Revista Racine (Edição 120) - Atenção Farmacêutica - Farmácia Clínica

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ISSN 1807-166X

Revista Racine 120

120 Ano XXI Janeiro Fevereiro 2011

• Atenção Farmacêutica - Farmácia Clínica

Atenção Farmacêutica Farmácia Clínica Mesa-Redonda: Da Teoria à Prática Atenção Farmacêutica como Construção da Realidade

• Janeiro/Fevereiro 2011

Considerações e Questionamentos Sobre Poder e Conflito Profissional em Organizações de Saúde

Entrevistas

Linda Strand, farmacêutica clínica, educadora e pesquisadora emérita das Universidades de Utah, Flórida e Minnesota (EUA) - Pág. 23

Djenane Ramalho Oliveira, farmacêutica clínica e professora adjunta do Department of Pharmaceutical Care & Health Systems, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), e professora adjunta do Departamento de Farmácia Social da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Pág. 28

Seções Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica Alta Hospitalar: Enfoque Farmacêutico - Pág. 66

Especial PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos Pág. 80

Legislação O Que É Histórico de Mudança do Produto (HMP) e Como as Empresas Devem Proceder? - Pág. 76




Editorial Necessidades Sociais como Objeto de Prática Profissional As duas últimas décadas foram, marcadamente, transformadoras para a profissão farmacêutica e tivemos o privilégio de viver em uma época única de nossa história mundial. Época de transição entre o milênio passado e o futuro, cuja amplitude das mudanças alterou completamente a sociedade e as estruturas sociais. Neste contexto, foi urgente repensar o desenho da formação e do exercício profissional para todas as profissões da área da saúde, incluindo a profissão farmacêutica, como forma de atender às necessidades sociais contemporâneas.

120 Ano XXI Janeiro/Fevereiro de 2010 Infecção Hospitalar

Assim, fomos privilegiados como farmacêuticos por termos a possibilidade de contribuir com a construção do novo papel deste profissional no sistema de atenção à saúde. Nossas ações, mais que nossos discursos, devem ser efetivas no sentido de tornar real a missão da prática farmacêutica, que não apenas deve prover a sociedade dos medicamentos mas, para além disso, assegurar que esta os utilize com racionalidade e segurança. Tenho consciência de que a tarefa tem sido árdua e, muitas vezes, povoada por dilemas, e que seu resultado não se resume a uma linha de chegada ou uma vitória. Este novo desenho é parte de um processo de transformação que, ansiamos, estabeleça-se como contínuo, uma vez que a própria sociedade se modifica constantemente e temos, como profissionais da saúde, que evoluir para atendê-la. A legitimidade de nossa importância social estará sempre condicionada à qualidade de nossas metas como profissão e à grandeza de nosso compromisso com esta mesma sociedade. Estou segura que teremos êxito nesta tarefa. O PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, idealizado pelo Instituto Racine, tem a responsabilidade de contribuir com este alicerce. Ao apresentar de modo integrado as ações de Atenção Farmacêutica e de Farmácia Clínica, reforça o caminho já trilhado pelos pioneiros, ressalta os objetivos primeiros e principais da prática assistencial farmacêutica, que são a obtenção de benefícios concretos para o paciente e a contribuição para a redução da morbimortalidade relacionada ao uso de medicamentos na sociedade. Para tal feito, o PCare 2011 traz ao Brasil renomados palestrantes internacionais, como a Dra. Linda Strand, farmacêutica que desenvolveu a prática do Pharmaceutical Care a partir dos Estados Unidos da América (EUA), e que nos honrará com a Conferência de Abertura do Congresso, nos apresentando seu grande aprendizado de mais de 25 anos na prática da Atenção Farmacêutica. Traz, também como palestrantes, Dra. Maricruz Mora, farmacêutica coordenadora do programa de Atenção Farmacêutica do Hospital México, na Costa Rica, e Dr. Charlie Benrimoj, professor de prática farmacêutica da Universidade de Sydney (Austrália). As experiências brasileiras em Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica também foram mapeadas e trazidas para o PCare 2011, demonstrando que os farmacêuticos brasileiros têm buscado o aperfeiçoamento na área assistencial, alcançando resultados exitosos. São mais de 160 trabalhos aprovados para apresentação em forma de pôster, o que superou nossas expectativas e comprovou que estamos no caminho certo. Para culminar, esta 120ª edição da Revista Racine, especial sobre Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica e o lançamento do livro pela RCN Editora “Atenção Farmacêutica: da Filosofia ao Gerenciamento da Terapia Medicamentosa” de autoria da Dra. Djenane Ramalho Oliveira, farmacêutica e pesquisadora da Fairview Pharmacy Services LLC e professora adjunta da University of Minnesota (EUA) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que desempenha um trabalho de excelência em Atenção Farmacêutica. Fica aqui o nosso compromisso de tornar este espaço uma seara na qual os profissionais farmacêuticos possam conjugar o aprendizado à discussão política, à renovação das idéias, à construção de ideais e ampliar sua visão do futuro, tendo como subproduto o estabelecimento de um singular momento de convivência em que predomine o espírito coletivo e a inspiração para o progresso. Boa leitura!

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Nilce Barbosa Presidente do Grupo Racine e Coordenadora Técnico-Editorial da Revista Racine



120 Ano XX Janeiro/Fevereiro 2011 Tiragem desta edição: 8.000 exemplares

Expediente A Revista Racine (ISSN 1807-166X) é uma publicação bimestral da RCN Comercial e Editora Ltda., dirigida a empresas e profissionais das áreas farmacêutica, química, cosmética e da saúde. Presidente Nilce Barbosa Diretores Executivos Arnivaldo Dias Marco Quintão Renato Cintra Sérgio Slan Coordenação Técnico-Editorial Nilce Barbosa - CRF-SP 9.609

Correspondências “Gostei muito do conteúdo do artigo Nutrição e Câncer, publicado na 90ª edição da Revista Racine (Janeiro/Fevereiro 2006)”. Leni Cardoso, estudante de farmácia Agradecemos as manifestações enviadas de: Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas de São Caetano do Sul (APCD), São Caetano do Sul (SP) Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, São Gonçalo (RJ) Escola Natasha Franco Vieira, Guarulhos (SP) Faculdade de Medicina de Campos (FMC), Campo dos Goytacazes (RJ) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Belo Horizonte (MG)

Editor André Policastro - MTb 42.774

Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Porto Alegre (RS)

Editora-Assistente e Jornalista Responsável Kelly Monteiro - MTb 06.447

Universidade Paranaense, Cascavel (PR)

Colaboraram nesta Edição Ana Cristina Mancussi e Faro, Djenane Ramalho Oliveira, Giane Santana Alves Oliveira, Izabel Cristina Furtado, Liete de Fátima Gouveia Marques, Luciana Cristina Reis Di Monaco, Manuel Machuca, Maria Denise Funchal Witzel, Nilce Barbosa, Ricardo Borges

Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL), São Miguel Paulista (SP)

Editoração Percepção Design Anúncios, Assinaturas e Correspondências Rua Padre Chico, 93 Pompéia - CEP 05008-010 São Paulo - SP - Brasil Tel/Fax: 55 11 3670-3499 E-mail: revista@racine.com.br Artigos e matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião da RCN Comercial e Editora Ltda. Imagens Sergio Shibuya, arquivo Racine e divulgação

Filiada

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Eu Leio a Revista Racine

Índice Correspondências 6

Mesa-Redonda 10 Ana Cristina Mancussi e Faro é graduada em enfermagem, mestre, doutora e livre docente pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Atualmente é professora associada do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) e líder do Grupo de Pesquisa, Reabilitação, Funcionalidade e Educação na Saúde cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Como leitora da Revista Racine, tenho feito agradáveis e boas leituras. A revista é bem organizada e seleciona textos científicos e informativos, atuais e que promovem discussões sobre conteúdos da área da saúde. Também considero necessária e importante a divulgação ampla e organizada de Cursos, Eventos, notícias, produtos e serviços do Instituto Racine. Para a área da saúde congrega os diversos profissionais convidando à leitura e diálogo entre os pares. Como pesquisadora e docente interesso-me pelos temas relacionados à pesquisa clínica, setor hospitalar e sobre a administração de medicamentos, pelo ensino que desenvolvemos no curso de graduação em enfermagem. Tema este fundamental em todos os aspectos, tanto para os profissionais como para os estudantes e pacientes. Destaco o artigo Reabilitação do Paciente Politraumatizado, publicado na edição nº 106, de Setembro/Outubro de 2008. Muito bem escrito por uma médica fisiatra, mostra e discute a importância da reabilitação e da principal demanda por cuidados multidisciplinares nesta área que são os politraumatizados e, conseqüentemente, seus familiares. Aponta novos paradigmas na reabilitação, como a funcionalidade, e redefine a importância deste tratamento desde o momento do trauma, desconfigurando a reabilitação como um tratamento tardio. Enfatizo a avaliação e as intervenções de enfermagem voltadas para o autocuidado do indivíduo no desempenho de tarefas da vida diária. E a atenção e foco de cuidados ao cuidador familiar, importante neste processo de reabilitação.”

Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica: da Teoria à Prática

Entrevista Dra. Linda Strand

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Entrevista Dra. Djenane Ramalho Oliveira

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Especial de Capa Atenção Farmacêutica como Construção da Realidade

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Considerações e Questionamentos Sobre Poder e Conflito Profissional em Organizações de Saúde 42 Formação Clínica dos Farmacêuticos: Que Formação? 54

O Farmacêutico e os Seus Sete Sapatos Sujos 60

Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

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Alta Hospitalar: Enfoque Farmacêutico

Legislação 76 O Que É Histórico de Mudança do Produto (HMP) e Como as Empresas Devem Proceder? Acontece 77

Especial PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos 78

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Mesa-Redonda

Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica: da Teoria à Prática

Participantes Sílvia Storpirtis, farmacêutica, professora associada do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF/USP) e diretora da Divisão de Farmácia e Laboratório Clínico do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP) Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica e coordenadora de cursos de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine Débora Sitnik, médica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP) e docente de semiologia de Cursos Intensivos e de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (IPGG) e docente de Cursos Intensivos e de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine Michele Peixoto Quevedo, psicóloga, atua na Coordenação da Atenção Primária à Saúde Santa Marcelina e é docente de bases humanísticas de Cursos Intensivos e de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine Patricia Sayuri Kataiose Takahashi, farmacêutica clínica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP) e docente de Cursos Intensivos e de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica clínica do Hospital Sírio Libanês e especialista em Atenção Farmacêutica pelo Instituto Racine Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica membro do Grupo de Investigación em Farmacoterapia y Atención Farmacéutica de la Universidad de Sevilla (Espanha) e docente dos Cursos Intensivos e de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine Coordenação Kelly Monteiro - editora-assistente e jornalista responsável das Publicações Racine André Policastro - editor das Publicações Racine

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Mesa-Redonda Cuidar. Talvez esta seja a palavra que mais possa definir o conceito de Atenção Farmacêutica , publicado há 21 anos por Charles Hepler e Linda Strand nos Estados Unidos da América (EUA). A partir desta publicação, Linda Strand procurou concentrar seus esforços para estabelecer a atenção farmacêutica como prática universal para os farmacêuticos no cuidado do paciente, tendo atuado em mais de 15 países. Há mais de dez anos o Instituto Racine discute e promove este conceito, por meio de suas atividades como Cursos de Educação Continuada e Cursos Intensivos, realizados desde 1999, e do Curso de Pós-Graduação em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica, no País desde 2002, o qual possui 13 turmas realizadas e 2 em andamento, além de Seminários Internacionais e diversas palestras no Brasil e na Europa. Celebrando estes mais de dez anos de incentivo à prática da Atenção Farmacêutica e da Farmácia Clínica e os 21 anos do estabelecimento do conceito de Atenção Farmacêutica por Hepler e Strand, o Instituto Racine idealizou o PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos. Este é o primeiro evento específico para farmacêuticos clínicos no Brasil e o objetivo é proporcionar ao público participante - farmacêuticos atuantes em atividades clínicas nos diferentes âmbitos profissionais: hospitais e clínicas, farmácias, serviço público (unidades de saúde e assistência farmacêutica dos Estados e Municípios), assistência domiciliária/home care e até mesmo na indústria farmacêutica - o acesso a atualizações que contribuam para que a prática farmacêutica esteja orientada ao usuário de medicamentos e comprometida com

a obtenção de resultados concretos que contribuam para uma melhora do estado de saúde dos pacientes. Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica: Ações Integradas em Benefício do Paciente é o tema central do PCare 2011, que apresenta o desafio de integrar essas duas disciplinas, favorecendo a construção de um caminho que possa suplantar as limitações do trabalho disciplinar isolado sem perder de vista o objetivo primeiro e principal da prática assistencial farmacêutica, que é a obtenção de benefícios concretos para o paciente e a contribuição para a redução da morbimortalidade relacionada ao uso de medicamentos na sociedade. Esta edição especial da Revista Racine traz o tema Atenção Farmacêutica - Farmácia Clínica, conceitos que foram discutidos, em suas mais diversas vertentes, nesta Mesa-Redonda realizada com a participação de farmacêuticas, médica e psicóloga, na sede do Instituto Racine, em São Paulo (SP). Confira a seguir os principais tópicos deste debate. .......................................................... Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “Ainda hoje, observa-se que existe uma tendência em considerar que os conceitos de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica são aplicáveis a áreas distintas de atuação profissional. Há aqueles que dizem que Farmácia Clínica é um conceito aplicado à área hospitalar e AtenFar é um conceito aplicado à farmácia comunitária. Na realidade, o conceito de AtenFar não está relacionado com locais de atuação e é conseqüência do desenvolvimento da Farmácia Clínica, movimento iniciado na década de 1960. Contudo, diferenciam-se por terem sido conceitos construídos em momentos históricos distintos. A

necessidade que gerou o conceito de Farmácia Clínica em 1960 era diferente daquela que gerou o conceito de AtenFar. De qualquer forma, o importante é entender cada um dos conceitos e integrá-los, pensando-se para quem ambos foram idealizados, ou seja, para o paciente usuário de medicamentos, que é o principal beneficiário da atuação clínica do farmacêutico.” Sílvia Storpirtis, farmacêutica “O desenvolvimento histórico dos conceitos que influenciam as práticas é importante. A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF/USP), por tradição e influência do parque tecnológico do Estado de São Paulo, apresenta um currículo bastante voltado para a área tecnológica . Discutem-se, com bastante dificuldade, as alterações provocadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, de 2002, que na FCF/USP começaram a ser implantadas em 2004. Com a intenção de atender as Diretrizes Curriculares Nacionais colocou-se na graduação a disciplina de Farmácia Clínica e a disciplina de AtenFar,

Sílvia Storpirtis, farmacêutica

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Mesa-Redonda seguindo esta lógica dos conceitos e o próprio desenvolvimento histórico. Em 2011 houve modificações. Na graduação colocou-se uma disciplina chamada Introdução à Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica, justamente para envolver o aluno nesta discussão. A disciplina é obrigatória e haverá uma disciplina optativa de AtenFar, com prática no hospital, na farmácia universitária, na Unidade Básica de Saúde (UBS). Foi muito difícil chegar a isso. Nós mesmos, enquanto docentes, somos muitos influenciados pelo desenvolvimento histórico. Ao convivermos com os profissionais que atuam nos serviços é que começa-se a questionar. Digo isso por minha experiência de atuar em uma faculdade que possui vocação tecnológica, em um Estado como São Paulo que absorve muito bem os profissionais que se interessam pela indústria farmacêutica. É difícil discutir estas questões com os alunos porque muitos se apaixonam pela área e outros não gostam. Muitas vezes entram na universidade pensando na indústria. Muitos alunos da FCF/ USP querem ser pesquisadores na área de medicamentos ou trabalhar na indústria para fazer carreira. Ao se depararem com uma disciplina obrigatória de Farmácia Clínica há resistência. Motivar esses alunos é difícil. Imagino que outros colegas, em outras universidades, também tenham essa dificuldade.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “Desde que me tornei docente do Instituto Racine, no Curso de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica, no módulo de bases humanísticas necessárias ao atendimento farmacêutico, percebo que existe a necessidade do profissional farmacêutico que pretende abraçar a

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AtenFar, enquanto área de trabalho, de desenvolver um conjunto de atitudes que a graduação não contempla. Entre estas atitudes destaco: empatia, respeito à diversidade de valores, comprometimento com o paciente/ usuário, receptividade à mudanças, paciência e resiliência.” Débora Sitnik, médica “Percebo que os profissionais que não são absorvidos pela indústria acabam muitas vezes trabalhando em farmácia e são expostos a uma realidade para a qual não foram preparados na graduação. Eles devem indicar, desindicar ou explicar o uso de determinados medicamentos ou produtos para os quais não foram treinados, porque a graduação é muito voltada para a indústria e para laboratório. Há médicos que se especializaram e abandonaram a clínica para trabalhar em indústria farmacêutica porque é muito mais tranqüilo. Há hora para sair, hora para entrar, não tem plantão, e na vida real da medicina o ritmo é outro. A indústria é tentadora sim, para qualquer profissional. Mas qual é o contingente de profissionais que a indústria consegue abranger? A necessidade de formar os farmacêuticos para que façam AtenFar bem feita é tão importante quanto formar técnicos industriais de excelência.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “AtenFar bem feita deve contemplar o vínculo estabelecido entre o profissional farmacêutico e a população da qual o mesmo cuidará, pois esta relação pode tornar-se tão potente quanto qualquer medicamento.” Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica “No IPGG recebemos aprimorandos, sendo essa uma modalidade de aperfeiçoamento profissional. Eles

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Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica

questionam sobre em quais outros locais podem trabalhar. Respondo que não há um serviço de AtenFar institucionalizado em todas as unidades de saúde. Eles terão que praticar em farmácia ou em hospital. Não é possível dizer que haverá um mercado aberto, diferentemente da indústria.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “Percebo a potencialidade da AtenFar para estabelecer um cuidado integral ao paciente/usuário e com isso estabelecer um espaço no mercado, pois a prática da AtenFar torna o cuidado diferenciado, considerando cada indivíduo em sua singularidade. Esta filosofia de atendimento atua quebrando o modelo de cuidado à saúde estabelecido na sociedade de forma tecnicista, mecânico e desprovido de afeto e humanização.” Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica clínica “A área clínica para farmacêuticos hospitalares está em ascensão, pois há profissionais preparados e outros em desenvolvimento. É importante atentar quanto à motivação desse profissional, pois muitos desistem ao se depararem com situ-



Mesa-Redonda ações novas de mercado, em que os caminhos nem sempre estão prontos e, muitas vezes, esse profissional pode não se sentir apto para realizar a função. Em um hospital, quando as operações logísticas são cumpridas corretamente, o profissional sente tranqüilidade para exercer ações em farmácia clínica, o que não significa que a logística se sobreponha à questão da AtenFar. Na realidade, elas devem seguir lado a lado. Os profissionais ficam desmotivados devido à concepção errônea sobre a importância da clínica e da logística.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Atuei como docente em duas universidades e ambas possuíam foco na indústria ou em análises clínicas. Se fizermos uma simples ava-

liação sobre o número de farmácias e indústrias no Brasil, verificaremos que há cerca de 69 mil farmácias e 560 indústrias, com mais farmácias no interior do que nas capitais e com um pólo industrial bem maior na região sudeste. Aproximadamente 10 mil farmacêuticos se formam por ano. Assim, sendo sensatos, deveríamos avaliar em quais locais o farmacêutico é realmente necessário e qual é a formação que necessitamos dar a este profissional. Não podemos nos esquecer da frustração profissional, que ocorre quando o profissional está atuando em uma área para a qual não foi preparado. Na 19º Semana Racine, realizada pelo Instituto Racine no ano de 2009, efetuamos uma investigação que ainda está por ser publicada sobre as barreiras que os farmacêuticos encontram para implementar a AtenFar e qual o nível de frustração. Avaliando

os dados percebe-se que o nível de frustração dos farmacêuticos é muito grande. Por quê? Porque, segundo suas próprias respostas, sonham e se preparam para trabalhar em um determinado local, mas acabam atuando em outro. O mercado acaba levando para a área assistencial e eles não são preparados para isso.” Débora Sitnik, médica “O farmacêutico é um solitário, pois na realidade não é integrado à equipe multidisciplinar. Quando possui preparo, ainda assim não demonstra o que sabe. Os alunos do curso de Pós-graduação - Especialização Profissionalizante em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica do Instituto Racine perguntam o que devem fazer ao receberem uma prescrição médica errada. Oriento dizendo que devem

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Mesa-Redonda Participar da equipe e atualizar os conhecimentos clínicos promove ao farmacêutico maior segurança para realizar as intervenções farmacêuticas, havendo mais probabilidade de aceitação da equipe médica. A insegurança também ocorre por falta de prática.”

Débora Sitnik, médica

ligar para o médico e auxiliar o paciente a não tomar o medicamento errado. Mas o farmacêutico sente receio de mostrar o que é treinado para fazer. Médicos e farmacêuticos podem e devem trabalhar em conjunto. O médico não possui a formação do farmacêutico e vice-versa, e a idéia é que se complementem e não que haja competição.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “A dificuldade que o farmacêutico possui para se inserir em uma equipe multiprofissional deve-se também ao fato de não compreender os aspectos biopsicossociais dos processos de saúde-doença, além de possuir uma imagem perante os outros profissionais de um mero dispensador de medicamentos.” Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica clínica “Quando o farmacêutico não está integrado a uma equipe multidisciplinar é mais difícil entender o raciocínio clínico e a evolução clínica do paciente. Essa falta de entendimento provoca uma insegurança na atuação do farmacêutico, a abordagem com a equipe médica torna-se incompleta.

