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Para a festa de

Santa Beatriz Frei Michael A. Perry, OFM Ministro Geral


SEDE TESTEMUNHAS DA ALEGRE EXPERIÊNCIA DE DEUS (CCGG 51)

Queridas Irmãs Concepcionistas! Paz e Bem! A festa de Santa Beatriz me é já uma tradicional ocasião de eu chegar até as Senhoras, para lhes expressar visivelmente minha fraterna proximidade de irmão, exatamente como vinha fazendo a Ordem dos Frades Menores, acompanhando primeiro Santa Beatriz em sua valorosa tarefa fundacional e, depois, a suas filhas através das diferentes peripécias por que passou a sua Ordem ao longo da história. Neste ano, o Papa Francisco dirigiu à Igreja, e dentro dela também aos consagrados, uma preciosa exortação apostólica. Quero, a partir dela, fazer com as Senhoras algumas reflexões à luz de sua identidade concepcionista. Convido-as, portanto, a reler a exortação Evangelii Gaudium, com a mente de Santa Beatriz, no coração da Imaculada, onde Maria guardava e meditava todas as coisas. E sempre a partir da responsabilidade de “manter viva a lâmpada que o Espírito Santo acendeu em Santa Beatriz” (CCGG 7), ficando atentas aos sinais dos tempos, para que também as Senhoras anunciem hoje a alegria do Evangelho dentro da vivência fiel e generosa do seu carisma concepcionista, com toda a vitalidade e a força propulsora da Boa Nova que seu carisma possui e é capaz de comunicar aos homens e mulheres de hoje, convertendo-os, à imitação de Maria, em “prolongamento ativo da ação divina na História da Salvação e de Igreja” (CCGG 11).

Alegres na alegria do Cristo Esposo A alegria nasce do encontro com Cristo (EG 1; 3), já que ele mesmo é a Boa Nova que nos é anunciada. As Senhoras expressam e vivem este encontro como “esponsório com Cristo (R 1). No dia de sua profissão religiosa, as Senhoras começaram a caminhada através de um “caminho divino” (R 2), impulsionadas pelo desejo de se fazerem “um só espírito com o Cristo Esposo” (R 30). Que a ale-

gria das Senhoras nasça da alegria que Ele tem por cada uma (Is 62,5). Se assim fizerem, “ninguém lhes poderá tirar a alegria” (Jo 16,22). Que a preocupação das Senhoras seja em “se fazerem cada vez mais gratas ao Cristo Esposo”, mediante a vivência da pobreza, “abraçada com alegria” (R 19), na escuta obediente (R 19), desejando serem vistas unicamente por Ele (R 29), com aquele olhar único que nasce do amor de terem sido escolhidas. “Cristo é o Evangelho eterno, sua riqueza e beleza são inesgotáveis. Ele é sempre jovem e fonte de constante novidade (EG 11).

Imitadoras da alegria da “Cheia de Graça” Como o anjo saudou Maria, convidando-a a alegrar-se, ouso também eu convidar cada uma das Senhoras com a mesma saudação: Alegra-te, Irmã Concepcionista! E lembra-te de que a alegria de Maria reside na plenitude da graça e na presença de Deus nela: O Senhor está contigo! Como Maria, a Cheia de Graça, “respondei ao amor infinito de Deus com o seu fiat” (CCGG 10), eco do fiat de Maria, “acolham com generosidade as iniciativas do Pai” (CCGG 11), abri seus corações à presença de Deus, que “fala em Cristo, seu Filho, nos apelos do Espírito, na mediação da consciência pessoal, na Igreja, na fraternidade, nos acontecimentos” (CCGG 40). Contemplem a alegria de Maria que canta as grandes obras que o Poderoso fez nela depois de ter olhado para sua pequenez de serva; a alegria dessa mãe que oferece o Filho em Belém para ser adorado, que o encontra em Jerusalém depois de uma angustiada procura; a alegria de ter adiantado “a hora” e ver a alegria dos noivos de Caná; a alegria de seu encontro com o Filho ressuscitado; a alegria de sua assunção ao Pai. Guardem no coração meditem incansavelmente no silêncio de sua vida contemplativa, a alegria de Maria Imaculada. Levem-na no pensamento, espelhem-na no rosto, expressem-na em palavras, deixem que ela seja a motora de suas ações. Que


