O PACTO DO BOSQUE GUSTAVO MARTÍN GARZO • BEATRIZ MARTÍN VIDAL TRADUÇÃO MÁRCIA LEITE
T
odas as noites, quando já estavam na cama, a mãe de Paula e Gustavo ia até o quarto para lhes contar uma história. E as crianças sempre lhe pediam a mesma. — Naquele bosque — assim a mãe começava a história —, os lobos eram amigos dos coelhos e nunca, nunca lhes faziam mal. — Eu sei por quê! — gritou Gustavo, pulando na cama.
Gustavo era tão pequeno que ainda usava chupeta na hora de dormir. — Então me conte o por quê — pediu a mãe, com um sorriso. Gustavo tirou a chupeta da boca para falar: — Porque aconteceu uma coisa com os coelhinhos que se chamavam Orelhinha e Lambe-lambe.
— É verdade — a mãe continuou. — Os dois coelhos eram irmãos e, ainda que a mamãe Coelha tivesse recomendado muitas vezes que não saíssem da toca sem permissão, um dia eles a desobedeceram. Orelhinha tinha orelhas tão grandes que conseguia escutar até mesmo os sons mais delicados; já Lambe-lambe era apenas um bebê. Ele apenas percebia o que estava ao alcance de suas mãos. Felpudo e rechonchudo, ele tinha mania de lamber tudo o que encontrava pela frente. A senhora Coelha até chegou a fazer uma chupeta com um galhinho de alcaçuz para que ele deixasse de colocar na boca todas as porcarias que encontrava.