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Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Os farmacêuticos possuem poucas referências sobre outros profissionais que fazem AtenFar. Ao conversar com os alunos sobre o que significa a prática clínica para introduzí-los no processo de cuidado do paciente, pergunto se já foram em uma consulta médica e como é. Eles descrevem todo o processo da consulta médica de forma correta. Explico que o processo assistencial da AtenFar é praticamente o mesmo, sendo que a única diferença é o problema a ser resolvido. O médico resolve problemas relacionados à enfermidade e o problema clínico que o farmacêutico tem que identificar e resolver são problemas de saúde que estão relacionados ao uso ou à falta de uso do medicamento. A clínica não se ensina na teoria, apenas se aprende na prática. Porém, as universidades no Brasil, pelo que tenho conhecimento, não estão ensinando isto aos seus alunos, infelizmente.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “No módulo de Bases Humanísticas necessárias ao atendimento farmacêutico, este aspecto torna-se bastante visível. Quase todos os alunos apresentam uma grande dificuldade de realizar uma consulta farmacêutica, desde a explicação ao usuário do que é a AtenFar e quais são seus objetivos até o manejo de situações relacionais, quando, por exemplo, se um usuário chora em consulta ou fala de sua vida pessoal, familiar. Por meio destas dramatizações, os alunos treinam a

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consulta farmacêutica e eu diria que ao final do módulo todos os alunos saem diferentes quanto à forma como entraram.” Silvia Storpirtis, farmacêutica “O Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP) possui sete farmacêuticos clínicos que se formaram por conta da prática e pelo seu envolvimento com o Curso de Especialização em Farmácia Clínica Hospitalar desenvolvido no próprio hospital em parceria com a FCF/USP. Mesmo na pós-graduação da FCF/USP ainda não há muitas disciplinas relacionadas. O responsável por toda essa situação é a formação acadêmica.” Débora Sitnik, médica “A USP prioriza o pesquisador em detrimento do professor. O pesquisador obrigatoriamente está inserido no meio acadêmico, em indústria, em laboratórios. Talvez por isso seja tão difícil para uma faculdade como a USP colocar uma disciplina tão prática, que exporia tanto a formação do professor. O profissional que trabalha em laboratório será um excelente instrutor em laboratório. A USP produz ciência, e os profissionais da AtenFar produzem pouco papel, ou seja, há pouca produção científica.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “O brasileiro é um resiliente por natureza e não desiste nunca. Mas é importante se pontuar que para trabalhar com AtenFar, em qualquer lugar do mundo, é necessário gostar de pessoas e se interessar por seus problemas e suas vidas.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Quando fui para a Universidade de Sevilha, na Espanha, cursar o doutorado, me propuseram implantar


Mesa-Redonda um novo serviço clínico e realizar a investigação também. Na época alguns farmacêuticos me disseram categoricamente que eu não conseguiria fazer as duas coisas. Mas não desisti e aceitei o desafio. Queria implementar e investigar dentro do serviço que iria implementar. Lá, os médicos pesquisam no serviço. Trabalhei na unidade clínico-experimental de risco cardiovascular no Hospital Virgen de Rocio, com médicos que atendem de 18 a 20 pacientes em uma manhã. Trabalhei um ano com eles somente observando, porque eu queria entender como funcionava a unidade, pois queria implementar dentro da unidade uma consulta de seguimento farmacoterapêutico. Eu era uma estrangeira, brasileira, farmacêutica, fora da farmácia, dentro de uma unidade exclusivamente de médicos, tentando implementar um

serviço que não existia. Convencemos (eu e minha orientadora) dois médicos a apostarem neste trabalho. Isso é muito complicado porque não temos referência, não sabemos se o que estamos fazendo é o melhor, se tem qualidade e se é seguro para o paciente. Mas como eu tinha por base um grupo de investigação, que me auxiliava em tudo, para saber se era seguro, se estava sendo indicada, efetiva e segura para o paciente, fui, com todas as dificuldades da falta de referência, aos poucos consegui realizar a clínica e investigar dentro do serviço. Acredito que o farmacêutico deve buscar espaço sim, implementar o serviço, buscar formação para isso, e investigar dentro do serviço. É necessário mostrar que é possível e que o que estamos propomos é efetivo. A farmacêutica Linda Strand, durante uma palestra na Universidade de

Sevilha, questionou por que foi necessário uma brasileira ir até lá para implementar um serviço que já era para estar sendo realizando pelos espanhóis há muito tempo. Nossa consulta de gestão da farmacoterapia e educação terapêutica ganhou o prêmio espanhol de melhor iniciativa na área farmacêutica de 2010.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “O trabalho em rede, integrado não somente com a equipe, mas principalmente com as necessidades dos pacientes ou usuários, é um ponto muito importante.” Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica clínica “No IPGG atuamos na equipe multiprofissional, não apenas com os médicos, mas com psicólogos,

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Mesa-Redonda fonoaudiólogos, nutricionistas e outros, e assim contribuímos no tratamento farmacoterapêutico. Procuramos ser integrados. É importante mostrar o trabalho que está sendo realizado, apresentar os resultados, para que os outros profissionais confiem no trabalho do farmacêutico. A AtenFar cresceu no IPGG. Estou lá há quase 10 anos e quando iniciei precisei buscar conhecimentos para atuar como farmacêutica clínica, e também, na época, havia pouca discussão sobre esse tema. Hoje, os farmacêuticos necessitam ser preparados para discutir com os profissionais da saúde, entre eles, os médicos. Ao detectar um problema com o medicamento, por exemplo, um problema de efetividade, o farmacêutico terá que ser capaz de fazer sugestões ao prescritor. É neste sentido que orientamos os aprimorandos.” Débora Sitnik, médica “Se o farmacêutico sabe, se está seguro, se possui respaldo, deve dar sua opinião ao médico. O aprendizado médico é muito baseado em escola de aprendizes. Há passagem de experiências. Por exemplo, no HU, é frequente a prescrição de Dipirona 4 ml endovenoso, ou seja, 2 gramas, para qualquer coisa. Se o paciente está com enxaqueca ou no pósoperatório, a prescrição é esta. Porém, este medicamento possui suas implicações e contraindicações. Ao se perguntar ao residente porque está prescrevendo, ele não sabe. Está prescrevendo porque alguém falou para ele prescrever.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “A deficiência da formação está em todas as profissões e não somente na profissão farmacêutica. O farmacêutico possui como agra-

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vante não ser formado para clínica. A decisão de aprimorar-se ou não nesta área dependerá do que o farmacêutico quer ser. Os médicos são formados para o cuidado, assim como o enfermeiro. O farmacêutico é formado para produzir medicamento, para pesquisar o medicamento, para a área de alimentos etc. Se houver tempo, se o currículo permitir, ele é formado para a clínica. Não é a vocação da profissão. Por isso, hoje, discute-se se uma disciplina de AtenFar irá resolver, ou se é necessário haver uma transformação que transpasse a formação geral.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “Sem dúvida existe uma necessidade urgente de se pensar uma formação que contemple o farmacêutico como um profissional da saúde que cuide e promova a saúde dos usuários ou pacientes.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Ao me deparar com os pacientes, durante o doutorado, o ‘seu’ Juan era diferente do ‘seu’ Manuel que era diferente da ‘dona’ Carmen. Senti a necessidade de entender além de farmacoterapia, a parte psicossocial da relação terapêutica. Busquei formação do departamento de psicologia social por necessidade de formação na área humanística e me deparei com um grupo de enfermeiros, psicólogos, podólogos, médicos e dentistas buscando esta mesma formação. Todos os profissionais da saúde possuem formação técnica, mas ao atuar na clínica, verifica-se que há um indivíduo, com uma família, com dificuldades e crenças, e que, portanto, é necessário saber além do conhecimento técnico. É necessário saber se colocar no lugar do outro, empatizar e formar a relação terapêutica. Faltam, para os farmacêuticos e a outros profissionais

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da saúde, habilidades e competências relacionadas ao outro ser humano, como se posicionar, analisar se está sendo assertivo ou passivo, se consegue se comunicar, se entende o que o paciente quer e se o paciente entende o que o profissional está dizendo. Ao aprender tudo isto fiquei mais confiante e comecei a ver resultados concretos. Até a falta do conhecimento teórico já não me preocupava tanto, pois sabia onde encontrá-lo e que poderia ir buscar, mas as habilidades psicossociais necessitavam ser incorporadas.” Patricia Sayuri Kataiose Takahashi, farmacêutica “Sentia receio de chegar à casa do paciente e não ter habilidade para lidar com ele, para conseguir informações sobre a farmacoterapia. Queria ter a habilidade de entender o paciente. Fui buscar formação na psicologia para entender quais eram as verdades do paciente, o que ele queria dizer e como o farmacêutico deveria se portar. Aprendi que todos contam a verdade, a sua verdade. É preciso respeitar isso. A formação fica devendo e o farmacêutico vai para a prática clínica e não consegue responder as perguntas em

Patrícia Sayuri Kataiose Takanashi, farmacêutica


Mesa-Redonda determinados momentos. Vejo os farmacêuticos do HU em cima da prescrição do dia anterior, buscando alternativas, conferindo dose por dose, lendo prontuário. O farmacêutico clínico possui um trabalho de bastidor.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “O farmacêutico clínico possui um trabalho de bastidor importante e necessário, em que consegue detectar diversos problemas. Porém, não verifica se o problema está se manifestando ou não no paciente em questão. A idéia é realizar os dois trabalhos: o trabalho de bastidor integrado ao trabalho de ponta, que é o que falta. É importante transcender a questão do erro médico. Muitas vezes, o trabalho do farmacêutico fica focado na detecção de erro médico. Não é esta a lógica que deve ser seguida na clínica e sim uma lógica de avaliação de resultados. A resposta do paciente às condutas farmacoterapêuticas aplicadas, e aceitas ou não pelo pelo paciente, é que deve ser avaliada.” Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica “No Hospital Sírio Libanês os farmacêuticos trabalhavam em uma sala analisando prescrições médicas. Atualmente, dividem os andares por especialidade e analisam as prescrições nas unidades, realizando acompanhamento farmacêutico na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ao estar próximo da equipe endente-se melhor a função do farmacêutico e o farmacêutico entende as necessidades do setor. Até o receio de falar com o paciente, com o médico e enfermeiros etc. começou a ser enfrentado. Além da questão da autoestima:

eu sou o farmacêutico da UTI, eu sou o farmacêutico da oncologia. Isso faz com que o farmacêutico se especialize.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “Aumentam-se as intervenções, consegue-se quantificar e avaliar resultado econômico, clínico, humanístico e as possibilidades de poder investigar em serviço e publicar os resultados obtidos não somente em anais de congresso, mas em artigos, para os quais precisa buscar espaço para publicação. Além disso, é preciso ampliar investigações em serviços, pois é importante haver indicadores dos serviços prestados, tais como, quanto se intervêm, no que se intervêm e qual é o resultado da intervenção. A remuneração pelos serviços clínicos pretados é outro aspecto importante a considerar. Esta remuneração, ainda que indireta, ou seja, repassada para o serviço e não para o profissional, faz com que o gestor queira mais de um farmacêutico inserido em sua unidade, pois isso gera recursos e evita gastos com internação desnecessária, uso de medicamentos adicionais, aumento do tempo de hospitalização, entre outras vantagens. Publicar e apresentar estes resultados em eventos e revistas, em especial da equipe multiprofissional, é essencial para que não passemos a vida inteira fazendo discurso, para nós mesmos, sobre a beleza que é ser farmacêutico clínico.” Sílvia Storpirtis, farmacêutica “Em uma palestra na USP em 1995, uma professora canadense relatou que o Canadá possuía, na época, 12 faculdades de farmácia. Os currículos estavam sendo reformulados e decidiram que as faculdades de farmácia que possuíam vocação tecnológica e que faziam bem este papel iriam continuar com

o mesmo currículo. Aquelas que queriam investir na formação do farmacêutico para a área da saúde tiveram o currículo completamente reformulado, passaram a possuir disciplinas teórico-práticas em consultórios. As faculdades montaram consultórios e integraram aos serviços. Isto não há no Brasil. Quantas faculdades de farmácia há no Brasil? Mais de 300. As diferenças regionais são imensas. Nos Estados em que não existe um grande parque tecnológico, em que locais os farmacêuticos atuam? Em análises clínicas ou em farmácias e hospitais? As faculdades também estão tentando se adaptar. Além da questão do farmacêutico generalista. Na FCF/ USP há quatro departamentos: de farmácia, de análises clínicas e toxicologia, de alimentos e nutrição experimental e de tecnologia bioquímico-farmacêutica. Essa lógica de departamentos veio das modalidades da época pré-farmacêutico generalista. As Diretrizes Curriculares Nacionais privilegiaram a formação do generalista e acabaram com as modalidades, porém, na prática, elas existem.” Débora Sitnik, médica “Não acredito que seja necessário transformar as faculdades de farmácia em formadoras de farmacêuticos especializados em AtenFar. O que é necessário é haver uma exposição a essa área para que o farmacêutico saiba que ela existe. Comparando com a minha área, ao fazer faculdade de medicina, fui exposta à área de dermatologia, à otorrinolaringologia, à anestesiologia e me encantei pela clínica médica. O que sei das outras é somente o básico. Talvez o que falte seja que o farmacêutico possa conhecer, saber como funcionam as diversas áreas de atuação, para definir o

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Mesa-Redonda que quer ou não seguir. Talvez ele precise guardar a informação mais importante para um momento posterior. Pensar, por exemplo, em uma especialização, uma residência no último ano, voltada para uma área específica. Tanto faz se irá para a indústria. O farmacêutico pode ser generalista, mas possuir uma área de interesse especial.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Não se pode comparar muito essa questão do generalista médico e do generalista farmacêutico. A formação básica do médico é igual para qualquer especialidade. O médico possui uma base para a clínica e depois pode optar por várias especializações, mas os farmacêuticos não. Há muitas disciplinas no currículo que são específicas para o medicamento, mas para o manejo clínico destes ainda não. Não sei como pensar esta questão do currículo, talvez por ser tão generalista acabe limitando uma formação básica de qualidade.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “A entrada do generalista expôs o farmacêutico a temas aos quais ele não era exposto. E isso é importante ressaltar, apesar das muitas críticas que se possa fazer ao currículo generalista.” Sílvia Storpirtis, farmacêutica “O graduando de medicina, ao entrar na faculdade, sabe o que fará, sabe que terá contato com o paciente. Durante a graduação atua em clínica, mas o farmacêutico não.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “A sociedade ainda não está demandando AtenFar e Farmácia Clínica. A universidade, em seu

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conjunto, ainda não conseguiu enxergar essa demanda porque a sociedade não está ainda requerendo farmacêutico clínico para atendê-la em suas necessidades farmacoterapêuticas. A sociedade demanda médicos e outros profissionais e a universidade se vê comprometida com a formação destes profissionais. Isso ainda não está consolidado em relação ao farmacêutico clínico.” Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica “Se o farmacêutico fizer ações isoladas também não ganhará forças. Deve haver uma política pública efetiva em Atenção Farmacêutica. A sociedade não cobrará ações em farmácia clínica, pois ela ainda não a conhece.” Patricia Sayuri Kataiose Takahashi, farmacêutica “Quando o paciente entende o serviço do farmacêutico, passa a requisitar. Assim aprende-se a oferecer respostas. O paciente começa a requisitar porque foi o farmacêutico que orientou sobre o medicamento.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “Quando o médico encontra um farmacêutico competente, não quer mais trabalhar sem ele. E vice-versa, é bom trabalhar com médico competente também. Durante um Seminário Internacional realizado pelo Instituto Racine, no Chile, visitou-se uma clínica de oncologia em que o paciente, após ter o diagnóstico, passava em consulta pelo farmacêutico e depois pelo acompanhamento com o médico. Os casos eram discutidos uma vez por semana pelo médico e pela farmacêutica e os pacientes ligavam para a farmacêutica quando tinham problemas ou dúvidas com os medicamentos. O médico estava tranqüilo, pois sabia da competência da

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farmacêutica. Este procedimento é comum no Canadá, e o médico, proprietário da clínica, que em sua especialização foi exposto à experiência canadense, informou que a primeira coisa que fez ao montar a clínica no Chile foi contratar uma farmacêutica para trabalhar de forma integrada com ele.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Em Sevilha comecei atendendo os pacientes no corredor. Depois, o médico, Dr. Lópes Chozas, me ofereceu uma sala, uma secretária e me ensinou a fazer uma agenda de atendimentos, a administrar o tempo, a saber como conversar com a parte administrativa que há por traz de uma consulta clínica. Tentamos várias estratégias, pois era um serviço sem demanda. Tentamos várias formas de captação de pacientes para o serviço, e uma delas foi orientar os médicos da unidade a avaliar se o paciente possuía o perfil que desenhamos, e assim encaminhar o paciente que necessitava dos serviços da nossa consulta. Temíamos que o paciente não comparecesse à consulta. Além de ser outro dia, outro local,

Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica


Mesa-Redonda não sabíamos o que o médico falava para o paciente. Foi uma estratégia que funcionou pois os pacientes iam à consulta. Com exceção de mortes ou mudanças, paciente algum saiu do serviço”. Maristela Ferreira Catão Carvalho, farmacêutica “Há dez anos, no IPGG, fazíamos uma busca ativa dos pacientes. Detectávamos os problemas farmacoterapêuticos e esses pacientes eram agendados para a AtenFar. Alguns pacientes iam para a AtenFar sem saber o por quê. Ao longo desses anos, o trabalho foi divulgado à equipe multiprofissional e a partir disso começaram os encaminhamentos. A população do IPGG é idosa, e conseqüentemente aumenta seus riscos com o uso do medicamento. Para otimizar o atendimento farmacêutico, criou-se um critério de encaminhamento baseados nos maiores problemas detectados em uma população idosa, como polifarmácia, não adesão e iatrogenia. Hoje, a média de encaminhamento é de 39% pelos médicos, 42% pela farmácia e 19% por outros profissionais. Hoje, há lista de espera para ir à consulta de AtenFar. Fiquei feliz porque há demanda e ao mesmo tempo preocupada porque se um indivíduo apresenta problemas com medicamentos não pode esperar um mês para ser atendido. Por isso detectamos, classificamos a prioridade e avaliamos o risco para analisar a necessidade ou não de um encaixe na agenda do farmacêutico. Há paciente que está há cinco anos no serviço. O objetivo é resolver a queixa e promover a alta, porém existem pacientes para os quais não há possibilidade desta ação. Hoje, após imensa divulgação do ser-

viço, há paciente que procura a farmacêutica, mesmo sem encaminhamento de algum profissional. Os pacientes querem tirar dúvidas sobre os medicamentos e resolver seus problemas. A porcentagem de alta é em torno de 20% dos atendimentos que são realizados, no qual, em média, são quatro consultas para haver uma alta.” Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica “A demanda hospitalar é diferente da demanda ambulatorial. Em qualquer parte do hospital pode-se desenvolver AtenFar e é necessário saber em que local começar. Atuo em UTI com aproximadamente 40 leitos. Necessitava otimizar a demanda e descobrir como oferecer um serviço de farmácia clínica adequado para todos os pacientes. Uma saída foi montar score de acompanhamento farmacêutico. Após uma avaliação inicial, investe-se em seguimento farmacoterapêutico para os pacientes com maior risco da terapia, como choque séptico, por exemplo. Este paciente necessita de mais ações farmacêuticas em terapia intensiva. Outros pacientes necessitam de uma atenção focada,

Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica clínica

como monitorar uma dose de medicamento ou alguma disfunção orgânica e, para outros mais estáveis, pode-se realizar apenas uma avaliação adequada da prescrição médica. Assim consegue-se um panorama da unidade e não somente de um grupo de pacientes.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “Um aspecto importante é o farmacêutico estar preparado para cuidar do paciente. O profissional deve refletir se tem sido assertivo, se está oferecendo a oportunidade do paciente ser autônomo, de dar conta dos próprios problemas de saúde, e às vezes não se consegue fazer isso. É necessário que se invista no indivíduo para que ele seja cada vez mais autônomo e esteja liberto do profissional.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “Tentamos desenvolver nos pacientes, ao longo de todo seguimento farmacoterapêutico, junto com educação terapêutica, que é uma nova filosofia de educação sanitária, a questão da auto eficácia, em que o paciente deve se sentir ‘capaz de’. Quando se fala em AtenFar, fala-se da prática centrada no paciente. O paciente possui necessidades e quando suas necessidades não são supridas, podem gerar problemas. Muitas vezes o farmacêutico se apega nesta identificação e na resolução de problemas e as necessidades que estão gerando problemas vão ficando para tras. A necessidade do paciente de auto eficácia não é preenchida em um estilo paternalista de clínica. Muitas vezes ouço farmacêuticos criticando, dizendo que não são psicólogos. Não somos psicólogos, mas somos profissionais da área de saúde e a

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Mesa-Redonda nossa obrigação é oferecer apoio psicossocial e também pedagógico, porque é necessário saber que tipo de pedagogia utilizar para educar ‘aquele’ paciente, para que ele aprenda e se torne auto eficaz, inclusive para que saiba se comunicar com outros profissionais da área da saúde. Trabalhei com pacientes de 30 a 75 anos. Alguns não sabiam ler ou escrever. 49% possuíam ensino primário e o restante possuía ensino universitário. Havia duas realidades e foi preciso adaptar se a cada uma delas.” Silvia Storpirtis, farmacêutica “Há a influência do ambiente da prática da AtenFar. A partir de 2006 uma farmacêutica integra a equipe do ambulatório do HU/USP. A consulta é agendada, existe o médico que referencia, os próprios pacientes, e a equipe não pensa mais em ficar sem a farmacêutica. E gerou outro ambulatório que é prevenção de quedas. Neste ambiente de prática a FCF-USP tem inserido os alunos de graduação como estagiários, além de pós-graduandos.” Débora Sitnik, médica “Os residentes de medicina passam por este laboratório e vêem o farmacêutico aprendendo, e passam a respeitar sua presença. O lugar para colocarem o farmacêutico é no hospital-escola, local em que o médico em formação também está. Os médicos mais velhos não aceitam tão facilmente os farmacêuticos, mas os mais jovens, com certeza, aceitam e querem esta participação do farmacêutico.” Sílvia Storpirtis, farmacêutica “Ao se construir uma política de saúde é necessário haver uma filosofia, e a equipe profissional deve preservar esta filosofia respei-

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tando as dificuldades individuais e a autonomia de cada paciente. Em uma consulta de 40 minutos, o paciente falará ao farmacêutico o que não fala para o médico, cuja consulta dura dez minutos no sistema público. Qual é a qualidade de atenção à saúde no País? É necessário se pensar em medicalização e na polifarmácia. Está aí a indústria farmacêutica. O medicamento é fundamental no contexto do uso racional. É o recurso terapêutico mais utilizado. Mas se houver uma política de saúde que considera a independência do paciente, não é possível associar a AtenFar apenas ao uso de medicamento o tempo todo. Há que se pensar também na educação do paciente no sentido do uso racional dos medicamentos.” Débora Sitnik, médica “Existe uma demanda dos pacientes por prescrição de medicamentos. Ao trabalhar uma sala de espera de pronto-socorro, com 40 fichas por hora, em dois médicos, dois minutos e meio por paciente, é muito mais fácil prescrever rapidamente um antibiótico ou anti-inflamatório sem orientar um paciente com dor de garganta, do que ensinar a este paciente a observar a temperatura por mais um ou dois dias e, se a febre permanecer ou passar de 38 graus e meio, que ele deve voltar à consulta. O paciente questiona, pois quer o medicamento. Neste tempo de discussão com o paciente, poderia ser atendido outro paciente. O paciente busca a resolução rápida para seu problema.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “Fiz um projeto para investigar o significado do medicamento nas diversas fases da vida a partir da infância. Saúde e medicamento deveriam constar na política educacional também, pois, na minha

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Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica

opinião, é uma questão de formação de base.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “Alguém já observou as mensagens que são passadas para as crianças em relação aos medicamentos? Quem de nós não ouviu pais, cuidadores, educadores dizerem: Não brinque na chuva porque você pode adoecer e terá que tomar ‘remédio’ ou Se não comer você vai ficar doente e tem que tomar ‘remédio’. O medicamento vai se constituindo como uma punição para a criança.” Sílvia Storpirtis, farmacêutica “Fizemos um projeto chamado Muito Prazer Sou Farmacêutico, em que a farmacêutica, com alunos estagiários, iam nas escolas para explicar o que é o farmacêutico, qual é a formação e os objetivos, e perguntar o que os alunos sabiam sobre o farmacêutico. É um aspecto



