Radionovelas Educativas: na difusão de uma cultura de enfrentamentoda violência sexual

Page 1

Radionovelas Educativas: na difusão de uma cultura de enfrentamento da violência sexual da criança e do adolescente Maria Eugenia Moreira de Melo Dr. Luiz Roberto Alves (Orientador)

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar os resultados alcançados nas mediações de diálogos acerca da difusão da cultura de direitos no enfrentamento da violência sexual de crianças e adolescentes, por meio da utilização do kit de radionovelas educativas produzido pelo Centro Artístico Cultural Belém Amazônia – Rádio Margarida, em Belém do Pará. O presente texto pretende pontuar algumas questões sobre violência sexual de crianças e adolescentes, bem como trabalhar questões sobre educação e o compromisso de educadores no enfrentamento da violência sexual de crianças e adolescentes. Não tem, no entanto, a pretensão de esgotar a discussão dada à complexidade na qual a temática está inserida. Na pesquisa, os educadores destacaram a importância da tecnologia para se trabalhar não apenas com crianças e adolescentes, mas com as famílias e a comunidade. Concluiu-se que a maioria dos educadores entrevistados considera a experiência positiva, tendo em vista os resultados qualitativos alcançados com o trabalho desenvolvido. ABSTRACT: This article has as objective to analyze the results reached in the mediations of dialogues concerning the diffusion of the culture of rights in the confrontation the sexual violence of children and adolescents, by means of the use of kit of radionovelas educative produced by the Artistic Center Cultural Belém Amazon - Radio Margarida, in Belém do Pará. The present text intends to pontuar some questions on sexual violence of children and teenagers, as well as working questions on education and the commitment of educators in the confrontation the sexual violence of children and teenagers. It does not have, however, the pretension to deplete the quarrel given to the complexity in which the thematic is inserted. In the research, the educators had detached the importance of the technology to not only work with children and adolescents, but with the families and the community. It was concluded that the majority of the interviewed educators considers the positive experience, in view of the reached qualitative results with the developed work.

PALAVRAS-CHAVE: Educação; Comunicação; Radionovelas; Violência Sexual; Criança e Adolescente; Tecnologia Social;

1 CONSIDERAÇÕES DO PROCESSO A violência sexual contra a criança e o adolescente vem sendo uma questão que existe há muito tempo no seio das relações sociais no Brasil, mas a partir dos processos de abertura democrática e na construção do marco legal de direitos, além dos classicamente conhecidos como direitos civis, políticos e sociais, houve uma intensificação no circuito de denúncias, notificações, apurações e responsabilizações de situações, gerando um novo cenário de debate que deixa de ser um “problema de família” para ser também uma questão para a comunidade, o Estado e a sociedade. O presente artigo tem a intenção de contribuir com uma análise ainda preliminar acerca dos processos de fortalecimento dos mecanismos de difusão de


uma cultura de direitos no enfretamento da violência sexual contra as crianças e os adolescentes. Essa reflexão traz para o centro do diálogo as vivências de uma metodologia que vem sendo desenvolvida pelo Centro Aartístico Cultural Belém Amazônia – CACBA, ONG popularmente conhecida como Rádio Margarida no estado do Pará. A metodologia é efetivada por meio de radionovelas, spots e canções educativas, organizadas e produzidas com linguagens artísticas. Os kits educativos, como são chamados, apresentam a capacidade de fortalecer processos e vivências sociopedagógicas na facilitação de espaços coletivos de troca e diálogo entre segmentos e grupos diversificados, como educadores, professores, educandos, pais, responsáveis, gestores, entre outros. Diante do exposto, a presente reflexão tem como objetivo analisar os resultados alcançados com a utilização do kit de radionovelas educativas, produzido pelo CACBA – Rádio Margarida, para a difusão de uma cultura de direitos no enfrentamento da violência sexual de crianças e adolescentes. O CACBA – Rádio Margarida, é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que desenvolve um método de educação popular que envolve linguagens artísticas e meios de comunicação social, tem como missão irradiar arte, cultura e educação popular para a melhoria da qualidade de vida na Amazônia, prioritariamente de crianças e adolescentes. Nos anos de 2007 e 2008 a Organização realizou um projeto com os agentes sociais do sistema de garantia de direitos da cidade de Belém, por meio de vivências de formação e produção de materiais de comunicação. Este projeto gerou a viabilização de um kit educativo que contava com radionovelas, spots e músicas, abordando a trilogia das questões: violência doméstica, violência sexual e trabalho infantil. Na reflexão que trazemos, vamos ter como contexto de investigação as vivências efetivadas pelo CACBA, nas quais se apresenta a importância da forma de comunicação através dos kits educativos (radionovelas e spots) na perspectiva de transformação cultural para a abordagem das discussões acerca da violência sexual. Como sujeitos para esse processo será realizado as observações a partir das práticas de educadores de escolas públicas, privadas e organizações da sociedade civil que utilizaram os instrumentos como momentos de facilitação grupal. Para tanto, foi investigada a seguinte questão: Como os kits educativos vêm contribuindo como facilitador nos diálogos para uma cultura de direitos no enfrentamento da violência


sexual contra a criança e o adolescente, e entre educador e educando nas escolas de Belém que receberam o kit ? A pesquisa foi qualitativa, considerando a análise de práticas sociais de educadores que receberam o kit e que utilizaram como instrumento nas atividades com crianças, adolescentes e pais de alunos, para abordar a questão da violência sexual. A técnica utilizada foi a entrevista, na qual a seleção dos entrevistados se fez a partir do banco de dados que a Rádio Margarida possui. Para tanto, foram selecionadas 45 fichas de cadastro de escolas que haviam recebido o kit educativo. O que se verificou foi que em algumas escolas houve professores e diretores que receberam o kit, porém por serem contratados temporariamente, ao saírem da escola levaram o kit consigo. E houve casos também em que os diretores não souberam informar se a escola havia ou não recebido o material, pois eram novatos no cargo ou na escola. As escolas que participaram do processo foram as seguintes:

Escola Dr. Carlos Guimarães Escola Mundo Encantado Associação de pais e educadores Moaraná Escola Cristã do Bengui Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira

Pressupõe-se que o kit educativo de radionovelas utilizados por educadores na avaliação da Rádio Margarida está tendo uma resposta positiva em relação à tecnologia social de radionovelas, uma vez que foram produzidos 5.000 kits e já foram distribuídos 3.800 kits em todo o território nacional e a cada dia o número de pedidos aumenta. O que se pretende neste trabalho é apresentar a pesquisa de estudo de casos com os educadores que receberam o kit e que o estão utilizando com crianças e adolescente para discutir a questão da violência sexual. A pesquisa foi qualitativa, desenvolvida por meio de entrevistas individuais junto aos educadores, como mostra o depoimento de Clara Santos da Associação Moaraná.


Já fizemos rodadas de conversas com os pais, ouvindo as músicas e radionovelas com as crianças, em oficina com os professores. Com oficinas, foram feitas com 70 educadores e pais, e estes tinham que comunicar multiplicar em cada local que iam dar palestras, em várias comunidades do bairro do Guamá . (Clara Santos, professora)i.

