Lautriv Mitelob - BV022

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Direção e Redação: Evaldo Brasil e Rau Ferreira Contato: kaquim@gmail.com Conteúdo: De blogs, sites; e inédito.

Banabuyê de Esperança ‐ Parahyba ‐ Brasil A arte, a cultura e a história da nossa gente. Nº 022 ‐ 30 de Setembro de 2014

SARAU DOS NOVES FORA

No sábado dia 20/09 realizou-se na Câmara Municipal o costumeiro encontro da cultura promovido pelo Fórum Independente de Cultura-FIC, com artistas das mais variadas vertentes. O evento, por assim dizer, foi uma reunião conjunta do FIC com a POEBRAS (Casa do Poeta Brasileiro) Campina Grande. Estiveram presentes o presidente da entidade campinense, Sr. Pedro Paulo Silva e comitiva, além dos já conhecidos Chicão de Bodocongó e Silas Silva da Paraíba. Aberto os trabalhos às 19h30, Rau Ferreira falou da satisfação em receber os poetas de Campina, e contar mais uma vez com o grupo esperancense Virtuosi, além de outros cantores e cantoras que se apresentariam pela primeira vez. Carlos Almeida Jerimum convidou ao tablado improvisado Pedro Paulo, que recitou alguns poemas da própria lavra. Em seguida, o “Virtuosi” executou algumas canções (Em busca da

felicidade, Fios e farrapos e Paixão que o tempo cura). Na sequência, tomou lugar Chico D’Assis, membro da Poebras, que recitou alguns cordéis de sua autoria, apresentado que fora, por Jerimum, e Evaldo Brasil, que fez a leitura dos belíssimos versos de Raimundo Viturino de Souza “Instantes Finais” encontrados neste dia, no amontoado de material gráfico e artístico que possui em sua residência. Na proposta de intercalar declamação e música, ouvimos “Contra danza” uma flauta doce tocada pelo menino Samuel (filho de Zé Cláudio e neto do professor Antônio Felix), e as jovens Débora Alana (filha de Damares, neta de Seu Luiz Barbeiro) e Rebeca Vieira (filha de Simone Vieira) executaram alguns sambas, no estilo voz e violão. Ele e elas acompanhadas por Dedé Fernandes, com flauta e com violão. ...

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SARAU DOS NOVES FORA A novidade deste encontro ficou por conta dos desenhos apresentados por Wallace Vital, Vitório Lins, Marquinho Pintor, Amanda Leite, Luan Vieira e Felipe Pajaú. Os artistas trouxeram a sua poesia concreta, Vitório expôs um grafite de seu filho Elvis e outros trabalhos de marketing que já realizou; Marquinho falou do Grupo Quero Mais, da importância de se trabalhar com jovens e de sua arte; o casal Amanda Leite e Luan Vieira trouxe diversos desenhos que circularam entre os presentes, representando figuras da Marvel/DC Comics e Felipe Pajaú falou da sua encenação no filme “A volta do Pavão

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Misterioso”, relembrando alguns de seus trabalhos e expondo algumas charges. Ato contínuo, ouvimos mais um pouco de música e recital, este por Hauane Maria que declamou um de seus poemas “Minha joia rara”, Silas Silva retornou ao palco com mais uns versos, Karl Fern disse algumas de suas rimas e Rochelle Melo encheu a câmara com sua verve; Joênio abrilhantou a noite com duas músicas de sua autoria: “Estamos aí pro que der e vier” e “Meu pai” – essa, em especial, nos tocou bastante.


