Lautriv Mitelob - BV020

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(Carlos Egberto Vital Pereira)

Direção e Redação: Evaldo Brasil e Rau Ferreira Contato: kaquim@gmail.com Conteúdo: De blogs, sites; e inédito.

Paralelas

S

Banabuyê de Esperança ‐ Parahyba ‐ Brasil Dedicado especialmente à arte, à cultura e à história da nossa gente. Nº 020 ‐ 31 de Julho de 2014

O mundo e suas voltas

oube que um Rubem d o s m e u s A vida que a mim consiste escritores Nos moldes que a razão emana preferidos e humano É certo, existir não existe Ana Débora Mascarenhas “c a n i n i z a d o ” e s t á É concisa, fugaz e profana enfermo. Ele que ama O belo que a existência explicita os ipês amarelos, os cachorros e a vida, mais que tudo agora Enruga-se no primor da ode sente a fragilidade da biologia humana. Ele que me ensinou No sonho da donzela se avista a ver o mundo de forma diferente; que numa bienal de livros E se perde a pretexto hoje autografou um dos seus para mim, hoje está hospitalizado. Quem dera se amanhã eu pudesse Uma das almas mais lindas que já conheci. Para mim, Primar pela realidade insana ele é como o Riobaldo de “Grandes Sertão: Veredas”, ou Quem sabe meu coração fenece samurai de Xogum, ou até mesmo o próprio Rubem que gosta de gatos e cachorros e que já teve tantos, assim como Ao ver enrugar-me a vida eu. Se bela, há de ser remota Que nem a nossa ilusão avista. E nas voltas que o mundo dá, certa vez ele disse “Quero que me amem como amo aos cachorros”. Ah, Rubem como eu te amo assim como os cachorros, e gostaria que comigo também assim fosse, como aos cachorros. E estou na torcida para que volte logo a fazer as caminhadas na fazenda Santa Elisa. (http://asvoltasqueomundodar.blogspot.com.br/2014/07/rubem-alves.html)

Mais Egberto no Sarau P10 E ainda: Carlos Almeida Rau Ferreira Evaldo Brasil

Alves

Mais Rubem Alves P04 Mais Ana Débora P07 Manoel Monteiro P09

Soneto Acróstico À Paraíba dou meu cumprimento, Representada aqui por ARIANO, Inconfundível autor paraibano, Astro inconteste do conhecimento. Nunca me fez ferir o sentimento Ouvir alguém falar só por engano Ser este gênio autor pernambucano, Unido estado do seu aposento. Agasalhado ali se foi na lida, Só lhe restou sentir sua partida Sem olvidar que Deus sempre abençoa! Ultrassensível à causa nordestina, Não guarda mágoa nem deixou ruína À sua terra que é João Pessoa. P.S. de DÓRIA

Ariano Suassuna: mais na P08 João Ubaldo P06


Rau Ferreira

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Café com Leite

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Dos loucos da vida

A nau da vida segue direita Não somos nada, nem ninguém A morte está a nossa espreita O orgulho não vale um vintém! Há homens que se vogam da seita E de seita, fazem seu desdém... Minha fé, quase ninguém aceita Mas é o bem, que lhes rejeita. É certo o dia vem à colheita Do trigo... e do crime também! Não sei se lhe fiz tal desfeita Chamar-te um dia de meu bem. A loucura assim está rarefeita Fica difícil compreende-la bem Bem sei que ela não me rejeita A desculpa dos loucos tão aceita! É ela que a insanidade azeita, Temperando três, no meio de cem; Na harmonia das esferas perfeitas, A lua nova, a minha bola vai-vem. Ah que triste glória a da caneta: – Não serei artista! – Advertem!

