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Edição Histórica 2018

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MFJ

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“Vós, jovens, deveis arriscar na vida. Hoje deveis preparar o futuro. O futuro está nas vossas mãos”. PAPA FRANCISCO |Missóes Franciscanas da Juventude 2018|

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Sumário Mensagem do Ministro Provincial: Protagonistas e Arautos da Paz

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Histórico: Foi lançada a semente. Veja como foram as cinco edições das Missões

Começam as Missões em Agudos e Bauru. Durante cinco dias os jovens conheceram comunidades nas duas cidades

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Último dia: Frei Fidêncio preside Missa do Envio: “Onde o coração de Jesus bate mais forte, ali também devo estar”


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Entrevista A Juventude de Frei Diego

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Formação e Estudos: A experiência do jovem Frei Gabriel no Ano Missionário Artigo: Frei Gustavo Medella escreve sobre o Sínodo da Juventude e o protagonismo juvenil

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MFJ 2019: Chegou a vez do Rio de Janeiro.Veja como foi a escolha da nova sede.

Expediente Edição Histórica 2018

Missões Franciscanas da Juventude

Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil Ministro Provincial: Frei Fidêncio Vanboemmel Vigário Provincial: Frei César Külkamp Secretário: Frei Walter de Carvalho Jr. Serviço de Animação Vocacional: Frei Diego Melo e Frei Gabriel Dellandrea Produção e edição: Setor de Comunicação da Província Rua Borges Lagoa, 1209 - 3º andar CEP 04038-033 - São Paulo - SP sav@franciscanos.org.br


Mensagem

PROTAGONISTAS E ARAUTOS DA PAZ

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a missa de encerramento desta 5ª edição das Missões Franciscanas da Juventude, ocorrida nas cidades de Agudos e Bauru, reavivou-se no meu coração o sonho acalentado há sete anos pelo Secretariado Provincial para a Evangelização, exatamente no Seminário Santo Antônio de Agudos, entre os dias 25 a 27 de junho de 2011. Naquela ocasião, os frades colocaram-se na obediência e na escuta de 76 jovens procedentes das nossas Frentes de Evangelização. E para nossa alegria, entre tantas outras questões, os jovens falaram dos seus anseios e medos, de como gostariam que fossem vistos pela Igreja, do seu protagonismo na formação dos próprios jovens, daquilo que poderia ser uma orientação sadia para as juventudes no mundo de hoje, etc. E agora, sete anos depois, o mesmo Seminário Santo Antônio de Agudos foi palco e ponto referencial na acolhida, formação e envio missionário para 600 jovens procedentes de diferentes lugares do território da Província e de outras Entidades e Paróquias. A meu ver, no transcorrer desses sete anos, através das Caminhadas, das Missões e dos Retiros, nossos jovens souberam concretizar e responder à interpelação do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, no dia 28 de julho de 2013: “Não tenham medo! Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar seus discípulos em missão, Jesus prometeu: Eu estou com vocês todos os dias. E isso é verdade também para nós! Jesus nunca deixa ninguém sozinho. Sempre nos acompanha” (JMJ/RJ). Foi maravilhoso que esta Missão Franciscana da Juventude, com o inquietante lema em forma de pergunta “Onde está o meu irmão?”, ocorreu no ano do Sínodo da Juventude, quando a Igreja decidiu interrogar-se sobre como acompanhar os jovens e ajudá-los no anúncio da Boa Nova. No dia 08 de abril de 2017, na vigília de oração em preparação à JMJ, o Papa Francisco assim falou: “Este é o Sínodo dos jovens, e queremos ouvir a todos. Cada um dos jovens tem algo a dizer aos outros, tem algo a dizer aos adultos, tem algo a dizer aos sacerdotes, às religiosas, aos bispos e ao Papa. Todos precisamos vos escutar”!

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Ao término das Missões Franciscanas da Juventude, no salão nobre do Seminário Santo Antônio, eu tive a graça de poder ouvir o testemunho de vários jovens. Jovens que, em nome de seus respectivos grupos e de todos, se fizeram protagonistas e arautos da paz e do bem, particularmente em experiências sociais com pessoas mais fragilizadas. E ao narrarem as diferentes experiências e encontros com o Senhor nos irmãos e irmãs que encontraram ao longo do caminho, simultaneamente falaram à Igreja, aos adultos, aos próprios jovens, aos religiosos e religiosas, em especial a nós Frades Menores. Um singelo abraço, arrochado e carinhoso ao término da celebração eucarística, foi para mim uma amostra e um “zoom” de um mosaico maior chamado “Missões Franciscanas da Juventude”, confeccionado pelo Senhor com pedras vivas. Senti nesse único abraço de vários braços, e no mesmo espaço, o palpitar do coração de todos os jovens, recriando a simbologia e a alegoria da renovação do Carisma Franciscano, bem como a resposta à inquietante pergunta da missão: “Onde está o teu irmão?” Fraternalmente,

Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM Ministro Provincial

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Histórico foi lançada a semente

“Francisco pode ajudar os jovens a descobrirEM o rosto de Jesus”

Jovens no primeiro encontro nacional em Canindé (CE). Na sequência, fotos dos primeiros encontros em Agudos.

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u estava na equipe de coordenação dos dois primeiros encontros de jovens das Frentes de Evangelização da Província. Foi em 2011 e 2012. A motivação inicial foi preparar a delegação da Província para o Encontro Nacional de Jovens que o Secretariado Interprovincial Franciscano de Evangelização e Missão (Sifem) realizaria em junho de 2011 no Santuário de Canindé (CE). Mas, ao pensar na reunião de jovens de nossas Frentes de Evangelização, logo nos demos conta que seria a oportunidade para atingir relevantes objetivos tais como: • Ouvir os jovens e proporcionar partilha de experiências; • Animá-los na vida e missão cristã com a espiritualidade franciscana; • Discernir caminhos para a evangelização com a juventude; • Fazer animação vocacional. Lembro que a ideia era que não fosse tanto um encontro para os jovens (que nós preparamos para eles), mas um encontro de jovens (eles seriam os protagonistas).

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Refletíamos que a Igreja demonstrava não saber o que fazer com a juventude, e nós, frades em nossas Frentes de Evangelização, não éramos diferentes. Notávamos que aquela linguagem que podia agradar os jovens dos movimentos de Igreja era um repelente para a imensa maioria dos jovens que não estão nas Igrejas. Questionava-nos também o fato de que a maioria dos poucos vocacionados à nossa forma de vida não viesse dos lugares onde os frades estão atuando. Vocações franciscanas genuínas deveriam nascer de nosso serviço de evangelização. Lembro que fiquei muito bem impressionado com os jovens que reunimos. Destaco três coisas: • Oriundos de realidades tão diversas, integravam-se com muita facilidade; • Demonstraram um inesperado senso de pertença à Província; • A grande empatia que eles têm com São Francisco. Diria que São Francisco parece ser mais simpático aos jovens do que Jesus Cristo, cuja imagem vem carregada da cara nem sempre simpática da Igreja instituição. Então, pensei, Francisco pode ajudar os jovens a descobrirem o rosto de Jesus.

Frei Toni Michels

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Histórico ITUPORANGA (SC) - 2014

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primeira Missão Franciscana da Juventude aconteceu na cidade de Ituporanga (SC), de 20 a 23 de fevereiro de 2014. Naquela época, ela ainda era denominada como Missão de Férias. Nosso sonho inicial era de possibilitar a alguns de nossos jovens uma verdadeira experiência de contato com as famílias e levá-los a uma experiência concreta de Missão. Em conversa com a fraternidade do Seminário São Francisco, em Ituporanga (SC), especialmente com Frei Gilberto da Silva, animador vocacional local, acertamos os detalhes e apresentamos a proposta primeiramente para o Regional e depois para a Paróquia Santo Estêvão, de Ituporanga. Frei João Lopes, então pároco, abraçou a ideia e convocou alguns representantes dos jovens para nos ajudarem a pensar as atividades bem como envolver algumas comunidades. Tudo era muito simples e incipiente. A princípio, a ideia era de que essas Missões fossem uma atividade voltada para os jovens de SC e PR, sendo que a Caminhada Franciscana da Juventude seria destinada somente para os jovens de SP, RJ e ES. Nessa primeira edição contamos com a participação de 90 jovens, sendo que 30 eram seminaristas do Seminário São Francisco, e os demais provinham de Lages, Balneário Camboriú, Curitiba, Ituporanga e Curitibanos.

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Acolhidos no Seminário São Francisco de Assis, cada jovem, ao chegar, já deixava a marca de seus pés em um grande cartaz intitulado “Benditos os pés que evangelizam”. Um dos momentos marcantes para os jovens foi a apresentação do Frei Florival Mariano de Toledo, que juntamente com os jovens Huan Pignaton e Ariana Peçanha, apresentou suas belas canções do CD Perfeita Alegria. Antes de partirem para as comunidades, os jovens também tiveram a oportunidade de conhecer a realidade da Diocese de Rio do Sul. Assessorados pelo Padre Osmar Debatin, coordenador da Pastoral Diocesana, a juventude pôde entender um pouco mais sobre a realidade eclesial, política e social de onde iriam realizar a missão, bem como refletir em pequenos grupos sobre o documento do Papa Francisco “A alegria do Evangelho”. Para o encerramento, a Igreja Matriz Santo Estêvão ficou repleta de jovens, que com suas camisetas brancas anunciavam a sua missão de paz e bem durante a celebração da missa. No momento de ação de graças, tivemos uma bonita apresentação sobre a vida de São Francisco de Assis, dirigida por Frei Pascoal Fusinato e encenada pelo seu grupo de teatro de Blumenau.


Histórico Concórdia (SC) - 2015

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ocalizada no oeste de Santa Catarina, a cidade de Concórdia foi a sede da 2ª edição das Missões Franciscanas da Juventude, acontecida entre os dias 22 e 25 de janeiro de 2015. Motivados pelas palavras ouvidas por São Francisco diante da Cruz de São Damião “Vai e reconstrói a minha Igreja”, 215 jovens dos estados de SC, PR, SP, RJ e ES foram acolhidos pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário para serem protagonistas de uma verdadeira experiência missionária. Contando com a ajuda e o apoio do animador vocacional local, Frei Jeâ Paulo Andrade, as missões foram preparadas com algumas reuniões prévias e também com o apoio dos casais vocacionais. Ao todo, foram 8 comunidades que receberam nossos jovens. Uma das marcas dessa segunda edição foi a diversidade de campos missionários. Nossos jovens puderam realizar visitas às famílias da cidade e do interior, visitas ao hospital, evangelização através das rádios da cidade, reflorestamento das encostas de rios e bosques, ajuda no reparo e reconstrução de algumas comunidades e o cuidado do jardim de algumas capelas. No entanto, a missão mais esperada e desejada por todos era a de encontrar-se com Jesus no cárcere. Com uma autorização especial jamais

conseguida, entramos com 130 jovens no presídio de Concórdia, fazendo desse momento uma forte experiência de evangelização e de quebra de preconceitos e paradigmas. Ao final da Missão, o testemunho do jovem Willian César Vicente, de Águas Frias, sintetizou o significado e a importância daquela experiência: “Até essas Missões eu sempre ouvi, acreditei e apoiei que bandido bom era bandido morto. Sempre apoiei a redução da maioridade penal. Após essa visita ao presídio, entendi que as pessoas que lá estão também são filhas de Deus e merecem nosso respeito e misericórdia. Conhecendo de perto aquela prisão e a vida dos detentos, entendi que o nosso sistema carcerário dificilmente recupera alguém e que é preciso repensarmos tudo isso”. Por fim, outra novidade dessa edição foi a criação de um símbolo, o Tau das Missões, desenhado especialmente para a juventude por Frei Benedito Gonçalves, mais conhecido como Frei Dito. Nele estão representadas cenas da juventude atual, atraída pelo grande sol que é Jesus e encaminhada por São Francisco e Santa Clara. A partir dessa edição de Concórdia, os jovens sempre colocam os seus nomes dentro desse Tau, que é passado no encerramento das Missões para a próxima cidade sede.

