Revista Fármacos & Medicamentos 67
Fármacos Medicamentos Número 67 - Ano XII - Julho/Agosto/Setembro de 2011
ISSN 1807-1678
• Desenvolvimento e Aplicabilidade da Validação de Sistemas Computadorizados (VSC)
Seções Áreas Especiais de Produção Farmacêutica
Monitoramento Microbiológico em Ambientes Críticos como Ferramenta de Manutenção da Qualidade
Garantia e Controle da Qualidade
Transformação Lean na Fábrica da Boehringer Ingelheim em Itapecerica da Serra
Julho/Agosto/Setembro de 2011
Ingredientes Farmacêuticos
Considerações para a Seleção de Fornecedores de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs)
Direito & Economia
Por que Farmacoeconomia Hoje e Amanhã?
Seção em Destaque
Automação e Informatização Desenvolvimento e Aplicabilidade da Validação de Sistemas Computadorizados (VSC)
E d i torial
Vertentes da Qualidade
A
definição de validar - tornar válido ou legitimar -, remete à qualidade de um produto ou serviço e até mesmo à tecnologia. Neste sentido, a Validação de Sistemas Computadorizados (VSC), exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é de extrema importância para todos os setores, entre eles o setor industrial farmacêutico. Em contrapartida aos sistemas antigos, a tecnologia avançada acrescenta agilidade e confiabilidade à retenção de dados, além de garantir economia de tempo e de mão-de-obra. A revista Fármacos&Medicamentos, em sua 67ª edição, traz a seção Automação e Informatização como destaque de capa e o tema do artigo se refere à VSC, tecnologia que deve ser considerada pelas empresas que tenham como premissa a adequada análise dos resultados e o monitoramento da qualidade dos produtos que fabrica. Ainda nesta edição da F&M, outro artigo, na seção Áreas Especiais de Produção Farmacêutica, se refere à qualidade. Seja no desenvolvimento de um produto farmacêutico, cosmético, saneante, produto para a saúde ou alimento, a qualidade perpassa por ações preventivas referentes à contaminação microbiana desses produtos e dos ambientes críticos. Estas ações são fundamentais para a segurança do usuário ou consumidor, da empresa e de seus colaboradores e também são exigidas pelas normas de Boas Práticas da ANVISA e
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A experiência de lean manufaturing é apresentada na seção Garantia e Controle da Qualidade, descrevendo ação realizada na fábrica da Boehringer Ingelheim do Brasil localizada em Itapecerica da Serra (SP). Projetada inicialmente para fabricar 40 milhões de unidades por ano, a fábrica teve sua capacidade de produção triplicada com mais de US$ 75 milhões investidos em tecnologia e qualificação da mão-de-obra. A reestruturação e as oportunidades de melhorias foram implementadas por meio desta prática. Seleção de fornecedores é o tema da seção Ingredientes Farmacêuticos e novamente aqui, a questão da qualidade mostra sua relevância, especialmente no que se refere à necessidade de se avaliar a cadeia de fornecimento a partir desta perspectiva: qualidade dos insumos farmacêuticos e eficácia na qualificação de fornecedores. Também nesta edição a F&M traz uma nova seção, intitulada Direito & Economia. A seção é inaugurada com um artigo sobre farmacoeconomia, área cujos estudos iniciaram em 1970, apresentando um rápido reconhecimento das vantagens desta forma de abordagem das relações custo-benefício das ações em saúde. Finalizando a edição, o leitor poderá acompanhar a indicação de sites importantes para a área de automação na indústria farmacêutica na seção Navegue, cujas sugestões são de Marcelo Orlandi, gerente corporativo de engenharia e projetos do grupo EMS.
Boa Leitura!
Nilce Barbosa
Presidente do Grupo Racine e Coordenadora Técnico-Editorial da revista Fármacos&Medicamentos
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Correspondências
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Áreas Especiais de Produção Farmacêutica
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Garantia e Controle da Qualidade
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Ingredientes Farmacêuticos
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Direito & Economia
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Automação e Informatização
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Navegue
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Jornal
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Monitoramento Microbiológico em Ambientes Críticos como Ferramenta de Manutenção da Qualidade
Transformação Lean na Fábrica da Boehringer Ingelheim em Itapecerica da Serra
Considerações para a Seleção de Fornecedores de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs)
Por que Farmacoeconomia Hoje e Amanhã? (IFAs)
Desenvolvimento e Aplicabilidade da Validação de Sistemas Computadorizados (VSC)
Automação Industrial na Indústria Farmacêutica
Observe, em cada artigo, as Áreas de Circulação, conforme a legenda abaixo: ADM
Administração
ALM
Almoxarifado
AREG
Assuntos Regulatórios
BTC
Biotecnologia
COM
Comercial
COMP
Compras Controle da Qualidade (CQ)
CQ DMC
Departamento Médico-Científico
EMB
Embalagem
ENG
Engenharia
EXP
Expedição
FC
Finanças e Contabilidade
GDIR
Gerência e Diretoria
GQ
Garantia da Qualidade
JUR
Jurídico
LOG
Logística
MA
Meio Ambiente
MKT
Marketing
OPER
Operacional
P&D
Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)
PPCP PRES
Planejamento, Programação e Controle de Produção (PPCP) Presidência
PROD
Produção
RH
Recursos Humanos (RH)
SAC
Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC)
SC
Supply Chain
SCC
Supervisão, Coordenação e Chefias
SSO
Segurança e Saúde Ocupacional
TT
Técnicos e Trainees
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Eu Leio a F& M
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José Correia da Silva, presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica e de Insumos (ABIQUIFi), conselheiro do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), sócio-presidente da Formil Química e sócio-presidente da Formil Veterinária
osé Correia da Silva é fundador e ex-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Artigos para Laboratórios (ASSIBRAL), fundador e ex-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina (ABIFINA), fundador da Associação Brasileira da Empresas Importadoras de Insumos Farmacêuticos (ABRIFAR). Atualmente é presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica e de Insumos (ABIQUIFi), conselheiro do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), sócio-presidente da Formil Química e sócio-presidente da Formil Veterinária.“
“Eu leio a revista Fármacos&Medicamentos desde os primeiros números publicados e sempre me surpreendo agradavelmente com a evolução, seja no quesito técnico da publicação, seja na qualidade editorial e gráfica. Como empresário e representante de classe, a F&M é uma ferramenta extremamente importante para manter-me atualizado com a evolução do ambiente profissional e ficar a par das tendências em meu ramo de negócios. Por ser a única publicação brasileira que trata do tema fármacos ou da produção de Insumos Farmaceuticos Ativos (IFAs) de forma profissional e técnica contextualizando corretamente nossa área de atuação, é leitura obrigatória. Dos vários temas abordados, os que mais me prendem a atenção são os que tratam do controle e garantia da qualidade, pois neste segmento há modernas iniciativas na área regulatória, desenvolvimento de equipamentos para a detecção mais precisa de impurezas nas moléculas para acompanhamento de testes de farmacocinética, validações diversas e farmacodinâmica.”
Correspond ê nc i a s
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Envie suas críticas, sugestões e elogios sobre o visual e o conteúdo da revista Fármacos&Medicamentos para o e-mail revista@racine.com.br
A revista Fármacos&Medicamentos (ISSN 1807-1678) é uma publicação trimestral da RCN Comercial e Editora Ltda., dirigida a empresas e profissionais das indústrias química, farmacêutica e farmoquímica. Presidente Nilce Barbosa Diretores Executivos Arnivaldo Dias Marco Quintão Renato Cintra Sérgio Slan Coordenação Técnico-Editorial Nilce Barbosa - CRF-SP 9.609 Editor André Policastro - MTb 42.774 Editora-Assistente e Jornalista Responsável Kelly Monteiro - MTb 06.447 Conselho Editorial Carlos Rover, Daniel Rossi, Dimitra Apostolopoulos, Emiko Fukuda, Humberto Zardo, João Luiz Elias, Jordi Botet, Lauro Moretto, Marco Antônio Stephano, Nilce Tomokane, Ricardo Moysés e Silvia Storpirtis Colaboraram nesta edição Alessandra Tomazzini F. Bastos, Ana Maria Fernandes, Dayane Gabriele A. Silveira, Fernando Daniel Amaral, Frederico Abranches Quintão, João Luiz Elias, José Correia da Silva, Marcelo Orlandi e Nilce Tomokane Projeto Gráfico e Editora de Arte Cinthia Suenaga Assinaturas e Correspondências Rua Padre Chico, 93, CEP 05008-010 São Paulo - SP - Tel/Fax: (11) 3670-3499 E-mail: revista@racine.com.br
Agradecemos as manifestações enviadas de: ▪▪Universidade de Blumenau (FURB), Blumenau (SC) ▪▪Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS), Alfenas (MG) ▪▪Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Governador Valadares (MG)
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Para Anunciar Tel./Fax: (11) 3670-3499 E-mail: revista@racine.com.br Artigos e matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião da RCN Comercial e Editora Ltda. Crédito de foto: Arquivo Racine e divulgação.
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Circular para: BTC
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Monitoramento Microbiológico em Ambientes Críticos como Ferramenta de Manutenção da Qualidade Fernando Daniel Amaral
“Um dos grandes desafios dos novos tempos é sem dúvida, atingir o topo da pirâmide da qualidade. O outro grande desafio é manter constante o nível de qualidade alcançado. Sem isto, um produto farmacêutico, cosmético, saneante, produto para a saúde ou alimento, terá grande dificuldade em preencher, de forma estável, espaço no mercado atual.”
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ntrodução Um dos grandes desafios dos novos tempos é sem dúvida, atingir o topo da pirâmide da qualidade. O outro grande desafio é manter constante o nível de qualidade alcançado. Sem isto, um produto farmacêutico, cosmético, saneante, produto para a saúde ou alimento, terá grande dificuldade em preencher, de forma estável, espaço no mercado atual. Para tanto, grandes esforços são necessários do âmbito gerencial, tecnológico e financeiro. Mas, em contra partida, a realidade mundial imprime a necessidade de produzir mais e melhor, com um custo o mais reduzido possível. Pode-se considerar isto como uma equação matemática que muitas vezes é de difícil resolução.
“Investir com sabedoria permite economia, pois re-processos, devoluções, transtornos gerais causados pela qualidade duvidosa no produto final, acarretam em desgastes e custos elevados para o fabricante.”
Os produtos podem ser considerados de qualidade ao cumprirem com os atributos descritos em normas ou compêndios oficiais. Em se tratando de medicamentos, por exemplo, são requisitos: químicos, físicos, microbiológicos, terapêuticos e toxicológicos. Portanto, o ponto primordial é uma redução de custos, porém sem a perda da qualidade desejada e exigida pelos órgãos sanitários. Neste panorama, um alto nível de gerenciamento dos recursos disponíveis, e um assessoramento técnico eficiente, são decisórios para o sucesso. A implantação de um sistema de gestão da qualidade e o atendimento das normas de Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFC) sustentam a qualidade do que se produz, e desencadeiam uma séria de ações, que de acordo com cada empresa, podem significar redução de custos e aumento de competitividade. Ou seja, investir com sabedoria permite economia, pois re-processos, devoluções, transtornos gerais cau-
sados pela qualidade duvidosa no produto final, acarretam em desgastes e custos elevados para o fabricante. Neste sentido, as ações preventivas à contaminação microbiana nos produtos e ambientes críticos são fundamentais para a segurança do usuário ou do consumidor, da empresa e de seus colaboradores, além de exigidas pelas normas de boas práticas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Principais fontes de contaminação e seus indicadores Os ambientes ou áreas consideradas críticas são aquelas nas quais produtos, matérias-primas e embalagens primárias ou indivíduos possuem risco de contaminação pelo contato direto com o ar, os produtos, os agentes biológicos, as superfícies diversas etc. As normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), manipulação ou de
fracionamento de insumos farmacêuticos, por exemplo, apresentam um considerável número de exigências fundamentais para a redução dos riscos de contaminação microbiológica e também físico-química dos produtos. São requisitos clássicos como a obrigatoriedade de acabamento das superfícies internas, liso e resistente a limpeza e a sanitização, como: piso, teto e parede. Além disto, não é permitida a livre troca de ar de ambientes considerados “sujos” com aqueles considerados “limpos” ou áreas críticas. Em muitos casos uma exaustão é requerida para extrair contaminantes do ambiente. Os equipamentos e os utensílios utilizados na produção ou na manipulação de produtos para uso humano e também de aplicação veterinária, devem ser concebidos com materiais sanitários (liso, lavável e sanitizável) e possibilitarem a limpeza adequada. A contaminação microbiana das áreas críticas pode ser proveniente ainda da troca de ar entre ambien-
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“A grande diversidade de microrganismos existentes na natureza e a capacidade de sobrevivência em ambientes inóspitos ou em situações críticas, como a falta de nutrientes e/ ou em faixas extremas de pH ou baixa umidade, permite afirmar que o estado de limpo e sanitizado ou de esterilizado é algo relativo e deve possuir um prazo de validade definido.” 14
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tes internos, dos materiais de acondicionamento das matérias-primas e de embalagens primárias para os produtos em processo, dos equipamentos e utensílios de produção, das próprias matérias-primas, da água, do ar comprimido ou gases utilizados nos processos, dos agentes utilizados para a limpeza e sanitização das superfícies críticas, através da retenção de sujidades por um tempo suficiente para a proliferação microbiana local, e, principalmente, por meio de falhas do próprio pessoal de operação. A grande diversidade de microrganismos existentes na natureza e a capacidade de sobrevivência em ambientes inóspitos ou em situações críticas, como a falta de nutrientes e/ou em faixas extremas de pH ou baixa umidade, permite afirmar que o estado de limpo e sanitizado ou de esterilizado é algo relativo e deve possuir um prazo de validade definido. A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de microrganismos capazes de crescimento em faixas extremas de pH. Tabela 1 - Microrganismos presentes em produtos com faixas variadas de pH pH
Produto
0-2
Ácidos concentrados, suco de limão.
