MAIO DE 2020 ANO LXVIII • N o 04
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL
EM TEMPOS DE PANDEMIA
//sumário PALAVRA DO MINISTRO PROVINCIAL “É preciso se reinventar! ”, Frei César Külkamp e Frei Gustavo Medella................................................................................. 243
MENSAGENS Mensagem do Ministro Geral a todos os irmãos da Ordem sobre o coronavírus........................................ 245 Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais........................................................................ 246
ESPECIAL
SEFRAS AMPLIA ATENDIMENTO À POPULAÇÃO DE RUA EM SÃO PAULO
A COMOVENTE ORAÇÃO DE FRANCISCO PELO FIM DA PANDEMIA
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Qual a sua resposta diante de um inimigo mortal?, artigo de Frei Conrado Lindmeier......................................................... 249 “Dar sentido à vida”, artigo de Frei Genildo Provin..................... 251 A comovente oração de Francisco pelo fim da pandemia.................................................................................. 252 Entrevista Frei Valmir Ramos: “A pandemia ensina que as pessoas são mais importantes que as coisas”................ 258 Desafios da Evangelização diante da nova realidade............... 260 Convento Santo Antônio nesse tempo de pandemia............. 271 Encontros bíblicos ao vivo pelo Facebook...................................... 272 PVF: A missão não pode parar................................................................. 273 Antonianum: uma “província” em quarentena.............................. 274 A rotina na Fraternidade de Bragança Paulista............................. 275 “Contra a força da morte”, depoimento de Frei Mário Tagliari...................................................................................... 276 “Diagnóstico, tratamento e cura”, depoimento de Frei Alexandre Rohling.......................................................................... 276 450ª Festa da Penha...................................................................................... 278 Sefras amplia atendimento à população de rua em São Paulo..................................................................................... 286 Notícias de Angola: pandemia avança lentamente.................. 294 Disciplina e estudo em casa: o desafio do isolamento na educação..................................................................... 296 Entrevista Moema Miranda....................................................................... 299 A pandemia também mexe na rotina das Casas de Formação........................................................................................ 302
DEFINITÓRIO PROVINCIAL
Notícias da reunião do dia 30 de abril............................................... 306
FRATERNIDADES PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL Rua Borges Lagoa, 1209 CEP 04038-033 | São Paulo - SP www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br
Encontro do Regional Leste Vale Catarinense............................. 310 Frades dos Regionais do Contestado e Sudoeste do Paraná se reúnem em Piratuba................................ 311 Encontro do Regional de Curitiba........................................................ 312 Primeiro Encontro do Regional de São Paulo................................ 313 Agradecimento e homenagem a Frei Fidélio................................ 313 Artigo: Maria nos Evangelhos - Da depreciação à exaltação”, de Frei Luiz Iakovacz......................................................... 314
AGENDA................................................................................................ 315
Caros confrades e demais leitores das “Comunicações” de nossa Província, o Senhor Vivo e Ressuscitado lhes dê a Paz! stamos neste tempo central da vida da Igreja e de sua missão no mundo, ou seja a renovação da fé, em cada um de nós, de que o Cristo está vivo e caminha conosco! Neste ano vivemos esta alegre notícia de uma forma bastante diferente: dentro de nossas casas e com nossas igrejas e instituições de portas fechadas. O clima em toda a parte é de medo e de insegurança diante da pandemia do novo Coronavírus que, já há alguns meses, permanece em devastador crescimento. Os números não são apenas estatísticas frias, mas têm o rosto das vidas precocemente ceifadas de centenas de milhares de irmãos e irmãs em todo o mundo. E outras tantas pessoas, na casa de milhões, permanecem em tratamento nos hospitais ou em isolamento social. Assistimos com tristeza o grande número de pessoas que nem tem onde se isolar, porque nem sequer possuem um lar, quanto mais as condições de cuidado, prevenção e atendimento às necessidades mais básicas. Além de toda esta tragédia, outros tantos vivem o desespero pela falta de trabalho ou insegurança no seu ganha-pão. Acrescentamos aqui a vulnerabilidade de condições para os trabalhadores que estão na linha de frente, os profissionais de saúde ou de outros setores essenciais. Nossa Fraternidade Provincial não ficou imune a tudo isso. Além dos oito confrades, diversos voluntários, paroquianos, assistidos de nossos serviços
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sociais e pessoas ligadas às nossas instituições que passaram pela enfermidade, todos sentimos os efeitos da vida em quarentena ou das consequências econômicas que seguem difíceis. No meio do que parecia ser caos, ainda durante a Quaresma, o Papa Francisco nos deixou um testemunho muito significativo para a nossa vida humana e espiritual de cristão ou não: foi a bênção Urbi et Orbi, que ele pediu a todos nós da parte de Deus, no fim de tarde chuvoso do dia 27 de março, diante da Praça totalmente vazia de São Pedro, em Roma. À primeira vista, era uma cena triste, diante da calamidade. Mas, o mundo inteiro parecia estar ali e o Papa Francisco não ficou sozinho. Milhões de pessoas puderam sentir muito de perto o seu gesto de amor e de solidariedade. O Evangelho proclamado na ocasião foi
o da tempestade acalmada (Mc 4: 35-41). Francisco levou coragem a todas as pessoas pedindo confiança em Deus, que está no barco da nossa vida e não nos deixará naufragar. A tempestade vai passar porque o Senhor Ressuscitado continua conosco! No Domingo de Ramos, novamente o Papa enviou uma mensagem de esperança e encorajamento ao mundo. Animou a todos, pelo testemunho do Cristo em sua Paixão, a servirem até a entrega
palavra do ministro provincial
É preciso se reinventar!
//palavra do ministro provincial da própria vida! “Não nos percamos em coisas de pouca importância; a vida é medida pelo amor. Diante do Crucificado, medida do amor de Deus por nós, peçamos a graça de viver para servir. Não pensemos apenas naquilo que nos falta, pensemos no bem que podemos fazer. Não tenham medo de gastar a vida por Deus e pelos outros”. Estas foram algumas de suas palavras. Graças ao bom Deus, estamos assistindo, neste tempo, gestos muito bonitos e generosos de atenção por aqueles que sofrem, estão sozinhos ou necessitados. Em nossas fraternidades, comunidades, serviços, famílias, de muitas formas a solidariedade foi manifestada! Parte delas estão aqui registradas. Também foi bonito perceber a vontade de criar proximidade entre nós e com aqueles a quem servimos, mesmo mantendo
o necessário e prudente distanciamento. Procuramos entender e fomos nos acostumando com alguns equipamentos, linguagens, programas e outros meios de difusão da nossa mensagem e do nosso espírito de fraternidade. Certamente, muito de tudo isso deve continuar e fazer parte de nossa vida e de nosso anúncio evangelizador. Foi preciso se reinventar! Um destaque desta edição é a Festa da Penha, que neste ano chegou à marca de 450 anos de celebração da fé e da esperança do nosso povo na Mãe de Deus. Não poderíamos imaginar este jubileu celebrado também desta forma tão diferente, sem as multidões das tradicionais Romarias dos Homens e das Mulheres, ou nas missas e outros momentos fortes de oração no Campinho e no Convento. Também aqui foi preciso lançar mão da criatividade e da tecnologia para que o povo, especialmente o capixaba, pudesse manifestar seu amor e devoção à Senhora
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das Alegrias. A Mãe amorosa acolhe como filhos e filhas todos os que vão ao seu encontro naquela montanha sagrada! Desta vez, pelos diversos meios de comunicação, foi ela quem desceu para chegar a cada coração, especialmente os mais sofridos e angustiados, como uma fonte generosa e inesgotável de graça, derramada por Deus. O lema desta festa jubilar foi a exclamação de alegria que Maria faz em seu Magnificat: “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada!”. Este canto profético traz o carinho e a devoção pela Virgem que marcaram e marcam todos aqueles que a celebraram nestes 450 anos de tradição, unindo num só coro tantos séculos de devoção a Maria e a perseverança do povo e dos frades que atuaram e atuam no Convento, cultivando esta devoção que atravessa muitas gerações. Por isso, afirmo que é grande motivo de alegria e um privilégio para nós, os Frades Menores, fazer parte desta história de comunhão espiritual e de vida cristã com os devotos de Nossa Senhora da Penha. Uma demonstração de fé e devoção que dura quatro séculos e meio nos revela que a Festa da Penha é a Festa da Perseverança. Perseverança de Maria e perseverança nossa, acreditando, juntos, que esta pandemia vai passar e que, depois dela, por nossos gestos de criatividade, mas sobretudo por nosso esforço de proximidade e de solidariedade, seremos humanos melhores, numa sociedade mais justa e mais fraterna. Um grande aprendizado deste tempo de pandemia é que realmente dependemos uns dos outros. Cuidemos, portanto, da nossa saúde e daqueles que nos são mais queridos! Mas, cuidemos também para não sermos contaminados pelo medo que paralisa ou pelo individualismo que mata! Vençamos desta forma a divisão, a exclusão, o descaso e a agressão ofensiva, doenças que ferem a vida! Sejamos promotores da solidariedade, da unidade e do amor fraterno entre todas as pessoas, cuidando, também, dos mais queridos por Deus, os pobres! E ainda neste Tempo Pascal, de espera pelo Espírito de todos os dons, acolhamos a notícia boa e alegre da vitória da Vida sobre a morte! Pela intercessão de Maria, Padroeira da Ordem e de nossa Província, Deus de amor e de bondade abençoe e proteja a cada um de nós! Fraterno abraço! Paz e Bem!
Frei César Külkamp
Frei Gustavo Medella
Ministro Provincial
Vigário Provincial
mensagem//
Mensagem do Ministro Geral a todos os irmãos da Ordem sobre o coronavírus O Senhor vos dê a paz! os últimos três meses, desde a descoberta do novo Coronavírus, testemunhamos sua proliferação progressiva de uma região específica da China a mais de 115 países. Praticamente toda a comunidade humana está envolvida em uma grande batalha para tentar conter sua disseminação, cuidar dos infectados e chorar pelos entes queridos que morreram (252.346 em 5/5). O impacto econômico nas nações, famílias, indivíduos e, especialmente, sobre os pobres será, sem dúvida, catastrófico. Nas primeiras etapas dessa pandemia podemos nos sentir protegidos, imunes, distantes e até um pouco despreocupados com o vírus e seu impacto. No entanto, o vírus continua sua implacável propagação, nos encontramos no epicentro de uma crise. Todavia ainda existem muitos aspectos científicos do vírus que não são totalmente compreendidos. Não respeita fronteiras ou limites: físico, sociais, psicológicos, religiosos ou culturais. Sua capacidade estratégica de saltar de um indivíduo para outro o torna particularmente agressivo. As respostas elaboradas e aplicadas pelos governos para impedir sua proliferação exigem de nós sacrifícios que restringem o exercício de nossas liberdades pessoais, como nunca experimentamos antes. E, no entanto, essas medidas são necessárias para impedir a disseminação do vírus. Oramos especialmente por aqueles que estão na linha de frente como pessoal médico, por aqueles que
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estão envolvidos em pesquisas para encontrar uma vacina e por governos que lutam para encontrar respostas eficazes para garantir a segurança e o bem-estar de seus povos. Minha intenção ao lhes escrever neste momento crucial é tentar ajudar a dissipar seus medos e ansiedade. Para aqueles que vivem em países que foram desproporcionalmente afetados até o momento, quero encorajá-los a que permaneçam forte na fé. Para
aqueles que vivem em países que experimentam menos infecções, permaneçam vigilantes o tempo todo. Durante o período litúrgico especial da Quaresma, os cristãos são convidados a acompanhar Jesus, lembrando as grandes lutas e crises que ele enfrentou, lembrando também sua morte na cruz como sacrifício de puro amor. Mas nem o sofrimento nem a morte tiveram a última palavra em sua vida, nem deveriam tê-las em nossas vidas. A esperança que oferece o evento da ressurreição e os atos diários de justiça, misericórdia e amor deveriam nos inspirar a olhar além de todo medo, de toda ansiedade, e perceber a presença de Jesus que continua dirigindo-nos as
mesmas palavras que disse a seus amigos e discípulos amados: “Não tenham medo! Eu estou com vocês até o fim dos tempos”. No meio desta pandemia, não percamos de vista o inumerável grupo de pessoas em todo o mundo que estão passando por outras crises. Nossos corações estão com os povos da Síria, República Democrática do Congo, Venezuela, Mindanau, Repúblicas do Sudão e Sudão do Sul, Palestina, Líbano e com irmãos e irmãs vivendo em outras partes do mundo onde a dignidade humana, os direitos fundamentais e a sobrevivência física básica estão sempre ameaçadas. Aproveitemos esta circunstância para superar todas as divisões e medos e busquemos caminhos que conduzam a um diálogo autêntico, à cooperação e à promoção do bem-estar de toda a humanidade, especialmente dos pobres e excluídos. Vamos também aprofundar nosso compromisso de amar e cuidar do ambiente natural, nosso lar comum. Que o Senhor abençoe a cada um de vocês, meus queridos irmãos. Permitamos que a força de nossas convicções, nosso compromisso com o modo de vida evangélico inspirado por São Francisco de Assis, nos permita ser fiéis testemunhas do poder do amor e da esperança que nossa fé oferece em todas as áreas da vida. Fraternalmente em Cristo e Francisco, Roma, 12 de março de 2020
Fr. Michael A. Perry, OFM Ministro Geral e Servo COMUNICAÇÕES
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Mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais No dia 24 de janeiro, memória de São Francisco de Sales, foi divulgada a mensagem do Papa Francisco para o 54° Dia Mundial das Comunicações Sociais intitulada «“Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história». O Dia Mundial das Comunicações Sociais será celebrado em 24 de maio próximo.
A vida faz-se história esejo dedicar a Mensagem deste ano ao tema da narração, pois, para não nos perdermos, penso que precisamos respirar a verdade das histórias boas: histórias que edifiquem, e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos. Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade de uma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros.
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1. Tecer histórias
O homem é um ente narrador. Desde pequenos, temos fome de histórias, como a temos de alimento. Sejam elas em forma de fábula, romance, filme, canção, ou simples notícia, influenciam a nossa vida, mesmo sem termos cons-
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ciência disso. Muitas vezes, decidimos aquilo que é justo ou errado com base nos personagens e histórias assimiladas. As narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem ajudar-nos a compreender e dizer quem somos. O homem não só é o único ser que precisa de vestuário para cobrir a própria vulnerabilidade (cf. Gn 3, 21), mas também o único que tem necessidade de narrar-se a si mesmo, «revestir-se» de histórias para guardar a própria vida. Não tecemos apenas roupa, mas também histórias: de fato, servimo-nos da capacidade humana de «tecer» quer para os tecidos, quer para os textos. As histórias de todos os tempos têm um «tear» comum: a estrutura prevê «heróis» – mesmo do dia a dia – que, para encalçar um sonho, enfrentam situações difíceis, combatem o mal movidos por uma força que os torna corajosos, a força do amor. Mergulhando dentro das histórias, podemos voltar a encontrar razões heroicas para enfrentar
os desafios da vida. O homem é um ente narrador, porque em devir: descobre-se e enriquece-se com as tramas dos seus dias. Mas, desde o início, a nossa narração está ameaçada: na história, serpeja o mal.
2. Nem todas as histórias são boas
«Se comeres, tornar-te-ás como Deus» (cf. Gn 3, 4): esta tentação da serpente introduz, na trama da história, um nó difícil de desfazer. «Se possuíres…, tornar-te-ás…, conseguirás…»: sussurra ainda hoje a quem se fia do chamado «mentiroso» (cf. Jo 9, 44), para atingir os seus fins. Quantas histórias nos narcotizam, convencendo-nos de que, para ser felizes, precisamos continuamente de ter, possuir, consumir. Quase não nos damos conta de quão ávidos nos tornamos de bisbilhotices e intrigas, de quanta violência e falsidade consumimos. Frequentemente, nos «teares» da comunicação, em vez de narrações construtivas, que solidi-
mensagem do papa// ficam os laços sociais e o tecido cultural, produzem-se histórias devastadoras e provocatórias, que corroem e rompem os fios frágeis da convivência. Quando se misturam informações não verificadas, repetem discursos banais e falsamente persuasivos, percutem com proclamações de ódio, está-se, não a tecer a história humana, mas a despojar o homem da sua dignidade. Mas, enquanto as histórias utilizadas para proveito próprio ou ao serviço do poder têm vida curta, uma história boa é capaz de transpor os confins do espaço e do tempo: à distância de séculos, permanece atual, porque nutre a vida. Numa época em que se revela cada vez mais sofisticada a falsificação, atingindo níveis exponenciais (o deepfake), precisamos de sapiência para patrocinar e criar narrações belas, verdadeiras e boas. Necessitamos de coragem para rejeitar as falsas e depravadas. Ocorre paciência e discernimento para descobrirmos histórias que nos ajudem a não perder o fio, no meio das inúmeras lacerações de hoje; histórias que tragam à luz a verdade daquilo que somos, mesmo na heroicidade oculta do dia a dia.
3. A História das histórias
A Sagrada Escritura é uma História de histórias. Quantas vicissitudes, povos, pessoas nos apresenta! Desde o início, mostra-nos um Deus que é simultaneamente criador e narrador: de fato, pronuncia a sua Palavra e as coisas existem (cf. Gn 1). Deus, através deste seu narrar, chama à vida as coisas e, no apogeu, cria o homem e a mulher como seus livres interlocutores, geradores de história juntamente com Ele. Temos um Salmo onde a criatura se conta ao Criador: «Tu modelaste as entranhas do meu ser e teceste-me no seio de minha mãe. Dou-Te graças por me teres feito uma maravilha estupenda (…). Quando os meus ossos estavam se formando, e eu, em segredo, me desenvolvia, recamado nas profundezas da ter-
ra, nada disso Te era oculto» (Sal 139/138, 13-15). Não nascemos perfeitos, mas necessitamos de ser constantemente «tecidos» e «recamados». A vida foi-nos dada como convite a continuarmos a tecer a «maravilha estupenda» que somos. Neste sentido, a Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e, ao mesmo tempo, a história de amor do homem por Deus. Assim, o homem será chamado, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histó-
te sobretudo contando, de geração em geração, como Ele continua a tornar-Se presente. O Deus da vida comunica-Se, narrando a vida. O próprio Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com as parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias. Aqui a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e transforma-a. Também os Evangelhos – não por acaso – são narrações. Enquanto nos informam acerca de Jesus, «performam-nos»[1] à imagem de Jesus, configuram-nos a Ele: o Evangelho pede ao leitor que participe da mesma fé para partilhar da mesma vida. O Evangelho de João diz-nos que o Narrador por excelência – o Verbo, a Palavra – fez-Se narração: «O Filho unigênito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem O contou» (1, 18). Usei o termo «contou», porque o original exeghésato tanto se pode traduzir «revelou» como «contou». Deus teceu-Se pessoalmente com a nossa humanidade, dando-nos assim uma nova maneira de tecer as nossas histórias.
rias: os episódios capazes de comunicar o sentido daquilo que aconteceu. O título desta Mensagem é tirado do livro do Êxodo, narrativa bíblica fundamental que nos faz ver Deus a intervir na história do seu povo. Com efeito, quando os filhos de Israel, escravizados, clamam por Ele, Deus ouve e recorda-Se: «Deus recordou-Se da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. Deus viu os filhos de Israel e reconheceu-os» (Ex 2, 24-25). Da memória de Deus brota a libertação da opressão, que se verifica através de sinais e prodígios. E aqui o Senhor dá a Moisés o sentido de todos estes sinais: «Para que possas contar e fixar na memória do teu filho e do filho do teu filho (…) os meus sinais que Eu realizei no meio deles. E vós conhecereis que Eu sou o Senhor» (Ex 10, 2). A experiência do Êxodo ensina-nos que o conhecimento de Deus se transmi-
4. Uma história que se renova
A história de Cristo não é um patrimônio do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus tomou a peito o homem, a nossa carne, a nossa história, a ponto de Se fazer homem, carne e história. E diz-nos também que não existem histórias humanas insignificantes ou pequenas. Depois que Deus Se fez história, toda a história humana é, de certo modo, história divina. Na história de cada homem, o Pai revê a história do seu Filho descido à terra. Cada história humana tem uma dignidade incancelável. Por isso, a humanidade merece narrações que estejam à sua altura, àquela altura vertiginosa e fascinante a que Jesus a elevou. “Vós «sois uma carta de Cristo – escrevia São Paulo aos Coríntios –, confiada ao nosso ministério, escrita”, não com tinta, COMUNICAÇÕES
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//mensagem do papa mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações» (2 Cor 3, 3). O Espírito Santo, o amor de Deus, escreve em nós. E, escrevendo dentro de nós, fixa em nós o bem, recorda-no-lo. De fato, re-cordar significa levar ao coração, «escrever» no coração. Por obra do Espírito Santo, cada história, mesmo a mais esquecida, mesmo aquela que parece escrita em linhas mais tortas, pode tornar-se inspirada, pode renascer como obra-prima, tornando-se um apêndice de Evangelho. Assim, as Confissões de
ler a alma do homem e trazer à luz a sua beleza, o Espírito Santo fica livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus. Quando fazemos memória do amor que nos criou e salvou, quando metemos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, nesse momento estamos mudando de página. Já não ficamos atados a lamentos e tristezas, ligados a uma memória doente que nos aprisiona o coração, mas, abrindo-nos aos outros,
Agostinho, o Relato do Peregrino de Inácio, a História de uma alma de Terezinha do Menino Jesus, os Noivos prometidos (Promessi sposi) de Alexandre Manzoni, os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoievski… e inumeráveis outras histórias, que têm representado admiravelmente o encontro entre a liberdade de Deus e a do homem. Cada um de nós conhece várias histórias que perfumam de Evangelho: testemunham o Amor que transforma a vida. Estas histórias pedem para ser partilhadas, contadas, feitas viver em todos os tempos, com todas as linguagens, por todos os meios.
abrimo-nos à própria visão do Narrador. Nunca é inútil narrar a Deus a nossa história: ainda que permaneça inalterada a crônica dos fatos, mudam o sentido e a perspectiva. Narrarmo-nos ao Senhor é entrar no seu olhar de amor compassivo por nós e pelos outros. A Ele podemos narrar as histórias que vivemos, levar as pessoas, confiar situações. Com Ele, podemos recompor o tecido da vida, cozendo as rupturas e os rasgões. Quanto nós, todos, precisamos disso! Com o olhar do Narrador – o único que tem o ponto de vista final –, aproximamo-nos depois dos protagonistas, dos nossos irmãos e irmãs, atores juntamente conosco da história de hoje. Sim, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo; a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança. Mesmo quando narramos o mal,
5. Uma história que nos renova
Em cada grande história, entra em jogo a nossa história. Ao mesmo tempo que lemos a Escritura, as histórias dos Santos e outros textos que souberam
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podemos aprender a deixar o espaço à redenção; podemos reconhecer, no meio do mal, também o dinamismo do bem e dar-lhe espaço. Por isso, não se trata de seguir as lógicas do «mentiroso», nem de fazer ou fazer-se publicidade, mas de fazer memória daquilo que somos aos olhos de Deus, testemunhar aquilo que o Espírito escreve nos corações, revelar a cada um que a sua história contém maravilhas estupendas. Para o conseguirmos fazer, confiemo-nos a uma Mulher que teceu a humanidade de Deus no seio e – diz o Evangelho – teceu conjuntamente tudo o que Lhe acontecia. De fato, a Virgem Maria tudo guardou, meditando-o no seu coração (cf. Lc 2, 19). Peçamos-Lhe ajuda a Ela, que soube desatar os nós da vida com a força suave do amor: Ó Maria, mulher e mãe, Vós tecestes no seio a Palavra divina, Vós narrastes com a vossa vida as magníficas obras de Deus. Ouvi as nossas histórias, guardai-as no vosso coração e fazei vossas também as histórias que ninguém quer escutar. Ensinai-nos a reconhecer o fio bom que guia a história. Olhai o cúmulo de nós em que se emaranhou a nossa vida, paralisando a nossa memória. Pelas vossas mãos delicadas, todos os nós podem ser desatados. Mulher do Espírito, Mãe da confiança, inspirai-nos também a nós. Ajudai-nos a construir histórias de paz, histórias de futuro. E indicai-nos o caminho para as percorrermos juntos. Roma, em São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2020. [Franciscus] [1] Cf. Bento XVI, Carta enc. Spe salvi (30/XI/2007),
2: «A mensagem cristã não era só “informativa”, mas “performativa”. Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida».
