//revista SETEMBRO DE 2020 ANO LXVIII • N o 09
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL
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Sob a proteção da
ANOS
//sumário MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL “Missão é sempre partir...” .........................................................................
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FORMAÇÃO PERMANENTE “Ação missionária permanente”, artigo de Frei Robson Scudela..............................................................................
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FORMAÇÃO E ESTUDOS
ESPECIAL ANGOLA CELEBRA 30 ANOS
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Ministério do Leitorado na Teologia ................................................... 532 Conselho da Formação e os Estudos reúne-se virtualmente ................................................................................ 535 800 Anos de Noviciado na Ordem dos Frades Menores ....... 536 Encontro da Cúria Geral com formadores e formandos ....... 540 Franciscanos se unem para celebrar o “Tempo da Criação”.................................................................................... 541
SAV
SAV encerra agosto com “Live” Vocacional .................................... 542
FRATERNIDADES SÉRIE NOSSOS FRADES: Frei José Lorenz Führ, sempre missionário tirió ............................................................................ 544
EVANGELIZAÇÃO
FREI JOSÉ LORENZ FÜHR, SEMPRE MISSIONÁRIO TIRIÓ
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Celebração ecumênica marca 26º Grito dos Excluídos no Convento da Penha ......................... 550 Reunião do Conselho de Evangelização ......................................... 552 “Candomblé - Formação e compreensão religiosa de uma tradição afro-brasileira”, novo livro de Frei Volney .......... 553 ESPECIAL - Angola celebra 30 anos ................................................. 554 Lages: Varal Solidário beneficia dezenas de pessoas ............... 566 UNIFAG recebe habilitação para realização de testes para diagnóstico da Covid-19 .......................................... 567 Evangelizar-educar “em e como” Fraternidade ............................ 568 Lições para a Comunicação nesse tempo de pandemia ...... 570 “São Francisco de Assis é nossa inspiração”, diz o Ministro Provincial na festa dos 20 anos do Sefras .................... 571 Vozes celebra o Dia do Catequista com Super Semana de lives .................................................................... 574
DEFINITÓRIO PROVINCIAL
Notícias da reunião nos dias 2 e 3 de setembro.......................... 576
FALECIMENTO PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL Rua Borges Lagoa, 1209 CEP 04038-033 | São Paulo - SP www.franciscanos.org.br ofmimac@franciscanos.org.br
Frei Gregório Martins ................................................................................... 581
NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES “O presbítero e a ‘“tristeza adocicada’”, artigo de Frei Luiz Iakovacz....................................................................... 584 Agenda e poema de Frei Walter............................................................ 583 “Tutti Fratelli”, nova encíclica do Papa Francisco.......................... 584
C
aros confrades e demais irmãs e irmãos, leitores das Comunicações de nossa Província, Paz e Bem!
Este é o título da poesia de Dom Hélder Câmara, o “Santo Rebelde”, que ilustra a contracapa da revista comemorativa pelos 25 anos de Missão Franciscana em Angola, publicado em 2015. Cinco anos depois, eis-nos aqui, celebrando os 30 anos desta iniciativa que nasceu no coração de nossa Província como gesto de gratidão por ocasião do centenário de sua restauração pelos frades alemães, comemorado em 1991. Somos fruto da vocação missionária de nossa Ordem, primeiro pelos portugueses, depois pelos alemães. Além deste marco histórico, também ressoava na mente e no coração dos frades
de nossa Província os apelos da Carta “A África nos chama”, escrita pelo Ministro Geral, Frei John Vaughn, em 1981, por ocasião do VIII centenário do nascimento de São Francisco. Neste documento vemos o apelo para que a Ordem intensificasse sua presença no Continente: “Em nosso caso, esperamos saber mais do Francisco africano e dos pontos de vista e da experiência daqueles valores que reconhecemos como parte de nossa identidade franciscana”, escreveu Frei John Vaughn à época, manifestando sua expectativa de conferir ao carisma franciscano um rosto africano. Destacando esta providencial coincidência, o Ministro Provincial por ocasião do nascimento da Missão em Angola, Frei Estêvão Ottenbreit, recordou, em entrevista à Revista dos 25 anos: “Então, juntaram-se duas coisas: o motivo
//mensag gem
Missão é sempre partir...
//mensagem do centenário e a carta ‘A África nos chama’. O centenário nos deu o motivo, e a carta, a direção e o modo de como deveríamos estar presentes em Angola. (...) Uma presença, portanto, como irmãos e menores, partilhando o carisma com jovens dispostos a abraçá-lo e dando-lhe um rosto angolano”. E assim se fez. Depois de muitas correspondências, conversas e tratativas, no dia 25 de setembro de 1990, pisaram em solo angolano, nossos três primeiros missionários: Frei José Zanchet, Frei Plínio Gande da Silva e Frei Pedro Caron. Os dois primeiros já partiram em missão para a eternidade, Frei José Zanchet, em 2017, e Frei Plínio, aos 03 de fevereiro deste ano. Frei Pedro Caron faz parte atualmente da Fraternidade Franciscana São Francisco Solano, em Curitibanos, SC. No mesmo ano, a Missão recebeu o reforço de Frei Juvenal Sansão, vindo de outra missão, em Guiné-Bissau. Hoje, aos 93 anos, Frei Juvenal reside atualmente na Fraternidade São Francisco de Assis, em Bragança Paulista. A estes pioneiros que partiram com poucas garantias, mas muita ousadia, a nossa profunda gratidão. Ao longo dos anos, a eles foram se somando tantos outros irmãos que gastaram boa parte de suas vidas no impulso desta Missão, e foram acolhendo as vocações franciscanas angolanas, enviadas por Deus. Hoje temos uma entidade vigorosa, a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola – FIMDA, e com um presidente angolano, Frei António Boaventura Zovo Baza. Nossa Província é
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hoje agraciada com a presença em seus números de 73 frades angolanos. Trinta anos depois, sobram-nos motivos para rendermos graças a Deus pelos inúmeros benefícios realizados no decorrer desta história abençoada. Somos profundamente gratos: Pelos tantos irmãos missionários que abraçaram e abraçam com entusiasmo nossa Missão em Angola. Pelo dom da vocação dos confrades angolanos que vieram se achegando e hoje formam conosco uma mesma e única fraternidade, agora ainda mais completa e enriquecida por diferentes culturas, sotaques e línguas. Pelo povo de Deus presente em nossas áreas de missão, que dia após dia nos evangelizam com a esperança e a generosidade cultivadas mesmo diante de grandes desafios. Pelos benfeitores que, ao partilhar do pouco ou muito que possuem, tornam-se missionários conosco. Por nossas fraternidades, atividades evangelizadoras e casas de formação, manifestação visível da presença de nosso carisma nestas terras. Pelo olhar materno e cuidadoso de Maria, a Mamma Muxima, Imaculada Conceição e Imaculada Mãe de Deus. Ela foi e continua sendo presença intercessora e cheia de graça em cada passo da missão Que Deus, em sua infinita Bondade, faça chegar nossa gratidão ampla e irrestrita a todos (as) que deixaram seu nome marcado nesta divina aventura.
mensagem//
Se a gratidão é abundante, sobram também os desafios. Conscientes de que “Missão é sempre partir”, permanece para nós o compromisso de sermos uma “Província em Saída”, conforme aponta a segunda prioridade de nosso Plano de Evangelização. Que, ao celebrarmos esta data festiva, peçamos ao Senhor que desperte em nossos corações a coragem missionária de partir e o desejo de servi-Lo para além dos limites de nossa pátria e cultura.
Sefras: 20 anos de solidariedade
Na mesma poesia cujo título abre esta mensagem, Dom Hélder afirma: “[Missão] é sobretudo abrir-nos aos outros como irmãos, descobri-los e encontra-los”. Neste mês de setembro, também temos a graça de celebrar os 20 anos de fundação do Serviço Franciscano de Solidariedade, o Sefras. Foi em setembro de 2000 que o Capitulo Provincial aprovou a criação da entidade. Desde lá, o Sefras tem prestado o importante serviço de organizar e articular diversas iniciativas solidárias que são parte fundamental de nossa missão evangelizadora. Nossa imensa gratidão também aos confrades, colaboradores, voluntários e inúmeros atendidos e atendidas por esta expressão concreta
de nosso compromisso irrenunciável com os últimos da sociedade. Para concluir, uma oportuna e necessária recordação do Papa Francisco em sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2020, que serve também para motivar e dirigir a atuação de nossa solidariedade franciscana: “No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida”. Fraterno abraço!
Frei César Külkamp MINISTRO PROVINCIAL
P.S.: A partir deste número, nossas Comunicações passam a ser impressas totalmente em cores, aproveitando ainda mais os relatos e imagens de nossa vida e de nossa missão. Nossos agradecimentos e congratulações à equipe de Comunicação da Província, bem como à Secretaria e ao Economato, por tornarem possível esta qualificação. COMUNICAÇÕES
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Ação missionária permanente á tempos, num contexto cristão, estávamos acostumados a restringir a palavra missão a uma realidade bem específica. A compreendíamos como aquela ação evangelizadora realizada em terras “infiéis”, onde o cristianismo ainda não havia chegado. Derivado desta palavra, tínhamos “o missionário”, isto é, o apóstolo, o cristão que realizava a missão. Atualmente, a palavra missão (missionário) tomou um novo sentido. É possível justificar esta mudança por duas razões. A primeira é que a sociedade atual não se encontra mais na era da cristandade com a sua regra “o homem nasce cristão”. Com isso, é possível encontrar, em todos os lugares, alguém a quem o anúncio da Boa Nova não lhe tenha chegado. A segunda, a mais relevante para a nova evangelização, é que o cristão de hoje
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redescobriu que o ser missionário é dimensão fundamental do ser cristão. Podem-se ver hoje homens e mulheres que estampam em camisetas seus atestados de batizados com afirmações do tipo “eu sou cristão”, ou ainda, “eu sou católico”, mas que estão distantes da vivência missionária. Este é um dos vírus do cristianismo hodierno que causa apenas sintomas leves. Um vírus que não permite ao cristão uma relação pessoal com Jesus Cristo, de onde surge e se fundamenta a ação missionária cristã. A relação pessoal com Jesus Cristo leva o cristão a um amor totalmente pessoal e íntimo com Ele, não sendo esse amor mera ideologia ou vago estágio de ânimo, mas sim um constante amadurecimento na identidade cristã, inovada diariamente, pois, de fato, “sempre somos cristãos para nos
tornarmos cristãos”, como diria Karl Rahner. Sendo assim, diante dos atuais sinais dos tempos e da relação pessoal com Jesus Cristo, a dimensão missionária é retomada como expressão necessária do cristianismo, daquilo que cada cristão é e daquilo que é chamado a ser, o que poderia ser resumido na expressão do Papa Francisco: “Eu sou sempre uma missão”.
Deus: origem da missão
A missão cristã tem sua origem em Deus e em sua manifestação em Jesus Cristo. É ele o missionário por excelência, Aquele que por primeiro se doa ao outro para lhe comunicar algo. Essa é uma das bases da fé e da experiência cristã. Deus, em seu amor e em sua autocomunicação, desejou “missionar-se” em direção à humanidade e o desejou enquanto criatura, tornando-a livre para
formação permanente// que, nesta liberdade, pudesse-lhe dar um sim, e nesta sua resposta se colocar ativamente em sua missão de criatura. A dinâmica missionária de Deus, evento no mistério do amor trinitário, sinaliza à criatura o modo de se concretizar a missão. A Trindade, comunicando-se mutuamente e em unidade, manifesta-se à criatura humana numa missão que não se faz fechada em si, a partir de uma comunidade isolada, mas aberta à toda criação. Diante deste desejo de Deus de se comunicar e tornar-se próximo, a criatura humana é convidada a sair de si, de seu isolamento e aproximar-se do Mistério. Aqui, encontra-se a mística missionária, onde Deus vem ao encontro da criatura humana, manifestando-Se a ela, e a ascese missionária, onde a criatura sai de si e vai ao encontro de Deus. Uma experiência concreta de fé.
Crise missionária como “hora de Deus”
A consequência deste encontro com o ser missionário de Deus é a crise missionária da criatura. Essa ajudará a criatura a realizar uma missão que parta da experiência de Deus, privada dos interesses pessoais. Não conta mais a “minha missão”, mas a experiência missionária de Deus. Uma experiência neste sentido leva a criatura a rever a sua vida e perceber qual é o envio missionário que lhe é dirigido. A criatura humana se dá conta de que Deus a estima e lhe pede algo que somente ela lhe pode dar. Tal experiência, todavia, nunca será um fechamento entre Deus e a criatura individual. Isso seria criar um Deus muito pessoal, um ídolo, muito distante do Deus que tem uma história com o seu povo e foi revelado de maneira tão clara em Jesus Cristo. A ação missionária, que passa pela crise como hora de Deus, chega ao anúncio do verdadeiro Deus. Leva a criatura humana a passar do “deus-ídolo”, criado facilmente pelos seus quereres humanos, para reconhecer
que Deus é quem age em toda a ação missionária. E faz, ainda, a criatura sair do “de-eus” (eu fiz, eu construí, eu, eu...) para reconhecer que é Deus quem age através dela (Adm 12).
“E depois que o Senhor me deu irmãos”
A condição fundamental para se realizar a missão desejada por Deus, e não aquela querida pela criatura individual, é a presença da fraternidade. A fraternidade não permite que Deus se reduza a um ídolo pessoal e nem mesmo que a missão seja condicionada a quereres pessoais. É a presença do irmão que purifica a experiência pessoal, visto que Deus se revela a todos e na partilha desta revelação individual, pode-se compreender melhor o Mistério. Para isso é necessário sair da chamada “pobre comunicação fraterna” porque esta não abre espaços para a confiança nem para a liberdade de partilhar entre os irmãos o rosto de Deus, revelado a cada um dos membros da fraternidade. Será isso que permitirá à fraternidade purificar cada vez mais a sua experiência de Deus, levando-a ao encontro de toda a criação, tornando-a missionária, direcionada àqueles que são os preferidos de Deus, os últimos. Em resumo, pode-se constatar que o diálogo fraterno prepara os irmãos para traduzirem aos últimos a experiência de Deus. Surge aqui uma fraternidade missionária sensível para perceber que Deus não faz distinção, mas chama a todos para que se aproximem Dele. Perceber isso em fraternidade abre caminhos à participação de todos na missão. Algo experimentado inicialmente na vida Fraterna e que passa a ser partilhado com toda a humanidade, ou seja, com os leigos que entram em contato com a fraternidade missionária. A fraternidade missionária, por sua vez, se torna cada vez mais capaz de traduzir para a realidade local a mensagem do Evangelho que conduz todos ao encontro de Deus.
Ação missionária como formação permanente
A ação missionária torna-se, deste modo, lugar de formação permanente, ou, ainda, termômetro da formação permanente, uma vez que ela revelará três realidades: a primeira é de como cada um dos irmãos se encontra em sua experiência de Deus; a segunda é o quanto o diálogo fraterno é a marca da fraternidade; e a terceira é de como a fraternidade é sinal de Deus para o mundo. Ou seja, a ação missionária evidencia como se encontram as três realidades da vida fraterna: o remetente, o destinatário e a mensagem. No remetente, tem-se o cristão missionário (o religioso) que é o portador da mensagem própria da ação missionária, no caso, Jesus Cristo e a experiência de Deus. Ao remetente caberá sempre um questionamento sobre seu próprio modo de se relacionar com a mensagem e com o destinatário. Provocações que não apenas exigem esforços racionais, mas fazem com que o emissor questione também sua sensibilidade missionária em relação à mensagem e ao destinatário. O destinatário, de início, são os membros da fraternidade, que o ajudarão a discernir se tal mensagem já estaria traduzida para chegar ao destinatário final: o pobre. Toda a ação missionária em fraternidade é formação permanente, pois através dela os irmãos aprendem a celebrar e a agradecer juntos pelo dom comum da vocação e da missão. Aprendem a aceitar o caminhar lento dos mais fracos, levando a Fraternidade ao respeito e à solidariedade. E, por fim, levando a fraternidade a realizar sua missão conforme os seus próprios dons, conduzindo todos ao crescimento na experiência de Jesus Cristo que conduz a Deus.
Frei Robson Luiz Scudela, Coordenador da Frente das Missões COMUNICAÇÕES
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//formação e estudos
MINISTÉRIO DO LEITORADO NA TEOLOGIA
“Ser leitor é seguir e imitar a ação de Deus”, diz Frei César aos novos leitores da Província oi com essa motivação que o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, acolheu quatro frades do tempo da Teologia ao Ministério do Leitorado. Frei Augusto Luiz Gabriel, Frei Crisóstomo Pinto Ñgala, Frei David Belinelli e Frei Horonato Salvador Gaspar Gabrie foram instituídos leitores no
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sábado (12/9), às 8 horas, durante a Oração da Manhã (Laudes) na Igreja Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ). Segundo Frei César, esses jovens frades não ganharam distinções de poder, mas assumem um serviço. “A igreja quer ser ministerial, ou seja, viver na dinâmica
do serviço, da dinâmica do lavapés”, disse o Ministro Provincial. A Fraternidade do Sagrado e um pequeno número de fiéis participaram deste momento. O povo pôde acompanhar pela página do Facebook da Paróquia O rito de instituição dos leitores teve início com a chamada feita pelo
mestre Frei Marcos Antônio de Andrade após a leitura do Evangelho.
CRISTO, O PRIMEIRO GRANDE LEITOR
Na sua reflexão, Frei César disse que os novos leitores são escolhidos para servir à Palavra de Deus, para proclamá-la com reverência e dignidade. “O centro de tudo é a Palavra de Deus. Não existe celebração que não tenha a Palavra. É o momento em que Deus mesmo nos fala, nos orienta e nos conduz. Portanto, aquele que lê, aquele que proclama, o leitor, ele serve à Palavra. E serve em favor de toda a comunidade cristã”, explicou. Segundo o Ministro, o leitor se torna um mediador, aquele que empresta sua própria voz a Deus. “Mas ele não lê qualquer texto, uma letra morta. São João no prólogo de seu Evangelho, nos fala claramente que Deus é a Palavra ou a Palavra é o próprio Deus. A Palavra que tudo cria. Mas o Filho também é Palavra. Estava com Deus e era Deus, a Palavra que vivifica. O Filho-Palavra vem ao mundo para iluminar, trazer luz, e o faz revelando a face de Deus, comunicando a face de Deus. Com isso, podemos dizer que o primeiro grande leitor é o próprio Cristo, que comunica e revela o Pai”, ressaltou. Referindo-se a outro texto de São João (1Jo 1,1-4), disse que a Palavra tem a sua própria força criadora e vivificante, porque é a presença real do próprio Deus e do próprio Filho. “Ser leitor é, portanto, seguir e imitar a ação de Deus”, enfatizou. Frei César lembrou que para São Francisco de Assis, a Palavra também estava no centro de tudo. “Ele mesmo nos diz que a Palavra, o Evangelho, o próprio Cristo é a nossa forma de vida. Portanto, ser frade significa deixar se conduzir pelo próprio Deus”, sublinhou. “O biógrafo Tomás de Celano nos diz que diante da Palavra, ele não argumentava, não discutia, não duvidava. Deus acabara de lhe falar e feliz partia para executar as ordens que acabara de ouvir. Para ele, a Palavra era viva, era o próprio Deus. Por isso, não permitia que as palavras ficassem jogadas”, observou. Frei César citou o Testamento de São Francisco para, segundo ele, buscar um pensamento inspirador a esta celebração. Assim
FREI AUGUSTO
FREI CRISÓSTOMO
FREI DAVID
FREI HONORATO
//formação e estudos diz São Francisco: “Devemos honrar e respeitar aos que ministram as santíssimas palavras divinas como a quem ministra espírito e vida”. “Portanto, meus caros irmãos, que vão assumir esse serviço de leitores, nós queremos, todos juntos como Fraternidade, pedir a graça de Deus e a intercessão de Nossa Mãe Imaculada para que vocês, assim também procurem comunicar essa presença real do próprio Deus, com muita consciência, com muita dignidade. Como nos pede São Francisco, com muito respeito, porque estão ministrando espírito e vida”, enfatizou. Por isso, pedimos que nós todos
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busquemos alcançar, busquemos ser essa comunicação que transmite com fidelidade a Palavra de Deus para que ela frutifique cada vez mais no coração das pessoas”, completou. Após a homilia, Frei Augusto, Frei David, Frei Crisóstomo e Frei Honorato se aproximarem do presbitério, colocando-se à frente do Ministro Provincial, que rogou a Deus Pai que derramasse a graça da sua bênção sobre estes seus servos. Cada frade, com as mãos no Evangeliário, ouviu de Frei César a recomendação de anunciar fielmente a Palavra de Deus, para que ela seja cada vez mais viva no coração dos homens. Normalmente, o rito
terminaria com abraço dos confrades, mas seguindo as normas sanitárias, Frei César pediu uma salva de palmas aos novos leitores. No dia 17 de outubro, em outra celebração, os frades Frei Canga Manoel Mazoa; Frei Gabriel Dellandrea; Frei Hugo Camara dos Santos; Frei Jorge Henrique Lisot Camargo, (Custódia das Sete Alegrias); Frei Marcos Schwengber; Frei Pedro Renato Pereira da Silva, (Custódia das Sete Alegrias); Frei Raoul Bentes (Custódia São Benedito) receberão o ministério do Acolitado.
Frei Roger Strapazzon e Moacir Beggo
formação e estudos//
Conselho da Formação e os Estudos reúne-se virtualmente Como tem acontecido neste ano de pandemia, o Conselho do Secretariado para a Formação e os Estudos reuniu-se no dia 21 de agosto, através da ferramenta google meet. Puderam-se ver e interagir pelas telas: Frei César Külkamp, Frei Fidêncio Vanboemmel, Frei João Francisco da Silva, Frei Gustavo W. Medella, Frei Diego A. de Melo, Frei Rodrigo da Silva Santos e Frei Walter de Carvalho Júnior.
