//revista OUTUBRO DE 2020 ANO LXVIII • N o 10
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL
//sumário MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL “Laudato si’ e Fratelli tutti: Francisco de Assis aponta para valores necessários ao nosso tempo” .............. 587 São Francisco de Assis, com sua vida, aponta para valores tão necessários ao nosso tempo!........... 589
FORMAÇÃO PERMANENTE “A oração do Pai Nosso”, artigo de Frei José Ariovaldo ............................................ 590 Mensagem do Papa para o IV Dia Mundial dos Pobres: “Estende a tua mão ao pobre” .............. 593
FORMAÇÃO E ESTUDOS ANGOLA CELEBRA 30 ANOS DE MISSÃO
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Retiro Espiritual Anual no Postulantado Frei Galvão .................................................... 596 Frei Clarêncio no ITF: “Não necessitamos de meios de comunicação, mas de comunicação”......... 597
FRATERNIDADES Frades do Espírito Santo fazem primeiro Regional presencial ........................................... 599 SÉRIE NOSSOS FRADES: Frei Ricardo Backes .......... 600 Mês da Bíblia na Paróquia Santa Clara de Imbariê .................................................................................... 604 ESPECIAL: São Francisco de Assis na Província ....... 605
EVANGELIZAÇÃO Encontro Fraterno: ponto de partida para o Capítulo Provincial .................................................. 627 Madrugada Franciscana: um novo programa de rádio .................................................................. 631 ESPECIAL: SÃO FRANCISCO DE ASSIS NA PROVÍNCIA
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Angola celebra 30 anos de missão .............................. 632 No túmulo de São Francisco, Papa assina a Encíclica “Fratelli tutti ” ........................................ 639
FALECIMENTO Frei Policarpo Berri .................................................................. 642
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AGENDA .........................................................................651 TBT Provincial ......................................................................652 Capa: F estividades de São Francisco de Assis no Noviciado de Rodeio
Francisco de Assis aponta para valores necessários ao nosso tempo Caros confrades de todas as fraternidades da Província da Imaculada Conceição do Brasil, das outras entidades da nossa Conferência dos Frades Menores do Brasil e do Cone Sul e das demais obediências franciscanas; Queridas Irmãs Clarissas e Concepcionistas, religiosas e religiosos franciscanos, irmãs e irmãos da Ordem Franciscana Secular, juventudes franciscanas e os tantos irmãos e irmãs que participam de nossa vida, de nosso carisma e de nossa missão; a todos vocês, Paz e Bem! Ao completarmos os cinco anos da Carta Encíclica Laudato Si’, um acontecimento de dimensões mundiais eclode como um grito de socorro da natureza. A pandemia que atravessamos vem confirmar que o Papa Francisco tinha razão quando, inspirado em São Francisco, convocava toda a humanidade para um pacto de cuidado e preservação da nossa Casa Comum. O apelo do Papa tem origem na intuição de São Francisco que, ao se entregar ao seguimento de Cristo, percebeu que a proposta do Evangelho passava necessariamente pela fraternidade humana e universal. Francisco entendeu com sua experiência de fé que o amor a Deus é indissociável do
amor ao próximo e do respeito pela Criação: “tudo está interligado”. E neste dia de São Francisco fomos brindados com mais uma Encíclica de matriz franciscana, “Fratelli Tutti”, justamente com a temática da Fraternidade e do amor social. Como nos aponta o bispo e teólogo Bruno Forte, esta encíclica tem o conceito de fraternidade “enraizado primeiro na figura do Pai do Céu, perante o qual somos todos irmãos, depois na da missão do Filho, que nos torna irmãos n’Ele enquanto filhos adotivos, e depois na ação do Espírito. Assim, [...] o Papa Francisco anuncia o Evangelho, ou seja, não uma doutrina social como tal, mas as consequências sociais de uma conversão do coração àquela fraternidade que é o dom de Deus dado aos homens para os tornar capazes de amar e de se acolherem uns aos outros e de construírem um mundo mais justo para todos.”1 Ainda na Laudato Si´, o Papa Francisco situou a nossa Mãe Terra entre os pobres mais abandonados e maltratados, pela forma como vem sendo tratada com abandono e violência, com consequências desta autodestruição a todos, mas especialmente aos mais pobres e vulneráveis. Na celebração da Bênção Urbi et Orbi, do início
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Laudato si’ e Fratelli tutti:
da pandemia, o Papa declarava que seria uma grande ilusão para a humanidade acreditar que poderia permanecer saudável vivendo em um mundo doente. E recentemente ele ainda nos recordou: “As feridas causadas na nossa mãe terra são feridas que sangram em todos nós”. Se nossa Mãe adoeceu, nós também adoecemos com ela e, para recuperar a saúde, precisamos do remédio da conversão do coração ou, nos termos da própria Laudato Si’, de uma urgente “Conversão Ecológica”. Na Regra de Vida para os frades menores, São Francisco fala do cuidado com os irmãos doentes: “Se algum dos irmãos cair enfermo, onde quer que estiver, os outros irmãos não o abandonem e o sirvam como gostariam de ser servidos”2. Assim, se a Mãe Terra está doente, não podemos fugir do compromisso com o necessário cuidado pela nossa Casa Comum. Ao celebrarmos a solenidade de São Francisco, neste ano de 2020, desejo convocar a todos para assumir com entusiasmo as belas iniciativas que estão nascendo como frutos da Encíclica Laudato Si`. A primeira é o olhar atento e amoroso para a Amazônia, expresso na realização do Sínodo e na Exortação “Querida Amazônia”. No contexto político-econômico em que estamos vivendo, multiplicam-se queimadas e exploração predatória dos grandes ecossistemas. Nossas vozes precisam se unir com as daqueles que defendem a preservação da vida, da cultura dos povos originários e da floresta; e, em respeito pelas espécies vegetais e animais, as criaturas todas, devemos denunciar toda forma de violência, praticada em nome do lucro e do benefício econômico para poucos. São Francisco de Assis, com sua vida, aponta para valores tão necessários ao nosso tempo! A pobreza e a humildade, vividas com generosidade, nos mostram um jeito ético e sustentável de conviver em harmonia com as pessoas e com os dons da criação, com o nosso planeta. O espírito de minoridade nos leva à compaixão e à gratuidade contra a arrogância egoísta que promove ódio, morte e destruição. A nova encíclica “Fratelli Tutti” vem resgatar para toda a humanidade este modo fraterno de “viver em relação” que “adota a cultura do diálogo como caminho; a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério.”3 Quanto mais sintonizados com Francisco, tanto mais vamos perceber que, embora frágeis, somos infinitamente amados por Deus. E Deus nos ama de graça! E também nós somos chamados a distribuir gratuita e generosamente as inúmeras bênçãos e graças que dia após dia recebemos do Senhor. Que a Festa e as celebrações de Nosso Seráfico Pai, São Francisco, sejam, para todos nós, ocasião de renovação do primeiro entusiasmo que nos levou a abraçar a vida de irmãos e irmãs menores no seguimento de nosso Senhor Jesus Cristo. O Senhor vos dê a Sua Paz!
Frei César Külkamp MINISTRO PROVINCIAL 1 Vatican News, 20-10-2020. 2 Regra não Bulada, 10,1. 3 Fratelli Tutti, 285.
mensagem//
“Fratelli tutti”
Mensagem do Ministro Geral
Queridos irmãos, O Senhor lhes dê sua paz! É com grande alegria que venho a cada um de vocês para desejar do fundo do coração uma feliz festa de São Francisco 2020. Embora vivamos uma situação de emergência sanitária mundial, nada poderá nos separar do amor de Cristo (Rm 8, 35) e nada poderá nos tirar a esperança e a alegria que o Evangelho e a pessoa de Cristo trazem consigo. Nós, Frades Menores, nos alegramos de maneira particular pelo belo presente que o Papa Francisco acaba de dar à Igreja e a todos os homens e mulheres de boa vontade que quiserem acolher a mensagem de sua nova carta encíclica “Fratelli tutti”, sobre Fraternidade e a Amizade Social, mais uma vez inspirada nas palavras do Pobrezinho de Assis, e em perfeita continuidade com a mensagem central de Laudato Si’, na qual
nos ensinou a importância de nos sentirmos seres humanos interligados e em comunhão com toda a criação, assumindo uma visão de ecologia integral. Esta carta encíclica, como podemos intuir pelo título, será uma mensagem profética e um convite urgente a recordar que “Deus criou todos os seres humanos iguais em direitos, deveres e dignidade e os chamou a viver juntos como irmãos entre eles”(FT 5) Acolhamos com grande abertura e decisão este poderoso convite para fazer parte do Sonho de Deus. Como diz o próprio pontífice, sonhemos com uma só humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra … cada um com a riqueza da sua fé … cada um com a sua própria voz, todos irmãos (FT 8).
Frei Michael A. Perry, OFM Ministro Geral
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A oração do Pai Nosso
Considerações de um frade em busca do essencial na vida 1. Tenho algumas coisas guardadas aqui no fundo do meu coração, que gostaria de partilhar com você neste espaço. Falo do que sinto e venho cultivando em minhas meditações, tanto na calma do silêncio, quanto no barulho da ação. Partilho com você uma reflexão sobre a oração do Pai nosso, cujo texto é usado na nossa liturgia católica e que, por sinal, é o mesmo do relato evangélico de Mateus 11,6b-13.
2. Esta oração foi ensinada pelo nosso Mestre de vida, o Senhor Jesus e, inclusive, por ele recomenda para ser recitada (rezada) sempre pelos seus discípulos e discípulas: “É assim que vocês haverão de rezar: Pai nosso...” (6,9). “Senhor, ensina-nos a rezar como João [Batista] ensinou
a seus discípulos”, foi o pedido de um dos discípulos de Jesus. E o Mestre respondeu: “Quando vocês rezarem, digam: Pai...” (Lucas 11,1-2). Esta recomendação de Jesus deve ter alguma razão de ser. Qual seria?
3. No meu entender, o Pai nosso sintetiza toda a mensagem da Boa Nova (Evangelho) de Jesus. Sintetiza o que de fato Jesus mesmo sentia. Por isso, para mim, é uma oração maravilhosamente rica de conteúdo evangelizador e altamente estimulante da nossa fé. Tanto que, na tradição cristã, seu texto sempre foi solenemente entregue aos iniciantes à fé, ou seja, aos catecúmenos.
4. A oração começa com esta invocação: “Pai nosso que estais nos céus”. Em outras palavras, Jesus ensina a di-
formação permanente// rigir-se a Deus como Pai. E Pai nosso, isto é, de todos nós! Pai tem a ver com parente. Logo, se Deus é Pai, obviamente que, então, é também parente: Pai! Sim, Pai!, o parente mais próximo!!!... Poderíamos, pois, até dizer: Temos o DNA de Deus, que, inclusive, tem um nome: Amor (1João 4,8.16)! Jesus sentiu isso dentro dele, profundamente; e, a partir desta experiência de vida, ele resgatou para nós a consciência de que somos criados à imagem e semelhança Deus (cf. Gênesis 1,27): Somos filhos e filhas de Deus. Jesus, o Filho de Deus, nos resgata exatamente isso! Não é maravilhoso?! Filho de peixe, peixinho é. Filhos de Deus, divinos são! Jesus veio nos mostrar a dimensão divina do ser humano, que havíamos esquecido e abafado. E dizemos a este Pai – que cuida de todos nós! –, dizemos que “está nos céus”. Como assim, nos céus? Que espaço é este? Seu espaço é o do perfeito amor, da harmonia total, da paz absoluta, da vida plena, possível em todos os espaços. Céus é este espaço, ou clima, que cabe também dentro da gente, entre nós, como também em toda a terra, em todo o universo. Depende da gente, permiti-lo, abrir-se a ele. 5. E então manifestamos um primeiro desejo nosso, que é também um pedido: “santificado seja o vosso nome”. Em outras palavras, expressamos a este Pai o desejo de sinceramente permitirmos que este seu nome (Pai) seja de fato sinônimo de santo, ou seja, de puro, simples, desapegado, amoroso, sem complicação, sem corrupção, sem falsidade, sem maldade, sem mentira, verdadeiro e alegre como o mundo das crianças e muito mais!... Ora, se este Pai é assim, neste nome dá pra confiar plenamente, sem medo. N’Ele podemos confiar! Que de fato seja reconhecido e vivido como tal por todos nós: “santificado seja o vosso nome”! 6. E vem o seguinte pedido: “venha a nós o vosso reino”. Que reino? O reino deste Pai que é pura bondade, “o bem, todo o bem, o verdadeiro e sumo bem” (São Francisco). O reino d’Ele é isso mesmo, como já disse: todo espaço ou clima de puro amor, harmonia, paz, aconchego, luz, solidariedade, verdade, compreensão, compaixão, saúde, vida, alegria etc. Reino de Deus é este espaço totalmente livre, isto é, completamente limpo de complicações, corrupção, opressão, mentiras e medos em todas as relações! É o que, no fundo, pedimos na oração do Pai nosso: Que tenhamos a corajosa confiança de ativamente permitir que este Reino, este espaço ou clima de vida plena, plantado em nós, desabroche e cresça em nós e entre nós: “venha a nós o vosso Reino”. 7. E mais outro pedido se acrescenta: “seja feita a vossa vontade”. Ora, se o Pai e o Reino d’Ele são tudo isso que
acabamos de ver, então a vontade d’Ele pode ser feita, seguida e praticada, com toda confiança e sem medo. Amar: é a sumidade do seu querer, de sua vontade, pois Deus mesmo “é Amor” (cf. 1João 4,7-21). Assim, que seja feita esta vontade d’Ele – e não os “nossos” caprichos egoístas! –, em todo lugar, tanto na terra como no céu, pois, na frágil vontade “nossa” nem sempre dá pra confiar! A vontade de Deus, sim, é com certeza a mais certa e segura! O próprio Filho de Deus, nosso Mestre Jesus, no-lo garantiu, ele que disse de si: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14,6). 8. E então vem outro pedido deveras interessante: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Pão tem a ver com o alimento necessário para a nossa sobrevivência. De fato, quando esta vontade do Pai de todos nós é feita e, conseqüentemente, seu Reino de fato acontece em nós e entre nós, também cada dia será um “hoje” farto do alimento necessário para a vida de todos e todas. O pão é sinal do seu Reino acontecendo. Então, que assim seja hoje e sempre! É o que no fundo manifestamos ao rezar o Pai nosso. E assim sendo, criamos em nós um sentimento profundo de gratidão, pois reconhecemos que todo alimento sobre nossas mesas é sempre dádiva do Pai que está em nós como filhos e filhas seus. Mesmo sendo fruto do trabalho humano, no fundo, é sempre dádiva do Pai que nos agraciou com o trabalho para saborear o pão a cada dia. 9. Em seguida vem outro pedido que, a meu ver, tem tudo a ver com o Reino antes invocado para que venha. Que Reino? Reino de reconciliação e de paz: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. A palavra “perdoar” vem do latim “perdonare”. Esta palavra latina é formada pelo prefixo intensivo “per” (completamente) e o verbo “donare” (dar, doar, entregar). Perdoar (per-doar), portanto, tem a ver com dar, doar, entregar completamente, o que implica em desapegar-se, desfazer-se completamente, não guardar, não reter absolutamente nada de uma ofensa perpetrada contra a gente. Deus é assim! Ele não retém nada para si de qualquer ofensa. Aliás, nem o atinge! Ele simplesmente a entrega, como que a devolve inteiramente a quem de direito, a saber, ao ego do ofensor. Portanto, quando dizemos “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, no fundo fazemos exatamente este pedido, a saber: Que nos permitamos ser desse jeito, como Deus mesmo é, a saber, não segurando nada para a gente de qualquer ofensa perpetrada. “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão [ou seja: qualquer ser humano] pecar contra mim? Até sete vezes [ou seja: tudo]?”, perguntou Pedro ao Mestre Jesus COMUNICAÇÕES
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//formação permanente que, de imediato respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete [ou seja: absolutamente tudo]”! (Mateus 18,21-22). Este é aquele Reino pedido no Pai nosso que aconteça em nós e entre nós! Foi o que se deu com Jesus quando, do alto da cruz, orou: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lucas 23,34). Ou seja, com esta oração Jesus entende e reconhece que, no fundo, não são os homens, que o torturam e matam, é o ego deles que, aprisionando-lhes a alma, transformou seus corpos em cruéis assassinos de um inocente. Jesus, desapegado de tudo, simplesmente entrega a esse ego a ofensa feita. Resultado: Viu-se em paz até com o cruel inimigo e rezou por ele; e, enfim, nas mãos do Pai entregou o seu espírito, expirou (cf. v. 45). Com isso, ali mesmo, muitos o reconheceram de imediato como sendo de fato um homem justo (v. 47), como sendo o próprio Filho de Deus (Mateus 27,54; Marcos 15,39)! Conclusão: Reino de Deus, de reconciliação e paz em nós e entre nós, acontece na medida em que, como Deus, “per-doarmos” toda ofensa cometida contra nós e, assim perdoando, nos reconhecemos igualmente como filhos e filhas de Deus, ou seja, parecidos com Deus, divinos. Que seja, então, assim também em nós e entre nós! É o que pedimos na oração do Pai nosso. 10. Enfim, fechamos a oração com um último e decisivo pedido, a saber: “e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Cair em tentação... Que tentação? A tentação de cair no abismo da dúvida, isto é, de duvidar desse Pai e desse seu Reino. O perigo existe: o perigo de um ego vaidoso e orgulhoso, construído por nós em nosso corpo – pessoal e coletivo –, que, com suas “verdades”, pode tomar o comando de “nossas vontades” e nossas mentes e, assim, “abafar” nossa Alma, nossa Essência, o Pai que está em nós, o Filho que nós somos, o Reino dos Céus que já está em nós. Depende de nós, permitir ou não que essa dúvida nos domine, depende de nosso estado de consciência, de nossa mente alerta, de nosso estado de vigilância. “Vigiai e rezai para não cairdes em tentação”, alertou o Mestre aos discípulos, num momento dramático e decisivo, altamente tentador, no Getsêmani (Mateus 26,41). Deus não nos quer caídos na tentação da dúvida, jamais. Mas podemos livremente permitir-nos nela cair. Como? Atendendo antes aos ruídos egoístas da nossa mente, que nos puxam e aprisionam em suas malhas insanas, do que ao convite da Sabedoria divina de nossa alma que nos chama para a vida em liberdade. “Mas livrai-nos do mal”, dizemos em seguida. De que mal? Do perigoso mal de duvidar do Pai de todos nós e do seu Reino de amor, privilegiando as “nossas verdades” e seus reinos tão ilusórios e passageiros e, consequentemente, deixando de praticar aquilo que Deus mesmo é – como vimos acima
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–, o que gera terríveis consequências, pessoais, comunitárias e socioambientais, a saber: mágoas, ressentimentos, ódios, rancores, brigas, agressões de todo tipo, guerra, sangue derramado, abuso e jogo interesseiro de poder, ganância, prepotência, autoritarismo, corrupção, exploração, escravidão e exclusão dos outros (sobretudo dos pobres), preconceitos de todo tipo, desprezo, agressão ao meio ambiente, sofrimento, tristeza, medos, lágrimas, morte, e por aí vai... Mas, além disso, há um mal ainda maior, mais perigoso, e que Deus não deseja para ninguém, a saber: a perda da esperança, o desespero. Quem se desconecta do Reino dos Céus e se abandona exclusivamente ao reino das trevas e da morte, corre o sério perigo de num dado momento, quando se sentir totalmente impotente, chegar ao ponto de, enfim, derrotado, desesperado por não mais ter Se encontrado, então dizer para si: Não vale a pena mais viver?... 11. Indo para a conclusão desta reflexão, releio com especial satisfação o pedido que – em ressonância à oração do Pai nosso rezado pela assembléia toda ao iniciar o rito de comunhão da liturgia eucarística da missa –, o sacerdote faz sozinho e em voz alta em nome de todos: “Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados pela vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivendo a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador”. Significativa oração, à qual a assembleia toda responde: “[Pois] vosso é o reino, o poder e a glória para sempre!”. Significativa ressonância litúrgica ao Pai nosso, rezado precisamente num contexto ritual de busca de comunhão plena com o Pai santo, sua vontade e seu reino em todos os seres humanos e na Natureza de onde nos vem o pão, comunhão não só ritual mas acima de tudo vital! 12. Entendemos, pois, a razão por que Jesus recomendou recitar sempre a oração do Pai nosso que, para o nosso bem, fez questão de nos ensinar. “A ‘morte’ do ego egocêntrico e autossuficiente e o surgimento de um eu novo e liberado que vive e age no Espírito” (Thomas Merton): É isso que a oração do Pai nosso, rezada conscientemente, nos presenteia! Pois ela nos leva a conectar e manter conectadas as nossas mentes e o coração com o que deveras é Essencial para viver bem, com paz, serenidade, equilíbrio, sabedoria e coragem, pessoal e comunitariamente, também quando fizerem todo mal contra nós. Em outras palavras, rezando assim, como que vamos carregando nossas baterias interiores precisamente a partir da Fonte maior, o Reino dos céus que está em nós, não nos faltando então, jamais, o doce pão do amor a trazer a paz, a fartura para todas as mesas, a vida em abundância para todos.
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
formação permanente// MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O IV DIA MUNDIAL DOS POBRES
(Sir 7, 32)
E
stende a tua mão ao pobre” (Sir 7, 32): a sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40).
