Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
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| abril - 2016 | ANO LXIII • No 04 |
Sumário
Mensagem
Do Ministro Provincial: “Naquele dia, o Senhor enviou sua Misericórdia”............ 183 Do Ministro Geral: “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a minha Paz”............................... 185
formação permanente
Os Padres da Igreja e a Misericórdia................................................................................................... 188
Formação e Estudos
Encontro de formação com d. Aviz.................................................................................................... 191 Primeiro retiro do ano dos frades estudantes de Rondinha........................................... 192 Pastoral na Paróquia Bom Jesus da Ferraria.................................................................................. 192 Os frades na Pastoral Universitária da fae..................................................................................... 193
fraternidades
Entrevista: Nova missão de Frei João Mannes............................................................................ 194 Xaxim faz festa para Frei Bruno.............................................................................................................. 196 Teologia e yakisoba nos 451 da Cidade Maravilhosa............................................................ 198 A saúde e o jubileu de Frei Vitalino..................................................................................................... 199 Entrevista: Frei Ivo Müller............................................................................................................................. 200 Poema: Mistério Santo.................................................................................................................................. 201 Agudos recebe relíquia de São Francisco...................................................................................... 202 Artigo: “Oração, pobreza e fraternidade: três possibilidades que Francisco oferece para vencermos a crise”, de Frei Gustavo Medella............................................... 203
definitório
Notícias do Definitório Provincial......................................................................................................... 204
Evangelização
Fae fortalece Missão Franciscana no Paraná............................................................................... 206 Fae: Filosofia conquista nota máxima do mec......................................................................... 207 Um olhar sobre o Oriente Médio......................................................................................................... 207 Nova parceria no Sefras .............................................................................................................................. 208 Missa da solidariedade no Sefras.......................................................................................................... 209 Intervidas: formação e diálogo............................................................................................................... 210 Dia internacional da mulher no Sefras SP...................................................................................... 210 Artigo: “O Bispo e a Jararaca”, de Frei Leonardo Aureliano................................................ 211 Frente da Comunicação faz o primeiro encontro do ano................................................ 212 Rede Celinauta conquista três prêmios........................................................................................... 213
Falecimento
A tragédia na Washington Luís. Morre Frei Antônio Moser............................................. 214 O sepultamento................................................................................................................................................. 217 A repercussão no Brasil e no mundo................................................................................................ 220 O frade menor .................................................................................................................................................. 223 Depoimento: “O Moser que conheci”, de Frei Leonardo Aureliano........................... 225
CFFB
Novo governo na Província de Santo Antônio.......................................................................... 227
agenda ......................................................................................................................................................... 228 Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Rua Borges Lagoa, 1209 - 04038-033 | Caixa Postal 57.073 - 04089-970 | São Paulo - SP www.franciscanos.org.br | ofmimac@franciscanos.org.br
Mensagem
Naquele dia, o Senhor enviou sua Misericórdia
Caros confrades, irmãos e irmãs!
C
om este versículo do Salmo 42, meditado por São Francisco de Assis no Ofício da Paixão do Senhor e por ele cuidadosamente colocado qual pedra preciosa no magnífico mosaico que ele compôs para as Matinas do Domingo da Ressurreição, lhe desejo os melhores votos de Feliz Páscoa e frutuoso Tempo Pascal! Páscoa, dia em que o ‘Senhor enviou sua Misericórdia’, é ainda para Francisco de Assis o dia ‘feito pelo Senhor para nós’. Por isso a Páscoa deve ser celebrada com festa, exultação e alegria. O Senhor que neste dia manifestou a sua justiça e nos concedeu a sua salvação no Filho Ressuscitado, iluminou o dia de todos os
nossos dias com a ‘glória de seu nome’. Neste Ano Santo da Misericórdia e na Solenidade da Ressurreição do Senhor, e ao longo de todo o Tempo Pascal, que tenhamos este olhar de São Francisco de Assis que se extasia diante da inesgotável bondade de Deus “que nos criou, remiu e somente por sua misericórdia nos salvará” (Rnb 23,25). Este amor misericordioso de Deus, presente no rosto transfigurado do Cristo Ressuscitado, é para São Francisco um convite e resposta a ser traduzida em gestos de amor: “Amemos todos, de todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento, com todas as forças, com todo o empenho, com todo afeto, com todas as entranhas, com todos os desejos e vontades ao Senhor Deus” (RnB 23,23). Meditando a Palavra de Deus,
particularmente rezando os Salmos, “que fazem sobressair esta grandeza do agir divino”, Francisco de Assis torna-se a expressão mais viva e real destas palavras do Papa Francisco: “A misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até o mais íntimo das suas vísceras” (Bula Misericordiae Vultus, 6). A manifestação pascal da misericórdia do Senhor, não se dirige exclusivamente às criaturas humanas. O Cantador por excelência do ‘Laudato Si’ nos assegura que a Misericórdia divina, no Mistério Pascal, também toca o coração de toda a criação: ”Alegrem-se os céus, e exulte a terra, abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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comovam-se os mares e tudo o que eles encerram, regozijem-se os campos e tudo o que neles existe” (OP IX,7). Assim como o Senhor da vida, na sua primeira páscoa-passagem do caos à Criação, passou para nos dizer que tudo é “bom”, nesta Páscoa-passagem do seu Filho Ressuscitado somos chamados a comungar e cantar com toda a Criação a vida que renasce: “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas” (OPS IX,1). Finalmente, para chegar a esta compreensão pascal da misericórdia do Senhor que gratuitamente se oferece a todas as criaturas, o filho de Pedro de Bernardone, teve de experimentar na contramão dos seus sonhos a experiência pessoal da páscoa-passagem do Senhor, particularmente no encontro com o leproso. Na desfigurada linguagem do leproso, tão próximo ao Senhor do Calvário, síntese de tudo o que é amargo, asqueroso, sem-sentido, vulnerável e descartável, o Senhor Misericordioso simplesmente o convida a ter misericórdia. É isso que o Santo de Assis nos recorda com muito carinho no seu Testamento, dias antes da sua derradeira páscoa-passagem desta vida: “O próprio Senhor me conduziu entre eles, e fiz misericórdia com eles” (Test 2). É por isso que ele consegue traduzir o grande sinal pascal da Misericórdia do Senhor, manifestado na origem da sua conversão, em gestos cotidianos de cuidado e misericórdia: “Onde há misericórdia e discrição não há prodigalidade e dureza de coração” e nos provoca a sempre “oferecer misericórdia a quem misericórdia busca” (CMin 7) e adverte ainda que, “sem misericórdia será julgado quem não fez misericórdia” (CtFi 29). Por isso
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a Misericórdia sempre é sinal de bênção: “O Senhor se compadeça e tenha misericórdia de ti”. Páscoa de Frei Antônio Moser. Neste ano, na nossa caminhada quaresmal de preparação para a Solenidade da manifestação da Misericórdia de Deus no mistério da Páscoa, fomos surpreendidos na manhã do dia 09 de março com a trágica notícia da morte do nosso confrade Frei Antônio Moser, vítima de brutal assassinato na Rodovia Washington Luís, no município de Duque de Caxias, RJ. Uma das perguntas que um jornalista me fez foi: “Frei, como vocês, Frades Menores, pregadores da Paz e do Bem, justamente neste Ano Santo da Misericórdia, vão usar de misericórdia para com os assassinos do Frei Antônio Moser”? Na minha resposta recordei-me da
Ó morte, onde está tua vitória? Cristo ressurgiu, honra e glória! • Não temos medo de nada. Cristo ressuscitou! A morte foi derrotada, Cristo ressuscitou! • As trevas foram vencidas. Cristo ressuscitou! Cadeias foram rompidas. Cristo ressuscitou! • Surgiu a grande esperança. Cristo ressuscitou! Constroem a fraternidade. Cristo ressuscitou! • Justiça, paz e verdade. Cristo ressuscitou! Constroem a fraternidade. Cristo ressuscitou! • Na dor nós temos alívio. Cristo ressuscitou! Conosco faz seu convívio. Cristo ressuscitou!
fala de São Francisco quando, na Carta a um Ministro, ele pede que se deve usar de misericórdia a quem misericórdia quer e busca. Contudo, a misericórdia é plena, quando acompanhada da verdade, da justiça e do sincero desejo de conversão. A misericórdia não ocupa lugar e nem pode reinar nos homens e mulheres de coração empedernido, pessoas que geram a cultura de morte e vivem nas trevas da prepotência do mal. Humanamente é difícil compreender a fala do Crucificado quando, ferido e humilhado no alto da cruz, nos surpreende com sua infinita misericórdia: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. A violência que atingiu o próprio Filho de Deus “que passou pela vida fazendo o bem”, continua a atingir de forma brutal muitos dos nossos irmãos e irmãs. A morte violenta e cruel do nosso do nosso Confrade é a mesma morte que atinge centenas e milhares de vidas. Infelizmente vivemos num tempo, como nos recorda o Papa Francisco, de “uma humanidade ferida, continuamente dilacerada por tensões e conflitos de toda a espécie”. E, bem recentemente na sua passagem pelo México, clamou: “A impunidade dá asas aos delinquentes”. E a morte de Frei Antônio Moser nada mais é do que um reflexo dessa grave situação em que nos encontramos. E assim, quais discípulos de Emaús, precisamos nos recompor na caminhada, ajuntar e somar as nossas forças, permitir que Ele misericordiosamente entre na nossa história, transforme o nosso coração ferido e nos encoraje para o feliz anúncio pascal, com o cântico ao lado. Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM Ministro Provincial
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“EU VOS DEIXO A PAZ, EU VOS DOU A MINHA PAZ” (Jo 14,27) Queridos Irmãos, a alegria e a paz do Senhor Ressuscitado estejam com vocês! O nosso seráfico Pai São Francisco compôs um salmo para o Ofício da Paixão que recitava todos os dias durante o Tempo Pascal: “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele fez maravilhas... O Senhor fez conhecer a sua salvação... Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e nos alegremos nele (OP S9). O que me impressiona nesta oração é que Francisco nos chama para cantar “um canto novo”, porque “este é o dia que o Senhor fez”, o qual ainda hoje faz “conhecer a sua salvação” em um modo sempre novo.
Deixemos os nossos ambientes seguros Este ano me chama a atenção em particular uma das leituras da Vigília Pascal, isto é, o convite do profeta Isaías: “Ah! todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai, sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite” (Is 55,1). Emerge de maneira crescente o fato de que nós, frades, gastamos sempre mais tempo e energia com coisas que não nos dão vida autêntica. Exatamente como prossegue o profeta: “Por que gastais dinheiro com aquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho com aquilo que não pode satisfazer?” (Is 54,2). Muitas vezes este desperdício acaba sacrificando nossas atenções e energias pessoais por coisas que não têm nada a ver com a nossa vida de Irmãos e Menores empenhados em praticar a partilha com os pobres de Deus e fazer com que nossa vida seja mais simples. Para sermos honestos, devemos admitir que, como muitos de nossos contem-
porâneos, muitos de nós tornamo-nos vítimas do imperante “paradigma técnico-econômico ...” e deixamo-nos carregar “pelo turbilhão das compras e gastos supérfluos”, acabando assim por tornarmo-nos autorreferenciais e isolandonos na própria consciência (cf Papa Francisco, Laudato si’, 203-204). Além disso, continuamos a usar a grande parte de nossos esforços em projetos que poderiam ser úteis ao povo de Deus nas décadas anteriores mas que hoje têm pouco a ver com a modalidade com a qual Deus “revela a sua salvação”. abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Uma narração das primeiras fontes diz que “num dia de Páscoa, os frades prepararam no eremitério de Greccio uma mesa … com objetos brancos e de vidro” (2Cel 61). Quando Francisco chegou e viu a mesa assim minuciosamente decorada, saiu disfarçado. Depois, quando os frades já estavam acomodados à mesa, bateu à porta como um pobre mendigo, gritando: “Dai uma esmola, por amor de Deus, para um peregrino pobre e doente” (2Cel 61). A respeito disso São Boaventura comenta: “Formou-os com palavras sagradas, para que celebrassem continuamente em espírito de pobreza, passando pelo deserto do mundo como peregrinos e forasteiros e, como verdadeiros hebreus, celebrando a Páscoa do Senhor” (LM VII,9). Sim, a Páscoa nos convida a celebrar o dom que Deus hoje nos faz da vida nova, mas nós, frade menores, não podemos fazê-lo preparando as nossas mesas com os resultados alcançados no passado, que hoje não saciam mais a nossa fome, ou contentando-nos com as pseudobênçãos de uma superabundância de conforto de um mundo que está morrendo. Ao contrário, devemos nos tornar verdadeiros peregrinos, livres para encaminharmo-nos com confiança rumo ao futuro que Deus está nos preparando.
“Vamos rumo ao que está diante de nós” Estou escrevendo esta carta no V Domingo da Quaresma. Nas leituras de hoje, Deus nos chama através do profeta Isaías: “Não recordem mais as coisas do passado... Eis que eu faço uma coisa nova” (Is 43,18). E São Paulo nos recorda a única coisa necessária: “Esquecendo aquilo que está para trás e propenso rumo àquilo que está diante de mim” (Fil 3,13). Sim, Irmãos, o Reino de Deus já está presente e ainda não, mas Jesus ressuscitado está passando pelas portas trancadas de nossas seguranças e dos nossos medos (cf Jo 20,19) e nos convida a unirmo-nos a Ele ao
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longo do caminho. O Senhor ressuscitado nos convida a renovar a nossa vida, a irmos com Ele que oferece a vida, e a escutar a sua voz, deixando que Deus reconstrua dentro de nós a sua visão do que significa ser homens do Evangelho, portadores de misericórdia e de reconciliação, empenhados em renovar a face da terra, seja referindo-se aos seres humanos, seja à criação, através da conversão da nossa vida pessoal e nosso estilo de vida fraterna. A nossa vocação de Menores e de Irmãos, um chamado que começa em cada um de nós e entre nós, pode irradiar-se para todas as pessoas, tornando-se uma vibrante mensagem evangélica em um tempo de divisão, violência e de tendência a promover uma política e uma mentalidade de exclusão. Podemos nos tornar um exemplo vivo da visão que o Papa Francisco nos pede: “A atitude basilar para se auto-transcender, rompendo com a consciência isolada e a autorreferencialidade, é a raiz que possibilita todo o cuidado dos outros e do meio ambiente; e faz brotar a reação moral que considera o impacto que possa provocar cada ação e decisão pessoal fora de si mesmo. Quando somos capazes de superar o individualismo, pode-se realmente desenvolver um estilo de vida alternativo e torna-se possível uma mudança relevante na sociedade” (Laudato si’ 208).
A misericórdia começa na própria casa com o perdão recíproco Neste ano celebramos a Páscoa no decorrer do Jubileu extraordinário da Misericórdia. O convite do profeta de “não recordar as coisas do passado” nos impõe uma atitude de perdoar e deixar de lado todas as feridas antigas. Muito frequentemente mantemos os nossos irmãos prisioneiros do passado. Alguma coisa que fizeram ou disseram e que nos ofenderam há muitos anos continua a influenciar no nosso relaciona-
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mento com eles. Se queremos realmente entrar no futuro de Deus e tornarmo-nos a verdadeira fraternidade que o mundo de hoje clama de nós, devemos deixar para trás estas feridas. Jesus ressuscitado nos dá a força de perdoar (cf Jo 20,2223). Prestemos atenção à voz de São Francisco: “Que não haja nenhum frade no mundo, que tenha pecado tanto quanto puder pecar, que, depois que tiver visto teus olhos, nunca se retire sem a tua misericórdia, se buscar misericórdia” (CtMin 9). Sim, Irmãos, como o Papa Francisco solicita de nós: “É tempo de voltar ao essencial para assumirmos as fraquezas e as dificuldades de nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para uma vida nova e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança” (MV, 10). Este Ano Jubilar da Misericórdia nos impulsiona, como franciscanos, a superar todas as divisões que surgiram em nossas fraternidades durante a nossa longa história. O próximo ano, 2017, marca o V Centenário da assim chamada Bula da união, Ite Vos, que dividiu os Frades Menores em diversas congregações. O Capítulo Geral de 2015 decidiu que devemos colaborar com os Irmãos Conventuais e Capuchinhos para discernir juntos o que Deus está pedindo a nós neste tempo como Frades Menores e como colaborar para chegarmos a este objetivo. Já decidimos trabalhar juntos para instituir a única Universidade Franciscana em Roma. Este é sem dúvida um sinal de nova esperança e de vitalidade. Estamos colaborando também com a Terceira Ordem Regular (TOR) em alguns setores de comum interesse.
