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O vinil está de volta, e com força total!

Quem diria que em 2021, no auge dos serviços de streaming e em plena pandemia, o bom e velho vinil voltaria a fazer parte do dia a dia dos brasileiros?

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Texto Heloiza Helena C Zanzotti Fotos Arquivo pessoal

Eles voltaram com força total e mesmo com a enxurrada de lançamentos diários nas plataformas digitais de música, o vinil mantém-se no mercado desde a década de 1940 e atrai pessoas de todas as gerações. O disco de vinil, long play, LP ou bolachão, como é carinhosamente conhecido pelos seus apaixonados, chegou ao Brasil em 1951 e o primeiro LP nacional continha sambas e marchinhas de carnaval.

O vinil reinou absoluto até 1984, quando foi lançado o CD, e foi perdendo espaço aos poucos até que, em 1997, rendeu-se à praticidade da nova tecnologia. Depois vieram os serviços de streaming e os discos de vinil eram vistos apenas nas mãos de colecionadores, saudosistas e apreciadores da boa música, e produzidos por raríssimas fábricas no mundo.

RESGATE DO BOLACHÃO

De acordo com o blog obabox, nos Estados Unidos os LPs nunca saíram do mercado e foram ganhando força também na Europa, até que empresários brasileiros, atentos ao aumento das vendas no exterior, recuperaram as máquinas de uma gravadora e recomeçaram a produção de vinis no Brasil. Aos poucos, o bolachão começou a conquistar novos fãs e nos Estados Unidos sua venda voltou a render mais que o download. Por aqui, ganha adeptos a cada ano e já virou diferencial entre os DJs, além de estar presente também em feiras e exposições.

José Carlos Martins, funcionário público aposentado e proprietário do Vitrolê Cultural em Jaú, confirma o crescimento do setor. “Nestes 4 anos de Vitrolê Pub tenho notado o aumento na procura pelo vinil, tanto que o bar tem o diferencial da exposição deles nas paredes que causa um ‘frisson’ nos que curtiram antes e também nos mais jovens. Até abrimos outra loja, o Vitrolê Cultural, devido à procura pelo disco de vinil”.

Eugênio José Moreira Rabelo, 61, colecionador e que comercializa vinis na Toca do Vinil em feiras nas cidades de São José do Rio Pardo e Mococa, ambas no interior de São Paulo, reforça: “De uns tempos para cá o vinil voltou a ter enorme aceitação e o CD perdeu muito espaço. Mesmo porque a qualidade sonora do vinil é muito superior aos CDs”.

QUALIDADE DO SOM

Para os especialistas no assunto, a qualidade sonora do vinil e do CD (também do DVD) é, sem dúvida alguma, superior à do stre-

aming e do MP3 no que se refere ao aspecto técnico. O grande diferencial do vinil é mesmo o som melhor definido, o que proporciona uma rica experiência na audição. Para José Carlos, essa qualidade superior já foi comprovada. “Com certeza tem melhor qualidade que CDs e outras mídias, já que você pode ouvir todos os instrumentos na sua essência. Tem até aquele caso da Elis Regina que você pode ouvir a respiração dela em certos momentos de sua performance pela pureza do vinil”.

OS MAIS VENDIDOS

Na experiência de Eugênio, os mais procurados, com certeza, são os de rock. “Principalmente anos 70. Mas MPB e Pop vendem muito também, não como o rock, que tem muitos que nem se encontra mais”. A afirmação é endossada por José Carlos: “Os preferidos são os de rock. O público procura muito Guns and Roses, Led Zeppelin, Iron Maiden, Ramones, Black Sabath, Queen... mas o imbatível é o Pink Floyd. Beatles também vende muito. Entre os brasileiros, os que não ficam na prateleira são Legião Urbana e Raul Seixas. Mas também Tom Jobim, Jorge Benjor, Mariza Monte, Chico Buarque”.

OS MAIS VALORIZADOS

O proprietário do Vitrolê explica que um LP pode valer muito se não vendeu tanto na época de seu lançamento e pouca gente tem. “Um exemplo são os discos da Rita Lee que venderam muito como Saúde, Banho de espuma, e hoje valem, em média, de 20 a 40 reais. Já aquele primeiro, quando ela cantava antes do Roberto de Carvalho, vale de 200 a 300 reais. O dos Mutantes que não tem muito na praça chega a 400 reais. Os primeiros discos do Tim Maia também são super valorizados. Naquela fase popular os preços caíram para 30 ou 40 reais, já o Tim Maia Racional, hoje pedem 1.000 reais”.