1. Tomemos nas mãos o Ben-Sirá, um dos livros
do Antigo Testamento. Nele encontramos as palavras de um mestre da sabedoria que viveu cerca de duzentos anos antes de Cristo. Andava à procura da sabedoria que torna os homens melhores e capazes de perscrutar profundamente as vicissitudes da vida. E fê-lo num período de dura prova para o povo de Israel, um tempo de dor, luto e miséria por causa da dominação de potências estrangeiras. Sendo um homem de grande fé, enraizado nas tradições dos pais, o seu primeiro pensamento foi dirigir-se a Deus para Lhe pedir o dom da sabedoria. E o Senhor não lhe deixou faltar a sua ajuda. Desde as primeiras páginas do livro, Ben-Sirá propõe os seus conselhos sobre muitas situações concretas da vida, sendo a pobreza uma delas. Insiste que, na contrariedade, é preciso ter confiança em Deus: “Não te perturbes no tempo do infortúnio. Conserva-te unido a Ele e não te separes, para teres bom êxito no teu momento derradeiro. Aceita tudo o que te acontecer e tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação, porque no fogo se prova o ouro, e os eleitos de Deus no cadinho da humilhação. Nas doenças e na pobreza, confia n’Ele. Confia em Deus e Ele te salvará, endireita os teus caminhos e espera n’Ele. Vós que temeis o Senhor, esperai na sua misericórdia, e não vos afasteis, para não cairdes” (2, 2-7). 2. Página a página, descobrimos um precioso compêndio de sugestões sobre o modo de agir à luz de uma relação íntima com Deus, criador e amante da criação, justo e providente para com todos os seus filhos. Mas, a constante referência
a Deus não impede de olhar para o homem concreto; pelo contrário, as duas realidades estão intimamente conexas. Demonstra-o claramente o texto donde se tirou o título desta mensagem (cf. 7, 29-36). São inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos. Para celebrar um culto agradável ao Senhor, é preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus. De tal consciência deriva o dom da bênção divina, atraída pela generosidade praticada para com os pobres. Por isso, o tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade. É verdade o contrário: a bênção do Senhor desce sobre nós e a oração alcança o seu objetivo, quando são acompanhadas pelo serviço dos pobres. 3. Como permanece atual, também para nós, este ensinamento! Na realidade, a Palavra de Deus ultrapassa o espaço, o tempo, as religiões e as culturas. A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana. A opção de prestar atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser COMUNICAÇÕES
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//formação permanente condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados. Não se pode sufocar a força da graça de Deus pela tendência narcisista de se colocar sempre a si mesmo no primeiro lugar. Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina. Todos os anos, com o Dia Mundial dos Pobres, volto a esta realidade fundamental para a vida da Igreja, porque os pobres estão e sempre estarão conosco (cf. Jo 12, 8) para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia. 4. O encontro com uma pessoa em condições de pobreza não cessa de nos provocar e questionar. Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual? A comunidade cristã é chamada a coenvolver-se nesta experiência de partilha, ciente de que não é lícito delegá-la a outros. E, para servir de apoio aos pobres, é fundamental viver pessoalmente a pobreza evangélica. Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra. O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade. É verdade que a Igreja não tem soluções globais a propor, mas oferece, com a graça de Cristo, o seu testemunho e gestos de partilha. Além disso, sente-se obrigada a apresentar os pedidos de quantos não têm o necessário para viver. Lembrar a todos o grande valor do bem comum é, para o povo cristão, um compromisso vital, que se concretiza na tentativa de não esquecer nenhum daqueles cuja humanidade é violada nas suas necessidades fundamentais. 5. Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida. Quantas mãos estendidas se veem todos os dias! Infelizmente, sucede sempre com maior frequência que a pressa faz cair num turbilhão de indiferença, a tal ponto que se deixa de reconhecer todo o bem que se realiza diariamente no silêncio e com grande generosidade. Assim, só quando acontecem fatos que transtornam o curso da nossa vida é que os olhos se tornam capazes de vislumbrar a bondade dos santos “ao pé da porta”, “daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 7), mas dos quais ninguém fala. As más notícias abundam de tal modo nas páginas dos jornais, nos sites da internet e nos visores da televisão, que faz pensar que o mal reine soberano. Mas não é assim. Certamente não faltam a malvadez e a violência, a prepotência e a corrupção,
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mas a vida está tecida por atos de respeito e generosidade que não só compensam o mal, mas impelem a ultrapassá-lo permanecendo cheios de esperança. 6. Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo. A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contato com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança. E poderíamos enumerar ainda outras mãos estendidas, até compor uma ladainha de obras de bem. Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação. 7. Esta pandemia chegou de improviso e apanhou-nos despreparados, deixando uma grande sensação de desorientação e impotência. Mas, a mão estendida ao pobre não chegou de improviso. Antes, dá testemunho de como nos preparamos para reconhecer o pobre a fim de o apoiar no tempo da necessidade. Não nos improvisamos instrumentos de misericórdia. Requer-se um treino diário, que parte da consciência de quanto nós próprios, em primeiro lugar, precisamos duma mão estendida em nosso favor. Este período que estamos vivendo colocou em crise muitas certezas. Sentimo-nos mais pobres e mais vulneráveis, porque experimentamos a sensação da limitação e a restrição da liberdade. A perda do emprego, dos afetos mais queridos, como a falta das relações interpessoais habituais, abriu subitamente horizontes que já não estávamos acostumados a observar. As nossas riquezas espirituais e materiais foram postas em questão e descobrimo-nos amedrontados. Fechados no silêncio das nossas casas, descobrimos como é importante a simplicidade e o manter os olhos fixos no essencial. Amadureceu em nós a exigência de uma nova fraternidade, capaz de ajuda recíproca e estima mútua. Este é um tempo favorável para “voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo (...). Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade (...). Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de
formação permanente// violência e crueldade e impede o desenvolvimento de uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente» (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 229). Enfim, as graves crises econômicas, financeiras e políticas não cessarão enquanto permitirmos que permaneça em letargo a responsabilidade que cada um deve sentir para com o próximo e toda a pessoa. 8. “Estende a mão ao pobre” é, pois, um convite à responsabilidade, sob forma de empenho direto, de quem se sente parte do mesmo destino. É um encorajamento a assumir os pesos dos mais vulneráveis, como recorda São Paulo:“Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo. (...) Carregai as cargas uns dos outros”(Gal 5, 13-14; 6, 2). O Apóstolo ensina que a liberdade que nos foi dada com a morte e ressurreição de Jesus Cristo é, para cada um de nós, uma responsabilidade para colocar-se ao serviço dos outros, sobretudo dos mais frágeis. Não se trata de uma exortação facultativa, mas de uma condição da autenticidade da fé que professamos. E aqui volta o livro de Ben-Sirá em nossa ajuda: sugere ações concretas para apoiar os mais vulneráveis e usa também algumas imagens sugestivas. Primeiro, toma em consideração a debilidade de quantos estão tristes: “Não fujas dos que choram” (7, 34). O período da pandemia constrangeu-nos a um isolamento forçado, impedindo-nos até de poder consolar e estar junto de amigos e conhecidos atribulados com a perda dos seus entes queridos. E, depois, afirma o autor sagrado: “Não sejas preguiçoso em visitar um doente” (7, 35). Experimentamos a impossibilidade de estar junto de quem sofre e, ao mesmo tempo, tomamos consciência da fragilidade da nossa existência. Enfim, a Palavra de Deus nunca nos deixa tranquilos e continua a estimular-nos para o bem. 9. “Estende a mão ao pobre” faz ressaltar, por contraste, a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices também eles. A indiferença e o cinismo são o seu alimento diário. Que diferença relativamente às mãos generosas que acima descrevemos! Com efeito, existem mãos estendidas para premer rapidamente o teclado de um computador e deslocar somas de dinheiro de uma parte do mundo para outra, decretando a riqueza de restritas oligarquias e a miséria de multidões ou a falência de nações inteiras. Há mãos estendidas a acumular dinheiro com a venda de armas que outras mãos, incluindo mãos de crianças, utilizarão para semear morte e pobreza. Existem mãos estendidas que, na sombra, trocam doses de morte para se enriquecer e viver no luxo e num efêmero desregramento. Existem mãos estendidas que às escondidas trocam favores ilegais para um lucro fácil e corruto. E há também mãos estendidas que, numa hipócrita respeitabilidade, estabelecem leis que eles mesmos não observam.
Neste cenário, “os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe” (Francisco, Exort. ap Evangelii gaudium, 54). Não poderemos ser felizes enquanto estas mãos que semeiam morte não forem transformadas em instrumentos de justiça e paz para o mundo inteiro. 10. “Em todas as tuas obras, lembra-te do teu fim” (Sir 7, 36): tal é a frase com que Ben-Sirá conclui a sua reflexão. O texto presta-se a uma dupla interpretação. A primeira destaca que precisamos de ter sempre presente o fim da nossa existência. A lembrança do nosso destino comum pode ajudar a conduzir uma vida sob o signo da atenção a quem é mais pobre e não teve as mesmas possibilidades que nós. Mas existe também uma segunda interpretação, que evidencia principalmente a finalidade, o objetivo para o qual tende cada um. É a finalidade da nossa vida que exige um projeto a realizar e um caminho a percorrer sem se cansar. Pois bem! O objetivo de cada ação nossa só pode ser o amor: tal é o objetivo para onde caminhamos, e nada deve distrair-nos dele. Este amor é partilha, dedicação e serviço, mas começa pela descoberta de que primeiro fomos nós amados e despertados para o amor. Esta finalidade aparece no momento em que a criança se cruza com o sorriso da mãe, sentindo-se amada pelo próprio fato de existir. De igual modo um sorriso que partilhamos com o pobre é fonte de amor e permite viver na alegria. Possa, então, a mão estendida enriquecer-se sempre com o sorriso de quem não faz pesar a sua presença nem a ajuda que presta, mas alegra-se apenas em viver o estilo dos discípulos de Cristo. Neste caminho de encontro diário com os pobres, acompanha-nos a Mãe de Deus que é, mais do que qualquer outra, a Mãe dos pobres. A Virgem Maria conhece de perto as dificuldades e os sofrimentos de quantos estão marginalizados, porque Ela mesma Se viu a dar à luz o Filho de Deus num estábulo. Devido à ameaça de Herodes, fugiu, juntamente com José, seu esposo, e o Menino Jesus, para outro país e, durante alguns anos, a Sagrada Família conheceu a condição de refugiados. Possa a oração à Mãe dos pobres acomunar estes seus filhos prediletos e quantos os servem em nome de Cristo. E a oração transforme a mão estendida num abraço de partilha e reconhecida fraternidade. Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica de Santo António, 13 de junho de 2020. Francisco COMUNICAÇÕES
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RETIRO ESPIRITUAL ANUAL
Fraternidade Franciscana São José Postulantado Santo Antônio de Santana Galvão
Por motivo do confinamento, a Província, a partir da Formação Permanente, sugeriu organizar-se Retiro em Fraternidades Locais. A Fraternidade do Postulantado Frei Galvão escolheu data e pregador. Em Capítulo Local, escolheu-se Frei Roberto Ishara para pregar, nos dias 29 e 30 de setembro e 1º e 2 de outubro. Ele se serviu dos subsídios enviados da parte da Formação Permanente, e organizou o evento. Mister se faz dizer, ele o elaborou com amor, carinho, dedicação e delicadeza, próprias da raça japonesa. Frei Roberto esquematizou de tal modo os dias, que nada se atropelou: Momentos de Oração, de Meditação, de Partilha, e tudo com calma e sobriedade. O silêncio foi marca importante; leitura alusiva ao dia, durante o almoço; atmosfera silenciosa e meditativa... O colóquio, o pregador reservou apenas para o horário do café matutino; do convívio, do lanche e jantar. No percurso do retiro com os postulantes, num dado momento do
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horário, dinamizou-se uma Novena, cujo tema foi “aspectos da Espiritualidade Franciscana, do nosso carisma”; muita coisa fornecida pela Formação Permanente. Temática do retiro: Frei Roberto, praticamente, seguiu o que foi proposto pela Província: a) Texto da Comissão Episcopal para Doutrina da Fé; Anúncio e Catequese da Conferência Episcopal Italiana; B) Texto da Homilia do Papa Francisco, de 27 de março de 2020, onde ele medita sobre a pandemia, antes, durante e o depois... Dia 29: O foco foi o Drama da Sexta -Feira Santa. Dia 30: Realce do Silêncio do Sábado Santo, do Sepulcro; dos sepulcros de nós mesmos. Dia 1º meditou-se sobre o raiar da Esperança do Domingo. A Luz do mistério Pascal, iluminador da História da Humanidade e de nossa História. Falou-se bastante do “rolar da Pedra” de nossos sepulcros... Enfim, meditou-se sobre a força do caminho criativo do pós-pandemia... Dia 2: A Fraternidade debruçou-se sobre a Homilia do Papa Francisco, do dia 27 de março. Abordou-se sobre a Tempes-
tade no Mar, o Barco em apuros, e o medo dos apóstolos... E o realce sobre a fé no Ressuscitado!... Durante o Retiro, tudo foi conscientemente rezado, meditado, partilhado, e produziu bastantes frutos para todos, conforme os participantes revelaram. E tudo, graças à maneira que de como orientou Frei Roberto: Com bastante discernimento. O pregador, através de seu jeito calmo e lúcido, favoreceu o aspecto individual, pessoal de cada um, e assim todos usufruíram desses dias de graças do Senhor. Nos dias de Retiro, as motivações foram fortes, atuais e necessárias: Via – Sacra no contexto da pandemia; O terço no contexto da pandemia; A Adoração do Santíssimo Sacramento; A Meditação do Mistério da Encarnação do Verbo; com São Francisco, diante dos Presépios da Exposição. O encerramento: Uma Procissão Luminosa em direção a São Francisco, colocado no Pátio da Casa, e trazendo uma máscara... e perante ele, orações, cantos e, no fim, arrancaram-lhe a máscara, suplicando-lhe intercessão, com Maria, para que o mundo e todos nós, tenhamos apreendido a lição da crise, e ainda, tenhamos crescido para Deus, para o próximo e em nós mesmos... Enfim, pedindo a esperança para continuar navegando no mesmo barco nesse mundo de Deus! Conclusão: Foi um Retiro com a marca da Esperança do Evangelho e das Pegadas de Nosso Pai Seráfico. Um Retiro na atmosfera da Espiritualidade Franciscana. Que Deus seja louvado! Gratidão aos confrades responsáveis da Formação Permanente. Obrigado, Frei Roberto Ishara!
Frei Walter Hugo de Almeida
formação e estudos// FREI CLARÊNCIO AOS ALUNOS DE TEOLOGIA:
“Não necessitamos de meios de comunicação, mas de comunicação” s alunos do primeiro ano do curso de Teologia do Instituto Teológico Franciscano (ITF, de Petrópolis (RJ), tiveram o privilégio de ouvir o jornalista e escritor Frei Clarêncio Neotti durante aula, na terça-feira (29/9), da disciplina “Comunicação na Pastoral”, a convite do professor Frei Gustavo Medella, que é o Vigário Provincial da Província da Imaculada Conceição. Frei Clarêncio, que reside em Vila Velha (ES), onde é Vigário Paroquial no Santuário do Divino Espírito Santo, estreou numa sala de aula on-line neste tempo de pandemia (ele foi professor de Comunicação e Teologia Pastoral no ITF de 1970-1986). Como lembrou Frei Medella, Frei Clarêncio é um especialista e profundo conhecedor da temática da comunicação. “Posso dizer que ele viveu na prática todos os desdobramentos desses documentos eclesiais que nós estudamos anteriormente”, disse o professor, referindo aos documentos “Inter mirifica” (1963), do Concílio Vaticano II, e “Communio et progressio” (1971), de Paulo VI. Frei Medella lembrou que Frei Clarêncio trabalhou na CNBB, esteve a serviço da Ordem dos Frades Menores, em Roma, formou gerações de professores, fundou e participou de entidades da comunicação. Tem publicações nessa área, como “Comunicação, um estudo crítico”, “Comunicação e consciência crítica”, “Comunicação e ideologia”, além de outras obras de natureza litúrgica e pastoral, como a biografia de Frei Bruno Linden, o frade em processo de beatificação. Grande parte dessa experiência no campo da evangelização e da comunicação estão
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reunidas em seis volumes com o título “Ribeirão Grande - Vi, Vivi, Vivenciei”. Frei Clarêncio informa que essas notas biográficas já estão no 10º volume. Frei Clarêncio destacou para os alunos que é importante diferenciar “comunicação de meios de comunicação”, pois trata-se de uma diferença fundamental. “Como franciscanos, nós necessitamos da comunicação, não dos meios de comunicação. A comunicação é evangelização. O meio não precisa ser evangelizado. A comunicação é parte integrante do
nosso carisma franciscano. Os meios não. E evangelho significa comunicação, porque é a Boa Nova. Jesus não teve os meios que nós tivemos e é o grande comunicador. São Francisco de Assis não teve os meios que nós tivemos e é um modelo de comunicador”, explicou. Para o frade, a comunicação deve levar à comunhão. “Aliás, em latim, communicatio, significa comunhão e comunicação. É a mesma palavra. Isso tem uma importância muito grande. Toda comunicação deve me levar à COMUNICAÇÕES
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//formação e estudos comunhão. Os nossos meios nem sempre me levam à comunhão”, reforçou, frisando que devemos desenvolver a verdadeira comunicação. “Jesus, repito, é o verdadeiro modelo de comunicador, sobretudo naquela página da samaritana, que é excepcional. E a condição básica da comunicação é o respeito e a aceitação da outra pessoa. Respeito e aceitação da outra pessoa, sem isso não temos fraternidade. Sem fraternidade não existe carisma franciscano. Se o carisma franciscano só existe na fraternidade, a comunicação é condição da vida franciscana. Volto a dizer, São Francisco é um modelo de grande comunicador”, ressaltou. “Tudo o que ajuda a comunicação, eu chamo de meios, desde da música à dança, desde do teatro ao jornal, até à imprensa”, disse, lembrando que outros meios nasceram durante a história: rádio, cinema, televisão. “Vocês estão pegando outros meios de comunicação bem diferentes, porém esses meios que vocês têm hoje, não se podia sequer imaginar há 20 anos, 30 anos”, observou. Esses meios têm duas raízes, segundo o frade: a eletricidade, pelos anos 1870; e a segunda grande descoberta que possibilitou esse desenvolvimento fantástico da comunicação, que foio transistor, em 1968 (os transistores são como blocos fundamentais na construção de todos os dispositivos eletrônicos modernos, sendo usados em chips de computadores e smartphones, por exemplo). “Ninguém de vocês era nascido, mas eu já era padre. Eu me lembro tão bem quando se começou a falar disso. Todos os jornais comentando. Foi tão fundamental que, já um ano depois, o homem chegou à lua em 1969”, recordou.
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Essa descoberta levou a três grandes consequências: a ida do homem à lua; “a maldita guerra do Golfo, em 1990, em que os americanos massacraram Saddam Hussein e outras autoridades árabes por causa do petróleo. Essa foi guerra foi midiática”; e a terceira, o desenvolvimento do telefone celular e dos computadores. “Vejam como os meios vão se modificando. A comunicação, não”, emendou. Frei Clarêncio falou sobre o modo de comunicar do Papa Francisco, enumerando duas grandes qualidades de comunicação. “Quando ele fala em ‘Igreja em saída’, na verdade fala ‘Igreja do Encontro’. O que fala é sobre a acolhida. Eu saio ao encontro da pessoa. Esse encontro gera comunicação”, disse. “O Papa Francisco tem o grande mérito de aproximar as pessoas”, enfatizou, lembrando que Francisco sempre alerta contra as fofocas, tão em moda hoje com as fake-news. “A
comunicação exige um grande respeito para com a outra pessoa, para o jeito de ser da outra pessoa, o jeito de outra pessoa rezar, de se relacionar com Deus”, insistiu. Frei Felipe Carreata perguntou a Frei Clarêncio o que achava da Pascom. “Eu vejo a Pascom paroquial demais. Ela tem sua razão de ser, agora depende de qual é o sentido dela dentro da paróquia. Eu posso me preocupar com o vídeo da festa da paróquia, mas isso não basta. Eu queria cristãos na comunicação; eu queria leigos que trabalham na comunicação. Eu não sou favorável a uma imprensa católica, uma rádio católica, uma televisão católica, sei lá o quê. Olha, gente! Essa ideia é velha! Eu quero católicos na imprensa, eu quero católicos na televisão. Nossa presença deveria ser mais marcante como cristãos. Nós deveríamos ser fermento na massa, como diz Jesus. Não importa qual é o veículo de comunicação”, respondeu Frei Clarêncio. Respondendo a outra pergunta sobre os “padres midiáticos”, contou que eles têm origem no pentecostalismo norte-americano. “Não é minha religião, mas tudo bem. Se você fizesse essa pergunta para o povo, vai ter gente que apoia e gente que não suporta. Gente que acha ser exibicionismo. Se são meios, são meios. Mas se conseguem comunicar a verdadeira comunicação, não vejo por que não. Agora, não fiquem só padres midiáticos, por favor. A nossa religião não é midiática, mas é do nosso coração”, completou. Frei Medella agradeceu a disponibilidade de Frei Clarêncio para esta aula.
fraternidades//
Frades do Espírito Santo fazem primeiro Regional presencial s frades das três Fraternidades do Espírito Santo (Paróquia Santa Clara (Colatina), da Paróquia Nossa Senhora do Rosário (Vila Velha e do Convento da Penha) reuniram-se no dia 5 de outubro para o Encontro Regional. Ao todo, 14 frades se juntaram no início da noite do dia 4, Festa de São Francisco de Assis, para a Celebração Eucarística no Santuário Divino Espírito Santo, em Vila Velha e, em seguida, o jantar. O Encontro aconteceu ainda em meio às comemorações de uma Semana Franciscana e recordou a memória litúrgica de São Benedito, santo franciscano invocado como protetor dos negros, escravos e cozinheiros; e também por ocasião do aniversário natalício do Frei Alessandro Dias, que celebrou 40 anos de vida no dia 5 de outubro. Outro fato importante é que este foi o primeiro encontro presencial neste ano. O coordenador do Regional e pároco da Paróquia do Rosário, Frei Djalmo Fuck, explicou que este foi o primeiro encontro regional de toda a Província neste tempo de pandemia. “Pelo fato de sermos um Regional menor, casas mais próximas, resolvemos nos encontrar presen-
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cialmente, claro respeitando todos os protocolos de distanciamento e uso de álcool gel . Foi uma oportunidade para discutirmos uma série de atividades que nossas fraternidades desempenham e até apresentar propostas para o próximo Capítulo Provincial que acontecerá no próximo ano”, afirmou o Frei. Frei Djalmo explica que este encontro serviu para refletir os desafios da evangelização e da missão franciscana nas paróquias e nos santuários capixabas, sobretudo nesse momento pelo qual passamos por doença. Houve uma troca de experiências das realidades que cada fraternidade vive. Colatina, por exemplo, teve uma classificação diferente no mapa de risco da Covid-19 em relação ao município de Vila Velha. “Há também uma troca de experiências porque são realidades bem diferentes. Partilhamos como vivemos entre os frades na nossa vivência, no nosso dia a dia, na qualificação da nossa vida fraterna e sobretudo nosso apostolado, nossa missão franciscana”, comenta o coordenador do Regional. O pároco de Vila Velha também justificou a ausência do confrade Dom Frei Dario Campos, que participou do
último Regional no ano passado. Neste, o arcebispo precisou se submeter a um pequeno procedimento cirúrgico e está se recuperando bem. Como pauta da conversa, os frades também refletiram a Carta dos Ministros Gerais Franciscanos sobre os 800 anos da Regra Não Bulada; fizeram a leitura e partilha fraterna de um texto sobre a “Vocação franciscana: entre abandonos e fidelidade” e ainda os encaminhamentos do encontro formativo provincial. O Encontro Regional foi encerrado com uma oração final, em seguida, um saboroso almoço. No período da tarde, os freis retornaram às suas respectivas fraternidades.
