, de Jesus ressuscitado e do Espírito Santo”, recordou o argentino. Os trabalhos da UCLAF, que teve como presidente Frei Juan Medina (Província do Santo Evangelho, México), terminaram com uma mensagem final dos participantes na qual sinalizaram os acordos assumidos. Com o desafio ao movimento, à saída, ao profético, ao retorno ao primeiro amor, o olhar agradecido pelos 50 anos de história e com a confiança de que o Senhor nos chama a caminhar junto ao povo, a UCLAF se abre a uma nova etapa em sua história. Comunicações Dezembro de 2018

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Resgate da história para tempos sombrios

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jornalista e escritor Frei Clarêncio Neotti lança o 3º volume de suas Notas Autobiográficas “Ribeirão Grande: vi, vivi, vivenciei”. Neste volume de 518 páginas, Frei Clarêncio explica que três palavras sintetizam todo o trabalho: evangelização, comunicação e ambiente familiar. Três campos, que, segundo o frade, se interpenetram e se completam. Frei Clarêncio retrata os anos de 1983 a 1989, quando viajou toda a América Latina, menos Guatemala e Honduras, para implantar a União Católica Latino-americana de Imprensa (UCLAP), organismo em que presidiu por três triênios. Frei Clarêncio lembra que desde 1974 até 1987 foi presidente da Unesco o senegalês Amadou -Mahtar M’Bow, que desencadeou em âmbito internacional a discussão em torno da necessidade de uma nova ordem mundial da informação e da comunicação. O grupo coordenado pelo irlandês Seán McBride chegou a publicar em grosso volume as conclusões. O Papa e, por conseguinte, todas as Organizações Católicas Internacionais, apoiaram as conclusões. “De fato, a maioria absoluta das criaturas humanas está excluída da

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verdadeira informação. As agências de notícias são manobradas pelos grupos de poder. A discussão entrou universidades adentro. Inúmeros fóruns mundiais aconteceram. Causa perdida. Os grupos de poder tinham o dinheiro, faziam e desfaziam os chamados governos democráticos e desfizeram também a Unesco, cortando as verbas de manutenção”, recorda Frei Clarêncio. Hoje, o cenário é de muita informação nas mídias sociais mas também persiste a falta da “verdadeira informação”. O tempo passou, a tecnologia avançou, mas a manipulação tem outro nome: “fake news”. Frei Clarêncio continua: “Por isso, o pequeno grupo dono do poder no mundo (poder financeiro e poder de persuasão, poder político e poder social) continua a dominar a sociedade, realçando o que lhe interessa e estiolando o que lhe perturba. Hoje, eu e todos os nascidos de mulher, somos homens livres enquanto nos adaptamos aos seus interesses. A igreja é boa enquanto não os contradisser. Nesses anos o bispo ou padre que tivesse uma palavra pastoral de conscientização das massas amortecidas por eles era chamado de ‘comunista’ ou ‘vermelho’. O Estadão, o Globo, a Veja aplicaram sem nenhum respeito esses adjetivos inúmeras vezes a Dom Paulo Evaristo, a Dom Hélder Câmara, a Dom Ivo Lors-

cheiter, a Dom José Maria Pires, a Dom Pedro Casaldáliga, para só lembrar alguns, e até mesmo a toda a CNBB. Vivi esse tempo. Vivenciei esse tempo. As alegrias e as tristezas, as angústias e esperanças desses anos foram também minhas. Não tenho pudor de contá-las. Nesse tempo inúmeras vezes me lembrei da frase de Teilhard de Chardin: ‘Só vejo uma saída: ir sempre em frente’”. Nesses tempos um grande momento pessoal foi a celebração dos 25 anos de sacerdote. “Nunca em minha oração pedi a Deus inteligência ou ciência; mas diariamente pedi o bom senso, desde quando percebi que é o fundamento de todas as virtudes. Não me lembro de ter confessado alguma vez o pecado da preguiça. Mas muitas vezes confessei o pecado da falta de bom senso”, revela Frei Clarêncio. Nesse tempo, uma frase de Santo Agostinho, colocada na agenda de 1986, serviu de norte para sua vida. “Apaixonar-se por Deus é o maior dos romances; procurá-lo, a maior aventura; encontrá-lo, a maior de todas as realizações”. Segundo ele, a primeira parte era realidade, a última tinha apenas indícios, suficientes para fazê-lo feliz e a parte do meio vivia intensamente. No campo da comunicação católica, Frei Clarêncio é um dos pioneiros. Foi professor de Comunicação e Teologia Pastoral em Petrópolis (19701986), um dos fundadores da União Cristã Brasileira de Comunicação Social, foi presidente por três períodos consecutivos da União Católica Latino -americana de Imprensa e vice-presidente da União Católica Internacional de Imprensa, da qual hoje é membro de honra. Foi também fundador da União dos Editores Franciscanos e fundou junto à Cúria Geral em Roma, o Departamento de Comunicação e Informação da Ordem. Moacir Beggo