Diante disso, as reflexões que se seguem vêm na intenção de aprofundar diálogos, trocas e análises dos mecanismos desenvolvidos para a efetivação de uma cultura de direitos de enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente, fortalecendo metodologias que facilitem os processos comunicativos para a formação de agentes sociais na defesa dos direitos humanos. 2 DIREITOS HUMANOS E O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES A questão da violência sexual contra a criança e o adolescente entra com bastante intensidade no cenário brasileiro nas últimas décadas como fruto de um processo de abertura democrática e mudança de paradigmas nos instrumentos legais, nacionais e internacionais. Esses instrumentos estão expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração dos Direitos da Criança, Constituição Federal Brasileira de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), entre outros. Como conteúdo desses instrumentos foram formulados direitos civis, políticos e sociais, além dos chamados “novos direitos” que vêm responder as demandas de grupos e segmentos que historicamente vêm vivenciando processos intensos de desigualdade social, quais sejam negros, mulheres, crianças, adolescentes, índios, trabalhadores rurais, entre outros. Quando se fala na questão da violência sexual contra crianças e adolescentes, devemos nos reportar que estamos falando em falta dedireitos e de cidadania, como veremos a seguir . 2.1 Direitos e Cidadania

Esse campo dos direitos nos leva a um outro conceito que acompanha o debate sobre cidadania, sem necessário analisá-lo no contexto da correlação de forças entre os projetos de sociedade que vêm formatando o cenário histórico de homens e mulheres no mundo. Assim observa-se o desenvolvimento do conceito de cidadania não unicamente como um conjunto de leis imparciais acima das relações contraditórias entre Estado e sociedade civil, mas como processos que vêm


sofrendo deslocamentos de significados entre os diversos sujeitos e grupos. “Em nosso país, não é possível falar em resgate de cidadania. Nunca tivemos cidadania plena e por isso a questão real é a construção da cidadania.” (CORTELLA, 2007, p. 44).

2.2

ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

A violência sexual contra crianças e adolescentes é prática cotodiana em alguns lares brasileiros. É uma forma brutal de violação de direitos, de negação da dignidade humana numa relação perversa e desigual de poder. Vicente Faleiros e Eva Faleiros descrevem o problema: Nessa forma de violência, se estabelece uma relação que: a) deturpa as relações socioafetivas e culturais entre adultos e crianças/adolescentes ao transformá-las em relações genitalizadas, erotizadas, comerciais, violentas e criminosas; b) confunde, nas crianças e adolescentes violentados, os papéis dos adultos, descaracterizando as representações sociais de pai, irmão, avô, tio, professor, religioso, profissional, empregador, quando violentadores sexuais; perde-se a legitimidade da autoridade do adulto e de seus papéis e funções sociais; c) inverte a natureza das relações entre adultos e crianças/adolescentes definidas socialmente, tornando-as: desumanas em lugar de humanas; negligentes em lugar de protetoras; agressivas em lugar de afetivas; individualistas e narcisistas em lugar de solidárias; dominadoras em lugar de democráticas; controladoras em lugar de libertadoras; perversas em lugar de amorosas; desestruturadoras em lugar de socializadoras; d) estabelece, no ser violentado, estruturas psíquicas, morais e sociais deturpadas e desestruturantes, principalmente nos abusos sexuais de longa duração e na exploração sexual comercial (FALEIROS; FALEIROS, 2007, p. 37 ).

A história de crianças e adolescentes no Brasil vem sendo marcada por experiências cotidianas de violência em suas inúmeras dimensões. Essas violências vêm ocorrendo tanto no convívio familiar quanto comunitário, praticada por pessoas que, em sua maioria, deveriam garantir a proteção e o desenvolvimento saudável das crianças e dos adolescentes. Essa realidade de violação de direitos vem acontecendo mesmo diante das conquistas acumuladas na trajetória constitucional no Brasil, na qual temos como marco o ECA, que diz no artigo 4º:


É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à conivência familiar e comunitária (ECA, 1990).

E quanto a essa questão, sabe-se que muitos educadores estão comprometidos com essa causa, como podemos observar na entrevista do professor Julião Cristo da Escola Bosque “O Educador não tem que se omitir, tem que buscar as soluções. Não tem que se calar e até chamar o conselho tutelar. E chamar pra ver as medidas cabíveis de acordo com o problema. E não esquecer que seu aluno é um todo que tem sentimentos.”.ii No Brasil, 6,6 milhões de crianças são vítimas anualmente de alguma forma de violência doméstica (12% das 55,6 milhões de crianças brasileiras menores de 14 anos). Com uma média de 18 mil crianças vitimizadas por dia. Dentre essas violências destacamos a violência sexual, da qual, a cada hora, sete crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual (www.observatoriodainfancia.com.br, dia 14 de agosto de 2009). O Pró-Paz Integrado na cidade de Belém é referência no atendimento de vítimas de violência sexual no estado do Pará, este registrou de janeiro a outubro do ano de 2007, 450 denúncias. Mais de 90% foram confirmadas após exames periciais. Cerca de 80% dos crimes são praticados por familiares e conhecidos dos pais das vítimas. Em relação aos dados dessas violências, o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente tem carência de dados numéricos de abuso sexual, pelo fato desse tipo de violência ocorrer no seio familiar, poucos são os casos denunciados. Os que são divulgados e computados são os dados apenas das denúncias, o que não é o real dos dados existentes. Esses dados apenas revelam a violência que foi denunciada e que, geralmente, as situações mais graves são as que acabam sendo identificadas em órgãos de assistência, delegacias, hospitais e denúncias feitas pela imprensa. No estado do Pará, de acordo com a matéria do jornal O Liberal, do dia 30 de agosto do presente ano, consta que no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pedofilia, da Assembléia Legislativa do Pará, teve pelo menos 100 mil casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes nos últimos cinco anos. Pois, nestes sete meses de apuração da CPI, foram denunciados 25 mil casos. O


montante dos casos surge a partir dos estudos científicos que mostram a proporção de mais quatro casos omissos para cada crime denunciado. Na cidade de Belém, segundo os dados do relatório, são registrados nos órgãos competentes uma média de 940 casos por ano. Desses casos, 815 dos crimes são praticados no seio familiar por parentes mais próximos das vítimas. Mesmo diante desse caótico cenário no qual centenas de crianças e adolescentes sofrem várias formas de abusos e maus-tratos, não se pode deixar de observar de forma também positiva esse momento, pois temas considerados tabus como práticas sexuais de adultos com crianças e adolescentes saem da esfera privada e até mesma comunitária e passa a ser pauta governamental sendo tratado como um ato infracional e, não mais, como problema de “família”. Esta realidade de favorecimento surge em virtude do alargamento democrático, do avanço no campo dos direitos na legislação nacional e da maior liberdade de expressão para abordar esse tema nas várias formas de comunicação social. O desenvolvimento dos kits educativos com radionovelas e spots têm contribuído para facilitar diversos processos grupais com segmentos bastante diferenciados. A discussão desse tema que durante muitos anos foi (e ainda é) tabu, hoje começa a ser tema gerador de diálogos não somente entre adultos, mas também entre crianças e adolescentes. Nas escolas onde houve participação da presente investigação foram relatadas vivências de troca entre pais, educadores, comunidade em geral, todavia traz experiências de diálogos estabelecidos com crianças e adolescentes. Como nos relata a professora Maria Santana da escola Cristã do Bengui. “Trabalhei com a temática de violência sexual, eles escutaram as telenovelas, como foi que eu fiz, a metodologia foi: com os meninos, eles escutaram a partir do que eles ouviram, criaram algumas frases e a partir destas frases cada um falava sua frase e agente abria pro debate, e daí foram surgindo histórias

que eles conheciam da questão da própria

exploração, de assédio”. (Maria Santana, professora)