Assessoria de imprensa do Convento
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//fraternidades SÉRIE
esidindo na Fraternidade Santo Antônio de Bauru (SP), Frei Ricardo Backes acha difícil falar de uma pandemia que ainda assola o país. Mas algumas lições já podemos tirar desse momento histórico que vivemos. Uma delas é ajudar a Casa Comum, buscando uma vida mais simples e fraterna. O belga Richard chegou em Agudos no dia 31 de janeiro de 1962 para fazer um ano de experiência antes de ser admitido no Noviciado de Rodeio no ano seguinte. Ele veio do Seminário Franciscano de Garnstock, no seu país, onde se preparou de 1958 a 1961. Morando no Brasil, ele ficou mais distante de dois momentos tristes na sua infância: a morte de
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Comunicações - Frei, fale um pouco
de sua vida e de sua família Frei Ricardo - Nasci na Bélgica em 1940. Meus pais foram Leonard Backes e Maria Leyens. Sou filho único. Nossa região, de língua alemã, foi anexada pela Alemanha nazista. Meu pai foi
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seu pai e sua mãe na 2ª Guerra Mundial. Filho único, foi criado pela família dos avós maternos. Ao chegar no Brasil, o missionário belga ficou chocado com o abismo existente entre ricos e pobres. Na época, pensou que em, mais ou menos 10 anos, esse desnível desapareceria e, assim, as favelas acabariam. Ledo engano. Já se passaram 58 anos e esse desnível só cresce. Frei Ricardo professou na Ordem dos Frades Menores no dia 15 de dezembro de 1967 e foi ordenado presbítero no dia 14 de dezembro de 1968. Conheça um pouco mais a história de vida de Frei Ricardo Backes nesta entrevista a Moacir Beggo.
convocado para ser soldado na Rússia, onde tombou em 1943. A 2ª. Guerra Mundial arrasou totalmente nossa cidade St.Vith. Minha mãe e eu morávamos numa aldeia próxima. Nossa casa foi atingida por bomba e fomos levemente feridos. Uma amiga de
minha mãe convidou-nos para morar com ela. Outra vez, fomos evacuados para tendas na mata para escapar da linha de tiro da ofensiva brava. Uma experiência divertida para nós crianças. E, já retornados para casa, quase no fim da guerra em nossa região,
fraternidades// minha mãe foi atingida por estilhaços de uma bomba. Sendo socorrida pela Cruz Vermelha, foi levada para longe, pois nossa região estava cheia de soldados e civis feridos. Só um ano depois ficamos sabendo que a mãe morreu e onde foi enterrada. Fui criado na família de meu padrinho, o avô materno. Tive uma educação cristã tradicional. Nosso pároco, religioso do Verbo Divino, mantinha frequentes contatos conosco. Frequentei a Escola Primária da aldeia e ingressei, mais tarde, no Colégio Diocesano da cidade. Desde cedo, nas horas livres, ajudava nos serviços caseiros e na agricultura da família.
amigo, fomos passear e lembrei-me que ele queria tornar-se franciscano. Mostrei-lhe, então, de longe, o edifício do Colégio Missionário Franciscano Garnstock. Fiz-lhe, então, a proposta de tomar um lanche mais cedo para poder fazer uma visita a Garnstock e solicitar informações de algum seminário que preparasse jovens para a Índia. Depois de sua saída refleti por mais ou menos uma hora e sentia uma voz interior me dizer: “Richard, você é o maior covarde. Você orienta seu ami-
Comunicações - Como se
deu seu discernimento vocacional? Frei Ricardo - Desde cedo herdei do meu padrinho a leitura de jornal diário. Recebíamos também uma boa revista mensal missionária. Cedo me interessava pelas missões, sobretudo, da África. Frequentemente tínhamos contatos com missionários que passavam suas férias na Europa e contavam da sua vida e trabalhos em outras culturas. O Colégio também incentivava estes contatos. Depois de deixar o Colégio, onde terminei dois anos do curso técnico agrícola, fui morar e trabalhar numa fazenda. Na região, soube que um amigo meu de infância estaria morando. Fui visitá-lo. Ele estava próximo de terminar seu serviço militar e perguntei: “O que você pretende fazer depois de terminar o serviço militar?”. Para minha grande surpresa respondeu que queria tornar-se franciscano e trabalhar na Índia. Por uns instantes perdi a fala. Tinha participado de duas missões populares, a última pregada pelos frades franciscanos Marcos Hecking e Heriberto Steeg, de Garnstock. Outra vez, numa visita do
Sua pedagogia e ação pastoral (do Papa Francisco) são muito realistas go de fazer uma visita aos frades, por que você não vai lá? ” No ano seguinte, nós entramos juntos no seminário franciscano. Porém, meu amigo adoeceu e, depois de uns meses teve que nos abandonar.
Comunicações - Quando decidiu ser missionário no Brasil? Frei Ricardo - Com minha entrada no seminário Garnstock cresceu e amadureceu minha vocação e decisão de tornar-se religioso franciscano. Depois de uns anos de estudo e pre-
paração, parti, junto com um colega alemão, para o Brasil em janeiro de 1962 e me dirigi para o seminário Santo Antônio de Agudos. Lá conheci a minha turma e estudei mais um ano, sobretudo, português e reconhecendo os estudos da Bélgica.
Comunicações - O que conhecia do
Brasil quando decidiu vir para cá? Frei Ricardo – Vários frades de Garnstock, tendo vivido e trabalhado no Brasil, contavam de suas experiências, de sua vida pastoral e missionária nesta cultura diferente e rica. Nós, aspirantes, líamos bastante sobre o país que nos iria acolher. Apreciávamos os filmes sobre o Brasil, o futebol, o carnaval. Frei Bruno Post, nosso cozinheiro, sabia preparar pratos apetitosos brasileiros. Ao chegar aqui, confesso que fiquei chocado com o abismo existente entre ricos e pobres. Pensei que entre mais ou menos 10 anos iam até desaparecer as favelas...
Comunicações - Como foi a
sua adaptação no país e na Província? Frei Ricardo - Já na Europa insistiam conosco e davam dicas de como se adaptar melhor e mais rapidamente no Brasil. Em Agudos, foram alguns colegas seminaristas que ajudaram a nos ambientar, conhecer certos costumes da cultura do povo, tantas frutas deliciosas, conhecer a variedade de animais e uma criação tão rica. Até hoje fico-lhes agradecido e mesmo a alguns que saíram mais tarde da Província. Saudades... Acredito que as casas de formação, com sua vida diversificada, o contato e acolhida pelo povo e, mais tarde, as transferências e conhecimento de outras Fraternidades, além de viagens, adaptaram-me sempre mais ao país e à Província. COMUNICAÇÕES
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//fraternidades Comunicações - Teve dificuldades
com a língua e a cultura? Frei Ricardo - Tendo vivido antes de entrar no seminário na divisa entre duas culturas, a germânica e francesa, certamente facilitou a adaptação na cultura do novo continente. Um ano antes de vir ao Brasil, passei em Portugal, já para conhecer melhor os laços históricos entre Portugal e Brasil, exercer e aplicar o português. O conhecimento do francês, língua latina, ajudaram a falar a nova língua pátria.
de Encontro Vocacional on line do SAV provincial.
Comunicações - Como o sr. vê a
diminuição de vocações na Igreja? Frei Ricardo - Uma das causas de diminuição de candidatos religiosos são as famílias com um só ou dois filhos. Estes querem ficar perto dos seus para acompanhar e até ajudar a cuidar dos pais idosos. Muitos entram, então, nas dioceses. Como tantos confrades, neste particular, sinto saudades
Comunicações - O sr. já
trabalhou muito com a formação, e hoje é procurador vocacional da sua Fraternidade? Frei Ricardo - Sim. Já na primeira transferência para a paróquia de Santo Antônio do Pari, Frei Florentino Barrionuevo, incumbiu-me de dar a catequese, fazer contatos e orientação religiosa nas escolas. Na época pós Concílio Vaticano II foi uma experiência crescente e feliz. Depois de quatro anos fui transferido para o SEVOA de Guaratinguetá. Três anos mais tarde, fui chamado de volta ao Pari para assumir a direção do Colégio Santo Antônio do Pari. Devido ao cargo que exercia, fui obrigado pelas autoridades de me naturalizar. A partir deste ato, sentia-me mais brasileiro e livre. Agora podia abrir a boca, anunciando e denunciando. Nesta pandemia pela qual passamos é mais difícil ser procurador vocacional da Fraternidade. Mas, já estamos organizando um mini-encontro Vocacional em Rio Preto, região de quatro interessados na vida religiosa franciscana. Frei Alisson, do SAV, virá nos ajudar e conhecer melhor estes candidatos. Já consegui reuni-los e lhes envio constantemente textos de franciscanismo ou espiritualidade. Uns já participaram
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da falta da busca da vida religiosa é a instabilidade numa fé e vivência mais profunda da vida cristã nas famílias e no mundo atual. Muito me alegro com o crescimento vocacional na África, especialmente em Angola. Talvez seja bom lembrar a história vocacional do nosso país, da nossa Província que chegou a ter só um frade. A história pode repetir-se. Será que o Senhor quer ver mudanças na Igreja e na Ordem? Temos que rezar e pedir ao Senhor da messe mais coragem em certas mudanças, que mande mais e santos operários. No tempo que trabalhei na Paróquia N. Senhora de Fátima, da Vila Dionísia, nosso bispo regional de Santana, D. Joel Ivo Catapan, então responsável, entre os bispos, da Pastoral Vocacional, dizia ao clero: Jesus não chamou santos para segui-lo, mas pecadores...
Comunicações - O que um
Seguindo esta vocação (franciscana), você será muito feliz de tempos passados. As Fraternidades contavam com mais irmãos terceiros como no Sagrado em Petrópolis, onde tinha a presença do viúvo Frei Jordão Duer, alfaiate e homem santo. E tantos outros poderia mencionar aqui. Por que deixamos de acolher tantos homens maduros? Tudo indica que São Francisco acolhia a muitos que queriam segui-lo. E os formava pelo seu exemplo contagiante e alegre. Tiveram tempo e oportunidade de se converter e formar. Não falta isso em nós e formadores atuais? Outra causa
jovem que sente o chamado à vocação sacerdotal deve fazer? Frei Ricardo - Rezar e pedir ao Bom Pastor o discernimento necessário e colocar-se à disposição da Igreja local num serviço pastoral ou social. Quanto mais se coloca à disposição de servir, melhor. Vai crescendo e criando amor por algo maior. O pároco ou algum padre ou frade poderá tornar-se seu orientador. Tendo condições, a casa dos padres ou frades poderia acolhê-lo e oferecer a convivência, a vida fraterna e eclesial (Poderia tornar-se Aspirantado).
Comunicações - Como foi sua experiência na Missão de Angola? Frei Ricardo - Conhecer outro continente, outros povos e culturas é muito interessante e enriquece a visão do mundo. Já em Malanje, gostei muito do povo angolano, dos seus jovens, sobretudo, dos vocacionados. O jovem
fraternidades// angolano, na maior simplicidade, tem dons para cantar com facilidade, tocar instrumentos e celebrar de seu jeito, de corpo e alma. Tive encontros e celebrações com as Irmãs Clarissas e os mais diversos serviços pastorais nas Comunidades. O segundo semestre foi de sofrimento, pois várias vezes tive febre tifóide e, na última junto, paludismo. Pensei que cheguei ao fim da vida. Fui transferido para Quibala, de clima mais ameno e saudável. Conheci e servi a muitas comunidades. Encontrei muitos catequistas e pessoas de boa vontade, engajadas do melhor modo possível. Atendia confissões de pessoas nas suas diversas línguas (Jesus entendia tudo), orientava ou aconselhava em português bem simples. Uma experiência boa foi a convivência com os frades e jovens do Postulantado, muito dedicados, abnegados, fraternos. Aí eu ajudava na formação.
dimensões: nas escolas e na formação permanente, na nossa missão, catequese e evangelização, no campo da saúde, administração, etc. Talvez não precisamos mais tantos salões e tão grandes. O mundo tornou-se uma grande aldeia. Como cidadãos e cristãos temos que colaborar e ajudar nas soluções urgentes da “casa comum”: aquecimento global, desmatamentos, queimadas de biomas, plantar árvores, partilhar mais...Voltar a uma vida mais simples e fraterna.
Comunicações - O que é ser
missionário para o sr.? Frei Ricardo - A partir do nosso batismo e crisma, todos somos chamados a ser missionário. “Ide a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. É o “sair”, tantas vezes lembrado pelo Papa Francisco. Nós, franciscanos, temos o exemplo de São Francisco, homem imbuído do Espírito do Senhor e orientado pelo seu projeto de servir na simplicidade e pobreza aos menores e injustiçados da sociedade.
Comunicações - Que lições pode-
mos tirar desta pandemia? Frei Ricardo - É difícil responder esta pergunta. Certamente, o tempo vai falar. Desde já, aprecia-se, em geral, os encontros de formação, planejamento e organização via on-line, atingindo número maior de participantes e a menor custo. A tecnologia pode ajudar em muitos campos e
religiosas o escutam e o admiram. Ainda encontra muita oposição. Mas, é paciente e prepara ou lança as bases para futuras mudanças. Confia e anima pessoas de boa vontade. Que o Senhor o proteja!
Comunicações - Por que ser franciscano hoje? Frei Ricardo - A visão franciscana da vida e do mundo, a urgência de respostas e soluções para a casa comum, a meu ver e modéstia à parte, é a mais adequada para os nossos dias. Assumindo nossa identidade franciscana, junto com tanta gente em busca do sentido da vida e do mundo, podemos contribuir para a saúde das pessoas, das criaturas e do planeta. A visão franciscana tenta superar os abismos entre classes socais e econômicas, raças, religiões. Pode ajudar criar um mundo novo e acelerar a chegada do reino de Deus.
Comunicações - Francisco e
A visão franciscana da vida e do mundo é a mais adequada para os nossos dias. Comunicações - Como o sr. vê o
Pontificado do Papa Francisco? Frei Ricardo - O Papa Francisco é um homem muito feliz, de esperança, inspirado pelo Senhor. Os seus pensamentos e ações segue, em grande parte, São Francisco de Assis. Sua pedagogia e ação pastoral são muito realistas. Sabe acolher as pessoas de diversas origens, classes sociais, raças, religiões. É corajoso na sua visão e transformação na Igreja e no mundo. Não só cristãos, mas também outras denominações
Clara têm espaço no mundo de hoje? Frei Ricardo - Francisco e Clara indicam um caminho mais simples e fraterno para o mundo de hoje. A contemplação e ação francisclariana influenciam muitos jovens e gente em busca de alternativas diferenciadas de filosofia e visão do mundo.
Comunicações - O que o sr. diria
para um jovem que quer ser frade menor? Frei Ricardo - Parabéns pela sua opção e decisão. Vou rezar por você e dar o meu apoio. Seguindo esta vocação, você será muito feliz. Seguindo os passos de Francisco e Clara, você entrará mais facilmente nos mistérios do Cristo crucificado e vencedor da vida nova e criador do mundo novo esperado. COMUNICAÇÕES
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//fraternidades
Mês da Bíblia na Paróquia Santa Clara de Imbariê requentemente celebrado em setembro na Igreja do Brasil, o mês da Bíblia foi um tempo frutuoso na Paróquia Santa Clara de Assis de Imbariê (RJ). As comunidades organizaram-se a partir de cantos com este tema, bem como por meio de oportunas ornamentações e outros símbolos (cartazes, frases) sobre as Sagradas Escrituras. Além disso, a equipe bíblica da Paróquia preparou duas lives formativas sobre o tema do livro do Deuteronômio. Por fim, para fechar o mês, uma terceira transmissão completou o estudo sobre a Bíblia pela página da Paróquia no Facebook. A primeira live, que aconteceu no dia 31 de agosto, contou com a participação de muitas pessoas de forma on-line, mas presencialmente Frei Jorge Maoski, que conduziu o encontro, recebeu a ajuda de Cláudia Couto Mariano, da Comunidade Divino Espírito Santo, e de Cristiane Aparecida, da comunidade Santa Terezinha. Ambas fazem parte da Equipe Bíblica de nossa Paróquia. Entre os assuntos discutidos, lembrou-se que o livro do Deuteronômio é um dos mais citados no Novo Testamento, tendo inclusive sido citado por Jesus. Este livro é considerado um dos mais importantes do Antigo Testamento justamente por que nele encontra-se o “Shemá”, a profissão de fé dos judeus (Dt 6,4-9). Além disso, foram apresentados os temas pertinentes que perpassam a obra: libertação, aliança, fé em Deus único, direitos e deveres. Com leis, narrativas e exortações o livro condensa também fortes apelos à conversão, inclusive com fatos e discursos de um personagem central no Antigo Testamento: Moisés. A segunda live, no dia 2 de setembro, contou com a condução de Cristiane Aparecida da Silva e o apoio de Frei Jorge Maoski. A formação iniciou com uma oração e uma recordação do primeiro dia de
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formação. Em seguida, buscou-se evidenciar alguns temas do livro do Deuteronômio: o temor a Deus, a Aliança, o espírito das leis e instruções que compõem o livro, e como podemos atualizar o livro do Deuteronômio hoje, em nossa pastoral, problemas e conflitos. Para finalizar o mês da Bíblia, Frei João Reinert, por meio de uma live que foi ao ar no dia 28 de setembro, discutiu temas gerais das Sagradas Escrituras que foram norteados com as seguintes perguntas: em que sentido a Bíblia não tem erro? Quem são os autores da Bíblia? Deus ou o ser humano? O que são fundamentalismo e fanatismo bíblico? Qual a relação entre Antigo e Novo Testamento? Essas e outras questões foram iluminadas pelas contribuições e perguntas trazidas pelos participantes que acompanharam ao vivo a transmis-
são e comentaram na postagem. Percebeu-se que há um forte interesse sobre o tema, bem como de discutir e refletir sobre a importância de entender a mensagem da Bíblia, sua atualização entre nós e os princípios de uma leitura assertiva e afinada com a proposta da Misericórdia de Deus, anunciada por Jesus. Assim, por mais que a pandemia impôs uma série de complicações na nossa evangelização, a Palavra de Deus sempre se mostrou muito mais forte. Com ela, inclusive, encontra-se o sentido para todo o tempo que estamos vivendo. Precisamos sempre anunciar o Evangelho, por palavras e obras, em todas as circunstâncias. Afinal, somos alimentados pela esperança de um “Verbo que se fez carne e habitou entre nós”.
Frei Gabriel Dellandrea
fraternidades//
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RODEIO – SC
Celebrações de São Francisco de Assis no Noviciado
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Solenidade de São Francisco de Assis tem especial significado para os frades e o povo de Rodeio - SC. O Pobrezinho de Assis é o Padroeiro da Paróquia, onde, por mais de 100 anos, os frades têm atuado e é o Seráfico Pai a ser celebrado com toda reverência na casa de formação que gera os novos frades para a Ordem. Assim sendo, tanto a rotina da casa de formação se altera para bem celebrar o Santo Fundador, com dedicadas faxinas para deixar os espaços organizados e arrumados, como as leituras espirituais que tomaram uma semana de preparação para a festa: de modo especial a Legenda Menor de São Boaventura que narra a história do santo sob a perspectiva teológico-mística, mas de modo resumido. Já as celebrações com o povo, ainda adaptando-nos às restrições em vista do cuidado de contaminação em meio a pandemia, mantivemos a Celebração do Trânsito de São Francisco e a Missa do Padroeiro, mas com a reunião de um número bem menor de paroquianos. As duas celebrações foram presididas pelo Ministro Provincial, Frei César Külkamp, que passara aqueles dias realizando uma visita à nossa fraternidade. A celebração do Trânsito foi realizada de modo simples, mas profundo, com a partici-
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pação de membros da Família Franciscana presentes na cidade: os frades e noviços, as irmãs Catequistas e membros da Ordem Franciscana Secular que participaram das leituras, cantos e procissões. Tudo permeado por um profundo espírito orante. Neste anos não tivemos o tradicional canto coral do Trânsito (mas houve a oportunidade de ouvir uma gravação de anos anteriores no decorrer da celebração), embora a alguns membros do coral da cidade tenham animado a celebração do dia 3 com cantos franciscanos. Já no dia seguinte, dia 4, a celebração dominical foi celebrada com solenidade, com uso do incenso que eleva as orações aos céus, o canto solene da Sequência de São Francisco e a homilia que ressaltava a recente encíclica assinada pelo Papa Francisco Fratelli tutti, como um importante convite à construção desta fraternidade humana moldada pela solidariedade e compaixão pela necessidade do outro, um exemplo que São Francisco de Assis deixara ao mundo e vem sendo testemunhado por seus seguidores no decorrer dos séculos. Que o Seráfico Pai continue a abençoar o povo de Rodeio e aos frades que sentiram-se atraídos a percorrer os mesmos caminhos de seguimento de Jesus Cristo, cativados pelo profundo sentimento de reverência ao mistério de amor revelado na Encarnação e Paixão.
Frei Rodrigo da Silva Santo Mestre dos Noviços COMUNICAÇÕES
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VILA CLEMENTINO - SEDE PROVINCIAL
Frei Medella: “Que Francisco nos ajude a sonhar sonhos grandes que nos levam a ser pequenos!”
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clima ameno nos últimos dias em São Paulo, depois de muito calor, ajudou nas festividades de São Francisco de Assis, na Paróquia da Vila Clementino, em São Paulo, onde também está a Sede da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. O Vigário Provincial Frei Gustavo Medella presidiu a Missa das 9 horas, tendo como concelebrante Frei Robson Scudela. Devido às normas sanitárias, o espaço na igreja durante as celebrações foi limitado. Por conta disso, muitas pessoas ficaram de fora esperando outros horários de missas. Muitos fiéis participaram das celebrações e um grande número de pessoas fez fila para abençoar seus animais de estimação. Por causa da pandemia, muitas atrações foram canceladas neste ano, como a feira de adoção de animais, o pastel de São Francisco e a feira de artigos religiosos. O pároco Frei Valdecir Schwambach manteve o tradicional Bolo de São Francisco, com 1.100 medalhinhas abençoadas do santo. Frei Medella disse que, neste dia festivo, nossos olhos e
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nosso coração se voltam para a figura de São Francisco de Assis. Segundo ele, este homem que viveu na Idade Média, cuja mensagem se faz tão própria e atual para os nossos dias, serve de exemplo e inspiração para uma vida diferente, uma vida alternativa, mais qualificada diante de Deus e diante do Planeta. Frei Medella escolheu dois elementos presentes na vida de Francisco para encontrar possíveis ensinamentos hoje, “no aqui agora da nossa existência pessoal e comunitária”. São eles: os sonhos e a nudez. Os sonhos, segundo o frade, volta e meia é possível encontrar nos textos dos biógrafos e hagiógrafos de São Francisco. “Eu gostaria de deter-me sobre um, ainda antes de sua conversão, quando a caminho de uma batalha, com o objetivo de se tornar um membro da nobreza, Francisco sonha com um suntuoso castelo, cheio de armas e escudos, todos eles marcados pela insígnia da cruz. E neste sonho, ele ouve uma voz: ‘Francisco, o que é mais importante: servir ao servo ou ao Senhor?’ E ele, no sonho, chega à conclu-
são que é melhor servir ao Senhor. E aí a voz disse: ‘Volta para a tua cidade, e lá descobrirás o que deves fazer’. Interessante como há a junção desses dois elementos: a glória, a suntuosidade, a ostentação de um grande prédio, com armas poderosas, mas todas elas marcadas pela simplicidade da cruz. E Francisco, então, reaprende a sonhar. Redireciona suas energias e seus sonhos para seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele se descobre, profunda e
incondicionalmente, amado por Deus e deseja fazer tudo o que está ao seu alcance para corresponder, dentro dos seus limites, a esse amor com o qual ele vive uma experiência tão próxima e tão intensa. E deixa seus sonhos serem dirigidos pelo Senhor”, explica Frei Medella, acrescentando: “O sonho de abraçar o leproso; de ir ao encontro das enfermidades mais difíceis da humanidade; o sonho de despojar-se de tudo, e com as mãos e o coração
livres poder seguir levando aquilo que de mais precioso tinha: o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”. “Poderíamos nos perguntar: quais são os sonhos que movem o coração, por exemplo, de alguém que se dispõe atear fogo em florestas a fim de conseguir a terra para exploração especulativa e financeira? Com o que esses sonhos estão conectados? Com que tipo de desejo, com que tipo de expectativa? O que sonha alguém que se dispõe a corromper-se desviando recursos, por exemplo, que seriam usados para salvar vidas na crise da pandemia como estamos vivendo? “Francisco nos ensina a buscar os verdadeiros sonhos. Francisco, graças a Deus, inspira esses sonhos em nosso pastor maior, o Papa Francisco, que na Encíclica Laudato Si’, lançada há cinco anos, partilha com a humanidade o grande sonho da fraternidade universal: o cuidado com a Casa Comum, com as pessoas, que são nossos irmãos, irmãs e que merecem ser respeitados e amados”, frisou. O segundo elemento, segundo Frei COMUNICAÇÕES
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Da dir. para esq: Maria, Pedro, João, Pedro e Juliana
Bênção dos Animais A bênção dos animais foi feita no estacionamento ao lado do Salão Paroquial para dar distanciamento e segurança às pessoas. Maria Carolina Cristóvão de Proença Vieira e seus filhos Pedro e João trouxeram o Tobby, que, segundo eles, representa todos os animais que não puderam estar presentes. Junto com eles vieram a amiga Juliana e seu filho Pedro. O filho adiantou-se em dizer que mãe é uma amante dos animais. “Eu sempre gostei da natureza e de suas criaturas”, contou, explicando que não é paroquiana, mas uma devota. “São Francisco sempre teve, de uma forma ou outra, na nossa vida. Nós participávamos há muito tempo no Santuário Santa Edwiges, onde tem as irmãs franciscanas”, disse. Segundo ela, numa das consultas médicas de seu filho no bairro, conheceram
a Igreja São Francisco. “Há duas semanas, meu filho falou que queria vir a esta igreja. Na quinta-feira, viemos ao médico e, depois na Missa, o padre falou que iria ter a festa de São Francisco. Então, resolvemos vir e escolhemos um dos animais que temos para representar todos eles”, explicou Maria, que será madrinha do filho de sua amiga. Quem fez sucesso entre a maioria canina foi a dupla: Mingau e João. Nem se importaram com os latidos. Tranquilamente, no colo de Zélia e Fabiana da Silva, eles receberam a bênção na mais santa paz. Segundo Fabiana, a devoção a São Francisco começou quando ela descobriu que o Santo era o “Padroeiro dos Animais”. “Quando o João ficou doente, eu fiz uma promessa: enquanto eu vivesse, traria ele para tomar a bênção todos os anos”, disse. As duas são unânimes em dizer que gostam dos caninos, mas a preferência é pelos felinos. Mingau, pelo visto, estava adorando o passeio. Este é o seu primeiro ano.
