Lautriv Mitelob - BV014

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Direção e Redação: Evaldo Brasil e Rau Ferreira Contato: kaquim@gmail.com Conteúdo: De blogs, sites; e inédito.

O mundo e suas voltas Cacos

Cacos

Ana Débora Mascarenhas

Maria Antônia disse: "A vida se retrata no tempo formando um vitral de desenho sempre incompleto, de cores variadas, brilhantes, quando passa o sol. Pedradas ao acaso acontecem de par r pedaços ficando buracos irreversíveis". Lindo isso! Às vezes encontro cacos também. Hoje encontrei um verde pon agudo que me fez voltar a escrever. Ressuscitou a esperança que Pandora esqueceu em sua caixa. Gosto dos cacos, eles formam uma linda coleção de pedaços de vida. E como não tenho problemas com o passado, volto sempre que preciso for. Assim como Raul Seixas “Prefiro ser essa metamorfose ambulante”. Acho que por isso gosto tanto de borboletas. E por vocês, eu volto. O caco verde de hoje me fez feliz. E nas voltas que o mundo dá, assim como o Rubem Alves: “Carrego nos bolsos milhares de cacos e a gente vai brincando de re rá‐los, um a um”.

Banabuyê de Esperança ‐ Parahyba ‐ Brasil Dedicado especialmente à arte, à cultura e à história da nossa gente. Janeiro de 2014 ‐ Nº 001/2014 ‐ 14ª Edição ‐ Revista

Retomando o Bole m Virtual lautriv.mitelob em 2014, desejando um ano de produção, nos 90 anos do Cysne de Silvino Olavo Segunda Carta para Exupéry Depois da volta dele, quem tanto quis reencontrar, venho contar minha história (uma outra história de palhaço) Sei que ele vai entender já que o Pequeno Príncipe não é príncipe pequeno: São Pedro lavava o céu, carregava um pote grande São João cochilou, deixou cair o sabão São Pedro escorregou o pote caiu no chão do céu uma chuva de cacos, barro da vida… O menor de todo eles o mais demorado e ressecado pela viagem aos ventos era eu: Kaquim Evaldo Pedro Brasil da Costa (Em 22 de Maio de 2003) P.S.: Kako Kaquim Kaqueado dos Cacos Quebrados. Nascido e morrido nos anos 90, era incorporado por Evaldo Pedro da Costa.

Nesta Edição Eram os Cambebas os caboclos bravos? Um Anjo

Vestido de Azul Jogos Vorazes Uma reexão contemporânea sobre a Sociedade do Espetáculo

Tribo Éthnos: 20 anos... Santas Missões em Esperança

Apologia Sitiante ...e algo mais.


K

ambeba é o nome de uma tribo indígena, navegadores do Alto Amazonas, chamada de Umã pelos portugueses e, de Omágua pelos espanhóis. Falam a língua Tupi‐guarani e também são conhecidos por campeva, carari, campeba e umauá (cabeça chata). Esta nação teria surgido pela primeira vez na costa da pacata Paxuru, e também povoavam a vila São Paulo de Olivença (primi va São Pedro). O Jornal de Coimbra (1820) situa‐os há seis léguas do Rio Içá, na margem austral do Amazonas, no médio Solimões ocupando uma área de cerca de 200 léguas. Eram habilidosos na extração da borracha (caoutchuc) e com ela fabricavam diversos artefatos para o seu uso, como seringas, botelhas, vasos e uma “pelota elás ca”. Esta invenção de logo surpreendeu Frei Mar nho da Esperança, que comunicou o invento aos colonos, despertando o interesse imediato pela riqueza e pelo povoamento consecu vo da região. Em nosso torrão há uma família que descende dos an gos caixeiros viajantes, que adotou o “Cambeba” como sobrenome familiar. A palavra tem origem numa espécie de peixe pequeno (piaba), pois eram todos baixinhos. Outros asseveram que a origem diz respeito a um sí o denominado “Cambeba” que ficava na extrema Esperança‐ Camucá, onde estes residiam. O patriarca da família era Antônio Diniz (Totonho Cambeba), que foi comerciante de farinha da

