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PROFISSIONAL-INVESTIGADOR (PRACTITIONER-INQUIRER): CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Citar este artigo: Rocha, A. P. (2015). Profissional-Investigador – PractitionerInquirer. Almadaforma. Revista do Centro de Formação da Associação das Escolas de Almada. A Formação Contínua na Melhoria da Escola, nº 9, abril 2015, pp. 19-23.
RESUMO Tomando como ponto de partida o conceito de professor-investigador, procura-se aqui compreender a sua relação com o desenvolvimento profissional. Estabelecem-se as afinidades com o processo de reflexão crítica e aponta-se como uma cultura de investigação da própria prática é fundamental, com vista ao desenvolvimento de competências e atitudes problematizadoras da praxis, assumindo-se a importância da formação que proporcione contextos para a investigação realizada pelo próprio professor.
O QUE DEFINE PROFISSIONAL?
DESENVOLVIMENTO
É recorrente que os professores, concluído um período de formação contínua, realizado através da oferta de um Centro de Formação, refiram nos seus relatórios de reflexão como constatam ter-se verificado o seu desenvolvimento profissional, resultante da intervenção formativa em que se envolveram. Porém, o que entendem por desenvolvimento profissional? Será que o conceito teria
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enquadramento idêntico para todos? Quererão dizer que se sentem na posse de novos conhecimentos e que estes foram úteis? Pensarão que algo mudou na sua capacidade de intervenção na própria prática? Ou creem ter ultrapassado mais uma etapa formativa que culmina no momento de avaliação com carácter classificativo do seu desempenho, naquele contexto concreto? No entender destes profissionais o conceito englobará tudo o que aqui se referiu, ou algo distinto? Por sua vez, os formadores, nos seus documentos de avaliação de todo o processo, subscrevem essa evidência e sublinham os seus efeitos através de descrições dos benefícios que todos obtiveram, considerando-a o desfecho natural e incontornável da ação formativa na qual foram agentes ativos. Natural? Incontornável? Será que todas as ações de formação, sejam quais forem os conteúdos e estratégias utilizados, conduzirão, espontaneamente, ao desenvolvimento profissional dos formandos? Selecionámos um investigador que nos ajuda a compreender o que diversos autores, por ele selecionados, entendem por desenvolvimento profissional, consistindo, segundo os referenciados, em formação contínua (Darder, 1988); aperfeiçoamento dos docentes (Martínez, 1983; Vázquez, 1976); crescimento profissional do professor (Joyce, 1980; * Professora, Formadora de Formação Contínua de Professores e Investigadora na área das Ciências da Educação. Membro colaborador na Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Educação e Formação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Ana Paula Rocha 2 PROFISSIONAL-INVESTIGADOR (PRACTITIONER-INQUIRER): CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL NcNergney y Carrier, 1981; Fullan, 1987; Griffin, 1983); treino ou aperfeiçoamento em serviço (‘in-service training’) (Neil, 1986; de la Orden, 1982); reciclagem (Landsheere, 1987); formação em serviço (Montero, 1987); ou ainda uma fase da carreira profissional que se inicia assim que terminam as práticas profissionais ou começa a fase de iniciação profissional (García A., 1987). O mesmo investigador indica que, nas definições apontadas, surgem palavras que aludem, primeiramente, a mudança, melhoria, refinamento das competências, como produto de uma intervenção, e, logo de seguida, às estratégias, processos, mecanismos de intervenção que proporcionam tais mudanças. (Ângulo, 1990). Para que melhor alcancemos o que este conceito envolve, aproveitamos a definição de Fullan para qualificar o desenvolvimento profissional como algo de larga amplitude que inclui qualquer atividade ou processo que procure melhorar competências, atitudes, compreensão ou ação em papéis atuais ou futuros. O investigador acrescenta que, quando os professores se comprometem na implementação de inovações, ocorrem mudanças significativas, na medida em que o processo de implementação é essencialmente um processo de aprendizagem. Assim, quando se relaciona com inovações concretas, o desenvolvimento profissional e a implementação daquelas estão ligados (Fullan, 1990). A visão de Joyce (1980) sobre o que constitui o desenvolvimento profissional é, por outro lado, integradora do requisito da reflexão: «o desenvolvimento profissional envolve todas as experiências espontâneas
de aprendizagem e as atividades conscientemente planificadas, realizadas para benefício, direto ou indireto, do indivíduo, do grupo ou da escola e que contribuem, através destes, para a qualidade da educação na sala de aula. É o processo através do qual os professores, enquanto agentes de mudança, reveem, renovam e ampliam, individual ou colectivamente, o seu compromisso com os propósitos morais do ensino, adquirem e desenvolvem, de forma crítica, juntamente com as crianças, jovens e colegas, o conhecimento, as destrezas e a inteligência emocional, essenciais para uma reflexão, planificação e prática profissionais eficazes, em cada uma das fases das suas vidas profissionais» (in Day, 2001, pp. 20-21, cit. de Joyce , 1980).