Mesa-Redonda interessante porque começa talvez a mexer nesta cultura de que o farmacêutico é o vendedor.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “É importante tocar nesta representação que o profissional farmacêutico possui perante a sociedade. No ano de 2010 orientei um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) cujo título era: A representação social de usuários sobre o atendimento em um serviço de acompanhamento farmacoterapêutico estruturado em uma universidade da baixada santista. Um dos objetivos do trabalho foi a identificação da percepção do papel do farmacêutico pela comunidade leiga. Foi interessante perceber o quanto a imagem do profissional farmacêutico como vendedor ou apenas dispensador de medicamentos é forte. Como este trabalho foi realizado com usuários de um serviço de acompanhamento farmacoterapêutico, por outro aspecto, percebeu-se que novas representações do papel do farmacêutico estão sendo tecidas graças à filosofia da AtenFar. Dentre estas novas representações destacou-se o farmacêutico como um orientador de ações que promovam saúde.” Maria Denise Funchal Witzel, farmacêutica “A farmácia é muito problemática porque ela tem um componente comercial muito forte. Essa é a imagem que os indivíduos possuem do farmacêutico, infelizmente. Deve-se trabalhar muito para revertê-la.” Gladys Marques Santana, farmacêutica clínica “No ambulatório do hospital onde eu trabalhava os médicos

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atendiam, em média, quatro pacientes por hora e eu queria atender um por hora. Cadê a produtividade? Quando a farmacêutica Linda Strand esteve em Brasília (DF), nós conversamos e ela me disse que sua consulta durava 50 minutos. Justamente porque há o olhar humanístico. Vendo por este ângulo, a AtenFar como processo clínico, na farmácia e drogaria, não possui o suporte necessário para se desenvolver com qualidade. É necessário que o farmacêutico se adapte a cada local de prática, a cada equipe e a cada profissional. Trabalhava com seis médicos e para cada um escrevia um informe adaptado porque cada um pensava e raciocinava de uma maneira. Tinha um ‘cuidado farmacêutico’ para com os médicos. A farmácia pode não ser o local ideal para se realizar acompanhamento farmacoterapêutico. Não estamos falando em dispensação, orientação e/ ou atendimento farmacêutico, mas sim de acompanhamento em longo prazo para a otimização da farmacoterapia. O farmacêutico não possui, na farmácia, o apoio da equipe e/ou do médico. É mais difícil a comunicação por que a farmácia é o que há de mais longe de uma equipe profissional. Não é que o trabalho seja impossível, mas é mais difícil. O médico desconhece esse serviço. Quanto mais próximo se está do prescritor, mais fácil de trabalhar, de intervir na farmacoterapia.” Maria Fernanda Salomão de Azevedo, farmacêutica “É importante mensurar os resultados positivos e negativos da terapia. Dentro de hospitais, principalmente os acreditados, é

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necessário que haja indicadores. Percebe-se que os indicadores são quantitativos, ou seja, compilação das intervenções realizadas. É necessários mensurar em que essas intervenções resultam, para ficar claro a importância da AtenFar para um gestor ou para um profissional que não conhece o que é AtenFar. O profissional que atua na clínica pode atentar para isso também. Outra questão é a mensuração no prontuário médico. O médico pode não aceitar a intervenção do farmacêutico, mas deve registrar no prontuário para que o profissional respalde em qualquer eventualidade.” Michele Peixoto Quevedo, psicóloga “É importante citar o quanto a relação estabelecida entre o farmacêutico e o usuário está se tornando um diferencial para o fortalecimento do papel do farmacêutico na AtenFar, pois esta prática estabelece um ponto muito importante para a adesão ao tratamento que é o estabelecimento do vínculo entre profissional da saúde e o usuário.”

Michele Peixoto Quevedo, psicóloga


Entrevista

Dra. Linda Strand, farmacêutica, educadora, pesquisadora e empresária, atuou como docente nas Faculdades de Farmácia da Universidade de Utah, Flórida e Minnesota. Durante toda sua carreira esteve envolvida com atividades na comunidade, em hospitais e em outros ambientes de prática clínica farmacêutica. Começou a trabalhar com as idéias que posteriormente se transformaram na prática do Pharmaceutical Care (Atenção Farmacêutica) em 1978. Em 1990 seu trabalho foi integrado ao trabalho do Dr. Charles D. Hepler originando a publicação de um artigo, considerado um marco para a área farmacêutica, intitulado Oportunidades e Responsabilidades em Atenção Farmacêutica. Trabalhou em mais de 15 países diferentes, com o intuito de estabelecer a prática do Pharmaceutical Care como universal para o cuidado de pacientes usuários de medicamentos. No PCare 2011 Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, ministra a Conferência Internacional de Abertura, além de participar de outras atividades.

Revista Racine: Após 21 anos de publicação do conceito, como avalia a implementação do Pharmaceutical Care no mundo? Linda Strand: A adoção da práti-

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ca profissional dos farmacêuticos tem sido lenta em todo o mundo. Há muitas explicações para isso. A explicação mais racional é que somos seres humanos e não gostamos de mudanças, especialmente se não houver uma força obrigando-nos a realizar a mudança. Mas isso está mudando. Os farmacêuticos não serão uma profissão se não aceitarem, sem demora, assumir responsabilidades diretas no atendimento ao paciente e a Atenção Farmacêutica é a única prática de cuidado profissional do paciente que existe em farmácia. RR: Como o conceito Pharmaceutical Care está sendo implantado nos Estados Unidos da

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América (EUA), especificamente no Estado de Minnesota? LS: Obtivemos o reconhecimento e o pagamento do serviço do governo do Estado de Minnesota para os pacientes do Medicaid (a população com menos recursos). Mais de 130 farmacêuticos estão registrados e aptos a prestar cuidados e serem pagos pela prestação do serviço. Além disso, uma série de planos de saúde está oferecendo este serviço para os pacientes idosos, por meio do Medicare, um programa do Governo Federal americano. O serviço tem sido reconhecido pelos governos estadual e federal e reconhecido e aprovado pelas organizações americanas da área médica no contexto da prática da atenção


Entrevista primária (denominada Medical Home nos EUA). RR: Em sua opinião, o que falta para que a prática do Pharmaceutical Care se torne uma realidade com maior abrangência? LS: Isso está se concretizando em uma escala maior a cada dia. O progresso constatado no Canadá e nos EUA, em 2010, é maior do que nos últimos dez anos. A razão para isto é que os médicos estão conscientes sobre o serviço e recomendando os pacientes aos farmacêuticos e o pagamento pelo serviço está ocorrendo. Além disso, nos programas de saúde pública a necessidade do serviço está sendo reconhecida em uma escala muito maior, portanto os farmacêuticos que recebem salários do governo estão começando a prestar este serviço. Também, aparentemente os farmacêuticos estão percebendo (com certo atraso) que a dispensação não é o futuro da profissão de farmácia. RR: Apenas farmacêuticos estão realizando a prática do Pharmaceutical Care ou há outros profissionais realizando-a também? Caso haja, quem são estes outros profissionais e qual é a formação dos mesmos? LS: Treinam-se, na maior parte, os farmacêuticos, mas há enfermeiros que querem aprender a prática de cuidados farmacêuticos. A realidade é que se os farmacêuticos não aceitarem rapidamente essa responsabilidade, haverá enfermeiros, médicos e assistentes médicos que prestarão esse atendimento e receberão o pagamento pelo serviço. RR: De que maneira é realizado o sistema de pagamento dos profis-

sionais de Pharmaceutical Care pela prestação de serviços? LS: O pagamento é efetuado exatamente da mesma maneira que os médicos e enfermeiros (ou qualquer prestador de serviços clínicos) são remunerados nos EUA (isto é muito importante, pois aos farmacêuticos não será permitido o desenvolvimento de um sistema diferente daquele praticado para os demais profissionais da área clínica. Nos EUA, essa abordagem é denominada Resource Based Relative Value Scale (escala utilizada nos EUA para pagamento de profissionais de saúde de acordo com a complexidade do paciente). Os pacientes são avaliados e é atribuído um nível de 1 a 5, com base na complexidade dos cuidados a serem prestados. O nível é determinado (na prática de Atenção Farmacêutica) com base em três variáveis: 1) O número de condições médicas avaliadas pelo farmacêutico, 2) O número de medicamentos avaliados pelo farmacêutico (para as condições), e 3) A quantificação da farmacoterapia em relação aos problemas identificados pelo farmacêutico durante a visita por ele efetuada. Diferentes níveis de pagamento são definidos com base nos cinco níveis de complexidade, pois o paciente necessita de serviços diferentes, de acordo com o grau de complexidade identificado. RR: Como avalia a aceitação pela classe médica da prática do Pharmaceutical Care? LS: A aceitação tem sido incrível, especialmente em 2010 quando os médicos aprenderam mais sobre a prática da Atenção Farmacêutica. Os médicos não são um fator li-

mitante assim como os pacientes. Os farmacêuticos têm provado ser eles mesmos o maior desafio em relação à adoção dessa prática. Não há farmacêuticos em quantidade suficiente para cuidar de pacientes diretamente. Esta é uma questão muito crítica. RR: De que maneira o governo dos EUA analisa a prática do Pharmaceutical Care? Há investimento governamental para a ampliação desta prática? LS: Para responder esta questão deve-se analisar a qualidade do serviço, que deve ser documentado de forma muito abrangente para possibilitar esta verificação. Farmacêuticos terão que documentar a assistência que prestam no mesmo nível e da mesma maneira (prontuário) que médicos e enfermeiros documentam seus cuidados. RR: Como avalia a formação oferecida pelas universidades e pelos cursos de pós-graduação em relação ao Pharmaceutical Care? LS: A organização de acreditação americana (Conselho Americano de Educação Farmacêutica) exige que as faculdades de farmácia ensinem a prática da Atenção Farmacêutica, no entanto, cada faculdade ensina de forma diferente. Na Universidade de Minnesota, que exige dois anos de prática de Atenção Farmacêutica, há uma disciplina optativa que envolve lidar com pacientes reais e é oferecido um conjunto de disciplinas eletivas para os alunos. Os alunos também são capazes de realizar práticas clínicas supervisionadas com prestação de serviços de Atenção Farmacêutica aos pacientes.

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Entrevista

Djenane Ramalho Oliveira, pesquisadora e gerente de produtos, medication therapy management Program Fairview Pharmacy Services LLC (EUA), professora adjunta do Department of Pharmaceutical care & Health Systems, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), professora adjunta do Departamento de Farmácia Social da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos lança o livro Atenção Farmacêutica: da Filosofia ao Gerenciamento da Terapia Medicamentosa, editado pela RCN Editora.

Revista Racine: Qual é a aborda-

gem do livro “Atenção Farmacêutica: da Filosofia ao Gerenciamento da Terapia Medicamentosa”, editado pela RCN Editora, lançado no PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos? Djenane Ramalho Oliveira: Nesta obra, utilizo uma abor-

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dagem holística, humanista e crítica para apresentar e descrever a prática da Atenção Farmacêutica (AtenFar). A obra, além de apresentar os fundamentos centrais dessa prática profissional - filosofia, processo de cuidado e sistema de gestão, introduz uma dimensao original e progressista quanto à forma de colaborar e trabalhar com o paciente. O paciente é intencionalmente posicionado como o protagonista desta prática, de uma forma que contesta explicitamente as formas de assistência à saúde consideradas paternalistas e colonizadoras da vida dos indivíduos. Neste livro, apresento a AtenFar em uma perspectiva além daquelas comumente apresentadas em outros livros.

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A prática é apresentada como uma opção importante e efetiva para a atuação do farmacêutico no sistema de saúde ao mesmo tempo em que é questionada e, de certa forma, desconstruída. Por desconstrução quero dizer que procuro olhar a AtenFar utilizando várias lentes, através de diferentes angulos, iluminando suas diferentes dimensões com a finalidade de possibilitar a construção de uma prática profissional, e conseqüentemente, de um serviço clínico, mais humano, libertador e de alta qualidade. Compartilho experiências pedagógicas na preparação de um novo profissional farmacêutico, enraizado no mundo real e compromissado com a construção de uma sociedade mais justa e um sistema de saúde mais resolutivo.



Entrevista RR: Como surgiu a idéia de transmitir sua experiência por meio deste livro? DRO: Venho pensando em escrever esse livro há vários anos, mas sempre foi difícil encontrar o foco e o tempo necessários para fazê-lo. Nos últimos anos, tenho refletido e aprendido muito sobre os diferentes significados do cuidado integral ao paciente, sobre o trabalho em equipe multiprofissional, sobre a responsabilização em relação aos resultados em saúde, sobre a gestão de um programa de AtenFar, e sobre os significados dos medicamentos na vida dos indivíduos. Todas essas experiências, associadas à docência, à supervisão e à orientação de estudantes, ajudam-me a pensar a AtenFar de forma mais ampla e mais integrada às outras profissões da área da saúde. Essa trajetória trouxe maturidade para considerar a possibilidade da construção da obra. A farmacêutica e docente do Instituto Racine, Maria Denise Funchal Witzel também enxergou essa possibilidade e me estimulou a concretizar o sonho de compartilhar minhas reflexões e experiências com outros profissionais. RR: Como foi a experiência de escrever o livro em parceria com a RCN Editora? DRO: A experiência de escrever este livro foi importante. Não foi fácil, mas foi agradável e engrandecedora. Aprendi muito sobre as minhas próprias idéias e a minha interpretação das idéias de outros indivíduos e autores. O trabalho com a RCN Editora foi muito construtivo, realmente considero uma parceria. A minha revisora, Maria Denise Funchal Witzel,

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leu, corrigiu e comentou sobre todos os capítulos e reagiu às minhas idéias. Foi um processo dialógico que me permitiu olhar para meu próprio trabalho de forma mais clara e crítica. Tive uma experiência muito positiva e chego ao final me sentindo bastante motivada, pensando em futuros projetos. RR: Qual é a contribuição deste livro como referencial teórico para os profissionais que exercem ou pretendem exercer Atenção Farmacêutica? E para os docentes de cursos de graduação em farmácia no Brasil? DRO: Fui bastante intencional na minha orientação teórica nesta obra. Acredito na prática informada pela teoria e na teoria sendo informada e transformada pelas descobertas da prática. Esta é a beleza da ciência, da forma que a concebo. Assim, essa obra foi pensada e construída de uma forma que desvende os aspectos teóricos e práticos da AtenFar, enfocando a relação dialógica entre estes. Convido o leitor e a leitora a questionar a farmácia enquanto profissão na área de saúde e a responsabilidade social dos seus membros, incluindo as faculdades de farmácia do Brasil. O texto provocará desconforto naqueles indivíduos que acreditam que a farmácia possui missão clara e que os futuros farmacêuticos são formados da melhor forma possível. Contesto esse posicionamento. Faço isso utilizando aspectos teóricos, práticos e experienciais na tentativa de envolver o leitor em um diálogo construtivo que

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culmine no avanço da profissão farmacêutica. Busquei construir um texto otimista, apesar de bastante crítico, porque é necessário atingir mais criticidade e consciência da profissão. Além disso, a abordagem da AtenFar utiliza uma lente mais crítica que a usualmente encontrada na literatura. Minha compreensão dessa prática é fortemente influenciada pela ciência crítica, pelo desconstrucionismo, e por pedagogias libertadoras. Procurei deixar isso claro durante todo o texto. A abordagem teórica que tento iluminar nesta obra oferecerá um caminho interessante, contestador e motivador para àqueles profissionais farmacêuticos e docentes que querem participar da edificação de uma prática clínica que realmente transforme a forma que os medicamentos são utilizados na sociedade. Este livro contribuirá para a formação de um profissional mais consciente e mais comprometido com o cuidado a saúde do ser humano. RR: Descreva resumidamente como o livro está organizado. DRO: O livro apresenta uma introdução em que são apresentados valores e pressupostos como autora, fundamental no processo de construção de uma relação com o leitor e a leitora. Sugiro que este seja o primeiro capítulo a ser lido. Depois disso a AtenFar é apresentada em suas várias dimensões, primeiramente, capítulo 2, como acontecimento histórico/político dentro da profissão de farmácia, e depois, capítulo 3, como prática profissional, com os mesmos componentes de qualquer outra profissão da área da saúde. No capítulo 4, escrito em colaboração com a


Entrevista colega Erika Freitas, discute-se detalhadamente o processo de documentação do serviço clínico. A seguir a AtenFar é apresentada como serviço, denominado Gerenciamento da Terapia Medicamentosa (GTM). Este apresenta informações e conhecimentos nunca antes discutidos na profissão de farmácia. O capítulo 6 traz uma discussão muito pertinente e profunda sobre o paciente, em que é defendida uma abordagem descolonizadora do paciente. O capítulo 7 é o capítulo que trata da formação de um profissional competente tecnicamente e que se insira no mundo para transformá-lo. O último capítulo recapitula todas as idéias e questionamentos principais do livro. RR: Para que público considera que este livro seja direcionado? DRO: Este livro é direcionado principalmente para estudantes de farmácia, farmacêuticos, e educadores na área de farmácia. Pode ser facilmente utilizado como livro-texto em disciplinas de AtenFar. A obra traz capítulos, como os capítulos 6 e 7, que discutem o paciente e a formação do profissional farmacêutico, que pode ser utilizado por qualquer profissional da saúde ou educadores na área de saúde. Nestes capítulos, a discussão vai muito além da farmácia, pois traz discussões aprofundadas sobre os significados de uma prática centrada no ser humano e sobre a formação crítica e libertadora de profissionais da saúde. RR: Qual é o diferencial do livro em relação a outros publicados sobre esta temática no Brasil? DRO: O livro vai muito além de

outros publicados no Brasil e em outros países. Apresento aspectos fundamentais da prática, indo além de uma descrição simplista da AtenFar, apontando os perigos de se cometer os mesmos erros que outras profissões cometeram no processo de consolidação de suas práticas profissionais. A preocupação foi elevar a paciente para a posição de ator principal da AtenFar, mas de uma forma que seja descolonizadora e libertadora. O gerenciamento da terapia medicamentosa, ou o servico clínico farmacêutico, e todos os seus aspectos de gestão, são discutidos pela primeira vez no Brasil. Acredito que essas idéias sao inovadoras e terão um impacto positivo na forma que o farmacêutico constrói sua prática clínica e na maneira que o educador em farmácia concebe o processo de formação de um profissional realmente comprometido com os resultados em saúde da população. RR: Há 12 anos você vivencia a prática da Atenção Farmacêutica. O que mudou desde que o conceito começou a ser discutido no Brasil? Como analisa a evolução da filosofia da prática da AtenFar nos Estados Unidos da América (EUA) e no Brasil? Estas questões estão incluídas no livro? DRO: Minha visão sobre a AtenFar e de sua filosofia foi transformada significativamente nos últimos anos, o que é transparente na obra. Compreendo a dimensão da transformação necessária na

profissão de farmácia se houver a vontade de se formar um profissional para a prática clínica. Isto representa uma mudança radical na profissão, nas suas mais diversas dimensões. Responsabilizar-se pelas necessidades farmacoterapêuticas dos indivíduos em uso de medicamentos é um passo grande, muito importante e desafiador para todos os envolvidos. Não se fomenta uma cultura do cuidado e da responsabilidade nas faculdades de farmácia. Usualmente treinam-se os estudantes para atividades técnicas e para a pesquisa. Em geral as faculdades de farmácia não valorizam a prática farmacêutica, mas discutir abertamente essa realidade é considerado um tabu. É necessário olhar criticamente para o que está sendo realizado nas faculdades e nas práticas farmacêuticas diárias. O ‘profissional do medicamento’ necessita sair da sua área de conforto (aquela área em que não há responsabilização) e, com humildade, iniciar sua inserção nas equipes de saúde com a finalidade de contribuir ativamente para o cuidado do paciente. É necessário aprender com as outras profissões e parar de tentar inventar atividades e maquiar as verdadeiras intenções. Toda essa discussão esta presente no livro e faz parte de uma maior compreensão dos significados da AtenFar. Esses aspectos são comuns para os diferentes países e esse diálogo deve perpassar e ultrapassar fronteiras geográficas. Que diferença se pretende fazer no mundo da saúde e da doença? Como chegar lá? Como profissão é dever responder a essas perguntas e deixar claro para a sociedade a missão da farmácia.

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Atenção Farmacêutica como Construção da Realidade Djenane Ramalho de Oliveira

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á 18 anos se fala sobre Atenção Farmacêutica. Mas, afinal, o que é Atenção Farmacêutica? Por que se nomeiam congressos, cursos, grupos de pesquisa e até mesmo as práticas cotidianas de Atenção Farmacêutica? O que se pretende afirmar, confirmar ou transformar quando se inflige tanta ênfase, ou valor, ao termo Atenção Farmacêutica? Gostaria de fazer uma reflexão a respeito dos significados da Atenção Farmacêutica, sob a perspectiva de quem vem tentando desvendá-los durante os últimos 12 anos. Entretanto, é imperativo lembrar que ao se falar de significados nos referimos a construções humanas, ou atribuições de sentidos decorrentes de subjetividades, intersubjetividades, interesses, valores e desejos. Em outras palavras, esses sentidos são diversos, dependendo de quem os constrói.