Fato comprovado, pois o Eugênio fez questão de nos enviar um print de um site de vendas com o LP do Tim Maia mencionado acima e anunciado por 1.200 reais. E mais, Memória das Águas, de Fernando Falcão, está à venda por 1.400 reais. Uma pechincha, não é? Ele também pontua que alguns são bem raros. “Todo gênero tem algum que seja raro, mais precisamente alguns nacionais que tiveram poucas prensagens são bem raros e valiosos. Os discos nacionais valem muito porque foram fabricados só aqui no Brasil. E existe uma procura muito grande no exterior, onde não são fabricados ou são pouco produzidos”.

PÚBLICO FIEL E CRESCIMENTO EM JAÚ

“O vinil é um hobby muito apaixonante, existe um público certo para cada gênero musical e a cada dia ganha mais adeptos, isso na faixa etária dos 10 aos 100 anos”, afirma Eugênio.

José Carlos completa: “Temos clientes fidelizados, os jovens e os de meia idade querem rock, os mais velhos compram MPB, e ainda tem o grande público de música sertaneja raiz e aqueles que compram Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano, Leandro e Leonardo”.

Sobre o interesse do jauense pelo vinil ele esclarece: “É bem grande, não dá para precisar, mas vejo muitos se interessando em comprar aparelhos de som a cada dia que passa. Fico feliz em ver esse movimento porque eu também sou um colecionador, tenho aproximadamente 20 mil vinis, e gosto de ver garotos comprando”.

UM RITUAL CHEIO DE MAGIA

Os apaixonados são unânimes ao mencionar a magia que envolve o momento de ouvir um bolachão, a começar pela capa, que traz muitos detalhes, informações técnicas e imagens que são verdadeiras obras de arte. Eles justificam que o vinil envolve uma ação que tem muito a ver com o “parar e ouvir”, que prende mais a atenção a partir do instante em que você retira da capa, limpa, posiciona a agulha e ainda tem o lance de virar o lado para continuar ouvindo. “Além da qualidade do som, tem a magia de manusear um LP e colocá-lo em um toca-discos”, argumenta Eugênio.

UM APAIXONADO

Levi Mecca do Lago Lopes, 24, engenheiro, conta que o interesse pelo vinil surgiu quando viu um disco na casa do avô. “Achei bem bacana e sempre fiquei meio curioso em como funcionava. Com o passar do tempo, via sempre em filmes e achava muito interessante, até que fui na casa de um amigo que tinha e achei bem mais legal do que pensava”.

Sobre a qualidade, ele diz que depende muito. “Alguns aparelhos são realmente muito bons e você consegue perceber melhora na qualidade. Algumas pessoas juram que pelas faixas de áudio serem menos compactadas se comparadas as outras mídias, a qualidade é superior”. Levi tem aproximadamente 50 LPs e afirma: “Não tenho tantos quanto gostaria. Compro regularmente, mas de uns tempos pra cá tem subido muito o preço dos vinis”.

Com relação às suas preferências, esclarece que gosta muito de rock, MPB, jazz, blues. E confirma o que nossos colecionadores entrevistados já disseram: “Alguns vinis da Noize e Três Selos são bem raros e sempre tem artistas muito bons. Tem alguns que gostaria de ter, mas são muito caros, como um Tim Maia Racional que já passa dos 1000 reais, e o AfroSambas também”.

A ENERGIA FM NA ÉPOCA DO VINIL

Nosso diretor artístico, Márcio Rogério, lembra que no começo dos anos 1990 a Energia Fm utilizava dois toca-discos em sua bancada. “Era na verdade um trabalho mais detalhista para os locutores e operadores executarem as músicas. O início da faixa tinha que estar na ponta da agulha para a música já começar quando ligasse o toca-discos. Era mais ou menos meia volta do disco antes de começar a faixa, e tinha que ter todo cuidado também para ninguém esbarrar ou bater na bancada para não pular, além de verificar sempre se a faixa não estava riscada e ficar atento com o fim da música... Naquela época, muito se falava que o CD tinha mais qualidade sonora, porém, depois de alguns anos a gente percebe o tamanho da qualidade que tínhamos no vinil. Até talvez por estarmos acostumados com o som, tudo que chega de diferente parece ser melhor, e nem sempre é. Um bom reprodutor com uma agulha de boa procedência a ouvidos nus, sentiremos muito mais o som fiel dos LPs. Enfim, o vinil é uma saudade que todos os locutores que vivenciaram sentem”.

PENSANDO EM ADQUIRIR UM TOCA-DISCOS?

O Brasil já fabrica vinis em duas empresas, a Polysom e a Vinil Brasil, que apostam no crescimento do mercado. No entanto, de acordo com publicação da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, “o Brasil não voltou a fabricar toca-discos em larga escala - ao menos por enquanto. Os equipamentos à venda são importados de boa qualidade, geralmente caros, ou equipamentos acessíveis no estilo retrô, importados da China. No entanto, a repopularização das vitrolas deu novo alento às feiras de antiguidades, sebos, lojas especializadas e e-commerces especializados em LPs”. 

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