Ressurreição – relações novas e transformadas A certeza que nos dá o profeta Isaías de que “comeremos o que é bom e haveremos de deleitar-nos com manjares revigorantes” (cf Is 55,2) pode ser uma imagem das relações novas e trans-
formadas, exatamente como a ressurreição é uma promessa de novidade e de transformação. Sem esquecermos o passado, redescobrimos a fonte da nossa verdadeira identidade em Cristo e em Francisco, além da necessidade e da responsabilidade de procurar a vida e não a morte, de procurar o perdão e a misericórdia e não o castigo e a vingança, de procurar a reconciliação com os Frades de nossa Província, com a mais ampla comunidade eclesial, com toda a humanidade e com a Criação inteira. Isto é “vir à água sem dinheiro e sem nenhuma paga” (cf Is 55,1), aproximando-nos em pobreza e minoridade. O exegeta Gerhard Lohfink escreveu: “Ser a comunidade da ressurreição significa antecipar que a toda hora o Espírito de Cristo mostrará à comunidade caminhos novos, esperar que novas portas se abram a qualquer momento, levar em conta que a cada momento o Espírito pode transformar o mal em bem, esperar que a qualquer momento o impossível torne-se possível e nunca dizer ‘mais tarde’ mas ‘agora’ (Jesus de Nazaré, 306). Irmãos, esta “hora” está aqui diante de nós! Se voltarmos à nossa vocação de Menores e Irmãos de modo autêntico, escutando o Cristo ressuscitado e deixando que a sua Palavra crie raízes dentro de nós, então a promessa de Isaías se cumprirá: “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão para ser comido ...” (Is 55,10). Feliz e Santa Páscoa a todos! Roma, 19 de março 2016 Solenidade de São José
Frei Michael Anthony Perry, OFM Ministro Geral e Servo
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Os Padres da Igreja e a Misericórdia
O
convite a sermos misericordiosos como o Pai (Lc 6,36) foi muitas vezes traduzido pelos Padres da Igreja como um convite à verdadeira perfeição evangélica, que é vocação comum de todos os cristãos à santidade (cf. Lumen Gentium, n. 5, 40). Para os Padres, na sua experiência e no seu pensamento, o convite à misericórdia e à perfeição estão intimamente unidos, porque os pastores e os doutores dos primeiros séculos do cristianismo se reconheceram sempre, e a toda a Igreja peregrina, como necessitados da bondade misericordiosa de um Deus que perdoa. Portanto, ser cristãos, ou seja, ser semelhantes a Cristo, o Homem Perfeito, é possível, ainda mais se acolhermos a misericórdia divina e se formos pessoas de misericórdia. Atualmente, a Igreja sente a necessidade de transmitir o Evangelho da misericórdia, e para tal os ensinamentos dos Padres e da Tradição sempre viva da Igreja são instrumentos essenciais para experimentar, contemplar e transmitir em toda a sua riqueza o mistério da misericórdia, fonte da verdadeira alegria. Na idade patrística, era tradição da Igreja de Roma não limitar a sua ação caritativa ao âmbito do seu território e
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à assistência a cristãos romanos em dificuldades que viviam longe da sua comunidade. Roma realizava o que Santo Inácio de Antioquia (Roma, + 107 ca.) dizia dela, ou seja, que «presidia à caridade». Dionísio de Corinto (+ 175 ca.), escrevendo ao Papa Sotero (166-175) sobre a tradicional solidariedade romana, afirmava: «Desde o início vós tendes o bonito hábito de beneficiar todos os irmãos, de enviar ajudas a numerosas Igrejas constituídas em cada cidade. É assim que aliviais os necessitados, mediante as vossas ajudas, que já desde os primeiríssimos tempos continuais a enviar, e socorreis com o necessário os irmãos que desfalecem nas minas. Sois romanos e guardais zelosamente as tradições dos vossos avós, os romanos: Sotero, o caríssimo bispo que tendes, não somente as manteve, mas até as desenvolveu, socorrendo com generosidade os santos nas suas necessidades» (Cf. EUSÉBIO, História eclesiástica 4,23). Estas afirmações sobre a caridade da Igreja romana foram confirmadas por numerosos testemunhos de outras províncias do Império Romano: por exemplo, o bispo Dionísio de Alexandria (190-265 d.C.) deixou-nos um louvor ao Papa Estêvão (254-257), porque, em nome da Igreja da urbe, enviava re-
gularmente muitas ajudas e socorros às Igrejas da Síria e da Arábia (cf. Eusébio, História eclesiástica 7,5,2). As formas de solidariedade cristã da comunidade romana e de outras cidades do império eram realmente numerosas e foram muitas vezes louvadas até por escritores pagãos, como Luciano de Samósata (+ depois de 180 d.C.), o imperador Juliano (+ 363 d.C.) e outros. Juliano, chamado Apóstata, que conhecia bem as multiformes atividades caritativas da Igreja, quis legislá-las em âmbito pagão, paralelamente a uma revisão da religião tradicional na base da experiência cristã. Tertuliano e outros escritores antigos afirmam que a esmola, a atenção aos necessitados, aos pobres e a todas as obras de misericórdia espirituais e corporais que manifestam um coração misericordioso fazem dos cristãos homens e mulheres superiores aos pagãos (cf. Apologético 42,8). Apenas para oferecer uma ideia da efetiva caridade do tempo dos Padres, recordamos algumas obras que estavam ao cuidado dos bispos e das comunidades cristãs: a ajuda aos cristãos presos ou condenados nos variados lugares penais nos primeiros séculos, depois em favor dos encarcerados em geral; o resgate de numerosas prostitutas; de
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prisioneiros; o socorro às vítimas da usura; a sepultura para todos; o cuidado das viúvas e dos órfãos; o cuidado dos enfermos; a hospitalidade em favor dos forasteiros (uma obra de misericórdia que no Pastor de Hermas é considerada uma das características que fazem dos bispos homens santos e justos). No livro Contra Marcião, quando Tertuliano comenta a passagem do profeta Oseias: «Quero misericórdia e não sacrifício» (6,6), aparecem constantemente estes dois sentidos da misericórdia, a recebida por Deus e a exercida pelos cristãos (cf. Contra Marcião 2, 11,2; 13,5; 17,2; 4, 17,8; 18,9; 20,4). Em muitos autores cristãos, sinônimos de misericórdia são também a pietas, humanitas e outros termos que têm uma tradição clássica muito antiga e rica - como já vimos no caso de Sêneca -, e que o cristianismo recuperou e ampliou. Em Lactâncio (ca. 250-317), o Cícero cristão, um culto reitor convertido e feito depois preceptor da prole imperial de Constantino, a misericórdia é companheira da justiça, uma especialmente para benefício dos homens e a outra um dever para com Deus (cf. As instituições divinas 6,10). Mas seria impossível oferecer a Deus algo se Ele, primeiro, não tivesse dado tudo gratuitamente ao homem, se primeiro não tivesse amado o homem, apesar da indignidade do homem e da sua incapacidade de considerar a bondade paternal de Deus. Escreveu outro escritor anônimo do século IV, conhecido por Ambrosiaster: «Estas são as verdadeiras riquezas da misericórdia de Deus, que até mesmo quando não a procurávamos, a misericórdia foi revelada por iniciativa dele» (Comm. Ef 2,4). Para os mestres da Igreja das origens, no rosto misericordioso de Cristo podemos ver a misericórdia divina em favor do homem pecador. De resto, na caridade, na misericórdia e no perdão exercidos em favor do próximo, já Orígenes convidava os seus leitores a des-
cobrir a imagem de Deus (Orígenes, Princípios IV, 4,10). Santo Agostinho afirma com frequência que o cristão pode contemplar Deus, pode descobrir a visão da Trindade, o mistério imenso que um dia será chamado a ver e a contemplar «face a face» (1Cor 13,12) somente pela efetiva caridade para com o próximo. A contemplação da Trindade obtém-se «pela caridade» (A Trindade 8,8,12). A missão de Jesus foi a de revelar e comunicar aos homens a plenitude do amor que é a vida de Deus, de Deus que «é Amor», como ensina São João (1Jo 4,8.16). Toda a vida de Jesus é expressão deste Amor que se dá gratuitamente, até o supremo sacrifício da Cruz. Cirilo, bispo de Alexandria, recorda que a misericórdia é um atributo da própria natureza divina e convida os seus leitores a fixar bem este pensamento na sua mente (cf. Comentário a São Lucas. Homilia 29). Os sinais que o Senhor Jesus realizou em favor da humanidade cansada e esgotada, dos pecadores, dos pobres, dos excluídos, dos enfermos e dos que sofrem falam-nos da misericórdia de Deus. Todos estes sinais, apresentados em muitos episódios do Evangelho, mostram como Jesus sente compaixão pelas multidões transviadas que o seguem e, preocupado com a sua miséria, as livra da fome com apenas cinco pães e dois peixes (Mt 14,13-21). Os Padres tiveram sempre muita atenção na distinção cuidadosa dos atributos divinos e humanos do Filho de Deus. Em muitas passagens em que Jesus se mostra comovido em relação a situações penosas e de sofrimento dos seus interlocutores, revela-se a sua verdadeira humanidade, aí manifestada, e para defesa da divindade do Filho de Deus exploram o que se pode descobrir nos milagres. Em suma, a divindade que não se pode ver manifesta-se através dos sinais concretos que aparecem sob os olhos de todos, como no caso
da multiplicação dos pães. Mas eles põem também em relevo a compaixão de Jesus pela multidão que o segue, a sua condescendência e entrega que o Senhor faz de si na economia da salvação. Um autor oriental do século IV escreveu: «Ele nunca foi nem ocioso nem inativo no mundo, mas sempre se empenhou a matar a fome de todos sem ganhar nada com isso» (Eusébio de Emesa, Homilia 8,12). A exegese dos Padres vê no milagre da multiplicação dos pães o sinal da chegada do Messias que alimenta o seu povo e, em sentido alegórico, os cinco pães e os dois peixes são muitas vezes respectivamente considerados o alimento do Antigo Testamento, especialmente os cinco livros da Lei (Pentateuco), e os dois peixes também seriam os Profetas e São João: é o que se pode ler, por exemplo, em Hilário de Poitiers (315-37 d.C.; cf. Comentário a São Mateus 14,19). Ambrósio (ca. 340-397 d.C.) aventura-se em alegorias ainda mais audazes (cf. Exposição do Evangelho de São Lucas 6,79-80). Também não faltam interpretações que nos remetem obviamente para o alimento eucarístico. O milagre da misericórdia de Cristo, comovido pela multidão esfomeada, não se esgota na multiplicação: a misericórdia recebida difunde-se e vai em benefício de quem dá sem reservas, como Cristo fez. Com efeito, ainda sobraram doze cestos de pão. O bispo Cirilo de Alexandria (370-444 d.C.) pergunta então: «E o que se deduz disto? É uma certeza clara de que a hospitalidade recebe uma rica recompensa de Deus. Os discípulos ofereceram cinco pães e dois peixes e [ ... ] acabou por ficar cada um com um cesto de pedaços que sobraram. Portanto, não existe nada que nos impeça de acolher os estrangeiros [ ... ]. Ninguém diga: “Não tenho meios adequados, o que apenas posso fazer é ridículo e não chega para tantos”. Caríssimos, acolhei os estrangeiros! Vencei toda a relutância que não leve à recompensa. O Senhor multiplicaabril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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rá muitas vezes o pouco que tendes para além do que se pode esperar» (Cirilo de Alexandria, Comentário a São Lucas. Homilia 48). Este é um desenvolvimento exegético tornado especial e dramaticamente atual pelas multidões desesperadas de migrantes que, sob os nossos olhos, tentam escapar de conflitos e misérias, aos quais somente uma justiça conjugada com a misericórdia poderá redundar num êxito positivo e duradouro. Em virtude do seu amor compassivo e misericordioso, Jesus cura os doentes e sente compaixão pela viúva de Naim, ressuscitando-lhe o filho (Lc 7,11-17). Comentando estes milagres, os Padres não se podem limitar apenas a comentar a misericórdia de Jesus que perdoa, cura e volta a dar a vida. O seu olhar é profundamente eclesial e acolhe na viúva a imagem da comunidade dos crentes estabelecida no amor de Cristo e que o difunde; como Esposa de Cristo, que se comove perante os dramas dos homens e das mulheres e se empenha em socorrer as pessoas com a graça dos sinais sacramentais, com o perdão e até com as obras de misericórdia espirituais e corporais. A mãe dolorosa pela morte do Filho é a Igreja que chora pelos pecados dos filhos que gerou no seio da pia batismal. Ela intervém por cada um de nós, como se fôssemos seus filhos únicos, e chora, escreve Santo Ambrósio, para que cada filho seu se erga ao longo do cortejo fúnebre e não conheça o sepulcro e a morte eterna (cf. Exposição do Evangelho segundo São Lucas 5,92). Depois de ter libertado o endemoninhado de Gerasa, Jesus dá-lhe esta missão: «Anuncia tudo o que o Senhor, na sua misericórdia, fez por ti» (Mc 5, 19). Também neste caso o comentário unânime dos mestres do cristianismo antigo evidencia que, obtida a remissão dos pecados, é dever de todos os fiéis tornar os outros participantes dos dons recebidos e colocar-se ao serviço do Evangelho e da difusão do Reino de
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Deus (cf. Beda Venerável, Comentário a São Marcos, 2). Também a vocação de São Mateus se encontra inscrita no horizonte da misericórdia que atravessa o olhar de Jesus em direção ao cobrador de impostos. Era um olhar que perdoava os pecados daquele homem. Jesus, vencendo as resistências dos outros discípulos, escolheu-o a ele, pecador e publicano, para ser um dos Doze. O Papa Francisco - como se sabe - de tal modo se deixou impressionar por este olhar que do episódio tirou o seu mote episcopal na tradução lapidária que devemos a São Beda (672--735 d.C.). Este santo, comentando o episódio evangélico, afirma: «Jesus olhou para Mateus com amor misericordioso e escolheu-o - miserando atque eligendo» (Beda Venerável, Homilia 21). Entre as muitas passagens do Evangelho comentadas pelos Padres são particularmente significativas a parábola do bom samaritano e a trilogia de Lucas da misericórdia (Lc 10,25-37; 15, 1-10; 15, 11-14). Na primeira, o bom samaritano da humanidade é identificado com Cristo desde os tempos de Orígenes, e o seu exemplo deve ser imitado mais com obras do que com palavras. É possível imitar Cristo, continua o doutor alexandrino, segundo o ensinamento de São Paulo: «Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo» (1Cor 11,1). Para Orígenes, o Filho de Deus encoraja-nos a fazer obras de misericórdia como as que o samaritano realizou. E quando incita o seu interlocutor, dizendo-lhe: «Vai e faz o mesmo», não está falando ao doutor da Lei que o interrogara, mas a cada um de nós. Se o homem agir deste modo, então receberá a vida eterna em Cristo Jesus (cf. Homilias sobre o Evangelho de São Lucas 34,3; 34,9). Nas parábolas da ovelha perdida, da moeda encontrada e do pai misericordioso, é sublinhada a paciência misericordiosa de Deus por aquilo que se perdeu, ou seja, pelo homem pecador,
e também se sublinha a alegria do Pai quando o homem é encontrado e perdoado. Toda a conversão produz alegria entre os poderes celestiais (cf. Cirilo Alexandrino, Comentário a São Lucas. Homilia 106; Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo São Lucas 7,210). Na parábola do pai misericordioso, encontra o seu ápice a reflexão sobre a misericórdia do Pai: «Ele, o Pai» - escreveu Santo Ambrósio -, «vem ao teu encontro porque te escuta enquanto estás ainda refletindo contigo mesmo no segredo do coração ... Ao correr ao teu encontro, está a presciência e no abraço, a sua clemência» (Exposição do Evangelho segundo São Lucas 7,229). À pergunta de São Pedro sobre quantas vezes é preciso perdoar - até sete vezes? -, Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18,21-22). O Senhor pensava de outra forma em relação à questão que lhe foi colocada por São Pedro, porque «Ele é a misericórdia em pessoa» (Cromácio de Aquileia, Comentário a São Mateus, Tratado 59,3). Hilário de Poitiers recorda que Jesus nos ensina que devemos conceder o perdão sem medida nem conta, e que devemos pensar não em quantas vezes perdoamos, mas deixar de nos indignar contra aqueles que pecaram contra nós todas as vezes em que sentimos a necessidade de o fazer ... De fato, perdoar sem medida é garantia de sermos perdoados sem medida (Comentário a São Mateus 18,10). Trecho do volume “Santos Padres da Igreja e a Misericórdia”, que faz parte da coleção “Misericordiosos como o Pai”, do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que tem ainda os seguintes volumes: “Celebrar a Misericórdia - Subsídio litúrgico”; “A Confissão - Sacramento da Misericórdia”; “Os Salmos da Misericórdia”; “Os Santos e a Misericórdia”; “Os Papas e a Misericórdia”; e “As Obras de Misericórdia - Corporais e Espirituais”, editada pelas Paulinas e Paulus.
Formação e Estudos
ENCONTRO DE FORMAÇÃO COM D. AVIZ
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Conferência dos Religiosos do Brasil – Estado do Paraná realizou, nos dias 02 e 03 de março, um encontro de formação para os religiosos e religiosas com a temática: “Vida Consagrada: encarnação da misericórdia do Pai na Igreja e no mundo”, acompanhando as reflexões do Ano Santo da Misericórdia e unindo-as à vocação específica dos consagrados. O evento aconteceu no Santuário da Divina Misericórdia, em Curitiba. Acolhendo a proposta, diversas congregações religiosas marcaram presença em um encontro que, além de ser formativo, propunha-se a ser um tempo de convivência entre os religiosos em seus mais variados carismas e de oração. Isso ficou evidente pelo ritmo adotado no evento que iniciou com a oração das Laudes, cantada e tranquila, as celebrações eucarísticas diárias, momentos de confissões e, como conclusão do encontro, uma Celebração da Misericórdia, com a passagem pela Porta Santa do santuário e o envio dos religiosos a serem a encarnação do rosto da misericórdia do Pai. O assessor do encontro foi o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Ele, de forma bem simples
e fraterna, abordou temas contundentes dos apelos do mundo e da Igreja aos religiosos. Baseando-se fortemente nas palavras do Papa Francisco, ele relembrava a todos que é preciso manifestar a alegria evangélica, despertar o mundo para esta possibilidade de que o Evangelho nos supre, que a autêntica fraternidade é possível e realizadora e que a missão nos completa. Os religiosos devem ser experts na comunhão e nunca devem deixar de ser próximos ao povo. Nas palavras do cardeal: “Compreendi que as palavras do Papa sobre uma Igreja de portas abertas não se referia somente em permitir que os outros entrassem, mas, principalmente, era um convite para que saíssemos e fôssemos ao encontro”. Ainda em suas reflexões, Dom Aviz lembrava que para esta nova caminhada da Igreja, como um vinho novo, a vida consagrada deveria oferecer odres novos. Renovar suas estruturas, recuperando a importância e centralidade da vida fraterna; cuidando da Formação Inicial e Permanente ao zelar pela espiritualidade e não a sujeitar às necessidades financeiras ou das estruturas, bem como cuidar para que a duplicidade entre o falar e viver não se torne o normal na vida conventual; e, ainda, construindo uma relação evangélica de
autoridade e uso dos bens da congregação, com transparência, honestidade e respeito à sua finalidade. As palavras do cardeal eram transmitidas com uma leveza e consciência que atingiam a todos. Elevaram a experiência do encontro à uma frutuosa revisão de vida, dos rumos que damos à formação das novas vocações e a um
confronto com a realidade e anseio do mundo. Concluindo com as palavras de Dom Aviz: “Já posso ir em paz, pois a Igreja que sempre sonhei já se encontra diante de meus olhos!”. Fica agora o convite aos religiosos para serem fiéis a estes novos passos da Igreja e acompanharem-na em sua jornada! Frei Rodrigo da Silva Santos abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Formação e Estudos
primeiro retiro DO ANO dos frades de Rondinha
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s frades da Fraternidade São Boaventura celebraram no sábado (12/03) um dia de retiro. Frei Valdir Laurentino, vice-mestre dos frades de profissão temporária, foi quem orientou e conduziu este importante momento de deserto na vida da fraternidade. O dia iniciou-se com a oração da manhã. De maneira muito especial, Frei Valdir convidou a todos para rezarem uma oração de Maria, comunicando assim em nossas mentes e em nossos corações, a mensagem da Mãe da misericórdia e Rainha da Ordem dos Frades Menores. Em seguida, iniciou a reflexão com o evangelho que narra a transfiguração no Monte Tabor (Lc 9,28-36), e pediu a cada um que de uma forma muito sim-
ples imaginasse a passagem do Evangelho como sendo um retiro. Frei Valdir trouxe-nos o texto da palestra de Dom Bernardo Bonowitz, o Prior dos Cistercienses (Trapistas) de Campo Tenente – PR, com o tema “Justificação, santificação, divinização – O projeto de Deus nos seus religiosos e religiosas”, que serviu de subsídio para a reflexão do retiro. Dentre tantos pontos significativos do texto, destacam-se:
o Pai aceita o Filho consagra; o Filho “Faz a nossa cabeça”. Por sua palavra e seus ensinamentos, o Filho “faz o nosso comportamento” por seu jeito de agir e interagir, o Filho “faz o nosso coração”, mostrando-nos na Bíblia e nos santos os “pensamentos do seu próprio coração”. O Filho “faz a nossa visão”, ver a existência, tudo o que vive e que respira, com os olhos de Jesus. É certo que Ele gostaria que sempre participássemos desta visão.