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Qual a sua resposta diante de um inimigo mortal? Frei Conrado Lindmeier e repente, a nossa liberdade é invadida e delimitada. Os nossos caminhos controlados e condicionados. A permanência em casa ordenada. Até os contatos com parentes e amigos restringidos e regulamentados. Os encontros e celebrações cancelados e proibidos. E o pior, parentes e amigos são levados pelas ruas e praças vazias aos hospitais e de lá, talvez, aos cemitérios. Sim, cemitérios, pois não sabemos com certeza o que acontece com eles nos hospitais e depois. Já que ninguém, nem parentes, os pode visitar. Tudo isso para evitar a contaminação de um inimigo mortal e impedir, assim, sua expansão. Pois, por ele, toda a humanidade está mortalmente ameaçada: sem excluir ninguém, nem país, nem raça ou religião. E é sério, pois ninguém tem remédio
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nem vacina para se proteger do novo coronavírus. E muitos já se perguntam: quando será a minha vez? Tal situação me faz lembrar de Carlos Drummond de Andrade, quando diz: “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu. E agora, José?” Sim, e agora, José? Qual será a atitude, a minha atitude e defesa perante tal situação generalizada e presente em todos os espaços? Por enquanto, foi dada uma resposta de urgência coletiva: confinamento. Ordenada pelas autoridades competentes. Sim, ajuda. Mas a ameaça não é apenas coletiva, não! Ela atinge a cada um e cada uma, a cada indivíduo em particular. E agora, José? Desta forma, cada um vai ter que elaborar uma resposta para si mesmo frente a tal caos. Sim, sim! E qual será a minha? Como devo me posicionar frente a tal situação imposta por um
inimigo mortal, mas desconhecido e oculto? Devo recorrer à magia? Fazer promessa? Trancar-me no quarto e rezar? Recorrer ao poder de Deus e ao Espírito Santo? Aos Santos e Santas? Organizar missas de cura e libertação? O que eu farei? Talvez resolveria um milagreiro ou um padre destacado pela mídia? Pois estes sempre têm um caminho para anunciar… Quem pode nos salvar? Aí vem a pergunta: “Afinal, quem eu sou?” Não sou cristão, católico? Sim, senhor! Assim se acende uma luz em nossa mente. E a possibilidade de resposta já se torna mais clara, pois logo nos lembramos de quando Jesus diz: “Por que estais com medo, gente de pouca fé?” (cf. Mt 8,26-29). É isso mesmo, no fundo tenho medo e provavelmente pouca fé. Parece que Jesus fala agora diretamente para mim. Parece que conhece COMUNICAÇÕES
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//especial a minha, a nossa situação. E, de fato, a Psicologia também mostra que o melhor remédio contra o medo é a fé em Deus. Portanto, a resposta possível, em nível pessoal, frente a tal ameaça, é o fortalecimento da própria fé. Assim, o primeiro passo é dado. Confiando profundamente em Deus, tudo o que então acontece recebe um sentido, quer compreendamos ou não, e mesmo se não o conseguimos ver no momento. Isso, de fato, deve nos deixar mais tranquilos. E agora vemos também que as autoridades competentes estabeleceram regras válidas fundamentadas na inteligência humana, a fim de proteger os cidadãos. Sinto que é válido e importante nesta situação confiar na inteligência humana, na ciência, porque ela é um dom de Deus para que o ser humano consiga resolver os seus problemas. Assim, Deus não faz na Terra o que o ser humano pode fazer e resolver com sua inteligência. E, certamente, qualquer que seja a solução desta pandemia, ela necessariamente vai ser fruto desse dom do ser humano. Portanto, temos a fé em Deus e na inteligência humana, e este deve ser o caminho para elaborar uma postura adequada frente a esse perigo. Por outro lado, vejo agora que está surgindo um outro inimigo, mas desta vez dentro de nós. É consequência das restrições impostas pelas autoridades competentes à nossa liberdade: Ficar em casa, com várias pessoas, dias e noites num espaço reduzido, também gera medo. Agora não é medo do vírus, mas medo de mim mesmo. Dentro de mim surge uma insatisfação cada vez mais forte… E agora, José? A ameaça que vinha de fora, de repente vem também de dentro de mim. E agora? Aí tem várias consequências: a primeira e a mais comum é a projeção. Ela acontece quando deslocamos essa nossa insatisfação, de forma inconsciente, sobre as outras pessoas no ambiente.
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Pois elas, então, nos irritam. Começamos uma briguinha por qualquer coisa (ou outra situação qualquer), e, para mim, a culpa, no fim é do outro. Ou então descontamos nossa insatisfação na comida, no álcool, no sexo… Tentamos compensar o nosso problema com um prazer que nos deixa esquecer por um tempo a insatisfação. Tais caminhos nos aliviam, momentaneamente, mas não são soluções. Por isso devemos pensar melhor. O certo é assumir a responsabilidade sobre a nossa insatisfação, isto é, nos conscientizar que o problema é meu e que eu tenho que assumir responsabilidade sobre ele. Em outras palavras, significa confrontar-me comigo mesmo e não fugir disso. Amigo, aproveite essa ocasião única para se conhecer melhor. Não tente fugir do problema, não tente projetá-lo sobre os outros nem descontar na comida ou no sexo. Vá ao encontro de si mesmo. Isto é: fale com alguém sobre seu sentimento. Ou então desenhe, pinte, escreva uma poesia ou uma música… Comece a aceitar-se a si mesmo com insatisfação na alma. Este é o caminho para o amadurecimento e crescimento. Acredite também em você, que você é capaz de resolver seus problemas adultamente e com a sua inteligência e capacidade. Isso evita que, em situações impostas, você caia em desamor, tédio, depressão ou violência. Portanto, desta forma, podemos concluir que a ameaça mortal pelo vírus desencadeia nas pessoas um medo existencial. Para sanar tal medo, não adianta recorrer a exercícios mágicos ou religiosos infantis, pois este seria o caminho para a neurose. Tal medo existencial exige uma atitude adulta e madura. A vitória sobre tal pandemia, certamente, será um produto de inteligência humana. Ela deve ser o nosso guia. Ela já ajuda agora a humanidade a dar os passos preliminares certos. E ela mostra para o cristão o caminho da
fé. Isto é, construir a sua personalidade sobre a rocha (cf. Mt 7,24). Assim, as ameaças não poderão derrubar a nossa casa. Num segundo momento, devemos obedecer e confiar nas restrições estabelecidas pelas autoridades competentes, desde que estas sejam fundamentadas em dados científicos. Para resolver os efeitos secundários, causados pelas regras de isolamento social, entendemos que não adianta deslocar nossas insatisfações sobre pessoas ou compensá-las com outros subterfúgios, pois tais atitudes não são soluções e agravam o problema mais ainda. Entendemos que a solução é confrontar-se com o problema e conscientizá-lo, assumindo responsabilidade sobre ele. Pois isso faz crescer e amadurecer. E agora, José? Agora, sim, após essa reflexão, estou mais calmo e esperançoso. Mais estruturado frente à ameaça externa bem como à interna. Agora compreendi o valor da profunda fé em meu Criador e na inteligência humana que sempre deverá ser a luz que ilumina o nosso caminho. Por outro lado, as restrições à minha liberdade me ensinam que devo assumir sempre responsabilidade sobre os meus problemas e resolvê-los comigo mesmo. Esse é o caminho para o amadurecimento. Vejo agora também que tal flagelo que ameaça atualmente toda a humanidade deve trazer para os que a ele sobrevivem, algo de muito positivo, tanto para o indivíduo como para as sociedades. Desde que as pessoas se esforcem em apreender a situação. Estou convicto de que tudo tem o seu profundo sentido, estando nós conscientes dele ou não. Frei Conrado Lindmeier, OFM, é vigário paroquial da Paróquia Santa Inês, em Balneário Camboriú (SC). Psicólogo, é natural de Pfenningbach, Alemanha, e ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 19 e dezembro de 1963 como missionário no Brasil.
especial// ARTIGO
Dar sentido à vida stamos vivendo um momento muito especial, onde a humanidade se curvou diante de um vírus invisível a olho nu. São países, potências mundiais, que dobraram seus joelhos sem saber para que santo rezar, apavorados pelos estragos econômicos que devem estar superando os das guerras mundiais, sem contar que muitas pessoas pagam o preço com a vida. Nos perguntamos, então: para que servem os altos investimentos nas bombas atômicas, nos foguetes, mísseis e outras armas? Para que servem as riquezas acumuladas, a custo da injustiça e da exploração? Onde está a nossa tecnologia? Fomos até a Lua e Marte e não sabemos como vencer um vírus tão pequeno! Não deveríamos ter medo de coisas grandes, como terremotos, enchentes, tornados e outras manifestações da natureza? Por que tanto medo, a ponto de não sairmos de casa, nem para trabalhar ou passear? Será que o “coronavírus”, tão pequeno, não é um
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sinal para nos dizer que não somos nada sem Deus? Será que não é o momento de o ser humano refletir e se confrontar consigo mesmo e com suas limitações? Como explicar que nações como China, Itália, França, Estados Unidos, Brasil estão sendo derrotadas por um inimigo tão pequeno? Onde estão as nossas armas? Quem é o culpado? A falta de conhecimento para lidar com a situação nos apavora e pode até aumentar os estragos. Penso que, estimulados pelo sistema do consumismo e do descartável, andamos longe de Deus e experimentamos o sabor da ganância, da cobiça, da inveja, da corrupção e da exploração. Abandonamos o caminho da Justiça, que se manifesta nos gestos de amor, de solidariedade e de partilha! Quem optar pelo Caminho da Justiça, vai perceber que o ser humano se esqueceu de ser humano, colocando-se no lugar de Deus e, com isso, preocupou-se mais com o ter, o prazer e o poder; esqueceu-se de partilhar as riquezas com os pobres, doentes e marginali-
zados. Jesus nos advertiu: “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus”. E em Mateus 6,24, Jesus nos alerta ainda: “Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Conscientes ou inconscientes, todos nós temos algo que é absoluto na vida, que determina o nosso modo de ser e de viver. Quando optamos por Deus como o absoluto, trilharemos o caminho da Justiça, que Jesus nos ensinou, gerando a partilha, amor e solidariedade, seremos felizes. Mas quando optamos pelo prazer, pelo poder e pelas as riquezas, que são frutos da opressão e da exploração, nos tornamos escravos uns dos outros, indo ao encontro da morte. Como opinião de um amigo e irmão, diante desta confusão, faça a opção certa por aquilo que te garante o futuro: opte por Deus, que é Eterno e deixe que a sua Palavra ilumine e conduza a sua vida, com sabedoria e segurança rumo à Ressurreição e à Vida Eterna!
Frei Genildo Provin COMUNICAÇÕES
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especial//
O MUNDO PAROU PARA REZAR COM O PAPA
A comovente oração de Francisco pelo fim da Pandemia
//especial m Cristo enorme posto à entrada da Basílica de São Pedro, o mesmo que no século XVI salvou Roma da Grande Peste. À sua esquerda, a imagem da Salus Populi Romani, que normalmente fica na Santa Maria Maior. Alguns passos à frente, seis incensários oferecem alguma luz à noite romana. A praça São Pedro, completamente vazia, atingida pela chuva. No átrio, o altar da audiência. Iluminado, no centro, somente uma cadeira branca. Francisco nunca esteve tão só e, paradoxalmente, tão acompanhado. Milhões de fiéis em todo o mundo rezaram junto com o Papa nesta extraordinária oração para implorar pelo fim da pandemia, e transmitir a bênção Urbi et Orbi, especialmente dedicada aos doentes e esses heróis que os cuidam sem pensar nas consequências. O silêncio é estrondoso, somente quebrado pelo gotejar da chuva na calçada da praça, quando Francisco aparece caminhando até o altar improvisado. A leitura não poderia ser outra: a dos apóstolos, mortos de medo da tempestade no lago Getsemani, pensando que Deus os abandonara (Evangelho de Marcos). E foi esta passagem bíblica que inspirou a homilia do Santo Padre, que começa com o “entardecer…”. “Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos.”
sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»” O Senhor então nos dirige um apelo, um apelo à fé. Nos chama a viver este tempo de provação como um tempo de decisão: o tempo de escolher o que conta e o que passa, de separar aquilo que é necessário daquilo que não é. “O tempo de reajustar a rota da vida rumo ao Senhor e aos outros.”
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Estamos todos no mesmo barco
Estes mesmos sentimentos, porém, acrescentou o Papa, nos fizeram entender que estamos todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”. Neste mesmo barco, seja com os discípulos, seja conosco agora, está Jesus. Em
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A heroicidade dos anônimos
meio à tempestade, Ele dorme – o único relato no Evangelho de Jesus que dorme – notou Francisco. Ao ser despertado, questiona: «Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40). “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade.”
Um mundo doente
Com a tempestade, afirmou o Papa, cai o nosso “ego” sempre preocupado com a própria imagem e vem à tona a abençoada pertença comum que não podemos ignorar: a pertença como irmãos. “Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos
Francisco cita o exemplo de pessoas que doaram a sua vida e estão escrevendo hoje os momentos decisivos da nossa história. Não são pessoas famosas, mas são “médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho”. “É diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos”, afirmou o Papa, que recordou que a oração e o serviço silencioso são as nossas “armas vencedoras”. A tempestade nos mostra que não somos autossuficientes, que sozinhos afundamos. Por isso, devemos convidar Jesus a embarcar em nossas vidas. Com Ele a bordo, não naufragamos, porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que nos acontece, inclusive as coisas negativas. Com Deus, a vida jamais morre. Em meio à tempestade, o Senhor nos interpela e pede que nos despertemos. “Temos uma âncora: na sua cruz fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor.”
ÍNTEGRA DO MOMENTO EXTRAORDINÁRIO DE ORAÇÃO «Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos. Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro… E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé?» (4, 40). Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas comigo». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De fato, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados. A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades. Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos COMUNICAÇÕES
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//especial com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos. «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!» «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a duras penas não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras. «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos
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autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais. O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança. Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança. «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7). Adro da Basílica de São Pedro Sexta-feira, 27 de março de 2020
especial//
O Crucifixo banhado pelas lágrimas do Céu O Protagonista da oração celebrada pelo Papa Francisco na noite de 27 de março, na Praça São Pedro, vazia e mergulhada em um silêncio irreal, foi Ele. Uma antecipação da Sexta-feira Santa. A chuva incessante banhava o
corpo de Cristo no Crucifixo, a ponto de acrescentar ao sangue pintado na madeira aquela água que o Evangelho nos conta que escorria da ferida causada pela lança. Aquele Cristo Crucificado que so-
O CRUCIFIXO DE SÃO MARCELO O Papa Francisco rezou diante do conhecido crucifixo milagroso da Igreja de São Marcelo, em Roma. A devoção ao Crucifixo nasceu em 1519 quando, após o incêndio da igreja, entre 22 e 23 de maio, tudo foi destruído, exceto o Crucifixo de madeira que permaneceu intacto. Depois disso, em 1522, o Crucifixo foi levado às ruas de Roma quando a cidade enfrentava uma grande epidemia. A procissão foi repetida por 16 dias e, segundo a tradição, a epidemia foi extinta. Desde então, o Cristo Milagroso
volta a ser levado em procissão até a Basílica de São Pedro todos os Anos Santos, que ocorrem a cada 50 anos. Na parte de trás do Crucifixo estão gravados os nomes de cada Papa que participou dessas procissões. O último foi São João Paulo II, por ocasião do Dia do Perdão celebrado no Grande Jubileu do Ano 2000. Além do Crucifixo, também foi colocada na Basílica Vaticana para o momento de oração uma imagem de Nossa Senhora Salus Populi Romani (protetora do povo romano).
breviveu ao incêndio da igreja, que os romanos levaram em procissão contra a peste; aquele Cristo Crucificado que São João Paulo II abraçou durante a liturgia penitencial do Jubileu de 2000, foi o protagonista silencioso e inerme no centro do grande espaço vazio. Até mesmo o ícone de Maria, Salus Populi Romani, confinada dentro de uma moldura de acrílico, e que ficou opaca por causa da chuva, parece der dado um passo atrás, quase desaparecendo, humildemente, diante d’Ele, elevado na cruz para a salvação da humanidade. Papa Francisco parecia pequeno, e ainda mais encurvado enquanto subia com visível dificuldade e sozinho os degraus do adro, tornando-se intérprete das dores do mundo para oferecê-las aos pés da Cruz: “Mestre, não Te importas que pereçamos?”. A angustiante crise que estamos vivendo com a pandemia “desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades” e “agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: Acorda, Senhor!”. A sirene de uma ambulância, uma das muitas que nestas horas atravessam nossos bairros para socorrer os novos contagiados, acompanhou o soar dos sinos no momento da bênção eucarística Urbi et Orbi, quando o Papa, ainda sozinho, voltou à praça deserta, ainda marcada pela chuva e fez o sinal da cruz com o ostensório. Mais uma vez, o Protagonista foi Ele, o Jesus que se imolando quis se fazer alimento para nós e que ainda hoje nos repete: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?... Não tenhais medo!”.
Andrea Tornielli Vatican News COMUNICAÇÕES
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ENTREVISTA
Frei Valmir Ramos
A pandemia ensina que as pessoas são mais importantes que as coisas do, a Itália entrou em completo lockdown em 8 de março. Hoje, o drama italiano se repete na Espanha, França, Inglaterra, EUA e chega ao Brasil. “Esta situação de crise aponta para a necessidade de parar, pensar, discernir e tomar decisões que projetem um futuro melhor para todos”, ensina Frei Valmir. Acompanhe a entrevista a Moacir Beggo!
Comunicações – Como foi para você
ver todo o processo da chegada do vírus à Itália até o do momento presente no país? Vivendo em Roma desde 2015, quando passou a fazer parte do Governo Geral da Ordem dos Frades Menores, o brasileiro Frei Valmir Ramos falou ao site Franciscanos sobre a pandemia do novo coronavírus que assola a Itália impiedosamente desde o mês de março e informou que na Ordem apenas um frade norte-americano veio a óbito. Desde que começou a crise na Itália, pelo menos 30 padres morreram, sendo 16 vítimas da diocese de Bérgamo. Paulista, natural de Franca (SP), Frei Valmir foi eleito Definidor Geral para a América Latina no Capítulo Geral de 2015. Segundo ele, é grande a tristeza ao ver o número de mortos crescendo, especialmente no Norte da Itália e na Espanha. “Parece que, mais uma vez, o ser humano é impotente e sua vida muito fugaz diante de certas situações”, observa. Desde o dia 23 de fevereiro, quando a Itália assumiu a liderança de casos na Europa, um cordão sanitário em torno de 11 cidades da região de Lombardia, a mais afetada, determinou as primeiras medidas de distanciamento social. Contu-
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Frei Valmir - A primeira sensação foi a de que existia muito alarmismo e pouca informação objetiva. Falava-se da Covid-19 lá na China, mas poucos sabiam ou acreditavam na gravidade do problema. Quando começaram a morrer muitas pessoas contagiadas, então muitos ficaram com medo. Aí vimos o que não deveria acontecer, isto é, as autoridades pediram para a população não ir de um lugar para outro, mas ignoraram a recomendação como se fossem espertos e ajudaram a espalhar o vírus. O sentimento, naquele momento, era o de que se deveria ter cuidado, atender as recomendações de quem entendia de infectologia e ficar em casa. Durante esse tempo, vimos muita ignorância, muito preconceito, muitas acusações infundadas e, ao mesmo tempo, tantos gestos de solidariedade, de compreensão, de apoio e reconhecimento àqueles que estavam na linha de frente cuidando dos doentes. Nos últimos dias de março, vimos, com grande tristeza, o número de mortos crescendo, especialmente no Norte da Itália e na Espanha. Parece que, mais uma vez, o ser humano é
impotente e sua vida muito fugaz diante de certas situações.
Comunicações – Que reflexão você faz
para este momento que atravessa a humanidade? Frei Valmir - Existem muitas teorias, muitas “teses”, muitos pontos de vista sobre o atual momento e o futuro da humanidade. Muitos pensadores e escritores falam de um momento de crise. Talvez seja mesmo um momento de crise, no sentido de processo de purificação. Se olharmos para o Ocidente, orgulhoso de sua sabedoria, de sua cultura, de seu trabalho que produziu muita riqueza material, de sua tradição que foi capaz de “produzir” muitos ramos da ciência, vamos notar que está em crise. O mesmo Ocidente, especialmente os países que saíram para o Sul e para o Oriente com a finalidade de conquistar, colonizar e explorar as suas riquezas, hoje está tentando manter sua soberania com o poder econômico. No entanto, em crise, pois não consegue se manter sem a mão de obra do Sul e sem os produtos do Oriente. Parece que existe um mal-estar de quem está passando por uma doença e não tem perspectiva de encontrar uma fórmula mágica para se curar. As sociedades envelhecidas da Europa alcançaram um alto nível de bem-estar, mas as pessoas não estão felizes e muitas não conseguem libertar-se do estresse, da correria sem objetivos transcendentes, e estão sempre em busca de compensações que não levam a nada ou que levam à morte. Se olharmos para outras partes do mundo vemos muitas situações semelhantes e até o desejo de imitar o modelo da Europa e da América do Norte. De qualquer modo, vemos o Oriente
especial// despontando com ciência, tecnologia, sabedorias milenares, reação às investidas neocolonialistas e, em parte da grandíssima maioria das pessoas, vontade de mudanças para melhor. A globalização defendida nos anos 80, no século passado, pensava apenas na economia e no fortalecimento do comércio. Sem dúvida, este direcionamento da globalização atingiu a grandisíssima maioria das pessoas do Sul e do Oriente. Nisso caíram alguns paradigmas e modelos de países ricos, mesmo que a cobiça continue sempre uma das tentações mais fortes sobre o ser humano. Enquanto muitas teorias vão aparecendo, as pessoas sofrem as consequências de certas “opções” de governantes inescrupulosos e aproveitadores em todo o mundo. Na prática, porém, parece que as pessoas buscam saídas para evitar qualquer sofrimento e cuidar de si mesmas. Às vezes, fogem, às vezes, aliam-se a situações perigosas e, às vezes, omitem-se. Muitos ainda defendem o sistema neoliberal globalizante como sinal de liberdade e de oportunidade para ter e para enriquecer-se, sem pensar no que acontece com o vizinho e nem “preocupar-se com a ruína de José” (cf Am). Contudo, alguns sinais indicam que muitos estão construindo o futuro, pois atuam neste momento com ações transformadoras e esperançosas. Cito o exemplo da Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco. Ele, como responsável pela Igreja Católica Romana, lançou um documento que sinaliza a preocupação com o hoje e o amanhã. Este documento teve e tem mais repercussão fora, nos âmbitos acadêmicos, que nos meios eclesiásticos. Existem trabalhadores, estudiosos, pensadores e ativistas muito empenhados em cuidar da vida e cuidar para que as pessoas sejam felizes com a vida e não com as coisas que possui. Muitos estão conscientes de que todos têm direitos e precisam ser respeitados, e não podemos mais continuar defendendo os nossos sem respeitar os vossos, inclusive o direito da criação de viver e manter o planeta vivo. Hoje, a humanidade tem informações imediatas de quase tudo e sobre quase todos. Um problema é que a maioria das
pessoas não sabe o que fazer delas e, pior, não sabe distinguir uma informação verdadeira daquela falsa. Parece que a facilidade de acesso à informação e de comunicação veio com a pouca capacidade de administrar o tempo e cuidar do que é mais importante, do que é essencial. Esta situação de crise aponta para a necessidade de parar, pensar, discernir e tomar decisões que projetem um futuro melhor para todos.
Comunicações – Existe um panorama
da situação da infecção nos conventos da Ordem? Frei Valmir - Até agora sabemos que um frade morreu em Washington, nos Estados Unidos. Ele foi diagnosticado com Covid-19, mas infelizmente já tinha outros problemas que fazia baixar sua imunidade. Não sabemos de outros casos de contágio confirmado.
Comunicações – Como estão os frades
que trabalham na Cúria Geral? Frei Almir - Em nossa Casa Geral estamos todos bem, graças a Deus. Desde o dia 9 de março, estamos rigorosamente em casa. Apenas um confrade está na Alemanha, também em casa. Aqui tem apenas um frei autorizado a sair para buscar remédio na farmácia, se necessário, e outro para fazer alguma compra no supermercado, se necessário. Todos estão trabalhando nos vários escritórios nas suas funções e as reuniões, assembleias, congressos até setembro deste ano foram todos cancelados. Ao mesmo tempo, estamos contatando e realizando videoconferências em diversos momentos, evitando viagens e encontros físicos.
Comunicações – Como consolar as pes-
soas neste momento de pandemia? Frei Valmir - Eu penso que o maior consolo é garantir a presença espiritual, o carinho, o reconhecimento, a estima, todos os sentimentos que garantem às pessoas que elas não estão sós. A solidão imposta por determinadas situações é triste e, neste momento de isolamento social, é preciso acender a responsabilidade. Nada de notícias ilusórias ou relativização.
Comunicações – Quais são as lições
dessa pandemia? Frei Valmir - A primeira lição é que nós precisamos olhar para o essencial da vida. A pandemia provocada por um “inimigo” invisível pode provocar medo, insegurança, incertezas, angústia, ânsia e todos os sentimentos que o ser humano possa ter em uma situação dessas. Se pensarmos, porém, que o vírus “passeia” tranquila e rapidamente de uma pessoa para a outra, sem que ninguém saiba onde ele está, e que ele poderá causar uma infecção pulmonar a ponto de deixar-nos sem oxigênio e levar-nos à morte em poucos dias, então seremos cuidadosos e deixaremos para depois o que não é importante. A pandemia ensina que as pessoas são mais importantes que as coisas. Por isso mesmo, a humanidade que corre, há séculos, atrás de riquezas e coisas materiais pode aprender que é preciso cuidar da casa para que todos estejam bem; é preciso fazer crescer a solidariedade. A segunda é que vivemos num sistema desumano e cruel. Os interesses pelos bens materiais e pelo poder de consumo criou este sistema excludente, que não permite que os pobres morram com dignidade. Os mais afetados por esta pandemia são e serão os pobres. Quando houve a necessidade do isolamento, os pobres começaram a passar mais fome que antes. Talvez muitos morrerão de fome antes de serem contagiados pelo Covid-19. Esta é a maior tristeza que esta pandemia está provocando. É a crueldade do sistema que não permite acesso à vida digna para todos. A terceira lição é que podemos viver com menos poluição provocada pelos combustíveis fósseis. O poder econômico não admite e muitas pessoas não percebem que estamos destruindo e contaminando nossa “casa comum”. Os que pensam em investimentos financeiros e bem-estar econômico nem querem ouvir falar de mudança climática ou destruição do planeta. Ao contrário atacam as realidades onde surgem as mais terríveis doenças: os mercados de países pobres de clima quente úmido. COMUNICAÇÕES
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Desafios da Evangelização diante da nova realidade
especial// om a chegada da pandemia do novo coronavírus, o cotidiano em todas as cidades foi alterado. As medidas tomadas pelos Estados mudaram também a forma de se relacionar com o sagrado e a tecnologia tornou-se uma aliada de nossas Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento. Durante a semana mais importante do ano litúrgico, a Semana Santa, os fiéis participaram das celebrações de forma virtual, um alento para este período de solidão e incertezas. Em Vila Velha (ES), Xaxim, Balneário Camboriú (SC) e Niterói (RJ), por exemplo — locais onde a Pastoral da Comunicação (Pascom) já atuava de forma regular — a transição do presencial para o virtual foi feita de forma mais tranquila. As paróquias
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e conventos que não tinham essa saída, buscaram soluções. Conforme relata Marizete Pietralonga, coordenadora da Pascom da Paróquia do Rosário, em Vila Velha, a fraternidade e a equipe da Comunicação optaram por realizarem as transmissões também nas comunidades, não somente na matriz e no Santuário Divino Espírito Santo. “A primeira preocupação de Frei Djalmo Fuck, pároco, e dos freis da Paróquia, foi de que, mesmo sem a presença física dos fiéis, a proximidade com as comunidades tinha que ser mantida. Podíamos estar separados fisicamente, mas unidos na fé! Por isso, a decisão foi de fazer cada celebração em uma comunidade diferente”, afirma. Segundo ela, foi necessária a adaptação dos equipamentos disponíveis nos locais. A maior dificuldade enfrentada
pela equipe foi a conexão, baixa e as falhas em muitos locais. Mas a ação tem sido avaliada de forma positiva pelos paroquianos. Segundo a coordenadora, o fato fortaleceu mais a fé da comunidade. “A Semana Santa foi vivida verdadeiramente, como sempre deveria ser: com os corações tristes, por tudo que Jesus passou por nós, pelo perdão dos nossos pecados, mas, por outro lado, unidos, renovados, com a fé ainda mais fortalecida, buscando todos os meios de comunicação para assistirmos as celebrações, acreditando na Misericórdia Divina, com a firme esperança de o Cristo que venceu a morte, nos fortalecerá para vencermos as dificuldades dos tempos atuais”, testemunha.
