Lautriv Mitelob - BV002

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cod.lautriv‐mitelob:abcdefghinjokvlomtneompoqdresntouvowxyz:bole m‐virtual.pdf terça‐feira, 11 de junho de 2013 (formatado para encadernação)

002 ∙ Esperança/PB ∙ Dedicado especialmente à arte, à cultura e à história da nossa gente.

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Por ordem de chegada, desse ponto de vista

Comentei, compartilhei, curti recentemente diversas postagens. Numa, alguém apresentava um cartaz dizendo ao deputado da “cura gay” que se o fizesse com ele, comeria a mulher do parlamentar. Comentei outra em que diziam não querer a realização da Copa, como se um protesto dessa natureza fosse alterar uma agenda internacional desse porte. Não acho impossível, mas improvável. De qualquer forma, “Eu quero a Copa” (abaixo) saiu de improviso e terminei com “poesia já!”, para versos livres e engajados em ideias e não a pessoas. No entanto, num mundo onde as falhas de comunicação, os mal entendidos, os ruídos podem provocar intrigas ou, pelo menos, nos deixar intrigados com essa ou aquela postagem desde ou daquele amigo, conhecido, vizinho, paquera, amante, admirador(a) secreto(a) ou assumido(a)... estou com certo receio de, neste momento turvo, onde já

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Amplio agora mais uma produção do não tenho as poucas certezas Boletim Virtual. O fizemos por ordem de que achava ter, chegada dos conteúdos. Esse foi o ponto emitir qualquer de partida. Caros confrades, Rau Ferreira, reflexão. Refletir no Sílvia Araújo, Roberto Cardoso, Roseane caos talvez não Martins, João de Deus, Lísias Xavier, João case com a de Patrício, Luzia Araújo, Inácio velocidade das Gonçalves, Beth Costa, Egberto Vital, coisas. Talvez lance Poliana Anselmo, Mércio Araújo etc. etc. mão da expressão etc. Na medida em que estes foram Terrorismo Virtual, chegando, inserimos seus conteúdos. ineficaz para quem Daqui, damos o tratamento. não queira refletir. Quando digo amplio, quero D i s s o , literalmente, aumentar o tamanho da desse turbilhão de mensagens curtas, fonte (letra) utilizada e, só em último de fontes nem caso, de conteúdo. sempre confiáveis, (Evaldo Brasil) recomendo não levar essa vida tão a sério, relativizar tudo, ponderar antes de qualquer reação, refletir antes de apertar o enter, ao ler/ver uma postagem nas redes sociais (leia-se Facebook, Orkut etc.). Quando o desconfiômetro sinalizar, pesquise na própria rede, no Google, Wikipedia, blogs e sites dos citados para conferir o mínimo possível a veracidade do que se diz e de quem diz. Há quem chame de humor muitas das postagens. Mas eu suspeito de, no mínimo, irresponsabilidade, ao se plantar boatos, factoides, chegando a uma possível tentativa de conquista e manipulação da opinião pública a partir do potencial da internet. (13 06 23, Evaldo Brasil)


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SOL O São João é a festa nordestina de maior tradição. S. Olavo em seu 2º livro de versos, Sombra Iluminada, dedica-lhe um longo poema em que descreve em detalhes o seu ritual: Na “Noite de S. João”, considerada “santa”, fogões e balões evocam uma mensagem em homenagem ao padroeiro do mês junino. As senhoras entoam suas novenas nas vozes mais bonitas. As moças vestidas de “chita” experimentam adivinhações, e anseiam ver refletida n'água o seu predestinado; mas pranteiam desconsoladas quando não lhe veem o rosto do amado. Os homens, erguendo o mastro, demonstram a sua força sem se importar com as crianças a brincar no terreiro bem varrido. Fogueiras são acesas e nas suas brasas o milho arde; os jovens se dão por compadre e comadre, chispando-lhes as cinzas do alto, enquanto outros lhes passam os pés descalços em sinal de fé. E um menino adentra correndo a sala, feliz por haver vencido igualmente o desafio.

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Capa de Sombra Iluminada: Reprodução em .cdr a partir de .jpeg do acervo de Rau Ferreira. Original: Cornélio Pena.

O poema gira em tom romântico e bucólico fiel a sua vertente parnasiana. Na sua visão o religioso (novenas) e o místico (adivinhações) não se contrapõem, guardado o devido tempo. Aliás, este fator é uma preocupação que se desenvolve na sua poética, pois o autor segue além da métrica um ritmo de fatos e acontecimentos. Separam as pessoas em grupos – senhoras, donzelas, homens e crianças – cada qual no seu fazer, na sua obrigação. Tudo isto sob o olhar atento de uma mãe que é “todo ouvidos” à inocência do filho que relata a façanha realizada por sobre a fogueira. A ela, certamente, é confiado o preparo das comidas, como o verde espigo que arde no lenho em brasa. O balão fazendo-nos olhar para o céu traduz a mensagem dos que festejam o santo do dia, e representa a luz que por mais efêmera que seja os ilumina. O brilho dos folguedos, o calor natural e humano da época; a convivência em família e as coisas do amor alegram a feliz comemoração.

