Em Busca do Presépio Universal

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EM BUSCA DO PRESÉPIO UNIVERSAL

Museu de Arte Sacra de São Paulo Sala Metrô Tiradentes Exposição Inaugural


LA NASCITA DELLA SPERANZA (detalhe) Autor: Ulderico Pinfildi Material: Terracota modelada a mão e policromada, madeira, arame revestido com fio de estopa, seda pura, algodão cru e acessórios de prata Data: 2015 Origem: Nápoles, Itália Dimensão: 47,5 x 30 x 52 cm


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SUMÁRIO 4

Sala Metrô Tiradentes

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Presépio Nigeriano

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Em Busca do Presépio Universal

82

Presépios na América

12

Presépios do Mundo

84

Presépio Equatoriano

16

Cabeça de São Francisco de Assis

88 Presépio Peruano

17

São Francisco de Assis

94

18

A Natividade

98 Presépio Bargueño Boliviano

20

Natal de Jesus

108 Presépio Mexicano

22

O Presépio Napolitano

110 Presépio dos Estados Unidos

24

Presépio Napolitano

114 Oratórios Mineiros

30

Gruta Napolitana

118 Lapinha ou Menino Jesus do Monte

34

Presépio Francês

120 Presépios de Cabaça

38

Presépio da Ilha da Madeira

121 Fuga para Egito

46

Presépio Japonês

122 Sagrada Família

52

Presépio Polonês

123 Sagrada Família

56

Presépio da Terra Santa

124 Presépio de Caruaru e Família de Retirantes

Presépio Popular de Boyacá

60 Presépio Cristão Húngaro

130 Presépio Sonho de Natal

64

136 La Nascita Della Speranza

Cena Natalina Chinesa

68 Presépio de Mossi 72

142 Ficha Técnica

Presépio de Zimbabwe

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SALA METRÔ TIRADENTES O Natal é a época de maior visitação ao Museu de Arte Sacra de São Paulo, quando tradicionalmente, é exposta a sua coleção de presépios. A visitação aos museus cresce gradativamente, como reflexo do interesse do público em conhecer os equipamentos culturais da cidade. Não nos parece possível imaginar melhor forma de propiciar, a um grande número de pessoas, a oportunidade de admirar obras de arte, do que exibi-las em local de fácil acesso e grande circulação. Este objetivo é alcançado pela parceria entre o Museu de Arte Sacra e o Metrô, com a inauguração da Sala Metrô Tiradentes. Proporcionar aos milhares de usuários do Metrô o acesso a esta exposição de presépios é uma iniciativa que nos traz a satisfação do dever cumprido.

JOSÉ OSWALDO DE PAULA SANTOS Presidente do Conselho de Administração JOSÉ CARLOS REIS MARÇAL DE BARROS Diretor Executivo

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Ao sair dos limites do Mosteiro da Luz, construído por Frei Galvão, e ocupar espaço tão significativo como uma Estação do Metrô, o Museu de Arte Sacra de São Paulo dá mais um passo em direção a uma nova fase da Instituição, na qual conceitos como democratização, diversificação de público e universalização do acesso à arte são postos em prática de maneira competente, respondendo aos legítimos anseios da população paulistana por novas formas de fruição artística. MARCELO MATTOS ARAÚJO Secretário de Estado da Cultura de São Paulo

A humanização do Metrô pela cultura e as artes, no seu sentido mais amplo, tem se confirmado como um rico instrumento de relacionamento com os usuários. Nos subterrâneos desta cidade, o acervo de mais de 90 obras já expostas ganha um novo e importante espaço com a criação da Sala Metrô Tiradentes, parceria entre o Museu de Arte Sacra e o nosso metropolitano. Mais uma vez, quem ganha é a população! CLODOALDO PELISSIONI Secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo

Nossa responsabilidade é com o transporte de mais de 4,5 milhões de pessoas por dia, com respeito, qualidade e segurança. Continuar a promover a integração das estações do Metrô de São Paulo às manifestações artístico-culturais e sempre abrir nossos espaços para a arte e a cultura brasileiras é levar esses passageiros mais além. PAULO MENEZES FIGUEIREDO Diretor-Presidente da Companhia de Transportes Metropolitanos de São Paulo - Metrô

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EM BUSCA DO PRESÉPIO UNIVERSAL Curadoria por Maria Inês Lopes Coutinho

É tempo de Natal, e os presépios ganham destaque neste período. Sua origem, contudo, remonta à Idade Média, e as primeiras encenações promovidas por São Francisco de Assis datam de 1223. A representação foi pensada de modo a despertar a sensibilidade dos fiéis para uma compreensão mais efetiva da vida de Jesus Cristo. O cenário era uma gruta com imagens de um Menino em uma manjedoura, Nossa Senhora, São José, um boi e um burro. É a cenarização mais comum entre os presépios de todo mundo até os dias de hoje. Contudo, na Idade Moderna, coube aos jesuítas a grande divulgação dos presépios, levando-os para fora da Europa, em especial às colônias. Serviam-se da representação das encenações da Natividade, que tocava os sentidos, propiciando a evangelização, bem de acordo com os ideais da teatralização barroca vigentes na época, criando formas de caráter artístico, histórico, devocional e patrimonial de grande valor. Santo Inácio de Loyola instituíra os Exercícios Espirituais – prática religiosa na forma de

meditação, contemplação e oração – que permitiam a comunhão com a vida de Cristo. O presépio, como elemento simbólico, trouxe a reflexão sobre seu nascimento. A Itália, a partir do século XVIII, tratou de revisitar, sob nova perspectiva, o tema do presépio. O ideal de pobreza passou longe do tema da Natividade. O Cristo veio ao mundo em uma apoteótica cena clássica, com a presença de colunas greco-romanas. Os elementos arquitetônicos que passaram a fazer parte das cenas de presépios, em conjunto com os aspectos narrativos do cotidiano, transformaram os presépios de São Francisco de Assis. Nápoles transformou-se em um importante centro de produção de arte presepista, e seus presépios ganharam destaque no cenário internacional. O Museu de Arte Sacra se orgulha de ter em seu acervo dois presépios napolitanos: um deles está presente nesta mostra; o outro, com mais de 1.500 peças, é considerado o segundo do mundo em tamanho e importância histórica.

A coleção do Museu de Arte Sacra e a arte dos presépios O Museu dos Presépios constituiu-se a partir de 1956, na cidade de São Paulo, por diversos conjuntos de um universo de representações que tratam de cenas da Natalidade, em que o nascimento do Cristo

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é o centro no arranjo das composições, tanto em esculturas como em pinturas a óleo ou aquarelas. No tocante aos presépios brasileiros, há exemplares desde o século XVIII.


O Museu de Presépios em São Paulo – cuja criação foi fundamental para a preservação da memória secular da arte presepista em suas diversas dimensões, representações, tipologias e materiais –, inicialmente na Galeria Prestes Maia, foi transferido para a marquise do Ibirapuera em abril de 1969 e na década de oitenta para o Museu de Arte Sacra. As figuras de Lourdes Milliet e Ilza das Neves foram fundamentais nesse processo. Hoje, por herança e tradição, cabe ao Museu de Arte Sacra essa missão. A pesquisa e a divulgação desse acervo constituem um grande desafio, mas o maior deles é a conservação adequada, visto que a diversidade está presente no próprio suporte dessas obras, sustentando a materialidade das tradições, cuja proveniência é continental, regional e local. Dentre as peças incorporadas ao Museu, observa-se um conjunto polonês que, ambientado em um castelo, apresenta uma estrutura de madeira e papelão revestido com papel de chocolate. Outro conjunto, japonês, permite várias leituras antropológicas que conduzem o nosso olhar à atitude de reverência do casal diante do Menino e a um São José ricamente vestido de samurai. A aquarela sobre papel, de autoria do professor e pintor taiwanês Ma Den-Fieu, apresenta uma versão chinesa da Natividade e expressa o sentimento de veneração de Santa Maria e São José a Jesus Cristo. No conjunto francês, os personagens que complementam a cena do nascimento são figuras do cotidiano, como um pastor e um músico que toca um instrumento de sopro denominado cornamusa, tendo um cachorro a seu lado. Um dos exemplares mais completos da arte presepista, representando cenas raras da vida de Jesus, é o presépio português, procedente da Ilha da Madeira. Esse conjunto executado em

barro cozido, policromado e dourado conta com as cenas da “anunciação”, “sonho de São José”, “visita à Santa Isabel”, “adoração dos Magos”, “circuncisão”, “apresentação do Menino no Templo”, “fuga para o Egito”, “ordens de Herodes”, “matança dos Inocentes” e “Jesus entre os Doutores”. Os africanos, por sua vez, trazem um precioso componente que nos faz observar como a composição étnica é fortemente representada nos presépios de todos os continentes. A presença dos animais é constante e os Reis Magos apresentam-se, usualmente, em posição de veneração, muitas vezes em genuflexão. Os presépios americanos são identificados pelas fortes cores do México, pela qualidade requintada da imaginária equatoriana, que celebra a identidade jesuítica. Há a presença de um bargueño originário da Bolívia, uma caixa de viagem do século XVIII, e de outros confeccionados em bloco único, como o colombiano, ou o norte-americano, um raro exemplar em barro cozido, com todos os lados trabalhados. A técnica e o suporte variam de acordo com o conjunto; são identificados o barro, o papel, a madeira, a cerâmica, o marfim, o tecido, entre outros. Há aqueles com policromia e outros sem. A maioria das obras é de tamanho médio a pequeno, e há os que apresentam dimensões bem reduzidas. O que difere é a quantidade de peças, que os transforma em magníficos conjuntos, ocupando uma grande área expositiva, como é o caso dos napolitanos. Na atualidade, o grande público tem acesso a uma produção de presépios industrializados, nos quais a resina substitui o barro, a madeira, os tecidos, a pedra, o gesso e os materiais orgânicos. A maioria deles é produzida na China. Vale observar que na América a principal herança cultural difundida pelas