ilvino Olavo em artigo para O Século – jornal editado em Campina por Luís Gomes entre os anos 1928/29 – escreve sobre a miscigenação de raças que há no Brasil, em especial branco e negro. O autor apresenta opções de título que o leitor, assim desejando, poderia alterar indiferentemente. E passeia da física para a química, indicando a mistura e a combinação das etnias. Assente que na América do Norte há brancos e negros sem mistura, onde possivelmente haverá um “choque” racial; enquanto que no Brasil dá-se uma combinação, verdadeira fusão “encantadora” e “uma deliciosa orientação de claroescuro (...) harmoniosa cada vez mais para o moreno”. E acrescenta: “a nossa raça é colorida como a arazóia das indígenas românticas”. Ainda nesse contexto, diz ser colorida também a literatura nacional citando: Castro Alves, Olavo Bilac, Cruz e Souza e... Luís Gama, a quem faz uma síntese biográfica para dizer, que não há drama mais original. Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830. Filho de uma negra – a mais linda da Líbia – e seu pai, um fidalgo português. Dela herdou a cor e temperamento impulsivo, e do outro o estigma de não poder revelar-se pai e, apesar de ser livre desde o ventre materno, foi vendido pelo genitor aos dez anos, no mercado de escravos carioca.

Considerado “refugo” devido a sua procedência baiana, não o quis o Conde de Três Rios. Analfabeto até os 17 anos conquistou a sua própria liberdade em luta judicial. Fez-se então poeta, jornalista, orador e advogado. Anos mais tarde, o nobre que recusou adquirir-lhe na escravidão, ostentava a honra de tê-lo em seus salões de festa. Ironia do destino, assim como o próprio Gama, em seus verbos mais satíricos. Mas a vida ainda lhe reservou um último desgosto, o de não poder narrar a sua vitória, seu sucesso para a “mãepretinha de quem nunca mais soube notícia, desde o dia em que, iludido pelo seu pai, ficara chorando no porão daquele navio negreiro”. Abolicionista, responsável pela liberdade de mais de 500 escravos, defendia a tese de que o escravo, ao eliminar o seu “senhor”, agia em legítima defesa, tese que lhe deu certa notoriedade. Intelectual, fundou o jornal ilustrado Diabo Coxo, e anos mais tarde ajudou n'O Cabrião. Depois foi co-fundador do Radical Paulistano, com o seu conterrâneo Ruy Barbosa. Faleceu em 1882, sendo sepultado no Cemitério da Consolação. O seu cortejo foi acompanhado por mais de três mil pessoas. Lendo “Branco e Negro”, lembrei-me dos versos que SOL fez publicar nas páginas d'A União: Poema em Claro e Escuro; da citação a Inácio da Catingueira, quando trata do Folk Lore. Por fim, cheguei à conclusão da epígrafe, que poderia mesmo ser o título daquele lindo artigo produzido em agosto de '28, em plena modernidade: Café com leite.


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Um encontro do Índio Cariri com o Poeta dos Cisnes

V Fala de uma abolição Que não era a de Irineu Fala de uma república Do quanto ela pereceu Do povo que ainda sofre Limpeza de tanto cofre De como tudo se deu.

III Um cordelista foi por lá Numa noite sem dormir Foi só pra testemunhar E avistou o Índio Cariri Com o Poeta dos Cisnes Eles caminhavam firmes A comentar dos daqui.

VI E Irineu sem desespero A sorrir para o poeta Explica que só o tempo Supera tudo e afeta Quem manipula a razão E o povo em expiação Como ensinou um profeta.

Evaldo Brasil

II Quando Silvino ascendeu Teve alta proclamação Pois voltara a sua pátria De onde veio em missão E com fogos de artifício Nobre arte e duro ofício Foram a sua redenção.

(Índio Cariri era pseudônimo de Irineu Joffily. Silvino foi chamado Poeta dos Cisnes. Ele, ao morrer em 1969, deixa o ostracismo e retorna a pátria celestial. Imagina-se aqui uma saída modesta, uma chegada triunfal e um diálogo sobre as lutas de Irineu e o planejamento da reencarnação deles, em missão.)

VII E os dois ladeiam um rio Como se fossem crianças E se lançam em desafio Renovando as alianças: De quando assim retornar Cada missão retomar Num fio de esperanças.

Cordel 49-055 (15 de Abril de 2008)

IV Irineu recebe sorrindo Silvino Olavo da Costa Quer saber da Paraíba Do povo que ele gosta E o poeta recuperado Do viver atormentado Na saudade se acosta.

Irineu Joffily

I Quando Silvino morreu Sem registro de emoção Vivia fora do glorioso Tempo da emancipação. Imagino pouca gente No enterro daquele ente Em modesta situação.

