Província Franciscana da imaculada conceição do Brasil
setemBro de 2019 • ANO LXVII • N o 09
Redimensionamento:
É Hora de Partir!
SUMÁRIO MENSAGEM DO GOVERNO PROVINCIAL
“Saboreando alegrias vividas e vindouras”................................................................................. “Pelo respeito à vida e à criação, contra toda e qualquer forma de violência”....
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formação permanente
“O exercício da liderança dialógica e servidora na perspectiva Franciscana”, artigo de Frei João Mannes ...................................................... Carta pós-capitular do Ministro Geral..........................................................................................
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Formação e estudos
Formadores fazem retiro no Eremitério...................................................................................... Frei César pede a Frei Éverton: seja instrumento eficaz do amor misericordioso do Pai! ...................................................................................................... Frei Silvano é readmitido ao Noviciado e frades fazem retiro semestral ............... Profissão Solene no dia 8 de setembro ...................................................................................... Retiro: De volta ao noviciado de Rodeio ................................................................................... Centro Filatélico Franciscano lança página no Facebook ...............................................
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fraternidades
Perdão de Assis: Emoção e fé no Convento da Penha ...................................................... Ministro Provincial: um dia inteiro com as Irmãs Clarissas .............................................. Convento São Francisco: “Clara de nome, palavra e virtude” ........................................ Angola: Frades celebram Santa Clara com as Irmãs Clarissas em Palanca ........... Colatina: festa para a Padroeira ........................................................................................................ Frei Olavo faz 100 anos. Ele chegou lá! ......................................................................................
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evangelização
Passagem do cuidado pastoral da Paróquia Nossa Senhora do Amparo à Diocese de Caraguatatuba ................................................................................. Agudos: Província entrega à Diocese cuidado pastoral da Paróquia Santo Antônio ................................................................................................................ Mês Missionário Extraordinário ....................................................................................................... A influência das redes sociais é tema da Assembleia do Sefras .................................. Fundação Celinauta lança campanha “Diga sim à vida” ................................................... Postulantes no Sefras: experiência do encontro .................................................................. Nesse momento de crise temos de valorizar a resistência, diz D. Zanoni ............ Colaboradores do Grupo Educacional Bom Jesus fazem “Experiência Assis” ..................................................................................................................... Notícias da FAE ........................................................................................................................................... USF entre os 10 melhores cursos de Educação a Distância do Brasil ...................... Comunicadores refletem sobre Clara de Assis........................................................................ “Moisés e Jesus”, de Frei Luiz Iakovacz..........................................................................................
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Agenda ................................................................................................................................................... 660 Capa: Cruzeiro em frente ao Convento de São Sebastião
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | São Paulo - SP www.franciscanos.org.br | ofmimac@franciscanos.org.br
MEnSagEM
Saboreando alegrias vividas e vindouras
Q
ualificar a vida fraterna e aprofundar-se no carisma; olhar com especial atenção para a juventude; e empenhar-se na promoção do cuidado com a Casa Comum. No início de sua carta pós-capítulo endereçada à nossa Província, o Ministro Geral Frei Michael Perry chamou a atenção de maneira especial para estas três provocações que nasceram do Conselho Plenário da Ordem (CPO), celebrado em Nairóbi, no Quênia, em 2018. Estes apontamentos têm o objetivo de despertar as entidades para assumirem ações concretas na direção apontada e também têm a finalidade de preparar a Ordem para o Capítulo de 2021. Perceber as preocupações da Ordem expressa nestes três propósitos faz-nos pensar que estamos no caminho certo. Em relação aos referidos temas, não nos faltam referenciais em nossa caminhada de Província, desde o Plano de Evangelização, as Diretrizes para a Formação e os Estudos, os indicativos do Capítulo Provincial de 2018, o Programa da Formação Permanente. O desafio que permanece é, no entanto, fazer “aterrissar”, em nossas fraternidades e no coração de cada irmão, os belos propósitos que estes compromissos assumidos exigem. E, para dar este passo, precisamos de coragem. Coragem também nos pede o Ministro Geral, na mesma carta, quando nos instrui a olharmos sem medo para os fatos e discutirmos de forma aberta, sincera e fraterna a sensível queda no número de irmãos que temos sofrido. Na carta, o Ministro manifesta seu
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mensagem
espanto ao constatar que “nos últimos 16 anos saíram 281 frades!” O Ministro pede que nos empenhemos em refletir sobre a causa de tantos abandonos. O comprometido exercício fraterno em torno deste desafio certamente vai nos ajudar a prevenir estas evasões. Ao mesmo tempo, estamos diante do desafio de poucos ingressos e números pequenos nas casas de formação. Volta o desafio feito: “Cada fraternidade uma vocação!” Caminhar na direção da transparência fraterna que nos torna livres para conversarmos sobre nossas feridas, buscando curá-las, é um percurso que deve nos tornar cada vez mais “especialistas no diálogo”. Em torno deste assunto, Frei João Mannes, nesta edição, nos brinda com o texto “O exercício da liderança dialógica e servidora na perspectiva franciscana”. Ali, ele nos oferece importantes luzes para exercermos uma liderança efetiva, inteligente e transformadora. Diz o confrade: “Na ótica franciscana, ser líder é ter a habilidade de dialogar com as pessoas e ser um servidor equiparado ao que lava os pés dos outros. O modelo franciscano de coordenar uma fraternidade caracteriza-se pela presença do ‘Espírito do Senhor-Servo’. (...) Quanto mais poder alguém tem, maior deve ser a sua disposição para servir. ‘Aqui, sim, deveria existir uma verdadeira competição: entre aqueles que querem servir mais” (Papa Francisco). Saboreando as alegrias do mês de agosto, tivemos a graça de nos alegrar com a Solenidade de Santa Clara. Celebrar com nossas Irmãs Clarissas foi ocasião de revitalizarmos a estima mútua que nutrimos, animados pelo carinho e pela cumplicidade que nossos fundadores cultivavam entre si. Que a intercessão desta Mãe Espiritual nos inspire a darmos passos firmes e corajosos na prática do Evangelho. Alegrias vividas e vindouras! Com muito entusiasmo, queremos convidar toda a Fraternidade Provincial a nos unirmos em oração e comunhão fraterna, agradecendo ao “Sumo Bem” o dom da vocação e da entrega de nossos cinco irmãos que celebram sua Profissão Solene no próximo dia 8 de setembro. Deus seja louvado! No mês que antecede a Festa de nosso Seráfico Pai, recordamos também algumas datas e momentos im-
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portantes: já no dia 1º, convidamos todas as fraternidades a serem criativas e ousadas em marcar o “Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação”. São muitos e grandes os desafios que temos vivido em relação a este assunto no Brasil atual. Nossa resposta profética se faz urgente e necessária. No dia 17 de setembro, celebremos com vigor as Chagas de São Francisco, inspirandonos no amor inflamado que levou Francisco a tornar-se “Outro Cristo”. Preparemo-nos também para bem celebrar, em outubro, o “Mês Missionário Extraordinário”. “Batizados e enviados”, desejamos manifestar nosso espírito de pertença à Província que se faz missionária em todos os lugares de presença, de missão, mas de modo bem especial na Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola. A ocasião é propícia para recordarmos, em todas as frentes que atuamos, que a vocação missionária é um chamado que toca de cheio a vida cristã em todas as suas manifestações. Entreguemos com confiança aos cuidados do Senhor os passos que temos dado em direção ao Redimensionamento, assumido pelo Capítulo de 2018. No último mês, devolvemos o cuidado pastoral de duas presenças importantes: a Paróquia Santo Antônio, em Agudos, SP, entregue à Diocese de Bauru; e a Paróquia Nossa Senhora do Amparo, junto com o Convento, em São Sebastião, SP, entregues à Diocese de Caraguatatuba. Ainda que difícil, o exercício de deixar lugares ajuda a nos recolocarmos em nosso lugar legítimo: a estrada de quem se dispõe a caminhar como peregrino e forasteiro a serviço do anúncio do Evangelho. Por fim, pedimos oração à Fraternidade Provincial na intenção de nosso Ministro Geral, Frei Michael Perry, acidentado no último dia 15 de agosto, quando levou um tombo de bicicleta durante suas férias nos EUA. Oremos para que nosso Ministro tenha seu pronto restabelecimento! Que o “Altíssimo, Poderoso e Bom Senhor” continue guiando os nossos passos e que, no mês que se inicia, mais uma vez a Palavra de Deus seja lâmpada e luz para os nossos caminhos. Fraternalmente,
Frei César Külkamp
Frei Gustavo Medella
Ministro Provincial
Vigário Provincial
comunicações – SETEMBRO de 2019
MEnSagEM
Pelo respeito à vida e à criação, contra toda e qualquer forma de violência Com efeito, há “propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das organizações internacionais”. É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais de seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais. (PAPA FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’, 38).
São Paulo, 29 de julho de 2019. Paz e Bem!
N
a qualidade de filhos de São Francisco de Assis, inspirador principal do Santo Padre na elaboração da Carta Encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum, nós, Franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil, da Ordem dos Frades Menores, sentimo-nos na obrigação de manifestar nosso pesar e nossa máxima preocupação no que diz respeito aos rumos que têm sido dados à política ambiental em nosso país e seus nefastos resultados, presentes e vindouros. Em primeiro lugar, somos solidários e fazemos coro a nossos irmãos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) quando, pautados na
exatidão de dados da ciência, advertem a sociedade e o governo sobre o avanço de 88% no desmatamento da Amazônia em relação ao ano passado. Às vésperas do Sínodo Pan-Amazônico, quando a Igreja Católica do mundo todo lança seu olhar sobre este território fundamental para a manutenção do equilíbrio do planeta, desejamos nos unir num grande alerta em favor da preservação deste bioma. Também manifestamos irrestrita solidariedade aos povos indígenas, habitantes originários de nossas terras. Cada declaração infeliz que os desautorize ou menospreze sua luta por direitos legítimos e inalienáveis, cada gesto de violência e ódio contra eles desferido é um golpe fatal no coração da humanidade e na essência da proposta evangélica de Jesus Cristo, de “vida, e vida plena, para todos” (Jo 10,10). Não podemos aceitar passiva-
mente episódios como o assassinato do líder indígena Wajãpi, morto de forma violenta na última semana, no Amapá, e de muitos outros que vêm tombando de forma violenta pelo fato de lutarem por justiça. Cada vez mais percebemos com clareza o discurso excludente, violento e dominador que dá origem às mais variadas formas de destruição, tanto da natureza em geral quanto da dignidade humana. Em total sintonia com os apelos do Papa Francisco, tanto na Encíclica Laudato Si’, quanto em seus muitos pronunciamentos, queremos conclamar à esperança ativa nossos confrades, os demais coparticipantes de nossa Missão Evangelizadora, a Família Franciscana e todos os irmãos e irmãs que acreditam na resistência pacífica como forma legítima e eficaz de transformação da realidade. Com estima fraterna e na certeza de que não estamos sós e contamos com a força de Deus,
Frei César Külkamp, OFM MInISTRO PROvIncIal
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FORMaçãO PERManEnTE
O EncOnTRO dE FRancIScO cOM O SUlTãO
O exercício da liderança dialógica e servidora na perspectiva franciscana
Compreensões equivocadas de liderança
Na atualidade, encontramos diversos estudos sobre o tema liderança. No livro O Monge e o Executivo, James Hunter afirma que a liderança é “a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando a atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum” (2004, p. 25). No entanto, de maneira geral, a liderança é equivocadamente compreendida como poder de dominação. Quando alguém é nomeado para um cargo, o poder sobe-lhe facilmente à cabeça e o coração fica vazio de afeição, ternura, bondade, humildade e generosidade. Assim, cai-se no extremo do autoritarismo. O líder autoritário é egocêntrico e
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autocrático (governa por e para si próprio). Decide tudo sozinho, sem permitir às pessoas a liberdade de participar do processo de organização dos trabalhos e da vida dos seus liderados. O líder dominador relaciona-se com as pessoas de forma piramidal. O poder exercido como dominação se impõe pela força e não visa aos interesses comuns, mas próprios. Temos diariamente um noticiário farto desses abusos e suas respectivas consequências nos mais diversos setores da sociedade. Por outro lado, sobressai-se um estilo de liderança mais liberal, que delega a maioria das decisões aos indivíduos ou ao grupo. Uma tal liderança justifica a sua conduta com a alegação de que deve respeitar o direito de cada um à autono-
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mia, equivocadamente entendida como “independência” dos outros, e assim também salvaguardar os seus próprios interesses. Essa forma laxista de liderar, sem objetivo ou direcionamento claro, promove cada vez mais o individualismo e a realização de trabalhos e projetos pouco alinhados à missão da corporação à qual pertencem. E não é de se supor que um líder “bonachão” como esse chame para si a responsabilidade pelos problemas oriundos de sua maneira equivocada de liderar. Enfim, a autorreferencialidade no exercício da liderança, tanto no modelo autoritário, quanto no estilo liberal, deteriora a qualidade das relações interpessoais. Com o passar do tempo, esses comportamentos provocam sintomas
Formação permanente
desagradáveis que comprometem não apenas o clima organizacional da instituição, mas também a sua razão de existir. Isso ocorre porque, quando os membros de um grupo sentem-se humilhados e desrespeitados por seu “superior”, a tendência é que fiquem desmotivados, insatisfeitos e improdutivos.
A verdadeira arte de liderar pessoas
Qual é, então, o modelo de líder de que as instituições, hoje, estão precisando? O que é ser um verdadeiro líder? Ser líder é uma missão que envolve grandes responsabilidades, como também exige autoconhecimento, inteligência emocional, autoconfiança, integridade, paixão pelo trabalho e por novos desafios, bem como um bom preparo técnico. Em qualquer equipe, o líder é essencial, pois tem a função de inspirar, motivar e colaborar para que os membros de sua equipe desenvolvam suas potencialidades, em sintonia com a missão da instituição à qual pertencem. O líder direciona o trabalho, delega, corrige, comunica, supervisiona, dá feedbacks e conduz as pessoas na direção desejada. O foco do líder não está, primeiramente, nos resultados, mas nas pessoas. As pessoas são o bem mais precioso de qualquer instituição. Ninguém quer apenas obedecer a ordens e ser cobrado pelo alcance de metas. Cada pessoa quer ser ouvida, reconhecida, valorizada e respeitada. Ou seja, quer que lhe seja possibilitado crescer, evoluir, amadurecer e prosperar como ser humano no mundo. Os resultados concretos virão como consequências da valorização de cada pessoa e do engajamento de todos nos trabalhos e projetos da organização. A especialista em liderança, Sônia Jordão, em seu belíssimo livro A Arte de Liderar, observa que “liderar é a arte de conduzir as pessoas para que façam o que é necessário por livre e espontânea vontade. É conseguir que seus liderados queiram fazer o que precisa ser
feito” (2010, p. 03). De modo que a arte de liderar consiste em fazer com que os liderados não façam o que precisa ser feito por imposição, mas livremente, por amor. E o líder consegue fazer isso sobretudo pelo seu caráter, pela sua postura de humildade, lealdade, assertividade, respeito, gentileza e empatia. O bom líder é, antes de tudo, uma boa pessoa. Liderança e lealdade estão interligadas. Consequentemente, nenhum líder de má índole, ou que se relacione mal com seus liderados, consegue a sua colaboração voluntária. Enfim, conforme considera o Papa Francisco, ser líder é ser um construtor de pontes.
o outro com inteireza de alma. Enquanto o ouvir diz respeito ao âmbito da informação, o escutar refere-se ao âmbito da comunicação interpessoal. Por fim, destacamos a importância da empatia na liderança dialógica. Somente livres e desprendidos de tudo, podemos sentir o sentir do outro e entrar em contato com o seu coração (sentimentos, emoções, escolhas, crenças etc.). A empatia leva-nos a uma compreensão cada vez maior da experiência originária do outro e a amá-lo e servi-lo com grande humildade.
Liderança dialógica franciscana: construir pontes
O gestor e pesquisador norte-americano, Robert Greenleaf, em seu ensaio The Servant as Leader, assim definiu a liderança servidora: “O líder-servidor é servidor antes de mais nada. Tudo começa com o sentimento natural de que ele quer servir, e servir acima de tudo. Então, esta escolha consciente o leva a aspirar à liderança” (1998, p. 3). A liderança servidora foca no crescimento e no bem-estar de cada pessoa e no todo da comunidade. O líder-servidor coloca as necessidades dos outros em primeiro lugar. Esse conceito de liderança servidora aplica-se perfeitamente a Jesus Cristo. Sem dúvida, o maior líder-servidor que já houve na história humana é Jesus Cristo. O poder de Jesus, “manso e humilde de coração” ((Mt 11, 29) é um poder sem poder. É poder-serviço. Ele mesmo disse que “o Filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos” (Mc 10, 45). Por outras palavras, “o bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10, 11). O líder Jesus Cristo deixou um legado de seguidores, dentre eles São Francisco de Assis. Foi com a autoridade de um servidor que o Homem de Assis recomendou aos irmãos constituídos sobre os outros que não se deveriam “vangloriar dessa superioridade mais do que
Em fevereiro de 2019, o Papa Francisco encontrou-se com centenas de líderes religiosos, nos Emirados Árabes. Na ocasião, o Sumo Pontífice recordou os 800 anos do encontro entre São Francisco de Assis e o Sultão do Egito Al-Malik Al-Kamil. O Papa remeteu-se a Francisco de Assis como a um líder inspirador e um “paradigma” da maneira correta de se relacionar com pessoas de outras crenças religiosas. Tal como o Homem de Assis promoveu a unidade na diferença entre muçulmanos e cristãos, hoje “precisamos de novos líderes, que constroem pontes, em vez de muros” (Papa Francisco). A sociedade está dividida por muros de ressentimento, ódio e polarizações ideológicas, políticas, raciais e religiosas. Nesse contexto, as religiões não podem renunciar à urgente tarefa de construir pontes, promovendo o diálogo entre as pessoas, raças e culturas. O diálogo é uma ponte que une diferenças e constrói novas possibilidades de vida. A atitude dialógica possibilita a comunicação e a intercomunicação entre as pessoas. E para dialogar são necessárias a escuta e a empatia. A escuta verdadeira não é apenas questão de ouvir com os sentidos, mas de silenciar, de desarmarse de todos os preconceitos para acolher
A liderança servidora na perspectiva franciscana
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se estivessem encarregados de lavar os pés aos irmãos” (Adm 4). Os ministros (Geral, Provincial, Custódio, Guardião, Coordenador de fraternidade) são, antes de tudo, frades menores: “E os ministros e servos lembrem-se do que diz o Senhor: ‘Não vim para ser servido mas para servir’” (Mt 20, 28), e de “que lhes foi confiado o cuidado pelas almas dos irmãos” (RnB 4, 6). Por conseguinte, o ofício de cada irmão menor é apenas servir: “E neste gênero de vida ninguém seja intitulado ‘prior’ mas todos sejam designados indistintamente como ‘frades menores’. E um lave os pés ao outro” (RnB 6, 3-4). Na fraternidade minorítica, a autoridade é exercida com coração de mãe. Francisco usa a imagem da mãe porque ela, na família, representa a solicitude cheia de abnegação e de intuição: “E cada qual ame e alimente a seu irmão como a mãe ama e nutre a seu filho” (RnB 9, 14). A atitude da mãe que “ama e nutre” é modelo de cuidado que os
encarregados do serviço da autoridade são chamados a desenvolver: “se uma mãe ama e nutre seu filho carnal (cf. 1Ts 2, 7), com quanto maior diligência não deve cada um amar e nutrir a seu irmão espiritual?” (RB 6, 8). Portanto, na ótica franciscana, ser líder é ter a habilidade de dialogar com as pessoas e ser um servidor equiparado ao que lava os pés dos outros. O modelo franciscano de coordenar uma fraternidade caracteriza-se pela presença do “Espírito do Senhor-Servo”. Francisco exorta aos seus irmãos que, ao irem pelo mundo “sejam mansos, pacíficos, modestos, afáveis e humildes, tratando a todos honestamente, como convém” (RB 3, 11). Quanto mais poder alguém tem, maior deve ser a sua disposição de servir. “Aqui, sim, deveria existir uma verdadeira competição: entre aqueles que querem servir mais” (Papa Francisco). Para concluir, gostaria de trazer à nossa reflexão uma bela passagem do Testamento de Santa Clara de Assis, que
A CriAção
ilustra de forma magnífica o modelo franciscano de liderança dialógica e servidora: Rogo também à que estiver a serviço das Irmãs que trate de estar à frente das outras mais por virtudes e santos costumes do que pelo ofício, de forma que suas Irmãs, provocadas por seu exemplo, não obedeçam tanto por dever como por amor. Seja também previdente e discreta para com suas Irmãs, como uma boa mãe faz com suas filhas, tratando especialmente de provê-las de acordo com as necessidades de cada uma, com as esmolas que forem dadas pelo Senhor. Também seja tão bondosa e acessível que possam manifestar com segurança suas necessidades e recorrer a ela confiadamente a qualquer hora, como lhes parecer conveniente, tanto por si mesmas, como por suas Irmãs (TestC 61-66).