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Mosé, aposta da Vozes, lança “Nietzsche hoje”

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poetisa, filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas, Viviane Mosé, chega à Editora Vozes para marcar época com seu filósofo preferido: Nietzsche. “Falar sobre Nietzsche para mim é como falar sobre um amigo”, confessa a escritora, que lança pelo selo Nobilis da Editora “Nietzsche hoje - Sobre os desafios da vida contemporânea” e também republica “Nietzsche e a grande política da linguagem”, a sua tese de doutorado lançada anteriormente pela editora Civilização Brasileira. Capixaba, onde nasceu em 16 de janeiro de 1964, Viviane apresenta de modo simples, mas com rigor, os pontos-chave do pensamento nietzscheano, fazendo com que o livro possa ser lido de diversas maneiras, sempre de forma prazerosa ao mesmo tempo que inquietante. O mais importante da filosofia de Nietzsche, traduzida e exercida por Viviane Mosé, é a possibilidade de aproximar os opostos, a razão e a emoção, a natureza e a cultura, a dor e a alegria. Mais do que isso, ela nos faz, guiada por Nietzsche, uma pergunta essencial nos tempos em que vivemos: Por que os opostos? Mosé escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro “Ser ou não Ser”, no “Fantástico”, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana, e também participou como comentarista do programa “Liberdade de Expressão”, na Rádio CBN, com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo. É uma das filósofas mais requisitadas pelas corporações. Discursa sobre a busca pela felicidade, sobre a vida, a morte... “Nietzsche hoje” é, acima de tudo, uma ode à vida. Nas palavras de Viviane, “viver é o grande desafio, mas é preciso que o fascínio da vida possa nos seduzir, nos embriagar, nos fortalecer

para que sejamos capazes de empreender as grandes jornadas em direção a nós mesmos e ao mundo. A arte é um antídoto para o sofrimento. Somente a arte nos torna capazes de afirmar a vida com todas as contradições e desconhecimentos”. “Estudá-lo me ajudou a resolver diversas questões internas que me afetavam, por isso eu procuro sempre fazer com que a obra dele possa ajudar outras pessoas como vocês”, comentou durante a 18ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, em maio deste ano.

Nietzsche e a grande política da linguagem

A questão da racionalidade como um modelo excludente para o pensamento é o ponto central do trabalho de Viviane Mosé. Desde 1986, quando concluiu sua monografia de graduação, até a concepção da sua tese de doutorado, em 2004, que deu origem a este livro, o pensamento de Nietzsche tem sido a base para o estudo da autora. Viviane destaca a importância da linguagem nos processos de cristalização dos valores morais, e aponta a necessidade de uma crítica radical da linguagem, com o intuito de permitir o que o filósofo chama de “transvaloração dos valores”.

Transvalorar pode ser pensado, em princípio, como tornar móvel, maleável, fluido. No entanto, ao contrário de maleáveis, as avaliações e os juízos que o homem produziu, tanto na Modernidade quanto na Antiguidade Clássica, são cristalizações, fixações sustentadas pela crença na identidade, na essência, no ser. Quando Nietzsche afirma a necessidade de uma transvaloração dos valores, refere-se à possibilidade de desconstrução desta estrutura. Repensar a linguagem, avaliar a relação que a cultura estabeleceu com os códigos de comunicação, bem como as leis e os princípios que determinou para os enunciados, é uma das condições para o que Nietzsche, segundo Viviane Mosé, chama de uma nova grande política. Nietzsche é um filósofo que critica a história da filosofia. Nasceu no século XIX, que foi marcado por um pensamento de que no futuro as coisas serão diferentes. Os pensamentos e a ciência eram vistos como veículos de transformação social. Ele estuda os gregos présocráticos (anteriores a Sócrates, ou seja, anteriores ao nosso modo de pensar). Nietzsche era atraído pela ideia de transformação dos pré-socráticos. Moacir Beggo Comunicações Dezembro de 2018