Alguns Thiobacillis
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Condicionadores de cabelo, sucos naturais, extratos de frutas cítricas.
Alguns Lactobacillus spp., Staphylococci, fungos e leveduras
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Loções para a pele, bases cosméticas, produtos farmacêuticos, alimentos como queijo, carnes e pães.
Algumas Pseudomonas spp., incluindo a P. aeruginosa, Lactobacillus acidophilus
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Água, xampus, emulsões etc.
Staphylococcus aureus, Escherichia coli
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Alguns xampus, desodorantes/anti-transpirantes, clareadores de pele.
Anabaena e alguns Bacillus spp.
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Sabão em barra.
Microcystis e alguns Bacillus spp.
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Soluções amoniacais e a base de hidróxido de sódio concentrado.
Esporos
Microrganismo presente
Fonte: Brannan DK. Cosmetic Microbiology. A Pratical Handbook. Florida: CRC press, 1997.
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“Os procedimentos de limpeza e sanitização devem considerar uma limpeza prévia adequada para reduzir os materiais aderidos às superfícies, e garantir o livre acesso da solução sanitizante ao seu alvo.“
A Tabela 2 apresenta exemplos de microrganismos e suas resistências frente aos agentes sanitizantes comumente utilizados nos procedimentos de contenção da proliferação microbiana, conforme a Farmacopéia Americana, capítulo nº 1072. Tabela 2 - Resistência em ordem decrescente dos microrganismos frente aos agentes químicos sanitizantes permitidos para uso.
Tipo de Microrganismo
Exemplos
Esporos bacterianos
Bacillus subtilis Clostridium sporogenes
Microbactérias
Mycobacterium tuberculosis
Vírus sem camada licídica
Poliovirus e Rhinovirus
Esporos de fungos e as formas vegetativas de fungos e leveduras
Trichofyton, Cryptococcus e Candida spp.
Bactérias vegetativas
Pseudomonas aeruginos, Staphylococcus aureus e Salmonella spp.
Vírus com camada licídica
Herpes simples, Hepatite B, Vírus da imunodeficiência humana
Fonte: The United States Pharmacopeia. 34 ed. Rockville: Mack Printing, 2011.
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Neste mesmo capítulo desta farmacopéia, estão descritos pontos que sustentam a tese de que é quase impossível o desenvolvimento de resistência daquelas cepas de microrganismos naturalmente sensíveis a um agente sanitizante. Porém, ressalta-se que alguns gêneros são naturalmente resistentes, como o gênero pseudômonas frente aos agentes a base de amônio quaternário. Os procedimentos de limpeza e sanitização devem considerar uma limpeza prévia adequada para reduzir os materiais aderidos às superfícies, e garantir o livre acesso da solução sanitizante ao seu alvo. Além disto, é necessário determinar o melhor agente sanitizante em relação ao espectro de ação, baixa toxicidade, solubilidade em água, compatível com as estruturas a serem sanitizadas, dentre outras características desejadas. Além disto, o tempo de contato destes agentes sanitizantes com os
“Os produtos nãoestéreis são de certa forma, o grupo que apresenta a maior variação na carga microbiana. Isto é causado, em parte, pelos recursos tecnológicos aplicados à sua produção, a biocarga permissiva nos ambiente e nas matérias-primas, quando comparados com o grupo dos produtos que devem apresentar esterilidade.”
microrganismos é fundamental para o sucesso do procedimento. Porém, ainda outros fatores são também críticos, como: o uso da concentração correta do agente químico, o tipo de água utilizado para a diluição destes agentes, o prazo de validade após o preparo para uso, o conhecimento da biocarga predominante nos ambientes críticos através do monitoramento de rotina, o treinamento freqüente do pessoal responsável pela limpeza e sanitização. Os produtos não-estéreis são de certa forma, o grupo que apresenta a maior variação na carga microbiana. Isto é causado, em parte, pelos recursos tecnológicos aplicados à sua produção, a biocarga permissiva nos ambiente e nas matérias-primas, quando comparados com o grupo dos produtos que devem apresentar esterilidade. A natureza e a freqüência dos testes de controle de qualidade conferidos
aos diversos produtos e seus processos de obtenção variam conforme as exigências legais e também em relação ao risco identificado em cada produto, como a susceptibilidade do produto em contaminar-se, o tipo e a natureza das matérias-primas utilizadas na sua produção (de origem natural ou sintética), os processos aplicados, a indicação de uso e a via de administração, as condições de armazenagem etc. Seguindo este plano racional, as empresas devem adotar um plano de contenção ou de prevenção à contaminação microbiana, que deve considerar os requisitos de qualidade exigidos para o produto final. Estratégia para a prevenção e o monitoramento da contaminação microbiana em ambientes críticos A estratégia inicial para a prevenção da contaminação microbiana em áreas
críticas deve seguir inicialmente uma linha racional de investigação para a determinação dos principais vetores de contaminação, e dos pontos críticos ao longo dos processos. Esta investigação deve utilizar todos os recursos disponíveis, incluindo provas laboratoriais e o uso de ferramentas como a de Análise de Perigos e Ponto Críticos de Controle (APPCC/ HACCP). É necessário estudar quais são os pontos vulneráveis dentro do fluxo de obtenção de um produto, definir as medidas corretivas caso sejam necessárias, e em paralelo elaborar um programa preventivo que contenha limites de alerta e ação, que indique as tendências de contaminação em patamares próximos dos limites máximos permitidos, e ainda, desencadeie uma ação preventiva antes que algo se afaste dos limites de controle. O máximo de informação sobre os microrganismos de importância nos ambientes considerados críticos permite
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“Nesta linha estratégica, a validação dos processos de limpeza, e a determinação dos prazos de validade da limpeza de equipamentos e utensílios que entram em contato com os produtos, são medidas essenciais.”
um refinamento dos programas de controle microbiológico. É importante saber que uma determinada população de células microbianas multiplica-se em escala logarítmica, a cada espaço de tempo. A Tabela 3 apresenta alguns exemplos de microrganismos e os respectivos tempos de geração. Estes dados levam a crer, por exemplo, que não é aconselhável manter em espera por longo tempo, produtos ainda em fase de processamento ou a granel, sobretudo aqueles com alta atividade de água. A armazenagem de água purificada somente deve ser realizada sob condições específicas de conservação. Nesta linha estratégica, a validação dos processos de limpeza, e a determinação dos prazos de validade da limpeza de equipamentos e utensílios que entram em contato com os produtos, são medidas essenciais. Tabela 3 - Tempo médio de geração de vários microrganismos em meio de cultura apropriado Microrganismo
Tempo de geração
Escherichia coli
20 minutos
Bacillus subtilis
28 minutos
Staphylococcus aureus
30 minutos
Pseudomonas aeruginosa
35 minutos
Mycobacterium tuberculosis
13 horas e 20 minutos
Fonte: PERRY, J.J.; STALEY, J. T. Microbiology: Dinamics & Diversity. Washington: College Publishing.
O ar que entra e sai dos ambientes industriais e, sobretudo, daqueles ambientes considerados críticos para a qualidade dos produtos ou processos, deve ser filtrado em um nível que represente segurança, no que tange a contaminação microbiana, e em alguns casos, retenha contaminantes físico-químicos também. A prova disto é a recente publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 17, de 16 de abril de 2010, da Agência
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Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), referente às normas de BPF para produtos farmacêuticos, além da publicação da TRS nº 936, em 2006, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estas publicações normatizam os critérios de qualidade exigidos para o ar e para o sistema de tratamento (AVAC), conforme o risco do produto farmacêutico ser contaminado ou ser o contaminante, dentre outros critérios. Além disto, o Guia da OMS, indica que a filtração mínima do ar destinado às áreas de produção de medicamentos sólidos não estéreis, deve ser com filtros G4 e F8, dentre outras exigência e recomendações. Estas exigências específicas para a área farmacêutica abrangem além das partículas viáveis (células e esporos microbianos), aquelas partículas consideradas inertes (particulado geral), quando se tratam de áreas classificadas, conforme a RDC nº 17/10 (Tabela 1, Graus A, B, C e D). Embora muitos outros segmentos possuam normas definidas e aprovadas de boas práticas, a maioria destas não referencia as diretrizes específicas para a qualidade do ar em ambientes considerados críticos,
“O monitoramento ambiental de rotina é uma excelente ferramenta para a análise de possíveis tendências assumidas frente aos limites máximos aceitáveis, em se tratando de contaminação.”
tão pouco para carga microbiana em superfícies críticas. Portanto, o mínimo que se pode esperar de uma área crítica, seja ela classificada ou não, é que as superfícies que tenham contato direto com os produtos, as mãos, as luvas e os uniformes, não estejam contaminados com microrganismos indicadores de falha das práticas adequadas de higiene, por exemplo: coliformes totais, coliformes fecais (Escherichia coli) e Staphylococcus aureus, e outros conforme as exigências de qualidade do produto ou de cada ambiente. Além disto, as análises microbiológicas do ar dos ambientes críticos integram o monitoramento desejado na rotina. Neste caso, os limites máximos aceitáveis estão definidos para áreas classificadas em Graus A, B, C e D. Porém, para aqueles ambientes sem esta classificação, os limites máximos aceitáveis devem ser determinados internamente a partir do monitoramento da contaminação microbiana ambiental, na qual o método de exposição de placas de Petri contendo ágar caseína-soja e ágar Sabouraud é o mais comumente utilizado.
Estas placas, quando expostas p o r te m p o s p r é - d e te r mina d o s, como 60 minutos até um máximo de 4 horas, demonstram o nível de contaminação de bactérias aeróbicas e fungos presentes no ar de cada ambiente analisado. Ainda em relação à amostragem de ar, os amostradores ativos, que coletam em alguns minutos mil litros de ar do ambiente, são exigidos para a qualificação de sistema AVAC e para o monitoramento freqüente em áreas classificadas, ou onde seja indicado seu uso. As superfícies que possuem contato direto com os produtos ou matérias-primas devem apresentar baixa contagem de microrganismos aeróbicos totais e ausência de patógenos, conforme a especificação do produto ou do ambiente. Para equipamentos, Brannan sugere o uso de água purificada estéril como meio de amostragem das partes internas dos equipamentos, sempre que este for aceito como um método válido para a amostragem. Esta água não deverá conter mais do que 100 ufc/ ml, e em alguns casos não mais do que 10 ufc/ml.
Para análise direta a partir de coleta por “swab” em 100 cm² de área planar, por exemplo, se pode considerar seguro não mais do que 40 ufc/100cm² para produtos não estéreis. No caso de produtos estéreis, o ideal é a ausência de ufc/ 100cm² ou no máximo 10 ufc/100cm². Porém, estes limites de aceitação irão variar conforme o processo e as tecnologias utilizadas para a contenção da biocarga nos produtos. Ainda, é desejável que nos pontos de maior dificuldade de limpar, por exemplo, válvulas de saída de produto ou mangueiras de transferência, cujos produtos terão contato direto, possuam carga microbiana menor que 20 ufc/ ponto. O monitoramento ambiental de rotina é uma excelente ferramenta para a análise de possíveis tendências assumidas frente aos limites máximos aceitáveis, em se tratando de contaminação. Os dados obtidos pelos controles do ar, superfícies, mãos, luvas, águas, gases, matérias-primas, produtos etc., devem ser utilizados para sustentar ou aperfeiçoar as estratégias utilizadas para a contenção da contaminação microbiana em ambientes críticos e nos processos.
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Na mesma direção, a difusão da informação em todos os níveis de uma organização, mesmo que adaptada para cada público, impacta de forma significativa e traz benefícios para o plano de gestão da qualidade. O indivíduo humano necessita, por sua própria natureza, entender o objetivo de cada procedimento, norma, regra, metodologia etc., para que possa se sentir totalmente envolvido com determinada tarefa e realizá-la de forma adequada e primando pelo sucesso. F M
Fernando Daniel Amaral é graduado em farmácia, especialista em indústria de medicamentos e indústria de alimentos, e mestre em microbiologia do ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua como consultor técnico há mais de 10 anos, com experiências no Brasil, México e América Central. Atualmente é colaborador da Única - Suporte Científico e Regulatório, docente de cursos de pós-graduação e palestrante em diversos cursos no Brasil e na América Latina sobre Boas Práticas de Fabricação (BPF) e de laboratório, sistema da qualidade, estudos de validação, controle microbiológico, dentre outros temas relacionados.