.iii

Educar crianças e adolescentes sobre seus direitos é assegurar, assim, ações preventivas de violência sexual, possibilitando que crianças e adolescentes sejam apoiados e protegidos com ações educativas com vistas à autodefesa, à conscientização e à valorização de suas etapas de crescimento. “[...] na educação


persiste o desafio de construir uma escola capaz de romper este silêncio que cerca a relação entre crianças e adolescentes maltratados ou abusados e professores despreparados para lidar com esses problemas” (ANDI, 2003, p.29). O abuso sexual geralmente é mantido em silêncio e segredo, por isso o papel do educador é fundamental quando o abuso é intrafamiliar, pois este pode, através da interação e do diálogo, fazer com que a vítima possa quebrar esse sigilo, além de ajudar no alerta e na prevenção da violência. Como comenta em sua entrevista a professora Eliana Silva da Escola Mundo Encantado, quando nos fala sobre o enfrentamento da violência sexual com a utilização das radionovelas educativas. “O que vemos de resultados é que o que vimos é que a violência doméstica e a sexual é difícil de se tratar, mas com este material, quando trabalhamos, a criança tem a segurança e a confiança de colocar o problema que aconteceu com elas, que não encontram confiança em alguém , ou em nenhum espaço para desabafar, e o espaço da escola é propício , e nós trabalhamos o material de acordo com a faixa etária, e temos retorno sim”. (Eliana Silva, professora).

Outro elemento importante a destacar surgiu nos processos participativos oportunizados nas escolas entrevistadas, nas quais os kits educativos geraram como resultados as identificações e denúncias de situações de violência sexual e outras formas de violações. No processo de diálogo, principalmente entre as crianças e os adolescentes, havia uma identificação com suas histórias de vida, como nos relata em seu depoimento o professor Julião Cristo da Escola Bosque. “Algumas radionovelas se aproximam da realidade que eles vivem como as do trabalho infantil, das vendas as radionovelas eles ouvem e se identificam como as de abuso sexual, há tem aquele parente que gosta de tocar, que dá presente, ficar no colo e os alunos se tocam que isso não é legal, eles se identificam no que eles escutam é uma forma bem lúdica que da pra trabalhar com os desenhos pra eles se expressarem.” (JuliãoCristo, professor).

Nesse momento de revelação das situações, as escolas e os profissionais da educação também passaram a desenvolver suas atribuições com organização e sujeitos garantidores da proteção social da infância e adolescência. Esses


elementos geram no público um sentimento de pertencimento, tendo a escola como referência na garantia dos direitos no exercício da cidadania, pois o processo participativo das mediações alude experiências de vidas semelhantes em situações que pareciam ser singular e revelada como um problema de outros. “Foi muito bom. Foi fundamental os alunos que sofriam abuso sexual começaram a se sentir mais seguros na escola, a ter disposição de ir pra aula e os alunos começaram a perder mais a agressividade. Que na escola se sentiam bem, confiavam, começaram a ter interesse mais nas atividades, a colocar pra fora toda sua angústia, que antes não tinham ninguém pra conversar.” (Julião cristo, professor).

Atualmente necessitamos desenvolver mais metodologias que orientem e contribuam para influenciar as práticas sociais de homens e mulheres na perspectiva de uma cultura de direitos que favoreçam processos e espaços educativos na formação de sujeitos pautados em um projeto de sociedade democrático, mas com justiça social e respeito à dignidade humana. Diante disso, iremos desenvolver a seguir um pouco dessas mediações que podem contribuir para a efetivação dos direitos humanos.

3 PROCESSOS EDUCATIVOS NA DIFUSÃO DE UMA CULTURA DE DIREITOS Quando tratamos de processos educativos queremos trazer para o centro do debate dois paradigmas, um que predomina hegemonicamente na concepção da educação e o outro que orienta a educação popular e práticas sociais de alguns profissionais na perspectiva de construção de uma cultura de direito no exercício da cidadania. A violação dos direitos das crianças e adolescentes deve ser combatida por todos,principalmente por educadores ,os quais convivem diariamente com eles e que podem trabalhar de forma preventiva. 3.1 MEDIAÇÕES CONCEITUAIS DE EDUCAÇÃO De acordo com Paulo Freire, existe um fundamento que vem orientando a relação educador e educando na escola, no qual as práticas sociais vêm sendo pautadas em narrações de conteúdo e dissertações de ideias e conhecimentos.


Essa forma de educar tem em seu pano de fundo uma relação vertical entre as partes (educador e educando) que são vistos como sujeito e objeto. Conceituando educação a partir dessa perspectiva, Paulo Freire chama de “educação bancária”, pois na relação educador e educando o primeiro é considerado o detentor de todo o conhecimento que por meio de suas narrativas e dissertações “deposita” seu conhecimento na cabeça do educando que é visto como objeto e passivo. Cito: “Desta maneira a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositórios e o educador o depositante” (FREIRE, 2008, p. 48). Importante pontuar que essa concepção de educação não desenvolve a capacidade da busca do conhecimento pela pessoa humana, além de apostar na manutenção e garantia do estabelecido e constituído em uma dada realidade. Quanto à outra concepção de educação, Paulo Freire (2008, p.49) chama de “educação libertadora”, pois na relação educador e educando parte da concepção de que todos no processo são sujeitos, como sujeitos o processo educativo é um espaço e momento de troca e reciprocidade de conhecimento, vale para a produção e reprodução de conhecimento. A perspectiva, a cultura e a história de vida do outro é também importante para o espaço educativo, como nos relata a professora Madalena da escola Dr. Carlos Guimarães “porque após assistir essas radionovelas houve diálogo entre os participantes e essa troca de experiência é enriquecedora”. O processo educativo precisa gerar oportunidades para que as pessoas desenvolvam seu poder reflexivo, crítico da realidade e que possam tomar decisões, ter opção e compromisso, em cada momento precisam aprender e ensinar. A educação nas escolas deve ser vista de forma mais completa, ou seja, devem-se tratar além de questões pedagógicas, as interpessoais e temas relacionados à vida de crianças e adolescentes. Aos educadores sociais se coloca a difícil incumbência de trabalhar os preconceitos e estigmas que recaem sobre as classes subalternizadas, denunciar e interromper a reprodução da violência, trabalhar a convivência 1 grupal e comunitária, exercitar a pedagogia da promoção, utilizando-se de meios alternativos de comunicação no processo de grupalização, organização e capacitação da população para o exercício das relações de cidadania. ‘A verdadeira pedagogia na educação é a que ensina a despertar a própria capacidade de aprender, experimentar e viver.’ Educ ere...” (PANCERA, 1992, p. 18).

1

Pedagogia da Promoção Humana. Educação e Mudança. (FREIRE, Paulo, 1983).