Silvino Olavo

Irineu Joffily recebe sorrindo Silvino Olavo da Costa


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Rubem Alves: A obra fala pelo autor

Biogra ia R u b e m A l v e s nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, naquele t e m p o c h a m a d a d e D o r e s d a B o a Esperança. A cidade é conhecida pela serra i m o r t a l i z a d a p o r L a m a r t i n e B a b o e Fr a n c i s c o A lv e s n a mú sica "Serra da Boa Esperança". (...) Morreu no dia 19 de julho de 2014, aos 80 anos, em Campinas/SP.

Bibliografia: As Crônicas As contas de vidro e o fio de nylon, Navegando, Teologia do co diano, A festa de Maria, Cenas da vida, Concerto para corpo e alma, E aí? ‐ Cartas aos adolescentes e a seus pais, O quarto do mistério, O retorno eterno, Sobre o tempo e a eterna idade, e Tempus fugit. Os Livros Infan s A menina, a gaiola e a bicicleta, A boneca de pano, A loja de brinquedos, A menina e a pantera negra, A menina e o pássaro encantado, A pipa e a flor, A porquinha de rabo es cadinho, A toupeira que queria ver o cometa, Estórias de bichos, Lagar xas e dinossauros, O escorpião e a rã, O flau sta mágico, O gambá que não sabia sorrir, O gato que gostava de cenouras, O país dos dedos gordos, A árvore e a aranha, A libélula e a tartaruga, A montanha encantada dos gansos selvagens, A operação de Lili, A planície e o abismo, A selva e o mar, A volta do pássaro encantado, Como nasceu a alegria, O medo da semen nha, Os Morangos, O passarinho engaiolado, e Vuelve, Pájaro Encantado, Sansueta Ediciones SA (Madrid, España). Filosofia da Ciência e da Educação A a l e g r i a d e e n s i n a r, Conversas com quem gosta de ensinar, Estórias de

quem gosta de ensinar, Filosofia da Ciência, e Entre a ciência e a sapiência. Filosofia da Religião O enigma da religião, L' enigma della religione, O que é religião? What is religion? Was ist religion? P ro t e s t a n s m o e Re p r e s s ã o, Protestan sm and Repression, Dogma smo e Tolerância, e O suspiro dos oprimidos. Biografia Gandhi: A Magia dos gestos poé cos. Teologia A Theology of Human Hope, Chris anisme, opium ou libera on? Teologia della speranza umana, Da Esperança, Tomorrow's child, Hijos del manana, Il figlio dei Domani, Teologia como juego, Variações sobre a vida e a morte, Creio na ressurreição do corpo, Ich glaube an die Auferstehung des Leibes, I believe in the resurrec on of the body, Je crois en la résurrec on du corps , Poesia, Profecia, Magia; Der Wind blühet wo er will, Pai nosso, Vater Unser; The Poet, the Warrior, the Prophet; Parole da Mangiari (The Poet, the Warrior, the Prophet). (...) Visitem "A casa de Rubem Alves". (http://www.releituras.com/rubemalves_bio.asp)


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Encontrei-me com ele!

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quele encontro estava marcado fazia tempo. Eu, já casado e aos quarenta e poucos, marquei sem que ninguém soubesse. O que iriam imaginar se soubessem do meu encontro com aquele homem. Mas criei coragem, marquei com a cumplicidade de uma amiga. Recebi um telefonema lembrando que dia e hora havia chegado, tinha que encarar, era vital que assim agisse. Final do expediente, meio em dúvida, me dirijo ao local antes marcado. Naquela semana não houve um dia que não viesse à memória o momento que estava, agora, tão breve. Em questão de minutos estaríamos frente a frente. Eu não sabia o que dizer, pensava evitar encará-lo. Mas é c h e g a d a a h o r a e n o s cumprimentamos. Ele, nem sabia meu nome, limitou-se a “colar” e perguntar com voz compassada: - Seu nome é Carlos? - Sim, senhor! - Carlos Alberto de Almeida, certo? - Correto!

