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Profetas do diรกlogo e do respeito
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MaraVilhOSa
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COmUNICAÇÕES – AGoSto de 2019
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Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
AGoSto de 2019 – COmUNICAÇÕES
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ão existe adjetivo para usar neste título que melhor defina a 6ª edição das Missões Franciscanas da Juventude, no Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa viu uma juventude maravilhosa deixar a sua marca franciscana no domingo, 21 de julho, na Missa de Ação de Graças no altar montado na praia de São Conrado, em meio ao belíssimo cenário natural. Para completar ainda, Deus deu de presente um dia lindo, que ficou mais belo com as cores das camisetas confeccionadas para o evento, a alegria estampada nos rostos juvenis e a certeza de que esses jovens, como disse o Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, “levam no coração um grande tesouro”. A Celebração Eucarística, prevista para ter início às 8 horas, começou às 8h30 e só terminou às 11 horas. Não faltaram emoções. Frei Medella deu o tom quando iniciou com o sinal trinitário a Missa. “Voltem-se para trás. Olhem esta pedra da Gávea. Olhem que beleza, de ternura e de vigor. Esta pedra é Deus, sobre qual queremos edificar a nossa vida. Agora, vou con-
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tar até três, esquerda volver: Olhem esse marzão de Deus, Oceano Atlântico, praia de São Conrado. O mar é Deus e o barco sou eu e somos nós. Naveguemos sem medo neste oceano. E agora conto até três, esquerda volver: O Altar do Senhor, onde Ele se entrega para nós em Palavra e Pão”. Durante a oração pelos falecidos, Frei Gustavo Medella surpreendeu os jovens ao pedir que estes deitassem na areia para simbolizar um protesto contra a violência que ceifa vidas no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro. E não parou aí. Emoção para Frei Diego e Frei Vítor Alves, que trabalharam incansavelmente pela animação da juventude, para equipe organizadora e demais equipes das Missões. A emoção final ficou por conta dos jovens que vieram do Oeste Catarinense, quando Frei Diego anunciou a cidade de Xaxim como a sede das próximas Missões Franciscanas, de 29 de janeiro a 2 de fevereiro de 2020. Junto com as Missões, Xaxim vai sediar um evento internacional da Ordem dos Frades Menores, que é a
Serata Laudato Si’, que terá a terceira edição. A primeira foi em Roma e a Segunda no Panamá. Este evento é do Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação. Frei Diego já adiantou e pediu para os jovens que comecem a ler a Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, pois será a base das reflexões e ações destas Missões e da Serata Internacional. Toda essa festa na praia, com direito a um flash mob franciscano, terminou na Comunidade da Rocinha. Os jovens não esquecerem as lições que aprenderam nos cinco dias que passaram em diferentes realidades nas 9 paróquias franciscanas no Rio de Janeiro. Com bandeiras brancas, subiram em passeata até a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, de onde partiram para suas casas depois de um almoço fraterno. Antes de fazer sua reflexão, Frei Medella transmitiu um recado muito especial do Ministro Provincial, Frei César Külkamp, para os jovens: “A todos, o meu abraço apertado. Estou unido em oração, em vibração e entusiasmo com vocês. Também quero
aprender com vocês a ser um profeta do diálogo e do respeito”. Frei Medella disse que não conseguiria abraçar a todos e pediu que cada um abraçasse apertadamente quem estava do lado. Na sua homilia, deixou para os jovens três lições que tirou da Palavra de Deus deste domingo:
1ª) O seguimento de Jesus é uma escola de diálogo
Frei Medella disse que a casa de Betânia, onde Jesus estava com Marta e Maria, é uma escola de diálogo. “O verdadeiro discípulo, o verdadeiro missionário, o verdadeiro profeta tem que aprender a dialogar”, disse o Vigário Provincial, explicando que para haver o diálogo são importantes duas posturas: A primeira, a humildade. “O Papa Francisco diz: ‘Para dialogar, não preciso abrir mão das verdades em que eu acredito, mas preciso ter a humildade de pensar que não sou o único dono da verdade e que essas verdades são absolutas e inflexíveis’. Humildade para perceber que o outro tem as suas verdades e nós podemos nos encontrar num ponto comum.
A segunda é a disposição para ouvir. Ouvir de coração, ouvir atentamente, percebendo que o outro pode e tem algo a me ensinar. Não dá para ser discípulo missionário e profeta sem saber dialogar. E tenho certeza que nas experiências que viveram esses dias, muitos diálogos ocorreram e diversos deles sem palavras. Eu tenho certeza que muita gente, sem dizer uma palavra, ensinou demais a você nesses dias de missão”, explicou.
2ª) Dialogar é abrir o coração para o outro
“Quem foi bem acolhido pelas famílias nesses dias? Não foi bom?”, perguntou o celebrante, acrescentando que essa família abriu o coração, abriu as portas, até as portas da geladeira. “Eu ouvi dizer que teve gente que deu até prejuízo (risos) ao esvaziar a geladeira”, brincou. “Se fomos bem acolhidos, por que não podemos acolher o outro no nosso coração? Deixar o outro ali morar, recebê-lo como hóspede ilustre como Abraão, que recebeu aqueles três homens que eram a presença de Deus na vida dele
e de Sara e trouxe para eles a fecundidade do filho Isaac. O outro, quem quer que seja, é meu irmão”, disse. O frade partilhou com os jovens uma iniciativa na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Clementino (SP), que é de classe média alta, onde um grupo, semanalmente, visita a Cracolândia para levar sanduíches e chocolate quente. “Não resolve o problema daqueles que lá estão, mas é um gesto de carinho e de diálogo. Eu ouvi de um senhor o seguinte: ‘Depois que comecei a fazer esse trabalho, nunca mais olhei da mesma forma aqueles que vêm limpar o vidro do meu carro no semáforo’. Quem vê no outro um irmão, nunca vai fazer violência, nunca vai dar um tiro, nunca vai dar um tapa, nunca vai dirigir um insulto. E quem quer que seja. O pobre é meu irmão, o migrante é meu irmão. Por que o estrangeiro tem que ser considerado um adversário, um invasor? Por que os Estados Unidos estão com essa política que segrega, que trata mal quem chega, que separa os pais dos filhos, e deixa crianças morrerem naquelas instalações? A Igreja mfj 2019
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foi protestar e mais de 70 religiosos, inclusive franciscanos, foram presos porque disseram: ‘O migrante é meu irmão. O diferente é meu irmão. Todos somos irmãos’. Então, que nós tenhamos essa disponibilidade, essa disposição de escancarar a porta do nosso coração para acolher o outro. E quanto mais escancaradas estão as portas do nosso coração, mais Deus tem ali espaço para habitar, mais Jesus vem morar conosco e dar sentido à nossa vida.