Mingau (à dir.) e João
Medella, é a nudez. O frade lembra que, nas legendas do Santo, há dois episódios que Francisco fica nu. “Antes de falar da nudez, contudo, vamos falar da vestimenta de Francisco. Primeira veste dele era de roupas bem produzidas, coloridas, porque seu pai era um comerciante poderoso de Assis e que tinha uma boa condição financeira. Provavelmente, se na época houvesse sites de celebridades, Francisco ocuparia as colunas sociais ostentando sua condição...”, disse. “E, de repente, naquela conversão, ele percebe que aquelas vestes o distanciavam do caminho da verdadeira realização. E aí, pressionado pelo pai e pela cidade diante do bispo, diante do todo mundo, ele, corajosamente, despe-se de tudo e fica totalmente nu, mostrando que seus sonhos passariam a caminhar numa outra direção. Ele percebe que aquele caminho não é o caminho que vai preenchê-lo a partir de dentro, e aí assume a veste do camponês, que hoje, estilizadamente, é o nosso hábito franciscano: uma túnica, um cordão e o capuz, porque caminhavam muito sob as intempéries”, explicou. Segundo Frei Medella, a segunda vez que Francisco fica nu é próximo à sua morte, quando pede a seus confrades que o dispam completamente a fim de que nu seja deitado sobre terra nua, como quem recebendo o abraço definitivo daquela a quem ele chamou de Mãe e de irmã. “E aí, a nossa pergunta: do que estamos precisando nos despir hoje para sermos pessoas mais autênticas, mais simples, mais fraternas, mais humanas, mais solidárias? Não devemos ter medo de depor todo o orgulho, preconceito, fechamento em si, autossuficiência, egoísmo”, ensinou. “Que Francisco nos ajude a sonhar sonhos grandes que nos levam a ser pequenos, como foi Francisco, e conforme o Evangelho de hoje: Deus se revela aos pequenos e humildes. E vamos nos despir de tudo aquilo que nos afasta de Deus!”, pediu no final.
SÃO PAULO – LARGO SÃO FRANCISCO
Frei Mário: Fraternidade para o mundo ferido
O guardião e reitor do Covento e Santuário São Francisco, Frei Mário Tagliari, presidiu a Missa Solene das 10 horas nas festividades do Padroeiro no tradicional Largo São Francisco, no centro da capital paulista. Nesta festa franciscana, o Papa foi lembrado, com alegria, pela sua nova Encíclica “Fratelli tutti”, sobre a fraternidade e a amizade social. Frei Mário não teve dúvida: a Fraternidade pode ser o remédio para este mundo ferido. “A fraternidade pode ser o remédio para vencer a pandemia Covid-19, a pandemia do medo, a pandemia do egoísmo, a pandemia do orgulho, a pandemia da autossuficiência, a pandemia da indiferença para com a dor, a morte, o
sofrimento, a miséria, a fome de tanta gente”, disse. Frei Mário também lembrou que há cinco anos o Papa Francisco fez um apelo ao mundo para interromper a destruição da Terra, quando lançou a Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum. “Não dá mais para continuar destruindo a Terra. Não dá para concordar com as queimadas que acontecem no mundo, especialmente no Brasil, onde estamos assistindo à destruição do Pantanal e da Amazônia. Com tanta destruição, a Terra adoece”, disse. Para o frade, o homem acaba sendo vítima desta mesma destruição quando se vê diante de uma pandemia como essa, onde um vírus, que estava no seu habitat na-
tural, faz do homem o seu hospedeiro. “Agora, estamos todos sofrendo porque não respeitamos a natureza”, criticou, lamentando as mortes causadas por esta pandemia: “Por trás de uma vida tem uma família inteira chorando”. Segundo o frade, São Francisco ensinou a acolher a morte como irmã, mas “ela não precisa vir antes do tempo”, disse, criticando a falta de políticas para proteger a vida e o absurdo da corrupção que desvia até respiradores que poderiam salvar vidas. Além da presença limitada dos fiéis, por conta das normas sanitárias, a Festa do Padroeiro teve transmissão pelas redes sociais do Convento. A programação religiosa foi intensa, com missas às 7h30, 9h (Igreja das Chagas), 10h, 12h e 15h, sendo esta última celebrada por Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a região Sé. Às 17 horas, Frei Mário deu a bênção de encerramento e o andor de São Francisco de Assis foi conduzido, em carro aberto, por algumas ruas da região central, abençoando a cidade de São Paulo. A pandemia da Covid-19 levou o Convento a se reiventar e criar um drive-thru de bênção dos animais. Com isso, as pessoas e seus pets puderam ser abençoados dentro dos veículos. O atendimento começou às 9 horas e terminou às 17 horas. Outra novidade também foi o “Drive-thru da Macarronada”, que pôde ser retirada embalada para viagem no nosso salão ou na entrada da Rua Riachuelo, 258. A porção foi preparada pela equipe da Festa de Nossa Senhora da Achiropitta.
Lucas Santos COMUNICAÇÕES
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São Francisco de Assis é celebrado em Angola Os frades da Fundação Imaculada Mãe de Angola e a Família Franciscana de Angola se reuniram, no dia 4 de outubro, no Mosteiro do Sagrado Coração de Jesus (Irmãs Clarissas) para celebrar, com alegria, a Solenidade do Pai São Francisco de Assis, mesmo em meio à pandemia e às normas sanitárias. A celebração teve início as 7h30, presidida pelo presidente da Fundação, Frei António Boaventura Zovo Baza. Esta celebração marcou o fim da VI Jornada da Oração pelo Cuidado da Criação, neste tempo da Criação. Os diversos ministérios foram animados pelos frades estudantes, Irmãs Clarissas, seminaristas franciscanos que
nesse tempo se encontram com suas famílias e fiéis dentro e fora da igreja. Na homilia, o celebrante começou cantando em umbundu com a assembleia: “Hoje e agora, o meu coração exulta de alegria e Deus seja louvado e bendito por tudo quanto existe”. E acrescentou: “Sempre que vamos à igreja, vamos com o desejo de pedir ou de agradecer ao nosso Deus. Agradecemos porque recebemos e pedimos porque precisamos”. “Todo o verdadeiro cristão é aquele que deve lutar pela justiça. Jesus, para São Francisco, tornou-se a sustentação da luta pela justiça e pelo direito”, disse. Ele concluiu dizendo:
“Se não podemos assumir esse compromisso durante o nosso peregrinar na terra nunca poderemos afirmar que somos parte do povo que Deus confiou o seu reino”. Ao terminar, como em todas as solenidades, entoou-se a canção de ação de graça e as Irmãs Clarissas agradeceram dançando e, posteriormente, o presidente da celebração agradeceu a presença dos participantes. Embora com máscaras, sem abraços e com o devido distanciamento, notava-se a alegria, o entusiasmo no rosto dos fiéis e devotos de São Francisco. O modo de vida do Seráfico Pai, e hoje abraçado por muitos, continua a encantar, atrair e animar as pessoas mesmo diante desta pandemia e de outras realidades que o país enfrenta. Diferente dos anos anteriores, a comemoração do Pai Seráfico começou mais cedo em Angola, por meio da “Francligue Futsal”, torneio Franciscano que foi realizado de 26 de agosto a 30 de setembro e da novena, de 24 de setembro a 2 de outubro.
Frei Evaristo Seque Joaquim, Frei Eduardo Cavita Camunha e Frei Abel Ndala Sahuma Nganji 612 COMUNICAÇÕES OUTUBRO DE 2020
PETRÓPOLIS - RJ
Dom Gregório: “São Francisco e Papa Francisco, somos seus irmãos!” Terminou no domingo, 4 de outubro, a Semana Franciscana na Paróquia e Convento do Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis (RJ). Desde o dia 27 de setembro, a comunidade local pôde vivenciar dias intensos de orações, reflexões e celebrações pelo dia de São Francisco de Assis. O bispo Dom Gregório Paixão, OSB, da Diocese de Petrópolis (RJ), presidiu a solene Celebração Eucarística, às 10 horas, contando com a participação dos frades, religiosas franciscanas, membros da Ordem Franciscana Secular (OFS), fiéis, devotos e simpatizantes do Santo de Assis. A Santa Missa foi concelebrada pelo pároco, Frei Jorge Paulo Schiavini, e pelo mestre dos frades que estão no Tempo da Teologia, Frei Marcos Antônio de Andrade. Um coral dos frades estudantes, sob regência do experiente maestro, Marco Aurélio Lischt, animou toda a solene celebração com
a Igreja lotada, cumprindo as ordens de segurança e distanciamento. A Santa Missa foi transmitida ao vivo e em cadeia pelas plataformas digitais da Paróquia do Sagrado, Diocese e Instituto dos Canarinhos de Petrópolis, como também pela Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, da Editora Vozes. Em sua homilia, Dom Gregório destacou aspectos da vida e história de São Francisco de Assis. Disse que
todos os olhos estão voltados para Assis neste dia 4 de outubro. “Hoje, celebramos a festa do Seráfico Pai Francisco, mas, ao mesmo tempo um Papa, com o mesmo nome, vai até Assis para proclamar a sua nova Encíclica ‘Somos todos irmãos’, inspirada em São Francisco de Assis”. Para Dom Gregório, toda a humanidade precisa reconhecer a graça de que todos somos iguais. Enfatizou que o Papa foi até Assis e se inspirou
em São Francisco porque vê nele a possibilidade de mudança e conversão. “Francisco escolheu a Deus como Senhor e a terra como mãe e nos ensina pelas suas escolhas pessoais. Ele mesmo se auto-intitulava irmão e chamava de frades seus irmãos. Foi capaz de viver para depois pregar”, ressaltou. Segundo Dom Gregório, ao convidar toda humanidade para uma grande reflexão, o Papa não deseja que nós vivamos a teoria sobre a fraternidade humana, mas sim, que nós pratiquemos esse ideal. “O papa convida a todos para abrir o coração e a boca para um diálogo fraterno e uma vida verdadeiramente nova”, destacou o Bispo e fez referência ao episódio do encontro de São Francisco com o Sultão, em tempos de guerra. “Que o nosso testemunho seja sempre de Paz e de Bem. Somos todos irmãos! Que essa palavra mobilize toda a vida e transforme todo o mundo”, ensinou. “São Francisco e Papa Francisco, somos seus irmãos. Que essa graça inunde a nossa vida e o nosso coração”, concluiu. Neste domingo, no período da manhã, os frades também realizaram a tradicional bênção dos animais. Além disso, a Paróquia do Sagrado ofereceu o “Almoço Mineiro”, via “Drive Thru”. A iniciativa foi em prol da construção da Igreja de Nossa
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Senhora Aparecida das Duchas, da Paróquia do Sagrado.
TRÂNSITO DE SÃO FRANCISCO
No cair da tarde do dia 3 de outubro, a tradicional celebração do Transitus de São Francisco, marcou a passagem do Santo de Assis para a vida eterna. A Páscoa de Francisco foi celebrada e vivida no cântico dos salmos e na meditação da Palavra de Deus que ele mesmo buscou com humildade e prontidão durante toda a sua vida. “A celebração do trânsito de São Francisco de Assis, é um costume tradicional da Ordem Franciscana, traz presente o mistério da vida, morte e da ressurreição. Conhecedores desta realidade maravilhosa e, ao mesmo tempo, angustiante e cheia
de esperança, estamos celebrando, a exemplo do Seráfico Pai, o dom da vida e buscando aceitar a morte como irmã, caminho único para a ressurreição”, destacou Frei Jorge Schiavini, em sua reflexão. “Nesta noite, os anjos e a Trindade convidaram Francisco a ir até eles, dizendo: permanece conosco para sempre. E nós rezamos com o salmista e com são Francisco: “A vós grito, Senhor, a vós clamo e vos digo: ‘Sois vós meu abrigo, minha herança na terra dos vivos”, concluiu. Na sexta-feira, 2 de outubro, toda Fraternidade do Sagrado esteve envolvida na realização da live franciscana. Uma noite que contou com muita música, interação, devoção, espiritualidade, sorteios, arte e fé. A Paróquia do Sagrado foi anfitriã e contou com a parceria da TvFranciscanos e de outras páginas e grupos no Facebook, que transmitiram em cadeia e ao vivo este especial. Entre os dias 30 de setembro a 2 de outubro, a programação da Semana Franciscana também contemplou celebrações do Tríduo de São Francisco. As Missas foram presenciais, e também transmitidas pelo Facebook da Paróquia do Sagrado.
Frei Augusto Luiz Gabriel
NITERÓI -RJ
TRÍDUO E FESTA A Paróquia Porciúncula de Sant’Anna, em Niterói (RJ), realizou a Semana Franciscana em honra a São Francisco de Assis. O tríduo, cujo o tema central foi “São Francisco e a criação”, foi iniciado no dia 1º de outubro e culminou com a Celebração do Trânsito de São Francisco, no dia 3. São Francisco foi celebrado com Missas e a Bênção dos animais, que, em razão da pandemia do novo coronavírus, foi diferente dos outros anos. Os ministros ficaram na entrada da Igreja abençoando os animais para evitar aglomerações, respeitando todas as orientações das autoridades de saúde. AGUDOS Na noite do último domingo (04), a comunidade São Francisco de Assis, da Paróquia São Paulo Apóstolo, de Agudos-SP, celebrou o Padroeiro da Comunidade com Missa Festiva.
COLATINA - ES São Francisco de Assis foi festejado com live franciscana, celebração da bênção dos animais e celebrações eucarísticas na Paróquia Santa Clara de Assis, em Colatina - ES. Vários fiéis marcaram presença e levaram seus animais de estimação para celebrar e receber a bênção do Santo de Assis.
XAXIM – SC
Festa de São Francisco de Assis na Paróquia São Luiz Gonzaga de Xaxim As comemorações a São Francisco de Assis, na Paróquia São Luiz Gonzaga, tiveram início no dia 3, às 9h, com a bênção dos animais e abertura da Exposição Fotográfica Missionária. Frei Gilson Kammer e Frei Vanderlei da Silva Neves realizaram a bênção em frente ao estacionamento da secretaria paroquial durante a manhã e à tarde. Cachorros, gatos, passarinhos, patos, jabuti e porquinho da índia foram abençoados pelos freis. Na missa das 19h, os fiéis puderam assistir à encenação do Trânsito de São Francisco. A celebração teve a presença do pároco Frei Gilson Kammer, do guardião Frei Vanderlei da Silva Neves e do vigário paroquial Frei Jacir Antônio Zolet. A Pastoral da Juventude foi responsável por apresentar aos que
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estavam na igreja, aos que acompanhavam pelo rádio e pelas redes sociais da Paróquia, a história da morte de São Francisco de Assis. Durante 45 minutos de encenação, o povo de Deus pôde acompanhar os últimos momentos de vida de Francisco, a sua doença, a estigmatização, a partilha com os pobres e a preocupação com o próximo. No domingo (04), dia de São Francisco, a celebração da manhã foi presidida por Frei Jacir Antônio Zolet e concelebrada por Frei Gilson Kammer e Frei Vanderlei da Silva Neves. Na liturgia, uma equipe especial foi formada por jovens da Paróquia para homenagear São Francisco. Em sua reflexão, Frei Jacir relembrou a vida de Francisco e como ele era um exemplo de vida a ser
seguido. O frade apresentou aos fiéis a pesquisa realizada antes de terminar o milênio, em 1999, pela revista “Times” que procurava saber qual a personalidade mais marcante e mais importante do milênio. São Francisco ficou em primeiro lugar. Do ponto de vista da revista, que não é do seguimento cristã, o resultado pode ser considerado surpreendente, sendo que a maioria dos concorrentes não era de personalidades religiosas. O título de “Homem do Milênio” era de São Francisco de Assis, o homem que escolheu a humildade e a pobreza como forma de vida. Frei Jacir, então, perguntou aos presentes na missa: “O que São Francisco fez para merecer esse título?”, e listou seis pontos como resposta:
Ele decidiu abraçar e beijar um leproso desfigurado, e o fez com todo amor. Desde então passou a amar e a se sentir irmão dos mendigos e marginalizados. Ele deixou a riqueza para viver na pobreza e se dizia o mais feliz dos homens por causa disso. Ele se sentia irmão de tudo e de todos: homens, mulheres, animais, plantas, morte, vida, amor, dor, alegria. Tudo BALNEÁRIO CAMBORIÚ A Paróquia Santa Inês, de Balneário Camboriú - SC, como parte da programação da Festa de São Francisco de Assis, realizou a bênção dos animais no dia 3 de outubro. No dia do Santo de Assis, houve Missas Solenes durante todo o dia.
e todos eram seus irmãos amados e benvindos. Ele cantava louvores ao Senhor, sabendo-se criatura amada pelo Pai e salva por Jesus Cristo, a quem entregara sua vida. Ele anunciava o Evangelho em Assis apenas caminhando pelas ruas da cidade, sem dizer uma palavra, sabendo que bastava o seu exemplo. Ele fundou a Ordem dos Franciscanos,
que pregavam e viviam a pobreza e não queriam nada mais do que uma vida simples e fraterna. Ao final da celebração antes da bênção, Frei Gilson convidou a todos para cantar o canto de São Francisco: “A gente pode ser muito mais feliz, seguindo o exemplo de Francisco de Assis”.
Pascom São Luiz Gonzaga
CHOPINZINHO - PR A Comunidade de Chopinzinho - PR celebrou o seu Padroeiro com tríduo preparatório, celebração da bênção dos animais e missas solenes.
LAGES - SC
Jovens encenam os últimos momentos de vida de Francisco de Assis O espetáculo teatral conhecido como ‘Trânsito de São Francisco’ chegou à sétima edição em Lages, SC. Há três anos, a Fraternidade Franciscana da Juventude dá sequência ao trabalho, adaptando às realidades da comunidade, sem perder a essência do carisma franciscano. A apresentação ocorreu no sábado (03), no Convento Franciscano, no centro de Lages. É tradição na comunidade celebrar a vida e morte do Santo com missas, quermesses e com o teatro. Neste ano, em razão da pandemia, todas as atividades foram modificadas para atender às normas de segurança e garantir os cuidados com a saúde de todos que desejassem participar. A Missa onde a encenação foi apresentada teve como presidente Frei Ervino Girardi, que aos 95 anos, mostrou-se alegre com a participação dos jovens e da comunidade. “É muito bom ver esses rostos juvenis em nossa Igreja. Precisamos trabalhar para o Reino de Deus. Não apenas nós, padres idosos, mas toda essa juventude”. Em tom de brincadeira, Frei Ervino finalizou dizendo que “se ano que vem estivermos vivos, vamos apresentar de novo. Vale a pena esse esforço e dedicação”. Como diferencial e atendendo os propósitos do grupo, pela primeira vez as músicas foram ao vivo e cantadas pelos próprios atores, expondo um sentimento maior de devoção pela história apresentada. Entre elenco, músicos, infraestrutura e comunicação, cerca de 15 pessoas participaram da organização da celebração e do teatro. Esse número foi reduzido em função da pandemia.
Setor de Comunicação da Fraternidade 618 COMUNICAÇÕES OUTUBRO DE 2020
GUARATINGUETÁ - SP O Postulantado Frei Galvão, em Guaratinguetá - SP, realizou a celebração do Trânsito de São Francisco, ao anoitecer do dia 3 de outubro.
CURITIBANOS – SC A Paróquia Imaculada Conceição, de Curitibanos - SC, celebrou a Semana Franciscana de 28 de setembro a 4 de outubro, com o tema: “Vida e Morte de São Francisco de Assis”. As reflexões foram feitas através de lives nas Redes Sociais da Paróquia. No sábado, 3 de outubro, o grupo Jovens Unidos em Cristo Encontristas (JUCE) organizou a live franciscana, com apresentação de músicas e a vida de São Francisco de Assis. No domingo, 4 de outubro, foram celebradas Missas Festivas e a tradicional bênção dos animais em honra ao Santo de Assis. CURITIBA - PR O Santo de Assis foi celebrado com festividades na Paróquia Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba - PR. Houve tríduo preparatório, Missas festivas e bênção dos animais. “O Deus de São Francisco é Pai”, “Rezar com São Francisco” e “Recomeçar com São Francisco” foram os temas refletidos durante o tríduo preparatório.
DUQUE DE CAXIAS - RJ
Semana Franciscana para celebrar o Padroeiro A Fraternidade São Francisco, de Campos Elíseos, celebrou o seu Padroeiro com a Semana Francicana que contemplou o tríduo preparatório, celebração do Transitus de São Francisco e Missas Festivas no dia do Padroeiro, bem como a celebração da bênção dos animais. Em Imbariê, a Comunidade São Francisco de Assis da Paróquia Santa Clara celebrou o Padroeiro com missas
festivas e a bênção dos animais. Durante a Celebração Eucarística, alguns símbolos franciscanos fizeram parte do ato penitencial, além de lama e galhos queimados, simbolizando as nossas faltas com a Mãe Terra, com as queimadas e a recordação do acidente em Brumadinho - MG. Na apresentação das oferendas, foram oferecidos os grãos - frutos que colhemos em nossas vidas. Ao final, foram levados o girassol e o cacho de uva, simbolizando o recomeço e inovação da vida. Em volta da Comunidade, destacam-se o presépio criado por São Francisco, um jardim dispenso, recordando a vida. Frei Jorge Luiz Maoski, guardião da Fraternidade Nossa Senhora Mãe da Terra, em sua homilia, ressaltou o cuidado com nossa vida, o zelo por nossa Casa Comum e a fraternidade que São Francisco nos deixou como exemplo. (com informações do facebook da Paróquia Santa Clara)
NILÓPOLIS - RJ A Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis - RJ, festejou São Francisco de Assis com tríduo preparatório, bênção dos animais e missas festivas. Os temas refletidos durante o tríduo foram “São Francisco de Assis e a Palavra de Deus”, “São Francisco e a Missão” e “São Francisco e Santa Maria dos Anjos”.
PARI - SP A Fraternidade Santo Antônio do Pari, em São Paulo - SP, celebrou São Francisco de Assis com Missa festiva. O guardião Frei José Francisco C. dos Santos presidiu a Celebração Eucarística.