Paróquia do Rosário, de Vila Velha (ES), também realizou transmissões das comunidades
COMUNICAÇÕES
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//especial
Paróquia de Xaxim (SC) intensificou as transmissões de terça a domingo
Comunicação sempre esteve presente nas Paróquias da Província Frei Gilson Kammer, pároco da Paróquia São Luiz Gonzaga, em Xaxim (SC), ressalta que a comunicação sempre fez parte da vida da comunidade. “Talvez como grande parte de nossas paróquias da Província, em Xaxim sempre buscou-se fazer bom uso dos meios de comunicação. Desde os anos 70 até nossos dias, a Paróquia mantém o programa ‘Comunidade em Marcha’, programa diário de 15 minutos e a transmissão irradiada da missa aos domingos de manhã pela Rádio Cultura. Nos anos 90, começou
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também a transmissão irradiada da missa aos sábados à noite pela Rádio Amiga”, recorda. Além disso, desde 2013 a Paróquia publica o informativo ‘Caminhando nos passos de Frei Bruno’, além da criação da página do Facebook. Com objetivo de revitalizar o informativo, a manutenção do que já existia e a inserção em novas mídias, foi criada a Pascom local. Com a pandemia, a Paróquia intensificou as transmissões, fazendo-as diariamente de terça a domingo. Eles também estudam maneiras de
envolver as comunidades, como a transmissão do Ofício das Laudes, a Oração do Terço pelas Famílias e outros materiais propostos pela Diocese de Chapecó. Segundo Frei Gilson, com a quarentena, a Pascom encontrou um campo de evangelização bastante propício para desenvolver suas atividades de evangelização e, com criatividade, estão fazendo com que a Palavra de Deus e a oração continuem fortalecendo nossas famílias e comunidades no seguimento de Cristo Jesus.
especial// Para a jornalista Larissa Rodrigues, que atua como agente contratada pela Porciúncula de Sant’Ana, em Niterói (RJ), a pandemia ajudou a reforçar o papel que a comunicação deve ter dentro da Igreja. “O Papa Francisco sempre fala que para a Igreja, a comunicação é uma missão. Estamos vivendo isso na prática: paróquias se esforçando para levarem o Evangelho a cada família, comunidades compartilhando mensagens que façam todos acreditarem em dias melhores. Depois dessa
pandemia, as comunidades terão um novo olhar sobre a importância da comunicação”, assegura a jovem. Para Andreia Martins da Silva, que é Ministra Extraordinária da Sagrada Comunhão e participa da Jornada de Jovens da Porciúncula, participar das Missas, mesmo que de forma virtual, ajuda a renovar a fé e a manter-se positiva diante da realidade de pandemia. “Sinto como se estivesse lá. As celebrações me deixam mais próxima da igreja, e sendo da Porciúncula, Paróquia da
nossa família, matamos um pouco a saudade que é grande. Num momento como esse, é fundamental estar mais próximo de Deus. Em cada celebração, Deus, em sua infinita misericórdia, nos toca e nos ampara com sua Palavra de vida eterna”, afirma a paroquiana. Ela participa das transmissões diariamente, às 8h. Para aproveitar melhor a celebração, ela troca de roupa, toma café e prepara a sala, deixando o ambiente silencioso e acolhedor para participar com sua família da Celebração.
Porciúncula de Sant’Ana: pandemia reforça o papel da comunicação na Igreja COMUNICAÇÕES
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//especial Em Balneário Camboriú (SC), diversas iniciativas ganharam força com a pandemia. Além da transmissão das celebrações, a Pascom tem divulgado a reflexão diária do Evangelho. A Pastoral foi criada há cerca de dois anos e meio e hoje conta com quatro integrantes, que se revezam nas tarefas. Segundo Nathan Pereira, que integra a equipe, as medidas tomadas devem ser rápidas e, nesse momento, a Pascom deve ser resiliente e assumir um papel de direcionamento firme e manso. Com o afastamento dos fiéis, manter a Igreja ativa nos meios de comunicação é essencial.
Frei Daniel: Reflexão diária do Evangelho
A realidade na Rocinha, a maior comunidade do Brasil Estima-se que mais de 100 mil pessoas habitem na Rocinha (RJ), que lidera o ranking das maiores comunidades do Brasil. Como é de se esperar, a realidade da pandemia preocupa os moradores, governantes e também as lideranças religiosas. Na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, que fica localizada na Rocinha, o pároco Frei Antonio Michels relata que a pandemia o impediu de conhecer mais o local, pois assumiu a função recentemente. “Este não deixa de ser um tempo de graça. O que é problema pode ser também oportunidade. Aproveitamos para fazer algumas coisas que antes não fazíamos e, ao mesmo tempo, ficamos de plantão, à disposição do povo para qualquer necessidade material e espiritual. Diariamente, celebramos juntos, transmitimos pelas redes sociais, que são uma forma de estar em contato e estar rezando junto ao povo, interagindo com eles”, relata. Segundo o frade, algumas ações estão sendo feitas para conscientizar os moradores a respeito da importância do isolamento e muitas ações solidárias são realizadas em prol dos mais necessitados. “Estou há pouco
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especial// tempo aqui e parte deste tempo fiquei confinado, então não conheço muito a favela toda, mas sei da mobilização da Associação de Moradores e de outros grupos comunitários. Tenho mais notícias da associação de moradores, que estão se mobilizando, com carro de som, pedindo para a população ficar em casa, e também se articulando para angariar cestas básicas, materiais de limpeza”, afirma. Mas para Frei Michels, que
também é coordenador da Frente de Evangelização das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento, a pandemia é um cenário ideal para que a sociedade e a Igreja se reorganizem e repensem os antigos hábitos. “A partir desta pandemia, muita gente está refletindo aquilo que antes era considerado essencial agora não é mais, muitos se perguntam o que está errado, qual doença tem nossa civilização para acontecer
estas coisas. Este é um momento que pode ser fecundo, para que coisas novas surjam a partir disso. Para a Igreja, também é um momento de reflexão. Sem que as pessoas possam ir às comunidades, temos que repensar o funcionamento das igrejas, a dependência do povo em relação ao clero, a falta de atenção em relação à igreja doméstica. Creio que este momento de praga pode ser uma bênção”, concluiu o frade.
Além das transmissões on-line, Paróquias vivem a solidariedade e a partilha
Frei Hugo Câmara e Frei Josemberg abraçaram desde o início a proposta de levar aos lares a Celebração Eucarística
Em Niterói, além das transmissões das Celebrações, a solidariedade não foi esquecida. O pároco, Frei Salésio Hillesheim, conta que a Paróquia manteve a doação de cestas básicas para 150 famílias, além de fraldas para crianças e idosos, normalmente inseridos no programa de ajuda local. Em Colatina (ES), os frades continuam mantendo o atendimento às Irmãs Clarissas, celebrando diariamente às 7h e ajudando, na medida do possível, em suas carências. Está sendo feita a transmissão via Facebook e Instagram, quando a internet permite, das Missas dominicais no Mosteiro, às 9h, e na Comunidade São Vicente, às 19h. A Diocese de Colatina decretou que as celebrações aconteçam de forma privada, sem a presença do povo e, por isso, as contribuições financeiras, como dízimos e coletas, tiveram uma grande baixa. A Paróquia e a Diocese estão se mobilizando há algumas semanas para organizar cestas básicas destinadas às famílias mais carentes. Mensalmente, a Pastoral da Misericórdia entrega 50 cestas, mas por causa da pandemia foram distribuídas 200 cestas, ainda assim não foram suficientes para atender à crescente demanda. Em Coronel Freitas (SC), seguem as orientações do Governo do Estado e da Diocese de Chapecó. Após quaCOMUNICAÇÕES
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//especial rentena de 21 dias, os frades começaram a visitar algumas comunidades, mas rezando a missa só com a equipe litúrgica, do canto, Ministro e alguém do Conselho. No total, participam de 10 a 15 pessoas, tomando os devidos cuidados. A previsão é que continue desse modo até 31 Fraternidade de Angelina de maio. Até o momento não há registro de casos nas cidades atendides do tempo da Teologia, Frei Hugo Câmara dos Santos e Frei Josemberg das pelos frades: Coronel Freitas, Águas Cardozo Aranha, abraçaram desFrias, União do Oeste e Jardinópolis. Como as atividades da maioria das de o início essa proposta de levar famílias estão relacionadas ao agroneaos lares a Celebração Eucarística, bem como a Semana Santa, com os gócio, a vida segue quase normal. ofícios e as celebrações. A Semana Em Duque de Caxias (RJ), Santa foi um momento forte de seguindo a orientação da Dioceproximidade e espiritualidade na se, de cuidar e zelar pelo povo de fraternidade, vivenciando Tríduo Deus, estão sendo transmitidas pelo Pascal, rezando os ofícios das Trevas Facebook as missas e bênção do e Luz com a participação do povo Santíssimo, onde a participação do pela transmissão pelo Facebook, inpovo está sendo expressiva. “Esse trabalho foi muito importante para tegrando conosco os dois diáconos nossa fraternidade, onde os confrada Paróquia”, explica o guardião, Frei
Cláudio César Broca. Na questão da solidariedade com os pequenos, a Paróquia de Campos Eliseos conta com a generosidade dos paroquianos para auxiliar na campanha de alimentos a serem distribuídos às famílias que necessitam, um gesto concreto neste tempo que vivemos. O Pão da Solidariedade (pão feito pelos frades) é um projeto que tem a finalidade de angariar recursos, visando o amparo das obras sociais da Paróquia. Em Angelina (SC), os frades se revezam nas celebrações externas com as irmãs Franciscanas de São José, aos domingos, e às terças para as irmãs do hospital. Mas sempre a portas fechadas, isto é, sem aglomeração de pessoas. Os frades têm atendido também aos velórios, visita aos doentes (com toda proteção) e missas em algumas comunidades com o número de 5 pessoas apenas.
Pandemia afeta o calendário das paróquias Com a pandemia, o calendário de muitas Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento foi modificado. Em Santo Amaro da Imperatriz (SC), a tradicional Festa do Divino foi cancelada. Através de um vídeo postado na página do Facebook da Paróquia, Frei Angelo José Luiz fez o comunicado. “O adiamento envolve uma diversidade de datas, agendas, todo o serviço de passagem da bandeira, exposição dos procuradores e das famílias que recebem a bandeira, disponibilidade de diversos profissionais, e sem saber até quando irá todo o isolamento social, muito menos às questões econômicas a que estaremos submetidos”, afirmou o pároco. Ele ainda ressaltou que o casal festeiro, Alexandro e Fernanda, assumiu o compromisso com a Festa do Divino em 2021. Mesmo com a flexibilização do isolamento no Estado, a Paróquia
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Santo Amaro informou, através de nota, que optou em manter o isolamento. “Com o crescimento da circulação de pessoas a partir da liberação de diversos serviços, precisamos aguardar e avaliar qual será o resultado desse afrouxamento e, a partir disso, planejar a retomada das celebrações e outras atividades”,
afirma a nota publicada na página do Facebook da Paróquia. “Como membros da Igreja de Cristo, tenhamos sempre a certeza de que podemos neste tempo reforçar a oração individual e em família, fazendo da nossa casa um verdadeiro templo e clamando a Deus o fim da pandemia”, conclui a nota.
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Via-sacra foi transmitida com duas câmeras durante o rito no Morro do Bingen.
De emergencial à tendência renunciar à presença física dos fiéis. As Na Paróquia Sagrado Coração de celebrações foram feitas sem a presenJesus, em Petrópolis (RJ), a pandemia e a necessidade do isolamento ça da assembleia, com a Igreja vazia, mudaram a rotina dos frades. Com em nossa paróquia, somente na Igreja a ausência dos fiéis nas celebrações, do Sagrado. As comunidades ficaram o contato passou a ser totalmente fechadas. Quem presidiu as celebravirtual. Para o pároco, Frei Jorge Paulo ções, teve num primeiro momento Schiavini, apesar da dificuldade inicial, tudo foi superado com a certeza de estarem prestando um serviço essencial aos fiéis que acompanhavam as celebrações. “ Viver a Semana Santa dentro do cenário da pandemia foi muito desafiante. Estamos acostumados a celebrar com intensidade e com a presença de muitas pessoas os mistérios centrais de nossa fé. Nesse ano, tivemos que Frei Jorge Schiavini, guardião do Sagrado.
um sentimento de vazio, por causa da ausência física das pessoas. Mas, ao mesmo tempo sentimos uma grande comunhão com os fiéis que nos acompanharam pelas redes sociais. O que nos dava força para celebrarmos com intensidade, dentro desses limites, foi a consciência de estarmos prestando um serviço, rezando pelas pessoas que estavam em casa, por todos os enfermos e por aqueles que de uma forma ou de outra doam a sua vida a serviço da sociedade. Desta maneira, toda a experiência que vivemos está ligada ao mistério central de nossa fé: o amor doação de nosso Senhor Jesus Cristo”, assegura o frade. COMUNICAÇÕES
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//especial Segundo Frei Jorge, o primeiro problema enfrentado no início das transmissões foi a parte técnica, a adaptação de equipamentos e ajustes de som e imagem. “Para transmitir as celebrações nos organizamos de um modo amador, com as condições que tínhamos no momento. O que ajudou muito foi a presença de um confrade que fez estágio na Comunicação da Província, Frei Augusto Luiz Gabriel. Encontramos dificuldades na parte técnica, para conseguir som e imagem de qualidade, já que não temos um bom equipamento de transmissão e visto que algumas celebrações são transmitidas simultaneamente pela Rádio Imperial. Depois com esse tipo de comunicação, que de alguns dias, melhorou um pouco a formação de agentes da Pascom, que fortalece o sentimento de pertença qualidade técnica e percebemos que tenham como objetivo a evangelie de unidade. Também percebo que há um bom número de pessoas que zação por meio da comunicação nas nas redes sociais há a possibilidade acompanham as celebrações”, afirma redes sociais. É visível o interesse de de interação que favorece a conso pároco. muitas pessoas pelas transmissões. Além das celebrações diárias, os Percebo que há uma identificação trução de uma Igreja participativa”, frades transmitiram o ofício da mados paroquianos e de outras pessoas aconselha o frade. nhã, a via-sacra e alguns especiais com os corais do Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis. Para Frei Jorge, o modelo de comunicação usado de forma emergencial durante a pandemia deve ser uma tendência a ser adotada pelas paróquias. Mas, para isso, ele aponta alguns fatores que devem ser levados em conta, como o planejamento, investimento e formação. “Acredito que no futuro as paróquias vão continuar usando as redes sociais para transmissão de celebrações e outras atividades religiosas. Para isso, se faz necessário um planejamento e um investimento em equipamentos que garantam uma melhor qualidade Santo Terço ao vivo: todo sábado, às 18 horas, diretamente da Igreja do Sagrado nas transmissões. Também vai ser importante a Coração de Jesus, em parceria com o “Conexão Fraterna”.
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Ingreja on-line Rádio Celinauta @celinauta1010
Matriz Santo Estêvão @matrizituporanga
ParóquiaSão Francisco de Assis - Vila Clementino @paroquiavila
Paróquia São Pedro Apóstolo Pato Branco - PR
Paróquia Nossa Senhora do Rosário @pnsenhoradorosario
Paróquia São João Batista - SJM @ParoquiaSaoJoaoBatistasjm
Paróquia do Sagrado Coração de Jesus @paroquiadosagradopetropolis
Igreja Matriz São Pedro Apóstolo de Gaspar @paroquiagaspar
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Convento de Santo Antônio nesse tempo de pandemia m um ano atípico por conta das medidas preventivas contra o Covid-19, o Convento de Santo Antônio do Largo da Carioca iniciou o mês de março com as transmissões das Santa Missas pelo canal do Facebook do Convento. A Fraternidade do Convento de Santo Antônio celebra as Santas Missas durante a semana em três horários: às 10h00, 12h00 e 18h00. Aos sábados e domingos, a Santa Missa está sendo celebrada às 10h00. Lembrando que a nossa Fraternidade segue as orientações, durante o período da pandemia, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Arcebispo diocesano Dom Orani João Tempesta. O Convento de Santo Antônio do Largo da Carioca tem como objetivos, nas transmissões online das Missas, durante o tempo da quarentena: 1 - Rezar as Santas Missas, oferecendo aos fiéis e devotos de Santo Antônio a participação na Celebração Eucarística, com a liturgia da Palavra de Deus, a comunhão espiritual e as orações da devoção a Nossa
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Senhora e a Santo Antônio, através das transmissões online. 2 - Rezar pedindo a Deus a graça de bem viver esses tempos difíceis, com o recolhimento em casa. 3 - Rezar pedindo a Deus a graça da perseverança e paciência dos médicos, enfermeiros e sanitaristas, para bem atenderem ao povo de Deus, nesse tempo de penúria e doença. 4 - Rezar pelas necessidades, espirituais e materiais da nossa Igreja e também de nossa Província. As Celebrações Eucarísticas, rezadas diariamente, têm como um dos pontos principais a participação
dos confrades de nossa Fraternidade, tanto no rodízio da presidência das celebrações eucarísticas, quanto no serviço litúrgico de: comentaristas, cantores e leitores para a melhor vivência do mistério pascal, celebrado nas Santas Missas. Os fiéis e devotos do Convento de Santo Antônio têm participado de uma maneira efetiva das nossas transmissões online e participam também, na medida do possível, da manutenção do Convento e também do pão dos pobres.
Frei Robson de Castro Guimarães
Fraternidade Mãe Terra de Imbariê “Até o momento todos estamos bem, nos cuidando devidamente, com poucas e rápidas saídas de casa, só para aquilo que é estritamente
necessário (compras). Nossas comunidades já estão se mobilizando há algumas semanas para organizar cestas básicas destinadas às famílias
mais carentes. Muitas já foram entregues e outras ainda serão. A Paróquia e nossa fraternidade disponibilizaram recursos financeiros para compra de 40 cestas. No momento é o melhor que podemos fazer. Estamos também fazendo transmissão via Facebook de três momentos celebrativos por semana: missa aos domingos, às 9h00; missa votiva a Santo Antônio, toda terça feira, às 19h30, e um momento de oração, toda sexta feira, às 19h00. Abraço a todos e que a forte experiência Pascal do dia a dia nos conduza nessa longa travessia”, deseja Frei Jorge Maoski, falando pela Fraternidade. COMUNICAÇÕES
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Encontros bíblicos ao vivo pelo Facebook
Secretariado de Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil passou a oferecer, já no dia 20 de março de 2020, um momento de encontro diário, ao vivo, via Facebook, de leitura, oração, reflexão e partilha da Palavra de Deus. Sempre às 21 horas, na fanpage da Província. “O trecho bíblico escolhido é o
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Evangelho do dia, sobre o qual os participantes do encontro virtual têm a oportunidade de refletir, rezar e atualizar para própria vida e para o momento que estamos vivendo os ensinamentos e as orientações que Jesus oferece em seu Evangelho”, explica Frei Gustavo Medella, Secretário para a Evangelização. Frei Gustavo explicou que a inicia-
tiva surgiu como mais uma possibilidade de interação e comunhão neste tempo em que os encontros presenciais em comunidade estavam restritos e que a iniciativa era experimental. Mas quase dois meses depois, o encontro chega a reunir, diariamente, de de 4 a 7 mil visualizações. “Com muita esperança tenho percebido que nossas fraternidades e Frentes de Evangelização têm buscado meios criativos de manterem a comunhão e se fazerem próximos às pessoas. Esta iniciativa de nosso Secretariado vem se somar a todos estes esforços para que ninguém se sinta só ou isolado neste tempo de recolhimento. Também reforçamos que é fundamental a todos nós obedecermos de forma atenta e precisa as orientações de nossas autoridades. Ficar em casa, nesta hora, é ato de amor e de fé”, explicou Frei Gustavo.
Encontro ao vivo de Leitura e reflexão da Palavra de Deus
Quando: Todos os dias, às 21h Endereço de acesso: https://www. facebook.com/provinciafranciscana/
GRUPO PARA COMUNICAÇÃO PROVINCIAL Caros Confrades Paz e Bem! A fraternidade também acontece por meio da partilha e da comunicação. Os meios para esta socialização são muitos e bons! O Definitório Provincial tem feito contato com as fraternidades e frades em vista de um acompanhamento neste período de distanciamento social para que ele não seja também de isolamento fraterno. No campo fraterno, de modo geral, há bom zelo no cuidado mútuo, principalmente com os irmãos mais vulneráveis, por questão de idade ou de saúde. Na missão evangelizadora há iniciativas bonitas para superar o fechamento de igrejas e instituições, acontecendo, sobretudo, no mundo
virtual. Também são belas as ações solidárias com a porção mais frágil do povo, a quem servimos por vocação. No tocante à economia, ameaçada em toda a parte, também as fraternidades e iniciativas de evangelização não estão imunes. São realidades que nos tocam a todos, no bem operado e nos desafios a se enfrentar. E tudo será melhor se estivermos juntos, procurando acompanhar nossos frades, formandos, colaboradores, assistidos, enfim todo o nosso povo e suas famílias, durante esta situação de pandemia. Por isso, o Definitório propôs a criação deste canal de partilha e de comunicação mais rápida e ágil. Trata-se de um grupo de whatsapp dos frades da Província para pequenas e esporádi-
cas comunicações de cada presença e de cada atividade. Futuramente, se funcionar bem, este canal poderá continuar servindo como meio mais rápido e fácil para comunicações entre os frades. O grupo criado é administrado pela Secretaria da Província. Para evitar a multiplicação de postagens e ruídos na comunicação, as publicações serão restritas aos administradores do grupo (Secretário, Ministro e Vigário Provincial), mas de maneira especial ao Secretário Provincial. Fraternalmente, Frei Cesar Külkamp Frei Gustavo Medella Frei Jeâ Paulo Andrade
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s trabalhos de evangelização e formação desenvolvidos na Província nesse contexto de pandemia, não pararam, pelo contrário, em algumas Frentes até se intensificaram. A redução nas entradas de doações foi logo percebida. Muitos benfeitores do Pró-Vocações e Missões Franciscanas não têm conseguido realizar suas doações, por motivos econômicos, de distanciamento social, etc. Para isso, a Província deu início no dia 18 de abril à campanha: “A missão não pode parar. Junte-se a nós!”. Para a segurança e conforto do benfeitor, esta campanha oferece mais uma plataforma de doação, além da transferência bancária, que possibilita a doação através de cartão de crédito ou boleto bancário, através do site: franciscanos.org.br/doação.
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Ao mesmo tempo em que vivemos juntos a angústia pela falta de certezas em relação à continuidade de todos os serviços realizados pela Província, nos sentimos próximos uns dos outros, pela fé que nos une! Cada frade também pode contribuir, compartilhando e sendo propagador dessa Campanha de Doação em vista da Formação e Missão Franciscanas, bem como em prol de toda a Província!
Como doar?
Transferência bancária Banco Bradesco (Ag.: 0099-0 | C/C.: 259347-5) ou Banco do Brasil (Ag.: 3347-2 | C/C.: 456138-4)
Obs.: Após a transferência, enviar o comprovante para um dos nossos
contatos, com o assunto ‘Campanha: A missão não pode parar’. Telefone: (11) 5576-7990 WhatsApp: (11) 5576-7990 E-mail: pvf@franciscanos.org.br Cartão de Crédito ou Boleto Bancário Site: franciscanos.org.br/doação Obs.: Valor mínimo de R$ 15,00.
Coleta para a Terra Santa é transferida para 13 de setembro A atual situação de pandemia do Covid-19 envolve muitas nações e, em muitas delas, foram adotadas medidas preventivas que impedem a normal celebração comunitária dos Ritos da Semana Santa. As comunidades cristãs da Terra Santa, também expostas ao risco de contágio e que vivem em contextos
já muito provados, se beneficiam a cada ano da generosa solidariedade dos fiéis de todo o mundo, para que possam continuar com sua presença naquelas terras. Ademais, os recursos ajudam a manter abertas escolas e estruturas assistenciais a todos os cidadãos, para uma educação humana, a convivência
pacífica e o cuidado, sobretudo, dos pequenos e mais pobres. Por esse motivo, o Santo Padre o Papa Francisco, aprovou a proposta de que a Coleta da Terra Santa, para o ano 2020, seja realizada no domingo 13 de setembro, próximo à Festa da Exaltação da Santa Cruz.