Referências Bibliográficas 1. Amaral FD. Validação de limpeza. controle de contaminação. Editora Nova Técnica. Ano 9, No. 96, 2729. São Paulo, 2007.
for pharmaceutical products: main principles, Annex 4, Geneva, WHO Technical Report Series No. 937 (2006). www.who.int/
2. Branna DK. Cosmetic microbiology. A practical handbook. Florida: CRC press, 1997.
6. Perry JJ, Staley JT. Microbiology: Dinamics & Diversity. Washington: College Publishing, 1997.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução - RDC n°17, de 16 de abril de 2010. Boas práticas para a fabricação e controle de produtos farmacêuticos. Brasília: ANVISA, 2010.
7. Russell AD, Hugo WB, Ayliffe GAJ. Principles and pratice of desinfection, preservation and sterilization. Oxford: Blackwell Scientific, 1982.
4. Nicolósi M. Validação de limpeza exige equipe multidisciplinar. Controle de contaminação. Editora Nova Técnica. Ano 10, No. 112, 20-27. São Paulo, 2008. 5. OMS. Good manufacturing practices
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8. The United States Pharmacopeia. 34 ed. Rockville: Mack Printing, 2011. 9. Zardo H, Amaral FD. Contribuição do sistema AVAC na redução de riscos. Controle da contaminação. Editora Nova Técnica. Ano 13, No. 145, p. 14-18. São Paulo, 2011.
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Transformação Lean na Fábrica da Boehringer Ingelheim em Itapecerica da Serra Nilce K. Mashiba Tomokane
“Esta é a crônica de uma transformação em andamento. De um processo de melhoria contínua que possui como protagonista toda a equipe da Fábrica da Boehringer Ingelheim, em Itapecerica da Serra (SP). Sobre os pilares desta transformação, a fábrica encara o desafio de um futuro cheio de oportunidades de crescimento com base na segurança, na qualidade, no serviço aos seus clientes e na competitividade dos seus produtos.”
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sta é a crônica de uma transformação em andamento. De um processo de melhoria contínua que possui como protagonista toda a equipe da Fábrica da Boehringer Ingelheim, em Itapecerica da Serra (SP). Sobre os pilares desta transformação, a fábrica encara o desafio de um futuro cheio de oportunidades de crescimento com base na segurança, na qualidade, no serviço aos seus clientes e na competitividade dos seus produtos. História da fábrica da Boehringer Ingelheim Inaugurada em 1976, a fábrica da Boehringer Ingelheim do Brasil, localizada no município de Itape-
cerica da Serra, em São Paulo, é uma das mais modernas do grupo no mundo, sendo responsável pelo terceiro maior volume de produção. Ao todo, são 27.700 m² de área construída em um terreno com 210 mil m² de extensão. Nela são produzidos medicamentos de venda livre, como Anador® e Buscopan® e medicamentos de prescrição médica para abastecer os mercados interno e externo. Projetada inicialmente para fabricar 40 milhões de unidades por ano, a fábrica teve sua capacidade de produção triplicada com mais de US$ 75 milhões investidos em tecnologia e qualificação da mão-de obra. Atualmente, a fábrica possui as mais modernas tecnologias, com grande parte das áreas de produção e armazenamento automatizadas. Conceito da transformação lean A transformação lean é uma mudança intencional e sustentável em direção a um nível muito mais elevado de desempenho, alinhado à estratégia da empresa. Baseia-se em uma mudança fundamental, não incremental, com melhoria contínua nas capacidades, nas mentalidades, nos sistemas e nos
processos. Lean é um conceito abrangente que inclui uma metodologia sistemática utilizada para eliminar as três principais fontes de perda - desperdício, inflexibilidade e variabilidade - além de ser um mecanismo que garante a melhoria contínua. A consultoria internacional McKinsey & Company foi um parceiro estratégico nessa transformação, principalmente devido à sua experiência extensa em operações e transformações lean em empresas farmacêuticas e à qualidade dos seus profissionais. A McKinsey propõe uma abordagem holística com foco nas melhorias operacionais, na forma como os indivíduos trabalham, e nas mentalidades e capacidades de cada um para assegurar a sustenta-
bilidade das mudanças. S egundo est a m eto dologia, a transformação lean se baseia em três pilares estratégicos: 1. Sistema operacional eficiente orientado para a segurança da equipe e a qualidade dos produtos; com alta confiabilidade nas máquinas, processos eficientes e padronizados e resolução ágil de problemas para obter crescimento sustentável; 2. Infra-estrutura de gestão reforçada que assegura acompanhamento eficaz do desempenho das máquinas e dos funcionários, focada na melhoria contínua e no levantamento de oportunidades para encontrar soluções permanentes de forma ágil. Sistemas baseados
“Foi muito bom trabalhar com a McKinsey, um grande aprendizado para todos. Foi fantástico observar o crescimento de nossos funcionários desde o início do projeto à finalização da primeira onda, graças ao coaching intenso que recebemos diariamente”
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em processos e uma comunicação que reforçam o alinhamento e a coordenação dos esforços da planta; 3. Mentalidades e capacidades por parte de toda a equipe da planta refletindo o orgulho de integrar equipe da Boehringer Ingelheim e a responsabilidade e o entusiasmo pelo trabalho, desenvolvendo as capacidades necessárias para conduzir a fábrica para o futuro. Uma transformação lean depende de todos na fábrica, desde a liderança até os times de máquina, exigindo modificações na forma de pensar e nas capacidades de cada um, pois todos impulsionam as ações e determinam o sucesso do projeto. Desenho e organização da transformação: SuperAção Na evolução da fábrica da Boehrin-
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ger Ingelheim do Brasil é evidente a paixão por superar objetivos cada vez mais ambiciosos, em um ambiente de trabalho em equipe e com valores compartilhados, permitindo à planta atender os padrões de excelência que definem a cultura corporativa da Boehringer Ingelheim. Com esta mentalidade de busca contínua pelo nível de excelência interiorizada na cultura, a fábrica construiu, em 2010, um plano estratégico até 2014. Este plano contemplava três fases: ▪▪ Estabilização: Consiste na resolução de problemas crônicos recorrentes gerando maior estabilidade na operação; ▪▪ Transformação: Alavancar a competitividade para nível de excelência de forma intensa;
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▪▪ Consolidação: Sustentar os resultados e o nível de excelência. Considerando o cenário desenhado e a ambição dos objetivos, um grupo multidisciplinar de funcionários construiu um nome para este plano estratégico: SuperAção. O programa de aplicação do conceito lean encaixa-se neste contexto do plano estratégico 2010-2014 SuperAção como um dos principais pilares da fase de transformação. O objetivo do programa inclui aumentar a performance de indivíduos, tecnologias e processos e, conseqüentemente, reduzir custo unitário mantendo a qualidade dos produtos e segurança, visando atingir a visão da fábrica: Ser a melhor opção para suprir globalmente pro-
dutos farmacêuticos maduros com competitividade”. Transformações requerem dedicação por parte da liderança da planta pois eles devem ser os primeiros a ser exemplos das atitudes e dos comportamentos desejados em uma cultura de melhoria continua. Por isto, toda a equipe gerencial da fabrica participou intensamente guiando e direcionando o programa. Para a execução do dia a dia foi criado um time multidisciplinar, composto por top performers de várias áreas da organização que viraram agentes de mudança. Cada agente de mudança se dedica por completo ao projeto e lidera uma frente de trabalho. O agente de mudança atua como embaixador da transformação sendo exemplo para toda a planta. anuncio 21x14cm.ai
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Transformação lean: atividades e processos na prática Em janeiro de 2011 a transformação lean se tornou realidade. A liderança da planta iniciou o diagnóstico da fábrica analisando o desempenho e os custos de cada área da planta e refletindo sobre como fazer cada área mais lean. Lançado o projeto, os funcionários contribuíram com sugestões de oportunidades de melhoria, levantadas em focus groups, workshops, entrevistas e pesquisas, resultando no desenho de soluções. Nas primeiras etapas da jornada, o alinhamento entre a liderança da planta e o envolvimento da equipe em todos os níveis para criar o momentum e o sentimento de responsabilidade sobre a transfor-
mação foi crítico para o sucesso do projeto. A participação dos funcionários em pesquisas, workshops e entrevistas foi fundamental para o diagnóstico e o desenho da transformação da fábrica. A co-construção engajou, alinhou e fortaleceu a todos para a execução do projeto. Finalizada a fase de diagnóstico, definiu-se como implementar as idéias levantadas. A implementação escalonada facilita a gestão do projeto para a fábrica e aumenta o foco nas áreas da primeira onda para assegurar o sucesso e manter o momentum na organização. O projeto foi estruturado em quatro ondas, com 2-3 áreas por onda, priorizando as áreas em função do orçamento anual e das
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oportunidades de melhoria encontradas. Os resultados consolidados do diagnóstico foram comunicados à fabrica, reforçando as prioridades de segurança, de qualidade e de indivíduos, e apresentando os próximos passos. A comunicação para todos os funcionários foi essencial para o entendimento do que seria realizado e para alinhamento das expectativas. A proposta de valor da fábrica melhorar a qualidade de vida dos indivíduos - alinhada aos objetivos do projeto foram fundamentais para
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adquirir o compromisso e o empenho dos funcionários. Definidas as áreas da primeira onda, foi necessário treinar o pessoal envolvido no piloto nas técnicas lean e revisar a infra-estrutura de gestão da área. O começo foi desafiador e implicou em grandes mudanças para a equipe: a estrutura organizacional foi ajustada para reforçar a comunicação de duas mãos, o papel da liderança da área foi discutido para reforçar a proximidade com as equipes da área, e o processo de gestão de desempenho foi redesenhado
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para acompanhar o desempenho das máquinas a cada duas horas sobre painéis visuais criados e preenchidos pela própria equipe da da área. O começo foi desafiador e, hoje, aqueles que não entraram no piloto estão ansiosos por começar, exigindo estas melhorias. A comunicação dos primeiros resultados foi fundamental para apoiar a modificação da mentalidade da equipe e reforçar o momentum da transformação. Hoje, os resultados do projeto são visíveis nas áreas piloto e a implementação escalonada para
toda a planta está em andamento sendo que muitas ferramentas e metodologias utilizadas no piloto foram incorporadas pelas áreas. Os principais aprendizados foram: ▪▪ Trabalhar fortemente as mentalidades e as capacidades da equipe e desenvolver o senso crítico para construir a cultura e os comportamentos desejados, realizando a transformação sustentável; ▪▪ Comunicar intensamente e escutar é essencial para manter a motivação da planta de endereçar as preo-
▪▪ Não sentir medo de quebrar paradigmas. Possuir cabeça aberta para a mudança, pois sem quebrar paradigmas a transformação será apenas incremental;
▪▪ Ajustar a estrutura organizacional cedo na transformação auxilia a criar senso de urgência, e facilita quebra de paradigmas e mudanças posteriores; ▪▪ Realizar uma transformação sustentável requer um alto grau de disciplina, da liderança até os times da fabrica.
▪▪ Construir conjuntamente com todos os níveis da organização é chave para o sucesso, pois cria aceitação das novas ferramentas e metodologias ao mesmo tempo em que aumenta o engajamento na transformação;
A transformação lean promove melhoria significativa e sustentável e cria o marco para construir sobre pontos fortes existentes levando a fábrica a um novo patamar de desempenho. F M
cupações dos trabalhadores. Em uma transformação a comunicação deve ser consistente, freqüente e atingir cada indivíduo da fábrica;
Nilce K. Mashiba Tomokane é graduada em farmácia e bioquímica, especialista em fármacos e medicamentos pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em international management pela Boehringer Ingelheim, e pós-graduada em administração empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, é diretora industrial na Boehringer Ingelheim e docente do Instituto Racine. Fármacos&Medicamentos 67
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Considerações para a Seleção de Fornecedores de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) Ana Maria Fernandes e Alessandra Tomazzini F. Bastos
“Os órgãos regulatórios internacionais - Food and Drug Administration (FDA), European Medicines Agency (EMA) e World Health Organization (WHO) -, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), focam suas ações e regulamentações para estabelecer regras que garantam a qualidade dos IFAs.”