VILA VELHA - ES
No dia de São Francisco, frades plantam árvores no Convento da Penha Celebrando o dia de São Francisco de Assis, Patrono da Ecologia, a Fraternidade Franciscana do Convento realizou o plantio de três árvores no Convento. Os 50 hectares de Mata Atlântica preservada agora contam com mais árvores. Foram plantadas na manhã do dia 4 duas palmeiras imperiais no Campinho e um Jequitibá-Rosa (Cariniana legalis–Mat–Kuntze) na subida da Estrada da Penitência. O plantio faz parte das comemorações da festa em honra a São Francisco de Assis e foi pensada como uma forma de contribuir com o planeta e com o Tempo da Criação. Ao final da Missa, Frei Paulo Roberto Pereira, explicou que “quando Frei Pedro Palácios chegou a este lugar, por indicação divina, ele deveria construir a casa da Mãe de Deus no lugar onde houvesse duas palmeiras e ele escolheu este monte, esta montanha, essa pedra firme. A firmeza da pedra, o vigor que sustenta toda construção é o próprio Jesus Cristo. As palmeiras marcam o lugar escolhido por Deus. As palmeiras também são sinais da longevidade, da eternidade que almejamos e além disso as palmeiras no nosso país, sobretudo, são sinais da diversidade. Nosso bioma brasileiro contém uma diversidade infinita de palmeiras. É sinal da escolha de Deus, é sinal da longevidade que queremos para todos, vida plena para todos, é sinal da diversidade que devemos nos respeitar dentro das nossas diferenças”. Pietra Casagrande Schettino ao nascer em 2012, ganhou de seu pai, uma muda de Jequitibá-Rosa, plantada em 2010. Pietra ajudou a cuidar e aprendeu a amá-la, assim como a natureza. Agora, depois de oito anos, Pietra e seus pais Luiz Fernando Schettino e Maria Leila Casagrande, trouxeram a muda para seu habitat: a floresta do Convento da Penha, símbolo de fé, devoção e amor a Deus, à vida e à natureza, mas a menina continuará a amar esta e todas árvores para sempre. Plantar árvores não é apenas uma maneira de contribuir com a criação, vai muito além. É uma resposta ao sonho de Deus, que ao criar o mundo e as belezas naturais, deu ao ser humano a tarefa do cuidado. Cuidar da criação perfeita do Pai é se atentar ao seu sonho e projeto para a humanidade. A muda foi produzida em 2010 de sementes oriundas do Sul do Estado e cuidada pelo Professor Luiz Fernando
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desde então com o pensamento de que se ele viesse a ter filho(a), que este(a) pudesse aprender com ela o amor a natureza e, desde sempre foi pensado plantá-la no Convento da Penha, por ser esta espécie “Símbolo por Lei do Estado do Espírito Santo”, a Lei Estadual nº 6.146, de 8 de fevereiro de 2000, que declara o jequitibá-rosa, árvore símbolo do Estado do Espírito Santo. O dia estadual do jequitibá-rosa é 21 de setembro.
Assessoria de Imprensa do Convento
RONDINHA - PR O Convento São Boaventura, em Rodinha-PR celebrou São Francisco de Assis com o Trânsito de São Francisco, que recorda os últimos momentos da vida de nosso Seráfico Pai, antes de abraçar a Irmã Morte e Missa Solene no dia 4 de outubro.
ROCINHA - RJ A Comunidade São Francisco de Assis, da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha - RJ, celebrou o Patrono com Missa Solene e o Trânsito de São Francisco de Assis. SÃO JOÃO DE MERITI - RJ A Paróquia São João Batista, de São João de Meriti - RJ, comemorou São Francisco de Assis com missas festivas e bênção dos animais em frente à igreja Matriz. Neste ano, a Capela São Francisco de Assis celebrou 50 anos de fundação, no dia do Santo de Assis. Para marcar o Jubileu de Ouro, houve uma grande celebração, com momentos de oração, oração do Santo Terço, Adoração ao Santíssimo Sacramento e reflexões, bem como
a recordação da memória dos 50 anos da Capela. No facebook da Capela São Francisco de Assis, a comunidade partilhou alguns depoimentos de fiéis que fazem parte da história da capela. No domingo, 4 de outubro, a comunidade preparou a alvorada, almoço franciscano, que foi servido o tradicional prato “Angu à baiana”, bênção dos animais, carreata do Padroeiro e Missa solene.
SANTOS - SP O Santuário do Valongo, em Santos - SP, realizou a celebração do Tríduo a São Francisco de Assis com Celebração Eucarística e reflexão sobre a Vida do Santo de Assis e, no domingo, 04 de outubro, os frades do Santuário abençoaram as criaturas em sistema ‘drive thru’, devido à pandemia do coronavírus.
SOROCABA - SP A Paróquia Bom Jesus dos Aflitos, em Sorocaba - SP, realizou o tríduo a São Francisco de Assis, com Celebrações Eucarísticas com os temas “A Mãe Terra pede socorro”, “A fé ilumina e aponta caminhos” e “O Trânsito de São Francisco de Assis”. No sábado, 3 de outubro, houve a bênção dos animais e, no domingo, missas festivas.
MORRER COM ELE
Quando a sua Hora então chegou no Altar da Cruz, Jesus, o Filho de Deus, salvou-nos na História, A morte e a treva já não mais! – Vale agora a Luz, E cada um de nós, assim, se veste de glória. Se Ele no Altar da Cruz se diz glorificado, Cada um de nós já aqui nessas tristes agruras, A morrer com Ele, vive já ressuscitado, Peregrinando para as coisas das Alturas. Cristo apontou-nos o caminho verdadeiro, Pra segui-lo a cruz se faz necessariamente, Quer faça sol, quer faça chuva o dia inteiro. A nossa marca registrada é sempre o amor, E o amor, às vezes, traz a dimensão da cruz, E nessa cruz temos a glória do Senhor. Frei Walter Hugo de Almeida, ofm.
Vozes promove “encontros com Francisco e Clara de Assis”
Semana Franciscana promovida pela Editora Vozes, com o apoio da Província Franciscana da Imaculada Conceição e da Conferência da Família Franciscana do Brasil, terminou dia 7 de outubro, depois de quatro dias de formação e espiritualidade franciscana no formato de lives. “É assim, como nesses dias, juntos, conversando, trocando ideias, ouvindo com atenção e interesse, que nós vamos construir esse mundo novo da fraternidade, da solidariedade e da paz, sonhado por Cristo, sonhado por Francisco e por que não sonhado por nós?”, resumiu o mediador Frei Gustavo Medella, que é o Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província da Imaculada. Na direção do evento, pela Vozes, esteve Natália França. Os encontros, sempre às 18 horas, foram abertos no domingo, dia de São Francisco de Assis, com a presença e animação litúrgica das Irmãs Clarissas de Anápolis (GO), de Frei Fidêncio Vanböemmel, moderador da Formação Permanente da Província; e a
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Irmã Cleusa Aparecida Neves, CFA, presidenta do Conselho Diretor da CFFB; e Moema Miranda, irmã leiga franciscana, professora da disciplina Conflitos Socioambientais do Instituto Teológico Franciscano (ITF) de Petrópolis (RJ), antropóloga e participante do último Sínodo para a Amazônia. Frei Fidêncio fez uma apresentação do grande personagem do dia, São Francisco de Assis, com o tema: “Muito prazer, Francisco!”, ressalvando: “Falar de São Francisco, ou apresentar São Francisco, em 10 minutos é muita ousadia, mas vamos tentar”. Frei Fidêncio fez uma síntese da vida deste santo, que inspirou e inspira o Papa Francisco. “Francisco
é uma personalidade tão rica, um homem tão marcante, que talvez agora pudéssemos perguntar aquilo que Frei Masseo um dia perguntou: ‘Por que a ti, Francisco? Por que todo mundo corre atrás de você? Todo mundo quer te ver, quer te ouvir? Creio que Francisco, para os homens de todas as épocas, sempre tem uma mensagem. Ele não é um homem de 800 anos, mas um homem que está sempre à nossa frente. Caminha à nossa frente e atravessa toda a história, porque baseou sua vida no Evangelho”, explicou Frei Fidêncio. Ir. Cleusa lembrou que Francisco se fez família. “A experiência que ele fez, primeiramente sozinho e depois com seus companheiros, COMUNICAÇÕES
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tornava-se cada vez mais conhecida e despertava um grande interesse nas outras pessoas. Francisco não vive sozinho. Francisco faz-se família gradativamente”, explica, destacando o homem da fraternidade. Segundo Moema Miranda, na história do mundo, nesses 800 anos, nunca a mensagem de São Francisco foi tão atual, tão importante, tão inovadora. “São Francisco é um caminho para todos e todas nós para encontrarmos a harmonia e a fraternidade universal, da qual ele mesmo foi o primeiro propagador”, disse, lembrando os tempos sombrios que vivemos com a crise ambiental e a pandemia. “Nesse momento de dor, devemos perguntar como São Francisco: o que eu posso fazer de melhor? Qual é a melhor mensagem que posso dar para o mundo, a partir da minha experiência? Porque se estou sofrendo, sentindo dor, tenho medo, meus irmãos e irmãs também têm. Então, ao invés de focar na minha dor, eu posso focar no que eu tenho de amor, de generosidade, de bondade para compartilhar”, ensinou. O amor cortês-cavaleiresco foi o tema de Frei Vitorio Mazzuco, mestre em Teologia Espiritual, pela Pontificia Universita Antonianum, em Roma, que foi tirado do seu livro “Francisco de Assis e o modelo de amor cortês-calaleiresco”, editado pela Editora Vozes. Frei Vitorio destacou os valores da cavalaria na Idade Média, tempo que, segundo ele, revela uma nítida cultura de amor e originalidade. “Francisco
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não foi cavaleiro por iniciação, mas por inspiração”, explicou. Segundo o autor, cavaleiro é o representante de uma liberdade absoluta que se entrega a uma causa. Tem a coragem de arriscar a sua vida por algo muito grande na medida em que a causa exige. “A civilização medieval gerou para nós um tipo forte como Francisco de Assis”, disse. No terceiro dia da semana, Frei Gustavo Medella destacou que o bate-papo seria além-mar, em terras portuguesas. O frade português, Frei José António Correia Pereira, falou sobre “Santa Clara: época, carisma e espiritualidade”, que é o título de um livro seu publicado pela Vozes. Frei José lembrou que o caminho de Clara foi um “caminho próprio e pessoal”. “Às vezes, ela é estudada nas obras de Francisco, mas ela tem vida própria. Durante muito tempo era a plantinha escondida na sombra da grande planta São Francisco”, explicou. Segundo ele, Clara percorreu o caminho do movimento franciscano como as outras Ordens, mas o fez com sua identidade. No quarto dia (7/10), Frei Ederson Queiroz, OFMCap, ex-presidente da CFFB; José Douglas Soares, Secretario Fraterno Nacional da JUFRA do Brasil; e Irmã Cleusa Aparecida Neves, CFA, presidenta do Conselho Diretor da CFFB falaram sobre a espiritualidade Franciscana. Frei Medella perguntou: Como São Francisco e Santa Clara surgiram na sua vida? Ir. Cleusa contou que foi desper-
tando na vocação vendo o trabalho das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo. “O que muito me chamava a atenção foi a coragem de Francisco e Clara romperem com a família. São Francisco abandona tudo e vai viver pobremente. Opta por uma vida na simplicidade e pobreza. Santa Clara já tinha uma dinâmica de visitar os pobres, e depois enfrenta a família para seguir Francisco”, disse Ir. Cleuza. Segundo Douglas, no ensino fundamental estudou no Colégio das Irmãs Franciscanas do Bom Conselho. “Toda a minha vivência franciscana foi pautada por elas. No terceiro ano do Ensino Médio, uma colega de classe me convidou para conhecer a Juventude Franciscana. A gente ouvia falar tanto de Jufra, mas tinha aquele receio. Depois de diversos convites, numa quinta-feira, lembro até hoje, resolvi conhecer essa fraternidade na minha cidade. Francisco e Clara apareceu através daqueles jovens. Aí fui conhecendo mais profundamente a vivência radical do Evangelho de Francisco e a firmeza de Clara para seguir Francisco. E se passaram dez anos e, como a juventude tem um prazo de idade, em 1916, eu disse ‘sim’ para Ordem Franciscana Secular e aqui estou também servindo a Juventude Franciscana”, explicou Douglas. Segundo Frei Éderson, quando era coroinha, nasceu o desejo de ser padre. “Não tinha a menor noção do que era ser franciscano na época”, disse, mas a chegada dos Frades Capuchinhos para as Santas Missões começou a mudar seu entendimento, até que um colega seu o levou para conhecer um convento capuchinho. “A forma como Frei Flávio Trindade nos acolheu foi tão fraterna que, naquela hora, tive a certeza: é isso que quero!”. Já Santa Clara demorou um pouco mais para conhecer. “Só em 2012, no 8º centenário de Santa Clara, quando fui nomeado para uma Comissão Preparatória deste Jubileu, aproximei-me de Clara de Assis. Não só me aproximei mas me apaixonei por Clara”, completou.
evangelização//
Encontro Fraterno: ponto de partida para o Capítulo Provincial ela primeira vez na história da Província da Imaculada, um grande encontro provincial, por meio de videoconferência, reuniu frades do Brasil e de Angola nos dias 24 e 25 de setembro, com especial destaque para o segundo dia, quando se fez memória dos 30 anos da Missão de Angola. O Ministro Provincial, Frei César Külkamp, saudou também os frades em outras áreas de missão e falou de sua alegria por esse encontro. “Conseguimos tirar um pouquinho de tempo para nos encontrarmos enquanto Província. No Capítulo Provincial último, um dos princípios que abraçamos foi o de crescer nesse espírito de Província. Levantarmos um pouco mais os nossos olhos, além da vida e dos deveres locais, para uma consciência de toda a Província”, disse. Segundo Frei César, a Província já está próxima de iniciar o processo do Capítulo Provincial 2021 e no próximo Definitório, em novembro, será criada a Comissão Preparatória. “Esse trabalho deve começar logo, pois para esse Capítulo temos muitas tarefas: a revisão do nosso Plano de Evangelização, que traz as diretrizes para ação evangelizadora, as diretrizes para a formação, a revisão também dos nossos Estatutos, que trazem as diretrizes da nossa economia. A Província já tem uma caminhada com esses documentos e o trabalho não vai partir do zero, mas precisamos avançar no sentido de torná-los verdadeiramente presentes na nossa vida e na nossa missão”, disse. Frei Cesar destacou que para esse trabalho, tanto de Capítulo como de revisão de documentos, procura-se seguir as orientações da Igreja e da Ordem e que era grande a expectativa pela a nova encíclica do Papa Francisco dedicada à fraternidade.
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O Ministro Provincial também lembrou que a Ordem vive esse tempo de preparação para o Capítulo Geral, que será celebrado em julho de 2021, e terá como tema algumas indicações do Conselho Plenário de Nairóbi. “E o primeiro tema é justamente qualificar nossa vida fraterna e aprofundar a nossa identidade carismática. Por aí passa também o trabalho que estamos fazendo em fraternidade, com o subsídio ‘A nossa vocação entre abandonos e fidelidade’. Esses dois encontros foram pensados como ponto de partida para todos esses nossos trabalhos”, adiantou. Frei César contou que Frei Estêvão foi convidado a apresentar este tema no Conselho Internacional de Missão e Evangelização da Ordem que aconteceu em Jerusalém. “Por isso, nós o chamamos para partilhar os desafios lá apresentados, não apenas para um grupo, mas para toda a Província que hoje está reunida. Então, são seis temas que ele vai pincelar. O primeiro é ‘O
Carisma Franciscano’; depois vem as dimensões: a contemplativa da nossa vocação e missão; a fraterna da nossa vida e ação; a minorítica do nosso ser e servir; e a missionária da nossa vocação de itinerantes. Por fim, algumas provocações em vista já do Capítulo Provincial”, adiantou o Ministro Provincial, acrescentando que essas temáticas serão depois trabalhadas nas Fraternidades e, por fim, serão apresentadas as proposições para a Comissão Preparatória do Capítulo. “Tudo isso para que o nosso trabalho que temos a fazer não seja apenas de revisão de documentos, mas de revisão de toda a nossa vida, incluindo a nossa missão. Então, agradecemos desde já a disponibilidade sempre pronta do Frei Estêvão e seu amor pela Província por ter aceitado partilhar as suas reflexões e provocações”, completou. COMO VIVER E COMO SERVIR Frei Estêvão abriu a palestra com o título “O desafio para a Ordem FrancisCOMUNICAÇÕES
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//evangelização cana hoje e perspectivas para o futuro”, revelando sua alegria de estar neste encontro. “Quando abordo alguns temas do nosso carisma franciscano, devo dizer logo que só o faço destacando algum ou alguns aspectos que julgo importantes para a nossa reflexão no tempo de hoje. Não é, portanto, uma abordagem completa e exaustiva. Depois, procuro também fazer uma síntese dos principais documentos da Ordem nos últimos anos, tentando retratar a caminhada feita até agora. Além do mais, gostaria de provocar com isso, a reflexão na certeza de que a busca em conjunto nos levará à renovação do nosso propósito inicial quando um dia abraçamos a vida consagrada franciscana”, explicou, fazendo um agradecimento “ao meu técnico” Frei Gilberto da Silva e a Frei Walter de Carvalho Júnior, que fez a revisão do texto em português. Ainda na introdução disse: “Creio que todos nós estamos de acordo em aceitar a constatação de que pensamos imediatamente em paróquia, santuário, escola e obras sociais ao falarmos de evangelização. Prova disso fornece a pesquisa promovida em 2000 e os últimos relatórios das Conferências franciscanas. Não se pode negar que em algumas entidades franciscanas existam também iniciativas notáveis em relação a novos e urgentes desafios do nosso tempo. Porém, a nossa presença nas paróquias, também nos territórios de missão, é campeã. Essa presença é um fato e traz certamente os seus frutos”. Frei Estêvão recordou as Constituições Gerais de 1955 que ainda exigiam o consentimento do Definitório Geral para assumir uma paróquia. Havia a preocupação “ em não dispensar por isso as formas de apostolado mais próprias da nossa Ordem. Fica, pois, a pergunta: Quais seriam as ‘outras formas de apostolado mais próprias da nossa Ordem’?”, questionou. “Tentando encontrar uma resposta, certamente devemos, antes de tudo, olhar as nossas origens. Quer dizer: olhar a intuição de Francisco de Assis e de seus primeiros companhei-
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ros, ao que ‘o Senhor revelou a Francisco’. E, sem vacilar, digo que Francisco foi chamado para ser enviado. É enviado para viver e anunciar o Santo Evangelho, seguindo o Cristo pobre e crucificado. Foi isto que o Senhor lhe revelou. O Senhor não lhe indicou nenhuma obra ou atividade determinada. Os instrumentos da ‘evangelização’, como dizemos hoje, são a própria vida e o testemunho decorrente. Por isso creio que não devemos buscar a resposta à pergunta feita acima, perguntando-nos ‘o que fazer?’ e a ‘quem servir?’, mas COMO VIVER E COMO SERVIR!”, ressaltou.
ALGUNS PONTOS DA REFLEXÃO
Em “O Carisma Franciscano”, Frei Estêvão observou: “Tenho a impressão que às vezes encontramos no passado as respostas para o futuro. Vamo-nos entender bem. Não tenho a intenção de propagar um radicalismo alimentado pela saudade do passado. Pelo contrário, quero chamar a atenção para o profetismo escondido na memória que nos faz redescobrir e retomar a “graça das origens”. Creio que têm razão aqueles que buscam a intuição originária para poder responder aos desafios atuais. Todos sabemos que a força de renovação do Concílio Vaticano II ainda não está plenamente realizada. O mesmo podemos
dizer a respeito das nossas Constituições Gerais. Recordando a insistência dos nossos Ministro Gerais que, nos 35 anos, quando falam da renovação da Ordem. “Todos eles, com suas próprias palavras e o próprio imaginário, insistem na necessidade de retomar a inspiração originária, buscando encarná-la nos nossos dias”. A partir de uma releitura de propostas anteriores, Frei Estêvão trouxe à tona os desafios que continuam a convocar o frade para a nossa missão evangelizadora. 1. A dimensão contemplativa de nossa vocação e missão. Segundo ele, quando se fala de Francisco, fica-se embaraçado em ter que escolher se é mais importante para ele o elemento contemplativo que o envolveu numa contínua busca de Deus, ou o momento ativo, que o impeliu incansavelmente ao encontro das pessoas nas estradas e nas cidades. “A vida de “Francisco engloba estes dois momentos num único momento só, a ponto de podermos dizer que sua vida foi contempl – ativa. Assim, pode-se concluir que para Francisco o eremitério não foi uma alternativa para a estrada e as cidades, mas complementação”, destacou. 2. A dimensão fraterna da nossa vida e ação. Frei Estêvão recordou que o
evangelização// Capítulo Geral de 2009 pediu um estudo, perguntando a frades de todas as partes e continentes a respeito da situação da Ordem: “A pesquisa foi feita. O dinheiro foi gasto para chegarmos a uma resposta que todos nós já sabíamos: O maior problema, o grande problema, com um alto índice nas respostas, qual é? A dificuldade das relações interpessoais. Esta constatação foi feita por pessoas que escolheram viver e agir em fraternidade. Ele concluiu este tema com palavras de Giacomo Bini, escritas pouco antes de ele falecer: “A relação fraterna se tornou a palavra profética que o mundo espera. Hoje, além de uma vida evangélica, é necessária uma vida fraterna-evangelizadora. Além de uma santidade pessoal, é necessária uma santidade em fraternidade, uma santidade fraterna. Não se pode ser fecundo se uma pessoa não consegue viver a fraternidade. Não se têm condições para a vida religiosa” (La vita continua).
HOMENAGEM À MISSÃO DE ANGOLA
O segundo dia começou com uma Oração feita pelos frades de Angola. Frei César saudou os confrades do Brasil e Angola, e as Irmãs Clarissas, que também participaram deste momento. “Elas foram o apoio fundamental no início da nossa Missão em Angola e até os dias de hoje. Da mesma forma as Irmãs clarissas de Luanda. Elas também estão acompanhando essa nossa videoconferência”, disse o Ministro Provincial. Frei César lembrou que era um dia festivo para a Província, “porque exatamente no dia hoje, os nossos primeiros frades chegaram a Angola, e no mesmo dia em Malanje. Foram recebidos com grande festa, com o jeito acolhedor e festivo de ser do povo angolano, mesmo vivendo naquele período de muita dor, tristeza, privações, por conta da guerra”, observou, acrescentando que outros tantos missionários levaram adiante essa iniciativa que “nasceu com este fervor
missionário, que nasceu no coração da nossa Província”. Segundo o Ministro Provincial, a Província e todas as presenças da Ordem pelo mundo são frutos desta vocação missionária da Ordem. “Nesta Província, primeiro foram os missionários portugueses e depois os frades alemães na restauração. E há 30 anos, a nossa Província acolheu a provocação, os apelos da Ordem, que já tinha afirmado numa carta: “A África nos chama”. E num dos Capítulos Provinciais de 1988, chegou a afirmação: “A África nos espera”. E foi em Angola que fomos como Província buscar esse rosto para o nosso carisma franciscano”, disse, lembrando dos missionários Frei José Zanchet, Frei Plínio Gande e Frei Pedro Caron. “No mesmo ano, o reforço do Frei Juvenal Sansão, que hoje está com 93 anos em Bragança. Frei Caron está em Curitibanos. Mas a esses se somaram tantos outros nessas três décadas. Um deles, Frei Lotário Neumann, da Província do Rio Grande do Sul, entregou sua vida durante a missão e isso foi durante 1993. E a eles foram se somando as vocações franciscanas angolanas, dadas por Deus, podemos dizer, em abundância e generosidade”, acrescentou Frei César. “Hoje, 30 anos depois, temos lá uma entidade vigorosa. É a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. E a nossa Província da Imaculada é agraciada em seus números com a presença de 73 frades angolanos. Hoje, a nossa Província é brasileira, angolana e com mais algumas nacionalidades. Juntos somos uma mesma Fraternidade. Hoje, depois de 30 anos, sobram-nos motivos para rezarmos e rendermos graças a Deus pelos tantos benefícios realizados no decorrer de uma história abençoada. Mas celebrar esses 30 anos é também uma provocação. Não basta lembrar e agradecer. A “África ainda nos chama”, e lá em Angola. Precisamos levar adiante e consolidar, com entusiasmo e profetismo, essa missão. Assim, celebrar esses 30 anos significa renovar o compromisso sonhado e vivido por toda a nossa Província de
deixar projetos pessoais, até projetos provinciais, e levar adiante esta missão. Celebrar esses 30 anos significa renovar esse compromisso”, enfatizou, renovando o convite a que mais frades se deixem também tocar e somar forças em Angola. Frei César pediu que o olhar materno da Mãe Imaculada, que é a nossa Padroeira, tanto no Brasil como em Angola - lá Maria também é saudada e reverenciada como Mamma Muxima - impulsione o ardor missionário nos irmãos para esta e também para outras missões da Igreja. “E que ela consiga de Deus as bênçãos abundantes a todo povo angolano e desperte genuínas e santas vocações para toda a Família Franciscana. Parabéns, queridos confrades desta celebração de 30 anos. Parabéns a Frei António Baza, o primeiro presidente angolano da FIMDA, e que hoje celebra também o seu natalício. Que Deus nos abençoe a todos”, pediu.