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Histórico Chopinzinho (PR) - 2016

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epois de duas edições em Santa Catarina, Chopinzinho foi a primeira cidade paranaense a receber as Missões Franciscanas da Juventude. Reunidos de 14 a 17 de janeiro de 2016, 330 jovens provindos dos estados do ES, RS, SC, PR, SP e RJ realizaram uma verdadeira transformação na Paróquia São Francisco de Assis, no sudoeste do Paraná. Frei José Idair, então pároco, formou uma comissão de preparação envolvendo as lideranças locais, além de integrar os diferentes grupos de jovens da Paróquia que, embora de movimentos e espiritualidades distintas, uniram-se para preparar esse grande evento. “As missões da juventude representam um momento forte que nossa paróquia vive nestes dias, mas tudo isso vem sendo preparado há muito tempo. Assim, os primeiros beneficiados nesta iniciativa somos nós mesmos, pois, enquanto paróquia, temos a oportunidade de crescer no espírito da acolhida, da partilha e da generosidade”, explicou Frei José Idair. No fim da tarde da quinta, dia 14 de janeiro, os 330 participantes saíram em caminhada pelo centro da cidade, promovendo um verdadeiro “arrastão franciscano” de Paz e Bem. Tendo à frente

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jovens que tinham o rosto pintado e traziam placas de palavras de afeto e fé, a turma passou pela Avenida 15 de Novembro, via principal de Chopinzinho, saudando e acenando para todos os que passavam pelo local nos carros, a pé nas calçadas e também para os comerciantes e moradores da região. Motivados pelo ano jubilar extraordinário, os jovens assumiram como lema dessa 3ª edição das Missões a seguinte frase: “Missionários da Misericórdia: E o Senhor me conduziu entre eles”. Durante os dias de Missões, os jovens puderam conhecer a realidade concreta das famílias e das comunidades rurais, visitas aos doentes e enfermos das comunidades, visitas às aldeias indígenas, além de um bonito trabalho de evangelização em 5 casas de prostituição da cidade. Ao todo, foram 21 comunidades visitadas pelos jovens missionários, deixando uma verdadeira renovação juvenil e espiritual para todos. Uma das novidades dessa edição foi a participação de jovens da Província São Francisco de Assis, do RS, que acompanhados por Frei Franklin Freitas, passaram a participar de todas as Missões que a nossa Província realiza.


Histórico Curitiba (PR) - 2017

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ela primeira vez em uma grande cidade, a 4ª edição das Missões Franciscanas da Juventude realizou-se na cidade de Curitiba, capital paranaense, de 19 a 22 de janeiro de 2017. Celebrando os 800 anos do Perdão de Assis, o tema escolhido foi: “Missionários da Reconciliação: construindo pontes para o Paraíso”. Contando com mais de 500 missionários participantes, essa Missão foi um momento que ficou marcado na vida e no coração de todos os jovens e comunidades que estiveram envolvidas. Provindos dos estados de RS, SC, PR, SP, RJ, ES e MG, além de participantes da Síria, Colômbia e Itália, os jovens missionários foram acolhidos no Convento São Boaventura, em Campo Largo, onde fizeram toda a sua formação, espiritualidade e preparação. Como sede para essa Missão, fomos acolhidos na Paróquia Bom Jesus dos Perdões, cujo Pároco é Frei Alexandre Magno. Além disso, também tivemos todo o apoio e suporte do Colégio Bom Jesus e da FAE, que entraram como nossos verdadeiros parceiros. Uma das marcas dessas Missões foi a Caminhada Franciscana da Juventude, que apresentou pela primeira vez o flash mob no centro de Curitiba, na Rua XV de novembro, atraindo a curiosidade dos transeuntes. Durante a Caminhada, os

jovens também puderam passar pelos principais pontos turísticos da capital paranaense, contagiando a todos com os seus cantos e saudações franciscanas. Outro ponto forte dessa Missão foi a apresentação da peça “A encruzilhada”. A peça contava a história de um velho tocador de blues, uma dançarina e um garoto, que em busca de fama saem em jornada pelo Mississipi para resolverem suas vidas de forma diferente. Pelo caminho, eles têm um encontro improvável com dois franciscanos que lhes apresentam um novo personagem: Deus. Sob a direção e adaptação de Antônio Luciano Saraiva, a peça envolveu os jovens missionários de Curitiba e surpreendeu a todos, transmitindo a mensagem franciscana de forma alegre, descontraída e atual. Por fim, as atividades desenvolvidas durante os dias de Missão foram inúmeras e diversificadas: visitas à Santa Casa de Misericórdia, trabalho com moradores em situação de rua, visita ao Pequeno Cotolengo, clínicas de reabilitação de dependentes químicos, trabalhos nas periferias da região metropolitana de Curitiba, visita à ocupação do MST, missão em uma casa de prostituição, missões nas Comunidades Eclesiais de Base e tantas outras realidades.

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600 JOVENS

1º Dia – 17 de janeiro


Agudos e Bauru - 2018

Érika Augusto (texto e fotos) e Frei Augusto Luiz Gabriel (fotos e vídeos)

MISSIONÁRIOS


1º Dia

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omeçam as Missões Franciscanas da Juventude na cidade de Agudos, no Seminário Santo Antônio, que ficou multicolorido desde o início da madrugada. O primeiro grupo chegou antes das 5 da manhã e foi recebido com muita alegria pelos voluntários, que iam chegando aos poucos para acolher durante todo o dia os quase 600 participantes, vindos dos estados de SP, RJ, ES, SC, PR, RS e um pequeno grupo vindo de Cocal, na Bahia. Jovens, adultos, leigos, religiosas, religiosos e frades lotaram o Seminário. Ainda na parte da manhã, os organizadores receberam os participantes e deram as primeiras instruções. O dia foi ocupado com atividades recreativas, visando a interação dos jovens. Gincanas, jogos de cooperação e muita disposição pelas quadras. Nem a chuva, que caiu forte por alguns minutos, foi motivo de desânimo e a festa se estendeu até a piscina no final da tarde. O sol voltou a brilhar, para alegria dos jovens. Frei Diego Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional (SAV), destaca que uma das mudanças para esta edição é o número de dias, que passou de 4 para 5. “Há dois ou três anos os jovens pediam um tempo maior de missão. Neste ano eles terão um dia a mais nas comunidades para desenvolver o trabalho e isso significa um tempo maior nas famílias que acolhem estes jovens”, afirmou. Outra novidade para esta edição é a realização de oficinas temáticas, que acontecem no segundo dia. Os temas são variados e escolhidos pelos jovens e pela comissão organizadora. Sexualidade, famí-

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1º Dia lia, vocação, política, violência, drogas, são alguns temas trabalhados pelos assessores. Na parte da noite, os participantes foram convidados a um momento de reflexão, tendo como base a parábola do bom samaritano. Os jovens de Nilópolis (RJ), fizeram uma bonita encenação, retratando temas atuais. A crítica foi dirigida contra diversos “assaltos” praticados contra os cidadãos. A corrupção, o descaso com a saúde, as diversas formas de discriminação, o desemprego, etc. Nesta atualização da parábola, não foi o samaritano que resgatou o homem pelo caminho, mas uma mãe de santo, uma transexual, uma prostituta, um pastor e jovens de grupos católicos. Em seguida, Frei Gabriel Dellandrea, do SAV, afirmou aos jovens que os rótulos que a sociedade coloca nas pessoas nos impedem de olhar além e perceber a essência de cada um. Em seguida, os jovens foram conduzidos para a igreja. Alguns religiosos e religiosas ficaram em almofadas, e os participantes foram convidados a se dirigirem a eles para um momento de partilha de vida. Para Marcelo Dirksen, de Águas Mornas (SC), a oração foi o momento mais tocante nas Missões. “Foi um encontro com Deus muito forte, algo que nunca tinha acontecido comigo, um momento único que ficará marcado na minha vida para sempre. Foi o dia que me libertei das minhas correntes, me desapeguei de tudo aquilo que não me fazia bem. Chorei muito naquele momento, a irmã pegou em minhas mãos e senti uma energia muito forte. Fui ao encontro de Deus e ele curou minhas chagas”, afirmou.

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Depoimento “Deus me presenteou com a Mazé” De 17 a 21 de janeiro de 2018 mais uma missão franciscana, Agudos e Bauru, dessa vez. Confesso que fui muito em paz e tranquila, afinal, tinha feito um encontro particular tão intenso e tão forte com Deus na missão em Curitiba, que estava pensando que essa seria “light”, sabia que iria ficar numa paróquia, fazer trabalhos com a comunidade, e que era uma comunidade idosa. Pois bem, depois de toda a formação, depois de me deitar na hospedaria e só agradecer o tempo todo, lá chegou a hora de ir pra Paróquia Santa Clara, comunidade São Miguel. Opa, chegamos e tinha um corredor humano de senhoras nos esperando, um corredor de amor, de alegria e emoção, fogos de artifício e tudo. Foi lindo e cheio de carinho, pensei: noossaaa, comecei muito bem! Chegou a hora de ir pra casa das famílias (confesso que amo esse contato em todos os eventos franciscanos). Estava chegando a hora de Deus puxar minha orelha, de falar: minha filha, você não sabe de nada... Lá fui eu pra casa do Chico e da Mazé, lembram que eu disse que achava que essa missão seria tranquila?! Então, Deus me presenteou com Maria José Meireles Carvalho, a Mazé. Vou resumir a história da Mazé, mulher jovem, alegre, simpática, acolhedora e que vive há quase 10 anos com ELA - esclerose lateral amiotrófica. Mazé vive acamada, respira por um tubo conectado a sua garganta 24 horas, não tem mais os movimentos das pernas, nem do braço esquerdo, não fala, consegue mexer a mão direita, Mazé se alimenta por sonda, uma vez que já não consegue comer pela boca, não consegue mais sentir o sabor dos alimentos, do jeito em que ela é colocada ela fica, Mazé tem enfermeiras 24 horas e tem seu Chico, seu esposo, companheiro, como ela mesma disse: “Deus entregou na mão dele a direção”. Não conheci até esses dias homem mais dedicado, preocupado, ajuda as enfermeiras em tudo, e ainda, resolveram receber duas missionárias, como é possível? Só penso numa resposta: amor! Exatamente amor que senti quando entrei no quarto da Mazé. Já era tarde, mas não podia sair dali, queria estar perto, queria conversar (Mazé adora conversar,

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ela faz isso indicando as letras em sua placa com o alfabeto). Aí Chico me disse que Mazé tinha um livro publicado contando sua história. Enlouqueci na hora, queria ler, devorar, e tive a honra e o privilégio de me sentar ao lado dela e ela me indicar o que eu devia ler: ela ou Deus? Ainda não sei a resposta. Então, Mazé me manda ler a contracapa: “Agradeço tudo aquilo que está na minha vida neste momento, incluindo até as dores” (...) Foi essa frase que ficou na minha cabeça e ainda está! Comecei a chorar na hora, não de tristeza, mas de gratidão, Deus me mostrando sua face naquela mulher, sua alegria, sua fé inabalável, sua esperança, seu amor pela vida e pelos outros. Mazé é ativa, tem uma página no Facebook onde publica seus poemas com seus dedos frágeis e com dificuldade, mas cheios de amor! Passei 3 noites sentada ao lado de sua cama, lendo seu livro em voz alta. A cada leitura uma lição de vida, um reconhecimento de como eu sou pequena diante de sua sabedoria, diante de sua fé, diante de seu amor. Deus me presenteou nessa missão, me abençoou, colocou você, Mazé, na minha vida. Eu tenho que falar de você, penso em você, na sua história de vida, leio o seu livro e te encontro. Seu legado deve ser conhecido por todos, porque você é o evangelho de Deus, você é testemunho vivo da existência dele, você é luz, você toca, emociona, ensina sem dizer uma palavra. Afirmo pra quem me perguntar: Estive com a misericórdia e amor de Deus nos últimos dias, pouco mais de 48 horas, mas que valeram a vida inteira.