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Algumas questões e decisões a serem destacadas:
Em boa parte, foram interrompidas as atividades da Formação Permanente e do Serviço de Animação Vocacional durante este ano. Os encontros têm sido mais virtuais. Mas a vida vai seguindo, com mudanças inesperadas e improvisadas... Nas próprias fraternidades há dificuldade de encontrarmo-nos como irmãos. Há quem evite o convívio e os compromissos da vida fraterna. Foi sugerido e aprovado o uso de texto da Conferência Episcopal Italiana (CEI) para o retiro anual nas fraternidades. Com algum tipo de retorno. Partindo da espiritualidade do tríduo pascal, o texto mostra que neste ano de pandemia algo muito sério aconteceu. Algo mudou. E o que isso nos está ensinando? Subsídio sobre os abandonos na Ordem já foi enviado às Fraternidades. Frei Jeâ Paulo Andrade fez relatório a partir dos depoimentos dos egressos da Província, também já divulgado entre os confrades. É um trabalho sobre os fatores que levam ao desânimo, ao esfriamento nas fraternidades. Já é material a ser usado na preparação do Capítulo Provincial do ano que vem. Há certo esquecimento em relação aos textos-fonte e normativos de nossa vida. Fala-se muito de ação e pouco de consagração. Há um engano sobre o que é tido como sabido pelos confrades. Su-
põe-se muito. Temos, por exemplo, documentos proféticos, mas que são desconhecidos. O desconhecimento facilmente leva cada um a fazer as coisas a partir de si. Conhecendo, é possível ser mais criativo. Há quem reforce que vivemos uma saturação de documentos e falas. Que é importante vinculá-los mais com a realidade, fazendo a leitura do “vinde e vede”, e confrontando com a prática. Vivemos uma crise de identidade: o que é ser religioso consagrado? Há falta de motivação, de encantamento, um esfriamento. É desafiador o caminho para bebermos de nossas fontes. E nos alegrarmos e nos animarmos com isso. E vivermos com paixão. Houve sugestão de que nos capítulos locais, mensalmente, sejam repropostos os textos que são base para nossa vida e ação. Procurou-se listar tais documentos. Há o risco de sermos uma geração que não lida mais com textos. Em termos sociais, percebe-se que alguns confrades se mostram alheios, indiferentes às questões e situações que reforçam a desigualdade, a exclusão, a marginalização. O retiro da profissão solene aconteceu em Petrópolis mesmo e foi bem avaliado. Confrades da Formação Inicial reuniram-se, pela internet, no dia 3 de agosto. Falou-se bastante das adaptações decorrentes da situação de pandemia. Aulas acontecendo on-line, preocupação com os estágios pastorais, etc. As FAVs não aconteceram neste ano. Também o estágio dos Postulantes no Sefras, costumeiramente em julho, não aconteceu. Há a pergunta de como se darão as férias. Como serão as profissões solenes e as renovações de votos. Como acontecerão as transferências dos formandos de
casa de formação para casa de formação. Em Angola, o ano escolar foi cancelado. 11 confrades viriam para a Teologia. Há problemas com a obtenção do passaporte. O departamento de migração está fechado. E os aeroportos também. Quanto ao SAV, houve live no mês de julho. Encontro bem participado. Criou-se grupo de whatsapp para contato diário. Será conversado com os animadores locais sobre alternativas para estágios vocacionais. Há decréscimo no número de vocacionados. Precisaria haver mais responsabilidades dadas aos animadores locais e às fraternidades. Quanto ao Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá, continuam os diálogos com o bispo em torno da proposta de contrato. Foi aprovado que Frei Diego Atalino de Melo faça mestrado na PUC-Rio. Foi aprovado que Frei Jeâ Paulo Andrade faça mestrado em Filosofia na PUC-SP. Foram tratadas dificuldades em torno da afiliação do ITF ao Antonianum. Foi aprovado o retorno de Paulo Vítor ao Postulantado no próximo ano.Vem sendo acompanhado por Frei Rafael Spricigo.
Frei Walter de Carvalho Júnior Pelo Conselho COMUNICAÇÕES
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//formação e estudos ARTIGO
Anos de Noviciado na Ordem dos Frades Menores
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o dia 22 de setembro de 1220, com a Bula Cum secundum Concilium do Papa Honório III, ficou estabelecido que, a partir de então, nenhum dos irmãos poderia ser admitido à Profissão em nossa Ordem sem antes ter feito o Ano de Provação. Por Ano de Provação, entenda-se o que hoje chamamos de Noviciado. Inspirados pela “graça da origem”, celebramos também este jubileu, no qual queremos render graças por tantos benefícios que nos têm Deus concedido e, neste espírito, para melhor incorporarmos esta graça recebida, vejamos um pouco da nossa história e espiritualidade. Narra-nos a Legenda dos Três Companheiros que: “Tornando-se conhecida de muitos a verdade de tão simples ensinamento, bem como da vida do Bem-aventurado Francisco, após dois anos de sua conversão, por seu exemplo, alguns homens começaram a animar-se para a penitência e, abandonando todas as coisas, a unir-se a ele pelo hábito e pela vida,...” (27,1). O modo como estes primeiros irmãos foram acolhidos por Francisco e, em seguida, a maneira como também eles acolheram os que começaram a vir a nós, marcou um novo jeito de ser e de estar na Igreja de então. De forma que, tomados por esta consciência e de coração aberto para a graça recebida, os que “por inspiração divina, querendo aceitar esta vida” viessem ao encontro dos irmãos, deveriam ser ”recebidos benignamente por eles” (cf. RegNB II,1; Test 16). A palavra “receber” tem aqui, por intuição de Francisco, o sentido da graça, do dom da vocação que nos vem de Deus. E, portanto, quem move, inspira e dá vocação para “receber” esta vida é o Espírito do Senhor (cf. 1Cel 26-28;31; AnPer 18; Leg3Com 36; 2Cel 40; LegM lIl,4). Deste modo, aos que por inspiração divina
vêm a nós, Francisco nunca usa o termo “entrar” para acolhê-los, pois, para ele não se “entra” para formar parte de uma Fraternidade ou de uma Província, nem tão pouco se deve impor sobre eles uma determinada forma de vida, mas, sim, os que vêm a nós, por gratuidade divina, “recebem” um modo de vida já existente e o assumem e o abraçam de livre e espontânea vontade; e, concretamente, este modo de vida é a nossa Regra, cujo teor e espírito nos movem em Fraternidade. E, por isto mesmo, a Fraternidade não deve pôr a prova o candidato que vem, mas, simplesmente acolhê-lo e lhe apresentar o que para ela é a sua “vida”, de modo que a decisão de aderir ou não a ela é daquele que vem ao nosso encontro. E é neste senso, que a Regra Bulada e Não Bulada nos dizem: “Se alguns quiserem aceitar esta vida e vierem aos nossos irmãos,...” (RegNB II,1; RegB II,1). Vejam que os verbos querer e vir supõem aqui uma decisão própria e não uma imposição interna ou externa (cf. Frei Fernando Uribe, ofm). E, é partindo desta concepção, que Francisco depois irá escrever em seu Testamento: “E depois que o Senhor me deu irmãos,...” (14). Movidos então, por este espírito, o modo como Francisco e os primeiros irmãos acolhem os que vêm a nós difere da prática daquele tempo. A Regra de São Bento, por exemplo, diz expressamente aos que desejam fazerem-se monges que “não é fácil ser admitido”, e estabelece que devem perseverar quatro ou cinco dias às portas do mosteiro sofrendo com paciência as injurias e a espera antes de serem admitidos (cf. Regra Beneditina, capítulo 58). E muito mais rígidas eram as normas de Cassiano e dos chamados “Quatro Padres” (cf. DELAITE, Commentaire sur la Règle
Imagem: Frei Dito
formação e estudos//
COMUNICAÇÕES
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//formação e estudos de Saint Benoît par l’abbé de Solesmes, 424-425; A. DE VOGÜE, La Règle de Saint Benoît, 1313). Com este jeito de ser e apresentando para a Igreja daquele período, um novo modo de acolher e vivenciar o apostolado, ou seja, como itinerantes, Francisco e os nossos primeiros irmãos abrem uma nova perspectiva de experienciar e testemunhar o Evangelho, onde o “claustro” passa a ser o mundo e, para acompanhá-los, era preciso evangelizar-se para evangelizar, assumindo assim uma vida apostólica-eremítica. Não foram poucos os que se sentiram atraídos por este modo de vida. Tanto que, em pouco tempo, o número dos irmãos cresceu consideravelmente (em 1220 éramos mais de 3.000 frades). Juntos, buscavam “seguir os vestígios de Cristo” como fundamento da vocação a que foram chamados. E foi assim, movido por este espírito, que Francisco depois escreveu na Regra: “Os irmãos de nada se apropriem, nem de casa, nem de lugar, nem de coisa alguma. E, como peregrinos e estrangeiros (Cf. 1Pd 2,11) neste século, sirvam ao Senhor na pobreza e na humildade” (RegB VI,1-2). E os exorta que, em sua itinerância como menores, fossem “brandos, pacíficos e modestos, mansos e humildes, falando honestamente com todos como convém” (RegB III,11). E exortou-os ainda: “É para isto que o Senhor vos enviou pelo mundo inteiro para testemunhardes a sua voz pela palavra e pela obra e façais saber a todos que não há outro onipotente além d’Ele” (CtOrd 9). A vida santa e simples dos frades menores nesta itinerância toca o coração de muitas pessoas. Isto num tempo em que o movimento minorítico começa a crescer dentro da Igreja e em meio à sociedade. Contudo, sem querer aprofundar esta questão, basta-nos agora a consciência de que neste tempo crescem também os movimentos heréticos. E, com a perseguição da Igreja a estes movimentos
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heréticos-pauperísticos, os frades, vivendo sem nada de próprio e como itinerantes, passam pelas mais variadas experiências. Isto porque o nosso carisma era ainda uma novidade para a Vida Religiosa dentro da Igreja e, deste modo, éramos pouco conhecidos. Consequentemente, para que não fôssemos mais confundidos com os contestadores dos movimentos heréticos, será a partir do jeito de viver a penitência, de se vestir e no apoio que recebemos dos Papas que nos será dada uma identidade dentro da Igreja e no convívio com o povo. O fato é que a Ordem está crescendo e já não pode ser acompanhada de um modo, vamos dizer assim, “caseiro”, como vinha sendo feito até então. Outro fator é que estamos aqui num tempo de transição entre a “intuição” e a “instituição”. Dizendo de um jeito muito simplório e sintético, se até então os que vinham a nós eram acolhidos benignamente pelos irmãos e faziam com eles um itinerário formativo, sendo depois oficialmente recebidos por Francisco na Fraternidade, a nova realidade que estávamos vivendo exigia naquele momento novas atitudes. Dentro de um conceito mais amplo e não abordado aqui, podemos então supor que, entre os “recebidos”, havia os que, vindos de movimentos heréticos, simplesmente eram acolhidos na Ordem, tanto que, em 1223 Francisco deixará prescrito na Regra Bulada que: “Os ministros, porém, os examinem diligentemente sobre a fé católica e os sacramentos eclesiásticos” (II,2). Um outro fator, é que entre os que entravam havia também os que já não tinham mais a consciência do espírito que moveu os primeiros frades. Em vista disto, o acolhimento inicial já não tinha mais o mesmo efeito. E, se não bastasse, havia ainda os girovagos que não se assentavam na experiência concreta de vida dos frades. Fatos estes que vários conflitos vieram a criar na Ordem nascente que trazia em si, como vimos, uma
grande novidade pelo seu jeito de ser e de estar na Igreja e no mundo. Por conseguinte, há uma interferência que parte tanto da vida interna da Ordem quanto da própria Igreja no modo de acolher e acompanhar os que vêm a nós. Exemplo disto se vê na Regra Bulada quando, num tom jurídico, Francisco também prescreve aos que quiserem vir a nós, que sejam enviados “aos ministros provinciais, aos quais somente e não a outros se conceda a licença de ‘receber’ irmãos”. “É possível que o deslocamento desta espontânea e calorosa acolhida de sabor evangélico para um rígido procedimento jurídico esteja indicando tacitamente a intenção de subsanar alguns abusos que puderam ter ocorrido nos primeiros anos da Fraternidade, aos que em grande parte tratou de sair-lhe, então, ao encontro a bula pontifícia Cum secundum Concilium de 1220” (cf. Frei Fernando Uribe, ofm). “Portanto, a ideia original de Francisco, como dita, pouco a pouco está sendo submetida aos sistemas organizativos da Igreja. Outro que, além da Igreja estar saturada de problemas criados por grupos de contestação, pelo baixo nível de formação do clero e da presença dos giróvagos que não assumiam compromisso com nenhuma Ordem, ajudando a piorar a situação, a Ordem também não se vê alheia a este problema da formação e dos giróvagos. E é então com a finalidade de resolver estes problemas que, no dia 22 de setembro de 1220, o Papa Honório III publicou a bula Cum secundum Concilium, que implantava a obrigatoriedade do Ano de Provação” (Frei Sandro Roberto da Costa, ofm; cf. De Paris, Histoire de la fondation et de l’évolution de l’O.F.M., 71-75). Este procedimento começou a firmar os passos formativos da Ordem Franciscana e assentou entre os frades menores uma experiência, não sem suas crises, mas, certamente, provocada e iluminada pela consciên-
formação e estudos// cia do saber se estamos ou não sendo movidos pelo Espírito do Senhor. E, é neste espírito que hoje a Igreja e a Ordem, segundo o tempo que estamos vivendo, possuem seu modo próprio de receber e encaminhar os irmãos que vêm a nós em sua Formação Inicial. A gratuidade e a benignidade no modo de acolher e receber permanecem sempre iluminadas pelo Espírito do Senhor que continua chamando e enviando irmãos. Assim como a intuição de São Francisco, que nos diz: “se ele estiver firme para aceitar a nossa vida,... O ministro, na verdade, receba-o benignamente, conforte-o e exponha-lhe diligentemente o teor da nossa vida” (RegB II 2-3). Ou seja, o discernimento feito junto aos irmãos que recebemos, deve partir do “teor da nossa vida” que terá, segundo o tempo que vivemos, as suas próprias exigências. Tanto que nos é dado hoje obedecer ao que nos prescreve, neste senso, não somente a Igreja, como igualmente, as nossas Constituições Gerais e a nossa Ratio Formationis Franciscanae que, em relação à Formação Inicial, dentre outros, nos orienta que: . A formação franciscana tem 1 seu fundamento no encontro pessoal com o Senhor e inicia com o chamado de Deus e a decisão de cada um de seguir com São Francisco as pegadas de Cristo pobre e crucificado, como discípulo seu, sob a ação do Espírito Santo. 2. A formação franciscana é um processo contínuo de crescimento e de conversão que compromete toda a vida da pessoa (cf. VC 65), chamada a desenvolver a própria dimensão humana, cristã e franciscana, vivendo radicalmente o santo Evangelho, em espírito de oração e devoção, em fraternidade e minoridade. 173. A formação inicial é o tempo privilegiado em que os candida-
tos, com um especial acompanhamento do Mestre e da Fraternidade formativa, são iniciados no seguimento de Cristo, segundo a forma de São Francisco e a sã tradição da Ordem, assumindo e integrando progressivamente seus particulares dons pessoais com os valores autênticos e característicos da vocação evangélica do frade menor. 179. O Postulantado é uma etapa necessária para a adequada preparação ao Noviciado (cf. CDC 597 §2), durante a qual o postulante confirma a própria determinação de converter-se através de uma progressiva passagem da vida secular para a forma de vida franciscana. 190. O Noviciado é o tempo em que o noviço começa a vida na Ordem, continua o discernimento e o aprofundamento da própria decisão de seguir a Jesus Cristo na Igreja e no mundo de hoje segundo o espírito de São Francisco, conhece e experimenta mais profundamente a forma de vida franciscana (cf. CCGG 152). 204. O tempo da Profissão temporária aperfeiçoa a formação inicial franciscana nos seus diversos aspectos, teóricos e práticos, a fim de tornar o Frade apto a viver mais integralmente a vida e a missão própria da Ordem no mundo de hoje, e a preparar-se para emitir a Profissão solene (cf. CCGG 157; 158 §1). 215. No exame da idoneidade do Frade para a Profissão solene, alguns critérios que deveriam ser levados em conta são: maturidade afetiva; sinais evidentes de um adequado e maduro relacionamento com Deus pela oração; iniciativa pessoal e responsabilidade pela própria vida religiosa; capacidade de vida e de trabalho com a Fraternidade; capacidade de ser ativo e orientado para servir os outros, especialmente os
mais pobres; sentido de justiça, paz e respeito pela criação; espírito de misericórdia e de reconciliação; capacidade de assumir um compromisso definitivo, observando os conselhos evangélicos; disponibilidade para testemunhar e anunciar o santo Evangelho; suficiente liberdade interior e prática da pobreza; sentido de pertença à Fraternidade, à Província, à Ordem e à Igreja. Como temos visto, a graça da vocação religiosa foi e sempre será inspiração de Deus e, é a partir desta inspiração, que os que vêm a nós “recebem” um modo de vida já existente e o assumem e o abraçam de livre e espontânea vontade, não querendo assim inserir ou impor outro jeito de ser e de estar conosco, mas, sim, por querer vir e aceitar este modo de vida, assumem a Regra e a Constituição própria dos frades menores. Portanto, a decisão de aderir ou não ao nosso modo de vida foi e será sempre, em primeiro lugar, daquele que, por inspiração divina vem ao nosso encontro, e é para isto que o seu tempo de Formação Inicial tem a duração de dez anos, tempo suficiente para ele ter uma decisão madura, responsável e de adesão à Fraternidade, além, claro, de ser um tempo justo para que também a Fraternidade possa ter, em relação a ele, a consciência da sua intenção e do seu firme propósito no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo como frade menor e assim receber os Votos Solenes. “E depois que o Senhor me deu irmãos,...” (Test 14). Bendito e louvado seja Deus pelo dom de nossa vocação franciscana! Em São Francisco e Santa Clara: Paz e Bem!
Frei Marco Antonio dos Santos Mestre dos Noviços da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola COMUNICAÇÕES
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//formação e estudos
Encontro da Cúria Geral com formadores e formandos o mês passado, as Províncias e Custódias da Ordem receberam um convite feito pela Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores, em nome do Ministro Geral, Frei Michael Perry, em conjunto com o Secretariado Geral para a Formação e Estudos e o Departamento do Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação, para um encontro on-line com todos os formandos e formadores da Ordem com a temática da Laudato Si’, a teologia ecológica que sustenta a postura cristã diante da Criação e condiz com um dos elementos próprios de nossa espiritualidade franciscana. O encontro on-line aconteceria em dois dias distintos, visando uma melhor participação dos convidados, dividindo-os em oriente e ocidente. Nós, frades do Brasil, participamos do encontro proposto à América ocorrido no último sábado, dia 12 de setembro, iniciado às 13 horas (horário de Brasília). Os formadores de nossa Província foram instruídos a incentivar a participação de todos os formandos no encontro, quando possível, reunindo-os em salas maiores para que participassem juntos da transmissão. O encontro foi conduzido pelo Secretário Geral, Frei Giovanni Rinaldi,
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e contou com partilhas de reflexão oferecidos pelo Ministro Geral, Frei Michael Perry; o Secretário Geral para a Formação e Estudos, Frei Cesare Vaiani; o Vice-Secretário Geral para a Formação e Estudos, Frei Sinisa Balajic; e o Diretor do Departamento Geral da Justiça, Paz e Integridade da Criação, Frei Jaime Campos, todos traduzidos simultaneamente para o português pelo Definidor Geral, Frei Valmir Ramos. A reflexão se pautou na urgência da conscientização do papel da Igreja e da Ordem enquanto religiosamente responsáveis pela promoção de uma nova postura da humanidade frente à utilização dos bens naturais e em estreita ligação em relação com o próximo, principalmente aquele que se encontra à margem da sociedade por não ser julgado apto, digno ou um contribuinte satisfatório para a geração de riquezas ou exploração dos recursos naturais como esperado. As reflexões fizeram contínuas alusões à espiritualidade franciscana, baseando-se no testemunho do Seráfico Pai São Francisco de Assis e seu olhar universalmente fraterno para com todos os seres como modo mais elevado de louvor ao único Criador, bem como fundamentou-se em
nossas próprias Constituições Gerais que não só incentivam, como cobram os frades por uma postura e iniciativas em prol da justiça e preservação do ambiente. O tom de preocupação dos rumos que a sociedade toma se somaram à clara consciência que as gerações de nosso tempo e as que se seguirão deverão, inevitavelmente, vestir a camisa da fraternidade humana e criacional, mas deverão contar com a ajuda da Ordem para não se perderem no caminho. Por isso, a Formação Inicial e Permanente é conclamada a colocar a reflexão da Justiça, Paz e Integridade da Criação em lugar de destaque na preparação e revigoramento dos novos e antigos frades. Enfim, foi um encontro que, no geral, trouxe importante reflexão aos participantes, mas que, infelizmente, poderia ter sido mais envolvente no sentido de abrir espaço para que os formandos pudessem contribuir com suas próprias observações ou levantar seus questionamentos aos palestrantes. Uma oportunidade que pode ser melhor aproveitada em uma próxima ocasião.