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Antonianum: uma “província” em quarentena
Caros confrades, Paz e Bem! esmo em tempo de quarentena, vou começar com uma “batuta”, como dizem os italianos. Somos 140 frades numa única casa, embora ampla, com diversos andares e um belo claustro. Muitas vezes ouvi alguém dizer: “Mas o guardião do Colégio Internacional de Santo Antônio é praticamente um provincial!” Ao que eu sempre respondo: “Pode até ser, mas o desafio não é ser provincial, mas ter uma província inteira dentro da mesma casa”. E, de fato, somos internacionais pela composição da Fraternidade e tem de tudo o que se pode imaginar ... Da nossa Província somos em três: Frei Gilberto, trabalhando na tese para o doutorado; Frei José Antonio, no
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primeiro ano do mestrado; ambos no campo da espiritualidade franciscana; e eu, como guardião e vice-retor da Basílica de Santo Antônio. Desde março estamos em quarentena. As ruas e praças de Roma estão vazias. Só se pode sair com um formulário que deve ser preenchido, indicando a necessidade da saída para o supermercado ou à farmácia. Isto é bem controlado pela polícia e a eventual multa é bem salgada. Por sorte, a nossa casa é ampla. No refeitório e na Basílica conseguimos manter a distância exigida de 1,5 metro. As aulas habituais não funcionam. Muitos professores e os estudantes, aos poucos, aprenderam a administrar e acompanhar as preleções via internet. As igrejas estão fechadas para o público. A Semana Santa, celebrada
só entre os frades, nos proporcionou uma experiência totalmente nova e muito interessante. Além da saudade do Brasil e da Província, naturalmente estamos sempre nos perguntando um ao outro: “Tens notícias do Brasil?”, sabendo que todos vocês vivem uma experiência semelhante à nossa. Apesar de tudo, porém, vivemos da esperança, embora impossibilitados de fazer qualquer projeção de férias que se aproximam e de eventuais viagens. A próxima data será o dia 3 de maio, dia em que pretendem aliviar as restrições gradativamente. Será, certamente, um momento crítico. Estamos muito unidos a vocês na mesma luta e na mesma incerteza, confiando que a Mãe Imaculada nos proteja e nos dê forças para perseverar. Com grande abraço,
Frei Estêvão Ottenbreit Frei Gilberto da Silva Frei José Antonio dos Santos
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A rotina na Fraternidade São Francisco de Bragança Paulista ma das casas da Província mais vulneráveis por causa do coronavírus é a nossa Fraternidade. A maioria dos frades pertence ao grupo de risco, seja pela idade, pela saúde limitada ou pelo risco de se contaminar no contato com pessoas na USF. Diante destes fatos revemos, sempre de novo, a nossa maneira de viver e, como solicitado por instâncias superiores, evitar qualquer contato com pessoas de fora do nosso convento. Desde o surgimento dos primeiros casos da doença, fechamos as nossas portas a pessoas que costumam participar da nossa Missa conventual. Os fornecedores do material diário que usamos foram orientados a serem atendidos à distância. Funcionários com idade de risco receberam as férias anuais antecipadas, também os enfermeiros que trabalham em vários lugares. Já estamos nos preocupando com o retorno dos ausentes. Os enfermeiros usam constantemente uma máscara para se protegerem e protegerem o outro que precisa do serviço deles. Nós, os freis, continuamos inicialmente cultivando a nossa rotina de cada dia, celebramos a nossa Missa conventual em conjunto, nos reunimos para as orações, realizamos o nosso encontro fraterno antes do almoço, tomamos as refeições juntos, mas procuramos observar uma certa distância física de um para o outro. No contato com os funcionários, observamos rigorosamente o espaço físico que nos separa. Além disso, percebemos uma grande mudança no nosso dia a dia: os freis que trabalham na USF estão em casa o tempo integral que, antes da crise, poucas vezes aconteceu. Eles cumprem sua missão e tarefa usando os meios modernos da comunicação.
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Uma outra medida radical tomamos quando Frei Mário Tagliari, guardião do Convento São Francisco, em São Paulo, pediu para recebermos Frei Odorico Decker em nossa fraternidade. Como disse o Frei Mário: Frei Odorico precisava apenas de uma atenção maior devido à idade — 91 anos — e à ausência do enfermeiro João, que cuidava dele com remédios, higiene, comida etc. Acolhemos o pedido do Frei Mário e recebemos nosso confrade aqui em casa no dia 9 de abril. Sendo que veio de fora, decidimos fazer um exame para verificar se era portador da covid-19. Ficou aqui isolado. Recebeu apenas, in loco, a atenção dos enfermeiros paramentados adequadamente até a segunda-feira (13/04), quando os exames realizados nos mostraram que Frei Odorico foi infectado. Em seguida,
foi internado no Hospital da USF. Na incerteza de alguém ter se infeccionado mudamos, mais uma vez, a nossa maneira de viver. Não celebramos, no momento, a nossa Missa diária. Cortamos temporariamente nosso encontro fraterno antes do almoço, dividimos a Fraternidade em dois grupos para tomar as refeições, fornecemos máscaras para todos, para proteger a si mesmo e evitar uma possível contaminação do irmão e fornecemos máscaras a todos os funcionários. Sentimos o peso das exigências que a doença nos oferece. Pedimos ao bom Deus a força para não sucumbir e resistir às exigências. Esperamos que em breve venha o alívio e possamos voltar à nossa vida normal de cada dia.
Frei Carlos José Körber COMUNICAÇÕES
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//especial
Contra a força da morte
Diagnóstico, tratamento e cura!
Querida família, confrades, amigos, irmãs e irmãos, paz e bem!
vida é uma caixa de surpresas. Nunca imaginei que seria diagnosticado com a covid-19. Entre os dias 11 e 18 de março estava em campanha para novos benfeitores na Paróquia Nossa Senhora do Rosário na cidade de Concórdia (SC). Foram agradáveis dias de convivência junto aos frades, aos colaboradores e aqueles e aquelas que se dispunham a nos ajudar a manter nossos seminários e as missões em Angola. Diante do decreto do governador de Santa Catarina e Paraná, por conta de prevenir contra a epidemia, retornei a São Paulo no dia 20 de março. Logo que cheguei em casa, fui muito bem recebido, como sempre, e até aquele momento não apresentava nenhum sintoma da doença. Aqui, em casa, tudo seguia seu curso normal; cada confrade nas suas atividades fraternas. E por conta da pandemia começamos a transmitir as missas no Facebook do Santuário São Francisco. Nesta feita, ajudei em algumas missas com a voz e o violão, onde entoava canções que os nossos irmãos e irmãs recordavam momentos vividos na infância, junto a seus familiares e amigos. Também nos meados de março, nossa Fraternidade recebeu a visita dos profissionais da unidade básica de saúde da Republica, onde todos recebemos a vacina contra a gripe. Eu ainda aproveitei para atualizar a carteirinha com outras duas vacinas que tinha de tomar.
u me propus escrever umas linhas logo que chegasse no meu quarto. Mas fui vencido por um sono gostoso que desde o dia 10/4, sexta-feira Santa, não mais sentia. Aliás, desde que começaram os primeiros sintomas, dormir passou a ser uma tarefa muito difícil e complicada. A sensação de sufoco e de estar ficando sem ar eram constantes na hora de tentar dormir. Foi uma longa batalha. Febre e tosse foram os sintomas mais difíceis, mas não foram os únicos. Parecia um pesadelo sem fim. Em fim, venceram a habilidade de profissionais da saúde, a fé, a coragem, as orações e o amor de tanta gente! Confesso que, muitas vezes, eu me pegava chorando, mas não de medo de morrer e sim por perceber que, mesmo difícil, eu não estava sozinho. O Senhor esteve presente ao meu lado o tempo todo. Senti a proteção de Maria, a Mãe Aparecida, dos meus Santos Franciscanos e meus santinhos, Luiz e Amabile (pais). Aquilo que parecia sem fim, acabou! Pelo fato de eu já estar em isolamento há tanto tempo, a médica, hoje na alta (27 de abril), me pediu mais cinco dias afastado do convívio social com os confrades. Fazer caminhadas pelos corredores usando máscaras. E depois, vida normal com os cuidados que todos temos que ter. Foi a experiência da vida lutando com a força da morte! Deus foi muito bom o tempo todo e ganhei de presente
Meus caros confrades da Província. Paz e Bem!
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uma nova oportunidade para ressignificar minha vida e missão. Agradeço minha Fraternidade Franciscana, o Governo da Província, tantos confrades, a minha família querida que mesmo distante estiveram tão juntos de mim, agradeço aos amigos e amigas, sentir-se amado e querido nesta hora nos enche de forças para vencer os desafios de cada momento. Agradeço à Comunidade do Santuário São Francisco, a missa diária pelo Facebook nos unia em prece e fé cada dia! Gratidão a Deus e a todos vocês! Juntos vencemos! Por favor, continuemos nos cuidando e com responsabilidade cuidando dos outros. Não é brincadeira, muitos não tem o mesmo final! Se possível, ajudemos a amenizar a dor e o sofrimento dos que mais precisam de nossa solidariedade! O Senhor lhes abençoe e lhes conceda a paz e o bem!
Frei Mário Tagliari
especial//
Uns dias após tomar as vacinas tive muitas alergias e, em consulta pelo aplicativo Zoom, a Dra. Damaris me passou um antialérgico e um antibiótico para eliminar as coceiras que sentia. Tudo ocorreu como a prescrição médica e, em uma semana, fiquei sem os sintomas anotados anteriormente. Mais alguns dias se passaram e comecei a sentir muita dor de cabeça e febre, que só passavam mediante a posologia de quarenta gotas de dipirona. Em frente a nossa casa está em funcionamento, desde o início da pandemia, um belo trabalho de assistência imediata às pessoas em situação de vulnerabilidade. Desenvolvido pelos frades, colaboradores e voluntários do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras). No dia 6 de abril tive a graça de ser atendido pela dra. Ana Leticia, da ONG Médicos Sem Fronteiras, que me encaminhou de ambulância para o Pronto Socorro do Hospital Beneficência Portuguesa. Ali, logo fui atendido pela equipe médica da Unidade de Terapia Intensiva do Pronto Socorro. Graças a Deus e aos profissionais capacitados, em meia hora já estava recebendo oxigênio e fazendo os exames necessários que constataram a Covid-19. Eu só pensava naquele momento em Deus, São Francisco, Frei Bruno, Frei Galvão, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Penha, nos benfeitores franciscanos, nos confrades, no
povo da minha comunidade e nos meus familiares, especialmente nas minhas duas sobrinhas Cinthia Laís e Alice. Meu quadro era grave. Os médicos, porém, me passavam tranquilidade e diziam: Frei querido, você vai sair dessa! Importante anotar que não fui entubado e fiquei o tempo todo consciente, respirando com ajuda do cateter. No segundo dia de internação, fui conduzido para o quarto no 5º andar do bloco 3. Ali permaneci por três dias, onde os médicos constataram a necessidade de ser encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva do 7º andar do Bloco 2 do hospital. Ali pude perceber que a gente não é nada; ali cessam o orgulho e a soberba. Neste lugar fui muito bem atendido pelo Dr. Fabrício e toda a equipe de enfermagem. Ali pude ver o quanto somos pequenos e frágeis, pois até para fazer as necessidades fisiológicas e tomar banho necessitei da ajuda dos profissionais que ali estavam. Permaneci por cinco dias e depois recebi alta para a enfermaria, onde permaneci até o dia 18 de abril, quando tive alta. Detalhe: dia do aniversario de quatro anos da minha sobrinha Cinthia Laís, que me disse numa chamada de vídeo: “Tio, isso não é nada; logo você estará bom”. O que me manteve de pé foi o desejo de sair dali e voltar para casa. O que dizer das inúmeras pessoas que dispensaram seu tempo para rezar por este pequeno servo de Deus. O meu bairro: Cerro Negro em Ituporanga/SC, os grupos de reflexão, movimento de irmãos da Paróquia Santo Estêvão e da Diocese de Rio do Sul rezaram o tempo todo para minha pronta recuperação. Nas cidades por onde passei durante o ano a serviço da Província, as pessoas rezavam e enviavam sentimentos bons. Agradeço a oração e prece dos frades da Fraternidade Provincial, da Ordem e da Custódia da Terra Santa. Quero trazer apenas o testemunho da Juliani Ninckoter Hintemann: “Frei Xandão, quando disse pro Arthur que você estava doente, ele se ajoelhou em frente a imagem de Nossa Senhora Aparecida na sala de casa e disse: ‘Tadinho do padre, cuida dele
Mãe de Jesus!’”. Detalhe: o menino tem apenas cinco anos. Enfim, o que aprendi com tudo isso! Que a solidão é muito difícil de suportar. Que a fé cura e que Deus escuta a oração de seu povo. Que essa doença não é brincadeira e que temos de ficar em casa e nos cuidar. Tive a exata noção do que é se entregar e confiar no outro. Eu tive, com certeza, uma segunda chance de vida. Hoje, acredito que a vida começa aos 40. Vida nova e novos sonhos daqui para frente. Tomei consciência da importância do serviço dos enfermeiros, enfermeiras e médicos dos hospitais que foram generosos e carinhosos com a minha pessoa. E aqui agradeço a Dra. Lina Paola Miranda Ruiz Rodrigues, médica infectologista, que me acompanhou durante os quatorze dias de internação na Beneficência Portuguesa de São Paulo. Meu tratamento segue na quarentena aqui em casa. Ficarei duas semanas isolado e, posteriormente, e gradativamente retornarei às atividades normais no meu dia a dia. Quero, com a graça de Deus, lá por meados de junho visitar minha cidade natal e fazer uma linda celebração de ação de graças. Também quero agradecer a Frei César Külkamp e todo o governo provincial. A Frei Robson Scudela, Frei Jeâ Paulo de Andrade e toda equipe do Pró-Vocações e Missões Franciscanas. Também a Frei Mário Tagliari e toda a minha Fraternidade que esta cuidando de mim com muita ternura e bondade. Que Deus, em sua infinita misericórdia, abençoe a todos que, de algum modo, colaboraram para que eu tivesse a graça de recuperar a minha saúde e servir à Fraternidade Provincial, como irmão e menor, levando a todas as pessoas as palavras e os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, a exemplo de nosso Seráfico Pai Francisco de Assis. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Para o louvor de Cristo.
Frei Alexandre Rohling São Paulo, 22 de abril de 2020. COMUNICAÇÕES
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“Não deixemos passar a graça divina nesse tempo tão desafiador”, pede D. Dario Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos, presidiu a Santa Missa que encerrou a 450ª edição da Festa da Penha na segunda-feira (20/4), às 17 horas, Dia da Padroeira do Espírito Santo. Como aconteceu durante todo Oitavário, a celebração na pequena capela do Convento da Penha chegou aos milhares de lares capixabas pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Presentes na capela, os frades que concelebraram com o Arcebispo, autoridades, os músicos e cantores que alegraram a celebração e os voluntários. Dom Dario saudou a todos e, de maneira carinhosa, os seus irmãos franciscanos na pessoa do Vigário Provincial,
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Frei Gustavo Medella, e do guardião do Convento da Penha, Frei Paulo Pereira. “Na pessoa desses dois irmãos frades, quero abraçar todos os frades que colaboram conosco”, disse. Mas para o povo foi ainda mais carinhoso. “Partilho com todos vocês algo que trago no coração como peregrino que sou. Sinto muita falta dos meus irmãos e irmãs, do seu canto, caminhando em direção à Virgem da Penha”, confessou, pedindo para cantar o hino “Virgem da Penha”. Na sua homilia, ressaltou dois pontos do Evangelho: O primeiro diz respeito à total disponibilidade de Maria ao dizer: ‘Eis aqui a serva do Senhor’, assumindo
seu papel na história da salvação, colocando-se inteiramente disponível nas mãos do Senhor. O segundo está unido ao primeiro, pois ao afirmar: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”, Maria não somente aceita mas deseja e se empenha a fim de que a vontade de Deus se cumpra em sua vida. “Meus irmãos e minhas irmãs, ao responder ao Senhor, colocando-se como serva em suas mãos, Maria é colocada diante da vontade de Deus, algo que mudaria radicalmente toda a sua vida e a história da humanidade inteira. Ela se coloca na total disponibilidade a Deus e, seguindo o seu exemplo, devemos desejar dizer ao nosso irmão, da mesma
especial// forma, e com a mesma radicalidade da Virgem, confirmando assim o nosso compromisso com o Senhor e vamos fazer unidos e acompanhados pelo testemunho de Maria. Que possamos dizer hoje e sempre: ‘Eis aqui o teu servo e serva do Senhor!’”, acrescentou Dom Dario usou o exemplo de Maria para convocar a todos nesse momento desafiador, colocando a serviço como voluntários diante dos irmãos e irmãs que necessitam de nós nesses dias com tamanha pandemia no mundo, como fez Maria, colocando-se a serviço de sua prima Isabel. “Meus irmãos e minhas irmãs, nós somos convidados a aderir profundamente à vontade divina, acolhendo a Palavra de Deus, empenhando-nos, contando com a ação do Espírito Santo em cumprir o que o Senhor quer de nós, hoje, aqui e agora, neste ano de 2020. E o que o Senhor quer de nós, como discípulos e discípulas e tendo Nossa Senhora da Penha como nossa Padroeira?”, perguntou o Arcebispo. “A vida. E a vida em abundância”, respondeu. “O respeito por essa vida, desde a sua concepção até a morte. Em outras palavras: Não ao aborto! Jesus de Nazaré quer a alegria, quer a partilha. Jesus não quer ver ninguém triste”, enfatizou.
Como havia pedido na abertura da Festa, não podemos sair deste momento em que estamos vivendo do mesmo modo que entramos. “Este momento nos mostra a fragilidade da vida. É uma guerra declarada. É uma guerra que não tem canhão, não tem bomba, tantas outras armas, mas é um minúsculo vírus que ataca, que mata”, situou. Segundo o Arcebispo, Nossa Senhora nos pede: Chega de ganância, de busca de poder, de busca do lucro! “No dizer do nosso povo pobre do Norte de Minas - com grande saudade falo isso -, eles dizem a expressão: ‘Chega de enricar às custas dos outros!’”. Dom Dario ressaltou, contudo, o lado solidário do povo, que pôde ser visto nas últimas tempestades de verão e agora com a pandemia. “Quanta partilha!”, disse, mas pediu um cuidado todo especial com o sem teto, com o sem casa. “Como dizer neste momento ‘fique em casa’ quando não se tem casa. No dizer do nosso Papa Francisco - tenho repetido isso esses dias - a rua não é lugar para se morar e nem lugar para se morrer”, disse. Dom Dario pediu união entre o poder público e sociedade. “Isso nós queremos no nosso Estado. Chega de ficar puxando um pra cá outro pra lá. Vamos
juntar nossas forças e, com isso, nosso povo vai ter vida e vida em abundância. Assim sendo, somos convidados a sermos portadores das alegrias de Maria, sinais claro da ressurreição de Cristo. Homens e mulheres marcados pelos valores do evangelho, de modo que nossas vidas resplandeça à luz do Ressuscitado que estamos celebrando, principalmente pela caridade, pelo serviço para aqueles que mais precisam”, encorajou. “Nesse tempo difícil de pandemia, o Senhor nos oferece uma oportunidade de superarmos o sofrimento e a dor com a caridade e o compromisso com a vida. Repito: não deixemos passar a graça divina nesse tempo tão desafiador, mas abracemos a chance de darmos um salto de humanidade, um salto de qualidade, de profissão de fé, tornando-nos solidários e comprometidos com os mais vulneráveis, superando o egoísmo de uma sociedade que só visa o lucro e o descaso, ou seja, a lógica excludente do lucro”, completou. No final, Dom Dario fez os seus agradecimentos e disse: “Hoje, apesar de distante, estamos unidos num só coração, numa mesma oração, no mesmo desejo da graça pelos meios de comunicação social”.
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Frei Medella homenageia as mulheres O Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, celebrou na véspera do Dia da Padroeira e homenageou as mulheres, já que este dia é reservado à Romaria das Mulheres. Neste ano, por conta das restrições de isolamento devido à pandemia do novo coronavírus, essa homenagem a Maria ficou em cada coração dos devotos e devotas. Frei Gustavo Medella, contudo, fez uma bela homenagem às mulheres durante a Celebração Eucarística, às 17 horas, que encerrou o Oitavário em preparação para a Festa da Padroeira. No Ato Penitencial, Frei Medella disse: “Nós, homens, precisamos pedir perdão por todas as vezes que fomos injustos com as mulheres. É muito triste abrir o jornal e ver as notícias de violência doméstica. Precisamos mudar esse quadro, que não condiz com a maioria do povo que se diz cristão”. Depois, no início de sua reflexão, fez a homenagem às mulheres, pedindo que as musicistas do Oitavário ficassem de pé: Rosilene, Bárbara e Laís. “Elas representam todas as mulheres, nossas trabalhadoras, as mães,
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as profissionais de saúde. Recebam, da nossa parte, um carinhoso muito obrigado! Cobrem de nós, homens, o compromisso de sermos mais sensatos, mais fraternos, mais respeitosos na lida com vocês. Recebam, com todo carinho, nossa homenagem, nosso aplauso e o aplauso de todos que nos acompanham nas redes sociais”, disse Frei Gustavo, pedindo um viva a todas mulheres. “Que Nossa Senhora abençoe a todas!” Depois, Frei Medella leu o início do Evangelho - “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’” - e fez a seguinte comparação: “Estando fechadas as portas. Se trocarmos ‘por medo dos judeus’ e colocarmos ‘por medo do coronavírus’, quais são as portas fechadas hoje? E como Jesus transpõe essas portas e se faz presente nessas situações onde o medo adquire muita força? Estando fechadas as portas do hospital e da UTI por medo do coro-
navírus, de que maneira Jesus se faz presente ali onde, a princípio, parece que as forças da morte estão muitos fortes, muito evidentes?”, perguntou o celebrante. “Não tenho dúvida de que ele se faz presente em cada destemido profissional de saúde, que coloca em risco a própria vida, que se afasta do convívio de sua família para ser família daqueles que não podem conviver com os seus por conta das restrições de um isolamento muito dolorido e difícil. E Jesus, na voz desse profissional de saúde, chega bem perto do ouvido deste doente, com todos os equipamentos que as normas prescrevem, e é capaz de dizer: ‘tudo o que estiver ao meu alcance fazer para que você recupere a saúde, eu vou fazer’”, ensinou. “Não tenho dúvida que é Jesus falando e levando um pouco de paz para aquele coração aflito numa casa de família, onde começa vir o medo da fome. Estando as portas fechadas, por medo do coronavírus, aparecendo também o medo da fome, Jesus se encarna na presença de pessoas e de organizações generosas que sabem pensar
especial// no outro e se organizam para que não faltem nada para ninguém. Bate na porta, nem se apresenta, e deixa uma cesta básica naquela porta. A mãe abre e, eis a paz temporária que se instala no seu coração, ao saber que vai ter um almoço, uma jantinha e um café para ela e para os seus”, observou. Segundo o frade, esses são alguns dos modos em que Jesus continua sendo presença de paz entre nós e através de nós: “Ele nos ajuda a vencer o medo. Ele nos ajuda a cultivar a esperança de que, juntos, solidários, atentos umas das necessidades dos outros, tolerantes, e abertos ao diálogo, nós teremos condições de vencer o flagelo deste pandemia”.
Para encerrar, Frei Medella deixou uma palavra de muito carinho para os frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. “São Francisco de Assis fundou a Ordem Franciscana numa pequena capela dedicada a Nossa Senhora, Santa Maria dos Anjos, em Assis, na Itália, um terço, mais ou menos, desta capela aqui do Convento da Penha. E essa capelinha, pequena, é muito grande e importante para todos os franciscanos. É chamada a Porciúncula, a pequena porção onde nasceu a experiência, o carisma, o modo de viver inspirado por Francisco de Assis. Não temo em dizer, queridos confrades, que o Convento da Penha, para a nossa Província
Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, é esta Porciúncula de onde nascem as melhores esperanças, de onde brotam sinceras orações, que sustenta e anima a vida e a missão de nossos frades espalhados no território onde nossa Província se faz presente: Do Espírito Santo a Santa Catarina, e também em Angola e outros países onde temos irmãos em missão”, homenageou. “Que Nossa Senhora das Alegrias, a Virgem da Penha, olhe e interceda por todos nós, frades franciscanos, por todas as mulheres, pelos nossos governantes e dirigentes e por todo o povo capixaba!”, completou.
Bênção do Santíssimo pelo fim da pandemia no Convento da Penha Os frades do Convento da Penha deram uma bênção especial a todos os capixabas, brasileiros e pessoas que estão sofrendo com a pandemia do coronavírus em todo o mundo após a Missa das 15 horas na quarta-feira (25/03), transmitida ao vivo pelo Facebook e pelo Instagram do Convento. Frei Pedro de Oliveira Rodrigues preparou o Ostensório com Jesus Eucarístico e conduziu um breve momento de Adoração no Altar principal da Capela. Em seguida, os frades fizeram uma pequena procissão até a varanda do Santuário, no alto da Penha Sagrada. Essa celebração on line possibilitou que fiéis
pudessem acompanhar em todo mundo. Frei Pedro apontou o Santíssimo aos três lados da varanda, concedendo a bênção final a todos os cantos, abrangendo todas as pessoas do mundo inteiro, num momento comovente e repleto de devoção. A celebração teve como objetivo rezar pelo fim da pandemia, abençoar o povo que não pôde sair de casa e reafirmar o poder da Sagrada Eucaristia como fonte de salvação e redenção a todos os povos que estão sofrendo com o coronavírus. Muitos fiéis que assistiram a transmissão colocaram suas intenções e aflições a Cristo Eucarístico.
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Romaria das Famílias Luzes piscando dos apartamentos e casas, fiéis usando máscaras e ajoelhados durante a passagem do cortejo, devotos saudando a frota com “vivas”. Fazendo jus à tradição, o sábado da Festa da Penha foi marcado por esses e outros incontáveis gestos fervorosos dedicados à Padroeira do Estado ao longo dos 50,3 km da Romaria das Famílias, que este ano, por conta da pandemia do novo coronavírus, estreou, em caráter excepcional, e substituiu à altura a histórica Romaria dos Homens e seus 14 km. Em quatro horas e meia de um cortejo comovente por regiões da Grande Vitória, o que se viu foram pedidos de bênção para um mundo melhor e demonstrações de carinho e amor diante da imagem da santa, que desfilou em um caminhão do Corpo de Bombeiros, um dos veículos integrantes do comboio. Em um minitrio, incansáveis, os
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Freis Paulo Roberto Pereira, guardião do Convento, e Pedro de Oliveira, conduziram a celebração sobre rodas, que partiu do Centro de Vitória, da região da Praça Costa Pereira, às 20 horas do sábado (18), seguiu até a área da rodoviária da capital, voltou pela Vila Rubim, acessando depois a Beira-Mar. Eram os quilômetros iniciais de uma festa itinerante que só foi acabar por volta da 0h30 do domingo (19), embalada com músicas religiosas compostas em tributo a Maria. “Momento histórico. Certamente os livros de História vão registrar essa romaria”, disse, entusiasmado, Frei Gustavo ao ver a imagem nas ruas. Na chegada à Prainha, a mensagem transmitida pelos religiosos serviu de alento para quem observava as cenas. “Estamos aos pés do santuário. A imagem de Nossa Senhora desceu nesta noite para nos abençoar”, falou
Frei Paulo. “Sairemos mais forte desta turbulência, pois temos uma mãe que intercede por nós.”