Frei João Mannes
A Criação é para mim leitura, Livro santo do meu Deus, conteúdo, A natureza é bela, uma candura, no centro, está o amor, e o homem, e é tudo. Eu nunca vi tal maravilha assim, um mundo lindo que um artista criou, o mundo belo, uma joia, esse jardim, Que sempre em minha vida me encantou. A natureza é um livro aberto, e é voz, Mas Deus criou a bíblia, um Dicionário, Pra interpretar a Criação pra nós... Destas coisas nos falou Agostinho, Dois livros santos que Deus nos Legou, Só por amor a nós e por carinho!... Frei Walter Hugo de Almeida
1º decomunicações Setembro – DiadEMundial de oração pelo Cuidado da Criação 592 – SETEMBRO 2019
FORMaçãO PERManEnTE
Carta pós-capitular do Ministro Geral
Rev. Frei César Külkamp, OFM Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 3º andar Vila Clementino 04038-033 - SÃO PAULO SP BRASIL Roma, 23 de maio de 2019 Caríssimos confrades da Província da Imaculada Conceição do Brasil, O Senhor lhes dê a sua Paz! Venho animá-los a vivenciar com muito empenho o essencial de nossa vida franciscana como “irmãos e menores” e as decisões tomadas no Capítulo Provincial. Recordo que o CPO 2018 buscou escutar e discernir o que Deus está nos falando hoje nas mais diversas regiões onde nossos confrades vivem e atuam. De tudo que conseguimos ler nos sinais dos tempos, escolhemos três ações concretas que toda a Ordem deverá empenhar-se para atuar em vista do Capítulo Geral de 2021 (cf CPO 181-192). Olhando para nossa vida de consagrados franciscanos, “queremos
qualificar mais a nossa vida fraterna e aprofundar a nossa identidade carismática”. Concretamente “é necessário renovar continuamente o nosso empenho em dar qualidade à vida fraterna... resolver antes de tudo os notáveis problemas que dizem respeito à comunicação... é urgente um esclarecimento sempre mais preciso e um aprofundamento da identidade carismática da vocação franciscana OFM... tudo sustentado e gerado por uma mais intensa vida de oração pessoal e comunitária”. Diante da sociedade e fazendo parte da Igreja, “Com referência aos jovens queremos concretizar, em todas as fraternidades, pelo menos uma ação entre as propostas: renovar o modo de viver e de comunicar o nosso carisma, para que seja compreensível e significativo para a cultura e a vida dos jovens de hoje... estar abertos aos jovens, para escutá-los e acompanhá-los de modo autêntico e cordial; aproximar-se deles, acolhê-Ios sem julgá-los; amá-Ios com gratuidade, para o bem deles; oferecer-lhes os valores da nossa vida e missão... envolvê-los na realidade dos pobres, da Igreja e de Deus de modo mais concreto e encarnado”. Como franciscanos somos interpelados pelo nosso carisma e pelo Papa Francisco para um empenho sempre maior “com referência ao cuidado da “casa comum”. Daí que “como indivíduos, como fraternidade, como Entidade e como Ordem internacional”, queremos “fazer uma clara e SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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radical opção pelas modalidades de vida indicadas pela Laudato Si’ , para viver autenticamente o nosso carisma e empreender um caminho de conversão ecológica... na formação... incluir a experiência e a proximidade concreta às pessoas que sofrem..., dando atenção especial à ecologia humana... Encaminhar e encorajar sempre mais a colaboração com outros grupos, organizações, peritos neste âmbito e com movimentos sociais que trabalham no campo da ecologia; ter maior diálogo com os cientistas e o diálogo ecumênico e inter-religioso sobre a Laudato Si’; ajudar a traduzir a Laudato Si’ de encíclica a indicações concretas para a nossa vida e para a nossa atividade pastoral”. Repito o que transmiti no encerramento do CPO: “Para que todo este empenho seja autêntico e fiel ao nosso chamado de Frades Menores, devemos aprender desde o princípio a escutar os irmãos, a escutar-nos uns aos outros, a ouvir os sonhos e as “desilusões que cada um de nós traz consigo. Não só devemos permitir que Deus nos conduza a um amor renovado à Trindade, a Deus nas nossas vidas, mas também devemos permitir que Deus nos conduza a um amor renovado aos irmãos da Ordem. E devemos celebrar a bondade da nossa vida em fraternidade e o dom da vocação pessoal de cada um”. De acordo com o levantamento feito pelo Visitador, Frei Miguel Kleinhans, a Fraternidade Provincial passa por um movimento considerável em sua dimensão, isto é, nos últimos 30 anos diminuiu de 578 (em 1985) a 373 (em 2018). Nos últimos 16 anos saíram 281 frades! Certamente por muitas razões, algumas conhecidas por vocês e outras não. Por este motivo já pedi a vocês que iniciassem uma séria reflexão sobre o fenômeno dos abandonos da Ordem, envolvendo todos os frades da Província e também da Fundação, para tentar identificar alguns fatores que contribuem à perda da vocação franciscana. Certamente, o número não deve ser a primeira preocupação, mas sempre nos inquieta ver como tantos jovens nos procuram com entusiasmo para viver o carisma franciscano e depois de algum tempo abandonam a Ordem. Esta Província da Imaculada foi sempre muito rica de irmãos preparados fraterna e intelectualmente e ainda se mantém assim. Contudo, vejo que é importante sair um pouco da autorreferencialidade e contar com “especialistas” de fora que possam ajudar em uma análise mais objetiva com um ponto
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de vista diverso. A primeira instância certamente é a própria Conferência Brasileira. De qualquer forma devemos nos perguntar: qual é a nossa participação ou omissão neste processo de aproximação e depois de abandono? Será que nossas fraternidades são capazes de acolher, acompanhar, partilhar e também confiar em cada irmão para construir uma vida fraterna franciscana em comunhão? O Papa Francisco nos recorda que somos “Chamados a ser «peritos em comunhão»... A comunhão é praticada, antes de mais nada, dentro das respectivas comunidades do Instituto. A este respeito, convido-vos a reler frequentes intervenções minhas onde não me canso de repetir que críticas, bisbilhotices, invejas, ciúmes, antagonismos são comportamentos que não têm direito de habitar nas nossas casas. Mas, posta esta premissa, o caminho da caridade que se abre diante de nós é quase infinito, porque se trata de buscar a aceitação e a solicitude recíprocas, praticar a comunhão dos bens materiais e espirituais, a correção fraterna, o respeito pelas pessoas mais frágeis... “ (Carta Apostólica do PAPA FRANCISCO às Pessoas Consagradas, 2014). Quanto ao compromisso missionário da Província, considero que a Fundação de Angola merece continuar recebendo uma atenção especial. Sendo favoráveis ao empenho na Formação Inicial dos vocacionados angolanos, no último dia 10 de novembro nós aprovamos a abertura do noviciado em Quibala. Tenho esperança que seja uma verdadeira oportunidade para acolher os irmãos que Deus chama para viver nosso carisma naquele grande continente. Peço os confrades responsáveis que tenham o cuidado suficiente no acompanhamento personalizado para que cada noviço possa percorrer o seu caminho de encontro com o Cristo crucificado com entusiasmo e sem falsas expectativas do clericalismo. Suplicando todas as bênçãos de Deus pela intervenção da Virgem Imaculada, de São Francisco e Santa Clara. Fr. Michael A. Perry, OFM Ministro Geral e Servo Prot. 108729
Fr. Michael A. Perry, OFM Minister General
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ão é fácil reconhecer que se tem sede. Porque sede é uma dor que se descobre pouco a pouco dentro de nós, por detrás das nossas habituais narrativas defensivas, assépticas ou idealizadas; é uma dor antiga que, sem percebermos bem como, encontramos reavivada, e tememos que nos enfraqueça; são feridas que nos custam encarar, quanto mais aceitarmos na confiança”. Assim, a partir do texto de José Tolentino, Elogio da Sede, os frades
formadores da Província realizaram o seu retiro anual no eremitério de Rodeio, entre os dias 22 a 25 de julho. Os dias transcorreram entre a solidão geográfica e o silêncio pessoal. As horas canônicas, a celebração eucarística e a convivência fraterna nas refeições e no preparo delas ditaram o ritmo do retiro. Reflexão e muita partilha. Partilha da meditação diária e também das angústias e alegrias experimentadas nas casas de formação.
O tempo foi propício para renovar as forças humanas e espirituais para retomar o caminho. Foi possível sentar junto ao poço com o Senhor, através dos irmãos e beber da água pedida e oferecida pelo Senhor. Nos fez despertar para a consciência e rezar: “Senhor, eu estou aqui à espera de nada. Que é como dizer, estou aqui somente à espera de ti, à espera daquilo que me dás, à espera daquilo que és”.
Frei Jeâ Paulo Andrade SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil acolheu, no dia 02 de agosto, os votos de mais um confrade que, com isso, iniciou sua Vida Religiosa na Ordem dos Frades Menores. Numa Celebração Eucarística presidida pelo Ministro Provincial, Frei César Külkamp, no dia da Festa de Nossa Senhora dos Anjos, o noviço Frei Éverton Junior Goschel Broilo prometeu sua consagração ao serviço de Deus, da Igreja e da humanidade segundo a Forma de Vida dos Frades Menores. Ele viveu por um ano e meio o seu tempo de provação e graça do Noviciado, tendo sido conduzido pela graça de Deus através do discernimento quanto a quem era e o quanto se identificava
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com esta específica espiritualidade. A celebração da Primeira Profissão Religiosa é uma celebração eclesial na qual a Igreja acolhe o desejo do professando de viver a consagração religiosa, abençoando este compromisso de vivê-la e prometendo apoiar o jovem religioso em sua caminhada. Esta passa ser a sua identidade como religioso: uma pessoa consagrada, dentro da Igreja. A Ordem, por sua vez, acolhe o jovem professando em sua fraternidade, apoiando-o e lhe dando as condições para que possa entrar na comunhão de vivência do carisma franciscano.
Frei Rodrigo da Silva Santos
Formação e estudos
Íntegra da homilia proferida por Frei César Hoje, 2 de agosto, celebramos a Festa de Nossa Senhora dos Anjos, conhecida como “Porciúncula”. São Francisco tinha especial devoção à Santíssima Virgem e, por isso, tinha muita afeição à capela de Nossa Senhora dos Anjos. Aí deu início à Ordem dos Frades Menores e preparou a fundação das Clarissas; aí completou o curso de seus dias sobre a terra. E foi aí também que o Santo Pai alcançou a célebre Indulgência, que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas igrejas. Para celebrar tantos e tão grandes favores ali recebidos de Deus. E hoje nós rendemos graças pela vocação do Frei Éverton, que se consagra a Deus com sua Primeira Profissão. O Papa Francisco referiu-se à pequena igreja da Porciúncula desta forma: “Este lugar amado sempre foi o coração pulsante da Ordem; a Porciúncula, a ‘pequena porção’, o cantinho junto à Mãe da Igreja; junto a Maria que, por sua fé tão firme e por seu viver tão inteiramente do amor e no amor com o Senhor, todas as gerações a chamarão bem-aventurada”. “Encontraste graça diante de Deus, conceberás e darás à luz aquele que reinará eternamente”. Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, como nos refere a Carta aos Gálatas. A Porciúncula é o lugar fontal para a nossa mística. Santa Maria dos Anjos é o berço da fraternidade! Um santuário mariano-franciscano, lugar santo, dos mais frequentados em todo o mundo. É um espaço para rezar, refletir, purificar, encher-se de graça e iniciar novamente o caminho. Foi edificada no século X. Pertencia aos monges beneditinos do monte Subásio que ali alimentavam uma “pequena porção” de santuário. O que é o santuário? É um lugar sagrado onde a presença de Deus se manifesta. O mistério presente da divindade é
que determina o lugar do culto. Para nós, é um santuário porque ali viveu Francisco, ali passou Clara, ali morreu o Pobrezinho de Assis. Francisco e Clara continuam a ser mais vivos que nunca e a sua escolha de Amor é que marca definitivamente o lugar. Ali a Fraternidade se faz encontro, cresce, contagia e se comunica (Cf. 1Cel 106). A Porciúncula representa a experiência primitiva da Fraternidade, o lugar que foi reconstruído com o trabalho manual de Francisco. Ela estava próxima aos leprosários. Foi onde Francisco encontrou-se com o Evangelho e respondeu: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer de todo o coração”, que também foi adotado por Frei Éverton como seu lema nesta profissão religiosa. Foi da Porciúncula que Frei Bernardo, Frei Pedro, Frei Egídio e Frei Francisco partiram para a primeira missão. Foi ali que Clara teve seus cabelos cortados em sinal de sua consagração a Deus. E foi ali onde Clara e Francisco ceiaram juntos e o lugar se iluminou num banquete espiritual. Finalmente, foi ali que Francisco foi visitado pela irmã morte. Maria é mulher da contemplação, da escuta fiel da vontade do Senhor. Deus a transforma e a torna colaboradora do seu plano de salvação, do seu anúncio ao mundo. Francisco e Clara refizeram o caminho de Maria. “Santa Virgem Maria, não há mulher nascida no mundo semelhante a vós” (Ofício da Paixão). Para Francisco e Clara, Maria é um espelho onde é possível enxergar a ação do Espírito de Deus. Eles assumem as atitudes de Maria diante de Deus, e como ela, concebem, geram e dão à luz a Palavra de Deus, dandolhe vida e forma. Aprenderam com Maria a acolher o Cristo no seu interior para dá-lo à luz ao mundo. Assim, e por este movimento, escolheram Maria como Mãe e Rainha
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de toda a Família Franciscana. Francisco e Clara contemplam em Maria o mistério da encarnação, pois é nela que o divino e o humano se encontram. Desta contemplação de Maria, nasce um modo de ser e de viver, um caminho de comunhão mais verdadeira com Deus. Caminho que leva à conversão, no seguimento e na configuração a Cristo. Caminho de comunhão com as pessoas e com as criaturas. Bartolomeu de Pisa deu testemunho da origem da Indulgência da Porciúncula: “Uma noite, do ano do Senhor de 1216, Francisco estava compenetrado na oração e na contemplação na igrejinha da Porciúncula, perto de Assis, quando, repentinamente, a igrejinha ficou repleta de uma vivíssima luz e Francisco viu sobre o altar o Cristo e à sua direita a sua Mãe Santíssima, circundados de uma multidão de anjos. Francisco, em silêncio e com a face por terra, adorou a seu Senhor. Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas. A resposta de Francisco foi imediata: ‘Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço que, a todos quantos, arrependidos e confessados, vierem visitar esta Igreja, lhes concedas amplo
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e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas’. O Senhor lhe disse: “Ó irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho portanto o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da minha parte, ao meu Vigário na terra (o Papa)’. E imediatamente Francisco se apresentou ao Pontífice Honório III que, naqueles dias encontrava-se em Perusa e, com candura, narrou-lhe a visão que teve. O Papa o escutou com atenção e, depois de alguns esclarecimentos, deu a sua aprovação e disse: ‘Por quantos anos queres esta indulgência’? Francisco destacadamente respondeu-lhe: ‘Pai santo, não peço por anos, mas por almas’. E poucos dias mais tarde, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse entre lágrimas: ‘Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso’!”. Por isso, o grande milagre da Porciúncula é o Perdão chamado até hoje de Perdão de Assis, levado depois para todas as igrejas franciscanas do mundo inteiro, como possibilidade de receber a indulgên-
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cia plenária - o perdão de todos os pecados. É a experiência do amor misericordioso de Deus. Deus que quer salvar a todos. A Porciúncula é o lugar onde o amor de Deus transborda em perdão e misericórdia. Deus nos dá a chance de um recomeço e é preciso abrir-nos para este encontro de graça. É a vitória sobre o ódio, o rancor. É movimento para largar as armas e revestir-se de humildade. Quem experimenta a misericórdia do Pai, torna-se também misericordioso. Não há mais espaço para os conflitos. É participar do mistério da redenção, na cruz de Cristo, imagem da plena reconciliação. E aqui está você, Frei Éverton, terminando o tempo da provação e pedindo para ser recebido na obediência. A obediência no seguimento de Cristo e a viver o Evangelho segundo a forma que São Francisco viveu e propôs a nós. Hoje é um dia especial porque nos encontramos diante de tantos mistérios desta Forma de Vida que nos sugere a Porciúncula. Especialmente os que partem da Encarnação de Nosso Senhor. Você foi conhecido por Deus, consagrado e enviado conforme Jeremias, mas Ele mesmo enviou seu Espírito ao teu coração e tornou você um herdeiro. Assim, hoje todos pedimos a Deus que você, em fraternidade conosco, se abandone livre e reconciliado em Deus. Que você seja um instrumento eficaz do amor misericordioso do Pai. Amor experimentado em seu interior. Para isto, o Noviciado foi seu fundamento, para descobrir e “possuir o Espírito do Senhor e seu santo modo de operar” (RB 10,9). E amor a ser comunicado aos irmãos e irmãs do novo tempo. Um tempo carente de amor e de misericórdia. Tempo em que se cultiva o ódio, se arma e se constroem muros. Que Maria, modelo de discipulado, ensine nossa fraternidade franciscana, nossa comunidade e nossa família cristã a ser este sinal da misericórdia e do perdão, que é o jeito do amor-comunhão do nosso Deus.
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Frei Silvano é readmitido ao Noviciado e frades fazem retiro semestral
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Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) encerrou, no dia 26 de julho, o Retiro dos Frades de Profissão Temporária com a Missa de Ação de Graças na Casa de Espiritualidade Padre Zegri, junto à residência das Irmãs Mercedárias da Caridade, em Viana. O retiro, que foi assessorado pelo mestre de noviços, Frei Marco Antônio dos Santos, contou com a participação de 28 frades. Durante o retiro, procurou-se refletir sobre a dimensão do carisma franciscano tendo como base o texto: “Padres, ou seja, de Paróquias” e “Irmãos que podem ler o saltério”, de Frei Bill Short, OFM. A reflexão foi um convite a repensar a vocação a que fomos chamados e como vivê-la em fraternidade e na Igreja. Analisou-se como ser hoje religioso leigo e religioso clérigo. Os frades foram distribuídos em grupos para refletirem os temas e as questões surgidas foram apresentadas em plenário e levadas como sugestões para a fraternidade bem como ao Secretariado de Formação. Outro momento importante na Fundação Imaculada Mãe de Deus
foi a readmissão ao Noviciado de Frei Silvano Kessongo Pinto Leitura, que havia adoecido em Rodeio. Frei Silvano vestiu o hábito franciscano durante a Celebração Eucarística no dia 22 de julho, na Igreja do Mosteiro Sagrado Coração de Jesus, em Luanda, distrito urbano do Palanca, junto à fraternidade São Francisco de Assis, onde funciona a casa do Pós-Noviciado. A cerimônia se deu no dia em que a liturgia celebrava a Festa de Santa Maria Madalena e foi presidida pelo presidente da FIMDA, Frei António
Boaventura Zovo Baza, e concelebrada por Frei Marco Antônio dos Santos e Frei João Alberto Bunga, mestre dos professos temporários. Ainda nesta celebração, estiveram presentes os confrades das Fraternidades da Porciúncula (Viana) e Santo Antônio (Kibala). Frei Silvano Kessongo Pinto Leitura é natural de Lobito, Província de Benguela.
Frei Abel Ndala Sahuma Nganji e Frei Evaristo Seque Joaquim
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Jufra realiza a primeira Feira Franciscana na Paróquia São Lucas No dia 28 de julho, a Juventude Franciscana (Jufra) realizou pela primeira vez a Feira Franciscana na Paróquia de São Lucas, localizada no município de Kilamba Kiaxi, Bairro do Palanca (Luanda). O evento teve lugar na comunidade São Marcos e contou com um número elevado de participantes, dentre os quais frades, crianças, adolescentes, jovens e alguns adultos representantes da OFS. Por iniciativa dos frades que assistem a Jufra de toda comunidade da região paroquial, actividades do género acontecerão de três em três meses com o objectivo de familiarizar as diversas fraternidades.
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A actividade teve início depois da missa das sete horas e trinta minutos com a exposição de materiais franciscanos, litúrgicos, culturais, entre outros. Os grupos subdivididos realizaram visita aos doentes e idosos da comunidade anfitriã. A feira teve como objectivo: tornar mais visível o carisma franciscano na paróquia e a interação com outros irmãos. A feira teve como lema, “onde está o meu irmão?”, a partir do qual Frei Alberto Capiñgala Martinho Sambei fez uma reflexão: “O meu irmão é todo aquele que ouve e partilha a experiência de vida comigo, seja de uma forma direta ou indireta”. Acrescentou dizendo que os irmãos, como compa-
nheiros existenciais, devem ter uma relação de irmandade que desperta o amor fraterno; o amor de união e de solidariedade, e também alertou a todos os presentes que a missão de paz nasce de um coração pacífico; fruto de uma experiência de perdão, de misericórdia e da gratuidade no seguimento de Jesus Cristo, completamente voltada aos valores escatológicos do reino de Deus: amor, justiça e paz. A actividade terminou com uma tarde recreativa como gesto de agradecimento quando o relógio marcava quinze horas.