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representações presepistas é a franciscana, na qual Cristo nasce em uma choupana, até mesmo sem cobertura, distante do majestoso cenário greco-romano. Porém a narrativa e a presença de personagens do cotidiano, à moda de Nápoles, é também encontrada em outras representações presepistas com elementos característicos e técnicos peculiares a cada região. Trata-se do sagrado e do profano que se encontram em um mesmo cenário do

gênero narrativo dos presépios. É o caso do presépio peruano apresentado na mostra, com personagens identificados pela indumentária característica dos povos andinos, e do presépio brasileiro de Caruaru, do Mestre Vitalino, que traz a participação especial do casal de cangaceiros Lampião e Maria Bonita, cuja iconografia e indumentária pertence ao imaginário do povo brasileiro.

Presépios no Brasil

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No Brasil pode se constatar a presença de presépios desde os tempos coloniais. Eles assumiram não só aqui, mas na América, a função educadora. Evangelizar era preciso e os presépios representavam o cenário propício para essa narrativa. No acervo remanescente das Missões Jesuíticas dos Sete Povos das Missões há figuras de presépios de porte médio-grande, com datação provável do final do século XVII. Ora, se são os jesuítas os grandes divulgadores da arte presepista no mundo, é natural que se constate essa presença na arte produzida pelos nossos indígenas no sul do país. Ao longo do século XIX, a vinda da Família Real trouxe incentivo à tradição de presépios; cenas natalinas foram propagadas na corte.

do Brasil é a criatividade de seu povo, logo essas características foram absorvidas e transformadas de acordo com a realidade local, conforme se observa pelos presépios apresentados na mostra. Cite-se o presépio de Caruaru, PE, com a presença de uma família de retirantes; o de São Paulo, com o suporte de cabaças; o de Minas Gerais, com oratórios maquinetas – raros exemplares que representam, na parte baixa, o nascimento de Cristo e, na parte alta, sua crucificação. A Bahia se sobressai por um presépio que retrata cenas do cotidiano em um grande cenário festivo, e também pela lapinha, que exprime as singularidades da forma de representação da Natividade vigente na América portuguesa (Brasil) do século XVIII.

Narrativa e paisagem são características encontradas entre os presépios montados pelos imigrantes que aqui aportaram no século XX. Datam da primeira metade desse século personagens confeccionados em gesso maciço, carneirinhos com corpo coberto de lã e pernas em madeira. Nos cenários pastoris, para caracterizar as paisagens, utilizavam-se materiais orgânicos, bordados e muitas vezes espelhos. Como uma das grandes riquezas

Um dos poucos presépios tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), na década de 1980, foi o presépio do Pipiripau, em Belo Horizonte, MG, que prima pelo arranjo feito pelo artesão Raimundo Machado Azevedo, em 1906. Objetos do cotidiano, cenas móveis que narram o nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, bem como carretéis de linha para gerar movimentos são apresentados

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em uma maquete animada exposta ao público que confunde o espectador no sentido da apreciação. Os dois lados do presépio são significativos e belos. O primeiro lado, frontal, expõe todo o repertório de figurações; o verso, a engrenagem de funcionamento e movimento. É importante registrar que a tradição do Natal se difundiu nas últimas décadas junto a certa visão mais generalizada que se verifica nas montagens de cenas natalinas em áreas de convivências de shopping centers pelo país. Fugindo da estética tradicional, essas figuras natalinas, como Papais Noéis, bonecos de gelo, árvores de natal, estrelas, bolas, botas e renas, muitas encontradas no comércio, ostentam uma narrativa que, além do tradicional e da cor vermelha, trazem tons dourados, prateados, azuis, beges, crus e brancos; mais recentemente foram incrementadas com luzes de LED que muitas vezes se espalham pelas cidades, como é o caso do “Natal Luz”, tradicional em Gramado, no Rio Grande do Sul. As nossas coleções de presépios foram apreciadas pelo herdeiro da tradição napolitana Ulderico Pinfildi, hoje uma das maiores autoridades do mundo em representações da Natividade. Sua generosidade foi além de analisar e classificar as

principais peças: dos cinco exemplares produzidos pelo artista, denominados “La nascita della speranza”, figuras que representam a misericórdia, um foi doado ao Museu de Arte Sacra, e as outras unidades foram distribuídas a museus distintos, entre eles, do Vaticano. Dessa forma, a nova mostra é conduzida na Sala Metrô Tiradentes; tal obra nos eleva a outro patamar, muito além desse cotidiano da agitada São Paulo e sua estimativa de quatro milhões e meio de passageiros diários do metrô: o da esperança de um mundo melhor, um mundo de paz. As produções presepistas trazem as características da cultura de seus países; são historicamente representativas, patrimônio único dos locais onde se originaram. A celebração e a fraternidade são constantes; a paz é comum a todos e, certamente, desejo partilhado. A ideia de um presépio universal não está, dessa forma, longe do que o público terá nessa exposição que inaugura o novo espaço do Museu de Arte Sacra, a Sala Metrô Tiradentes. Que a paz esteja entre os homens!

Maria Inês Lopes Coutinho, Diretora Técnica do Museu de Arte Sacra de São Paulo

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Coube, de fato, a São Francisco de Assis promover uma primeira representação viva do presépio em 1223: com autorização do Papa Honório III (1148-1227), ele celebrou uma missa iluminada com tochas, numa gruta que contava com a imagem do Menino numa manjedoura com palha, ladeada por um boi e um burro. Esta representação, destinada a oferecer aos fiéis uma compreensão mais sensível e profunda da vida de Cristo, utilizava-se das antigas tradições teatrais europeias para ensinar o Evangelho. Tornaram-se

recorrentes

nos

conventos

franciscanos entre os séculos XIII e XV.

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PRESÉPIOS DO MUNDO Pesquisa histórica por Mirza Pellicciotta Os presépios na Cristandade As representações do nascimento de Cristo remontam às origens do Cristianismo e se encontram fundamentadas nos evangelhos de São Lucas e São Mateus. Nos primeiros séculos da cristandade, as contradições relativas à data de nascimento de Jesus, somadas à importância conferida à celebração de sua morte, atribuíram menor importância às representações da Natividade. Datam do século IV as mais antigas representações escultóricas, em sarcófagos e em instrumentos litúrgicos, da Virgem Maria, do Menino Jesus em seu leito e dos Reis Magos. Nesse século o Papa Libério (352368) instituiu o Natal em 25 de dezembro e fundou a igreja de Santa Maria Maior, santuário que viria a cumprir um papel importante nas celebrações natalinas. Na cripta dessa igreja, o Papa Sisto III (432-440) fez instalar uma gruta da Natividade, e,

duzentos anos depois, o Papa Teodoro I (642-649) consolidou as festividades natalinas. Foi, no entanto, no século XIII que se firmou o modelo de representação do nascimento de Cristo que conhecemos na atualidade. Ele nasceu fruto das práticas litúrgicas das novas ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos). Coube, de fato, a São Francisco de Assis promover uma primeira representação viva dos presépios em 1223: com autorização do Papa Honório III (1148-1227), ele celebrou uma missa iluminada com tochas, numa gruta que contava com a imagem do Menino numa manjedoura de palha, ladeada por um boi e um burro. Essa representação, destinada a oferecer aos fiéis uma compreensão mais sensível e profunda da vida de Cristo, utilizava-se das antigas tradições teatrais européias para ensinar o Evangelho, e, a partir dela, as representações da Natividade tornaram-se recorrentes nos conventos franciscanos dos séculos XIII a XV.

O presépio de São Francisco de Assis O modelo proposto por São Francisco de Assis inspirou, por sua vez, a primeira representação escultórica de presépio: por encomenda do papa Nicolau IV (1227 – 1292) ao artista Arnolfo di Cambio, em 1288, a igreja de Santa Maria Maior recebeu a encenação franciscana esculpida em alto relevo nas paredes da cripta. Esta representação também

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ganhou alterações no século XIV, quando da revelação vivida por Santa Brígida da Suécia, em 1371. A partir de então, o Menino Jesus transformou-se num ser de luz; a Virgem Maria e São José assumiram uma posição de veneração (de joelhos) e as referências ao parto tomaram caráter milagroso. Na condição de representações escultóricas


ou teatrais, os presépios se disseminaram pela Europa central no curso do século XIV e assumiram diferentes formatos. Nos conventos femininos, eles se firmaram como presépios oratórios; nas celebrações públicas, incorporaram-se às representações teatrais da vida de Cristo; nos ambientes domésticos e institucionais, deram origem a presépios narrativos, como os antigos presépios de Nápoles, originalmente confeccionados em barro (século XV) e, posteriormente, em madeira

policromada com dimensões próximas à humana. As representações da Natividade, reafirmadas pela Reforma da Igreja do século XVI, por fim, integraram as ações das ordens missionárias (jesuíta, franciscana, dominicana) e se difundiram pelas colônias americanas, africanas e asiáticas. Na Europa, elas floresceram nas ordens monásticas, alcançando, no século XVII, as igrejas e as residências.