Em esperancadeouro.blogspot.com.br

primeira casa de esquina da rua de Baixo, onde hoje reside José Serafim. Totonho casou‐se duas vezes e teve 26 filhos dos consórcios. A família tem grandes ramificações: Michelo era cambeba; Chico Souto (à esquerda) era cambeba; e, finalmente, Severino Diniz, o grande orador da emancipação polí ca. O comerciante Antônio Cambeba era pai da moça pela qual se apaixonou o poeta Silvino Olavo. Faleceu na década de 40. Depois veio José Irineu Diniz – Zezé Cambeba – que era par dor e distribuidor do Juízo Municipal (1925). Há no cias ainda de índios bravos que, supostamente, vieram da Amazônia e que ocuparam as nossas terras. A hipótese foi levantada por um historiador, mas ainda está sem comprovação. Talvez fossem os “Cambebas” tapuias ou houvesse alguma confusão destes com os Índios Banabuyês que habitavam estas plagas. Contudo, observamos que o Ceará também registra no seu passado um rio “Banabuiú”, assim como Esperança nha o seu açude. Par ndo deste princípio, talvez fosse possível que os Cambebas de lá fossem os mesmos de cá, ou os banabuiús. É do nosso conhecimento que, no Século XVIII, os frades capuchinhos fundavam missão, levando os ameríndios de um lado para o outro, de maneira a distanciá‐los de sua terra natal e, assim propiciar a sua domes cação e catequização. Em todo caso, o termo Cambeba pode ter outros significados: No Norte do Brasil, há uma espécie de Tartaruga que é conhecida por Cambeba; o tubarão Cão‐martelo (Sphyrnazygaena) é também conhecido por Cambeba (ou Cambeva). Já o escritor Alexandre Dumas, em sua novela “Georges” (1843) cita um personagem chamado “Cambeba”, em um de seus capítulos. No Ceará, cambeba é nome de bairro e também tem origem ameríndia.

Rau Ferreira

Eram os Cambebas os caboclos bravos?


Um Anjo

Ana Débora Mascarenhas

O mundo e suas voltas

Vestido de Azul

A

lguém, certa vez, alguém publicou que a mãe é o primeiro anjo que Deus coloca na vida da gente. O meu Anjo partiu agora faz um ano.

Quarta‐feira, 13 de novembro de 2013, em h p://deboramascarenhas.blogspot.com.br/2013/11/anjo.html

No úl mo passeio em Campina/PB

No abraço, na an ga casa que depois foi de Gigi

Nos almoços de Natal

E eu tenho ela aqui, e hoje abri o baú, lembrei dela com toda sua doçura, e como sou feliz em ter tido esse anjo de candura. Esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida. E permanece assim. Também esteve em tantos momentos que um post não é suficiente para lidar com tantas emoções, como diria Roberto Carlos, seu cantor favorito.

E nas voltas que o mundo dá, quero ser como ela para meus filhos, quero que eles tenham lembranças doces em seu baú, e que sejam tão fortes que nem mesmo os fortes vendavais possam carregá-las. E “pago mico” assim, de boa. Porque tenho a sensação que dei todos os beijos que deveria, disse todas as vezes que quis o quanto a amava, e não tenho nenhuma sensação do tipo “eu poderia ter feito ou dito e não fiz”. Porque a amei com todas as minhas forças e senti que a reciproca sempre foi verdadeira. E hoje sinto que a vida vale muito a pena. E vou aproveitar para ver o mar. E vestir o meu vestido azul.


Jogos Vorazes Uma reflexão contemporânea sobre a Sociedade do Espetáculo Por Egberto Vital ‐ Acabei de ler o livro Jogos Vorazes, o primeiro livro da saga escrita por Suzane Collins, autora estadunidense que teve seu trabalho reconhecido mundialmente após a adaptação de suas obras para o cinema. Suzane iniciou sua carreira como roteirista de programas infan s do canal fechado Nickelodeon e se tornou uma das autoras mais lidas da contemporaneidade após a publicação dos livros Jogos Vorazes, Em Chamas e A Esperança. Jogos Vorazes é um livro todo escrito em primeira pessoa, sob a ó ca de um narrador autodiegé co, ou seja, um narrador‐personagem o qual é o protagonista da história – nesse caso a fantas camente construída Katniss Everdeen –, o que traça à narra va nuances autobiográficas, visto que Katniss relata suas próprias experiências e as experiências de outrem sob sua perspec va.