Para a mediação desses espaços de troca, o diálogo é outra categoria fundamental, pois não existe o transmissor e receptor no processo comunicativo, mas sujeitos que se encontram e trocam saberes e vivências. Quando falamos em diálogo, estamos nos referindo à capacidade de gerar processos, metodologias e técnicas que expressem o vivido em que os sujeitos possam se encontrar consigo, com sua história e com o outro, produzindo juntos novos saberes e novas posturas diante da situação de opressão posta na sociedade. Quando se fala em educar crianças, adolescentes, jovens e adultos sobre seus direitos, estamos falando em assegurar direitos , pois devemos realizar ações preventivas ou de enfrentamento de violência sexual, para que crianças e adolescentes sintam-se seguros,respeitados e protegidos com ações educativas Esse elemento da escola como difusor de uma cultura de garantia dos direitos humanos ainda é um desafio por vários motivos, pois o abuso sexual geralmente é mantido em silêncio e segredo, por isso o papel do educador é fundamental quando o abuso é intrafamiliar, pois este pode, através da interação e do diálogo, fazer com que a vítima possa quebrar esse sigilo, além de ajudar no alerta e na prevenção da violência. Como comenta em sua entrevista a professora Eliana Silva, quando nos fala sobre o enfrentamento da violência sexual com a utilização das radionovelas educativas: “O que vemos de resultados é que o que vimos é que a violência doméstica e a sexual, é difícil de tratar, mas com este material, quando trabalhamos a criança tem a segurança e a confiança de colocar o problema que aconteceu com elas que não encontram confiança em alguém , ou em nenhum espaço para desabafar, e o espaço da escola é propício, e nós trabalhamos o material de acordo com a faixa etária, e temos retorno sim”. (Eliana Silva, professora)4iv

Outro desafio no enfrentamento da violência e garantia dos direitos previstos no ECA vem sendo o seu desconhecimento, preconceitos e entendimento equivocado, os níveis de argumentação

ainda estão sobre o domínio de

especialistas com linguagens complexas, não facilitando o processo de diálogos e formações. A desinformação ou as informações equivocadas vêm permitindo a manipulação da opinião pública, relações conflituosas entre o avanço e a reação dos direitos constituídos, além da polarização entre o discurso jurídico (formal) e o das


pessoas comuns (informal). Nesse sentido, verifica-se a necessidade de agentes sociais qualificados para desvendar as intenções, razões e contradições entre um discurso e outro, bem como traduzir para a compreensão os direitos constituídos e garantidos tanto na Declaração dos Direitos Humanos, como na Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente. Estes métodos de se trabalhar com estas temáticas podem ser utilizados os da arte-eduação como nos relata Lima e Melo. A arte-educação, pois, acreditamos ser um elemento de fundamental importância para aguçar no indivíduo uma atenção maior e ou uma nova forma de sentir a vida, à medida que ela rompe com conceitos préestabelecidos, que supervalorizam no homem a razão em detrimento dos sentimentos e das emoções. Ao se tratar das linguagens artísticas como meio e comunicação e trabalho social, falamos de sua origem e seu desenvolvimento. A alegria dos palhaços com o circo; a plasticidade e o lúdico com o teatro de bonecos; e a fantasia da realidade com o teatro. (Lima e Melo, 1994, p. 01)

Essa insuficiência e precariedade na informação e comunicação de conteúdos acerca dos direitos humanos vêm acompanhadas de outro desafio: a necessidade de recursos de comunicação social e pedagógicos eficazes que possam empoderar conhecimento que facilitem a prática dos educadores à realização de processos de fomação de multiplicadores no enfrentamento das violências doméstica e sexual. Também se destaca uma outra necessidade que é a produção de recursos que estabeleçam diálogos de forma lúdica e prazerosa, pois as temáticas acerca da violência têm uma natureza de complexidade e tabus, exigindo dos educadores metodologias e instrumentos criativos, eficazes

e dinâmicos. Como comenta o

professor Julião Cristo em sua entrevista, falando sobre o kit de radionovelas que tem um guia de orientação. “O Educador deveria ter um guia para trabalhar todo ano para saber por que a criança esta agindo de determinada forma. Quando você trabalha com criança e adolescente você vai encontrar estas situações e você não ta só pra dar conteúdo e sim dar conselhos, trocar experiência e saber dos comportamentos. E o guia te possibilita esta aproximação de você saber como trabalhar, e não de forma direta e de forma diferente. O material me ajudou muito a trabalhar com meus alunos. É um material que abre novas formas para o educador pensar sua maneira de trabalhar, e você consegue


trazer a família pra escola e discutir estas temáticas de abuso sexual e violência doméstica. É um guia que todo educador tem que ter contato com ele”. (Julião Cristo, professor).

O Guia Escolar Rede de Proteção à Infância orienta que: O educador pode ser a pessoa de confiança da criança e do adolescente. Isso significa estar na condição de ouvinte atento para detectar certos sofrimentos. [...] O educador deve criar um ambiente propício à revelação, isto é, em geral deve criar um clima maduro de debate na sala de aula, propiciando condições de juntamente com os alunos, preparar criticamente a consciência. A conscientização não se dará como produto padronizado de aprendizagem acadêmica, mas será desencadeada por um processo individual com cada aluno por meio de diálogo, cooperação, união, organização, para encontrar soluções comuns para os problemas. Isso implica criar uma relação mais horizontal e menos imposta pelo educador ao educando (SANTOS ET AL, 2004, p. 95).

Para o enfrentamento desses desafios pontuados, foi possível observar durante as entrevistas que o kit educativo vem facilitando o processo de diálogo com os públicos identificados, por trazer em seu conteúdo uma linguagem simples, com uma ampla abordagem, que traz para o centro do diálogo os conceitos, mitos, verdades, limites e possibilidades da questão em foco. A utilização de linguagens artísticas e meios de comunicação social associada a uma concepção de educação libertadora que parte do vivido de cada sujeito, considerando nas radionovelas as contradições e desafios da vida cotidiana que, segundo os entrevistados, contribuiu para que as pessoas pudessem compreender o nível de gravidade da questão, gerando situações de denúncia, mas também pedagogicamente ajudou os educadores a construírem processos de mediações educativas com seus educandos, pois os mesmos conseguiram se identificar nas histórias que dialogavam acerca de suas vidas e realidades e não da realidade de outros, assim se sentiam parte para dialogarem com capacidade de opinar, decidir num processo de aprendizagem que também ensina e aprende com o outro. Agora é importante pontuar que esse movimento de aprendizagem dialógica é fruto de compromisso metodológico do educador que deverá está aberto, fortalecendo todos os espaços como pedagógicos, numa perspectiva do outro como pessoa, sujeitos e sujeitos de direito. Essa postura na prática social é fundamental


para que os kits educativos cumpram sua missão no processo dialógico. Vejamos isso na entrevista: “Olha, teve bons resultados. Deixa eu te dar exemplo na minha turma. No começo eu não conseguia trabalhar, quando eu peguei esta turma não tinha diálogo nenhum, era gritando e rezando pra que o dia acabasse logo, contava pra que o dia terminasse e eu ir embora logo. Com o passar do tempo, com as atividades que fomos desenvolvendo com estes materiais, com o interesse houve uma melhora no sentido de trazer os pais pra escola, as crianças se interessavam mais, até querer aprender mais a ler. As crianças começaram a fazer parte do aprendizado, a serem mais. As crianças vinham pra escola agora pra tentar aprender mais alguma coisa, eu faço o comparativo antes e depois destas atividades. Houve uma melhora significativa”. (Julião Cristo, professor).