Para alguns grupos que representam a profissão ao redor do globo, como vários conselhos e associações, e para inúmeros indivíduos isoladamente, a Atenção Farmacêutica representa uma tentativa de criar uma nova identidade para o profissional farmacêutico. O farmacêutico que cuida do paciente, ao invés do farmacêutico que vende medicamentos. É importante destacar que o status profissional do farmacêutico vem diminuindo consideravelmente desde o processo de industrialização, na segunda metade do século XX, devido à rápida expansão da indústria farmacêutica, e a busca por uma nova identidade para esse profissional tem sido um movimento constante da farmácia em todo o mundo 1, 3. Como se sabe, a indústria rompeu de forma abrupta o monopólio de conhecimento do farmacêutico, que na era pré-industrial mantinha controle sob a produção, o controle de qualidade e a monitorização do uso de medicamentos (para uma discussão aprofundada, ver Barros, Ramalho-de Oliveira & Carvalho, 2009). Entretanto, como apontam esses autores, apesar da perda de monopólio de conhecimentos, que é legitimador do exercício profissional, “a Farmácia foi incapaz de uma reconfiguração em torno de outro objeto, fundamentando uma nova profissão”. Ao invés de reinventar a profissão, com a finalidade de atender demandas sociais específicas, o farmacêutico afastou-se das farmácias brasileiras e se desviou para a prática de atividades não privativas da atuação do profissional, como a bromatologia, as análises clínicas e a cosmetologia. Depois disso, veio a farmácia hospitalar, a farmácia clínica e, em meio a todas essas “atividades”, o farmacêutico ainda tem a opção de trabalhar na dispensação de medicamentos em farmácias e drogarias, a única

atividade privativa da atuação do profissional na atualidade. Apesar de todas essas possibilidades de atividades, o farmacêutico continua sem reconhecimento social. O que todas essas atividades possuem em comum? Por que nenhuma delas conseguiu transformar positivamente a identidade do profissional farmacêutico, pretendida por seus representantes? Exatamente porque todas elas são atividades, ao invés de práticas profissionais. Apesar de terem um papel benéfico inquestionável no sistema de saúde, essas atividades não preenchem os requisitos de uma profissão sanitária ou prática profissional, como ficará claro mais adiante. Em 1990 surgiu a Atenção Farmacêutica, inicialmente apresentada como uma filosofia de prática profissional 4 e posteriormente definida como uma prática profissional, com todos os seus componentes: filosofia de prática, processo de cuidado do paciente e sistema de gerenciamento da prática 5. Isso representou mais uma novidade para o menu de atividades do farmacêutico e iniciou-se, então, uma nova etapa na corrida da farmácia pela redefinição da identidade desse profissional. Compreendo que os órgãos representantes da profissão e os farmacêuticos, de forma geral, viram na Atenção Farmacêutica mais uma possibilidade de oferecer uma nova cara ao farmacêutico, transformando-o em um cuidador, em um profissional que se interessa pelos indivíduos e que se compromete a cuidar de outro ser humano. Certamente os leitores desse ensaio concordam que o paciente representa o coração da Atenção Farmacêutica, afinal este aspecto da filosofia da prática se tornou parte do senso comum no mundo farmacêutico. Entretanto, com uma vontade explícita de aprofundar um pouco essa discussão e, quem sabe, provocar o início de um diálogo construtivo, a realidade mostra que, ao invés de transformar o papel do farmacêutico, a Atenção Farmacêutica tem representado mais uma das possíveis “atividades” do farmacêutico. Assim, além da venda de medicamentos, do controle de estoque, da dispensação farmacêutica, da farmácia clínica, da farmácia hospitalar e do aconselhamento ao paciente, o farmacêutico também possui a opção de fazer Atenção Farmacêutica. Sua atividade principal continua sendo a dispensação ou a entrega de medicamentos em farmácias, e a Atenção Farmacêutica, ou “pedaços isolados” dessa prática, é colocada em prática quando o farmacêutico possui vontade, tempo e, é claro, quando o proprietário da farmácia permite. Ou, também é bastante comum, o farmacêutico simplesmente modifica o nome Revista Racine 120 - Janeiro/Fevereiro de 2011

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Especial de Capa do que vem fazendo há anos - por exemplo, orientando ou educando os seus clientes na farmácia comunitária, realizando aferição de pressão arterial ou sugerindo ao médico uma alteração na dose de um antimicrobiano no hospital - para Atenção Farmacêutica. Esse é um dos significados desvendados sobre a prática da Atenção Farmacêutica: mais uma “atividade” que o farmacêutico pode exercitar e que tem o potencial de defini-lo como profissional cuidador. Entretanto, é importante lembrar que várias tentativas de apresentar as atividades do farmacêutico como se fossem uma verdadeira prática profissional foram colocadas em prática, mas o farmacêutico continua exercendo um papel inexpressivo dentro do sistema de saúde. Voltando às possibilidades de atribuição de sentidos à prática da Atenção Farmacêutica, é importante ingressar em outro caminho, o caminho que conduz à Atenção Farmacêutica como profissão farmacêutica e não como uma das múltiplas possibilidades de atividades do farmacêutico. Em outras palavras, dependendo do olhar, dos valores e dos desejos, se é capaz de enxergar a Atenção Farmacêutica como uma prática profissional que nasceu para atender necessidades reais e específicas da sociedade. Afinal, não é por isso que existem as profissões? Além disso, diferentemente de todas as outras atividades atualmente exercidas por farmacêuticos, a Atenção Farmacêutica apresenta todos os requisitos de uma profissão: 1) É capaz de atender a uma demanda social que nenhum outro profissional atualmente assume como sua responsabilidade - atender a todas as necessidades do paciente em relação à sua farmacoterapia; 2) Propõe uma filosofia profissional que pode ser incorporada por todos os membros da profissão, independente do espaço físico em que atuam; 3) Apresenta um método sistemático e racional de tomada de decisão sobre medicamentos e um processo de cuidado do paciente que pode ser utilizado com todo e qualquer paciente, em qualquer problema de saúde e utilizando qualquer medicamento; 4) Determina que todas as decisões e intervenções do profissional devem ser documentadas, com a finalidade de facilitar o controle de qualidade do exercício profissional e de garantir a continuidade do cuidado, pois outros profissionais podem ter acesso às decisões tomadas; 5) Indica um sistema de gerenciamento da prática, pois o oferecimento de um serviço para o paciente requer a implementação de aspectos logísticos e gerenciais muito diferentes daqueles usualmente utilizados na atividade de dispensação farmacêutica 5,7.

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Especial de Capa

A rede de significados que fundamenta a Atenção Farmacêutica enquanto profissão, redefinindo o farmacêutico como um profissional competente para oferecer um serviço indispensável ao usuário de medicamento, revela-se muito mais robusta do que aquela que define esta prática como uma atividade que pode ou não ser exercida de acordo com a vontade do profissional farmacêutico. Neste momento é importante descrever algumas teias que sustentam essa rede de significados. Em primeiro lugar, todas as tentativas de modificar a cara da profissão se mostraram ineficazes. O farmacêutico de forma geral é um profissional invisível na sociedade. Pode-se oferecer uma série de explicações para isso, porém, a mais adequada para o diálogo se deve ao fato de que o farmacêutico não possui uma prática profissional definida, que é aceita pelos membros da profissão, que é ensinada nas faculdades de farmácia

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e que é implementada em todos os cenários de prática do farmacêutico. Usualmente o lugar de prática do farmacêutico determina a atividade que ele ou ela exerce. Sua prática é uma na drogaria, outra no ambulatório e ainda outra no hospital. Não há uma sistematização ou padronização da prática farmacêutica, o que é diferente de qualquer outra profissão na sociedade. Na medicina, por exemplo, existe apenas uma prática médica, adotada por todos os médicos, qualquer que seja o país de origem, que é ensinada em todas as faculdades de medicina. Isso permite a comunicação entre os membros da profissão e o reconhecimento da sociedade, fazendo com que pacientes e outros profissionais da saúde possuam expectativa específica sobre quais atividades esse profissional exerce. Essa padronização da prática profissional é resultado da aplicação de corpos de conhecimento específicos com a finalidade

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de solucionar problemas específicos. Ou seja, as profissões são reconhecidas enquanto profissões porque são capazes de resolver problemas que outros grupos não conseguem resolver. O que está subentendido aqui é que deve estar absolutamente claro, para os membros de uma profissão, qual problema eles solucionarão na sociedade. Infelizmente, com relação à atenção à saúde ou ao cuidado direto de pacientes, a farmácia ainda não definiu qual é a sua inserção na sociedade, ou quais problemas resolverá. Daí surge a invisibilidade da farmácia enquanto profissão. Encontram-se diferentes farmacêuticos oferecendo diferentes serviços e faculdades de farmácia ensinando diferentes “atividades” ao invés de uma prática profissional específica. Este quadro é nebuloso e confunde outros profissionais da saúde e a população em geral. É necessário que haja uma prática profissional farmacêutica que possua


Especial de Capa uma filosofia compreendida e aceita por todos os membros da profissão, que seja ensinada nas faculdades de farmácia e seja oferecida a todos os pacientes, com qualquer problema de saúde e utilizando qualquer medicamento, em qualquer cenário de prática profissional. Isso é o que se chama de prática generalista. O farmacêutico generalista conhece as suas responsabilidades e quais problemas deve solucionar e oferece o mesmo serviço a qualquer paciente, em qualquer lugar. Atualmente, a Atenção Farmacêutica é a única prática farmacêutica que pode ser definida como generalista, que define claramente as responsabilidades do farmacêutico e que oferece um processo de cuidado ao paciente lógico e consistente, que pode ser aplicado em qualquer

cenário de prática para resolver problemas específicos. Em segundo lugar, pode-se afirmar que existem várias experiências, tanto no Brasil 8, 13 quanto em outros lugares do mundo 6, 7, 14, 19, que mostram o impacto positivo da Atenção Farmacêutica na vida dos pacientes, do aspecto clínico, econômico e humanístico. Portanto, a Atenção Farmacêutica é uma prática profissional generalista que produz resultados positivos na saúde dos indivíduos. Em terceiro lugar, a filosofia da prática da Atenção Farmacêutica representa a única filosofia de prática proposta dentro da profissão de farmácia desde os tempos do boticário. Não existe profissão sem filosofia! E a filosofia de uma profissão é o coração e o sustentáculo de uma prática profissional. Ela define os valores e responsabili-

dades. Um profissional não é capaz de tomar decisões adequadas sem uma filosofia de prática. A filosofia da Atenção Farmacêutica define qual necessidade social o profissional deve atender quando determina a responsabilidade do farmacêutico: atender a todas as necessidades farmacoterapêuticas do paciente por meio da identificação, da prevenção e da resolução de problemas relacionados ao uso de medicamentos. O farmacêutico da Atenção Farmacêutica deve assumir responsabilidade pelos resultados produzidos pela farmacoterapia dos seus pacientes e responder por esse compromisso. Neste momento, é oportuno fazer a pergunta 20: “Os farmacêuticos teriam aceitado uma nova missão profissional sem uma reflexão adequada e responsável sobre as consequências de tal decisão?”.

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Especial de Capa A filosofia também determina a forma de trabalho do farmacêutico: o farmacêutico deve cuidar de forma holística e centrada no paciente. A Atenção Farmacêutica é diferente de outras atividades do farmacêutico porque ela muda o foco do farmacêutico para o paciente. Essa é uma mudança radical que transforma os alicerces mais básicos da profissão de farmácia. Uma prática centrada no paciente requer uma série de conhecimentos e habilidades que o farmacêutico tradicional não possui e que as escolas de farmácia tradicionais não ensinam 7, 9, 21. Quando se fala de prática centrada no paciente, não se refere apenas ao trabalho junto ao paciente, face-a-face, mas ao fato de colocar as necessidades, as preocupações e os desejos do paciente antes dos do profissional. Refere-se também à necessidade de compreensão da experiência subjetiva do paciente com os seus medicamentos, com a finalidade de que as decisões sejam contextualizadas na realidade singular de cada indivíduo 7, 22. O holismo na Atenção Farmacêutica se refere ao cuidado do paciente como um todo, sem fragmentá-lo. O farmacêutico avalia todos os problemas de saúde do paciente e todos os medicamentos utilizados. Na Atenção Farmacêutica é inadmissível selecionar um medicamento ou um problema de saúde e ignorar os outros problemas do paciente. A resolução dos problemas deve ser priorizada de acordo com o risco para o paciente, levando também em consideração o desejo do mesmo. Por conseguinte, a prática da Atenção Farmacêutica apresenta uma filosofia rica e consistente, capaz de reger as atitudes e decisões do farmacêutico no seu trabalho com qualquer paciente e em qualquer local. Em quarto lugar, a Atenção Farmacêutica propõe o primeiro método racional de tomada de decisões sobre medicamentos e um processo de cuidado do paciente com todas as etapas que compõem outras práticas profissionais na área de saúde. O processo de cuidado do paciente avaliação inicial, plano de cuidado e avaliação de resultados - é utilizado por todos os profissionais da saúde, com exceção do farmacêutico tradicional. Esse processo não foi criado especificamente para a Atenção Farmacêutica. Pelo contrário, o processo de cuidado do paciente utiliza as mesmas definições e o mesmo vocabulário utilizado por qualquer profissional da saúde. Isso permite a comunicação entre o farmacêutico e outros profissionais, pois se espera que o farmacêutico trabalhe conjuntamente com os outros membros da equipe de saúde. O que separa e diferencia os diferentes membros da equipe é o problema que cada um deles assume como compromisso para solucionar. Espera-se que todo profissional da saúde cuide de seus pacientes, utilizando um processo lógico de tomada

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Especial de Capa de decisão. Além disso, não é possível cuidar realmente de um paciente se não o acompanhamos para avaliar os resultados das decisões tomadas. O acompanhamento do paciente está implícito na definição de cuidado. Portanto, considerando o que foi elucidado nos meandros deste texto sobre o caráter distintivo da Atenção Farmacêutica enquanto prática profissional, afirma-se que a transformação das idéias e aspirações, embutidas nessa prática, em realidade - na realidade cotidiana do farmacêutico deve ser encarada como a opção mais ética disponível para a profissão de farmácia. Existe um grau de compreensão da realidade, tanto da farmácia, enquanto quase-profissão, quanto da problemática associada ao uso de medicamentos na sociedade, que não permite mais maquiar as atividades dos farmacêuticos, nem fantasiar que este profissional está cuidando de pacientes, tampouco dissimular que assumimos responsabilidade pelos resultados da farmacoterapia dos pacientes. É tempo de mudança! Conclui-se que há construções humanas de significados. Há também a beleza da diversidade de sentidos que os humanos são capazes de criar. Porém, é necessário que o profissional seja crítico e responsável ao fazer escolhas. Como seres que constroem e reconstroem a realidade, o homem é responsável por questionar suas ações, pressuposições e crenças mais profundas. Também se deve nos perguntar qual é ou qual será a sua contribuição na criação ou na transformação da realidade. A farmácia que se vê e se vivencia hoje é uma construção dos farmacêuticos. Que farmácia será construída no futuro? “O homem é capaz de esquecer-se da sua própria autoria na construção do mundo humano”.

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Djenane Ramalho de Oliveira é graduada em farmácia e mestre em ciências biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutora em social and administrative pharmacy pela University of Minnesota (Estados Unidos da América - EUA). Atualmente é pesquisadora e gerente de produtos, medication therapy management Program Fairview Pharmacy Services LLC (EUA), professora adjunta do Department of Pharmaceutical care & Health Systems, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), e professora adjunta do Departamento de Farmácia Social da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (MG).

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Especial de Capa

Considerações e Questionamentos Sobre Poder e Conflito Profissional em Organizações de Saúde Maria Denise Ricetto Funchal Witzel

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Especial de Capa Introdução O poder é um tema sempre atual e de grande importância prática e teórica, situando-se no campo das ciências humanas e sociais. Nas organizações é um tema efervescente e não estudado de modo preciso e, embora a importância dos problemas de poder seja reconhecida há uma grande dificuldade de acesso dos pesquisadores às organizações para investiga-los de forma ampla (Pagès, 1987). As questões relacionadas ao poder são usualmente tratadas de forma fragmentada de acordo com cada linguagem teórica: • Em uma perspectiva marxista, como um fenômeno de alienação econômica (a não propriedade dos meios de produção) que separa os trabalhadores dos meios de produção e do produto de seu trabalho; • Mais recentemente, como um fenômeno, sobretudo político, um fenômeno de imposição, de controle sobre as decisões e a organização do trabalho; • Do nível ideológico, como um fenômeno de apropriação do sentido e dos valores; • Ao nível psicológico, como fenômenos de alienação psicológica, de dependência, de projeção e introjeção, e sistemas inconscientes de defesa coletivos. (Pagès, 1987, p. 12): Segundo Hardy e Clegg (2001), para Weber e outros autores o poder é visto como a habilidade para fazer com que uns façam o que outros desejam que seja feito, mesmo que seja contra sua própria vontade. Embora esta visão venha sendo contestada, emendada, criticada e repelida, continua sendo ponto de partida para um amplo campo da literatura. Em contraste com o conceito marxista e werberiano de poder

(trabalhos-chave que promoveram as fundamentações teóricas mais antigas para as discussões sobre o tema), pode-se identificar uma outra linguagem teórica que discute o modo como o poder encontra-se distribuído nas organizações, permitindo que diversos grupos adquiram e mantenham poder não concedido a eles oficialmente (Hardy e Clegg, 2001). Na realidade, há várias vozes distintas que tratam do poder na literatura, o que resulta em uma diversidade de conceituações contraditórias. Contudo há duas vozes que emergem de forma mais evidente - a funcionalista e a crítica - que pouco se comunicam. A primeira segue uma orientação gerencialista, de ordem mais prática, que embora adequada ao uso, também oferece margem ao abuso, e a segunda confronta temas como dominação e exploração, mas parece menos relevante para os que estão envolvidos na coordenação de ações coletivas (Hardy e Clegg, 2001). As organizações de saúde são estruturas complexas e marcadas por tensões e conflitos entre profissionais com racionalidades e visões distintas relacionadas aos problemas de saúde e nas quais os projetos trabalhados nem sempre são homogêneos (Artimann; Azevedo; Castilho de Sá, 1997). Parece difícil discutir o poder, em qualquer estrutura organizacional e, em especial, em organizações de saúde, utilizando-se de uma única teoria. Cada uma das escolas teóricas avança em uma direção e preenche lacunas distintas sobre o tema e investigações adicionais a respeito do assunto necessitam ser estimuladas. Sendo assim, este artigo possui como objetivo levantar, de forma muito preliminar, algumas questões

sobre o poder e o conflito profissional em organizações de saúde, devido ao limitado conhecimento e a experiência investigativa do autor nesse campo, com finalidade apenas de exercitar uma reflexão sobre o tema. Antes de realizar os questionamentos pensados, como forma de apresentar a complexidade que representa o poder nas organizações em geral, optou-se por apresentar um panorama resumido dos diversos conceitos de poder trabalhados em sala de aula, seguido de algumas considerações sobre as organizações de saúde e os conflitos profissionais que se estabelecem nesse campo.

Abordagens teóricas sobre o poder nas organizações: a complexidade do tema Apesar de a disciplina proporcionar leituras de textos de vários autores sobre as diversas abordagens do poder nas organizações em geral, optou-se nesta parte do trabalho tomar como base o texto de Hardy e Clegg (2001) em função de tratar do tema de forma panorâmica passando por diversas escolas teóricas. Por esta razão, no texto a seguir, raramente são apresentadas citações. Alguns autores e datas estão identificados para a organização das idéias. As referências dos autores não citados formalmente estão relacionadas no artigo original de Hardy e Clegg que está referenciado ao final deste texto. Historicamente, os primeiros estímulos para a discussão sobre o poder vieram do trabalho de Marx e Weber, que conseqüentemente tratam do poder como uma forma de dominação enfocando a existência de conflito de interesses na organização. Resumidamente, para Marx, os interesses de classe são pré-deter-

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Especial de Capa

minados e derivam das relações entre propriedade e controle dos meios de produção. Essa visão determinística do poder não vem sendo aceita pelos estudiosos contemporâneos. Max Weber trouxe maior complexidade à obra de Marx admitindo a origem do poder na propriedade e no controle dos meios de produção, mas introduzindo outro componente que poderia condicionar o poder - o conhecimento das operações. As idéias de Weber indicavam que todos os membros da organização poderiam utilizar o poder. Sob a perspectiva de Marx e teorias subseqüentes há uma margem muito pequena de possibilidade de ação nesse campo. Para Weber, os indivíduos que não possuem o capital têm oportunidade de utilizar a capacidade criativa dentro da ordem organizacional dominante e, portanto, podem exercer o poder, tanto para desafiar quanto para reproduzir o poder emanado da estrutura formal. Assim, Weber conferiu um maior espaço de manobra do que Marx, resultando em maiores opções dos trabalhadores para desafiar o poder que os controlava. Contudo, verificou-se posteriormente, que esse espaço ampliado de manobra não é facilmente aproveitado, pois os grupos dominantes utilizam estratégias sofisticadas de controle, nem sempre percebidas pelos grupos dominados.

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Os trabalhos de Marx e Weber, em suma, enfocam a existência de conflitos de interesse e o poder é visto como forma de dominação, reforçado por estruturas e regras organizacionais, com menor (Marx) ou maior (Weber) espaço de manobra estratégica e toda ação voltada a confrontar esse poder era considerada resistência à dominação. Na visão gerencialista, o poder foi tratado de forma distinta, ou seja, os arranjos organizacionais não eram considerados estruturas de dominação, mas de autoridade formal, legítima e funcional, ou seja, o poder advindo da hierarquia era tratado como normal e inevitável e derivado do próprio desenho organizacional e o poder exercido fora das estruturas formais era considerado ilegítimo e tratado como resistência e, portanto, ameaçador ao alcance dos objetivos organizacionais. Thompson, em 1956, um dos autores pioneiros nos estudos gerenciais, mostrou que o desenho técnico da tarefa e sua interdependência explicavam melhor a distribuição operacional de poder do que as prescrições formais advindas das estruturas hierárquicas organizacionais. Assim, os estudiosos do tema começaram a diferenciar o poder formal do poder real considerado também ilegítimo. Alguns autores, ao se aproximarem do trabalho de Thompsom,


Especial de Capa começaram a fazer distinção entre organizações formais e informais, nas primeiras residindo a autoridade baseada na posição hierárquica e nas segundas o poder dito real, baseado em uma série de fatores, inclusive na posição ocupada na organização. Trabalho importante, conduzido por Crozier em 1964, tomou o conceito de poder e o conectou ao conceito de incerteza, ou seja, o poder estaria relacionado à incerteza, ou, pelo menos, a seu controle. A capacidade de controlar a incerteza representava uma fonte potencial de poder. De acordo com esse modelo o poder é definido em termos de contingências estratégicas. As unidades mais poderosas na organização seriam aquelas menos dependentes das demais e que sobreviviam em situação de grande incerteza sistêmica e que não poderiam ser facilmente substituídas. De forma semelhante à visão de contingência estratégica surgiu a abordagem teórica da dependência de recursos derivada da psicologia social. Nesse modelo têm sido identificados como bases do poder: informação, incerteza, especialidade técnica, credibilidade, posição

e prestígio, acesso e contato com o alto escalão, controle do dinheiro, recompensas e sansões, entre outras. Contudo, é impossível enumerar todos os recursos possíveis, pois estes seriam diferentes dependendo do contexto nos quais surge o poder. Esse processo de mobilização de recursos é chamado de política, termo que tem reforçado a visão convencional de que o poder, fora das estruturas formalmente constituídas, seria ilegítimo, enquanto o poder legítimo, por outro aspecto, seria tido como aceito e aproblemático. A teoria crítica, que surgiu no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, veio proporcionar novos caminhos para a compreensão das organizações e sua administração (Deetz e Alverson, 2001). No que se refere às questões de poder, os autores da literatura crítica estudaram os meios de dominação com maior detalhamento tendo a obra de Weber servido de base para a reflexão sobre a resistência de grupos subordinados. Algumas pesquisas começaram a mostrar que diferentes grupos prevaleciam no processo de decisão o que possibilitou o surgimento de uma interpretação pluralista ou unidimensional do poder sustentada na possibilidade de acesso, igualmente dispo-

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Especial de Capa nível a todos os membros da organização, nos processos decisórios e que a não participação no processo refletia satisfação com a situação. Esta visão pluralista, contudo passou a ser criticada alegando que a equidade de participação entre os membros da estrutura organizacional poderia ser limitada. A partir dessas reflexões autores como Bacharach e Baratz, entre 1962 e 1970, desenvolveram o conceito bidimensional de poder, através do qual temas poderiam ser excluídos do processo de decisão por ação de atores nos bastidores do processo e que nem sempre os atores visíveis eram os que detinham maior poder. Posteriormente, Lukes, em 1974, e outros autores, passaram a colocar que os estudos acerca do poder não poderiam mesmo se restringir ao conflito visível, aos resultados das decisões ou aos temas que eram omitidos, mas deveriam também avançar em questões relacionadas à aceitação política das decisões tomadas sem que conflitos emergissem. Segundo esta visão, chamada de tridimensional, o poder de definir a realidade seria utilizado por grupos dominantes para justificar sua dominação, evitando oposição a suas posições. A terceira dimensão do poder focaliza a atenção nos mecanismos sociais e de classe que permitem que o status quo seja mantido. Outras linhas de pesquisa, advindas dos teóricos do processo do trabalho, como Braverman em 1974, Burowoy em 1979 e Edwards em 1979, examinou detalhes do cotidiano do poder e da resistência. Alguns autores também levaram em consideração padrões históricos que estruturaram o poder (controle pela vigilância, técnico e burocrático). Essas linhas de pesquisa enfocam a dialética do poder e da resistência levando em consideração fenômenos como gênero, tecnologia, etnicidade, controle gerencial e outros aspectos utilizados na estruturação do trabalho nas organizações. Recentemente, outra linha de pesquisa tem se dedicado a estudar o cerceamento organizacional para explicar o porquê dos dominados consentirem na dominação. Este cerceamento vem sendo pensado em dois sentidos: ausência de conhecimento por parte dos manipulados em relação aos caminhos do poder ou a presença de conhecimento do que há para ser feito, mas as condições necessárias de realização da atividade são desestimuladoras da ação de resistência. Nesse sentido, o cerceamento atua contra certos grupos tanto porque desconhecem o bastante para a resistir quanto porque conhecem o suficiente para saber da inutilidade da ação de resistência.