Frei Rodrigo da Silva Santos
formação e estudos//
Franciscanos se unem para celebrar o “Tempo da Criação” om a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, no dia 1º de setembro, até o dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, Padroeiro da ecologia, teve início o “Tempo da Criação”. Muitos cristãos se uniram para refletir, rezar e realizar ações concretas que permitam à humanidade viver um estilo de vida que cuida solidariamente da Casa Comum. O Tempo da Criação é uma iniciativa ecumênica celebrada desde 1989. Por décadas, os cristãos em todo o mundo se reconciliaram com nosso Criador durante esta celebração anual. O Patriarca Ecumênico Dimitrios I, da Igreja Ortodoxa, proclamou, em 1989, o dia 1º de setembro como Dia de Oração pela Criação. Na verdade, o ano da Igreja Ortodoxa começa naquele dia com uma comemoração de como Deus criou o mundo. Outras grandes igrejas cristãs europeias deram as boas vindas a este dia em 2001, e o Papa Francisco o fez pela Igreja Católica Romana em 2015. Os frades franciscanos aderem com entusiasmo a esta iniciativa ecumênica. Várias Províncias da Ordem, por meio dos escritórios de Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC), organizam atividades em conjunto com a Família Franciscana. Este ano nos reunimos com mais força e esperança desde a Revolução Laudato Si’. O Escritório de JPIC da Cúria Geral dos Frades Menores compartilha algumas atividades: 1 º de setembro – lançamento do videoclipe da Revolução Laudato Si’ O vídeo musical, que é o segundo da campanha, está cheio de energia e inspiração para uma conversão ecológica. Nos convida a dar um
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passo de ousadia para viver nossa vocação franciscana de um modo mais radical no mundo de hoje. O Papa Francisco pediu que nos comprometêssemos com o diálogo inter-religioso pela ecologia integral. É por isso que o vídeo contém alguns clips de grupos multirreligiosos de todo o mundo. Esse vídeo tem a participação de jovens brasileiros que atuam na Tenda Franciscana, no Rio de Janeiro. Veja, cante, compartilhe com os demais e participe desta ação! Toque o celular neste QR-CODE
5 de setembro – Webinar “Centro Eco-Pastoral e o Movimento Eco-aldeia”. 5 de setembro – Ao vivo: Revolução Laudato Si‘ 12 de setembro – Webinar “Laudato Si’ Global ”. Destina-se aos irmãos em formação inicial da Ordem. Em colaboração com a Secretaria-Geral de Formação e Estudos. 19 de setembro – Webinar “Laudato Si’ Global ”. Destina-se aos irmãos em formação inicial da Ordem. Em colaboração com a Secretaria-Geral de Formação e Estudos. 19 de setembro – Ao vivo: Revolução Laudato Si’ – Disponível apenas em português (Facebook e Youtube) 26 e 27 de setembro – “Retiro de Conversão Ecológica” em colaboração com o Movimento Católico Mundial pelo Clima e JPIC – Família Franciscana da Colômbia. Disponível apenas em espanhol. Inscrições obrigatórias até 24 de setembro. COMUNICAÇÕES
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//sav
SAV encerra agosto com “Live” Vocacional mês vocacional de agosto foi concluído pelo Serviço de Animação Vocacional (SAV) da Província da Imaculada Conceição, no dia 30 de agosto, com uma live, transmitida diretamente da bela e histórica capela do Convento São Francisco de São Paulo. Este momento virtual, que se repetiu pela segunda vez durante a pandemia, reuniu os frades que trabalham neste serviço de animação da Província da Imaculada: Frei
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Diego Melo, Frei Alisson Zanetti, Frei Odilon Voss e Frei Leandro Costa. “Esse encontro Vocacional on-line veio como forma de coroação do mês dedicado às vocações”, disse Frei Diego. O encontro começou com a oração dos noviços de Angola, que louvaram Maria no dialeto angolano Kimbundu. Essa participação dos noviços foi especial. Este é o segundo ano que o Noviciado acontece em Angola e, neste 30º aniversário
da Missão, a casa de formação em Quibala recebe 24 noviços. Para a reflexão, Frei Odilon, que está fazendo o Ano Missionário no SAV, trouxe um trecho das Fontes Franciscanas, onde São Francisco reflete sobre as qualidades e virtudes para se tornar um bom frade menor. Segundo Frei Odilon, trata-se de um dos textos mais fortes da espiritualidade franciscana. Segundo São Francisco, o frade perfeito só existe no conjunto da fraternidade. “Não
sav// existe esse frade utópico, mas existe o frade que, com suas qualidades, junta-se a outras qualidades dos demais frades”, disse. Nos escritos da Ordem, Francisco soma as seguintes qualidades e virtudes para descrever o frade menor: a fé de Frei Bernardo; a simplicidade e a pureza de Frei Leão; a cortesia de Frei Ângelo; o aspecto gracioso e o senso natural com a fala bonita e devota de Frei Masseo; a mente elevada em contemplação de Frei Egídio; a virtuosa e constante oração de Frei Rufino; a paciência de Frei Junípero; o vigor corporal e espiritual de Frei João das Laudes; a caridade de Frei Rogério; e a solicitude de Frei Lúcido. Para Frei Odilon, São Francisco olha para as qualidades que trazemos no coração. “Não é algo utópico”, falou especialmente para os vocacionados. Uma das primeiras canções vocacionais de Pe. Zezinho, “Vocação”, ditou o ritmo do encontro em seguida: “Se ouvires a voz do vento, chamando sem cessar. Se ouvires a voz do tempo; mandando esperar. A decisão é tua…”. Foi a decisão de ser frade menor que tomou o vocacionado Gustavo da Silva Gomes (à direita na foto), natural de Garça, no interior de São Paulo. Segundo ele, sempre foi engajado em trabalhos pastorais. Mas no início da pandemia, sua vida tomou outro rumo. “Havia saído do trabalho e percebia que precisava modificar algo em minha vida. De forma muito providencial, chegou até mim a notícia do trabalho feito na Tenda Franciscana no Largo São Francisco. Foi, então, que resolvi dar o passo de vir até aqui. Falei com Frei Diego e fui acolhido pela Fraternidade do Pari. Estou tendo a oportunidade de conviver com os frades do Pari e do Largo São Francisco. Quando eu disse que sentia esse incômodo, eu não sabia o que era, mas, quando cheguei aqui, eu entendi. Era a vida
fraterna e esse estado de missão que queria e que conheci no convívio com os frades e os voluntários na diversidade da Tenda. Ali, não se trata só de um trabalho social, mas de um trabalho com espiritualidade”, contou o jovem voluntário. Para ele, essa múltipla forma de ser franciscano no mundo chamou sua atenção. “Na Tenda, conheci essa fé que se manifesta através de obras. Uma fé que se manifesta por testemunho. Foi isso que me tocou e toca tantos outros”, revelou. Frei Diego, falando a Gustavo, completou: “Nessa experiência de três meses, você respondeu àquele convite que já estava no seu coração”, disse. O animador vocacional, que está trabalhando na Tenda Franciscana no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, e veio a São Paulo especialmente para participar desta live, fez um convite aos jovens: “Eu tenho certeza que muitos jovens têm essa mesma inquietação nos seus corações, como teve o Gustavo. Não deixem passar essa oportunidade”, pediu o frade. “Continue firme que ano que vem Ituporanga te espera”, disse Frei Diego a Gustavo, referindo-se à etapa do Aspirantado que é feita no Seminário São Francisco de Assis, em Ituporanga (SC). Devido à pandemia, o SAV dividiu o estágio vocacional nos estados em que a Província está presente: Ituporanga SC), Campo Largo (PR), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ. Segundo Frei Alisson, os candidatos conhecerão os critérios que precisam seguir para serem admitidos na Ordem Franciscana e na Província. Nestes encontros, os frades entrevistarão os candidatos para conhecê-los melhor. “Embora os desafios em função da pandemia sejam grandes, não podemos deixar de continuar motivando os nossos vocacionados, esclarecendo suas dúvidas e acolhendo-os
em nossas Fraternidades, ainda que tudo isso de um modo virtual e à distância”, disse Frei Diego. “Embora tenhamos tido algumas dificuldades técnicas na transmissão, o envolvimento de todas essas casas de formação e Frades, certamente, já é um sinal do quanto a animação Vocacional toca diretamente as nossas Fraternidades. Além disso, cabe destacar a presença e o testemunho do jovem Gustavo, que amadureceu a sua própria vocação durante o voluntariado na Tenda Franciscana, do Sefras, ao longo de 3 meses de convivência com a fraternidade Santo Antônio do Pari. O despertar Vocacional dele é a certeza de que não existe vocação desvinculada da missão, e que todo chamado exige uma resposta bem concreta de serviço a Deus e ao próximo”, avaliou Frei Diego. Frei Alisson fez os agradecimentos antes da bênção final. “São Francisco foi o santo da gratidão. Primeiro, agradecemos a Deus pela vocação à vida”, disse, enumerando uma lista de agradecimentos, a começar pela Província, em nome do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, “que sempre nos apoia e nos estimula dando as ferramentas para que o trabalho do serviço de animação aconteça”; aos frades do Convento São Francisco; aos frades e noviços de Angola; aos frades e seminaristas de Ituporanga; aos voluntários da Tenda. “Hoje, é o dia do Catequista. Esses voluntários são para nós também catequistas ao entregarem as quentinhas”, disse. Frei Alisson agradeceu a todos que participaram virtualmente deste momento e aos envolvidos na produção e, de modo especial, aos vocacionados, esperando finalmente revê-los, desta vez presencialmente, nos estágios no mês de novembro.
Moacir Beggo e Lucas Santos COMUNICAÇÕES
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SÉRIE
Frei José Lorenz Führ
fraternidades// uando sua vocação começou a despertar, queria ser padre e missionário onde havia falta de sacerdotes. Da pequena vila de Burgen, Alemanha, onde nasceu no dia 11 de novembro de 1942, Frei José Lorenz Führ partiu para o Brasil no dia 12 de abril de 1972. Vestiu o hábito franciscano em Rodeio no dia 20 de janeiro de 1973 e fez a profissão solene no dia 2 de agosto de 1977. Foi ordenado presbítero no dia 4 de fevereiro de 1979. Como sacerdote, viveu quase 30 anos nas Fraternidades da Província. Mas ainda não se sentia um missionário completo. Esse momento surgiu quando a Província de Santo Antônio pediu ajuda à Provín-
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cia da Imaculada para enviar um frade à Missão Tirió. Frei José, que já tinha feito uma experiência quando ainda era estudante, aceitou voltar ao Norte do Brasil, onde ficou nove anos. De volta à Província, faz parte da Fraternidade São Francisco do Seminário de Ituporanga. No artigo da última edição da “Vida Franciscana”, diz: “Já não morrerei querendo ser missionário. Mas sim feliz porque fui missionário. E se na hora da morte Jesus me cumprimentar em língua tirió, vou sorrir e rezar com Ele o Pai-Nosso”. Conheça mais Frei José nesta entrevista a Moacir Beggo. O aspirante Samuel Cavalcanti do Amaral completou este trabalho com belas fotos.
Comunicações - Frei, fale um pouco de sua vida e de sua família. Frei José - Nasci em meio à 2ª Guerra Mundial na Alemanha, numa pequena vila que fica a 30 km da cidade de Koblenz, chamada Burgen, às margens do Rio Mosela. Meus pais queriam uma família numerosa e por isso tenho três irmãs e dois irmãos. Meu pai cresceu também em Burgen e ajudou, na sua juventude, ao meu avô na lavoura. Depois de adulto, conseguiu um trabalho fixo na linha férrea. Por causa deste trabalho, ele não precisou ir para guerra. Sua jornada começava por volta das 5h30 e só terminava depois de 12 horas de trabalho. Minha mãe ficava em casa cuidando de nós. Sempre rezávamos juntos, antes e depois das refeições; aos domingos, íamos todos à igreja. Devido à guerra, tínhamos que racionar tudo o que possuíamos. Por exemplo, a roupa dos mais velhos servia depois para os mais novos. De modo geral, na família reinava um clima alegre e religioso. Se no Natal um de nós ganhava um chocolate, então
bater laje, construir muro, rebocar parede etc. Esse emprego era em Koblenz e, para ir até ele, pegava o trem todos os dias bem cedo e voltava à noite. Durante as viagens, normalmente sempre estava lendo um livro.
Comunicações – Fale um pouco de sua juventude e do seu engajamento na Igreja.
era certo que este dividiria o presente com todos os irmãos. Meu pai, para escapar do aluguel, tinha comprado uma casa velha. Durante anos, grande parte do seu salário ia para pagar essa dívida. Simplesmente não tínhamos dinheiro para pagar os estudos e por isso fui procurar um emprego. Encontrei um serviço de aprendiz numa padaria, porém, não gostei muito, pois tinha que dormir na casa do patrão, longe da minha família. Arranjei outro emprego na construção civil, onde me sentia bem. Nele aprendi a fazer massa de cimento, concreto,
Frei José – Tendo trabalhado alguns anos na construção civil, fui convocado para o serviço militar obrigatório. A Alemanha vivia um contexto de divisão, e nós, que éramos da Alemanha Ocidental, tínhamos muito medo de tudo o que existia atrás da “cortina de ferro”. Por isso, tentei escapar do serviço militar, mas não deu certo. Ali houve um acontecimento bom nesse tempo, que foi a peregrinação dos soldados da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para a Lourdes, na França. Durante uma semana, reuniram-se mais ou menos 17 mil soldados de todos os países da OTAN. Somente da Alemanha Ocidental éraCOMUNICAÇÕES
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//fraternidades mos 700 soldados. Vi-me, de repente, no meio do mundo, pois havia gente de tantas cores, raças, línguas etc. Rezávamos e cantávamos canções em várias línguas, como espanhol, inglês, francês, alemão etc. Jantávamos e bebíamos o que quiséssemos e, no fim, sempre havia dança que ia até 22 horas. Como era bonito ver, aos pés de Nossa Senhora, pessoas de tantas raças e línguas diferentes, unidas, alegres cantando e sorrindo juntas, e me questionei: por que, então, treinar com armas para uma guerra eventual? Não seria melhor trabalhar para a paz? Em Lourdes, decidi que iria trabalhar pela paz dos povos. Terminando o serviço militar, tentei fazer algo neste sentido, porém, como não sabia falar outras línguas além do alemão, meus esforços não foram por ora muito longe. Durante vários anos fui coroinha e exerci esta função até mais ou menos 17 ou 18 anos de idade. Já, antes, havia entrado no grupo de jovens, chegando inclusive a coordenar o mesmo. Fazíamos longas caminhadas e diversas viagens de bicicleta, acampamentos nas férias, prestávamos ajuda aos pobres e necessitados, visitávamos ainda castelos, igrejas, conventos. Foi um tempo muito feliz no campo da comunidade.
Comunicações - Como se deu seu discernimento vocacional? Frei José – Aos 9 anos, quando fiz a minha Primeira Comunhão, desejei ser padre, porém naquela época não sabia e não me preocupei em realizar esse desejo, deixando latente em meu coração. A minha pequena vila tinha na época cerca de 800 habitantes e somente uma igreja, cujo padre local cuidava dela. Ele faleceu depois da minha crisma. Naquele tempo, não tínhamos televisão, mas éramos sempre bem informados diariamente pelo jornal local, semanalmente pelo jornal diocesano e mensalmente pela revista dos Oblatos de Maria, a dos
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Verbitas, e também pelas revistas das mulheres e mães católicas. Além disso, na casa paroquial havia uma biblioteca pública que, após a missa dominical, ficava aberta, onde minhas irmãs mais novas ajudavam como voluntárias. No início, eu pegava um livro por semana, mas com o tempo esse número aumentou. Como eu lia muito sobre as missões, e vendo a falta de padres em muitos lugares, sentia que poderia servir a mais pessoas e ajudar onde faltassem os padres. Como falei antes, depois de um ano
aulas de latim. E assim, aos 25 anos de idade, ingressei no seminário, a 470 km da cidade de Colônia. Como eu só tinha o ensino fundamental, no primeiro semestre não fui muito bem por causa do alemão, pois sempre falava o dialeto da Renânia (somente na escola e na igreja falava-se o alemão clássico). O professor desta disciplina me aconselhou a repetir o semestre e, assim, eu fiz. Cursei até o 6º semestre, então mudei de seminário. Descobri que ali não poderia ir às missões. Um colega, que agora estava no colégio
Celebração de Páscoa na Missão Tirió e meio servindo a pátria, voltei para os meus pais e para o meu emprego na construção civil na mesma firma. Em minha paróquia de origem havia tido várias mudanças de padres, devido principalmente à idade ou doenças. O último tinha o costume de ir à biblioteca. Após a missa dominical, quando lá eu estava procurando livros para ler durante a semana, em uma dessas ocasiões ele me perguntou sobre o que gostaria de fazer na vida. Dei uma “desculpa barata”, mas era justamente o assunto que me interessava e, alguns domingos depois, dei-lhe a minha resposta: queria ser padre. Então, ele quis me enviar para o seminário da diocese, mas não aceitei, pois queria ser padre onde havia falta. Por fim, ele aceitou e até me apoiou me dando algumas
missionário franciscano em Garnstock, na Bélgica, convidou-me para fazer uma experiência ali. Fui, gostei e fiquei. Até hoje!
Comunicações – Quando decidiu ser missionário no Brasil sabia que teria que sair do seu país e talvez para sempre? Frei José - Estava consciente que a minha ida para o colégio missionário franciscano era um passo decisivo na minha caminhada vocacional. Sim, teria que estudar um ano nessa escola e mais um ano no Brasil para então concluir o Ensino Médio, o que significava dois anos para estudar e refletir sobre minha vocação religiosa. Porém, com esse passo, conseguiria ir em busca de
fraternidades// um dos meus sonhos: o de ser missionário. Só depois seria resolvido o país e com quem eu iria para lá. São Francisco de Assis sempre foi importante na minha vida. Lembro-me que um dos primeiros livros que havia lido na 5ª série foi justamente sobre São Francisco e São Domingos. A experiência de Lourdes me aproximou ainda mais do Santo de Assis.
Comunicações - O que conhecia do
Brasil quando decidiu vir para cá? Teve dificuldades com a língua e a cultura?
superar todas “essas diferenças do meu mundo”.
Comunicações - O que o motivou a ser missionário na missão Tirió? Frei José - Cheguei ao Brasil com o desejo de me tornar missionário. Por 30 anos, trabalhei em vários conventos e paróquias da nossa Província, do Espírito Santo até Santa Catarina, e gostava muito do serviço que podia oferecer ao povo. Porém, dentro de mim, havia um questionamento se seria missionário ou não. A nossa Província já estava
No Seminário São Francisco de Ituporanga Frei José - Bom, havia uma jovem da minha vila que se casou com um paulista e veio morar em São Paulo. Sabia também um pouco sobre a vida dos imigrantes da minha terra que foram morar no sul do Brasil através das aulas de Geografia e das revistas dos Oblatos e dos Verbitas. Quanto à língua, no colégio franciscano estudávamos mais o português. Quando cheguei aqui, às vezes, não sabia quando dizer ‘bom dia’ ou ‘boa noite’. Dizia uma das opções e olhava bem para a pessoa: se ela desse uma risada, me desculpava e falava corretamente a saudação. O que me custou mesmo foi comer todo dia arroz e feijão. Mas foi somente no início. O jeito e a jovialidade do povo brasileiro me fizeram
empenhada na fundação de Angola e, passada a guerra civil neste país, comecei a pensar na possibilidade de ser missionário lá. Cheguei até a fazer o pedido oficial para me juntar aos outros nossos frades missionários em Angola, mas esperei por três anos e não obtive resposta. Um dia, Frei Vitório Mazzuco, que na época era o Vigário Provincial, disse-me que a Missão Tirió estava procurando missionário. Disse a ele que já conhecia os índios Tiriós devido a um breve contato que tive com eles durante as férias do meu primeiro ano em Petrópolis. Então, ele me disse na hora que eu era candidato, já que a Província de Santo Antônio estava pedindo ajuda para esta missão. As palavras do Papa Bento XVI em Aparecida sobre a nova evangelização, começando pela
Amazônia, motivaram-me e confirmaram os meus anseios. A partir deste momento, recebi a devida licença e parti para a minha tão sonhada missão.
Comunicações - Fale um pouco dessa sua experiência de nove anos entre os indígenas e de como era a Missão Tirió. Frei José - A Missão Tirió fica bem ao Norte do Brasil, perto da divisa com o Suriname, a antiga Guiana Holandesa. A missão iniciou-se há 50 anos, quando um franciscano descobriu um grupo nômade de 80 adultos com apenas duas crianças de idade inferior a 15 anos. Ele comunicou a descoberta às autoridades e a FAB (Força Aérea Brasileira) respondeu afirmando que se os franciscanos conseguissem fazer com que os índios se assentassem naquela região, iriam construir perto da aldeia um pequeno aeroporto e lhes garantiria o livre acesso. Com a promessa da construção da pista e aceitação do acordo por parte dos Tiriós e dos frades, iniciou-se a Missão Tirió. Fui muito bem recebido pelos frades e pelos índios. Os frades da aldeia eram da Província de Santo Antônio. Na comunidade havia um padre de 77 anos e dois irmãos leigos. O padre tinha problemas cardíacos e foi se tratar, porém, devido a seu estado de saúde não mais retornou para a missão. Dos irmãos, um era dois anos mais novo que o padre. Sendo cearense e filho de vaqueiro, sabia trabalhar com animais, com a terra e as plantações. O outro, da mesma idade que o padre, era um alemão, profissional de mão cheia, pois sabia trabalhar com a carpintaria, eletricidade, mecânica etc. Cederam-me um quarto e em tudo participei da comunidade com eles. Nosso dia começava sempre com a oração da manhã. À tarde havia a Missa com os índios e à noite a oração do Terço. O número de índios aumentou muito devido a dois fatores: a volta das famílias que haviam migrado para COMUNICAÇÕES
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//fraternidades longe e a chegada dos Xiquianos e Kaxuianos. No total, havia mais ou menos 1.300 índios. Eles moravam em vinte pequenas aldeias, quase todas nas margens dos rios de onde se tirava o principal alimento: os peixes. Algumas aldeias já possuíam canoas de alumínio com motor e, se a pesca não desse resultado por ser época imprópria, eles recorriam à caça. Se ainda assim não encontrassem nada para caçar, as crianças buscavam frutas no meio do mato. Tinham pequenas roças de mandioca brava e milho. Quando os povos cresceram, Frei Paulo lhes ensinou a plantar árvores frutíferas, batata doce, feijão e ananás (abacaxi). Com a ajuda de um grande fazendeiro benfeitor, que mostrou como criar bois e aumentar o rebanho, os índios conseguiram dois bois brancos. Com o decorrer do tempo, este fazendeiro distribuiu um pequeno rebanho para as aldeias principais. Nesses 9 anos realizei em torno de 300 batizados de crianças, ministrei muitos cursos bíblicos na aldeia principal e em aldeias bem longínquas que duravam normalmente uma semana. Para chegar a esses locais, utilizava bicicleta ou a garupa de moto. Se fosse uma aldeia distante, somente poderia me deslocar através de canoa ou, com muita sorte, com auxilio de pequenos aviões. Normalmente, só havia caminho até 20 km da aldeia principal. Depois disso, só através de picada (trilha) feita pelo índio. Havia também uma grande dificuldade nas comunicações, pois cada uma das três etnias tinha a sua própria língua e cultura. O Tirió era, porém, a língua predominante e fiz muitos esforços para aprendê-la. Consegui falar umas poucas palavras e o Pai Nosso. Na missa também se rezava as partes fixas em Tirió, o Evangelho eu lia em português e depois alguém traduzia para Tirió, assim como o sermão. Ajudei vários grupos de jovens a se prepararem para fazer a 1ª comunhão, uma vez que eles já sabiam um pouco de português. Mas com as crianças não cheguei a
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este ponto. No meu último ano na missão, um professor quis se tornar catequista. Então dei a ele um grupo de doze crianças que, para minha alegria, chegou a fazer a 1ª Comunhão quando eu ainda estava lá.
Comunicações – Hoje, como o sr. vê
al da saúde nas aldeias, todos os índios escaparam do coronavírus ameaçador. Acredito que hoje, como ontem, se todos os responsáveis ajudarem os índios, haverá vida e futuro para eles. Se os responsáveis se omitirem, haverá o contrário.
o descaso com a causa indígena no Brasil, uma vez que eles são ameaçados por mineradoras e agora por um vírus mortal?
Comunicações - Que lições o sr. teve nessa missão com os indígenas? O que chamou sua atenção nesse Brasil mais desconhecido?