MENORES E MISSIONÁRIOS
Frei Estêvão continuou, desta vez, no 3º ponto das dimensões: a minorítica do nosso ser e servir. “Quando falamos do carisma franciscano, muitas vezes e com muita facilidade o fazemos falando da dimensão contemplativa e fraterna e, diplomaticamente, evitamos a dimensão minorítica porque sentimos a ameaça subjacente de ter que fazer mudanças significativas no nosso estilo de vida”, salientou. Frei Estêvão retomou o discurso do Papa Francisco de 23 de novembro de 2017, onde ele especifica as dimensões da minoridade assim: A minoridade como lugar de encontro com Deus: Para São Francisco o COMUNICAÇÕES
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//evangelização homem nada possui a não ser o próprio pecado, e o seu valor é igual ao que tem diante de Deus e nada mais. Todo o bem que há em nós ou que podemos fazer é dom d’Aquele que para São Francisco era o Bem ... Tudo deve ser restituído com gratidão, louvor e alegria. A minoridade como lugar de encontro com os irmãos: Antes de tudo com os irmãos que o Senhor nos deu. As relações interpessoais seguem o dinamismo da caridade. Os irmãos são importantes, não as estruturas. A minoridade deve ser vivida também em relação a todos os homens e mulheres, evitando qualquer comportamento de superioridade que nos possa distanciar e afastar dos outros. A minoridade como lugar de encontro com a Criação: A Criação é como uma irmã com a qual partilhamos a existência na casa comum, uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços. Somos responsáveis por ela, devemos cuidar dela e louvar com ela o Criador. “Frequentemente, o Papa Francisco fala em ‘superioridade’ que deve ser evitada. E esta superioridade, falando de evangelização e missão, se apresenta facilmente na veste do ‘clericalismo’”, sublinhou, concluindo com algumas perguntas para serem respondidas em fraternidade: Onde estamos? Com quem estamos? Quem são os nossos preferidos? Na quarta dimensão - a missionária da nossa vocação de itinerantes recorre ao Papa Francisco para assinalar duas máximas do seu pensamento: “sair” e “partir”. “Sair, não apenas geograficamente, mas sobretudo mentalmente. Isto quer dizer que importa mudarmos de mentalidade lá onde vivemos e servimos. Repito: nos instalamos nos lugares e nas estruturas onde um dia evangelizamos. Agrada-nos a segurança, a vida cômoda, a abundância e a facilidade dos meios. E o que pode ser pior: instalados e acomodados aos serviços, negligenciamos ou até esquecemos completamente as dimensões carismáticas da nossa vocação e missão”,
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atestou, citando o exemplo de párocos e vigários que se comportam como se fossem do clero diocesano: “Não têm mais tempo para a oração em fraternidade, para a vida fraterna, etc. Para tudo se encontra facilmente uma desculpa e justificação”, disse.
PROVOCAÇÃO EM VISTA DO CAPÍTULO PROVINCIAL
“Olhando para a história da nossa Ordem, creio poder dizer que vislumbro uma constante, em conformidade com o que é próprio e essencial do carisma franciscano: a itinerância, fruto do despojamento. Esta constante assumiu ao longo da história formas moldadas pelas circunstâncias e pelos desafios de cada época. Mas, me atrevo a dizer: sempre foi um vaivém, sempre um chegar e partir. Sempre a serviço da Igreja nas Igrejas locais, mas sempre em modo suplementar, a partir de conventos regionais de irradiação: na ajuda aos párocos, como confessores, como pregadores, orientando retiros, em festas especiais, em missões populares, etc. Esta modalidade, até então presente no mundo europeu, os frades a adaptaram às Américas e concretamente ao Brasil na antiga Província e depois na Província restaurada. Quanta coisa poder-se-ia recordar desses tempos em que se ia a pé, na sela de um cavalo, dormindo na mata ou em cubículos nas capelas rurais ...”, recordou. “Não poderíamos pensar algo semelhante a isso hoje, com os mesmos princípios, em circunstâncias mudadas? A nossa Fraternidade Provincial tem hoje a metade dos frades de quando entrei na Ordem e na Província. O número dos idosos aumenta. As vocações
diminuem no Brasil. O Ministro Provincial e seu Definitório devem entregar uma casa após outra. Não seria agora a hora de repensarmos nossas presenças nas Igrejas locais de um outro jeito? De um jeito, quem sabe, mais útil e eficaz? Creio que a nossa Província ainda tem condições de inovar e também de ajudar a Ordem a encontrar caminhos novos”, concluiu. Frei César encerrou o encontro e agradeceu novamente Frei Estêvão. “Certamente, as colocações são de grande proveito para todo esse trabalho que temos em vista do Capítulo Provincial e as dimensões, hoje abordadas, a missionaridade e minoridade, certamente são fortes provocações para esta desinstalação, para este espírito com mais audácia, mais itinerante, no nosso modo de estar e de fazer”, avaliou. “O objetivo é justamente parar e refletir um pouco sobre onde estamos, como vivemos, como servirmos, para que isso se tornem propostas concretas para o nosso Capítulo. E todo trabalho de redimensionamento que ainda está em curso - o Frei Estêvão lembrava as entregas que há muito tempo a Província vem fazendo -, nesse sentido mudando a sua própria geografia, também tem essa grande motivação: não apenas o encolhimento, o fechamento, mas a possibilidade de abertura para um novo serviço, um novo modo de estar em cada lugar. Esta é a grande provocação, também missionária. Que nós sejamos menos autorreferenciais, menos clericalistas e mais audaciosos, mais missionários, mais em saída lá onde estamos, lá onde vamos fazer a opção de estar como Província”, completou Frei César.
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Madrugada Franciscana um novo programa de rádio a madrugada do dia 1º de outubro teve início uma nova programação nas Rádios Celinauta e Coroado (Pato Branco/PR e Curitibanos/SC, respectivamente). O programa com duração aproximada de 3 horas, de 2ª a 6ª, é composto por diversos quadros, celebrações, entrevistas, etc., e conta com a participação de diversas Fraternidades da Província Franciscana da Imaculada Conceição, e participantes de nossas Frentes de Evangelização. Na percepção de Frei Gabriel Vargas, idealizador do programa, o “tempo de pandemia nos mostrou que fazemos muitas coisas na área da evangelização, usando, sobretudo, as mídias digitais, e que estas poderiam ser otimizadas num programa radiofônico, além de estarem em formato de podcast” A equipe de Produção da Rede Celinauta de Comunicação e Fundação Frei Rogério fez a articulação das fraternidades (Noviciado, Rondinha, Editora Vozes, Paróquias e alguns frades em particular), para combinar as temáticas, o formato e a periodicidade dos conteúdos. Desde já agradecemos a cada um que de uma ou outra forma colabora com o programa. O coordenador da Frente de Comunicação, Frei Neuri Francisco Reinisch, ressalta que além desse programa, as Emissoras de Rádio da Província Franciscana já produziam e veiculavam ampla programação religiosa, contudo, o programa “Madrugada Franciscana”, expande ainda mais nosso objetivo de Evangelização. Dessa forma conseguimos dar novos passos rumo a uma criação de Rede Franciscana de Comunicação, ainda mais, quando podemos contar com os frades das demais Frentes de Evangelização. O coordenador da Frente ressalta que o rádio é um ins-
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trumento muito eficaz na propagação do carisma Franciscano e além do mais, a programação em formato de quadros pode ser disponibilizada em outros formatos, como por exemplo podcast. Confira o roteiro da programação e a participação das fraternidades, Frentes de Evangelização e Frades e regularidade! Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis- Frei Neuri ABERTURA: 1 – SANTA MISSA – Santuário de Santo Antônio Galvão – Guaratinguetá – SP (diário) 2 – OFÍCIO DAS LEITURAS COM AS COMPLETAS – Noviciado São José de Rodeio – SC (diário) 3 – CATEQUESE – Paróquia São Pedro Apóstolo de Pato Branco – PR (terças e quintas) 4 – DICAS DE LEITURA: Editora Vozes –
Petrópolis – RJ (semanal) 5 – GERAÇÃO FRANCISCANA: Pastoral Universitária FAE e Grupo Bom Jesus – Curitiba – PR (semanal) 6 – NOVENA DE FREI GALVÃO E TERÇO: Santuário de Santo Antônio Galvão – Guaratinguetá – SP (diário) 7 – DEVOCIONAL DE FREI BRUNO: PASCOM de Xaxim – SC (semanal) 8 – LEITURA E REFLEXÃO DO EVANGELHO: Convento São Boaventura de Campo Largo – PR (diário) 9 – MINUTO FAMÍLIA: Frei Almir Guimarães – Petrópolis – RJ (diário) 10 – SAV/CONEXÃO FRATERNA – Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil – São Paulo – SP e o Blog Conexão Fraterna voltados para as juventudes da Província (semanal) ENCERRAMENTO: Em breve, Fraternicast- podcast de conteúdos Franciscanos.
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Ordem dos Frades Menores celebrou no dia 27 de setembro, com muita alegria, os 30 anos de presença franciscana em Angola. A celebração Solene e campal foi presidida por Dom Benedito Roberto, arcebispo metropolitano de Malanje, concelebrada por sacerdotes do clero religioso e secular. A mesma foi transmitida ao vivo para TV Franciscanos e pela
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Rádio Eclésia (Emissora Católica de Angola) e gravada pela TPA (Televisão Pública de Angola). Foram quase 4 horas de Missa. Estavam presentes o presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), Frei António Boaventura Zovo Baza, os confrades das Fraternidades do Palanca, Quibala (incluindo 11 noviços), São Damião, do Seminário Monte Alverne, o clero religioso e
diocesano de Malanje; religiosos e religiosas de todas as congregações presentes em Malanje. Como de costume, o povo de Deus esteve presente em grande número, apesar das limitações impostas pela pandemia da Covid-19. “Vocês conseguiram reunir toda Diocese”, disse uma irmã. Todos tiveram que lavar as mãos com água e sabão, cumprir o distanciamento e o uso obrigatório de máscara. Destaque
evangelização// Símbolos da Missão
para a presença da administradora de Kangandala, Dona Engrácia; autoridades e muitos ex-frades e ex-seminaristas. A Missa campal aconteceu no pátio do complexo escolar São Francisco de Assis, cuidado pelas Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria (FMM), e calcula-se que, aproximadamente, 500 pessoas marcaram presença. Bem ao nosso ritmo, a celebração decorreu com alegria e tranquilidade. O tempo, sobretudo, nas primeiras horas, ajudou muito. O Coral masculino foi formado por jovens da Katepa e Kangandala. Dom Benedito, no começo da Celebração, acolheu os presentes com alegria e gratidão e aspergiu o povo, acompanhado por Frei AntóCOMUNICAÇÕES
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Frei Laerte nio e Frei André Henriques. Era visível no rosto de todos a alegria desse momento jubilar. A cerimônia foi acontecendo no ambiente de simplicidade, alegria, gratidão e fraternidade. Durante a homilia, o arcebispo ressaltou, com amor, a história dos primeiros frades missionários em Angola: Frei Pedro Caron, Frei Plínio Gande da Silva e Frei José Zanchet. Destacou a coragem dos mesmos e a dedicação para a pregação do Evangelho. “Katepa e Kangandala são terras abençoadas por terem presente a família Franciscana, constituída pelos frades, as Irmãs Franciscanas Missionarias de Maria, as Irmãs Franciscanas de São José, as Irmãs da Imaculada Conceição da Mae
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Frei António de Deus (SMIC) e Ordem Franciscana Secular. A Diocese de Malange, pela proporção de religiosos (as), é franciscana”, concluiu Dom Benedito. Ainda na homilia, relacionando com o Evangelho do XXVI Domingo do Tempo Comum, o prelado disse que o povo da Katepa e Kangandala, pela evangelização dos frades, tonaram-se “grandes cristãos e, sem dúvida, todos irão para o céu. Só não vai quem não quiser. Esse povo é como aquele filho que foi obediente ao Pai”. Alguns frades deram a vida, tal como Frei Lotário Neumann (que está sepultado no Cemitério Municipal de Malanje) e muitos catequistas, por amor ao Evangelho. Foram lembrados, além destes,
D. Benedito outros confrades que por aqui passaram e que já foram visitados pela irmã morte. No momento do Ofertório, juntamente com Pão e o Vinho, foram apresentados alguns símbolos, com destaque para o hábito, nossa veste penitencial e as sandálias, símbolo de peregrinos e forasteiros. No final da celebração, foram lidas várias mensagens, com destaque para a de Frei Afonso Katchekele Quessongo, que fez uma memória dos 30 anos da FIMDA, citando minuciosamente, de forma cronológica, os principais acontecimentos da FIMDA. Foi um momento emocionante. O confrade, primeiro angolano a professar solenemente da OFM, ao citar os frades que aqui passa-
DEPOIMENTO ram (destacando os seus feitos heroicos), trouxe-os à memória de toda a assembleia. Na medida em que os nomes e os fatos eram citados, percebia-se uma reação da parte do povo com aplausos. Cada um que passou aqui deixou a sua marca. Em seguida, Frei Laerte Santos, comentarista da Celebração, bem do seu jeito carismático, fez uma breve explicação do Tau, que em seguida, como forma de gratidão a Deus, foram oferecidos Taus às congregações Franciscanas que conosco palmilham esse caminho. Os mesmos foram confeccionados pela Fraternidade de Quibala. Em seguida, Frei André Henriques leu a mensagem de Frei César Külkamp. Na mesma, nosso Ministro Provincial, com grande sentimento de grati-
dão, manifestou o seu desejo estar em Angola nesse dia, mas devido à pandemia não pôde viajar. O Ministro encorajou os frades da Missão. Manifestou sua alegria pelo número de frades angolanos, que já somam 73 e saudou carinhosa e afetuosamente o povo, agradecendo na língua nacional Quimbundu: Nga Sakidila! (Leia abaixo a Mensagem do Ministro Provincial na íntegra) Dona Rosaria Maito, em nome das duas paróquias, agradeceu por tudo que fizeram e ainda fazem por aqui. Nesta celebração, os frades renovaram o seu envio missionário. Os ministros extraordinários da Sagrada comunhão também fizeram seu compromisso diante de Deus e do povo.
Irmã Adelina Doerne, FSJ Se estamos na Missão de Angola é porque foi a pedido da Ordem dos Frades Menores. A Vida do dia a dia foi e é muito intensa. Com os frades, partilhamos uma vida de verdadeiros irmãos de partilha de estudos: a Bíblia e a espiritualidade de São Francisco e Santa Clara. Somos gratas pela presença dos frades, pelas trocas de experiências sempre que é necessário. Há sempre esse apoio e entreajuda. De uns anos para cá, certas coisas mudaram, como encontros de estudos, recreios em comum. São dedicados momentos para a formação das nossas candidatas à vida religiosa. Devemos muita gratidão ao bom Deus, que nos gratificou com belo projeto. Por tudo isso, seja glorificado o nosso Deus!
ÍNTEGRA DA MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL Mensagem de Agradecimento na celebração de Ação de Graças pelos 30 anos da atual presença dos Frades Menores em Angola Malanje, 27-09-2020 - Exmo. Revmo. Dom Benedito Roberto, Arcebispo Metropolita de Malanje; - Caros confrades Frei António Zovo Baza, presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola; Frei Afonso K. Quissongo, pároco da Paróquia Santos Mártires; Frei Laerte de Farias dos Santos, pároco da Quase-Missão Santa Teresinha, em Kangandala; Frei André Luiz da Rocha Henriques, conselheiro da FIMDA e guardião da Fraternidade do Seminário Monte Alverne; Frei André Gurzynski, guardião da Fraternidade São Damião; Frei Ivair Bueno de Carvalho, conselheiro da FIMDA e guardião da Fraternidade do Noviciado Santo Antônio, em Quibala; Frei José Morais Cambolo, guardião da Fraternidade São Francisco de Assis, em Luanda; - Caros confrades e formandos, presentes neste dia festivo; - Queridas Irmãs Clarissas e Irmãs Franciscanas de Malanje e Kangandala; - caros irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular; - querido povo angolano e, especialmente neste dia, o povo de Malanje e de Kangandala;
A todos vocês, irmãos e irmãs, Paz e Bem! Hoje celebramos, com todos vocês, os 30 anos da chegada dos frades menores em Angola e, especificamente, em Malanje. A nossa Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, presente em cinco estados brasileiros, há 30 anos estendeu os seus limites até o país de Angola. Hoje somos uma Província presente nesta parte do Brasil e em Angola. O que nos moveu não foi a intenção de ampliar territórios, mas a a vocação missionária da Ordem Franciscana. Esta vocação nos leva a deixar a própria terra, a partir para onde Deus enviar e, em qualquer lugar, sempre servir. Ao chegar em Angola os frades pisaram em chão sagrado e precisaram tirar as sandálias do seu modo de ser e de pensar para abraçar o jeito de viver de Angola. Os testemunhos dos primeiros frades missionários e dos atuais nos mostram que isto não foi difícil. Há um belo intercâmbio cultural e religioso entre Angola e Brasil. E não foi difícil porque os frades foram acolhidos com muita alegria e pelo coração aberto do povo angolano. Tanto que hoje já somos uma só fraternidade franciscana, com brasileiros e muitos angolanos. Nossa identidade franciscana conta hoje com este belo COMUNICAÇÕES
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//evangelização colorido africano, e nossa Província traz em seu rosto as feições angolanas. Eu gostaria muito de estar presente nesta celebração, não fossem as dificuldades da atual pandemia, mas tenho certeza que todos os frades da Província estão hoje presentes e unidos num só coração. Esta celebração é, acima de tudo, uma retribuição a Deus e aos irmãos e irmãs. Por isso, quero me juntar às tantas vozes presentes para reforçar nossa gratidão a Deus que nos enviou a Angola e nos acompanhou com Seu amor nestes 30 anos. Nossa gratidão à Igreja local de Malanje que nos acolheu, às Irmãs Clarissas, às Franciscanas Missionárias e ao povo angolano que nos abraçaram com tanto amor. Nosso muito obrigado às demais congregações e à Ordem Franciscana Secular que se juntaram a nós nesta caminhada e no serviço. Agradeço de coração a cada confrade que acolheu o envio do Senhor e entregou a própria vida e a própria vocação em cumprir a Sua Santíssima Vontade. Um especial agradecimento a cada confrade e formando angolano. Vocês são um precioso presente dado por Deus! Em suas mãos já está a vida presente, mas também a vida de uma futura Província Franciscana em Angola. Mas,
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até o surgimento deste sonho de toda a Ordem Franciscana, nós nos alegramos e temos muito orgulho de contar com vocês como irmãos de Província. Esta fraternidade, pela graça de Deus e intercessão de São Francisco e Santa Clara, jamais se dissolverá! Agradeço ao querido povo de Angola, razão primeira de nosso serviço. Obrigado por nos permitirem caminhar com vocês! Dia após dia, nestes 30 anos, vocês nos evangelizaram, ensinando-nos a ter esperança, a sermos generosos e a confiar sempre em Deus. Que a Mãe de Deus Imaculada, a Mamma Muxima, presença intercessora e cheia de graça nestes 30 anos, continue voltando o seu olhar misericordioso para Angola e para todos vocês, e conseguindo para nós todas as bênçãos de Deus! Deus, de infinita bondade, faça chegar nossa gratidão a todos e todas que deixaram sua presença marcada nesta aventura divina! Ele nos abençoe e renove em cada um de nós o entusiasmo para continuarmos dizendo SIM ao seu CHAMADO e ao seu ENVIO! Nga Sakidila!
Frei César Külkamp Ministro Provincial
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MOMENTOS CELEBRATIVOS
A festa deste domingo (27/9) foi o ponto mais alto de vários momentos celebrativos que aconteceram nessas festividades dos 30 anos. Na terça e sexta-feira últimas, Frei Afonso e Frei Laerte foram à Rádio dar um testemunho dessa caminhada dos 30 anos. Na quinta-feira (24/9), em Fraternidade, participamos na Live da Província. Momento bom de rever os confrades e ouvir Frei Estêvão Ottenbreit, o Ministro Provincial quando foi aberta a Missão em Angola. À tarde foi feita uma celebração em Kangandala. Estavam presentes todos os frades e os noviços. A mesma foi presidida por Frei Afonso Quissongo e Frei André Henriques se encarregou de fazer a homilia. Foi um momento marcante naquela comunidade paroquial, que, com a graça de Deus e a dedicação dos frades, de modo peculiar Frei Laerte (pároco), tem crescido muito.
Na sexta-feira (25/9), foi feita uma visita ao Cemitério Municipal de Malanje, onde se encontram os restos mortais de Frei Lotário Neumann. Frei Ivair Bueno, guardião do Noviciado, conduziu a oração no local. Frei Lotário é uma semente jogada Terra, e nós somos frutos da mesma. Em seguida nos dirigimos para o bairro da Maxinde, onde se encontram as Irmãs Clarissas. A Celebração Eucarística Solene, muito bem preparada pelas nossas «manas», como elas mesmas se intitulam, contou apenas com a presença dos frades, por conta das restrições impostas pela pandemia da Covid-19.
Frei Afonso, memória viva desses 30 anos, foi o presidente da Celebração. Tomando como ponto de partida a liturgia do dia (Qohelet 3, 1-11- há tempo para tudo na vida), disse que, certamente, nesses 30 anos de história, os confrades que por aqui passaram tiveram muitas dificuldades, mas a alegria foi bem maior.
DEPOIMENTO Catequista António Capitão “Quando chegaram os frades, em 1990, ajudaram muito na Diocese, como na Paróquia da Katepa, a Missão de Mussolo, Cambundi-Ctembo, Luquembo, Quirima, Kangandala e Lombe. Hoje, ao celebrarmos os 30 anos de presença, nós, os fiéis e catequistas, estamos gratos por tudo que os Frades Menores fizeram e continuam a realizar no meio de nós. A arquidiocese de Malanje é evangelizada pelos Frades Menores.
//evangelização E finalizou agradecendo a Deus pelos benefícios que tem concedido aos frades. Um banquete foi minunciosamente preparado pelas Irmãs. Depois, frades e Clarissas participa-
DEPOIMENTOS Maria Jorge (Pastoral da Familia) A presença dos Frades Menores para nós, cristãos da Katepa, é de grande importância. Eles trouxeram para nós o Evangelho, que é a nossa salvação. Trouxeram para nós a paz e a reconciliação, enfim, trouxeram para nós mecanismos que iluminaram as nossas vidas, ou seja, reavivaram a nossa fé pelo carisma franciscano. Para nós, essa presença Franciscana nos alegra, nos motiva e nos faz caminhar firmes na fé, na esperança e na caridade. Por isso, estamos celebrando esta data com muita alegria. Pedimos que Deus continue a sua obra iniciada por estes nossos irmãos menores na formação dos frades angolanos. Que eles possam crescer com o espírito de verdadeira entrega a Deus na pregação da Palavra de Deus. Deus seja louvado por tudo que os frades têm feito por nós, pela Katepa, por Malanje e por Angola.