Os presépios europeus Na Europa, os presépios ganharam novo lugar no curso dos séculos XVII e XVIII com o surgimento dos presépios narrativos, dinâmicos e móveis, financiados pelas casas reais católicas. Os primeiros presépios móveis, ambientados em amplas paisagens, surgiram na Itália no século XVII e deram forma a diversas escolas de arte presepista. Entre elas, o presépio napolitano inovou pela prática de vestir os pastores com roupas de tecido, por se distanciar do misticismo da Natividade, por contextualizar a cidade de Nápoles do século XVIII (inserindo personagens que não participam da adoração e que se integram a uma existência

comum) e ainda por incorporar simbolismos cristãos para além da narração evangélica. A alta qualidade alcançada por esta forma artística engajou reis, nobres e autoridades, e auxiliou fortemente a disseminação dos presépios em diferentes regiões da Europa. Em Portugal, os reis D. João II, D. Manuel I, D. João III e, mais tarde, D. João V contrataram artistas para a confecção de presépios, como Alessandro Giusti (que instituiu uma escola do barro no século XVIII), e contribuíram fortemente para a generalização da tradição no território lusitano.

Os presépios coloniais À semelhança dos franciscanos (nos séculos

elementos móveis e articulados.

XIII-XVI), os jesuítas incorporaram e conferiram ações

A presença das representações da Natividade

evangelizadoras nas colônias e, já no século

de Cristo no cotidiano colonial das Américas

XVII, incorporaram na confecção dos presépios

portuguesa e hispânica fez nascer novas tipologias

ao

presépio

importante

papel

nas

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de presépio, entre eles, o presépio de dois andares

de origem lusitana, que conferiram dinamismo à

(constituído pela cena da Natividade na parte

representação cristã.

de baixo e pela cena da Crucificação na parte de

Data do século XVIII, também, a disseminação

cima) e a lapinha, surgida no Brasil (que representa

de presépios narrativos de modelo napolitano nas

o Menino Jesus no alto de um monte, cercado de

cortes da Europa; nessa trajetória, Carlos VII, rei

flores, plantas, pássaros e animais). Diante dessas

de Nápoles e de Espanha, fez chegar na América

lapinhas dançava-se o pastoril, historietas natalinas

hispânica a nova modalidade de representação.

Os presépios brasileiros Os presépios narrativos de modelo napolitano

Também no século XX a permanência e força das

chegaram ao Brasil com a família real lusitana

lapinhas, acompanhadas por pastoris, encantaram

(1808) e se propagaram entre os membros da corte

Mário de Andrade em suas viagens pelo interior do

imperial no curso do século XIX. Em princípios da

Brasil, nas primeiras décadas do século XX.

República (a partir de 1889), a migração em massa de famílias europeias conferiu novo lugar à tradição, que, até meados do século XX, assumiu progressivo caráter popular nos espaços públicos e privados das novas cidades.

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Mirza Pellicciotta, doutora em História, cursando pós-doutorado na ECA-USP/SP


Bibliografia AMBROSIO, Eliana Ribeiro. Presépio napolitano do Museu de Arte Sacra de São Paulo e de coleções internacionais: cenografia e expografia. Tese (doutorado) em História, IFCH UNICAMP, 2012 ARGAN, Giulio Carlo. História da arte italiana – De Gioto a Leonardo. 3 vol. São Paulo: Cosac & Naif, 2002. BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 CARDOSO, Arnaldo Pinto. O presépio barroco português. Lisboa: Bertrand Editora, 2003 DOWLEY, Tim. Os cristãos. Uma história ilustrada. São Paulo, Martins Fontes, 2009 DUÉ, Andrea. Atlas Histórico do Cristianismo. Texto de Juan María Laboa. Aparecida, SP: Editora Santuário; Petrópolis, RJ: Vozes, 1999 LYRA, Joana da Costa. Os caminhos do Presépio. Imagem devocional no catolicismo popular. Dissertação (mestrado) Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006 MIGLIACCIO, Luciano; MIGLIACCIO, Alessandro. As Origens do Presépio. In: WALKER, José Roberto (org.). O Presépio Napolitano de São Paulo. São Paulo: Retrato Publicidade, 2002 MILLIET, Lourdes Duarte. Museu de Presépios. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, Volume CLXXVI, jan/mar 1969

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CABEÇA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS Autor

DESCONHECIDO Origem

Data

SÉC. XVIII

DESCONHECIDA Dimensão

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Material

Procedência

TERRACOTA POLICROMADA DESCONHECIDA

19,5 X 14 X 17,5 CM


SÃO FRANCISCO DE ASSIS Autor

DESCONHECIDO Origem

GOA, ÍNDIA Dimensão

Data

SÉC. XVIII

Procedência

Material

MARFIM

DESCONHECIDA

17,5 X 5,5 X 4,2 CM

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A NATIVIDADE Autor

LUDOVICO CARRACCI

(CÓPIA DE ANTONIO ALLEGRI DA CORREGGIO, CUJO ORIGINAL ESTÁ NA GALERIA DE DRESDEN, ALEMANHA)

Data

SÉC. XVI / XVII

Origem

ITÁLIA

Material

Procedência

ÓLEO SOBRE TELA

DESCONHECIDA

Dimensões 105 X 72,5 CM (SEM MOLDURA) /160 X 124 X 13 CM (COM MOLDURA)

Esta obra, intitulada: “A Natividade”, de Lodovico Carracci (1555, Bolonha, Itália - 1619, Bolonha, Itália) apresenta a nítida influência classicista da Escola de Bologna, em que se destaca o dispositivo cênico de montes e rochedos, que tanto influenciou a Europa Central quinhentista, com as várias gravuras que, com este traço, opunham-se aos cenários constituídos por elementos arquitetônicos de templos ou de corte. Percebe-se, também, no arranjo de composição da cena, um tipo de Natividade noturna, que se desenvolve de modo singular por conta do foco exclusivo de luz – ora a “Luz Divina” - que emana de Cristo e parece atingir de forma intensa e gradativa os rostos dos personagens ao redor, garantindo assim

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a mesma distribuição de cores encontrada na pintura de Antonio Allegri da Correggio (1489, Correggio, Itália - 1534, Correggio, Itália) que lhe serviu de modelo e também inspirou Carracci nos demais ordenamentos, tal como o plano de fundo da tela que, como se vê, permanece na obscuridade. Oportunamente, essa ausência de luz do contorno, em contraponto com a “Luz Divinal” emanada pelo Menino, gera um campo de força que direciona o espectador a observar com acuidade o rosto da Virgem (sobretudo) e dos demais personagens ali presentes, bem como o grupo de anjos que resguardam o Menino (localizados na parte superior do conjunto), corroborando o fortalecimento do “Mistério da Encarnação”.


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NATAL DE JESUS Autor Material Procedência

DESCONHECIDO

Data

ÓLEO SOBRE MADEIRA

SÉC. XVIII Origem

BRASIL

CORO DA ANTIGA CAPELA DE SÃO JOÃO, SÃO PAULO (SP) Dimensão 107 X 54,5 X 3 CM

As pinturas representando cenas da natalidade são raras. Esta obra remonta ao período colonial paulista, o que indica a influência na arte presepista das ordens religiosas, que conferiam ao presépio um papel destacado nas ações evangelizadoras da América Latina. O cenário mostra um grupo de pessoas humildes, uma delas com um pote na cabeça, o que denota que as figuras são, supostamente, trabalhadores. A cena da Natividade tem destaque central no quadro e evoca, pela simplicidade dos personagens, a humildade tão difundida pelos ideais de São Francisco de Assis.

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O PRESÉPIO NAPOLITANO Nápoles, 25 de novembro de 2014

O presépio no mundo assume muitas formas de expressão, mas a forma napolitana, que teve início no século XVIII, na minha opinião, continua a ser a maior invenção que transformou a representação presepista, tornando-se única no seu gênero. As peças passaram a ser realizadas em um tamanho menor, as cabeças modeladas em argila com olhos de vidro; o manequim de fio de estopa toma o lugar dos manequins de madeira do século XVII, dando mais realismo aos personagens e expressões. Essa técnica se revelou tão forte e decisiva para modelar a figura, que ainda hoje é usada por nós, escultores, e nada a substituiu. A unicidade do presépio napolitano não se baseia somente na técnica de realização, mas principalmente na sua ambientação (o que eu chamo “saudável presunção partenopeia(1)”). De fato, para os napolitanos, Jesus nasce em Nápoles, em terra Campana, entre os povos do reino. Nasce nas ruas de Nápoles, que de repente se torna o grande cenário do evento. E assim o presépio se transforma em outra coisa. Do culto objeto, torna-se moda entre a nobreza, paixão para colecionadores e, enfim, torna-se teatro. No século XIX, o grande Eduardo De Filippo usa o presépio como peça central de um dos seus trabalhos mais conhecidos, e é exatamente esse

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aspecto, atores em um grande palco, que mais me fascina. Pastores que interpretam e participam de uma verdadeira obra teatral. Como em um filme mudo onde não existe a palavra, se expressam com o corpo, falam através das poses plásticas, que lhes dão a elegância escultórica sem jamais cair no grotesco. Tudo em um cenário campano que nos transporta para uma Nápoles rica em natureza, fazendo-nos quase sentir o suave e doce clima que a caracteriza, entre as ruínas do período romano que o mundo inteiro admira. “O presépio napolitano” encarna muito claramente a cultura e a tradição. É cheio de referências às escrituras sagradas, mas ao mesmo tempo coloca em cena o sagrado e o profano, através da sua paisagem e cenário. O Templo com seu duplo significado: por um lado, um simples capricho de clientes que, fascinados com as descobertas das ruínas romanas de Herculano, pretendem uma representação no presépio; por outro, o significado “poético”, onde, nas ruínas de um templo pagão, nasce nova religião. (1) N.R.: outro patronímico para “napolitano”.