Aline Vieira São Paulo (SP)


2º Dia – 18 de Janeiro

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JOVENS EM SAÍDA

ogo no início do dia, os jovens se dirigiram para um dos campos do seminário e lá fizeram a prece matinal, com a assessoria de Rosana Padial. Ela falou sobre São Francisco de Assis e sua relação com a criação. Através de passos da dança circular, não houve quem não contemplasse e sentisse paz ao vislumbrar a natureza que o Criador já proporcionava no início do dia. Em seguida, Carlos Neto, da Ordem Franciscana Secular (OFS) de Agudos, falou sobre o tema e o lema desta edição, “Senhor, onde está o meu irmão? Vem e segue-me”. Ele abordou vários aspectos da irmandade e fraternidade, recordando o testamento de São Francisco de Assis, onde ele diz: “E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho” (Testamen-

to de São Francisco – 1226), passando por Caim e Abel e a ruptura da fraternidade. “Jesus vem restaurar a fraternidade que havia se perdido há muito tempo atrás, nos primórdios, quando a inveja, a ganância, a sede de poder e indiferença se apossaram do coração dos seres humanos. Ninguém melhor que Ele para nos falar onde encontrar o nosso irmão e como agir com o nosso irmão necessitado”, afirmou o jovem. Logo depois, Celenita de Oliveira Coelho, fundadora da Comunidade Terapêutica Bom Pastor, deu seu testemunho. No final da manhã, os participantes se dividiram em 15 oficinas, com temas variados. André Rohling, de São Bonifácio (SC), participou da oficina “juventude e arte”, que contou com a assessoria de Frei Pedro Pinheiro. Para ele, a oficina foi uma forma de aprender a expressar as emoções através da arte.

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2º Dia Após o almoço, os participantes fizeram uma caminhada a pé até o centro da cidade de Agudos. Vestida de colete amarelo, a caravana coloriu o trajeto, levando a paz e o bem pelas ruas agudenses. Foram cerca de 10km, ida e volta. Na frente da Prefeitura Municipal, os jovens fizeram o “flash mob”, com a coreografia do hino das Missões Franciscanas. O prefeito Altair Fran-

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cisco Silva acolheu os participantes e fez uma prece, falando sobre a paz e a união entre todas as crenças. Em seguida, todos se dirigiram para a Paróquia São Paulo Apóstolo. Na praça, foi plantada uma árvore, simbolizando a passagem dos missionários pela cidade. O pároco, Frei Sílvio Trindade Werlingue, estava presente, assim como o prefeito. Os jovens voltaram caminhando para o Seminário, onde celebraram a Eucaristia no fim da tarde. A missa foi presidida por Frei Diego Melo e concelebrada por Frei Sílvio Trindade Werlingue, Frei Douglas Machado, Frei Pedro Rodrigues, Frei Carlos Pierezan, Frei Miguel Cruz e Frei Franklin Francisco Silva de Freitas, da Província São Francisco, do Rio Grande do Sul. Em sua homilia, Frei Carlos Pierezan falou sobre a espiritualidade de missão. Ele afirmou que o Reino de Deus é o próprio Jesus, encarnado. “Este projeto chamado Reino de Deus não está escrito em nenhum livro, em nenhum tratado. Ele é vida, é uma pessoa viva que nós chamamos Jesus Cristo. Se nós quisermos conhecer o Pai, temos que conhecer Jesus”, exortou. O frade pediu que os jovens, ao saírem em missão, fossem buscar Jesus entre os mais necessitados, citando as periferias existenciais, de que nos fala o Papa Francisco. “Vamos com Jesus para as periferias da vida, onde Jesus está crucificado, onde Jesus está sofrendo”, acrescentou. E concluiu a homilia fazendo o envio dos jovens: “Nós enviamos vocês! A Igreja envia vocês hoje, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. A prece foi seguida de uma calorosa salva de palmas. No momento de ação de graças, Frei Diego Melo chamou todos os religiosos, religiosas, vocacionados e vocacionadas para o presbitério e falou sobre a importância da presença dos religiosos no meio dos jovens e partilhou o testemunho de muitos jovens que começaram sua caminhada vocacional nas experiências realizadas pelo SAV, como as missões e caminhadas.


Depoimentos

Nossos irmãos estão em todos os lugares Essa foi minha segunda missão. Fui fazer visitas no CPP1, uma penitenciária de regime semiaberto. Foi uma experiência sem explicação vivenciar, conhecer a vida de um preso... Lá estão presos que cumprem o final de sua pena. A grande maioria sai para trabalhar de manhã e volta à noite para dormir... Em torno do presídio estão 8 empresas nas quais os internos trabalham e outras pela cidade também. A cada 3 dias trabalhados, eles ganham 1 dia de redução na pena, ganham salário e seus direitos. Algo que me chamou atenção também foi o respeito pelas mulheres. Antes de entrarmos, eles começaram a gritar “visita feminina, veste a camisa”, só depois entramos. Lá dentro tivemos uma momento da leitura do Evangelho, uma roda de conversa, fomos conhecer as celas, fomos de coração aberto, sem olhar de julgamento, porque somos filhos do mesmo Pai, nosso Deus é um só. Eles estão lá pagando pelo que fizeram, esquecidos pela sociedade, taxados como bandidos e muito mais. Não estou defendendo, de forma alguma. Somos seres humanos, sujeitos a erros, uns com erros graves, outros nem tão graves

assim, mais aprendi a não julgar as pessoas que eu não conheço. Não sei a história e nem o motivo que as levaram a estar naquele lugar. O tema das Missões era “Senhor, onde esta o meu irmão?”. Nossos irmãos estão em todos os lugares, desde aquele que está num presídio, na rua como mendigo, até aquele que está no hospital, salvando vidas... Somos todos irmãos, com alma, coração e sentimentos. Algo interessante que ouvi, não sei se de diretor ou de um outro funcionário, ele disse que eles estão presos pela consciência. O que é a consciência do ser humano quando pesa, quando ele faz algo errado, isso vira tortura... Muitos deles têm livre acesso pra sair, mais eles sabem que se não voltarem, eles vão ter que responder em regime fechado. Também estivemos com as famílias deles, mas não fomos como julgadores e sim como amigos, para dar ouvidos a pessoas que sofrem e não têm alguém para desabafar sem ser julgadas por estar indo visitar maridos, pais e filhos na cadeia. Em momento algum perguntamos o que eles fizeram, quanto de pena pegaram. Fomos como amigos, irmãos, estender a mão, levar o Evangelho e ouvir... E sim, vivenciar uma outra realidade pela qual nunca passamos....

Ir. Isabel (à esq.) e as postulantes Elídia e Ana Karoline

TRANSFORMAÇÃO Penso que atuar e fazer presença entre os jovens é senti-los, perceber o grande desejo de transformação, de fazer diferença e ser diferente! Construir, transformar, realizar e deixar marcas profundas é mais que ímpeto, é necessidade! Verifico isto na experiência vivenciada junto aos jovens nas missões, caminhadas, encontros e retiros. O Papa Francisco dedicou um sínodo especial para a juventude, ação que visa colocá-los no centro das discussões da Igreja. Acredito que estar aqui e agora é ter a possibilidade de ver a transformação acontecer. E de nós, consagrados, a Juventude espera uma postura de acolhimento e força de espírito na atuação, que os auxilie a levar todas estas experiências e ações para suas realidades e comunidades. Estar nesta “barca” é uma oportunidade que recebi de Deus para fazer a diferença e em tudo busco fazer o melhor!

Krauana Moraes

Ir. Isabel Simeoni

Lages (SC)

Franciscana de Ingolstadt

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3º Dia – 19 de Janeiro

“VEM E SEGUE-ME”

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s 600 jovens missionários se dividiram em 32 grupos para dar início à missão propriamente dita. São diversas experiências: visitas às casas, comércio, presídio local, creche, asilo, evangelização nas ruas, hospitais, comunidade terapêutica para dependentes químicos, pintura e reforma de escolas, corte de grama, aldeia indígena, assentamento do Movimento dos Sem Terra e outros locais. A ideia é que em pequenos grupos, os jovens possam interagir melhor e conhecer a realidade local. Os grupos estão divididos entre 5 paróquias, quatro delas pertencentes à Província Franciscana. Em Agudos, as paróquias São Paulo Apóstolo e Santo Antônio e, em Bauru, as paróquias Santo Antônio e Santa Clara. A Paróquia Nossa Senhora da Assunção é a única paróquia diocesana envolvida diretamente na preparação das Missões Franciscanas. O pároco, Pe. Rodrigo Sena, afirmou ser uma alegria e privilégio receber o grupo dos missionários. O religioso é um antigo conhecido

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3º Dia das atividades realizadas pelo Serviço de Animação Vocacional (SAV). Ele participou de Missões e Caminhadas, e desta vez ajudou na preparação, além de acolher em sua paróquia um grupo de 45 jovens missionários. Uma das experiências mais aguardadas para esta missão foi a Aldeia Ekeruá, dos índios Terena. Os jovens chegaram na noite de quinta-feira e foram acolhidos com muita alegria pelos indígenas. Para Julia Pellegrini, de Vila Velha, a experiência foi inesquecível. “Quando chegamos aqui, fomos muito bem recebidos. Está sendo uma experiência incrível, uma das melhores experiências que já vivi”, afirmou a jovem. Na sexta-feira, os jovens tiveram um momento de formação na escola local. Eles também conheceram a culinária e artesanato dos indígenas. À tarde, eles aprenderam arco e flecha e tiveram os rostos pintados. David, da tribo Ekeruá, explicou aos jovens o significado dos desenhos e das cores pintadas nos rostos e corpos dos indígenas da tribo. No Projeto Caná, mantido pelos Padres Marianistas em Ferradura Mirim, os jovens passaram o dia brincando com as crianças atendidas pelo projeto. Além das gincanas, os jovens ajudaram na manutenção do local, cortando a grama e carpindo a área interna e externa.

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Depoimento

Rafaela (à direita) foi uma das jovens que conheceu um pouco da realidade indígena no Brasil

“LIÇÕES PARA O RESTO DA VIDA”

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ostaria de agradecer imensamente aos indígenas da aldeia Ekeruá pela recepção, pelo carinho, pelo respeito e atenção para com todos nós, missionários franciscanos. Foi ao longo destes dias que aprendemos lições que levaremos para o resto da vida. Aprendemos o que é amar e perdoar na forma mais pura que esta palavra pode significar. A família Ekeruá abriu as portas de suas casas e de seus corações e nos mostrou sua cultura, seus costumes e crenças. Quebraram, por meio do exemplo, dos gestos e atitudes, nossos preconceitos e rótulos. Mostraram seu amor a Deus e aos irmãos por meio de atitudes concretas, como perdoar aqueles que tanto os fizeram e ainda fazem sofrer. Mostraram suas dificuldades e lutas diárias por respeito, por sobrevivência e por seus direitos. Em alguns relatos, mostraram o quanto ainda sofrem. “Ao saber que era índio, meus colegas se afastaram e deixaram de fazer trabalhos comigo”.