Irmã Maria Olímpia, MST Em nome das Missionárias de Santa Teresinha, hoje na festa dos 30 anos de Missão em Malange, quero agradecer aos Frades Menores que muito têm nos ajudado com sua partilha, generosidade e serviço para a nossa Missão, não só aqui em Malanje, mas também em Luanda. Na época de guerra, eram vocês que nos socorriam até com a agua, alimentação etc…Até agora, há essa ajuda muito forte. Por isso, podem contar conosco em nossas orações. Obrigado por tudo! Só Deus e Santa Teresinha os pagarão!
ram da Live Provincial. Nesse dia, foi dedicado um tempo especial para Angola. A oração Inicial foi feita a partir daqui. As Clarissas cantaram para toda a Província. Frei António Baza, presidente de Fundação e aniversarian-
te do dia, a partir de Lubango, onde se encontrava em serviço, também se pronunciou. Manifestou sua gratidão à Província por todo bem, material e espiritual.
Frei Ermelindo Bambi
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No túmulo de São Francisco, Papa assina a Encíclica “Fratelli tutti” Na cripta da Basílica inferior, o Papa Francisco celebrou a missa e, no final, no túmulo do Pobrezinho de Assis, assinou a sua terceira Encíclica, “Fratelli tutti”, dedicada à fraternidade e à amizade social, valores imprescindíveis para restaurar a esperança e o impulso a uma humanidade ferida também pela pandemia da Covid-19. Uma encíclica que extrai o seu nome das palavras escritas por São Francisco. O Papa Francisco não fez a homilia. A oração, o silêncio e a simplicidade marcaram esta visita que, por vontade do Papa devido à situação de saúde, realizou-se sem nenhuma participação dos fiéis, seguindo as palavras da liturgia dedicada a São Francisco, na véspera da Festa do Pobrezinho de Assis. Pouco antes da assinatura, o Papa agradeceu à
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Primeira Seção da Secretaria de Estado que trabalhou na redação e tradução da Encíclica.
A ENCÍCLICA
Quais são os grandes ideais mas também os caminhos concretos para aqueles que querem construir um mundo mais justo e fraterno nas suas relações quotidianas, na vida social, na política e nas instituições? Esta é a pergunta à qual pretende responder, principalmente, “Fratelli tutti”: o Papa define-a como uma “Encíclica Social” (6) que toma o seu título das “Admoestações” de São Francisco de Assis, que usava essas palavras “para se dirigir a todos os irmãos e irmãs e lhes propor uma forma de vida com sabor do Evangelho” (1). A Encíclica tem como objetivo promover
uma aspiração mundial à fraternidade e à amizade social. No pano de fundo, há a pandemia da Covid-19 que - revela Francisco - “irrompeu de forma inesperada quando eu estava escrevendo esta carta”. Mas a emergência sanitária global mostrou que “ninguém se salva sozinho” e que chegou realmente o momento de “sonhar como uma única humanidade”, na qual somos “todos irmãos”. (7-8). No primeiro de oito capítulos, intitulado “As sombras dum mundo fechado”, o documento debruça-se sobre as muitas distorções da época contemporânea: a manipulação e a deformação de conceitos como democracia, liberdade, justiça; o egoísmo e a falta de interesse pelo bem comum; a prevalência de uma lógica de mercado baseada no lucro e na cultura do descarte; o desemprego, COMUNICAÇÕES
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//evangelização o racismo, a pobreza; a desigualdade de direitos e as suas aberrações como a escravatura, o tráfico de pessoas, as mulheres subjugadas e depois forçadas a abortar, o tráfico de órgãos (10-24). Estes são problemas globais que requerem ações globais, sublinha o Papa, apontando o dedo também contra uma “cultura de muros” que favorece a proliferação de máfias, alimentadas pelo medo e pela solidão (27-28). A muitas sombras, porém, a Encíclica responde com um exemplo luminoso, o do bom samaritano, a quem é dedicado o segundo capítulo, “Um estranho no caminho”. Nele, o Papa assinala que, numa sociedade doente que vira as costas à dor e é “analfabeta” no cuidado dos mais frágeis e vulneráveis (64-65), somos todos chamados a estar próximos uns dos outros (81), superando preconceitos e interesses pessoais. De fato, todos nós somos corresponsáveis na construção de uma sociedade que saiba incluir, integrar e levantar aqueles que sofrem (77). O amor constrói pontes e nós “somos feitos para o amor” (88), acrescenta o Papa, exortando em particular os cristãos a reconhecerem Cristo no rosto de cada pessoa excluída (85). O princípio da capacidade de amar segundo “uma dimensão universal” (83) é também retomado no terceiro capítulo, “Pensar e gerar um mundo aberto”: nele, Francisco exorta cada um de nós a “sair de si mesmo” para encontrar nos outros “um acrescentamento de ser” (88), abrindo-nos ao próximo segundo o dinamismo da caridade que nos faz tender para a “comunhão universal” (95). Afinal – recorda a Encíclica - a estatura espiritual da vida humana é medida pelo amor que nos leva a procurar o melhor para a vida do outro (92-93). O sentido da solidariedade e da fraternidade nasce nas famílias que devem ser protegidas e respeitadas na sua “missão educativa primária e imprescindível” (114). O direito a viver com dignidade não pode ser negado a ninguém, afirma ainda o Papa, e uma vez que os direitos são sem fronteiras, ninguém pode ser excluído, independentemente do
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local onde nasceu (121). Deste ponto de vista, o Papa lembra também que é preciso pensar numa “ética das relações internacionais” (126), porque cada país é também do estrangeiro e os bens do território não podem ser negados àqueles que têm necessidade e vêm de outro lugar. O direito natural à propriedade privada será, portanto, secundário em relação ao princípio do destino universal dos bens criados (120). A Encíclica também coloca uma ênfase específica na questão da dívida externa: embora se mantenha o princípio de que toda a dívida legitimamente contraída deve ser paga, espera-se, no entanto, que isto não comprometa o crescimento e a subsistência dos países mais pobres (126). Ao tema das migrações é, ao invés, dedicado em parte o segundo e todo o quarto capítulo, “Um coração aberto ao mundo inteiro”: com as suas “vidas dilaceradas” (37), em fuga das guerras, perseguições, catástrofes naturais, traficantes sem escrúpulos, arrancados das suas comunidades de origem, os migrantes devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Nos países destinatários, o justo equilíbrio será entre a proteção dos direitos dos cidadãos e a garantia de acolhimento e assistência aos migrantes (38-40). Especificamente, o Papa aponta algumas “respostas indispensáveis” especialmente para aqueles que fogem de “graves crises humanitárias”: incrementar e simplificar a concessão de vistos; abrir corredores humanitários; oferecer alojamento, segurança e serviços essenciais; oferecer possibilidade de trabalho e formação; favorecer a reunificação familiar; proteger os menores; garantir a liberdade religiosa. O que é necessário acima de tudo” - lê-se no documento -, é uma legislação (governance) global para as migrações que inicie projetos a longo prazo, indo além das emergências individuais, em nome de um desenvolvimento solidário de todos os povos (129-132). O tema do quinto capítulo é “A política melhor”, ou seja, a que representa uma das formas mais preciosas da caridade porque está ao serviço do bem
comum (180) e conhece a importância do povo, entendido como uma categoria aberta, disponível ao confronto e ao diálogo (160). Este é o popularismo indicado por Francisco, que se contrapõe ao “populismo” que ignora a legitimidade da noção de “povo”, atraindo consensos a fim de instrumentalizar ao serviço do seu projeto pessoal (159). Mas a melhor política é também a que protege o trabalho, “uma dimensão indispensável da vida social” e procura assegurar que cada um tenha a possibilidade de desenvolver as suas próprias capacidades (162). A verdadeira estratégia contra a pobreza, afirma a Encíclica, não visa simplesmente conter os necessitados, mas a promovê-los na perspectiva da solidariedade e da subsidiariedade (187). A tarefa da política, além disso, é encontrar uma solução para tudo o que atenta contra os direitos humanos fundamentais, tais como a exclusão social; tráfico de órgãos, e tecidos humanos, armas e drogas; exploração sexual; trabalho escravo; terrorismo e crime organizado. Forte o apelo do Papa para eliminar definitivamente o tráfico de seres humanos, “vergonha para a humanidade”, e a fome, porque é “criminosa” porque a alimentação é “um direito inalienável” (188-189). A política da qual há necessidade, sublinha ainda Francisco, é aquela centrada na dignidade humana e que não está sujeita à finança porque “o mercado por si só, não resolve tudo”: os “estragos” provocados pela especulação financeira mostraram-no (168). Assumem, portanto, particular relevância os movimentos populares: verdadeiros “torrentes de energia moral”, devem ser envolvidos na sociedade, de uma forma coordenada. Desta forma - afirma o Papa -, pode-se passar de uma política “para” os pobres para uma política “com” e “dos” pobres (169). Outro desejo presente na Encíclica diz respeito à reforma da ONU: perante o predomínio da dimensão econômica, de fato, a tarefa das Nações Unidas será dar uma real concretização ao conceito de “família de nações”, trabalhando para o bem comum, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos humanos. Recor-
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rendo incansavelmente à “negociação, aos mediadores e à arbitragem” - afirma o documento pontifício - a ONU deve promover a força da lei sobre a lei da força (173-175). Do sexto capítulo, “Diálogo e amizade social”, emerge também o conceito de vida como “a arte do encontro” com todos, também com as periferias do mundo e com os povos originais, porque “de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo” (215). Particular, então, a referência do Papa ao “milagre da amabilidade”, uma atitude a ser recuperada porque é “uma estrela na escuridão” e uma “libertação da crueldade, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída” que prevalecem em época contemporânea (222-224). Reflete sobre o valor e a promoção da paz, o sétimo capítulo, intitulado “Percursos de um novo encontro”, no qual o Papa sublinha que a paz é “proativa” e visa formar uma sociedade baseada no serviço aos outros e na busca da reconciliação e do desenvolvimento mútuo. A paz é uma “arte” em que cada um deve desempenhar o seu papel e cuja tarefa nunca termina (227-232). Ligado à paz está o perdão: devemos amar todos sem exceção - lê-se na Encíclica -, mas amar um opressor significa ajudá-lo a mudar e não permitir que ele continue a oprimir o seu próximo (241-242). Perdão não significa impunidade, mas justiça e memória, porque perdoar
não significa esquecer, mas renunciar à força destrutiva do mal e da vingança. Nunca esquecer “horrores” como a Shoah, os bombardeamentos atômicos em Hiroshima e Nagasaki, perseguições e massacres étnicos - exorta o Papa devem ser sempre recordados, novamente, para não nos anestesiarmos e manterem viva a chama da consciência coletiva. E também é importante fazer memória do bem. (246-252). Parte do sétimo capítulo se detém, então, sobre a guerra: “uma ameaça constante”, que representa a “negação de todos os direitos”, “o fracasso da política e da humanidade”, “a vergonhosa rendição às forças do mal”. Além disso, devido às armas nucleares, químicas e biológicas que afetam muitos civis inocentes, hoje já não podemos pensar, como no passado, numa possível “guerra justa”, mas temos de reafirmar fortemente “Nunca mais a guerra! A eliminação total das armas nucleares é “um imperativo moral e humanitário”; em vez disso - sugere o Papa - com o dinheiro do armamento deveria ser criado um Fundo Mundial para acabar de vez com a fome (255262). Francisco expressa uma posição igualmente clara sobre a pena de morte: é inadmissível e deve ser abolida em todo o mundo. “O homicida não perde a sua dignidade pessoal - escreve o Papa – e o próprio Deus se constitui seu garante” (263-269). Ao mesmo tempo, a necessidade de respeitar “a sacralidade da vida” (283) é reafirmada onde “partes
da humanidade parecem sacrificáveis”, tais como os nascituros, os pobres, os deficientes, os idosos (18). No oitavo e último capítulo, o Pontífice se detém sobre “Religiões ao serviço da fraternidade no mundo” e reitera que o terrorismo não se deve à religião, mas a interpretações erradas de textos religiosos, bem como a políticas de fome, pobreza, injustiça e opressão (282-283). Um caminho de paz entre a religiões é, portanto, possível; por isso, é necessário garantir a liberdade religiosa, direito humano fundamental para todos os crentes (279). Uma reflexão, em particular, a Encíclica faz sobre o papel da Igreja: ela não relega a sua missão à esfera privada e, embora não fazendo política, não renuncia à dimensão política da existência, à atenção ao bem comum e à preocupação pelo desenvolvimento humano integral, segundo os princípios evangélicos (276-278). Enfim, Francisco cita o “Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum”, assinado por ele mesmo em 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi, junto com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib: desta pedra miliar do diálogo inter-religioso, o Pontífice retoma o apelo para que, em nome da fraternidade humana, o diálogo seja adotado como caminho, a colaboração comum como conduta, e o conhecimento mútuo como método e critério (285). Fonte: Vatican Media COMUNICAÇÕES
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Frei Policarpo Berri 13.07.1924
a manhã do domingo, 4 de outubro, dia da Solenidade de nosso Seráfico Pai São Francisco, a irmã Morte visitou a Fraternidade Província, com o falecimento de Frei Policarpo Berri em Pato Branco (PR). Por volta das 8 horas, ao ser chamado para a celebração deste dia festivo, os confrades já o encontraram sem vida. O Velório aconteceu na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo de Pato Branco, a partir das 15 horas do domingo. Em função da restrição de público foram distribuídas senhas. O povo pôde participar das seguintes Missas no domingo: 16:00, 18:00, 19:30 e 22:00h; e, na
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segunda, às 7 horas e às 10 horas, que foi a Missa de Exéquias, seguida do sepultamento na lateral da Matriz São Pedro Apóstolo.
O frade menor
Frei Policarpo é natural de Rodeio, Santa Catarina. Nasceu no dia 13 de julho de 1924. Iniciou seus estudos no Seminário de Rio Negro, no Paraná, aos 11 anos. Inácio, seu nome de batismo, tornou-se noviço aos 19 anos, em sua cidade natal, ingressando na Ordem dos Frades Menores no dia 20 de dezembro de 1943. Em seguida, estudou Filosofia em Curitiba (PR) e Teologia em Petrópolis (RJ). Fez a Profissão Solene
Dados pessoais, formação e atividades Nascimento: 13.07.1924 (96 anos) Rodeio, SC. estição: 20.12.191943 – Rodeio, V SC rimeira Profissão: 21.12.1944 (75 P anos de Vida Franciscana) Profissão Solene: 21.12.1947 rdenação: 25.07.1950 (70 anos O de sacerdócio) 945-1951: Estudos de filosofia 1 e teologia em Curitiba-PR e Petrópolis-RJ. 952-1955– Niterói-RJ – 1 Bibliotecário 956-2020 – Pato Branco-PR – 1 Diversas funções ao longo de 64 anos.
falecimentos// no dia 21 de dezembro de 1947 e foi ordenado sacerdote no dia 25 de julho de 1950, passando a ser chamado de Frei Policarpo. O frade é um dos 11 filhos de Melânia e Félix Berri. Depois de uma breve passagem pela cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, com 32 anos de idade, em 1956, mudou-se para Pato Branco, onde permanecia servindo ao povo. Frei Policarpo teve em Pato Branco e na região a plenitude de seu ministério. Foram mais de 64 anos de serviço ao povo do Sudoeste do Paraná. Recentemente, no dia 28 de julho deste ano, Frei Policarpo celebrou com solenidade o seu jubileu de 70 anos de sacerdócio. Na ocasião, o Ministro Provincial, Frei César Külkamp lembrou com carinho de sua vida de consagração. “Acima de tudo, queremos agradecer a Frei Policarpo por esse testemunho de vida e queremos pedir a seus confrades, ao povo de Deus, de Pato Branco e da própria região, que já pôde contar com sua entrega, com seu serviço, que Deus o abençoe sempre mais. Tanto a Província, como a Fraternidade de Pato Branco, como a Paróquia de São Pedro, como todo o serviço de comunicação, tão expressivo nesta cidade, mas também como povo e sociedade de Pato Branco e região. Frei Policarpo não é um homem de arroubos entusiasmados. A gente o conhece justamente por este modo reservado, discreto, e assim viveu a sua vida e o seu serviço e assim continua a sua entrega. Justamente desse modo é um serviço duradouro; não é um entusiasmo passageiro. Como homem de oração, de contemplação, transmite para a pessoa com quem convive, a quem ele serve, um pouco dessa face de Deus”. Para Frei Alex, Pároco, trabalhar com o Frei Policarpo era motivo de alegria e desafios diários, pois segundo ele, conviver com uma
pessoa que vive santamente é uma responsabilidade. “Ele desperta em nós o desejo de ter uma grande dedicação à comunidade e ao povo de Deus. Conviver com ele é muito gratificante, pois é um homem extremamente fraterno. Uma pessoa de bem com a vida. Isso nos provoca a fazer nosso caminho de tal maneira para que quando chegarmos numa idade avançada poder olhar para aquilo que se passou e ter também essa sensação que São Paulo diz: combati o bom combate,
lembra de uma característica bem peculiar de Frei Policarpo: a sua bênção, buscada por tanta gente. “Ele faz com muita fidelidade e atenção, mas de uma forma bastante rápida, porque a bênção é sempre dada pelo Senhor. E Frei Policarpo nos ensinou isso. Não é bênção do padre, não é a bênção do Frei Policarpo, mas é a bênção de Deus a quem ele serve, a quem ele ministra”. Frei Policarpo partiu para casa de Deus no dia de Nosso Pai SeráfiArte de Bruno Ferreira dos Santos
cumpri a minha tarefa”. Frei Policarpo foi um dos idealizadores da Rede Celinauta de Comunicação, e batalhou pela aquisição da rádio FM e pela concessão do canal de televisão da rede. Com sua participação, hoje a Rede Celinauta é o maior grupo de comunicação sob a coordenação da Província Franciscana da Imaculada Conceição no país, e é composta pelas rádios Celinauta AM e Movimento FM e pela TV Sudoeste. O Ministro Provincial Frei Cesar,
co São Francisco de Assis. Sua vida foi um sinal vivo do amor de Deus por nós. Os muitos frutos continuarão sendo colhidos por todos aqueles que encontraram nas mãos de Frei Policarpo a presença misericordiosa das mãos de Deus. Incluamos este nosso estimado confrade em nossas preces nesta Solenidade de São Francisco. Que o Senhor o acolha em seu Reino definitivo de amor e paz! R.I.P. Frei Jeâ Paulo Andrade COMUNICAÇÕES
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Frei César: “Temos mais um santo junto de Deus intercedendo por nós” “A gente queria ter ele um pouquinho mais, tocar mais nele, sentir sua presença, conversar com ele. Mas ele se mostra presente de uma forma mais intensa. Ele é nosso intercessor junto de Deus. Temos mais um santo junto de Deus intercedendo por nós”. Foi com essas palavras que o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, consolou uma cidade e até uma região em comoção durante a Missa de Corpo Presente de Frei Policarpo Berri, que começou às 10 horas da segunda-feira (5/10). Duas horas depois, o frade franciscano foi sepultado na lateral da Matriz de São Pedro Apóstolo, em Pato Branco (PR), ao som de sirenes de viaturas do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e de sinos. Voos rasantes de aeronaves jogaram pétalas de rosas na Matriz São Pedro.
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O religioso que faleceu nas primeiras horas da manhã do domingo (4), aos 96 anos de idade, por causas naturais, foi sepultado na área interna da matriz, próximo a uma das obras que ele tanto admirou e acompanhou sua edificação, o conjunto de peças que forma o mosaico. Familiares de Rodeio, frades da região e de Santa Catarina estiveram presentes na Celebração Eucarística, além das principais autoridades municipais. A Prefeitura de Pato Branco decretou luto oficial de sete dias na cidade, “em sinal de respeito pela vida e dedicação de Frei Policarpo Berri” e a administração municipal declarou feriado municipal até ao meio-dia, em decorrência do falecimento do Frei. Os serviços essenciais da Prefeitura, como o Departamento de Trânsito, Departa-
mento de Obras, Secretaria Municipal de Saúde, Limpeza Pública, Casa Abrigo Esperança e Horto Florestal, tiveram seus horários readequados. O povo fez longas filas para poder se despedir do frade que marcou esta cidade. “Desde ontem, quando cheguei aqui, vindo justamente da terra natal de Frei Policarpo, onde estava passando as festividades de São Francisco junto ao nosso Noviciado, pude perceber a grande comoção, a grande quantidade de pessoas”, expressou Frei César na sua homilia. Frei César contou que a primeira notícia que viu da morte de Frei Policarpo foi do bispo diocesano de Palmas-Francisco Beltrão, Dom Edgar Xavier Ertl, que destacava que Frei Policarpo escolheu um dia muito especial, o dia da sua vocação franciscana. “O dia que nós celebramos a morte de
falecimentos// São Francisco de Assis. No final do ano passado, Frei Policarpo completou 75 anos de frade menor. Essa coincidência não é por acaso, e certamente não é por acaso essa celebração tomada por este sentimento que desde ontem se quis para esta despedida de Frei Policarpo, como sendo momento de gratidão”, disse. “Nós podemos chorar por essa despedida mas nós temos muito mais motivos para render graças a Deus por esta longa vida e por essa presença tão fecunda do Frei Policarpo nas nossas vidas, especialmente aqui nesta região”, ressaltou. Segundo o Ministro Provincial, Frei Policarpo não passava despercebido em qualquer lugar, embora ele não gostasse de chamar a atenção. “Seu jeito simples, discreto, de verdadeiro franciscano, era sempre de uma presença sóbria, simples, sem muitos arroubos, sem muitos acontecimentos, mas o que chamava atenção na sua vida era justamente essa fidelidade em torno não da pessoa dele, mas daquilo que precisava ser feito. E, assim, ele viveu a sua vocação”, acrescentou Frei César. O Ministro Provincial recordou
que, quando celebrou há dois meses o jubileu de 70 anos de sacerdócio de Frei Policarpo, devido às circunstâncias por causa da pandemia, foi anunciado naquela ocasião que a festa externa maior desta data seria celebrada no dia de São Francisco de Assis, dia de sua vocação. “E no dia de ontem, ele escolheu celebrar esse sacerdócio de forma plena, devolvendo a Deus esse dom que o chamou para servir como sacerdote e como frade menor. Então, nós queremos, hoje, celebrar junto com Frei Policarpo por essa sua escolha, agradecer a Deus por esse dom tão grande que ele nos concedeu. E a sua inspiração em São Francisco de Assis também tem um pensamento que diz que a gente não deve apenas falar e celebrar os santos, mas a gente deve se comprometer”, ressaltou. “Não basta da nossa parte cantar as glórias que os santos praticaram, dizia São Francisco, justamente num pequeno texto que o Papa Francisco escolheu para aquela Carta Encíclica que ele assinou no dia 3, junto ao túmulo de São Francisco, em Assis, na Itália. ‘Irmãos todos’ é o título dessa encíclica, muito bonita que fala sobre
a fraternidade e a amizade social como nossa vocação universal. Todos nós somos filhos e filhas de Deus e, por isso, também não podemos deixar que nenhuma pessoa passe despercebida de nossas vidas. É preciso empenhar-se pela dignidade, pela melhor condição a cada ser humano, porque ele é nosso irmão. Não importa a procedência, não importa a raça, não importa a religião, não importa o modo de pensar, cada pessoa, cada ser humano é nosso irmão. É uma ideia de fraternidade universal. É isso que pede o Papa Francisco, inspirado em São Francisco de Assis, e foi justamente isso que Frei Policarpo procurou fazer. Sempre com os olhos atentos a quem precisava dele. E por isso tantas coisas foram surgindo. Se alguém estava doente, Frei Policarpo estava de prontidão; se alguém precisava de auxílio, qualquer que fosse, material ou presencial, ali estava o Frei Policarpo; se alguém precisava de uma atenção espiritual, se alguém estava perturbado com alguma coisa, a bênção de Frei Policarpo transformava”, observou Frei César. Segundo o Ministro Provincial,
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um dos pensamentos que chamaram muito a sua atenção, escrito por Frei Policarpo, foi sobre a importância que dava às bênçãos, mas sempre compreendendo que quem dá a bênção é Deus. “Frei Policarpo dava a sua bênção muito rapidamente, mas ninguém se incomodava. Todos ficavam consolados com sua bênção e os mais diversos anseios eram atendidos, porque Deus é quem agia. E com isso Frei Policarpo nos ensina que todos nós precisamos ser canais da bênção de Deus, como ele procurou ser na sua simplicidade, na sua humildade, mas acima de tudo na sua fidelidade. Nesse olhar atento, fez com que tanta coisa fosse construída, acontecesse. Isso foi bastante destacado esses dias. Mas o importante é que cada um de nós descubra a capacidade de ter essa atenção a quem mais estiver precisando de nós. Isso que a palavra de Deus pede também hoje de cada um de nós”, disse, referindo-se ao Evangelho das Bem-aventuranças. “Mas, acima de tudo, o que o Cristo está nos dizendo é que essas bem-aventuranças devem ser realizadas por
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cada um de nós. Se alguém está aflito, eu devo consolá-lo; se é alguém é pobre e tem necessidade, eu devo ser o seu amparo; se alguém está doente, eu devo ser o seu cuidado. Cada um de nós. Sabemos que estas realizações ou bem-aventuranças, elas são plenas junto de Deus. É ele quem promete o cêntuplo e todas as graças. Mas ao mesmo tempo é ele quem nos envia para realizar essas mesmas graças, para que elas aconteçam através das nossas mãos e dos nossos corações. Pelo nosso afeto, e pela nossa ação”, explicou. Segundo Frei César, foi justamente isso que o Frei Policarpo fez. “Por isso hoje podemos dizer e agradecer também a Deus porque o Frei Policarpo foi um sacramento vivo das bem-aventuranças. Ele foi alguém que estava atento. Ele não se preocupou se ele estava doente, se ela estava pobre, se ele estava aflito, mas ele procurou ser esta ação de Deus. Fazer da sua vida e da sua vocação franciscana e sacerdotal esse canal da bênção e da bem-aventurança de Deus”, emendou. “Que nós, hoje, possamos render graças, celebrar em ação de graças.