IMAGEM ILUMINADA
A mensagem de esperança e a certeza que a Mãe das Alegrias roga por seus devotos esteve simbolizada este ano mais uma vez pela Imagem Iluminada de Nossa Senhora da Penha, que foi acesa na parte central da Praça do Papa, em Vitória, na noite do sábado (04/04), iniciando os festejos da programação da Festa da Penha 2020. A imagem, de 15 metros de altura, teve 120 mil microlâmpadas montadas em uma estrutura de ferro e teve o projeto desenvolvido pela XTR Eventos. Toda a parte estrutural da Imagem foi de responsabilidade do empresário Max Bruno Miossi, em conjunto com Mario Gallerani Junior, que fez toda a parte de iluminação artística cenográfica.
especial//
Edição histórica e transformadora Em abril do ano passado, ao término da edição da Festa da Penha se deu o anúncio de que a edição de 2020 marcaria os 450 anos de fé, devoção e piedade cultivadas a partir da Penha Sagrada. Assim, a Festa da Penha 2020 nasceu histórica. No entanto, nem o mais atento observador dos movimentos do universo poderia imaginar o que a história reservaria aos devotos da Virgem, Mãe das Alegrias. A um mês do início do Oitavário, reunidos os canais da imprensa, a Festa 2020 foi apresentada nos mesmos moldes em que ela havia sido realizada nos últimos anos, com rezas no Campinho do Convento, diversas romarias, celebrações no Parque da Prainha, além de uma criativa programação cultural. Entretanto, o temido avanço da pandemia do Covid-19, que deixava suas funestas marcas em diversos países mundo afora, obrigou as autoridades de saúde do Estado a promulgar normas e sugerir condutas que não favorecessem a concentração de pessoas. Diante disso, como celebrar a Festa da Penha onde, em cada um dos nove dias, os romeiros são contados aos milhares? Com rapidez a Equipe Organizadora da Festa antecipou-se às dúvidas que poderiam surgir e sacramentou: A Festa da Penha 2020 não será cancelada; irá acontecer numa modalidade totalmente nova, realizaremos a Festa da Penha virtual e interativa. A bem da verdade, tal afirmação tinha a determinação como fundamento, ao mesmo tempo comportava a apreensão, própria dos projetos ousadamente inovadores. O convencimento dos patrocinadores para que conseguissem perceber que a projeção de suas marcas ganharia notável visibilidade
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foi a primeira tarefa. Os patrocínios não foram garantidos na totalidade, mas foram essenciais para que a Festa pudesse acontecer. Merece destaque o empenho pessoal do Governador do Estado, sensível à importância da Festa e agradecido pela decisão de organizá-la de modo a respeitar as medidas tomadas no combate à expansão da pandemia.
gens via Whatsapp e comentários no Facebook, Instagram e Youtube. As múltiplas restrições de ajuntamento de pessoas influenciaram a forma de organizar, inclusive, a liturgia. Coube aos frades do Convento dividir a maior parte das funções litúrgicas. Padres das Áreas Pastorais da Arquidiocese se revezaram a cada noite na presidência das celebrações.
Reviver as alegrias de Maria com criatividade
Interação
A adequação do que havia sido programado anteriormente ao novo modelo da Festa exigiu criatividade da organização. Assim, as celebrações do Oitavário foram mantidas nos dois horários previstos, bem como as atrações artísticas; essas, aliás, mereceram destaque na programação virtual. Foi criado um programa diário denominado “Salve, Mãe das Alegrias”. Tal iniciativa veio a ser ferramenta para promover a interação pretendida por este modelo de Festa. A precariedade técnica foi sendo suplantada pela criatividade e, ao final dos nove dias de programação, o programa se estabeleceu como grande novidade da Festa 2020. Entrevistas, atrações musicais, momentos de prece, além de informações a respeito da programação, eram intercalados por participação das pessoas através de mensa-
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Merece destaque a aceitação do modelo de interação proposto. Ao longo dos dias do Oitavário o número de acessos às plataformas digitais do Convento foi crescendo. Tal crescimento veio seguido de sensível aumento de participação via comentários, envio de fotografias e mensagens. Nunca é demais recordar que grande parte dos devotos de Nossa Senhora da Penha pertence ao grupo daqueles nascidos antes do advento das tecnologias digitais e, mesmo assim, deixaram-se envolver pela nova modalidade de celebrar sua devoção. Os vivas, as palmas e acenos que enchiam o Campinho do Convento, o Parque da Prainha e as ruas de Vila Velha foram substituídos pelas manifestações eletrônicas de contentamento e alegria. A cada provocação as telas dos smartphones e computadores se enchiam de pequenos
corações e “emojis”, além das centenas de comentários, indicadores do desejo de participação daqueles que acompanhavam as transmissões. A Festa se valeu da extensa rede de comunidades espalhadas pelo Estado. Ação movida pela equipe de comunicação da Festa promoveu a integração das Pascom (Pastoral da Comunicação) e outros tantos organismos das várias Dioceses. Houve boa divulgação, além do compartilhamento da programação. Houve investimento nas plataformas digitais, mas em nenhum momento se descuidou dos meios tradicionais. Sob este aspecto a Rádio América teve papel singular. A partir dela, as rádios das Dioceses de São Mateus e de Cachoeiro retransmitiram as celebrações e demais momentos de devoção. Tratativas com responsáveis pela TVE ofereceram possibilidade de acesso a muitos televisores na região da Grande Vitória.
Aprendizado
A Igreja Católica sempre esteve atenta a sua obrigação e direito de utilizar os meios de comunicação para ampliar e qualificar o anúncio do Evangelho, afinal, comunicar é a sua grande missão. O advento da comunicação digital inaugurou um universo de possibilidades, trouxe consigo novas formas de linguagem e até de relacionamento entre as pessoas e instituições. A despeito de muitas conquistas, a velocidade das transformações das tecnologias da comunicação impuseram desafios ao trabalho dos agentes da evangelização. O mundo virtual, visto como oposição ao mundo real, por algum tempo foi considerado território infértil, impessoal, isentado de afeto. Entretanto, ao mergulhar nesse universo pode-se encontrar um campo propício ao anúncio do Evangelho. A Festa da Penha 2020, virtual e interativa, revelou a possibilidade de integração, de geração de comunhão através da internet. Nunca é demais recordar que os grupos de interesse
especial// formados a partir do “finado” Orkut – pioneira plataforma digital de relacionamento – eram denominados comunidades. Em tempos de Pandemia, a internet ampliou a comunidade dos devotos de Nossa Senhora das Alegrias; expandiu os limites e abrangência do anúncio da alegre notícia da ressurreição do Senhor. A Festa da Penha 2020, virtual e interativa, evidenciou a urgência de
encher de Evangelho a realidade virtual, hoje marcada pela falta de cuidado, pela mentira (fake News) que abre as portas à degeneração da dignidade e identidade humanas, que provoca intolerância, agressividade, mentira, anula a empatia, mata a capacidade do encontro, por força de consequência, mata a capacidade do exercício da bondade, da caridade, de toda a forma de amar. A nova normalidade a ser instau-
rada trará novamente ao Convento as centenas de milhares de devotos de Nossa Senhora, seja em breve. Contudo, a partir dessa edição histórica, a Festa da Penha nunca mais poderá ser organizada sem considerar as expectativas e possibilidades do universo virtual. Viva Nossa Senhora da Penha!
Frei Paulo Roberto Pereira
Cobertura da Festa da Penha 2020 Entramos para a história! Pela primeira vez realizamos uma programação virtual com transmissão ao vivo também pela TV Educativa-ES, Rádios América e Espírito Santo e demais veículos. Inauguramos o canal do Convento no YouTube, o que possibilitou um aumento bastante considerável na audiência e no alcance da Festa. O canal foi lançado no sábado de Aleluia e, com apenas 2h de divulgação, já havíamos atingido a marca de mil inscritos. Até o último dia da Festa, passamos de 13 mil inscrições. A começar pela inauguração da Imagem Iluminada na Praça do Papa, naquele dia começamos a bater recordes. Só no Facebook, atingimos mais de 100 mil visualizações. No Instagram, passou de 10 mil. O evento também foi transmitido pela TV Gazeta, ao vivo no ES2. As luzes sinalizaram que a Festa de fato havia iniciado. Deve ser considerado também o acesso facilitado nas redes sociais. Uma pessoa com internet reduzida ou mesmo com baixo alcance de dados móveis, pode assistir, acessar. Já algumas plataformas colocam propagandas obrigatórias, exigem cadastro prévio e são de difícil acesso. O Instagram foi outra ferramenta que nos surpreendeu bastante. Em apenas 10 dias, saltamos de 72 para 82 mil amigos seguidores. As transmissões ao vivo, quando somadas, chegam a 55 mil. O número de visitas
ao perfil também é surpreendente. Historicamente passamos de 57 mil acessos. Em relação à interação, segundo dados do painel de administração do aplicativo, 772.188 interações foram realizadas nos 636 Stories publicados. Já em interações nos posts foram 104.987, em 33 posts. No YouTube, uma ferramenta que passamos a utilizar nesta experiência da Festa Virtual e Interativa, passamos de 133 mil visualizações de vídeos, com mais de 13 mil inscritos e pelo menos 203 mil pessoas visitaram o canal. É importante ressaltar que as Missas também foram exibidas na fanpage da Arquidiocese de Vitória e que todo o material captado está disponível pelo Convento da Penha para elaboração de recordações, #tbts e etc. Foi uma grande responsabilidade, para nós enquanto “Comunicação do Convento”, e para nós enquanto pessoas, devotos
de Nossa Senhora da Penha. Outro destaque foi a transmissão da Missa de Encerramento da Festa, o ápice, onde atingimos índices espetaculares (264.711), levando em conta a transmissão da TV Gazeta, que apesar de não ser concorrente direta, nos possibilitou chegarmos muito longe. No total, em 9 dias, atingiu-se um público de: 851.336 (Facebook) 133.487 (Youtube) 2.264.588 (total) Nossa transmissão foi bastante observada pelos profissionais da área, bem como pelo público em geral. Levamos ao público uma festa dinâmica, com qualidade, comprometimento, responsabilidade e, sobretudo com o intuito de proporcionar a devoção. Elogiada por todos! Cristian Oliveira Assessor de imprensa do Convento COMUNICAÇÕES
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Sefras amplia atendimento à população de rua em São Paulo endo em vista o atendimento à população de rua, que já sofre com os efeitos da pandemia do coronavírus, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) ampliou o trabalho que é feito com esse público no projeto conhecido como “Chá do Padre”, Rua Riachuelo, no Centro de São Paulo, instalando uma tenda no Largo São Francisco, no centro de São Paulo, com capacidade para atender até mil pessoas. Esse serviço teve início na sexta-feira, 27 de março, visando três objetivos: 1) evitar as aglomerações nos espaços de cuidado e distribuição de alimentos voltados para esta essa população; 2) aumentar a oferta de alimentação para atender a demanda; e 3) dar apoio e espaço às iniciativas de solidariedade de pequenos grupos, movimentos e organizações. A tenda tem 200m² foi preparada
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seguindo normas e procedimentos sanitários específicos para a ação contra a pandemia. O local também contará, separadamente, com espaços para doação de alimentos e para outras organizações realizaremar ações de apoio à saúde e assistência social. “Esse é um trabalho amplo que vai de encontro com os nossos valores”, explica Frei Diego Melo, coordenador da Frente da Solidariedade para com os Empobrecidos da Província da Imaculada Conceição. “Nós, enquanto franciscanos, acreditamos que toda a ação voltada para os mais pobres, sempre tem que ser baseada em três eixos: acolher, cuidar e defender”, explicou. Segundo seu exemplo, diante da fome que assola, diante da necessidade básica, é preciso de modo imediato realizar ações para minimizar essas necessidades inerentes ao ser humano. “Então, essa acolhida, essa atitude
emergencial, não esperam muita reflexão”, adianta. Para Frei Diego, o segundo eixo é a dimensão do cuidado. “O segundo passo é o da devolução da dignidade desses irmãos em situação de rua. Mais do que oferecer um prato de comida, a gente quer levar também a humanização dessas pessoas. Quer oferecer um olhar, um carinho, um gesto de atenção. Sabemos que a fome se manifesta de diferentes formas. Existe essa fome física, mas existe a fome de sentido, a fome de atenção”, explicou. Defender é o terceiro verbo que norteia as ações dos franciscanos. “Significa comprometer-se com a causa dos mais pobres. Nesse eixo está também a nossa profecia, a nossa capacidade de denunciar os modelos que geram esta pobreza. Mais do que acolher e cuidar, é preciso lutar pelos direitos dessa população”, ensina o frade. Com a pandemia da Covid-19, a
especial// situação tem se agravado, resultando em uma maior procura a serviços, em especial de alimentação. “O Sefras não fechou as portas, pois entendemos que a situação é emergencial. Continuaremos acolhendo essas pessoas que necessitam de nossa ajuda”, adiantou Frei José Francisco, diretor presidente do Serviço Franciscano de Solidariedade. Segundo dados do Censo publicado neste ano, cerca de 24.334 pessoas vivem em situação de rua na capital paulista. Desta população, 45,38% (11.048) estão na Subprefeitura da Sé, formada pelos Distritos da Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília e Sé; região em que estão situados os serviços do Sefras de atendimento a essa população, cuja média é de 700 pessoas diariamente. A iniciativa faz parte do programa Ação Franciscana - Acolher, Cuidar e Defender - do Sefras para conter o avanço do coronavírus em população de baixa
renda e alta vulnerabilidade assistidas por seus programas. Ao todo, o Sefras atende a mais de 2 mil pessoas por dia, como crianças, idosos, população em situação de rua e imigrantes. “Nosso objetivo é ir além dos
serviços que já prestamos e transformar nossos espaços em ambientes de acolhimento e cuidado para aqueles que não têm como ficar em quarentena ou isolamento”, acrescentou Frei José Francisco.
Jovens se juntam às ações de solidariedade
Jovens voluntários vieram de diferentes cidades para ajudar na Tenda Franciscana do Largo São Francisco de SP
Em tempos de coronavírus, a Igreja do Brasil não ficou parada. Com ajuda da tecnologia, celebrações e momentos de oração chegaram às famílias nos distantes rincões do país. Essa mudança também chegou à Província da Imaculada Conceição do Brasil, através de suas paróquias, conventos e santuários no Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Ao mesmo tempo, ações de solidariedade reuniram os frades e jovens missionários franciscanos num grande mutirão a favor dos mais pobres e esquecidos por grande parte da sociedade e pelo poder público, especialmente os moradores em situação de rua. Iniciativas vêm do Sul e do Norte da Província. “É com grande alegria que estou acompanhando todas essas iniciativas evangelizadoras em nossa Província durante esse tempo de pandemia”, constata Frei Diego Melo. COMUNICAÇÕES
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“Creio que o Coronavírus despertou muitas fraternidades e comunidades para um novo modo de ser Igreja, um novo modo de vivenciar a fé. A necessidade fez despertar uma criatividade pastoral que certamente deixará muitos frutos para o nosso modo de Evangelizar. Além disso, destaco o protagonismo jovem nas principais iniciativas de Solidariedade para com os mais empobrecidos”, avalia o frade. De modo geral, segundo Frei Diego, embora tenham o apoio das Fraternidades Franciscanas, quem está na linha de frente, no contato direto e na grande articulação de toda essa movimentação são os jovens. Alguns atenderam o apelo de Frei Diego para ajudar na Tenda Franciscana, armada no Largo São Francisco, no centro de São Paulo, e vieram de longe, como
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Mariana Lopes Florencio (Bauru, SP), Reginaldo Taborda Ribas (Campo Largo, PR) e Maurício Bernz (Maringá, PR). Da cidade catarinense de Lages, Elisa Lima, Cíntia Melo e Igor Marafigo falam do Projeto Amar; em Curitiba, o projeto Ação Solidária, da Paróquia Bom Jesus dos Perdões, atende 5 mil pessoas; a campanha “O Meu Próximo”, da Paróquia São Luiz Gonzaga, juntamente com a Rádio Cultura e a Pastoral da Juventude, está arrecadando alimentos não perecíveis; o Serviço Franciscano de Solidariedade da Fraternidade Porciúncula de Niterói também faz campanha para angariar produtos para cestas básicas; “Creio que essa atitude tem um sinal profético muito grande, pois são eles, que no auge da sua juventude, nos mostram um jeito de ser Igreja
que não se reduz às burocracias eclesiásticas ou a uma vivência estritamente sacramental da fé. São os jovens que, através das suas atitudes, entusiasmo, liderança e decisão anunciam uma igreja mais samaritana, comprometida, próxima e que sabe colocar-se a serviço”, celebra Frei Diego. Para Frei Diego, a atitude desses jovens também é uma provocação para um modelo de igreja autorreferencial, ensimesmada e preocupada demasiadamente consigo mesma. “A capacidade deles superarem o medo, o preconceito e até mesmo o receio de suas famílias pelo contágio, é um forte testemunho de que o isolamento social não pode ser desculpa para um enclausuramento existencial e eclesial”, observa. “Na liberdade dos seus corações sonhadores, idealistas
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Elisa em primeiro plano com o grupo de voluntários em Lages e livres, estão vencendo um vírus tão presente em muitas estruturas eclesiais, o vírus de um fechamento estéril e autorreferencial”, denuncia.
O PROJETO AMAR DE LAGES
Na cidade de Lages, desde o dia 18 de março, os missionários Franciscanos, em parceria com a Pastoral de População de rua e Diocese de Lages, vêm preparando o jantar para pessoas em situação de rua, que reúne aproximadamente 100 pessoas e alguns imigrantes, pois é uma cidade de ligação a outras regiões. É o Projeto Amar, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, assistida pelos frades da Província. “Nosso bispo diocesano, D. Guilherme Antônio Werlang, em conversa
com o prefeito, solicitou que tivesse um abrigo para nossos irmãos, principalmente nesse momento em que a preocupação com a saúde também o ponto alto de contágio. Foi liberado parte de uma escola para que pudessem tomar banho e dormir. Conosco, fez uma parceria para auxiliar na alimentação. Durante todos esses dias, pudemos contar com a solidariedade e generosidade das comunidades, que auxiliam nas arrecadações tornando possível essa ação”, explica Elisa Lima, que vê nesses irmãos o Cristo vivo e imigrante. “Em contato mais próximo com eles, pudemos também perceber a fragilidade da vida humana; o que para nós é tão simples, uma sopa, um arroz com feijão, quirera (prato típico
Igor em primeiro plano durante o trabalho no projeto de Lages
da região), para nossos irmãos é um banquete”, atesta. “A pandemia está aí, é fato, mas não podemos deixar de viver a missão. Seguimos com todos os cuidados necessários, pois até agora, pouco ou nada fizemos”, conclama Elisa. Para Cintia Melo, que começou há algumas semanas no voluntariado, sua percepção de mundo mudou. “Me sinto tão rica e tão pobre ao mesmo tempo, tenho tanto a compartilhar mas nenhum pouco da bagagem que eles carregam. O momento mais bonito que, por vezes, me enchiam os olhos de lágrimas era ver que mesmo em meio a tudo o que eles passavam, que tão pouco eu sabia, não perdiam a fé. Agradeço a todos que se comprometeram e puderam nos ajudar com as doações. O mundo está rodeado de meras estrelas e se nos unirmos em prol do bem, viramos uma constelação”, ensina. Para Igor Marafigo, o trabalho o ajudou superar barreiras. “A primeira foi a do medo. Medo esse que adquiri pelo preconceito que criei através da sociedade que só os menospreza e diz COMUNICAÇÕES
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//especial que deveriam ser mortos para que a pobreza acabasse. A barreira seguinte foi o entendimento. Entender que além do alimento e a pernoite, eles também lutam e buscam por dignidade e reconhecimento humano. Junto a eles, exerci o dom da empatia e acumulei muito aprendizado. Enfim, hoje sei da importância desse trabalho que desenvolvemos, e sei também que muito mais do que um alimento, eles buscam alguém que os valorize, escute e os reconheçam como ser humano que são”, pede.
“MÁSCARAS NÃO ESCONDEM SORRISOS NOS OLHOS”
Mariana Lopes Florencio, 29 anos, participa da Paróquia Santa Clara de Assis de Bauru (SP), ficou sabendo do voluntariado no Sefras de São Paulo e, com ajuda de uma “vaquinha”, conseguiu o dinheiro para viajar a São Paulo. “Eis, que no dia 30 de março, embarquei no ônibus com destino a São Paulo. A cada dia é uma experiência nova. Cheguei aqui totalmente insegura, mas com muita vontade de ajudar, consciente de que estaria saindo do meu conforto, do meu porto seguro, da minha família, do meu comodismo de certa pra forma, para poder me colocar em risco”, contou. Na Tenda Franciscana, distribui as “quentinhas”: “O meu coração se alegra de estar ali e entregar uma marmita, uma água, um suco, um talher, enfim seja o que for. Essa alegria poderia ser transmitida por um sorriso, porém, devido às máscaras, os sorrisos ficam ocultos, mas os nossos olhos sorriem e os moradores de rua percebem isso. A cada dia vemos a providência divina e, muitas vezes, o milagre da multiplicação e o bonito é saber que não importa sua religião, credo, etnia, raça, cor... O mais importante é fazer o bem! Esses dias têm sido gratificantes e são experiências que vou levar pra minha vida toda. Esses poucos dias do meu voluntariado têm me ajudado a ser uma pessoa melhor, destruindo muitos conceitos e mostrando o
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Mariana em ação na Tenda Franciscana verdadeiro sentido do Amar, Cuidar e Defender”, garante Mariana.
AÇÃO SOLIDÁRIA EM CURITIBA
Uma barraca em frente a Igreja Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba, mostra todo o trabalho da Ação Solidária para levar comida a quase 5 mil moradores de rua. “A razão de ser toda a religião é cuidar: receber o cuidado de Deus e retribuir esse cuidado aos que mais necessitam”, explica o pároco Frei Alexandre Magno. Segundo o frade, o projeto já existia, mas a pandemia aumentou a sua importância.
PRONTO ATENDIMENTO
O jovem missionário franciscano, Reginaldo Taborda Ribas, 34 anos, não perde os eventos da Província e assim que viu o apelo de Frei Diego para
ser voluntário no Sefras, deixou sua cidade, Campo Largo (PR), na região metropolitana de Curitiba para se juntar a esse exército de solidariedade. “Atualmente estou desempregado e me disponibilizei a fazer esse trabalho porque gosto de ações de solidariedade, principalmente com moradores de rua”. Mesmo sendo local de grande concentração, o que pode ajudar na propagação do vírus, Reginaldo diz que é muito gratificante poder contribuir e ser útil para fazer o bem ao próximo.
O MEU PRÓXIMO
Ainda vivendo o grande momento das Missões Franciscanas da Juventude, a Paróquia São Luiz Gonzaga de Xaxim (SC), juntamente com a Rádio Cultura e a Pastoral da Juventude, promove a campanha “O Meu Próximo”
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Fila ao lado da Igreja Bom Jesus dos Perdões em Curitiba para arrecadar alimentos não perecíveis. “Ajude quem precisa, faça parte desta corrente!” e “Quem tem fome tem pressa, as pessoas precisam de nós!” são chamadas constantes nas mídia da cidade.
CORRENTE DO BEM
Segundo o Serviço Franciscano de Solidariedade da Paróquia Porciúncula de Santana de Niterói (RJ), mais de 150 famílias assistidas pelo serviço, mas nesse momento de dificuldades, a demanda aumentou. Para isso, o serviço está recebendo as doações de alimentos e as doações também podem ser feitas por depósito bancário. A corrente do bem continua em Nilópolis com um apelo aos jovens franciscanos. “Agora é nossa hora de ajudar com
força total, jovens! A partir de 16h30 na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na quarta-feira. Esperamos vocês. Precisamos de jovens para fazer o alimento e também para distribuir”. O
apelo incluiu além do alimento, kits de higiene. O serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Fraternidade Santo Antônio e a Pastoral do Povo da Rua da Região Pastoral São João de Meriti, da Diocese de Duque de Caxias, estão distribuindo panfletos e cartazes com orientações para a população em situação de rua para ajudar a prevenir a Covid-2019, causada pelo novo coronavírus. A iniciativa visa ajudar na prevenção e tirar da invisibilidade grupos que vivem em extrema situação de vulnerabilidade social.
DE TODO O CORAÇÃO
Jovem missionário franciscano Reginaldo Taborda
Na cidade de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, está nascendo o projeto “De todo Coração”, que fez a COMUNICAÇÕES
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Pamela Chiapetti. em primeiro plano, fala do projeto “De todo o coração”, que nasce em Campo Largo (PR) sua primeira ação. “Aqui em Campo Largo há uma família que já faz há alguns anos esse trabalho com as pessoas em situação de rua, e foi grande nossa comunhão com o Sefras no sentido de sairmos da nossa zona de conforto para podermos fazer algo também. Chamamos o projeto “De todo coração”, em sintonia com São Francisco: “É isso que queremos, é isso que procuramos, é isso que desejamos irmãos fazer de todo coração...”, explica Pamela Chiapetti. Segundo ela, por ser cidade pequena, as pessoas vulneráveis não estão tão expostas como em cidades grandes e imaginava que seriam uns 3 ou 4. “Mas quando fiz essa ação, vi quantos são e quantas vidas há por trás desses números com histórias inimagináveis”, explicou. Para Pamela, ao conhecer a história de São Francisco, sempre soube que sua maior barreira seria entender as vulnerabilidades existenciais. “Mas sempre tive grande em meu coração transpor essas barreiras. Me abri, conheci e mudei muitas ideias com conhecimento e au-
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toconhecimento. Meus valores como ser humano estão cada vez mais firmados e em sintonia com os valores que Jesus Cristo nos ensinou”, indicou.
LUTA E RESILIÊNCIA
“Minha família e minha paróquia (Santa Clara de Assis - Imbariê - RJ)
sempre me ensinaram a importância da solidariedade. Vivemos em um bairro pobre, com pouco acesso a saneamento básico, educação de qualidade e segurança, contudo muito rico em luta e resiliência. As periferias tendem a sofrer mais nos períodos de crise e, neste período
especial// de pandemia devido ao coronavírus (COVID-19), não está sendo diferente. Já que não podemos contar muito com a ajuda do Estado e nos resta unir as pessoas de bom coração e ajudar os que mais precisam”. O depoimento é de Bruna Maria da Paróquia Santa Clara, que montou e continua montando cestas para ajudar as famílias que já acompanhavam antes e agora conseguiram ajudar até mais famílias. O FAIM (Festival de Artes em Imbariê) e parceiros também está fazendo a distribuição de cestas nos bairros do Terceiro Distrito de Duque de Caxias. “Tem sido um período de muita reflexão. Estamos vendo pessoas abdicando de sua segurança para ajudar o próximo e se isso não é construção do Reino de Deus, eu não sei o que é”, questiona essa jovem franciscana. “Temos visto a face de Cristo em todos que ajudam e principalmente nos que precisam nesta onda de amor. Minha prece é que não esperemos um momento de crise para aflorar nossa sensibilidade”, ensinou. Siga o instagram da paróquia: @staclaraimbarie; instagram do FAIM: @faimfestival.