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“Muitas vezes tivemos que esconder que éramos índios para poder andar na rua e não sermos atacados, perseguidos...” “Lutamos constantemente por nossos direitos... E também vivemos com a incerteza de não termos onde morar, pois quando tal terra tiver algum interesse para o governo eles poderão se apoderar”. Ao irmos abençoar as casas, fomos recepcionados por uma família de outra religião que nos acolheu com tanto amor e carinho. E nos disse que, independente de placas, somos todos irmãos e temos um único Deus. Quero então aproveitar o gancho para reforçar que, independente de placas, cor, etnias, idiomas, costumes, condição social, somos irmãos em Deus. E um dos grandes aprendizados desta missão foi o teatro, que reforçou um dos mandamentos de Deus, o de amar o próximo e fazer o bem aos nossos irmãos, sejam eles indígenas, idosos, homossexuais, pois não temos o direito de julgar, rotular... Mas precisamos conhecer sua realidade, sua cultura e história. Então, o tema central das Missões foi “Senhor, onde está meu irmão?” E após essa missão, percebi que meu irmão está em todos os lugares, especialmente nos injustiçados, oprimidos, rejeitados, marginalizados e excluídos da sociedade. Está em nossos irmãos indígenas que lutam por seus direitos e respeito. Está naquele povo que, mesmo após tanto sofrer e ter seu sangue derramado e seus direitos retirados, recebeu de braços abertos um grupo de não-indígenas. Teriam tantos motivos de odiar por tudo que sofreram no decorrer da história e ainda hoje sofrem. Mas foi o contrário, dividiram e nos confiaram seus costumes, suas crenças, suas histórias, danças e alimentos típicos... Enfim, precisamos respeitá-los e passar a contar a verdadeira história sobre a colonização e o “descobrimento” aos nossos alunos e filhos, levando o conhecimento e consequentemente acabando com a ignorância de acreditar nas informações e manipulações que os meios de comunicação fazem, conforme seus interesses, e que nos levam a julgamentos e rótulos.

Rafaela Schmidt Florianópolis (SC)

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MissĂľes Francisca

Agudos Bauru 2018


anas da Juventude


Depoimentos

“Hoje tivemos a oportunidade de experimentar em nossas vidas um dia de adicto na Comunidade Terapêutica Bom Pastor. Aprendemos que a dependência não tem origens somente no álcool ou nas drogas. O ponto de partida são as carências que nos afetam, sejam familiares, afetivas ou sociais. Todos nós sofremos com algum tipo de dependência, seja ela explícita ou oculta. Muitos foram os sentimentos despertados em nós: alegrias, tristezas, vontade de ir para casa, sentimos o mesmo que eles sentem todos os dias durante os seis meses de recuperação. Testemunhamos irmãos fortalecidos, mas também outros que desistiram no seu primeiro dia de recuperação. Agradecemos a Deus por esta experiência tão profunda em nossas vidas, de reconhecer um Deus que não é milagreiro, mas que caminha conosco, é nosso amigo e nos ajuda em nossas curas. A cura passa por um movimento interior que acontece quando reconhecemos que sozinhos não conseguimos. Somos doentes, cegos, machucados, e precisamos de ajuda, misericórdia e muito amor”.

“A vivência que estamos tendo na comunidade São Mateus, pertencente à Paróquia Santa Clara, de Bauru, é profundamente marcada pela experiência do encontro. Encontro com realidades e situações que nos mostram a forma de Deus agir nos lugares e histórias em que normalmente não consideraríamos possível a sua presença. Várias foram as famílias que, apesar de toda carga de dor e sofrimento que vivenciam diariamente, nos acolheram com a alegria que só pode vir de Deus. Esta experiência de ser acolhido, justamente quando eu pensava que eu é que seria o acolhedor, traz à tona a verdade que Francisco tão fortemente viveu no abraço ao leproso, ser ‘tocado’ por aquele que imaginaríamos ‘tocar’. Encontrar-se com esta experiência é sentir-se impulsionado a abrir os olhos e os ouvidos do coração para ver Deus, que ao mesmo passo que se faz real no grito e na alegria da juventude, se desvela também no abraço acolhedor de uma família simples”.

Frei Lucas Moura Rondinha (PR)

“Enquanto fumava a pedra de crack já planejava o que fazer para conseguir a próxima… Roubar? Traficar? Vender o corpo? Eram as opções”. “Com 8 meses de gestação pulei cercados e invadi terrenos atrás do lixo chamado droga.” “Deus está me mostrando o caminho e vou conseguir, tenho certeza disso.” Depoimentos como esses encheram nosso coração não só de tristeza, ao saber da trajetória de vida de cada dependente químico, mas também de um sentimento de enorme alegria ao ver e sentir o desejo de mudança em cada uma delas. Desejo este de voltar limpos das drogas para suas famílias, desejo de nunca perder a fé em Deus e a vontade imensa de que nenhuma pessoa passe por esse mundo obscuro que um dia elas passaram. Histórias e relatos de dependentes em estágio avançado que marcaram meus dias de missão e minha vida por inteiro. Agradeço a Deus pela oportunidade de poder ver seu rosto misericordioso diante de cada mulher dependente em busca de uma vida digna e de paz.

Édson Luís Dos Santos

Simone Weber

Balneário Camboriú (SC)

Águas Mornas (SC)


Depoimentos Pois bem, no ano passado (2017) passei por um momento muito difícil na minha vida, algo que jamais imaginava que iria acontecer... Achei que tudo estava perdido, pois tive depressão. Só quem teve essa doença horrível sabe do que estou falando... O momento que mais me marcou foi no dia 17/01, à noite, durante um momento muito forte e intenso de oração e adoração ao Santíssimo, onde fui convidado a me direcionar para fora da igreja. Lá os freis e irmãs estavam dando uma bênção para a cura e libertação das chagas e tormentos de cada jovem. Fui conduzido a uma pessoa que por obra do destino já sabia de todos os meus problemas, Irmã Isabel Simeoni. Quando a vi, descobri por que Deus ir acalmando e serenando meu coração desde novembro de 2017... Deus estava me preparando para aquele momento. Foi um encontro com Deus muito forte, algo que nunca tinha acontecido comigo, um momento único que ficará marcado na minha vida para sempre. Foi o dia que me libertou das minhas correntes, me desapeguei de tudo aquilo que não me fazia bem. Chorei muito naquele momento, a irmã pegou em minhas mãos e senti uma energia muito forte. Fui ao encontro de Deus e ele curou minhas chagas... Aí então vi a resposta do que me vinha perguntando há anos, do que Deus queria de mim. Ele quer que eu continue minha missão de levar a palavra de Deus para os que mais necessitam. Comecei a ver a vida com outros olhos, ver que a vida é para ser vivida, encarar os problemas de outro jeito, que a vida junto de Deus é maravilhosa e que nem tudo está perdido quando plantamos em nosso coração a esperança de dias melhores.

Em meio a tantas direções, encontrei um caminho, em meio a tantas pessoas encontrei o meu irmão, em meio a tantas dúvidas, hoje tenho uma certeza... Se antes estava perdida, hoje não estou mais. Encontrei um caminho e é ele que quero continuar a trilhar, o caminho da fé, aquele que nos move e que nos une em busca de um propósito, em busca de um mundo com mais amor, mais respeito, com menos assaltos, um mundo de paz e bem. Essa missão foi lugar de encontros…

Marcelo Dirksen

Ana Cris Higert

Águas Mornas (SC)

Lages (SC)

Camila Loch Santo Amaro da Imperatriz (SC) Como disse um companheiro de missão, nós entrávamos nas casas na intenção de rezar pelas famílias e rezávamos, mas éramos nós que saíamos transformados em ver tanto amor, tanta simplicidade, tanta humildade. E a cada casa, cada história que ouvíamos, cada situação que encontrávamos era uma lição de vida diferente... Melhor sensação era ver a felicidade no rosto das pessoas em nos ver, em ver que estávamos lá para ouvi-las, a felicidade no rosto das crianças por receberem um abraço, uma visita... Eu agradeço muito a Deus por cada abraço que recebi antes de vir embora. Foi triste vir embora e ter que me despedir porque essas pessoas já tomam um lugar imenso no meu coração... Agradeço a Deus por esses dias, que de alguma forma me transformaram, mudaram um pouco meu modo de pensar, me fizeram ver que eu tenho tudo, que eu devo ser grata todos os dias, e que a felicidade se encontra nas coisas mais simples da terra!

VEJA O VÍDEO OFICIAL


4º Dia – 20 de Janeiro

DIA DE PARTILHA NAS COMUNIDADES

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este ano, com o acréscimo de um dia de atividades, os participantes puderam permanecer mais tempo nas comunidades e nas famílias. Nas edições anteriores, era praticamente dedicado apenas um dia para este convívio. Bem cedo, já era possível encontrar os jovens nas atividades. Um grupo ia passando pelas ruas de Agudos, batendo de porta em porta para oferecer uma oração, uma palavra de conforto, uma bênção. Outro grupo estava na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, pertencente à Paróquia São Paulo Apóstolo, literalmente com a mão na massa. Eles foram convidados a replantar um jardim, que fica na entrada da comunidade. Todos empenhados em deixar o espaço ainda mais bonito. O último dia nas comunidades também foi dedicado à partilha da experiência. Os jovens que estavam na Comunidade São Francisco fizeram um bonito momento de partilha antes do almoço. Esse grupo iria visitar um asilo, mas não foi possível por causa da chuva. Os missionários, então, mudaram os planos e foram visitar as famílias da região, e nas casas encontraram muitos idosos. “A família às vezes se abstém de fazer alguma coisa, de se divertir, para cuidar do idoso com muito amor e carinho. Em todas as casas que fomos, os idosos estavam bem cuidados, com barba feita, banho tomado”, afirmaram. Durante os dois dias em que os jovens estiveram divididos nos grupos, os responsáveis pelo Serviço de Animação Vocacional (SAV), Frei Diego Melo e Frei Gabriel Dellandrea, ficaram

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com a missão de visitar todos os grupos para ver como estava a experiência e também para entregar uma pequena lembrança: um tau feito em acrílico. O gesto era uma surpresa para os jovens, que faziam festa a cada visita dos frades. O tau foi doação de um membro da Ordem Franciscana Secular, que confeccionou cada peça e deu o acabamento. Em uma das visitas, Frei Gabriel Dellandrea encontrou-se com o grupo da Matriz São Paulo Apóstolo. No grupo estava Alcinei José Sentofante, de Chopinzinho. Ele é deficiente visual e participa de sua segunda missão. Na casa onde o grupo estava, aconteceu um bonito momento de partilha, pois a anfitriã contou que seu marido, já falecido, também era deficiente visual. Para ela, a visita foi emocionante, pois não esperava encontrar um deficiente visual entre os missionários. Sentados ao redor da mesa, os jovens puderam ouvir um pouco da realidade do jovem. Um grupo de 30 jovens missionários marcou presença em assentamentos da cidade de Agudos (SP). Dentre tantas atividades que estes jovens realizaram, destaca-se a visita e bênçãos das casas e das famílias que residem no local, sejam famílias já assentadas e as que estão na busca de regularizar a situação burocrática da terra em que estão inseridos. Vitória Colussi, de Concórdia (SC), afirmou que durante estes dias de missão os jovens puderam conhecer o acampamento dos assentados do Movimento dos Sem Terra (MST). “Algumas famílias já estão assentadas, já estão com as suas casas e suas terras, porém algumas famílias ainda estão lutando pela sua terra. Às vezes estes acampamentos duram cerca de 10 anos aproximadamente. O MST nessa comunidade está fazendo um trabalho muito importante com as famílias. Foi maravilhoso estar nesse acampamento, nesse assentamento. Como é bom ter a solidariedade dentro dessas comunidades” destacou ela. Já na Paróquia Santo Antônio, o dia de visitas terminou com uma visita à Comunidade Terapêutica Peniel. Todos os jovens que estavam nos grupos da matriz se dirigiram para o local, onde conviveram com os dependentes

e tiveram um momento de lazer. A visita terminou de forma animada, com muita comida e música. Em seguida, eles se dirigiram para a Paróquia, onde fizeram uma breve avaliação da experiência. Frei Gabriel Dellandrea aproveitou o momento para agradecer ao pároco, Frei José Martins Coelho, pelo suporte dado na organização das Missões Franciscanas. O frade agradeceu o convite feito pelo SAV e o apoio da comunidade. “Que vocês possam retornar para vivenciar em outros momentos o carisma franciscano”, pediu Frei José Martins aos jovens. Os missionários concluíram a noite nas comunidades com a Eucaristia, às 19h.