Frei José - Na pergunta anterior, mencionei a tribo Kaxuianos. Anti-
Frei José - Vi que a presença de uma comunidade franciscana ajudou
Celebração de Lava-pés na Missão Tirió gamente, o habitat deles era a bacia Amazônica perto de um grande afluente. Não muito longe deles, instalou-se uma mineradora multinacional e os Kaxuianos começaram a trabalhar nela recebendo um bom salário. Porém, as consequências foram terríveis, pois as famílias e aldeias inteiras morreram de doenças da civilização, principalmente de tuberculose. Como o índio tem baixa imunidade para essas doenças, muitos padeceram, mas graças à ajuda de irmãs enfermeiras na missão, muitos se recuperaram. Fiquei sabendo que muitos Tiriós foram infectados pelo vírus da Covid-19. A Cáritas do Brasil enviou máscaras e outros materiais e equipamentos para socorro. Com esta ajuda e graças também do empenho do pesso-
a um grupo de Tiriós a não desaparecer e lhes deu um novo ânimo e uma nova perspectiva de futuro. Com eles, aprendi a viver a vida mais simplesmente, sem ter a necessidade de tantas coisas. Esta vida simples só foi possível quando era partilhada na comunidade e quando todos tinham o mesmo ideal de vida fraterna. Notei ainda que os filhos, nascidos do cruzamento de diferentes raças e etnias, eram muito mais espertos do que os outros. Em geral, os filhos dos indígenas começavam a andar aos 9 ou 10 meses de idade e também bem cedo aprendiam a falar bem alto. Desejo que muitos confrades jovens tenham a oportunidade de viver essa experiência missionária junto aos índios por um período de pelo menos
fraternidades// um ano. Sim, confrades jovens, pois com mais idade é muito mais difícil de aprender outra língua.
Comunicações - Qual a importância para o sr. do Sínodo para Amazônia? Frei José - Este Sínodo não caiu do céu, pois o Papa Bento de XVI, estando no Brasil em 2007, chamou a atenção para a devastação da Amazônia e para as ameaças à dignidade de seus diversos povos. Em Aparecida, ele chamou a todos para uma nova evangelização do Norte ao Sul do Brasil, a começar
do Papa Francisco no documento final e, principalmente, do seu encorajamento para os futuros trabalhos do Sínodo da Amazônia entre seus povos, línguas e culturas tão diferentes. Agora, começou o tempo de colocar em prática os novos caminhos da Igreja na Amazônia.
Comunicações - Como o senhor vê o Pontificado do Papa Francisco? Frei José - Como eu disse antes, o Papa Francisco, um sul-americano, falou sobre a Amazônia. Na Europa,
líderes que estavam lutando um contra o outro. Um gesto de um Papa de 83 anos! Estamos ainda na pandemia, quantos hospitais em nossa terra, graças ao Vaticano, receberam máscaras, ventiladores etc.? E não somente aqui no Brasil, mas também na África e em tantos outros países para enfrentar a Covid-19? Acho que o Papa Francisco tem muita coragem e um coração que bate em favor dos mais fracos. Este Papa escolheu São Francisco de Assis como seu ideal. Ele é a consciência do mundo atual.
Comunicações - O que o senhor diria para um jovem que quer ser frade menor? Frei José - Diria a ele que a “messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”. Jesus sempre está chamando. Em seguida, iria ler para ele a história do jovem rico e depois cantaria a canção do Pe. Zezinho, que fala:
No Seminário São Francisco de Ituporanga pela Amazônia. Estas palavras do Papa emérito me encorajaram muito na minha caminhada missionária. O Papa Francisco desenvolveu essas ideias e convocou o Sínodo Extraordinário da Amazônia e lhe deu três objetivos: Encontrar novos caminhos para anunciar o Evangelho aos povos que lá vivem; uma atenção aos povos indígenas com acento no respeito a seus direitos e culturas; e a atenção à ecologia integral e a este pulmão da humanidade. O Papa Francisco foi, inclusive, ao Peru para falar diretamente com os povos amazônicos e escutar os seus justos anseios. Chamou-me ainda atenção que muitos índios, homens e mulheres, participaram com voz ativa nos diálogos sinodais. Gostei das colocações
ele fala, muitas vezes, em favor dos imigrantes, homens, mulheres e crianças que estão fugindo das guerras, misérias, fome e entre tantos outros motivos de seus países de origem. Infelizmente, alguns países da Europa fecharam as suas fronteiras para não aceitar a entrada desses imigrantes. Porém, o Papa alerta para que eles sejam acolhidos. O país mais novo do mundo, o Sudão do Sul, mal conseguiu a sua independência e logo se viu mergulhado numa guerra civil entre as duas principais tribos. O Papa Francisco conseguiu convencê-los a participarem de uma conferência de paz e, quando eles foram ao Vaticano, num gesto de reconciliação, Francisco se ajoelhou e beijou os pés dos dois
“Se ouvires a voz do vento, chamando sem cessar, se ouvires a voz do tempo, mandando esperar: A decisão é tua, a decisão é tua. São muitos os convidados, são muitos os convidados. Quase ninguém tem tempo. Quase ninguém tem tempo. Se ouvires a voz de Deus chamando sem cessar, se ouvires a voz do mundo querendo-te enganar: O trigo já se perdeu, cresceu ninguém colheu. O mundo passando fome, passando fome de Deus. A decisão é tua! A decisão é tua!” Em seguida, iria contar a ele um pouco do que vivi nas missões e lhe pediria que rezasse pela sua própria vocação para que esta não fique apenas numa ideia ou sonho passageiro, mas que seja colocada em prática. Paz e Bem! COMUNICAÇÕES
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Celebração ecumênica marca 26º Grito dos Excluídos no Convento da Penha epresentantes religiosos, membros de movimentos, organizações e pastorais sociais participaram da celebração inter-religiosa do 26º Grito dos Excluídos no Campinho do Convento da Penha. A tradicional marcha por direitos deu lugar a uma celebração com transmissão pelas redes sociais devido à pandemia do novo coronavírus, em respeito às regras de distanciamento social. Ao toque do shofar, um instrumento de sopro tradicional do judaísmo, cujo som conclama a um despertar para que se possa envolver com as necessidades da alma, a celebração ecumênica uniu vozes em uma grande rede, por meio da internet, e presencialmente, para ecoar o tema deste ano: Vida em Primeiro Lugar! “Chega de escravidão! Temos como obrigação restituir a vida, o trabalho com dignidade, o teto, a alimentação. Nós temos direito e dever de intervir no rumo da história do mundo, do nosso país, do nosso
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estado, da nossa cidade, da nossa comunidade. O nosso mundo está marcado pela violência, principalmente contra negros, jovens e pobres. Chega!”, exclamou o Arcebispo da Arquidiocese de Vitória, Dom Dario Campos. A 26ª edição do evento teve ainda a participação do Vigário Episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica, Kelder Brandão, dos anfitriões Frei Pedro de Oliveira e Frei Paulo Roberto, do Convento da Penha; do pastor da Igreja Luterana, Carlos Ulrich; da Yaefun do Candomblé, Leila Silva; do dirigente de templo da Umbanda, Valdemir Anchesk; do representante da Igreja Casa da Bênção, Jakson Vicentini. A Celebração teve início com uma breve apresentação e invocação da presença divina de acordo com cada costume religioso. Em seguida, após cantos e a entrada da Palavra de Deus, o pastor Carlos proclamou o Evangelho. A reflexão foi feita por
Dom Dario. Ele afirmou que “é preciso que descubramos um novo horizonte para o qual possamos nos dirigir. E só vamos fazer isso tendo Jesus como meta, a oração em nosso coração e nossa mente”, disse Dom Dario. O Arcebispo relatou ainda, como na última Festa da Penha, as situações de morte e tristeza que comovem nosso estado, como os casos de moradores de rua assassinados e outros problemas sociais como a fome. Para ele, é necessário que nos preocupemos e façamos nossa parte para contribuir com um mundo mais humano. O evento lembrou ainda as 127 mil mortes no Brasil em decorrência da Covid-19 e fez-se um minuto de silêncio pelas famílias enlutadas. Ao final, foi lida uma carta aberta (leia ao lado) com um forte apelo aos direitos de todas e todos. “Neste 26º. Grito dos Excluídos, a Igreja de Cristo e todas as igrejas irmãs renovamos nosso compromisso e nosso lugar histórico de acolhimento e apoio às pessoas e povos
evangelização// excluídos dos direitos, dos territórios e da dignidade humana”, diz um trecho da carta. Na celebração, seguindo o lema “Basta de miséria, preconceito e repressão! Queremos trabalho, terra, teto e participação!”, os muitos gritos dos povos tradicionais e indígenas,
de negros e negras, dos pobres, das mulheres, das diversas expressões da juventude, da população LGBTQIA+, dos migrantes e da população em situação de rua. E sem esquecer ainda os gritos da mãe Terra. Ao final do ato celebrativo, cada representante religioso ali
presente foi convidado a dar a bênção de acordo com sua tradição. Os cantos e animação ficaram por conta de músicos voluntários do Colégio Marista.
Contra essa situação, no Grito dos Excluídos, gritamos e proclamamos juntos: “A vida em primeiro lugar! Basta de miséria, de preconceito e repressão. Queremos trabalho e teto, terra e participação!”
econômicas, contra o descaso com que tratam a população mais empobrecida e vulnerabilidade de nosso estado e país: as classes sociais habitantes das periferias urbanas e da vizinhança dos grandes projetos poluidores, a população negra, os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e da pesca artesanal, a população em situação de rua, as famílias agricultoras, camponesas e sem-terra, as mulheres, idosos, os jovens e a população LGBTQ+. São os que mais sofrem as violações, os preconceitos e os principais danos de um desenvolvimento injusto, que se baseia na própria exclusão.
Assessoria de Imprensa do Convento da Penha
CARTA ABERTA 26º Grito dos Excluídos Espírito Santo – 7 de Setembro de 2020 “Por muito tempo me calei; estive em silêncio, e me contive; mas agora darei gritos como a que está de parto, arfando e arquejando”. (Isaías, 42, 14) Irmãs e Irmãos, Povo de Deus: A vida em primeiro lugar! Neste 26º Grito dos Excluídos, nos solidarizamos com toda a sociedade brasileira e com nossas famílias capixabas, em luto pela enfermidade e perda de parentes, e ainda afetadas pela crise econômica, pelo desrespeito aos de direitos humanos e pela destruição da natureza. Alertamos para a exclusão que se amplia, em meio à pandemia da Covid-19, em cenário de radical precarização da vida e do trabalho, com mais de 120 mil mortes, dezenas de milhões de pessoas desempregadas e graves ataques do governo federal à democracia. A exclusão se dissemina, através de mentiras e fake news nas redes sociais, através de discursos de ódio, de racismo e machismo, de discursos armamentistas, carregados de preconceito contra as diferenças e principalmente contra os mais pobres. Exemplo mais recente do preconceito contra os mais pobres e vulneráveis foi o ocorrido no município de Vitória, com a retirada dos pertences da população de rua por caminhões e carros da prefeitura, com apoio dos agentes de segurança. Enquanto uma rede de solidariedade se junta durante a pandemia para dar alento a essa população com distribuição de cobertores, alimentos e material de higiene, os poderes públicos, cuja função deveria ser a de garantir dignidade, agem dessa forma covarde e desumana contra a população de rua.
Como disse o Papa Francisco, na carta “Louvado Seja”, a crise é uma só. É efeito direto de uma economia que não prioriza as pessoas, a vida e a natureza. A crise é consequência de um modelo de desenvolvimento voltado para a acumulação e para a concentração da terra, da renda, da tecnologia e do poder nas mãos de grandes empresas e corporações, que controla os mercados global, nacional e regional. A crise é fruto de decisões políticas e investimentos econômicos voltados para o lucro, e não para a vida. Como disse o Papa Francisco, é necessária uma nova economia. Uma “economia de Clara e Francisco”, solidária com os mais pobres e vulneráveis. Uma economia do cuidado, voltada para a paz, a justiça social e para o bem comum. Neste difícil momento para a sociedade brasileira, conforme a “Carta ao Povo de Deus” assinada pelos 152 bispos: “Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário. Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?” Neste 26º. Grito dos Excluídos, em coro uníssono de irmãs e irmãos, gritamos aos governantes e às corporações
Também gritamos em coro, contra a contaminação do Rio Doce, contra a devastação das florestas, substituídas por monoculturas químicas; contra a contaminação da água, dos rios e do mar, por fertilizantes, plásticos e vazamentos de petróleo. Gritamos contra a destruição de manguezais, ameaçados pela instalação de novos distritos portuários. Gritamos contra o pó preto na região metropolitana da capital e contra a poluição no entorno dos complexos extrativistas e industriais. Gritamos por justiça ambiental e climática, diante do agravamento do aquecimento global. Gritamos contra o desenvolvimento do lucro e da morte, que não respeita a vida dos povos e a natureza. Neste 26º Grito dos Excluídos, a Igreja de Cristo e todas as igrejas irmãs renovamos nosso compromisso e nosso lugar histórico de acolhimento e apoio às pessoas e povos excluídos dos direitos, dos territórios e da dignidade humana. E aqui nos despedimos e silenciamos, em respeito ao luto das famílias. Faça um minuto de silêncio e oração, por nosso país e por todos e todas. Amém.
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Reunião do Conselho de Evangelização o dia 19 de agosto aconteceu, por videoconferência, o encontro do Conselho de Evangelização. Estiveram presentes Frei César Külkamp, Frei Gustavo W. Medella, Frei João Francisco da Silva, Frei Antônio Michels, Frei Diego Atalino de Melo, Frei Neuri Francisco Reinisch, Frei Robson Luiz Scudela e Frei Claudino Gilz. O início do encontro foi marcado pela reflexão do texto “Fraternidades que evangelizam com paixão e competência”, de Frei Antônio Michels, escrito para Formação Permanente e já publicado nas Comunicações de agosto. Falou-se sobre a pertinência e atualidade da reflexão em torno das Paróquias e a necessidade da paixão para possibilitar uma boa evangelização. Foi pontuado que o frade não pode
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comportar-se como funcionário do Sagrado ou deixar-se mover pela vaidade; as virtudes da sensibilidade e da excelência são fundamentais para o evangelizador. Cada Frente de Evangelização teve oportunidade de partilhar a realidade das atividades que estão sendo desenvolvidas. Deu-se destaque aos encaminhamentos relativos ao Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá, e às entregas em Santos, Angelina e a Paróquia do Navio, em Lages. O Conselho ofereceu as indicações para o Definitório Provincial, que apreciou as indicações do Conselho e, inclusive, partilhou as definições com a Província nas notícias do Definitório de setembro. Da reunião do Conselho de Evangelização, destaca-se:
A Campanha Missionária em prol das atividades missionárias da Província que deverá acontecer no mês de outubro e conta com a adesão das Fraternidades. O encontro formativo com os leigos das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento que acontecerá nos dias 08 e 29 de outubro com o tema: “Conversão Pastoral da Paróquia”. O estudo sobre a metodologia para revisão do atual Plano de Evangelização da Província, com envolvimento das bases, para o Capítulo Provincial de 2021. Frei Toni deverá apresentar uma proposta para ser estudada no próximo Conselho de Evangelização.
Frei Jeâ Paulo Andrade
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“Candomblé - Formação e compreensão religiosa de uma tradição afro-brasileira”, novo livro de Frei Volney lei 10.639/03 (alterada com mais especificações pela Lei 11.645/08) tornou obrigatório no Brasil o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Assim, disciplinas como História, Geografia, Artes, Literatura, Ensino Religioso passaram a incorporar conteúdos ligados à temática africana e afro-brasileira. Esta disposição legal não é uma invenção infundada dado que mais de 50% da população brasileira é afrodescendente. Não conhecer minimamente elementos da história e cultura africana e afro-brasileira era até então uma grande lacuna no sistema de ensino, o que a disposição legal se propôs a corrigir. A implantação desta lei foi um processo longo (e que conhece inclusive retrocessos) e esbarrava – entre outros problemas – no fato de que boa parte dos professores de ensino fundamental e médio não havia tido estes conteúdos em sua formação superior. Para contribuir com a formação de professores das redes municipais e estadual da Zona da Mata mineira, a Universidade Federal de Juiz de Fora ofereceu gratuitamente cursos de pós-graduação abertos à população, mas voltados especialmente a professores que desejavam se atualizar nesta temática. O livro “Candomblé – Formação e compreensão religiosa de uma tradição afro-brasileira”, de Frei Volney José Berkenbrock, nasceu das aulas que o autor ministrou por muitos anos nestas turmas de pós-graduação da UFJF. A publicação agora em forma de livro – feita pela Editora UFJF – tem o intuito de tornar o acesso deste conteúdo a um público mais amplo. A obra está dividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata da história da passagem das culturas africanas para o Brasil, especialmente do sistema
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escravocrata e suas consequências; o segundo capítulo apresenta a compreensão cosmológica e existencial dos iorubanos, povo que cultua os Orixás, e que está na base da formação do Candomblé no Brasil; o terceiro capítulo descreve a organização religiosa do Candomblé, sua estrutura, hierarquia, culto e iniciação; o quarto e último capítulo aborda de forma ampla a ligação entre Candomblé, cultura e educação, a partir de quatro eixos: o sincretismo como processo de diálogo cultural, a teologia como sabedoria iniciática nesta tradição religiosa, a antropologia religiosa do Candomblé e por fim o lugar e a função da mitologia nesta tradição. A disposição da obra nestes quatro capítulos faz com que o livro tenha toda uma parte histórica (1º capítulo), que aborda tanto conhecimentos sobre a África, bem como a história da escravização, o envolvimento da Igreja Católica neste processo e as consequências culturais e religiosas desta história; uma parte cosmológico-religiosa (2º capítulo), onde se expõe o modo de pensar que sustenta a religião do Candomblé, sua visão de mundo e
especialmente, a compreensão sobre os Orixás, ponto central desta tradição; uma parte mais descritiva da religião (3º capítulo) onde é abordada sua estruturação religiosa em comunidades (popularmente conhecidos como terreiros), a hierarquia dentro de uma comunidade religiosa (a chamada família-de-santo), os rituais e sua lógica neste sistema religioso, e o que é específico para se fazer parte da religião, que é o processo iniciatório; a última parte do livro (4º capítulo) expõe, a partir do exemplo de quatro temas, como a discussão em torno desta tradição religiosa abrange elementos muitos amplos. Assim, apresenta-se a questão do sincretismo como um longo processo de diálogo cultural (que ocorre em todas as religiões); a questão do conhecimento religioso no Candomblé, que é resultado não de estudos acadêmicos, mas de uma teologia/sabedoria iniciática adquirida pela experiência religiosa; a antropologia religiosa presente nesta tradição, onde se aborda a complexa compreensão de ser humano ali presente; e, por fim, o mundo dos mitos no Candomblé, mitos estes chamados de itãs, que são histórias do porque das coisas. A obra é, desta forma, uma grande introdução ao sistema religioso do Candomblé.
O autor
Volney J. Berkenbrock é doutor em Teologia pela Faculdade de Teologia Católica da Universidade Federal de Bonn, Alemanha, título que obteve com a tese A experiência dos Orixás (Petrópolis: Vozes, 1998), trabalho publicado em 1995 na Alemanha (Die Erfahrung der Orixás. Bonn: Verlag N. Borengaesser, 1995) e em 1998 no Brasil. É professor do programa de Pós-graduação em Ciência da Religião na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. COMUNICAÇÕES
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stão dispostos a renunciar seus modos culturais de viver, fazendo todo o esforço para levar a ‘Paz e o bem’ na convivência plena com a nova cultura?” A provocação foi feita pelo Ministro Provincial, Frei Estêvão Ottenbreit, aos três missionários - Frei Plínio Gande da Silva, Frei José Zanchet e Frei Pedro Caron - na Missa do Envio, no dia 16 de setembro de 1990, no Seminário de Agudos. Os três missionários também “renunciaram” ao medo de enfrentar uma guerra civil na viagem ao país africano. Embebidos do mesmo espírito missionário, heroico e destemido dos primeiros discípulos da Ordem, os frades brasileiros chegaram em Luanda no dia 25 de setembro de 1990, há exatos 30 anos. “Na época tínhamos bem presente uma carta que o então Ministro Geral, John Vaughn, escrevera em 1982 com o título ‘A África nos chama’. Esta carta foi motivada pela constatação que a Ordem estava espalhada pelo mundo inteiro, mas muito reduzida no continente africano. Inicialmente até voltamos nossos olhares para Guiné Bissau, onde já estavam franciscanos italianos e portugueses. Depois se achou melhor ir para
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Angola onde ainda não havia uma presença OFM”, recordou Frei Estêvão na entrevista que deu ao completar 25 anos da Missão. O Ministro Geral, Frei João Vaughn, no documento citado, dizia: “Uma presença mais intensa na África nos faz estarmos presentes, de um modo positivo e de fato, entre os povos que passam fome, que não têm casa, entre os enfermos, os analfabetos, as vítimas da guerra e da tirania. São Francisco e seus seguidores podem dar uma ajuda, mas sobretudo muita esperança, alegria e principalmente paz. Queira Deus conceder-nos a graça de sermos hoje grandes pacificadores”. Nesta missão pacificadora, a irmã morte visitou e assustou os confrades quando, em 4 de janeiro de 1993, faleceu Frei Lotário Neumann, em Luanda, vítima de um quadro com várias complicações, agravado ainda por um paludismo. Outro susto veio quando Frei Valdir Nunes sofreu um atentado em Quibala. Os frades tiveram de deixar Quibala, mas não deixaram Angola. Em meio às “intempéries” da história, a semente franciscana já estava lançada no solo angolano. Os frutos logo começaram a surgir e, em 1996, era instalado o Aspirantado
ANGOLA | 30 ANOS em Malange e, no ano seguinte, o Postulantado em Quibala. Frei Afonso Katchekele Quessongo foi o primeiro angolano a fazer a Profissão Solene. Hoje, a Fundação tem 134 formandos, sendo 24 no Noviciado. Em 3 de julho de 2008, a Ordem dos Frades Menores
assinou decreto reconhecendo a Fundação Mãe de Deus de Angola. Dez anos depois, essa Fundação vivia mais dois momentos históricos: a eleição de Frei António Boaventura Zovo Baza, o primeiro frade angolano a presidir a entidade, e a criação do Noviciado em Quibala.
“SOMOS TODOS COLABORADORES NA SEARA DO SENHOR” Os três primeiros missionários da Província, Frei Pedro, Frei José e Frei Plínio, são “considerados as colunas” (cf. Gl 2,9). Sobre este firme alicerce, muitos confrades se tornaram quais “pedras vivas na construção de um edifício espiritual” (cf. 1Pe 2,5), dentro do qual tantos jovens angolanos, à semelhança de São Francisco de Assis, puderam também ouvir as suaves e desafiadoras palavras do Crucificado: “Vai e restaura a minha casa” (cf. LM II,1,3). Talvez, não foi sem um desígnio providencial de Deus que se deu à primeira Fraternidade Franciscana em Angola o nome de São Damião. De algum modo, creio que podemos dizer também, parafraseando Tertuliano, que o sangue de Frei Lotário Neumann foi semente de novos
frades, que hoje já somam 71, incluindo os 24 noviços. “Deste modo, também nós, circundados como estamos de tal nuvem de testemunhas” (cf. Hb 12,1), sentimos que nos cabe uma pequenina parcela neste imenso e colorido mosaico de experiências tão intensas que nos proporciona a evangelização missionária em Angola. Esta mesma realidade é por si só algo marcante, pois se percebe que não estamos só e que somos todos colaboradores na seara do Senhor: “Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento” (1Cor 3,6).
