A comunidade de prática na aprendizagem artigoanapaularocha

Page 1

Citar este texto: Rocha, Ana Paula (2010), A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional. Instituto de Educação: Lisboa

A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional.

Realizado com base em textos de Etienne Wenger e Andy Hargreaves

2010

Índice

Introdução

1

A relação entre comunidade de prática na aprendizagem, segundo Wenger, e a colaboração em educação, segundo

1

Hargreaves A relevância das trajectórias da construção de uma identidade

2

profissional na teoria de Wenger. Conclusão

3

Referências

4


Ana Paula Rocha: “A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional.”

ii


Ana Paula Rocha: “A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional.”

Introdução Segundo Wenger refere, no seu sítio da internet, o termo “community of practice” foi criado recentemente apesar de se relacionar com um fenómeno antigo, porém, temse revelado útil no sentido de permitir uma perspectiva relevante sobre a aprendizagem e o saber. Hargreaves, por seu turno, destaca a colaboração, por oposição à colegialidade artificial, como a medida mais virtuosa para melhorar a escola e provocar o desenvolvimento profissional e do currículo. Definir o que é o conceito de comunidade de prática na aprendizagem, segundo Etienne Wenger, e de colaboração em educação, segundo Hargreaves, é o ponto de partida para cumprir o objectivo deste trabalho: estabelecer as relações entre estes dois conceitos no contexto do ensino. No texto que se segue iremos ainda apresentar um comentário crítico fundamentado sobre a relevância das trajectórias da construção de uma identidade profissional.

A relação entre comunidade de prática na aprendizagem, segundo Wenger, e a colaboração em educação, segundo Hargreaves As comunidades de prática são constituídas por grupos de pessoas que têm certos factores em comum. Wenger refere que estes têm de, necessariamente, estar relacionados com os seguintes elementos: «the domain» - um certo domínio ou campo de interesses e uma competência específica partilhada pelos seus membros; «the community» - o estabelecimento de relações e interacções regulares em comunidade que os envolverão em actividades conjuntas, discussões, entreajuda; e «the practice» o facto de partilharem uma prática comum por terem um repertório de recursos comuns. É, ao desenvolverem os elementos mencionados em paralelo, que os seus membros cultivam uma certa comunidade o que provocará a aprendizagem entre todos, segundo o autor. O conceito de colaboração em educação, do ponto de vista de Hargreaves, é o modelo, segundo o qual, os professores colaboram entre si, por sua própria iniciativa, enquanto grupo social. A sua tendência é para ser voluntária, uma vez que as relações de trabalho não são de constrangimento nem de coação, isto é, não são calendarizadas

-1-


Ana Paula Rocha: “A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional.”

administrativamente, mas, sim, susceptíveis de se desenvolverem de uma forma agradável e proveitosa. São os professores que estabelecem as tarefas e as finalidades do seu trabalho em conjunto e podem revestir-se de um carácter imprevisível. São orientadas para o desenvolvimento porque se prolongam no tempo, tendo reflexos na melhoria da prática profissional. Por conseguinte, tanto Wenger como Hargreaves, apontam a colaboração e as comunidades de prática como uma forma de colegialidade não artificial, ocasional, de associação por grupo ou simples participação em equipa, mas sim como um modelo em que a negociação, o diálogo, a mutualidade e a confiança entre todos os intervenientes, insere a diferença, uma vez que permite aos professores aprender uns com os outros numa partilha de saberes que amplia o conjunto das suas competências, fomentando o desenvolvimento profissional dos mesmos e das escolas. Tanto o modelo de Hargreaves, como o de Wenger, são fórmulas de colaboração que podem impulsionar e desenvolver projectos escolares, programas de intervenção educativa centrados em problemas específicos, ou contribuir para a concretização de projectos de investigação. Ambos os autores partilham uma concepção de colaboração que se constitui como orientada para um conhecimento mais eficaz e para uma aprendizagem que melhora a educação e o desenvolvimento profissional ao longo da vida.