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Organização

“Este seminário ainda está em plena forma”

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o princípio parecia uma missão impossível, porém, sem as técnicas e efeitos especiais de Hollywood. Uma missão que não sabíamos nem mesmo por onde começar. Como receber 620 pessoas de uma só vez aqui no Seminário? Na primeira reunião de preparação, em 17 de maio de 2017, tudo parecia meio confuso, mas ao longo das demais tudo foi se clareando, porém, as dúvidas e incertezas continuaram: estaria o Seminário em condições de receber tanta gente, a cozinha daria conta, e os banheiros, os chuveiros, teríamos cama ou colchões para todos? Uma coisa todos diziam: o Seminário, mesmo em seus tempos áureos, nunca tinha abrigado tanta gente de uma vez! Mas o desafio estava aí, a data marcada e a expectativa grande que só aumentava! Mãos à obra, então! Todos, Fraternidade e colaboradores, “vestiram a camisa”, assumiram a missão. E tudo só foi possível, só se realizou satisfatoriamente porque não faltou o empenho, a dedicação e o esforço de cada um. Primeiro passo, começar a preparar a casa, contar as camas e colchões, não queríamos ver um jovem dormindo no chão! Com a ajuda dos dois aspirantes Irven e Felipe, foi feito um primeiro levantamento e a constatação de um déficit, não de espaço, mas de camas e colchões! Foi necessário comprar mais 250 colchões novos. Também pratos e talheres não seriam suficientes. Mas, a partir de um planejamento, no dia da chegada dos missionários, tudo estava no seu lugar, a casa inteira limpa e preparada. Frei Diego dizia desde o início as MFJ mexem com muita gente. E aqui não foi diferente. Um colégio particular de Agudos, o Colégio Máximo, desafiou seus alunos a, numa gincana, arrecadar alimentos para doação ao Seminário em prol das Missões Franciscanas. Fomos até o Colégio, falamos para os alunos o que seriam as Missões e convidamos a todos a participarem, e o resultado veio na forma de muito arroz, feijão, macarrão, enlatados... Também uma das maiores empresas da região, a Duratex, por iniciativa de seus funcionários, fez uma arrecadação de caixinhas de leite, doando para as Missões 597 li-

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tros de leite. Um ofício aos comerciantes do Ceagesp de Bauru possibilitou a doação de frutas e legumes. Frequentadores da Missa no Seminário também fizeram suas doações de alimento. Enfim, a misericórdia de Deus se fez sentir muito antes da realização das Missões em si. Duas semanas antes, tudo estava pronto para receber os jovens missionários. E chegou o grande dia. Já na véspera, jovens da Equipe de Preparação vieram para o Seminário para, no dia seguinte, bem cedinho, receber os ônibus. Dia 17, às 5 horas, começam a chegar os primeiros jovens, a casa aos poucos foi sendo tomada de alegria, entusiasmo, jovialidade... O cansaço da viagem ficou do portão para fora. Equipes de voluntárias, as “tias”, foram conduzindo cada um a seu quarto, sua cama, seu colchão. Todos foram acolhidos com muito carinho e a alegria da concretização de um momento há tanto esperado, há tanto


tempo preparado era visível em todos! O comentário dos mais “velhos” era: que jovens diferentes, alegres, educados, vibrantes, eles transpiram a alegria franciscana, o jeito franciscano! Que testemunho! E, realmente, foi gratificante ver tanto tempo de trabalho, preparação e, também, preocupação ser coroado por esses dias de convivência, de aprendizado, de experiência da vivência do carisma franciscano. Que visão maravilhosa ver a igreja lotada de jovens, ver as três alas do seminário habitadas! Foram dias de rever e abraçar amigos, de chorar de emoção, de sorrir e se divertir. Alegria também de receber tantos frades jovens, alguns até desconhecidos, frades que renovam a esperança da nossa própria vocação. Enfim, entre tantos bons frutos a MFJ 2018 deixou a certeza de que esta casa, este seminário ainda está em plena forma, ainda pode receber, e receber bem, um número grande de pessoas. E, principal-

mente, deixou a certeza de que, quando se confia na condução e na bondade de Deus e seu Espírito, tudo flui com tranquilidade. Há oito meses atrás, quando se começou a planejar a MFJ 2018, o trabalho parecia pesado demais. Hoje, vimos que não foi tanto assim, porque, em equipe, tendo o Espírito Santo como guia e líder, assumimos essa Missão para sairmos todos, frades, funcionários e leigos transformados e melhores desta experiência. Nosso obrigado ao Frei Diego e Frei Gabriel, à equipe do SAV, à Província. Obrigado pela confiança, pelo apoio e, principalmente, pela oportunidade de participarmos de tantas experiências, tantas vivências. Obrigado por deixarem tantos frutos bons em nossa Fraternidade e em nossa cidade de Agudos. A todos um fraterno e caloroso PAZ E BEM!

Frei James Gomes Neto

Depoimento

“A GRAÇA DE DEUS COMEÇOU ALI” “Nossa cabeça pensa a partir de onde nossos pés pisam”. Essa frase ficou na minha cabeça durante toda a volta para casa. Por onde meus pés pisaram durante toda a minha vida? Bons, maus ou “mais ou menos” caminhos? Deveria me orgulhar de onde calcei meus pés ou deveria esconder a cabeça para que ninguém pudesse ver por onde pisei? Esse final de semana, por providência divina, fui designada a ser missionária em um movimento de trabalhadores sem terra. Fui cheia de estereótipos, “preconceitos”, informações lidas de uma mídia golpista, mas eu fui. E tenho certeza que a graça de Deus começou ali. Uma coisa é você ter ansiedade para conhecer algo que nunca viu na vida, outra coisa é você ter ansiedade para aprender na carne e no osso sobre algo que você nunca viu na vida. Ver e aprender com o que se viu são ações diferentes, pois eu posso ver e não tomar nenhuma ação contra o que foi visto ou posso gritar a partir de então “MST, a luta é pra viver”. Aprendi que, na falta de tudo, que reste o amor pela terra, pelo pedacinho de chão, pela produção daquilo que deveria ser obrigação do Estado oferecer: “um pedacinho de chão para todos chamarem de seu.” E caso não concordem que se permitam. Permitam conhecer, mas não baseados na leitura e nos

pré-julgamentos. Façam como eu. Retirem todos os pensamentos bons ou ruins e se permitam viver a realidade nua e crua estampada na sua cara do acordar ao dormir. Permitam ver a vida fora da sua caixinha de regalias. Obrigada pela oportunidade de conhecer um assentamento e partilhar dias tão bonitos como os que vivi ao lado de pessoas que tanto precisam.

Mariana Cassiano Rio de Janeiro (RJ)

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Encerramento – 21 de Janeiro FREI FIDÊNCIO:

“Onde o coração de Jesus bate mais forte, ali também devo estar!”

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s quase 600 jovens que estavam divididos em 32 comunidades retornaram ao Seminário Santo Antônio, em Agudos (SP), para o encerramento da 5ª edição das Missões Franciscanas da Juventude. Antes mesmo de amanhecer, os primeiros ônibus foram chegando. A primeira atividade do dia foi a missa de encerramento, que foi presidida pelo Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel e concelebrada por Frei Diego Melo, Frei Carlos Pierezan, Frei Alessandro Nascimento, pároco da paróquia Santa Clara, de Bauru, Frei Sílvio Trindade Werlingue, pároco da paróquia São Paulo Apóstolo, de Agudos, e por diversos frades e religiosos. A celebração contou ainda com a presença das Irmãs Franciscanas Concepcionistas do Mosteiro de Piratininga, que foi um dos locais de missão. A igreja estava repleta de jovens missionários, de voluntários e das famílias que acolheram os jovens. O clima era de euforia! Dom Caetano Ferrari, bispo de Bauru e franciscano, esteve presente e deu uma palavra no início da celebração. Ele manifestou sua alegria e gratidão pelo evento, que movimentou as paróquias locais. Ele esteve também no Mosteiro de Piratininga, com o grupo de missionários. Ele se disse surpreso por encontrar jovens de tantos lugares e de tantas paróquias conhecidas por ele, do seu tempo de religioso franciscano e de animador provincial. “Vocês são frutos das bênçãos dos frades, e minhas também”, afirmou. Em sua homilia, Frei Fidêncio partilhou toda a alegria que sentia ao ver aqueles jovens reunidos. Ele afirmou que via no rosto dos jovens e dos frades um sonho realizado, recordando um encontro realizado em 2011, onde 79 jovens leigos de

paróquias da Província estiveram presentes para partilhar com os frades quais eram os anseios da juventude, ajudando os frades a pensar de que forma eles poderiam trabalhar com a juventude. A partir deste encontro, foi surgindo uma nova forma de trabalhar, tendo os jovens como protagonistas. O Ministro Provincial recordou o 1º Encontro Nacional, acontecido em Canindé (CE), e a 1ª Caminhada Franciscana, realizada em Guaratinguetá e Aparecida e todas as Caminhadas que aconteceram deste então, e as últimas 4 edições das Missões Franciscanas. Ele afirmou que não somente os frades se inquietaram para escutar os anseios dos jovens, mas a Igreja de modo geral, recordando o Sínodo dos Bispos deste ano, que abordará a questão da juventude. “Eu quis que vós estivésseis no centro da atenção da Igreja, porque já vos trago no meu coração.”, afirmou, citando o Papa Francisco. Frei Fidêncio ressaltou que estar no coração do Papa é estar no coração de um homem que deseja restaurar a Igreja, assim como aconteceu com São Francisco de Assis. Sobre o tema e lema das Missões: “Senhor, onde está meu irmão”, o frade afirmou que os jovens, nestes dias de missões, tiveram a oportunidade de encontrar o irmão em diferentes lugares: nas casas onde foram acolhidos, nas comunidades, nas famílias visitadas, nos presídios, nos hospitais, etc. Frei Fidêncio recordou que no documento preparatório do Sínodo dos Bispos, João é apresentando como modelo da juventude e explicou: “Este discípulo está muito perto do Senhor, está muito próximo de Jesus, está deitado no colo de Jesus, para talvez ouvir mais de perto o Mestre e Senhor. Nós também hoje somos chamados pelo Senhor a vivermos bem a nossa fé, a nossa vo-

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cação”, afirmou. E acrescentou que para ser seguidor de Jesus é preciso fazer um discernimento “justo e verdadeiro”, perguntando-se: onde está o meu irmão?. “A gente tem certeza de que está no lugar certo quando escutamos o latejar do coração de Jesus”, acrescentou o frade. “O latejar do coração de Jesus é forte quando nos encontramos com o pobre, com a pessoa ferida, machucada, excluída. É ali que o coração de Jesus bate mais forte”. E exclamou: “Onde o coração de Jesus bate mais forte, ali eu também devo estar!”. Frei Fidêncio concluiu sua homilia agradecendo aos jovens por sonharem os sonhos dos frades. “Vocês se colocaram nesse sonho de Deus que nós, há 7 anos, sonhamos. E continuamos a alimentar este sonho não numa fantasia abstrata, mas com os pés no chão, na realidade concreta da vida, assim como vocês experimentaram”, agradeceu. Ao final da celebração, a comissão organizadora fez os agradecimentos, de modo especial ao Frei Diego e Frei Gabriel Dellandrea, do SAV, ao Frei James Ferreira Gomes Neto, guardião do Seminário Santo Antônio e a Frei Fidêncio, que ganhou um abraço coletivo dos jovens.