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e acordo com o Active Pharmaceutical Ingredients Commitee (APIC), o fornecimento de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA) falsificados ou com padrão inferior de qualidade são cada vez mais freqüentes. Este fato não representa apenas um descumprimento às normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF), mas também constitui um grave e crescente risco para a segurança do paciente e demonstra a necessidade de avaliação da cadeia de fornecimento a partir de uma perspectiva de qualidade, e a necessidade de estabelecer um programa eficaz de qualificação de fornecedores. Os órgãos regulatórios internacionais - Food and Drug Administration (FDA), European Medicines Agency (EMA) e World Health Organization (WHO) -, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), focam suas ações e regulamentações para estabelecer regras que garantam a qualidade dos
“Solicitar e analisar uma amostra de um lote comercial é um pré-requisito para demonstrar que o material fornecido pelo potencial fabricante cumpre com as especificações previamente definidas.“
IFAs. Para tanto, criam normativas que alcançam não somente os fornecedores e fabricantes, mas também colocam os fabricantes de produtos farmacêuticos como co-responsáveis pela qualidade do insumo, responsabilizando-os no sentido de qualificá-los para garantir a qualidade do IFA. Desta forma, no Brasil, foram publicadas as seguintes regulamentações: ▪▪ RDC nº 249, de setembro de 20 05: Regulament a as Boas Práticas de Fabricação de Produtos Intermediários e Insumos Farmacêuticos Ativos; ▪▪ RDC nº 30, de maio de 2008: Estabelece a necessidade de que todas as empresas sediadas no País, que exerçam atividades de fabricar, importar, exportar, fracionar, armazenar, expedir e distribuir insumos farmacêuticos ativos são obrigadas a cadastrar os IFAs na ANVISA; ▪▪ RDC nº 57, de novembro de 2009: Estabelece as normas para registro de insumos farmacêuticos. Esta resolução está relacionada com a Instrução Normativa nº 15, de novembro de 2009, que estabelece uma lista de 20 IFAs sujeitos ao registro (o registro dos
IFAs por enquanto é obrigatório apenas para esta lista); ▪▪ RDC nº 48, de novembro de 2009: Dispõe sobre a realização de alteração, inclusão, suspensão e cancelamento de pós-registro. Esta RDC define um capítulo específico para IFAs. Requisitos para a seleção dos fabricantes/fornecedores de IFA
Definição do requisito do usuário O objetivo deste requisito é definir um conjunto de critérios que devem ser considerados no processo de seleção de um potencial fornecedor. O requisito do usuário deve ser enviado ao setor de compras para aquisição do insumo e deve conter no mínimo as seguintes informações: ▪▪ Nome do produto (incluindo fórmulas e número CAS, quando disponível); ▪▪ Especificação técnica; ▪▪ Quantidade necessária. Solicitar e analisar uma amostra de um lote comercial é um pré-requisito para demonstrar que o material fornecido pelo potencial fabricante
cumpre com as especificações previamente definidas.
Questionário para os potenciais fabricantes/fornecedores Como parte do processo de conhecimento do fornecedor/fabricante é recomendável o envio de um questionário contemplando os seguintes itens: ▪▪ Garantia de fornecimento; ▪▪ Qualidade e conformidade com as regulamentações; ▪▪ Custo/aspectos de aquisições; ▪▪ Aspecto técnico/inovação; ▪▪ Capacidade de comunicação e capacidade de resposta.
Garantia de fornecimento Garantia de fornecimento é um elemento essencial para assegurar a adequada gestão da cadeia de fornecimento na organização. Para obter uma imagem mais completa possível, os seguintes aspectos devem ser considerados: ▪▪ Capacidade (Escala de equipamentos, tamanho do lote etc.); ▪▪ Segurança, saúde e riscos ambientais; ▪▪ Gerenciamento de estoque;
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▪ ▪ Est abilidade de s olvência e business financeiro; ▪▪ Requisitos REACH (Register, Evaluation, Authorization, Chemicals); ▪▪ Desempenho de entrega; ▪▪ Gerenciamento da cadeia de suprimento do material em questão.
custo de aquisição que devem ser considerados: ▪ ▪ Visibilidade financeira (cost visibility); ▪▪ Presença em países de baixo custo (mercados emergentes); ▪▪ Capacidade de atingir o preço alvo.
Qualidade e conformidade regulatória
Inovação técnica
No processo de seleção é essencial obter uma imagem completa do estado de conformidade do fornecedor, portanto os seguintes aspectos devem ser avaliados: ▪▪ Conformidade GMP e histórico de regulamentação; ▪▪ Recolhimento e reclamações; ▪▪ Controle de mudanças e gerenciamento de desvios; ▪▪ Gerenciamento de materiais; ▪▪ Gestão de sistemas da qualidade; ▪▪ Contrato de qualidade (Quality agreement); ▪▪ Cultura da qualidade; ▪▪ Instalações de produção e equipamentos; ▪▪ Revisão periódica de produto; ▪▪ Abordagem de validação; ▪▪ Documentação padrão.
Com a finalidade de gerar uma compreensão mais adequada das competências técnicas e de perfil inovador do fornecedor, deve-se observar os seguintes aspectos: ▪▪ Especialização tecnológica; ▪▪ Capacidade produtiva da planta; ▪▪ Capacidade do laboratório de controle e desenvolvimento; ▪▪ Capacidade em resolver problemas dos negócios; ▪▪ Competência técnicas/qualificação do time (staff); ▪▪ Capacidade de desenvolvimento; ▪▪ Conhecimento no desenvolvimento de processo; ▪▪ Gerenciamento de projetos; ▪▪ Disposição para inovar; ▪▪ Propriedade intelectual.
Custo
Além do preço do IFA, existem outros aspectos relacionados ao
Avaliação da capacidade de resposta e de comunicação Com a finalidade de gerar uma visão mais adequada sobre as capacidades de
“Os dados coletados junto aos potenciais fornecedores devem ser minuciosamente avaliados, preferencialmente por uma equipe multidisciplinar.” 30
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resposta e de comunicação, os seguintes aspectos devem ser considerados: ▪▪ Rapidez de avaliação do projeto; ▪▪ Disponibilidade de recursos; ▪▪ Flexibilidade (atitude); ▪▪ Definição de contatos funcionais; ▪▪ Abertura ou facilidade de comunicação (compreensão do inglês); ▪▪ Pró-atividade.
Due diligence Os dados coletados junto aos potenciais fornecedores devem ser minuciosamente avaliados, preferencialmente por uma equipe multidisciplinar. Esta avaliação, juntamente com a avaliação da amostra, deve resultar em uma lista de potenciais fornecedores para apoiar a decisão de prosseguir com o processo de qualificação dos fornecedores identificados. Todos estes passos integram o processo de due diligence. Este processo consiste em estabelecer evidência documentada para apoiar o processo de decisão de aprovar, ou não, um fabricante fornecedor. Durante a due diligence também serão avaliados: a possibilidade de estabelecer um relacionamento comercial de longo prazo com o
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fornecedor, os sistemas implementados, as instalações existentes e a capacidade do fornecedor para cumprir os requisitos do cliente. Dificuldade encontrada durante o processo é identificar o real fabricante do insumo. Em alguns casos podem ser encontradas divergências com relação a este item como, por exemplo, fornecedores que não disponibilizam a informação, ou que se passam por fabricante quando na verdade são apenas distribuidores, distribuidores que colocam nomes de fabricantes incorretos (propositadamente ou não), e até mesmo fabricantes que se colocam como o fabricante do insumo quando na verdade o fabricante é outra empresa. Item importante também realizado
nesta etapa é a avaliação do Drug Master File (DMF). Esta análise deve ser criteriosa e realizada em conformidade com guias específicos como o ICH CTD:M4Q Implementation Working Group Questions & Answers (R1). Avaliação de qualidade Uma auditoria de qualidade no fabricante/fornecedor é recomendada como parte fundamental da avaliação da qualidade. A preparação de uma agenda específica para o IFA em questão pelos auditores, envolvendo o levantamento das informações obtidas durante a due diligence, é altamente importante para que a realização da auditoria in loco seja eficiente. Durante a realização da auditoria
“A preparação de uma agenda específica para o IFA em questão pelos auditores, envolvendo o levantamento das informações obtidas durante a due diligence, é altamente importante para que a realização da auditoria in loco seja eficiente.” 32
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de qualidade é relevante realizar a confirmação quanto ao real fabricante identificado na etapa de due diligence. Se a avaliação da qualidade obtida for satisfatória, o fornecedor passa a ser considerado aprovado, e o processo de certificação continua com a assinatura do acordo de qualidade (quality agreement). Acordo de qualidade (Q ualit y agreement) Recomenda-se a elaboração de um acordo de qualidade entre as partes envolvidas (pode ser utilizado o modelo disponibilizado no site do APIC). Este acordo deve ser encaminhado para o fabricante/fornecedor no momento em que o processo de avaliação de qualidade estiver em curso.
O acord o d e qualidad e d eve abordar a necessidade de notificação de possíveis modificações que podem impactar a qualidade do produto e o requisito de não realizar alteração alguma sem aprovação prévia. Devido a estes requisitos, geralmente é difícil conseguir a assinatura/cumprimento do acordo por parte do fabricante/fornecedor, reforçando a importância de auditoria/monitoramento periódico do fabricante/fornecedor. Controle de mudanças Ao ser aprovado um novo fabricante/ fornecedor (diferente do registrado na ANVISA) devem ser aplicadas as diretrizes descritas na RDC nº 48, de novembro de 2009.
Segurança da Cadeia de Fornecimento (Supply chain) Os itens anteriores focaram a qualificação do fabricante por meio de atividades de gestão da interação direta entre o cliente e o fabricante do IFA. No entanto, a cadeia de fornecimento geralmente envolve outros agentes como intermediários, distribuidores, fracionadores, além de empresas de transporte. Como princípio geral, deve ser sempre considerado que quanto menor a cadeia de abastecimento, maior a segurança (presença de reembalagem e/ou fracionamento aumenta os riscos de contaminação e alteração do IFA em questão). Toda a cadeia de fornecimento do fabricante de IFA até o cliente final deve ser avaliada e qualificada a
partir da perspectiva de qualidade relacionada principalmente com o transporte, armazenamento e com a rastreabilidade do material. Programa de monitoramento O programa de monitoramento do fabricante/fornecedor de um IFA requer a definição prévia de indicadores chave de desempenho ou Key Performance Indicators (KPIs). Estes indicadores devem incluir aspectos tanto comerciais quanto de qualidade. Com a finalidade de desenvolver uma relação de confiança e utilizar todas as oportunidades para manter e melhorar a qualidade do serviço, os resultados da avaliação periódica devem ser compartilhados com o fabricante/fornecedor. Nesta revisão os
“Toda a cadeia de fornecimento do fabricante de IFA até o cliente final deve ser avaliada e qualificada a partir da perspectiva de qualidade relacionada principalmente com o transporte, armazenamento e com a rastreabilidade do material.” Fármacos&Medicamentos 67
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resultados do monitoramento devem ser apresentados e, se necessário, discutidos. Se houver a necessidade de ações corretivas devem ser definidos prazos. Como parte do programa de monitoramento, os fabricantes/fornecedores de IFAs devem ser auditados periodicamente. Conclusão Para reduzir a probabilidade de aquisição de APIs com qualidade inadequada, a seleção dos fornecedores dos insumos se torna essencial, e deve se concentrar não apenas no insumo propriamente dito, mas também na cadeia de fornecimento e na interação entre o fabricante do API e o fabricante do produto farmacêutico final. Para um futuro próximo esperase que os requisitos para produzir medicamentos seguros, de qualidade assegurada e com custo efetivo continuem a aumentar cada vez mais. Nesta cadeia, apenas os fabricantes de IFA que possuem vasta experiência em processos químicos, custos adequados, cumprimento a requisitos regulatórios e cultura de qualidade, serão capazes de estabelecer parceria bem sucedida com empresas farmacêuticas.
Figura 1 - Fluxo baseado no guia do APIC - Supplier Qualification & Management Guideline, pág.8, dezembro/2009.
Ciclo de vida de gerenciamento de fabricantes/fornecedores Identificação de potencias fabricantes/ fornecedores (baseado nas especificações)
Não
Lista inicial
Processo de seleção de fabricantes/fornecedores
Avaliação da amostra (se disponível)
Incluir na lista inicial
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Não
Sim Revisão técnica
“Para reduzir a probabilidade de aquisição de APIs com qualidade inadequada, a seleção dos fornecedores dos insumos se torna essencial, e deve se concentrar não apenas no insumo propriamente dito, mas também na cadeia de fornecimento e na interação entre o fabricante do API e o fabricante do produto farmacêutico final.” 34
Coleta de dados do fabricante/F M fornecedor
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Processo de Due diligence
Visita técnica
Recomendar como fabricante/ fornecedor
Avaliação da amostra
Sim Alteração de qualidade Estabelecer plano de ação/ Verificar plano de ação Estabelecimento de contrato de Quality agreement
Não
Aprovação do contrato Sim Abertura do controle de mudanças (quando aplicável) Produção dos lotes de validação Aprovação qualificação do fabricante/ fornecedor Sim Segurança na cadeia de fornecimento Monitoramento e avaliação do histórico de fornecimento
Não
Ana Maria Fernandes
é graduada em farmácia e bioquímica, e mestre tecnologia de fermentações pela Universidade de São Paulo (USP). Possui mais de 30 anos de experiência nas áreas farmacêuticas, insumos farmacêuticos ativos e consultoria, além de conhecimento nas áreas de produção, Controle da Qualidade (CQ), Garantia da Qualidade (GQ) e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Gerenciou processos de transferência tecnológica para novos processos de fabricação de IFAs no Brasil, Estados Unidos da América (EUA), México, Itália e Holanda, e projetos de start up de novas instalações farmacêuticas para produção de formas farmacêuticas gerais e estéreis. Executou avaliação nacional e internacional de plantas farmacêuticas e farmoquímicas para atendimento às diretrizes de Good Manufacturing Practice (GMP) para Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Organização Mundial da Saúde (OMS), Food and Drug Administration (FDA) e European Medicines Agency (EMA). Atualmente é consultora da TekPharma Consultoria.