(Em http://muitospensamaocontrario.blogspot.com.br/2014/07/encontrei-me-com-ele-aquele-encontro.html)

Então ele desandou a falar como se já me conhecesse. Sabia da idade e alguns dados familiares. Depois olhou nos meus olhos e perguntou como me sentia. Eu estava trêmulo diante daquele homem desconhecido e que sabia tanto sobre mim. Aí, para meu espanto, ele ordenou: - Deite-se ali! Apontou para uma cama ao lado. Eu, sem nenhuma cerimônia, assenti aguardando o que me ocorreria dali por diante. Dias intermináveis pensei naquele momento, fiz elucubrações de como se daria aquela nossa intimidade. Sabia que teria que passar por aquilo, era saudável, recomendável à minha idade. Antes daquele encontro convivi na antessala com senhores que, certamente, passariam pelo mesmo “constrangimento”, por assim dizer. Vi-me sem saída! Estava ali, deitado sob as ordens de um desconhecido que

já me sugeria descer as calças sem que houvesse nenhuma combinação. Vestiu suas luvas, veio em minha direção, e sem pronunciar uma palavra, foi direto ao assunto! - Ai, doutor! Contive o grito, mas não meu protesto pelo ato, o toque. - É assim mesmo, seu Carlos. Não há outro procedimento, mas o desconforto é pequeno em relação ao benefício que o toque traz ao paciente. Sua próstata está perfeita... Ao contrário do que muitos pensam, saí daquele encontro aliviado. Tinha quarenta e poucos anos em minha “primeira vez”. No momento em que faço este relato acabo de chegar do meu encontro marcado com meu urologista com o mesmo benefício: Minha próstata está perfeita! O autor é acadêmico de Filosofia - UEPB


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João Ubaldo: A obra fala pelo autor

Biogra ia 7 º o c u p a n t e d a Cadeira nº 34, eleito em 7/10/93, na sucessã o de Carlos C. Branco e recebido em 8 de junho de 1994 pelo A c a d ê m i c o E d u a r d o Portella. Faleceu no dia 18 de julho de 2014, no Rio de Janeiro, aos 73 anos. Joã o Ubaldo (Osó rio Pimentel) Ribeiro nasceu e m I t a p a r i c a ( BA ) , e m 23/01/41. Viveu com sua famıĺia em Sergipe, onde o pai era professor e polıt́ico. Passou um ano em Lisboa e um ano no Rio de Janeiro para, em seguida, ixar-se em Itaparica, onde viveu a p rox i m a d a m e n te s e te anos. (...)

Bibliografia Romances Setembro não Tem Sen do, Sargento Getúlio , Vila Real, O Sorriso do Lagarto, O Fei ço da Ilha do Pavão, A Casa dos Budas Ditosos, Miséria e Grandeza do amor de Benedita, Diário do Farol, e O Albatroz Azul. Contos Lugar e Circunstâncias, Josefina, Decalião, O Campeão, Vencecavalo e o Outro Povo, Livro de Histórias (Já podeis da Pátria Filhos, e Contos e Crônicas para Ler na Escola. Crônicas Sempre aos Domingos, Um Brasileiro em Berlim, Arte e Ciência de Roubar Galinhas, O conselheiro Come, A gente se acostuma a Tudo, e O Rei da Noite. Ensaio Polí ca: Quem Manda, Por que Manda, Como Manda. Literatura infanto‐juvenil Vida e Paixão de Pandonar, o Cruel; e A Vingança de Charles Tiburone. Adaptações Para o cinema: Sargento Getúlio, e roteiro de Tieta do Agreste. Para a televisão: O Sorriso do

Lagarto, O Santo Que não Acreditava em Deus, O Compadre de Ogum, O Poder da Arte e da Palavra, A Maldita, e Danada de Sabida. Para o teatro: A casa dos Budas Ditosos. (...) Traduções Exemplos: Alemão Der Heilige, der nicht an Go glaubte ‐ O Santo Que não Acreditava em Deus), Dinamarquês (Firbenets Smil ‐ O Sorriso do Lagarto), Espanhol (Vida y Pasión de Pandonar El Cruel), Finlandês (Kersan Getulio), Francês (Vive le Peuple Brésilien), Hebraico (Samal Getúlio), Holandês (De Betovering Van Het Pau Weneiland ‐ O Fei ço da Ilha do Pavão), Inglês (The Lizard's Smile ‐ O Sorriso do Lagarto), Italiano (Viva il popolo brasiliano), Esloveno (Hisa Blazenih Bud ‐ A Casa dos Budas Ditosos), Norueguês (Sersjant Getulio) e Sueco (Brasilien Brasilien ‐ Viva o Povo Brasileiro). Além de em Portugal: O Sorriso do Lagarto, Viva o Povo Brasileiro, Miséria e Grandeza do Amor de Benedita, A Casa dos Budas Ditosos, e O Albatroz Azul. Saiba mais em: (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoi d=705&sid=319)