a alegria de Maria, humilde e pobre, determine seu estilo de vida como concepcionistas (cf. R 44). Não é em vão que a alegria faz parte de seu programa de formação (cf. CCGG 125). O único modo de se entender uma filha de Santa Beatriz é, a partir sempre de Maria, ser ela necessariamente uma nova mulher, que compreendeu que sua existência está no “reconhecimento humilde das obras que Deus realiza nela e vive na alegre confiança de quem tudo espera de Deus” (CCGG 45). Desse modo, fazendo-se serva do Senhor, como Maria, proclama a sabedoria absoluta de Deus” (CCGG 15). Contemplem e partilhem a alegria de Maria, e com Maria participem da missão evangelizadora da Igreja, perseverando na oração (CCGG 73).

Participantes da alegria de Santa Beatriz Convido-as também a participar da alegria de Santa Beatriz. Bem podemos afirmar da santa fundadora que “cresceu sua alegria no meio das provações” (2Cor 8,2). A jovem Beatriz tinha se distinguido na devoção à Imaculada desde sua infância, em Campo Mayor. Esta arraigada devoção a sustentou em sua prisão de Tordesilhas, enchendo-a de consolo. Foi aí que teve a dita de contemplar Maria, vestida de branco e azul, e experimentar sua mediação materna. “Abandonando a vaidade do mundo” (R 1), viveu seu desponsório com Cristo Redentor (R 1), abrindo assim o caminho às Irmãs Concepcionistas que seguiram o mesmo caminho. Atrás do véu branco que cobria seu rosto, Santa Beatriz tinha abraço o Cristo e seu rosto foi se configurando dia após dia com o rosto de seu Esposo. Os 30 anos de espera em São Domingos, não foram somente anos de provação e escuridão para Beatriz, mas também de crescimento na união com Deus e, portanto, um tempo de alegria. A alegria que não nasce do barulho e que, por ser silenciosa, é mais íntima e mais autêntica. Esse tipo de alegria se vive serenamente e se transmite com delicadeza. São Domingos foi, para Beatriz, um tempo de “fé, de oração constante, de disponibilidade ao plano de Deus, em silenciosa vida oculta”, como se pede hoje de suas Filhas (CCGG 4). Foi uma tempo em que Santa Beatriz foi realizando sua “oblação pessoal ao Nosso Redentor e à sua gloriosa Mãe, dando-se a ele como hóstia viva” (R 2). Uma vida assim mostra que sua vida de clausu-

ra não passa na obscuridade ou na frustração, mas é portadora de fecundidade. A doação de Santa Beatriz, no final de sua vida, produziu como fruto fecundo, o nascimento da Ordem da Imaculada Conceição. É a alegria do grão de trigo que caído em terra dá fruto abundante. A estrela que brilhou em sua fronte e a luz de seu rosto no momento de sua morte nos ensinam que oblação, luz e alegria caminham juntas. A perda e o encontro da bula fundacional nos lembram que as provações, vividas em oração e esperança, são seguidas de grandes alegrias. Finalmente, a alegria com que Santa Beatriz acolheu a notícia de sua partida para a eternidade e a prontidão com que a recebeu é um convite para viver com os olhos voltados para as realidades eternas.