Em uma das distopias mais bem construídas dos anos 2000, bem como uma das melhores obras dessa geração d e a u to re s p a ra j o ve n s ‐ adultos, Collins enceta um mundo pós‐revoluções, em que toda a América do Norte sofreu uma reorganização e co n ô m i ca e p o l í ca , e , consequentemente, o mundo inteiro sofreu com tais reformulações sociais – apesar da narra va se centrar no norte das Américas. (...) Suzanne Collins trata com primazia a Sociedade do Espetáculo, é interessante sabermos a origem dessa Saga, pois ela surge de um momento de reflexão da autora que, em casa, refle a sobre os programas de entretenimento veiculados na TV: enquanto um canal mostrava os ataques americanos ao Iraque, em outros canais as pessoas se diver am com reality shows como o Big Brother, daí surge os Jogos Vorazes, uma obra que reflete acerca da frivolidade do homem pós‐moderno. (...)

Leia mais em: egbertovital.blogspot.com.br/2013/11/jogos-vorazes-uma-reflexao.html


O mundo e suas voltas http://www.musicadaparaiba.blogspot.com.br

20 anos à frente do seu tempo A Tribo Éthnos, nascida em 1990 idealizada por Vant Vaz é mais do que uma banda. É um coletivo multimídia, integrando música, artes plásticas, quadrinhos, dança e até moda. Um grupo literalmente ahead of their time, fazendo aquelas misturas quase esquizofrênicas de música indígena, hip-hop, jazz, música erudita, música africana e o que mais você quiser que só iriam aparecer com mais frequência nesse mundo alguns anos mais pra frente. O Meddrooaavon, gravado entre 1996 e 1997, mas só lançado em 2000, é um bom exemplo disso. O CD todo é recheado de uma vibe new age à anos 80 que pode incomodar algumas pessoas, mas mesmo para essas

pessoas o CD é recheado de pontos altos. A faixa "Meu Brasil Que Não é Meu" é um fantástico quase-ragga bem pra cima que não é difícil de se imaginar como sendo um daqueles hits alternativos anos 90 que marcam uma geração, se não fosse o boicote quase criminoso à Tribo Éthnos por parte da grande

mídia - ainda hoje, 20 anos depois, a Tribo Éthnos é relativamente pouco reconhecida, e tem muita gente que "sabe que existe, mas nunca escutou". Outro ponto fortíssimo do álbum é a faixa “Euroasioamerindioafricano”, que já no t í t u l o m o s t r a o cosmopolitismo da banda a música é um canto de capoeira-rap do século 22, a materialização do berimbau elétrico gritado por Chico Science. Aliás, a Tribo de Vant e a Nação de Chico têm muito em comum, a fusão do local com o internacional, a globalização musicada. U m d e t a l h e interessante sobre esse CD é a participação do jovem Esmeraldo Marques (mais conhecido hoje como DJ Chico Correa) anos antes do surgimento da sua Electronic Band, mas já mostrando aquela boa instiguinha eletrônica que mais de uma década depois ia arrastar tanto pé e tanta cabeça mundo afora.

Em http://www.musicadaparaiba.blogspot.com.br/search/label/Tribo%20%C3%89thnos

Quiromancia

Quiromancia

Ana Débora Mascarenhas

Reza a lenda que algumas pessoas sabem ler o des no de outras apenas olhando as linhas da mão. Hoje aconteceu um fato interessante. Vindo na rua, uma senhora me abordou pra ler a minha mão. Como estava com pressa agradeci, ela me olhou estranho. Na hora ‐aqueles olhos‐ me fez l e m b ra r u m a fi g u ra i n có g n i ta d e Esperança. Seu nome era Luiz, ele estava sempre com livros embaixo do braço e dizia saber o des no das pessoas vendo as linhas da mão. Nunca ve coragem de deixar alguém ler as minhas, vai que perde o encanto da surpresa. Sei lá, acho que se fosse pra saber, a gente já nascia sabendo, mas o Luiz, já tem um longo tempo que não o vejo, nem mesmo quando visito a terrinha. Todavia, era uma pessoa que me p a re c i a s o l i tá r i a , ta l vez fo s s e s ó impressão, dele nada soube. E nas voltas que o mundo dá, fico com as minhas linhas só pra mim. Seja do coração, da vida ou de sei lá mais o quê. Gosto de cada dia ser um dia único, ímpar, inédito e que não vai ter volta, e por isso mesmo é bom demais. Um dia de cada vez.