Justificação: a obra do Pai. Deus aceita cada pessoa da maneira que ela é. Ele quer realizar sua obra, para isso é preciso aceitar Deus e o seu projeto para cada um de nós.
Divinização: a obra do Espírito. O que o Pai aceita, o Filho consagra, e o Espírito Santo diviniza. Deus infunde o seu Espírito e nós nos tornamos uma nova criação.
Santificação: a obra do Filho. O que
Frei Natanael José Barboza
PASTORAL NA PARÓQUIA BOM JESUS DA FERRARIA
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Fraternidade Franciscana São Boaventura acolheu no sábado (05/03), o grupo de crianças que estão se preparando para fazer a primeira comunhão, da Paróquia Bom Jesus da Ferraria, de Campo Largo. Nesta paróquia e nas comunidades, Frei Natanael José Barbosa, Frei David Belinelli, Frei Felipe Madeiros Carretta e Frei Erick de Araujo Lazaro, fazem pastoral nos finais de semana. No encontro, tratou-se dos assuntos relacionados à Eucaristia. Frei Felipe deu início apresentando as formas em que se deve receber a Cristo, na Eucaristia, na graça e na fraternidade. Para fundamentar o que estava apresentando, realizou
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uma pequena dinâmica. Com algumas pedras jogadas ao chão, pediu que todos recolhessem a quantidade de pedras possíveis. Algumas das crianças encheram as mãos, enquanto outras estavam
sem nenhuma pedra. Explicando a dinâmica, chegou-se à seguinte constatação: quando repartimos com os outros o que temos, todos recebem, e ainda assim sobra, enfatizou o frade.
Formação e Estudos
OS FRADES NA PASTORAL UNIVERSITÁRIA DA FAE
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s frades do Convento São Boaventura, de modo muito simples e mesmo ainda com suas limitações, querem continuar levando essa mensagem do Evangelho às mais variadas realidades, e entre elas, neste ano, a Pastoral Universitária na FAE Centro Universitário, em Curitiba-PR. Para iluminar essa missão da fraternidade, o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, incentiva esse anúncio da Palavra de Deus no espaço acadêmico, dizendo: “As universidades são um âmbito privilegiado para pensar e desenvolver este compromisso de evangelização de modo interdisciplinar e inclusivo. As escolas católicas, que sempre procuram conjugar a tarefa educacional com o anúncio explícito do Evangelho, constituem uma contribuição muito válida para a evangelização da cultura, mesmo em países e cidades onde uma situação adversa nos incentiva a usar a nossa
criatividade para se encontrarem os caminhos adequados” (§134). E como as palavras são vazias sem as obras, os trabalhos nessa pastoral já começaram. Na sexta-feira (11/03), dois frades estudantes de Rondinha já se colocaram em missão, juntamente com os alunos voluntários da Pastoral da FAE e seus respectivos organizadores, para a entrega dos chocolates arrecadados em uma campanha do Trote Solidário do centro acadêmico. Mas não foi somente entregar os presentes e voltar aos afazeres comuns. Aproximadamente 40 jovens de diferentes cursos, religiões, calouros e veteranos, religiosos e leigos, encaminharam as doações para centros educacionais da periferia de Curitiba. Sendo assim, não faltou trabalho para ninguém. Aqueles que dedicaram uma tarde para o próximo deixaram-se envolver por um sentimento verdadeiro de gratidão, misturado com brincadeiras, abraços, lanches, partilhas de vida,
mensagens de Páscoa e sorrisos. Por isso, mesmo que cada jovem vá preparado para levar algo para alguém, seja uma mensagem ou chocolates, nesse doar-se, sempre recebe em dobro, e percebe que não é somente levar algo. Antes de tudo, é uma troca de experiências voltada a uma atenção prestada para o outro “considerando-o como um só consigo mesmo” (São Tomás de Aquino). E essa experiência de reconhecer que “o Senhor me deu irmãos”, como nos diz nosso Pai São Francisco, só é possível quando abrimos as portas do nosso coração para ir ao encontro do outro. E nesse sentido é uma experiência única, profunda e que, mesmo partilhada com todos os detalhes, só é efetiva quando cada um a realiza concretamente. E é dentro dessa mudança de época, ou época de mudança, que percebemos que a mensagem do Evangelho não se esgota. Pelo contrário, se torna cada vez mais viva e atuante para aqueles que realmente querem fazer de suas vidas um instrumento nas mãos do Senhor, pois Ele mesmo diz: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25,40). Frei Augusto Luiz Gabriel Frei Gabriel Dellandrea abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Fraternidades
entrevista
NOVA MISSÃO DE FREI JOÃO MANNES
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pós 17 anos trabalhando com a formação religiosa franciscana e sempre no Convento São Boaventura, em Campo Largo, Frei João Mannes tem agora o maior desafio de sua vida pela frente: presidir a Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus (AFESBJ). Para ele, a responsabilidade aumentou, mas também o privilégio é grande porque tem uma oportunidade inigualável de aprender e crescer qualitativamente com tantos exímios profissionais que se colocam inteiramente a serviço dessa Instituição. Frei Mannes se despediu de seus confrades no domingo, dia 28 de fevereiro, e partiu para a fraternidade vizinha, a Fraternidade Franciscana Bom Jesus da Aldeia, onde passará a residir. A vida tão dedicada à fraternidade formadora de Rondinha mereceu uma despedida em alto estilo, com uma celebração de Ação de
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Graças e um recreio festivo, onde o frade pôde fazer seus agradecimentos e demonstrar o carinho para com seus confrades e o povo que costumeiramente frequenta o convento nas celebrações. Natural de Ibicaré-SC, Frei João Mannes nasceu aos 13 de dezembro de 1962. Sua família, profundamente religiosa, foi a terra boa onde a semente da vocação do frade pôde desabrochar com mais vigor. Por isso, no ano de 1975 iniciou os estudos na Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Em 1983, fez sua primeira profissão religiosa em Rodeio (SC) e, de 1983-1985, com sua turma “inaugurou” a nova casa de formação para o tempo da Filosofia, em Campo Largo (PR), denominada Convento São Boaventura. Fez a profissão solene em 1985 e foi ordenado presbítero em 1990. Depois de sua ordenação, Frei João foi
transferido para o Pontifício Ateneo Antonianum, em Roma, onde fez mestrado e doutorado em Filosofia, com especialização na mística franciscana de São Boaventura. Conheça, nesta entrevista, um pouco mais o novo presidente da Associação Senhor Bom Jesus de Ensino. Site de Rondinha: Como foram esses 17 anos de serviços na Fraternidade Franciscana São Boaventura? Frei Mannes - Assim que concluí os meus estudos em Roma, em 1998, fui transferido para a Fraternidade São Boaventura. E foram muitos os serviços desempenhados nestes 17 anos. Numa grande casa de formação e estudos cada um sente-se convocado a fazer de tudo um pouco, especialmente aqueles serviços “quase insignificantes” do dia a dia. Em todo o caso, fui transferido para essa Fraternidade como professor de Filosofia e coordenador
Fraternidades
do Curso de Filosofia que era então ministrado na Fraternidade São Boaventura. E com a transferência do Curso para a FAE, coordenei o referido Curso por cinco anos e até hoje leciono no Curso. Na Fraternidade São Boaventura também fui vice-mestre dos frades estudantes e, nos últimos seis anos, tive o privilégio de servir aos frades da Fraternidade como Guardião. Site de Rondinha: O que marcou mais o sr. neste tempo? Frei Mannes - A vida numa Casa de formação, com um número significativo de formandos como essa, é toda ela muito marcante. Tudo depende da atitude. Com atitude de desprendimento, de amor e serviço tudo torna-se grande e intenso, especialmente as celebrações litúrgicas, o convívio fraterno, o estudo, o trabalho, o esporte etc. Site de Rondinha: Como conciliar a vida de professor no ambiente acadêmico e a de frade menor no convento? Frei Mannes - Em todos os meus trabalhos, também no meu trabalho como professor na Universidade, procurei ser antes de tudo aquilo que todos nós desejamos ser: frades menores. E como frade menor entendo-me como professor-educador responsável pelo processo de aprendizagem de todos os alunos, sejam eles frades ou leigos, ou de outras congregações religiosas. Com outras palavras, não podemos separar (talvez distinguir) o
ser frade menor no convento e o ser professor na universidade. Todavia, evitar moralismos em sala-de-aula é sabedoria dos grandes mestres.
a sua nobre missão de oferecer ensino e educação de qualidade à sociedade de hoje, sob a inspiração dos valores vividos por São Francisco de Assis.
Site de Rondinha: Além do mestrado e doutorado em Filosofia, o sr. fez algum outro curso de especialização? Frei Mannes - Primeiramente gostaria de agradecer à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil pelo privilégio de fazer os meus estudos de mestrado e de doutorado em Filosofia no Pontifício Ateneo Antonianum, em Roma. Além desses estudos, fiz na FAE Business School, um curso de especialização em administração, com ênfase na Gestão das Organizações Educacionais. Sem dúvida, os conhecimentos adquiridos como aluno, professor e coordenador de curso na FAE contribuíram significativamente para a minha formação humana e profissional.
Site de Rondinha: Comente a seguinte frase do Papa Francisco: “Não transformaremos o mundo, se não mudarmos a educação”. (Discurso ao IV Congresso Mundial de “Scholas Occurrentes”, 05.02.15). Frei Mannes – O mundo está em contínua mutação ou transformação porque o ser humano está num contínuo processo de libertação e de auto-constituição. O ser humano é essencialmente relação e, por isso, encontra a sua realização plena na comunhão de vida com os seus semelhantes, com a natureza e com o Transcendente. A educação tem a ver com esse processo de condução de cada pessoa à plenitude de si mesmo, bem como ao encontro pessoal com o outro, com a natureza e com Deus. À medida que o ser humano é educado, vive em comunhão criativa com todos os seres da Criação e com as diferentes culturas e religiões. Certamente toda a educação é transformadora. Porém, requer-se hoje um modelo de educação que ultrapassa a visão fragmentária do fenômeno humano e do mundo e que promova a sinergia, a comunhão, o respeito pela mãe e irmã Terra, o respeito pela alteridade e diversidade religiosa, cultural e sexual. Na crise de valores na qual se debate a sociedade hodierna, é necessário, no processo educativo, fomentar uma cultura de caridade, de solidariedade, de compaixão e de misericórdia para com o próximo. Assim, a educação participa ativamente na transformação do mundo, ou seja, na construção de um mundo mais humano e fraterno.
Site de Rondinha: Quais as perspectivas para o seu novo trabalho na Associação Franciscana? Frei Mannes - Por nomeação do Governo da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, estou assumindo a presidência da Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus (AFESBJ). Trata-se de uma grande responsabilidade e de um grande privilégio. É uma grande responsabilidade porque, segundo nos ensina São Francisco de Assis, o maior poder, o poder real é o poder do serviço. O maior é aquele que serve, o maior é aquele que está mais a serviço dos outros, a exemplo do Senhor-Servo Jesus Cristo. E é um grande privilégio porque é uma oportunidade inigualável de aprender e crescer qualitativamente com tantos exímios profissionais que se colocam inteiramente a serviço dessa Instituição. Enfim, espero, com a participação de todos os colaboradores, que o Grupo Educacional Bom Jesus leve adiante
Frei Augusto Luiz Gabriel Frei Gabriel Dellandrea abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Fraternidades
Xaxim faz festa para Frei Bruno
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devoção ao Servo de Deus Frei Bruno Linden cresce a cada ano na cidade de Xaxim, onde o frade franciscano viveu dez anos de sua vida. Uma semana depois da realização da Romaria Penitencial a Frei Bruno em Joaçaba, no último domingo (28), a Paróquia São Luiz Gonzaga de Xaxim celebrou a quarta edição da festa em honra a Frei Bruno. Desta vez, devido às reformas na praça da Matriz, a Missa solene foi realizada no Salão Francisco, que reuniu 4 mil pessoas. A celebração eucarística foi presidida pelo pároco e vice-postulador da causa de Frei Bruno, Frei Alex Sandro Ciarnoscki, e concelebrada pelos vigários paroquiais: Frei Antônio Mazzucco, Frei Genildo Provin e Frei Vitalino Piaia. “Em quatro anos de celebração, a festa já ultrapassa os limites da Paróquia de Xaxim e alcança as cidades vizinhas, como Xanxerê, Chapecó, São Miguel etc”, comemora Frei Alex, o criador da festa. Segundo Frei Alex, com a abertura do processo de beatificação em 2013, a devoção cresceu bastante e fez com que a festa se tornasse a maior da Paróquia de Xaxim, que tem como Padroeiro São Luiz de Gonzaga. “O Padroeiro é celebrado no dia 21 de junho, mas não reúne tanta gente como a de Frei Bruno”, constata o pároco. As homenagens a Frei Bruno começam com a Romaria Penitencial na cidade vizinha de Joaçaba, quando caravanas de Xaxim participaram desta celebração. No dia 25 de fevereiro, data da morte de Frei Bruno, a Paróquia de Xaxim reuniu o povo para uma celebração ao ar livre em frente à bela Matriz da cidade. Em Xaxim se encontra a base da equipe que trabalha com Frei Alex pela causa da beatificação de Frei Bruno. Como vice-postulador regional da causa, ele coordena a equipe. Frei Estêvão Ottenbreit representa no Brasil o postulador da Ordem dos Frades Menores. O processo diocesano da Causa de Frei Bruno foi aberto em novembro de 2013, quando o bispo diocesano D. Mario Marquez nomeou o Tribunal Eclesiástico, composto por: Pe. Davi Lenor Ribeiro dos Santos, como delegado do bispo, Pe. Clair José Lovera, como promotor de
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Fraternidades
justiça; Michelle Selig, como notária (secretária); e Cláudio Orço, como notário auxiliar. Pela Comissão Histórica, foram nomeados Frei Clarêncio Neotti e a historiadora Iraci Lopes. Além de Frei Alex, Michele, Cláudio, Iraci e Elisabethe Chitolina formam a equipe de Xaxim que trabalha pela causa.
A cidade
Xaxim foi colonizada por imigrantes vindos do Rio Grande do Sul, descendentes de italianos e alemães. Atualmente, cerca de 30 mil habitantes de várias etnias e costumes fazem da cidade uma terra próspera e em desenvolvimento. O município, conhecido como Coração Verde do Oeste, tem sua base econômica ligada diretamente à agroindústria, pecuária e à agricultura. Um privilégio para Xaxim é a ótima localização geográfica, situada entre os municípios de Xanxerê e Chapecó. A BR-282, que corta a cidade, é a principal via de circulação de mercadorias para todo o Estado e acesso aos países do Mercosul. Há várias hipóteses sobre a origem do nome Xaxim, mas a mais forte é a de que a palavra tem origem na língua tupi-guarani. Perto do local do pouso dos tropeiros havia uma pequena queda d’água. Xá = pequena, Xim = queda d’água. Juntando, ficou Xaxim. Assim costuma-se dizer que Xaxim significa pequena queda d’água. Na verdade o nome Xaxim está fortemente ligado a natureza. Não é raro ouvir dos visitantes que a “energia boa” aqui é muito presente, ou então “há muita luz neste lugar”. Isso explica o crescimento do turismo ecológico e rural nos últimos anos no município. Entre as principais atrações da cidade, está a Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, que foi construída e inaugurada durante o paroquiato de Frei Bruno. Em estilo gótico, com duas torres, ocupando uma área de mil e duzentos metros quadrados, a igreja Matriz de Xaxim passou a ser o símbolo da cidade. A Praça Frei Bruno e o Sítio Arqueológico são outras atrações. A cidade dista 26 km de Chapecó, a principal cidade da região. abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Fraternidades
Teologia e yakisoba nos 451 da Cidade Maravilhosa...
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m primeiro de março chuvoso e a Fraternidade Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha, estava em festa. Também pelos 451 anos da Cidade Maravilhosa – embora sofrida com tantos problemas, até certo ponto comuns a uma cidade complexa e de porte médio como o Rio de Janeiro. Problemas de ordem social, estrutural (agravados pelas Olimpíadas) e ambiental. Mas o principal motivo festejado foi a apresentação e aprovação da dissertação de Mestrado em Teologia de Frei Clauzemir Makximovitz, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Defendendo o tema “A face de Deus e suas caricaturas – um estudo teológico dos limites da linguagem acerca de Deus”, orientado pelo Prof. Dr. César Augusto Kuzma, professor pesquisador da universidade e assessor teológico-pastoral junto à CNBB (Comissão do Laicato), Frei Clauzemir enfocou seu estudo nas imagens de Deus, pessoais e eclesiais, e apresentou suas conclusões para uma
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banca avaliadora composta por seu orientador, pelo Padre Mário de França Miranda, da mesma universidade e pelo confrade Frei Volney José Berkenbrock, UFJF/ITF. Segundo o próprio autor, “a pergunta acerca das imagens de Deus questiona vários pressupostos da fé e da tradição. A compreensão de Revelação talvez seja a primeira e mais importante. Daí decorre um itinerário que esse trabalho quer abordar apontando algumas conse-quências para a fé e sua vivência. Não é mais possível alimentar um discurso fantasioso como justificação ou legitimação de um agir egoísta. Não se nos fixarmos na transformação necessária da imagem de Deus, que não castiga, interfere ou escolhe apenas alguns. A superação dos limites de um deus ex-
terno e interventor gera uma postura nova naquele que crê. Essa pesquisa seguiu esse caminho, de libertação dos conceitos acerca de Deus apontando como consequências o diálogo com Deus e com o outro, a autonomia e a liberdade do ser humano e a responsabilidade que disso advém em relação ao mundo e à realidade cria-
Fraternidades
da. Para tanto, este trabalho confrontou diversos autores sobre os assuntos tratados, concedendo, contudo, à reflexão de Andrés Torres Queiruga, um espaço maior”. Após breve apresentação, ouviu então a avaliação de cada um dos professores da banca e foi, por sua vez, questionado sobre alguns pontos específicos de seu trabalho. Assistindo à defesa estavam confrades do Frei Clauzemir vindos de Petrópolis, Frei James Girardi, Frei Ivo Müller, a secretária da Paróquia, Lilian Nunes, e uma paroquiana e amiga, Crislayne Nascimento.