PROFESSOR REFLEXIVO-CRÍTICO PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Alguns autores como Alarcão (1995) e Schön (1987) desenvolveram propostas de formação docente utilizando o paradigma do professor reflexivo. No seu entender, a formação que contribui com eficácia para o desenvolvimento profissional do professor, tem de ter em vista a construção ativa do seu saber-fazer docente, um conhecimento que se processa na ação e a partir da reflexão do professor na e sobre a ação.
Ana Paula Rocha 3 PROFISSIONAL-INVESTIGADOR (PRACTITIONER-INQUIRER): CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Esta visão entende o professor como um profissional envolvido num processo continuum de formação, permanente, que se materializa na autoformação, através da qual os professores refazem os saberes iniciais em confronto com as suas experiências e práticas vivenciadas em contextos reais no ensino. É nesse confronto e num processo colaborativo e colegial de troca de práticas e experiências que os professores vão construindo os seus saberes enquanto praticum, refletindo na e sobre a prática. Nóvoa (1992) propõe a formação numa perspectiva que denomina crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autónomo e que facilite as dinâmicas de formação autoparticipada.
Nesta ordem de ideias é necessário que os programas de formação contínua para professores abordem temas e recorram a metodologias estratégicas que deem ênfase ao desenvolvimento profissional promotor da reflexão crítica. O conceito de prático reflexivo constata o valor da experiência, partindo do princípio que a reflexão do docente sobre a sua atividade deve sustentar-se no conhecimento sistematizado, o que o torna um produtor, e não simples consumidor, de teorias alheias como Zabalza (2004) defende. Para que esta prática educativa reflexiva se torne crítica precisa de apoiar-se na
investigação da própria prática, no processo interativo, no diálogo com situações autênticas considerando-se a experiência como uma fonte rica e construtiva.
PROFISSIONAL/PROFESSORINVESTIGADOR (PRACTITIONERINQUIRER), O QUE O CARACTERIZA? CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL A experiência, porém, pode não ser fonte formadora. John Dewey (1959) estava crente que, no tocante à experiência de um professor, alcançada ao longo de uma década, podemos pensar uma de duas coisas. Ou que ele tem dez anos de experiência, ou, no pior dos casos, que possui um ano de experiência repetido dez vezes. Portanto, pode representar uma mera reprodução contínua, uma sucessão de rotinas, não sendo potenciadora de novos saberes para a ação. Ao invés, a capacidade de reflexão crítica sobre essa experiência, constitui-se como formadora e potenciadora do desenvolvimento profissional especialmente se estimulada pela investigação sobre a própria prática. Nóvoa (1992) clarifica como os conceitos de professor-investigador (practitionerinquirer) e professor reflexivo se tratam de uma mesma realidade abordada de formas diferentes pelas Ciências da Educação. O professor-investigador é aquele que investiga ou reflete sobre a sua prática, assumindo a própria realidade escolar como um objeto de averiguação, de reflexão, de análise, enquadrando-se no paradigma do professor reflexivo. Segundo esta perspetiva a praxis institui-se ao longo de um percurso que engloba, de forma integrada, a trajetória, a formação, o
Ana Paula Rocha 4 PROFISSIONAL-INVESTIGADOR (PRACTITIONER-INQUIRER): CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL conhecimento pedagógico compartilhado e as redes de interações. Os benefícios de um processo desta ordem são vários. Os professores podem criar melhores condições para enfrentar os problemas colocados pela prática, na dimensão em que os compreendam, sobre eles reflitam, exercendo o seu sentido crítico e, em conjunto com os seus pares, possam desocultar presunções enganadoras para se apropriarem de formas de enfrentamento. As estratégias para este enfrentamento podem ser proporcionadas e geradas em espaços de formação contínua, onde a construção da profissionalidade (conjunto de saberes profissionais) ocorre e estimula uma cultura organizacional sócio construtiva. Os contextos formativos com maiores condições de proporcionar o desenvolvimento profissional integram o saber que advém do trajeto individual do professor, promovem o estabelecimento de redes e relações recíprocas, o domínio do saber fazer (conhecimento prático) e o domínio do saber (conhecimento científico), tendo como suporte um processo sistemático, organizado e autorreflexivo, que irradia e se fundeia na investigação-ação. É nestas circunstâncias que, à medida que os professores refletem criticamente, se formam e constituem como docentes na sua profissionalidade. Stenhouse (1975), por seu turno, defende o profissionalismo dos professores assente numa ciência educativa em que cada sala de aula é um laboratório e cada professor um membro da comunidade científica. Considera que a melhoria do ensino é um processo de desenvolvimento e que essa melhoria não se consegue por mero desejo, mas pelo aperfeiçoamento, bem reflectido, da competência de ensinar. Em
segundo lugar, indica como o aperfeiçoamento da competência de ensinar se atinge pela eliminação gradual dos aspectos negativos através do estudo sistemático da própria atividade docente.