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SARAU DOS NOVES FORA No intervalo dos trabalhos, ficamos ouvindo o “Virtuosi’ enquanto artistas e público mantinham uma conversa amigável e visitavam a nossa feirinha de livros. Faltando dez para as dez da noite, Evaldo Brasil intercedeu, convocando a todos para os últimos momentos, recitou três dos seus poemetos mais antigos, “Paquera”, “Clown de Nanô” e “Mas o papel e o lápis estão aqui”. Finalizando a noite, tivemos a participação de Fernando Macambira e Marinalva Querindina, que apresentaram um cordel sobre os malefícios da

corrupção e trouxeram a campanha S.0.S Professora Leda, em prol da Sra. Leda Maria Vitório Fernandes -quem há 11 anos luta contra o câncer. Incentivando as doações, Felipe Pajaú teceu elogiosas palavras sobre a mestra e sua força de viver. Por fim, Pajaú recitou alguns versos engraçados para quebrar o clima, por assim dizer, entrando em cena Rau Ferreira que, encerrou a noite, declamando Silvino Olavo: Atropelos d’Esta, - Senhor!/ - Antes da vida e da morte!/ Se tem sorte e tem amor/ Só tem amor, não tem sorte!). Realizada a foto oficial, registramos parte dos 57 presentes neste evento. Nada mais havendo a registrar, finalizamos esta ata a quatro mãos. Rau Ferreira. Evaldo Brasil.

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INSTANTES FINAIS (Raimundo Viturino)

SERDE (Rau Ferreira) A sede me assedia o tempo todo E eu como um lobo estou à procura Em busca de algo percorrendo o globo, Remoendo a minha própria secura... Querendo aspergir da pele o lodo Que conquistei na vida com tanta agrura Bebendo chás de pestilência e de boldo Fazendo u’a passagem tanto quanto segura. Não sou mais quem era (pobre engodo) Caminho nas vias sepulcrais da loucura! De tudo quanto vejo, sinto e até absolvo Rogando uma absolvição de morte pura. Sim, fiz dessa cova o meu estorvo Do meu mundo em que miniaturas De pessoas assim onde até os corvos Rejeitam da própria carne, à amargura. Ignóbil e sem conceito tal o ogro Não visto das vestes a tua brancura Ser bom, ser honesto, leal ou probo... Eis aqui velada, a minha sepultura! Esperança, 17 de agosto de 2014.

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PARA ONDE? (Chicão de Bodocongó) Parado no transito Como um animal morto. Parado no momento errado Distraído no mundo agitado, Não consegue ir para frente E não consegue voltar. O seu olhar fixo Não determina para onde vai olhar, Não há escolha nos seus olhos E não previne O que está para fazer. Não reconhece o terreno onde pisa Confunde o sentir e não percebe O quanto percorreu e que ainda está pra percorrer Nesta luta para sobreviver entre os fortes.

DE SILVINO OLAVO, por Rau Ferreira Atropelos d’Esta, - Senhor! - Antes da vida e da morte! Se tem sorte e tem amor Só tem amor, não tem sorte!

Sei com tristeza Que meus minutos e segundos Estão contados O prólogo da minha existência é iminente. De nada me valerá esse sol, esse céu, essa clorofila... Eu vou morrer! Uma dor me dilacera como a lâmina aguçada Que podará meus galhos; Como o machado às mãos De qualquer um que ferirá meu tronco. Golpeado, impiedosamente golpeado, Eu tombarei sem vida, Como qualquer coisa que desmorona. Nessa angústia que fere, ainda lembro... Protegeste‐me os galhos tênues e magrinhos Contra a depredação. Eu era importante Era apenas eu, o único ornato de tua casa! Hoje sou empecilho à beleza Que conotas a teu habitat suspenso Sou antônimo e sou antítese... Não sirvo mais. Só os pardais, ao entardecer Quando a ida do sol ofuscar seus olhos Eles virão buscar agasalho Não encontrarão e voarão indigentes, Esses sentirão a minha falta, ninguém mais. E ninguém teve coragem de lhes dizer que eu morri.