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Observa-se que vêm sendo empreendidos esforços importantes nos últimos anos para ampliar o conhecimento sobre poder, mas pouco foi feito no intuito de criar um diálogo entre as diferentes linhas de pesquisa. Os funcionalistas continuam comprometidos com seus conceitos e os conceitos desenvolvidos no campo crítico estão muito voltados a rejeitar o funcionalismo. Diante do exposto acima há uma vaga idéia da complexidade do tema poder nas organizações e parece ingênuo pensar que, com a evolução da sociedade contemporânea e das estruturas sociais, pode-se estudar o poder de forma simples e neutra.

Poder nas organizações de saúde e conflito profissional Do aspecto disciplinar, as organizações de saúde são atravessadas por campos distintos de conhecimento e domínio teórico (Vaitisman, 2000). São estruturas de grande complexidade e incerteza. Caracterizam-se por alta dependência dos profissionais que executam as atividades fim, que por suas complexidades, são controlados por profissionais com alto nível de qualificação, requerendo autonomia para realização de seu trabalho. O processo



Especial de Capa de trabalho é complexo e de difícil mensuração o que faz com que as decisões tomadas estejam, em grande parte, relacionadas a julgamento profissional individual (Artimann, Azevedo, Castilho de Sá, 1997). Pertencer a uma organização de saúde constitui um elemento de identidade. Os indivíduos que fazem parte dessa estrutura pertencem a várias categorias profissionais, bem como a diversos setores e departamentos, que realizam determinados tipos de atividades. As habilidades, conhecimentos, práticas e valores de cada profissional ou grupo funcional estão marcados pela existência de significados e hierarquias de poder, que operam articulados ou não, produzindo diversas formas de conflito (Vaitisman, 2000). Soma-se a isso a complexidade dos problemas de saúde, cuja resolução constitui o foco das organizações de saúde, e que se apresentam, em sua maioria, não estruturados. Além disso, os problemas são compreendidos de forma diferente pelos diversos grupos sociais envolvidos nos processos de cuidado e pelos próprios usuários que buscam os serviços de saúde. É um grande desafio a articulação das diferentes racionalidades encontradas nesse cenário. Cada decisão tomada, baseada em uma dessas racionalidades, apresenta implicações operacionais tanto sobre o entendimento das necessidades de saúde quanto para o cumprimento dos princípios de equidade e integralidade (Artimann, Azevedo, Castilho De Sá, 1997). Sá (2001) faz uma reflexão aprofundada do contexto em que as organizações de saúde estão inseridas identificando na sociedade brasileira um processo brutal de desvalorização da vida, individual e coletiva e, especificamente, no âmbito dos serviços de saúde, acompanhados de uma brutal desigualdade de acesso (geográfico e social) aos mesmos. A burocracia, o corporativismo, a omissão profissional, a falta de ética, respeito e solidariedade entre os profissionais de saúde e destes para com os usuários, reflete o processo de banalização da dor e do sofrimento alheios no setor saúde (SÁ, 1999). A dificuldade de muitos profissionais de se solidarizar com o sofrimento de outros, ou mesmo causar tais sofrimento, residiria no fato de não saberem lidar com suas próprias limitações impostas pela forma como seu processo de trabalho, cada vez mais segmentado e descontínuo, é desenvolvido e das condições de funcionamento das organizações de saúde (SÁ, 2001). As condições nas quais o trabalho em saúde é realizado são altamente produtoras de ansiedade, em função de o profissional ter que lidar com a dor, a morte e o sofrimento humanos. Mesmo os profissionais que não lidam

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Especial de Capa diretamente com os pacientes, ou seja, os que realizam atividades de apoio, diagnóstico, atividades administrativas e gerenciais, em geral, são também submetidos a angustias muito intensas (Sá, 2001).

organizações a grande maioria dos membros preparados não se encontra nas posições superiores, mas nas médias, e nem nas posições de comando, mas nas posições ao redor delas (Etizioni, 1989).

O poder nas organizações de saúde deriva em grande parte dos especialistas e, portanto, está mais relacionado à habilidade destes atores do que a sua posição hierárquica na estrutura organizacional. O papel dos gestores e coordenadores é limitado a coordenar ou elaborar normas de trabalho profissional. Destaca-se também a dificuldade de integração entre a estrutura profissional e administrativa, e mesmo entre os diferentes especialistas, no sentido de comprometimento com os objetivos organizacionais (Artimann, Azevedo, Sá, 1997).

O conhecimento é, em grande parte, uma propriedade do indivíduo e sua aplicação é fundamentalmente um ato individual e cada especialista responde pela decisão tomada em determinada situação. A autonomia dos profissionais liberais é uma necessidade para a eficiência de seu trabalho e é exatamente este princípio individualizador que se opõem a essência do próprio princípio da autoridade administrativa organizacional, que supões uma hierarquia de poder, com indivíduos classificados em postos inferiores e superiores, sendo que os superiores possuem mais poder que os inferiores e podem, portanto, controlar e coordenar as atividades desses últimos (Etizioni,1989).

Talvez o dilema estrutural mais importante nas organizações seja a tensão gerada pela utilização do conhecimento. Em geral, considera-se que nas organizações os indivíduos com mais conhecimento costumam estar presentes nas camadas superiores da hierarquia e os que possuem apenas uma educação secundária são encontradas nas camadas inferiores. Contudo, em determinadas

As organizações de saúde são espaços sociais heterogêneos nos quais interagem diversos grupos e papéis, mas sua identidade é materializada pelo grupo de especialistas médicos, que interagem com os demais grupos que dão suporte à realização de suas atividades. Esta interação está marcada

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Especial de Capa por muita tensão. Estudos apontam para o alto grau de autonomia dos médicos no interior das organizações de saúde e o poder que exercem sobre as demais categorias profissionais. O poder dos médicos está fundamentado no monopólio legítimo de um conhecimento específico ligado a seu campo de atuação e, portanto, nenhum outro grupo pode exercer controle sobre sua atuação profissional. Mesmo entre categorias médicas esse controle é bastante limitado, pois a autonomia nessa classe profissional é garantida por preceitos éticos, corporativos e culturais da profissão. Sendo assim, os médicos percebem muito menos, que outras categorias profissionais, as pressões hierárquicas e os controles próprios do ambiente de trabalho (Artimann, Azevedo, Sá, 1997). O ato especializado é justificado pela utilização do melhor conhecimento disponível nas mãos do especialista para resolução de determinado problema. O especialista pode consultar seus colegas antes de tomar sua decisão, mas esta, uma vez tomada, será a sua decisão. Contudo, ainda que cometa um erro será defendido pelos colegas. A justificativa de um ato administrativo reside no fato de obediência às regras e regulamentos estabelecidos pela organização e da aprovação do ato por um superior hierárquico (Etizioni,1989). Em profissões como a medicina, muitos dos atos profissionais são realizados na interação direta com o usuário e, portanto, em um contexto exterior ao da organização. Contudo, com a necessidade crescente de recursos de alto custo e de equipes de auxiliares qualificados para realização dos atos profissionais, até as profissões mais autônomas enfrentam pressões para transferir seu trabalho para organizações que disponham desses recursos, como por exemplo

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hospitais (Etizioni,1989). Co-existem, no ambiente das organizações de saúde, profissões com conhecimentos também especializados, mas com grau de responsabilidade menor, que se integram mais facilmente às estruturas hierárquicas estabelecidas pela organização. Tal é o caso da enfermagem, farmácia, entre outras profissões, que realizam quase todo seu trabalho de forma institucionalizada e não na prática particular e, portanto, estão mais sujeitas a supervisão por pessoal de posição mais elevada, ou seja, com mais autoridade administrativa, mas, muitas vezes, com menos competência profissional (Etizioni,1989). Esses profissionais apresentam dificuldade de afirmação de sua autonomia na organização, o que aponta para tensões próprias do atendimento multiprofissional. As organizações de saúde se caracterizam, portanto, pela desigualdade entre esses profissionais e os médicos no que se refere à autonomia e distribuição de poder (Farias e Vaitsman, 2002). Os técnicos e auxiliares são aqueles sobre os quais se voltam todas as formas de poder e hierarquia estabelecidas. Estes trabalhadores exercem as funções ditas subordinadas, não possuem a autonomia dos profissionais de nível superior e estão mais sujeitos as ações advindas do pessoal administrativo. Portanto, é sobre esses profissionais que recai a maior parte da pressão e do controle hierárquico (Farias e Vaitsman, 2002). Parece que em algumas organizações co-existem dois tipos de autoridade, uma especializada e outra administrativa, mas apenas a segunda está estruturada de forma burocrática, com hierarquia e centro de autoridade definidos (Etizioni,1989). Esse poderia ser considerado como sendo o caso de várias organizações de saúde.

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Nas organizações de saúde convivem setores especializados e semi-especializados. Os primeiros funcionando quase completamente sob a autoridade do especialista que realiza a atividade ou dirige os semiespecialistas ou os não especialistas que a realizam. Os segundos, com trabalho menos autônomo que o dos especialistas, é rigidamente regulado pela organização e seus deveres são muito especificados, sendo grande parte da supervisão desse trabalho realizada por indivíduos também semi-especilistas ou especialistas (Etizioni,1989).

Breve questionamento sobre poder nas organizações de saúde Embora o autor deste texto não tenha realizado investigação acadêmica nesse campo, tomou a decisão de, a partir da experiência prática adquirida na atuação hospitalar e ambulatorial, relacionar algumas questões sobre o poder nas organizações de saúde, de forma a contribuir para uma reflexão sobre o tema. O estímulo para escrever este texto veio das discussões realizadas em sala de aula. Estas colocações têm, portanto, o viés de uma visão puramente prática e talvez contaminada por uma visão de “senso comum”, que certamente necessita de grande aprimoramento. Algumas das características das organizações de saúde expostas mostram como deve ser difícil e desafiador articular os diversos profissionais envolvidos nos processos de trabalho e estudar as diversas formas de poder que se estabelecem nesse ambiente. Prece que praticamente todas as escolas teóricas possuem contribuições importantes a dar para o estudo do poder neste tipo de organização e que, dependendo da situação a ser estudada, uma escola ou outra possa


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ser mais útil para o entendimento do problema. A percepção pessoal do autor é a de que no ambiente administrativo, dos técnicos e dos auxiliares o poder emanado da estrutura hierárquica é, em geral, mais sentido. Contudo, estes indivíduos, freqüentemente, têm seu trabalho influenciado pelas ações dos diversos profissionais de nível superior, que necessitam de maior autonomia para o exercício de suas funções e que, em geral, não ocupam posição hierárquica na organização, como é o caso dos médicos. Isso constitui uma das questões contraditórias existentes dentro das organizações de saúde, ou seja: a quem os técnicos e auxiliares devem seguir: as ordens dos superiores hierárquicos ou as ordens dos profissionais médicos não hierarquicamente colocados? Entre o pessoal administrativo e técnico e os profissionais médicos há outros profissionais de nível superior, que também necessitariam de maior autonomia para o exercício efetivo de seus atos profissionais, mas que, na maioria das vezes, ou possuem dificuldade de conquistar essa autonomia ou estão atrelados à estrutura hierárquica e se vêem em constante conflito

entre assumir posições autônomas, que seu conhecimento permitiria assumir, respeitar as decisões colocadas por seus superiores imediatos, que muitas vezes não possuem tantos subsídios teóricos para a tomada de decisão, ou aquelas advindas dos profissionais médicos, profissionais completamente autônomos na estrutura da organização. Ao se deparar com a autonomia, quase absoluta do grupo de médicos, esses profissionais se sentem desprestigiados e acabam não contribuindo com seu conhecimento especializado para atingir os objetivos organizacionais. Outra questão a ser considerada aqui é: há espaço para que os profissionais não médicos de nível superior possam desenvolver suas potencialidades e contribuir para atingir os objetivos de resolução dos problemas de saúde de forma mais autônoma, ou essa resolução estaria invariavelmente nas mãos de um único grupo profissional? Entre os próprios profissionais não médicos de nível superior há uma intensa disputa de poder que costuma ser mais protagonizada pelos enfermeiros, exatamente pelo poder que estes profissionais possuem nessas organizações devido à grande importância no processo direto de cuidado do

paciente. A participação dos técnicos e auxiliares nessas disputas, às vezes, mas nem sempre, seguem a estrutura departamental, ou seja, a posição da enfermagem, da farmácia, da nutrição, da administração. A disputa entre esses profissionais costuma ser bastante acirrada e negligenciada. Outra questão que aqui se coloca: é possível uma convivência mais harmônica entre grupos com situações de poder tão díspares nesse tipo de organização? No que diz respeito aos profissionais técnicos e auxiliares, estes parecem ser os mais tensionados na organização e cujas vozes são menos ouvidas quando são tomadas as decisões, que influenciam diretamente seu processo de trabalho. Como conseguir uma participação mais eqüitativa desses atores nas decisões das organizações de saúde? As respostas a esses questionamentos são tão complexas quanto é complexo o próprio tema do poder e do campo das organizações de saúde. Não há soluções simples nem fórmulas prontas para dar conta destas questões. Há que se ampliar as investigações sobre o tema de forma a subsidiar melhor as discussões e encontrar caminhos possíveis.

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Considerações finais O conflito e as disputas de poder fazem parte de toda organização e estas questões não devem ser negligenciadas, mas sim discutidas e constantemente interrogadas, reconhecendo a pluralidade dos atores envolvidos, com poderes e interesses diferenciados e em constante disputa por espaço e recursos para realização de seus projetos individuais e coletivos. Convém ainda ressaltar que, embora várias das colocações feitas sobre organizações de saúde aqui colocadas sejam válidas, tanto para organizações públicas quanto privadas, a lógica do setor privado de saúde, não explorada nesse texto, necessariamente produziria uma série de outras reflexões importantes de serem colocadas. Finalizando, as diferentes linhas de pesquisa que tratam do poder não parecem ser necessariamente incompatíveis. O grande desafio que se impõe aos pesquisadores desse campo do conhecimento é exatamente compatibilizar as diferentes linhas teóricas com a finalidade de procurar conhecer de forma mais completa como se processa o poder no seio das organizações e se há possibilidade concreta de transforma-lo, de forma a permitir uma convivência mais pacífica, democrática e autônoma entre os diversos profissionais e setores da organização, possibilitando o desenvolvimento de ações coletivas de saúde, focadas nos objetivos organizacionais e na missão que se espera seja desempenhada pelas organizações de saúde na sociedade.

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Maria Denise Funchal Witzel é farmacêutica graduada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP), especialista em farmácia hospitalar pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com aprimoramento em farmácia clínica pela Universidade do Chile e em farmácia hospitalar pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Possui experiência em farmácia hospitalar e em farmácia comunitária. Atualmente é docente e coordenadora de Cursos Intensivos e Cursos de Pós- Graduação - Especialização Profissionalizante na Área Clínica do Instituto Racine.

Referências Bibliográficas Artmann E, Azevedo CS, Sá MC. Possibilidades aplicação do enfoque estratégico de planejamento no nível local de saúde: análise comparada de duas experiências. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, 723-740, out-dez. 1997. Deetz S, Alverson M. Teoria crítica e abordagens pós-modernas para estudos organizacionais. In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de estudos organizacionais: reflexões e novas direções. Tradução de São Paulo: Atlas, 2001. Etzioni, A. Organizações modernas. Tradução de M. L. M. Leite. 8. ed. São Paulo: Pioneira, 1989. Farias LO, Vaitsman J. Interação e conflito entre categorias profissionais em organizações hospitalares públicas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, 1229- 1241, set-out. 2002. Hardy C, Clegg SR. Alguns ousam chamá-lo de poder. In: Clegg SR, Hardy C, Nord WR. Handbook de estudos organizacionais: reflexões e novas direções. Tradução de São Paulo: Atlas, 2001. Pages M, Bonetti M, Gauleja CV, Descendre D. O poder das organizações: a dominação das multinacionais sobre o indivíduo. Tradução de M. C. P. TAVARES. São Paulo: Atlas, 1987. Sá, M. C. Subjetividade e projetos coletivos: mal estar e governabilidade nas organizações de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, 151-164, 2001. Vaitsman J. Cultura de organizações públicas de saúde: notas sobre a construção de um objeto. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, 847-850, jul-set. 2000.



Especial de Capa

Formação Clínica dos Farmacêuticos: Que Formação? Manuel Machuca González

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esde a publicação do artigo de Hepler e Strand sobre o desafio que supunha a Atenção Farmacêutica 1, os farmacêuticos têm estado envolvidos em um processo de mudança muito profundo, enquanto profissão, que tem conduzido a um grande debate interno, embora não tenham sido produzidas mudanças substanciais tanto na formação graduada quanto na prática profissional real. A Atenção Farmacêutica surgiu como resposta para diminuir a crescente morbimortalidade associada ao uso de medicamentos e, ao invés de ser entendida como um processo assistencial novo, necessário para a sociedade, tem sido interpretada como a melhora de um estabelecimento sanitário e sua necessária re-profissionalização. Pode-se dizer que não foi bem

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compreendida qual era a mudança necessária a ser enfrentada e, como consequência, não foi concedida a resposta que a mesma requeria. Apesar da sensação de fracasso e de frustração que se percebe nestes momentos entre os profissionais, é necessário dar um passo atrás para poder enxergar o panorama com a perspectiva necessária, que permita enfrentar o problema real. Somente, então, poderá ser abordado o desafio de responder ao problema estabelecido. Neste artigo, tentarei desenvolver como deveria ser, em minha opinião, a formação clínica do farmacêutico, mas para isso definirei qual é o farmacêutico no qual acredito. Além disso, desenharei quais características deveria apresentar um profissional para responder ao problema que a Atenção

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Farmacêutica institui. Cabe aos farmacêuticos, tanto os profissionais quanto os acadêmicos, decidir se querem ser aqueles que enfrentarão este desafio ou, ao contrário, pretendem continuar sendo uma profissão sem vocação explícita, com uma formação variada e carente de estrutura formal, e que não ocupa lugar exclusivo na sociedade, salvo o que esta mesma sociedade, por comodidade, possa dar-lhe a cada momento. Por que Atenção Farmacêutica? A Atenção Farmacêutica surge para responder a um problema social. Assim acontece com todas as mudanças que ocorrem na vida e com a Atenção Farmacêutica não poderia ser diferente. Ao longo do século XX a esperança de vida dobrou, especialmente nos países mais desenvolvidos. A potabilização das


Especial de Capa águas de consumo, a possibilidade de conservar alimentos e, também, os medicamentos contribuíram de forma essencial para isso. Graças aos antibióticos a batalha das enfermidades infecciosas foi sendo ganha, embora haja muito por avançar. É importante ressaltar que o grande desenvolvimento da indústria farmacêutica tem permitido que enfermidades antigamente consideradas de cura difícil tornassem-se crônicas. Para exemplificar, se no princípio do século XX a esperança de vida estava em torno de 40 anos, hoje corresponde ao dobro desse patamar, mas nesses anos ganhos devem-se utilizar medicamentos de forma crônica para sobreviver, ao menos em uma grande parte dos casos e em uma grande parte dos anos. Os medicamentos são substâncias químicas fabricadas de uma forma padronizada. Quando são administrados entram em contato com uma entidade fisiológica complexa, como é o ser humano, e, portanto, o resultado é imprevisível. Logo, se for necessário utilizar medicamentos durante muitos anos de nossa vida, necessita-se de um profissional que possa avaliar a farmacoterapia, ajudar a alcançar os objetivos desejados e intervir quando ocorrer alguma interferência com os resultados esperados. Deve ficar claro que quando os medicamentos são desenvolvidos e conseguem prolongar a vida, aumenta a morbimortalidade causada pelos mesmos, sendo necessária a intervenção para diminuir este fato e obter o máximo proveito dos avanços que oferece a farmacoterapia. De uma forma mais simples, os acidentes de trânsito aumentam na medida em que a indústria automobilística se desenvolve e neste momento faz-se necessário implantar regulamentos

e realizar esforços importantes para reduzir esta sinistralidade, e não apenas com automóveis e seguros, mas com toda a infraestrutura que envolve tecnologias e profissionais. A Atenção Farmacêutica, portanto, converteu-se em um processo assistencial para diminuir os problemas que o incremento do uso de medicamentos vinha provocando, não estando relacionada com nenhum estabelecimento, nem com profissional algum que não esteja disposto a resolver este problema. Portanto, a Atenção Farmacêutica somente estará relacionada com o farmacêutico se este profissional for aquele que pretender resolver as questões decorrentes de seu uso, pois, na realidade, a Atenção Farmacêutica relaciona-se com a avaliação e a otimização da farmacoterapia dos pacientes.