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Encerramento TESTEMUNHOS Após a missa, os jovens foram convidados a escutar e partilhar um pouco das experiências de cada comunidade. Jovens de diversas realidades dividiram com todos um pouco do que viveram nas comunidades, como foi o caso de Catarina Marques Asprino, de Curitiba (PR). Ela ficou na Paróquia Nossa Senhora da Assunção e ajudou no Projeto Caná, que cuida de crianças em situação de vulnerabilidade. Ela afirmou que enquanto os jovens estavam cuidando do gramado, eles estavam mais do que fazendo um serviço braçal, mas rezando. Ela partilhou também a emoção ao visitar o Mosteiro das Irmãs Concepcionistas. “Nenhuma missão existe sem a oração, e estas irmãs fazem exatamente isto. Elas, os freis, as religiosas, são o alicerce da Igreja”, afirmou. Ela contou ainda da grande acolhida por parte dos evangélicos, durante as visitas nas casas. Gabriel e Paulo, que foram enviados para a Aldeia Ekeruá, deram seu testemunho a respeito da experiência. Eles afirmaram que foram com uma visão distorcida da realidade daqueles indígenas e saíram de lá transformados. Chamou a atenção o carinho com que eles foram recebidos e inseridos na realidade local. Eles falaram ainda do modo como a mídia coloca a questão dos indígenas e como as pessoas acabam julgando sem conhecer a realidade. “Meu pensamento era muito diferente, eu julgava, achava que era de um jeito, mas é de outro. Nós não podemos julgar aqueles que não conhecemos. Não somente o povo indígena, mas os moradores de rua, os dependentes químicos. Estas pessoas precisam de nós, não do nosso julgamento”, afirmou Gabriel. David, da Tribo Terena, que acolheu os jovens na aldeia agradeceu a confiança da equipe em enviar os jovens missionários. “Eles cumpriram a missão porque trouxeram para nós uma vivência diferente. Eles vão deixar saudades. Hoje já amanheceu diferente, sem eles lá”, afirmou. Em seguida, o grupo fez uma apresentação, com os indígenas e os jovens. João Paulo Dacol, de Curitibanos (SC), contou sua experiência no assentamento do Movimento dos Sem-Terra. Para ele, a experiência foi uma forma de mudar o seu olhar a respeito dos assentamentos. “A mídia distorce um pouco a si-

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Encerramento

tuação destas pessoas. Muitos têm a visão de que eles são vagabundos, ladrões, que roubam as terras, mas eles estão ali defendendo o direito deles. É só o que eles pedem, um canto para morar, um pedaço de terra para plantar. Eu tenho orgulho de ter este boné e dizer: MST, a luta é pra valer”, gritou, acompanhado dos outros jovens que estiveram no assentamento.

FREI DIEGO: “AS MISSÕES NÃO TERMINAM POR AQUI” Ao final dos testemunhos, Frei Diego Melo falou aos jovens. Ele afirmou que a experiência vivida nestes dias é muito forte, mas que precisa ser fortalecida nas casas e comunidades, através do engajamento nas comunidades, da atenção ao outro e da oração. Ele também colocou algumas questões importantes para a juventude, como aquilo que os jovens vivem e experimentam nas redes sociais. Ele pediu menos intolerância, mais respeito, menos julgamento e mais discernimento no compartilhamento de notícias. O frade falou ainda da importância do

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engajamento dos jovens na política, recordando uma frase do Papa Francisco. “O envolvimento político é uma forma de missão. Você foi na rua e levou um prato de comida para o pobre. É lindo, mas você está enxugando gelo. O nosso governo é quem está criando mais pobres e se a gente não se envolver, se a gente não abrir os olhos, a dificuldade, a pobreza, vai continuar”, afirmou. O frade pediu ainda cuidado dos jovens na polarização e atenção aos “falsos profetas” que despontam no cenário político. Ele afirmou que muitas vezes leem-se nas redes sociais discursos que não condizem com o carisma franciscano vivido nestes dias. “É impossível que um jovem cristão, que grita: sou franciscano com muito orgulho, com muito amor, apoie pessoas que se dizem preconceituosas abertamente, que cometem LGBTfobia, que falam mal dos negros, dos pobres e das minorias. É um contrassenso. Não basta dizer-se cristão e colocar uma Bíblia debaixo do braço. A bancada da Bíblia, que está lá em Brasília, está acabando com os nossos direitos”, desabafou.


Entrevista

A JUVENTUDE DE FREI DIEGO

O

catarinense Frei Diego Atalino de Melo assumiu o Serviço de Animação Vocacional da Província da Imaculada Conceição quando se tornou presbítero no dia 11 de fevereiro de 2012. Desde então, seu claustro passou a ser os conventos da Província da Imaculada e as rodovias que ligam os estados entre o Espírito Santo e Santa Catarina, território da presença dos frades da Imaculada. Quando um jovem o procura pedindo orientação vocacional, ele não mede esforços para se deslocar até o local. Há cinco anos, suas viagens aumentaram com as Missões Franciscanas da Juventude e a Caminhada Franciscana da Juventude, tanto em nível provincial como em nível nacional pela Conferência dos Frades Menores do Brasil. Esbanjando juventude aos 34 anos, Frei Diego transita à vontade no meio dos jovens. Sua personalidade afável, afetuosa e fraternal lhe rende uma lista invejável de seguidores na sua página do Facebook. Isso, contudo, não é motivo de grandeza para ele. Fiel discípulo apaixonado por São Francisco de Assis, este frade cativa pelos gestos simples. Esse testemunho é um prato cheio para o jovem. Essa personalidade vem do seio de sua família e da participação que tinha na comunidade quando jovem. “Gostava de visitar um jovem que tinha deficiência física e mental e que morava próximo à minha casa. Certo dia, ao visitá-lo e ao aproximar-me dele, ganhei um abraço seu, o que não era tão comum, tendo em vista que ele era sempre muito agitado. Chegando em casa, contei para minha mãe e ela, então, disse-me que era para eu nunca esquecer daquele gesto, pois na verdade era o próprio Jesus que estava me abraçando. Nunca mais me esqueci daquele momento. Hoje, ao olhar para a minha própria história, percebo o quanto Deus foi

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Entrevista falando comigo por meio de pessoas e acontecimentos concretos. Portanto, posso dizer que foi nos gestos mais simples e na concretude da vida com suas dificuldades e sofrimentos que fui descobrindo a voz de Deus a me chamar”, revela. Filho de Roselei Maria e Alfredo Adenir Melo, Frei Diego nasceu no dia 26 de agosto de 1983 em Lages (SC). Vestiu o hábito franciscano em 2004, na cidade de Rodeio, e professou solenemente na Ordem Franciscana no dia 5 de novembro de 2009. Nesta entrevista, Frei Diego fala das Missões, dos desafios dos jovens e da Igreja, da revolução digital que atrai o jovem especialmente, do Sínodo etc. “Entender os seus dramas, a sua realidade, o seu universo, a sua rotina e os seus sonhos, talvez, seja o grande desafio da Igreja”, acredita o frade animador vocacional.

se trabalho evangelizador com a juventude. E, por fim, cada vez mais cresce dentro de mim o sentimento de fraternidade. É uma grande alegria perceber a adesão cada vez maior de nossos frades, que participam, interagem, fazem amizades e se aproximam dos nossos jovens. Tudo isso me faz perceber o quanto a juventude também pode contribuir para a renovação de nossa vida franciscana. Sempre digo que toda essa movimentação nos motiva a darmos uma resposta atualizada e juvenil de nosso carisma. A presença e o apoio do Governo Provincial também nos dão a garantia de que esse trabalho tem futuro, pois não se trata de um sonho ou projeto pessoal, mas de uma iniciativa nascida e sustentada pela fraternidade.

ACOMPANHE!

Desde as primeiras edições, o que mudou? Frei Diego - Penso que ao longo dos anos fomos amadurecendo e principalmente aprendendo a fazer ‘com’ os jovens. Dentre tantas inovações, destacaria as seguintes: aumento de um dia de missão, envio de subsídios para a preparação dos jovens nas suas próprias paróquias, comunicação mais eficaz através do aplicativo das Missões, aumento da consciência de que a Missão é contínua e deve acontecer nas próprias paróquias e fraternidades, cuidado e atenção à equipe de preparação das Missões com retiros e encontros de espiritualidade, criação de uma identidade e consciência mais crítica dos nossos jovens que vem nos acompanhando ao longo do tempo e uma adesão afetiva e efetiva da vida da juventude por parte da Província. E a lista não termina aqui, pois a cada ano, após a realização das Missões, sempre temos a possiblidade de avaliarmos, revermos, repensarmos e procurarmos acertar nossa caminhada no compasso do Evangelho e da Juventude.

Como se sente vendo o crescimento deste trabalho evangelizador na Província? Frei Diego Melo - O primeiro sentimento que nasce é o de continuidade. Digo isso pelo fato de que toda essa movimentação com a juventude é fruto dos encontros provinciais, iniciados em 2011, como resposta ao Congresso Missionário Franciscano acontecido em 2008, em Córdoba, na Argentina, quando pediu-se uma maior aproximação entre os frades e os jovens. Daquela pequena semente que o Frei Toni Michels, então Secretário para a Evangelização e Missão, plantou no coração dos nossos jovens, começou toda uma movimentação e articulação em nossa Província, de modo que temos a alegria de estar ainda semeando e ao mesmo tempo colhendo os frutos desse trabalho. O segundo sentimento é o de responsabilidade e pleno envolvimento. O trabalho com os jovens não escolhe dia, hora ou local. Através das mídias sociais e dos meios de comunicação, a proximidade com a vida concreta de nossos jovens é muito intensa. Tenho consciência de que muitos deles procuram em nós, frades, um referencial para suas escolhas, decisões, buscas e inquietações. Daí que o nosso testemunho diário, a nossa adesão ao projeto de Jesus e a nossa postura diante das mais diferentes realidades da vida fazem parte des-

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O trabalho com os jovens só fica restrito às Missões e Caminhadas?


Entrevista Frei Diego - Com o crescimento das Missões e Caminhadas, foi nascendo também a necessidade de darmos uma formação continuada para os nossos jovens. Após os grandes eventos, existe sempre uma procura muito grande por conhecer mais sobre o carisma franciscano, aprofundarse, dar razões para a sua fé e entender melhor a nossa proposta de vida. Desse modo, juntamente com a Irmã Isabel Simeoni, das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, que sempre foi uma grande parceira em todas as nossas atividades com os jovens, iniciamos há 4 anos uma proposta de retiros temáticos, que, na verdade, são encontros para lideranças juvenis baseados nos pilares de nossa espiritualidade franciscana: presépio, eucaristia e cruz. Para a nossa alegria, após termos concluído os 3 anos de formação, os próprios jovens sentiram a necessidade de também serem protagonistas desse carisma, transmitindo a outros jovens toda a bagagem adquirida. Daí nasceu o Encontro de Formação Franciscana Alverne, assessorado pelo Frei Vitório Mazucco e realizado em outubro de 2017 em Santo Amaro da Imperatriz, contando com a participação de 60 jovens. A realização desse encontro foi a concretização de um sonho de ver a juventude assumindo o seu protagonismo. Esta iniciativa foi totalmente preparada pelos jovens Willian Bressan, de Concórdia (SC), Laís Costa, de Águas Mornas (SC), Mariana Rogoski, de Curitiba (PR) e Ângela Soares, Edson e Bianca Menezes, ambos de Balneário Camboriú (SC), que foram os pioneiros nesses retiros. Além disso, o Serviço de Animação Vocacional tem procurado dar uma atenção especial aos grupos de jovens de nossa Província, com visitas, encontros, celebrações e retiros nas suas próprias paróquias. Disse o Papa Francisco: “Este é o Sínodo dos jovens e todos nós queremos ouvi-los. Cada jovem tem algo a dizer aos outros, tem algo

para dar aos adultos, aos sacerdotes, religiosas, bispos e ao Papa”. A Igreja está pedindo para os jovens falarem. Você vê jovens se movimentando para falar, para buscar esse protagonismo? Quais as suas expectativas para esse Sínodo da Juventude? Frei Diego - Penso que antes de tudo é preciso entender a linguagem dos jovens. Muitas vezes, a sua própria ausência em nossas igrejas ou o seu silêncio é também uma fala que precisa ser ouvida. Entender os seus dramas, a sua realidade, o seu universo, a sua rotina e os seus sonhos, talvez, seja o grande desafio da Igreja. Na lida com as diferentes juventudes, percebo uma sede de assumirem um protagonismo na Igreja e na sociedade, mas isso frequentemente não se adequa aos moldes que a instituição espera e impõe. Sinto que dentro deles há uma grande capacidade e criatividade para o bem, para o belo e para o bom, mas, muitas vezes, isso não é potencializado e que acabamos perdendo. Mais do que ensinar ‘para’ os jovens, penso que é tempo de aprendermos a fazer ‘com’ os jovens. Assim, tendo em vista que o Sínodo começou com uma grande consulta da juventude de todo o mundo acerca de diferentes temas, espero que esse seja um verdadeiro momento de construirmos um caminho conjunto com as nossas juventudes e de ouvi-los de coração aberto. A juventude está de fato mais afastada das religiões na atualidade? Frei Diego - Segundo dados do Censo de 2010, 11,5% dos jovens se declaram como ‘sem religião’. No entanto, esse dado não deve ser lido como uma negação da existência de Deus ou um crescimento do ateísmo. Boa parte desses jovens que se declaram sem religião o fazem por não estabelecerem vínculos com as instituições religiosas, principalmente aquelas herdadas pela família ou pela tradição. O que podemos constatar é que a busca pelo sagrado continua latente no coração da juventude. O que acontece é que eles não se sentem intimidados em transitar por várias denominações religiosas, pois já não enxergam a instituição religiosa como sendo a única