Rau Ferreira

Santas Missões em Esperança Adaptado* ‐ Por anos os monges capuchos de S. Bento e S. Francisco, tomaram sobre seus ombros a árdua tarefa de doutrinação dos campos. As “Santas Missões”, cujos missionários visitavam as paróquias e dioceses promovendo a reaproximação do povo com a igreja, eram seguidas uma jornada de penitência e grandes prodígios pelo interior. “Em uma freguesia, quando havia Missão, todo o sertão sabia... A no cia espalhava‐se diante, difundia‐se como por encanto, e a boa nova encontrava disposto o ânimo dos fiéis para os jejuns, a prece em comum e outros deveres forçados à estação e ao ato” (Azevedo: 2003). Na falta de templo, qualquer barracão servia aos propósitos dos missionários. Mas em Esperança, comuna que registrava uma imponente igreja, uma das mais belas da região, isso não representava empecilho algum. Os fiéis eram convidados a adornar a casa de Deus, enquanto os homens fixavam uma cruz à porta de entrada. Era necessário celebrar as desobrigas do ano, preparar o povo, instruí‐lo na doutrina cristã do santo catecismo, exortando‐os à prá ca da virtude e na busca pelo reino salvífico. Cân cos eram entoados e o povo todo respondia com trovas populares. Este notável acontecimento marcou sobremaneira a vida dos esperancenses quando, em 1916, Frei Mar nho Jansweid OFM, em companhia dos seminaristas Samuel Aires Carneiro, Luiz San ago e José Cou nho, pregaram a conversão do povo e reanimando‐os na fé cristã.

Antes porém, as beatas da vila, chefiadas por Teté Rodrigues e Júlia San ago – “santas devotas às coisas do céu” – prepararam o espírito da comunidade, fazendo coletas nas feiras e frente ao comércio local que viriam acorrer as despesas dos frades e entradas dos óleos, azeites e montagem de púlpito na rua principal, em frente a igreja matriz. Muitas senhoras ajudaram a organizar a festa, dentre as quais destacamos Dona Niná, Maria de Cambeba, Luzia Brandão, Marica de Ginú e Dona Por ria de Zé Calor; além das confrarias das filhas de Maria. Os paramentos foram todos lavados e reformados, fazendo‐se os necessários consertos nas vestes sacerdotais, por essas mulheres virtuosas. O templo foi caiado e lavado, enquanto que a “Serafina” devidamente afinada. Uma vassoura foi passada no coro da matriz para espantar os morcegos. A Casa Paroquial foi igualmente pintada, para servir de hospedaria aos frades missionários, especialmente nos aposentos em que Dom Adauto dormia quando visitava esta cidade. Um reboliço tomou conta da cidade. Centenas de romeiros acudiam à vila de Esperança para par cipar do encontro litúrgico, cercando o orbe da matriz e debaixo das árvores, estendendo‐se até os armazéns de Inácio Rodrigues, pela latada de Amaro, hotel de Mocinha à casa de Zé San ago. No Sí o de Dona Vicencinha de Sebas ão Nicolau, chovia de matutos, compadres e comadres onde se “enchia as camarinhas da casa de arranjo e dava comida às pessoas” – pirão escaldado com carne de ceará, bacalhau salgado na brasa e chouriço quente e doces, eram servidos aos convivas. Além de queijos, rapaduras, farinha e água dos potes também era encontrada nas casas dos altos comerciantes e chefes polí cos.


Havia um grande movimento de pessoas e a caridade era pra cada pelas senhoras devotas. Registra a União, em ar go de José Ramalho relembrando aqueles dias que: “Mãe Dondom, esposa de Tomaz [Rodrigues], alma pura de santa mulher brejeira, via aquilo tudo e rezava. Rezava para que nunca lhe faltassem os meios de auxiliar os que vinha de longe ouvir o frade pregar a palavra de Deus” (A União: 1947). Frei Mar nho chegara à Esperança no dia 21 de setembro de 1916, vindo de Alagoa Nova onde havia pregado para uma mul dão de fiéis católicos. Fora recebido com uma salva de fogos de ar cio e aclamadas palmas. “Todo mundo queria beijar‐lhe a mão e receber uma imagem de N. Senhora, uma medalha ou um ben no”, no ciou José Ramalho. O Padre José Vital Ribeiro Bessa (1913‐1922) era o responsável por alojar os missionários. A tarde iniciou com uma novena, onde o altar‐mor achava‐se lindamente iluminada, onde os coroinhas Severino Diniz, Eugênio e Hortênsio Sobreira, ves dos de uma túnica vermelha no meio das camélias ostentavam os turíbulos, as velas e os livros sacros. O tempo lotado ouvia as filhas de Maria, dirigidas por Dona Teté, eram acompanhadas pela Serafina tocada pelo seminarista José Cou nho, que cantava harmonicamente: “Dai‐nos a benção Ó Virgem Mãe, Penhor seguro Do sumo bem Maria é bela, Mimosa flor, Nossa Esperança E nosso amor”.