Porque Frei Policarpo foi esse sacramento e assim também na sua morte serena, no dia de São Francisco de Assis, ele consola o nosso pranto, dá sentido, significado, à sua própria morte e nos recorda o bonito sacramento que foi a sua vida. Ele acolhe lá, junto de Deus, o nosso pranto, a nossa tristeza, que de alguma forma também está presente, toca o nosso coração, porque a gente queria ter ele um pouquinho mais: tocar mais nele, sentir sua presença, conversar com ele. Mas ele se mostra presente de uma forma mais intensa. Ele é nosso intercessor junto de Deus. Temos mais um santo junto de Deus intercedendo por nós. Por isso, todas as multidões que o procuravam todos os dias, podem continuar rogando a Frei Policarpo, podem continuar pedindo o seu amparo, o seu consolo, a sua bênção. Nós podemos continuar pedindo a sua presença entre nós, para que possamos também responder com um pouquinho mais de simplicidade, de humildade, mas com profunda fidelidade, a nossa vocação cristã, franciscana, sacerdotal”, desejou.
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“O frei Policarpo foi um homem, como disse Pedro explicando a respeito de Jesus, que passou pelo mundo fazendo o bem. O seu nome significa que produz frutos, e ele produziu muitos frutos para o reino de Jesus Cristo, frutos para os franciscanos e frutos para esta paróquia São Pedro Apóstolo de Pato Branco. Ele recebeu um prêmio, o único e absoluto que todos nós deveríamos buscá-lo e invejá-lo. Qual é o fruto? A Páscoa, a ressurreição, a eternidade, a imortalidade em Cristo, exatamente no dia em que Cristo ressuscitou, no domingo — dia sagrado para os cristãos. Essa foi a primeira graça e é um sinal de Deus, não é coincidência de que o Frei Policarpo ressuscita no primeiro dia, morre no primeiro dia, faz a sua Páscoa no primeiro dia. E o segundo sinal, extraordinário, grandíssimo, de ter podido morrer e descansar na paz, no dia de São Francisco de Assis”, comentou Dom Edgar Xavier Ertl, bispo da Diocese de Palmas/ Francisco Beltrão. O pároco Frei Alex Sandro Ciarnoski, recordou que as palavras que mais ouviu de Policarpo, “muito obrigado”, ao mesmo tempo em que lembrou que o franciscano é um exemplo de despojamento, assim todos que estiveram acompanhando a última das oito celebrações de corpo presente, puderam levar uma flor para casa. A presidente do Conselho Administrativo da Paróquia São Pedro Apóstolo, Leila Zanin, ao anunciar que Frei Policarpo não seria sepultado no mausoléu dos frades, construído no pátio, lembrou a atuação do religioso na construção da matriz e a dedicação de sua vida ao trabalho pastoral. Leila afirmou que “em forma de reconhe-
cimento e de gratidão”, a decisão coube ao conselho e aos freis e foi tomada ainda em 2019, quando o frei teve complicações cardíacas devido à idade. “Para nós freis, ele era um zelo no sentido de calma. Nos momentos de dificuldade, de crise, de provação para nós, a resposta dele era a calma, de deixar o tempo passar, ficar em silêncio e rezar. Parecia que ele estava dormindo, mas estava concentrado em oração. Para mim, fica essa figura do Frei Policarpo no coração, de tantas bênçãos, nunca dizia não, ligeirinho como Jesus recomenda mas sempre fazendo o bem”, observou Frei Olivo Marafon, pároco da matriz São Francisco de Assis de Chopinzinho “Para nós, o Frei Policarpo é um verdadeiro santo, vemos ele com uma admiração muito grande porque ele também tinha uma muita admiração por nossa família. Estamos feliz por estarmos aqui, tristes pelo falecimento dele, lógico, mas esse é nosso caminho”, disse Osmir Berri, sobrinho de Frei Policarpo
O prefeito de Pato Branco, Augustinho Zucchi, confessou que era um momento comovente para a cidade. “Talvez a gente possa recordar o que Frei Policarpo falava: ‘no momento da morte vamos celebrar a vida’. Ele cumprimentou os familiares: “Vocês não imaginam o valor que Frei Policarpo significa para nós!”. O governador do Paraná, Ratinho Junior, também lamentou a morte de Frei Policarpo. “Foi como franciscano que dedicou 70 anos da sua vida ao sacerdócio, maior parte desse tempo em Pato Branco. Foram 64 anos atendendo e abençoando a população do Sudoeste Paranaense”, disse o governador. Muitas foram as homenagens a Frei Policarpo, como no início da manhã de segunda-feira (5) quando a população pôde acompanhar uma manifestação de carinho e gratidão pelas ruas de Pato Branco. Integrantes do Clube de Veículos Antigos de Pato Branco, dos Originais Motor Club e dos Opaleiros de Pato Branco realizaram uma carreata para homenagear frei Policarpo. COMUNICAÇÕES
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Uma vida que se confunde com Pato Branco
Em entrevista concedida à jornalista Jozieli Cardenal Suttili, publicada no mês de julho deste ano no Especial do Diário do Sudoeste, alusivo às sete décadas de sacerdócio, Policarpo relembrou como era Pato Branco antigamente. “Quando cheguei aqui, a cidade era pequena, todas as casas eram de madeira, não havia calçamento e, quando chovia, tinha muita lama. Quando o tempo estava bom, era poeira, nuvens de poeira com o vento e caminhões”. Além das lembranças na época em que se mudou a Pato Branco, o religioso também costumava preservar fatos, datas e histórias locais anteriores à sua chegada, como a construção da primeira capela, em 1930. “A primeira capela foi construída na rua Tapir com a avenida Tupi. Essa primeira igreja ganhou o nome de São Pedro, porque quatro Pedros a dirigiam: Pedro José da Silva, Pedro Aires de Mello, Pedro Antônio Soares e Pedro José Vieira. Aquela igreja durou cinco anos, porque, depois, Duílio Beltrão e Francisco Gutierrez Beltrão resolveram fazer a nova igreja, no centro da cidadezinha, onde hoje está situado o chafariz da praça Presidente Vargas”. Ali Policarpo acompanhou os principais fatos desencadeados na Presidente Vargas – espaço público que, inicialmente, recebeu o nome de praça Brasil. Inclusive, a mobilização dos colonos durante o levante da Revolta dos Posseiros, em outubro de 1957,
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que tomou a praça naquela ocasião, provocados pelo então radialista Ivo Thomazoni. Isso porque a Rádio Colmeia – antigo nome da Rádio Celinauta – situava-se no entorno, na rua Iguaçu. Outro momento que Policarpo convidou todo pato-branquense a rememorar a história da cidade é a nevasca de 21 de agosto de 1965. “Em 29 de junho de 1965, foi inaugurada a Igreja São Pedro Apóstolo e, em 21 de agosto daquele ano, veio a neve. Era muito grande, com dois metros de altura em alguns lugares. Fizeram muitos bonecos de neve na praça, a noiva, o pato… tenho uma coleção muito grande dessas fotografias. Tenho uma recordação muito bonita daquele dia, pois foi um dia muito especial, a cidade toda veio à praça. Era justamente um sábado! Tinha 12 casamentos naquele dia, naquele frio danado. Em um deles, o noivo não apareceu, por isso fizeram o boneco
de neve da noiva”, contou na época, distribuindo risos e bom humor. Durante seus 70 anos de sacerdócio, Frei Policarpo Berri de fato atendeu ao chamado do Senhor, exercendo atividades diárias de dedicação ao próximo — muitas vezes esquecendo de suas prioridades e enfrentando desafios para auxiliar os outros. Ele era um dos 90 padres da Diocese de Palmas e de Francisco Beltrão, segundo informação da Cúria Diocesana, em entrevista à jornalista Jéssica Procópio também para o Especial sobre Policarpo. Ao longo dessas sete décadas junto à Igreja Católica, ficou conhecido por suas bênçãos. Em um gesto rápido, com a mão esquerda apoiada em sua barriga e com a mão direita levantada, fazia o sinal da cruz, pedindo ao Pai pelo seu povo. O religioso [que se mudou quando tinha 32 anos a Pato Branco], além
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de ser um dos primeiros sacerdotes no Município foi também um dos pioneiros de Pato Branco, que havia se emancipado apenas cinco anos antes de sua chegada. Ele abraçou tanto Pato Branco, que se tornou parte da história do município e de muitas famílias pato-branquenses. Inclusive, independentemente de suas religiões, acreditavam em sua fé e bondade, tendo-o como um grande amigo. Embora seja amplamente reconhecido por suas bênçãos e seu jeito peculiar, Frei Policarpo também foi responsável por inspirar várias pessoas a seguirem na vida religiosa. Dois deles são os pato-branquenses, Adriano Matana e Roberto Carlos Felipe, conforme apresentou a jornalista Paloma Stedile no Especial dos 70 anos de sacerdócio. Matana, hoje padre diocesano, desde criança afirmava que queria ser padre. Isso começou por volta dos seis anos de idade, numa missa na comunidade Fazenda da Barra [hoje pertencente à Paróquia Cristo Rei], de onde é natural. “Os padres e as irmãs iam lá celebrar a Santa Missa e eu dizia que queria ser padre. O tempo foi passando e sempre com aquele desejo no coração”, lembrou o sacerdote, que há mais de um ano está em Palmas, onde é pároco da catedral Senhor Bom Jesus da Coluna e também chanceler da Cúria Diocesana.
Mas quem, de fato, acendeu a chama para que Matana fizesse parte da vida religiosa foi Frei Policarpo. Além de ter sido batizado pelo frei, antigamente também celebrava as missas de Natal, na comunidade de Independência [hoje pertencente à Paróquia Nossa Senhora de Fátima], onde residem os avós do jovem sacerdote e onde se reunia toda a família. “A primeira memória que tenho de Frei Policarpo é que, nessas missas, ele ia perto do presépio e falava com tanta docilidade das figuras do Menino Jesus, de Maria e de José. Então, todas as vezes que alguém faz referência a ele, vem à memória a imagem desse frei tão gentil e amado; um homem de Deus próximo ao presépio com as mãos postas, falando com muito amor, dedicação e profundidade da figura da mensagem do Natal”. Natural de uma vila rural, formada por imigrantes italianos, em Rodeio (SC), em 1924, Inácio Berri desde pequeno demonstrou a inquietude de quem tinha a comunicação nas veias. Também no Especial em homenagem às sete décadas de sacerdócio, a jornalista Marilena Chociai Rizzi contou que Policarpo [interno do Seminário Seráfico São Luís de Tolosa, em Rio Negro (PR), já aos oito anos] era uma criança curiosa. Gostava de aprender, de compartilhar ideias e pensamentos. Teve contato com a música, com a literatura, com a filosofia e, audacioso, escreveu uma carta em alemão, questionando o líder nazista Adolf Hitler. Estava inconformado com a determinação dele em proibir que jovens da Alemanha continuassem vindo ao Brasil para serem padres. A carta não foi enviada pelos superiores do seminário, mas a atitude do jovem seminarista deixava clara algumas características de liderança e desejo
de transformar o mundo. As comunicações viviam grandes transformações enquanto o seminarista Inácio Berri ampliava seus conhecimentos em instituições de ensino católicas, sempre atento ao que se passava pelo mundo. Após concluir os estudos, já com o nome de Policarpo, foi designado para a região Sudoeste do Paraná, em 1956. Na Paróquia São Pedro Apóstolo, teria a missão de evangelizar, mas não só isso. Afinal, a religião católica trazida pelos franciscanos desde os anos 1900, está longe de ser o único legado dos frades menores nesta região, conta a professora e historiadora Neri Bochese. No Sudoeste do Paraná, Frei Policarpo encontrou um cenário de conflitos. Colonos lutavam pela posse das áreas onde se estabeleceram, contra as companhias de terras, que tentavam expulsá-los. Era a Revolta dos Posseiros de 1957. A vida era difícil. As estradas, de chão. As distâncias eram longas e o transporte a cavalo era demorado. “Naquele tempo as casas eram de madeira, havia muita poeira no tempo de seca e muita lama quando chovia. Quando íamos visitar as capelas a cavalo, ficava com lama até a barriga”, contou Frei Policarpo que, por vezes, se perdeu nos caminhos para as capelas. Diante dessa realidade, o frade logo entendeu que os veículos de comunicação poderiam ser importantes aliados ao propósito de evangelizar. Por meio do rádio, pretendia encurtar distâncias e levar cultura e educação ao povo. A história do rádio em Pato Branco teve início em 1954, com a criação da Rádio Colmeia. A emissora pertencia a uma rede de rádios da família Rotilli. Quando a Colmeia foi colocada à venda, alguns anos depois, Frei Policarpo convenceu a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil a comprá-la. “Conversei com o provincial, que autorizou a compra, desde que não comprometêssemos a Província COMUNICAÇÕES
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//falecimentos com dívidas. Assim resolvemos comprar. A rádio era de 250 watts, a única que havia em Pato Branco. A segunda no Sudoeste, de 100 watts, era em Francisco Beltrão”, disse Policarpo. Pouco tempo depois, a emissora passou a chamar-se Celinauta [aquela que guia ao céu]. Uma homenagem à Nossa Senhora, segundo Frei Policarpo. A programação era bastante variada. Havia jornal falado, entretenimento, programas musicais, envio de recados, avisos, dedicatórias e as transmissões religiosas. Por um longo período, Frei Policarpo apresentou o programa diário “Aos pés de Maria”, ao meio-dia. Naquele tempo, poucos tinham aparelho de rádio em casa. As famílias se reuniam nas casas de quem tinha, para ouvir, como se fosse uma solenidade. Para muitos moradores do interior, a rádio era a única forma de saber notícias de outros lugares. O objetivo principal da Rádio Celinauta, segundo Frei Policarpo, foi evangelizar, mas havia a preocupação em melhorar a comunicação entre o povo. “Nas capelas, as distâncias eram sempre grandes, não tinha jornais. Com o rádio a gente podia conversar com o povo todos os dias. E a gente atendia todo o Oeste de SC e Sudoeste do PR”, explicou. A abrangência do rádio foi um fator importante durante a Revolta dos Colonos, episódio que consolidou a presença da rádio, em 1957. O rádio era praticamente o único meio de comunicação entre os colonos. “Era por meio dele que os agricultores se organizavam contra as companhias que pretendiam expulsá-los de suas terras”, contou Ivo Tomazoni, um dos radialistas mais atuantes na época. Também foi com a ajuda do rádio que ocorreram campanhas importantes dentro da Paróquia São Pedro, como as da aquisição do órgão de tubos da Alemanha e construção da Igreja Matriz de Pato Branco. “A rádio era usada para angariar fundos, para
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motivar os agricultores a colaborarem com a construção, naquela época em que a Igreja foi construída muito na base do mutirão, entre os anos de 1960 e 1965”, disse Frei Nelson Rabelo. Também apaixonado pelas comunicações, Frei Nelson contava que Frei Policarpo sempre foi interessado pela área jurídica das emissoras. E este interesse do franciscano pelas questões mais burocráticas foram fundamentais para o aumento de potência da Rádio Celinauta; a aquisição da Rádio Pato Branco; e as concessões da TV Sudoeste, fundada em 1987; e da Movimento FM, criada como FM Studio 3, em 1981. A rádio Pato Branco foi vendida pelos frades e atualmente é a rádio Cidade. A estreia da televisão no Brasil ocorreu em 1950, por meio de Assis Chateaubriand. Até o final da década, funcionavam as TVs Tupi, Record e Paulista, Rio e Excelsior. Nos anos 1960, entrou no ar a TV Paranaense. Acompanhando o ritmo das comunicações, os freis de Pato Branco também começaram a pensar em uma emissora de TV, como contou frei Nelson. “Em 1967, os Freis Sérgio e Policarpo falavam em uma emissora de televisão aqui para Pato Branco e região. Eles estavam preocupados em tornar a imagem do Evangelho algo visível para a região”. Rabelo, que acompanhou toda a jornada, reconhecia Frei Policarpo
como um exemplo de perseverança. “Ele abriu caminhos para que viesse a televisão para cá. Fez naquela época, um projeto dos estúdios da TV Sudoeste. Na sua certeza de que conseguiria o canal, em 1971 já comprou a torre para a sustentação da antena da televisão e também comprou o transmissor Maxuel e toda a parafernália que faz parte de um estúdio de televisão. Íamos aos congressos e fazíamos amizades com políticos para que conseguíssemos a concessão que saiu em 1979”, contou. Policarpo explicou que foram oito anos fazendo viagens a Brasília e Rio de Janeiro até conseguir a liberação do canal. “Chamamos de Rádio e Televisão Sudoeste do Paraná Ltda. Canal 7. Éramos eu, o Frei Sérgio e o Frei Samuel os responsáveis. Quando saiu o decreto para a construção da empresa, entrou o Frei Nelson na sociedade. Depois, mudamos todos os veículos de firma comercial para a Fundação Cultural Celinauta”. Como as emissoras não podiam pertencer às pessoas físicas dos frades, criou-se a Fundação, uma entidade jurídica onde os veículos de comunicação passaram a ser departamentos. Os frades que trabalham nela não recebem remuneração. Em junho de 1987, a TV Sudoeste entrou em operação. A programação era diversificada, com foco na evangelização. O primeiro telejornal diário, “Sudoeste em manchete”, foi ao ar no dia 23 de junho de 1987. Policarpo disse que tudo o que fez, foi pelo propósito de evangelizar. “Eu me alegro com o progresso que aconteceu sempre. A minha participação foi pequena, né? Sempre ajudou um pouquinho, mais na parte legal. Só dei o pontapé inicial. Quando a gente trabalha na rádio, a gente fica apaixonado, por isso não tinha preguiça de ir atrás das coisas, mesmo com sacrifício. Acho que valeu a pena fazer algum sacrifício”.
Matéria publicada no Diário do Sudoeste.
ag genda2020
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
As alterações e acréscimos estão destacados em laranja.
NOVEMBRO
06 a 08
Estágio Vocacional do PR Rondinha, Campo Largo (PR)
13 a 15
Encontro Ampliado da Frente da Educação)
13 a 15
Estágio Vocacional de SC - Seminário São Francisco, Ituporanga (SC)
15
IV Dia Mundial dos Pobres
16 a 18
05
2021
05Renovação dos Votos em
05
DEZEMBRO
Profissão Solene em Petrópolis Petrópolis
08
Renovação dos Votos em Rondinha
JANEIRO
Admissão dos noviços – Rodeio;
09
08
1ª Profissão e Admissão dos noviços – Quibala, Angola.
08
JULHO
Renovação dos Votos em Angola Renovação dos Votos dos frades em Ano Missionário – nas fraternidades
19
Ordenação diaconal em Petrópolis
Reunião do Definitório Provincial
29
Sou o Crucificando de uma cruz que passou. Sou o Ressuscitado de uma morte vencida. Sou o Vivente, agora, em milhares de cruzes fora dos muros da cidade e dentro dela, também. No coração desta igrejinha arruinada – São Damião –, tu me vês pendurado, abandonado, crucificado, ressuscitado, vivente: Nos meus pés, mãos e lado, os sinais de uma cruel, mortal, agressão; na minha pele lisa e macia como a de um bebê recém-nascido, o sinal de um corpo renascido; nos meus olhos serenamente abertos como a enxergar longe e bem perto, o sinal vivo de amorosa acolhida a ti, meu jovem, que vens pra rezar e, atônito, põe-te a contemplar
e, na tua alma, fundo, a gravar os segredos da minha Paixão. Daqui deste meu trono vejo-te então pronto de vez a largar toda mesquinhez, toda vaidade de tua vida, e mergulhar fundo, sem saída no mar de um Amor sem medida. Posso, pois, te implorar: Francisco! Vai, restaura minha casa. Como a vês, está toda destruída!... E posso sempre confiar: Francisco, Franciscos, Claras, homens, mulheres, de boa vontade! Saí da zona de conforto, buscai ainda outro porto, decisivo ponto de partida, minha Cruz, minha luz no mundo das periferias afogadas na dor da solidão fundida em gemido e lágrimas de tantos Lázaros e Marias. É chegado o grande momento
1ª Profissão em Rodeio
03 a 18
Capítulo Geral da Ordem (Roma, Itália)
As datas de celebração dos Jubileus e a reunião dos guardiães serão comunicadas após estudo das melhores possibilidades para realização.
de um novo nascimento, renascimento! Comigo a fazer-vos um em perfeita união, solidária comunhão, vamos ao grande mutirão, ao restauro da casa comum, à terra pra sempre sem males. Francisco, Franciscos, Claras, homens, mulheres, de boa vontade! Vosso sonho é todo meu: O espaço da minha casa, para toda a eternidade, seja o espaço da irmandade, universal fraternidade, sem armas, sem maldade, nas asas da liberdade... Temos o mesmo DNA, o DNA de Deus: Somos todos irmãos, irmãs... Frei José Ariovaldo da Silva, OFM 02.10.2020
1963
2002
2007
Aula de História
Encontro de Irmãos
Revigoramento
em Petrópolis
1991
2010
AGOSTO | Comem
oração de 100 an os de Restauração da Província
Retiro no Eremitério
2006
trin
ei Evandro Bales
Ordenação de Fr
TBT é uma sigla para Throwback Thursday (quinta-feira do retorno). A hashtag #TBT é utilizada para relembrar situações do passado, geralmente com a publicação de uma foto no Instagram. Aqui, foi adaptada para a Revista.