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Li no blog do Carlos Almeida um texto sobre a falta de água na terrinha, também 'tá faltando não só no Nordeste, mas o Sudoeste do país também foi apresentado à necessidade de se cuidar desse recurso natural essencial para a sobrevivência de todos. O descaso das autoridades com o problema remota a tempos bem distantes. Quando tive o Pedro, nós morávamos em Esperança, a cidade sofria com um seca tremenda e comprávamos água de fornecedores de carros pipas. Na época estudante, não tinha como distribuir a água pelo chuveiro ou torneiras. Quando o Pedro tinha um ano e meio e tomou banho de chuveiro pela primeira vez, chorou descompensadamente assustado, depois não queria mais sair de lá. Quando conto essa história, ele ri (adoro ser motivo de riso para eles). Quando cá cheguei não vi em nenhuma casa reservatórios, nem como aproveitar a água da chuva em calhas ou cisternas, fiquei preocupada e se faltar água? Ano passado tivemos racionamento pela primeira vez, esse ano não, mas as campanhas para o uso sustentável continuam. O Mateus sugeriu colocar uma bacia embaixo do chuveiro pra aproveitar a água do banho para dar descarga. Para encorajá-lo adotamos a ideia dele, agora está feliz, diz que contribui para a saúde do planeta. E nas voltas que o mundo dá, mas importante que cuidar do planeta é cuidar de quem vai ficar nas próximas gerações pra manter o cuidado e não o descaso com o nosso habitat natural.

Cidadania

O mundo e suas voltas

O Paulo Freire disse que o educador aprende quando ensina, e ensina quando aprende. Leonardo Cidadania Boff defende que a ecopedagogia é o caminho para a educação sustentável. Ainda no clima da copa do Ana Débora mundo, a escola do meu caçula decidiu fazer uma Mascarenhas copa entre os times de cada sala. Quando o professor falou das regras e dos participantes, ele questionou por que não tinha meninas. O professor disse que era pra meninos. Ele não contou história, foi direto para a coordenação junto com duas colegas reivindicar o direito das meninas de também jogarem bola. E agora terão times masculinos e femininos na copa estudantil. E nas voltas que o mundo dá, só fiquei sabendo desse fato porque recebi um recado da diretora da escola me parabenizando pela atitude solidária da minha cria. Nem preciso falar que fiquei com o sorriso metálico de orelha a orelha. Meu pequeno cidadão do mundo já pondo em prática o que aprendeu.

Falta...

(http://asvoltasqueomundodar.blogspot.com.br/2014/07/cidadania.html)

(http://asvoltasqueomundodar.blogspot.com.br/2014/07/falta-de-agua.html)

Falta de água

COMENTÁRIOS Carlos Almeida: Menino sabido esse Mateus! Seu gesto demonstra uma carga positiva de cidadania ativa num garoto de apenas 10 anos. Espanto maior me causa pela questão do gênero, algo não tão comum à idade e ao mundo onde nos inserimos. Seja algo nato ou inato o que importa é o fato, o ato cidadão. Estão de parabéns o filho e seus pais.