3ª) Em nosso dia a dia somos Jesus, Marta e Maria
“Nós somos os três. Juntos e misturados. Cada hora um, às ve-
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zes ao mesmo tempo mais de um. Quando somos Maria ou nos colocamos como ouvintes atentos e interessados da Palavra? Quais foram os momentos de Maria que vivemos nesta missão? Em cada celebração, cada vigília, cada formação em que tivemos ouvidos atentos para aprender, para crescer, para compreender mais a profundidade do mistério de Deus. Para estarmos atentos aos diferentes modos pelos quais Deus nos fala. Vida de oração e intimidade com Deus. É o exercício que Maria fez aos pés de Deus ouvindo a sua Palavra. É o combustível para a nossa vida espiritual e para a nossa ação amorosa da caridade. Todos
nós temos e precisamos ter os nossos momentos de Maria”, ensinou Frei Medella. “E quando nós somos Marta?”, perguntou. “Quando o amor se encarna em gestos. Você foi Marta cada vez que ofereceu seu abraço sincero ao seu irmão que veio ao seu encontro. Quando deu um sorriso largo, botou a mão na massa. Aí eu me lembro daquele que trabalhou com pintura, aquele que trabalhou com foice e enxada, que pegou criança no colo - é um bom exercício de ternura e vigor, pois quando pega com ternura não ‘amassa’ a criança; e com vigor para não deixar cair -, cantou e dançou com idosos, em família, jogou futebol, fez comida, visitou presos, doentes, ajudou seu irmão”, detalhou, lembrando ainda das Martas nas equipes de coordenação, nas equipes de liderança que planejaram a missão, das famílias acolhedoras, dos trabalhadores que montaram a estrutura. Frei Medella pediu uma salva de palmas para as Martas das nossas Missões Franciscanas. “Nós dizemos que no nosso dia a dia somos Jesus, Marta e Maria. E quando somos Jesus? Quando cada gesto que você realizou aproximou a pessoa que recebeu esse gesto de Deus. É um gesto de salvação. É o sorriso que muda a vida de uma pessoa,
é a oportunidade, às vezes uma das únicas, que ele tem de se sentir amado. Cada palavra, cada gesto, cada momento, você foi Jesus na vida do outro. Isso é espetacular, isso é maravilhoso. É retomar a promessa que a serpente fez a Adão e Eva no Antigo Testamento, mas de um modo novo. No Gênesis, a serpente diz: ‘Vocês serão como deuses e terão orgulho, prepotência e o poder de pisar sobre os outros’. Agora, com Jesus, ser como Deus, significa colocar o avental, lavar a louça, limpar o banheiro, limpar o doente, colocar-se a serviço de quem precisa no momento em que ele precisa. Aí estamos sendo deuses uns para os outros. Presença real e viva de Jesus na vida dos outros. Essa vontade, esse entusiasmo, esse desejo de sermos presença de Deus uns para outros é o maior presente que vocês recebem nessa missão. Levem-no no coração como tesouro de grande valor, agregado a esta beleza natural e à beleza deste povo abençoado do Rio de Janeiro, que tão bem recebeu vocês em suas casas. Não tiveram distinção quando vocês entraram na casa deles. Era tudo de todos. Era nosso. Uma salva de palmas para o povo do Rio de Janeiro, sofrido mas valente; sofrido, mas alegre; sofrido, mas de braços abertos para acolher quem chega como o Cristo Redentor”, completou Frei Gustavo. A Santa Missa foi concelebrada por frades de todas as Paróquias Franciscanas onde os 600 jovens franciscanos foram acolhidos em dois dias de Missões: Porciúncula de Sant’Ana, em Niterói; Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rocinha; São João Batista, em São João de Meriti; Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis; São Francisco e Santa Clara, em Duque de Caxias; Sagrado Coração de Jesus e Santa Clara, em Petrópolis; e Nossa Senhora da Conceição, em Nilópolis, que era paróquia franciscana até recentemente e hoje é diocesana. Estavam presentes os frades estudantes de Teologia e Filosofia, seminaristas e povo de Deus, principalmente muitas famílias que acolheram os missionários.
O escultor João Vítor, de Campos do Jordão
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Pipoca ou Piruá?
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rei Diego Melo emocionou-se várias vezes no encerramento das Missões na praia de São Conrado. Com a sensação do dever cumprido, com a certeza de ter feito o melhor evento com os jovens da Província da Imaculada, mesmo enfrentando resistência por parte de algumas pessoas que não viam o Rio de Janeiro com a segurança suficiente para um evento deste porte, Frei Diego manteve o desafio de trazer os jovens para conhecerem um povo “sofrido mas valente; sofrido, mas alegre; sofrido, mas de braços abertos para acolher quem chega como o Cristo Redentor”, como disse Frei Gustavo Medella, e experimentarem novas realidades em suas vidas. “Vocês conheceram várias realidades aqui no Rio de Janeiro: Estiveram na Serra, na Baixada, aqui no Rio e em Niterói. Enfim, em todas as nove paróquias que acolheram vocês. Agora, a partir desse momento que pisaram, conheceram, experimentaram, partilharam e ouviram as histórias é importante que a cabeça comece a refletir a partir desta realidade. E por que estou dizendo isso? Para que a gente não reproduza discursos que, às vezes, maculam, mancham, a imagem desse povo tão querido, que, sem dúvida, fica triste de ser reduzido, quem sabe, a um
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‘Estado de violência, de marginalidade e de tráfico’”, disse. Frei Diego pediu: “Repliquem e reproduzam nas redes sociais onde vocês estiveram e falem para suas famílias e amigos: ‘Eu conheci o Rio de Janeiro! O Rio de Janeiro é maravilhoso! O Rio de Janeiro é um lugar bom para se viver. O Rio de Janeiro está cheio de gente querida e acolhedora. Então, é importante que a gente dê um outro passo agora. Um passo de consciência mais crítica. Nós vivemos num tempo em que falar de paz e amor está fora de moda. Estão falando de arma, de ódio e de violência. E se você apoia esse tipo de discurso, esse tipo de posicionamento, lembre-se: você está apoiando o extermínio desse povo que você conheceu e o colocou dentro da casa dele”, provocou. O frade conclamou os jovens a aderirem “à causa do amor, da paz, do diálogo, do respeito, sejam quais forem as diferenças. Então, essa tem que ser uma mensagem para ser espalhada. Nós acreditamos no valor dessas pequenas iniciativas e que podem transformar o todo”, insistiu. Frei Diego lembrou uma crônica de Rubem Alves, que fala da pipoca. Segundo o autor de “Pipoca”, o milho deve ser aquilo que acontece depois do estouro. “Imaginem, vocês são todos como milhos de pipoca.