Ulderico Pinfildi, escultor e artista presepista


IL PRESEPE NAPOLETANO Napoli 25 novembre 2014

Il presepe nel mondo, è realizzato in tante forme espressive ma quello che è stato a Napoli nel diciottesimo secolo, a mio parere rimane la grande invenzione che ne sconvolgerà la rappresentazione rendendolo unico nel suo genere. Accade che si riducono di dimensione, che le testine vengono modellate in terracotta con gli occhi in vetro, conferendo realismo alle espressioni ed ai caratteri. Accade che il manichino di filo di ferro e stoppa, prende il posto del manichino seicentesco in legno con gli snodi e questo passaggio sarà così fortemente decisivo ai fini del modellare la figura, che ancora oggi viene usato da noi scultori e niente lo ha sostituito. Ma la cosa che renderà unico il presepe napoletano è quella che io chiamo “La sana presunzione Partenopea”. Infatti Gesù nasce a Napoli in terra Campana, tra la gente che popolava il regno. Nasce fra le strade di Napoli che all’improvviso diventa il grande scenario dell’evento.

E proprio questo aspetto di attori su di un grande palco, è quello che più mi affascina. I pastori recitando ognuno il proprio ruolo, partecipano ad una vera e propria opera teatrale. Come in un film muto però, non avendo la parola, si esprimono con il corpo, parlano attraverso pose plastiche che ne conferiscono eleganza scultorea senza mai cadere nel grottesco. Il tutto in una scenografia che è quella delle vedute del entro terra campano, trasportandoci in una Napoli ricca di natura, facendoci quasi sentire quel clima mite e dolce che la caratterizza tra rovine di epoca romana che tutto il mondo ammira. “Il presepe napoletano”, quindi chiaramente racchiude cultura e tradizione. E’ ricco di rimandi alle sacre scritture, ma al tempo stesso mette in scena il sacro ed il profano e lo fa attraverso la sua scenografia. - Il tempio col suo doppio significato: da una parte, semplice vezzo dei committenti che affascinati da i ritrovamenti ad Ercolano di rovine romane, ne chiedono una raffigurazione sul presepe. Dall’altra, il significato direi “poetico” dove sulle rovine di un tempio pagano nasce la nuova religione.

Ed allora il presepe diventa un’altra cosa. Da oggetto di culto diventa moda fra i nobili diventa passione per il collezionismo di piccole opere d’arte e diventa rappresentazione teatrale. Anche nel 900 il grande Eduardo De Filippo ne fa il fulcro di una delle sue opere più conosciute

Ulderico Pinfildi, scultore e artista presepiale

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PRESÉPIO NAPOLITANO Autor

DESCONHECIDO

Material

Data

SÉC. XVIII / XIX E PRINCÍPIO DO XX

BARRO COZIDO POLICROMADO, MADEIRA, TECIDO, LIGA METÁLICA E GESSO Procedência

Origem

NÁPOLES, ITÁLIA

SÃO PAULO (SP), BRASIL

Dimensões 33 X 14 X 9 CM (FIG. MAIOR) / 20,5 X 8,5 X 8,5 CM (FIG. MENOR)

É possível visualizar nesta exposição uma tipologia de presépio cuja função primordial é apresentar a iconografia da Festa da Natividade e a organização de seus grupos escultóricos, sob uma dinâmica narrativa e cenográfica. Referimo-nos ao Presépio Napolitano doado pelo Conselheiro do Museu de Arte Sacra de São Paulo, José Carlos Reis Marçal de Barros, in memoriam do Arquiteto Omar Gonçalves de Moreschi que, ao longo de sua vida procurou adquirir, em antiquários localizados na Itália e em Nova York, os vários componentes das cenas ali organizadas.

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Assim sendo, este inusitado presépio, com datação atribuída aos séculos XVIII, XIX e princípio do século XX, constitui-se de materiais diversificados: barro cozido e policromado, madeira, tecido, liga metálica e

gesso,

enunciando

oportunamente,

uma representação bucólica e pastoril da cidade de Nápoles, associada a elementos ora descritivos ora narrativos, organizados em função da cronologia do mistério em questão, e que conduz nosso olhar àquilo que permanece invisível: o sentido da Encarnação, inspirado no Evangelho de Lucas para o nascimento e no Evangelho de Mateus para os Magos. Neste contexto, é interessante notar que antes dos Magos, são os pastores próximos dos animais e da natureza que recebem o anúncio da presença de Deus entre os homens.

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Por conseguinte nota-se ainda que, na descrição dos cenários de tais presépios de cunho teatral e didático, são várias as possibilidades de interpretações e implicações, tanto simbólicas como afetivas, que nos permitem considerar que o processo de evangelização dos segmentos populares estava baseado na apresentação de mundos semelhantes, e que a natureza do trato entre o fiel e as imagens não se fundamenta somente na contemplação de uma cena propriamente dita, mas numa interação dinâmica com os personagens divinos e profanos ali representados.

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GRUTA NAPOLITANA Autores

LORENZO MOSCA (IMAGEM DE SÃO JOSÉ) & GIUSEPPI GORI

(IMAGENS DE NOSSA SENHORA, MENINO JESUS E AS CABEÇAS DOS ANIMAIS)

Data

SÉC. XVIII

Material

MADEIRA POLICROMADA, BARRO

COZIDO E CORTIÇA Procedência

Origem

DESCONHECIDA

NÁPOLES, ITÁLIA

Dimensão 73 X 40 X 40 CM

O termo “gruta”, título deste presépio, encontra-se registrado no Evangelho do Pseudo-Mateus (livro apócrifo), XIV: “Três dias depois do nascimento do Senhor, nosso Jesus Cristo, Maria saiu da gruta e alojou-se num estábulo (...)”. Observa-se na cena deste presépio napolitano as três figuras que determinam o tema fulcral da Natividade: a Virgem, o São José e o Menino em frente à gruta. O que nos remete ao mistério divino que consagra Maria como o tabernáculo vivo da divindade.

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Diga-se, mistério este que ganha força com a teologia mariológica de São Bernardo de Claraval (1090-1153), no século XII, cuja doutrina influenciou outros teólogos a exemplo de São Tomás de Aquino (12251274) que, por sua vez, ratificou a santidade de Maria e a estendeu a São José, daí então enaltecido como esposo da virginal Maria. Diante do exposto, interessa observar que a composição aqui apresentada, apesar de singela e sem intenções panorâmicas ou de proporcionalidade, remete por si só à essência da Natividade ao apresentar a Sagrada Família em conformidade como é referida nos evangelhos. Por exemplo, em Mateus e Lucas, como também em livros de outros apóstolos, José é lembrado por ser homem de fé e nomeado de o “Justo” no Evangelho de Mateus, pois a ele foi revelado o nascimento virginal de Jesus (Mateus 1: 10-25); já no Evangelho de Lucas, como pai “guardião” de Jesus (Lucas 4: 1-22).

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PRESÉPIO FRANCÊS Autor

DESCONHECIDO

Data

1910

POLICROMADO E MADEIRA Procedência

PARIS, FRANÇA

Dimensões

Material

Origem

GESSO

FRANÇA

42 X 12 X 18 CM (FIG. MAIOR) /

9,5 X 8 X 23 CM (FIG. MENOR)

Na França a primeira manifestação da representação do presépio é datável do século XIII e deve-se também aos franciscanos que, ainda durante a vida de São Francisco, fundaram conventos em Arles, Brignoles e, um pouco mais tarde, em Marselha e outras cidades da França. Esta representação de presépios proposta por São Francisco de Assis, permaneceu na França até o início do século XX. Além da cena da natalidade - onde o Menino Jesus está de braços abertos, o casal Nossa Senhora e São José em reverência voltados para ele e os Reis Magos em genuflexão nesse presépio francês vale destaque para os personagens que representam o músico e o mendigo com o cachorro.