Para o avanço na difusão de uma cultura de direitos em defesa da criança e do adolescente é necessário, a cada momento, a construção de processos e metodologias facilitadoras de processos dialógicos entre sujeitos, tendo como pano de fundo a criatividade e ludicidade. 3.2 RADIONOVELAS EDUCATIVOS

EDUCATIVA

NA

MEDIAÇÃO

DE

PROCESSOS

Conhecer essa realidade e intervir no enfrentamento da violência contra a criança e o adolescente é papel de todos nós e, principalmente, dos agentes sociais que integram as diversas instituições públicas e privadas. Em virtude dessa realidade, a ONG Rádio Margarida desenvolve desde 2007 o projeto “Radionovelas educativas: Em defesa da criança e do adolescente”, que tem por objetivo difundir uma cultura de enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, oportunizando vivências de formação, produção e multiplicação da tecnologia social certificada de radionovelas educativas para os agentes do sistema de garantia de direitos na região metropolitana de Belém. Tem o objetivo específico de integrar, fortalecer e qualificar a intervenção dos agentes das instituições que compõem o SGD, o que tem sido o grande desafio em prol de uma Rede de Atenção à Criança. Os agentes sociais que participaram desse projeto produziram um kit didático-pedagógico contendo um CD com 24 spots, 4 músicas e 6 radionovelas,


com as temáticas do trabalho infantil, violência doméstica e violência sexual e um guia de orientação para a facilitação dos processos coletivos de difusão dos direitos da criança e do adolescente. Guia este que foi considerado de grande utilidade nos diálogos sobre violência sexual, como nos relatam as professoras da Escola Carlos Guimarães. “Esse material nos deu suporte para trabalhar a temática com os alunos”. (professora Madalena Santos)

.v

“Com a utilização destes materiais os alunos se sentem mais à vontade para tirar suas dúvidas”. (professora Iria Ferreira)

.vi

Quanto aos resultados do uso dos kits educativos junto aos educadores de instituições de ensino no repasse da temática da violência sexual, verificou-se que o material subsidiou os educadores e técnicos do sistema de garantia, por esta temática ser uma questão muito delicada de se trabalhar com crianças e adolescentes. É o que nos relata João Cruz, professor da escola Mundo encantado. “Quando se recebe um material bem elaborado de uma forma bem acessível, onde o professor possa identificar situações e passar para os pais, alunos, e quanto o material é mais explicativo, melhor, pois tem pais que não estudaram e este material é acessível. Principalmente porque este assunto de violência sexual é muito delicado de se falar” (João Cruz, vii

professo0 .

As radionovelas educativas enquanto metodologia de educação popular tem, para a Rádio Margarida uma fundamental importância, pois facilita seu trabalho e gera novas alternativas metodológicas para inúmeros profissionais no estado do Pará e no Brasil. Na trajetória institucional da ONG, as radionovelas educativas vêm sendo aperfeiçoadas enquanto método e sendo reconhecidas. Um exemplo disso foi a certificação pela premiação nacional da Fundação Banco do Brasil, Prêmio Banco do Brasil de Tecnologia Social, no ano de 2005, com o CD Rádio Novelas Em defesa dos direitos da infância e adolescência. No ano de 2000 a Rádio Margarida produziu um programa educativo realizado em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), veiculado na rádio Liberal AM, o qual constava na grade da programação as radionovelas ao vivo ou pré-gravadas, sempre enfatizando as temáticas de


cidadania. Este programa teve uma repercussão muito boa junto aos ouvintes e com os próprios radialistas. Em consequência disso, no ano seguinte a Rádio Margarida, com financiamento do BNDES, produziu um novo programa diário, com radionovelas que tratavam de questões sobre direitos humanos, cidadania e políticas públicas, discutindo a saúde, meio ambiente, criança e adolescente, entre outras temáticas. A importância das radionovelas educativas para a Rádio Margarida no decorrer desses anos de trabalho é de extrema relevância, pois a ONG trabalha com projetos sociais na área de comunicação. A combinação do lúdico com o educativo corresponde ao prazer da brincadeira com a utilidade de se levar á prática algo que se tenha apreendido. Todo labor educativo dentre dos princípios da práxis deve ser levado à prática, deve servir para alo que tenha utilização, e com certeza não deve ficar na gaveta ou no esquecimento. Não se pode esquecer o mundo dos adultos, que também necessita de diversão. (PANCERA, 2009, p. 118)

Para abordar as questões de violência doméstica, violência sexual e trabalho infantil, a instituição realizou em 2007 o projeto Radionovelas educativas: Em defesa da criança e do adolescente com o patrocínio da Petrobras. Este projeto capacitou 120 agentes do sistema de garantia de direitos nas três temáticas acima citadas e produziu um CD com radionovelas educativas, que contêm histórias e estórias do cotidiano da realidade socioeconômica, cultural e política do povo brasileiro, levantando questões, discutindo assuntos, sugerindo formas de intervenção, denúncias, mudanças de comportamentos e cultura; spots, com um minuto de duração cada, direcionados principalmente à radiodifusão, emissoras de rádio AM, FM e comunitárias, mas que também podem ser utilizadas nas rodadas de conversa e trocas de experiências de vida. Neste ano, o kit educativo produzido por esse projeto foi certificado pela premiação nacional da Fundação Banco do Brasil, Prêmio Banco do Brasil de Tecnologia Social. Tecnologia social é um processo, método, produto, técnica ou instrumento capaz de gerar transformações sociais que, uma vez aplicada em escala, gera a solução de um problema comum a mais de uma realidade. (www.tecnologiasocial.org.br)

A radionovela educativa é, desta forma, uma ferramenta que visa contribuir com uma cultura de enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, por meio de componentes lúdicos que ajudem para a mudança de posturas e atitudes


para a garantia de seus direitos. Como nos relata a professora Eliana Silva da escola Mundo encantado: “As radionovelas são bem animadas, fala de coisa séria com uma forma animada que prende a atenção, então utilizar com jovens e adolescentes se torna bem atrativo, pois eles interagem com as histórias e se abre pra debate e colocam o que aconteceu com a vizinhança, com conhecidos, contam situações que eles tenham vivido, contam histórias parecidas. O material é bom, chega longe, é eficiente”. (Eliana Silva, professora).

Como nos relata Júlia Lúcia de Oliveira Albano da Silva em sua tese de mestrado “Radiojornalismo e suas múltiplas fontes sonoras”. Estes meios criam cores, paisagens, lugares, sons. Criam mundos diferentes na mente de cada pessoa. Desperta, educa, ou ainda, deseduca. Neste sentido a educação teria uma importância grandiosa na formação destes telespectadores ativos. Uma vez que, a educação e a comunicação estão inter-relacionadas. A educação é comunicação, é diálogo é a busca da significação dos significados (SILVA, 1992, p. 69).

4 CONCLUSÃO

O desafio de fomentar o uso do rádio em tempo de novas tecnologias está associado à firme convicção de sua adequação ao ambiente amazônico e aos processos pedagógicos orientados para a produção de radionovelas. A Rádio Margarida trabalha há seis anos com esta tecnologia, por acreditar que seja eficiente e eficaz, e que atinja seu público alvo, com ludicidade, informação, criatividade, sentimento e ação. A violência sexual, é uma problemática que deve ser combatida por todos,,educadores, agentes sociais e cidadãos comuns,pois ela deixa marcas profundas e pode ser trabalhada de forma preventiva. E as radionovelas mostraram que são ferramentas de prevenção e auxiliam no combate . As radionovelas educativas são instrumentos técnico-operativos que podem contribuir em muito nos processos educativos de qualquer profissional que tenha como objetivo a prática social de contribuir para a formação de sujeitos como sujeitos de direitos.