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De quando a Ala-Ursa foi às foras com o Homem-nu (Cordel 49-177) I Cansada de sofrer bullying Cansada de ser caçada Cansada do bole-bole Cansada de emboscada Ala-Ursa lá do polo Resolve pisar em solo Sem se parecer malvada:

IV Falei com um presidente Até na ONU fui falar C’uma cara de penitente Deixei de ser um polar Cruzei com uma dos pardo’ Meu filho no novo fardo Conseguiu me replicar: VI

II Se os dias do caçador Parecem nunca ter fim Por que o dia da caça Nunca chegou para mim? Assim eu me perguntava Até, às vezes, gritava Foi então que fiz assim:

V Por força da transgenia Por força da natureza Abolindo a eugenia Reconstruindo a beleza Pude ir além do instinto Pude ocupar um recinto De consciência e leveza

Não vivi um bacanal Coisas sem necessidade Fui brincar o carnaval Com arte e capacidade Fui às forras no lundu Revesti o homem-nu Com a capa da bondade. .

VII Caçar já não caça mais Volta a ser vegetariano Agora ele vive em paz Convivendo c’um vegano E pra quem não conseguir É bastante prosseguir Tentando ano-após-ano.

III Falei com um vereador O susto foi de lascar... Antes do governador Com o prefeito fui falar Nem deputado estadual Nem deputado federal Nem senador para sanar... Evaldo Pedro da Costa Brasil (05/04/14)

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Esperança, terra da uva Por Rau Ferreira* Por esses dias revendo as coisas de Esperança, publicadas no “Correio da Manhã”, deparei-me com a notícia de que Tomé Andrade pretendia cultivar uvas no nosso Município. Ele havia visitado a Fazenda de João Barreto no brejo, e retornara com a ideia de que aqui também se podia produzir esta fruta. O agricultor questionava acerca do plantio de vinhedos já que o clima temperado lhe era favorável. Esperança apresentava melhores condições do que aquelas enfrentadas na Escola de Agronomia em Areia. O conselho era de Pimentel Gomes, técnico que indicou o plantio das espécies

“Niagara Branca” ou “Niagara Rosada” com duas finalidades: mesa e vinho, com viés para a uva-passa. Os lucros alcançariam a cifra de Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros) por hectare/ano. A ecologia municipal – de acordo com o pesquisador – era boa para o caquizeiro e a oliveira, como também o limoeiro. De fato, a região de Lagoa Verde se mostra bem frutífera e atende aos reclamos destas frutas. Lembrei que na casa do meu avô paterno havia uma parreira que saboreava sempre na invernada. Ficava no quintal próximo ao poço cavado há mais de cinco décadas, de onde se dizia terem extraído alguns cascalhos e filamentos de ouro. Meu trabalho era a poda das folhas secas. O pé ficava praticamente nu, quando então surgiam os primeiros cachos verdes. Tínhamos o cuidado de deixar as folhas caírem ao solo, acho que

era uma espécie de adubo orgânico. O solo pelo que sei era rico e de lá retirava minhocas que me serviam para outras aventuras. Encerrei esses dias arquivando as minhas edições de 16 de janeiro de 1955 e 24 de novembro de 1957 daquele jornal, com uma leve certeza de que as minhas histórias jamais sairiam do papel, não fosse o nosso magazine cultural – Lautriv Mitelob.

*Bacharel em Direito, servidor da Justiça, pesquisador e escritor. Seu trabalho pode ser encontrado em http://www.historiaesperancense.blogspot.com.br/

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COVARDIA Por Ana Débora Mascarenhas - Durante muito tempo tenho me recusado a ver noticiários, tenho uma certa covardia para isso. Essa semana, enquanto esperava atendimento médico vi a reportagem sobre o João. Um rapaz jovem, bonito e que gostava de meninos, e por isso foi morto brutalmente por monstros travestidos de humanos. A violência de sua morte foi tamanha que chorei compulsivamente pelo João sem nunca tê-lo visto. Imaginei aquela mãe o que sentia. Não existe dor maior que a perda de um filho. É uma dor que cai sobre a pessoa como uma montanha, um peso insuportável que com o tempo vai se transformando, não fica leve, apenas se apodera da mãe com uma força que ela tem de suportar. Fiquei impressionada, e afirmo que os humanos realmente me assustam com a sua capacidade de brutalidade. A noite chegou e a palestra do Geraldo na Semana Espírita de Conquista falava sobre os infortúnios ocultos. De tão triste não cheguei ao fim. E nas voltas que o mundo dá, apesar de todas as óbvias circunstâncias, praticamente todos os veículos de comunicação afirmam haver SUSPEITA de que o crime tenha motivação homofóbica. O delegado responsável pelo caso, Humberto