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PRESÉPIO DA ILHA DA MADEIRA Autor

DESCONHECIDO

POLICROMADA Procedência Dimensões

Data

Origem

SÉC. XVIII

Técnica

TERRACOTA

ILHA DA MADEIRA, PORTUGAL

CABO FRIO (RJ) / SÃO PAULO (SP), BRASIL

18 X 7 X 4,5 CM (FIG. MAIOR) / 14 X 10 X 7 CM (FIG. MENOR)

Este presépio foi doado por Francisco Matarazzo Sobrinho (Cicillo Matarazzo) em 1956, por ocasião da criação do Museu de Presépios pela Prefeitura Municipal de São Paulo. À semelhança do Presépio Napolitano, adquirido em 1949, o Presépio da Ilha da Madeira consiste numa representação narrativa dinâmica do século XVIII, confeccionada em Portugal, por sua nobreza e realeza, no barro, característica dos presépios da época. É dos mais completos do acervo do Museu de Arte Sacra na representação das cenas. Entre ela destacamos a da “circuncisão” do Menino Jesus.

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PRESÉPIO JAPONÊS Autor

DESCONHECIDO

Data

SÉC. XX

E PALHA DE ARROZ Procedência

TÓQUIO, JAPÃO

Material

Origem

Dimensão

SERRAGEM, SEDA

JAPÃO

40,5 X 75 X 45 CM

Doação CARITAS DO JAPÃO EM TÓQUIO, ENTIDADE NACIONAL

DE CUNHO RELIGIOSO, POR GENTILEZA DO CONSULADO GERAL DO JAPÃO, 1973

A forma de representar o nascimento de Cristo, proposta por São Francisco de Assis, em 1223, e disseminada pelos franciscanos nos séculos XIV e XV, alcançou sociedades dos mais variados tempos, celebrando de maneira profunda e sensível a vida de Cristo. Esse presépio japonês apresenta figuras moldadas em serragem compacta e revestida de seda com trajes típicos de tecido de inverno, estação de Natal naquele país. O grupo está montado sobre tatame - esteira de palha trançada - e apresenta uma lanterna em pé feita de charão recoberta de papel de arroz. Nos quatro lados pode ler-se a inscrição: “Paz na terra aos homens de boa vontade”.

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A atitude de reverência do casal Nossa Senhora e São José diante do Menino, moldada com a curvatura do corpo, mostra a importância da cena. A indumentária característica da cultura oriental, na figura masculina de São José, lembra um samurai.

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PRESÉPIO POLONÊS Autor

DESCONHECIDO

Data

SÉC. XX

Material

MADEIRA, TECIDO

E PAPELÃO REVESTIDO COM PAPEL DE CHOCOLATE Origem

POLÔNIA

Procedência

POLÔNIA

Dimensão

164 X 75 X 51 CM

O “Szopka Krakowska”, ou berço da Cracóvia, é em forma de catedral, como os típicos zimbórios de cobre das construções eslavas. Trabalho popular muito interessante, todo construído em madeira e papelão inteiramente recobertos de papel de chocolate. A cena da natalidade está presente na área central do cenário, mas se dilui diante da monumentalidade da edificação. Este presépio veio diretamente da Polônia para Ciccilo Matarazzo, que o doou ao Museu de Presépios em 1968.

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PRESÉPIO DA TERRA SANTA Autor Material

DESCONHECIDO

MADEIRA DE OLIVEIRA

JERUSALÉM, ISRAEL Dimensões

Procedência

Data

SÉC. XX

Origem

TERRA SANTA,

JERUSALÉM, ISRAEL

7,5 X 2 X 3 CM (FIG. MAIOR) / 1,3 X 3 X 4,3 CM (FIG. MENOR)

As considerações sobre as direções da religiosidade conduz o nosso olhar àquilo que permanece invisível ou, até mesmo, incompreensível: o sentido da encarnação e assim a representação das encenações da festa da Natividade, por meio do presépio, abre um espaço para contestar, no desenvolvimento da espiritualidade deste mistério em que o nascimento ocorre sem sofrimento físico ou cansaço, a mácula do pecado original que incorreu sobre Eva e a sua descendência, profetizado no livro sagrado: “os teus filhos hão-de nascer entre dores” (Gênesis 3: 16). A Natividade recupera na sua simbologia a presença divina entre os homens nas circunstâncias do presépio.

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Como se pode notar na iconografia do nascimento deste exemplar oriundo de Jerusalém, a dimensão simbólica acentua a função catequética da representação através, por exemplo, da presença dos animais, o que alude à religião judaica, e aos gentios que Cristo veio suplantar. Na profecia de Isaías, lê-se: “o boi conhece o seu possuidor, e o jumento o estábulo do seu dono” (Isaías 1: 3), passagem que se estabilizou na iconografia das práticas

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devocionais e do sentimento religioso. O burro e o boi aqui participam do tema da adoração com vistas a aquecer o Menino, em que se incluem os Reis Magos à cena. A introdução dos Magos para homenagear o Menino, referidos em alguns textos apócrifos (Evangelho do Pseudo-Mateus 16: 1-2), são vistos também em Mateus (Mateus 2, 1-11): “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns Magos vindos


do Oriente. (…) abrindo os cofres, ofertaram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra”. Entre outras analogias inseridas na Idade Média, os presentes, além do valor de sua materialidade, simbolizam espiritualmente a tripla natureza de Cristo: o ouro, metal precioso, é o presente típico oferecido aos reis (I Reis 9: 14-28), pois simboliza a

monarquia e a realeza; incenso, queimado nos rituais religiosos, representa o sacerdócio do Senhor e seu papel como o Cordeiro de Deus que seria sacrificado em nosso favor (João 1: 29); mirra, por conta de sua propriedade especiais de conservação, associa-se ao ato de embalsamar e ao sepultamento (João 19: 39-40).

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PRESÉPIO CRISTÃO HÚNGARO Autor

KATHARINA DRAGAN RÁCZ - KATÓ Material

CERÂMICA PINTADA Procedência

Dimensões

Origem

Data

SÉC. XXI

HUNGRIA

SÃO PAULO (SP), BRASIL

13 X 7 X 6,5 CM (FIG. MAIOR) / 6 X 8 X 6,5 CM (FIG. MENOR)

Doação KATHARINA DRAGAN RÁCZ - KATÓ, 2014

Na Europa Oriental existem diferentes tradições sobre a realização do presépio: as tradições cristãs e as heranças pagãs se misturam na Hungria; os costumes populares nestas festas estão relacionados com ritos camponeses como a espera de boas colheitas. É importante citar que já no século XVI, após o Concílio de Trento, realizado entre 1545 a 1563, a Igreja Católica procurou reafirmar seus princípios dogmáticos diante da Reforma Protestante em expansão na Europa. Fala-se de um tempo em que se confirmou o propósito de dignificação de episódios da vida terrena do Senhor, ou seja, seu natalício e circuncisão, assim como as temáticas consideradas pertinentes pela devoção e pela reflexão teológica.

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E assim, observa-se ainda hoje, nas produções presepistas contemporâneas da Europa Oriental, tal como neste singular presépio, a incorporação de elementos bucólicos de inspiração pastoril, assegurados pela presença do rebanho de ovelhas e pastores, juntamente com a presença do tema da adoração em que se incluem os Magos. Todo esse repertório de figurações pode ser encontrado em diversos materiais, em especial a utilização da tradicional técnica local da cerâmica pintada. Vemos, entre as treze peças, uma

imagem em cerâmica pintada de branco, marrom escuro e bege, representando um pastor; esta imagem em posição lateral, rosto de perfil, cabelos caídos até aos ombros, bigode longo abaixo do queixo, mãos unidas na altura do peito segurando uma bengala, usa chapéu e veste trajes típicos do condado de Hortobágy (nordeste da Hungria). Já a imagem representando o Rei Mago, apresenta-se também em cerâmica pintada de branco com detalhes dourados, com as mãos unidas na altura do abdômen, no peito um coração dourado em alto relevo, barba e bigode espessos de policromia marrom e veste trajes típicos do condado de Tolna (sul da Hungria).

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CENA NATALINA CHINESA PROFESSOR E PINTOR MA DEN–FIEU (1915–1993) 1972 Material AQUARELA SOBRE PAPEL DE ARROZ Origem REPÚBLICA DA CHINA NACIONALISTA (FORMOSA), ATUAL CIDADE DE TAINAN, TAIWAN Procedência MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE TAIWAN Dimensão 163 X 82 X 4 CM COLEÇÃO MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO Autor

Data

Aquarela em papel de arroz, representando uma cena natalina chinesa, especialmente pintada para o Museu do Presépios. Autoria do professor Ma Dien-Feiu, da Faculdade de Belas Artes de Formosa, na época República da China Nacionalista, agora Taiwan, foi doada pela Conferência de Bispos Chineses em 1973, o artista é de projeção em Taiwan e teve seu catálogo Raisonné publicado em 2015. Vale destacar que as figuras representadas, apresentam traços orientais e São José, em especial, apresenta-se em posição de reverência ao Menino Jesus. O cenário apresentado na pintura é de inverno, típico da região na época natalina.

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PRESÉPIO DE MOSSI Autor Origem

ETNIA MOSSI Procedência

Dimensões Doação

Data

SÉC. XX

Material

BRONZE

REGIÃO DE ONAGADONGON, BURKINA FASO BOUAKÉ, COSTA DO MARFIM

6,8 X 2,8 X 3,3 CM (FIG. MAIOR) / 3 X 5 X 5 CM (FIG. MENOR)

DR.ª ANNE MARIE CLAVEAU À MITRA ARQUIDIOCESANA

Originário da região do Onagadongon, Alto Volta, atual Burquina Faso (África). O conjunto compreende 12 peças fabricadas em bronze, com utilização de modelagem. Destacamos o biótipo representado nas figuras, que é característica típica da região onde o presépio foi produzido. Os animais presentes, pelo tamanho avantajado, denotam importância especial na cultura local.