Frei João Baptista Culiaquita
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FORMaçãO E ESTUdOS
PROFISSãO SOlEnE
No caminho da perfeição e da caridade no serviço a Deus
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Província da Imaculada Conceição do Brasil e a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola celebrarão o ingresso definitivo na Ordem dos Frades Menores de cinco jovens frades no dia 8 de setembro, na Celebração Eucarística, às 10 horas, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ). Os futuros professos são os jovens angolanos Frei Canga Manuel Mazoa e Frei Santana Sebastião Cafunda; e os brasileiros Frei Gabriel Dellandrea, Frei Hugo Câmara dos Santos e Frei Roger Strapazzon. Frei Marcos Antônio de Andrade, mestre do tempo da Teologia, explica que, segundo a doutrina da Igreja, «pela profissão religiosa, os membros se comprometem com voto público a observar os três conselhos evangélicos, são consagrados a Deus pelo ministério da Igreja e são incorporados no instituto com os direitos e os deveres definidos pelo direito». “Na verdade, é uma profissão pública, de um compromisso de buscar seguir mais de perto a Jesus Cristo, observando os conselhos evangélicos, de viver por todo o tempo da vida sem nada de próprio, em obediência e em castidade. E isso se dá após um per-
curso de vida que começa com a consagração batismal, passando pelo discernimento vocacional, as etapas da formação inicial na Ordem (postulantado, noviciado e profissão temporária) até o frade, de livre e espontânea vontade, com gestos visíveis, se entregar definiti-
vamente à fraternidade provincial”, detalha Frei Marcos. Para o mestre, a profissão solene, além de ser um ato próprio da vida religiosa, que acontece na presença dos frades da Ordem, é também um ato eclesial, pois a Ordem está inserida na Igreja. “Na introdução do ritual se diz: ‘O rito da profissão solene ou perpétua, se realize durante a missa e seja celebrado de preferên-
cia num domingo ou numa Festa do Senhor... e que os fiéis sejam informados a tempo sobre o dia e a hora da celebração, para que possam participar em maior número’. É a igreja que, nesse dia, irá acompanhar e testemunhar a profissão dos religiosos, especialmente com a oração e a prece”, continua Frei Marcos. Segundo ele, por ser um ato público e eclesial, o frade, mediante a autoridade do Ministro Provincial, que recebe os votos, passa a ser então incorporado definitivamente na Ordem dos Frades Menores com seus direitos e deveres. “É o momento mais importante da vida de um frade e da Província, não somente porque marca o término de uma das etapas da vida religiosa, mas porque teremos mais alguns irmãos que juntos, como diz o final da fórmula da profissão, estaremos no caminho da perfeição e da caridade no serviço a Deus, à Igreja e à humanidade”, completa Frei Marcos. Depois da leitura do evangelho, começa-se o rito na seguinte ordem: chamado do professando; apresentação de sua trajetória vocacional; diálogo com o celebrante; homilia; prostração e ladainha de Todos os Santos; profissão dos votos e bênção aos professandos. SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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ConHEçA oS FrADES ProFESSAnDoS Frei Canga Manuel Mazoa
É natural de Cazengo, Kwanza Norte (Angola), onde nasceu no dia 23 de março de 1993. Ingressou no Seminário Monte Alverne, Malange, em 2008. Vestiu o hábito franciscano no dia 12 de janeiro de 2013, em Rodeio (SC), onde fez a primeira profissão em 3 de janeiro de 2014. Concluiu o curso de Filosofia em 2016, e está no 3º ano de Teologia.
Frei gabriel Dellandrea
É natural de Timbó (SC), onde nasceu no dia 7 de outubro de 1994, porém a família sempre morou em Rodeio (SC). Em 2009, ingressou no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP) e vestiu o hábito franciscano em janeiro de 2013, em Rodeio (SC), onde fez a primeira profissão em 3 de janeiro de 2014. Concluiu o curso de Filosofia em 2016. Fez Ano Missionário em 2017 e cursa o 2º ano de Teologia. Frei Gabriel é irmão de Frei Daniel Dellandrea.
Frei Hugo Câmara dos Santos
É natural do Rio de Janeiro, onde nasceu no dia 25 de março de 1988. Ingressou no seminário de Agudos e vestiu o hábito franciscano em janeiro de 2013, em Rodeio (SC), onde fez a primeira profissão em 3 de janeiro de 2014. Concluiu o curso de Filosofia em 2016. Fez o Ano Missionário em 2017 e cursa o segundo ano de Teologia.
Frei roger Strapazzon
É natural de Blumenau (SC), onde nasceu no dia 18 de janeiro de 1984. Ingressou no Aspirantado em Ituporanga e vestiu o hábito franciscano no dia 12 de janeiro de 2012, em Rodeio (SC), onde fez a primeira profissão em 3 de janeiro de 2013. Concluiu o curso de Filosofia em 2015. Fez o Ano Missionário em 2014 no Serviço Franciscano de Solidariedade (São Paulo) e, em 2015, em Angola. Atualmente cursa o 2º ano de Teologia.
Frei Santana Sebastião Cafunda
Natural de Malange (Angola), onde nasceu no dia 11 de março de 1990. Ingressou no Seminário Monte Alverne, Malange, e vestiu o hábito franciscano no dia 2 de abril de 2012, em Rodeio (SC). Fez a primeira profissão em Luanda (Angola) em 16 de Março de 2013 e concluiu o curso de Filosofia em 2015. Está no 3º ano de Teologia.
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De volta ao Noviciado de Rodeio
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ito frades fizeram retiro em vista da profissão solene em Rodeio (SC), Noviciado São José, de 2 a 28 de julho. Desses, cinco da Província da Imaculada Conceição do Brasil: Frei Canga Manuel Mazoa, Frei Gabriel Dellandrea, Frei Hugo Câmara dos Santos, Frei Roger Strapazzon, Frei Santana Sebastião Cafunda e três da Província do Santíssimo Nome de Jesus do Brasil: Frei Fernando Morais, Frei Lucas Lobo e Frei Renildo da Silva. Tivemos como orientador Frei Marcos de Andrade, mestre dos frades estudantes do tempo da Teologia em Petrópolis (RJ). Ao longo dos dias retomamos e refletimos sobre vários temas já vistos, de alguma forma, no decurso do processo formativo franciscano. Nas partilhas, deu-se particular realce à vida fraterna como lugar concreto de experiências evangélicas, de encontro e de acolhida dos irmãos; a pobreza radicada no Evan-
gelho de Jesus Cristo; a oração como exercício do espírito e modelo de vida; a minoridade como modo de ser pequeno e servo de todos; a fé como convencimento e confiança no projeto do Reino; o cuidado da Casa Comum enquanto vivência profética do carisma franciscano no mundo de hoje. Da mesma forma, conservou-se tempo necessário para oração, descanso e lazer. Além do acompanhamento fraterno de Frei Marcos de Andrade, outros frades também ajudaram no andamento do retiro, participando da dinâmica e partilha dos temas, nomeadamente os confrades do Noviciado: Frei Elias Dalla Rosa, Frei Marcos Brugger, Frei Mário Stein, Frei Pedro da Silva, Frei Rodrigo da Silva e os confrades provenientes de outras fraternidades como Frei José Ariovaldo da Silva, de Petrópolis (RJ); Frei Paulijacson Pessoa de Moura, de Gaspar (SC); Frei Rafael Spricigo, de Ituporanga (SC); Frei Samuel Ferreira de Lima, de Rondinha (PR).
O retiro contou ainda com uma semana de eremitério (lugar de silêncio, contemplação e oração), onde se procurou observar a Regra de São Francisco para os Eremitérios com destaque à vida de oração – meditação da Liturgia das Horas – e a alternância de vida entre Marta (as mães) e Maria (os filhos). Igualmente, fez-se a leitura da Regra Bulada. Foi um momento de graça, de ricas experiências e de muita gratidão a Deus que sempre se fez Presença em nossa vida. O retiro foi encerrado no dia 28. Agradecemos à Fraternidade do Noviciado pelo cuidado e hospitalidade. Posteriormente, fez-se avaliação e balanço geral das experiências vividas durante esse tempo. Os confrades da Província do Santíssimo Nome farão a profissão solene no dia 14 de setembro, às 19 horas, na Paróquia de Santana, Anápolis (GO).
Frei Canga Manuel Mazoa
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Centro Filatélico Franciscano lança página no Facebook
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esde sua criação, há mais de 70 anos, o Centro Filatélico Franciscano, localizado no Convento do Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis (RJ), tem por missão arrecadar fundos para as Missões Franciscanas. Recebe selos novos e usados e também coleções vindas de todo o Brasil e de outros países. Os selos são vendidos a colecionadores e o valor é aplicado nas diversas frentes de trabalho em que os frades franciscanos atuam na missão: paróquias, projetos
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sociais, escolas, seminários, trabalhos de horticultura, entre outros. Segundo Frei Edrian Josué Pasini, coordenador do setor, a premissa que, com certeza, fez nascer o Centro Filatélico Franciscano e que o orienta até hoje como meio de ajudar as missões franciscanas é “dar valor ao que não tem mais valor”. Para ele, as diferentes formas de colaborar com a evangelização, tanto material quanto financeiramente são, notoriamente, jeitos que o nosso coração mostra e que entende como doação.
Agora, o Centro Filatélico Franciscano conta com mais uma poderosa ferramenta de comunicação: uma fanpage no Facebook. Conscientes de que, mais do que um instrumento, a rede se destaca como um verdadeiro ambiente, o propósito é de estreitar e expandir ainda mais os trabalhos mediante a recepção de selos novos e usados doados por benfeitores e vendidos a colecionadores. Frei Canga Manoel Mazoa, Frei Honorato Gaspar Gabriel e Frei Mário Sampaio Pelu atuam diretamente
EXPLiCAção DA iDEnTiDADE viSuAL
no setor e são frades angolanos provenientes da Missão Franciscana, ajudada pela Filatelia, da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), que em 2020 completará 30 anos. Para eles, a novidade apresenta outra possibilidade de aproximação entre os frades e os colecionadores, compradores, benfeitores, e outras pessoas que têm interesse ou desejam saber um pouco mais sobre selos; sobre o Centro Filatélico e sobre a evangelização dos Franciscanos na Missão de Angola. Os frades atendem no Centro Filatélico Franciscano duas vezes por semana, às segundas e quintas-feiras, das 13h30 às 16h00. O contato com os benfeitores e os colecionadores de selos é feito pessoalmente, pela internet ou por meio do telefone. “Nos-
Frei Diego Martendal é o artista do novo logotipo do Centro Filatélico. Segundo ele, a cruz ao centro lembra a Cruz de São Damião, que simboliza, juntamente com São Francisco (ao lado), o caráter franciscano do serviço. Dela nasce o cordão com os nós, que são os conselhos evangélicos, fundamentais na vivência cristã de todo religioso e, assim sendo, devem ser uma referência e um norte para qualquer ação. Ao lado da Cruz, um homem africano, com roupas típicas coloridas. Em qualquer missão, em qualquer serviço, não existem benfeitores e beneficiados. Os dois lados são beneficiados sempre. Por isso, eles estão em união no desenho. Juntos abraçam e apontam para Cristo. Se a missão não tem por rumo a Jesus Cristo, ela fica decadente, vazia. Os selos podem ser vistos atrás dos dois personagens. Neles, o que pode parecer rabiscos para alguns, são os símbolos do Brasil e de Angola, como a palanca negra, a arara, o Cristo Redentor. A onda significa caminho, numa espécie de mosaico, que leva as cores dos dois países e que vai se expandindo à medida que se distancia do centro, representando o caráter autônomo da missão. “Assim como a arte, mesmo que se tente controlar a missão, ela se desenvolve sozinha, porque não é fruto de alguém especial, não é de nossas mãos que saem, mas sim da bondade e gratuidade de Deus”, explica o autor.
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so Centro já não é tão novo assim. Tem mais de 50 anos de existência, por isso, muitos já o frequentam com bastante regularidade”, destaca Frei Canga. Segundo Frei Mário, uma página no Facebook facilitará a interação e a divulgação dos trabalhos com o público. “Favorecerá novas possibilidades de contato e de aproximação entre nós e os colecionadores, compradores, benfeitores, e outras pessoas que têm interesse em saber mais sobre os selos, nosso Centro ou sobre a Evangelização dos Franciscanos na Missão de Angola”, ressalta. Para Frei Honorato, os selos são portadores de conhecimento histórico -artístico e proporcionam lazer e passatempo aos colecionadores. “Quanto mais antigo e conservado for um selo, de tiragem limitada ou escassa, mais valioso ele será”, revela. Uma nova identidade visual foi confeccionada para acompanhar o lançamento. Idealizada por Frei Diego Martendal, frade professo temporário da Fraternidade São Boaventura, de Campo Largo (PR), os traços apontam para o Cristo. “Como plano de fundo temos os selos e neles vemos os símbolos dos países onde nossa Província se encontra: Angola e Brasil”, explicou. Veja a explicação completa abaixo.
Acompanhe a entrevista com Frei Edrian Josué Pasini, coordenador do setor.
Site Franciscanos - O que é o Centro Filatélico Franciscano? Frei Edrian - É uma central de cap-
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Frei Canga e Frei Honorato
tação de recursos financeiros localizada no Convento do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), com a finalidade de ajudar na manutenção das missões evangelizadoras da Província Franciscana da Imaculada Conceição
do Brasil. Essa captação é feita principalmente mediante a recepção de selos novos e usados doados por benfeitores e vendidos a colecionadores. Site Franciscanos - Qual é o principal objetivo? Frei Edrian - Desde a sua criação, na década de 1940 (oficialmente em 1948), o objetivo do Centro Filatélico Franciscano continua sendo o de
auxiliar a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil na manutenção das obras missionárias pelo mundo, fazendo-se presente em anos passados no Chile, e atualmente no Mato Grosso e em Angola, na África. Há iniciativas de missão na Ilha de Marajó (PA), Diocese de Barra (BA) e Iguatemi (MS, em aldeia indígena). A serviço da Ordem Franciscana, os frades estão em missão na Terra Santa e no Marrocos. Em missão evangelizadora, a Província Franciscana está presente nas terras angolanas desde 1990, com seu carisma próprio, marcantemente franciscano. Com a ajuda também financeira, mantém cinco fraternidades em quatro lugares: Luanda, Viana, Malange e Quibala, onde há projetos socio-educacionais e de formação de novos frades, de fomento agrícola, além do trabalho paroquial. A realidade em Angola, talvez não diferente de muitos locais do Brasil, necessita de ajuda tanto material quanto espiritual, apresentando-se como lugar privilegiado de missão, pois é intensa de fraturas sociais após
Formação e estudos
cadado é disponibilizado para a Frente das Missões, do Secretariado para a Evangelização da Província que, como dito antes, reenvia para a missão franciscana em Angola, e é aplicado em projetos sociais, em trabalhos de incentivo e reestruturação agrícola, na compra de alimentos, remédios, livros, na formação e educação. a guerra civil que açambarcou o país entre os anos de 1975 a 2002. Torna-se importante recordar que a inspiração de ir em missão vem de São Francisco de Assis, que admoestava os frades a partirem para outros ambientes, justamente onde estão os mais empobrecidos, levando a Palavra de Deus. É o que o Papa Francisco hoje interpela a todos como “Igreja em saída”. Site Franciscanos - Como se organiza o setor? Frei Edrian - Através de anúncios, feitos sobretudo pela Folhinha do Sagrado Coração de Jesus (calendário anual publicado pela Editora Vozes), em que se solicita aos leitores a doação de selos novos e usados. Salienta-se aqui que os benfeitores que não possuem selos ou nem têm o hábito de os colecionar, podem colaborar financeiramente por meio de depósito em conta. No Centro Filatélico Franciscano é feita, então, a triagem do material que chega, observando a importância de cada selo, em vista da venda direta aos colecionadores. Nossos frades estudantes do tempo da Teologia têm o trabalho de identificar e valorizar os selos e os vender por peso. Em dias específicos, os compradores os buscam pessoalmente. Para os que residem mais distantes, os selos são enviados via Correios. Os frades também mantêm contato com os benfeitores através de e-mails, cartas e cartões, enviando-lhes uma mensagem
evangelizadora em épocas fortes do ano como Páscoa e Natal. Site Franciscanos - Estar presente nos meios digitais, agora com uma página no Facebook, favorecerá um engajamento maior com o público? Além de comunicar, informar e divulgar os trabalhos do Centro Filatélico, qual a novidade e a perspectiva para o futuro? Frei Edrian - Para quem não sabe, a filatelia é um negócio rentável que movimenta colecionadores pelo mundo todo. Os novos meios de comunicação servem para melhorar e viabilizar o conhecimento e uma fanpage no Facebook irá colaborar como uma plataforma de maior contato do Centro Filatélico Franciscano com o público, formado tanto de benfeitores quanto de colecionadores. Para estes, a página funcionará principalmente como canal de compra, facilitando e agilizando a amostragem do acervo e apontando novidades. Espera-se que o Centro Filatélico ganhe assim, uma cara mais de negócio, saindo um pouco do jeito caseiro que até então é feito. É bom lembrar que o objetivo sempre é o de angariar fundos para as missões franciscanas e, nesse sentido, acompanhar as inovações da comunicação torna-se uma consequência de natural importância.
Site Franciscanos - Deixe uma mensagem sobre a importância da filatelia. Frei Edrian - Dar valor ao que não tem mais valor. Essa é a premissa que, com certeza, fez nascer o Centro Filatélico Franciscano e que o orienta até hoje como meio de ajudar as missões franciscanas. As diferentes formas de colaborar com a evangelização, tanto material quanto financeiramente são, notoriamente, jeitos que o nosso coração mostra e que entende como doação. É, sim, também modo de ser “Igreja em saída”. Se alguém tem, pois, selos novos e/ou usados, e não lhes dá importância, saiba que eles podem ser úteis para as missões franciscanas. Para colaborar, recorte os selos usados dos envelopes (deixe uma margem de papel ao redor) e envie para: Centro Filatélico Franciscano Caixa Postal 90023 CEP 25689-900 – Petrópolis – RJ
Mais informações:
E-mail: filatelico@franciscanos.org.br Tel.: (24) 2242-6915 (às segundas e quintas-feiras)
Frei Augusto Luiz Gabriel
Site Franciscanos - Como os recursos recebidos são enviados para a Missão em Angola? Frei Edrian - Todo dinheiro arreSETEMBRO de 2019 – comunicações
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Emoção e fé no Convento da Penha
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erca de 3 mil fiéis participaram da Caminhada Penitencial do Perdão de Assis, no Convento da Penha, em Vila Velha (ES). A celebração teve início às 19h30, em frente à Igreja do Rosário, na Prainha. Os frades acolheram os caminhantes, que percorreram, com velas acesas, aproximadamente 3km, cantando e rezando em direção ao Santuário da Graça e do Perdão. No Campinho do Convento, os fiéis foram acolhidos por Frei Paulo César Ferreira, que os recebeu com música suave, no estilo “voz e violão”. Ele interpretou canções do Padre Zezinho e melodias que levaram os participantes a rezar cantando, refletindo o infinito amor de Deus pela humanidade. Quando as luzes do Campinho e do Convento se apagaram, foi a vez de Laila Eler, Rômulo Madureira,
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Gabriel Spalla e voluntários entrarem em cena. Para reforçarem ainda mais o clima orante e meditativo, eles cantaram a música “Doce é Sentir”, enchendo de emoção os participantes. Em seguida, foram acesas as luzes das colunas do Convento e da mata, proporcionando um cenário encantador. Na sequência da apresentação, São Francisco de Assis, interpretado pelo jovem Mateus Maretto, apare-
ceu entre as palmeiras do Campinho, cantando e encenando a Oração pela Paz. “Cristo, quero ser instrumento de Tua paz...”. Francisco andou no meio das pessoas e foi até o palco, transformado em “Cidade de Assis”, com a Porciúncula, um jardim florido e um “objeto” encoberto por um tecido preto. Na primeira parte da apresentação, o jovem de Assis contemplou ajoelhado a
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Cruz de São Damião, que estava com o tecido que foi retirado. Um dos grandes momentos da apresentação foi São Francisco entoando “Perdão e Alegria”: “Se soubermos perdoar, muita coisa mudará. Nascerá neste planeta, uma nova geração. Mudará talvez a história, se soubermos perdoar”, levando os devotos à alegria do perdão do Senhor. A apresentação foi montada por voluntários e amigos do Convento da Penha, com roteiros e direção de Gabriela Spalla, Valéria Tanure e Zilma Rita, com apoio de Ivone, Vinícius, Nadir. Terminada a apresentação, Frei Paulo Roberto Pereira, guardião do Convento, falou sobre o rito da Indulgência Plenária. “Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam pelo teu amor e suportam as enfermidades e tribulações. Esta Penha abençoada é lugar privilegiado do encontro com o vigor de Deus e com a capacidade de reconstruir pontes. Ao caminheiro que aspira intimidade com o Senhor é dada a água revigorante da bênção divina. Lugar da graça abundante, graça que encoraja e reanima esta casa. A Casa da Senhora das Alegrias, feita por mãos humanas, é a casa da mão de Deus estendida, mão reveladora da misericórdia e da bondade que perdoa e que restaura…”, disse. Em seguida, pediu que levantassem as
velas e olhassem para quem estivesse por perto. Pediu também que se agradecessem uns aos outros. Frei Paulo ainda destacou a importância do perdão, pois, segundo ele, “o perdão nos cura, o perdão nos liberta”. Ainda na exortação, o guardião lembrou os males que muitas vezes alimentamos em desfavor do bem e da paz, além das atitudes que isolam a possibilidade do perdão. “Se alguém ainda tiver a tentação de repetir a velha justificativa ‘perdoar é difícil demais, afinal somos humanos’, nós muitas vezes repetimos essa máxima tentando nos confortar e nos justifi-
car, mas é exatamente por isso, por sermos humanos que o caminho do perdão é possível. Somos inteligentemente escolhidos, e por isso podemos escolher o que nos aproxima do paraíso (do irmão) ou que nos afasta do paraíso”. E encerrou pedindo que olhassem para o Convento e cantassem o perdão. Ainda no Rito da Indulgência, Frei Alessandro Dias fez a Profissão de Fé, e Frei Paulo César concedeu a absolvição dos pecados. “A noite de perdão deve proporcionar a restauração do nosso próprio coração. O perdão que desejamos deverá começar dentro de nós mesmos”. A pequena Júlia Trindade e seu papai Fábio Trindade encenaram e interpretaram a canção “Haja mais amor, a começar em mim”, emocionando a todos. A noite foi encerrada com a bênção final, dada pelos freis. A Igrejinha de São Francisco de Assis foi iluminada e assim finalizou-se a celebração.