E vocês, jovens, têm um valor, um potencial muito grande. Quando você é colocado no fogo, quando é colocado à prova, quando é desafiado a dar um pouquinho mais, a gente tem uma escolha: ou ser como aquele milho de pipoca que estoura e de repente descobre que pode passar de um milho duro para uma pipoca macia e gostosa que alimenta ou pode ser aquele ‘milhozinho’ (piruá) fechado lá no fundo da panela. Vocês, jovens, são como esse milho. Tem um potencial, uma criatividade muito grande. Foram vocês que fizeram essa missão”, elogiou. “Ontem, uma senhora me disse: ‘Frei, diga para aqueles jovens o quanto eles têm capacidade de transmitir Deus, o quanto eles nos evangelizaram’. Vocês têm esse dom. Portanto, não fiquem fechados no medo, na incerteza, no egoísmo, no preconceito. Se abram e se tornem pipocas e alimentem as pessoas que têm fome de Deus, de solidariedade, fome de abraço, fome de paz e bem. Portanto, juventudes, não percam o valor e grandiosidade que vocês têm!”, exortou. Nos agradecimentos, a lista foi longa. “Tudo isso aconteceu por obra de Deus. Todo esforço não só da equipe, mas de vocês, que conseguiram dinheiro e se esforçaram para estar aqui. Olhem para o céu. E Deus foi tão generoso que deu esse céu tão lindo para nós!”, comemorou Frei Diego. Depois, agradeceu às equipes que trabalharam incansavelmente, às Paróquias e ao Convento Santo
Antônio, que “nos ajudaram muito”. “O nosso muito obrigado à Catedral e ao pároco Cláudio Santos, assim como à Arquidiocese, que nos acolheram aqui. Agradeço à nossa Província da Imaculada, que investe e acredita em vocês, na pessoa do Vigário Provincial Frei Gustavo Medella. Queremos agradecer à Família Franciscana, a todos indistintamente. Obrigado aos jovens que vieram da Bahia. Queremos agradecer aos jovens de Minas Gerais, aos jovens da Província de São Francisco (RS) e aos da Custódia do Sagrado Coração de Jesus (SP)”, detalhou, citando os apoios da Editora Vozes e da Associação Bom Jesus, assim como outras empresas e cooperativas que deram suporte. Por último, os protagonistas deste evento: os jovens. No final pediu para Frei Gustavo dar a bênção final, mas foi surpreendido com uma homenagem justa. “Antes de dar a bênção, eu vou propor que todos possamos dar a bênção a uma figura que sintetiza toda beleza, todo empenho dessas nossas Missões. Frei Diego, eu vou pedir que você se coloque de joelhos diante desses a quem você serve com tanto empenho diante de nossa Fraternidade. Eu convido a todos, confrades, juventudes, irmãos e irmãs das Paróquias que estendamos nossas mãos sobre ele. No silêncio, cada um coloque a sua prece. Pelo Frei Diego, pela evangelização dos jovens, pela construção da paz”, pediu, dando em seguida a a bênção de São Francisco. mfj 2019
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DEPOIMENTOS
Durante a Celebração Eucarística do domingo (21/7), Frei Diego pediu que três jovens fizessem depoimentos para representar a todos. Mas pediu que os jovens enviassem depoimentos para o acervo das Missões. O jovem Ari, de Vila Velha, falou
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da experiência marcante que foi na Casa da Solidariedade com os moradores em situação de rua. Falou da força que pode significar um abraço para uma pessoa que perdeu tudo. Já João, da cidade de Agudos, e Lucas, da cidade de Duque de Caxias, encarnaram a parábola do bom samaritano nas vie-
las da Rocinha, quando ajudaram um homem que não conseguia sequer se levantar, tal o estado em que se encontrava depois de muitas doses de álcool. João se emocionou muito ao falar do estado deste homem e lamentou que a sociedade se acomode diante desses casos. Esse senhor agradeceu aos jovens pela boa ação, dizendo: “Vocês são meus filhos! Eu amo vocês!” Por último, Rafaela fez uma poesia para a Rocinha, que neste trecho diz: “Encontramos paz em barracos e pelas ruas espalhamos o bem, Mas o que a Rocinha fez por 65 jovens, não será esquecido por ninguém. É do luto para luta, da semente para a fruta, do choro para alegria, e de todos que se tornaram família. E de um gesto simples que jamais vamos nos esquecer: Precisamos viver simplesmente para que simplesmente todos possam viver”.
“Parem de nos matar!”,
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pedem os jovens franciscanos
primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude no Rio de Janeiro não será esquecido tão cedo pelos 600 jovens que se encontraram na Catedral São Sebastião na quarta-feira, 17 de julho. O grupo de jovens da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Nilópolis conduziu a mística do dia, denunciando a violência que hoje ceifa vidas no país e, principalmente, no Rio de Janeiro. “Parem de nos matar!”, pediram os jovens durante a dinâmica da tarde. Esse pedido ganhou força e, mais à noite, levou os jovens à comoção com a representação teatral das mortes de jovens nos últimos anos, especialmente a de Marcus Vinícius, de apenas 14 anos, que foi assassinado a caminho da escola, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Sua mãe, a empregada doméstica Bruna Silva, de 36 anos, emocionou os 600 jovens ao mostrar a camisa ainda ensanguentada do seu filho.
Depois de ouvirem o depoimento da mãe de Vinicius, os jovens acenderam velas e deixaram o salão de Eventos para continuarem a mística no altar da Catedral. Um quadro de dois metros trouxe um Cristo negro crucificado, representando todos os tipos de preconceito e violência que são cometidos. Essa cruz foi carregada em procissão da Catedral até o Convento Santo Antônio. Durante todo o trajeto, os jovens continuaram denunciando todas as formas de exclusão, desigualdades e as causas profundas que levam o povo a viver em condições de vida precárias. Antes de entrarem na capela do Convento, os jovens pintaram as mãos com uma tinta vermelha para imprimirem a marca na cruz. Na frente do Convento, os frades esperaram os jovens com bacias de água para lavarem as mãos. Já era mais de 22 horas quando teve início a Adoração do Santíssimo.
Segundo Frei Diego Melo foi um dia intenso, marcado pelo reencontro e pela saudação de Paz e Bem. “Um dia marcado pela oração inicial, que já nos colocou dentro da dinâmica e do tom do lema dessas Missões: ‘Profetas do diálogo e do respeito: ternura que acolhe a paz, com o vigor que supera a violência’. Frei Diego se referia à oração inicial das 15 horas, que começou no interior do Catedral e terminou no Salão de Eventos. O grupo de jovens de Nilópolis acolheu os participantes destas Missões com um abraço. Eles, contudo, estavam caracterizados de migrantes, LGBTs, índios, negros, mulheres, favelados. Cada jovem explicou a sua representação, terminando com o grito de todos: “Parem de nos matar”. Na entrada do salão, os jovens franciscanos receberam uma frase escrita para meditar e um grãozinho de incenso para queimar diante do Crucifixo de São Damião. mfj 2019
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O garoto Vítor Hugo se emocionou muito na encenação da morte de Marcus Vinicius
ENCENAÇÃO E ENCONTRO COM MÃE DE MARCOS VINICIUS COMOVEM JOVENS A encenação da morte de Marcus Vinicius foi feita pelo jovem Vítor Hugo, que se emocionou muito e levou os jovens às lágrimas. “Eu achei que seria só um evento aqui. Não. É um evento que a gente fala de Jesus, de Deus, de amor”, disse Bruna. “Gente, está difícil para criar um filho no mundo de hoje, onde o ódio prevalece. Eu acredito que o meu filho, quando ele foi tombado, levantou muitos
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outros filhos. Hoje, a minha luta é pelo meu filho, é pela minha filha, pelas filhas de todo mundo, é por vocês que estão aqui. A gente tem que se unir”, disse Bruna, que cria uma filha de 13 anos. “Sempre falava para o Marcus se esconder quando visse uma operação policial. Ele me dizia: ‘Não mãe, eles não atiram em estudante, não!’ Meu filho foi morto com a roupa e o ma-
terial de escola. Não dá para a gente cruzar os braços. Não dá para deixar que morram mais Marcus Vinicius a caminho da escola. Não podemos aceitar mais Marias Eduardas mortas dentro da escola. A gente não pode aceitar o genocídio de nossos filhos. A gente cria os nossos filhos com toda a dificuldade, aí eles denigrem a nossa imagem para justificar o injustificável”, criticou.
