Aprendiz da imperfeição

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A P R E N DI Z DA I M P E R F E IÇÃO — Pieter van Oudheusden & Stefanie De Graef — tradução Cristiano Zwiesele do Amaral


Tudo ao seu redor era branco, até mesmo as pegadas que ele deixava para trás. Cada vez mais longe de casa, cada vez mais perto do seu objetivo. Era ali. Seu coração batia mais forte no peito que sua mão à porta. Assim que ouviu passos, ajoelhou-se no chão. A porta se abriu. E o que viu foram dois pés de pele curtida calçados por sandálias gastas. “Quem é você?”, perguntou uma voz. “E o que veio fazer aqui?” “Eu não sou ninguém”, o menino respondeu. “Mas vim de muito longe para ser seu aprendiz.” “Eu não aceito aprendizes”, disse o ancião, fechando a porta. E ali estava ele, novamente sozinho em meio à neve que caía. No dia seguinte, bateu outra vez à porta. No terceiro, o ancião não a abriu mais. Mas o menino podia ouvi-lo arrastando os pés, tossindo e resmungando. E assim foi, entra semana, sai semana, até que chegou a época do degelo. E o menino se sentou diante da porta do ancião.

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Numa certa noite, a porta se abriu. “Assim eu não consigo trabalhar com tranquilidade”, disse o pintor. “Entre para se aquecer. Mas já vou avisando: não posso ser seu mestre porque não tenho nada a lhe ensinar.” O ancião deu ao menino uma tigela de arroz com um pedaço de peixe. “Como você se chama?”, perguntou. O menino deu de ombros: “Enquanto eu continuar na ignorância, não sou ninguém”. “Pois vou chamá-lo de aprendiz”, declarou. O menino sorriu. “E como devo chamá-lo, mestre?” “Pode me chamar de Velho Trapalhão. É como sempre me refiro a mim mesmo.”



Uma nova vida teve então início para o jovem aprendiz. Suas tarefas começavam assim que ele se levantava: varrer o chão, cozinhar o arroz, pescar alguns peixes no riacho atrás da casa. Também tinha de lixar as telas. E, quando acabava, o mestre o fazia recomeçar. “Preciso que você deixe a madeira tão lisa quanto a pele de uma donzela.” O aprendiz não sabia como era a pele de uma donzela, por isso alisava a madeira o quanto podia.

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