A partir dessa postura que não é somente pedagógica, mas também política, pois se dispõe à organização e formação de pessoas para a mudança do projeto dominante por um projeto de sociedade pautado na democracia, justiça social e dignidade humana. Na difusão de uma cultura de direitos, as radionovelas educativas vêm sendo um elemento importante para os processos de diálogos e troca, pois facilita as relações entre os sujeitos que conhecem, aprendem e ensinam num movimento contínuo e simultâneo. Nesse processo de difusão, as mediações precisam construir linguagens e ambientes que facilitem a compreensão de conceitos, dimensões, limites e possibilidades. Durante as escutas nas escolas pormeio das entrevistas foi possível verificar que o instrumento pode ser utilizado por uma grande variedade de pessoas nos processos e espaços de troca. Nas vivências mediatizadas com os kits são observadas uma mudança de postura diante da questão em foco, havendo situações de denúncias, indignações e interesse pelo engajamento ao enfretamento do problema. Assim, o objetivo para o qual se destina a ferramenta é cumprido. Diante disso, o processo de utilização dos kits vem contribuindo para a formação de uma cultura de direitos que pode estar gerando processos de criticidade diante desta realidade constituída de violência, gerando uma necessidade de busca de mudanças e de novas relações entre sujeitos que estejam pautados no respeito ao direito de ser criança e adolescente. “Agente ouvia as histórias, agente discutia e eles falavam o que tinham percebido falavam que já conheciam casos e no final da aula um ou outro aluno vinham conversar comigo e diziam que tavão passando por situação de violência sexual.E eu chamei os pais pra conversar com eles para saber se conheciam. Teve o caso de uma aluna que o tio abusava e ela chegava na escola super deprimida, e a partir deste material , eu fui vendo que podia ser caso de abuso e ela me contou que sim, os pais não sabiam e procuramos o conselho e o apoio da escola.” (JuliãoCristo).

i

Pesquisa decampo realizada na associação de pais Moaraná em 27 de agosto de 2009.

ii

Pesquisa de campo realizada no CACBA em 1º de setembro de 2009.

iii

Pesquisa de campo realizada na escola Cristã do Bengui em 13 de agostode 2009.


iv

Pesquisa de campo realizada na escola Mundo Encantado em 10 de agosto de 2009.

v

Pesquisa de campo realizada na escola dr. Carlos Guimar찾es em 31 de agosto de 2009.

vi

Pesquisa de campo realizada na escola Dr. Carlos Guimar창es em 31 de agosto de2009.

vii

Pesquisa de campo realizada na escola Mundo Encantado em 10 de agosto de 2009.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDI – Agência de notícias dos direitos da criança e adolescentes. O grito dos inocentes. Os meios de comunicação e a violência sexual contra crianças e adolescentes. Série mídia e mobilização social. vol. 5. Cortez: Brasília, 2003. BRASIL. Lei Federal (1990). Estatuto da Criança e Adolescente. CORTELLA, Mário. Visões singulares, conversas plurais. Rumos Itaú cultural, 2007. FALEIROS; Vicente de Paula; FALEIROS, Eva Silveira. Escola que protege: enfrentando a violência contra crianças e adolescentes. Coleção Educação para todos. Ministério da Educação. 1°ed. Brasília, 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 2008. LIMA, Carmen Rita Chaves de; MELO, Maria Eugenia Moreira e. Arte-educação: novas linguagens para um novo homem. 1994. Tese de conclusão de curso apresentada ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pará. LOURENÇO, Mika. Radionovela, sempre presente. Dissertação de Mestrado. Biblioteca da Universidade Tuiuti do Paraná. Campus Barigüi. Curitiba, 2005. Acesso em 19 de maio de 2008. Ministério da Educação. Guia escolar rede de proteção à infância. Métodos para identificação de sinais de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Brasília, 2004. Prêmio de Tecnologia Social do banco do Brasil. Disponível em www.tecnologia social.org.br. Acesso em 10 de julho de2009. PANCERA, Osmar; Guedes, Ana Claudia. Radionovelas educativas tecnologia social e educação popular. Belém: EDUEPA, 2008. PANCERA, Osmar. A práxis artístico-cultural da ONG Rádio Margarida: uma história de linguagens artísticas e meios de comunicação social, a serviço da


educação popular. 2009 . Tese de doutorado apresentada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. SILVA, Júlia Lúcia de Oliveira Albano da. Radiojornalismo e suas múltiplas fontes sonoras. Acesso em 13 de maio 2008.


ANEXOS

APÊNDICE - Associação de pais e educadores Moaraná Data de Entrevista: 27 de agosto de 2009. Entrevistada: Coordenadora pedagógica e professora Clara Santos A entrevista foi realizada na própria Escola,sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões , sendo entrevista oral com utilização de um MP3. - Fundação Centro de referência em educação ambiental escola Bosque Professor Eidorfe Moreira Data de Entrevista: 01 de setembro de 2009. Entrevistado: Professor Julião Cristo A entrevista foi realizada na sede da ONG CACBA- Rádio Margarida sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões , sendo entrevista oral com utilização de um MP3 . - Escola Cristã do Bengui Data de Entrevista: 13 de agosto de 2009. Entrevistada: Professora Maria Santana A entrevista foi realizada na sede da ONG CACBA- Rádio Margarida sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões, sendo entrevista oral com utilização de um MP3. - Escola Mundo encantado Data de Entrevista: 10 de agosto de 2009. Entrevistada: Diretora e professora Eliana do Socorro Silva A entrevista foi realizada na própria Escola, sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões, sendo entrevista oral com utilização de um MP3 . - Escola Dr. Carlos Guimarães Data de Entrevista: 31 de agosto de 2009. Entrevistado: Professora Madalena Santos (3ª etapa) O contato primeiramente foi via telefone e a entrevista foi realizada via email,sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões - Escola Dr. Carlos Guimarães Data de Entrevista: 31 de agosto de 2009. Entrevistado: Professora Iria Ferreira: (2ª etapa).

O contato primeiramente foi via telefone e a entrevista foi realizada via email, sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões .

- Escola Mundo encantado Data de Entrevista: 10 de agosto de 2009.


Entrevistado: Professor João Cruz A entrevista foi realizada na própria Escola, sendo individual, qualitativa, com um formulário com 10 questões, sendo entrevista oral com utilização de um MP3.


TEXTOS DAS RADIONOVELAS EDUCATIVAS

Abordagem: Abuso Sexual- Prevenção

PERSONAGENS • Boto

Yara

• Curupira

Matinta

Mãe D’água

A Rádio Margarida e a Petrobras apresentam:

LENDA DE SOMBRA E LUZ 1º ATO

Narrador: Essa história acontece todos os dias, no tempo de antes e de agora. Havia naquele lugar, no meio da floresta, uma linda menina chamada Yara. Gostava de muitas brincadeiras, nadar no rio e cantar. Seu canto provocava os muitos sentimentos da alma. Mas um dia...

(canto da menina Yara) - (sons de rio, pássaros, cachoeira, vento, chuva)

- Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado...

Boto:- De quem é esta voz tão bela?

(som de mato se mexendo)

Matinta: O que tu estás fazendo Boto?


Boto: Matinta, tu por aqui? É, é... estou dando umas voltinhas.

Matinta: Achas que não sei o que estás pensando? Escutou aquele canto e só queres tirar uma lasquinha. É só uma menina Boto!

Boto:

Não estou pensando nada , ora essa. Teu tabaco tá te dando uma nóia.

Matinta: Hum... Mas o fumo que eu tenho é dado... eu não roubo de ninguém...está tudo dentro das leis da natureza. Olha, vê como vais te aproximar daquele encanto de menina, ela só 12 anos. Pensa muito bem antes de qualquer atitude. To de olho em ti...

Narrador: Depois da conversa, o Boto de longe observa Yara e pensa:

Boto: - Tá difícil resistir a esse canto, esse corpo, esse olhar..(suspiro). A culpa não é minha é da minha natureza.

Narrador: Naquele momento, Yara sente que estava sendo observada e diz:

Yara:

- Tem alguém aí? Isso não tem graça. Estou ficando com medo.

Narrador: O boto se esgueira lentamente por entre as moitas e se aproxima de Yara. (Sons de passos e mato se mexendo)

Boto: - Oi Yara, não fique com medo, sou eu, o Boto. Achei o seu canto lindo. Tu podes cantar pra mim?

