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Opinião
Por: Wagner Parronchi, colunista wagnerparronchi@hotmail.com
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Somente um acontecimento inusitado pode evitar o embate polarizado no ano que vem
No futebol já estamos acostumados com a polarização. Palmeiras x Corinthians, Flamengo x Fluminense e tantos outros clássicos brasileiros e mundiais, mas na política nunca foi tão escancarada a divisão de um país como está sendo e acirrará ainda mais nas próximas eleições presidenciais.
Ainda tem chão pela frente até o pleito do próximo ano, mas tudo indica uma inevitável disputa, a não ser que algo inusitado retire um ou os dois possíveis candidatos do pleito.
Ambos os lados podem não concorrer às eleições do próximo ano, mas somente se não quiserem. Contra as suas vontades, só um desatino os tirariam da corrida presidencial.
De um lado, acumula-se a maior quantidade de pedidos de impeachment que a democracia moderna já viu: mais de uma centena se empoeirando na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados que, ao que tudo indica, não admitirá nenhum deles, aliás, até agora não analisou nenhum.
Do outro lado, com uma ficha recém lavada e lustrada com as decisões da mais alta corte do país, que anulou as condenações e ainda determinou a redistribuição dos processos para a Justiça Federal do Distrito Federal, e proibiu o reaproveitamento dos atos processuais e das provas em que o juiz declarado suspeito participou e autorizou, para não concorrer às eleições, somente se a Justiça e o Ministério Público Federal alcançarem uma condenação em 2ª Instância em tempo recorde, jamais visto, para manchar novamente sua ficha e torná-lo inelegível, algo impossível em processos dessa magnitude.
Já uma tão falada terceira via mostra sinais de enfraquecimento, para não falar acovardamento ou receio de um humilhante e inexpressivo número de votos. Famosos e políticos de outras legendas que antes dos julgamentos do STF se apresentavam como opções, aos poucos foram declarando suas desistências ou deixando esquecer as suas intenções. Quem sobrar, somente com muita sorte conseguirá ir para o segundo turno. Vencer, só um milagre.
Então, caros leitores, a polarização parece inevitável, mas no nível em que chegamos não é salutar. Isso porque não há respeito de um lado a outro e divide o país a um ponto que ninguém mais quer ouvir a opinião do outro se ela for diferente. Não se discute mais política como se deveria discutir, mas como verdadeiros torcedores fanáticos que brava e cegamente defendem um lado pouco se importando se as ideias e ações são boas ou ruins para o país e o povo. Política não deveria ser tratada assim. O confronto de opiniões deveria gerar novas ideias, não inimigos.
Até mesmo a mídia se contamina com essa polarização. Não se vê mais uma imprensa independente e imparcial. Os meios de comunicação, os analistas, comentaristas e jornalistas, com algumas boas exceções, tomam partido e defendem com unhas e dentes um dos lados em vez de analisarem, comentarem e informarem os fatos como eles são e acontecem.
O mais interessante disso tudo, embora no Brasil seja muito mais evidente, é que a polarização na política é um fenômeno mundial, bastando como exemplo as últimas eleições nos Estados Unidos e, não muito longe de nós, as no Peru.
Os extremos na política, ciência responsável pelo desenvolvimento da sociedade, apenas fazem com que a humanidade retroceda e entre em declínio, com desprezo aos direitos tão duramente conquistados e escritos com sangue pelos nossos antepassados, o que já se percebe no Brasil, em que a própria política (ou os políticos) alimenta o ódio que promove o racismo, o sexismo, a homofobia, a xenofobia, a aporofobia e tantas outras odiosas fobias, e afasta a empatia, a paz, a união, a tolerância e a diversidade.
Política não é futebol. Debater sim, brigar jamais.