1972-1975 Estudos CEBRAP de Médici a Geisel

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1972-1975 Estudos Cebrap

De MĂŠdici a Geisel

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Centro Brasileiro de Analise e Planejamento Conselho Executivo

Presidente Paula Montero Diretora Científica Angela Alonso Diretor Financeiro Ronaldo de Almeida Diretora do CEM Marta Arretche Coordenador do INCT/CEM Eduardo Marques Elza Berquó Miriam Dolhnikoff Adrian Gurza Lavalle Haroldo Torres Suplentes Vera Schattan Coelho e Marcos Nobre

Editores deste volume Angela Alonso Miriam Dolhnikoff Projeto Gráfico QueDesign Impressão Stilgraf

Rua Morgado de Mateus, 615 Vila Mariana, São Paulo, Brasil CEP 04015-902

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Apresentação

Pág. 6

Fernando Henrique Cardoso O Regime Político Brasileiro

Paul Singer

As Contradições do Milagre

Pág. 8

Pág. 44

Vilmar Faria

Pobreza Urbana, Sistema Urbano e Marginalidade

Carlos Estevão Martins

A evolução da Política Externa Brasileira 5

Pág. 64

Pág. 86


Apresentação Fundar o CEBRAP foi um ato de sobrevivência política e, por isso mesmo, desde logo aceitar esse jogo. Para os militares como era possível que um grupo de comunistas recebesse ajuda da Fundação Ford? Para a esquerda mais radical o apoio era a prova de nossas hesitações ideológicas. Mas eles sabiam que também a Fundação Ford, ao se propor ajudar na criação de três centros de investigação em ciências humanas aqui no Brasil, sobretudo para evitar a fuga de cérebros que acontecera na Argentina, também fazia política, confrontando-se com as linhas mais gerais da diplomacia americana. Além do mais, o AI 5, pelo qual muito de nós fomos aposentados compulsoriamente, nos pegava num momento em que já tínhamos consciência da impossibilidade de se confrontar diretamente com o governo militar, de que a luta armada e o foquismo só poderiam dar com os burros n’água. Impossível criar vários Vietnans quando em muitos casos a economia na América Latina crescia a passos firmes. Era preciso negociar. Logo depois de fundado não sabíamos quais eram os limites das atividades do CEBRAP: até onde poderíamos ir? Graças ao Governador Paulo Egydio, muito amigo de minha mulher Lupe Cotrim, tivemos um contato com um coronel do II Exército para lhe expor as atividades “meramente científicas” da nova instituição. Soubemos, depois, que era responsável pelo controle ideológico da região. Interessante é que, ao nos despedir, fez questão de nos apresentar ao General Comandante, dizendo: “Estes são professores aposentados pelas estripulias do Gama e Silva”. O Exército se unia para fora, mas começava a rachar por dentro. Saímos com a certeza de que poderíamos investigar à vontade, mas ter muito pouco contado com alunos. E as publicações? Começamos editando cadernos de circulação restrita, divulgando os primeiros resultados de uma enorme e importante pesquisa sobre dinâmica populacional e desenvolvimento, que Elza Berquó e Cândido Procópio Ferreira de Camargo haviam iniciado na Faculdade de Saúde Pública e transferido para o CEBRAP depois da aposentadoria de Elza. Paul Singer publicou um estudo sobre a força de trabalho no Brasil, e Lucio Kowarick, estratégias do planejamento social. A revista propriamente dita, Estudos Cebrap – o nome me foi sugerido por Rubens Rodrigues Filho – prudentemente assumiu a forma de um arquivo. E o primeiro número, sem data de publicação, mas de fato em 1970, cobre o tema muito geral: teoria e método em sociologia. Aos poucos os articulistas foram se abrindo e tomando posições políticas. Abrir o espaço do diálogo. Mas os limites estavam presentes. Tanto é assim que, quando Vinícius Caldeira Brandt, a pedido de Dom Paulo Evaristo Arns, publica em 1975 São Paulo, Crescimento e Pobreza, um grupo paramilitar jogou uma bomba na sede do CEBRAP, o que nos obrigou a mudar da casa da Rua Bahia, para meio 6