Terminadas as apreciações e questionamentos, seguindo o rito acadêmico, todos deixaram a sala, permanecendo somente a banca. Parece não haver tido muito problema a se discutir. Em poucos minutos fomos novamente chamados e ficamos de pé para ouvir o resultado, anunciado pelo prof. César, depois da leitura da ata: “Aprovado com louvor!”, nota máxima. Depois dos aplausos e congratulações, as fotos, como não poderia deixar de ser... A chuva, forte a essa hora, frustrou os planos do churrasco de come-
moração. Mas como pra festa não há tempo ruim, uma ida ao supermercado resolveu tudo: yakisoba foi a solução deliciosa proposta (e preparada!) pelo Frei Clauzemir. Logo juntaram-se ainda a nós Frei Evaristo e Frei Jeferson Palandi, de férias, e outras duas paroquianas. Resta só esperar os próximos capítulos. Pelo Pe. França Miranda, o Frei Clauzemir (e o Frei James) já estão no doutorado – tanto que disparou: “Esse tem futuro!”. Frei Rafael T. do Nascimento
A SAÚDE E O JUBILEU DE FREI VITALINO Frei Vitalino Turcato retornou de Cascavel a Pato Branco na sexta-feira dia 26 de fevereiro. Lá ele passou por duas sessões de quimioterapia, uma completa no dia 19 de fevereiro e um reforço no dia 26. Não tem sentido muitas dores e agora seu médico está no aguardo do resultado de uma ressonância magnética solicitada por conta de frequentes episódios de tontura. A partir desta avaliação serão definidos os próximos passos do tratamento. Apesar das limitações impostas pelo quadro de saúde, Frei Vitalino permanece disposto e, no final do ano passado e início deste ano, viveu momentos de alegria, como a celebração, em Cascavel, de seu jubleu de ouro de vida religiosa e 45 anos de sacerdócio. Sobre esta celebração, Frei Vitalino escreveu, em email enviado no dia 28 de fevereiro: “No dia 19 de dezembro de 2015,
estava me sentindo bem e consegui ir à missa na catedral de Cascavel, PR, onde tantas vezes celebrei. O pároco, Pe. Nélio Zortea, me acolheu com muita simpatia e me convidou a concelebrar. No dia 19 de dezembro era meu JUBILEI DE OURO e 45 anos de ordenação sacerdotal. Também para ele era um dia especial, pois estava assumindo, naquela celebração, a sua nomeação de Bispo de Jataí - GO. Os dois motivos deram o toque de motivação para a celebração”. Frei Vitalino também ficou muito contente com a visita, na segunda quinzena
de fevereiro, de Dom Elias Manning, OFMConv, Bispo Emérito de Valença, Rio de Janeiro, e seu amigo particular. Frei Elias se deslocou de ônibus do Rio até Cascavel, onde passou dois dias em companhia do confrade e amigo, com quem trabalhou junto à época em que Frei Vitalino fora pároco em Paty do Alferes. Além da presença de Dom Elias, o frade tem recebido a visita e as manifestações de carinho de muitos amigos que conquistou em sua missão evangelizadora, realizada sempre com muito zelo e uma especial afeição pelos mais pobres. Frei Vitalino segue em Pato Branco, sob os cuidados da família de seu irmão, Avelino, com dedicação especial de sua cunhada. Recebe também acompanhamento de perto dos Freis da Fraternidade. Continuemos em oração pela saúde de nosso confrade. Frei Gustavo Medella
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Fraternidades
Entrevista
FREI IVO MÜLLER redes sociais, em contato com outras tribos de seus interesses. Nas minhas aulas, isto não acontecia, porque os assuntos de Igreja, contextualizados pela análise de conjuntura, despertavam tanta busca por respostas, que as aulas não eram suficientes para esgotar tais questionamentos. As aulas expositivas, aliadas aos casos discutidos em grupos, certamente muito contribuíram na formação de tantos fiéis teólogos, sejam eles religiosos, clérigos, leigas e leigos. Me sinto feliz por ter feito a minha parte e quem sabe um dia a gente volte.
DA PARÓQUIA VIRTUAL PARA A PARÓQUIA TERRITORIAL
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rei Ivo Müller criou o blog “Paróquia Virtual” no ano de 2013. Milhares de internautas puderam interagir, seja através de perguntas ou comentários. A maioria deles se sente contemplado no final de cada artigo ou matéria elaborada, ou como anônimo, ou com seu verdadeiro nome expresso. Os frutos foram muitos, ajudando inclusive as pessoas mais modestas a entenderem alguns assuntos de Direito Canônico e de outras matérias sobre Igreja. O sucesso foi tão grande que após publicados alguns artigos somaram de dez a quinze mil acessos mensais. De acordo com o Congresso Capitular, Frei Ivo recebeu a consulta e a aceitação para cuidar de uma paróquia territorial, sendo transferido,
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portanto, do Convento de Santo Antônio (Rio de Janeiro, RJ) para Forquilhinha, Santa Catarina. Comunicações: O senhor, além de guardião do Convento, era professor de Direito Canônico no Instituto Teológico Franciscano (Petrópolis) e agora irá para uma paróquia? Frei Ivo: De fato, no início tremi nas bases por deixar o mundo acadêmico, como professor há quase dezesseis anos, para cuidar de uma paróquia que fica a quase 1.500 km de distância daqui. Na qualidade de professor, consegui ver na experiência de sala de aula um espaço fecundo para as reflexões. Alguns professores se queixam que seus estudantes dormem na sala ou estão conectados nas
Comunicações: Como o senhor vê esta transferência na sua vida? Frei Ivo: Todos nós conhecemos a diferença entre água de cisterna e água de vertente, sobretudo lá no Oriente Médio, onde continuo levando grupos de peregrinos. A água de cisterna, se permanece acomodada em seu recipiente por muito tempo, fica choca. Mas água de vertente, é sempre nova. Estou na meia idade e como franciscano, não tenho morada fixa. Portanto, vejo como um novo desafio, onde devo deixar o carioquês, que já estou meio habituado a falar, e voltar para o espaço barriga verde. Sou de Chapecó (oeste catarinense). Forquilhinha está no leste do Estado, próximo ao litoral. Uma cidade linda, com um povo trabalhador e muito organizado. Já estive lá por um dia e tive a impressão que é um povo muito bom. Será diferente do Rio de Janeiro, mas na linguagem do serviço, na linha do lava-pés, a gente certamente vai se entender. Comunicações: O senhor, de certa forma, era um pároco virtual. Agora será um pároco territorial. Poderia explicar esta diferença?
Fraternidades
Frei Ivo: Além da minha paróquia virtual, que vai continuar, existem outras paróquias nesta mesma linha. No meu caso, as atividades se restringiram especialmente na resposta à demanda apresentada, procurando dar uma breve fundamentação teológico-jurídica, a partir da reflexão e partilha, virtual. Nessa paróquia, não temos sócios dizimistas e nem administração real ou virtual de sacramentos. Em outras palavras, é um instrumento a serviço dos internautas, que querem saciar curiosidades ou partilhar suas experiências, por intermédio da internet. A paróquia territorial é uma porção do povo de Deus, funcionando dentro de um determinado território, confiada aos cuidados de um pároco. Dentre as suas várias funções, o pároco lidera e administra praticamente todos os sacramentos, visita os enfermos, celebra os funerais, preside mais sole-
nemente a Eucaristia nos domingos e dias de festa na Igreja (cf. cânon 530). Por outro lado, deve se esforçar para conhecer os fiéis que lhe são confiados (cânon 529), sendo um pastor com cheiro das ovelhas, como afirma o Papa Francisco. É claro que ele não faz tudo isso sozinho, mas ajudado pelos demais agentes eclesiais da paróquia. No caso da paróquia de Forquilhinha, seremos cinco frades que somaremos as forças com as lideranças da comunidade de comunidades, procurando servir do melhor modo possível esta porção do povo de Deus. E vamos trabalhar na dinâmica da Igreja em saída, como insiste o Papa atual. Comunicações: À guisa de conclusão, qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar? Frei Ivo: Vivemos numa época em que é melhor a gente ficar na
Vou deslindar esse mistério santo, Por que o amor é pleno, cruz e luz, A vida inteira busquei e garanto, Uma Luz me fez claro e me conduz!... Deus é mistério e o amor também, eu sei, Por isso o amor que é Deus me intriga assim, Jamais vou ter claro o teor da lei, Pra deslindar o belo do jardim!... Um anjo me disse pra jamais pensar, Logicamente, ao tratar o mistério, Temos que vivê-lo e gozar e amar!... Mistério é para mergulhar divino, No mais profundo alegre mar celeste, Para envolver-nos como um ser menino!... Frei Walter Hugo de Almeida
zona de conforto, diante dos meios modernos de comunicação, procurando viver a boa nova do Evangelho na interação com estes meios. Porém, a comunidade territorial ainda é o espaço privilegiado, onde a gente encontra os irmãos, dá um aperto de mão, um cheiro (abraço). Sempre digo que assim como procuramos academias em busca da qualidade de vida física, a comunidade territorial é a academia onde nós cultivamos os valores espirituais e percebemos que o outro é extensão de mim mesmo. Nesta quaresma, vamos fazer um esforço para irmos ao encontro de nossos irmãos e irmãos, que formam a família espiritual, muitas vezes melhor que a família carnal. E que o Cristo ressuscitado jogue um facho de luz dentro de cada pessoa, para que ela seja sinal de ressurreição dentro da família e da sociedade do entorno.
Fraternidades
AGUDOS RECEBE RELÍQUIA DE SÃO FRANCISCO
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o dia 20 de maio de 1221 foi aprovada pelo Papa Gregório IX, a “Memoriale Propositi”, primeira Regra aprovada pela Igreja para os Irmãos da Penitência, marco do início do ramo secular das três Ordens fundadas por São Francisco de Assis. Assim sendo, em 2021, a Ordem Franciscana Secular celebra o Jubileu de 800 Anos. Para celebrar esse grande momento da história, desde setembro do ano passado, a Relíquia de São Francisco está em peregrinação pelas Fraternidades da OFS, Regional Sudeste III. A previsão é que termine no início de junho deste ano, quando a Fraternidade de Tapiratiba levará a capelinha para a Fraternidade de Poços de Caldas, pertencente à Região Sudeste I - MG. No início de março, foi a vez da Fraternidade Imaculada Conceição de Agudos (SP) receber a Relíquia. Para viver esse momento, a comunidade se preparou com o apoio do assistente espiritual Frei Leonardo Pinto Santos. A programação da visita da relíquia teve início na sexta-feira (04/03), no Seminário Santo Antônio de Agudos, local onde foi realizada Missa com a presença do bispo diocesano Dom Caetano Ferrari. A imagem foi um
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presente da Cúria Geral dos Frades Menores Capuchinhos e a Relíquia, um fragmento de osso, foi ofertada pela Cúria Geral dos Frades Menores Conventuais. Ambas vieram de Assis. Na manhã seguinte (dia 5), o translado foi feito em carreata até a comunidade Santa Clara, onde foi recebida com fogos, aplausos e devoção. Ali permaneceu até às 12 horas em veneração pública, período em que levamos a Capelinha para visitar alguns enfermos nas proximidades da comunidade. À tarde, seguiu para Matriz Santo Antônio. Veneramos, cantamos e rezamos, compartilhando esse momento com fiéis que a todo o momento vinham visitá-la. No domingo pela manhã, a Comunidade São Francisco de Assis recebeu a relíquia do Padroeiro e, à tarde, seguiu para a Matriz São Paulo Apóstolo, onde permaneceu durante todo o dia
com programação que contou com exposição da relíquia e veneração pública, mesa-redonda sobre a Campanha da Fraternidade 2016 e o término com Missa solene. Segunda feira, dia 7, de Agudos a relíquia seguiu para a Fraternidade de Cândido Mota. A peregrinação deverá terminar em 2021, Ano Jubilar, depois de ter visitado todas as Fraternidades do Brasil. “Peço aos irmãos e irmãs Ministros (as) que motivem as suas Fraternidades, para que a acolhida e visita da imagem e relíquia seja um momento forte de oração e convivência fraterna, sinais de alegria e fé, manifestação do amor de Deus que caracterizam o nosso ser franciscano”, pedia a Ministra Regional, Denize Aparecida Marum Gusmão, no ano passado ao anunciar a peregrinação. Sueli Santos Lima, OFS, pela Fraternidade
Fraternidades
Oração, pobreza e fraternidade: três possibilidades que Francisco oferece para vencermos a crise
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rancisco de Assis, o homem da Paz, jamais trilhou o caminho da omissão. Muito menos se apresentou como quem ficasse “em cima do muro” em questões que tocavam sua opção fundamental: viver o Evangelho de Jesus Cristo. Neste ponto era radical ao abraçar os valores irrenunciáveis daquela opção, entre eles: o espírito de oração e devoção, fonte de sua sabedoria e discernimento diante dos fatos; o apreço à pobreza, que lhe garantia profunda liberdade e credibilidade diante das pessoas e das situações; a consciência de que, em Cristo, Deus nos toma como filhos, irmãos e parceiros, pelo que a fraternidade se configura como elemento indissociável da vida franciscana. Diante do exposto, desejo, nos tempos turbulentos que temos vivido em nosso país, recordar de que maneira estas três posturas de Francisco podem iluminar a nossa postura de irmãos e menores. Desejamos empreender nossas melhores forças para fomentar uma postura lúcida, equilibrada e construtiva perante a crise nacional que temos vivido em vários âmbitos.
Espírito de Oração e Devoção
“Altíssimo e glorioso Deus, iluminai as trevas do meu coração” (São Francisco, Oração diante do Crucifixo de São Damião). Rezar é abrir o coração para a ação de Deus, é deixar-se iluminar pela luz do Espírito Santo, marcado sempre por um discernimento correto e sereno da realidade. É elevar a mente a Deus para manter os pés bens fincados no chão
de disputa onde a meta é derrubar o outro para reinar sozinho. A graça de um coração desapegado não deveria faltar àqueles que se dispõem a assumir cargos públicos, sejam concursados, comissionados, nomeados e eleitos.
Reconhecimento de que somos irmãos
da realidade. Neste sentido, como seguidores de Francisco, precisamos “rezar” a crise que temos vivido. Isto inclui o cultivo de um profundo senso crítico diante dos noticiários, a superação de posturas ilusórias que podem nos levar à busca de soluções simples para problemas complexos enraizados desde as origens de nosso país, como é o caso do drama da corrupção. É preciso muito bom senso para não atropelarmos as instituições democráticas na ânsia de se alcançar uma solução repentina, quase que mágica, para uma contradição tão profunda e que diz respeito a todos nós.
Apreço à Pobreza
“Desafeiçoai-me de todas as coisas que existem debaixo do céu” (São Francisco). Desapego é palavra-chave para vencermos a crise que nos assola. Todas as polêmicas levantadas, as estratégias empreendidas, os esforços aplicados nascem de um apego quase que doentio ao poder, seja ele político ou econômico. Sendo assim, os interesses coletivos da nação, os passos necessários para avançarmos enquanto povo, ficam obscurecidos por uma luta cega
“O Senhor me deu irmãos” (Testamento de São Francisco) Francisco de Assis possuía imensa facilidade para o diálogo. Isto porque reconhecia no outro, no diferente, um irmão, igualmente criado, salvo e amado por Deus. Ninguém lhe aparecia como adversário a ser vencido, anulado, morto. E é neste diálogo, na busca pelo melhor, que devemos acreditar. Jamais deixemos que nossos relacionamentos se contaminem por uma polarização improdutiva e pouco inteligente. Sem abrir mão de nossos valores e compromissos (prática da justiça, respeito à democracia, promoção dos pobres), estarmos abertos a ouvir e a falar, conscientes de que nosso Brasil só será bom de fato quando for bom para todos. É claro que temos nossas preferências políticas, as linhas ideológicas e projetos de país nos quais acreditamos. E em tudo isto podemos ser diferentes. Porém não podemos abrir mão das mediações, dos processos e das instituições que nos permitem viver estas diferenças num ambiente democrático e pacífico. E é a troca destes valores por uma solução rápida e ilusória que causa certo medo. No entanto, sigamos firmes, na esperança. Frei Gustavo Medella abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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NOTÍCIAS DO DEFINITÓRIO PROVINCIAL
REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA - São Paulo, 16 de março de 2016
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onvocados extraordinariamente por Frei Fidêncio, os Definidores reuniram-se no dia 16 de março, às 9h00, na Sede Provincial, em São Paulo, pedindo primeiramente a iluminação do Espírito Santo. Frei Fidêncio logo agradeceu pela disposição ao deslocamento imprevisto dos Definidores a São Paulo. O motivo principal da reunião era tomar algumas providências mais urgentes após a morte repentina e trágica de Frei Antônio Moser, no dia 9 deste mês. Os principais assuntos tratados são os que seguem abaixo.
1) Editora Vozes - Petrópolis Os Definidores conversaram com um confrade em vista de substituição de Frei Antônio Moser na presidência da Vozes. Aguarda-se confirmação. Frei Volney Berkenbrock, por sua vez, continuará a desempenhar o trabalho fundamental que lá tem há vários anos. Ele não pode ser o diretor-presidente. Por ora, até definição maior, Frei Ludovico Garmus, atual vice-presidente, assumirá a presidência. Vê-se a necessidade de aproximar da Vozes frades mais jovens para que conheçam mais de perto o trabalho e possivelmente venham a compor o quadro da Editora no futuro.
2) Centro Educacional Terra Santa - Petrópolis Trata-se de um complexo educacional e de assistência social. Envolve várias parcerias e públicos diferentes. Frei Antônio tinha formas diversificadas de arrecadação de fundos para a manutenção. Levará algum tempo para se ter clareza de como conduzir todo o processo adiante. Há muitos voluntários que lá desenvolvem serviço. Será necessário fazer um levantamento das fontes de renda estáveis e adequar o trabalho a partir delas. Em outras palavras, a obra social deverá ter o tamanho das “pernas” dos seus recursos. Frei Elói Piva é o atual vice-presidente e compõe a diretoria com outros frades de Petrópolis. Ele deverá convocar uma assembleia, com assessoria do Sefras e do departamento jurídico da Província, para que se determinem os primeiros passos a serem dados. Ele não será, em todo caso, o substituto de Frei Antônio na presidência do Centro.
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3) Paróquia Santa Clara – implicâncias nos serviços da fraternidade A morte de Frei Moser evidenciou ainda mais a situação limite que a Província vive em termos de recursos humanos para os trabalhos e serviços que historicamente se lhe foram acumulando. Mesmo para substituir um pároco não há “margens de manobra”. No caso da Paróquia Santa Clara pensou-se em “devolvê-la” imediatamente à Diocese, que tem clero suficiente. De qualquer modo, a solução no caso da paróquia teve que vir dos confrades da própria Fraternidade São Francisco. Assim, Frei Elói D. Piva será o pároco e não mais o guardião da Fraternidade. Os vigários paroquiais serão Frei Fábio César Gomes e Frei Ronaldo Fiuza Lima. Foi eleito guardião Frei Fábio Cesar Gomes. Frei Antônio Everaldo P. Marinho será o vigário da casa.
4) Frei Leonardo Aureliano – volta ao Brasil Em carta de 12 de março, Frei Leonardo Aureliano dos R. T. Santos, tendo concluído seu mestrado em Teologia Moral junto ao Alfonsianum, em Roma, sugere seu retorno ao Brasil, por vários motivos. O Definitório julgou procedentes suas considerações e o transferiu da Fraternidade Gabriel Allegra, de Roma, para a Fraternidade São Francisco de Assis, de Petrópolis, como professor, estudante, vice-mestre e vigário paroquial da Paróquia do Sagrado. Frei Leonardo continuará seus estudos em vista do doutorado.