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Entrevista produtora de sentidos religiosos, nem como portadora exclusiva das verdades da fé. Se antigamente as identidades religiosas estavam atreladas às tradições herdadas da família, atualmente os jovens procuram construir suas convicções religiosas a partir das suas experiências pessoais, sem dar tanta importância para as suas raízes ou tradições. Consequentemente, corre-se o risco de reduzir a fé e a religião simplesmente ao âmbito privado e íntimo, sem nenhuma relação com a comunidade e com o meio que se vive, onde cada qual cria a sua própria espiritualidade a partir das suas necessidades. Assim, a partir dessa constatação bem como da própria convivência com os jovens, estou convencido de que eles estão valorizando muito mais a sua fé pessoal do que a materialização de uma instituição. Nesse sentido, um dos desafios atuais é ajudá-los a perceber o aspecto comunitário da sua fé, que não pode ser reduzida ao mero âmbito da satisfação pessoal. Através de nossas atividades com os jovens, estamos tentando dar sentido à sua existência, ao mesmo tempo que procuramos mostrar a importância da vivência e partilha em sua própria comunidade, da necessidade de se criarem vínculos com as pessoas bem como fortificar a sua própria identidade religiosa. A experiência religiosa tem outros impactos na vida social dos jovens, na adoção de determinados valores e práticas como, por exemplo, a valorização da caridade, da política, da ecologia? Frei Diego - Certamente que sim. A maneira como entendemos e experimentamos a presença do Sagrado, como compreendemos Jesus e acolhemos o seu Evangelho, determina também o modo como nos relacionamos com todas as realidades que estão à nossa volta. O Evangelho e a práxis de Jesus tornam-se balizas para determinar e encorajar nossos jovens a assumirem posturas cada vez mais coerentes com a sua fé, descartando, assim, toda forma de dicotomia entre fé e vida, sagrado e profano, igreja e sociedade. Para quem realmente entende a mensagem de Jesus, sua vida concreta, suas opções, sua maneira de ver o mundo, de se

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relacionar com as coisas, as pessoas, a política e tudo o que está à sua volta, deve ser transformado e permeado por essa experiência religiosa. Que aspectos positivos e negativos você vê para o mundo digital e a formação da nova geração de jovens? Frei Diego - Como aspectos positivos, vejo a possibilidade de se encurtarem as distâncias, a facilidade de se promover a Cultura do Encontro, de encontrar-se com o diferente, de buscar novos conhecimentos e novas realidades. Há também a facilidade de comunicação e de difusão da mensagem do Evangelho, que não se dá simplesmente pela multiplicação de mensagens religiosas, mas principalmente pela forma como nos relacionamos com os demais. Dentre tantos perigos, penso que o Papa Francisco, na sua mensagem desse ano para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, ressaltou o desafio e o estrago que as fake news causam em nossas vidas concretas. Trata-se do perigo da desinformação e de colocar em descrédito a pessoa do outro, vendo-o como inimigo a ser eliminado, desmoralizado, ofendido e ridicularizado. Outro perigo que percebo é a possibilidade de um isolamento e distanciamento da realidade concreta. É preciso vencer a barreira do virtual e tocar com as próprias mãos a vida das pessoas, dos seus desafios e das suas dores, pois o virtual e o digital não devem excluir o contato real e presencial. Se a internet é um mundo no qual as pessoas se relacionam e partilham tudo, terá Deus um espaço nele? A fé e a religião têm vez e voz na nova cultura? Frei Diego - Todo processo de Evangelização acontece sempre dentro de uma cultura e de um tempo específico. Assim, se hoje a nossa cultura moderna é marcada pela rede digital e pela inter-


Entrevista net, é imprescindível que a nossa evangelização também esteja integrada e dentro desse universo. Para o Papa Francisco, “a rede digital pode ser um lugar rico de humanidade”, de modo que lá também a Igreja deve se fazer presente, ir ao encontro dessas pessoas, em primeiro lugar para conhecê-las e ouvi-las, como servidora e como mãe. Para o mundo juvenil, composto basicamente de nativos digitais, a evangelização, a identificação religiosa, a afirmação e propagação de sua fé passam, necessariamente, pela cultura digital, de modo que se torna imprescindível que o nosso testemunho cristão também seja dado dentro desse ambiente digital. Para encerrar, comente a frase do Papa: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra no

mundo. É a janela e, por isso, nos impõe grandes desafios”. Frei Diego - Penso que o jovem será a janela do futuro na medida em que o aceitarmos como a marca do presente. Na medida em que o considerarmos não apenas como alguém que hoje não é e que amanhã será, mas como sujeito da história presente e que determinará o futuro de nossa humanidade e de nossa Igreja, entenderemos todo o potencial dos jovens e o faremos protagonista da sociedade e da Igreja. Aceitá-lo como realidade teológica é entender que Deus também se manifesta e nos ensina através dele. Afinal, como diz a bela canção de Jorge Trevisol, ‘o rosto de Deus é jovem também’.

Isto é Frei Diego!

Entrevista a Moacir Beggo


Depoimento

A FRATERNIDADE QUE NASCEU na preparação dAS MISSÕES

Jaqueline (à esq.) estreia e assume liderança

A

té a MFJ 2018 tinha participado apenas de um trecho da Caminhada Franciscana da Juventude de 2016. Depois, vi alguns jovens de minha Paróquia Santo Antônio se mobilizarem para participar da MFJ e CFJ 2017, em Curitiba (PR) e Rodeio (SC), respectivamente. Em junho do ano passado, saindo de uma das missas na Paróquia, fui convidada a participar da reunião que já estava em andamento na Paróquia em preparação à MFJ 2018. O convite que recebi era para apenas tomar conhecimento da 5ª MFJ e, assim, contribuir na organização, representando a Paróquia. Prontamente aceitei o convite e acabei membro da Comissão Central da 5ª MFJ e também fui escolhida pelos jovens de minha Paróquia como uma das integrantes da Comissão de Organização do Acampamento que aconteceu

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em outubro do ano passado com os jovens que fizeram parte também da Comissão Central da 5ª MFJ. Depois de junho tivemos duas reuniões mensais até outubro, pois trabalhávamos pensando na 5ª MFJ e também no acampamento para aprofundamento espiritual dos jovens integrantes da comissão. Às vésperas do acampamento, Frei Diego me convidou para ser uma das guardiãs das Fraternidades e vivi, junto com meus filhos do coração, uma experiência maravilhosa de amor a Deus. De outubro para cá, o tempo voou. Estávamos às vésperas da 5ª MFJ e todos compartilhando uma grande ansiedade. Em novembro do ano passado fizemos um retiro em “nossa casa”, o Seminário Santo Antônio de Agudos, muito importante para o aprofundamento espiritual de todos integrantes da Comissão Central. A MFJ se aproximava e, como estava de férias do trabalho, tão logo passadas as festas de final de ano, dediquei grande parte do tempo que tive disponível ao preparo das atividades que aconteceram em minha comunidade (setor matriz da Paróquia de Santo Antônio) e também da equipe de mediadores da MFJ, para a qual fui convidada a participar para somar e contribuir com os outros mediadores, meus irmãos de comunidade, Karina e Matheus. Foram dias intensos, muitas horas dedicadas ao preparo de tudo o que envolvia a realização da MFJ em minha Paróquia, em meu setor e também na equipe de mediadores. Poucas horas de sono, muita ansiedade e preocupação. Durante esse tempo renunciei muitas vezes ao convívio da minha família e namorado, mas ao


mesmo tempo, por diversas vezes eles estavam comigo, me auxiliando no que precisava. O cansaço foi intenso, assim como a alegria de já ver a MFJ acontecendo mesmo antes do seu início. “Senhor, onde está o meu irmão? e Vem e segue-me” foram o tema e o lema propostos para esta MFJ. E como vivi intensamente essa proposta enquanto preparava as atividades em meu setor, juntamente com as pessoas que contribuíram direta e indiretamente para que esta missão acontecesse. Como também vivemos o ‘ir ao encontro do outro’ na Comissão Central, nas subdivisões de equipes e no preparo das atividades. Todos nós nos unimos por esta causa. Todos fomos seguidores de Cristo, nas pegadas de São Francisco, colocando-nos à disposição do outro e indo ao encontro deste nas diversas frentes de trabalho. A MFJ já acontecia entre nós da Comissão Central antes da chegada dos missionários. E, com a chegada destes, pudemos vivenciar mais profundamente essa experiência, pois além do que nos fora proposto enquanto servos desta comissão, muitos de nós também saímos em missão com essa juventude, indo ao encontro das diferentes realidades de vida nas diversas atividades que foram propostas pelos setores em seus campos de missão. E, no meu caso, não pude acompanhar os missionários do meu setor em missão, mas na partilha de cada um, vivi um pouco da experiência que tiveram no encontro com o outro nas diferentes realidades de vida que encontraram. Com a mesma intensidade dos que saíram às ruas e que tiveram contato com outras realidades de vida, o meu campo de missão se restringiu à minha comunidade, mais precisamente ao salão

de festas da igreja, que carinhosamente apelidei de ‘QG’. Ali vivi o meu encontro com cada um dos missionários que lá estiveram e suas realidades de vida. Foram pouco mais de 48 horas de convívio, mas 48 horas intensas. Se pensarmos, nem é tanto tempo assim, mas o suficiente para criarmos vínculos afetivos uns com os outros e formarmos, de fato, uma grande fraternidade, como ensinanos São Francisco de Assis, a grande fraternidade de filhos e filhas de Deus. Tive a oportunidade de dizer, no encerramento da MFJ e também em nossa reunião de avaliação em 26 de janeiro, que gratidão é a palavra que fica. Gratidão a Deus por tudo o que vivemos, por todos os que se doaram e contribuíram direta e indiretamente para que essa MFJ acontecesse, gratidão à família missionária que esteve em meu setor e também aos irmãos e irmãs de Agudos, pois a MFJ me possibilitou conhecer todos os que fizeram parte da Comissão Central e por eles ser acolhida com imenso carinho. Formamos também uma grande fraternidade, uma grande família. Gratidão aos Freis Diego e Frei Gabriel, a quem carinhosamente me refiro como a dupla ‘Batman e Robin’, tamanha afinidade e cumplicidade entre eles. Gratidão por cada um ser a presença real de Deus em minha vida, assim como a Ir. Isabel Simeoni, pela amizade e carinho, pela generosidade e doação, por me acolherem com imenso carinho e por me ensinarem a ser uma franciscana de verdade.

