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Legislação
Doar é viver
Como é sabido por todos, momentos muito difíceis em nossas vidas - uma hora ou outra - acabam sendo experimentados. Eles não são nem serão poucos, infelizmente
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DEPUTADO FEDERAL RICARDO IZAR
Economista, coordenador para o Sudeste da Frente Parlamentar em Defesa do Consumidor de Energia Elétrica e membro da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal, Presidente da Frente Parlamentar de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, Membro do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados
Dentre todos, um em particular é de extrema importância: o momento da morte. Apesar de ser bem conhecida a expressão popular “A vida é um sopro”, tal pensamento não parece transitar pela nossa mente. Para ser mais preciso, quando somos confrontados por ela a surpresa e a perplexidade nos invadem para além da enorme carga de sofrimento que vivenciamos. A morte de alguém que amamos é sempre avassaladora. Não se discute isso. Agora, pensemos juntos: de que maneira falamos sobre isso com nossos fi lhos e demais familiares? Encaramos este assunto de frente ou fi ngimos que ele não existe? Considero que a refl exão sobre a vida inevitavelmente nos faz pensar sobre sua fi nitude e, por isso mesmo, em como ela é tão preciosa. Isso faz com que se torne ainda mais bela e especial. Viver é defi nitivamente a mais importante de todas as experiências.
Mas, um dia, o inevitável irá acontecer. Para milhares de pessoas neste país, a refl exão sobre a morte é uma atividade diária. Em 2019 havia 45 mil pessoas na fi la de transplantes no Brasil. Todas à espera de uma oportunidade para continuar vivendo ao lado de seus entes queridos. Para muitos, a única chance de continuarem vivos depende do amor e solidariedade de outras famílias que, acometidos pelo inevitável, queiram praticar o mais belo gesto de todos: o da doação de órgãos.
Falar sobre doação de órgãos não é trazer ao debate o tema da morte, mas discutir sobre a dádiva de viver. A tecnologia nos permite hoje, a depender do caso, considerar uma segunda chance de vida quando da disponibilidade de órgãos para substituir aqueles que por ventura já não trabalhem como deveriam. Este, infelizmente, não foi o desfecho de Tatiane Penhalosa, que entrou na fi la de transplante aos 30 anos de idade à espera de um novo coração que poderia mudar seu destino e lhe trazer mais qualidade de vida. Após dois longos anos de espera, Tatiane não aguentou mais e veio a óbito. Uma jovem de 32 anos não conseguiu mais seguir uma vida próspera e cheia de experiências. Um dos aspectos mais tristes foi que, quando interpeladas pelas equipes médicas, 5.493 famílias disseram não à doação de um coração nesse intervalo de 2 anos.
Lamentavelmente, a família de Tatiane não foi a única a perder um ente querido nessas mesmas condições. Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes, nos últimos 4 anos mais de 9 mil pessoas perderam a vida enquanto aguardavam órgãos na fi la de transplante. Muitas dessas vidas, inclusive a de Tatiane, poderiam ter sido salvas se a doação de órgãos fosse um assunto bem compreendido e debatido por toda nossa sociedade.
Justamente por não terem familiaridade sobre esse tema, muitas famílias, no pior momento de todos, não têm as condições emocionais para processar, entender e concordar com o mais belo gesto de amor que pode ser praticado: o de doar. De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes, estima-se que 37,2% da população brasileira negue-se a participar da doação de órgãos de um familiar recém falecido. Os motivos são sempre muito pessoais e isso é compreensível. Há contudo, devemos reconhecer, ainda muito desconhecimento sobre o que exatamente é a doação de órgãos a pessoas em estado de necessidade.
É importante esclarecer que doar não é um dever, mas um direito. Precisamos que nossos jovens sejam expostos a essa refl exão e, munidos de todas as informações possíveis, façam uma escolha bem informada sobre o tema e comuniquem seus familiares. Um dia, quem sabe, bem lá na frente, todos nós possamos escolher continuar de certa forma vivendo em outras vidas.
Em maio de 2021, o Projeto de Lei de minha autoria 2839/2019, popularmente conhecido como #LeiTatiane, foi aprovado por unanimidade na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. Esta proposta visa introduzir de forma técnica, pedagógica e profi ssional o tema da doação de órgãos dentro das escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Enquanto nação, precisamos discutir de forma lúcida e correta o tema da vida e da morte de muitos brasileiros à espera de uma nova chance. Qual é nosso papel diante dessa realidade? São refl exões importantes em termos de humanismo.
Penso que informar, educar com responsabilidade é sempre o melhor caminho para compreendermos o mundo à nossa volta. A conversa sobre ser um doador (ou não) não pode fi car restrita à sala de casa de alguns poucos. Esse debate precisa ir além. Precisa ser levado às escolas, universidades, afi nal, vivemos em sociedade e não sabemos o dia de amanhã. Podemos ser nós. Podem ser eles. O fato é que a vida de todos nós é demasiadamente preciosa para ser perdida por razões desnecessárias. O ensino e a conscientização sobre a Doação de Órgãos é uma pauta que acredito ser necessária e saudável para o país. Junto a mim estão certamente milhares de famílias que hoje esperam uma oportunidade para continuar vivendo através do amor de quem é infelizmente confrontado com o inevitável.
A vida é um sopro. Viver é uma dádiva. Doar é um ato de amor.
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