Bruna Silva: “Essa blusa me dá força”
“A gente sabe que o Estado entra lá na favela para trabalhar. Mas a gente quer que o Estado trabalhe a favor da gente. Eles estão ali para nos proteger, para guardar a nossa vida, mas são eles que estão nos matando”, lamentou, mostrando a camisa de Marcus Vinicius quando foi assassinado. “Essa é a blusa verdadeira dele. Não é de uma peça de teatro. É original. Essa blusa me dá força. A gente não pode aceitar blusas como essas. Ela é uma vergonha para o Estado e para o Brasil. A gente quer nossos filhos vivos para o bem desse país, para o bem nosso. Se não for eles, vamos ser somente idosos”, disse. “A gente vai combater esse ódio. Nós somos mães e vocês são nossos filhos. A gente não quer que mais Marcus Vinicius sejam tombados pelo estado. A gente quer que sejam o futuro. O meu luto é a luta”, ressaltou Bruna. mfj 2019
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“ A gente quer uma vitória de amor e não vamos desistir” Segundo Frei Diego, Bruna está representada na cruz que tem o nome de Marcus, o nome de José, o nome de Antônio, os nomes de tantos jovens, de tantas pessoas que estão sendo crucificadas. “Só que para nós a cruz, que era símbolo de derrota, tor-
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nou-se símbolo de vitória. Para você também, Bruna. A dor do teu luto está se transformando em luta e nessa luta você não vai ficar sozinha. Nós, como jovens, nos comprometemos a partir de hoje a dizer sim à vida, a dizer não às armas. A não apoiar
aqueles que pregam o extermínio dos pobres, dos negros, dos favelados. Bruna, não posso me comprometer sozinho e queria que esses jovens, a partir de hoje, fossem solidários à tua dor, fazendo-se instrumentos da paz e renunciando a todo tipo de violência,
de guerra e divisão. Se vocês, jovens, estão de acordo com essa proposta, sinalizem levantando as velas”, pediu Frei Diego. As velas se levantaram todas. “Marcus Vinicius está vivo nessas luzes que agora se levantam. Que essas luzes te ajudem, Bruna, a passar pela dor, pela escuridão, e a se transformarem em ressurreição”, desejou Frei Diego. “Vamos pregar o amor. Façam
sempre o bem. Deixo o meu amor para vocês. Com certeza, vou casa mais fortalecida hoje. Do luto para luta. A gente quer uma vitória de amor e não vamos desistir, não”, despediu-se Bruna. Frei Diego estava feliz com o interesse dos jovens pelas Missões. “Aqui nós somamos mais de 600 jovens. E por que essa juventude está aqui reunida? Para fazer uma experiência de
missão, de doação, de encontro, de compaixão, de solidariedade, encontro com Deus e com os irmãos. Tudo foi preparado com carinho por uma equipe enorme, que tem por objetivo proporcionar cinco dias de uma experiência missionária. Tudo o que vocês estão vendo aqui, foi pensando e sonhado há muito tempo. Então, o que queremos dizer é: Sejam muito bem-vindos!”, desejou o coordenador das Missões.
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Um trabalho profético! Do projeto ao esboço. Do esboço para a arte final. Deus nos inspirou e fez dessa arte um enorme chamado para missão! O Cristo preto chagado, cravejado de balas, favelado e ressuscitado! Junto a Ele está uma janela aberta: era sua mãe, carioca, moradora da Maré. Mãe do menino Marcus Vinícius tombado, mas vivo, presente! Do outro lado, o discípulo amado, outro menino, vivo e apto a colocar pipas e sonhos no alto! “Deus, eu não podia adivinhar. Por que você se fez assim? Por que se fez preto, preto como o engraxate, aquele que expulsei da frente de casa? Deus, pregaram você na cruz e você me pregou uma peça. Eu me esforcei à beça em tantas coisas, e cheguei até a pensar em amor, Mas nunca, nunca pensei em adivinhar sua cor...” (Neimar de Barros) Arte: Jonathan Lima, Amanda Andrade e Simone Cavalcanti Do Amaral
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Procissão da Catedral ao Convento Santo Antônio
Os jovens, carregando a Cruz do Cristo Negro Crucificado, saíram da Catedral e seguiram para o Convento Santo Antônio. Fizeram duas reflexões: uma na frente do majestoso prédio do Petrobrás e a outra em frente do Convento, terminando com a Adoração do Santíssimo no interior da capela. mfj 2019
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Pe. Renato e D. Beth: a esperança na desesperança
segundo dia das Missões Franciscanas da Juventude, na quinta-feira, 18 de julho, foi dedicado à formação dos 600 jovens presentes no Rio de Janeiro. Dois testemunhos de vida prenderam a atenção dos jovens. Primeiro D. Beth, que era uma moradora de rua, tornou-se a fundadora do Lar Dona Beth para acolher pessoas em vulnerabilidade social; depois, Pe. Renato Chiera veio como missionário da Itália para a Diocese de Nova Iguaçu, mas logo se deparou com realidade de violência na Baixada: “Não vim da Itália para ser coveiro”. Essa inquietação o levou a fundar a Casa do Menor, um lar que já acolheu milhares de crianças e adolescentes. Testemunhos de vida e de esperança.
O TESTEMUNHO DE D. BETH
A alegria e simplicidade de D. Beth conquistaram os jovens e serviu como grande aprendizado para suas vidas. Ela tem uma história de superação na vida. Dona Beth já foi moradora de rua e quando estava nessa situação “prometeu a Deus que se ela melhorasse as condições de vida ajudaria a toda e qualquer pessoa que precisasse”. Quando estava casada, um dia saiu cedo para comprar açúcar, pois naquela época andava em falta, e viu uma mulher jogando seu filho no mar. Ela impediu que essa mãe o matasse, criou este menino e fundou o Lar Dona Beth. Os filhos de Dona Beth, de diferentes idades e tamanhos que circulam pela casa, são a prova de que ela cumpriu com rigor a promessa feita anos atrás. Dona Beth conta que já teve dois infartos e um AVC e continua firme e forte. Como a maioria das instituições, ela passa dificuldades para manter o seu projeto na Rua Padre Pedro Martinotti, nº 2, Largo da Batalha, Pendotiba (Facebook.com/lar de Beth).
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A CASA DO MENOR
Em 1978, Padre Renato Chiera deixou a Itália para ser missionário na Baixada Fluminense, na circunscrição da Diocese de Nova Iguaçu. Aos 76 anos de vida, 52 anos de sacerdócio e 42 anos de Baixada Fluminense, ele é o fundador da Casa do Menor, uma instituição que já atendeu milhares de crianças e adolescentes em Miguel Couto. Surpreso, pois segundo ele esperava encontrar um “grupinho de jovens”, Pe. Renato confessou que estava assustado por falar para tantos jovens e nem tinha preparado nada. Seu testemunho, contudo, foi um grande aprendizado nesta manhã. “Estou contente por ver jovens apaixonados por Deus e atraídos por Francisco de Assis. Ele foi um jovem que se despiu
de tudo aquilo que não era dele. Ele cantava a alegria, a liberdade, a felicidade. Para alguns, era chamado de louco. “Eu queria fazer essa loucura como Francisco, mas tinha medo. Até que um dia sofri um acidente e cheguei à conclusão de que Deus poderia fazer o que quisesse com a minha vida, pois era dele. E Deus me trouxe para o Brasil”, contou. “A Baixada é o lugar mais bendito do mundo, porque lá Jesus está crucificado e grita abandono e precisa de amor”, falou aos jovens. A Casa do Menor, fundada em 12 de outubro de 1986, tem como objetivo reescrever as suas histórias com novos valores humanos inspirados no Evangelho. Para ele, contudo, não é preciso muita pregação. Basta a Pedagogia da Presença, tema de um de seus livros.