Para Bruna, a segunda da esq. para dir., a solidariedade vem de berço e não é diferente nesses tempos de pandemia. Frei Diego acredita que todas essas iniciativas pastorais e de solidariedade irão nos ajudar a vencer outras doenças. “Uma é a da Cúria Romana, denunciada pelo Papa Francisco em 2015 e que, certamen-
te, está presente em nosso meio, que é a doença da planificação excessiva e do funcionalismo, quando o apóstolo planifica tudo minuciosamente e julga que, se fizer uma planificação perfeita, as coisas avançam efetivamente, tornando-se, assim, um contabilista ou comercialista. É necessário preparar tudo bem, mas sem nunca cair na tentação de querer conter e pilotar a liberdade do Espírito Santo, que sempre permanece maior e mais generosa do que toda a planificação humana (cf. Jo 3, 8). Cai-se nesta doença, porque «é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de O regular e domesticar – domesticar o Espírito Santo! – (…) Ele é frescor, criatividade, novidade». Que possamos sair dessa pandemia mais solidários, fraternos e realmente entusiastas daquela radicalidade evangélica que encantou Francisco de Assis”, deseja Frei Diego. COMUNICAÇÕES
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Notícias de Angola: pandemia avança lentamente avanço da pandemia em Angola está lento, mas, mesmo assim, o acompanhamento está sendo atencioso tanto pela parte do Governo como pela parte dos bispos. O povo, a seu jeito, vai colaborando. Os únicos casos que Angola registrou são importados, pessoas que tiveram contato com países onde a doença já está alastrada, como Portugal, Estados Unidos, Espanha. Porém, nenhum caso foi comunicado em Angola até março, embora muita gente tenha espalhado pelas redes sociais a existência de possíveis casos ainda ocultados pelo Ministério da Saúde, mas nada concreto. Até o momento, parece que nossos agentes estão conseguindo conter e evitar o contágio e a propagação da pandemia Covid-19. Cada dia é apresentada a atualização
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de dados. Temos até o momento 27 casos confirmados, com 2 mortes. Há 446 pessoas em quarentena institucional e foram recolhidas mais 200 amostras que se encontram em processamento. Com a chegada dos médicos cubanos (mais de 200 médicos), estão sendo cogitadas realizações de testes em massa nas comunidades, o que deve começar nos próximos dias. Como medida preventiva, foi decretado estado de emergência (onde foram suspensas todas as atividades letivas em todas as instituições de ensino público e privado. Desde o dia 24 de março, por um período de quinze dias e que foram prorrogados automaticamente até ao dia 25 de abril em função do comportamento global da pandemia Covid-19. As mesmas medidas foram aco-
lhidas pelos nossos bispos da Igreja Católica, suspendendo assim todas as atividades religiosas (missas semanais e dominicais, confissões, via-sacra, retiros, peregrinações, visitas aos Santuários, vigílias, ensaios de grupos corais, catequeses, encontros de grupos e movimentos). Em nossas casas, a pandemia afetou nossas atividades fraternas e pastorais; sabe-se de antemão que a maioria das nossas casas são de formação e casas paroquiais. E desde o princípio do ano, são traçados planos de evangelização e atuação. Com o devir da pandemia Covid-19, tudo foi como que por “água abaixo”. Exigiu de nós uma nova reorganização e nova forma de atuação: cancelamento de compromissos para observar o distanciamento social, alterações de agendas etc.
especial// De modo particular, na Fraternidade do Palanca houve alterações na rotina na parte da manhã — que normalmente é reservada para estudos acadêmicos na Faculdade de Filosofia. Apesar de haver as celebrações diárias e os trabalhos fraternos de rotina, a pandemia veio mudar sim a nossa forma de labutar. Durante este período, não conseguimos exercer as outras atividades que estamos habituados a fazer, tudo porque a maioria das instituições estão fechadas, tem documentos vencendo e não podem ser renovados etc. Os nossos freis estudantes estão tendo alguns trabalhos acadêmicos enviados pelos professores e muitas leituras. Também foram criados grupos de Whatsapp para esta mesma interação de alunos e professores. Nas demais casas de formação, a vida segue o seu curso. A formação franciscana não sofreu alterações, os mestres continuam com seu programa de formação, tanto no aspirantado, postulado, noviciado e filosofia. Sempre tomando as devidas medidas de segurança. Estamos colaborando com os agentes sanitários e as medidas preventivas que vão sendo oferecidas. Por conta do novo coronavírus e os estado de emergência, tivemos que pedir aos nossos funcionários para ficarem em suas casas até a situação ficar normalizada. Enfim, num modo geral, tem sido um período para orações comunitárias mais inten-
sas, momentos de estar juntos como fraternidade, estando mais antenados com as notícias da Província. Apesar de tudo, estamos vivendo um tempo muito especial da liturgia em Angola e quiçá do mundo. A Quaresma, Semana Santa e o Tríduo Pascal foram muito bem celebrados pelas fraternidades. No Palanca, a Fraternidade cuida também da Paróquia São Lucas. Com o decreto do estado de emergência e o comunicado dos bispos de Angola e São Tomé, foram canceladas as missas com o povo, mas o pároco e presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus em Angola — Frei António Baza — a pedido do bispo, continua celebrando na sede paroquial em favor do povo que está confinado nas suas casas. Deste modo, a fraternidade adotou o método de celebrar diariamente as missas com as Irmãs Clarissas do Mosteiro Sagrado Coração de Jesus. Os confrades ordenados presidem as missas nas casas religiosas aos domingos e festas de guarda. É um período litúrgico que está acompanhado de uma oportunidade inigualável para vivermos a comunhão fraterna no seio da fraternidade, da família eclesial em geral. Uma das várias recomendações que a Igreja de Angola assume é o uso dos meios de comunicação como rádio, televisão, os boletins arquidiocesanos e paroquiais e outras redes
sociais para continuarmos a transmitir as celebrações eucarísticas e outras celebrações devocionais. Depois de uma reunião convocada pelo guardião da fraternidade, Frei João Canjenjega, assumimos o compromisso de que os frades ordenados façam assistências às casas religiosas e casas de formação das irmãs que atuam pastoralmente na Paróquia de São Lucas, em Palanca. O atendimento ao povo ficou resumido via redes sociais, programas radiofônicos e Facebook. Frei António Baza está pensando em criar um Boletim Informativo para este tempo, de modo a estar mais perto com seu rebanho. Apesar de ser um pouco difícil fazê-lo sempre, pois implica num gasto exorbitante da internet, temos sempre a paciência de fazer a homilias por escrito e partilhar no Whatsapp ou Facebook e sobretudo na Rádio Eclésia no programa “Gotas de luz”. Poderíamos dizer que é uma pandemia que veio des(ordenar) tudo o que já havíamos traçado, mas ao mesmo tempo está gerando uma nova ordem na vida individual, nas casas e na sociedade em geral ou seja, no âmbito eclesial, político e social há sinais de transformação. Recebam o abraço de toda a nossa Fraternidade Missionária de Angola. Paz e bem!
Frei João Alberto Bunga
Inundação no Kimbo São Francisco Frei João Baptista Canjenjenga conta que a Fraternidade São Francisco de Assis, em Palanca, sofreu no dia 18 de abril com as chuvas torrenciais que caíram em Angola. “A chuva começou por volta de 1h e terminou às 8 horas. O Kimbo São Francisco, que já acumula muita água conforme a disposição do terreno, dessa vez recebeu também a água dos vizinhos, que furaram o muro para escoar a água das chuvas. O quintal da Fraternidade também ficou com algumas poças d’água. E para aumentar a desgraça, algumas fossas ficaram cheias com o volume das águas”, explicou Frei João. COMUNICAÇÕES
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Disciplina e estudo em casa: o desafio do isolamento na Educação
ma das áreas muito afetadas pelo isolamento social ocorrido por conta da pandemia do novo coronavírus é a educação. Escolas, faculdades e universidades tiveram que suspender as aulas presenciais, ampliando as formas de comunicação com os alunos. Para Frei Ivo Müller, diretor do Instituto Teológico Franciscano (ITF), o novo cenário trouxe aprendizado não somente para os alunos, mas também para os docentes. “Confesso que a crise alavancada pelo isolamento social transformou-se num verdadeiro aprendizado destas novas ferramentas. Foi exigente, mas deu bom resultado, onde aprendemos que uma aula virtual, seja ela ao vivo ou gravada, é muito mais exigente que uma aula dada em modo presencial”, afirma Frei Ivo.
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Nos campus da Universidade São Francisco (USF), foi adotado um período de aulas à distância. Em abril, parte do período de férias foi antecipado, para evitar prejuízos de conteúdo, carga horária e minimizar possíveis impactos nas atividades
práticas. Segundo o profº Dilnei Lorenzi, Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão (PROEPE), a preocupação é inerente ao momento. “Vivemos um período complexo, que ultrapassa a esfera da Universidade, mas todas as decisões estão pautadas em diminuir o impacto na saúde coletiva e não prejudicar o processo de ensino-aprendizagem. Com a ajuda da tecnologia e o comprometimento coletivo, estamos conseguindo superar os diversos desafios e estabelecer condições para que haja troca de experiências e saberes. Muitas iniciativas inovadoras surgiram nesse período e que irão, com certeza, contribuir na forma de ensinar e aprender no cenário
Professor Dilnei Lorenzi
pós-pandemia”, ressalta o pró-reitor. Em Petrópolis (RJ), as aulas presenciais aconteceram no ITF até o dia 17 de março. Porém, naquele dia, acatando as orientações da mantenedora, seguindo também o decreto do governador do Estado do Rio de Janeiro, foi baixada a primeira portaria, determinando a suspensão das atividades presenciais curriculares, extracurriculares ou de extensão dentro das dependências da Instituição. Ao mesmo tempo, os professores foram Marcelo Bianchini Fávaro orientados para que todas as atividades de ensino presenciais de Estudar em casa é um desafio caráter didático-pedagógico, previstas para alunos, pais e responsáveis no plano de ensino da graduação, Com as aulas acontecendo de fossem transferidas para o ambiente forma virtual, o maior desafio fica por de aprendizagem Classroom. conta do compromisso em participar Em 19 de março, atendendo ao efetivamente das aulas, empenhandoart. 1º da Portaria MEC nº 343, O ITF -se ainda mais nas atividades remotas. ficou possibilitado de substituir as Marcelo Bianchini Fávaro, gerente disciplinas presenciais em andamento pedagógico do Colégio Bom Jesus, do curso de Teologia por aulas que aconselha pais e responsáveis a aproutilizassem meios e tecnologias de veitarem este tempo para fortalecer as informação e comunicação nos limites relações com os filhos. “Sabemos que estabelecidos pela legislação em vigor este momento não é fácil, as preocuenquanto durar a situação de panpações são imensas, mas precisamos aproveitar cada possibilidade de intedemia. Com isto, não foi necessário antecipar as férias de julho. ração para reforçarmos ainda mais os Frei Ivo afirma que em uma laços familiares, que é o que nos mansemana, professores e alunos estavam adaptados à nova realidade. “A partir da necessidade, alguns professores iniciaram imediatamente a transmissão de suas aulas em modo remoto. Outros deixavam exercícios em forma de estudo dirigido. Uma semana depois, praticamente todos os professores já estavam transmitindo aulas, via virtual, ou transmitindo pela sala virtual as aulas gravadas, interagindo com os alunos, via Google Sala de Aula no horário de suas disciplinas ministradas, seja no esclarecimento de dúvidas, seja exigindo a devolutiva dos alunos em forma de textos transmitidos naquela ferramenta, pelo e-mail ou pelo Whatsapp”, informa.
tém fortes e perseverantes em um momento tão atípico”, aconselha o profissional. Segundo Marcelo, planejar o tempo é fundamental para obter bons resultados. Além disso, ele aconselha incluir — além do tempo de estudo — um momento para brincadeira com as crianças, ajudando-as a viver da melhor forma possível este período de isolamento, que interfere na rotina de toda família, causando muitas vezes preocupação e ansiedade. No Colégio Bom Jesus, foram adotadas as plataformas BJ Connect e a plataforma Google for Education, por meio do Google Classroom e do Google Meet. Segundo o gerente pedagógico, de segunda a sexta-feira, os coordenadores do Centro de Estudos e Pesquisas (CEP) do Colégio Bom Jesus postam aulas e atividades (videoaulas, formulários, podcasts, indicações de exercícios, leituras e outros) para que os alunos trabalhem dia a dia e não percam o contato com as atividades do colégio. Na quarta e na sexta-feira acontecem aulas ao vivo através do Google Meet, para que os estudantes possam revisar os conteúdos postados com os professores de suas respectivas unidades. No canal do YouTube,
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//especial são postados diversos vídeos com dicas de como estudar em casa, além de temas diversos. Além disso, ele afirma que sempre que possível, é enfatizado o cuidado com a higiene que as crianças e seus familiares devem ter neste período. “Outro ponto que vem sendo tratado, com participação efetiva dos frades, é o cuidado com questões espirituais e, principalmente, emocionais. Este momento é muito diferente de tudo que já passamos e mensagens de resiliência, prudência e perseverança são muito importantes. E ninguém melhor que nossos frades para fazê-lo”, Professora Doutora Márcia Aparecida Antônio ressalta Marcelo Fávaro. professores continuam atuando diaNo Bom Jesus, as aulas estão totalmente na modalidade on-line. riamente, por meio da produção de Na parte administrativa, os funcioconteúdos digitais e aulas gravadas ou ao vivo. nários estão trabalhando por escala, sobretudo no atendimento a dúvidas e orientações para pais e alunos. Controlar a ansiedade Outra parte dos colaboradores está e buscar o bem-estar trabalhando em regime de home Segundo a profa. Dra. Márcia Apaoffice e alguns estão tendo períodos recida Antônio, docente da USF, para escalonados de férias. Além disso, os obter bons resultados no ensino à
distância, é preciso controlar a ansiedade. “Nem tudo se trata de apenas produtividade e importa priorizar nosso bem-estar. O tempo todo somos bombardeados com notícias aterrorizadoras”, alerta. Ela sugere dedicar apenas uma parte do dia para se atualizar com as notícias. Além disso, ela destaca a importância de buscar fontes confiáveis para se informar. Apesar do isolamento físico, ela afirma que a comunicação com amigos e familiares é salutar, pois ajuda a afastar a solidão e as preocupações. “Somos seres gregários e o suporte social é essencial, ou mesmo indispensável, durante este momento. Recorra aos recursos tecnológicos para lidar com a solidão, abusando desta tecnologia para estreitar o distanciamento social e manter o contato com seus familiares e amigos. Também insira em sua rotina atividades que te fazem bem, destinando um tempo para os exercícios físicos e para as opções prazerosas”, orienta a docente.
TRÊS PASSOS PARA UM ESTUDO PROVEITOSO Por mais que se tenha os instrumentos necessários para estudar a distância — computador, celular ou tablet e uma boa conexão com a internet — a organização é um fator determinante para conseguir um tempo de estudo proveitoso. A profa. Dra. Márcia Aparecida aponta três passos para inserir a rotina de estudos em casa: m primeiro passo é garantir a U sinalização externa, ou seja, criar um cenário para que nosso cérebro identifique pistas desta nova rotina e, para tanto: 1. Busque um local em sua casa que seja iluminado e calmo, 2. Decore o local com elementos que você aprecia, como por exemplo, um
vaso de planta, 3. Use uma roupa de trabalho, estar de pijama sinaliza férias ou ir dormir 4. Elimine os ruídos e as distrações, colocando equipamentos eletrônicos, sobretudo o celular, no modo silencioso. pós garantir o cenário, é hora do A segundo passo, que envolve cuidar da sinalização interna, ou seja, firmar compromissos com você mesmo e, para tanto, é importante: 1. definir seus horários de estudo e ser fiel ao compromisso assumido, 2. determinar suas metas de trabalho para um dado período, elaborando em tópicos a relação de tarefas diárias, sempre com objetivos realistas
3. ficar atento para não se deixar atrair por redes sociais durante o horário de estudo definido. enário organizado e compromissos C assumidos, vamos para o terceiro passo, que visa garantir o andamento de todo processo, sendo indispensável: 1. cuidar de sua hidratação e assegurar uma alimentação saudável, abusando da água e chás, além de frutas da estação, 2. fazer pequenas paradas para movimentar o corpo e, sempre que possível, praticar a ginástica laboral 3. desenvolver a autodisciplina como estratégia imprescindível para o engajamento com seus objetivos.
Entrevista
Moema Miranda “Espero que esse ‘Apocalipse’ seja um novo ‘Gênesis’ em que possamos voltar a compreender que só em harmonia com o planeta podemos viver bem aqui” firme constatação é da antropóloga e franciscana secular Moema Miranda, que participou do Sínodo para a Amazônia no ano passado, em entrevista a Frei Gustavo Medella, vigário provincial da Província da Imaculada Conceição, para compreendermos melhor o que está acontecendo no mundo e no nosso planeta Terra diante da pandemia do novo coronavírus que assola quase todos os países. Frei Gustavo partiu do conceito, que não é do Papa Francisco, mas que é por ele abraçado, de que tudo está interligado no Universo, para iniciar esta reflexão com Moema e entender essa situação que estamos vivendo. Moema lamentou que, além da pandemia, há um “pandemônio”, uma falta de coerência e de conformação nas formas de lidar com a doença e que faz com que ela seja tão letal. “A privatiza-
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ção dos sistemas de saúde nos últimos anos e a fragilização dos sistemas públicos de saúde são elementos que se revelam agora na sua maior perversidade, porque são os sistemas de saúde que não estão preparados para acolher a população que precisa de atendimento”. Tão graves e “satânicas” são as posturas de governos, como o brasileiro, que minimizam a crise para evitar que a situação econômica se deteriore ainda mais. O governo Bolsonaro chegou a criticar medidas “alarmistas” de alguns governadores do país e o fechamento de escolas, o que gerou um grave conflito com os políticos regionais. “Não podemos estar colocados em alternativas satânicas: Você quer morrer de fome ou você quer morrer do vírus? Você quer morrer sem trabalho ou você quer morrer do vírus? Essas são alternativas satânicas das quais a gente deve fugir. Nós devemos, ao contrário, encontrar
vínculos que nos articulam. Como disse o Papa Francisco muito bem, não pânico, mas corresponsabilidade”, lembrou. Moema leciona a disciplina Conflitos Socioambientais do Instituto Teológico Franciscano (ITF) de Petrópolis (RJ) e integra a secretaria da Rede “Igrejas e Mineração” da CNBB. Ela também faz parte da coordenação nacional do Sinfrajupe (Serviço Interfranciscano de Justiça Paz e Ecologia) e assessora a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Atuou até agosto de 2017 no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e faz doutorado em questões ambientais pela PUC do Rio de Janeiro. Acompanhe a entrevista!
Comunicações – O Papa Francisco
insiste na ideia de que tudo está interligado. De maneira esta pandemia vem reforçar tal ideia? Moema - Essa é uma ideia que COMUNICAÇÕES
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//especial emerge dos estudos de ecologia, mas que hoje se revela com muita clareza. Quando o Papa Francisco lançou há cinco anos a encílica Laudato Si’, já era um prenúncio deste tempo. Na verdade, o coronavírus - e sua pandemia e sua expansão - é, sem dúvida nenhuma, uma questão ecológica. Eco no sentido de oikos, da casa, da forma como funciona a nossa Casa Comum. O Papa, na homilia tão maravilhosa que fez na sexta-feira (27.03), disse que seria muita ilusão nossa pensarmos que tudo está bem se o planeta está doente. Lembra que na encíclica Laudato Si’ dizia, no parágrafo 2: “Nós somos terra”. Então, não existe a possibilidade que o humano e o húmus, de onde somos feitos, separem-se num momento tão dramático. Na verdade, a questão da pandemia do coronavírus junta muitos fios complexos. Por um lado, um desrespeito humano aos biossistemas, aos ecossistemas das esferas de vida dos animais como um todo. Nós sabemos que, no momento que vivemos, nós atravessamos a sexta extinção em massa, com a devastação das florestas, devastação dos rios, devastação dos habitats naturais de um conjunto de seres outros, que ‘não humanos’, que coabitam conosco no planeta e que são essenciais para a vida de todo ecossistema e de todo planeta. Não existe possibilidade de os humanos viverem sem os ‘não humanos’ nessa criação maravilhosa. Mas quando a gente não respeita esses limites, quando a gente invade esses limites, o reverso também é verdadeiro. Da mesma forma quando a gente faz uma barragem no rio e depois vem uma chuva e o rio transborda levando a lavoura, e a gente diz: “O rio atravessou, o rio passou da conta”. Não! Nós é que passamos da conta da falta de limite. Então esse é um primeiro elemento: a falta de limite no respeito pelos ecossistemas onde vivem outros seres não humanos.
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Segundo, como nós já sabemos hoje, esse é um vírus que vem de um mercado de animais vivos, que ali são mantidos e são vendidos, numa intersecção entre diferentes animais, inclusive nós, que somos também um desses animais. As doenças vão passando e determinados microorganismos, que habitam em paz um ecossistema, quando são transmitidos para outros, viram doenças. A gente sabe que a diferença entre vacina e
elementos que se revelam agora na sua maior perversidade, porque são os sistemas de saúde que não estão preparados para acolher a população que precisa de atendimento. O vírus pode ser muito menos letal se as pessoas tiverem atendimento adequado e de qualidade num primeiro momento. O terceiro e fundamental elemento é o da falta de solidariedade internacional. Milão é um dos centros onde a doença causou uma dizimação impressionante - só nas suas dioceses, em dez dias, 35 padres morreram, as pessoas estão morrendo sozinhas nos hospitais porque não podem receber a visita de seus familiares e os corpos estão em fila nos necrotérios -, Milão, um pouco antes de entrar nessa fase, dizia: “Nossa economia não pode parar”. E aí vem uma força maior que diz: “para ou para”. Então, esse momento de prepotência humana e de falta de solidariedade, porque se quando a Itália começou a desenvolver a doença, a Nós, humanos, somos feitos União Europeia tivesse se da terra; nós somos filhos e filhas somado e dado atenção a da terra. Não podemos estar isso, entendendo como disse o Papa Francisco na homilia colocados em alternativas satânicas: da sexta-feira (27.03), que nós Você quer morrer de fome ou estamos no mesmo barco e você quer morrer do vírus? que, portanto, não é possível que os da proa se salvem, certamente, a difusão do vírus seria muito, muito menor. Além da veneno é muito pequenininha. É a pandemia, de uma epidemia mundose e o ambiente. Então num momento como esse, essa falta de limite dializada, um pandemônio, uma falta faz com que isso afete aos humanos de coerência e de conformação nas de uma maneira diferente do que formas de lidar com a doença, é que afetava a outros animais. Depois, na faz com que ela seja tão letal. globalização, o circuito e a circulação da população são intensas por todo o Comunicações – Pensando-se no mundo. Mas essa pandemia revela oucuidado com o ser humano e com a Casa Comum, o que se torna prioritros aspectos absolutamente fundamentais da economia, da forma como tário numa situação como esta? a gente está lidando com a economia. Moema - O mais importante nesse A privatização dos sistemas de saúde momento é retomar esse mesmo nos últimos anos e a fragilização conceito com que a gente partiu. Nós, dos sistemas públicos de saúde são humanos, somos feitos da terra; nós
especial// somos filhos e filhas da terra. Não podemos estar colocados em alternativas satânicas: Você quer morrer de fome ou você quer morrer do vírus? Você quer morrer sem trabalho ou você quer morrer do vírus? Essas são alternativas satânicas das quais a gente deve fugir. Nós devemos, ao contrário, encontrar vínculos que nos articulam. Como disse o Papa Francisco muito bem: não pânico, mas corresponsabilidade. Nós estamos vivendo uma emergência crônica e o planeta Terra está entrando numa nova fase. Numa fase do antropoceno, como já conversamos. Muitas coisas imprevisíveis acontecerão no nosso planeta. Mas, cada vez mais, a gente vai entender que não se salva sozinho. Não são os caminhos da individualização, do individualismo egoísta, os que podem nos levar a encontrar a solução. São, certamente, os caminhos da informação compartilhada, do cuidado com o bem comum, do respeito ao limite e da compreensão de que humanos e não humanos habitam o mesmo planeta, onde cabemos todos, mas o que não cabe é a lógica de uma economia que não se adapta aos limites do planeta.