Alessandra Tomazzini Ferreira Bastos
é graduada em farmácia pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), pós-graduada em gestão da qualidade pela Faculdade Oswaldo Cruz (FOC), e pós-graduada em gestão da qualidade (ênfase em validação de processos) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui mais de 10 anos de experiência nas áreas farmacêuticas, insumos farmacêuticos ativos e consultoria, além de conhecimentos nas áreas de validação e garantia da qualidade desenvolvidos através da participação e gerenciamento de projetos nacionais e internacionais relacionados a start up de plantas farmacêuticas e farmoquímicas, preparação para primeira certificação GMP no Brasil e no mercado Europeu, processos de transferência tecnológica e auditorias (MOCK inspection para ANVISA, WHO, FDA e EMA) em empresas como Libbs (Brasil), Galenika (Europa), SVS (Brasil e Espanha), Adalberto Peasant (Cuba). Participou como colaboradora no Guia de Validação de Sistemas da ANVISA. Atualmente é consultora da TekPharma Consultoria e auditora para preparação de plantas para pré-certificação por fundações parceiras da OMS.
Referências Bibliográficas APIC Supplier Qualification & Management Guideline, December/2009. APIC Quick Guide for API Sourcing, September/2008. Australian Government, Technical Working Groups (TWG) on Non-
-Sterile Medicines & Complementary Medicines - Technical Guidance on the Interpretation of Manufacturing Standards: Supplier Qualification, 9/2/2010.
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Por que Farmacoeconomia Hoje e Amanhã? Dayane Gabriele A. Silveira
“Nos últimos anos, a evolução dos gastos com saúde e, especificamente medicamentos, tem preocupado os governos. Não é para menos. Em muitos casos esse aumento é superior à inflação e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).”
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om o aumento dos benefícios “da oferta por” saúde, os produtores e comerciantes têm sido freqüentemente acusados de estarem associados a aumentos dos custos em saúde. Vários governos, organizações e indivíduos pressionam os fornecedores de produtos e serviços a reduzirem seus preços, por meio de pressões políticas, de concorrências, quebra de patentes e de muitas outras práticas. Medicamentos patenteados apresentam participação 40% maior nos gastos dos brasileiros com saúde do que com os produtos genéricos. Nos últimos anos, a evolução dos gastos com saúde e, especificamente medicamentos, tem preocupado os governos. Não é para menos. Em muitos casos esse aumento é superior à inflação e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD), a média dos gastos em saúde enquanto percentual do PIB foi de 7,0% em 1990 e 8,9% em 2004 para os países
“De um pedido derivado da prescrição de um medicamento podem ocorrer situações de demanda induzida pela oferta. O leque de escolhas possíveis (diferenciação de produtos/serviços) e a dificuldade de fazer comparações e avaliações após o uso da eficácia (efetividade) reduzem a oportunidade de avaliar a assertividade.”
membros. Conclui-se que se essa tendência continuar e o nível do cuidado de saúde forem mantidos, os governos terão de adotar algumas medidas para sustentar o financiamento: aumentar impostos, cortar os gastos em outras áreas ou fazer com que os indivíduos paguem mais do próprio bolso. Hoje, a crise mundial em muitos dos países europeus demonstra que uma das maiores dívidas são os gastos com saúde. A demanda é derivada por não se comprar saúde, mas bens e serviços, e o paciente não é o juiz mais adequado de seu bem-estar: ▪▪ Não sabe a sua real necessidade; ▪▪ Não há e não conhece as informações sobre a eficácia das alternativas de cura; ▪▪ Alguém necessita agir em seu nome. O médico que realiza as escolhas no interesse do paciente age como seu agente etiológico (origem da
demanda). No entanto, esta é uma relação regulatória imperfeita, porque o médico também é o agente direto de bens e serviços. O esforço por promover e aperfeiçoar a demanda de produtos e de serviços em saúde é recompensado com resultados mais adequados em saúde. As novas tecnologias da saúde proporcionam aos usuários aumento do tempo de vida com mais qualidade no que se refere ao aspecto da redução do limiar de dor e de sofrimento (em farmacoeconomia denominado de Qualy, neste caso qualidade de vida é subjetivo), aumentar a cura em situações clínicas definidas e recuperação da capacidade funcional e profissional. De um pedido derivado da prescrição de um medicamento podem ocorrer situações de demanda induzida pela oferta. O leque de escolhas possíveis (diferenciação de produtos/serviços) e a dificuldade de fazer comparações e avaliações após o uso da eficácia
(efetividade) reduzem a oportunidade de avaliar a assertividade. Para resolver o mesmo problema várias opções são possíveis, envolvendo despesas muito diferentes. Além disso, o paciente é incapaz de julgar e comparar o preço e a qualidade dos produtos oferecidos e os vendedores podem conduzir a preços acima do nível de equilíbrio, sem sofrer a sanção do mercado, ostentando um sistema competitivo. No Brasil, não há entidade governamental que pague 100% dos produtos e serviços de saúde para todos (um terceiro pagante). Isso, por vezes, gera atitudes paradoxais ou prejudiciais à saúde levando a escolhas por produtos e serviços mais baratos sem avaliação da eficácia e com resultados clínicos inferiores ao desejável ou sem conhecimento do impacto deste custo reduzido na economia global. Para evitar tais decisões, iniciou-se nos anos 1970 a farmacoeconomia. Até o início do século XX, a disponibilidade de
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medicamentos era limitada a pouco mais de duas centenas, o acesso aos mesmos era restrito a poucos indivíduos por motivos geográficos e sócio-econômicos e havia uma quantidade relativamente pequena de informações conhecidas sobre cada um deles. A partir da década de 1940, verificou-se uma explosiva descoberta de novos medicamentos e de informações relevantes sobre o seu uso, aumentando rapidamente a complexidade do exercício da terapêutica medicamentosa. Além deste fato, modificações na estrutura das sociedade e a cultura de massa forçaram importantes alterações no papel de governos e de instituições privadas quanto ao provimento de artigos e de serviços de saúde. Na medida em que a cultura se desenvolveu, as exigências sociais se ampliaram tanto no aspecto da demanda quali-quantitativa por medicamentos e serviços adequados quanto pelas exigências de eficácia e de segurança de produtos farmacêuticos. Ocorreram cinco eras do desenvolvimento do setor farmacêutico: ▪▪ Idade de Ouro (1960-1980): Estado de bem-estar e inovação; ▪▪ Idade de Diferenciação (19811991): Diminuição do consumo e da inovação, mas não dos gastos do governo; ▪▪ Idade do Rigor e do Racionamento
(1992-1995): Diminui a despesa pública com medicamentos; ▪▪ Idade da Recuperação (19962001): Resumo das políticas de desenvolvimento - marketing + inovação; ▪▪ Idade da Escassez (2002 - ?) Gastar menos e gastar melhor. Sabe-se que os custos de pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos cresceram significativamente devido às maiores exigências. Também é certo que todas as condições da sociedade capitalista levam a busca da otimização dos lucros, que afeta a todas as empresas, inclusive farmacêuticas. Em relação a estes dois fatores, o que ocorre é que os medicamentos mostram preços cada vez maiores, muitas vezes em desproporção com a qualidade dos resultados que se propõem a oferecer. O termo farmacoeconomia, no entanto, foi utilizado pela primeira vez apenas em 1986, por Townsed. Com o desenvolvimento desta área, houve uma rápida evolução e reconhecimento social e administrativo das vantagens desta forma de abordagem das relações custo-conseqüência das ações de saúde. Os Estados Unidos da América (EUA) e a Inglaterra desenvolveram esta disciplina em seu meio acadêmico, e hoje países como Canadá e Austrália a incorporaram na
“Na medida em que a cultura se desenvolveu, as exigências sociais se ampliaram tanto no aspecto da demanda quali-quantitativa por medicamentos e serviços adequados quanto pelas exigências de eficácia e de segurança de produtos farmacêuticos.” 40
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seleção de medicamentos de interesse público. A Itália Agência Italiana de Fármacos (AIFA) segue como exemplo no âmbito farmacoeconômico, além do mais o governo paga para a sociedade mais de 70% em quase todos os produtos e serviços de saúde, excluindo tratamentos com fundo estético. As indústrias farmacêuticas estão muito empenhadas na utilização de dados farmacoeconômicos, tanto nas suas áreas estratégias de marketing, quanto durante as primeiras fases de pesquisa clínica quando as análises preliminares podem indicar se valerá a pena investir anos de pesquisa no lançamento de um novo produto se o mesmo não puder representar um benefício clínico ou econômico real. Além disso, sabe-se que na área farmacêutica existe um tratamento terapêutico inovador, um tratamento com medicamentos inovadores e uma tecnologia inovadora. Os planos de saúde aplicam estudos farmacoeconômicos na prática do gerenciamento da doença, que significa estudar quais as doenças crônicas (em especial) e opções de tratamento que permitem aumentar a expectativa de vida e reduzir custos. Entretanto, a farmacoeconomia não pode ser confundida com a elaboração de cálculos de consumo, físico e/ou financeiro, de medicamentos.
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Embora haja importância grande em conhecer os gastos realizados com medicamentos e as variações que estes gastos podem apresentar em função de intervenções que possam ser realizadas para racional ou racionalizar custos, tais estudos apenas se tornam farmacoeconômicos quando se pode demonstrar, de maneira matemática e inequívoca, o tipo e a magnitude do impacto causado nos resultados sanitários. A farmacoeconomia utiliza instrumentos de análise econômica para examinar os resultados ou o impacto dos diversos tratamentos alternativos e intervenções relacionadas com os cuidados em saúde, que se baseiam em análise comparativa de duas ou mais alternativas em termos de custos e conseqüências. As metodologias utilizadas podem ser: análise de custo-minimização, custo-benefício, custo-efetividade e custo-utilidade, conforme detalhada na Tabela 1 abaixo. Tabela 1 - Metodologias utilizadas em farmacoeconomia Metodologia Custo - Minimização ACM Custo - Benefício ACB Custo - Efetividade ACE Custo - Unidade ACU
Custos R$
R$ R$ R$
Desfecho R$ (Unidade monetária) R$ (Unidade monetária) Unidades naturais (anos de vida ganho) Unidade natural (QUALY)
“A farmacoeconomia utiliza instrumentos de análise econômica para examinar os resultados ou o impacto dos diversos tratamentos alternativos e intervenções relacionadas com os cuidados em saúde, que se baseiam em análise comparativa de duas ou mais alternativas em termos de custos e conseqüências.” 42
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Os benefícios podem ser dias de hospitalização evitados e de trabalho que deixaram de ser perdidos. A efetividade pode ser numero de anos de vida ganhos, quantidade de vidas salvas, redução clínica significativa, número de casos prevenidos e o tempo de sintomas. A utilidade serão os anos de Vida Ajustados por Qualidade (AVAC ou QALY). Se um novo tratamento ou serviço for considerado, é improvável que substituirá todas as terapias existentes e os serviços estabelecidos. Ao invés disso, alguns pacientes são acionados para a terapia inovadora enquanto outros permanecerão em tratamentos e serviços existentes. A questão é, portanto, que benefícios adicionais são obtidos a partir dos custos adicionais da nova terapia? Esta abordagem é denominada pela análise incremental, em que a diferença de custos entre as alternativas é dividida pela diferença dos benefícios. Isso proporciona uma avaliação muito mais concentrada no contexto do impacto da nova tecnologia, ao invés de fornecer dados relativos ao
total de custos e benefícios ou o custo médio e os benefícios gerados pela nova tecnologia. A relação custo-efetividade incremental (ICER) - diferença de custos divididos pela diferença de benefícios - é utilizada para abordar esta questão. O ICER pode ser colocado em uma matriz de relação custobenefício, como demonstrado na Figura 1. Figura 1 - Matriz de custo-eficácia
Novo tratamento é mais caro
Tratamento existente domina nova intervenção é mais cara e menos eficaz.
Novo tratamento é mais eficaz, mas é mais caro.
Novo tratamento é mais eficaz
Novo tratamento é menos eficaz
Novo tratamento é mais barato, mas menos eficaz.
Novo tratamento domina - é mais eficaz e menos caro.