Frei André Luiz Henriques Guardião da Fraternidade Franciscana do Seminário Monte Alverne, Malange.
“É TEMPO DE SEMEAR, E SEMEAR SEM MEDO!” Quando os Frades chegaram em Angola, em 1990, eu tinha apenas 3 anos de idade. Aos olhos dos homens era impensável eu fazer parte dessa familia que hoje, ao celebrar 30 anos, me enche de alegria. Mas, aos olhos de Deus, que sabe de todas as coisas, certamente já me tinha em seus planos para ser um Frade Menor, e por tudo isso, dou graças a Deus. Fazer parte do grupo que testemunha a celebração dos 30 anos da FIMDA é um privilégio e, ao mesmo tempo, um desafio. Privilégio pelo fato de podermos presenciar e viver esses momentos intensos de festividades na vida da FIMDA em toda toda a Província; é um desafio, porque a história vai nos responsabilizar pelo sucesso ou, espero que assim não seja, o fracasso da FIMDA. Os Frades que nos antecederam tiveram a coragem e ousadia de abrir e desbravar a Missão, escreveram nessa terra os seus nomes, e, muitos deles, com o próprio sangue. Suas marcas estão registradas de forma “indelével!” Nós, portanto, temos a responsabilidade de consolidar a presença da Or-
dem aqui em Angola. Os futuros frades darão continuidade naquilo que nós potencializarmos hoje. Para que isso se materialize, é preciso semear, semear com coragem e sem medo! Atualmente estou ajudando na formação dos aspirantes no Seminário Franiscano Monte Alverne, em Malange. É um trabalho desafiador, mas é, ao mesmo tempo, a garantia do crescimento e continuidade da Ordem. Graças a Deus, temos um bom número de candidatos na formação. O número de jovens que diariamente entra em contato conosco com o desejo de ser Frades Menores também é bem elevado. Estamos vivendo um momento vocacional bom. Por isso, precisamos cuidar bem desses nossos irmãos. Nem sempre a terra será fértil como está hoje. É tempo de semear, e semear sem medo!
Frei Ermelindo Francisco Bambi Fraternidade Franciscana do Seminário Monte Alverne, Malange. COMUNICAÇÕES
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“O ESPÍRITO FRANCISCANO CONTINUA A INSPIRAR” Tive a graça de nascer em uma família do interior, onde a fé cristã é transmitida, de maneira especial, via oral. Minha avó, Ana Ferraz (vó Dalina), que se alfabetizou depois dos 60 anos de idade só para ler a Sagrada Escritura, um dia me falou de São Francisco, que era pobre e vivia andando pelo mundo como missionário, a exemplo de Jesus Cristo. Esse São Francisco foi crescendo e se desenvolvendo dentro de minha vida, até que, por graça e inspiração divina, percebi que deveria colocar-me à disposição do Senhor e entrei no seminário para me consagrar como irmão na Ordem dos Frades Menores, com o intuito de ser um pouco parecido com São Francisco. Por isso, desde o início sempre quis partir em missão, de maneira especial na África. Com o passar dos anos na formação, a graça divina foi me conduzindo até que, em 2001, tive a oportunidade de vir para cá. De início, o que me chamou a atenção foi que, apesar da guerra, a fé, a alegria, a celebração eram sempre muito vivas e participativas. O desejo do Sagrado esteve e está sempre latente nos trabalhos apostó-
licos-missionários, tanto da parte dos missionários quanto do povo. O testemunho de inspiração divina dado pelos confrades foi ganhando nome e sobrenome; fomos ganhando pais, mães e irmãos e o espírito franciscano começou a florir com os nossos irmãos angolanos. A implantação da Ordem começou a frutificar. Hoje, o que continua a inspirar, não só a mim, mas a todos os irmãos é a entrega total a Deus no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, partilhando a nossa espiritualidade franciscana na vida fraterna, na vida de oração e devoção, no trabalho, na alegria e na esperança. O Francisco, pobre e missionário, seguidor de Jesus Cristo, que minha avó me ensinou, está cada vez mais vivo e presente em todos os seres e afazeres em terras de Angola e em todo mundo. Como dizem os irmãos Angolanos: Estamos Juntos! Paz e bem!
Frei Ivair Bueno de Carvalho Guardião da Fraternidade Santo Antônio do Noviciado São José, Quibala.
“FAZER COMUNHÃO COM OS EXCLUÍDOS DA ATUALIDADE” Conheci os Frades Menores numa época em que estava apenas focado no sonho de ser um sacerdote, motivo pelo qual, no meu estágio vocacional em vista a admissão ao aspirantado franciscano, quando era questionado sobre o que desejava ser, respondia sempre, e com muita convicção, que desejava ser Frade Menor ordenado. Mas agora descobri que ser Frade Menor é muito mais profundo e desafiador. Pois, ser Frade Menor consiste em trilhar o seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo nas pegadas de São Francisco de Assis. É levar Cristo Jesus ao irmão a exemplo de Maria, Mãe de Jesus e nossa, que levou Nosso Senhor Jesus Cristo à sua prima Isabel. Falando sobre o que me marcou e contimua me marcando no trabalho evangelizador dos Frades Menores da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola, Província Franciscana Imaculada Conceição do Brasil, digo que são dois aspectos fundamentais que são alicerces da vida
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franciscana: vida e missão, aspectos estes que mexem sempre com a minha estrutura espiritual enquando Frade Menor, chamado a anunciar o Reino de Deus a todos os povos. A espiritualidade e o carisma franciscanos, ambos constituiem a forma de vida do ser franciscano (“É isso que quero é isso que desejo viver de todo o meu coração”). Este ato de ser menor dos Menores entre os menores; pobre dos Pobres entre os pobres; o ato de abraçar a renúncia de si mesmo para ganhar o maior número de almas para Deus; a busca constante do serviço ao próximo, o ato de ir ao encontro dos excluídos da atualidade para, com eles, fazer comunhão; isto marcou e continua marcando a minha vida vocacional como Frade Menor e irmão evangelizador.
Frei João Baptista Chilunda Canjenjenga Ecônomo da FIMDA e pároco em Viana.
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FREI ANTÓNIO BOAVENTURA ZOVO BAZA, O PRIMEIRO PRESIDENTE ANGOLANO
leito o mais jovem presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA) no IV Capítulo da entidade, no final de maio de 2019, Frei António Boaventura Zovo Baza é o primeiro angolano a presidir a entidade. Filho de Maria Tereza Zovo e Eduardo Baza, Frei António é natural de Cabinda, onde nasceu em 25 de setembro de 1976. Foi ordenado presbítero no dia 15 de janeiro de 2012, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Subantando. Ele é o segundo frade a fazer a Profissão Solene na Missão de Angola. O primeiro foi Frei Afonso Katchekele Quessongo. Frei António é presidente de uma Fundação que está presente em Malange, a primeira casa da Ordem dos Frades Menores em terras angolanas. Capital da Província de
mesmo nome, localizada na região Centro-Norte do país, com população aproximada de 968 mil habitantes, (segundo o Censo de 2014) sendo que 486 mil pessoas vivem na região da capital. Em Malange, a presença dos frades se localiza no bairro chamado Katepa, onde estão duas fraternidades: São Damião e Seminário Monte Alverne. Sob os cuidados da Fraternidade São Damião, estão a Paróquia dos Santos Mártires de Uganda, a Missão em Kangandala e a assistência às Irmãs Clarissas. Em Quibala (323 km de Luanda) está hoje a Casa de Noviciado. Foi a segunda presença franciscana em Angola, que foi interrompida pela guerra, de 1998 a 2009. Mesmo sendo uma casa de formação, os frades têm um envolvimento pastoral bastante intenso, com
atuação efetiva na Missão Nossa Senhora das Dores e na Capela Santo Antônio. A sede da Fundação está em Luanda, onde reside Frei António na Fraternidade São Francisco de Assis. Nesta Fraternidade, os frades se dedicam ao atendimento da Paróquia São Lucas, ao acompanhamento dos frades professos temporários, ao atendimento do Santuário Quimbo São Francisco, às Irmãs Clarissas e ao projeto Nossos Miúdos. Em Palanca fica a residência que acolhe os frades estudantes do tempo de Filosofia. Na Fraternidade de Viana fica o Postulantado da Fundação. Viana é a Fraternidade mais jovem da Missão e é município da Província de Luanda. Os frades dão atendimento à Paróquia Nossa Senhora de Fátima. COMUNICAÇÕES
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ENTRE A GUERRA CIVIL E
m Angola, os frades estão celebrando a graça dos 30 anos de missão. São vários os motivos de ação de graças a Deus pelo dom da vocação e missão, pela coragem, disposição e entrega dos frades missionários! O primeiro grupo de frades missionários pisou o solo angolano aos 25 de setembro de 1990. Neste período, o país enfrentava o quadro mais triste e repugnante de sua história: a guerra civil, com vidas e sonhos sendo destruídos, irmãos matando os próprios irmãos, o sono era perturbado e o amanhã era incerto. E é neste contexto, com o intuito de partilhar a vida e os ideiais franciscanos, que a Província da Imaculada Conceição do Brasil, sem poupar esforços, com muita fé e vontade dá um passo significante na sua história: início de uma missão na África, Angola, em plena guerra civil. Neste ano, ao celebrar os trinta anos, a pandemia da Covid-19 pinta mais uma vez a história missionária dos frades. Desta vez, o contexto é diferente: não é o de uma “guerra civil”, mas é o de uma pandemia Tanque deixado ao lado da ponte destruída do Rio Kwanza do coronavírus, que ameaça a integridade humana no mundo todo, embora afeta, com certeza, os mais vulneráveis, os países em desenvolvimento, neste caso, Angola. Tanto a guerra civil quanto a pandemia da Covid-19 incidiram diretamente no processo de evangelização e missão da FIMDA. As incertezas, inseguranças e as dificuldades oriundas dos mesmos são um processo de revitalização da nossa fé, pois não somos autossuficientes, somos dependentes do Senhor. Nosso projeto de vida, nossos sonhos, nossas expectativas fora d’Ele nada acontece. O novo coronavírus está afetando todas as pessoas e todas as nações. Diz-se que ele não tem preferência, não escolhe classe social, religião, cor e etc, e afeta a qualquer um, independente do estrato social, mas os seus efeitos sociais afetam principalmente os mais pobres. Angola, assim como as demais nações, está lutando ferrenhamente contra esse vírus letal. Desde cedo, as O túmulo de Frei Lotário autoridades implementaram medidas de segurança de ajudaram muito, já que o país registrou, até o dia 15 de modo a impedir o contágio e a proliferação do vírus. São setembro, 3.569 casos confirmados; 2.094 em tratamento; medidas duras como: cerca sanitária na Província de Luanda 1.332 recuperados e 139 mortos. e Kwanza Norte, diminuição de força de trabalho, proibição Desde o início das restrições o estilo de vida mudou comde aglomeração de pessoas, suspensão de aulas, proibição de reuniões, suspensão de atividades religiosas, desportivas pletamente. As dificuldades surgiram, o desemprego cresceu, e de lazer, o uso obrigatório de máscaras, etc, apesar de os preços dos produtos básicos subiram, a fome e a violência algumas vezes as forças de segurança pública exagerarem reapareceram tremendamente. Apesar de tudo isso, creio que na cobrança das mesmas. Contudo, as medidas aplicadas a caridade reacendeu os corações dos angolanos. A dimen-
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A PANDEMIA DA COVID-19 com o outro, está sempre em comunhão com o seu próximo! É neste contexto de “guerra”, seja ela civil ou pandêmica, que a nossa missão tem procurado testemunhar o amor de Deus no meio do povo angolano. Durante esses trinta anos, uma marca característica das nossas Fraternidades é a aproximação ao povo, principalmente dos mais sofridos. Os frades, como Menores, estão entre os menores, para, com eles, realizar a vocação franciscana. Essa constatação vem do próprio povo. E, neste sentido, o povo é grato por fazer parte, de uma ou de outra maneira, da vida dos frades. E mais ainda os frades são gratos pelo ensejo de realizar a própria vocação com o povo. Não são poucas vezes que o povo pergunta por frades que passaram pela missão nos seus primórdios, que já estão no Brasil como Frei Odorico, Frei Pedro Caron, ou já contemplam a Deus, face a face, como Frei Hermenegildo, Frei Simão Laginski, Frei José Zanchet e Frei Plínio. Esses e tantos outros frades Frei José Cambolo é ordenado presbítero em meio à pandemia marcaram a história da missão. São memórias que jamais se apagarão e não poderíamos deixar de frisar! Assim como há trinta anos, ao iniciar a missão em Angola, o país encontrava-se em guerra, ao comemorar este momento de graça está enfrentando o novo Coronavírus. São anos de entrega, de desafios e, sobretudo, de testemunho de vida franciscana. Temos muito o que agradecer e pedir ao Altíssimo Onipotente Bom Senhor para que a nossa vida e missão seja agraciada com seu imenso amor. Temos muito que agradecer à Província pelo empenho e cuidado da missão, sempre disposta a nutri-la com os bens espirituais e materiais. Agradecer aos frades que, com suas orações, disponibilidade e testemunho continuam sustentando a natureza da vida franciscana, porque somos uma Ordem missionária, nascida para ir ao encontro dos povos do mundo inteiro. Celebrar trinta anos de missão em meio ao novo Presença franciscana em Angola Coronavírus, vem à tona memórias do início deste maravisão solidária bantu se faz sentir. O pouco chega para todos. lhoso projeto missionário lançado pela Ordem: a África nos O ser humano angolano, na medida do possível, procura chama! E, com certeza, a Província teve a acertada ousadia adaptar-se para poder sobreviver, sem perder a esperança de em responder: a África nos espera! Portanto, Angola foi um amanhecer cada vez melhor. Apesar das dificuldades não agraciada por este projeto profético. Deus seja louvado perdeu a alegria de viver e a beleza de amar, de crer num dia pelas maravilhas realizadas em nossa missão! maravilhoso. Afinal de contas o angolano jamais “perde” a fé, a esperança e a caridade. O angolano sempre vai à luta, jamais Frei José Cambolo cruza os braços, não desiste! Numa palavra, o angolano é um Guardião da Fraternidade São Francisco de Assis em Luanda. COMUNICAÇÕES
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VOCAÇÃO NOS 30 ANOS DA MISSÃO Os que por inspiração divina vierem ao nosso encontro, sejam recebidos benignamente e, com diligência seja-lhes exposto o teor da nossa vida (cf. RnB 2, 1-3).
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ovidos e intuídos por este espírito, a nossa Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), vem acolhendo e caminhando junto aos irmãos que nos procuram, que querem conhecer o nosso modo de vida e, que a exemplo de São Francisco, querem conosco ser frades menores no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta esperança, hoje temos na Fundação 134 irmãos em formação. Na etapa do Ensino Médio que se encontra em Malange, na Fraternidade Franciscana do Seminário Monte Alverne, temos 45 seminaristas em formação, sendo: 11 no 1º ano, 16 no 2º ano, 10 no 3º ano e mais 08 que já
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concluíram o Ensino Médio e estão ali juntamente com os do 3º ano fazendo seu Aspirantado. Assim, nesta etapa temos 18 Aspirantes. Nesta realidade formativa, devido à Covid-19 o governo angolano decidiu cancelar todos os estudos neste ano. Deste modo, acolhendo também a decisão dos Bispos de Angola, todos os seminários foram fechados, nossos seminaristas foram enviados para junto de seus familiares, e só permaneceram os oito seminaristas que já haviam concluído seus estudos. Desta forma, temos 8 candidatos para o Postulantado no próximo ano. O acompanhamento junto aos que estão com suas famílias está sendo organizado de modo que não se rompa o vínculo conosco.
ANGOLA | 30 ANOS Na etapa do Postulantado, que se encontra em Viana, Luanda, na Fraternidade Franciscana da Porciúncula, temos 21 irmãos na formação inicial. O processo formativo contínua em seu ritmo normal, respeitando as normas impostas pelo governo e pela Igreja em relação à Covid-19. Na etapa do Noviciado que se encontra em Quibala, na Fraternidade Franciscana Santo Antônio, temos 24 irmãos na formação inicial. O processo formativo continua também em seu ritmo normal e, consequentemente, respeitando todas as normas de quarentena diante da realidade que estamos vivendo. Na etapa da Profissão Temporária, no bairro de Palanca, em Luanda, 30 irmãos fazem parte da Fraternidade Franciscana São Francisco de Assis na formação inicial. Devido ao momento e em respeito às leis, para eles também foi cancelado os estudos acadêmicos de filosofia neste ano. Assim sendo, estão tendo formação na Fraternidade e exercendo suas responsabilidades, sempre em obediência às normas impostas pelo governo para os que vivem em Luanda,
onde está o maior número de infectados pela Covid-19 no país. Na Fraternidade de Rondinha (PR), temos também 5 irmãos fazendo sua formação inicial junto aos irmãos daquela Fraternidade. De modo que, nesta etapa da Profissão Temporária no tempo da filosofia temos 35 irmãos professos. Na mesma realidade, em Petrópolis (RJ), na etapa da Teologia, temos 5 irmãos de Profissão Temporária, sendo 3 no 1º Ano e 2 no 2º Ano. E, mais quatro irmãos Professos Solenes no 4º Ano e que, no próximo ano, estarão retornando para a FIMDA. Com a graça de Deus estamos caminhando bem e aprendendo com nossas fragilidades. Há por parte de nossos formandos a alegria e vontade contagiantes de caminharem conosco e abertura para o aprendizado formativo. Que Deus continue a nos abençoar e a nos iluminar sempre! Em São Francisco e Santa Clara, Paz e Bem!
Frei Marco Antônio dos Santos, Mestre de Noviciado, Quibala - Angola
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CAMPANHA MISSIONÁRIA
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stamos chegando no mês de outubro. Em nossa presença franciscana é forte a marca missionária que este mês tem. Que bom! Sinal de que continuamos em Fraternidade, com a participação de cada um dos irmãos, a realizar aquilo que o Senhor nos inspirou. É neste tempo forte de missão que também celebrarmos os 30 anos de nossa presença em Angola. Queremos agradecer a Deus por tantas graças que recebemos durante este tempo e ao trabalho generoso de cada um dos irmãos que dedicou e
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dedica sua vida nesta presença. Através deste folder, partilhamos um pouco desta nossa história. Para isso, cada fraternidade da Província receberá uma quantidade deste material para ser deixado nas portas das Igrejas, nas secretarias paroquiais, nos santuários, nas escolas, nas salas de catequese, para que mais pessoas vejam e conheçam um pouco mais sobre a história de nossa Província.
Frei Robson Luiz Scudela Coordenador da Frente das Missões
FRADES DE ANGOLA CELEBRAM “TEMPO DA CRIAÇÃO”
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Tempo da Criação teve início na Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola com a Santa Missa no Kimbo São Francisco de Assis, às 10h30 do domingo, 6 de setembro. O Tempo da Criação, que vai até o dia 4 de outubro, quando se celebra São Francisco de Assis, é um período para renovar a nossa relação com o nosso Criador e com toda a criação por meio da celebração, da conversão e do compromisso juntos. A Celebração Eucarística foi presidida pelo Pe. Celestino Epalanga, missionário da Companhia de Jesus e Coordenador da Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé); e concelebrada pelo Frei João Alberto Bunga, mestre dos frades de profissão temporária. A Missa contou com a participação de alguns leigos, membros da Comissão de Justiça e Paz; e irmãs do Instituto Colaboradoras de Ação Social (ICAS). Animaram os diversos ministérios os frades estudantes. O celebrante, na sua homília, dizia que se comemorava, neste ano, o quinquagésimo aniversário da instituição do Dia da Terra, ou seja, o jubileu de ouro da Terra. O tema deste ano é: “O grito da terra e o grito dos pobres”. «É preciso cuidar, preservar e defender a criação. Esse cuidado não é só para um grupo reservado, mas para todos”, exortou. No final da Missa, o presidente agradeceu aos frades pela hospitalidade e encorajou-os a continuar nesse espírito de cooperação com a Comissão Episcopal de Justiça e Paz.
Frei Abel Ndala Sahuma Nganji e Frei Evaristo Seque Joaquim COMUNICAÇÕES
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//evangelização
LAGES - PARÓQUIA DO NAVIO
Varal Solidário beneficia dezenas de pessoas ma grande quantidade de roupas masculinas, femininas e infantis, além de calçados, foram doados no sábado (29/8), pela Fraternidade Franciscana da Juventude, grupo da Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Navio, em Lages. A ação intitulada de Varal Solidário dispõe de doação para a comunidade lageana. No local, houve um espaço de arrecadação de máscaras descartáveis. Foram três horas de ação onde 10 voluntários representaram todo o grupo. Da separação, triagem até a organização com os beneficiados, foi
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uma tarde de intenso trabalho e dedicação. A líder de setor na Fraternidade, Krauana Moraes, destacou a importância de viver essa experiência. “Durante a quaresma vivemos a campanha da Fraternidade. O lema de ver, sentir compaixão e cuidar deles, nunca fez tanto sentido”. E continua: “Sei que esse ano ficará marcado na história de todos nós, pelas ações que estão sendo desenvolvidas para pessoas desassistidas”, conclui. Mesmo com a doação feita, uma considerável quantidade de roupas permanece para doação. O Instituto
Missão Amar o Próximo – MAP, será destino delas. A coordenação informa a população que caso alguma instituição, pessoa ou comunidade esteja necessitada, o contato pode ser feito por meio das redes sociais e em seguida serão dados os devidos encaminhamentos. Na arrecadação, foram recebidas cerca de 200 máscaras descartáveis. Essas serão destinadas à Casas Asilares do município.