5) Assembleia dos Secretariados e Serviços programação Os Definidores analisaram a proposta de agenda para a assembleia dos Secretariados e Serviços que acontecerá em Rondinha, nos dias 12 e 13 de abril (chegada no dia 11). Nos próximos dias, será enviada carta de convocação.
6) Projeto Fraterno de Vida e Missão - roteiro Conforme o que fora combinado no Congresso Capitular, os Definidores também analisaram proposta de roteiro
Definitório
para a recomposição do Projeto Fraterno de Vida e Missão das fraternidades, após o Capítulo Provincial. O assunto será retomado nos Regionais. Será enviada para cada confrade uma brochura com o roteiro impresso.
7) Frei Giberto da Silva – estudo de Língua Inglesa Em 12 de março, Frei Gilberto escreve para contar a quantas andam seus estudos de Espiritualidade Franciscana junto ao Antonianum, em Roma. Já está vendo com os professores possíveis temas para a tese de mestrado. Frei Gilberto, durante as férias escolares do meio do ano em Roma, fará curso de Língua Inglesa, residindo na Fraternidade Santa Maria dos Anjos, em Canterbury, na Inglaterra.
8) Mestres dos frades estudantes em estágio missionário
tágio na Fraternidade Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha.
9) Frei Reinaldo Meneses da Silva – permanência no Rio Foi revogada a transferência de Frei Reinaldo para a Fraternidade São José, Postulantado Frei Galvão, de Guaratinguetá. Ele permanecerá membro da Fraternidade Santo Antônio, do Largo da Carioca, no Rio de Janeiro.
10) Autorizações de viagem Por motivos diversos, receberam autorização para viajar ao Exterior: Frei Conrado Lindmeier e Frei Thiago A. Hayakawa.
Encerramento
Frei Germano Guesser foi nomeado mestre dos frades estudantes que neste ano fazem o estágio missionário junto ao Sefras, na Fraternidade Santo Antônio do Pari, em São Paulo. São eles Frei Josemberg Cardozo Aranha e Frei Roger Strapazzon. Já Frei Paulo Cesar Ferreira da Silva será mestre de Frei Alan Leal de Mattos, que faz o mesmo es-
Às 21h00, Frei Fidêncio agradeceu mais uma vez a presença de todos os Definidores, e despedindo-se, deu por concluída a reunião extraordinária do Definitório Provincial. Frei Walter de Carvalho Júnior secretário
O guia “Irmãos e Fraternidades” já está sendo impresso na Editora Vozes e deverá chegar às Fraternidades em abril. Com a nova composição das fraternidades, definida no último Capítulo Provincial, este manual traz na capa o desenho de Frei Leandro Costa dos Santos, e na contracapa as cinco Frentes de Evangelização da Província.
IRMÃOS E FRATERNIDADES
DA SECRETARIA PROVINCIAL
A Paróquia e Fraternidade Santo Antônio do Pari, em São Paulo, tem dois novos telefones: (11) 3459-1434 e 3459-1436.
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil SEDE PROVINCIAL
Rua Borges Lagoa, 1209 – 3º andar - Vila Clementino CEP 04038-033 – São Paulo – SP - www.franciscanos.org.br
Uma vida pelo bom livro
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Evangelização
FAE FORTALECE MISSÃO FRANCISCANA NO PARANÁ Grupo Educacional Bom Jesus inaugura nova unidade de ensino A história de 120 anos da educação franciscana em Curitiba, no Paraná, recebeu mais um capítulo em 2016. O Grupo Educacional Bom Jesus, que atua em cinco estados brasileiros na educação básica, por meio do Colégio Bom Jesus, e na educação superior, com a FAE, lançou uma nova unidade de ensino: o prédio exclusivo da FAE Business School. O novo empreendimento oferece mais de 30 cursos de pós-graduação e educação executiva e empresarial, com uma estrutura moderna de 20 mil m², distribuídos em 10 andares e cinco pavimentos subterrâneos, e que segue os padrões internacionais das melhores escolas de negócios do mundo. A cerimônia de inauguração ocorreu no dia 18 de fevereiro e contou com a presença de representantes da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Durante a abertura do evento, Frei Guido Moacir Scheidt leu um trecho do evangelho de São Mateus e ressaltou que o investimento tem o objetivo principal de aperfeiçoar profissionais a partir de uma visão de formação humana. “O coração do prédio não é a estrutura física, mas sim as pessoas. Se ficarmos na visão externa, não conseguiremos ver além do concreto. Tudo isso é um avanço acadêmico, uma transformação social. No dia 11 de maio, o Grupo faz 120 anos e no início tinha pouco mais de cem alunos. Hoje, contando o Bom Jesus e a FAE, passamos de 40 mil. E o nosso segredo é a nobre missão de servir”, ressaltou. A Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil referendou os esforços do Grupo, pelo cumprimento
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da missão franciscana, por meio do seu ministro provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel. “Quando vi a construção do prédio, lembrei que São Francisco de Assis começou iletrado e que a sua ousadia era de superar o não saber ler. Contudo, com o passar dos anos, o próprio Francisco percebeu a necessidade do aprendizado, a riqueza de transformação de um mundo melhor. Hoje, estando aqui neste novo prédio, creio que São Francisco se voltaria a nós e estaria feliz com a nossa evangelização. Ciência com sabedoria é fruto de vida e a nossa tarefa não é só ensinar conteúdo, mas valores”, lembrou. O evento também marcou o anúncio do novo presidente do Grupo Educacional Bom Jesus, Frei João Mannes, que falou sobre a sua nova missão. “Nós, franciscanos, dizemos que poder é serviço, de modo que quanto maior for o poder, maior é o nosso serviço à sociedade e à Igreja. Se estou feliz? Estou muito contente porque sei que vou servir esta Instituição e aprender com todos vocês. Assumo o serviço com gratidão ao Frei Guido, que ao longo desses anos à frente do Grupo trabalhou com suor e dedicação. É difícil superar um mestre”, ponderou. O diretor-geral do Grupo, Jorge Apóstolos Siarcos, por sua vez, agra-
deceu a todos os funcionários da Instituição pelo esforço e pelo comprometimento na viabilização da nova Unidade. “Este prédio era um sonho, hoje é realidade. É um local moderno com padrões de grandes empresas internacionais. Temos um espaço de qualidade com professores de qualidade e posso dizer que cumprimos uma importante etapa da nossa caminhada”, concluiu.
Evangelização Emoção e homenagem
Um dos momentos mais emocionantes da inauguração foi o descerramento da placa que, atualmente, está exposta no hall de entrada do edifício. Nela, está gravado o nome de “batismo” do prédio: “Frei Guido Moacir Scheidt” – uma
homenagem da Instituição ao religioso por sua dedicação à educação franciscana. O encerramento da solenidade foi marcado pela bênção do reitor da FAE, Frei Nelson José Hillesheim. “Estamos levando uma transformação que passa pela espiritualidade. Nossos profes-
sores e funcionários têm alma, a FAE tem espírito, por isso sugeri a criação de uma capela dentro deste local. Pedi a São Francisco que cuide deste lugar, que abençoe quem passar por aqui”, finalizou. Juliano Franco Zemuner
FAE: FILOSOFIA CONQUISTA NOTA MÁXIMA DO MEC Estrutura de qualidade, projeto pedagógico de excelência, professores altamente capacitados e, principalmente, alunos comprometidos e talentosos. Essa é a “fórmula” do sucesso do curso de Filosofia da FAE, habilitação Bacharelado, que nesta semana foi reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) com nota 5 – avaliação máxima que um curso superior pode receber da entidade. O reconhecimento de um curso
superior é obtido por meio da visita in loco de especialistas do MEC à instituição. Após essa etapa, o curso recebe uma nota, o conceito de curso (CC), que no caso do bacharelado em Filosofia da FAE foi a máxima, 5. Entre outros aspectos, esse indicador é uma confirmação da qualidade da infraestrutura, da organização didático-pedagógica e do nível de qualificação do corpo docente da FAE. “Temos uma equipe consistente
Um olhar sobre o Oriente Médio
O curso de Filosofia da FAE convidou o psicólogo social e professor da UFPR, Jamil Zugueib Neto, para ministrar a aula inaugural da graduação. De origem árabe, o psicólogo fez um resgate histórico sobre religião, política e violência identitárias do Oriente Médio para refletir sobre o discurso radical e as atuais ações violentas do Estado Islâmico. Os novos alunos foram convi-
dados a fazer os primeiros exercícios da reflexão própria da Filosofia: buscar aproximar-se dos pressupostos geradores das mais diversas situações culturais e existenciais, como lembra o coordenador do curso, Frei Jairo Ferrandin: “A aula procurou demonstrar como se constitui a identidade de grupos ou países com suas respectivas ideologias políticas e religiosas. É com base nesses pressupostos que se tem a chave para compreender a intenção e os propósitos das ações consideradas extremistas, com consequências danosas para a sociedade em geral”, explica Frei Jairo.
de professores, totalmente empenhada em oferecer as melhores condições aos alunos para uma formação completa, sempre com o apoio das nossas coordenações de núcleo, reitoria e demais funcionários da Instituição”, diz o coordenador do curso, Frei Jairo Ferrandin. A FAE parabeniza todos os alunos e professores do curso por essa importante conquista!
CURSOS
Para obter os melhores índices de avaliação em um curso superior, é preciso somar o desempenho de alunos dedicados à qualidade do corpo docente e da estrutura da instituição de ensino. Essa é a fórmula do sucesso dos cursos da área de Educação da FAE Centro Universitário. Segundo o Ministério da Educação (MEC), as licenciaturas em Letras, Filosofia e Pedagogia conquistaram as melhores notas no Conceito Preliminar de Curso (CPC), entre as instituições privadas do Paraná. O CPC é um indicador de qualidade que considera fatores como, por exemplo, a nota dos alunos nas provas do Enade, os professores, os recursos didático-pedagógicos e a infraestrutura disponíveis para os cursos superiores. Dessa forma, os cursos de licenciatura da FAE Centro Universitário avaliados pelo MEC, no ano de referência de 2014, conquistaram nota 4, em uma faixa consolidada que varia de 1 a 5. abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Evangelização
NOVA PARCERIA NO SEFRAS Sefras e Paróquia São Francisco de Duque de Caxias reabrirão Centros Infantis
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o dia 7 de março, os centros infantis Santa Clara de Assis e São Gabriel, de Duque de Caxias, reabriram suas portas, agora com a parceria do Sefras e da Paróquia São Francisco de Assis. Localizada na periferia de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a região é marcada pelos contrastes sociais aliados ao descaso do poder público. A escassez de recursos constitui um grande desafio para a ação evangelizadora da Igreja e, diante desse quadro, a Paróquia busca alternativas para seguir seu trabalho. Uma dessas alternativas foi a parceria com o Sefras para aprimorar os serviços oferecidos nos centros infantis supracitados. Há muitos anos a Paróquia desenvolve o serviço dos Centros Infantis junto às famílias empobrecidas visando a uma melhoria na qualidade de vida como um todo, com informações e acompanhamento das crianças de 0 a 6 anos. Esse trabalho é desenvolvido pela Pastoral da Criança e agora com a parceria do Sefras.
OS CENTROS
Vendo a extrema necessidade das crianças que sofrem mais em situações de risco social, a Pastoral da Criança teve a iniciativa de criar uma casa para acolher estas crianças com sérios problemas de desnutrição. Há 18 anos o Centro Infantil São Gabriel existe no Bairro Bom Retiro, em Duque de Caxias enquanto há 15 anos foi fundado o Centro Infantil Santa Clara de Assis, no Jardim Balneário Ana Clara. No início ambos centros infantis funcionaram de um modo muito pre-
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cário. Mas, com o passar do tempo, foram sendo construídas suas instalações atuais com a ajuda de benfeitores locais e de amigos da Diocese de Padova, da Itália. Hoje temos instalações adequadas para melhor atender às crianças, em dois bairros que são dominados pela violência e tráfico de drogas, onde as famílias se encontram em situação de grande risco social. Apesar dos avanços da política social do Brasil nos últimos anos, no 2º Distrito de Duque de Caxias ainda encontramos casos de crianças que vivem em situação de risco social e algumas com desnutrição, resultados da não existência de uma política pública séria
e preventiva na área da saúde. A falta de oportunidades para qualificação profissional e a falta de perspectiva de vida levam um bom número de famílias a viverem às margens da sociedade, sem condições de vida digna. Nesse sentido, a parceria do Sefras busca, além de recursos financeiros e profissionais, pautar questões relativas à elaboração e aplicação de políticas públicas para a comunidade, a fim de solucionar os problemas colocados. Cada um dos dois centros infantis atendem 25 crianças e contam com 4 trabalhadores para fazer esse atendimento, sem contar a coordenação e assistência social.
Evangelização
MISSA DA SOLIDARIEDADE Na quinta-feira, dia 3 de março, foi celebrada no Convento São Francisco (SP) a Missa da Solidariedade. É um momento de Ação de Graças por todos os colaboradores, amigos, benfeitores e voluntários do Sefras. A missa foi presidida por Frei Wilson Batista Simão e concelebrada por Frei Miguel da Cruz. Nesta celebração, lembrou-se de forma especial de dois participantes dos serviços da Rede de Solidariedade do Sefras: Josias Caetano dos Santos e Gulther, falecidos recentemente. Em sua homilia, Frei Wilson lem-
sefras petrópolis
brou que a Quaresma é tempo de graça, reflexão e conversão, onde temos a oportunidade de uma mudança individual e coletiva. Ao término, colabo-
radores, benfeitores e voluntários se cumprimentaram de forma fraterna e retornaram aos serviços, dando continuidade ao mistério celebrado.
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DOAÇÕES AO SEFRAS CRIANÇA
HIV E PREVENÇÃO
JARDIM PERI ALTO
Por intermédio de Frei Rafael Teixeira do Nascimento, no dia 24 de fevereiro, uma série de doações de São Gonçalo foi destinada ao centro infantil que o Sefras Crianças mantém em Petrópolis. Entre as doações, 250 DVDs infantis e 100 livros infantis, além de 50 revistas e 15 jogos. As doações foram extremamente importantes uma vez que faz parte da metodologia do serviço oferecer empréstimos de livros e DVDs aos participantes, buscando estimular a responsabilidade e o hábito da leitura entre eles e os familiares. O Sefras Criança entende a presença de filmes como forma de estimular nas crianças a observação, a capacidade de julgamento, sensibilidade, experiência estética, bem como articular espaços de discussão e interpretação com as crianças no serviço.
No dia 29 de fevereiro, o Sefras realizou uma ação de prevenção DST/ AIDS na estação da Luz de trens CPTM. Lá foi montado um estande entre o hall de acesso aos trens e a saída para a Pinacoteca de São Paulo. No estande foi possível ter acesso a cartilhas informativas sobre métodos saudáveis de prevenção a essas doenças. A ação foi uma solicitação da própria CPTM e, segundo a esta, para dar continuidade ao excelente resultado obtido na primeira ação de prevenção realizada pelo Sefras em primeiro de dezembro de 2015, durante o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Aproximadamente 6 mil cartilhas e kits informativos foram distribuídos. Segundo a pastoral da AIDS, cada informativo ou cartilha distribuída leva a informação para 3 pessoas.
Na sexta-feira (26 de fevereiro), cerca de 100 crianças e adolescentes fizeram uma visita ao Sítio dos Papagaios, em Mairiporã (SP), como atividade de encerramento do primeiro bimestre de trabalhos do Sefras Criança, serviço que o Sefras mantém no bairro do Jardim Peri Alto, na zona norte da capital paulista. “O ponto alto de todo o dia de passeio foi ver a integração das crianças e adolescentes”, afirmou a coordenadora Angela de Assis. Além da integração entre as crianças e adolescentes, o passeio também serviu para realizar algumas adequações que têm de ser feitas todo início de ano. Por exemplo, uma criança que completou 11 anos e meio foi oficialmente para turma dos adolescentes, enquanto um adolescente que completou 15 anos vai para a turma dos jovens. abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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SEFRAS-sP: DIA INTERNACIONAL DA MULHER
sefras curitiba
INTERVIDAS: FORMAÇÃO E DIÁLOGO
No dia 7 de março, foi realizada junto ao Projeto Intervidas (do Departamento de Álcool e Drogas da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba), a primeira roda de conversas com os participantes do chá da tarde do Sefras Pop Rua em Curitiba. A conversa aconteceu no Salão Paroquial. As rodas de conversas têm como objetivo proporcionar ao participante que frequenta o chá da tarde, um espaço de diálogo e de formação política, bem como promover o acesso digno dele às políticas públicas e direitos sociais. A primeira roda de conversas deste ano
contou com 8 participantes e duas facilitadoras do Projeto Intervidas, e atua em uma ótica de redução de danos, possibilitando o desenvolvimento de um trabalho mais humanizado. Um dos objetivos do Sefras Pop Rua em Curitiba para o ano de 2016 é o desenvolvimento de rodas de conversa para os participantes do chá da tarde, com o objetivo de promover o resgate da cidadania e possibilitar a inserção dos mesmos nos serviços públicos, além da integração e fortalecimento de vínculos para o desenvolvimento de um trabalho que favoreça a todos coletivamente. “O resultado foi bem satisfatório, pois levou a alguns encaminhamentos ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS AD). Como foi uma primeira reunião, muitos deles estão começando a se inteirar das atividades proporcionadas este ano pelo SEFRAS Curitiba”, avaliou a coordenadora do Sefras Pop Rua em Curitiba, Carla Ivantes.
Na manhã da terça-feira, 8 de março, trabalhadoras e atendidas do Sefras se reuniram no salão paroquial Santa Clara, na igreja de Santo Antônio do Pari, para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Ainda cedo houve um café da manhã coletivo e confraternização entre as presentes. Na sequência, o diretor presidente do Sefras, Frei José Francisco, agradeceu a todas as mulheres que compõem a instituição e Rosângela Pezoti, do Setor de Articulação, introduziu a discussão que se seguiu em grupos. Após a discussão, cada grupo expôs suas ideias e conclusões a respeito do debate – auxiliados por dois vídeos editados pelo setor de comunicação do Sefras sobre a questão feminina no Brasil: um colocava os estereótipos femininos propostos pela televisão; o outro mostrava as mulheres lutando por seus direitos. Para encerrar, uma grande roda de ciranda foi montada e contou com mulheres de todas as idades dançando de braços dados.
NO JARDIM PERI ALTO
O Sefras Criança promoveu no último dia 9 de março o Café com Mulheres no Jardim Peri Alto, zona norte de São Paulo. A atividade teve a presença de 21 mulheres da comunidade, e contou com um café da manhã especial, seguido de uma mística que representava o ciclo de vida feminino na sociedade machista. A representação foi feita pelas meninas (crianças e adolescentes) junto com a equipe do Sefras que trabalha no serviço.