Yara:

- Qual deles? Cantei tantos.


Boto:

- Aquele que fala em “meu amor”.

Yara:

- Porque boto? Por que esse que fala de amor?

Boto:

- Porque me faz sentir e lembrar muitas coisas.

Yara:

- Que coisas?

Boto: - São coisas que tu não entendes ainda. (suspiro) Tu queres tomar banho comigo em outro rio?

Narrador: Yara começa a ficar incomodada com aquela situação. Sente que não deve ficar ali.

Yara: - Não Boto, está ficando tarde. O tio Curupira falou que é perigoso ficar aqui até essa hora, tenho que ir, tchau.

Boto:

- Tchau, não. Até logo!

2º ATO

Narrador: No outro dia, logo cedinho Yara foi encontrar com o tio Curupira.

Yara: - Tio, o Boto me olhou de um jeito estranho enquanto tomava banho... Fiquei sem jeito, senti medo. Ontem ele foi lá na beira do rio, falou que meu canto faz lembrar de coisas que eu ainda não entendo. Depois até me convidou pra nadar em outro rio.


Curupira: - Sossegue Yara, faz parte da natureza do Boto encantar mulheres, mas ele só seduz as caboclas adultas. Não faria isso com uma jovem como você.

Yara:

Mas tio, ele olhou de forma estranha pro meu corpo.

Curupira: - Escute Yara, você é uma menina, precisa ter certos cuidados. Já te disse que além de ser perigoso ficar só em certos lugares, também não é adequado tomares banho nua na frente das pessoas, pois cada uma tem intenções e formas diferentes de agir. Nessas situações é melhor se prevenir.

Yara: cantando)

- Tá bom tio Curupira. Eu vou tomar mais cuidado. Agora vou nadar. (sai

Narrador: Após a saída de Yara, chega o Boto.

Curupira: - Boto, vem cá! Quero ter “dez dedos” de prosa contigo.

Boto: - Dez dedos de prosa? O que foi que eu fiz? Pra encurtar conversa vamos ficar só com o dedo mindinho?

Curupira: - Boto, deixa de graça que a coisa é séria, muito séria.

Boto: natureza?

Mas, mas... o que aconteceu? Não está tudo nos conformes das leis da

Curupira: - Ultimamente nem tudo está em ordem como deve ser.

Boto:

- O que eu tenho a ver com isso? Ando sempre na linha.


Curupira: Tens certeza? Deixa desse teu sapateado de catita, e pensa bem nas conseqüências dos teus atos. Posso ter os pés pra trás, mas não ando em caminhos tortos. Outro dia encontrei com a Matinta e ela me contou sobre tuas andanças pela beira dos rios.

Boto:

- Hummm...aquela ali!... Além de tabaqueira ainda é fofoqueira.

Curupira: - Nem toda informação é fofoca. O que a Matinta me contou foi um alerta.

Boto:

Hiiiiii... Que conversa estranha!... pois é Curupira, tenho que ir embora.

Curupira: - Espere, ainda não terminei...

Boto:

- Mas eu já terminei, tchau.

3º ATO

Narrador: O Curupira, como Conselheiro da floresta, resolve alertar a mãe D’água, na proteção dos seres de suas águas. Respeitando os conselhos do Curupira, Yara vai tomar banho em um lugar mais reservado, mas mesmo com o alerta da Matinta e do Curupira, o Boto vai à procura de Yara:

(sons de passos e tambor com melodia do lundu em um ritmo que vai crescendo a medida de sua aproximação, Yara está a cantar)

mim?

Boto:

- Olá Yara!

Yara:

- Como me encontrastes?

Boto:

- O teu canto me trouxe até aqui. Lembra aquele que pedi pra cantares pra


Yara:

- Aquele do Alecrim dourado?

Boto:

- Isso, aquele que fala do “meu amor”...

Yara:

- Olha Boto, não estou com vontade de cantar agora.

Boto:

- Cante por favor.

Narrador: De longe, o Curupira e a Matinta observavam.

Matinta: - Olha Curupira, o Boto se aproxima da Yara. A Gente tem que fazer alguma coisa, urgente!!! (som de suspense-batuque de tambores em rítmo acelerado)

Curupira: - Matinta, algo de muito importante vai acontecer. Espere. Tenha paciência.

Narrador: Como em uma ciranda, a vida gira, dá muitas voltas e traz transformações.

Surgimento da Mãe D’água: (Quando Yara começa a cantar “ciranda cirandinha”, o canto diminui, entra sons de água, depois o som de água diminui, fica de fundo e de figura o canto da Mãe D’água. Após o canto, o Boto se pronuncia) Boto:

- O que fazes aqui? Quanto tempo!!! Continuas deslumbrante...

Mãe D’água: - Precisei vir, essa situação não pode continuar, por todos os motivos. Entre eles, um que tu desconheces, Yara é tua filha. Boto:

- Mas, mas...o quê ?


Mãe D’água: - É isso mesmo que você ouviu, ela é sua filha. Mas, sendo sua filha ou não, isso não te dá o direito de seduzir crianças e adolescentes. Yara: - Mãe, o Boto é meu pai? Agora eu entendo a ternura que senti por ele... por isso eu fiquei confusa mãe.

Mãe D’água: Boto: menina.

- Calma minha filha, vou esclarecer tudo.

- Eu só estava seguindo minha natureza, não sabia que poderia prejudicar a

Mãe D’água: - Compreendo seus instintos, mas não podes deixar que eles atropelem o desenvolvimento saudável da sexualidade de uma pessoa. A pedofilia é um tipo de abuso sexual, em que uma pessoa, para satisfazer o seu interesse sexual, usa crianças ou adolescentes. Isso é crime.

Narrador: Após a revelação e os esclarecimentos feitos pela mãe d’água, minha vida se transformou. Agora permaneço apenas no folclore popular. Antes vivi uma lenda de sombra, hoje vivo uma lenda de Luz. Vou dar um conselho: antes de fazer qualquer coisa que prejudique o futuro de crianças e adolescentes, escute essa história e as palavras do Curupira.

Curupira – As lendas refletem o que acontece no mundo dos homens. O que essa história contou deve ser combatido. É da responsabilidade de todos os enfrentamentos da violência sexual. Prevenção é essencial, por isso ao identificar uma situação de abuso sexual você pode buscar ajuda nas seguintes instituições: Conselhos Tutelares, delegacia de proteção da criança e do adolescente, entidades de defesa. Não se esqueça, se seguir esses conselhos, os caminhos das crianças e dos adolescentes jamais se fecharão.

RADIONOVELA 02 A Rádio Margarida e a Petrobras apresentam

O tráfico de pessoas para exploração sexual na internet

Som de trânsito e buzinas Narrador:

Silvia é mãe solteira e tem uma filha de 16 anos. Trabalha como recepcionista

num consultório dentário no centro de Mangueirópolis e todos os dias as 7 da manhã liga o


ar condicionado, a televisão da sala de espera e começa a organizar as revistas sobre a mesa. Porém naquele dia a notícia no telejornal local lhe chamou atenção. Música de abertura de telejornal - Música de fundo.

Sérgio Chapelão Mexicano :

- Trânsito caótico em Mangueirópolis...