Equipe de Comunicação da Fraternidade da Juventude
Jovens participam do Grito dos Excluídos A Fraternidade Franciscana da Juventude, grupo da Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Navio de Lages (SC), mobilizou cerca de 10 jovens para uma participação teatral na programação do 26º Grito dos Excluídos da Diocese de Lages. Desde 1995, o Grito dos Excluídos mobiliza o povo brasileiro em todo o país no 7 de setembro como um contraponto ao grito da Independência. O tema permanente do Grito dos Excluídos
é “Vida em primeiro lugar” Os jovens mostraram um pouco da vida de São Francisco, como a conversão, a doação dos bens, a reconstrução da capelinha de São Damião e o “Cânti-
co das Criaturas”, marcando o evento com a espiritualidade franciscana. Carolina Couto, que ingressou na Fraternidade há poucos meses e participou de um evento pela primeira vez, falou da alegria de fazer parte deste momento inspirador. “Eu me senti muito acolhida por esse carisma. Participo há pouco tempo na Fraternidade, mas já sou franciscana de alma e coração. Que essa seja a primeira de muitas oportunidades”, disse.
evangelização//
UNIFAG recebe habilitação para realização de testes para diagnóstico da Covid-19 Unidade de Pesquisa da Universidade São Francisco (USF), Unidade Integrada de Farmacologia e Gastroenterologia (UNIFAG), em parceria com o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde da USF, recebeu a habilitação do Instituto Adolfo Lutz (IAL)para a realização da identificação do vírus SARS-CoV-2 e do diagnóstico laboratorial da Covid-19. O Instituto é o órgão responsável por certificar os laboratórios no Brasil. Para receber a habilitação, a UNIFAG atendeu a uma série de requisitos, envolvendo infraestrutura, normas de biossegurança, qualificação de profissionais, entre outros itens considerados requisitos mínimos pelo IAL para a realização do diagnóstico da Covid-19, através do exame de RT-PCR. Este exame é considerado atualmente o “padrão-ouro” para identificação do vírus SARS-CoV-2.
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A UNIFAG realizará os testes em participantes dos estudos de biodisponibilidade e bioequivalência, que são necessários para o registro de medicamentos genéricos e similares no Brasil, assim como para pesquisas acadêmicas. Atualmente, a Anvisa recomendou a adoção de procedimentos especiais para a continuidade destas pesquisas, dentre os quais destaca-se a realização de testagem RT-PCR para SARS-COV-2, imediatamente antes da admissão dos participantes de pesquisa. Assim, cada participante passa por entrevista para avaliação médica, quando são realizados mais de 20 exames laboratoriais e, agora, entre eles o exame de RT-PCR para diagnóstico da Covid-19. A Unidade Integrada também tem contribuído com a identificação de casos no município de Bragança Paulista e arredores. Casos positivos de Covid-19 são notificados para a
Divisão de Vigilância Epidemiológica e Controle de Doenças da Prefeitura Municipal de Bragança Paulista (DIVE), auxiliando na identificação de casos assintomáticos. “Há mais de 20 anos a UNIFAG, através dos estudos clínicos que realiza, contribui para o desenvolvimento científico e tecnológico na área da saúde e para a democratização do acesso aos medicamentos; a partir de agora, com a implantação deste novo serviço de diagnóstico, será possível, além de garantir a segurança dos participantes do nossos estudos, também apoiar os serviços municipais de saúde da região bragantina no enfrentamento dessa emergência de saúde pública”, comenta a Profa. Dra. Márcia Aparecida Antônio, pesquisadora principal da UNIFAG.
Laboratório de Biologia Molecular para os testes de Covid-19
A partir da parceria entre a UNIFAG e o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde (Mestrado e Doutorado) da Universidade São Francisco (USF) foi possível implantar um novo Laboratório de Biologia Molecular, onde poderão ser desenvolvidas pesquisas com vírus, bactérias ou outros patógenos, sendo possível realizar diagnóstico da Covid-19 através da identificação do SARS-CoV-2 por meio de exame de RT-PCR. Os equipamentos de análise são utilizados também para outras pesquisas do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde (Mestrado e Doutorado) da USF. Toda a reestruturação do espaço foi realizada em um período de um mês.
Ana Paula Moreira COMUNICAÇÕES
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//evangelização 3º MEET ON-LINE DA FRENTE DA EDUCAÇÃO
Evangelizar-educar em e como Fraternidade “Tudo se torna mais fácil quando se tem fé. Não uma fé oscilante, mas uma fé firme Naquele que tudo pode e tudo nos concede... Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do que Deus faz por nós... O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, vencer o egoísmo...” (Santa Dulce dos Pobres) Frente da Educação teve no dia 4 de setembro o seu terceiro meet on-line em 2020 com o tema Evangelizar/Educar em e como Fraternidade. O referido meet teve três objetivos previamente propostos:
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1. Fazer memória da caminhada da Frente da Educação, 2019-2020. 2. Refletir, com base no tema “O Protagonismo dos Leigos na Evangelização Franciscana”, abordado no primeiro e no segundo meet de 2020, a saber: como estamos enquanto Fraternidade na educação, no Colégio e/ou na Universidade, onde estamos falhando e onde estamos acertando, onde estamos desafinando enquanto equipe de Frades na articulação das atividades junto aos Leigos? Como é que os Leigos (nossos colaboradores) participam e atuam a partir dessa nossa proposta? 3. Avaliar uma proposta prévia de um meet ampliado entre Frades e Leigos, previsto para o dia 13 de novembro, das 14h às 16h. Após acolhida dos confrades participantes, o Ministro Provincial Frei César Külkamp realçou a importância da continuidade dos encontros da Frente da Educação, inclusive nestes meses de isolamento social devido aos riscos de contágio devido ao alas-
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tramento da Covid-19. Encontros estes oportunos para fazermos memória e refletirmos a respeito da nossa presença e atuação na educação em e como Fraternidade. Fraternidade, segundo Frei César, não somente como uma temática em si, mas uma recomendação que nos tem sido feita de modo recorrente pela Ordem nos documentos emitidos por ela sobre a educação, principalmente nas últimas décadas. Fraternidade, sim, que nos predispõe para mobilizar a nós mesmos (Frades) e a atual sociedade a superar tendências ao fechamento, ao egoísmo, a relações piramidais etc. Fraternidade, sim, que nos possibilita compreender cada pessoa “como um núcleo de relações com a natureza, com os seres humanos, com Deus e consigo mesma, como um ser único e irrepetível em sua essência e existência, como uma unidade integral de múltiplas dimensões e como um ser histórico que se constrói no marco da liberdade e da responsabilidade.” (Doc. “Ide e Ensinai”,
p. 3-4). Fraternidade, sim, a se ampliar no âmbito das relações entre Frades e Leigos nas atividades ligadas à gestão, à dinamização das atividades letivas, socioeducativas e pastorais. Fraternidade, sim, que nas proposições do Papa Francisco se apresenta como um bálsamo, um remédio principalmente em prol da construção da paz mundial, da convivência entre os diferentes, da difusão da cultura, da tolerância, da resolução dos conflitos, do combate à degradação ambiental, do contraponto ao declínio moral em que vive o mundo de hoje. Fez menção também Frei César ao que consta no item 1.0.4, página 43 do Plano de Evangelização 2016-2021 da nossa Província: “Queremos estar na Educação em Fraternidade, a partir de um projeto fraterno de vida e missão, com espírito de proximidade e comunhão, trabalhando em rede e somando forças.”. Finalizou sua mensagem inicial, lembrando-nos que a Fraternidade é, por excelência, nossa identidade como Ordem e “nossa marca” junto aos
evangelização// leigos e, por meio deles, com toda a humanidade. O Vice-Ministro Provincial e Coordenador do Secretariado da Evangelização, Frei Gustavo W. Medella, situou a atualidade das reflexões sobre o tema da Fraternidade como um valor fundante e basilar, seja para o próprio Secretariado da Evangelização e para a Frente da Educação, seja para encontrarmos respostas à crise que estamos vivendo. Convidou-nos, nesse sentido, a nos interpelarmos constantemente de que maneira podemos tornar presente o valor da Fraternidade nas nossas relações e no modo de conduzirmos a nossa missão na educação. Com relação ao primeiro objetivo do meet on-line, foi oportunizado na sequência um momento de memória da caminhada da Frente da Educação, privilegiando o que tem sido proposto, refletido e realizado em 2019 e 2020. Foi possível brevemente constatar: q ue educar é um modo de conhecer, acolher, amar, sentir, servir e promover o desenvolvimento do ser humano em todas as duas dimensões, motivo pelo qual a educação é, na sua essência, evangelizadora. q ue a educação exige, segundo Sêneca, os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida de uma pessoa. o quanto é importante cada Frade mostrar-se mais disponível e aberto tanto a pensar o que se quer com a educação na Ordem e na Província como ao modo que se almeja estar a serviço da educação (em e como Fraternidade), interagindo dialogicamente com os leigos a partir de um projeto de vida e missão. Com relação ao segundo objetivo deste meet on-line, foram enriquecedoras as mais diversas contribuições dos Confrades participantes deste meet on-line. Frei Marcos Antonio de Andrade compartilhou a experiência da Fraternidade do Sagrado com 4 Confrades prestando serviços às três Unidades do Colégio Bom Jesus (duas
em Petrópolis e uma em Itaipava) e ao Instituto dos Meninos Cantores (Canarinhos). Experiência essa que tem possibilitado importantes aprendizados, crescimentos e entreajudas, inclusive em termos de ações solidárias para com os mais necessitados. “Vejo nossas atividades nos dois últimos anos nesta Frente como uma expressão de fraternidade e de diálogo a viabilizar uma mesma conexão quanto à presença e missão. Identifico neste trabalho uma oportunidade única e promissora em termos de abrangência de evangelização junto a inúmeras crianças e jovens das Unidades Bom Jesus e dos Canarinhos aqui de Petrópolis e de Itaipava.” Em termos de trabalho pastoral e de formação catequética, Frei Mário José Knapik compartilhou a alegria de estarmos “conseguindo oportunizar às professoras catequistas uma formação semanal on-line, além de visitar de modo remoto cada turma de catequese, atingindo inclusive seus pais e familiares.”. Frei João Mannes lembrou várias outras iniciativas em curso neste período de isolamento que estão surtindo bons resultados. Dentre vários aspectos, lembrou que “há uma boa integração e colaboração entre os Frades, assim como entre os colaboradores na realização das atividades. Percebe-se uma preocupação em não contar com os leigos apenas como auxiliares, mas antes em trabalharmos juntos, fazendo-os se sentirem protagonistas e construtores de um mundo melhor a partir da educação.”.
Falou-se ainda
d as diversas ações solidárias que foram planejadas e estão sendo desenvolvidas neste período pandêmico em prol dos mais necessitados nas instituições de ensino. d a necessidade de nos dispormos a contribuir no processo de atualização do atual Plano de Evangelização da Província a partir dos aspectos contemplados nos encontros da Frente da Educação neste dois últimos anos. d o significativo e amplo atingimen-
to de iniciativas de encontros on-line de formação continuada, seja no âmbito da gestão, da pastoral, da catequese, de projetos sociais de cunho solidário, entre outros. da importância de se reinventar a cada momento nas diversas frentes em que atuamos em vista da missão que nos foi confiada. Ao final foi apresentado a proposta de um meet on-line ampliado da Frente da Educação entre Frades e Leigos de nossas instituições de ensino, a qual foi aprovada, a saber: Tema: LEIGOS E FRADES E A MISSÃO FRANCISCANA NA EDUCAÇÃO Data: 13 de novembro de 2020 Horário: 14h às 16h 14h – acolhida/oração (Frei Claudino) 14h05 - abertura (Frei César/Frei Gustavo) 14h20 – Leigos: irmãos e irmãs na sabedoria e na luz (Frei Vitório Mazzuco Filho) 14h50 – Integração dos Leigos na Missão de uma Instituição de Ensino Franciscana (Irmã Irani Rupolo, Reitora da Universidade Franciscana/ UFN, em Santa Maria/RS e Presidente do Conselho Superior da ANEC) 15h30 – Plenário 16h – Encerramento No decorrer deste terceiro meet on-line da Frente da Educação ficou ainda mais evidente a convocação para não perdermos de vista o propósito de evangelizar/educar em Fraternidade e como Fraternidade. Propósito este alinhado com a eloquência do nosso carisma, enquanto peritos, testemunhas e artífices de um projeto de comunhão, vida e missão, com espírito de proximidade, trabalhando em redes e somando forças com os Leigos. Agradecido a todos pela participação, fraternalmente,
Frei Claudino Gilz Coordenador da Frente da Educação COMUNICAÇÕES
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Lições para a comunicação nesse tempo de pandemia Frente de Evangelização da Comunicação fez o terceiro encontro de formação permanente este ano, reunindo, no dia 20 de agosto, os frades e colaboradores que atuam na Fundação Frei Rogério, em Curitibanos (SC); Rede Celinauta, em Pato Branco (PR); Editora Vozes, em Petrópolis (RJ); Universidade São Francisco, em Bragança Paulista (SP); Colégio Bom Jesus, em Curitiba; Serviço Franciscano de Solidariedade e Sede Provincial, em São Paulo (SP). O encontro foi conduzido por Frei Neuri Francisco Reinisch, coordenador da Frente. O Vigário Provincial e Secretário para a Evangelização da Província da Imaculada Conceição, Frei Gustavo Medella, trouxe para a reflexão um questionamento: O que esse tempo de pandemia tem significado para a comunicação? Para isso, tomou como base alguns pontos de uma palestra do Cardeal português, José Tolentino de Mendonça, sobre “espiritualidade e pandemia” para uma faculdade de Teologia de Belo Horizonte. Segundo Frei Medella, primeiro Tolentino destaca que estamos vivendo um tempo de improviso. “O improviso faz com que vivamos aquilo que está aberto diante de nós. Não há propriamente uma rota traçada, um caminho a seguir. O futuro chega de sopetão e nos pega despreparados”, disse. “E por isso estamos mais fragilizados e vulneráveis. Muitos historiadores têm dito que esse evento da pandemia seria a entrada definitiva do século 21, embora cronologicamente ela tenha ocorrido há mais tempo. Mas agora parece que a humanidade sente os efeitos de uma mudança de época”, acrescentou Frei Medella. Estamos vivendo também um tempo de perguntas. “Vocês que fazem a cobertura jornalística diária, percebem o modo como as autoridades lidam com a pandemia. Têm mais perguntas que respostas. E as respostas são muito provisórias e parciais. As decisões são mudadas de uma hora para outra”, observou o frade. “E aí
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o convite do Cardeal é que nós vivamos as perguntas na sua profundidade, a fim de provocar em nós um questionamento que nos leve a mudanças e transformações profundas”, emendou. É também um tempo de esvaziamento e de silêncio (kenosis). “É um tempo de buscar brechas de esperança nesse cenário muito desafiante que se apresenta diante de nós’, indicou Frei Medella. É tempo de criar. “Não é tempo apenas de cancelar, suspender, suprimir, fechar e tardar. Mas de repropor, reorganizar, acelerar, inventar e abrir-se ao novo”, disse o frade, recordando as muitas matérias gravadas na sala de casa, as aulas remotas, as celebrações on-line. “É tempo de criar e se abrir ao novo”, ressaltou. Outro ponto destacado é o tempo de cuidar e de aprender. “Não é só uma câmera que está na minha frente, ou um aparato de tecnologia que está diante de mim, mas é um ambiente, um lugar, uma extensão dos ambientes onde vivemos, onde criamos nossas relações, onde testemunhamos nossos valores. A rede não é um entrelaçado de fios, mas de pessoas”, observou. Frei Medella citou a encílica Laudato Si’ do Papa Francisco: “Tudo está interligado e agora mais do que nunca podemos perceber que o vírus foi registrado pela primeira vez a muitos
quilômetros de distância do Brasil e, em pouquíssimo tempo, estava aí tomando todas partes do planeta”, lembrou. Ele também exemplificou que a exigência de usar máscara é uma adesão pessoal. No entanto, essa decisão não atinge somente a pessoa, mas afeta toda uma comunidade. “É um momento de vencermos a ilusão de que a humanidade não precisa de limites. De que é onipotente, onipresente e pode tudo. Aprendemos que precisamos baixar um pouco a bola, que é preciso viver de forma mais simples, mais quieta. Tudo isso foram desafios e aprendizados que esse tempo trouxe para nós”, disse Frei Medella. Por último, Frei Medella falou do Tempo dos Bem-aventuranças. Tomou como base um material preparado pelo Serviço de Apostolado Digital, da Diocese de Turim, na Itália. Para cada bem-aventurança, foi elaborada uma reflexão relativa à comunicação, lembrando que a tarefa daquele que pretende ser um discípulo de Cristo é buscar o Reino e não um lugar de destaque nesse reinado. Terminada a reflexão de Frei Medella, seguiu-se um momento de partilha entre os participantes. No final, o Vigário Provincial e Frei Neuri agradeceram a participação e animaram a todos a continuar buscando “relações além das conexões”.
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“São Francisco de Assis é nossa inspiração”, diz o Ministro Provincial na festa dos 20 anos do Sefras a Missa de Ação de Graças, às 19 horas, na Paróquia Santo Antônio do Pari, o Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) celebrou 20 anos no dia 17 de setembro, uma data especial para a Ordem Franciscana, quando se celebra a festa da Impressão das Chagas de São Francisco, conhecida como festa de São Francisco das Chagas. A Celebração Eucarística foi presidida pelo bispo auxiliar de São Paulo, Dom Eduardo Vieira dos Santos, e concelebrada pelo Ministro Provincial
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da Província da Imaculada Conceição, Frei César Külkamp, e pelo diretor presidente do Sefras, Frei José Francisco de Cássia dos Santos. O pároco Frei Wilson Batista Simão, fez a acolhida dos fiéis e colaboradores do Sefras. Frei César, no sermão desta festa franciscana, observou que Francisco de Assis mereceu tamanha graça por ter encontrado na Cruz um caminho e a razão de toda a sua vida. “Na vida de São Francisco, desde o início de sua conversão, ele se dedicou de maneira toda especial à devoção e veneração
do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele anunciava a todos por palavras e exemplo”, disse. “Na cruz, Deus se faz verdadeiramente homem, servo na total pobreza do esvaziamento de Si mesmo. Um amor tão sublime que ainda não é amado, nem mesmo pelos seus seguidores, os cristãos”, acrescentou. Segundo Frei César, celebramos este mistério na liturgia para que sejamos provocados também por esta contemplação. “Queremos que ela nos conduza à adoração e à gratidão da COMUNICAÇÕES
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//evangelização manifestação de Deus, mas também à restituição ao Seu amor com amor e serviço aos nossos irmãos e irmãs! É isto, acima de tudo, que significa amar o Amor!”, ensinou. Para o Ministro Provincial, esse serviço aos irmãos é a ligação com a ação de graças pelos 20 anos de fundação do Serviço Franciscano de Solidariedade. Frei César recordou que em setembro de 2000, na Assembleia Capitular, instância máxima da vida provincial, foi aprovada a criação desta entidade, reunindo serviços diversos já existentes, mas buscando organizar as iniciativas de solidariedade num trabalho mais articulado. “A solidariedade é parte fundamental da missão evangelizadora franciscana: missão primeiramente de abrir-nos aos outros como irmãos e irmãs”, ressaltou. O Ministro Provincial falou da expectativa pela nova encíclica do Papa Francisco, prevista para ser divulgada no próximo dia 3 de outubro, em Assis, que será dedicada à Fraternidade e à Amizade Social e terá como título “Irmãos todos”, tomando uma Admoestação escrita por São Francisco que começa com esta saudação: “Irmãos todos”. “É a saudação que demonstra este espírito de fraternidade universal. Somos todos filhos e filhas do mesmo Pai. E isto é muito mais forte do que qualquer diferença de raça, de credo, de gênero, de posição social, política e do que quer que seja. Podemos dizer então que solidariedade franciscana é, sobretudo, este espírito de fraternidade universal”, explicou. Frei César lembrou que o Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2020, usou uma palavra que serve também para motivar e orientar a ação de solidariedade franciscana: “No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em
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perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida”. “Uma poesia do saudoso Dom Hélder dizia que Missão é sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, mas também descobri-los e encontrá-los. Nosso tempo precisa tanto de atitudes de inclusão, ou seja, de amor! Graças a Deus, vemos atitudes bonitas de tantos cristãos, neste tempo de pandemia, na solidariedade com os que mais precisam, os doentes, os idosos, os grupos de risco e os pobres. E o Sefras tem sido uma presença referencial neste sentido”, enfatizou. Segundo Frei César, São Francisco de Assis é sempre a inspiração. “Um humano feito gigante em sua fé orante, consciente e comprometida. Por sua fidelidade a este Deus que se revela e quer chegar a todo coração humano, ele consagra a própria vida, a sua saúde e vive pouco, mas com profunda intensidade. Em sua vida, o Deus Trindade fez-se concreta morada e o converteu num autêntico representante da sua plural Unidade. Fez dele um precioso caminho de cuidado e de acolhida”, recordou.
“Nestes 20 anos, o Sefras tem assumido esta tarefa de ir ao encontro, especialmente dos últimos da sociedade, das periferias sociais e existenciais, das minorias mais golpeadas por mecanismos sociais de exclusão, buscando conhecê-los e amá-los. Por isso, em nome de toda a nossa Província, quero agradecer a tantos confrades, religiosas, colaboradores, voluntários e benfeitores que compartilharam esta missão de ser expressão muito concreta e irrenunciável do carisma franciscano. Que todas estas presenças e serviços, generosamente prestados, continuem em nossa Memória como testemunho vivo de Solidariedade e Esperança!”, desejou o Ministro Provincial.
TODOS QUEREMOS QUE OS POBRES DEIXEM DE SER POBRES
Nos seus agradecimentos, o diretor-presidente do Sefras, Frei José Francisco, criticou e lamentou o contexto de violência que vem se agravando na sociedade, especialmente neste tempo de pandemia.