Comunicações – E que
lições você espera que essa pandemia traga para a humanidade? Moema - Acho que um primeiro elemento muito inspirador - se é que posso falar assim - é que ele não afeta só os mais pobres. Vocês lembram a última grande doença que nos amedrontou, o ebola, que era evidentemente muito mais letal e matava 90% das pessoas afetadas, diferente dessa em que o nível de letalidade está entre 3 e 7%, ficou restrita a países da África, num canto recluso da África. Essa pandemia, o coronavírus, é muito mais capaz de nos ensinar, porque até o Primeiro Ministro da Inglaterra se
infectou pelo coronavírus. Artistas importantes estão infectados e isso nos mostra mais e mais que somos carne. Não importa - claro que as condições de saúde, as condições alimentares são vitais -, mas não é possível que todo dinheiro do mundo leve a que só uma elite do mundo seja salva. Então, o que eu espero é que esse ‘Apocalipse’ seja um novo ‘Gênesis’, seja um ‘Gênesis’ em que nós possamos voltar a compreender que só em harmonia
Nosso Planeta é maravilhoso, é cíclico, é sistêmico e é limitado. Então, é impossível crescer ilimitadamente a economia num planeta limitado
com o planeta nós podemos viver bem aqui. Esse não é um Planeta para nós temermos, como disse o Papa antes: ‘Deus ama a criação’. Esse é um Planeta de amor. Feito para o bem viver, para a abundância, feito para a alegria, para a festa e para a partilha. Mas a festa da partilha e da alegria precisam se basear nos limites do planeta. Uma economia que não para, num planeta que é cíclico, se transforma numa forma doente e patológica de habitar o planeta. Nós temos dito e voltamos a dizer: Nosso Planeta é maravilhoso, é
cíclico, é sistêmico e é limitado. Então, é impossível crescer ilimitadamente a economia num planeta limitado. Nós temos que aprender a nos adaptar e podemos viver muito bem adaptados aos limites do planeta. Como já disse um filósofo antes, a ideia de que a economia tem que crescer ilimitadamente num planeta limitado é a lógica das células do câncer, que se reproduzem independentemente da saúde do hospedeiro. Como disse o Papa na homilia (27.3), é impossível que os humanos vivam com saúde se o planeta está doente por sua ação de adoecimento do planeta. Achei a oração do Papa, na sexta (27.03), tão profunda, tão bonita, um momento místico tão importante, que nos lembra dessa fragilidade e da força que vem dessa fragilidade, do reconhecimento de que nós somos uns com a natureza, que o mundo não foi feito só para nós, que o mundo foi feito para a festa amorosa da partilha e da abundância entre humanos e não humanos. Que nós nos irmanemos, nos fraternizemos, como São Francisco de Assis nos ensinou, como uma grande fraternidade, com todo o universo cósmico, com todo esse universo que nos cerca. E que a gente aprenda a viver na suficiência, na sobriedade feliz como ensina o Papa. Que essa pandemia nos mostre o que é essencial na solidariedade, o que é essencial no consumo. Quais são as coisas que nós efetivamente precisamos para vivermos com dignidade. Saúde pública, educação de qualidade. E que a gente não precise continuar, como diz o Papa, obcecado por um consumo ilimitado de bens que desequilibra nosso planeta. Que essa pandemia, que esse ‘Apocalipse’, seja o ‘Gênesis’ de uma humanidade mais fraterna, mais solidária, mais ecológica. É isso que, junto com o Papa Francisco, eu rezo todos os dias. COMUNICAÇÕES
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A pandemia também mexe na rotina das Casas de Formação
pesar de manterem certa rotina, as Casas de Formação também sentiram os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus. A mudança no formato das aulas, do presencial ao virtual, a ausência do povo nas celebrações, suspensão das atividades pastorais e a preocupação com as famílias são sentidas com maior intensidade. No geral, pouca coisa mudou no cotidiano das Fraternidades. O secretário para a Formação e Estudos, Frei João Francisco, relata que fez um giro de conversas pelas Casas de Formação da Província por conta das exigências com a Covid-19, para saber da rotina, verificar alguma necessidade e prestar a solidariedade do governo da Província. Após a conversa, foi sugerida uma reunião via Skype, que ocorreu em 22 de abril. “A partilha das Casas de Formação foi bem produtiva. Há
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otimismo dos formadores nas devidas etapas formativas; apesar de algumas desistências, dentro do normal. No geral, as coisas caminham bem. Todos estão bem! Porém, todos os cuidados e medidas preventivas para o distanciamento social foram tomadas visando a segurança dos frades e formandos contra a Covid-19. Atenção e cuidado com os grupos de risco e os idosos. Não houve grandes mudanças na rotina interna das casas de formação porque há um ritmo próprio que não sofreu impacto que a altere; foram necessários alguns ajustes que conciliaram bem as pequenas necessidades. Talvez nas etapas da Filosofia e Teologia seja mais significativa a questão do estudo, pois os frades estudantes passaram a ter diariamente aulas on-line”, relata o frade. Acompanhe abaixo uma breve partilha de cada Fraternidade: O Seminário São Francisco de
Assis, de Ituporanga (SC), diante da crise da pandemia, está conseguindo organizar-se de forma que a caminhada formativa dos seminaristas do Ensino Médio e dos aspirantes não seja prejudicada. Em relação ao Ensino Médio, nossos seminaristas contam com o empenho e a responsabilidade do Colégio Galileu, que passou a ministrar o conteúdo dos estudos via online. Com isso, temos esperanças de que o ano letivo estará garantido. O Colégio já avisou que não haverá férias em julho. Em relação aos aspirantes, até o momento, a formação continua com normalidade e sem nenhuma alteração, porque é ministrada pelos frades da casa e os da Paróquia Santo Estêvão. Houve apenas uma alteração no que se refere às atividades pastorais deles que eram exercidas uma vez por semana e foram suspensas. Segundo resolução do último Definitório Provincial (veja na pág. 307 desta edição), neste ano não haverá a experiência das FAVs. Em Ituporanga, houve dois casos de contaminação confirmados, mas são distantes do seminário. O ritmo da casa continua normal, inclusive com os colaboradores e colaboradoras em suas atividades normais. A vida de oração e liturgia no Seminário é, de certa forma, privilegiada em relação ao que está acontecendo com as igrejas paroquiais vazias. Aqui as celebrações têm “quórum”. O Tríduo Pascal foi maravilhosamente celebrado. Frei Pedro pôde ensaiar e conduzir todas as celebrações com muita solenidade. Foi sentida a ausência do povo, mas a Fraternidade e os seminaristas rezavam e continuam rezando por todos. Apesar das dificuldades, podemos dizer: Obrigado Senhor! E desejar que Deus proteja a todos.
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Em Guaratinguetá, na Fraternidade
São José e Postulantado Santo Antônio de Santana Galvão, agora poucos saem de casa. Praticamente só os que fazem compra ou algum outro serviço essencial. Segundo a Prefeitura Municipal, até o final de abril havia 14 casos suspeitos na cidade e apenas 4 confirmados. Os postulantes, no decorrer da semana, pouca alteração tiveram no seu programa. Porém, aos finais de semana, não acolhem mais os peregrinos que acorriam muito ao Seminário, não fazem visitas aos doentes no Hospital Frei Galvão e não participam dos grupos de reflexão bíblica nas segundas-feiras. Ou seja, a formação interna não foi prejudicada pela pandemia, mas o aspecto evangelizador do Postulantado teve, sim, uma perda. No mais, estão sendo tomadas medidas de prevenção na casa: uma funcionária entrou de férias, não há atendimento aos romeiros e não há participação de pessoas de fora nas celebrações litúrgicas, e para sair usa-se máscara, etc. Pelo fato de estarmos num ambiente amplo, com bela natureza, não sentimos tanto os efeitos do distanciamento social. Mas vemo-nos sim apreensivos com a situação geral do Brasil, com nossos familiares e confrades distantes, com o futuro próximo que nos espera.
No Noviciado em Rodeio (SC), apesar de estarmos na região do Estado de Santa Catarina com maior número de casos confirmados de contaminação pelo coronavírus – o Vale do Itajaí – os efeitos sobre a cidade e o noviciado ainda são poucos em comparação com o resto do país. No dia 18 de março, nosso Estado adotou as medidas de isolamento domiciliar e, no dia seguinte, todos os nossos colaboradores foram dispensados para que pudessem ficar em casa (temos 2 funcionários com mais de 60 anos). Com esta medida, a Fraternidade Permanente e os noviços se dividiram para assumir alguns trabalhos da
casa como cozinha e lavanderia. Nossa maior preocupação era de que esta situação afetasse o mínimo possível a rotina dos noviços para que eles pudessem se focar na integral vivência do tempo do noviciado. Entretanto, em vista da extraordinária situação da pandemia e as notícias que chegavam aos noviços através dos frades em conversas à mesa, o Coetus Formatorum decidiu também adiantar a possibilidade de que eles pudessem ter acesso ao noticiário (o que fariam após a Páscoa) e conversas com seus familiares (que seria somente em julho), acreditando que a falta de informação poderia
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apenas agravar a preocupação com o mundo e suas famílias. Acompanhando as decisões das várias dioceses, também nossa Paróquia São Francisco de Assis interrompeu as celebrações das missas com o povo e manteve suas portas fechadas. Partilhamos do drama do povo que, em grande parte, sentiu o impacto desta decisão durante a Semana Santa, impossibilitado de participar presencialmente das significativas celebrações. Temos transmitido as missas dominicais e adorações ao Santíssimo Sacramento pelas redes sociais, enquanto mantemos a missa diária apenas em fraternidade.
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Embora tenhamos espaço amplo para trabalho ao sol e uma grande fraternidade para a convivência, este isolamento do povo tem imposto seu peso, pouco a pouco, sobre todos e nos provocado a criar novas formas de entretenimento e convívio fraterno.
Em Rondinha (PR), o primeiro impacto que a pandemia trouxe foi a suspensão das aulas presenciais, o cancelamento dos encontros e retiros agendados na casa e encomendas de Círios Pascais, a suspensão das celebrações nas comunidades paroquiais que nós ajudamos nos fins de semana. O primeiro impacto direto foi a queda de receitas que nos ajudam na manutenção da casa, além da mudança de hábitos e de horários para se adaptar às novas exigências do momento e a diminuição do nosso quadro de colaboradoras. Com as mudanças na rotina da casa, adaptamos os horários vespertinos, onde a oração das vésperas – que era às 17h – foi para 18h30, seguido do jantar e as aulas da FAE, que vão até 22h30 ou 23h, conforme a
atividade desenvolvida pelos professores. Concentramos o trabalho externo na modalidade de mutirão às quartas-feiras, de 9h às 11h15 e das 13h30 às 16h30. Passamos a transmitir as nossas Celebrações Eucarísticas dominicais através do Facebook da Fraternidade, acrescentando uma missa no sábado à noite e a transmissão da Bênção do Santíssimo Sacramento no domingo à noite. Todas as celebrações da Semana Santa, desde o domingo de Ramos até o domingo de Páscoa, foram transmitidas, como os ofícios da manhã, via-sacra e uma novena pedindo a intercessão para o fim da pandemia. As saídas para cidade foram suspensas, apenas um confrade da Fraternidade permanente sai para resolver as questões de gestão, alimentação, etc. Só é autorizada a saída de alguém para questões médicas. Estipulamos um protocolo de prevenção aos que tem que ir à rua. Quando voltam para casa, faz a desinfecção dos sapatos, lavam a roupa usada imediatamente e tomam banho, além de terem que usar máscara de proteção. Durante o dia, sempre lavar as mãos e o uso de álcool gel antes das refeições, os presbíteros higienizam as mãos antes e depois das Celebrações Eucarísticas. Se alguém estiver gripado, pedimos que não se sente nas mesas do refeitório onde
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estão os idosos. As portas do nosso refeitório permanecem todas abertas durante as refeições e quanto for necessário. Fizemos uma contenção na compra de frutas, aumento no plantio de verduras para o nosso abastecimento, simplificação dos cardápios das refeições, fazendo coisas mais básicas e aproveitando o máximo aquilo que produzimos em nossa horta e pomar. Os estudantes formaram equipes de cozinha para assumir os dias que as nossas colaboradoras não vêm, adaptaram a produção de velas de círios pascais para círios da família, aumentando a procura da venda via internet, organizaram as equipes de liturgia para assumirem os cantos e a preparação das celebrações a serem
transmitidas. Um grupo de estudantes formou uma equipe de apoio para a transmissão das celebrações. Há uma entreajuda na execução dos trabalhos e tarefas da faculdade que agora são em maior número e exigem agilidade para atender as exigências. No mais, todos estão abertos às necessidades que vão surgindo pontualmente.
Em Petrópolis, na Fraternidade do
Sagrado Coração de Jesus, tivemos que nos dividir em dois grupos, ou seja, o grupo de “risco”, que somos nós, frades na segunda idade, somados àqueles que já entram pela porta traseira nos ônibus, mais o grupo dos frades mais jovens. Esta divisão aconteceu em vista de nossa vida
de oração e devoção, ação evangelizadora, bem como em vista das refeições, feitas em comum em nosso refeitório. Tenhamos presente que no Convento do Sagrado vivem 45 frades, por ser uma casa de formação da Província, que acolhe inclusive frades estudantes de outras entidades franciscanas do Brasil. Também aqui vivem, além dos frades ligados à Paróquia do Sagrado Coração, os frades que trabalham na Vozes, nos Canarinhos e no ITF. Graças à Deus e ao nosso sacrifício, até agora ninguém foi constatado como vítima de infecção do Covid 19. No que tange aos professores, seja enquanto frades da Província, sejam enquanto externos e também enquanto colabores do técnico administrativo, também tivemos que rearticular o todo de nossa atuação. As aulas presenciais aconteceram até o dia 17 de março. Depois, as aulas transferidas para o ambiente de aprendizagem Classroom, do Google. Os frades estudantes participam das aulas de modo remoto e também seguem colaborando com a Paróquia do Sagrado, em Campos Elíseos e Imbariê.
Colaboraram Frei João Francisco da Silva, Frei Pedro da Silva, Frei Rodrigo da Silva Santos, Frei Walter de Carvalho Jr., Frei Samuel Ferreira de Lima e Frei Ivo Müller. COMUNICAÇÕES
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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil NOTÍCIAS DA REUNIÃO DO DEFINITÓRIO PROVINCIAL São Paulo, 30 de abril de 2020 onsiderando o momento histórico de distanciamento social vivenciado por conta da pandemia do Covid19, a reunião do Definitório Provincial, programada para acontecer em Agudos, precisou ser de outra forma. Certamente, a primeira vez na história da Província, por videoconferência! Foi no dia 30 de abril de 2020 com presença de todos os membros do Definitório, das 9h da manhã até 20h30, com os devidos intervalos. O Ministro Provincial, Frei César, que também moderou as sessões, deu as boas vindas e convidou a todos para invocarem o Espírito Santo para o bom andamento desta reunião e de
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Grande parte dos assuntos tratados segue abaixo.
1 Formação Permanente
Foram partilhadas algumas bonitas experiências de mais encontros nas fraternidades, especialmente com mais momentos de oração e celebração da Eucaristia neste período
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todas as iniciativas fraternas, de cuidado, de evangelização e de solidariedade de nossa Província. Antes de passar os assuntos da pauta, Frei César trouxe as últimas notícias dos frades enfermos, oito deles em função de infecção pelo vírus Covid19. Entre eles, Frei Mário Tagliari, ainda em isolamento, mas já podendo participar desta reunião do Definitório. Três ainda estavam hospitalizados, três em isolamento e dois plenamente recuperados. Os definidores também partilharam um pouco de como suas fraternidades e as de seus regionais vivenciam este tempo de quarentena.
de quarentena, com mais cultivo e criatividade. Algumas foram transmitidas. Um ou outro frade é mais resistente a mudanças nesta oportunidade dada num contexto de pandemia, mas de modo geral as fraternidades cresceram neste aspecto. O tempo de quarentena e distanciamento social pode acentuar características tanto positivas como negati-
definitório provincial// vas em cada um de nós e nas relações fraternas. Foram destacadas as inúmeras iniciativas de oração e de partilha das fraternidades e a consideração de que muitas podem permanecer no futuro. Os definidores assumiram continuar o contato com as fraternidades, neste período, para levar proximidade e estimular a partilha de vida e de ações em cada lugar. A iniciativa do grupo de WhatsApp dos Frades da Província foi bem acolhida e tem ajudado a fortalecer os laços de pertença. Os Encontros Regionais que aconteceram na nova modalidade, antes da quarentena, foram bem avaliados nos quatro Regionais. A participação e envolvimento dos frades surpreenderam positivamente. A programação bem organizada agradou e a maioria dos frades se envolveu bem. A continuidade dessa nova modalidade parece estar se consolidando. Os dois encontros regionais suspensos serão reorganizados conforme as possibilidades. Além dos Retiros Provinciais já programados e divulgados pela Formação Permanente, o Regional de São Paulo oferece a data de 21 a 24 de setembro no Convento São Francisco. Se houver necessidade de mudanças, por conta da quarentena, isto será comunicado. Também existe a possibilidade de fraternidades aproveitarem este tempo de reclusão para um retiro. Orientações e subsídios podem ser buscados com Frei Fidêncio, moderador para a Formação Permanente.
2 Formação Inicial
Os formadores das várias etapas puderam conversar e partilhar realidades também por videoconferências. E assim foi também a realização do Conselho de Formação e Estudos no dia 28 de abril. Nas partilhas da Formação Inicial, constata-se otimismo dos formadores com o trabalho, apesar de algumas desistências de formandos. Os cuidados e medidas preventivas para o distanciamento social foram tomadas visando a segurança dos frades e formandos contra a Covid-19, diferentes em cada casa conforme a presença de idosos e outros grupos de risco. As etapas da Filosofia e da Teologia sentiram uma mudança mais significativa, pois os frades estudantes passaram a ter diariamente aulas pela internet.
3 FAVs
Devido ao contexto atual, chegou-se à resolução de não realizar as experiências de FAVs neste ano. Cabe aos formadores do Aspirantado rever e ajustar a programação própria desta etapa.
4 SAV
Com a crise causada pelo novo Coronavírus precisou-se cancelar momentos fortes da Animação Vocacional, tais como a Assembleia do SAV, Conselho das Juventudes, Alverne e a IX Caminhada Franciscana da Juventude. Os Encontros Vocacionais Regionais, agendados para junho, aguardam a evolução da pandemia para tomada de decisões. Quanto aos encontros
vocacionais locais, na sua maioria também não estão acontecendo de forma presencial, mas alguns vocacionados estão sendo acompanhados à distância, por e-mail ou whatsApp. Na atual conjuntura deve haver criatividade das fraternidades no acompanhamento dos vocacionados.
5 Ano Missionário
Os dois frades destinados para Angola não puderam viajar ainda devido ao encerramento dos voos. Frei João Zechinatto permanece em Guaratinguetá e Frei Lucas de Moura na fraternidade do Convento São Francisco, em São Paulo, onde estão muito empenhados em atividades fraternas, formativas e de solidariedade. Assim que for possível, eles seguem para Angola.
6 Egressos
1. Professo Temporário da etapa da Teologia - Frei Douglas da Silva. Saiu no dia 14/03/2020 2. Noviço - Gabriel Paz de Oliveira Silva. Saiu no dia 29/02/2020 3. Noviço - Fábio Charleaux Luzia dos Santos. Saiu no dia 27/04/2020 4. Postulante – Matheus F. Portatt. Saiu no dia 05/03/2020 5. Postulante - João Pedro Paes Puglia. Saiu no dia 06/03/2020 6. Postulante - Arthur Vinicius Ferreira. Saiu no dia 12/04/2020
7 Evangelização
Muitas paróquias e santuários recorreram à transmissão das missas e devoções, via internet. Alimenta-se, assim, a fé e a comunhão da Igreja. Certamente, também há um modo franciscano de estar na mídia, que deve ser estudado e qualificado sempre mais. Nesse período de isolamento social, os serviços de rádio e TV foram considerados essenciais, e por isso a Frente da Comunicação mantém-se atuante. As Rádios e a TV estão tendo um importante papel frente às fake news. Tem-se feito mais boletins jornalísticos e informativos, entrevistas, campanhas, spots educativos por conta da Pandemia. Da Frente da Solidariedade também está se exigindo dinamicidade no contexto atual. Cabe um destaque ao protagonismo juvenil, que, com coragem e determinação, tem ajudado nossas fraternidades a assumir posturas proféticas nestes tempos. Enquanto SEFRAS, houve readaptação dos serviços para responder às urgências do momento. A Tenda Franciscana, serviço emergencial de socorro às pessoas em situação de rua, que é uma dentre outras respostas, tem ganhado reconhecimento e visibilidade, mostrando o nosso rosto franciscano. A Frente da Educação com o início das medidas de isolamento, as Instituições de Ensino da Província (USF, FAE COMUNICAÇÕES
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//definitório provincial e Unidades Bom Jesus) tiveram que se adequar - o mais abruptamente possível do ponto de vista tecnológico - para continuar a oferecer as aulas aos alunos não mais de modo presencial, mas pela internet. Após algumas dificuldades iniciais, até o presente momento tudo tem caminhado a contento. No âmbito dos projetos sociais (Bom Jesus Social, FAE Social, entre outros) têm acontecido diversas iniciativas sem expor nenhum dos colaboradores ao risco da letalidade do vírus - em prol dos mais necessitados. Outras ainda estão sendo pensadas para minimizar o sofrimento dos que mais sofrem com o regime de isolamento. A frente das Missões, em parceria com o PVF, vem trabalhando na campanha: “A Missão não pode parar”, publicada no site da Província e redes sociais, desde o dia 18 de março. Além de ser uma chamada à contribuição financeira para a Província, busca propor com este lema a vigilância ao espírito missionário.
8 Relato da Reunião do Conselho da FIMDA
O Definitório acompanhou o relato da última reunião do Conselho da FIMDA, no final de fevereiro, e agradeceu pela abertura e transparência na partilha da vida, da missão e dos desafios desta parcela tão importante e querida de nossa Província. A reunião prevista para o fim de abril foi suspensa devido às medidas de distanciamento social. Estas têm sido bem mais rigorosas que no Brasil. Graças a isto, o número de pessoas infectadas conseguiu-se manter bem pequeno. Alguns dos pontos para conhecimento de todos: - A assembleia celebrativa pelos 30 anos da chegada dos frades, prevista para acontecer entre os dias 29-06 e 0507, juntamente com uma celebração maior no Kimbo São Francisco, está mantida por enquanto. A partir do dia 02 até o dia 09 de julho deve acontecer a visita dos Definidores Gerais Frei Kibuzehose Nicodéme (para a África) e Frei Valmir Ramos (para a América Latina e Animador Geral para a Evangelização). - A reunião dos guardiães será no dia 27 de agosto, em Viana. - O retiro anual será em Malanje, nos dias 25 e 26 de setembro, encerrando com uma celebração de ação de graças com o povo, no dia 27, domingo, pelos 30 anos da chegada dos frades. Nossa primeira presença foi justamente em Malanje. - As Fraternidades estão trabalhando o Projeto Fraterno de Vida e Missão. - O Centro Franciscano (espaço para retiro com hospedagem, junto à Fraternidade do Palanca) está em funcionamento e é bem avaliado. - As obras da Capela da Fraternidade do Palanca estão na fase da cobertura. A intenção é a de inaugurá-la durante a Assembleia. - No Noviciado, com a ajuda de projetos, estão acontecendo algumas obras para cercar o terreno e melhor
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aproveitá-lo para plantio e para instalar uma lagoa e um pomar. - A antiga padaria do Projeto Nossos Miúdos foi revitalizada e oferece curso de pastelaria.
9 Transferências
1. Frei Diego Atalino de Melo – Da Fraternidade Santo Antônio do Pari para a Fraternidade São José, no Seminário Frei Galvão, já a serviço do Santuário Frei Galvão. 2. Frei Alisson Luís Zanetti – Da Fraternidade Santo Antônio do Pari para a Fraternidade São José, no Seminário Frei Galvão, continuando sua missão no SAV. 3. Frei Odilon Voss – Da Fraternidade Santo Antônio do Pari para a Fraternidade São José, no Seminário Frei Galvão, continuando seu Ano Missionário junto ao SAV.
10 Nomeações
1. Frei Evaldo Ludvig – Vigário Paroquial da Paróquia São Luís Gonzaga, em Xaxim. 2. Frei Marcelo Romani – Assistente espiritual da fraternidade OFS Santa Maria dos Anjos, de Curitibanos. 3. Frei José Antônio da Cruz Duarte - Gestor da casa de saúde e dos colaboradores da Fraternidade São Francisco de Assis, em Bragança Paulista. 4. Frei Luiz Flávio Adami Loureiro – Assistente distrital para a OFS no estado do Espírito Santo.
11 Parecer do Conselho Fiscal ao Balanço da Província em 2019
O Conselho Fiscal também fez uso do expediente virtual para se reunir, ouvir as equipes gestoras da Província e de suas instituições e analisar os relatórios contábeis. Elogiou a clareza e transparência dos relatórios preparados pelos frades e colaboradores do Economato. Alertou para a fragilidade das reservas financeiras da Província diante de algumas pendências e dos compromissos fixos de sustento. Pediu mais empenho de algumas fraternidades em enviar para a contabilidade os comprovantes de gastos envolvendo transações bancárias. O Definitório tomou conhecimento do parecer do Conselho Fiscal, sobre as contas da Província, indicando sua aprovação.
12 Situação Financeira da Província – impacto da Pandemia
Ainda no final de março, quando a medida de distanciamento social foi decretada em São Paulo e também em outros estados onde nossa Província está presente, algumas situações foram surgindo e pedindo respostas no que se refere à organização de nossos trabalhos, presença dos nossos colaboradores, dificuldades nas nossas presenças devido ao fechamento das igrejas e outros. Na Sede Provincial, Frei César convocou os frades do Economato, Frei Robson e Frei Raimundo, para junto com ele e Frei Gustavo analisarem as
definitório provincial// situações e pensarem políticas e medidas a serem adotadas no enfrentamento da Pandemia do Coronavírus e de respostas necessárias às fraternidades e outros setores diretamente ligados à Província. Neste Definitório, tais políticas e medidas foram confirmadas e ampliadas. A situação financeira da Província vem sofrendo um significativo impacto, o que foi apresentado em números e planilhas ao Definitório. 1. Cenário: • Locatários em dificuldade de pagamento; • Redução de entradas no PVF; • Aumentos dos gastos com a saúde; • Orçamento da Missão em Angola ficou bem mais caro com as sucessivas altas do dólar; • Algumas fraternidades com dificuldades para a contribuição prevista e outras se tornaram dependentes de ajuda financeira da Sede; • Despesas da Província em compromissos essenciais (SEFRAS, casas de formação, Bragança Paulista-Casa de saúde, Missão em Angola, Sede-administração-colaboradores). 2. Medidas • Fazendo diversos sacrifícios e cortando os gastos que foram possíveis neste momento na Sede; • Para as paróquias que não estão conseguindo fazer a contribuição, pediu-se sacrifícios na sua organização, revisão de sua estrutura e o mesmo na vida e sustento da fraternidade; • Quando estes sacrifícios ainda não são suficientes e é preciso diminuir a contribuição, pediu-se que seja na mesma lógica com o que for praticado para com as dioceses; • O valor que não é feito agora, deverá ser efetuado nos meses posteriores, a partir da normalização; situações especiais são possíveis de análise e conversa; • Quanto aos colaboradores, para os de grupo de risco foi indicada a antecipação de férias, afastamento temporário ou trabalho em home office, quando possível; as mesmas medidas podem ser adotadas para os demais grupos, além de uma escala de rodízio. A Província não adotou, enquanto puder, as Medidas Provisórias de suspensão de salários ou de contrato de trabalho por entender que não são tão garantidas e por desfavorecerem os nossos colaboradores e suas famílias. O Definitório aprovou as medidas e políticas adotadas e acrescentou mais algumas: • buscar uma consciência sempre maior de Província na partilha e solidariedade com o caixa que sustenta os compromissos comuns; • diante das necessidades para garantir a manutenção da missão, da formação e do serviço aos pobres, sensibilizar os frades que recebem salários, côngruas ou aposentadorias para contribuírem com o caixa central da Fraternidade Provincial.