Evaldo Brasil: Ana e Paulo, Paulo e Ana. Pelo que vivenciei com eles, seus meninos são a prova da construção do casal. Assim, como o filho do escravo Benevenuto, aquele da Casa da Flor, eles podem dizer, “nós mesmos fazemos, nos mesmos nos sentimos horados de fazer”. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_da_Flor)


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Ariano Suassuna: A obra fala pelo autor Bibliografia

Biogra ia 6 º o c u p a n t e d a Cadeira nº 32, eleito em 03/08/89, na sucessã o de G e n o l i n o A m a d o e recebido em 09/08/90 pelo Acadê mico Marcos Vinicios Vilaça. Faleceu no dia 23/07/14, no Recife, aos 87 anos. A r i a n o V i l a r S u a s s u n a n a s c e u e m Nossa Senhora das Neves, hoje Joã o Pessoa (PB), em 16/06/27, ilho de Cá ssia Villar e Joã o Suassuna. No ano seguinte, seu pai d e i x a o g o v e r n o d a Paraıb ́ a e a famıĺia passa a m o r a r n o s e r t ã o , n a Fazenda Acauhan. (...)

Teatro Uma Mulher Ves da de Sol, Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa), Os Homens de Barro, Auto de João da Cruz, Torturas de um Coração, O Arco Desolado, O Cas go da Soberba, O Rico Avarento, Auto da Compadecida, O Desertor de Princesa (Reescritura de Cantam as Harpas de Sião), O Casamento Suspeitoso, O Santo e a Porca, imitação nordes na de Plauto; O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, A Pena e a Lei, Farsa da Boa Preguiça, A Caseira e a Catarina, As Conchambranças de Quaderna, e A História de Amor de Romeu e Julieta. Ficção A história do amor de Fernando e Isaura, Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai‐e‐ Volta, As Infâncias de Quaderna, História d'O Rei Degolado nas Caa ngas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana, e Fernando e Isaura. Outras obras O Pasto Incendiado (Livro inédito de poemas), Ode, Coletânea da Poesia Popular Nordes na: Romances do ciclo heróico, O Movimento Armorial, Iniciação à Esté ca, A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma

Reflexão sobre a Cultura Brasileira (tese de livre‐ docência em História da Cultura Brasileira), Sonetos com Mote Alheio, Sonetos de Albano Cervonegro, Seleta em Prosa e Verso: Estudo, Poemas: Seleção, e o CD – Poesia Viva de Ariano Suassuna. Traduções Exemplos: Alemão (Das Testament de Hundes oder das Spiel von Unserer Lieben Frau der Mitleidvollen ‐ Auto da Compadecida), espanhol (El Santo y la Chancha), francês (La Pierre du Royaume: version pour européens et brésiliens de bon sens ‐ Romance d'A Pedra do Reino), holandês (Het testament van den hond ‐ Auto da compadecida). inglês (The Rogue's Trial ‐ O Santo e a Porca). italiano (Auto da Compadecida), polonês (Historia o milosiernej czyli testament psa ‐ Auto da Compadecida). Sobre Ariano Suassuna Dissertações e teses, ar gos em jornais, livros e ensaios incluídos em livros encontram‐se relacionados nos CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA – Número 10, novembro de 2000. Saiba mais em: (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys /start.htm?infoid=227&sid=305)


Especial Por Rau Ferreira ‐ Entre tantas perdas ilustres, registramos a passagem de Manoel Monteiro da Silva. O poeta de 78 anos era natural de Bezerros/PE, mas radicado em Campina Grande em meados de '55. Considerado o maior nome do cordel na atualidade, par cipava da A B LC‐ Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Chegou a fundar uma “Cordelaria” no bairro de Santo Antônio, de onde exportava seus mais de 300 tulos. A sua temá ca era voltada para os problemas sociais da atualidade, razão pela qual a sua leitura foi indicada para a grade escolar de alguns municípios brasileiros. Assim, na rede social do facebook, havia uma página inteira dedicada ao cordelista (h ps://www.facebook.com/PoetaManoelMonteiro), com a finalidade de divulgar a poesia popular em sala de aula. Deste autor, citemos as seguintes obras: O Poder Das Plantas Na Cura das Doenças; Manual de Primeiros Socorros; Novos Tempos para o Doente Mental; Car lha do Diabé co; Quem não usa camisinha não pode dizer que ama; Salvem a Fauna! Salvem a Flora! Salvem as Águas do Brasil!; A evolução do papel – da China aos dias de hoje.

