Lautriv Mitelob - BV004

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004 ∙ Esperança/PB ∙ Dedicado especialmente à arte, à cultura e à história da nossa gente.

quarta-feira, 31 de julho de 2013 (formatado para encadernação)

CASAMENTO MATUTO: Pequena história de um texto Leia mais em: http://historiaesperancense.blogspot.com.br http://www.evaldobrasil.blogspot.com.br/

A cerimônia de Casamento Matuto ou Caipira é uma manifestação realizada durante os festejos juninos, originalmente, nos dias dedicados a São Pedro. Dependendo da região e estado do Brasil a brincadeira é conhecida também por outros nomes como Casamento na Roça. Anos 80: Na Rua Monsenhor Palmeira, no calçamento escorregadio, uma quadrilha dentre tantas se arma para festejar Sanjoão. Dentre os brincantes, Karl Marx e alguns dos futuros expoentes dos atos de esquerda a partir de então: Claudionor Vital Pereira e eu, Evaldo Pedro Brasil da Costa... Eis que armados, de batina ou carabina, protagonizam um Casamento Matuto. A noiva, não lembro quem; o padre, também não. Talvez algum dos internautas que venham a ler este texto se alembrem de ter estado lá, a quinhentos metros da Maternidade; recorde ter sido algum dos personagens encarnados na ocasião. Coletado por Claudionor Vital, filho que seria o padre da família Vital Pereira, hoje advogado e estudioso da Doutrina Espírita, o texto foi ensaiado e vivido num único dia. Mas o futuro lhe reservava a vitória e outros registros. O Casamento é uma paródia às cerimônias tradicionais. O cerimonial é precedido de um grande cortejo pelas ruas da cidade, onde os principais personagens da representação são: a noiva grávida, o noivo, o delegado, o padre, os pais dos noivos, padrinhos etc. O enlace caricaturado se desenvolve em meio às fugas do noivo, às indecisões da noiva e ameaças por parte dos pais, vigário e do delegado.

Os textos apresentam uma linguagem libidinosa e os sermões contêm fortes conotações crítico-sociais. Após a celebração do casamento, inicia-se a quadrilha. 1

Anos 2000: Na Rua Manoel Rodrigues, no asfalto desgastado com o tempo, uma turma se perfila para competir no último de uma série de concursos promovidos pela Prefeitura Municipal de Esperança. Eis que, de posse de uma gravação feita primitivamente em fita cassete daquele texto coletado por Nanô de Seu Elpídio, protagonizaram uma vitória apertada no Concurso de Casamento Matuto 2004. A noiva era de Remígio e todos componentes do GEA Irineu Joffily. Adaptado por mim, então professor de Inglês e Artes da EEEFIJ, tradicional palco de festas juninas, e meus alunos, aquele texto manteve a originalidade e, apesar de concorrer com o do CEMOL, pertencente à irmã do então prefeito, levou o primeiro lugar, um rádio gravador com CD player AIWA, confirmando que o concurso era sério, sem manipulação dos resultados. Júlio Vanderlânio, ao abrir a caixa improvisada do prêmio, denuncia aos risos uma barata, de pilhéria. O prêmio viria a ser o segundo equipamento do tipo na escola. Mas, a quebra do paradigma de que o Irineu só ganhava nos Jogos Estudantis foi o prêmio maior, para a estima de todos os que faziam algo mais que jogar. A descrença era tal que apenas dois dos professores da escola estiveram na plateia. Não há mais notícia da sequência do concurso. Desde então, o texto foi publicado em folheto por nós em 20 de janeiro de 2011. E, desde sempre, o Casamento Matuto vem sendo, ora abertura ora intervalo, ora de relance ora com destaque, parte das quadrilhas. E quando não, os noivos e o padre nos lembram de que bem podia alçar voo para a comédia de costumes, ensaio fotográfico, curta-metragem de ficção ou documentário.