Contra armas, profetas do diálogo e do respeito
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egundo o coordenador das Missões Franciscanas da Juventude, Frei Diego Melo, não há outro caminho para o cristão, católico e franciscano senão o do diálogo e do respeito. “Os dias de hoje nos pedem uma profecia muito grande. E qual é a nossa profecia? A profecia do diálogo e do respeito”, disse o frade durante a Missa do Envio na quinta-feira, às 17 horas, concluindo a primeira parte das Missões Franciscanas da Juventude no Rio de Janeiro. Para o frade, os dias de hoje nos pedem uma profecia muito grande, que é a profecia do diálogo e do respeito. “Nós já ouvimos e presenciamos inúmeros testemunhos que falavam desta paz e aí está a nossa contribuição para a evangelização enquanto franciscanos: sermos promotores da paz. E nós queremos promover esta paz de que forma? Através do diálogo, do respeito, da ternura - mas não confundir ternura com passividade, acomodação -, entendendo sempre a ternura que acolhe essa paz com vigor. Por isso, o grito de vocês tem que ser forte. Por isso nossas orações foram fortes. Porque é com vigor que queremos enfrentar a violência”, insistiu. Frei Diego disse que o Evangelho de hoje ajuda nesse entendimento ao falar do verdadeiro amor ao próximo. “Eu não sei se vocês, mas eu tenho sentido medo de falar em ‘amor ao próximo’, respeito, diálogo, quando parece que o momento presente nos aponta para outro lado: para o desrespeito, para o ódio, para a separação, para o preconceito. Inclusive aqueles que se dizem seguidores de Jesus, não querem ouvir o Evangelho de hoje. Ao invés do sinal de paz, ao invés do sinal da cruz, que é o sinal de resposta ao ódio, à violência e à morte, que é um sinal de amor, de perdão e de paz, parece que estão preferindo o sinal das armas. Cristão, católico, franciscano que faz o sinal de arma com as mãos, não serão profetas do diálogo e do respeito. Não podem dizer que são seguidores de Jesus”, ressaltou. mfj 2019
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CaTEDral SÃO SEbaSTiÃO, a “MÃE” QuE aCOlhE OS JOVENS
O D. OraNi ViSiTa OS JOVENS
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Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, visitou os jovens franciscanos na Catedral. “É com alegria que cumprimento as Missões Franciscanas da Juventude, que acontecem na sua sexta edição aqui no Rio de Janeiro, num mês todo especial, pois faz seis anos que celebramos a JMJ no Rio de Janeiro. Neste tempo frio e chuvoso do Rio de Janeiro, os jovens que são ligados aos franciscanos ou à juventude franciscana, vindo de todo o Brasil, especialmente do Sul do Brasil, são portadores da ‘Paz e do Bem’ ao passarem justamente diante das pessoas, ao entrarem nas casas, ao estarem com os mais excluídos, anunciando a vida, anunciado Jesus Cristo, e mostrando que é possível construir um mundo diferente através dessa realidade de estar juntos ou próximo das pessoas”, disse o Cardeal, que pediu para o Pe. Rafael falar sobre os trabalhos sociais realizados na Catedral. “E tenho certeza que, levando consigo também a experiência da missão, que deve ser permanente como nos pede o Papa Francisco nessa ‘Igreja em Saída’, para que permanentemente anunciemos o Cristo em toda a nossa vida, junto aos amigos, junto aos familiares, junto às pessoas ao nosso redor. Desejo que essa experiência missionária seja de enriquecimento para toda juventude e que, cada vez mais, cresça a fraternidade e a paz. Deus abençoe!”, desejou D. Orani. Frei Diego agradeceu muito a D. Orani pela ajuda que a Arquidiocese está dando ao oferecer toda a estrutura da Catedral para a realização das Missões.
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s dois primeiros dias das Missões Franciscanas da Juventude tiveram o apoio incondicional da Catedral São Sebastião do Rio de Janeiro e do Convento Santo Antônio. Foi graças à generosidade do pároco Pe. Cláudio Santos que o evento se tornou realidade, segundo Frei Diego Atalino de Melo, coordenador do Serviço de Animação Vocacional e das Missões, tendo em vista o grande espaço da Catedral para acolher 600 jovens. Com compromisso assumido anteriormente, Pe. Cláudio deixou Frei Diego à vontade, como se estivesse em sua casa. Para Pe. Cláudio, a Catedral “é mãe” e “a hospitalidade é algo que deve ser a marca da vida de um cristão”. Aos 48 anos de idade, Pe. Cláudio completou no ano passado 20 anos de ordenação presbiteral e foi nomeado pároco pelo Cardeal D. Orani Tempesta em janeiro de 2017. “A Catedral é a “Igreja-mãe e, como mãe, deve acolher a todos. Eu fiquei sabendo da iniciativa das Missões Franciscanas pelo nosso Regional Leste 1 e achei por bem, então, que pudéssemos fazer parte desse momento de evangelização. Por isso, abrimos as portas da Catedral São Sebastião. E realizar esse acolhimento é cumprir a vontade de Deus e esse também é o desejo de nosso Cardeal Dom Orani. Ele tem como lema episcopal: ‘Para que todos sejam um’. Então, nós devemos lutar para que, cada vez mais, esse sentido da unidade, nessa obra de evangelização, aconteça no meio de nós”, explicou Pe. Cláudio, confessando que no início do seu processo vocacional pensou em ser franciscano. “Mas o Senhor me encaminhou para a vida diocesana e nem por isso nós devemos e podemos deixar de olhar e ver o Cristo que sofre na pessoa do pobre”, completou, explicando que a Catedral tem um trabalho social muito grande, especialmente com moradores em situação de rua.
D. Gilson da Silva, bispo de Nova Iguaçu
ExPEriÊNCia MiSSiONária NaS ParÓQuiaS
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erminou no sábado à noite, 20 de julho, a experiência missionária que levou, durante dois dias, os 600 jovens franciscanos para as oito Paróquias da Província da Imaculada Conceição e uma Paróquia diocesana. Foram dias intensos, onde os jovens puderam conhecer outra realidade daquela onde vivem. Aprenderam o real significado de palavras como fraternidade, partilha, respeito e diálogo. Viveram cinco dias de emoções e reflexões.
Antes de saírem da Catedral, Frei Diego Melo, coordenador das Missões, já alertava que o desafio nesses dias seria bem maior. Uma coisa era transitar no grupo de 600 jovens e outra era fazer parte de um grupo pequeno, onde o protagonismo seria dos jovens. Mas pelos depoimentos abaixo, eles se lançaram com o coração e fé nesta experiência para marcar suas vidas. “A MFJ foi a experiência mais extraordinária que já vivi na vida! Pude conhecer uma
parte do Rio de Janeiro bem diferente daquela que vemos nas novelas. A vida real é mais bonita, cheia de alegria e solidariedade, apesar de tantos problemas e dificuldades. São pessoas que não têm muito, mas ajudam aos demais. Ao adentrar a casa delas para levar a palavra de Deus e o alento às pessoas doentes, saímos tomados pelo Espírito Santo e de todo o amor que poderíamos receber”, disse Daniely Niero, de Vila Velha (ES), 35 anos.