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PRESÉPIO DE ZIMBABWE Autor

JOHN KHAMI

Material Origem

SÉC. XX

MADEIRA DE JACARANDÁ

HARARE, MISSÃO DE DRIEFONTEIN Procedência

Dimensões

Data

ZIMBÁBUE

20,5 X 5,5 X 6,5 CM (FIG. MAIOR) / 4 X 5 X 9,5 CM (FIG. MENOR)

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Este presépio revela um trabalho produzido na África Meridional, especificamente na República do Zimbábue, onde a utilização da cerâmica como material artesanal se destaca, e muito, na produção das artes escultóricas tradicionais locais. A República do Zimbábue é um país que entre os sistemas de doutrinas, crenças e práticas, além das religiões africanas e islâmicas, possui um grande número de adeptos do cristianismo. Podemos observar, nos trabalhos de artistas contemporâneos, a presença da figura humana identificando a preocupação com os valores étnicos, morais e religiosos. Na arte da escultura, observa‐-se o uso do marfim e de metais preciosos: ouro e bronze, como também, o uso da madeira de jacarandá como matéria-prima. Os primeiros presépios foram introduzidos pelos missionários, nos quais o Menino Jesus era produzido em gesso: um recém-nascido de pele branca. Ao longo do tempo a Igreja Católica passou a produzir uma iconografia local, com vistas a criar laços de identidade com as populações daquele espaço geográfico. E é assim que podemos observar na representação escultórica deste presépio as cores e matérias-primas africanas, neste caso, a madeira de jacarandá.

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PRESÉPIO NIGERIANO Autor Material

DESCONHECIDO

Procedência Dimensões

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Data

MADEIRA ENTALHADA

SÉC. XX

Origem

NIGÉRIA

SÃO PAULO (SP), BRASIL

18 X 6 X 6,5 CM (FIG. MAIOR) / 3 X 3 X 3,7 CM (FIG. MENOR)


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Neste presépio as figuras são esculpidas à mão, em madeira balsa, representando o grupo sacro com trajes típicos regionais. Introduz personagens que não participam da adoração e que integrados a uma existência comum, de certa forma, remetem a alguns elementos dos presépios narrativos. São tipos populares representados nas suas múltiplas atividades que revelam todo o sabor local. Destacamos as cenas das embarcações que se diferenciam na paisagem, integradas à cena natalina. Foi doado pela família Henrique de Araújo, ao Museu de Arte Sacra, em 1976.

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PRESÉPIOS NA AMÉRICA das práticas de devoção à teatralidade didática

Dentre os tipos de presépios produzidos na América Latina durante os séculos XVIII, XIX e XX, há exemplares salvaguardados no acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo dignos de serem observados com acuidade, a exemplo das peças que, selecionadas para esta mostra, tendo absorvido certas especificidades oriundas de um modelo visual europeu já estabelecido por uma tradição

iconográfica,

atestam

características

próprias, passíveis de serem reconhecidas pela singularidade das técnicas utilizadas e dos materiais locais empregados em sua feitura.

conventos femininos das colônias no século XVIII. Nesse

âmbito,

as

mulheres

obviamente

estabeleceriam maior identidade com o culto à Virgem e ao Jesus Menino. Este último, originado no final da Idade Média e difundido pelas

ordens

religiosas,

sobremaneira

pelos

franciscanos e clarissas, direcionou a religiosidade e a espiritualidade nos recolhimentos femininos abrindo

um

espaço

para

assinalar

que

as

perspectivas contemplativas, associando-se às celebrações do nascimento, encontraram respaldo na representação das encenações da Natividade

O apuramento dos aspectos que caracterizam a singularidade das peças apresentadas como um traço original do quadro cultural em que decorreu

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por meio do presépio, um dos pontos principais do devocionário católico na esfera doméstica.

a vida ao longo do período colonial, parece

Em geral, sobre a figuração da temática cristã

corroborar a organização das aparências e efeitos

enunciada, denota-se nas peças expostas uma

convenientes à consolidação material e simbólica

importante fidelidade ao programa iconográfico

da intervenção da Igreja na vida do fiel, em vista

tradicional, quer no que concerne aos atributos que

de despertar e estimular a devoção. Recorde-

as figurações ostentam, quer nas características

-se que as práticas de devoção alternavam entre

de adereços a que se associam. Desenvolvem-se,

religião pessoal e religião coletiva, e é assim que

portanto, dentro de um cenário de cariz pedagógico,

as correntes piedosas da religiosidade ibérica nos

a articulação da narrativa da infância de Cristo,

séculos XVI e XVII alcançaram e influenciaram os

isto é, desde a “Anunciação” até a “Matança dos

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Inocentes” e “Jesus entre os Doutores”. É o que se pode notar nos diversos elementos que constituem os cenários em miniatura, que por sua vez se aproximam do contexto dos oratórios de convento e de culto doméstico. Nessa tipologia acima descrita, cujo intuito se conserva no cumprimento de uma oferta votiva, vislumbram-se ornamentações florais em papeletas, frutos, concharia e animais, em conjunto com a sagrada família e também com os magos, os anjos e os pastores, cujas feições sustentam uma arte barroca latino-americana, que representa a imagem visível da autoconsciência de possuir uma identidade histórica, de interpretar a influência europeia a partir de uma leitura particularmente dramática e expressiva da realidade, tudo isso por meio da notável manufatura que explora os recursos arquitetônicos e ornamentais e estabelece um estreito vínculo entre a técnica da escultura, da pintura e da talha.

Silveli Maria de Toledo Russo, doutora em arquitetura, cursando pós-doutorado na FAU-USP/SP

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PRESÉPIO EQUATORIANO Autor Material

DESCONHECIDO

Data

SÉC. XVII / XVIII

MADEIRA, PAPELÃO, TECIDO E JARINA (MARFIM VEGETAL)

Procedência

Origem

QUITO, EQUADOR

QUITO, EQUADOR

Dimensão

80 X 79 X 36 CM

O “Presépio Equatoriano”, doado pela esposa do Conde Ernesto Pereira Carneiro ao Museu de Arte Sacra, em 1972, consiste num raríssimo exemplar da fase áurea da prestigiada “Escola de Quito”, referência de excelência artística alcançada por índios e mestiços no território do Equador colonial. Originado pelos esforços de instrução franciscana, coube ao Rei da Espanha criar no século XVI o “Colégio San Andrés de Artes, Ofícios e Letras”, instituição que se celebrizou nos campos da escultura, arquitetura e pintura nos séculos XVI a XIX.

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Este presépio traz assinatura jesuítica no frontão e prima pela qualidade, em especial no tratamento da carnação realizado nas peças. Também introduz no material elementos locais como a jarina, uma espécie de marfim vegetal.

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PRESÉPIO PERUANO Autor Material

MAXI SERRA

Data

SÉC. XX

TERRACOTA POLICROMADA E MADEIRA Procedência

Dimensões Doação

Origem

CUZCO, PERU

SANTA ROSA DO VITERBO (SP), BRASIL

20,5 X 5,5 X 6,5 CM (FIG. MAIOR ) / 4 X 5 X 9,5 CM (FIG. MENOR)

MARTHA, MARIBEL E GUILHERME ABADIA PICCONE, DA FAZENDA AMÁLIA, EM 1977

Neste presépio tipo oratório peruano, datado do século XX, identifica-se a permanência de tradições centenárias de representação da Natividade de Cristo, tradições que foram trazidas à América hispânica pelas ordens religiosas mendicantes. Montado em retábulo, a cena natalina desenvolve-se no plano superior tendo como fundo a varanda de um casarão, o que demonstra o espírito cristão e comunitário do povo. As figuras populares são em terracota policromada.

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O interessante nessa obra é a representação dos personagens com indumentária característica de povos andinos, levando suas dádivas ao Menino Jesus para a grande data.

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PRESÉPIO POPULAR DE BOYACÁ Autor Material

DESCONHECIDO

Data

SÉC. XX

ARGILA COZIDA, CHUMBO VERDE E VITRIFICADO

Origem Procedência

BOYACÁ, VALE DE CHICHINQUIRÁ, COLÔMBIA SÃO PAULO (SP), BRASIL

Dimensão

11 X 29 X Ø 94 CM

Do município de Boyacá, no Vale de Chichinquirá apresenta-se este bloco único com 15 figuras, em argila pura cozida, esmaltada e vitrificada, com coloração verde à base de chumbo. Apesar de ter sido produzido no século XX, traz resquícios do artesanato pré-colombiano, quando o tratamento da argila era feito diretamente com o próprio minério de chumbo. Atualmente os artesãos obtêm o vidrado utilizando a galena das velhas baterias de automóveis, que após o processo de trituração, ao pó obtido, é adicionada água, formando uma pasta homogênea para ser trabalhada de imediato.