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POETA ZÉ DA LUZ: Severino de Andrade Silva nasceu em 29 de março de 1904, na cidade de Itabaiana/PB. Ficou conhecido no Brasil pela linguagem matuta que impunha em seus versos, com o epíteto de Zé da Luz. Costumava apresentar-se a caráter, de terno e com chapéu de couro. Uma de suas composições mais conhecidas é Brasi Cabôclo, publicada pela primeira vez no jornal A União. Todavia, deve-se acrescentar ao seu repertório as poesias: A cacimba, As flô de Puxinanã (paródia de As Flô de Gerematáia, de Napoleão Menezes), Ai! Se sêsse* e, Confissão de Cabôco. Alfaiate de profissão tinha boas amizades em Campina, frequentava os círculos de Cristino Pimentel, José Pedrosa e Lopes de Andrade. Fez sua primeira viagem à cidade maravilhosa em 1937. Sebastião Fonseca escrevendo para o jornal Dom Casmuro, indaga do poeta o que havia de fazer ali concluindo que este não encontrou no

“POESIA COM MAIS AUTORIDADE” Não estou bem certo disso. Quiçá essa desilusão tenha motivado no poeta popular a escrita de seu majestoso A terra caiu no chão, repetidas vezes declamadas em programas de auditórios televisivos: “Visitando o meu sertão que tanta grandeza encerra, trouxe um punhado de terra com a maior satisfação. Fiz isso na intenção, como fez Pedro Segundo, de quando eu deixasse o mundo levá-lo no meu caixão.

Rio o estímulo para os seus versos de rara beleza: “Grande poeta sertanejo! Por que deixaste o teu Norte? Terias, talvez, mais sorte Na ‘Capital do Algodão’... Trocando Campina Grande Pela miragem do Rio, Por um ‘pastel de assobio’ Trocaste um mundo – o sertão!”

Chegando ao Rio, pensei guardá-lo só para mim e num saquinho de brim essa relíquia encerrei! Com carinho e com cuidado numa ripa do telhado, o saquinho pendurei...

(Sebastião Fonseca)

Uma doença apanhei e vendo bem próxima a morte lembrando as terras do norte do saquinho me lembrei. Que cruel desilusão! As traças, sem coração meterem os dentes no saco, fizeram um grande buraco e a terra caiu no chão.” (Zé da Luz) Há notícias de que em Campina, o antigo Centro dos Motoristas promoveu no Campinense Clube um concurso em sua homenagem. A 5ª edição de Brasil Cabôclo (Editora Acauã: 1979) conta com prefácio de José Lins do Rêgo, que modestamente comentou: “Meu caro poeta, você não precisa de prefácios, porque a sua poesia fala com mais autoridade que qualquer palavra de apresentação”. Zé da Luz faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro de 1965. (Rau Ferreira)

Foto: Zé da Luz, aos 20 anos, em http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Z%C3%A9+da+Luz&ltr=z&id_perso=358 * Veja em http://youtu.be/RJQC1w0yRbk (acessados em 01/08/13, às 21:45). 2


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As faces do amor

O Sonho da Casa de Saúde e Maternidade São Francisco de Assis Em http://revivendoesperancapb.blogspot.com.br/ De João de Patrício

O mundo e suas voltas A Medusa1 da mitologia grega foi vitima de abuso por Poseidon, e como castigo, Atena a condenou a se tornar uma mulher feia, e que todos os homens e mulheres que a olhasse morreriam petrificados ao verem seus cabelos de cobra. Quando Perseu a matou, cada gota de seu sangue deu origem a todos os tipos de cobra existente no mundo. A Frida Kahlo2, quando terminou seu romance com Diego Rivera. Cortou seus cabelos na busca de podar os sentimentos. Reside nesse universo feminino uma analogia interessante. Normalmente, as mulheres quando não podem mudar a sua realidade, acabam mudando sua aparência, muitas vezes radicalmente para podar as dores da vida. Hoje, lembrei-me de uma figura (mais uma da rua do cemitério) D. Eloá. Em sua casa havia uma palmeira que floresce nos meses de novembro a janeiro, um cheiro forte é exalado dela, e esse aroma sempre me lembra de férias, pois é bem nessa época que se entra no clima de natal e de renovação para o ano novo. E seus cabelos sempre são lembrados. O casal D. Eloá e seu Gigi, para quem conheceu eram figuras interessantes, eles criavam um monte de cachorros pequenos, ele um intelectual e ela não ficava atrás, sempre achei que os iguais se atraem, e não os opostos, essa regra só vale pra regra da física. (...)