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“Pessoas que se colocam ao lado dos mais pobres são chamadas de comunistas. Ninguém de nós é comunista, ninguém é partidário, ninguém de nós está galgando a disputa do poder público. Nós apenas queremos defender aqueles que estão enfraquecidos e não têm mais condições nem sequer de reivindicar o que lhes é de direito”, lamentou. Frei José recordou as ameaças que o Pe. Júlio Lancellotti, pároco da igreja São Miguel Arcanjo e coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, vem sofrendo depois de ser atacado virtualmente pelo deputado e candidato à prefeitura de São Paulo Arthur do Val. “A solidariedade nos desafia com as questões do nosso tempo”, disse, como a questão ambiental, tão bem retratada na Laudato Si’ do Papa Francisco. “Precisamos cuidar da Casa Comum, que é a nossa condição necessária de vida”, observou, citando ainda a questão migratória, a questão de gênero, a questão econômica e o aumento da fome e da violência em todos os níveis. Frei José lembrou também o
acirramento do ódio nas redes sociais. “Temos que ter senso crítico e discernimento. E certas palavras que navegam nas redes sociais se tornam injúria, calúnia e difamação a muitas pessoas”, criticou. Segundo o frade, este contexto desafia o Sefras a continuar construindo a solidariedade. “Nós queremos ver o mundo transformado. O céu e a nova terra anunciados pelo profeta Isaías. A terra onde o amor e a justiça possam entrelaçar e sustentar nossas vidas. Este é o nosso sonho. Esta é a nossa esperança. Esta é a esperança que nos anima a construir fraternidade, nutrir vínculos de amor que possam incluir nossos irmãos que estão à margem da vida”, enfatizou. Nessa construção em 20 anos, três coisas marcaram este trabalho evangelizador, enumerou o diretor do Sefras: qual o nosso lugar na sociedade?; a profissionalização do trabalho; e a questão da sustentabilidade. “Sefras 20 anos: memória, solidariedade e esperança. Penso que, olhando para os 20 anos – e de boa parte deles eu fiz parte -, podemos encontrar
uma fonte de sabedoria: muitos erros, muitas dificuldades, muitos acertos, mas em tudo um grande aprendizado. Uma grande escola, na qual estamos aprendendo a cada dia. Uma escola que significa acolher, cuidar e, sobretudo, o mais difícil: defender, colocar-se ao lado dos mais pequenos, dos fracos, dos injustiçados, dos que não têm nada para oferecer, daqueles que não têm nem condição de dizer obrigado”, sublinhou. Frei José lembrou e agradeceu os frades que formaram essa grande “teia de solidariedade” na primeira hora: Frei Augusto Koenig, Ministro Provincial, Frei David Raimundo dos Santos, Frei Reynaldo Ameixeira, Frei André Gurzynski, Dom Severino Clasen, hoje Arcebispo em Maringá, Dom Bernardo Bahlmann, que é bispo em Óbidos, Frei Mário Tagliari, guardião Convento São Francisco, Frei Vitorio Mazzuco. São todos irmãos da primeira hora que começaram a sonhar como poderia organizar tudo isso. Depois, sob a liderança de Dom Caetano Ferrari, que era o Provincial da época, depois Frei Augusto, depois Frei Fidêncio Vanböemmel e hoje Frei César Külkamp. “Outros frades deixaram sua marca. E com eles uma multidão de voluntários, parceiros e colaboradores”, agradeceu. Dom Eduardo também fez um agradecimento especial à Família Franciscana. “Aqui, de modo particular aos frades, na pessoa do Frei César, Ministro Provincial, de Frei José Francisco, presidente do Sefras, o nosso agradecimento da Arquidiocese de São Paulo pelo trabalho que vocês realizam, sobretudo nesse tempo de pandemia. Diante dos apelos que vinham das ruas, prontamente vocês tomaram a frente. Que Deus os abençoe e ao trabalho de vocês para que nunca lhes faltem vocações, para que nunca lhes falte a coragem, sobretudo a fé, para testemunhar Jesus Cristo”, completou Dom Eduardo.
Moacir Beggo COMUNICAÇÕES
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Editora Vozes celebra o Dia do Catequista com Super Semana de lives
Da esquerda para direita: Moisés, Francine, Bruno, Pe. Thiago e Débora. Editora Vozes convocou um supertime de palestrantes para celebrar o Dia do Catequista, em 30 de agosto. A Super Semana de Catequese começou no dia 24, e só terminou no dia 28 de agosto. Foram cinco dias de lives gratuitas sobre o tema, que puderam ser acompanhadas, sempre às 18 horas, pelo canal da Editora Vozes no YouTube. A mediadora do evento, todos os dias, foi Natália França. O jornalista Moisés Sbardelotto abriu a semana destacando que, mesmo vivendo em meio a tanta tristeza e sofrimento com esta pandemia, há luzes e coisas boas. “Uma delas é essa questão do digital. A gente vê como a vida teve que ser reiventada, digamos assim, a partir dessa obrigatoriedade de ter que manter um certo distanciamento, ter que se isolar, digamos assim, em casa. Então, isso acabou nos levando a aprender e a focar
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grandes partes de nossas ações no ambiente digital. As escolas fecharam, muita gente fazendo uso do ‘home office’, as relações entre as famílias também tiveram que ser respensadas. Então, trazendo isso para o âmbito da catequese, muita coisa ela precisou aprender nesse período, muito pela dificuldade de manter os encontros presenciais na paróquia, na comunidade, mas também pela potencialidade que o digital nos traz”, explicou, acrescentando três pontos que este período leva a repensar, assim como o que o digital oferece de melhor. O primeiro ponto, segundo o conferencista,é a facilidade de conexão. “A gente está conseguindo dialogar e ao mesmo tempo interagiar com pessoas de todo o país. Então, essa conectividade que ultrapassa fronteiras, barreiras, é um primeiro aspecto para pensar também no âmbito da catequese”, disse. O segundo ponto, segundo
o jornalista, está ligado com esse. É a ideia de ubiquidade. Aquilo que está presente em todo lugar e ao mesmo tempo. O último ponto, para Moisés, é muito típico do ambiente digital: a criatividade. “A internet é um caldeirão de ideias. Seja pelo lado do humor, seja pelo lado do entretenimento, ou mesmo agora nesse período de pandemia, todo esse contexto de lives. É muito interessante a quantidade de formações, conteúdos. Grande nomes que estão aí, falando abertamente, gratuitamente. Então, é um espaço de criatividade, onde as ideias, os pensamentos, a troca de informações fervilham. Então, para a catequese, acho que esse aspecto da criatividade é muito importante”, adiantou.
DIFERENÇAS ENTRE AS GERAÇÕES
“Um dos principais desafios que todo catequista acaba encon-
evangelização// trando são as diferenças entre as gerações. Reconhecer que as experiências do catequista estão bem distantes, às vezes, dos catequizandos, exige muita sensibilidade”, acredita a pesquisadora e consultora em Pastoral Escolar e Ensino Religioso, Francine Porfírio, que falou no segundo dia do evento sobre “Desafios e relacionamentos na catequese” Segundo ela, a superação nesse conflito de gerações é algo que só se supera com uma catequese dialógica, uma catequese que busca se aproximar da realidade do catequizando, que busca entender quais são os contextos de origem desses catequizandos, para tentar corresponder melhor, trazendo inclusive uma linguagem mais acessível e de fácil interpretação para esses catequizandos. “Então, quando nós falamos de desafios e dificuldades de relacionamentos na catequese, uma das coisas mais essenciais é se descentralizar de si para dar esse passo em direção ao outro”, disse Francine. Segundo ela, ouvir e falar segundo a realidade dos catequizandos. “É algo que nós precisamos exercitar constantemente enquanto catequistas”, disse.
A FORMAÇÃO CONTINUADA
“Uma coisa que você lê hoje talvez tenha outro sabor amanhã. Por isso, que a formação continuada é importante”, lembrou o professor Bruno Tamancoldi, ao abordar o tema “Nos caminhos da Igreja – Formação permanente da fé”, no terceiro dia do evento (26/8). Segundo ele, a formação deve fazer parte de toda a vida. “Uma vez, um grande mestre da UFRJ quis minha opinião sobre uma aula que ele estava preparando. Depois de falar algumas palavras, eu perguntei: ‘Mas você está pedindo a opinião para mim? Você é um grande
mestre, quem é o Bruno Tamancodi? Ele falou: ‘Jamais diga isso; todos nós estamos nos formando a cada dia’. Isso foi uma grande lição para mim. Nós vamos mudando ao longo do caminho, e o processo formativo acontece ao longo do caminho”, ensinou. Para o professor, para alguns a formação permanente é algo penoso, doloroso. “Às vezes se usa uma palavra que eu não gosto muito: ‘Ah, eu preciso fazer um curso de reciclagem’. Se recicla lixo. Formar-se permanentemente é olhar com um novo olhar, uma nova visão nos olhos de Nosso Senhor Jesus Cristo continuamente”, enfatizou.
INICIAÇÃO CRISTÃ
O Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) é um importante instrumento a ser utilizado no processo de iniciação cristã. É um dos principais meios de unir catequese e liturgia no decorrer do itinerário catecumenal, segundo o Pe. Thiago Faccini Paro, que falou sobre “As celebrações do RICA” no dia 27 de agosto. “Ele é importante para a catequese porque ele vai mostrar quais são os objetivos, a intenção de cada tema. E as suas celebrações vão ajudar a pensar um itinerário com os temas catequéticos. O RICA é a primeira referência que temos para estudar o que é a iniciação à vida cristã”, explicou o sacerdote, autor do livro “As celebrações do RICA, conhecer para celebrar bem” e também dos manuais de catequese “O Caminho”. Ao folhear o RICA, o leitor encontrará passos a serem executados (itinerários). Essas etapas visam o conhecimento e a adesão da pessoa à fé cristã. O Documento é organizado em: “tempo de conversão” (kerigma, pré-catecumenato); “tempo da preparação” (catequese, eleição) e “tempo da recepção dos
Sacramentos (purificação/iluminação/mistagogia). Na primeira etapa – a da conversão – é possível ter contato com os primeiros encontros. É neste momento que acontece a celebração de acolhida e apresentação dos candidatos à comunidade.
COORDENAÇÃO NA CATEQUESE
O último dia das lives trouxe reflexões sobre o perfil e missão da coordenação. Coube a Débora Pupo, coordenadora Regional da Dimensão Bíblico-Catequética do Regional Sul 2 da CNBB, falar sobre o tema “Coordenação de catequese… Sobre o que estamos falando?”, título do seu livro publicado pela Editora Vozes. A missão organizativa da catequese, segundo a autora, envolve pessoas, homens e mulheres, que são indicados e que têm a reponsabilidade de pensar a ação catequética como um todo. “Eu considero como uma das dimensões mais importantes da ação catequética”. Segundo Débora, na nossa realidade é muito comum ter uma pessoa apenas como coordenador ou coordenadora. “É aquela que vai ter de administrar tudo que diz respeito à catequese. Mas os documentos já orientam para a necessidade de ter uma equipe. Coordenar requer toda uma estrutura de serviço”, adiantou. A primeira necessidade do coordenador pode parecer apenas de ordem organizativa; ou seja, inscrições, divisão de grupos, estabelecer horários, elaborar calendários. No entanto, a visão de quem coordena deve ir mais longe: a pessoa, ou equipe responsável pelo serviço de coordenação, tem a missão de favorecer o processo orgânico e sistemático da catequese por meio de uma organização que envolva reunir a representação de catequistas, famílias e comunidade. COMUNICAÇÕES
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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil NOTÍCIAS DA REUNIÃO DO DEFINITÓRIO PROVINCIAL São Paulo, 2 e 3 de setembro de 2020
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os dias 02 e 03 de setembro de 2020, por videoconferência, aconteceu a reunião do Definitório Provincial com a presença de todos os seus membros. Iniciou-se às 14 horas da quarta-feira, com as boas vindas dadas pelo Ministro Provincial, Frei César Külkamp. Na oração inicial foi feita a memória de alguns acontecimentos marcantes na vida da Província nos últimos meses. O falecimento dos confrades Leonir Ansolin e Moiséis Beserra de Lima e do ex-frade Teodolino José de Souza que desenvolvia um bonito trabalho como maestro em Campo Largo-PR. Recordou-se a forma com que a
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pandemia da Covid19 ainda afeta a vida e os trabalhos dos frades. A Província conta com um histórico de dezenove frades infectados, mas todos curados. A situação de saúde de alguns irmãos enfermos também foi pontuada: Frei Euclydes Pezzamiglio após uma queda teve o seu estado geral de saúde, já fragilizado pelo Alzheimer, agravado para uma sonolência acentuada e com pouca interação. Precisará de acompanhamento de enfermeiros e médicos de diferentes especialidades. Frei Felipe Gabriel Alves, no dia 10 de agosto, conduzido ao hospital, constatou-se um quadro de acidente vascular cerebral. Percebeu-se também uma atro-
definitório provincial// fia cerebral, que já vinha de mais tempo. Está sendo acompanhado na fraternidade. Frei Valdemar Schweitzer, após queda, quebrou o fêmur da perna esquerda. A cirurgia teve bom êxito e agora faz fisioterapia. Frei Evandro Balestrin rompeu ligamentos do joelho esquerdo e deve também passar por cirurgia em breve. Frei Pedro Engel atravessa um quadro de enfraquecimento devido a problemas cardíacos e deve instalar um ou mais stents para regularizar o fluxo sanguíneo. Foi recordada com alegria a nomeação de Dom Frei Severino Clasen como Arcebispo de Maringá, PR e sua posse no dia 15 de agosto na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção. Rendeu-se graças pela celebração de 101 anos de vida de Frei Olavo Seifert e os 99 anos de Frei Abel Schneider e de Frei Cássio Vieira de Lima. Após o momento oracional, Frei César solicitou que Frei Gustavo Medella moderasse a reunião. A maioria dos assuntos discutidos e decisões tomadas segue abaixo.
1 Conselhos dos Secretariados
Em vista da proximidade do ano capitular, Frei César pediu aos conselhos dos secretariados para iniciar o trabalho de revisão do Plano de Evangelização que traz as Diretrizes da Província para a Formação e para a Evangelização. Já temos uma caminhada na Província de mais de 20 anos com este documento. Precisamos avançar no sentido de torná-lo mais presente na organização da vida em fraternidade e nas presenças evangelizadoras. Há certa saturação com documentos, mas ficar sem os mesmos significa cair num pragmatismo que tende à dispersão, ao personalismo ou ao fanatismo. A Igreja e a Ordem possuem documentos proféticos, ainda atuais e, talvez, pouco conhecidos e aplicados por nós. É necessário investir em nossa identidade de franciscanos e evangelizadores consagrados. O último Capítulo fez isto com o tema da fraternidade de menores. O Papa Francisco prepara um documento sobre a fraternidade. A Ordem propõe para o próximo Capítulo Geral o que já vem do último CPO de Nairóbi, o trabalho de qualificação de nossa vida fraterna e o aprofundamento de nossa identidade carismática, ou seja, “nosso chamado a ser e a viver como fraternidade contemplativa em missão”. No último Conselho Internacional de Missões e Evangelização – CIME – em Jerusalém, em 2018, Frei Estêvão Ottenbreit foi o assessor desta temática. Frei César também esteve presente. Daí surgiu a ideia de convidar a Frei Estêvão para apresentar uma síntese desta palestra a toda a Província na forma virtual. Ele aceitou com alegria e assim se fará, na concordância também do Definitório, para os dias 24 e 25 de setembro, das 10h às 11h30. Pensa-se em fazer deste encontro um aquecimento já para o Ano Capitular de 2021. O Definitório pede que as fraternidades priorizem esta participação e o procurem fazer de forma conjunta.
Como ainda não será possível a realização dos Encontros Regionais como estavam programados, estes encontros serão uma forma alternativa e deverão ser seguidos por uma reflexão em fraternidade e depois partilhadas nos regionais, presenciais ou virtuais, em vista de proposições para a Comissão Preparatória do Capítulo Provincial. Um guia será preparado e enviado às fraternidades. Os Definidores e Coordenadores dos Regionais cuidarão do trabalho e sistematização de propostas.
2 Formação Inicial
Os formadores e formandos estão se organizando para um encontro formativo proposto pela Secretaria Geral de Formação e estudos e o Escritório de Justiça e Paz da Ordem, com a presença do Ministro Geral, Frei Michael Perry. Será realizado pela plataforma Zoom e será possível acompanhar nos idiomas oficiais da Ordem, mas também em francês, português, polonês e croata. O Encontro ocorrerá no dia 12 de setembro no horário das 18 horas em Roma.
3 Formação Inicial na FIMDA
Com o Decreto Sanitário emitido pelo Governo de Angola, a Conferência dos Bispos – CEAST – cancelou o ano letivo para os seminários em 2020, o que atingiu também as nossas casas de formação. Com isto, os seminaristas do Ensino Médio, em Malanje, foram encaminhados para as famílias até o fim do ano e são acompanhados pelas fraternidades mais próximas e o contato regular dos formadores. No Seminário Monte Alverne permaneceram apenas oito aspirantes que já possuem o Ensino Médio e se preparam para o Postulantado em 2021. Os frades estudantes da Filosofia devem “refazer” o ano acadêmico. O Definitório aprovou a indicação do Conselho da FIMDA de que os que estariam no 4º ano sigam para a Teologia, em Petrópolis, pois já possuem o bacharelado. E que, em torno de 15 dos atuais noviços, sejam encaminhados para Rondinha em 2021 e cursem a Filosofia na FAE. Esses encaminhamentos dependem ainda dos trâmites para confecção de passaportes e obtenção de vistos, pois atualmente estes departamentos e os próprios aeroportos estão fechados por conta da pandemia da Covid-19.
4 Ano Missionário
Para uma boa continuidade do Ano Missionário e oportunidade de atuação na rica experiência da Tenda Franciscana, o Definitório aprovou a indicação do Conselho de Formação e Estudos de revezamento dos frades que estavam designados para Angola neste ano, mas não puderam viajar por conta da pandemia: Frei João Manoel Zechinatto, OFM do Postulantado Frei Galvão/Guará para o Convento São Francisco/SP; COMUNICAÇÕES
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//definitório provincial Frei Lucas de Moura Justino Souza, OFM do Convento São Francisco/SP para o Postulantado Frei Galvão/Guará. Eles ainda poderão ir para Angola neste ano, caso haja possibilidade.
ênio e a nova presença junto ao Santuário Santo Antônio Galvão, como segue:
1. Santos – Convento Santo Antônio do Valongo e Paróquia N. Sra. da Assunção Depois da troca de correspondências entre Frei César e Dom Tarcísio Scaramussa, ficou acertado que a Diocese vai assumir o Convento do Valongo e a Paróquia a partir de janeiro de 2021, com a acolhida dos padres servitanos, do Instituto Missionário Servos do Senhor, congregação com 15 anos de existência e já com uma presença paroquial em Guarujá. Segundo o bispo, este instituto tem uma raiz franciscana em seu carisma e poderá ser boa sequência de nossa presença (380 anos). Frei João Pereira Lopes esteve na Sede Provincial para conversar sobre o andamento e vê que a transição ocorrerá de forma tranquila com os servitanos. Eles pretendem manter o nosso mesmo estilo, com uma fraternidade no Convento e atendendo à Paróquia do Morro São Bento. O novo pároco e reitor do Santuário ficou de vir um mês antes de nossa saída para se inteirar das atividades. A Província também se compromete a continuar a assistência à Fraternidade da OFS. Como passos futuros se fará a comunicação oficial de nossa saída em encontros a serem marcados com as lideranças da Paróquia, do Santuário e os irmãos da OFS, contando com a presença da fraternidade local e membros do Definitório. Com relação ao patrimônio, haverá um trabalho conjunto entre Província e Diocese. Uma celebração de despedida dos frades será marcada para depois do Natal ou início de janeiro.
2. Lages – Paróquia Nossa Senhora Aparecida Em correspondências e conversas entre Frei César e Dom Guilherme Werlang, ficou acertado que a Diocese vai assumir os cuidados pastorais da paróquia do Navio a partir de janeiro de 2021. Dom Guilherme propôs que o Conselho da Paróquia e os das comunidades sejam envolvidos na escolha da data para entrega e despedida dos frades. Alguém do Definitório e a fraternidade local farão este encontro para apresentar nossas necessidades de saída e para preparar a acolhida dos novos padres. Obs.: As Missões Franciscanas da Juventude, previstas para acontecer em Lages, em janeiro de 2021, não vão acontecer nesta data por motivo da pandemia e, quando possível, serão realizadas a partir de nossas presenças no Convento do Patrocínio de São José e no Colégio Bom Jesus.
3. Angelina – Paróquia Nossa Senhora da Conceição Também em correspondências e conversas entre Frei César e o Arcebispo de Florianópolis, Dom Wilson Jönck,
5 SAV - Animação Vocacional
O Definitório reconheceu o desafio do trabalho vocacional em tempos de pandemia e viu com bons olhos a realização de encontros virtuais, com boa participação, promovidos pelo Serviço de Animação Vocacional – SAV – nos meses de julho e de agosto. Aprovou a indicação alternativa de estágios vocacionais neste ano por estados. Os mesmos estão sendo projetados com os animadores vocacionais locais. O Definitório ressaltou a importância da responsabilidade de cada frade e de cada fraternidade na busca criativa para a promoção vocacional.
6 Egressos
O Definitório tomou conhecimento dos pedidos pessoais, indicações e relatos dos formadores dos seguintes irmãos que deixaram a Ordem ou a etapa formativa: 1. Bartolomeu Kapena Moisés - Noviço (Angola) - Saiu no dia 26/08/2020. 2. Francisco Pedro Kapapelo Chitacumula – Noviço (Angola) - Saiu no dia 26/08/2020. 3. Raul Dumbo Bondua Muquinjina - Noviço (Angola) - Saiu no dia 28/08/2020. 4. Victor Coelho Santos- Postulante (Brasil) - Saiu no dia 12/08/2020.
7 Frei Jeâ Paulo Andrade - mestrado
Com apreciação e parecer favorável do Conselho de Formação e Estudos e da fraternidade local, o Definitório aprovou o projeto de estudos de Frei Jeâ ao Mestrado em Filosofia, na área de Filosofia das Ciências Humanas, junto à PUC-SP.
8 Frei Diego Atalino de Melo – Processo seletivo para mestrado
Com apreciação e parecer favorável do Conselho de Evangelização, o Definitório aprovou que Frei Diego inicie o processo seletivo para o Mestrado em Teologia, na área de Teologia Sistemático-pastoral, junto à PUC-RJ. Após aprovação no processo seletivo deverá fazer os encaminhamentos com a fraternidade local e o Conselho de Evangelização.
9 Conselho de Evangelização
Frei Gustavo Medella trouxe ao Definitório o relato do Conselho sobre o andamento do processo de redimensionamento com as entregas ainda previstas para o tri-
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definitório provincial// ficou acertado que a Arquidiocese vai assumir os cuidados pastorais da Paróquia de Angelina a partir de janeiro 2021. Uma data proposta seria para depois do Natal ou em meados de janeiro. O processo de transição deverá seguir o mesmo encaminhamento de envolvimento da fraternidade local e lideranças.
4. Santuário Frei Galvão Os diálogos com o Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, com a Comissão de Construção e Andamento do Santuário, liderada por Dom Raymundo Damasceno Assis, e com o atual Reitor do Santuário, Pe. José Carlos de Melo, tem continuado de forma satisfatória, contando com a ajuda de Frei João Francisco como interlocutor do Definitório. Uma proposta de contrato está em preparação, mas o Arcebispo, inclusive, pediu que os frades já fossem se envolvendo com o Santuário e marcando presença. Frei César, Frei Gustavo e Frei Diego Melo começaram a revisar uma minuta do contrato, preparada pelo Setor Jurídico da Província. Frei Diego foi passar alguns dias no Santuário e conversar com o atual Reitor. A partir desta percepção e da contribuição que os membros do Conselho de Evangelização já apresentaram, a minuta vai sendo transformada numa proposta a ser entregue ao Arcebispo. O atual Reitor do Santuário pediu também uma presença maior dos frades em outubro, em vista da novena e festa do Santo Frei Galvão. Fraternidade: Frei Diego já foi transferido para Guaratinguetá com a indicação de ficar a serviço do Santuário. Depois de servir na Tenda Franciscana, como emergência atual, poderá cumprir a transferência nos próximos dias. A nova fraternidade a serviço do santuário, conforme os acertos com a Arquidiocese, poderá ser constituída no próximo definitório.