Manoel Monteiro O poeta amenizou a sua despedida. Certo dia saiu de casa para fazer um pagamento em uma gráfica campinense, e não voltou mais. Dado por desaparecido, seus fãs suplicavam por no cias. Foram dias até ser encontrado num quarto de hotel, no Belém do Pará. Comentando com o amigo Aderaldo Luciano – que é doutor em literatura de cordel – este me ins gava a não deixar cair o “bas ão” da poesia popular. De certo que não tenho esta inclinação. Meus versos mal feitos, contam apenas as minhas próprias histórias e servem, tão somente, para registrar na memória os fatos que passaram em minha vida. Nada tem de arte. Apenas e quando muito, rimam. Mas a nossa representação está em caras com Evaldo Brasil, Carlos Almeida, Rodrigo Riquelme (o poeta de Deus), Raimundo Viturino e tantos outros que, na atualidade, escrevem a cultura das massas nordes nas. É para eles, que ro o meu chapéu. Para saber mais, visite: h p://www.onordeste.com/onordeste ‐ A Enciclopédia do Nordeste, e site da ABLC, disponível em: <h p://www.ablc.com.br/historia/hist_cordel istas.htm >. Acesso em 05/08/2014.


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o sá bado 26 de julho realizamos o 5º Encontro do Forum professor de artes da Universidade Federal da Paraıb ́ a. Independente de Cultura na Câ mara Municipal, onde Em seguida, pudemos ouvir o brilhantismo de Dedé Fernandes e desenvolvemos o Sarau de mú sica, poesia, contos, anedotas seus rapazes, estes que formam o “Virtuosi”, um conjunto musical bem e declamaçõ es com o brilho das novas estrelas. eclé tico que só toca mú sica boa, com Saulo no baixo, Vinıćius no Para inıćio de conversa, contamos com a participaçã o de Chicã o Cavaquinho e Wellington no vocal. A primeira cançã o da noite foi uma de Bodocongó – poeta e mú sico ligado à POEBRAS – que surgiu para nó s homenagem ao Legiã o Urbana (Hoje a noite nã o tem luar), seguida de vestido todo de branco, enquanto “Minha histó ria” do interprete José que Rau Ferreira apareceu todo de Augusto que por sinal já cantou em preto. Diante daquelas iguras Uma noite com o brilho das novas estrelas Esperança. antagô nicas, podemos perceber que Passada a emoçã o da estreia do as diferenças estavam apenas nas “Virtuosi” que com sua melodia trouxe vestimentas, pois o amor pelar arte à quela noite um algo mais, eis que surge os unia, e dizia o nosso Ferreira que no palco o nosso confrade Evaldo Brasil pelas recentes perdas, a começar com um de seus cordé is, e passa a por Manoel Monteiro, Joã o Ubaldo, declamá -lo: Se a minha esperança fosse menor que a esperança minha. Antes, Rubem Alves e Ariano Suassuna, vestia-se de luto sem deixar o poré m, falou de sua satisfaçã o e se “bastiã o” da cultura cair, conforme apresentou com uns versos modi icados prometera a Aderaldo Luciano. para dizer, “agora que já falei mal de mim, posso falar mal dos outros”. Brincadeiras Chicã o deu o pontapé inicial aos nossos trabalhos, esclarecendo à parte, aquele momento serviu para que esta era a quarta vez que quebrar o gelo na ocasiã o. comparecia à Esperança com esta Depois tomou espaço a jovem motivaçã o de divulgar o seu talento, Raquel ilha da professora Lı́rida. Para sendo a segunda que se apresentava no FIC. Brincou ao dizer que tinha nossa alegria, a menina de apenas 11 anos superando a pró pria timidez “memó ria de calango”, e tomando seu tablet leu dois de seus poemas: e apresentou a cançã o “Novo Tempo”, do grupo Semearte, com muita Augusto – conversando com Augusto dos Anjos e Negra, este ú ltimo maestria e uma voz melodiosa que encantou a todos os presentes. “Eu dedicado à raça negra com palavras tã o elogiosas que me senti nã o sabia que ela tinha este dom, foi o primo dela Jú nior de Lima que envaidecido por ser casado com uma delas. Ao de inir o seu trabalho, descobriu”, disse a mã e orgulhosa. disse: “Minha poesia nã o tem uma forma ú nica, mas moderna”. Na Depois foi a vez de Carlos Egberto Vital Pereira declamar dois de sequê ncia, os amigos Carlos Egberto e Carlos Almeida iniciaram uma seus poemas: Homenagem a Ariano Suassuna e Paradoxo da Existê ncia. conversa com o poeta campinense indagando-lhe de sua origem, de Cadeira cativa em nossas atividades, Nicola como é mais conhecido como este se envolveu com as letras e de sua vocaçã o, que constituindo sempre nos brinda com seus poemas bem trabalhados, com mé trica e uma mini-entrevista, deu-nos a conhecer um pouco mais do velho rimas impecá veis.