Novo tratamento é menos caro
Intervenções cujo custo-efetividade está localizado no noroeste do quadrante não devem ser fornecidas porque resultam em uma redução no efeito da saúde e exigem recursos adicionais. As intervenções que estão localizadas no quadrante sudoeste apresentam redução em efeitos de saúde, mas também resultam em economia de recursos. São, portanto, muitas vezes chamada de ‘questionável’. Intervenções com custo-efetividade no quadrante sudeste representam uma melhoria nos efeitos sobre a saúde e, ao mesmo tempo, fornecem recursos financeiros adicionais para serem gastos, com a finalidade de melhorar a saúde da comunidade, e elas são chamadas de dominantes. Mas o que dizer de novas intervenções que são colocadas no quadrante nordeste - as que melhoram efeitos para a saúde, mas que há um custo? Intervenções com ICER no quadrante nordeste requerem considerações. Melhoram a saúde, mas custam mais do que a(s) alternativa(s). A decisão se deve ou não escolhê-la(s), se baseia no nível de recursos adicionais
“A questão é, portanto, que benefícios adicionais são obtidos a partir dos custos adicionais da nova terapia? Esta abordagem é denominada pela análise incremental, em que a diferença de custos entre as alternativas é dividida pela diferença dos benefícios.” Fármacos&Medicamentos 67
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disponíveis, ou vendo o ICER à luz de um limite específico aceitável. O crescimento do número de avaliações econômicas de saúde levou ao desenvolvimento de diretrizes para a condução de projetos e de metodologias para tais estudos. Um número de países (por exemplo, Austrália, Canadá, Finlândia, Nova Zelândia, Noruega) tem incentivado tais submissões. No Reino Unido, NICE, espera as empresas a apresentar um dossiê de evidência de eficácia clínica e relação custo-eficácia relativas a seu produto, quando uma avaliação de determinada tecnologia está sendo realizada. A utilização de avaliações econômicas de saúde cresceu enormemente nos últimos
anos com o advento da farmacoeconomia. Intervenções farmacêuticas são avaliadas à sua relação custo-eficácia para as terapias atuais ou outros tratamentos alternativos, e formar a base para a apresentação de reembolso para aprovação e financiamento. Como resultado, a indústria farmacêutica criou departamentos específicos, geralmente vinculados à pesquisa clínica, que realizam avaliações econômicas para fornecer a outro profissional de saúde uma abordagem econômica para acesso à saúde, por exemplo, em relação a preços. Existe também um crescente número de empresas de consultoria que oferecem assessoria e apoio à indústria farmacêutica sobre as ques-
“A utilização de avaliações econômicas de saúde cresceu enormemente nos últimos anos com o advento da farmacoeconomia. Intervenções farmacêuticas são avaliadas à sua relação custo-eficácia para as terapias atuais ou outros tratamentos alternativos, e formar a base para a apresentação de reembolso para aprovação e financiamento.” 44
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tões relativas à economia da saúde. A disciplina tem feito progressos enormes e crescido exponencialmente desde a publicação da importante obra de Alan Williams, The Economics of Coronary Artery Bypass Grafting. Esta disciplina busca informar decisões (administradores de hospitais, gestor sanitário e governo, indústria farmacêutica e pesquisadores) o custoefetividade relativo às tecnologias em saúde promovendo um uso racional com a melhor tecnologia aplicada ao tratamento ou diagnóstico. Contudo, tais decisões podem estar limitadas por fatores como a disponibilidade em pagar e motivos políticos ou conflitos de interesse. F M
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Dayane Gabriele A. Silveira
é graduada em farmácia e especialista em indústria de medicamentos pela Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS), mestre em economia da saúde pela Universidade Católica de Roma, Itália. Atualmente, atua em qualidade, farmacovigilância e tecnovigilância na Hospira Brasil.
Referências Bibliográficas Stinnett AA, Mullahy J. Net benefits: a new framework for the analysis of uncertainty in cost- effectiveness analysis. Med Decision-Making 1998; 18: S65–S80. Health Economics and Outcomes Research, Unit of IMS Health, Brussels, 2006. Principles of Pharmacoeconomics, edited by J. L. Bootman, R. J. Townsed, and W. F. McGhan 1996, Second Edition, Cincinnati, OH: HarveyWhitney Book Company. Health Economics: an introduction for health professionals, Ceri J. Phillips, Centre for Health Economics and Policy Studies, School of Health Science, University of Wales Swansea, Swansea, UK. Published by Blackwell Publishing Ltd, BMJ Books, 2005. Anderson JP, Bush JW, Clen M,
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Dolenc P. Policy space areas and properties of benefit-cost /utility analysis. J Am Med Assoc 1986; 255: 794–95. Black WC. The CE plane: a graphic representation of cost-effectiveness. Med Decision-Making 1990; 10: 212–14. Briggs AH. Handling uncertainty in economic evaluation and presenting the results, in Drummond MF, McGuire A (eds). Economic evaluation in health care: merging theory with practice. Oxford: Oxford University Press, 2001. Health Economics, Peter Zweifel · Friedrich Breyer · Mathias Kifmann, Original English Edition published by Oxford University Press, 1997, Second Edition, 123.
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Circular para: ALM
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Desenvolvimento e Aplicabilidade da Validação de Sistemas Computadorizados (VSC) João Luiz Elias e Frederico Abranches Quintão
“A Validação de Sistemas Computadorizados (VSC) é uma exigência da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 210 (Item 14.1.8), preservada na RDC nº 17, exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Como toda validação, trata-se de emprestar confiabilidade aos dados emulados nos sistemas computacionais na empresa, no caso, a indústria farmacêutica.”
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que é? A Validação de Sistemas Computadorizados (VSC) é uma exigência da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 210 (Item 14.1.8), preservada na RDC nº 17, exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Como toda validação, trata-se de emprestar confiabilidade aos dados emulados nos sistemas computacionais na empresa, no caso, a indústria farmacêutica. A VSC tem muito a acrescentar em
“Esta tecnologia tão revolucionária não pode ser deixada de lado por empresa alguma que realmente se importe com a análise de seus resultados e o monitoramento contínuo da qualidade de seus produtos.”
ganhos de tempo e custo à empresa que investe seriamente neste trabalho. O desenvolvimento da tecnologia de retenção eletrônica de dados tornou os registros automáticos mais rápidos e confiáveis do que a tecnologia anterior - o papel. A economia de tempo e mão-de obra proporcionada pelo registro eletrônico no trabalho de compilação e análise de dados demonstra a larga vantagem no uso de um sistema computadorizado. Cálculos antes muito dispendiosos ou imprecisos devido à necessidade de amostragem tornam-se instantâneos quando processados por um servidor capaz de realizar bilhões de cálculos por segundo. Esta tecnologia tão revolucionária não pode ser deixada de lado por
empresa alguma que realmente se importe com a análise de seus resultados e o monitoramento contínuo da qualidade de seus produtos. Para as agências reguladoras, esta qualidade se traduz em menores riscos à saúde da população, tornando-a objeto de fiscalização e ao mesmo tempo uma ferramenta de proteção ao usuário final. As agências entendem que o registro eletrônico é essencial ao processo de fabricação em série, e incentivam o seu uso. Da mesma forma que trás vantagens esta tecnologia pode expor a empresa a erros, falhas e perdas, inconsistências e manipulação de dados. No uso dos poderes concedidos pelo Estado, a agência reguladora deve exigir das empresas que precauções sejam tomadas para evitar estes tipos de
problemas, que conseqüentemente tragam riscos à saúde do cidadão. A adoção das denominadas Boas Práticas na execução de uma tarefa conduz facilmente à reprodução da mesma com qualidade em qualquer tipo de atividade. A responsabilidade de definir quais são estas regras de Boas Práticas e de fiscalizar, para certificar-se de que elas realmente estão sendo aplicadas, é papel da agência reguladora. Sendo as regras de Boas Práticas inespecíficas e passiveis de aplicação em áreas distintas, que não a fabricação de medicamentos, a interpretação e a aplicação cabe ao setor regulado, que deve adequar e implementar ferramentas ao processo de modo a promover a aderência as regras de Boas Práticas.
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O ato de comprovar com alto grau de provas e de confiabilidade que uma operação, procedimento, processo, equipamento, material ou sistema funciona de forma a conduzir aos resultados esperados é denominado de validação. A documentação formal dos trabalhos de validação é utilizada pelas agências reguladoras para verificação, de modo prático, de como a empresa está se comportando e mobilizando para atender as Boas Práticas. Se uma empresa deseja utilizar um sistema computadorizado para executar uma tarefa com qualidade, o próprio sistema necessita ser desenvolvido obedecendo a Boas Práticas de enge-
nharia e desenvolvimento do software. A entidade internacional - e sem fins lucrativos - que define as Boas Práticas de Fabricação (BPF) de sistemas automatizados é o Good Automated Manufacturing Procedures (GAMP). Esta entidade foi escolhida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como desenvolvedora do modelo de validação que as indústrias farmacêuticas devem seguir. Mais do que apenas a documentação das especificações dos sistemas, a VSC está envolvida desde o desenvolvimento inicial de cada projeto, sendo a fase de planejamento a etapa ideal para adequar-se um sistema com o menor custo possível para o comprador.
“Se uma empresa deseja utilizar um sistema computadorizado para executar uma tarefa com qualidade, o próprio sistema necessita ser desenvolvido obedecendo a Boas Práticas de engenharia e desenvolvimento do software.” 50
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O que atende? Além de atender a legislação nacional, atende também as exigências de empresas que pretendem competir no mercado global. O que se busca é a garantia e a confiabilidade dos processos que estão sendo controlados, ou seja, garante um gerenciamento confiável baseado em parâmetros pré-estabelecidos. Quais os benefícios? Inserido no contexto das validações, o VSC é a pedra de toque de todo este processo, pois passa a gerenciar todos os processos a partir de plataformas confiáveis e à prova de manipulação, de todo
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“Validar sistemas computadorizados deixou de ser, hoje, algo a ser alcançado, mas sim algo que é cada dia mais real dentro das indústrias, e isto deverá se expandir para todos os segmentos da área da saúde gradativamente.”
indesejável, fraudes e perdas de informações por desastres. A utilização de sistemas computadorizados nas atividades de produção, de controle, de desenvolvimento, de garantia, de armazenagem e de distribuição, dentre outras, são imprescindíveis ao setor industrial farmacêutico, com o objetivo de garantir a qualidade do produto, emprestar robustes e segurança aos processos e produtos. Entretanto, para que assegurem resultados consistentes, estáveis e confiáveis, devem ser adequadamente validados. Validar sistemas computadorizados deixou de ser, hoje, algo a ser alcançado, mas sim algo que é cada dia mais real dentro das indústrias, e isto deverá se expandir para todos os segmentos da área da saúde gradativamente. No mundo atual não é possível estar na periferia da inovação, pois as oportunidades, o ritmo de evolução, a otimização, os controles online e a distância são, a cada dia, mais difundidos e acessíveis. Em se tratando de indústrias farmacêuticas, não há como ficar fora deste patamar
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de inovação, pois as outras áreas da saúde a estão utilizando, como a telemedicina, a robótica aplicada e o diagnóstico rápido com alta eficácia e assertividade. No caso da indústria farmacêutica de transformação de materiais e insumos em produtos injetáveis com esterilização final, ou ainda produtos para saúde como artefatos de plástico com uso na medicina profilática, aplicada e diagnóstica, é necessário robustecer estes processos aplicando o conceito validação a todos os sistemas críticos, inclusive a VSC para atendimento à legislação, denominada Liberação Paramétrica (FB V Ed.). Entre as siglas mais utilizadas, estão: ▪▪ BPx: Boas Práticas. Entende-se que o “x” pode ser “F” para Boas Práticas de Fabricação (BPF), “L” para Boas Práticas de Laboratório (BPL), “D” para Boas Práticas de Distribuição (BPD) etc. ▪▪ PMV: Define o escopo de validação e a elaboração do inventário de sistemas e cronogramas. O que os sistemas gerenciam?
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Constituídos de hardwares e de softwares que interagem com banco de dados - criando, recuperando, incluindo, excluindo e modificando informações. Como exemplo destes sistemas há: ▪▪ Material Resource Planning (MRP): Planejamento e alocação de recursos e insumos de produção dentro de uma empresa; ▪▪ Enterprize Resource Planning (ERP): Gerenciamento abrangente de todas as transações internas de uma empresa, podendo abranger desde recursos humanos, etapas de produção, controle de qualidade, garantia de qualidade, controladoria etc.; ▪▪ Laboratory Information Management System (LIMS): Sistema de gerenciamento de resultados de laboratório, utilizado para emitir laudos e relatórios de análises, assim como organizar a mão-de obra e os recursos materiais do laboratório; ▪▪ Warehouse Management System (WMS): Sistema de gerenciamento de armazém - Maneja posições de armazenamento de produtos
“No caso da indústria farmacêutica de transformação de materiais e insumos em produtos injetáveis com esterilização final, ou ainda produtos para saúde como artefatos de plástico com uso na medicina profilática, aplicada e diagnóstica, é necessário robustecer estes processos aplicando o conceito validação a todos os sistemas críticos, inclusive a VSC para atendimento à legislação, denominada Liberação Paramétrica (FB V Ed.).”