D. Gregório Paixão, bispo de Petrópolis
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“A missão tornou-me mais humana, sensível e realista diante do mundo e suas feridas. Permitir a nós, missionários, sermos protagonistas e não enfatizar a missão somente no fim dos dias, ou seja, não termos apenas vivências e formação, como também a oportunidade da experiência, é único e inspirador. Não deixei de ser o Túlio Tavares, do Rio de Janeiro, identificado e sobrevivente da comunidade LGBTQI+, mas passei a ser um novo Túlio com maior fome e sede da luta
contra as desigualdades sociais e a busca infinita da liberdade e amor constante do Criador”, disse Túlio José da Silva Tavares, da Pastoral da Diversidade do Rio de Janeiro. A Universidade São Francisco (USF), através da Pastoral Universitária, também esteve presente nas Missões Franciscanas da Juventude. Veja os depoimentos: “Não tenho palavras para descrever a sensação que é participar de momentos como esses, talvez simples, mas que
Túlio Tavares
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fizeram total diferença em minha vida. Foram dias de muita diversão, paz, conversas, muita oração, aprendizados e de muita união. Conheci culturas diferentes, Cristo no necessitado e aprendi a amar na dor e no pouco também. Tive a oportunidade de entender o carisma franciscano e de provar da mesma graça que eles!”, Aline Caroline Niza Tilhaqui, aluna do 4º semestre de Engenharia Mecânica. “Foi minha primeira vez nas Missões Franciscanas da Juventude e me encantei em poder conhecer a realidade de um povo tão carente. As mídias sujam a imagem do Rio de Janeiro dizendo ser lugar de tráfico, violência… Mas não! É um lugar que precisa de mais amor e Jesus para que haja Paz e Bem. As missões não acabaram, ou melhor, apenas começaram. Quero muito estar presente na próxima Missão em Xaxim-SC; foi extremamente incrível e sou missionária com muito orgulho!”, disse Luana da Silva Sousa, aluna do 2° semestre de Biomedicina.
Daniely Niero
O apelo de Leonardo Boff aos jovens:
Resgatar a permanente atualidade de São Francisco
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ranciscanismo é, talvez, a melhor tradução do cristianismo porque São Francisco é o último grande cristão depois do primeiro, que foi o próprio Jesus Cristo. E sua mensagem, que é a sua pessoa, é de extrema atualidade. Especialmente hoje que vivemos em sociedades que se desgarram, que não vivem em fraternidade, que se guerreiam, que têm ódio. São Francisco é o homem criador de pontes. É o homem da fraternidade, não só fraternidade entre humanos, mas com todas as criaturas. Chamava a todas com o doce nome de irmãos e irmãs. Por isso, a significação de São Francisco tem um valor especial face à crise que o sistema terra e o sistema vida estão passando, porque a cultura do capital, que só conhece a acumulação dos bens materiais, sem nenhuma solidariedade, está devastando os bens de serviço da terra, que são bens de serviços comuns para toda a humanidade. O que eles privatizam em nome e na mão de poucas pessoas. São Francisco é aquele que se ir-
manou com todos os seres e não se distanciava da natureza como quem está em cima dominando, mas como quem está ao pé dela, sentindo-se irmão e irmã de todas as coisas. Então, essa atitude de São Francisco é que precisamos resgatar se queremos garantir um futuro para a nossa Mãe Terra, para o Planeta Terra. E para a nossa civilização, porque elas efetivamente estão ameaçadas, dada a profunda agressividade do ser humano. O espírito de São Francisco é de se reconciliar com todos os seres, venerar os seres como sacramentos de Deus. E, ao mesmo tempo, é aquele que se abriu ao coração do mundo. Ele é, talvez, aquele que mais criou pontes, com os muçulmanos chamando-os de irmãos, pedindo ao Papa para que não fizesse guerra contra eles e hoje, mais do que nunca, ele é uma referência mundial de paz. Quando as religiões se encontram, não rezam o Pai Nosso, rezam a Oração da Paz de São Francisco, porque nela tudo é verdadeiro e todos podem dizer amém. Então, o apelo que faço é que nós resgatemos a per-
manente atualidade de São Francisco, vivendo seu espírito de simplicidade, de amor à natureza, de respeito a cada ser, porque cada um merece viver, merece existir. E nós somos os guardadores, os cuidadores. Como diz o Papa Francisco na sua Encíclica “O Cuidado da Casa Comum”. São Francisco tinha cuidado por todos. Cada ser, como a minhoca no caminho, o galho quebrado. Cuidado do irmão doente para que fosse cuidado. Então, junto com a pobreza, que é um despojamento para estar próximo dos outros, ele colava o cuidado de uns para com os outros, hoje o cuidado da Mãe Terra, e por todos os seres. Então, a nova mensagem é do puro Evangelho, traduzida para os dias de hoje, uma figura que é um arquétipo. Ele não tem inimigo. Ele é venerado no Japão, na China, em todos os lugares como referência de humanidade. Nós podemos nos orgulhar como humanos de ter produzido uma pessoa como São Francisco. Ele é dos franciscanos, é da Igreja, mas principalmente de toda a humanidade. Paz e bem! mfj 2019
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A despedida de Irmã Isabel
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dia de formação nas Missões Franciscanas da Juventude começou com a palestra de Ir. Maria Isabel, da Congregação das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, sobre o tema “Profetas do diálogo e do respeito, ternura que acolhe a paz, com o vigor que supera a violência”. O momento mais importante, contudo, deste encontro com Irmã Isabel, que vem acompanhando Frei Diego nos eventos vocacionais há mais de sete anos, foi o anúncio de sua despedida do Brasil, já que ela vai ser missionária em Angola. Ir. Isabel lembrou que nesse ano as Missões também têm como inspiração a celebração dos 800 anos do encontro de Francisco de Assis com o Sultão Al-Malik Al-Kamil. Por isso, o tema deste ano bebe nesta fonte e confirma que é possível uma convivência pacífica e desarmada. “Ser franciscano não é dizer só ‘Paz e Bem’. É muito mais do que isso. Esse encontro precisa ser reinventado a cada dia. Ele precisa estar em nossos corações todos os dias. Por isso estamos aqui”, disse Ir. Isabel. Segundo Ir. Isabel, Francisco foi um homem que, na sua simplicidade, no seu vigor, no seu jeito de ser, não teve armas, não teve espada, nada o impediu de ir até o sultão. “Vamos dar um grande grito que a sociedade precisa ouvir. Um grito de ‘Paz e Bem’. Mas que não seja um ‘Paz e Bem’ dito a partir do queixo e do nariz e sim que ele parta do coração e das atitudes. Que ele parta daquilo que fazemos. Não só aqui na Missão, mas que a gente seja esse profeta lá onde estamos todos os dias. Este é o grande objetivo dessas missões!”, completou Ir. Isabel. Para Frei Diego, já estamos com
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saudades de Ir. Isabel. Para homenageá-la, foi exibido um vídeo reprisando os principais momentos nesses trabalhos com as juventudes. “Desde 2013, meu primeiro ano sozinho no SAV Provincial, quando a responsabilidade desse trabalho começou a me causar insônia, um pouco por medo diante do desconhecido e pela responsabilidade de ter tantas vocações e tantos jovens, nós começamos a caminhar juntos. Foi naquela primeira viagem para São Lourenço que você foi se aproximando de nós. A princípio fiquei só de olho, observando e tentando entender qual era a daquela freira... Como ela trabalhava, qual a profundidade da sua espiritualidade, como ela se relacionava com as pessoas... Mal sabia eu que aquela Missão de ordenação do Frei Rodrigo seria a primeira de tantas missões que vivenciaríamos juntos. Mal sabia eu que Deus estava colocando ao meu lado uma verdadeira fortaleza que iria me amparar nos momentos difíceis, como naquela missão em Registro, realizada apenas duas semanas após a morte do meu pai, e que você com o seu silêncio orante me ajudou a suportar, a guardar no bolso a minha própria dor e a doar-me inteiramente por aquele povo que lá nos esperava
como portadores da Boa Nova de Jesus”, revelou Frei Diego, emocionando-se neste momento. “Irmã Isabel, foram muitas coisas vividas juntos. Muito aprendi contigo e muito de mim, de nós, herdamos de você. Todo esse sonho é tão concreto, Irmã Isabel, como o coração palpitante dessa juventude que hoje aqui se reúne com sede de Deus, com sede do sagrado, com desejo de ajudar o próximo. Obrigado, Irmã Isabel, por tudo o que você é e representa para a nossa juventude. Nosso coração tem um misto se sentimentos: de certa forma nos sentimos órfãos com a sua partida, mas também nos alegramos porque sabemos que chegou a hora de você também florescer em outras terras, lá onde Deus te quer, pois a sua presença sonhadora e encantadora é chamada a encantar outros corações. Sua vida é chamada a florescer em outro país e em outro continente. E como você muito bem nos ensinou que não podemos parar os sonhos de Deus, hoje, ainda que com o coração partido, nós deixamos você partir”, homenageou, terminando: Obrigado por você ter feito da sua vida uma missão permanente. Que esse mesmo Jesus te abençoe e te ilumine nessa nova missão que você está abraçando!