A relevância das trajectórias da construção de uma identidade profissional na teoria de Wenger. A participação em comunidades desenvolve uma “identity of participation” de acordo com Wenger, ou seja, uma identidade constituída através das relações de participação. Para os indivíduos participarem efectivamente em comunidades de prática tem de existir um empenhamento mútuo (mutual engagement), um empreendimento partilhado (a joint enterprise) e um reportório partilhado (shared repertoire) existindo uma ligação muito forte entre a construção da identidade, do “eu”, e o grau de participação na prática em comunidades. Portanto, a identidade de um profissional constitui-se pela riqueza e complexidade da prática. Uma vez que atravessamos uma sucessão de formas de participação nas comunidades de prática, as nossas identidades delineiam trajectórias de vários tipos.

-2-


Ana Paula Rocha: “A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional.”

Estas apresentam uma «coherence through time that connects the past, the present, and the future» constituíndo a nossa identidade professional. (Wenger, p. 154, 1998) Parece-nos de enorme relevância partilhar actividades em comunidade pela circunstância de, em primeiro lugar, nos dar um sentimento de pertença e, em segundo lugar, nos ajudar a construir o conhecimento por via de uma aprendizagem partilhada, potenciada pelo pensamento reflexivo. As trajectórias individuais de aprendizagem podem transportar, de umas para outras, as vivências construídas em comunidades diferentes, gerando, assim, uma rede de influências que melhora o desenvolvimento profissional individual e colectivo. A nossa experiência aponta no sentido da mais valia que representam as diferentes constelações de práticas em comunidades diversas, mesmo naquelas que se constituem como colegialidades artificiais (segundo a designação de Hargreaves), uma vez que também são necessárias no desenvolvimento do trabalho colectivo, na aferição de procedimentos que se pretendem comuns. Numa entrevista a Etienne Wenger, à qual acedemos online, este refere que a web também abriu o campo para as comunidades de uma forma incrível. De certa forma, o conceito de comunidade de prática está muito bem alinhado com a forma como a web funciona. Ligamo-nos às pessoas, não porque vivem na nossa rua ou porque trabalham no nosso piso, mas porque estamos interessados em interagir e aprender. Por isso a web adequa-se muito bem às comunidades de prática. Não podemos discordar do autor, até pela circunstância de que a modernidade aponta para a construção, cada vez mais usual, de comunidades virtuais. Estas não têm de ser disfuncionais (o que poderá suceder se forem muito massivas no número de participantes), antes pelo contrário, permitem uma liberdade aos cooperantes que decorre, logo à partida, da flexibilidade da gestão temporal e da inexistência de constrangimentos geográficos. Podem, por conseguinte, ser muito mais globais e enriquecidas pelos seus participantes de origens e com experiências muito diversas e levar à construção de trajectórias individuais engrandecidas por vivências em diferentes comunidades de prática, sejam elas virtuais ou não.

Conclusão

A colaboração em comunidades de práticas surge como uma rede de indivíduos que partilham um domínio, ou interesses comuns, sobre os quais interagem, partilhando recursos, experiências, problemas, soluções, metodologias. Tanto no conceito de Wenger, como no modelo de Hargreaves, a associação entre profissionais, com vista ao

-3-


Ana Paula Rocha: “A Comunidade de Prática na Aprendizagem. A Colaboração em Educação. As trajectórias da construção de uma identidade profissional.”

trabalho colaborativo, resulta na melhoria do conhecimento dos participantes de uma comunidade e no desenvolvimento do seu conhecimento. Ambos os modelos destes autores trazem benefícios ao ensino, seja pela aprendizagem informal, contínua, cíclica, que flui - a qual pode ocorrer sem ter sido planificada – seja pela aquisição de conhecimento que constituiu o propósito da criação de uma determinada comunidade.

Referências

Entrevista online a Etienne Wenger sobre Comunidades de prática datada de 3/11/2003: http://www.knowledgeboard.com/cgi-bin/item.cgi?id=458 [acedido pela última vez a 20 de Novembro de 2010] HARGREAVES, Andy (1998), Os professores em tempos de mudança – o trabalho e a cultura dos professores na idade Pós-moderna, Alfragide, Mc Graw Hill.

WENGER, Etienne [sítio da internet do autor] http://www.ewenger.com/theory/ [acedido pela última vez a 20 de Novembro de 2010] WENGER, Etienne (1998). Communities of practice: learning, meaning, and identity. Cambridge: Cambridge University Press.

Ana Paula Rocha

-4-


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.