Artigo
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O Bispo e a Jararaca
missão da Igreja, se ela quiser ser fiel Àquele que reconhece como seu mestre, é denunciar as injustiças e o pecado e anunciar, por palavras e obras, o Reino de justiça e de paz proposto por Jesus. Serviço nada fácil, porque discernir qual seja a vontade de Deus num mundo cada vez mais complexo é muito exigente. Assim, todo padre, mesmo honesto e bem intencionado, é sujeito ao erro. Isso se aplica ao objeto do qual tratarei, mas também a estas linhas. Refiro-me ao caso que invadiu as re-
hora da homilia, concluiu a oração dos fiéis dizendo: “Peça, meu irmão e minha irmã, a graça de pisar na cabeça da serpente. De todas as víboras que insistem e persistem em nossas vidas. Daqueles que se autodenominam jararacas. Pisar a cabeça da serpente. Vencer o mal pelo bem por Cristo, nosso senhor. Amém”. Clara alusão a Lula. A frase de Dom Darci foi logo compartilhada com euforia por vários sites católicos, mormente reacionários – os mesmos que se queixam dos padres ligados à teologia da libertação
coisa. A função do presidente da celebração é ajudar no seu andamento e concluí-la, recolhendo os pedidos apresentando-os por Cristo, no Espírito Santo, ao Pai. • Rezar para os cristãos pisarem a cabeça daqueles que se autodenominam jararacas é frase perigosa num Brasil dividido entre petralhas e tucanalhas, cheio de hostilidades e fundamentalismos. • O lugar também é por demais significativo. A Basílica de Aparecida é uma das Igrejas mais importantes do mundo. Algo dito ali tem muito
des sociais esta semana: o bispo que domingo passado, em Aparecida, rezou para que os fiéis esmaguem a cabeça da serpente. A serpente pode ser aquela que tentara Adão e Eva e, como castigo, receberia da descendência da mulher um pisão na cabeça. Os católicos entendem que o Sim de Maria à proposta de ser Mãe de Jesus Cristo seja essa pisada na cabeça da serpente, ou de Satanás. Mas não é só isso… naqueles dias Lula falou de si mesmo como Jararaca. Então fica fácil entender a quem o bispo se referia. O quarto domingo da quaresma, ocasião em que, neste ano, a Igreja lê a parábola do filho pródigo foi o cenário no qual Dom Darci, bispo auxiliar de Aparecida, depois de falar em pisar a cabeça da serpente na
por imiscuir-se em política, demonstrando que o problema para eles não estaria em falar de política, mas em colocar-se à esquerda.
mais peso do que a pregação de um padre numa igrejinha do interior a meia dúzia de pessoas.
Para ajudar a aclarar as coisas, convido você a considerar alguns pontos: • A alusão à serpente destoa da Liturgia daquele dia. Certamente a Liturgia não é algo engessado, mas assisti mais de uma vez a toda a celebração pelo YouTube e não consegui encontrar o nexo entre a ideia de pisar a cabeça da serpente e as leituras propostas para aquele dia. • A oração dos fiéis, mesmo sendo um momento no qual a comunidade é convidada a orar por suas necessidades e pelas do mundo, não é um balaio onde se pode jogar qualquer
Não estou dizendo que o bispo esteja necessariamente errado em sua posição contra Lula, ele tem todo direito de pensar assim – pensar e talvez contar para os amigos. Mas publicizar tal pensamento numa missa mais atrapalha do que ajuda no crescimento da ainda imatura democracia tupiniquim. No Estado democrático brasileiro os criminosos, depois de investigados e julgados, com presunção de inocência e amplo direito de defesa, devem receber a pena que lhes é devida, que não inclui ter a cabeça esmagada. Frei Leonardo Aureliano Roma, 7 de março de 2016
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Evangelização
Frente da Comunicação faz o primeiro encontro do ano
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Frente de Evangelização da Comunicação fez neste dia 9 de março o primeiro encontro regional do ano, envolvendo os diferentes serviços realizados pela Província Franciscana da Imaculada Conceição. Na Sede Provincial, em São Paulo, o coordenador da Frente de Evangelização, Frei Gustavo Medella, deu início aos trabalhos fazendo uma breve reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade e, em seguida, apresentou os participantes dos serviços como o Pró-Vocações, Universidade São Francisco (Bragança Paulista), Associação Bom Jesus (Curitiba), Serviço Franciscano de Solidariedade, Sala Franciscana e Sede Provincial. “Este ano também fizemos uma série de programas sobre o tema da Campanha da Fraternidade, que é oferecida Rede Católica de Rádio. Acho importante esse tipo de comunhão, ainda mais num assunto que toca muito a nossa vida e espiritua-
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lidade”, lembrou Frei Medella. Neste primeiro encontro, Frei Medella propôs iniciar a reflexão das diretrizes da Frente de Evangelização, que estão no Plano de Evangelização da Província, aprovado no último Capítulo Provincial. Para isso, fez um breve resgate histórico da comunicação em âmbito provincial e terminou com um indicativo da situação atual. “Este histórico são acenos que querem mostrar que a Província sempre se preocupou com a comunicação. Ela não é algo novo, mas faz parte da história e da caminhada dos frades que nos precederam e, com muita perspicácia, perceberam a importância de se fazerem presentes nesse meio, nesse ambiente próprio da evangelização, que é o mundo da comunicação. Então, é importante percebermos como as iniciativas foram surgindo até a criação das frentes no Capítulo de 2012, decisão reforçada agora no último Capítulo de que as frentes se
interpenetram, como nas demandas históricas, e que educação, comunicação, solidariedade não são compartimentos que não dialogam, mas o sonho ideal é que haja sempre essa mútua ajuda, essa troca de experiências”, explicou Frei Medella. Em seguida, cada setor falou das expectativas para 2016, quase todos ressaltando a importância da cooperação e parceria entre os serviços da Província. De acordo com Frei Gustavo, este encontro em São Paulo deve servir de guia e experiência para a realização de outros encontros em nível regional na Província. Por último, foi aprovada uma agenda de encontros regionais em São Paulo. A Frente de Comunicação terá um encontro, em âmbito provincial, no segundo semestre, com data e local a serem definidos. A próxima reunião do grupo ficou marcada para o dia 6 de abril, na Sede Provincial. Moacir Beggo
Evangelização
Rede Celinauta conquista três prêmios
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Rede Celinauta de Comunicação conquistou mais três premiações no 2º Prêmio Sescap-PR de Jornalismo, na noite do dia 3 de março, em Curitiba, que este ano teve como temática “O uso inteligente da internet no ambiente corporativo”. Na categoria televisão, a TV Sudoeste ficou em segundo lugar com a produção: “Certificação Digital: O Futuro Chegou”, de autoria de Thiago Tessaro, Paulo Tessaro e Andréia Menegaro. O primeiro lugar foi da jornalista Christiane Pelajo, da TV Globo, com a série “Imóveis: Reflexo da Crise”, veiculada no Jornal da Globo. Na categoria Reportagem para Rádio, a Rádio Celinauta obteve o segundo lugar com a reportagem: “Na velocidade de um clique!”, com Thiago Tessaro. O jornalista Edson Honaiser também foi contemplado com o primeiro lugar na categoria rádio, com a reportagem “Internet no trabalho divide avanços com “tiro no pé”, com a edição de Fabiano Marangom. As reportagens trouxeram temas importantes e contemporâneos, com foco na utilização da tecnologia no mundo corporativo, e os aspectos positivos e negativos que elas inserem no mercado. “São temas que encontram amparo na linha editorial utilizada nos veículos da Rede Celinauta de Comunicação, que busca sempre mostrar os dois lados de um mesmo processo, promovendo o crescimento do espírito crítico do receptor da notícia”, afirmou o jornalista Thiago Tessaro, da Rádio Celinauta. Edson Honaiser, por sua vez, afirmou que buscou na reportagem para o prêmio, aquilo que diariamente as suas intervenções na programação da rádio buscam: “Despertar questionamentos, mostrar os vários lados de uma mesma notícia, para que nosso ouvinte tire suas conclusões, e com isso cresça em sua cidadania”.
Outras indicações
O primeiro semestre deste ano tem sido de grandes resultados para a qualidade do jornalismo desenvolvido pelos profissionais da Rede Celinauta. Além dos prêmios em Curitiba, na cidade de Pato Branco a empresa teve profissionais indicados para o recebimento do prêmio “Destaque Empresarial Profissionais 2015”, realizado pela Associação Empresarial. Foram indicados os profissionais Célio Ruaro, Lisa Bedin, Edson Honaiser, Ari Ignácio de Lima, Juliano Mitrut e Roberto Ivan Rossatti. Os profissionais mais lembrados pelo público em Pato Branco nas categorias Jornalista e Repórter de Televisão foram os jorna-
listas Roberto Ivan Rossatti e Juliano Mitrut. “Estes resultados são a comprovação de que trilhamos o caminho certo no trabalho que desenvolvemos na Rede Celinauta, na busca de um jornalismo ético e com compromissos sociais”, afirmou Frei Nelson Rabelo, vice-presidente da Fundação Cultural Celinauta. Frei Neuri Reinisch, diretor presidente da Fundação Cultural Celinauta, destacou que a empresa tem um compromisso social e ético, desenvolvendo na comunicação social do Sudoeste do Paraná um trabalho comprometido com os ideais franciscanos da Paz e do Bem. Betto Rossatti
Roberto Ivan Rossatti, Juliano Mitrut, Fabiano Marangon, Thiago Tessaro, Paulo Tessaro, profissionais contemplados com os prêmios no primeiro bimestre deste ano abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Falecimento
frei antônio moser
A TRAGÉDIA NA WASHINGTON LUÍS
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ra por volta das 6h10 do dia 9 de março, quando o helicóptero do jornal Bom Dia Rio da TV Globo sobrevoava a Rodovia Washington Luís, que liga o Rio à região Serrana, e mostrava mais um acidente com vítima, como tantos nas grandes metrópoles desse país. Mais tarde, a notícia completa confirmava o que não gostaríamos de ouvir: “Comunicamos com imenso pesar o falecimento de Frei Antônio Moser. Pedimos a todos e todas união e força neste momento inesperado e difícil e que possamos continuar unidos na fé e esperança da ressurreição”, escrevia o seu confrade Frei Volney José Berkenbrock, que dividia com ele a tarefa de manter vivo o patrimônio espiritual e físico da Editora Vozes. Frei Antônio Moser foi baleado e
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morto por dois assaltantes que o perseguiram com uma moto na altura de Santa Cruz da Serra (quilômetro 107 da BR-040), em Duque de Caxias. Imagens registradas por câmeras de segurança instaladas próximo ao local do crime mostraram que Frei Moser se assustou com a abordagem e perdeu o controle do carro, colidindo com um ônibus e, em seguida, com a mureta que separa as pistas da rodovia. “Nesse ínterim, ele foi atingido por um tiro, que atravessou seu ombro esquerdo e ocasionou sua morte”, descreveu o delegado Brenno Carnevale, da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense. De acordo com a necropsia, a causa da morte foi a transfixação do projétil, que entrou pelas costas do lado esquerdo e atingiu o pulmão e o
coração. Um exame de balística ainda deverá definir qual o calibre da arma usada pelos criminosos para atingir o religioso. Nenhum pertence foi roubado. Segundo o delegado da DHBF, o crime esta sendo investigado como latrocínio. Em pouco tempo, a notícia se espalhou e o Brasil ficou sabendo que o conhecido frade franciscano era mais uma vítima da violência urbana. O prefeito de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, Rubens Bomtempo, declarou luto oficial de três dias devido à morte do Frei Antônio Moser. As bandeiras do Palácio Sérgio Fadel, sede da prefeitura de Petrópolis, foram colocadas em meio mastro. Para se ter ideia da proporção tomada pelo ocorrido e a tentativa de agilizar o trabalho da polícia, o Portal
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Imagem do noticiário ‘Bom Dia Rio’ da TV Globo mostrando o acidente. Só mais tarde, soube-se que era Frei Moser.
dos Procurados divulgou um cartaz com a foto da figura religiosa com a pergunta: “Quem matou?” O corpo do Frei Antônio Moser chegou ao Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no começo da tarde da quarta-feira e foi liberado para o velório, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, a partir das 20 horas. Frei Moser desceu cedo para o aeroporto do Galeão, onde tomaria um avião para São Paulo. Segundo o Vigário Provincial, Frei Evaristo Spengler, no dia anterior em Petrópolis, ele tinha dito que voltaria no mesmo dia. “Eu cheguei a perguntar a ele se ficaria mais tempo em São Paulo. Ele disse: ‘não, meu tempo é curto e tenho que voltar ainda hoje’”, contou Frei Evaristo, que lamentou muito a sua morte. “Além de ser meu confrade, meu professor de Teologia, ele é primo de minha mãe. É uma perda muito grande para a Província e para a Igreja. Ele foi uma referência na Teologia Moral do Brasil. Prova disso foi a sua nomeação para o Sínodo da Família”, lembrou o Vigário Provincial. Para Frei Evaristo, Frei Moser, aos 76 anos, estava no auge de sua vida religiosa e de seu trabalho de evangelização.
Apesar da família extensa, apenas uma irmã de Frei Antônio Moser ainda é viva, Maria Moser, hoje com 82 anos, freira que reside no município de Itajaí. Acompanhada de outros familiares na Catedral, ela ressaltou que o que mais se lembra do Frei Antônio é sua dedicação. “Sempre foi muito feliz. Nunca se queixava de trabalhar. O que eu mais me lembro é que ele era muito contente com o que fazia. Ele gostava muito do trabalho, especialmente na Terra Santa”. O religioso foi vítima do que mais temia: a violência. Uma semana antes, o frade havia dito à sobrinha Kelly
Moser que temia a BR-040. “Ele tinha medo daquela rodovia. Foi assassinado onde não gostava de passar”, lamentou Kelly, que também relembrou a obra do religioso: “Nós todos estamos revoltados. Ele foi uma vítima a mais, porém Deus sabe o que faz. Pelo carinho que estamos recebendo entendemos porque ele sempre quis viver em Petrópolis. A vida dele realmente era aqui. Vai deixar saudades”, disse. “Ele me ligava duas, três vezes por semana para saber se estava tudo bem, como estava a cidade. Era uma pessoa muito boa, de um coração enorme, uma grande perda, é até difícil falar neste momento”, contou o sobrinho Mário Moser. Familiares do Frei Antônio Moser acreditam que outras mortes continuarão ocorrendo naquela via se nenhuma providência for tomada. “Sinceramente acho que é mais uma trágica morte que ficará impune. No entanto, pela repercussão do caso, já que a mídia deu grande destaque, pode ser que as autoridades façam alguma coisa”, desabafou em meio às lágrimas Ângela Maria Moser, uma das sobrinhas do Frei. Já Waltraud Keuper Rodrigues Pereira, presidente da Representação abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Regional da FIRJAN/CIRJ, na Região Serrana, disse que a entidade vem lutando para que volte a ter segurança na Estrada Rio-Petrópolis:” Não vemos uma viatura da Polícia Rodoviária Federal na estrada. Se houvesse policiais inibiria as ações dos bandidos” – acredita. Ela lembrou ainda que em dezembro do ano passado, próximo ao Natal, ocorreu um arrastão próximo ao local onde Frei Moser foi covardemente morto. O vice-diretor da Editora Vozes, Frei Ludovico Garmus, disse que está na hora da sociedade petropolitana se organizar: “Temos que exigir mais segurança”, pontuou. A notícia da morte de Frei Moser, segundo o jornal “Diário” de Petrópolis, “caiu como uma bomba no Centro Educacional Terra Santa, instituição onde ele era diretor desde 2010. “O Terra Santa era a ‘menina dos olhos’ de Antônio Moser”, afirmou Salvador Assis Eccard, coordenador geral da instituição. Frei Moser dirigia o educandário com cerca de 550 crianças, mais 60 pessoas do Educação de Jovens e Adultos, a creche com 123 crianças, além dos projetos realizados no Terra Santa, entre eles o Aquarela, outro para idosos e ainda o Cultura pela Paz, que atende jovens a partir dos 16 anos, onde são oferecidos cursos de informática, cabelereiro e costureira. Cerca de 90 pessoas participam das aulas. Assessora e amiga de Frei Moser, a jornalista Carla Coelho, que trabalhou com ele por 14 anos, não conseguia se conter. “Tínhamos uma relação de amizade e de companheirismo. Ele sempre foi alguém com quem pude contar. Entrou comigo no meu casamento, segurou minha mão e me levou ao altar. Foi a maior honra que ele poderia ter me dado na vida. Nesse momento me sinto como uma filha desolada, sem chão”, disse Carla emocionada.