O esplendor de Stefany nas Missões
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o primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude, dificilmente alguém dormiu antes da meia-noite. Foi uma jornada intensa. Às 7 horas, no dia seguinte, meio sonolentos, os jovens já estavam no Salão de Eventos e foram acordados pelos animadores de palco. Entre eles estava uma bela morena como seu próprio nome define. Sorridente, magra e alta, pulava e dançava sem parar. Ela já havia chamado a atenção no dia anterior, quando entrou no salão lacrando com o esplendor azul. Stefany de Oliveira Belo, natural de Nilópolis, na Baixada Fluminense, não mede esforços para fazer o que gosta e ainda mais por uma boa causa. “Quando a gente faz um trabalho com propósito muito bonito, quando a gente acredita que isso pode mudar as pessoas e que a gente, de certa forma, está sendo um exemplo para os mais jovens, vale a pena. A gente faz o que tem que fazer. Se tiver que botar um esplendor e fingir que é passista, a gente faz. Se é para pular, a gente pula; se tiver que rezar, a gente reza; se tiver que varrer, a gente varre. Tudo pela honra e glória de Deus e da me-
lhor forma para que os jovens sintam isso”, acredita esta jovem, que fora do palco parece ter mais que sua idade de 19 anos, pela maturidade que demonstra. E ela apenas está começando este processo de formação, já que se concentra nos estudos para passar no Enem e cursar História. Stefany cresceu na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, assistida pelos frades da Província da Imaculada Conceição. “Eu literalmente cresci ali. Desde pequena, participei de tudo, a começar pela catequese, onde tinha como catequista a Aline, que está na Bahia e participa destas Missões. Ela também era coordenadora da catequese nesta comunidade. Foi ela que nos mostrou um pouco de como ser franciscano, de como ser cristão, de não estar somente dentro da igreja, mas estar dentro de uma “Igreja em saída”, como quer hoje o nosso Papa. A gente sempre teve esse exemplo”, recorda Stefany, que depois começou a fazer parte da Pastoral da Juventude, onde está até hoje. “O meu grupo jovem faz 19 anos neste ano. Então, tem a minha idade. Eu cresci com eles. Via a atuação deles na co-
munidade e queria ser igual”, observa. Não é só na Igreja que Stefany encontra apoio e referência. A família está na base de tudo. “Meus pais são católicos. Por parte de pai, todos são católicos. Pelo lado da minha mãe, é misturado. Minha mãe, minha tia e meu pai são muito presentes na Igreja. É o exemplo que tenho dentro de casa”, diz Stefany. Sua irmã Iasmin participou pela primeira vez destas Missões. Sua história com as atividades das juventudes franciscanas começa com uma foto. “A primeira vez que tive vontade de participar de um evento franciscano foi porque vi no Facebook quatro amigos que foram para uma caminhada franciscana e estavam radiantes na foto. Deu vontade de ter um sorriso igual. Aí eu falei assim: ‘Tia Aline, eu não sei para onde vocês foram, só sei que na próxima quero estar junto’. Desde então, comecei a fazer o itinerário franciscano”, explica Stefany, que já participou das Missões de Curitiba, Bauru e Agudos, da Caminhada de Campos do Jordão, e representou a Província num Curso de Verão em São Paulo. “Tenho gratidão pelos frades que nos dão formação e aos jovens que pude acompanhar”. Para ela, o depoimento de Bruna, a mãe do garoto Marcus Vinicius, assassinado a caminho da escola, marcou estas Missões. “Eu chorei muito. Já perdi alguns amigos para o tráfico. Uma vez, um tio que era motorista de kombi, foi morto (Stefany se emociona). Quando a gente ouve um testemunho desses é muito fácil entender e reviver tudo o que acontece ao nosso redor. Para ela, o quadro representando Jesus negro e crucificado retratou toda a realidade do Rio de Janeiro e de outros estados do Brasil. “Muitos Jesus são mortos todos os dias, pessoas que teriam um futuro brilhante e que, infelizmente, têm suas vidas interrompidas por uma bala perdida, que, na verdade, é uma ‘bala achada’”, lamenta. Para ela, uma apaixonada por História, o Brasil regride no tempo: “Já vimos isso mais de uma vez”. Mesmo assim, ela não perde a esperança: “É preciso dar as mãos - ninguém solta a mão de ninguém - e com certeza vamos mudar essa situação. Não é preciso nem perguntar qual escola de samba é sua preferida, não é mesmo? mfj 2019
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Missões: A grande expressão de solidariedade
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eunir 600 jovens de cinco estados no Rio de Janeiro foi uma grande expressão de solidariedade. Esta é a primeira conclusão que Frei Diego Melo tira de todo esse trabalho que começou em agosto do ano passado. Uma ajuda daqui, uma mão ali, um apoio de lá, uma rifa, uma partilha, enfim, estava feita a corrente de solidariedade. Ela garantiu a realização das Missões Franciscanas da Juventude. Esse apoio começou quando Frei Diego, o animador vocacional da Província Franciscana da Imaculada Conceição e coordenador das Missões, fez a proposta destas Missões para os dois Regionais dos Frades da Província (Serra/Baixada Fluminense e Rio de Janeiro). Com a aprovação das oito paróquias franciscanas do Rio de Janeiro, Frei Diego criou a comissão organizadora, que é composta de dois ou três representantes de cada paróquia. “Uma vez por mês, dois ou três vinham aqui para o Convento Santo Antônio participar de uma reunião. Eles fizeram a ponte com as paróquias e prepararam os eventos locais. Nós, como comissão central, pensamos os grandes momentos”, explicou Frei Diego. Isso porque as Missões tiveram como base, nos dois primeiros dias, a Catedral São