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PRESÉPIO BARGUEÑO BOLIVIANO Autor Material

DESCONHECIDO

Data

SÉC. XVIII

MADEIRA POLICROMADA E DOURADA

Origem

BOLÍVIA Dimensão

Procedência

DESCONHECIDO

85 X 151 X 94 CM

Também conhecido como bargueño, este presépio se abre e fecha conforme as circunstâncias. As partes laterais são levantadas do chão, em seguida fecham-se os lados, depois a frente e finalmente o teto que desce sobre o todo, formando uma espécie de arca pintada de verde com desenhos dourados e fecho de latão. Em suas diferentes divisões apresenta algumas cenas da vida de Jesus, como “Anunciação”, “A matança dos inocentes” e “Jesus entre os Doutores”.

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As imagens que integram a Natividade são de madeira policromada e dourada em tamanho desproporcional em relação às outras peças. Explica-se esta desproporção pela ordem de importância e hierarquia: primeiro o Menino Jesus, maior de todos, em seguida Nossa Senhora e São José e finalmente os demais personagens, pássaros e animais que se espalham por todos os lados. É um dos únicos exemplares dos presépios do Museu de Arte Sacra que apresenta a figura de Deus no céu do cenário. Exemplar raro em importância, trazido diretamente da Bolívia por um antiquário paulista e doado ao Museu do Presépio por Hermínio Lunardelli e família em 1964.

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PRESÉPIO MEXICANO Autor

DESCONHECIDO

Material Origem

SÉC. XX

TERRACOTA PINTADA

TLAQUEPAQUE, JALISCO, MÉXICO

Procedência Dimensões

Data

SÃO PAULO (SP), BRASIL

8,5 X 4,5 X 3,5 CM (FIG. MAIOR) / 2 X 4 X 4,5 CM (FIG. MENOR)

Neste presépio mexicano, as figuras são produzidas em terracota, pintadas com características regionais, cujo o colorido recebe destaque. É uma representação tradicional da cena da Natividade, que remonta aos ideais de São Francisco de Assis, sem contudo apresentar a manjedoura ou a gruta. A doação foi de Maria Luiza Barros.

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PRESÉPIO DOS ESTADOS UNIDOS Autor Material

JANE MAC CLINTOCK

TERRACOTA

Procedência

Origem

Data

SÉC. XX

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

SÃO PAULO (SP), BRASIL

Dimensão

18,5 X 43 X 24,5 CM

Três blocos irregulares de terracota em tons diferentes representam a cena natalina no interior do bloco central, com o Menino Jesus isolado ao meio. As figuras esguias de Maria e José estão moldadas nas paredes laterais. Em perfeita síntese da criação à encarnação do verbo de Deus, feito por São João Batista, desvendam-se dois pastores, um anjo, árvore da vida, uma porta encimada por uma estrela, um burro, um boi, um passarinho e três Reis Magos.

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É de autoria da artista plástica norte-americana Jane Mac Clintock, e a doação é de Rosemay Sullivan, em 1977, ao antigo Museu dos Presépios. Esta peça, produzida no final do século XX, traz na forma uma estilização, mas evidencia, ao mesmo tempo, a mais tradicional representação de presépios que remonta à Idade Média.

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ORATÓRIOS MINEIROS Autor

DESCONHECIDO

POLICROMADA E CALCITA Procedência Dimensão

Data

SÉC. XVIII

Origem

Material

MADEIRA

MINAS GERAIS (MG), BRASIL

SÃO PAULO (SP), BRASIL

79 X 41 X 20 CM / 92 X 48 X 24 CM

Presépio oratório, foi doado em 1962 por Cicillo Matarazzo para integrar o acervo do futuro Museu de Presépios, que encontrava-se em montagem no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Consiste num raro exemplar dos presépios vigentes na América portuguesa do século XVIII, apresentando, na parte baixa, a representação do nascimento de Cristo e, em sua parte alta, sua crucificação.

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O destaque é para a utilização do material típico da região: a calcita, uma pedra calcária de constituição próxima à pedra sabão, que apresenta a cor esbranquiçada e é maleável para esculpir.

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Na catalogação do Museu - e também pela documentação egressa do Museu dos Presépios - o oratório é indicado com o termo “maquineta” que, contudo, não é usual na região.

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LAPINHA OU MENINO JESUS DO MONTE Autor Data

FREIRINHAS DO CONVENTO DOS HUMILDES

SÉC. XVIII

Material

MADEIRA POLICROMADA, TECIDO,

CERÂMICA, FOLHAS DE OURO E PRATA

Origem

CONVENTO

DOS HUMILDES, SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO (BA), BRASIL

Procedência

RIO DE JANEIRO (RJ), BRASIL

Dimensão

70 X 35 X 32 CM

Esta lapinha da Bahia colonial, doada por Clothilde de Carvalho Machado ao Museu de Arte Sacra em 1982, exprime as singularidades da representação da Natividade de Cristo vigente na América portuguesa (Brasil) do século XVIII. São geralmente acompanhadas por cenas pastorais, cujo Menino é apresentado pelo Divino Pastor.

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PRESÉPIOS DE CABAÇAS Os presépios consolidaram o trabalho da artesã Evarista Ferraz Salles, pioneira no Brasil no desenvolvimento de trabalhos de artesanato em palha, milho e bucha. A confecção de cenas presepistas no interior de cabaças e figuras, com peças de menor tamanho, são a forma de expressão que a artista encontrou para traduzir o que há de mais tradicional em presépios, revisto e reinterpretado através de elementos locais. A fuga para o Egito, cena clássica desenvolvida sobre um céu azul e a cena

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da natalidade, com a Sagrada Família com aspecto regional é das expressões da autora que merecem destaque. A graça das obras é justamente o poder da criatividade da autora. Premiado no Concurso da Secretaria Municipal de Turismo e Fomento, em São Paulo, em 1962, o presépio foi doado pela autora ao Museu dos Presépios. Entretanto, principalmente pelo emprego de material orgânico, cabe hoje ao Museu de Arte Sacra o maior desafio: o da conservação e preservação deste legado.


FUGA PARA O EGITO Autor Data

EVARISTA FERRAZ SALLES SÉC. XX

Material

CABAÇA E

PALHA DE MILHO Origem

SÃO PAULO (SP), BRASIL

Procedência

SÃO PAULO (SP), BRASIL

Dimensões

33 X 29 X 14 CM

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SAGRADA FAMÍLIA Autor Data

DESCONHECIDO SÉC. XX

Material

CABAÇA,

MADEIRA E PALHA DE MILHO Origem

DESCONHECIDA

Procedência Dimensão

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SÃO PAULO (SP), BRASIL

35,5 X 28 X 30 CM

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SAGRADA FAMÍLIA Autor

EVARISTA FERRAZ SALLES

Data

SÉC. XX

Material

CABAÇA,

SEMENTES E TECIDO Origem

SÃO PAULO (SP), BRASIL

Procedência

SÃO PAULO (SP), BRASIL

Dimensões

39 X 20 X 18 CM (FIG. MAIOR)

/ 4,5 X 7 X 10 CM (FIG. MENOR)

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PRESÉPIO DE CARUARU E FAMÍLIA DE RETIRANTES Autor

MESTRE VITALINO & MANUEL VITALINO; LUIZ ANTÔNIO Data

Origem Dimensões

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SÉC. XX

Material

CARUARU (PE), BRASIL

BARRO COZIDO

Procedência

SÃO PAULO (SP), BRASIL

14 X 6,5 X 5,5 CM (FIG. MAIOR) / 2 X 3,5 X 5 CM (FIG. MENOR); 13 X 7 X 27 CM


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Presépio original do Mestre Vitalino, músico (tocador de pífano), artesão e ceramista pernambucano, que viveu entre 1909 e 1963, na cidade de Caruaru (PE). Inspirou várias gerações de artistas transformando-se em um ícone da cultura local. Doado ao Museu de Arte Sacra de São Paulo, pelo casal Georges e Iris Ariê, em 1974, essa obra, que contou a participação de seu filho Manuel Vitalino, retoma a tradição de presépios narrativos modeladas em barro, misturando tradições italianas e lusitanas.

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Esse presépio evoca a forma de representação da Idade Média ao apresentar o nascimento do Menino Jesus, os Reis Magos e cenas do agreste pernambucano. Na representação dos elementos humanos o autor lança um paradigma com a presença do casal Lampião e Maria Bonita, com iconografia típica que está presente no imaginário do sertão nordestino brasileiro. Com esta proposta, a dualidade entre o bem e o mal se materializa. O casal de cangaceiros alcançou, de certa forma, a redenção com o comparecimento e apreciação da cena abençoada. Os animais são fartamente representados na cenografia: bois, burros, bodes, cavalos,

ovelhas, peixes, sapos, tartarugas. Esse repertório rural é também apresentado no presépio africano da Costa do Marfim, associando-se não pela quantidade, mas pelo significado das peças apresentadas. Afinal, são os pastores e animais que, antes dos Reis Magos, recebem o anúncio da presença do nascimento do Salvador. Nas montagens do Museu de Arte Sacra de São Paulo ao longo de quatro décadas, a “Família de Retirantes” foi incorporada à cenografia do presépio do Mestre Vitalino e de seu filho, que, assinada por Luiz Antônio, comunga da riqueza cultural da região nordeste do Brasil.