andar de um prédio da Al. Campinas. Depois ainda soubemos que o Gal. Golbery de Couto e Silva teria dito que o CEBRAP se tornava um perigo. E cada um de nós começou a abrir seus próprios caminhos. Embora o CEBRAP se reconhecesse uma instituição de esquerda, nunca houve convergência entre nós. A união vinha da luta contra o mesmo inimigo, o regime e a ditadura militar, e uma franqueza na discussão de nossas diferenças, às vezes tão dura porque sempre amigável, que assustava a nova geração. Percorrendo agora os 24 números desta revista trimestral percebemos como as opiniões foram se transformando. Inicialmente muito de nós vimos 64 como um golpe militar sem condições de se impor como forma de governo. Nisso nos enganamos redondamente. Reconhecido o erro, cabia então desenhar a forma do novo regime. E nessa direção, passos importantes foram dados. Colegas costumam mencionar, entre os primeiros números, o ensaio de Fernando Henrique Cardoso: O Regime político brasileiro (no 2); Francisco de Oliveira, Crítica da razão dualista (no 2); Roberto Schwarz: Ideias fora do lugar (no 3); Paul Singer: O “milagre brasileiro”, causas e contradições; Vilmar Faria: Pobreza urbana, sistema urbano e marginalidade (no 9), e até meu Ardil do Trabalho (no 4). Com o tempo outros importantes profissionais passaram a colaborar. Não há condições físicas de republicar todos eles, por isso os editores deixaram de lado aqueles que por serem atualmente muito conhecidos, podem ser encontrados em outras publicações. É uma pena, mas não há o que fazer. Em compensação toda a coleção está digitalizada e pode ser acessada no site do CEBRAP. Que as amostras aqui publicadas sirvam também de lembrança de um momento muito importante da vida do CEBRAP. Durante a década de 70 reunia sistematicamente intelectuais de várias procedências para discutirmos o Brasil. Guillermo O’Donnell nos contava como seus colegas argentinos e sulamericanos esperavam com ansiedade as novas publicações. A América Latina estava tentando criar novas vias de pensamento, mas tudo se dispersou quando se perdeu o inimigo comum: o regime ditatorial. Lembro que, depois da abertura fui, na condição de Presidente do CEBRAP, visitar Martha T. Muse, Presidente da Thinker Foundation, que muito nos auxiliara naqueles anos. E ela me perguntou: “E agora, por que CEBRAP?”. Tentei explicar que poderíamos chacoalhar o pensamento brasileiro. Simplesmente me respondeu dizendo, mais ou menos o seguinte: se é assim, apresente-me um bom projeto coletivo e a Fundação financiará. Não consegui nem mesmo elaborar o projeto. A partir dos anos 80 passamos a crescer para todos os lados. O CEBRAP se institucionalizou e, como uma abobreira, lança ramos para diversas direções. José Arthur Giannotti CEBRAP fevereiro de 2014 7


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Este volume é uma edição especial da Revista Novos Estudos do Cebrap e foi financiado pela Fundação Carlos Chagas

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Embora o CEBRAP se reconhecesse uma instituição de esquerda, nunca houve convergência entre nós. A união vinha da luta contra o mesmo inimigo, o regime e a ditadura militar, e uma franqueza na discussão de nossas diferenças, às vezes tão dura porque sempre amigável, que assustava a nova geração. Que as amostras aqui publicadas sirvam também de lembrança de um momento muito importante da vida do CEBRAP. Durante a década de 70 reunia sistematicamente intelectuais de várias procedências para discutirmos o Brasil. Guillermo O’Donnell nos contava como seus colegas argentinos e sulamericanos esperavam com ansiedade as novas publicações.

Os quatro artigos reunidos nesta antologia, escritos na primeira metade da década de setenta, podem ser considerados clássicos do pensamento político de uma geração cebrapiana sobre o período do regime militar.

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