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Sebastião, que cedeu toda a estrutura para as celebrações, palestras, oficinas, hospedagem, refeições e higiene. O Convento Santo Antônio acolheu, no primeiro dia, outra parte dos jovens na celebração da noite e na hospedagem. Na sexta-feira e no sábado, os jovens foram distribuídos em grupos nas oito paróquias e ficaram hospedados em casas de famílias. O retorno para o grande evento das Missões acontecerá domingo com a Missa de encerramento, às 7 horas, na Praia de São Conrado, e a Caminhada pela Paz até a Rocinha, às 11 horas. “Acho que a missão acontece quando a gente consegue sentar junto, diferentes paróquias e diferentes realidades eclesiais e sociais, para pensar e caminhar em direção a um objetivo comum. Então, essa Fraternidade que a gente já gerou, esse intercâmbio, essa troca de experiências da comissão central foi a pré-missão com sucesso”, acredita Frei Diego, agradecendo muito o apoio dos párocos franciscanos e do pároco da Catedral, Pe. Cláudio Santos. Segundo Frei Diego, os custos para realizar as Missões giram em torno de R$ 75 mil. Todo o dinheiro veio das inscrições (R$ 50,00 para cada jovem), da venda de camisetas nas paróquias e da rifa de uma TV 42 polegadas. “As inscrições não seriam suficientes para pagar tudo e, como não queríamos aumentar o preço, pensamos em alternativas. Uma delas foi a rifa do aparelho de TV, doado pela Fraternidade da Porciúncula, de Niterói, e a outra a venda das camisetas franciscanas. Cada paróquia da Província recebeu um número x de camisetas para vender e o lucro foi revertido para as Missões. Então, esse montante deu condições para custear todas as despe-
sas”, detalha Frei Diego. Segundo o frade, os maiores gastos são com a alimentação e com os banheiros alugados. Para as refeições, foi contratada uma Cooperativa de Mulheres da Comunidade da Maré, que se chama “Maré de Sabores”. “Essas mulheres se uniram numa cooperativa e oferecem refeições naturais, orgânicas e não usam nada industrializado. Desse trabalho, tiram a sua subsistência. Contratamos por essa questão ecológica e social. No total, serviram 570 refeições na janta desta quarta e 570 refeições no almoço de quinta”, adiantou Frei Diego. Outra despesa ficou por conta da contratação de chuveiros e banheiros. “Contratamos dois contêineres com 12 chuveiros cada um e banheiros químicos. Também não estamos usando nenhum tipo de descartável. Mandamos fazer uma caneca, que será usada nos cafés e refeições. Inclusive os chapéus, que vieram de Cocal, na Bahia”, destacou o frade. Os chapéus foram especialmente preparados por mulheres do semiárido brasileiro que fazem parte da Cooperativa Artesãs Filhas do Vento. Trata-se de uma iniciativa nascida no município de Brotas de Macaúbas (BA), cujo objetivo é fazer da palha do Licuri, palmeira nativa da região, uma fonte de renda e de resistência para as famílias locais. Frei Diego também elogiou e agradeceu à Associação de Ensino Bom Jesus, que doou todas as camisetas do encontro, e à Editora Vozes, que doou a impressão de todos os livretos para essas Missões. “Indiretamente, o Serviço de Animação Vocacional entrou com 10 mil reais, dinheiro que veio da venda das camisetas”, disse o frade.
Lançado o Itinerário Franciscano das Juventudes
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riado recentemente, o Conselho Provincial de Juventudes, da Província Franciscana da Imaculada Conceição, já se reuniu e fez nestas Missões Franciscanas o lançamento oficial do Itinerário Franciscano das Juventudes. “Esse Conselho é uma reivindicação de vocês”, lembrou Frei Diego Melo, coordenador das Missões e animador vocacional da Província. Segundo o frade, esse movimento que começou pequeno há mais ou menos oito anos, cresceu e hoje precisava de organização. “Para isso foi criado o Conselho. Nada melhor do que jovem pensando como jovem, preparando as atividades para os jovens”, explicou, acrescentando que poderia chamar outras lideranças que não fazem parte deste Conselho e que, felizmente, há muitas neste trabalho. “Mas um conselho, pela própria expressão, precisa ter um grupo mais reduzido. Então, a gente tentou buscar expressões distintas de diferentes realidades de Igreja, diferentes Estados, diferentes missões”, justificou. Segundo Frei Diego, quem não foi chamado agora para este Conselho, será chamado em outra ocasião, pois ele será renovado. O primeiro trabalho deste Conselho foi organizar todas as atividades com as juventudes e, com isso, nasceu o Itinerário. Para um jovem participar das atividades dos franciscanos, ele tem que seguir os seguintes passos: 1. Para conhecer a vida franciscana, foi criada a Caminhada Franciscana da Juventude (CFJ), que é uma peregrinação na experiência de itinerância de São Francisco. Segundo Frei Diego Melo, é a “porta de entrada” para participar dos eventos franciscanos da Província.
2. Para compartilhar o Espírito do Senhor e o seu santo modo de operar, existem as Missões Franciscanas da Juventude (MFJ), que é a possibilidade de viver dias de encontro, reflexão, formação, oração e espiritualidade, baseados no carisma franciscano, bem como uma experiência concreta de missão e solidariedade para com as mais diferentes realidades das periferias existenciais e geográficas. 3. Para aprofundar-se no carisma franciscano, os jovens têm o “Alverne Encontro de Formação para Jovens”. Trata-se de um encontro de formação realizado por regiões da Província, que atualmente conta com a assessoria do mestre em espiritualidade Frei Vitorio Mazzuco. 4. Para aprofundar-se no carisma franciscano existe o Retiro de Lideranças Frei Egídio e Acampamento Franciscano. Essa experiência é feita em três dias de silêncio, oração e contemplação e é reservada para novas lideranças. Realiza-se no Eremitério Frei Egídio de Rodeio (SC). Já o Acampamento Franciscano é
uma experiência radical do carisma franciscano através de atividades desenvolvidas secretamente durante o acampamento. 5. Para aprofundar-se no carisma franciscano, existe o Acompanhamento Vocacional. Esses encontros vocacionais regionais visam o discernimento e a orientação vocacional aos candidatos à vida religiosa franciscana. 6. Para construir um projeto de vida, o itinerário acontece através do Voluntariado da Solidariedade e Experiência Missionária na Bahia - Oportunidade de exercer uma atividade voluntária nos diversos trabalhos da Frente de Solidariedade com os Empobrecidos, no Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), em São Paulo. Já a experiência missionária na Bahia é uma inserção cultural, eclesial e social no sertão da Bahia. São dias de Missão e convivência com as famílias da Diocese da Barra. Frei Diego apresentou os missionários baianos Adrilson Souza de Oliveira (Dadá) e Leiliane Moreira Silva, que vieram participar deste evento. mfj 2019
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missĂľes franciscanas da juventude