SISTEMA ACQUITY UPLC H-CLASS
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©2011 Waters Corporation. Waters, UPLC e ACQUITY UPLC são marcas registradas da Waters Corporation. The Science of What’s Possible é uma marca da Waters Corporation. Fármacos&Medicamentos 67
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nas prateleiras do almoxarifado, facilitando a localização e a movimentação de cargas. Sistemas de Automação (SA) A pesagem, a produção, os laboratórios, as embalagens, as utilidades e a armazenagem que interagem com o supervisório que automatiza os processos produtivos como: ▪▪ Manufacturing Execution System (MES): Significa Sistema de Execução de Manufatura e executa de maneira automatizada processos de fabricação, introduzindo uma produção em alto grau de automação. ▪▪ Supervisory Control and Data Acquisition (SCADA): Significa Sistema Supervisório de Controle e Aquisição de Dados e é o sistema central de controle da automação de equipamentos, integrados em uma única interface. Todos os processos são controlados e dados
de processos são registrados por um único servidor. ▪▪ Building Management Systems (BMS): Significa Sistema de Gerenciamento Predial, ou seja, a gestão da produção e do suprimento de utilidades de um prédio, por exemplo, ar-condicionado, água e consumo de energia elétrica. Quanto maior o grau de customização do sistema, maior é a dificuldade para validação, e somente serão objetos de validação de sistemas computadorizados os sistemas que tiverem impacto em BPF. Logo, a utilização de soluções padrão de mercado é recomendável. Classificação e Escopo dos Sistemas Computadorizados De acordo com o item 2 do Guia de Validação de Sistemas Computadorizados da ANVISA, Avaliação de Criticidade dos Sistemas Computa-
“Quanto maior o grau de customização do sistema, maior é a dificuldade para validação, e somente serão objetos de validação de sistemas computadorizados os sistemas que tiverem impacto em BPF. Logo, a utilização de soluções padrão de mercado é recomendável.” 54
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dorizados, a empresa deve possuir uma lista contendo todos os sistemas computadorizados instalados e suas respectivas avaliações de criticidade. A necessidade de validação deve ser estabelecida de acordo com os critérios a seguir. Caso qualquer resposta às questões seja “sim”, o sistema deve ser validado por ter impacto em BPx. ▪▪ O sistema armazena dados que impliquem na rastreabilidade de produtos? ▪▪ O sistema gerencia: - - A op eração automatizada de equipamentos produtivos críticos ou de laboratórios individualmente (compressoras, secadores de leito fluidizado, HPLC, dissolutores etc.)? - - A operação automatizada da geração de utilidades críticas (água purificada, ar condi-
cionado, ar puro, água para injetáveis etc.)?
vimentações e transferências, recolhimentos etc.)?
-- Cadastramento de apresentações, dosagens, matérias-primas, embalagens, potências, tamanho de lotes, etapas de produção, fórmulas mestras etc.?
-- Central de pesagem (ordens de pesagem, potências, fracionamento, recipientes, balanças, etiquetas e lacres, resultados das pesagens, operadores, lotes de produtos, lotes de materiais etc.)?
-- Planejamento de produção (ordens de produção, números de lote, matérias primas, embalagens etc.)? -- Processo de compras de materiais (qualificação de fornecedores, controle de pedidos de fornecedores previamente qualificados, quantidades, potências, especificações etc.)? -- Recebimento de materiais (número de lotes, plano de amostragem, condições físicas, registro de avarias etc.)? -- Armazenamento de materiais (status, endereçamento, mo-
- - Sistemas de qualidade (resultados fora de especificação, auto-inspeção, desvios, controle de mudanças, registros de resultados de análise de matéria-prima, embalagem ou produtos, revisão periódica etc.)? - - Programa d e t reinam ento (escopo, instrutores, listas de presença, certificados etc.)?
- - Controle de produção (ordens de fabricação, controles em processo, registros, operadores, materiais, números de lotes, equipamentos utilizados, sequências de utilização e operação, alarmes, amostras etc.)? - - Serviço de atendimento ao cliente (reclamações, ações, eventos adversos etc.)? - - D o cum e nt aç ã o (e m iss ã o, distribuição, revisão, controle de versões obsoletas, treinamento etc.)?
- - Equipamentos (plano e execução de manutenção, plano e execução de calibração, plano e execução de qualificação etc.)? Caso o equipamento seja classificado como crítico BPx, de acordo com as questões anteriores, este deverá ser submetido a uma análise de risco inicial para a determinação da existência ou não de riscos em sua operação, e caso estes existam,
“A infra-estrutura que suporta sistemas computadorizados também deve ser qualificada de acordo as especificações do projeto antes da validação destes sistemas. Para o detalhamento e a qualificação da infraestrutura recomendase utilizar o Good Practice Guide (GAMP) - 11 Infraestruture Control and Compliance.” Fármacos&Medicamentos 67
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deverão ser mitigados. Esta mitigação pode ser por meio do aumento nas formalidades de uso do sistema (procedimentos padrões, treinamento e preenchimento manual de registros) ou alterações funcionais no sistema (inclusão de assinatura eletrônica, registro seguro de dados, intertravamentos). Se nenhuma das alternativas proporcionar segurança suficiente ou mesmo a impossibilidade de alteração do funcional para mitigação dos riscos encontrados, a substituição do sistema deverá ser considerada. A infra-estrutura que suporta sistemas computadorizados também deve ser qualificada de acordo as especificações do projeto antes da validação destes sistemas. Para o detalhamento e a qualificação da infra- estrutura recomenda-se utilizar o Go o d Prac tice Guide
vante de dados relacionados a BPx;
(GAMP) - 11 Infraestruture Control and Compliance.
▪▪ Controle de acesso de usuários com data e hora;
Classificação dos Sistemas Computadorizados Há dois tipos de sistemas computadorizados: ▪▪ Sistemas Novos: De acordo com a RDC nº 17/2010, devem ser validáveis desde a sua concepção, e somente entrar em operação se estiverem validados; ▪▪ S i s t e m a s L e g a d o s : D e v e m apresentar requisitos mínimos para a validação (mitigação dos riscos apontados em trabalho de análise de riscos), ou serem alterados para t al, ou ainda serem substituídos. Todos os sistemas que substituírem registros manuais ou impressos devem ser capazes de: ▪▪ Armazenamento e controle rele-
▪▪ Memória para registro de tentativas de utilização por indivíduos não autorizados; ▪▪ Manter registro de entradas e alterações de dados, caso houver; ▪▪ Inviolabilidade e proteção contra danos acidentais ou intencionais; ▪▪ Permitir backup. Qualquer item que não atenda a estas recomendações deve ser mitigado para receber upgrade ou trocado. Ciclo de vida A Figura 1 demonstra o fluxo normal do ciclo de validação de sistemas computadorizados desde a determinação da necessidade de validação dos mesmos.
Figura 1 - Fluxo normal do ciclo de validação de sistemas computadorizados Análise de riscos inicial Troca ou aposentadoria
Determinação da validação (Plano de validação)
Operação e manutenção
Análise de riscos funcional
Re
sp
on
de
a
Controle de mudanças (Operacional)
Requerimentos do usuário (URS)
Autorização para uso (Relatório de validação)
Ciclo de Vida de Validação de Sistemas Computadorizados n Co
Qualificação pelo usuário (QI, QO, QD)
Controle de mudanças (Projeto)
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firm
a Confirma
Testes de desenvolvimento (FAT/SAT)
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Programação, configuração e construção
Seleção de fornecedores
Design e desenvolvimento (Especif. hardware/ software)
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“O final do período de operação de um sistema computadorizado deve ser gerenciado tanto quanto sua operação diária.”
A documentação de validação recebe o nome de “ciclo de vida”, pois está intimamente ligada ao sistema desde o seu desenvolvimento até a execução de testes, o uso, a manutenção e o planejamento da descontinuidade. Os documentos não são estáticos, sofrendo alterações e revisões periódicas e sempre que o sistema também for alterado. O desenvolvimento de um projeto de validação seguindo-se os passos do ciclo de vida, e documentando-os corretamente, garante a solidez de uma validação, além de redução drástica de custos do projeto. O ciclo de vida garante que todas as funções sejam testadas durante a fase de desenvolvimento do sistema, na qual é mais fácil e barato implantar alterações. Os documentos devem ser claros e sintéticos, além de apresentarem um objetivo estabelecido e um critério de aceitação. Deve existir uma matriz de rastreabilidade (como um documento separado ou incorporado no corpo dos documentos) que correlacione os assuntos estudados em todos os documentos.
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Por exemplo, um cenário de risco detectado no trabalho de análise de riscos deve ter sua mitigação expressa na URS do sistema, a solução apresentada pelo fornecedor do sistema nos documentos de especificação, além de ser testado nos protocolos de FAT, SAT e QI, QO ou QD. A matriz de rastreabilidade possibilita a localização dos itens que tratam de um mesmo assunto específico em todos os documentos do ciclo de vida. As atividades de suporte, como o controle de mudanças e os procedimentos de concessão de acesso aos sistemas, devem ser aplicadas em todas as fases do ciclo de vida do sistema. Planejamento Toda a extensão e o detalhamento dos requisitos e das especificações devem ser suficientes para oferecer suporte ao gerenciamento de riscos, ao desenvolvimento e à verificação do sistema. Esta abordagem deve incluir o processo, o produto, e os requisitos regulatórios.
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Importância da migração de dados O final do período de operação de um sistema computadorizado deve ser gerenciado tanto quanto sua operação diária. A desvinculação de um sistema computadorizado das operações de um site produtivo torna-se proporcionalmente mais dificultosa em relação ao nível de integração e complexidade do mesmo. Atualmente, com os requerimentos de retenção de registros, integridade de dados e segurança de acesso pelas boas práticas de informações, este gerenciamento torna-se fundamental. A “aposentadoria” de um sistema computadorizado descreve sua retirada de operação, ou seja, o sistema não estará mais ativo e em uso rotineiro. Esta decisão pode ser tomada por inúmeras razões, incluindo que a aplicação é redundante, que a tecnologia do sistema está obsoleta, que ele não pode cumprir com novos requerimentos regulatórios, ou que um sistema com funcionalidades adicionais está sendo planejado. A aposentadoria de um sistema não
“Um sistema deve poder ser trazido de volta da aposentadoria caso seja necessário, a não ser que tenha sido totalmente descomissionado. O requerimento da aposentadoria de um sistema computadorizado com impacto em BPx geralmente é gerenciado por meio de um processo de controle de mudanças.”
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“Reconhecendo que produtos computadorizados podem ser descontinuados ou suplantados por sistemas novos (e possivelmente incompatíveis), é de importância vital que os proprietários retenham a capacidade de recuperar e visualizar os registros armazenados por sistemas antigos.”
implica no final do ciclo de vida de um sistema computadorizado. Um sistema deve poder ser trazido de volta da aposentadoria caso seja necessário, a não ser que tenha sido totalmente descomissionado. O requerimento da aposentadoria de um sistema computadorizado com impacto em BPx geralmente é gerenciado por meio de um processo de controle de mudanças. Um plano de aposentadoria deve ser formulado para determinar os passos necessários para aposentar um sistema e identificar como o novo sistema irá substituir as funções do antigo, além da documentação das razões da retirada de uso do sistema. O processo de transferência de registros do sistema antigo para o novo deve ser um elemento do plano do projeto, e necessita ser qualificado.
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Medidas devem ser tomadas para que se tenha certeza de que os registros arquivados no sistema antigo ainda podem ser acessados e lidos. Se a aposentadoria do sistema estiver completada e documentada em um relatório de aposentadoria, que deverá ser preparado em resposta ao plano de aposentadoria, poderá se decidir por descomissionamento e desligamento total do sistema antigo. De acordo com a RDC nº 17/2010 da ANVISA, no capítulo sobre a documentação sobre fabricação de medicamentos: Art. 204, deve ser mantido registro de todas as ações efetuadas de tal forma que todas as atividades significativas referentes à fabricação de medicamentos possam ser rastreadas. Parágrafo único: Todos os registros devem ser retidos por, pelo menos, um ano após o
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vencimento do prazo de validade do produto terminado. Deste parágrafo, pode-se inferir qual o tempo mínimo de retenção de dados necessário para sistemas descontinuados. Ainda na RDC nº 17, existe um parágrafo que menciona a necessidade de testes periódicos de acesso aos dados retidos, para proteção contra deterioração da mídia de armazenamento: Art. 584. Os dados devem ser armazenados de forma segura, por meios físicos ou eletrônicos contra danos acidentais ou intencionais. § 1º Os dados armazenados devem ser verificados quanto à acessibilidade, durabilidade e exatidão. § 2º Caso seja proposta mudança nos equipamentos ou softwares, as verificações mencionadas devem ser realizadas em uma freqüência apropriada para o meio de armazenamento em uso.
“O tempo de vida operacional de um CD-ROM é por volta de dez anos, caso ele não seja copiado e mantenha-se em boas condições de armazenamento, porém é provável que a tecnologia da mídia torne-se obsoleta antes do final desta vida operacional.”