Neste momento tocaram os sinos, era o momento do “levantamento” e ouviam‐se as vozes das moças que em la m reproduziam o cân co orfeônico: “Tantum ergo sacramentum, Veneremur carnui, Et an quum documentum Novo cedat ritui Praestet fides suplementum Sensun defectui”. Ao final da novena, os sinos dobraram novamente e meninas da vila depositaram flores no altar de N. S. do Bom Conselho, saindo em cortejo pelas ruas. Na praça os frades falavam uma, duas ou três horas sem que ninguém arredasse o pé. Os meninos dormiam pelos cantos, nos calos das mães. Os rapazes enamorados cortejavam as moças e as mulheres de chalés na cabeça recitavam suas orações, repe ndo o cân co: “Com minha mãe estarei Na santa Glória um dia Junto à Virgem Maria No céu triunfarei! No céu, no céu, Com minha mãe estarei, No céu, no céu, Com minha mãe estarei!” A missão prosseguiu por vários dias e Esperança viveu momentos de fé e devoção cristã que marcou defini vamente a vida dos romeiros e de nossa comunidade. *Adaptado para esta publicação por Rau Ferreira; Fonte: RAMALHO, José. As Santas Missões em Esperança. Jornal “A União”, edição de 21 de setembro de 1947. João Pessoa/PB.


Não persigam os amantes O mundo é dos amantes Dos que não têm preconceitos E não negam a voz para quem Gosta do amor. Amor carnal daquele que Não mede palavras para serem ditas. Malditas as mentes que reagem E negam um lugar de privilégio ao amor; Amor carnal, que une dois ou mais corpos Num amar intenso e belo. Não persigam os amantes Aplaudam o seus atos de viver E divulguem o que é vivido Em belas frases escritas. Chicão de Bodocongó Campina Grande, 12 de janeiro de 2014 Às 15h31min

Silvestre Ba sta: Um dos mais An gos Alfaiates de Esperança

Por João de Patrício ‐ Nos idos anos 40 e 50, havia uma plêiade de bons

alfaiates em Esperança. Silvestre Ba sta era um deles. Dono da Alfaiataria “A Pernambucana”, localizada no centro da nossa cidade, precisamente na Rua Manoel Rodrigues, onde hoje funcionava a Farmácia S. Lucas, de propriedade de Dr. Armando Abílio, hoje, Farmácia da Ferro Ferragem, como todos conhecem. O povo de Esperança e cidades vizinhas, mais especificamente, a

população masculina, encomendava suas calças de linho inglês, tropical, gazemira e paletós, sempre nos finais de ano, quando se aproximava o período fes vo de Natal e Ano Novo, Festa da Padroeira, com o tradicional pavilhão da festa. Era necessário que, quem quisesse fazer roupa nova, teria que se apressar, caso contrário, não iria desfilar nas ruas da cidade, em plena festa da padroeira. Os alfaiates ficavam assoberbados de trabalho e de encomendas. Era a fase do ano primordial, para se ter um rendimento maior. Silvestre Ba sta faleceu nesta cidade, no aconchego de sua família, aos 95 anos de idade.

Em h p://revivendoesperancapb.blogspot.com.br


Faz tempo dorme um projeto Pra fazer uma excursão Saindo lá do “Cabeça” Indo até o “Caldeirão”, Rumando por “Boa Vista”, É que de lá quase à vista Têm‐se a estrada pro “Covão”. Anotar comunidades Pra não ter que esquecer D'algum setor, sem querer, Faz parte destes princípios: Passagem por todas elas, Algumas também daquelas Limitando Municípios. Esquecendo porventura D'alguma localidade Não é falta de vontade De concluir esse intento. O campo já está liberto Pra quem conhecer de perto Cuidar “desse esquecimento”. Lá no sul vê‐se “Manguape” Bem no norte fica o “Umbú” Mas descendo lá pro Sul Descansarei da jornada Fazendo três intervalos: Em “Lagoa dos Cavalos”, “Timbaúba” e “Cruz Queimada”. Descendo rumo à “Capeba” Vou demorar, com certeza, Quero rever a beleza E aquela gente sabida. “Malhada da Serra” e o “Coco” Ficam bem perto, anda pouco, Mas lá nunca fui na vida.