A Maternidade de Esperança foi um sonho da população que se ressentia da ausência de assistência médica em todo o município. Basta dizer que as senhoras grávidas, às vésperas do parto, teriam que correr num jipe fretado, para a cidade de Areia ou para Alagoa Grande, correndo risco de perder o bebê, por causa da distancia e das condições péssimas da estrada. Muitas vezes, algumas delas deram à luz o seu filho, dentro do carro. Daí, a grande necessidade e urgência de se ter em Esperança uma casa de saúde que atendesse às necessidades mais prementes da população, principalmente, a população mais carente. Padre Palmeira, com o seu dinamismo, procurou motivar, esclarecer e mobilizar os esperancenses, em seus sermões, sempre aos domingos, na Santa Missa, no sentido de adquirir junto aos poderes públicos, um terreno urbano, para a construção de uma casa de saúde. (...)

(Lei mais. Visite o blog de Ana Débora Mascarenhas e saiba como termina essa reflexão). Em http://deboramascarenhas.blogspot.com.br/

Em http://deboramascarenhas.blogspot.com.br/ 1 Em http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mitologia-grega/medusa.php 2 Em http://saragazini.wordpress.com/2012/08/06/frida-kahlo/frida-kahlo-5-2/

(Veja o final desse registro no blog do João de Patrício, em http://revivendoesperancapb.blogspot.com.br/). 3


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(Dedicado a Rau Ferreira)

POEMA EM CONSTRUÇÃO

A repressão mais presente Do que nunca por aqui A censura ao pensamento Faz morada por aqui...

Poesia é um gênero literário caracterizado pela composição em versos estruturados de forma harmoniosa. É uma manifestação de beleza e estética retratada pelo poeta em forma de palavras. No sentido figurado, poesia é tudo aquilo que comove; que sensibiliza e desperta sentimentos. É qualquer forma de arte que inspira e encanta; que é sublime e bela. Existem determinados elementos formais que caracterizam um texto poético - como, por exemplo, o ritmo, os versos e as estrofes e que definem a métrica de uma poesia. A métrica de um poema consiste na utilização de recursos literários específicos que distinguem o estilo de um poeta. Os versos livres não seguem nenhuma métrica. O autor tem liberdade para definir o seu próprio ritmo e criar as suas próprias normas. Esse tipo de poesia é também designado por poesia moderna, na qual se destacam elementos do modernismo. A poesia em prosa também dá autonomia ao autor para compor um texto poético não constituído por versos (desde que haja harmonia, ritmo e a componente emotiva inspirada pela poesia). (http://www.significados.com.br/poesia/). A poesia é a tradução em palavras do universo desconhecido das emoções, é uma esfera pouco compreendida, que tenta muitas vezes transmitir significados nas entrelinhas dos versos. Este edifício constituído pela magia das palavras revestidas de sonoridades, estruturas rítmicas e visuais, por significações latentes, desvela a alma humana, dá espaço para que ela expresse suas inquietações e anseios interiores. Os poemas pulsam e vibram com uma vitalidade específica, comunicando ao leitor a própria essência da linguagem. Neles as palavras se combinam compondo sintaxes, ou seja, um quebra-cabeça onde cada peça se encaixa perfeitamente, mas sempre pode ser combinada de outra forma, criando e recriando novas possibilidades. O poeta cria com a matéria-prima da imaginação, extraindo de si todas as probabilidades latentes, mas ele não se atém apenas à criatividade diante da página em branco; ele explora todos os mecanismos disponíveis, recorrendo à riqueza da linguagem, ao universo gramatical, a todas as faces oferecidas pelas palavras, que são arduamente lapidadas, como uma pedra bruta antes de se transformar em diamante. Sem disposição para este trabalho exaustivo, o escritor não logrará sucesso. (...)

Disfarçada de abertura Pela net, pelo rádio, Conteúdo em turbilhão Faz rasteiro, no Estádio. O fazer arte Se amarra ao ponto focal Em si se parte Em quase enfarte Desgarra do poder local Sem isso parte Perde-se no pau da sombra, mas o outono chega tempestuoso, E o desavisado se assombra e só chora -em menino- desgostoso. Já não sabe se unir Predomina a divisão Pouco importa o comum Não vislumbra reação Se enche de vaidade Fixado à tenra idade No ato da negação

(Ana Lúcia Santana, em http://www.infoescola.com/literatura/poesia/)

Pelo exposto e reflexões anteriores, dedico esse poema. Se poesia, não depende só de mim. (Evaldo Brasil).

Não olha exemplo dado, daquele que não também Recebeu mas não parou e nessa luta se mantém. 4


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