• rever o pagamento ou os descontos de aluguel para instituições da Província; Outros casos pontuais foram aprovados e serão encaminhados pelo Economato. O Definitório ponderou ainda que o tempo presente exige de nós ainda mais este sentido de pertença como também um estilo de vida mais sóbrio em nossas casas e em nossa vida particular como sensibilidade ao sofrimento dos mais pobres, mas também em sintonia com nossa forma de vida.
13 Editora Vozes
Um dos pontos mais difíceis desta reunião foi a apreciação de um relato dos frades da diretoria da Editora Vozes sobre sua situação de crise, agravada pelas medidas diante da atual pandemia do Covid-19. Desde o fim do mês de março, a Diretoria procurou o Ministro Provincial, depois junto com o Economato, para fazer conhecer a realidade e as medidas de enfrentamento dessa crise e seus impactos na Vozes. Ainda em março as atividades foram sendo paralisadas (gráfica, lojas, distribuidoras e editorial). Na verdade, os sistemas de comercialização de livros parou no Brasil inteiro. E estes já vinham frágeis com os processos de recuperação judicial das grandes redes de livrarias. Tudo isso afetou a Editora Vozes, mas esta promoveu uma reestruturação estratégica frente às novas situações do mercado, o que vinha dando bons resultados. A retomada das atividades comerciais e a recuperação da economia ainda são uma incógnita, o que deixa a Editora neste momento em situação bastante delicada. O Definitório agradeceu pela transparência e pelas medidas adotadas até agora. O trabalho de reestruturação da Editora deve continuar e contará com a ajuda de uma equipe externa.
14 Agenda 2020 – acréscimos e alterações
Muitos eventos e atividades precisaram ser cancelados ou adiados; outros aconteceram de maneira virtual. Agendamentos futuros serão comunicados conforme o contexto de enfrentamento da pandemia permitir. Às 20h30 fez-se uma avaliação final da reunião. A modalidade por videoconferência funcionou e se torna um caminho possível e mais ágil para necessidades que exigem presteza. Frei César agradeceu aos membros do Definitório pelo empenho diante da pauta do dia e lembrou que existem grandes desafios internos e externos a serem enfrentados, alguns difíceis no plano econômico, mas que nos devem sensibilizar sempre mais para a solidariedade entre nós e com os mais necessitados. Encerrou a reunião pedindo as bênçãos de Deus para os frades, colaboradores e em especial aos frades enfermos e outros irmãos e irmãs adoecidos e vitimados pela atual pandemia.
Frei Jeâ Paulo Andrade, OFM Secretário Provincial COMUNICAÇÕES
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Encontro do Regional Leste Vale Catarinense
esmo na iminência do aumento dos casos no Brasil do novo coronavírus, a apreensão diante da pandemia declarada não ofuscou a alegria do encontro fraterno. Os frades, já conscientes da gravidade da situação, mantiveram o encontro, mas adotaram medidas até então novas para esses momentos, que teve redução dos cumprimentos e o mínimo contato possível, muitas idas ao banheiro nem tanto pelas necessidades fisiológicas, mas para lavar as mãos mesmo. Desde o início foi assim. A felicidade do encontro, a animação diante dessa nova modalidade de Regional que todos ainda estavam descobrindo. Chegamos na casa São José, na Vila Itoupava, em Blumenau, para almoçar juntos na segunda-feira, dia 16 de março. O aperitivo já foi uma festa e o almoço um momento muito fraterno. Às 15h, a oração de abertura, e logo após Frei Daniel Dellandrea, Definidor, acolheu oficialmente a todos e em especial a Frei Gustavo Medella, nosso
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Vigário Provincial que participaria do encontro. As Fraternidades do nosso novo Regional são as de: Florianópolis, Santo Amaro da Imperatriz, Angelina, Balneário Camboriú, Gaspar, Blumenau, Rodeio e Ituporanga. Todos se esforçaram muito para estar presentes, de modo que a participação foi realmente muito boa. Até o ano passado, essas fraternidades compunham três Regionais diferentes. Seus respectivos coordenadores (Frei Germano Guesser, Frei Paulijacson Pessoa de Moura e Frei Rafael Spricigo) se reuniram algumas semanas antes para preparar este primeiro encontro. Foi proposta ainda a leitura e partilha da Carta do Ministro Geral à Província, de 23 de maio de 2019, que motiva a Província a refletir, a partir dos frutos do CPO de 2018, sobre nossa vocação e alguns desafios. A partilha já foi muito proveitosa, com bastante participação, sobretudo no tocante a como qualificar de verdade nossa vida religiosa franciscana e diante dos sinais de desafio como o número de
desistência e abandono da Ordem. A casa da Vila Itoupava apresenta um bom espaço para o lazer, entre sauna, piscina e os gramados para caminhada, todos aproveitaram bem o tempo livre entre os compromissos. Embora aos poucos a apreensão fosse aumentando, diante dos pronunciamentos e decretos dos bispos, que iam delineando a quarentena e o isolamento social mesmo para as atividades religiosas, mediante o avanço dos perigos da pandemia do Covid19. Às 19h, tudo isso foi lembrado na oração da tarde, que fez uma recordação da vida, nossos temores e alegrias, desafios e conquistas, tudo em ação de Graças diante de Deus e da Fraternidade. Após o jantar recreio houve quem se posicionasse diante dos noticiários e quem preferisse a descontração do jogo de cartas. O segundo dia de encontro iniciou com o café da manhã, seguido da oração que dava início a um encontro de reflexão e partilha. Dessa vez, a motivação veio de um trecho do Documento do Conselho Plenário da Ordem 2018, mais precisamente os números 178 a 191 do documento. A partilha entre os frades foi muito rica. Além das considerações de cada um, foram motivados a considerar bem concretamente os avanços em nível provincial, de fraternidade local e mesmo pessoal, quanto à qualificação da vida fraterna e a nossa identidade e carisma de frades menores. Várias alegrias vieram à tona, agradecimento pelos esforços da Província, pela preocupação de cada frade em fazer seu melhor, a coragem de fazer escolhas concretas, entregar alguns lugares
fraternidades// amados pelos frades, para assumir outros trabalhos que nos interpelam talvez mais. Além dos reconhecimentos, questionamentos surgiram em nível pessoal e institucional, dos desafios em valorizar as individualidades e dons pessoais em meio ao projeto fraterno e provincial, de modo a não permitir o desânimo e o abandono vocacional. Outro questionamento apresentado era justamente sobre propostas, sugestões concretas de como continuar avançando nesses quesitos. Na parte da tarde foi o momento da partilha das fraternidades. Espaço bem aproveitado para valorizar as atividades e desafios diários, e para conhecermos melhor as novas fraternidades que compunham nosso
novo Regional. Foi um encontro muito proveitoso, com partilha de alegrias, esperanças e desafios. Tudo aquilo que faz parte constante de nossa vida de frades menores. A alegria da convivência fraterna e o desafio que essa mesma convivência pode se tornar, quando as limitações de cada um não são acolhidas com honestidade e caridade. O grande empenho de cada um em assumir no dia a dia a vocação que temos e servir o melhor possível ao povo de Deus nas realidades diversas em que estamos. Às 18h30, o Regional celebrou junto a Eucaristia. Louvando a Deus pelo dom de nossa vida e de nossa vocação, e suplicando a Ele força para servir sempre ao Reino. Muitas foram as intenções pelos nossos trabalhos e para que o povo não sucumba
diante do mal dessa pandemia. Na quarta-feira (18), após o café, o encontro foi para coisa práticas. Foram eleitos Frei Paulicson Pessoa de Moura, coordenador do Regional, e Frei Rafael Spricigo, o vice. Também Frei Clauzemir Makximovitz, secretário, e Frei Nilton Decker, o vice. Frei Aldolino Bankhardt foi eleito animador do JPIC para o Regional. Além disso, acolheu-se sugestões para o nome do novo Regional, chegando-se a Leste Vale Catarinense. Assim seria chamado o novo Regional que, a partir desse encontro, reuniria os frades dessas nove fraternidades, nesse novo modelo, ao menos ad experimentum, até o Capítulo Provincial.
Frei Clauzemir Makximovitz
Frades dos Regionais do Contestado e Sudoeste do Paraná se reúnem em Piratuba ntre os dias 09 a 12 de março, aconteceu em Piratuba (SC) o primeiro Encontro Regional na nova modalidade proposta pela Província. As fraternidades de Lages, Curitibanos, Luzerna, Concórdia, Xaxim, Coronel Freitas, Pato Branco e Chopinzinho encontraram-se para rezar, refletir e se confraternizar dentro desse novo espírito. O Regional foi marcado pela alegria e disposição de escutar o que o Espírito tem a dizer aos frades menores; contando ainda com a presença do Vigário Provincial Frei Gustavo Medella e do Definidor Frei Alexandre Magno. Os dias de encontro foram marcados pela oração, estudo e também questionamentos sobre essa nova luz que é proposta, ou seja, unir os extremos do Contestado até o Sudoeste do Paraná. O Novo Regional (ainda sem nome definido) escolheu a nova coordenação: Frei Alex Sandro Ciarnoscki (coordenador), Frei Moacir
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Longo (vice-Coordenador), Frei Evaldo Ludwig (secretário) e Frei Angelo Vanazzi (vice-Secretário). Frei Gustavo e Frei Alexandre conduziram o estudo com base no documento da Ordem: “Quem tem ouvidos escute o que o Espírito diz ... aos Frades Menores hoje” e no Plano de Evangelização da Província. Houve
também momentos de descontração, podendo os frades usufruir das águas termais e outros envolvidos com o famoso jogo de canastra do Contestado. O próximo encontro regional foi agendado nos dias 23 a 25 de novembro sem local ainda definido.
Frei Evaldo Ludwig COMUNICAÇÕES
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//fraternidades
Encontro do Regional de Curitiba
a segunda-feira (16/3), à tarde, teve início o Encontro do Regional de Curitiba, na Fraternidade São Boaventura, em Rondinha. Após um momento de oração e espiritualidade, o coordenador Frei Ladi Antoniazzi apresentou proposta da pauta e horários para o encontro de três dias. Sendo esta aprovada por todos, o guardião da fraternidade São Boaventura, Frei Marcos Vinícius M. Brugger, deu as boas-vindas aos presentes. O Definidor responsável pelo Regional, Frei João Mannes, destacou o desafio de se cunhar um novo espírito a partir de uma nova modalidade de encontro, ainda que, no Regional de Curitiba, não houvesse grandes mudanças. O Ministro Provincial Frei César Külkamp dirigiu uma palavra de acolhida, incentivando a qualificação dos encontros dos Regionais e recordando a comunhão dos frades que se reúnem, em toda a Província, para se qualificarem a partir de uma mesma temática formativa. Destaca-se o Regional de Curitiba por contar com, além da formação, todas as cinco Frentes de Evangelização da Província, haja vista as atividades desenvolvidas pelos frades junto
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à paróquia, educação, comunicação, solidariedade com os empobrecidos e missão. Frei César partilhou os desafios e questionamentos apresentados pelo Ministro Geral da Ordem no que diz respeito à fidelidade e perseverança dos frades, ao problema da autorreferencialidade da Província e ao cuidado com a tutela de menores. Na primeira noite do Encontro do Regional, reuniram-se todos para o jantar e o recreio fraterno. As atividades firam retomadas na manhã de terça-feira (17), às 07h30, com a celebração da Eucaristia presidida por Frei João Mannes. Estando reunidos os frades, Frei Ladi apresentou, para estudo e discussão, a primeira temática desenvolvida no texto da conclusão do documento “Quem tem ouvidos, escute o que o Espírito diz aos frades menores hoje” (Conselho Plenário da Ordem, 2018). “No interior da Ordem, queremos qualificar mais a nossa vida fraterna e aprofundar a nossa identidade carismática”. Elementos como a respeitosa comunicação interpessoal, a estima em relação à vida religiosa, a gestão e o exercício fraterno da autoridade, e a vida de oração pessoal e comunitária, entre outros, foram apontados como essenciais.
Apresentou-se, então, duas questões: 1) quais os avanços, em minha fraternidade, damos na qualificação da nossa vida fraterna e identidade carismática?; 2) que proposições poderiam qualificar ainda mais nossa vida fraterna e identidade carismática na formação (permanente e inicial) e na evangelização (cinco frentes)? Quanto à primeira questão, os frades reconheceram que os desafios lançados pelo CPO nos levam a repensar os relacionamentos em nossas fraternidades, os momentos de oração, a valorização do espírito advindo das fontes, e a perseverança no esforço de se lidar com as diferenças. Verifica-se uma boa qualidade de vida nas fraternidades do Regional e uma melhora significativa no convívio e trabalho junto aos leigos. No que toca à segunda questão, ressaltaram os frades a necessidade do Capítulo Provincial se ocupar dos aspectos formativos e vocacionais dos frades e dos jovens, sobretudo no que diz respeito ao re-encantamento pelo carisma e pela proposta de Francisco. A responsabilidade pelo cuidado vocacional e formativo cabe a todos os frades à medida que se entusiasmam pela própria vocação. A tarde e a noite de terça-feira foram reservadas ao convívio. Após as considerações feitas pelo guardião da Fraternidade e pelo definidor do Regional, Frei César encerrou o encontro ressaltando o protagonismo de cada frade quanto à sua própria formação, a importância dos encontros regionais enquanto espaços privilegiados de formação permanente, a visita do Ministro Geral à Província prevista para outubro próximo e a necessidade de cuidado em termos de saúde frente à pandemia do novo coronavírus que, no momento, o mundo todo está atravessando. Frei Vagner Sassi
fraternidades//
Primeiro Encontro do Regional do Estado de São Paulo “Todos vós sois irmãos” (Mt 23, 8). Este trecho sempre nos provocará e nos fará consciência da nossa vocação e missão de irmãos e menores. Providencialmente, este trecho evangélico foi celebrado em uma das missas do primeiro Regional dos frades do Estado de São Paulo, neste ano. A primeira casa que recebeu os frades provenientes das várias outras Fraternidades foi o Convento do Largo São Francisco. O Regional começou na segunda feira, 9 de março, e estendeu-se até o dia 11. As primeiras horas deste Regional foram dedicadas à exposição e partilha dos projetos de vida e missão de cada Fraternidade, elaborados sob recomendação capitular. Momento rico e de profunda partilha. No planejamento foi pensado e realizado uma visita guiada pelas dependências do espaço do Largo São Francisco, para conhecer um pouco mais o complexo: Convento, Faculdade de Direito da USP (antigo espaço onde tivemos nosso convento) e Igreja das Chagas (OFS). Frei Alvaci Mendes da Luz,
que hoje estuda a história dos frades no Convento São Francisco, favoreceu tal momento por meio de um passeio guiado. Reunidos, foram celebradas missas e momentos de oração. Tivemos momentos de convívios e partilhas em grupo, em nível de estudos. Enfim, fomos favorecidos por este momento de partilha e revigoramento. Este novo Regional é responsável por duas novas missões, ambas ligadas à devoção a Frei Galvão. A primeira, o Santuário Frei Galvão de Guaratinguetá – SP. A segunda missão - essa será assumida pelas Fraternidades da capital paulistana - será assistência ao Mosteiro da Luz, das Irmãs Concepcionistas. Os frades assumirão missas e a formação das monjas, segundo o Ministro Provincial, Frei César. Já no final do Regional, sob orientação de Frei Mário Tagliari, houve a
Agradecimento e homenagem a Frei Fidélio
Frei Leandro Costa
vo, procurando um documento do bispo “tal” é procurar as pastas daquela cor que corresponde ao referido bispo, agora na ordem cronológica do documento procurado. Em vista deste trabalho tão exigente e que exigiu uma mente de logicidade única Frei Fidélio recebeu o prêmio de “Honra ao Mérito Diocesano” que o bispo confere à pessoas ou pastorais que se destacam nos serviços prestados. Além disso chamamos este espaço importante que retrata um tempo determinado da vida de nossa Diocese de “Arquivo Diocesano Frei Fidélio”.
Caro Pe. Provincial, queridos confrades definidores! Quero manifestar meu profundo agradecimento pelo tempo em que este nosso confrade, Frei Fidelio Gonçalves Ferreira, esteve conosco na Diocese de Barra. Residiu a maior parte do tempo na cidade de Barra ao nosso lado. Também residiu em algumas de nossas comunidades como Ibiraba, Itaguaçu da Bahia e Oliveira dos Brejinhos. Mas o trabalho em que ele se destacou foi na organização de nosso Arquivo Diocesano. Foram três anos de um trabalho que exigiu paciência extraordinária e uma perspicácia sem igual na análise de cada folha, de cada documento, de cada escrito de uma Diocese Centenária que,
eleição para os novos serviços. Coordenador, Frei Florival Mariano; vice-coordenador, Gilberto Piscitelli; secretário, Frei Leandro Costa; e vice-secretário Thiago Hayakawa. Pedimos ao Bom Deus, em seu Filho Jesus Cristo, que conduza-nos nas veredas dessa missão, como Irmãos Menores de São Francisco, nesse imenso Estado de São Paulo. Que Maria Imaculada interceda por cada frade e fraternidade!
Dessa forma reconhecemos ao nosso querido irmão o grande serviço prestado no tempo que esteve conosco. comigo, completam oito bispos titulares. Organizou de forma exemplar tendo como critério não os assuntos, mas o tempo de cada bispo e todos os acontecimentos importantes de cada gestão episcopal. Cada bispo recebeu uma cor própria e ao entrarmos na sala do arqui-
Diante disso mais uma vez manifesto meu profundo agradecimento à nossa querida Província da Imaculada Conceição. Com estima, Dom Frei Luiz Flávio Cappio, OFM
//artigo Maria nos Evangelhos: da depreciação à exaltação ntre os biblistas, há um consenso em documentar as cartas do apóstolo Paulo a partir dos anos 50 dC, o Evangelho de Marcos na década de 60, antes da destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos (ano 70). Depois, seguem-se o de Mateus e Lucas e, no final do século I, o de João. Nas cartas de Paulo, há três alusões ao nascimento de Jesus, sem, no entanto, mencionar Maria. São elas: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4), “da descendência de Davi” (Rm 1,3), “tornando-se semelhante aos homens e reconhecido como homem” (Fl 2,7). Sabe-se que os apóstolos, ao irem pelo mundo, centravam sua pregação no fato da Paixão/Morte/Ressurreição de Jesus, fato impactante na vida dos primeiros cristãos. Aos poucos, sua doutrina, também foi sendo recordada, aparecendo, por último, o Natal. Atos dos Apóstolos (1,14) cita Maria como uma das 120 pessoas que estavam no Cenáculo, em preparação ao Pentecostes. O evangelista Marcos fala duas vezes de Maria e, de certa forma, depreciativa. A primeira está em 3,20-21.33-35. O contexto é este: Jesus está no início de seu ministério, realiza milagres, atrai multidões que o procuram de todos os lados, ao ponto de não ter tempo de fazer as refeições (3,20; 6,31). Por outro lado, encontra sérias resistências dos fariseus que o acusam de blasfemo porque perdoa pecados (2,7), de “pecador” porque vai nas casas deles e, com eles, faz refeições (2,13-16), por não jejuar e nem observar o sábado. Acusam-no de estar possuído por Belzebu, príncipe dos demônios e é em nome deles que expulsa os demônios (3,22). Fariseus e herodianos se juntam e planejam matá-lo (2,16-28; 3,1-6). Talvez seja este o motivo porque os parentes queriam “retê-lo porque está louco, fora de si” (3,21). Quando chegaram até Jesus, este estava pregando à multidão. Disseram-lhe, então, “tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem falar contigo”. Jesus pergunta “quem é minha mãe e quem são meus
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irmãos”?! Olhando aos que estavam ao seu redor, disse “minha mãe e meus irmãos são os que fazem a vontade de Deus” (3,31-35). Este mesmo relato é narrado por Mateus (12,46-50) e Lucas (8,19-21), sendo que este último diz que “sua mãe e seus irmãos são os que ouvem e praticam a Palavra de Deus”. Pode ser que os familiares não tenham compreendido a missão de Jesus e, por isso, queriam “retê-lo”. Como, também – e é este o que faz mais sentido – os seguidores de Jesus formam uma família que ultrapassa os laços de sangue. O segundo episódio acontece na sinagoga de Nazaré (6,1-6). Os conterrâneos o conhecem como carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão. Escandalizam-se vendo, nele, tanta sabedoria e o poder de operar milagres. Jesus, por sua vez, impressiona-se com a falta de fé e diz “um profeta só é desprezado em sua terra, entre os parentes e em sua casa”. Mateus, ao narrar o mesmo fato (13,5358) diz que o profeta não “tem prestígio em sua pátria e na sua casa”. Omite os parentes. Já Lucas (4,16-30) diz que o profeta só não é bem aceito em “sua pátria”. Porém, acrescenta a profecia messiânica de Isaías que Jesus a proclama e a atribui a si mesmo “hoje, cumpriu-se esta Escritura”. Relembra-lhes, também, que na grande crise de fome (1Rs 17,8-16), Elias só atendeu a viúva estrangeira de Sarepta, e Eliseu curou, somente, o leproso sírio Naamã (2Rs 5,1-27). Isto provocou tanta ira nos ouvintes que “lançaram-no para fora” e queriam precipitá-lo montanha abaixo. “Jesus, passando entre eles, seguiu seu caminho”. Depois disso, não consta que Jesus tenha retornado a Nazaré. Seguindo a cronologia, os Evangelhos de Mateus e Lucas sucedem o de Marcos. Ambos falam da infância de Jesus e, necessariamente, da mãe. Para Mateus, o prota-
gonista do nascimento é José, mas há uma harmonia mística entre ele e Maria. Lucas apresenta Maria como uma mulher privilegiada: “cheia de graça” (1,28), a “bendita entre as mulheres” (1,42), “serva do Senhor” (1,38) através da qual “Deus faz maravilhas” (1,49). É mãe carinhosa que “envolve seu Filho em paninhos” (2,7), procura-o, angustiada, quando fica em Jerusalém por ocasião da Festa da Páscoa (2,41-52). Conhece o AT (cf. Magnificat e o Canto de Ana, em 1Sm 2,1-10) e as profecias do Servo Sofredor, verdadeiras “espadas de dor” que atravessam sua alma (2,35), especialmente, a Paixão e Morte de seu Filho. Uma mulher que cumpre a Lei de Moisés, como a circuncisão, a apresentação do primogênito e sua própria purificação (2,21-24). Principalmente, é uma discípula que “guarda tudo e o medita em seu coração” (2,19.51). Aquilo que não entendia de seu Filho – seja das suas atitudes como na perda em Jerusalém, ou de palavras como as de Caná – ela as reflete e as pondera em seu coração. Com o passar do tempo, paulatinamente, tudo se aclara. Porém, a maior exaltação vem do evangelista João. Por duas vezes a chama de “Mulher” e não de “mãe”: nas Bodas de Caná (2,1-12) e ao pé da Cruz (19,25-27). Sua intenção é mostrar que Maria ultrapassa o aspecto físico/biológico para tornar-se um símbolo coletivo. O Apocalipse diz que “apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a luz debaixo dos pés e, na cabeça, um coroa de 12 estrelas” (12,1). A exegese é unânime em afirmar que essa mulher é o “novo Israel, a Igreja” e, depois, pode-se aplicar a Maria. No relato de Caná, as talhas de água que serviam para a purificação dos judeus (antiga aliança) foram transformadas no vinho novo da doutrina de Cristo que renova a vida, exterior e interiormente. Quem medeia esta transformação é a “mulher”, símbolo do antigo Israel. Ao pé da Cruz, com o sangue de Cristo, é selada a “nova aliança”. A “mulher” é dada como “mãe do discípulo”. É o novo Israel, a Igreja. Que a caminhada de Maria – como mãe, discípula e mulher – fortaleça nossa fé no seguimento de Cristo e que os acontecimentos sociais e religiosos do nosso tempo sejam refletidos e ponderados, em nossos corações, tornando-nos, assim, “modelos do rebanho que nos foi confiado” (1Pd 5,1-4).
Frei Luiz Iakovacz
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
agenda2020 As alterações e acréscimos estão destacados em laranja.
JUNHO
12 a 14
Encontro Vocacional (ituporanga)
16 a 18
Reunião do Definitório Provincial
19 a 21
Encontro Voacional (Guaratinguetá)
26 a 28
Encontro Vocacional (Petrópolis)
29 a 05
Assembleia da FIMDA
JULHO
06 a10
Retiro no Eremitério Frei Egídio
08
Reunião dos coordenadores dos regionais
AGOSTO
03 a 07
Retiro Bíblico - Seminário Santo Antônio - Agudos (SP)
24 a 28
Retiro no Eremitério Frei Egídio
21 a 26
18 a 22
Reunião do Definitório Provincial
Assembleia da UCLAF (Divinópolis, MG)
14 a 16
OUTUBRO
31 a 01
SETEMBRO
01 a 03
Regional de Curitiba (Rondinha)
11
Retiro no Eremitério Frei Egídio
50 anos da Paróquia Santo Antônio Sorocaba, SP
21 a 24
15 a 18
14 a 19
Retiro no Convento São Francisco - SP
Congresso de Evangelização da CFMB (São Paulo)
Visita do Ministro Geral à Povíncia Alverne – Concórdia (SC)
16 a 18
Reunião do Definitório Provincial
23 a 25
Regional do Contestado
NOVEMBRO
3a5
Regional Leste Vale Catarinense
4a6
Regional de São Paulo
MAIO
01 a 29
2021
Capítulo Geral da Ordem (Manila – Filipinas)
MÃE DA VIDA Maria é Mãe do Homem Jesus e do Messias Ao mesmo tempo, Filho de Deus, o Senhor; Mãe da Vida e de todas nossas alegrias, A Virgem Imaculada, Mãe do Puro Amor. Maio é teu mês, Maria, mês da Mãe da Vida, Mês das procissões, Novenas, e ladainhas, E a nossa Igreja, em festa, toda colorida, Venho hoje, Mãe, pedir-te, o fim das dores minhas.
E eu sei, Maria, o quanto sofreste em teus dias, Desde o nascer do Filho teu, à cruz, sofrias, Mas sei também que tua fé te trouxe luz!... És tu, Mulher, Esposa, Mãe e Virgem Pura, E assim, a Fé – tua luz, foi força, na amargura E iluminaste essas coisas no coração. Frei Walter Hugo de Almeida