Crescendo juntas na verdadeira alegria Do mesmo modo como Maria está presente de maneira determinante ao longo de suas Constituições, também a alegria impregna todas elas. Tudo o que constitui o desenvolvimento de sua vida concepcionista é motivo de alegria e as Senhoras abraçam e vivem essa alegria: o fato de terem sido “seduzidas pelo amor eterno de Deus” (CCGG 4; 70), de terem feito “experiência de um amor gratuito que liberta, unifica e transforma” (CCGG 49), de “seguir a Cristo” (CCGG 1, 13, 25, 69) como “o maior dos bens” (CCGG 72), seguindo “e honrando a Imaculada” (R 1; CCGG 13; 69), participando de “sua humildade e pobreza, tendo tudo abandonado com alegria” (R 7-8; CCGG 41, 43), “vivendo o trabalho como graça” (CCGG 177), podendo “fazer da própria existência uma resposta de amor que serve, ama, honra e adora com coração sincero e mente pura” (CCGG 55), “guardando fielmente ao longo da vida a Palavra, à imitação de Mãe de Jesus” (CCGG 77), crescendo no conhecimento cada vez mais íntimo e verdadeiro do Senhor” (CCGG 80), podendo “participar da perfeita alegria pela aceitação serena e paciente dos sofrimentos desta vida (CCGG 94), acolhendo “a cada irmã como dom do Senhor” e sendo ao mesmo tempo dom para a Fraternidade (CCGG 100). Tudo isso as converte, como converteu Santa Beatriz, num “exemplo de gozosa experiência de Deus na pura transparência do Espírito” (CCGG 51), fazendo das Senhoras uma “mensagem de amor, paz e alegria, que Deus oferece ao mundo” (CCGG 59).


Incendiando o mundo com sua alegria A alegria das Senhoras não é só sua. Tem sua origem em Cristo e deve ser anunciada a todos os homens e mulheres de hoje, num mundo que necessita como nunca de vozes de esperança e alegria. Por isso animo-as a viverem com intensidade “a contemplação, já que ela é apostolado das Senhoras”, carregado de “misteriosa fecundidade apostólica tornando presentes o novo céu e a nova terra, onde Maria se encontra em corpo e alma” (CCGG 15). Sua vida fraterna, “inspirada no mistério de Maria, é também modelo singular da nova família do Reino (CCGG 98). Vivam a alegria de ser e de ter irmãs, a alegria da partilha em todas as dimensões da vida comunitária, a alegria de estar “perto da irmã com dificuldades, acompanhando-a com solicitude amorosa”, de “compartilhar responsabilidades”. Numa palavra: vivam a alegria do serviço e da comunhão fraterna (CCGG 99-103). “Vivendo com fidelidade sua vocação, as Senhoras ajudam os homens a cumprir os deveres de seu estado e serão para eles a manifestação dos bens celestes presentes já neste mundo” (CCGG 116).

Conclusão:

Não deixem que lhes tirem a alegria! “Nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito e é precisamente diante de Jesus cru-

Roma, 15 de julho de 2014.

cificado que reconhecemos todo seu amor” (EG 265; 268). É justamente o que as Senhoras vivem na clausura: a participação no mistério pascal de Cristo (CCGG 58). Queridas Irmãs, o Papa não ignora que vivemos tempos difíceis e ele diz isso na exortação, mas nos diz também que nem por isso devemos renunciar à nossa alegria. Suas comunidades enfrentam numerosas dificuldades – idade avançada de algumas Irmãs, redução de mosteiros, escassez de vocações, a sociedade laicista que quer ignorar Deus e outras. Com o Papa Francisco exorto-as a não deixar que lhes roubem a alegria (EG 83). Há fatores negativos no mundo que não dependem diretamente de nós, mas recordem que “seu estilo de vida será tanto mais convocador quanto melhor cada uma viva sua própria vocação contemplativa em amor, em fidelidade, em alegria” (CCGG 138). Alegre-se, Irmã Concepcionista, a Senhora que vive servindo, contemplando e celebrando o mistério de Maria em sua Conceição Imaculada! (CCGG 9). Feliz festa de Santa Beatriz!


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