Fátima Bernadete: Telejornalista:- Estudantes da universidade das mangueiras ocupam a reitoria... Sérgio Chapelão Mexicano:

- Mais um caso de tentativa de tráfico de pessoas que

resulta em morte choca a opinião pública em Mangueirópolis... Fátima Bernadete: Telejornalista: - Jornal Manga Amarela está no ar encerra a música de abertura de telejornal- música de fundo. Fátima Bernadete:Telejornalista: - Bommm... dia, o Jornal Manga Amarela informa: adolescente de 17 anos encontrada morta no bairro das flores em Mangueirópolis evidencia mais um caso de tráfico de pessoas facilitada pela

internet. Nosso repórter Cláudio

Scamparini tem outras informações. Cláudio Scanparini: Repórter:

- Adolescente de dezessete anos é encontrada morta

na lixeira de um supermercado no bairro das Flores. Segundo as investigações da policia local, a vítima mantinha contatos pela internet com o assassino. O delegado Ubiratam Moraes afirma que o criminoso estava envolvido com tráfico de humanos e exploração sexual. Para termos uma idéia deste comércio ilegal, o tráfico internacional de mulheres movimenta mais de 9 bilhões de dólares por ano. Cláudio Scamparini :

-Direto do bairro das Flores para o Jornal Manga

Amarela. Fátima Bernadete: Telejornalista: - Obrigada Cláudio, vamos com a previsão do tempo. em Mangueirópolis 35°... Reduzir o volume da voz até a entrada do narrador.

Narrador: Silvia fica pensativa com a história que viu na televisão e coincidentemente ao arrumar as revistas na sala de espera encontra um informativo sobre tráfico internacional de pessoas e começa a ler.


Som de papéis sendo folheados

Silvia (lendo o informativo):

- Meu Deus! Minha filha usa frequentemente a internet,

quando chegar em casa converso com ela. Narrador: Após longo dia de trabalho, Silvia volta para casa pensando. Silvia:

- Juliana, percebi que tu estás freqüentando muito este

(...) como é que é nome(...) é cyber, né? aqui próximo de casa não é mesmo? Fiquei curiosa minha filha, como é esse negócio de internet? Juliana:

- Não tem nada de mais mamãe, na internet a gente

conversa com os amigos, conhece outras pessoas, fica sabendo das baladas, trocamos fotos e mensagens por e-mail. Silvia:

- Eu queria conhecer melhor este negócio de internet

minha filha, será que posso ir contigo? Juliana:

- Claro mãe! Vamos lá amanhã.

Narrador:

Silvia queria falar sobre o que leu no informativo, mas

sem assustar

a filha, afinal não conhecia internet. e na

manhã seguinte acompanhou sua filha até cyber próximo de sua casa. Ruído de conexão da internet. Música eletrônica

Juliana :

- Mãe, eu vou te ensinar, é assim que acontece, a gente

tecla o nome do site (som de teclas de computador). Digita a minha senha (som de teclas de computador). e pronto! Entramos no meu diário virtual. Eu tenho um montão de amigos: o Paulo, a Karina, a Bárbara e o Peter. Aqui a gente pode até fingir que tem outro nome, eu falo com várias pessoas e tenho vários apelidos. Veja as minhas fotos mamãe, estou bonita? Silvia :

- Tá sim filha, mas tu não achas que essas fotos estão

muito íntimas, fotos de biquíni com poses sensuais e provocantes. Não lembro dessas fotos, onde tu tiraste?


Juliana:

- No quarto da minha amiga, com a máquina digital dela.

(som de clic’s.som de chamada de telefone). Peraí, peraí, peraí mãe! O peter tá me ligando. Peter:

- Alô? Querida Juliana, estava com saudades, suas

fotos estão incríveis, quando é que vou poder te conhecer, se quiser você pode ser uma ótima modelo, é bonita, inteligente... vamos marcar um encontro? Eu te apresento a pessoa certa. Juliana:

- Que legal Peter! Mas tu podes me ligar depois? estou

ensinando a mamãe a usar a internet. A gente se fala uma outra hora, tchau!

Narrador:

Silvia se assusta com a empolgação da filha diante

daquela ligação e pergunta:

Silvia:

- Quem é este Peter, minha filha?

Juliana:

- É o meu amigo virtual. Ele é da Inglaterra.

Silvia:

- Mas tu me disseste que na internet as pessoas podem

fingir que tem outros nomes e como tu podes saber que esta pessoa que te ligou se chama Peter mesmo? Tu já viste ele alguma vez? Juliana:.

- Já vi umas fotos dele... on line ele é tudo de bom!

Silvia:

- On line? Que negócio é esse?

Juliana:

- On line é quando estamos ao mesmo tempo

conectados na internet.! Silvia:

- Mas como tu podes dar teu telefone pra um estranho,

alguém que nunca viste de perto? Juliana:

- Sem stress mamãe! Relaxa!

Narrador:

Silvia sente que esse é o momento exato para

conversar com a filha sobre o que viu na TV e leu no informativo.


Silvia:

- Vamos pra casa minha filha, já ta na hora do almoço

Narrador:

Quando chega em casa, arrumando a mesa para o

almoço, Silvia fala: Som de talheres e panelas

Silvia:

- Juliana, ontem vi na TV sobre o caso de uma

adolescente de dezessete anos que morava no bairro das Castanheiras e foi encontrada morta numa lixeira daquele supermercado aqui mesmo no bairro das flores. A menina tinha marcas no corpo e foi estuprada. Juliana:

- Que coisa horrível mãe!

Silvia:

- Segundo a policia o assassino a conheceu pela

internet e marcou um encontro na frente da igreja. e ele tava envolvido com tráfico. Juliana:

- Tráfico? tráfico de drogas?

Silvia:

- Não, tráfico de pessoas.

Juliana:

- Me conta mais mãe, não tô sabendo disso.

Silvia:

- Olha minha filha o tráfico de pessoas, ou tráfico

humano, ocorre quando um grupo de pessoas organizadas em rede, utilizando-se de vários meios, principalmente a internet, engana crianças e adolescentes com propostas de emprego, diversão, viagens para outros Estados e até pra fora do Brasil. Quando conseguem enganar alguém, essa pessoa é presa, negociada, vendida e obrigada a entrar no mercado do sexo, que é onde o corpo e as relações sexuais são comercializados por dinheiro ou outros pagamentos. Juliana: são legais.

- Mãe, isso não vai acontecer comigo, os meus amigos


Silvia:

- Pois é filha, algumas pessoas fingem ser o que não são, tu

não achas que alguém pode trocar de nome e fingir que é legal só pra enganar pessoas para o tráfico? Juliana:

- Que neura mãe!

Silvia:

- Mas é isso que acontece com crianças e adolescentes

que acreditam nessas pessoas, aceitam suas promessas mentirosas e vão pra outros países, viram escravos sexuais e dificilmente voltam, porque sofrem agressões físicas, violências psicológicas, humilhações e algumas até morrem. Eu fiquei sabendo que a Policia Federal, também combate o tráfico de pessoas. Juliana:

- Que coisa! Eu já tinha escutado algo a respeito, mas

não sabia que era tão grave assim. Meu Deus! (exagerada) Silvia:

- O que foi filha?

Juliana:

- O Peter já ta um tempão me mandando e-mail, já me

ligou dizendo que, se eu quiser, coisas muito boas podem acontecer. Será que ele ta querendo fazer isso comigo? Quanto perigo eu estou correndo.(música eletrônica)

Narrador:

Mãe e filha descobriram que o perigo estava mais

próximo do que imaginava e que somente conversando poderiam se prevenir desse perigo. E no mesmo dia resolveram alertar as mães das amigas e as amigas da Juliana e também o dono do cyber para que ele se engaje na luta contra a exploração sexual e o tráfico de humanos. Ruído de conexão da internet. A Rádio Margarida e a Petrobras apresentaram.....


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.