Assessoria de Comunicação do Convento SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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Ministro Provincial: um dia inteiro com as Irmãs Clarissas
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o dia 11 de agosto nem foi preciso oferecer ovos para Santa Clara, como remonta a tradição, para garantir um dia de céu azul e tempo firme. Nos Mosteiros das Irmãs Clarissas de Nova Iguaçu (RJ) e Irmãs Clarissas da Gávea, no Rio de Janeiro, as festividades aconteceram durante todo o dia. O Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, Frei César Külkamp, presidiu a primeira Celebração Eucarística, às 11 horas, na Gávea e concluiu as festividades em Nova Iguaçu. Segundo o Ministro Provincial, seremos cristãos, franciscanos ou clarissas, autênticos se nos consagrarmos à alegria de quem vive com o Senhor. “Desta forma, estaremos abrindo nossa Fraternidade, nossa Comunidade e
nossas famílias à ação de Deus e permitindo que esta grande santa, ainda que um vaso de barro, como todos nós, traga um pouco mais de claridade, de brilho à Igreja e ao mundo de hoje”. A Santa Missa em Nova Iguaçu contou com a Celebração do Trânsito de Santa Clara e com a presença dos frades estudantes de Teologia de Petrópolis (RJ), além de religiosas franciscanas dos mais diferentes institutos e devotas da santa padroeira da televisão. As Irmãs Clarissas de Nova Iguaçu têm motivos de sobra para celebrar, pois neste ano estão celebrando o Jubileu dos 30 anos de inauguração do Mosteiro dedicado a Santa Clara, que marcou uma época e trouxe para a Igreja uma inspiradora história de amor, devoção e fé.
vEJA A ÍnTEgrA DA HoMiLiA DE FrEi CÉSAr KÜLKAMP: - Queridas irmãs de ideal e de vida, nossas irmãs Clarissas; - Caros confrades aqui presentes, filhos também no espírito e no ideal de nossa Mãe, Clara de Assis; - Queridas irmãs religiosas franciscanas dos mais diferentes institutos; - Demais irmãs e irmãos presentes, a todos vocês, Paz e Bem!
Celebramos hoje, em espírito de Fraternidade, esta solenidade que nos transporta para o trânsito de Santa Clara. Lá, no dia 11 de agosto de 1253, quando ela deixou este mundo como um dom precioso a todo o Povo de Deus. Não celebramos apenas como um dia festivo, mas como uma opor-
tunidade de nos deixarmos tocar pela provocação da vida e do ideal desta seguidora mais perfeita de nosso Pai São Francisco. Aquela que ele cultivou como sua “plantinha”. Por isso, ela é para nós “mestra” neste seguimento de Cristo ao modo de Francisco. E, na sua criatividade, soube colher aquilo que é o coração e SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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Celebração na gávea o drama de todo o movimento franciscano. Por isso, hoje celebramos o nosso carisma franciscano. Em seu ideal apaixonado e apaixonante, Clara nos provoca a tomarmos, também nós, um lugar nesta grande história de seguimento radical dos passos do Cristo. Seu testemunho marcou a vida de uma multidão de fiéis, não só entre suas irmãs ou dentro da Ordem Franciscana, mas desde papas e reis até os mais simples e pequeninos que conseguiram ver nela, como num espelho, o reflexo de Jesus Cristo, pobre e crucificado. A Clara de Assis nobre, rica e bela não pôs nestes atributos os valores maiores de sua vida. Desde os primeiros anos, esforçava-se em amar profundamente o Cristo. Assim, foi percebendo em si o chamado para uma missão maior. Aspirava por uma vida com mais sentido. Ouvimos em sua carta a Santa Inês de Praga como ela insiste no olhar cotidiano ao espelho que é o Cristo para nele examinar-se e a partir dele tornar-se inteiramente revestida e adornada com as sublimes virtudes: a feliz pobreza, a santa humildade e a inefável caridade. O referencial de Clara é o Cristo e não Francisco. Mas foi o olhar afinado por essa contínua contemplação que a fez observar de longe e, cada vez com mais atenção, a transformação
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ocorrida em Francisco, sua renúncia aos bens e à família, os seus primeiros seguidores e o estilo de vida que levavam. Foi percebendo neles o encontro com o verdadeiro significado da vida, a plena felicidade. Em 1210, assiste às pregações de Francisco e sente que o ideal a ser buscado é este. Depois de muitas conversas com ele, aos 18 anos, numa noite de Domingo de Ramos, em 1212, Clara foge de casa e vai ao encontro dele e de seus frades que fazem a sua consagração na igrejinha da Porciúncula. Desde o início, com a sua firmeza de mulher decidida, resistiu a todas as tentativas de afastá-la deste ideal. Logo vieram as primeiras companheiras e foram morar juntas no Conventinho de São Damião. Nasce assim
a II Ordem Franciscana, a Ordem das Clarissas, das seguidoras de Francisco. O início foi duro: extrema pobreza, instabilidade de moradia e sustentação. Ela mesma escreve em sua Regra sobre as tantas afrontas, humilhações e desprezos que fizeram amadurecer a opção tomada. Muitas destas seguidoras de Clara e Francisco se tornaram grandes exemplos de santidade para toda a Igreja. A vida de Clara é pouco conhecida porque não foi vivida com grandes realizações como tanto se valoriza no mundo de hoje. O impressionante nela é a qualidade do amor vivido diariamente numa relação direta com Deus: tempo, espaço, trabalho, repouso, silêncio, Palavra. E a escuta atenta da Palavra, novamente este espelho que reflete muito claramente o próprio Cristo, leva-a a uma vivência muito concreta de seus valores. A forma de vida, por ela escrita, tal como a de Francisco, consiste em viver o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo (RCl I, 1-2). De todos estes valores, destaco, hoje, apenas três, mas que são valores centrais extraídos do Evangelho na vida de Clara: - A Vida Contemplativa para Clara não significa simplesmente viver no isolamento, fechada pelas paredes de um claustro. É, acima de tudo
Celebração em nova iguaçu viver como consagrada, na escuta constante de Deus, ou seja, uma vida habitada por Deus. É a virgem atraída ao deserto de que nos fala o Profeta Oseias, na primeira leitura. O deserto é o silêncio, a escuta da contemplativa, que aí pode ser desposada com benevolência e ternura. Ou é a conexão do ramo à videira, da contemplativa ao seu Senhor, de onde pode sorver o amor que gera vida e frutos. - A vida em fraternidade é o lugar teológico da vivência do Evangelho, onde, no cuidado de cada irmã, aprende-se da relação com Deus a “conservar a unidade da recíproca caridade” (RCl X, 7). Assim como Deus nos ama e acolhe sempre de novo com o mesmo amor misericordioso, apesar de todas as nossas imperfeições e infidelidades, não cabe à irmã outra postura senão a comunhão amorosa que vê, em quem está do lado, o “presente” do Senhor. Este é um belo fruto de Seu amor. - A vida sem nada de próprio ou a guarda da santíssima pobreza é o elemento que não é negociável. É a opção de fundo que inspira a decisão de viver “a perfeição do santo Evangelho” (Fv1). Como Francisco, Clara é apaixonada pela pobreza e faz dela o itinerário de sua vida. Luta para alcançar o “Privilégio
da Pobreza”, ou seja, o direito de não ter propriedades. Não queria que seus mosteiros tivessem formas seguras de manutenção. Viver na precariedade, sentir falta até das coisas necessárias, faz parte desta aventura evangélica e da aposta na confiança total ao Deus amor e providência. O pequeno ramo que vive da videira. Com estes valores podemos perceber como Clara tornou-se mestra da nossa rica espiritualidade franciscana e esta luz que brilha e afasta as trevas do mundo. Ela tem muito a nos dizer. Não só em palavras, mas principalmente com o seu testemunho vigoroso. Testemunho este que também sustentou os frades da origem, órfãos de Francisco. Uma fortaleza que emanava da condição frágil e enferma daquela mulher em seu leito.
Nós temos hoje a tentação de falar demais, de interpretar a vida. Nós estudamos, refletimos sobre a pobreza; Clara casou-se com ela. É mais fácil falar e questionar do que viver. Clara é uma expressão da vivência radical do Evangelho: vivê-lo e nada mais. Mas, não faz isso com dureza. Coloca os valores essenciais do cristianismo no modo cotidiano, simples, fraterno e feminino de viver. E aquele desejo de menina, de buscar um sentido maior para sua vida se concretiza na clareza de sua vocação. Seu testemunho clarividente é, para nós, uma garantia de que viver assim é possível. Seremos cristãos, franciscanos ou clarissas, autênticos se nos consagrarmos à alegria de quem vive com o Senhor. Desta forma, estaremos abrindo nossa Fraternidade, nossa Comunidade e nossas famílias à ação de Deus e permitindo que esta grande santa, ainda que um vaso de barro, como todos nós, traga um pouco mais de claridade, de brilho à Igreja e ao mundo de hoje. “Quem permanecer em mim e eu nele, dará muito fruto. Meu Pai será glorificado, se derdes muito fruto, e assim sereis meus discípulos” (Jo 15, 5.8). SETEMBRO de 2019 – comunicações
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cOnvEnTO SãO FRancIScO
“Clara de nome, palavra e virtude”
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anta Clara não é uma santa meiga, fofinha. Ela é mãe, mestra, exigente, dura, porque tem no horizonte o seguimento a Cristo Senhor”. Foi assim que Frei Fidêncio Vanboemmel definiu Santa Clara, cuja festa foi celebrada dia 11 de agosto. No Santuário e Convento São Francisco, no centro de São Paulo, o movimento foi intenso durante a manhã do domingo. Foram celebradas quatro missas, às 7h30, 9h, 10h30 e 12h. A Missa das 10h30 foi presidida por Frei Mário Tagliari, guardião do Convento, e concelebrada por Frei Fidêncio Vanboemmel, moderador da Formação Permanente da Província da Imaculada. Frei Fidêncio, que pregou o Tríduo em preparação para a festa de Santa Clara desde a quinta-feira (8),
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fez a homilia. O frade destacou um aspecto da primeira leitura, extraída do livro do profeta Oseias (Os 2,16.17b,21-22), onde o povo de Deus é comparado à esposa, que é conduzida por Deus ao deserto para ser instruída pelo Senhor. Ele recordou que Santa Clara, em sua juventude, estava destinada ao matrimônio. Vinda de família nobre, ela recebeu a preparação comum em seu tempo para ser esposa e mãe. Mas discerniu que o Senhor lhe preparava outro caminho. “Em determinado momento, ela abandona as regalias que tinha para fazer-se pobre e recolhe-se na igreja de São Damião, onde faz a experiência da mulher qual esposa, que se deixa encantar e permitiu que Deus falasse profundamente ao seu coração”, ressaltou Frei Fidêncio.
Segundo o frade, da experiência profunda de oração e encontro com o Senhor, nasceu o enamoramento de Clara pelo Rei dos Reis, Jesus Cristo. Para demonstrar a profundidade do amor que Clara sentia pelo Senhor, ela usa em suas cartas uma linguagem muito feminina, esponsal e mística, como por exemplo na primeira carta a Inês de Praga: “Arrasta-me atrás de ti! Corramos no odor dos teus bálsamos (Ct 1,3), ó esposo celeste! Vou correr sem desfalecer, até me introduzires na tua adega (Ct 2,4), 32 até que tua esquerda esteja sob a minha cabeça, sua direita me abrace (Ct 2,6) toda feliz, e me dês o beijo mais feliz de tua boca (Ct 1,1).” “Só a mística, a espiritualidade profunda e a pureza de coração são capazes de fazer com que entenda-
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mos o que Clara estava dizendo naquele momento a outra mulher – Inês de Praga – sobre a união mística com o Senhor. É como a mulher que quer ser abraçada pelo marido, pelo seu amor”, explicou o pregador. Segundo ele, foi por causa de sua vida de oração e sua profunda relação com o Senhor que Clara tinha tanta certeza sobre seu caminho, mesmo tendo consciência de sua fragilidade. “Ela tinha consciência de que ela carregava em seu coração este vaso de barro, que ela mesma experimentou em sua fragilidade, sua pequenez e na pequenez e humildade de todas as irmãs. Mas diz que, mesmo dentro de nossa fragilidade humana, não podemos extinguir o que vem de Cristo, que conduz e ilumina a nossa vida”, afirmou Frei Fidêncio. Para o pregador, Clara transmitiu às irmãs e transmite a todos os cristãos sua receita para um seguimento fiel a Jesus Cristo: olhar todos os dias para a cruz como um espelho. “Colocar-se diante de Cristo significa estar num
permanente estado de atenção a Jesus Cristo, porque assim nascerão os frutos para a Igreja, para a sociedade e para o mundo. Conservemos também, nós, este exercício que precisamos fazer como cristãos: colocar-nos diariamente diante de Cristo Senhor. Na medida em que permanecermos em Cristo, vamos nos adornando com as exigências do Evangelho, transformando-nos e irradiando ao mundo a beleza da santidade que Santa Clara viveu”, concluiu o frade. Ao final da missa, antes da bênção de Santa Clara, Frei Mário Tagliari chamou todos os pais para um momento especial. Ao som da música Utopia, do Padre Zezinho, os pais rezaram diante
da imagem da santa franciscana. Depois, toda a comunidade inclinou as mãos para abençoar os pais.
TrÍDUO
Frei Fidêncio pregou o Tríduo em preparação para a Festa de Santa Clara com o tema geral: “Clara de nome, palavra e virtude”. No primeiro dia, falou do nome Clara: “Não gostamos quando usam nosso nome para nos difamar ou usam para outros pejorativos. Nós sofremos porque sabemos da sacralidade que está por trás do nome próprio”. No segundo dia, segundo Frei Fidêncio, Clara passa a ser Palavra e Eloquência de uma nova modalidade de vida, ousada e inusitada naquele contexto medieval; e no último dia, Frei Fidêncio destacou duas virtudes muito significativas em Santa Clara: a castidade e a humildade. O pregador lembrou que o tema deste Tríduo foi inspirado no início da biografia de Santa Clara, escrita logo após a sua canonização, em 15 de agosto de 1255.
Érika Augusto SETEMBRO de 2019 – comunicações
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Angola: Frades celebram Santa Clara com as Irmãs Clarissas em Palanca
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este XIX domingo do Tempo Comum, a Igreja celebrou a festa de Santa Clara. A Missa no mosteiro de Palanca foi presidida pelo presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus (FIMDA), Frei António Boaventura Zovo Baza, e concelebrada por Frei João Bunga e Frei João Baptista Chilunda Canjejenga, com a presença do diácono Frei José Morais Cambolo. As irmãs e os frades estudantes foram responsáveis pela animação. Durante a homília, o presidente da celebração refletiu sobre a santidade, convite que Jesus faz a todos sem distinção, quer seja pobre ou rico, religioso ou religiosa, leigo ou clérigo, vida religiosa consagrada ou laical. A este convite de Jesus responde-se com o sim que cada um dá nas pequenas
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coisas e gestos do dia a dia. “Para entender a entrega, na qual consiste a vida religiosa, tem-se de compreender que, antes de tudo, existe uma profundo amor a Cristo”, disse o celebrante. “Hoje, Santa Clara nos ensina e nos encoraja a renovar a nossa disposição de ser sinal do Evangelho onde quer que cada um esteja”, acrescentou. A festa de Santa Clara foi precedida de uma novena que teve o seu início no dia 2 de agosto. Em cada dia refletiu-se sobre uma temática da vida da mãe seráfica, e cuja condução foi intercalada entre frades e irmãs do do Sagrado Coração de Jesus. Na véspera da festa, no sábado (10/8), celebrouse o trânsito de Santa Clara, momento este em que recordamos, a partir das Fontes Fraciscanas e Clarianas, o seu amado encontro com a irmã morte. A bênção final foi dada pela abadessa. Na sexta feira (9/8), aconteceu a vigília em preparação à solenidade. Houve um momento teatral protagonizado pelos frades e algumas vocacionadas, representando o ingresso
de Clara de Assis à vida religiosa franciscana. O dia solene de Santa Clara contou com a presença de distintas religiosas da Família Franciscana, aspirantes, postulantes, fiéis vindos de diversas regiões da capital. Após a
Missa seguiu-se o momento de confraternização no locutório do convento, onde se cortou o bolo e parabenizaram-se as irmãs.
Frei Abel S. Nganji e Frei Evaristo S. Joaquim
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Colatina: festa para a Padroeira
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este mês de agosto, a Paróquia Franciscana de Colatina celebrou sua Padroeira Santa Clara de
Assis. No de 4 de agosto, a festa paroquial foi celebrada em uma das comunidades rurais, tendo como tema: “Festa da unidade da Paróquia Santa Clara”, pois envolveu as 20 comunidades da Paróquia e todas contribuíram na parte religiosa e recreativa. A Missa foi presidida pelo pároco Frei Roberto Aparecido Pereira, tendo presentes Frei Jeferson Palandi Broca, Frei João Pereira Lopes e Frei Danilo Santos Oliveira, frades desta fraternidade. Em sua homilia, Frei Roberto destacou a audácia e a coragem de Santa Clara no seguimento de Jesus Cristo, despojando-se daquilo que o mundo oferecia para abraçar o bem maior que é Deus. Desse modo, falou aos líderes das comunidades a terem a mesma coragem de Clara e terem os olhos fixos naquele que os chamou para servir à messe, e dar a resposta generosa, sem reservas, a serviço do reino, que também remete à paixão vivida por Cristo, de morrer para si mesmo e viver para o Senhor. Após a Missa, a procissão com a imagem da santa percorreu as ruas do bairro e o povo pôde expressar sua devoção particular com cantos e orações. Em seguida, a festa se estendeu com a parte recreativa. No dia 10 de agosto, no Mosteiro Santíssima Trindade, das Irmãs Clarissas, houve o trânsito de Santa Clara, aberto à participação de toda a
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comunidade. Juntamente com as vésperas da solenidade, foram meditadas algumas passagens da vida de Santa Clara. E, no dia 11, com as Clarissas foi celebrada a solenidade de Santa Clara, com a Missa presidida pelo bispo diocesano Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias, concelebrada pelos freis e padres diocesanos. Foi um momento de grande júbilo para a Família Franciscana. O mosteiro também acolheu uma jovem para iniciar seu discernimento vocacional juntamente com as outras irmãs. O bispo diocesano saudou os presbíteros presentes, em especial os freis franciscanos, que “muito o alegram com sua presença na Diocese de Colatina”. Destacou o presente de Deus que as
irmãs contemplativas são na Diocese, através de seu testemunho de vida e oração. Parabenizou pelo trabalho permanente realizado pelas Irmãs Clarissas na oração diária, pelas famílias, pelas Paróquias, pela Diocese e pelo mundo inteiro. Iniciou sua homilia pelos contextos históricos em que Santa Clara de Assis assumiu sua fé. Rememorou a relação de Clara e Francisco com a Cruz e o convento de São Damião, bem como com a Porciúncula de Nossa Senhora dos Anjos. Enfatizou como características de Santa Clara a sua força e coragem com que expulsou os sarracenos do Convento e que, por sua fé, salvou aquela comunidade. Pediu que, a exemplo de Santa Clara, a comunidade pudesse, no mês de agosto, dar especial atenção às vocações, pois a Igreja carece de vocacionados. Encerrou parabenizando as Irmãs Clarissas pela solenidade de Santa Clara, estendendo as congratulações aos frades, benfeitores, paroquianos, fiéis e todos que se propuseram a estar presentes naquela festa franciscana. Após a Missa, os freis, padres e o bispo participaram do almoço festivo com as Clarissas. Que Santa Clara interceda por todos! Paz e Bem!
Frei Danilo Santos Oliveira SETEMBRO de 2019 – comunicações
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Frei olavo
100 anos Ele chegou lá!
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Muito obrigado, Frei Olavo, pelo seu generoso testemunho de vida!
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lhando para o sr., Frei Olavo, com os seus 100 anos, vemos um luminar, um testemunho e uma certeza. Olhando para sua vida, com certeza podemos afirmar: vale a pena viver. Vale a pena ser frade menor, vale a pena ser sacerdote franciscano, vale a pena apostar a vida na causa de Cristo e do seu reino. Muito obrigado, Frei Olavo, pelo seu generoso testemunho de vida! Que Deus o abençoe sempre mais, para que possamos celebrar ainda muitas vezes a sua vida e esse dom que sua vida é para nós. Parabéns!”. Foi deste sentimento, de todos os parentes, amigos e confrades, presentes e ausentes, que o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, foi porta-voz no domingo, 4 de agosto, na Missa de Ação de Graças pelos 100 anos de vida de Frei Olavo Seifert. Apesar do frio intenso, da chuva contínua, a garagem do Convento da Fraternidade São Francisco de Assis, em Bragança Paulista (SP), transformou-se numa capela para acolher os confrades de Frei Olavo que vieram de todo o território da Província, dos parentes que vieram de Curitiba, dos colaboradores, em especial a equipe médica que cuida dos frades idosos da Fraternidade, e dos amigos, entre eles toda a família da jornalista Mônica Waldvogel, da GloboNews. Entre seus confrades, o bispo da Diocese de Osasco, Dom João Bosco Barbosa, e Frei Fidêncio Vanboemmel, ex-Ministro Provincial e agora Moderador da Formação Permanente. Frei Vitório Mazzuco comandou os músicos e alegrou a celebração com o seu violão.
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O guardião da Fraternidade, Frei Carlos Körber, acolheu a todos com alegria para celebrar esse momento solene na Província Franciscana da Imaculada Conceição. Em primeiro lugar, vamos agradecer a Deus pelos 100 anos de vida de
Frei Olavo, disse Frei Carlos, que fez um resumo da vida do aniversariante. Frei César presidiu a Celebração, tendo como concelebrantes Frei Olavo e Frei Carlos. Na sua homilia, partiu das leituras bíblicas para comentar essa data festiva.