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Notícias e Informações

PROVÍNCIA LANÇA NOVO PORTAL

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ossa Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil tem a alegria de apresentar seu novo site. Trata-se de um canal de comunicação planejado com muito carinho para oferecer praticidade e facilidade na navegação, adequando-se a diferentes plataformas. O projeto mais uma vez foi desenvolvido em parceria com a Agência Minha Paróquia com o objetivo de atualizá-lo ao que há de mais moderno em tec-

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nologia e apresentação de conteúdo. A organização da Província em suas cinco frentes de Evangelização (Comunicação, Educação, Missão, Paróquias e Santuários e Solidariedade com os empobrecidos) também está contemplada nesta nova apresentação. Acompanhando as tendências da linguagem multimídia, o novo site também privilegia o conteúdo audiovisual sem perder, no entanto, a relevância e a profundidade dos textos que oferece. E é 100%

responsivo, adaptável a celulares e tablets. Conscientes de que, mais do que um instrumento, a rede se destaca como verdadeiro ambiente, nosso desejo é que você se sinta realmente em casa ao navegar em nosso site. Tudo foi preparado pensando em você e nosso desejo é tê-lo como parceiro na busca de levar Paz e Bem a todos. Frei Gustavo Medella e equipe



Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (*) As alterações e acréscimos estão destacados

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DEZEMBRO 01 01 03 03 03 03 03 03 e 04 03 e 04 06 08 10 a 13 10 a 13 17 17 e 18

Celebração dos Jubileus (Convento São Francisco) Encontro do Regional Baixada e Serra Fluminense (local a ser definido); Encontro Regional de São Paulo e Jubileus da Fraternidade (Bragança Paulista) Encontro do Regional de São Paulo (Bragança Paulista); Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense – recreativo (Niterói); Encontro do Regional de Curitiba (Caiobá); Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Blumenau); Encontro Regional de Pato Branco e Contestado (local a definir); Encontro recreativo do Regional Alto Vale do Itajaí e Planalto Catarinense (Vila Itoupava); Renovação dos votos dos frades do tempo da Teologia (Sagrado) Renovação dos votos dos frades do tempo da Filosofia (Rondinha) Congresso Capitular (São Paulo) Congresso Capitular – 2ª etapa (São Paulo) Celebração de entrega da Paróquia Sagrado Coração de Jesus à Diocese (Forquilhinha) Encontro do Regional do Leste Catarinense e, no dia 17, celebração de entrega da Paróquia à Diocese (Forquilhinha)

JANEIRO 10 11 a 13 20 30

Profissão dos Noviços (Rodeio) Caminhada Franciscana da Juventude (Curitibanos) Admissão dos Noviços (Rodeio) Admissão dos Postulantes (Guaratinguetá)

FEVEREIRO 09 19 a 21

Ordenação Presbiteral Frei Leandro Costa (São Paulo) Definitório Provincial (São Paulo)

MARÇO 17 30

Romaria Penitencial Frei Bruno (Joaçaba) Ordenação presbiteral de Frei Roberto Aparecido Pereira (Lençóis Paulista)

ABRIL 21 a 29

Festa da Penha (Vila Velha)

MAIO 7 e 8 9 e 10 11 13 a 25 27 a 31

Encontro de Guardiães (Agudos) Definitório Provincial (Agudos) Ordenação presbiteral de Frei Marx Rodrigues dos Reis (Nilópolis) Visita Canônica à FIMDA (Angola) Assembleia da FIMDA

JULHO 17 a 21

2019

Missões Franciscanas da Juventude (Rio de Janeiro)

8º Centenário do Encontro de Francisco de Assis com o sultão Al-Malik al-Kamil em Damieta


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