O farmacêutico e a Atenção Farmacêutica como missão Ao ficar claro que a Atenção Farmacêutica representa uma nova necessidade da sociedade atual, que surge como consequência do desenvolvimento de uma importante tecnologia sanitária - como o medicamento -, surge a questão de quem é o profissional que pode se responsabilizar por esta necessidade. Em primeiro lugar, para resolver um problema pensa-se em alguém que existe, ao invés de desenvolver um novo profissional. Isso traz vantagens, como a de poder contar, de forma imediata, com o indivíduo encarregado para realizar o trabalho. Contudo, há o inconveniente da necessidade de se fazer um esforço para modificar as funções tradicionais desse mesmo profissional. Para

orientar a missão do farmacêutico em direção à Atenção Farmacêutica, devem ser realizadas mudanças que afetam os profissionais que estão exercendo a profissão e, também, devem ser desenhadas as alterações necessárias para que os esforços do primeiro momento de mudanças não gerem tensões e traduzam-se em uma forma natural de formar os farmacêuticos. Para gerar uma nova formação para o farmacêutico, o primeiro passo é conhecer como essa prática profissional é exercida e qual responsabilidade o profissional que a realiza necessita assumir. Este tem sido um dos grandes problemas que a Atenção Farmacêutica enfrenta. Quando não se pratica a Atenção Farmacêutica não se é consciente da verdadeira dimensão da prática profissional e, portanto, não se sabe, de forma real, quais são as necessidades formativas. Portanto, a primeira atitude que se deve tomar é ajudar os profissionais que desejam liderar a mudança a partir da prática assistencial, não a partir da política, e apoiar unidades assistenciais que possam converter-se em unidades docentes. Não haverá unidades docentes de Atenção Farmacêutica se não forem oferecidas práticas assistenciais, pois uma atividade clínica somente se pode aprender ao lado dos pacientes. Essa prática assistencial não está relacionada com a dispensação de medicamentos e, portanto, não deve mesclar-se com ela. Quando se exerce a prática assistencial e se assume a responsabilidade de avaliar a farmacoterapia dos pacientes, entende-se qual é a missão do profissional que a executa e quais são suas necessidades de formação.

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Especial de Capa Graduação em farmácia Para enfrentar o desafio da Atenção Farmacêutica, a graduação em farmácia deveria adotar mudanças substanciais. Para isso, antes de qualquer coisa, deveria ser esclarecida qual é a missão do farmacêutico perante a sociedade. As profissões não são outra coisa senão a especialização de um determinado número de membros da sociedade no exercício de uma atividade necessária para essa sociedade. Assim, o médico é o profissional que se encarrega de curar os enfermos, os advogados de defender os acusados de causar dano à sociedade, os arquitetos de construir as casas e assim por diante. Contudo, não está muito claro qual é a função do farmacêutico e qual é a atividade na qual deve reconhecer-se e ser reconhecido pela sociedade. Se o farmacêutico aceita que é o profissional do medicamento, desde as fases iniciais de seu desenho até seu compromisso com os resultados de seu uso, terá contribuído para esclarecer e definir sua missão na sociedade. Todavia, uma missão deve ser coerente com a formação que se recebe para que o profissional possa assumi-la e, portanto, deverão existir profissionais que possam capacitar-se

para se comprometer com os resultados dos medicamentos nos pacientes. Creio que a formação generalista da graduação de farmácia deve fazer com que o farmacêutico se comprometa com o êxito da farmacoterapia e, para isso, deverá assumir os conhecimentos necessários. Depois poderá especializar-se em muitos temas, mas partindo do conhecimento de qual é a finalidade de suas atividades: ajudar os pacientes a melhorar sua saúde com o uso dos medicamentos que necessitam. Entretanto, o caminho não pode ser feito ao contrário. Um profissional pode especializar-se em fabricar medicamentos uma vez que tenha assumido sua missão. É o mesmo que acontece com os médicos, formados para exercer a medicina, mas que depois, em muitos casos, se tornam investigadores em saúde pública, ou exercem outra função na qual os pacientes não estão envolvidos e, apesar disso, seu trabalho não deixa de ser importante, nem eles deixam de ser médicos. O farmacêutico deve ter uma missão clara e concreta frente à sociedade e, a partir dela, especializar-se naquilo que seja necessário.

Primeiramente, a missão deve estar definida, no lugar de encaixá-la em um conjunto de aspectos inespecíficos, como aqueles que representam a idéia do farmacêutico sete estrelas 2. Os estudantes de farmácia devem estagiar em serviços assistenciais nos quais terão o primeiro contato com pacientes e formar-se com os profissionais que executam atividades assistenciais para vivenciar diretamente a missão que deverão cumprir na sociedade. As disciplinas que deverão estudar tratarão de formá-los para avaliar problemas de saúde e medicamentos, com todas as suas implicações. No entanto, aprofundar-me nesse tema foge aos objetivos deste artigo.

Formação pós-graduada Tradicionalmente, a formação pós-graduada do farmacêutico para o exercício da Atenção Farmacêutica tem sido como repetir a graduação de farmácia, com alguns conteúdos adicionais e testemunhais. A pós-graduação que prepara um profissional assistencial deverá ser assistencial. Novamente podemos nos espelhar em outras profissões próximas, como a medicina. Se um médico exercerá uma atividade no âmbito assistencial, sua formação de pós-graduação será de especialização clínica, junto a professores e visitando pacientes. A formação de pós-graduação deve ser essencialmente prática e os conteúdos teóricos devem partir da experiência com os pacientes e das necessidades de aprofundamento da prática assistencial. Para o desenvolvimento da Atenção Farmacêutica e para que esta prática não fracasse, nenhum curso de pós-graduação poderá sobreviver se não incorporar docentes assistenciais e prática real e tutelada. A for-

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Especial de Capa mação teórica não garante a prática profissional e existe experiência suficiente a respeito, ao se demonstrar que poucos profissionais assistenciais surgiram de mestrados em Atenção Farmacêutica, pelo menos na Espanha. Portanto, a formação pós-graduada deverá incluir um número de pacientes atendidos e um processo de aprendizagem prático, que fortalecerá a percepção da missão do farmacêutico na sociedade e fará com que o estudante reconheça este papel.

Do círculo vicioso ao virtuoso Para que a Atenção Farmacêutica seja realidade, é necessário que se possa romper o círculo vicioso atual - de pouca prática -, que gera o não entender bem a missão, o não saber bem o que ensinar e o não saber bem o que mudar. No momento em que a prática assistencial se tornar realidade, o círculo vicioso se transformará em virtuoso. A prática real fará entender plenamente o desenho da formação necessária, a missão a cumprir junto à sociedade e tudo isso fará com que os profissionais que a exerçam se reconheçam em si mesmos e sejam reconhecidos pela sociedade a que servem como elementos imprescindíveis para cuidar de sua saúde. Um aspecto ético que deverá garantir a formação, tanto de graduação quanto de pós-graduação, é que a profissão que se pretende ensinar tenha um lugar na sociedade e que quem a exerça possa receber o salário que merece como consequência da responsabilidade assumida para com os cidadãos.

Considerações finais A Atenção Farmacêutica supõe mudanças radicais na formação do farmacêutico, se é que este profissional está disposto a assumir a necessidade de cuidar das pessoas que utilizam medicamentos. A formação de um farmacêutico clínico exige que ele se desenvolva como tal e, por isso, deve ser feita junto a pacientes e profissionais de referência que estejam exercendo esse trabalho e recebendo seus honorários por isso. Isto significa que nós farmacêuticos estamos atualmente imersos em um círculo vicioso, que somente com a determinação e coragem de alguns líderes profissionais poderá ser rompido, convertendo-se em um círculo virtuoso. Necessitamos da coragem e da fé de profissionais que atuam tanto na formação acadêmica quanto no âmbito sanitário bem como do convencimento de que oferecer este serviço à sociedade contribuirá para torná-la mais justa e mais forte.

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Manuel Machuca González é farmacêutico graduado e doutor em farmácia pela Universidade de Sevilla, Espanha. Foi consultor internacional para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fórum das Américas no projeto Atenção Farmacêutica em Hipertensão (2002), especificamente na área de comunicação médico e paciente. É farmacêutico comunitário, colaborador do programa de doutorado e práticas tuteladas do Colégio de Farmácia da Universidade de Minnesota, Estados Unidos da América (EUA), e professor dos masters em atenção farmacêutica nas Universidades de Barcelona e Granada, na Espanha - edições nacionais (1998- 2005) e internacionais (Colômbia, 2005) - além das Universidades de Valência (coordenador acadêmico), Sevilha (coordenador acadêmico), e Cardenal Herrera, em Valencia, na Espanha, San Francisco Xavier, em Sucre, Bolívia (coordenador acadêmico internacional), Andrés Bello, no Chile, e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT), em Portugal. É membro do comitê de especialistas do I Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados aos Medicamentos, II Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados aos Medicamentos e Consenso sobre Atenção Farmacêutica do Ministério da Saúde da Espanha e acadêmico correspondente da Academia Peruana de Farmácia.É autor de mais 40 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais sobre atenção farmacêutica, quatro Guias de Atuação em Atenção Farmacêutica, cinco livros e mais de dez capítulos de livros. Realizou mais de 100 intervenções em conferências, oficinas e cursos em congressos internacionais na Europa e na América Latina. Tradução Maria Denise Funchal Witzel é farmacêutica graduada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP), especialista em farmácia hospitalar pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com aprimoramento em farmácia clínica pela Universidade do Chile e em farmácia hospitalar pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Possui experiência em farmácia hospitalar e em farmácia comunitária. Atualmente é docente e coordenadora de Cursos Intensivos e Cursos de Pós- Graduação - Especialização Profissionalizante na Área Clínica do Instituto Racine. Sérgio Slan Zarwar é farmacêutico graduado pela Faculdade de Farmácia da Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO), especialista em administração industrial pela Fundação Vanzolini da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e em marketing pela Escola Trevisan para Dirigentes de Empresas e MBA em gestão universitária pela Universidade São Marcos. Atuou por quatro anos na indústria farmacêutica Merrell Lepetit, nos setores de produção e desenvolvimento de novos produtos. É Diretor do Departamento de Gestão do Ambiente Educacional (DGAE) do Instituto Racine.



Especial de Capa

O Farmacêutico e seus Sete Sapatos Sujos Nilce Barbosa e Manuel Machuca González

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m março de 2005, o escritor moçambicano Mia Couto foi convidado a proferir a Oração de Sabedoria, aula magna de abertura do ano letivo no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), que intitulou Os Sete Sapatos Sujos da África. A essência de seu discurso, se por um aspecto aborda a ilusão de combater a pobreza, um desafio em que todos os africanos, de modo generoso e patriótico, querem participar, por outro explora de modo sutil, graças à sua genialidade lingüística, os diferentes tipos de pobreza, algumas das quais escapam de todas as estatísticas e indicadores quantitativos: a pobreza de nossa reflexão sobre nós mesmos, a dificuldade de nos pensarmos como sujeitos históricos, como ponto de partida e como destino de um sonho. O único segredo, a única sabedoria, é não temer, dividir publicamente nossas fragilidades. E é isso o que vamos fazer; dividir com vocês algumas de nossas dúvidas e inquietações. É por isso que começamos a pensar no discurso de Mia Couto e suas semelhanças sobre o momento histórico em que vivemos enquanto farmacêuticos. E decidimos - como dizia Mia Couto - ser sinceros e não ter medo de compartilhar com vocês publicamente nossas fragilidades, algumas de nossas dúvidas e muitas de nossas inquietações em relação à profissão farmacêutica. E queremos fazê-lo a partir do radicalismo da esperança, a que muitas vezes aludiu o grande pedagogo brasileiro Paulo Freire. “Sei que as coisas podem piorar, mas também sei que é possível interferir para melhorá-las”. Estamos há, pelo menos, quinze anos tentando construir a Atenção Farmacêutica na

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Espanha, no Brasil e em grande parte do mundo. Entretanto, com muito pesar, cremos que ainda não nos colocamos no ponto de partida para esse longo caminho. Nesses 15 anos, várias leis falam da Atenção Farmacêutica ou do seguimento farmacoterapêutico na Espanha: a lei de regulação dos serviços em farmácia, de 1997; a lei de ordenação dos profissionais sanitaristas, de 2003; ou a de uso racional de medicamentos, de 2006. Foram realizados três consensos sobre problemas relacionados a medicamentos, ou resultados adversos associados à medicação, um consenso no Ministerio de Sanidad, um fórum promovido pelo Consejo General de Colegio; muitos mestres e cursos sobre Atenção Farmacêutica. No Brasil, a trajetória também é longa e permeada de Resoluções, Portarias e o Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica (Proposta), publicado em 2002. A universidade inclui em seus currículos, mas o que mudou, ou o que vai mudar? As leis nominam, mas não regulam, os consensos abordam partes que não são o todo, não há curso teórico que capacite por si mesmo para enfrentar uma nova prática. Pretende-se que vamos todos juntos, de mãos dadas “descobrir a América”. Pretende-se que algo se torne real somente por estar escrito ou descrito em um documento. Confundimos o que a sociedade necessita de nós com o que acreditamos que necessitamos para seguirmos sendo nós mesmos, mude ou não mude a sociedade. Persistimos no equívoco. E, como disse Cícero, errar é humano, porém persistir no erro é tolice. E cada vez se tem mais pressa e menos margem de erro.


Especial de Capa Como diz o provérbio alemão, que sentido tem correr quando estamos no caminho errado. Parafraseando Mia Couto em seu discurso sobre a África, entendemos que a falta de reflexão autocrítica na profissão farmacêutica está fazendo-nos perder os fundamentos a partir dos quais deveria nascer um novo futuro. O pessimismo nos invade, e persistimos em não perguntarmos sobre o que nos separa do futuro que queremos. Falta-nos uma prática assistencial? Falta-nos uma universidade renovada? Faltam-nos projetos? Pesquisadores? Tudo isso é necessário, imprescindível, porém há algo ainda mais importante, tanto para África, quanto para nós farmacêuticos: uma nova atitude. Podemos ter leis, consensos, assinaturas ou programas de Atenção Farmacêutica, pesquisadores, dinheiro... Mas, se não mudarmos nossa atitude, não estaremos construindo o futuro. Nosso problema tem origem no medo de gerar um pensamento produtivo, ousado e inovador, que não resulte da repetição de lugares comuns, fórmulas e receitas pensadas por outros, ou para outra finalidade, ou ainda para tempos já vividos. Não podemos ser uma profissão renovada com o fardo pesado de prejuízos que levamos. Necessitamos, como os africanos, descalçar os sete sapatos sujos e deixá-los à porta de entrada dos novos tempos, conforme descrevemos a seguir.

Primeiro sapato: a idéia de que os culpados sempre são os outros e de que nós sempre somos as vítimas Já se sabe: a culpa é dos políticos que não legislam nem nos pagam; dos médicos que nos odeiam; da universidade que não ensina o que deve; dos pacientes que não nos levam em conta. É verdade que há muito que se Revista Racine 120 - Janeiro/Fevereiro de 2011

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Especial de Capa fazer em relação a isso que descrevemos, porém devemos reconhecer que uma parte da culpa é nossa. Estamos sendo vítimas de um grande processo de desresponsabilização. Mia Couto cita em seu discurso o nigeriano Chika Onyeani em seu livro Capitalist Nigger: The Road to Success: “Queridos irmãos: estou cansado de pessoas que só pensam em uma coisa, queixar-se e lamentar-se, um ritual que nós fabricamos mentalmente como vítimas. Choramos e nos lamentamos até a náusea sobre o que os outros fizeram e nos continuam fazendo. Pensando que o mundo nos deve algo. E lamento dizer-lhes que ninguém nos deve nada. Ninguém esta disposto a abdicar do que tem com a simples justificativa de que nos também queremos o mesmo. Se queremos algo, temos que saber conquistar. Não podemos continuar mendigando”. Queremos que nos olhem com dignidade mas insistimos em posicionarmos como vítima. A desresponsabilização é um dos estigmas mais graves que pesam sobre nós e o discurso desculpabilizante, que freqüentemente se reapresenta, é um fantasma que teimoso e anacrônico.

Segundo sapato: a idéia de que o sucesso não nasce do trabalho Essa idéia, a transformamos na percepção de que a Atenção Farmacêutica não se pode tornar realidade a partir de um livro, desde um curso teórico, ou desde um acordo. Uma prática profissional é a experiência, exercício real, muito mais do que conhecimento. E não poderá tornar-se realidade se antes não se apoiar os que a exercem, e mais, que a exercem em um cenário difícil, porque não foram formados de forma regulamentada para prestar esse serviço à sociedade, e enfrentam o desafio de assistirem os pacientes, muitos deles com múltiplas doenças, algumas muito graves, polimedicados, e pelo que não recebem contrapartida econômica alguma, e, para tanto, deixam de fazer outras coisas. Neste cenário, há alguém que estranhe, de forma honesta, sincera, que a prática da Atenção Farmacêutica real seja quase inexistente?

Terceiro sapato: o preconceito de que quem critica é inimigo Na Espanha, vive-se um momento em que se pode ver que a existência de intolerância não é uma questão de que existe democracia formal ou não. A intolerância é, antes de tudo, fruto de gerações, de culturas e de história. O debate de idéias se substitui pela agressão pessoal, e se demoniza, ou se exclui a quem pensa diferente. Prevalece um conceito demasiado paroquial de lealdade. E isso também impregna a Atenção Farmacêutica. Já existem re-

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vistas científicas que recusam a publicação de artigos que não levem em conta o pensamento único gerado a partir de despachos, impondo sua verdade sobre a de outros, com a força de quem ostenta o poder. Doutrinamos ao invés de formarmos um pensamento crítico aberto a discussão de todas as idéias. Outras armas, porém, a mesma guerra há séculos. E o que falar do Brasil, este país que não é um só, como bem imortalizou Jacques Lambert? Sua dimensão geográfica, suas diferenças culturais, seus números gigantescos, para o bem e para o mal, geram facilidades e dificuldades de diálogo, bem como de repercussão democrática de experiências e idéias.


Especial de Capa Quarto sapato: A idéia de que mudar o discurso muda a realidade E assim temos feito consensos e consensos. E ainda há aqueles que estão por fazer. Como se o problema estivesse nas palavras. Como se um belo discurso, ou como se um artigo, muito bem escrito, pudesse forjar a ferro e a fogo uma realidade. Muitas das instituições, que deveriam produzir idéias, hoje só produzem papéis. Em vez de soluções, somente encontram dificuldades e, ao invés de propostas e ações, sugerem novos estudos.

Quinto sapato: a vergonha de ser pobre e o culto às aparências Ou o complexo por não pesquisar. Em nossa baixa autoestima, nos obcecamos por pesquisar e aplicar o método científico a algo que ainda não existe. Falta-nos a experiência necessária para demonstrar algo. Como resultado, realizamos pesquisa com fim em si mesma, publicamos nas revistas que acreditamos para fechar o círculo endógeno, em vez de alinhá-la com nosso futuro e, assim, correr o risco de demonstrar cientifica-

mente que não estamos prontos para assumir o desafio. Simplesmente, porque nos falta reflexão de qual é o caminho que queremos seguir e, como diz o refrão, se não sabemos aonde ir, qualquer caminho vale.

Sexto sapato: a passividade diante da injustiça Ou temer aos abusos que se cometem contra nós, porque basicamente nos temos, em tão mau conceito, que pensamos que o que acontece é merecido, e que temos mais ainda a perder. O medo que nos paralisa, como o conto de Rubem Alves, que fala que o leão mata com o olhar antes que com as garras. E assim, permanecemos impassíveis, queixando-nos diante dos acontecimentos, sem capacidade de reação, lamentando-nos e a espera que nos dêem um golpe final.

Sétimo sapato: a idéia de que, para ser moderno, tem-se que imitar a outros Este sapato, a ser descalçado, o identificamos com a nossa falta de identidade profissional, que muitas

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Especial de Capa

instituições de ensino reforçam, na medida em que qualquer disciplina é válida com a desculpa das múltiplas oportunidades de carreira. Acreditamos que falta um debate honesto sobre qual a missão do farmacêutico na sociedade do século XXI e como deve ser formado esse profissional. Só assim evitaremos que a inclusão da Atenção Farmacêutica no currículo seja uma peça no quebra-cabeça da nossa formação, e possa orientar as disciplinas às reais necessidades da formação. Para, dessa forma, poder gerar autênticas vocações de farmacêutico como em qualquer outro curso universitário. Não podemos seguir formando farmacêuticos para o século XXI, com currículos do século XIX. Acreditamos que é preciso que saibamos reconhecer e aceitar o processo histórico, no qual nos encontramos como profissão. Como os africanos, objeto do discurso de Mia Couto, somos pobres; ou melhor, temos sido empobrecidos pela história. Porém, somos parte, importantíssima, dessa história, afinal os medicamentos permitiram diminuir o sofrimento humano e prolongar a vida. Porém temos sido empobrecidos por nós mesmos e a força de superar esse momento histórico reside em nós mesmos. Devemos ter a certeza de que podemos construir nosso destino. Muita gente está sofrendo e morrendo por problemas produzidos por medicamentos, e que podemos evitar. Nossos governos estão gastando fortunas em saúde, e isso poderia diminuir substancialmente com a implantação da Atenção Farmacêutica. Podemos construir um tempo novo a partir do exercício diário de nossa profissão. É por isso que vale a pena querer descalçar os nossos sapatos sujos. Podemos aceitar que ter um futuro custa muito dinheiro. Porém, é muito mais caro ter somente o passado. Nota dos autores: pode-se consultar o discurso de Mia Couto no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM).

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Nilce Barbosa é graduada em farmácia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), especialista em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, em que freqüentou também o curso em nível de pós-graduação lato sensu em marketing e finanças. Atuou como ministrante de Cursos de Extensão e Cursos de Pós-Graduação do Instituto Racine, e como ministrante convidada em outras instituições e congressos em diversos Estados do Brasil. É diretora responsável e coordenadora técnico-editorial dos periódicos Revista Racine, Revista Fármacos & Medicamentos e Revista Nutrição Profissional. É membro da Comissão Científica permanente do Congresso Interdisciplinar de Assistência Domiciliar (CIAD), realização conjunta do Grupo Racine com o Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (NADI-ICHCFMUSP). Idealizadora e presidente da Semana Racine de Atualização em Farmácia, do Encontro Racine para as Indústrias Farmacêuticas, da Jornada Racine de Integração Multiprofissional em Saúde e do Ciclo Racine para Universitários. É presidente do Instituto Racine, que congrega três empresas voltadas à educação e ao intercâmbio de conhecimento no setor da saúde. Ocupa a cadeira número 80 da Academia Nacional de Farmácia, é Diretora de Ética da Organização Civil de Interesse Público (OSCIP) Aliviador, sócia-fundadora da Sociedade Brasileira para a Preservação da Memória da Pharmácia e também membro da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (SOBRAVIME), Associação Brasileira para o Ensino de Farmácia e Bioquímica (ABENFARBIO), Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC), Associado Pleno do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) e Associado Corporativo, pelo Instituto Racine, do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Manuel Machuca González é farmacêutico graduado e doutor em farmácia pela Universidade de Sevilla, Espanha. Foi consultor internacional para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fórum das Américas no projeto Atenção Farmacêutica em Hipertensão (2002), especificamente na área de comunicação médico e paciente. É farmacêutico comunitário, colaborador do programa de doutorado e práticas tuteladas do Colégio de Farmácia da Universidade de Minnesota, Estados Unidos da América (EUA), e professor dos masters em Atenção Farmacêutica nas Universidades de Barcelona e Granada, na Espanha - edições nacionais (1998- 2005) e internacionais (Colômbia, 2005) - além das Universidades de Valência (coordenador acadêmico), Sevilha (coordenador acadêmico), e Cardenal Herrera, em Valencia, na Espanha, San Francisco Xavier, em Sucre, Bolívia (coordenador acadêmico internacional), Andrés Bello, no Chile, e Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT), em Portugal. É membro do comitê de especialistas do I Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados aos Medicamentos, II Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados aos Medicamentos e Consenso sobre Atenção Farmacêutica do Ministério da Saúde da Espanha e acadêmico correspondente da Academia Peruana de Farmácia. É autor de mais 40 artigos científicos em revistas nacionais e internacionais sobre Atenção Farmacêutica, quatro Guias de Atuação em Atenção Farmacêutica, cinco livros e mais de dez capítulos de livros. Realizou mais de 100 intervenções em conferências, oficinas e cursos em congressos internacionais na Europa e na América Latina.



Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica

Alta Hospitalar: Enfoque Farmacêutico Liete de Fátima Gouveia Marques, Izabel Cristina Furtado, Luciana Cristina Reis Di Monaco e Giane Santana Alves Oliveira

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica Introdução O momento da alta hospitalar costuma trazer, ao paciente, sentimentos ambíguos, como satisfação por estar se recuperando e por voltar para casa, e medo por sentirse inseguro sem o suporte da equipe de saúde (Marra et al., 1989). Além disso, pode ocorrer descontinuidade na interface do atendimento hospitalar e ambulatorial, de forma que os pacientes podem estar especialmente vulneráveis a danos imediatamente após alta hospitalar (Kripalani et al., 2007). Os problemas relacionados ao uso de medicamentos são comuns neste período de transição do atendimento: estima-se que 11% a 23% dos pacientes apresentam eventos adversos relacionados a medicamentos após alta hospitalar, sendo que 6% a 27% dos eventos poderiam ter sido evitados, 6% a 12% resultam em atendimento em serviços de urgência, e 5% em readmissão hospitalar (Foster et al., 2003, 2004, 2005; Schinipper et al., 2006). Alguns problemas relacionados com medicamentos são particularmente comuns após alta hospitalar, tais como discrepâncias entre o regime medicamentoso prescrito após alta hospitalar e o tratamento anterior à internação, problemas de adesão ao tratamento, e inadequada vigilância de efeitos adversos. Grande parte dos problemas decorre da falta de preparo para o autocuidado, transferência incorreta ou incompleta de informações, falta de acesso aos profissionais de saúde que possuem conhecimento de seu plano de cuidado quando as dúvidas surgem, e falta de seguimento adequado (Barnsteiner, 2005; Coleman et al., 2006). Alguns trabalhos sugerem que a atuação de farmacêuticos junto aos pacientes em alta hospitalar reduz as discrepâncias entre regimes farmacoterapêuticos pré e pós-hospitalização, melhora a adesão ao tratamento, reduz a taxa de eventos adversos relacionados com medicamentos, reduz a necessidade de novos atendimentos em serviços de saúde, tanto em emergência como readmissões hospitalares (Al-Rashed et al., 2002; Kaboli et al., 2006; Schnipper et al., 2006). A forma ideal de atender ao paciente em alta hospitalar é a atuação multiprofissional integrada, compartilhando informações específicas em cada área de atuação (Pompeo et al., 2007). No Brasil, a profissão farmacêutica passa por um momento de forte expansão na área assistencial, com criação de normas legais e alterações de currículos de cursos de graduação, como resultado de ampla discussão sobre as funções do farmacêutico. Porém, ainda são raras as iniciativas no campo de atuação do farmacêutico em alta hospitalar. A revisão de literatura mostra uma grande

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quantidade de publicações internacionais, mas poucas nacionais, demonstrando que este estudo é oportuno, na medida em que fornece subsídios para a reflexão sobre o papel do farmacêutico no atendimento ao paciente em alta hospitalar, apresenta informações técnicas sobre atividades relacionadas à alta hospitalar, e destaca a necessidade de integração entre profissionais e serviços nos diferentes níveis de complexidade do atendimento ao paciente.

Atividades relacionadas à alta hospitalar A atuação do farmacêutico em alta hospitalar pode ocorrer de várias formas: detecção e resolução de problemas de discrepâncias entre regimes farmacoterapêuticos pré e pós-hospitalização, por meio da reconciliação de medicação, orientação nos diversos aspectos relacionados


Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica à terapia medicamentosa (por que, como, quando e quanto tempo utilizar os medicamentos, cuidados especiais, formas e requisitos para aquisição de medicamentos, entre outras informações), participação na elaboração do plano de alta hospitalar, e seguimento do paciente após alta hospitalar. Dessa forma, o farmacêutico pode participar ativamente da equipe de saúde, contribuindo com o processo de alta hospitalar do paciente.

Reconciliação de medicação Segundo Moriel et al. (2008), a reconciliação de medicação demonstra ser uma importante estratégia para reduzir erros de medicação, riscos potenciais ao paciente e custos no atendimento. Consiste no processo formal de adequação do plano farmacoterapêutico a partir da comparação entre a lista exata e completa de medicamentos que o paciente estava utilizando previamente e a prescrição farmacoterapêutica na transição do atendimento (admissão hospitalar, mudança de médico prescritor, alta hospitalar). Na admissão hospitalar, a falta de informações acuradas e completas sobre quais medicamentos o paciente estava utilizando, pode levar à interrupção ou à inadequação da terapia medicamentosa durante a hospitalização, ou resultar em falha para detectar problemas relacionados com medicamentos como causa da admissão hospitalar, afetando adversamente a segurança do paciente. Após alta hospitalar, a manutenção destes erros pode levar à omissão ou à duplicação de medicamentos, interações medicamentosas, problemas de adesão ao tratamento, entre outros, podendo resultar em sofrimento humano e custos adicionais no atendimento (Cornish et al., 2005). Na alta hospitalar, 41% a 49% dos pacientes apresentam algum tipo de discrepância (Schnipper et al., 2006, Vira, Colquhoun, Etchells, 2006), sendo mais frequente a omissão de medicamentos anteriormente utilizados pelos pacientes (42% a 60% das discrepâncias); 59% das discrepâncias detectadas poderiam resultar em dano se o erro não fosse interceptado e continuasse após alta hospitalar (Gleason et al., 2004); 23% foram consideradas graves, com risco de hospitalização ou alteração funcional persistente (Pippins et al., 2008). Bayley et al. (2007) demonstram que, na alta, o principal papel do farmacêutico foi retornar o paciente ao regime de tratamento com medicamentos de uso contínuo, que havia sido suspenso na admissão hospitalar, representando 31% de todas as intervenções redutoras de morbidade.

O resultado da reconciliação de medicação deve ser comunicado ao paciente e aos cuidadores, para que o paciente não apresente dúvidas sobre se deve ou não continuar a fazer uso de seus medicamentos no domicílio, se houve inclusão de medicamentos ou mudanças quanto à dose, à frequência, à duração do tratamento, entre outras. Deve também ser comunicado ao médico que dará prosseguimento ao atendimento do paciente, destacando-se as alterações do tratamento, o motivo e o plano de monitorização após alta hospitalar.

Orientação ao paciente

Frequentemente, os pacientes recebem alta hospitalar com informação inadequada ou insuficiente sobre seus medicamentos ou mesmo não recebem qualquer orientação sobre seu tratamento (Calabrese et al., 2003, Kerzman, Baron-Epel, Toren, 2005). O conhecimento insuficiente sobre seus problemas de saúde e medicamentos é uma das principais causas da falta de adesão do paciente ao regime farmacoterapêutico e ao plano de monitorização. Como conseqüência pode ocorrer comprometimento dos resultados do tratamento, deterioração do estado de saúde do paciente, além de aumento da utilização e dos custos do atendimento em saúde (Kerzman, Baron-Epel, Toren, 2005, Kripalani, Yao, Haynes, 2007, Silva, Schenkel; Mengue, 2000). A orientação ao paciente realizada pelo farmacêutico possui como objetivo ajudá-lo a obter os maiores benefícios com o uso de seus medicamentos, auxiliar na resolução de problemas existentes, prevenir a ocorrência de problemas futuros, e desenvolver a capacidade do indivíduo em lidar com problemas relacionados ao uso de medicamentos que possam vir a ocorrer em seu domicílio (Rantucci, 2007). O processo de orientação sobre os diversos aspectos relacionados ao tratamento deve iniciar logo após admissão hospitalar, em visitas clínicas. Aproximando-se o dia da alta, devem ser destacadas as alterações no regime medicamentoso resultantes do processo de reconciliação, como inclusões e exclusões de medicamentos, mudança na dose, bem como orientações importantes sobre os medicamentos que utilizará no domicílio (Cua, KripalaniI, 2008). Além de explicação verbal, o paciente e os cuidadores devem receber um plano escrito contendo: nomes dos medicamentos, indicações, doses e apresentações, freqüência e tempo de administração, forma de administração, lista de medicamentos descontinuados e motivo (Spinewine et al., 2006). Revista Racine 120 - Janeiro/Fevereiro de 2011

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Plano de alta hospitalar Os planos estruturados de alta hospitalar são ferramentas utilizadas para aumentar a capacidade de autocuidado, fortalecer a adesão ao tratamento proposto, reduzir a frequência de hospitalizações não planejadas e estreitar a comunicação entre o hospital e o cuidado fornecido em serviços de atenção primária (Kuchenbecker, 2005). No Brasil, a partir de informações obtidas em artigos publicados sobre o tema (Miasso, Cassiani, 2005, Pereira et al., 2007, Pompeo et al., 2007), na prática clínica habitual, não há planejamento de alta, e as orientações se restringem a instruções fornecidas, na maioria das vezes, pelo médico e/ou enfermeiro no momento da alta hospitalar. Apesar de haver valorização, por parte dos enfermeiros, da orientação do paciente para alta, uma das principais barreiras encontradas é o conhecimento da alta do paciente apenas no momento em que ela ocorre. Segundo Mamon et al. (1992),

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Ratliff (1981) e Romano (1982), o planejamento de alta deve haver envolvimento multiprofissional integrado e compreender as seguintes etapas: avaliação das necessidades do paciente, avaliação dos recursos disponíveis na comunidade, orientação ao paciente e seus familiares, e apresentação do plano estruturado de alta hospitalar, que deve conter as seguintes informações: 1. Diagnóstico, motivo da admissão hospitalar e intervenções realizadas durante a hospitalização; 2. Tratamento proposto (nome, dose, freqüência e via de administração, duração planejada de uso e razão de uso de cada medicamento), além de orientações de monitorização (o que fazer, quando fazer e o que esperar dos procedimentos de monitorização), registrar o motivo de exclusões, inclusões e substituições de medicamentos; 3. Esclarecimentos sobre quais circunstâncias o paciente deve contatar um profissional, para quem ou onde telefonar para esclarecer dúvidas; 4. Esclarecimentos sobre como será

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realizado seguimento, se disponível no hospital; 5. Orientação sobre sistemas de apoio na comunidade; 6. Registro das orientações fornecidas ao paciente. Cópia do plano de alta deve ser entregue ao paciente e ao profissional de saúde que realizará seguimento do paciente.

Seguimento após alta hospitalar

A falta de seguimento adequado é uma das causas do comprometimento da qualidade e da segurança dos pacientes durante o período vulnerável da transição de atendimento (Coleman et al., 2006). Portanto, o processo de acompanhamento do paciente deve continuar no domicílio, iniciando logo nos primeiros dias após a alta hospitalar, seja por meio de serviço disponibilizado pelo próprio hospital, ou em parceria com profissionais da atenção primária de saúde, com feedback à equipe hospitalar.



Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica Telefonar ao paciente poucos dias após a alta oferece a ele a oportunidade de esclarecer dúvidas sobre regimes farmacoterapêuticos, relatar novos sintomas que podem estar relacionados ao uso de medicamentos, ou ainda relatar dificuldades na aquisição de medicamentos (Kripalani et al., 2007). Outro recurso é a visita domiciliar após alta, que possibilita, além de esclarecer dúvidas, observar como os medicamentos estão sendo utilizados e armazenados, descartar medicamentos antigos (Cua; Kripalani, 2008), além de viabilizar o encaminhamento do resultado da avaliação farmacêutica à equipe médica, com sugestões quanto à necessidade de ajustes na terapia farmacológica, e constatações de interesse de outros membros da equipe multidisciplinar. Este contato após alta transmite segurança ao paciente e seus familiares de que suas dúvidas e necessidades, durante esse período vulnerável, serão conhecidas e resolvidas pela equipe de saúde (Coleman et al., 2006), e permite reforçar orientações, monitorar o progresso e o aparecimento de eventos adversos, possibilitando ajustes e encaminhamentos a serviços necessários antes que ocorra piora do quadro (Naylor et al., 1999).

realização de seguimento, é um dos principais passos para a continuidade do atendimento no manejo de medicamentos, garantindo a efetiva comunicação entre profissionais, independente do local de atendimento ao paciente (American Society Of Health-System Pharmacists, 2005).

Considerações finais É inegável a contribuição da atuação do farmacêutico em alta hospitalar, trazendo benefícios ao paciente e às instituições de saúde, e promovendo a valorização do farmacêutico como profissional de saúde. Para o desenvolvimento de atividades junto ao paciente em alta hospitalar, o farmacêutico deve buscar capacitação e atualização não apenas com relação à farmacoterapia, mas também para desenvolver habilidades para atuação direta com pacientes, especialmente quanto à abordagem psicossocial.

parcerias com universidades para desenvolver projetos com participação multidisciplinar integrada, em que cada área contribui com conhecimento técnico-científico específico, evitando a fragmentação do atendimento ao paciente. Considerando, ainda, os riscos de descontinuidade do atendimento ao paciente após alta hospitalar, os programas resultantes de parcerias poderiam, inclusive, ultrapassar os limites do hospital e, além do seguimento no domicílio, fornecer seguimento em farmácias comunitárias, lares para idosos, orfanatos, entre outras organizações. Portanto, este trabalho demonstra que, por meio da participação em diversas atividades, o farmacêutico pode contribuir com a prevenção e a resolução de problemas relacionados ao uso de medicamentos e, assim, compartilhar, com os pacientes e demais membros da equipe de saúde, a responsabilidade pelos resultados farmacoterapêuticos após alta hospitalar.

Em estudo clínico, Schnipper et al. (2006) demonstraram que, por meio de orientação farmacêutica e seguimento por telefone, três a cinco dias após alta, o grupo sob intervenção apresentou menor número de eventos adversos relacionados com medicamentos que o grupo controle (1% versus 11%) e menor número de atendimentos em serviços de urgência (1% versus 8%), trinta dias após alta hospitalar.

Liete de Fátima Gouveia Marques é graduada em farmácia e especialista em farmacologia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialista em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica pelo Instituto Racine, pela UEM, especialista em farmácia hospitalar e introdução à farmácia clínica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), cursou aperfeiçoamento em farmácia clínica pela Universidade do Chile. Atuou como farmacêutica na Divisão de Farmácia Hospitalar do Hospital Universitário Regional de Maringá. Atualmente é mestranda em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP).

O estabelecimento de um banco de dados para uso comum, que permita a transferência rápida e completa de informações atualizadas para a

Izabel Cristina Furtado é graduada em farmácia industrial pela Faculdade São Judas Tadeu (FSJT), especialista em administração hospitalar pelo Instituto de Pesquisa Hospitalar (IPH), especialista em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica pelo Instituto Racine. Atuou como farmacêutica em empresa e em hospitais. Atualmente é farmacêutica responsável no Hospital Santa Cruz.

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Além disso, vale destacar a importância do estabelecimento de

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Farmácia Clínica / Atenção Farmacêutica Luciana Cristina Reis Di Monaco é graduada em farmácia e bioquímica pela Universidade Farmacêutica Bioquímica graduada pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP), mestre em ciências pelo Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista em Atenção Farmacêutica - Formação em Farmácia Clínica pelo Instituto Racine. Atuou como gerente farmacêutica na Rede Drogasil, farmacêutica responsável nas Redes Droga Raia e Onofre, como consultora técnica de carreiras no Instituto Racine e como coordenadora farmacêutica na Rede Massao Drogarias. Atualmente presta serviços de consultoria em farmacologia e atua como farmacêutica assistencial em um dos afiliados da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). Giane Sant’Ana Alves Oliveira é graduada em farmácia e bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas Oswaldo Cruz (FOC), especialista, mestre e doutora em saúde pública pela FSP/USP, especialista em farmácia clínica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade do Chile. Atuou como professora e pesquisadora em saúde pública do Departamento de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), coordenadora da área de produtos da Coordenação de Vigilância em saúde (COVISA) da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP), diretora da Divisão Técnica de Vigilância Sanitária de Produtos Relacionados à Saúde do Centro de Vigilância Sanitária (CVS) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e gerente da área de Inspeção de Produtos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Atualmente é farmacêutica da SMS- SP e docente do Instituto Racine.

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Legislação

O Que É Histórico de Mudança do Produto (HMP) e Como as Empresas Devem Proceder?

“A

Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 48, de 6 de outubro de 2009, foi o resultado final de um processo de revisão regulatória iniciado no ano de 2006, à essa época a Gerência Geral de Medicamentos (GGMED) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), espelhando-se no tratamento oferecido pela Food and Drug Administration (FDA) e European Medicines Agency (EMEA) às alterações após o registro do medicamento, modificou o paradigma da análise destas alterações, incluindo o conceito de risco sanitário para a solicitação de provas e estudos no momento do peticionamento de alterações pós-registro. Entre os anos de 2007 e 2008 foram editadas três Instruções Normativas (IN) que possibilitavam a apresentação de provas reduzidas para, a realização de alterações específicas no processo produtivo de medicamentos em conjunto com a determinação de um prazo para a análise dessas petições. Estes foram os primeiros passos da ANVISA em direção ao processo de responsabilidade compartilhada na análise e acompanhamento de petições pós-registro. O resultado desse trabalho permitiu identificar

as alterações de baixa, média e alta complexidade de análise, introduzindo de maneira efetiva o conceito de risco sanitário nas modificações pós-registro. No ano de 2009, a ANVISA realizou a reestruturação total da legislação de pós-registro (antiga RE nº 893/2003) e estabeleceu a figura do Histórico de Mudanças do Produto (HMP) como um instrumento que permitiria às indústrias maior agilidade no processo de implementação de modificações de baixo risco sanitário. As alterações propostas para implementação imediata e posterior inclusão no HMP foram aquelas alterações de baixo risco sanitário presentes nas IN publicadas entre 2007 e 2008. O HMP é uma petição que deve ser protocolada anualmente, no mês do aniversário do registro, e que visa possibilitar a visualização de todas as alterações aprovadas e implementadas no período de um ano para determinado produto. Algumas modificações consideradas de menor impacto são registradas somente neste documento enquanto outras carecem de protocolização individual e posterior inclusão no HMP.

A instituição do HMP possibilitou ao setor produtivo a rápida implementação de alterações de baixo risco sanitário com a apresentação anual à ANVISA das provas e testes necessários para a avaliação da mudança. O HMP foi estruturado dentro do sistema de peticionamento para ser um conjunto de informações enviado por meio totalmente eletrônico, dessa forma, no mês do aniversário do registro de um determinado produto, a empresa deve encaminhar à ANVISA as informações referentes a cada uma das alterações implementadas, sendo que para aquelas que exigem protocolo prévio devem ser enviados, somente, os dados finais de estabilidade, quando pertinente. Vídeo tutorial para a realização do peticionamento e respostas às dúvidas mais freqüentes sobre o tema estão disponíveis no site da ANVISA (www.anvisa.gov.br).” Quem responde é Ricardo Borges, gerente substituto da Gerência de Tecnologia Farmacêutica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

Envie para o e-mail revista@racine.com.br sua dúvida ou questão relacionada ao setor farmacêutico, com seu nome completo, nome da instituição em que estuda e/ou da empresa em que trabalha, cargo que ocupa, cidade e estado.

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Acontece

Instituto Racine Lança Cursos Online atividades na Educação à Distância (EAD). Os Cursos Online serão, inicialmente, nas áreas de indústria, farmácia, hospital, nutrição, varejo de alimentos e refeições coletivas, utilizando recursos tecnológicos adequados às mais diversas necessidades dos estudantes e profissionais em educação à distância.

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Instituto Racine, ampliando ainda mais sua atuação, proporcionando flexibilidade e facilidade no acesso dos profissionais aos conteúdos programáticos de reconhecida qualidade, lança diversos Cursos Online, colocando em prática a expansão de suas

Os Cursos Online serão subdivididos nas áreas de Assistência Farmacêutica, Atenção Farmacêutica, Farmácia Clínica, Farmácia Hospitalar, Farmácia Magistral, Farmacologia, Farmácia Magistral - Garantia da Qualidade, Farmácias e Drogarias - Gestão, Serviços Farmacêuticos, Indústria

Cosmética, Indústria de Alimentos, Indústria de Produtos Domissanitários e Saneantes, Indústria Farmacêutica, Educação Nutricional e Alimentação Escolar, Nutrição Clínica, Nutrição Geral, Unidades de Alimentação e Nutrição e Unidades Produtoras e Processadoras de Alimentos. Todo o acompanhamento do curso ocorrerá pela internet, com interação entre alunos, docente, tutor e coordenador, inclusive os serviços e informações de secretaria e a emissão do Certificado de Conclusão. Consulte mais informações sobre os Cursos Online no site www.racine.com.br/ institutoracine.