De acordo com um guia de recomendações para validação para indústrias, desenvolvido pelo Pharmaceutical Inspection Convention/ Pharmaceutical Inspection Co-operation Schem (PIC/S), ferramenta internacional desenvolvida entre países e autoridades sanitárias para liderar o desenvolvimento internacional, implementação e a manutenção de padrões de Boas Práticas de Fabricação (BPF) harmonizadas e sistemas de qualidade no domínio dos produtos para a saúde recomenda-se que: Reconhecendo que produtos computadorizados podem ser descontinuados ou suplantados por sistemas novos (e possivelmente incompatíveis), é de importância vital que os proprietários retenham a capacidade de recuperar e visualizar os registros armazenados por sistemas antigos. Isto pode ser
atingido através da manutenção do suporte ao sistema antigo enquanto os registros estejam sendo migrados para os novos sistemas. Uma estratégia deverá ser desenvolvida para a migração dos registros eletrônicos para novos tipos de mídia, se estas forem introduzidas ao uso. A confiabilidade da mídia é um problema em potencial, porém esta geralmente é bem estudada, conhecida e divulgada pelos fabricantes. Por exemplo, o tempo de vida operacional de um CD-ROM é por volta de dez anos, caso ele não seja copiado e mantenha-se em boas condições de armazenamento, porém é provável que a tecnologia da mídia torne-se obsoleta antes do final desta vida operacional. A partir de 2004, a tecnologia de mídias de armazenamento vem
sendo substituída/superada por volta de cinco anos, e este tempo diminui a cada ano. O conteúdo da mídia antiga precisará ser copiado para as novas mídias para prevenir perdas de dados. É importante que não se confie em apenas uma cópia dos registros. Preferencialmente devem ser armazenadas cópias em tipos diferentes de mídia, como prevenção contra degradação precoce. Embora as agências reguladoras geralmente prefiram que seus auditados mantenham os sistemas obsoletos aposentados, não descomissionados, para evitar a perda de dados, por vezes a operação de sistemas obsoletos pode ser muito dificultosa por parte do proprietário. Neste caso, existem três possibilidades: ▪▪ Emulação do software antigo em novos hardwares ou softwares: Os
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fornecedores por vezes oferecem essa possibilidade como parte do upgrade ou troca do produto. Esta opção, se disponível, é uma alternativa útil à migração total dos dados para um novo sistema de registro. A integridade da emulação dos dados necessita ser verificada e testada. Possivelmente o emulador poderá ser considerado um software padrão de prateleira (classificação 3 do GAMP), caso contrário este provavelmente será um software totalmente customizado (classificação 5 do GAMP), devendo este ser validado como tal; ▪▪ Migrar os dados para um novo sistema: Registros eletrônicos s ão co pia d o s, e ge ralm e nte
reprocessados, para torná-los acessíveis por um novo sistema de arquivamento. Isto pode ser uma tarefa grande e complexa, mas tem a vantagem de que o novo sistema é especificamente desenhado para este propósito. Este método, no entanto, não deve ser utilizado se a integridade dos registros originais que estão sendo migrados puder ser questionada, a não ser que uma checagem de acurácia dos dados seja implementada;
risco de obsolescência técnica é reduzido, e conseqüentemente, a probabilidade da necessidade de uma nova migração de dados é diminuída. Exemplos incluem o armazenamento de documentos em formato RTF ao invés de Microsoft Word. Dados eletrônicos também podem ser armazenados como imagens (PDF), porém o volume de dados aumenta bastante e não deve ser utilizado se existir perda potencial de processamento destes dados (por exemplo, dificuldade na busca de registros).
▪▪ Armazenar os dados em um formato padrão de indústria: Esta abordagem funciona bem com dados simples. Com os padrões de indústria sendo utilizados, o
▪▪ Impressão dos dados ou microfilmagem: Esta solução parece simples, porém não é muito prática devido ao volume de impressões que podem ser necessárias para
“Quaisquer programas utilizados para gerar registros passíveis de serem armazenados em papel ou microfilmagem devem ser validados. Este processo de transferência das informações históricas de um sistema que esteja sendo substituído ou atualizado deve ser definido durante a elaboração do plano de validação.” 62
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armazenar todos os dados. Imprimir pode também ser complicado em locais em que registros eletrônicos são feitos por dados distribuídos que requerem uma busca eletrônica para relacioná-los (estas estruturas de dados são de longe o mecanismo de armazenamento mais eficiente). A impressão destes tipos de dados pode multiplicar a escala da tarefa por cem. Quando grandes volumes de informação deste tipo são arquivados de modo impresso, geralmente é pertinente a construção de um índice anexo para auxiliar na busca e na
localização de informações. Quaisquer programas utilizados para gerar registros passíveis de serem armazenados em papel ou microfilmagem devem ser validados. Este processo de transferência das informações históricas de um sistema que esteja sendo substituído ou atualizado deve ser definido durante a elaboração do plano de validação. É sempre recomendável um plano de backup ou backout caso a migração falhe. No relatório de migração de dados devem estar os resumos das atividades executadas e os resultados obtidos durante este processo. F M
Joao Luiz Elias é graduado em farmácia e bioquímica pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), pós-graduado em tecnologia da qualidade pela Universidade de Sorocaba (UNISO), especialista em administração da produção pela Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas de Sorocaba (FACCAS), MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pós-MBA em gestão empresarial, negócios e logística pela Universidade da Califórnia, Invine (EUA). Atualmente é coordenador do Grupo Recipientes Plásticos para Soluções Parenterais - Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), membro convidado para a comissão técnica referente aos programas de avaliação da conformidade para agulhas hipodérmicas e gengivais de uso único, seringas hipodérmicas estéreis para uso único e equipos de infusão de uso único: gravitacional, para uso em bomba de infusão e transfusão do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), diretor da Associação Brasileira de Produtores de Soluções Parenterais (ABRASP), diretor técnico da Eurofarma Segmenta e docente do Instituto Racine.
Frederico Abranches Quintão é graduado em farmácia pelo Centro Universitário de Araraquara (UNIARA). Atualmente é assistente de garantia da qualidade na Eurofarma Segmenta.
Referências Bibliográficas GAMP5 - Good Automated Manufacturing Practice guia para Validação de Sistemas Computadorizados publicado pelo ISPE em fevereiro de 2008; Guia da ANVISA - Guia para Validação de Sistemas Computadorizados publicado pela ANVISA em abril de 2010; RDC nº 17/2010 - Resolução da Diretoria Colegiada n° 17 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária que rege sobre Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos de Uso Humano; FDA nº 21 CFR Part11 - Resolução do FDA que estabelece políticas de segurança para implementação de registro eletrônico e assinatura eletrônica publicada em março de 1997;
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Naveg ue A u t o m a ç ã o I n d u s tr i a l n a I n d ús tr i a Farm ac ê uti c a
active-sa.com.br/es O site da Active - Technology for Life possui o TrakSYS, ferramenta de classe mundial de suporte à decisão para otimização de manufatura. Realiza captura automática dos dados nos equipamentos em geral em real-time informações de eficiência (OEE) para suportar processos de melhoria contínua e maximizar resultados. O TRakSYS utiliza uma metodologia de projeto baseada na Good Automated Manufacturing Practices (GAMP). A GAMP foi desenvolvida na Europa por um grupo organizado pelo International Society Pharmaceutical Engineers (ISPE) e Parental Drugs Association (PDA) com a finalidade de fornecer diretrizes para os fornecedores da indústria farmacêutica para que estes forneçam soluções devidamente documentadas e validadas. Além de seguir a GAMP, o que viabiliza a validação da solução, todos os softwares seguem o requerido na norma FDA nº21 CFR Part 11, que diz respeito à assinatura e registro eletrônico.
www.scadasystem.net O site da SCADA System (Supervisory Control and Data Acquisition) apresenta um sistema com o qual é possível armazenar e coletar dados em tempo real de medidas físicas, tais como, temperatura, vazão, pressão, tensão, posição e velocidade, utilizando equipamentos eletrônicos. Os dados coletados são enviados para um computador para análise e visualização. Aquisição de dados de controle (DAC) com base em dados que recebem, como ligar e desligar luzes, motores, válvulas, aquecedores e ventiladores são funções comuns de controle. O envio de tensão, de corrente, de palavras digitais, de pulsos e de formas de onda também são formas de controle do sistema DAC. O software CAD em execução no computador coordena e executas estas funções. www.gea-process.com.br O GEA Pharma Systems é excelência e referência em automação industrial do segmento farmacêutico, possui marcas consolidadas, como Aeromatic-Fielder e Collette - Batch, também há granulação contínua, secagem, pelotização e revestimento Buck & Buck Systems e uma interface de contenção e manipulação de materiais contidos como Courtoy (compactação de comprimidos) e Lyophil (Liofilização farmacêutica), e disponibiliza soluções integradas, como otimização de plantas e de processos, aumento de capacidade, modernização e atualização de plantas, avaliação da segurança da planta, serviços de treinamento e fornecimento de sobressalentes. www.rockwellautomation.com/pt/about _ us A Rockwell Automation Brasil é uma empresa global que atua diretamente em vários países (mais de 80) com produtos de alta tecnologia e confiabilidade, soluções de informação e controle de automação industrial projetados para propiciar vantagem competitiva no mercado, com produtos desde componentes industriais independentes até sistemas integrados por toda a empresa. Essas soluções mostraram-se confiáveis em uma ampla faixa de setores industriais e em alguns dos ambientes mais exigentes de produção. Esta seção foi elaborada por Marcelo Orlandi, graduado em engenharia pela Faculdade de Engenharia São Paulo (FESP), pós-graduado em Planejamento Estratégico Empresarial pelo Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE), possui MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP). É membro do Project Management Institute (PMI), possui 15 anos de experiência em engenharia e manutenção industrial, atuando como coordenador de projetos no Laboratório Parke Davis, chefe de engenharia e manutenção na Festo Automation, gerente de engenharia e projetos na Vesuvius Foundry, chefe de engenharia e processos na Boehringer Ingelheim. Atualmente é gerente corporativo de engenharia industrial e projetos no grupo EMS Pharma e docente do Curso de Pós-Graduação Especialização Profissionalizante em Gestão de Projetos e Automação Industrial do Instituto Racine. Fármacos&Medicamentos 67
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Instituto Racine Abre Inscrições para Cursos na Área Industrial Os farmacêuticos que atuam na área industrial e que pretendem aprimorar-se profissionalmente têm à disposição, no Instituto Racine, Cursos de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante e Cursos Intensivos cujo foco vão da Auditoria Farmacêutica à Gestão de Pessoas na Produção Industrial. Confira as datas e os locais dos Cursos com início nos meses de se-
tembro, outubro e novembro de 2011, e informe-se sobre as vagas remanescentes no Curso de Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante em Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos, Curso de Pós- Graduação - Especialização Profissionalizante em Vigilância Sanitária, Medicamentos, Cosméticos e Saneantes Domissanitários, Curso
Intensivo em Cosmetologia: Desenvolvimento de Produtos Cosméticos e Curso Intensivo em Desenvovimento de Produtos Domissanitários, todos sendo realizados em São Paulo (SP). Para mais informações sobre os Cursos do Instituto Racine, bem como para inscrições, entre em contato pelo telefone (11)3670-3499 ou pelo site www.racine.com.br/institutoracine.
Cursos Presenciais com Data e Locais Pós-Graduação - Especialização Profissionalizante
Assuntos Regulatórios e Registro de Medicamentos 24/Setembro - Belo Horizonte (MG) - Turma 1
Assuntos Regulatórios Auditoria Farmacêutica em Vigilância Sanitária Formação de Auditores para a de Produtos para Saúde Cadeia Industrial Farmacêutica (Correlatos) Foco na RDC 21/Outubro - Rio de Janeiro 59/00 (RJ) - Turma 1 09/Setembro - Porto Alegre (RS) - Turma 1 Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica Biodisponibilidade Relativa Auditoria Farmacêutica e Bioequivalência de 02/Setembro - Rio de Janeiro Medicamentos (RJ) - Turma 5 03/Novembro - São Paulo 14/Outubro - Belo Horizonte (SP) - Turma 1 (MG) - Turma 1 Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Cosméticos Cosmetologia Avançada 02/Setembro - São Paulo (SP) Turma 5
Intensivos Análise e Gerenciamento de Riscos na Indústria Farmacêutica 20/Setembro - São Paulo (SP) Turma 1 15/Outubro - Goiânia (GO) - Turma 1
Boas Práticas de Desenvolvimento de Produtos na Indústria Farmacêutica 04/Outubro - São Paulo (SP) Turma 1 Boas Práticas nas Indústrias Farmacêutica, Farmoquímica, Veterinária, Cosmética e Domissanitária 08/Outubro - Goiânia (GO) Turma 1 Estudo de Estabilidade de Medicamentos 24/Setembro - Porto Alegre (RS) - Turma 1
12/Novembro - São Paulo (SP) - Turma 1 Estudo de Estabilidade de Produtos Cosméticos Setembro/2011 - São Paulo (SP) - Turma 1 Farmacovigilância Pré e Pós-Comercialização 18/Outubro - São Paulo (SP) Turma 1 Garantia e Controle de Qualidade Aplicado 17/Setembro - São Paulo (SP) Turma 4
Logística Farmacêutica 10/Setembro - São Paulo Turma 2 Pesquisa Clínica 10/Setembro - Porto Alegre (RS) - Turma 1 Sistemas de Gestão Integrados da Qualidade em Laboratórios de Ensaios 05/Outubro - São Paulo (SP) Turma 1 Validação na Indústria Farmacêutica 10/Setembro - Porto Alegre (RS) - Turma 1
Gestão da Qualidade, Auditoria e Acreditação Palestras Online Hospitalar 12/Setembro - São Paulo (SP) - Acesse o site www.racine.com. Turma 1 br/institutoracine, inscreva-se e adquira as seguintes palestras, entre outras: Gestão de Pessoas na Produção Industrial - Etapas de 15/Outubro - Porto Alegre Desenvolvimento de (RS) - Turma 1 Produto Cosmético Gestão de Projetos e Inovação para a Indústria Farmacêutica e Cosmética 13/Setembro - São Paulo Turma 1
- Farmacovigilância & Legislação para a Indústria Farmacêutica - ICH/BPF
Para mais informações e inscrições acesse o site www.racine.com.br/institutoracine ou ligue para (11) 3670-3499.
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