Olhe para mim

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OLHE PARA MIM ED F R A NCK | K R I S NAU W E L A E RT S tradução Cristiano Zwiesele do Amaral


Kitoko olha para a mãe. E pensa: ela é tão carinhosa, cuida bem de mim e me ama. Eu tenho certeza. Mas ela é a minha segunda mãe, não a primeira, a de verdade. Isso às vezes dói. Ainda hoje. Observa as mãos atarefadas da mãe. Ela trabalha no museu e restaura a pintura dos quadros que o tempo desgastou. Às vezes ela cantarola, às vezes suspira; às vezes põe a mão sobre a barriga saliente e sorri. Kitoko olha para a barriga da mãe. Há uma nova irmãzinha ali dentro. E pensa: será que mamãe vai me amar tanto como me ama agora? “Só mais quinze minutos, meu bem, e eu já termino por hoje”, ela diz.


Kitoko vai à grande sala do museu e para diante de sua pintura preferida. Esse menino do quadro não parece nada feliz, pensa. Claro que não: afinal de contas, o que ele está fazendo num país de brancos com uma irmãzinha branca? Ele é um príncipe africano, dá para ver pelas roupas. E quer voltar para sua irmã negra, lá na África.

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Kitoko está cansado de esperar, cansado de se preocupar, cansado de sentir saudades de casa. Então adormece no banco e começa a sobrevoar mares, montanhas, planícies e desertos, direto até o coração da verde África.

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