Teófilo, informou que ainda será instaurado um inquérito parar apurar o motivo do crime. Nos comentários dos sites de notícias, lê-se uma empatia que só é vista em nossa morte: nossa dor cotidiana só é tida como legítima quando morremos. E olhe lá. Mais um sorriso foi apagado. Mais inúmeras vidas perderam o sentido com a morte de João. Mais um foi pra conta da homofobia institucionalizada. Poderia ser alguma das muitas pessoas próximas a mim. Nossa responsabilidade é grande, principalmente, como educadores e formadores de opinião em nossos lares. E a responsabilidade também é de você que riu do coleguinha gay na escola; você que faz (e ri de) piadinhas que os desumanizam; você que usa "viado" ou "bicha" como xingamento; você que diz que algo é "muito gay" com intenção de ofender; você que assedia moralmente o "viado" que vê na rua; você que tira o direito de casar e viver normalmente seus amores; você que acha que lei contra homofobia é privilégio; você que faz coro ao que dizem os políticos fundamentalistas; você que neles vota, você, que acredita em heterofobia. O respeito à diversidade humana é fundamental. É preciso ter cuidado com os infortúnios ocultos. Conheça mais a autora em www.asvoltasqueomundodar.blogspot.com.br

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Primavera, cidade I-normal Por Hauane Maria* - Era uma vez uma cidade que não existia a palavra primavera. Se você perguntasse a alguém o que é a primavera? Certamente, ouviria a resposta: O quê? Primavera? Você está no mundo da lua! Aqui não existem flores. Não existe! As árvores só as vemos em florestas, aqui é muito poluído. Há pouco oxigênio e às vezes passamos uma hora de máscara, respirando gás oxigênio. Não existem cores e o sol nunca brilha. (...) Cecily era uma menina que morava numa cidade normal, mas conhecia muito bem o que era primavera quando se mudou para a cidade Inormal. Ela sabia o que significava: - É tudo! Árvores, flores e às vezes um ventinho para refrescar. É pra mim a melhor estação do ano. Assim que chegou a I-normal, vivia contando para seus colegas. Todos diziam: - Que mágico! Queria passar uma

semana lá na tal “Primavera”. O que eles ainda não sabiam é que primavera não era um lugar. É que ninguém nunca saiu da cidade I-normal, nem uma mosca! O prefeito aprisionara a Estação em uma caixa mágica e não havia como experimentar, ver ou sentir a primavera. Os comentários da garota apenas aguçaram a curiosidade dos moradores. Cecily então resolveu escrever um livro, uma menina leu e começou a falar para as outras. Logo virou fofoca e toda a cidade passou a cobrar do prefeito a Primavera. Alguns fizeram greve e quem não fez sentiu-se incomodado a tal ponto de não conseguir dormir. No dia seguinte, as

pessoas mal conseguiam trabalhar. A cidade I-normal virou um caos, até que o prefeito decidiu abrir a caixa e deixou a primavera acontecer. O sol iluminou toda a cidade e respingos de chuva fizeram surgir um arco-íris. Flores surgiram por todo o canto, as pessoas se cumprimentavam e pareciam mais felizes. A alegria contagiante trouxe muita paz para os habitantes e o prefeito que era um tirano também permitiu que as pessoas saíssem de Inormal para visitar outros cantos do mundo. O bom é que quando voltaram traziam muitas novidades. A mudança foi tal que depois de um tempo foi preciso mudar o nome da cidade para Normal.

*A autora é aluna do 4ª Ano do Ensino Fundamental. Ilustração: http://blog.alphabeto.com/page/68/

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