Jaqueline Cardoso Bauru (SP

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Depoimento

Missões FranciscanaS da Juventude provocam “estragos”

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nalisando a conjuntura política, social e religiosa atual eu penso que vivemos uma época de corrupção, egoísmo e rigorismo. Nem tudo está perdido, mas, estamos em crise no que se refere à honestidade: desde políticos roubando milhões ao “jeitinho brasileiro” para se sairem bem nas coisas. Suponho também uma crise no âmbito social pois, como já dizia o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, vivemos uma era de relações líquidas, onde o outro é visto somente para satisfazer a minha necessidade. E no âmbito religioso cristão vejo pessoalmente um desejo maior de julgar do que de acolher, principalmente nas mídias sociais, onde a palavra herege é dirigida para alguém, suponho eu, mais vezes do que na época da inquisição. Não é pessimismo e sim um realismo. E essas e outras realidades, com maior e menor intensidade, aparecem na vida dos jovens. Muitos estão desacreditados no que se refere à política,

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ou estão à parte no que tange ao pobre, ao marginalizado, ao excluído ou àquele que está preso ou na rua. Outros vivem apegados a um rigorismo condenatório que permite agir e pensar sem misericórdia. Isso tudo vemos pelas redes sociais, o principal campo onde cada um pode omitir opiniões e julgamentos. Por isso vejo que as Missões Franciscanas da Juventude provocam “estragos” aos olhos dos que são voltados somente para si, fechados no seu egoísmo de querer ter mais ou apegados ao rigorismo da lei. Durante a preparação da MFJ, a preocupação era a de encontrar meios para que os jovens entrassem em contato com os menos favorecidos, com os doentes, com os excluídos, com os condenados por causa da cultura que têm ou da luta que buscam. Isso é uma bobagem para quem está voltado somente para si. Para ele, um jovem missioná-


Depoimento rio que faz isso está perdendo tempo. Para a comissão de preparação da Missão esse jovem é alguém que aprende com a prática, que vai ao encontro do irmão necessitado, que cria laços com quem a sociedade egoísta quer criar barreiras. A preparação das Missões Franciscanas da Juventude também deixou “estragos” na comissão, aos olhos de quem quer só acumular. Homens e mulheres dedicando o seu tempo para deixar tudo da melhor maneira possível. Alguém até fechou o seu comércio durante os dias da missão para poder estar inteiramente nos trabalhos que assumiu fazer. Ela afirmou que não estava nem mais rica, nem mais pobre, porém ela havia ganhado muito mais do que se a tivesse deixado aberta. Para uma mente doente por ter bens materiais isso não tem valor algum, mas para quem tem em vista o Reino de Deus foi uma graça. Outra experiência maravilhosa foi a oportunidade de conviver com confrades, sacerdotes e irmãs consagradas que dedicaram-se por inteiro na preparação e execução da missão. Isso é mais um “estrago” aos olhos de quem vê o homem e a mulher somente como possibilidade de mão de obra e procriação. Nesse caso, um celibatário é uma vida perdida. Entretanto, só consegui ver paternidade e maternidade nos olhos daqueles que se fizeram “solteiros por causa do Reino dos Céus”. Eu vi neles um desejo sincero de ser e fazer acontecer. Desde aquele que deixou o Seminário Santo Antônio uma casa mais que aconchegante até aquela que de joelhos dedicou sua oração aos jovens missionários. Isso é uma fecundidade pois

para muitos jovens os religiosos são pais e mães na fé e na vida. Também durante a missão um outro “estrago” foi feito aos olhos daqueles mais apegados às leis. O jovem viu no outro seu irmão em primeiro lugar. Indiferente se este é “casal de segunda união”, se é índio, se é do MST, se é doente, se é cego, se é evangélico, se é homoafetivo, se é usuário de drogas, se é encarcerado, se é pobre. O importante ali era amar realmente o próximo. Não que todos consigamos, mas uma primeira tentativa já é um grande passo. Isso é um “estrago” para quem vê o outro a partir das leis de pureza ou impureza. Enfim, durante a missão e na sua preparação a experiência foi de encontro, de ruptura, de crescimento. Creio que a MFJ “estragou” muitos jovens levando-os às periferias sociais e existenciais, mostrando o Deus que mora lá. Acredito que esses jovens voltaram para casa com algumas minhocas na cabeça. Talvez agora eles vão ver o povo indígena como uma linda cultura que tem muito a nos ensinar e não como usurpadores de terra. Aliás, eles já estavam aqui primeiro. Quem sabe agora esses jovens não vão mais aceitar só ser mais um na Igreja, mas eles vão querer ser Igreja, e pelo seu jeito jovem vão cometer acertos e alguns deslizes. Mas eles sabem que a missão deles é levar a todos o amor de Deus. Agradeço a toda a comissão de organização pelo excelente trabalho e também à Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil que se esforça para fazer o Reino de Deus acontecer entre nós!

Frei Gabriel Dellandrea

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Sínodo

O Sínodo da Juventude e o Protagonismo Juvenil

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s jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Eis que a Igreja encontra-se às portas da realização de mais um Sínodo dos Bispos, desta vez debruçandose atenciosamente sobre o tema da Juventude. O encontro será entre os dias 3 e 28 de outubro deste ano, em Roma. Muitos passos já foram dados, como a Convocação do Papa Francisco, a apresentação do documento preparatório, a fase das consultas às bases, a nomeação dos responsáveis pelos diversos serviços. Em cada uma destas etapas, o tema do Prota-

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gonismo Juvenil tem sido uma espécie de fio condutor. Entende-se por protagonismo a consciência de que os jovens não são meros destinatários de conteúdos doutrinais ou de planos pastorais, mas participantes ativos da vida e da missão da Igreja. O Papa Francisco, entusiasta da presença e da participação dos jovens, tem sido o principal incentivador deste protagonismo. Diversos são os pronunciamentos nos quais o Santo Padre dirige palavras de incentivo e de acolhida à juventude. Assim ele se expressa na Carta de Apresentação do Documento Preparatório para o Sínodo:


“Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas críticas” (Papa Francisco). Uma Igreja com ouvido e coração abertos para a voz do Senhor que se faz ouvir no clamor dos jovens é o sonho do Papa para este Sínodo da Juventude. Seguindo as trilhas do Pontífice, o Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores (OFM), Frei Michael Perry, também deseja que a força da juventude seja ânimo novo na vida da Comunidade Cristã. Em carta por ocasião da Convocação do Sínodo, Frei Michael escreve aos frades:

“Caros Irmãos Menores, chamados pelo Senhor ‘a escutar com reverência aos demais com autêntica caridade e respeito (e) aprender com as pessoas com as quais vivemos (CCGG 93 paragrafo 1)’, o convite do Papa Francisco deveria ressoar profundamente em nossos corações e nas nossas mentes, e encontrar-nos dispostos a responder com humildade e reverência para ouvir os jovens a quem temos o privilégio de servir e a criar espaços onde suas vozes possam ser escutadas, para juntos prepararmos o Sínodo de 2018” (Frei Michael Perry, OFM). Além de acreditar e desejar ouvir a voz da juventude, a Igreja também tem consciência dos muitos desafios que se apresentam àqueles que vivem na atualidade esta etapa da existência: a pobreza, a falta de oportunidades, as injustiças, as drogas, a violência, a tendência à superficialidade nos relacionamentos humanos, entre outros. Nesta perspectiva, o próprio Documento Preparatório do Sínodo reconhece a necessidade de uma caminhada próxima e comprometida com a realidade concreta de jovens concretos, deixando de lado qualquer tendência à idealização: “Acompanhar os jovens exige sair dos próprios esquemas pré-fabricados, encontrando-os lá onde eles estão, adaptando-se aos seus tempos e aos seus ritmos; significa também levá-los a sério na dificuldade que têm de decifrar a realidade em que vivem e de transformar um anúncio recebido em gestos e palavras, no esforço quotidiano de construir a própria história e na busca mais ou menos consciente de um sentido para as suas vidas” (Documento Preparatório). A caminhada já começou. Muito ainda precisa ser trilhado. Aos jovens, cabe acreditar na voz do Senhor que fala no profundo de suas consciências. Esta voz leva a um discernimento sério e seguro do caminho a ser seguido e dá força e firmeza para superar os muitos obstáculos que se apresentam na estrada do seguimento de Jesus. Conectados a esta força que vem do alto e de dentro, assumem a responsabilidade de ser presença de Jesus no mundo. Com seus gestos, atitudes e palavras, encarnam o jovem Cristo do Lava-pés colocando-se a serviço da construção do Reino de Deus.

Frei Gustavo Medella

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Partiu Rio

Chegou a vez do Rio

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omo foi feito desde a primeira edição, ao final das Missões Franciscanas anunciou-se a próxima cidade-sede. Com a comissão organizadora deste ano, Frei Diego e Frei Gabriel confirmaram a Cidade Maravilhosa como a sede das Missões 2019, que acontecerão em julho, devido à Jornada Mundial da Juventude do Panamá, que acontece em janeiro, e por causa do forte calor carioca e da alta temporada. A data ainda não foi escolhida, mas envolverá as paróquias franciscanas do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense. Os jovens cariocas

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fizeram uma grande festa e receberam das mãos da comissão das Missões 2018 o tau, símbolo do encontro.

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Ao final, Frei Fidêncio comunicou aos jovens que foi pedido para a Província, através de uma carta do Ministro Geral, Frei Michael Perry, um momento de partilha com os Ministros Gerais em Roma, sobre o trabalho com juventude. “Vocês vão ter 40 minutos de fama dentro do Sínodo. Os Ministros de todas as Congregações, de todas as Ordens religiosas, querem conhecer como é a experiência concreta que estamos vivendo”, afirmou. Com Frei Diego, irá Mariana Rogoski, de Curitiba (PR), representando os jovens leigos. O encontro acontecerá no final de maio.


Partiu Rio

“Pode vir MFJ 2019!”

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ue desafiador receber do próprio Cristo esse chamado à Anunciação. Esse convite provocativo de sermos nós os proclamadores da Boa Nova. Confesso que depois desse ano de dúvidas e anulações fiquei inquieta com esse chamado que me tocou aos 45 do segundo tempo; e era quase um “FlaFlu” no ‘Maraca’, correr contra o tempo, contra as dificuldades internas e externas e me lançar aos braços do menino de Belém, que à luz de Francisco de Assis me deixou sem dormir por noites! Mas lá fui eu, com minha mochila cheia de vontade de fazer o que Jesus nos convida diariamente. Cheia de esperança, fui com a cara e a coragem me doar ao próximo, sabendo que eu também precisava de cura. Me colocando muitas vezes (e literalmente) na hospedaria, correndo para os braços do Eterno com lágrimas nos olhos e soluços no peito, tentando limpar tudo aquilo que me fez deixar de ser

quem eu sou, de viver meu carisma e minha fé. Sobre esses dias em missão, ouso afirmar que fui com o intuito de levar a Palavra, uma bênção que fosse para aqueles que ninguém vê, que ninguém ouve, que ninguém ama. Mas fui eu quem recebi amor, fui eu quem no rosto dessas pessoas encontrei Jesus e rezei, ri, dancei sentei-me à Sua mesa e pude assim purificar minha alma. Trago em meu coração um amor tão forte por esta causa que me constrange lembrar o quanto tantas vezes fui fraca, deixando-me levar por sensações que hoje me reduziriam a nada. Retorno para casa sabendo que a minha missão não acaba aqui, mas continua fazendo de mim cada vez mais instrumento de paz. Pode vir, MFJ 2019, te esperamos no Rio de Janeiro cheios de esperança, amor e é claro... muito samba no pé!

Thaís de Oliveira Duque de Caxias (RJ)

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Rio 2019

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Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil


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