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Irmãos e Irmãs! Paz e Bem! Na manhã deste dia 09 de março de 2016, fomos surpreendidos com a triste notícia do assassinato do nosso confrade FREI ANTÔNIO MOSER, da Rodovia Washington Luís, Duque de Caxias, RJ. Sim, estamos muito tristes! E esta tristeza, acrescida de espanto e perplexidade, atingiu milhares de pessoas que conheceram a trajetória deste confrade que acabou de celebrar seus 50 anos de Sacerdócio: a Família, a Ordem dos Frades Menores na Província Franciscana da Imaculada Conceição, a Editora Vozes, o Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, a Obra Social Terra Santa de Petrópolis, enfim, a Igreja de Deus e de todas as pessoas que acreditavam nos valores da Ética e da Moral, tão divulgados pela literatura teológica de Frei Antônio Moser. A dura realidade que povoa com frequência os nossos noticiários bate à nossa porta. Com susto e tristeza recebemos a notícia da partida repentina de um irmão, vítima da violência que infelizmente tem se tornado cada vez mais comum. Frei Antônio Moser sempre teve como marcas o entusiasmo e a determinação. Atuou em muitas frentes simultaneamente, desde o estudo e a pesquisa, o trabalho pastoral, as aulas, conferências, o trabalho na comunicação, a dedicação a obras sociais. Especialmente nas décadas de 1970 e 1980, dedicou-se de corpo e alma ao pastoreio de comunidades da Baixada Fluminense, atuando na formação do povo e na construção de igrejas. Hoje, infelizmente, devolvemos a Deus a vida deste irmão, vítima de assassinato na mesma Baixada que tanto amou. Que sua partida leve toda a sociedade a buscar caminhos alternativos, que vençam a violência e a dor, que suplantem a injustiça e a morte, que abram para o mundo um horizonte de esperança. Para nossa Província fica um vazio e aumenta nossa responsabilidade em levar adiante o legado por ele deixado. Estamos tristes! Necessitamos de silêncio para compreender tamanha brutalidade! Mas este silêncio necessário não pode e não deve intimidar-nos diante de tanta violência. Este silêncio deve ser fecundo para encorajar-nos numa eloquência real e profética em favor da vida, da justiça e do direito de todas as pessoas. Por isso imploramos: Senhor, fazei-nos instrumentos da Paz, da Justiça, da Misericórdia e da Solidariedade, especialmente para com todas as famílias que perderam vidas preciosas ceifadas por um ‘mundo demoníaco’, carente de justiça, de moral e de ética. Muito obrigado pela vossa solidariedade e comunhão! Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM
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O SEPULTAMENTO A quarta-feira, 9 de março de 2016 começou com uma triste surpresa para a família franciscana: perdíamos o Frei Antônio Moser, vítima da violência urbana quando passava por Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em direção a São Paulo para um compromisso. Toda a manhã e tarde foram momentos difíceis. O corpo do Frei Moser chegou à igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, às 20h30, quando então, junto com a comunidade e a igreja cheia, os frades cantaram o Ofício dos Fiéis Defuntos. O velório prosseguiu até mais tarde, quando chegaram seus familiares, vindos do Sul. Sua irmã, Maria Moser, religiosa da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição (fundada pela Santa Madre Paulina) chegou pela manhã. O dia seguinte foi de oração e homenagens ao Frei Antônio. Os frades, com o povo presente, cantaram juntos as Laudes do Ofício dos Defuntos e às 13h30 o corpo do franciscano foi transladado para a catedral de Petrópolis. Durante o cortejo, algumas pessoas, do alto das janelas de seus apartamentos, agitavam bandeiras brancas, saudando pela última vez a Frei Moser. A “celebração da acolhida de Frei Antônio Moser na misericórdia de Deus”, como chamou seu colega de seminário e estudos, Dom Fernando Antônio Figueiredo, foi presidida por ele e concelebrada por Dom Gregório Paixão, bispo de Petrópolis, Dom Tarcísio Nascentes dos Santos, bispo de Duque de Caxias, Dom Luciano Bergamin, da Diocese de Nova Iguaçu, Dom Benedito Araújo, de Guajará-Mirim, e Frei Fidêncio Vamboemmel, último Ministro Provincial do Frei Antônio. Estavam presentes também no presbitério os padres da Diocese de Petrópolis, de outras dioceses (especialmente os que abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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atuam como professores do Instituto Teológico Franciscano – ITF) e confrades do Frei Moser. A missa de corpo presente do Frei Antônio Moser foi acompanhada por cerca de 2,5 mil pessoas, de acordo com a Mitra Diocesana. A homilia de Dom Fernando foi muito breve dada a comoção que lhe embargava algumas vezes a voz. Segundo o religioso, “a morte de um parente, de um amigo, de um confrade nos causa tristeza, mas jamais desespero”. Lembrando seu jeito todo próprio, disse que seus pais o queriam como a um filho e que “apressadinho, de espírito livre, era um amigo sincero”. Já bastante emocionado, lembrou que “a esperança nos concede essa grande graça, a do reencontro com ele, por que nossa amizade não foi fugaz, mas se perpetuou no amor de Deus”. Agradeceu então a seu amigo pela amizade, desejando-lhe paz e bem. Pediu então uma salva de palmas para o Frei Antônio. Ao final da celebração, Dom Fernando pediu que continuassem a rezar por Frei Moser: “Continuemos a rezar, a união não passa!” O presidente pediu então a Frei Fidêncio que conduzisse as orações finais. Tomando a palavra, o Ministro Provincial lembrou que “precisamos de um tempo de silêncio para discernir a vontade de Deus, o que é difícil nessa hora; precisamos de silêncio para curtir o silêncio do Frei Antônio Moser; precisamos de silêncio para compreender não só a violência que se abateu sobre nossa família franciscana, mas sobre toda a sociedade. Não um silêncio covarde, mas um silêncio profético”. Igualmente emocionado, agradeceu pelo irmão dado por Deus, o companheiro necessário, o homem de fé. Agradeceu o carinho e cuidado que teve com o ITF e toda a paixão para com a Editora Vozes, “pois acreditava que a evangelização também passa pela leitura de bons livros”. Agradeceu o cuidado com os pobres, materializado no Centro Educacional Terra Santa, pelo
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qual se empenhava para conseguir recursos – que lamentava estarem cada vez mais difíceis nos últimos tempos, lembrou Frei Fidêncio. Agradeceu aos presentes que manifestavam seu carinho à família, aos padres e bispos e a Dom Fernando, seu antigo mestre e professor de Teologia. Frei Fidêncio chamou todos os frades para ficarem à volta do caixão para cantarem junto com o coral dos Meninos Cantores de Petrópolis (Canarinhos) o “Cântico do Irmão Sol”. Terminado o canto, foi feita a oração de encomendação do corpo do confrade. À saída da celebração, Dom Gregório propôs que o corpo do Frei Antônio Moser fosse levado não pelo caminhão dos bombeiros, que já estava preparado, mas carregado pelas ruas da cidade pelo povo. O trânsito parou. Mais pessoas agitavam panos brancos de suas janelas. Quem estava nos bares ou lojas – ou mesmo dentro dos ônibus – pararam em respeito e homenagem, como que lembrando a conhecida canção de Chico Buarque, “A banda”. A procissão seguiu pela Av. Koeler, Rua Roberto da Silveira, Rua Sete de Abril, Rua Montecaseros e Rua Fabrício de Matos. Todo percurso foi feito com orações e cânticos. Já no cemitério dos frades, ao lado do Cemitério Municipal, Frei Elói Dionísio Piva, o último guardião de Fr. Moser, abençoou a sepultura, recordando que para o apóstolo Paulo, esta era como uma sementeira, onde se coloca um corpo corruptível e nasce um outro, glorioso. Foi sepultado, às 17h36, sob aplausos de todos os presentes, que cantavam, juntos e emocionados, “Imaculada, Maria de Deus”. Frei Antônio Moser, nosso professor, confrade, amigo, descanse em paz! Frei Rafael T. do Nascimento e Frei Leandro Costa dos Santos (fotos) abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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A REPERCUSSÃO NO BRASIL E NO MUNDO A morte de Frei Antônio Moser pegou a todos de surpresa. Manifestações de indignação, solidariedade, tristeza, gratidão e carinho vieram do Brasil e do mundo. Em nota, o representante de São Francisco de Assis, o Ministro Geral Frei Michael Perry, manifestou a sua convicção em que o empenho de Frei Antônio foi sempre para construir a paz e a boa convivência entre as pessoas. “Infelizmente, a humanidade não está convencida de que é preciso investir na construção da paz e no respeito pela vida. Ele, que defendeu a vida humana desde a concepção e fez com que milhares de teólogos e leigos entendessem que de fato é preciso defendê-la desde a concepção, não pôde se defender de um ato violento cau-
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sado por pessoas armadas”. Da Cúria Geral, o Definidor Frei Valmir Ramos também se manifestou: “É lamentável que a violência o tenha tirado de sua missão. Lamento também a grande perda para a Igreja e para os cristãos”. Frei Michael citou o trabalho social de Frei Moser no Projeto Terra Santa: “Sinto muito que um confrade que trabalhou tanto evangelizando na Baixada Fluminense e no Centro Educacional Terra Santa, formando as crianças e jovens para não serem violentos, tenha sido vítima de violência nestas circunstâncias”, disse, enviando saudações de condolências e orações pelo nosso Frei Antônio, pelos confrades da Província e pelos seus familiares. O Ministro Provincial, Frei Fidên-
cio Vanboemmel, lamentou a morte trágica de Frei Moser: “A dura realidade que povoa com frequência os nossos noticiários bate à nossa porta. Com susto e tristeza recebemos a notícia da partida repentina de um irmão, vítima da violência que infelizmente tem se tornado cada vez mais comum. Frei Antônio Moser sempre teve como marcas o entusiasmo e a determinação. Atuou em muitas frentes simultaneamente, desde o estudo e a pesquisa, o trabalho pastoral, as aulas, conferências, o trabalho na comunicação, a dedicação a obras sociais. Especialmente nas décadas de 1970 e 1980, dedicou-se de corpo e alma ao pastoreio de comunidades da Baixada Fluminense, atuando na formação do povo e na construção de igrejas. Hoje,
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infelizmente, devolvemos a Deus a vida deste irmão, vítima de assassinato na mesma Baixada que tanto amou. Que sua partida leve toda a sociedade a buscar caminhos alternativos, que vençam a violência e a dor, que suplantem a injustiça e a morte, que abram para o mundo um horizonte de esperança. Para nossa Província fica um vazio e aumenta nossa responsabilidade em levar adiante o legado por ele deixado”. Frei Nestor Inácio Schwerz, que foi o Visitador Geral da Província da Imaculada, falou da sua tristeza. “Estou unido em oração neste momento de dor, de tristeza, da indignação diante da perda desse nosso irmão em circunstância de violência absurda. O Pai das misericórdias o acolha no seu Reino e que o sangue derramado seja semente de cultura de paz, de defesa e promoção da vida. Lembro-me dele com muito carinho na visitação em que presidi missa na paróquia Santa Clara na ocasião do seu aniversário. Ele concelebrou. O presente que sugeriu às pessoas era todo tipo de flo-
res. Último aniversário nesta vida e agora certamente muitas flores serão levadas para a última homenagem e despedida. Sejam símbolo do seu entusiasmo, sua vibração e dedicação em tudo o que fazia e assumia”, disse. “A vida de Frei Antônio Moser foi rica e fecunda”, disse o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, a respeito do falecimento do Frei Antônio Moser. Dom Leonardo destacou a atuação do religioso junto à CNBB: “Assessorou a Conferência na elaboração de textos e na reflexão teológica, especialmente, na teologia moral. A CNBB é grata pela ajuda recebida e pede ao Pai misericordioso que acolha o frade menor no Reino definitivo. Brilhe para ele a luz da eternidade”, acrescentou. O também confrade de Frei Moser, o arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, lamentou que a sociedade se encontra paralisada diante de tanta violência: “A vida dos justos está nas mãos de Deus! Esta frase da
Para responder aos cerca de 300 mil acessos só na página do Facebook da Província e aos inúmeros emails enviados, Frei Fidêncio fez o seu seguinte agradecimento: No sepultamento de Frei Antônio Moser, dizia que nós, os frades, necessitaríamos de um tempo de silêncio para discernir os desígnios do Senhor diante do ocorrido. Não um silêncio omisso, covarde e estéril, mas profético, corajoso e fecundo. Silêncio necessário diante do repentino e bruto silenciar de nosso irmão. E é dentro deste processo silencioso, porém intenso, pelo qual estamos passando é que venho manifestar a gratidão de nossa Província Franciscana. Certo de que a boa obra de um irmão é obra de toda fraternidade, só posso elevar a Deus meu louvor e gratidão por todo bem realizado por Ele em Frei Antônio. Diante das inúmeras manifestações de indignação, solidariedade, tristeza, gratidão e carinho vindas de diversas partes do Brasil e do mundo, de pessoas de diferentes círculos e ambientes, de modo especial dos mais simples e pobres, pude perceber o quanto Frei Antônio em sua vida amou e foi
Sagrada Escritura sempre me impressionou. Recordei-me dela hoje de manhã quando li a notícia a respeito do estúpido assassinato de Frei Antônio Moser. Ele que tanto se empenhou por defender e promover a vida em todos os seus estágios e dimensões, foi atingido de forma cruel por balas de alguém que da vida dá sinais de nada entender. Estamos diante da banalização do mal! A sociedade se encontra paralisada diante de tanta violência. O Poder Público mostra pouco empenho em promover segurança. No fundo parece que a Igreja, através de seus ministros e fiéis conscientes, é uma voz a clamar no deserto da indiferença! Mas, para nós “a vida dos justos está nas mãos de Deus!” Cremos que, para os que creem, a vida não é tirada, mas transformada!”. Em nota, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, se uniu em oração à família do frade e à família franciscana. “Apesar da dor, em nome da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, rogo a Deus que o perdoe de suas faltas e o receba em sua
amado, o quanto também tornou a nossa fraternidade estimada e respeitada em todos os lugares por onde passou, pelo que temos muito a agradecer a este irmão. Por fim, na figura destes mais simples e frágeis que se fizeram notar com destaque, na despedida de Frei Antônio Moser, quero deixar meu agradecimento de pai e irmão aos senhores bispos, em especial Dom Fernando Figueiredo, companheiro de estudos e amigo pessoal de Frei Antônio, e Dom Gregório Paixão, bispo de Petrópolis e verdadeiro irmão de nossa fraternidade, aos confrades de Petrópolis, especialmente da Fraternidade do Sagrado, do Instituto Teológico, Editora Vozes e ao Centro Educacional Terra Santa, aos sacerdotes e religiosos presentes, aos paroquianos da Paróquia Santa Clara, aos familiares de Frei Antônio, aos meios de comunicação e a todos que se fizeram próximos de nós nestes momentos de profunda tristeza, porém marcados por uma intensa dose de fecunda esperança. Fraternalmente, Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial
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infinita misericórdia”, disse na nota. O arcebispo de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, em nota destacou o trabalho realizado por ele naquele município. “Neste momento de tristeza, a Diocese de Petrópolis lamenta o falecimento de Frei Antônio Moser (OFM), e se une em oração aos seus familiares e à Ordem dos Frades Menores (OFM). Frei Antônio Moser, nos últimos anos, como pároco da Paróquia Santa Clara e diretor-presidente da Editora Vozes, foi um grande colaborador da Diocese, apoiando e contribuindo com a Pastoral da Educação. Neste momento de dor para todos, a comunidade diocesana se une em oração com a Ordem dos Frades Menores e familiares de Frei Moser”. O coordenador do Procon, Jorge Badia, compareceu à missa, e disse que “vai ser difícil encontrar um sucessor” para seu trabalho e que o maior talento do sacerdote era “a habilidade dele de congregar a sociedade com as obras da Igreja“. Foram muitas as manifestações da Conferência dos Frades Meno-
res do Brasil, da Irmãs Clarissas e da Conferência da Família Franciscana. “Sempre tivemos bons contatos com Frei Antônio como diretor do Centro Educacional Terra Santa, a obra pelas crianças, adolescentes e jovens em Petrópolis. Perdemos um bom amigo e confrade e um grande parceiro na cooperação com os projetos no Brasil”, disse Frei Claudius Gross, OFM, presidente da Missionszentrale der Franziskaner. “Solidarizamo-nos convosco em comunhão de fraterna condolência e fé de ressurreição. Em meu nome pessoal, que por ele e pela sua obra ímpar nutria profunda estima e admiração, e de todos os Irmãos da Província Portuguesa, onde a Vozes e ele mesmo são objeto da mais elevada consideração e apreço, apresento as nossas sentidas e emocionadas condolências e, dando graças a Deus por no-lo ter dado, peço que o recompense de tantos méritos, virtudes e trabalhos e o acolha na eterna glória. Honra e glória ao seu nome. Paz eterna à sua alma”, disse Frei Vitor Melicias, OFM, Ministro
Provincial da Província Portuguesa. “Me uno a la querida Provincia de la Inmaculada por la inesperada partida de Frei Antonio Moser. El Señor le conceda el descanso de los justos”, escreveu Frei Saul Zamorano, OFM. “Homem de Deus, de imensa sabedoria, foi um dos 11 brasileiros convidados pelo Papa Francisco no Sínodo das Famílias do ano passado. Sua defesa apaixonada pela dignidade da vida, do ser humano, nos iluminou e não será apagada por este ato de violência”, Monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova. “Neste Ano da Misericórdia, que Jesus Redentor continue nos mostrando a face misericordiosa do Pai e nos ajude a seguir em frente com Fé, Esperança e Amor. A Família Franciscana receba o abraço e as orações de nossa Família Redentorista”, disse o Pe. Edilei Rosa Silva, CSsR, Superior Provincial. “Era um vulcão em atividade. Tínhamos a mesma idade! Vai deixar muita saudade”, escreveu o Pe. Zezinho na sua página.
Editora Vozes: 115 anos pela cultura e evangelização Uma das poucas empresas centenárias que se mantêm na ativa no ramo editorial, a Editora Vozes celebrou no dia 5 de março 115 anos de sua fundação. O segredo para essa longevidade, segundo o seu diretor, Frei Volney Berkenbrock, é simples: “A Vozes, antes de ser uma empresa, é um espírito coletivo, um espírito unido em torno da evangelização e da cultura. Sua longevidade se deve, penso, ao fato de nesses anos todos ter sempre existido um grupo de pessoas que manteve este espírito. É isto que faz a sua longevidade: a continuidade deste espírito ao longo do tempo”, explica. A Editora Vozes, em 115 anos, responde por mais de 5 mil títulos no seu catálogo, tem 14 distribuidoras e 18 livrarias no Brasil e uma livraria em Lisboa, Portugal. Há dez anos, a administração da Editora Vozes é feita por um sistema colegiado, tendo à frente três diretores: Frei Antônio Moser, Frei Volney Berkenbrock e Frei Ludovico Garmus. A Vozes é responsável por uma fatia do mercado editorial de livros de qualidade, referência em diversas áreas do conhecimento, entre elas, filosofia, sociologia, educação e
psicologia. Segundo seu diretor-presidente, a editora é referência na formação de uma consciência de cidadania fundada sobre os valores evangélicos. “Nosso objetivo é humanizar para divinizar e divinizar para humanizar”, ressalta Frei Moser. Além de obras fundamentais para o meio acadêmico e intelectual, a Editora investe em publicações na área religiosa, catequese, autoconhecimento e espiritualidade, que tem como um de seus principais autores Anselm Grün. A editora tem duas publicações tradicionais: o Almanaque Santo Antônio e a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, editadas por Frei Edrian Pasini. A Folhinha é distribuída aos lares brasileiros há 73 anos. A Vozes também possui o Selo Nobilis, que neste ano completa 10 anos e é uma linha editorial especial com o objetivo de publicar obras diferenciadas com uma qualidade superior e alto valor agregado, e o Vozes de Bolso, segmento pelo qual são publicados textos clássicos em formato de bolso e a preços mais acessíveis.