Lei mais em: http://historiaesperancense.blogspot.com.br/search/label/SOL 2

(13 06 24, Rau Ferreira)


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sses dias li um artigo onde a autora dizia que, os filhos da classe média hoje são mal acostumados, e querem tudo em suas mãos, achando que por terem escola de qualidade e dominarem outras línguas, são aptos a terem sempre o melhor emprego, ou no mínimo o mesmo sucesso dos pais. É interessante a observação feita, mas me lembro de ainda no meu tempo de escola, no antigo Colégio Estadual Mons. José da Silva Coutinho, em Esperança não era bem assim. Lembro que estudavam todos no mesmo local, eram filhos de médicos, advogados, costureiras empregadas domésticas, todos na mesma sala. Tínhamos educação de qualidade e gratuita. Hoje relembrando daqueles colegas, vejo que todos participavam ativamente dos movimentos escolares. Tínhamos gincanas, shows de calouros, um jornal para divulgar os assuntos relacionados ao colégio e a cidade em si. E nada disso tinha patrocínio, ou pai e mãe que auxiliavam. Hoje vejo que

grande parte dos colegas da época tem em suas redes sociais contatos com os professores de outrora, pessoas que admiramos muito ainda hoje. Saíram daquele colégio uma leva significativa de advogados, jornalistas, professores e ambientalistas que estiveram juntos comigo em tempos que trazem boas lembranças. E nossos filhos hoje, bem, nossos filhos são os filhos da classe média, mas que nós sempre buscamos mostrar para

eles que o mundo tá aí, mas precisa ser conquistado e por isso o esforço, em aprender uma língua, aprender a aprender, aprender a conviver, a fazer e, sobretudo, aprender a ser, como defende Paulo Freire. Para aquele povo todo da década de 80, o colégio tinha um encanto enorme, todos gostavam de ir pra escola. Tínhamos nossos desafios. As peças de teatro era um encanto a parte. Uma vez no show de talentos ganhei um prêmio por melhor cantora, mas o melhor de tudo foi ter um pedaço do jornal do colégio falando de mim. Guardei por tanto tempo, com tanto esmero, até que um belo dia a diarista o jogou fora. Simplesmente por achar velho e como não sabia ler, não achou interessante. Porém, as lembranças permanecem, grandes amizades continuam e isso ninguém pode nos tirar. A todos os estudantes do colégio Mons. José da Silva Coutinho um recado “aproveitem o hoje, façam reservas de lembranças gostosas para a posteridade, por que fora o conhecimento adquirido é só o que vai restar”.

(Ana Débora Costa Mascarenhas, em http://historiaesperancense.blogspot.com.br, de http://deboramascarenhas.blogspot.com.br, acessado em 13 06 09) 3


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CORDEL 49‐038

E um poeta se faz palhaço no circo louco da vida (A poesia de Silvino Olavo II, por Evaldo Brasil ‐ 080324)

I Qualquer um ser humano Com amargura remoída Só se negaria a reclamar Diante da tortura atrevida Se tivesse coração de aço… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida. II Seu coração é um acrobata Ele sorri da própria ferida Se opondo a mal tratante dor Serenando a dor da sua lida Entre a glória e o fracasso… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida. III A multidão desata em riso Mas não percebe a medida Que assiste as suas piruetas Amenas, tragédia escondida, Que não se expõe um traço… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida.

O meu palhaço

O soneto O Meu Palhaço, de Silvino Olavo é aqui relido na forma de sétimas. Esse exercício de escrita é uma tentativa de entrar no íntimo do poeta através de um dos seus trabalhos mais belos e, a partir daí, apresenta‐lo em sua leitura da condição humana, sua inquietação diante da indiferença a qual nós somos conduzidos nas relações interpessoais.

Meu coração é um mísero acrobata Um palhaço sarcástico de arena, Gargalha sempre, de feição serena, Contrafazendo a mágoa que o maltrata. Enquanto em riso a multidão desata, As piruetas deste clown em cena, Ninguém descobre, na aparência amena, A tragédia recôndita que o mata. Mas eu me vingo deste pouco siso, Ao paradoxo do meu próprio riso, Porque a tragédia desse riso insano, Que me remorde e que a ninguém ausculta, É irmã gêmea da tragédia oculta Que existe em todo coração humano. (Em CARDOSO, Roberto e FRANCISCO, Marinaldo. Cisne e Sombra Iluminada, reedição 1985.) 4

IV Mas há de vingar descaso Da plateia nada esclarecida Que assiste ao ato paradoxal Enquanto sai envaidecida, Amarrada ao próprio laço… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida. V Mas se ninguém percebe A dor que o poeta trucida É inumano não senti-la, pois, A todo instante remordida, Ao coração causa inchaço… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida. VI Mas há de provar a todos Que a dor deveras parecida Das tragédias sua e coletiva Em todos nós escondida, Faz morada e faz regaço… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida. VII Com “O meu palhaço” revisto Poesia nobre aqui relida Poema de angústia e jura Lira da afronta merecida Renovo a alma, renasço… E um poeta se faz palhaço No circo louco da vida.


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