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PRESÉPIO SONHO DE NATAL Autor Data

SÉC. XX Origem

Material

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MADEIRA, TECIDO, CABELO NATURAL E METAIS

BAHIA (BA), BRASIL

Dimensões

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WALDETTE CHRISTINA FONSECA Procedência

BAHIA (BA), BRASIL

38 X 22 X 12 CM (FIG. MAIOR) / 14 X 7 X 13 CM (FIG. MENOR)


Artesã baiana, Waldette Christina, fez este presépio especialmente para ser doado ao Museu dos Presépios. Incansável pesquisadora e estudiosa do folclore da nossa terra, sua proposta é não deixar perecer um antigo artesanato baiano: as bruxas de pano.

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As peças de sua autoria figuram em coleções e museus dos E.U.A, Suécia, Alemanha e Argentina. O Presépio apresenta figuras de pano e algodão, com unhas de escamas de peixe e cabelos naturais. O cenário é feito em madeira, isopor, feltro, papelão e vários tipos de papel. Apresenta várias características da capital baiana e desenvolvese em três planos distintos: um trecho do Distrito Naval, os sobradões da Rua Manoel Vitorino e as habitações das arcadas da Ladeira de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Neste cenário cheio de luz, movimento e colorido, a Sagrada Família aparece entre os feirantes e

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gente trabalhadora e humilde de Salvador. O Menino Jesus, no colo de Nossa Senhora, ladeado por São José, surge vestido à baiana de camisola de cambraia, ricamente bordada com rendas finas. As mãozinhas seguram o globo terrestre: homenagem a um mundo de paz, amor e fraternidade. A presença do Menino alvoroça a cidade; velhas baianas exibem suas saias engomadas, turbantes e balangandãs, vendem acarajé, cuscuz, vatapá, sequilhos e cocadas.

Tipos populares oferecem vassouras de pau, “quebra queixo”, potes e redes. Também se apresentam o peixeiro, o florista, a verdureira, a lavadeira e o trabalhador de rua consertando um buraco na ladeira.

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Beatas, donas de casa, babás, esmoleiros, moleques, lutadores de capoeira, tocador de berimbau, o marinheiro abraçado à crioula e até as mexiriqueiras. É toda a Bahia, berço, raça e tradição fielmente reproduzidas por Waldette Christina em seu “Sonho de Natal”, doado ao Museu dos Presépios em 1976, que inova a influência narrativa dos presépios do século XVIII, em especial os napolitanos, e a transporta para a realidade brasileira, especificamente a baiana.

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LA NASCITA DELLA SPERANZA Autor Material

ULDERICO PINFILDI

Data

2015

MODELADA A MÃO COM TERRACOTA POLICROMADA

E MADEIRA, ARAME REVESTIDO COM FIO DE ESTOPA, SEDA PURA, ALGODÃO CRU E ACESSÓRIOS DE PRATA Origem

NÁPOLES, ITÁLIA

Dimensão

47,5 X 30 X 52 CM

Escultura confeccionada em Nápoles por Ulderico Pinfildi, conhecido escultor e artista presepista italiano. Importa destacar que, dos cinco exemplares produzidos pelo artista, quatro deles estão abrigados em outras cidades, entre elas o Vaticano. De acordo com Pinfildi, a manifestação artística do presépio napolitano passou a ser difundida a partir do século XVIII e representa a única nesse gênero e técnica. As peças são trabalhadas com as cabeças modeladas em argila e olhos de vidro soprado e roupas habilmente trabalhadas.

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No século XVIII o manequim era confeccionado em madeira. Para dar maior realismo às personagens e expressões, a madeira foi substituída pela estrutura em arame revestida de fio de estopa, facilitando sobremaneira a articulação das figuras na montagem das cenas ao apresentar a iconografia da Natividade e a organização de seus grupos escultóricos. Outro fator importante para Pinfildi é que não só a técnica dá unicidade ao presépio napolitano,

mas também a sua ambientação. Para os napolitanos, conforme citou o presepista, Jesus Cristo nasceu em Nápoles, em terra Campana, entre as pessoas que andavam pelas ruas naquela época: nobres, mendigos, camponeses e mouros. As cenografias de Natividade na oficina de Ulderico Pinfildi são representadas como as tradicionais regras dos anos 1700.

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FICHA TÉCNICA GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Inês Mendonça Petit Vice - Presidente

Geraldo Alckmin Governador do Estado Marcelo Mattos Araujo Secretário de Estado da Cultura

Conselheiros Arnoldo Wald Filho Ary Casagrande Filho Benedito Lima de Toledo Cesar Giobbi Demosthenes Madureira de Pinho Neto Dom Carlos Lema Garcia Dom Edmar Peron Haron Cohen Luiz Arena Pe. Fernando José Carneiro Cardoso Pe. José Rodolpho Perazzolo Pe. Valeriano Santos Costa Renato de Almeida Whitaker Ricardo Almeida Mendes Ricardo Nogueira do Nascimento Ricardo Von Brusky Roberta Maria Rangel Rodrigo Mindlin Loeb Rosimeire dos Santos

Clodoaldo Pelissioni Secretario dos Transportes Metropolitano Paulo Menezes Figueiredo Diretor-Presidente da Companhia de Transportes Metropolitanos de São Paulo - Metrô Renata Vieira da Motta Coordenadora da UPPM - Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer Arcebispo Metropolitano de São Paulo

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José Carlos Reis Marçal de Barros Diretor Executivo Maria Inês Lopes Coutinho Diretora Técnica Luiz Henrique Marcon Neves Diretor de Planejamento e Gestão

SALA METRÔ TIRADENTES EXPOSIÇÃO INAUGURAL

José Emídio Teixeira Jussara Maria Rosin Delphino Pe. José João da Silva

Curadoria e Expografia Maria Inês Lopes Coutinho

Conselho de Administração

Conselho Consultivo

Assistente - Equipe Técnica Ligia Maria Paschoal Diniz

José Oswaldo de Paula Santos Presidente

José Roberto Marcellino dos Santos Presidente

Pesquisa Histórica Mirza Pellicciotta

ASSOCIAÇÃO MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO – SAMAS

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Conselho Fiscal

Conselheiros Beatriz Vicente de Azevedo Cônego Celso Pedro da Silva Marcos Mendonça Maria Alice Milliet Mariângela de Vasconcellos Marino Ricardo I. Ohtake Tito Enrique da Silva Neto

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Textos Equipe Técnica MAS Mirza Pellicciotta Silveli Maria de Toledo Russo Ulderico Pinfildi Conservação Preventiva Carmen Luiza Valeriano Batista José Antonio Barbosa Filho Acervo - Catalogação e Exposição Alana Íria Augusto Elaine Bueno Prado Elisa Carvalho Lia de Oliveira Ravaglia Strini Rosimeire dos Santos Montagem Carlos Alberto dos Anjos Elaine Bueno Prado Genisvan Barbosa da Conceição

José Amauri Vieira Lia de Oliveira Ravaglia Strini Marcelo Batista Oliveira Paulo de Oliveira Marques Rosimeire dos Santos

Ação Educativa MAS Vanessa Costa Ribeiro coordenação Cesar Orte Novelli Rodrigues Segurança e Manutenção Wermeson Teixeira Soares coordenação Fotografia Miguel Pacheco e Chaves Assistentes de fotografia e cenário José Iran Monteiro Sousa Elaine Bueno Prado Comunicação e Arte Área Externa - Criação Roseane Gomes Sobral

Patrocínio

Secretaria dos Transportes Metropolitanos

Impressão Plotagem, Arte Área Interna - Criação RCS Arte Digital Direção de Arte Miguel Chaves coordenação Rodrigo Padin - QueDesign Revisão Dina Faria Ícaro Gatti Tratamento de imagem Ana Carolina Alves Cola Gilberto Prado Lima Gustavo Araujo de Castro Juliana da Cunha Duarte Rodrigo Padin Ficha Catalográfica Claudio S. de Oliveira CRB 8-8831 Impressão Ipsis

Realização

Secretaria da Cultura

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O Natal é a época de maior visitação ao Museu de Arte Sacra de São Paulo, quando tradicionalmente, é exposta a sua coleção de presépios. A visitação aos museus cresce gradativamente, como reflexo do interesse do público em conhecer os equipamentos culturais da cidade. Não nos parece possível imaginar melhor forma de propiciar, a um grande número de pessoas, a oportunidade de admirar obras de arte, do que exibi-las em local de fácil acesso e grande circulação. Este objetivo é alcançado pela parceria entre o Museu de Arte Sacra e o Metrô, com a inauguração da Sala Metrô Tiradentes. Proporcionar aos milhares de usuários do Metrô o acesso a esta exposição de presépios é uma iniciativa que nos traz a satisfação do dever cumprido. JOSÉ OSWALDO DE PAULA SANTOS

Presidente do Conselho de Administração JOSÉ CARLOS REIS MARÇAL DE BARROS

Diretor Executivo

Nossa responsabilidade é com o transporte de mais de 4,5 milhões de pessoas por dia, com respeito, qualidade e segurança. Continuar a promover a integração das estações do Metrô de São Paulo às manifestações artístico-culturais e sempre abrir nossos espaços para a arte e a cultura brasileiras é levar esses passageiros mais além. PAULO MENEZES FIGUEIREDO

Diretor-Presidente da Companhia de Transportes Metropolitanos de São Paulo - Metrô


EM BUSCA DO PRESÉPIO UNIVERSAL Museu de Arte Sacra de São Paulo Sala Metrô Tiradentes Exposição Inaugural


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