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Segundo ele, no Evangelho do domingo, Jesus conta uma parábola para contestar a concentração da riqueza e fala de valores para aqueles que consagraram a própria vida pelos irmãos. “Ele propõe a vida eterna que será herdada por aqueles que deixaram tudo e renunciaram a tudo para segui-Lo”, disse, citando também São Francisco, que chama a atenção no seu Testamento quando diz que não se apropriar de bens materiais é importante para resguardar o espírito de peregrinos e forasteiros. Ou seja, de viver numa total liberdade. “Quem tem uma posse já não é mais livre. Ele precisa ficar nessa posse, cuidar dessa posse, precisa armar-se contra os outros e aí fere o princípio da liberdade, da fraternidade e de tantos outros princípios decorrentes disso”, lembrou. Para Frei César, é preciso despojar-se dessa lógica do homem velho para restaurar a imagem do revestir-se do homem novo, que é o próprio Cristo. “Ele é a grande novidade que se apresenta a nós como modelo de vida, de liberdade, de solidariedade, de fraternidade”, acrescentou. Segundo o Ministro Provincial, Frei Olavo é exemplo desse homem novo. “Olhando para ele, para sua vida, para aquilo que ele nos deixa como legado, nós vemos que ele é totalmente novo, porque abraçou com muita vontade essa lógica de Jesus Cristo: o verdadeiro homem novo”, frisou. “Frei Olavo não viveu para acumular, para
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apropriar, para ficar preso, mas renunciou a tudo para viver a sua fidelidade a Deus e consagrar-se como religioso franciscano no serviço a Deus e aos irmãos e irmãs. Esta foi a norma da sua vida secular. Secular de século, mas ele é totalmente franciscano, como ele falou na entrevista que deu para as Comunicações do quanto ele é agradecido por ter escolhido e vivido a vida franciscana”, acrescentou. Frei César recordou que o aniversariante é um homem reservado. “Todos os que o conhecem desde há muito tempo como quem o conhece mais recentemente, o vemos, assim, reservado. Mas essa reserva dele revela alguém que está voltado para Deus e, por isso, ele tem essa compenetração que encanta a tantos e hoje também aqueles que se reúnem aqui e tantos outros que gostariam de estar aqui festejando esse dom de Deus”, lembrou. Segundo o Ministro Provincial, ao estar voltado para Deus, Frei Olavo não está de costas aos demais. “E junto ao recolhimento com Deus, de um homem profundamente orante, ele se volta com preocupação, com atenção para todos. Tem sempre uma palavra a cada pessoa que passa na sua vida até os dias de hoje nesta casa. Cada vez que venho aqui, normalmente, o Frei Olavo é o primeiro a me saudar. De longe, ele já nos vê. De modo que Deus conservou os seus sentidos bem aguçados. Enxerga bem, lê bem, pode se manifestar, locomover-se com facilidade e, por isso, ele reserva a cada pessoa essa atenção”, explicou o celebrante. Frei César recordou que o Salmo 90, proclamado na liturgia da Palavra, vem da prece de Moisés, que fala justamente da brevidade da vida. “O Frei Olavo tem uma longa vida. Nós todos admiramos,
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mas Moisés nos diz que a vida ainda é breve. Mesmo que ela durasse mil anos, ainda seria breve, ainda seria consumida como um suspiro. Ele nos diz que, em geral, uma vida dura setenta anos. Só os mais fortes chegam aos 80. Então, Frei Olavo é mais que um forte do alto dos seus 100 anos”, comparou. “E ainda Moisés, na sua prece pedindo a Deus, diz: ‘Ensina-nos, pois, a contar os nossos dias’. Seguindo essa lógica de Deus, a contar os nossos dias não apenas para viver tantos anos, mas para alcançarmos um coração sábio. E é isso que a gente hoje festeja com tanta alegria no Frei Olavo: essa sabedoria buscada, perseguida, conquistada ao longo de sua vida”, ressaltou. Frei César continuou no Salmo 90 quando Moisés ainda reza: ‘Sacia-nos, Senhor, desde a manhã com o teu amor e exultaremos com alegria todos os nossos dias’. “Então, quem busca, quem partilha esse amor de Deus, não terá outra razão na sua vida senão a alegria e a realização plena. Frei Olavo, nesse sentido bíblico, de ser tão forte, é esse modelo de vida para cada um de nós”, insistiu. Para o presidente da Celebração, esta sua força, presente nos seus quase 80 anos de vida franciscana, é bem mais o tempo de vida da maioria dos frades presentes neste dia. “É também dos quase 73 anos de sacerdócio, que serão celebrados em dezembro, nesse mês que nós rezamos pelas vocações e hoje também celebramos São João Maria Vianney e, nesta memória, rezamos por todos os padres e por todos aqueles que se consagram nesse trabalho de doação”, recordou. Frei César citou ainda que Frei Olavo também viveu com intensidade o seu sacerdócio de forma bem franciscana nos mais diferenSETEMBRO de 2019 – comunicações
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tes campos de trabalho, de serviço à Província e à Igreja, que é o seu povo santo. “E nós também podemos dizer que o sr. alcançou essa sabedoria que Moisés pede no Salmo 90. O sr. alcançou em seu coração pela liberdade daqueles que escolheram a lógica de Cristo, a veste nova que é na verdade o próprio Cristo. Para nós que o seguimos, olhando para o sr, com os seus 100 anos, vemos um luminar, um testemunho e uma certeza. Olhando para sua vida, com certeza podemos afirmar: vale a pena viver. Vale a pena ser frade menor, vale a pena ser sacerdote franciscano, vale a pena apostar a vida na causa de Cristo e do seu reino. Muito obrigado, Frei Olavo, pelo seu generoso testemunho de vida! Que Deus o abençoe sempre mais, para que possamos celebrar ainda muitas vezes a sua vida e esse dom que sua vida é para nós. Parabéns!”, completou.
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Frei Olavo, depois de ouvir atentamente as palavras do Ministro Provincial, agradeceu a Deus antes de tudo e depois disse a Frei César: “Obrigado pela presença Pe. Provincial, Frei César Külkamp, que veio especialmente para o meu jubileu. Nosso Senhor o abençoe e o acompanhe na direção da Província Franciscana, da qual eu sou um membro agradecido há quase 80 anos”. Ele agradeceu a Dom João Bosco e a todos os confrades “que vieram me visitar e vieram de longe, até do Espírito Santo!”, disse, referindo-se a Frei Clarêncio Neotti. Um grupo de frades de Rondinha viajou de Santa Catarina para estar na festa do aniversariante. Sobre a sua Fraternidade, disse: “Agradeço a todos a vivência comunitária que nós temos”. Agradeceu à sua família, que viajou de Curitiba para festejar com ele, e todos os seus amigos presentes. Lembrou especialmente dos enfermeiros e enfermeiras que “cuidam de mim com atenção e carinho”, citando a doutora Angela Maria Izzo e o chefe da enfermagem, Abimael.” A todos, muito obrigado do velhinho Frei Olavo (risos)”. Por último, mostrou sua gratidão aos freis Tiago Hayakawa e Gilberto Garcia e o grupo da USF, “que arrumaram piedosamente o meu altar para celebrar os 100 anos. Que Deus abençoe, proteja e guarde a todos!”
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ESCoLA DE viDA
“Não estou cabendo em mim de tão feliz que estou”, revelou a dra. Angela Maria Izzo, que assiste os frades idosos desde 2007 na Fraternidade de Bragança. “Eu sou agradecida porque Frei Olavo foi para mim uma escola de vida”, confessa dra. Angela, recordando quando Frei Olavo chegou a Bragança: “Ele chegou aqui muito frágil, intoxicado por medicamentos, não parava nem de pé. Tiramos todos os medicamentos dele e aí dei uma balinha para ele dormir. Uma balinha, chamada Tic-Tac. Ele começou a dormir super bem até que alguém contou para ele que aquilo era uma bala”. Segundo ela, apesar de todos os problemas e limitações, Frei Olavo nunca reclama, está sempre bem humorado e sempre tem um comentário sobre as coisas. “Muito inteligente e esperto. Quando ele está mal, ele me diz: ‘Doutora, a minha perna está um pouco inchada e estou ficando um pouco cansado. Será que a sra. não tem uma coisa para me ajudar?. Aí, no dia seguinte, eu pergunto: ‘Frei Olavo, o sr. melhorou?’ Ele diz: ‘Melhorei’ e dá um beijo na minha mão”, contou. Segundo a médica, Frei Olavo tem muito que ensinar com sua disciplina. “Sim é sim, não é não. Dormir na hora certa, comer na hora certa. Agora não posso! Ele tem equilíbrio. O mais bonito dele é a esperança. Ele trata dos dentes, ele lê livros. Ainda há pouco, disse: ‘Dra. Angela, acho que estou precisando de óculos para ler’. Ele lê sem óculos. Ele é exemplo de vida”, completou.
FRaTERnIdadES
“ELE É DA FAMÍLiA”, DiZ MÔniCA WALDvogEL Como destacou Frei César, uma característica marcante de Frei Olavo é ser reservado. Segundo a jornalista paulistana Mônica Waldvogel, que é comentarista econômica e política da GloboNews e comanda o programa “Entre Aspas”, Frei Olavo faz parte de sua família. “Ele fez meu casamento, ele batizou o meu filho, batizou meu neto Gabriel. Mas, na verdade, ele casou a família inteira. Ele é da família”, disse a conhecida jornalista, que durante anos foi um rosto presente nos jornais da Rede Globo. “Eu conheci Frei Olavo, na verdade, quando tinha 4 anos de idade. Eu sei disso porque minha tia Beatriz foi para os Estados Unidos e se apaixonou por um chinês. Quando voltou para o Brasil, trouxe o chinês e ela disse: ‘Tem que se converter ao catolicismo para se casar comigo’. E quem fez o batizado do chinês, o meu tio chinês Ed, foi o Frei Olavo. Eu tinha, então, 4 anos. Me lembro que meu pai fez o filminho desse almoço”, revelou Mônica, que “carregou” toda a família até Bragança. Segundo ela, sua tia apresentou Frei Olavo para a família e, a partir dali, ele nunca mais saiu da família. “Na medida em que as gerações foram se casando, foram nascendo os filhos, os netos, ele foi batizando todo mundo, como meu irmão caçula. Então, ele nunca saiu da família”, reforçou, lembrando que a família foi muitas vezes passar férias no Seminário de Agudos. “Aquela imensidão maravilhosa”, define, revelando também que Frei Olavo passou vários Natais celebrando a Missa do Galo na casa de sua família. “Depois, ele foi para o Rio de
Janeiro. Me lembro muito bem da minha mãe, juntando-se com as irmãs, pegar o avião para visitar Frei Olavo. É um amor enorme. Eu fico impressionada com a alegria da família por ter vindo e por estar aqui nesta festa alegre. É uma bênção ter Frei Olavo em nossas vidas e ver ele fazer 100 anos. E mais incrível: ele está muito bem.
Ele conhece um por um pelo nome. Ele cumprimentou meu irmão que acabou de ser avô e que ele nem conhece o bebezinho. Ele falou pro meu irmão: ‘Parabéns pelo Joãozinho que acabou de nascer!’ É impressionante o carinho que ele tem por nós. É uma grande bênção ter convivido com ele e poder estar ali nesse momento”, agradeceu.
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fraternidades
A família na festa. Da esquerda para a direita: Eloise e Marcelo (filho de Maria José e esposa); Osvaldo (marido de Maria José) e Maria José (sobrinha); Frei Olavo, Marcos Lúcio (sobrinho) e Inês (esposa do Luiz Sérgio, sobrinho, que não está nesta foto).
CELEBRAR A VIDA
Dom João Bosco também confessou sua alegria por participar deste momento especial na vida de seu confrade. “É uma alegria muito grande estar presente junto com os confrades nesta celebração dos 100 anos de Frei Olavo. Primeiro, pelo tempo que a gente conviveu na Província, por tudo o que ele significa, mas também pela ocasião de reencontrar tanta gente porque, como
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fraternidades
bispo, tenho ficado tão afastado da vida dos frades”, disse. Para ele, uma ocasião como esta, de poder reencontrar os mais idosos, reencontrar aqueles com quem trabalhou há tanto tempo, é celebrar a vida. “Celebrar com simplicidade e ver a vitalidade desse homem aos 100 anos, que é excepcional. Tudo isso faz a gente agradecer muito ao Senhor Nosso Deus pela vida franciscana que nós temos. Que Deus guarde sempre a Frei Olavo e a nós todos na sua graça!”, pediu. Frades e convidados puderam, depois da Missa, saborear um almoço com direito à sobremesa única e especial: o bolo de 100 anos de Frei Olavo. Ele é o primeiro frade da Província Imaculada Conceição a chegar aos 100 anos. SETEMBRO de 2019 – comunicações
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xxx evangelização
Redimensionamento: As motivações que nos levam ao redimensionamento e à reestruturação são conhecidas por todos: em época de rápidas mudanças, nós buscamos viver o dom do Evangelho e restituí-lo ao mundo como irmãos e menores. Nossa realidade exige um discernimento permanente, uma séria revisão das nossas opções práticas e “a coragem de iniciar caminhos inéditos de presença e de testemunho” (Sfc 33). Sentimos a necessidade de uma constante avaliação de nossa vida, que enxergue com clareza e coragem os sintomas de mal-estar registrados em nossas Fraternidades, que “nos dizem a necessidade de purificar, de revitalizar, de renovar as nossas presenças com tudo aquilo que essas comportam” (PnE 35). 632
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Subsídio “Redimensionamento e Reestruturação” - Capítulo Provincial 2018
EvangElIzaçãO
PaSSagEM dO cUIdadO PaSTORal da PaRÓQUIa nOSSa SEnHORa dO aMPaRO À dIOcESE dE caRagUaTaTUBa
Dom José: “Não abandonem o coração franciscano!”
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om exatos 361 anos de evangelização no Litoral Norte de São Paulo, os frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição entregaram, no sábado (10/08), o cuidado pastoral da Paróquia Nossa Senhora do Amparo à Diocese de Caraguatatuba, na pessoa do bispo diocesano Dom José Carlos Chacorowski, durante a Missa de Ação de Graças, às 19 horas. O Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, representou o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, neste momento histórico, marcado pela emoção dos fiéis paroquianos e dos frades, especialmente da última Fraternidade, formada por Frei João Pereira da Silva, o guardião e pároco; Frei José Martins Coelho, vigário paroquial; e o irmão leigo Frei Virgílio Pereira de Souza. Estavam presentes Frei João Francisco da Silva, Defini-
dor e Secretário da Formação e Estudos, e Frei José Raimundo de Souza, os dois da Fraternidade do Postulantado Frei Galvão de Guaratinguetá. Durante a Celebração também foram apresentados os novos padres: Pe. André Beghini Vilela, pároco, e Pe.
Floriano Marcos da Silveira, vigário paroquial. “Muito obrigado a vocês, obrigado à Paróquia de Nossa Senhora do Amparo! Continuem e não abandonem o coração franciscano, porque é um coração que ama o Evangelho como Jesus quer. Obrigado aos freis, que levam o nosso obrigado, o nosso voto de confiança a Frei César e a toda administração da Província. Também levam a nossa promessa que faremos o que está ao nosso alcance para continuar, neste cantinho da Igreja, o reino de Deus, para continuar essa missão. Que, para isso, São Francisco de Assis nos abençoe!”, animou Dom José, que durante toda a Missa demonstrou seu carinho ao trabalho dos frades e explicou ao povo o processo de redimensionamento que está fazendo a Província da Imaculada nas suas Frentes de Evangelização. “Não SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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podemos, certamente, considerar como um presente de aniversário, mas acolher com humildade a missão que agora caberá aos diocesanos de manter uma belíssima tradição de seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o coração de São Francisco de Assis. Os freis não estão indo embora; um cristão que assume sua missão de batizado e sua vocação de seguir a Nosso Senhor nunca vai embora, mas segue adiante, sendo Igreja em saída, buscando com humildade responder aos novos apelos e desafios dos tempos atuais. A história da evangelização do Litoral Norte de nosso Estado começa com São José de Anchieta e prossegue durante 361 anos com a presença destes inúmeros e bravos evangelizadores que foram os frades franciscanos menores. Nossa Diocese deverá ser eternamente agradecida pelo que realizaram aqui”, explicou Dom José ao povo. Depois de 2 horas de celebração, as lágrimas chegaram com mais intensidade durante o hino franciscano “Doce é sentir”. O historiador Durval Ruiz falou pela comunidade, demonstrando todo esse sentimento. “Deveríamos, nesta Ação de Graças, falar
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Histpriador Durval Ruiz
aqui de todo histórico ocorrido desde que tudo começou com a fundação e inauguração desta casa franciscana a partir de 1658. Todavia, hoje, nossos corações se encontram com esse sentimento de perda. Uma perda inesperada, uma perda que não se trata simplesmente da troca de freis, porque a isso estamos todos nós, fiéis franciscanos, acostumados. A perda maior que pesou-nos sobre nossos ombros foi a perda de um costume tradicional religioso da Ordem Franciscana. Estávamos acostumados com o jeito de ser franciscano, o jeito de falar na
linguagem franciscana. Até nossos coroinhas trajavam ornamentos franciscanos para servir o altar. O jeito de ser do sacerdote franciscano é diferenciado. Vemos neles uma doçura em suas palavras, vemos uma entrega total, uma pertença transparente naquilo a que eles se propuseram realizar. Todos eles, sem exceção. Defeitos, todos nós os temos, uns mais, outros menos, mas todos nós o temos. Os freis não são diferentes, eles também os têm. Todavia, trazem consigo algo diferente que transcende, é algo de uma espiritualidade ímpar, que nos toca, que modifica também nosso jeito de agir e pensar, e, por isso, não esqueceremos de vocês jamais”, confessou o historiador. Segundo ele, não poderia falar de todos os frades dos 361 anos e fez uma emocionante homenagem à última Fraternidade. “Todos, sem distinção, deixarão saudades no coração de cada um dos paroquianos desta pequena e humilde comunidade paroquial, mas que tem um coração imensurável para o amor ao próximo. E, com esse amor receptivo, e com toda certeza do mundo, saberá receber com calor humano e dignidade aos novos padres
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que por aqui passarão, agora, já na versão diocesana”, reconheceu, deixando a seguinte mensagem: “Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha mas não nos deixa, porque fica um pouco de si conosco e leva um pouPe. André Beghini Vilela e Pe. Floriano Marcos da Silveira quinho de nós consigo. Essa é a mais bela responsabilidade da dificuldades da Província Francisvida, e a prova de que as pessoas não cana, mas a dor de partir é infinitase encontram por acaso”. mente maior”, confessou. Ele e seus Frei João, por sua vez, foi o porta- confrades ganharam sandálias como voz da Fraternidade. “Não sem dor. presentes da comunidade. E dor só sente quem a sofre na pele, como se vê nas lágrimas que caem e FREI MEDELLA: nas que estão contidas. Sirvam estas “É OBRA DO POVO DE DEUS” lágrimas para regar o espírito francisFrei Gustavo disse que nesses 361 cano que, aqui, foi semeado, o espírito anos - de Frei Pantaleão, o primeiro da Paz e do Bem”, pediu. “Mas caros guardião, até Frei João, o último - pelo amigos, não fiquem na saudade dos menos uns 20 frades que moraram que vão e sim na alegria daqueles que em São Sebastião ele conheceu. “Alvêm, pois tem hora de chegar e tem guns até já partiram, como Frei Fáhora de partir... Compreendemos as bio Panini, Frei José Timmermann,
Frei Lency Smaniotto. Muitos estão firmes na missão. Eu posso garantir a vocês, a Dom José e queridos padres e confrades: da boca de nenhum dos frades que por aqui passaram ouvi um comentário negativo, um lamento, uma reclamação. Todos têm lembranças de gratidão, de alegria. Foram felizes aqui com o povo, com o lugar. O que significa que, aqui, eles deixaram um pedaço do seu coração, como diz o Evangelho: ‘Onde está o teu tesouro, ali está o teu coração’”, acredita o Vigário Provincial, reforçando que isso é um motivo para render graças a Deus. “Depois de 361 anos, deixar um lugar também é um exercício importante para nós, franciscanos - ainda que seja um exercício dolorido -, e que tem a ver com nosso modo de ser, que é por natureza itinerante, andarilho, viajante neste mundo, nesta vida que é uma viagem. Ao mesmo tempo que chegamos, chega a hora de partir, SETEMBRO de 2019 – comunicações
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mesmo 361 anos depois. E, nesta partida, cumprindo também todos os trâmites, fazendo tudo direitinho na forma da lei canônica, da lei civil, nós deixamos para o cuidado dos irmãos e dessa comunidade de fé, o Convento, a Paróquia, todo o patrimônio imóvel, todos os objetos de culto, os móveis. Por quê? Porque tudo isso existe em função da evangelização e é obra do povo de Deus. Não nos pertence. Nós seguimos em frente, deixando com muita alegria e gratidão a Deus, tudo isso como legado, como herança, na certeza que um bom trabalho de construção do Reino continua com o mesmo vigor e com o mesmo entusiasmo”, desejou, informando que a Província entregou à Diocese uma cópia do relatório e do inventário deste patrimônio. “Isso no que diz respeito à parte material. Agora, aquilo que o metro não consegue medir, aquilo que não cabe numa conta bancária, que não cabe em sala nenhuma, o patrimônio imaterial, esse é muito grande e levamos conosco. Tanta gente de fé, tantas Eucaristias celebradas, tanto espírito de solidariedade, tanta partilha pelo Reino, tantos confrades, tantas lideranças que doaram a vida por esta comunidade. E por tudo isso, nossa imensa gratidão a Deus. À nossa Ordem Franciscana Secular, o nosso muitíssimo obrigado de coração! A nossa comunhão espiritual e fraterna permanece firme na assistência espiritual, na caminhada comum. A cada liderança, a cada fiel batizado, ministros, coroinhas, liturgia, pastorais, a nossa gratidão. O que vocês deixaram de herança para nós não existe valor que possa fazer jus. Todos esses frades que por aqui passaram levam um tesouro no coração. Por isso, muito, muito obrigado!”, frisou Frei Medella, que, acrescentando mais uma pitada de emoção ao momento, fez o seguinte pedido a Dom José, aos padres e ao povo: “Peço a nós, frades franciscanos, a bênção de envio, porque como diz a música, ‘o trem que chega é o mesmo da partida’. Para que nós permaneçamos fiéis ao propósito de evangelizar, que sigamos firmes no caminho pelo qual o Senhor nos dirige”, explicou, pedindo a seus confrades que se ajoelhassem diante do altar. E eles foram abençoados!