10 Criação de Casa Filial da Fraternidade de Bragança Paulista, em Itatiba, SP
Os frades a serviço da Educação na CNSP/USF enviaram um projeto de criação de uma Casa Filial em Itatiba, SP, com apreciação favorável da Fraternidade de Bragança Paulista. No dia 02, às 17h, o Definitório recebeu, na forma virtual, a Frei Thiago Hayakawa, a Frei Gilberto Garcia e a Frei Vitório Mazzuco Filho que apresentaram a proposta. Frei Alvaci Mendes da Luz não pôde comparecer por estar em aula. Segundo eles, o Câmpus de Itatiba está numa localização central e, assim, ideal para base de deslocamento dos frades para as quatro unidades da Universidade, pois se chega a Campinas e a Bragança Paulista em menos de 40 minutos. Isto amenizaria o desgaste de tempo e energia dos frades no trabalho: reuniões ordinárias e de conselhos, servi-
ço e atendimento pastoral, formaturas, visitas do MEC, palestras, eventos festivos, entre outras atividades acadêmicas. A residência da Fraternidade está planejada junto ao Câmpus em prédio já existente e sem uso. O propósito acompanharia o modelo da fraternidade Bom Jesus da Aldeia, em Rondinha (PR), consolidado, bem-sucedido e autossustentável. Este projeto de Casa Filial escolheu o nome de Frei Leão, considerando sua relevância como confidente, amigo, confessor e “secretário” de São Francisco e, sobretudo, companheiro de caminhada em seus deslocamentos, além de redator das formas de vida primitivas franciscanas. A Fraternidade São Francisco de Assis, de Bragança Paulista, continuará a abrigar, em sua missão original, a finalidade conjunta das duas casas, tal como afirmado no texto atual de seu Projeto Fraterno de Vida e Missão. A edificação para adaptação da nova residência terá espaço, no térreo, para um centro de fomento do carisma franciscano, instalação de biblioteca franciscana e acervo de obras de arte franciscana e dos frades da Província. Diante do que foi exposto e dialogado com os confrades, o Definitório aprovou a criação da nova Casa Filial – Fraternidade Frei Leão, cabendo ainda consultar o bispo diocesano.
11 Transferências
Frei Odorico Decker – Transferido da Fraternidade São Francisco de Assis, São Paulo, para a Fraternidade São Francisco de Assis, em Bragança Paulista, SP. Frei Alexandre Rohling - Transferido da Fraternidade São Francisco de Assis, São Paulo, e do Serviço do Pró-vocações e Misssões Franciscanas – PVF – para a Fraternidade São José, do Postulantado Santo Antônio de S. Galvão, em Guaratinguetá, SP, como atendente conventual. Foram revogadas as transferências de Frei Alisson L. Zanetti e Frei Odilon Voss para a Fraternidade São José, do Postulantado Santo Antônio de S. Galvão, em Guaratinguetá, SP, permanecendo na Fraternidade Santo Antônio do Pari, em São Paulo.
12 Nomeações
Frei José Cambolo – foi nomeado vice-mestre do tempo da filosofia em Luanda. Frei Jeâ Paulo Andrade– foi nomeado assistente espiritual da Fraternidade Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, do Instituto Secular da Pequena Família Franciscana.
13 Frei Adriano Freixo Pinto - pedido de licença para morar da Fraternidade
Frei Adriano solicitou e obteve do Ministro Provincial, com o consentimento do Definitório, a licença para morar fora de uma das fraternidades da Ordem, pelo COMUNICAÇÕES
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//definitório provincial período de um ano. Até o momento, ele integrava a Fraternidade do Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro, RJ.
14 Pedidos de regresso à Fraternidade Provincial
O Definitório apreciou as cartas e acolheu com alegria o retorno à Fraternidade dos seguintes irmãos: - Frei Alan Maia de França Victor – depois de passar quase um ano de licença e a serviço da Arquidiocese do Rio de Janeiro, retorna e se dispõe para transferência a partir de dezembro deste ano. - Frei Günther Max Walzer – desde 2012 esteve a serviço da Arquidiocese de Florianópolis, escreveu pedido de retorno à Província, foi acolhido pelo Definitório e transferido para a Fraternidade Santo Antônio, em Florianópolis, como vigário paroquial.
15 Frei Mário Knapik – conclusão do mestrado
Frei Mário escreveu carta de agradecimento ao Definitório pelo incentivo e apoio da Província para a conclusão do seu mestrado em Educação, no dia 29 de julho passado, na PUC-PR. Os frades do Definitório parabenizam a Frei Mário por sua dedicação e esforço e se alegram com o bom êxito desta conquista.
16 FIMDA
O presidente da FIMDA, Frei Antônio Zovo Baza, tem feito contato com Frei César e relatado que a situação da pandemia da Covid-19 esteve bem controlada no país de Angola, graças às medidas sanitárias adotadas e ao fechamento precoce das entradas no país e das fronteiras de Luanda com as províncias. Os poucos casos estavam concentrados em Luanda, mas agora a pandemia cresce de forma mais rápida e alguns casos começam a aparecer no interior. O Governo de Angola decretou estado de calamidade por conta da pandemia até o dia 09 de setembro. Depois disso, ainda não se sabe como as coisas ficarão. A terceira reunião do Conselho da FIMDA, em 2020, foi realizada na forma virtual no dia 1º de setembro. Antes, o Conselho de Formação e Estudos, na mesma forma virtual, reuniu-se no dia 25 de agosto. As casas de formação estão se organizando para participar do encontro virtual com o Ministro Geral, no dia 12 de setembro, e todas as fraternidades para o encontro virtual com toda a Província, nos dias 24 e 25 de setembro, onde querem partilhar e celebrar a alegria dos 30 anos da Missão, dada a coincidência providencial das datas. Juntamente com estes encontros, farão o retiro anual juntos, em Malanje, nos dias 23 a 25 de setembro, seguindo o material enviado pela Formação Permanente da Província. Se não for possível ainda os deslocamentos, a modalidade será por fraternidades.
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No dia 27 de setembro, domingo, háverá uma celebração festiva pelos 30 anos da chegada dos frades, em Malanje, a primeira presença, presidida pelo Arcebispo Dom Benedito Roberto. No dia 25, data dos 30 anos, as duas fraternidades de Malanje planejam uma celebração mais interna com as clarissas e uma visita fraterna ao túmulo de Frei Lotário Neumann, frade da Província S. Francisco de Assis, falecido em 1993. Se houver dificuldades de deslocamento, os frades de Luanda preveem uma celebração simultânea com a Família Franciscana, no Mosteiro das Clarissas. Das indicações que vieram para o Definitório: - foi aprovado que a ordenação diaconal dos frades angolanos que concluem o 4º ano de Teologia este ano, seja feita no Brasil, antes do retorno a Angola; - foi aprovado o prosseguimento de estudos em vista da abertura de uma fraternidade em Lubango, capital da Província de Huíla, onde já há um terreno de propriedade da FIMDA. - A Assembleia deste ano, que seria celebrativa, fica ainda com realização em aberto.
17 Frei Valdir Nunes Ribeiro
Sob a obediência do Custódio da Terra Santa, comunicou a Frei César que recebeu transferência do Comissariado da Terra Santa, em Buenos Aires, Argentina, para o Convento e Santuário de Betfagé, no Monte das Oliveiras, onde se dedicará ao atendimento e acompanhamento de peregrinos.
18 Agenda 2020/2021 – acréscimos e alterações Veja na penúltima página.
19 Reflexão e encerramento
Antes de encerrar os trabalhos, os Definidores refletiram a partir de diversas partilhas de situações que desafiam um projeto fraterno de vida e de evangelização. Consideraram importante aprofundar a identidade relacional do nosso carisma como um caminho de libertação para abraçar com alegria os desígnios de Deus, para experimentar o amor de irmãos dados por Deus e o entusiasmo em servir como menores. Frei César agradeceu aos membros do Definitório pela disposição para os trabalhos, pela presença e proximidade, ainda que distantes uns dos outros, durante os dois dias de reuniões. Se as circunstâncias não criarem dificuldades maiores, o próximo Definitório já poderá acontecer de forma presencial. Frei Jeâ Paulo Andrade, OFM Secretário Provincial
//falecimento
Dados pessoais, formação e atividades
Frei Gregório Martins 06.06.1943
+ 11.09.2020
aleceu na madrugada do dia 11 de setembro, o confrade Frei Gregório Martins, carinhosamente chamado de “Frei Gregorinho”. Nos últimos meses, Frei Gregório vinha apresentando problemas graves de saúde. Fazia uso contínuo de insulina, tinha osteoporose, fazia acompanhamento cardiológico e tratamento oncológico para pele. Considerando o seu quadro fragilizado, Frei Gregório havia sido transferido, em junho deste ano, para Bragança Paulista, em vista de um melhor tratamento de saúde e cuidados mais efetivos. Na manhã do dia 10 de setembro, Frei Carlos Körber comunicou que Frei Gregório havia tido um mal-estar. Durante o almoço saiu do refeitório e caiu. Ficou sem respirar por um bom tempo e teve uma parada cardíaca. O SAMU veio e conseguiram entubá-lo mas ficou com arritmia. Na madrugada do dia 11, em decorrência desse episódio, Frei Gregório veio a falecer. A missa de corpo presente foi celebrada no dia 12, às 7h30, em Bragança Paulista. Depois o corpo seguiu para o Seminário Frei Galvão, em Guaratinguetá, onde foi feita a encomendação e enterro, às 11 horas.
F
O frade menor
Frei Gregório Martins nasceu e
cresceu na cidade de Santo Amaro da Imperatriz-SC. Sua família trabalhava na lavoura, seus pais eram agricultores. Era o quinto filho de oito irmãos. Atribuía a sua vocação ao exemplo de religiosidade e fé convicta dos pais. A presença dos franciscanos e a evangelização realizada na região de Santo Amaro também motivaram o seu ingresso na Ordem Franciscana. Frequentou ainda a chamada “Casa Azul” em Rio Negro-PR, lugar para a formação de irmãos leigos. Na Província desenvolveu serviços fraternos como alfaiate, sacristão, hortelão, porteiro e jardineiro. Em muitas ocasiões trabalhou na administração e contabilidade das fraternidades; serviço pelo qual tinha um zelo desmedido e um gosto especial. Colocava, assim, em prática o curso de técnico contábil que, ainda jovem, havia feito. Em 1977, transferido para a Paróquia Nossa da Paz, em Ipanema, jocosamente, dizia-se o próprio “garoto de Ipanema”! Na sua autobiografia, Frei Gregorinho se descreve como um frade simples e preocupado com a Província. “Não entendo o frade que faz sua vida própria e não procura participar da vida da Província. Não se deve criticar sem ser responsável pela Província ou pela comunidade onde mora”, dizia. Entre seus maiores sonhos, falava sobre o desejo de santificação. Embora dissesse ainda não ter conquistado, acreditava que se adquire a santidade através da busca diária e renovada. As maiores dificuldades encontradas são aquelas do cotidiano, das quais ninguém pode escapar. Nas suas devoções particulares rezava pelas almas do purgatório, pelo Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora e São José. Acreditava firmemente que Deus é quem dá forças e orienta na caminhada. Sobre a vida religiosa e sobre a ação evangelizadora dizia que o frade menor deve ser simples e
ascimento: 06.06.1943 (77 anos N de idade) Santo Amaro da Imperatriz, SC. Vestição na Ordem Terceira: 11.02.1960 (60 anos de Vida Franciscana) Primeira Profissão na Ordem Terceira: 12.02.1961 Primeira Profissão na Ordem: 02.05.1965 Profissão Solene: 26.05.1968 1965 – Seminário Santo Antônio/ Agudos-SP – Serviços fraternos 22.02.1973 – Convento Santo Antônio/Rio de Janeiro – Porteiro 09.12.1977 – Ipanema/Rio de Janeiro – administração econômica e contábil 14.12.1982 – Convento Bom Jesus/ Curitiba-PR – Porteiro 21.01.1986 – Convento São Francisco/São Paulo – Porteiro e contabilidade 21.01.1989 – Convento Santo Antônio do Pari/São Paulo – A serviço do comissariado da Terra Santa 14.04.1993 – Santo Amaro da Imperatriz-SC – administração do Conventinho 27.07.2001 – Seminário Frei Galvão/Guaratinguetá-SP – serviços gerais 17.12.2009 – Convento São Boaventura/Rondinha-PR – serviços gerais 17.06.2020 – Bragança Paulista-SP – tratamento
humilde. Não deve ter pretensões para promoção pessoal. O religioso deve ser menor entre os menores, sem diminuir ninguém, valorizando todos da mesma maneira. Quando se estiver numa situação de conflito, por uma transferência, uma difícil mudança de trabalho ou mesmo uma dificuldade corriqueira, Frei Gregório tinha como inspiração os próprios ensinamentos da Palavra de Deus: “Se Deus é por nós quem será contra nós” e “Tudo posso naquele que me conforta”! Que o Bom Deus acolha na felicidade eterna esse nosso irmão! R.I.P.
Frei Jeâ Paulo Andrade COMUNICAÇÕES
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//artigo
O presbítero e a “tristeza adocicada”
A
o recordar os 160 da morte do Cura d´Ars (1959 – 2019), o Papa Francisco escreveu uma carta otimista e propositiva a todos os presbíteros. Otimista porque – “sem negar ou ignorar o dano causado por alguns sacerdotes”, seja pelo abuso de poder ou por escândalos financeiros e morais – “estou convencido de que os tempos da purificação eclesial que estamos vivendo nos tornarão mais alegres e simples num futuro não muito distante. Deus está purificando sua esposa [...], surpreendida em flagrante adultério. Hoje, far-nos-á bem ler o capítulo 16 de Ezequiel”. É uma carta otimista porque “nas vistas pastorais, tanto na minha Diocese como noutras, encontrei sacerdotes que manifestaram indignação a estes fatos e uma certa espécie de impotência para agir. Porém, consola-me encontrar pastores que, ao perceber o sofrimento das vítimas se mobilizam e mostram-se solidários em palavras e esperançosos quanto ao futuro”. Por outro lado, “há sacerdotes que são culpabilizados por crimes que não cometeram. Estes precisam ter, em seu Bispo, a figura de um irmão mais velho e de um pai que os encoraje e os apoie no caminho”. É uma carta repleta de gratidão por aqueles que são “fiéis e entregam suas vidas a Deus e ao povo numa zelosa dedicação pastoral”. Gratidão de manter o vínculo de amizade com presbitério e seu bispo”. Gratidão pelo anúncio ardoroso do Evangelho “em tempo oportuno e inoportuno” (2Tm 4,2). Gratidão por “acolher os caídos e feridos com a ternura e a compaixão do samaritano”.
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É uma carta propositiva porque convida os presbíteros a refletirem sua vocação/missão a partir de Ezequiel 16, uma verdadeira alegoria da história de Jerusalém como esposa infiel a Deus. É uma carta propositiva porque, diante dos escândalos, “estamos firmemente empenhados nas reformas que promovam uma cultura baseada no cuidado pastoral, de tal forma que tais abusos não encontrem espaço para se desenvolverem e, menos ainda, perpetuarem-se. Não é uma tarefa fácil, nem de curto prazo e requer o empenho de todos”. A parábola do Bom Samaritano (Lc 10,31-43) mostra que o sacerdote e o levita “passam ao largo” e, somente um samaritano se aproxima e lhe dá os devidos cuidados. Hoje, “há os que se aproximam de modo errado, refugiando-se em frases comuns, tais como `a vida é assim mesmo´, `não se pode fazer nada´, dando lugar ao fatalismo e ao desalento. À semelhança do profeta Jonas, podemos fugir para um lugar seguro que pode ter muitos nomes: individualismo, espiritualismo, confinamento em seu mundo pessoal os quais nos afastam das próprias feridas e das dos outros”. Aqui é que mora perigo, diz o Papa. Em o “Diário de um Pároco de Aldeia”, o escritor Bernanos diz que tal postura é o `mais precioso dos elixires do demônio´ porque semeia “desilusão com a realidade, com a Igreja e consigo mesmo”. Os monges o chamam de ‘o pior inimigo da vida espiritual´ e os Padres orientais de ‘acédia’. Ou, nas palavras do Papa, ‘tristeza adocicada’. É achar normal ver o desdobramento de todos os tipos de maldades e injustiças e dizer:
`sempre foi assim´, `não posso fazer nada´. Como enfrentar esta `tristeza adocicada´?! “Como um irmão mais velho e pai”, o Papa dirige-se a cada presbítero, individualmente, com diversas admoestações. A primeira e a mais incisiva, é suplicar ao Espírito que “venha despertar-nos da sonolência e libertar-nos da inércia. Que Ele abra nossos olhos, ouvidos e, sobretudo, o coração para nos deixarmos mover por aquilo que acontece ao nosso redor. Mas... atenção! Não só conhecer a realidade, teoricamente, mas é ser como Jó que, transfigurado pelas tribulações, exclamou: Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, agora, porém veem-te com meus próprios olhos” (42,5). Quanto a Eucaristia, celebrá-la todos os dias e aproximar-se sempre do Sacramento da Reconciliação, “sem rigorismo nem laxismos”. Igualmente, pede que cada um tenha “acompanhamento espiritual” para falar, confrontar, debater e discernir. “Procurai-o, encontrai-o e gozai a alegria de vos deixardes, cuidar, acompanhar e aconselhar. Esta é uma ajuda insubstituível”. Por último, recomenda que “não se separe do povo, pois um ministro ardoroso sempre está ´em saída`: por vezes, deve ficar na frente para guiar a comunidade; outras vezes, no meio dela para melhor compreender, animar e sustentar; e, atrás para mantê-la unida a fim de que ninguém se atrase demais”. Este “irmão mais velho e pai” faz suas as palavras do apóstolo Paulo: “Peço-vos! Não desanimeis nas tribulações” (Ef 3,13)!
Frei Luiz Iakovacz
ag genda2020
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
As alterações e acréscimos estão destacados em laranja.
OUTUBRO
8 e 29
Encontro ampliado da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento
9 a 12
Estágio Vocacional do RJ e ES Paróquia São Bonifácio, Rio de Janeiro (RJ)
15
Formação on-line para agentes de Pastoral de Comunicação de nossas Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento - 19h30 às 21h
17 Instituição do Acolitado em Petrópolis
31 a 02
Estágio Vocacional de SP - Pari, São Paulo (SP)
08
NOVEMBRO
Renovação dos Votos dos frades em Ano Missionário – nas fraternidades
06 a 08
Estágio Vocacional do PR Rondinha, Campo Largo (PR)
29
13 a 15
1ª Profissão em Rodeio
2021
Estágio Vocacional de SC - Seminário São Francisco, Ituporanga (SC)
JANEIRO
15
IV Dia Mundial dos Pobres
05
DEZEMBRO
09
Admissão dos noviços – Rodeio;
05
Profissão Solene em Petrópolis
1ª Profissão e Admissão dos noviços – Quibala, Angola.
05
JULHO
Renovação dos Votos em Petrópolis
03 a 18
Capítulo Geral da Ordem (Roma, Itália)
08
Renovação dos Votos em Rondinha
08
Renovação dos Votos em Angola
As datas de celebração dos Jubileus e a reunião dos guardiães serão comunicadas após estudo das melhores possibilidades para realização.
A paz que São Francisco um dia viveu, Sonho de todos os franciscanos na terra, Veio do céu, foi fogo que se acendeu, Para queimar as armas de toda guerra. Aquele Pobre de Assis foi sinal, Que Deus usou pra confundir esse mundo, Nele imprimiu um sacrossanto ideal, Paixão imensa por Cristo, amor profundo. Somente a graça de Deus pode explicar, O mistério de um homem simples mudar, A sua época e também nossa história. O pobrezinho de Assis - Vivo Evangelho, Despiu-se daquele homem que era velho, Para revestir a si e também o mundo. Frei Walter Hugo de Almeida
S
obre o túmulo de São Francisco de Assis que viu a fraternidade em cada criatura de Deus e a transformou em um canto sem tempo. Inicia dali a nova etapa do Magistério do Papa que escolheu carregar o nome do Santo da Úmbria. Depois da “Lumen Fidei” (2013) e “Laudato Si’” (2015) - que ecoa no título o início do Cântico das Criaturas -, desta vez é a cidade do Pobrezinho que batizará a terceira Encíclica “Fratelli tutti” (Todos irmãos)..., que o Papa assinará na tarde do dia 3 de outubro, depois de chegar a Assis às 15 horas e celebrar a Santa Missa na Basílica inferior. Uma celebração ainda condicionada pela pandemia, já que a Prefeitura da Casa Pontifícia, em uma declaração, fala do desejo de Francisco de que a visita “se realize de forma privada, sem qualquer
participação dos fiéis, por causa da situação de saúde”.
No coração de um magistério
O título do último documento se refere a um valor central do Magistério de Francisco, que na noite de sua eleição, 13 de março de 2013, se apresentou ao mundo com a palavra “irmãos”. E irmãos são os invisíveis que ele abraça em Lampedusa, os imigrantes, em sua primeira saída como Pontífice. Também Shimon Peres e Abu Mazen que apertam juntos a mão com o Papa em 2014 são um exemplo dessa fraternidade que tem a paz como meta. Até a Declaração de Abu Dhabi do ano passado, também neste caso um documento sobre a “Fraternidade Humana” que, disse Francisco, “nasce da fé em Deus que é Pai de todos e Pai da paz”. Com esta visita a Assis, no dia
3 de outubro, serão quatro, após a primeira em 4 de outubro de 2013 e a dupla visita de 2016: 4 de agosto e 20 de setembro. Um retorno que o bispo da cidade, Dom Domenico Sorrentino, espera com “emoção e gratidão”, como se lê em uma declaração. “Enquanto o mundo sofre uma pandemia que coloca tantos povos em dificuldade e nos faz sentir irmãos na dor, não podemos deixar de sentir a necessidade de nos tornarmos acima de tudo irmãos no amor”, escreve Dom Sorrentino, que fala da “fraternidade cósmica” de São Francisco. “Este gesto do Papa Francisco - conclui o bispo de Assis - nos dá nova coragem e força para ‘reiniciar’ em nome da fraternidade que nos une a todos”.
Alessandro De Carolis Vatican News