PARA CONCLUIR É sob este pano de fundo que passamos agora a apresentar uma súmula, das implicações da ação do profissionalinvestigador (practitioner-inquirer) no desenvolvimento profissional, recorrendo a Rocha (2014). E o que se constata, segundo esta investigadora, é que: - 1 O desenvolvimento de projetos pessoais de investigação-ação constituem a metodologia mais adequada ao professor investigador que visa a resolução de problemas na sua praxis, por terem em vista melhorar as próprias práticas, sem a pressão das formalidades académicas da investigação empírica; - O ritmo adotado pelo próprio, a focalização na essência da problemática que decorre da sua experiência em contextos reais, tornam esta estratégia investigativa como atraente, mais enriquecedora e passível da obtenção de
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Texto por nós adaptado.
Ana Paula Rocha 5 PROFISSIONAL-INVESTIGADOR (PRACTITIONER-INQUIRER): CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL resultados satisfação;
causadores
de
elevada
- O recurso a amigos-críticos, que demonstrem capacidade reflexiva crítica para colaborarem, e à supervisão inter pares podem dar um contributo essencial nos resultados da investigação realizada pelos próprios docentes; - A constituição de notas, diários, portefólios permitem dar conta do processo de investigação e desocultação de pressupostos, desvelando e reforçando os efeitos da reflexão crítica e capacidade analítica; - Os resultados benéficos da investigação, na resolução de problemas, poderão ser facilitados caso o processo de reflexão se tenha tornado consistentemente crítico e se verifique a transferibilidade de aprendizagens para outras situações do contexto profissional; - O desenvolvimento profissional será fomentado pela investigação-ação caso os professores recorram a processos de metacognição, recolha, descrição, síntese, interpretação e avaliação sistemática de dados, aceitando as mudanças como maisvalias que podem contribuir para a desenvoltura profissional e pessoal.
Conclui-se, assim, que a perspetiva reflexiva, de cariz crítico, em contextos de investigação da própria prática oferece melhores condições de aprendizagem e de desenvolvimento profissional do profissional que é o professor-investigador (practitioner-inquirer).
Referências: ALARCÃO, I. (1995). Formação reflexiva de professores: estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora. ÂNGULO, L. M. V. (1990). El profesor como profisional: formación y desarrollo personal. Granada: Universidade de Granada. Instituto de Ciencias de la Educación. DAY, C. (1999). Developing Teachers: the Challenge of Lifelong Learning.(trad. Maria Assunção Flores), Desenvolvimento Profissional de Professores. Os Desafios da Aprendizagem Permanente. Colecção Currículo, Políticas e Práticas, nº 7. Porto: Porto Editora, 2001. DEWEY, J. (1933) How We Think. A restatement of the relation of reflective thinking to the educative process (Revised ed.), Boston: D. C. Heath. FULLAN, M. (1990). Staff development, innovation, and institutional development. In Changing school culture through staff development: The 1990 ASCD yearbook. (pp. 3– 25). Alexandria, VA: ASCD. NÓVOA, A. (Org), (1992). Os professores e a sua formação. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. ROCHA, A. P. (2014). Dispersão Da Atividade Docente: O Poder Do Professor Reflexivo Crítico Num Contexto Formativo Colaborativo. Lisboa: Universidade de Lisboa (in repositorio.ul.pt) SCHÖN, A. D. (1987). Educating the reflective practitioner. San Francisco: Jossey-Bass Publishers. STENHOUSE, L. (1975). An introduction to curriculum research and development. London: Heinemann. ZABALZA, M. A. (2004). O ensino universitário. Seus cenários e seus protagonistas. (trad. Ernani Rosa). Porto Alegre: Artmed.