IGREJA AO ESTILO DO POBREZINHO DE ASSIS
Dom José, antes da bênção final, falou com carinho ao povo e aos frades. “O coração dos freis estão unidos ao Sagrado Coração de Jesus e da Virgem Santíssima. Nesse coração se baseia nossa esperan-
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ça, a nossa força para prosseguir. Eu, como bispo desta Diocese, traria ainda em destaque o que Durval falou. Sim, não podemos dizer que é uma perda, porque é. A Diocese de Caraguatatuba tem 20 anos de criação. Nos últimos dez anos, ela perdeu a presença de quatro congregações. É uma perda. É a perda de um carisma de vida consagrada. Não é que a vida diocesana seja menos importante. Ela tem seu caminho e ela deve testemunhar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Seguir a Cristo obediente, pobre e casto, da mesma forma. Mas o carisma da vida religiosa é um dom único que Nosso Senhor confere à Igreja. Nós prosseguiremos com a presença de quatro, apenas quatro comunidades de vida consagrada em toda a Diocese. Eu estou acostumado com a vida missionária também e isso me chamou a atenção quando fui chamado a assumir a Diocese. A pouca presença de vida consagrada é o desafio que nós temos enquanto Diocese”, reconheceu o bispo. Dom José falou, então, sobre os novos padres que chegam. “Tenho
certeza que o Pe. André e o Pe. Floriano entenderam o que aqui foi testemunhado. Eu peço muito a eles que olhem com carinho o que aqui foi declarado. Eles não têm a consagração franciscana, mas o Pe. André tem toda a sua formação franciscana. Ele é sacerdote diocesano mas é franciscano de formação. Então, acredito que não haverá problema nenhum e nem conflito em compreender a comunidade que tem um coração franciscano e viveu 361 anos neste estilo de vida. E, de fato, o Papa Francisco, assume, pelo próprio nome, a necessidade de que a Igreja volte a viver o Evangelho de forma mais concreta e mais presente neste mundo. E uma dessas formas, sem dúvida alguma, é ao estilo do Pobrezinho de Assis, de São Francisco de Assis”, destacou. “Igual como os discípulos, lá se vão eles para outras terras de missão. Os freis não estão indo embora. Estão passando para nossas mãos a missão de continuar anunciando o Reino e o faremos graças ao Espírito Santo que eles imploram sobre nós. O testemunho de vidas missionárias que por aqui passaram não vai embora,
mas permanecerá para sempre nos corações daqueles que acolheram a mensagem e hoje se responsabilizam em continuar com o mesmo zelo, com a mesma dedicação. Os freis nos ensinaram a sermos grão de trigo que não se fecha em si mesmo, guardando suas energias para si, mas morre no silêncio da terra e produz muito fruto. Nossa eterna gratidão à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil”, enfatizou. “Então, Durval, eu concordo com você. É perda, mas que o Senhor abençoe nossa Diocese, nossos sacerdotes, para que a gente não perca, na esteira da evangelização, esse jeito de viver o Evangelho. Na simplicidade e no total despojamento, como é o exemplo dos freis, que estão deixando em nossas mãos essa responsabilidade. Muito obrigado a vocês, obrigado à Paróquia de Nossa Senhora do Amparo. Continuem e não abandonem o coração franciscano, porque é um coração que ama o Evangelho como Jesus quer”, exortou, terminando com um “Paz e Bem”.
Moacir Beggo SETEMBRO de 2019 – comunicações
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Agudos: Província entrega à Diocese o cuidado pastoral da Paróquia Santo Antônio
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entro do processo de redimensionamento reafirmado pela Província no último Capítulo Provincial (2018), celebrou-se, no domingo, dia 4 de agosto, às 19 horas, a passagem do cuidado pastoral da Paróquia Santo Antônio de Agudos, desde a fundação, em 2000, sob responsabilidade da Província, à Diocese de Bauru. A celebração, na qual foram empossados o novo pároco, Padre Paulo Tavares de Brito, e o novo vigário paroquial, Padre Rafael Zagatto Lima, foi presidida pelo Bispo Diocesano, Dom Rubens Sevilha. Em nome da Província, participaram o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, representando o Ministro, Frei César Külkamp, além de Frei Sílvio Trindade Werlingue e Frei Pedro Viana que, desde o início deste ano, estiveram a serviço das duas paróquias do município (Frei Silvio e Frei Pedro permanecem como pároco e vigário da Paróquia São Paulo Apóstolo).
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A Igreja estava lotada e, no início da homilia, Dom Rubens Sevilha pediu ao povo, como sinal de gratidão aos franciscanos pelos quase 20 anos de serviço na paróquia, uma salva de palmas. Foi respondido prontamente por um demorado aplauso oferecido de pé aos frades. E brincou: “Eu já imaginava que vocês fossem queridos aqui, mas não sabia que eram tanto”, disse, referindo-se ao entusiasmo da saudação da assembleia. O bispo também aproveitou para explicar que a mudança ocorre no campo jurídico e canônico, mas que, na prática, ali continua sendo uma comunidade de fé que busca crescer unida na construção do Reino de Deus. Além das lideranças de diferentes pastorais e movimentos, fizeram-se presentes paroquianos da Paróquia São Paulo, de Agudos, de outras paróquias da Diocese de Bauru e familiares dos padres que iniciavam seu ministério na comunidade. Em sua palavra de agradecimento, o novo pá-
roco, Padre Paulo, saudou de maneira especial a Frei Sílvio e Frei Pedro pela maneira como o acolheram e pela disponibilidade que apresentaram desde o início do processo: “Vocês agiram como verdadeiros franciscanos com a acolhida que nos dispensaram, oferecendo, inclusive, a casa paroquial da Paróquia São Paulo para morarmos enquanto providenciávamos nossa moradia. E lá estamos morando”, explicou. Padre Paulo também relatou que estava assumindo com muito entusiasmo o novo encargo que lhe estava sendo confiado: “Hoje, sintome como no dia na minha ordenação. Não tão jovem, pois agora já tenho 51, mas com o coração aberto para caminharmos juntos”, declarou. Em nome da Província, Frei Gustavo Medella agradeceu à Igreja Particular da Diocese de Bauru, aos confrades da Fraternidade local e, de forma especial, ao povo da Paróquia Santo Antônio: “No decorrer da história, os frades já foram conhecidos
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por diferentes nomes, como Penitentes de Assis, Irmãos Menores, Franciscanos e outros. Nesta noite, nosso nome é gratidão!”, disse Frei Gustavo.
GRATIDÃO DA COMUNIDADE PAROQUIAL
Como homenagem aos frades que fizeram parte da história da Paróquia desde a sua fundação, a professora coordenadora do curso de Pedagogia e Coordenadora da Pós graduação em Educação da Faculdade de Agudos – FAAG e uma das lideranças paroquiais, Helena Aparecida Gica Arantes, e seu esposo, o diácono Marcos Alberto Arantes, prepararam uma retrospectiva que emocionou a todos.
só paróquia em nossa cidade; temos também a Santa Clara e o setor Santo Antônio, onde estamos reunidos, além de duas comunidades rurais, Turvinho e Santa Isabel. A matriz Santo Antônio não foi sempre assim conhecida, pois quando éramos ainda crianças, tínhamos a nossa tão linda e aconchegante capela de Santo Antônio, tão carinhosamente chamada por todos da nossa comu-
Confira o relato:
Reverendíssimo Dom Frei Rubens Sevilha, reverendíssimo Vigário Provincial Frei Gustavo Medella, sacerdotes e diácono Marcos, ministros extraordinários e demais irmãos e comunidade aqui presentes, gostaria em nome dos paroquianos, de dizer algumas palavras referentes a esse dia que estamos celebrando. Antes, porém se faz necessário voltarmos um pouquinho no tempo, pois tudo se passou muito rápido. A paróquia Santo Antônio hoje é composta por três comunidades, sendo São Pedro, esta, formada e idealizada pelo nosso querido Frei Álido Rosá, quando ainda éramos uma
nidade. Aqui tínhamos os nossos freis muito zelosos, isto em todos os sentidos, tanto no aspecto físico, como também, no pastoreio deste povo que é tão devoto a Santo Antônio. Afinal fomos batizados, catequizados, recebendo depois todos os demais sacramentos sob os cuidados deles. Tínhamos o Frei Alcides, incansável no zelo e atendimento às famílias que visitava levando em suas palavras e gestos a presença de Jesus; Frei Gregório, santo homem, conhecido como bom confessor, tinha em seus
sermões a sabedoria, pois com suas palavras tocava a todos nós, nos trazendo aconchego e segurança, incansável nas visitas aos doentes em suas casas, bem como no hospital de Agudos, gastando horas e horas de seu tempo no propósito de sempre levar esperança àqueles que sofriam pelas sua enfermidades. Também neste período tínhamos aqui um grupo de jovens muito atuante em nossa capela, sob a formação e orientação espiritual do Frei Pedro Engel e da Irmã Cristina. O tempo foi passando, a comunidade foi crescendo e se fez necessário ampliar nossa igreja. Todos se envolveram. Foi lindo ver que ela crescia em estatura e graça, pois muitas bênçãos foram derramadas sobre todos aqueles que colaboraram para que esse feito se concretizasse. Agora, nossa Santo Antônio deixava um pouco do aspecto de capela e adquiria uma certa imponência pelo seu tamanho. Nem imaginávamos que se tornaria um dia uma matriz, mas como os planos são de Deus e não nossos, um dia se tornou matriz Santo Antônio, mas não havia meio de ninguém chamá-la assim, pois para nós seria sempre capela. Nosso primeiro pároco foi o nosso saudoso Frei Mário Bruneta, um homem simples que já exercia a capelania aqui, pois sempre estava conosco, singelo, sempre no meio do povo. Sentado na praça tinha uma paciênSETEMBRO de 2019 – comunicações
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cia que era incomum. Conversava com todos e todas, pobres, mendigos, alcoólatras. Auxiliava os menos favorecidos, com palavras sábias do evangelho e fazia questão de doar também seus bens, pois sempre comprava fraldas e alimentos. Um sacerdote de coração e mão abertas. Ao nos encontrarmos com ele, perguntávamos, como está frei? E ele logo respondia: “Estou bem, melhor do que mereço”! Professor ilustre grande conhecedor, erudito, que acabou por ser nomeado para uma nascente paróquia constituída de pessoas simples, uma comunidade marcada pela oração do terço, das novenas, procissões, das orações em família. Frei Mario foi escolhido a dedo, não dos homens, mas o de Deus, do Espírito Santo. Um frei que viveu a maior parte de sua vida na formação no seminário menor aqui em Agudos e assumiu com coragem e determinação essa tarefa de uma idealização paroquial, e a realizava com grande maestria. Deixa para seu sucessor Frei Ângelo Vanazzi, uma paróquia com muitos coroinhas (na época, mais de trinta), o sr. Mauro que o diga, que carinho o Frei Mário tinha por eles. Muitos ministros e pastorais já estruturadas, tudo muito bem organizado. Em seguida vem também nosso querido Frei Ângelo Vanazzi, que já tinha experiência como pároco e pôde contribuir e muito para o nosso crescimento no aspecto pastoral. Tinha um jeito brincalhão, expansivo com todos de nossa paróquia, envolvendo os jovens em tudo que fosse possível para o seu crescimento como protagonistas na sociedade. Sucedendo, veio o nosso querido Frei Carlos Pierezan. Ficou pouco tempo conosco, aproximadamente um ano, mas o suficiente para cativar a todos. Estupendo em suas homilias, muito bem preparadas, que mexia com a gente, nos fazia refletir
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Helena Aparecida Arantes
sobre o nosso caminhar como Igreja e que muito nos marcou, e sempre nos dizia “Isso não é possível, Agudos tem que ter um padre…” Frei Carlos deixou muita saudade em todos nós, com seu jeito acolhedor e amável para com todos. Frei Vitalino, o que dizer deste padre tão impactante em nossa paróquia em todos os sentidos. Preocupado com a formação, proporcionando momentos de estudo dos documentos da Igreja. Ele mesmo comparava os documentos e entregava para as lideranças para que pudessem se inteirar de tudo e estarem prontos para auxiliarem nas pastorais e movimentos. Marcada mesmo foi sua preocupação com a formação litúrgica. Aprendemos muito com ele, aliás,
muito do que temos hoje foi de seu tempo, que nos preparou como leitores e animadores das santas missas. Ligado às questões sociais, tinha um senso político aguçado e procurava denunciar as injustiças sociais de nosso tempo. Frei Vitalino nunca deixou que a tradição de nossa paróquia, que é marcada pelas novenas, capelinhas, oração e reflexão nas casas se acabasse, muito menos as grandes procissões que fazia questão que fossem longas e bem animadas e reflexivas. Depois veio Frei Ângelo Cardoso, que, por pouco tempo, aproximadamente um ano, também deixou aqui a alegria franciscana, envolvendo e estimulando a participação de nossos jovens que, naquele ano, se envolveram muito em nossa comunidade. Reformou toda a igreja dando um outro ar de rejuvenescimento, não só no aspecto físico, mas também espiritual. Ficou na lembrança a passagem da vida e conversão de São Francisco: Reconstrói a minha Igreja! Frei José Martins esteve à frente de nossa paróquia por seis anos. Manteve a tradição das quermesses nas festas do Padroeiro, celebrando sempre com o povo. Nesses últimos três anos, tivemos também a alegria do retorno de nosso Frei Carlos Pierezan, que atuou como nosso vigário. Saudades eternas! Nestes últimos seis meses, estive-
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ram à frente de nossa paróquia Frei Sílvio Werlingue, nosso atual pároco, e nosso querido vigário Frei Pedro Viana, ambos aqui presentes, que, de forma simples e muito cativante, envolveram a todos nós, com o jeito franciscano de ser, isto é, animando e incentivando a todos no propósito de nos mantermos firmes na caminhada. Frei Silvio à frente de duas paróquias nunca se deixou levar pelo cansaço ou desânimo; pelo contrário, com o apoio de Frei Pedro, administrou com muito carinho e competência, durante este breve período. Aqui não se trata de uma despedida dos freis, “tchau”, “até mais”, isso nunca, pois estaremos sempre juntos, nas lembranças, bem como na caminhada de Igreja. É então um pequeno gesto de gratidão à Província da Imaculada Conceição do Brasil, que não mediu esforços para se fazer presente
em nossas vidas com ardor franciscano de Paz e Bem! Foram muitos os freis que por aqui passaram e não foram nossos párocos, mas muito nos ajudaram e nos ajudam até hoje. Fica impossível citar nomes e isto incorreria no erro de não mencionarmos alguns. Preferimos assim, do jeito franciscano, simples e singelo, de agradecer. Província da Imaculada Conceição do Brasil, nosso muito obrigado! Queridos Pe. Paulo e Pe. Rafael, queremos acolhê-los de coração e com muita alegria. Temos uma longa história pela frente que não começa aqui, mas que tem continuidade agora com o pastoreio de vocês. Podem sempre contar com esta comunidade vibrante, cheia do Espírito Santo, animada pela Palavra de Deus, sustentada pela Eucaristia, que se mantém firme pela oração e no propósito de
nosso Papa Francisco, de que sejamos sempre uma igreja em saída. Sejam muito bem-vindos, Deus os abençoe!
PLACA EM HOMENAGEM À PROVÍNCIA
Além do resgate histórico, a comunidade também fixou uma placa de gratidão nos fundos da nave da igreja, que diz: “Gratidão. Palavra que resume todo nosso sentimento neste momento. De agradecimento à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil pelo ‘sim’ ao trabalho de formação e evangelização em nossa Paróquia. Nosso reconhecimento é imensurável por toda a dedicação e carinho dos freis dispensados à nossa Paróquia Santo Antônio. E que, hoje, estão nos deixando um legado de que o ‘Amor deve ser amado’ e, por isso, todos nós, Comunidade Santo Antônio, devemos ser instrumentos da Paz, do Bem e do Amor também. Assim, junto com São Francisco, sempre vamos dizer: ‘Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as igrejas no mundo inteiro, e vos bendizemos, porque, pela vossa Santa Cruz, remistes o mundo’. Nosso muito obrigado à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Paz e Bem!”
Paróquia Santo Antônio, Diocese de Bauru Agudos, SP, 04/08/2019
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EvangElIzaçãO
A Igreja de Cristo em missão no mundo “A missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo” .
(EG 273, retomada na exortação pós-sinodal aos jovens)
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urante o Angelus do domingo 22 de outubro de 2017, o Papa Francisco, sensível às atuais necessidades do rebanho, proclamou: “Outubro de 2019: Mês Missionário Extraordinário” (MME). Para a Igreja no Brasil, esta proclamação pôde até ser tomada como certa “normalidade”, uma vez que já é costume, no Brasil, o mês de outubro ser o mês missionário. Mas há o extraordinário! Neste mês de outubro de 2019, será celebrada a dimensão missionária da Igreja em todas as suas presenças no mundo. Será a expressão de uma Igreja espalhada pelos quatro cantos da terra numa mesma retomada do vigor missionário, buscado por “um só coração e uma só alma” (At 4,32). Assim reafirma o papa Francisco em sua carta por ocasião do MME, publicada na solenidade de Pentecostes deste ano: “Pedi a toda a Igreja que vivesse um tempo extraordinário de missionariedade no mês de outubro de 2019, para comemorar o centenário da promulgação da Carta apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV (30 de novembro de 1919). A clarividência profética da sua proposta apostólica confirmou-me como é importante, ain-
da hoje, renovar o compromisso missionário da Igreja, potenciar evangelicamente a sua missão de anunciar e levar ao mundo a salvação de Jesus Cristo, morto e ressuscitado”. O MME é a consequência natural e necessária de um pontificado que desde seu iniciou foi marcado pela insistência pastoral de ser uma Igreja “em saída”, “hospital de campanha”. Uma Igreja capaz de se renovar para responder com atualidade ao momento que vive. Para isso acontecer, todavia, será necessária uma autêntica conversão missionária dos discípulos de Jesus e das estruturas da comunidade eclesial (EG, 25; 27), O convite do Papa Francisco provoca a Igreja a dar significativos passos, saindo da autorreferencialidade e introversão eclesial (EG, 27), realizando a missão não apenas como ação para fora, mas como momento propício para evangelizar-se, como um “estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer (EG, 121).
objetivo do MME
Foi durante o mesmo Angelus de 22 de outubro de 2017, quando anunciou a sua intenção para o MME, que o papa
Francisco deixou claro o seu objetivo: “despertar em medida maior a consciência da missio ad gentes e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral”. Dois objetivos que apontam para a mesma necessidade: transformação da mente e da vida do cristão, que leve à ação missionária própria da Igreja e que lhe dá a identidade de participante do corpo de Cristo, e, por isso, participante de Sua missão expressa no “amor pelo Cristo e, simultaneamente, pelo seu povo” (EG 268). O MME pretende ser um novo início para toda a Igreja, que permitirá, inclusive, uma provocação a si mesma, em seu modo de colocar-se diante do mundo atual. Será um tempo próprio para deixar de lado sua atitude de “profeta da desgraça” diante do mundo em que vive, passando a amá-lo como lugar escolhido por Deus para manifestar-se. Surge, assim, o grande desafio: transformar as comunidades em realidades missionárias capazes de diálogo com o mundo.
Tema do mês missionário
O tema do MME, escolhido pelo
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Papa Francisco, é: “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”. O batizado é o enviado e este envio brota do próprio batismo. Um envio que vem de um chamado individual: “(nome), eu te batizo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (do rito do batismo), mas que se concretiza na sua participação da missão da Igreja. O batizado torna-se membro da Igreja de Cristo, participante da histórica e sacramental missão que Deus Pai confia ao Filho e ao Espírito
modo de estar e agir na missão. A missão para Francisco nasce do encontro com o Evangelho, que é a pessoa de Jesus Cristo, que envia seus apóstolos sem ouro, nem prata, nem dinheiro, mas sim, para pregar o Reino de Deus e a penitência. Deste encontro brota o homem novo: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel, 22). O encontro com o Cristo, o diálogo com a sua Palavra, levou Francisco à ação missionária na criação – canta-
para o meio deles, expressando que toda a “evangelização colonizadora” soa diferente deste modo franciscano de estar em missão.