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Macambira e Querindina, que justi icaram a sua ausê ncia por estarem outra surpresa da noite foi Ismael de Fernando Pintor, participando de um Flipo – Feira do livro. Servidos refrigerante, estudante de histó ria, amante do mediavismo, que apresentou torradas e “papo-de-anjo”, este foi um momento de descontraçã o, ao a sua composiçã o: Olhar de cé u estrelado. Disse que costumava som do “Virtuosi” que continuou exibindo as suas mú sicas de escrever à noite, sem maiores pretensõ es, mas revela-se um excelente qualidade. poeta e, ao que parece, da escola silvinolaviana. Acrescentou que fez um Ao retornar as atividades, tomou lugar no centro Luiz Antô nio estudo sobre o nosso vate maior para a universidade, colhidos da que, para nossa surpresa, demonstrou ser um excelente poeta, biogra ia de Rau Ferreira (Silvino Olavo, Epgraf: 2010). a p r e s e n t a n d o a s u a p e ç a O “Virtuosi” voltou ao palco “Ancoretas”. Na platé ia, estavam improvisado dos nossos encontros Pelas 22:30, um registro inal presentes seus familiares que para apresentar mais duas mú sicas: muito se alegraram. C a t e d ra l , d o L e g i ã o U r b a n a ; e As crianças Hauane e Aysha Metamorfose Ambulante, de Raul desenvolveram os versos de “A Seixas. pobreza e a riqueza” para dizer Na ordem do dia, as crianças que há diferenças sociais. H a u a n e M a r i a e A y s h a L a i s a N i c o l a to m o u o l u ga r, declamaram os versinhos “A bela lor” contando a anedota: “A Piada do e “A lor”, de autoria da primeira, F ”, c o n q u i s t a n d o ó t i m a s intercalando as estrofes. Karl Marx gargalhadas. Valentim, escritor, desenhista e poeta Depois foi a vez de Joê nio, de nossa cidade, deu o ar de sua graça que se revelou ó timo compositor em nossos sarau pela primeira vez, e e interprete, cantando de sua nos honrou com dois de seus poemas: autoria “Estamos aı ́pro que der e Caridade e Vida-morte. Depois ocupou vier”. Ao té r mino desta mú sica, Carlos Almeida tomou da palavra para o espaço Carlos Almeida, nesta segunda rodada de apresentaçõ es, para elogiar o rapaz, e dizer-lhe de seu talento, alertando que há muitos declamar: Tudo é quimera, poema que relata fatos de sua infâ ncia, cantores que buscam mú sicas como essas, de excelente qualidade e ligados a sua saudosa mã e. E depois, recitou: Fim de Feira, de Dedé de com originalidade. Monteiro. Mas nã o sem antes nos contar sobre os seus dois encontros Para inalizar os trabalhos, compareceu ao palco Ismael que com Ariano Suassuna, entitulados “A briga do paletó com a gravata” e “O recitou o poema “A legenda do ú ltimo cysne”, de autoria de Silvino abraço mais caro”. Chicã o de Bodocongó retornou com os poemas “O Olavo. trem” e “Uno”. E a jovem Raquel tocou mais uma de seu repertó rio: Registrando a presença de 42 pessoas, izemos a foto o icial do 4º Flutuar, do grupo Semearte. Sarau do FIC lamentando as ausê ncias e deixando o convite para o Depois desta rodada maravilhosa, houve uma pausa para o pró ximo encontro que deverá se realizar no ú ltimo sá bado de agosto. lanche, onde os presentes puderam saborear alguns cordé is que foram Ata do evento com pequenos ajustes, por Rau Ferreira. distribuıd ́ os, de autoria de Evaldo Brasil, Rau Ferreira e da dupla


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