Instituto Racine e UNIVALI Firmam Parceria dos trabalhos de conclusão de curso que serão desenvolvidos com os atendimentos a pacientes e, assim, contribuir para a divulgação dos resultados obtidos com a prática clínica farmacêutica inserida em um contexto interdisciplinar de atenção Da esquerda para a direita: Rinaldo Ferreira (Farma & Farma), Anna Claudia Scherer Monteiro (ANFARMAG), à saúde. “Formaremos profissionais farSérgio Slan (Instituto Racine), José Roberto Bresolin (UNIVALI), Anna Paula de Borba Batschauer (CRF-SC) macêuticos diferenciados para atender e Caroline Junckes da Silva (SINDFAR-SC) as necessidades sociais dos usuários de Instituto Racine e a Universida- nacional do CPGAF, da professora e far- medicamentos”, observa Liege. de do Vale do Itajaí (UNIVA- macêutica Liege Bernardo, coordenadora LI) firmaram uma importante regional do CPGAF, e do professor e mé- A solenidade de abertura do evento contou parceria que foi consolidada durante dico Plínio Augusto Freitas Silveira, ambos com a participação de José Roberto Bresoevento para o lançamento do Curso de da UNIVALI e que serão docentes do curso lin, coordenador do curso de farmácia da Pós-Graduação - Especialização Profis- e líderes do processo de tutoria das ativida- UNIVALI, de Sérgio Slan Zarwar, diretor sionalizante em Atenção Farmacêutica - des práticas que serão realizadas. Segundo do Instituto Racine, de Anna Paula de Formação em Farmácia Clínica (CPGAF) Maria Denise, este curso, neste formato, é Borba Batschauer, representando a presicom atividade de prática clínica real pioneiro no País e será uma inovação no dente do Conselho Regional de Farmácia inserida na grade curricular, realizado processo de ensino-aprendizagem para a de Santa Catarina (CRF-SC), Hortência no dia 30 de março de 2011, às 19h30, clínica, pois contará com prática em serviço Tierling, de Anna Claudia Scherer Monteina Faculdade de Farmácia da UNIVALI. de saúde e será realizado com dupla tutoria, ro, presidente da Associação Nacional de de farmacêuticos clínicos e médicos, e com Farmacêuticos Magistrais (ANFARMAG) A mesa-redonda intitulada “Prática Clí- a participação de outros profissionais no - Santa Catarina, de Caroline Junckes da nica farmacêutica: a inserção do farma- processo de formação e discussão de casos. Silva, presidente do Sindicato dos Farcêutico no cuidado do paciente” contou A idéia é, além de formar farmacêuticos macêuticos do Estado de Santa Catarina com a participação da farmacêutica Maria em ambiente real de atendimento, ampliar (SINDFAR-SC), e de Rinaldo Ferreira, Denise Funchal Witzel, coordenadora as publicações de estudos de caso, a partir presidente da Farma & Farma.

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Especial PCare 2011 / Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos 7 a 9 de Abril de 2011 Centro de Convenções Rebouças São Paulo (SP) - Brasil

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PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, em sua primeira edição, é o primeiro evento específico para farmacêuticos clínicos no Brasil, cujo objetivo é proporcionar ao público participante - farmacêuticos atuantes em 07/Abril/2011 (Quinta-Feira) Curso Pré-Congresso 1 9h às 18h30 Intervalos: 10h30 às 11h / 15h30 às 16h / Almoço: 12h30 às 14h Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Apoio Psicossocial ao Paciente: como Desenvolver Habilidades e Competências para Otimizar a Prática Clínica Ministrante: MSc. Gladys Marques Santana, Farmacêutica Membro do Grupo de Investigación en Farmacoterapia y Atención Farmacéutica de la Universidad de Sevilla (Espanha) Curso Pré-Congresso 2 9h às 18h30 Intervalos: 10h30 às 11h / 15h30 às 16h / Almoço: 12h30 às 14h Auditório Amarelo - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Ajuste de Dose e Intervenção Farmacêutica em Disfunção Renal Ministrante: Es. Catherine Stragliotto Isoppo, Farmacêutica Clínica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (RS) Solenidade de Abertura 19h às 20h Grande Auditório - Térreo Conferência Internacional de Abertura 20h às 22h Grande Auditório - Térreo 21 Anos de Experiência em Atenção Farmacêutica: do Desenvolvimento à Consolidação da Prática Ministrante: Dra. Linda M Strand, Professora Emérita, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA) e Vice-Presidente de Serviços Profissionais, Medication Management Systems LLC (EUA)

Esta conferência tem o intuito de apresentar as lições aprendidas em 21 anos de experiência com o desenvolvimento e a implementação da prática do Pharmaceutical Care em diferentes partes do mundo. Este aprendizado poderá ser utilizado para explicar o que os farmacêuticos, os estudantes e as faculdades de farmácia necessitam fazer para serem bemsucedidos no futuro. O principal foco da conferência

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atividades clínicas nos diferentes âmbitos profissionais - o acesso a informações que contribuam para que a prática farmacêutica seja orientada ao usuário de medicamentos e comprometida com a obtenção de resultados concretos que contribuam para uma melhora do estado será a apresentação do aprendizado adquirido com a prática. Todo este aprendizado será situado no contexto do Brasil, de seu sistema de saúde e de seu sistema educacional para formação de farmacêuticos. Também será discutido o estado atual da prática do Pharmaceutical Care ao redor do mundo.

de saúde dos pacientes. Nas próximas páginas, informações como horário, local e breve currículo dos ministrantes dos Cursos Pré-Congresso, da Conferência Internacional de Abertura, dos Minicursos, das Palestras e dos Workshops.

08/Abril/2011 (Sexta-Feira)

Palestra 2 8h30 às 9h30 Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Estruturação da Dispensação Farmacêutica em Farmácias para Prevenir Problemas com Medicamentos Ministrante: Dr. Divaldo Lyra Junior, Professor Adjunto da Universidade Federal de Sergipe nas disciplinas de Assistência Farmacêutica, Atenção Farmacêutica e Estágio Supervisionado (SE)

Minicurso 1 8h30 às 12h30 Auditório Verde - 2º andar Dispensação de Anticoagulantes Orais em Farmácia Comunitária Ministrante: Es. Maria Fernanda Salomão de Azevedo, Farmacêutica Clínica do Hospital Sírio Libanês (SP)

Palestra 3 9h30 às 10h30 Auditório Havana - 2º andar Desafios Profissionais no Atendimento de Pacientes em Saúde Mental Ministrante: MSc. Luiz Fernando Lopes , Farmacêutico do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)

Minicurso 2 8h30 às 12h30 Auditório Coral - 4º andar Seguimento Farmacoterapêutico ao Paciente Idoso em Unidade Especializada em Atendimento Geriátrico Ministrante: MSc. Maristela Ferreira Catão Carvalho e Es. Graziela Luppi, Farmacêuticas Clínicas do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia (SP)

Palestra 4 9h30 às 10h30 Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Ferramentas para Rastreamento de Reações Adversas a Medicamentos em Unidades de Saúde Ministrante: Es. Catherine Stragliotto Isoppo, Farmacêutica Clínica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (RS)

Minicurso 3 (Internacional) 8h30 às 12h30 Auditório Amarelo - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Condutas Farmacêuticas com Base na Avaliação Inicial de Pacientes Atendidos em Ambulatório Ministrante: Dra. Maricruz Mora, Farmacêutica Coordenadora do Programa de Atenção Farmacêutica do Hospital México e Colaboradora na Elaboração das Normas Nacionais de Atenção Farmacêutica da Caja Costarricense de Seguro Social (Costa Rica)

Palestra 5 10h30 às 11h30 Auditório Havana - 2º andar Acompanhamento Farmacoterapêutico de Pacientes com Leucemia Mielóide Crônica Ministrante: MSc. Dulce Helena Nunes Couto, Chefe Substituta da Farmácia do Hospital do Câncer I e Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de Câncer (RJ)

Palestra 1 8h30 às 9h30 Auditório Havana - 2º andar Estratégias para Atendimento Farmacêutico a Portadores de Necessidades Especiais Ministrante: MSc. Luciene Alves Moreira Marques, Professora de Atenção Farmacêutica e Estágio Supervisionado em Dispensação da Universidade Federal de Alfenas (MG)

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Mesa-Redonda 1 (Nacional e Internacional) 10h30 às 12h30 Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Formação do Farmacêutico para a Prática Clínica • Experiência Internacional na Graduação e na Pós-Graduação Dr. Charlie Benrimoj, Professor de Prática Farmacêutica da Universidade de Sydney (Austrália) • A Formação Teórico-Prática do Especialista para Atuação Clínica Ampliada: um Desafio a Ser Enfrentado


Especial PCare 2011 / Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos MSc. Maria Denise Funchal Witzel, Coordenadora e Professora de Cursos de Pós-Graduação na Área Clínica do Instituto Racine (SP) • Cursos de Pós-Graduação em Nível de Mestrado e Doutorado: Situação Atual e Perspectivas Dr. Divaldo de Lyra Junior, Professor Adjunto da Universidade Federal de Sergipe nas Disciplinas de Assistência Farmacêutica, Atenção Farmacêutica e Estágio Supervisionado (SE) Palestra 6 11h30 às 12h30 Auditório Havana - 2º andar Protocolo de Alcalinização da Urina para Pacientes Pediátricos com Osteosarcoma Ministrante: Es. Camila Barbosa de Carvalho, Farmacêutica do Hospital do Câncer II do Instituto Nacional de Câncer (RJ) Intervalo para Almoço 12h30 às 14h Minicurso 4 14h às 18h Auditório Verde - 2º andar Gestão de Risco e Intervenções Farmacêuticas em Cuidados Paliativos no Domicílio Ministrantes: Es. Márcia Gomes Braz, Enfermeira Assessora de Qualidade da Pronep-Lar (RJ) / MSc. Patrícia Nunes, Farmacêutica da Pronep-Lar (RJ) / Es. Thaísa Amorin, Farmacêutica do Hospital do Amparo de 1912 e Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para a Saúde da Universidade Federal Fluminense (RJ) Minicurso 5 14h às 18h Auditório Havana - 2º andar Intervenções e Critérios de Atendimento Farmacêutico em Unidades de Emergência Ministrante: Es. Catherine Stragliotto Isoppo, Farmacêutica Clínica do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (RS) Workshop 1 14h às 16h Auditório Coral - 4º andar Dispensação de Medicamentos para o Tratamento da Asma e DPOC Ministrante: MSc. Daiane de Oliveira Santos, Coordenadora de Protocolo de Pesquisa de Doenças Alérgicas e Obstrutivas do Centro de Pesquisa Stelmach (SP) Workshop 2 14h às 16h Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Reconciliação Medicamentosa na Pré-Internação, InterInternação e Pós-Alta Ministrantes: Es. Maria Fernanda Salomão de Azevedo, Farmacêutica Clínica do Hospital Sírio Libanês (SP) / Es. Vladimir Ribeiro Pinto Pizzo, Médico Intensivista do Hospital Sírio Libanês (SP) / Es. Tilma de Melo Silva Ferrazzano, Enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Sírio Libanês (SP)

Workshop 3 (Internacional) 14h às 16h Auditório Amarelo - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Ferramentas Educativas para Fomentar a Adesão do Paciente à Farmacoterapia Ministrante: Dr. Maricruz Mora (Costa Rica), Farmacêutica Coordenadora do Programa de Atenção Farmacêutica do Hospital México e Colaboradora na Elaboração das Normas Nacionais de Atenção Farmacêutica da Caja Costarricense de Seguro Social (Costa Rica) Palestra 7 16h30 às 17h30 Auditório Coral - 4º andar Acompanhamento Farmacoterapêutico de Pacientes Portadores de Depressão no Domicílio Ministrante: MSc. Luciene Alves Moreira Marques, Professora de Atenção Farmacêutica e Estágio Supervisionado em Dispensação da Universidade Federal de Alfenas (MG) Palestra 8 16h30 às 17h30 Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Residência Multiprofissional Integrada em Saúde: uma Proposta de Formação em Serviço Ministrante: Dra. Lúcia Costa Noblat, Professora Associada da Universidade Federal da Bahia (BA) Workshop 4 (Internacional) 16h30 às 18h30 Auditório Amarelo - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Identificação da Experiência do Paciente com Medicamentos no Atendimento Farmacêutico e sua Aplicação à Prática Clínica Ministrantes: Dra. Linda Strand, Professora Emérita, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), Vice-Presidente de Serviços Profissionais, Medication Management Systems LLC (EUA) / Dra. Djenane Ramalho Oliveira, Pesquisadora e Gerente de Produtos, Medication Therapy Management Program Fairview Pharmacy Services LLC (EUA), Professora Adjunta, Department of Pharmaceutical care & Health Systems, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), Professora Adjunta, Departamento de Farmacia Social, Faculdade de Farmacia da Universidade Federal de Minas Gerais (MG) Palestra 9 17h30 às 18h30 Auditório Coral - 4º andar Comunicação Farmacêutica com o Paciente e o Cuidador no Domicílio Ministrante: Dra. Michele Peixoto Quevedo, Psicóloga Coordenadora da Atenção Primária à Saúde da Casa de Saúde Santa Marcelina no Programa de Saúde da Família (SP) Palestra 10 17h30 às 18h30 Auditório Vermelho - Mezanino (entre o 1º e o 2º andar) Aprazamento de Medicamentos em Unidades de Internação Ministrante: Es. Maria Fernanda Salomão de Azevedo, Farmacêutica Clínica do Hospital Sírio Libanês (SP)

09/Abril/2011 (Sábado) Painel 1 8h30 às 12h30 Grande Auditório - Térreo Adesão à Farmacoterapia no Âmbito Clínico e da Pesquisa: Visão do Farmacêutico e do Médico • Em HIV-Aids Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena, Médico Sanitarista, Professor da Universidade Regional de Blumenau (SC) / Felipe Campos do Valle, Farmacêutico Mestrando em Medicina Preventiva na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SP) • Em Asma e DPOC MSc. Daiane de Oliveira Santos, Coordenadora de Protocolo de Pesquisa de Doenças Alérgicas e Obstrutivas do Centro de Pesquisa Stelmach (SP) / Dra. Regina Maria de Carvalho Pinto, Médica Assistente da Pneumologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SP) • Em Hipertensão Arterial de Difícil Controle Dr. Mauro Silveira de Castro, Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS) / Dra. Leila Beltremi Moreira, Professora Associada do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (RS) Intervalo para Almoço 12h30 às 14h Mesa-Redonda 2 (Nacional e Internacional) 14h às 17h Grande Auditório - Térreo O Farmacêutico Clínico nos Diversos Ambientes de Prática Profissional • Farmácia Comunitária: Ampliação da Prestação de Serviços Clínicos e dos Benefícios à Comunidade Assistida Dr. Charlie Benrimoj, Professor de Prática Farmacêutica da Universidade de Sydney (Austrália) • Unidades Hospitalares: Integração de Atividades de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica em Benefício do Paciente Dra. Lúcia Costa Noblat, Professora Associada da Universidade Federal da Bahia • Clínicas/Ambulatórios: Atenção Farmacêutica, Gerenciamento e Resultados em Saúde: Lições Aprendidas na Fairview Pharmacy Services Dra. Djenane Ramalho Oliveira, Pesquisadora e Gerente de Produtos, Medication Therapy Management Program Fairview Pharmacy Services LLC (EUA), Professora Adjunta, Department of Pharmaceutical care & Health Systems, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), Professora Adjunta, Departamento de Farmácia Social, Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (MG) Entrega de Prêmios e Encerramento Grande Auditório - Térreo 17h às 18h

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Especial PCare 2011 / Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos

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PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, realizado pelo Instituto Racine e Racine Consultores, assim como todos os Eventos Racine, conta com o apoio das principais instituições públicas e privadas do setor farmacêutico e da saúde, o que comprova a importância deste congresso para o setor, configurando-se, inclusive, em

um importante momento para o contato direto entre entidades e congressistas.

“No momento em que o Ministério da Saúde aponta a meta de garantir o acesso universal e qualificado aos serviços de saúde, e o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS) traça como objetivo a organização dos serviços farmacêuticos em todos os níveis de atenção à saúde, na perspectiva de linhas de cuidado, e a organização das Redes Assistenciais de Saúde, o PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, contribui concretamente com aportes teóricos e experiências concretas de serviços farmacêuticos. A Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil (OPAS/OMS) tem criado ações regionais de desenvolvimento de uma Guia de Serviços e um curso na modalidade EAD, de Serviços Farmacêuticos baseados na Atenção Primária à Saúde. Identificamos, portanto, um momento de grandes avanços e de conquistas inéditas na busca da garantia do acesso universal e qualificado aos serviços farmacêuticos no Brasil. Parabéns ao Instituto Racine por sua capacidade e visão quanto às necessidade de formação dos profissionais farmacêuticos e demais profissionais comprometidos com a assistência à saúde no Brasil.”

no estado de saúde do paciente e reduza a morbimortalidade relacionada ao uso de medicamentos na sociedade. Além disso, o intercâmbio com outros países permite ampla troca de informações, criando assim uma força de trabalho integrado em prol da prática assistencial farmacêutica”.

Christophe Rerat, coordenador da Unidade de Medicamentos e Tecnologia da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) .......................................................................................... “Parabenizo o PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, cujo principal objetivo é a otimização das ações farmacêuticas no País. Os trabalhos integrados entre a Atenção Farmacêutica e a Farmácia Clínica contribuem para que se alcancem benefícios concretos para a melhoria

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Revista Racine 120 - Janeiro/Fevereiro de 2011

A 120ª edição da Revista Racine apresenta os depoimentos de algumas instituições apoiadoras do evento, bem como a relação oficial de Apoio Institucional. Outros depoimentos podem ser conferidos no site www.pcare.com.br.

José Miguel do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS) ............................................................................................ “Saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, como definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e o PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos reveste-se de um caráter essencial na preparação de profissionais que podem aplicar os conhecimentos farmacológicos aliados à prática clínica em benefício dos usuários de medicamentos. A Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), entidade que reúne os principais fabricantes de medicamentos genéricos, apóia e divulga o evento como parte de seu objetivo para ampliação do acesso e do uso racional dos medicamentos em prol da saúde dos pacientes.” Odnir Finotti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos) ......................................................................................... “A realização de eventos, cursos e fóruns sobre a prática farmacêutica é sempre apoiada pela Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (ANFARMAG), pois é imprescindível o compromisso do farmacêutico com o usuário


Especial PCare 2011 / Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos de medicamentos, visando a obtenção de resultados concretos que contribuam para uma melhora do estado de saúde dos mesmos. Parabenizamos o Instituto Racine pela iniciativa”. Marco Fiaschetti, diretor-executivo da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (ANFARMAG) ........................................................................................ “O tema Atenção Farmacêutica necessita de atualização constante do conhecimento e troca de experiências. O PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos propicia o ambiente para que ocorra este intercâmbio, valorizando a expertise verde-amarela e agregando a internacional em um único evento. Para a Atenção Farmacêutica com foco na prevenção e na recuperação de doenças, na promoção da saúde, é obrigatório que esta intervenção possua bases sólidas na farmácia clínica. O Instituto Racine está de parabéns pela seleção da programação científica do evento.” Paulo José Teixeira, presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (SINFAR-SP) ........................................................................................ “O PCare2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, certamente, contribuirá para o aperfeiçoamento da formação do farmacêutico para atuação na Atenção Farmacêutica, tanto em nível ambulatorial, quanto hospitalar bem como domiciliar, tanto no setor público como no privado, possibilitando a necessária adesão do paciente ao tratamento, o uso racional dos medicamentos e a melhoria da qualidade de vida. Parabéns ao Instituto Racine por mais esta iniciativa, sempre inovando.”

“A programação do PCare2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos, os ministrantes, os participantes e todos presentes neste oportuno encontro darão importante passo rumo ao objetivo do bem-estar do paciente. Em nome da diretoria da União Farmacêutica de São Paulo (UNIFAR) parabenizo o Instituto Racine por criar mais esta oportunidade de crescimento para todos.” Marilice Souza, presidente da União Farmacêutica de São Paulo (UNIFAR) ...................................................................................... A Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFARMA) apóia toda iniciativa de aperfeiçoamento profissional que beneficie os profissionais e o varejo farmacêutico, e que esteja ligada aos valores éticos, buscando também uma adequação ao atendimento de qualidade em farmácias e drogarias do Brasil. O PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos abre perspectivas para aqueles que buscam se atualizar profissionalmente e, certamente contribui para o engrandecimento de estudantes e profissionais, principalmente por ser organizado por uma instituição séria e competente como o Instituto Racine. Pedro Zidoi Sdoia, presidente da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFARMA) ......................................................................................

“A Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária (SBFC), parceira permanente do Instituto Racine, fica muito feliz pela capacidade de empreendedorismo de seus diretores no objetivo de levar aos profissionais qualificação na assistência farmacêutica. A SBFC, com seu projeto de Certificação e Titulação do Farmacêutico Comunitário, apóia tais iniciativas que engrandecem ambas instituições e levam conhecimentos aos profissionais farmacêuticos.”

“A realização do PCare - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos consolida a prática da Atenção Farmacêutica como prioritária à farmácia brasileira. Caminhada vitoriosa dos farmacêuticos clínicos que acreditaram e souberam vislumbrar a nova fronteira profissional e lutaram para vê-la reconhecida. O Conselho Federal de Farmácia (CFF), com as Resoluções nº 357/2001 e 499/2008, regulamentou a atividade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) reconheceu os benefícios, oficializando-a com RDC nº 44/2009. O Sistema Único de Saúde (SUS) poderia ser descongestionado com a prática da atenção primária. O PCare 2011, cuja programação, do mais alto nível, permitirá, além da atualização em práticas clínicas, reflexões sobre os desafios que ainda devem ser enfrentados para que haja mais aceitação social dos serviços farmacêuticos. É com muita satisfação que parabenizo o Instituto Racine e as entidades apoiadoras.”

Amilson Álvares, presidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Comunitária (SBFC)

Carlos Cecy, presidente da Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico e Bioquímico (ABENFARBIO)

Célia Chaves, Presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR) ........................................................................................

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Especial PCare 2011 / Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos

Mapa do Evento Confira o mapa do PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos e conheça o estande do Instituto Racine e da Pharmabooks. No mapa o congressista dispõe de indicações sobre a secretaria e a chapelaria, o acesso aos auditórios e o local onde será realizada a apresentação de pôsteres.

Lançamento de Livro

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ditado pela RCN Editora, o livro “Atenção Farmacêutica: da Filosofia ao Gerenciamento da Terapia Medicamentosa”, de autoria de Djenane Ramalho Oliveira, pesquisadora e gerente de produtos do medication therapy management Program Fairview Pharmacy Services LLC (EUA), professora adjunta do Department of Pharmaceutical Care & Health Systems, College of Pharmacy, University of Minnesota (EUA), e professora adjunta do Departamento de Farmácia Social da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), será lançado no dia 8 de Abril de 2011, no espaço de exposição do Centro de Convenções Rebouças, durante o PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos.

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Revista Racine 120 - Janeiro/Fevereiro de 2011

Exposição de Pôsteres

O

PCare 2011 - Congresso Brasileiro de Farmacêuticos Clínicos apresenta exposição dos trabalhos selecionados para exposição em pôsteres. Foram selecionados mais de 160 trabalhos entre acadêmicos ou profissionais que possuam alguma relação com a prática clínica farmacêutica nos âmbitos da farmácia comunitária (drogarias, farmácias com manipulação e farmácias populares), farmácia e serviços hospitalares, assistência farmacêutica dos estados e municípios (UBS, AMA, AME, Centros Especializados de Atendimento em Saúde, Estratégia de Saúde da Família/ NASF), assistência domiciliar/home care e farmácias-escola de universidades. Os trabalhos foram avaliados por uma Comissão de Avaliação e serão concedidos um total de 9 (nove) prêmios: 3 (três) melhores trabalhos profissionais e 6 (seis) melhores trabalhos acadêmicos - sendo 3 (três) de pós-graduação e 3 (três) de graduação. Os trabalhos estão expostos no espaço de exposição.




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