BV014

Chegando à “Massabielle” Vou andar com as próprias pernas, É plano, não tem cavernas Feito a “Pedra do Urubu”; “Maniçoba” e “Umburana” Donde peguei tanta cana Dessa vez pego umbu.

Apologia Sitiante P. S. de Dória, Esperança/PB

Ir à “Pedra do Caboclo” Será pra mim uma conquista, Quem sabe, de lá se avista “Campo Formoso” em visão! Seguindo essa trajetória Vou contar toda essa estória Lá no final da excursão. Saindo do “Logradouro” Vou até “Pedra Pintada”, Pois dali daquela estada Vê‐se a Igreja de Esperança. “Lajedão” não faz cinzel Mas é digno de troféu Esculpido por lembrança. “Gravatazinho” se estende Com terras de Areial Arenosas, sem igual Pra se plantar bata nha. Do “Jacinto” pro “Cardeiro” Chega lá por derradeiro Quem não for reto na linha... “Chã da Barra” faz limite Com chão de Lagoa Nova, E isto dita e comprova Os limites de pres gio. É no “Poço do Novilho” Onde a colheita do milho Faz fronteira com Remígio. Rememorando a infância Vou rever “Meia‐Pataca”, Lá cassei preá e paca Sabendo: paca não nha. Baleeira no pescoço Capiango, ar de insosso Pra casa sem nada eu vinha.

O “Bene cio” é bem frio, No “Si o Velho” também; Em “Lajes”, quase ninguém Dorme tranquilo ao relento. Prepare logo o casaco, Se não ver use um saco, Pra se agasalhar do vento. “Lagoa do Sapo” é baixo, Assim sendo a terra é boa; E o fato de ser lagoa Não é causa pro desprezo. “Riacho Amarelo” é do Como rota de bandido Fugindo pra não ser preso. “São Miguel” já é Distrito Seu cognome não ouso... Se é lugar pra repouso Não preciso nem falar: Passa carro toda hora, Transporte não se demora, Vou cedo chegar por lá. Descendo pro sí o “Cinza” Não preciso de rapel; Vou revelar no papel O lugar onde eu nasci: Na “Mula nha” não foi... Mas, no “Riacho do Boi”, Só fiz nascer, não cresci. Seguindo pra “Baixa Verde” No rumo pra onde ir É bem possível sair Bem antes, no “Punaré”. Passando lá, no riacho, Vou pescar, vou ver se acho Filhote de jacaré.

“Lagoa Verde” e “Carrasco” Não são assim tão distantes, Mas ficam equidistantes O “Quarenta” e “São Tomé”. “Camará”, sem que anoiteça, Anoto antes que esqueça Em baixo, no “Quebra‐pé”. “Riacho Fundo” e “Pintado” São fontes de artesanatos De bonecas com ornatos Que se vendem para o mundo. “Lagoa de Pedra” fura, Corta, quebra e assim fatura' A rocha que vem do fundo. Quando chegar lá no “Junco” Vou ver se é mesmo alagado, Se seu povo cria gado Mas se extrai fibra, também. E por questão de honraria Vê se na “Velhacaria” Nunca deveu‐se a ninguém. “Lagoa Comprida” fica Lá pros lados de Areial Se andei nesse arraial Foi nos idos... (nem sei bem). No sí o “Pedrinha d'Água” Já passei, não levo mágoa, Lá no “Pau Ferro”, também. É “Lagoa da Macela” Um lugar que não conheço Não por falta de endereço Que nem “Furnas” e “Araras”. “Bela Vista” e “Zé Lopes” São pertos e dão ibopes Por serem “estâncias” raras. Por fim, Cordel é relato, Seja lá qual for o tema; Porém, esse é o dilema: Há gente que desconhece... Neste aqui se configura: “Apologia e Cultura” Pro leitor que reconhece.

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