Santo no mundo. Assim, o MME também é catequese para o batizado, pois reaviva a sua realidade batismal de membro do povo de Deus e participante da missão da Igreja.
da no Cântico das Criaturas - e no diálogo com o homem – inclusive os mais diferentes, como é o caso do Sultão. O encontro com o Sultão é tão marcante para o modo de ser da Ordem, que fez surgir o chamado Projeto Missionário da Ordem, inserido na Regra Bulada e na não Bulada, inaugurando o que até então não se tinha nas regras: uma seção destinada às missões. Os frades são enviados não contra os sarracenos, nem mesmo para os sarracenos, mas são enviados entre,
mar-se e a vivenciar as quatro dimensões do MME: 1. O encontro pessoal com Jesus Cristo, vivo na sua Igreja, presente na Eucaristia, na Palavra de Deus, na oração pessoal e comunitária. A missão nasce do encontro com Jesus que dá novo horizonte à vida (DAp 29). 2. Testemunho: Visa que cada comunidade recorde os santos, os mártires da missão, os confessores da fé, os leigos e leigas missionários que
São Francisco de Assis e o MME
Tomado, juntamente com alguns outros santos, como testemunha para o MME, Francisco de Assis não apenas pratica a ação missionária pelas suas atitudes e desejos, como propõe um
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Dimensões do MME
Num primeiro momento, não se quer criar outras atividades justapostas às que já existem, mas dar “espírito missionário” àquilo que já se vem realizando. Será a partir deste novo espírito que nascerão as demais ações verdadeiramente missionárias. Cada batizado(a) é convidado(a) a aproxi-
Evangelização
despertam para o desejo de se viver à maneira missionária que viveram. 3. Formação: Bíblica, catequética, espiritual e teológica sobre a missio ad gentes. Esta dimensão propõe que em todas as atividades das comunidades, na catequese, nas pastorais e movimentos, seja dedicado um tempo de estudo e reflexão sobre o MME. 4. Caridade missionária: Esta dimensão quer promover a coleta missionária, valorizar as ações concretas de compromisso com os mais pobres e
conforme suas possibilidades; 2. Dia 6: Início do Sínodo para a Amazônia. Intensificar as orações pelos missionários na Amazônia e conscientizar o povo da importância do Sínodo. 3. 20/11/2019: Dia Mundial das Missões. 4. 19/10/19: Valorização do Dia Mundial das Missões com a vigília que o antecede. Para isso, será enviada, a cada fraternidade, uma proposta de celebração;
aos doentes e necessitados da comunidade, o espírito missionário; Tudo isso, todavia, deve ser assumido como primeiros passos que motivem o discernimento para a ação missionária em comunidade. Destas celebrações e dimensões, brotará o novo missionário de que o mundo de hoje precisa. Por isso, enquanto se celebra o MME, deve-se ter a certeza de que a realidade comunitária gerará a ação missionária. “Eu sou sempre uma missão;
auxíliar financeiramente os missionários. Busca promover, ainda, as visitas missionárias, principalmente àqueles que se sentem mais afastados da pessoa de Jesus Cristo.
5. Caridade Missionária: Motivar a caridade missionária no terceiro final de semana de outubro, realizando a coleta missionária para Angola. 6. Oração: Durante as celebrações comunitárias, no momento das preces, destacar intenções pelas missões e rezar em comunidade a oração do MME; 7. Valorizar a temática do MME nos encontros comunitários; 8. Expressar, através das visitas
tu és sempre uma missão; cada batizada e batizado é uma missão. Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida” (Papa Francisco, Carta por ocasião do Mês Missionário Extraordinário, 2019).
Algumas propostas
1. 01/10/19: Abertura do MME em nível nacional. Será realizada uma celebração no santuário nacional em Aparecida e cada comunidade é convidada a celebrar este dia,
Frei Robson Luiz Scudela Coordenador dafrente das missões
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A influência das redes sociais é tema da Assembleia do Sefras
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Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) reuniu em Assembleia, no final de julho, em Tanguá, no Rio de Janeiro, os colaboradores e frades desta Frente da Solidariedade para com os Empobrecidos. Pelo Governo da Província, participou o Vigário Provincial Frei Gustavo Medella, que é também Secretário para a Evangelização. Esta
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foi a 16ª edição da Assembleia anual e teve como tema: “A conjuntura atual e a influência das redes sociais na atuação socioeducativa”. Além da formação, a assembleia apresentou propostas para o planejamento estratégico social do próximo ano. Na mística de abertura, destacou-se o viés profético desta assembleia. Vivemos tempos desafiadores e a luta pela resistência precisa permear nossos estudos, planejamentos e, no fazer social, é importante a convivência fraterna, que “fortalece nossos vínculos com aqueles que estão na mesma caminhada e na mesma luta”, avaliou o diretor-presidente Frei José Francisco, na abertura. A primeira assessoria foi dada pelo professor do Instituto Federal de Barretos, Christian Tadeu Gilioti, que provocou o grupo a enxer-
gar a atual conjuntura de desmonte das políticas sociais e posicionar as ações a partir dessa realidade. Gilioti destacou a importância de se olhar não só para o cenário de São Paulo e Rio de Janeiro, mas também para o cenário nacional, continental e global. O segundo dia de assembleia foi dedicado ao debate sobre as redes sociais e os impactos que elas
evangelização
causam em nossos serviços, principalmente no que tange às atividades socioeducativas das crianças, adolescentes e jovens. O debate foi conduzido pela professora Claudia Prioste, da UNESP - Araraquara, que lembrou como as tecnologias configuram um novo jeito de ser e fazer sociedade, dando ênfase à importância de se pensarem meios para a desconstrução das fake news, estereótipos, individualismo radical e demais inferências que as tecnologias fazem na vida cotidiana. O último dia deu espaço para projetar o próximo ano, a partir de todos os estudos realizados, dos debates travados e também da avaliação dos serviços. Para isso, Frei José ressaltou a importância de criar caminhos de construção do trabalho socioeducativo e pensar as atividades tendo como referência a formação integral dos atendidos do Sefras. A coordenadora técnica Rosângela Pezoti conduziu a construção de propostas e alinhamentos para o Planejamento Estratégico Social 2020. Uma mís-
tica encerrou os trabalhos recordando a trajetória vivenciada na assembleia, as lutas enfrentadas no cotidiano dos serviços e uma prece pelo fim da opressão. O momento foi concluído com uma confraternização que reuniu todos os participantes em um espaço de descontração e alegria. Para Frei Marx Rodrigues, coordenador de Formação, só o fato de se reunir em colegiado já é algo que merece destaque.” Nós precisamos, sempre de novo, valorizar a
capacidade do diálogo, de entender a importância do outro na construção da nossa identidade”, acredita o frade. Segundo ele, dentro de um ambiente de trabalho, torna-se ainda mais importante criar um espaço em que todos os trabalhadores, entre os mais variados papéis de atuação, possam se reunir e conversar com igual valor. “Além disso, cabe ressaltar que em um trabalho social é preciso ler o seu tempo, entender para onde se direciona o
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mundo neste turbilhão de coisas e ideias. Hoje, mais do que nunca, é preciso entender esse tempo, muito difícil para nós e para todo o nosso país. Um tempo em que os empobrecidos, além de discriminados, também são perseguidos em suas indigências”, acredita Frei Marx, acrescentando que a Assembleia tem essa capacidade de pensar o coletivo no seu tempo, nas suas urgências, para propor um novo mundo: “Ainda que timidamente, é muito louvável”, completou.
Rafael Sad Assis Corrêa
Fundação Celinauta lança campanha “Diga sim à vida”
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Fundação Cultural Celinauta, de Pato Branco (PR), começou a divulgar no dia 19 de julho uma série de spots para rádio que fazem parte da Campanha “Dia sim à vida!”. O objetivo da iniciativa é promover a valorização da vida e apresentar às pessoas que passam por dificuldades que sempre existe alguém disposto a ajudá-las a superar seus problemas, por mais graves que pareçam. Além da veiculação local, os dez spots pro-
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duzidos em série, com duração de 20 segundos, estão sendo oferecidos gratuitamente para serem baixados pela internet e utilizados livremente em programações de rádio assim como em momentos formativos e encontros promovidos nas igrejas, escolas e outros lugares. A abordagem é sempre positiva, levando às pessoas uma mensagem de esperança e solidariedade. De acordo com o Coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação e Diretor-Presidente da Fundação Celinauta, Frei Neuri Francisco Reinisch, a campanha surgiu a partir de uma realidade percebida no próprio atendimento pastoral: “Atendendo nos confessionários, nos aconselhamentos, também nos meios de comunicação – embora não noticiemos – temos percebido o aumento na frequência dos casos de suicídio. Esta também foi uma constatação que apareceu no encontro dos frades da Frente de Evangelização das Paróquias, Santuários e Centros de Aco-
lhimento em nossa Província. Neste Projeto ‘Diga Sim à Vida’, desejamos desenvolver ações que visam à valorização da vida diante destes casos”, explica. Frei Neuri conta ainda que a veiculação das chamadas pelo rádio é uma entre outras iniciativas que fazem parte da campanha: “Estabelecemos algumas iniciativas, como pequenos programas de TV e rádio, além da preparação de cartazes a serem espalhados nos pontos de ônibus. Estamos planejando ainda uma série de palestras nas escolas e nas igrejas, assim como a promoção de pequenas peças de teatro e celebrações ecumênicas. Também temos a preocupação de promover ações que fortaleçam os vínculos familiares e, por fim, desejamos mostrar onde as pessoas podem procurar ajuda, divulgando o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pelo número 188 e também pela internet”. O referido material de divulgação está disponível no site: www.portal1010.com.br
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Postulantes no Sefras: experiência do encontro
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condição dos pobres obriga-nos a não nos afastarmos do Corpo do Senhor que sofre neles. Antes, pelo contrário, somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização.”(Papa Francisco) Como ocorre todo ano, os postulantes da Província estiveram presentes em São Paulo noe mês de julho para atuarem junto ao Serviço Franciscano de Solidariedade. Com chegada no dia 30 do mês de junho, os estudantes foram acolhidos pela fraternidade Santo Antônio, no bairro do Pari, até o dia 01 de agosto. Essa etapa formativa possui como objetivo principal aproximar os jovens, candidatos à vida religiosa daqueles que são excluídos do convívio da sociedade. Identificar as “lepras” do dia a dia e transformar o que era amargo em doce foram os desafios propostos no período. Divididos entre os projetos do Chá do Padre, Recifran e CCA Sefras Pery, os postulantes vivenciaram realidades de convívio com as quais muitos relataram ter dificuldades antes da experiência, mas que com a convivência foram mudando de concepção.
Segundo Bruno Dias de Deus, que realizou o estágio junto ao Chá do Padre, “a experiência foi enriquecedora à medida que os meus pensamentos e as minhas atitudes foram se transformando, através do convívio com minhas lepras e a pessoa do pobre, pelo Espírito do Senhor”. Para Fábio Charleaux Luzia dos Santos, que esteve no Pery, “a experiência na periferia com as crianças retirou muitos preconceitos que possuía por conhecer melhor a realidade na qual elas convivem. Nelas podemos aprender o por que o Senhor Jesus escolheu as crianças para o Reino, fora a questão apaixonante que é a alegria delas”.
Já Vinícius Ramon Fank Brand disse que “no Recifran pudemos perceber o quanto um projeto relacionado à reciclagem de materiais contribui com a sustentabilidade ambiental, e é capaz também de reciclar vidas humanas, acalentar sonhos e esperanças”. Em suma, o mês que para todos passou muito rápido demorará muito para sair das mentes dos postulantes, que, animados em sua vocação, buscaram ouvir o apelo do Senhor, estando ao lado dos pequeninos e prediletos do Reino.
Vinícius de Oliveira Betim e Gilberto S. Costa Junior
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Nesse momento de crise temos de valorizar a resistência, diz D. Zanoni
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arcebispo de Feira de Santana (BA), Dom Zanoni Demettino Castro, e bispo referencial da Pastoral Afro-Brasileira, disse durante a Celebração Eucarística, às 19h30, no Convento São Francisco, na região central de São Paulo, que o povo brasileiro não pode perder a esperança, pois essa é a identidade e missão do cristão. “O lobo e o cordeiro comerão juntos e a criança de colo não vai ter medo de bichos, de cobra venenosa, porque um Menino nasceu para nós, um Filho nos foi dado. Como dizia o profeta Isaías, o povo andava nas trevas e viu uma grande luz. A bota do capataz, que pisa e massacra, e toda veste serão devoradas pelas chamas. Essa é a esperança, apesar do tempo difícil, de negação da vida, de fechamento da pluralidade, de uma mentalidade fascista presente no nosso meio, de negação da ciência, da democracia e da luta pela humanidade. Creio que é nesse momento de crise que devemos valorizar a resistência”, exortou D. Zanoni. Ele foi o presidente da Santa Missa, que teve como concelebrantes os bispos Dom Antônio Wagner da
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Silva, de Guarapuava (PR), e Dom Eduardo Viera dos Santos, de São Paulo. Os três bispos se juntaram a padres e diáconos negros de diferentes dioceses brasileiras para participarem da 29ª Assembleia Geral do Instituto Mariama, que começou no dia 29 e terminou nesta quarta-feira (31/8). Presentes na Celebração Eucarística, estavam o presidente da Educafro, Frei David Raimundo dos Santos, e representantes da Pastoral Afro de diversas Paróquias de São Paulo. A liturgia foi animada pelas “Pastoras do Rosário”, um grupo musical conhecido da Comunidade do Rosário dos Homens Pretos do bairro Penha de França.
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Segundo o arcebispo de Feira de Santana, presbíteros, diáconos e bispos assumem sua negritude com orgulho e compromisso e refletem sobre a Missão Evangelizadora da Igreja, tendo presente a vida concreta do povo, sobretudo o povo negro. “Como bispos e presbíteros negros, nos perguntamos sobre a maneira eficaz de sermos fiéis ao mandato evangelizador do Mestre Jesus”, explicou D. Zanoni, que fez a primeira conferência deste dia do Encontro partindo dos documentos das Conferências Episcopais e, sobretudo, a partir do ensinamento do Papa Francisco. O Pe. Benedito Ferraro, Professor Emérito da PUC, Campinas, enfocou o tema central sob o ponto de vista cristológico. Segundo D. Zanoni, ser cristão é acreditar que essa profecia, esse desejo de vida, de partilha, de solidariedade, não somente do povo de Israel mas de todas as nações, “realiza-se no caminho de Jesus, naquele que passou a vida fazendo o bem, naquele que não teve preconceito para com o estrangeiro, naquele que não quis impor a lei sobre as costas das pessoas, que amou sem impor condição”, acrescentou. Comentando a parábola do joio e do trigo, lida no Evangelho da Missa, o Arcebispo disse que a tentação é logo separar o joio do trigo. “Mas o ensinamento de Jesus nos aponta para uma realidade futura nova: o julgamento. Talvez nós tenhamos essa dificuldade de enfrentar, no momento, tanta diversidade e desrespeito à vida”, observou, lamentando a situação das comunidades indígenas com o atentado no Amapá, a morte “desses irmãos” no presídio Pará, a realidade de sofrimento que vive o povo brasileiro, o crescimento assustador do extermínio da juventude negra. “Nós vivemos nesse mundo de crise e como podemos plasmar uma nova sociedade? Quem vai construir um novo céu, uma nota terra? O céu não vem
evangelização
pronto. Exige de nós uma resposta. E aqui está, meus irmãos e irmãs, a nossa missão como protagonistas dessa realidade, como nos ensina a Conferência de Aparecida: Sujeitos da gestação de um mundo novo de paz e de justiça”, assinalou. Para D. Zanoni, não são os youtubers, os jogadores milionários, os donos do mercado, aqueles que detêm a riqueza e o poder, que vão plasmar esse novo céu, mas “a nossa pertença à Igreja, que não é uma construção de pedra, uma ONG, nem somente a hierarquia, mas a comunidade daqueles que acreditam em Jesus, que diz que ‘o Espírito do Senhor está sobre mim porque Ele me ungiu para dar uma notícia boa aos pobres, libertar os prisioneiros, curar os doentes, recuperar a vista aos cegos’”. Essa é a missão da Igreja, enfatizou o Arcebispo. Para D. Zanoni, a tentação é querer trabalhar só para os bons. “Esse não presta, aquele não tem jeito. Temos que perceber que o Espírito de Deus age não somente na nossa estrutura, na nossa organização, mas onde existe a paz, o amor, a fraternidade, a preocupação com a pessoa humana e que o critério da salvação não se limita ao espaço religioso”, disse, recordando que Jesus ensina a sermos solidários com os irmãos necessitados: ‘Vinde benditos de meu Pai, pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. D. Zanoni contou que participou recentemente de um encontro de jovens, a maioria negros, e que teve como tema: “Negritude e Resistência”. “É importante
perceber a caminhada e resistência. Nós somos chamados, como povo negro, a sermos protagonistas da gestação de um novo mundo”, reforçou.
DESIGUALDADE ENTRE POPULAÇÃO NEGRA E POPULAÇÃO BRANCA
Segundo D. Zanoni, citando o Papa João Paulo II, há mais de trinta anos, os ricos estão cada vez mais ricos às custas dos pobres e os pobres cada vez mais pobres. “E essa realidade só se agravou. Tem crescido por demais a desigualdade. E a nossa preocupação é quando se priorizam políticas de endeusamento do lucro e se esquece das pessoas. E à Igreja - creio que é sua missão - cabe aliar-se e se comprometer com toda a luta que resgate a vida das pessoas, que restaure vidas, que gere ações afirmativas. Creio que esse é o caminho, justamente com o povo negro, com a juventude negra, com esse povo que passou 300 anos de escravidão, esse crime de lesa humanidade. É aquilo que o Papa Francisco tem insistido: Precisamos pensar uma nova economia, uma nova ordem mundial de solidariedade e paz”, ressaltou. Segundo dados do IBGE, 53% da população brasileira é formada por negros e negras, sendo que 70% dessa população vive na extrema pobreza. “A população negra tem três vezes mais o número de assassinatos entre os jovens. Somos a terceira população carcerária, onde a maioria é de negros. São consequências da escravidão que não restaurou, não repartiu a riqueza”, lamenta D. Zanoni, lembrando que a Pastoral Afro, assim como a Pastoral Carcerária, têm como missão ser cuidadores e zeladores, como o Bom Pastor. “Então, evangelizar, como nos ensina o
Papa Paulo VI, não é oferecer um verniz superficial, mas ter presente a concretude da vida. Estar bem presente com seus sonhos, suas alegrias, suas expectativas, suas angústias, dores, mas sobretudo a esperança. A Pastoral Afro tem que estar presente em toda a ação da Igreja de maneira transversal”, indicou. A população negra sofre, hoje também, com a intolerância religiosa. Segundo dados da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro, o número de ataques contra religiões de matizes africanas subiu 70% no Estado. “Nós, de fato, observamos uma demonização das coisas do negro. Da religião do negro. Por que só a cultura dos nórdicos, a cultura europeia, é tida como boa? Um franciscano que foi meu professor, Hugo Fragoso, perguntava por que na liturgia se pode tocar os órgãos que se tocavam nos cabarés europeus, e não se pode tocar os atabaques? Hoje, nós percebemos essa intolerância, esse racismo, essa visão distorcida da fé e do cristianismo. A compreensão da evangelização passa necessariamente pelo encontro com o outro, pela valorização da pessoa humana. Não há referência outra que não seja Jesus. Ele não teve preconceito para com o estrangeiro, sentou-se com a samaritana, passou a vida fazendo o bem, amou sem condição. Então, essa intolerância é a negação da fé cristã e do cristianismo”, lamentou. “Assumir a concretude da vida do nosso povo, a realidade sofrida da nossa gente, é o grande desafio da ação evangelizadora da Igreja neste mundo pluralista e secularizado”, completou. A Associação de Bispos, Presbíteros e Diáconos Negros se constitui como sociedade civil de direito privado, de âmbito nacional, sem fins comerciais e sem vínculos político-partidários. O Instituto foi criado há 29 anos e nasceu a partir da necessidade de recuperar as tradições, a religiosidade, a fé cristã vivida e celebrada na comunidade negra.
Moacir Beggo
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Colaboradores do Grupo Educacional Bom Jesus fazem “Experiência Assis”
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O grupo em frente à Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores.