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Dados pessoais, formação e atividades Nascimento: 29.081939 (76 anos de idade), em Gaspar – SC; Admissão ao Noviciado: 19.12.1959, em Rodeio, SC; Primeira Profissão: 20.12.1960 (55 anos de Vida Franciscana); Profissão Solene: 01.02.1964; Ordenação Presbiteral: 15.12.1965 (50 anos de Sacerdócio); 1961-1962 – Curitiba – Estudos de Filosofia; 1963-1966 – Petrópolis – Estudos de Teologia; 02.02.1967 – Luzerna – professor do seminário; 28.01.1968 – Petrópolis; Agosto 1968 – Lyon, França – mestrado em Teologia; Setembro 1969 – Roma – doutorou-se em Teologia Moral em dezembro de 1972; 02.12.1972 – volta ao Brasil; 29.11.1972 – Petrópolis – professor de Teologia Moral; Novembro 1991 – eleito Definidor Provincial; 30.08.1996 – coord. da Fraternidade São Vicente, professor, diretor do IDE, e redator da revista SEDOC. 01.12.1997 – Petrópolis – São Francisco – guardião (no capítulo provincial de 1997 foi mudada a denominação de São Vicente para São Francisco de Assis); nomeado membro do Conselho de Assessoria ao Definitório e às Entidades do Departamento de Educação e Comunicação. 23.12.1998 – diretor presidente da Editora Vozes; 22.11.2000 – coordenador da comissão executiva do novo ITF; 07.11.2003 – deixa de ser guardião; 17.12.2009 – diretor do Centro Educacional Terra Santa; 25.02.2016 – membro do conselho administrativo da Província
O frade menor Frei Antônio foi professor no Convento do Sagrado por 20 anos, e, por mais 20, no Instituto Teológico Franciscano, junto à Fraternidade São Francisco, de Petrópolis. Tinha muitos talentos. Segundo alguns confrades e outras pessoas conhecidas, Frei Antônio “tocava inúmeros instrumentos”, em diversificadas áreas. Escreveu muitos artigos e 27 livros. Era conferencista, assessor em Teologia Moral, falava em programas de TV, era construtor e administrador. Na sua ficha autobiográfica lê-se: “Apesar de parecer apressado, na realidade me considero eficiente, incapaz de enrolações. Não gosto de conversa mole. Tenho grande facilidade de escrever, de articular o pensamento, mesmo quando falo livremente ou tenho que escrever um artigo em pouco tempo. Tenho o pensamento aberto às novas ideias, sem, contudo, abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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perder o fio da meada em relação ao que é doutrinário. No mais, o que não sinto é preguiça... estou sempre em atividade... Sei me impor quando quero, mas, por outro lado não me sinto orgulhoso, pois conheço minhas limitações e atribuo os meus talentos à bondade de Deus”. Extremamente ativo, Frei Moser conciliava várias funções, como diretor-presidente da Vozes, professor do ITF, pároco de Santa Clara, membro da Comissão de Bioética da CNBB, coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da UCP, conferencista, coordenador do projeto social Terra Santa e escritor. Para ele, contudo, isso não era problema: “Diria que é muito simples. Descobri que o sacerdote, o teólogo, o empresário não devem fazer nada sozinhos. Devem contar com pessoas certas para os lugares certos. Ou seja, você administra pessoas e não uma máquina. Por exemplo, construí uma paróquia e formei 16 comunidades de fé, sendo que algumas igrejas comportam de 300 a 400 pessoas. Então, como se faz? Montei esta paróquia e apareço lá uma vez ou outra durante a semana, além dos domingos, naturalmente. O padre bom é aquele que dá uma diretriz e deixa o povo trabalhar. Você deve ser uma espécie de ícone, referência, mas não é quem vai fazer tudo. Por exemplo, na Editora Vozes – cito ela porque trabalhamos lá – conseguimos montar uma equipe que funciona com ou sem a presença minha e do Frei Volney Berkenbrock. E muito bem. Agora, no Centro Educacional Terra Santa, o Sr. Reinaldo Cruz, e mais uma equipe administrativa me ajudaram a elaborar todo o projeto e agora vão tocando com ou sem a minha presença. No que se refere aos sócios, todos confrades, iremos fazer umas duas reuniões anuais. O segredo é não querer fazer tudo sozinho, mas encaminhar”, dizia numa entrevista ao nosso site.
Frei Moser e Frei Fidêncio na inauguração da loja da Vozes em São Paulo
Interessante é ouvir o que Frei Antônio fala de sua vida espiritual: “Acho que minha espiritualidade é algo que nem todo mundo percebe. Acho até que a maioria dos meus confrades não percebe que tenho uma espiritualidade intensa, embora seja oculta como um tesouro. Não tenho nada de pietismo. Pareço frio. Não é verdade. Desde adolescente sempre tive e continuo tendo Deus presente em minha vida... em todos os momentos. À vezes, brigo com ele, como Jacó ou como São Paulo...”. Frei Moser, que se doutorou em Teologia, com especialização em Moral, na Academia Alfonsianum – Roma, além de diretor da Vozes, era professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ); pároco da Igreja de Santa Clara de Petrópolis; diretor do Centro Educacional Terra Santa, além de conferencista no Brasil e no exterior. Tem livros traduzidos para outras línguas (Teologia Moral impasses e alternativas; O enigma da esfinge, a sexualidade; Biotecnologia e Bioética: para onde vamos?; Ecologia: desafios éticos). Durante nove anos participou do programa semanal “Em pauta” na Canção Nova.
No ano passado, em outubro, ele foi o único teólogo brasileiro nomeado para o Sínodo da Família. Ainda nos dias 12 e 13 de dezembro, Frei Moser celebrou na sua cidade natal, Gaspar, o jubileu de 50 anos de vida sacerdotal. Oficialmente, Frei Moser completou 50 anos de vida sacerdotal no dia 15 de dezembro. O momento solene dessas comemorações foi a Celebração Eucarística no domingo, às 10 horas. O então pároco Frei Germano Guesser fez a acolhida e apresentou o seu confrade que nasceu no bairro de Gaspar Grande em 29 de agosto de 1939, fruto da união de Elisabeth e Angelo Moser. “Ele vestiu o hábito franciscano em 19 de dezembro de 1959 e foi ordenado sacerdote no dia 15 de dezembro de 1965, portanto ele está celebrando aqui, conosco, 50 anos de sacerdócio”, frisou. “Frei Moser, hoje, é considerado um dos teólogos mais importantes do mundo, podemos dizer assim, tendo em vista que ele foi o único teólogo brasileiro a ser nomeado pelo Papa Francisco para participar do Sínodo da Família, encerrado em outubro último. Ele participou deste importante acontecimento da Igreja atual ao lado de dois cardeais,
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4 bispos e quatro leigos do Brasil. Sem dúvida, um dos momentos que marcará, se já não marcou, a sua vida sacerdotal e religiosa”, elogiava Frei Germano. “Frei Moser é assim: esbanja vitalidade e, para ele, não tem tempo ruim. Tanto que ele é também pároco da Paróquia de Santa Clara, em Petrópolis, que fica próxima do Instituto Teológico e diretor do Centro Educacional Terra Santa, uma entidade assistencial que atende crianças e jovens carentes em Petrópolis. Ainda sobra tempo para ele ser um conferencista no Brasil e no exterior...”, emendou. Quando lançou o seu 26º livro, “Colhendo Flores entre Espinhos – Ciência e atitudes pessoais garantindo um envelhecimento com qualidade”, numa entrevista ao site “Franciscanos”, falou sobre a morte. “Minha
sobrinha Ana Maria, coautora, achou o capítulo sobre a morte o melhor do livro. Você vai ao encontro da luz, da plenitude, que nunca vai ter nesta terra. É a direção para novos horizontes que vão se abrir na eternidade. Hoje, realmente, não tenho medo da morte. Diria que o medo da morte é uma patologia que a sociedade alimenta e que, do ponto de vista cristão, nunca foi uma virtude ter medo da morte. É verdade que Jesus diz: ‘Pai, Pai, afasta de mim esse cálice!’. Mas não era por medo da morte e, sim, o de não ter forças para cumprir a missão até o fim. Agora, veja, esse medo da morte não é cristão. Os mártires iam bravamente para a arena, na perspectiva de fé. O mundo incute o medo da morte porque é materialista, não tem uma dimensão de transcendência. No fundo, apregoa ilusões como a riqueza,
o poder. E diria também que é uma questão de tempo. Compreendo que um jovem normalmente tenha medo da morte, mas o bem jovem não tem. Até pelo contrário, se arrisca demais. Mas quando tem responsabilidades, filhos para criar, a perspectiva muda. Eu tive medo da morte até à morte de minha mãe. No dia em que ela morreu, acabou. Eu era filho único do segundo casamento. Tinha uma irmãzinha, mas morreu pequena. Suava com medo que minha mãe ficasse sozinha. No dia do enterro, acabou. Já não sinto mais suor nas mãos quando pego avião!”, dizia Frei Moser. Rezemos em fraternidade por Frei Antônio, pela sua acolhida pelo Senhor, agradecidos por todo o bem que ele fez como frade de nossa Província e pela sua grande contribuição à Igreja do Brasil. R.I.P
depoimento
O Moser que conheci Frei Antônio Moser nunca foi figura unânime. Não são poucos que o criticaram e talvez ainda criticarão, procurando miná-lo na sua condição de frade menor. O senso comum espera que o franciscano esteja sempre vestido com o hábito marrom, ande a pé ou de fusca. Ele, ao contrário, usava terno e gravata e andava em carros grandes. O fato de ocupar cargos de comando por vezes confirmou ainda mais essa desaprovação um tanto preconceituosa. Não são poucas as vezes que ouvi as pessoas dizerem que Moser era mais empresário do que frade. Outros se queixavam de uma presumida ausência em coisas da pastoral. Confesso que eu também fui tentado a pensar assim. Mas, nos últimos anos, consegui superar meus preconceitos e conheci o verdadeiro Antonio Moser. Agora, convido você
a fazer o mesmo. “Dos mortos se diz apenas o bem” e este texto tem como objetivo mostrar não qualidades inventadas, mas o que eu e muitos dos meus amigos descobrimos no confrade brutalmente assassinado. O primeiro contato com Moser foi nas aulas de Teologia Moral em Petrópolis. Ele chegava logo dizendo que daria a cada um o manual necessário para o curso, sempre de sua autoria. Às vezes fazíamos piada com isso. Só depois que vim estudar teologia moral aqui em Roma, descobri o peso desses manuais que, por nos serem dados, não eram devidamente valorizados. As disciplinas feitas com Moser eram sempre apresentadas com alguma pitada de novidade. Em bioética, por exemplo, fez questão de trazer especialistas e cientistas para enriquecer o curso. Brincava e sabia tornar o am-
biente leve. Até quando algum de nós dizia besteira, mantinha-se sereno e valorizava a contribuição. Era um homem que incluía. Alguns de meus colegas trabalharam com ele na Paróquia de Santa Clara em Petrópolis. Mesmo ainda estudantes de Teologia, eram ouvidos e integrados como agentes ativos no trabalho pastoral. Acho que o mesmo se pode dizer dos confrades que colaboravam com ele no Centro Educacional Terra Santa. Moser sabia delegar as responsabilidades e ajudou no crescimento de muitos. Ele não era centralizador. A propósito, lembro que quando assumiu o Centro Educacional Terra Santa telefonou a todos os estudantes para ajudarem na pintura da fachada. Dizia que o povo tinha de notar que as coisas seriam diferentes. Esse mesmo centro educacional me fez perder abril / 2016 [coMUNICAÇÕES]
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Após o Sínodo, Frei Moser teve um encontro com os frades estudantes de quatro continentes no Antonianum, marcado por um clima de informalidade e espontaneidade.
algumas tardes porque Moser insistia que eu fosse até a conferência episcopal italiana cobrar alguma ajuda econômica para o Projeto. Assumiu como sua a missão daquela escola e ultimamente via o projeto como sua menina dos olhos. O Moser construtor queria deixar algo. Não admitia a mediocridade da manutenção. Com nossos professores em Petrópolis aprendemos que a igreja não é o templo, mas as pessoas. Moser sabia disso, mas entendeu que quando nos é negado tanto da humanidade, o templo pode nos humanizar e ajudar-nos a ser Igreja. Suas Igrejas eram pequenas e bonitas. Insistia que ali sempre fossem plantadas flores, ao menos em vasos. As flores humanizam... Essas Igrejas que ele apresentava com orgulho revelam um outro Moser que procurava dar doses de humanidade onde muitas vezes a dignidade era ameaçada pelo abandono e pela violência. Há ainda um outro Moser que poucos conheceram: o desprendido.
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Esse talvez seja o que mais conflite com homem do paletó e gravata e do carrão. Esse é o Moser que conheci aqui em Roma quando, por ocasião do sínodo, hospedou-se conosco. Ele veio com uma mala de dimensões modestas. Só um paletó, que por tristeza serviu de privada para alguma pomba anticlerical. Durante todo o mês, até na foto que tirou cumprimentando o Papa, estava com esse mesmo paletó sujo. Muitas vezes não vinha em tempo para o almoço e tinha de comer na rua. Contentava-se com algum sanduíche porque os restaurantes aqui são muito caros. Uma vez, ainda que ele não o tenha dito, descobri que passou todo o dia com um pacote de biscoito. Levou-nos a todos, naquele mesmo dia, para jantar em um restaurante. “Não era fresco”. Nesse seu jeito de ser, percebi que Moser era realmente um frade que passou pela mesma formação da Província da Imaculada. Uma formação que ensina as ocupações dos que a sociedade vê como maiores e aquelas
dos que a sociedade ainda não aprendeu a reconhecer a importância. A sua morte repentina, certamente um choque para muitos, é uma perda irreparável para a nossa Província e nos ajudará a perceber melhor que Antonio Moser não viveu para si. Diz-se que o homem para se realizar precisa deixar descendência, escrever um livro e plantar uma árvore. Moser escreveu dezenas de livros, plantou flores nas igrejas que construiu. O que lhe faltava eram os filhos e, depois dos 70 anos, ganhou algumas centenas no Terra Santa. Se alguém achou que não fui feliz em escrever algo, peço sinceras desculpas. Moser, mais do que confrade e professor, era um amigo, daqueles que se esquecem do fuso horário pedindo livros pelo whatsapp. Gostaria apenas de partilhar com vocês como eu descobri nele um confrade honesto e fraterno, um amigo que plantou humanidade por onde passou. Que descanse em Paz! Frei Leonardo Aureliano
CFFB
NOVO GOVERNO NA PROVÍNCIA DE SANTO ANTÔNIO
O
Definitório Provincial da Província Franciscana Santo Antônio, a mais antiga do Brasil, elegeu nesta segunda-feira, 7 de março, Frei João Amilton dos Santos para o serviço de Ministro Provincial, já que o então Ministro Frei Beto Breis foi nomeado bispo Coadjutor da Diocese de Juazeiro (BA). A sua eleição, contudo, acabou levando a outras duas eleições: a de Vigário Provincial e a de mais um
Definidor. Isso porque Frei Amilton vinha assumindo o serviço de Vigário Provincial e Guardião da Fraternidade de Salvador-BA. Para Vigário, então, foi eleito Frei Sérgio Moura Rodrigues, que era Definidor. Com isso, com uma vaga aberta no Definitório, foi feita outra eleição e se elegeu Frei Romualdo Bezerra de Araújo, atualmente Guardião da Casa Provincial, no Recife, para completar o novo governo da Província.
Além de Frei Romualdo, a Província de Santo Antônio conta com os Definidores: Frei Severiano Alves Barbosa, Frei Rogério Rodrigues da Silva, Frei Lenilson Santana Santos, Frei Gilmar Nascimento da Silva, e Frei Wellington Buarque de Souza. A posse do novo Ministro Provincial, no entanto, só acontecerá após a confirmação da eleição pelo Ministro Geral e seu Definitório, em Roma.
OS ELEITOS
Frei João Amilton é natural da cidade de Milagres, Ceará. Ingressou na vida religiosa franciscana aos 25 anos, realizando seu noviciado no Convento de Nossa Senhora das Neves, em Olinda-PE. No mesmo convento foi ordenado diácono 12 anos depois e, em agosto de 1987, foi ordenado presbítero. Trabalhou em paróquias como Alhandra-PB, Campo Formoso e foi também foi pároco e reitor do Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé, no Ceará.
Frei Sérgio Moura Rodrigues dos Santos é natural de Quixeramobim – CE, e havia sido eleito Definidor Provincial também no Capítulo de novembro de 2014. Assume o serviço de guardião da Fraternidade de Canindé-CE. Ingressou na vida religiosa franciscana em 2002, realizando seu noviciado em Ipojuca-PE. Fez a profissão solene em 12 de outubro de 2007 e foi ordenado presbítero em 17 de novembro de 2012.
Frei Romualdo Bezerra de Araújo é natural de Sertânia-PE. Atualmente exerce o serviço de guardião do Convento Santo Antônio, no Recife – Casa Provincial. Ingressou na Ordem Franciscana em 1982, realizando sua profissão solene em 1987. Foi ordenado presbítero em 10 de agosto de 1991.
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (*) As alterações e acréscimos estão destacados
abril 04 a 08 07
Julho Reunião da CFMB (Porto Alegre) Preparação das Missões da Juventude (Curitiba)
09 e 10 Encontro com os Casais Vocacionais/
Encontro com Jovens (Chopinzinho)
11 e 12 12 e 14
Encontro do Regional do Contestado Reunião do Conselho do Secretariado da Evangelização, do Conselho do Secretariado da Formação e do Conselho do SAV Provincial (Rondinha)
01 a 03
Encontro Vocacional Regional (Ituporanga)
08 a 22
Retiro Provincial (Rondinha)
Agosto 02
Jubileu dos 800 anos do Perdão de Assis
13 e 14
Feira Vocacional (São Paulo)
15 a 19 Retiro Provincial para frades de 1 a 10 anos de transferência, após os períodos em casas
14
Reunião em preparação da CFJ (Agudos/
Bauru)
18
Encontros Regionais: Agudos, Curitiba, Pato
22 a 25
Reunião do Definitório Provincial
Branco, São Paulo, Vale do Itajaí
22 a 26
Encontro dos Ecônomos da CFMB (Porto
21 a 24
Caminhada Franciscana da Juventude
(Bauru/Agudos)
25
Encontros Regionais: Espírito Santo, Vale do Paraíba, e Rio de Janeiro e Baixada
de formação (Vila Velha)
Alegre)
26 a 28
Missão da Juventude (Lages)
31
Prazo para entrega do Projeto Fraterno de Vida e Missão das Fraternidades
Fluminense
25 e 26
Encontros Regionais: Planalto Catarinense e Alto Vale do Itajaí e Leste Catarinense
25 a 29 29 e 30
Reunião da UCLAF (Santa Cruz, Bolívia) Encontro do Regional da Baixada e Serra Fluminense
01
Dia mundial de oração pelo Cuidado da Criação
04
Dia da Coleta da Amazônia
09 a 11
Encontro dos Irmãos Leigos da Província
16 a 18
Missão da Juventude (Colatina)
Reunião do Definitório Provincial (Agudos)
19 a 22
Retiro no Eremitério de Rodeio
Reunião dos guardiães e coordenadores das
19 a 24
Assembleia Ampliada CFMB (Campo Largo)
19 a 24
Assembleia ampliada da CFMB (Rondinha)
26 a 30
Retiro Provincial (Agudos)
Maio 03 a 06 04 e 05
Setembro
Fraternidades (Agudos)
13 e 14 Hallel (Aparecida) 17 a 29 Encontro dos presidentes das Conferências da Ordem (Roma)
20 e 21 26 a 29
Retiro de Jovens (São Paulo) Retiro de Jovens (Campo Largo)
Outubro 10 a 14
Curso de Franciscanismo (Rondinha)
Junho
18 a 20
Reunião do Definitório Provincial
17 a 19 24 a 26 28 a 30
Novembro
Encontro Vocacional Regional (Petrópolis) Encontro Vocacional Regional (Guaratinguetá) Reunião do Definitório Provincial (com os Coordenadores Regionais no dia 29) (São
12 a 15
Estágio Vocacional (Guaratinguetá)
Paulo – S. Francisco)
29 a 01
Reunião do Definitório Provincial