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os dias 11 a 21 de julho de 2019, 29 lideranças do Grupo Educacional Bom Jesus fizeram uma peregrinação às cidades de Roma e Assis. Foram dez dias intensos de peregrinação, guiados pelo Frei Estêvão Ottenbreit, frade da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, que atualmente trabalha em Roma. Em Roma, entre outros lugares, o grupo visitou as principais Basílicas, as Catacumbas de São Sebastião, o Museu Vaticano, a Cúria Geral da Ordem Franciscana e o Antoniano (Cetro de Estudos Superiores da Ordem Franciscana). No entanto, foi a cidade de Francisco e Clara de Assis que mais causou impacto no coração de cada peregrino. Era grande a curiosidade de todos ver e pisar os lugares onde Francisco e Clara realizaram o seu propósito de vida, de servir ao Senhor e aos pobres e doentes. O grupo visitou todos os lugares marcados pela presença de Francisco e Clara, do nascimento à morte dos santos. Cada dia começou com um momento de reflexão, conduzida por Frei Estevão, sobre os lugares que seriam visitados naquele dia. Foi, sem dúvida uma experiência espiritual que marcou profundamente a vida dos nossos colaboradores e isso é comprovado por alguns depoimentos de participantes da experiência Roma-Assis. Para o presidente do Grupo Educacional Bom Jesus, Frei João Mannes, a viagem foi relevante porque proporcionou a todos uma verdadeira imersão na espiritualidade franciscana. “Sob as sábias orienta-
evangelização
ções e reflexões de Frei Estêvão, não quisemos apenas ver e passar rapidamente pelos lugares marcados pela presença de Francisco e Clara de Assis, mas experimentar e interiorizar, de alguma forma, o propósito de vida que originou e caracteriza o Movimento Franciscano”. Já para o diretor-geral da Instituição, Jorge Apóstolos Siarcos, a peregrinação a Assis foi um grande aprendizado. “Foram 10 dias de cultura e espiritualidade em que realizamos o percurso de maneira cronológica, do nascimento à morte de Francisco. Tivemos aulas para sabermos o significado de cada lugar que iríamos visitar e pudemos nos aproximar da sensação vivida por São Francisco naquela época”. Segundo o gerente José Laurindo Machado, estar em Assis proporcionou momentos de reflexão e profundas trocas de experiência com Deus. “Foi algo singular e infinitamente surpreendente, e as palavras não cabem para descrever essa experiência. Ver as rochas e os caminhos tocados e percorridos por São Francisco nos causou muitas emoções”, conta ele. “Destaco o desejo e o sonho de abandonarmos, assim como Francisco, as coisas que nos impedem de estar próximos de
nosso Criador e peço que São Francisco continue a nos ensinar cada dia mais a seguirmos de coração humilde e contrito em direção a Deus”. Já para a gestora Dirce Kossar, percorrer os caminhos trilhados por São Francisco foi uma mistura de emoção, espiritualidade, força e fé. “A cada passo vinham as perguntas: ‘Estou aqui mesmo?’; ‘Estou vivendo tudo isso?’. Minha admiração por Francisco cresceu ainda mais! Esse caminho fortaleceu a minha fé, e aprendi que preciso ouvir muito e aprender a cada dia com as mensagens por ele deixadas”, conta ela, segundo a qual a cidade é cercada de histórias: “Os lugares trilhados por Francisco são verdadeiros espaços de oração, força e fé. Clara foi a grande surpresa da viagem. Que garra, uma mulher além do seu tempo que fortaleceu os preceitos de Francisco. Participar dessa peregrinação mudou a vida! O que mais me marcou foi a força e a coragem dessas pessoas que enfrentaram instituições e pessoas para amar a Deus e transmitir a paz e o diálogo. O maior exemplo de Francisco: sempre buscar o que há de bom no outro. Como educadores, temos muito a dividir sobre essa experiência espiritual única que
vivenciamos. Em orações, agradeço à Instituição Franciscana pela oportunidade. Paz e Bem!”. Para o gestor Robson Oldenburg, a viagem foi uma experiência indescritível: “Todos os caminhos percorridos e lugares visitados trouxeram emoções e sentimentos tão cheios de paz, de bondade e de fraternidade que é até difícil expressar. Há uma energia diferente naquele lugar, com toda certeza. Pode-se dizer que voltamos restaurados, renovados e com outro olhar acerca de São Francisco de Assis e de Santa Clara, mas, sobretudo, com outro olhar sobre nós mesmos”. Por fim, destacamos a seguinte observação de Frei João Mannes: “Francisco e Clara de Assis, no seu tempo, contribuíram para a reconstrução da Igreja e da sociedade, sendo voluntariamente diferentes, ou seja, vivendo de acordo com os valores do Evangelho de Jesus Cristo. Assim, eles nos inspiram e motivam a cumprir nossa missão institucional de reconstruir a pessoa humana, na atualidade, proporcionando um ensino de excelência e uma educação pautada em valores e atitudes franciscanos”.
Karla Gohr Ribeiro SETEMBRO de 2019 – comunicações
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MISSãO FRancIScana E MOdERnIdadE na EdUcaçãO
FAE realiza inauguração simbólica do FAE LAB
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FAE Centro Universitário reuniu coordenadores de cursos e de núcleos no início desse semestre letivo para celebrar e refletir sobre a missão franciscana da Instituição durante cerimônia no FAE LAB. Este novo empreendimento amplia a infraestrutura da FAE e moderniza o ensino com foco em atividades práticas. “O FAE LAB é um espaço de integração e relacionamento entre a univer-
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sidade, o Ensino Médio e a comunidade e merecia uma cerimônia de iniciação. A bênção foi pensada de maneira simbólica para o prédio, que começou as atividades neste ano”, comenta Marco Pedroso, diretor do campus Curitiba da FAE Centro Universitário. A bênção foi realizada pelo presidente do Grupo Educacional Bom Jesus, Frei João Mannes, e contou com a presença do reitor da FAE, Jorge Apóstolos Siarcos.
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Metodologia hands-on
O prédio de inovação foi aberto ao público no primeiro semestre de 2019, possui oito andares, dezenas de laboratórios, equipamentos modernos e equipe técnica especializada. Nele, os alunos têm o conhecimento ampliado: além de praticar conhecimentos específicos do seu curso, criam, produzem e testam serviços e produtos com colegas de diferentes graduações, como ocorre em projetos reais no mercado de trabalho.
EvangElIzaçãO
aBRIndO caMInHOS
Projeto social da FAE Centro Universitário empodera e prepara adolescentes para o mercado de trabalho
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Projeto Caminhos deste 1.º semestre de 2019 abriu as portas da FAE Centro Universitário, campus São José dos Pinhais, para jovens descobrirem o seu potencial e, assim, entrarem no mercado de trabalho. A parceria com a Escola Arnaldo Jansen promoveu a oficina “Eu sou mais eu”. A atividade teve como objetivo dar melhores condições para os adolescentes participantes se motivarem e se prepararem para o mercado de trabalho. Os professores da FAE Andrea Bier Serafim, Elizabeth Bezerra Lopes Murakami, Fernando Schumack Melo, Juliana Simoes Bolfe, Maristela Ferreira de Andrade Gomes e Silva e Ricardo Lemes da Rosa aborda-
ram temas como empreendedorismo, inovação, escrita, mediação e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que vão auxiliar os participantes profissional e pessoalmente.
Desenvolvimento social
Criado em 2012, o Projeto Caminhos é promovido pelo Núcleo de Extensão da FAE São José dos Pinhais e coordenado pelo professor Ricardo Lemes da Rosa. Já foi destaque por suas práticas inovadoras em educação e busca promover um espaço comunitário e cidadão para crianças e adolescentes se desenvolverem.
Juliano Zemuner SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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USF integra ranking dos 10 melhores cursos de Educação a Distância do Brasil
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Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais na modalidade Educação a Distância (EAD) da Universidade São Francisco (USF) foi destaque no EAD Ranking, realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). A USF ficou entre as 10 melhores Instituições de Ensino, sendo que foram avaliados 200 cursos em diversos níveis (regulares, graduação ou pós) e áreas de interesse. O Curso Tecnologia em Processos Gerenciais da USF recebeu em 2017 o conceito 5, avaliação máxima do Ministério da Educação (MEC), que analisa corpo docente, instalações físicas e projeto pedagógico. O EAD Ranking é calculado com base em quatro indicadores: avaliação de tutores e coordenadores de cursos (40% da pontuação), popularidade entre empregadores (20% da pontuação), efetividade dos recursos tecnológicos oferecidos pelo curso (20% da pontuação) e quantidade de alunos por tutor (20%). O ranking é uma parceria entre o Canvas, a Rede Rankintacs, a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), a Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento
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comunicações – SETEMBRO dE 2019
(ABTD) e o Grupo Gestão RH traz uma classificação inédita na educação a distância. Para o Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão, professor Dilnei Lorenzi, o Curso da USF está entre os melhores do ranking devido à excelência nos indicadores avaliados. “Ser destaque neste ranking inédito demonstra o compromisso da USF em consolidar os cursos de EAD com qualidade. Temos pólos de EAD com estrutura física invejável, além das próprias unidades, para receber o aluno e oferecer ensino a distância, mas também um ensino personalizado”, afirmou o Pró-Reitor. A cada cinco estudantes de ensino superior no Brasil, um utiliza a modalidade a distância. Dados do Censo Superior, divulgado pelo Inep, indicam que 1,8 milhão de universitários estão na EAD. O ensino superior tem 8,3 milhões, segundo último Censo, divulgado no ano passado. Para o coordenador do Núcleo de Educação a Distância (NEAD), Renato Adriano Pezenti, o bom desempenho também é resultado da maneira como a USF atua no ensino superior brasileiro. “A oferta de EAD responde, de modo muito feliz, à própria missão da USF de promover e difundir o conhe-
cimento, sendo a EAD uma plataforma para isso. Oferecemos um ensino com forte traço de acessibilidade e democratização”, afirmou o coordenador. Para a coordenadora do Curso, professora Simone Cristina Spiandorello, o bom desempenho se deve, entre outros itens, ao envolvimento do corpo docente. “Para nós essa conquista reflete o grande envolvimento do corpo docente que elaborou cuidadosamente os conteúdos e as avaliações do curso, seu engajamento na tutoria, o compromisso da equipe técnica com prazos e qualidade, tudo isso articulado pelo grande profissionalismo de toda a comunidade acadêmica na USF e que nos permitiu ganhar a confiança de nossos alunos para sua formação profissional”, afirmou a docente.
o Curso
O Curso de Educação a Distância (EAD) Tecnologia em Processos Gerenciais da USF conta com uma série de atividades, que vão desde a indicação de textos para a leitura, vídeo-aulas, discussões em fóruns, realizações de tarefas individuais e em grupo, entre outras. Os estudantes têm ainda encontros presenciais durante o semestre e, ao final do curso, poderão atuar na administração de pequenas e médias empresas, fomentando o empreendedorismo por meio da utilização de técnicas e métodos de gestão, além de promover o crescimento efetivo das organizações. A USF oferta mais de 30 cursos de Graduação e Pós-Graduação a distância, com pólos nas cidades de Bragança Paulista, Campinas, Atibaia, Itatiba e Petrópolis. São cursos nas áreas de saúde, humanas, exatas e superiores de tecnologia. Os interessados podem se inscrever em usf.edu.br/vestibular.
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Comunicadores refletem sobre Clara de Assis
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ara abrir o mês de agosto, no qual a Família Franciscana celebra com alegria a memória de Santa Clara, a Frente de Evangelização da Comunicação escolheu refletir os principais aspectos da vida e da vocação de Santa Clara de Assis no 4º Encontro de Formação Permanente, que aconteceu na quinta-feira, 1º de agosto. Estiveram presentes na formação - através de videoconferência - os colaboradores envolvidos na comunicação do Grupo Educacional Bom Jesus, de Curitiba (PR); Convento da Penha, de Vila Velha (ES); Editora Vozes, de Petrópolis (RJ); Rede Celinauta, de Pato Branco (PR); Fundação Frei Rogério, de Curitibanos (SC); Seminário Frei Galvão, de Guaratinguetá (SP); Universidade São Francisco, de Bragança Paulista (SP); Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras); Serviço de Animação Vocacional (SAV) e Sede Provincial, ambos na capital paulista. O encontro contou com a assessoria de Karine Goulart de Almeida, estudante de História na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisadora sobre os escritos de Santa Clara e também vocacionada das Irmãs Clarissas. Ela fez um breve relato sobre a vida de Santa Clara, destacando os aspectos principais da vida desta grande santa, fundadora da Segunda Ordem Franciscana, a Ordem de Santa Clara (OSC). A assessora destacou a importância desta santa para a Igreja, pois foi a primeira mulher a escrever uma regra somente para mulheres. Para ela, o feito revela a força de Santa Clara dentro da Igreja Católica.
Segundo Karine, a mensagem de Santa Clara é extremamente atual. “Vivemos um momento muito difícil, onde precisamos olhar para o outro, praticar o amor e ver que somos iguais. O maior exemplo de Clara foi dedicar sua vida no acolhimento das pessoas. Olhando pelos olhos do mundo, ela era bonita, rica, tinha tudo para ser uma grande personagem da nobreza. Mas abriu mão de tudo para se entregar aos pobres. A verdadeira caridade é amar o seu irmão”, destacou a jovem.
Clara: padroeira da televisão
Na biografia de Santa Clara, escrita por Tomás de Celano, há o relato em que certo dia, na manhã do Natal do Senhor, as irmãs deixaram Clara sozinha em casa para ir à missa na igreja São Francisco. Clara já estava muito doente e debilitada para sair e participar da celebração. Clara estava rezando, quando passa a ver e ouvir toda a celebração que acontecia longe de onde ela estava. Quando as irmãs retornaram, Clara relatou tudo o que tinha acontecido na celebração. Por isso, em 1958, o Papa Pio XII declarou Santa Clara como a Padroeira da Televisão. Para Karine, a comunicação é uma das melhores formas de divulgar o carisma clariano. “Quanto mais encontrarmos programas que falem de Santa Clara e divulguem o carisma, melhor. Santa Clara trouxe muitos ensinamentos e que ainda são atuais. São 20 mil religiosas clarissas em todo o mundo. Elas estão nos mosteiros e a comunicação
é uma forma de levar a mensagem até onde elas não podem chegar. A comunicação busca atalhos e caminhos para chegar onde não podemos ir”, relatou a assessora.
A maior ordem feminina do mundo
A Ordem das Clarissas é a ordem feminina mais numerosa do mundo. Ao todo, são 20 mil religiosas em todo o mundo. Só no Brasil existem 20 mosteiros, com um número estimado de 300 religiosas, entre as Clarissas, Clarissas urbanistas e Clarissas capuchinhas. Para a estudiosa, que também é vocacionada clarissa, são muitos fatores que levam à diminuição de vocações na Igreja, como as diversas possibilidades oferecidas pelo mundo e a falta de influência religiosa nas famílias. Mas, embora o número de vocações tenha diminuído, elas sempre irão existir. “A vocação é da comunidade. Ela é muito maior que outros fatores, como o estudo, por exemplo”, relata Karine. Para ela, outro fator determinante é ter perseverança na caminhada vocacional.
Érika Augusto SETEMBRO dE 2019 – comunicações
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Moisés e Jesus
eguidamente, a Bíblia narra fatos curiosos, na maioria das vezes, relacionados com o contexto histórico. Pelo estudo e reflexão, o leitor pode fazer suas considerações, lendo o que está contido nas entrelinhas. Estas podem estar certas, mais ou menos certas, ou erradas. Por ocasião do nascimento de Moisés, o Faraó, temendo uma revolta dos escravos, decretou que as parteiras matassem os recém-nascidos masculinos (Ex 1,1521) e que o povo “jogasse no rio qualquer filho nascido dos hebreus” (Ex 11,22). A filha do Faraó foi banhar-se no rio Nilo e viu, numa cesta, uma criança hebreia. Entregou-a a uma ama, mas que a devolvesse, quando desmamada. Ela a chamou de Moisés porque “eu o tirei das águas” (Ex 2,1-10). Foi educado na corte e teria um futuro promissor. A grandeza de Moisés é que ele não esquece suas origens. Certa ocasião, “desceu do palácio para ver os seus irmãos” e matou um egípcio que maltratava um hebreu. Precisou fugir porque corria risco de vida (Ex 2,11-15). O curioso é que a Bíblia não recrimina este assassinato. Na fuga, conheceu a família de Jetro e desposou uma de suas filhas. Enquanto pastoreava as ovelhas (Ex 3,1), encontra-se com Deus, no Monte Horeb. Ele se revela como YWHW (Javé), o “Eu Sou”. O “Eu Sou” quer, com ele, libertar o povo da escravidão, trazê -lo a esta montanha para fazer uma Aliança e reintroduzi-lo na sua terra, Canaã. Moisés resiste e não quer ir: diz que é indigno, que deve mandar outro, que não sabe falar bem e o povo
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não acreditaria (cf. Ex 3,1 – 4,17). O curioso é que ele encobre o assassinato e que o Faraó está à sua procura (Ex 2,15). Diríamos hoje – ele é “procurado pela polícia” e, certamente, cairia na “boca do leão”. Etimologicamente, Jesus (=Salvador) Cristo (= Ungido) é o Ungido de Deus para libertar todos os povos da pior escravidão que é o pecado. Seu nascimento é angustiante e conflitivo. Angustiante porque o recenseamento fez com que Maria e José fossem de Nazaré a Belém (121 km). E o menino nasceu numa gruta (Lc 2,1-20). É conflitivo porque fugiram para o Egito. Ao ser enganado, Herodes decretou a morte de todas as crianças de Belém e arredores, pensando que o Messias estaria incluído nesta matança (Mt 2,13-23). Se a Bíblia não recrimina o assassinato de Moisés, também não diz que os Magos agiram errado ao regressarem para casa sem avisar Herodes, conforme o combinado. Isto é, descombinaram o combinado (Mt 2,1-12). Tanto lá como cá, o que estava em jogo é a vida. Para YWHW, ela está acima de tudo. Moisés foi, também, um legislador e selou uma Aliança entre Deus e o povo: “Vós sereis meu povo e eu serei o vosso Deus” (cf. Ex 19,1 – 24,11). Os cinco livros do Pentateuco são uma explanação e adaptação da Torá no transcorrer da história. É a grande obra da Lei Mosaica, base fundante da Bíblia Hebraica. Jesus não veio aboli-la, mas darlhe pleno cumprimento: “Ouvistes o que foi dito... Eu (YWHW), porém vos digo”. Todo esse conteúdo, que
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contém a essência do cristianismo, Mateus o explana em três capítulos (Mt 5,1 – 7, 29), no Sermão da Montanha, em referência ao Monte Sinai. É interessante notar que Jesus proclama estes ensinamentos “sentado” (Mt 5,1), como um catedrático/catequista. O mesmo acontece na sinagoga de Nazaré (Lc 4,20) e à beira do lago de Genesaré (Lc 5,3). Jesus escolheu os doze (Mc 3,3-19), deu-lhes formação a sós (Mc 4,34) e envia-os em missão a todos os lugares onde Ele mesmo devia ir (Lc 10,1). Jetro, sacerdote de Madiã e sogro de Moisés, ao ver que este fazia trabalho estafante e centralizador, aconselhou-o a dividir as funções, escolhendo homens capazes, instruindo-os e constituindo -os “chefes sobre mil, cem, cinquenta ou dez pessoas. As questões mais graves trarão para ti, enquanto as questões mais comuns eles próprios resolverão”. Esse grande líder morreu nas “estepes de Moab no Monte Nebo, às portas da Terra Prometida e nela não entrou” (Dt 34,1). É estranho e curioso que “ninguém saiba onde fica a sepultura dele” (Dt 34,6). Por que será?! Na peregrinação pelo deserto, enfrentou muitas reclamações do povo, especialmente, sobre água e comida. Há, até, um movimento para escolher um novo líder e voltar ao Egito (Nm 14,1-4). Ele mesmo diz que correu risco de ser apedrejado (Ex 17,4). Tudo isso nos Frei Luiz Iakovacz faz refletir!
Por Frei Yves Leite
Mestre na cantoria... Capricha, Frei roger!!!
Frei Jefferson: É refri!...
Frei berg, essa barba é de verdade?
Sou fã da Mônica!!! Teólogos felizes descendo a Serra.
o frio deu até sono, não é Frei João?
Canta bem esse Frei!
FRATRUMGRAM é um neologismo que nasce da palavra Frades mais a rede social Instagram. A ideia é publicar fotos curiosas, informais e descontraídas dos frades e das Fraternidades! Se você fez uma foto legal, envie-nos para o email: comunicacao@franciscanos.org.br!
Província Franciscana da imaculada Conceição do brasil (*) As alterações e acréscimos estão destacados
seTemBRo
DeZemBRo
04 e 05
02
05 a 08 08 10 a 12 16 16 16 16 19 e 20 23 a 26 30 30 e 01
Reunião do Conselho para a Formação e Estudos (Sede Provincial); Encontro Nacional dos Irmãos Leigos (OFM, OFMCap, OFMConv e TOR) (Lagoa Seca, PB) Profissão Solene (Petrópolis) Reunião do Definitório Provincial (São Paulo); Encontro do Regional de Curitiba (S. Boaventura) Encontro do Regional do Espírito Santo Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Gaspar) Encontro do Regional do Vale do Paraíba (Fazenda da Esperança) Encontro ampliado da Frente da Educação (Petrópolis); Encontro dos Frades Under Ten – Província (local a ser definido) Encontro do Regional São Paulo (Amparo) Encontro do Regional do Contestado (Piratuba)
02 02 e 03 02 e 03 04 a 06 09 09 e 10 09 e 10
Encontro do Regional de Curitiba (Caiobá) Encontro do Regional do Vale do Itajaí (Blumenau) Encontro do Regional do Vale do Paraíba (São Sebastião) Encontro recreativo do Regional do Contestado Celebração provincial dos Jubileus (Petrópolis); Encontro do Regional São Paulo (Bragança Paulista) Encontro do Regional do Leste Catarinense – recreativo Encontro do Regional do Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí (Blumenau)
mÊs missionÁRio eXTRaoRDinÁRio
ouTuBRo 6 a 27 07 e 08 17 e 18 18 a 20
Sínodo para a Amazônia (Roma) Encontro do Regional do Leste Catarinense (Angelina) Encontro ampliado da Frente de Comunicação (Rondinha); Estágio Vocacional - Ensino Médio (Ituporanga/SC)
19 e 20
Coleta pelas Missões em favor de Angola
31 a 03
Estágio Vocacional - Ensino Médio e Aspirantado (Guaratinguetá/SP)
noVemBRo 15 15 a 17 20 e 21 25 25 26 a 28
Encontro do Regional da Baixada e Serra Fluminense (Taquara) Alverne - Encontro de Formação para Jovens (Vila Velha/ES) Reunião do Conselho de Formação e Estudos (Sede Provincial); Encontro do Regional do Espírito Santo Encontro do Regional do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense Reunião do Definitório Provincial
A Igreja de Cristo em missão no mundo
2020 JaneiRo 06 08 20 a 30
Primeira Profissão dos noviços (Rodeio); Admissão dos noviços (Rodeio); Curso na Cúria Geral para novos Ministros Provinciais (Roma);
FeVeReiRo 02 a 11
Visita do Ministro Geral e do Definidor Geral à Província da Imaculada;